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Volume 5, n. 2. jul/dez 2014
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Volume 5, n. 2. jul/dez 2014
MNEMOSINE REVISTA. Programa de Ps-graduao em Histria/UFCG
Vol. 5 n 2 Jul/Dez 2014.
Campina Grande: PPGH, 2014.
Semestral.
ISSN: 2237-3217.
Universidade Federal de Campina Grande. Programa de Ps-graduao em Histria.
Programa de Ps-graduao em Histria
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Volume 5, n. 2. jul/dez 2014
MNEMOSINE REVISTA
Nmero 2 - Volume 5 Jul/Dez 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE
Reitor: Prof. Dr. Jos Edilson de Amorim
DEPARTMENTO DE HISTRIA
Coordenadora Administrativa: Prof. Dr. Marinalva Vilar de Lima
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Severino Cabral Filho (UFCG)
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Volume 5, n. 2. jul/dez 2014
Sumrio
Apresentao
Andr Figueiredo Rodrigues______________________________________________ 05
DOSSI TERRITRIOS E FRONTEIRAS
DESBRAVANDO PERCURSOS: A INSERO DOS
(RADIO)TELGRAFOS E DAS ESTRADAS NO TERRITRIO DO ACRE
Jefferson Henrique Cidreira____________________________________________ 07
LUTA PELA POSSE DA TERRA EM UMA REGIO
DE FRONTEIRA: TOLEDO PR
Nilton Marques de Oliveira / Leandro de Arajo Crestani
Rosngela Maria Pontili / Moacir Piffer__________________________________ 24
VITRIA DE SANTO ANTO EM IMAGENS FOTOGRFICAS:
COTIDIANO E SINTOMAS DO MODERNO (1880-1930)
Leandro Anto dos Santos / Gervcio Batista Aranha_____________________ 39
INCURSES MISSIONRIAS PROTESTANTES NA CIDADE
DE MOSSOR E NA PROVNCIA DO RIO GRANDE DO NORTE:
UM ESTUDO INTRODUTRIO
Elioenai de Souza Ferreira____________________________________________ 51
A CENTRALIDADE CULTURAL DO REINADO DE D. JOO V
E A GOVERNABILIDADE DO IMPRIO: O SURGIMENTO DE
UM NOVO TIPO SOCIAL DE OFICIAIS RGIOS PARA
O ULTRAMAR PORTUGUS
Mnica da Silva Ribeiro___________ ____________________________________66
NOS TRILHOS DO CAF: FERROVIA E URBANIZAO EM
SO JOS DO RIO PRETO-SP NO INCIO DO SCULO XX
Henry Marcelo Martins da Silva ________________________________________ 83
ARTIGOS DE FLUXO
EIS QUE VENHO SEM DEMORA!: O LIVRO DE APOCALIPSE
E SUA RELAO COM O CRISTIANISMO NASCENTE DO SCULO I d.C
Alisson Pereira Silva_________ _______________________________________ 99
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Volume 5, n. 2. jul/dez 2014
UM ISOLAMENTO OPCIONAL: A CONSTRUO DA IMAGEM
DO IMIGRANTE NO INTEGRADO AO BRASIL DA OBRA
UM RIO IMITA O RENO
Rodrigo Luiz dos Santos ______________________________________________ 110
EU ENSINAVA AOS MENINOS A LAVAREM AS MOS...:
PEDAGOGIA DA HIGIENE E DA CURA POPULAR NO
CARIRI PARAIBANO (1950-1980)
Iranilson Buriti de Oliveira / Taianara Catarine Ratis Santiago____________ 125
O PRINCIPADO DE TIBRIO CSAR: A QUESTO DA CONTINUIDADE
DOS PRECEITOS POLTICOS DE AUGUSTO E OS ANOS DE
GOVERNO DE ROMA (14 26 D.C.)
Rafael da Costa Campos ______________________________________________ 137
INQUISIO COMO TERRITRIO DE PUREZA:
AS ESTRATGIAS DE PROPAGANDA NORMATIZADAS PELOS
REGIMENTOS DE 1552 E 1613 E SUA ATUAO NO BRASIL
Carlos Andr Cavalcanti / Jos Runivaldo Marques Pascoal ________________ 156
MANOEL BOMFIM: CRTICA AO ESTADO PATRIMONIALISTA
E UTOPIA EDUCACIONAL EM
AMRICA LATINA MALES DE ORIGEM (1905)
Luiz Carlos Bento ____________________________________________________ 169
AS FORMAS SIMBLICAS RETRATADAS NOS PORTES
DA IGREJA ABACIAL DE NOSSA SENHORA DO MONSERRATE
DO RIO DE JANEIRO PREFCIO HISTRICO
E DEVOCIONAL DE UMA SOCIEDADE
D. Mauro Fragoso, OSB _______________________________________________ 179
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Apresentao
O territrio em suas mltiplas concepes
Brasil, Dezembro de 2014.
Nesse volume 05, N 2,
JUL/DEZ 2014, apresentamos aos
leitores da Mnemosine Revista o
Dossi Territrios e Fronteiras, uma
coletnea com artigos que abordam
diferentes apropriaes do conceito
de Territrio e Fronteira, onde o
territrio pode ser pensado e
elaborado de acordo com os
objetivos de estudo/pesquisa
tentando-se incorporar a mltipla
temporalidade dos objetos
estudados, assim com mltiplos so
as compreenses da ideia de
fronteira e territorialidade.
O territrio pode ser analisado
a partir de uma multiplicidade de
concepes. Rogrio Haesbaert
apresenta em seu trabalho intitulado
Dos mltiplos territrios a
multiterritorialidade (2004) vertentes
que tratam este conceito a partir de
trs enfoques: jurdico-poltico;
cultural e econmico, a partir dos
quais tambm entendemos as
problemticas aqui tratadas.
De incio, o trabalho remisso a
antiguidade intitulado O principado
de Tibrio Csar: a questo da
continuidade dos preceitos polticos
de Augusto e os anos de governo de
Roma (14 26 d.c.), apresenta
discusses que tratam o territrio
como uma resposta as relaes de
poder poltico-administrativos num
perodo em que as bases da
sociedade ocidental estavam se
firmando nas mais diversas reas.
O segundo artigo, A
centralidade cultural do reinado de d.
Joo V e a governabilidade do
imprio: o surgimento de um novo
tipo social de oficiais rgios para o
ultramar portugus, exemplifica a
frase do Ives Lacoste, quando esse
afirmou que a Geografia serve antes
de tudo para fazer a guerra,
parafraseado o territrio espao
de guerra abordando como a
institucionalizao de novas relaes
de poder de um governante em
relao ao conhecimento do territrio
por ele constitudo, influenciando nas
relaes com outras naes,
repercutindo a demarcao de
territorialidades na construo das
identidades.
Depois, nos aproximamos do
Brasil, com tempos e territorialidades
regionais diversas, comeando com o
artigo, intitulado Visitaes do Santo
Ofcio, mtodos judiciais e territrios:
as estratgias de propaganda
normatizadas pelos regimentos de
1552 e 1613 no Brasil, no qual se
discute como o poder exercido pela
Igreja Catlica subjugou a colnia
portuguesa, beneficiando-se da
fragmentao do territrio em
Capitanias, como um mecanismo de
poder para a consolidao da
dominao, como nico caminho a
ser seguido, frente s dissidncias do
espao colonial.
Ainda na dimenso da
organizao da cultura, e o papel da
religio, o prximo texto, Incurses
missionrias protestantes na cidade
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de Mossor e na provncia do Rio
Grande do Norte: um estudo
introdutrio, traz a concepo de
territrio a partir da relao de poder
estabelecida com a insero de novas
prticas religiosas e a consolidao
de um grupo sociopoltico dominante
nas trs ltimas dcadas do sculo
XIX, como frmula de ruptura e
reordenamento das fronteiras em
dimenso simblica em que operam
os sistemas religiosos.
Na sequncia, lemos o artigo
Vitria de Santo Anto em imagens
fotogrficas: cotidiano e sintomas do
moderno (1880-1930), no qual os
autores buscam, atravs da anlise
de fotografias e textos diversos
referentes a temporalidade indicada,
retratar o territrio como espao de
vivncia coletiva e cotidiana.
Nessa dinmica de mobilidade
de sujeitos e ideias, o migrante um
personagem central, como se v
indicado no trabalho Um isolamento
opcional: a construo da imagem do
imigrante no integrado ao Brasil da
obra um rio imita o Reno, quando se
refere a uma pesquisa que se baseia
numa obra elaborada no ano de 1939
e que trata da percepo de territrio
cultural, onde o imigrante no se
percebe parte mesmo habitando o
territrio formal.
Ainda no movimento de
transitar o Brasil, o artigo seguinte,
Desbravando percursos: a insero
dos (radio)telgrafos e das estradas
no territrio do Acre, utiliza o
conceito de territrio enquanto
Estado-Nao e a concepo de
integrao a partir da comunicao,
primeiro em seu sentido mais
restrito: emissor-receptor-emissor,
para em seguida ampliar a eficcia
da comunicabilidade para traduzir o
sentido mais amplo, como elos fsicos
desse territrio, no sculo XX.
Por fim, mas no por ltimo, o
artigo Luta pela posse da terra em
uma regio de fronteira: Toledo/PR,
trata sobre a construo de
territrios de poder e conflitos a
partir da produo rural entre as
dcadas de 1960-70, evidenciando a
atualidade do tema e os conflitos
econmicos e o reordenamento
social.
Finalmente, todos os artigos
apresentados nessa edio primam
pelo uso do conceito de territrio
evidenciando a multiplicidade de usos
a partir da histria humana ao longo
do tempo, sugerindo nesta prpria
prtica a condio contingente da
ideia de fronteira e territrio de
tempo e lugar, e dos universos
simblicos e culturais.
Assim, desejamos a todos
uma excelente leitura!
Dra. Janana Barbosa da Silva
Gegrafa, professora da Universidade Federal
de Campina Grande
Ms. Emmanuela de Almeida Lins
Historiadora professora da Universidade do
Vale do So Francisco
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DESBRAVANDO PERCURSOS: A
INSERO DOS
(RADIO)TELGRAFOS E DAS
ESTRADAS NO TERRITRIO DO
ACRE
Jefferson Henrique Cidreira1
Resumo
Neste artigo, procuramos traar um
percurso sobre a insero dos telgrafos
no Acre, e sua eminncia como um meio
de comunicao capaz de ligar o
Territrio acreano internamente; e
externamente (com o restante do pas).
Foi atravs da Comisso Rondon que
lugares antes inalcanveis pelas
dificuldades das vias fluviais e terrestres,
passaram a inserir novas pessoas, antes
excludas, esquecidas pela sociedade.
Alm da crucial importncia no mbito da
comunicao, pois abriu as portas para
que outros meios de comunicao
pudessem ser instalados no Acre. Para tal
estudo, utilizaremos como aporte
terico/metodolgico os estudos sobre os
telgrafos de Milton Vargas, Laura
Antunes Maciel, Edilberto Coutinho,
dentre outros, alm de pesquisas em
jornais locais datados desde 1906.
PALAVRAS-CHAVE: Comisso Rondon,
Telgrafos, Acre.
Abstract
In this article, we try to chart a course
over the inclusion of Telegraphs in Acre,
and his eminence as a medium capable of
binding the Acre Territory internally; and
externally (with the rest of the country).
It was through the Rondon Commission
places before "unreachable" by the
difficulties of river and land routes, new
people began to enter before "excluded",
forgotten by society. Besides the crucial
importance in communication because
"opened" the door for other media could
be installed in Acre. For this study, we
use as the theoretical / methodological
studies on the telegraph Milton Vargas,
Laura Antunes Maciel, Edilberto Coutinho,
among others, in addition to research in
local newspapers dating from 1906.
KEYWORDS: Rondon Commission,
Telegraph, Acre.
INTRODUO:
Quando falamos dos meios de
comunicao modernos na
Amaznia acreana inevitvel
pensarmos em um primeiro momento
nos telgrafos, o primeiro meio de
comunicao eltrico do pas e do
mundo.
O telgrafo tem sua histria
iniciada durante a Primeira Repblica
Francesa, como nos afirma Vargas,
o Eng. francs Claude Chappe
inventou um telgrafo semafrico
(ptico), que em 1794 conseguiu
comunicar a vitria francesa sobre os
exrcitos austracos (VARGAS,
1994: 315).
Vargas (1994) nos afirma
ainda que a histria do telgrafo
continua somente no decorrer do
sculo XIX com os trabalhos do
italiano Alessandro Volta, com a
transmisso de informao eltrica
codificada, o que permitiria assim a
materializao do telgrafo eltrico.
Da a ideia do aparelho eltrico
passou pela Alemanha, quando
houve as primeiras demonstraes
de uma linha area de telgrafos.
Depois a ideia foi parar na Inglaterra
at chegar aos Estados Unidos, onde
Samuel Morse desenvolveu um
equipamento e um cdigo binrios
bem mais eficiente; em 1844 seu
sistema comeou a se espalhar
rapidamente pelo mundo, conhecido
hoje como cdigo Morse.
1 Mestre em Linguagem
e Identidade / UFAC
Professor de Histria /
SEEAC.
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Apenas alguns anos depois, os
relatrios do Ministrio da Justia
comearam a anunciar as
experincias realizadas com os
telgrafos. O ministro Eusbio de
Queiroz assim manifestou-se a
respeito dos servios telegrficos:
Tenho o prazer de anunciar-vos, que
dentro de pouco tempo se acharo
em exercicio os telephrafos electricos,
e ainda que sobre linhas de pequena
extenso, considero de grande
importancia este primeiro ensaeo de
to prodigiosa descoberta. A
communicao dos pensamentos, das
ordens, das noticias j no encontra
demora na distancia [...] (QUEIROZ,
apud MACIEL, 2001: 130).
1.A implantao dos telgrafos
no Brasil: a marcha da Comisso
Rondon
No Brasil, em 1852, o
imperador D. Pedro II incumbiu ao
engenheiro e professor de Fsica
Guilherme de Capanema a misso de
estudar e implantar o primeiro
sistema de telgrafo no pas. Desse
modo, o telgrafo foi inaugurado em
11 de maio do mesmo ano. Assim,
nos afirma Alencar:
As primeiras linhas telegrficas do
Pas datam de 1852, poucos anos
aps a introduo do telgrafo nos
Estados Unidos por Samuel Morse. A
instalao dessas linhas foi devida aos
esforos do ento Ministro da Justia,
Eusbio de Queiroz Coutinho Mattoso
Cmara, com o auxlio de um
proficiente e dedicado professor de
fsica da Escola Central, Dr. Guilherme
Schuch de Capanema [...] (ALENCAR,
2011: 2).
Ainda segundo Alencar
(2011), em 1854 ocorreu primeira
ligao telegrfica entre o Palcio de
So Cristvo e o Ministrio da
Guerra, e em fins do sculo XIX
registrou-se uma ampliao do
servio telegrfico, passando a incluir
outras provncias, como Paraba e
Pernambuco.
A utilizao do telgrafo s
seria comprovada na Guerra contra o
Paraguai (1864-1870), quando o
aparelho se mostrou eficiente para
passar orientaes rpidas no avano
das tropas e redefinio das
estratgias militares.
A experincia da guerra
deixou clara a precariedade das
comunicaes com o restante do
Territrio imperial, e a fragilidade da
defesa de suas fronteiras. Logo, foi
isso que, segundo Maciel,
determinou o incio imediato da
construo de linhas telegrficas, por
iniciativa e sob a responsabilidade da
RGT (Repartio Geral de
Telgrafos), visando unir e integrar
as provncias brasileiras (MACIEL,
2001: 132).
No Brasil, o telgrafo ganhou
uma conotao crucial, pois foi
compreendido como aparelho
mgico, quase mtico, que teria o
poder de transformar tudo por onde
passasse, tudo em sua volta:
Nas cidades ele revolucionaria o
comrcio, a indstria e o mercado
financeiro, agilizando a troca de
informaes e auxiliando no
transporte de mercadorias. No interior
ou nos sertes, sua utilidade estaria
associada s noes militares de
defesa do territrio, do governo e
administrao de populaes
dispersas, de manuteno da ordem e
progresso da nao (MACIEL, 2001:
138).
nesse momento que entra
em cena Cndido Mariano da Silva
Rondon. Rondon nasceu em 5 de
maio de 1865 na sesmaria Morro
Redondo, ou Mimoso, Estado de Mato
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Grosso, optou pela carreira militar
onde se fizera soldado do 3
Regimento de Artilharia e Cavalo no
ano de 1881. Em 23 de dezembro de
1889 Rondon nomeado auxiliar de
Gomes Carneiro, na Comisso das
Linhas Telegrficas, e em 1900 se
torna chefe da Comisso de Linhas
Telegrficas do Estado do Mato
Grosso e da Comisso Estratgica de
Instalao de Linhas Telegrficas do
Mato Grosso ao Amazonas.
No ano de 1906, o presidente
da Repblica Alfonso Pena
determinou a execuo de medidas
que consolidassem a incorporao
dos territrios do Acre, do Purus e do
Juru, com a extenso da linha
telegrfica ao vale amaznico, a qual
foi confiada a Rondon.
Desejou o presidente que a tomada
de posse daquele serto fosse feita
dentro de um ponto de vista que
sempre fora o do prprio Rondon:
com a explorao cientfica do
territrio e a sua incorporao ao
mundo civilizado como elementos
convergentes de um s objetivo [...]
(COUTINHO, 1968: 77).
A comisso Rondon foi de
suma importncia para a integrao
da Amaznia com o restante do
Brasil, sendo de grande contribuio
para conhecermos a geografia e a
histria do vale amaznico, j que
os trabalhos de reconhecimento e
determinaes geogrficas, o estudo
das riquezas minerais, da
constituio do solo, do clima, das
florestas e dos rios caminhariam
paralelamente com os trabalhos de
instalao das linhas telegrficas
(COUTINHO, 1987: 77).
J Maciel (1999) afirmou que
em renomear rios, serras e campos,
a Comisso Rondon ia se apropriando
de espaos, memrias, culturas e
conhecimentos, ao mesmo tempo em
que conhecia, mapeava e imprimia
suas marcas. Alm do que, com a
renomeao e a locao de rios em
mapas, traria a incorporao de um
espao dito vazio para a
administrao do estado republicano.
Edilberto Coutinho, em sua
obra Rondon e a Integrao
Amaznica, vai alm quando fala a
respeito do chefe desta Comisso:
le colocou no mapa uma imensa
regio, que antes figurava como
DESCONHECIDA, doando ao Brasil um
territrio igual ao da Frana, no qual
estendeu quilmetros e quilmetros
de fios telegrficos. [...] Como
autntico bandeirante do sculo XX,
em suas expedies cientficas foi
desbravando rios, corrigindo o curso
de numerosos afluentes do
Amazonas, catequisando e pacificando
naes indgenas, descobrindo as
lendas e mistrios dos povos
primitivos, e propiciando indstria
todos os recursos da floresta secular
[...] (COUTINHO, 1968: 17).
Porm tal empreendimento
no foi um trabalho to simples. A
Comisso enfrentou muitos
obstculos nessa misso, desde a
escassez de alimentos e
consequentemente a fome, doenas
diversas, animais perigosos, enfim,
os perigos da selva amaznica, alm
da dificuldade de recrutamento,
insubordinaes por parte de seus
soldados, uma vez que muitos
temiam aquele lugar extico,
considerado um inferno verde,
cheio de perigos.
A respeito dos perigos
encontrados na floresta amaznica
pela Comisso, Edilberto Coutinho
nos elucida:
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Morte e perigo rondaram os
expedicionrios, [...] piranhas
hemfagas, crocodilos, sucuris, onas.
Na linha de conta dos perigos maiores
do serto, Rondon enumerava: os
mosquitos e as febres que
ocasionavam, as formigas venenosas,
a disenteria, a fome [...] Flechadas
dos ndios (nas primeiras marchas
[...] (COUTINHO, 1975: 14).
Entretanto, vale ressaltarmos
aqui que os ndios reagiam dessa
forma, pois suas terras estavam
sendo invadidas, o seu espao estava
sendo violado por desconhecidos e
intrusos. Contudo, a Comisso
Rondon teve importante ajuda dos
ndios na abertura da mata para a
implementao dos fios telegrficos,
como destaca Coutinho:
Depois dos Bororos, Rondon utilizou
os Parecis em trabalhos da Comisso.
Encarregaram-se da conservao da
linha, de Saueruin ao Juruena, numa
extenso de 232 quilmetros. Alguns
Parecis lhe serviram, tambm, como
guias na Amaznia [...] (COUTINHO,
1975: 81).
Esse fato deveu-se
habilidade de Rondon em ser um
pacificador, evitando confrontos
com as tribos no meio de sua
marcha, onde estabeleceu um lema
que, segundo Coutinho, nortearia
toda a sua obra indigenista e que
seria palavra de ordem para seus
oficiais e soldados: Morrer, se
necessrio for; matar, nunca
(COUTINHO, 1975: 59). Alm disso,
outras medidas eram tomadas por
Rondon, como respeito aos sinais
deixados pelas tribos indgenas, e ao
mesmo tempo, os presenteava como
forma de amizade e confiana,
Os ndios [...] s atacavam quando a
expedio penetrava em suas terras e
assim mesmo davam sinais de perigo,
com os galhos amarrados e presos ao
cho por setas. O que significa: Fora,
voltem. Rondon exigia respeito a tais
sinais, que cedo aprendeu reconhecer.
No podemos avanar, sem que
consintam. No covardia correr dos
ndios. [...] os expedicionrios
deixavam, junto aos sinais de perigo,
presentes de facas, machados e
ferramentas para os homens, e panos
vistosos para as mulheres. Assim,
foram transformando a boa vontade
natural dos ndios em confiana
absoluta [...] (COUTINHO, 1975: 80-
81).
Outra dificuldade que Rondon
enfrentou para consagrar o seu ideal
foram as frequentes deseres e
insubordinaes dos seus
comandados, tais atos se deviam a
alguns motivos particulares, como: a
origem das pessoas que iam servir
na Comisso, o medo de enfrentar
aquelas terras desconhecidas e
repletas de perigos, e tambm sua
mo de ferro, ou seja, sua rigidez
no comando, o que inclua castigos
corporais. Na tese de doutorado do
professor Francisco Bento da Silva,
Acre: A Ptria dos Proscritos:
Prises e Desterros para as regies
do Acre em 1904 e 1910,
observamos alguns dos tipos das
pessoas (desterrados2), que eram
enviadas para o trabalho nas linhas
telegrficas entre 1910 e 1911:
No feriado de natal de 25 de
dezembro, partiu do Rio de Janeiro o
navio Satllite com 436 prisioneiros
[...] De acordo com o jornalista
Edmar Morel, entre eles estavam 293
prisioneiros retirados da Casa de
Deteno, que seriam modestos
operrios e servidores pblicos,
presos por serem considerados
apenas simpticos revolta. Existiam
outros 66 marinheiros recolhidos no
Quartel do Exrcito, que tambm
foram desterrados. Do quartel do 01
Regimento de Infantaria saram mais
2 Pessoas obrigadas
pelas autoridades
polticas a deixar o lugar
onde moravam, ou seja,
pessoas exiladas.
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31 marinheiros. E por fim,
embarcaram ainda 44 mulheres
retiradas tambm da Casa de
Deteno. [...] Nesse navio tambm
embarcaram muitos civis recolhidos
nas ruas e prises da cidade, pelos
simples fato de carregarem a fama de
vagabundos e criminosos inveterados.
No importava se essa m fama
correspondia de fato ou era apenas
algo construdo pelas autoridades
para justificar tais medidas [...].
(BENTO, 2010: 120-121)
O autor salienta ainda o local
de desembarque dos desterrados,
As localidades indicadas como destino
final so: Manaus (01 pessoa),
Humait (18 pessoas), Santo Antnio
do Madeira (129 pessoas), Linhas
Telegrficas (141 pessoas) e sem
indicao de onde ficaram, aparecem
quatro nomes. Na vila de Santo
Antnio, os desterrados seriam
destinados aos trabalhos da Estrada
de Ferro Madeira-Mamor e da
Comisso de Linhas Telegrficas
Estratgicas de Mato Grosso ao
Amazonas - CLTEMA. Sobre as
observaes apensadas ao lado de
alguns nomes, estas trazem
expresses como: ladro perigoso,
para Adriano Lopes ou Abraho Lopes,
Arlindo Escossia da Paixo e Armando
Adriano Mendes; desordeiro e ladro
perigoso, para Gasto Ribeiro dos
Santos (vulgo Capenga) e Janurio
Seabra de Souza; desordeiro
perigoso tambm o termo imputado
a Jos Ribeiro da Silva; [...] Com
estes, [...] noventa e quatro (ex-
marinheiros), aparecem como
designados para os trabalhos da
CLTEMA [...] (SILVA, 2010: 177-178).
No que se refere s mulheres
desterradas que tinham como
endereo inicial o territrio do Acre,
segundo Bento (2010) muitas
tambm tiveram destino igual,
trabalhar na Comisso de Linhas
Telegrficas de Mato Grosso ao
Amazonas, consta que as 44
desterradas foram recolhidas na Casa
de Deteno no Rio de Janeiro e
destinadas s seguintes localidades:
dezenove para Santo Antnio, vinte
e uma para as linhas telegrficas
(grifo nosso), e quatro teriam ficado
em Manaus. (BENTO, 2010: 179)
No foi toa que Rondon
enfrentou diversas dificuldades no
que se refere s deseres, dado que
muitos destes trabalhadores eram
civis, no tinham experincia alguma
no servio militar, e dos soldados,
que de fato havia (militares e
marinheiros), estes no estavam
devidamente preparados para
enfrentar os obstculos que a selva
lhes reservaria, tais como animais
ferozes, doenas, ataque de ndios, o
manejo com ferramentas que eram
usadas para abrir caminhos na selva,
assim como nos elucida Diacon a
respeito desses acidentes e da vida
dura dos soldados de Rondon em
comparao aos demais soldados
brasileiros:
O Dr. Joaquim Augusto Tanajura
como mdico oficial da Comisso
Rondon, viajava incessantemente por
toda a rea de construo das linhas
telegrficas para tratar de doentes e
feridos, praas e civis que se
cortavam s vezes gravemente ao
abrirem picadas na mata [...]
Ferimentos desses tipos foram
frequentes que quase se tornaram
rotina durante a construo das linhas
telegrficas. A vida dos soldados
brasileiros no comeo do sculo XX
no era fcil em nenhuma parte do
pas. Mas a vida do soldado que servia
na Comisso Rondon eram mais difcil
e perigosa. [...] (DIANCON, 2006: 65-
66).
Somando-se a isso, a alta
rigidez com que o tenente-coronel
Rondon, depois coronel nomeado em
1912, comandava seus soldados,
submetendo-os, quando necessrio,
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2 5 jul/dez 2014
a castigos corporais por atos de
indisciplina. Porm, em suas prprias
palavras, Rondon mostrava-se
amargurado por tais atitudes e
tambm magoado, se assim posso
dizer, por receber pessoas
despreparadas no que diz respeito
disciplina militar:
[...] Voltei ao navio, muito
amargurado. Doa-me profundamente
ter sido forado a empregar o
processo do Conde Lipe3. Entreguei-
me a amargas reflexes sobre o fato
de serem enviados para servir
homens indisciplinados, na fase ainda
da obedincia forada [...]
(COUTINHO, 1975: 58).
Alm disso, outro ponto a
respeito das insubordinaes que
merece destaque aqui so as
constantes rebelies e fugas feitas
pela grande insatisfao dos soldados
da Comisso. E um desses episdios
nos esclarecido na obra: Rondon, o
civilizador da ltima fronteira, de
Edilberto Coutinho. O autor revela
que Rondon enfrentou outro
problema, na volta do Rio, onde
revoltosos queriam tirar sua vida:
[...] Entre os soldados da leva mais
recente, estavam cem revoltosos da
fortaleza de Santa Cruz. Resolveram
elimin-lo. Na hora do pagamento,
tomariam conta do acampamento,
liquidariam todos os oficiais e o
comandante daquela misso a que
vieram servir como castigo [...]
(COUTINHO, 1975: 59).
O desfecho desse episdio
inclui o acovardamento de alguns
envolvidos na revolta e nas suas
fugas do acampamento, com um
desertor contando o plano dos
revoltosos e a apreenso dos
fugitivos e as surras ou castigos
corporais aplicados nos
insubordinados.
Assim, entre trancos e
barrancos, superando diversos
obstculos, onde muitas vidas j
haviam sido ceifadas nesse longo
trajeto de sua marcha monumental
rumo defesa e integrao do
territrio, a Comisso Rondon
continuava o curso da idealizao
efetivao das linhas telegrficas da
capital Rio de Janeiro ao territrio
amaznico. Alm, claro, de
disseminar e ampliar o campo da
comunicao amaznica.
2.1- Comisso Rondon chegou ao
Acre?
No Acre, pe-se em discusso
se as linhas telegrficas de Rondon
realmente se efetivaram ou
chegaram nesse Territrio, j que
encontramos certas divergncias
entre estudiosos nessa rea.
Segundo a autora Laura Antunes
Maciel, Rondon teria atingido sua
misso: chegar ao Territrio acreano,
conforme ela mesma afirma em seu
artigo, [...] Rondon, comandante de
expedies militares que construram
milhares de quilmetros de linhas
telegrficas nos Estados de Mato
Grosso, Acre e a Amazonas nos
primeiros anos do sculo XX [...]
(MACIEL, 2001: 138).
J Coutinho afirma que
Rondon chegou apenas at o vale
do Jamari, territrio do atual Estado
de Rondnia, concluindo assim sua
misso:
Volta Roosevelt aos Estados Unidos e
Rondon ao seu acampamento na
selva amaznica. Faltava completar a
ligao do vale do Ji-Paran ao do
Jamari, [...] Terminando esse
trabalho, em 1915, apresenta-se ao
3 Em 1762, Marqus de Pombal nomeou Schaumburg-Lippe, tambm conhecido como Conde de Lippe, ao posto de Marechal General dos Exrcitos de Portugal, dando-lhe
o cargo de governo das armas de todas as tropas de infantaria, cavalaria, drages e artilharia, alm de diretor geral de todas elas. Durante esse tempo Conde de Lippe escreveu os Regulamentos para Infantaria, Cavalaria e os chamados Artigos de Guerra, os quais foram aplicados em Portugal e no Brasil at a entrada em vigor dos Cdigos afetos rea criminal militar. O regimento de Lippe regulava vrias reas da atividade militar, alm da questo disciplinar. Todavia, pela severidade das penas impostas que Conde de Lippe lembrado. Era comum alm das prises os castigos corporais com aoites, chicotadas, pranchadas, e at mesmo a pena de morte. Disponvel em:
www.jurisway.org.br/v2
/dhall.asp?id_dh=5732.
Acesso em 19 de
setembro de 2012.
http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5732http://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=5732
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ministro da Viao: Entrego
concluda, a Linha Telegrfica
(COUTINHO, 1975: 87).
Porm, acreditamos que o
material levantado nas pesquisas
realizadas nos jornais da poca,
entre 1909 e 1912, possa nos
elucidar tal questo como veremos
mais adiante.
No ano de 1910, no
Departamento do Alto Juru, com
sede em Cruzeiro do Sul, via-se
ainda o desejo incessante da
populao da instalao do telgrafo
no Departamento, o qual modificar
radicalmente a vida acreana, dando
um rumo seguro ao progresso
rejional (Jornal CRUZEIRO DO SUL,
1910: 1). A esse incessante desejo o
peridico Cruzeiro do Sul acrescenta
a notcia em sua manchete:
Melhoramentos no Acre, o
estabelecimento do telgrafo na
regio acreana o melhoramento
maximo e o mais urgente a realizar-
se no Territorio, como providencia
indispensavel ao desenvolvimento
das foras economicas desta zona
magnifica (Jornal CRUZEIRO DO
SUL, 1910: 1).
Em junho de 1911, a esse
desejo aliava-se agora a euforia com
a iminncia desse servio em
Territrio acreano, conforme noticiou
o jornal Cruzeiro do Sul,
Nova Era e Novos Horizontes: Trata-
se da instalao, no Territorio do
Acre, do telegrapho sem fio, para a
rapida communicao das sdes dos
Departamentos entre si, e de todos
elles com a capital Federal e com
outras cidades importantes (Jornal
CRUZEIRO DO SUL, 1911: 2).
E o jornal continuava, no ano
seguinte, a noticiar a porvir
instalao da Estao
Radiotelegrfica. Temos fundadas
esperanas de communicarmo-nos
com o mundo, radiographicamente,
at o dia 25 do corrente (Jornal
CRUZEIRO DO SUL, 1912: 2). O que
foi realizado somente no dia 5 de
maro de 1912, conforme a matria
do jornal:
Estao Telegraphica: As duas horas
da tarde precisamente, tera feira, 5
do corrente, o sr. dr. Paulo Mller,
engenheiro encarregado do servio de
installao da Estao do Monte
Fleury, acompanhado do sr. Max
Ehlk, telegraphista contractado e
competente interprete, fez entregar,
ao Exm. Sr. Capito Francisco
Siqueira [...] dois primeiros
radiogrammas [...] Esse auspicioso
momento offereceu ensejo ao operoso
republico, que chefe do executivo
departamental, de, fazendo servir aos
dois dignos membros da Commisso
da Empreza Telefunquem e pessoas
presentes, um profundo copo de
cerveja, [...] (Jornal CRUZEIRO DO
SUL, 1912: 1).
A propagao deste servio
no iria tardar, j havendo notcias
de mais Estaes Radiotelegrficas a
serem instaladas no territrio, J
est a caminho o material para a
Estao Radiographica, que, em
curto espao de tempo, dever ser
inaugurada, em Villa Seabra, no
Tarauac (Jornal CRUZEIRO DO
SUL, 1912: 1).
Apesar das divergncias entre
alguns estudiosos no assunto, no
Acre os telgrafos s chegaram por
volta do segundo semestre de 1911 e
do primeiro semestre de 1912,
conforme confirma a manchete do
jornal Folha do Acre do dia 23 de
fevereiro do ano de 1913, Pedimos
gentileza intervir junto honrado
ministro Viao, fim conseguir
regularisao servio radiographico
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Acre, cujas estaes inauguradas
mais de um anno, no funcionam
[...] (Jornal FOLHA DO ACRE,
1913:1). E estes no eram a linhas e
sim sem fios, por isso,
Radiotelegrficos, o que credita que
as Linhas telegrficas da Comisso
Rondon realmente no chegaram a
este territrio. Entretanto, esse fato
no tira o mrito inegvel de sua alta
contribuio para a ampliao dos
meios de comunicao modernos
no Acre.
Estao Radiotelegrfica no Acre (Figura 1).
Observamos na figura 1 uma
das primeiras estaes
Radiotelegrficas do Territrio
acreano. No conseguimos dat-la,
entretanto fazemos tal afirmao, de
ser uma das primeiras estaes do
nosso territrio, por causa da sua
estrutura arquitetnica, onde
notamos que essa Estao
construda toda em madeira e
rodeada por uma grande varanda,
muito parecida com a sede da
prefeitura e da polcia de Rio Branco
antes dos anos 1920, j que as
construes em alvenaria s seriam
aplicadas com mais nfase no Acre,
se assim podemos definir, a partir do
governo Hugo Carneiro, de 1927 a
1930, que construiu o Mercado
Municipal, o quartel da Polcia Militar
e iniciou a obra do Palcio do
Governo, todos com uma arquitetura
moderna nos moldes europeus e em
alvenaria.
No Acre, o servio de
telegrfico veio a se juntar h outras
vias de comunicao, como as cartas,
os jornais ou peridicos de circulao
da poca e a agncia dos Correios.
Esta ltima instalada no dia 11 de
agosto de 1910, de acordo com a
Enciclopdia dos Municpios
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Brasileiros (1957), como j afirmava
antecipadamente o Jornal O Alto
Purus em sua manchete: Correio do
Territorio onde informava a criao
oficial da Administrao dos Correios
de 4 classe no territrio do Acre:
O presidente da Republica dos
Estados Unidos do Brasil, usando da
autorisao que lhe confere o n
XXXVI do art. 16, da lei n 2050, de
31 de setembro de 1908, decreta: Art
I Fica creada uma administrao de
correios de 4 classe, no Territorio do
Acre, devendo ser os vencimentos do
respectivo pessoal duplos dos fixados
para as administraes daquella
categoria [...] Art. 2 As primeiras
nomeaes sero de competencia do
Governo e do director geral dos
Correios. [...] A vista do exposto,
tenho a honra de submetter
assignatura de V. Ex. Projeto de
decreto declarando creada
administrao postal de 4 Classe do
Territorio do Acre e abrindo o credito
necessario sua instalao. Rio de
Janeiro, 23 de setembro de 1909 -
Francisco S (Jornal O ALTO PURUS,
1909: 2).
Agncia dos Correios e Telgrafos (D.C.T.). Data: Dcada de 1940 (Figura 2).
Observamos na fotografia
acima as instalaes do D.C.T., j
mais moderna, em alvenaria. O D.C.T
foi instalado no Territrio acreano no
dia 7 de maio de 1913, hoje, o D.C.T
conhecido como Agncia dos
Correios do Brasil. Vale ressaltarmos
que tal informao um achado para
levantarmos a histria da Agncia
dos Correios no Acre, porquanto o
rgo no possui fontes histricas
sobre sua prpria histria no Acre.
Enfim, a chegada do telgrafo
em nosso territrio significou muito
mais que um simples veculo rpido
e silencioso das ordens dos governos
e das medidas tticas dos exrcitos e
marinhas (MOREIRA, 1924: 5), mas
sim um relevante instrumento que
permitiu a integrao com o restante
do pas, por meio das comunicaes,
e o reconhecimento de um espao
antes desconhecido por parte dos
brasileiros, ajudando na efetivao
da comunicao em nossa regio que
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seria continuada com a construo
das estradas de rodagem terrestres
que consistiriam em novas vias de
comunicao conectando o Acre ao
restante da nao e do mundo.
3- Construo das estradas de
rodagem no Acre
Outro meio importante, assim
como o rio, que viria permitir que as
notcias chegassem e sassem que a
comunicao transitasse e se
desenvolvesse no Territrio acreano,
foi a estrada de rodagem.
A construo de estradas de
rodagem no Acre era considerada por
seus administradores, os prefeitos
dos Departamentos, uma idealizao
que traria uma maior integrao com
o pas, e o caminho que levaria ao
to sonhado progresso para essas
terras. J para os chefes polticos do
pas, uma oportunidade de maiores
lucros com os produtos acreanos,
como a borracha, a castanha e
outros, j que se teria maior
facilidade de escoamento de tais
produtos exportao. E esse desejo
j era visto nos primeiros anos do
sculo XX.
Em 1907 j se viam planos
de governo para a abertura de
estradas de rodagens no Acre para
auxiliar as estradas fluviais, encurtar
caminhos, enfim, facilitar o
transporte, a comunicao do
Territrio acreano e os interesses
econmicos dos grandes proprietrios
de terras, empresrios e dos
governantes do pas. E veramos isso,
nitidamente, anos mais tarde, com a
chegada da pecuria no estado do
Acre.
No ano corrente criada uma
comisso de obras federais no
territrio do Acre, sob decreto federal
de N 6.406, de oito de maro do
ano de 1907. E isso observado nos
relatrios dos anos de 1907 e 1908
do Ministrio da Justia e
Negociaes Interiores:
O Presidente da Republica dos
Estados Unidos do Brazil, para dar
execuo ao disposto no art. 8, letra
C, da lei n. 1617, de 30 de dezembro
de 1906, decreta: Art. 1 Fica creada
no Territorio do Acre uma commisso
de obras com jurisdico nos tres
departamentos do mesmo Territorio e
immediatamente subordinada ao
Ministerio da Justia e Negocios
Interiores. [...] Art. 7 Compete
commisso promover a realizao das
seguintes obras:1, abertura de
estradas; 2 desobstruco de rios;
[...] (BRASIL, 1908: 4-5).
O incessante desejo de
interligar o Territrio acreano s suas
demais localidades, ou seja, interlig-
lo entre seus departamentos e zonas
de escoamento de produtos (alguns
pontos de navegao),
intraterritorialmente, era a meta do
governo do pas, j que o Territrio
acreano era apenas alcanado pelas
vias fluviais, e tambm para encurtar
distncias, ou melhor, para no
desperdiar o longo tempo que se
consumia nas viagens fluviais e no
ficar refm dos perodos de
enchentes ou secas dos rios.
Passo agora a relatar o esforo da
commisso de obras no Acre, desde
sua chegada a Cruzeiro do Sul at
esta data, para executal-o. Estradas
das tres Prefeituras- O trabalho de
maior relevancia contido no vasto
programma de melhoramentos no
Acre o da ligao entre as tres
Prefeituras por uma estrada de
rodagem que, continuada em direco
Leste-Oeste, abre-lhe tambem
escoadouro em ponto perenne
navegao no Purs ou no Madeira.
[...] O opulento e fertilissimo
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Territorio do Acre acha-se
actualmente ligado ao Brazil apenas
por duas vias de comunicao fluvial-
o Juru e o Purs. Durante os mezes
de junho a outubro as aguas destes
rios baixam tanto que s permittem
navegao de canoas e pequenas
lanchas de exiguo calado, um ou dous
ps no maximo.[...] Durante a baixa
do rio os habitantes do Alto Acre, Alto
Purs e Alto Juru, separados do
mundo, raramente recebendo noticias
de seu paiz [...] A constancia das
communicaes, a frequencia das
noticias e a facilidade das viagens,
pela construco da estrada Leste-
Oeste e de seus accessorios
telegraphicos. Vir sanar tantos males
e melhorar as condies sociaes da
populao nesta zona residente [...]
(BRASIL, 1908: 12-13).
Como j observado, as
estradas terrestres ou de rodagem
entram em cena na primeira dcada
do sculo XX no Territrio acreano, j
com o intuito de dar mais
possibilidades, de efetivar o sonho do
progresso, a rapidez nos
transportes e na comunicao,
possibilitando a maior circulao das
notcias, auxiliando a efetivao e
desenvolvimento dos meios de
comunicao no Territrio. Alm da
integrao das terras acreanas que
agora faziam parte do territrio
brasileiro, e, claro, os interesses
econmicos vigentes.
Isso ser bem enfatizado na
matria intitulada Histria de uma
Estrada no peridico O Acre, de
1950. A abertura de estradas ligando
os municpios acreanos tem sido a
constante preocupao dos governos
desde a instituio do Territrio,
porque a consideram, e de fato o
problema fundamental, a base de seu
progresso (Jornal O ACRE, 1950: 1).
Ento, a partir dos anos de
1907 e 1908 comearam as
aberturas de estradas de rodagem,
valendo ressaltar que o que
realmente almejavam eram as to
sonhadas estradas de rodagem.
Contudo as primeiras estradas
terrestres eram somente trafegadas
por pessoas, comboios3 de animais e
carroas.
Como plano geral impe-se primeira
vista: 1- Estradas de rodagem
ligando entre si as tres sdes de
administrao, atravessando sempre
Territorio Federal. E pelos estudos e
informaes colhidas, o terreno
presta-se, em geral, sem difficuldade
de alta monta, e at esse servio j
foi atacado em varios trechos embora
de modo rudimentar. No Territorio do
Alto Juru, partindo de Cruzeiro do
Sul existe j aberto um picado de
190 kilometros, do qual 110 tm sido
percorrido a cavalo; os outros 80
kilometros prolongados no mesmo
rumo geral alcanam Cocamera na
margem do Tarauac (BRASIL, 1908:
46-47).
Tal estrada ligava Tarauac a
Cruzeiro do Sul, como elucida
Tocantins: existiu, por volta de
1908, uma picada4 de um metro de
largura e com extenso de 300
quilmetros, unindo Cruzeiro do Sul
ao seringal Cocamera, nas margens
do Tarauac, pouco acima da cidade
deste nome (TOCANTINS, 1983:
114). Tal estrada ficaria conhecida
como estrada do Juru ou estrada
Bueno, nome dado em homenagem
ao engenheiro chefe Bueno de
Andrade, o qual foi enviado pela
Comisso de Obras Federais ao
Territrio acreano.
Porm essa estrada no
vingou, ou devido s dificuldades
naturais (solo inapropriado e o
inverno amaznico) ou/e falta de
recursos, que resultaram no
abandono da obra, que o que
3 Tropilha de animais, geralmente burros e cavalos, que conduzem mercadorias.
4 Atalho estreito, aberto
no mato a golpes de faco.
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acontece a todas as estradas ou
simples varadouros quando no
recebem os cuidados da
conservao (Jornal O ACRE, 1950:
1).
Ainda segundo a matria
Histria de uma Estrada, de 1950,
houve a construo de outra estrada
de rodagem no Acre, sendo uma das
primeiras no territrio, a Estrada
Iaco-Acre ou estrada Lobo como
ficou conhecida em homenagem ao
engenheiro Gasto Lobo, a quem foi
incumbido o servio pelo Governo
Federal. Tal estrada ligaria a cidade
de Sena Madureira a Rio Branco,
porm, assim como a estrada do
Juru, esta no teve xito devido
aos mesmos problemas.
Entre 1915 e 1917, houve
outro esforo da reabertura da
estrada Lobo, porm sem xito. O
prefeito do Departamento do Alto
Purus, saudoso Coronel Avelino de
Medeiros Chaves [...] mandou reabrir
as estradas carroveis, [...] mas
no pde levar adiante o seu
propsito, devido exigidade de
recursos (Jornal O ACRE, 1950: 1).
No governo Hugo Carneiro
(1927 a 1930), houve outra tentativa
de reabertura da estrada Lobo,
porm mais uma vez infrutfera. Essa
passagem relatada por ele, em seu
relatrio de Governo, onde fala do
motivo pelo qual no houve sucesso
e ainda comenta sobre a construo
de estradas de rodagem no Acre:
Logo que assumi o Governo tentei a
reabertura da Estrada Lobo, que liga
a capital do Territorio cidade de
Senna Madureira, no municpio do
Purus. Cheguei a reconstruir dois
Kilometros, [...] Mas, verificando que
custava o Kilometro, dezoito contos
em trechos favoraveis ao servio, [...]
abandonei a ida e, hoje, por
observao feita in loco, descreio das
vantagens da estrada de rodagem no
Acre, ainda pouco povoado. E em
grande parte da rea do Territrio
dominada por igaps, varadas de rios
e igaraps, assentando sobre terrenos
de alluvio, que tambem difficutam,
sino impedem, a construco das
estradas de rodagem [...] (Relatrio
HUGO CARNEIRO, 1930: 87-88).
Entretanto, no ano de 1947
houve a abertura do primeiro trecho
que ia de Rio Branco a Plcido de
Castro, como afirma Tocantins:
A praticvel poltica rodoviria foi
iniciada em 1947, com a abertura do
primeiro trecho da Transacreana, de
Rio Branco a Plcido de Castro, vila s
margens do Abun. A estrada mede
105 quilmetros e por ela j se
cruzam caminhes, transportando
borracha e castanha do vale daquele
rio para o do Acre, e fazendo o giro de
mercadorias (TOCANTINS, 1983:
113).
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Estrada Rio BrancoAbun no perodo de inverno (figura 3).
Observamos na figura 3 o
estado da estrada Rio Branco-Abun
no perodo de chuvas da regio. A
qual se tornava intrafegvel para
veculos motorizados e difceis at
mesmo para comboios de animais.
J em outubro de 1952,
noticiava o jornal O Acre a
inaugurao da estrada de Plcido de
Castro a Rio Branco:
Foi escolhido o dia 24 de outubro
corrente, para a inaugurao de
importante obra que a rodovia
ligando a Capital vila de Plcido de
Castro no Abun, [...] A estrada
receber a denominao de Rodovia
Plcido de Castro, em homenagem
ao grande caudilho da Revulao
Acreana, e a sua inaugurao
constituir o marco inicial da era
rodoviria no Acre [...] (Jornal O
ACRE, 1952: 1).
Estrada Rio Branco Abun (Figura 4). Fonte: Documentrio Fotogrfico - Dr. Valrio
Magalhes - 1957 a junho de 1958.
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Nesta figura 4, nos so
elucidados o estado e as condies
das primeiras estradas de rodagem
do Acre, nesse caso, a estrada do
Abun, que ligava o Territrio
Acreano intraterritorialmente, que no
perodo chuvoso tornava-se quase
certa a sua intrafegabilidade.
Observamos um veculo motorizado,
conhecido como Rural, que foi
vencida pelos atoleiros da estrada.
Foi ento a partir do final da
dcada de 1940 e incio da dcada de
1950, que se volta a sonhar com a
idealizao das estradas de rodagens
em Territrio acreano. Logo, entrava
em cena a poltica rodoviria.
Por volta da dcada de 1950,
houve a abertura da BR- 317, que
ligava o municpio de Boca do Acre
(Amazonas) ao municpio de Rio
Branco, capital do Acre, financiada
por verbas federais. Depois a BR
incorpora a rodovia Plcido de
Castro, ligando Rio Branco ao
municpio de Xapuri, e, dcadas
depois, interligando aos municpios
de Brasilia e Assis Brasil, sendo
hoje, tambm, conhecida como
Estrada do Pacfico, fronteira com o
Peru.
No ano de 1958, o presidente
da Repblica Juscelino Kubitschek
estabelece decreto para a construo
de uma nova rodovia, a BR- 364. No
mesmo ano comea a abertura da
rodovia no trecho Porto Velho - Rio
Branco. J na dcada de 1960, a
obra continua nesse trecho e
tambm entre Cruzeiro do Sul e Rio
Branco.
Nesse momento destacam-se
nessa empreitada o 5 BEC, o DNER,
anos depois, o 7 Batalho de
Engenharia de Construo (7 BEC)
criado no municpio de Cruzeiro do
Sul, no ano de 1969, filho do 5
BEC, j que o 7 BEC foi criado por
soldados oriundos do 5 Batalho, e
o DERACRE- Departamento de
Estradas de Rodagem do Acre, criado
um pouco antes, no ano de 1963.
As construes dessas
rodovias tambm trazem relatos
engraados, como no relato do
Amorim, servidor civil do 7 BEC, ele
nos conta que:
Com a zoada do moto- serra, o seu
Chico Piris que morava l na
Alagoinha, quando ouviu a zoada
disse: O mundo vem se acabando e
deixou a casa dele abandonada. E nos
cheguemo l (risos) tava a casa
abandonada e nos tomemo conta para
ele, no outro dia o seu Chico Piris
apareceu [...] (Filme do 7 BEC,
2009).
Porm as construes dessas
rodovias foram lentas e difceis, j
que o solo era totalmente argiloso
(tabatinga), alm dos perigos
encontrados na selva amaznica,
que, assim como a construo das
linhas telegrficas, lhes impuseram
vrios desafios e/ou obstculos, tais
como doenas, animais perigosos,
barreiras naturais, dentre outros. O
maior desafio que essas equipes de
trabalho enfrentaram, alm das
adversidades da prpria misso,
eram as doenas tropicais, como a
malria, leishmaniose, doena de
chagas e outras (Revista BATALHO
BEC, 2003: 24).
O General Tarciso, ex-
combatente do 7 BEC, em seu relato
revista A Imagem de uma Vida,
feita em comemorao aos 40 anos
desse batalho, relata uma das
dificuldades frequentes na
implementao da rodovia BR- 364 e
exalta a sua obra; segundo ele:
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Na implantao ficavam os topgrafos
l no trecho, e muitas vezes eles
ficavam completamente ilhados e a
sobrevivncia deles dependia muito
da pontaria dos tripulantes dos avies
da FAB que jogavam mantimentos de
para-quedas. uma histria
magnfica [...] (Filme do 7 BEC,
2009).
Tal fato se atribua pelas
matas fechadas, pssimas condies
climticas e do solo, j que os
alimentos e outros mantimentos
chegavam atravs dos avies que
sobrevoavam a rea.
Logo, nos primeiros anos de
construo e estabelecimento dessas
rodovias o trfego era difcil,
principalmente no inverno, quando se
tornava intrafegvel, interrompendo
as comunicaes e transportes nesse
perodo, alm de suas limitaes
quanto a sua ligao com toda a
regio acreana, ou seja, ligaes no
seu interior, ligando um municpio ao
outro e ligao com o restante do
Brasil. Tais rodovias s iriam ser
concludas totalmente (asfaltadas) no
final da dcada de 1990 e na
primeira dcada do ano de 2000. At
essas datas as condies das
rodovias eram precrias, como j
salientado anteriormente, a
trafegabilidade se tornava
praticamente impossvel, e,
consequentemente, a comunicao
na regio era afetada, pois atravs
das estradas e dos meios de
transporte que por ela trafegavam
que as cartas, jornais, notcias,
livros, enfim, a comunicao chegava
mais rpido na regio.
Trecho da BR- 364 na dcada de 1990 (Figura 5). Fonte: DERACRE
Nesta figura 5, observamos as
condies das estradas na dcada de
1990, no caso, a BR- 364,
responsvel pela ligao do Acre ao
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Estado de Rondnia. Mais uma vez,
vemos o drama das estradas
acreanas, onde o Homem sucumbia
as suas pssimas condies de
trafegabilidade. Notamos diversos
caminhes que transportavam
mantimentos, pessoas e outros
produtos para a regio. Alm dos
esforos dos homens para
desatolarem os veculos e
permitissem a continuidade da
viagem.
Vale ressaltar que caberia
aqui um olhar maior e mais
contemplativo da histria da
construo dessas vias de
comunicao, pois dessa histria
participaram inmeras vidas,
desbravadores, homens que
perderam suas vidas nessa
empreitada de integrao do
territrio brasileiro, de mulheres que
mais uma vez foram ocultadas ou
silenciadas na histria dessa grande
construo, de conflitos, expulses e
violncia contra os ndios que
moravam na floresta, a qual
precisava ser derrubada para a
construo da rodovia.
Entretanto, como bem
observamos no dizer de Aijaz Ahmad,
onde toda tomada de posio poltica
implica fechar a porta para outras
possibilidades, continuamos aqui o
nosso olhar superficial para to
somente a insero das vias de
comunicao no Acre nas primeiras
dcadas do sculo XX. De como elas
foram elas se desenvolvendo e se
estabelecendo ao longo do tempo,
desde o rio, passando pelas estradas
de terra, pela telegrafia at a
chegada dos meios de comunicao
modernos e suas mdias, neste
caso, a Rdio Difusora Acreana.
FONTES E REFERENCIAIS BIBLIOGRFICOS:
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Publicaes peridicas:
Artigos e/ou matria de peridicos:
Revista Batalho BEC, 34 anos de Histria, 2003, p.24.
Artigos e/ou matrias de jornais: Jornais
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______. 25 de junho de 1911, ano VI, n 164, p. 2.
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23
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24
2 5 jul/dez 2014
LUTA PELA POSSE DA TERRA EM
UMA REGIO DE
FRONTEIRA:TOLEDO/PR
Nilton Marques de Oliveira1
Leandro de Arajo Crestani2
Rosngela Maria Pontili3
Moacir Piffer4
Resumo
A microrregio de Toledo, situada no
Oeste do Paran, tida como uma regio
de fronteira, detentora de grande rea
rural, cujas terras so reconhecidas como
estando entre as melhores do mundo, em
termos de fertilidade e produtividade. Em
vista disso, a presente pesquisa objetivou
analisar os conflitos agrrios da referida
regio, tendo como referncia o perodo
de 1960 a 1970. Foram analisados os
Autos Criminais da Comarca de Toledo
(1960-1970) e os registros do Ncleo de
Documentao e Pesquisa (NDP) da
Unioeste/Campus Toledo, comprovando-
se a ocorrncia de diversos conflitos pela
posse de terra, os quais evidenciaram a
existncia de uma disputa entre os donos
do poder contra: colonos, posseiros e
grileiros. Concluiu-se, assim, que parte
do sofrimento do campons no foi
retratada na histria oficial de Toledo, na
qual ficou em destaque somente os
grandes homens, ou aqueles que
tinham condio de manipular a justia a
seu favor.
PALAVRAS-CHAVE: regio de fronteira,
conflitos agrrios, proprietrios de terra
Abstract
The micro-Toledo, located in the West of
Paran, is regarded as a frontier region,
holds large rural area, whose lands are
recognized as being among the best in
the world in terms of fertility and
productivity. In view of this, the present
study aimed to analyze the agrarian
conflicts in that region, with reference to
the period 1960-1970. We analyzed the
Crime Criminal Records of the District of
Toledo (1960-1970) and the records of
the Ncleo de Documentao e Pesquisa
(NDP) of the Unioeste/Campus Toledo,
confirming the occurrence of many
conflicts over land, which showed the
existence of a dispute between the
owners of power against: settlers,
squatters and land grabbers. It was
concluded therefore that of the suffering
of the peasant was not portrayed in the
official history of Toledo, which was
highlighted in only the "great men", or
those who had conditions to manipulate
justice in your favor.
KEYWORDS: border region, land
disputes, land owners
1. INTRODUO
Este trabalho objetiva analisar
o conflito agrrio na Microrregio de
Toledo- PR, entre 1960 e 1970. A
escolha desse perodo deve-se ao
fato de que a colonizao do Oeste
do Paran iniciou-se nas dcadas de
1940 e 1950 e, entre 1960 e 1970,
deu-se grande parte dos conflitos de
terra nessa regio. Tal fato merece
ateno por parte da academia, dada
a importncia de estudar e entender
como se deu o processo de ocupao
em uma regio de fronteira, onde a
terra tida como uma das melhores
do mundo, em termos de fertilidade e
produtividade. Nesse sentido, o
artigo uma reflexo acerca da
especulao, concentrao e
apropriao das terras devolutas que
geraram, posteriormente, os
confrontos e conflitos contra os
colonos e posseiros na regio de
Toledo-PR, enquanto forma de
entendimento utilizado para se
compreender aquela realidade, suas
disputas, conflitos e hegemonia de
grupos locais e regionais.
1 Doutorando em Desenvolvimento Regional e Agronegcio / Unioeste Professor da Universidade Federal do Tocantins / UFT [email protected] 2 Doutorando em Histria Contempornea na Universidade de vora. Professor da Faculdade Sul/FASUL [email protected] 3 Doutoranda em Desenvolvimento Regional e Agronegcio/Unioeste Professora Assistente da Universidade Estadual do Oeste do Paran Campus Cascavel; [email protected] 4 Professor do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional e Agronegcio [email protected]
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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25
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No processo de investigao
sobre a temtica, pode-se constatar
que muitas pesquisas realizadas
sobre o Oeste do Paran
preocuparam-se em conhecer o
processo de colonizao. A maioria
das publicaes existentes est em
consonncia com a retrica produzida
pela colonizadora (MARIP), ou seja,
observa-se uma certa fidelidade ao
que a empresa escreveu sobre si
mesma, a partir da aceitao de um
vasto complexo narrativo que faz
dela o centro irradiador da histria do
Oeste paranaense (SCHNIEDER,
2001:4).
Diante do vazio na escrita
sobre os conflitos agrrios na
Microrregio de Toledo, a
problemtica que persiste nessa
pesquisa o estudo de disputas
territoriais na regio Oeste do
Paran. Uma questo de disputa das
fronteiras agrcolas entre a donos do
poder contra colonos, posseiros e
grileiros.
Delimita-se como marco
temporal de referncia o ano de 1960
at o ano de 1970. Dessa forma, o
estudo pretende compreender a
dinmica da formao das fronteiras
internas desse processo, a qual
moldou a forma institucional desse
mercado de terras. Contudo, o
estudo da formao do mercado de
terras no Oeste do Paran o ponto
chave para o entendimento das
fronteiras internas.
A questo agrria no Oeste o
Paran tem sua origem no prprio
processo de ocupao das terras
devolutas na faixa de Fronteira. Ao
longo dos anos, a estrutura agrria
do Oeste decorreu da explorao e
expropriao de famlias que viviam
na zona rural e que possuam
unicamente ou pouca coisa alm de
sua fora de trabalho.
Assim, investigam-se os
conflitos agrrios na Microrregio de
Toledo, a partir, principalmente dos
Autos Criminais da Comarca de
Toledo (1960-1970) do Ncleo de
Documentao e Pesquisa (NDP) da
Unioeste/Campus Toledo, referentes
aos municpios de Toledo, Marechal
Cndido Rondon, Quatro Pontes,
Nova Santa Rosa, Marip, So Luiz
do Oeste, So Pedro do Iguau e
Ouro Verde do Oeste. Foram
estudados aspectos como a
composio do patrimnio produtivo
e das fortunas das terras do Oeste,
bem como a evoluo do preo dos
bens de produo ao longo do tempo.
Entre todos os bens, a terra teve
papel privilegiado na anlise, tendo
em vista a importncia que o
processo de mercantilizao do
campo adquiriu, neste momento,
enquanto varivel a influenciar as
transformaes das estruturas
agrria e fundiria do Oeste
Paranaense.
A metodologia foi entendida
como caminho ou procedimento de
reflexo e anlise necessria para a
articulao do corpo conceitual (ou
teoria) com a realidade de
investigao. No estudo de caso da
Microrregio de Toledo - PR busca-se
a abordagem analtico-comparativa
na compreenso das disputas
territoriais do Oeste paranaense.
Isto posto, este artigo est
divido em trs partes, alm desta
introduo, a seguir apresenta-se
uma breve discusso sobre o
conceito de fronteira, territrio e
espao, com o intuito de embasar
teoricamente os conflitos agrrios
que ocorreram numa regio de
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fronteira, no caso na Microrregio de
Toledo-PR. Na terceira parte, feita
a anlise dos conflitos agrrios na
microrregio de Toledo. Por fim, as
consideraes finais sumarizam este
estudo.
2. FRONTEIRA, TERRITRIO E A
VALORIZAO DO ESPAO
Nesta seo ser apresentada
uma breve discusso sobre fronteira,
territrio e espao, entendo-se que
se faz necessria essa discusso para
compreender a problemtica da
ocupao e dos conflitos agrrios que
aconteceram na Microrregio de
Toledo-PR. Primeiro apresenta-se a
discusso sobre fronteira depois
territrio e, por fim, sobre espao.
Martins (2009) analisa os
aspectos da multiplicidade da
fronteira. O elemento unificador dos
estudos o desencontro entre
diferentes grupos sociais que juntam
e se separam entre a esperana por
um pedao de cho, ou o destino
trgico, a morte. assim que
posseiros, indgenas, missionrios,
colonos e capitalistas tramam seus
destinos pela luta da posse de terra
compondo as mscaras que se
esfacelam na tragdia da fronteira. O
autor tece sem retoques um espao
social marcado pelos caminhos e
pelos descaminhos.
Os estudos de Martins (2009)
contradizem a lgica dominante
sobre a ocupao das fronteiras dos
estados brasileiros, pois na lgica
tradicional na formao das
fronteiras internas destacam-se as
figuras proeminentes ou grupos
sociais, que, desbravando um
territrio selvagem e despovoado,
teriam construdo a civilizao no
espao recm-conquistado. Mas na
verdade isso no acontece dessa
forma idlica.
Para a compreenso de
fronteira Martins (2009) analisa a
frente pioneira e a frente de
expanso. A frente pioneira (p.186)
se define economicamente pela
presena do capital na produo, e a
frente de expanso, como uma
concepo que percebe a ocupao
do espao sem a mediao do
capital, tomando como referncia
primeira as atividades dos indgenas.
Nas palavras de Martins (2009:163):
fronteira tem dois lados e no um
lado s, o suposto lado da civilizao;
se entendermos que ela tem o lado
de c e o lado de l, fica mais fcil e
mais abrangente estudar a fronteira
como concepo de fronteira do
humano.
Ao estudar a frente de
expanso brasileira, o autor
desvenda os segredos da situao de
fronteira, reconstroi analiticamente
mediante a insero social, os nexos
da conflitualidade na fronteira, lugar
que, na ausncia expressa de
instituies pauta grande parte das
relaes pela dominao
personalizada, mediante a ao de
foras repressivas do privado. Na
anlise sobre a reproduo do capital
na frente pioneira, analisa-se a
escravido por dvida ou peonagem,
expresses do cativeiro no
capitalismo da fronteira do Brasil,
demostrando-se que essa forma de
explorao constitui um dos
elementos da acumulao primitiva
no interior da reproduo ampliada
do capital, a presena
contempornea de relaes sociais
do passo reatualizadas enquanto
produtos do capital (MARTINS,
2009).
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Na perspectiva de Pujals
(2008) as fronteiras tradicionais, que
se conhece, esto se apagando, e as
culturas entram em contato medida
que os mercados se intercomunicam
e as informaes vo e vem de um
lado a outro do mundo em tempo
real. As fronteiras da atualidade no
so as fronteiras tradicionais, nem as
histricas. No so as fronteiras
poltico-administrativas. Tampouco as
fronteiras lingusticas. Nem to
somente as fronteiras que vm
marcadas pela renda per capita ou
pelo nvel de bem-estar social. As
novas fronteiras so as da
mentalidade, do pensamento e do
imaginrio coletivo. Mud-las ou no,
expandi-las ou no, algo que s
depende de ns.
A seguir discute brevemente o
conceito de territrio. Entre as
muitas conceituaes possveis,
pode-se entender o territrio como o
espao de interaes dos
subsistemas natural, construdo e
social, os quais compem o meio
ambiente nacional, regional e local. O
territrio no se entende apenas
como entorno fsico onde se
desenrola a vida humana, animal e
vegetal e onde esto contidos os
recursos materiais, mas compreende
tambm a atividade do homem que
modifica esse espao. o cho mais
a populao, ou seja, uma
identidade, o fato de pertencer quilo
que nos pertence (SOARES, 2009).
Na viso de Pires et al. (2011)
o termo territrio exprime uma
relao melhor entre um grupo que
exerce domnio sobre certa poro do
espao, geralmente remete a
relaes de poder ou controle sobre
uma rea. Esse controle pode ser
fsico, com ocupao de uma rea, ou
pode ser poltico e econmico de
forma simblica, como uma marca de
produtos que domina certa poro do
mercado em determinado local. A
discusso sobre territrio vem de
muito tempo, iniciando por conceitos
voltados para a natureza,
principalmente relacionados aos
animais, ou as reas geogrficas,
onde os processos de ocupao se
desencadearam.
Segundo Albagli
o territrio no se reduz ento sua
dimenso material ou concreta; ele ,
tambm, um campo de foras, uma
teia ou rede de relaes sociais que
se projetam no espao. construdo
historicamente, remetendo a
diferentes contextos e escalas: a
casa, o escritrio, o bairro, a cidade, a
regio, a nao, o planeta. Da que o
territrio seja objeto de anlise sob
diferentes perspectivas geogrfica,
antropolgico- cultural, sociolgica,
econmica, jurdico-poltica e
bioecolgica (ALBAGLI, 2004, 23).
Este conceito est ligado ao
espao de atuao das pessoas,
deixando o territrio restrito s reas
onde o seu controle pode atingir, de
forma direta. Sack (1983) destaca a
territorialidade como um conceito
amplo, abrangendo uma escala
infinita, exemplificando os limites que
so dados a uma criana ao adentrar
ao escritrio, impondo onde ela pode
ou no mexer ou ir, restringindo o
seu territrio. Desta forma Claval
(1999) tambm coloca que a ideia de
territrio se aplica a todas as escalas,
desde uma pea em um escritrio at
a de um Estado, e assim pode-se ver
que h uma srie de dimenses que
influenciam a gnese, a dinmica e a
diferenciao dos territrios, das
quais Albagli (2004) descreveu
algumas: a dimenso fsica, a
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2 5 jul/dez 2014
econmica, a simblica e a
sociopoltica.
Assim sendo para colocar em
discusso um territrio ser
necessrio levar em considerao as
questes fsicas, sociais, culturais,
afetivas, simblicas, polticas e
econmicas e focar na escala que se
deseja abranger, logicamente sem
deixar de lado a sua abrangncia. A
escala a ser estudada aqui est
voltada s questes que envolvem o
ser humano, o rural, o urbano e o
desenvolvimento de seu territrio.
Haesbaert (2012: 37) aborda
a amplitude do conceito de territrio
e territorialidade, por dizerem
respeito espacialidade humana5,
tm uma certa tradio tambm em
outras reas, cada uma com enfoque
centrado em um determinada
perspectiva. Enquanto o gegrafo
tende a enfatizar a materialidade do
territrio, em suas mltiplas
dimenses, a Cincia Poltica enfatiza
sua construo a partir de relaes
de poder, ligada concepo de
Estado; a Economia, que prefere a
noo de espao de territrio,
percebe-o muitas vezes como um
fator locacional ou como uma das
bases da produo (capital-trabalho);
a Antropologia destaca sua dimenso
simblica, no estudo das sociedades
ditas tradicionais; a Sociologia o
enfoca a partir de sua interveno
nas relaes sociais, em sentido
amplo, e a Psicologia, finalmente
incorpora-o no debate sobre a
construo da subjetividade ou da
identidade pessoal, ampliando-o at
a escala do indivduo.
Haesbaert (1995; 1997); bem
como Haesbaert e Limonad (1999)
sintetizam as noes de territrio em
trs vertentes bsicas: i) poltica: a
mais difundida, onde o territrio
visto como um espao delimitado e
controlado, atravs do qual se exerce
um determinado poder, na maioria
das vezes, no exclusivamente,
relacionado ao poder poltico do
Estado; ii) cultural: prioriza a
dimenso simblica e mais subjetiva,
em que o territrio visto,
sobretudo, como produto da
apropriao/valorizao simblica de
um grupo em relao ao seu espao
vivido; iii) econmica: menos
difundida, enfatiza a dimenso
espacial das relaes econmicas, o
territrio como fonte de recursos
e/ou incorporado no embate entre
classes sociais e na relao capital-
trabalho, como produto da diviso
territorial do trabalho.
J para Moraes (2005: 53) o
territrio um resultado histrico do
relacionamento da sociedade com o
espao, o qual s pode ser
desvendado por meio do estudo de
sua gnese edesenvolvimento. Com
outra abordagem Sposito (2004: 17)
destaca que o territrio deve ser
analisado levando em considerao
quatro concepes: a primeira a
naturalista, a segunda mais voltada
para o indivduo, a terceira quando
se identifica outra abordagem de
territrio, em que este confundido
com espao e a quarta aquela
definida pelas transformaes que a
sociedade impe natureza.
Desta forma, pode-se verificar
que territrio est envolto na
conquista dos indivduos (quer seja
pessoa fsica, jurdica ou o estado),
conquista esta de um espao onde
possam viver conviver e ter os seus
relacionamentos. Assim, o territrio
representaria de forma identitria e
afetiva o local que lhe pertence.
5 Alguns autores distinguem espao como categoria geral de anlise e territrio como conceito. Segundo Moraes (2000: 17), por exemplo, do ponto de vista epistemolgico, transita-se da vaguidade da categoria espao ao preciso conceito de territrio.
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Com isso, surge o
questionamento: porque o territrio,
em determinados casos deixado de
lado, abandonado, trocado por outro?
Ou simplesmente isto pode significar
algo temporrio, mesmo sem a
posse, os sentimentos e as
lembranas permanecero e o
indivduo vai sempre se sentir
daquele lugar. Assim pode-se dizer
que est ocorrendo a
desterritorializao ou o que na
verdade poder estar acontecendo
a multiterritorialidade?
Na abordagem de Neto (2006)
o territrio visto sob a tica da sua
especialidade e da sua personalidade.
A personalidade do territrio o
modo como o territrio funciona
como se relacionam entre si os
agentes econmicos e institucionais
territorialmente presentes, as
caractersticas especficas da sua
especializao econmica territorial,
o nvel de sofisticao dos modelos
de interao e colaborao entre os
agentes/atores territorialmente mais
relevantes, os modelos de
aprendizagem coletiva e inovao
que o caracterizam e a menor cultura
participativa dos seus cidados.
Continuando, a personalidade
do territrio, em grande medida,
tambm a sua capacidade de
reencontrar novas formas de
combinao de recursos e fatores e
de se adaptar e reagir s decises de
deslocalizao das empresas e
perda de competitividade de setores
econmicos neles dominantes. A
personalidade do territrio e o
conjunto de recursos materiais e
imateriais de que dispe constituem
a sua identidade (NETO, 2006: 15).
Para Moraes e Costa (1999) a
valorizao do espao entendida
como um intercmbio material entre
a sociedade com suas necessidades
de trabalho e formas de organizao
para a produo e, de outro o
espao, como seu substrato material
mais imediato, expresso nos recursos
naturais e na natureza em geral.
Numa viso marxista, o homem
transforma a natureza para sua
subsistncia e, ao transform-la ele
prprio se humaniza. O homem
visto, assim, como o sujeito da
natureza e esta como o seu corpo
inorgnico. O homem trabalha,
modifica a natureza, pois o trabalho
implica pr-ideao, conscincia em
ao.
A ocupao de terras na
regio de Fronteira, no caso da
Microrregio de Toledo-PR, deu-se
com a apropriao de territrios
anteriormente ocupados por tribos
indgenas6, podendo-se qualificar
esse processo como sendo o de
apropriar para valorizar o espao,
transformando-o em capital, meio de
produo e reproduo do lucro.
Benko (2002) e Castells
(1999) verificam a emergncia de
uma nova perspectiva de processo
produtivo que, na busca da
restaurao do lucro, gera o
aprofundamento das relaes
capitalistas, conduzindo o capital,
cada vez mais, a associar-se em rede
mundial e reestruturando o espao
local. Na busca da restaurao do
lucro, fez-se mister um processo de
produo em que o mercado fosse
atendido com mais velocidade,
menos rigidez e com maior
produtividade e lucratividade.
Dentro de uma perspectiva
ideolgica, Santos (2003) verifica
que a partir da valorizao do
espao, do ordenamento atravs das
6 Para maiores detalhes ver SCHALLENBERGER, Erneldo. Autoridade e Conflito no Guair (2011)
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formas, seguindo um processo
ideolgico, os grandes grupos
econmicos consolidam a seu poder
sobre o territrio, ampliando o lao
de dependncia das economias
perifricas. O espao segundo Santos
(1997: 18) se define como um
conjunto indissocivel de sistemas de
objetos e de sistemas de aes.
Pode-se tambm consider-lo um
conjunto de elementos fixos e fluxos.
Os elementos fixos, fixados em cada
lugar, permitem aes que modificam
o prprio lugar, fluxos novos ou
renovados que recriam as condies
ambientais e as condies sociais, e
redefinem cada lugar. J os fluxos
so um resultado direto ou indireto
das aes e atravessam ou se
instalam nos fixos, modificando a sua
significao e seu valor, ao mesmo
tempo em que, tambm, se
modificam (op.cit.: 50).
Dessa forma, o espao um
sistema de objetos cada vez mais
artificiais, povoado por um sistema
de aes igualmente imbudas de
artificialidades e cada vez mais
tendentes a fins estranhos a seus
habitantes. Os objetos no existem
sem os vermos separados do sistema
de aes. Os sistemas de aes no
se do sem os sistemas de objetos
(SOARES, 2009). Milton Santos
(2003), parafraseando Whitehead,
diz que fora do espao no h
realizao.
As sociedades humanas, para
reproduzirem as condies de sua
existncia, estabelecem como visto
relaes vitais com o seu espao. Nas
palavras de Santos (1999: 23):
produzir produzir espao. Nessa
relao vital de produo o trabalho
aparece como fonte do valor, ou
seja, um processo de valorizao. A
valorizao do espao, segundo
Moraes e Costa (1999), no se
confunde imediatamente com outras
manifestaes da vida social, pois
possui movimento prprio, elementos
especficos que a caracterizam, pois a
contradio capital-trabalho explica a
organizao do espao no modo de
produo capitalista.
Na tica da valorizao, a
produo do espao e seu resultado
so apenas um momento no
processo de formao do territrio, o
que d origem a essa parcela
especfica do valor do espao, aquela
criada pelo trabalho. Os resultados
que desempenham determinados
papis no processo social em geral
so o movimento interno na
produo do espao. Milton Santos
(1999) expe a essncia desse
processo de produo do espao.
Para ele, os modos de produo
criam formas espaciais que duram
mais que os processos que as
engendraram. Denomina a essas
formas de rugosidades, e aponta a
sua inrcia dinmica sobre os
processos sociais. Por inrcia
dinmica, entende uma
sobredeterminao do espao na vida
econmica. As contradies antigas
tornam-se qualidades do lugar.
A seguir discute-se a
ocupao e o conflito agrrio travado
na Microrregio de Toledo-PR como
forma de reproduo e ampliao do
capital e, consequentemente pela
luta do poder das oligarquias locais.
3. ANLISE DOS CONFLITOS
AGRRIOS NA MICRORREGIO
DE TOLEDO
A configurao da posse das
terras na regio oeste do Paran,
especificamente na microrregio de
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2 5 jul/dez 2014
Toledo, aconteceu com base na
invaso das propriedades j
escrituradas pelo Estado do Paran.
Esta era u