volume 03 - 86

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86 PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM _____________________________ 86.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO CRIME O art. 313 contém o tipo penal: “apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem”. A pena: reclusão, de um a quatro anos e multa. A norma protege a Administração Pública. Crime próprio. Só pode ser sujeito ativo o funcionário público. O não-funcionário pode ser co-autor ou partícipe do crime. Sujeito passivo é o Estado e também a pessoa que sofre a lesão patrimonial. 86.1 TIPICIDADE 86.2.1 Conduta e elementos do tipo A conduta é a mesma da primeira modalidade típica do peculato: apropriar-se, que significa agir como se dono fosse de coisa que não lhe pertence, dela dispondo, alienando, emprestando, ocultando, destruindo ou não restituindo quando instado a fazê-lo, enfim, praticando atos próprios de quem é dono. O objeto material é dinheiro ou qualquer outra utilidade. Dinheiro é a moeda metálica ou o papel moeda com curso legal no Brasil ou no exterior. Por utilidade deve-se entender qualquer outro bem móvel, uma coisa material suscetível de apreensão que tenha valor juridicamente relevante. A coisa é entregue ao agente por erro de alguém. Uma hipótese é aquela em que a

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O objeto material é dinheiro ou qualquer outra utilidade. Dinheiro é a moeda emprestando, ocultando, destruindo ou não restituindo quando instado a fazê-lo, enfim, O art. 313 contém o tipo penal: “apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade A conduta é a mesma da primeira modalidade típica do peculato: apropriar-se, que metálica ou o papel moeda com curso legal no Brasil ou no exterior. Por utilidade deve-se valor juridicamente relevante. praticando atos próprios de quem é dono.

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Page 1: VOLUME 03 - 86

86

PECULATO MEDIANTE ERRO DE

OUTREM

_____________________________

86.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO

CRIME

O art. 313 contém o tipo penal: “apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade

que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem”. A pena: reclusão, de um a quatro

anos e multa.

A norma protege a Administração Pública.

Crime próprio. Só pode ser sujeito ativo o funcionário público. O não-funcionário

pode ser co-autor ou partícipe do crime. Sujeito passivo é o Estado e também a pessoa que

sofre a lesão patrimonial.

86.1 TIPICIDADE

86.2.1 Conduta e elementos do tipo

A conduta é a mesma da primeira modalidade típica do peculato: apropriar-se, que

significa agir como se dono fosse de coisa que não lhe pertence, dela dispondo, alienando,

emprestando, ocultando, destruindo ou não restituindo quando instado a fazê-lo, enfim,

praticando atos próprios de quem é dono.

O objeto material é dinheiro ou qualquer outra utilidade. Dinheiro é a moeda

metálica ou o papel moeda com curso legal no Brasil ou no exterior. Por utilidade deve-se

entender qualquer outro bem móvel, uma coisa material suscetível de apreensão que tenha

valor juridicamente relevante.

A coisa é entregue ao agente por erro de alguém. Uma hipótese é aquela em que a

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2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

pessoa entrega coisa que não devia entregar. A outra ocorre quando a entrega é feita ao

agente, em vez de a outro funcionário. Por fim, também há erro quando é entregue coisa

diversa da que deveria. O erro deve ser exclusivo da pessoa, isto é, derivado de sua falsa

percepção da realidade, pois se o agente tiver contribuído, induzindo-a a nele incidir,

poderá restar configurada a prática de estelionato.

Recebida a coisa o agente, verificando que ela foi entregue por erro, aproveita-se

disso e dela se apropria, realizando, assim, o tipo.

O crime é doloso. O agente deve estar consciente de que recebeu a coisa em razão

do exercício da função pública, saber que ela lhe foi entregue por erro e dela se apropriar

com vontade livre, sem qualquer outra finalidade especial.

86.2.2 Consumação e tentativa

A consumação acontece no instante em que o agente se apropria da coisa,

desviando-a, alienando-a, retendo-a, doando-a, emprestando-a, ocultando-a ou

destruindo-a, enfim, agindo como se fosse o seu dono. Admite-se a tentativa, se não

consegue apropriar-se por circunstâncias alheias a sua vontade, como, por exemplo,

quando é surpreendido no instante em que vai aliená-la.

86.2.3 Aumento de pena

Ocupando o agente um cargo em comissão ou exercendo função de direção ou

assessoramento de órgão da administração direta, de sociedade de economia mista,

empresa pública ou fundação instituída pelo poder público, a pena será aumentada de um

terço (art. 327, § 2º). Não há aumento de pena se o agente é dirigente ou exerce função de

assessoramento em empresa privada conveniada ou contratada para executar atividade

típica da administração pública.

86.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, admitida a suspensão

condicional do processo penal, exceto na forma típica com aumento de pena.