volume 03 - 52
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52.2.1 Formas típicas do art. 275 52.2.1.1 Conduta e elementos do tipo nele não se contém, ou contida em quantidade menor. O art. 276 incrimina outras condutas que recaem sobre o mesmo produto, por isso será analisado em conjunto com o Inculcar é o verbo empregado no tipo. Tem o significado de indicar. É fazer a que nele existe em quantidade menor que a mencionada”. medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo ou Estado, a sociedade. tipo do art. 275.TRANSCRIPT
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INVÓLUCRO OU RECIPIENTE COM
FALSA INDICAÇÃO
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52.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO
CRIME
O tipo penal está no art. 275 do Código Penal:
“inculcar, em invólucro ou recipiente de produtos alimentícios, terapêuticos ou
medicinais, a existência de substância que não se encontra em seu conteúdo ou
que nele existe em quantidade menor que a mencionada”.
A pena é reclusão, de um a cinco anos, e multa.
O bem jurídico protegido é a saúde da coletividade, a saúde pública.
Sujeito ativo do crime é qualquer pessoa que realizar a conduta. Sujeito passivo é o
Estado, a sociedade.
52.2 TIPICIDADE
O art. 275 descreve a falsa indicação em produto da existência de substância que
nele não se contém, ou contida em quantidade menor. O art. 276 incrimina outras
condutas que recaem sobre o mesmo produto, por isso será analisado em conjunto com o
tipo do art. 275.
52.2.1 Formas típicas do art. 275
52.2.1.1 Conduta e elementos do tipo
Inculcar é o verbo empregado no tipo. Tem o significado de indicar. É fazer a
2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles
indicação de uma informação. Os objetos sobre os quais é feita a indicação são invólucros
ou recipientes de produtos alimentícios, terapêuticos ou medicinais.
Invólucro é a coisa que reveste, que envolve o produto. Recipiente é a que o contém,
que o guarda. Produtos são coisas elaboradas pelo homem. Alimentícios os que se
destinam a suprir as energias necessárias à manutenção e desenvolvimento da vida.
Terapêuticos ou medicinais os que se prestam à prevenção, ao tratamento e à cura das
moléstias.
Realiza o tipo, portanto, o agente que faz a indicação, no invólucro ou no recipiente
do produto, de uma informação falsa, seja porque afirma a presença, no produto, de uma
substância que nele não se contém ou porque diz que há uma quantidade superior à que
efetivamente nele existe. É fraude.
Na maior parte das vezes o crime é realizado através dos rótulos que são
adicionados ao invólucro ou recipiente, inclusive nas bulas de medicamentos.
A nocividade do produto, em virtude da inexistência da substância anunciada, ou
de sua menor quantidade, não é elemento do tipo, podendo, por isso, o produto não ser
causador de dano à saúde, mas a norma presume a existência de perigo de modo absoluto.
Cuida-se de crime doloso, exigindo o tipo que o agente tenha consciência de que
apõe, no invólucro ou recipiente, a informação falsa acerca da substância e tenha a vontade
livre de fazê-lo sem qualquer finalidade especial.
52.2.1.2 Consumação e tentativa
A consumação acontece quando o agente inculca a falsa indicação no invólucro ou
no recipiente do produto, quando apõe nele a indicação não verdadeira sobre a substância.
A tentativa é possível.
52.2.2 Forma típica do art. 276
52.2.2.1 Conduta e elementos do tipo
O art. 276 incrimina as seguintes condutas: “vender, expor à venda, ter em
depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo produto...” cujo
invólucro ou recipiente tenha sido inculcado com a informação falsa acerca de substância
Invólucro ou Recipiente com Falsa Indicação - 3
nele contida, na forma do que prevê o art. 275. Quando qualquer dessas condutas seja
realizada pela mesma pessoa que realizou o tipo do art. 275, responderá apenas por este,
pois o que faz a seguir é post factum impunível. O sujeito ativo dessa figura típica é outra
pessoa.
Vender é alienar onerosamente. Expor à venda é anunciar, manter à vista das
pessoas, oferecer a elas o produto. Ter em depósito para vender é armazenar ou estocar
com a finalidade de vendê-lo. Entregar de qualquer modo a consumo é distribuir, fornecer,
emprestar, dar, fazer chegar, enfim, ao consumo de um número indeterminado de pessoas
da coletividade.
O crime é doloso. O agente, para cometê-lo, deve saber que se trata de produto nas
condições mencionadas e agir com vontade livre exclusiva de realizar uma das condutas
tipificadas, sem qualquer outra finalidade especial, a não ser quando têm em depósito, pois
deve tê-lo com o fim de venda posterior.
52.2.2.2 Consumação e tentativa
Crime de perigo abstrato consuma-se com a simples realização da conduta, não
sendo necessário que dela advenha qualquer resultado. Admitida a tentativa, com exceção
da modalidade de ter em depósito.
52.2.3 Formas qualificadas pelo resultado
Determina o art. 285 do Código Penal a aplicação das formas qualificadas pelo
resultado descritas no art. 258. Se do fato resultar lesão corporal de natureza grave a pena
será aumentada de metade. Se resultar morte, será aplicada em dobro. São crimes
preterdolosos. Há dolo na realização da conduta e culpa na produção do resultado não
desejado nem aceito pelo agente.
Se o agente tiver realizado a conduta com a finalidade de causar o resultado mais
grave em relação a uma ou mais pessoas determinadas, haverá crime de resultado contra a
pessoa integralmente doloso. Se o fizer com o fim de produzir o resultado mais grave em
relação a um número indeterminado de pessoas, haverá concurso formal imperfeito entre
o crime de perigo e tantos quantos sejam os crimes contra a pessoa.
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52.3 AÇÃO PENAL
A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, admitida a suspensão
condicional do processo penal, exceto nas formas qualificadas pelo resultado.