volume 03 - 142

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142 ASSUNÇÃO DE OBRIGAÇÃO NO ÚLTIMO ANO DO MANDATO OU LEGISLATURA ____________________________ 142.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS DO CRIME O art. 359-C descreve as condutas incriminadas: “ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos quadrimestres do último ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa”. A pena é reclusão, de um a quatro anos. O bem jurídico protegido é a Administração Pública, o interesse estatal na regularidade da gestão fiscal e orçamentária dos entes públicos. Sujeito ativo é o funcionário público que tem competência para ordenar ou autorizar a assunção de obrigação. O Presidente da República, Governador de Estado, Prefeito Municipal, Ministro de Estado, Secretário de Estado ou de Município, Chefe de Poder, Judiciário e Legislativo, do Ministério Público, da União e dos Estados, Presidente de Tribunal de Contas, de empresa pública, de autarquia, enfim, todo aquele agente público que tenha o poder de ordenar e autorizar a assunção de obrigação. Sujeito passivo é o Estado, o ente público. 142.2 TIPICIDADE 142.2.1 Conduta e elementos do tipo Ordenar é determinar, é impor, é mandar. Autorizar é permitir, anuir, concordar,

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142.2.1 Conduta e elementos do tipo de Tribunal de Contas, de empresa pública, de autarquia, enfim, todo aquele agente mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício Sujeito ativo é o funcionário público que tem competência para ordenar ou do último ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no O bem jurídico protegido é a Administração Pública, o interesse estatal na O art. 359-C descreve as condutas incriminadas:

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142

ASSUNÇÃO DE OBRIGAÇÃO NO

ÚLTIMO ANO DO MANDATO OU

LEGISLATURA

____________________________

142.1 CONCEITO, OBJETIVIDADE JURÍDICA E SUJEITOS

DO CRIME

O art. 359-C descreve as condutas incriminadas:

“ordenar ou autorizar a assunção de obrigação, nos dois últimos quadrimestres

do último ano do mandato ou legislatura, cuja despesa não possa ser paga no

mesmo exercício financeiro ou, caso reste parcela a ser paga no exercício

seguinte, que não tenha contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa”.

A pena é reclusão, de um a quatro anos.

O bem jurídico protegido é a Administração Pública, o interesse estatal na

regularidade da gestão fiscal e orçamentária dos entes públicos.

Sujeito ativo é o funcionário público que tem competência para ordenar ou

autorizar a assunção de obrigação. O Presidente da República, Governador de Estado,

Prefeito Municipal, Ministro de Estado, Secretário de Estado ou de Município, Chefe de

Poder, Judiciário e Legislativo, do Ministério Público, da União e dos Estados, Presidente

de Tribunal de Contas, de empresa pública, de autarquia, enfim, todo aquele agente

público que tenha o poder de ordenar e autorizar a assunção de obrigação.

Sujeito passivo é o Estado, o ente público.

142.2 TIPICIDADE

142.2.1 Conduta e elementos do tipo

Ordenar é determinar, é impor, é mandar. Autorizar é permitir, anuir, concordar,

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2 – Direito Penal III – Ney Moura Teles

conceder autorização ou permissão. Se é o mesmo agente o autor da ordem e da

autorização, o crime será único.

As condutas dizem respeito à assunção de obrigação pelo ente público

representado pelo agente nos dois últimos quadrimestres de seu mandato ou da

legislatura. O art. 42 da Lei Complementar nº 101/2000 – a Lei de Responsabilidade

Fiscal – proíbe, terminantemente, que, nos oito meses anteriores ao fim do mandato, o

administrador contraia obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente

no período de seu mandato ou que, tendo parcelas a serem pagas no exercício seguinte,

não esteja acobertada por suficiente disponibilidade de caixa.

Busca, assim, impedir que o mandato seguinte já se inicie com dívidas a serem

pagas por despesas realizadas no período anterior.

Só pode o agente contrair obrigação nesse período de oito meses que antecedem o

fim de sua gestão se puder cumpri-la integralmente dentro do mesmo período ou, se se

tratar de obrigação a ser paga em prestações que ultrapassem o tempo de sua gestão, deve

ter a disponibilidade de caixa suficiente para saldar, transferindo, assim, a seu sucessor, a

dívida e o recurso para pagá-la.

Assim, só haverá conduta típica se, nos oito meses referidos, a ordem ou

autorização para a assunção da obrigação for dada e não houver numerário suficiente em

caixa para cobrir o valor da despesa no mesmo exercício ou no exercício seguinte.

O elemento temporal integra o tipo. A assunção da obrigação deve ser realizada ou

programada para realizar-se dentro do período de oito meses que antecedem o fim do

mandato do agente, ainda quando a conduta tenha sido realizada em data anterior.

Crime doloso. O agente deve estar consciente de que não há, em caixa, recursos

suficientes para saldar o compromisso assumido e agir com vontade livre, sem qualquer

outro fim especial.

Eventual parecer favorável do Tribunal de Contas ou mesmo a aprovação das

contas não tem qualquer influência no aperfeiçoamento típico.

142.2.2 Consumação e tentativa

É crime formal. Consuma-se com a emissão da ordem ou da autorização, mesmo

quando realizada antes do período de oito meses anteriores ao fim da gestão, mas desde

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Assunção de Obrigação no Último Ano do Mandato ou Legislatura - 3

que a obrigação deva ser assumida nesse período. Independe a consumação da efetiva

assunção da obrigação. Basta, portanto, a conduta. A tentativa é impossível.

142.3 AÇÃO PENAL

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, admitida a suspensão

condicional do processo penal.