vocÊ sabe o que É esporte?

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Para além das respostas fáceis, que estão na aparência do fenômeno chamado esporte, como regras universais e que tem como principal objetivo a competição, é preciso buscar as raízes deste elemento da cultura corporal, que tem seus germes na mudança do feudalismo para o capitalismo. Se formos estudar a forma de trabalho servil (feudalismo), em que predomina praticamente o trabalho no campo e o artesanato, vemos que o trabalhador tem o conhecimento do processo produtivo como um todo; suas ferramentas são um apêndice de seu corpo, dominado pela destreza, força e habilidade. Essas características influenciam profundamente na cultura e na produção de seus jogos de divertimento, em que o jogador será reconhecido por vários aspectos, inclusive pela força e pela destreza. A partir do capitalismo, com maior ênfase após a Revolução Industrial temos sérias modificações na produção da vida, iniciando com a manufatura e posteriormente com a grande indústria. Neste período os jogos começam a ter os aspectos do esporte que conhecemos hoje, pois o trabalhador passa não mais a dominar os seus apetrechos de trabalho e sim a ser dominado pela máquina, que lhe exige técnica, repetição e eficiência, ou seja, passam a predominar movimentos mecânicos cadenciados no tempo. VOCÊ SABE O QUE É ESPORTE? Essa nova forma de trabalho que passou a predominar na sociedade (a assalariada) interferiu e se refletiu nas formas de jogar dessa sociedade, produzindo essa manifestação corporal denominada esporte. Esse novo fenômeno exige dos atletas cada vez mais rendimento e desempenho, transformando os seres humanos em máquinas performáticas, estampadas quase que diariamente em nossos jornais e programas televisivos, o que nos leva a refletir sobre outro aspecto bastante plausível do esporte que é seu papel na constituição da ideologia burguesa. Enquanto política governamental o esporte aparece como elemento dispersador de manifestações populares contra as condições indignas de vida, como artifício para legitimar governos autoritários ou ainda para desviar a atenção de escândalos e problemas estruturais. Quem já não ouviu por diversas vezes a história de como a Copa de 1970 foi utilizada para encobrir a fase mais perversa da ditadura militar do governo Médici, em que já naquela copa algumas pessoas mais esclarecidas (João Saldanha, dirigente da seleção brasileira de 4 de fevereiro de 1969 a 17 março de 1970) se retiraram, como é possível notar na entrevista dada por Tostão, campeão em 1970, É possível explicar o afastamento de João Saldanha por motivos políticos? Acho que sim. João Saldanha incomodava muito a ditadura, pois era militante do partido comunista. Acho também que ele não quis continuar e procurou motivos para sair, como as suas críticas a Pelé e outros fatos” ( http://reporteresportivo.wordpress.com/atletas-do-passado/tostao/ ). Outro exemplo disso está bem mais próximo e nos permite perceber a contribuição que o esporte pode dar para a desmobilização inclusive dos próprios estudantes. Esta semana foi divulgada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE/UFPR), que tem em sua gestão integrantes do CAEF/UFPR, a terceira edição dos Jogos de Verão, que serão realizados na mesma data do XV Encontro Regional de Estudantes de Educação Física (EREEF/Sul), no feriado do dia primeiro de maio de 2009. Porque um evento de puro divertimento é marcado para acontecer na mesma data em que o movimento estudantil da área se encontra para discutir seus problemas específicos? A quem interessa esse tipo de atitude? Por outro lado, o discurso que é diariamente reforçado pela mídia de massa é que o esporte pode servir como oportunidade de ascensão social ou no auxílio à superação de algumas mazelas sociais. O problema é que a prática esportiva se torna privilégio de uma minoria de sucesso, e se constitui em experiência de fracasso para uma maioria espantosa. Restando a essa maioria as ações de assistir, bater palmas e comprar os subprodutos da indústria cultural esportiva. Basta também uma rápida navegada no site do Ministério do Esporte para notarmos o quanto de verba é despendido para o alto rendimento em detrimento do esporte escolar, e para isto temos exemplos bem claros. É só olhar para o sucateamento das nossas escolas públicas. E o DEF/UFPR não está estruturalmente e ideologicamente alheia a isto, como podemos inferir nas condições de nossas quadras e materiais esportivos, na cobrança de taxas para se utilizar dos espaços “públicos” do CED e tantos outros problemas. É esse esporte que você quer ajudar a promover??? Um esporte em que a maioria da população se coloca como mera expectadora??? Um esporte que nos põe a consumir sua boutique recheada de artigos autografados e nos priva de simplesmente http:// coletivodeautoris.wordpress.com Coletivo de Autoris Maio - 2009

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Para além das respostas fáceis, que estão na aparência do fenômeno chamado esporte, como regras universais e que tem como principal objetivo a competição, é preciso buscar as raízes deste elemento da cultura corporal, que tem seus germes na mudança do feudalismo para o capitalismo. Se formos estudar a forma de trabalho servil (feudalismo), em que predomina praticamente o trabalho no campo e o artesanato, vemos que o trabalhador tem o conhecimento do processo produtivo como um todo; suas ferramentas são um apêndice de seu corpo, dominado pela destreza, força e habilidade. Essas características influenciam profundamente na cultura e na produção de seus jogos de divertimento, em que o jogador será reconhecido por vários aspectos, inclusive pela força e pela destreza. A partir do capitalismo, com maior ênfase após a Revolução Industrial temos sérias modificações na produção da vida, iniciando com a manufatura e posteriormente com a grande indústria. Neste período os jogos começam a ter os aspectos do esporte que conhecemos hoje, pois o trabalhador passa não mais a dominar os seus apetrechos de trabalho e sim a ser dominado pela máquina, que lhe exige técnica, repetição e eficiência, ou seja, passam a predominar movimentos mecânicos cadenciados no tempo.

VOCÊ SABE O QUE É ESPORTE?

Essa nova forma de trabalho que passou a predominar na sociedade (a assalariada) interferiu e se refletiu nas formas de jogar dessa sociedade, produzindo essa manifestação corporal denominada esporte. Esse novo fenômeno exige dos atletas cada vez mais rendimento e desempenho, transformando os seres humanos em máquinas performáticas, estampadas quase que diariamente em nossos jornais e programas televisivos, o que nos leva a refletir sobre outro aspecto bastante plausível do esporte que é seu papel na constituição da ideologia burguesa.

Enquanto política governamental o esporte aparece como elemento dispersador de manifestações populares contra as condições indignas de vida, como artifício para legitimar governos autoritários ou ainda para desviar a atenção de escândalos e problemas estruturais. Quem já não ouviu por diversas vezes a história de como a Copa de 1970 foi utilizada para encobrir a fase mais perversa da ditadura militar do governo Médici, em que já naquela copa algumas pessoas mais esclarecidas (João Saldanha, dirigente da seleção brasileira de 4 de fevereiro de 1969 a 17 março de 1970) se retiraram, como é possível notar na entrevista dada por Tostão, campeão em 1970, “É possível explicar o afastamento de João Saldanha por motivos políticos? Acho que sim. João Saldanha incomodava muito a ditadura, pois era militante do partido comunista. Acho também que ele não quis continuar e procurou motivos para sair, como as suas críticas a Pelé e outros fatos” (http://reporteresportivo.wordpress.com/atletas-do-passado/tostao/). Outro exemplo disso está bem mais próximo e nos permite perceber a contribuição que o esporte pode dar para a desmobilização inclusive dos próprios estudantes. Esta semana foi divulgada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE/UFPR), que tem em sua gestão integrantes do CAEF/UFPR, a terceira edição dos Jogos de Verão, que serão realizados na mesma data do XV Encontro Regional de Estudantes de Educação Física (EREEF/Sul), no feriado do dia primeiro de maio de 2009. Porque um evento de puro divertimento é marcado para acontecer na mesma data em que o movimento estudantil da área se encontra para discutir seus problemas específicos? A quem interessa esse tipo de atitude?

Por outro lado, o discurso que é diariamente reforçado pela mídia de massa é que o esporte pode servir como oportunidade de ascensão social ou no auxílio à superação de algumas mazelas sociais. O problema é que a prática esportiva se torna privilégio de uma minoria de sucesso, e se constitui em experiência de fracasso para uma maioria espantosa. Restando a essa maioria as ações de assistir, bater palmas e comprar os subprodutos da indústria cultural esportiva.

Basta também uma rápida navegada no site do Ministério do Esporte para notarmos o quanto de verba é despendido para o alto rendimento em detrimento do esporte escolar, e para isto temos exemplos bem claros. É só olhar para o sucateamento das nossas escolas públicas. E o DEF/UFPR não está estruturalmente e ideologicamente alheia a isto, como podemos inferir nas condições de nossas quadras e materiais esportivos, na cobrança de taxas para se utilizar dos espaços “públicos” do CED e tantos outros problemas. É esse esporte que você quer ajudar a promover??? Um esporte em que a maioria da população se coloca como mera expectadora??? Um esporte que nos põe a consumir sua boutique recheada de artigos autografados e nos priva de simplesmente jogá-lo??? Um esporte que contribui para não enxergarmos onde está a raiz dos problemas sociais (desemprego, fome, violência, falta de educação, saúde, etc) que cada vez mais nos atingem??????

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Coletivo de Autoris

Maio - 2009