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UFRRJ INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA Dissertação Desempenho Ponderal, Aspectos Nutricionais e Econômicos de Caprinos Submetidos a dois Esquemas de Suplementação Mineral Viviane Antunes Pimentel 2005

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UFRRJ

INSTITUTO DE ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

Dissertação

Desempenho Ponderal, Aspectos Nutricionais e Econômicos de

Caprinos Submetidos a dois Esquemas de Suplementação Mineral

Viviane Antunes Pimentel

2005

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

DESEMPENHO PONDERAL, ASPECTOS NUTRICIONAIS E ECONÔMICOS DE CAPRINOS SUBMETIDOS A DOIS ESQUEMAS DE

SUPLEMENTAÇÃO MINERAL

VIVIANE ANTUNES PIMENTEL

Sob a Orientação do Professor

Pedro Antônio Muniz Malafaia

e Co-Orientação dos Professores

João Batista Rodrigues de abreu João Carlos de Carvalho Almeida

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, Área de Concentração em Produção Animal.

Seropédica, RJ Agosto de 2005

UFRRJ / Biblioteca Central / Divisão de Processamentos Técnicos

636.39085

P644d

T

Pimentel, Viviane Antunes, 1979-

Desempenho ponderal, aspectos nutri- cionais e econômicos de caprinos submeti- dos a dois esquemas de suplementação mineral / Viviane Antunes Pimentel. – 2005. 23 f. : il.

Orientador: Pedro Antônio Muniz

Malafaia.

Dissertação (mestrado) – Universidade

Federal Rural do Rio de Janeiro,

Instituto de Zootecnia.

Bibliografia: f. 20-23.

1. Caprino – Nutrição – Teses. 2.

Caprino – Alimentação e rações - Teses.

3. Caprino – Uso eficiente de rações –

Teses. 4. Minerais na nutrição animal –

Teses. 5. Cobre na nutrição animal –

Teses. 6. Caprino – Pesos e medidas –

Teses. 7. Rações - Aditivos – Teses. 8.

Nutrição animal – Teses. I. Malafaia,

Pedro Antônio Muniz II. Universidade

Federal Rural do Rio de Janeiro.

Instituto de Zootecnia. III. Título.

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ZOOTECNIA

VIVIANE ANTUNES PIMENTEL

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Ciências no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, área de Concentração em Produção Animal. DISSERTAÇÃO APROVADA EM 01/08/2005

______________________________________ Pedro Antônio Muniz Malafaia. Dr. UFRRJ

(Orientador)

______________________________________ Oriel Fajardo de Campos. Ph.D. EMBRAPA

______________________________________ Carlos Elysio Moreira da Fonseca. Dr. UFRRJ

DEDICATÓRIA

Aos meus pais Adilson Pimentel e Luiza Antunes Loures pelos ensinamentos, amor e pela dedicação. À minha irmã Caterine Antunes Pimentel por toda amizade, companheirismo e pelas palavras de apoio nos momentos difíceis.

A minha avó Guiomar Paulina Antunes (in memoriam) com quem sempre aprendi a lutar pelos meus objetivos.

A minha família em Seropédica, que foram pessoas que tive o prazer de ter ao meu lado em todos os momentos: Geni, Creuza, Sheila, Benedito, Márcio, Caio e Karina.

"Educai as crianças e não será preciso castigar os homens”

Pitágoras

AGRADECIMENTOS

Para cada ato realizado, não temos só a manifestação do momento presente, mas de

toda a “bagagem” trazida ao longo dos anos. Esta dissertação é dedicada à todas pessoas que

de forma direta ou indireta contribuíram para que fosse possível a realização deste trabalho.

Ao Prof. Pedro Malafaia pela orientação, pelos ensinamentos e principalmente pela

amizade.

À grande amiga Karen Purper, pela amizade sincera, por todos os anos de convivência

e pela ajuda inestimável na execução deste trabalho.

Ao amigo tricolor Rodrigo Pereira Brum por toda ajuda na fase final de redação da

dissertação e pela convivência.

Aos meus co-orientadores João Carlos e João Batista e ao Prof. Edinaldo pelas

correções e sugestões na dissertação e pela amizade.

Ao casal de amigos Márcio Mendes e Leila Borato pelos momentos de alegria e pelo

companheirismo em todos momentos.

À amiga Carolina Garcia pelo convívio e pela amizade sincera.

Aos amigos que mesmo estando longe sempre serão lembrados: Juliana Freitas,

Juliana Resende, Andréa, Luciano, Cláudio, Estevam e Lysis.

Ao estagiário Gustavo Silva Loureiro pela contribuição na execução do trabalho.

Aos funcionários Raul e Décio por todos os anos de convivência e pela ajuda no setor

de caprinocultura e Valdecir, Pedro e Roberto que sempre ajudaram com a confecção e

transporte da ração para o experimento. E aos secretários Frank, Beth e Jonas por toda ajuda.

Aos professores que durante a graduação contribuíram de forma decisiva na minha

formação: Carlos Saint Just, Maria Paz e Coll.

À todos aqueles que tive o prazer de conviver durante esses seis anos na universidade:

Jorge, Gabriela, Elaine, Gisele, Josué, Flávia, Milane, Jeferson, Nayla, Macapá, André, Alex,

Pedrinho, Alexandra, Érica, Elim, Anaia, Thiago e Danielle.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 01 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................. 03 2.1 Importância dos Minerais......................................................................................... 03 2.2 Considerações Sobre o Uso de Minerais.................................................................. 04 2.3 Funções dos Minerais e Conseqüencias das Suas Deficiências................................04 2.4 Métodos Para Suprir Deficiências Minerais da Dieta.............................................. 07 2.4.1 Adubação do solo com elementos deficientes...................................................... 07 2.4.2 Misturas comerciais “completas”.......................................................................... 08 2.4.3 “Sal seletivo”......................................................................................................... 08 2.5 Influência da Raça no Desempenho Ponderal.......................................................... 08

3 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................................... 09 3.1 Local, Animais, e Manejo Geral dos Caprinos........................................................ 09 3.11 Animais e tratamentos experimentais..................................................................... 09 3.2 Manejo Alimentar.................................................................................................... 10 3.3 Coleta de Dados e Análises Estatísticas....................................................................11

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................. 12 4.1 Desempenho Ponderal ............................................................................................. 12 4.2 Consumo dos Suplementos....................................................................................... 13 4.3 Ingestão de Matéria Seca.......................................................................................... 14 4.4 Aspectos Nutricionais............................................................................................... 14 4.5 Aspectos Econômicos............................................................................................... 17

5 CONCLUSÕES.......................................................................................................... 19 6 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS..................................................................... 20

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1 INTRODUÇÃO

Além da necessidade de ingerir nutrientes orgânicos (carboidratos, proteínas, lipídeos e vitaminas), os animais também precisam consumir elementos inorgânicos (minerais) para garantir sua manutenção, crescimento e atividades produtiva e reprodutiva normais. Enquanto os macroelementos minerais (cálcio, fósforo, sódio, cloro, potássio, magnésio e enxofre) são necessários em maiores quantidades, os microelementos (ferro, cobre, cobalto, iodo, manganês, zinco e selênio) são exigidos em quantidades menores nas dietas.

Um mineral é considerado essencial quando entra na composição de alguma substância essencial ao animal (por exemplo, o ferro que faz parte da estrutura da hemoglobina), quando faz parte de uma enzima ou se for necessário, como co-fator, à atividade de alguma enzima essencial ao metabolismo do animal.

Um elemento mineral é considerado como deficiente quando, observamos sintomas carenciais no rebanho ou quando após um experimento, existe resposta positiva do animal à sua ingestão na dieta.

As necessidades dos minerais variam com nível de produção, raça, sexo, idade e estágio de lactação. Existem também variações extrínsecas, causadas por parâmetros climáticos, consumo de alimentos, antagonismos e presença de fitatos. Todas essas variações dificultam o estabelecimento do valor exato das exigências de minerais pelos animais.

As deficiências minerais ocorrem em várias partes do mundo variando entre regiões e dentro de uma mesma região. Elas podem ser desde severas, com sintomatologia carencial nítida e até mesmo moderadas, cujos sintomas são de difícil percepção. Ao contrário do que se pensa, as deficiências moderadas (subclínicas) causam problemas muitas vezes até mais sérios do que as deficiências severas, devido à dificuldade de suas detecções e por causarem sintomas que são confundidos com os de outras doenças.

A concentração de elementos minerais nos alimentos concentrados e nas forragens pode variar muito. Nas plantas forrageiras essa quantidade varia com o tipo de solo, fertilização dos solos, espécies de plantas, estado fisiológico de desenvolvimento das plantas e durante as estações do ano. Portanto, análises laboratoriais de macro e microelementos desses alimentos são importantes para a adequação das dietas.

Para o correto diagnóstico das deficiências minerais, uma série de fatores devem ser examinados em conjunto. O primeiro, e mais importante, é o exame do rebanho. Para ratificação da deficiência, tem-se as dosagens químicas (nos tecidos, tais como ossos e fígado) e a experimentação. A principal forma para se detectar uma deficiência é a observação, pois muitos sintomas ficam muitas vezes bem evidentes.

Os suplementos minerais precisam ser diferenciados com objetivo de atender, de maneira mais racional e econômica, às necessidades específicas de cada rebanho.

A taxa de crescimento e ganho de peso dos caprinos é determinada por dois fatores principais: o potencial genético e o meio ambiente, sendo que, dentro do fator ambiente, a alimentação (nutrição adequada) pode ser considerada como um dos principais fatores.

A suplementação mineral adequada tem papel decisivo na manutenção da saúde e da produção de caprinos saudáveis. A deficiência e a toxidade podem ocorrer quando a mistura não for corretamente balanceada, as fontes utilizadas não apresentarem biodisponibilidade necessária ou não houver consumo adequado da mistura.

Para que os animais sejam adequadamente suplementados com misturas minerais é necessário que se tenha idéia das suas exigências nutricionais. As tabelas de exigências podem ser usadas como guias, pois fornecem estimativas das necessidades diárias dos animais. Mas outros fatores devem ser levados em conta, uma vez que, a maior parte dos

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dados de exigências para ruminantes disponíveis, são oriundas de outros países, que apresentam condições de clima, solo e plantas forrageiras diferentes das que temos aqui.

Um ponto muito importante é o fato de que os minerais são nutrientes exógenos que fazem papel de biocatalizadores em várias reações metabólicas. Estes biocatalizadores só “funcionam” adequadamente quando há nutrientes (lipídeos, proteínas e carboidratos) nas dietas. Por isso, não há sentido em fornecer minerais para animais que estão sem alimentação adequada, quando o alimento for de baixa qualidade, ou quando outros níveis de prioridade, tais como o estado sanitário não estiverem adequados. Ou seja: os minerais só devem ser fornecidos quando a necessidade energético-proteíca estiver adequada. Os animais herbívoros criados exclusivamente em pastagens estão mais propensos às deficiências minerais pois o consumo desses elementos origina-se basicamente da ingestão do pasto, que pode ser deficiente em um ou mais minerais.

Na época seca, quando não há alimento em quantidade e/ou qualidade, os resultados da suplementação mineral são nulos ou imperceptíveis, pois as prioridades nesta época são a disponibilidade de pasto, proteína degradada no rúmen (PDR), proteína não degradada no rúmen (PNDR) e energia; só depois de atendidas essas prioridades deve-se suprir minerais. Já na época chuvosa, faz-se necessário suplementar o rebanho com minerais para otimização do crescimento e da reprodução. Nesta época, as prioridades são a energia e proteína (PDR e PNDR), que normalmente são adequadas, fazendo com que ocorra resposta à suplementação mineral.

Uma suplementação mineral correta é aquela onde são levadas em conta as reais necessidades dos animais, ou seja, aquela feita com base em análises do rebanho e dos alimentos.

Os gastos com a suplementação mineral são o segundo maior item de despesa da fazenda de pecuária bovina de corte, superados apenas pelos gastos com a mão-de-obra. Na caprinocultura, embora não quantificado, o gasto com a suplementação mineral também onera a produção.

Com o crescimento da caprinocultura no Brasil, os produtores buscam maior eficiência econômica nos processos de produção para conseguir sobreviverem na atividade. Daí surge a necessidade da busca na redução de custos de produção com racionalidade.

Os minerais representam um componente essencial da dieta dos caprinos e influenciam de modo marcante a sua produtividade, podendo, em alguns casos ou regiões com solos deficientes, ser limitantes econômica e biologicamente e influir, inclusive na sobrevivência do animal.

Os estudos feitos para a melhoria das condições do rebanho caprino brasileiro vem aumentando uma vez que esta atividade está crescendo. No Brasil, a caprinocultura é uma atividade que está ganhando espaço, por ter despertado para a necessidade da fixação do homem ao campo, encontrando na atividade caprina uma alternativa viável para o setor agropecuário.

O objetivo foi observar os efeitos da suplementação mineral comercial, que é considerada ideal por ser “completa”, e da suplementação mineral seletiva onde são suplementados apenas os elementos sabidamente deficientes na dieta do animal.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Antes do século XIX somente existiam idéias confusas sobre a natureza, origem e funções dos componentes minerais dos tecidos vegetais e animais. “O primeiro experimento conhecido onde através de seus resultados pode-se observar claramente a importância nutritiva dos minerais foi realizado por Fordyce (1791) na Inglaterra. E observou que canários alimentados com uma dieta de sementes, necessitavam de um suplemento de “terra calcárea” para manter-se sadios e produzir ovos. Posteriormente, Boussingault (1847) obteve a primeira prova experimental sobre a necessidade do gado leiteiro de receber sal comum em sua dieta e Chatin (1850-1854), trabalhando na França, publicou seus notáveis estudos que revelaram pela primeira vez a relação entre a deficiência ambiental de iodo e a incidência do bócio endêmico nos homens e nos animais”(UNDERWOOD, 1981).

A subnutrição é comumente aceita como uma das limitações mais prejudiciais aos animais nos países tropicais. Deficiências de energia e proteína são freqüentemente responsáveis por baixa produções. Todavia, tem sido observado que, mesmo quando a pastagem é abundante, alguns animais perdem peso. Daí ser mundialmente reconhecido que desequilíbrios minerais são responsáveis por problemas de baixa produção, bem como por problemas reprodutivos amplamente observados entre os ruminantes (CONRAD et al., 1985). 2.1 Importância dos Minerais

Os minerais desempenham três importantes funções essênciais para o organismo dos seres vivos. A primeira delas diz respeito a sua participação como componentes estruturais dos tecidos corporais (por exemplo cálcio e fósforo). Também atuam nos tecidos e fluidos corporais como eletrólitos para manutenção do equilíbrio ácido-básico, da pressão osmótica e da permeabilidade das membranas celulares (cálcio, fósforo, sódio, cloro.). Por último, funcionam como ativadores de processos enzimáticos (cobre, manganês) ou como integrantes da estrutura de metalo-enzimas (zinco, manganês), vitaminas (cobalto) e hormônios (iodo, zinco) (TOKARNIA et al., 2000).

Para se ter uma idéia, uma cabra produzindo 600 kg de leite secreta anualmente, pelo leite, o dobro dos minerais contido no seu corpo; cabras que produzem 1.200 kg/lactação de 305 dias, em apenas 50 dias secretam pelo leite quantidade de minerais equivalente à contida no seu esqueleto (RIBEIRO, 1997).

Os elementos minerais são indispensáveis à sobrevivência e manutenção da saúde e produtividade dos animais. A deficiência mineral se reflete negativamente na produtividade do rebanho, levando à baixa produção de leite, diminuição da resistência a doenças, baixo índice de fertilidade, crescimento retardado, depravação do apetite e má formação óssea. (MORRISON, 1966; JARDIM, 1987; MEDEIROS et al., 1988).

A ingestão de dietas carentes em minerais ocorre em várias partes do mundo (UNDERWOOD, 1981). Deficiências minerais severas são detectáveis com relativa facilidade, pois causam perturbações ou sintomas bastante característicos. Estados de carências mais leves, por causarem sintomas pouco específicos, como redução na taxa de crescimento, problemas de fertilidade, baixo rendimento de carcaça e menor produção de leite, são tão ou mais importantes, devido passarem muitas vezes desapercebidos e causarem perdas econômicas consideráveis (TOKARNIA et al., 2000).

A alimentação dos ruminantes é constituída principalmente de forragens, que contêm fibras que não podem ser digeridas pelas enzimas próprias do animal. De fato, são as bactérias presentes no rúmen e no ceco que digerem as fibras vegetais. Para isso, esses microrganismos

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precisam de minerais, entre eles fósforo, enxofre, manganês, zinco, cobre, cobalto (COTTA, 2001). 2.2 Considerações Sobre o Uso de Minerais

Os elementos minerais são essenciais para todos os animais, exercendo influência direta sobre a eficiência da produção, correspondendo a aproximadamente 5% do peso corporal. Desequilíbrios minerais (deficiência ou excesso) têm sido responsáveis por baixa produção, além de problemas reprodutivos (RIBEIRO, 1997).

Acredita-se que, independente da quantidade de minerais presentes nos alimentos energéticos e protéicos, vários, ou o maior número deles ainda deveriam ser disponibilizados, sob a forma de suplementos, para que os animais tornem-se saudáveis e atinjam sua máxima produtividade. Porém, o uso de suplementos minerais onera os custos de produção e pode ocasionar problemas como antagonismos. Assim, o uso adequado de suplementos minerais deve ser precedido do exame do rebanho e, secundariamente, de um levantamento da concentração de elementos minerais nos alimentos concentrados e volumosos ofertados aos animais (MALAFAIA et al., 2004a). Outro ponto importante é que as estimativas dos valores médios das exigências é feita com base nas exigências de animais de alto mérito genético, criados em condições praticamente ideais e com um padrão de alimentação bastante constante e homogêneo. Dessa forma, parece razoável pensar que os requerimentos minerais preconizados como ideais pelo Agricultural and Food Research Council (AFRC, 1993), pelo Institut National de la Recherche Agronomique (INRA, 1989) e pelo National Research Council (NRC, 1981), possam ser diferentes para os animais com desempenhos produtivos mais modestos, criados nas condições do clima tropical, com variações sazonais na produção e na qualidade das pastagens. Por outro lado, deve-se considerar que, na dependência da concentração de minerais no solo da região, do tipo de manejo alimentar e do padrão genético, os alimentos consumidos por si só, podem suprir todas as necessidades de elementos minerais dos animais. A composição mineral da dieta total (forrageira, concentrado e água) deve ser avaliada, pois pode afetar a disponibilidade e o consumo da mistura mineral. 2.3 Funções dos Minerais e Conseqüências das Suas Deficiências

A deficiência mineral interfere sobre a produção e reprodução, afetando a fertilidade (proporção de fêmeas paridas em relação à quantidade de fêmeas disponíveis para a reprodução), prolificidade (número de cabritos por parto) e fecundidade (capacidade da fêmea em produzir óvulos viáveis) e o estado geral de saúde (RIBEIRO, 1997).

As deficiências minerais podem ocorrer devido a baixas concentrações de minerais no solo e, consequentemente, na pastagem ou por interações entre si ou com outros nutrientes. As interações dos minerais podem ser sinérgicas ou antagônicas. Nas interações sinérgicas dois ou mais minerais atuam, aumentando sua absorção ou realizam alguma função metabólica. Já nas interações antagônicas temos um elemento inibindo a absorção de outro elemento.

O cálcio é responsável pela formação do tecido ósseo e dos dentes, transmissão de impulsos no tecido nervoso, excitação muscular, contração do músculo cardíaco, coagulação sangüínea e componente do leite além de estar envolvido na atividade de arranjo da ampla cadeia de enzimas. Serve como importante segundo mensageiro convertendo informações de fora para dentro da célula (NRC, 2001). Quando o cálcio da dieta é insuficiente para manter a normocalcemia do animal, começa a ser retirado muito cálcio dos ossos. Se esta deficiência ocorrer por período prolongado, o animal pode desenvolver uma severa osteoporose, ocorrendo fraturas até mesmo com o animal parado (SETTI et al., 1998; BORGES et al., 2000; NRC, 2001). A deficiência de cálcio retarda o crescimento, provoca desenvolvimento

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anormal dos ossos e pode causar raquitismo em animais jovens e osteomalácia em adultos. Cabras com rações levemente deficientes por períodos curtos mantêm a produção de leite inalterada, mobilizando reservas corporais; se a deficiência permanecer por tempo prolongado, a produção irá diminuir, embora não tenha sido observada mudança na composição do leite (RIBEIRO, 1997).

O fósforo faz parte do metabolismo energético (síntese de ATP) e da matriz óssea e dentária, componente essencial no sistema tampão do sangue e de outros fluídos, participa na formação de fosfolipídeos (parede e conteúdo celular), proteínas e aminoácidos (COTTA, 2001; LUCCI, 1997). A deficiência de fósforo é o distúrbio mineral mais comum e, também economicamente, mais importante afetando os ruminantes no Brasil. Ela causa baixo índice de fertilidade, baixa produção de leite, decréscimo no ganho de peso, emagrecimento rápido e intenso, perturbações no crescimento, redução de apetite, depravação de apetite, diminuição na mineralização óssea que pode resultar em fraturas ou más formações (SANTOS, 1998). Da mesma forma que em dietas deficientes em cálcio, as cabras podem manter sua produção nas dietas ligeiramente deficientes em fósforo, mobilizando suas reservas corporais. Porém, se o fornecimento de fósforo for 20% abaixo da exigência, por dois meses, a produção decresce em até 60%. A mortalidade de cabritos pode ir de 7%, com um suprimento adequado de fósforo, para 62% em estados carenciais (RIBEIRO, 1997).

O sódio é importante na manutenção do pH, no metabolismo hídrico, na pressão osmótica, no equilíbrio ácido-básico, na excitabilidade dos músculos, na circulação sangüínea, na regularização das reações celulares e na respiração. No intestino delgado, o sódio contribui para a manutenção do meio alcalino, facilitando a digestão das proteínas, carboidratos e gorduras pelas enzimas (RIBEIRO, 1997). A deficiência de sódio é a carência mineral mais comum em todo mundo, além de ser a mais importante, depois da de fósforo (TOKARNIA et al., 2000). A deficiência de sódio causa nos ruminantes, perda de apetite, pelagem grosseira, rápido declínio de peso, queda na produção de leite, depravação de apetite (halotriofagia), incoordenação motora, fraqueza, arritmia cardíaca e morte. Cabras em lactação podem requerer suplementação adicional pelo elevado conteúdo de Na no leite. Juntamente com o cloro (cloreto de sódio) ainda é importante como veículo para os demais minerais, pois os animais apresentam avidez por esse sal, consumindo, assim, os demais minerais (RIBEIRO, 1997).

Em regiões onde a água é salobra, geralmente o consumo da mistura mineral ou do sal comum poderá diminuir, devido principalmente, à ingestão do sódio contido na água . Em estudo realizado por BRUM & SOUZA (1985) na região de lagoas salobras do pantanal mato-grossense, os autores verificaram que as vacas ingeriam uma quantidade de sódio via água, que supria aproximadamente 210% das necessidades nutricionais desse elemento. Nestas regiões, recomenda-se análise de sódio da água e redução do cloreto de sódio nas misturas minerais. Muitas vezes torna-se necessário o uso de palatabilizantes para aumentar o consumo da mistura mineral.

O magnésio está intimamente associado ao cálcio e fósforo, tem função no desenvolvimento de ossos e dentes, ativador de enzimas no metabolismo energético, excitabilizante muscular e tem papel importante na síntese de gordura do leite (COTTA, 2001). A verdadeira deficiência de magnésio só ocorre em bezerros alimentados exclusivamente à base de leite. A deficiência de magnésio é caracterizada por atraso no crescimento, falta de apetite, vaso dilatação periférica, manifestações neuro-musculares. Também está envolvido no processo de tetania da lactação ou tetania hipomagnesiêmica, perturbação metabólica que afeta sobretudo vacas em lactação (TOKARNIA et al., 2000). Aparentemente, as cabras tem ótima capacidade de reduzir a excreção de magnésio em rações deficientes desse mineral, razão pela qual a deficiência raramente ocorre (RIBEIRO, 1997).

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O cloro é um dos principais elementos do fluido extracelular e constitui o ácido clorídrico, essencial para a digestão gástrica dos alimentos. Envolvido no metabolismo hídrico e na pressão osmótica dos tecidos, mantêm o equilíbrio ácido-básico (LUCCI, 1997). Só se conhece a deficiência de cloro em vacas de alta produção de leite, mesmo assim é rara (TOKARNIA et al., 2000).

O enxofre está presente nos aminoácidos sulfurosos, como a metionina, cisteína e cistina e nas vitaminas hidrossolúveis, tiamina e biotina. Possui importante função na síntese de proteínas no rúmen (LUCCI, 1997). Como as cabras tem o hábito de ingerir plantas jovens, e algumas destas tem excesso de ácido tânico, isso pode afetar a absorção de enxofre, acarretando maiores exigências desse elemento. Cabras da raça Angorá tem maior necessidade em razão da alta concentração de S encontrada nos pêlos (RIBEIRO, 1997).

O ferro está presente na hemoglobina, mioglobina, nos citocromos (enzima hemoproteícas), ferredoxina e apresenta importante função na respiração celular (NRC, 2001; LUCCI, 1997). A deficiência de ferro não ocorre em ruminantes, a não ser nos bezerros em aleitamento. O solo e as pastagens são muito ricos em ferro (TOKARNIA et al.,2000). Embora a deficiência de ferro raramente ocorra em animais adultos em pastejo, observa-se com freqüência em animais jovens, já que as reservas são baixas ao nascer e o leite de cabra e o de vaca são pobres neste elemento. Os sintomas são anemia, crescimento lento, letargia, aumento na taxa respiratória, diminuição na resistência a infecções e, em casos severos, a morte (RIBEIRO, 1997).

O iodo está presente na tireóide, com função primordial na síntese dos hormônios nesta glândula (T3 e T4); sendo os hormônios da paratireóide responsáveis pelo metabolismo basal (síntese de proteínas, crescimento dos tecidos, termorregulação).Sua deficiência causa o bócio, supressão do cio em vacas, queda da libido nos reprodutores e redução no nível de metabolismo basal (LUCCI, 1997). O metabolismo do iodo em caprinos deve ser diferente dos demais animais, pois os teores da tiroxina e da tironina, os homônios da glândula tireóide, no leite são bem mais elevados do que nos bovinos (RIBEIRO, 1997). O zinco está associado aos hormônios reprodutivos, ativador e constituinte de várias metaloenzimas que estão envolvidas no metabolismo dos ácidos nucléicos e carboidratos, na síntese de proteínas e envolvido no crescimento celular (LUCCI, 1997; NRC, 2001). Sem zinco não há digestão de proteína nem absorção de aminoácidos e consequentemente não há crescimento; a anidrase carbônica, dependente de zinco, é responsável por desnaturar a proteína e ativar o pepsinogênio (NRC, 2001). O zinco é componente de várias enzimas envolvidas na digestão e na respiração, necessário para a pele, ossos e pêlos. Sua suplementação é particularmente importante, pois os caprinos não mantêm reservas corporais desse elemento. Sua deficiência provoca a diminuição da vitamina A circulante e sua conseqüente deficiência (RIBEIRO, 1997). É componente da enzima metalotienina, que recobre o epitélio intestinal, diminuindo a absorção do cobre.

A absorção de manganês é baixa, pelo organismo animal, sendo importante para a reprodução durante a gestação e para a sobrevivência das crias (COTTA, 2001). Em locais onde há deficiência, alguns defeitos de aprumos são atribuídos à carência de manganês (COTTA, 2001). Pode causar, ainda, enfraquecimento no crescimento e distúrbio ou queda produtiva (NRC, 2001). Parece, especialmente no Brasil, que as pastagens contêm quantidades suficientes de manganês para suprir as necessidades desse elemento aos bovinos (TOKARNIA et al., 2000). Quantidades elevadas de cálcio e ferro podem aumentar a exigência de manganês.

O cobalto faz parte da composição molecular da vitamina B12 (cianocobalamina). Sem cobalto na dieta não há síntese microbiana desta vitamina no rúmen. A vitamina B12 é responsável pela gliconeogênese e formação do sangue. A falta de cianocobalamina provoca a impossibilidade do organismo animal sintetizar o propionato (LUCCI, 1989; LUCCI, 1997;

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COTTA, 2001). A deficiência de cobalto causa falta de apetite, anemia, perda de peso, palidez das mucosas, queda na produção de leite, e em casos extremos, pode resultar na morte dos animais (LUCCI, 1997). Presente nos glóbulos vermelhos do sangue, o cobre mantém estreita relação com o ferro e o molibdênio (SANTOS, 1998). Faz parte das proteínas cerebrocupreína (mantêm a bainha de mielina, manutenção do sistema nervoso), elastina (elasticidade das artérias), da molécula do citocromo C (cadeia de transporte de elétrons) e componente do sistema imunológico (SANTOS, 1998). A deficiência de cobre causa anemia, queda da fertilidade e da produção de leite. Pode causar perda de elasticidade das artérias (morte súbita) e acromotriquia - halo branco ao redor dos olhos (COTTA, 2001). As deficiências de cobre no organismo podem ser primárias ou secundárias. A deficiência primária está ligada a ingestão de cobre inferior às necessidades do animal. A deficiência secundaria é causada por antagonismos que interferem na absorção e na utilização metabólica. É armazenado principalmente no fígado, e a mais importante rota de excreção é a bile. A absorção do cobre pode ser prejudicada pelo excesso de molibdênio e enxofre (RIBEIRO, 1997). Em caprinos a deficiência de cobre pode ocasionar a ataxia enzoótica, provocando degeneração e, finalmente, necrose dos neurônios, especialmente da medula espinhal ( ROSA, 1996). O cobre é essencial às plantas, mas em quantidades mínimas. Entra na composição química de algumas enzimas, como ferroloses e lacases. O conteúdo desse elemento decresce com a idade da planta. A disponibilidade do cobre também esta relacionada com o nível de acidez do solo, sendo que o pH abaixo de 5,5 favorece a absorção do cobre pela planta.

O selênio é componente da enzima glutationa peroxidase, que tem função antioxidante, prevenindo os danos oxidativos causados por radicais livres às membranas celulares. Apresenta íntima relação com a vitamina E, influenciando a capacidade dos leucócitos destruírem bactérias fagocitadas (SANTOS, 1998; LUCCI, 1997). A deficiência de selênio é causa de diversos problemas em bovinos, principalmente da “doença do músculo branco” (distrofia muscular) e ainda de outros distúrbios, entre eles os relacionados à esfera reprodutiva (retenção de placenta, cistos no ovário, alta taxa de mortalidade embrionária). No Brasil, ainda se sabe muito pouco sobre sua ocorrência (TOKARNIA et al., 2000; SANTOS, 1998). Todas as espécies, inclusive a caprina, são suscetíveis a deficiência de selênio, que acarreta a doença do músculo branco em cabritos, do nascimento até alguns meses de idade, com morte repentina ou paralisia muscular, particularmente nos membros posteriores, ou enrijecimento e dificuldade para levantar (RIBEIRO, 1997).

O molibdênio é componente de enzimas encontradas no leite e distribuído nos tecidos animais. Não se têm relatos sobre sua deficiência em bovinos, pois a exigência em molibdênio é muito baixa (LUCCI, 1997). O maior problema do molibdênio está relacionado com o seu excesso, que pode ocasionar a diminuição da absorção de cobre, pela formação do tiomolibdato de cobre. 2.4 Métodos para Suprir Deficiências Minerais da Dieta 2.4.1 Adubação do solo com os elementos deficientes

A adubação do solo com elementos deficientes seria a medida ideal, pois além de resolver o problema da deficiência mineral no animal, pode também prover aumento da produção de massa verde e melhorar a taxa de lotação nas pastagens (TOKARNIA et al., 2000). No Brasil, na maioria das propriedades, não se maneja as pastagens corretamente. E também, muitos elementos minerais que estão em deficiência no solo, e são essenciais aos

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animais não causam problemas para as forrageiras. Esse método tem o inconveniente de ser caro. 2.4.2 Misturas comerciais “completas”

Essa designação é muito vaga. Por razões comerciais, a tendência é incluir o maior número possível de minerais nas misturas. Uma mistura mineral adequada para bovinos no Brasil deveria conter somente fósforo, cobre, cobalto, iodo e zinco, tendo como veículo o sal comum. Mesmo assim, seria um desperdício muito grande, porque há regiões onde não ocorrem deficiências minerais, e onde elas ocorrem, na maioria das vezes, não envolvem todos os elementos. Isso sem levar em conta o antagonismo entre minerais fornecidos em excesso (TOKARNIA et al., 2000). 2.4.3 “Sal seletivo”

O “sal seletivo” é uma mistura feita especialmente para cada caso, considerando regiões, históricos da criação, análise da forragem e em especial testes experimentais, onde só é suplementado o mineral que realmente está em deficiência. Caso não se encontre deficiência em uma região, só se faz necessário a suplementação com sal comum (TOKARNIA et al., 2000).

Esse método é o mais indicado econômica e nutricionalmente. Além de economizar, os animais ficam livres de reações antagônicas entre minerais fornecidos em quantidades desproporcionais e de intoxicação por causa de elementos fornecidos em excesso.

A suplementação mineral seletiva, que significa fornecer apenas o(s) elemento(s) mineral(is) que efetivamente está(ão) em falta na dieta dos animais, deve ser sempre proposta com base no manejo nutricional dos animais e no exame clínico-epidemiológico dos rebanhos (PEIXOTO et al., 2003).

2.5 Influência da Raça no Desempenho Ponderal

O ganho de peso é uma característica diretamente relacionada ao rendimento de

carcaça e a produção de carne, podendo variar de acordo com fatores intrínsecos e/ou extrínsecos ao animal; dentre esses fatores, encontra-se a base genética (SAÑUDO & SIERRA, 1993; SAÑUDO et al., 1994; SIERRA et al ., 1994 e OSÓRIO et al., 1996)

A raça caprina leiteira mais difundida no mundo é a Saanen, e apresenta um crescimento bastante significativo em nosso país. É apontada como a raça caprina de maior potencial para produção de leite (SANDS & McDOWELL, 1978). Embora seja uma raça leiteira por excelência, a raça produz excelentes mestiços para corte, pois é de grande porte e precoce (RIBEIRO, 1997).

A raça Boer, originária da África do Sul, é uma das únicas raças de caprinos considerada como especializada na produção de carne. Os animais desta raça chegam a apresentar ganho de peso de 200 até 300g/dia (RIBEIRO, 1997).

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3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local, Instalações, Animais e Manejo Geral dos Caprinos

Os estudos foram conduzidos no setor de Caprinocultura do Instituto de Zootecnia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), no município de Seropédica, RJ (latitude: 22°46’59’’ S; longitude 43°40’45’’ W; altitude: 33m). Durante todo o período experimental, os animais foram mantidos confinados, em sistema de piso ripado. Após a desmama, os animais foram previamente vermifugados.

Na formação dos dois grupos experimentais, os animais foram separados em dois lotes, com pesos similares e mantidos em baias coletivas.

Duas vezes por semana, os animais foram conduzidos a um piquete, próximo do aprisco, para receberem radiação solar e se exercitarem. Nos dois experimentos os animais foram pesados a cada 21 dias, em jejum hídrico e sólido de, no mínimo, 12 horas. 3.1.1 Animais e tratamentos experimentais

No primeiro experimento utilizaram-se quatorze caprinos mestiços ½ sangue Boer-Saanen, oriundos do próprio capril da UFRRJ. O período experimental teve início quando os animais atingiram 13-14 kg e foram desmamados. Esse experimento teve início em 15 de outubro de 2003, estendendo-se por 152 dias.

Neste primeiro experimento, sete animais tiveram acesso a um suplemento mineral comercial específico para caprinos (Tabela 1). Da mesma forma, no tratamento 2, sete animais receberam suplemento mineral seletivo (Tabela 1), formulado apenas com cloreto de sódio (1000g) e sulfato de cobre (5g), elemento sabidamente deficitário na região segundo estudos realizados por TOKARNIA et al. (1971) e MALAFAIA et al. (2004a).

No segundo experimento, foram utilizados doze animais da raça Saanen, recebidos de doação. O período experimental teve início quando os animais atingiam em média 6 kg, em 29 de abril de 2004 e foi encerrado em 10 de setembro de 2004, durando 134 dias.

No segundo experimento, cinco animais tiveram ao seu dispor o mesmo suplemento mineral comercial, utilizado no experimento 1. De forma idêntica ao experimento 1, sete animais receberam o suplemento seletivo, formulado apenas com cloreto de sódio (1000g) e sulfato de cobre (5g).

Ao término do experimento os animais estavam com aproximadamente 22 kg de peso vivo.

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Tabela 1. Composição do sal mineral comercial específico para a espécie caprina (SMC) e do sal mineral seletivo (SMS).

Elemento SMCa SMSb

Cálcio (g/kg) 130 - Sódio (g/kg) 136.5 400 Fósforo (g/kg) 65 - Enxofre (g/kg) 12 - Magnésio (g/kg) 8 - Ferro (mg/kg) 1500 - Cobre (mg/kg) 1200 1250 Zinco (mg/kg) 2500 - Manganês (mg/kg) 1000 - Iodo (mg/kg) 100 - Cobalto (mg/kg) 80 - Selênio (mg/kg) 8 - a = Informações obtidas no rótulo do produto b = 1000g de sal fino + 5g de sulfato de cobre

3.2 Manejo Alimentar

O feno de tifton-85 (Cynodon dactilon), oriundo do Instituto de Zootecnia, foi

utilizado como único volumoso, sendo diariamente oferecido, às 8 e às 15 horas para todos os animais. Após ser colocado nos cochos, o alimento volumoso era uniformemente misturado com o concentrado, que foi formulado sem a mistura mineral.

O concentrado era composto por farelo de trigo (450g/kg), fubá de milho (250g/kg) e farelo de soja (300g/kg), oferecido na quantidade de 400 g/cab/dia. A oferta de alimentos sempre proporcionou sobras de 5 a 10% .

Os suplementos minerais eram regularmente colocados em cochos de madeira (20x20x6cm) dentro das baias. Quando as sobras estavam em torno de 10%, um novo reabastecimento das misturas minerais era feito e sua data anotada, o que garantiu que todos os animais recebessem o suplemento mineral sem restrições. Com base nesses dados, mensalmente, foi realizada a estimativa do consumo médio dos suplementos minerais.

Os consumos de feno, concentrado e suplementos minerais foram coletivos devido aos animais estarem alojados em baias coletivas.

Para os cálculos de exigências minerais e de ingestão de elementos foram utilizados; 0,100 kg de ganho de peso diário, o peso vivo utilizado foi de 22 kg, que foi a média de PV observada ao final dos estudos, e o consumo total de matéria seca obtido pela média dos dois grupos que foi de 3,5% do PV, ou seja, 0,770 kg sendo 0,420 kg de volumoso (1,9% PV) e 0,350 kg de ração concentrada (1,6% PV).

As equações utilizadas para determinação das exigências de minerais da espécie caprina são as seguintes (MESCHY, 2000):

FÓSFORO (g) = ((0,081 + 0,88 CMSt) + 5,8 x ganho médio diário/0,70). CMST eqüivale ao consumo médio de MS (0,770 kg MS/d). O GMD foi de 0,100g;

CÁLCIO (g) = ((0,228 + 0,623 CMSt) + 9,4 x GMD/0,50; SÓDIO = 15 mg/kg peso vivo. Considerou-se a média geral de 22 Kg de PV, que foi a

média de peso ao final dos experimentos; COBRE = 10 mg/kg MS consumida;

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COBALTO = 0,10 mg/kg MS consumida; ZINCO = 40 mg/kg MS consumida.

3.3 Coleta de Dados e Análises Estatísticas

Para determinação do consumo de nutrientes foram feitas amostragens do feno e do concentrado oferecidos. A partir dessas amostras, determinou-se os teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fósforo (P), cálcio (Ca), sódio (Na), cobre (Cu), zinco (Zn) e cobalto (Co). Esses nutrientes foram determinados segundo os protocolos analíticos descritos na AOAC (1990).

As variáveis analisadas foram o ganho de peso médio diário, o consumo e a despesa com os dois tipos de suplementos minerais.

Os experimentos foram montados em delineamento inteiramente casualizado. Os valores dos ganhos médios diários de peso foram submetidos à analise de variância segundo o modelo yij = m + ti + eij, onde:

yij =eqüivale ao valor observado na j-ésima unidade experimental, que recebeu o i-ésimo tratamento;

m = média geral; ti = eqüivale ao efeito de tratamento; eij = significa o erro experimental. Os dados de desenvolvimento ponderal, consumo de matéria seca, consumo dos

suplementos entre os dois grupos sangüíneos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, (P < 0.05). Para a execução das análises estatísticas utilizou-se o programa estatístico (SISVAR, FERREIRA, 1999).

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Desempenho Ponderal

Em ambos grupos genéticos, não foram observadas diferenças significativas (P >0,05)

no ganho médio diário entre os grupos que consumiram os dois tipos de suplementos minerais (Tabela 2). Resultados similares já tinham sido relatados por MALAFAIA et al. (2004a) trabalhando com caprinos nessa mesma região e utilizando também uma suplementação comercial e uma suplementação seletiva, semelhante à usada nesse experimento. Para essa região do estado do Rio de Janeiro, podemos observar que somente uma suplementação com o sódio e cobre (suplementação seletiva) foi eficaz para atender as necessidades desse rebanho. No entanto, é válido ressaltar que essa suplementação foi específica para este rebanho pois, como foi dito anteriormente, as deficiências minerais variam de região para região e até mesmo dentro de uma mesma região. A condição principal para introdução da suplementação mineral seletiva em uma fazenda é o exame minucioso rebanho (PEIXOTO et al., 2003).

CHARLES et al. (1983) relataram, em seus experimentos realizados com caprinos no nordeste da Bahia, que todos os tratamentos que continham suplementação mineral propiciaram ganhos superiores aos animais que não receberam mistura mineral.

Muito embora existam inúmeras diferenças entre a espécie caprina e bovina, PEIXOTO et al. (2003) também observaram, no sudeste de Minas Gerais, que apenas a suplementação com cloreto de sódio foi eficaz para manutenção do bom estado nutricional e da atividade reprodutiva de matrizes bovinas, quando comparadas às que receberam a mistura mineral comercial.

Um ponto importante que foi levado em consideração nos experimentos, e que assegura a eficácia da suplementação seletiva, foi o tempo de duração dos experimentos 1 e 2 que foram respectivamente, 152 e 120 dias, garantindo que, se outras deficiências minerais estivessem ocorrendo, os animais do grupo da suplementação mineral seletiva poderiam manifestar sintomas carênciais. É importante salientar que os trabalhos foram realizados com animais em crescimento, e a maioria das deficiências minerais causam menor ganho de peso. Como descrito anteriormente, não houve diferença no desempenho ponderal dos animais que receberam a suplementação mineral seletiva frente aqueles que receberam a suplementação mineral comercial, ratificando mais uma vez a eficácia da suplementação seletiva. Tabela 2. Desempenho ponderal dos caprinos recebendo a suplementação mineral comercial

e a seletiva

Tratamentos Médias*(kg/dia)

Suplemento Mineral Comercial

0,089a

Suplemento Mineral Seletivo 0,093a

CV (%) 22,3 *Médias seguidas por letras iguais não diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey (P > 0,05).

O efeito do grau de sangue dos animais foi significativo ( P<0,05) sobre o desempenho ponderal (Tabela 3). Certamente, este resultado deve-se ao fato dessas raças terem diferentes aptidões zootécnicas.

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Diante dos resultados observados, uma provável explicação pode ser feita uma vez que os animais mestiços eram do capril da UFRRJ que não realiza nenhuma pressão de seleção para ganho de peso. Enquanto os animais da raça Saanen, que foram recebidos por doação, vieram de rebanho com alta pressão de seleção.

BARROS et al. (1997) trabalhando com caprinos das raças Saanen e Anglo-Nubiana observaram que tanto o ganho de peso como a idade à primeira cobertura foram influenciadas pela raça, sendo que a raça Saanen foi superior a Anglo-Nubiana nas características estudadas.

Tabela 3. Desempenho ponderal dos caprinos de acordo com o grau de sangue

Grau de sangue Médias*(kg/dia)

½ Boer-Saanen 0,079a

Saanen 0,106b

CV (%) 22,3 *Médias seguidas por letras diferentes diferem entre si estatisticamente pelo teste de Tukey (P < 0,05). 4.2 Consumo dos Suplementos

Nos dois experimentos foi observado diferença no consumo dos dois tipos de

suplementos. No primeiro experimento, com os animais mestiços, podemos observar (Tabela 4) que os animais que receberam a mistura mineral seletiva tiveram consumo menor, nos 152 dias de experimento, em relação aos que receberam a mistura mineral comercial Tabela 4. Consumo e despesas dos suplementos mineral comercial e seletivo durante 152 dias (12/11/03 a 12/4/04) com os caprinos mestiços Boer-Saanen.

Consumo Mistura mineral comercial

(n = 7) Mistura mineral seletiva

(n = 7 ) Total (g) 3620 1700 Diário (g/animal) 3,4 1,6 Despesa diária( R$/animal) 0,0038 0,00079 Despesa (R$/152 dias/animal)*

0,58 0,12

* Preço do quilograma da mistura minera comercial : R$ 1,13 * Preço do quilograma da mistura mineral seletiva : R$ 0,50 Tabela 5. Consumo e despesas dos suplementos durante 120 dias (13/05/04 a 10/09/04) com os caprinos da raça Saanen

Consumo Mistura mineral comercial (n = 5)

Mistura mineral seletiva (n = 7 )

Total (g) 6300 5200 Diário (g/animal) 10,5 6,2 Despesa diária (R$/animal) 0,012 0,0031 Despesa (R$/120 dias/animal)*

1,42 0,37

* Preço do quilograma da mistura minera comercial : R$ 1.13

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* Preço do quilograma da mistura mineral seletiva : R$ 0.50

Com relação ao consumo dos suplementos no segundo experimento com os animais da raça Saanen, (Tabela 5) a mistura mineral seletiva teve seu consumo menor em 1,1 kg, nos 120 dias de experimento, em relação a mistura mineral comercial. Assim, como foi verificado no primeiro experimento, o sal seletivo foi novamente excelente fonte de economia. Em relação aos custos com a suplementação podemos observar que o menor consumo do suplemento seletivo, juntamente com seu menor preço, constituiu uma excelente fonte de economia (3,8 vezes na suplementação seletiva). O menor consumo se deve ao maior teor de cloreto de sódio contido no suplemento mineral seletivo, que foi aproximadamente 2,9 vezes maior (Tabela 1) (MALAFAIA et al., 2004b).

4.3 Ingestão de Matéria Seca

O consumo de matéria seca foi em média 3,5 % PV sendo que 1,9 % PV foi

oriundo do volumoso e 1,6 % PV do concentrado. Nos dois experimentos, não foi encontrada diferença no consumo do volumoso e do concentrado.

Os valores de consumo encontrados estão de acordo com os descritos por RIBEIRO (1997) que diz que embora a ingestão varie a cada dia, há cálculos que permitem cálculo da ingestão de matéria seca prevista para cada ocasião. A ingestão varia de 1,5 a 2,0 do PV em animais de baixa exigência, até 5 % em animais de alta produção, com citações de valores de até 8 % do PV.

MALAFAIA et al. (2004a) trabalhando com caprinos no mesmo local e em condições parecidas observaram que animais de idade semelhante consumiram 3,25 % PV em MS sendo desse total, 1,8 % PV para o volumoso e 1,45 % PV para concentrado.

4.4 Aspectos Nutricionais

A maioria dos sintomas clínicos das deficiências minerais se manifestam de forma específica e, na deficiência de cobre, temos em evidência a acromotriquia periocular. No primeiro experimento com os animais mestiços Boer-Saanen, devido a pelagem característica, foi possível a observação do aumento da pigmentação na pelagem periocular nos animais. Foi possível observar que, todos os animais de ambos os grupos, apresentaram evidente melhora da qualidade da pelagem geral. Esses dados indicam que os animais, antes do experimento, passavam por certo grau de deficiência de cobre que foi corrigida, em ambos os tratamentos, pela ingestão desse elemento contido nos suplementos minerais.

A concentração de minerais nas forrageiras pode variar de acordo com fatores tais como: fertilização, tipo de solo, espécies de plantas, partes da planta e época do ano. Também as características do solo, como a estrutura, o pH, teor de matéria orgânica e de água, devem ser levados em consideração. Os resultados das análises dos alimentos (Tabela 6) servem apenas como informação complementar para se chegar a conclusão sobre a possível deficiência mineral em um rebanho.

Considerando que o uso da suplementação visa proporcionar melhor desempenho animal pela complementação de nutrientes de baixa disponibilidade na pastagem, seria importante o conhecimento do valor nutritivo da forragem. Existem muitas informações na literatura sobre a composição química de pastagens no Brasil (VALADARES , 2000).

O teor de PB da forragem oferecida, durante todo período experimental, foi adequado (7 % na MS), como preconizado por VAN SOEST (1994) para que não haja prejuízo na utilização da forragem por parte dos microrganismos ruminais.

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Tabela 6. Composição químico-bromatológica dos alimentos Alimento MS

(%) PB

(%MS) P

(%MS) Ca

(%MS) Na

(%MS) Cu

(mg/kgMS) Co

(mg/kgMS) Zn

(mg/kgMS)

Volumoso 86.1 7.6 0.28 0.36 0.04 3.4 0.06 31

Concentrado 89.4 22.4 0.64 0.21 0.04 6.7 0.02 39 Pelas análises do volumoso e do concentrado, e contrastando com as exigências de

minerais de caprinos (Tabela 7), observa-se que somente a exigência de fósforo foi suprida. Pelo consumo da mistura mineral comercial, observamos que todos outros minerais estão sendo oferecidos em quantidades bem além das exigências. O consumo da mistura mineral seletiva somente supriu a exigência em sódio e cobre.

A ingestão do suplemento mineral comercial foi obtida pela média do consumo verificado nos dois lotes (tabelas 4 e 5) de animais que consumiram este suplemento, sendo igual à 6,95 g/cab/dia. A ingestão do suplemento mineral seletivo foi obtida da mesma maneira, sendo observado o consumo de 3,9 g/cab/dia. Tabela 7. Fornecimento de minerais por dia pelo volumoso, concentrado, suplemento mineral comercial (SMC), suplemento mineral seletivo (SMS) e necessidade diária.

MINERAL VOLU

MOSO (V)

CONCENTRADO (C)

TOTAL (V+R)

EXIGÊNCIA*

SITUAÇÃO**

SMC TOTAL(V+R+ SMC)

SMS TOTAL (V+R+ SMS)

P (g/d) 1,18 2,24 3,42 1,59a + 1,83 0,45 3,87 - - Ca (g/d) 1,51 0,74 2,25 2,59b - 0,34 0,90 3,15 - - Na (g/d) 0,17 0,14 0,31 0,33c - 0,02 0,95 1,26 1,56 1,87 Cu (mg/kgMS) 1,43 2,35 3,78 7,7d - 3,92 8,34 12,12 4,88 8,66 Co (mg/kgMS) 0,03 0,01 0,04 0,08e - 0,04 0,56 0,56 - - Zn (mg/kgMS) 13 13,65 26,65 30,8f - 4,15 17,38 44,03 - - *Segundo MESCHY, 2000. ** Situação = Exigência – Total (V+R) a = ((0,081 + 0,88 CMSt) + 5,8 x ganho médio diário/0,70). b = ((0,228 + 0,623 CMSt) + 9,4 x GMD/0,50. c = 15 mg/Kg peso vivo. d = 10 mg/Kg MS consumida. e = 0,10 mg/Kg MS consumida. f = 40 mg/Kg MS consumida.

De acordo com as recomendações contidas na tabela 7 de exigência para a espécie caprina, a exigência de fósforo é de 1,59 g/d. Verificando a ingestão diária de fósforo pelo consumo de volumoso e concentrado temos um consumo do elemento em 115% acima da exigência. Com o consumo do suplemento mineral comercial temos 243% além da exigência. Esse excesso de fósforo proporcionado pelo consumo do suplementação mineral comercial, além de ser economicamente desnecessário, favorece também o aumento da excreção metabólica fecal do elemento (CARVALHO et al., 2003). YOUNG et al. (1966) também

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observaram esse aumento na excreção endógena fecal de fósforo por bezerros, quando os níveis de fósforo na dieta eram aumentados. Segundo ANNENKOV (1982), esse aumento na excreção fecal de fósforo é uma rota importante de controle homeostático.

Quanto ao cálcio, verificou-se que apenas com o consumo do volumoso e concentrado as exigências foram supridas em 87% e, com o consumo do suplemento mineral comercial, as exigências foram atendidas em mais de 21%. Assim como com o que acontece com o fósforo, o cálcio também tem sua excreção fecal aumentada quando está em excesso (SOUSA et al.,1998). SOUSA et al. (1997) citam que, sob muitos aspectos as exigências dietéticas de minerais são muito mais difíceis de serem definidas, e as tabelas existentes variam muito em suas recomendações. O NRC (1981) recomenda 1,0 g Ca/d para caprinos com peso em torno de 20 kg, enquanto que segundo a tabela 7 tivemos como base 2,59 g Ca/d para caprinos com 22 kg.

Em relação ao cálcio e o fósforo é muito importante lembrar que a relação entre eles na dieta tem fundamental importância na manifestação de urolitíase em caprinos. A relação ideal é de 2:1, e com o uso do suplemento mineral comercial essa relação acaba não sendo mantida (ORTOLANI, 1994; ROSA, 1996).

Quanto ao sódio, o consumo de volumoso e concentrado foi capaz de atender 94% da exigência, com o consumo do suplemento mineral comercial ficou em 282% acima da exigência, e com suplemento mineral seletivo em 467% acima. Entretanto, a excessiva ingestão de sódio pelos ruminantes não se constituiu problema, devido à sua enorme tolerância (UNDERWOOD, 1981).

O consumo de cobre no volumoso e no concentrado foi aproximadamente 49% da exigência, e com o consumo do suplemento mineral comercial, esse atendimento ficou em torno de 57% acima da necessidade, e com o consumo do suplemento mineral seletivo ficou apenas em 12% acima da exigência. MARQUES et al. (2003), em seu trabalho com carência de cobre com bovinos no sul do Rio Grande do Sul, encontraram baixos teores de cobre na forragem oferecida aos animais, e quando o cobre passou a ser suplementado no rebanho ele relata que o desempenho ponderal foi melhorado.

Quanto ao cobalto, o consumo do volumoso e do concentrado proporcionou apenas 50% da exigência, e com o consumo do suplemento mineral comercial, tivemos uma quantidade 650% acima da exigência. Mesmo com os baixos níveis encontrados nos alimentos os animais que não recebiam suplemento contendo cobalto (SMS) não apresentaram sintomas de sua deficiência.

Em relação ao zinco observamos que o consumo do volumoso e do concentrado concentrada resultou em um atendimento de 86,5% de sua exigência, com o consumo do suplemento mineral comercial era fornecido 43% acima da necessidade diária.

Uma vez que os ganhos médios diários foram semelhantes e, durante todo período experimental, os animais mantiveram-se saudáveis, acredita-se que possivelmente as tabelas nutricionais dos ruminantes, por serem em sua maior parte importadas, não reflitam a realidade das exigências dos caprinos criados no Brasil, onde as condições de clima, alimentação e material genético são bem diferentes daquelas das quais foram obtidas as exigências das tabelas que utilizamos. COELHO DA SILVA (1995) avaliando, por intermédio da metodologia do AFRC (1991), dados de uma série de experimentos realizados no Brasil, concluiu que as estimativas das exigências líquidas de cálcio e fósforo diferiram, em cerca de 100%, das propostas pelo referido conselho.

ZICARELLI (2003) comenta que até poucos anos atrás as exigências minerais para caprinos eram estimados, empiricamente, pela extrapolação dos bovinos. Atualmente já existem tabelas para caprinos, porém ainda são necessárias mais pesquisas no Brasil. Outra possível explicação para os níveis baixos de cobalto é um possível erro laboratorial na análise

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de cobalto, que é feita por espectofotometria de absorção atômica o que resulta em grande imprecisão.

Os ganhos médios diários sem diferença estatística significativa são explicadas pelo fato dos dois suplementos minerais atendem plenamente as exigências em minerais desses caprinos, nos dois experimentos.

TOKARNIA et al. (1988) afirmam que as análises dos minerais nas pastagens não servem como parâmetro para avaliar as necessidades ou carências minerais dos animais; esses resultados analíticos servem apenas como informação complementar. O exame clínico/nutricional do rebanho e um ensaio de reversão, onde um grupo de animais recebe um suplemento comercial e outro grupo o suplemento seletivo, eliminam a necessidade das análises de minerais nas pastagens para a implantação de uma estratégia de suplementação mineral.

É importante o entendimento da diferença entre a necessidade metabólica e a necessidade suplementar dos elementos minerais. Nesta situação, foi observado que, apesar dos animais terem necessidade metabólica dos outros minerais, estes estão presentes na dieta atendendo suas exigências, enquanto no caso do sódio e do cobre havia uma necessidade suplementar destes elementos.

O sal seletivo foi proposto com base nas informações de TOKARNIA et al. (1971) e MALAFAIA et al.(2004a), que revelaram ser o cobre o elemento mineral mais deficiente nesta região do estado do Rio de Janeiro. Isto reforça essa decisão o fato dos animais terem falta de pigmentação periocular, antes do início do experimento, o que é sugestivo da deficiência de cobre.

Uma observação que endossa a idéia de que outros minerais não estavam aquém das exigências é que não ocorreu nenhum outro sintoma carencial, e se isso tivesse ocorrido, provavelmente teríamos desempenho melhor por parte dos animais que receberam a mistura mineral comercial, uma vez que está continha vários outros minerais.

Dessa forma, para esta específica situação, apenas a suplementação com NaCl associado ao sulfato de cobre seria adequada para atender as necessidades minerais dos animais, sem causar prejuízos a sua saúde e produtividade 4.5 Aspectos Econômicos

Em ambos experimentos, foi verificado menor consumo da mistura mineral seletiva (Tabela 4). O maior consumo do suplemento mineral comercial ocorreu devido ao seu menor teor de cloreto de sódio (136,5 g de Na/kg, o que eqüivale a aproximadamente 341 g de NaCl/kg ou 34%), enquanto que o suplemento mineral seletivo 100% de NaCl (1000g), resultando numa menor ingestão dessa mistura. O NaCl funcionou então, como um controlador da ingestão voluntária.

Podemos observar que a economia com o uso do suplemento mineral seletivo nos dois experimentos foi de 3,8 a 4,8 vezes maior que o suplemento mineral comercial (Tabela 4).

MALAFAIA et al. (2004b) comparando a suplementação mineral comercial versus suplementação seletiva, em rebanhos de bovinos de corte, obtiveram economia de 3 a 7 vezes na suplementação mineral seletiva.

A economia proporcionada pelo suplemento mineral seletivo deveu-se ao menor consumo da mistura e pelo fornecimento dos minerais que realmente estavam causando sintomas de deficiência.

Para que a caprinocultura seja uma atividade competitiva no país, tem-se que adotar medidas eficientes, que promovam ganhos produtivos e qualitativos com medidas viáveis e racionais.

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De acordo com os resultados obtidos, temos indícios suficientes para indicar que o fornecimento da mistura mineral seletiva, contendo apenas o sódio e o cobre, resulta em condições satisfatórias de desenvolvimento dos animais.

No caso do rebanho do experimento 1, a despesa verificada em um rebanho de 100 animais seria de (100* 0.0038*365) R$ 138,70 para o lote que consome o suplemento mineral comercial e de (100*0,00079*365) R$ 28,83 reais para o grupo que consome o suplemento mineral seletivo; uma diferença de aproximadamente R$110 por ano.

No experimento 2, com o lote que consome o suplemento mineral comercial a despesa verificada para um lote de 100 animais seria de (100*0,012*365) R$ 438,00. Com o lote que consome o suplemento mineral (100*0,0031*365) essa despesa seria de R$ 113,15; teríamos então uma economia de R$ 324,85 por ano.

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5 CONCLUSÕES

No setor de caprinocultura da UFRRJ, localizada no município de Seropédica, Estado

do Rio de Janeiro não foram encontradas diferenças entre os ganhos médios de peso entre os caprinos que receberam as misturas mineral seletiva e comercial. Foram encontradas diferenças significativas entre o ganho de peso dos animais mestiços e da raça Saanen.

A suplementação mineral seletiva resultou em considerável fonte de economia, pelo seu menor consumo e menor preço, quando comparada com a mistura comercial (3,8 a 4,8 vezes mais econômica).

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6 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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