vive-se só uma vez - revisado gs

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Eis que retorna s telas, depois de uma ausncia de vinte anos, um dos mais belos filmes da histria do Cinema

O verdadeiro culpado (sobre Vive-se uma s vez)

Jean DouchetEis que retorna s telas, aps uma ausncia de vinte anos, um dos mais belos filmes da histria do cinema. Para aqueles que discordam e eles existem , retomaria simplesmente esta frase de Jacques Rivette sobre Suplcio de uma alma (Beyond a Reasonable Doubt, 1956): Quem no sai transtornado deste filme ignora tudo, no apenas do cinema, mas tambm do homem. Suplcio pode ser considerado, com efeito, como um remake aprofundado de Vive-se uma s vez (You Only Live Once, 1937). Aqui, como ali, o homem agita-se num mundo onde a noite reina soberana. A sombra apropriou-se da luz; pior que isso: a luz absorveu totalmente a sombra, deixando apenas de si mesma um falso brilho, uma aparncia enganosa. Opaca, enevoada, glauca, ela recobre os homens com um eterno nevoeiro, que os fora a viver num universo fechado. (Foto de aqurio no segundo filme; brumas, vapores lacrimogneos, vidros embaados, chuvas no primeiro.)Esta me parece ser a forma imaginativa de toda a obra de Fritz Lang. A mais importante destas consequncias: a ausncia de dualismo dramtico (caro a Murnau ou a Hitchcock) entre a sombra e a luz. isso o que conduz pura tragdia, no interior da qual esta dualidade renasce. Com efeito, o homem carrega sobre ele os estigmas de sua maldio. Ele erra num mundo para sempre privado da verdadeira luz, cuja nostalgia o atormenta. Desesperadamente, mas em vo, tenta perfurar esta carapaa opaca para reencontrar a claridade a que aspira; ele se recusa a aceitar a maldio que faz de si um eterno condenado morte.Ns entramos assim de forma plena no mundo trgico da necessidade absoluta. Se o destino do homem se encontra paralisado, imutvel, no pode existir nem drama nem progresso; apenas a constatao de fatos sucessivos decorrentes de uma dada situao, o registro da agitao furiosa do prisioneiro que se choca sem esperana contra os muros de seu crcere.

Fritz Lang encena como uma aranha tece sua teia; tudo est implicado. Uma imagem na qual cada coisa se situa num lugar imutavelmente destinado determina a seguinte. Assim, Sylvia Sidney enche o tanque de gasolina, e ns sabemos que ela est roubando o posto; o plano seguinte, com efeito, mostra-nos os dois empregados do posto com os braos levantados adivinhamos que sob a ameaa do revlver de Henry Fonda. A acusao de inverossimilhana, levantada frequentemente contra Fritz Lang, parece-me, portanto, desprovida de fundamento. Como se pode acus-lo de inverossimilhana se nenhum fato se produz que no seja deduzido do precedente? Tomemos como exemplo a mamadeira, que chocou tantos belos espritos. Fonda termina de escrever uma carta a sua cunhada, com o fito de marcar um encontro: no mesmo instante, ouvimos os vagidos do recm-nascido, o que implica pensar que este nascimento foi anunciado no incio da carta. Devemos nos espantar de que, durante os preparativos para a fuga dos fugitivos, tenha-se pensado, por obra do reflexo mais natural do mundo, na nutrio da criana? Pode-se justificar da mesma maneira a presena do revlver sob o colcho da enfermaria. Mundo terrificante, onde o acaso no tem vez, onde reina a estrita necessidade. Se assim , se cada plano implica o prximo ou os seguintes, os primeiros planos dos filmes de Fritz Lang devem conter em premissa a obra completa. As mas, a mulher, o discurso que abrem Vive-se uma s vez esto l como smbolos da tragdia de Ado e Eva a que vamos assistir. Vontade de reencontrar o paraso perdido, recusa em aceitar a maldio recusa que leva revolta, e que conduz o homem a realizar o ato que justifica, mesmo a seus olhos, esta maldio. A partir da, seu destino de pria aceito, o casal entrev um vislumbre de felicidade paradisaca, que s a morte lhes trar definitivamente. Quem no v, por exemplo, que a morte do pastor duas vezes necessria? O homem, por puro orgulho, clama sua inocncia (que nos lembremos dos olhares com um brilho implacvel de Fonda na priso, olhares que definitivamente absorveram a sombra). Ele no pode aceitar a graa que lhe oferecem, pois, inocente a seus prprios olhos, pensa que no deve receb-la. Por outro lado, o padre como o diretor do jornal de Suplcio de uma alma culpado de presuno, ao crer que pode trazer a graa ao que irremedivel: esta verdadeira traio de sua misso merece necessariamente a morte. Toda e qualquer outra explicao social, psicolgica reduz ao melodrama aquilo que to somente pura tragdia. Publicado originalmente sob o ttulo Le Vvrai coupable. Publicado em Cahiers du Cinma n 81, maro de 1958. Traduzido do francs por Luiz Soares Jnior. (N.E.)

T errado no arquivo de filmes. s uma.

Detesto o tique do com efeito em textos do francs. Este o 3 em 1 pgina.

Bem antiquado, mas ok

Uau, h 28 anos no lia isso