vitor nicolau - tirinhas e mídias digitais

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As Tirinhas e Midias Digitais

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VÍTOR NICOLAU

TIRINHAS & MÍDIAS DIGITAIS:A TRANSFORMAÇÃO DESTE GÊNERO PELOS BLOGS 

João Pessoa2013

Livro produzido pelo projeto

Para ler o digital: reconguração do livro na cibercultura - PIBIC/UFPB

Departamento de Mídias Digitais - DEMID / Núcleo de Artes Midiáticas - NAMID

Grupo de Pesquisa em Processos e L inguagens Midiáticas - Gmid/PPGC/UFPB

MARCA DE FANTASIA

Av. Maria Elizabeth, 87/407

58045-180 João Pessoa, PB

[email protected]

www.marcadefantasia.com

A editora Marca de Fantasia é uma atividade doGrupo Artesanal - CNPJ 09193756/0001-79

e um projeto do Namid - Núcelo de Artes Midiáticas

do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB

Diretor: Henrique Magalhães

Conselho Editorial:

Edgar Franco - Pós-Graduação em Cultura Visual (FAV/UFG)

Edgard Guimarães - Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA/SP)

Elydio dos Santos Neto - Pós-Graduação em Educação da UMESPMarcos Nicolau - Pós-Graduação em Comunicação da UFPB

Paulo Ramos - Departamento de Letras (UNIFESP)

Roberto Elísio dos Santos - Mestrado em Comunicação da USCS/SP

Wellington Pereira - Pós-Graduação em Comunicação da UFPB

N639t Nicolau, Vítor.

Tirinhas & mídias digitais: a transformação deste gênero pelos

blogs [recurso eletrônico] / Vítor Nicolau.-- João Pessoa: Marca de

Fantasia, 2013.

2.922KB/PDF

ISBN: 978-85-7999-069-4

(Série Periscópio, 26)

  1. Comunicação. 2. Mídias digitais. 3. Estudos de gêneros. 4. We-

bcomics. 5. HQtrônics. 6. Webtirinhas.CDU: 070

Tirinhas & mídias digitais: a transformação deste gênero pelos blogs

Vítor Nicolau

2013 - Série Periscópio - 26

Coordenador do ProjetoMarcos Nicolau

CapaKeila Lourenço

Editoração DigitalKeila Lourenço

Marriett Albuquerque

Fabrícia Guedes

Filipe Almeida

Keila Lourenço

Marina Maracajá

Marriett Albuquerque

Natan Pedroza

Rennam Virginio

Alunos Integrantes do Projeto

UFPB/BC

Atenção: As imagens usadas neste trabalho o são para efeito de estudo, de acordo com o

artigo 46 da lei 9610, sendo garantida a propriedade das mesmas aos seus criadores ou

detentores de direitos autorais.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................08

AS TIRINHAS  ...................................................... 13

Conceito de Tirinha ............................................. 13

Conceito de quadrinhos

em comparação com o conceito de tirinha ......... 16

Levantamento histórico ...................................... 21

Tirinha como Gênero Jornalístico ........................ 36

A tirinha na vida cotidiana .................................. 38

AS TIRINHAS E A CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA ... 50

Convergência Midiática ....................................... 50Web 2.0 e os blogs .............................................. 54

As tirinhas nas mídias digitais ............................. 56

CONSTRUÇÃO DE UM NOVO GÊNERO ................... 63

Aprofundando os estudos dos novos gêneros ..... 63

Webcomics, de Scott McCloud ............................ 68

HQtrônicas, de Edgar Franco  .............................. 75

As Webtirinhas ou Tirinhatrônicasou simplesmente tirinhas digitais ....................... 77

LEVANTAMENTO DAS TIRINHAS DIGITAIS ......... 81

Metodologia de pesquisa em tirinhas ...................81

Análise de Conteúdo  ........................................... 83

Descrição da Pesquisa  ........................................ 86

Análise dos dados  .............................................. 89

Tipo de Domínio e Hospedagem .............................. 90

Formato da Página ................................................. 91

Conteúdo da Página ............................................... 92

Tipo de Produção ................................................... 93

Indica o tipo de produção ....................................... 94

Formato da produção ............................................. 95

Periodicidade da publicação .................................... 99

Estilo da produção ................................................ 100

Personagens utilizados ......................................... 103Recursos Multimidiáticos

(questão de múltipla escolha) ................................ 104

Forma do Texto nos Balões .................................... 106

Opção de contato com os envolvidos na criação ........ 107

Opção de comentário da produção .......................... 108

Links para redes sociais

(questão de múltipla escolha) ................................ 109

RSS/FEED ........................................................... 110

Links para outros Blogs (Parceiros) ......................... 111

CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................. 113

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INTRODUÇÃO

A tirinha surgiu e circula há mais de cem anos nosmeios impressos, principalmente em jornais e revistaspróprias. Mas, nos últimos anos, esse gênero dos qua-drinhos ganhou um novo espaço que vem proporcionan-do recongurações em suas características essenciais: osblogs. Estas produções, assim como as matérias jorna-

lísticas, charges e outros diversos gêneros e temáticasadaptaram-se a este meio, sofrendo alterações, de formaa questionarmos se há uma descaracterização deste gê-nero e se o seu discurso mantém o caráter opinativo, bemcomo as características de representação do cotidiano. Opresente estudo procura demonstrar que o formato atualdas mídias digitais interativas está modicando o formatoatual das tirinhas, de modo a criar novo gênero com novoestilo e propriedades próprias.

Poucos têm aprofundado os estudos em relação àstirinhas e explorado o seu potencial argumentativo, vistoque ela é uma representação crítica do cotidiano que seutiliza de uma visão bem-humorada ou satírica e trans-mite uma mensagem de caráter opinativo através de sua

linguagem verbal e não-verbal. A tirinha é capaz de ul-trapassar a censura e se armou como um gênero jorna-lístico com as mesmas propriedades da crônica, charge,artigo ou editorial.

Consolidada dentro das páginas dos jornais comouma categoria estética de expressão e opinião sobre o

cotidiano, representada por personagens que nos imitam,a tirinha sempre teve como base o humor, a ironia, a sáti-ra, provocando reexão, tanto em relação às trivialidadesdo dia-a-dia quanto diante das questões mais sérias dopaís e do mundo. Mas é dentro dos Blogs que a tirinhatem encontrado novo espaço, utilizando-se, inclusive, doselementos disponíveis nas mídias digitais interativas. Aagilidade e o imediatismo da tirinha, características estas

também presentes nas mídias digitais, nos faz entenderque elas são imprescindíveis para a construção do pensa-mento crítico, quando elas não se dobram à massicaçãoe se permitem à liberdade inventiva.

O Blog tem sido uma das principais ferramentas doprocesso de convergência midiática e também um espaçopara a discussão sobre as mudanças de pensamento emrelação à Cibercultura. Inúmeros debates, palestras e dis-

cussões on line são travados diariamente por blogueiros eseus públicos, graças às possibilidades geradas pela Web2.0 e a facilidade na conexão com a internet.

O espaço proporcionado pelos Blogs permitiu quediversos gêneros opinativos, como as crônicas, chargese editoriais, provenientes das mídias tradicionais, ga-

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nhassem mais visibilidade e abriu a discussão sobre aexistência de um gênero Blog no contexto da internet.E, através do estudo desse gênero midiático no qual oBlog pode ser compreendido, é possível operacionalizarteorias e métodos ajustados ao exame dos meios de co-municações tradicionais, como o jornal, o rádio e a tele-

visão; além dos meios alternativos, que atuam na cons-trução de um cotidiano histórico xado tanto no passadocomo na atualidade.

Este trabalho tem como principal objetivo realizarum estudo sobre o desao das tirinhas em coexistir, tantono suporte impresso como no digital, sofrendo ajustes quepossam mudar a sua qualidade como gênero, buscandoanalisar o modo como as tirinhas estão sendo recongu-

radas nos suportes digitais e de que modo isto muda suascaracterísticas, compreender como se dá a transformaçãodo gênero a partir das suas características essenciais eidenticar quais são as representações do cotidiano emseu discurso.

No primeiro capítulo exploramos o conceito de tiri-nha apresentado por Henrique Magalhães (2006) e a suaconcepção de gênero jornalístico opinativo, de Marcos Ni-

colau (2007). O conceito de história em quadrinhos tam-bém é explorado neste capítulo e comparado com o de ti-rinha, apresentando principalmente a forma como ambossão produzidos e os temas que geralmente estas produ-ções retratam em suas composições.

Durante todo o primeiro capítulo, tratamos a tirinha

como uma produção que retrata genuinamente o nossocotidiano. Para isso, é apresentado um histórico evoluti-vo da tirinha, extraído principalmente das obras de Jac-ques Marny (1970) e Carlos Patati e Flávio Braga (2006).As metáforas da vida cotidiana, retratadas nas tirinhas, eas minhas próprias pesquisas também são apresentadas

neste capítulo, fundamentadas por autores como Lakoff eJonhson (2002), João Carlos Correia (2005), entre outros.

O segundo capítulo apresenta o conceito de conver-gência midiática, de Henry Jenkins (2008), utilizado comobase para explicar o processo migratório das mídias im-pressas para as digitais. Este processo pelo qual a tirinhaestá passando, utiliza os blogs como principal plataformapara divulgação e para trabalhá-los como principais ferra-

mentas desta cultura convergente e participativa, utiliza-mos principalmente o livro de Ricardo Oliveira (2010). Nes-te capítulo também exploramos como a mídia se comportana modernidade, através dos trabalhos apresentados porThompson (2008), Santaella (2002) e Pierre Lévy (2000).

Já no terceiro capítulo, discutiremos a necessidadeou não de um novo conceito de gênero adotada para astirinhas que são produzidas com os recursos multimidiáti-

cos, analisando os conceitos de Webcomics, desenvolvidopor Scott McCloud (2006) e HQtrônicas, de Edgar Franco(2004), que se aplicam principalmente aos quadrinhos. Adiscussão é fundamentada a partir das teorias da Análi-se do Discurso, apresentada por Mikhail Bakhtin (2000),principalmente na separação feita pelo autor em gêneros

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do discurso primário e secundário. E, por m, no quarto capítulo é apresentado o le-

vantamento realizado em 104 blogs que apresentam ti-rinhas em seu conteúdo, com sua análise baseadas nametodologia e teorias apresentadas do Fonseca Junior(2009) sobre a Análise de Conteúdo. Os dados incluem

a recorrência dos recursos multimidiáticos, o formato datirinha e o tipo de produção que predomina na internet.

Percebemos, então, que o processo de criação nosblogs tornou-se bem mais diversicado, tendo em vista ogrande número de recursos e possibilidades da web. Es-tamos descobrindo novas formas de compor as narrativase de ilustração para as tirinhas. A internet é agora umlugar de experimentação e, principalmente, de inovação,

um espaço criado pelos próprios usuários e as tirinhas sãoum bom exemplo dessas novas possibilidades criação eveiculação nas mídias digitais.

AS TIRINHAS

Conceito de Tirinha

A tirinha, também conhecida como tira diária, podeser denida como uma sequência narrativa em quadri-nhos humorística e satírica que utiliza a linguagem verbale não-verbal transmitindo, em sua grande maioria, umamensagem de caráter opinativo. Através da utilização de

metáforas, que a aproxima da sua representação do coti-diano, ela é capaz de burlar censuras e se armar dentrodos jornais impressos como um gênero jornalístico queapresenta as mesmas propriedades de uma crônica, arti-go, editorial ou charge.

A composição da tira é denida por Magalhães(2006) como uma banda no sentido horizontal, contendoentre três e cinco quadros em sequência, inicialmente empreto e branco, e hoje mais comumente coloridas, inseri-das nas páginas de variedades e passatempo dos jornais.A criação das tiras diárias publicadas regularmente nos

 jornais impulsionou a popularização e a massicação dosquadrinhos a partir da década de 1930.

Suas características básicas são denidas também

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por Nicolau (2007), na obra Tirinha: a síntese criativa deum gênero jornalístico, pelo fato de ser:

(...) uma piada curta de um, dois, três ou até quatro quadri-nhos, e geralmente envolve personagens xos: um persona-gem principal em torno do qual gravitam outros. Mesmo quese trate de personagens de épocas remotas, países diferentesou ainda animais, representam o que há de universal na con-

dição humana. (NICOLAU, 2007, p.25)

 A tirinha é uma forma de expressão no jornal ena revista. A mídia impressa precisou se diversicar eatender a diversos públicos, dando a possibilidade de oautor colocar suas vivências, experiências e problemasda vida cotidiana de forma divertida e provocativa, emuma realidade metaforizada, como no exemplo da tirinhaabaixo, com os personagens Calvin e Haroldo, produzidapor Bill Watterson:

Figura 1: Calvin & Haroldo, de Bill Watterson, é um exemplo de tirinhaFonte: WATTERSON, 2007, p. 26

 Magalhães (2006) arma que, mesmo com a eco-nomia de espaço e tempo, o humor gráco consegue cap-

tar a atenção do leitor, muitas vezes a partir da propostamordaz, irônica e com pluralidade de sentidos.

Apesar de muitos jornais diários brasileiros pratica-mente ignorarem as tirinhas ou as localizarem dentro daspáginas de entretenimento, o seu conceito continua el asua condição de crítica e reexão sobre a condição huma-

na, a vida do país e o nosso cotidiano.

O jornalismo ilustrado foi uma estratégia para se alcançar ummaior número de leitores e os quadrinhos serviram para consoli-dar a ampliação do público. Sua linguagem baseada na imageme na síntese do texto foi, mormente, um fator de sedução quecontribuiu para o acesso aos jornais por um público que estavafora do círculo restrito de letrados. (MAGALHÃES, 2006, p. 9)

A agilidade e imediatismo da tirinha nos faz enten-

der que elas são imprescindíveis para a construção dopensamento crítico, quando não se dobram à massica-ção e se permitem à liberdade inventiva.

Segundo Patati e Braga (2006) na sua obra Almana-que dos Quadrinhos, as tirinhas, assim como as históriasem quadrinhos, gibis, comix1 e todas as outras formas dearte sequencial estão perdendo espaço para os meios deexpressão de impacto sensorial bem maior, como o cine-

ma. Mas elas também servem de inspiração para estasmídias, que cada vez mais adotam o estilo narrativo dosquadrinhos em lmes, séries e jogos.

1 Conhecidos como quadrinhos undergrounds  ou hudi grudi,expressão mais popular no Brasil, “aportuguesando” o termoem inglês.

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Conceito de quadrinhosem comparação com o conceito de tirinha

Ao partir do momento que pretendemos conceituaras tirinhas como um gênero que apresenta aspectos únicose diferenciados em relação a outros gêneros, precisamos

também destacar e, em alguns casos, diferenciar a sua de-nição observada em conjunto com a dos quadrinhos. Antesde começarmos a compará-las e explorar os seus detalhes,apresentaremos um pouco mais do conceito de quadrinhos.

Compreendemos o conceito de história em quadri-nhos, ou HQs, segundo McCloud (2005), como uma ideiade características simples: um grupo de imagens, disponi-bilizado em sequência para indicar a passagem de tempo,com sua linguagem baseada em símbolos visuais preesta-

belecidos ao longo do tempo, além de elementos e estruturacomuns, como:

balão de fala e legendas: representação da lingua-gem oral, denida como o recurso identicador dos quadri-nhos como linguagem;

requadro:  geralmente denominado de quadrinho,estrutura onde os desenhos são inseridos, com a sua formae tamanho inuenciando na leitura, velocidade e interpreta-

ção da história;onomatopeias:  formas escritas e representativasdo som inseridos em nosso cotidiano, como uma explosão(bum!), ou o choro (buááá!) e considerados signos visuais;

linhas cinéticas:  indicadores de movimento com-postas por metáforas visuais que ajudam a compreender o

que o personagem está sentindo ou fazendo;enquadramento: delimitação esquemática bidimen-

sional do espaço innito do mundo real;elipses: imagens omitidas no desenho, mas comple-

tadas mentalmente por nossa imaginação;percepção visual de tempo e espaço: consciência

visual simultânea de passado, presente e futuro especializa-do dentro da página.

Ao apresentarmos os elementos acima, podemos ob-servar que existem alguns aspectos dos quais os quadrinhose as tirinhas não compartilham com tanta evidência, princi-palmente aqueles relacionados à percepção visual de tem-po e espaço. A tirinha é uma narrativa isolada de um todo,apresentada em uma sequência de três ou quatro quadrose tem a sua contextualização com a vida cotidiana. Elas são

idealizadas para existir desta maneira, diferentemente dashistórias em quadrinhos, que se apresentam roteirizadas,narradas e diagramadas em páginas ou revistas.

As tiras têm em si um processo criativo e de produ-ção diferenciado dos quadrinhos, relacionada principalmen-te com a sua característica imediatista, aborda elementosmais próximos do nosso cotidiano em sua narrativa, comfatos que aconteceram até na mesma semana.

Abaixo (Figura 02) apresentamos uma página da HQdo Homem-Aranha, que trata exclusivamente do atentadoterrorista ao World Trade Center, publicada alguns mesesapós o desastre. A edição da revista traz um fato, mas abor-dado em um cenário fantasioso. Compararemos então o gê-nero tirinha e o gênero quadrinho a partir da observaçãodesta página e dos conceitos apresentados anteriormente.

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T MÍ D V N 19

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Figura 2: Página da HQ do Homem-AranhaFonte: HOMEM-ARANHA ESPECIAL. São Paulo: Panini Comics, 2002.

Quando observamos as tirinhas e a sua linguagemverbal e não verbal, comparando com as páginas dos qua-drinhos, vericamos que estas apresentam uma menorquantidade de elementos no enquadramento. Geralmente,os elementos contidos dentro do requadro são mais simplese com uma menor elaboração em relação aos signos visu-

ais contidos nele. As HQs são bem mais ricas, procurandoum perl mais aprofundado do cenário e da ambientaçãona qual a história está inserida. As tirinhas, por sua vez,concentram-se no texto e na piada inserida na história.

As tirinhas apresentadas nas páginas dominicais têmproduções um pouco mais longas, chegando a ter entrenove e doze quadros. Elas são mais próximas as HQs, noque diz respeito à diagramação, mas limitam-se a apenas

uma história, sem aparente sequência ou continuação naspublicações seguintes. Contudo, o comum é que elas apre-sentem apenas poucos quadros e uma história descontinu-ada que, quando agrupada em um álbum ou coletânea, pa-recem formar uma narrativa desconexa e sem uma lógicaformal, tratando de fatos e eventos isolados.

Diferentemente das tirinhas, a produção de uma his-tória em quadrinhos, emprega diversos prossionais, den-tre os quais podemos observar: o argumentista, responsá-vel por elaborar a histórica como um todo; o roteirista, quedesenvolve as nuances da história e os diálogos contidosnela; o desenhista, produtor das ilustrações em grate; oarte-nalista, que cobre com nanquim o grate ou edita aarte digitalmente; o colorista, que colore os desenhos com

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lápis, tinta ou com recursos digitais; o letrista, responsávelpelo texto dos balões; e o revisor, que mantém a produçãonas regras, sem erros ou problemas de continuidade. Nastirinhas, podemos observar que elas são de caráter auto-ral, produzidos por apenas uma ou duas pessoas.

Poucas HQs, em comparação com as tirinhas, incor-

poram a produção autoral, mas estas produções tem sedestacado no mercado atual, que procura novas históriase privilegia a capacidade inventiva do autor, muito maisdo que a estética do desenho. A tirinha raramente deixade ser uma produção autoral, já que a sua elaboração se-gue um caráter simplista e objetivando a produção diáriae imediata.

Quanto a sua publicação, os quadrinhos são vei-

culados em revistas próprias, com formatos variados eimpressos no suporte papel, diferentemente das tirinhas,que dependem de outros meios de comunicação. O caráterdependente da tirinha em relação às mídias muda com-pletamente a maneira como a sua linguagem é produzida,

 já que ela precisa obrigatoriamente seguir a mesma linhaeditorial do seu veículo base, formato padrão estabelecidopelo suporte e passível de censura ou edição. A tirinha,graças a sua composição metafórica consegue subvertera censura dos meios de comunicação e expressar opiniõese críticas fortes, mas de maneira sutil, como veremos nospróximos capítulos.

Analisar as tirinhas como uma subdivisão ou subgê-nero das histórias em quadrinhos faz com que não perce-

bamos certas particularidades, tanto da linguagem verbal,como da não verbal, contidas unicamente nas tirinhas.Por serem gêneros que apresentam muitas semelhanças,aproveitaremos a fundamentação básica elaborada paraos quadrinhos, enfatizando os aspectos que apresentamem comum.

A pesquisa em quadrinhos é muito mais fundamen-tada do que a relacionada as tirinhas. No Brasil, os estu-dos são concentrados principalmente na HQs, sobrandopoucos pesquisadores que se dedicam exclusivamente astirinhas e as denem como um gênero separado.

A necessidade de discutir as diferenças entre os gê-neros história em quadrinhos e tiras diárias ainda é umaproposta que necessita de um maior aprofundamento,

tendo seu caráter, em diversos aspectos, questionáveis.Se vale a pena ou não separar um gênero do outro, so-mente estudos mais aprofundados no futuro poderá res-ponder a questão.

Levantamento histórico

A história das histórias em quadrinhos poderia muitobem ter sido iniciada com a arte rupestre, as representa-ções pictóricas feitas há mais de 40.000 a.C. desenhadasem ossos e cavernas, ou com as ilustrações feitas paracontar histórias bíblicas conhecidas como Biblia paupe-

rum, desenhadas na Idade Média e que traziam as pas-sagens bíblicas faladas pelas próprias guras. Contudo,

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segundo Marny (1970), a criação das histórias em qua-drinhos é creditada ao francês Jean-Charles Pellerin nadécada de 1820, com as Figuras de Épinal, uma série deimagens que retratavam temas relativos à religião, histó-ria (como a Revolução Francesa) e os costumes da época.

Figura 3: Trecho das Figuras de Épinal, datadas do nal do século XIXFonte: http://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:Epinal_image.jpg

Até o nal do século XIX, várias outras iniciativas depublicar o que seria o embrião das histórias em quadri-nhos apareceram na Europa e nos Estados Unidos, como oprofessor suíço Rodolf Töpffer, que publicou entre 1827 e1846 as Histoires en Estamps: Les aventures de Monsieur

Vieux-Bois, de Monsieur Cryptograme, e de Monsieur Ja-

bot. Outros artistas, como o pintor alemão Wilhelm Bush,que criou a dupla Max und Moritz em 1865, e o francêsGeorge Colomb, com a Famille Fenouillard em 1889, tam-bém são considerados os precursores das tiras modernas.

O título de primeiro quadrinho publicado em jornais,segundo Marny (1970) é creditado ao norte-americanoRichard Felton Outcault, com a história The Yellow Kid,publicado em 1895 no jornal New York World, utilizando

constantemente o formato de texto que viria a se tornaro balão de fala conhecido nos quadrinhos atuais. Inicial-mente batizada de Down on Hogan’s Alley, a série humo-rística ganhou destaque graças ao Menino Amarelo que,segundo Patati e Braga (2006), tornou-se conhecido comoo primeiro personagem das histórias em quadrinhos.

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Figura 4: Trecho da história de The Yellow Kid, publicada em 1896Fonte: http://people.virginia.edu/~mmw3v/html/ykid/imagehtml/

yk_phonograph.htm

A popularização dos quadrinhos inseridos nos jor-nais ocorreu, principalmente, devido à briga travada pordois magnatas da imprensa, Joseph Pulitzer e WilliamRandolph Hearst, que procuravam conquistar novos lei-tores e cederam espaço para que histórias de aventuraspudessem ser publicadas semanalmente.

Em 1897, inspirado nas histórias de Max und Moritz , 

Rudolph Dirks cria a história de dois irmãos que se rebe-lavam contra a sua mãe autoritária, um capitão que agiacomo um pai para as crianças e um inspetor do colégio.As histórias, conhecidas inicialmente como Katzenjammer

Kids, zeram grande sucesso nos Estados Unidos. Rudol-ph mudou posteriormente o nome da série para Hans und

Fritz   e depois para The Captain and the Kids, devido auma briga judicial com o desenhista da série Harold H.Knerr, que cou com o nome Katzenjammer Kids, mastanto Dirks, quanto Knerr continuaram produzindo a sériecom os mesmos personagens.

 

Figura 5: Tirinha The Captain and the Kids, publicada em 1976Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Johndirkscapkids22976.jpg

Outras histórias, como The Little Bears, de Jimmy

Swinnerton, Foxy Grandpa, de Bunny Schultze, BusterBrown, de Richard Felton Outcault, Little Nemo in Slum-

berland , de Winsor McCay, destacaram-se com publica-ções semanais nos jornais dominicais, conhecidos comoSunday Pages, entre os anos de 1900 e 1905.

Um dos pioneiros das tiras diárias no formato que

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as conhecemos atualmente foi Bud Fisher, em 1907, comos personagens Mutt e Jeff , publicadas no The New York

 Journal , de propriedade de William Randolph Hearst. Apublicação foi conhecida inicialmente como Mr. Mutt   eapós alguns anos o nome foi modicado para Mutt e Jeff ,com a incorporação deste último personagem. As tirinhas

surgiram, em seu formato clássico em piadas desdobra-das em três tempos ou três quadros, como arma Patatie Braga (2006), graças à escassez de espaço nos jornaisque não permitiam histórias em quadrinhos muito longos.

Figura 6: Tirinha de Mutt e Jeff, datada de 1913Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mutt_and_Jeff_-_mo-

torcycle_cop.jpg

Para alguns pesquisadores, a série A. Piker Cleck ,de Claire Briggs, publicadas no jornal Chicago America

entre 1903 e 1905, é considerada a primeira tira, comoarma Magalhães (2009). As histórias de A. Piker Cleck

trazia dicas sobre corridas de cavalos, mas não zerammuito sucesso, já que os desenhos eram mal feitos e comtextos explicativos debaixo dos quadrinhos.

Nesta época, com o sucesso de diversas histórias, -

cou evidente a necessidade de adaptar as tirinhas à gran-

de imprensa diária norte-americana, sem deixar de contar

a piada em uma série de desenhos atraentes, seduzindo o

leitor e com soluções grácas únicas e adaptáveis.

Marny (1070) destaca duas histórias francesas

que zeram muito sucesso entre os anos de 1908 e

1909. São elas Les Pieds Nickelés, criada por Louis For-ton e publicada principalmente em revistas da época, e

o semanário infantil l’Intrépide.

Em 1911 surge um dos personagens mais conhe-

cidos da história dos quadrinhos: Krazy Kat . Criado por

George Herriman, a série era publicada nas páginas de

domingo dos jornais e serve até hoje de inspiração para

inúmeros desenhistas em todo o mundo.

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Figura 7: Trecho de Krazy Cat, publicada em 1922

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:1922_0121_krazykat_det_650.jpg

Em 1912, William Hearst funda a primeira distribui-dora encarregada de comercializar as histórias em quadri-nhos nos Estados Unidos e no mundo, com o nome King

Features Syndicate. Os Syndicates, como caram conhe-cidos estes grupos, se encarregaram de espalhar tirinhaspara jornais e revistas de todo o mundo, consolidando ogênero com presença marcante para gerações de leitores.A série Bringing up father , criada por George McManus em1913 foi uma das primeiras tirinhas a ser comercializadas

e a fazer sucesso em todo o mundo. No Brasil, a tirinhacou conhecida como Pafúncio e Marocas.

Figura 8: Tirinha Pafúncio de 1916

  Fonte: http://www.barnaclepress.com/cmcvlt/BringingUpFa-ther/buf161205.jpg

Segundo Nicolau (2007), até o nal da décadade 1960, mais de trezentas tirinhas já havia surgidono mercado norte-americano, em cerca de 1.700 jor-nais diários e lidos por mais de 100 milhões de leitores.As tirinhas veiculadas de segunda a sábado seguiam opadrão clássico e em preto e branco, enquanto as de

domingo eram esteticamente mais livres e geralmentecoloridas.

Diversas tirinhas zeram sucesso mundial, comoPeanuts, de Charles Schulz, criadas em 1950 e publi-cadas por quase 50 anos; Mafalda, do argentino Quino,

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publicadas inicialmente em 1964 e que ganhou grandereconhecimento na Europa; Garfeild , desenhada por JimDavis em 1978; e Calvin and Hobbes, desenhadas porBill Watterson em 1985. Todas estas tirinhas atingiramou se aproximaram de ser publicadas em mais de 2000

 jornais pelo mundo e são utilizadas como referência e

inspiração para novos desenhistas.

Figura 9: Primeira tirinha de Peanuts, em 2 de outubro de 1950Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:First_Peanuts_comic.png

No Brasil, as primeiras produções de tirinhas vei-culadas em jornal são creditadas a Maurício de Sousacom as histórias do cãozinho Bidu, em 1959, publicadasna Folha de S. Paulo. Depois do sucesso das tirinhas doBidu, Maurício desenvolveu uma legião de personagenscomo Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali , entre outros,que ganharam autonomia em revistas próprias.

Desenhistas como Luiz Sá já produziam algumas

ilustrações na década de 1930. Os seus personagens:Reco-reco, Bolão e Azeitona, ganharam destaque, massão consideradas como histórias em quadrinhos, já queeram veiculadas em revistas e algumas histórias apre-sentam mais de uma página, apesar de tratar temas docotidiano local. Além deles, diversas outras histórias sur-

giram no Brasil, mas com pouca relação com o gênerotirinha, este já bem denido em todo o mundo.

Em 1960, Ziraldo criou o personagem Pererê, eo lançou na revista em quadrinhos brasileira produzidapor um único autor, totalmente em cores. As publicaçõestambém traziam histórias no formato de tirinhas, mas

foram canceladas em 1964, logo após o início do regimemilitar no Brasil.No nal da década de 1960, o cartunista Henl

começa a produzir tiras diárias com seus personagensGraúna  e Os Fradinhos, publicadas no O Pasquim, um

 jornal semanário que fazia oposição ao regime militar.

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Figura 10: Graúna, de HenlFonte: http://www.memoriaviva.com.br/novoblog/imagens/grauna.jpg

Henl chegou a ter as suas tirinhas publicadas em jornais nos Estados Unidos, quando foi morar lá. Con-tudo, não conseguiu espaço nos principais veículos decomunicação e suas histórias eram publicadas como tiri-nhas underground. Ele retornou ao Brasil e continuou apublicar livros por aqui.

O teor crítico contido nas tirinhas de Henl, prin-cipalmente através de suas histórias satíricas e irônicas,tornou-se uma das principais características das produ-ções brasileiras até hoje.

Nos anos 1980, segundo Magalhães (2006), a Fo-lha de S. Paulo também iniciou o processo de divulgação

de tirinhas de forma mais intensa. No mesmo períodosurgiu a Agência Funarte, criada e dirigida por Ziraldoe ligada a órgãos federais, que chegou a contar com 15desenhistas, publicando tirinhas em mais de 18 jornaisdiários no Brasil. A Agência foi fechada por Collor de Meloem 1990 e passou a funcionar como empreendimentolivre com o nome de Pacatatu, administrada por RickyGoodwin.

Angeli, com os personagens Rê Bordosa, Wood &

Stock  e os Skrotinhos; Laerte, com os Piratas do Tietê eOverman; e Glauco, com Geraldão, são os desenhistasde tirinhas mais populares no Brasil. Eles editaram nadécada de 1980, em conjunto com o quadrinista Luiz Gê,a revista Chiclete com Banana que publicava suas tiri-nhas e de outros desenhistas brasileiros. Angeli, Laertee Glauco também desenharam na década de 1990 umahistória chamada Los Três Amigos, reconhecida pelo es-

tilo adulto das narrativas.

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Figura 11: Los Três Amigos, que mistura ostraços e personagens de Laerte, Glauco e Angeli.

Fonte: http://blogagridoce.les.wordpress.com/2008/08/los3na-praia.jpg

Os trabalhos realizados por Henrique Magalhães

através da editora independente Marca de Fantasia têm

se destacado na divulgação de história em quadrinhos e

tirinhas atualmente. Autor das tirinhas Maria, Henrique

Magalhães promove a publicação através de álbuns, onde

autores independentes encontram espaço para veicular

suas produções. 

Figura 12: Maria, de Henrique MagalhãesFonte: http://marcadefantasia.com/imagens/rendez-vous/rende-

zvous-06-11-web.jpg

A Marca de Fantasia é hoje uma das principais edi-

toras independentes de História em Quadrinhos no Brasil.

Criada em 1995, a editora é um projeto de extensão do

NAMID - Núcleo de Artes Midiáticas - do Programa de Pós-

-Graduação em Comunicação da Universidade Federal da

Paraíba. O projeto abarca autores de todo o país, pres-

tigiando principalmente a publicação de novos autores,

além de fazer intercâmbio com a produção independentede outros países.

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Tirinha como Gênero Jornalístico

As tirinhas habitam as páginas de jornal e folhetinsdo mundo há mais de 100 anos. No Brasil, a partir da déca-da de 1970, elas trouxeram consigo um conteúdo de críticapolítica, retratando com uma aguçada ironia os paradoxos

da sociedade da época. As representações dos problemasdiários ganharam forma dentro das tirinhas e hoje elas sãoreconhecidas como um gênero jornalístico opinativo.

Hoje, deparamo-nos com um grande número degêneros que ainda está para ser devidamente estuda-do, principalmente devido à instauração dos meios decomunicação de massa e das novas mídias digitais, quecriaram uma aldeia global e um número crescente degêneros midiáticos. O que buscamos neste estudo é des-vincular o conceito de gênero apenas como construçõesde texto literário e atualizá-lo, conforme sugere Nicolau(2007), a partir da organização dos textos na mídia con-temporânea.

Apesar das primeiras denições de gênero ser credita-das a Aristóteles e a Platão, que organizaram uma distinçãoem três formas genéricas fundamentais: o lírico, o poéti-co e o dramático, as primeiras tentativas de se classicar

os gêneros jornalísticos foram feitas, segundo Pena (2005),pelo editor inglês Samuel Buckeley no começo do séculoXVIII, procurando separar o jornal Daily Courant em notíciase comentários. A maioria dos autores segue essa dicotomiaquando estuda os gêneros jornalísticos, gerando uma divi-

são por temas e pela relação do texto com a realidade, ouseja, um confronto entre a opinião e a informação.

A formulação de gêneros jornalísticos, no Brasil, estáligada ao conceito de agrupamento da informação no espa-ço dos jornais e revistas. Na discussão entre opinar e infor-mar, para Nicolau (2007), não há uma relação clara entre

a formulação de gêneros, já que o processo de veiculaçãoda informação é controlado pelas regras mercadológicas.A crônica é um dos gêneros mais discutidos dentro

do Jornalismo. Pereira (2004) arma que ela é classicadacomo pertencente à categoria de jornalismo opinativo devi-do as suas relações de angulagem e tempo. Ela fere todo oenquadramento da informação proposto pelas categorias doJornalismo e, tomando como base estas considerações, in-serimos as tirinhas neste gênero que, assim como a crônica,não segue a temporalidade exigida no campo jornalístico.

Com formato midiático próprio que representa práti-cas socioculturais dentro de outra prática sociocultural ins-titucionalizada como a imprensa, a tirinha pode ser enten-dida como um gênero jornalístico, segundo Nicolau (2007),através de contratos tácitos que relacionam os dois ladosdo processo de comunicação na produção de sentidos e:

foi nas páginas dos jornais que ela se consolidou como umacategoria estética de expressão de opinião sobre o cotidiano,representada por personagens que nos imitam. Ela traz hu-mor, trata com ironia, satiriza e provoca reexões, tanto astrivialidades do dia-a-dia quanto as questões mais sérias dopaís e do mundo. (NICOLAU, 2007, p. 24)

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As tirinhas tornaram-se comuns e populares dentrodos jornais e revistas, principalmente no nal do séculoXX, abordando temáticas do cotidiano de maneira críticae reexiva e se consolidando como um gênero jornalísticoopinativo.

A tirinha na vida cotidiana

A atividade de produção de tirinhas vai consistir, emgrande parte, de uma técnica de comunicação de massa,tendo em vista que a cultura de massas, segundo CAMPOS(1996, p. 206) “é aquela produzida segundo as normas ma-ciças de fabricação industrial.”, já que ela segue um padrãomundial que irá fornecer informações, desenvolver ativi-dade e provocar ações em quem recebe a mensagem. Suacriação é basicamente metafórica, com representações docotidiano semelhantes às encontradas no nosso dia-a-dia.

As metáforas estão intimamente ligadas ao nosso co-tidiano e consequentemente a esta cultura de massas. Con-tida na nossa linguagem, a metáfora é incorporada à escritamais formal e objetiva, potencializando a mensagem trans-mitida. As tirinhas se aproveitam muito bem deste elementopara facilitar a transmissão da mensagem, tornando-a mais

agradável e sensível ao público-alvo desejado.A relação entre metáfora e as tirinhas foi observada

pela autor deste trabalho na sua obra Calvin & Haroldo: me-táfora e crítica à Indústria Cultural, lançada em 2009. Nolivro, Nicolau (2009) considera que, no contexto da tirinha,

a metáfora parece se adaptar muito bem às exigências tantode quem comunica como de quem a lê. A criação de metá-foras é mais bem aproveitada nas tirinhas, que a utiliza emconjunto com outros elementos comuns em nosso cotidia-no, para expor uma opinião de maneira clara e que possaser aceita de maneira compreensível pela nossa sociedade.

Combinando as metáforas que existem na mensagemlinguística e na mensagem icônica da tirinha é possível ob-servar qual é a verdadeira mensagem que o comunicadordeseja transmitir ao seu público. Esta mensagem é umanova metáfora que a sociedade, ao pensar no assunto trata-do na tirinha, associa a este novo signicado, dando ao lei-tor um senso crítico necessário para opinar sobre o assunto.

Figura 13: As metáforas contidas em Calvin & Haroldo, analisadas peloautor na obra Calvin & Haroldo: metáfora e crítica à Indústria Cultural

Fonte: WATTERSON, 2007, p.130

O processo de comunicação é um campo de estudoque coloca ênfase na comunicação como relação, transmis-são, inuência, troca e interação. Para que este processoseja realizado, é necessária a existência de duas entidades

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e um meio de conexão entre ambas. O uso de uma metáfo-ra irá facilitar a transmissão da mensagem entre o emissore o receptor, criando um ambiente comum neste meio.

A metáfora é um fenômeno essencialmente discursi-vo, que tem como objetivo subverter as regras da língua eencontrar um espaço de liberdade para expressar sua subje-

tividade criativa. Sua denição arma que ela é a utilizaçãode uma palavra ou expressão fora do seu sentido normal econhecido no cotidiano, dando-lhe um outro signicado. Elaé considerada uma comparação entre dois sentidos, comonos exemplos: “encontrei a chave do problema”, que com-para o ato de abrir uma porta utilizando uma chave ao atode encontrar a solução para um determinado problema.

A partir da década de 1970, surgiram inúmeras teo-rias sobre a metáfora e sua utilização na nossa sociedade,em diferentes campos de estudo como a Psicologia, a Fi-losoa e a Linguística.

O grande marco dos estudos modernos sobre a me-táfora vem da obra Metaphor we live by   (Metáforas daVida Cotidiana), escrita, em 1980, pelos norte-americanosGeorge Lakoff, professor de Linguística na University of

Califórnia em Berkeley (EUA), e Mark Johnson, professorde Filosoa na Southern Illinois University  em Carbondale

(EUA). O livro representou o início de um programa ino-vador de pesquisa devido ao forte poder explicativo que ateoria de Lakoff e Johnson desenvolveu sobre a metáforae suas aplicações na vida cotidiana.

A metáfora era reconhecida como elemento da retó-

rica que Aristóteles estabeleceu no século IV a.C; e, até osanos 1960, início dos 1970, era considerada apenas comoum fenômeno da linguagem, um ornamento linguístico aodiscurso. Seu uso era associado à função da linguagempoética (ou estética) e, muitas vezes, interpretado comoum desvio da linguagem usual, sem nenhum valor cogni-

tivo. Neste caso, a metáfora não deveria ser utilizada parase falar de forma direta, clara e objetiva.

Nós descobrimos, ao contrário, que a metáfora está inltradana vida cotidiana, não somente na linguagem, mas tambémno pensamento e na ação. Nosso sistema conceptual ordiná-rio, em termos da qual não só pensamos, mas também agi-mos, é fundamentalmente metafórico por natureza. (LAKOFF& JOHNSON, 2002, p. 45)

O sistema conceptual está ligado aos nossos peque-nos atos cotidianos, dos quais geralmente não possuímosconsciência. A cognição é um resultado de uma constru-ção mental e ela tem sua origem na percepção, na lingua-gem ou na memória. Ela surge da nossa interação com asinformações que recebemos e das que já dispomos.

A metáfora, neste novo paradigma, passa a ter seuvalor cognitivo reconhecido, assumindo um status episte-

mológico, deixando de ser uma simples gura de lingua-gem e de retórica, para se tornar uma operação cognitivafundamental, presente no cotidiano, principalmente nacomunicação.

O maior objetivo de comunicação para o jornalista edesenhista é conseguir transmitir a mensagem de forma

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acessível e compreensível, para que todos a compreen-dam. Se estes conseguem inserir-se dentro do cotidianodo seu público, através de metáforas, as chances de suascríticas serem compreendidas são muito maiores.

 As metáforas conceituais fazem parte do senso co-mum e se encontram em unidades conceituais na mente,

enquanto que as metáforas linguísticas são apenas repre-sentações verbais destes conceitos metafóricos. A compre-ensão destas metáforas se dá devido ao fato de os concei-tos metafóricos correspondentes a estas metáforas teremuma base social e cultural, sendo que seus signicados sãocompartilhados pelos membros de uma mesma sociedade.

O contexto social e cultura irão exercer forte inu-ência na identicação de metáforas convencionais, e a ati-vação de conceitos metafóricos ocorre nestes casos porterem uma base social e não individual. Assim, para quenão haja ruído, principalmente dentro das tirinhas, as me-táforas devem ser signos simplicados, comuns em nossocotidiano e de fácil interpretação, para que não haja am-biguidades, apenas se esta for intencional e não atrapalhea transmissão da mensagem.

 A metáfora vai dar ao jornalismo um tempero es-pecial. Ela é uma forma criativa e inovadora de expressar

informações para que estas se tornem agradáveis ao pú-blico ao qual a mensagem é destinada. Usar metáforasmexe com a imaginação do receptor, que brinca de deco-dicar a informação e tem prazer de descobrir, através dedicas adquiridas por ele ao longo de sua vida.

Muitas das mudanças culturais surgem da introduçãode novos conceitos metafóricos e perda de antigos. Altera-ções em nosso sistema conceptual modicam o que é realpara nós e afetam nossa percepção do mundo, assim comoas ações que realizamos em função dessa percepção.

A metáfora é um dos mecanismos mais básicos que

temos para compreender nossa experiência. Ela é capazde criar sentidos novos, criar similaridades e denir umanova realidade, sendo base central na tentativa de expli-car as denições de verdade e de sentido.

Dentro da comunicação, os estudos da fenomeno-logia vão ajudar na forma como o discurso metafórico érealizado na vida cotidiana. A comunicação aqui buscasair da institucionalização, valorizando a troca de infor-mações pelos indivíduos. Neste caso, a fenomenologia vainos ajudar a entender que não há um modelo xo de co-municação, ela vai buscar contrastes e vericar como amensagem se apresenta.

A fenomenologia busca denir o conceito das repre-sentações. Ela estuda os efeitos que os signos vão causarem nossas vidas, tendo em vista que todo ser humanocria signos e que seus atos são intencionais.

A criação da fenomenologia é creditada, segundo

Correia (2005), a Edmundo Hussel e aprofundada por ou-tros estudiosos, como Alfred Schutz e Michel Maffesoli.O principal objetivo desta teoria é mostrar aquilo que seesconde por trás das aparências, entendendo tanto os fe-nômenos internos como os externos, procurando por uma

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transparência nas análises do objeto estudando.O estudo da fenomenologia mostra que há uma li-

gação entre o continente e o conteúdo, ou seja, aquiloque está mais escondido e o que está mais aparente. Paraentendê-la, é necessário muitas vezes esvaziar toda anossa carga teórica e compreender que não há uma ideia

dominante, reduzindo assim as ideias pré-estabelecidas eos preconceitos, através de uma redução transcendental.A fenomenologia vai traduzir as diculdades em

transmitir uma mensagem. Estar inserido dentro de ummundo onde há conitos de linguagens, repletos de signi-cados intersubjetivos, com cada palavra correspondendoa um campo semântico, é uma questão fenomenológica eonde esta tem a tarefa de focar e entender os fenômenosque ocorrem no mundo.

A consciência de um individuo, para a fenomeno-logia, é formada pela troca simbólica, aprofundada nosestudos relacionados ao interacionismo simbólico, que vaiaplicar ao nosso dia-a-dia o ato de codicar e decodicaros símbolos. O processo de ritualização vai estar entãobem próximo ao interacionismo simbólico.

O interacionismo simbólico vai resgatar o imaginá-rio do individuo. Há um mundo da razão, mas também há

um mundo da percepção, do imaginário, onde ele vai seruma forma de compreender o social. As formas sociais nointeracionismo simbólico são mediadoras e servem para ainteração e a socialização.

O conhecimento comum, nos estudos da fenomeno-

logia, não se dá de uma forma individual. Neste caso, há atroca de signos que ajudam os indivíduos a se localizaremem diferentes contextos sociais. O interacionismo simbó-lico vai priorizar o estudo na prática, mostrando como osindivíduos, interagindo entre si, vão criar as formas sociais.

O interacionismo simbólico surgiu na década de

1960 através dos estudos da Psicologia Social, realizadospela Escola de Chicago, interessados principalmente nocomportamento coletivo, na natureza da opinião pública.Os estudos sobre o interacionismo, principalmente os re-alizados por Goffman, entre outros, ampliou o seu campopara as reformas sociais. Suas principais característicassão as prioridades dadas aos estudos de campo, à obser-vação direta e ao conhecimento prático, percebendo queos signicados sociais são produzidos no processo de in-teração entre os indivíduos.

A comunicação procura trabalhar constantementecom esta troca de material simbólico, fazendo os indivídu-os interagir entre si e, muitas vezes, quebrando o aspectoface-a-face da comunicação estudada dentro do interacio-nismo simbólico.

Retomando o conceito de tirinha, que, segundo Nico-lau (2007), é uma representação crítica do cotidiano que se

utiliza de uma visão bem-humorada ou satírica e transmiteuma mensagem de caráter opinativo através de sua lingua-gem verbal e não-verbal. Ela é capaz de ultrapassar a cen-sura e se armou como um gênero jornalístico com as mes-mas propriedades da crônica, charge, artigo ou editorial.

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Consolidada dentro das páginas dos jornais comouma categoria estética de expressão e opinião sobre o co-tidiano, representada por personagens que nos imitam, atirinha sempre teve como base o humor, a ironia, a sátira,provocando reexão, tanto em relação às trivialidades dodia-a-dia quanto diante das questões mais sérias do país

e do mundo.A produção de conteúdo independente é consideradapor Thompson (2008) uma das principais formas de anali-sarmos o desenvolvimento da comunicação e o seu impactona sociedade moderna. O uso de meios de comunicação pelapopulação em geral implica uma nova forma de ação e deinteração, através de novos tipos de relações sociais, prin-cipalmente quando a relacionamos ao conteúdo opinativo.

A metáfora contida nas tirinhas vai mostrar mais doque verdades essenciais, demonstra como nosso cérebroe mente lida com o mundo a nossa volta. Um artifício úni-co, capaz de fazer compreender qualquer coisa que paranós parece difícil de ser explicada e denida. Através dacomparação com o que está a nossa volta, a metáforapode nos revelar verdades escondidas de maneira simplese compreensível.

 Este processo de tentar mostrar o signicado das

coisas através de metáforas tem sido utilizado pelos pro-ssionais de comunicação, quase sempre de maneira re-tórica, mas somente em anos recentes é que vem sendousada cognitivamente no jornalismo cientíco, por exem-plo. É com este pensamento que tentamos conhecer como

a estrutura operacional da metáfora, em conjunto com aMetis, funciona, para utilizá-la como um importante ele-mento retórico e argumentativo na produção de tirinhas.

O prossional de comunicação, principalmente osprodutores de tirinhas, deve sempre estar bem inseridona sociedade, conhecendo os costumes e interesses do

seu público leitor para atingi-lo, ao mesmo tempo, de for-ma sutil e marcante. O principal interesse de quem produzas tirinhas é revelar aspectos do cotidiano a m de que amensagem opinativa possa ser recebida e interpretada.

Então, o que seria uma tirinha se não uma metáforada própria sociedade. A tirinha, também conhecida comotira diária, pode ser denida como uma história em qua-drinhos humorística e satírica que utiliza a linguagem ver-bal e não-verbal transmitindo uma mensagem de caráteropinativo. Através da utilização de metáforas, que a apro-xima da sua representação do cotidiano, ela é capaz deburlar censuras e se armar dentro dos jornais impressoscomo um gênero jornalístico que apresenta as mesmaspropriedades de uma crônica, artigo, editorial ou charge.

A tirinha é uma excelente forma de expressão no jornal e na revista. A mídia impressa precisou se diversi-car e atender a diversos públicos, dando a possibilidade

de o autor colocar suas vivências, experiências e proble-mas da vida cotidiana de forma divertida e provocativa,em uma realidade metaforizada.

A partir da interpretação das várias metáforas natirinha, algumas das quais podem até parecer não fazer

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sentido nenhum para o tema geral, mas que, de formasubjetiva, provocam o leitor a desvendar qual a metáforaprincipal da tirinha ligada à mensagem que o cartunistadeseja transmitir.

O desenhista, antes mesmo de criar a peça, já pos-sui a informação da qual ele deseja transmitida, extraídaatravés de uma astuciosa visão do cotidiano, dos seusaspectos diários e de que forma ele pode atingir o públicoutilizando estes elementos, de maneira sutil e, ao mesmotempo profunda. O que o prossional realiza na produçãoda tirinha é a desconstrução desta metáfora central emoutras menores, mais familiares e de fácil interpretação.Depois de nalizada a produção e divulgado o trabalho,o leitor brinca de montar este quebra cabeça para com-preender qual é a verdadeira mensagem opinativa que ocartunista está transmitindo.

As tirinhas utilizam comumente personagens que,em grande maioria, são representações do ser humano,ou objetos e animais com traços humanizados. Para ointeracionismo simbólico, o corpo possui toda uma sim-bologia comunicativa expressiva, que vem a representarum grupo social. Contudo, a comunicação jamais ocor-rerá da mesma forma que a face-a-face, mesmo que ele

procure interagir com o leitor, sempre haverá limitações.Dentro de uma cultura participativa, proveniente da

convergência midiática, como arma Jenkins (2008), osusuários assumem papeis e agem como atores na estrutu-ração e construção de uma comunidade de conhecimento.

Quando os espectadores vão para a internet, alguns optampor discutir suas interpretações e avaliações por meio dascomunidades de conhecimento que se formam, no caso datirinha, por aqueles que acompanham os blogs.

Durante o processo de construção e compartilhamen-to do conteúdo, há uma ritualização. Eles também passama dividir o seu conhecimento e as experiências vividas e, nocaso das tirinhas, ainda há a representação destes atoresnos personagens, com gestos, olhares e estilos próprios doser humano. Um grupo acaba se identicando com aquelepersonagem e com as experiências expostas por ele.

A interação é entendida no interacionismo simbólicoatravés do face-a-face, contudo os meios eletrônicos estãocada vez mais acentuado as interações sem a necessidadede um face-a-face, mas na verdade através de um máqui-na-a-face que, em certos casos, se aproxima do real. Queo corpo apresenta toda a simbologia comunicativa dissonão há dúvida e os encontros cara a cara transformam-seem microssistemas sociais que podem especicar uxo deatividades comunicativas na interação. O que começare-mos a discutir aqui é como a modernidade e a convergên-cia está modicando a transmissão de material simbólicoe a proximidade desta comunicação com a que ocorre na

face-a-face, principalmente graças às inovações tecnoló-gicas que permitem uma ampla transmissão de dados.

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AS TIRINHASE A CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA

Convergência Midiática

Estamos vivendo aquela que pode ser consideradaa era do usuário. Graças à convergência midiática, asnovas e velhas mídias se cruzam, fazendo com que oconsumidor e o produtor de mídia interaja na produçãode um conteúdo cada vez mais diversicado e imprevi-

sível. Jenkins (2008), em seu livro Cultura da Conver-gência, dene esta nova era através do uxo contínuode conteúdo entre múltiplos suportes, da cooperaçãoentre os mercados midiáticos e do comportamento mi-gratório do público em busca de novas experiências eformas de interagir.

Mas Jenkins (2008) não se resume a analisar aconvergência sobre uma ótica lógica. Ele nos mostra

este fenômeno como uma transformação cultural, à me-dida que os consumidores são incentivados a procurarnovas informações e fazer conexões entre os conteúdosmidiáticos. Neste novo paradigma da convergência, asnovas e as antigas mídias estão interagindo de forma

cada vez mais complexa, principalmente devido às no-vas tecnologias midiáticas, que permitem que o mesmoconteúdo transite por vários canais e com diferentespontos de recepção.

A palavra mídia, de acordo com Santaella (2002),não pode mais ser considerada como um meio de co-municação de massa. O surgimento de novos equipa-mentos técnicos e da internet começou a minar o exclu-sivismo dos grandes meios. Ela considera que o termo

 “indústria” se tornou obsoleto nos dias de hoje.A convergência é na verdade um processo de mu-

dança nos padrões dos meios de comunicação e impac-ta principalmente o modo como consumimos aquilo queé veiculado por estes meios. Ela não envolve apenascoisas materiais e serviços produzidos comercialmente,

mas ocorre quando as pessoas começam a assumir ocontrole das mídias.

Qualquer ser humano no globo, segundo Santaella(2002), está interagindo em uma rede de transmissõesde dados e acesso que vem sendo chamada de ciberespa-ço. Há uma convergência para a constituição de um novomeio de comunicação, de pensamento e de trabalho, umanova antropologia própria do ciberespaço, que prevê a

fusão das telecomunicações e uma indústria unicada damultimídia. Se a ocupação do espaço era impossível nosmeios de comunicação de massa, o ciberespaço está cheiode brechas, onde há um maior espaço para o hibridismo euma mistura de formas, gêneros e atividades.

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Levy (2000) explica melhor este conceito de Cibe-respaço denindo-o como um lugar onde há uma virtua-lização do espaço, como as distâncias físicas relativas ea informação distribuída para todos. O conteúdo diversi-cado é a essência base do ciberespaço e os dados são amatéria-prima de um processo intelectual e social vivo.

As novas tecnologias estão reduzindo cada vez maisos custos de produção e de distribuição, permitindo quequalquer um crie, arquive, edite e redistribua conteúdo,permitindo que o alternativo e o corporativo coexistam.

Se os antigos consumidores eram tidos como passivos, osnovos consumidores são ativos. Se os antigos consumidoreseram previsíveis e cavam onde mandavam que cassem,os novos consumidores são migratórios, demonstrando umadeclinante lealdade a redes ou a meios de comunicação. Se

os antigos consumidores eram indivíduos isolados, os novosconsumidores são mais conectados socialmente. Se o tra-balho de consumidores de mídia já foi silencioso e invisível,os novos consumidores são agora barulhentos e públicos.(JENKINS, 2008, p. 45)

 A cultura da convergência representa uma mudançano modo como encaramos nossas relações com as mídias.O público que ganhou espaço com as novas tecnologiasestá exigindo o direito de participar intimamente da pro-dução de conteúdo e da cultura.

O uso dos meios de comunicação implica a criaçãode novas formas de ação e interação no mundo social,novos tipos de relações e novas maneiras de relaciona-mento do indivíduo com o outro e consigo mesmo, como

arma Thompson (2008).A era da convergência permite que modos de audi-

ência comunitários existam, deixando de apresentar ummaior vínculo com as antigas formas de comunicação.A nova cultura da convergência está menos arraigadaa espaços geográcos e com laços estendidos entre osusuários, fazendo surgir novas formas de comunidade,onde o conhecimento não é mais só compartilhado, masconstruído de maneira coletiva por todos os membrosda comunidade.

O desenvolvimento dos meios de comunicação criou novas for-mas de interação, novos tipos de visibilidade e novas redes dedifusão de informação no mundo moderno, e que alteraramo caráter simbólico da vida social. (THOMPSON, 2008, p. 72)

A interatividade é uma das peças chave da conver-gência. Ela é compreendida por Jenkins (2008) como omodo que as novas tecnologias foram planejadas pararesponder as necessidades de se comunicar do consu-midor. A participação por parte do usuário é ilimitada ecada vez menos controlada pelos produtores dos grandesmeios de comunicação.

O processo de criação é muito mais divertido e signicativo sevocê puder compartilhar sua criação com os outros, e a web,desenvolvida para ns de cooperação dentro da comunidadecientíca, fornece uma infra-estrutura para o compartilhamen-to das suas coisas que o americano médio2 vem criando em

2 As atividades do americano médio na cultura da convergênciaé o objeto de estudo de Jenkins (2008).

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(JENKINS 2008 186) h i t tilh d b i d di

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casa. (JENKINS, 2008, p. 186)

A web está fornecendo um ponto de exibição parao produtor alternativo, além de servir de espaço para aexperimentação e inovação, onde os amadores podemdesenvolver novos métodos e temas, com o objetivo deatrair seguidores. E, algumas destas produções indepen-dentes ainda podem ser absorvidas pelas grandes mídiasde maneira comercial.

Web 2.0 e os blogs

O termo “participação” emergiu como um concei-to dominante na cultura da convergência. À medida quese expande o acesso aos meios de distribuição pela web,

nossa compreensão do que signica ser autor começa ase modicar.

As principais ferramentas de participação na web dehoje são os blog, fóruns e sites como o YouTube, Twitter,Flickr que permitem o compartilhamento de conteúdo en-tre os usuários, sem depender das grandes mídias. Algunsdestes sistemas são tão simples e fáceis de utilizar quecrianças e pessoas pouco habituadas com a internet con-

seguem usufruir de suas ferramentas para se comunicarcom outros indivíduos.

Para o processo de divulgação, as comunidades vir-tuais são o grande diferencial na web. Ela permite que osnichos sejam identicados e localizados em um espaço e

o conhecimento compartilhado, abrindo espaço para dis-cussões, sugestões e análises que, através de interessesmútuos, procuram construir uma nova forma de conheci-mento e de entendimento da cultura.

Jenkins (2008) considera que participar de umadessas comunidades expande a maneira como cada umcompreende o mundo a sua volta. Elas permitem compar-tilhar conhecimentos e consolidar normas sociais, conec-tando experiências e elevando a consciência em relaçãoao processo de venda e de consumo das mídias.

O paradigma do emissor da informação ligado aosgrandes meios de comunicação foi quebrado. A infor-mação agora, como arma Oliveira (2010) em seu livroBlog: Cultura Convergente e Participativa, não está maisligada a grandes empresas. Na internet, qualquer pes-

soa ou coletivo pode criar novas soluções e conteúdosque possibilitem gerar audiências capazes de superar osgrandes grupos.

O conteúdo está cada vez mais passível de personali-zação e sem limites de veiculação, e o cartunista, quadrinistaou desenhista agora tem o espaço que deseja na web paraveicular os seus trabalhos, de maneira gratuita, sem vínculocom os grandes grupos de distribuição e com público certo,

disposto a interagir com ele e a divulgar o seu trabalho.

A ideia de Web 2.0 nasce com o surgimento de novos apli-cativos e ferramentas para a internet, proporcionando maiordinamismo no lado comercial da rede, além de novas formasde gerenciamento de conteúdo e participação do internauta.O termo se refere à ideia de segunda geração de uma internet

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que acabara de sofrer grande impacto com o estouro da bolha (2006) A agilidade e o imediatismo da tirinha caracterís

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que acabara de sofrer grande impacto com o estouro da bolhaem 2001. (OLIVEIRA, 2010, p. 39)

A internet, no contexto da web 2.0, adquire a ca-racterística de plataforma, principalmente com o desen-volvimento de aplicativos que aproveitem os efeitos darede para se tornar cada vez melhor à medida que são

utilizados pelos usuários.O desenvolvimento dos meios de comunicação, na

ótica de Thompson (2008), criou novas formas de açãoe de interação e novos tipos de relacionamento sociais,formas que são bastante diferentes das que tinham pre-valecido na maior parte da história humana.

Wolton (2004), apesar de considerar que o m dasdistâncias físicas pode mostrar como são extensas as dis-

tâncias culturais, considera que a comunicação é uma ne-cessidade fundamental, é uma característica essencial damodernidade. Cada vez mais os usuários estão procuran-do novas formas de se comunicar e encontrando na inter-net plataformas que permitam esta interação da maneiraque eles imaginam que deva ser, seja através de um textoescrito, de fotograas, vídeos ou até de uma tirinha.

As tirinhas nas mídias digitais

Com o advento das mídias digitais, as histórias emquadrinhos e as tirinhas têm encontrado na web um novoespaço, utilizando-se, inclusive, dos elementos disponíveisnas mídias digitais interativas, como considera McCloud

(2006). A agilidade e o imediatismo da tirinha, caracterís-ticas estas também presentes nas mídias digitais, nos fazentender que elas são imprescindíveis para a construçãodo pensamento crítico, quando elas não se dobram à mas-sicação e se permitem à liberdade inventiva.

As tirinhas estão passando por modicações e ajus-tes as novas mídias, utilizando o blog como principal su-porte para sua divulgação. Agora a produção experimen-tal é livre, cando a critério do autor e não da formataçãodos meios impressos, que tipo de estilo ele irá seguir natransmissão da sua mensagem. McCloud (2006) conside-ra que o intercâmbio entre os quadrinhos e as novas tec-nologias já é uma realidade e a partir destes cruzamentosuma reconguração do gênero tirinhas e um novo produtocultural pode estar surgindo.

Edgar Franco (2004) traz a arte sequencial dos qua-drinhos e das tirinhas para o contexto da web, em quepodemos encontrar os principais elementos agregados àlinguagem dos quadrinhos clássicos, produzidos para se-rem veiculado em suporte de papel, nas mídias digitais.Alguns deles, porém, apresentam inovações, como ani-mações, diagramação dinâmica, efeitos sonoros, narrati-vas multilineares e interatividade, criando um gênero hi-

brido com a linguagem da hipermídia.Muitas das tirinhas digitais não são mais do que

adaptações das impressas, levadas para o meio digital.Por mais de cem anos as tirinhas habitaram a imprensae hoje a mídia digital está convergindo para um único

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suporte: o computador A evolução da tirinha dependerá ferramenta como fonte de informação entretenimento

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suporte: o computador. A evolução da tirinha dependeráde sua capacidade de se adaptar a este novo ambiente,que inclui tanto as novas tecnologias como os desejos dopúblico de consumi-la.

Neste contexto, os blogs têm sido a principal pla-taforma de divulgação das tirinhas digitais. Eles pro-porcionaram que novos desenhistas expusessem seustrabalhos, sem depender, por exemplo, dos conhecidosSyndicates, que se encarregavam de espalhar tirinhaspara jornais e revistas de todo o mundo, e seleciona-vam previamente as tirinhas que pareciam ser maismercadológicas, assim como inuenciavam o modelo deprodução dos artistas.

O blog, segundo Oliveira (2010), é uma das princi-pais ferramentas do processo de convergência midiática

e também um espaço para a discussão sobre as mudan-ças de pensamento em relação à Cibercultura. Inúme-ros debates, palestras e discussões on-line são travadosdiariamente por blogueiros e seus públicos, graças àspossibilidades geradas pela web 2.0 e a facilidade naconexão com a internet.

Em 2008, o Technorati3 – um mecanismo de bus-ca especializado em blogs - divulgou que possui mais

de 133 milhões de blogs cadastrados em seu sistema,desde 2002, com quase um milhão de informações ca-dastradas por dia. O blog tornou-se uma importante

3  http://technorati.com/blogging/article/state-of-the-blogo-sphere-introduction/

ferramenta como fonte de informação, entretenimentoe opinião livre.

Mesmo que a veiculação das tirinhas esteja cadavez mais simples, a produção ainda exige a habilida-de em programas de edição de imagens, como o Pho-toshop, o GIMP, entre outros. Esta necessidade aindalimita que alguns usuários publiquem suas ideias e fazda tirinha, mesmo que nas mídias digitais, um gênerocom autores reduzidos.

Contudo, alguns sites estão desenvolvendo sof-twares que permitem a todos aqueles que tenham boasideias criar tirinhas de maneira simples e rápida. Bonsexemplos são o StripGenerator4, o ToonLet5, o Toon-Doo6, StripCreator7 e o Pixton8, este último com suporteem português. Alguns sites ainda possibilitam, além das

tirinhas, a criação de algumas histórias com animaçõesou histórias animadas, como é o caso do Go!Animate9.

4  http://stripgenerator.com/5 http://toonlet.com/6 http://www.toondoo.com/7  http://www.stripcreator.com/8 http://pixton.com/br/9 http://goanimate.com/

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No Brasil destaca-se o site da Máquina de Quadri-

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Figura 14: Exemplo de Tirinha extraído doStripGenerator, do usuário sulegnA

Fonte: http://stripgenerator.com/strip/532359/miss-tittletale--monster-tits/

Os programas de edição de tirinhas disponibilizadosnestes sites são bastante simples e todos eles acompa-nham tutoriais que explicam a usuários leigos como criarsuas próprias tirinhas. Eles disponibilizam a opção do usu-ário salvar a sua produção ou um link com um códigopara ser copiado e colado diretamente dentro do blog. Ospróprios sites também abrem espaço para a veiculaçãodas tirinhas produzidas a partir dos seus sistemas, comgalerias divididas por temas, língua, data etc.

No Brasil, destaca se o site da Máquina de Quadrinhos10, criado por Maurício de Sousa durante a comemo-ração de 50 anos da Turma da Mônica em 2009. Na pá-gina você pode criar histórias da Turma da Mônica e asmelhores são publicadas em revistas e gibis.

Figura 15: Tirinha do site Máquina de Quadrinhos, do usuário Sol & LuaFonte:http://www.maquinadequadrinhos.com.br/HistoriaVisualizar.

aspx?idHistoria=442948#

As grandes empresas produtoras de quadrinhos tam-bém não caram de fora. A Marvel lançou o site The Su-perhero Squad Show11  onde qualquer um pode criar tiri-nhas utilizando os personagens da Marvel, como Homem

de Ferro, Hulk , Wolverine, com feições infantilizadas. Jáa DC Comics lançou uma divisão de quadrinhos on-line, aZuda Comics. No site, os usuários podem votar em histó-rias feitas por artistas e fazer alguns comentários em re-lação a eles, estabelecendo um canal direto entre quemproduz e quem consome. Neste caso, estamos falando daprodução de quadrinhos em si e não especicamente daprodução de tirinhas, mas o site é um embrião do que pode

10 http://www.maquinadequadrinhos.com.br/11 http://superherosquad.marvel.com/

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se tornar uma rede social de produtores de quadrinhos e

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se tornar uma rede social de produtores de quadrinhos euma boa janela para a exposição de produções amadoras,tanto de histórias em quadrinhos como de tirinhas.

Figura 16: Bayou, de Jeremy Love, um dos quadrinhos publicados nosite Zuda Comics e também um dos primeiros vencedores do concurso

Fonte: https://comics.comixology.com/#/view/2584/Bayou-1

Com a produção de tirinhas cada vez mais simples e

acessível, além da facilidade de sua divulgação, uma novageração de produtores está surgindo, com novas ideias ecada vez mais interessados em explorar as potencialida-des das novas tecnologias das mídias digitais.

CONSTRUÇÃO DE UM NOVO GÊNERO

Aprofundando os estudos dos novos gêneros

Como vimos anteriormente, ao tratar a tirinha comoum gênero jornalístico isolado, as primeiras divisões degênero foram feitas por Aristóteles e Platão, que orga-nizaram uma distinção em três formas genéricas funda-mentais: o lírico, o poético e o dramático. Este estudoabre caminho para todas as pesquisas de gênero realiza-

das, geralmente associadas ao texto escrito ou à comuni-cação oral.

O que percebemos hoje é um crescimento no estu-do dos gêneros, principalmente aqueles relacionados aosavanços tecnológicos permitidos nas mídias digitais. Como objetivo de fundamentar uma nova nomenclatura do gê-nero tirinhas publicadas nestas novas mídias e que incor-poram as suas funções a ponto de criar um novo gênero,

utilizaremos a proposta apresentada por Mikhail Bakhtinna sua obra “Estética da Criação Verbal” 12.

Bakhtin (2000) arma que todas as esferas da ati-

12 A obra foi publicada em 1979, quatro anos após a sua morte,com um material reunido pelos editores das obras anterioresde Bakhtin. A 1ª edição brasileira foi publicada em 1992.

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

vidade humana estão relacionadas com a utilização da ciáveis para ser considerada um novo gênero.

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dade u a a estão e ac o adas co a ut ação dalíngua e de formas diferentes de comunicação. Esta utili-zação é feita através do enunciado, que reete condiçõese nalidades especícas, não só pelo seu conteúdo, mastambém pelo estilo e construção composicional.

Estes três elementos (conteúdo temático, estilo, e construção

composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enun-ciado, e todos eles são marcados pela especicidade de uma es-fera de comunicação. Qualquer enunciado considerado isolado é,claro, individual, mas cada esfera de utilização da língua elaboraseus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso quedenominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, 2000, p. 279)

Tomando a tirinha como um enunciado, principal-mente por esta conter comumente o texto escrito nas falasdos balões e ilustrações que caracterizam o personagem

no momento de sua exposição oral, podemos observá-lacomo uma unidade composta por um conteúdo temático,estilo próprio e uma construção composicional, formandoassim um tipo estável de enunciado e denido como umgênero do discurso.

A variedade de gêneros do discurso é innita devi-do à inesgotável diversidade da atividade humana. Cadaesfera da comunicação comporta um repertório de gênero

do discurso que vai se ampliando e diferenciando à me-dida que a própria esfera se desenvolve e ca mais com-plexa. A própria tirinha já foi considerada um subgênerodos quadrinhos, mas como defende Nicolau (2007), elaapresenta uma suciente gama de características diferen-

c á e s pa a se co s de ada u o o gê e oNos seus estudos Bakhtin (2000) considera que há

uma diversidade de gêneros do discurso tão grande queestes não parecem ter um terreno comum, transforman-do o conceito em uma ideia abstrata e distante. Para nãominimizar a extrema heterogeneidade, Bakhtin leva emconsideração a separação em gêneros do discurso pri-mários, mais simples e bem denidos, e gêneros dodiscurso secundários, mais complexos e com desdobra-mentos perceptíveis em relação aos primários.

Este trabalho visa o estudo de um gênero do discur-so secundário em relação ao gênero tirinha. A percepçãodeste novo gênero deniu-se mediante a própria arma-ção de Bakhtin (2000) que considera a circunstância doaparecimento de um gênero do discurso secundário pela

sua existência mais complexa e relativamente evoluída,a partir de um processo de absorção e transmutação degêneros do discurso primários.

Os gêneros primários, ao se tornarem componentes dos gê-neros secundários, transformam-se dentro destes e adquiremuma característica particular: perdem sua relação imediatacom a realidade existente e com a realidade dos enunciadosalheios. (BAHKTIN, 2000, p.281)

Ao analisarmos este novo gênero, mediante a fusãodo gênero primário tirinha e das qualidades inseridas dentroda hipermídia, como a animação, o som e os hiperlinks, per-cebemos que se constitui um novo gênero de característicasecundária, mas com particularidades exclusivas desta sua

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nova composição e diferenciadas da realidade existente. na web, percebemos um gênero com funções e condi-

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p çA distinção entre os gêneros primários e secundá-

rios é de vital importância a ponto de que a análise denatureza do enunciado deve levar em conta a análise deambos os gêneros. A interrelação entre as tirinhas e estenovo gênero secundário e o processo histórico de formaçãosão essenciais para entendermos a natureza deste novoenunciado. Em uma pesquisa que envolve a análise de ummaterial concreto, como pode ser observado neste gênerosecundário, lidamos com um enunciado bem estabelecidoe que se relaciona com diferentes esferas da comunicação.

Em seus estudos sobre os gêneros do discurso,Bahktin (2000) considera que analisá-los é indispensável,pois se não observarmos a natureza do discurso e as par-ticularidades do gênero, estamos enfraquecendo o vinculo

entre a língua e a vida. A língua penetra na vida através dosenunciados concretos, ou seja, dos gêneros do discurso.

Desta maneira, podemos compreender que cada gê-nero apresenta uma Estilística, que é individual e pode re-etir características próprias de quem fala. Cada produçãopossui um estilo individual herdado de quem a produz, masnem todos os gêneros são igualmente aptos a reetir estaindividualidade. A variedade de gêneros em uma produção

pode revelar a variedade dos aspectos da personalidadeindividual, sendo assim, a denição de um estilo geral e umestilo individual requer um estudo aprofundado da nature-za do enunciado e da diversidade dos gêneros do discurso.

Ao observarmos as tirinhas criadas e publicadas

, p g çções especícas da comunicação, relativamente estáveldo ponto de vista temático, composicional e tambémde características próprias compartilhadas por todos osautores. O estilo é vinculado a unidades temáticas de-terminadas e a unidades composicionais, tais como: es-truturação, conclusão, relação entre emissor e receptor,além dos parceiros durante a sua produção e veicula-ção, denido como um elemento da unidade de gênero.

Não há como classicar os gêneros apenas pelo es-tilo, pois estes são pobres e não apresentam critério di-ferencial. Eles apenas pertencem aos gêneros no estudoprévio de sua diversidade. Contudo, mudanças históricasdos estilos são indissociáveis das mudanças que se efe-tuam nos gêneros do discurso, com os enunciados e os

gêneros como correias de transmissão que levam da his-tória da sociedade à história da língua. Nenhum fenômenonovo pode entrar no sistema da língua sem ter sido tes-tado previamente e reconhecido como um padrão geral.

O desenvolvimento da língua é marcado pela grandevariedade de gênero dos discurso, tanto primários como se-cundários, e a ampliação da língua acarreta na ampliação,reestrutura e renovação dos gêneros do discurso. Quando

os gêneros dialogam entre si, principalmente quando surgeum gênero do discurso secundário, estamos destruindo erenovando o próprio gênero, quebrando o princípio mono-lógico de sua composição, criando novas sensibilidades aoreceptor e novas formas de conclusão do enunciado.

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Com a criação de um novo gênero, como é o caso webcomics, histórias em quadrinhos que incorporaram

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das tirinhas incorporadas ao cotidiano das mídias digi-tais, as nossas noções acerca da vida verbal, da comu-nicação, assim como das palavras, orações e produçõessão ampliadas e a gramática e a estilística individual seaproximam, com uma compreensão profunda da natu-reza do enunciado e da particularidade dos gêneros do

discurso.

Webcomics, de Scott McCloud

O quadrinista americano Scott McCloud é considera-do um dos maiores teóricos dos quadrinhos, principalmen-te após o lançamento do seu livro Desvendando os Qua-drinhos, em 199313. Na obra, McCloud (1993) considera os

quadrinhos como um gênero literário e abriu a discussãosobre como este gênero se comporta nas mídias digitais.

Na sua segunda publicação, McCloud aborda os qua-drinhos inseridos nas novas tecnologias de comunicaçãoe aprofunda ainda mais a discussão do gênero quadrinhoe sua importância para diversas áreas do conhecimen-to. O livro Reinventando os Quadrinhos foi lançado em200014 e propôs um novo gênero para os quadrinhos: os

13 O título original da obra em inglês é Understanding Comics,publicado pela editora HarperPerennial em 1993. A versão tra-duzida para o português é de 2005.14 O título original da obra em inglês é Reinventing Comics pub-licado pela HarperCollins Publishers Inc. A obra só foi lançadono Brasil em 2006.

completamente em sua essência as inovações propostaspelas mídias digitais, tais como animação, sons, hiperlinksetc. Iremos analisar este conceito de maneira mais efeti-va para que a proposição de um novo gênero das tirinhaspossa obedecer a parâmetros semelhantes a esta evolu-ção proposta aos quadrinhos.

McCloud (2006) dene os quadrinhos, ou HQs, apartir de uma ideia simples: o posicionamento de suces-sivas imagens para ilustrar a passagem do tempo. Eleconsidera que esta estrutura cria um novo idioma e umnovo vocabulário, baseado em símbolos visuais comunsno cotidiano.

As HQs tomaram um lugar vital na sociedade comouma forma de comunicação pessoal, constituindo assim

um corpo de estudo que representa a vida, os tempos ea visão de mundo do autor. Suas propriedades podem serconsideradas semelhantes às das artes, um verdadeironegócio que, comprovadamente, vem se reinventando eabarcando diversos gêneros.

Ao retratar eventos do dia-a-dia, os argumentistas de quadri-nhos enfrentam muitos desaos similares aos dos escritoresde prosa – capturar os detalhes e a sutileza das atividades

humanas e ter coragem suciente para mostrar aos leitores oquadro integral, por mais incômodos que sejam os resultados.(MCCLOUD, 2006, p. 35)

Reproduzindo as cenas que observam no seu coti-diano, principalmente em desenhos realistas e caricaturis-

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tas, os quadrinistas capturam a variedade de aparências web como primeiro passo para entrar no mercado, assus-

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humanas no mundo real. Eles oferecem uma visão hones-ta da vida cotidiana, combatendo as imagens distorcidasoferecidas pelos meios de comunicação em massa.

Os quadrinhos são considerados verdadeiros “fora--da-lei” por sua arte vibrante e estimulante que geral-mente se opõe aos grandes conglomerados comunicacio-

nais. Contudo, McCloud (2006) considera que a literaturados quadrinhos até hoje só exibiu uma fração ínma doseu potencial, mas que com as novas mídias eles estãocomeçando a deixar o seu casulo e respirar a vida cotidia-na, comunicando ideias. Assim como os grandes meios decomunicação, a história das HQs está repleta de explora-ção corporativa que só vem sendo quebrada por criadoresde quadrinhos que se aventuram em publicações indepen-

dentes ou migram para a internet. A natureza das novas tecnologias da informação e

da comunicação vem forçando os quadrinhos a se adap-tarem rapidamente às necessidades e desejos do usuário,servindo de mapa para o futuro do gênero. A cada ciclo deinovações, no qual premissas tradicionais tornam-se ob-soletas, as HQs estão procurando explorar o seu potencialcom o objetivo de evoluir para sobreviver.

 Hoje, com o advento da computação gráca, a co-municação em rede e a interatividade, grande parte daprodução das histórias é digital. McCloud (2006) previuexatamente o que acontece atualmente, com quadrinistasmuito jovens e verdadeiros peritos digitais utilizando a

tando os veteranos do desenho manual e os forçando aincorporar as mídias digitais em suas produções.

 O computador tornou-se um ambiente a ser explo-rado e depois compreendido. A tela digital oferece ummundo maleável de oportunidades com uma extensão in-nita de estímulos e impulsos, e que vem substituindo

toda uma amarra de meios físicos. Os elementos produ-zidos por programas de desenho podem ser movidos, du-plicados e transformados, fazendo com que o quadrinistaganhe em precisão e exibilidade, assim:

(...) qualquer pessoa com meios modestos e vontade sucien-te estará pronta e preparada para reinventar denitivamenteo visual dos quadrinhos se puder descobrir um meio de atingirseu público potencial (MCCLOUD, 2006, p. 153)

A internet permitiu uma explosão de comunicaçãoe criatividade e conforme a banda larga se espalhou pelomundo, o percurso de um texto para imagens soltas paraimagens múltiplas representou para os quadrinhos um ca-minho para a promoção e difusão. Esta difusão digital deHQs, como arma McCloud (2006), que circula apenascomo informação na web permitiu uma expansão no mer-

cado de quadrinhos, principalmente de criações cada vezmais criativas, com interatividade, hipertexto, animaçãoe sons, recursos estes característicos apenas das mídiasdigitais. A web e sua natureza descentralizada começou areescrever diversas regras comerciais, com o quadrinho

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não apenas como um objeto, mas uma verdadeira experi- ras e procuram criar algo genuíno.

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ência visual e auditiva.O modelo de negócio na internet transformou o di-

nheiro em informação pura, com a maioria das pessoasnão encontrando nenhuma necessidade de pagar peloconteúdo, pois não acham o preço justo nem a quali-dade boa ou o processo de criação trabalhoso. Estamos

entrando em uma economia em que os interesses dosconsumidores são diretamente considerados e que o tra-balho do criador pode ser valorizado de acordo com ointeresse do seu público.

Levando em consideração a produção e a veiculaçãodo trabalho, McCloud divide as HQs na web de duas ma-neiras: os quadrinhos digitais, ou webcomics, que sãoaqueles produzidos como informação pura, ou seja, especi-

camente para a web e difundidos por esta ou por um obje-to de armazenamento, como o CD-ROM; e os quadrinhosonline, que são versões digitais dos quadrinhos impressos.

Com a convergência midiática, as distinções tecno-lógicas da produção e distribuição de quadrinhos é cadavez mais evidente e uma diferenciação conceitual se tor-na mais importante que nunca. A meta dos quadrinhos éencontrar uma mutação durável que lhes permitam so-

breviver às inovações tecnológicas.Neste contexto, as tirinhas lutam para desaar o

status do subgênero dos quadrinhos e explorar o seu po-tencial comunicativo. Mesmo que a sua aparição no jornalseja por conveniência, eles lutam para fugir destas amar-

As tiras, até mesmo aquelas muito populares, estãoperdendo terreno conforme menos pessoas lêem jornaise, procurando seu espaço nas mídias digitais, encontra-ram o seu verdadeiro desao no design e praticidade desuas produções. Elas utilizam um formato mais simples,com uma abordagem “tudo em um”, e explorando a so-

lução mais óbvia para os quadrinhos digitais: usar o for-mato padrão da tela do computador como página.

O conceito de Tela Innita, em que a produção nãoé mais limitada ao número de páginas, pois tem a tela docomputador como suporte e o espaço virtual disponibiliza-do pelo seu criador permitiu que os quadrinhos e as tirinhasnão se prendessem mais a um formato xo, explorando asoportunidades e soluções de design no ambiente digital. As

produções podem assumir qualquer tamanho e formataçãoconforme o mapa temporal cresce neste novo suporte.

Mesmo que o recurso de geração de paginas e qua-drinhos seja innito no ambiente digital, a tela sempre terálimitações, principalmente devido à resolução dos moni-tores, à velocidade da conexão com a internet e à própriapercepção humana que limita a visão de um todo innito.

 Mais importante, a capacidade dos criadores de subdividirseu trabalho como antes não se reduz, mas agora a “pági-na” – o que Will Eisner chama de “metaquadrinho” – podeassumir qualquer tamanho e formato que a cena admitir adespeito de quão estranhos ou quão simples forem estesformatos e tamanhos (MCCLOUD, 2006, p. 227-228)

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

No ambiente digital, para ser el à simplicidade do consiga emergir, ncar raízes e evoluir para um gênero

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mapa temporal proposto pelos quadrinhos, muitas vezesos quadrinhos digitais eliminam o som e o movimento,mas mantém sempre a interatividade, pois ela é crucialneste tipo de mídia. E com cada avanço tecnológico, asmaneiras de interagir se expandem, seja através de umatrilha sonora ativada por um clique, janela oculta ou zoom

no detalhe, os quadrinhos digitais estão cada vez maisricos em interatividade.

McCloud (2006) considera que, com o advento dosdispositivos de leitura portáteis15, a metáfora da tela comouma página comum de livro ou revista pode frear os avan-ços dos quadrinhos digitais. Tudo dependerá de como es-tas novas tecnologias irão incorporar as potencialidadesdas mídias digitais e de como os seus usuários irão se

comportar na leitura dos quadrinhos nestes dispositivos.Os quadrinhos são uma ideia poderosa de comuni-

cação, que muitas vezes é ignorada, desperdiçada e malcompreendida. Mesmo com todas as esperanças de inova-ção, ela ainda parece ser obscura, isolada e muitas vezesobsoletas, por sempre viver pela casca das tecnologias.McCloud (2006) considera, por m, que nenhuma “arte”viveu numa caixa menor do que os quadrinhos nos últi-

mos cem anos de história e o que todos esperam é quecom as novas tecnologias de comunicação este gênero

15  Quando Scott McCloud escreveu o seu segundo livro em2000, nem o Kindle nem o iPad haviam sido anunciados. Osleitores digitais eram apenas protótipos e apenas se especulavasobre o seu potencial.

adaptado as mídias digitais.

HQtrônicas, de Edgar Franco

No Brasil, um dos precursores dos estudos dos qua-drinhos digitais é o também quadrinista Edgar Franco, que

em 2004 lançou a obra HQtrônicas: do suporte papel àrede internet. O trabalho é resultado de uma ampla pes-quisa para a sua dissertação de mestrado, que antecedeua publicação traduzida para o português dos livros de ScottMcCloud, que traziam os primeiros conceitos de webcomics.

Franco (2004) batizou as produções digitais deHQtrônicas e observou diversas produções, analisandoaspectos semelhantes aos de McCloud (2006). Ele perce-

beu que as primeiras experiências de inclusão de códigosdigitais na linguagem tradicional dos quadrinhos começa-ram a ser feitas a partir do nal da década de 1990, coma veiculação das produções em sites.

A adaptação inicial dos quadrinhos para as mídiasdigitais começou com a criação de histórias no formato datela do computador. Na década de 1990, a transposição dosquadrinhos impressos para o ambiente digital era comum,

com páginas escaneadas que criavam barras laterais nosNavegadores16 e modicavam a apresentação e a leitura.

16 Também conhecido como Browser, o Navegador é o programautilizado para que o usuário visualize os documentos virtuaispublicados na internet. Os mais comuns hoje são: Internet Ex-plorer, Mozilla Firefox, Google Chrome, Opera e Safari.

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

Com os sites publicando produções exclusivas para o am-b d l d ã à l

drinistas17 vem migrando e adaptando as suas produções,l d d d h b d ã d õ

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biente digital, o padrão apenas se ajustou à tela e pouco seutilizava os recursos disponíveis na hipermídia e, portanto,não são considerados por Franco (2004) como HQtrônicas.

Neste mesmo período, a internet tornou-se o carrochefe da promoção e distribuição de quadrinhos impres-sos, abrindo espaço principalmente para que pequenas

editoras divulgassem e vendessem os seus trabalhos,além da possibilidade de criar revistas de forma coope-rativa. O surgimento crescente destas pequenas editorascom sites abriu espaço para a diversidade e pluralidade demanifestações quadrinísticas. A web não só abriu espaçopara que novas experiências em relação aos quadrinhossurgissem, mas também representou uma revolução paraa indústria produtora de HQs.

Com a popularização da hipermídia, (...) muitos artistas pas-saram a se interessar por experimentar as possibilidades ex-pressivas desse novo meio, dentre eles vários quadrinistasque trabalhavam tradicionalmente no suporte papel vêm aospoucos migrando para a hipermídia, trazendo consigo todo omanancial artístico e narrativo apreendido na confecção dashistórias em quadrinhos impressas, promovendo atualmen-te uma hibridização das linguagens das HQs com linguagenspróprias de outras mídias. (FRANCO, 2004, p.145-146)

 A hipermídia é uma mídia revolucionária, capaz de juntar um conjunto de formas de comunicação em uma úni-ca base tecnológica comunicacional multilinear e interativa.A sua grande novidade reside na possibilidade de reunir emum único suporte o restante dos outros meios e os webqua-

realizando uma verdadeira hibridização, com produções queabarcam linguagens próprias de outras mídias, como o some a animação, em conjunto de características próprias dahipermídia, como os hiperlinks e a interatividade.

 O termo HQtrônica é proposto por Franco (2004)como uma tradução livre do termo eletrônic comics. Com

esta nomenclatura, ele procurou unir um ou mais códigosda linguagem tradicional dos quadrinhos, com um ou maispossibilidades da hipermídia, excluindo todas as HQs pro-duzidas para o suporte papel e apenas digitalizadas.

Os avanços das linguagens dentro das novas mídiasfazem com que Franco (2004) considere este um batismoprovisório, associando o termo apenas às histórias em qua-drinhos. Pontos como a evolução na inclusão de animações,

a diagramação dinâmica, a música e os efeitos sonoros e oshiperlinks estão ainda por ganhar uma maturidade, princi-palmente devido às inovações tecnológicas dos programasde criação e edição de imagens, animações, sons, 3D etc.

As Webtirinhas ou Tirinhatrônicasou simplesmente tirinhas digitais

A nomenclatura das histórias em quadrinhos quandoaplicadas ao meio digital apresenta uma grande variedadede opções, de acordo com a região, o pais, a funcionali-

17 Conceito introduzido também por Franco (2004) para aque-les que produzem quadrinhos apenas para o suporte digital.

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

dade e os recursos utilizados na sua criação. Os nomesi i h id d ã i

pesquisa, principalmente sobre como este tipo de produ-ã tá d h d i t t O ó i

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mais comuns e mais conhecidos no mundo são a e-comics e webcomics nos EUA, além de BD Interactive na França.No Brasil, as produções digitais já ganharam o nome deMangá Telemático, HQ Interativa, Quadrinhos On-line, Di-gibi e HQnet, mas nenhuma nomenclatura consolidou-semais do que HQtrônica, de Franco (2004), apresentada na

obra de mesmo nome.Partindo desta variedade de nomenclaturas, e com-

preendendo a tirinha não como uma produção de carac-terísticas próprias e denida como um gênero por Nicolau(2007), este trabalho agora procura questionar a neces-sidade de uma nova nomenclatura para a produção e vei-culação de tirinhas nos ambientes digitais.

Tendo como referência os estudos de McCloud

(2006) e Franco (2004) o termo mais adequado para astirinhas publicadas na web e que receberiam uma ou maiscaracterísticas da hipermídia, como animação, hiperlinkou som, seria de tirinhas digitais. Aquelas produçõesque não incorporarem nenhuma destas características se-riam apenas tirinhas online.

Este batismo é de caráter provisório, mediante asconstantes inovações das mídias digitais. Assim como con-

sidera Franco (2004), as novas mídias ainda estão no seuprocesso de evolução e uma nomenclatura denitiva seriacometer um grave erro na denição deste novo gênero.

A nomenclatura “tirinhatrônica” e “webtirinhas” nãopodem ser descartadas sem que se faça ainda uma ampla

ção está sendo chamado na internet. O próprio nome queeste novo gênero está ganhando dentro dos blogs é desuma relevância para denir qual será a sua nomenclatura.

Os blogs, sites e portais na internet utilizam o mesmonome da produção impressa para a digital, sendo mais po-pular falar de tirinhas, do que de tirinhas digitais. Com isso,

nos questionamos a real necessidade de renomear este gê-nero, visto que os produtores, distribuidores e o público emgeral chama por um único nome. Qual seria então o nomedeste novo gênero? Apenas o tempo vai dizer qual nome irásobressair e realmente prevalecer para este novo gênero.

Mesmo com esta dúvida, a necessidade de dar umnovo nome a este gênero é essencial, tendo em vista assuas características diferenciadas. Nicolau (2007) arma

que a tirinha como gênero jornalístico só pode ser com-preendida desta forma devido ao suporte midiático pelaqual ela está sendo divulgada. Como os espaços na webainda não apresentam esta mesma padronização, princi-palmente em relação ao meio jornalístico, a sua deniçãocomo gênero jornalístico requer mais estudos e uma dis-cussão mais longa do que a proposta neste trabalho.

A forma da tirinha, com seus três a quatro quadros,

seu humor crítico e satírico e seu caráter opinativo aindapodem ser observado dentro da internet. Contudo, ape-sar de ter os blogs como principal forma de veiculação, agrande diversidade de formas de publicação das tirinhasna web fazem deste um gênero em processo de ajuste e

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

adequação. Se uma tirinha é postada em um blog, com-partilhada no Facebook ou disponibilizada em um portal

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partilhada no Facebook  ou disponibilizada em um portal,ela pode sofrer algumas alterações que a ajustem a omeio pela qual está sendo veiculada.

Por m, acreditamos que a tirinha, pela criatividadedos seus autores e a sua capacidade inventiva, não iráapresentar um formato preestabelecido, se ajustando e

adequando aos meios digitais. Com isso, o seu nome ain-da deve variar e por vários anos os estudos em relação àstirinhas na web devem consolidar qual é a nomenclaturamais adequada para este novo gênero.

LEVANTAMENTO DAS TIRINHAS DIGITAIS

Metodologia de pesquisa em tirinhas

Como arma Vergueiro & Santos (2010), estudaros quadrinhos e, consequentemente, estudar as tirinhasé como estar “pisando em ovos”. Esta metáfora demons-tra bem como as metodologias aplicadas a este tipo decorpus geralmente são consideradas frágeis, cabendo aosestudiosos da área apresentar pesquisas e teorias aplica-

das que possam permitir uma melhor aceitação por parteda comunidade acadêmica.

Desde sua origem, no início da década de 1940, apesquisa em quadrinhos sofre diversas críticas, principal-mente devido à relação deste gênero com a sua capacida-de de inuenciar o público infantojuvenil. Ao ser conside-rado um meio de comunicação de massa, as HQs sofreramdiversos ataques de teóricos como Fredric Wertham que

utilizou como referência os estudos feitos no período pelaEscola de Frankfurt. Nesta mesma época, a Europa comoum todo condenava os quadrinhos, considerando-os ape-nas como leitura para criança e adolescentes.

 Na década de 1960, como trazem Vergueiro & San-

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tos (2010), diversas produções dos quadrinhos foram uti-lizadas como base para pesquisas semióticas sociopolí

imagens como um todo.

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lizadas como base para pesquisas semióticas, sociopolí-ticas, psicológicas e losócas. Humberto Eco foi um deseus principais defensores, utilizando as HQs como objetode estudos linguísticos e semiológicos.

Podemos considerar que a mudança da rejeição paraa análise é gradativa, na medida em que hoje cada vez mais

professores e grupos de estudos dedicam-se para aprofun-dar as discussões sobre as HQs como objeto cientíco. Aspesquisas em quadrinhos abrangem diversas áreas, nãoapenas por ser um produto cultural da comunicação demassa e de grande apelo popular, mas por ter despertadoo interesse de pesquisadores de diversas áreas.

Vergueiro & Santos (2010) consideram que toda pes-quisa em quadrinhos deve apresentar três aspectos: uma

discussão sobre questões de gênero, de história e de políti-ca na qual a produção está inserida; a visão histórica, esté-tica e losóca; além da análise técnica, abordando aspec-tos semióticos, de discurso, conteúdo, estudos de caso eexperimentação. Este trabalho procura abranger estes trêsaspectos ao analisar a tirinha como gênero jornalístico opi-nativo, sua história e a evolução da sua linguagem, alémde analisá-la pela ótima de diversas teorias do cotidiano.

Para uma pesquisa eciente na área da arte se-quencial, é essencial trazer conceitos das metodologiasde Análise de Conteúdo e Análise do Discurso por estaspermitirem a decodicação do signicado dos signos visu-ais e a relação que eles mantêm como o texto e com as

Os quadrinhos são formas narrativas que empregam elemen-tos imagéticos e verbais que interagem para contar uma his-tória. Identicar os elementos signicativos que se articulamem sequência demanda a utilização de técnicas de análise quepossibilitam a leitura desse objeto. A semiótica e a análise deconteúdo são ferramentas adequadas para revelar os signi-cados latentes e as conexões entre os elementos estruturais

da narrativa ccional. A análise do discurso, igualmente, podeser um recurso importante para entender o conteúdo da men-sagem que o produto cultural veicula. (VERGUEIRO & SAN-TOS, p. 199, 2010)

A carência de apoio é o principal fator das pesquisasem tirinhas, principalmente em comparação aos em HQs,serem consideradas embrionárias, assim como a falta deuma identidade como disciplina aplicada aos quadrinho e

a pouca divulgação dos trabalhos realizados. Mesmo comestas produções apresentando linguagens especícas edistintas, livres dos clichês sobre a relação entre o texto ea imagem, gosto pelo público, uma história própria e bemdenida, qualidades expressivas, desenho e dinâmicas detraços, elas não são reconhecidas como uma forma dearte e ignoradas pelos pesquisadores.

 

Análise de Conteúdo

Durante a construção desta pesquisa, percebeu--se a necessidade de realizar um levantamento dos blogsbrasileiros que trazem tirinhas em seu conteúdo e para

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

cumprir tal atividade, está sendo realizada uma pesquisabaseada na metodologia de análise de conteúdo proposta

Os primeiro trabalhos realizados na comunicaçãoforam voltados ao jornalismo sensacionalista dos Estados

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baseada na metodologia de análise de conteúdo, propostapor Fonseca Junior (2009). Contudo, o trabalho apresen-tado sempre estará longe de uma análise completa, tendoem vista o grande número de blogs e o seu expansivonúmero de novos blogueiros, com a relativa temática e aprofundidade da analise.

A Análise de Conteúdo é uma técnica de pesquisa pararealizar uma descrição objetiva, sistemática e quantitativade um determinado conteúdo. Aplica-se geralmente a umagrande quantidade de material organizado de maneira lógi-ca e objetiva, possibilitando assim a utilização de métodosde pesquisa, como a dedução, ou seja, os resultados po-dem ser vericados com a adoção de diversas ferramentasmetodológicas. Contudo, ela é considerada supercial, com

margem para simplicação e distorções, sofrendo constan-tes contestações quando adotada como método cientíco.

Entendemos a Análise de Conteúdo como a supre-macia dos números, fazendo dela uma importante peçapara diversas disciplinas, adotando-a como uma técnica depesquisa. Hoje, sua utilização procura adotar uma perspec-tiva complementar entre o quantitativo e o qualitativo, comdiversas parcerias com outras técnicas de investigação.

A Análise de Conteúdo tem sua base no século XVIII,mas foi apenas no século XX que ela se envolveu direta-mente com a comunicação. Esta técnica atingiu seu ápicena Segunda Guerra Mundial e desde então passa por ci-clos de reconhecimento e contestação.

foram voltados ao jornalismo sensacionalista dos EstadosUnidos e, a partir de então, ela tem sido utilizada comocritério de objetividade cientíca.

Nos últimos anos, a Análise de Conteúdo incorpo-rou teorias das ciências sociais redeniu conceitos, comoo de estereótipos e trouxe novas ferramentas, como as

enquetes. Ela herda do positivismo a valorização das ci-ências exatas, procurando formular questões relativas àsciências sociais de maneira mais rígida, linear, metódica ecom uma base de dados vericável.

A Analise de Conteúdo pode ser aplicada a pesqui-sas relacionadas a comunicação principalmente quandoligadas a fatos e situações que ocorrem de maneira cons-tante nas mídias, assim como a sua disposição no meio de

divulgação e o interesse do publico pela informação.Podemos utilizar a Análise de Conteúdo para veri-

car a incidência e periodicidade de vezes em que a mulheré representada nas capas de revistas semanais como aVeja ou IstoÉ, e que tipo de representação é mais utiliza-da, ou vericar a periodicidade que atores de nacionalida-de estrangeira aparecem em telenovelas brasileiras e quetipo de representação é mais frequente.

Podemos também vericar a disposição das maté-rias relacionada a um determinado político dentro de um

 jornal. Se as matérias sobre ele estão sempre na páginada direita, considerada a mais importante dentro do jor-nal; se ela vem na parte superior ou inferior da página; ou

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

se está próxima a um determinado tipo de matéria.A Análise de Conteúdo pode ser utilizada na pesquisa

impresso como no digital, sem perder a sua identidadecomo gênero, além de procurar analisar o modo como as

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A Análise de Conteúdo pode ser utilizada na pesquisade tirinhas na web, com o principal objetivo de mapear asproduções, que tipo de criação é mais frequente, a periodi-cidade da publicação, se há uma quantidade relevante derecursos multimidiáticos disponíveis, ou até a localizaçãoregional das produções e identicação dos criadores.

Descrição da Pesquisa

Foram selecionados 104 blogs, entre os meses de ou-tubro e novembro de 2011, que apresentavam tirinhas emsuas publicações. Sabemos que o universo de blogs que tra-zem tirinhas dentro do seu conteúdo é mais amplo do queeste número, mas objetivamos retirar uma amostra destas

publicações para realizar um levantamento fundamentado.Dentre os blogs foram selecionado aqueles que

apresentam ao menos postagens semanais e que apre-sentavam links para outros blogs. A partir das páginasmais conhecidas e mais acessadas, começamos então aseguir um caminho pelas conexões entre os blogs até queos links tenham se esgotado.

Desta forma, sabemos que alguns sites não foram

inseridos nesta pesquisa, mas a amostragem selecionada,escolhida por conveniência por apresentar os melhoresexemplos, apresentam representatividade suciente paraatender os nossos objetivos, que é realizar um estudo so-bre o desao das tirinhas em coexistir, tanto no suporte

como gênero, além de procurar analisar o modo como astirinhas estão sendo reconguradas nos suportes digitaise de que modo isto muda suas características; compre-ender como se dá a transformação do gênero a partir dassuas características essenciais; e identicar quais são asnovas representações do cotidiano em seu discurso.

Esta pesquisa apresentou até agora, como principalfonte de estudo, as novas tendências e discussões sobre asmídias digitais e o impacto do desenvolvimento deste meionas tirinhas, criando novas formas de ação e interpretaçãodeste gênero. Sendo assim, foi necessário uma pesquisaexploratória, denida segundo Mattar (2001) como ummapeamento do assunto, através do qual se estabelecem elevantam autores, obras e periódicos que abrangem a área

de Comunicação, Jornalismo, Cibercultura etc. No nossocaso, consistiu também em procurar tirinhas que possamapresentar uma reconguração deste gênero, com o obje-tivo de utilizá-las como corpus da pesquisa.

Este tipo de pesquisa, de caráter exploratório, pro-cura tornar o tema mais próximo e familiar ao pesquisadorpara que este possa entender os conceitos relacionadosaos fenômenos estudados, coletando dados diretamente

de material gráco e sonoro relativos com o tema escolhi-do, suas contribuições teóricas já existentes, importantena primeira etapa da pesquisa.

Assim, reunidas todas as informações, iniciamosa segunda fase, que consiste  na utilização da pesquisa

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

explicativa para analisar os processos de transformaçõesdeste gênero dentro dos blogs. Esta pesquisa explicativa,

Esta questão é essencial para as discussões sobre comoa reconguração do gênero tirinhas afeta este quadrinho

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deste gê e o de t o dos b ogs sta pesqu sa e p cat a,segundo Alves (2003) servirá para identicar os fatoresque o formam, suas causas e seus efeitos. Desta forma,podemos compreender de quer forma os recursos estuda-dos geram seus efeitos.

A análise do corpus  estudado, através dos pro-

cessos metodológicos utilizados, formará uma pesquisanão apenas de natureza quantitativa a partir do levan-tamento dos blogs que apresentam tirinhas em seu con-teúdo, mas também de natureza qualitativa que, comoarma Oliveira (2005), não emprega dados estatísticos,ou seja, numerar ou medir a reconguração das tirinhasnas mídias digitais, mas descreve a complexidade daquestão, expondo os desdobramentos importantes des-

sa pesquisa para a área, tentando explicar, em profun-didade, o signicado e as características do resultadodas informações obtidas.

Os estudos realizados por Thompson (2008), em re-lação ao desenvolvimento dos meios de comunicação eo seu impacto na sociedade, auxiliaram no processo decompreensão da transformação do gênero tirinha, inseri-do dentro dos Blogs; assim como as considerações reali-

zadas por McCloud (2006) e Franco (2004) sobre a rein-venção dos quadrinhos dentro das mídias digitais.

McLuhan (apud SANTAELLA, 2003) questiona sobrecomo o advento de uma nova mídia pode alterar as in-terações sociais e a formação da nossa estrutura social.

a eco gu ação do gê e o t as a eta este quad oem outros meios de comunicação e a nossa percepção emrelação a sua construção.

As considerações realizadas por Bakhtin (2000), emrelação à concepção de gênero, também estão inseridasdentro do estudo a partir do momento em que deparamo-

-nos com um grande número de gêneros que ainda estápara ser devidamente estudado, principalmente com a ins-tauração dos Meios de Comunicação de Massa que cria-ram uma aldeia global e um número crescentes de gênerosmidiáticos. O que buscamos neste estudo é desvincular oconceito de gênero apenas como construções de texto li-terário e atualizá-lo, conforme sugere Nicolau (2007), apartir da organização dos textos na mídia contemporânea.

Realizamos também um levantamento preliminar,com questões mais amplas e com um menor número deblogs. Este procedimento foi essencial na elaboração dopresente trabalho, pois norteou a construção de um ques-tionário mais claro e atendendo as reais necessidadesdesta pesquisa. Os dados do levantamento preliminar es-tão dispostos no apêndice.

Análise dos dados

A partir deste momento, analisamos os dados obti-dos na pesquisa. A lista dos blogs analisados, com o seuendereço, está disponível nos Apêndices deste trabalho,

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

assim como os dados brutos descritos em tabelas com onúmero e a porcentagem de cada item.

cidos pelos sites Wordpress, Blogger ou Blogspot.TIRINHAS E MÍDIAS DIGITAIS - VITOR NICOLAU 91

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p g

Tipo de Domínio e Hospedagem

Gráco 1: Tipo de Domínio e Hospedagem

O número de domínios particulares, ou seja, aque-les terminados em: .com, .com.br, .org, entre outros, ne-cessitam ser comprados e correspondem a 59% dos blo-gs analisados. Isso demonstra um investimento por partedos blogueiros, que registram os seus domínios.

Observamos também que 10% deles apresentamdomínios patrocinados, pagos por empresas que hospe-dam os sites em troca de acessos para os seus portais. Osgratuitos são aqueles em que os usuários não precisampagar pelo seu domínio e hospedagem, geralmente forne-

Formato da Página

Gráco 2: Formato da Página

O formato padrão das páginas é de blogs, somando95% das ocorrências. Para ser considerado, no formatode blog, a página precisa ter rolagem vertical, com aspublicações18 dispostas por dia. O formato de tira únicatambém foi percebido, mas com apenas 4% do total.

Formatos mais semelhantes aos sites, com publi-

cações não disponibilizadas na vertical e sem o caráterdiário, caracterizam apenas 1% das páginas analisadas,Nenhum deles apresentou características de um portal, ou

18 Conhecido na linguagem da internet como  posts, ou posta-gens.

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

seja, com conteúdos de diversas áreas em seu layout 19. Tipo de ProduçãoTIRINHAS E MÍDIAS DIGITAIS - VITOR NICOLAU 93

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Conteúdo da Página

Gráco 3: Conteúdo da Página

 Em relação ao conteúdo dos blogs analisados,

apenas 29% sobrevivem apenas com a publicação de

tirinhas. Estes, geralmente, são feitos por desenhistas

ou cartunistas que divulgam o seu trabalho. Poucos são

os blogs exclusivos de tirinhas que se sustentam, com

apenas este conteúdo; tendo 71% dos blogs publica-

ções mistas, que aliam as tirinhas com vídeos, textos,ilustrações, charges etc.

19 O termo Layout , ou no português leiaute, refere-se a diagra-mação e design da página, com a sua hierarquia de informação.

Gráco 4: Tipo de Produção

Cerca de 57% dos blogueiros são produtores de ti-rinhas, publicando produções inéditas em seu conteúdo.29% dos blogs mesclam entre tirinhas inéditas e já publi-cadas. Ao compararmos estes dois dados percebemos que86% deles são produtores culturais, divulgando conteúdoautoral, com as suas visões em relação ao cotidiano.

Apenas 14% destes blogs publicam tirinhas copia-

das de outros sites. Este dado pode ser relativo, pois mui-tos dos blogueiros não divulgam as suas fontes, nem in-formam se as suas tirinhas são copiadas ou traduzidas deoutras páginas.

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

Indica o tipo de produção Formato da produçãoTIRINHAS E MÍDIAS DIGITAIS - VITOR NICOLAU 95

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Gráco 5: Indica o tipo de produção

Observando o nome que os autores dão as suasproduções, percebemos que 56% as chamam de tiri-nhas e 8% a confundem com o conceito de quadrinho.Mas, 32% deles não informam qual o nome deste tipode produção e 4% deles dão outros nomes; dentre eles:webcomics, desenho e imagens.

Gráco 6: Formato da produção

O formato da tirinha mais comum é o de leituravertical, com 42% dos blogs optando por apenas esteestilo de publicação. A diagramação na vertical facilita aleitura nos blogs, mas inuencia diretamente na sua vi-sualização, já que parte dela encontra-se oculta, comono exemplo abaixo.

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

 As tirinhas com formato clássico, na horizontal

correspondem a apenas 27% das publicações. Contudo,

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Figura 17: Tirinha com diagramação na verticalFonte: http://capinaremos.com/les/2011/11/renato.gif 

as produções com formato diferenciado chegam a com-

por 31% do total. Este formato tanto apresenta qua-

dros na horizontal, quanto na vertical, parecidos com as

composições divulgadas no jornal nas sunday pages20.

Elas variam de tamanho, tendo geralmente quatro qua-

dros, como apresentado abaixo.

20 Páginas de domingo, que geralmente apresentam compo-sições com formatos diferenciados e mais quadrinhos que onormal.

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Periodicidade da publicaçãoTIRINHAS E MÍDIAS DIGITAIS - VITOR NICOLAU 99

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Figura 18: Tirinha em formato diferenciado da sua deniçãoFonte: http://capinaremos.com/les/2011/11/suspense.jpg

Gráco 7: Periodicidade da publicação

A periodicidade da publicação nesta pesquisa diz res-peito apenas às tirinhas, não levando em conta as outraspostagens nos blogs. Estas têm mais comumente padrãoindenido, com 44% dos blogs. Aqui vale a pena ressaltarque 42% dos blogs publicam ao menos uma tirinha pordia. Nestes casos, a publicação se mantém semelhante àsdos jornais que tinham publicações diárias e exigiam dosseus produtores criações constantes.

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

Estilo da produção de cenas de lmes e seriados, e aproveitadas para a ela-boração das tirinhas.

O d d d i

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Gráco 8: Estilo da produção

 Quanto ao estilo da produção, ainda predomina,com 56% de ocorrência, a produção de tirinhas apenascom desenhos. Estes são produzidos utilizando diversosmétodos e softwares diferentes, incluindo mesas digitali-zadoras que imitam uma folha de papel e transferem osmovimentos do lápis para o computador.

 Neste gráco, podemos observar que 41% do total das tirinhas  incorporam imagens digitais as suas produ-

ções, somando com aquelas que apresentam imagens di-gitais e desenhos. Estas imagens, conhecidas como me-mes21, são copiadas de outras produções, ou printscreen 

21 A expressão memes signica, como arma Brodie (2009),uma unidade básica de transmissão ou imitação cultural , que

 O uso de memes tem se tornado cada vez mais co-mum nos blogs que publicam tirinhas em seu conteúdo.Elas são oportunos para observarmos como a inteligênciacoletiva22  construída dentro da blogosfera - a partir docompartilhamento de elementos simples, que torna aces-

sível à criação de uma tirinha -, utilizando apenas o recur-so de copiar e colar (ctrl+c e ctrl+v).

se constrói a partir de uma unidade especíca e memorável, sepropagando como um vírus (vírus da mente), que contaminaas pessoas e inuenciam o seu comportamento de modo queelas ajudem a perpetuá-lo e disseminá-lo.22 A inteligência coletiva, segundo Lévy (2000), pode ser com-preendida como uma inteligência compartilhada por todos e emdiversos lugares, buscando o reconhecimento e enriquecimen-to mútuo das pessoas. Ela nasce através do compartilhamentode ideias, formando uma rede de comunicação e inteligênciaque abrange todos os conhecimentos criados e adquiridos deforma individual e apresentados em um espaço comum.

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

 A tirinha apresenta desenhos que são copiados deoutras produções na internet. Diversos blogs comparti-lh t i it d d h i

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Figura 19: tirinha que utiliza memes em sua composiçãoFonte: http://assets.naointendo.com.br/ckeditor_assets/pictures/4e

d7bb62494aa14e8200000c/Micro.jpg

lham estas imagens, aproveitando o desenho para criarnovas histórias. Elas também apresentam imagens copia-das de outros sites e portais, editadas para ajudar no en-tendimento da tirinha.

Algumas das tirinhas digitais só fazem real senti-

do caso o usuário conheça alguns destes memes. Semo conhecimento prévio, adquirido principalmente com oacesso diário aos blogs, algumas tirinhas perdem o seucaráter humorístico e a mensagem transmitida por ela caparcialmente prejudicada.

Personagens utilizados

Gráco 9: personagens utilizados

 Os personagens utilizados nas tirinhas tendem a

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ser variados, com 77% dos blogs sem apresentar per-

sonagens xos. Esta variação dar-se-á principalmente

l d d tilh d

nenhum recurso, sendo tirinhas desenhadas à mão livre,

idênticas às produções dos jornais e revistas.

C i t t ti i h i d ã

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pelo uso dos memes e de personagens compartilhados

por blogueiros, que se preocupam apenas com a ideia

da tirinha e não com a composição técnica e artística da

mesma.

Recursos Multimidiáticos (questão de múltipla escolha)

Gráco 10: Recursos Multimidiáticos (questão de múltipla escolha)

 Ao observarmos as tirinhas digitais que apresen-

tam recursos multimiáticos, percebendo que elas podempossuir mais de um recurso, constatamos que os recur-

sos disponíveis na hipermídia ainda são pouco explora-

dos nos blogs. 41 deles utilizam as fotos digitais e os me-

mes, 23 hiperlinks, 5 animação, mas 51 não apresentam

 Com isso, constatamos que a tirinha ainda não so-

fre uma grande mudança em relação aos recursos mul-

timiáticos, mantendo-se iguais às tirinhas impressas. As

produções digitais estão se adaptando a este novo meio

e é comum aparecer algumas inovações, mas estas não

costumam se rmar, tendo em vista o sistema centenáriode produção e veiculação de tirinhas.

 O mesmo pode ser constatado em relação aos qua-

drinhos que, mesmo com algumas histórias completa-

mente adaptadas à hipermídia, o seu número, em com-

paração com as composições que seguem o formato do

impresso, é bastante inferior.

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Forma do Texto nos Balões Opção de contato com os envolvidos na criação

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Gráco 11: Forma do Texto nos Balões

Quanto ao texto escrito nos balões, 93% delesapresentam o português em sua escrita, mesmo aqueles

em blogs em que predomina o “internetês”. Este termo

refere-se à escrita adaptada à linguagem na web, com

abreviações e emoticons23. As tirinhas sem texto apare-

cem com pouca frequência, principalmente devido ao uso

de memes que necessitam de uma contextualização.

23 Desenhos escritos a partir de símbolos e palavras, como umsorriso: =), ou um beijo: =*

Gráco 12: Opção de contato com os envolvidos na criação

 A maioria dos blogueiros, cerca de 90%, expõe oseu e-mail para contato. Aqueles que não apresentam esta

opção, geralmente são cartunistas famosos e consagrados

que não utilizam os blogs como forma de aparecer no mer-

cado. A facilidade de criar e excluir um e-mail também pos-

sibilita que a grande maioria disponibilize um contato.

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Opção de comentário da produção Links para redes sociais (questão de múltipla escolha)

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Gráco 13: Opção de comentário da produção

 

Uma das principais características dos blogs é per-mitir o comentário das postagens por parte dos leitores.Nos blogs que apresentam tirinhas em seu conteúdo estaopção é mantida, com ocorrência em 95% deles.

Ao abrir a sua publicação para comentários, o dese-nhista expõe a sua obra a diversas críticas e sugestões,listadas em seu próprio blog. Assim, ele possui um retor-no quase que imediato de suas criações e sem um ltro,tendo em vista a facilidade e o anonimato em fazer estetipo de comentário.

Alguns espaços para comentários viram verdadei-ros fóruns de debates em relação à temática das tirinhas.Quanto mais polêmica a publicação for, mais comentáriosela ganha.

Gráco 14: Links para redes sociais (questão de múltipla escolha)

Apenas 15 blogs não apresentaram nenhum linkpara as principais redes sociais. Já o Twitter representa amaioria das ocorrências, com 83 dos 104 blogs apresen-tando links para as contas pessoais dos seus produtores.Este microblog24 é a principal forma de divulgação de suaprodução e conta, muitas vezes, com mais seguidores doque com acessos ao próprio blog.

Podemos perceber também que o Facebook supera

em 48 ocorrências o número de links para o Orkut. Atémesmo o Google +, que é uma rede social de criação

24 O Twitter recebe a denição de microblog por apresentar ca-racterísticas semelhantes aos blogs, mas comportar postagensde apenas 140 caracteres.

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

recente apresenta 3 ocorrências a mais que ele. O cres-cimento do número do Facebook dar-se-á principalmentepelo fato deste integrar um modo de publicação que favo-

citários apresentados no corpo do blog. Tanto que estespreferem divulgar mensagens publicitárias no espaço dis-ponível para o conteúdo, com postagens patrocinadas.

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pelo fato deste integrar um modo de publicação que favorece a postagem de tirinhas no perl do blogueiro.

 RSS/FEED

Gráco 15: RSS/FEED

A opção de receber as postagens dos blogs por e--mail, conhecido pelo recurso RSS/FEED ocorre em 66%do corpus. Esta opção não é completamente adotada pe-

los blogueiros por muitas vezes não funcionar correta-mente, principalmente em sites gratuitos ou servidorespagos, que não permitem o envio.

O sistema RSS/FEED também reduz o acesso aoblog e, consequentemente, a exposição a anúncios publi-

ponível para o conteúdo, com postagens patrocinadas.

 Links para outros Blogs (Parceiros)

Gráco 16: Links para outros Blogs (Parceiros):

Os links disponibilizados para blogs conhecidoscomo parceiros é ocorrência em 82% das páginas anali-sadas. O sistema de parceria incentiva o acesso aos blo-gs de conteúdo próximo ou complementar, assim como o

compartilhamento de conteúdo.As parcerias criam o que o blogueiros chama da blo-gosfera brasileira, tendo em vista que alguns destes sitesdivulgam mais de 20 blogs diferentes. Os parceiros, muitasvezes só se conhecem no ambiente virtual, mas brincam

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

uns com os outros com grande intimidade, tendo em vistao tipo de perl do blog e das postagens contidas neles.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

As tirinhas são um gênero jornalístico opinativo con-solidado dentro das páginas de jornal e revistas, princi-palmente devido ao seu caráter crítico e metafórico. Como surgimento das novas tecnologias, não só a tirinha,mas diversos outros gêneros tiveram que se adaptar paraacompanhar a rápida evolução das mídias digitais, encon-trando formas de produção e veiculação diferenciadas.

Durante quase um século, como vimos neste estu-

do, as tirinhas eram presença exclusiva dentro dos jornaise revistas, com publicações diárias em seu formato clássi-co e ampliadas nas páginas de domingo. Mas, esta hege-monia vem se modicando, qpermitindo levar as tirinhaspara a web, com espaço certo para veiculação, principal-mente dentro dos blogs.

 A convergência está longe de um m. Cada dia,surgem novas formas de se comunicar na web, com no-vos níveis de interação e modelos de negócios, com osconsumidores cada vez menos passivos e extremamen-te barulhentos, exigindo a sua participação nesta culturada convergência. Como Jenkins (2008) dene, chegamosà era dos usuários, com produtores culturais cada vez

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

mais descentralizados em relação aos grandes meios decomunicação, interessados não apenas em assistir, masem participar e compartilhar. Uma verdadeira mudança no

nhos e das mídias digitais.Contudo, a nomenclatura mais comum deste gênero

dentro dos blogs ainda é o de tirinhas e acredito que di-

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p p p çmodo como consumimos os meios de comunicação.

 As possibilidades apresentadas pelas tecnologiasatuais estão reduzindo o custo de produção e de distribui-ção, possibilitando que novos produtores surjam, procu-

rando uma melhor forma de expor suas ideias. E com aprodução ao alcance de todos, quem é que não vai quererproduzir também? O que ocorre na atualidade é uma va-lorização das boas ideias, possibilitando que estruturassimples, mas bastante criativas, tenham sucesso dentroda internet. As tirinhas e os seus produtores estão seaproveitando muito bem das possibilidades proporciona-das por estas novas tecnologias e se rmando como uma

forma de expressão típica das mídias digitais.O teor crítico e metafórico das tirinhas não está per-dendo espaço com estas novas produções. Elas não dei-xaram de ser uma representação do cotidiano e são con-sideradas, assim como produtos midiáticos, uma forma dedemocratizar a comunicação e exercer o direito de livreexpressão.

A nomenclatura de “tirinhas digitais”, para aquelasproduzidas exclusivamente para a web, e “tirinhas onli-ne”, para aquelas produzidas no papel e publicadas nainternet, ainda é um batismo provisório e um estudo maisaprofundado sobre este gênero secundário das tirinhas éconsiderado de suma importância nos estudos dos quadri-

g qcilmente uma nova nomenclatura irá surgir. O que propo-mos aqui é uma diferenciação de gênero, tendo em vistaas características diferentes, se comparamos a publicaçãodo meio impresso com o digital.

Ao observarmos o levantamento realizado em 104blogs, percebemos que o número daqueles com produçãode tirinhas tem crescido nos últimos anos, acompanhandoo próprio crescimento da blogosfera. Neste levantamento,percebemos o quanto estas produções são diversicadas,descentralizados e com muitos aspectos pertinentes dainternet ainda para serem explorados.

O baixo número de recursos multimidiáticos talvez

seja o dado que mais chame atenção neste levantamentopreliminar, já que a interatividade, a animação e outros re-cursos são características que fazem das produções veicula-das na internet diferentes dos originais publicados em papel.

O uso dos mêmes tem modicado o processo decriação das tirinhas. Os seus personagens agora são com-partilhados entre os blogueiros, que aproveitam o dese-nho para criar novas histórias, que dependem muito dasua contextualização. Para usuários desavisados, algumastirinhas digitais não fazem o menor sentido, tendo emvista a necessidade que ela possui de um conhecimentoprévio em relação aos mêmes.

A produção de tirinhas não está mais privilegiada

Capa   Sumá r i o   e L i v r e   Au t o r   R e f e r ên c i a s

nas mãos de poucos. As ferramentas de criação e veicula-ção das tirinhas proporcionam ao usuário criar uma formade arte sequencial sem precisar saber desenhar ou domi-

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nar os programas complexos de edição de imagem. Bastaapenas que se tenha uma boa ideia.

O processo de criação na web tornou-se mais diver-tido e signicativo. Estamos descobrindo novas estruturas

de narrativas, aproveitando as lacunas deixadas pela in-dústria de produção de conteúdo. A internet é um lugar deexperimentação e inovação, um espaço criado pelos pró-prios usuários e as tirinhas são o exemplo dessas novaspossibilidades de criação e veiculação nas mídias digitais.

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TIRINHAS E MÍDIAS DIGITAIS - VITOR NICOLAU

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Page 60: Vitor Nicolau - Tirinhas e Mídias Digitais

7/18/2019 Vitor Nicolau - Tirinhas e Mídias Digitais

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O AUTOR 

Vítor Nicolau é um apaixonado por tirinhas e quadri-

nhos, tanto que decidiu ser mestre em Comunicação peloPrograma de Pós-Graduação em Comunicação da UFPB(2011) estudando este gênero em conjunto com outrapaixão: as mídias digitais. Vitor é graduado em Comu-nicação Social: Jornalismo pela Universidade Federal daParaíba (2008) e em Comunicação Social: Publicidade ePropaganda pelo Instituto de Educação Superior da Paraí-ba (2008), concentrando a sua atuação nas áreas de Ima-

gens Digitais, Semiótica e Metáforas, aplicando os seusestudos em trabalhos voltados para a Comunicação e De-sign, com ênfase em Jornalismo, Editoração, Publicidade& Propaganda e Fotograa.

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