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Edifício Projeto inovador se insere no conjunto de obras arrojadas que modificou a região portuária do Rio de Janeiro Vista Guanabara Publicação da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural Edição 3 | ano 1 | abril de 2017 | R$ 15,90 ENTREVISTA Hugo Corres, novo presidente da fib, detalha seus planos NOSSO CRAQUE Professor Péricles Fusco relembra sua trajetória profissional

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Edifício

Projeto inovador se insere no conjunto de obras arrojadas que modificou a região portuária do Rio de Janeiro

Vista Guanabara

Publicação da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural

Edição 3 | ano 1 | abril de 2017 | R$ 15,90

ENTREVISTAHugo Corres, novo presidente da fib, detalha seus planos

NOSSO CRAQUEProfessor Péricles Fusco relembra sua trajetória profissional

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PROJETO ESTRUTURAL ARROJADO E SOLUÇÕES OUSADAS

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EDIFÍCIO VISTA

GUANABARA

EXPEDIENTE

ÍNDICE

A Revista Estrutura é uma publicação da ABECE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENGE-NHARIA E CONSULTORIA ESTRUTURAL, dirigida aos escritórios de engenharia e enge-nheiros projetistas, construtoras, arquitetos e demais profissionais do setor.

PRESIDENTE: Jefferson Dias de Souza JuniorVICE-PRESIDENTE DE RELACIONAMENTO: João Alberto de Abreu VendraminiVICE-PRESIDENTE DE TECNOLOGIA E QUALIDADE: Enio Canavello BarbosaVICE-PRESIDENTE DE MARKETING: José Luiz V.C. VarelaDIRETOR ADMINISTRATIVO FINANCEIRO: Roberto Dias LemeDIRETORA DE NORMAS TÉCNICAS: Suely Bacchereti BuenoDIRETOR DE METÁLICAS: Tomás VieiraDIRETOR DE PONTES E ESTRUTURAS: João Luis CasagrandeDIRETOR DE PRÉ-MOLDADOS: Fabricio TomoDIRETORES: Claudio Adler, José Martins Laginha Neto, Leonardo Braga Passos, Luiz

Aurélio Fortes da Silva, Ricardo Borges Kerr, Thomas Carmona, Túlio Nogueira BittencourtSECRETARIA GERAL: Elaine C. M. SilvaCOMITÊ EDITORIAL: Alexandre Duarte Gusmão, Antonio Laranjeiras, Augusto C. Vasconcelos, Augusto G. Pedreira de Freitas, Carlos Britez, Cesar Pinto, Daniel Domingues Loriggio, Eduardo Barros Millen, Guilherme A. Parsekian, Inês L. S. Battagin, Joaquim Mota, José Celso da Cunha, Leonardo Braga Passos, Márcio Roberto Silva Correa, Mario Cepollina, Milton Golombek, Nelson Covas, Ricardo Leopoldo e Silva França, Selmo C. Kuperman, Sergio Hampshire, Valdir Pignatta e Silva. EDIÇÃO: Mecânica de Comunicaçãowww.meccanica.com.brJORNALISTA RESPONSÁVEL: Enio Campoi – MTB 19.194

REDAÇÃO: Lázaro Evair de Souza, Sylvia Mie PRODUÇÃO GRÁFICA: MGDesignwww.mgdesign.art.brDIAGRAMAÇÃO: Alcibiades GodoyPUBLICIDADE: ABECEAv. Brigadeiro Faria Lima, 1.993 - cj. 61 - CEP: 01452-001 - São Paulo/SP [email protected] Tel.: (11) 3938-9400IMPRESSÃO: Editora Gráfica NywgrafTIRAGEM: 6.000

ÍNDICE | REVISTA ESTRUTURA

04 | EDITORIALENGENHARIA BRASILEIRA: UMA NOVA ERA

05 | PALAVRA DO PRESIDENTEMOMENTO EXIGE SUPERAÇÃO

06 | ENTREVISTAPRESIDENTE DA FIB CONCLAMA A UM CONSTANTE RENOVAR DO CONHECIMENTO

11 | NOSSO CRAQUENASCIDO PARA SER ENGENHEIRO

14 | VALORIZAÇÃO PROFISSIONALESTÃO OS CONSTRUTORES MATANDO SUA GALINHA DOS OVOS DE OURO?

17 | ESTRUTURA EM DESTAQUEEDIFÍCIO VISTA GUANABARA

22 | CASE INTERNACIONALLUANDA TOWERS: 3 TORRES E MUITAS HISTÓRIAS

28 | ESTRUTURAS METÁLICASESTRUTURAS METÁLICAS E DE VIDRO: UMA ABORDAGEM NO CONCEITO BIM

34 | ARTIGO TÉCNICO COLAPSO DE PONTE SOBRE O RIO MISSISSIPI

38 | ARTIGO RETRÔTECNOLOGIA DE RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS

43 | NOTAS E EVENTOS46 | O QUE ELES QUEREM DE NÓSCARACTERÍSTICA DE UM ENGENHEIRO DE ESTRUTURAS DE SUCESSO

49 | NORMAS TÉCNICASREVISÃO DA ABNT NBR 6122:2010 PROJETO E EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES

52 | APRENDENDO COM O ERROESQUECERAM A SUBPRESSÃO!

54 | MUSEU DO PROJETOEDIFÍCIO SAN SIRO

56 | INDUSTRIALIZAÇÃOAMPLIAÇÃO DE GARAGEM DO GALEÃO: SOLUÇÃO COM BUBBLEDECK E PRÉ-FABRICADO

62 | ESPAÇO ABERTOCONSTRUÇÃO EM AÇO

63 | ESPAÇO BIMBIM BEM FEITO

66 | INOVAÇÃODESAFIOS TECNOLÓGICOS DO PRÉDIO MAIS ESBELTO DE NEW YORK

69 | BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVASLAJES NERVURADAS

72 | BOAS PRÁTICAS DE PROJETOPATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA SOB LAJES DE COBERTURA DE EDIFÍCIOS

77 | AGENDACALENDÁRIO DE CURSOS

78 | JOGO DE SETE ERROSDETECTE AS FALHAS

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receber a revista.

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017

va” naquela situação que nem mesmo apertando as teclas “ctrl+alt+del” ele não funciona. A primeira situação podemos comparar com a que estamos vivendo, onde o país encontra-se “infectado” a décadas por atos ilícitos de instituições e pessoas. Para eliminar estes vírus, precisamos utilizar antivírus que, no caso brasileiro, podemos citar como exemplo a Polícia Federal que, juntamente com o judiciá-rio, está tratando e banindo gradativa-mente os vírus que tanto mal fazem para a população. Já o segundo problema, quando ocor-re em computadores, a única forma de saná-lo é apertando a tecla de “restart ”, mas como podemos tratá-lo se compa-

EDITORIAL

04

Quando recebi o convite para escrever este editorial fiquei muito lisonjeado, mas ao mesmo tempo temeroso e me

veio à mente aquela pergunta: “Sobre qual tema irei ortografar? ”, pois bem, surgiu-me, de imediato, a idéia de gra-far sobre a atual situação em que nosso país, juntamente com a profissão a qual optei para atuar, A ENGENHARIA, en-contram-se atualmente.Para iniciar minhas palavras retornemos ao ano de 2013. Neste ano, iniciou-se a chamada “Operação Lava Jato” e, em 2014, os primeiros mandados de pri-são, busca e apreensão foram emitidos para executivos de renomadas empre-sas de engenharia, na época, suposta-mente envolvidas no maior esquema de corrupção identificado nesta nação e justamente em um período em que o país se encontrava fragilizado pela crise econômica. Desde então, a sensação que temos é que nossa nação, nosso lar, se encontra envolvido por uma nuvem negra, onde, a cada dia, surgem raios e trovões dis-parados progressivamente sobre nós: Impeachment, construção civil em de-clínio, alta da inflação, demissões em crescimento acentuado, prisões de em-presários do alto escalão e de políticos considerados antes como “intocáveis”.Entretanto, meu intuito não é desani-má-los e sim, expor meu ponto de vista sobre os acontecimentos ocorridos nos últimos anos no Brasil. Gostaria de fazer uma breve reflexão: suponhamos que o Brasil é um computador, ok? Compu-tadores apresentam problemas em sua utilização, mas gostaria de citar em es-pecial dois deles: o primeiro refere-se a hipótese em que está infectado por malwares; e o segundo, quando ele “tra-

ENGENHARIA BRASILEIRA: UMA NOVA ERA

rarmos ao nosso país? Seria extraor-dinário se tivéssemos uma tecla como esta, onde precisaríamos apenas aper-tá-la e, em questão de segundos, tudo regressaria à normalidade, mas infeliz-mente ela não existe. E então, como de-vemos proceder? Na minha opinião, este dispositivo já foi apertado, pois nunca na história desta nação tantos políticos e empresários foram presos e verbas provenientes de corrupção foram devolvidas aos cofres públicos. A população passou a intera-gir e cobrar mais de seus governantes. Entretanto, temos consciência de que a retomada a um Brasil melhor será a longo prazo, mas o restart já foi dado e estamos no rumo certo para a melhoria do país. Precisamos direcionar nossos esforços na educação das novas gerações, preci-samos reestabelecer nossos conceitos sobre o que é certo e o que é errado, sobre honestidade, cumplicidade, ami-zade e ajuda ao próximo. Não podemos abandonar os valores e bons ensina-mentos que nos foram repassados pe-las gerações anteriores devido a maus exemplos de pessoas de má índole que, com certeza, representam uma minoria em nosso país. Para finalizar, vocês devem estar se per-guntando: O que tem a ver o título “EN-GENHARIA BRASILEIRA – UMA NOVA ERA” com o exposto neste texto? Esta, é fácil de responder. Sem a melhoria das condições atuais de nosso país, econô-mica e principalmente de valores como ética e honestidade, a engenharia não irá crescer e o inverso também é válido, sem engenharia nenhum país se desen-volve, por isso, a nova era que iniciamos no país, será também, a NOVA ERA DA ENGENHARIA.

LEONARDO BRAGA PASSOS, DIRETOR DA ABECE

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PALAVRA DO PRESIDENTE | JEFFERSON DIAS DE SOUZA JÚNIOR

É longa minha atuação na área da cons-trução civil, mais especificamente, na engenharia estrutural. Agora, na con-dição de atual presidente da ABECE,

espero contribuir para unir os elos da cadeia produtiva.Estamos vivenciando um período de sobre-vivência, tendo em vista a situação política e econômica do país com a qual nos defron-tamos. Nesse contexto, temos que, neces-sariamente, nos adequarmos, inovarmos, além de nos unirmos em prol do desenvolvi-mento e do crescimento do setor, nos preo-cupando ainda mais com os custos finais das obras, uma vez que impactam diretamente nos resultados almejados por nossos con-tratantes, quer sejam eles incorporadores imobiliários, investidores ou empresários.Somos todos parceiros: • construtoras• incorporadoras e investidores• projetistasJuntos precisamos vencer esta etapa dura, porém necessária, para a superação. Quando digo projetistas, estou me referindo aos profissionais que atuam nas áreas de:• Arquitetura• Estrutura• Fundações• Instalações• Paisagismo• Infraestrutura, etc...Nós, e os projetistas das demais áreas, te-mos que, literalmente, “tirar da manga” car-tas com as soluções mais adequadas para cada caso. Certamente é um grande desafio, levando em conta:• Localização da obra • Localização dos contratantes• Partido definido pela Arquitetura• Técnicas disponíveis • Cultura e expertise da contratante• Qualidade e disponibilidade da mão de

obra local

MOMENTO EXIGE SUPERAÇÃO

Em função das dimensões continentais de nosso país, internamente, temos culturas e conhecimentos diferentes, o que eu cha-maria de “cultura regionalizada”, que muito influencia na tomada de decisões.Será que uma solução considerada ideal para uma região pode não ser adequada para outra? Sim, não há dúvidas quanto a isso.Cabe a nós, profissionais do projeto, nos in-tegrarmos e nos inteirarmos sobre as técni-cas disponíveis, inovações e considerarmos, com olhar crítico, as soluções viáveis a serem apresentadas ao nosso cliente, consideran-do todas as variáveis. Temos que saber propor alternativas para obtermos o melhor custo/benefício para cada obra/projeto, contribuindo, desta for-ma, como parceiros que somos, para o aten-dimento da viabilidade financeira e da quali-dade final esperadas.

Quanto à estrutura, poderemos imaginar que possa ser convencional, paredes de concreto, pré-moldada, concreto protendi-do, metálica, alvenaria, lajes nervuradas...Para isso, temos que participar do nasci-mento do projeto, tentando, desde o início, harmonizar a solução estrutural adequada para cada arquitetura concebida. Ainda nos dias de hoje, convivemos com construtoras de pequeno e médio porte nos consultando quando já têm um produto absolutamente definido. Concebem uma obra sem ao me-nos realizar uma sondagem para se avaliar o custo de um 2º, 3º ou 4º subsolos, do impac-to dos vizinhos/divisa, da interferência do lançamento dos pilares nas garagens, sendo que inúmero deles e sua distribuição estão relacionados à solução adotada.Sei que, para muitos, estou falando o óbvio, mas, como frisei, o Brasil tem dimensões continentais, e o que pode parecer evidente em uma região, pode muito bem não sê-lo em outra...Por isso, cabe a nós um importante desafio:• Unirmo-nos em prol da geração de obras

projetadas com segurança, concebidas com soluções construtivas mais adequa-das, melhor custo/benefício, levando em conta:o As diversas Normas vigenteso A qualidade e o conforto que o usuário

final exigeo Tudo com custos reduzidos ao máximo

para o nosso contratante que atravessa fase crítica em nossa área.

Para que a as parcerias sejam efetivas e con-tinuem em constante evolução, os projetis-tas de estrutura, assim como os demais par-ceiros de projetos, deveriam estar presentes e integrados, não apenas na concepção e no desenvolvimento dos projetos, mas, na me-dida do possível, durante todo o processo produtivo no decorrer da obra.Mas isso já é assunto para outro dia...

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ENTREVISTA | HUGO CORRES PEIRETTI

PRESIDENTE DA FIB CONCLAMA A UM CONSTANTE RENOVAR DO CONHECIMENTOO ENGENHEIRO HUGO CORRES ENFATIZA A NECESSIDADE DE MELHOR INTEGRAÇÃO ENTRE PROJETISTAS, CONSTRUTORES E ACADÊMICOS PARA O PLENO DESENVOLVIMENTO DA ENGENHARIA. A SEU VER, É DIFÍCIL FORMAR ENGENHEIROS NA UNIVERSIDADE, POIS A PROFISSÃO SE APRENDE COM EXPERIÊNCIA

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 2017

Reconhecido mundialmente como um dos mais conceituados proje-tistas de estrutura da atualidade, o engenheiro espanhol Hugo Cor-

res Peiretti tem participado ativamente da concepção e execução de grandes obras em diversas regiões do planeta. Exemplos não faltam: assinou ou coordenou, por meio do CORRES, escritório de projeto e consultoria que fundou e preside desde 1979, projetos como o do Terminal 4 do Aeroporto de Barajas; do Auditório de Tenerife; viadutos ferroviários para o TAV (Trem de Alta Velocidade) da Espanha, en-tre outros, incluindo obras que levaram a assinatura de consagrados arquitetos como Santiago Calatrava, Renzo Piano, Zaha Hadid, Norman Foster e Jean Nouvel.

Bastante atuante também na esfera aca-dêmica, pois é professor da Universida-de Politécnica de Madri, Corres mantem proximidade com instituições que atuam no estudo e estímulo à engenharia. Em função disso, está sempre percorrendo o mundo proferindo palestras, com cons-tantes passagens também pelo Brasil a convite de entidades como a ABECE, AB-CIC e IBRACON, onde aliás também par-ticipou da elaboração do projeto para a construção da Arena Corinthians. A todas essas atividades, ele acumulou mais uma, pois acaba de assumir a presidência da fib (Federação Internacional do Concre-to), a mais importante entidade técnica do concreto no mundo. Na entrevista a seguir, Corres fala de seus planos à frente da instituição e de sua avaliação sobre a necessidade de um permanente renovar do conhecimento sobre engenharia:

ABECE – Quais serão suas prioridades e seus planos em sua gestão na fib?Hugo Corres – A fib inicia minha presi-dência em um estado muito bom e com projetos importantes que vamos realizar. O novo Model Code 2020 é, sem dúvida, um projeto importantíssimo que temos em mãos. Acho que, não obstante, há lugar para novos objetivos que podem melhorar nossa organização. Nesse sen-tido, eu me proponho a tentar uma maior integração de todas as contribuições que fazemos e, portanto, possivelmente um melhor desenvolvimento e a difusão de todos os resultados científicos e técnicos que são produzidos pela fib, que é uma associação internacional, aspecto que se

tornou mais visível nos últimos anos. Com a elaboração do novo Model Code 2020, foram dados passos importantes no sentido de propiciar a participação inter-nacional. Países de todos os continentes pertencem à fib. Em todos os órgãos de governo participam membros de distin-tos países. No Presidium, por exemplo, temos um membro eleito do Brasil, que é

Iria Doniak, presidente executiva da Abcic. Em todos os órgãos de produção técnica, a presença de membros de todos os con-tinentes é um fato. É necessário fortalecer essa faceta da fib. Os diversos agentes do mundo do con-creto estrutural atuam sem uma grande integração. Os construtores, projetistas, acadêmicos e pesquisadores têm uma comunicação inadequada. Inclusive den-tro do mundo acadêmico, os especialis-tas nas distintas disciplinas não estão conectados, não têm um léxico comum. Isso não ajuda no desenvolvimento do concreto estrutural. Não se pode avan-çar sem que os novos conhecimentos se-jam conhecidos e, também, que possam ser interpretados adequadamente pelos agentes que têm a missão de utilizá-los tanto nos projetos como na construção. É necessário mudar essa tendência. É pre-ciso integrar diversos agentes em comis-sões e grupos de trabalho liderados por especialistas, mas acompanhados por membros de outros setores. A fib foi integrando, ao longo de sua histó-ria, as novas gerações, geralmente a par-

tir de membros ativos que se aproxima-vam de novos integrantes. Sempre houve mudança de geração. Em todo caso, a nova dinâmica do mundo moderno exige uma reflexão sobre esse tema para revi-sar a integração dos jovens e para garan-tir a reposição de gerações, assegurando a manutenção da produção excepcional que a fib sempre teve.

ABECE – Quais são as diretrizes para a fib nos próximos anos?Hugo Corres – As diretrizes da fib são sempre as mesmas, definidas na missão da organização: desenvolver, em nível internacional, estudo de matérias cientí-ficas e práticas, capazes de avançar o de-sempenho técnico, econômico, estético e ambiental da construção em concreto. O que evolui são as estratégias para fazer com que esses objetivos tornem-se rea-lidade. Além disso, cada presidente, em função de sua experiência e especializa-ção, deve deixar seu legado específico, transformando mais aqueles aspectos que lhes são mais próximos e familiares.

ABECE – Qual é sua opinião sobre a participação dos representantes do Brasil na fib?Hugo Corres – Desde sua fundação, nos anos 1950, quando foram criados o CEB e a FIP, a fib foi considerada como uma fede-ração internacional de países, representa-dos por suas respectivas associações ou instituições vinculadas, de uma forma ou de outra, ao concreto estrutural. Embora

Não se pode avançar sem que novos conhecimentos sejam interpretados e possam ser utilizados nos projetos

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existam diferentes tipos de sócios, os só-cios estatutários, ou seja, os países repre-sentados por suas associações locais são realmente os que têm o protagonismo em nossa associação. Essa estrutura, que é única nesse tipo de instituições, e é inspi-rada no principio de que os que conhecem os problemas locais são as associações lo-cais e, além disso, são as que conhecem sua gente para poder propiciar a partici-pação nos trabalhos técnicos da associa-ção de pessoas mais preparadas de cada estado membro. Portanto, o papel dos países, das associações que representam o Brasil, ou seja, ABECE e ABCIC, é funda-mental. A participação do Brasil é muito ativa. Sua contribuição é muito generosa e importantíssima para a fib. As associa-ções brasileiras locais, ao que me consta, servem de caixa de ressonância ativa de tudo que acontece na fib. Por sua vez seus representantes participam ativamente em diferentes foros para transmitir os aspec-tos que preocupam o país dentro da fib e também exercem a responsabilidade de identificar os melhores especialistas para que contribuam, junto com outros colegas internacionais, para o desenvolvimento do concreto estrutural.

ABECE – Qual é a contribuição que o gru-po brasileiro, liderado pelo engenheiro Fernando Stucchi, traz para a fib?Hugo Corres – O professor Stucchi junto com Iria Doniak, tem sido os represen-tantes do Brasil na fib. Ambos estão cum-prindo um papel importantíssimo e es-tão contribuindo de forma substancial. O professor Stucchi, além de participar, a tí-tulo individual, em diferentes TG, faz par-te do TG 6.5 pontes pré-fabricadas, que eu mesmo dirijo, por exemplo. Ele teve uma participação relevante no último Model Code 2010, onde foi o porta-voz do trabalho de um grupo de engenheiros brasileiros que analisaram e comentaram o documento antes de sua publicação e permitiram a introdução de correções e melhorias. Espero que esse documento, de grande qualidade científica e técnica, possa contribuir ainda mais para o país. Além disso, ele participa na TG10.1, onde se elabora o novo Model Code 2020. Iria Doniak, participa ativamente na Comis-são 6 de Pré-fabricação e propiciou a integração da industrialização com a en-genharia estrutural. Gerenciou brilhante-mente a relação fib-Brasil no campo da

pré-fabricação. Além disso, foi membro convidada do Presídium, o órgão de ges-tão da fib, e recentemente foi eleita pela assembleia geral por mais quatro anos nessa função. Sua contribuição também

neste importante fórum de decisões é muito apreciada.

ABECE – O Model Code da fib avança cada vez mais como uma referência internacional para estruturas de con-creto. O senhor poderia descrever sua importância e seus objetivos? E como o Model Code cobre o interesse dos 43 países que compõem a federação?Hugo Corres – Os Model Codes são do-cumentos pré-normativos que tiveram e terão uma grande influência nos códigos nacionais e regionais que se desenvol-vem e se desenvolverão no futuro. Os euro-códigos e outras normas se ba-seiam nas diferentes versões do Model Code. Os Model Codes sempre foram documentos que apresentaram soluções novas e criativas em diferentes campos. A fib desenvolveu os Model Codes 1970, 1990, 2010 e agora enfrenta este novo desafio que espera estar terminado em 2020. A fib também produziu outros Mo-del Codes complementares aos códigos gerais, que tratam de temas específicos como o Model Code para estruturas sís-micas ou o Model Code para a vida útil das estruturas. Sendo consciente da importância desse tipo de documentos e para garantir que se produzam de for-

ma continuada, foi criada recentemente a nova comissão 10, liderada por Gor-don Clark, ex-presidente da fib, que tem por objetivo identificar e produzir Model Codes. Neste momento, foi criado o TG

10.1, em cujo âmbito é produzido o Mode Code 2010. Esse grupo é liderado por Stuart Matthius que também é o presi-dente da Comissão 3 Estruturas Existen-tes, que tem a seu cargo a produção do Model Code 2020.Foi estabelecido um rico debate nos dois últimos anos sobre o teor e a forma de produção do novo Model Code. Ficou decidido que o novo Model Code integra-ria em um mesmo documento e de uma forma uniforme, as novas estruturas, que tratam dos códigos atuais, e as estruturas existentes que exigem ser inspecionadas, mantidas, reparadas e relançadas para seu uso nos próximos anos, ou demoli-das. Embora o Model Code 2010 já trate das estruturas existentes, planeja-se um desenvolvimento no mesmo nível das es-truturas novas. As estruturas existentes fazem parte de nossas infraestruturas e estão exigindo uma grande atividade no mundo do concreto estrutural. Ficou decidido que o tratamento seja inte-grado. Não se pretende criar novas teorias de comportamento. Desejamos apenas a extensão das teorias atualmente válidas, atualizadas e ampliadas, para o tratamen-to das estruturas. O Model Code 2010 fez um esforço importante para tratar de eliminar os modelos empíricos e estabe-

ENTREVISTA | HUGO CORRES PEIRETTI

Os Model Codes são documentos pré-normativos que tiveram e terão uma grande influência nos códigos nacionais e regionais

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lecer modelos físicos que permitam tratar da forma mais geral, diferentes compor-tamentos, dependendo dos casos. Esta é uma política que vai se estender e se desenvolver para poder atingir o objetivo traçado. O Model Code 2010 implantou um sistema de diferentes níveis de apro-ximação que permite analisar com o mes-mo modelo físico os problemas em dife-rentes níveis. Em um nível mais conceitual, quando não se necessita mais, e em um nível muito mais elaborado, quando é im-prescindível, mas mantendo intactos os princípios do problema. Tudo isso representa um desafio mag-nífico. Devido à necessidade de dedicar energias para a produção desse tipo de documentos, a fib criou, recentemente, a nova comissão 10 Model Codes. Ficou decidido que o processo da produção do novo Model Code deveria envolver toda a organização e ser um processo realmen-te internacional. Para garantir que pode-ria cobrir as necessidades dos diferentes países, foram organizados workshops em diferentes continentes para difundir os trabalhos realizados, e para obter infor-mações sobre necessidades e possíveis contribuições. O primeiro workshop foi promovido em Tóquio, e o segundo na Cidade do Cabo. O próximo será em Mas-trich, em junho. O Brasil está organizando um workshop para a América Latina, que será realizado em setembro deste ano, em São Paulo. Imediatamente depois, será realizado outro workshop nos Esta-dos Unidos. Também está programado para outubro um workshop na Austrália e na Índia. Por último, está previsto para o próximo ano um workshop em Xangai, e um evento de apresentação dos primeiros resultados no Congresso da fib em Mel-borne. A engrenagem está em movimen-to e todos nós estamos muito motivados com este projeto interessantíssimo e, ao mesmo tempo seguramente muito útil.

ABECE – O senhor esteve no Brasil al-gumas vezes e também participou de obras aqui. Qual é sua avaliação do momento atual da engenharia estru-tural no Brasil, comparado com a reali-dade europeia? Hugo Corres – Tive a possibilidade de visitar o Brasil em inúmeras ocasiões, e pude trabalhar em alguns projetos bra-sileiros, com FHECOR do Brasil e em co-laboração com outras engenharias. Em

primeiro lugar, tenho que dizer que a en-genharia brasileira tem o mais alto nível. Sempre esteve alinhada com uma forma de proceder muito próxima à fib, e conta com uma normativa nacional muito pró-xima dos princípios racionais que a fib preconiza há décadas. A engenharia bra-sileira soube racionalizar esses concei-tos, para adaptar-se às condições locais. Além disso, ela tem profissionais dentro do mundo estrutural que são extraordi-nariamente bem formados e criativos. O Brasil precisa de grandes investimen-tos na infraestrutura e, portanto, exige uma engenharia em boa forma, capaz de responder às necessidades. Lamen-tavelmente, a falta de continuidade na atividade pode não ajudar, mas sabemos que esse cenário não é novo e, portanto, as empresas e os profissionais da área de engenharia já desenvolveram mecanis-

mos de subsistência e de manter capaci-dades imprescindíveis para por o motor em marcha quanto necessário.

ABECE – Do ponto de vista estrutural, qual obra foi mais desafiadora? E em termos de inovação?Hugo Corres – Sinceramente acho que ninguém deve esperar enfrentar um gran-

de projeto. Nós devemos ser capazes de transformar cada projeto em um grande projeto. Dessa forma podemos inovar, transformar, exercer a função de um en-genheiro estrutural e, definitivamente, podemos sentir uma grande satisfação, fazendo esse trabalho gratificante.

ABECE – Quais são as principais evo-luções nas obras na engenharia e no projeto estrutural? E em termos de evolução dos materiais usados na cons-trução? E nos sistemas construtivos?Hugo Corres – Efetivamente se nós co-nhecêssemos bem nossa história, sabe-ríamos que não existem grandes possibi-lidades de criar muitas novas ideias. Em qualquer caso, os avanços que acontece-ram nos materiais e procedimentos cons-trutivos nos permitem usar ideias boas e excelentes, mas também velhos concei-tos estruturais renovados e utilizando os meios extraordinários e materiais de contribuições insuperáveis. Esse proces-so é verdadeiramente criativo também, mas exige uma grande paixão e um gran-de envolvimento.

ABECE – Como o senhor compreende a ATP - Avaliação Técnica de Projetos (CQP - Controle da Qualidade do Proje-to)? Quais são os benefícios? Como se aplica na Espanha e em ouros países da Europa?Hugo Corres – O controle de projetos é uma atividade importante, complexa e que se realiza de forma mais ou menos geral no mundo todo. É importante por-que permite dar garantias aos projetos que se realizam, em uma etapa em que os custos das correções são razoáveis e as garantias são maiores. É uma tarefa complexa porque exige pessoas expe-rientes. Comprovar é verificar a idoneida-de da solução, que é o mais importante. Isso não pode ser feito por qualquer pes-soa. Se a ideia for inadequada não há cál-culo justificativo que possa dar um jeito nela. Essa verificação não pode ser feita no final do projeto. Deve ser realizada no final da concepção. Em seguida, é preciso verificar o projeto em si mesmo, desde o ponto de vista normativo e desde o pon-to de vista quantitativo. Aqui, novamente, os cálculos são necessários, mas a cons-tatação conceitual também é necessária, e muito. Em todos os projetos grandes do mundo é imprescindível fazer engenharia

A engenharia brasileira tem o mais alto nível e sempre esteve alinhada com uma forma de proceder da fib

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de verificação. É um processo paralelo ao projeto e que o segue nas diferentes eta-pas. É um projeto que tem um alto custo, mas que é uma garantia de investimento muito importante.Na Espanha existe essa supervisão para muitas obras de infraestrutura propiciada pelas administrações. Para evitar proble-mas nas construções e também para ad-vertir seus clientes sobre possíveis falhas de projeto, as construtoras espanholas realizam CQPs de todas as suas obras. Es-ses trabalhos são mais conceituais, mas muito importantes e devem ser realizados por pessoas de muita experiência.

ABECE – Em sua opinião, quais são os maiores desafios da engenharia no fu-turo?Hugo Corres – A formação. As novas tec-nologias devem ser aproveitadas como instrumento para o desenvolvimento das ideias, mas as ideias são o motor, o primeiro passo. Devemos estar acostu-mados a engendrar ideias e, para isso, a formação é importantíssima. Precisa-mos saber mais, mais que nunca e sobre tudo. Saber profundamente. Entender, entender e entender. O trabalho de um engenheiro não é calcular, é gerar ideias a partir do conhecimento e evitar proble-mas que nunca são solucionados com o cálculo. Temos que ensinar/aprender a fazer engenharia.

ABECE – Como o senhor analisa o esta-do atual o ensinamento da engenharia

nas faculdades europeias e também no Brasil?Hugo Corres – Esse é um assunto com-plexo. Eu também sou professor na Uni-versidade Politécnica de Madri e me per-gunto sempre qual é a forma de contribuir mais para a formação das novas gera-ções. Creio que, neste momento, exis-te muito ruído e muita especialidade. A universidade se debate entre investigar e projetar. Entre publicar ou ensinar. Há um pouco de confusão. Em minha opinião, é difícil fazer um engenheiro na universida-de. O compromisso da universidade deve ser dar a ele uma boa formação; a melhor

possível. A profissão, a experiência, os mestres, muitos ou poucos que encon-tramos no caminho são importantes. A profissão deve ser aprendida com a expe-riência e com a ajuda de mestres adequa-dos. Precisamos ser humildes para poder aprender; temos que aprender fazendo. É preciso trabalhar infinitamente. E para tudo isso é imprescindível uma formação básica boa, muito boa, de conceitos cla-ros, e equilíbrio e a compatibilidade elás-tica que é a formação básica. Conceitos totalmente claros. A universidade tem um papel que é formar-se, dotar-se e manter--se constantemente autocrítica. O mundo em que vivemos muitas vezes não nos permite pensar nesses termos. Mesmo assim, os bons engenheiros continuam aparecendo. Será que com mais ajuda eles seriam mais e melhores? Ninguém sabe e nem saberá.

ABECE – Que orientação geral o se-nhor pode dar aos jovens que expres-sam o desejo de seguir a carreira de engenharia de projetos de estruturas? Hugo Corres – Que é uma grande esco-lha; que é uma profissão com a qual se pode criar. Que é preciso estar constante-mente aprendendo, que é preciso ter uma grande curiosidade, e que é necessário ter uma grande paixão para entender e con-tribuir. É preciso saber e digerir tudo. É um mundo apaixonante, e é uma atividade na qual vale a pena investir uma vida.

ABECE – Qual é a importância da siner-gia entre projetistas de estruturas, en-genheiros e arquitetos? Hugo Corres – Nós, engenheiros e ar-quitetos temos sido as mesmas pessoas, cronologicamente, desde quase 300 anos. Os atores da engenharia/arquitetu-ra/arte/construção eram uma só pessoa. Apolodoro de Damasco, o arquiteto/en-genheiro/construtor/artista do Panteão de Roma, a obra de engenharia estrutu-ral que, em minha opinião, é a mais inte-ressante da história da arte/engenharia/arquitetura/construção, era uma única pessoa. Era arquiteto, concebeu um tem-plo para os deuses do céu e pensou um óculo no centro de uma cúpula, que foi recorde do mundo do concreto durante quase 1800 anos, para prestar uma ho-menagem ao sol. Era um excelente en-genheiro estrutural porque idealizou as formas com maestria, de acordo com as proporções canônicas de seu tempo e utilizou como ninguém o concreto que podia ser produzido naquela época. Era um construtor incrível porque estabele-ceu um recorde. Era um artista porque imaginou cada um dos detalhes deco-rativos do templo porque nós nos es-quecemos de nossas origens. Se nossa formação agora não é tão geral porque não sabemos nos questionar e resolver conjuntamente nossos problemas co-muns. É por falta de inteligência. Nós, os arquitetos e engenheiros, temos que colaborar de forma estreita e percorrer juntos os problemas e as soluções dos temas de arquitetura que são complexos e que exigem o máximo de criatividade. Para mim, um dos maiores prazeres foi e continua sendo colaborar com bons ar-quitetos. Sempre aprendi, sempre pude desempenhar minha parte de criativida-de e sempre senti prazer com isso.

ENTREVISTA | HUGO CORRES PEIRETTI

É difícil fazer um engenheiro na universidade. A profissão deve ser aprendida com a experiência e a ajuda de mestres

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NOSSO CRAQUE | PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO

NASCIDO PARA SER ENGENHEIROA TRAJETÓRIA VITORIOSA DO PROFESSOR PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO, RESPONSÁVEL POR INÚMEROS PROJETOS E TAMBÉM POR UMA ATUAÇÃO INTENSA NAS ATIVIDADES ACADÊMICAS LIGADAS A VÁRIOS SEGMENTOS DA ENGENHARIA BRASILEIRA

O interesse por engenharia surgiu muito cedo na vida do paulistano Péricles Brasilien-se Fusco. “Eu nasci para ser

engenheiro”, como ele mesmo gosta de afirmar sobre sua opção pela pro-fissão. Dono de uma capacidade impar para aprender, de forma rápida, os te-mas mais complexos dos ensinamentos ministrados na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, na qual se formou na turma de 1952, logo ele se tornaria professor, atividade que mar-caria toda sua trajetória profissionais de mais 60 anos.O professor Fusco, como é mais conhe-cido na engenharia brasileira, talvez seja um dos engenheiros que melhor conseguiu conciliar o ofício de proje-tistas de estrutura, pois assim que se formou fez questão de já montar seu pequeno escritório de projetos, com as inúmeras atividades acadêmicas, uma vez que manteve uma permanente atuação na cátedra das mais importan-tes escolas de engenharia do País. Além de dar aulas e acompanhar centenas de trabalhos de mestrado e doutorado dos seus alunos, também se dedicou a produção de livros: foram 13 títulos, in-cluindo um sobre “Técnicas de Armar as Estruturas de Concreto”, considerado a verdadeira “bíblia” dos projetistas brasi-leiros. Dedicou-se também ao IPT - Ins-tituto de Pesquisas Tecnológicas, onde entrou como assistente.E aos 87 anos, o professor Fusco não dá sinais de que irá parar tão cedo, pois está trabalhando em mais um livro, que terá com foco a formação dos jovens en-

genheiros, um tema frequente em sua vida e que o tem preocupado bastante, diante da situação atual do ensino no Brasil, de maneira geral, mas especial-mente no campo da engenharia. Para-lelo ao trabalho de produção literária voltada para o campo da engenharia, o professor Fusco ainda encontra tem-po para prestar serviços de consultoria em estrutura para algumas empresas. Foi em meio a tantas atividades que ele concedeu, no final do ano passado, uma entrevista à revista ESTRUTURA. Na se-quência, confira os principais trechos da conversa:

ABECE – O que o levou a escolher Engenharia?FUSCO – Acho que no meu caso foi uma questão de reencarnação ou então genética distante, já que meu pai era médico e minha mãe professora. A verdade é que nasci para ser engenheiro. Assim que terminei o colegial, fiz um cursinho e entrei de primeira na Politécnica, onde me formei, em 1952. Antes mesmo de concluir o curso, comecei a trabalhar, como estagiário, num ótimo escritório de projetos de estrutura. Minha vontade de exercer a profissão era tamanha que, ainda sem finalizar o curso, projetei meu primeiro arranha-céu. Além disso, no meio do ano, fui convidado para trabalhar na área de estruturas do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, onde fiquei até 1956, quando o professor Nilo Amaral, que era o catedrático de concreto armado da Politécnica me convidou para ser seu assistente. No IPT aprendi

PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201712

tudo o que era possível aprender sobre experimentos em estruturas. Já na Poli, passei a dar aulas de concreto armado. Paralelamente, montei meu escritório de projetos de estrutura.

ABECE – O senhor também se formou em Engenharia Naval. O que o levou para esse caminho?FUSCO – Em meados dos anos de 1950, o governo decidiu criar no Brasil o pri-meiro curso de engenharia naval. Como faltava professor, foram chamados en-genheiros do exterior e o responsável pela coordenação foi o contra-almiran-te reformado da Marinha dos Estados Unidos, George Charles Manning. Fui convidado para ser seu assistente, mas pouco antes do início efetivo do curso, o professor Manning decidiu me incumbir de ministrar o curso, pois acreditava que eu tinha mais conhecimento de estru-turas. Parti então para minha segunda graduação e, num processo estranho, eu fui, talvez, um caso único de, por dois semestres, ter sido ao mesmo tempo aluno e professor de mim mesmo. No final do semestre, eu avaliava os meus colegas, enquanto meus exames vinham do MIT em envelopes lacrados. Em 1960 conclui o curso e em 1965 terminava também meu doutorado em Engenharia Naval. Durante o período em que lecio-nei no curso de Engenharia Naval, fui responsável pela elaboração do projeto de quatro navios, que, por problemas de orçamento, não saíram do papel.

ABECE – Então o senhor voltou para a construção civil?FUSCO – Sim. Voltei para o Departa-mento de Engenharia Civil. Como eu havia feito o doutorado, fui escolhido para ser o chefe da disciplina. Foi muito bom, pois isso coincidiu com uma gran-de movimentação mundial em torno do estudo das estruturas de concreto, na qual eu estava muito interessado, que era a finalização de um trabalho iniciado após a Segunda Guerra Mundial e que consistia na reavaliação da forma de se conceber as estruturas de concreto em todo o mundo. Havia sido criado um grupo de estudo com a participação de todos os países europeus e que contava também com representantes de países de outros continentes, incluindo o Bra-sil, que era representado pelos profes-

sores Telêmaco Van Langendonck e Fer-nando Lobo.ABECE – Quais os fatos marcantes dessa época?FUSCO – Uma das minhas realizações foi a montagem de um laboratório de estru-turas para o curso de Engenharia da Poli, um antigo sonho meu. Lembro que o pro-fessor Décio de Zagottis tinha comprado alguns equipamentos de ensaios, que estavam encostados num canto. Então eu me propus a montar o laboratório. Fui me encontrar com o governador, que na época era o Paulo Maluf, um ex-aluno da Poli e lhe falei da minha ideia. Ele me ofe-receu a doação de 80 toneladas de suca-ta de aço, que eram sobras das obras do metrô. Com isso, mais a ajuda de algumas empresas e também o apoio da Prefeitu-ra da USP, consegui materializar o labo-ratório, que está em funcionamento até hoje no campus. Uma das empresas que

contribuiu foi a Termomecânica, de outro ex-aluno da Poli, o empresário Salvador Arena. Fui falar com ele, que forneceu uma ponte rolante para a instalação dos equipamentos de teste do futuro labora-tório. Esse encontro com Salvador Arena acabou gerando, um tempo depois, mais uma atividade na área acadêmica, quan-do fui ser responsável, na segunda me-

tade dos anos de 1990, pela criação da Faculdade de Tecnologia Termodinâmi-ca, uma instituição de formação técnica. Acabei ficando dez anos lá.  

ABECE – Com base em sua trajetória, quais as principais mudanças ocorri-das na área de projetos?FUSCO – No início da década de 1950 se projetava usando o regime elástico. Quando comecei como estagiário no es-critório do Paulo Franco Rocha, o concre-to armado era calculado em regime elás-tico e a resistência do concreto se admitia como tensão de um pilar na faixa de 40 kgf por cm2 que, com a mudança do siste-ma internacional de medição, equivalia a 4MPa. Eram valores básicos e com a evo-lução, deixou-se de lado o regime elásti-co e se passou a calcular pelo regime de ruptura. Foi uma mudança da água para o vinho.

ABECE – E em relação à forma de pro-jetar o que mudou?FUSCO – Quando comecei, se fazia os cálculos apenas com a régua de cálculo. Depois começaram a surgir as máquinas de calcular mecânicas. Depois vieram as elétricas. Me recordo que, quando me formei, fiz um trabalho que continha uma série de tabelas. Para fazer os cálculos, pedi emprestada do escritório onde es-tagiava, uma máquina elétrica. Que coisa maravilhosa! As máquinas mecânicas da época faziam cálculos a + b, a x b e a:b. Já com as elétricas era uma maravilha, pois você dava os parâmetros de a, x, y e b, e ela fazia todo o cálculo.

ABECE – E com a chegada gradual do computador o que aconteceu?FUSCO – Aí mudou tudo. Inclusive o mé-todo de calcular. Antigamente as estrutu-ras pesadas hiperestáticas eram calcu-ladas, principalmente, com métodos de esforços, que exigiam uma enorme tra-balheira. Hoje nem se usa mais os méto-dos dos esforços. Hoje se usa o método das deformações e dos deslocamentos, que já era conhecido na época, mas não era possível fazer o cálculo por falta de tecnologia. Atualmente, com os algorit-mos, basta alimentar com os dados que tudo é calculado em segundos. Quando os computadores começaram a ser intro-duzidos nos canteiros, em meados dos anos de 1980, nós do Departamento de

O Brasil sempre necessitará de gente competente para projetar e construir

NOSSO CRAQUE | PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO

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Engenharia Civil da Poli decidimos mon-tar um curso de computação para os pro-fessores do Departamento, no qual eu também me matriculei.

ABECE – Considerando materiais, nor-mas técnicas e ferramentas entre outros quesitos envolvidos na enge-nharia, o que mais evolui nos últimos tempos na engenharia brasileira?FUSCO – Tivemos uma evolução mais ou menos uniforme de todas as áreas e é ne-cessário que haja mesmo essa sincronia na evolução, mas é bom saber também de um detalhe importantíssimo: as nor-mas técnicas formam a espinha dorsal da engenharia de um país.

ABECE – Como tem sido sua participa-ção na formulação das normas brasi-leiras?FUSCO – Tenho participado diretamente dos trabalhos de elaboração das normas técnicas voltadas à engenharia e constru-ção civil da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas desde o princípio dos anos de 1970, quando o assunto co-meçou a despertar atenção dos profis-sionais brasileiros. Um exemplo disso foi a Norma de Símbolos Gráficos para Pro-jetos de Estruturas, que fiz praticamen-te sozinho, tendo sido posteriormente submetida a uma comissão que a apro-vou quase sem nenhuma alteração. Ou-tra que também redigi foi a de Ações de Segurança nas Estruturas. Em ambas, as mudanças nelas introduzidas ao longo do tempo foram meramente formais. Atuei por mais de dez anos na ABNT, tendo participado nesse tempo da elaboração e também da revisão das principais nor-mas que regem o setor nos dias de hoje.

ABECE – Qual sua avaliação sobre o momento atual da engenharia brasi-leira?FUSCO – Assim como o país, ela está toda destruída. Apesar dos desacertos do perío-do militar, havia um projeto de país, incluin-do as obras de infraestrutura. Com o fim do regime militar, os que chegaram ao poder começaram a desmontar o que havia sido criado pelos militares. Isso provocou a fuga de profissionais capacitados para o exte-rior ou para outras atividades. Um exemplo disso são os profissionais responsáveis por projetar a Usina de Itaipu. Toda essa equipe sumiu. Se o Brasil precisar hoje construir

outra Itaipu não encontrará mais esses profissionais. E gente você não cria em 24 horas. Eu alertei em relação ao perigo do desmantelamento das equipes que tinham ajudado a construir as obras de infraestru-tura projetadas durante o regime militar.

ABECE – E em relação às escolas de engenharia?FUSCO – A qualidade dos estudantes que chegam ao nível superior tem decaído muito nos últimos anos. As escolas de en-genharia fazem o que podem a partir de alunos do ensino médio que recebe e que são horríveis. Temos um sério problema de educação básica no país.

ABECE – A seu ver, como soluciona-mos isso?FUSCO – Há muito tempo estou preo-cupado com o ensino de forma geral no país. Agora mesmo, estou concluindo um livro com o título de “Introdução à Engenharia de Estruturas de Concreto” exatamente para auxiliar no equacio-namento dessa questão. E no prefácio dele, coloco alguns aspectos sobre um ponto que considero decisivo: que é a falta de uma atenção especial sobre a “arte de aprender”. Coloco lá que, en-quanto ao longo do tempo, a arte de ensinar ganhou apoio científico e se transformou na tecnologia do ensinar, o aprender continua ainda no artesanato individual. É isso que precisa mudar. O

que se discute aqui são princípios para a organização da arte de aprender. Para essa discussão, pode-se partir de três princípios educacionais:1 – Só se aprende a partir daquilo que já se conhece;

2 – Só se aprende as coisas que são es-miuçadas;3 – Só se aprende quando não há lacunas no processo de aprendizagem anterior. Além disso, para saber se as ideias que pretendia aprender foram inteiramente entendidas, isto é, se foram efetivamente integradas nas suas estruturas mentais, o estudante deve se sentir capaz de expli-cá-las, em todos os seus detalhes, a outro estudante ou, o que é melhor, de explicá--las a si mesmo, como se ele tivesse sido o idealizador dessas ideias. Esta é a melhor forma de alguém julgar o próprio aprendi-zado. Por fim, para saber se um conheci-mento foi efetivamente adquirido por ou-tros, deve haver uma avaliação. Eu termino o prefácio com uma recomendação: para o desenvolvimento do país, é fundamental que os estudantes aprendam a aprender.

ABECE – Que mensagem pode dar aos jovens que estão cursando en-genharia?FUSCO – O Brasil precisa ainda ser cons-truído, então sempre vai necessitar de gen-te competente para projetar e construir tudo o que for necessário ser construído.

Tivemos uma evolução uniforme em todas as áreas. Mas as normas técnicas formam a espinha dorsal da engenharia brasileira

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201714

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL | FOCO NO PESSOAL DE PROJETO

ESTÃO OS CONSTRUTORES MATANDO SUA GALINHA DOS OVOS DE OURO?

Os construtores sabem, melhor do que qualquer outro profis-sional, comprar os melhores materiais nas mais vantajosas

condições. Ninguém consegue igualá--los. Eles sabem muito bem que, além do preço, existem outros fatores que podem ser mais importantes: entrega com pontualidade, condições especiais de pagamento, garantia de qualidade, responsabilidade por quebras e defei-tos. Enfim, mais capazes do que os pro-fissionais de projeto, os construtores conseguem auferir melhores lucros sa-bendo comprar, nem sempre, pelo me-nor preço.Fora do campo dos materiais de cons-trução, parece que os construtores não conseguem raciocinar com a mesma perícia. É somente o preço do projeto que entra em consideração. Às vezes, é também computado o prazo de entrega, que fica muito prejudicado, com suas próprias indecisões de escolha. Não existe uma forma de fazer o construtor entender que o projeto é semelhante a um material de construção que pode ter seus defeitos: resistência baixa, durabili-dade precária, aplicação difícil, deterio-ração em progresso, embalagem inefi-ciente. Os projetos também carregam consigo muitos parâmetros escondidos: segurança precária, pouca atenção com

POR AUGUSTO CARLOS DE VASCONCELOS a durabilidade, dificuldade de executar, falta de informação sobre escoramen-tos essenciais, embalagem atraente com apresentação artística escondendo de-feitos não visíveis.O construtor, muito experiente, depois de cometer muitos erros, acaba apren-dendo a comprar os melhores materiais, a fugir dos fornecedores enganosos, a escolher os operários certos para cada tarefa. No tocante ao projeto, ele não adquiriu a experiência necessária para perceber a falta de segurança. Delega tal atividade para auxiliares geralmente não muito competentes para tal tipo de tra-balho. Não tem condições de examinar detalhadamente o projeto recebido para julgar sobre os perigos de uma execução muito rápida, sobre o aproveitamento máximo dos escoramentos, sobre as di-ficuldades de uma execução sem falhas, sobre a proteção das armaduras e sobre os perigos da aplicação da protensão fora do prazo oportuno. Os efeitos de variações térmicas e de deformação lenta do concreto não são analisados com a minúcia necessária para evitar dissabores futuros. O cons-trutor não tem outra alternativa senão delegar tais tarefas para outros. Não chega a perceber que nem todos os en-genheiros de projeto estão habilitados para essas funções. Sua sorte está lan-

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çada no instante em que definiu o pro-jetista pelo preço mais baixo. A propa-ganda na televisão acena para algumas escolhas erradas: “Não é uma Brastemp, mas satisfaz...”. Ou propagandas enga-nosas: “Tira manchas difíceis até mes-mo depois de secas...”. Mas não mostra os casos de desastres esclarecendo as causas. As obras caem por falhas dos materiais, de sua aplicação descuidada ou pela concepção errada da estrutura? O construtor é o maior interessado em saber os verdadeiros motivos dos aci-dentes, mas não chega a tirar proveito dessas lições da vida.As maiores dores de cabeça dos constru-tores com obras defeituosas decorrem do projeto. Ou é o arquiteto, que conce-beu uma obra difícil de ser executada, ou um projetista, que aceitou as exigências de arquitetos incapazes de perceber o comportamento estrutural. Tal projetista negligente, ganhando pouco, deixou de dar a atenção que o projeto mereceria. O construtor não se detém a pensar nessas eventualidades. Uma trinca em alvenaria pode resultar de uma aplicação em épo-ca errada (dias quentes no fechamento de vãos), de uma deformabilidade exces-siva do suporte, de erro de projeto ou de retirada prematura de escoramentos. Qualquer que seja a causa, o aborreci-mento do construtor é o mesmo. Poderia ter sido evitado? Uma escolha correta do projetista, com preço justo do serviço, teria como decorrência um projeto mais perfeito?As falhas, que ocorrem todos os dias, não são privilégio dos maus construto-res. Acontecem com todos, bons e maus, honestos ou safados, sovinas ou esban-jadores. Quem faz a obra não é o dono da construtora. São os seus colaborado-res. Sua má escolha leva a maior proba-bilidade de aborrecimento. Raramente resulta de falha de material de constru-ção, tijolo ou concreto, aço ou vidro. O material pode ser ótimo, mas sua apli-cação tem que ser correta. Um projeto pode ser correto, mas a execução preci-sa corresponder à qualidade do que se deseja obter. Um projeto correto, porém mal concebido, pode significar um de-sastre. Um bom construtor deve dedicar algum tempo para julgar se um projeto foi mal concebido ou não, independen-temente de estar corretamente calcu-lado. A má concepção não pode levar a

uma obra perfeita. Um exemplo simples vale mais do que mil palavras.Uma obra de 5 milhões de reais tem uma estrutura que custa cer-ca de R$1.000.000. Um corretor ga-nha 6% do custo total para arranjar compradores e organizar a venda: 0,06x5.000.000=300.000. Sua respon-sabilidade limita-se a verificar se os papéis estão corretos, se existem ônus

registrados sobre o imóvel, se existe al-guma pendência judiciária.Um projeto de estrutura custa, segun-do a tabela de honorários do Institu-to de Engenharia de São Paulo, cer-ca de 6% sobre o valor da estrutura: 0,06x1.000.000=60.000, isto é, 20% dos honorários do corretor. Sua responsa-bilidade não se limita à segurança da construção: ele é responsável pelas de-formações excessivas das peças, pelas agressões à arquitetura, pelas invasões aos recintos de uso domiciliar, pela possi-bilidade de passagens de tubulações, pe-las condições de uma boa execução, pelo consumo de materiais. Depois de pronto e entregue o projeto, podem surgir mo-dificações, porque o novo comprador tem ideias diferentes sobre a utilização do que lhe foi oferecido. O construtor não pode perder uma oportunidade de venda e atende a qualquer alteração que o comprador exigir. Tais alterações são gratuitas para o comprador e para o

construtor. O projetista deve pagar as inovações em seu projeto. Deve garantir a segurança de todas as peças e verificar gratuitamente as consequências decor-rentes das novas exigências. Ou faz, ou não recebe o saldo de seus serviços. E tem que fazer depressa, porque a obra não pode parar. Isto não é urna exceção, como se poderia pensar à primeira vista. É a rotina da maioria dos projetos.

Mas a realidade é diferente: o que se paga realmente, hoje, por um projeto de estrutura, não chega a 50% do valor de tabela. No exemplo citado, isto corres-ponde a R$30.000, o que representa ape-nas 0,006 do custo da construção. Uma variação de 25% deste valor (7.500), que deveria ser a dispersão normal de valo-res de diversas propostas, não represen-ta quase nada para o investimento total da construção. Tais diferenças, entretan-to, podem representar a escolha entre uma obra bem concebida, segura e de desempenho satisfatório e outra obra, mal concebida, mal detalhada, com segu-rança precária, de durabilidade duvidosa, exigindo urna manutenção dispendiosa para encobrir os defeitos. O significado disto representa para o proprietário ou ao construtor dezenas de vezes mais do que o valor pago pelo serviço mal feito. Para o profissional, por outro lado, repre-senta trabalhar ou ficar ocioso. Tive no-tícia de um profissional, meu amigo, que

Quem faz a obra não é o dono da construtora. São seus colaboradores. Sua má escolha leva a maior probabilidade de aborrecimento

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me respondeu: “Para trabalhar deste jei-to, prefiro desistir da profissão. Se V. não aceitar esse preço, outro vai fazer!”Assim, não valem nada a experiência profissional, a dedicação, a ficha de ser-viços bem sucedidos e o prestígio. Todos estão nivelados pelo preço. É o computa-dor que calcula: o projeto é um só, com a mesma segurança. O engenheiro só aperta botões! A criatividade não existe mais. A apresentação é desenhada por computador. Não existem erros. As nor-mas são obedecidas. Não há diferenças entre os diversos profissionais. É assim que pensam os construtores e proprie-tários... Mas a realidade é diferente: o

que se paga realmente, hoje, por um projeto de estrutura, não corresponde ao que se deveria obter. O construtor ou o proprietário pensa que fez “um bom negócio” sem perceber a diferença entre uma obra bem concebida, segura e de desempenho satisfatório e outra obra, mal projetada, mal detalhada, com se-gurança precária, de durabilidade duvi-dosa, exigindo uma manutenção dispen-diosa para encobrir os defeitos.Tal situação tem causado uma deban-dada dos projetistas. Aqueles que não são fanáticos pela profissão procuram outros meios de sobrevivência. Tenho tido conhecimento de casos assombro-sos de desvio da profissão. Eis alguns de que tive conhecimento direto com

as pessoas envolvidas: emprego públi-co, venda de materiais, planejamento industrial, auditoria, consultoria técnica, criação de gado, montagem de restau-rantes, informática, publicidade, música em boates. Em todos esses casos, fui in-formado de que os ganhos foram subs-tancialmente maiores do que em proje-tos. Já estão ocorrendo casos em São Paulo – e eu tenho conhecimento direto de três casos – de projetos de arquitetu-ra e estrutura feitos nos Estados Unidos. São obras grandes, não habitacionais, de elevado investimento. Tais obras não têm permissão legal para serem execu-tadas no Brasil. Para isso, é necessário

que algum profissional, registrado em nosso país assuma a paternidade do projeto e refaça os desenhos de acor-do com os modelos de apresentação compreensíveis para nossos operários e em obediência às normas brasileiras. Por incrível que pareça, sempre existirá alguém que aceite tal incumbência por uma remuneração aviltante! Assumir as responsabilidades de um projeto que não fez, porque não foi pago para isso, é uma espécie de prostituição. No deses-pero de sobrevivência, sempre existirá alguém que faça isto!O que está acontecendo com nossa pro-fissão? Isto tende a se alastrar? Nossas entidades de classe estão a par desta situação? Elas tomarão alguma provi-

dência? Nossos construtores têm cons-ciência do que estão fazendo com o sis-tema de “leilão de projetos” sem escolha do profissional pelo seu valor? Quando menciono isto em nosso meio a respos-ta é sempre a mesma: “É o mercado que domina o sistema, que torna impossível qualquer alteração!”.Ficaremos de braços cruzados, deixan-do o pior acontecer? Sabemos que isto já está acontecendo e não há meios de alertar os construtores de que eles estão “matando a sua galinha de ovos de ouro”, e de que sua economia ao conseguir um projeto mais barato corresponde a com-prar algo que não é nenhuma Brastemp, como diz a propaganda. Estão a par de que eles estão sendo iludidos, compran-do papel pintado ao invés de um proje-to bem elaborado? Que pela metade do preço eles não conseguem comprar um bom azulejo, ou cimento confiável, ou aço de características comprovadas ou ... um projeto sensato e seguro?Já fiz anteriormente uma tentativa de abrir os olhos dos proprietários e dos construtores, com os seguintes 8 pon-tos para serem meditados, os quais ago-ra repito:

– Nem sempre o preço mais baixo de projeto dá uma economia real.

– Pode acontecer de que a obra seja mais econômica com maior consumo.

– É mais importante um projeto bem detalhado do que um desenho bonito

– Poucos desenhos podem indicar gas-to excessivo de materiais.

– Nunca haverá um projeto bom feito num prazo inadequado.

– Não é somente a segurança que vale num projeto: o comportamento em serviço e a durabilidade são igual-mente importantes.

– O que representa o preço de um pro-jeto de qualidade em confronto com custo dos acabamentos, facilidade de execução, bom detalhamento, tranquilidade e acompanhamento da obra pelo projetista?

– Quem escreve isto só é beneficiado com projetos ruins.

Construtores e proprietários bem in-tencionados: meditem profundamen-te sobre tudo isto, sem preconceito, e ganhem dinheiro procedendo com os profissionais colaboradores como pro-cedem em suas compras de materiais, escolhendo pela qualidade!

Assumir a responsabilidade por um projeto que não fez, porque não foi pago para isso, é uma espécie de prostituição

VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL | FOCO NO PESSOAL DE PROJETO

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ESTRUTURA EM DESTAQUE | EDIFÍCIO VISTA GUANABARA

A região portuária da cidade do Rio de Janeiro passa por um grande processo de reurba-nização e modernização con-

templado sob a denominação de Porto Maravilha, ação de iniciativa pública que objetiva revitalizar a região, ante-riormente degradada e hoje com obras de grande impacto em andamento. É neste contexto de modernização que se insere o Edifício Vista Guanabara, empreendimento localizado à Rua Ba-rão de Tefé, 34 – no bairro Saúde e que integra-se, de maneira positiva, aos de-mais projetos em andamento.A obra em questão é uma torre em-presarial que conta com: 4 subsolos; pavimento de acesso; 4 pavimentos de garagens elevadas; 17 pavimentos cor-porativos; pavimento técnico e helipon-to, com altura total de 107 m, sendo 93 m acima do nível da rua. A obra foi ven-dedora do Prêmio Talento Engenharia Estrutural 2016 - categoria Edificação.Por estar localizado em área de con-truções antigas e próximo do mar (com lençol freático muito próximo ao nível da rua), optou-se em todo perímetro pela execução de paredes diafragma como solução para contenção e funda-ção de 14 dos 16 pilares que formam a fachada e nascem no 1º pavimento tipo. Com esta situação, era preciso re-solver como seria feita a escavação do terreno, pois uma lateral não poderia

POR AVILA ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

PROJETO ESTRUTURAL ARROJADO E SOLUÇÕES OUSADASEDIFÍCIO VISTA GUANABARA SE INSERE NO CONJUNTO DE OBRAS ARROJADAS E DE GRANDE IMPACTO URBANÍSTICOS QUE VEM TRANSFORMANDO O CENÁRIO DA ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201718

ser atirantada pela existência de obra já construida. Foi desenvolvido o pro-jeto da laje de subpressão para resistir aos esforços de coluna d´água de 12m, apoiada nas fundações do prédio e em tirantes no nível do 4º subsolo, subme-tidos a grandes cargas de tração.Em 3 lados foram implantados tirantes provisórios nas paredes para possibili-tar a escavação do terreno até o nível das fundações e prosseguir com a obra de maneira convencional, porém esta solução não pode ser adotada em uma das divisas devido à existência de uma obra. A solução encontrada foi inverter a sequência da obra nessa divisa, ou seja; seria feita a estrutura do nível da rua primeiro (1º pavimento de acesso) e os pavimentos inferiores na sequên-cia até o nível do 4º subsolo para trava-mento desta contenção.Junto à esta divisa está localizada a rampa de acesso aos subsolos (ocupa toda extensão da divisa). Portanto esta rampa foi dimensionada para resistir aos esforços horizontais da contenção durante a fase de obra. Devido à gran-de extensão da rampa foram necessá-rios o uso de perfis metálicos cravados no solo, com a função de pilares provi-sórios para apoio de uma das laterais da rampa. Quando a obra atingiu o 4º subsolo e passou-se a erguer a estru-

IMAGEM 3D DO MODELO TQS

CORTE DA RAMPA EXISTENTE JUNTO A DIVISAFORMA PARCIAL DO 4º SUBSOLO

ESTRUTURA EM DESTAQUE | EDIFÍCIO VISTA GUANABARA

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tura principal da torre, os perfis foram incorporados aos pilares definitivos do edifício.Nas 3 divisas atirantadas onde os pila-res da torre (coincidiram sobre as pa-redes diafragma) com cargas verticais aproximadas de 2.000tf cada, foram projetadas vigas de transição no nível do 1º pavimento (acesso) que funcio-naram como blocos flexíveis de funda-ção, distribuindo as cargas desses pila-res sobre as várias lamelas da parede diafragma. Houve também um cuidado especial quanto à profundidade de toda funda-ção, pois sob a obra há previsão de pas-sagem de um túnel para trânsito rodo-viário, denominado Túnel Rio 450 Anos.Vencida esta etapa do embasamento, a atenção volta-se para a etapa que FOTO DA RAMPA EXECUTADA E O 2º SUBSOLO DA TORRE EM EXECUÇÃO

DETALHE DA INFLEXÃO ENTRE O 9º E 10º PAVIMENTO

FORMA DO 1º PAVIMENTO/ACESSO IMAGEM DA LOCALIZAÇÃO DO EDIFÍCIO VISTA GUANABARA

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201720

FORMA DO 3º PAVIMENTO TIPO

DETALHE DAS CUBETAS PLÁSTICAS USADAS NAS LAJES NERVURADAS DO TIPO

PLANTA DO PAVIMENTO TÉCNICO

DETALHE DE VARIAÇÃO DO CONCRETO PILAR/LAJE

será a mais impactante para a região, que é a estrutura do prédio acima da rua, cons-tituída por fachadas inclinadas recobertas por pele de vidro, remetendo aos conceitos de inovação e modernidade pretendidos. Optou-se pelo uso de pilares inclinados, pois assim se teria um melhor aproveitamento de espaço interno e um sistema mais rígido para fixação das fachadas. Salienta-se que alguns pilares possuem uma inflexão entre o 9º e 10º pavimento, mudando a direção de sua inclinação.Para vencer os grandes vãos de laje nos pavi-mentos tipo com um número reduzido de pi-lares, utilizou-se lajes nervuradas com altura total de 35cm e faixas de protensão. Juntos aos pilares inclinados foram incluídas vigas no nível da laje, com a finalidade de absorver os esforços horizontais originados pela inclinação e inflecção desses pilares.O núcleo do edifício (caixa de escadas/eleva-dores) foi enrijecido com o uso de pilares e vigas para dar estabilidade à edificação e re-sistir aos esforços horizontais provenientes das ações de vento. Devido aos pilares inclinados, cada pavi-mento possui dimensões distintas, fazendo com que cada um deles fossem detalhados individualmente, com projetos de formas e armações específicos, gerando um número

ESTRUTURA EM DESTAQUE | EDIFÍCIO VISTA GUANABARA

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de folhas bem maior que os edifícios convencionais.No pavimento técnico está prevista a instalação de grandes equipamentos, com sobrecarga prevista de 1000 kgf/m2. Devido a esta exigência, foi man-tido o conceito de lajes nervuradas protendidas, porém com altura total de 50cm.Para economia de aço, otimização da seção de pilares e melhor aproveita-mento das propriedades do concreto adotado na obra, optou-se pelo uso de concreto com uma resistência maior que os geralmente empregados em edifícios convencionais. Nos blocos e pilares dos pavimentos inferiores até o nível do 2º pavimento foram especi-ficados concreto classe C50, com redu-ção gradual até o 10º pavimento tipo, a partir do qual utilizou-se o concreto classe C35 até o final da obra. Para as lajes e vigas de toda obra, utilizou-se o concreto C35, com detalhe de concre-tagem conforme imagem “Detalhe de variação do concreto pilar/laje”.O aço utilizado para as armaduras pas-sivas foram CA-50 e CA-60, com bitolas de 6,3mm a 32mm. Na armadura ati-va foram utilizadas cordoalhas engra-xadas de 12,7 mm aço CP-190. Nova-mente o piso técnico foi diferenciado devido às grandes cargas, com o uso de cordoalhas engraxadas de 15,2 mm.O sistema de escoramento da estru-tura foi do tipo permanente conforme apresentado na imagem ao lado:

CABOS DA ARMADURA PROTENDIDA EM PLANTA NO 6º PAVIMENTO TIPO

DETALHE DA ANCORAGEM DAS CORDOALHAS DA PROTENSÃO

FICHA TÉCNICA

Estrutura de Concreto: Avila Engenharia de Estruturas ( José Augusto Avila)Projeto arquitetônico: William Louie (arquiteto coordenador), do escritório Kohn Pedersen Fox Associates (KPF), de Nova Iorque, com a colaboração de Edmundo De Cesario Musa e Cristiana Braga, do escritório brasileiro ARQ&URB ProjetosFundações: Apoio FundaçõesConstrutora: Hochtief do BrasilÁrea construída: 51.791,0 2 m2

Projeto: abril de 2013Conclusão da obra: junho de 2016Cliente: Autonomy Investimentos e GTIS PartnersLocalização da obra: Rio de JaneiroFinalidade do edifício: uso comercial

INTERNACIONAL | ESTRUTURA MISTA

LUANDA TOWERS: 3 TORRES E MUITAS HISTÓRIAS

POR: ANDRÉ LUIZ DE MATTOS ANDRADE E JEFERSON LUIZ ANDRADE

JEFERSON LUIZ ANDRADE

ANDRÉ LUIZ DE MATTOS ANDRADE

ESTRUTURADAS EM CONCRETO E AÇO

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201722

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Com a conclusão das obras pre-vista para 2017, Luanda Towers envolveu um processo constru-tivo rico em soluções técnicas

e situações inusitadas, que constituem o DNA de um edifício concebido com uma arquitetura arrojada, distribuída em três torres de 106 metros de altura e uma solução bastante otimizada, com a utilização de estrutura mista de con-creto e aço. A concepção inicial do edifício é de 2008, quando se deu início à elabo-

FIG. 1 – PLANTA TIPO DA TORRE 01

ração dos projetos unifilares. Desde o princípio, a obra envolveu grandes desafios, principalmente em relação à troca de informações entre os profis-sionais envolvidos com a obra: o time contava com um cliente final francês, projetistas brasileiros, gerenciadores e construtores portugueses, inves-tidores israelenses e angolanos, ins-petores de projeto provenientes da França, Israel e Portugal, e fabricante de estruturas metálicas chinês. Toda essa diversidade de profissionais de

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201724

INTERNACIONAL | ESTRUTURA MISTA

diferentes partes do mundo resultou em muitas viagens para três continen-tes – Europa, África e Ásia –, além de centenas de reuniões e audioconfe-rências que exigiram aprimorar um pouco mais o inglês, além de desen-volver um considerável aprendizado sobre normas internacionais. A elaboração dos projetos seguiu si-multaneamente com o trabalho de verificação e, com o avanço dos traba-lhos, foram-se revelando as necessida-des e particularidades do empreendi-mento como um todo. Primeiramente, o objetivo da edificação era o de abri-gar os colaboradores e funcionários do cliente final, uma petrolífera fran-cesa que residiam em Luanda ou nas proximidades. A edificação deveria possuir infraestrutura capaz de ga-rantir autossuficiência e segurança para essas pessoas. Sob esse premis-sa, Luanda Towers foi projetada para comportar, além de dezenas de apar-tamentos, também shopping center, hospital dia, academia, áreas para recreação, geradores e cisternas (que garantirão o fornecimento de energia elétrica e água potável mesmo que haja suspensão da rede pública), além de salas de pânico (denominadas Unit Crisis, que nada mais são que bunkers totalmente seguros e com reservas de água e comida para abrigar seus moradores por algumas semanas). O

projeto original contava ainda com um heliponto, que foi suprimido ainda na fase inicial, por conta das legislações locais que proibem voo de helicópte-ros particulares. Do ponto de vista arquitetônico, a con-cepção previa plantas assimétricas e diferentes entre si, com fachadas em vidro e caixas de escadas e elevadores bastante excêntricas, ou seja, distantes dos centros de massas das torres. Tam-bém foi colocado como desafio técnico a proximidade entre as torres, princi-palmente para as análises de segurança estrutural e de conforto humano quan-to a ação dos ventos. Do ponto de vista estrutural, algumas necessidades de determinação das cargas na estrutura exigiram pesqui-sas mais aprofundadas, especialmente para levantamento de ações sísmicas e de ventos.Como em Angola não há registros de históricos sismológicos nem normas técnicas que compilem informações sobre as ações naturais em seu terri-tório, foi necessário investigar a ativi-dade sísmica da região, com base em informações coletadas em órgãos inter-nacionais como a USGS (United States Geological Survey), um prestigiado ins-tituto norte-americado especializado em geologia, e que dispõe de bases de dados de atividades sismológicas em todo o mundo. Com base nos valores

de aceleração obtidos junto a esses ins-tituto, foi possível definir as ações sís-micas atuantes na estrutura. Para as ações de vento, na completa ausência de isopletas ou normas em Angola, fez-se um estudo a partir dos ventos em localidades próximas, com na África do Sul e em outras regiões do mundo com a mesma latitude e longitude, como o nordeste brasileiro, aliado ainda às prescrições das nor-mas ASCE e Eurocode. Essa avaliação teve o respaldo e aprovação dos res-ponsável pela verificação de projeto, que colocaram suas opiniões e, no fim, validaram o trabalho de determinação dos esforços.Na sequência, seguiu-se no conceito da edificação, que consistiu inicialmente no desenvolvimento de uma estrutura monolítica de concreto armado, abai-xo do nível +29,15m, onde se localizam as áreas comuns às três torres, como por exemplo, o shopping center e as garagens. Essa estrutura contou com paredes diafragma no perímetro dos 130.000 m² de área construída, laje es-pessa sobre solo utilizando técnica de jet grouting, sete níveis de laje nervura-das, pilares e contrafortes. Tal premissa teve por objetivos a obtenção de um embasamento rígido capaz de controlar deformações diferenciais entre os pila-res das torres e a contenção lateral dos empuxos hidrostáticos oriundos dos

FIG. 2 – PLANTA TIPO DA TORRE 02 FIG. 3 – PLANTA TIPO DA TORRE 03

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terrenos vizinhos, uma vez que o nível da cota d’água estava 10 metros acima da laje de fundo. O piso localizado no nível +29,15m foi responsável pela transição das áreas comuns para as três torres indepen-dentes. Nele, foram projetadas vigas treliçadas de 2,40 metros de altura, com o objetivo de transicionar os pilares das torres, que não nascem coinciden-tes aos pilares de concreto localizados abaixo dessa cota. O espaço gerado por essas vigas permitiu criar uma grande área técnica, que atende a parte lógica e energética da edificação.Acima desse nível, foi condebido um sistema estrutural industrializado, a fim de minimizar o uso de mão de obra. Cabe aqui uma ressalta: o cená-rio em Angola, à época, era de um país em reconstrução, após anos de guerra civil, no qual imperava a escassez de tudo, inclusive de pessoal capacitado tecnicamente. Diante dessa realidade, a alternativa de se ter uma estrutu-ra altamente industrializada permitiu o emprego de peças mais leves que

aliviaram as cargas nas fundações, e adicionalmente viabilizaram a contra-tação da estrutura no mercado inter-nacional, resultando em velocidade executiva na etapa de construção.

O conceito estrutural contou com núcleos rígidos de concreto armado na região das escadas e elevadores ao longo dos 77 metros de altura das torres e com pilares metálicos com se-

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201726

ções tipo “H” conformados através de chapas soldadas. A estabilidade horizontal do edifício, es-pecialmente para as cargas de vento, foi concebida para ser garantida exclusiva-mente pelos núcleos rígidos, tendo como premissa que os pilares metálicos funcio-nariam essencialmente a esforços axiais. Para isso, as vigas e lajes foram devida-mente ancoradas às paredes dos núcleos, e os esforços foram transmitidos pelo efeito diafragma das lajes, que tiveram sua rigidez adequada para tal finalidade.Os pisos foram compostos por vigas primárias e secundárias, essencialmen-te bi-apoiadas, responsáveis por dar su-

porte às lajes. Estas vigas foram ligadas às lajes através de conectores tipo “stud bolt”, criando assim um sistema misto de concreto e aço. Este método cons-trutivo contribuiu para o aumento da rigidez de todo o conjunto estrutural. Para otimizar o consumo de aço, consi-derou-se que todas as vigas seriam es-coradas e, portanto, trabalhariam com a rigidez plena aço-concreto para 100% dos esforços atuantes. As vigas metálicas, nesse caso, foram concebidas como seções tipo “I” tam-bém conformadas através de chapas soldadas. Essa condição inclusive, de se utilizar chapas para construir os ele-

mentos estruturais, foi definida pelo fornecedor das estruturas. Nessa obra, portanto, não foram utilizados quais-quer perfis laminados.Para os pisos, utilizaram-se as fôrmas de aço incorporado tipo “steel deck”, que dentre várias vantagens construtivas, também funcionam como armaduras positivas para as lajes. A fim de garantir todas exigências de normas e do cader-no de especificações do cliente, a espes-sura da laje foi definida não somente com base na rigidez desejada para questões de resistência e deformação, mas tam-bém para conceber conforto térmico e acústico. As armaduras negativas foram projetadas para resistir ao momento ne-gativo em balanços, assim como para evi-tar fissuras devido a retração. Previram-se, ainda, armaduras adicio-nais para costurar pontos de tração na laje, como por exemplo, no contorno de pilares e em possíveis locais que ocasio-nassem efeitos de continuidade em vi-gas. Para essa análise, modelos de ele-mentos finitos foram criados e diversas hipóteses de carga foram consideradas, de modo a cobrir diferentes possibilida-des de uso e ocupação das unidades.Para as situações de incêndio, previ-ram-se armaduras positivas adicionais nas lajes. Já os elementos metálicos principais, como vigas e pilares, foram protegidos passivamente com arga-massa projetada. Do ponto de vista de economicidade, o empreendimento foi um sucesso. Além de viabilizá-lo ao investidor, a solução mista concreto e aço também conse-guiu números muito interessantes. Foi possível construir as edificações metá-licas com consumo médio de 40 kg/m² de aço. As cargas nas fundações tiveram redução de 30% aproximadamente e a mão de obra foi 20% menor que a pre-vista inicialmente. Essas informações foram repassadas pelos gerenciadores à época, que se mostraram extremamen-te satisfeitos com a performance obtida.No entanto, dentre todas as atividades acima citadas, a verificação de projeto é a que merece destaque especial. Ao contrário do que estamos habituados no Brasil, esse empreendimento contou com três diferentes escritórios dedicados somente para a inspeção dos projetos desenvolvidos, o que nos deixou igual-mente surpresos e um pouco apreensi-FIG. 4 – PLANTA TIPO DAS GARAGENS – ÁREA COMUM

INTERNACIONAL | ESTRUTURA MISTA

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vos no começo dos trabalhos, porém isso foi desmistificado ao longo do processo.Em relação aos escritórios de verifica-ção, o primeiro contato foi feito com o de Portugal, contratado pela constru-tora igualmente portuguesa. Essa em-presa tomou como base os eurocódigos para aferição dos dimensionamento e imprimiu uma tendência mais conser-vadora nas propostas de melhoria, com bastante foco na estabilidade das peças de concreto armado, no embasamento e nos núcleos rígidos. O segundo escritório, israelense e con-tratado pelos investidores do edifício, aferiu o projeto com base nas normas americanas AISC e ASCE, e focou bas-tante na otimização da estrutura. In-clusive, foi um dos maiores apoiadores e simpatizantes da idéia em se contar com estrutura mista concreto e aço escorada contra núcleos rígidos, tendo em vista que sua experiência em edifí-cios de grandes alturas indicava essa ser uma solução bastante competitiva. O terceiro verificador, agora francês e contratado pela seguradora do em-preendimento, fez suas análises pelo código internacional IBC (International Building Code) e focou exclusivamen-te na segurança do empreendimento, especialmente nas redundâncias que o sistema estrutural previa em caso de acidentes ou catástrofes. A experiência

com esse escritório foi bastante positi-va para entender as preocupações de uma seguradora internacional, muitas vezes óbvias, como por exemplo, a ins-talação de sistemas contra fogo, po-rém outras não tão óbvias, como por exemplo, atingir acelerações de pico inferiores a determinado percentual da aceleração da gravidade no topo do edifício, de modo a garantir conforto humano adequado. Todas essas e di-versas outras análises foram realiza-das e devidamente verificadas. É possível perceber, que a essa altura do projeto, a pluralidade de conhecimen-tos, normas e escolas proporcionou ao trabalho uma riqueza ímpar de detalhes e uma segurança de suma importância a nós projetistas, que nos sentimos mui-to confortáveis quanto ao produto final que estávamos entregando ao cliente.Destaca-se, especialmente nesse caso, a grande importância e naturalidade com que esses escritórios envolvidos lidaram com a atividade de inspeção de projetos. A maturidade ética e profissional que to-dos demonstraram ao longo do proces-so, deveria servir de reflexão e inspira-ção a todos os nossos projetistas, para que pudéssemos elevar, ainda mais, a qualidade da engenharia brasileira.A conclusão que pudemos tirar dessa experiência internacional, que muito en-riqueceu os profissionais envolvidos, foi

de que há muito espaço para que a en-genharia brasileira evolua, tanto em téc-nica, quanto em produtividade. Primei-ro, é necessário valorizar o bom projeto e exigir uma verificação adequada, pau-tada na ética e visando a contribuição ao trabalho, para que possamos oferecer produtos cada vez melhores ao cliente final. Cita-se, ainda, a necessidade de in-vestir em tecnologia e melhores técnicas construtivas, aprimorar o conhecimento técnico tendo como base a facilidade com que temos acesso à informação após a globalização e a era digital. É preciso, ao invés de temer a globali-zação e vê-la somente como ameaça, aprender a aproveitar as oportunida-des que ela nos traz e aliar as novas informações obtidas com nossa grande capacidade de solucionar problemas.

FIG. 5 – IMAGEM MODELO DE CÁLCULO 3D DA TORRE 01

FIG. 6 – IMAGEM MODELO DE CÁLCULO 3D DA TORRE 02

FIG. 7 – IMAGEM MODELO DE CÁLCULO 3D DA TORRE 03

FICHA TÉCNICA

Engenheiro de estrutura: André Luiz de Mattos AndradeEmpresa responsável pelas fundações: Tecnasol Fundações e GeotecniaArquiteto: Manoel Doria, do Escritório Doria Lopes e FiuzaConstrutora: Consórcio Soares da Costa/Mota Engil (Construtoras Portuguesas)Localização da obra: Luanda (Angola)

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201728

ESTRUTURAS METÁLICAS | INTERAÇÃO ENTRE VIDRO E METAL

ESTRUTURAS METÁLICAS E DE VIDRO – UMA ABORDAGEM NO CONCEITO BIM

POR: RAIMUNDO CALIXTO DE MELO NETO 1. INTRODUÇÃONo presente artigo, procuramos apre-sentar as nossas experiências na tran-sição da utilização da plataforma con-vencional, utilizando softwares como AutoCAD, no desenvolvimento de pro-jetos estruturais de aço e vidro, para a revolucionária plataforma BIM (Buil-ding Information Modeling).Considerando a nossa experiência de-senvolvendo projetos desenhados ma-nualmente desde a década de 1980, quando éramos engenheiros de proje-tos da F.E.M. S.A. (Fábrica de Estruturas Metálicas) da Cia Siderúrgica Nacional, temos convicção de que os dias de hoje são incomparáveis quanto aos “ganhos” tão importantes na transição anterior: Desenho desenvolvido manualmente (prancheta) Desenho desenvolvido ele-tronicamente (AutoCAD).É importante ressaltar que, de longe, vemos os desenhos ou croquis manuais como imprescindíveis na “alimentação” dos softwares, seja no sistema conven-cional, seja na plataforma BIM, prin-

cipalmente nos dias de hoje em que os jovens profissionais, na sua grande maioria, não tiveram a oportunidade de serem treinados e orientados por técni-cos ou engenheiros experientes.Em outras palavras, a exaltação do soft-ware ou o “culto à ferramenta” nunca estará em nosso destaque.

2. APRESENTAÇÃOEm 1990, iniciamos as atividades da RCM - Estruturas Metálicas LTDA, em Fortaleza – CE, com o objetivo de de-senvolver projetos de estruturas de aço, principalmente na área industrial.Com a nossa experiência como pro-jetista de estruturas de aço da F.E.M S.A. e da JAAKKO POYRY ENGENHARIA (empresa de consultoria na área de projetos), tínhamos a firme intenção de implantar no nosso escritório os ensina-mentos que recebemos de grandes pro-fissionais dessas duas empresas. Face nossa forte atuação como engenheiro de estruturas ter ocorrido na década de

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1980, convivíamos com a metodologia do desenho manual. Apesar de bastan-te lento quando comparado com os mé-todos modernos, consideramos que o aprendizado transferido ao profissional quando os desenhos eram elaborados manualmente são incomparáveis.Assim, decidimos como meta treinar estagiários de Escolas Técnicas, transfe-rindo os aprendizados que recebemos. Com facilidade, fizemos a transição para o “AutoCAD”, pois na sua essência somente mudava a técnica do desenho e a facilidade para implantar revisões.Com o passar dos anos, começamos a atuar em projetos de edificações co-merciais, tais como shopping centers, em cujos projetos arquitetônicos o vi-dro sempre esteve presente. As patolo-gias que se apresentavam nas estrutu-ras com esses dois materiais, tais como quebras, infiltrações, etc., nos fizeram pesquisar como esses projetos eram tratados nos países desenvolvidos. As-sim, o destino nos aproximou do técnico francês François Willemin, especialista em produção do vidro, com experiên-cia em grandes empresas europeias, e na ocasião, residindo em Fortaleza. Por meio das suas orientações, passamos a adquirir os conhecimentos básicos de produção do vidro que muito nos aju-daram no entendimento necessário nas aplicações estruturais.O nosso grande interesse sempre foi o de conhecer como eram coordenadas as “interfaces” entre os dois materiais, tanto em projeto, quanto fisicamente na montagem. Outra questão impor-tante, se refere às técnicas de produção necessárias a atender a performance desejada, tanto em aplicações somente com o vidro, quanto associado a estru-turas de aço.

Nessas pesquisas, constatamos que o conceito BIM no desenvolvimento dos projetos sempre se fazia presente. Assim, decidimos definitivamente migrar para a esta plataforma, com a convicção que o balanço custo x benefício seria positivo. A figura 1.0 resume o que comentamos.

3. PROJETOS IMPULSIONADORES PARA A PLATAFORMA BIMNo processo para implantação do con-ceito BIM em nosso escritório, iniciamos pesquisando o software a ser adotado. Optamos pelo REVIT, pelo fato de o mesmo ser bastante aceito por empre-sas que consideramos como referência para os nossos trabalhos.

Os projetos a seguir comentados:• Fachadas Shopping Rio Sul – RJ;• Árvore EMBRAPA – Fortaleza – CE;• Onda Carioca – RJ, consideramos im-

pulsionadores na adoção do BIM por suas formas arquitetônicas livres, difi-cultando o desenvolvimento pelo con-ceito tradicional.

SHOPPING RIO SULA proposta arquitetônica para a nova fa-chada do Shopping Rio Sul, apresentava uma volumetria especial, com superfícies curvas de raios variáveis, o que pratica-mente impossibilitava o desenvolvimen-to dos desenhos ou projetos utilizando-se o AutoCAD. Nesse caso, desenvolvemos o projeto utilizando o software Rhinoce-ros, bastante utilizado na indústria Naval. Face ao Rhinoceros ter sido desenvolvido FIG. 1 – ATUAÇÃO NO MERCADO

FIG. 2 – MODELO ESTRUTURAL SHOPPING RIO SUL - CONCEITO BIM

FIG. 3 – PROJETO EXECUTADO SHOPPING RIO SUL

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201730

na plataforma BIM, percebemos clara-mente as vantagens do referido conceito para o tipo de estrutura referida.

FIG. 4 – PROJETO EXECUTADO ÁRVORE EMBRAPA

FIG. 5 – PROJETO ÁRVORE EMBRAPA AUTOCAD

FIG. 6 – MODELO ESTRUTURAL ÁRVORE EMBRAPA - CONCEITO BIM

ÁRVORE EMBRAPAA “árvore” de aço com “copa” envidra-çada nos deu a possibilidade para nos

aprofundar no aprendizado do softwa-re Revit.Inicialmente, desenvolvemos o projeto utilizando o Software AutoCAD, visto que as estruturas eram simétricas em torno de um eixo central, porém a ne-cessidade de estudos diversos para de-talhes construtivos nos fez concluir que o conceito BIM era indispensável.Na figura 4 é mostrada a estrutura mon-tada. Nas figuras 5 e 6 são apresentados desenhos desenvolvidos no AutoCAD, e na figura 7 a árvore é vista através do modelo desenvolvido no conceito BIM, empregando-se o software Revit.

ONDA CARIOCAA cobertura envidraçada Onda Cario-ca, foi idealizada na expansão do centro comercial “Casa Shopping”, implantada na sua entrada principal, na Barra da Ti-juca, na cidade do Rio de Janeiro. Inau-gurada em 2013, a obra nos possibili-tou um valioso aprendizado quanto à utilização do conceito BIM em projetos de alta complexidade, tanto estrutural quanto de fabricação, montagem e de interfaces com outros componentes.Sob a responsabilidade da empresa austríaca SEELE, dentro do conceito BIM, as mais diversas disciplinas e for-necedores foram competentemente coordenados. Abaixo, resumimos em uma ficha técnica as participantes:• Construção – SEELE do Brasil;• Arquitetura – Escritório Israelense NIR

SIVAN; • Projetos de estruturas de aço e vidro

– Escritório Alemão KNIPPERS HELBIG GMBH;

• Fabricação das estruturas de aço – Em-presa Checa

• Fabricação dos painéis de vidro – Em-presa Chinesa

• Montagem das estruturas de aço – Em-presa Brasileira

A nossa participação na equipe, se deu pela exigência de um escritório brasilei-ro no processo, para validação de pro-cedimentos e normas empregadas.Nesse projeto, as interfaces entre os pai-néis de vidro e as estruturas de aço foram construídas virtualmente, possibilitando uma discussão antecipada de questões que só seriam apresentadas na ocasião da construção propriamente dita. Foram utilizados quinhentos e três di-mensões diferentes de painéis, com me-

ESTRUTURAS METÁLICAS | INTERAÇÃO ENTRE VIDRO E METAL

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didas de fabricação determinadas em projeto, demonstrando de forma ine-quívoca que a compatibilização tão ne-cessária foi conseguida pelo uso de um arquivo comum a todos os envolvidos. Atenção especial foi dada à montagem, face à forma livre da estrutura exigir que tensões ou deformações residuais fossem rigorosamente controladas.

4. FLUXOGRAMA DE IMPLANTAÇÃOConsiderando que assumimos a utiliza-ção do conceito BIM no nosso escritó-rio, apresentamos abaixo a forma como a nossa equipe de cinco engenheiros e três projetistas passou a adotar o novo conceito. No nosso entendimento essa não é uma tarefa fácil, pois constata-mos que, em muitos casos, diversas empresas não lograram êxito. Isso se deve a algo intrínseco ao ser humano, muito bem resumido pela frase do cé-lebre economista inglês John Maynard Keynes – “A dificuldade reside não nas novas idéias, mas em escapar das ve-lhas idéias”. Na figura 10, é mostrada a primeira etapa, em que os usuários são apresentados à ferramenta:

Posteriormente, iniciamos um progra-ma de treinamento interno bastante sacrificado, em face de termos de fa-zer uma transição com trabalhos em andamento sendo desenvolvidos no conceito convencional. Os prazos sem-pre curtos impediam a migração, pois a remuneração da empresa tinha de ser observada. Assim, optamos por adotar a seguinte tática: escolher um projetis-ta e efetivamente afastá-lo do conceito convencional. Começamos então a per-ceber que, aos poucos, o referido pro-jetista começava a irradiar informações aos demais. Com o passar do tempo, a equipe toda havia adotado o novo con-ceito. Na figura 11, apresentamos sim-plificadamente a metodologia adotada para implantação do conceito.

5. TÓPICOS RELEVANTES QUANTO A PLATAFORMA BIM:Após a utilização do conceito BIM, em diversos projetos, vemos de forma ine-

quívoca que as vantagens apresenta-das superam quaisquer dificuldades, principalmente nos dias de hoje em que os prazos são cada vez mais redu-zidos e os projetos arquitetônicos, em muitos casos, de elevada complexida-de. Resumindo: “O BIM é um processo para planejar, projetar, construir e gerenciar o ambiente construído, en-volvendo a criação e uso de modelos inteligentes 3D”.Abaixo destacamos os itens que consi-deramos o grande diferencial na utiliza-ção do conceito:

FIG. 7 – ONDA CARIOCA - PROJETO EXECUTADO

FIG. 8 – ONDA CARIOCA - ETAPA DE CONSTRUÇÃO

FIG. 9 – FLUXOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO PARTE 1

FIG. 10 – FLUXOGRAMA DE IMPLANTAÇÃO PARTE 2

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201732

6. EXEMPLOS DE MODELOS DESENVOLVIDOS NA PLATAFORMA BIM, UTILIZANDO O SOFTWARE REVIT:

6.1. Passarela do Centro de Eventos do Ceara – 55 m de vão:

6.3. Marquise do acesso principal – Shopping Bosque dos Ipês – Campo Grande/MS:

MODELO BIM

MODELO BIM

MODELO BIMMODELO BIM

PROJETO EXECUTADO

DETALHE BIM

PROJETO EXECUTADO

DETALHE BIM

6.4. Terminal Marítimo – Fortaleza/CE

PROJETO EXECUTADO

PROJETO EXECUTADO

6.2. Marquise Principal Shopping Iguatemi – Fortaleza/CE

ESTRUTURAS METÁLICAS | INTERAÇÃO ENTRE VIDRO E METAL

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MODELO BIM

MODELO BIM

MODELO BIM

PROJETO EXECUTADO

PROJETO EXECUTADO

PROJETO EXECUTADO

DETALHE BIM

DETALHE BIM

6.5. Passarela - River Center – Empreendimento comercial – Teresina/PI

6.6. Escada de vidro – Ed.LC Corporate – Fortaleza/CE

6.7. Fachada Ed. Morumbi Corporate – SP

6.8. Marquise Principal – Empreendimento Comercial – RJ (Em desenvolvimento)

DETALHE BIM

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201734

COLAPSO DE PONTE SOBRE O RIO MISSISSIPI

POR ANTONIO CARLOS REIS LARANJEIRASCOLABORAÇÃO DE ANTONIO CAPURUÇO

ARTIGO TÉCNICO | COLAPSO PONTE SOBRE O MISSISSIPI

Decifra-me ou devoro-te”, as-sim ameaçava a Esfinge, na peça de teatro Édipo Rei de Sófocles, aos que à sua fren-

te passavam, antes de propor-lhes o seu famoso enigma: “Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à

tarde tem três?” Os que não tinham habili-dade em responder ela estrangulava.Édipo resolveu o enigma: a resposta é o ser humano, que engatinha nas pri-meiras idades, anda sobre os dois pés ao crescer, e se apoia em uma bengala, quando idoso.

‘‘

FOTO 1 – VISTA AÉREA DA PONTE I-35W (INDICADA PELA SETA)

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A solução dos problemas de nossas es-truturas guarda estreita semelhança, muitas vezes, com as res-postas inábeis ao enigma, que acreditamos corretas, até que, de repente, surge a Esfinge à nossa frente e, tra-gicamente, nos devora.Essa bem poderia ser a intro-dução à história do trágico colapso de uma ponte sobre o rio Mississipi, nos Estados Unidos, relatado a seguir.Às 18 horas, sob inten-so tráfego de veículos, na quarta-feira, 1º de agosto de 2007, a ponte rodoviária I-35W, inaugurada em 1967, com 580 m de comprimen-to e oito pistas de tráfego, sobre o rio Mississipi, em Minneapolis, estado de Min-nesota, sofreu uma ruptura catastrófica no vão central com 155 m de treliça metá-lica, que o fez despencar de uma altura de 32 m dentro

de uma lâmina d’água de 4,5 m de pro-fundidade. A essa ruptura, seguiu-se o

colapso de toda a estrutura treliçada com 320 m de comprimento. Um total de 111 veículos transitava sobre o tre-cho da estrutura que entrou em colap-so, dos quais, apenas 17 foram retira-dos do rio, resultando em 13 mortos e 145 feridos.Ao lado da ponte I-35W, há uma travessia mais antiga e mais estreita, com estrutu-ra em arcos, que aparece em muitas fo-tos. As fotos a seguir dão vistas da ponte I-35W antes do colapso.As fotos que seguem apresentam a pon-te I-35W após seu colapso.

FOTO 2 – VISTA DO VÃO CENTRAL DA PONTE I-35W, LADO OESTE

FIG. 1 – ILUSTRAÇÃO DA ESTRUTURA DA PONTE I-35W, COM OS VÃOS DE ACESSO COM VIGAS RETAS E O TRECHO CENTRAL DE ESTRUTURA TRELIÇADA COM 323 M DE COMPRIMENTO

FOTO 4 – A PONTE I-35W APÓS O COLAPSO DE TODO O TRECHO COM ESTRUTURA TRELIÇADA, VENDO-SE O VÃO CENTRAL SEPARADO DO RESTO DA ESTRUTURA, DENTRO DO RIO

FOTO 3 – VISTA INICIAL DA SEQUÊNCIA DO COLAPSO, OBTIDA POR CÂMERA DE VIGILÂNCIA INSTALADA EM UMA PEQUENA BARRAGEM A MONTANTE. NESSA FOTO, VÊ-SE A TRELIÇA DESCENDO NA REGIÃO PRÓXIMA AO APOIO, AFASTANDO-SE DA GEOMETRIA ORIGINAL, EM VIRTUDE DA RUPTURA DA LIGAÇÃO NO NÓ ASSINALADO COM UM CÍRCULO. A SEQUÊNCIA DO VÍDEO MOSTRA O VÃO CENTRAL SEPARANDO-SE DO RESTO DA ESTRUTURA E CAINDO NO RIO

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201736

No dia do acidente, tinham lugar ser-viços de reparos nas pistas, estando quatro das oito pistas fechadas ao trá-fego, com máquinas e areia e brita para concreto estocadas sobre as pistas blo-queadas.

O Conselho de Segurança do Transporte Nacional (National Transportation Safety Board) determinou, após extensa e mi-nuciosa análise, que a provável causa do colapso da ponte I-35W foi a inadequa-da capacidade de carga, devida a erro

de projeto, das placas de ligação (gusset plates, ver foto 6) dos elementos da tre-liça que concorrem nos nós U10 (Leste e Oeste), as quais se romperam sob a combinação de (1) aumento substancial do peso da ponte, resultante de modifi-

FOTO 5 – O VÃO CENTRAL DA PONTE I-35W DENTRO DO RIO

FOTO 6 – PLACA DE LIGAÇÃO DOS ELEMENTOS DA TRELIÇA QUE CONCORREM EM UM NÓ (GUSSET PLATE)

FOTO 7 – PLACA DE LIGAÇÃO DO NÓ U10W (OESTE) APRESENTANDO ENCURVAMENTOS SOB CARGA

ARTIGO TÉCNICO | COLAPSO PONTE SOBRE O MISSISSIPI

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cações precedentes da estrutura, como aumento da espessura da laje, e (2) a carga do tráfego e dos materiais estocados sobre o ta-buleiro no dia do acidente. Segundo o mesmo Conselho de Segurança, contribuíram para esse erro de projeto da ponte I-35W a deficiência do controle de qualidade por parte do próprio projetista, que assegurasse o di-mensionamento adequado das placas de ligação, e a verificação insuficiente do projeto por parte dos órgãos de transporte oficiais, tanto estaduais como federais.Ainda segundo o Conselho de Segurança, contribuíram tam-bém para o acidente a prática geralmente adotada nos órgãos oficiais de transporte federais e estaduais ao não dedicar ade-quada atenção às placas de liga-ção (gusset plates), durante as inspe-ções, para suas condições de distorção e encurvamentos, e por excluir as placas de ligação nas avaliações de suas capa-cidades de carga. Em outras palavras, o projeto e a verificação das placas de ligação repetiram práticas consagradas e consolidadas de projeto, de verificação e de monitoramento, que se demonstra-ram, no colapso da ponte I-35W, como inadequadas e incorretas.Em inspeções realizadas antes do aciden-te, as fotos já indicavam encurvamentos das placas de ligação como mostra a foto

7. Os responsáveis pela inspeção afirma-ram que notaram o encurvamento, mas julgaram que teria sido causado na fase de montagem.A análise das placas de ligação sob as car-gas existentes na ponte I-35W, utilizando os recursos disponíveis em 2007, indicou que as placas já se encontravam em es-coamento nas regiões assinaladas na cor avermelhada, na figura 2 abaixo.O Departamento de Transportes do Es-tado de Minnesota, após o acidente, de-cidiu verificar as placas de ligação das 25 pontes metálicas treliçadas, existentes

no estado, identificando deficiências que motivaram interdição de tráfego em di-versas dessas pontes.Em maio de 2008, duas organizações fe-derais, a FHWA e a AASHTO instalaram uma comissão conjunta com o objetivo de desenvolver procedimento dirigido aos projetistas de pontes para projeto ade-quado das ligações entre elementos me-tálicos que concorrem em um mesmo nó.Logo após o acidente, o Departamento de Transportes do Estado de Minnesota fez revisão de seu Manual de Projeto de Pontes para incluir a exigência de que to-dos os projetos de grandes pontes fos-sem submetidos a revisão independente, conduzida por uma segunda empresa de projetos. “Grandes pontes” sendo defini-das como pontes que apresentam vãos de 75 m ou maiores. O objetivo declarado dessa exigência é “especificamente para reduzir o potencial de erros de projeto em seus respectivos documentos. “Os projetos de pontes qualificados como projetos usuais continuam a ser verifi-cados pelo próprio Departamento de Transportes.O Conselho de Segurança supracitado identificou que, em 14 estados investiga-dos, 11 deles reconheceram que projetos verificados e aprovados se demonstra-ram, mais tarde, como ineficientes e com soluções inadequadas.“Decifra-me ou devoro-te”, assim amea-çava a Esfinge.

FOTO 8 – IDENTIFICAÇÃO DO NÓ U10W (OESTE)

FIG. 2 – VISTA DO NÓ U10W, INDICANDO ENCURVAMENTO DAS PLACAS DE LIGAÇÃO, PROVOCADO PELO DESLOCAMENTO LATERAL DA EXTREMIDADE SUPERIOR DA PEÇA DIAGONAL. (PARA FACILITAR A VISUALIZAÇÃO, OS ENCURVAMENTOS E DESLOCAMENTO LATERAL FORAM AMPLIFICADOS 5X)

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1 – APRESENTAÇÃO

Uma das técnicas que mais se tem desen-volvido na época atual é a de recupera-ção e reforço de estruturas.Entre os fatores que mais influíram no desenvolvi mento das técnicas de re-cuperação de estruturas foi o advento da tecnologia do emprego do concreto projetado, um dos mais importantes re-cursos usados para consolidar ou refor-çar estruturas afetadas por defeitos de proveniências as mais variadas. Para isto, vale ressaltar o concurso de firmas espe-cializadas que vêm com eficiência cada vez maior colocar à disposição dos pro-jetistas e construtores todo um cabedal de recursos em maquinarias e pessoal al-tamente treinado para projetar e execu-tar os serviços ligados à recuperação de estruturas ou à execução de obras espe-ciais para as quais o concreto tradicional é menos indicado.Os engenheiros que até há pouco tempo desconheciam esta nova técnica come-çam agora a se conscientizar da necessi-dade de recorrer às firmas especializadas.De fato, o encaminhamento do problema de recuperação das estruturas, quando

pressionado pela premência de tempo ou pela influência de clientes, leigos mui-tas vezes, pode redundar em soluções empíricas, que podem revelar-se inade-quadas, ineficientes ou antieconômicas.Por falta de um estudo apropriado, em que as causas dos defeitos não tenham sido bem analisadas e o programa de execução não tenha levado em conta os processos e os equipamentos ade-quados, vultosas quantias podem ser despendidas sem lograr atingir a meta principal, qual a da garantia da seguran-ça e do bom funcionamento da estrutura para os fins a que se destina. E não raras vezes os defeitos se reproduzem acarre-tando novas despesas.Vamos apresentar neste trabalho as principais características do emprego do CONCRETO PROJETADO, o processo re-volucionário de executar obras especiais para recuperação, conserto e reforços de estruturas, com baixo custo e absoluta garantia de segurança.

2 – HISTÓRICOUniversalmente empregado há mais de 70 anos com grande êxito, o CONCRETO PRO-

TECNOLOGIA DE RECUPERACÃODE ESTRUTURAS1

1 Organizado pela equipe da firma CONCRETO PROJETA DO RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL LTDA com base na literatura nacional e estrangeira e experiência própria.

Com forma de rememorar alguns dos importantes temas tratados pela predecessora da revista Estrutura, vamos reeditar alguns artigos publicado no passado. A ideia é revisitar assuntos e conceitos técnicos, de forma a que o leitor possa ter uma noção da situação existente no passado e também perceber as alterações ocorridas ao longo do tempo. Vale observar que os conteúdos técnicos já sofreram alterações significativas ao longo do tempo.

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JETADO, também conheci do sob o nome de GUNITE, está sendo divulgado em nos-so País, pois que possibilita a solução mais técnica e mais econômica – em custos e prazos – de problemas de difícil resolução pelos processos tradicionais de lançamen-to de concreto. Em muitos casos, o CON-CRETO PROJETADO é a única solução viá-vel para problemas de recuperação com garantia de segurança a preço razoável.

3 – DEFINIÇÃOO CONCRETO PROJETADO é o concreto projetado a ar comprimido através de canhão próprio, sobre qualquer superfí-cie de obra existente de concreto ou al-venaria ou no interior de espaços vazios, com objetivo de reforçar ou recuperar estruturas de concreto armado ou outro qualquer tipo de obra que necessite de recuperação, consertos ou reforços.

4 – TECNOLOGIA4.1 – EquipamentoO concreto projetado lança mão, para sua aplicação, de um compressor de ar compri-mido com capacidade variando entre 325 e 600 p.c.m., além dos seguintes equipamen-tos próprios de projeção do concreto:4.1.1 – Máquinas de câmara dupla para

operação contínua.4.1.2 – Bomba d’água de alta pressão.4.1.3 – Mangote de transportes de con-

creto, munido de canhão.4.1.4 – Mangotes de ar comprimido.4.1.5 – Mangueiras d’água. Embora preferível, pode ser dispen-

sada energia elétrica no local da obra, podendo todo o equipamento funcio-nar somente a ar comprimido.

4.2 – EquipeA equipe a ser utilizada é a que se segue:4.2.1 – Operador de máquina.4.2.2 – Operador de canhão e ajudantes.4.2.3 – Serventes para medição, traço e

carregamento da máquina.4.2.4 – Pedreiros e ajudantes para de-

sempenar as superfícies concreta-das, sempre que necessário.

4.3 – OperaçãoO concreto, traçado a seco em betonei-ra, é conduzido a ar comprimi do através de mangotes de borracha até o local de lançamento, propiciando uma pressão

de até 60 lbs/pol² no bico de lançamen-to (canhão). E, então, adicionada a água por meio de uma bomba de alta pressão (90 lbs/pol²). Um dispositivo de controle permite manter um fator água/cimento adequado. Um operador no extremo da linha maneja o canhão, projetando o concreto de maneira contínua, em apli-cações sucessivas, sem limite técnico de espessura, sobre a superfície que vai receber o concreto projetado. Esta aplicação pode ser feita em pisos, su-perfícies inclinadas ou verticais, ou até mesmo em tetos, onde o concreto adere perfeitamente, em virtude do baixo fator água/cimento e da velocidade e pressão com que é projetado.Esta qualidade – inerente ao concreto projetado – o recomenda em muitos ca-sos como o único capaz de atender às exigências do serviço.

Cabe ao operador uma tarefa importante do processo, qual seja o controle da água para obtenção correta do fator água/ci-mento (0,35 a 0,55), conforme o tipo de serviço a executar. Água em excesso, além de reduzir a resistência à compres-são do concreto, daria margem ao seu escorrimento (sag). Água insuficiente, ao contrário, provocaria excessiva reflexão ou ricochete (rebound), acarretando per-da de material.Durante a operação são importantes a distância e o ângulo de incidência do jato, de modo a assegurar a continuidade da concretagem e o perfeito envolvimento da ar mação.

4.4 – Aspecto finalO concreto projetado dá à superfície tra-balhada aparência idêntica à do chapis-cado grosso, admitindo, entretanto, sar-

1 – APICOAMENTO2 – ARMADURA DE REFORÇO3 – EQUIPAMENTO PARA CONFECÇÃO DO CONCRETO4 – COLOCAÇÃO DO CONCRETO PROJETADO

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ARTIGO RETRÔ | REVISTA 47 - 1962

rafeado, alisado por desempenadeira de madeira ou de aço e outros especiais.

4.5 – Dos materiais componentes Podem ser usados:4.5.1 – Cimento e areia – para revesti-

mento de pequenas espessuras, ge-ralmente até 3 cm.

4.5.2 – Cimento, areia e pedra (diâmetro de até 3/8” ou 1/2”), para emprego como concreto estrutural.

4.5.3 – Cimento e agregados especiais – para utilização específica, como, por exemplo, isolamentos térmicos e acústicos e revestimentos impermeá-veis, refratários, antiabrasivos, resis-tentes a ácidos, etc.

5 – PRINCIPAIS QUALIDADES DO CONCRETO PROJETADO5.1 – AderênciaInúmeros testes mencionados na litera-tura especializada demonstraram a per-feita aderência entre o concreto projeta-do e a superfície sobre a qual é lançado, evidenciando que a aderência ao concre-to antigo, alvenaria, revestimento etc., é maior geralmente que a resistência do material sobre o qual se faz a projeção.Assim, ao ser rompida uma peça sobre a qual tenha sido aplicado o concreto pro-jetado, a fratura se dará em outro local que não o da superfície de contacto en-tre os dois materiais.A aderência do concreto projetado ao concreto antigo se deve principalmente à velocidade de seu lançamento e do impac-to sobre a superfície do concreto sobre o qual é lançado. Esta aderência também é conseguida através de um perfeito pre-paro da superfície sobre a qual ele será projetado, incluindo o corte do concreto esboroado ou fissurado e a aplicação de um jato de areia seguido de lavagem desta mesma superfície, com jato de ar e água.

5.2 – DensidadeDevi do à força com que é aplicado, o concreto projetado possui extrema den-sidade. Essa densidade lhe dá caracterís-ticas de grande impermeabilidade.

5.3 – Fator água/cimentoPossuindo o agregado de menor granu-lometria uma superfície “molhável” muito maior do que o agregado graúdo, o fator água/cimento de 0,35 a 0,55 do concre-

to projetado corresponde a um concreto extremamente seco e, portanto, de alta resistência, enquanto que o concreto tra-dicional, não projetado, em pregando es-ses mesmos agregados, e com o mesmo fator água/cimento, seria tão seco que a sua aplicação seria impraticável, por total ausência de trabalhabilidade.Por outro lado, as excelentes qualidades físicas do concreto projetado são devi das aos fatores:5.3.1 – Aplicação a alta velocidade re-

sultando na rejeição do partes do material conhecido por “rebound”, enquanto que o concreto normal é simplesmente despejado em formas.

5.3.2 – A quantidade de água se reduz à necessária para a hidratação, sem os excessos normalmente exigidos para a trabalhabilidade do concreto.

5.4 – ResistênciaEm função do baixo fator A/C, inerente ao processo e ao método de aplicação, o concreto projetado apresenta uma resis-tência à compressão bastante superior à do concreto normal. É importante as-sinalar a grande resistência do concreto projetado à tração do que resulta menor possibilidade de fissuração.

5.5 – Resistência à percolaçãoGraças ao seus atributos de densidade e baixo fator A/C, o em prego do concreto projetado é especialmente indicado na percolação em estruturas sujeitas à ação de gases destrutivos, álcalis, ácidos ou águas agressivas, podendo esta caracte-rística ser ampliada com o uso de aditivos ou cimentos especiais resistentes a am-bientes adversos.

5.6 – ExpansãoOs testes feitos com o concreto proje-tado com provaram que a expansão do concreto projetado é muito semelhante à do aço carbono, ensejando um mínimo de fissuração.

5.7 – Resistência ao fogoTestes clássicos demonstraram a extraor-dinária resistência do concreto projetado em caso de incêndio. Ele se comporta de modo superior ao concreto conven-cional, não só por estar menos sujeito à incidência da calcinação superficial, com o por melhor proteger a armação contra os efeitos do fogo.

5.8 – Auto-SustentaçãoÉ a auto-sustentação uma característica exclusiva do concreto projetado. Isto faz com que o seu emprego se constitua na única solução exeqüível para determina-dos problemas técnicos, especialmente no revestimento de estruturas, concreta-gem de formas especiais e outros.É também particularmente recomenda-do na concretagem de paredes verticais, especialmente delgadas, onde o concre-to normal encontra dificuldades para um perfeito enchimento das formas. Por ser auto sustentável, ele transmite o seu peso na vertical, reduzindo a necessida-de e de escoramento e de formas. Esta qualidade é assaz relevante em paredes de grande altura, onde o peso próprio do concreto normal gera dificuldades e obri-ga a um escoramento reforçado.

6. – ADITIVOSEm algumas obras, para atender a de-terminadas finalidades, ou a condições particulares de aplicação, poderá ser indicada a inclusão de aditivos específi-cos do concreto projetado, não devendo, então, ser empregados os normalmen-te utilizados no concreto tradicional. O mais conhecido, e praticamente o único a ser usado, é o acelerador de pega. Este aditivo é encontrado no mercado sob diferentes marcas e, se empregado em condições corretas, oferece excelente desempenho.

7 – APLICAÇÕESO uso do concreto projetado se reco-menda nas seguintes obras:7.1 – Concretagem de estruturas de pou-

ca espessura.

7.2 – Recuperação de estruturas atingidas por incêndio, ou submetidas à ação de águas agressivas, ou expostas por longo tempo à ação das intempéries.

7.3 – Reforços estruturais em geral.

7.4 – Concretagem de formas especiais: cúpulas, superflcies reversas, pisci-nas irregulares, cascas, etc ...

7.5 – Concretagem em locais de difícil acesso ou elevados: galerias, conten-ção de encostas, etc ...

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7.6 – Revestimento de túneis.

7.7 – Revestimentos protetores contra a propagação do calor e a ação do fogo.

7.8 – Revestimento de canais e concreta-gem de reservatórios.

7.9 – Revestimento em geral e proteção de taludes.

7.10 – Capeamento protetor e de reforço de estruturas metálicas.

7.11 – Concretagem de piscinas e reser-vatórios internos ou elevados.

8 – TAREFAS INERENTES AO PROJETO E EXECUÇÃO DE RECUPERAÇÃO DE ESTUTURASAs tarefas relativas à recuperação de uma estrutura, inclusive consertos e reforços, devem obedecer à seguintes etapas:1) Vistorias e pesquisas iniciais.2) Análise dos fenômenos.3) Verificação da segurança da obra

existente.4) Causas dos fenômenos e diagnóstico

das normal idades constatadas.5) Projeto de recuperação.6) Plano de execução e especificações.

8.1 – Vistoria e pesquisas iniciaisA vistoria da obra tem por objetivo o le-vantamento das anomalias com a inspe-ção visual e com a realização de pesquisas complementares para um perfeito levan-tamento da estrutura existente, inclusive através de sondagens para verificar os diâmetros e posição das armaduras.Nesta etapa, recorre-se aos projetos da obra original sempre que possível.

8.2 – Analise dos fenômenosÉ de suma importância uma análise dos fenômenos e de suas causas por pessoal técnico especializado e experiente. Nesta etapa, é avaliada a gravidade de cada fe-nômeno e organizada uma planilha deta-lhada indicando a natureza de cada ano-malia constatada.

As anomalias mais comuns nas estru-turas são:

– Fissuras que podem ser estáveis ou em desenvolvimento. Para análise de uma fissura, é importante verificar sua causa com base na sua posição e na sua abertura. Este fenômeno re-quer muita experiência da equipe de observação. Em certos casos, é preci-so pesquisar se a fissura está em de-senvolvimento ou é estável, através de colocação de “selos” (chapas de vidro presas nos extremos com ges-so). Quando a fissura for capilar (da grossura de um cabelo), deve-se me-dir sua abertura com régua graduada de plástico transparente.

– Desagregação ou segregação do concreto, que pode ocorrer por defeito de construção, ou ser prove-niente de expansão e esmagamento devidos a esforços imprevistos, ou em virtude de oxidação ou dilatação da armadura.

– Deformações anormais, tais como flechas, recalques e dilatação pro-veniente de retração ou variação de temperatura.

8.3 – Verificação da segurança da obra existenteÉ importante – antes de iniciar os estu-dos para determinação das causas dos fenômenos e da indicação do diagnóstico definitivo das anormal idades – estudar a segurança da obra existente para julgar a necessidade de obras de reforços e emi-tir parecer sobre os perigos a que a obra pode estar sujeita.A verificação da segurança da obra exis-tente deve ser feita por processos espe-ciais diferentes daqueles que servem de base para o projeto.É necessário levar em conta que a obra existente pode ter sofrido a influência dos fenômenos de adaptação plástica devidos a seu estado anormal, o que leva a estudar a segurança através de métodos especiais com base na segu-rança global, levando-se em conta o funcionamento em regime plástico ou de ruptura.Estes estudos indicarão a necessidade ou não de reforços em cada um dos elemen-tos da estrutura existente e podem re-presentar um subsídio importante para o projeto de recuperação, levando muitas vezes a um menor custo na execução dos reforços, que devem restringir-se àque-les absoluta mente necessários.

8.4 – Causa dos fenômenos e diagnós-tico das anomalias constatadasCom os estudos feitos nas etapas ante-riores, será emitido parecer indicando as causas dos fenômenos e as ações neces-sárias para a recuperação. Este parecer conterá o diagnóstico das anormalidades constatadas.

8.5 – Projeto de recuperaçãoOs serviços de recuperação de uma es-trutura, para serem eficientes dentro do menor custo possível, devem ser objeto de um projeto de que fazem parte:

– Plano geral dos serviços, sua localiza-ção e seus detalhes.

– Dimensionamento dos serviços e seus quantitativos.

8.6 – Plano de execuçãoO plano de execução indicará a natureza de cada serviço, os equipamentos a se-rem usados e suas especificações.

9 – TECNOLOGIA DE EXECUÇÃO DO CONCRETO ARMADO COM O EMPREGO DE CONCRETO PROJETADOO roteiro de execução dos serviços de recuperação estrutural é o que se segue:

9.1 – Identificação das zonas de concreto calcinado, desagregado, segregado ou afetado pela oxidação da armadura.

9.2 – Identificação das zonas fissuradas.

9.3 – Recuperação por meio de solda-gem, colagem ou justa posição da fer-ragem deformada ou oxidada; a fim de se reconstituir a seção original da armadura.

9.4 – Aplicação de jato de areia de alta intensidade, a fim de preparar as su-perfícies a serem recuperadas.

9.5 – Colagem das fissuras, inclusive com uso de injeção de resina epoxy.

9.6 – Aplicação de concreto projetado, a fim de recompor a seção original das peças estruturais com ou sem os re-forços que forem indicadas no proje-to de recuperação.

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10 – RECOMENDAÇÕES ADICIONAIS10.1 – Deve-se sempre empregar um tra-

ço para o concreto de recuperação com qualidade compatível com a es-trutura original (mesma resistência).

10.2 – Durante a execução, deverão ser retiradas todas as camadas porven-tura existentes de concreto calcina-do, segregado ou desagregado.

10.3 – A recomposição da armação deve ser feita principalmente por solda-gem. Entretanto, nos casos de arma-ção com ferros encruados a frio, tipo TORSTHAL, o calor da solda pode re-duzir a resistência adicional devida ao encruamento a frio. Através de técnica especial de soldagem, com baixa tem-peratura, pode-se conseguir bons re-sultados sem perda de resistência. Em casos específicos, pode ser emprega-da também a colagem epóxica.

Quando se usa camada de concreto adjacente ou encamisamento, as arma-duras previstas nestes reforços são in-corporadas por aderência e, na maioria das vezes, não precisam ser soldadas ao concreto ou às armaduras existentes.

10.4 – A qualidade do jato de areia deve ser comparável à que se utiliza numa chapa para acabamento com jatea-mento abrasivo no metal branco, afim de proporcionar uma perfeita ade-rência. A limpeza posterior ao jato de areia também tem que ser feita com jato de ar e água bastante intenso, ca-paz de retirar toda a camada “gomo-sa” que fica sobre o concreto.

10.5 – A aplicação do concreto projeta-do deve ser feita por um operador altamente qualificado e utilizando máquina capaz de lançar concreto de quantidades variáveis, pois em geral as peças têm pequenas espessuras. Assim, na maior parte das vezes, é preciso lançar quantidade pequena de concreto. Somente uma máquina que permita variar a quantidade de material poderá executar satisfato-riamente serviços de recuperação.

10.6 – As últimas camadas de revesti-mento para acabamento deverão ser

feitas após o endurecimento das ca-madas principais, isto porque elas se-rão submetidas ao desempeno, que, se aplicado a camadas ainda frescas, poderá provocar deslocamentos in-ternos do concreto não perceptíveis.

11 – TECNICAS PARALELAS A EXECUÇÃO DA RECUPERAÇÃO COM CONCRETO PROJETADOParalelamente à execução com concreto projetado, podem-se usar as seguintes técnicas:

11.1 – Recuperação com colagem epó-xica.

11.2 – Encamisamentos.

11.3 – Injeção de fissuras.

11.4 – Reforços diversos.

11.6 – Revestimentos de argamassa, capeamentos com concreto proje-tado, revestimentos especiais.

12 – VANTAGENS ECONÔMICAS NO EMPREGO DO CONCRETO PROJETADO

A aplicação do concreto projetado permi-te a economia de custos e de prazos das seguintes ações:

12.1 – Transporte do concretoCom o concreto projetado vencem-se distâncias de até 250 m na horizontal e desníveis de até 150 m, sem necessidade de andaimes, rampas ou plataformas, fa-cilitando, assim, e tornando mais rápido o trabalho em locais de difícil acesso.

12.2 – Execução de formasDevido à auto-sustentação do concre-to projetado, torna-se dispensável pelo menos um lado das formas, proporcio-nando um mínimo de 50% de econo-mia. Em muitos casos, a forma pode ser totalmente suprimida, como ocorre na concretagem de paredes, nas recu-perações estruturais e principalmente em muros de arrimo e em reservatórios subterrâneos.

12.3 – Execução de andaimes e escora-mentoPor ser desnecessário o enchimento das formas pela parte superior, grande par-te dos andaimes pode ser eliminada. O peso próprio do concreto, projetado é re-sistido principalmente pela armação. E o escoramento será bem mais leve do que o exigido pelo concreto comum.

12.4 – Retirada das formasA redução das formas acarreta logica-mente a correspondente redução da operação de desmontagem.

12.5 – Chapisco e acabamentoO próprio acabamento do concreto pro-jetado permite a aplicação do revesti-mento, sem necessidade de chapisco ou emboço.

12.6 – EncamisamentoPela grande aderência entre o concreto projetado e a superfície sobre a qual é lançado, dispensa-se na maioria das ve-zes encamisamento, evitando aumento de volume e peso. Encamisamentos de pequena espessura podem ser usados com muita eficiência na recuperação com concreto projetado.

12.7 – ImpermeabilizaçãoA elevada densidade decorrente do pro-cesso de aplicação faz com que se obte-nha, com menor espessura, um concreto praticamente impermeável, dispensan-do-se serviços especiais de impermeabi-lização, salvo em casos especiais.

12.8 – Energia elétricaA instalação do equipamento no local da obra independe de ligação de energia elétrica, o que possibilita o imediato iní-cio dos trabalhos.

13 – CONCLUSÕESTodas as vantagens que acabam de ser enu-meradas mostram que o uso do concreto projetado resulta em economia de tempo e de dinheiro, além das vantagens técnicas, já consagradas na prática. Assim, temos a cer-teza de que, ao recomendarmos o emprego adequado do concreto projetado, estamos apresentando a solução mais econômica, mais rápida e eficaz aos técnicos e constru-tores para os serviços de recuperação, con-serto e reforços de suas estruturas.

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NOTAS E EVENTOS

PRÊMIO TALENTO COMPLETA 15 ANOS

Criado em 2003 na gestão do engenheiro Júlio Timerman à frente da ABECE, o Prêmio Ta-lento se consolidou, ao longo

desses anos todos, como uma das mais importantes premiações da engenharia brasileira, ao reconhecer e valorizar as realizações de dezenas de projetistas de estruturas. Fruto de uma parceria entre a Gerdau e a ABECE, o Prêmio tem como objetivo principal incentivar os profissio-nais que desenvolvem projetos de desta-

que na engenharia estrutural do País. Apesar de já existir no país vá-

rias premiações na área da construção, ne-nhuma era especifi-camente focada no trabalho do enge-nheiro de estruturas. “O Prêmio confere aos agraciados uma

valorização sem igual em qualquer outra premiação assemelhada na construção civil brasileira. Reco-nhece, além do mé-

rito do trabalho bem fei-

PREMIAÇÃO SE CONSOLIDA COMO UMA DAS MAIS IMPORTANTES DA ENGENHARIA BRASILEIRA

to, também a tecnologia aplicada e o alto grau do desenvolvimento da engenharia estrutural brasileira sem aferir a seguran-ça da estrutura”, comenta o engenheiro João Alberto de Abreu Vendramini, vice--presidente da ABECE.O Gerente de Marketing Construção Ci-vil da Gerdau, Marcelo Chang Baldino, considera a valorização do engenheiro como um dos pilares de maior relevância para o sucesso da premiação. “O prêmio reconhece e valoriza um profissional fun-damental na construção civil, que é o en-genheiro de estruturas. É ele quem con-cebe e estabelece o que a estrutura irá suportar em cada uma das construções, sendo responsável direto por sua segu-rança, viabilidade técnica e econômica. Este é o reconhecimento que buscamos alcançar com o prêmio, ao divulgar os profissionais e suas soluções criativas de engenharia estrutural em obras de todos os portes e para todas as finalidades”, co-menta o executivo. No início, o objetivo era testar o concei-to e a receptividade – o primeiro prêmio contou com apenas 10 inscritos, porém já eram projetos de excelência e relevân-cia técnica. Com o passar do tempo, seu formato foi sendo ampliado, com a cria-

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ção de novas categorias. Em toda sua trajetória já avaliou, aproximadamente, 1.300 projetos, dos quais 40 foram pre-miados. Os organizadores acreditam que toda a longevidade da premiação, assim como a credibilidade conquistada, resulta da seriedade e do respeito pelos trabalhos inscritos.“Certamente que nessa caminhada tivemos acertos e desacertos, e alguns profissionais não ficaram satisfeitos com o resultado, contudo a transparência e a retidão da conduta de todos os envolvidos no proces-so garantiram a possibilidade de termos chegado a esta 15ª edição, a qual espera-mos, seja marcada por um sucesso”, con-clui Vendramini.Outro fator importantíssimo para a lon-gevidade do Prêmio é a evolução do profissional de engenharia de estrutura brasileira, que é altamente qualificado, com capacidade técnica, criatividade e uma resiliência espetacular. “O engenhei-ro de estruturas merecia uma ação à altura de suas realizações. Em todas as edições, demos o melhor na condução o Prêmio Talento Engenharia Estrutural. O resultado deste processo é o grande reconhecimento do meio técnico, a importante representati-vidade e a valorização que sempre busca-mos para os profissionais. Esta é a missão do Prêmio”, complementa Baldino.A qualidade desse profissional gera um dos maiores desafios do Prêmio e acen-tua o trabalho da comissão julgadora, composta por quatro membros indicados pela ABECE, três indicados pela Gerdau e um indicado pela Editora Pini. Atualmen-te, a premiação está dividida em cinco

categorias. Na de Infraestrutura, são contemplados projetos estruturais volta-dos para a área pública (exceto edifícios), tais como aeroportos, cais, túneis, termi-nais, pontes, viadutos, passarelas, obras de saneamento, portos, barragens, etc. Em Edificações são consideradas as es-truturas destinadas a utilização residen-cial, comercial, escolar, industrial, entre outras, com área construída maior que 3.000m2. Outra categoria é a de Obras de Pequeno Porte, que aprecia as estrutu-ras residenciais, com área construída de até 3.000 m2.A quarta categoria do Prêmio Talento é a de Obras Especiais, que engloba projetos estruturais com sistemas construtivos específicos e diferenciados como antenas de telecomunicações, esculturas, monu-mentos, reforços estruturais, obras de “retrofiting”, coberturas, etc. Por fim, te-mos a categoria denominada Construção

Industrializada que considera estruturas pré-fabricadas, estruturas pré-moldadas de canteiro, estruturas metálicas, etc.Entre os aspectos avaliados em todas as categorias estão o uso adequado de materiais, a economia de insumos, a concepção estrutural, a implantação harmônica em relação ao ambiente, os processos construtivos, a originalida-de, a beleza e a criatividade. Além dos vencedores de cada categoria, são es-colhidas ainda o Destaque do Júri e um projeto no quesito Sustentabilidade, que recebem menções honrosas, assim como uma obra escolhida pelo público na votação online.A solenidade de entrega da premiação, que em 2017 acontecerá no dia 28 de se-tembro, após o ciclo de palestras do ENE-CE – Encontro Nacional de Engenharia e Consultoria Estrutural, já se tornou um evento anual incorporado ao calendário de atividades. Um grande público, pro-veniente de diferentes regiões do país, é atraído pela cerimônia de premiação, que acabou, ao longo dos anos, se transfor-mando também num ponto de encontro obrigatório de engenheiros, projetistas e demais envolvidos com a engenharia bra-sileira. Além dos profissionais da área de estrutura, a solenidade também é presti-giada pelas principais lideranças setoriais da engenharia brasileira, como presiden-tes e diretores das demais entidades re-presentativas do setor.As inscrições do Prêmio Talento Enge-nharia Estrutural 2017 poderão ser fei-tas a partir de 30 de abril. Participe, inscreva seu projeto!!!Maiores informações em: www.abece.com.br

NOTAS E EVENTOS

ASPECTOS COMO CONCEPÇÃO ESTRUTURAL DAS OBRAS SÃO CONTEMPLADOS PARA A ESCOLHA DOS PREMIADOS

NOS SEUS 15 ANOS DE EXISTÊNCIA, PRÊMIO TALENTO AVALIOU CERCA DE 1.300 PROJETOS, PREMIANDO 40 DELES

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O 20º ENECE – Encontro Nacio-nal de Engenharia e Consulto-ria Estrutural, a ser promovi-

do pela Abece no dia 28 de setembro, terá um atrativo adicional neste ano. O dia seguinte, 29 de setembro, foi reservado para o Workshop Model Code 2020, uma iniciativa da fib (In-ternational Federation for Structural Concrete), em conjunto com a ABECE – Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural e ABCIC – As-sociação Brasileira da Construção In-dustrializada de Concreto, entidades que constituíram o Grupo Nacional especialmente para a realização do Workshop.“Como o Model Code 2020 é o docu-mento mais importante da fib e nós participaremos de sua elaboração, a ideia é que se discuta as realidades encontradas na engenharia do Brasil e da América Latina”, explica Fernan-do Stucchi, integrante da Comissão 10 da fib, grupo responsável pelo desen-volvimento do Código Modelo – FIB-MC-2020, além de ser o coordenador do Grupo Nacional e representante da América Latina na elaboração do MC 2020. “É uma oportunidade ímpar de termos no país renomados profissio-nais internacionais e, juntamente com

a engenharia nacional, não só partici-parmos de palestras de importantes temas, mas também debatermos as principais questões que envolvem as estruturas de concreto”, diz Íria Do-niak, presidente-executiva da ABCIC, que acrescenta que o novo código en-globará ainda as estruturas existentes, além da revisão e atualização do con-teúdo para novas estruturas.A programação final do Workshop deverá ser submetida à direção da fib. O Grupo brasileiro foi formalmen-te constituído em reunião realizada na sede da ABECE, em São Paulo, no início de março, e a definição dos tó-picos, assim como dos nomes dos conferencistas, também conta com a colaboração da engenheira Íria, que, assim como Stucchi, tem tido uma atuação destacada na direção mun-dial da fib. No caso de Íria, ela foi, in-clusive eleita pela assembleia geral da fib para fazer parte do Presídium, o órgão gestor da entidade, pelos pró-ximos quatro anos.Embora ainda dependa de confirma-ção da disponibilidade das agendas dos convidados, alguns como nomes estão certos para a abertura do Work-shop. Além da própria Íria, o presiden-te da ABECE, Jefferson Dias de Souza

Júnior; e o presidente da fib, Hugo Cor-res Peiretti. Também devem integrar a programação, Stucchi, além de repre-sentantes da América Latina. Estão previstos temas como: Visão Geral do fibMC2020, que pretende integrar es-truturas novas e já existentes; Concre-to de Ultra Alta Resistencia; Confiabili-dade das estruturas Novas e para as Existentes; Robustez e Resiliência; Pro-jeto em áreas Sísmicas; Manutenção e Intervenções ao longo da Vida Útil; e Sustentabilidade, entre outros.O cronograma de desenvolvimento do Model Code 2020 também foi co-mentado pelo presidente da fib, Hugo Corres na longa entrevista concedida à ESTRUTURA (página 6). Segundo Corres, o Workshop a ser realizado no Brasil, faz parte de uma série de ou-tros, programados em diversos paí-ses, e deve culminar com o Congresso da fib a ser promovido em Melborne, na Austrália, em 2018, onde deverão ser apresentados os primeiros resul-tados dos vários workshops.O Grupo Nacional conclama a que to-dos os profissionais participem dos debates e espera receber comentários e sugestões para que, com represen-tatividade nacional, possa levar as con-tribuições brasileiras ao novo código.

WORKSHOP fib MC2020

BRASIL SERÁ SEDE DE WORKSHOP SOBRE O MODEL CODE 2020 DA FIB

Sempre atenta à conjuntura eco-nômica e seus efeitos sobre a construção civil e a engenharia

brasileira, a ABECE decidiu promover o Workshop Momento Atual do Mercado da Construção Civil. Reunindo execu-tivos do setor de construção civil, for-

madores de opinião e profissionais da área para debater e detalhar aspectos da visão atual do cenário econômico, seus impactos na atividade da constru-ção e da engenharia, assim como tra-çar algumas perspectivas para o curto, médio e longo prazos no segmento no

Brasil. O encontro, está agendado para dia 17 de maio de 2017, das 13h30 às 19h, no Milenium Centro de Conven-ção, na rua Dr. Bacelar, 1040, em São Paulo/SP.Informações e inscrições no www.abece.com.br

WORKSHOP MOMENTO ATUAL DO MERCADO DA CONSTRUÇÃO CIVIL

ABECE DEBATE O CENÁRIO ECONÔMICO ATUAL E SEUS IMPACTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201746

O QUE ELES QUEREM DE NÓS | COMO É UM ENGENHEIRO DE SUCESSO

Quando eu tinha 12 anos, tal-vez até antes, eu sabia que ia ser engenheiro estrutu-ral. Não sei como isso acon-

teceu. Não era a influência de meu pai, ele era um advogado e minha mãe artista. Talvez fosse porque o pai de meu pai era um arquiteto da marinha, uma profissão que exigia mais conhe-cimento de engenharia estrutural do que arquitetura. No entanto, ele fale-ceu antes de eu nascer. Considerando todos os fatores, devo concluir que o desejo de ser um engenheiro estru-tural, de alguma forma, era inato. Eu sempre tive a capacidade de entender a influência da gravidade sobre as coi-sas que resistem e eu poderia visuali-zar a estrutura por trás de uma pare-de sem realmente vê-la. Talvez essas habilidades são pontos essenciais na construção de um engenheiro estru-tural bem-sucedido, mas agora, sendo mais velho, experiente e aposentado, sei que vai além disso. A parte que não é inata é o assunto dos parágrafos a seguir. Exploraremos algumas das ca-racterísticas de um engenheiro estru-tural bem-sucedido, classificado em categorias de conhecimento, habilida-de e posturas.Antes de navegar através do labirinto de conhecimentos necessários, ha-bilidades e posturas ligadas a ser um engenheiro estrutural de sucesso,

CARACTERÍSTICA DE UM ENGENHEIRO DE ESTRUTURAS DE SUCESSO

POR JOHN G. TAWRESEY S.E. (*)KPFF CONSULTING ENGINEERS

SEATTLE, WASHINGTON USA

devemos ter algum consenso sobre o significado do sucesso. Restringir o significado do sucesso ajudará signi-ficativamente a reduzir a discussão e nos conduzirá por um caminho rela-tivamente bem marcado e percorri-do, sendo objeto de muitos estudos e artigos anteriores. Vamos tentar uma definição simples. Um engenheiro es-trutural bem-sucedido é um profissio-nal que projeta estruturas que não fa-lham. Ou, expandindo a definição para incluir alguns critérios adicionais, um engenheiro estrutural bem-sucedido é aquele que projeta estruturas custo efetivo que não falham ou, além disso, um engenheiro estrutural bem-su-cedido é quem projeta estruturas que são criativas e duradouras. Se-gue-se que as estruturas duradouras não falham.Muitas vezes eu ouço, geralmente lá do fundo da sala, que ser um enge-nheiro estrutural bem-sucedido sig-nifica ganhar muito dinheiro. Talvez seja verdade, mas você pode fazer um monte de dinheiro gerenciando uma empresa de engenharia estrutural, sem exercer engenharia. Você pode ganhar muito dinheiro, aplicando prin-cípios de engenharia estrutural para investir no mercado de ações, ou ou-tros empreendimentos de negócios. Em vez disso, gosto de pensar que o dinheiro é uma consequência de pro-

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jetar estruturas criativas, econômi-cas e duradouras.Outra frequente métrica utilizada para o sucesso é ter clientes satisfeitos, receber prêmios ou reconhecimen-to de seus pares. Estes são objetivos nobres, mas novamente eles são as-pirações realizáveis como consequên-cia de projetar estruturas criativas, econômicas e duradouras.Agora que o sucesso está definido, as características dos engenheiros estru-turais, relacionadas ao sucesso, e clas-sificadas em conhecimento, habilidade e posturas, podem ser discutidas.Primeiro conhecimento. O conheci-mento é em grande parte cognitivo, da mente, e consiste de teorias, prin-cípios e fundamentos. Exemplos de conhecimentos necessários para um engenheiro estrutural bem-sucedido incluem o conhecimento de geome-tria, cálculo, vetores, atrito, tensão e deformação, energia, continuidade e variabilidade.O conhecimento da engenharia estru-tural não é muito antigo. Apenas 250 anos atrás, com base no pressuposto de que as seções planas permanecem planas, Leonhard Euler e Jacob Ber-noulli, acadêmicos que fizeram con-tribuições consideráveis para o cam-po da matemática, criaram a teoria de viga de Euler-Bernoulli. Na época, os engenheiros duvidavam da teoria. Eles não acreditavam que os acadê-micos pudessem contribuir para o conhecimento dos engenheiros, parti-cularmente os acadêmicos que traba-lham no campo da matemática. Mas, a teoria foi comprovada com o projeto e construção da Torre Eiffel, e a enge-nharia estrutural, como a conhecemos hoje, nasceu.A equação de Euler-Bernoulli, My/ I, é bem conhecida e compreendida por todos os engenheiros estruturais. Um engenheiro estrutural bem-sucedido pode desenvolver ou derivar a equa-ção a partir dos pressupostos funda-mentais. Essa não é uma habilidade ou uma postura. É conhecimento que consiste em teorias, princípios e fun-damentos, e é aprendido.Próxima característica: habilidade. Habilidade é a capacidade de executar tarefas. Não é cognitivo como o conhe-cimento. Um engenheiro estrutural

bem-sucedido precisa de habilidades, além de conhecimento, para projetar estruturas. Por exemplo, os engenhei-ros estruturais de hoje precisam da habilidade para executar programas de computador, converter conceitos de mecânica simples em planilhas fun-cionais [substituindo a calculadora e a regra de cálculo] e desenvolver mo-delos de elementos finitos para distri-buir cargas globais. E, para comunicar desenhos, eles precisam da habilidade de usar programas de desenho auxi-liado por computador (CAD). As habi-

lidades necessárias de um engenheiro estrutural bem-sucedido mudaram ra-pidamente nos últimos anos.Por último: postura. Postura significa as maneiras que uma pessoa pensa e sen-te em resposta a um fato ou situação. As posturas refletem os valores de um indivíduo. Como ele “vê” o mundo, não em termos de visão, mas em termos de percepção, interpretação e aproxima-ção. Exemplos de posturas são descri-tos usualmente por termos familiares à maioria, como impetuoso, comprometi-do, persistente, arrogante, etc.

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201748

Relacionar as posturas com o sucesso da engenharia estrutural não é fácil, provavelmente porque é o menos es-tudado. Mas ter postura é provavel-mente a característica mais importan-te a considerar.Ao contrário do conhecimento e das habilidades, as posturas de um enge-nheiro não podem ser medidas con-tra algum padrão definido. Qualquer tentativa de fazê-lo provavelmente falhará, pois, qualquer padrão será subjetivamente criado e levará consi-go muitas ambiguidades.As posturas podem ser ensinadas? Alguns respondem a esta pergunta, “não” e outros respondem, “sim”. Mas, podemos ensinar e orientar sobre

posturas, assim como podemos ensi-nar e orientar sobre qualquer assun-to. A questão essencial é: “As posturas podem ser aprendidas?” A maioria, particularmente os membros seniores da profissão, observaram que as pos-turas mudam e acreditam que as pos-turas podem ser aprendidas e evoluir com a prática e a experiência.Agora que temos um esqueleto con-ceitual e algumas características iden-tificadas, qual característica melhor se correlaciona ao sucesso como enge-nheiro estrutural?Nós já reconhecemos que a compreen-são da equação de Euler-Bernoulli é conhecimento necessário, provavel-mente aprendido no início do currí-

culo de engenharia como uma das ferramentas essenciais na caixa de ferramentas de um engenheiro es-trutural. No entanto, um engenheiro estrutural bem-sucedido precisa de mais conhecimento para projetar com sucesso uma viga, ou mais apropriada-mente, precisa saber quando as equa-ções de Euler-Bernoulli simplificadas não se aplicam mais.Em 1922, Stephen Timoshenko expan-diu a equação de Euler-Bernoulli para incluir deformação por cisalhamento. O comportamento de vigas curtas, vi-gas compostas e vibrações de vigas, pode não ser adequadamente previs-to sem a consideração da deformação por cisalhamento. No entanto, a ex-

pansão de Timoshenko na equação de viga de Euler-Bernoulli muitas vezes não é ensinada no currículo de gradua-ção ou se ensinada não é lembrada.A história da teoria de viga serve como exemplo. Observa-se que os enge-nheiros estruturais bem-sucedidos exibem uma paixão pelo aprendiza-do contínuo e o aprendizado contí-nuo quase sempre se correlaciona com uma postura de ser curioso. En-genheiros estruturais bem-sucedi-dos querem saber por que e como, e muitas vezes irritam os outros com a sua persistência para expandir a dis-cussão para questões, percebido pelo ouvinte como não relacionados com o problema em questão.

Aprendizagem contínua e curiosidade proporcionam ao engenheiro o co-nhecimento para compreender o nível de qualidade e detalhe exigido para o projeto. Essa é uma parte crítica do sucesso. O projeto de uma asa para um avião comercial requer um nível diferente de qualidade e detalhe do que uma terça típica [exceto, talvez, uma terça em forma de Z em um edi-fício em estruturas metálicas]. O nível de qualidade e detalhe exigido para o projeto determina as ferramentas a serem empregadas [Euler-Bernulli ou Timoshenko] e tomar a decisão corre-ta é a chave para ser bem-sucedido.Mais do que no passado, os engenhei-ros estruturais de hoje trabalham em um ambiente nebuloso onde os princí-pios fundamentais da mecânica estão escondidos da vista. Eles estão ocultos dentro das ferramentas codificadas que estão sendo usadas, geralmente inten-cionalmente ocultas à vista por razões empresariais proprietárias. É quase im-possível para um engenheiro extrair da documentação do software até mesmo do código do programa as suposições necessárias para determinar o nível apropriado de qualidade e detalhe.Para não ser desencorajador, essa não é uma situação sem esperança. Os engenheiros precisam fazer o que os engenheiros de sucesso fazem, seja curioso. Quando confrontado com uma nova ferramenta de projeto, ex-perimente. Crie modelos simples que forneçam visibilidade nas suposições fundamentais feitas. Experimente os limites das entradas do progra-ma. Encontre a fraqueza. Isso exigirá geralmente mais conhecimento dos fundamentos da mecânica do que no passado. Aplique os fundamentos e observe a resposta. Isso pode ser de-morado, mas se você é curioso, deve ser divertido.Em resumo, é minha opinião que a ca-racterística que melhor se correlacio-na com ser um engenheiro estrutural bem-sucedido é a curiosidade, levan-do a uma postura de aprendizagem contínua e experimentação.

(*) Tradução: Guilherme ParsekianA versão em inglês do artigo está disponível em abece.com.br/pdf/JournalArticle-gap.pdf

A característica que melhor se correlaciona com ser um engenheiro estrutural bem-sucedido é a curiosidade

O QUE ELES QUEREM DE NÓS | COMO É UM ENGENHEIRO DE SUCESSO

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NORMAS TÉCNICAS | NBR 6122

REVISÃO DA ABNT NBR 6122:2010 PROJETO E EXECUÇÃO DE FUNDAÇÕES

POR: FREDERICO F. FALCONITIAGO G. RODRIGUES JAIME D. MARZIONNA

IVAN GRANDISMARIO CEPOLLINA Em 25 de outubro de 2016, com

orientação da ABNT, formou-se a comissão CE-002:152.008 (Comis-são de Estudos de Obras Geotéc-

nicas e de Fundações) para o estudo e revisão da NABNT NBR 6122:2010 – Pro-jeto e Execução de Fundações. A insta-lação dessa comissão foi iniciativa da ABEF, com apoio das associações ABMS e ABEG, fruto do estímulo da ABNT para que cada cinco anos, se faça a revisão das normas vigentes de maneira a atua-lizá-las técnica e cientificamente, aten-dendo assim as demandas da sociedade, com a necessidade de revisão pontual de aspectos da mencionada norma, após seis anos de sua vigência e utilização pelo meio técnico.Participam da revisão da norma além das já mencionadas associações, represen-tantes da ABCP, da ABESC, do Ibracon, além de instituições de ensino, empresas de projeto e de execução de fundações e de ensaios geotécnicos e profissionais liberais do segmento. Não há previsão para conclusão da revisão, mas se pre-tende que seja rápido, tendo em vista que a demanda é por alguns pontos bem definidos, porém o prazo máximo de du-ração do processo de revisão é, em prin-cípio de dois anos.Dentre as motivações técnicas para a revisão da norma podemos apontar a

demanda pela incorporação das tecno-logias e conhecimentos desenvolvidos nos últimos anos e alguns ajustes quanto aos critérios de projeto, principalmente no que tange a fatores de segurança par-ciais, previsão de recalques e interação solo-estrutura.Um dos aspectos que fomentou um novo olhar sob os parâmetros de projeto, foi a sistêmica avaliação do desempenho das fundações por meio das provas de car-ga em estacas, que antes da revisão da norma em 2010, restringia-se apenas às obras de grande vulto. A evidência deste fato pode ser percebida nas pesquisas acadêmicas, congressos e simpósios de fundações. Somente no SEFE8, organiza-do pela ABEF em 2014, aproximadamente 70% dos trabalhos apresentaram provas de carga estáticas e ensaios de carrega-mento dinâmicos, seja na aplicação dos métodos de previsão de capacidade ou em cases de obra, possibilitando um co-nhecimento mais apurado da qualidade e do desempenho destas fundações.Nas cinco reuniões de periodicidade quinzenais já realizadas foram abordadas uma série de questões, por exemplo, o travamento de estacas isoladas, compa-tibilização das provas de carga sobre es-tacas com a necessidade de ensaio para liberação de sapatas, entre outros. Este assunto será abordado mais à frente,

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201750

mas parece consenso que é importante colocar a exigência em fundações diretas ou rasas no mesmo nível das estacas.Um importante ponto de discussão foi o dimensionamento das fundações pelo método de valores admissíveis e de valo-res de cálculo. Enquanto que o primeiro é o tradicional, larga e amplamente utili-zado, e que aplica um fator de segurança global à carga de ruptura, o segundo tra-ta de estados limites que aplica fatores de segurança parciais e é o utilizado nas normas de estruturas.Acredito que devemos migrar para o cál-culo por valores, visto que o problema das fundações é antes de recalque do que de ruptura. Independente do enten-dimento do problema, não se dispõe de uma ferramenta consistente, poderosa e de domínio, como se tem na área de es-truturas, para que se possa levar adian-

te a utilização do método de valores de cálculo. A elaboração de um projeto to-talmente integrado de infra e superes-trutura ainda é complexa, segundo nos-so entendimento. É algo que exigirá mais tempo para a área de fundações. Em 2010, pensou-se em deixar duas alter-nativas de dimensionamento para que a migração ocorresse gradativamente, até que se consagrasse o método de valores de cálculo, entrando o método tradicio-nal em valores admissíveis em desuso.Há também a forma como se recebem os esforços dos projetistas de estrutu-ras. Alguns apresentam extensas com-binações de cargas em estados limites últimos, outros apresentam esforços característicos totais na fundação, e ain-da outros que apresentam as cargas em seus valores característicos, separadas em permanente, acidental, vento, etc. E

não falamos em efeitos de 2ª ordem que vem se ouvindo regularmente em artigos e seminários. Em recentes reuniões en-tre a ABECE e a comunidade geotécnica, representada pela ABMS e ABEG, ficou combinada uma apresentação única dos esforços, mas que não vem sendo segui-da por todos os projetistas.Parece que os seis anos decorridos da publicação não foram suficientes para a consagração de um método sobre o ou-tro, ensejando mais tempo em vigor das duas possibilidades, até que no futuro possa caminhar juntos: estrutura e fun-dações. Existe também uma diferença entre definições que ocorreu pela não participação de projetistas estruturais na elaboração da norma anterior. Hoje contamos com apoio por enquanto não presencial, de projetistas ajudando na discussão.

NORMAS TÉCNICAS | NBR 6122

Além do início dos trabalhos de revi-são da ABNT NBR 6122:2010 – Projeto e Execução de Fundações, analisado no artigo, existem outras normas em diferentes fases de revisão, seguindo a estratégia da ABNT – Associação Bra-sileira de Normas Técnicas e também das entidades setoriais de dotar a en-genharia brasileira dos mais rigorosos instrumentos técnicos necessários para a atividade construtiva. Nesse sentido, vale lembrar que foi concluída a revisão da ABNT NBR 9062 – Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-moldado e está na etapa inicial a revisão da ABNT NBR 6123:88 – Forças Devidas ao Vento em Edificações.No caso da 9062, a revisão teve início no final de 2012, com a formação de uma Comissão de Estudos, no âmbito do Co-mitê Brasileiro da Construção Civil da ABNT (ABNT/BR-02), que foi coordenada pelo engenheiro Carlos Melo e contou com a participação de 79 profissionais, entre engenheiros, projetistas, empre-sários da indústria de pré-fabricado de concreto, integrantes da universidade e representantes de entidades setoriais.Durante os três anos e meio de traba-lho, até a aprovação final da revisão, em setembro do ano passado, foram reali-zadas 25 reuniões para tratar da revi-

são e mais duas reuniões para a análise dos votos recebidos. O texto do projeto apresenta um conteúdo abrangente, englobando aspectos de projeto, pro-dução e montagem. São 86 páginas – mais do que o dobro da revisão de 2006, que teve 42 páginas –, estrutura-das em doze capítulos.Para Melo, um dos pontos centrais da revisão foi a definição do conceito da rigidez secante das ligações para a per-feita estabilidade global da estrutura. Ele salienta que a definição do fator de restrição da ligação viga-pilar, que determina os coeficientes de mola e de rotação da viga em relação ao pilar, foi o ponto mais importante da revisão, pois com isso é possível melhorar a modelagem espacial que calcula o edi-fício como um todo. A partir de agora, o projetista passa a ter parâmetros e também valores que podem ser utili-zados para o cálculo das ligações, pois há um critério normalizado. No caso da ligação semirrígida, na opinião do coor-denador, a norma brasileira represen-ta um avanço inclusive em relação ao existente em outros países.A questão da segurança foi outro fa-tor que esteve em pauta na revisão da ABNT NBR 9062, por esse motivo um dos temas incluídos foi a definição

sobre a montagem de um plano de Rigging. Foi inserido ainda um assunto que não havia sido abordado nas ver-sões anteriores da Norma: a avaliação de conformidade do projeto. A ideia, segundo Melo, foi estabelecer os parâ-metros para facilitar a avaliação do ATP.Para itens mais específicos da norma foram criados grupos de trabalho. Em relação a questões ligadas à estabilida-de, por exemplo, o grupo foi liderado pelo professor Marcelo Ferreira, do NE-TPre da UFSCar. Já a parte de ligações de pilar com fundação por meio de cá-lice coube a um grupo conduzido pelo professor Mounir Khalil El Debs, do De-partamento de Engenharia de Estrutu-ras, da USP de São Carlos.A norma avançou significativamente também na questão de resistência ao fogo. A proposta foi apresentada pelo professor Fernando Stucchi, da Escola Politécnica da Universidade de São Pau-lo (Poli-USP), que conduziu uma avalia-ção baseada nos Eurocodigos, Normas Europeias Específicas. Além de debater o tema com especialistas no âmbito da fib (International Federation of Structu-ral Concrete), Stucchi promoveu uma va-lidação dos critérios propostos junto ao coordenador da ABNT NBR 15200, o pro-fessor Valdir Pignatta e Silva, da Poli/USP.

PERMANENTE REVISÃO DAS NORMAS APERFEIÇOA A ENGENHARIA

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Outra questão bastante abordada em relação à execução de fundações foi à segurança em tubulões a céu aberto. As normas de segurança do Ministério do Trabalho, em especial as NR’s 18, 33 e 35 que tratam dos equipamentos de segurança (EPI’s), do trabalho em altura e em espaço confinado, devem ser ri-gorosamente cumpridas para se evitar acidentes.A estaca trado vazado segmentado, co-nhecida como “hollow-auger”, foi ajus-tada para parâmetros mais atualizados, bem como foi introduzida a estaca héli-ce-contínua com trado segmentado que não fazia parte da edição de 2010. Esta estaca vem sendo largamente utilizada, em especial em obras de pequeno por-te dada a limitação do equipamento em profundidade, diâmetro e torque. Foi amplamente discutido o comprimento mínimo para o qual se possa considerar uma fundação profunda em estacas. A profundidade crítica foi estabelecida em L ≥ oito ɸ e no mínimo 3 m, levando-se em conta vários critérios técnicos.Outro assunto debatido, mas ainda não levado adiante é a necessidade de uma especificação mais rigorosa para o con-creto utilizado em obras de fundações. Além da especificação mais rigorosa, o controle em obra deve abranger um nú-mero maior de ensaios, incluindo teor de exsudação, “slump-flow”, caixa L, ao lado do fck e do “slump–test”.Uma discussão significativa ocorreu quan-do se falava de atrito negativo. Na norma de 1996 o atrito negativo era considerado da seguinte forma, com fator de seguran-ça global:

Padm = [(Pp + Pl) – 1,5 Pan] / FSg

que foi substituido na revisão de 2010 por

Padm = [(Pp + Pl) / FSg] – Pan

Onde:Padm é a carga admissívelPp é a parcela correspondente à resis-

tência de ponta na rupturaPl é a parcela correspondente à resis-

tência por atrito lateral positivo, na ruptura

Pan é a parcela correspondente ao atrito lateral negativo na ruptura. O pon-to onde ocorre a mudança de atrito negativo para positivo é chamado de ponto neutro.

A discussão se deu em função do atrito negativo ser antes um problema de recal-

que do que um problema de capacidade de carga de estacas, que não justificaria a redução da carga admissível na atual nor-ma. Foi mantido o texto atual.Desde a vigência da norma de 2010, a es-pecificação do concreto para fundações é motivo de controvérsia. Atualmente vários especialistas em concreto veem partici-pando ativamente nas reuniões da norma. É consenso que haverá mudanças signifi-cativas na atual especificação.

Das principais alterações pretendidas, uma delas é a especificação de acordo com as normas vigentes de concreto, porém sem dar conotação técnica a um concreto magro, por exemplo, que po-deria ser C10 ou C15, mas que esbarra em prazo, problema imperioso em obra. Onde se concentram o maior número de problemas e é de sobremaneira impor-tante o concreto, são nas paredes-dia-fragma, estacas-barrete, estacas esca-vadas com fluido estabilizante e estacas hélice-contínua.A atual especificação apesar de ter solu-cionado várias ocorrências de obra, com o passar do tempo ficou obsoleta ou, dizendo de outra maneira, nem todos os fornecedores de concreto usinado participavam das associações que indi-cavam as características necessárias ao concreto para as estacas mencionadas. Para tais estacas necessita-se muito mais um concreto com trabalhabilidade ade-quada, com baixa segregação, auto-a-densável, alto consumo de finos, e muito mais. A resistência à compressão simples

é consequência de toda a necessidade de se ter concreto com os parâmetros necessários e lança-lo dentro de um flui-do estabilizante e abaixo do nível d´água e alturas de até 60m! Também na Euro-pa e EUA existe idêntica preocupação. Recentemente, em 2014 no 11th EFFC/DFI de Estocolmo, o engenheiro Karsten Beckhaus, “chairman of the Concrete Task Group for Deep Foundation of DFI/EFFC” publicou o interessante artigo: “Are specifications for deep foundation con-crete up-to-date?”Pretende-se alterar a especificação prin-cipalmente no que se refere aos controles de recebimento da mistura no canteiro. Recentemente em resposta à pergunta da ABEF sobre quais as características do concreto para as fundações profundas, o Ibracon sugeriu:

Fck ≥ 20MPa (ABNT NBR 5738, NBR 5739 e NBR 12655);

Concreto autoadensável, com classifica-ção SF2 na ABNT NBR 15823 e 600mm ≤ Espalhamento (slump flow) ≤750mm;Segregação estática, classificação SR2 na ABNT NBR 15823 e coluna ≤ 15%; Concreto autoadensável, classificação PL2 na ABNT NBR 15823 – Caixa L ≥ 0,80Exsudação total de água ≤ 2% (ABNT NM 102 – Concreto Fresco. Determinação da exsudação de água. Método de Ensaio)Para que se obtenha concreto com me-lhor desempenho, o caminho passa pelo melhor controle do recebimento do ma-terial especificando-se aquilo que se pode controlar, pois não há possibilidade de controle do consumo de cimento ou do fator água/cimento do concreto fresco ou endurecido.Por fim e resumindo muito, esses são al-guns tópicos importantes que foram ou serão discutidos durante o andamento dos trabalhos da comissão de revisão da ABNT NBR 6122/2010. Deve-se sa-lientar o enorme interesse que a revisão vem despertando na engenharia com a expressiva participação de um grupo de aproximadamente 40 engenheiros, entre geotécnicos – projetistas, executo-res, consultores e acadêmicos –, tecno-logistas de concreto e projetistas de es-truturas de vários estados do Brasil que vem contribuindo de maneira sensata, propositiva, ponderada, compreensiva e principalmente com espírito e mente aberta para contribuir com o bom anda-mento da revisão.

A REVISÃO DA NORMA VEM DESPERTANDO ENORME INTERESSE NA ENGENHARIA BRASILEIRA, UMA VEZ QUE HÁ A EXPRESSIVA PARTICIPAÇÃO DE APROXIMADAMENTE 40 ENGENHEIROS, DE VÁRIAS PARTES DO PAÍS, QUE ESTÃO CONTRIBUINDO PARA SEU BOM ANDAMENTO

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201752

ESQUECERAM A SUBPRESSÃO!

“Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia aprende com os erros dos outros”, escreveu o psiquiatra e escritor Au-gusto Cury, contrapondo-se ao pensamento de Otto van Bismarck: “Os tolos dizem que apren-dem com os seus próprios erros; eu prefiro aprender com os erros dos outros”.Ambos, no entanto, reconhecem que os er-ros cometidos, por nós mesmos ou por ou-tros, podem nos servir de proveitosa lição. A condição necessária para que isso aconteça é que nos aproximemos deles com humilda-de, convencidos de que errar é humano e, por isso, eles estão sempre presentes em todas as nossas atividades. Os engenheiros que se uniram para escre-ver essa coletânea de casos, em que apren-demos com erros dos outros, não são nem sábios nem tolos, mas apenas conscientes de que uma experiência adquirida, se parti-lhada por muitos colegas, elevará a compe-tência coletiva de sua profissão.São ao todo 27 coautores engenheiros a relatar 50 casos distintos, que pontificam, justamente, por sua diversidade de assun-tos e de estilos. Os assuntos permeiam por erros em diversas áreas de conhecimento: geotecnia, concreto armado, concreto pro-

tendido, estruturas de aço, patologia das estruturas. Abordam problemas de estru-turas sob ações estáticas, dinâmicas e si-tuações de incêndio. Falam das edificações, das pontes, das adutoras, dos reservató-rios, da chaminé de equilíbrio, dos muros, da proteção costeira. Os casos referem-se à fissuração exagerada, à deformações in-convenientes, à corrosão, à vibrações ex-cessivas e ao colapso.Os coautores impõem seu próprio estilo de linguagem, de narrativa e diversificam o formato do texto, impedindo assim que a leitura se torne monótona ao passar de um caso para outro.Todos os coautores desejam que essa co-letânea de casos, rica em ensinamentos, tenha divulgação tão ampla quanto as virtudes que contém. Essa divulgação é livre, mas deverá ser sempre gratuita. Se alguma instituição desejar editar esse tra-balho, está autorizada a fazer, desde que mantenha integralmente a coletânea como está e sem auferir benefícios financeiros. Se alguém desejar divulgar casos isolados que o faça, desde que forneça a referência.

Boa leitura e bom aprendizado.

COLABORAÇÃO: DIONÍSIO AUGUSTO AMERICANO DE NEVES E SOUZA RIO DE JANEIRO, JULHO DE 2015

APRENDENDO COM O ERRO | ESQUECERAM A SUBPRESSÃO!

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O CASOUm belo condomínio de edificações mul-tifamiliares de pequeno porte (3 pavi-mentos) estava com data marcada, pela construtora, para entrega das unidades aos novos felizes proprietários. As cisternas, projetadas de forma inde-pendente, construídas sem interligações com as estruturas de concreto armado das edificações, na véspera da entrega das unidades habitacionais, foram es-vaziadas para limpeza. Algum tempo depois, como que movidas por alguma força “extraterrestre”, sobem, sozinhas, do solo onde estão enterradas, de for-ma irregular, “adernando” e provocando grande susto nos presentes! A data da entrega das unidades habita-cionais foi adiada...

AS CAUSASOs estudos de sondagem relatavam, para o terreno de implantação do con-domínio, um solo composto por areia muito compacta, com boa capacidade de carga, porém com nível d’água quase aflorando (30 cm de profundidade em relação ao nível superior do terreno). O projetista da estrutura detalhou as fundações das edificações em sapatas isoladas, assentes em profundidades variadas e compatíveis com as cargas; foi necessário o rebaixamento do lençol freático, durante os trabalhos de cons-trução da infraestrutura.Junto com as sapatas, ainda com o siste-ma de bombas para o rebaixamento do lençol freático em funcionamento, foram construídas as cisternas, isoladas das estruturas das edificações, que depois foram impermeabilizadas e cheias.Ocorreu que as cisternas, quando car-regadas com o volume total de água interna, distribuíam ao solo, na cota de

assentamento, uma pressão equivalente a aproximadamente 25,5 kN/m² (2,55 tf/m²) (Ver Anexo 01).Considerando que as cisternas possuíam 1,80m de altura total externa e estavam totalmente enterradas, as lajes de fundo ficaram recebendo uma subpressão de 15 kN/m² (1,50 tf/m²) (1,80m-0,30m), me-nor que o carregamento provocado pelo peso próprio da estrutura acrescido do volume de água interno das cisternas.No entanto, ao esvaziarem as cisternas, o carregamento correspondente a apro-ximadamente 28.000 litros de água foi suprimido e, assim, a subpressão ficou numericamente maior que a carga resul-tante da estrutura projetada, provocan-do a “subida” das cisternas...

COMO EVITARA solução dada pela construtora foi de-molir as cisternas e construir castelos d’água maiores, agrupando a reserva de consumo de algumas edificações.Mas, construindo cisternas, como isso poderia ter sido evitado?Certamente existem várias soluções, mas uma delas, mantendo as geome-trias internas, seria projetar prolon-gamentos das lajes de fundo das cis-ternas, de forma a criarmos abas que estariam, então, sujeitas ao peso do

terreno compactado ao redor, externa-mente, das paredes.Como demonstrado no Anexo 02, com abas de apenas 50 cm, para as cister-nas com as dimensões consideradas, conseguiríamos um acréscimo de 65 kN (6,50tf) no peso próprio da estrutu-ra e de mais 299,2 kN (29,92 tf ) devido ao solo compactado colocado sobre as abas, resultando em um carregamento total de 20 kN/m² (2,0tf/m²), suficiente para manter as cisternas enterradas, mesmo vazias.Evidentemente as armações deverão ser compatíveis com as hipóteses de cálculo necessárias, mas isso é outra história...Para que possamos visualizar o ocorrido e testar algumas hipóteses de geometria

para as cisternas e soluções variando apenas a largura das abas externas para uma mesma geometria, elaboramos uma planilha Excel que está automatizada, para “avisar” se a cisterna quiser “subir”.A entrada de dados está liberada apenas para as células em amarelo na planilha.Os Anexos 01 e 02 citados acima, bem como a planilha Excel automatizada ela-borada para os cálculos demonstrativos, poderão ser encontrados no endereço WEB abaixo:http://calculistas-ba.progerengenharia.com.br

FIG. 1 – CISTERNA ENTERRADA, PROJETADA COM ABAS EXTERNAS

EDIFÍCIOSAN SIRO

POR MARIO FRANCO, DA JKMF ENGENHEIROS CIVIS Por volta de 1962, o arquiteto Ale-

xandre Danilovic tinha um grande desafio: estacionar 300 carros grandes num terreno com 9,35m

de frente e 26,06m de fundo no início da Rua da Consolação. A solução arquitetô-nica encontrada consistiu numa garagem mecânica com 1 subsolo (9 carros) + tér-reo (entrada + 3 carros) + 32 andares (32 x 9 carros) = 300 carros. Resolvido este primeiro desafio, a grande altura (90,35m acima do solo) e a esbeltez (1:10) do edi-fício, bem como as dimensões reduzidas do terreno geraram outros desafios:

- ao engenheiro de estruturas;- ao engenheiro de fundações;- ao engenheiro construtor.

A estrutura do Edifício San Siro não tem núcleo central rígido, já que todo o es-paço interno é dedicado ao elevador e

às vagas de garagem (3 no fundo e 3 + 3 na frente). A estrutura resistente para o vento transversal Vt (atuan-do perpendicularmente às fachadas maiores), é cons-tituída unicamente pelos dois pórticos muito esbeltos paralelos ao plano do vento, situados nas fachadas me-nores. Os primeiros cálcu-los, efetuados considerando

apenas esses pórticos, indicavam, para as combinações das cargas gravitacio-nais mais vento transversal (G ± Vt) um esforço excessivo de compressão nos 2 pilares de sotavento, e um grande esfor-ço de tração nos dois pilares a barlaven-to. Além disso resultavam deslocamen-tos horizontais excessivos. Ficou claro então que seria preciso dimensionar a estrutura como uma caixa fechada for-mada pelos 2 pórticos menores e pelos 2 maiores atuando em conjunto, de modo que parte das forças normais nos pila-res de fachada fosse transferida para os pilares dos lados maiores da caixa. Não existiam ainda programas capazes de analisar pórticos, ainda mais tridimensio-nais. Recorreu-se portanto à análise dos esforços pelo “método do meio elástico contínuo”, que já havia sido utilizado em outras estruturas, generalizando-o para estruturas tridimensionais simétricas.

MUSEU DO PROJETO | EDIFÍCIO SAN SIRO

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201754

Para estruturas em pórtico plano simétri-co de 2 ou 3 pilares a solução do método era conhecida, e conduzia a uma equação diferencial completa de 2ª ordem com coeficientes constantes. Para o caso em questão (estrutura tridimensional for-mada por 4 pórticos simétricos) a solu-ção levou a um sistema de 4 equações diferenciais de 2ª ordem a 4 incógnitas que, resolvido, resultou numa equação diferencial de 4ª ordem, completa, com coeficientes constantes. A solução dessa equação permitiu determinar os esfor-ços internos (momentos fletores, forças normais, forças cortantes) em todos os elementos da estrutura, bem como os deslocamentos de seus nós. Este estudo constituiu minha tese de doutorado, defendida na Esco-la Politécnica em 1967, tese cujo exemplo numérico foi justamen-te a estrutura do San Siro. Na tese, apresentou-se um progra-ma em FORTRAN IV, e o exemplo foi rodado no computador digi-tal IBM-1620 da Poli. Através do comportamento tridimensional da estrutura, verificou-se que, no caso do San Siro, 40% das forças normais nos pilares das fachadas menores migraram para os pilares das fachadas maiores, tornando assim muito mais eficiente o siste-ma estrutural, se comparado com o que teríamos considerando ape-nas os pórticos menores. Também os deslocamentos resultaram aceitáveis, com o que a superes-trutura ficou viabilizada e o pri-meiro desafio posto ao engenhei-ro de estruturas foi solucionado.

Faltava ainda transmitir ao solo os gran-des esforços verticais resultantes da com-binação das cargas gravitacionais com as cargas de vento. Em função das caracterís-ticas do solo, a CONSULTRIX (Eng. Sigmun-do Golombek), responsável pela concep-ção e execução das fundações, projetou duas filas de 7 tubulões a céu aberto, com diâmetro de base Øb = 3,80m e diâmetro do fuste Øf = 1,30m. A distância entre as duas filas de tubulões é de apenas 5,55m, valor muito pequeno para um edifício de 94m acima das fundações (~ 1:17). As car-gas verticais (G ± Vt) precisavam ser uni-formizadas, de modo a resultarem cargas iguais nos tubulões. Para tanto, criou-se

uma grande estrutu-ra de transição com 11,35m de altura, formada por duas vigas-paredes de 26,06m de compri-mento sobre o apoio elástico constituído pelos balanços das 7 vigas-alavanca que interligam os tubu-lões; e mais dois pórticos, perpendi-culares às paredes, também com altura

de 11,35m e com 9,35m de comprimento, formando uma caixa rígida fechada. Foi assim solucionado o desafio ao engenhei-ro de fundações.As vigas-parede longitudinais têm 25cm de espessura, e os pórticos menores 36cm de espessura. Em função dos elevados esforços solicitantes esses elementos estruturais resultaram forte-mente armados em diversas camadas, com armaduras de comprimentos mui-to superiores aos 11m disponíveis. O desafio ao engenheiro construtor foi a montagem dessas armaduras, que pre-cisaram ser soldadas de topo, “in loco”, com a forma aberta, seguida pelo lança-

mento do concreto em camadas. Foi utilizado concreto com fck = 28MPa, o máximo que se conse-guia na época. Excetuando-se a análise dos es-forços solicitantes e deslocamen-tos dos pórticos da superestru-tura, efetuados como vimos por meio de computador digital, to-dos os demais cálculos e dimen-sionamentos foram efetuados com régua de cálculo mais calcu-ladora elétrica.Em 1973 o Council on Tall Buil-dings and Urban Habitat in-formou-me oficialmente que o Edifício San Siro era a mais alta garagem do mundo. Ainda é. Em 1983 foi publicado pelo mes-mo Council, em sua monogra-fia “Planning and Design of Tall Buildings”, capítulo “Parking”, um longo artigo dedicado à Garagem San Siro. A garagem continua em pleno funcionamento até hoje.

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REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201756

INDUSTRIALIZAÇÃO | BUBBLEDECK COM PRÉ-FABRICADO DE CONCRETO

AMPLIAÇÃO DE GARAGEM DO GALEÃO: SOLUÇÃO COM BUBBLEDECK E PRÉ-FABRICADO

A ampliação do edifício Gara-gem do Terminal de passagei-ros TPS2 requereu criatividade e o emprego de novas solu-

ções no projeto e processo construtivo. “O projeto foi originalmente concebido em estrutura metálica, que além de perfis de mercado possuía em grande parte, peças usinadas que impactavam significativamente os custos e prazos previstos. Adicionalmente por questões normativas, seria necessário proteger a estrutura com pintura intumescente ou técnica similar que representaria um acréscimo de 10 a 15% do custo da estrutura.” {1} Assim a solução de pré--moldados de concreto com o emprego da tecnologia BubbleDeck se apresen-tou como uma alternativa diminuindo os custos do projeto original, além de garantir a exequibilidade da obra den-tro do prazo previsto. A Figura 1 apre-senta a planta tipo do projeto. A Figura 2 apresenta a forma de um setor do pa-vimento tipo.

POR BETON STAHL ENGENHARIA

AUTORA: TAMARA CARVALHO FREIRE (DIRETORA DA BETON STAHL ENGENHARIA)

Por tratar-se de uma ampliação de mais quatro pavimentos em dois existentes, uma dificuldade adicional ao processo construtivo foi a limitação de execução de escoramentos nos dois pavimentos inferiores existentes que permanece-ram ao longo de toda a obra operando normalmente. A estrutura metálica do pavimento existente, com laje steel-deck, não suportava o peso próprio da con-cretagem do pavimento superior. Para solucionar este inconveniente fizeram-se necessário o projeto e execução de esco-

FIG. 1 – FOTO DA VISTA GERAL DA OBRA CONCLUÍDA - EDG DO TPS2 – GALEÃO.

ramento com treliças vencendo os vãos de 16m entre pilares, apoiadas em vigas metálicas por sua vez apoiadas em con-soles metálicos protendidos com barras DYWIDAG. Para as passagens das barras de protensão, furos passantes foram dei-xados na concretagem dos pilares.A primeira laje executada da ampliação, o 4° pavimento, foi projetada para receber o escoramento necessário à concretagem de cada um dos pavimentos posteriores. Para este fim foi projetado um escora-mento que era aliviado e reposicionado

FIG. 1 – FOTO DA VISTA GERAL DA OBRA CONCLUÍDA - EDG DO TPS2 – GALEÃO.FO

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57FIG. 2 – FOTO DA ÁREA INTERNA DE UM DOS PAVIMENTOS.

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201758

INDUSTRIALIZAÇÃO | BUBBLEDECK COM PRÉ-FABRICADO DE CONCRETO

para cada concretagem, mantendo sempre as cargas de peso próprio, de cada concretagem dos pavimentos superiores, suportadas pelo 4° pavimento.A seguir apresentamos as diversas etapas da obra com fotos ilustrativas:

FIG. 3 – PLANTA DO PAVIMENTO TIPO.

FIG. 4 – ARRANJO DOS PRÉ-MOLDADOS – SETOR 3.

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1.1 – FIXAÇÃO DAS TRELIÇAS NA TELA INFERIOR E POSICIONAMENTO DAS ESFERAS.

1.4 – LANÇAMENTO DO CONCRETO.

1.2 – FIXAÇÃO DA TELA SUPERIOR.

1.5 – INTRODUÇÃO DOS MÓDULOS1 NO CONCRETO.

2.1 – MONTAGEM E ESCORAMENTO. 2.2 – TRANSPORTE E LANÇAMENTO DOS PAINÉIS POR GRUA.

2.3 – COLOCAÇÃO DA ARMADURA DOS CAPITÉIS.

2.4 – COLOCAÇÃO DA ARMADURA COMPLEMENTAR.

2.5 – MONTAGEM DAS FORMAS LATERAIS.

2.6 – CONCRETAGEM.

1.3 – LIMPEZA, TRAVAMENTO E APLICAÇÃO DE DESMOLDANTE NAS FORMAS.

1.6 – DESFORMA DO PAINEL PRÉ-MOLDADO.

1.7 – CARREGAMENTO DOS PAINÉIS.

ETAPAS DE MONTAGEM E EXECUÇÃO DA OBRA.

ETAPAS DE FABRICAÇÃO DOS MÓDULOS BUBBLEDECK PRÉ-FABRICADOSUma das vantagens do emprego de peças pré-fabricadas de concreto está na confiabilidade do orçamento e cronograma da obra. A seguir fotos com as etapas de fabricação.

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201760

PRODUTIVIDADES ALCANÇADASA obra atingiu bom desempenho em pro-dutividade, apesar de a tecnologia ser re-lativamente nova no Brasil. A seguir o grá-fico de áreas de laje concretadas por mês, pode-se notar nos dois primeiros meses

MONTAGEM DAS BARREIRAS PRÉ-MOLDADAS.FOTO AÉREA – CONCRETAGEM DE UM SETOR.

Adotou-se o padrão BUBBLEDECK BD450, com 45 cm de espessura, com esferas plásticas com diâmetro de 36 cm.A espessura média da laje foi de 34 cm, utilizou-se um concreto com resistência fck de 30 MPa.A retirada de escoramentos se deu atra-vés de controle do valor do módulo de elasticidade, de maneira a evitar defor-mações excessivas ao longo do tempo.A estrutura foi projetada atendendo as normas da ABNT, além das recomenda-ções do Manual de tecnologia da BUBB-LEDECK.Utilizamos o programa de análise estru-tural SAP2000, para a modelagem nu-mérica. Os elementos finitos de laje são simulados como elementos de placa com espessura de 45cm e fatores de redução de 0,90 para a inércia à flexão e 0,60 para a resistência ao cortante na região de em-prego das esferas plásticas, em conformi-dade com o recomendado pelas normas internacionais e manual do fabricante. A laje do 4° pavimento foi projetada para uma sobrecarga construtiva de 1000 kgf/m² (para atender o escoramento dos andares superiores). As demais lajes fo-ram projetadas para uma sobrecarga de 300 kgf/m².

{1}

a curva de aprendizagem. Foram executa-dos 44.700m² de laje no total da obra.

PROJETO ESTRUTURALA solução estrutural adotada, em substi-tuição a estrutura metálica, foi em lajes Planas tipo BUBBLEDECK.

INDUSTRIALIZAÇÃO | BUBBLEDECK COM PRÉ-FABRICADO DE CONCRETO

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DETALHAMENTO DA ARMADURA E DISTRIBUIÇÃO DE ESFERAS EM UM PAINEL TÍPICO DO 4° PAVIMENTO.

FICHA TÉCNICA

Concessionária: Rio GaleãoArquitetura: Intertechne Consultores S.A.Projeto Estrutural: Beton Stahl Engenharia S.A.Contratante: Intertechne Consultores S.A.Construtora: Consórcio Construtor Galeão.

{1} Prêmio Destaque da Construtora Norberto Odebrecht – 2015 – Categoria: Reutilização do Conhecimento.

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201762

CONSTRUÇÃO EM AÇO

Entre as vantagens das telhas e coberturas metálicas, além do desempenho desejado, estão a durabilidade, facilidade de manu-

tenção e principalmente peso reduzido, o que facilita a instalação e reduz as cargas da estrutura. Além disso, esse sistema se associa facilmente a sistemas de geração de energia, como os painéis solares ou fo-tovoltaicos. A escolha do tipo de telha deve atender aos aspectos arquitetônicos da cobertura com relação a inclinações, raios e geometria. O revestimento do aço base deve ser especificado em função da dura-bilidade e do ambiente onde as telhas es-tão inseridas, por exemplo: região costeira, área industrial com emissão de partículas agressivas, área urbana ou rural. Há dois tipos de telhas regidas pelas nor-mas ABNT: onduladas e trapezoidais. As normas determinam os parâmetros de tolerância dimensional e padronizam os modelos mais utilizados, o que favorece a especificação. Há, no entanto, outras te-lhas não regidas por normas, como as zi-padas, autoportantes, curvas (calandradas e multidobra), entre outros sistemas de co-bertura, como o roll-on. “O critério técnico depende do próprio fornecedor do siste-ma, que é o responsável por garantir es-tanqueidade, resistência mecânica, e todos os critérios que seriam contemplados em norma”, explica Edson de Miranda, gerente geral da ArcelorMittal Perfilor.

De acordo com as nor-mas brasileiras, a massa de revestimen-to de zinco da telha usada sem pintura deve ser de, no mínimo, 275 g/m2. Se for utilizada com pintura, a massa de reves-timento poderá ser no mínimo de 225g/m2. Para Galvalume, para aplicações com ou sem pintura, a massa mínima é de 150 g/m2.O diálogo com o fornecedor é essencial não só para esses casos, mas para qual-quer projeto de cobertura metálica, para aumentar a eficiência do sistema e a ade-quação na especificação do produto ou dos acessórios e vedações complemen-tares. O grau de inclinação da telha deve garantir o escoamento da água pluvial. Normalmente, para as telhas com com-primento de água inferior a 12 m e sem sobreposição, recomenda-se 5% de de-clividade. O sistema zipado é ideal para coberturas de grande extensão e aceita caimentos menores de 3%.

É muito importante atentar para a contra-tação da montagem da cobertura. “Perce-bemos que, em muitos casos, se compra um produto caro e se contrata mão de obra barata, mas não é uma boa opção”, alerta Miranda. Para a escolha da empresa montadora, é necessário analisar o currí-culo da empresa, referências de clientes anteriores, e, além disso, realizar um con-trato especificando as obrigações do mon-tador, as comprovações legais de registro do pessoal e os equipamentos de seguran-ça disponibilizados.

REFERÊNCIASManual Técnico – Telhas de Aço (Abcem)Manual CBCA – Treliças Tipo Steel JoistABNT NBR 14.513:2008 – Telhas de aço re-

vestido de seção ondulada – Requisitos ABNT NBR 14.514:2008 – Telhas de aço re-

vestido de seção trapezoidal – Requisitoswww.cbca-acobrasil.org.br

PROJETO E CONTRATAÇÃO DE MONTAGEM DE TELHAS E COBERTURAS METÁLICAS

ESPAÇO ABERTO | CBCA

TIPOS DE AÇO USADOS EM TELHASZincados Apresentam grande resistência à corrosão atmosférica

GalvalumeDevido à sua composição química (alumínio, zinco e silício), esse revestimento confere ao produto excelente proteção à corrosão atmosférica, alta refletividade, melhor conforto térmico, ótima aparência e manutenção do brilho

Pré-pintadosAs bobinas de aço zincado são pintadas antes de serem conformadas em telhas. Os pré-pintados, têm ampla gama de cores, oferecem grande durabilidade, facilidade de manutenção e vantagens estéticas. O aço base pode ser zincado ou Galvalume

Aços inoxidáveis

Apresentam grande durabilidade, facilidade de manutenção e resistência a am-bientes altamente agressivos

FIG. 2 – MONTAGEM DE TELHA TRAPEZOIDAL – FONTE: ABCEM

FIG. 1 – MONTAGEM DE TELHA ONDULADA – FONTE: ABCEM

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ESPAÇO BIM | BIM BEM FEITO

BIM BEM FEITO

O BIM – Modelagem da Informa-ção da Construção despon-tou por volta do ano 2004 no Brasil, tendo o próprio termo

“BIM – Building Information Modeling” se consolidado apenas dois anos antes

no mundo. Desde então, nesses

quase 13 anos, já tivemos sete edições anuais do

PROF. DR. EDUARDO TOLEDO SANTOS ESCOLA POLITÉCNICA DA USP

Seminário Internacional BIM do Sindus-Con/SP, inúmeras matérias publicadas nas revistas técnicas nacionais da área, a edição no Brasil do “Manual de BIM” (tradução do BIM Handbook – a “bíblia do BIM”) e dos Guias BIM da AsBEA (2 volumes) e da CBIC (5 volumes) – ambos disponibilizados online gratuitamente – além da instalação de uma Comissão de Estudo Especial na ABNT dedicada ao tema e à produção de normas técni-cas ligadas ao BIM. O Brasil se consolida como um dos países onde mais são rea-lizadas pesquisas acadêmicas sobre BIM no mundo1. Isso para mencionar apenas os desenvolvimentos brasileiros, em lín-gua portuguesa. A internet dispõe de larga quantidade de publicações, parti-cularmente em inglês, abordando todos os aspectos do BIM.

Este ano de 2017 traz gran-des expectativas para o

avanço do BIM no Brasil: a publicação de novas normas BIM, a instalação de um capítulo brasileiro da buildingSMART2, a im-plementação do acordo federal de cooperação sobre BIM assinado em dezembro passado com o Reino Unido3, a inclu-são da exigência de BIM na atualização da Lei

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201764

8.666, o avanço nas licitações de obras demandando BIM nos estados do Sul e em São Paulo, o lançamento da versão em português do BIM Dictionary4, a pu-blicação de novos Guias BIM e da pla-taforma de componentes BIM da ABDI, além do lançamento de novos cursos de especialização em BIM no Brasil.Ainda assim, o conceito de BIM como pro-cesso ainda não foi completamente assi-milado pelos empresários do setor da construção. Com frequência ainda alta, depara-se com casos falhos de implan-tação de BIM. O prognóstico de fracas-so, na maioria destes casos, é evidente para os iniciados, mas certamente não era para aqueles que investiram tempo e recursos significativos na expectativa de obter o salto qualitativo em seus resulta-dos prometido pelo BIM.

Para esses, o prejuízo é duplo, já que BIM mal feito é muito pior que CAD mal feito: é mais caro – altos custos em novo softwa-re, em hardware mais potente, em novo treinamento e consultoria –, mais demo-rado – modelagem, bibliotecas, busca de informação, queda de produtividade pela mudança –, e induz a mais erros – con-fiança em informações erradas, quanti-tativos errados, representações erradas, interferências não detectadas, etc. Uma das armadilhas mais comuns é o que os implantadores neófitos chamam de “projeto piloto”, onde se desenvolve

um modelo BIM “em paralelo” ao proje-to convencional (2D). Na verdade, neste caso, o modelo BIM vem sempre depois, atrasado em relação ao projeto 2D, pois os projetistas desenvolvem os projetos em CAD cujos documentos devem ser convertidos posteriormente para BIM (3D). A correta acepção de “piloto” é “o primeiro de uma série”. Como esse processo pode ser considerado “piloto” de uma rotina fu-tura, se BIM não se faz junto com o CAD, mas sim o substitui? Este tipo de aborda-gem não agrega efetivamente nada para o cliente – via de regra, o modelo BIM deve ser desenvolvido diretamente pelo proje-tista, não convertido a partir de uma re-presentação 2D. Por isso não serve para treinar equipes, nem aferir ganhos ou produtividade. Ao contrário, atrasa o em-preendimento e aumenta seus custos e

riscos. Modelo BIM desatualizado na obra também traz resultados desastrosos, ou nem é usado. É comum as equipes saí-rem traumatizadas deste processo equi-vocado, com total descrença “nesse tal de BIM”, resistindo a novas tentativas de ado-tá-lo em empreendimentos futuros. Usar essa estratégia para a equipe “aprender a modelar em BIM” também não se justi-fica – melhor usar um projeto anterior, já encerrado, que já até disponha de dados para se confrontar alguns resultados, sem atrapalhar o desenvolvimento de um pro-jeto em execução.

Um verdadeiro “projeto piloto” pode sim ser desenvolvido com um empreendi-mento em andamento (escolhido criterio-samente), porém executado da mesma forma como se pretende que sejam todos os demais: com projetistas modelando diretamente em BIM e seguindo as dire-trizes pré-estabelecidas num Plano de Execução BIM acordado por todos. Sim, pode-se adotar com sucesso uma estra-tégia de treinamento da equipe durante o piloto (on-the-job training) especialmente com a aprendizagem just-in-time (p. ex., trabalho no projeto BIM pela manhã e treinamento com consultor/instrutor BIM na parte da tarde, onde as dúvidas da ma-nhã são resolvidas na aula vespertina) que evita afastamento do trabalho e motiva e consolida a aprendizagem. Neste caso, ao analisar métricas, é essencial considerar a natural queda de produtividade durante a fase de treinamento e de adaptação inicial aos novos processos e ferramentas.Outro erro muito comum é a compra de software e treinamento antes de uma etapa de diagnóstico e planejamento es-tratégico. Isso geralmente ocorre quando se adota o próprio representante/forne-cedor de software como consultor BIM. A meta deste é vender seus próprios soft-wares e serviços, ligados a fabricantes pré-determinados. Com raras exceções, sua análise carece da isenção/neutralida-de necessária neste momento preliminar. As recomendações costumam não ser na direção do que é melhor para o cliente, que muitas vezes acaba por comprar aplicativos de que não necessita e desen-volver processos sem a visão estratégica ampla e de longo prazo (e alinhada com a missão da empresa) que o BIM requer.Assim como a aquisição da última versão do melhor processador de texto não ga-rante a escrita de um best seller, a simples compra dos melhores softwares BIM não assegura, por si só, resultados positivos com o BIM no empreendimento. O plane-jamento – tanto da implantação dos no-vos processos ligados ao BIM na empresa, quanto da implementação do BIM num empreendimento específico – é essencial. A forma correta de se fazer isso está bem documentada em diversos guias, nacionais e internacionais, e inúmeros estudos de caso de sucesso embasam esta estratégia.Em seu recentemente lançado Guia Na-cional de BIM para Proprietários5 o NIBS6 destaca aos proprietários a necessidade

ESPAÇO BIM | BIM BEM FEITO

65

de não exigir apenas BIM em suas obras, mas demandar o BIM BEM FEITO7 (“BIM DONE RIGHT ”), se pretendem ter sucesso em sua aplicação no empreendimento. A publicação destaca 3 áreas que o cliente deve entender para direcionar a equipe do empreendimento ao rumo certo: o processo, a infraestrutura e padrões, e a execução. Nada de novo, por que, em es-sência, é a mesma estratégia preconiza-da pelos principais guias de implementa-ção de BIM disponíveis em todo o mundo, mas vale a pena repassar:O processo: definição clara de requisitos de usos de BIM – no caso do proprietá-rio, registrado nos contratos – incluindo responsabilidades pela modelagem das informações; Infraestrutura e padrões: definição de ferramentas, tanto de autoria quanto

de colaboração, bem como dos padrões (formatos, arquivos, bibliotecas, templa-tes, documentação, modelagem, etc.) a serem adotados no empreendimento;Execução: criação de um Plano de Execu-ção BIM do Empreendimento (que inclui e detalha os dois itens anteriores) docu-mentando, em comum acordo entre o proprietário e os demais participantes, o como, por quem, quando, por que, até que nível e quais informações no modelo serão usadas.Apesar do processo de implementação de BIM ser muito bem definido, como mos-trado acima, é essencial entender que o processo de execução de BIM em si é único para cada empreendimento assim como o de implantação em cada empresa. As variações nas respostas às perguntas feitas no processo de implementação levam a diferentes processos BIM a se-rem efetivamente executados. Isso traz uma implicação importante: não adianta esperar para ver o que dá certo e copiar o concorrente. O que funcionou para ele, provavelmente não funcionará para você (diferentes culturas, processos construti-vos, tipologia de empreendimentos, por-te, parceiros, maturidade, etc.). Começar a trilhar o próprio caminho é a melhor maneira de auferir os benefícios do BIM. Para os que começam mais cedo, ele é fa-tor de vantagem competitiva; para os re-tardatários, será fator de sobrevivência.Outro aspecto do BIM é sua complexida-de. Por abarcar potencialmente todos os profissionais em todas as fases do ciclo de vida da construção – da viabilidade à demolição, passando pelo projeto, plane-

jamento, construção, operação e manu-tenção – o BIM é um processo complexo e de larga extensão. Um estudo apontou mais de 70 usos diferentes para o BIM8. A implantação “completa” do BIM demanda anos de desenvolvimento e maturidade em cada estágio. Não há quem desen-volva internamente BIM 5D se ainda não dominou o 3D. Esta é outra razão para começar a caminhada na implantação de BIM o quanto antes. Também é a razão por que é má ideia desestruturar equipes BIM em razão da crise – quando mais se precisa de eficiência e quando mais serão úteis na retomada dos negócios.Planejamento e capacitação (seja na forma de cursos formais ou educação informal – leitura de publicações técni-cas, frequência a palestras e seminários, participação em comunidades de prá-tica, etc.), com o apoio de consultores especializados com comprovada expe-riência e preparação (neutros e isentos, na fase de planejamento estratégico e especializados nos processos e aplicati-vos específicos, na fase operacional) são ingredientes essenciais para a implanta-ção correta do BIM. Frente às várias definições para o BIM (processo, ferramenta, tecnologia, polí-tica, software, metodologia, ...) a de pro-cesso é a que deixa mais clara a neces-sidade de implantação, de mudança, de capacitação, de ferramentas de suporte e de planejamento, por isso é nesta que sempre insistimos. Quem pensa em BIM como mera ferramenta começa errado e termina errado. O BIM que funciona é o BIM BEM FEITO.

–––––––––––––––––1 h t t p : // v i e jo ur na l . sp r ingero p en .co m /

articles/10.1186/s40327-016-0038-62 A buildingSMART (buildingsmart.org) é a

instituição internacional responsável pelo desenvolvimento do IFC e outros padrões neutros e abertos de interoperabilidade para o BIM.

3 ht tp: //w w w.mdic.gov.br/not ic ias/2157-b r a s i l - e - r e i n o - u n i d o - a s s i n a m -m em or an dos - de - en ten d im en to - nas -areas-de-construcao-civil-e-propriedade-intelectual

4 http://bimdictionary.com5 NIBS, National BIM Guide for Owners,

2017. Disponível em: <https://www.nibs.org/?nbgo>. Acesso em 27 jan 2017.

6 NIBS – National Institute for Building Sciences (www.nibs.org) é o órgão americano responsável pela Norma BIM Americana (NBIMS-US National Building Information Modeling Standard – USA).

7 Tradução livre8 http://www.bimthinkspace.com/2015/09/

episode-24-understanding-model-uses.html

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201766

INOVAÇÃO | CASE DO EDIFÍCIO 432 PARK AVENUE

DESAFIOS TECNOLÓGICOS DO PRÉDIO MAIS ESBELTO DE NEW YORK

Andreas Tselebidis, diretor de Tecnologia do Concreto & So-luções em Aditivos para Con-creto da BASF fornece detalhes

dos avanços tecnológicos em termos do uso de materiais inovadores e dos desafios de engenharia estrutural na construção do 432 Park Avenue, um dos edifícios mais delgados de New York, cuja construção teve início em 2012 e foi concluído no final de 2015. Com altura de 425 metros, é considerado o edifí-cio residencial mais alto do hemisfério ocidental. Tselebidis atua na BASF há mais de 15 anos e sua função consiste na avaliação e implementação de pro-jetos mundiais de pesquisa sobre con-creto e argamassa, com foco no tema da sustentabilidade. Autor de mais de 30 artigos técnicos em diversas revistas da indústria do concreto, é constante-mente convidado para proferir palestras em eventos internacionais relativos ao segmento de concreto. Possui nove pa-tentes em tecnologia de concreto. Con-fira na sequência, os principais tópicos destacados pelo executivo em relação ao projeto do 432 Park Avenue:

RESISTÊNCIA DO CONCRETO UTILIZADOA resistência do concreto, especificada em projeto, foi de 100 MPa, porém este

não foi o fator principal requerido a este concreto. Mais importante que a resis-tência à compressão, foi o impacto do módulo de elasticidade. O concreto da torre demandou uma alta rigidez para eliminar qualquer possibilidade de ace-leração da torre, de modo que os mora-dores não sintam movimentos. O módulo de elasticidade exigido desse concreto foi da ordem de 51 GPa.

IDADES ADOTADAS PARA O CONTROLE DA RESISTÊNCIA DO CONCRETOA resistência à compressão foi verificada em laboratório nas idades de 1, 2, 3, 7, 28 e 56 dias. Já, o módulo de elasticidade, nas idades de 28 dias e 56 dias. A espe-cificação de projeto para a resistência e módulo foi requerida para 56 dias.

MAIORES DESAFIOS DA EXECUÇÃO DO PROJETOOs desafios para o concreto do 432 Park Avenue foram enormes e sem pre-cedentes:• resistência à compressão (fck) de 100

MPa aos 56 dias – Alcançando 155 MPa (Um recorde mundial até agora, para concreto entregue por caminhão be-toneira e colocado em uma superes-trutura);

POR ANDREAS TSELEBIDIS

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• módulo de elasticidade alcançado de 52,9 GPa;

• bombeamento a altura de 425 m;• concreto branco;• acabamento arquitetônico em con-

creto aparente (sem bolhas na super-fície);

• baixo calor de hidratação (limitado ao máx. de 71º C – atingido máx. de 64º C);

• baixíssima retração;• concreto com baixa fluência;• necessário trabalhabilidade e capa-

cidade de bombeamento por até 4 h (Autoadensável – SCC – com espalha-mento de 80 cm sem segregação);

• resistência inicial em um dia (fc,1dia atingida de 37 MPa, em média);

• concreto sustentável (este concreto foi desenvolvido para atingir e supe-rar esta exigência em específico. O

concreto continha apenas 29% de ci-mento, o que o torna extremamente sustentável, economizando toneladas de CO2, água potável etc.)

• auto adensável, sem buracos, e uma forte aderência entre a armadura e o concreto;

• sem descoloração;• possui durabilidade de modo a supor-

tar qualquer impacto do ambiente.

DESAFIOS NO BOMBEAMENTONo caso específico do 432 Park Avenue, o concreto foi bombeado sem maiores di-ficuldades, apesar de todas as restrições e requisitos exigidos sobre o concreto no estado fresco, bem como suas proprie-dades no estado endurecido.

CONCRETAGEM NO INVERNO E AS MENORES TEMPERATURAS ENFRENTADASPor estar localizada em Manhattan, a obra não poderia parar. Dessa forma, o processo de concretagem também foi continuado durante o inverno. A tempe-ratura ambiente mais baixa (se me re-cordo bem) foi da ordem de -15º C ou um pouco mais. A temperatura do concreto fresco estava em torno de 13 a 15º C, de modo a se conseguir aplicar o material.

O FUTURO DO CONCRETO E SEU USO EM EDIFÍCIOS ALTOSOs desafios do crescimento populacional e as mudanças na vida urbana, bem como os riscos ambientais, são as principais va-riáveis que determinam o modo como va-mos construir nossas edificações.O concreto, como o material feito pelo homem mais usado, tem evoluído ao longo dos últimos séculos e possibilitou à humanidade, a capacidade de cons-truir de forma mais eficiente e economi-zar recursos.No entanto, os recursos naturais estão se esgotando e temos de nos certificar que, sempre que construímos, devemos fazer com a mentalidade de criar algo mais du-rável do que era no passado.No futuro, viveremos predominante-mente em cidades, o que exigirá uma construção focada no meio ambiente, com estruturas de grande durabilidade. Estruturas que devem ser capazes de resistir a deterioração ambiental e me-lhorar sua resposta aos mecanismos de degradação como por exemplo RAS (rea-ção álcali-silica), penetração de cloretos, abrasão, ataque por sulfatos, carbona-tação etc., permitindo construirmos com materiais mais eficientes. A combinação da eficiência dos materiais com soluções para construções sustentáveis, resulta numa redução do impacto humano so-bre o ambiente.O concreto como principal material de construção, passará por mudanças que permitirão aos engenheiros construir e projetar em ambientes bastante de-safiadores. Os concretos, em conjunto com novas opções de aço tratado, serão utilizados na construção de novos edi-fícios esbeltos, tendo, portanto, menor

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201768

consumo de concreto e aço, reduzindo a logística da obra e acelerando a cons-trução, além de reduzir as emissões am-bientais e nos permitir construir o que, hoje, parece impossível.As tendências atuais preveem um gran-de aumento da vida urbana, tornando-se desafiador construir em pequenos es-paços, de modo a permitir a um núme-ro crescente de habitantes, desfrutar de um determinado estilo de vida. A nova geração é bastante cautelosa quando o assunto é sustentabilidade e de como os materiais de construção causam impacto em suas vidas. Projetos de edifícios mais altos e ambiciosos estarão disponíveis para atender às demandas dos futuros habitantes urbanos.Nova York tem atualmente um dos mer-cados mais desafiadores para o concreto. As exigências por construções cada vez mais esguias, combinadas com maximi-zação de espaço para os usuários, leva o desafio a limites sem precedentes para o material. Os desafios, entre outros, in-cluem um alto módulo de elasticidade (acima de 55 GPa), altas resistências à compressão (acima de 100 MPa), baixo calor de hidratação, bombeamento de HSC a alturas superiores a 450 m, aca-bamento arquitetônico em concreto apa-rente, baixa retração, baixa fluência, zona de transição muito densa da interface entre a armadura e concreto.

OUTRAS INOVAÇÕES ALÉM DO CIMENTODevido a um acordo de não-divulgação, firmado entre os intervenientes do pro-jeto, alguns detalhes não podem ser completamente compartilhados. Mas podemos dizer que o concreto contém Metakaolin da BASF, em pequenas quan-tidades.

VANTAGENS DAS INOVAÇÕES INTRODUZIDAS NO 432Uma compreensão cientifica mais pro-funda do material concreto, da escala Nano para a Macro, levou a grandes alte-rações de concepção e configuração de projeto, bem como em suas característi-cas de engenharia.O concreto no mundo atual pode facil-mente competir com o aço como material construtivo para edifícios altos. Resistên-

cias que ultrapassam 150 MPa bem como módulos de elasticidade acima de 59 GPa, fazem do concreto um material de engenharia diferente do que se conhecia no passado.Sua capacidade de ser autocompactante e autonivelante, bem como a facilidade de se bombear horizontal e verticalmen-te a grandes distâncias, mudou o para-digma da construção em concreto além de torna-la ainda mais segura.Os últimos desenvolvimentos na enge-nharia do concreto melhoraram significa-tivamente o modo de como um edifício é construído, agregando um grande valor a cada membro envolvido na construção/processo de planejamento, desde o em-preiteiro até o proprietário final.A velocidade na construção, assim como a combinação de múltiplas atividades no processo construtivo, quase que ao mes-mo tempo, são críticas para a eficiência do processo e o sucesso econômico, que

são alcançadas graças aos últimos de-senvolvimentos do concreto. Vou destacar apenas algumas vanta-gens e melhorias em alguns pontos, pois seria muito longo entrar em deta-lhes neste artigo:• Módulo de elasticidade;• Altas resistências (acima de 150 MPa);• Concreto de baixa retração (abaixo

de 0,025 mm/m)• Baixa fluência;• Zona de transição muito compacta

e forte na interface entre o aço e o concreto (reduzindo o deslizamento e aumentando a aderência);

• Baixo calor de hidratação (abaixo de 71º C);

• Eliminação da necessidade de tubula-ções de arrefecimento (pós-refrigera-ção) do concreto;

• Concreto bombeável;• Manutenção da trabalhabilidade do

concreto por até 4h, sem retardo na pega.

• Alta resistência nas primeiras idades prevenindo impactos do ambiente (alta durabilidade);

• Concreto sustentável (superestrutu-ras podem agora ser construídas com até 83% de substituição de cimento);

• Uso de materiais reciclados;• Acabamento arquitetônico em concreto

aparente, mesmo em grandes alturas;• Menor volume de concreto e aço uti-

lizado na obra, reduzindo a logística para o construtor e permitindo acele-rar a produção;

• Redução de esforços e tempo du-rante o processo de acabamento do concreto;

• Entre outros.

INOVAÇÃO | CASE DO EDIFÍCIO 432 PARK AVENUE

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LAJES NERVURADAS

BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS | LAJES NERVURADAS

POR VIRGILIO AUGUSTO RAMOS CEC CIA DE ENGENHARIA CIVIL

NORMATIVAItem 14.7.7 da ABNT NBR 6118:2014: “La-jes nervuradas são as lajes moldadas no local ou com nervuras pré-moldadas, cuja zona de tração para momentos positivos está localizada nas nervuras entre as quais pode ser colocado material inerte”.Neste texto vamos apenas nos referir às lajes mais comumente usadas que são as lajes com formas de polipropileno.Item 13.2.4.2 da ABNT NBR 6118:2014 “A espessura da mesa, quando não houver tubulações horizontais embutidas, deve ser maior ou igual a 1/15 da distância entre nervuras e não menor que 3 cm”.

ESPESSURA DA MESA:Em atendimento à Norma ABNT NBR 6118:2014 para as fôrmas mais comu-mente usadas 800/800 com espessura de nervura de 12 cm a distância entre faces de nervuras é de 68 cm que leva a uma espessura da mesa de 4,53 cm.A Norma ABNT NBR 15200:2012 define as espessuras mínimas da mesa em am-bientes em que se exija compartimen-tação vertical, conforme o TRRF (Tempo Requerido de Resistência ao Fogo) da construção, conforme tabelas apresen-tadas nas Tabelas 9 e 10:Considerando um edifício comum com 50 m de altura entre a fuga e o último cômodo habitado, o TRRF pela tabela

A.1 da ABNT NBR 14432/2001 é de 120 minutos.Para um TRRF de 120 minutos, a espes-sura mínima da capa das lajes nervura-das é de 12 cm e a espessura mínima das nervuras de 16 cm. Conforme tabela A.2 da ABNT NBR 15200:2012, o TRRF pode ser reduzido, no máximo, em 30 minutos, desde que se faça o cálculo pelo tempo equivalente. Normalmente se consegue essa redução.É muito importante observar que no valor da espessura mínima da capa, em ambientes compartimentados para in-cêndio, pode se considerar os revesti-mentos conforme o item 8.2 da ABNT NBR 15200:2012:Verificamos então, que para lajes nervu-radas não revestidas a espessura mínima de capa é de 10 cm (para esse edifício hipotético já com redução do TRRF para 90 minutos) e a espessura mínima das nervuras de 12 cm.Análise da espessura mínima de capa para atender aos cobrimentos:O cobrimento exigido pela ABNT NBR 6118:2014 para classe de agressividade moderada é de 25 mm, considerando uma tela Q92 cuja espessura mínima é de 2 x 4,2 mm = 8,4 mm e armadura nega-tiva de 20 mm numa direção, sendo que na outra direção armaduras negativas fi-carão abaixo da tela e dentro da nervura.

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201770

BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS | LAJES NERVURADAS

A espessura menor da capa será de 2 x 25 + 8,4 + 20 = 78,4 mm, ou seja 8 cm. No entendimento do autor, não se devem especificar capas com menos de 8 cm e as exigências de atendimento ao TRRF devem ser respeitadas.Em regiões com classe de agressividade III, o cobrimento é de 35 mm, o que equi-vale a ter uma espessura de capa de 2x35 + 8,4 + 20 = 98,4 cm, ou seja, 10 cm.Eventualmente, podem ser especificadas capas com menor espessura, no entanto, deve ser corrigido o cobrimento com re-vestimento, para a situação de incêndio em regiões compartimentadas verticalmente. Para o cálculo das armaduras quer posi-tivas quer negativas devem ser conside-radas as diferenças de cobrimento entre direções.A punção deve ser combatida com studs ou com armaduras inclinadas a 60° con-finando a direção das linhas de ruptura da punção.O uso das chamadas “minhocas” ou Us contínuos não é recomendado porque é muito difícil a montagem, dado que cada U deve ter pelo menos uma armadura su-perior e uma armadura inferior passan-do dentro dele para confinar a seção e, nesse caso, a montagem da armação se torna quase impossível.Recomendamos usar vergalhões conforme desenho apresentado a seguir, colocados após a montagem de todas as armaduras.

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As armaduras de cisalhamento, quando necessárias, devem ter o formato indica-do na figura a seguir, para permitir a co-locação dos vergalhões negativos dentro deles e assim fechar a seção. As patas superiores devem ser abertas.

Abaixo a sequência de montagem sem a qual os cobrimentos não são respei-tados evitando o aumento da espessura da capa.

No item 3 da sequência de montagem da armadura negativa vertical, a pata, é apenas para facilitar a montagem e evitar que o operário machuque a mão ao posi-cioná-la e ponteá-la na tela.

ALINHAMENTO DAS CUBETASPara uma maior economia deve-se usar um sistema adequado de escoramento sem tablado de madeira. Esse sistema tem réguas unidirecionais e não permite

o uso de meias cubetas nas duas dire-ções a não ser que nessa área seja criada uma fôrma convencional que não é do sistema e, com certeza, é mais cara e de-morada sua montagem, não justificando o volume de concreto gasto a mais.A montagem das cubetas deve se iniciar em torno do centro da laje para que os erros provocados por diferenças de tem-peratura e até dimensões das cubetas sejam minimizados.

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201772

PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA SOB LAJES DE COBERTURA DE EDIFÍCIOS

RESUMOA fissuração de paredes localizadas logo abaixo da laje de cobertura é uma das patologias mais comuns em paredes de edifícios de alvenaria estrutural. A ocorrência está relacionada, de forma preponderante, com a variação dimensional da laje por efeitos térmicos e devidos à retração. Este trabalho trata desse tema levando em conta as diferentes características do fenômeno. São apresentados os tipos usuais de fissuras, suas causas, procedimentos de prevenção e reparo, bem como um estudo de caso, em que o nível de solicitação tangencial das paredes ultrapassa os limites estabelecidos pela normalização nacional. Por fim con-clui-se sobre a necessidade de prevenção, ressaltando cuidados no projeto e na provisão de detalhes construtivos que minimizem a ocorrência de tal patologia. Palavras-chave: alvenaria, patologia, fissuração, efeitos térmicos.

INTRODUÇÃOA alvenaria é um sistema estrutural lar-gamente utilizado no Brasil, competindo com outros sistemas que utilizam mate-riais como o concreto armado, protendi-do, aço e madeira. As unidades básicas de um elemento de alvenaria são os ti-jolos e os blocos, de material cerâmico, concreto, sílico-calcários, dentre outros. A alvenaria estrutural é utilizada na cons-trução de edifícios, tipicamente com pa-redes simples de espessura de 140mm. A alvenaria também é largamente em-pregada em paredes de vedação, compe-tindo, por exemplo, com as dry-walls, e,

POR MÁRCIO ROBERTO SILVA CORRÊA PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE ESTRUTURAS DA

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS - USP

BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA

geralmente com melhores propriedades de isolamento acústico e térmico.Em um país como o Brasil, com enorme déficit habitacional e uma população su-perior a 200 milhões de habitantes, o se-tor da construção civil representa cerca de 16% do produto interno bruto, sendo que a participação da alvenaria estrutu-ral está estimada em torno de 20% desse mercado [1].Roman e Antunes Silva [2] sumarizaram os resultados de um vasto número de pesquisas realizadas no Brasil, mostran-do as causas usuais de defeitos na alve-naria, durante todo o seu processo de

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construção. A Figura 1 resume as prin-cipais causas de problemas em constru-ções em alvenaria no país.

FISSURAS NA ALVENARIAO aparecimento de fissuras na superfície da alvenaria é uma indicação visual da existência de defeitos que prejudicam o seu desempenho. Grimm[3] ressalta que as fissuras são a primeira causa de três ocorrências: penetração de água, inconveniências estéticas, problemas estruturais. Além dessas implicações, ocorrem ainda prejuízos significativos ao isolamento acústico, à durabilidade e à resistência ao fogo das alvenarias em situação de incêndio.A prevenção do processo de fissuração é certamente a atitude mais indicada para enfrentar o problema. Essa pre-

venção pode e deve ser feita, conce-bendo-se todo o processo de constru-ção, começando pelo planejamento e terminando pela manutenção. Thomaz [4] assinala que a prevenção está rela-cionada com muitos aspectos, como os resumidos na figura 2.Como o problema da fissuração é com-plexo, podendo-se identificar várias e simultâneas causas, diferentes aspectos da prevenção e do reparo da alvenaria podem ser considerados, como assina-lado por Souza et al [5]. Os problemas mais comuns observados no Brasil são causados por: a) recalques diferenciais de fundações; b) deformações de ele-mentos estruturais que servem de apoio para paredes ou que com elas intera-gem; c) deficiências de projeto ou proce-dimentos de execução inadequados; d) movimentações das lajes de cobertura

em contato com as paredes sobre as quais se apoiam. O presente artigo trata das fissuras que costumam aparecer em paredes sob la-jes de cobertura, que estão relacionadas aos dois últimos subgrupos assinalados no parágrafo anterior.

FISSURAS JUNTO À LAJE DE COBERTURAEsse processo de fissuração geralmente não compromete a segurança estrutural. Ainda assim, são enormes os prejuízos causados, por serem fissuras de difícil reparação e que acarretam problemas estéticos e de permeabilidade de água. Como as juntas de argamassa constituem os planos de fraqueza da alvenaria, o pro-cesso de fissuração costuma ocorrer se-gundo as duas configurações geométricas esquematizadas na figura 3. A primeira, constituída por fissuras horizontais, cos-tuma acompanhar a junta de assenta-mento localizada logo abaixo da laje de cobertura. A segunda é constituída por fissuras que acompanham juntas verticais e horizontais, produzindo uma configura-ção inclinada em formato de escada.A ocorrência dessas fissuras está relacio-nada à deficiência de resistência ao cisa-lhamento, o que pode ser entendido com base no critério de Coulomb. Segundo esse critério, adotado pelas atuais nor-mas brasileiras de alvenaria estrutural [7] [8], a resistência ao cisalhamento da interface junta/unidade está associada a uma aderência inicial e ao atrito mobili-zado por pré-compressão. A pior conju-gação desses fatores ocorre logo abaixo da cobertura, uma vez que as paredes estão sujeitas a baixas compressões e a laje está submetida à maior tendência de variação dimensional. Essa tendência ocorre por efeito da retração adicionado à variação de temperatura, o que é um problema bastante acentuado em países tropicais como o nosso. Como destacado por Corrêa e Ramalho [6], as paredes que apresentam a maior tendência à fissuração são: a) as que se encontram mais afastadas das regiões centrais do pavimento, por serem maiores os deslocamentos dos pontos da laje loca-lizados junto às suas bordas; b) as paredes que chegam de topo na fachada, por apre-sentarem variações de temperatura muito diferentes das que ocorrem nas lajes.

Execução8%

Projeto11%

Tecnologia17%

Gestão8%

Planejamento44%

FIG. 1 – CAUSAS DE DEFEITOS NAS CONSTRUÇÕES BRASILEIRAS.

FIG. 2 – PREVENÇÃO DE FISSURAS [4].

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201774

PREVENÇÃO DAS FISSURAS Algumas medidas podem ser tomadas para prevenir a ocorrência de fissuras na região em análise. Quanto à retração da laje, além de um adequado proces-so de cura, podem ser inseridas juntas permanentes ou temporárias, para a redução de seus efeitos. As juntas tem-porárias devem ser concretadas poste-riormente em prazo não inferior a uma semana, observando-se a necessidade de promover a emenda das armaduras da laje por traspasse (Figura 4). Quanto à movimentação térmica das lajes, po-dem ser tomados cuidados para mini-mizar as causas tais como: ventilação do telhado, sombreamento da laje, pin-tura da face superior do telhado com tinta branca ou reflexiva, isolamento térmico sobre a laje de cobertura (Fi-gura 6). Pode-se também minimizar os seus efeitos com as seguintes providên-cias: disposição de juntas de dilatação na laje, lançamento de juntas deslizan-tes na interface laje/parede (teflon, pa-pel betumado, neoprene, camada dupla de mantas de PVC ou tiras de material melamínico, etc., (Figura 5). O uso de armaduras nas fiadas superiores das

FIG. 3 – TIPOS BÁSICOS DE FISSURAS.

(a) Configurações típicas [6]. (b) Parede fissurada (Cortesia do Eng. Márcio Faria)

BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA

FIG. 4 – JUNTA DE CONCRETAGEM TEMPORÁRIA. ADAPTADA DE [4].

75

paredes também constitui um procedi-mento que reduz a ocorrência dessas fissuras. Tais armaduras podem estar localizadas em cintas de respaldo e/ou juntas horizontais. Observe-se que elas são mais eficientes quando dispostas na horizontal, direção de atuação da força cortante na parede induzida por movimentação da laje. Já as armaduras verticais contribuem apenas de forma marginal por efeito pino.

REPARO DAS FISSURAS Observada a ocorrência de fissuração na região em estudo, algumas provi-dências podem ser tomadas, como as resumidas na figura 7.O processo de recuperação das fis-suras pode ser feito basicamente de duas formas: a) remoção e substitui-ção da alvenaria danificada; b) retira-da e substituição do revestimento na região fissurada. Em geral, o primeiro procedimento é caro e pode ser até mesmo ineficiente se as causas do pro-blema não forem sanadas. O segundo procedimento é o mais utilizado e tem como fundamento a separação entre a alvenaria e o revestimento, mediante a colocação de um material liso e neu-tro (bandagem, fita adesiva, etc.), bem como o aumento da elasticidade do re-vestimento (por exemplo com a adição de cola PVA na argamassa de revesti-

mento) e a sua armação com tela metá-lica ou de material geotêxtil. A figura 8 ilustra essa recuperação.

ESTUDO DE CASOCorrêa e Ramalho[6] apresentaram um estudo de caso em que um pavimen-to de cobertura e as paredes sobre as quais ele se apoia foram representados por modelos alternativos em elemen-tos finitos, considerando simplificada-mente o comportamento elástico-linear para os materiais. O pavimento em laje de concreto de 0,09m de espessura foi submetido a uma variação uniforme de temperatura de 20º C, analisando-se a

intensidade das tensões de cisalhamen-to despertadas nas paredes. A figura 9 apresenta a forma do referido pavimen-to, bem como as principais característi-cas dos elementos estruturais. As paredes dispostas na direção da maior dimensão do pavimento foram analisadas com base nos critérios es-tabelecidos em [7]. Considerando-se o modelo mais refinado dentre os utiliza-dos, no qual as paredes foram discretiza-das em elementos finitos de membrana e as lajes em elementos de casca, todas as paredes, exceto a P3, apresentaram tensões de cisalhamento superiores aos valores máximos normalizados, indican-

FIG. 5 – JUNTA DESLIZANTE ABAIXO DA LAJE.

FIG. 6 – DETALHES PARA A MINIMIZAÇÃO DE FISSURAS NAS PAREDES SOB LAJE DE COBERTURA. ADAPTADA DE [9].

FIG. 7 – PROCEDIMENTOS DE REPARO [9].

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201776

do a provável ocorrência de fissuração, na ausência de providências como as indicadas no item 3. Maiores detalhes podem ser obtidos em [6].

CONCLUSÃOEmbora a fissuração de paredes de alve-naria localizadas logo abaixo da laje de cobertura não comprometa a segurança estrutural, é essencial a adoção de pro-vidências que minimizem a sua ocorrên-cia devido ao comprometimento de sua utilização. Procedimentos simples, como os aqui brevemente discutidos, podem ser adotados tanto na fase de desenvol-vimento do projeto como durante a sua execução. Tais procedimentos buscam re-duzir as suas causas, bem como atenuar

os efeitos das variações dimensionais da laje, cuja movimentação horizontal induz o aparecimento de cisalhamento nas pa-redes, em nível superior à sua resistência nominal, caso seja impedido o movimen-to relativo laje/topo da parede. Sendo um problema grave e que pode gerar eleva-dos custos de reparação, os procedimen-tos de prevenção devem ser observados de forma cuidadosa, buscando minimizar a ocorrência dessa patologia.

REFERÊNCIAS[1] CORREA, M. (2012) - “The Evolution of

the Design and Construction of Ma-sonry Buildings in Brazil”. Design Man-agement and Technology, São Carlos, 2012, V.7, N.2, p. 3-11.

[2] ROMAN, H.; ANTUNES SILVA, D. (2007) - “Typical Masonry Wall Enclosures in Brazil”, In: CIB (2007) - “Enclosure ma-sonry walls worldwide”, S. Pompeu Santos (ed), Taylor & Francis/Balkema, London, UK.

[3] GRIMM, C. (1988) - “Masonry Cracks: A Review of the Literature”, ASTM STP 992, American Society for Testing and Materials, Philadelphia.

[4] THOMAZ, E. (1998) - “Prevenção e re-cuperação de fissuras em alvenaria – parte 2”, Techne, 37, pp.48-52.

[5] SOUSA, H., THOMAZ, E., CORRÊA, M.R.S, ROMAN, H. (2015) – “Defects in Masonry Walls. Guidance on cracking: Identification, prevention and repair – Introduction”. CIB W023 – Wall Struc-tures, pp 1-6, International Council for Research and Innovation in Building and Construction, Rotterdam.

[6] CORREA, M. R. S.; RAMALHO, M. A. (2012) - “Fissuras em paredes de al-venaria estrutural sob lajes de cober-tura de edifícios”. Cadernos de Enge-nharia de Estruturas (Online), v. 14, n. 62, p. 71-80.

[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. “NBR 15961-1:2011. Alve-naria estrutural – Blocos de concreto. Parte 1: Projeto”. Rio de Janeiro, Brasil.

[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. “NBR 15812-1:2010. Alve-naria estrutural – Blocos cerâmicos. Parte 1: Projeto”. Rio de Janeiro, Brasil.

[9] I.P.T. (2009) - “Alvenaria de vedação em blocos cerâmicos – Código de práticas No 1”, Instituto de Pesquisas Tecnológi-cas de São Paulo S.A., Brasil.

FIG. 8 – RECUPERAÇÃO DE FISSURAS [5].

FIG. 9 – ESTUDO DE CASO – LAJE DE COBERTURA (DIMENSÕES EM CM).

BOAS PRÁTICAS PARA PROJETO | PATOLOGIA EM PAREDES DE ALVENARIA

77

AGENDA

CALENDÁRIO DE CURSOS 5 e 6 MAIO PROJETO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO COM AUXÍLIO DE MODELOS DE BIELAS E TIRANTES Local: Recife/PE

CÁLCULO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO Local: Salvador/BA

MODELAGEM DE ESTRUTURAS DE EDIFÍCIOS Local: Natal/RN

12 e 13 MAIO PROJETO E EXECUÇÃO DE LAJES PROTENDIDAS: CONCEITOS, APLICAÇÃO E PRÁTICA Local: Fortaleza/CE

13 MAIO PROJETO ESTRUTURAL DE EDIFÍCIOS DE ALVENARIA Local: Porto Alegre/RS

17 MAIO WORKSHOP MOMENTO ATUAL DO MERCADO DE CONSTRUÇÃO CIVIL Local: São Paulo/SP

18 e 19 MAIO PROJETO E REFORÇO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO Local: São Paulo/SP

26 e 27 MAIO DISTRIBUIÇÃO TRANSVERSAL DE CARGAS EM PONTES COM VIGAS MÚLTIPLAS Local: São Paulo/SP

26 a 28 MAIO CÁLCULO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO Local: Manaus/AM

2 e 3 JUNHO PROJETO E EXECUÇÃO DE LAJES PROTENDIDAS: CONCEITOS, APLICAÇÃO E PRÁTICA Local: Rio de Janeiro/RJ

CÁLCULO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO Local: Curitiba/PR

9 JUNHO DIMENSIONAMENTO À PUNÇÃO EM LAJES PELA NBR 6118/2014 Local: São Paulo/SP

10 JUNHO ESPECIFICAÇÃO, GERENCIAMENTO E CONTROLE DE CONCRETO Local: Blumenau/SC

23 e 24 JUNHO INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA: CONCEITOS E APLICAÇÕES EM PROJETOS ESTRUTURAIS Local: São Paulo/SP

PROJETO DE ESTRUTURAS METÁLICAS Local: Rio de Janeiro/RJ

7 e 8 JULHO PROJETO DE ESTRUTURAS METÁLICAS Local: Rio de Janeiro/RJ

14 e 15 JULHO PROJETO E EXECUÇÃO DE LAJES PROTENDIDAS: CONCEITOS, APLICAÇÕES E PRÁTICA Local: Curitiba/PR

20 e 21 JULHO PROJETO DE REFORÇO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO Local: Salvador/BA

Outras informações: http://site.abece.com.br/index.php/eventos | [email protected] | (11) 3938-9400

JOGO DE SETE ERROS

1 – Diâmetros das barras longitudinais igual a 8mm (Pilar 01):Comentário: Segundo o item 18.4.2.1 da ABNT NBR 6118:2014, “o diâmetro das barras longitudinais não pode ser inferior a 10 mm”.2 – Diâmetros das barras longitudinais igual a 25 mm (Pilar 02):Comentário: Segundo o item 18.4.2.1 da ABNT NBR 6118:2014, o diâmetro das barras longitudinais não pode ser “superior a 1/8 da menor dimensão trans-versal”.3 – Diâmetro dos estribos igual a 4.2 mm (Pilar 01):Comentário: Segundo o item 18.4.3 da ABNT NBR 6118:2014, “o diâmetro dos estribos em pilares não pode ser inferior a 5 mm nem a ¼ do diâmetro da barra isolada ou do diâmetro equivalente do feixe que constitui a armadura longitudinal”.

4 – Espaçamento entre estribos igual a 25 cm (Pilar 02):Comentário: Segundo o item 18.4.3 da ABNT NBR 6118:2014, “o espaçamento longitudinal entre estri-bos, medido na direção do eixo do pilar, para garan-tir o posicionamento, impedir a flambagem das bar-ras longitudinais e garantir a costura das emendas de barras longitudinais nos pilares usuais, deve ser igual ou inferior ao menor dos seguintes valores: 200 mm; menor dimensão da seção; 24 φ para ca-25, 12 φ para ca-50”.5 – As,máx superior a 0.08 ac (Pilar 02) na emenda:Comentário: Segundo o item 17.3.5.3.2 da ABNT NBR 6118:2014, “a máxima armadura permitida em pilares” (as,máx = 0.08 ac) “deve considerar inclusive a sobreposição de armadura existente em regiões de emenda”.

6 – Pilar com dimensões de 15x15cm (Pilar 01):Comentário: pilares em concreto armado, segundo o item 13.2.3 da ABNT NBR 6118:2014, não podem apresentar seção transversal com área inferior a 360 cm2;7 – Cobrimento da armadura igual a 10 mm (Pi-lar 02):Comentário: segundo a tabela 7.2 da ABNT NBR 6118:2014, o menor cobrimento nominal da arma-dura para pilares deve ser de 25 mm podendo ser reduzido em 5 mm em algumas situações.

Observação: Como se trata de um exemplo e não um projeto completo, diversos outros itens (carim-bo, notas mais completas, legendas, etc...) e dese-nhos (cortes, detalhes construtivos, etc...) devem fazer parte de um projeto estrutural adequado as normas técnicas.

RESPOSTAS

DETECTE AS FALHAS

REVISTA ESTRUTURA | ABRIL • 201778

POR LEONARDO BRAGA PASSOSDIRETOR DA ABECE

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