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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I
CURSO – PEDAGOGIA
ALESSANDRA CARDOSO SANTOS
VIOLÊNCIA NO CONTEXTO ESCOLAR: BREVE ANÁLISE
DO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA
MUNICIPAL PROF.ª EUFROSINA MIRANDA
SALVADOR
2011
1
ALESSANDRA CARDOSO SANTOS
VIOLÊNCIA NO CONTEXTO ESCOLAR: BREVE ANÁLISE
DO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA
MUNICIPAL PROF.ª EUFROSINA MIRANDA
Monografia apresentada como requisito parcial
para obtenção da Graduação em Pedagogia
com habilitação em Anos Iniciais, do
Departamento de Educação da Universidade
do Estado da Bahia, sob a orientação da
Professora Mestra, Heloísa Lopes.
SALVADOR
2011
2
FICHA CATALOGRÁFICA
Sistema de Bibliotecas da UNEB
Santos, Alessandra Cardoso
Violência no contexto escolar: breve análise do enfrentamento da violência na escola
municipal Profª Eufrosina Miranda / Alessandra Cardoso Santos . – Salvador, 2011.
57f.
Orientadora: Profª. Ms. Heloisa Lopes Silva de Andrade.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia.
Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2011.
Contém referências e apêndices.
1. Violência escolar - Salvador (BA). 2. Vandalismo na escola. 3. Insciplina escolar. I.
Andrade, Heloisa Lopes Silva de. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de
Educação, Colegiado de Pedagogia.
CDD: 371.58
3
ALESSANDRA CARDOSO SANTOS
VIOLÊNCIA NO CONTEXTO ESCOLAR: BREVE ANÁLISE
DO ENFRENTANDO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA MUNICIPAL
PROF.ª EUFROSINA MIRANDA
Monografia apresentada como requisito parcial
para obtenção da Graduação em Pedagogia
com habilitação em Anos Iniciais, do
Departamento de Educação da Universidade
do Estado da Bahia, sob a orientação da
Professora Mestra, Heloísa Lopes.
Aprovada em 9 de setembro de 2011.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Profª Mestra Heloísa Lopes (Orientadora) – UNEB
________________________________________________________
Profª Mestra Cláudia Silva de Santana – UNEB
_________________________________________________
Profª Mestra Rilza Cerqueira Santos – UNEB
4
Dedico este estudo, aos alunos do 4º ano do ensino fundamental da Escola Profª. Eufrosina
Miranda, que serviram de inspiração para a realização desse trabalho.
5
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos...
A DEUS, em primeiro lugar. Que me guiou até aqui, me possibilitando a usufruir de vida e saúde para
alcançar meus objetivos e sonhos.
Aos meus pais, Mª Isabel e Paulo Cardoso, presentes de DEUS. Meus grandes exemplos de vida,
maiores incentivadores e companheiros de todas as horas, que estiveram presentes em toda a minha
trajetória acadêmica, amparando-me e ajudando-me na caminhada. Os quais amo, incondicionalmente.
A minha irmã Ana Paula, pelo amor, companheirismo, força e amizade que sempre me dedicou
durante todos os anos de minha vida. Maninha te amo.
A minha sobrinha Kauane, que no auge da sua infância contribuiu para as minhas experiências
acadêmicas, enchendo – me de orgulho. Titia ama você.
Ao quinteto fantástico do qual faço parte, Ana Claúdia Brandão, Caroline Nepomuceno, Giselle Pires
e Naiára Bittencourt, minhas grandes e eternas amigas, pela ajuda constante, pela paciência,
cumplicidade e amizade. Alicerces nessa trajetória acadêmica.
A minha especial orientadora, professora Heloisa Lopes, pela seriedade do seu trabalho, paciência e
experiências trocadas, fazendo com que o final dessa trajetória não virasse um tormento.
Extremamente grata.
Aos educadores (as), funcionários (as) e alunos (as) da Escola Municipal Profª. Eufrosina Miranda,
que contribuíram significativamente para a construção desse trabalho.
A todos (as) os (as) professores (as) e funcionários (as) desta instituição que cruzaram a minha
trajetória acadêmica, me ensinando saberes que levarei para a vida toda.
A todos os demais colegas, com os quais eu tive o privilégio de conviver; e cuja construção da
afetividade muitas vezes esteve sendo posta à prova, porém, sempre na busca da aceitação, através da
tolerância às diferenças.
A todos (as) obrigada!
6
“Não há pessoas irrecuperáveis, há pessoas não amadas, incompreendidas, sem oportunidades.”
(Roberto Carlos Ramos)
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RESUMO
Este estudo aborda a violência no contexto escolar, fazendo uma breve análise do
enfrentamento da violência na Escola Municipal Profª Eufrosina Miranda. Os objetivos
consistiram em: compreender a abordagem histórica da violência; estabelecer a distinção entre
violência, incivilidade e indisciplina; explicar as manifestações da violência na escola,
violência da escola e violência à escola e identificar as ações realizadas na escola para
minimizar o fenômeno da violência. A metodologia utilizada foi à abordagem qualitativa.
Utilizou-se como instrumento um questionário aplicado aos educadores da Escola Eufrosina
Miranda, a observação assistemática não - participativa e análise do Projeto Político
Pedagógico (PPP) da referida escola. Quanto ao resultado constatou-se que o PPP não
apresenta qualquer projeto ou ação efetiva ao enfretamento da violência no estabelecimento
de ensino. Por considerar a proximidade da comunidade com uma pequena praia, a escola
realiza projetos voltados à questão do meio ambiente. Considera-se, portanto que a escola não
está preparada para afrontar os diários episódios de violência e que a mesma não dispõe de
ações eficazes. Dessa forma, as ações realizadas na escola para enfrentamento da violência,
são isoladas e pouco efetivas, visto que as mesmas de nada adiantam.
Palavras-chave: Violência – Incivilidades – Indisciplina
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ABSTRACT
This study addresses violence in the school context, making a brief analysis of dealing with
violence at the Municipal School Prof. Miranda Euphrosyne. The objectives were: to
understand the historical approach to violence, to distinguish between violence, rudeness and
indiscipline, to explain the manifestations of violence at school, school violence and violence
in school and identify the actions taken at the school to minimize the phenomenon of
violence. The methodology used was qualitative approach. We used a questionnaire as a tool
to School educators Euphrosyne Miranda, the systematic observation does not - and
participatory analysis of the Pedagogical Political Project (PPP) of that school. As the result it
was found that the PPP has no effective action project or the coping of violence in school.
Considering the proximity of the community with a small beach, the school carries out
projects related to the issue of the environment. It is considered therefore that the school is not
prepared to face the daily episodes of violence and that it has no effective action. Thus,
actions taken at school to dealing with violence are isolated and ineffective, since the same to
no avail.
Keywords: Violence - Incivilities - Indiscipline
9
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – A amendoeira (pátio)..........................................................................................36
FIGURA 2 – Varanda da “disciplina” (sala da direção/secretaria e sala dos professores ).....37
FIGURA 3 – Vista aérea do bairro do Lobato, com a escola em destaque..............................38
FIGURA 4 – Vista aérea do bairro do Lobato com a Prainha em destaque............................39
10
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – Projeto Político Pedagógico da Escola.............................................................40
QUADRO 2 – Formação dos educadores da escola.................................................................42
QUADRO 3 – Primeiro bloco (Concepção e manifestação da violência escolar) questão nº
1.................................................................................................................................................43
QUADRO 4 - Primeiro bloco (Concepção e Manifestação da violência escolar) questão nº
2.................................................................................................................................................44
11
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Segundo bloco (território geográfico interno e externo de episódios da
violência) questão nº3...............................................................................................................45
GRÁFICO 2 – Segundo bloco (território geográfico interno e externo de episódios da
violência) questão nº 4..............................................................................................................46
GRÁFICO 3 – Terceiro bloco (violências sofridas pelos educadores) questão nº 05.............47
GRÁFICO 4 – Terceiro bloco (Violências sofridas pelos educadores) questão nº 06............47
GRÁFICO 5 – Quarto bloco (Ações implementadas pela escola) questão nº 7......................48
GRÁFICO 6 – Quarto bloco (Ações implementadas pela escola) questão nº 8.....................49
12
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................13
2. ABORDAGEM HISTÓRICA DA VIOLÊNCIA.............................................................16
2.1 O QUE É VIOLÊNCIA?.....................................................................................................19
3. DISTINÇÃO CONCEITUAL DE VIOLÊNCIAS E NÃO VIOLÊNCIAS NO
ÂMBITO ESCOLAR..............................................................................................................22
3.1 VIOLÊNCIA NA ESCOLA................................................................................................22
3.2 VIOLÊNCIA DA ESCOLA................................................................................................25
3.3 VIOLÊNCIA A ESCOLA..................................................................................................26
3.4 INCIVILIDADES ..............................................................................................................27
3.5 INDISCIPLINA..................................................................................................................29
4. O NÃO ENFRENTAMENTO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA EUFROSINA
MIRANDA...............................................................................................................................34
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA.................................................................................35
4.2 CONSIDERAÇÕES DO PROJETO POLITICO PEDAGOGICO....................................39
4.3 DA MANIFESTAÇÃO DA VIOLÊNCIA AO NÃO ENFRENTAMENTO....................42
4.3.1 O Questionário.................................................................................................................42
4.3.2 A Observação...................................................................................................................49
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................52
REFERÊNCIAS......................................................................................................................54
APÊNDICE..............................................................................................................................57
13
1. INTRODUÇÃO
A violência é dos muitos problemas brasileiros que mais preocupa a sociedade
contemporânea, principalmente quando a violência está inserida na escola, não que seja um
fenômeno recente, mas vem causando muita angústia e medo a sociedade pelas formas como
tal fenômeno acontece e por pessoas cada vez mais jovens estarem sendo envolvidas, seja
como vítimas ou agressores. Nessa perspectiva, a escola deixa de ser um espaço seguro, que
visa a atitudes de respeito, amizade, harmonia, socialização e integração para ser “palco” de
diversas violências, nas suas mais variadas formas, desde simbólica, verbal a física.
Tem sido constante a veiculação através da mídia, situações de violência nas escolas
brasileiras, o impacto dessas notícias contribuíram para o aumento do temor e consternação
dos pais, educadores e sociedade como todo. Crianças e adolescentes portam armas de fogo,
drogas e até mesmo as chamadas “armas brancas”; agridem seus colegas por motivos banais e
são cada vez mais agressivos, não respeitam mais a sala de aula e nem mesmo os professores
escapam e a autoridade docente entra em crise.
Conforme matéria escrita por Lemos, publicada pelo jornal A Tarde em maio de 2011, sobre a
pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2009, relata que 93,6% dos homicídios na
capital baiana foram causados por arma de fogo, uma elevação em relação a 2007 e 2008,
quando foram apontados percentuais de 88,2% e 92,6%, respectivamente.
Em relação aos estados, a Bahia encontra-se num ranking 81,3% na lista das quatro unidades
líderes em mortes por arma de fogo, atrás apenas de Alagoas cujo percentual foi de 83,3%, a
Paraíba com 80,5% e finalmente o Rio de Janeiro com 80,1%. Em 2009, foram 35.556
homicídios ocasionados por arma de fogo no Brasil, o que corresponde a 71,2% dos casos,
com média de 97 mortes por dia.
Outro aspecto apresentado por Cirino (2009) em matéria publicada pelo jornal A Tarde em
maio de 2009, destaca que os casos de tráfico, uso de drogas, porte de facas, revólveres,
ameaças de morte e agressões é a realidade de muitas escolas públicas da Grande Salvador.
Na mesma matéria foi apresentado, dados da Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI),
somente nos dois primeiros meses de aula de 2009 (março e abril), já foram catalogadas 51
ocorrências nas escolas da capital baiana e cidades da região metropolitana, três na rede
municipal.
14
Diante disso, indago quais ações à Escola Municipal Profª. Eufrosina Miranda realiza para
minimizar as ocorrências de violência na escola? Os objetivos para tal são: compreender a
abordagem histórica da violência; estabelecer a distinção entre violência, incivilidade e
indisciplina; explicar as manifestações da violência na escola, violência da escola e violência
à escola e identificar as ações realizadas na escola para minimizar o fenômeno da violência.
O interesse no tema partiu de uma experiência em sala, durante o estágio com alunos do 4º
ano do ensino fundamental da Escola Municipal Profª. Eufrosina Miranda, localizada no
bairro do Lobato, na cidade de Salvador, onde em diversas ocasiões presenciei cenas de
violência física (socos, chutes, tapas e puxões de cabelo) e verbal (xingamentos e palavrões),
fui vitima de furtos, chegando muitas vezes a ser agredida verbalmente e fisicamente ao tentar
evitar as agressões entre alunos.
Diante desta grave situação que se caracteriza como um dos desafios educacionais
contemporâneo em que se encontram as escolas brasileiras. Para elaboração do trabalho
optou-se pela metodologia de abordagem qualitativa, com ancora na revisão bibliográfica de
autores como: Mirian Abramovay (2005), Bernard Charlot (2002), Claire Colombier (1989),
Norma Mendes (2009), Marília Sposito (2001), Ilana Laterman (2002), Groppa Aquino
(1998), entre outros, alem de uma inserção de uma pesquisa de campo na escola pública.
Como educadora, percebo a relevância deste estudo, a fim de, contribuir para as melhorias das
ações de enfrentamento a violência dentro das instituições de ensino, assim como, a
diminuição das ocorrências da violência, incivilidades e a indisciplina no contexto escolar.
Por isso, faz-se necessário e emergencial refletir e discutir os conceitos, distinções e
características das violências ocorridas na escola, de maneira a auxiliar a pratica pedagógica
no enfrentamento e mediação da violência no contexto escolar.
Para tanto, a discussão é apresentada da seguinte forma: inicialmente, é feita uma abordagem
histórica da violência, confirmando que a violência sempre existiu. Em seguida, se discorre
sobre o conceito de violência, este que se mostra um tanto complexo. Dando prosseguimento,
faremos uma abordagem acerca das características, distinções e formas de apresentação das
ramificações da violência no contexto escolar sendo elas: a violência na escola, violência da
escola, violência à escola, as incivilidades e a indisciplina.
Nesse sentido, desenvolveu-se uma pesquisa de abordagem qualitativa e bibliográfica que
visou fundamentalmente, identificar a(s) resposta(s) ao problema levantado. Utilizou-se como
15
instrumento um questionário aplicado aos educadores da Escola Eufrosina Miranda, a
observação assistemática não-participante e análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) da
referida escola. Quanto ao resultado constatou-se que o PPP não apresenta qualquer projeto
ou ação efetiva ao enfretamento da violência no estabelecimento de ensino. No entanto, por
considerar a proximidade da comunidade com uma pequena praia, a escola realiza projetos
voltados à questão do meio ambiente. Considera-se, portanto que a escola não está preparada
para afrontar os diários episódios de violência e que a mesma não dispõe de ações eficazes.
Dessa forma, as ações realizadas na escola para enfrentamento da violência, são isoladas e
pouco efetivas, visto que as mesmas de nada adiantam.
16
2. ABORDAGEM HISTÓRICA DA VIOLÊNCIA
A violência sempre existiu. O fenômeno da violência surgiu como um dos maiores problemas
para a sociedade contemporânea, nas suas mais variadas formas, engana-se quem pensa que a
violência é um fenômeno contemporâneo. A violência se traduz em um fenômeno histórico na
composição da sociedade. Na bíblia sagrada (2002), tem-se o primeiro relato de violência, o
primeiro homicídio “E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que estando eles no
campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou”. (Gn. 4:8). Por inveja e ciúmes
os primeiros descendentes do homem Caim e Abel, protagonizam o que seria o primeiro ato
de violência na história da humanidade.
Na Idade Média, temos como exemplo as Cruzadas, batalhas entre católicos e mulçumanos
que durante dois séculos deixaram milhares de mortos; a escravidão de negros e índios no
Brasil; o holocausto na Alemanha e as duas grandes guerras mundiais, são esses alguns
exemplos de como a violência está inserida na biografia da humanidade e de como essas
ações violentas modelaram o mundo contemporâneo.
Assim, pode-se dizer que “os motivos da violência se expressam em cada sociedade de
diversas formas e que cada uma elabora uma moralidade para justificá-la.” (MENDES, 2009,
p. 35). Dessa forma, ao estudarmos sobre violência, antes de empregarmos quaisquer juízos,
ao aceitá-la ou não, devemos considerar alguns aspectos importantes como: a forma que essa
violência é pensada, como ela é exercida e como é vivenciada em nossa sociedade e em
outras.
Os questionamentos da autora nos fazem pensar que a violência refletida, vivenciada e
praticada hoje, não é a mesma violência de sociedades antigas, a exemplo de Roma, que é
uma sociedade estigmatizada pela crueldade e violência, que por todo esse tempo foram
empregado-lhes juízo de valor, a partir de comparações ilegítimas e de grandes produções
literárias e cinematográficas.
Na sociedade romana todo delito era punido, desde os militares aos civis. Quando uma força
militar era derrotada os soldados eram mortos à paulada, apedrejamento e a cabeça era
decapitada como demonstração de poder. Aos delitos civis como assalto, envenenamento,
magia, assassinato, profanadores de templos entre outros, eram condenados à cruz, às chamas,
às bestas e à espada, essas penalidades traduzem uma desqualificação social, eram aplicados a
17
escravos e aos não cidadãos romanos de baixa renda. A condenação à morte pelas feras do
anfiteatro está ligada a crime de alta traição.
As lutas realizadas nos anfiteatros eram verdadeiros espetáculos dados pelos gladiadores que
lutavam pela vida, muitas vezes até a morte, vale ressaltar que a intenção não era levar o
condenado a execução pública e sim confirmar publicamente o poder da comunidade romana,
duelos esses que levavam uma verdadeira multidão a assistir esse violento e sangrento
espetáculo, e comparecer aos jogos era uma pratica de identificação romana. Logo, segundo
Norma Mendes:
A sociedade romana, conforme qualquer outra sociedade antiga ou moderna,
tinha uma forma específica de conceber e buscar uma justifica moral e
ideológica para o uso da violência e da crueldade. Devemos nos preocupar
em analisar e interpretar o uso da violência de acordo com o contexto
histórico-cultural e não julgar. (MENDES, 2009, p.47).
Dessa forma, a violência vista por esses espectadores, não é a mesma violência entendida por
esta sociedade contemporânea. Consideramos violência quando as regras morais e sociais são
desrespeitadas, mas devemos lembrar que nem todas as sociedades partilham dos mesmos
preceitos. Contudo, o conceito de violência também pode variar, não apenas em função de um
contexto social, mas também dos preceitos morais, éticos e da própria história e da cultura da
sociedade. (LATERMAN, 2000)
Na sociedade romana, a violência era legitimada como instrumento para execução da justiça
tanto pública como privada em prol da preservação da Res publica1.
A morte era determinada
pela vida, ou seja, era a ação pública ou privada desse homem que aclamava ou denegria sua
morte. Os crimes significavam uma desordem social, além de um sacrilégio. Contudo, as
penalidades eram entendidas como redenção, resgate, expressão da vindicta2, como forma de
corrigir o criminoso.
No livro Violência: Psicanálise, Direito e cultua (2007), o autor Lédio Andrade, justifica a
violência a partir da visão ontológica3. O ser humano, apesar da sua complexidade, é visto
1
Assunto da união de certo número de homens associados por um consenso comum no direito e na comunhão de
interesses. 2 Vingança
3 Ontologia – parte da filosofia que trata do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a
todos e a cada um dos seres. (AÚRELIO, 2001)
18
como uma espécie animal a mais, dessa forma, compartilha uma característica de todos os
animais: o uso da agressão e da violência.
A prática da violência não constitui uma ação humana exclusiva, como
pensam muitos. Infanticídio, estupros (no conceito humano) e surras são
práticas normais no cotidiano de animais como os primatas chipanzé, gorila
e orangotango. Todos os animais humanos ou não, são agressivos por
condição, jamais por maldade. (ANDRADE, 2007, p. 13)
Dessa forma, a agressividade é intrínseca aos animais, seja ele racional ou irracional, no
entanto, pondero que há uma diferença considerável entre a agressividade humana e a
agressividade animal. A agressividade biológica - presente nos animais e no homem -
segundo Lorenz, “é a capacidade dos indivíduos de lutar para defender a própria vida, ou a de
seu companheiro e seus filhotes, e até mesmo outros indivíduos” (apud MEZINSKI, 2007, p.
77), nesse sentido, a agressividade biológica de animais e seres humanos se difere pelo
simples fato que a violência animal ela cessa assim que a ameaça termina, ou seja, uma
agressividade defensiva, ao contrario dos seres humanos que podem se mostrar violentos
quando não há necessidade.
No estudo de Andrade (2007) o autor faz algumas comparações entre os seres humanos no
decorrer da sua história e os primatas, especificamente os chipanzés. O homem no decorrer da
história, organizou seu mundo social através de comunidades dominadas pelos machos,
incumbido de proteger o grupo e detentor de um grande potencial agressivo, o mesmo se dava
com os primatas. Nesse sentido, vários dos comportamentos agressivos do homem atual,
seriam memórias dessa origem comum. Há alicerce antropológico para tal afirmação.
Vimos que o fato de chipanzés e humanos matarem membros de grupos
vizinhos de suas próprias espécies é uma surpreendente exceção à regra
normal entre os animais. [...] a agressão entre grupos em nossas duas
espécies tenha uma origem em comum [...]. Há indícios de que a violência
na forma da dos chimpanzés precedeu e abriu o caminho para a guerra
humana, tornando os humanos modernos os atordoados sobreviventes de um
hábito continuado, de 5 milhões de anos, de agressão mortífera.
(WRANGHAM apud ANDRADE, 2007, p. 13,14)
Nesse sentido, as ações humanas de violência estão intimamente ligadas ao passado e ao
elemento fundamental da natureza, humana ou animal, a agressividade. Hoje, agregando
elementos como a religião, ideologias, armas, altas tecnologias entre outros.
19
2.1 O QUE É VIOLÊNCIA?
A violência tem se tornado, paradoxalmente, uma distinta fonte de motivação indesejável para
reflexão e mudança nas escolas. Dada a complexidade do fenômeno e a difícil tarefa de
conceituá-la, esse texto tem a pretensão de discutir o tão complexo conceito de violência
resgatando a forma pela qual alguns autores, tais como Andrade (2007), Costa (1986),
Mendes (2009), Michaud (2001) e Bobbio (2009) o abordam. O termo violência é
polissêmico, com diferentes definições. Segundo o Dicionário, O novo Aurélio Século XXI
“Violência do lat. Violentia, qualidade de violento. Ato violento. Ato de violentar.
Constrangimento físico ou moral; uso da força; coerção” (FERREIRA, 1999, p. 2076).
De acordo com Norberto Bobbio, violência é
a intervenção física de um individuo ou grupo contra outro individuo ou
grupo. Para que haja violência, é preciso que a intervenção física seja
voluntária [...] a intervenção física na qual a violência, consiste ter por
finalidade destruir, ofender e coagir (apud MENDES, 2009, p. 35).
A força é abordada por diversas concepções, no entanto, a partir de algumas leituras posso
afirmar que o conceito de violência é muito mais amplo e dúbio do que a mera intervenção
física. Entre outras manifestações de violência, existe uma em que alguns autores chamam de
violência invisível, dessa forma, torna-se uma violência difícil de caracterizar, mas não deixa
de ser nociva. A violência causa danos que prejudica tanto a integridade física quanto
psicológica.
É constante a veiculação da violência na mídia em suas diversas faces, é só ligar a TV em
qualquer horário que somos “bombardeados” com manchetes assustadoras e muitas vezes
inacreditáveis; ou abrir um jornal que lá estará à violência estampada em primeira página.
Essas manchetes nos revelam assustadoramente índices de violência alarmante, em diversos
contextos e classe social. Quando se fala em violência pensamos logo em algum tipo de
intervenção física, há autores que tratam à agressão como algo natural e instintivo que causa
dano a outro e a violência aproxima-se mais de um ato cultural, trata-se do emprego da
agressão com um fim especifico de destruir o outro, a respeito disso Andrade traz:
Violência é toda forma investida, ataque, assalto, provocação, hostilidade,
ofensa, acometimento, abandono, exploração, golpe, insulto, gesto, assédio,
conduta com intuito destrutivo (e muitas condutas sem esse intuito, como as
20
necessárias à constituição do sujeito, sendo exemplos inúmeros interditos
paternos necessários a essa constituição) capaz de causar sofrimento, dor,
constrangimento ou sensação desagradável. (ANDRADE, 2007, p. 6)
Ainda, que amplo o conceito trazido por Andrade, ele acaba restrito, pois as formas de
violência podem ser ampliadas assustadoramente, a exemplo existem atos não considerados
violentos que são a expressão pura da violência, como nos casos da chamada violência
simbólica e em muitos outros de violência institucional.
Voltando ao conceito de violência, como diria Andrade (2007, p.1): “A violência. Fácil senti-
la; mas, difícil conceituá-la e explicá-la”. O autor critica alguns psicanalistas por
naturalizarem a violência, de modo a torná-la intrínseca ao ser humano. Desta forma, Andrade
atribui a violência uma importância categórica na biografia humana, mas não chega a
naturalizá-la, embora a entenda, em parte, como biológica, ou seja, instintiva, quando os seres
humanos viviam segundo a natureza e não, segundo a cultura. Todavia, vê na cultura um fator
determinante para a existência da violência. (ANDRADE, 2007, p. 3)
Será que antes da aculturação da humanidade não existia violência? Ou essa violência era
entendida de outra forma? Desde sempre a agressividade é um elemento natural do ser
humano um elemento para defesa, que lhe permitiu sobreviver como espécie. A exemplo
disso, é a posição de defesa que se coloca um animal para defender seus filhotes, no entanto
essa agressividade cessa assim que a ameaça termina, ao contrario do homem que pode se
mostrar violento sem a necessidade biológica.
Desta forma, o conceito de violência além de complexo é bastante amplo como logo será
visto. É o que faz Costa,
Violência é o emprego desejado da agressividade, com fins destrutivos.
Esse desejo pode ser voluntário, deliberado, racional e consciente, ou pode
ser inconsciente, involuntário e irracional. A existência desses predicados
não altera a qualidade especificamente humana, da violência, pois o animal
não deseja, o animal necessita. E é porque o animal não deseja que seu
objeto é fixo, biologicamente predeterminado , assim como o é a presa para
a fera. Nada disso ocorre na violência do homem. O objeto de sua
agressividade não só é arbitrário como pode ser deslocado. Este pressuposto
é indissociável da noção de irracionalidade que acabamos de mencionar e
corrobora a presença do desejo em qualquer atividade humana inclusive na
violência. (COSTA, 1986, p. 39)
21
Sendo assim, o autor afirma que a agressão é biológica e característico de qualquer ser vivo,
não se trata de discutir se o homem é mau ou bom, mas ter ciência de que a violência é
exclusiva dor ser humano tendo em vista a sua racionalidade, agravado pelo desejo consciente
e planejado de agredir. Para o autor, uma ação só se caracteriza como violência quando
entendida pela vitima ou observador como tal.
Contudo, conceituar violência se traduz em tarefa difícil e árdua, sabendo-se das muitas outras
formas de expressão da violência, isso se constitui uma grande dificuldade para compreender
esse fenômeno embora as formas físicas sejam as que mais chamam a atenção pela sua
dramaticidade e crueldade, mas não se pode subestimar tantas outras faces ocultas da
violência, a exemplo da violência simbólica.
Levando em consideração todas as reflexões expostas aqui, a definição de Michaud (2001) é a
que mais se aproxima do contexto geral que engloba a violência.
Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem
de maneira direta ou indiretamente, maciça ou esparsa, causando danos a
uma ou varias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física,
seja em sua integridade moral, em suas participações simbólicas e culturais.
(PAREDES, SAUL, BIANCHI, 2006 apud MICHAUD, 2001, p. 10-11)
Dessa forma, entende-se violência como uma ação direta ou indiretamente vinculada a uma
pessoa ou grupo, de maneira a intervir na integridade física, psicológica e moral de uma
pessoa ou grupo.
Contudo, conceituar a violência de maneira clara e precisa, se faz necessário um rico estudo
sobre o contexto social e cultural da sociedade contemporânea, esquematizando aspectos
fundamentais de como a violência é pensada, ou seja, em que circunstância uma palavra, uma
conduta ou gesto pode ser considerado violento, como ela é exercida, de que forma uma
pessoa age contra a outra? E por fim como ela é vivenciada, qual a resposta da sociedade
frente à violência? Medo, angustia, prazer, revolta? Respondida essas questões o conceito de
violência, parece abarcar todo sua dimensão social, cultural e histórica.
A violência se apresenta em suas diversas formas e características entre elas estão a violência
doméstica, a violência contra crianças, adolescentes, mulheres, idosos, deficientes,
homossexuais, violência psicológica, escolar, institucional entre outras.
22
3. DISTINÇÃO CONCEITUAL DE VIOLÊNCIAS E NÃO VIOLÊNCIAS NO
ÂMBITO ESCOLAR
Com o propósito de se desvendar os logradouros da violência, faz-se necessário abordarmos
alguns aspectos relevantes a compreensão de alguns conceitos a fim de evitar que todos sejam
tratados como um único entendimento. Para tal os tópicos a seguir procura pontuar aspectos
dessa diferenciação tais como: violência na escola, violência da escola, violência à escola
além de discutir o significado de incivilidade, transgressão e indisciplina no cenário escolar.
3.1 VIOLÊNCIA NA ESCOLA
Tendemos a pensar que a violência na escola é um fato novo, principalmente porque são cada
vez mais freqüentes notícias de algum tipo de violência no ambiente escolar. Segundo Charlot
(2002), a questão da violência na escola não é um fenômeno novo “assim, no século XIX,
houve, em certas escolas do 2º grau, algumas explosões violentas, sancionadas com prisão”
(CHARLOT, 2002, p.432) assim como as relações bastante grosseiras entre alunos nos anos
50 ou 60. No entanto o autor ressalta que as violências ocorridas na escola podem não ser
novidade, mas elas assumem formas e dimensões inéditas.
Ao investigar estudos realizados e publicados por Colombier (1989) e Spósito (2001) sobre a
violência escolar, percebeu-se que ambos os autores analisam esse fenômeno sob aspectos
diferenciados. Spósito, realizou uma pesquisa bastante interessante sobre as relações entre
violência e escola no Brasil após 1980, apresentando aproximações diferenciadas sobre o
fenômeno, capazes de caracterizar a violência escolar no Brasil.
Nesta pesquisa a autora, aponta algumas causas da violência escolar, nos primeiros anos da
década de 80 em que a concepção de violência é expressa nas depredações do patrimônio
público, e no medo da invasão dos prédios por jovens moradores, aparentemente sem vínculo
com a instituição. Na época a preocupação era expor a fragilidade e as péssimas condições
dos prédios quanto aos equipamentos de segurança.
Já durante a década de 1980 e inicio dos anos 90 o tema da insegurança passa a predominar
no debate público. Neste período não eram questionadas as formas de sociabilidades entre os
23
alunos, e sim as práticas interna das escolas, os primeiros estudos apontam que a violência
parte dos estabelecimentos escolares, consideradas autoritárias. No segundo estudo, já no final
dos anos 80 há um aumento das brigas físicas entre os alunos. Nos anos 90 a autora aponta
mudanças no padrão da violência, começam a ocorrer praticas de agressões interpessoais
(agressões verbais e ameaças são as mais freqüentes), sobre tudo entre o público estudantil.
Os trabalhos realizados na década de 90 trouxeram questões importantes, apontando,
principalmente o aumento da criminalidade, da insegurança dos alunos e a deterioração do
ambiente escolar. A autora cita como exemplo as escolas públicas do Rio de Janeiro em que o
trafico de drogas, disputas pelos territórios nos morros são consideradas as grandes causas de
violência nas escolas, ou seja, as causas são referentes ao território geográfico no qual aponta
que o fato de escolas estarem próximas a favelas, ao tráfico de drogas e consequentemente ao
crime, as tornam reféns da violência e seus alunos vítimas / agressores. Nesse caso, a
violência analisada na escola reflete parte do ambiente externo em que as escolas se
encontram.
Candau (1999) também investigou na cidade do Rio de Janeiro, o tema da violência escolar e
constatou o aumento da violência escolar como mais uma das expressões do aumento da
violência social. Nesse sentido, a escola traduz a violência do ambiente externo em que a
unidade escolar está inserida.
Colombier (1989), no livro “Violência na Escola”, aponta fundamentos socioeconômicos e
familiares como possíveis causas da violência na escola, entendendo esse fenômeno como
atos de violência contra as instalações da escola, contra os professores, dos alunos uns contra
os outros. Nessa perspectiva, a violência se iniciaria na família, com a falta de limites,
referências, a desestruturação familiar; nas causas socioeconômicas estariam a exclusão
social, falta de oportunidades, a influência da mídia e a falta de perspectivas.
Enfim, seja em que aspecto for feita essa analise da violência no âmbito escolar, a mesma
preocupa professores, diretores, pais e a sociedade como todo. Segundo Priotto e Boneti
Denominam-se violência escolar todos os atos ou ações de violência,
comportamentos agressivos e antisociais, incluindo conflitos interpessoais,
danos ao patrimônio, atos criminosos, marginalizações, discriminações,
dentre outros praticados por, e entre a comunidade escolar (alunos,
professores, funcionários, familiares e estranhos à escola) no ambiente
escolar. (PRIOTTO, BONETI, 2009, p. 162)
24
Portanto, consideram-se violência escolar todos os episódios expostos acima, que ocorrem no
espaço físico da escola, onde se exacerbam os problemas individuais.
Para que se possa compreender melhor o conceito de violência escolar optou por trabalhar
com três autores: Abramovay (2003) que dialoga com a classificação de violência na escola,
Priotto (2008) prefere violência escolar e Charlot (2002) entende, que é importante fazer
algumas distinções conceituais que permitam introduzir uma ordem na categorização
episódios de violência na escola na qual ele identifica como: violência na escola, da escola e
contra a escola.
Conforme as autoras Abramovay e Priotto a violência escolar se expressa através dos
seguintes eventos: violência física, agressão física, violência simbólica e violência verbal
incluído o bullying.
Segundo Charlot (2002), a violência na escola se caracteriza dentro do espaço escolar, mas
não está ligada à natureza e as atividades da instituição escolar “quando um bando entra na
escola para acertar contas das disputas que são as do bairro, a escola é apenas o lugar de uma
violência que teria podido acontecer em outro local” (p.434). No entanto, há autores que
consideram essa categorização um tanto restrita e insuficiente. Segundo Abramovay:
Essa proposta de classificação de violência nas escolas ajuda a compreender
o fenômeno na medida em que considera manifestações de varias ordens.
Contudo, mostra-se insuficiente para compreender certos tipos de
manifestações que ocorrem dentro dos estabelecimentos de ensino e que
estão relacionadas a problemas internos de funcionamento, de organização e
de relacionamento. (ABRAMOVAY, 2005 apud. PRIOTTO; BONETI,
2009, p. 167)
Entretanto, a concepção trazida por Charlot, não leva em consideração algumas ocorrências
violentas freqüentes dentro da instituição escolar como, por exemplo, as brigas, discussões e
agressões entre alunos na sala, no pátio, na porta da escola e no recreio.
No que diz respeito à violência na escola, Priotto expõe:
[...] esta se caracteriza por diversas manifestações que acontecem no
cotidiano da escola, praticadas por e entre professores, alunos, diretores,
funcionários, familiares, ex-alunos, pessoas da comunidade e estranhos.
Caracterizam-se como atos ou ações de violência: Física – contra o (s) outro
(s) ou contra o grupo, contra si próprio [...]. Incivilidades – desacato,
palavras grosseiras, indelicadeza, humilhações, falta de respeito, intimidação
ou bullying. (PRIOTTO, 2009, p.168)
25
O autor procurou ampliar o conceito de violência na escola apresentadas por Charlot (2002) e
Abramovay (2005). Todavia, conclui-se que violência na escola é a denominação que abrange
as diversas formas de violência nas dependências das escolas. Se a violência é a escola ou da
escola – denominações que serão ponderadas a seguir – estas acontecem no dia a dia da escola
seja ela produtora ou vitima da violência.
3.2 VIOLENCIA DA ESCOLA
Caracteriza-se violência da escola como sendo aquela violência em que a escola é tão e
somente autora da ação e seus alunos vitimas. Segundo Charlot,
A violência da escola se caracteriza na violência institucional, simbólica, que
os próprios jovens suportam através da maneira como a instituição e seus
agentes os tratam (modos de composição das classes, de atribuição de notas,
de orientação, palavras desdenhosas dos adultos, atos considerados pelos
alunos como injustos e racistas. (CHARLOT, 2002, p. 435)
A violência simbólica ou institucional é mais difícil de ser percebida e muitas vezes não é
entendida como violência por não se caracterizar pela coerção física. O termo violência
simbólica foi criada pelo Frances Pierre Bourdieu (2007), em que define violência simbólica
como o processo pelo qual a classe que domina economicamente impõe sua cultura aos
dominados. No caso da escola a violência simbólica é a forma encontrada para manter a
submissão dos alunos e ascender a força daquele que detém o poder, no caso, o professor e o
diretor.
Para Abramovay e Rua:
A violência simbólica é mais difícil de ser percebida do que a violência
física, por que é exercida pela sociedade quando esta não é capaz de
encaminhar seus jovens ao mercado de trabalho, quando não lhes oferece
oportunidade para o desenvolvimento da criatividade e de atividades de
lazer; quando as escolas impõem conteúdos distintos de interesse e de
significado para a vida dos alunos; ou quando os professores se recusam a
proporcionar explicações suficientes, abandonando os estudantes à sua
própria sorte desvalorizando-os com palavras e atitudes de desmerecimento.
(ABRAMOVAY; RUA, 2002, p. 335)
26
Portanto, a violência simbólica se assinala sob todo tipo de pratica utilizada pela instituição de ensino
de maneira a prejudicar seus componentes, tendo como resultado a falta de interesse do educando pela
escola, o baixo rendimento nas atividades, evoluindo pra um futuro fracasso escolar.
3.3 VIOLENCIA À ESCOLA
E por fim, a violência à escola que Segundo Charlot (2002), está ligada diretamente à natureza
e atividades da escola “quando os alunos provocam incêndios, batem nos professores ou os
insultam, eles se entregam a violências que visam diretamente à instituição e aqueles que a
representam.” (p. 434) Nesse sentido, a violência à escola é concebida com os atos de
depredação, furtos e roubos ao patrimônio da escola, essa classificação engloba também os
atos de vandalismo que vem de fora da escola contra a escola. A todo o momento somos
surpreendidos com alguma noticia deste tipo de violência, a exemplo, foi publicada no A
Tarde On Line, que uma adolescente de 15 anos esfaqueou um professor no pescoço, quando
o docente dava aula:
O jovem disse que cometeu o crime porque o professor o repreendeu quando
ele entrou na sala de aula de forma abrupta. Agora, terá de cumprir 45 dias
de internação na Comunidade de Atendimento Socioeducativo (Case). A
agressão aconteceu na quarta, 3, e o professor recebeu alta no mesmo dia,
mas ficou assustado e não quer mais ensinar na escola onde trabalha há 10
anos. (NEIDE, 2010)
Nesse sentido, os alunos em quanto vitimas da violência da escola, se tornam agressoras e
principais autores dos atos de violência á escola, seja na agressão a professores como visto na
reportagem, ou com atos de vandalismos contra a escola como estampados em jornais:
“Pedras e carteiras foram arremessadas nos vidros, portas arrombadas, tapas e socos fizeram
os professores, acuados, se trancarem dentro de uma sala.” (REHDER, ESTADÃO DE SÃO
PAULO, 2008). Este lamentável episódio aconteceu na cidade de São Paulo, em uma escola
estadual e caracteriza a violência exercida contra a instituição escolar.
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3.4 INCIVILIDADES
No cotidiano da prática escolar é rotineiro o descontentamento dos professores diante do mau
comportamento dos alunos (desordem, xingamentos, atitudes grosseiras, bagunça) seria o que
se chama de falta de respeito, ou seja, atitudes que rompem com as regras sociais de boa
convivência. Debarbieux (1996) a partir de uma pesquisa realizada em escolas na França, o
autor ressalta que o termo violência, tal como é usado socialmente, não é suficiente para
explicar o que ocorre nas escolas. (DERBARBIEUX, 1996 apud LATERMAN 2000). Para o
autor o que leva o clima de insegurança nas escolas não é necessariamente atos de violência,
mas sim os atos de incivilidades. Segundo autor:
A violência são crimes e delitos mas ela não é essencialmente isso no meio
escolar, o verdadeiro problema nos parece o da incivilidade que desorganiza
atualmente o mundo escolar nos seus estabelecimentos desfavorecidos
criando uma crise de sentido, às vezes dramática, um sentimento de
insegurança que é muitas vezes imaginário. A violência desorganizadora
surge do inesperado ( Arendt, 1952); não se trata de negar a realidade dos
delitos mas de não exagerá-los. (DEBARBIEUX, 1996 apud LATERMAN,
200; p.37)
Garcia (2006) afirma que:
As incivilidades englobam comportamentos desafiantes que rompem regras
e esquemas da vida social, sejam tácitos ou explicitados contratos sociais.
Mas as chamadas incivilidades não rompem, necessariamente, com acordos,
regras e esquemas pedagógicos. Antes, rompem com expectativas do que
pode estar tacitamente esperado como boa conduta social. Destaca - se entre
as incivilidades reportadas nas queixas usuais dos professores, a falta de
respeito”. Essa alegação, em particular, sugere a ocorrência em sala de aula,
de práticas de incivilidade na forma de insensibilidade aos direitos de cada
um de ser respeitado como pessoa. ( GARCIA, 2006, p. 125)
Quando o autor se reporta ao termo incivilidades logo esclarece que elas não rompem com
acordos e regras pedagógicas. Dessa forma, venho a lembrar de outro termo bem mais
conhecido no meio educacional: a indisciplina que é muito utilizada para caracterizar
comportamentos inadequados na sala de aula como inquietação, bagunça, brincadeiras de mau
gosto que aborrece professores e alunos e acaba atrapalhando a dinâmica da sala, ou seja, o
trabalho pedagógico.
O termo incivilidade não é usual nas escolas, geralmente se fala em indisciplina ou até
mesmo em violência, termo esse que se caracteriza muito forte se tratando da escola. No
28
entanto, há algum tempo é freqüente vermos na mídia as manchetes de violência nas escolas,
como o próprio bullyng que parece ter virado moda. Com isso, o que antes parecia ser um
pesadelo, hoje, é realidade nas escolas brasileiras. Muitas vezes às escolas não vivenciam
ações extremas de violência, mas coexiste com suas ramificações: a incivilidade, a
transgressão e a indisciplina.
Ainda segundo Debarbieux,
Por incivilidades se entenderá uma grande gama de fatos indo da
indelicadeza, má criação das crianças ao vandalismo, passando pela presença
de vagabundos, grupos juvenis. As incivilidades mais inofensivas parecem
ameaças contra a ordem estabelecidas transgredindo os códigos elementares
da vida em sociedade, o código de boas maneiras. Elas podem ser da ordem
do barulho, sujeira, impolidez tudo que causa desordem. Não são então
comportamentos ilegais em seu sentido jurídico mas infrações à ordem
estabelecida, encontradas na vida cotidiana. Elas são, segundo Roche,o elo
que falta e que explica a insegurança sentidas pelas pessoas, mesmo que elas
não foram vitimas de crimes e delitos; mas a vida cotidiana se degrada
efetivamente e não imaginariamente. Indo mais além, as incivilidades, pela
impressão de desordem que geram, são para os que a sofrem a ocasião de um
compromisso, uma defesa em causa da organização do mundo. Através delas
a violência se torna uma crise de sentido e contra sentido . elas abrem a idéia
do caos (DEBARBIEUX, apud. LATERMAN 200, p.37)
Não é dizer que não exista violência nas escolas. Ela existe. É expor que existem algumas
distinções que permitem inserir certa ordem na classificação dos fenômenos da violência na
escola. Toda via essas distinções ajudaria no procedimento de profissionais ao se deparar com
algumas dessas ramificações de violência, ou seja, com isso cada situação teria lugares e
formas de tratamento diferentes. Caracterizando-se um ato de violência na escola, o agressor
seria encaminhado à justiça; um ato de transgressão, deve ser reportado ao conselho
disciplinar do estabelecimento e um ato incivil, estar sujeito a um tratamento educativo.
Nesse sentido, Faz-se necessário conhecer e discutir os termos incivilidade e indisciplina, que
parecem ter sidos incorporados ao conceito de violência. A violência contradiz a lei; a
indisciplina essão não contradiz a lei, mas ao regulamento interno da instituição já a
incivilidade não contradiz nem a lei e nem o regimento da instituição, mas as regras de boa
convivência. De fato esses termos acabam sendo confundidos, a saber que estão intimamente
ligadas no dia-a-dia das escolas. Para Charlot (2002),
O acúmulo de incivilidades (pequenas grosserias, piadas de mau gosto...) no
ambiente escolar "cria às vezes um clima em que professores e alunos
sentem-se profundamente atingidos em sua identidade pessoal e profissional
– ataque à dignidade que merece o nome de violência", mas que segundo ele
29
depende fundamentalmente de um tratamento educativo. (CHARLOT, 2002,
p. 437)
Nesse sentido, o autor não vê as incivilidades como uma modalidade de violência, e sim,
como padrões de comportamento contrários às normas de convivência e respeito ao próximo,
ela estaria mais ligada à agressividade e não a violência. No entanto chama atenção para o
acúmulo dessas incivilidades no ambiente escolar, pois elas podem tornar o espaço hostil, e de
certa forma, violento. Abramovay (2005), chama atenção para a utilização dos termos no
âmbito escolar, o que ocorre nas escola não seriam crimes e sim, pequenos atos de
incivilidades.
A incivilidade tem a ver com a idéia de rebeldia, oposição, já a violência tem a ver com
danificação, com destruição quer da integridade física ou moral do outro. Charlot (2000)
falando sobre violência na escola distingue a violência, a transgressão e a incivilidade como
comportamentos ligados no cotidiano escolar que tem a ver com desordens, empurrões,
grosserias, palavras ofensivas e outros, ou seja, falta de respeito e regras de boa convivência.
Para os educadores a conduta incivilizada dos alunos se dá pela ausência do que se chama de
educação doméstica, estando diretamente ligada a deficiência dos padrões culturais básicos
iniciados na família. Dessa forma, tem-se a impressão que a família, dada a sua conjuntura
atual, de desestruturação familiar, delega toda educação do filho a escola. É neste cenário, que
se encontram os educadores diante da difícil tarefa de educar para a cidadania.
3.5 INDISCIPLINA
Dada a ambigüidade de se caracterizar a violência no âmbito escolar, faz-se necessário
investigarmos uma das suas ramificações, a indisciplina, de modo a tentar distinguir o que
realmente acontece no contemporâneo cenário de violência escolar, de maneira a não
generalizar e exagerar a violência escolar. Se a disciplina é vista pelos professores como
ordem, obediência, como os alunos sentados, quietos, em fila, respeitam os professores,
seguem os combinados em sala, tem a atenção toda voltada à aula, ou seja, quando o aluno
segue as regras de boa convivência na sala de aula. Já a indisciplina é o oposto. A indisciplina
é caracterizada na escola como: brincadeiras fora de hora na sala de aula, gritos, conversas
com os colegas, desobediência, bagunça e inquietudes.
30
Segundo o dicionário o termo disciplina pode ser definido como “regime de ordem imposta
ou mesmo consentida. Ordem que convém ao bom funcionamento regular de alguma
organização (militar, escola, etc.). Relações de subordinação do aluno ao mestre. Submissão a
um regulamento” (FERREIRA, 2001, p. 258). Já o termo indisciplina “ procedimento, ato ou
dito contrario a disciplina.” ( FERREIRA, 2001, p. 414). Sendo assim indisciplinado é aquele
que se levanta contra a disciplina.
Estas definições podem ser interpretadas por diversas formas. Dessa maneira, pode-se
entender que disciplinado é o sujeito que se subordina, se sujeita, de modo passivo ao
conjunto de normas, estabelecidas por outro e imposta a uma necessidade externa a este
subordinado. Já a indisciplina é aquele que se rebele, não obedece as normas impostas,
provocando rupturas. (REGO apud AQUINO, 1996).
Rego (apud AQUINO1996), levanta a questão de se associar a disciplina à tirania. Qualquer
tentativa de elaboração de parâmetros é vista como pratica autoritária, ameaçando o espírito
democrático e cessa a liberdade e espontaneidade dos jovens. Portanto, todas as normas
vigentes na escola devem ser abolidas, ignoradas. Nessa perspectiva, a indisciplina é
entendida como virtude, já que implica a coragem de ousar e se opor à tirania.
No entanto, pensar a disciplina (ou indisciplina) sob esse parâmetro, pode desestruturar toda
uma organização social, visto que a escola como toda instituição precisa de normas, esta que
norteia as relações e a boa convivência. Nesse sentido, as normas deixam de ser vistas apenas
como imposições castradoras, e passa a ser compreendida como condição necessária ao
convívio social. (REGO apud AQUINO). Contudo, sob essa perspectiva a indisciplina seria
concebida pelos educadores como atitudes de desrespeito, rebeldia e de intolerância aos
acordos consolidados.
O autor Julio Groppa Aquino, mestre e doutor em psicologia escolar pelo Instituto de
Psicologia da USP, analisou o tema da indisciplina sob dois aspectos: um sóciohistórico,
tendo como apoio os condicionantes culturais, o outro é psicológico rastreando as influências
da família na escola. Em um pequeno trecho do texto Recommendações Disciplinares do
inicio do século ( 1922) analisado pelo autor, pode-se confirmar os ideais da época.
[...] Os alumnos se devem apresentar na escola minutos antes das 10 horas,
conservando – se em ordem no corredor da entrada, para dhai descerem ao
pateo onde entoarão o cântico. Formados dois a dois dirigir-se-hão depois
ás suas classes acompanhados das respectivas professoras, que exigirão
delles se conservem em silencio e entrem nas salas com calma, sem deslocar
31
as carteiras. Deverão andar sempre sem arrastar com os pés, convido que o
façam em terça, evitando assim o balançar dos braços e movimentos
desordenados do corpo. Em classe a disciplina deverá ser severa [...]
(AQUINO In BRAUNE apud MORAES, 1922, pp.9-10)
É notória a maneira como eles previam a indisciplina. A ordem, o controle, a fila, até mesmo
no recreio os alunos eram submetidos a uma rigorosa disciplina, não dando margem
desobediência e inquietação dos alunos. Essas recomendações disciplinares, mas parecem se
tratar de um campo militar. “O professor não era só aquele que sabia mais, mas que podia
mais porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela.” (AQUINO, 1996, p. 43). Dessa
forma, as relações didáticas tinham seus pilares na obediência e submissão.
Então o que mudou? Certamente não foram os professores, salvo algumas exceções, muitos
sonham com esse modelo de escola autoritária e pouco democrática. A mudança está no novo
perfil de aluno, nos padrões de disciplina que pautam a educação, os critérios adotados para
identificação do comportamento indisciplinado. Dessa forma, e o problema parece está no
modelo de educação que não acompanhou essa mudança e continua com a imagem daquele
aluno amedrontado e submisso.
Outro dado apresentado pelo autor é o fato da escola de antigamente ser um espaço pouco
democrático, elitista e conservador voltado às classes sociais privilegiadas. Recordo-me de ter
assistido a uma entrevista do então falecido político baiano Antônio Carlos Magalhães e do
apresentador Raimundo Varella, quando diziam que estudou em colégio público e de
qualidade, e hoje, será que seus filhos e netos estudam em colégio público? Garanto que não.
Nessa época as escolas públicas eram estruturadas para atender uma sociedade elitizada.
Desse modo, se antes a dificuldade da classe menos favorecida era ter acesso a esse ensino
público de qualidade, hoje esta em manter-se nele.
Segundo Aquino (2006) “A qualidade se ensino, principalmente público, teria decaído pelo
simples fato de ter-se expandido para outras camadas sociais”. (p. 44). Vale lembrar que:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida
e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL, 1988, P. 38)
Desse modo, se a escola não mudou totalmente, os alunos já não têm o mesmo perfil de
outrora, é uma geração que busca outras demandas e valores. Nesse sentido, “a gênese da
32
indisciplina não residiria na figura do aluno, mas na rejeição operada por esta escola incapaz
de administrar as novas formas de existência social concreta, personificadas nas
transformações do perfil de sua clientela”. (AQUINO, 2006, p. 45). Contudo, do ponto de
vista sóciohistórico, a escola ainda é pensada para um perfil de aluno que ficou no passado,
todavia, a indisciplina constitui-se na força de resistência e produção de novas definições.
Outro aspecto analisado por Aquino (1996) é o psicológico, neste a indisciplina seria uma
carência na estrutura familiar em que se encontram os alunos, visto as transformações que a
composição familiar vem padecendo. É comum ouvir os professores reclamarem do
comportamento agressivo, sem limites e desrespeitoso em que são tratados no pleno exercício
do seu trabalho pedagógico.
Trata-se, “[...] supostamente, de um sintoma de relações familiares desagregadoras incapazes
de realizar a contento sua parcela no trabalho educacional das crianças e adolescente.”
(AQUINO, 2006, p. 46). Devido a essa suposta carência a escola estaria incumbida a realizar
uma parcela maior do que lhe é devido, ultrapassando o âmbito pedagógico. O autor deixa
claro que não há possibilidade de a escola assumir a estruturação psíquica prévia ao trabalho
pedagógico, sendo essa responsabilidade da família. (AQUINO, 2006).
Nesse sentido, os dois pontos apresentados por Aquino apresentam questões conflitantes, a
indisciplina expõe conflitos tanto na escola, com o autoritarismo do professor num espaço
pouco democrático, quanto do ponto de vista psicológico com a desestruturação familiar. É
bastante complexo interpretar e definir as causas da indisciplina, a respeito rego diz:
O modo como interpretamos a indisciplina ( ou a disciplina), sem dúvida,
acarreta uma serie de implicações à pratica pedagógica, já que fornece
elementos capazes de interferir não somente nos tipos de interações
estabelecidas com os alunos e na definição de critérios para avaliar seus
desempenho na escola [...]. ( REGO, apud AQUINO, 2006, p. 87)
Dessa forma, há momentos que a indisciplina é atribuída à educação recebida na família “se
os próprios pais não sabem dar limites eu que não vou dar”, vez é atribuída aos traços de
personalidade do aluno “ fulano é terrível, não tem jeito!” outros associam a indisciplina aos
traços inerentes a infância e adolescência como: a rebeldia própria de alguns adolescentes e a
egocentricidade das crianças; é comum também verem como reflexo da pobreza e da
violência presente na sociedade. Contudo, faz-se necessário uma profunda análise dentre estes
e outros possíveis aspectos do contexto indisciplinar, podendo ser revistas posições
33
preconceituosas e equivocadas, sobretudo no que diz respeito às bases psicológicas do
desenvolvimento humano para que se possa compreender o comportamento indisciplinado
dos discentes.
34
4. O NÃO ENFRENTAMENTO DA VIOLENCIA NA ESCOLA EUFROSINA
MIRANDA
Com o propósito de compreender as medidas adotadas na escola municipal Profª Eufrosina
Miranda em presença de inúmeros e diários atos de violência ocorridos na escola, optou-se
pela abordagem qualitativa de pesquisa, visto que a mesma apresenta como característica o
ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental
de modo que a pesquisa é direcionada, ao longo do seu desenvolvimento, buscando não
enumerar e nem medir eventos, mas sim, a obtenção de dados descritivos mediante o contato
direto do pesquisador com o objeto de estudo. (LAKATOS e MARCONI, 2009)
Para tanto, optei por utilizar duas técnicas: a primeira empregada foi à técnica de observação
não - participante e assistemática que se apresenta como um dos subsídios imprescindíveis
para a presente pesquisa, visto que esta proporciona uma maior participação do pesquisador,
de maneira, a oportunizar maior contato com o elemento de estudo e permite a evidencia de
dados não constantes no roteiro de questionário, sendo este a nossa segunda escolha. A
observação – não participante, como bem ressalta Lakatos e Marconi (2009, p.195) “presencia
o fato, mas não participa dele; não se deixa envolver pelas situações; faz mais o papel de
espectador. Isso porem não quer dizer que a observação não seja consciente, dirigida,
ordenada para um fim determinado”.
As observações foram realizadas durante período de estagio, que contou com 6 meses de
experiência na sala do 4º ano do ensino fundamental no período da manhã, composta por 36
alunos com idades entre 10 e 13 anos. As observações se deram dentro da sala de aula,
durante o lanche e recreio na área externa da escola. Os dados obtidos com a observação
foram registrados em um caderno de ocorrências.
O questionário, como a segunda técnica escolhida não tem o propósito de quantificar dados,
mas de descrever respostas que de outra maneira seriam inacessíveis. Na elaboração do
questionário foram utilizadas duas perguntas abertas, que ”permite ao informante responder
livremente, usando uma linguagem própria e emitir opinião” (LAKATOS e MARCONI,
2009, p. 206) e seis perguntas de múltipla escolha, devendo o informante assinalar uma ou
mais questões.
35
O quadro teórico se constitui como um fator importante e primordial para o que se almeja
buscar. Nesse sentido, foram utilizados livros, artigos, dissertações, pesquisas e jornais
escolha das referências bibliográficas tem como “... finalidade colocar o pesquisador em
contato direto com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto...”
(LAKATOS e MARCONI, 2009, p. 185). Os principais autores escolhidos para fundamentar
a presente pesquisa foram: Abramovay, Aquino, Charlot, Colombier, Mendes, Spósito e
Laterman.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA
A pesquisa foi realizada no estabelecimento da rede municipal de ensino na área periférica de
salvador na Escola Eufrosina Miranda, localizada no Conjunto Joanes Leste S/N, no bairro do
Lobato. A escola é dividida em três casas, duas comportam cada uma 8 salas de aula , a outra
conta com:
3 banheiros;
1 sala da direção e secretaria,
1 sala de professores,
1 cozinha,
1 depósito;
A escola possui também uma grande área externa, com árvores, - amendoeiras - plantas e
mato e agora bastante material de construção por conta da reforma que acontece no espaço,
que vai contar com um laboratório, sala de leitura e refeitório.
36
FIGURA 1 – A amendoeira (pátio).
Fonte: Fotografia feita por Alessandra Cardoso Santos / setembro, 2011.
A amendoeira na foto fica no pátio da escola, é a maior árvore de muitas outras existentes no
local. A amendoeira é coadjuvante de muitos conflitos protagonizados pelos alunos durante o
recreio e até mesmo durante as aulas, onde os alunos mentem dizendo que precisam beber
água ou ir ao banheiro, seguindo direto para o pé de amêndoa com pedras pra retirar os frutos.
Os alunos de posse dos frutos voltam à sala e ao comer o fruto atiram as cascas nos colegas e
até mesmo a própria amêndoa.
As atitudes de alguns alunos – todos meninos – geram conflitos na sala, de maneira a
perturbar toda a dinâmica da aula. Os alunos (as) agredidos levantam para revidar, gritam,
chamam a professora a todo o momento, muitas vezes brigam e a docente se vê obrigada a
interromper a aula para mediar e cessar os conflitos.
37
FIGURA 2 – Varanda da “disciplina” (Sala da direção/secretaria e professores).
Fonte: Fotografia feita por Alessandra Cardoso Santos / setembro, 2011.
Essa é uma das três casas existentes no espaço da escola, nessa há a sala de direção e
secretaria e a sala dos professores. A varanda dessa casa também é usada para manter os
alunos indisciplinados e incivilizados, que são colocados fora da sala pelo mau
comportamento, os alunos ficam sentados na varanda até a hora de ir embora.
O quadro de funcionários é composto por:
2 vigias;
3 serventes;
2 merendeiras;
1 secretária.
Já o corpo docente do turno matutino é composto por 10 educadores sendo eles:
Gestor;
Vice-gestora;
2 professoras;
6 estagiárias.
38
A unidade escolar está inserida no bairro do Lobato, em uma comunidade de aspecto sócio-
cultural e econômico com baixo poder aquisitivo. A economia da comunidade baseia-se no
comercio informal (feirantes, biscateiro, vendedores ambulantes, domésticas, marisqueiras),
alguns funcionários público e muitos desempregados, portanto, uma comunidade carente.
FIGURA 3 – Vista aérea do bairro do Lobato, com a escola em destaque.
Fonte: Google Earth.
Fonte: Google Earth, 2011.
A escola recebe uma clientela com faixa etária bastante diversificada, defasada, com
dificuldade de aprendizagem e problemas disciplinares, carecendo de um trabalho intensivo
dentro das normas do ensino fundamental, para que possa proporcionar a correção do fluxo,
diminuir a repetência e evasão escolar, conscientizar a família e a comunidade da necessidade
de sua participação e envolvimento junto á escola.
Por está localizada próximo, a uma pequena praia, chamada prainha do Lobato, que nos finais
de semana a comunidade utiliza como lazer. A escola viu a necessidade de se trabalhar a
questão do meio ambiente, como será exposto adiante pelo Projeto Político Pedagógico (PPP)
da escola.
39
FIGURA 4 - Vista aérea do bairro do Lobato com a Prainha em destaque.
Fonte: Google Earth, 2011.
Essa é a famosa prainha do Lobato, todos os alunos do 4º ano conhecem a praia, essa, que já
foi uma área de lazer bastante freqüentada pela comunidade. A praia foi proibida para banhos
a partir 1986, depois foi perdendo seu uso como fonte de alimentos. No local pescavam-se
peixes como tainha, e recolhiam-se frutos do mar como mariscos, siri, rala coco e sururu.
Hoje, a prainha está poluída, ainda assim, há crianças que se banham e bricam na praia.
4.2 CONSIDERAÇÕES DO PROJETO POLITICO PEDAGÓGICO
Para conhecimentos das ações e projetos realizados na escola, faz-se necessário analisar o
projeto político da escola. Nesse sentido, apresentaremos alguns aspectos importantes desse
projeto como mostra a tabela abaixo:
40
QUADRO 1 – Projeto Político Pedagógico da Escola.
ESCOLA MUNICIPAL
PROF.ª EUFROSINA
MIRANDA
CONTEÚDO
APRESENTAÇÃO
Em sua apresentação consta que sua elaboração foi de forma
integrada, tendo a participação da diretora, dos professores,
funcionários, pais e membros da comunidade local.
BREVE HISTÓRICO DA
UNIDADE
A escola existe desde o ano de 1980, foi criada para atender
aos anseios da comunidade em absorver as crianças que se
encontravam em fase de cursar o ensino fundamental, a
mesma foi municipalizada no ano de 2003.
EIXO NORTEADOR
Por considerar que a escola está próxima de uma pequena
praia, chamada Prainha do Lobato, a escola vê a necessidade
de trabalhar a questão do meio ambiente.
JUSTIFICATIVA
O eixo temático elencado – Meio ambiente – vem com o
designo de estimular a curiosidade das crianças quanto ao
meio que vivem, instigando-as a autonomia e a pesquisa,
dando a elas a liberdade de explorá-lo, enriquecendo seus
conhecimentos do mundo que as cercam, tendo como
conseqüência a aprendizagem.
VISÃO
Em sua Visão, prima em ser uma escola de referência na rede
municipal pela competência profissional da equipe oferecendo
um ensino de qualidade, num ambiente solidário, respeitando á
todos (as).
MISSÃO
Tem por missão oferecer um ensino de qualidade, com ênfase
nos temas ambientais, formando cidadãos solidários,
participativos, críticos e criativos capazes de agir efetivamente
pela transformação da sociedade.
41
OBJETIVOS
Oportunizar educação integral aos alunos e formação para o
exercício consciente da cidadania.
Criar condições de ensino e aprendizagem, desenvolvendo
competências e valores necessários a inserção dos alunos na
sociedade.
Promover a atualização e aperfeiçoamento de professores e
funcionários, de forma continua e sistemática, visando à
qualidade no trabalho.
Criar oportunidades de integração com a família e
comunidade, afim de, formar parcerias na educação das
crianças.
Fonte: Projeto Político Pedagógico da Escola Municipal Profª. Eufrosina Miranda de Salvador-BA,
ano de elaboração, 2009.
A partir da analise realizada no projeto político pedagógico da escola, fica evidente que a
mesma não apresenta qualquer projeto ou ação efetiva ao enfretamento da violência no
estabelecimento de ensino. Por considerar a proximidade da comunidade com uma pequena
praia, esta segundo os moradores imprópria para o banho, a comunidade escolar entende que
preciso realizar alguns projetos voltados à questão do meio ambiente.
A organização curricular da escola é feita no sentido de proporcionar a todos (as) a formação
básica para a cidadania, através do seu planejamento e da criação de condições de
aprendizagem, que atende as características da região, cultura e realidade dos educandos.
São realizadas na instituição atividades como: gincanas, jogos e apresentações culturais,
atividades que tem como complemento experiências vivenciada no dia a dia da escola, dentro
e fora da sala de aula no sentido, de conferir ao educando não só o desenvolvimento
cognitivo, mas também, a vivencia de valores, habilidades e competências possibilitando uma
formação integral.
42
4.3. DA MANIFESTAÇÃO DA VIOLÊNCIA AO NÃO ENFRENTAMENTO
Após a aplicação dos instrumentos utilizados nesta pesquisa, faz-se necessário a analise e
discussão dos resultados obtidos. Para tanto, farei o uso de tabelas e gráficos, usando siglas
para identificação dos educadores: G1 (Gestor), G2 (Vice-gestora), P (Professoras da rede
municipal) e E (estagiárias de pedagogia).
QUADRO 2 – Formação dos educadores da escola.
Fonte: Pesquisa de campo, Salvador, 2011.
O questionário foi respondido pelo quadro de educadores do período da manhã, que hoje,
conta com somente duas professoras formada atuando em sala de aula, sendo que uma é
professora de inglês, dando aula uma vez por semana, o restante é composto por estagiárias de
pedagogia.
4.3.1 O Questionário
O questionário utilizado foi respondido por educadores (gestor, vice-gestora, professora e
estagiárias) da escola. É composto por quatro blocos: o primeiro bloco: concepção e
Sujeito
Formação dos educadores
G – 1 Graduado em pedagogia, pós-graduado em psicopedagogia e matemática.
G – 2 Graduado em pedagogia, pós-graduada em matemática.
P – 1 Graduada em pedagogia e pós-graduada em psicopedagogia.
P – 2 Graduada em letras com inglês e pós-graduada em língua inglesa.
E – 1 Estagiária de pedagogia.
E – 2 Estagiária de pedagogia.
E – 3 Estagiária de pedagogia.
E – 4 Estagiária de pedagogia.
E – 5 Estagiária de pedagogia.
43
manifestação da violência escolar, formado por duas questões abertas; o segundo bloco:
território geográfico interno e externo de episódios da violência, composto por duas questões
de múltipla escolha; terceiro bloco: violência sofrida pelo educador, composto por uma
questão fechada e uma questão de múltipla escolha; quarto e último bloco: ações realizadas
pela escola, composto por uma questão fechada e uma de múltipla escola.
QUADRO 3 – Primeiro bloco (Concepção da violência escolar) questão nº 1
Sujeito
O que é violência em sua opinião?
G – 1
È toda manifestação de falta de respeito para com o próximo. Mas a primeira
violência ocorre contra si mesmo, quando se vê à margem da boa convivência
social.
G – 2
Uma forma de coerção quando a situação ultrapassa o limite das outras. Um meio
para atingir um determinado fim.
P – 1 É todo ato de agressão física ou verbal.
P – 2 Atos que retratam certa forma de agressão sejam física ou verbal.
E – 1 Ato de agressão.
E – 2
A violência é manifestada através de várias formas, tanto agressões físicas,
verbais e psicológicas.
E – 3 Agredir o outro com palavras, gestos e ações.
E – 4 Quando uma pessoa agride outras, podendo ser: verbal, agressão física e etc.
E – 5 Falta de amor com o próximo.
Fonte: Pesquisa de campo, Salvador, 2011.
Diante das respostas expostas, fica evidente a ambigüidade de se conceituar a violência.
Contudo, os gestores consideram que a falta de respeito com o próximo e a ultrapassagem ao
limite do outro se resume na expressão da violência, mas os atos de agressão física, verbal e
44
psicológico são expressos pelos professores e estagiários como a melhor maneira para se
conceituar a violência.
QUADRO 4 - Primeiro bloco (Manifestação da violência escolar) questão nº2
Sujeito
De que forma ela se manifesta na sua escola?
G – 1
Na verdade ela é reproduzida na escola, entre todos que compõem a comunidade
escolar. O professor que costuma chegar atrasado, os gestores que não se fazem
presentes,... Esses estão faltando com respeito, estão violentando os direitos dos
outros.
G – 2 De diversas maneiras. Agressão física, verbal e psicológica.
P – 1 Por meio de brigas, agressões, ameaças, etc.
P – 2 A violência na escola se manifesta tanto física como verbal.
E – 1
Falta de respeito para com os educadores e colegas de turma, xingamentos, enfim
todo tipo de agressão verbal e física.
E – 2
Através de apelido, xingamentos, ameaças tanto por parte dos alunos e pelos
próprios pais, que na maioria das vezes incentivam a violência.
E – 3 Fofocas, apelidos, agressões físicas e etc.
E – 4
Através de apelidos ou empurrões, isso que está tornando o começo da violência
na escola.
E – 5 Através da falta de união e de respeito um com os outros.
Fonte: Pesquisa de campo, Salvador, 2011.
A fala dos educadores demonstra que a violência está presente no dia a dia da comunidade
escolar, e a mesma se manifesta de diversas formas: as agressões físicas, verbais e
psicológicas. Na fala do gestor a violência não é só cometida pelos alunos, como por toda
comunidade escolar, a partir da violação dos direitos do outro.
45
GRÁFICO 1 – Segundo bloco (território geográfico interno e externo de episódios da
violência) questão nº 03
16%
10%
29%
22%
23%
Espaço onde ocorrem as ações de violênciaNo espaço externo á escola ( rua)
Na portaria
Nos diversos ambientes da escola ( banheiros, bebedouros e corredores)No pátio
Na sala
Como mostra o gráfico, as ações de violências na escola ocorrem nos diversos ambientes da
instituição como: banheiros, bebedouros e corredores , em segundo lugar a sala de aula
aparece, como lugar onde ocorrem as ações de violência, seguida do pátio, lugar destinado as
atividades recreativas socializantes e que acaba sendo “ palco “ das ações violentas praticadas
pelos discentes.
Fonte: Pesquisa de campo, Salvador, 2011.
46
GRÁFICO 2 – Segundo bloco (território geográfico interno e externo de episódios da
violência) questão nº 4
0%
20%
13%
13%
17%
9%
7%
0%
2%9%
4%4% 2%
0%
Os episódios de violência ocorridos na escola
Agresão verbal
Danos ao patrimônio material da escola
Empurrões
Brigas
Maledicencias
Gritos
Agresão fisíca
Intimidação com armas
Ameaças
Fonte: Pesquisa de campo, Salvador, 2011.
O gráfico aponta a agressão verbal, que se caracteriza como xingamentos, palavras de baixo
calão, ou seja, palavras que podem machucar tanto quanto uma agressão física, como o tipo
de violência que mais se expressa na escola, em segundo, temos as brigas como co-autoras
das violências praticadas na instituição. Dessa forma, parece que as brigas entre alunos
manifestam-se, inicialmente, por ataques verbais proferidos pelos mesmos que quase sempre
culminam com brigas, sendo elas a situação limite entre os bate - bocas e discussões.
47
GRÁFICO 3 – Terceiro bloco (violências sofridas pelos educadores) questão nº 05
44%
56%
0% 0%
Você já sofreu alguma violência no espaço escolar?
SIM
NÃO
Fonte: Pesquisa de campo, Salvador, 2011.
GRÁFICO 4 – Terceiro bloco (Violências sofridas pelos educadores) questão nº 06
0%
57%
0%0%0%0%0%
0%0%
43%
0%
0%0% 0% Que tipo de violência?
Agresão verbal
Empurrões
Maledicencias
Gritos
Agresão fisíca
Intimidação com armas
Ameaças
Tráfico de drogas
Furtos e roubos
outros
Fonte: Pesquisa de campo, Salvador, 2011
48
No gráfico 3, Somente quatro dos nove educadores participantes do preenchimento do
questionário relatam ter sofrido algum tipo de violência. Entre as violências sofridas no
gráfico 4, as agressões verbais aparecem como a violência mais cometidas pelos alunos contra
os educadores, seguida das ameaças, ou seja, promessas explícitas de provocar danos ou de
violar a integridade física ou moral, a liberdade e/ou bens dos educadores.
GRÁFICO 5 – Quarto bloco (Ações implementadas pela escola) questão nº 7
11%
89%
0% 0%
Você acha que a escola oferece suporte para lidar com a violência?
SIM
NÃO
Fonte: Pesquisa de campo, Salvador, 2011.
Perguntado no questionário se a escola oferece suporte para o enfrentamento da violência no
estabelecimento, oito dos nove educadores responderam que não. Deixando claro, que essa
pode ser a realidade de muitas escolas publicas no Brasil.
49
GRÁFICO 6 – Quarto bloco (Ações implementadas pela escola) questão nº 8
0%
13% 0%
47%
27%
13%
Quais ações emplementadas pela escola no ano de 2010 e 2011 para debater o fenômeno
da violência?
Oficinas
Palestras
Cursos
Reuniões
Leituras
Outras
Fonte: Pesquisa de campo, Salvador, 2011.
Entre as ações implementadas na escola, destacam – se as reuniões com professores e pais,
seguidas de leituras realizadas pelos educadores, para debater o fenômeno da violência.
4.32 A Observação
A observação aconteceu de forma espontânea, sem o auxilio de técnicas especiais e
planejamento, durante o estágio de seis meses na sala do 4º ano do ensino fundamental, que
era composta por 36 alunos sendo a maioria meninos. A sala era relativamente grande e os
alunos eram divididos em dois grupos com as carteiras viradas umas para as outras. O período
em sala contava com 4 horas semanais.
Eram freqüentes os registros das ocorrências, que ocorriam principalmente durante as aulas.
Os alunos brigavam e discutiam por tudo, muitas vezes ocasionando brigas violentas. Logo
que entravam na sala começavam a brigar por causa dos assentos, durante a aula brigavam por
causa de apelidos, provocações e tomada de materiais e objetos um dos outros, gritavam
pedindo licença ou empurravam o colega porque estava empatando sua visão do quadro. A
50
todo o momento se ouvia: “professora fulano pegou meu lápis”, “professora fulano ta na
minha frente”, “professora fulano jogou bolinha de papel em mim”, “ professora fulano me
bateu, xingou”por diversas vezes tive que interromper a aula para tentar resolver os conflitos.
Eram presenciadas cenas expressivas de agressividades como: aluno pegar cadeira para jogar
no outro, pegar o lápis para agredir o colega, jogar sapato, bolinhas de papel, quebrar o
ventilador da sala, a professora ser agredida ao tentar separar alunos que brigavam na sala e
quando eles partiam para a agressão física o tumulto se instaurava na sala de aula, com
gritarias e batuques de incentivo as agressões. Eram raras as vezes que se conseguia levar o
planejamento até final. Os métodos utilizados nas aulas eram variados, na tentativa de
conseguir manter a atenção dos alunos, diminuir ou cessar os conflitos, ocasionados quase
sempre por um grupo de oito meninos. Poucas vezes, isso foi possível.
Eram trabalhados, filmes, dinâmicas, jogos e brincadeiras, mas o grupo de meninos não se
interessavam por muito tempo, e começavam a desestabilizar a sala e toda dinâmica proposta,
com brincadeiras e provocações aos colegas, deixando o restante da sala incomodada e
inquieta, dessa forma, se dava os conflitos. Quando a professora reagia na tentativa de
controlar o grupo, era constantemente desrespeitada pelos alunos com grosserias, gritos e
palavrões.
No recreio, os alunos disparavam em direção ao pátio para jogar bola, e algumas vezes,
discutiam para definir quem iria jogar primeiro, xingavam, empurravam , dessa maneira
conseguiam formar o grupo para enfim jogar. O difícil era fazer com que voltassem do
recreio. O grupo de meninos, antes mencionado, raramente fazia as atividades propostas,
quando se propunhavam a fazer, não terminavam. Quando a situação estava fora do controle
os alunos eram encaminhados a direção que por sua vez, conversava com os mesmos,
mandavam comunicado aos pais e se tudo isso não resolvesse os alunos eram eram
encaminhados ao conselho tutelar4.
Portanto, com base nos estudos e análise realizada dos dados obtidos através da observação e
do questionário, constatou-se que os docentes da escola Eufrosina Miranda, têm consciência
das violências enfrentadas diariamente na escola, concordando, que a escola não está
4 Orgão municipal responsável por zelar pelos direitos da criança e do adolescente, deve ser estabelecido por lei
municipal que determine seu funcionamento tendo em vista os artigos 131 a 140 do ECA ( Estatuto da criança e
do adolescente).
51
preparada para afrontar os diários episódios de violência e que a mesma não dispõe de ações
eficazes. Dessa forma, as ações realizadas na escola para enfrentamento da violência, são
isoladas e pouco efetivas, visto que as mesmas de nada adiantam, desencadeando a crise na
autoridade docente e possíveis prejuízos as relações sociais no âmbito escolar e ao processo
de ensino- aprendizagem.
52
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo desse trabalho, foi abordada a violência na história, sendo ela uma constante na
bibliografia da humanidade; discutiram-se os complexos conceitos de violência; foram feitas
distinções conceituais de violências no âmbito escolar; e por fim, culminou - se em uma
pesquisa de campo, que corroborou alguns dados, manchetes e as constantes noticiais sobre o
fenômeno da violência escolar, que angustiam pais, educadores e a sociedade como todo.
Dessa forma, este estudo não tem a pretensão de apresentar dados sobre violência escolar,
mesmo porque o quadro já é notório e infelizmente bastante noticiado, e claro não precisa de
outros dados para reforçá-lo. Contudo, a partir das análises e discussões realizadas pode-se
concluir que a violência escolar é uma realidade que não deve ser mais negligenciada, é de
suma importância que as autoridades públicas, educadores, família e sociedade como todo
estejam unidos para enfrentar às situações de violência inserida na escola, que deixou de ser
um espaço seguro de socialização e trocas, para se tornar “palco” de inúmeras cenas de
violências.
Os fatos que levaram a produção deste trabalho, inicialmente, eram entendidos como a pura
expressão da violência, não é negar que a violência escolar exista, ela existe, mas é configurá-
la de forma correta, de maneira a não estigmatizar a escola. Entendendo que as ações
ocorridas na escola em questão, estão explicitamente atreladas a incivilidades e indisciplinas –
ramificações da violência escolar – do que a violência propriamente dita. A violência
contradiz as leis, usa a força ou ameaça usá-la, a indisciplina não contradiz a lei, mas sim ao
regulamento interno da instituição e a incivilidade não contradiz nem a lei e nem ao regimento
da instituição, mas as regras da boa convivência. (CHARLOT, 2002).
Desse modo, vale ressaltar que não se pode fechar os olhos e nem mesmo negar o fenômeno
da violência escolar, mas é de suma importância que seus agentes tenham conhecimento das
diversas formas e características dessas violências de modo a combatê-la de maneira
adequada. A educação sempre dependerá da articulação de duas instituições fundamentais: a
escola e a família. Toda via, é preciso que essas instituições despertem o quanto antes para o
enfrentamento dessas violências diárias na escola, violências essas, que impossibilitam a
pratica pedagógica e conseqüentemente oportuniza o déficit no processo de ensino
aprendizagem.
53
A partir desse estudo, com analise no PPP da escola, do questionário aplicado e com a
observação, fica evidente que mesmo a escola não tendo ações efetivas de enfrentamento a
violência, a comunidade escolar já se põem a discutir os atos de violências ocorridos na escola
por parte dos discentes, fazendo - se leituras pertinentes e reuniões com pais e professores,
mas ainda há muito que ser feito para minimizar ou quem sabe promover uma cultura de paz
na escola.
Para tanto, a escola precisa urgentemente, se não modificar seu PPP acrescentar ao projeto,
subprojetos de enfrentamento a violência no âmbito escolar. A escola pode começar
realizando leituras, em sintonia com esse novo paradigma, a UNESCO – Brasil vem
desenvolvendo varias pesquisas com temas distintos e entre eles, a temática da violência nas
escolas; a escola poderá promover também, oficinas, palestras e atividades com conteúdo e
metodologia especifica de prevenção à violência; é importante também, aproximar a família
da escola e revisar as normas da instituição, no sentido de banir toda punição que resulte no
afastamento do aluno como a suspensão e expulsão, levando – o para fora da escola.
Contudo, esse estudo visa proporcionar subsídios necessários a promoção de uma escola de
paz, oferecendo a comunidade escolar condições para superação aos atos de violências na
escola, disseminando uma cultura de paz, erguida através de estratégias, trabalho, amor,
união, companheirismo, harmonia e muito diálogo. É necessário que cada instituição escolar
enfrente as violências escolares com firmeza e altivez pedagógica. A paz se constrói tão cedo
quanto possível porque se a guerra nasce na mente dos homens, também nelas se pode e deve
construir a paz. (UNESCO, 2003 apud ABRAMOVAY, 2002)
54
REFERÊNCIAS
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N° 47, 1998.
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Paulo : Summus, 1996.
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55
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56
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SPÓSITO, Marília Pontes. Um breve balanço da pesquisa sobre violência escolar no
Brasil. Revista educação e Pesquisa, São Paulo. V. 27, n. 1, p. 87-103, 2001.
57
APÊNDICE
58
PESQUISA DE CAMPO
( ) GESTOR ( ) VICE-GESTORA ( ) PROFESSORA ( ) ESTAGIÁRIA
PRIMEIRO BLOCO (Concepção e manifestação da violência)
1. NA SUA CONCEPÇÃO O QUE É VIOLÊNCIA?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2. DE QUE FORMA ELA SE MANIFESTA NA ESCOLA?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
SEGUNDO BLOCO (território geográfico interno e externo e episódios)
3. ESPAÇO ONDE OCORREM AS AÇÕES DE VIOLÊNCIA?
( ) NO ESPAÇO EXTERNO Á ESCOLA ( rua)
( ) NA PORTARIA
( ) NOS DIVERSOS AMBIENTES DA ESCOLA ( banheiros, bebedouros e
corredores)
( ) NO PÁTIO
( ) NA SALA
( ) AGRESSÃO VERBAL
( ) DANOS AO PATRIMÔNIO MATERIAL DA ESCOLA
MODELO DE QUESTIONÁRIO
59
4. ASSINALE OS EPISÓDIOS DE VIOLÊNCIA OCORRIDOS NA ESCOLA?
( ) GRITOS
( ) AGRESSÃO VERBAL
( ) DANOS AO PATRIMÔNIO MATERIAL DA ESCOLA
( ) EMPURRÕES
( ) BRIGAS
( ) MALEDICENCIAS
TERCEIRO BLOCO ( Violências sofridas)
5. VOCÊ JÁ SOFREU ALGUMA VIOLÊNCIA NO ESPAÇO ESCOLAR?
( ) SIM ( ) NÃO
6. QUE TIPO DE VIOLÊNCIA?
( ) GRITOS
( ) AGRESSÃO VERBAL
( ) DANOS AO PATRIMÔNIO MATERIAL DA ESCOLA
( ) EMPURRÕES
( ) MALEDICENCIAS
QUARTO BLOCO (Ações)
7 VOCÊ ACHA QUE A ESCOLA OFERECE SUPORTE PARA LIDAR COM A VIOLÊNCIA?
( ) SIM ( ) NÃO
8. QUAIS AÇÕES EMPLEMENTADAS PELA ESCOLA NO ANO DE 2010 E 2011 PARA DEBATER O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA?
( ) OFICINAS
( ) PALESTRAS
( ) CURSOS
( ) REUNIÕES
( ) LEITURAS
( ) OUTROS____________________________________
( ) AGRESSÃO FISÍCA
( ) INTIMIDAÇÃO COM ARMAS
( ) AMEAÇAS
( ) FURTOS E ROUBOS
( ) OUTROS ____________________
( ) AGRESSÃO FISÍCA
( ) INTIMIDAÇÃO COM ARMAS
( ) AMEAÇAS
( ) TRÁFICO DE DROGAS
( ) FURTOS E ROUBOS
( ) OUTROS______________________