violÊncia domÉstica - avm - pós-graduação - … o presente estudo destina-se a tratar e...
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UNIVERSIDADE CAcircNDIDO MENDES
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo
VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA
Um estudo de causas e ocorrecircncias da violecircncia dos pais
contra crianccedilas e adolescentes
Por Renata Lobo de Oliveira
Orientador
Profordf Mary Sue de Carvalho Pereira
Rio de Janeiro
2008
UNIVERSIDADE CAcircNDIDO MENDES
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo
PROJETO A VEZ DO MESTRE
VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA
Um estudo de causas e ocorrecircncia da violecircncia dos pais
contra crianccedilas e adolescentes
Apresentaccedilatildeo de monografia agrave
Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau
de especialista em Psicologia Juriacutedica
Por Renata Lobo de Oliveira
AGRADECIMENTO
Agradeccedilo aos professores do Curso de Poacutes Graduaccedilatildeo em Psicologia Juriacutedica da
UCAM pelo estiacutemulo e pelas novas descobertas
Agradeccedilo agrave minha famiacutelia pelo apoio e incentivo constantes
Agradeccedilo aos meus amigos pelo carinho e pela feacute depositada em mim
possibilitando que eu acreditasse que posso ir muito aleacutem
Dedicatoacuteria
Dedico essa monografia agraves duas pessoas mais importantes em minha vida meus
filhos Daniel e Juliana
ldquo vocecircs me transformaram num ser humano melhor agradeccedilo a Deus pela
becircnccedilatildeo de tecirc-los em minha vida Amo vocecircs para todo o sempre rdquo
Resumo
O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve anaacutelise da violecircncia
domeacutestica contra crianccedilas e adolescente Aleacutem disso descrever os fatores
desencadeantes da violecircncia e analisar os fatores sociais suas causas e
consequumlecircncias
Outro ponto seraacute o estabelecimento das caracteriacutesticas gerais da famiacutelia da
crianccedila a qual sofreu ou sofre violecircncia e da pessoa responsaacutevel pelo ato
violento tentaremos descrever segundo a avaliaccedilatildeo das famiacutelias os fatores
desencadeantes da violecircncia analisar a ausecircncia do poder puacuteblico e a forma
como poderaacute ser feito o tratamento com essas famiacutelias
Aleacutem disso tentaremos destacar a aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente e a visatildeo da sociedade diante desta legislaccedilatildeo
Metodologia
Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e
causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste
estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto
da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia
domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida
por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da
cultura
Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos
serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com
que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a
bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de
uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia
Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a
puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras
Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o
impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na
aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta
violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por
fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e
do adolescente
Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma
forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila
o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as
consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo
garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e
moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e
coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e
contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo
Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma
equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode
intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica
SUMAacuteRIO
1 Introduccedilatildeo 9
2 Ocorrecircncias e Fatores 11
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14
3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17
4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24
5 Conclusatildeo 27
6 Anexos 29
Anexo 1 29
Anexo 2 30
Anexo 3 31
Anexo 4 33
7 Bibliografia 34
8 Atividades Culturais35
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1 INTRODUCcedilAtildeO
Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente
proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias
soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees
de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees
corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais
intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais
pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de
alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em
internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte
Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os
diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as
consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por
compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos
fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash
a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos
Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia
domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as
consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma
forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o
adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a
importacircncia de intervenccedilatildeo profissional
Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores
levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou
seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e
outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos
filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando
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prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do
adolescente
O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma
legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees
que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que
aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes
Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua
formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e
ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que
envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor
todos devem existir como co-responsaacuteveis
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2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
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As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
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Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
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do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
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A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
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contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
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3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
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A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
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pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
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condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
UNIVERSIDADE CAcircNDIDO MENDES
POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo
PROJETO A VEZ DO MESTRE
VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA
Um estudo de causas e ocorrecircncia da violecircncia dos pais
contra crianccedilas e adolescentes
Apresentaccedilatildeo de monografia agrave
Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau
de especialista em Psicologia Juriacutedica
Por Renata Lobo de Oliveira
AGRADECIMENTO
Agradeccedilo aos professores do Curso de Poacutes Graduaccedilatildeo em Psicologia Juriacutedica da
UCAM pelo estiacutemulo e pelas novas descobertas
Agradeccedilo agrave minha famiacutelia pelo apoio e incentivo constantes
Agradeccedilo aos meus amigos pelo carinho e pela feacute depositada em mim
possibilitando que eu acreditasse que posso ir muito aleacutem
Dedicatoacuteria
Dedico essa monografia agraves duas pessoas mais importantes em minha vida meus
filhos Daniel e Juliana
ldquo vocecircs me transformaram num ser humano melhor agradeccedilo a Deus pela
becircnccedilatildeo de tecirc-los em minha vida Amo vocecircs para todo o sempre rdquo
Resumo
O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve anaacutelise da violecircncia
domeacutestica contra crianccedilas e adolescente Aleacutem disso descrever os fatores
desencadeantes da violecircncia e analisar os fatores sociais suas causas e
consequumlecircncias
Outro ponto seraacute o estabelecimento das caracteriacutesticas gerais da famiacutelia da
crianccedila a qual sofreu ou sofre violecircncia e da pessoa responsaacutevel pelo ato
violento tentaremos descrever segundo a avaliaccedilatildeo das famiacutelias os fatores
desencadeantes da violecircncia analisar a ausecircncia do poder puacuteblico e a forma
como poderaacute ser feito o tratamento com essas famiacutelias
Aleacutem disso tentaremos destacar a aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente e a visatildeo da sociedade diante desta legislaccedilatildeo
Metodologia
Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e
causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste
estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto
da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia
domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida
por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da
cultura
Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos
serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com
que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a
bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de
uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia
Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a
puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras
Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o
impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na
aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta
violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por
fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e
do adolescente
Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma
forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila
o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as
consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo
garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e
moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e
coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e
contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo
Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma
equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode
intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica
SUMAacuteRIO
1 Introduccedilatildeo 9
2 Ocorrecircncias e Fatores 11
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14
3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17
4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24
5 Conclusatildeo 27
6 Anexos 29
Anexo 1 29
Anexo 2 30
Anexo 3 31
Anexo 4 33
7 Bibliografia 34
8 Atividades Culturais35
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente
proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias
soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees
de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees
corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais
intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais
pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de
alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em
internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte
Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os
diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as
consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por
compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos
fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash
a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos
Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia
domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as
consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma
forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o
adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a
importacircncia de intervenccedilatildeo profissional
Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores
levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou
seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e
outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos
filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando
10
prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do
adolescente
O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma
legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees
que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que
aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes
Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua
formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e
ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que
envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor
todos devem existir como co-responsaacuteveis
11
2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
12
As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
13
Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
14
do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
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A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
16
contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
17
3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
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A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
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Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
AGRADECIMENTO
Agradeccedilo aos professores do Curso de Poacutes Graduaccedilatildeo em Psicologia Juriacutedica da
UCAM pelo estiacutemulo e pelas novas descobertas
Agradeccedilo agrave minha famiacutelia pelo apoio e incentivo constantes
Agradeccedilo aos meus amigos pelo carinho e pela feacute depositada em mim
possibilitando que eu acreditasse que posso ir muito aleacutem
Dedicatoacuteria
Dedico essa monografia agraves duas pessoas mais importantes em minha vida meus
filhos Daniel e Juliana
ldquo vocecircs me transformaram num ser humano melhor agradeccedilo a Deus pela
becircnccedilatildeo de tecirc-los em minha vida Amo vocecircs para todo o sempre rdquo
Resumo
O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve anaacutelise da violecircncia
domeacutestica contra crianccedilas e adolescente Aleacutem disso descrever os fatores
desencadeantes da violecircncia e analisar os fatores sociais suas causas e
consequumlecircncias
Outro ponto seraacute o estabelecimento das caracteriacutesticas gerais da famiacutelia da
crianccedila a qual sofreu ou sofre violecircncia e da pessoa responsaacutevel pelo ato
violento tentaremos descrever segundo a avaliaccedilatildeo das famiacutelias os fatores
desencadeantes da violecircncia analisar a ausecircncia do poder puacuteblico e a forma
como poderaacute ser feito o tratamento com essas famiacutelias
Aleacutem disso tentaremos destacar a aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente e a visatildeo da sociedade diante desta legislaccedilatildeo
Metodologia
Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e
causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste
estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto
da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia
domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida
por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da
cultura
Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos
serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com
que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a
bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de
uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia
Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a
puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras
Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o
impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na
aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta
violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por
fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e
do adolescente
Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma
forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila
o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as
consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo
garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e
moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e
coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e
contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo
Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma
equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode
intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica
SUMAacuteRIO
1 Introduccedilatildeo 9
2 Ocorrecircncias e Fatores 11
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14
3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17
4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24
5 Conclusatildeo 27
6 Anexos 29
Anexo 1 29
Anexo 2 30
Anexo 3 31
Anexo 4 33
7 Bibliografia 34
8 Atividades Culturais35
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente
proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias
soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees
de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees
corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais
intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais
pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de
alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em
internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte
Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os
diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as
consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por
compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos
fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash
a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos
Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia
domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as
consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma
forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o
adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a
importacircncia de intervenccedilatildeo profissional
Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores
levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou
seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e
outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos
filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando
10
prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do
adolescente
O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma
legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees
que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que
aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes
Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua
formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e
ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que
envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor
todos devem existir como co-responsaacuteveis
11
2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
12
As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
13
Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
14
do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
15
A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
16
contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
17
3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
18
A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
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bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
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Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
Dedicatoacuteria
Dedico essa monografia agraves duas pessoas mais importantes em minha vida meus
filhos Daniel e Juliana
ldquo vocecircs me transformaram num ser humano melhor agradeccedilo a Deus pela
becircnccedilatildeo de tecirc-los em minha vida Amo vocecircs para todo o sempre rdquo
Resumo
O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve anaacutelise da violecircncia
domeacutestica contra crianccedilas e adolescente Aleacutem disso descrever os fatores
desencadeantes da violecircncia e analisar os fatores sociais suas causas e
consequumlecircncias
Outro ponto seraacute o estabelecimento das caracteriacutesticas gerais da famiacutelia da
crianccedila a qual sofreu ou sofre violecircncia e da pessoa responsaacutevel pelo ato
violento tentaremos descrever segundo a avaliaccedilatildeo das famiacutelias os fatores
desencadeantes da violecircncia analisar a ausecircncia do poder puacuteblico e a forma
como poderaacute ser feito o tratamento com essas famiacutelias
Aleacutem disso tentaremos destacar a aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente e a visatildeo da sociedade diante desta legislaccedilatildeo
Metodologia
Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e
causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste
estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto
da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia
domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida
por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da
cultura
Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos
serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com
que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a
bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de
uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia
Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a
puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras
Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o
impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na
aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta
violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por
fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e
do adolescente
Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma
forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila
o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as
consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo
garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e
moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e
coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e
contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo
Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma
equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode
intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica
SUMAacuteRIO
1 Introduccedilatildeo 9
2 Ocorrecircncias e Fatores 11
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14
3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17
4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24
5 Conclusatildeo 27
6 Anexos 29
Anexo 1 29
Anexo 2 30
Anexo 3 31
Anexo 4 33
7 Bibliografia 34
8 Atividades Culturais35
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1 INTRODUCcedilAtildeO
Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente
proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias
soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees
de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees
corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais
intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais
pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de
alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em
internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte
Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os
diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as
consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por
compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos
fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash
a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos
Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia
domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as
consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma
forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o
adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a
importacircncia de intervenccedilatildeo profissional
Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores
levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou
seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e
outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos
filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando
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prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do
adolescente
O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma
legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees
que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que
aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes
Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua
formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e
ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que
envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor
todos devem existir como co-responsaacuteveis
11
2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
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As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
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Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
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do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
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A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
16
contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
17
3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
18
A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
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5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
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educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
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httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
Resumo
O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve anaacutelise da violecircncia
domeacutestica contra crianccedilas e adolescente Aleacutem disso descrever os fatores
desencadeantes da violecircncia e analisar os fatores sociais suas causas e
consequumlecircncias
Outro ponto seraacute o estabelecimento das caracteriacutesticas gerais da famiacutelia da
crianccedila a qual sofreu ou sofre violecircncia e da pessoa responsaacutevel pelo ato
violento tentaremos descrever segundo a avaliaccedilatildeo das famiacutelias os fatores
desencadeantes da violecircncia analisar a ausecircncia do poder puacuteblico e a forma
como poderaacute ser feito o tratamento com essas famiacutelias
Aleacutem disso tentaremos destacar a aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente e a visatildeo da sociedade diante desta legislaccedilatildeo
Metodologia
Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e
causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste
estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto
da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia
domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida
por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da
cultura
Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos
serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com
que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a
bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de
uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia
Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a
puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras
Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o
impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na
aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta
violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por
fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e
do adolescente
Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma
forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila
o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as
consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo
garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e
moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e
coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e
contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo
Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma
equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode
intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica
SUMAacuteRIO
1 Introduccedilatildeo 9
2 Ocorrecircncias e Fatores 11
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14
3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17
4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24
5 Conclusatildeo 27
6 Anexos 29
Anexo 1 29
Anexo 2 30
Anexo 3 31
Anexo 4 33
7 Bibliografia 34
8 Atividades Culturais35
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente
proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias
soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees
de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees
corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais
intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais
pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de
alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em
internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte
Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os
diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as
consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por
compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos
fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash
a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos
Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia
domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as
consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma
forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o
adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a
importacircncia de intervenccedilatildeo profissional
Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores
levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou
seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e
outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos
filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando
10
prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do
adolescente
O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma
legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees
que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que
aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes
Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua
formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e
ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que
envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor
todos devem existir como co-responsaacuteveis
11
2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
12
As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
13
Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
14
do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
15
A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
16
contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
17
3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
18
A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
7 BIBLIOGRAFIA
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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
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MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
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Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
Metodologia
Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e
causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste
estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto
da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia
domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida
por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da
cultura
Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos
serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com
que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a
bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de
uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia
Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a
puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras
Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o
impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na
aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta
violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por
fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e
do adolescente
Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma
forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila
o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as
consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo
garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e
moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e
coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e
contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo
Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma
equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode
intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica
SUMAacuteRIO
1 Introduccedilatildeo 9
2 Ocorrecircncias e Fatores 11
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14
3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17
4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24
5 Conclusatildeo 27
6 Anexos 29
Anexo 1 29
Anexo 2 30
Anexo 3 31
Anexo 4 33
7 Bibliografia 34
8 Atividades Culturais35
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente
proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias
soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees
de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees
corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais
intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais
pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de
alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em
internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte
Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os
diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as
consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por
compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos
fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash
a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos
Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia
domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as
consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma
forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o
adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a
importacircncia de intervenccedilatildeo profissional
Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores
levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou
seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e
outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos
filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando
10
prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do
adolescente
O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma
legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees
que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que
aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes
Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua
formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e
ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que
envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor
todos devem existir como co-responsaacuteveis
11
2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
12
As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
13
Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
14
do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
15
A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
16
contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
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3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
18
A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e
coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e
contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo
Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo
Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma
equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode
intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica
SUMAacuteRIO
1 Introduccedilatildeo 9
2 Ocorrecircncias e Fatores 11
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14
3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17
4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24
5 Conclusatildeo 27
6 Anexos 29
Anexo 1 29
Anexo 2 30
Anexo 3 31
Anexo 4 33
7 Bibliografia 34
8 Atividades Culturais35
9
1 INTRODUCcedilAtildeO
Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente
proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias
soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees
de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees
corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais
intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais
pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de
alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em
internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte
Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os
diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as
consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por
compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos
fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash
a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos
Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia
domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as
consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma
forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o
adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a
importacircncia de intervenccedilatildeo profissional
Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores
levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou
seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e
outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos
filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando
10
prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do
adolescente
O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma
legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees
que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que
aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes
Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua
formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e
ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que
envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor
todos devem existir como co-responsaacuteveis
11
2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
12
As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
13
Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
14
do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
15
A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
16
contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
17
3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
18
A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
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5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
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educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
SUMAacuteRIO
1 Introduccedilatildeo 9
2 Ocorrecircncias e Fatores 11
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14
3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17
4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24
5 Conclusatildeo 27
6 Anexos 29
Anexo 1 29
Anexo 2 30
Anexo 3 31
Anexo 4 33
7 Bibliografia 34
8 Atividades Culturais35
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1 INTRODUCcedilAtildeO
Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente
proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias
soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees
de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees
corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais
intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais
pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de
alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em
internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte
Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os
diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as
consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por
compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos
fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash
a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos
Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia
domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as
consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma
forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o
adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a
importacircncia de intervenccedilatildeo profissional
Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores
levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou
seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e
outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos
filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando
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prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do
adolescente
O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma
legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees
que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que
aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes
Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua
formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e
ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que
envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor
todos devem existir como co-responsaacuteveis
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2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
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As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
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Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
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do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
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A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
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contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
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3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
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A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
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pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
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em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
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Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
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httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
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1 INTRODUCcedilAtildeO
Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente
proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias
soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees
de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees
corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais
intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais
pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de
alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em
internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte
Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os
diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as
consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por
compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos
fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash
a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos
Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia
domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as
consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma
forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o
adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a
importacircncia de intervenccedilatildeo profissional
Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores
levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou
seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e
outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos
filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando
10
prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do
adolescente
O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma
legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees
que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que
aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes
Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua
formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e
ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que
envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor
todos devem existir como co-responsaacuteveis
11
2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
12
As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
13
Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
14
do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
15
A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
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contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
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3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
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A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
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pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
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condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
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em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
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bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
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Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
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4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
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Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
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poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
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5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
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educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
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6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
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prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do
adolescente
O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma
legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees
que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que
aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes
Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua
formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e
ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que
envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor
todos devem existir como co-responsaacuteveis
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2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
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As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
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Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
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do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
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A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
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contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
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3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
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A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
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pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
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condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
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Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
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poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
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educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
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Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
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2 OCORREcircNCIAS E FATORES
Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir
como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo
concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal
ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade
aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada
motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das
consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel
de conduta
A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos
e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um
de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um
meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo
muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades
econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das
relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de
consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma
espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o
que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se
matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas
sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo
Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma
muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve
como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as
diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se
apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos
nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E
segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio
12
As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
13
Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
14
do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
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A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
16
contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
17
3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
18
A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
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As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)
Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia
entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo
contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas
proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo
A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que
dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos
escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos
E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes
esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso
ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute
mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de
violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em
conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo
Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura
terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos
interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na
descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o
gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como
ocorre em casos do real cai no esquecimento
E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute
algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos
neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-
las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas
tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece
Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos
chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do
assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E
neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo
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Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
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do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
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A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
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contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
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3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
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A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
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pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
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condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
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em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
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bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
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Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
13
Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)
A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem
com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na
famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na
sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das
condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a
Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave
famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a
violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade
e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o
direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo
cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem
de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo
violecircncia crueldade e opressatildeo
A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na
prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o
desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de
liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse
o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia
formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel
A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na
sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da
Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo
Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como
meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em
situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva
14
do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
15
A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
16
contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
17
3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
18
A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
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5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
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educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
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6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
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httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
14
do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do
conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse
necessariamente a delinquumlir
21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento
bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores
morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em
sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a
estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a
abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral
A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade
educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas
responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos
os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e
fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e
culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos
direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da
discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo
15
A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
16
contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
17
3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
18
A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
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A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de
respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da
famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos
seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu
caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade
Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia
os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no
Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)
mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de
tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em
seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os
roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais
Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos
restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo
escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar
das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual
no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na
literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo
escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio
escolar
No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em
19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias
Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco
das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra
crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de
adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e
usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-
americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos
os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde
colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e
violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las
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contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
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3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
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A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
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pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
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condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
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em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
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bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
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Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
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4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
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Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
7 BIBLIOGRAFIA
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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
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Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
16
contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000
alunos
Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na
maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica
nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo
de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os
adolescentes do Rio de Janeiro
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3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
18
A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
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poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
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Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
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3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS
De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia
em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural
violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou
revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute
pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de
sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se
outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal
embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime
organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que
alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo
mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos
de violecircncia bastando indicaacute-los
Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional
expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a
concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais
(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao
desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10
da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a
Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas
empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual
A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural
nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades
que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal
A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-
econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e
estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo
da classe social a que se pertence
18
A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
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poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
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educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
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6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
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Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
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A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a
pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela
miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de
programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a
opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros
Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que
metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade
conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que
foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na
histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um
crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem
evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro
Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo
fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e
interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder
A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo
observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um
crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por
exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem
como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de
outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento
traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal
pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a
caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato
puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza
prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam
parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas
normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de
violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima
Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto
mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
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condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
7 BIBLIOGRAFIA
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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
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MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
19
pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees
preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica
Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por
violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a
violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os
quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)
Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)
Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela
estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia
fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual
Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa
violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes
e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme
avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando
responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer
o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes
Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem
visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem
prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei
Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e
da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute
como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar
livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e
tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado
Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos
fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
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Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
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4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
7 BIBLIOGRAFIA
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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
20
condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a
evoluccedilatildeo deste feito
Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e
assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de
outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231
artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que
eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade
Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo
de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de
Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da
Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007
httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)
No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias
separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento
juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os
portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo
indeterminado
No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute
necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que
os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas
sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar
providecircncias
Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das
pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a
experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a
algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de
representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees
Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo
iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem
ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees
que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis
21
em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
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5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
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em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila
e o adolescente
A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e
para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente
familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos
positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros
Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e
desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o
desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto
cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional
decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na
aprendizagem
Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar
o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem
e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais
degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a
dinacircmica familiar
Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto
consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia
bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo
disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um
simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais
agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa
estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos
bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e
uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta
crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante
considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre
viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves
pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima
22
bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
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5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
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educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
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6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
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bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as
crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem
matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer
em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a
alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees
chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-
estima
bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de
auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria
desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene
A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil
constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir
dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas
vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados
necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda
exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o
sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime
de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da
rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo
de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede
Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores
culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de
normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao
problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de
diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para
este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente
sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se
como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e
adolescentes
23
Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
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5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
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Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e
social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar
com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente
culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente)
Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-
tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja
cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o
problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves
viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o
diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o
sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia
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4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
24
4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE
Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto
de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a
integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi
instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito
das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade
absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o
adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro
para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo
Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos
paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil
organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze
anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de
idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves
pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade
Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano
a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso
constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil
principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de
sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir
que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser
responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de
morbimortalidade (Minayo 1994)
De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma
crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia
discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei
qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com
base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de
toda a sociedade e do Estado
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
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5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
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6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
34
7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
25
Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo
devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um
equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz
ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da
crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais
da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave
violecircncia domeacutestica
O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da
proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses
267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E
no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o
ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo
chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos
veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo
tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um
levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse
ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de
natildeo incriminaacute-lo
Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute
pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a
madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar
o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas
viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas
agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo
comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni
Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a
padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e
muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso
provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute
deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para
constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de
26
poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
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poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a
manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para
promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento
dessa problemaacutetica
Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do
Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e
adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a
sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de
cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
27
5 CONCLUSAtildeO
O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e
adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise
da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente
Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees
dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com
dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas
informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo
O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos
direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor
infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a
discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da
pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em
relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na
defesa da classe meacutedia
Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em
relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas
mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR
ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)
Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA
associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao
combate agrave violecircncia domeacutestica
Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no
reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na
famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com
os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
29
6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
32
trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
33
Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
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8 ATIVIDADES CULTURAIS
28
educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o
seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto
E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios
desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que
apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos
dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas
beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres
Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a
violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de
algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento
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6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
Folha de Satildeo Paulo on line
35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
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6 ANEXOS Anexo 1
fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP
A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e
pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras
modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia
sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute
agressor
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Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
31
Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
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httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
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35
8 ATIVIDADES CULTURAIS
30
Anexo 2
Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007
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Anexo 3
Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm
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Anexo 4
ARQUIVO
Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
Agencia Brasil de Noticias
httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view
Revista Veja on line
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Artigo sobre os 18 anos do Eca
Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos
Vicente de Paula Faleiros 1
Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
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Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente
1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria
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Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008
O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
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O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito
Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes
Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas
FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808
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7 BIBLIOGRAFIA
AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
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AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe
AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005
KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004
LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)
MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63
MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78
MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec
OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora
Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr
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