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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Um estudo de causas e ocorrências da violência dos pais contra crianças e adolescentes. Por: Renata Lobo de Oliveira Orientador Profª. Mary Sue de Carvalho Pereira Rio de Janeiro 2008

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Page 1: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

UNIVERSIDADE CAcircNDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA

Um estudo de causas e ocorrecircncias da violecircncia dos pais

contra crianccedilas e adolescentes

Por Renata Lobo de Oliveira

Orientador

Profordf Mary Sue de Carvalho Pereira

Rio de Janeiro

2008

UNIVERSIDADE CAcircNDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

PROJETO A VEZ DO MESTRE

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA

Um estudo de causas e ocorrecircncia da violecircncia dos pais

contra crianccedilas e adolescentes

Apresentaccedilatildeo de monografia agrave

Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau

de especialista em Psicologia Juriacutedica

Por Renata Lobo de Oliveira

AGRADECIMENTO

Agradeccedilo aos professores do Curso de Poacutes Graduaccedilatildeo em Psicologia Juriacutedica da

UCAM pelo estiacutemulo e pelas novas descobertas

Agradeccedilo agrave minha famiacutelia pelo apoio e incentivo constantes

Agradeccedilo aos meus amigos pelo carinho e pela feacute depositada em mim

possibilitando que eu acreditasse que posso ir muito aleacutem

Dedicatoacuteria

Dedico essa monografia agraves duas pessoas mais importantes em minha vida meus

filhos Daniel e Juliana

ldquo vocecircs me transformaram num ser humano melhor agradeccedilo a Deus pela

becircnccedilatildeo de tecirc-los em minha vida Amo vocecircs para todo o sempre rdquo

Resumo

O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve anaacutelise da violecircncia

domeacutestica contra crianccedilas e adolescente Aleacutem disso descrever os fatores

desencadeantes da violecircncia e analisar os fatores sociais suas causas e

consequumlecircncias

Outro ponto seraacute o estabelecimento das caracteriacutesticas gerais da famiacutelia da

crianccedila a qual sofreu ou sofre violecircncia e da pessoa responsaacutevel pelo ato

violento tentaremos descrever segundo a avaliaccedilatildeo das famiacutelias os fatores

desencadeantes da violecircncia analisar a ausecircncia do poder puacuteblico e a forma

como poderaacute ser feito o tratamento com essas famiacutelias

Aleacutem disso tentaremos destacar a aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente e a visatildeo da sociedade diante desta legislaccedilatildeo

Metodologia

Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e

causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste

estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto

da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia

domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida

por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da

cultura

Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos

serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com

que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a

bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de

uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia

Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a

puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras

Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o

impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na

aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta

violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por

fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e

do adolescente

Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma

forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila

o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as

consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo

garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e

moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e

coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e

contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo

Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma

equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode

intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica

SUMAacuteRIO

1 Introduccedilatildeo 9

2 Ocorrecircncias e Fatores 11

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14

3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17

4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24

5 Conclusatildeo 27

6 Anexos 29

Anexo 1 29

Anexo 2 30

Anexo 3 31

Anexo 4 33

7 Bibliografia 34

8 Atividades Culturais35

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente

proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias

soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees

de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees

corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais

intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais

pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de

alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em

internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte

Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os

diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as

consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por

compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos

fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash

a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos

Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia

domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as

consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma

forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o

adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a

importacircncia de intervenccedilatildeo profissional

Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores

levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou

seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e

outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos

filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando

10

prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do

adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma

legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees

que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que

aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes

Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua

formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e

ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que

envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor

todos devem existir como co-responsaacuteveis

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 2: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

UNIVERSIDADE CAcircNDIDO MENDES

POacuteS-GRADUACcedilAtildeO ldquoLATO SENSUrdquo

PROJETO A VEZ DO MESTRE

VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA

Um estudo de causas e ocorrecircncia da violecircncia dos pais

contra crianccedilas e adolescentes

Apresentaccedilatildeo de monografia agrave

Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau

de especialista em Psicologia Juriacutedica

Por Renata Lobo de Oliveira

AGRADECIMENTO

Agradeccedilo aos professores do Curso de Poacutes Graduaccedilatildeo em Psicologia Juriacutedica da

UCAM pelo estiacutemulo e pelas novas descobertas

Agradeccedilo agrave minha famiacutelia pelo apoio e incentivo constantes

Agradeccedilo aos meus amigos pelo carinho e pela feacute depositada em mim

possibilitando que eu acreditasse que posso ir muito aleacutem

Dedicatoacuteria

Dedico essa monografia agraves duas pessoas mais importantes em minha vida meus

filhos Daniel e Juliana

ldquo vocecircs me transformaram num ser humano melhor agradeccedilo a Deus pela

becircnccedilatildeo de tecirc-los em minha vida Amo vocecircs para todo o sempre rdquo

Resumo

O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve anaacutelise da violecircncia

domeacutestica contra crianccedilas e adolescente Aleacutem disso descrever os fatores

desencadeantes da violecircncia e analisar os fatores sociais suas causas e

consequumlecircncias

Outro ponto seraacute o estabelecimento das caracteriacutesticas gerais da famiacutelia da

crianccedila a qual sofreu ou sofre violecircncia e da pessoa responsaacutevel pelo ato

violento tentaremos descrever segundo a avaliaccedilatildeo das famiacutelias os fatores

desencadeantes da violecircncia analisar a ausecircncia do poder puacuteblico e a forma

como poderaacute ser feito o tratamento com essas famiacutelias

Aleacutem disso tentaremos destacar a aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente e a visatildeo da sociedade diante desta legislaccedilatildeo

Metodologia

Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e

causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste

estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto

da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia

domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida

por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da

cultura

Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos

serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com

que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a

bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de

uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia

Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a

puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras

Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o

impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na

aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta

violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por

fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e

do adolescente

Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma

forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila

o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as

consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo

garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e

moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e

coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e

contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo

Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma

equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode

intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica

SUMAacuteRIO

1 Introduccedilatildeo 9

2 Ocorrecircncias e Fatores 11

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14

3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17

4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24

5 Conclusatildeo 27

6 Anexos 29

Anexo 1 29

Anexo 2 30

Anexo 3 31

Anexo 4 33

7 Bibliografia 34

8 Atividades Culturais35

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente

proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias

soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees

de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees

corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais

intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais

pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de

alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em

internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte

Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os

diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as

consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por

compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos

fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash

a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos

Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia

domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as

consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma

forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o

adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a

importacircncia de intervenccedilatildeo profissional

Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores

levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou

seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e

outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos

filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando

10

prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do

adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma

legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees

que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que

aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes

Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua

formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e

ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que

envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor

todos devem existir como co-responsaacuteveis

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 3: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

AGRADECIMENTO

Agradeccedilo aos professores do Curso de Poacutes Graduaccedilatildeo em Psicologia Juriacutedica da

UCAM pelo estiacutemulo e pelas novas descobertas

Agradeccedilo agrave minha famiacutelia pelo apoio e incentivo constantes

Agradeccedilo aos meus amigos pelo carinho e pela feacute depositada em mim

possibilitando que eu acreditasse que posso ir muito aleacutem

Dedicatoacuteria

Dedico essa monografia agraves duas pessoas mais importantes em minha vida meus

filhos Daniel e Juliana

ldquo vocecircs me transformaram num ser humano melhor agradeccedilo a Deus pela

becircnccedilatildeo de tecirc-los em minha vida Amo vocecircs para todo o sempre rdquo

Resumo

O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve anaacutelise da violecircncia

domeacutestica contra crianccedilas e adolescente Aleacutem disso descrever os fatores

desencadeantes da violecircncia e analisar os fatores sociais suas causas e

consequumlecircncias

Outro ponto seraacute o estabelecimento das caracteriacutesticas gerais da famiacutelia da

crianccedila a qual sofreu ou sofre violecircncia e da pessoa responsaacutevel pelo ato

violento tentaremos descrever segundo a avaliaccedilatildeo das famiacutelias os fatores

desencadeantes da violecircncia analisar a ausecircncia do poder puacuteblico e a forma

como poderaacute ser feito o tratamento com essas famiacutelias

Aleacutem disso tentaremos destacar a aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente e a visatildeo da sociedade diante desta legislaccedilatildeo

Metodologia

Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e

causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste

estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto

da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia

domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida

por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da

cultura

Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos

serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com

que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a

bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de

uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia

Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a

puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras

Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o

impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na

aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta

violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por

fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e

do adolescente

Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma

forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila

o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as

consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo

garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e

moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e

coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e

contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo

Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma

equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode

intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica

SUMAacuteRIO

1 Introduccedilatildeo 9

2 Ocorrecircncias e Fatores 11

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14

3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17

4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24

5 Conclusatildeo 27

6 Anexos 29

Anexo 1 29

Anexo 2 30

Anexo 3 31

Anexo 4 33

7 Bibliografia 34

8 Atividades Culturais35

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente

proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias

soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees

de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees

corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais

intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais

pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de

alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em

internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte

Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os

diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as

consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por

compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos

fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash

a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos

Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia

domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as

consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma

forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o

adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a

importacircncia de intervenccedilatildeo profissional

Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores

levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou

seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e

outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos

filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando

10

prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do

adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma

legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees

que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que

aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes

Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua

formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e

ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que

envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor

todos devem existir como co-responsaacuteveis

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 4: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

Dedicatoacuteria

Dedico essa monografia agraves duas pessoas mais importantes em minha vida meus

filhos Daniel e Juliana

ldquo vocecircs me transformaram num ser humano melhor agradeccedilo a Deus pela

becircnccedilatildeo de tecirc-los em minha vida Amo vocecircs para todo o sempre rdquo

Resumo

O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve anaacutelise da violecircncia

domeacutestica contra crianccedilas e adolescente Aleacutem disso descrever os fatores

desencadeantes da violecircncia e analisar os fatores sociais suas causas e

consequumlecircncias

Outro ponto seraacute o estabelecimento das caracteriacutesticas gerais da famiacutelia da

crianccedila a qual sofreu ou sofre violecircncia e da pessoa responsaacutevel pelo ato

violento tentaremos descrever segundo a avaliaccedilatildeo das famiacutelias os fatores

desencadeantes da violecircncia analisar a ausecircncia do poder puacuteblico e a forma

como poderaacute ser feito o tratamento com essas famiacutelias

Aleacutem disso tentaremos destacar a aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente e a visatildeo da sociedade diante desta legislaccedilatildeo

Metodologia

Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e

causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste

estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto

da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia

domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida

por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da

cultura

Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos

serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com

que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a

bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de

uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia

Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a

puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras

Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o

impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na

aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta

violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por

fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e

do adolescente

Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma

forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila

o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as

consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo

garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e

moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e

coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e

contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo

Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma

equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode

intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica

SUMAacuteRIO

1 Introduccedilatildeo 9

2 Ocorrecircncias e Fatores 11

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14

3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17

4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24

5 Conclusatildeo 27

6 Anexos 29

Anexo 1 29

Anexo 2 30

Anexo 3 31

Anexo 4 33

7 Bibliografia 34

8 Atividades Culturais35

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente

proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias

soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees

de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees

corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais

intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais

pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de

alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em

internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte

Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os

diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as

consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por

compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos

fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash

a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos

Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia

domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as

consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma

forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o

adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a

importacircncia de intervenccedilatildeo profissional

Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores

levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou

seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e

outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos

filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando

10

prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do

adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma

legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees

que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que

aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes

Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua

formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e

ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que

envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor

todos devem existir como co-responsaacuteveis

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

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Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

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MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 5: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

Resumo

O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve anaacutelise da violecircncia

domeacutestica contra crianccedilas e adolescente Aleacutem disso descrever os fatores

desencadeantes da violecircncia e analisar os fatores sociais suas causas e

consequumlecircncias

Outro ponto seraacute o estabelecimento das caracteriacutesticas gerais da famiacutelia da

crianccedila a qual sofreu ou sofre violecircncia e da pessoa responsaacutevel pelo ato

violento tentaremos descrever segundo a avaliaccedilatildeo das famiacutelias os fatores

desencadeantes da violecircncia analisar a ausecircncia do poder puacuteblico e a forma

como poderaacute ser feito o tratamento com essas famiacutelias

Aleacutem disso tentaremos destacar a aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente e a visatildeo da sociedade diante desta legislaccedilatildeo

Metodologia

Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e

causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste

estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto

da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia

domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida

por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da

cultura

Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos

serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com

que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a

bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de

uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia

Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a

puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras

Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o

impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na

aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta

violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por

fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e

do adolescente

Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma

forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila

o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as

consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo

garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e

moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e

coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e

contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo

Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma

equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode

intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica

SUMAacuteRIO

1 Introduccedilatildeo 9

2 Ocorrecircncias e Fatores 11

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14

3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17

4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24

5 Conclusatildeo 27

6 Anexos 29

Anexo 1 29

Anexo 2 30

Anexo 3 31

Anexo 4 33

7 Bibliografia 34

8 Atividades Culturais35

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente

proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias

soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees

de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees

corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais

intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais

pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de

alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em

internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte

Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os

diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as

consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por

compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos

fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash

a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos

Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia

domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as

consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma

forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o

adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a

importacircncia de intervenccedilatildeo profissional

Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores

levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou

seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e

outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos

filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando

10

prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do

adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma

legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees

que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que

aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes

Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua

formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e

ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que

envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor

todos devem existir como co-responsaacuteveis

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 6: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

Metodologia

Partindo de uma temaacutetica que pretende debater a ocorrecircncia os fatores sociais e

causas da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes utilizaremos neste

estudo uma anaacutelise bibliograacutefica por meio de livros revistas jornais e do Estatuto

da Crianccedila e do Adolescente Traremos como princiacutepio o fato de tal violecircncia

domeacutestica funcionar muitas vezes como sintoma de uma sociedade acometida

por um evidente desequiliacutebrio nos acircmbitos da educaccedilatildeo da economia e da

cultura

Das revistas ldquoVejardquo e ldquoIsto eacuterdquo daremos destaque a algumas ocorrecircncias que nos

serviratildeo de exemplo para se pensar causas e paracircmetros Da mesma forma com

que os jornais nos favoreceratildeo tambeacutem numa apreensatildeo veriacutedica dos casos Jaacute a

bibliografia por noacutes destacada serviraacute como base teoacuterica para a construccedilatildeo de

uma linha de pensamento a respeito do assunto abordado nesta monografia

Uma obra que seraacute de grande importacircncia para este estudo eacute Mania de bater a

puniccedilatildeo corporal domeacutestica de crianccedilas e adolescentes no Brasil das autoras

Maria Ameacutelia de Azevedo e Guerra e da Viviane Azevedo Nela estaacute em ecircnfase o

impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na vida e na

aprendizagem Indagam-se ainda quais as consequumlecircncias para as viacutetimas desta

violecircncia domeacutestica especialmente em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e aprendizagem e por

fim destaca-se a necessidade de se defender o direito constitucional da crianccedila e

do adolescente

Heacutelio Oliveira dos Santos em sua obra ldquoCrianccedilas Espancadasrdquo teraacute da mesma

forma grande relevacircncia para noacutes pois define esse tema considerando a crianccedila

o elo mais fraco da corrente social para ele eacute sobre a crianccedila que recaem as

consequumlecircncias mais traacutegicas de uma injusta estrutura soacutecio-econocircmica que natildeo

garante para todos trabalho sauacutede educaccedilatildeo condiccedilotildees dignas de vida e

moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e

coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e

contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo

Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma

equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode

intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica

SUMAacuteRIO

1 Introduccedilatildeo 9

2 Ocorrecircncias e Fatores 11

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14

3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17

4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24

5 Conclusatildeo 27

6 Anexos 29

Anexo 1 29

Anexo 2 30

Anexo 3 31

Anexo 4 33

7 Bibliografia 34

8 Atividades Culturais35

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente

proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias

soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees

de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees

corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais

intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais

pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de

alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em

internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte

Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os

diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as

consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por

compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos

fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash

a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos

Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia

domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as

consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma

forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o

adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a

importacircncia de intervenccedilatildeo profissional

Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores

levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou

seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e

outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos

filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando

10

prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do

adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma

legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees

que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que

aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes

Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua

formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e

ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que

envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor

todos devem existir como co-responsaacuteveis

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 7: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

moradia E ainda afirma ldquoeacute urgente que a sociedade se organize para prevenir e

coibir essa situaccedilatildeo bem como para prestar assistecircncia integral efetiva e

contiacutenua agraves viacutetimas desse tipo de crimerdquo

Daremos todavia uma grande atenccedilatildeo aos paracircmetros estabelecidos pelo

Estatuto da Crianccedila e do Adolescente buscando mostrar de que maneira uma

equipe multidisciplinar (psicoacutelogos educadores Conselho Tutelar VIJ) pode

intervir nesses casos visando interromper o ciclo de violecircncia domeacutestica

SUMAacuteRIO

1 Introduccedilatildeo 9

2 Ocorrecircncias e Fatores 11

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14

3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17

4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24

5 Conclusatildeo 27

6 Anexos 29

Anexo 1 29

Anexo 2 30

Anexo 3 31

Anexo 4 33

7 Bibliografia 34

8 Atividades Culturais35

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente

proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias

soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees

de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees

corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais

intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais

pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de

alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em

internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte

Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os

diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as

consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por

compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos

fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash

a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos

Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia

domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as

consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma

forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o

adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a

importacircncia de intervenccedilatildeo profissional

Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores

levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou

seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e

outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos

filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando

10

prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do

adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma

legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees

que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que

aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes

Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua

formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e

ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que

envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor

todos devem existir como co-responsaacuteveis

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

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Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

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8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 8: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

SUMAacuteRIO

1 Introduccedilatildeo 9

2 Ocorrecircncias e Fatores 11

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado 14

3 Causas e Implicaccedilotildees Sociais 17

4 O Estatuto e a Aplicabilidade 24

5 Conclusatildeo 27

6 Anexos 29

Anexo 1 29

Anexo 2 30

Anexo 3 31

Anexo 4 33

7 Bibliografia 34

8 Atividades Culturais35

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente

proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias

soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees

de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees

corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais

intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais

pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de

alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em

internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte

Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os

diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as

consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por

compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos

fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash

a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos

Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia

domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as

consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma

forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o

adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a

importacircncia de intervenccedilatildeo profissional

Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores

levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou

seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e

outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos

filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando

10

prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do

adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma

legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees

que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que

aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes

Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua

formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e

ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que

envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor

todos devem existir como co-responsaacuteveis

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 9: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

9

1 INTRODUCcedilAtildeO

Os casos de maus-tratos relacionados a crianccedilas e adolescentes satildeo geralmente

proferidos pelos proacuteprios pais ou responsaacuteveis presentes em todas as categorias

soacutecio-econocircmicas natildeo respeitando credo raccedila ou cor Contudo como situaccedilotildees

de violecircncia imposta agrave crianccedila ou adolescente podemos destacar agressotildees

corporais abandonos intencionais temporaacuterios ou permanentes abusos sexuais

intoxicaccedilotildees raptos que muitas vezes se associa agrave briga dos direitos dos pais

pela guarda dos filhos dentre outros E ainda devemos pensar que a privaccedilatildeo de

alimentos pode redundar em desnutriccedilatildeo e a privaccedilatildeo de medicamentos em

internaccedilotildees e ateacute mesmo agrave morte

Portanto atraveacutes do presente objeto de pesquisa pretendemos explicitar os

diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o adolescente e as

consequumlecircncias dessas agressotildees na vida das crianccedilas Optamos poreacutem por

compreender o quecirc leva pais a cometer atitudes violentas contra seus filhos

fatores emocionais sociais econocircmicos etc Iremos entatildeo analisar o fato em si ndash

a violecircncia contra a crianccedila ndash e as possiacuteveis causas e seus desdobramentos

Como objetivos de estudo temos o empenho por identificar os tipos de violecircncia

domeacutestica no universo infantil compreendo suas provaacuteveis causas e as

consequumlecircncias no comportamento da crianccedila e do adolescente E da mesma

forma apresentar os diferentes tipos de violecircncia domeacutestica contra a crianccedila e o

adolescente compreender o quecirc leva os pais a atos agressivos identificar a

importacircncia de intervenccedilatildeo profissional

Surge-nos como ponto de referecircncia assim a seguinte questatildeo Que fatores

levam os pais responsaacuteveis a cometer violecircncia domeacutestica contra os filhos Ou

seja importa-nos saber de que forma fatores sociais econocircmicos psicoloacutegicos e

outros dos pais responsaacuteveis influenciam nas atitudes violentas em relaccedilatildeo aos

filhos E mais de que maneira eacute possiacutevel auxiliar essa famiacutelia visando

10

prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do

adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma

legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees

que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que

aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes

Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua

formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e

ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que

envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor

todos devem existir como co-responsaacuteveis

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 10: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

10

prioritariamente o bem-estar e a integridade fiacutesica e psicoloacutegica da crianccedila e do

adolescente

O Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute considerado no entanto como uma

legislaccedilatildeo que aponta para uma nova forma de gestatildeo puacuteblica e isso nas accedilotildees

que busquem atender a crianccedilas e adolescentes Eacute de fato uma legislaccedilatildeo que

aponta para um novo modelo de Estado em todas as suas instacircncias e poderes

Segundo os paracircmetros do Estatuto agrave famiacutelia cabe lugar central em toda a sua

formulaccedilatildeo Os princiacutepios da absoluta prioridade e da proteccedilatildeo integral a crianccedila e

ao adolescente devem ser efetivados a partir da interligaccedilatildeo das accedilotildees que

envolvam famiacutelias comunidade sociedade em geral e poder puacuteblico Ou melhor

todos devem existir como co-responsaacuteveis

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

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poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

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Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

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OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 11: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

11

2 OCORREcircNCIAS E FATORES

Antes de abrirmos uma discussatildeo sobre os fatores externos que podem surgir

como motivadores dos atos de violecircncia domeacutestica devemos ressaltar que natildeo

concordamos com a ideacuteia de serem eles uma justificativa viaacutevel para tal

ocorrecircncia Eles seratildeo expostos com o objetivo de mostrar como a sociedade

aparece como co-participante e adquire responsabilidades diante de cada

motivaccedilatildeo individual isto eacute tanto nas causas quanto na omissatildeo das

consequumlecircncias aos diversos acircmbitos sociais devemos retribuir valor consideraacutevel

de conduta

A conduta humana como sabemos eacute desencadeada por fatores que satildeo internos

e externos ao indiviacuteduo Sendo assim montam-se pela personalidade de cada um

de noacutes accedilotildees capazes de servir ao mesmo tempo como imagem e reflexo de um

meio extra-subjetivo Em tempos atuais eacute bem verdade que as exigecircncias satildeo

muito grandes para quem busca inserir-se num contexto de prioridades

econocircmicas culturais e profissionais A versatilidade no tempo a inconstacircncia das

relaccedilotildees de trabalho e a natildeo adequaccedilatildeo agraves regras impostas pelo sistema de

consumo geram conflitos internos que satildeo muitas vezes causadores de uma

espeacutecie de adoecimento do ldquoespiacuteritordquo Alguns se adaptam com maior facilidade o

que natildeo significa que sejam abstecircmios de tais conflitos enquanto outros se

matem a margem desse contexto ou por natildeo conseguirem se render aos dogmas

sociais ou ainda por natildeo terem a chance de ao menos experimentaacute-lo

Nos mais variados niacuteveis da sociedade os problemas apresentam-se de forma

muito semelhante natildeo podemos acreditar assim que a condiccedilatildeo financeira serve

como paracircmetro determinante em casos de violecircncia domeacutestica Talvez as

diferenccedilas possam ateacute existir mediante a forma e os meios da qual tal ato se

apresente mas a violecircncia contra crianccedilas e adolescentes surge sempre aos

nossos olhos como um gesto unilateral do indiviacuteduo aos olhos da sociedade E

segundo afirma o autor SANTOS Heacutelio

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 12: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

12

As situaccedilotildees de risco psiacutequicas podem estar relacionadas aos pais ou responsaacuteveis com alteraccedilatildeo de comportamento devido ao desemprego ao trabalho excessivo ao uso de bebidas ou drogas agraves situaccedilotildees de ldquostressrdquo agrave separaccedilatildeo agrave morte de um dos cocircnjuges ou agraves brigas familiares SANTOS Heacutelio de O (1987 p21)

Em verdade trataremos desse assunto na segunda parte desta monografia

entretanto jaacute se torna imprescindiacutevel para noacutes mostrarmos uma posiccedilatildeo

contundente a respeito das responsabilidades que satildeo em suas devidas

proporccedilotildees direcionadas tanto ao individuo quanto a sociedade como um todo

A violecircncia domeacutestica traz sempre uma sensaccedilatildeo de revolta e de afliccedilatildeo aos que

dela tomam conhecimento no fundo ocorre em noacutes certa cegueira nos

escandalizamos de tal modo que nos foge a percepccedilatildeo de um entorno aos fatos

E o lamentaacutevel disso tudo eacute que apoacutes essa explosatildeo que toma conta de noacutes

esquecemos o ocorrido natildeo reagimos e nos distanciamos ao pensarmos que isso

ocorreu com terceiros e que conosco tudo estaacute em ordem Mas seraacute que estaacute

mesmo Se pararmos pra refletir sobre cada caso de agressatildeo sobre cada ato de

violecircncia a qual tomamos ciecircncia notaremos o quanto estamos inseridos em

conformismo e abnegaccedilatildeo disso tudo

Natildeo nos espantamos nem mais ao assistirmos filmes de sequumlestro tortura

terrorismo e psicoses acredite e nem quem matou ou deixou de matar nos

interessa visto que isso jaacute se sabe desde o iniacutecio do filme Somos ldquovoyeurrdquo na

descoberta dos meios das buscas pelo culpado e ainda quanto mais baacuterbaro o

gesto de violecircncia melhor o filme Contudo cada filme como esses assim como

ocorre em casos do real cai no esquecimento

E acredita-se que qualquer forma de violecircncia contra a crianccedila e o adolescente eacute

algo injustificaacutevel como injustificaacutevel eacute tambeacutem nossa omissatildeo relembraremos

neste capiacutetulo algumas ocorrecircncias de agressatildeo buscando jamais compreendecirc-

las e sim inserir-nos como co-autores Natildeo faremos alarde com detalhes mas

tentaremos dar ao assunto a seriedade a qual ele merece

Todavia como ponto inicial desta pesquisa devemos entender o que podemos

chamar de ldquoviolecircncia domeacutesticardquo e ainda qual o conceito que pesquisadores do

assunto suscitaram para os atos de agressatildeo contra crianccedilas e adolescentes E

neste contexto o especialista GUERRA daacute como definiccedilatildeo

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 13: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

13

Todo ato ou omissatildeo praticado por pais parentes ou responsaacuteveis contra crianccedilas eou adolescentes que ndash sendo capaz de causar dano fiacutesico sexual eou psicoloacutegico agrave viacutetima ndashimplica de um lado uma transgressatildeo do poderdever de proteccedilatildeo do adulto e de outro uma coisificaccedilatildeo da infacircncia isto eacute uma negaccedilatildeo do direito que crianccedilas e adolescentes tecircm de serem tratados como sujeitos e pessoas em condiccedilatildeo peculiar de desenvolvimento GUERRA (2001 p23)

A violecircncia que se exprime na ordem social deve ser enfrentada na sua origem

com isso a construccedilatildeo de uma sociedade livre justa e generosa comeccedila na

famiacutelia responsaacutevel em primeira instacircncia pela formaccedilatildeo de pessoas iacutentegras na

sua personalidade e caraacuteter A responsabilidade do Estado reside na garantia das

condiccedilotildees para que a famiacutelia possa cumprir seu papel conforme preconiza a

Constituiccedilatildeo Federal em seu Art 229 sect 8ordm O Estado asseguraraacute a assistecircncia agrave

famiacutelia na pessoa de cada um que a integra criando mecanismos para coibir a

violecircncia no acircmbito de suas relaccedilotildees e Art 227 Eacute dever da famiacutelia da sociedade

e do Estado assegurar agrave crianccedila e ao adolescente com absoluta prioridade o

direito agrave vida agrave sauacutede agrave alimentaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo ao lazer agrave profissionalizaccedilatildeo

cultura dignidade respeito liberdade e convivecircncia familiar e comunitaacuteria aleacutem

de colocaacute-los a salvo de toda forma de negligecircncia discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo

violecircncia crueldade e opressatildeo

A restauraccedilatildeo da ordem social pela eliminaccedilatildeo da violecircncia comeccedila portanto na

prevenccedilatildeo da violecircncia intrafamiliar garantindo-se a crianccedilas e adolescentes o

desenvolvimento fiacutesico mental moral espiritual e social em condiccedilotildees de

liberdade e dignidade (Estatuto da Crianccedila do Adolescente art 3ordm) Constitui esse

o caminho realmente eficaz para a construccedilatildeo de uma sociedade sem violecircncia

formar cidadatildeos capazes de conviver em sociedade de forma plena e saudaacutevel

A legislaccedilatildeo garantidora dos direitos supracitados eacute bastante recente na

sociedade brasileira Antes do advento da Constituiccedilatildeo de 1988 e do Estatuto da

Crianccedila do Adolescente (ECA) as relaccedilotildees familiares eram reguladas pelo Coacutedigo

Civil de 1917 e crianccedilas e adolescentes situavam-se no sistema juriacutedico como

meros apecircndices de seus genitores Crianccedilas e adolescentes considerados em

situaccedilatildeo irregular (oacuterfatildeos carentes ou infratores) eram responsabilidade exclusiva

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

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Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

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8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 14: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

14

do Estado que os confinava literalmente nos antigos orfanatos excluindo-os do

conviacutevio social como forma de evitar que sua situaccedilatildeo irregular os levasse

necessariamente a delinquumlir

21 Responsabilidade da famiacutelia da sociedade e do Estado Assegurar Salvaguarda de Garantir o direito a toda forma de desenvolvimento

bull Vida Negligecircncia Fiacutesico bull Sauacutede Discriminaccedilatildeo Mental bull Educaccedilatildeo Exploraccedilatildeo Moral bull Lazer Violecircncia Espiritual bull Profissionalizaccedilatildeo Crueldade Social bull Cultura Opressatildeo bull Dignidade bull Respeito bull Liberdade bull Convivecircncia Familiar A famiacutelia eacute a comunidade em que desde a infacircncia se pode aprender os valores

morais e a fazer bom uso da liberdade A vida da famiacutelia eacute a iniciaccedilatildeo na vida em

sociedade Sendo assim desta interaccedilatildeo deve resultar um equiliacutebrio que confira a

estabilidade da famiacutelia a realizaccedilatildeo pessoal de todos os seus membros e a

abertura agraves outras famiacutelias e agrave sociedade em geral

A famiacutelia representa e manifesta valores eacuteticos e culturais de solidariedade

educaccedilatildeo e convivecircncia essenciais para a humanidade e as suas

responsabilidades implicam como um contributivo progresso e bem estar de todos

os povos Jaacute o meio familiar constitui o lugar privilegiado de aprendizagem e

fomento das relaccedilotildees de cooperaccedilatildeo entre os homens de diferentes sociedades e

culturas para criar uma consciecircncia nacional e internacional de respeito pelos

direitos humanos de promoccedilatildeo de paz e de justiccedila e de erradicaccedilatildeo da fome da

discriminaccedilatildeo e de todas as formas de escravatura e de exploraccedilatildeo

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 15: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

15

A Sociedade e o Estado devem assumir para com a famiacutelia uma atitude de

respeito pelos direitos familiares da pessoa humana e pelos direitos sociais da

famiacutelia o que implica o reconhecimento das funccedilotildees especiacuteficas da famiacutelia e dos

seus direitos fundamentais agrave liberdade e autopromoccedilatildeo decorrentes do seu

caraacuteter de unidade natural e fundamental da sociedade

Se analisarmos as estatiacutesticas de Seguranccedila Puacuteblica temos com maior frequumlecircncia

os eventos natildeo fatais terminologia utilizada pela instituiccedilatildeo Pesquisa realizada no

Centro Latino-Americano de Estudos e Violecircncias e Sauacutede Jorge Careli (CLAVES)

mostra que para crianccedilas e adolescentes do Rio de Janeiro os acidentes de

tracircnsito e transporte satildeo a principal causa registrada no ano de 1990 Em

seguida temos a agressatildeo fiacutesica cometida contra crianccedilas e adolescentes os

roubos furtos e suas tentativas os desaparecimentos e os abusos sexuais

Falando das estatiacutesticas de violecircncia a partir do setor educaccedilatildeo poderiacuteamos nos

restringir a dados mais tradicionais como a distorccedilatildeo seacuterie-idade e a evasatildeo

escolar reflexo de toda a violecircncia estrutural que se expressa no fracasso escolar

das classes populares Entretanto novos indicadores de agressatildeo fiacutesica ou sexual

no espaccedilo escolar ou mesmo de ldquobullyingrdquo (termo recentemente utilizado na

literatura inglesa referindo-se agraves ameaccedilas e coaccedilotildees entre jovens no espaccedilo

escolar) comeccedilam a surgir na medida em que a violecircncia tem invadido o meio

escolar

No entanto gostariacuteamos de trazer neste momento uma pesquisa feita em

19911992 pelo Ministeacuterio da Justiccedila em parceria com o Centro de Referecircncias

Estudos e Accedilotildees sobre Crianccedila e Adolescente (CECRIA) para ilustrar um pouco

das dificuldades operacionais enfrentadas ao se tratar o tema da violecircncia contra

crianccedilas e adolescentes Foi uma pesquisa sobre abuso fiacutesico intra-familiar de

adolescentes em CaxiasRJ Foi feita uma amostragem em escolas puacuteblicas e

usado os criteacuterios de abuso fiacutesico de Straus utilizado em pesquisa nacional norte-

americana Trata-se de uma pesquisa de auto- preenchimento em que utilizamos

os criteacuterios de agressatildeo verbal violecircncia (qualquer ato de agressatildeo fiacutesica desde

colocar objetos sobre o adolescente ateacute ameaccedilar ou esmurrar o adolescente) e

violecircncia severa (esmurrar ameaccedilar com armas ou facas ou realmente utilizaacute-las

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 16: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

16

contra o adolescente) A partir desses criteacuterios foram entrevistados cerca de 2000

alunos

Com isso percebemos que a precaacuteria investigaccedilatildeo policial foi constatada na

maioria dos casos Constatamos ser muito raro o relato de violecircncia domeacutestica

nestes registros Em relaccedilatildeo aos eventos fatais temos os homiciacutedios e a remoccedilatildeo

de cadaacuteveres como os fatos mais frequumlentes no Rio especialmente entre os

adolescentes do Rio de Janeiro

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

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KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

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MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

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Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 17: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

17

3 CAUSAS E IMPLICACcedilOtildeES SOCIAIS

De forma geral podemos identificar algumas manifestaccedilotildees principais de violecircncia

em nosso tempo espaccedilo e relaccedilotildees sociais satildeo elas a violecircncia estrutural

violecircncia criminal violecircncia de criacutetica agrave ordem vigente (de resistecircncia ou

revolucionaacuteria) e violecircncia terrorista A violecircncia estrutural normalmente eacute

pensada quanto ao monopoacutelio legal do uso da forccedila pelo Estado (no sentido de

sociedade poliacutetica) de acordo com a sociologia de Max Weber (1864-1920) Se

outro agrupamento se utilizar do uso da forccedila o faraacute sem o respaldo legal

embora com o crescimento da presenccedila e da importacircncia de facccedilotildees do crime

organizado ou de ldquomiliacuteciasrdquo em certos centros urbanos jaacute se possa dizer que

alguns agrupamentos gozam de legitimidade junto a parcelas da populaccedilatildeo

mesmo sem usufruiacuterem da legalidade Natildeo nos ocuparemos dos dois uacuteltimos tipos

de violecircncia bastando indicaacute-los

Embora a violecircncia estrutural vaacute muito aleacutem dessa sua dimensatildeo institucional

expressa no aparelho repressivo estatal ela diz respeito a aspectos como a

concentraccedilatildeo de renda e riqueza a falta de acesso a direitos poliacuteticos e sociais

(como bens e serviccedilos) para amplos segmentos da sociedade brasileira ao

desemprego estrutural massivo e crocircnico - que penaliza no Brasil mais de 10

da PEA (Populaccedilatildeo Economicamente Ativa) - agrave distacircncia que existe entre a

Justiccedila e mais uma vez as mesmas classes ou fraccedilotildees de classe subalternas

empobrecidas e viacutetimas de uma estrutura brutalmente desigual

A desigualdade social eacute um ponto essencial e constitutivo da violecircncia estrutural

nossa sociedade eacute uma ldquousinardquo produtora de muacuteltiplas formas de desigualdades

que estatildeo na base de diversos fenocircmenos sociais inclusive da violecircncia criminal

A violecircncia estrutural abrange portanto aquelas modalidades de violecircncia soacutecio-

econocircmica de gecircnero de ldquoraccedilardquo ou eacutetnica subterracircneas estruturadas por e

estruturantes das relaccedilotildees sociais cotidianas percebidas e vivenciadas em funccedilatildeo

da classe social a que se pertence

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

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Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

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OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 18: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

18

A violecircncia criminal eacute aquela que envolve acidentes traumas e prejuiacutezos contra a

pessoa e o patrimocircnio por dolo ou culpa Ela eacute em geral a que eacute procurada pela

miacutedia pois se articula com disputa por audiecircncia por vezes obtida atraveacutes de

programas sensacionalistas Sob o argumento de que ldquoeacute preciso informar a

opiniatildeo puacuteblicardquo fatos ou aspectos satildeo preteridos em detrimento de outros

Como sabemos Criminalidade e a violecircncia satildeo duas expressotildees que

metaforicamente sempre caminharam juntas Nos primoacuterdios da humanidade

conforme o relato biacuteblico encontra-se o ato praticado por Caim contra Abel que

foi o primeiro ato de violecircncia perpetrado por um ser humano contra outro na

histoacuteria da humanidade A morte de Abel naquele periacuteodo natildeo implicava em um

crime na acepccedilatildeo juriacutedica da palavra mas em uma violaccedilatildeo agrave lei divina poreacutem

evidentemente representava um ato de violecircncia de um ser humano contra outro

Em todo caso o ponto comum estaacute em que ambos violecircncia criminalidade satildeo

fenocircmenos que se desenvolvem e disseminam nas relaccedilotildees sociais e

interpessoais implicando sempre em relaccedilotildees de poder

A partir disso no entanto pode-se extrair o ponto de partida para esta exposiccedilatildeo

observando-se que nem todo ato de violecircncia consiste necessariamente em um

crime poreacutem todo crime consiste em um ato de violecircncia quer seja por atentar por

exemplo contra a vida a integridade fiacutesica a honra ou o patrimocircnio de outrem

como tambeacutem por manifestar um perigo de lesatildeo agrave um bem ou interesse de

outrem Esta afirmaccedilatildeo talvez pareccedila prima facie adequar-se ao entendimento

traccedilado pela perspectiva criminoloacutegica de que o crime eacute uma mera definiccedilatildeo legal

pois descrito na lei (a qual comporta todos os elementos necessaacuterios para a

caracterizaccedilatildeo de determinado fato como tal) De acordo com isso um fato

puniacutevel como por exemplo um roubo surge natildeo de fatores como a pobreza

prejuiacutezo na formaccedilatildeo ou doenccedila mas sim do fato de que aqueles que tomam

parte das instacircncias formais primaacuterias de controle social elaboram programas

normativos que caracterizam como tal a accedilatildeo de subtrair mediante o emprego de

violecircncia ou grave ameaccedila direta agrave pessoa da viacutetima

Evidentemente tal concepccedilatildeo natildeo estaacute livre de objeccedilotildees posto que enquanto

mecanismo social estigmatizante pode conduzir agrave caracterizaccedilatildeo do desviante (a

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 19: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

19

pessoa a quem o etiquetamento foi aplicado com ecircxito) a partir de concepccedilotildees

preconceituosas ou entatildeo como objeto de manobra poliacutetica

Naturalmente a primeira indagaccedilatildeo que surge eacute o que se deve entender por

violecircncia contra a crianccedila e o adolescente Sob o ponto de vista meacutedico a

violecircncia contra o menor eacute caracterizada fundamentalmente pelos maus-tratos os

quais satildeo definidos pelo KUHLEN (2004)

Dano fiacutesico eou psiacutequico violento natildeo-casual (consciente ou inconsciente) que ocorre no acircmbito familiar ou institucional (por exemplo na preacute-escola na escola em albergues) e que leva agrave lesotildees retardo do desenvolvimento ou ateacute mesmo agrave morte e que prejudica ou ameaccedila o bem-estar e os direitos de um menorrdquo KUHLEN (2004 paacuteg 88)

Todavia esta definiccedilatildeo natildeo estaacute de acordo com a definiccedilatildeo juriacutedica poreacutem nela

estaacute claro que a violecircncia contra o menor admite as seguintes formas a violecircncia

fiacutesica a violecircncia psiacutequica a negligecircncia e a violecircncia sexual

Apesar de haver um grande movimento da sociedade para diminuiccedilatildeo dessa

violecircncia ainda se verifica muitos crimes praticados contra os direitos dos infantes

e dos jovens E neste sentido a Constituiccedilatildeo Federal foi de fato um enorme

avanccedilo e trouxe em seu bojo uma nova perspectiva de tratamentos preceituando

responsabilidade simultacircnea da famiacutelia da sociedade e do Estado para favorecer

o progresso da proteccedilatildeo dos direitos das crianccedilas e dos adolescentes

Aleacutem da Constituiccedilatildeo Federal o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente tambeacutem

visa agrave preservaccedilatildeo dos direitos fundamentais inerentes agrave pessoa humana sem

prejuiacutezo da proteccedilatildeo integral conforme preceitua o artigo 3ordm da presente Lei

Enfim satildeo inuacutemeras as leis que tecircm por objetivos resguardar direitos da infacircncia e

da juventude No entanto eacute preciso que se faccedilam cumprir essas leis pois natildeo haacute

como se olvidar que eacute de fundamental importacircncia que a crianccedila possa brincar

livre de opressotildees ou violecircncias bem como tenha uma adolescecircncia segura e

tranquumlila com seu direito agrave educaccedilatildeo preservado

Eacute possiacutevel verificar que com o decorrer dos anos a afirmaccedilatildeo dos direitos

fundamentais do homem trouxe a elevaccedilatildeo da crianccedila e do adolescente agrave

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

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7 BIBLIOGRAFIA

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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 20: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

20

condiccedilatildeo de sujeitos de direito Acerca do assunto interessante acompanhar a

evoluccedilatildeo deste feito

Em 1927 apoacutes intensos debates nos meios poliacuteticos juriacutedicos legislativos e

assistenciais foi editado o Coacutedigo de Menores (Decreto nordm 17943-A de 12 de

outubro de 1927) tambeacutem conhecido como Coacutedigo Mello Mattos Contendo 231

artigos Foi a primeira legislaccedilatildeo especiacutefica voltada para tutelar os menores que

eram submetidos a longas jornadas de trabalho e marcados pela criminalidade

Nessa eacutepoca se construiu a categoria do menor ou seja era determinado grupo

de crianccedilas e adolescentes pobres e potencialmente perigosos O Coacutedigo de

Menores submetia qualquer crianccedila por sua condiccedilatildeo de pobreza agrave accedilatildeo da

Justiccedila e da Assistecircncia (SOARES J B 2007

httpwwwmprsgovbrinfanciadoutrinaid214htm 020808)

No iniacutecio da deacutecada de 40 a poliacutetica de Estado estava voltada a duas categorias

separadas e especiacuteficas ao menor e agrave crianccedila Ressalta-se que o tratamento

juriacutedico dado aos menores era parecido com aquele a que eram submetidos os

portadores de doenccedilas psiacutequicas e consistia na privaccedilatildeo de liberdade por tempo

indeterminado

No entanto para se chegar agraves raiacutezes do problema da violecircncia domeacutestica eacute

necessaacuterio modificar esse mito de famiacutelia enquanto instituiccedilatildeo intocaacutevel para que

os atos violentos ocorridos no contexto familiar natildeo permaneccedilam no silecircncio mas

sejam denunciados a autoridades competentes a fim de que se possam tomar

providecircncias

Eacute na relaccedilatildeo em famiacutelia que ocorrem os fatos mais expressivos da vida das

pessoas tais como a descoberta do afeto da subjetividade da sexualidade a

experiecircncia da vida a formaccedilatildeo de identidade social A ideacuteia de famiacutelia refere-se a

algo que cada um de noacutes experimente repleta de significados afetivos de

representaccedilotildees opiniotildees juiacutezos esperanccedilas e frustraccedilotildees

Assim falar de famiacutelia eacute falar de algo que todos jaacute experimentaram Eacute o espaccedilo

iacutentimo onde seus integrantes procuram refuacutegio sempre que se sentem

ameaccedilados No entanto eacute no nuacutecleo familiar que tambeacutem acontecem situaccedilotildees

que modificam para sempre a vida de um indiviacuteduo deixando marcas irreparaacuteveis

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

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Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

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4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 21: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

21

em sua existecircncia uma dessas situaccedilotildees eacute a violecircncia domeacutestica contra a crianccedila

e o adolescente

A crianccedila e o adolescente satildeo pessoas que estatildeo em fase de desenvolvimento e

para que isso aconteccedila de uma forma equilibrada eacute preciso que o ambiente

familiar propicie condiccedilotildees saudaacuteveis de desenvolvimento o que inclui estiacutemulos

positivos equiliacutebrio boa relaccedilatildeo familiar viacutenculo afetivo diaacutelogo entre outros

Partindo desse pressuposto pode-se afirmar que um ambiente familiar hostil e

desequilibrado pode afetar seriamente natildeo soacute a aprendizagem como tambeacutem o

desenvolvimento fiacutesico mental e emocional de seus membros pois o aspecto

cognitivo e o aspecto afetivo estatildeo interligados assim um problema emocional

decorrente de uma situaccedilatildeo familiar desestruturada reflete diretamente na

aprendizagem

Para se compreender melhor esse aspecto torna-se necessaacuterio discutir e analisar

o impacto da violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e adolescentes na aprendizagem

e em outros aspectos da vida uma vez que eacute uma das situaccedilotildees mais

degradantes e opressivas pois afeta profundamente a vida do indiviacuteduo e a

dinacircmica familiar

Com base em Guerra de AZEVEDO (2001 p31-33) estudiosas do assunto

consideram-se aqui quatro tipos de violecircncia

bull Violecircncia fiacutesica - corresponde ao emprego de forccedila fiacutesica no processo

disciplinador de uma crianccedila eacute toda a accedilatildeo que causa dor fiacutesica desde um

simples tapa ateacute o espancamento fatal Geralmente os principais

agressores satildeo os proacuteprios pais ou responsaacuteveis que utilizam essa

estrateacutegia como forma de domiacutenio sobre os filhos

bull Violecircncia Sexual - eacute todo o ato ou jogo sexual entre um ou mais adulto e

uma crianccedila e adolescente tendo por finalidade estimular sexualmente esta

crianccedilaadolescente ou utilizaacute-lo para obter satisfaccedilatildeo sexual Eacute importante

considerar que no caso de violecircncia a crianccedila e o adolescente satildeo sempre

viacutetimas e jamais culpados e que essa eacute uma das violecircncias mais graves

pela forma como afeta o fiacutesico e o emocional da viacutetima

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

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5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 22: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

22

bull Violecircncia Psicoloacutegica - eacute toda interferecircncia negativa do adulto sobre as

crianccedilas formando nas mesmas um comportamento destrutivo Existem

matildees que sob o pretexto da disciplina ou da boa educaccedilatildeo sentem prazer

em submeter os filhos a vexames sua tarefa mais urgente eacute interromper a

alegria de uma crianccedila atraveacutes de gritos queixas comparaccedilotildees palavrotildees

chantagem entre outros o que pode prejudicar a autoconfianccedila e auto-

estima

bull Negligecircncia - pode ser considerada tambeacutem como descuido ausecircncia de

auxilio financeiro colocando a crianccedila o adolescente em situaccedilatildeo precaacuteria

desnutriccedilatildeo baixo peso doenccedilas falta de higiene

A violecircncia eacute considerada um grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil

constituindo hoje a principal causa de morte de crianccedilas e adolescentes a partir

dos 5 anos de idade Trata-se de uma populaccedilatildeo cujos direitos baacutesicos satildeo muitas

vezes violados como o acesso agrave escola a assistecircncia agrave sauacutede e aos cuidados

necessaacuterios para o seu desenvolvimento As crianccedilas e adolescente satildeo ainda

exploradas sexualmente e usadas como matildeo-de-obra complementar para o

sustento da famiacutelia ou para atender ao lucro faacutecil de terceiros agraves vezes em regime

de escravidatildeo Haacute situaccedilotildees em que satildeo abandonados agrave proacutepria sorte fazendo da

rua seu espaccedilo de sobrevivecircncia Nesse contexto de exclusatildeo costumam ser alvo

de accedilotildees violentas que comprometem fiacutesica e mentalmente a sua sauacutede

Ainda natildeo se conhece a magnitude real desse problema devido a alguns fatores

culturais e institucionais Por um lado natildeo existe no paiacutes o estabelecimento de

normas teacutecnicas e rotinas para a orientaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede frente ao

problema da violecircncia o que contribui para a dificuldade desses profissionais de

diagnosticar registrar e notificar os casos Por outro lado colabora tambeacutem para

este desconhecimento o pacto de silecircncio nos lares espaccedilo socialmente

sacralizado e considerado isento de violecircncia mas que na verdade constitui-se

como um lugar privilegiado para a praacutetica de maus-tratos contra crianccedilas e

adolescentes

23

Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

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6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

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Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

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Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

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7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

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8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 23: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

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Na uacuteltima deacutecada tem sido dada maior ecircnfase aos aspectos comportamental e

social da sauacutede infantil com revisatildeo de praacuteticas educativas e da dinacircmica familiar

com a criaccedilatildeo de programas e poliacuteticas de proteccedilatildeo agrave crianccedila e ao adolescente

culminando com a elaboraccedilatildeo e implantaccedilatildeo do ECA (Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente)

Segundo o ECA os profissionais da sauacutede satildeo obrigados a notificar os maus-

tratos cometidos contra crianccedilas e adolescentes Para que este preceito legal seja

cumprido eacute preciso sensibilizar e conscientizar os profissionais da aacuterea para o

problema fornecer maior conhecimento sobre o tipo de atendimento a ser dado agraves

viacutetimas desses agravos disponibilizar informaccedilatildeo e capacitaccedilatildeo para o

diagnoacutestico e a intervenccedilatildeo promover medidas preventivas e aperfeiccediloar o

sistema de informaccedilatildeo sobre o perfil de morbimortalidade por violecircncia

24

4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

31

Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 24: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

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4 O ESTATUTO E A APLICABILIDADE

Como jaacute sabemos o Estatuto da Crianccedila e do Adolescente eacute um conjunto

de normas do ordenamento juriacutedico brasileiro que tem o objetivo de proteger a

integridade da crianccedila e do adolescente O ECA como eacute chamado atualmente foi

instituiacutedo pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 e representa um avanccedilo no direito

das pessoas ao explicitar os princiacutepios da proteccedilatildeo integral e da prioridade

absoluta jaacute previstos na Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que elevou a crianccedila e o

adolescente a preocupaccedilatildeo central da sociedade Aleacutem disso serve de paracircmetro

para a criaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas em todas as esferas de governo (Uniatildeo

Estados Distrito Federal e Municiacutepios) mediante a criaccedilatildeo de conselhos

paritaacuterios (igual nuacutemero de representantes do Estado e da sociedade civil

organizada) Considera-se crianccedila para os efeitos desta Lei a pessoa ateacute doze

anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de

idade Nos casos expressos em lei aplica-se excepcionalmente este Estatuto agraves

pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade

Percebemos que mesmo com a ldquomaioridaderdquo que o Estatuto completou esse ano

a aplicabilidade e o entendimento ainda eacute muito restrito talvez por isso

constatamos tantos casos de violecircncia contra essa populaccedilatildeo infanto-juvenil

principalmente no seu ambiente familiar Para alguns pesquisadores da aacuterea de

sauacutede mesmo com a falta de integraccedilatildeo e escassez de dados eacute possiacutevel inferir

que as vaacuterias modalidades de violecircncia ocorridas no ambiente familiar podem ser

responsaacuteveis por grande parte dos atos violentos que compotildeem o iacutendice de

morbimortalidade (Minayo 1994)

De acordo com o artigo 5ordm do estatuto da Crianccedila e do Adolescente ldquoNenhuma

crianccedila ou adolescente seraacute objeto de qualquer forma de negligecircncia

discriminaccedilatildeo exploraccedilatildeo violecircncia crueldade e opressatildeo punido na forma da lei

qualquer atentado por accedilatildeo ou omissatildeo aos seus direitos fundamentaisrdquo Com

base nesse artigo podemos entender que os deveres satildeo da famiacutelia e tambeacutem de

toda a sociedade e do Estado

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

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5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

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6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

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Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

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Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 25: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

25

Compreendemos que existe um pensamento no imaginaacuterio popular de que natildeo

devemos interceder em problemas que ocorrem no acircmbito familiar o que eacute um

equiacutevoco pois com o respaldo do proacuteprio Estatuto de acordo com art 70 nos diz

ldquoEacute dever de todos prevenir a ocorrecircncia de ameaccedila ou violaccedilatildeo dos direitos da

crianccedila e do adolescenterdquo neste contexto podemos afirmar que os profissionais

da Aacuterea de Sauacutede e de Educaccedilatildeo podem ser grandes aliados ao combate agrave

violecircncia domeacutestica

O Estatuto de Crianccedila e do Adolescente contem 267 artigos que tratam da

proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente Entretanto constata-se que desses

267 artigos apenas 25 (do 103 ao 128) dedicam-se aos adolescentes infratores E

no entanto observa-se que uma grande parte da sociedade tende a afirmar que o

ECA eacute a lei que protege os adolescentes ldquocriminososrdquo condutas que pelo ECA satildeo

chamados de ato infracional Acreditamos que tal posiccedilatildeo se deve muito aos

veiacuteculos de comunicaccedilatildeo que alcanccedila a grande massa da sociedade o mesmo

tende a ldquoprotegerrdquo a classe meacutedia e ldquoincriminarrdquo a classe pobre Se fizermos um

levantamento de reportagens cuja temaacutetica eacute o menor infrator dificilmente esse

ldquopersonagemrdquo eacute da classe meacutedia eacute quando eacute apresentam-se uma justificativa de

natildeo incriminaacute-lo

Recentemente o crime contra a menina Isabella Nardoni chocou o paiacutes natildeo soacute

pelo ato baacuterbaro mas pelo fato de os principais suspeitos serem o pai e a

madrasta causando comoccedilatildeo em toda a sociedade natildeo queremos aqui justificar

o ato de barbaacuterie mas devemos pontuar que a cada minuto morrem crianccedilas

viacutetimas de violecircncia domeacutestica principalmente nas classes populares por causas

agraves vezes desconhecidas e nem por conta disso a sociedade se sente tatildeo

comovida como nesse caso da famiacutelia Nardoni

Sabemos que em vaacuterias situaccedilotildees os pais-agressores natildeo satildeo punidos pois a

padronizaccedilatildeo para registrar ocorrecircncias de violecircncia familiar eacute fragmentada e

muitas das vezes natildeo haacute testemunha e acrianccedila e coagida ao silecircncio com isso

provoca um grande prejuiacutezo para as investigaccedilotildees aleacutem disso ainda haacute

deficiecircncias nos procedimentos a serem seguidos profissionais capacitados para

constatarem a ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica Infelizmente a carecircncia de

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

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Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

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7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

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8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 26: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

26

poliacuteticas puacuteblicas eficazes que viabilizem a criaccedilatildeo e principalmente a

manutenccedilatildeo de programas preventivos e de tratamento necessaacuterios para

promover o aprimoramento e evoluccedilatildeo de teacutecnicas eficazes para o enfrentamento

dessa problemaacutetica

Assim sendo podemos verificar que o grande valor do Estatuto da Crianccedila e do

Adolescente eacute a sua ampla abordagem aos direitos fundamentais das crianccedilas e

adolescente e sobretudo o conhecimento dos deveres de proteccedilatildeo que toda a

sociedade deve os pequenos indiviacuteduos Infelizmente a sociedade natildeo eacute capaz de

cobrar as mediadas efetivas para o cumprimento da Lei

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5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

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6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

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Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

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Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

35

8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 27: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

27

5 CONCLUSAtildeO

O presente trabalho procurou abordar a violecircncia domeacutestica contra crianccedilas e

adolescentes as suas ocorrecircncia e causas Aleacutem disso foi feita uma breve anaacutelise

da aplicabilidade do Estatuto da Crianccedila e do Adolescente

Percebemos que ao longo do estudo tivemos carecircncias de obtermos informaccedilotildees

dos iacutendices recentes de violecircncia domeacutestica Com isso tivemos de trabalhar com

dados da deacutecada de 90 mas devemos ressaltar que a carecircncia dessas

informaccedilotildees recentes natildeo prejudicou o nosso estudo

O papel dos meios de comunicaccedilatildeo tem sido fundamental para a divulgaccedilatildeo dos

direitos da crianccedila e do adolescente Infelizmente o foco sempre eacute o menor

infrator a crianccedila pobre Ao inveacutes deste sensacionalismo poderiam priorizar a

discussatildeo e o foco das crianccedilas vitimas dessa violecircncia Percebemos ao longo da

pesquisa que a imprensa natildeo eacute a uma fonte adequada para a coleta de dados em

relaccedilatildeo a violecircncia domeacutestica uma vez que prevalece uma oacutetica voltada na

defesa da classe meacutedia

Eacute longo o processo de transformaccedilatildeo de comportamentos da sociedade em

relaccedilatildeo agraves suas crianccedilas e satildeo muacuteltiplos os fatores que concorrem para essas

mudanccedilas Podemos constatar com o estudioso LIMA JR

ldquoAfinal natildeo basta que o Brasil desde a (re)democratizaccedilatildeo venha ratificando instrumentos internacionais de proteccedilatildeo dos direitos humanos eacute fundamental que o Paiacutes estabeleccedila medidas claras e eficazes para a superaccedilatildeo dos problemas relacionados aos direitos humanosrdquo (LIMA JR 2002 p8)

Neste sentido acreditamos que uma eficaz fiscalizaccedilatildeo do cumprimento do ECA

associada a medidas de prevenccedilatildeo junto agrave sociedade seratildeo bastante eficaz ao

combate agrave violecircncia domeacutestica

Assim sendo podemos afirmar que os profissionais de Psicologia atuariam no

reconhecimento dos diagnoacutesticos e prognoacutesticos e atuariam diretamente na

famiacutelia em que haacute ocorrecircncia de violecircncia domeacutestica atraveacutes de entrevistas com

os pais eou responsaacuteveis e mostrariam a necessidade de respeitar os filhos de

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

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Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

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7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

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8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 28: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

28

educaacute-los sem violecircncia de natildeo humilhaacute-los e discriminar de se preocupar com o

seu bem-estar natildeo soacute fiacutesico mas emocional de lhes proporcionar carinho e afeto

E que a intervenccedilatildeo junto dessas famiacutelias poderaacute trazer resultados satisfatoacuterios

desde que a violecircncia possa ser compreendida em seus vaacuterios aspectos e que

apesar dos avanccedilos legais estes natildeo tecircm sido suficiente para garantir os direitos

dessa populaccedilatildeo Tentativas de mudar este quadro se mostram tiacutemidas

beneficiando mais a classe meacutedia do que os pobres

Natildeo se deve perder a perspectiva da escassez de informaccedilotildees existentes sobre a

violecircncia familiar Que o panorama oferecido neste estudo natildeo crie a ilusatildeo de

algo sem soluccedilatildeo muito do que foi exposto ainda demanda aprofundamento

29

6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

30

Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

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Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

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7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

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8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 29: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

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6 ANEXOS Anexo 1

fonte ICentro Regional de Atenccedilatildeo aos Maus Tratos na Infacircncia CRAMI Av Brigadeiro Faria Lima 5511 Vila Universitaacuteria 15090-000 Satildeo Joseacute do Rio Preto SP IIDepartamento de Epidemiologia e Sauacutede Coletiva da Faculdade Medicina SJRP

A tabela 1 ilustra a variaccedilatildeo das modalidades de violecircncia cometidas pelo pai e

pela matildee Observamos que a negligecircncia quando natildeo associada a outras

modalidades de violecircncia prevalece quando a matildee eacute agressora A violecircncia

sexual associada ou natildeo a outras modalidades soacute aparece quando o pai eacute

agressor

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Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

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Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

33

Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

34

7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

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8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 30: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

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Anexo 2

Fonte Ciecircncia e Cultura ISSN 0009-6725 versatildeo impressa Cienc Cult v59 n2 Satildeo Paulo abrjun 2007

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Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

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7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

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Page 31: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

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Anexo 3

Artigo sobre os 18 anos do Eca

Estatuto da crianccedila e do adolescente 18 anos

Vicente de Paula Faleiros 1

Quando se fala de uma lei no Brasil eacute comum embora paradoxal a pergunta essa lei pegou Depois de 18 anos podemos afirmar que o ECA promulgado em 1990 eacute uma lei que pegou Em primeiro lugar porque foi resultado de forte mobilizaccedilatildeo da sociedade jaacute presente na luta pela inserccedilatildeo do artigo 227 na Constituiccedilatildeo de 1988 Em segundo lugar o ECA se fundamenta na doutrina da proteccedilatildeo integral da crianccedila e do adolescente considerados cidadatildeos e cidadatildes e natildeo meros objetos de obediecircncia ao poder adultocecircntrico O ECA entretanto natildeo atribui o poder aos menores de idade como muitos vieram a pensar inclusive afirmando que natildeo mais haveria obrigaccedilatildeo para as crianccedilas mas somente direitos Direitos e deveres satildeo face e contra face do ECA Antes dele a visatildeo dominante era de as crianccedilas fossem consideradas devedoras e natildeo credoras de obrigaccedilatildeo O artigo 227 base do ECA define que a crianccedila e o adolescente satildeo sujeitos de direitos credores de direitos especiais como pessoas em desenvolvimento e prioridade absoluta das poliacuteticas puacuteblicas Satildeo credoras de direito do Estado da famiacutelia e da sociedade O ECA inverteu o paradigma entatildeo dominante da crianccedila como saco de pancada objeto de correccedilatildeo necessitando tornar-se adulta para ter direito Uma avaliaccedilatildeo desses 18 anos mostra que o eixo da proteccedilatildeo integral se desdobrou em sistema de proteccedilatildeo previsto no ECA e em uma seacuterie de leis e medidas em favor da crianccedila O sistema estaacute constituiacutedo por conselhos de direitos e conselhos tutelares varas delegacias e promotorias da infacircncia aleacutem de oacutergatildeos do Executivo na quase totalidade dos municiacutepios Dentre as medidas tomadas em niacutevel federal podemos destacar o Plano Nacional de Enfrentamento da Violecircncia o Plano Nacional de Medidas Soacutecio-educativas o Plano Nacional de Convivecircncia Familiar e Comunitaacuteria as medidas relativas ao abrigamento As Sete Conferecircncias Nacionais dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente mobilizaram estados e municiacutepios No acircmbito do Legislativo destacam-se as CPIs da Exploraccedilatildeo Sexual e da Pedofilia aleacutem de muitos projetos de lei inclusive aprovados em favor dos direitos da crianccedila como os referentes ao combate ao espancamento e agrave exploraccedilatildeo sexual em favor da guarda compartilhada da adoccedilatildeo Haacute no entanto projetos que visam reduzir direitos como os que pretendem diminuir a idade penal para punir com a prisatildeo em penitenciaacuteria os adolescentes infratores O ECA natildeo somente pune o comportamento do infrator com medidas de restriccedilatildeo da liberdade como estabelece medidas educativas para saiacuteda da trajetoacuteria do crime O ECA daacute prioridade agraves poliacuteticas universais como a educaccedilatildeo a sauacutede a assistecircncia social o esporte a cultura e o lazer para todos e garantia de

32

trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

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7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

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trabalho e renda para os adultos Crianccedila natildeo eacute responsaacutevel por manter o adulto ou a famiacutelia daiacute a importacircncia do combate ao trabalho de meninos e meninas O Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil que envolve Estado e sociedade contribui para isso Apesar dos avanccedilos aqui assinalados ainda faltam garantias orccedilamentaacuterias permanentes qualidade na educaccedilatildeo preacute-escola acesso e qualidade na sauacutede infra-estrutura para os conselhos de direitos e tutelares projetos eficazes e pessoal capacitado nas unidades de internaccedilatildeo de infratores prevenccedilatildeo da violecircncia Junto a isso falta a articulaccedilatildeo de redes territoriais de proteccedilatildeo para efetivar as poliacuteticas preconizadas pelo ECA As eleiccedilotildees municipais satildeo uma oportunidade para aprofundamento dos direitos das crianccedilas e adolescentes pois uma sociedade uma famiacutelia e um Estado que se querem civilizados que querem viver num pacto de vida precisam garantir os direitos do futuro (crianccedilas) no presente

1 Assistente social doutor em sociologia pesquisador da UnB professor da UCB coordenador do Cecria

httpwwwcecriaorgbrbancoartigo-18-anos-do-ecahtm

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

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7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

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Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

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Anexo 4

ARQUIVO

Eles sacrificavam suas crianccedilas Sexta-feira 11 de Julho de 2008

O menino Joatildeo Roberto de 3 anos foi assassinado pela poliacutecia do Rio Metralharam por engano o carro em que estava com a matildee e um irmatildeo O pai desesperado aparece nos jornais gritando Que poliacutecia eacute essa Haacute dias um rapaz foi assassinado por um policial em frente a uma boate em Ipanema Ainda temos na memoacuteria a imagem do menino Joatildeo Heacutelio sendo arrastado por bandidos que roubaram o carro da famiacutelia No morro da Providecircncia matildees choram a morte de filhos entregues aos traficantes por soldados do Exeacutercito

Depois de Isabella Nardoni em Satildeo Paulo - cujos pai e madrasta satildeo os principais suspeitos de seu assassinato - e de outra menina em Curitiba lanccedilada agrave morte pela proacutepria matildee mais uma crianccedila foi arremessada da janela de casa em Florianoacutepolis Volta e meia leio estarrecido que uma crianccedila foi espancada ateacute a morte por um pai matildee ou padrasto desajustado Existem casos frequumlentes de crianccedilas esquecidas dentro de carros por parentes

Crianccedilas abandonadas pelas ruas jaacute fazem parte da paisagem como aacutervores secas e postes de luz Os astecas sacrificavam crianccedilas em cumes de montanhas Acreditavam que quanto mais as crianccedilas chorassem mais chuva o deus Tlaloc providenciaria Que rito sinistro eacute esse que praticamos hoje em dia nas cidades do Brasil O que diratildeo historiadores no futuro Que sacrificaacutevamos crianccedilas atirando-as das janelas

FontehttpvejaonlineabrilcombrnotitiaservletnewstormnspresentationNavigationServletpublicationCode=1amppageCode=1311amptextCode=144606 Acesso em 70808

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7 BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO M amp GUERRA Mania de Bater A puniccedilatildeo corporal domestica de crianccedilas e adolescente no Brasil 2001 Satildeo Paulo Robe

AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

Agencia Brasil de Noticias

httpwwwagenciabrasilgovbrnoticias20080425materia2008-04-254784023086view

Revista Veja on line

Folha de Satildeo Paulo on line

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8 ATIVIDADES CULTURAIS

Page 34: VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - AVM - Pós-Graduação - … O presente estudo destina-se a tratar e realizar uma breve análise da violência doméstica contra crianças e adolescente. Além

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AYRES Fernando Arduinie e LOROSA Marcos Antonio Como produzir uma monografia Passo a passosiga o mapa da mina 6 ed Wak Editora 2005

KUHLEN Lothar STRATENWERTH Guumlnther Strafrecht Allgemeiner Teil I 5 Aufl MuumlnchenKoumlln Carl Heymanns Verlag 2004

LIMA JR Jayme Benvenuto Extrema Pobreza no Brasil A situaccedilatildeo do direito aacute alimentaccedilatildeo e moradia adequada no Brasil SO LOYOLA 2002 p8)

MINAYO M C S amp ASSIS S G 1993 Violecircncia e sauacutede na infacircncia e adolescecircncia uma agenda de investigaccedilatildeo estrateacutegica Sauacutede em Debate 39 58-63

MINAYO M C S amp SOUZA E R 1993 Violecircncia para todos Cadernos de Sauacutede Puacuteblica 9 65-78

MINAYO M C S (Org) 1994 Os Limites da Exclusatildeo Social Meninos e Meninas de Rua no Brasil Satildeo Paulo Hucitec

OLIVEIRA Heacutelio Crianccedilas Espancada 1997 Satildeo Paulo Papirus Editora

Consulta eletrocircnica Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH httpwwwpresidenciagovbrestrutura_presidenciasedhconselhoconanda Conselho Estadual de Defesa da Crianccedila e do Adolescente httpwwwcedcarjgovbr Fundaccedilatildeo para Infacircncia e Adolescente httpwwwfiarjgovbr

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