violência, abandono e sujeira afetam a poesia de itapuã

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SALVADOR SEXTA-FEIRA 10/12/2010 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA A9 “O descaso e a violência que tomaram conta de Itapuã me fizeram mudar daqui. Isso é uma vergonha” ESTEVINA ACCYOLI, ex-moradora ESTRUTURA Bairro é um dos mais famosos da cidade e os moradores atribuem problemas ao descaso da prefeitura Violência, abandono e sujeira afetam a poesia de Itapuã O Mercado Municipal do bairro recebeu pintura, mas a estrutura não mudou, dizem os usuários ARIVALDO SILVA O mar continua calmo e ainda é possível falar de amor em Itapuã, mas nas ruas estreitas do bairro a impressão de quem chega é a de que o local está abandonado. Esgoto a céu aberto, buracos nas vias, praças ocupadas por morado- res de rua e coleta de lixo em horário comercial são alguns dos atuais problemas enfren- tados pelos que ali vivem e por eventuais visitantes, que idealizam um bairro bucóli- co, mas encontram um cená- rio caótico e distante daquele cantado em prosa e verso por músicos e poetas. Ontem, por volta das 10h30, o caminhão de coleta de lixo contribuiu para o con- gestionamento na estreita Rua Genebaldo Figueredo. Em uma transversal dessa mesma via, existe um comér- cio desordenado de peixes e frutos do mar, bem em frente aos boxes para a venda dos produtos. Falta estrutura, limpeza e as pessoas têm dificuldade de transitar. De acordo com o co- merciante Jackson de Souza, 46 anos, proprietário de uma das peixarias, o comércio de- sordenado prejudica quem trabalha legalmente. “A solu- ção seria organizar e dar um local adequado para essas pessoas trabalharem”, afirma Souza. O Mercado Municipal de Itapuã, que foi reinaugurado há dois anos, depois de 20 anos sem reforma, ainda preocupa os permissionários dos 26 boxes. Segundo os co- merciantes, o mercado rece- beu pintura, mas a estrutura não mudou. “O maior proble- ma daqui é quando chove, molha tudo, parece uma ca- choeira. A solução seria de- molir e construir de novo”, reclama o sapateiro Alex Sou- za, 32, que trabalha há 27 anos no local. Praça O aposentado Lenival Gonçal- ves, 71 anos, nasceu e viveu toda a vida no bairro, na Rua 7 de Setembro. Ele lembra dos tempos em que Itapuã era exemplo de limpeza e tran- quilidade. “Antigamente, não tínha- mos rede de esgoto. Hoje, pa- gamos uma alta carga de im- postos e quando chove todas as ruas alagam, cheias de bu- racos e sujeira”, afirma Gon- çalves. “As coisas boas de Itapuã acabaram. Nem no farol é possível passear sem ser as- saltado”, completa Lenival, que estava na Praça Áurea Tei- xeira Barbosa, ao lado da 12ª CP (delegacia de Itapuã). Atropelamentos Com a chegada do verão, os atropelamentos ficam mais constantes em Itapuã. Na ma- nhã de ontem, Valdete Santos, 50, foi atropelada pelo veí- culo Gol de placa JQV-2960, quando atravessava a Rua Aristides Milton e teve esco- riações pelo corpo. De acordo com a Superintendência de Trânsito e Transporte de Sal- vador (Transalvador), em 2009 foram cinco casos na via e, em 2010, três casos sem vítimas fatais. SERVIÇOS DEFICIENTES DIANTE DA DEMANDA COLETA DE LIXO A Limpurb afirma que a coleta é feita diariamente na Av. Dorival Caymmi e, em dias alternados, nas demais ruas de Itapuã NOVA FEIRA A antiga feira iniciou suas atividades há mais de 50 anos, na Rua Direta de Itapuã. Em 2004, 150 comerciantes foram transferidos para a Av. Dorival Caymmi. Houve melhorias na higiene, mas feirantes, como Manoel Messias, reclamam da queda nas vendas Praia do Farol é apontada como um local de frequentes assaltos A aposentada Estevina Accyo- li, 69, morou 20 anos no bair- ro de Itapuã. Há um ano ela mudou-se para o Rio Verme- lho por conta da decadência e da sujeira que tomou conta do local. “Tiraram a feira daqui e fizeram nada para melhorar o aspecto da área. O descaso e a violência que se instalaram em Itapuã me fizeram mudar daqui. Isso é uma vergonha”, protesta a ex-moradora. Mesmo morando em outro bairro, dona Estevina confes- sa que não consegue deixar de frequentar Itapuã. “A me- lhor coisa e que ainda salva o local é a praia. Não consigo ficar sem tomar um banho de mar aqui”, revela. Perigo Outrora um dos pontos tu- rísticos mais visitados da ca- pital baiana, a praia do Farol de Itapuã está abandonada. Depois da retirada das bar- racas de praia, em agosto des- te ano, a sensação de inse- gurança aumentou e espan- tou boa parte dos visitantes. “Desde adolescente venho a Itapuã desfrutar de uma lazer saudável, com alimentação, chuveiro e o convívio com vá- rias pessoas. Hoje, está muito deserto aqui, falta segurança. Venho, mas tenho medo”, afirma a técnica financeira Eunice Cerqueira, 47. O ex-barraqueiro Carlos Lo- pes, 57, ainda vende cerveja gelada nas proximidades do farol e reclama dos assaltos. “Os roubos são constantes aqui embaixo do farol. Sem- pre aviso aos turistas que fre- quentam a área para que te- nham cautela”, alerta. O único contêiner instala- do na Rua Paulo Afonso Ba- queiro não suporta o acúmu- lo de lixo. O resultado é que muitos detritos ficam espa- lhados pelo chão. ARIVALDO SILVA Fotos Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE Manoel Messias, feirante Lenival, aposentado Estevina Accyoli mudou-se por causa da sujeira Mercado Municipal funciona sem estrutura adequada e falta de higiene é uma das reclamações dos frequentadores

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Matéria publicada na página A9, do jornal A Tarde, do dia 10/12/2010. ARIVALDO SILVA. Fotos: Marco Aurélio Martins. O mar continua calmo e ainda é possível falar de amor em Itapuã, mas nas ruas estreitas do bairro a impressão de quem chega é a de que o local está abandonado. Esgoto a céu aberto, buracos nas vias, praças ocupadas por moradores de rua e coleta de lixo em horário comercial são alguns dos atuais problemas enfrentados pelos que ali vivem e por eventuais visitantes, que idealizam um bairro bucólico, mas encontram um cenário caótico e distante daquele cantado em prosa e verso por músicos e poetas.

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SALVADOR SEXTA-FEIRA 10/12/2010 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA A9

“O descasoe a violênciaque tomaramconta de Itapuãme fizerammudar daqui.Isso é umavergonha”

ESTEVINA ACCYOLI, ex-moradora

ESTRUTURA Bairro é um dos mais famosos da cidade e osmoradores atribuem problemas ao descaso da prefeitura

Violência, abandonoe sujeira afetam apoesia de Itapuã

O MercadoMunicipal dobairro recebeupintura, mas aestrutura nãomudou, dizemos usuários

ARIVALDO SILVA

O mar continua calmo e aindaé possível falar de amor emItapuã, mas nas ruas estreitasdo bairro a impressão dequem chega é a de que o localestá abandonado. Esgoto acéu aberto, buracos nas vias,praças ocupadas por morado-res de rua e coleta de lixo emhorário comercial são algunsdos atuais problemas enfren-tados pelos que ali vivem epor eventuais visitantes, queidealizam um bairro bucóli-

co, mas encontram um cená-rio caótico e distante daquelecantado em prosa e verso pormúsicos e poetas.

Ontem, por volta das10h30, o caminhão de coletade lixo contribuiu para o con-gestionamento na estreitaRua Genebaldo Figueredo.Em uma transversal dessamesma via, existe um comér-cio desordenado de peixes efrutos do mar, bem em frenteaos boxes para a venda dosprodutos.

Falta estrutura, limpeza e

as pessoas têm dificuldade detransitar. De acordo com o co-merciante Jackson de Souza,46 anos, proprietário de umadas peixarias, o comércio de-sordenado prejudica quemtrabalha legalmente. “A solu-ção seria organizar e dar umlocal adequado para essaspessoas trabalharem”, afirmaSouza.

O Mercado Municipal deItapuã, que foi reinauguradohá dois anos, depois de 20anos sem reforma, aindapreocupa os permissionários

dos 26 boxes. Segundo os co-merciantes, o mercado rece-beu pintura, mas a estruturanão mudou. “O maior proble-ma daqui é quando chove,molha tudo, parece uma ca-choeira. A solução seria de-molir e construir de novo”,reclama o sapateiro Alex Sou-za, 32, que trabalha há 27 anosno local.

PraçaO aposentado Lenival Gonçal-ves, 71 anos, nasceu e viveutoda a vida no bairro, na Rua

7 de Setembro. Ele lembra dostempos em que Itapuã eraexemplo de limpeza e tran-quilidade.

“Antigamente, não tínha-mos rede de esgoto. Hoje, pa-gamos uma alta carga de im-postos e quando chove todasas ruas alagam, cheias de bu-racos e sujeira”, afirma Gon-çalves.

“As coisas boas de Itapuãacabaram. Nem no farol épossível passear sem ser as-saltado”, completa Lenival,que estava na Praça Áurea Tei-xeira Barbosa, ao lado da 12ªCP (delegacia de Itapuã).

AtropelamentosCom a chegada do verão, osatropelamentos ficam maisconstantes em Itapuã. Na ma-nhã de ontem, Valdete Santos,50, foi atropelada pelo veí-culo Gol de placa JQV-2960,quando atravessava a RuaAristides Milton e teve esco-riações pelo corpo. De acordocom a Superintendência deTrânsito e Transporte de Sal-vador (Transalvador), em2009foramcincocasosnaviae, em 2010, três casos semvítimas fatais.

SERVIÇOS DEFICIENTESDIANTE DA DEMANDA

COLETA DE LIXOA Limpurb afirma que acoleta é feita diariamentena Av. Dorival Caymmi e,em dias alternados, nasdemais ruas de Itapuã

NOVA FEIRAA antiga feira iniciou suasatividades há mais de 50anos, na Rua Direta deItapuã. Em 2004, 150comerciantes foramtransferidos para a Av.Dorival Caymmi. Houvemelhorias na higiene, masfeirantes, como ManoelMessias, reclamam daqueda nas vendas

Praia do Farol é apontada comoum local de frequentes assaltosA aposentada Estevina Accyo-li, 69, morou 20 anos no bair-ro de Itapuã. Há um ano elamudou-se para o Rio Verme-lho por conta da decadência edasujeiraquetomoucontadolocal. “Tiraram a feira daqui efizeramnadaparamelhoraroaspecto da área. O descaso e aviolência que se instalaramem Itapuã me fizeram mudardaqui. Isso é uma vergonha”,protesta a ex-moradora.

Mesmo morando em outrobairro, dona Estevina confes-sa que não consegue deixarde frequentar Itapuã. “A me-lhor coisa e que ainda salva olocal é a praia. Não consigoficar sem tomar um banho demar aqui”, revela.

PerigoOutrora um dos pontos tu-rísticos mais visitados da ca-pital baiana, a praia do Farol

de Itapuã está abandonada.Depois da retirada das bar-racas de praia, em agosto des-te ano, a sensação de inse-gurança aumentou e espan-tou boa parte dos visitantes.

“Desde adolescente venho aItapuã desfrutar de uma lazersaudável, com alimentação,chuveiro e o convívio com vá-rias pessoas. Hoje, está muitodeserto aqui, falta segurança.Venho, mas tenho medo”,afirma a técnica financeiraEunice Cerqueira, 47.

O ex-barraqueiro Carlos Lo-pes, 57, ainda vende cervejagelada nas proximidades dofarol e reclama dos assaltos.“Os roubos são constantesaqui embaixo do farol. Sem-pre aviso aos turistas que fre-quentam a área para que te-nham cautela”, alerta.

O único contêiner instala-do na Rua Paulo Afonso Ba-queiro não suporta o acúmu-lo de lixo. O resultado é quemuitos detritos ficam espa-lhados pelo chão.

ARIVALDO SILVA

Fotos Marco Aurélio Martins / Ag. A TARDE

Manoel Messias, feirante

Lenival, aposentado

Estevina Accyoli mudou-sepor causa da sujeira

Mercado Municipal funciona sem estrutura adequada e falta de higiene é uma das reclamações dos frequentadores