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VII Seminário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar Caderno de Resumos Outubro, 2011 São Carlos, SP

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VII Seminário de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar

Caderno de Resumos

Outubro, 2011São Carlos, SP

Universidade Federal de São CarlosCentro de Educação e Ciências HumanasPrograma de Pós-Graduação em Filosofia

ReitorProf. Dr. Targino de Araújo Filho

Pró-Reitor de PesquisaProf. Dr. Claudio S. Kiminami

Pró-Reitor de Pós-GraduaçãoProf. Dr. Bernardo Arantes do N. Teixeira

Diretora do Centro de Educação e Ciências HumanasProfa. Dra. Wanda Aparecida Machado Hoffman

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em FilosofiaProf. Dr. Paulo Roberto Licht dos Santos

EditoraçãoRodrigo Rosalis da Silva

Comissão OrganizadoraAndré Santana MattosAndressa Alves Souto

Fillipa SilveiraGustavo Oliveira Fernandes Melo

Juliano Orlandi

Apoio

Departamento de Filosofi a e Metodologia das Ciências Humanas

UFSCar

SUMÁRIO

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07

Programação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09

Mesas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

Mapa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

Resumos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

7

VII SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA UFSCAR

APRESENTAÇÃO

O evento é destinado a todos os alunos regularmente matriculados em programas de Mestrado ou Doutorado em Filosofia e sua temática é aberta,

ou seja, envolve questões e autores na área de filosofia em geral. O objetivo do evento é criar um espaço acadêmico que favoreça o debate e a interação entre os estudantes de pós-graduação, bem como divulgar a produção acadêmica

discente dos programas de pós-graduação em Filosofia.

Comissão Organizadora

9

VII SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA UFSCAR

SEGUNDA-FEIRA (03/10)

MA

NH

à 10:00

12:00

AUDITÓRIO DO CECH – AT2

MINI-CURSO

PROF . FRANKLIN L . E SILVA – UFSCAR

FILOSOFIA MODERNA

TARD

E

14:00

15:20

SALA DE REUNIÕES- DFMC AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA AUDITÓRIO DO CECH – AT2

marx

André de G . Cressoni - Odisséia e Expressão Literária em O Capital de Marx

Bruno M . F . Mendes – A reificação e a concepção dialética da teoria em História e Consciência de Classe

mONTaIGNE

Danilo Persch – A fragilidade humana e suas implicações no comportamento ético

Nelson M . B . da Silva – Apontamentos entre o conceito do Eros em Platão e em Montaigne

DESCarTES 1

Abraão C . Nogueira – Da noção de espíritos animais em René Descartes

Edgard V . C . Zanette – Descartes e Hobbes: A questão da subjetividade como ponto de encruzilhada

15:30

16:50

HEGEl E marx

Claudeni R . Oliveira – Algumas considerações sobre o § 452 da Fenomenologia do Espírito de Hegel

Vinicius dos Santos – Comentário sobre o método dialético em Marx

fIl. mODErNa

Julio C. Lazzari Junior – A alma em Voltaire

Luiz H. Monzani – O conceito de História em Rousseau

DESCarTES 2

Geder P . F . Cominetti – A passividade no princípio que fundamenta a ciência para Descartes

Lílian Cantelle – Tratamento Racional das Paixões em Descartes

17:10

18:30

WEbEr

Luis F . de S . Roselino – Introdução às transformações éticas segundo seus efeitos estéticos: uma leitura de Max Weber seguindo as considerações de Luckács sobre a arte

Caio E. T. Vasconcellos – Sofrimento e modernidade .

WITTGENSTEIN

Karina da S . Oliveira – Ludwig Wittgenstein: crítico à forma proposicional da verdade

Tatiane Boechat – A relação entre compreensão e regras

HumE

Cristiano Junta – Representação, Causalidade e o problema das ideias abstratas na filosofia de David Hume

Gustavo Melo – David Hume e os pressupostos da Abstração

NO

ITE 19:30

21:30

AUDITÓRIO DO CECH – AT2

PALESTRA DE ABERTURA

PROF . DR . JOÃO CARLOS SALLES – UFBA

WITTGENSTEIN

PROGRAMAÇÃO

VII SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA UFSCAR

10

TERÇA-FEIRA (04/10)M

AN

HÃ 10:00

12:00

AUDITÓRIO DO CECH – AT2

MINI-CURSO

PROF . FRANKLIN L . E SILVA – UFSCAR

FILOSOFIA MODERNA

TARD

E

14:00

15:20

SALA DE REUNIÕES- DFMC AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA AUDITÓRIO DO CECH – AT2

SarTrE 1

Carlos E . de Moura – Sartre e a consciência no processo da construção de si: o “Eu” como valor e projeto

Ricardo F. Feltrin – A subjetividade a partir de Jean-Paul Sartre

EpISTEmOlOGIa 1

Fernando C . Pilan – Uma defesa do senso comum: breves considerações sobre proposta filosófica de Thomas Reid

Kelly I . Koide – O modelo reticulado e as estratégias de pesquisa: sobre o papel dos valores cognitivos na atividade científica e a perspectiva de uma epistemologia engajada

éTICa

Gabriel P . Nunes – A Ética Samurai e a construção de uma Nação: a apresentação da Ética Oriental Moderna na obra de Inazo Nitobe

Marco Antonio Gonçalves – Ética e consumo na hipermodernidade – uma análise em Lipovestky e Adela Cortina

15:30

16:50

SarTrE 2

Andressa Souto – Os três conceitos de consciência nas Investigações Lógicas de E. Husserl

Cristiano G . da Silva – A conflituosidade das relações intersubjetivas em “Entre quatro paredes” de Sartre

Túlio E. Stafuzza – A Reflexão em Sartre

EpISTEmOlOGIa 2

Alexandre K. Ernzen – A noção de verdade no sistema popperiano

Valdirlen do N . Loyolla – Dinâmica Linear e Não-Linear das Teorias das Ciências Naturais: os estados anômalos da racionalidade científica em T. S. Kuhn

Tales Carnelossi Lazarin – O realismo de entidades de NANCY CARTWRIGHT

éTICa E CuIDaDO DE SI

Ana Claudia Yamashiro Arantes – Exercícios espirituais: A busca filosófica de sentido

Cinthia A. Falchi – As sexualidades no âmbito escolar. Respostas científicas e históricas transformadas em questionamentos e problematizações

17:10

18:30

ESTéTICa

Jean R. Siqueira – Ontologia da arte e a hipótese do objeto físico: o caso das obras de arte singulares

Rodrigo S . Fontes de S . Graça – Tradução cultural e política: recepção de Walter Benjamin em Homi Bhabha

NO

ITE 19:30

21:30

SALA DE REUNIÕES- DFMC AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA AUDITÓRIO DO CECH – AT2

fIl. aNalÍTICa

Guilherme Sanches de Oliveira – Eventos, ações e descrições

Renato M . Pereira – A Concepção da Verdade-como-Correspondência

Rafael Ribeiro Silva – Dummet e O Princípio do Contexto

arENDT

Aline S. P. de Menezes – A Liberdade como ação política e a conquista da cidadania em Hannah Arendt

Rodrigo P . Santos – O abismo da vida em Hannah Arendt: a cisão entre bios e zoé na mira de seus leitores

Camila de Oliveira Casara – Poder, Conflito e Violência: considerações sobre o pensamento político de Hannah Arendt .

pSICaNálISE E fIlOSOfIa

André Carone – A dinâmica da metáfora em A interpretação dos sonhos

André Mattos – Sobre a relação entre a linguagem e a consciência em Nietzsche e em Freud

Maria É . C . Carnaúba – A importância de Herbert Marcuse para a relação entre Teoria Critica e Psicanálise no contexto de 1930

PROGRAMAÇÃO

11

VII SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA UFSCAR

QUARTA-FEIRA (05/10)

MA

NH

à 10:00

12:00

TARD

E

14:00

15:20

SALA DE REUNIÕES- DFMC AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA AUDITÓRIO DO CECH – AT2

kaNT 1

Alberto Paulo Neto – É possível defender uma interpretação republicana da filosofia política e jurídica de Kant?

Paulo G . M . Roman – Da Típica da Faculdade de Julgar à reflexão estética: uma possível aproximação

kIErkEGaarD

Leosir S . Massarollo Junior – Uma análise dos caracteres existenciais abordados na gesta de Abraão segundo Søren Kierkegaard

Valdinei Caes – A concepção de indivíduo segundo Kierkegaard

GuaTTarI E DElEuZE

André C . de Camargo – Félix Guattari: O capitalismo mundial integrado

Cleber D . L . da Silva – Deleuze e a descolonização permanente da filosofia

15:30

16:50

kaNT 2

Adriano R. Mergulhão – A Montanha Mágica: o Debate de Davos em 1929, entre Cassirer e Heidegger

Márcio T. Girotti – Os Träume eines Geistersehes e a Kritik der reinen Vernunft: as ilusões da Dialética transcendental

Danilo F . M . de Oliveira – Análise dos Principais Apontamentos Kantianos Sobre o Espaço em 1768

SCHOppENHauEr

Daniele da S . Faria – Fundamentos da crítica schoppenhaueriana à epistemologia kantiana

Élcio J. dos Santos – Sobre a crítica de Schoppenhauer à doutrina das categorias de Kant e sua suposta redução à categoria de causalidade

fOuCaulT 1

Caio A . T . Souto – A literatura, uma noção tardia: reflexão sobre As palavras e as coisas de Michel Foucault

Fabiano Barboza Viana – Michel Foucault e o Modernismo Literário Francês

17:10

18:30

NIETZSCHE 1

Eder D . de F . Melo – Nietzsche: liberdade, tragédia e destino

Rafael P. de Menezes – Os muros absurdos, ou a revolta enquanto vivência

fOuCaulT 2

Alexandre G . dos Santos – Liberdade, um debate ético possível em Michel Foucault

Daniel V . Galantin – Verdade e subjetividade nos estudos de Foucault sobre a ética clássica: uma estética da existência

NO

ITE 19:30

21:30

SALA DE REUNIÕES- DFMC AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA AUDITÓRIO DO CECH – AT2

mErlEau-pONTY

Eloísa B . de Andrade – A Fenomenologia, a Natureza e o Sensível em Merleau-Ponty

Jeovane Camargo – Silêncio e linguagem em Merleau- Ponty

Mariana C. T. Scarpa – O simbólico em Merleau-Ponty

Maes Gautier - A noção da “excedência” dentro a filosofia francesa contemporânea

NIETZSCHE 2

João P . S . Vilas Boas – Subsídios para uma apreciação do fundamentalismo e do terrorismo a partir da filosofia de Friedrich Nietzsche

Mayara A . S . N . da Silva – Sobre a normatização da vida: um ensaio a partir de Nietzsche e Agamben

Luís T . F . Dantas – O niilismo da vontade de poder: Maquinação e desertificação da terra

fOuCaulT 3

Fillipa Silveira – A questão da antropologia entre o empírico e o transcendental: Foucault sobre Kant

Rafael F. Hack – Foucault e as sínteses objetivas

PROGRAMAÇÃO

VII SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA UFSCAR

12

QUINTA-FEIRA (06/10)M

AN

HÃ 10:00

12:00

TARD

E

14:00

15:20

SALA DE REUNIÕES- DFMC AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA

fIl. mEDIEVal

André de D . Berger – Intenção e espécie inteligível na teoria do conhecimento de Tomás de Aquino

Fabrício K. Cristofoletti – A reflexão sobre Deus na discussão dialética do De ordine de Agostinho de Hipona

bErGSON 1

Catarina Rochamonte – Evolução e mística, segundo Henri Bergson

Solange Bitterbier – Ação e duração: a visão bergsoniana da liberdade

15:30

16:50

plaTÃO

Juliano Orlandi – A primeira identificação entre poesia e falsidade na República de Platão

Nestor R .Müller – O signo de Estesícoro: um estudo no Fedro de Platão

Rafael Bento Pereira – Amizade: A philía como uma virtude em Aristóteles

bErGSON 2

Rafael H. Teixeira – Bergson sociólogo? O critério do movente em uma “sociologia” sob o ângulo de problemas metafísicos

Vanessa de O . Temporal – A contribuição de Matéria e Memória para o estudo da linguagem na filosofia de Henri Bergson

17:10

18:30

NO

ITE 19:30

21:30

AUDITÓRIO DA REITORIA

PALESTRA DE ENCERRAMENTO

PROF. DR. ROBERTO BOLZANI FILHO – USP

PLATÃO

PROGRAMAÇÃO

13

VII SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA UFSCAR

Título da Mesa Comunicações Data e Horário Local

ARENDT

Aline S. P. de Menezes – A Liberdade como ação política e a conquista da cidadania em Hannah ArendtRodrigo P. Santos – O abismo da vida em Hannah Arendt: a cisão entre bios e zoé na mira de seus leitoresCamila de Oliveira Casara – Poder, Conflito e Violência: considerações sobre o pensamento político de Hannah Arendt .

04/10 – 19:30 Auditório da Biblioteca

BERGSON 1

Catarina Rochamonte – Evolução e mística, segundo Henri BergsonSolange Bitterbier – Ação e duração: a visão bergsoniana da liberdade

06/10 – 14:00 Auditório da Biblioteca

BERGSON 2

Rafael H. Teixeira – Bergson sociólogo? O critério do movente em uma “sociologia” sob o ângulo de problemas metafísicosVanessa de O. Temporal – A contribuição de Matéria e Memória para o estudo da linguagem na filosofia de Henri Bergson

06/10 – 15:30 Auditório da Biblioteca

DESCARTES 1

Abraão C . Nogueira – Da noção de espíritos animais em René DescartesEdgard V. C. Zanette – Descartes e Hobbes: A questão da subjetividade como ponto de encruzilhada

03/10 – 14:00 Auditório do CECH – AT2

DESCARTES2

Geder P. F. Cominetti – A passividade no princípio que fundamenta a ciência para DescartesLílian Cantelle – Tratamento Racional das Paixões em Descartes

03/10 – 15:30 Auditório do CECH – AT2

EPISTEMOLOGIA 1

Fernando C. Pilan – Uma defesa do senso comum: breves considerações sobre proposta filosófica de Thomas ReidKelly I. Koide – O modelo reticulado e as estratégias de pesquisa: sobre o papel dos valores cognitivos na atividade científica e a perspectiva de uma epistemologia engajada

04/10 – 14:00 Auditório da Biblioteca

EPISTEMOLOGIA 2

Alexandre K. Ernzen – A noção de verdade no sistema popperianoValdirlen do N. Loyolla – Dinâmica Linear e Não-Linear das Teorias das Ciências Naturais: os estados anômalos da racionalidade científica em T. S. KuhnTales Carnelossi Lazarin – O realismo de entidades de NANCY CARTWRIGHT

04/10 – 15:30 Auditório da Biblioteca

ESTÉTICA

Jean R. Siqueira – Ontologia da arte e a hipótese do objeto físico: o caso das obras de arte singularesRodrigo S. Fontes de S. Graça – Tradução cultural e política: recepção de Walter Benjamin em Homi Bhabha

04/10 – 17:10 Auditório do CECH – AT2

ÉTICA

Gabriel P. Nunes – A Ética Samurai e a construção de uma Nação: a apresentação da Ética Oriental Moderna na obra de Inazo NitobeMarco Antonio Gonçalves – Ética e consumo na hipermodernidade – uma análise em Lipovestky e Adela Cortina

04/10 – 14:00 Auditório do CECH – AT2

ÉTICA E CUIDADO DE SI

Ana Claudia Yamashiro Arantes – Exercícios espirituais: A busca filosófica de sentidoCinthia A. Falchi – As sexualidades no âmbito escolar. Respostas científicas e históricas transformadas em questionamentos e problematizações

04/10 – 15:30 Auditório do CECH – AT2

FIL . ANALÍTICA

Guilherme Sanches de Oliveira – Eventos, ações e descriçõesRenato M. Pereira – A Concepção da Verdade-como-CorrespondênciaRafael Ribeiro Silva – Dummet e O Princípio do Contexto

04/10 – 19:30Sala de

Reuniões – DFMC

MESAS

VII SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA UFSCAR

14

Título da Mesa Comunicações Data e Horário Local

FIL . MEDIEVAL

André de D. Berger – Intenção e espécie inteligível na teoria do conhecimento de Tomás de AquinoFabrício K. Cristofoletti – A reflexão sobre Deus na discussão dialética do De ordine de Agostinho de Hipona

06/10 – 14:00Sala de

Reuniões – DFMC

FIL . MODERNA Julio C. Lazzari Junior – A alma em VoltaireLuiz H. Monzani – O conceito de História em Rousseau 03/10 – 15:30 Auditório da

Biblioteca

FOUCAULT 1

Caio A. T. Souto – A literatura, uma noção tardia: reflexão sobre As palavras e as coisas de Michel FoucaultFabiano Barboza Viana – Michel Foucault e o Modernismo Literário Francês

05/10 – 15:30 Auditório do CECH – AT2

FOUCAULT 2

Alexandre G. dos Santos – Liberdade, um debate ético possível em Michel FoucaultDaniel V . Galantin – Verdade e subjetividade nos estudos de Foucault sobre a ética clássica: uma estética da existência

05/10 – 17:10 Auditório do CECH – AT2

FOUCAULT 3Fillipa Silveira – A questão da antropologia entre o empírico e o transcendental: Foucault sobre KantRafael F. Hack – Foucault e as sínteses objetivas

05/10 – 19:30 Auditório do CECH – AT2

GUATTARI E DELEUZE

André C. de Camargo – Félix Guattari: O capitalismo mundial integradoCleber D. L. da Silva – Deleuze e a descolonização permanente da filosofia

05/10 – 14:00 Auditório do CECH – AT2

HEGEL E MARX

Claudeni R. Oliveira – Algumas considerações sobre o § 452 da Fenomenologia do Espírito de HegelVinicius dos Santos – Comentário sobre o método dialético em Marx

03/10 – 15:30Sala de

Reuniões – DFMC

HUMECristiano Junta – Representação, Causalidade e o problema das ideias abstratas na filosofia de David HumeGustavo Melo – David Hume e os pressupostos da Abstração

03/10 – 17:10 Auditório do CECH – AT2

KANT 1

Alberto Paulo Neto – É possível defender uma interpretação republicana da filosofia política e jurídica de Kant?Paulo G. M. Roman – Da Típica da Faculdade de Julgar à reflexão estética: uma possível aproximação

05/10 – 14:00Sala de

Reuniões – DFMC

KANT 2

Adriano R. Mergulhão – A Montanha Mágica: o Debate de Davos em 1929, entre Cassirer e HeideggerMárcio T. Girotti – Os Träume eines Geistersehes e a Kritik der reinen Vernunft: as ilusões da Dialética transcendentalDanilo F. M. de Oliveira – Análise dos Principais Apontamentos Kantianos Sobre o Espaço em 1768

05/10 – 15:30Sala de

Reuniões – DFMC

KIERKEGAARD

Leosir S. Massarollo Junior – Uma análise dos caracteres existenciais abordados na gesta de Abraão segundo Søren KierkegaardValdinei Caes – A concepção de indivíduo segundo Kierkegaard

05/10 – 14:00 Auditório da Biblioteca

MARX

André de G . Cressoni - Odisséia e Expressão Literária em O Capital de MarxBruno M. F. Mendes – A reificação e a concepção dialética da teoria em História e Consciência de Classe

03/10 – 14:00Sala de

Reuniões – DFMC

MERLEAU-PONTY

Eloísa B. de Andrade – A Fenomenologia, a Natureza e o Sensível em Merleau-PontyJeovane Camargo – Silêncio e linguagem em Merleau- PontyMariana C. T. Scarpa – O simbólico em Merleau-PontyMaes Gautier - A noção da “excedência” dentro a filosofia francesa contemporânea

05/10 – 19:30Sala de

Reuniões – DFMC

MESAS

15

VII SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA UFSCAR

Título da Mesa Comunicações Data e Horário Local

MONTAIGNE

Danilo Persch – A fragilidade humana e suas implicações no comportamento éticoNelson M. B. da Silva – Apontamentos entre o conceito do Eros em Platão e em Montaigne

03/10 – 14:00 Auditório da Biblioteca

NIETZSCHE 1

Eder D. de F. Melo – Nietzsche: liberdade, tragédia e destinoRafael P. de Menezes – Os muros absurdos, ou a revolta enquanto vivência

05/10 – 17:10 Auditório da Biblioteca

NIETZSCHE 2

João P. S. Vilas Boas – Subsídios para uma apreciação do fundamentalismo e do terrorismo a partir da filosofia de Friedrich NietzscheMayara A. S. N. da Silva – Sobre a normatização da vida: um ensaio a partir de Nietzsche e AgambenLuís T. F. Dantas – O niilismo da vontade de poder: Maquinação e desertificação da terra

05/10 – 19:30 Auditório da Biblioteca

PLATÃO

Juliano Orlandi – A primeira identificação entre poesia e falsidade na República de PlatãoNestor R.Müller – O signo de Estesícoro: um estudo no Fedro de PlatãoRafael Bento Pereira – Amizade: A philía como uma virtude em Aristóteles

06/10 – 15:30Sala de

Reuniões – DFMC

PSICANÁLISE E FILOSOFIA

André Carone – A dinâmica da metáfora em A interpretação dos sonhosAndré Mattos – Sobre a relação entre a linguagem e a consciência em Nietzsche e em FreudMaria É. C. Carnaúba – A importância de Herbert Marcuse para a relação entre Teoria Critica e Psicanálise no contexto de 1930

04/10 – 19:30 Auditório do CECH – AT2

SARTRE 1

Carlos E. de Moura – Sartre e a consciência no processo da construção de si: o “Eu” como valor e projetoRicardo F. Feltrin – A subjetividade a partir de Jean-Paul Sartre

04/10 – 14:00Sala de

Reuniões – DFMC

SARTRE 2

Andressa Souto – Os três conceitos de consciência nas Investigações Lógicas de E. HusserlCristiano G. da Silva – A conflituosidade das relações intersubjetivas em “Entre quatro paredes” de SartreTúlio E. Stafuzza – A Reflexão em Sartre

04/10 – 15:30Sala de

Reuniões – DFMC

SCHOPPENHAUER

Daniele da S. Faria – Fundamentos da crítica schoppenhaueriana à epistemologia kantianaÉlcio J. dos Santos – Sobre a crítica de Schoppenhauer à doutrina das categorias de Kant e sua suposta redução à categoria de causalidade

05/10 – 15:30 Auditório da Biblioteca

WEBER

Luis F. de S. Roselino – Introdução às transformações éticas segundo seus efeitos estéticos: uma leitura de Max Weber seguindo as considerações de Luckács sobre a arteCaio E. T. Vasconcellos – Sofrimento e modernidade.

03/10 – 17:10Sala de

Reuniões – DFMC

WITTGENSTEINKarina da S. Oliveira – Ludwig Wittgenstein: crítico à forma proposicional da verdadeTatiane Boechat – A relação entre compreensão e regras

03/10 – 17:10 Auditório da Biblioteca

MESAS

MAPA UFSCar

Resumos

19

VII SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA UFSCAR

Da noção de espíritos animais em René Descartes

Abraão Carvalho NogueiraUniversidade Federal do Espírito Santo (UFES)

[email protected]

Na problemática do corpo o filósofo René Descartes a partir de suas investigações, sobretudo nas obras O tratado do Homem e As paixões da alma, pontua uma categoria que modernamente a neurociência irá fixar estudos, pormenorizando e identificando aquelas substancias que atuam no corpo e que correspondem ao modo através do qual as sensações do corpo nos ocorrem e bem como podem atuar em nossos sentimentos ou afecções. Contudo, tais espíritos animais para Descartes consistem antes de tudo em uma matéria, que circula no próprio corpo, na medida em que tais espíritos correm através do sangue e recaem entre as concavidades do cérebro nos fazendo perceber, no caso especifico do corpo, o modo através do qual os estímulos são recebidos. Todavia, ao chamarmos estas substancias do próprio corpo que correm o sangue e incidem em nosso cérebro, que Descartes chama de espíritos animais, não são uniformemente compreendidos, de modo que para cada estímulo externo um tipo diferente dentre os espíritos animais são impulsionados no corpo. Em nossa investigação pretendemos indicar que tais espíritos animais funcionam como uma espécie de mediação entre corpo e alma, de modo que compreendemos os movimentos dos espíritos animais no corpo como algo que possui não somente sua direção que vai do próprio corpo até a alma, alma que é compreendida como pensamento, bem como, compreendemos que os movimentos dos espíritos animais possuem também sua direção inversa, a saber, como tendo início no pensamento que por seu turno ativa o movimento de certos espíritos animais no corpo.

A Montanha Mágica: o Debate de Davos em 1929, entre Cassirer e Heidegger

Adriano Ricardo MergulhãoFaculdade de São Bento/SP

[email protected]

O presente resumo tem por finalidade, expor uma discussão acerca de um debate específico, ocorrido no ano de 1929, entre uma série de conferências organizadas entre os dias 17/03 à 6/04, em um resort localizado na montanha de Davos (Suíça). Uma das apresentações, tinha como temática global “Homem e Geração” e discutiria a “Crítica da Razão Pura de Kant, e a tarefa da fundamentação da metafísica”. Dois convidados debateriam o tema: Ernst Cassirer e Martin Heidegger. Representantes de duas conflitantes correntes filosóficas, vigoradas na Alemanha do séc. XIX. O movimento denominado Neokantiano guiado pela epistemologia da ciência, que influenciou E. Cassirer, junto a uma apropriação do método transcendental kantiano. E por outro lado, o historicismo e a hermenêutica de W. Dilthey, junto à fenomenologia de E. Husserl, que influenciaram sobremaneira Heidegger . O caráter desta “divisão” é marcado pela oposição entre filosofia analítica, de orientação lógica (científica/epistemológica) e a filosofia continental, de inclinação fenomenológica (e tendência “literária”). Nosso intuito é esclarecer esta polêmica, procurando situá-la à luz, do contexto filosófico que a produziu, ou seja, definir quais tradições serviram de “pano de fundo” para a realização desta (disputatio) “disputa”. Existe aqui a preocupação central, de esclarecer a transformação do problema da objetividade, mediante uma compreensão mais aguda das ressonâncias e campos de influência da filosofia de Kant dentro do âmbito das tradições que culminaram ao longo dos séculos XIX e XX (as escolas de Baden, Marburg e Freiburg), como uma resposta, ou desdobramento das consequências do declínio da República de Weimar e da extensão da influência dos movimentos classificados como Romantismo e Idealismo Alemão.

VII SEMINÁRIO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA UFSCAR

20

É possível defender uma interpretação republicana da filosofia política e jurídica de Kant?

Alberto Paulo NetoUniversidade de São Paulo (USP)

Bolsista [email protected]

O presente trabalho possui o escopo de discutir sobre uma controvérsia na interpretação da teoria política de Kant e se posicionar em uma concepção favorável à interpretação republicana da filosofia política e jurídica do filósofo de Königsberg. A teoria do direito de Kant tem sido alvo de várias interpretações que impossibilitam a decisão de uma conclusão adequada sobre o sistema dos direitos na filosofia crítica. Na contemporaneidade tem ressurgido a discussão da filosofia política kantiana como uma expressão política republicana e abandonado a interpretação da política kantiana como precursora da fundamentação liberal do Estado democrático de Direito. Todavia, a interpretação comumente aceita e transmitida da filosofia política kantiana é a liberal. A leitura liberal se fundamenta em uma interpretação moral dos princípios políticos da teoria kantiana. A argumentação liberal se alicerça na prioridade do direito à liberdade e e na compreensão da política como a teoria do direito aplicada. Em verdade, a forma de derivação do direito na teoria do direito de Kant se apresenta com uma interconexão de princípios que guardam um antagonismo na legitimação do Estado jurídico, pois Kant procede em suas obras sobre o direito, Über den Gemeinspruch: Das mag in der Theorie richtig sein, taugt aber nicht für die Praxis e Rechtslehre, pela fundamentação do princípio do direito mediante a determinação do único direito originário do seres humanos, a saber, a liberdade externa. A pedra de toque do sistema jurídico é a compreensão do conceito de liberdade. No entanto, ele resguarda o conceito de soberania popular como um mecanismo de adequação das ações dos legisladores políticos na instituição do ordenamento jurídico. Por isso, tem-se afirmado a existência de uma tensão na filosofia política de Kant entre os princípios de defesa da liberdade individual e os princípios políticos da liberdade política. Na leitura liberal da teoria política de Kant se estabeleceria uma forma moral de justificação das decisões políticas. O direito originário permitiria a derivação dos direitos humanos e a moralização do sistema de direitos. Os comentadores, que assim interpretam a Rechtslehre, possuem a audácia de intercambiar a forma do Imperativo categórico apresentada na Grundlegung com a forma o Princípio universal do direito, que eles denominaram como o Imperativo categórico do direito. Em verdade, os intérpretes contemporâneos - como J. Rawls, J. Habermas, N. Bobbio, W. Kersting e O. Höffe – observam que Kant teria advindo os direitos políticos por meio de uma fundamentação moral. No entando, se, por um lado, existe uma pressuposição moral do direito inato humano e da organização do sistema de direitos, por outro lado, no âmbito da organização política, existem algumas dificuldades para compreender a efetivação das ações políticas e do judiciário, como a necessidade da participação popular e da pena de morte. Possivelmente esses dois exemplos contrariariam uma perspectiva liberal da política, seja porque um liberal não enfatizaria uma participação política e o exercício da soberania popular ou porque o direito à vida seria um direito incontestável. Nesse sentido, a leitura republicana nos permite uma compreensão adequada da teoria política kantiana, pois nesta interpretação os direitos políticos à participação e o retributivismo no direito penal são expressões de uma comunidade política imbuída em um forte senso de defesa da liberdade política e da cidadania ativa.

Liberdade, um debate ético possível em Michel Foucault

Alexandre Gomes dos SantosUniversidade Federal do Ceará (UFC)

[email protected]; [email protected]

O percurso intelectual de Michel Foucault, como ele mesmo afirmou no final de sua vida, teve como eixo temático o debate em torno da formas de subjetivação sofridas pelos indivíduos na sociedade ocidental e sua relação com os “jogos de verdade”, ou aquilo que se diz de verdadeiro ou de falso através dos discursos de saber sobre o homem. Nossa tentativa tem sido apreender esta relação incontida entre

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sujeito e verdade a partir de um tema que para nós se faz conexo – a liberdade. Liberdade enquanto “condição ontológica da ética”, de uma ética que se apresenta como a forma refletida que essa liberdade toma. É a partir deste estatuto que inquirimos o discurso foucaultiano, perseguindo a noção de “cuidado de si”, de um si que se apresenta enquanto se fomenta a si mesmo, tendo apenas a forma que o sujeito se dá enquanto se faz existente e atuante no mundo. Mas o que dizer das potenciais críticas ao estatuto que se pode dar a tal liberdade por um cuidado consigo mesmo, uma liberdade “avessa ao social”? E o que dizer do “retorno aos gregos” empreendido por Foucault na sua última “fase” intelectual? Que relevância tem estes temas na realidade brasileira contemporânea, ou seja, por que deveríamos nós, latino-americanos, estudar o “último Foucault”? Estas são questões que vem ao encontro de nosso anseio pelo estudo da liberdade em Foucault. Com este trabalho, pretendemos aprofundar tal discussão e elucidar nossos próprios dilemas teórico-práticos nos colocado durante nossa leitura e pesquisa em torno do tema da liberdade em Michel Foucault.

A noção de verdade no sistema popperiano

Alexandre Klock ErnzenUniversidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

Bolsista [email protected]

O presente trabalho visa demonstrar a importância do conceito de verdade no sistema popperiano. O método hipotético-dedutivo é, em Popper, a base lógica fundamental para a constituição de sua teoria epistemológica, baseado em um critério de demarcação que impõem ao cientista submeter as teorias incansavelmente à testes buscando falseá-las. A verdade atua como elemento regulador das pesquisas científicas, dado que a atividade do cientista e do filósofo é a busca por teorias crescentemente mais próximas à verdade. Embora não possa ser atingida, a ideia de verdade no sistema popperiano possibilita pensar teorias concorrentes com possibilidade de escolha entre teorias que descrevem melhor a realidade, ou que apresentam soluções interessantes e criativas para a resolução de problemas teóricos ou práticos. A verdade enquanto ideia reguladora das pesquisas implica tanto para a metafísica, já que a própria verdade não pode ser verificada, quanto a postura indeterminista do mundo. Portanto, a noção de verdade é essencial para a instauração do pensamento de Popper, porém, é após o encontro com Tarski que este conceito teve seus argumentos revisados, o que possibilitou ao filósofo vienense pensar o cosmos enquanto totalidade, e conceber as pesquisas científicas e filosóficas como podendo dizer algo acerca do mundo. Entretanto, a ciência será compreendida como uma atividade pautada pela ideia de busca pela verdade e cujos conhecimentos serão sempre conjecturais, a própria cientificidade tem sempre caráter provisório, sem qualquer descrição última de como o mundo, o homem e tudo aquilo que se encontra no cosmos funciona.

A Liberdade como ação política e a conquista da cidadania em Hannah Arendt

Aline Soares Pereira de MenezesPUC – PR

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O trabalho tem por objetivo empreender uma análise do conceito de liberdade em Hannah Arendt, com base em determinados elementos presentes na sua teoria: política, cidadania, ação, pluralidade, violência e espaço público. A junção desses elementos na teoria arendtiana permite que a liberdade se configure de forma política e não como uma simples manifestação da vontade.

A liberdade, como raison d’être da política em Hannah Arendt, permite uma crítica ao modelo liberal de liberdade, onde o termo é conceituado como uma negação da política e como um exercício da vontade.

O modelo de liberdade proposto por Hannah Arendt está ligado à ação, à capacidade política de constituir órgãos de deliberação comum. Trata-se, portanto, de retirar a liberdade da cidadela

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interior dos cidadãos e lançar luzes sobre o seu exercício. Trata-se de trazer a liberdade para o espaço da aparência.

O espaço público não só é palco da realização da liberdade, mas também de todas as coisas caras ao pensamento de Arendt: a pluralidade, a política, a cidadania. É neste espaço que se realiza o milagre do nascimento, da capacidade humana de iniciar, de recomeçar.

Por fim, Hannah oferece algumas soluções para o problema da liberdade enquanto um problema político. Para ela, um indivíduo só se torna cidadão quando participa diretamente da vida política. Os conselhos representariam, portanto, esta capacidade do homem de constituir o novo, de renascer. Seriam, portanto, símbolos do renascimento político da liberdade do homem e do espaço público aniquilados pela individualidade e pela solidão da privacidade característica da era moderna.

Palavras-chave: Liberdade. Política. Ação. Cidadania. Pluralismo. Liberalismo.

Exercícios espirituais: A busca filosófica de sentido

Ana Claudia Yamashiro ArantesUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

O conhecimento de si, promessa tão louvada nas ciências contemporâneas da introspecção, não pode legitimamente ser exaltado como uma condição universal de saúde e satisfação. Sua existência é histórica, pertence à cultura ocidental e suas origens gregas. Antes de ser cindido com os exercícios e práticas de auto-cuidado, o conhecimento de si era considerado apenas um resultado que poderia ser alcançado após muitas práticas espirituais não dogmáticas. Por meio delas é que o sentido da vida de cada indivíduo poderia ser alcançado, e nunca através de uma via exclusivamente racional. Este artigo trata destes exercícios espirituais e de suas transformações históricas: percorre seu nascimento na filosofia grega antiga, as transformações na recepção pelo monasticismo cristão asceta, até chegar crítica do sujeito feita pela psicologia analítica – ciência da introspecção herdeira desta hermenêutica da subjetividade. Dentre os exercícios espirituais concebidos como formas de cuidado de si motivadores da conversão da alma, examinaremos especificamente o papel reservado à meditação sobre a morte, e sua importância preponderante para a valorização do instante presente na transformação de si.

Palavras-chave: exercícios espirituais, cuidado-de-si, busca de sentido, meditação sobre a morte, psicologia analítica

Félix Guattari: O capitalismo mundial integrado

André Campos de CamargoUniversidade de Campinas (UNICAMP)

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O trabalho a ser apresentado estará apoiado em dois textos de Félix Guattari publicados em 1977 (O Capital como integral das formações de poder e O capitalismo mundial integrado e a revolução molecular), que se encontram no livro Revolução Molecular: pulsações do desejo. Nestes textos o autor procura mostrar como o capitalismo contemporâneo consegue controlar e organizar produtivamente não só as atividades econômicas tradicionais, mas também as que formalmente escapam da definição econômica de trabalho e como podemos resistir a esse processo. O que pretendemos com esse trabalho é compreender como o capitalismo aproxima o campo não produtivo do produtivo, transformando o campo não produtivo em sua extensão e, por sua vez, fazendo que este também produza.

Palavras-chave: capitalismo mundial integrado, produção capitalista, resistência.

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A dinâmica da metáfora em a Interpretação dos Sonhos

André Carone Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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O sétimo capítulo de A interpretação dos sonhos coloca em questão a própria natureza da metáfora [Gleichnis], em vez de ilustrar um certo objeto a partir de desvios semânticos: basta recordar que a famosa referência ao “umbigo do sonho, o ponto em que ele toca o desconhecido”, figura precisamente algo que não se pode conhecer. A comparação e a analogia aqui servem antes para definir os contornos do objeto a ser descrito, uma vez que a técnica e a teoria da interpretação do sonho não estão remetidas a um modelo conceitual consolidado: “Não podemos esclarecer o sonho enquanto processo psíquico”, diz Freud logo na abertura do capítulo, “po is explicar significa remeter ao conhecido, e neste momento não existe um conhecimento psicológico ao qual pudéssemos subordinar aquilo que se pode inferir do exame psicológico do sonho como base de esclarecimento”. Frente a essa indeterminação, torna-se necessário não deixar-se enredar pelas armadilhas do texto e buscar compreender a quais intenções servem as cadeias de metáforas fixadas por Freud em sua exposição da primeira tópica do aparelho psíquico.

Intenção e espécie inteligível na teoria do conhecimento de Tomás de Aquino

André de Deus BergerUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

Nosso objetivo é averiguarmos o papel cumprido pelas noções de espécie inteligível e intenção na hipótese de Tomás de Aquino sobre a ocorrência do processo intelectivo humano. Para tal, tomaremos por base as questões 84 e 85 da primeira parte de sua Suma de teologia, que tratam da operação intelectual do homem no que concerne aos sensíveis, uma vez que nelas é possível verificarmos a emergência destas noções e a relação entre elas. A espécie inteligível será definida como aquilo que é abstraído da coisa inteligida após a recepção da forma desta coisa pelos sentidos, e que permite ao intelecto conhecer a natureza universal das coisas, podendo ser entendida como um operador. A noção de intenção aparecerá sempre atrelada à universalidade, e será definida como o que permite que algo único tenha referência a muitos. Tomás afirmará também que esta intenção de universalidade é aquilo que está presente tanto na coisa que é inteligida quanto naquele que intelige, e dai se geram duas possibilidades sobre a relação entre estas noções (espécie inteligível e intenção): estará a intenção presente desde o início do processo intelectivo e esta proporcionará a abstração da espécie inteligível ou ocorrerá esta intenção ao final do processo intelectivo, ocasionada após a abstração da espécie inteligível? Para responder a tal pergunta, se deve verificar o que cada opção pretende salvaguardar, tomando por base que há uma exigência interna de raiz aristotélica na tese tomasiana de que o conhecimento humano advém do trato com as coisas sensíveis.

Odisséia e expressão literária em ‘O Capital’ de Karl Marx

André de Góes CressoniUniversidade de Campinas (UNICAMP)

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Tendo em vista o princípio estrutural da maior obra de Marx, o presente trabalho visa caracterizar o método de exposição de O Capital, buscando em sua expressão literária o motivo simbólico da “odisséia”. Trata-se de demonstrar que a construção conceitual da obra, para atingir a totalidade concreta do sistema capitalista, compreende o movimento de suas categorias. Neste movimento dialético, parte-se do elemento mais imediato do sistema, a mercadoria. Esta só é compreendida se acompanhada em todo seu trajeto pelo complexo de suas contradições imanentes. A conexão, portanto, do primeiro capítulo, que

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trata da mercadoria, com o último capítulo 52, que trata da luta de classes, não pode ser contingente. Ou seja, o trajeto demonstrou que o sistema social tem sua origem, em última instância, na luta de classes. A expressão literária de O Capital segue, assim, o motivo da “odisséia”: seu sujeito deve peregrinar pelo mundo para conhecer a si mesmo em sua totalidade. É essa, justamente, uma das características mais marcantes da tradição dialética desde Platão. Esta filiação de Marx à dialética hegeliana, onde o motivo da “odisséia” é também construído de maneira precisa na Fenomelogia do Espírito, resgata no fim das contas aquele caminho já proposto por Platão na Alegoria da Caverna. Este tema, portanto, repercute de maneira unânime nos grandes autores que buscaram elaborar uma teoria dialética. Assim também, no ambiente alemão, Goethe em sua obra Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister dá início a um gênero denominado pelos alemães de Bildungsroman, ou seja, romance de formação, retomando aquele símbolo que A Odisséia deixou como legado. Deste modo, Marx teria perpetrado este símbolo no interior de sua obra O Capital como um dos eixos fundamentais na estrutura e, por isso, na interpretação da mesma.

A relação entre a linguagem e a consciência em Nietzsche e em Freud

André Santana MattosUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

Fazemos aqui um estudo comparativo da relação entre a linguagem e a consciência em Nietzsche e em Freud, procurando delinear as semelhanças e diferenças entre as concepções dos dois autores. Em 1869, no pequeno texto intitulado Da origem da linguagem, Nietzsche apresenta uma concepção de linguagem que possui certa anterioridade em relação à consciência, na medida em que é necessária para o surgimento desta. No aforismo 354 de A gaia ciência, o autor, tomando a consciência como algo desnecessário à vida e essencialmente supérfluo, remete o seu desenvolvimento à necessidade de comunicação, e, reconhecendo também a primazia dos pensamentos inconscientes, afirma que o pensar que se torna consciente é apenas aquele que ocorre em palavras. Encontramos em Freud uma concepção bastante semelhante, formulada pela primeira vez no Projeto de 1895, e retomada em termos mais estritamente psicológicos em textos posteriores. Tal formulação, em seu teor psicológico geral, afirma que o pensar, para tornar-se consciente, precisa associar-se a representações lingüísticas. Porém, se esta descrição sumária da concepção freudiana a aproxima sobremaneira à de Nietzsche, devemos logo adicionar a ela um importante elemento distintivo: a razão pela qual o pensamento precisa da associação lingüística, para Freud, deve-se ao fato de que, para ele, a consciência está intimamente relacionada à percepção, antes de o estar à linguagem – desse modo, é através da descarga verbal, que é seguida de uma percepção da mesma, que a linguagem possibilita que os pensamentos tornem-se conscientes. Se considerarmos, além disso, a especificidade dos quadros teóricos onde se inserem as elaborações freudianas do tema, haveremos de marcar uma maior diferença entre os dois autores. Por fim, parece haver outra diferença, esta mais radical, entre ambos: trata-se do valor conferido à consciência, que em Nietzsche é marcado por uma forte negatividade, a qual não parece ser compartilhada por Freud.

Os três conceitos de consciência nas Investigações lógicas de E. Husserl

Andressa Alves SoutoUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista CAPES

Nas Investigações Lógicas, Husserl se propõe a esclarecer três conceitos de consciência e examinar as relações entre eles. O primeiro conceito, diz respeito à totalidade das vivências do eu; o segundo se refere à consciência reflexiva, ou seja, a auto-consciência; e o terceiro, é o conceito de consciência no sentido de vivência intencional. No presente artigo, procuro analisar o conceito husserliano de consciência desenvolvido nas Investigações. Para tanto, darei especial enfoque ao primeiro capítulo da quinta investigação, a fim de determinar a relação entre consciência e temporalidade.

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A reificação e a concepção dialética da teoria em História e Consciência de Classe

Bruno Moretti Falcão MendesUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

Neste presente trabalho, ao analisar o conceito de reificação exposto e desenvolvido por Lukács na parte central de sua obra História e Consciência de Classe, temos como objetivo delimitar a perspectiva teórica presente na obra, ou seja, a concepção dialética, que entende a teoria em interação com a constituição da realidade, em vinculação com a prática. Assim, a reificação ganha destaque ao ser compreendida como um produto social dos homens, como objetividade específica na forma de uma segunda natureza, e correspondendo a essa forma social, contrapõe-se uma teoria capaz de superar as aparências dos fenômenos sociais tendo como objetividade a apreensão da essência desses fenômenos, obliterada na forma mercadoria. Nesse sentido, da mesma forma que Lukács analisa as formas do ser reificado, como objetividade, também analisa as correspondentes formas de subjetividade exemplificadas no trajeto histórico da filosofia clássica alemã. A própria formação da subjetividade estaria afetada objetivamente pela forma mercadoria. Este seria o quadro da articulação dialética entre ser e consciência. É nesse sentido que o conceito de reificação está associado a uma teoria como consciência de si na realidade, o que exige associar a centralidade na análise da mercadoria de Marx com a dialética da formação de Hegel, posta no desenvolvimento da trajetória das antinomias da filosofia clássica alemã. Mas essa perspectiva dialética de uma teoria da reificação posta além do formalismo presente no método das ciências naturais exige o ponto de vista da totalidade, o que faz com que o vínculo entre teoria e prática e essência e aparência sejam desenvolvidos a partir da concepção de consciência de classe. O prisma da totalidade tornar-se-á o ponto de vista fundamental e necessário para compreender o método dialético e histórico de Lukács, em contraposição ao método das ciências naturais e a consequente perda da perspectiva prática da realidade.

A literatura, uma noção tardia:reflexão sobre as palavras e as coisas de Michel Foucault

Caio Augusto T . Souto Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

As palavras e as coisas (1966), assim como os demais ensaios de Foucault da época, afirmam ser a literatura uma noção tardia. Embora textos muito antigos, como os atribuídos a Homero, sejam considerados literatura, ela, enquanto noção, só encontrou seu lugar na modernidade, numa data que Foucault não precisou exatamente, mas indicou as transformações gerais na ordem do saber que a inauguraram, algo situado no limiar entre os séculos XVIII e XIX. A fim de entender por que o autor pôde dizer ser a noção de literatura eminentemente moderna, retomaremos a idéia de epistémê, central em As palavras e as coisas. Das três epistémês analisadas naquele livro (a do Renascimento, a da Idade Clássica e a da Modernidade), apenas a terceira pôde comportar a noção de literatura, embora seja aplicável, uma vez cunhada, a textos muito mais antigos. Esta reflexão recai sobre quais são, em linhas gerais, as mudanças profundas no saber ocidental que permitiram o “nascimento” ou a “emergência” dessa especificidade discursiva à qual se passou a denominar como literatura, e por que não poderia ter existido (enquanto função discursiva) em épocas precedentes.

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Sofrimento e modernidade.

Caio Eduardo Teixeira VasconcellosUniversidade de São Paulo (USP)

Bolsista [email protected]

O objetivo de minha apresentação será trazer à tona alguns aspectos das diferenças entre, de um lado, Weber e, de outro, Adorno e Horkheimer no que concerne à relação entre a questão do sofrimento dos indivíduos e do processo de abstração ocidental.

De acordo com Weber, a problemática do sofrimento imerecido atua como elemento desencadeador do longo processo de abstração que, se originaria nas primeiras manifestações da vida religiosa, mas se transforma qualitativamente nos desdobramentos das religiões da salvação. A fim de dar respostas a essas demandas, Weber afirma que essas religiões da salvação trilharam um caminho que se afastavam de práticas religiosas marcadas por elementos mágicos e se aproximavam de uma religiosidade sistemática, cuja racionalização da vida de seus seguidores estaria assentada em princípios abstratos. De maneira direta, a questão que me interessa será apontar para o fato de que, para Weber, diante das demandas e angustias individuais as religiões da salvação teriam oferecido aos seus fieis respostas baseadas em uma razão abstrata e, em alguma medida, formal.

Posteriormente, pretendo tratar da maneira pela qual Adorno e Horkheimer interpretam uma questão bastante próxima a essa, mas que, em larga medida, se distanciam da análise formulada por Weber. Pois, se também para os autores da Dialética do Esclarecimento, o processo de abstração que caracteriza as sociedades modernas pode ter sua atuação identificada nos primórdios da vida social e do simbolismo, essa razão abstrata que Weber apresentava como a saída religiosa diante da questão do sofrimento imerecido, aparece para Adorno e Horkheimer como a origem desse mesmo sofrimento. Isto é, longe de oferecer uma alternativa emancipadora, essa razão abstrata é, para esses autores, a fonte de angústias, de martírios e de penúrias para os sujeitos modernos.

Poder, Conflito e Violência: considerações sobre o pensamento político de Hannah Arendt.

Camila de Oliveira CasaraUniversidade Federal do Paraná (UFPR)

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Este trabalho tratará das relações que Hannah Arendt estabelece no campo filosófico quando apresenta seus conceitos de poder e violência. O que pretendemos demonstrar é que os conceitos arendtianos estão em constante relação entre si e com a realidade.

Segundo Hannah Arendt, a origem e significados dos conceitos atualmente utilizados na teoria política foram significativamente obscurecidos pelos eventos políticos contemporâneos. Para esta autora, o regime totalitário que aparece nas figuras do nazismo e stalinismo, são os eventos que liquidam qualquer possibilidade de explicação da realidade a partir do arcabouço teórico filosófico que apresenta a modernidade. Tal como a autora denomina, o rompimento com o fio da tradição, nos obriga a buscar outra tradição de pensamento pensada a partir das experiências da antiguidade clássica grega e romana, e que de tempos em tempos vêem expostas o sentido original de seus conceitos como poder e liberdade, espaço público e ação.

Os conceitos de poder e violência na teoria filosófica de Hannah Arendt se encontram diferenciados de maneira sui generis: diferentes, porém complementares. A arte de distinguir e relacionar empreendida por Arendt está ligada à sua relação com a tradição de pensamento político da antiguidade clássica, ao mesmo tempo em que se mantém em permanente diálogo com a realidade e experiências do mundo contemporâneo.

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Neste trabalho teremos como linha argumentativa a questão do conflito, como possível chave de entendimento para a relação que está sempre presente entre os fenômenos de poder e violência aqui apresentados. Hannah Arendt, ao distinguir tais fenômenos, não deixa de estabelecer a interessante relação de complementaridade na diferença entre ambos. Este será o fio condutor do trabalho. Assim, será a partir da relação entre o poder e a violência que o conflito, característica implícita da pluralidade, nos propõe a articulação entre os dois fenômenos.

Sartre e a consciência no processo da construção de si: o “Eu” como valor e projeto

Carlos Eduardo de MouraUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

bolsista CAPES [email protected]

O texto tem como objetivo mostrar a importância do pensamento de Sartre sobre as significações em torno do conceito de sujeito, sobretudo no processo da construção de si. O homem, livre criador de valores e significações, deverá superar a angústia e o desespero inerentes às suas escolhas concretas: é a construção de seu projeto. O homem sartreano será compreendido como fundamento (projeto) de si, como desejo e falta de plenitude. É deste modo que o para-si (movimento, temporalização, processo de historialização) encontrará no mundo a possibilidade da realização de seu projeto fundamental. Caracterizado como potência de simbolização (linguagem, conhecimento), o sujeito terá na consciência (na relação consigo, com o mundo e com o Outro) o projeto de fundamento de si. Por fim, procurar-se-á relacionar conceitos morais em Sartre (autenticidade, inautenticidade, liberdade engajada, autonomia, conversão, generosidade) com a construção de um “projeto consciente de si” como projeto visando um fim: é o processo livre de formação da personalidade.

Evolução e mística, segundo Henri Bergson

Catarina RochamonteUniversidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

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Segundo Bergson, é possível uma dilatação, uma extensão, um alargamento ou aprofundamento da percepção capaz de dotar a filosofia da precisão de que ela carece quando permanece no domínio puramente conceitual. Tal possibilidade encontra seu fundamento na tese bergsoniana da constituição do conhecimento por dissociação brusca ao invés de associação de elementos simples. Essa tese, ao considerar que a percepção supera o estado cerebral que corresponde à nossa representação, fundamenta a hipótese de uma percepção mais ampla que aquela que se dá em função da nossa faculdade de agir; tal hipótese encontra respaldo ainda na constatação da existência de homens “desprendidos”, nos quais a faculdade de perceber, desvinculada da faculdade de agir, torna-se uma visão privilegiada das coisas, visão esta que nos é apresentada nas obras de arte. Uma vez constatada a possibilidade de uma percepção desvinculada da necessidade de ação, caberia à filosofia deslocar metodicamente a nossa atenção para essa percepção mais completa da realidade. Ainda, dado que se estabeleceu uma relação entre desinteresse e amplitude de percepção, caberia também ao filósofo interpretar o significado metafísico da ação desinteressada, tão característica das almas generosas e santas. A evolução seria vista então como um esforço de liberação que se realiza no homem, sendo a alegria o sinal de que a energia espiritual que evolui encontrou sua destinação. Distinta do prazer, trata-se da alegria presente em toda criação, cujo apogeu seria a ação generosa das almas místicas por onde atravessaria sem obstáculos a impulsão vital original sob a forma de amor. Os místicos seriam misteriosamente insuflados pelo mesmo élan cujo desenvolvimento resulta no interminável espetáculo da evolução.

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As sexualidades no âmbito escolar. Respostas científicas e históricas transformadas em questionamentos e problematizações.

Cinthia Alves FalchiUniversidade Estadual Paulista (UNESP) – campus Marília

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Na pretensão de questionar e problematizar as relações que as sexualidades adquirem no espaço escolar, efetua-se, neste projeto, apontamentos acerca das diferenciações que Foucault manifestou para a produção de verdade, vinculada a área em questão: as sexualidades. Portanto, como primeiro passo haverá a diferenciação entre Ars erotica e Scientia sexualis, onde teremos por objetivo a tentativa de elucidar a respeito da formação de sujeitos sexuais a partir do científico. Neste trajeto será utilizado, como base de compreensão, a História da sexualidade I. Em seguida percorreremos pela Hermenêutica do Sujeito para que seja possível visualizar a vivência do cuidado de si em alguns de seus momentos históricos e a mudança que ocorre entre o cuidado de si grego, onde Alcibíades é visto por Foucault como obra central, e as modificações que ocorreram para que práticas de si e técnicas emergissem como maneira de se obter um “ocupar-se consigo” como imperativo romano. Durante o trajeto questões serão levantadas na tentativa de provocar uma inquietação e uma busca por possíveis novos caminhos, visto que, em nenhum momento o “espaço escolar” será deixado de lado na discussão. Ao contrário, tanto a formação do sujeito a partir da pedagogia como a partir da psicagogia serão utilizadas para que o foco da pesquisa não se perca em sua temática.

Algumas considerações sobre o § 452 da fenomenologia do Espírito de Hegel

Claudeni Rodrigues OliveiraUniversidade Estadual Paulista (UNESP)

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A importância da § 452 dentro da problemática da Fenomenologia do Espírito está centrada na figura do indivíduo morto. No âmbito da família o culto aos mortos, papel da mulher, por ser a guardiã dos costumes, significa o não esquecimento daquele que morreu. Nesse sentido, pretendemos desenvolver alguns aspectos que cercam essa discussão, atentando para a sua relevância na compreensão do movimento do espírito em Hegel.

Deleuze e a descolonização permanente da filosofia

Cleber Daniel Lambert da SilvaUFSCar/PPG-FIL e Université de Toulouse 2/ERRAPHIS

Bolsista [email protected]

A partir das obras Mille Plateaux e Qu’est-ce que la philosophie? de G. Deleuze (co-escritas com F. Guattari) e das contribuições recentes da antropologia de Eduardo Viveiros de Castro, sobretudo do seu Métaphysiques Cannibales, trabalho que faz um uso bastante inovador dos livros supra-citados, propomos articular o movimento deleuziano de dessubjetivação do transcendental, apontado por diferentes especialistas, a um outro não tão distinto, mas nem por isso menos importante, de todo modo praticamente ignorado pelos especialistas (exceção feita a François Zourabichvili), qual seja: o de desontologização da imanência. Essa articulação se faz tanto mais necessária quanto a desconsideração desse último movimento implica numa leitura da filosofia deleuziana que nela não encontra senão uma suposta nova ontologia ou uma outra metafísica, lançando mão, sobretudo, de seu bergsonismo para demonstrá-lo . Ora, se é verdade que a metafisica ocidental é a fons et origo de todos os colonialismos, deveremos ver no esforço fatigante da filosofia em se alimentar do problema do princípio (o Absoluto) a própria forma da colonialidade do pensamento. Assim, ao colocar o problema da gênese do pensar para além do problema do Ser (Ontologia) e da Consciência (Fenomenologia), como prática de

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criação de conceitos, em relação com a “terra” e com a “invenção de um povo”, Deleuze contribui para a descolonização permanente da filosofia e para a emergência disso que ele chamou de “geofilosofia”. Em jogo está o que se entende por filosofia prática de Deleuze e a maneira pela qual ela faz uso do bergsonismo.

A conflituosidade das relações intersubjetivas em “Entre quatro paredes” de Sartre.

Cristiano Garotti da SilvaPUC-SP

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A partir de Entre quatro paredes, peça teatral de Sartre escrita no ano de 1944, pode-se refletir a problemática do outro, já esposada em O Ser e o Nada. Na filosofia sartreana, o outro significa um empecilho e uma invasão, que se afirma por meio do olhar. O outro é tido como objeto pela consciência humana, assim como são captadas todas as coisas que estão fora dela. Assim como tomo o outro como objeto, também sou tomado como objeto por ele. Em um inferno, os três personagens da peça: Garcin, Estelle e Inês vivem o mesmo drama da relação intersubjetiva dos indivíduos singulares. Não foram esses personagens parar no inferno por acaso, pois cada um responde por um crime, e um será o carrasco do outro. Estão confinados numa sala, sem espelhos, sem necessidade de se alimentar ou de dormir, por toda eternidade, onde há apenas sofás para os condenados, e objetos inúteis. Estes são obrigados a se ver através dos olhos dos outros. Tudo isso os incomoda bastante, pois não conseguem enganar uns aos outros, por muito tempo, e, aos poucos, vão se constrangendo com o passar do tempo. Sem que possam sequer pagar pelos seus erros, descobrem o horror da nudez psíquica que os outros lhes demonstram. Encontra-se assim configurado o verdadeiro inferno: a consciência não pode se subtrair de enfrentar outra consciência que a denuncia, por isso: ‘o inferno são os outros’. Ao tomar-me como objeto, o outro me situa no tempo e no espaço, de modo que me ofereço sem defesa à apreciação alheia. Por isso, toda relação humana é conflitiva, e parte da disputa eterna pela objetivação. Busca-se, portanto, em Sartre, a inter-relação entre filosofia e ficção como formas de expressão.

Representação, causalidade e o problema das idéias abstratas na filosofia de David Hume.

Cristiano JuntaUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

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O problema que anima essa investigação consiste na elucidação de uma aparente contradição na interpretação de Don Garrett sobre o aspecto naturalista da teoria humeana da representação. Garrett defende em Hume’s naturalistic theory of representation que tanto as idéias como as impressões teriam um aspecto representativo em virtude da possibilidade delas estarem, ou serem pensadas como estando, em relações causais. Consideramos a possibilidade de construir um paradoxo quando aplicamos essa interpretação na discussão de Hume sobre as idéias abstratas e sua natureza representativa (Tratado, Seção 7, Parte 1, Livro 1). O paradoxo seria o seguinte: Se tomamos as duas definições de causa que Hume expõe (Tratado, Seção 16, Parte 3, Livro 1) como enunciando uma teoria regular da causalidade (i.e. eventos do tipo A são seguido de eventos do tipo B) chegaremos facilmente na conclusão de que a função representativa das idéias abstratas depende ela mesma de um procedimento de generalização, logo, pressupondo justamente aquilo que deveria explicar. Notamos que o próprio Garrett em seu livro Cognition and Commitment in Hume’s Philosophy rejeita que a posição de Hume sobre a causalidade possa ser reduzida a uma teoria regular simpliciter. Nesse contexto, a posição humeana sobre a causalidade é “aberta a uma mudança temporal” como função de um “progresso conceitual” no uso dessa noção,

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em vez de ser o estabelecimento de um critério rígido e imutável do conceito. Essa posição nos leva a considerar que a discussão humeana sobre a relação entre as noções de causalidade e representação devem ser tratadas como uma investigação metafísica e não somente como uma tentativa de fixação de critérios para um uso epistemológico desses conceitos. Concluímos esse estudo retornando à questão do aspecto representativo das idéias abstratas para avaliar a pertinência dessas considerações.

Verdade e subjetividade nos estudos de Foucault sobre a ética clássica: uma estética da existência

Daniel Verginelli GalantinUniversidade Federal do Paraná (UFPR)

Bolsista [email protected]

Nesta comunicação apresentamos inicialmente as principais alterações pelas quais passam os estudos de Michel Foucault durante os anos 80, quando estes são redirecionados para o campo da ética na Grécia clássica e período helenístico. Trata-se do estudo das técnicas através das quais os indivíduos se constituem a si mesmos enquanto sujeitos éticos a partir de relações de si para consigo. Para isso nos concentramos na introdução de “O uso dos prazeres” e “O cuidado de si”. Em seguida destacamos a articulação entre verdade e subjetividade deste momento (nos restringimos à Grécia clássica, tratada em “O uso dos prazeres”). Entre gregos, a figura da verdade está intimamente ligada à prática da liberdade na vida política. No entanto, mesmo que a constituição de si como sujeito ético e sujeito de conhecimento não se separem, esta verdade não é fruto de uma hermenêutica do desejo como no caso do cristianismo, mas sim daquilo que Foucault denomina “estética da existência”. Por esse termo devemos entender uma existência que não se pauta pela obediência a um código transcendente, mas por certos princípios gerais que regem o bom uso dos prazeres, evitando que o indivíduo se torne escravo destes. Daí sua ligação com a liberdade: para entrar na vida política, era necessário governar a si mesmo, de modo a não se deixar escravizar pelas próprias paixões; trata-se do isomorfismo entre governo de si e governo dos outros. Foucault encontra na Grécia clássica uma noção de verdade diferente da acepção epistemológica, uma verdade diferente daquela que participa da produção de sujeitos assujeitados como verificado na modernidade; o estatuto deste “si” é, então, diferente daquele do sujeito moderno. Por fim, com o auxílio de algumas entrevistas e comentadores, apontamos para a possibilidade de estabelecer conexões entre o trabalho de Foucault neste período (anos 80) e o presente.

Fundamentos da crítica schopenhaueriana à epistemologia kantiana

Daniele da Silva FariaUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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Inúmeras vezes, ao longo de suas obras, é comum Schopenhauer afirmar que sua filosofia é herdeira apenas de Platão, Kant e dos Vedas, mas a herança recebida desses três, em muitos aspectos, não concorda e é contraditória às suas próprias teses. Contudo, as impressões deixadas por eles teriam sido muito profícuas para o desenvolvimento de sua filosofia, revelando que, mesmo uma vez admitido a importância cervical dessas filosofias para suas próprias ideias, Schopenhauer manteve uma postura crítica. Desprezando a maior parte das interpretações dos idealistas alemães, Schopenhauer proclamava-se o herdeiro diretamente das ideias kantianas, e o único apto a corrigir o que apontava como contradições das teorias autenticamente geniais da Crítica. Dentre todos os méritos de Kant úteis à sua própria filosofia, ele ressalta que o primeiro e maior foi a distinção entre fenômeno e coisa-em-si, na qual é abstraído do noumeno a participação das formas a priori do entendimento (que Schopenhauer concebe como funções cerebrais), a separação entre conhecimento a priori e a posteriori. Kant sustentou

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que as categorias lógicas do conhecimento são formas intelectuais, leis da representação que não podem ser utilizadas para além dela, pois o conhecimento a priori depende do sujeito, e isso impede qualquer tentativa de alcance da essência das coisas, ou seja, impossibilita a metafísica, e deixa caminho aberto apenas para a crítica da razão pura. Para a epistemologia schopenhaueriana, a delimitação entre o conhecimento físico e metafísico é útil, mas a dedução kantiana da tábua das doze categorias do entendimento e a consequente impossibilidade de conhecimento da coisa-em-si são refutadas. À luz da teoria do conhecimento kantiana, exposta na Crítica da Razão Pura, o seguinte texto comenta a crítica schopenhaueriana do conceito kantiano de Kausalität (causalidade) desenvolvida no apêndice Crítica da filosofia kantiana da obra O mundo como vontade e representação, e na tese de doutorado de Schopenhauer, a saber, Da quadrúplice raiz do princípio de razão suficiente, a fim de apresentar os princípios fundamentais da refutação da impossibilidade de conhecimento da coisa-em-si.

Análise dos Principais Apontamentos Kantianos Sobre o Espaço em 1768

Danilo Fernando Miner de OliveiraUniversidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

[email protected]

Este texto busca reconstruir a evolução do pensamento kantiano no que se refere à ideia de espaço. Mais especificamente, trata-se de investigar alguns pontos relevantes para a interpretação de Kant no escrito de 1768 intitulado Sobre o Primeiro Fundamento da Distinção de Direções no Espaço. Este é o primeiro escrito em que autor apresenta a irredutibilidade da intuição espacial a conceitos, cuja prova é dada pelo exemplo das contrapartes incongruentes. O autor não só defende a ideia de um espaço absoluto newtoniano como também apresenta consistente argumentação na refutação da tese de Leibniz de que corpos iguais em extensão e similares em sua forma são necessariamente congruentes. Defende-se o pensamento de que se a tese leibniziana fosse verdadeira não poderíamos de modo algum nos orientarmos geograficamente ou reconhecer o lado esquerdo de meu corpo como realmente lado esquerdo em relação ao lado direito. Logo, considerando uma das mãos isoladamente não se pode dizer se é direita ou esquerda na medida em que ambas são iguais em extensão e similares quanto à forma, tanto que uma luva esquerda não serve em uma mão direita. Uma é a partida incongruente da outra e sua orientação diversa não se encontra nestes membros e sim numa natureza diferentes destas, a saber, o espaço absoluto. Se não houvesse esta diferença teríamos que dizer que a mão em si mesma é indeterminada e serviria em ambos os lados do corpo humano. Disso resulta, justamente pela orientação espacial e pelas contrapartidas incongruentes, que o espaço não depende das disposições da matéria nele contida, ao contrário, é a matéria que depende do espaço. Este novo modo da concepção do espaço permitiu que Kant se afastasse da concepção de espaço leibniziana e adotasse de modo evidente uma posição newtoniana.

A fragilidade humana e suas implicações no comportamento ético

Danilo PerschProfessor na Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)

Ex-aluno da Pós-Graduação em Filosofia da [email protected]

A finitude da vida é um dos problemas existenciais mais emblemáticos. O mesmo não atinge apenas nós, os humanos. Cada coisa que há na natureza, cada acontecimento, cada condição e situação têm um começo e um fim. Também não somos indivíduos por excelência para os quais a morte representa o fim. Todos os seres vivos são mortais. Mas como humanos temos um problema específico diante da finitude e da morte: somos os únicos seres que têm consciência da própria e necessária mortalidade, certeza essa que se constitui como um determinante das nossas ações, o principal, talvez, ao longo da vida. Com um simples olhar para o passado tem-se a denotação de que as pessoas e povos de todas as épocas, em seus mitos, suas religiões, suas culturas, literatura e ciência, se defrontaram com o problema da

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morte. Também a filosofia, enquanto área metódica de reflexão e conhecimento conquistou seu espaço nessas discussões. De que forma? Talvez nem tanto pelo viés da pesquisa, uma vez que os filósofos são praticamente unânimes em afirmar que a morte não tem nada a ver com conhecimento. Mas por outro lado há também na filosofia uma quase unanimidade quanto à concepção que defende a possibilidade de cada pessoa poder determinar seu espaço, sua realidade e seu comportamento em relação aos outros bem como ao mundo. E nesse sentido há uma estreita relação entre finitude e ética, como se perceberá no decorrer do texto. A análise será baseada em alguns pequenos textos de filósofos antigos, respectivamente: Fédon de Platão, Carta a Meneceu do filósofo Epicuro, Consolação à Márcia de Sêneca; e de um texto: De como filosofar é aprender a morrer do já moderno filósofo Montaigne.

Nietzsche: liberdade, tragédia e destino.

Eder David de Freitas MeloUniversidade Federal de Goiás (UFG)

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A partir da análise nietzscheana da tragédia grega e do fenômeno dionisíaco, pretendo abordar nesta comunicação um possível sentido trágico para a existência, tendo como eixo argumentativo a particular relação que Nietzsche faz entre os conceitos de liberdade e destino. Tanto na estética trágica como no êxtase dionisíaco, Nietzsche argumenta que a mensagem transmitida é a sabedoria da natureza, da vida, do deus Dioniso. Essa sabedoria ensina que o indivíduo não está desprendido do mundo; o dualismo homem/natureza é abolido pelo frenesi dionisíaco o qual proporciona um sentimento de unidade no homem que o torna capaz de reconhecer-se como natureza, como parte integrante do mundo. Dessa forma, o destino do homem e do mundo estão ligados, são um; a liberdade deixa de ser encarada como um posicionamento solipsista do homem ante ao mundo, passando a um novo estatuto. Nele, uma aceitação e afirmação das contingências e necessidades da existência configura-se como um ato de fidelidade à terra no qual o homem experimenta o sentimento de liberdade; nesse ato o homem sente-se livre quando deixa de agir arbitrariamente e passa a fazê-lo harmonicamente às pulsões terrestres. Assim, Nietzsche faz uma espécie de amálgama entre a liberdade e o destino. O resultado disso é uma existência consciente de sua tragicidade, da fragilidade que permeia tanto a fortuna como a má sorte.

Descartes e Hobbes: A questão da subjetividade como ponto de encruzilhada

Edgard Vinícius Cacho ZanetteUniversidade de Campinas (UNICAMP)

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Em Descartes, a ligação entre res cogitans e ser sujeito é complexa. A referência a res cogitans como significando os termos “sujet” ou “subiectum” não é tão clara como muitas vezes a tradição afirma que seja. A fórmula que se tornou clássica: ser consciente de algo é ser sujeito de algo, apesar de condizente com a metafísica cartesiana, ao buscarmos ligar os termos “sujet” ou “subiectum” a esse significado, permanece complexa. Assim, as nossas esperanças em afirmações textuais cartesianas, tais como: minha filosofia é uma filosofia do sujeito ou da subjetividade, são frustradas e a questão permanece envolta em dificuldades. Considerando essas peculiaridades, faz-se necessário um mapeamento da noção cartesiana de subjetividade em suas várias significações possíveis. Um dos textos mais importantes acerca desta noção são as próprias críticas de Hobbes à Descartes, nas quais aparecem várias acusações sobre o uso que Descartes fez do termo pensamento, que se referiria a muitas coisas sem separar o ato de pensar do sujeito a partir do qual o ato emerge. Para Hobbes todos os filósofos, exceto Descartes, distinguem o sujeito de suas faculdades e atos. A questão é determinar o porquê, para Descartes, desta equivalência entre a coisa mesma (res cogitans) e os seus diversos atos reflexivos, de modo que o sujeito dos atos e seus próprios atos possuam uma relação representacional sem que ocorra, contudo, uma dissolução ou um

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descolcamento do próprio sujeito do pensar. Tendo em vista estes problemas concernentes à metafísica cartesiana, este trabalho propõe mostrar que as críticas que Hobbes apresenta nas Terceiras Objeções e Respostas à noção cartesiana de pensamento, antes que tematizar tão somente o próprio cogito, na verdade, também problematiza várias significações fundamentais à noção cartesiana de subjetividade para além das Meditações.

Sobre a crítica de Schopenhauer à doutrina das categorias de Kant e sua suposta redução à categoria de causalidade.

Élcio José dos SantosUniversidade Federal do Paraná (UFPR)

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O objetivo da presente comunicação é abordar a questão da crítica schopenhaueriana à tábua de categorias de Kant. Para Schopenhauer, podemos nos desfazer de onze das doze categorias, sem prejuízo, exceção feita à categoria de causalidade. Ele rejeita a dedução das categorias a partir da “tábua dos juízos lógicos”, por acreditar que, assim, Kant estaria promovendo uma inversão da hierarquia entre representações intuitivas e abstratas, o que privilegiaria o pensamento em detrimento da intuição. Ademais, tal dedução seria forçar o campo intuitivo a caber dentro de sua tábua de conceitos puros. O entendimento adquire, em Schopenhauer, total independência da razão. A causalidade, juntamente com o espaço e o tempo são formas a priori que, unidos no entendimento, fazem com que toda intuição já seja intelectual, independentemente de conceitos. Os conceitos são representações abstratas e o objeto da faculdade de razão. Todavia, o objeto da razão (conceito, discurso, logov, ratio, discorso) independe da intuição apenas formalmente, pois só encontra seu conteúdo e significado nas representações intuitivas, diretamente ou por derivação, sem as quais são “vazios e nulos”. Apenas em um segundo momento a razão fixa o dado intuitivo sob a forma de conceitos. Uma vez que o entendimento independe da faculdade de razão e não opera com conceitos, poderíamos sem prejuízo, para Schopenhauer, quanto às categorias, “atirarmos onze pela janela” e conservarmos apenas a de causalidade. Podemos crer que a causalidade em Schopenhauer não tem mais o status de uma categoria (conceito puro do entendimento) como o era em Kant, mas de uma mera forma a priori do conhecimento intuitivo, o que nos leva a questionar se há de fato uma redução ou simplesmente uma mudança de status.

A Fenomenologia, a Natureza e o Sensível em Merleau-Ponty

Eloísa Benvenutti de AndradeUniversidade de São Paulo (USP)[email protected]

Nossa pesquisa pretende investigar a origem e consolidação da ideia de carne na ontologia que começa a surgir na obra merleau-pontiana dos anos cinquenta, ilustrada pela passagem de uma concepção de sujeito encarnado no mundo para a ideia de ser-mundo ou carne. Para tanto, percorreremos as teses utilizadas por Merleau-Ponty para resolver os problemas referentes à questão da união entre espírito e corpo, oriunda dos vários destinos em que se desdobram principalmente as filosofias de Descartes e Kant na obra deste autor. Nosso intento é o de traçarmos os passos que conduzem Merleau-Ponty até este momento, qual seja, o momento da generalidade do sensível em si. Nossa hipótese é a de que o sensível e a natureza são os pontos de partida para um refinamento do projeto iniciado já na Fenomenologia da Percepção (1945). Desse modo, nossa intenção é evidenciar que o projeto de Merleau-Ponty desde os anos 40, até a elaboração de O Visível e o Invisível (publicado postumamente em 1964), não separa a tarefa da fenomenologia como filosofia da tarefa da ontologia, mas como o filósofo escreve em O Filósofo e sua Sombra, o propósito último da fenomenologia como filosofia da consciência é compreender sua relação com a não-fenomenologia. Feito isso, veremos também que a filosofia de Merleau-Ponty o conduzirá a uma investigação sobre a tarefa da própria Filosofia como Fenomenologia.

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Michel Foucault e o Modernismo Literário Francês.

Fabiano Barboza VianaUniversidade de São Paulo (USP)

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Para além da discussão sobre os limites da modernidade (circunscrita de diferentes modos nos textos de juventude e nos últimos trabalhos), interessa-nos a importância atribuída por Michel Foucault, sobretudo na década de 1960, à produção dita “literária”, do final do século XIX à primeira metade do século XX “no que tange uma experiência inumana da literatura” como atualidade. Neste momento, as referências à literatura contemporânea serão recorrentes, resguardando um espaço específico no campo do saber para a reflexão sobre as obras de autores como Mallarmé, Blanchot, Proust, Bataille, “os novos romancistas”, entre outros.

Para Foucault, obras como as de Raymond Roussel ofereceriam uma alternativa à crise do conhecimento, esse fundado num discurso dialético, humanista e fenomenológico. Com efeito, a literatura colocaria a nu um espaço próprio de desdobramento, onde as representações do pensamento ocidental seriam levadas ao paroxismo: experiência da morte, do pensamento impensável, da repetição da linguagem, da finitude.

Para tratar dessas questões, daremos relevo aos “procedimentos” utilizados por Roussel para assim evidenciar como Foucault opera conceitualmente com essa “escrita transgressiva” da modernidade francesa.

A reflexão sobre Deus na discussão dialética do De ordine de Agostinho de Hipona

Fabrício Klain CristofolettiUniversidade de São Paulo (USP)

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No diálogo De ordine (Da ordem) de Agostinho de Hipona, os interlocutores não procuram somente compreender de algum modo a complexa ordem universal, mas também o seu princípio único. Dada a tese de Licêncio no livro I, de que é Deus quem ‘governa tudo com ordem’ (cuncta ordine administrare), cabe a Agostinho, como interlocutor dialético, examinar cuidadosamente tal afirmação. Notam-se no livro II quatro principais questionamentos que servem para verificar essa tese. Primeiramente, deve-se decidir se Deus ‘governa a si próprio com a ordem’ (se ordine agat) ou se todas as coisas são governadas com a ordem ‘com exceção de si próprio’ (praeter eum). Em segundo lugar, passa-se a examinar se os ‘bens’ (bona) que estão ‘junto a Deus’ (apud Deum) estão na ordem ou não. Em terceiro lugar, indaga-se, pelos exemplos do céu, do sábio e do ignorante, se o que está em movimento está ‘com Deus’ (cum Deo), isto é, se está na ordem governada por Deus. E, em quarto lugar, discute-se se a ‘ignorância’ (stultitia) está ou não na ordem. Como resultado, Agostinho utiliza tais discussões para mostrar que tudo está na ordem, mas não o próprio Deus; que tudo o que está ‘junto a Deus’, portanto, está fora da ordem; que tudo o que foi e é criado está na ordem, ‘com Deus’, inclusive o que é móvel e sensível; que as coisas ‘que podem ser pensadas’ (quae possunt intellegi) estão na ordem, como o ignorante; e que não está na ordem tudo o que é impensável, como a ignorância, que nada é.

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Uma defesa do senso comum: breves considerações sobre proposta filosófica de Thomas Reid

Fernando Cesar PilanUNESP - MaríliaBolsista FAPESP

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O objetivo de nosso trabalho é apresentar alguns elementos da defesa filosófica do senso comum levada a cabo pelo pensamento de Thomas Reid. Pertencente à escola escocesa, Reid pretende defender o que ele denomina como instintos do homem comum, ou em outras palavras, senso comum. Para o autor, há um tipo de conhecimento próprio da natureza humana que se manifesta no conhecimento ordinário do agir comum, antecedente ao conhecimento proposicional. Este tipo de saber que Reid denomina de instintos seria uma fonte de conhecimento no sentido de utilidade à vida cotidiana que, muito antes do pensamento intelectualmente formulado, se trata de um saber mantenedor da vida. Definindo as atividades instintivas como as atividades cognitivas mais básicas do ser humano, o autor critica a tradição por criar rupturas artificiais entre o instinto e a episteme. Para o autor, os instintos são inerentes à natureza humana e permitem a qualquer ser humano, independentemente de idade, grau de instrução ou formação tratar com competência de problemas existencialmente cruciais. Assim, para o autor não há níveis inferior e superior na esfera do conhecimento: a pretensa superioridade da razão sobre os instintos parece ser uma leitura equivocada das capacidades cognitivas humanas. O que a tradição afirmava serem meros instintos desprovidos de inteligência constituem atividades que possuem um relevante estatuto epistêmico, mesmo que independente de trâmites teórico-racionais. Em suma, Thomas Reid se contrapõe à concepção tradicional dualista que pressupõe existir um abismo entre o conhecimento racional e o conhecimento comum, na medida em que defende uma relevante manifestação cognitiva no senso comum.

A questão da antropologia entre o empírico e o transcendental: Foucault sobre Kant

Fillipa SilveiraUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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Este trabalho tem o propósito geral de expor a questão da antropologia tal como ela se apresenta para Foucault no texto de introdução à sua tradução da Antropologia do ponto de vista pragmático de Kant. O objetivo aqui é o de precisar uma questão que aparecerá de maneira mais desenvolvida em As palavras e as coisas, e que congrega o grande impasse subjacente a toda antropologia: que o conhecimento em torno do homem o considere, ao mesmo tempo, como ser de natureza, condicionado empiricamente e marcado pela finitude, e como ser de liberdade, de linguagem e possibilidade. O conhecimento em torno do Homem o teria dotado de um suposto privilégio metafísico (a alma) pelo fato de ele não se encaixar inteiramente e unicamente como elemento da natureza (Physis). Para escapar à psicologia tanto racional como empírica, Kant trabalha com as implicações “pragmáticas” do conceito de “sentido interno” (Gemüt), que Foucault examinará detidamente. O exame parece nos revelar dois desdobramentos principais: 1 - que a investigação da antropologia kantiana revela mais sobre o contexto do nascimento de um saber do “normal por excelência” que regulará as práticas de assujeitamento vinculadas a ideias de saúde/ sanidade e 2 – que o saber sobre o homem revela também os limites e dificuldades epistemológicos do próprio sujeito do conhecimento e sua dissolução no que Foucault chamará de um saber de “nós mesmos”.

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A Ética Samurai e a construção de uma Nação: a apresentação da Ética Oriental Moderna na obra de Inazo Nitobe

Gabriel Pinto NunesUniversidade de São (USP)

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Esta apresentação tratará brevemente sobre o surgimento de uma ideologia baseada em uma releitura de um antigo código de conduta dos samurais – conhecido como bushidô, que serviu de base para a criação de uma utopia de nacionalista nipônica decorrente da construção de uma identidade nacional. A primeira versão do bushidô a chegar ao ocidente surgiu durante o Período Meiji (1868-1912) pelas mãos de Inazo Nitobe (1862-1933) por meio da obra Bushido – The Soul of Japan (1900), na qual associava valores cristãos com a cultura japonesa com o intuito de viabilizar a aproximação cultural entre ocidental e Japão, além de fornecer uma identidade nos moldes dos padrões europeus. O processo pelo qual o Japão passou é similar ao que os povos europeus passaram para construir a ideia de tradição.

A linha de raciocínio traçada por Nitobe, mesmo não ficando muito clara na obra, é sustentada pela vertente do confucionismo Oyômei com traços do Zen Budismo e do xintoísmo estatal. Também conta com interpolações do pensamento ocidental, como o evolucionismo social de Herbert Spencer, desempenhando o papel de garantia da evolução da espécie por meio da vida regrada por um ideal ético, o idealismo romântico de Carlyle, o qual forneceu a base para a construção do herói nacional corporificado pelo samurai, e o conservadorismo histórico de Burke, tendo em vista que a obra de Nitobe se assemelha a obra Reflexões sobre a Revolução em França.

A noção da “excedência” dentro a filosofia francesa contemporânea

Maes GautierMaster Erasmus Mundus Europhilosophie

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Uma parte da filosofia francesa contemporânea tenta de pensar um novo tipo de relação entre o ser humano e o seu ambiente. A ideia é de pensar uma relação que não é mais entre um sujeito interno e um objeto construído por aquele sujeito, mas uma relação de “transdução” (conceito de Simondon) ou de “instituição” (conceito de Merleau-Ponty). Esse tipo de relação deixa a transcendência do objeto e pensa um dialogo entre o sujeito e o objeto que nunca acabo. O objeto fica dentro a transcendência dele, mas não pode existir sem um sujeito que o descubra e o perceba. O objeto faz o sujeito e o sujeito faz o objeto. Os dois têm relações, mas ficam separados. Existe um meio e uma construção recíproca entre os dois. Esse tipo de relações pode ser visto, por exemplo, dentro a filosofia de Foucault, por quem as normas são a origem da subjetividade, mas conservam a independência delas, ou ainda dentro de toda a fenomenologia do Merleau-Ponty para quem todas as relações são desse tipo. Meu objetivo é o de mostrar a importância desta revolução entre as relações sujeito/objeto para pensar um novo desenvolvimento da subjetividade. Meu trabalho vai se centrar na filosofia de Merleau-Ponty e em sua noção de instituição. Quero mostrar que a noção de instituição pode ajudar a entender a filosofia de Merleau-Ponty em geral. Além disso, pretendo propor o conceito de “excedência” para pensar aquele tipo de relações que podemos ver na filosofia francesa contemporânea.

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A passividade no princípio que fundamenta a ciência para Descartes

Geder Paulo Fridrich CominettiUniversidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

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Descartes fundamentou as bases seguras da ciência sobre o conceito de sujeito. Mas, isso significa que o homem faz ciências? Talvez. O artigo fita mostrar o caráter passivo da constituição da ciência e de que modo o sujeito cartesiano é deixado de lado quando na sua confecção. Para tanto, mostrar-se-á que o sujeito cartesiano, enquanto substância pensante, encontra-se munido de dois aspectos de atuação, a saber, um modo passivo de se apresentar e um modo ativo. O primeiro corresponde à percepção. O segundo corresponde às vontades. Neste sentido, a ciência, enquanto descrição do mundo, acaba por se caracterizar por um elemento passivo de percepção, sendo ela construída ignorando o aspecto ativo do sujeito, a saber, as vontades. A percepção em Descartes acaba por se caracterizar por ser a capacidade de enformar os objetos mentais adquiridos através dos sentidos. A idéia é o modo de conceber de que a percepção se serve para dar formas aos objetos mentais. Idéia e percepção conservam uma linha tênue que as diferencia, e a idéia enforma mesmo as vontades. No entanto, o ato de enformar os objetos mentais independe de julgamentos do sujeito porque é uma ação passiva. Por outro lado, o sujeito acaba aparecendo diante de uma ação. Este fato pode ser claramente demonstrado da existência que o ser pensante, submerso na duvida metódica de caráter hiperbólico, descobre sua existência e sobre ela se sente impotente, ou seja, diante de um julgamento e de uma ação. Por fim, pretende-se mostrar ainda que as bases da ciência como toda sua constituição precisam de uma ação que desencadeia uma percepção irrefutável, clara e distinta, e que, por este motivo, a ciência é constituída sob um aspecto passivo da alma.

Eventos, ações e descrições

Guilherme Sanches de OliveiraUniversidade de São Paulo (USP)

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Fenômenos da natureza e nosso local de nascimento são exemplos claros de eventos sobre os quais não temos controle; intuitivamente consideramos que tais eventos são independentes de nossa agência, mas simplesmente acontecem a nós. Em outros casos, a linha que separa mero evento e ação genuína é menos óbvia, e a análise requer mais cuidado. Em busca de um critério definitivo, Donald Davidson propõe em “Agency”(1971): “se um evento é uma ação, então sob certas descrições ele é primitivo, e sob outras descrições é intencional”. Isto parece estar de acordo com o senso comum, que, de maneira geral, entende ações como distintas de outros eventos pela presença tanto de causalidade quanto de intenção, porém a concórdia é apenas aparente. De fato, ao afirmar a possibilidade de ambas os tipos de descrições, ele também afirma sua não-necessidade. Davidson aponta que atribuições de intenção são opacas, enquanto ações se expressam de maneira extensional (v. caso de Hamlet e a morte de Polônio). Motivado por essa dificuldade, ele defende que o conceito de agência é “mais simples ou mais básico que o de intenção”, e que “nossas ações primitivas, aquelas que nós não fazemos ao realizar outra ação, meros movimentos do corpo – estas são todas as ações que existem”. A proposta de Davidson, ao atribuir a ações apenas uma intencionalidade descritiva, evita o problema filosófico de explicar conteúdos mentais, mas acaba por trivializar o próprio conceito de ação, basicamente equiparando-o aos atos primitivos de movimentos do corpo. Minha proposta neste trabalho é que, no sentido relevante, ações são tentativas de realizar algo, e por isso necessariamente envolvem intenções. Embora tenha como custo manter o problema metafísico da mente, minha posição tem como ganho assegurar uma noção não-trivial de agência, e uma distinção relevante entre eventos e ações.

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David Hume e os pressupostos da abstração

Gustavo Oliveira Fernandes MeloUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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Claro está, uma vez observadas as seções que abrem o Tratado, que há uma tensão entre as teses humeanas e o vocabulário empirista que lhe fornecera subsídios para fomentar o debate das mais variadas questões. Se caso tomassemos como exemplo as sete primeiras seções do Tratado, não seria difícil de ali notar uma certa inflexão quanto aos significados dos conceitos de impressão, ideia e perpecção. O que pode ser sentido seja através de uma crítica aberta, como é o caso do Sr. Locke, citado numa nota cujo intuito era mostrar o contraste do termo impressão utilizado no Tratado, seja por um leve deslocamento conceitual, um tanto velado, o qual não pode ser atribuido senão a uma imposição interna da obra. O primeiro, de tão evidente, é facilmente subjulgado. O segundo tende sempre a passar despercebido, a bem da verdade, esse último só ganha forma a partir do confronto entre os resultados obtidos pelo Tratado com um certo pano de fundo empirísta. Um bom exemplo para ilustrar esse caso está na tensão entre a tese das ideias abstratas, dos conceitos que a estruturam e as consequências dela obtidas nessa obra, sobretudo, quando nos lembramos da última citação feita na Parte I do Tratado, na qual Hume declara uma adoção irrestrita à tese da asbtração de George Berkeley. Porém, se a tese adotada no Tratado não parece divergir em quase nada com a tese do Tratado sobre os princípios do conhecimento humano, o mesmo não pode ser dito sobre suas consequências. Bastaria, para expor os conflitos que envolvem esse caso, citar apenas uma consequência famosa da obra de Berkeley, seu imaterialismo, para que notassemos uma divergência significativa com a obra humeana. Portanto, é nosso dever investigar as inflexões conceituais que moldaram o vocabulário humeano, em especial, naqueles conceitos que serviram de lastro para a tese da abstração, cujo reflexo pode ter sido responsável por desviar a obra de Hume de um curso geral empirista.Gustavo Melo

Ontologia da arte e a hipótese do objeto físico: o caso das obras de arte singulares

Jean Rodrigues SiqueiraUniversidade Camilo Castelo Branco (UNICASTELO)

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Obras de arte pertencentes a gêneros como a pintura e a escultura podem ser identificadas com os materiais que as constituem? A obra “A floresta” de Germaine Richier, uma escultura em bronze atualmente presente no acervo do MAC-USP, pode ser reduzida ao pedaço de bronze para o qual apontaríamos ao falar inequivocamente da obra “A floresta”? Seria a pintura “Retirantes”, de Cândido Portinari, exatamente o mesmo objeto que as camadas de tinta a óleo distribuídas sobre uma certa tela pendurada em uma das paredes do MASP? As questões que acabam de ser levantadas dizem respeito àquele que é considerado o problema fundamental da ontologia da arte, a saber, o problema de determinar que tipo de entidade são os objetos artísticos. Em particular, essas questões colocam em discussão uma possível resposta a esse problema, reposta esta que se baseia justamente na suposição de que todas as obras de arte são objetos físicos – suposição batizada por Richard Wollheim como “hipótese do objeto físico”. Essa concepção, embora em consonância com a visão do senso comum, goza, no entanto, de pouco prestígio entre os filósofos da arte, principalmente porque obras características de gêneros artísticos como a literatura ou a música, por exemplo, ao serem passíveis de múltiplas ocorrências, dificilmente podem ser identificadas com elas, sob pena de assim violar preceitos básicos da física clássica (como o de que um mesmo objeto não pode existir simultaneamente em lugares diferentes do espaço). Contudo, alguns autores ainda insistem que obras singulares como as pinturas ou esculturas podem perfeitamente ser compreendidas como meras coisas materiais – e é precisamente esta concepção que será aqui examinada. Nesse sentido, serão apresentados e discutidos alguns argumentos que negam a identidade entre as obras de arte e sua contraparte material, bem como os contra-argumentos que comumente ocorrem na literatura sobre o assunto.

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Silêncio e linguagem em Merleau-Ponty

Jeovane CamargoUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

Ao analisar a noção de um pacto original entre corpo e mundo, na Fenomenologia da percepção, de Merleau-Ponty, nos propomos investigar em que medida a linguagem é ainda entendida ali como tradução. A partir de algumas passagens da Fenomenologia da percepção, buscamos, primeiro, explicitar como o texto sensível oferecido pela percepção se articula com a linguagem. Por um lado, originariamente a percepção se faz de maneira silenciosa, anônima e o comportamento se realiza segundo uma enformação de corpo e mundo na emoção. Por outro, a linguagem nasce dessa relação perceptiva original. Como o gesto perceptivo, ela é um dos usos possíveis do corpo. No entanto, como do movimento silencioso do corpo pode originar-se a linguagem? Segundo certas interpretações, Merleau-Ponty teria recolocado na Fenomenologia da percepção uma “interioridade”, à qual tornaria possível a passagem ao âmbito propriamente lingüístico. No entanto, essa “interioridade” revelaria um dualismo justamente ali onde se tentava recusá-lo. Tendo em vista a noção de um pacto original como a abertura da experiência, tentamos mostrar, ao contrário dessas interpretações, como o problema mais próprio da Fenomenologia da percepção é, talvez, o da articulação entre um âmbito silencioso original e outro lingüístico. Se primeiramente há um comportamento anônimo, uma compreensão originária de mundo, e a linguagem surge a partir desse momento, como sugerem algumas passagens, então a linguagem não seria a tradução, na esfera cultural, de um momento natural não lingüístico?

Palavras-chave: pacto, corpo, mundo, percepção, linguagem.

Subsídios para uma apreciação do fundamentalismo e do terrorismo a partir da filosofia de Friedrich Nietzsche

João Paulo Simões Vilas BoasUniversidade de Campinas (UNICAMP)

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Este trabalho tem por objetivo apresentar as linhas gerais de uma hipótese interpretativa sobre o fundamentalismo e o terrorismo que se desenvolve a partir do diagnóstico realizado por Friedrich Nietzsche acerca do fenômeno de gradual perda de força e de posterior esfacelamento dos principais valores que sustentam e justificam as instituições e a visão de mundo ocidentais — ao qual o filósofo alemão denomina “niilismo europeu”. Buscaremos aqui mostrar como é possível entender a emergência desta nefasta associação hodierna entre fundamentalismos e terrorismos como uma dentre as possíveis formas de reação psicológica ao fenômeno do niilismo.

A primeira identificação entre poesia e falsidade na república de Platão

Juliano OrlandiUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

O ponto fulcral da crítica platônica aos poetas na República consiste na identificação entre poesia e discurso falso. Ele é discutido, pela primeira vez, no Livro II e se apresenta nessa ocasião com características bastante específicas. Com efeito, em outras partes da obra, tal como no Livro X, Platão atribui um peso muito grande a esse aspecto e chega ao ponto de excluir em função dele quase toda a poesia de sua cidade ideal. No Livro II, porém, o filósofo não parece considerá-lo um ponto tão

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importante; pelo contrário, sua crítica está orientada essencialmente por um critério moral. Os poetas devem ser censurados, afirma Platão, porque podem conduzir os jovens aos vícios morais. O corte da censura platônica se estabelece assim entre os poemas feios ou viciosos e os poemas belos ou virtuosos. Há momentos, contudo, que o Livro II parece identificar a feiúra ou imoralidade da poesia ao caráter mentiroso. Desse modo, a censura moral parece ser igualmente uma censura epistemológica: devem ser excluídos da cidade ideal os poemas que são mentirosos e, consequentemente, imorais. A motivação para a crítica aos poetas no Livro II é, portanto, oscilante: ora a falsidade parece ser um critério importante ora não. Essa oscilação constitui o ensejo da presente pesquisa, cujo objetivo principal é determinar a natureza e as consequências da identificação platônica entre poesia e discurso falso nos limites do Livro II da República.

A alma em Voltaire

Julio Cezar Lazzari JuniorUniversidade São Judas Tadeu

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O presente trabalho pretende tratar da questão da alma em Voltaire, importante filósofo do século XVIII. Este resumo sobre a alma na visão do filósofo se refere a um capítulo da dissertação cujo tema é “A religião racionalista de Voltaire”. Antes de adentrar propriamente na questão da alma em Voltaire, apresentaremos dois pontos de vista antagônicos sobre o assunto, o dualismo da substância e a visão materialista. O objetivo é situarmos Voltaire dentro dos debates que existiam em sua época, demonstrando os pontos de vista mais importantes sobre a questão. Para isso, usaremos os exemplos de René Descartes, para a visão dualista, e de Jean Meslier e de Denis Diderot, para a visão materialista. A seguir, veremos como Voltaire problematiza e critica a visão dualista, na seguinte ordem: 1. Rejeitando a concepção das ideias inatas. Aqui Voltaire bebe na fonte de Locke para criticar a visão de que o homem tem ideias inatas e rejeita também a tradição platônica sobre a questão; 2. Criticando a ideia da manutenção dos cinco sentidos e da identidade após a morte biológica. O filósofo critica e ironiza a posição que defende que há uma substância espiritual que se mantém após o corpo se desfazer; 3. Destacando a suposta falta de evidências físicas sobre a autonomia da alma em relação ao corpo, demonstrando que são os elementos materiais que governam as ações humanas. Ao final, demonstraremos como Voltaire, apesar de suas críticas à visão dualista, suspende o juízo sobre a questão em suas obras do final de sua vida, até mesmo problematizando argumentos que ele mesmo tinha defendido.

Ludwig Wittgenstein: crítico a forma proposicional de verdade

Karina da Silva OliveiraUNESP – Marília

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O presente artigo apresenta argumentos que contrapõe a hipótese da correlação rígida entre nomes e objetos, e da existência de certas essências escondidas que incidem sobre um único modo de uso da linguagem, aos quais são impossíveis no contexto metodológico da filosofia de Ludwig Wittgenstein, no escrito de 1958 as Investigações Filosóficas. Oferecemos argumentos que representam, com efeito, os problemas que serão desenvolvidos sobre uma mesma dimensão na qual rejeita a questão da exclusividade ao caráter da forma proposicional de verdade. Destarte, na compreensão de suas teses analisamos as primeiras indicações que constituem o Tractatus Logico-Philosophicus de 1929, asserções de uma primeira fase de sua filosofia, inferências tractarianas que oscilam entre a lógica e a metafísica, pois, encontramos neste período a necessidade da lógica empregar princípios de sentido e inferência, ao mesmo tempo em que os problemas da metafísica inserem a dimensão dos fatos comuns e dos objetos no mundo contextualizado, o que nos interessa na conclusão desta ordem contextual retoma a presente abordagem filosófica e crítica das Investigações Filosóficas acerca de problemas apresentados por meio da linguagem, com efeito, no Tractatus Logico-Philosophicus os problemas filosóficos culminam na ideia de

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que a linguagem é um espelho da realidade, conduzindo a lógica como essência da linguagem. Ao final, esboçaremos uma reflexão acerca da existência ou não de um movimento argumentativo das Investigações Filosóficas, analisamos se Wittgenstein posteriormente na segunda fase de sua filosofia, desenvolve acerca dos problemas filosóficos que nos dirigimos, sob a forma e a substância do mundo contextualizado, e se tais inferências tratam apenas de dados prévios, sendo a realidade carente de fundamentos na caracterização da forma gramatical da linguagem.

O modelo reticulado e as estratégias de pesquisa: sobre o papel dos valores cognitivos na atividade científica e a perspectiva de uma epistemologia engajada

Kelly Ichitani KoideUniversidade de São Paulo (USP)

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Pretendo apresentar uma análise comparativa entre dois modelos de atividade científica, no que concerne à sua dinâmica para atingir os fins desta atividade. O modelo reticulado, proposto por Larry Laudan (Science and values, 1984), oferece uma interpretação da ciência como sendo um domínio apenas de valores cognitivos. Hugh Lacey, por outro lado, propõe um modelo baseado em estratégias de pesquisa (Valores e atividade científica, 1998), no qual a investigação de fenômenos que possuam significância nas vidas humanas é considerada juntamente com os interesses cognitivos das pesquisas. Nesta análise, veremos que ambos os modelos admitem a adoção de uma pluralidade de métodos para realizar as metas cognitivas da ciência, articulando métodos ou estratégias e metas. Pretendo também propor uma articulação entre ambos os modelos, a fim de compreender as inter-relações entre os diferentes momentos das práticas científicas, a saber, a adoção de uma estratégia, a avaliação de teorias, as aplicações das teorias e os objetivos. Veremos que esta articulação nos permitirá uma análise do papel dos valores cognitivos e não-cognitivos. Por um lado, veremos o papel dos valores cognitivos na avaliação e na aceitação das teorias, sendo este um momento em que apenas este tipo de valor possui um papel legítimo. No momento em que as teorias são avaliadas em termos de sua aceitabilidade cognitiva, não deve haver nenhuma interferência de fatores sociais, a fim de garantir a imparcialidade das teorias. Por outro lado, os valores sociais e éticos devem ser considerados no momento da escolha das estratégias de pesquisa e das aplicações das teorias corretamente aceitas, na medida em que também fazem parte da axiologia da ciência. Deste modo, será possível considerarmos a possibilidade de uma epistemologia engajada, já que as responsabilidades éticas e sociais dos cientistas devem ser consideradas juntamente com os interesses da sociedade, a fim de transformá-la.

Uma análise dos caracteres existenciais abordados na gesta de Abraão segundo Søren Kierkegaard

Leosir Santin Massarollo JuniorUniversidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

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A análise que se segue abordará, principalmente, a fé e o pecado observados na gesta de Abraão segundo o filósofo Søren Kierkegaard, tendo como base principal a obra pseudonímica Temor e tremor. Ao admitir uma filosofia que possui como objeto último a sublimidade do “eu”, seu destino espiritual e sua relação com o poder Criador, Kierkegaard “conduz” seu pensamento aos meandros da interioridade humana e ali identifica a verdade que deve guiar o homem, a saber, o paradoxo. A análise da gesta do patriarca hebreu fornece ao leitor prudente uma correta compreensão acerca de conceitos encontrados nesta existência singular, a saber, Abraão, e de muitos dos objetos de estudo do filósofo de Copenhague. A fé exigida, o sofrimento envolvido, o salto qualitativo, a angústia e o desespero que pairam em torno deste, e a recompensa por seu inabalável amor a Deus municia a investigação que por aí se mova de uma concepção atenta aos pormenores e desdobramentos da filosofia kierkegaardiana. Abraão encerra em si o conceito de cavaleiro da fé. Crente apaixonado e zeloso, através de sua existência dá testemunho da

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sublimidade espiritual que há em cada um de nós, e Kierkegaard compreende esta sublimidade como um elo indissolúvel que une o homem a Deus. A “paixão sublime”, a saber, a fé, objeto do presente estudo, também possui uma estreita relação com o desespero e, a partir dela que a enfermidade espiritual, a doença mortal, é extirpada do “eu” e, a partir deste momento, o homem encontra repouso e alegria junto ao poder que o criou. A interioridade será privilegiada nesta análise devido à natureza do objeto abordado. A subjetividade será “arauto” da verdade e a verdade equivalerá à compreensão do paradoxo.

Tratamento Racional das Paixões em Descartes

Lílian CantelleUniversidade São Judas [email protected]

As paixões podem desempenhar um papel ativo na cura. As indisposições causadas pelos humores que geram uma paixão ou outra podem ser superadas pela alma. Descartes não é a favor de uma paixão ser superada, uma vez que todas elas são boas; basta que submetamos todas ao domínio da razão, ou seja, basta que as paixões sejam regradas pelo conhecimento. Para isso, é necessário conhecer as causas de uma paixão e os mecanismos que as comandam. Nesse trabalho, pretendemos assinalar a relação que há entre a moral cartesiana e a terapêutica das paixões. Queremos mostrar até que ponto As Paixões da Alma estão comprometidas com uma terapêutica e verificar se Descartes tinha o interesse de desenvolvê-la ou se ela apenas aparece subjacente ao texto. Se é possível modificar a disposição do corpo, necessária para a formação de uma paixão, alterando o curso das ideias, então, também é possível conceber o tratamento da febre ou da tosse por meio de mudanças nas representações do paciente. Uma das principais chaves para entendermos a terapêutica das paixões é o combate que acontece na glândula pineal. Sabemos que ela está situada no meio do cérebro e pode ser impulsionada tanto pelo corpo quanto pela alma. Quando esses dois movimentos são contrários, há um combate. E é por meio dele que há o tratamento racional das paixões, ou seja, é durante o combate que se tem a chance de ligar certos movimentos naturais das paixões a atos voluntários. O primeiro uso terapêutico da alma consiste em desviar a atenção do mal, dado que ela não pode, de maneira direta, agir sobre uma paixão; não pode vencer diretamente uma dor, embora a sua ação possa contribuir para a cura. A alma pode desempenhar o papel de remédio indireto tanto para os males do corpo quanto para os da alma.

Introdução as transformações éticas segundo seus efeitos estéticos.Uma leitura de Max Weber seguindo as considerações de Lukács sobre a arte.

Luis F . de Salles Roselino Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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Ao abordar a ética, Max Weber sempre deixou um lugar reservado as considerações estéticas. Entretanto, dentre seus planos de abordagem histórica e sociológica esse lugar permaneceu incompleto ou muito vago em todos os textos, excetuando a abordagem da música que obteve algum desenvolvimento aprofundado. Diferentemente, nas questões mais amplas, a relação entre as transformações éticas e as produções artísticas permanece em aberto. A esse respeito, é possível encontrar nos escritos de Lukács alguns vínculos relevantes entre as transformações éticas religiosas e as produções artísticas. Este vínculo se apresenta com uma afinidade inigualável com a produção intelectual de Weber. Há nas abordagens estéticas a apresentação mais inequívoca dos fenômenos éticos que se expressam pela sensibilidade artística com todo vigor e com maior nitidez. A questão que interessa a presente abordagem é a distinção entre o mundano, secular e a transcendência, o supra-mundano que constituem um par de oposição que opera como um jogo de forças, o surgimento intruso da perspectiva humana no âmbito divino do renascimento, a descoberta desse elemento como ruptura com o encanto, como “desencantamento” e a respectiva produção de uma necessidade religiosa, ou de uma visão de mundo que é incapaz de resolver

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os novos paradoxos. Em síntese, a incapacidade de trazer os céus à terra por meios humanos, como característica da crise ética e da fragmentação do mundo estético.

O niilismo da vontade de poder: Maquinação e desertificação da terra

Luís Thiago Freire DantasUniversidade Federal do Paraná (UFPR)

bolsista [email protected]

A presente comunicação propõe abordar como a compreensão de Heidegger sobre a vontade de poder em Nietzsche corresponde ao modo de pensar o niilismo enquanto a crise do fundamento, pois averigua que os valores normativos estão em decadência. Com isso, torna-se a mostra que o niilismo se configura como fenômeno interno da lógica do Ocidente, que para Heidegger concerne ao modo como a metafísica perscruta a fundamentação do ente no seu ser. Assim, ao analisar o conceito vontade de poder nietzschiano, Heidegger ainda o relaciona como pertencente ao âmbito metafísico sendo incapaz de pensar a essência do niilismo, e sim o intensifica. Visto que, como a vontade de poder procura a condição de conservação-elevação do próprio poder através dos entes, a concepção de verdade é modificada, não mais a certeza do representar mas o asseguramento factível do ente pelo cálculo incondicionado da vontade que Heidegger denomina como Maquinação. Esse termo tem correspondência direta com a concepção heideggeriana da vontade de poder de Nietzsche, já que na sua predominância a “era da ausência de sentido” é promovida, ou seja, o âmbito projetivo é fechado ao homem e como conseqüência ocorre a desertificação da terra, que corresponde ao soterramento do ente para com todas as possibilidades frente ao ser. Porque, de acordo com Heidegger, a essência do niilismo corresponde ao abandono do ser diante do ente.

O conceito de História em Rousseau

Luiz Henrique Monzani Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

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Pretende-se entender a separação feita por Rousseau entre história factual (real) e história hipotética. A primeira, como se sabe, é o núcleo ao redor do qual o Primeiro Discurso é construído, enquanto que, no outro, da história hipotética, Rousseau diz com todas as palavras que devemos “começar por descartar todos os fatos, pois eles não tocam a questão” (ROUSSEAU, 1999: 52). Por que isso? Leiamos o restante da frase supracitada, para compreender melhor o que ele entende por essa separação: “Não se deve considerar as pesquisas, em que se pode entrar neste assunto, como verdades históricas, mas somente como raciocínios hipóteticos e condicionais, mais apropriados a esclarecer a natureza das coisas do que a mostrar a verdadeira origem (das mesmas)” (IBID: 52-53). A divisão em história factual e hipotética ganha aqui um novo desenho, pois agora o genebrino aponta qual o objeto que buscará ao longo de seu Discurso, isto é, a natureza das coisas. A oposição, aqui, é feita com a verdadeira origem. Mas o que significa cada um desses termos? Some-se esses fatores com a afirmação que o “mais útil e o menos avançado de todos os conhecimentos humanos me parece ser aquele do homem, e ouso dizer que a única inscrição do templo de Delfos continha um preceito mais importante e mais difícil que todos os grossos livros dos moralistas” (IBID: 43). A inscrição délfica refere-se aqui a possibilidade de apreensão do homem através de seus próprios meios, através do uso da faculdade que o homem tem de conhecer, para conhecer a si mesmo. Somente a partir do momento em que nos conhecemos é que teremos acesso à verdade, isto é, ao que é o homem. Novamente, nessa frase, podemos enxergar um embate entre duas posições contrárias: como conhecer o homem, através de si mesmo ou através dos moralistas? Ou, ainda, qual o problema que Rousseau enxerga nesses moralistas?

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Os Träume eines Geistersehes e a kritik der reinen Vernunft: as ilusões na Dialética transcendental

Marcio Tadeu GirottiUNESP

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Resumo: A investigação tem por objetivo mostrar que a obra Träume eines Geistersehers (1766) apresenta os argumentos acerca da ilusão e dos limites do conhecimento, que serão desenvolvidos na Kritik der reinen Vernunft na Seção da ‘Dialética Transcendental’. As ilusões dos ‘visionários’ apresentadas nos Träume mostram que quimeras são abarcadas por meio do espaço e tempo que devem abarcar somente objetos sensíveis; na Dialética Transcendental, a Faculdade do Entendimento busca, de modo natural, ampliar seu conhecimento para além da experiência possível, fazendo isso com a utilização das categorias que são aplicadas a fenômenos, transportando-as para objetos que transcendem seu uso empírico: ocorre a ilusão do entendimento. No mesmo sentido, a razão, na busca pelo incondicionado e pela unidade dos conceitos puros do entendimento, também cai em ilusão ao pretender ultrapassar os limites da experiência possível, atingindo o mundo suprassensível e constituindo ideias transcendentais, as quais eram tratadas pelo racionalismo dogmático sem uma prova in concreto, o que leva Kant a engendrar a origem das ilusões no contexto das três ciências que possuem ilusões dialéticas, a saber: Psicologia (Paralogismos da razão pura); Cosmologia (Antinomias da razão pura) e Teologia (Ideal da razão pura). No contexto dos Träume, que configura a metafísica como “ciência dos limites da razão”, Kant busca aproximar as provas metafísicas às ilusões do visionário Swedenborg, que acredita transpor o que vê no mundo imaginário do suprassensível para o mundo visível (sensível). Com isso, Kant aponta que a ‘salvação’ da metafísica dogmática, que se encontra em embaraço e o confusão, está nas provas de Swedenborg, o único que pode ver e trazer informações do mundo que transcende os limites do conhecimento humano. Nesse sentido, mostraremos a aproximação que existe entre os Träume e a Kritik (Dialética Transcendental) no contexto da ilusão de conhecer o mundo suprassensível, considerando que a Dialética Transcendental é uma ampliação dos Träume.

Ética e consumo na hipermodernidade – uma análise em Lipovestky e Adela Cortina

Marco Antonio GonçalvesUniversidade de Caxias do Sul

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Pretende-se desenvolver uma análise ética sobre os padrões de consumo hipermodernos que, ao produzir através da publicidade necessidades - desejos - violências reais/simbólicas, reforça e incentiva manifestações hedonistas e individualistas que transformam o ser humano em mercadoria gerando-lhe sensações e atitudes de vazio e de decepção.

O enfrentamento destas questões comporta a necessidade de mudança de paradigma ético: de um padrão antropocêntrico para uma visão cosmocêntrica. Esta ação de pensar critica e eticamente perpassa por uma educação do consumo consciente, analisado por Cortina, indicativo transformador desta sociedade hipermoderna na compreensão que, para ter uma vida digna e feliz, deve-se ir além da aquisição de bens e prazeres efêmeros, salientando o papel primordial da educação na formação de uma nova consciência e atitude juvenil.

Iremos contextualizar o problema a ser pesquisado, evitando cair num subjetivismo, mas traçar um raciocínio sobre pensamento já historicamente construído sobre o tema, apontando para as contradições ainda contidas na realidade sócio-educacional de crianças e jovens, assim como as ações que já estão sendo desenvolvidas neste âmbito; assim como avaliar as consequências reais de nosso comportamento como consumidores que estão contribuindo para o desequilíbrio ambiental, refletir eticamente sobre a responsabilidade de cada cidadão na construção de valores que assegurem o bem-estar humano e o respeito a todas as formas de vida em suas mais variadas manifestações.

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A educação para o consumo é elemento-chave na conscientização da população em relação à sua responsabilidade social, na busca do desenvolvimento sustentável do planeta, unindo-nos às diversas formas de associação, de ação política, de lutas sociais e reivindicação de novos direitos já existentes.

A importância de Herbert Marcuse para a relação entre Teoria Critica e Psicanálise no contexto de 1930

Maria Érbia C . Carnaúba Universidade de Campinas (UNICAMP)

Bolsista [email protected]

Nessa comunicação pretendemos debater um dos aspectos da recepção da psicanálise pela teoria crítica no livro Eros e Civilização de Marcuse. Mas antes mesmo do debate propriamente dito, faz-se necessário expor um padrão prévio implícito sobre a relação entre a Teoria Critica e psicanálise estabelecido pelo autor em seu “Epílogo” de Eros e Civilização. Além de mostrar como a ala “esquerda” entende a psicanálise, é preciso também em seguida relacionar tal concepção aos escritos de Horkheimer de 1930, não apenas “Studien über Autorität und Famílie”(1936) (Estudos sobre Autoridade e Família), mas ainda “Egoismus und Freiheitsbewegung” (1936) (Egoísmo e Movimento de Libertação). Dois fatores muito importantes da teoria de Marcuse são a historicização das categorias psicanalíticas e a afirmação do caráter modificável do princípio de realidade. Todavia, não podemos inferir que tais características isoladas constituem o aspecto critico de nosso autor, uma vez que, muito antes dele, Reich e outros autores freudo-marxistas já haviam tecido teorias que consideravam esses dois fatores, mas distanciaram-se da Teoria Crítica. É justamente ao tratar desse distanciamento que Marcuse se opõe, logo na introdução de Eros, às escolas neofreudianas e aos revisionistas, por acreditar que “a teoria de Freud é, em sua própria substância, ‘sociológica’, de modo que nenhuma nova orientação cultural ou sociológica é necessária para revelar essa substância”. Ao acrescentar uma nova orientação à substância sociológica, os revisionistas cometem um grande equívoco, já que a uma das tarefas da sociologia é tentar explicar porque determinados temas surgem na história e desaparecem subitamente como se nunca tivessem sido pensados. É sobre as conseqüências desse rompimento com o revisionismo que gostaríamos de discutir.

O simbólico em Merleau-Ponty

Mariana Cabral Tomzhinsky Scarpa Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Bolsista [email protected]

Resumo: Para delinear a gênese do simbólico em Merleau-Ponty, percorreremos em suas obras iniciais, A estrutura do comportamento e Fenomenologia da percepção, os elementos que apontam para o surgimento desta ordem e suas implicações na filosofia do autor. Primeiramente, compreendendo a divisão realizada pelo filósofo francês em três grandes estruturas, a física, a vital e a humana, bem como o envolvimento destas ordens com o plano do simbólico. A partir daqui, a presente leitura diverge de alguns comentadores no que tange a abrangência deste novo campo, pois o simbólico para uns, é exclusivo do humano, quando no próprio Merleau-Ponty ele se inicia no plano da adaptação (instrumental) do animal ao seu meio. Assim, veremos a diferença existente entre o campo simbólico que se abre ao animal e o que torna possível ao humano uma multiplicidade perspectiva. Tal ganho humano será realizado não por uma consciência constituinte do mundo, ele virá como movimento do corpo em direção a um mundo que ele nunca abarca, mas que ele não deixa de vivenciar. Neste segundo momento, precisaremos entender o papel que o corpo ocupa na filosofia de Merleau-Ponty e contra que perspectivas ele surge. Tendo em vista a necessidade do autor de superar a dicotomia clássica entre sujeito e objeto, signo e significação, alma e corpo; o corpo assumirá o privilégio de ser o sujeito da percepção, o veículo do ser

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no mundo. Desta forma, o corpo deve possibilitar a imbricação destas esferas antes opostas, ele deve permitir a assunção paradoxal do ser “para-nós” e “para-si”, se revelando como corpo simbólico.

Sobre a normatização da vida: um ensaio a partir de Nietzsche e Agamben

Mayara Annanda Samarine Nunes da SilvaUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

bolsista [email protected]

O presente ensaio volta-se ao exame do fenômeno da normatização da vida, entendido aqui como a grande e cada vez maior regulação jurídica e moral das ações individuais dos componentes de uma comunidade política, fato que vislumbramos nas sociedades ocidentais contemporâneas, levantando a hipótese de ser, tal fenômeno, uma consequência direta e inevitável dos valores democráticos modernos. Para tal, apóia-se nas ideias dos pensadores considerados pós-humanistas Friedrich Nietzsche e Giorgio Agamben, buscando traçar cruzamentos possíveis no que diz respeito a sua crítica aos e diagnóstico dos sistemas moral e político predominantes a partir da Modernidade. Com Nietzsche refletiremos a respeito da crise de valores, o niilismo, decorrente de um projeto cultural iniciado na Antiguidade com Sócrates e o Cristianismo e que se reflete diretamente no âmbito político atual. Agamben nos auxiliará no questionamento do conceito de vida que encontramos como alicerce do Estado Moderno.

Apontamentos entre o conceito do Eros em Platão e em Montaigne

Nelson Maria Brechó da SilvaPUC - São Paulo

Bolsista pela Adveniat – [email protected]

Esta comunicação tem como objetivo explicitar o pensamento de Platão e de Montaigne acerca do eros. Para tanto, faz-se mister uma análise do diálogo platônico Banquete, principalmente a parte em que o filósofo cita o mito de Aristófanes. Percebe-se que o eixo desta discussão procura averiguar a origem do eros. Platão demonstra a sede insaciável do homem na busca de suas realizações. Originariamente, o homem é perfeito. Dessa forma, numa primeira parte, apresenta-se a passagem dessa perfeição para a divisão do homem. Por conseguinte, numa segunda parte, mostra-se a reflexão de Montaigne a respeito do eros e da philia. Para o pensador, a voracidade do eros atua no ser humano como sentimento que o leva à agitação. A philia, por sua vez, é a virtude perfeita que ele adquire na sua singela amizade com La Boétie. Assim, almeja-se elucidar estes conceitos para ver o que caracteriza cada um deles.

O signo de Estesícoro: um estudo no fedro de Platão

Nestor Reinoldo Müller Universidade de São Carlos (UFSCar)

[email protected]

Na trama dramática do diálogo Fedro há um ponto de ruptura (242a1-2) em que o enredo parece repentinamente sucumbir. Sua retomada impõe um novo direcionamento aos temas em pauta, a natureza do amor e a qualidade dos discursos. Esse ponto situa-se entre duas alocuções contraditórias de Sócrates, a primeira em resposta a um desafio de retórica, interposto por seu amigo Fedro, a segunda em atenção a um sinal do seu daimon, alertando para uma necessária mudança de pensamento. A conversa (242b8 – 243e3) que contextualiza esse momento crucial realiza a transição entre os dois discursos de Sócrates, esclarecendo o erro anterior e indicando a tese principal daquilo que, sob o signo de Estesícoro, vai ser dito a seguir. Uma análise cuidadosa dessa passagem permite-nos acompanhar sua composição literariamente simétrica e sua articulação logicamente significativa tanto com as questões centrais do diálogo inteiro - o amor e os discursos – quanto com um problema mais específico que é a distinção

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entre dois tipos de memória tratados no diálogo: a rememoração que se prende ao mundo material e a lembrança das verdades inscritas na alma que inspiram o exercício da filosofia.

Da Típica da Faculdade de Julgar à reflexão estética: uma possível aproximação.

Paulo Gustavo Moreira Roman Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Bolsista CAPES [email protected]

Esta comunicação buscará apresentar uma análise do modo pelo qual a faculdade de julgar opera na aplicação da lei moral na Crítica da Razão Prática, como também o papel da faculdade de julgar na enunciação de um juízo sobre o belo na Crítica do Juízo. Kant denomina típica a reflexão moral que busca saber se um caso cabe ou não na regra que determina a vontade, sendo que a ação possível reside na sensibilidade (in concreto) e a regra para a determinação do agir (moral) é fornecida apenas por um princípio da razão prática pura, isto é, segundo uma ordem inteligível (arquétipo). O intuito deste trabalho é compreender em que medida a típica da faculdade de julgar prática, presente na segunda Crítica, se aproxima e/ou se distancia da reflexão estética (presente na terceira Crítica) - isto é, o que diferencia a forma da legalidade natural que serve de tipo para lei moral da legalidade sem lei presente no juízo de gosto. O que está em jogo se refere ao fato de que Kant parece ter descoberto, na passagem da Crítica da Razão Prática (1788) para a Crítica do Juízo (1790), que a imaginação livre da “coerção” do esquema permite pensar, através de um símbolo, aquilo que era indemonstrável, isto é, uma abertura ao suprassensível que possibilita pensar o belo como símbolo do moralmente-bom.

Amizade: A philía como uma virtude em Aristóteles

Rafael Bento PereiraUniversidade de Caxias do Sul [email protected]

No momento histórico em que vivemos, evidencia-se a banalização da vida, dos valores e as relações se tornam cada vez mais impessoais e marcadas pelo interesse, normalmente conectado aos interesses econômicos e de benefício próprio. Surge a necessidade de reflexão sobre o sentido da Amizade. O proposto trabalho tem como objetivo investigar o tema da Amizade na Filosofia Antiga, sobretudo, a mesma, entendida como uma Virtude na obra Ética a Nicômaco de Aristóteles, buscando uma possível contribuição para o resgate da Ética das Virtudes.

Para tanto, em um primeiro momento, investiga-se o conceito de Amizade em autores da Filosofia Antiga, em especial, Homero, Platão, Epicuro e Cícero, afim de, identificar as fontes primeiras desse conceito, influências para o tratado aristotélico e perceber a pertinência do tema no âmbito filosófico. Em um segundo momento, procura-se esclarecer o conceito de Virtude em Aristóteles e seus constituintes: phrónesis, mesotes, sophia, deliberação, escolha e desejo, assim como as conexões com a “Virtude Amizade”. Por fim, analisa-se o conceito de Amizade em Aristóteles, diferentes espécies e funções, caráter comunitário do bem, relação entre Amizade, Justiça e Felicidade e o papel da “Amizade Verdadeira” como uma Virtude fundamental e uma proposta de principio ético, tornando possível o resgate contemporâneo da Ética das Virtudes.

Cabe lembrar, que a Amizade como tema filosófico perdeu, ao longo do tempo, a substancial atenção que inegavelmente poderia ocupar nos mais destacados textos filosóficos. Essa situação tem começado a mudar, mas ainda há poucos estudos abrangentes sobre a Amizade como um tema filosófico.

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Foucault e as sínteses objetivas

Rafael Fernando HackUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

Ao longo do período arqueológico, Foucault, apropriou-se de uma série de conceitos kantianos, redefinindo-os e reestruturando-os. A reestruturação operada por Foucault incide, sobretudo, no caráter transcendental destes conceitos. É o que ocorre no caso das sínteses objetivas. O trabalho, a vida e a linguagem caracterizam-se como “transcendentais”, pois tornam possível o conhecimento objetivo dos seres vivos, das leis de produção e das formas da linguagem. Estes “transcendentais” operam uma síntese a posteriori e em um âmbito objetivo (isto é, em um âmbito não propriamente transcendental). O conceito kantiano de síntese, presente na analítica transcendental, refere-se, fundamentalmente, a um conhecimento proveniente da junção de uma multiplicidade de representações. Assim, Kant (1999, p.107) nos diz: “Por síntese entendo, no sentido mais amplo, a ação de acrescentar diversas representações umas às outras e de conceber a sua multiplicidade num conhecimento.” A síntese, para Kant, se estabelece em um âmbito transcendental; e, é responsável tanto pela unidade que dará forma ao conhecimento (conceito puro do entendimento ou categoria) quanto pela adequação da multiplicidade das representações a esta forma. Foucault, por sua vez, ao tratar das sínteses objetivas esquiva-se de qualquer perspectiva transcendental que estas eventualmente teriam. O filósofo atribui àquilo que ele denominou (guardada as devidas proporções), de “transcendentais”, (ou seja, a potência de trabalho, a força da vida e o poder de falar) a possibilidade de estabelecer uma unidade sintética que resultaria em um conhecimento. São as “sínteses objetivas”, realizadas através destes “transcendentais”, que disponibilizam o valor das coisas, as organizações dos seres vivos e as estruturas gramaticais e afinidades históricas entre as línguas. Pretendemos, portanto, analisar o conceito de síntese objetiva presente em “As palavras e as coisas”, bem como, sua presença nas ciências humanas.

Bergson sociólogo?O critério do movente em uma “sociologia” sob o ângulo de problemas metafísicos.

Rafael Henrique Teixeira Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

O movimento figura no bergsonismo como aquilo que define a essência do real e como critério determinante na resolução da luta da vida contra a matéria: por meio da colocação em movimento daquilo que é uma de suas distensões a vida retoma sua direção original. Retomada que implica uma passagem pela “sociologia” bergsoniana. Bergson atribui uma realidade movente ao universo em sua totalidade, inclusive ao universo material que, dissolvido em uma tendência ou movimento, é em seguida remetido à sua origem extra-material. A vida é uma impulsão cuja inversão da direção dá origem à matéria. Movimentos cujas tendências antagônicas relacionam-se: uma inversão ou distensão da direção da ação vital engendra o universo material, e a vida prolonga seu jato criador através da matéria, inserindo indeterminação nos seres que recorta no universo material que atravessa. As formas vivas resultantes são a corrente vital carregada de matéria, não manifestam sua direção original. A questão que tentarei responder, por meio daquilo que denomino de “o critério do movente”, é o meio que a vida encontra para resolver seu impasse diante da matéria através do homem. A solução que encontra é a colocação em movimento de uma das distensões ou paradas de seu movimento, as sociedades humanas. Isso será realizado pelos místicos que, intuindo a respeito de um centro de onde brotam os mundos, colocarão o homem na direção do movimento vital através do estabelecimento de uma nova “moral”, distinta daquela inscrita em sua estrutura específica “natural”. Minha hipótese a esse respeito é que o movimento incitado pelo místico é da mesma natureza daquele que Bergson identifica quando do estabelecimento

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da tese metafísica segundo a qual o movimento é o que há de mais substancial na realidade: ato simples e indivisível, e que não pressupõe um móvel ao qual ele se acrescentaria como um acidente.

Os muros absurdos, ou a revolta enquanto vivência

Rafael Pereira de MenezesPUC- PR

Trabalho parcialmente financiado pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiá[email protected]

Este trabalho proporá, como hipótese, que a revolta descrita por Albert Camus, especialmente em “O homem revoltado” e trabalhos do mesmo período, pode ser compreendida como uma vivência, na interpretação que este termo recebe de Nietzsche. Tal análise é possível a partir do estudo dos tipos psicológicos descritos nos personagens dos romances e peças de Camus quando submetidos ao absurdo e à revolta. Neles seria possível reencontrar caracteres da erlebnis – uma experiência transformadora e intransmissível. O absurdo ao surgir traz a percepção da impossibilidade da comunicação plena, da inutilidade da morte. Diante de tal situação o homem se rebela, em nome de sua natureza, em busca de sentido, de unidade. E o caminho percorrido durante a revolta é, nessa hipótese, sua erlebnis. Tal abordagem ajudaria a compreender a articulação entre discurso poético e analítico em Camus como tentativa de superação da solidão que vêm do absurdo, por meio do que seria, se não uma explicação, ao menos uma descrição de seus fenômenos e possibilidades éticas e estéticas.

Dummett e O Princípio do Contexto

Rafael Ribeiro SilvaUniversidade Federal do Paraná (UFPR)

Bolsista CAPES/[email protected]

Muitos filósofos anglofônicos tomam como unidade mínima de suas investigações os enunciados, em vez de termos, coisas ou conceitos. Tal aproximação às questões filosóficas é frequentemente atribuída à adoção do princípio do contexto fregeano. No caso desse princípio ser apenas metodológico, no sentido de auxiliar as investigações filosóficas sem prejulgar ou interferir nos resultados das mesmas, a exigência de uma justificação filosófica parece descabida; no entanto, caso o princípio tenha consequências filosóficas latentes, a sua adoção deve ser justificada ou, pelo menos, restringida. Um dos que não interpretou o princípio como meramente metodológico foi Michael Dummett. Sua interpretação não se limitou a enfatizar que a adoção do princípio implica a rejeição do psicologismo. Também sustentou que a tese fregeana de que todo termo deve vir acompanhado de um critério de identidade é um corolário do princípio do contexto. Essa tese, por sua vez, conduziria a uma concepção da realidade como desprovida de objetos discretos, de sorte que, por adotarmos um critério particular, para estabelecer que um objeto que nos é apresentado agora é o mesmo que nos foi apresentado antes, é que teríamos a realidade que temos. Se isto estiver correto, deveríamos aceitar que o valor de verdade dos enunciados descritivos sobre o que são os objetos físicos, por exemplo, está necessariamente ligado aos nossos meios de reconhecer sua verdade. Assim, um compromisso com o princípio fregeano envolveria, no mínimo, um compromisso com a negação do realismo sobre objetos. Diante disso, pretendemos analisar os argumentos aduzidos por Dummett em favor de sua interpretação a fim de lançar luz sobre a seguinte questão. Admite o princípio uma interpretação com todas (ou pelo menos algumas das) consequências elencadas acima e, caso admita, qual a cogência dessa interpretação em relação às metodológicas?

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A Concepção da Verdade-como-Correspondência

Renato Machado PereiraUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

O artigo tem por finalidade descrever as características principais de uma teoria da verdade-como-correspondência. Dizer apenas que “verdade é correspondência com a realidade” não expressa adequadamente a essência dessas teorias. Desse modo, o texto procura esclarecer três aspectos da ideia de verdade-como-correspondência: 1) O quê tem a propriedade de ser verdadeiro (qual é o portador-de-valor-de-verdade adequado?). 2) A “realidade” à qual corresponde o portador-de-valor-de-verdade. 3) A correspondência (ou seja, qual a relação entre o portador-de-valor-de-verdade e a realidade?).

A noção de Para-si como a perspectiva sartriana de subjetividade

Ricardo Fabricio FeltrinUniversidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

[email protected]

Certamente Jean-Paul Sartre tornou-se um dos pensadores mais comentados no âmbito acadêmico no século XX, quiçá assumido por muitos por sua filosofia singular centrada na existência, ou rejeitado por tantos outros por não encontrarem nele referência a uma filosofia tradicional marcada por embates metafísicos. A filosofia sartriana é um prodigioso sistema que tenta explicar o mundo, mas caracteristicamente distinto por conceber o homem indissociável de sua experiência no mundo, preterindo valorações ou idealismos capazes de enquadrá-lo em meras suposições ou conceitos vazios desarticulados com a vivência. De acordo com esta suposição, o objetivo deste trabalho é investigar a noção da subjetividade em Sartre, além do mais por que este é o tema central na filosofia moderna. A metodologia consiste em perpassar pelo cogito cartesiano e a fenomenologia transcendental husserliana, evidenciando possíveis críticas e articulações entre esses filósofos e Sartre. Para o desenvolvimento da temática da subjetividade enunciada por Sartre, alguns conceitos são chaves, particularmente aqueles de em-si, para-si, consciência e nada, os quais repercutirão no decorrer do artigo. Todavia, o mais significativo aponta para a consciência e os demais parecem estar subsumidos por ela. Esta consciência surge com a intencionalidade e existe como um nada que adquire consistência por meio da relação estabelecida com o que ela não é. Na temporalidade, a consciência relaciona o ser do seu passado, do presente e projeta o seu futuro como aquele que toma sobre si a responsabilidade por seus atos, mas que não se pode usar para produzir predicados sobre si mesmo, a exemplo de uma determinação conceitual fechada em si mesma.

A indeterminação do político: Hannah Arendt e Roberto Esposito

Rodrigo Ponce SantosUniversidade Federal do Paraná (UFPR)

Bolsista CAPES/[email protected]

O ponto de partida é o entendimento da política moderna como redução dos homens à mera vida biológica. Compreensão que se encontra reunida, entre os contemporâneos, sob o amplo conceito de biopolítica. No pensamento de Hannah Arendt tal redução ocorre mediante um processo de desmundanização, cuja explicação se encontra vinculada à distinção entre trabalho, fabricação e ação. Não obstante seu caráter inusitado e polêmico, a tríade se encontra firmemente ancorada em uma oposição cara à tradição filosófica: a separação entre a vida comum a todos os seres (zoé) e a vida especificamente humana (bios). No conjunto de sua obra, Arendt descreve esta separação em uma série de oposições, tais como natureza x mundo, vida biológica x vida qualificada, próprio x comum; privado

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x público. Parte significativa das leituras dedicadas à autora e, de modo geral, ao pensamento sobre a biopolítica, tem debatido a validade e as implicações desta tradicional cisão. Cumpre aqui percorrer alguns desses argumentos, buscando identificar contrastes e estabelecer pontes que nos permitam compreender melhor o sentido deste abismo.

Tradução cultural e política: recepção de Walter Benjamin em Homi Bhabha

Rodrigo Souza Fontes de Salles GraçaUniversidade Federal do Paraná (UFPR)

Bolsista [email protected]

Na tradição de pensamento autodenominado “pós-colonial” o conceito de tradução cultural adquiriu ampla relevância. Através deste foi esboçado concepção de cultura na qual se afasta da idéia de sistema de códigos estáticos, para compreende-la como fluxo potencialmente instável de significações. Tal deslocamento possibilitou a autores diversos abordagem crítica de fenômenos sociais como os fluxos migratórios na Europa e Estados Unidos e representação literária e política de minorias.

Neste âmbito se mostrou fundamental a interpretação do conceito de tradução de Walter Benjamin - sobretudo a partir do ensaio A Tarefa do Tradutor . Apesar de, como salientou Sazane Kampff Lages, a teoria da tradução de Benjamin não possuir “dimensão cultural ou antropológica manifesta”, autores como o crítico literário “pós-colonial” Homi Bhabha, valeram-se de diversas considerações do filósofo alemão sobre tradução para pensar a relação cultura/política na chave da tradução cultural.

Desta forma este trabalho tem por objetivo principal analisar a recepção do pensamento de Walter Benjamin em Homi Bhabha, em particular o conceito de tradução e complementarmente as reflexões sobre história.

Busca-se argumentar que Bhabha, baseia-se em parte na terminologia benjaminiana empregada no conceito de tradução cultural para interpretar discursos de migrantes e outras minorias. Para este fim, mais especificamente, é abordado a apropriação dos referenciais de “traduzibilidade” e “intraduzibilidade”esboçados por Benjamin em A Tarefa do Tradutor. Destes é desdobrado análise de como a tensão identificada entre “traduzibilidade” e “intraduzibilidade” possibilita Bhabha ressaltar nos discursos subalternos potencial político/subversivo de significação e re-signficação. Tal potencial, por sua vez, emergiria numa temporalidade refletida pelo crítico indiano a partir das teses Sobre o conceito de história(1940), o que nos leva por fim a abordagem breve e complementar da recepção desta obra tardia de Benjamin.

Ação e duração: a visão bergsoniana da liberdade

Solange BitterbierUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

Na obra Ensaio sobre os dados imediatos da consciência, Bergson enfatiza, após expor sua concepção de tempo homogêneo, os fundamentos de sua crítica à concepção associacionista que tem por base justamente o tempo espacializado. O filósofo inicia sua análise do problema da liberdade procurando mostrar que tanto os deterministas quanto os adeptos do livre-arbítrio se utilizaram do associacionismo e, logo, não conseguiram explicá-la satisfatoriamente porque, ao abordarem as ações livres, se apropriaram de uma concepção equivocada da duração, extraindo as características principais de uma consciência que dura em prol de uma representação dos estados psicológicos no espaço. Todavia, se analisarmos as ações tendo como base a noção de duração, sabe-se que a liberdade não pode ser considerada diante de um tempo homogêneo. Em outras palavras, a liberdade e os problemas

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relacionados a ela estão ligados a uma consideração errônea da concepção de tempo, o que nos leva a considerar os estados de consciência como homogêneos e separados. Diante disso, nosso trabalho tem por objetivo enfatizar a noção bergsoniana de duração e como tal noção está na base da resolução dos problemas relacionados à liberdade. Para tanto, faremos uma introdução aos dois primeiros capítulos do Ensaio sobre os dados imediatos da consciência e buscaremos nos centrar naquilo que, já no terceiro capitulo da obra em questão, Bergson caracteriza como ações livres.

O realismo de entidades de Nancy Cartwright

Tales Carnelossi LazarinUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

[email protected]

Nancy Cartwright apresenta uma posição intermediária entre o empirismo e o realismo científico, conjugando uma atitude antiteórica sobre as leis científicas fundamentais com o realismo a respeito das entidades inobserváveis postuladas pela ciência. A autora sustenta, por um lado, que apenas leis fenomenológicas – que buscam descrever regularidades empíricas de maneira direta – podem ser verdadeiras, enquanto que leis teóricas ou fundamentais, que são mais abstratas e a partir das quais as primeiras podem ser derivadas e explicadas, não descrevem os fatos literalmente (isso por uma série de razões alegadas, como essas leis requererem a condição ceteris paribus ou haver perdas de adequação empírica com a ampliação de seu poder explicativo). Por outro lado, Cartwright entende que a ciência pode obter conhecimento a respeito de entidades que não são diretamente observáveis (e.g. elétrons), e o faz recorrendo a situações experimentais em que essas estariam envolvidas. A autora alega que a existência das causas (i.e. entidades) do que é constatado em um experimento controlado é requerida para que uma explicação causal seja aceita; e afirma também que, mesmo que os cientistas sejam estimulados a formular modelos diversificados para dar conta de certos fenômenos, que apenas uma história causal é, por fim, admitida pela comunidade científica - o que reforça seu entendimento sobre o compromisso ontológico envolvido nas explicações causais. Cartwright detalha posteriormente sua posição sobre o realismo de entidades, sustentando que as regularidades empíricas não são fundamentais, mas sim resultado da ação de certas ‘capacidades causais’ (i.e. disposições ou tendências de certos objetos em se comportarem de determinadas maneiras ou de produzirem certos efeitos em condições específicas). É a combinação de objetos com certas capacidades causais em configurações estáveis e repetitivas – que ela denomina sugestivamente de ‘máquinas nomológicas’ – que geraria as regularidades empíricas que as leis científicas descrevem.

A relação entre compreensão e regras

Tatiane Boechat Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

Trataremos nesse texto da questão das regras na filosofia de Wittgenstein, com o intuito de levantar a importância do conceito de compreensão (Verstehen) e, principalmente, de pré-compreensão. Para isso, apresentamos a distinção entre duas espécies de regras, as regras constitutivas e as regras reguladoras e a relação que elas mantém entre si. Adentramos, assim, no problema das relações entre a pluralidade dos jogos de linguagem, dito de outro modo, da multiplicidade dos modos de significar o mundo, procurando mostrar como é possível aproximar a noção de compreensão das atividades segundo regras.

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A Reflexão em Sartre

Túlio Enrique StafuzzaUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista Capes/[email protected]

Jean-Paul Sartre conclui logo em sua primeira obra, o ensaio fenomenológico A transcendência do Ego, que o Ego não é um ‘habitante’ da consciência. Dado posteriormente aos vividos, por meio de uma reflexão impura, o Ego é tido como objeto transcendente de consciências irrefletidas. Quase que do mesmo modo, ao final do segundo capítulo da segunda parte de O Ser e o Nada – obra lançada seis anos após a primeira, onde vemos o rompimento do filósofo francês com a fenomenologia de Husserl – Sartre afirma, agora com toda sua ontologia formulada, que a psique, unidade de seres virtuais, dada pela reflexão impura, é transcendente e subentende a temporalização do para-si (da consciência). Nos mesmos termos, podemos encontrar em sua vasta literatura alguns exemplos nos quais a descoberta da virtualidade da reflexão impura, isto é, do próprio Ego, ocorre. Assim, esta apresentação propõe uma investigação sobre a constituição do Ego e da temporalidade psíquica, isto é, procuraremos elucidar uma chave de leitura na qual seja possível relacionar um mesmo tema abordado na ‘juventude’ e na ‘maturidade’ do autor, extraindo desta aproximação algumas ponderações sobre o percurso interno da obra sartriana.

Palavras-chaves: Ego, Psique, Em-si, para-si, reflexão.

A concepção de indivíduo segundo Kierkegaard

Valdinei CaesPUC - PR

[email protected]

Nosso objetivo consiste em explicitar a compreensibilidade da concepção de indivíduo segundo Kierkegaard. O indivíduo é uma categoria propriamente cara à filosofia kierkegaardiana. É ao mesmo tempo cara e complexa, pois o indivíduo, segundo Kierkegaard, está sempre em situações limítrofes da existência. Isso é um indício de que há um processo de individualização, porque não há o conceito de indivíduo fechado e acabado, mas sim uma concepção, por sua vez, dinâmica em sua natureza. Para tratarmos dessa questão, teremos como referência as seguintes obras: O Conceito de Angústia e o Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra como Escritor, onde há duas notas que tratam especificamente sobre o Indivíduo as quais, outrossim, vamos ter como alicerces da nossa pesquisa.

.Dinâmica Linear e Não-Linear das Teorias das Ciências Naturais: os estados anômalos da racionalidade científica em T. S. Kuhn

Valdirlen do Nascimento LoyollaUniversidade Estadual de Montes Claros

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De acordo com Thomas Kuhn, em sua obra A Estrutura das Revoluções Científicas, os cientistas que adotam as linhas de pesquisa da ciência normal executam atividades muito diversas das atividades executadas pelos cientistas que trabalham na esfera da ciência extraordinária; entretanto, disso decorre que: a) Os cientistas que atuam na fase de ciência normal dispõem ou partilham de uma e mesma teoria, que não é posta em dúvida e visam apenas às ampliações que os capacitem a resolver os seus problemas e se recusam a aceitar ampliações que deixam de parte os problemas focalizados; mas, o erro consistiria em considerar irracional o comportamento de tais pesquisadores porque agem tendo como referência as regras estipuladas pela fase da ciência normal e tal comportamento deve ser entendido como indiscutivelmente racional; por outro lado, b) Os pesquisadores da fase da ciência extraordinária e do período que antecede as revoluções científicas, não dispõem de uma teoria, mas procuram erigir o núcleo estrutural de uma nova

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teoria, pois que seu objetivo principal é o de construir uma teoria nova mais eficaz do que as existentes e, nesse caso, a atividade dos pesquisadores da fase da ciência extraordinária deve também ser entendida como indiscutivelmente racional. O confronto direto entre as considerações estabelecidas nos itens (a) e (b) tem como conseqüência a seguinte questão: se na primeira espécie de atividade científica, isto é, se na fase de ciência normal, predominam critérios de racionalidade bem diversos dos critérios que são acolhidos no período da ciência extraordinária, comparativamente, se conclui que o conceito de racionalidade em T. S. Kuhn assume (dois) estados anômalos de uma fase para outra, o que, no âmbito das teorias das ciências naturais, não corresponderia a buscar um análogo empírico da demonstração lógica, o que faria desaparecer o tradicional motivo para defender um monismo da racionalidade científica.

A contribuição de matéria e memória para o estudo da linguagem na filosofia de Henri Bergson

Vanessa de Oliveira TemporalUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

Após uma breve retomada da tese bergsoniana da inadequabilidade da linguagem para exprimir o real, a qual está presente ao longo de toda sua obra, este trabalho procura mostrar de que modo Matéria e Memória contempla uma reflexão mais profunda sobre esta temática ao apresentar o conceito de “aparelho motor”, que permite uma análise do fundamento dos hábitos da prática e de sua influência no pensamento especulativo. Em linhas gerais, procuramos entender de que modo a concepção de linguagem de Bergson – com base na definição da palavra como entidade de ordem motora ou mais explicitamente como aparelho motor –, anuncia um acesso extralingüístico ao real. Tal acesso não pressupõe a recusa da linguagem como sugere a tese acima, mas nos assegura uma abordagem intuitiva do ser e dela própria, que resultará na dupla abordagem presente em As duas fontes da moral e da religião, onde ao designá-la como correspondente da moral, podemos supor a existência de dois tipos de linguagem. Uma fechada, onde limitamo-nos às regras internas do discurso e seu traço característico é o automatismo; e uma aberta, onde há necessidade de um esforço no sentido de pensar qualitativamente e de observar diferenças de natureza entre as coisas que a linguagem abriga sob um mesmo nome. Neste trabalho procuramos mostrar também, com o suporte teórico de Gilles Deleuze, que a linguagem fechada está marcada por um enunciador (ser vivente interessado e portador de um ponto de vista) e a aberta confunde-se com a consciência que a própria vida tem dela mesma e é movida por sua força explosiva interna.

Comentários sobre a dialética em Marx

Vinícius dos SantosUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Bolsista [email protected]

O objetivo da comunicação é expor as linhas de força fundamentais do método dialético de Marx, isto é, a forma pela qual essa filosofia permite a apreensão dialética da realidade social em sua totalidade concreta. Para isso, nos valeremos de textos deste filósofo, combinada a contribuições de pensadores como Lukács (de História e consciência de classe), Merleau-Ponty e Sartre. Num segundo momento, trataremos das causas pelas quais, segundo alguns desses filósofos, a incompreensão da dialética enquanto lógica viva da práxis, da relação entre os homens mediados pelas coisas (incompreensão cuja origem remeteria, segundo Merleau-Ponty, não só a alguns de seus principais intérpretes, mas também a certas passagens do próprio Marx) teria, ao separar teoria e práxis, levado o materialismo histórico a um aparente esgotamento. Não obstante, defendemos que mesmo esses desvios teriam sido insuficientes para invalidar a dialética proposta por Marx – se recuperada do dogmatismo e do positivismo – como instrumento privilegiado de apreensão das contradições do real: como defendia Sartre, apesar de tudo, o marxismo segue como a “filosofia insuperável de nosso tempo”.