vii congresso internacional em ciÊncias da … · focaremos o caso da igreja assembléia de deus....

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VII CONGRESSO INTERNACIONAL EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO: A RELIGIÃO ENTRE O ESPETÁCULO E A INTIMIDADE – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO, PUC Goiás, Goiânia, de 08 a 11 de abril de 2014 – ISSN 2177-3963 1 Orgs.: ALBERTO DA SILVA MOREIRA CAROLINA TELES LEMOS EDUARDO GUSMÃO DE QUADROS ROSÂNGELA DA SILVA GOMES

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  • VII CONGRESSO INTERNACIONAL EM CINCIAS DA RELIGIO: A RELIGIO ENTRE O ESPETCULO E A INTIMIDADE PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO, PUC Gois, Goinia, de 08 a 11 de abril de 2014 ISSN 2177-3963 1

    Orgs.:

    ALBERTO DA SILVA MOREIRA

    CAROLINA TELES LEMOS

    EDUARDO GUSMO DE QUADROS

    ROSNGELA DA SILVA GOMES

  • VII CONGRESSO INTERNACIONAL EM CINCIAS DA RELIGIO: A RELIGIO ENTRE O ESPETCULO E A INTIMIDADE PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO, PUC Gois, Goinia, de 08 a 11 de abril de 2014 ISSN 2177-3963 2

    GT7: OS PENTECOSTALISMOS DA ASSEMBLEIA DE DEUS NO BRASIL.

    Coordenadores/as

    Dra. Elizete Silva (UEFS) [email protected].

    Dr. Lyndon de A. Santos (UFMA) [email protected].

    Dr. Vasni Almeida (UFT) [email protected].

    mailto:[email protected]:[email protected]://mail.terra.com.br/mail/index.php?r=message/compose&[email protected]

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    ASSEMBLEIA DE DEUS: A IGREJA QUE MAIS CRESCE NO BRASIL?

    UMA PROPOSTA DE REINTERPRETAO SOCIOLGICA DOS DADOS

    DO IBGE

    Dr. Gamaliel da Silva Carreiro - UFMA ([email protected] )

    Resumo

    Os mais recentes dados publicados pelo IBGE indicam que as igrejas pentecostais

    continuam sendo as impulsionadoras do crescimento evanglico no pas sendo a

    Assembleia de Deus (AD) a que mais cresce. O presente trabalho tem como foco

    reinterpretar estes dados e propor uma leitura alternativa a essa vigente. Para essa

    reinterpretao elegemos como varivel o modelo administrativo em um duplo aspecto:

    como elemento metodolgico importante na interpretao do crescimento e como

    varivel de anlise. A partir da sociologia das organizaes religiosas percebe-se a

    inexistncia de um parmetro nico utilizado na anlise do crescimento das distintas

    organizaes religiosas evanglicas. Nestes termos, o crescimento assembleiano pode

    ser mais mito do que realidade, uma vez que no existe uma Assembleia de Deus, tal

    qual existe uma IURD, uma IMPD ou uma CBB, mas milhares de instituies religiosas

    independentes das duas maiores organizaes assembleianas (CGADB e CONAMAD).

    Como varivel de anlise, qual o impacto do modelo organizacional para crescimento

    ou fragmentao das instituies? Quando se compara o modelo administrativo adotado

    pelas assembleias de Deus com o de outras organizaes evanglicas como as do

    protestantismo histrico ou as neopentecostais, grande parte das AD so,

    administrativamente patrimonialista e oligrquica; empreendimentos religiosos

    familiares. Tentaremos sustentar a ideia de que este modelo administrativo contribui

    positivamente para o crescimento individual das igrejas locais, mas negativamente para

    o crescimento das AD no mbito nacional, dado o grau de fragmentao do poder.

    Introduo

    O tema do crescimento evanglico no Brasil tem sido debatido no interior da

    sociologia da religio j h mais de quatro dcadas. O presente texto uma tentativa de

    pensar o impacto do modelo organizacional, e da cultura organizacional como variveis

    importantes nos estudos que versam sobre este assunto com especial importncia

    focaremos o caso da Igreja Assemblia de Deus. Concentrarei minha fala em dois

    aspectos distintos relacionados ao modelo organizacional, qual seja: primeiramente

    como elemento metodolgico importante na interpretao do crescimento dos grupos no

    Brasil e segundo, como varivel de anlise.

    Uma primeira constatao neste sentido diz respeito a falta de trabalhos que

    foquem o modelo organizacional das instituies religiosas e que atribuam a ele um

    papel que, julgo ser importante na interpretao do crescimento dos grupos religiosos.

    Diferentemente do que ocorre em outros campos de pesquisa que tratam do crescimento

    de outras organizaes, em que uma sociologia das organizaes ou uma sociologia da

    administrao convocada a dar sua parcela de contribuio, no Brasil h pouca relao

    entre sociologia da religio e sociologia das organizaes.

    Contudo, em algumas reflexes sociolgicas esta varivel foi objeto de anlise. S

    para indicar dois bons exemplos: Francisco Cartaxo Rolim, em seu livro pentecostais no

    Brasil (1985) faz uma incurso quanto a alguns aspectos da cultura organizacional das

    mailto:[email protected]

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    assembleias de Deus. O outro trabalho que me parece ser o mais relevante quanto ao

    papel do modelo organizacional nos estudos dos evanglicos o de Rubem Cesar

    Fernandes, O Governo das Almas. Depois do fenmeno do neopentecostalismo,

    especialmente da consolidao da IURD, o modelo organizacional passou a ser levado

    em considerao, sobretudo, dado a semelhanas entre a forma administrativa desta

    instituio e a das instituies seculares. Mas, mesmos nestes trabalhos, me parece que

    o papel destinado ao modelo organizacional foi colocado em segundo plano.

    Por outro lado, as reflexes sobre sistemas de governo eclesistico parece continuar

    a ser um tema quase que exclusivamente restrito ao teolgico e a sociologia pouco

    avanou com o seu olhar analtico nesta seara, o que parece constituir hoje uma lacuna

    tanto na sociologia quanto na histria do desenvolvimento organizacional dos grupos

    religiosos brasileiros.

    1. O modelo organizacional como elemento metodolgico na anlise do crescimento Assembleiano

    A pesquisa mais recente realizada pelo Datafolha (2013) com 180 municpios

    brasileiros indica que os evanglicos j seriam 28% da populao1. Deste montante

    19%seriam de origem pentecostal e a maior fatia membros da Assembleia de Deus

    (AD). Mais de 60% dos evanglicos no Brasil hoje dizem pertencer as AD. Como

    entender esta afirmao? um erro metodolgico tomar as Assembleias de Deus como

    uma nica instituio religiosa. E este leva a outros erros de anlise.

    Qualquer pesquisa que se faa com grupos religiosos precisa de uma unificao

    metodolgica no trato dos diferentes grupos, sobretudo quando se quer compar-los. Os

    grupos religiosos so, na grande maioria dos casos, organizaes institucionalizadas,

    com laos formais que unem as muitas organizaes atuantes no mercado a um centro.

    Possuem ainda um carter jurdico ora mais ora menos unificador tanto em suas

    dimenses nacionais como locais. Embora existam muitos grupos no formalizados

    atuando no Brasil, esta no a regra. Os movimentos religiosos se institucionalizam

    (convenes, denominaes, etc), criam estatutos, constituies, regras de conduta e

    regras de filiao institucional e por isso que possvel dizer com certa margem de

    segurana que esta organizao tem X igrejas, aquela outra tem aproximadamente tantos

    fiis, etc.

    sobre este ponto precisamente que destaco um erro metodolgico nas anlises

    do crescimento das Assembleias de Deus no Brasil. Quando algum responde para o

    recenseador do IBGE que da IURD ou que da IMPD ou ainda da IIGD ou mesmo

    que da Sara Nossa Terra ou da Igreja Batista da CBB ou ainda da Igreja Presbiteriana

    do Brasil, nestes casos, ns podemos ligar o fiel a uma instituio especfica,

    organizacionalmente unificada seja por relaes mais rgidas de comando, caso das

    organizaes neopentecostais, em que a igreja local pertence ao grupo organizacional e

    est apartada daqueles que a frequentam seja por relaes ermanas como o caso das

    Igrejas Batista da CBB em que as igrejas so autnomas, e se filiam a conveno por

    deciso comunitria em assembleia. Nestes dois casos a declarao do entrevistado

    1 Disponvel em http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2013/07/1314857-fatia-de-

    catolicos-e-a-menor-em-duas-decadas.shtml. Acessado em 25 de novembro de 2013.

    http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2013/07/1314857-fatia-de-catolicos-e-a-menor-em-duas-decadas.shtmlhttp://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2013/07/1314857-fatia-de-catolicos-e-a-menor-em-duas-decadas.shtml

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    quando diz ser iurdiano, por exemplo, parece ser um dado real pois remete a uma nica

    organizao religiosa.

    O mesmo no ocorre no caso das Assembleias de Deus, porque, obviamente no

    existe uma AD. Existe ento um dado e uma interpretao errada dele: o nome AD

    cresce e se multiplica em todo o Brasil, especialmente nas grandes e mdias cidades,

    mas as duas maiores instituies religiosas que carregam este nome, apenas para

    indicarmos as mais importantes em termos numricos CGADB e CONAMAD,

    vivenciam problemas srios de diviso.

    Nas periferias dos grandes centros urbanos brasileiros um nmero considervel

    de igrejas estampam nas paredes externas de seus prdios o nome Assemblia de Deus,

    na grande maioria, com uma especificao do tipo ministrio tal, todavia, quando

    aprofundamos as investigaes percebemos a inexistncia de ligaes entre estas

    instituies locais e as estruturas nacionais. Assim, estas firmas religiosas apenas

    utilizam o nome da Assembleia de Deus, mas no esto ligadas, efetivamente,

    qualquer organizao assembleiana.

    Qual a origem dessas AD? So organizaes de ao local, algumas formais

    outras no, que surgiram, na grande maioria, a partir de cismas religiosos com firmas

    assembleianas maiores (igrejas ou ministrios) e passam a atuar no mercado de forma

    independente. Os dados nacionais sobre o nmero dessas igrejas so muito imprecisos,

    pois muitas delas funcionam na informalidade, em sales, garagens e casas alugadas em

    nome do pastor ou de algum membro da comunidade. Outras so arroladas

    simplesmente com AD e ajudaro a perpetuar este erro metodolgico. O certo que elas

    passam despercebidas mesmo nas pesquisas que se faz em cartrios. Nas periferias dos

    grandes centros urbanos elas proliferam e competem com as demais instituies. Em

    geral, o seu crescimento limitado, eventualmente, uma delas adquire uma projeo

    local importante superior mdia, podendo disputar espao na sua localidade com as

    firmas religiosas nacionais e regionais. Essas organizaes avolumam artificialmente o

    tamanho das AD.

    A histria das AD no Brasil uma histria de cises que deu origem a diversas

    convenes e ministrios que hoje no possuem nenhum vnculo institucional com

    aprimeira AD, a CGADB. O mais expressivo dos ministrios independentes originrios

    da CGADB, o Ministrio de Madureira, presente e atuante no Rio de Janeiro desde

    meados da dcada de 1930. Este brao da AD comandado at 1982 pelo seu fundado o

    pastor Paulo Leivas Macalo ganhou certa autonomia administrativa em meados dos

    anos 1950 e em 1989, foi oficialmente desligado da CGADB em assemblia geral

    ocorrida na cidade de Salvador Bahia. Ali, segundo consta na ata da reunio foi

    decidido que os pastores ligados ao ministrio Madureira deveriam ser excludos das

    Assemblias de Deus CGADB. Este foi o maior cisma ocorrido nesta instituio. Surgia

    ento a Conveno Nacional de Ministros da Assembleia de Deus Madureira

    (CONAMAD). Hoje a CONAMAD a maior concorrente da CGADB no Brasil. Pelo

    ritmo de seu crescimento, em alguns anos ela pode vir a superar sua rival, pois seu

    campo de atuao antes restrito as regies Sudeste, a partir de meados dos anos 1990,

    avanou tambm para a regio Centro-Oeste e Sul do pas, alm de tambm atuar no

    norte e Nordeste. Por sua vez, a CAGADB que domina as regies Norte e Nordeste, tem

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    encontrado dificuldades de crescer no restante do Brasil no mesmo ritmo que cresceu no

    passado2.

    Assim, no possvel confiar nos dados oferecidos pelo IBGE quanto ao

    nmero de membros das AD no Brasil, dado a especificidade do aparecimento dos

    grupos que estampam o nome AD mas que no possuem nenhuma ligao formal com

    as duas maiores convenes. Por outro lado, no possvel confiar nos dados oferecidos

    pelas instituies maiores como a CGADB ou CONAMAD. Um exemplo disso est no

    Censo de 2000: o nmero de evanglicos foi calculado em aproximadamente 27milhoes

    e as AD-CGADB afirmavam possuir sozinha 16milhes de fiis enquanto que a

    CONAMAD dizia possuir 8 milhes. Obviamente esses nmeros eram fantasiosos,

    principalmente quando levamos em considerao os modelos organizacionais

    fragmentrios das duas instituies e o total de fiis das demais organizaes

    evanglicas no Brasil. Em 2007 fizemos um levantamento e algumas ponderaes

    estatsticas levando em considerao a taxa de crescimento dos ltimos sensos

    demogrficos e o ritmo de expanso das aberturas de templos das duas organizaes e

    chegamos a um nmero de fiis mais prximo da realidade: algo em torno 12 milhes

    de fiis para a CGADB e no mais do que 7 milhes de fiis para a CONAMAD. Ainda

    assim, as duas continuam disparadas as maiores denominaes evanglicas do Brasil.

    De acordo com os relatos apresentados por alguns pastores da cpula das

    duas organizaes, em conversas informais teramos ainda 1,5 milhes de

    2 Alm da CONAMAD, nossas pesquisas encontraram muitas outras organizaes assembleianas

    independentes da CGADB. Abaixo esto apenas as mais importantes. Assemblia de Deus Betesda,

    iniciada no bairro de Aldeota, Fortaleza (CE), pelo pastor e mdico Ademir Siqueira; e, desde o ano de

    1982, dirigida pelo pastor Ricardo Godim, com acentuado crescimento na classe mdia, especialmente

    em So Paulo; Assembleia de Deus do Bom retiro, sediada no distrito doBom retiro, em So paulo, (SP),

    com penetrao em vrias regies do pas; Assembleia de Deus da Plenitude, sediada em Sanvalle, Natal

    (RN), organizada e presidida pelo pastor Gilson Oliveira, com ao no Nordeste brasileiro;Ministrio

    Cana da Assembleia de Deus no Brasil, sediada em Fortaleza (CE), organizada e presidida pelo pastor

    Jecer Ges, com ao no Nordeste brasileiro;Ministrio Internacional Bethel Bethel Ministry,

    Ministrio organizado e presidido pelo pastor Judson G. Oliveira, com sede em Bridgeport, Connecticut,

    com igrejas na Georgia e Marietta, nos Estados Unidos, e no Esprito Santo, Minas Gerais, Distrito

    Federal e Cear, no Brasil;Assembleia de Deus Ministrio Restaurao Fundada em de 2004 pelo pastor

    Humberto Schimitt Vieira, tem sua sede geral na cidade de Porto Alegr, Brasil; Assembleia de Deus

    Ministrio New Life, Ministrio que tem origem na Flrida, EUA organizado e presidido pelo pastor

    Rogrio da Silva, com sede em Campinas e com igrejas em So Paulo e Rio; Assembleia de Deus

    Renovada do Brasil, fundada no dia 07 de novembro de 2005, pelo pastor Esequiel Ribeiro e a

    missionaria Maria Ribeiro, tem a sua sede na cidade de Araraquara, So Paulo; Assembleia de Deus

    "Vida com Cristo " Pastor Joo Costa Lima, tem sede em Av. Presidente Juscelino n 1189, Diadema, So

    Paulo; Assembleia de Deus Ministerio Deus Cuida de Mim, fundada em 2004, pelo pastor Otoniel

    Aureliano, tem sua sede geral na cidade de Marilia interior de So Paulo, Brasil; Assembleia de Deus "A

    Fortaleza da F", fundada em 2000, pelo pastor Marcos Antonio Fernandes, tem sua sede Rua Lenir

    Liberato da Silva, 1087 - Anchieta, Rio de Janeiro RJ; Assembleia de Deus Ministerio Renovada

    Internacional, fundada em 14 de abril de 2005, pelo pastor Alcedino Jose Inacio, tem sede na Rua

    Marciano Frana, Ouro Verde-Goias; Assemblia de Deus Ministrio Monte dos Mistrios, fundada em

    17 de agosto de 1997, pelo Pastor Rogrio Baptista, tem sua sde na cidade de Planura MG.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Bridgeporthttp://pt.wikipedia.org/wiki/Connecticuthttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ge%C3%B3rgia_%28EUA%29http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Marietta&action=edithttp://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%ADrito_Santohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Minas_Geraishttp://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito_Federal_%28Brasil%29http://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito_Federal_%28Brasil%29http://pt.wikipedia.org/wiki/Cear%C3%A1

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    assembleianos que pertenceriam a igrejas Assemblias de Deus independentes. Esses

    dados no nosso entender foram subestimados, sobretudo quando em nossas pesquisas

    aparecem os pedidos de desligamentos de pastores e seus ministrios das respectivas

    convenes ou mesmo o desligamento informal. Voltaremos a esta questo mais adiante

    quando tratarmos do modelo organizacional como varivel de anlise.

    Um dado interessante encontrado na investigao que Fernandes faz das

    Assembleias de Deus que, mesmo desligadas da organizao mxima, a CGADB ou a

    CONAMAD, por exemplo, e constituindo-se em igrejas independentes, estas

    organizaes religiosas continuam a utilizar o nome da instituio na porta dos templos.

    As respostas para o porqu continuar usando o mesmo nome so variadas, mas cumpre

    observar de incio apenas que: por um lado Assemblia de Deus parece ser um timo

    nome no mercado de bens religiosos de salvao, e parece ser capaz de atrair uma

    clientela considervel. Nestes termos, o nome AD vende e um bom marketing no

    concorrido mercado religioso brasileiro. Por outro lado, embora desligadas das

    convenes as prticas pentecostais, as formas litrgicas, usos e costumes, as crenas de

    um modo geral so mantidos e isso parece ser mais importante para o fiel que procura

    os servios destas instituies do que saber se a instituio est ou no ligada a

    conveno. Assim, para as organizaes e seus administradores, como nada mudou a

    no ser o vinculo formal com a conveno, o mais lgico parece ser manter o nome AD

    nas paredes dos templos. O desligamento institucional do pastor presidente em relao a

    conveno no teria o peso de mudar a identidade assembleiana que ele e seus fiis

    carregam. Nestes termos, o Nome assembleia de Deus tornou-se algo que transcende um

    muito as organizaes formais que o cunharam. quase um patrimnio a disposio de

    quem um dia se converteu em uma dessas instituies e que deseja abrir um trabalho.

    Ao mesmo tempo, ao manter o nome Assemblia de Deus mesmo nos grupos

    independentes elas vendem a imagem de que pertencem a algo maior do que elas. J

    senso comum que a AD a maior instituio evanglica do Brasil. Essa informao

    beneficia todo assembleiano. Por seu lado, as grandes organizaes como CONAMAD

    e CGADB tambm saem lucrando, pois pegam carona nessa onda de crescimento e isso

    tem um peso poltico muito grande.

    Contudo, embora a questo da identidade religiosa seja um tema de grande

    importncia nos estudos das Assemblias de Deus, nos estudos organizacionais em que

    temos como elementos de anlise so instituies e no sentimentos de pertena, no

    podemos concordar com os dados apresentados pelo IBGE e j reproduzidos em alguns

    trabalhos acadmicos, pois eles levam a erros graves. As Assemblias de Deus so bem

    menores do que os dados estatsticos informam.

    O modelo organizacional como varivel analtica

    Como varivel de anlise, nos interessa saber qual o impacto do modelo

    organizacional para crescimento ou fragmentao das instituies. Tentaremos sustentar

    que o modelo administrativo desta instituio tem um impacto muito grande no

    crescimento das instituies, mas um problema para as organizaes em mbito

    nacional. Uma estrutura organizacional de tipo patrimonialista e personalista muito

    eficiente para o crescimento individual das igrejas locais, mas prejudicial para o

    crescimento das AD no mbito nacional, dado o grau de fragmentao do poder. Antes,

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    porm, de proceder tal analise, cumpre-nos fazer algumas consideraes em termos de

    teoria das organizaes.

    O tema da estrutura organizacional foi alvo de intensas discusses tericas

    durante a dcada de 60 e a primeira metade dos anos 70 na administrao e mesmo no

    interior da sociologia das organizaes, a partir da, constatou-se um declnio no

    interesse dessa temtica. A importncia dos estudos sobre estrutura organizacional est

    relacionada a vrios motivos, dentre os quais, o fato de que a estrutura organizacional

    circunda e influencia os agrupamentos e processos de comportamento organizacional,

    que, por sua vez, influenciam a eficincia, a flexibilidade e a interao com o ambiente

    circundante, bem como separam as partes da organizao entre si e ajudam a mant-las

    interligadas.

    O sentido do termo estrutura tanto na administrao como na engenharia so

    semelhantes e indicam que ela a base para o funcionamento da organizao. Hall

    considera trs funes bsicas de uma estrutura organizacional na administrao.

    A primeira funo a realizao de produtos organizacionais e o

    atingimento de suas metas; em segundo lugar, as estruturas se

    destinam a minimizar ou regulamentar a influncia da variao

    individual, de modo que prevaleam as exigncias

    organizacionais sobre as individuais; e por fim, funo da

    estrutura organizacional estabelecer as posies de exerccio de

    poder, tomada de deciso e execuo de atividades.

    Hampton (1983) corrobora com esse ponto de vista e acrescenta que a estrutura

    contribui com a organizao quando esclarece as responsabilidades e autoridade dos

    membros, facilita a comunicao e o controle, auxilia na tomada de deciso e diferencia

    as atividades que so executadas.

    Hatch (1997) concebe a estrutura organizacional como o relacionamento entre as

    partes de um todo organizado. Igualmente, Bowditch e Buono (1992, p.167) admitem

    que a estrutura organizacional pode ser definida como padres de trabalho e

    disposies hierrquicas que servem para controlar ou distinguir as partes que compem

    uma organizao". De modo mais especfico, Stoner e Freeman (1992, p. 230) definem

    estrutura como a "forma pela qual as atividades de uma organizao so divididas,

    organizadas e coordenadas". Na mesma direo Mintzberg (1995, p.10), afirma que a

    estrutura organizacional pode ser entendida como a soma total das maneiras pelas

    quais o trabalho dividido em tarefas distintas e como feita a coordenao entre essas

    tarefas".

    Considera-se nesse trabalho que a melhor maneira de analisar uma estrutura

    organizacional a partir de seus elementos componentes. Mesmo havendo alguma

    variao de nomenclatura, constatou-se um certo consenso entre os autores sobre quais

    sejam os principais componentes estruturais de uma organizao. Assim, entre todas as

    caractersticas apresentadas por uma gama de autores destacamos as seguintes

    categorias como partes genricas da teoria organizacional, a saber: complexidade,

    coordenao/controle e centralizao.

    Complexidade

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    Segundo Serra, essa categoria identificada na reproduo da diferenciao

    organizacional, percebida atravs do processo de diviso do trabalho e do nmero de

    nveis hierrquicos. Para Hatch (1997), Bowditch e Buono (1992) a complexidade est

    associada ao conceito de diferenciao, seja ela horizontal ou vertical. Alm destes

    sentidos de diferenciao, Hall (2004) admite tambm a disperso espacial como

    dimenso da complexidade. Dessa forma, quanto mais diferenciada e dispersa a

    organizao seja em sua dimenso horizontal e/ou verticalmente, mais complexa ela

    ser. E este , sem dvida o caso das AD.

    Coordenao e controle

    Refere-se aos instrumentos, formais ou informais, utilizados para que as tarefas

    realizadas na organizao sejam devidamente integradas, portanto, implica entre tantas

    formas de trabalho, no controle de resultados.

    A funo do controle abrange as atividades desenvolvidas pelos administradores

    para adequar os resultados reais e os planejados. Para haver coordenao e controle

    necessrio que haja trs condies bsicas:

    1) Padres ou normas dos resultados desejados.

    2) Informao para que se possam comparar os resultados reais e os planejados.

    3) Ao corretiva, porque sem a capacidade de ao corretiva a funo de

    controle no tem sentido. A ao corretiva serve para avaliar se os resultados

    planejados foram satisfatrios, e se no foram, quais as razes disso.

    Segundo Gibson, Ivancevich e Donnelly (1981), o controle o cumprimento de

    uma sequncia lgica. As atividades de controle abrangem seleo e alocao do

    pessoal selecionado, inspeo do material, avaliao de desempenho, anlise e outras

    tcnicas administrativas que visam a organizao racional do empreendimento.

    O controle interno de uma organizao pode ainda ser definido como:

    Um conjunto de atividades envolvendo planos, mtodos e

    procedimentos, assegurando os objetivos a serem alcanados.

    (....) Qualquer ao tomada pela administrao, assim

    compreendida tanto a alta administrao como os nveis

    gerenciais apropriados, para aumentar a probabilidade que os

    objetivos e metas estabelecidas sejam atingidos. A alta

    administrao e a gerncia planejam, organizam, dirigem e

    controlam o desempenho de maneira a possibilitar com razovel

    certeza essa realizao (SEST apud SERRA, ibid, p.42).

    Por outro lado, para Stoner; Freeman (1992, p. 232) a coordenao refere-se ao

    "processo de integrar objetivos e atividades de unidades de trabalho separadas

    (departamentos ou reas funcionais) com a finalidade de realizar com eficcia o que foi

    planejado pela organizao". J Wagner e Hollenbeck (2000, p. 301) argumentam que a

    coordenao " um processo no qual as aes, de outro modo desordenadas, so

    integradas de forma a produzir um resultado desejado".

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    Quando se pensa em estrutura dois elementos so de fundamental importncia, a

    saber: a diviso do trabalho em diferentes tarefas e a consecuo da coordenao entre

    tais tarefas". Para Serra, estruturar uma organizao consiste, fundamentalmente, em

    dividir tarefas (diferenciao) e coorden-las (integrao). Uma vez que haja

    diferenciao, necessrio haver coordenao. Na viso de Mintzberg (1995) a

    operacionalizao da coordenao com vistas integrao de esforos na organizao

    se d atravs dos seguintes mecanismos bsicos:

    Ajustamento mtuo: coordenao obtida pelo simples

    processo de comunicao informal ou pela troca direta de

    informaes entre os membros da organizao;

    Superviso direta: ocorre quando uma pessoa assume a

    responsabilidade pelas atividades de um grupo de pessoas,

    dando a elas instrues e monitorando suas aes;

    Padronizao: coordenao por meio de padres e

    procedimentos pr-estabelecidos. Pode ocorrer por meio da

    padronizao das habilidades (especificao do tipo de

    treinamento necessrio para executar o trabalho), da

    padronizao do processo de trabalho (especificao ou

    programao das seqncias do trabalho) e padronizao

    das sadas (especificao dos resultados de trabalho

    esperados) (MINTZBERG, 1995, apud SERRA, ibid. p. 37).

    Ainda no entender de Mintzberg, sendo a padronizao uma forma de

    coordenao na qual as regras e procedimentos so formalizados, correto pensar na

    formalizao tambm como uma forma de se obter coordenao e controle.

    Na mesma direo Hall (ibid, p. 68) coloca que a formalizao contempla

    "as normas e procedimentos concebidos para lidar com as contingncias enfrentadas

    pela organizao; e Wagner e Hollenbeck (ibid, p. 309) admitem a formalizao como

    "o processo de planejar regulamentos e padres que possam ser utilizados para controlar

    o comportamento organizacional".

    Wagner e Hollenbeck chamam a ateno para outros veculos, alm da

    formalizao, capazes de promover a padronizao nas organizaes, dentre os quais

    destacaramos a profissionalizao, o treinamento e a socializao que tambm

    constituem formas de coordenao. Sobre este tema Serra (ibid, p.38) acrescenta que:

    A profissionalizao refere-se ao processo de contratao de

    profissionais previamente habilitados, que atendam aos padres

    exigidos pela organizao. O treinamento promovido pela

    organizao responsvel por capacitar seus membros, dando-

    lhes as habilidades necessrias para desempenho de uma funo.

    J a socializao diz respeito ao variado e muitas vezes sutil,

    processo de doutrinamento a que os membros da organizao

    so submetidos ao serem contratados.

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    Centralizao

    De um modo geral, esta categoria est diretamente associada ao processo

    decisrio da organizao, logo, diz respeito concentrao e distribuio de poder entre

    os nveis organizacionais. Nesse sentido, a possibilidade de centralizao ou

    descentralizao de uma estrutura depender do quanto o poder estar centralizado sob a

    posse de poucos ou repartido entre muitos (SERRA, ibid, p.39). Da mesma maneira

    Wagner; Hollenbeck entendem a centralizao como a concentrao de autoridade e

    deciso na cpula de uma empresa. Por sua vez, Bowditch e Buono (1992), citam este

    componente organizacional como o local da autoridade para tomada de decises na

    organizao.

    Hall salienta que alm da centralizao ser sistematicamente associada questo

    da tomada de deciso, ela tambm pode se referir maneira pela qual as atividades so

    avaliadas. Nestes termos, independentemente do nvel organizacional em que as

    decises sejam tomadas, haver centralizao, quando a avaliao for efetuada por

    pessoas no topo da organizao. Um dado interessante em relao a esta questo, que

    a imagem que a organizao tem de seus membros, pode ser revelada por intermdio da

    centralizao. Sobre isso pode se inferir que quanto mais centralizada uma

    organizao mas se pode imputar a desconfiana da cpula em relao ao pessoal para

    que tomem decises ou se auto-avaliem. Ao contrrio das organizaes menos

    centralizadas, que indicam abertura e confiana por parte da direo, favorecendo a

    autonomia dos seus membros.

    Por outro lado, a centralizao favorece o processo de coordenao das

    organizaes. Hatch (1997, p. 169) adepta desse parecer e acrescenta ainda que os

    "estudos sobre centralizao mostram que a quantidade de comunicao,

    comprometimento, e satisfao tendem a ser maior em organizaes descentralizadas,

    mas a coordenao e controle so mais difceis de se realizarem". Entendemos que a

    centralizao costumeiramente afeta negativamente os funcionrios subordinados e

    positivamente o funcionamento e a eficincia organizacional.

    Abordou-se at aqui os elementos e as caractersticas dos componentes de uma

    estrutura organizacional, dando-se destaque para a centralizao, coordenao e a

    complexidade, embora se admita que haja entre os autores um uso sobreposto dessas

    nomenclaturas. Vale ainda ressaltar, seguindo as idias de Serra, que esses componentes

    no se apresentam na organizao de forma dicotmica, presentes ou ausentes, porm

    so verificados mediante nveis gradativos de presena, dispostos sob a forma de um

    continuum. Dito isto, conclui-se que os diversos tipos de estrutura organizacional

    resultaro dos diferentes arranjos de combinaes entre esses elementos.

    Contudo, to importante quanto a estrutura organizacional a cultura

    organizacional presente nas instituies. ela quem d o tom a organizao. De um

    modo bem simples, falar de cultura organizacional falar de um sistema de valores

    compartilhados pelos membros de uma dada organizao em todos os nveis. Refere-se

    a um conjunto de caractersticas-chave que a organizao desenvolve, compartilha e

    utiliza no interior da vida institucional, podendo ser ou no intencional. Todas as

    organizaes, independentemente do tamanho, do segmento em que atuam e dos bens

    ou servios que produzem, possuem cultura organizacional, formalmente instituda ou

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    no.

    atravs da cultura organizacional que as instituies constroem personalidades

    prprias. Mas, diferentemente da reflexo encontrada na teoria da administrao, em

    que a cultura organizacional tratada como um produto possvel de ser construdo

    arbitrariamente a partir da gesto e do querer de gestores com suas regras, normas e

    expectativas, a sociologia das organizaes tem mostrado que a cultura organizacional

    produto das interaes entre os indivduos nas instituies e tem grande autonomia em

    relao a eles e a gesto institucional. Os padres culturais de uma organizao

    consistem em crenas, valores, regras de conduta, tica e morais alm das formas

    polticas e do modos operandis de conduzir a organizao e no desaparece com tanta

    facilidade quanto imaginam os administradores.

    Nestes termos, de nada adianta uma sociologia das estruturas organizacionais,

    com anlises de estatutos, regras que definem organizao, controle, administrao e

    sistemas de centralizao e descentralizao sem que balizemos isso aos hbitos e

    prticas cotidianas institudas pela cultura organizacional. a partir desse parmetro

    que iniciamos a anlise das AD.

    A estrutura organizacional das AD - CGADB

    Em termos tpicos ideais existem pelo menos quatro grandes modelos

    administrativos de gerenciar igrejas crists, a partir dos quais se desdobram muitas

    formas mistas. O congregacionalismo; o presbiterianismo; o episcopal e o

    representativo. Em funo do espao que temos, no faremos uma digresso sobre eles.

    Isto j foi realizado em outros trabalho3 e no teramos espao aqui para isso, mas

    cumpre pontuar que, as ADs, em tese, so regidas por um modelo congregacional4, mas

    na prtica suas razes esto mais prximas de um episcopado coronelista, tese esta j

    defendida por outros pesquisadores e que parece se sustentar ainda hoje.

    Diferentemente do congregacionalismo em que, em termos ideais, temos uma

    igreja forte e lideranas fracas, no sistema assembleiano teramos uma nfase no lder

    local e no na comunidade e isto aparece institucionalizado nas normas da CGADB e

    que ao nosso ver o cu e o inferno desta instituio. O artigo 5. do estatuto da

    CGADB esclarece que so membros da Conveno Geral, os ministros (pastores e

    evangelistas), devidamente consagrados, integrados e registrados na CGADB, como

    3 Carreiro, Gamaliel da Silva. DEMOCRACIA EPIDRMICA: Declnio do congregacionalismo e ascenso do

    episcopado nas igrejas evanglicas brasileiras. In In CARREIRO, Gamaliel da Silva, SANTOS, Lyndon Arajo e FERRETTI, Sergio Figueiredo. Missa, Culto e Tambor: Os espaos das religies no Brasil. So Luis MA, EDUFMA, 2012. 4 Em termos tpicos ideais no congregacionalismo, a comunidade local, formada pelos fiis comungantes

    e membros arrolados constituem uma instituio autnoma e no sujeita a qualquer outra entidade seno

    sua prpria Assemblia. Nesses termos, o poder de comando de uma Igreja Congregacional reside sempre

    em suas Assemblias de membros. A histria do congregacionalismo no Brasil ainda precisa ser contada,

    sobretudo a forma que ela tomou com a chegada de missionrios no Brasil. Algumas pesquisas iniciadas

    por ns indicam que autoritarismo foi uma caracterstica presente tanto entre os pentecostais quanto entre

    os batistas.

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    tambm os ministros jubilados, todos credenciados pela respectiva Conveno Estadual

    ou Regional5.

    O artigo 14 da instituio afirma, entre outras coisas, que cada conveno

    estadual ou regional deve cadastrar e registrar na conveno geral, os ministros

    devidamente consagrados6. Dessa forma, atravs das convenes estaduais os pastores

    das Assemblias de Deus, se vinculam Conveno Geral. Em outros termos, a igreja

    como comunidade no tem a menor importancia, mas sim seu pastor. com ele que a

    conveno negocia. Esta sem dvida uma organizao com lderes fortes e,

    literalmente, suas igrejas. No por acaso, Jean-Pierre-Bastian, (1994, p.126) afirmar que

    a maior parte das igrejas pentecostais tem dirigentes que so chefes, proprietrios,

    caciques e caudilhos de um movimento religioso criado por eles mesmos e transmitido

    de pai para filho de acordo com o modelo patrimonial e ou por nepotismo de

    reproduo.

    Para Freston, (1994: 86), O sistema de governo das Assemblias de Deus

    pode ser caracterizado como oligrquico e caudilhesco. Surgiu em determinado

    5 importante ainda mencionarmos os artigos 7 e 8 complementares do artigo 5 indicando os direitos e

    deveres dos membros da CGADB.

    Art. 7. do estatuto da CGADB so direitos dos membros da Conveno Geral:

    I ter acesso s Assemblias Gerais Ordinrias ou Extraordinrias, atendido o disposto nos incisos III e

    IV do art. 8. deste Estatuto;

    II indicar candidatos, votarem e serem votados em Assemblia Geral, nas condies previstas neste

    Estatuto;

    III - mudar de sua Conveno Estadual ou Regional para uma congnere, na forma do estabelecido na de

    origem, a qual comunicar a Conveno Geral;

    IV pedir o seu desligamento, com a anuncia da Conveno Estadual ou Regional de origem, com a

    obrigatria devoluo da credencial e a quitao de eventuais dbitos na tesouraria da Conveno Geral.

    Art. 8. So deveres dos membros da Conveno Geral:

    I cumprir o disposto neste Estatuto, bem como as Resolues das Assemblias Gerais e da Mesa

    Diretora da Conveno Geral;

    II obedecer o credo doutrinrio das Assemblias de Deus no Brasil, publicado no rgo oficial da

    Conveno Geral Mensageiro da Paz;

    III - contribuir pontual e regularmente com suas anuidades;

    IV - pagar a taxa integral de inscrio, para participar de uma Assemblia Geral, ou no montante de 40%,

    quando abdicar da hospedagem e alimentao fornecidas pela Conveno Geral, mesmo com participao

    parcial;

    V devolver a igreja que preside, com o respectivo patrimnio, Conveno Estadual ou Regional,

    quando desejar mudar-se para outra congnere, desde que o referido patrimnio seja legalmente

    escriturado em nome da Conveno a que esteja filiado, devendo apresentar ata da Igreja e seu ministrio

    autorizando sua transferncia.

    VI entregar a congregao que esteja dirigindo, com o respectivo patrimnio, quando solicitado pela

    administrao da igreja sede qual esteja filiado, assumindo o nus de dbitos indevidamente contrados

    na sua gesto;

    VII participar das Assemblias Gerais da Conveno Geral

    6 I encaminhar, via ofcio, para arquivo na Conveno Geral, cpia autenticada de seu Estatuto e

    Regimento Interno, atualizados;

    II - cadastrar e registrar, obrigatoriamente, na Conveno Geral os ministros devidamente consagrados;

    III - no inscrever em seus quadros ministros inscritos em outra congnere;

    IV - no acolher ou apoiar ministros excludos;

    V - encaminhar Mesa Diretora da Conveno Geral ofcio e cpia autenticada da ata da Assemblia

    respectiva, contendo penalidades aplicadas ao seu membro, quando ocorrer, para homologao do ato,

    que ser publicado na forma do inciso V do art. 30 deste Estatuto;

    VI - atender as normas estatutrias e outras decises da Conveno Geral.

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    momento histrico e foi muito til no controle dos missionrios das comunidades que

    iam surgindo. Um trao cultural importante que foi muito bem absorvido como

    modos operandis na administrao pastoral das comunidades religiosas foi o

    coronelismo nordestino.

    Tomando como exemplo a CGADB, a AD, de um modo geral, possui quatro

    instncias importantes que merecem apreciao a saber: a prpria CGADB como

    organizao nacional de carter legal representativa; as Convenes Estaduais; os

    Ministrios e suas congregaes; e as Igrejas locais com suas respectivas congregaes

    e pontos de pregao. Abaixo tentamos elaborar um organograma da instituio, onde

    essas relaes ficam um pouco mais lustradas.

    O sistema hierrquico da CGADB

    Dois elementos importantes e complementares na anlise organizacional desta

    instituio se destacam: por um lado a falta de poder das organizaes gerais

    (conveno Geral) e por outro o mandonismo local dos lderes eclesisticos em suas

    searas como fruto de um individualismo eclesistico.

    A CGADB como organizao que congrega todas as outras instituies

    administrativamente uma organizao fraca e fragilizada pela prpria cultura

    organizacional que a tornou a maior igreja evanglica do Brasil. No por acaso termos

    Fonte: Pesquisa de campo

    CGDA

    C O N V E N E S

    R E G I O N A I S

    (FORMADA POR VRIOS

    M IN IS T R IO S

    IG R E J A S

    CONGREGAES

    PONTOS DE

    PREGAO

    C O N V E N E S

    E S T A D U A I S

    CONGREGAES

    PONTOS DE

    PREGAO

    PONTOS DE

    PREGAO

    IG R E J A S

    PONTOS DE

    PREGAO

    M IN IS T R IO S

    CONGREGAE

    S

    PONTOS DE

    PREGAO

    PONTOS DE

    PREGAO

    PONTOS DE

    PREGAO

    CONGREGAES

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    feito uma pequena digresso terica sobre estrutura organizacional e cultura

    organizacional. Uma instituio sem poder e com enormes dificuldades de agir

    nacionalmente. Da sede nacional, com seu pastor presidente no emana poder

    suficientemente forte para constranger as filiais a obedecerem s resolues

    estabelecidas. A mesma situao se reproduz dentro das convenes estaduais que no

    conseguem se organizar para aes conjuntas, nem to pouco possuem poder para

    constranger os ministrios e as igrejas locais com seus pastores-presidentes a

    obedecerem s resolues e decises do rgo.

    Conveno Geral esto ligadas aproximadamente cinqenta convenes

    regionais e estaduais em todo o pas e fora dele7. Assim, em certos Estados brasileiros

    existem mais de uma conveno com mais de um presidente. Segundo Freston isso

    acontece devido s disputas e brigas por poder entre pastores nesses Estados. Por esse

    motivo, os campos de atuao das convenes se cruzam com o campo de outras

    convenes formando um complexo e irracional sistema de governo8. Tais litgios que

    deveriam ser resolvidos em mbito nacional pela CGADB permanecem por dcadas

    sem uma soluo, pois este rgo mximo ou mesmo as convenes estaduais no

    possuem poderes reais para interferir ou mesmo mediar essas desavenas.

    Dentro dos Estados constata-se a reproduo do que acontece a nvel nacional,

    com a presena de fortes lideranas locais e regionais que esto fragilmente ligadas s

    convenes estaduais ou aos ministrios regionais. A funo das convenes estaduais

    seria a de congregar os pastores de todas as AD do respectivo Estado e, em tese,

    organizar a ao da instituio naquela unidade federativa. Na prtica, as convenes

    estaduais so estruturas fracas e incapazes de gerenciar as atividades religiosas da

    CGADB. Em muitos casos so administradas por caciques locais que usam a mquina

    em beneficio de seus prprios projetos expansionistas. No so capazes de resolver as

    disputas dos caciques locais e esto sujeitas ao fogo amigo. No incomum o

    aparecimento nos Estados de conglomerados de ministrios que formam novas

    convenes que iro concorrer com a Conveno estadual, enfraquecendo o poder desta.

    Em termos administrativos, esse sistema extremamente prejudicial denominao

    como um todo pois a descentralizao e o excesso de fragmentao do poder mina

    qualquer ao conjunto. A AD funciona com um sistema administrativo em que o

    planejamento, a coordenao podem at existir, mas o controle no capaz de ser

    efetivado. Estados como o de So Paulo, por exemplo, possuem 4 convenes estaduais,

    constantemente em conflito, o mesmo ocorre no Rio de Janeiro, Esprito Santo e

    Distrito Federal com 3 grandes convenes em cada um deles9.

    O campo de atuao de uma conveno (estadual ou regional) amplo e

    composto por muitos ministrios, muitas igrejas com seus respectivos coronis com

    centenas de congregaes que esto distribudas no somente em um nico Estado, mas

    espalhados pelo pas, em alguns casos, fora do pas. Isso indica que tanto as convenes

    7 Em 2006 conseguimos contabilizar 48 convenes e mais oito pedidos para a fundao de oito novas

    convenes regionais contabilizando assim 56 convenes ligadas as CGADB. Como eram apenas projetos no as inclumos neste trabalho. 8 Isso sem contarmos com as firmas das Assemblias de Deus Madureira (CONAMAD) que tambm

    possuem seus campos e suas firmas religiosas em todo o territrio nacional, e costumeiramente se entrelaam com as concorrentes de mesmo nome o que contribui para avolumar a presena da instituio no pas, mas voltaremos a este ponto mais a frente. 9 Dados de 2007.

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    regionais, quanto os ministrios no respeitam fronteiras de outros Estados ou outras

    convenes ou ministrios tal como encontramos em outros modelos denominacionais

    do protestantismo histrico10

    . Cada pastor-presidente tenta ampliar o quanto pode seu

    rebanho e isso no possui limites demogrficos. Ora, as disputas por poder e prestgio

    que impulsionam o trabalho de ampliao de cada pastor-presidente e a desconfiana

    mutua entre estes caciques impossibilita qualquer planejamento nacional em conjunto. E

    mesmo que haja um planejamento a organizao nacional no capaz de implement-

    lo. obvio que essas distores organizacionais tem produzido inmeros problemas

    para a instituio que agora se encontra em um n organizacional difcil de ser

    resolvido. Em alguns bairros podem existir vrias AD CGADB enquanto que outros

    setores elas inexistem. O mesmo ocorre no nvel estadual nacional. Assim, a CGADB,

    embora seja a maior instituio evanglica do Brasil no consegue agir nem mobilizar

    seus recursos em projetos nacionais e, muitas vezes nem em projetos locais.

    O que levou a essa situao organizacional? Muitas explicaes poderiam ser

    apontadas, mas gostaramos de destacar uma delas que ao mesmo tempo a mola

    propulsora do crescimento da instituio e aquilo que impede o sua ao eficaz no

    mercado ao mesmo tempo em que a fragiliza.

    A iniciativa individual e seu impacto na organizao.

    A iniciativa individual talvez seja o trao mais marcante da cultura

    organizacional assembleiana. O pastor como agente individual o principal elemento no

    nascimento de uma igreja. Uma consequncia disso que o poder est nas mos dos

    pastores-presidentes das igrejas-mes locais. So eles os verdadeiros donos do poder na

    AD. Comandam sozinhos seus campos e searas com poderes quase ilimitados. Segundo

    Hoffnagel(1978:78): Embora aconselhado pelo ministrio o pastor-Presidente

    permanece a fonte ltima de autoridade em tudo, assim como o patro da sociedade

    tradicional, que mesmo cercado de conselheiros, maneja sozinho o poder

    A qualquer fiel dada a oportunidade de iniciar um trabalho, abrindo um ponto

    de pregao, organizar as atividades religiosas, determinar o local onde ser construdo

    o templo e batalhar para adquirir os recursos necessrios para construir a igreja e mant-

    la aberta. Todas essas atividades ele, normalmente, faz sem o auxilio da igreja-me,

    muito menos das convenes estaduais ou da conveno nacional, caso muito diferente

    da IURD ou mesmo do protestantismo histrico que apoiam e financiam os novos

    trabalhos e seus pastores. No caso das Assemblias de Deus a sede fornece um apoio

    institucional, um nome, raras vezes h recursos financeiros destinados s congregaes

    que esto em processo de desenvolvimento. Contudo, este sujeito se submete a

    liderana de um pastor-presidente que ter poder sobre ele e sobre o novo

    10

    importante frisar que dentro do protestantismo histrico como Batistas, Presbiterianos, Congregacionais, um Pastor enviado para uma Cidade ou Regio onde ainda no existem filiais da denominao e aquele campo de inteira responsabilidade dele. Na maioria dos casos as demais igrejas ou a sede central ajudam com recursos financeiros aquele pastor para que ele forme um novo ncleo religioso. Este ponto de pregao inicial com o tempo se transformar em igreja e esta igreja abrir congregaes em outras localidades da cidade. Nunca acontece de uma igreja de uma outra da mesma denominao, mas de uma outra localidade abrir um ponto de pregao naquele novo campo. por isso que tanto Freston quanto Fernandes afirmarem que nas AD no existem fronteiras. A lgica de crescimento assembleiana outra.

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    empreendimento. Assim, os pastores das congregaes possuem grande iniciativa e

    participao em todo o processo de abertura do novo ponto de pregao, mas lhe

    restringido ou limitado a participao no governo da mesma. Frequentemente, grande

    parte dos recursos que as congregaes geram a cada ms segue para as sedes que

    cobram o tributo de suas congregaes e pontos de pregao. Em muitos casos, o

    prprio pastor precisa de outra atividade, pois de tudo que se arrecada em termos

    financeiros no sobra nada ou muito pouco para o seu sustento e de sua famlia. Ao

    mesmo tempo, enquanto congregao seu cargo muito instvel, podendo perder de

    acordo com os interesses da igreja-me. Essa ligao entre sede e congregaes pode se

    estender por toda a vida, sobretudo porque no interessa as lideranas construrem

    novas igrejas autnomas, mas ampliar seus ministrios e o numero de congregaes.

    Por outro lado, elas podem acabar em pouco tempo quando a liderana local consegue

    costurar com a comunidade um cisma. A medida que as congregaes se encontram

    afastadas das sedes, h uma tendncia do poder sobre elas enfraquecer, abrindo espao

    para a iniciativa prpria dos pastores que comandam as congregaes, principalmente

    no que se refere a criao de seus prprios domnios, seus prprios feudos. Estes

    lderes locais, uma vez encontrando brechas em meio ao poder totalitrio do pastor-

    presidente passam a abrir seus prprios pontos de pregao e ampliar seus domnios e

    seu poder junto s congregaes locais. O objetivo do lder local sempre a

    emancipao de suas congregaes, transformando-as em igrejas autnomas enquanto o

    objetivo da sede nunca promover tal emancipao. Esse sistema administrativo,

    produz grande tenso dentro desta instituio pois s surge uma nova igreja a custa de

    conflito entre lideranas.

    A concentrao de poder por parte dos lderes das organizaes locais um dos

    elementos mais importantes da cultura organizacional assembleiana. Quanto maior o

    nmero de congregaes que uma igreja possui, mais poder ela tem dentro da

    instituio, o que extremamente prejudicial a organizao nacional, pois a fragiliza,

    mais muito importante para administrao local.

    O nmero de congregaes que uma instituio possui determinar o prestigio

    de seu pastor-presidente junto aos demais lderes existentes no pas, junto s convenes

    estaduais e a CGADB e mesmo junto a sociedade civil e a poltica local. Por isso, no

    h interesse em desligar ou emancipar uma congregao mesmo que ela j tenha

    autonomia (financeira principalmente) para se manter. Um pastor presidente de um

    grande campo ou ministrio poder barganhar cargos e outros benefcios que

    eventualmente possam aparecer no seu relacionamento com a conveno ou mesmo

    com lderes polticos. Eleies so negociadas nos gabinetes de pastores e o voto dos

    fiis a moeda de troca. Ter, portanto, muitas congregaes e muitos pontos de

    pregao com muitos fiis fundamental para o prestgio e a manuteno do status e do

    poder dos pastores-presidentes dentro das AD.

    Contudo ao longo dos ltimos 75 anos da instituio este sistema levou a

    centenas de cismas e deles surgiram novas igrejas, novos ministrios e novos caciques,

    que esto agindo da mesma maneira que seus antigos coronis agiram com eles no

    passado - uma cultura organizacional que se perpetua no interior dessa instituio.

    O aparecimento de novos caciques a cada nova gerao que surge na CGADB,

    tem gerado problemas administrativos srios, pois os antigos continuam e ainda mais

    fortes. A CGADB e as convenes estaduais e regionais, como rgos gestores no

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    conseguem absorvem essas novas lideranas, e no conseguem evitar o surgimento de

    novos caciques com suas igrejas e ministrios fortes. Assim, a tenso tem aumentado ao

    longo dos anos e como a filiao no ocorre da igreja em relao a conveno mas do

    pastor-presidente, est nas mos dele o poder de se desfiliar das convenes e

    permanecer sozinho no mercado religioso, o que acontece com mais frequncia do que

    se imagina. E como para a comunidade de fiis essa poltica no tem importncia, desde

    que o nome AD continue estampado na parede dos templos, a fragilidade da CGADB s

    aumenta.

    Concluso

    um fato comprovado o crescimento dos evanglicos no Brasil. um fato

    tambm o crescimento do pentecostalismo. No possvel dizer que as AD no estejam

    crescendo, desde que se diga a qual delas eu estou me referindo. Se o foco de anlise a

    CONAMAD ou CGADB precisamos de mais cautela, pois os dados do IBGE no

    conseguem perceber a singularidade institucional destas organizaes que carregam o

    nome AD, os fiis no se interessam e muitas vezes no sabem se pertencem a uma

    organizao nacional ou apenas frequentam um igreja independente. E obviamente no

    podemos confiar nos dados apresentados pelas instituies.

    Ser a maior denominao evanglica do Brasil tem muitos benefcios, entre eles

    prestgio junto a polticos, a sociedade ao Estado, ao Governo federal. O nome AD um

    nome forte no concorrido mercado religioso brasileiro, mas uma anlise mais detalhada

    da estrutura organizacional e da cultura organizacional das AD-CGADB, por exemplo

    apontam para uma fragilidade muito grande do sistema de governana tais como: sua

    incapacidade de administrar conflitos, sua incapacidade de agir como instituio

    monoltica no mercado, direcionando capital humano e financeiro em projetos

    especficos de expanso; sua incapacidade de fazer cumprir as normas estabelecidas em

    conveno. uma instituio problemtica pois carrega consigo uma instabilidade

    poltica que demanda uma ao constante no que tange a administrar atravs de

    conchavos os egos cada vez maiores dos caciques que a compem.

    Em 2006 a CONAMAD perdeu de uma s vez mais de 40mil fiis quando o

    pastor presidente de uma igreja na cidade satlite do Guar-DF retirou-se oficialmente

    da conveno. Assim como ele muitos outros caciques assembleianos no veem mais

    sentido em pertencer a um sistema denominacional com uma CONAMAD ou CGADB

    e esto se desligando ora oficialmente ora informalmente. O nome na porta dos templos

    continua o mesmo, mas so instituies diferentes e devem ser tratadas nas anlises

    sociolgicas como diferentes.

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    PENTECOSTALISMO NO BRASIL NUMA PERSPECTIVA

    HISTORIOGRFICA: APORTES TERICOS E METODOLGICOS

    Dra. Elizete da Silva - Universidade Estadual de Feira de Santana

    Resumo

    Esta comunicao aborda aspectos terico-metodolgicos sobre o Pentecostalismo. A

    historiografia sobre o protestantismo brasileiro ainda est em processo de consolidao.

    Na dcada de 1950, o historiador francs mile Leonard, professor na USP, escreveu

    sobre o protestantismo brasileiro e, posteriormente, um livro sobre os pentecostais. A

    partir da dcada de 1970, os estudiosos brasileiros passaram a tomar o pentecostalismo

    como problemtica de pesquisa, em decorrncia da visibilidade desses religiosos e a

    construo de espaos acadmicos voltados para a Histria da Religio. Os grupos

    religiosos demandam uma abordagem terica e metodologia apropriadas. Na escrita

    historiogrfica sobre os pentecostalismos no Pas, alm da bibliografia, a documentao

    produzida pelas comunidades e agentes religiosos prioritria. Relatos e dirios dos

    pioneiros, a exemplo de Daniel Berg, o jornal Mensageiro da Paz, Revistas da Escola

    Dominical, livros devocionais, memrias como a Histria da Assemblia de Deus do

    jornalista assembleiano Emilio Conde, a Histria das Convenes da Igreja Assembleia

    de Deus. Fontes manuscritas: livros de atas; livros de membros; livros da tesouraria;

    correspondncias e cartas de transferncia; so ricos em informaes sobre o cotidiano

    das congregaes. A Histria Oral oferece experincias e relatos dos fiis. Fontes

    externas: jornais locais; anais de Cmaras de Vereadores e Assemblias Legislativas

    fornecem dados sobre as relaes com a sociedade circundante. A Histria da Religio

    em interfaces com a Histria Cultural propicia significativos aportes tericos.

    INTRODUO

    Uma linha de pesquisa historiogrfica sobre os grupos religiosos no Brasil

    ainda encontra-se em processo de consolidao. compreensvel que sendo o

    catolicismo a confisso religiosa majoritria na sociedade brasileira tenha despertado

    com mais vigor a curiosidade epistemolgica dos cientistas sociais, contando com um

    alentado nmero de investigaes e estudos acadmicos. O protestantismo, inserido

    sistematicamente no sculo XIX, como grupo minoritrio, no campo religioso

    brasileiro, apenas na segunda metade do sculo XX tornou-se objeto ou sujeito de

    pesquisas. No exguo espao acadmico destinado ao estudo da Histria das Religies,

    as Igrejas Reformadas ocupam um nfimo percentual.

    Recentemente, a visibilidade dos grupos protestantes de origem pentecostal e

    carismtica no Pas, tem despertado o interesse de socilogos e antroplogos dispostos a

    entender o expansionismo e o potencial poltico que eles demonstram. O dilogo

    interdisciplinar vem ocorrendo e a Histria tem uma contribuio decisiva quando se

    analisam os fenmenos do sagrado. Entendemos historiografia como a escrita da

    Histria, o trabalho dos historiadores sobre um determinado contexto, grupos,

    instituies ou sujeitos de estudo. Um conjunto de prticas investigativas e de

    representaes discursivas acerca do passado (SILVA, 2011, p.85).

    O pentecostalismo contemporneo, iniciado no sculo XX nos EUA, em

    comunidades de batistas e de metodistas negros e brancos, tinha caractersticas

    emocionais e carismticas, enfatizando os dons espirituais e a glossolalia, (lnguas

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    estranhas). Segundo Leonard, ao lado do protestantismo da Bblia h um

    protestantismo do Esprito que vai dos profetas de Zwickau e dos anabatistas ao

    pentecostalismo de hoje, passando pelos quakers, os inspirados de Cevannes,

    Swedenborg, os iluminados alemes e muitos outros (LEONARD, 1988, p.7).

    O movimento pentecostal no tardou a chegar ao Pas: os imigrantes suecos

    Gunnar Vingren e Daniel Berg, que residiam nos EUA no inicio do sculo passado e

    tiveram as experincias estticas dos carismticos batistas e metodistas e resolveram

    deslocar-se para o Par. Segundo Berg, atendendo uma viso divina: o dono da casa

    onde G.Vingren se hospedava recebeu de Deus uma revelao e profetizou para ns que

    iriamos para o Par. (BERG, 2000, p.32). A atividade de extrao da borracha na

    regio Norte do Pas, nas primeiras dcadas do sculo XX, atraiu muitos imigrantes

    norte-americanos, alm de trabalhadores nordestinos.

    Vingren e Berg congregaram numa Igreja Batista, construindo um grupo de fiis que

    aderiram s experincias espirituais e posteriormente deu origem primeira comunidade

    Assembleia de Deus em 1911, em Belm. Segundo Berg, a senhora Celina Albuquerque

    recebeu o grupo expulso do templo batista em sua prpria casa, a irm foi a primeira

    crente batizada com o Esprito Santo (BERG, 2000, p.58). Do Par, irradiou-se pelo

    Pas, especialmente entre as camadas populares, migrantes e operrios. Conforme a

    arguta observao de Leonard: Sua mensagem unida aos dons do Esprito Santo

    estender-se- s classes que a Reforma tem frequentemente rejeitado aps telas atrado

    (LEONARD,1988,p.118).

    Trabalhamos na perspectiva da Histria da Religio em interfaces com a Histria

    Cultural, as quais propiciam um instrumental terico significativo, a exemplo dos

    conceitos de representao, discursos e prticas (CHARTIER, 1990). O dilogo com a

    Sociologia nos permite acrescentar o conceito de campo religioso de Pierre Bourdieu,

    (BOURDIEU, 1974) contribuindo para o entendimento do cenrio religioso brasileiro e

    suas relaes com os demais campos da realidade social.

    VISES DE HISTRIA DOS ILUMINADOS

    A concepo crist da Histria, sistematizada por Santo Agostinho e difundida no

    medievo, tambm atingiu o protestantismo. Para os grupos reformados Deus age atravs

    da Histria dos homens e manifesta os seus desgnios conduzindo as suas aes. Na

    teologia protestante, a salvao humana ocupa um lugar central e esta se d ao longo da

    Histria como um processo de revelao divina, que comeou desde os patriarcas

    judaicos at a consumao final com o sacrifcio de Jesus Cristo. O cristianismo uma

    religio histrica, isto , Deus se revela na Histria dos homens.

    Perpassa, ainda, na Histria Crist uma viso dualista da historiografia: a Histria da

    Salvao, a Histria Eclesistica verdadeira e imutvel, a outra a Histria Profana

    dos acontecimentos materiais e sem nenhum significado espiritual. Santo Agostinho,

    com a sua obra A Cidade de Deus, transformou-se na matriz principal dessa concepo

    que separava a realidade em dois campos. (SILVA, 2010). O protestantismo brasileiro,

    em suas diversas expresses herdou das matrizes europeias e norte-americanas uma

    concepo providencialista da Histria.

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    Os primeiros trabalhos historiogrficos surgem como uma necessidade de registrar o

    crescimento denominacional, isto , a aprovao divina para as lides evanglicas.

    Entende-se que o resgate do processo de crescimento desses grupos missionrios era de

    fundamental importncia para a sobrevivncia frente ao grupo religioso majoritrio. Ao

    mesmo tempo, essa produo histrica tinha uma finalidade proselitista de divulgar as

    doutrinas singularmente aceitas. Os pentecostais da Assemblia de Deus seguiam tal

    tendncia.

    O Protestantismo Brasileiro do professor francs Emile Leonard inauguraria, de

    fato, a escrita historiogrfica sobre os protestantes no Pas. Escrito inicialmente na

    Revista de Histria da USP entre 1951 e 1952, publicado em forma de livro em 1963,

    pela Associao dos Seminrios Teolgicos, com terceira edio em 2002. Neste texto

    Leonard tratou do protestantismo de misso, isto , congregacionais, presbiterianos,

    metodistas, batistas e episcopais, no se reporta aos anglicanos e luteranos, nem

    tampouco aos pentecostais. Outros textos de Leonard sobre o Brasil: L Eglise

    Presbyterienne du Bresil et ses expriences eclesiastiques; L Iluminismo dans un

    Protestantisme de Constitution Recente.

    A primeira obra histrica sobre o pentecostalismo no Brasil acompanhou as

    transformaes das dcadas de 1950 e 1960. Inovaes na forma de escrever Histria

    foram se incorporando ao oficio dos historiadores apesar de seus primeiros sinais

    remontarem aos anos 1930, poca da publicao de obras hoje clssicas, como as de

    Gilberto Freyre, Srgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jnior e da criao das

    primeiras Faculdades de Filosofia da USP e da antiga UDF (FALCON, 1996, p.9). A

    atuao de brilhantes mestres franceses, convidados para organizarem os

    departamentos de Histria, se constituiria como uma alavanca na profissionalizao da

    pesquisa e ao mesmo tempo trazia contribuies tericas e metodolgicas.

    Dentre os historiadores franceses contratados pela Universidade de So Paulo (USP),

    no final da dcada de 1940, estava mile G. Leonard, o qual decidiu tomar o

    protestantismo como sujeito de investigao histrica. De origem reformada, Leonard j

    estudava o protestantismo na Frana, o evanglico brasileiro pareceu-lhe como um

    promissor laboratrio para investigaes.

    O Iluminismo num Protestantismo de Constituio Recente foi escrito em 1952, em

    francs, traduzido e publicado pelo Programa Ecumnico em Cincias da Religio em

    1988l. Para o autor, o conceito de iluminismo advm de um principio protestante, de

    inspirao interior, de uma relao pessoal com a divindade, sem intermediaes

    externas, uma abertura para a captao direta das revelaes divinas (LEONARD,

    1988, p.6). Na introduo da obra Leonard justifica o seu interesse em estudar os

    protestantes pelo seu crescimento: conquistou uma considervel audincia (mais de

    1.600.000 membros no recenseamento do ltimo ano) em todas as regies e classes

    sociais (LEONARD, 1988, p.8).

    O referencial terico utilizado por Leonard aproximava-se da Escola dos Anais. O

    professor francs chegou a USP recomendado por um expoente dos Annales, Lucien

    Febvre, do Colgio de France e autor do livro Um Destino: Martinho Lutero

    (LEONARD, 1963, p.6). Apropriando-se de um instrumental terico-metodolgico da

    escola francesa, Leonard estudaria o pentecostalismo brasileiro como uma manifestao

    religiosa que mantinha relaes com a sociedade circundante, destacando as

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    implicaes socioculturais que a sua implantao provocou na sociedade brasileira,

    majoritariamente catlica. Na introduo, o autor cita que a cultura brasileira favorecia

    o desenvolvimento do iluminismo no protestantismo brasileiro.

    Antecedendo a anlise dos fatores que propiciaram a instalao da Congregao

    Crist do Brasil (1910) e da Assembleia de Deus (1911), o historiador francs se

    reportou ao sebastianismo, ao messianismo brasileiro, destacando o movimento

    messinico dos Muckers, ocorrido entre os luteranos teuto-brasileiros no rio Grande do

    Sul, na segunda metade do sculo XIX e a atuao de dois lderes carismticos na Igreja

    Presbiteriana do Brasil, a saber, Jos Manoel da Conceio, que tinha vises e prticas

    de um mstico e Miguel Vieira Ferreira que fundou a Igreja Evanglica Brasileira com

    um rasgo nitidamente pentecostalizante, em 1879.

    A proposta terica de E. Leonard era de uma da Histria Social dos grupos

    religiosos, segundo ele consistia no estudo do corpo no qual se encarnam essas

    crenas, fazendo das Igrejas realidades, realidades humanas com todas as

    peculiaridades que surgem desta traduo de idia do real (LEONARD, 1963, p.

    16). A abordagem laudatria predominava de tal forma nos trabalhos sobre o

    protestantismo brasileiro, que Leonard sentiu-se compelido em avisar aos seus leitores

    que o mesmo no tinha nenhum objetivo religioso: no ser intil, cremos, salientar,

    desde logo, que no se tratar aqui de uma histria confessional (LEONARD, 1963,

    p.15).

    Outro aspecto a destacar na escrita de Leonard a imparcialidade da sua leitura das

    fontes, ao relatar os testemunhos de converso dos fis da Assemblia de Deus, o autor

    no faz juzos prvios, ou desqualifica o emocionalismo: No nos apressemos em falar

    de frmulas estereotipadas lanando dvida sobre a sinceridade ou a autenticidade da

    experincia. natural que crentes sem grande cultura empreguem as expresses que

    ouvem e lem e que traduzem exatamente a doutrina protestante e seus prprios

    sentimentos (LEONARD, 1988, p.75).

    O autor francs trabalhou com fontes escritas, a exemplo do Jornal Mensageiro da

    Paz, relatrios de congregaes do Estado de So Paulo, memria autobiogrfica do

    pioneiro Luigi Francescon, jornais de So Paulo e Estatutos das igrejas. Fez observao

    participante, frequentando vrios cultos e cerimnias. Antecipando o uso do mtodo da

    oralidade, fez entrevistas com alguns irmos que compunham as comunidades,

    buscando entender o que presenciava nas reunies do grupo religioso.

    Sintonizado com os novos mtodos dos Anais, Leonard utilizou ainda, os resultados

    de uma enquete nos bairros onde se concentravam os glrias, como eram designados

    popularmente os pentecostais, investigao que havia sido realizada por seu colega

    Roger Bastide, na poca tambm professor visitante na USP. Numa nota ao final do

    livro, o professor francs agradeceu as indicaes coletadas pela estudante Maria

    Isaura Pereira de Queiroz, que preparou uma tese sobre o messianismo brasileiro

    (LEONARD, 1988, p.119).

    Em 1960, veio a lume a Histria da Assemblia de Deus no Brasil, publicada pela

    Casa Publicadora das Assembleias de Deus, com segunda edio no ano de 2000. De

    autoria do jornalista Emilio Conde (1901-1971), membro dessa comunidade religiosa,

    redator durante dcadas do Jornal Mensageiro da Paz, de tiragem nacional, rgo

    noticioso e doutrinrio da Igreja Assemblia de Deus. O autor assembleiano era um

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    leigo que participava ativamente das instncias deliberativas assembleianas, poliglota e

    autodidata. Escritor profcuo de textos doutrinrios e devocionais, alm de compositor

    de hinos da Harpa Crist, o hinrio assembleiano.

    E. Conde fez investigaes e se preparou para responder aos opositores e aos

    concorrentes evanglicos que temiam o avano e os excessos emocionais dos

    pentecostais. Em um artigo de 1953, quando a Igreja Assemblia de Deus comemorava

    42 anos de organizao no Pas j avisava que estava coligindo dados e a sua leitura das

    origens assembleianas era a verdadeira: Qualquer outra verso que algum pretenda

    dar fundao da Assemblia de Deus, no expressa a verdade, s pode ser levada

    conta de ignorncia e desrespeito (CONDE, 2004, p.57).

    Ainda neste artigo supracitado, o autor assembleiano esclareceu a sua concepo de

    Histria, como algo natural como acontece com todas as coisas existentes, uma histria

    cheia de lances emocionantes e de vitrias obtidas em nome do Senhor. Prosseguindo a

    sua narrativa acrescentou antes que tudo, neste Movimento espiritual estava em ao o

    Esprito Santo, e Deus serviu-se de dois homens consagrados ao Seu servio, para trazer

    o testemunho do Evangelho de Poder ao Brasil ( CONDE,2004,p.55). Animava o seu

    esforo intelectual uma concepo crist da Histria, na qual Deus preside e dirige a

    trajetria dos homens na terra, inclusive as atividades religiosas.

    Convm destacar que os historiadores evanglicos transitavam no ambiente cultural

    da poca, carregado da tradio evolucionista ou empirista e escreveram inspirados na

    concepo historiogrfica vigente no Pas durante a primeira metade do sculo XX.

    Segundo Falcon ao longo de muitas e muitas dcadas a historiografia vicejou sob o

    signo do empirismo positivista como a nica maneira sria ou cientfica de escrever

    Histria (FALCON, 1996, p. 8).

    A obra de Conde est dividida em vrios captulos, relatando a expanso do grupo

    religioso, as dificuldades e perseguies. Ao se reportar fundao da Assemblia de

    Deus no Maranho opinou: Aqui o trabalho prosperou em todas as frentes, mostrando

    que as foras do inferno jamais haveriam de prevalecer contra a Igreja de Cristo

    (CONDE, 2000, p.39). Priorizava os fatos cronologicamente organizados, a estrutura

    denominacional e a comemorao de efemrides, sem esforo interpretativo de

    vinculao dos fatos denominacionais com a realidade circundante. Fazia-se histria

    paroquial, as relaes com a sociedade global inexistiam, os acontecimentos

    eclesisticos explicavam-se por si mesmos, tomando como referncia a providncia

    divina.

    Alm de ser uma histria factual, tratava-se de uma histria heroica, onde se

    registravam os grandes feitos, os acontecimentos positivos que enobreciam os pioneiros

    suecos e as lideranas nacionais emergentes. No texto de E. Conde, o Movimento

    Pentecostal que chegou ao Brasil, tinha sua origem nos avivamentos histricos

    ocorridos no interior do protestantismo e especialmente no relato bblico fundante do

    dia de pentecostes. Em sua perspectiva no ano de 1911 a histria se repetiu na cidade

    de Belm (CONDE, 2000, p.33) com o trabalho dos suecos Daniel Berg e Gunnar

    Vingren.

    O texto da Histria das Assemblias de Deus no Brasil de E. Conde, como relato

    apologtico e edificante, consta de uma narrativa linear, acrtica, sem fontes ou outros

  • VII CONGRESSO INTERNACIONAL EM CINCIAS DA RELIGIO: A RELIGIO ENTRE O ESPETCULO E A INTIMIDADE PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO, PUC Gois, Goinia, de 08 a 11 de abril de 2014 ISSN 2177-3963 26

    textos que o autor tivesse usado para elaborar seu trabalho. Porm, no citado artigo

    sobre os 42 anos da Assemblia no Pas, o autor relatou as fontes que se baseou: as

    informaes para compor este esboo...foram fornecidas pelos irmos Gunnar Vingren,

    Daniel Berg e Manoel M. Rodrigues, de quem as ouvimos pessoalmente, bem assim,

    pelos apontamentos histricos do irmo Manoel Rodrigues (CONDE,2004,p.57).

    Leonard inauguraria o perodo que se considera rigorosamente cientfico sobre

    grupos religiosos originrios da Reforma Protestante. S a partir da dcada de 1970, o

    problema protestante comeou a interessar os cientistas sociais brasileiros. Filsofos,

    antroplogos socilogos e historiadores (geralmente de origem protestante) iniciaram,

    timidamente, a trabalhar o protestantismo como objeto de estudo sistemtico. Isso s foi

    possvel graas a uma viso crtica do fenmeno religioso, O que tornou possvel uma

    Histria do protestantismo foi essa distncia, essa separao estabelecidas por uma

    sociedade [ou indivduo] que no pensa mais em si mesma de uma maneira religiosa.

    (JULIA, 1976, p. 109).

    APORTES METODOLGICOS

    A relevncia desses estudos se configura no s pela contribuio que oferece para

    o conhecimento mais amplo do campo religioso brasileiro, mas tambm pelo fato de

    que, ao se estudar as comunidades pentecostais do Brasil, estaro sendo analisadas

    representaes, vises de mundo, valores e o cotidiano de parcelas da sociedade

    brasileira, que no teria outros canais e oportunidade de tornar-se conhecido e dar-se a

    conhecer ao mundo acadmico. Alm dos estudos institucionais possvel trabalhar

    com relaes de gnero, aspectos polticos e culturais das denominaes pentecostais.

    Os primeiros textos interpretativos sobre o pentecostalismo brasileiro traziam a

    marca da interdisciplinaridade: Sociologia e Histria do Protestantismo estavam muito

    prximas. O trabalho de cunho sociolgico A Experincia da Salvao de Beatriz

    Muniz de Souza, publicado em 1969, teria uma importncia fundamental, como obra

    cientfica que analisava o pentecostalismo em So Paulo.

    O pesquisador que estuda o protestantismo no Brasil conta com uma dificuldade a

    mais: a ausncia de arquivos como existem na Igreja Catlica que concentra todo o seu

    material nas Crias ou S das respectivas dioceses. As fontes dos grupos pentecostais

    encontram-se dispersa e sem sistematizao. Em 2000 a Conveno da Igreja

    Assembleia de Deus organizou o Memorial Gunnar Vingren, no Rio de janeiro, com o

    objetivo de preservar a documentao, ainda no conseguiu reunir o material de todas as

    regies.

    Para dar suporte abordagem do pentecostalismo, possvel trabalhar com fontes

    manuscritas e impressas, eclesisticas e no eclesisticas, alm de uma bibliografia

    especfica de apoio. Fontes eclesisticas manuscritas: livros de atas; livros de membros;

    livros da tesouraria; correspondncias e cartas de transferncia; so ricos em

    informaes sobre o cotidiano das congregaes.

    Fontes impressas: Jornal Mensageiro da Paz; Revistas da Escola Dominical, Revista

    O Obreiro, que fornecem artigos, comentrios doutrinrios, recomendaes sobre

    aspectos da vida cotidiana dos fiis e o pensamento teolgico oficial. As memrias dos

    pioneiros, a exemplo de Enviado por Deus, memrias de Daniel Berg e de outros

  • VII CONGRESSO INTERNACIONAL EM CINCIAS DA RELIGIO: A RELIGIO ENTRE O ESPETCULO E A INTIMIDADE PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DA RELIGIO, PUC Gois, Goinia, de 08 a 11 de abril de 2014 ISSN 2177-3963 27

    pastores oferecem informaes sobre os primrdios do grupo, o impacto que causou no

    campo religioso em geral e as relaes com os demais evanglicos. Fontes iconogrficas

    podem subsidiar informaes que foram omitidas em outros documentos.

    O recurso metodolgico da Histria Oral permite conhecer os discursos e as

    prticas dos fiis, especialmente relatos sobre as converses e experincias estticas

    como a glossolalia e a possesso do Esprito Santo. O significativo papel dos leigos no

    pentecostalismo pode ser averiguado atravs de entrevistas e histrias de vida de

    obreiros e obreiras atuantes no espao eclesistico, inclusive nos Crculos de Orao,

    uma organizao feminina das Assemblias de Deus no Brasil.

    Fontes externas: jornais locais; anais de Cmaras de Vereadores e Assembleias

    Legislativas fornecem dados sobre as relaes com a sociedade circundante. Inventrios

    e testamentos tambm podem oferecer informaes sobre a composio social das

    comunidades.

    CONSIDERAES FINAIS

    A produo historiogrfica apologtica deve ser criticada pela sua

    confessionalidade, que impedia uma abordagem contextualizada e referenciada na

    realidade brasileira, no entanto convm reconhecer a importncia desses primeiros

    trabalhos como fontes para estudos futuros, especialmente na ausncia de documentao

    primria.

    Destacamos a importncia da obra de Leonard para a constituio de uma

    historiografia crtica sobre o pentecostalismo brasileiro, a qual, como a historiografia

    geral brasileira, recebeu um substancial impulso da Escola dos Anais para se construir

    como uma nova concepo historiogrfica que rompia com o positivismo tradicional.

    No final dos anos 60 mudanas culturais e ideolgicas ocorridas no Pas afetaram as

    comunidades protestantes, propiciando transformaes n