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VII-009-AVALIAÇÃO DA QUALIDADE BACTERIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA, PARA CONSUMO HUMANO, DE ÁGUA DE MANANCIAL SUBTERRÂNEO, EM ÁREAS URBANAS DE FEIRA DE SANTANA/BA/BRASIL Rita de Cassia Assis da Silva(1) Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Católica do Salvador/Ba. Especialista em Microbiologia pela Fundação Severino Sombra/RJ, Especialista em Direito Sanitário pela Universidade Estadual de Feira de Santana/Ba, Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Feira de Santana/Ba. Endereço(1): Rua São Mamede, 96, Village Ouro Preto, casa 04 - Santa Mônica - Feira de Santana - Bahia - CEP: 44.050-400 - Brasil - Tel: (0xx75) 625.7520 - e-mail [email protected] RESUMO O consumo humano da água fora dos padrões de potabilidade constitui-se fator de risco e agravos a saúde. Através do processo de infiltração no solo, as águas subterrâneas podem ser contaminadas pelos resíduos gerados pela atividade humana e depositados no solo, lançados nos cursos d'água ou ar. O consumo humano da água in natura, capitada neste manancial, pode levar ao risco de doenças. O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade da água subterrânea, para consumo humano, quanto as características bacteriológicas e físico-químicas nos bairros Campo Limpo e Santa Mônica, da cidade de Feira de Santana- Bahia-Brasil, no ano de 2000. Realizou-se análises bacteriológicas e físico-químicas, comparando-se os resultados encontrados aos parâmetros estabelecidos na Portaria do Ministério da Saúde, nº 1.469/00, que estabelece os padrões de potabilidade da água para consumo humano. Trata-se de estudo descritivo de corte transversal. Analisou-se amostras coletadas em 120 poços. Foram calculadas amostras proporcionais, baseado na freqüência de poços encontrados em cada bairro. Foram realizadas análises do Número Mais Provável (NMP) de coliformes totais e fecais, Determinação de Organismos Heterotróficos, amônia, cloreto, cor, dureza, nitrato, nitrito, pH e turbidez. Encontrou-se coliforme total em 90.8% das amostras e coliforme fecal/termotolerante, em 65,8% das amostras. No estudo, 71,4% das amostras apresentaram mais de 500 Unidades Formadoras de Colônias/ml (UFC/ml). Considerando-se o legalmente estabelecido para parâmetros físico-químicos encontrou-se os seguintes achados: em 7,5% das amostras encontrou-se cor >15 uH; na análise do pH, 82,8% das amostras analisadas apresentaram pH ácido, < 6,0, com equivalência entre os bairros; em 23,4% das amostras a turbidez foi >5 uT, com percentual equivalente entre os bairros; cloreto foi >250 mg/L Cl em 12,5% das amostras analisadas; quanto ao teor de nitrato, 88,2% das amostras apresentaram nitrato acima de 10mg NO3-N/L, sendo que, no Campo Limpo este percentual foi de 94,8% e no Santa Mônica, 59,1%; na análise de

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VII-009-AVALIAÇÃO DA QUALIDADE BACTERIOLÓGICA E FÍSICO-QUÍMICA, PARA CONSUMO HUMANO, DE ÁGUA DE MANANCIAL SUBTERRÂNEO, EM ÁREAS URBANAS DE FEIRA DE SANTANA/BA/BRASIL Rita de Cassia Assis da Silva(1) Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Católica do Salvador/Ba. Especialista em Microbiologia pela Fundação Severino Sombra/RJ, Especialista em Direito Sanitário pela Universidade Estadual de Feira de Santana/Ba, Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Feira de Santana/Ba. Endereço(1): Rua São Mamede, 96, Village Ouro Preto, casa 04 - Santa Mônica - Feira de Santana - Bahia - CEP: 44.050-400 - Brasil - Tel: (0xx75) 625.7520 - e-mail [email protected] RESUMO O consumo humano da água fora dos padrões de potabilidade constitui-se fator de risco e agravos a saúde. Através do processo de infiltração no solo, as águas subterrâneas podem ser contaminadas pelos resíduos gerados pela atividade humana e depositados no solo, lançados nos cursos d'água ou ar. O consumo humano da água in natura, capitada neste manancial, pode levar ao risco de doenças. O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade da água subterrânea, para consumo humano, quanto as características bacteriológicas e físico-químicas nos bairros Campo Limpo e Santa Mônica, da cidade de Feira de Santana-Bahia-Brasil, no ano de 2000. Realizou-se análises bacteriológicas e físico-químicas, comparando-se os resultados encontrados aos parâmetros estabelecidos na Portaria do Ministério da Saúde, nº 1.469/00, que estabelece os padrões de potabilidade da água para consumo humano. Trata-se de estudo descritivo de corte transversal. Analisou-se amostras coletadas em 120 poços. Foram calculadas amostras proporcionais, baseado na freqüência de poços encontrados em cada bairro. Foram realizadas análises do Número Mais Provável (NMP) de coliformes totais e fecais, Determinação de Organismos Heterotróficos, amônia, cloreto, cor, dureza, nitrato, nitrito, pH e turbidez. Encontrou-se coliforme total em 90.8% das amostras e coliforme fecal/termotolerante, em 65,8% das amostras. No estudo, 71,4% das amostras apresentaram mais de 500 Unidades Formadoras de Colônias/ml (UFC/ml). Considerando-se o legalmente estabelecido para parâmetros físico-químicos encontrou-se os seguintes achados: em 7,5% das amostras encontrou-se cor >15 uH; na análise do pH, 82,8% das amostras analisadas apresentaram pH ácido, < 6,0, com equivalência entre os bairros; em 23,4% das amostras a turbidez foi >5 uT, com percentual equivalente entre os bairros; cloreto foi >250 mg/L Cl em 12,5% das amostras analisadas; quanto ao teor de nitrato, 88,2% das amostras apresentaram nitrato acima de 10mg NO3-N/L, sendo que, no Campo Limpo este percentual foi de 94,8% e no Santa Mônica, 59,1%; na análise de

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amônia, 33,7% das amostras coletadas no Campo Limpo e 68,2% no Santa Mônica apresentaram mais de 1,5mg/L NH3 e em 100% das amostras os índices de nitrito e dureza atenderam ao recomendado legalmente. Os achados do estudo indicam que o elevado percentual de amostras fora dos padrões de potabilidade podem levar os consumidores da água deste manancial ao risco de agravos à saúde. PALAVRAS-CHAVE: Água subterrânea, consumo humano, qualidade bacteriológica, qualidade físico-química INTRODUÇÃO Muitas doenças podem ser transmitidas ao homem por meio da água contaminada por agentes biológicos ou pela presença de substâncias químicas. A transmissão se dá por via indireta, quando dejetos de pacientes ou portadores de patógenos poluem a água. Entre as principais doenças transmitidas pela água ao homem, por agentes biológicos, destaca-se a febre tifóide e paratifóide, disenteria bacilar e amebiana, gastroenterites, cólera, hepatite, infecções dos olhos, ouvidos, nariz, garganta e doenças de pele. Pela presença de substâncias químicas, encontra-se a metahemoglobinemia (cianose), intoxicações, gastroenterites, saturnismo e diarréias (PELCZAR et al., 1981; HAMMER, 1979; OPS, 2000). Portanto, a qualidade da água para consumo humano é uma questão de grande relevância e preocupação para a saúde pública. No Brasil, a Portaria do Ministério da Saúde nº 1.469 de 29 dezembro de 2002 aprova a Norma de Qualidade da Água para Consumo Humano, que define os valores máximos permissíveis (VMP) para as características bacteriológicas, organolépticas, físicas e químicas da água potável. Segundo a Portaria nº 1.469, Art 4º, I (2000) "água potável é a água para consumo humano cujos parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de potabilidade e que não ofereça risco à saúde". O desenvolvimento industrial, o crescimento demográfico, a modernização da agricultura e a expansão urbana são as principais ameaças de contaminação dos mananciais superficiais e subterrâneos. A água do manancial subterrâneo, mesmo sem cor, sabor ou cheiro, pode estar contaminada com bactérias patogênicas, vírus, parasitas, substâncias orgânicas não degradáveis, nitrato, gás sulfídrico, metais pesados, combustível, entre outros. A poluição da água subterrânea tende a ser insidiosa e é invariavelmente muito persistente. A recuperação de aqüíferos poluídos é muito cara e tecnicamente difícil. Em algumas áreas, principalmente nos maiores centros urbanos e cercanias, detectou-se evidências de poluição, configurando risco à saúde pública ou causando o abandono das fontes de abastecimento de águas subterrâneas com a conseqüente perda de investimento financeiro e de recursos naturais (FOSTER, 1993).

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Em torno de 20% da população dos países em desenvolvimento que dispõem de fossas sépticas ou outro tratamento in situ, protege a salubridade do seu domicílio, mas pode permitir a liberação de patógenos, que podem alcançar massas de água próximas, colocando em perigo a saúde dos vizinhos. Além disso, o conteúdo das fossas, ou de tratamento semelhante, se infiltra, comprometendo as águas subterrâneas (OPS, 2000). A água subterrânea pode ser captada no aqüífero confinado ou artesiano, que se encontra entre duas camadas relativamente impermeável, dificultando a sua contaminação, ou ser captada no aqüífero não confinado ou livre, que fica próximo à superfície e mais suscetível a contaminação por infiltração. Estes últimos são os mais usado devido ao baixo custo e facilidade de perfuração. Em Feira de Santana, hospitais, clínicas médicas e odontológicas, escolas, restaurantes, bares, lanchonetes, creches, indústrias de produtos alimentícios (nos quais a água é utilizada como matéria-prima), além de residências particulares, vêm utilizando a água deste manancial, captada em poços rasos, in natura ou tratada inadequadamente, sem conhecimento da sua qualidade bacteriológica e/ou físico-química. Mais de 70% dos usuários da água subterrânea a utilizam para beber, cozinhar e tomar banho (ASSIS DA SILVA, 1999a). Em torno de 70% do destino final do esgoto doméstico gerado em Feira de Santana é feito em fossas, a "céu aberto" ou na rede coletora de água pluvial. A cidade não conta com sistema para coleta e tratamento de resíduos industriais. Além disso, não possui eficiente sistema de coleta e destinação final dos resíduos sólidos. O lixo é depositado num aterro controlado localizado em local inadequado, na zona urbana da cidade. Logo, a possibilidade de contaminação do manancial subterrâneo por microorganismos patogênicos e/ou substâncias e elementos químicos nocivos é real. Avaliando-se a qualidade bacteriológica e físico-química de amostras de água coletada em poços localizados em Feira de Santana, em junho de 1999, foram encontradas bactérias do grupo coliforme em 77% das amostras e nitrato acima do recomendado legalmente em 66,6% (ASSIS DA SILVA, 1999b). AVILA et al. (1989), comparando índices de coliforme na água para abastecimento e casos de gastroenterite encontrou o seguinte achado: onde a incidência de gastroenterite era de 116/1.000 habitantes não foi encontrado nenhuma amostra aceitável para coliformes totais e foi observado coliformes fecais em 42,9% das amostras. Onde a incidência de gastroenterite era de 49/1.000 habitantes foi encontrado 41,5% de amostras aceitáveis para coliforme total e 5,7% com presença de coliforme fecal. ABRAMOVICH et al. (1998), em uma população composta por cianças de 4 meses a 12 anos encontrou 47% de amostras de fezes positivas para enteroparasitos, sendo 43,7% de cistos de Cryptosporidium spp, entre os que consumiam água subterrânea clorada no reservatório de acumulação, com dosagem de cloro variando de 1 a 2mg/L. Entre os que consumiam água superficial submetida a tratamento convencional observou percentual significativamente menor em porcentagem de crianças parasitadas e não foi encontrado nehuma amostra com Cryptosporidium spp.

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Entre os constituintes inorgânicos mencionados nos Guias da OMS sobre Qualidade de Água Potável como nocivos à saúde, o nitrato é aquele que apresenta ocorrência mais generalizada e problemática, devido a sua alta mobilidade e estabilidade nos sistemas aeróbios de águas subterrâneas (FOSTER, 1993). Elevados índices de nitrato, nitrito e amônia estão sempre associados com algumas formas de contaminação fecal e, consequentemente, com qualidade microbiológica insatisfatória (PACKHAM, 1992). Quanto ao uso da água subterrânea e os riscos a que estão expostos os consumidores, FOSTER et al. (1993) afirma que ainda existe dificuldade na percepção da poluição das águas subterrâneas e ignorância ou complacência sobre seus riscos, não se presta a devida atenção à prevenção da poluição nas fontes de captação de águas subterrâneas e ainda menos à proteção global dos aqüíferos. O preço a ser pago por ingestão de águas contaminadas é difícil de ser computado, pois as pessoas não adoecem obrigatoriamente. Seus organismos preparam-se para a luta contra agressores utilizando-se de suas defesas e, em geral, ganham a batalha. Mas isto custa maiores gastos com alimento, perda da qualidade de vida, envelhecimento precoce no adulto e, na criança, subdesenvolvimento físico e mental. Porém, em indivíduos com baixa resistência e entre crianças com menos de um ano, as infecções gastrointestinais é causa de elevada taxa de mortalidade. As águas subterrâneas cumprem função importante e, em inúmeros casos, é vital para o fornecimento de água potável. Por isso, recomenda-se a sua proteção, com eliminação das causas de possíveis contaminações, bem como o uso de filtração, antes da desinfecção, para reduzir, a um nível significante, o risco de transmissão de parasitos pela água (OMS, 1995 apud ABRAMOVICH, 1998). A Constituição Federal do Brasil de 1988 estipulou critérios para que a saúde seja corretamente determinada, vinculando sua realização às políticas sociais e econômicas e ao acesso às ações e serviços destinados, não só à sua recuperação, mas também à sua promoção e proteção (DALLARI, 1995). Entendemos saúde como direito social fundamental do ser humano, assegurado legalmente a todos os brasileiros pela Constituição Federal de 1988, tendo como fatores determinantes e condicionantes, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais, bem como as ações que garantam às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social (Lei nº 8.080/90, Art. 2º). Neste trabalho considera-se o consumo humano da água fora dos padrões de potabilidade estabelecidos na Portaria nº 1.469/00, do Ministério da Saúde - Brasil, como fator de risco à saúde, visto que, ao consumir água imprópria para consumo humano, mesmo que nunca venha a desenvolver aparentemente alguma doença ou incapacidade (momentânea ou duradoura), o indivíduo encontra-se exposto a condicionantes biológicos, físicos ou

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químicos, que interferem na sua saúde. Além disso, consumir água fora dos padrões de potabilidade é uma violação a Constituição Federal do Brasil - 1988, que garante a todos os brasileiros o Direito à Saúde, Saúde como Qualidade de Vida, representada aqui pelo Direito ao Consumo Humano da Água Potável. O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade da água subterrânea, quanto as características bacteriológicas e físico-químicas, captada em poços localizados em duas áreas urbanas de Feira de Santana - Bahia - Brasil. Para este fim, realizou-se análises bacteriológicas e físico-químicas, comparando os resultados encontrados aos parâmetros estabelecidos pela legislação federal que estabelece os padrões de potabilidade da água para consumo humano. METODOLOGIA Tipo de estudo - Estudo descritivo, de corte transversal, direcionado a avaliar a qualidade da água subterrânea, para consumo humano, em duas áreas urbanas da cidade de Feira de Santana-Bahia-Brasil. População estudada - Baseou-se em estudo epidemiológico no qual foram avaliadas unidades prediais existentes nos bairros Campo Limpo e Santa Mônica, cuja amostra foi calculada segundo dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (1996) e estimativas encontradas em estudo piloto realizados nos dois bairros. Critérios amostrais - Foram analisadas 120 amostras de água de poços de domicílios localizados nos dois bairros. O tamanho da amostra foi estabelecido em função do custo das análises. Foram calculadas amostras proporcionais por bairro, de acordo com o percentual de poços encontrados em cada bairro. Foram avaliados 98 poços no Campo Limpo, onde foram encontrados 82% dos poços dos domicílios do estudo e 22 no Santa Mônica (18% dos poços do estudo). A seleção dos locais de coleta das amostras foi feita por sorteio, entre números atribuídos a cada domicílio estudado, por meio de listagem de números aleatórios gerada pelo Programa Epi-Info, versão 6.0. Instrumentos de pesquisa - Dados referentes a característica dos poços foram obtidos através de inquérito domiciliar, com a aplicação de formulário elaborado com questões fechadas. Os dados sobre a qualidade da água do manancial subterrâneo foram obtidos através de análises bacteriológicas do NMP Coli total/fecal-termotolerantes, através da Técnica da Fermentação em Tubos Múltiplos; Determinação de Organismos Heterotróficos, Técnica Pour Plate e físico-químicas de amônia, através do Método do Fenato; cloretos, Método de Mohr; cor, Método Colorimétrico; dureza, Método Volumétrico com EDTA; nitrato, Método da Redução de Cádmio; nitrito, Método do N-naftil; pH, Método Potenciométrico e turbidez, Método por Espectofotometria. Análise dos dados - A qualidade da água foi avaliada por resultados obtidos nas análises bacteriológicas e físico-químicas, comparados com os valores máximos permissíveis (VMP) para os parâmetros pesquisados, recomendados na Portaria nº 1.469, de 29 de

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dezembro de 2000 - Norma de Qualidade da Água para Consumo Humano, do Ministério da Saúde e Resolução nº 20, de julho de 1986 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. Foi utilizado o cálculo do Intervalo de Confiança (IC), com limite de confiança de 95%, para avaliação da significância estatística das associações estudadas. RESULTADOS No Campo Limpo, onde foram visitadas 987 unidades prediais, encontrou-se 303 domicílios onde era consumida água subterrânea e havia alguém para responder o instrumento de coleta de dados. No Santa Mônica, onde foram visitadas 659 unidades prediais, encontrou-se 65 domicílios utilizando água subterrânea e pessoa disponível para ser entrevistada. Foram avaliadas características microbiológicas e físico-químicas de amostras de água subterrânea captada em 120 poços sendo que, 98 estavam localizados em domicílios do Campo Limpo e 22 em domicílios do Santa Mônica, de acordo com a freqüência de domicílios com poços onde houve entrevista, encontrada em cada bairro. Foi encontrado maior percentual de poços rasos, escavados manualmente, com até 10 metros de profundidade, cuja captação da água era feita por bombeamento. No Campo Limpo, a freqüência de poços escavados manualmente foi 1,7 vezes a encontrada no Santa Mônica. Para cada poço com até 5 metros encontrado no Santa Mônica foram encontrados em torno de dois no Campo Limpo. Apesar de ser encontrado maior percentual de domicílios onde a captação da água subterrânea era feita através de bombeamento, no Campo Limpo foi expressivo o percentual de domicílios onde a captação desta água era feita através de balde puxado por corda (Tabela 1). Chamou a atenção o elevado percentual de domicílios onde os entrevistados não sabiam informar a distância entre o poço e a fossa mais próxima. Entre os que sabiam informar este dado, no Campo Limpo foi encontrado maior percentual para os que referiram distância entre mais de 10 a 20 metros e no Santa Mônica, mais de 20 metros (Tabela 1). Entre os domicílios pesquisados, 70,8% bebiam a água subterrânea. Em 91,7% esta água era utilizada para banho e em 83,3% para cozinha. Foi encontrada maior freqüência destes usos em domicílios localizados no Campo Limpo (Tabela 1). Quanto ao destino final do esgoto doméstico dos domicílios onde foram coletadas as amostras, no Santa Mônica, 100% destinavam em fossas, enquanto que, no Campo Limpo, 35,7% destinavam em fossas, 63,3% utilizavam o serviço público de esgotamento doméstico e 1,0% não sabiam a destinação final do esgoto. Em 100% dos poços estudados não era realizado nenhum tipo de tratamento da água subterrânea.

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Tabela 1: Número e percentual de poços onde foram coletadas amostras de água para análises laboratoriais, por bairro, segundo características dos mesmos. Feira de Santana-Bahia-Brasil, 2000. Características Bairros Campo Limpo Santa Mônica Total Nº % Nº % Nº % Tipo de perfuração do poço Escavação manual Perfuração com broca Ignorado 77 18 3 78,6 18,4 3,0

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10 8 4 45,4 36,4 18,2 87 26 7 72,5 21,7 5,8 Profundidade do poço Até 5 metros > 5 a 10 metros > 10 a 20 metros > 20 metros Ignorado 35 26 32 1 4 35,7

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26,5 32,7 1,0 4,1 4 5 12 - 1 18,2 22,7 54,6 - 4,5 39 31 44 1 5 32,5 25,8 36,7 0,8

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4,2 Tipo de captação da água Bombeamento Manual com balde 53 45 54,0 46,0 19 3 86,4 13,6 72 48 60,0 40,0 Distância entre o poço e a fossa mais próxima Até 5 metros > 5 a 10 metros > 10 a 20 metros > 20 metros Ignorado 1 9

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28 13 47 1,0 9,2 28,6 13,3 47,9 - 1 4 12 5 - 4,5 18,2 54,6 22,7 1 10 32 25 52

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0,9 8,3 26,7 20,8 43,3 Finalidade do uso Beber Banho Cozinha 72 92 84 73,5 93,9 85,7 13 18 16 59,1 81,8 72,7 85 110 100

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70,8 91,7 83,3 Total 98 100,0 22 100,0 120 100,0 Na análise do Número Mais Provável (NMP) de coliformes, 90,8% das amostras apresentaram crescimento de coliformes totais, variando de 2 a mais de 1.600/100ml. O maior percentual encontrado (34,2%) foi de amostras com 100 a 500 coliformes totais. Comparando-se os resultados encontrados entre os bairros pesquisados, em 89,8% das amostras coletadas em poços do Campo Limpo foi encontrada presença de coliformes totais, enquanto que, no Santa Mônica este percentual foi de 95,5%. No Campo Limpo, o maior percentual (34,7%) foi de poços com 100 a 500 bactérias/100ml e no Santa Mônica, (41%) foi de poços com 2 a 20 bactérias/100ml (Tabela 2). Em 65,8% das amostras analisadas houve crescimento de coliforme fecal. Foram encontrados poços com número de bactérias variando entre 2 e 1.600/100ml. Foi levemente maior o percentual de amostras com coliformes fecais no Campo Limpo (66,3%), em relação ao Santa Mônica, 63,6%. No Campo Limpo foi encontrado maior percentual de poços com coliformes fecais variando entre 2 a 20/100ml (33,7%) e no Santa Mônica (31,8%), variando entre 100 e 500/100 ml (Tabela 2). A Portaria nº 1.469, de 29 de dezembro de 2000, do Ministério da Saúde, estabelece que em água para consumo humano, em toda e qualquer situação, incluindo fontes individuais como poços, não será permitido a presença de coliformes fecais ou termotolerantes em 100 ml (Art. 11, tabela 1). Em relação a coliformes totais, o Art. 11 § 8º determina que em amostras individuais procedentes de poços (...) e outras formas de abastecimento sem distribuição canalizada, tolera-se a presença de coliformes totais, na ausência de Escherichia coli e/ou, coliformes termotolerantes; nesta situação deve ser investigada a

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origem da ocorrência, tomadas providências imediatas de caráter corretivo e preventivo e realizada nova análise de coliformes. A Resolução nº 20, de 30 de julho de 1986, do Conselho Nacional de Meio Ambiente, Art. 3º determina que em água "para o uso de abastecimento sem prévia desinfecção os coliformes totais deverão estar ausentes em qualquer amostra". Considerando-se os resultados das análises do NMP coli total/fecal (indicadores de poluição da água) e a legislação que regulamenta qualidade de água para consumo humano, mais de 90% das amostras coletadas nos poços pesquisados indicavam água com qualidade bacteriológica imprópria para consumo humano. O maior percentual de amostras cujas análises indicaram qualidade bacteriológica comprometida foi de poços de domicílios localizados no Santa Mônica. Tabela 2: Número e percentual de amostras de poços coletadas nos bairros Campo Limpo e Santa Mônica, segundo o N.M.P. coliforme total e fecal. Feira de Santana-Ba, 2000. Coliforme total Coliforme fecal NMP coliforme/100ml Campo Limpo Santa Mônica Campo Limpo Santa Mônica n % n % n %

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n % < 2* 10 10,2 1 4,5 33 33,7 8 36,4 2 a 20 20 20,4 9 41,0 33 33,7 5 22,8 > 20 a 100 14 14,3 1

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4,5 12 12,2 1 4,5 > 100 a 500 34 34,7 7 31,8 19 19,4 7 31,8 > 500 a 1.600 9 9,2 2 9,1 1 1,0 1 4,5

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> 1.600 11 11,2 2 9,1 - - - - Total 98 100,0 22 100,0 98 100,0 22 100,0 *<2 bactérias/100ml indica análises onde não há crescimento de bactérias coliformes, segundo a tabela do NMP para resultados quantitativos, com limite de confiança de 95% (POP.BA.003 - EMBASA, 2000). No estudo, 71,4% das amostras analisadas apresentaram número de Unidades Formadoras de Colônias (UFC) acima do recomendado na Portaria nº 1.469/00 (mais de 500 UFC/ml), segundo a análise da Determinação de Organismo Heterotrófico. Avaliando-se os resultados por bairro, encontrou-se maior número de poços com mais de 500 UFC/ml no Santa Mônica, que no Campo Limpo, com diferença de 18,4% entre os bairros (Tabela 3).

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Tabela 3: Número e percentual de amostras de poços coletadas no Campo Limpo e Santa Mônica, segundo o número de Unidades Formadoras de Colônias (UFC). Feira de Santana-Ba, 2000. UFC/ml Campo Limpo Santa Mônica Total n % n % n % < 500 31 32,0 3 13,6 34 28,6 > 500 66 68,0 19

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86,4 85 71,4 Total 97 100,0 22 100,0 119 100,0 Avaliando-se o parâmetro físico-químico de cor, em 7,52% das amostras foi encontrado mais de 15mg Pt-Co/L (Unidade Hazen), VMP na Portaria nº 1.469/00. Foram encontrados poços com a cor variando entre 5 e 137,5uH. Percentual de amostras com cor acima do recomendado legalmente foi maior entre as coletadas em poços do Santa Mônica (Tabela 4). Das amostras analisadas, 82,8% apresentaram pH ácido, menor que 6,0. O pH das amostras variou entre 3,75 a 6,61. Entre os bairros, os percentuais encontrados para este parâmetro foram eqüivalente. No Campo Limpo, 83% dos poços possuíam pH menor que 6,0 e no Santa Mônica, 81,8%, não atendendo ao recomendado legalmente (Portaria nº 1.469/00, VMP 6,0 a 9,5) (Tabela 4). A turbidez da água dos poços analisados variou entre 0,16 e 132 unidade de turbidez (uT - unidade Jackson ou nefelométrica). A turbidez mede a transparência da água. Nos poços estudados, em 25,8% a turbidez foi de até 1,0 uT e em 50,8% variou entre 1,0 e 5,0 uT. Nas amostras coletadas em poços localizados no Campo Limpo, 24,5% apresentaram índices de turbidez até 1,0 uT e 52% variou entre 1,0 a 5,0 uT. No Santa Mônica, 31,8% tiveram até 1,0 uT e 45,5% variou entre 1,0 a 5,0 uT (Tabela 4). Na Portaria nº 1.469/00, para água subterrânea tratada pelo processo de desinfecção, em 95% das amostras analisadas o VMP é 1 uT. Nos 5% restantes e em amostras de água coletadas na rede de distribuição o VMP é de 5,0 uT (Art. 13 e Art 15). Comparando-se os índices de turbidez encontrados e o bairro da coleta verificou-se que, no Campo Limpo, 75,5% das amostras estiveram fora do padrão quando se tomou como referência índice de

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turbidez até 1,0 uT. No Santa Mônica, considerando-se este mesmo valor, foi encontrado 68,2% das amostras fora do recomendado (Tabela 4). Em 12,5% das amostras analisadas o teor de cloreto foi maior que 250mg/L Cl (VMP legalmente), com 1,4% a mais de amostras acima do recomendado na legislação, em poços do Santa Mônica, quando comparados aos do Campo Limpo (Tabela 4). Tabela 4: Número e percentual de amostras coletadas em poços do Campo Limpo e Santa Mônica, segundo o resultado de análises de parâmetros físico-químicos investigados. Feira de Santana-Ba, 2000. Parâmetro Campo Limpo Santa Mônica Total n % n % n % Cor

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< 5 uH 76 77,6 13 59,1 89 74,2 > 5 a 15 uH 15 15,3 7 31,8 22 18,3 >15 uH 7 7,1 2 9,1 9

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7,5 pH < 6,0 73 83,0 9 81,8 82 82,8 > 6,0 a 6,5 14 15,9 2 18,2 16

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16,2 > 6,5 a 8,5 1 1,1 1 1,0 Turbidez <1 uT 24 24,5 7 31,8

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31 25,8 >1 a 5 uT 51 52,0 10 45,5 61 50,8 > 5 uT 23 23,5 5 22,7 28 23,4 Cloreto

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Até 250 mg/L Cl 86 87,8 19 86,4 105 87,5 > 250 mg/L Cl 12 12,2 3 13,6 15 12,5 Na análise do parâmetro de dureza, 100% das amostras coletadas atenderam ao padrão de potabilidade recomendado legalmente (até 500 mg/L CaCO3). A Resolução nº 20/86 do CONAMA, Art 3º, estabelece para águas destinadas ao abastecimento doméstico sem prévia ou com simples desinfecção, apenas limites para coliformes totais. Limites para parâmetros físico-químicos e coliformes fecais só são estabelecidos para águas classificadas a partir da classe 1 - águas destinadas ao abastecimento doméstico após tratamento simplificado (Art. 4º). Chamamos a atenção ao

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fato de que nenhum caso estudado foi encontrado realização de tratamento da água subterrânea. Avaliando-se índices de nitrato, 88,2% das amostras analisadas apresentaram nitrato acima do recomendado na legislação (10mg NO3-N/L). Foi expressivo o percentual de amostras coletadas em poços do Campo Limpo (94,8%), com nitrato acima de 10mg NO3-N/L, quando comparado ao encontrado no Santa Mônica, 59,1%. Foi encontrada amostra com até 92mg NO3-N/L de nitrato no Campo Limpo e no Santa Mônica com até 34mg NO3-N/L. A freqüência de amostras com nitrato acima do recomendado foi 1,6 vezes maior no Campo Limpo, em relação ao Santa Mônica. Em todas as amostras analisadas (100%), os índices de nitrito, atenderam ao recomendado na Portaria nº 1.469/00 e Resolução nº 20/86 do CONAMA (1mg NO2-N/L). Considerando-se o recomendado na Portaria 1.469/00 para teor de amônia, 1,5mg/L NH3, 32,7% das amostras analisadas não atenderam a este padrão. Foi encontrado maior percentual de amostras acima do recomendado entre as que foram coletadas em poços do Santa Mônica. Neste bairro, 68,2% das amostras analisadas apresentaram teor de amônia acima de 1,5mg/L NH3. No Santa Mônica foi encontrado amostra com até 106mg/L NH3. No Campo Limpo, 33,7% de amostras analisadas não atenderam ao padrão recomendado. Dentre as amostras coletadas neste bairro, o maior teor encontrado foi de 22,8mg/L NH3. Para cada amostra encontrada no Campo Limpo com amônia acima do recomendado, foram encontradas 2,9 no Santa Mônica. ANÁLISES DOS RESULTADOS Não foi encontrada associação, a níveis de significância estatística, entre o bairro onde foi coletada a amostra (Campo Limpo ou Santa Mônica) e a presença de coliformes totais e fecais. Também não foi estatisticamente significante a associação entre profundidade dos poços onde foram realizadas as coletas e a presença de coliformes totais nas amostras. Contudo, foi encontrada associação positiva entre poços com até 10 metros de profundidade e presença de coliformes fecais (RP = 1,36; IC = 1,02 - 1,83). Presença de coliforme fecal associou-se positivamente a poços com captação manual, através de balde (RP = 1,36; IC = 1,06 - 1,73). Observou-se associação positiva entre amostras coletadas no Santa Mônica e presença de mais de 500UFC/ml de bactérias heterotróficas (RP = 1,27; IC = 1,02 - 1,57), comparadas àquelas analisadas no Campo Limpo. Em 100% das amostras coletadas em poços que distavam até 10 metros da fossa mais próxima foi encontrada presença de coliformes totais. Para esta mesma distância, a presença de coliforme fecal foi detectada em 90,9% das amostras e >500 UFC em 72,7% das amostras (Tabela 5).

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Tabela 5: Número e percentual de amostras, segundo presença de coliforme total, fecal e bactérias heterotróficas relacionado à distância entre o poço e a fossa mais próxima. Feira de Santana - Ba, 2000. Distância entre o poço e a fossa (metros) Coli total Coli fecal Bac. Heterotróficas UFC/ml Presença Ausência Presença Ausência > 500 < 500 n % n % n % n % n %

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n % Até 10 m 11 100,0 10 90,9 1 9,1 8 72,7 3 27,3 > 10 a 20 m 27 84,4 5 15,6 21 65,6 11

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34.4 22 71,0 9 29,0 > 20 m 25 100,0 20 80,0 5 20,0 20 80,0 5 20,0 Foi encontrada associação positiva entre índice de turbidez até 1uT e poços com profundidade até 10 metros (RP = 1,57; IC = 1,19 - 2,07). Quanto aos índices de cloreto, dentre as amostras que não atenderam ao padrão recomendado, 93,3% foram coletadas em poços com até 10 metros de profundidade. Encontrou-se associação positiva entre elevado índice de nitrato e amostras coletadas no Campo Limpo (RP = 1,59; IC = 1,12 - 2,26).

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Foi encontrada associação positiva entre amostras com amônia acima do recomendado na Portaria nº 1.469/00 e local de coleta das amostras no bairro Santa Mônica (RP = 2,88; IC = 1,81 - 4,58). DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Para avaliar a qualidade bacteriológica da água subterrânea foi pesquisado a presença de coliformes totais/fecais e o número de bactérias heterotróficas existentes. Os coliformes são bactérias utilizadas como indicadoras de poluição em águas, por serem mais resistentes que as patogênicas, têm presença constante no intestino humano (calcula-se que em média, por dia, uma pessoa elimina bilhões desses microorganismos) e por viverem mais tempo na água do que as espécies enteropatogênicas. Assim, a presença de coliformes na água indica que a água está sujeita a poluição potencialmente perigosa (PELCZAR et al., 1981). Coliformes fecais (termotolerantes) são bactérias que fazem parte da flora intestinal humana e de animais homeotermos, em quantidade bem mais elevada (cerca de 95% da flora intestinal) que as bactérias patogênicas. Por isso, a presença de coliformes fecais indica a possibilidade de contaminação por fezes e consequentemente de algum microorganismo patogênico existentes nas mesmas, que por serem mais raros e mais frágeis às condições ambientais, tornam-se difíceis de serem evidenciados. Coliformes totais são bactérias escassas em fezes, e por ocorrerem em grande quantidade em sementes e plantas, indicam contaminação pelo solo (BIER, 1982). Os padrões bacteriológicos de potabilidade da água em nível nacional e internacional, estão baseados na detecção de coliformes totais e fecais. Na Portaria nº 1.469/00, do Ministério da Saúde, que estabelecem os padrões de potabilidade da água para consumo humano no Brasil, a qualidade microbiológica da água é definida pela análise de coliformes totais/fecais e contagem de bactérias heterotróficas. Nesta Portaria, recomenda-se a pesquisa de enterovírus, cistos de Giardia spp e oocistos de Cryptosporidium sp. Na Resolução nº 20/86 do CONAMA, que classifica as águas de acordo com o uso, a qualidade microbiológica é definida pela análise de coliformes. Na análise do Número Mais Provável de coliforme total e fecal, foi elevado o percentual de amostras de poços com a presença destas bactérias. Foram encontrados poços com número de coliformes totais variando entre 2 a mais de 1.600/100ml, em amostras coletadas nos dois bairros. Contudo, foi encontrado maior percentual de poços com este tipo de microorganismo, no Santa Mônica, bairro que não possuía rede coletora de esgotos. A contaminação dos poços por coliforme fecal foi inferior àquela para coliforme total. Para cada amostra positiva para coliforme fecal, foram encontradas, aproximadamente, 1,4 vezes mais amostras com coliforme total. Porém, quando se comparou os bairros, o percentual de poços nos quais as amostras apresentaram coliformes fecais, a situação se inverteu. O bairro Campo Limpo, apesar de contar com rede coletora de esgotamento domiciliar em mais da metade dos domicílios pesquisados, apresentou percentual de poços com coliformes fecais mais elevado que no Santa Mônica.

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O local de coleta das amostras (bairro Campo Limpo e Santa Mônica), tipo de perfuração do poço (escavado ou perfuração manual) e a distância entre o poço e a fossa não influenciavam na presença de coliforme total e fecal. A presença de coliforme fecal estava associada, a níveis estatisticamente significantes, a poços com até 10 metros de profundidade e captação da água subterrânea através de balde. AMARAL et al. (1994), avaliando a qualidade microbiológica da água de oito poços rasos localizados na área urbana de Jaboticabal - São Paulo, através da análise de 104 amostras coletadas nestes poços, encontrou 92,12% das amostras contaminadas por coliformes fecais. Na contagem de bactérias heterotróficas, também foi elevado o percentual de amostras da água dos poços, com mais de 500 UFC/ml. Maior expressividade de amostras com UFC/ml acima do recomendado foi encontrada em coletas do Santa Mônica. Para cada amostra com mais de 500UFC/ml no Campo Limpo, foi encontrada 1,3 vezes mais no Santa Mônica. Esta associação alcançou níveis estatisticamente significantes. Foi bastante expressivo o percentual de poços nos quais as amostras apresentaram contaminação por coliforme, inclusive fecal. A presença de coliformes na água por si só, não representa perigo à saúde, mas indica a possível presença de outros seres causadores de doenças e agravos à saúde. Deste modo, foi elevado o percentual de poços com água imprópria para consumo humano, segundo a legislação vigente. A presença de coliformes fecais na água evidencia poluição fecal e existência provável de microorganismos patogênicos causadores de infecções entéricas, cuja transmissão fecal é conhecida. Segundo a análise de cor, o maior percentual de amostras fora do padrão foi de poços localizados no Santa Mônica, enquanto que, em relação a turbidez da água, o maior percentual foi de amostras coletadas em poços do Campo Limpo. Cor acima de 5uH associava-se positivamente a poços onde a captação da água era feita por balde. A cor pode ser de origem mineral, causada por ferro ou manganês; vegetal, causada por húmos, taninos, algas e protozoários; ou ser conseqüência de resíduos industriais coloridos (BATALHA e PARLATORE, 1993; HAMMER, 1979). A turbidez deve-se a matéria em suspensão, como microorganismos, detritos orgânicos, substâncias químicas e areia, causados por despejos domésticos ou industriais e erosão. A turbidez influencia no processo de desinfecção da água, reduzindo a eficiência do cloro, pois protege os microorganismos existentes na água, da ação do desinfetante. Além disso, segundo BATTALHA e PARLATORE (1993:68), "as partículas de turbidez transportam matéria orgânica adsorvida que podem provocar sabor e odor". "A turbidez da água para consumo humano, medida da transparência da água, é comumente usada para indicar o risco de contaminação microbiológica e a efetividade do tratamento da água" (EPA, 1984 apud SCHWARTZ et al.,2000:45). SCHWARTZ et al. (2000) encontraram associação entre índices de turbidez e admissão hospitalar por doenças gastrointestinais, entre a população idosa na Filadélfia, durante o período de 1992-1993.

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Foi bastante expressivo o percentual de poços que não atenderam a faixa de pH estabelecida nas legislações, predominando amostras com pH ácido (menor que 7). Segundo DERISIO (1992), as maiores alterações neste indicador são provocadas por despejos de origem industrial. A acidificação das águas subterrâneas reage com os metais presentes no solo, aumentando a concentração de metais pesados na água de beber (OPS, 2000). Foi expressivo também, o percentual de poços com níveis de cloreto acima do recomendado legalmente. O maior percentual foi encontrado em amostras coletadas no Santa Mônica. Altas concentrações de cloreto confere sabor à água e efeitos laxativos em quem costumeiramente consume água com baixa concentração. Porém, devido ao elevado percentual de poços com cloretos acima do recomendado, pode-se supor que a população estudada acostumou-se a consumir água com elevada concentração de cloreto, não sentindo mais os efeitos causados por esta substância química. Neste estudo, é preocupante o elevado percentual de amostras com nitrato acima de 10mg NO3-N/L (eqüivale a 44,3mg/L NO3), nos dois bairros pesquisados. Contudo, este percentual foi 1,6 vezes maior no Campo Limpo, que no Santa Mônica, apresentando associação positiva, a níveis estatisticamente significantes. O nitrato é o produto final da estabilização aeróbia do nitrogênio orgânico. Ele é encontrado no ambiente e, segundo BOUCHARD et al. (1992), naturalmente, a concentração de nitrato em água subterrânea é menor do que 3mg NO3-N/L. Níveis mais altos de nitratos indicam contaminação por disposição inadequada de dejetos humanos (tanque sépticos), industriais ou de indústrias alimentícias, além do uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura. A contaminação por nitratos na água de beber pode trazer graves conseqüências para a saúde, inclusive mortes, principalmente em lactentes alimentados com ela. No corpo humano, o nitrato se converte em nitrito que, por sua vez, combina-se com a hemoglobina para formar metahemoglobina. Como a metahemoglobina não pode unir-se ao oxigênio, fica impedido o transporte do oxigênio no sangue. Em crianças muito pequenas causa cianose intensa (síndrome do bebê azul), podendo causar a morte. Em 15 países europeus, 0,5 a 10% da população está exposta a níveis de nitratos superiores a 50mg NO3-N/L na água destinada ao consumo humano (OPS, 2000). PACKHAM (1992) relata que mais de 2.000 casos, com casos fatais em torno de 8% foram descritos na literatura até 1970. Níveis elevados de nitrato, em águas subterrâneas, têm sido relatado em diferentes lugares no mundo. Alguns autores já consideram como pandemia natural, altas concentrações de nitrato na água subterrânea (BOUCHARD et al, 1992). Não foi encontrado nitrito acima do recomendado para água de consumo humano em nenhuma das amostras coletadas, porém, segundo OCHOA SÁNCHEZ (1990), como o nitrito corresponde a uma oxidação incompleta da matéria orgânica nitrogenada, não aparece comumente em concentrações elevadas, nem em águas muito contaminadas, pois são elementos instáveis e passam rapidamente a nitratos.

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Considerando-se o recomendado na Portaria nº 1.469/00, foi encontrado índice considerável de amostras com amônia acima do estabelecido. O percentual de amostras fora do padrão foi duas vezes maior entre as amostras coletadas no Santa Mônica, quando comparadas às do Campo Limpo. A amônia pode estar presente naturalmente em águas superficiais e subterrâneas, sendo que, usualmente, em baixa concentração, devido à sua fácil adsorção por partículas do solo ou à oxidação a nitrito e nitrato. A ocorrência de concentrações elevadas pode ser resultante de fontes de poluição próximas, bem como de redução de nitrato por bactérias ou por, íons ferrosos presentes no solo (BATALHA e PARLATORE, 1993; ALABURDA e NISHIHARA, 1998). O elevado percentual de amostras com amônia acima do recomendado, em coletas realizadas em poços do Santa Mônica, pode estar associado à falta de rede coletora de esgotamento domiciliar neste bairro. Ali, todos os entrevistados referiram utilizar as fossas, para destino final do esgoto doméstico. Assim, o manancial subterrâneo do Santa Mônica recebe, constantemente, carga contaminante. O maior percentual de amostras com nitrato elevado em coletas realizadas no Campo Limpo e amônia nas coletas de poços localizados no Santa Mônica, pode estar relacionada ao destino final do esgotamento doméstico realizado nos bairros. Como no Campo Limpo 67,3% dos entrevistados referiram contar com serviço público de esgotamento domiciliar, o índice de nitrato encontrado pode estar relacionado a contaminações antigas. CONCLUSÕES Dentre os achados produzidos no presente estudo merece destaque: O consumo humano de água subterrânea nos bairros Campo Limpo e Santa Mônica, Feira de Santana-Ba, pode representar risco à saúde, visto que, a água é captada em poços superficiais, cujo lençol apresentou qualidade bacteriológica e físico-química comprometida. A água subterrânea captada nos poços pesquisada não atendia aos padrões de potabilidade da água para consumo humano, estabelecidos legalmente. A contaminação do lençol freático localizado no Campo Limpo e Santa Mônica se comprova através dos resultados de análises bacteriológicas e físico-químicas, de amostras de água coletada em poços localizados nos dois bairros. Nas análises bacteriológicas foram encontrados percentuais elevados de amostras com coliformes totais (90,8%), fecais (66,7%) e bactérias heterotróficas acima de 500UFC/ml (71,4%); não atendendo, portanto, aos padrões microbiológicos de potabilidade da água, estabelecidos na Portaria do Ministério da Saúde nº 1.469/00. Portanto, é potencial o risco a que estão expostos os consumidores desta água.

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Foram encontradas amostras com cor, pH, cloreto e turbidez fora dos padrões fisico-químicos de potabilidade. Dentre estes parâmetros, chamou a atenção o elevado percentual de amostras de poços (82,8%), principalmente no Santa Mônica, com pH ácido, abaixo de 6,0. Tão grave quanto o percentual de poços bacteriologicamente impróprios para consumo humano, foi o encontrado com nitratos acima de 10mg NO3-N/L, valor máximo permissível para água de consumo humano. Dentre as amostras analisadas, 88,2% não atenderam ao recomendado sendo que, foi encontrado maior percentual de poços comprometidos, no Campo Limpo (94,8%). Na literatura, o consumo da água com os níveis de nitrato encontrados está relacionado a casos de metahemoglobinemia, principalmente em crianças. No Santa Mônica prevaleceu poços com níveis elevados de amônia, indicando a possibilidade de contaminação recente, visto que, em 100% dos domicílios pesquisados o destino final do esgoto doméstico se dava em fossas. O risco do consumo humano da água subterrânea foi mais elevado entre os residentes do Campo Limpo. Neste bairro foram mais freqüentes amostras com coliformes fecais e nitrato acima do recomendado legalmente. Trata-se de abastecimento privado, sem autorização e não existe legislação que regulamente o consumo humano da água nestas condições. Na Norma de Qualidade da Água para Consumo Humano, Portaria nº 1.469/00, foi definido no Art. 4º, III, como solução alternativa de abastecimento de água para consumo humano, "toda modalidade de abastecimento coletivo de água distinta do sistema de abastecimento de água, incluindo, entre outras, fonte, poço comunitário, distribuição por veículo transportador, instalações condominiais horizontal e vertical". Pode-se considerar abastecimento domiciliar privado como solução alternativa de abastecimento? No Art. 7º da referida Portaria, é atribuído a Secretaria Municipal de Saúde exercer a vigilância da qualidade da água em sua área de competência, em articulação com os responsáveis pelo controle da qualidade da água, de acordo com as diretrizes do SUS; sistematizar e interpretar as informações geradas pelo responsável pela operação da solução alternativa de abastecimento, em relação às características da água nos mananciais, sob a perspectiva da vulnerabilidade do abastecimento de água, quanto aos riscos à saúde da população; efetuar, sistemática e permanentemente, avaliação de risco à saúde humana de cada solução alternativa, por meio de informações sobre a qualidade da água produzida e distribuída, e definir o responsável pelo controle da água de solução alternativa. Ao responsável pela operação da solução alternativa cabe exercer o controle da qualidade da água (Art. 8º) e requerer, junto à autoridade de saúde pública, autorização para o fornecimento de água, apresentando laudo sobre a análise da água a ser fornecida, incluindo parâmetros de qualidade previstos na Portaria (Art. 10); operar e manter solução alternativa que forneça água potável em conformidade com as normas técnicas publicadas pela ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas e outras normas e legislações pertinentes; manter e controlar a qualidade da água produzida e distribuída, por meio de análises

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laboratoriais, nos termos da portaria e a critério da autoridade de saúde pública e encaminhar à autoridade de saúde pública, para fins de comprovação, relatórios com informações sobre o controle da qualidade da água, segundo modelo e periodicidade estabelecida pela referida autoridade, sendo no mínimo trimestral, efetuar controle das características da água da fonte de abastecimento, nos termos da Portaria, notificando, imediatamente, à autoridade de saúde pública sempre que houver indícios de risco à saúde ou amostras apresentarem resultados em desacordo com os limites estabelecidos, dentre outras. No Art. 18 diz que os responsáveis pelo controle da qualidade da água da solução alternativa de abastecimento deve elaborar e aprovar, junto à autoridade de saúde pública, o plano de coleta de amostras de água para análises, respeitando os planos mínimos expressos na Portaria. Nesta legislação, considerando-se apenas a pesquisa de coliformes, o mínimo exigido é de 10 amostras mensais da água a ser consumida (após tratamento). Além disso, o Art. 21 determina que o sistema de abastecimento de água deve contar com responsável técnico, profissionalmente habilitado. Portanto, torna-se difícil a realização adequada do controle da qualidade da água subterrânea consumida de forma privada, como se refere este estudo, como também, enquadrar este tipo de abastecimento como solução alternativa, segundo os critérios estabelecidos nesta Portaria. Além disso, foram encontrados bares, lanchonetes, pizzaria, fábrica de geladinho, bomboniere e salão de beleza funcionando em domicílios estudados. Portanto, existe legalmente os meios para que sejam implementadas ações com o objetivo de proteger a população dos riscos que podem ser causados pelo consumo humano da água subterrânea fora dos padrões de potabilidade, como vem ocorrendo em Feira de Santana. Neste caso, são necessárias ações da Vigilância Sanitária Municipal, órgão competente para atuar em tais questões. O problema que se apresenta leva a vários agravantes. Trata-se de um problema de saúde pública, onde a população vem sendo exposta ao risco de contrair doenças; pode levar ao rebaixamento do lençol freático, comprometendo a recarga de mananciais, hoje um dos grandes problemas que preocupam ambientalistas em todo mundo e evidencia a importância da disponibilidade de água potável. Como revelam estudos realizados por diversos pesquisadores, o consumo humano da água potável constitui-se uma das ações de saúde pública de maior impacto na prevenção de doenças e dos índices de mortalidade. Portanto, esta medida de saúde pública necessita ser implementada e garantida a todos. Devido a gravidade do problema apresentado, faz-se necessário também, que seja investigado, em outros bairros de Feira de Santana, o risco sanitário a que estão expostos consumidores de água subterrânea, através da análise da qualidade bacteriológica e físico-química da água deste manancial. Nos bairros investigados existia a disponibilidade da água tratada, fornecida pelo sistema público, mas não havia a garantia do acesso a este serviço. O consumo humano da água

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potável é direito de cidadania, garantido legalmente. O acesso a água potável é direito à saúde. A saúde foi garantida pela Constituição Federal de 1988 como direito de todos e dever do Estado. A garantia do consumo humano da água potável, livre de microorganismos patogênicos ou substâncias químicas prejudiciais a saúde é medida de saúde pública, com o objetivo de reduzir os riscos e agravos a saúde. Portanto, deve ser ação do Poder Público adotar políticas públicas que garantam este direito em Feira de Santana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVICH, B. et al. Cryptosporidium y agua: estudio de una asociación riesgosa. Ingeniería Sanitaria y Ambiental. Argentina, n. 36, p. 30-34, 1998 ALABURDA, J. ; NISHIHARA, L. Presença de compostos de nitrogênio em águas de poços. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v.32, n. 2, p. 160-165, 1998. AMARAL, L. A. et al. Avaliação da qualidade higiênico-sanitária da água de poços rasos localizados em uma área urbana: utilização de colifagos em comparação com indicadores bacterianos de poluição fecal. Revista de Saúde Pública. Universidade de São Paulo, Faculdade de Saúde Pública. São Paulo, v. 28, n. 5, p. 345-348, 1994. ASSIS DA SILVA, R. C. Abrindo mão do direito ao consumo da água tratada: Feira de Santana – Ba. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Direito Sanitário da Universidade Estadual de Feira de Santana. Orientador: Vicente Deocleciano Moreira. Feira de Santana-Ba, 1999a. ASSIS DA SILVA, R. C. Pesquisa da qualidade bacteriológica e físico-química do manancial subterrâneo de Feira de Santana, relacionada ao consumo humano - junho de 1999. Relatório apresentado a Diretoria de Operações da EMBASA-Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A. Feira de Santana-Ba, 1999b. AVILA, H. G.; WINKLER, S. B.; CARMONA, H. B. Calidad del agua potable e incidencia de gastroenteritis en dos ciudades del Estado de Sonora, México. Salud Publica de Mexico. México, v. 31. n.3, p. 199-304, 1989. BATALHA, B. L.; PARLATORE, A. C. Controle da qualidade da água para consumo humano: bases conceituais e operacionais. São Paulo: CETESB, 1993. BIER, Otto. Bacteriologia e Imunologia. 22 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1982 BOUCHARD, D. C.; WILLIAMS, M. K. Nitrate contamination of groundwater; sources and potential health effects. Journal of the American Water Works Association. n. 9, p. 85-90, 1992.

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