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M INISTÉRIO P ÚBLICO DO E STADO DO P ARANÁ Promotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de Curitiba-PR EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por intermédio das Promotoras de Justiça abaixo assinadas, no uso de suas atribuições perante a Promotoria de Proteção à Saúde Pública, situada na Rua Marechal Deodoro, nº 1028, 5º andar, centro, nesta cidade, onde recebem intimações, vêm, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 127, caput; 129, III; 37, caput e inciso II, da Constituição Federal, e na Lei nº 7.347/85, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA com pedido de antecipação de tutela 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA

DA FAZENDA PÚBLICA DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO

METROPOLITANA DE CURITIBA

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por intermédio das Promotoras de Justiça abaixo assinadas,

no uso de suas atribuições perante a Promotoria de Proteção à Saúde

Pública, situada na Rua Marechal Deodoro, nº 1028, 5º andar, centro, nesta

cidade, onde recebem intimações, vêm, respeitosamente, à presença de

Vossa Excelência, com fundamento nos artigos 127, caput; 129, III; 37,

caput e inciso II, da Constituição Federal, e na Lei nº 7.347/85, propor a

presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICAcom pedido de antecipação de tutela

em face de MUNICÍPIO DE CURITIBA, pessoa jurídica de direito público interno, ora representado pelo

Procurador-Geral do Município, Dr. Joel Macedo Soares Pereira Neto, com

endereço na Rua Álvaro Ramos, 150, Ed. Pery Moreira, Centro-cívico,

Curitiba-PR, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

1

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

A presente demanda versa sobre os

reiterados atrasos nos repasses/pagamentos, por parte do Município de

Curitiba, dos valores pecuniários devidos aos prestadores de serviços

hospitalares vinculados ao SUS neste Município.

Isso causa, diariamente, prejuízos

irreparáveis para a vida e para a saúde de todas as pessoas usuárias do

SUS que, a qualquer momento, dependam da assistência médica nos

hospitais conveniados ao SUS.

Mais: coloca em xeque o funcionamento do

serviço público de saúde, único textualmente considerado de relevância

pública pela Constituição (art. 197 da CF), cabendo ao Ministério Público

zelar para que funcione adequadamente em respeito aos direitos

assegurados na Constituição (art. 129, II, da CF).

1. DOS FATOS

Instaurou-se junto à Promotoria de Justiça,

com atribuições na área de defesa à Saúde Pública, o Procedimento

Preparatório nº 0046.14.010399-8, a partir do ofício nº 330/2014,

encaminhado pelas seguintes entidades: a) Hospital Universitário Cajuru, b)

Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, c) Associação Hospitalar

de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro (Hospital Pequeno Príncipe) e d)

Hospital Erasto Gaertner.

Afirmou-se, em tal expediente, na parte que

interessa à presente ação1, que o Município de Curitiba não vem cumprindo

o prazo estabelecido na Portaria nº 2.617/2013 para pagamento dos

1 Os demais pontos de irresignação – preocupação com as atuais políticas de repasse de verbas pelo gestor federal a título de incentivos, falta de atualização da tabela SIGTAP e falha na regulação da rede de assistência à saúde – ou são averiguados em autos próprios ou escapam da esfera de atribuição desta Promotoria de Justiça.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

hospitais subscritores. A título exemplificativo, cita que o repasse da rubrica

“Teto Municipal da Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar” foi

creditada, por meio da ordem bancária nº 831360, na data de 07 de agosto

de 2014 no Fundo Municipal de Saúde e que, até aquele momento (16 de

outubro de 2014), os hospitais ainda não haviam sido pagos. Tal situação

geraria sérias dificuldades financeiras decorrentes principalmente de

reajustes salariais dos funcionários e aumento dos custos inerentes à

prestação de serviço hospitalar.2

A noticiada impontualidade no pagamento,

segundo restou apurado por meio das diligências encetadas no âmbito do

procedimento preparatório, atinge não apenas os hospitais subscritores da

representação ao Ministério Público, mas igualmente todos os hospitais com

“contratualização”3 com Município de Curitiba: Hospital Evangélico, Hospital

do Trabalhador, Hospital Cruz Vermelha, Maternidade Mater Dei, Hospital de

Clínicas e Maternidade Victor Ferreira do Amaral.

Trata-se de situação admitida pela Secretaria Municipal de Saúde: nas oportunidades em que indagada, por

intermédio de ofícios ministeriais expedidos no procedimento preparatório,

acabou reconhecendo haver demora para pagamento da parcela variável

resultante da necessidade de “avaliação por parte da auditoria para

conclusão da pontuação e definição do valor a ser pago a cada hospital” e

que, até o dia 17 de outubro, os valores da competência de setembro não

haviam sido integralmente pagos. Afinal, afirma que “no mês de outubro/14

já estão em andamento os pagamentos da produção e contratualização.” .

2 E, por conseguinte, pode colocar em risco o bom funcionamento do serviço de saúde no município de Curitiba. 3 Expressão genérica utilizada para designar os contratos e convênios firmados entre o Município de Curitiba (por intermédio da Secretaria Municipal de Saúde) e hospitais privados (com e sem fins lucrativos), a fim de que passem a prestar serviços ao Sistema Único de Saúde - SUS e integrar a rede hospitalar de atendimento ao SUS.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Na tentativa de ver regularizada a

periodicidade dos pagamentos, expediu-se a Recomendação Administrativa

nº 10/2014, recomendando-se ao Sr. Prefeito Municipal, à Sra. Secretária

Municipal de Finanças e ao Sr. Secretário Municipal de Saúde o “ imediato

cumprimento do disposto nos arts. 1º e 3º da Portaria GM/MS nº 2.617/2013,

de modo a efetuar o pagamento das transferências fundo a fundo do Bloco

de Financiamento da Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e

Hospitalar e dos incentivos financeiros aos estabelecimentos de saúde que

prestam assistência de forma complementar ao Sistema Único de Saúde,

sempre até o quinto dia útil após o Ministério da Saúde creditá-los na conta

bancária do Fundo Municipal de Saúde” e informar quantos pagamentos aos

hospitais contratualizados de Curitiba encontram-se em atraso, com

indicação de valores, competência, prazo e propostas para quitá-los, e,

especificamente, se houve pagamento referente à competência de

setembro, apresentando, em caso negativo, fundamentada justificativa

técnica e jurídica da impossibilidade de fazê-lo.

Não houve atendimento à Recomendação

Administrativa, pois os atrasos no pagamento das parcelas devidas aos

hospitais contratualizados continuaram a ocorrer (os montantes devidos são

indicados pormenorizadamente em item específico, abaixo).

Em derradeira tentativa de resolução

extrajudicial da quizila, foi realizada reunião em data de 15 de dezembro de

2014 entre membros do Ministério Público, o Sr. Secretario Municipal de

Saúde, Dr. Adriano Massuda, e a Sra. Superintendente Executiva, Sra. Jane

Sescatto, inclusive com proposta de celebração de Termo de Ajuste de

Conduta. No entanto, não houve sucesso na solução extrajudicial.

Daí a necessidade da propositura da

presente ação, visto que todas as possibilidades de consenso restaram

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

infrutíferas. Permanecendo o insistente atraso nos repasses aos prestadores

de serviços hospitalares, coloca-se em risco o atendimento aos milhões de

usuários do SUS dependentes desses hospitais para seus tratamentos.

2. DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE EM MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE NO MUNICÍPIO DE CURITIBA: CONTRATUALIZAÇÕES e FINANCIAMENTO

Em conformidade com o disposto no art. 197

da Constituição Federal, as ações e serviços de saúde são de relevância

pública, cabendo, por conta disso, ao Poder Público dispor sobre sua

regulamentação, fiscalização e controle.

O Sistema Único de Saúde – SUS – é

sistema nacional de saúde, regido pelos princípios de universalidade,

integralidade, igualdade, regionalização, descentralização e hierarquização

(incisos I, II, IV, IX “a” e “b”, do art. 7º, da Lei n. 8080/90).

É cediço que a execução dos serviços de

saúde cabe primordialmente aos municípios, pela regra do art. 18, I, da Lei

n. 8080/90:

Art. 18. À direção municipal do Sistema de Saúde

(SUS) compete:

I - planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os

serviços de saúde e gerir e executar os serviços públicos de saúde;

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Porém, diante da insuficiência de condições

de ofertar, por conta própria, a assistência de saúde na atenção de média e

alta complexidade aos usuários, de maneira universal e integral, os

municípios em geral precisam recorrer a serviços privados para

complementar as ações e serviços de saúde, valendo-se, para tanto, do

permissivo contido no art. 24 da Lei nº 8.080/90.4

Com o Município de Curitiba não foi

diferente, pois sua rede de estabelecimentos próprios não consegue fazer

frente a toda a demanda de serviços de média e alta complexidade

ambulatorial e hospitalar.

Assim é que a municipalidade firmou

contratos e convênios com a Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba

(mantenedora do Hospital Evangélico de Curitiba), Associação Paranaense

de Cultura (mantenedora do Hospital Cajuru), Irmandade da Santa Casa de

Misericórdia de Curitiba (provedora do Hospital Santa Casa), Liga

Paranaense de Combate ao Câncer (mantenedora do Hospital Erasto

Gaertner), Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro

(mantenedora do Hospital Pequeno Príncipe), Fundação da Universidade

Federal do Paraná para o Desenvolvimento da Ciência, da Tecnologia e da

Cultura (Hospital do Trabalhador), Hospital Cruz Vermelha, Hospital Nossa

Senhora das Graças (Maternidade Mater Dei), Universidade Federal do

Paraná (Hospital de Clínicas e Maternidade Victor Ferreira do Amaral),

conforme instrumentos em anexo.

4 Eis o teor do dispositivo: Art. 24: “Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS) poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada.Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público”.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Com essa “contratualização” (como já dito,

termo genérico utilizado para se reportar aos contratos e convênios firmados

com os hospitais, respectivamente, com fins lucrativos e sem fins lucrativos),

mencionadas instituições passaram a integrar o Sistema Único de Saúde e a

inserir-se na rede regionalizada e hierarquizada das ações e serviços

públicos de saúde sob a regulação da Secretaria Municipal de Saúde, ou

seja, os hospitais comprometeram-se a prestar assistência à saúde aos

usuários, de acordo com as normas técnicas e administrativas e com os

princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde.

Em contrapartida, os hospitais prestadores

recebem – ou ao menos deveriam receber – valores especificados nos

contratos/convênios.

Os contratos e convênios são, portanto,

firmados exclusivamente entre os hospitais e o Município de Curitiba, sem a

intervenção de qualquer outro ente federativo.

No entanto, por ser competência comum da

União, dos Estados e dos Municípios cuidar da saúde e da assistência

pública (art. 23, II, da CF), o financiamento das ações e serviços de saúde

no SUS é tripartite: isto é, concorrem para ele valores oriundos dos cofres

dos três entes federativos.

No que concerne à assistência hospitalar, a

União, com o propósito de fortalecer o processo de descentralização do

Sistema Único de Saúde e de qualificar a organização e a gestão das ações

e serviços de saúde públicos, destina recursos federais do Fundo Nacional

de Saúde aos Fundos Estaduais de Saúde e aos Fundos Municipais de

Saúde (art. 2º, IV da Lei nº 8.142/90).

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Assim é que os recursos financeiros que

custeiam as internações hospitalares e os procedimentos ambulatoriais e

hospitalares de média e alta complexidade são repassados pelo Fundo

Nacional de Saúde. Porém, não é o Ministério da Saúde quem administra

esses valores e faz esses pagamentos.

É que, de acordo com a Lei n. 8080/90, não

coube à União gerir e executar os serviços de saúde. A União repassa esses

valores através da sistemática de transferências automáticas e “fundo a

fundo”: do Fundo Nacional de Saúde os valores são repassados para os

Fundos Estaduais de Saúde e para os Fundos Municipais de Saúde.5

Em 2007, com a adesão do Município de

Curitiba ao Pacto pela Saúde, através do Termo de Compromisso de Gestão

(TCG), em decorrência da Portaria GM/MS n. 399/2006, passou ele a

assumir a responsabilidade integral pelas ações e serviços de saúde em seu

território (o que se denomina, no meio sanitário, de gestão “plena”), inclusive

pela atenção de média e alta complexidade ambulatorial e hospitalar,

devendo atender aos principais problemas e agravos de saúde da

população, disponibilizando profissionais especializados e a utilização de

recursos tecnológicos para apoio diagnóstico e terapêutico.

5 Isso se dá em obediência à Emenda Constitucional nº 29/2002, regulamentada pela Lei Complementar n. 141/2012, em especial nos artigos 13, parágrafo 2º, 14 e 18: a utilização dos recursos para a saúde somente será feita por um fundo de saúde. As verbas oriundas das transferências “fundo a fundo” – em especial aquelas advindas do Fundo Nacional de Saúde para custeio das internações e ações de média e alta complexidade no município – incorporam-se ao Fundo Municipal de Saúde, cujo gestor deverá utilizá-los para fazer frente às despesas que lhe cabem para manter todos os seus serviços de saúde, próprios e terceirizados. É o que se infere do próprio art. 18 da mencionada Lei Complementar: Os recursos do Fundo Nacional de Saúde, destinados a despesas com as ações e serviços públicos de saúde, de custeio e capital, a serem executados pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios serão transferidos diretamente aos respectivos fundos de saúde, de forma regular e automática, dispensada a celebração de convênio ou outros instrumentos jurídicos.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Por isso, em Curitiba, a assistência hospitalar

(e ambulatorial de média e alta complexidade) é de responsabilidade do

Município de Curitiba que, não conseguindo prestá-la por meios próprios,

contrata os hospitais antes mencionados para integrar a rede SUS.

Para remunerá-los, deve administrar os

valores recebidos no Fundo Municipal de Saúde, a partir do qual, dentre

outras verbas (do Estado e do próprio município, que deve contribuir com

15% de seu orçamento próprio para as ações de saúde, nos termos da EC

n. 29/2000 e da Lei Complementar n. 141/2012), recebe transferências

automáticas “fundo a fundo” oriundas do Fundo Nacional de Saúde.

Em outras palavras: em Curitiba (município

que assumiu a gestão “plena”), quem contrata e paga os prestadores é o

município, fazendo uso dos valores existentes nas contas bancárias do

Fundo Municipal de Saúde.

4. DA REGULAMENTAÇÃO DA CONTRATUALIZAÇÃO DE HOSPITAIS PRIVADOS E DA SISTEMÁTICA ATUAL DA GESTÃO HOSPITALAR E AMBULATORIAL DO SUS NO MUNICÍPIO DE CURITIBA

Como forma de uniformizar os critérios para

contratualização dos prestadores e, mesmo, de repasse dos valores6, o 6 Não fosse assim, um mesmo procedimento poderia ter “preços” diferentes a depender do local da prestação. Diante do reduzido número de prestadores e da dificuldade de se criarem estruturas para a prestação de serviços de saúde em curto espaço de tempo, gestores dos locais em que houvesse pequeno número de prestadores disponíveis ver-se-iam constrangidos a pagar valores significativamente mais altos para procedimentos que aqueles praticados em outros locais com maior oferta de prestadores. De igual modo, não faria sentido que a União repassasse valores diferenciados para um mesmo procedimento a depender do local em que o serviço fosse prestado, o que traria distorções na assistência à saúde. Com a uniformização das regras, todo aquele que irá prestar serviços ao SUS no território nacional sabe, de antemão, as regras a que se submete (tanto no que concerne ao “preço” – a comumente chamada “tabela SUS” –, quanto aos prazos e critérios para pagamento).

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Ministério da Saúde, valendo-se de sua competência regulamentar (decorrentes das regras contempladas nos artigos 16, XIV, e 26, da Lei n. 8080/90),7 editou diversas portarias que disciplinam a questão.

De forma ampla, a direção nacional do SUS

disciplinou a matéria pela Portaria GM/MS nº 204/2007, a qual indica que a

transferência de valores pela União se dá por meio de “Blocos de

financiamento”.

O Bloco da Atenção de Média e Alta

Complexidade ambulatorial e hospitalar (MAC), um dos “Blocos de

financiamento” existentes8 e que interesse nesta ação, é constituído, nos

termos do art. 13, por dois componentes: Teto MAC9 (limite financeiro da

Média e Alta Complexidade ambulatorial e hospitalar) e FAEC (Fundo de

Ações Estratégicas e Compensação)10.

O Município de Curitiba, portanto, para além

de verbas próprias de pelo menos 15% que deve destinar de seu orçamento,

conta também com verba federal a si repassada automaticamente sob as

7 Eis o teor dos referidos dispositivos de lei: Art. 16. A direção nacional do Sistema Único da Saúde (SUS) compete:XIV - elaborar normas para regular as relações entre o Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços privados contratados de assistência à saúde;Art. 26. Os critérios e valores para a remuneração de serviços e os parâmetros de cobertura assistencial serão estabelecidos pela direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), aprovados no Conselho Nacional de Saúde.§ 1° Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de pagamento da remuneração aludida neste artigo, a direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá fundamentar seu ato em demonstrativo econômico-financeiro que garanta a efetiva qualidade de execução dos serviços contratados.§ 2° Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técnicas e administrativas e aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico e financeiro do contrato.8 O art. 4º de referida Portaria prevê ainda os Blocos de financiamento da Atenção Básica, Vigilância Sanitária, Assistência Farmacêutica, Gestão do SUS e investimento na Rede de serviço de saúde. 9 Verba destinada ao financiamento de ações de média e alta complexidade em saúde e aos incentivos transferidos mensalmente, especificados no art. 14, §1º.10 O art. 16 elenca os itens financiados com verba do FAEC.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

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rubricas Teto MAC e FAEC para fazer frente às despesas com saúde na

atenção de média e alta complexidade.

Esses recursos são recebidos da União e se

incorporam ao Fundo Municipal de Saúde, de gestão exclusiva do Município

de Curitiba, único responsável pela prestação dos serviços de saúde em

Curitiba.

Além dessa norma, há a Portaria GM/MS nº

3.410/2013, estabelecendo as “diretrizes para a contratualização de

hospitais no âmbito do Sistema Único de Saúde”.

A norma aplica-se a todos os entes

federativos que possuam, sob sua gestão, hospitais públicos ou privados

com fins lucrativos com, no mínimo, cinquenta leitos operacionais e hospitais

privados sem fins lucrativos com, no mínimo, trinta leitos operacionais (o que

inclui todos os hospitais privados de Curitiba aqui referidos – Santa Casa,

Cajuru, Evangélico, Pequeno Príncipe e Erasto Gaertner).

Segundo o art. 21 de referida Portaria, a

contratualização será formalizada por meio de instrumento celebrado entre o

gestor do SUS contratante e o prestador hospitalar sob sua gestão, com a

definição das regras contratuais, estabelecimento de metas, indicadores de

acompanhamento e recursos financeiros da atenção hospitalar.

No capítulo IV da Portaria, encontram-se as

normas referentes ao financiamento dos hospitais, colocando-se a

preferência pela remuneração dos hospitais prestadores por orçamentação

parcial e esclarecendo-se a composição do valor pré-fixado e do pós-fixado

nos seguintes termos:

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Curitiba-PR

“Art. 17: O valor pré-fixado será composto:

I - pela série histórica de produção aprovada da média

mensal dos 12 (doze) meses anteriores à celebração

do contrato da média complexidade; e

II - por todos os incentivos de fonte federal, estadual,

do Distrito Federal e municipal, com detalhamento de

tipo e valor, vinculados ao alcance das metas quali-

quantitativas.

(...)

Art. 18: A parte pós-fixada será composta pelo valor de

remuneração dos serviços de Alta Complexidade e do

FAEC, calculados a partir de uma estimativa das metas

físicas, remunerados de acordo com a produção

autorizada pelo gestor contratante.

De forma sistemática, a remuneração dos

hospitais é assim composta:

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

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O pagamento dos valores pré-fixados, como

bem expôs o Município de Curitiba, através da Secretaria Municipal de

Saúde (ofício nº 1008/2014-SMS), é realizado em duas parcelas: uma fixa e outra variável. A variável está condicionada ao cumprimento de metas

assistenciais a ser verificado através de procedimento de auditoria,

concluído, em regra, no prazo de noventa dias. A delonga de três meses

resulta, ainda segundo as informações da Secretaria Municipal de Saúde, da

necessidade de aprovação de relatório pela auditoria municipal com base

em dados oficiais do DATASUS – que são disponibilizados no prazo de trinta

a sessenta dias - e de realização de reuniões com os prestadores para

análise de desempenho.

O pagamento dos valores pós-fixados, por

sua vez, é efetuado conforme produção aprovada no Sistema de

Informações Ambulatoriais (SIA) e Sistema de Informações Hospitalares

(SIH), do Ministério da Saúde, sendo que o pagamento dos procedimentos

de alta complexidade ocorre após o repasse do Teto MAC e os

procedimentos do FAEC somente após o repasse dessa verba específica.

De forma sintética:

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

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Programação físico-financeira de repasses/pagamentos aos prestadores

Formas de pagamento

Origem da remuneração

Momento do pagamento

Pré-fixados:valores

predeterminados

contratualmente

Atendimento de

média complexidade

Parcela fixa (70%)11: pagamento imediato (cinco

dias após o repasse pelo

Fundo Nacional)

Parcela variável (30%)12: paga após procedimento de

auditoria (normalmente, 90

dias após a prestação do

serviço)

Incentivos financeiros

(federais e

municipais)

Pós-fixados:valores pagos

conforme o volume de

serviços prestados

(usualmente indicados

como “valores pagos

por produção”)

Procedimentos de alta

complexidade

remunerados pelo

Teto MAC

Pagamento imediato: cinco dias

após o repasse da rubrica

específica pelo Fundo Nacional

Procedimentos de alta

complexidade

remuenerados pelo

FAEC

Pagamento imediato: cinco dias

após o repasse da rubrica

específica pelo Fundo Nacional

Fonte: oficio nº 1008/2014-SMS (Secretaria Municipal de Saúde)

De qualquer sorte, o repasse dos valores aos

hospitais contratualizados será realizado de “maneira regular, conforme

estabelecido nos atos normativos específicos e no instrumento de

contratualização, e condicionado ao cumprimento das metas qualitativas e

quantitativas estabelecidas no Documento Descritivo” (art. 28, caput, da

multicitada Portaria).

11 Conforme dados informalmente obtidos acerca das novas contratualizações firmadas a partir de outubro/14, esse percentual haveria sido alterado para 60%. No entanto, a lógica seguiria sendo a mesma. Paga-se tão logo haja o repasse de valores pelo Fundo Nacional de Saúde. 12 Conforme dados informalmente obtidos acerca das novas contratualizações firmadas a partir de outubro/14, esse percentual haveria sido alterado para 40%.

14

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Nos instrumentos de contratualização em

anexo, consta cláusula atribuindo expressamente como obrigação ao

Município de Curitiba transferir ao hospital os recursos previstos no

convênio/contrato, recursos estes originados do “Fundo Nacional de Saúde,

que por sua vez repassará os valores ao Fundo Municipal de Saúde de

Curitiba, de forma regular e mensal, para fins de efetivo pagamento pela

SMS ao Hospital, e dos recursos próprios do Município, na forma a seguir

explicitada”.

“A forma a seguir explicitada”, como é de se

supor, altera-se em cada um dos instrumentos firmados em termos de

valores e em alguns itens, conforme o serviço prestado pelo hospital

contratualizado. Por exemplo, o Hospital Evangélico recebe determinado

valor por manter o Pronto-socorro aberto e por ampliar serviços

especializados, cláusula inexistente nos convênios com os hospitais Santa

Casa e Erasto Gaertner (sem prontos-socorros).

Entretanto, em todos eles permanece

idêntica a disposição de que o Município de Curitiba repassará

mensalmente valores originários do Fundo Nacional de Saúde, transferidos

ao Fundo Municipal de Saúde, aos hospitais para custear os procedimentos

ambulatoriais e hospitalares de média e alta complexidade, os incentivos à

contratualização e a realização de ações e serviços tidos como estratégicos

pelo Ministério da Saúde (FAEC).

Em breves palavras: o Município de Curitiba

comprometeu-se, contratualmente, a realizar pagamentos aos hospitais

contratualizados a partir do momento em que ocorra o repasse automático

de verbas pelo Fundo Nacional de Saúde. Com esse compromisso, grande

parte dos valores recebidos pelos hospitais é custeada com verba do Fundo

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Municipal de Saúde, a partir de valores a este repassados pelo Fundo

Nacional de Saúde.

Essa situação não se alterou com as novas

contratualizações realizadas no mês de outubro.

No que tange à data em que o pagamento

deve ocorrer, deve-se aplicar a regra do art. 37, II da Portaria GM/MS nº

204/2007, que prevê claramente que:

“transferências fundo a fundo do Ministério da Saúde

para os Estados, Distrito Federal e Municípios do Bloco

da Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial

e Hospitalar, relativas aos valores a serem pagos aos

estabelecimentos de saúde que prestam assistência de

forma complementar ao SUS, serão suspensas,

quando do não pagamento, até o quinto dia útil, após o

Ministério da Saúde creditar na conta bancária do

Fundo Estadual/Distrito Federal/Municipal de Saúde,

excetuando-se as situações excepcionais devidamente

justificadas.",

E a do art. 1º da Portaria GM/MS nº

2.617/2013 que estabelece:

“prazo de até o 5º dia útil, após o Ministério da Saúde

creditar na conta bancária do Fundo Estadual/ Distrito

Federal/Municipal de Saúde, para que os gestores

efetuem o pagamento dos incentivos financeiros aos

estabelecimentos de saúde que prestam assistência de

forma complementar ao SUS”, também prevista a

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possibilidade de suspensão da transferência do valor

correspondente aos incentivos no Teto financeiro de

Média e Alta Complexidade em caso de interrupção ou

descumprimento, por parte do gestor local do SUS, do

prazo estabelecido (art. 2º).

A obrigatoriedade de se efetuar o repasse no

prazo máximo de até o quinto dia útil após transferência pelo Fundo

Nacional de Saúde (FNS) ao Fundo Municipal de Saúde (FMS) vem

reforçada através do art. 31, §2º, da Portaria nº 3.410/2013, que reprisa a

possibilidade de aplicação das sanções acima mencionadas (“o não repasse

dos valores dos incentivos federais ao prestador incorrerá na suspensão

prevista no inciso II do art. 37 da Portaria GM/MS nº 204, de 29 de janeiro de

2007, ou no art. 2º da Portaria GM/MS 2.617, de 1º de novembro de 2013”).

Portanto, uma vez que o Município de

Curitiba optou por firmar convênios e contratos com hospitais para prestar

assistência à saúde aos usuários na atenção de média e alta complexidade,

sujeitou-se ele às regras que disciplinam essa “contratualização”. E, portanto, a efetuar o pagamento do serviço no prazo de até cinco dias úteis após o repasse do Fundo Nacional de Saúde.

Como explicitado, o pagamento dos

incentivos financeiros e da verba do Bloco da Atenção de Média e Alta

Complexidade Ambulatorial e Hospitalar (MAC) aos hospitais prestadores

deve se dar até o quinto dia útil após a transferência automática dos

recursos do Fundo Nacional de Saúde ao Fundo Municipal de Saúde.

Essa norma regulamentar não contém

nenhuma exceção, aplicando-se, portanto, tanto aos valores pré-fixados quanto aos valores pós-fixados.

17

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Tanto assim que em alguns dos convênios

firmados13 existe cláusula impondo ao Município de Curitiba a obrigação de

efetuar o repasse aos prestadores dos recursos referentes à parcela variável

do componente pré-fixado (ou seja, aquela sujeita à comprovação de metas

e à realização de auditoria) em seu valor integral para, nos meses

subsequentes, haver eventual compensação de valores.

A cláusula vem assim redigida: “Tendo em

vista que a avaliação do cumprimento das metas a que se refere o parágrafo

oitavo desta cláusula não é feita no mês imediatamente subsequente ao

processamento das faturas SAI-SUS e SIH-SUS, devido ao próprio fluxo

estabelecido pelo Ministério da Saúde, o Município pagará, mensalmente, o

valor correspondente à meta de 100%, devendo haver nos meses seguintes,

não ultrapassados três meses, a compensação de valores, se apurado o

cumprimento de metas inferior a 100% referente ao valor já pago”.

Cientes da morosidade em se realizar um

procedimento de auditoria em relação às ações e serviços prestados pelos

hospitais (para se apurar o cumprimento ou não das metas ajustadas),

convencionou-se que o valor a eles pertinente seria antecipado em sua

totalidade para, uma vez concluída a auditoria e constatado o

descumprimento de alguma das metas, efetuar-se o desconto no pagamento

das parcelas subsequentes.

Nada obstante a previsão formal em alguns

convênios de pagamento antecipado da integralidade da parcela variável do

valor pré-fixado para posterior e eventual desconto para o caso de

descumprimento das metas quali-quantitativas, todos os hospitais

prestadores, por mera liberalidade, aceitam que o pagamento dessa parcela

13 Convênios firmados com o Hospital Cajuru, Santa Casa e Hospital do Trabalhador.

18

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

seja realizado após a efetiva auditoria e avaliação das metas, o que ocorre,

em regra, no prazo de noventa dias.14

Mesmo com essa flexibilização, o

Município de Curitiba de modo reiterado atrasa o pagamento, especialmente

(mas não apenas) da parcela variável do valor pré-fixado, para além dos

noventa dias tidos como necessários para conclusão do procedimento de

auditoria, agravando sobremaneira a notória dificuldade financeira

enfrentada pelos hospitais prestadores de serviço público de saúde – em

especial aqueles filantrópicos.

Segundo informações coligidas nos autos de

Procedimento Preparatório nº 0046.14.10399-8, a Maternidade Mater Dei 15

afirma haver pendência total de R$ 4.278.031,73 (quatro milhões, duzentos

e setenta e oito reais e trinta e um reais), com valores, inclusive, referentes a

parcelas do ano de 2013 (R$ 2.150.884,17); o Hospital Evangélico 16 afirma

haver pendência no montante total de R$ 7.714.011,49 (sete milhões,

setecentos e catorze mil e onze reais); o Hospital da Cruz Vermelha 17 aponta

a ausência de pagamento da parcela variável de setembro/2013 e

agosto/2014 e afirma que o pagamento das parcelas variáveis de setembro

e outubro/2014 está previsto apenas para janeiro de 2015; o Hospital de

Clínicas 18 diz haver atraso no pagamento do FAEC da competência de junho

de 2014; o Hospital do Trabalhador 19 , apesar de não informar valores, diz

estar “questionando a SMS sobre os atrasos que conflitam com o que

estabelece o Contrato nº 282 em sua clausula sétima – Do pagamento, III,

parágrafo terceiro, VIII”, justamente a disposição que prevê o pagamento

integral da verba para posterior compensação de valor.

14 Há notícias de que apenas o Hospital do Trabalhador questiona essa prática.15 Informação datada de 22 de outubro de 2014.16 Informação datada de 23 de outubro de 2014.17 Informação datada de 10 de novembro de 2014.18 Informação datada de 24 de outubro de 2014.19 Informação datada de 21 de outubro de 2014.

19

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Em relação aos Hospitais Cajuru, Santa

Casa de Misericórdia de Curitiba, Erasto Gaertner e Pequeno Príncipe,

reproduz-se tabela apresentada por e-mail por tais prestadores, contendo

informações atualizadas e detalhadas acerca do mês em que houve a

prestação de serviço, do mês do respectivo repasse do Fundo Nacional de

Saúde ao Fundo Municipal de Saúde e se houve ou não o correspondente

pagamento:

Hospital Cajuru20:

Tipo Mês de prestação de serviço

vencimento Valor (R$) Mês do repasse FNS/FMS

PV – MC + I Ago Nov 1.495.561,61 ago

PV – MC + I Set Dez 1.495.561,61 Set

PV – MC + I Out Jan/15 1.495.561,61 Out

Prod. AIH/BPAAC

Out Nov 1.044.299,37 Out

Prod. AIH/BPAAC

Nov Dez 1.074.070,49 Nov

Parcela novo contrato

Nov Dez 5.411.272,13 Nov

Total 12.016.326,82

Hospital Santa Casa:

Tipo Mês de prestação de serviço

vencimento Valor (R$) Mês do repasse FNS/FMS

PV – MC + I Ago Nov 609.322,66 ago

PV – MC + I Set Dez 609.322,66 Set

PV – MC + I Out Jan/15 609.322,66 Out

20 Legenda: PV- parcela variável (30%); MC – média complexidade; I- Incentivos; AC- Alta complexidade

20

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Prod. AIH/BPAAC

Out Nov 2.306.300,15 Out

Prod. AIH/BPAAC

Nov Dez 1.884.209,35 Nov

Parcela novo contrato

Nov Dez 2.240.332,39 Nov

Total 8.258.809,87

Hospital Erasto Gaertner:

Tipo Mês de prestação de serviço

vencimento Valor (R$) Mês do repasse FNS/FMS

PV – MC + I Ago Nov Recebido ago

PV – MC + I Set Dez Recebido Set

PV – MC + I Out Jan/15 379.419,25 Out

Prod. AIH/BPAAC

Out Nov 2.552.914,43 Out

Prod. AIH/BPAAC

Nov Dez 2.600.000,00 Nov

Parcela novo contrato

Nov Dez 1.330.825,51 Nov

Total 6.863.159,19

Hospital Pequeno Príncipe:

Tipo Mês de prestação de serviço

vencimento Valor (R$) Mês do repasse FNS/FMS

Projeto Olhar Brasil

Fev-set Fev-set 9.432,36

PV – MC + I out nov 855.942,35 Nov

Prod. AIH/BPAAC

Nov Dez 1.884.209,35 Nov

Parcela novo contrato

Nov Dez 2.899.678,67 Nov

Pendencias anteriores

Nov-out/2013 2.012.529,60

Total 6.919.801,57

21

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Curitiba-PR

Percebe-se, portanto, que todos os hospitais

contratualizados com o Município de Curitiba possuem créditos para

receber, pelos serviços já prestados aos usuários do SUS, em valores

milionários.

Apenas dos débitos até agora vencidos e

acima descritos, os valores devidos remontam a de R$ 34.058.097,45 (trinta

e quatro milhões, cinquenta e oito mil e noventa e sete reais e quarenta e

cinco centavos).

E como a sistemática é de contínuo atraso,

neste mês de janeiro já haverá novo inadimplemento, com promessa de

pagamento em momento posterior (e não sabido).

Em uma rápida consulta ao site do Fundo

Nacional da Saúde na internet, observa-se claramente as datas em que o

Município de Curitiba recebeu, nas transferências automáticas da União,

durante todos os meses dos anos de 2013 e 2014, os valores dos blocos da

média e alta complexidade (MAC), os incentivos à contratualização (IAC) e a

realização de ações e serviços tidos como estratégicos pelo Ministério da

Saúde (FAEC). Todos esses valores deveriam custear as contratualizações

mantidas com os hospitais prestadores desta cidade. Mas, por razões

ignoradas, o Município deixou de lhes efetuar o pagamento.

Por fim, diversamente do que pretende

sustentar o Município, a suposta falta de transferência da 12ª parcela de

2013 em janeiro deste ano não se presta para justificar as oscilações de

pagamentos. É que, além de o montante repassado pela União ser em quantidade suficiente (há uma sobra de aproximadamente 23% do total

repassado, conforme reconhecido expressamente pela Secretaria Municipal

através do oficio nº 1008/2014-SMS), o fato ocorreu há mais de um ano e o

22

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Município de Curitiba já supriu essa falta com recursos próprios, de forma

que tal situação não pode ser eternamente utilizada como justificativa.

Aliás, quando o município reconhece, em tal

ofício, essa “sobra” do total repassado pela União, demonstra que a União

vem regulamente cumprindo seus deveres previstos na Lei n. 8080/90,

procedendo às transferências automáticas e “fundo a fundo” nos valores

necessários para custear os serviços de saúde vinculados ao SUS em

Curitiba. A municipalidade é que, após receber esses valores e incorporá-los

ao Fundo Municipal de Saúde, não faz a destinação nos prazos

regulamentares para pagamento aos prestadores por si

contratados/conveniados, prejudicando assim a população que precisa

desses serviços essenciais.

Esse proceder compromete a qualidade e

mesmo a continuidade da assistência à saúde prestada aos usuários da

rede pública de saúde.

Veja-se que os atrasos nos repasses de

recursos financeiros para custeio de ações e serviços de saúde realizados

por unidades integrantes do Sistema Único de Saúde são historicamente

reconhecidos como ilícitos pela jurisprudência:

“MANDADO DE SEGURANÇA. PRESTAÇÃO DE

SERVIÇOS ATRAVÉS DO SISTEMA ÚNICO DE

SAÚDE – SUS. REMUNERAÇÃO COM O REPASSE

DE VERBAS PROVENIENTES DO FUNDO

NACIONAL DE SAÚDE – FNS. Ilegítimo o ato de

autoridade pública que, na qualidade de gestora do

Fundo Municipal de Saúde, recebendo os recursos

provenientes do Ministério da Saúde através da

23

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Transferência Automática e Regular Fundo a Fundo,

NOB-SUS /96, deixa injustificadamente de repassá-los

às entidades responsáveis pela prestação de serviços

médico-hospitalares à comunidade local.” (Tribunal de

Justiça de

Santa Catarina. Terceira Câmara de Direito Público, AC

n.º 2003.013239-2/Criciúma. Rel. a Exma. Sra. Des.

SÔNIA MARIA SCHMITZ. Julgado em 17.11.2003.

Votação unânime).Http://www.tj.sc.gov.br)

5. DO CABIMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Como já apontado, a presente demanda

busca defender interesses e direitos difusos dos usuários dos serviços

públicos de saúde que necessitem dos serviços de média e alta

complexidade, ambulatorial e de internação, no Hospital Evangélico de

Curitiba), no Hospital Cajuru, na Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, no

Hospital Erasto Gaertner, no Hospital Pequeno Príncipe, no Hospital do

Trabalhador, no Hospital Cruz Vermelha, no Hospital Nossa Senhora das

Graças (Maternidade Mater Dei), no Hospital de Clínicas e na Maternidade

Victor Ferreira do Amaral, situados em Curitiba.

Como difusos classificam-se o interesse e o

direito da comunidade usuária referentes à oferta satisfatória e ininterrupta

de atendimento hospitalar contratado pelo Município. Já a indivisibilidade,

base para a caracterização do interesse ou direito difuso, está presente na

hipótese dos autos porque diz respeito a todos aqueles que, ligados por

circunstâncias exclusivamente fáticas, estão expostos a danos gravíssimos,

ante a precariedade da assistência e à procrastinação na execução do

24

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

serviço essencial de atendimento a males que atentam contra sua higidez

física e a própria vida de pessoas indeterminadas.

Como preleciona Ada Pellegrini Grinover, "o

objeto dos interesses difusos (no sentido amplo, que também engloba os

coletivos) é sempre um bem coletivo insuscetível de divisão, sendo que a

satisfação de um interessado implica, necessariamente, a satisfação de

todos, ao mesmo tempo em que essa lesão de um indica a lesão de toda a

coletividade”.

A ação civil pública, em vista dos fatos

narrados, acabou se transformando no único instrumento possível para

garantir os valores ora em periclitação.

De fato, o poder público municipal,

anteriormente, ignorou os termos da Recomendação Administrativa n°

10/2014, tendente ao “imediato cumprimento do disposto nos artigos 1º e 3º

da Portaria GM/MS nº 2.617/2013, de modo a efetuar o pagamento das

transferências fundo a fundo do Bloco de Financiamento da Atenção de

Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar e dos incentivos

financeiros aos estabelecimentos de saúde que prestam assistência de

forma complementar ao Sistema Único de Saúde, sempre até o quinto dia

útil após o Ministério da Saúde creditá-los na conta bancária do Fundo

Municipal de Saúde”.

Por outro lado, não prosperaram as tratativas

para a assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta.

Reconhecidas as precípuas atribuições

institucionais do Município de Curitiba na administração dos recursos destinados ao custeio do atendimento hospitalar (decorrente de sua

25

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

atribuição primordial de execução das ações de saúde), é curial a utilização

desta via processual própria da ação civil pública, para que dê cumprimento

às disposições regulamentares em questão, necessárias para não causar interrupção ou deficiências no atendimento à saúde (qualitativa ou quantitativa) das pessoas que precisem dos serviços SUS naqueles hospitais, visando assim a manter íntegro o direito fundamental do cidadão

previsto no art. 196, da Constituição Federal.

6. DA LEGITIMIDADE PROCESSUAL ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A Constituição Federal ampliou o campo de

atuação do Ministério Público, atribuindo-lhe, no art. 127, a incumbência da

defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e

individuais indisponíveis. Em seu art. 129, elencou suas funções

institucionais, entre as quais destaca-se:

“Art. 129 - São funções institucionais do Ministério

Público:

I – (...)

II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as

medidas necessárias a sua garantia;

(...)

III – promover o inquérito civil público e a ação civil

pública, para a proteção do patrimônio público e social,

do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos;

(...)”

26

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

No mesmo sentido, o art. 57, V, da Lei

Complementar Estadual n.º 85/99 (Lei Orgânica do Ministério Público do

Paraná).

A saúde é o único bem dito de relevância pública expresso na Constituição (v. art. 197 da CF).

Ao apresentarem conceito sobre relevância

pública na Constituição Federal, os Promotores de Justiça, então-integrantes

do Ministério Público do Estado de São Paulo, Antonio Augusto Mello de

Camargo Ferraz e Antonio Herman de Vasconcelos Benjamin, destacaram

que:

“[...] pensamos que seja possível desde logo

estabelecer que a expressão “relevância pública” nos

arts. 129, II e 197 da Constituição Federal está a

significar: a qualidade de “função pública”, como

verdadeiro dever-poder, que regra a garantia da saúde

pelo Estado; a natureza jurídica de direito público

subjetivo da saúde, criando uma espécie de interesses

na realização – públicos, difusos, coletivos e individuais

homogêneos; que o limite da indisponibilidade, tanto

pelo prisma do Estado como do próprio indivíduo, do

direito à saúde; a ideia de que, em sede do art. 197, o

interesse primário do Estado corresponde à garantia

plena do direito à saúde e as suas ações e serviços,

sempre secundários, só serão legítimas quando

imbuídas de tal espírito; o traço de essencialidade que

marca as ações e serviços de saúde. (O conceito de

relevância pública na Constituição Federal”. Série

Direito e Saúde,OPAS/OMS. N. 1. Brasília: OPAS,

1992. P. 29-39).

27

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Portanto, consideradas as ações e serviços

de saúde como interesses individuais indisponíveis e de relevância pública,

ante sua patente fundamentalidade, o Ministério Público está autorizado a

atuar em busca de sua defesa.

Afinal, nos termos do art. 197, da CF, “são de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado”.

7. DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

No intuito de evitar a continuidade de danos

aos usuários do Sistema Único de Saúde de Curitiba, requer-se, ante o

permissivo contido no artigo 273 do Código de Processo Civil, a antecipação

dos efeitos da tutela pretendida para que se determine ao Município de

Curitiba:

a.1. passe a efetuar o pagamento da parcela fixa do valor pré-fixado a todos os hospitais conveniados ou

contratados até o quinto dia útil após a transferência

das verbas do Fundo Nacional de Saúde para o Fundo

Municipal de Saúde;

a.2. passe a efetuar o pagamento da parcela variável do valor pré-fixado no prazo máximo de noventa dias;

28

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

a.3. passe a efetuar o pagamento da parcela do valor pós-fixado a todos os hospitais conveniados ou

contratados até o quinto dia útil após a transferência

das verbas “teto MAC” e “FAEC” do Fundo Nacional de

Saúde para o Fundo Municipal de Saúde;

a.4. seja determinado ao réu que, no prazo de dez dias,

informe, além dos valores já apontados nesta inicial

(atualmente perfazendo o montante de R$

34.058.097,45 – trinta e quatro milhões, cinquenta e

oito mil e noventa e sete reais e quarenta e cinco

centavos), quais outras parcelas estão em atraso em

relação a cada um dos prestadores, indicando valor e

competência de referência, com proposta e prazo para

integral quitação (tanto do valor aqui já apontado,

quanto dos demais valores já vencidos).

Para a hipótese de descumprimento da

decisão e garantir-se a efetivação da tutela específica, requer-se seja

determinado o bloqueio das verbas abrigadas na conta exclusiva do Fundo Municipal de Saúde (FMS), oriundas da transferência do Fundo Nacional de Saúde sob as rubricas Teto MAC e FAEC, para pagamento

do valor integral de cada contratualização firmada com os prestadores, com

a oportuna e eventual compensação por não atingimento de metas nos

meses subsequentes, tudo nos termos do art. 273, §3º c.c. art. 461, §5º do

CPC.

A tutela antecipada constitui-se em

ferramenta de extrema necessidade neste pleito e os requisitos legais para

sua concessão fazem-se presentes. Senão vejamos.

29

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

A existência – mais do que provável na

espécie – do direito alegado vem demonstrada através do contido nas

Portarias GM/MS nº 204/2007 e 2.617/2013 (decorrentes do cumprimento da

atribuição normativa da direção nacional do SUS determinada pelos artigos

16, XIV, e 26 e parágrafo 1º, da Lei n. 8080/90), as quais encerram, com

clareza, a regra atinente ao prazo para pagamento dos hospitais

contratualizados: cinco dias úteis após a transferência dos valores do Fundo

Nacional de Saúde (FNS) para o Fundo Municipal de Saúde (FMS).

Quanto aos requisitos fáticos –

verossimilhança e prova inequívoca – as informações prestadas nos autos

de Procedimento Preparatório nº 0046.14.010399-8 pelos hospitais com

vínculo com a rede pública de saúde, indicando os valores de que são

credores, e, especialmente, o reconhecimento pela Secretaria Municipal de Saúde de que há atrasos no pagamento dos hospitais evidenciam

satisfatoriamente a ilegalidade da conduta do requerido e a violação a direito

fundamental à saúde por dificultar e, no limite, inviabilizar a prestação de

assistência à população curitibana e paranaense.

Verifica-se a reunião de um conjunto de

dados aptos a informar, sem sobressaltos, um convencimento capaz de

permitir a concessão de parcela do provimento pretendido de forma

antecipada.

O periculum in mora, a seu turno, é evidente,

na medida em que, sem os pagamentos, prejudica-se o bom andamento dos

serviços de assistência saúde prestados pelos hospitais, notadamente

quando se memora que dependem eles – alguns até integralmente – dos

recursos públicos para manterem suas atividades, caracterizando o fundado

receio da ocorrência de dano à sociedade de difícil, senão impossível,

reparação.

30

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Tome-se, por exemplo, o Hospital

Universitário Cajuru (referência para traumas, em especial acidentes de

trânsito e disparos de armas de fogo), que atende apenas os usuários do SUS, tanto em seu pronto-socorro quanto em todos os seus ambulatórios,

leitos (177, dos quais 29 são de UTI) e centros cirúrgicos (dados constantes

do site do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Ministério

da Saúde – CNES-MS). Não detém outra clientela como fonte de receita. Os mais de 12 milhões de reais que precisa receber do Município de Curitiba diz respeito a serviços já prestados, a milhares internações já

executadas e cirurgias realizadas de média e alta complexidade, tudo

através de equipes técnicas que precisam ter seus salários recebidos e

encargos sociais recolhidos. Seus fornecedores de medicamentos, órteses,

próteses, e de todo o arsenal de aparelhos de densidade tecnológica,

insumos e produtos decisivos para manter tamanha estrutura também

precisam receber seus pagamentos.

Melhor sorte não detém aqueles que

precisam dos serviços da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Os mais

de 8 milhões de reais que até agora contabiliza como verdadeiro prejuízo

(por atendimentos já realizados a usuários do SUS) afeta a qualidade da

assistência de todos aqueles que lá aportam diariamente. São pessoas que,

quando precisam ser internadas em um de seus 191 leitos (38 de UTI)

(dados constantes do site do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de

Saúde do Ministério da Saúde – CNES-MS) ou quando necessitam dos

serviços de hemodiálise ou tratamento oncológico, podem ter a qualidade

de assistência comprometida, ou o procedimento procrastinado, colocando

em risco o tratamento – quando não a própria vida.

De forma semelhante as crianças e adolescentes (não só de Curitiba, mas do Paraná e de outros Estados da

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

federação) que precisam dos serviços SUS do Hospital Pequeno Príncipe também penam. O maior complexo pediátrico de média e alta complexidade

no país (referência no SUS para vários tipos de transplantes e tratamentos

oncológicos para outros Estados), com 315 leitos (dos quais 52 de UTI)

(dados constantes do site do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de

Saúde do Ministério da Saúde – CNES-MS) enfrenta tamanha crise

financeira pelos milhões a receber da Secretaria Municipal de Saúde – por

serviços já prestados a usuários do SUS. Mas, a cada momento, novos pequenos pacientes aportam, portadores de síndromes, doenças graves,

cânceres e anomalias, por vezes com péssimo prognóstico de vida, mas

com chances em terapias e cirurgias altamente complexas e caras, para cuja

execução o prestador precisa remunerar equipes multiprofissionais e aparato

tecnológico imenso e em condições de funcionamento imediato.

Em situação não muito diversa se encontra o

Hospital Erasto Gaertner, com 136 leitos (dados constantes do site do

Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde do Ministério da Saúde –

CNES-MS), realizando milhares de sessões de quimioterapia, radioterapia e

cirurgias oncológicas a usuários do SUS residentes não só no Paraná como

também em outros Estados da federação para os quais o prestador é

referência. É público e notório que os custos dos medicamentos e insumos

para tratamento de câncer são altos e sempre urgentes. O paciente não pode aguardar meses para ter extraído seu tumor, não pode esperar para iniciar quimio e/ou radioterapia até que o município venha a pagar pelos serviços prestados.

Não há dúvidas de que, diante de tamanho

débito a amargar e a tantos pacientes a receber a todo o momento, esses

prestadores acabam por se socorrer de recursos financeiros externos a

custos altos. Todas essas entidades são compelidas a empréstimos

bancários, com juros de monta, a comprometer, em médio prazo, a própria

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

viabilidade financeira da instituição. Algumas delas, como o Hospital

Universitário Evangélico de Curitiba, estão à beira da insolvência civil.

Esses referidos hospitais, por serem

integrantes do SUS e executores de serviços públicos de saúde, acabam por

ser, na prática, a “espinha dorsal” da média e da alta complexidade

ambulatorial e hospitalar em Curitiba, na medida em que a rede própria da Secretaria Municipal de Saúde não detém condições técnicas, estruturais, equipamentos e nem recursos humanos para atender, por si, a população SUS dependente.

A doutrina é desassombrada nesse

particular:

“Dada a peculiaridade de organização do SUS, as entidades privadas participantes, complementarmente, do sistema, são o próprio sistema prestando assistência pública à saúde da população” (Guido Ivan de Carvalho e Lenir Santos, in

“Comentários ao Sistema Único de Saúde”, 4ª edição

revista e atualizada, Campinas, UNICAMP, 2006, p.

164).

Ora, a reiterada inobservância pelo requerido

município de Curitiba, dos atos normativos contidos nas Portarias GM/MS nº

204/2007 e 2.617/2013, no tocante à data e regularidade do repasse dos

valores devidos aos hospitais contratualizados, inevitavelmente resulta no

agravamento da situação financeira dos prestadores de serviço público de

saúde em Curitiba e precariza sobremaneira a qualidade, celeridade e

resolutividade da assistência à saúde dos usuários da rede pública.

33

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

Afinal, a verba do Sistema Único de Saúde,

que já não é vultosa – quando muito apenas suficiente – certamente se

apresenta como imprescindível para a manutenção do equilíbrio econômico-

financeiro dos hospitais, de forma tal que sua ausência abala gravemente as

possibilidades dos hospitais de bem executar o serviço de saúde para o qual

contratado ou conveniado.

Aliás, calha salientar que a própria Portaria

GM/MS nº 2.617/2013 traz em seus “considerandos”, com muita

propriedade, que o

“pagamento dos serviços regularmente prestados ao Sistema Único de Saúde pelos estabelecimentos de saúde que prestam serviço de forma complementar ao SUS constitui um dos fatores de credibilidade e estabilidade de funcionamento do SUS”.

Isso significa que a direção nacional do SUS,

quando expediu esses atos regulamentadores no exercício de seu dever

legamente estatuído, ao estabelecer os valores, datas, formas, prazos e

demais condições, justamente reconhece o relevante papel que os hospitais

privados possuem na rede de assistência e que, por óbvio, sem esses

recursos, o próprio SUS fica prejudicado.

Pondere-se, por fim, que a antecipação da

tutela, na forma pleiteada, não ensejará prejuízo algum ao Município de Curitiba, pois apenas será compelido a dar fiel cumprimento aos ditames

das Portarias Ministeriais (e às contratualizações por ele mesmo firmadas),

respeitando-se, inclusive, o prazo de noventa dias - tido como necessário e suficiente, pelo próprio requerido, para realização do

34

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁPromotoria de Justiça de Proteção à Saúde Pública de

Curitiba-PR

devida apuração de cumprimento de metas quali-quantitativas através de

procedimento de auditoria.

O Superior Tribunal de Justiça, em casos

de interesse público de maior relevância, quando se espelha a plausibilidade

da antecipação do provimento jurisdicional em vista da urgência e relevância

da causa, v.g., em caso de necessidade urgente em matéria de saúde

pública, tem proclamado cabível a concessão de tutela antecipada em face

da Administração:

“PROCESSUAL CIVIL. TUTELA ANTECIPADA

CONTRA A FAZENDA PÚBLICA. INAPLICABILIDADE

DO ART. 1º, DA LEI N.º 9.494/97.

1. A tutela antecipada pressupõe direito evidente

(líquido e certo) ou direito em estado de periclitação. É

líquido e certo o direito quando em consonância com a

jurisprudência predominante do STJ, o guardião da

legislação infraconstitucional.

2. O STJ firmou entendimento no sentido de que, para

efeito de reembolso dos hospitais que prestam serviços ao SUS, o fator de conversão para o REAL é

o equivalente a CR$ 2.750,00 (dois mil, setecentos e

cinqüenta cruzeiros reais) e não o valor criado pelo

Ministério da Saúde, autoridade incompetente frente à

atribuição exclusiva do Banco Central do Brasil.

3. Mercê do direito evidente, os hospitais que atendem parcela ponderável da população, fazendo às vezes do SUS, necessitam do reembolso iminente das verbas pelos seus valores reais para implementarem, em nome do Estado, o dever de

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prestar saúde a todos. A saúde, como de sabença, é

direito de todos e dever do Estado.

4. A tutela antecipada contra o Estado é admissível

quando em jogo direitos fundamentais como o de

prestar saúde a toda a coletividade. Proteção imediata

do direito instrumental à consecução do direito-fim e

dever do Estado.

5. Tutela antecipatória deferida em favor de Hospitais, que lidam com a prestação de serviços à comunidade carente, visa a preservação do direito personalíssimo à saúde. Inaplicação do art. 1º, da Lei n.º 9.494/97.6. A tutela antecipada é concebível tanto nos casos de

periclitação do direito quanto nas hipóteses de direito

evidente. É líquido e certo o direito dos hospitais ao

percebimento dos valores de repasse dos montantes

da conversão em URVs, fixada pelo Banco Central.

Destarte, o pagamento a menor configura situação de periculum porquanto abala a capacidade de os hospitais implementarem as atividades necessárias à efetivação do direito constitucional à saúde. Direito evidente e em estado de periclitação.

Manutenção da tutela antecipada.

7. É assente na doutrina que o provimento

antecipatório é de efetivação imediata, auto-executável

e mandamental, características inconciliáveis com a

suspensividade da decisão. Não resistiria à lógica do

razoável sustar provimento urgente, como sói ser a

liminar antecipatória. Aliás, não foi por outra razão que

a novel reforma do CPC esclareceu que o provimento

antecipado submete-se à execução provisória, porém,

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completa”. (Recurso especial conhecido e desprovido).

(RESP 441466-RS, Recurso Especial 2002/0074681-1,

STJ, 1ª Turma, decisão em 22/4/2003, DJ 9/6/2003, p.

179, Rel. Min. Luiz Fux).

A propósito, confira-se posicionamento

doutrinário sobre a referida possibilidade de concessão de tutela antecipada:

“como bem acentua Hugo de Brito Machado, com apoio

no pensamento de Calmon de Passos, a tutela

antecipada foi instituída exatamente para viabilizar a

execução provisória em hipótese nas quais isto não

seria possível. Quer porque ainda inexista sentença,

quer porque esta, já prolatada, está com seus efeitos

suspensos pela interposição de recursos. Ora, se o escopo da antecipação é acautelar o direito do autor, sob ameaça de perecimento, e punir o réu, cuja conduta no processo é reprovável, que razão existe para se supor que contra a Fazenda Pública não se possa prover acautelamento ou sancionar o seu comportamento réprobo. Absurda se nos afigura qualquer interpretação que, à luz dos dizeres do art. 273, incisos e parágrafos, discrimine o Estado para torná-lo isento à precipitação de efeitos. Assim, quer se enxergue o problema pelo prisma constitucional ou processual específico, uma e somente uma é a conclusão possível: também contra a Fazenda Pública cabe a antecipação de tutela.” (MACHADO, Antonio Claudio

da Costa. Tutela Antecipada. 2. ed., São Paulo,

Oliveira Mendes, 1998. p. 619, g.n.)

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Os atualizadores da obra de Hely Lopes

Meirelles igualmente destacam:

“Se é certo que a liminar não deve ser prodigalizada

pelo Judiciário, para não entravar a atividade normal da

Administração, também não deve ser negada quando

se verifiquem seus pressupostos legais, para não se

tornar inútil o pronunciamento final a favor do

impetrante. Casos há - e são freqüentes – em que o

tardio reconhecimento do direito do postulante enseja

seu total aniquilamento. Em tais hipóteses, a medida

liminar impõe-se como providência de política judiciária,

deixada à prudente discrição do juiz.”(Mandado de segurança. 26. ed., São Paulo, Malheiros, 2003. p.

79).

Por fim, em caso bastante semelhante ao

presente, em acórdão proferido em Agravo de Instrumento (TJMG, AI

n.0000.00.328830-5/000), o Relator bem esclareceu:

“Trata-se de agravo contra decisão que deferiu liminar

para determinar ao agravante que se abstenha de reter, fracionar ou atrasar parcelas vinculadas ao Sistema Único de Saúde, e devidas ao Hospital de

Cataguases, fixando multa diária de 10 salários-

mínimos em caso de descumprimento da decisão.

Argumenta, em resumo, o agravante, que a lei

impossibilita o deferimento de tutela sem a oitiva prévia

da Fazenda Pública e que carece o Ministério Público

de legitimidade para a propositura da ação. Alega,

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ainda, que retém verbas referentes ao pagamento da

dívida contraída pelo Hospital de Cataguases junto à

Caixa Econômica Federal, cujas parcelas têm sido

quitadas pelo Município, devido ao inadimplemento do

Hospital.

A legitimidade ativa do Ministério Público para a ação

civil pública constitui uma de suas funções

institucionais. A Lei Orgânica Nacional do Ministério

Público – Lei nº 8.625/93, que dispõe sobre normas

gerais para a organização do Ministério Público dos

Estados – estabelece, em seu art. 25, IV, que a ação

civil pública será ajuizada para a proteção, prevenção e

reparação dos danos causados, dentre outros, aos

consumidores. Por sua vez, as Leis nº 7.345/85 e nº

8.078/90, que dispõem, respectiva e especificamente,

sobre a ação civil pública e a proteção do consumidor,

prevêem o Ministério Público como um dos entes

legitimados, ativa e concorrentemente, para promover

ação civil pública que vise a proteção de consumidores.

Com efeito, reza o art. 129, III, da CR/88, incumbir à

instituição promover a ação civil pública para a

proteção dos interesses difusos e coletivos. Por sua

vez, o art. 127 da CR/88 dispõe que ao Ministério

Público incumbe a defesa dos interesses sociais e

individuais indisponíveis.

É exatamente a defesa coletiva que constitui um dos

propósitos da ação civil pública. Logo, deve-se ter em

mente se no presente caso encontra-se tal propósito.

A toda evidência, no caso, trata-se de defesa e

manutenção de serviços hospitalares indispensáveis à

preservação da saúde da coletividade. Tal premissa

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decorre da Constituição Federal, que dispõe no art.

196:

"Art. 196 – A saúde é direito de todos e dever do

Estado, garantido mediante políticas sociais e

econômicas que visem à redução do risco de doença e

de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às

ações e serviços para sua promoção, proteção e

recuperação".

Portanto, a ação do Ministério Público legitima-se

diante do fato de que o Município de Cataguases deixa

de repassar os recursos do SUS destinados ao

Hospital de Cataguases, comprometendo os serviços

de saúde da população.

Logo, está-se diante de interesse ou direito coletivo,

caracterizado como sendo transindividual (considerado

o grupo de indivíduos como um todo), decorrente de

uma relação jurídica básica (contrato de fornecimento

de energia elétrica) e indivisível (pois, não se busca a

reparação da repercussão da exigência na esfera

jurídica particular de cada um dos consumidores –

devolução das importâncias cobradas – hipótese em

que teríamos interesses individuais homogêneos).

Além do mais, "a defesa de interesses de meros

grupos determinados ou determináveis de pessoas só

se pode fazer pelo Ministério Público quando isso

convenha à coletividade como um todo (...)" (HUGO

NIGRO MAZZILLI. A defesa dos interesses difusos em

juízo, São Paulo: Ed. Saraiva, 2001, p. 95). E, sob o

aspecto processual, o que caracteriza esses interesses

transindividuais não é apenas o fato de serem

compartilhados por diversos titulares individuais,

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reunidos pela mesma relação jurídica ou fática, mas,

mais que isso, é a circunstância de que a ordem

jurídica reconhece a necessidade de que seu acesso

individual ao Poder Judiciário seja substituído por um

processo coletivo, apto a evitar decisões contraditórias,

com grande desprestígio para a administração da

Justiça, e ainda mais célere e eficiente, porque

exercido de uma só vez, em proveito de todo o grupo.

Daí porque somente a relevância social do bem jurídico

tutelado ou da própria tutela coletiva justifica a

legitimação do Ministério Público para a propositura de

ação coletiva em defesa de interesses.

Esse parece ter sido o entendimento manifestado pelo

STJ no julgamento do RESP 58682, 3ª Turma, Rel.

Min. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, julg.

08/10/96:

´Legitimidade ativa do Ministério Público. Danos

causados aos trabalhadores nas minas de Morro Velho.

Interesse social relevante. Direitos individuais

homogêneos.

O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar

ação civil pública em defesa de interesses individuais

homogêneos, desde que esteja configurado interesse

social relevante’.

De ser ressaltado que o não-cabimento de liminar

contra a entidade pública (art. 1º da Lei 9.494/97) tem

caráter relativo e não absoluto, podendo e devendo ser

ela concedida, especialmente quando se trate de

funcionamento de uma Instituição de Saúde e cujo

indeferimento puder causar dano irreparável ou de

difícil reparação ao interesse social.

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No caso específico dos autos, a verossimilhança, conjugada com a prova inequívoca, apresentam-se nos autos, diante da necessidade de funcionamento do Hospital, aliada ao perigo da demora, encontram-se na precariedade do funcionamento do serviço de saúde, devido ao estado caótico em que se encontra o sistema ambulatorial e o atraso verificado nos vencimentos mensais dos profissionais da entidade. Presentes, pois, os requisitos necessários, básicos e indispensáveis à concessão da tutela antecipada, no caso concreto, conforme disposto no art. 273 do CPC, revela-se adequada a decisão agravada que a concedeu e que merece, pois, ser mantida, até a decisão final de mérito.

Com tais razões, NEGA-SE PROVIMENTO AO

AGRAVO e mantém-se a decisão proferida pelo MM.

Juiz de Direito "a quo". (grifos nossos).

7. DO PEDIDO:

Pelo exposto, requer digne-se Vossa

Excelência, após autuada e registrada esta, seja a presente ação recebida

com prioridade na tramitação tendo em conta o interesse público na solução

do presente litígio, bem como:

a) em antecipação de tutela, seja

determinado ao Município de Curitiba que

a.1. passe a efetuar o pagamento da parcela fixa do valor pré-fixado a todos os hospitais conveniados ou

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contratados até o quinto dia útil após a transferência

das verbas do Fundo Nacional de Saúde para o Fundo

Municipal de Saúde;

a.2. passe a efetuar o pagamento da parcela variável do valor pré-fixado no prazo máximo de noventa dias;

a.3. passe a efetuar o pagamento da parcela do valor pós-fixado a todos os hospitais conveniados ou

contratados até o quinto dia útil após a transferência

das verbas “teto MAC” e “FAEC” do Fundo Nacional de

Saúde para o Fundo Municipal de Saúde;

a.4. seja determinado ao réu que, no prazo de dez dias,

informe, além dos valores já apontados nesta inicial

(atualmente perfazendo o montante de R$

34.058.097,45 – trinta e quatro milhões, cinquenta e

oito mil e noventa e sete reais e quarenta e cinco

centavos), quais outras parcelas estão em atraso em

relação a cada um dos prestadores, indicando valor e

competência de referência, com proposta e prazo para

integral quitação (tanto do valor aqui já apontado,

quanto dos demais valores já vencidos).

a.5) para a hipótese de descumprimento da decisão

e garantir-se a efetivação da tutela específica, requer-

se seja determinado o bloqueio das verbas abrigadas na conta exclusiva do Fundo Municipal de Saúde (FMS), oriundas da transferência do Fundo Nacional de Saúde sob as rubricas Teto MAC e FAEC, para pagamento do valor integral de cada

contratualização firmada com os prestadores, com a

oportuna e eventual compensação por não atingimento

de metas nos meses subsequentes, tudo nos termos

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do art. 273, §3º, combinado com o art. 461, §5º, ambos

do CPC.

b. determine-se a citação do requerido para

integrar o polo passivo da relação jurídico-processual, dando-lhe

oportunidade para, querendo, apresentar resposta ou reconhecer a

procedência do pedido, no prazo legal, sob pena de revelia, devendo constar

do mandado a advertência do artigo 285, segunda parte, do Código de

Processo Civil;

c. sejam julgados inteiramente procedentes

os pedidos, de sorte a condenar o Município de Curitiba a:

c.1. a efetuar o pagamento da parcela fixa do valor pré-fixado a todos os hospitais conveniados ou

contratados até o quinto dia útil após a transferência

das verbas do Fundo Nacional de Saúde para o Fundo

Municipal de Saúde;

c.2. efetuar o pagamento da parcela variável do valor pré-fixado no prazo máximo de noventa dias;

c.3. efetuar o pagamento da parcela do valor pós-fixado a todos os hospitais conveniados ou

contratados até o quinto dia útil após a transferência

das verbas “teto MAC” e “FAEC” do Fundo Nacional de

Saúde para o Fundo Municipal de Saúde;

c.4. efetuar o pagamento em atraso dos valores

indicados na inicial como devidos aos hospitais

contratualizados em decorrência de execução de

serviços de saúde prestados à rede pública, no valor

inicial de R$ 34.058.097,45 (trinta e quatro milhões,

cinquenta e oito mil e noventa e sete reais e quarenta e

cinco centavos) e de outros que porventura estejam

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inadimplentes ou que venham a ser inadimplidos no transcorrer do processo, com os devidos

encargos moratórios;

d. observado o disposto no art. 18 da Lei

7.347/85 e do art. 27 do Código de Processo Civil quanto aos atos

processuais requeridos pelo Ministério Público;

e. condenado o requerido ao pagamento das

custas processuais e demais verbas de sucumbência;

f. o Ministério Público intimado pessoalmente

para acompanhar todos os atos praticados no processo civil ora instaurado.

Protesta-se pela produção de todos os meios

de prova em Direito admitidos, notadamente, o depoimento pessoal, prova

testemunhal e documental.

Dá-se à causa o valor de R$ 34.058.097,45

(trinta e quatro milhões, cinquenta e oito mil e noventa e sete reais e

quarenta e cinco centavos).

Curitiba, 08 de janeiro de 2015.

Michelle Ribeiro Morrone FontanaPromotora de Justiça

Andreia Cristina BagatinPromotora de Justiça

Fernanda Nagl GarcezPromotora de Justiça

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