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IGREJA METODISTA DA BARRA DA TIJUCA ESCOLA DOMINICAL PROFESSOR: VICTOR CLÁUDIO PARADELA FERREIRA APOSTILA DE INTRODUÇÃO À BÍBLIA “Porque toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver. E isso para que o servo de Deus esteja completamente preparado e pronto para fazer todo tipo de boas ações.” (II Timóteo 3:16-17) Os versículos acima expressam de maneira clara a importância do estudo da Palavra de Deus. A apostila que agora iniciamos foi preparada com o objetivo de orientar e facilitar o estudo. É importante realçar que não substitui, de maneira nenhuma, a participação nas aulas da Escola Dominical ou nos estudos bíblicos ministrados. A Divisão da Bíblia A Bíblia contém 66 livros (A Igreja Católica Romana adota mais alguns, não reconhecidos por nós, evangélicos), divididos entre o Antigo Testamento (escritos antes do nascimento de Jesus) e o Novo Testamento (escritos após). O Antigo Testamento, escrito originalmente na língua hebraica, contém 39 livros, assim divididos: · Pentateuco - Gênesis a Deuteronômio (5 livros) · Livros históricos - Josué a Ester (12 livros) · Livros poéticos e sapienciais - Jó a Cantares (5 livros) · Profetas maiores - Isaías a Daniel (5 livros) · Profetas menores - Oséias a Malaquias (12 livros) Obs.: Os profetas denominados “maiores” (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel) são assim denominados em função do maior tamanho dos livros que escreveram e não por serem mais importantes do que os “profetas menores” (Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Obadias, Zacarias e Malaquias)

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IGREJA METODISTA DA BARRA DA TIJUCAESCOLA DOMINICALPROFESSOR: VICTOR CLÁUDIO PARADELA FERREIRAAPOSTILA DE INTRODUÇÃO À BÍBLIA

“Porque toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver. E isso para que o servo de Deus esteja completamente preparado e pronto para fazer todo tipo de boas ações.”

(II Timóteo 3:16-17)

Os versículos acima expressam de maneira clara a importância do estudo da Palavra de Deus. A apostila que agora iniciamos foi preparada com o objetivo de orientar e facilitar o estudo. É importante realçar que não substitui, de maneira nenhuma, a participação nas aulas da Escola Dominical ou nos estudos bíblicos ministrados.

A Divisão da Bíblia

A Bíblia contém 66 livros (A Igreja Católica Romana adota mais alguns, não reconhecidos por nós, evangélicos), divididos entre o Antigo Testamento (escritos antes do nascimento de Jesus) e o Novo Testamento (escritos após).

O Antigo Testamento, escrito originalmente na língua hebraica, contém 39 livros, assim divididos:

· Pentateuco - Gênesis a Deuteronômio (5 livros)· Livros históricos - Josué a Ester (12 livros)· Livros poéticos e sapienciais - Jó a Cantares (5 livros)· Profetas maiores - Isaías a Daniel (5 livros)· Profetas menores - Oséias a Malaquias (12 livros)

Obs.: Os profetas denominados “maiores” (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel) são assim denominados em função do maior tamanho dos livros que escreveram e não por serem mais importantes do que os “profetas menores” (Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Obadias, Zacarias e Malaquias)

O Novo testamento, escrito originalmente no Grego, possui 27 livros, assim divididos:

· Evangelhos - Mateus a João (4 livros)· Livro histórico - Atos· Cartas e epístolas de Paulo - Romanos a Filemon (13 livros)· Cartas e epístolas de outros autores - Hebreus a Judas (8 livros)· Livro profético - Apocalipse

Obs.: Não se sabe ao certo quem foi o autor do livro de Hebreus. Alguns estudiosos julgam que foi o apóstolo Paulo, mas não há consenso sobre isso.

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A Atualidade dos Ensinamentos da Bíblia

Os livros da Bíblia foram escritos durante cerca de 1600 anos. Alguns textos foram escritos há mais de 3.500 anos! Nem por isso ela perde sua atualidade, continuando a servir como a única e verdadeira referência de fé para o povo de Deus. Cremos que toda a Bíblia foi inspirada pelo Espírito do Senhor e que seus ensinamentos são verdadeiros e necessários aos cristãos.

É necessário, no entanto, que se tenha um bom conhecimento da Bíblia como um todo para que possamos compreender sua mensagem. Aqueles que conhecem-na só em parte, costumam se basear em versículos isolados, fora do contexto em que foram escritos, caindo em erros de interpretação que acabam por causar contendas e até mesmo divisões na Igreja.

Temos que buscar compreender o contexto histórico em que cada livro foi escrito e perceber que algumas práticas neles narrados eram costumes típicos da época, não tendo mais sentido nos dias atuais. Essa é a diferença entre doutrinas e costumes.

As doutrinas são os princípios de fé que devem reger a nossa vida, pois nos indicam qual é a vontade de Deus, que valores são justos e corretos diante Dele. Nelas está a verdadeira essência da Palavra de Deus. Nos cânones (livro oficial da Igreja Metodista, que contém nossas normas administrativas e orientações pastorais) encontramos as doutrinas básicas seguidas pelos metodistas.

Os costumes são práticas e normas de convívio social que mudam de acordo com o tempo e com as gerações. Na área de alimentação, por exemplo, os judeus adotavam uma série de restrições, instituídas por Deus através de Moisés, não comendo carne de porco e de uma série de outros animais. O próprio Deus revelou a Pedro em visão que esse costume não era mais necessário e que ele não deveria exigir dos que iam se convertendo que os observasse.

Outros exemplos de costumes que perderam seu sentido, não devendo ou podendo mais ser praticados ou exigidos hoje em dia são os seguintes:

· Pena de morte para quem ferir alguém (Êxodo 21:12)· Não colher as espigas das árvores dos cantos das plantações nem as caídas, deixando-as para os

pobres e os estrangeiros (Levítico 19:9)· Não cortar os cabelos arredondando os cantos da cabeça, nem aparar a ponta da barba (Levítico

19:27)· Costume de tomar como escravos os povos vizinhos (Levítico 25:44)

Os textos acima mostram que a Bíblia não pode ser interpretada “ao pé da letra”, como alguns na sua ignorância afirmam (a palavra ignorância não tem aqui nenhum sentido pejorativo, indicando apenas que tais pessoas verdadeiramente não conhecem bem a Bíblia toda). Nenhum cristão, por mais apegado à lei que seja, observa os costumes acima indicados Sempre que houver dúvidas sobre se um determinado assunto constitui uma doutrina ou um costume, devemos consultar o Pastor. Ele é a autoridade ungida por Deus para zelar pela nossa fé e deve ser sempre ouvido nos momentos em que for necessária uma palavra de esclarecimento diante de interpretações diferenciadas da Bíblia.

Essas explicações se fazem necessárias para o estudo do Antigo Testamento, principalmente. Porém, a principal recomendação que podemos fazer a quem vai estudar a Bíblia é que ore a Deus pedindo entendimento espiritual. Só assim se alcançará o verdadeiro conhecimento.

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O LIVRO DE GÊNESIS

A História da Criação

A palavra grega “gênesis” significa origem. Neste livro encontramos o relato da criação do mundo. Na realidade, encontramos dois relatos: o primeiro vai de 1:1 a 2:3 e o segundo está em 2:4-35). Leia em sua Bíblia os trechos indicados e você verá que os mesmos apresentam duas ordens distintas na criação:

1o relato: Os céus e a terra; luz e dia; firmamento; porção seca, mares e vegetação; sol, lua e estrelas; vida animal; seres humanos.

2o relato: Os céus e a terra; chuva; homem; vegetação, árvores; rios, animais; mulher.

Por que temos essas duas versões diferentes? Por que as mesmas foram escritas em épocas distintas, por pessoas diferentes. Quando vemos na Bíblia a expressão “O primeiro livro de Moisés” no início de Gênesis não significa que ele escreveu todo esse livro. O pentateuco foi escrito por diversos autores, tendo em Moisés o principal personagem mas não o único escritor.

Mas por que Deus permitiu que ocorresse essa diferença de relatos? Ela não traz confusão? Podemos dizer que não, pois a Bíblia não é um livro científico, não pretende narrar a criação a partir da seqüência cronológica científica.

O importante neste relato é que quem criou o mundo e tudo o que nele há, inclusive os seres humanos, foi Deus. E mais: sua criação foi perfeita, sendo constituído um mundo harmônico e tendo o homem recebido a imagem e semelhança de Deus. Vale também destacar que Deus tinha um plano para o ser humano ao criá-lo.

Exercício: Pesquise na sua Bíblia qual era esse plano, que papel o Pai tinha atribuído a nós na criação. Depois reflita sobre como o ser humano tem desempenhado esse papel.

O Pecado

No capítulo 3 encontramos a narrativa da queda do ser humano, com a introdução do pecado no mundo após ter sido desprezada a ordem de Deus de que não se deveria comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (2:16 a 3:6). Ao contrário do que popularmente é retratado, não há na Bíblia nenhuma referência à maçã como sendo o fruto proibido nem o sexo. Fica claro que o fruto proibido representa a arrogância de querer ser igual a Deus, de dominar o conhecimento separado da fé, da submissão à vontade do Criador. Esta é a ciência do bem e do mal! O fruto proibido representa, também, a insubordinação, a desobediência, raízes do pecado de Lúcifer (que era um dos ministros de louvor do coro celeste antes de cair e se transformar em Satanás) e do ser humano, por ele induzido a ir na mesma direção.

Ao tomarem consciência de seu pecado, Adão e Eva fogem, procurando se esconder. Porém, o castigo vem através da imposição de sofrimento e fadiga para se obter os alimentos e da expulsão do Jardim do Éden (3:7-24). Neste trecho, a Bíblia nos mostra de maneira clara que:

i) O ser humano, insuflado pelo Diabo (representado pela cobra) e movido pela cobiça, afastou-se de Deus ao tornar-se desobediente aos seus mandamentos;

ii) Em conseqüência desse afastamento, surgiram todos os problemas e desequilíbrios que hoje vemos no mundo, uma vez que foi rompida a harmonia da criação e a plena comunhão com Deus.

Caim e Abel

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Em Gn. 4:1-17 está narrado o primeiro homicídio da história. Caim matou seu irmão com ciúmes da preferência de Deus pela oferta desse. Essa passagem revela que, afastado de Deus pelo pecado, o homem passou a praticar atos maldosos, entregando-se às chamadas “obras da carne”, destacadas por Paulo em Gálatas 5:19.

Todas as pessoas, enquanto não aceitam a Cristo e não buscam reconstruir a comunhão com o Pai, estão sujeitos a praticar essas obras. Ainda que nunca cheguem a cometer algo tão grave como um assassinato, estarão sempre fazendo coisas que desagradam a Deus, vivendo despreocupados em obedecer Sua vontade e não dando atenção à orientação que nos é dada através do Espírito Santo.

A História de Enoque

Enoque, conhecido como “o homem que andou com Deus” foi filho de Jerede e o sétimo descendente na linhagem de Adão, sendo o pai de Matusalém (Gn. 5:17 e 21). Na Bíblia encontramos pelo menos mais três pessoas com esse mesmo nome: O filho de Caim (Gn. 4:17), um neto de Abraão (Gn. 25:4) e o primogênito de Ruben e, portanto, neto de Jacó (Gn. 46:9). Tendo sido homem justo e de vida reta, Enoque andou em íntima comunhão com Deus e, por isso, não conheceu a morte, sendo transladado da Terra para a presença do Senhor, conforme vemos em Gn. 5:22-24 e em Hebreus 11:5, sendo ainda citado em Judas (versículo 14).

Uma importante lição que podemos tirar a partir da história de Enoque é que é possível manter-se separado da corrupção do mundo. Apesar de ser uma pessoa como qualquer um de nós, Enoque manteve-se justo e fiel a Deus. Reflita sobre isso!

O Dilúvio

Como vemos em Gn. 6 “os filhos de Deus” (assim chamados os descendentes de Sete, que eram conhecidos como pessoas piedosas), tomaram em casamento as “filhas dos homens” (descendentes de Caim). Com isso, a corrupção e a maldade que existiam na família de Caim após seu afastamento de Deus, contagiou as demais pessoas. Toda a sociedade estava doente! A Bíblia nos diz, também, que naquela época estavam na terra os nefilins (palavra em hebraico que significa “decaídos” ou “decadentes”), e estes eram homens que se impunham por sua força física, sendo por isso chamados de “gigantes”.

Tendo decidido destruir a humanidade, Deus escolheu Noé para ser o patriarca de uma nova linhagem. Ordenou que esse construísse uma arca e nela levasse sua mulher e seus três filhos (Sem, Cão e Jafé), acompanhados das respectivas esposas. Deveriam ser embarcados sete casais de cada animal considerado limpo e um de cada espécie tida como impura.

Deus fez chover durante 40 dias, com as águas alcançando a altura de 15 côvados (6,7 m) acima dos maiores montes, destruindo toda a vida sobre a terra. Somente depois de quase um ano embarcados, Noé pôde sair da arca, devido ao tempo que demorou para que as águas baixassem e a terra secasse. Ele ergueu, então, um altar, oferecendo sacrifícios a Deus. O Senhor se agradou dessas ofertas, abençoou a Noé e seus descendentes e colocou o arco-íris como símbolo do pacto que celebrou então com a humanidade de não mais destruí-la através das águas.

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A Embriaguez de Noé

Em Gênesis 9:18-20 vemos que Noé cultivou uma vinha e, quando fabricou seu primeiro vinho, embriagou-se, sendo encontrado nu em sua tenda por seu filho Cão. Vendo o estado em que se encontrava seu pai, este correu e contou a seus irmãos. Após acordar da embriaguez, Noé amaldiçoou a Cão por ter revelado aos outros aquela situação tão embaraçosa.

É interessante observarmos que um homem que tinha sido forte e determinado nos momentos difíceis anteriormente enfrentados mostrou-se, nesse episódio, fraco, incapaz de enfrentar os desafios de um tempo de paz. À semelhança de Noé, muitas vezes nós nos mantemos fortes e fiéis a Deus em meio às provações, mas, quando tudo está bem, relaxamos no zelo com nossa própria conduta.

Outro aspecto que merece ser destacado nessa passagem é que o fato de Cão ter visto seu pai nu foi considerado uma grande vergonha. De acordo com os costumes da época, a nudez era extremamente vergonhosa, ainda que acidental e ainda que entre familiares do mesmo sexo. Por isso, Sem e Jafé foram de costas cobrir seu pai.

O proceder de Cão foi condenado pela divulgação dada ao pecado de seu pai. É um exemplo de quão erradas estão as pessoas que, percebendo que um irmão está em pecado, contam para outras pessoas, promovendo a popular “fofoca”. Seus irmãos, ao contrário, tiveram uma atitude correta ao cobrir a nudez do pai. Sejamos como Sem e Jafé: Quando virmos uma pessoa caindo na fé vamos auxiliá-la a se reerguer e não espalhar seus problemas.

A Torre de Babel

A torre cuja construção está narrada em Gn. 11-1:9 foi batizada de “babel” que, em hebraico, soa parecido com a palavra que quer dizer “atrapalhar”. Segundo nos conta a Bíblia, foi durante essa construção que Deus atrapalhou ou confundiu a língua do homem.

O que Ele fez foi freiar a soberba dos promotores da obra. Como lemos nesta passagem, um grupo de pessoas, cujo nome não é citado (não é importante, pois o pecado deles é comum a toda a sociedade), chegou ao vale de Sinar, vindo do oriente, e ali iniciou a construção de uma nova cidade. Essas pessoas, além de quererem demonstrar poder, temiam ser derrotados e espalhados pelos inimigos. Assim, planejaram construir uma torre que chegasse até o céu, o que lhes traria fama e evitaria que fossem espalhados

Esta é, sem dúvida uma das passagens bíblicas que melhor retratam os efeitos do orgulho e da auto-exaltação, tão comuns nos dias de hoje. Muitos, ao se depararem com desafios e inseguranças tentam vencê-los por seus próprios meios, sem buscar o auxílio e a proteção divina. Nestas ocasiões é comum, também, que se tente assumir uma imagem de pessoas fortes, sábias e poderosas.

O homem foi feito para viver para a glória de Deus. Portanto, se aquele grupo pretendia ter um nome bom e permanente e não ser espalhado, deveria ter buscado uma maior comunhão com Deus, ao invés de tentar se impor por seus falsos poderes.

Querer construir uma torre que alcance os céus revela, também, uma pretensão de querer chegar à altura de Deus, através do saber humano. Este é outro pecado bastante comum em nossa sociedade, onde a tecnologia nos faz crer, muitas vezes, que somos semideuses.

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É interessante que façamos uma contraposição entre o episódio da Torre de Babel e a experiência vivenciada no dia de Pentecostes. Na passagem da torre, como conseqüência do pecado, da soberba e do afastamento de Deus tivemos o desentendimento entre as pessoas, com a confusão das línguas. Já em pentecostes, a intensa comunhão com Deus proporcionou uma inigualável harmonia entre as pessoas e houve uma espécie de reunificação das línguas, com todos se entendendo, apesar das diferentes nacionalidades.

Leia em Atos a narrativa do dia de pentecostes e compare-a com o episódio da torre de Babel. Reflita sobre qual das duas situações está mais próxima daquilo que observamos na sociedade e qual tem sido nossa contribuição no sentido de manter ou modificar a atual situação.

A Chamada de Abrão

Abrão foi descendente de Sem, filho de Noé, sendo o 9o em sua linhagem. Seu nome é composto de duas palavras: “pai” e “exaltado”, podendo ser interpretado como “aquele que exalta o pai”. Em Gn. 13:1-3 encontramos a narrativa de sua chamada, momento em que Deus lhe fez uma maravilhosa promessa, da qual somos herdeiros.

Na promessa de Deus a Abrão, podemos destacar os seguintes pontos:

1) Seria pai de uma grande nação (embora naquele momento ele já tivesse 75 anos sem ainda ter filhos);

2) A benção de Deus estaria com ele por toda a vida;3) O seu nome seria grande (não há problema no fato de uma pessoa ser reconhecida pelos outros,

desde que esse reconhecimento seja fruto de sua fidelidade a Deus e não devido a esforços humanos, como pretenderam, por exemplo, os construtores da torre de babel);

4) Seria uma benção para outras pessoas (seu lugar de destaque não poderia trazer-lhe conformismo, devendo, antes, motivá-lo a ajudar os outros, numa demonstração de que quando somos colocados em uma posição de destaque devemos ter consciência de nossa responsabilidade em servir aos outros através de nosso trabalho);

5) Aqueles que o recebessem também seriam abençoados, pois estariam, desta forma, declarando sua receptividade ao próprio Deus;

6) Os que o amaldiçoassem (denegrissem, desprezassem), estariam com esse ato revelando desprezo para com Deus e precipitando sua ira;

7) Sua influência benéfica seria universal (como deve ser o reflexo de nossa comunhão com Deus, ao transbordarmos amor e paz para todos com quem convivemos).

Como vemos, foi uma promessa maravilhosa. Ela expressa, de maneira bastante clara, a necessidade de que, antes de mais nada, Abrão reiterasse sua confiança em Deus. “Sai da tua terra, da tua parentela” (Gn. 12:1) revela a exigência que Deus faz de que não tenhamos apego a nada se quisermos ser verdadeiramente seus servos. Essa exigência é reiterada por Jesus em diversas ocasiões, em que pessoas se apresentam para segui-lo e ele ordena que antes elas deixem de lado aquilo que mais vinham prezando (família, dinheiro e outros).

Reflita sobre os itens 3 e 7 anteriormente destacados, discutindo com seus colegas como temos vivenciado esses aspectos da promessa de Deus em nossa vida.

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O Nascimento de Ismael

Já sendo Abrão idoso ainda não tinha filhos, por que Sarai, sua esposa, era estéril. Sarai, então, deu Agar, sua escrava, para que Abrão tivesse um filho com ela, de modo a garantir-lhe descendência (Gn. 16). Este era um costume da época. Porém, neste caso, um erro fundamental foi que Abrão e Sarai já tinham recebido de Deus a promessa de uma grande descendência, mas não tiveram paciência para esperar, tentando resolver o problema da falta de herdeiros por seus próprios meios.

Este é um dos erros mais comuns na vida dos cristãos: a falta de paciência, fé e perseverança frente aos planos de Deus, que nos leva, muitas vezes, a “meter os pés pelas mãos”, agindo de maneira precipitada, deixando de lado as orientações do Pai.

Quando Ismael nasceu, Agar errou ao não considerar como sua mãe legítima, conforme o costume da época. Ao contrário, tomou para si as honras de ter dado um filho a Abrão e, com isso, despertou ciúme em Sarai, acabando por ter que fugir para o deserto. Lá ela foi assistida por um anjo, o qual mandou que colocasse no menino o nome de Ismael, que significa “porquanto o Senhor ouviu a tua aflição” e anunciou-lhe uma grande geração. De Ismael descende o povo árabe.

O Pacto da Circuncisão

Como vemos em Gn. 17:1-6, Deus ordenou a Abrão que adotasse a circuncisão como sinal do pacto que com ele firmava. A circuncisão, que consiste no corte do prepúcio, a pele que cobre a ponta do pênis, passou a ser uma marca física da adesão à aliança firmada entre Deus e a descendência de Abrão.

É interessante que reflitamos sobre a escolha de uma parte do corpo não exposta para receber a marca da aliança. Uma lição que podemos tirar desse fato é que a pessoa temente a Deus precisa demonstrar aos outros que é fiel ao Pai através de seu testemunho e não apenas de sinais externos, como a roupa, por exemplo.

Outro aspecto sobre o qual devemos refletir é o fato da circuncisão ser restrita aos homens. Ocorre que, de acordo com os costumes da época, as mulheres eram uma espécie de propriedade dos homens (do pai, enquanto solteiras e dos maridos depois de casadas). Assim, uma vez que um homem recebesse a benção do Senhor, esta era extensiva a todas as suas “propriedades”, incluindo as mulheres.

Os cristãos não praticam a circuncisão, pois foi estabelecida por Cristo uma nova aliança. O ritual que adotamos para marcar a inclusão de uma pessoa nesta aliança é o batismo. Nesta nova aliança, todos têm igual acesso, independente do sexo, raça, idade ou qualquer outra característica pessoal. Essa mudança, todavia, não foi tranqüila. O apóstolo Pedro e outros líderes da igreja primitiva insistiram, por algum tempo, em exigir que os gentios (pessoas que não eram judias) convertidos passassem pelo ritual da circuncisão, no que Paulo discordava. Após a visão do lençol das mudanças, Pedro convenceu-se que Deus não fazia diferença entre judeus e gentios e que estes não precisavam se submeter aos rituais judaicos. Porém, somente no Concílio de Jerusalém houve uma decisão mais clara sobre essa questão.

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O Nascimento de Isaque

Em Gn. 17:15-21 encontramos a narrativa do anúncio, feito por Deus, de que Sarai iria dar a luz, conforme anteriormente prometido. O Senhor mandou que Abrão trocasse o nome de sua esposa para Sara. Embora os dois nomes tenham o mesmo significado (princesa), a troca de nome era um costume da época que marcava uma mudança significativa na vida de uma pessoa, que, no caso de Sarai, foi o fato de deixar de ser estéril. Costume similar têm os muçulmanos nos dias de hoje, com as pessoas que se convertem trocando seus nomes.

Sarai, ao ouvir a promessa de Deus, riu, achando difícil que pudesse ter um filho, pois além de estéril já era idosa. Por isso, Deus mandou que o menino recebesse o nome de Isaque que significa “riso”. A reação de Sarai foi semelhante à que, muitas vezes, adotamos quando não cremos nas promessas do Pai. Precisamos tomar posse de todas as bençãos que Deus nos tem reservado.

Deus Coloca Abrão a Prova

Para provar a fé de Abrão, o Senhor submeteu-lhe a dura prova, como vemos em Gn. 22, ordenando-lhe que oferecesse a Isaque em holocausto (sacrifício). Numa das mais impressionantes demonstrações de fé e obediência narradas na Bíblia, Abrão atendeu a ordem de Deus e levou seu filho para ser sacrificado, só não consumando o ato porque Deus lhe ordenou que parasse, explicando-lhe que estava apenas testando sua fé.

Ao lermos essa passagem, devemos refletir sobre como tem sido o nosso relacionamento com Deus, em relação às coisas que Ele espera que sacrifiquemos . Muitos estão buscando uma religião vinculada exclusivamente a prosperidade e bençãos, esquecendo-se das palavras de Jesus: “Quem quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-me” (Mateus 16:24). Deus sabe o que é melhor para nós e não nos pede nenhum sacrifício inútil ou que não tenhamos condições de cumprir. Precisamos ser mais obedientes ao mover do Espírito Santo, inclusive quando precisarmos abrir mão de alguma comodidade para melhor servirmos a Deus.

Sodoma e Gomorra

Ló, sobrinho de Abrão, foi morar numa cidade chamada Sodoma. Deus decidiu destruir essa cidade, juntamente com Gomorra, porque em ambas havia muitos pecados, com destaque para o homossexualismo (daí derivou-se o termo “sodomia”). Outros pecados comuns nestas cidades apontados pela Bíblia são: a injustiça (Isaías 1:10 e 3:9); o orgulho e o ócio próspero (Ezequiel 16:49) e o adultério e a mentira (Jeremias 23:14). Abrão intercedeu a Deus em favor de seu sobrinho, conforme vemos em Gn. 18:20-33. Deus manteve a destruição das cidades, mas enviou dois anjos para, antes, retirar a Ló e sua família.

Os anjos ordenaram a Ló que fugisse levando toda sua família. Porém, seus genros não creram e até zombaram de Ló, que acabou saindo com as filhas solteiras e suas esposa. Os anjos também mandaram que, na fuga, não olhassem para trás. Tendo a mulher de Ló desobedecido a essa ordem, foi transformada em uma estátua de sal. Esse fato nos traz uma lição muito importante. Muitas vezes Deus nos chama a abandonar determinadas situações para nos conduzir a uma vida mais reta. Porém, apegados que somos a nossos costumes ou às aparentes facilidades que o mundo oferece, acabamos “olhando para trás”, inseguros ou indecisos em cumprir a vontade divina. Podemos, ainda, pensar no “sal da terra” que devemos ser, segundo Jesus, e no significado da estátua: o sal parado, inútil.

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Esaú e Jacó

Gn 25:19-26 narra o nascimento dos dois filhos gêmeos que Isaque, filho de Abraão e Sara, teve com Rebeca, sua esposa: Esaú e Jacó. Tendo Esaú saído primeiro do ventre de sua mãe, era considerado mais velho que seu irmão, ficando por isso com os direitos que à época eram garantidos ao primogênito. Jacó, no entanto, aproveitou-se de um momento de fraqueza de seu irmão para comprar-lhe este direito, pagando por ele um simples prato de ensopado (leia Gn. 25:27-34).

Esta passagem nos revela alguns importantes aspectos da personalidade dos dois filhos de Isaque: Jacó era esperto (até demais, em algumas ocasiões), mas sabia dar o valor merecido às coisas. Esaú era mais dócil e submisso, porém não valorizou sua primogenitura, mostrando extremamente fraco quando passou por uma dificuldade. Essas marcantes diferenças nos ajudam a entender porque Deus não só permitiu que Esaú perdesse a primogenitura como reconheceu em Jacó o continuador da obra de formação de uma nação santa (separada), iniciada com Abraão e Isaque. Embora estivesse muito longe de ser uma pessoa perfeita, Jacó sabia valorizar o que é importante e lutar por seus objetivos, submetendo-se, se necessário, a sacrifícios. Tais qualidades eram imprescindíveis! A história mostrou, posteriormente, a importância desses atributos para o povo judeu.

Esaú era caçador, passando a maior parte do tempo no campo, enquanto Jacó era sossegado e caseiro. Esaú gozava mais da simpatia do pai, que via nele um modelo de homem mais perfeito por ser forte e lutador (embora, como vimos, sua força física não se fazia acompanhar de vigor emocional). Jacó, por outro lado, ganhou a preferência de sua mãe, por estar mais próximo a ela. Assim, Rebeca foi sua mentora e aliada na segunda vez que usurpou algo de seu irmão, ao roubar-lhe a benção de seu pai, fazendo-se passar por seu irmão e recebendo, com isso, a benção do pai, já moribundo, com a visão bastante prejudicada (leia Gn. 27).

Jacó na Mesopotânia

Temendo que Esaú matasse seu irmão (o que de fato ele pretendia fazer), Rebeca enviou Jacó à Mesopotânia, onde morava a família de Labão, seu irmão, sob o pretexto de que ele deveria casar-se com alguém de sua parentela.

Na viagem, Jacó teve uma visão que marcou sua vida. Enquanto dormia, viu uma escada que ia da terra até o céu, com os anjos subindo e descendo por ela. Deus estava ao seu lado e o abençoou, prometendo-lhe uma numerosa descendência. Ele batizou o lugar onde esta visão ocorreu de Betel, que significa “casa de Deus”. Tratou, também, de ungir uma pedra, comprometendo-se a construir ali um templo e a dedicar a Deus a décima parte de tudo o que possuía, se Ele o protegesse em sua viagem.

Chegando à casa de seu tio, Jacó apaixonou-se por Raquel, combinando que trabalharia sete anos para adquirir o direito de com ela se casar. Labão, porém, querendo proteger sua filha Léia, que embora mais velha ainda era solteira, enganou a Jacó, fazendo com que na noite de núpcias ele se deitasse com ela ao invés de com Raquel (provavelmente ele bebeu bastante durante a festa para não perceber a troca). Assim, o enganador foi enganado, ficando, certamente, claro que, por mais esperto que fosse, carecia da ajuda de Deus, pois era tão vulnerável quanto qualquer outro ser humano.

Jacó precisou trabalhar mais sete anos para casar-se também com Raquel.

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Os Filhos de Jacó: Os Patriarcas das Tribos de Israel

Léia e Raquel mantiveram uma constante disputa pela atenção do marido, o que fez com que buscassem lhe dar o maior número e filhos possível, inclusive oferecendo suas escravas como concubinas, como vemos em Gn. 29 e 30. Assim, Jacó teve um total de 13 filhos - uma mulher e doze homens, dos quais se originaram as doze tribos de Israel.

A História de José

Os 13 últimos capítulos de Gênesis (37 a 50) narram a história de José, o filho mais velho de Jacó e Raquel e de como, através do mesmo, os israelitas foram viver no Egito.

Sendo o primogênito da esposa amada, José certamente recebia um tratamento diferenciado por parte de seu pai, o que despertava ciúmes em seus irmãos. Certa ocasião, ele teve um sonho que agravou esses ciúmes: sonhou que toda sua família se prostraria diante dele. Seus irmãos ficaram tão irados que resolveram matá-lo. Acabaram, porém, decidindo vendê-lo a uma caravana de mercadores que ia para o Egito, onde foi revendido como escravo (disseram a Jacó que ele tinha sido morto por um animal selvagem).

Um dia, a esposa do homem que tinha comprado José tentou seduzi-lo e, não conseguindo atraí-lo, mentiu ao seu marido dizendo que José tinha tentado agarrá-la. Com isso ele foi preso. Na cadeia, conheceu dois oficiais de Faraó que também tinham sido presos e interpretou seus sonhos, ficando conhecido por esse dom.

Certa vez, Faraó teve um sonho que ninguém conseguia interpretar e que estava causando-lhe grande angústia. Seu copeiro, um dos oficiais que tinham estado presos com José, lembrou-se de chamá-lo e ele, de fato, conseguiu interpretar o sonho: haveria sete anos de muita fartura em todo o Egito, seguidos de sete anos de grande fome. Deveria, portanto, ser feita uma provisão de alimentos para que pudessem ser suportados os anos de fome. Muito impressionado, Faraó nomeou José Administrador de todo o Egito, cargo no qual ele revelou-se muito competente, passando a gozar de grande prestígio.

José Reencontra sua Família

Conforme revelado no sonho de Faraó, depois de sete anos de fartura veio igual período de total escassez de alimentos, trazendo fome para toda aquela região, incluindo as terras em que vivia a família de José.

Jacó enviou seus filhos ao Egito para que comprassem mantimentos. Lá chegando, se encontraram com José, mas não o reconheceram. Este só revelou-se a seus irmãos numa segunda viagem que fizeram, trazendo, por exigência do próprio José, Benjamin, seu irmão por parte de pai e mãe, que havia ficado em casa na primeira vez.

Apesar de tudo que seus irmãos tinham feito com ele, José foi capaz de perdoá-los e reconciliar-se com sua família. Na realidade, o que ocorreu com ele foi parte dos planos de Deus de formar um povo. Era, certamente, importante que os israelitas passassem pelo Egito, onde posteriormente viraram escravos, enfrentassem o êxodo pelo deserto e lutassem para reconquistar sua própria terra. Esse é mais um exemplo que encontramos na Bíblia de como Deus domina o destino de seu povo, muitas vezes através de caminhos que não são compreendidos de imediato pela nossa mente, tão limitada diante da sabedoria do Pai.

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Com a autorização de Faraó que muito lhe estimava, José trouxe toda a sua família para o Egito, alojando-se na região de Gozém, terra propícia à criação de gado, principal atividade a que eles se dedicavam. Os israelitas foram ricamente abençoados por Deus e prosperaram bastante. Enquanto José viveu, gozaram de uma situação bastante cômoda, sendo protegidos por faraó.

Depois da morte de José e do Faraó que o tinha nomeado seu Administrador, a prosperidade dos israelitas passou a incomodar os egípcios que acabaram por fazê-los seus escravos. A conseqüência desse problema foi a fuga do Egito rumo a Canaã, a terra prometida por Deus, narrada no livro de Êxodo.

Questionário de Revisão do Livro de Gênesis

1) Qual foi o pecado original, que levou à expulsão de Adão e Eva do Paraíso?2) Por que Caim matou Abel?3) O que aconteceu com Enoque? Por que?4) Por que Deus resolveu promover o dilúvio?5) Qual o sinal da aliança de Deus com os homens, instituído após o dilúvio?6) Qual o pecado que Cão, filho de Noé teve contra seu pai?7) O que desejavam os construtores da Torre de Babel?8) Por que Sarai, mulher de Abrão, ofereceu a ele sua escrava Hagar para que com ela ele se

relacionasse?9) Por que Hagar teve que fugir para o deserto?10) Qual a grande prova que Deus fez de Abraão?11) Por que Deus destruiu as cidades de Sodoma e Gomorra?12) Como Jacó enganou a Isaque, seu pai?13) O que significa a palavra Betel?14) De onde se originaram as doze tribos de Israel?15) Por que José foi viver no Egito?16) Como José se tornou Administrador de faraó?

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O LIVRO DE ÊXODO

Êxodo significa “saída”, “partida”. Neste livro está narrada a libertação do povo de Israel do Egito, onde, nos últimos tempos em que lá viveu, ficou como escravo. É um dos livros mais importantes do Antigo testamento, devido ao seu conteúdo teológico.

Alguns estudiosos da Bíblia afirmam que o êxodo é, para o Antigo testamento, o que os Evangelhos são para o novo. Ambos proclamam a atividade redentora de Deus, movida por sua compaixão pela condição de escravidão do ser humano. Ambos focalizam-se na atividade de mediador do pacto entre Deus e os homens (Moisés e Jesus). Ambos contém a revelação da vontade divina para o caráter interior e para a conduta exterior entre os que se decidiram a seguir o pacto. Os dois livros estão, também, de pleno acordo em proclamar o absoluto senhorio de Deus sobre a história, a natureza e o homem.

Nas palavras do teólogo Roy Honeycutt, “Este é um livro, uma palavra irrompendo de Deus, que nos chama da angústia de nossa escravidão e da monotonia sem objetivo da vida no Egito para colocar os nossos pés em um novo caminho; um caminho aberto por entre a peste e as pragas, através do mar e do deserto; um caminho ladeado por sua revelação do pacto; um caminho sombreado por sua presença, na medida em que Ele nos guia através de nosso deserto, insistindo o tempo todo que nenhum homem precisa viver e morrer na futilidade do Egito, alienado e perdido para com os propósitos do Senhor do pacto.” (Comentários Bíblicos Broadman).

Deus é Senhor da História

Uma das doutrinas explicitadas no livro de êxodo é o senhorio de Deus sobre a história. A crença na providência divina contrapõe-se à visão, comum ainda em nossos dias, de que há um “destino”, uma espécie de força misteriosa que determinaria o que ocorre no mudo. A libertação do jugo egípcio através de intervenções sobrenaturais (as pragas), a peregrinação pelo deserto orientada pelas colunas de nuvem e de fogo, o maná, as cordonizes, a água tirada da rocha, constituem, dentre outros, sinais do poder e da soberania de Deus. Os planos divinos para o mundo e a humanidade serão cumpridos, a despeito da rebeldia do ser humano.

O Contexto Histórico

Calcula-se que José foi nomeado administrador do Egito por volta de 1700 A.C. Não se sabe exatamente quando ocorreu a saída do Egito, mas, por algumas referências do texto bíblico, estudiosos supõem que ela tenha ocorrido na 19a dinastia egípcia, no governo do Faraó Ramsés II, que durou de 1299 a 1232 A.C. Portanto, um longo tempo tinha se passado desde a chegada do povo israelita e a situação era muito diferente da época de José.

Neste período, o Egito era a nação com maior poderio político e militar. Na época de José, o país estava dominado por estrangeiros. O próprio faraó que designou José seu administrador era estrangeiro, o que explica a facilidade como José, embora não fosse egípcio, foi designado para um cargo tão elevado. Agora a história era outra, e o povo egípcio estava há muito hostilizando os israelitas

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O Nascimento de Moisés

Como vemos nos capítulos 1 e 2, faraó estava preocupado com o crescimento do povo de Israel e determinou que os mesmos fossem escravizados. Porém, “quanto mais os afligiam, mais se multiplicavam e tanto mais se espalhavam” (1:12). Assim, faraó determinou às parteiras que matassem todos os meninos que nascessem dos israelitas. Como estas não tiveram coragem de obedecer a tão absurda ordem, ele mandou que todos os meninos fossem lançados no rio Nilo.

Quando Moisés nasceu, seus pais o esconderam por três meses. Quando não podiam mais mantê-lo em segredo, o colocaram em um cesto e o deixaram na beira do rio. A filha de faraó, indo banhar-se, achou o cesto e teve pena do neném, acabando por adotá-lo. Com isso, Moisés foi criado junto à corte de faraó, recebendo, certamente, uma boa educação, e tendo acesso ao notável desenvolvimento científico e cultural do povo egípcio.

A Fuga para Midiã

Sendo Moisés já jovem, ocorreu que um dia ele presenciou um egípcio espancando covardemente um israelita. Para defender o israelita, Moisés acabou matando o egípcio e escondendo seu corpo. Ocorreu, porém, que o fato foi descoberto e faraó quis matar Moisés. Fugindo da ira de faraó, ele foi morar com os midianitas, que eram parentes distantes dos israelitas (Midiã foi filho de Abrão com Quetura, esposa que tomou para si após a morte de Sara). Se o tempo em que passou junto aos egípcios proporcionou a Moisés uma fina educação, a época que viveu com os midianitas, que habitavam no deserto, trouxe-lhe um notável preparo para os quarenta anos que ele enfrentaria de travessia do deserto. Vemos, aqui, a mão de Deus preparando o líder que escolhera.

O Chamamento de Moisés

Em Êxodo 3:1-20, vemos a experiência que Moisés teve com Deus no monte Horebe, onde o Senhor apareceu-lhe no meio de uma sarça que ardia em fogo mas não se consumia. Deus lhe disse que estava atento à aflição de seu povo e que iria livrá-lo da escravidão no Egito, conduzindo-o a uma terra boa. Disse também que ele tinha sido o escolhido para liderar a libertação dos israelitas. Como sinais de que iria capacitá-lo, Deus fez com que Moisés operasse dois sinais: transformar uma vara em cobra e fazer com que sua mão ficasse leprosa e voltasse a ficar boa em seguida.

Como acontece muitas vezes com as pessoas chamadas por Deus, Moisés não queria aceitar a tarefa a ele confiada, julgando-se incapaz de tão importante missão. Dentre outros pretextos para a recusa, havia o fato de que era gago. Deus ficou irado com as sucessivas desculpas de Moisés e insistiu que ele aceitasse a missão que lhe estava sendo confiada, dizendo que poderia contar com o auxílio de seu irmão, Arão.

Como também ocorre comumente com os que são vocacionados para a missão, Moisés enfrentou graves provações: 1) Foi atacado por uma doença no caminho para o Egito, a qual, de tão súbita e grave, deu a impressão de que Deus queria matá-lo. 2) Zípora, sua esposa, amedrontada faz a circuncisão em seu filho, mas o faz a contragosto, lançando o prepúcio cortado aos pés de Moisés e o acusando de ser “um marido sanguinário”. 3) Faraó, ao saber da pretensão de Moisés de conduzir o povo israelita ao deserto para prestar um culto a Deus, não apenas não permite como também manda que seja aumentada a carga de trabalho.

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As Pragas

Tendo faraó resistido à saída do povo de Israel, Deus agiu com mão forte para fazer cumprir seu propósito. Enviou, através de Moisés, dez terríveis pragas contra os egípcios. A cada praga faraó ficava preocupado mas não permitia que o povo saísse. Foram estas as pragas enviadas (capítulos 7 a 12):1) As águas se transformaram em sangue 2) Invasão das rãs3) Infestação de piolhos4) Infestação de moscas5) Peste nos animais6) Peste das úlceras7) Chuva de pedras8) Nuvem de gafanhotos9) Trevas sobre a terra10) Morte de todos os primogênitos egípcios (animais e homens)

A Instituição da Páscoa

No capítulo 12, encontramos a narrativa de como Deus instituiu a celebração da páscoa para marcar a libertação do povo de Israel da escravidão do Egito. O ritual pascal teve início com a preparação de um cordeiro, que deveria ser puro, sem qualquer ferida, que deveria ser comido na noite da partida. O sangue deste cordeiro deveria ser colocado nas portas das casas, para que a família fosse identificada como israelita e não tivesse o primogênito morto, como aconteceria com os egípcios por ocasião da décima praga. Também deveriam ser cozidos pães sem fermento, uma vez que a pressa da fuga não permitiria que se esperasse até que a massa levedasse.

Os cristãos celebram a páscoa com um novo significado. Entendemos que Cristo é o verdadeiro Cordeiro de Deus e que seu sangue nos livra de todo o mal, tal qual ocorreu aos israelitas. Assim também vemos na páscoa a celebração da libertação que Deus nos concedeu da escravidão do pecado e da morte, vencida por Cristo.

A Abertura do Mar Vermelho e A Transformação das Águas

Logo no início da fuga dos israelitas, deus operou um dos milagres mais conhecidos da Bíblia, ao abrir o mar vermelho para que o povo escolhido passasse, cobrindo-o novamente de água no momento em que o exército egípcio passava. Houve grande júbilo em meio aos israelitas por essa manifestação de poder, fazendo com que Moisés compusesse um belo cântico de louvor (capítulo 15) e que Miriã, sua irmã, cantasse e dança-se ao som de um tamborim.

O povo de Israel tinha um coração duro e sempre que enfrentava uma dificuldade murmurava contra Moisés, acusando-o de tê-los tirado do Egito para morrer no deserto. Assim foi quando ficaram sem água boa para beber, tendo apenas uma fonte que continha águas amargas. Instruído pelo Senhor, Moisés lançou uma árvore sobre as águas e estas se tornaram doces, boas para se beber (15:22-27).

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O Maná: O Pão Caído do Céu e Jesus: O Verdadeiro Pão da Vida

Logo depois, o povo murmurou porque não tinha pão e sentiam saudade das panelas de carne do Egito. Deus enviou-lhes o maná, um alimento caído do céu, fino como uma camada de geada, uma espécie de pão que podia ser recolhido pela manhã. Em mais uma semelhança entre o êxodo e o Evangelho, vemos em João 6:30-35 que um grupo de pessoas cobra de Jesus a operação de um milagre semelhante ao do maná como prova de seu poder. Jesus, então, lhes responde: “Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá. Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo (...) Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome e o que crê em mim jamais terá sede” . Jesus, o Pão da Vida, veio para alimentar e sustentar o povo, dando-nos condições de prosseguir em nossa caminhada rumo à libertação.

Mandou também cordonizes, que caiam sobre o acampamento dos israelitas, sendo capturadas e cozidas por estes. Estas serviam para suprir o desejo de comer carne dos israelitas. Assim como eles, nós muitas vezes invejamos as “panelas de carne” daqueles que não têm Deus no coração, desejando acumular riquezas, poder e outras tentações, chegando mesmo a se queixar de que Deus está sendo injusto para conosco.

A Água Tirada da Rocha

Saindo do deserto de Sim, os israelitas tiveram dificuldade em encontrar água para beber e, mais uma vez, murmuraram contra Moisés. Atendendo à ordem de Deus, este bateu na rocha e fez jorrar água (17:1-7).

A Batalha contra os Amalequitas

Esta foi a primeira de uma série de batalhas que seriam travadas pelos israelitas até a conquista da terra prometida. Os israelitas venceram a batalha sob o comando de Josué, que seria o comandante do exército até a tomada de Jericó, uma das passagens mais conhecidas do Antigo Testamento.

Um aspecto interessante desta passagem é que quando Moisés erguia as mãos os israelitas ficavam em vantagem na luta, mas quando as abaixava, seus adversários prevaleciam. Assim , Arão e Hur tiveram que ficar sustentando as mãos de Moisés para que fosse obtida a vitória. Esse acontecimento nos ensina que Deus é o responsável pelas nossas vitórias e que o louvor e a gratidão a Ele (levantar as mãos é um dos sinais mais tradicionais de louvor) torna-nos fortes para vencer nas lutas espirituais que temos que travar.

O Conselho de Jetro

Vendo que Moisés estava sobrecarregado, Jetro (seu sogro) aconselhou-o a delegar responsabilidades, descentralizando as decisões através de ajudantes que se encarregariam de chefiar grupos de dez pessoas, os quais se subordinariam a outros que seriam chefes de grupos de cinqüenta, cem e mil. As pessoas escolhidas deveriam possuir quatro qualidade básicas: Ter capacidade; temor a Deus; ser veraz (fiel e verdadeiro) e não avarentos (não ser mesquinho ou corruptível).

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O Pacto Firmado no Monte Sinai (Ex. 19:1-25)

Moisés subiu ao Monte Sinai para receber orientações de Deus, o qual lhe apresentou a promessa de fazer dos israelitas “reino sacerdotal” e “nação santa”. Exigiu, porém, que ele anunciasse essa promessa ao povo e obtivesse a concordância com as condições estabelecidas: ouvir atentamente a voz de Deus e guardar os seus mandamentos. Assim, o pacto não seria unilateral, imposto por Deus. Ele queria que os israelitas aderissem espontaneamente, concordando em respeitar as condições estabelecidas e assumindo um compromisso de fidelidade. Conforme relatado em Ex. 19:8, o povo respondeu a uma só voz: “Tudo o que o Senhor tem falado, faremos”.

Deus estabeleceu o Monte Sinai como lugar santo, no qual se manifestaria a Moisés, passando a ser uma área de acesso restrito. Após o povo ter se submetido a um ritual de santificação, Deus manifestou-se com grande impacto, através de trovões, nuvens espessas e buzinas, fazendo com que o monte tremesse. Ao mostrar-se como controlador das forças da natureza, o Senhor realçou seu poderio e controle sobre todas as coisas.

Os Dez Mandamentos (Ex. 20:1-21)

1) Não terás outros deuses diante de mim - Naquela época, quase todos os povos eram politeístas, ou seja, cultuavam a mais de um deus. Os próprios israelitas em vários momentos se deixaram influenciar por essa cultura, dando lugar à adoração à Baal e a ídolos, como ocorreria durante a travessia do deserto, com a adoração ao bezerro de ouro. A não observância deste mandamento era uma das coisas que mais despertava a ira de Deus. Se Ele já havia dado provas de que era o único Deus verdadeiro, havia demonstrado seu poder sem limites e celebrado um pacto com os israelitas, nada justificava a idolatria.

2) Não farás para ti imagens esculpidas - A idolatria presente em diversos povos, que faziam imagens de pessoas, animais ou elementos da natureza para adorar, era totalmente inaceitável para o povo de Israel que, conhecendo o Deus verdadeiro, não poderia cair em tamanha tolice e falta de respeito ao Senhor. Este mandamento fundamenta de modo claro, inequívoco, a posição dos evangélicos contra o costume da Igreja Católica Romana de fazer imagens de santos.

3) Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão - O nome, no pensamento bíblico, resumia a essência de uma pessoa. Tamanha era a sua importância que costumava ser mudado quando o indivíduo passava por uma grande transformação (como, por exemplo, Jacó, que passou a ser chamado de Israel). Portanto, o nome de Deus deveria ser santificado. Tomar o nome de Deus em vão significa fazê-lo sem propósito. É provável, também, que esta mensagem tenha se dirigido no sentido de que, sabendo do poder que estava ao seu alcance pela intercessão, o povo não o usasse mal, tendo sabedoria para discernir o que é digno de ser pedido ao Pai.

4) Lembra-te do dia do sábado para o santificar - O princípio básico da instituição do sábado como o dia separado para o Senhor era que, deixando de trabalhar neste dia, o homem estaria reconhecendo o senhorio de Deus sobre seus dias, seu tempo. Posteriormente, porém, esse mandamento passou a ser mal aplicado , com os judeus tendo uma observância cega do mesmo. Essa postura fez com que Jesus os condenasse, mostrando que o mais importante é amar a Deus e ao próximo e que não deviam deixar de ser realizados neste dia atos importantes como a cura que Ele próprio promoveu.

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5) Honra a teu pai e a tua mãe - Este mandamento é bastante claro em seu significado. Os filhos precisam ser gratos aos pais e zelar por eles. Honrar em hebraico é “kabed”, muito similar a “kabod”, que significa “glória”. Portanto, honrar aos pais possui um significado bastante profundo em termos de respeito.

6) Não matarás - A vida é considerada um dom de Deus e só a Ele pertence o direito de tirá-la. Embora houvesse, na época, algumas situações onde uma pessoa poderia ser condenada à pena de morte, essa só era possível em situações claramente definidas na lei dada por Deus e deveria envolver um julgamento de toda a comunidade e não a decisão individual de um membro.

7) Não adulterarás - Este mandamento é bastante claro, dispensando maiores comentários. Vale dizer, no entanto, que os israelitas julgavam adultério apenas uma situação em que o homem tinha relação com uma mulher casada. Como a mulher era vista como um objeto de propriedade de seu marido, o problema básico era a ofensa ao esposo traído. Jesus alertou para a maior amplitude que deveria ser dada à interpretação deste mandamento, discorrendo contra sobre toda a gama de pensamentos maliciosos do homem, chamando-nos a ter um coração verdadeiramente puro. (Mateus 5:27).

8) Não furtarás - Outro mandamento de interpretação direta e clara, que impôs uma norma essencial de convivência social e um princípio de respeito ao próximo.

9) Não dirás falso testemunho contra o teu próximo - A verdade sempre foi um valor da maior importância para os servos de Deus. A mentira, em contraposição, está relacionada a Satanás, conhecido como “o pai da mentira”. Infelizmente, alguns cristãos têm relaxado na observância deste mandamento. É importante que nos policiemos para não falarmos mentiras, por mais que a situação pareça justificá-las. Devemos sempre nos lembrar, ainda, que toda meia verdade é também uma meia mentira

10) Não cobiçarás a casa de teu próximo, nem sua mulher, seu servo, sua serva, seu boi, seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo - Um dos sentimentos que mais contribui para a degradação do relacionamento humano é a inveja, a cobiça daquilo que pertence aos outros. O cristão deve ter consciência de que toda a sua vida, inclusive suas posses, pertence a Deus. A inveja daquilo que não é nosso traz o desejo, mesmo que inconsciente, de tomá-lo. Inclusive, a palavra encontrada no original hebraico é “chamadh”, que significa desejar apropriar-se. Quando alimentamos este tipo de sentimento estamos, portanto, questionando a soberania de Deus sobre nossas vidas e bens, desejando o mal ao nosso próximo (ainda que de forma inconsciente) e tornando a nossa vida amarga, devido à frustração de não possuir o objeto de nosso desejo.

A lei dada por Deus através de Moisés

Os dez mandamentos constituíam as leis básicas do povo de Israel, abrangendo os princípios fundamentais de sua fé e sua vivência diária. Porém, a longa e dura travessia do deserto e a rebeldia característica do povo exigiam a imposição de uma disciplina mais detalhada. Não podemos nos esquecer, também, que uma verdadeira nação estava praticamente começando do zero em termos de leis durante a peregrinação, pois no período em que estiveram no Egito eram escravos e, portanto, submissos às leis egípcias.

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As chamadas “leis mosaicas” precisam ser entendidas à luz das necessidades e costumes da época. É evidente que os princípios nos quais elas estavam baseadas permanecem válidos. Porém, diversas manifestações deste princípios não mais fazem sentido nos dias atuais.

Conforme colocamos no início desta apostila, aqueles que julgam cumprir as leis bíblicas “ao pé da letra” são, na verdade, ignorantes na Palavra, pois se a conhecessem realmente veriam a inviabilidade disso. Como exemplo de leis daquela época que seriam inadmissíveis hoje podem ser citados os seguintes:

· Uma parte do dízimo podia ser utilizada para comprar “vinho, bebida forte e tudo o que pedir a tua alma”, consumido-os num lugar escolhido “perante o Senhor teu Deus”, para que “alegre-te tu e a tua casa” (Deut. 14:26)

· Durante as guerras era lícito tomar a força uma prisioneira como concubina e, caso o homem se desinteressasse dela depois, bastava mandá-la embora (Deut. 21:10-14).

· Os filhos rebeldes deveriam ser apedrejados até a morte (Deut. 21:18-23)· Não era permitido nenhum tipo de plantação junto às parreiras de uva (Deut. 22:9)· Não se podia usar roupas de lã misturada ao linho (Deut. 22:11)· Deveriam ser colocadas franjas nas quatro bordas das mantas (Deut. 22:12)· Nenhum filho ilegítimo ou seu descendente até a décima geração, podia entrar na congregação

do Senhor (Deut. 23:2)· Os homens tinham a obrigação de se casar com suas cunhadas que ficassem viúvas e não

tivessem filhos (Deut. 25:5)

Promessas e Instruções para a Entrada na Terra Prometida

Como vemos em Ex. 23:20-33, Deus lembrou ao povo que estava totalmente compromissado com a conquista da terra prometida e avisou que enviaria um anjo adiante dos israelitas. Alertou, porém, que era preciso ouvir a voz do anjo e não se rebelar contra os mandamentos que tinham recebido. Recomendou, especialmente, que ninguém adorasse os deuses dos povos que seriam derrotados durante as batalhas para a conquista de Canaã. Vale destacar a versículo 21: “Anda apercebido diante dele (do anjo) e ouve a sua voz; não sejas rebelde contra ele, porque não perdoará a tua rebeldia, pois nele está o meu nome”. Anjo significa mensageiro. Portanto, aquele que é portador da vontade de Deus deve ser ouvido e respeitado. Quantas vezes Deus usa alguém para nos trazer uma mensagem e não damos atenção?

A Arca do Acordo

Deus ordenou que fosse construída uma arca de madeira, dentro da qual seriam colocadas as tábuas de pedra que Ele daria com os dez mandamentos. Foram também guardadas na arca a vara de Arão que florescera e uma porção do maná caído do céu. A arca, cujas instruções detalhadas para construção estão narradas na Bíblia, deveria ser feita de madeira de lei (acácia) e ser toda revestida, por dentro e por fora, de ouro puro.

A arca era de grande importância para o culto israelita e simbolizava a presença e o poder de Deus, sendo vista como uma espécie de trono portátil. Era, também, importante nas batalhas, sendo levada à frente do povo. No templo de Jerusalém, construído posteriormente, viria a ser o objeto mais sagrado, ficando guardada no santo dos santos, onde somente o sumo sacerdote podia entrar uma vez por ano para oferecer expiação (sacrifício para remissão dos pecados).

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O cineasta Steven Spilberg popularizou a arca no seu popular filme “Os caçadores da arca perdida”. Vale dizer, porém, que ele misturou uma boa dose de fantasia às características relatadas pela Bíblia.

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O LIVRO DE LEVÍTICO

Origem e Temas Básicos

O título “Levítico” é derivado de Levi, o nome da tribo cujos membros eram encarregados dos trabalhos religiosos em Israel. O terceiro livro do Pentateuco recebeu este nome devido à sua grande concentração nos regulamentos do culto e nas exigências que o mesmo impunha sobre a vida e a conduta dos israelitas. Muitos dos regulamentos civis foram ensinados ao povo pelos sacerdotes, os quais também se encarregavam de garantir a obediência aos mesmos.

O livro reúne instruções sobre os aspectos da vida em que os sacerdotes estavam envolvidos, quer como dirigentes do culto, quer como guardiães especiais da natureza sagrada da nação de Israel. Levítico foi escrito com a intenção de ser um guia abrangente para mostrar como o povo deveria por em prática a grande promessa feita por Deus no Monte Sinais: “E vós sereis para mim reino sacerdotal e nação santa” (Ex. 19:6). Além dos regulamentos sobre o oferecimento de sacrifícios e a organização do sacerdócio, há diversas instruções sobre comportamento familiar, relacionamento humano, saúde, higiene e outros assuntos da vida cotidiana. Havia, portanto, uma noção clara de que a relação com Deus deve refletir-se não apenas nos atos religiosos, mas em todos os momentos da vida.

Significado Religioso

Uma das crenças fundamentais do livro de Levítico é de que Deus está realmente presente em meio ao seu povo. Os regulamentos para o culto e, em especial, para os sacrifícios, são expostos como mandamentos que devem ser cumpridos na própria presença de Deus. Os israelitas achavam que Deus habitava na tenda da congregação (depois substituída por uma casa em Siló e, mais tarde, pelo Templo de Jerusalém).

Outra idéia básica é que, sendo Deus perfeitamente santo, sua presença em Israel estende essa santidade para cobrir a vida inteira da nação. Assim, preservando a santidade de Israel, Levítico se preocupa muito, também, em proteger a nação contra tudo o que pudesse comprometer ou destruir essa santidade. Da pureza do culto às regras de higiene, todos os aspectos da vida deveriam estar pautados na santidade.

Devido às muitas exigências e aos rituais e costumes israelitas, Levítico parece estar muito distante de nosso mundo moderno e de nossa religiosidade. No entanto, suas doutrinas subjacentes, ou seja, alguns pensamentos que o fundamentam, são de extrema relevância. Ele destaca o fato de que a nossa maior necessidade não é de um conceito abstrato de Deus e sim de uma experiência com Ele que tenha reflexos em toda a nossa vida, chamando-nos à santidade, à obediência e à adoração.

As Ofertas Queimadas (1:1-17)

A primeira parte do Livro de Levítico é dedicada a instruções detalhadas para o oferecimento de sacrifícios a Deus.

A oferta queimada era a principal forma de sacrifício. Seu ritual tinha seis etapas básicas: a apresentação da oferta na entrada do santuário; a colocação da mão do ofertante sobre a cabeça da vítima; o espargir do sangue sobre o altar; a esfoladura e repartição do animal e a queima de algumas partes sobre o altar. A última etapa ficava a cargo dos sacerdotes, pois o altar, considerado

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o lugar da reconciliação entre Deus e o homem, era reservado aos sacerdotes, que compartilhavam de sua natureza sagrada.

A oferta queimada tinha como principal finalidade a propiciação pelos pecados. Representava, também, um ato de reconhecimento da soberania de Deus e uma expressão visível de ação de graças. O nome hebraico desta oferta significa “o que sobe”. Como os animais eram inteiramente queimados, acreditava-se que, através da fumaça do altar, o sacrifício subia até Deus. Diversos trechos bíblicos, como Lev. 1:9, referem-se a esta oferta como “de cheiro suave ao Senhor”.

As Ofertas de Cereais (2:1-16)

O título hebraico desta oferta quer dizer simplesmente “dádiva”. Seu ritual era bem mais simples do que o das ofertas queimadas, até porque não implicava em matança de animais, sendo composta de cereais moídos grossos, de trigo ou de centeio. A oferta de cereais era freqüentemente usada como uma espécie de sacrifício complementar, acompanhando as ofertas queimadas (vide Num. 15:3-5 e II Reis 16:13). Outras vezes, porém, era trazida sozinha (Lev. 6:14-18 e 23:15-16).

Apenas uma parte destas ofertas, denominada “porção memorial”, era queimada sobre o altar. O restante ficava para os sacerdotes. Assim, ao apresentar esta oferta, os israelitas ao mesmo tempo que ofereciam-na a Deus cumpriam com a responsabilidade de manutenção do ministério sacerdotal, através do qual a nação permaneceria em comunhão com Deus.

Duas instruções sobre este ritual merecem destaque: A proibição do uso de fermento e a necessidade de utilização do sal. A levedura era considerada uma influência danosa e perturbadora. Esse ponto de vista reflete-se na advertência de Jesus: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus” (Luc. 12:1). Ou seja, Cristo alertou o povo que a hipocrisia dos rituais e ensinamentos dos fariseus tornava sem sentido e não aceitável a Deus a vida religiosa de Israel. Já o sal era tido como puro e como um símbolo da amizade e da comunhão. Aqueles que compartilhavam do sal numa refeição estavam numa relação genuína de confiança e lealdade. Portanto, quando Jesus referiu-se aos seus discípulos como “o sal da terra” (Mat. 5:3), quis dizer que a presença deles poderia tornar o mundo aceitável a Deus.

As Ofertas Pacíficas (3:1-17)

O ritual das ofertas pacíficas era muito parecido com o das ofertas queimadas. A diferença principal é que, enquanto aquela era inteiramente queimada sobre o altar, nesta apenas algumas partes do corpo do animal eram queimadas. O ofertante cozinhava ou assava o restante da vítima e comia a carne com sua família e outros convidados. A característica principal desta oferta era a alegria, o gozo de uma refeição na companhia da família e dos amigos. Enquanto a oferta queimada expressava o custo da obediência, a oferta pacífica expressava a felicidade trazida pela comunhão.

Nesta, como em todas as outras ofertas, era proibido o consumo do sangue e da gordura dos animais, que deveriam ser inteiramente queimados sobre o altar. Os Israelitas acreditavam que a vida estava no sangue, provavelmente por observarem que as perdas graves de sangue implicavam na perda da vida. Visto que a vida é dom de Deus, o sangue, considerado a manifestação física deste dom, deveria ser devolvido a Deus. A leitura fundamentalista (“ao pé da letra”, sem contextualização) desta antiga regra faz com que alguns grupos religiosos de hoje proíbam seus membros de submeterem-se a transfusões de sangue.

As Ofertas pelo Pecado e Pela Culpa (4:1 a 6:7)

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Enquanto que a oferta queimada voltava-se para os pecados de toda a comunidade, este tipo de oferta visava, basicamente, a expiação dos pecados de um indivíduo. As ofertas pelo pecado estavam relacionadas às ofensas inadvertidas, inconscientes, enquanto as ofertas pela culpa eram requeridas por ofensas que redundassem em danos às pessoas ou suas posses.

O ritual a seguir era muito semelhante ao da oferta pacífica. A principal diferença é que, na pacífica, a maior parte do animal sacrificado era comida e isso era proibido no caso da oferta pelo pecado.

Regulamentos Concernentes à Pureza - Os Animais Impuros

O capítulo 11 do Livro de Levítico trás uma longa relação dos animais considerados limpos, que podiam ser comidos pelos israelitas e daqueles tidos como impuros. Alguns estudiosos acreditam que a razão básica da proibição do consumo de alguns animais reside no fato de que os mesmos eram consumidos em banquetes cerimoniais de religiões pagãs. Assim, essa proibição evitaria que os israelitas participassem de rituais oferecidos a deuses estranhos, sendo facilmente identificáveis aqueles que os promovessem. Essa, porém, não é a suposição mais provável, pois vários outros animais tidos como limpos também eram utilizados em cultos pagãos.

A explicação mais provável é que as proibições representaram um cuidado de higiene e uma forma de prevenção de doenças, numa época em que não existiam os recursos da ciência moderna. A carne de porco, quando mal cozida, é portadora de triquinose. A lebre é portadora da tularemia. Os peixes que não possuem escamas nem barbatanas são peixes de água rasa, cavadores de lama, que se tornam facilmente portadores de diversas bactérias prejudiciais. As aves de rapina, que se alimentam de carniça, são portadoras de perigosas doenças. Essa segunda visão é reforçada pelo fato de que o contato com qualquer animal, mesmo aqueles considerados limpos, tornava a pessoa impura.

Portanto, encontramos neste trecho um guia simples e abrangente para a higiene e a alimentação, surgido numa era pré-médica, que requeria regras práticas. A preocupação de Deus está em dar vida e saúde a seu povo. Ele exige, portanto, abstinência daquilo que se mostra um possível meio de alastramento da doença e da morte.

Hoje, com os avanços da ciência e o aprimoramento das técnicas de seleção e preparo dos alimentos, não se faz necessária a restrição ao consumo de vários dos animais citados. Inclusive, o próprio Deus preocupou-se em revogar, posteriormente, a proibição do consumo dos animais impuros, através de uma visão dada a Pedro, conforme narrado em Atos 10:9-16. Contudo, o princípio básico de que devemos preservar nossa saúde como forma de respeitarmos a Deus, o doador e senhor da vida, permanece válido. Assim, os evangélicos abstêm-se da bebida alcoólica e do cigarro como forma de preservar a saúde. Nosso corpo, como templo do Espírito Santo, deve receber alimentos saudáveis. Devemos, portanto, preocuparmo-nos com os nossos hábitos alimentares. A preferência por alimentos frescos, a redução do uso de frituras e enlatados e o consumo de frutas e legumes são alguns dos cuidados recomendáveis. Algumas pessoas consideram esse tipo de preocupação “coisa da nova era”, ligando a busca de uma alimentação mais natural às religiões orientais e ao esoterismo. Como vimos, esse é um preconceito tolo, pois a Bíblia nos ensina que devemos selecionar aquilo que vamos comer. João Wesley, fundador do metodismo, revelou também uma grande preocupação com a saúde da população, chegando a lançar um guia de remédios naturais, baseado em chás e plantas.

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A Impureza Relacionada com o Parto (12:1-8)

Pessoas de todas as épocas da história têm reconhecido o parto como uma experiência plena de mistério e espanto. Em Israel, assim como em outros povos antigos, essa experiência contava com cerimônias especiais, que a identificavam como uma ocasião quando a presença de Deus era intensamente sentida. Também era uma ocasião de grande perigo, com as condições precárias de então, que determinavam uma elevada mortalidade infantil. Portanto, ao mesmo tempo que o parto era uma ocasião de alegria e regozijo, era também um momento de medo e ansiedade. Considerando que o poder de Deus para dar e tirar a vida está fortemente presente nesta ocasião, fazia-se necessária uma especial proteção ao filho e à mão, dando-se as devidas ações de graças e buscando-se a expiação dos pecados.

É importante reconhecer que os rituais de purificação relacionados ao parto não surgiram porque a concepção de filhos fosse vista como um evento pecaminoso. Como vimos, a base dos mesmos é que as forças do bem e do mal, das bênçãos e das desgraças, pareciam estar presentes de maneira especial neste momento. Inclusive, o Antigo Testamento considerava o nascimento de filhos como uma dádiva de Deus e uma grande família era vista como uma benção (conforme, por exemplo, Salmo 127:3-5).

A Impureza Através da Lepra (13:1 a 15:33)

A doença era considerada pelos israelitas uma forma de impureza, de afastamento da graça de Deus. Devido à essa visão, cabia aos sacerdotes o diagnóstico e o controle da evolução da doenças contagiosas, privando a pessoa infectada do contato direto com a sociedade. Na época narrada pelo livro de Levítico (final do Séc. XII A.C.) outros povos já tinham seus “médicos”, mas os israelitas viam com maus olhos o trabalho destes. Como vemos em II Crônicas 16:12, que narra a morte do rei Asa, recorrer aos médicos era visto como deslealdade para com Deus.

Os leprosos eram condenados a viver em total isolamento. Vestiam roupas rasgadas, deixavam que seus cabelos prendessem soltos e cobriam o lábio superior, atos que eram sinais de lamentação. Os doentes tinham que se comportar como se estivessem de luto pelos mortos, visto que a enfermidade era ligada ao poder da morte.

Encontramos em Levítico 14:1-32 a narrativa do ritual de purificação da lepra. Ë importante observar que esse ritual não visava a cura dos doentes, a qual caberia unicamente a Deus. Ele era realizado após a cura de uma pessoa e representava a expiação dos pecados e a remoção das impurezas.

Jesus combateu a idéia, que vigorava até então, de que as doenças representavam maldições. O afastamento da sociedade era, como vimos, resultante da necessidade de se evitar o contágio e não uma exigência de cunho religioso. O fato dos sacerdotes cuidarem dos doentes deve-se à centralização do poder político e civil juntamente com o religioso.

O Código da Santidade

Do capítulo 17 ao 16 encontramos uma longa série de bênçãos e maldições vinculadas a uma espécie de código legal. A maioria dos estudiosos da Bíblia acredita que este trecho constituía um livro separado, anexado posteriormente ao de Levítico. Provavelmente sua organização tenha ocorrido em Jerusalém antes da destruição da cidade pelos babilônicos, reunindo-se uma série de

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materiais antigos que constituíram uma espécie de coletânea dos regulamentos em vigor no Templo. Procura este código realçar, basicamente, a relação estreita que deve haver entre as exigências religiosas do culto e de santidade e as exigências da legislação social que se aplicavam ao Israel antigo. A santidade aqui apregoada não representa uma mera forma de piedade individual ou a simples participação no culto público. Era, antes, um modo de viver integral que envolvia todos os aspectos do comprometimento pessoal, familiar e social. A santidade de Deus impõe um padrão completo de comportamento moral e social ao povo que Ele escolheu.

A primeira parte do código (17:1-16) trata das condições sob as quais era permitido o consumo de carne como comida e das prescrições gerais para a matança ritual de animais. Os sacrifícios deviam seguir normas bem específicas e só poderiam ocorrer sobre o único santuário legítimo (a tenda da congregação, durante o êxodo, e o Templo de Jerusalém, posteriormente). A reafirmação desta limitação visava, também, evitar o oferecimento de sacrifícios nos diversos altares pagãos encontrados ao redor de Jerusalém, onde eram cultuados os sátiros, espíritos (demônios) do deserto. Os cananeus, com quem os israelitas passaram a conviver a partir da conquista da terra prometida, possuíam tradições e costumes bastante distintos daqueles encontrados em Israel e que feriam os principais preceitos de fé dos israelitas. O risco de absorção de influências culturais e religiosas era muito grande, fazendo com que fossem proibidos quaisquer atos que pudessem proporcionar oportunidade de disfarce para sincretismos (misturas de diferentes religiões).

Na segunda parte do código (18:1-30) encontramos uma relação pormenorizada de questões atinentes à santidade pessoal, em especial aquelas relacionadas à ética sexual. Os israelitas mantinham um código de comportamento muito mais estrito e elevado do que os demais povos do Oriente Médio antigo e os infratores estavam sujeitos a severas penas. A santidade em que se tinha o elo do casamento contrastava fortemente com os relacionamentos frouxos e confusos comuns às comunidades antigas, em especial os cananeus. Para exemplificar quão abomináveis eram os costumes dos cananeus, podemos citar o culto a Moloque, cuja primeira referência encontramos em 18:21. Os cultuadores deste deus sacrificavam crianças, muitas vezes seus próprios filhos, em meio a orgias sexuais ritualísticas.

O trecho que poderíamos considerar um terceiro capítulo do Código (19:1-37) apresenta uma grande lista de regulamentos que regiam a vida cotidiana em Israel. Nele encontramos instruções sobre as colheitas (deviam ser deixadas espigas para serem colhidas pelos pobres); condenação a relações comerciais desonestas; proibição de falsos juramentos e exigência de que os salários sejam pagos rigorosamente em dia, dentre outras regras. Uma das proibições mais curiosas aqui encontradas está no versículo 19, que condena a semeadura de um campo com dois tipos diferentes de sementes e a mistura de dois materiais distintos numa mesma peça de roupa. Este é um ótimo exemplo de preceitos do Antigo Testamento que não conseguimos entender à luz da lógica e da cultura de hoje. Na base desta proibição estava a forte crença de que era necessário que fosse mantida a ordem natural das coisas, considerada uma expressão absoluta da vontade de Deus, que não poderia ser descumprida. Assim, o ser humano não deveria misturar aquilo que Deus tinha feito diverso, separado.

Os sacerdotes mereceram um capítulo à parte no Código (21:1-24), pois deles se esperava uma conduta especialmente santa. O sacerdócio era hereditário, mas se os descendentes da linhagem sacerdotal não tivessem um comportamento exemplar eram impedidos de exercer suas funções.

Em resumo, podemos dizer que o Código de Santidade representa normas de conduta pessoal que pautavam a vida social e religiosa dos israelitas. A despeito das diferenças de época que impedem a adoção de muitos dos regulamentos nele encontrados, a essência dos mesmos continua válida e atual. Precisamos, sem dúvida, buscar uma vida mais santa, mais separada das ideologias e práticas encontradas em nossa sociedade, as quais muitas vezes se distanciam tanto da vontade de Deus

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quanto os costumes dos cananeus a que nos referimos anteriormente. Acima de tudo deve ficar a lição que não podemos separar nossa vida religiosa de nosso dia-a-dia na família, no trabalho e na sociedade. Precisamos vivenciar um cristianismo prático e presente em todos os momentos de nossas vidas e, como diz um cântico, transformar o amor de Deus em ações e o nosso viver num hino de louvor. Amém.

O Ano Sabático e o Ano do Jubileu

Em Levítico 25 encontramos uma série de regulamentos concernentes ao direito de posse de propriedades e bens, em especial a terra e as pessoas (escravos). Seu propósito geral era fixar limites ao direito de propriedade particular, de modo a preservar o princípio de que todo tipo de propriedade é relativo. Deus é o verdadeiro dono de tudo e aos seres humanos apenas é permitido uma espécie de usufruto. A posse de terra e de pessoas em caráter permanente era vista como exclusiva de Deus.

O chamado “Ano Sabático” acontecia a cada sete anos e nele não se podia cultivar a terra. era permitido, tão somente, colher os alimentos estritamente necessários à subsistência. O sétimo ano era de Deus e o deixar a terra em descanso era uma maneira de restitui-la a seu verdadeiro proprietário. Havia, também, uma ordem para que o que crescesse neste ano fosse colhido pelos pobres, que não possuíam sua própria terra, para que estes usufruíssem de algum benefício da terra que Deus tinha dado ao seu povo. Além disso, o período de descanso evitava a exaustão do solo.

O Ano do Jubileu ocorria a cada 49 anos, constituindo-se, portanto, numa espécie de sábado dos sábados (49 = 7 x 7). Neste ano, toda propriedade tinha que ser restituída ao antigo dono, nas condições originais. Esta lei fazia com que toda venda de imóveis fosse vinculada a um período limitado de anos.

Vale esclarecer que, embora a lei do Ano do Jubileu e do Ano Sabático esteja no Livro de Levítico, que narra acontecimentos anteriores à conquista de Canaã, na realidade ela foi escrita posteriormente, quando os israelitas já tinham se instalado há bastante tempo e ocorriam problemas sociais. No momento da conquista da terra prometida, a mesma foi dividida entre as tribos e subdividida por famílias. Havia, na ocasião, um sentimento de justiça na repartição, que fez com que todos possuíssem o necessário para sua sobrevivência. Posteriormente, com a urbanização de Israel e a ocorrência de problemas sociais diversos, algumas pessoas mais bem sucedidas passaram a comprar as terras de outras que tinham se endividado, formando latifúndios. Essa situação, porém, contrariava o princípio básico de que toda terra é dádiva de Deus, conforme denunciou Isaías: “Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo, até que não haja mais lugar e fiquem como únicos moradores no meio da terra” (Is. 5:8).

A questão da remissão da propriedade também dizia respeito à posse de pessoas como escravas. Por motivo de dívida, uma pessoa podia ser obrigada a vender seus filhos ou a si próprio em escravatura. A possibilidade de israelitas se tornarem escravos era altamente desestimulada. Porém, se a escravatura se tornasse inevitável, então o israelita deveria ser tratado não como um verdadeiro escravo, mas como uma espécie de empregado, sendo libertado por completo de qualquer obrigação no Ano do Jubileu.

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A Questão da Terra nos Dias Atuais

A Bíblia não é apenas um livro histórico, que narra o que Deus fez no passado. Deve ser uma fonte de referência para a nossa conduta como cristãos. É muito importante que, ao estudarmos a Palavra, possamos refletir sobre o que ela nos diz hoje.

Como ocorre com diversas leis do Antigo Testamento, seria inviável a adoção do Ano do Jubileu nos dias atuais. Porém, a idéia central que estava por trás de sua instituição permanece válida: Deus é o verdadeiro dono da terra. Assim, podemos dizer que a péssima distribuição de terras observada em nosso país não apenas é socialmente injusta como atenta contra um dos princípios básicos de nossa fé.

No Brasil, cerca de 0,1% da população é dona de mais da metade das terras cultiváveis. Temos diversos latifúndios improdutivos, mantidos para fins especulativos por pessoas que enriqueceram pelo poder das armas, da chamada “grilagem”, de alianças políticas obscuras e de subsídios governamentais mal administrados. Esta situação tem dificultado o desenvolvimento econômico, gerando problemas como o êxodo rural (vinda da população do campo para as grandes cidades) e o alto preço dos alimentos.

Ao contrário do que possa parecer, a reforma agrária não é uma instituição típica de sociedades socialistas, já tendo sido empreendida em diversos países capitalistas, como Japão e Estados Unidos. Os sucessivos governos brasileiros, inclusive aqueles do regime militar, reconheceram sua necessidade mas ou foram incapazes de promovê-la ou não quiseram realmente levá-la adiante. Como cristãos, devemos estar preocupados com esta situação e cobrar soluções dos nossos governantes.

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O LIVRO DE NÚMEROS

A narrativa encontrada neste livro tem início no Deserto do Sinai, no segundo ano após a saída dos israelitas do Egito e termina cerca de 38 anos depois, nas planícies de Moabe, próximo a Jericó. Seu conteúdo é bastante variado. Na primeira parte (Caps. 1 a 10) encontramos, basicamente, materiais de natureza legal e estatística. A seguir (caps. 11 a 20), temos uma série de acontecimentos referentes à caminhada no deserto. O final do livro é dedicado à narrativa das principais batalhas enfrentadas na chegada à Canaã.

Moisés é o personagem central deste livro, como de todo o Pentateuco. Como vimos anteriormente, ao contrário do que muitos crêem, não foi ele o autor de todo o Pentateuco. Além de inúmeras evidências literárias que demonstram terem sido vários (inclusive o próprio Moisés) os autores dos textos reunidos nos cinco primeiros livros da Bíblia, neles encontramos a narrativa da morte de Moisés, além de versículos que dificilmente ele escreveria sobre si mesmo, como por exemplo: "Ora, Moisés era homem mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra" (Num. 12:3).

A primeira parte de Números, repleta de dados históricos de natureza estatística, parece desnecessária quando examinada à luz da nossa cultura. Porém, os hebreus possuíam uma estrutura de pensamento que privilegiava as expressões concretas, os dados quantitativos. Há uma forte preocupação dos autores em registrar dados estatísticos para emprestar à narrativa um caráter histórico. A herança religiosa judaica surge da ação de Deus na história do seu povo e era importante que essa característica fosse realçada. Yahweh, ao contrário dos deuses pagãos, não surge de crendices populares ou de mitos e o conhecimento de seu poder não é esotérico restrito a um grupo de iniciados. É o Deus criador e Senhor da História, presente em cada momento da vida do seu povo. Realçar essas importantes características foi o objetivo básico dos organizadores do livro de Números.

A Narrativa do Censo

No início do capítulo 1 encontramos a narrativa do censo realizado no deserto do Sinai, tendo como motivo básico a determinação do potencial militar do povo. Devido a esse objetivo bem específico, só foram contados os homens com mais de 20 anos que tinham capacidade para guerrear. Não foram incluídos, portanto, as mulheres, as crianças e os idosos. Os levitas também não foram contados, porque não guerreavam, sendo dedicados apenas às funções sagradas relacionadas ao culto.

Encontramos em nossas Bíblias um número total de 603.550 israelitas, contados segundo os critérios acima expostos. Projetando-se a inclusão de todos os não considerados chegaríamos a uma população de cerca de 2 milhões de pessoas. Muitos estudiosos da Bíblia questionam a exatidão da tradução literal deste trecho, julgando tal número incompatível com a realidade. Ocorre que a palavra "milhares" pode significar não o número mil mas sim uma unidade familiar. Se tomarmos, por exemplo, o versículo 21, podemos deduzir, segundo esta interpretação, que havia na tribo de Rúben 500 pessoas divididas em 46 milhares (famílias) e não 46.500 pessoas, conforme tradicionalmente computado. Assim, seguindo esta outra interpretação, os números alcançados no censo seriam 598 unidades familiares com uma força militar de 5.500 homens. Esta segunda interpretação parece mais coerente. Se na época de José os israelitas somavam apenas 70 pessoas, dificilmente teriam alcançado um crescimento tão vertiginoso, alcançando 2 milhões. Além disso, as narrativas da caminhada pelo deserto transmitem claramente a idéia de um povo marchando num bloco bem compacto que, como vemos em Num. 10:2, podia ser reunido ao som de apenas duas

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trombetas. Ora, se um grupo de 2 milhões de pessoas se perfilasse para marchar em colunas de 50, formaria um bloco de cerca de 35 km. As próprias dimensões da terra posteriormente conquistada dificultam a aceitação da idéia de que o povo pudesse ser tão numeroso.

A Organização do Acampamento

O culto e a guerra são os dois aspectos mais marcantes da vida dos israelitas no deserto e é em torno dos mesmos que se estrutura a sociedade. Se no início do primeiro capítulo encontramos a organização básica para a guerra, a partir do versículo 47 temos a organização para o culto. Este texto nos traz a descrição das tarefas que competiam aos levitas (membros da tribo dos descendentes de Levi, o terceiro filho de Jacó com Léia). A estes, que estavam na base da hierarquia religiosa (acima vinham os sacerdotes e o sumo sacerdote) eram confiados diversos ofícios relacionados à manutenção, transporte e guarda da tenda da congregação e seus utensílios.

O ponto central do acampamento era a tenda da congregação, ao redor da qual organizavam-se as tribos em forma de quadrado, com 3 de cada lado. Era considerado muito importante que as tribos ficassem eqüidistantes da tenda, pois esta era, segundo a concepção da época, o local físico que representava a presença de Deus, o lugar da habitação do Santo.

Os Nazireus (Num. 6:1-27)

Havia muitos tipos de votos a Deus na cultura israelita. Dentre eles, destacava-se o voto do nazireado, que era efetuado como uma espécie de acréscimo aos demais votos, em virtude da pessoa ter passado por uma experiência invulgar com Deus, tendo recebido um dom especial. As palavras “nazireu” e “separado são parecidas, sendo escritas com as mesmas consoantes. O termo “nazireu” pode ser traduzido como “aquele que está sendo separado”.

O nazireu era alguém que, em virtude da presença especial de Deus em sua vida, dedicava-se a tarefas especiais. Havia uma série de restrições que deveriam ser por ele observadas, não por terem tais restrições um fim em si próprias, mas sim por constituírem expressões visíveis que demonstram a consagração da pessoa a Deus. Assim, um nazireu não podia tomar vinho ou bebida forte, nem cortar o cabelo, nem aproximar-se de cadáveres.

A Bênção de Arão

Nos versículos 24 a 26 do capítulo 6 de Números, encontramos a bênção que Deus ordenou a Moisés que fosse usada para abençoar os filho de Israel, a qual é bastante divulgada ainda hoje, devido à sua beleza e à força de suas palavras: “O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. O Senhor levante sobre ti o seu rosto e te dê a paz. Assim, porão o meu nome sobre os filhos de Israel e eu os abençoarei”.

A palavra Senhor (Yahweh) é o mais sagrado dos nomes usados para designar a Deus, indicando o caráter pessoal de sua revelação. Te guarde está, evidentemente, ligada à proteção divina. Faça resplandecer o seu rosto sobre ti e levante sobre ti o seu rosto são expressões que significam favor divino. O rosto de Deus é a fonte de luz que ilumina os homens para quem ele estiver voltado. Paz significa muito mais do que a inexistência de hostilidade ou guerra, abrangendo as relações humanas em geral (familiares, tribais e nacionais), tanto no nível espiritual quanto econômico e social. Porão o meu nome sobre os filhos de Israel indica a concessão do maior privilégio que o ser

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humano poderia receber. Na cultura israelita, o poder da pessoa assentava-se no seu nome. Quando Deus põe seu nome em Israel, fica estabelecida um forte identificação entre ele e seu povo.

A Nuvem sobre o Tabernáculo

Após a construção do tabernáculo, uma nuvem se pôs sobre a tenda da congregação, representando a presença de Deus. Esta nuvem tinha três funções: proporcionava sombra durante o dia; luz e calor à noite (quando se transformava numa coluna de fogo) e indicava ao povo quando deveria caminhar. Como vemos em Nm. 9:15-23, os israelitas observavam rigorosamente a movimentação da nuvem e só levantavam acampamento quando ela se movia.

As Murmurações do Povo

Cansado das privações a que tinha que se submeter no deserto, o povo começou a se queixar, chegando a blasfemar contra Deus, que, irando-se, lançou fogo sobre as extremidades do arraial (Nm. 11:1-3). Tais murmurações revelaram uma fraqueza típica da natureza humana: apegar-se a coisas de menor valor, para satisfazer necessidades momentâneas, relegando a segundo plano verdadeiros tesouros. Foi assim com Esaú, que trocou sua primogenitura por um prato de lentilhas. Foi assim com os israelitas que, mesmo saindo da escravidão do Egito para a terra prometida, onde teriam liberdade e fartura, desprezaram a grande benção manifesta na sua libertação e na ação maravilhosa de Deus. Os peixes, os pepinos, as cebolas e outras comidas traziam-lhes saudades do Egito, esquecendo-se de que lá eram escravos.

Se refletirmos sobre nossa vidas, veremos que caímos, muitas vezes, em erros semelhantes. É comum nos apegarmos a alguns confortos e conveniências, deixando em segundo plano a observância dos desígnios de Deus. Ainda que não cheguemos a murmurar (nossas tradições religiosas são mais sólidas do que as daquele povo, ainda muito imaturo na fé), podemos desagradar a Deus profundamente quando assim procedemos.

Deus mandou codornizes para que o povo comesse carne "até sair pelas narina" e não mais reclamasse. Porém, logo a seguir, surgiram várias outras reclamações, como vemos em Nm 11:4-35, 12:1-16 e 14:1-3, dentre outros trechos.

Os Setenta Anciãos

A rebeldia do povo e a ira de Deus deixaram Moisés profundamente abalado, chegando a pedir a Deus que o matasse: "Eu só não posso levar a todo este povo, porque me é pesado demais. Se tu me hás de tratar assim, mata-me, peço-te, se tenho achado graça aos teus olhos, e não me deixes ver a tua miséria". (Nm 11:14 e 15). Vendo que Moisés já não podia responsabilizar-se sozinho pelo povo, Deus mandou que ele reunisse 70 anciãos diante da tenda: "Então descerei e ali falarei contigo, e tirarei do Espírito que está sobre ti e o

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porei sobre eles; e contigo levarão eles o peso do povo, para que tu não o leves só" (Nm 11:17). Assim procedeu Moisés, e os setenta por ele escolhidos receberam a unção de Deus e manifestaram, como sinal, o dom da profecia.

Vale destacar, nesta narrativa, o ocorrido com Eldade e Medade. Esses dois homens, apesar de não estarem entre os escolhidos, tinham também recebido o Espírito de Deus e profetizaram no arraial. Ao ser informado sobre isto, Josué desejou proibi-los. Moisés, porém, não o permitiu, dizendo: "Tu tens ciúmes por mim? Oxalá que do povo do Senhor todos fossem profetas, que o Senhor pusesse o seu Espírito sobre eles" (Nm 11:29)

Temos que tomar cuidado para não cairmos no mesmo erro de Josué, tentando impor limites à ação do Espírito, a partir de nossos preconceitos, criando na igreja "panelinhas". Se Deus concede a uma pessoa dons para atuar em ministérios, quem somos nós para julgarmos se essa pessoa deve ou não exercer seu ministério. É comum o estabelecimento de certos parâmetros para medirmos a espiritualidade da pessoa, esquecendo-nos de que Deus é quem conhece verdadeiramente quem é ou não espiritual e não serão algumas manifestações externas que nos proporcionarão condições de julgar a uma pessoa. Vale ainda lembrar que em momento algum da Bíblia vemos que Deus chamou para o seu trabalho pessoas perfeitas. Uma das formas mais eficazes para o crescimento espiritual é, justamente, o engajamento no trabalho da igreja.

Por outro lado, muitas vezes nós mesmos nos achamos sem condições de assumir uma maior responsabilidade em nossa igreja. Muitas vezes, um pequeno grupo acaba tendo que assumir diversas tarefas por falta de pessoas dispostas a trabalhar. Se você ainda não está participando ativamente de nenhum ministério na igreja, não deixe para amanhã, nem espere sentir-se inteiramente pronto para o trabalho. Ore hoje mesmo, pedindo a Deus orientação e capacitação e assuma uma participação mais direta na obra!

A Rebelião do Povo no Deserto de Parã

Em Nm. 13:1-33, vemos que, ao chegar ao deserto de Parã, Moisés foi orientado por Deus a enviar espiões à terra de Canaã. Após 40 dias, os enviados retornaram contando que, verdadeiramente, a terra era muito boa. Porém, seus habitantes foram considerados poderosos e as cidades muito fortes. O povo foi tomado de grande temor ao ouvir esta narrativa e pretendeu desistir, cogitando nomear outro chefe no lugar de Moisés, que se dispusesse a conduzi-los de volta ao Egito. Mais uma vez, os muitos milagres operados por deus naquelas vidas foram esquecidos e os israelitas não confiaram naquele que, de modo tão maravilhoso, os libertara da escravidão.

Vendo o temor dos israelitas, Josué e Calebe, que estavam entre os espiões, tentaram fazê-los entender que bastava que eles não se rebelassem contra o Senhor que Ele lhes garantiria a vitória. O povo, porém, não só não aceitou esta argumentação como pretendeu apedrejá-los. Nisso, a Glória do Senhor se manifestou diante de todos e Deus ameaçou feri-los e rejeitá-los (Nm. 14:10-12). Moisés, além de pedir perdão em nome do povo, argumentou, como sempre fazia neste tipo de situação, que o não cumprimento da promessa de

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conquista da terra poderia ser interpretado pelos egípcios e outros povos pagãos como um sinal de fraqueza de Deus.

Por fim, Deus decidiu continuar conduzindo o povo à terra prometida, mas com uma ressalva: Nenhuma pessoa com mais de 20 anos entraria em Canaã. Com isso, nenhum dos que tinham saído do Egito chegariam à terra prometida, mas tão somente os seus descendentes. Deus também matou os homens que tinham ido espiar e, na volta, insuflaram o povo, com exceção de Josué e Calebe, que mantiveram-se fiéis. A estes, aliás, foi permitido entrar em Canaã, apesar de terem mais de 20 anos.

Os israelitas eram realmente rebeldes e indisciplinados, errando mesmo quando pretendiam seguir a Deus. Ao decidirem retomar a caminhada rumo à terra prometida, precipitaram-se a caminhar contra os amalequitas, mesmo sendo alertados por Moisés que ainda não era a hora de fazê-lo, pois não tinham recebido ordem de Deus. Como resultado, foram esmagados pelos inimigos. (Nm. 14:39-45).

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A Rebelião de Corá (Nm. 16:1-40)

Corá era primo de Moisés e Arão e se rebelou contra eles, questionando a autoridade que mantinham sobre o povo. Na sua concepção, todos os membros da Tribo de Levi eram igualmente sagrados, não havendo razão para manter-se uma linhagem sacerdotal com privilégios especiais. Foram por ele reunidas 250 pessoas que gozavam de poder e prestígio, sendo considerados "príncipes da congregação... varões de renome" (Vs. 2). Tratou-se, portanto, de uma briga interna dos líderes do povo.

Moisés, ao invés de buscar argumentos para polemizar com seus oponentes, invocou o testemunho do próprio Deus, que era verdadeiramente quem lhe concedia poder e autoridade sobre o povo: "Depois falou (Moisés) a Corá e a toda a sua companhia, dizendo: Amanhã pela manhã o Senhor fará saber quem é seu e quem é o santo, ao qual Ele fará chegar a si" (Vs. 5). No dia seguinte, as 250 pessoas reunidas por Corá foram, juntamente com Moisés e Arão, queimar incenso à porta da tenda da congregação. O Senhor, então, manifestou-se a todos que ali estavam, confirmando a autoridade de Arão e Moisés, e pediu aos dois que se afastassem para que pudesse consumir os demais. Depois, Deus mandou que toda a família de Corá se reunisse e fez a terra abrir-se e traga-los vivos. Por fim, consumiu no fogo os 250 homens que tinham participado da rebelião.

Essa passagem nos traz uma importante lição. Moisés foi vitorioso porque soube clamar a Deus ao invés de pretender impor-se por suas próprias forças. Assim também nós, quando nos sentimos questionados ou ameaçados por outras pessoas, precisamos buscar o auxílio de Deus e deixar o problema em suas mãos, confiantes de que se estivermos, realmente, sendo retos de coração e tementes aos seus mandamentos, Ele nos protegerá e nos honrará.

Como a rebelião de Corá continuasse a repercutir em meio ao povo, Deus providenciou outro sinal da unção de Arão como sacerdote. Em Nm 17:1-11 vemos que Deus mandou que fossem reunidos representantes de cada uma das 12 tribos de Israel. Cada um deveria tomar uma vara e nela escrever seu nome, colocando-as, depois, na tenda da congregação. No dia seguinte, a vara de Arão havia florescido, produzira gomos, rebentara em flores e dera amêndoas maduras. Moisés guardou, a mando de Deus, esta vara dentro da arca, onde já estavam as tábuas com os dez mandamentos e uma amostra do maná.

O Pecado de Moisés e a Morte de Arão

Números 20:2-13 narra mais uma ocasião em que os israelitas murmuraram contra Deus e contra seus líderes, desta vez em função da falta de água. Vendo que o povo se rebelava, Moisés foi até a tenda da congregação buscar a orientação de Deus. O Senhor ordenou-lhe que, juntamente com Arão, reunisse a congregação e ordenasse à rocha que lhes desse água. Moisés, reunindo o povo, disse-lhes: "Ouvi, agora, rebeldes! Porventura tiraremos água desta rocha para vós?". Depois bateu duas vezes na pedra com a vara, fazendo jorrar água em abundância. Deus, porém, ficou irado e disse a Moisés e a Arão: "Porquanto não me crestes a mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não introduzirei esta congregação na terra que lhes

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dei. Estas são as águas de meribá, porque ali os filhos de Israel contenderam com o Senhor." (20:12-13)

O motivo da ira de Deus contra o povo é evidente. Porém, não fica tão claro o que o levou a irar-se também com Moisés e Arão. Uma das hipóteses que podemos levantar é que ao dizer ao povo "porventura tiraremos água desta rocha?" o próprio Moisés não estivesse muito convencido de que isso seria possível. Outra possibilidade é o fato de ele ter golpeado a rocha duas vezes, como se um só golpe não fosse suficiente ou como se estivesse com raiva. Uma terceira hipótese é que Deus ficou irado pela omissão de Moisés em não exaltar o Seu poder, evidenciando o milagre das águas como um ato de incredulidade e negligenciando a possibilidade de chamar a atenção do povo para a santidade de Deus.

Logo a seguir, Deus mandou que Moisés levasse Arão até o monte Hor e lá o matou (a Arão). O próprio Moisés também morreu posteriormente antes de entrar na terra prometida, conforme narrado em Deut. 34:1-8.

As Serpentes Abrasadoras (Nm. 21:4-9)

Partindo do monte Hor, os israelitas tomaram um caminho mais longo para rodearem a terra de Edom, evitando entrar em conflito com o povo que lá morava. Novamente houve murmuração contra Deus e contra Moisés. O Senhor mandou serpentes abrasadoras para morderem o povo, as quais causaram muitas mortes. Os israelitas, arrependidos, pediram a Moisés que intercedesse em seu favor. Deus, ouvindo a oração de Moisés, ordenou-lhe que fizesse uma serpente de bronze, colocasse-a sobre uma haste e todos que a vissem viveriam, e assem se fez.

Essa é uma passagem de difícil compreensão à luz de nossa visão teológica atual. O uso de uma serpente de bronze poderia ser interpretado como uma espécie de feitiçaria, principalmente porque os egípcios daquela época usavam colares com figuras de serpentes para repelirem as cobras. Porém, tendo sido fruto das orações de Moisés, a imagem não tinha um fim em si, sendo antes uma lembrança daquele que estava por detrás da imagem.

Em João 3:14-15 vemos que Jesus, falando a Nicodemos, compara a sua crucificação à colocação da serpente na haste: "Assim como Moisés levantou numa estaca a serpente de bronze no deserto, também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todo o que nele crer tenha a vida eterna" . A semelhança verificada nessas duas passagens é o paradoxo entre os símbolos da morte gerando vida. A cruz, como a serpente, representavam morte, mas através delas Deus restaurou seu povo.

Vitórias Sobre os Amorreus e Sobre Basã (21:21-35)

Marchando rumo a Canaã, os israelitas precisaram atravessar a terra dos amorreus. Foram enviados mensageiros ao Rei Siom para solicitar autorização para que efetuassem a travessia, comprometendo-se a não mexer nos campos ou nas vinhas, respeitando a propriedade dos Amorreus. Porém, o rei não só

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autorizou a travessia como mandou um exército para lutar com os israelitas. Mas Israel, com o auxílio de deus, venceu a batalha e ainda apoderou-se da terra.

Depois, continuando sua caminhada, os israelitas foram atacados por Ogue, rei de Basã. Deus disse a Moisés que não temesse, pois Ele lhe daria a vitória. Novamente os israelitas venceram e se apoderaram das terras dos vencidos. Posteriormente, estas terras foram repartidas por algumas tribos, juntamente com as de Canaã.

Continuando sua caminhada rumo a Canaã, os israelitas chegaram às planícies de Moabe, após derrotarem os amorreus e o povo de Basã. Balaque, rei de Moabe, conhecendo as vitórias anteriores de Israel, temeu e tratou de obter ajuda. Assim, enviou presentes a Balaque, um famoso adivinhador da Mesopotânia, para que este amaldiçoasse os israelitas, de maneira que pudesse derrotá-los.

Quando foi informado pelos mensageiros de Balaque do pedido deste, Balaão solicitou-lhes um tempo antes de comprometer-se a ajudá-los, de modo que pudesse consultar a Deus se deveria atendê-los. O Senhor, então disse-lhe: "Não irás com ele, não amaldiçoarás a este povo, porquanto é bendito" (22:12). Com isso, Balaão despediu os enviados de Balaque, informando-lhes que Deus não o deixará ir com eles.

Ao regressarem a Moabe, os mensageiros informaram a seu rei que Balaão se recusara a ir com eles, mas omitiram que esta recusa se deveu à proibição de Deus. Pensando tratar-se apenas de um capricho pessoal do adivinhador, Balaque enviou-lhe uma nova missão, constituída de príncipes da mais alta honra entre seu povo. Ao chegarem, estes prometeram a Balaão que se os acompanhasse seria grandemente honrado pelo rei e teria todos os seus desejos atendidos. Balaão, porém, disse aos mensageiros que não podia desobedecer a Deus. Pediu-lhes, no entanto, que ficassem com ele aquela noite, esperando uma nova manifestação de Deus. O Senhor ordenou-lhe, então, que fosse mas que fizesse tão somente o que Ele mandasse.

Logo que Balaão iniciou sua viagem, teve que enfrentar a ira de Deus. Um anjo do Senhor se prostrou adiante dele na estrada, com sua espada em punho fazendo com que a mula que o conduzia se desviasse. Como Balaque não tinha podido ver o anjo, achou que o animal estava se rebelando e surrou-o, obrigando-o a retornar à trilha. Por mais duas vezes, a mula viu o anjo e empacou, sendo violentamente surrada por seu dono. Deus, então, abriu a boca da jumenta e esta contou-lhe o motivo de sua recusa em seguir caminho. Também abriu os olhos de Balaão para que esse pudesse ver o anjo. Prostrado com o rosto em terra, Balaão, cheio de temor, indagou se deveria retornar, sendo, porém, orientado pelo anjo a seguir caminho, mas tomando o cuidado de falar somente o que lhe fosse ordenado por Deus.

O texto bíblico não deixa claro o motivo da ira de Deus contra Balaão. Duas suposições que podemos levantar a esse respeito são: 1) Balaão tinha convencido a si mesmo que Deus tinha permitido a sua ira, o que não correspondia à realidade. Seu forte desejo de acompanhar os mensageiros de Moabe e receber os presentes prometidos fez com que confundisse sua

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vontade pessoal com a vontade de Deus. 2) Balaão sabia que Deus tinha permitido que fosse mas que não o deixava amaldiçoar o povo, porém não revelou isso aos príncipes de Moabe, dando-lhes a falsa impressão de que os atenderia.

A história de Balaão é singular, não só pelo inusitado acontecimento da mula falar. Ele é o único não-hebreu citado no Antigo Testamento como sujeito aos mandamentos de Yahweh. Além disso, é difícil entender como ele podia ser, ao mesmo tempo, temente a Deus e adivinhador, uma prática claramente condenada pelo Senhor. A despeito destas singularidades, temos muito o que aprender com esta história.

Muitas vezes, caímos em erros similares ao de Balaão. Quantas e quantas vezes, servos tementes a Deus se deixam levar por seus próprios desejos e impressões, julgando estar sendo orientados pelo Senhor em profecias e revelações. A maioria de nós poderá, provavelmente, lembrar-se de episódios deste tipo: alguém verdadeiramente espiritual divulga uma orientação para um irmão falando em nome de Deus, ordenando-lhe que faça isso ou deixe de fazer aquilo. Depois, verifica-se que aquela "profecia" tinha sido, na realidade, fruto dos sentimentos, conceitos (e preconceitos) e idéias da própria pessoa. Ninguém, por mais que se julgue fiel a Deus, pode impor aos outros uma profecia ou orientação se não houver absoluta certeza de que esta vem realmente de Deus, o que deve ser atestado à luz da Palavra e confirmado por outros servos. É justamente por não tomar estes cuidados que muitos caem em erros e depois acabam se decepcionando com a pessoa que lhe deu a orientação errada ou com o próprio Deus. Sem nos tornarmos céticos ou descrentes (muitas profecias vêm, verdadeiramente de Deus), precisamos ser mais prudentes. Precisamos, também, conhecer mais a Bíblia. Falando claramente pode ser considerado um verdadeiro absurdo o pequeno conhecimento da Palavra que muitos ainda têm. É vergonhoso e temerário que pessoas se convertam e se lancem a buscar dons de profecia e outras manifestações espirituais sem o adequado preparo bíblico, que os auxiliará no discernimento das mensagens recebidas. Enquanto perdurar este descrédito com o estudo da Palavra, continuaremos crentes raquíticos e "levados por todo o vento de doutrina" como diz em Efésios.

Chegando à presença de Balaque, Balaão explicou-lhe que somente falaria aquilo que Deus lhe mandasse, não podendo atender a seu pedido de amaldiçoar ao povo de Israel. Solicitou, a seguir, que lhe fossem preparados altares para oferecer sacrifícios a Deus. Então, o Senhor pôs na boca de Balaão as seguintes palavras: "como amaldiçoarei a quem Deus não amaldiçoou? e como denunciarei a quem o Senhor não denunciou? Pois do cume das penhas o vejo e dos outeiros o contemplo; eis que é um povo que habita só e entre as nações não será contado. Quem poderá contar o pó de Jacó e o número da quarta parte de Israel?" (23:8-10).

Balaque não se conformou pela benção proferida no lugar da maldição por ele desejada. Assim, pediu a Balaão que consultasse novamente a Deus e, para isso, levou-o a um monte, onde ergueu sete novos altares e ofereceu novos sacrifícios. Novamente o Senhor se manifestou a Balaão, o qual proferiu as seguintes palavras: "Deus não é homem para que minta nem filho do homem para que se arrependa. Porventura, tendo Ele dito não o fará? Ou, havendo

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falado, não cumprirá? Eis que recebi mandado de abençoar; pois Ele tem abençoado e eu não posso revogar." (23:18 a 20)

Essa passagem nos traz a importante lição, relembrada em vários outros trechos da Bíblia, de que nós não podemos julgar a ninguém. Cabe unicamente a Deus fazê-lo. Como diz no primeiro texto acima reproduzido, como denunciar a quem Deus não denunciou? Muitas vezes, infelizmente, adotamos uma posição de juizes sobre nossos irmãos, pretendendo que os mesmos se enquadrem nas nossas concepções de vida e naquilo que julgamos ser o mais correto.

O segundo texto citado é bastante conhecido. Trata-se de uma promessa maravilhosa de Deus, de ser fiel às suas promessas. Que nós possamos guardar no coração essas preciosas palavras, confiando que o que Ele diz fará e o que promete cumprirá. Quantas vezes temos nos angustiado e ficado ansiosos sem motivo? Ter fé em Deus não significa somente crer que Ele existe. Viver pela fé requer confiança na sua providência e paciência para esperar a hora certa. Por isso, a Bíblia nos diz que "o justo viverá pela fé".

Por isso, o profeta Habacuque escreveu: "Ainda que a figueira não floresce, nem há fruto na vide; o produto da oliveira mente e os campos não produzem mantimento; as ovelhas foram arrebatadas do aprisco e nos currais não há gado, todavia eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação" (Hb. 3:17-18). Reflitamos sobre como temos praticado a nossa fé!

Novamente inconformado com as palavras de Balaão, Balaque o levou a outro lugar, numa terceira tentativa de fazer-lhe amaldiçoar os israelitas. Mais uma vez, porém, ele foi usado por Deus para abençoar a Israel. Desta vez, o Espírito do Senhor o fez, também, amaldiçoar aos moabitas (povo do qual Balaque era rei) e anunciar a derrota de diversos outros povos que seriam derrotado por Israel na luta pela conquista da terra prometida

Israel sofre Influências Pagãs (25:1-5)

Enquanto permaneceram acampados em Sitim (região a leste do Rio Jordão, distante cerca de 16 Km de Jericó), alguns israelitas se envolveram com mulheres midianitas, sendo levados por estas a oferecer sacrifícios aos seus deuses e adorá-los. Um dos principais deuses adorado pelos moabitas e outros povos da região era Baal-Peor. Este era considerado o deus da fertilidade, tanto da família humana quanto de seus animais e da própria terra que cultivavam. O culto a Baal implicava em relações sexuais com as prostitutas sagradas dos templos pagãos e a participação em refeições onde eram servidas as carnes oferecidas em sacrifício. Deus ficou grandemente irado com esse grave pecado do povo e ordenou a Moisés que mandasse enforcar todos os transgressores.

A idolatria a Baal continuou presente em meio aos israelitas por muito tempo. O profeta Elias empreendeu uma disputa contra os profetas de Baal. O apóstolo Paulo também teve que lutar contra religiões pagãs de sua época que adotavam as práticas dos adoradores de Baal, promovendo rituais que incluíam orgias sexuais, bebedices e glutonarias.

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Embora nos dias de hoje não tenhamos mais contato com seguidores de Baal, continuamos a enfrentar problemas parecidos. Há muitos "cultos" a prazeres carnais. A igreja precisa continuar lutando contra as nefastas influências de um tempo onde se diz que nada é proibido, que tudo é normal e ajudar a resgatar pessoas dominadas pelos diversos tipos de vícios decorrentes desta liberalidade.

O Novo Recenseamento (Nm. 26:1-65)

Ao iniciarem a conquista da terra prometida, os israelitas precisavam cuidar da sua divisão entre as diversas tribos. Assim, Deus ordenou que Moisés promovesse um novo censo, para que houvesse uma divisão mais justa, proporcional ao tamanho de cada tribo. Foram contados, na ocasião, 601.730 homens em idade de guerra (de 20 anos para cima).

A Mudança na Lei de Heranças (Nm. 27:1-11)

Segundo as leis da época, somente faziam jus à herança de terras os filhos homens. No entanto, as cinco filhas de Zelofeade, vendo que ficariam sem suas terras com a morte de seu pai, uma vez que não possuíam irmãos, apresentaram sua reivindicação a Moisés. Demonstrando grande sabedoria, Moisés foi consultar a Deus sobre o que deveria fazer. Apesar das leis vigentes instituírem claramente o direito à herança como uma exclusividade dos homens, ele se sensibilizou com o caso. Deus ordenou, então, que a lei fosse mudada, favorecendo as filhas de homens que morressem sem filhos.

Na realidade, a lei de Israel era um código de princípios em crescimento, que se desenvolvia juntamente com a constituição da nação. Os fariseus, a quem Jesus por diversas vezes condenou, erravam justamente porque, apesar de conhecerem profundamente a lei, eram incapazes de interpretá-la como convém: à luz da fé num Deus justo e amoroso, que não deseja ser buscado através do cumprimento mecânico de regras.

Infelizmente, ainda hoje encontramos pessoas que se preocupam em seguir (e impor aos outros) uma série de regras, extraídas de interpretações fundamentalistas e equivocadas da Bíblia, como se as mesmas fossem básicas para a prática da fé cristã. A proibição das mulheres usarem calças compridas ou cortar o cabelo são exemplos destes equívocos, cometidos, muitas vezes, por pessoas de boa fé.

Como nos ensinou Jesus, precisamos ter cautela com “o fermento dos fariseus”. Que o Espírito Santo nos ilumine em nossa caminhada, para que sejamos tementes a Deus e fiéis à sua vontade, sem cairmos em farisaísmos.

Josué é Designado Líder do Povo

Deus mandou que Moisés subisse ao monte de Abraim, de onde poderia avistar a terra prometida, avisando-o, porém, que ele morreria sem que pudesse nela entrar, por ter pecado no episódio das águas de Meribá.

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Conformado, Moisés pediu que Deus nomeasse um novo líder para que “a congregação do Senhor não seja como ovelhas que não têm pastor” (27:17).

O Senhor indicou, então, Josué, filho de Num, o qual tinha se destacado anteriormente, juntamente com Calebe, pela fidelidade mantida a Deus durante a rebelião do povo. Josué também foi um dos 12 espias enviados para sondar a terra a ser conquistada e tinha feito a recomendação de que o povo subisse imediatamente e possuísse a terra. Certamente, porém, a maior qualidade que ele possuía era ser cheio do Espírito, conforme qualificado pelo próprio Deus, que o chamou de “homem em quem há o espírito” (27:18). Esta é, sem dúvida, a qualificação básica para os servos de Deus.

Vale realçar que Josué não sucedeu a Moisés com a mesma autoridade absoluta. Aos olhos dos hebreus, Moisés era um legislador e líder único, cuja autoridade jamais foi igualada.

A missão que Josué teria que assumir era bastante complexa. Não se tratava simplesmente de ocupar o território. A posse da terra era apenas uma parte da promessa. Estava sendo constituída uma nação, que deveria viver sob as leis do Senhor. O período de escravidão no Egito, somado aos 40 anos que os israelitas passaram no deserto, deixaram muitas marcas no povo. Além disso, a convivência com os povos que habitavam Canaã representava um perigo constante de contaminação por doutrinas estranhas. As leis que Deus tinha dado através de Moisés precisavam ser consolidadas numa administração comprometida com a fidelidade aos propósitos do Senhor.

O Início da Divisão das Terras

Nas cercanias da terra prometida, ao leste do rio Jordão, encontravam-se belas pastagens, as quais foram pedidas a Moisés pelos membros das tribos de Rúben e Gade. Moisés, no entanto, questionou-se se seria correto que eles se estabelecessem antes dos demais israelitas, temendo que com isso se acomodassem e, com o pretexto de ficar cuidando de suas terras e de seu gado, não lutassem junto com as demais tribos pela conquista da terra (32:6). Eles, porém, juraram que acompanhariam o restante do exército israelita até que todo o povo estivesse radicado na terra, obtendo, com isso, a autorização pleiteada.

A exigência de Moisés nos traz à lembrança o compromisso que o cristão precisa ter com a propagação do Evangelho. O verdadeiro servo de Deus é aquele que dedica sua vida ao serviço e não fica requerendo bênçãos para si de maneira egoísta. Se Deus permitiu que chegássemos à “terra prometida” da liberdade e vida abundante em Cristo, é importante que, ao invés de “montarmos nosso acampamento”, passando a cuidar só dos nossos próprios interesses, ajudemos outras pessoas a encontrar o caminho.

Instruções Finais para a Conquista da Terra

As condições que deveriam ser observadas para que os israelitas tomassem posse da terra foram estabelecidas de maneira clara por Deus, conforme

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vemos em Nm 33:51-52. Lendo este trecho vemos que não bastava ocupar um pedaço de terra suficiente para a instalação do povo. Era necessário que eles assumissem o controle absoluto da terra, a qual deveria ser possuída em nome de Deus. O Senhor não podia compartilhar sua terra com outros deuses. A remoção do povo que cultuava deuses estranhos e dos instrumentos utilizados nesses cultos eram duas partes de uma mesma ação, para tirarem qualquer vestígio dos cultos aos ídolos.

De fato, a instrução dada por Deus de que o seu povo não deveria dar oportunidade à influência de outros povos mostrou-se fundamental para a manutenção da fidelidade a Ele. Quando os israelitas se misturaram com povos que cultuavam a deuses pagãos, foram induzidos a se afastarem de Deus.

Hoje, o povo de Deus também é chamado a se santificar, ou seja, a se separar das influências do mudo, para que possa manter-se fiel a Deus. Logicamente, não é o caso de querermos viver cercados apenas por crentes, até porque precisamos evangelizar aqueles que ainda não conheceram a Cristo. O que não podemos é nos deixar levar pelos valores e costumes cultivados por uma sociedade pecaminosa, cada vez mais afastada da vontade do Senhor.

Alguns sinais de santificação dos cristãos, como seu afastamento das bebidas e dos vícios em geral ou seu modo de falar são bastante evidentes. Outros, porém, não são tão explícitos. O verdadeiro cristão não é apenas aquele que não faz (não rouba, não fuma, não bebe etc). É também aquele que faz, que reflete em cada ato de sua vida o amor de Cristo. Muitas vezes, porém, valores mundanos, como a cobiça, o preconceito, a valorização das pessoas por aquilo que possuem, dentre outras deformações, tomam conta da igreja. Nestes momentos, o povo de Deus se enfraquece e dá lugar a contendas, fofocas e divisões ou fica acomodado. Estejamos atentos aos valores do Reino de Deus e não nos deixemos levar pelas influências do mundo!

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O LIVRO DE DEUTERONÔMIO

Deuteronômio apresenta três dimensões básicas: i) uma espécie de discurso de despedida de Moisés, com ênfase na reafirmação da lei dada por Deus; ii) a primeira parte da história de Israel enquanto nação e iii) um convite ao reavivamento da aliança com Deus. Dessa terceira dimensão deriva seu nome, pois seu título significa “a lei dada novamente”.

Em Deuteronômio estão os discursos feitos por Moisés quando os israelitas faziam os preparativos finais para tomar posse da terra prometida. Neles, Moisés lembra ao povo o que Deus havia feito por eles, libertando-os da escravidão no Egito e sustentando-os durante a caminhada pelo deserto. O povo é exortado a obedecer a Deus, cumprindo sua parte na aliança. O lembrete final dado por Moisés é que Deus escolhera os israelitas para serem seu povo, cabendo-lhes obedecer para que continuassem a receber bênçãos na terra onde iriam se estabelecer.

Ao tempo em que realça a importância da obediência à lei, vemos em Deuteronômio que a mesma não deve ser encarada como uma camisa de força, destinando-se, ao contrário, a permitir a plena expressão da vida. Os mandamentos do Senhor são um sustentáculo para que seu povo viva de acordo com seus propósitos.

Essa percepção da lei como algo construtivo e libertador e não como escravizante faltava aos fariseus e a outras autoridades religiosas criticadas por Jesus. Infelizmente, alguns cristãos também caem nesse mesmo equívoco, resumindo sua vida religiosa a uma estreita observância a regras de comportamento, transmitindo a outras pessoas uma impressão de repressão e fanatismo.

Quando estamos verdadeiramente sintonizados com o amor de Deus e percebemos o real sentido de seus mandamentos passamos a ter uma vida naturalmente disciplinada, onde o que deixamos de fazer não é fruto de repressão nem nos traz frustrações, sendo antes a ação do Espírito em nossas vidas.

O Perigo da Acomodação

No capítulo oito (leia os versículos de 11 a 13) encontramos um alerta específico a respeito de um dos motivos que muitas vezes nos levam ao afastamento de Deus: A acomodação diante de uma vida tranqüila.

Em meio a provações, até as pessoas que não costumam lembrar-se de Deus passam a buscá-lo. Uma doença grave ou um perigo eminente nos fazem buscar com ardor a Deus, rogando-lhe que intervenha no nosso problema. Mas, o que acontece quando tudo está bem?

O alerta dado por Deus através de Moisés, que encontramos no texto acima citado, era de suma importância naquele momento, tendo em vista que as dificuldades até então vivenciadas, na dura travessia do deserto, estavam por cessar. Seria muito importante que os israelitas não se esquecessem do muito que Deus tinha lhes feito e se mantivessem fiéis a Ele.

Primeira parte do Sermão de Moisés: O Que o Senhor Quer? (Deut. 10:12-15)

Partindo do primeiro mandamento (não terás outros deuses diante de mim), Moisés reafirma a importância da sua observância utilizando um recurso pedagógico muito eficaz: transformar em positivas sentenças negativas, ou seja, falar o que deve ser feito no lugar do que não deve. Assim,

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encontramos neste trecho uma série de palavras para esta afirmação positiva do primeiro mandamento: Temer ao Senhor; andar em todos os seus caminhos; amar ao Senhor; servir ao Senhor e guardar seus mandamentos. A observância destas instruções constitui o verdadeiro fundamento da vida religiosa.

A primeira palavra forte acima citada - temer - merece destaque pela diferente conotação que possuía na época em relação à linguagem de nossos tempos. Hoje usamos "temer" com o sentido de "ter ou sentir medo ou receio" (Dicionário Aurélio) e, logicamente, só podemos ter medo de pessoas ou situações que se mostrem contrárias ou ameaçadoras a nós. Por que teríamos, então, temor a Deus? Ocorre que, na linguagem e estrutura de pensamento do oriente médio, "temor" expressava a atitude de reverência apropriada perante o Santo e Poderoso Deus. Temer a Yahweh significa reconhecê-lo plenamente como Deus e manter uma verdadeira adoração a Ele.

A segunda expressão chave - andar em todos os seus caminhos - representa um chamado a um estilo de vida em que o temor a Deus, no sentido acima explicado, deve estar presente em todos os momentos e não só nas horas de culto. Paulo retoma este importante chamado em Romanos 6:4: "...Assim também andemos nós em novidade de vida" e em I Coríntios 7:17: "Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme Deus o tem chamado. É assim que ordeno em todas as igrejas".

A terceira reivindicação traz à lembrança aquele que deve ser o fundamento de toda a vida religiosa: O amor. Conforme afirmou Jesus, ao ser perguntado pelos fariseus sobre qual era o grande mandamento: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento (...) e amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mat. 22:37, 39)

Servir ao Senhor, o quarto chamamento desta seção, constitui-se num dos pontos centrais de toda a pregação de Jesus e esta na base da existência da Igreja. O próprio Cristo colocou-se como servo e exigiu esta mesma postura de seus discípulos: "...Quem quiser tornar-se grande entre vós, será o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo. Tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos" (Mat. 20:26-28).

Guardar os mandamentos, o último lembrete desta parte do sermão, denota a preocupação de Moisés em lembrar ao povo que as orientações dadas por Deus por seu intermédio deveriam permanecer para sempre na memória e serem praticadas pelos israelitas. A palavra "guardar" tem aqui um duplo significado: memorizar e observar, cumprir.

Reflita sobre o que este sermão de Moisés tem a ver com sua vida. Você tem amado, temido e servido ao Senhor; andado em seus caminhos e guardado os seus mandamentos?

Segunda parte do Sermão de Moisés: Circuncidai os Vossos Corações (Deut. 10:16-22)

Essa segunda parte inicia-se com um alerta contra a religiosidade vazia: “circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração e não mais endureçais a vossa cerviz”. Como sabemos, o ritual da circuncisão era uma antiga prática dos judeus e constituía-se num sinal visível da aliança com Deus feita por Abraão. No entanto, para muitos essa aliança ficava restrita a este ritual, não se traduzindo em uma vida reta e com temor a Deus. Por isso, Moisés alerta ao povo que era preciso que fosse removido qualquer obstáculo a uma relação mais profunda com Deus.

No versículo 17, Moisés lembra que “O Senhor é o Deus dos deuses e o Senhor dos Senhores” e que é um Deus justo que não faz acepção de pessoas, mas faz justiça ao órfão e à viúva e ama ao

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estrangeiro. Deus requer justiça para com todas as pessoas. Os israelitas precisavam abandonar os seus preconceitos e idéias egoístas. O estrangeiro, por exemplo, era tratado como uma espécie de não-cidadão, que poderíamos comparar com os bóia-frias e outros grupos marginalizados que hoje encontramos na sociedade.

Terceira parte do Sermão de Moisés: Considerai a Disciplina do Senhor (Deut. 11:1-7)

Nesta parte do sermão, Moisés faz um apelo para que o povo se mantivesse fiel às leis de Deus. Parte este apelo da lembrança da grandeza do Senhor, que com sua “mão forte e braço estendido” tinha operado grandes obras na história dos israelitas.

Merece destaque o lembrete feito no versículo 2: “Pois não falo com vossos filhos, que não conheceram, nem viram”. Moisés realça aqui que a fé dos israelitas estava baseada na experiência própria, vivenciada durante o êxodo. Este fato aumentava a responsabilidade deles, pois não estavam lidando com um deus conhecido apenas por atos passados ou através de testemunhos de terceiros. Essa é, também, uma das ênfases do cristianismo: não cultuamos a um Cristo do passado, mas a um Jesus que está vivo, operando maravilhas em meio ao seu povo. Só pode realmente vivenciar a plenitude da Graça e manter uma vida de comunhão com Deus aquele que passou por uma experiência pessoal com Ele. A realidade adotada unicamente por herança recebida dos pais, por costume ou influência de outros é vazia e sem sentido.

Quarta parte do Sermão de Moisés: Para Que Sejais Fortes (Deut. 11:8-25)

Aqui, Moisés lembra que a terra que estava sendo entregue aos israelitas era boa e farta, pois “os olhos do Senhor teu Deus estão sobre ela continuamente”. Mas, a força dos israelitas estava unicamente na fidelidade a Deus e era preciso guardar-se “para que o vosso coração não se engane e vos desvieis, e sirvais a outros deuses e os adoreis”. Este era um perigo real, considerando que haveria uma convivência direta com outros povos, adoradores de deuses pagãos. Porém, a fidelidade a Deus era a garantia de vitória: “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma (...) e ninguém vos poderá resistir”

Conclusão do Sermão de Moisés: Benção ou Maldição (Deut. 11:26-32)

Moisés conclama seu povo, no encerramento do sermão, a manter uma conduta coerente com a decisão que eles tinham tomado de submeterem-se ao plano de Deus, plano este que começara desde a libertação do Egito. Vale realçar que a aliança feita com os antepassados precisava ser renovada por aquela geração. Moisés realça que a decisão por seguir ou não a Deus deveria ser tomada e alerta para as conseqüências da mesma.

Os israelitas erraram em diversas ocasiões por terem se esquecido que a posse da benção de Deus é fruto de uma decisão pessoal e intransferível. Por serem descendentes de Abraão, eles achavam que não precisavam preocupar-se em buscar uma experiência com Deus, limitando-se a cumprir friamente as leis, como faziam os fariseus. Não foi a toa que Jesus disse que até das pedras Deus poderia gerar filhos de Abraão, alertando-nos sobre a necessidade de que nasçamos de novo.

A Lei do Santuário Único (12:1-32)

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A partir do capítulo 12, tem início a seção das leis do livro de Deuteronômio. Trata-se, na realidade de uma reafirmação da lei, tendo como uma das preocupações centrais não deixar que o povo se contaminasse pelos cultos pagãos promovidos pelos povos que seriam dominados (Veja Deut. 12:2-3).

Juntamente com as instruções sobre a eliminação dos deuses pagãos vem uma instrução para que o culto a Deus seja centralizado num único lugar (Deut. 12:5). A idéia da instituição de um lugar central de culto revestia-se de grande significado. A convocação para todas as tribos reunirem-se em um só lugar, além de contribuir para a unidade dos israelitas auxiliava na preservação da centralização religiosa, muito importante uma vez que os conceitos religiosos dos israelitas estavam ainda em processo de formação, de distinção das demais religiões.

Desde a época do êxodo existia um lugar central de culto, a tenda da congregação. Posteriormente, Jerusalém ganhou o status de capital religiosa do judaísmo, após a arca da aliança ter sido trazida pelo Rei Davi para o monte Sião, onde Salomão construiu, posteriormente, o Templo. Tempos depois, Josias fez da centralização religiosa a chave para as rigorosas medidas que tomou para resgatar as doutrinas esquecidas por Reis iníquos (conforme 2 reis 21 a 23 e 2 Crônicas 33 a 35). Por outro lado, várias deformações graves surgiram em torno da estrutura religiosa do templo. Jesus denunciou diversas irregularidade cometidas pelos líderes religiosos e mostrou, na conhecida passagem da expulsão dos vendilhões, que o Templo tinha se transformado num grande negócio.

O cristianismo abandonou completamente a idéia de centralização do serviço religioso em um único lugar. Permanece, todavia, um dos fundamentos básicos desta instituição: a valorização da reunião da comunidade da fé para a celebração conjunta do Culto ao Senhor. Embora saibamos que Deus não habita apenas nos templos, devemos valorizar os santuários onde prestamos nosso culto e, principalmente, cultivar a unidade no amor e na sã doutrina, para que, cumprindo-se a profecia de Jesus, sejamos “um só rebanho, com um só pastor” (Jo 10:16)

Alerta contra a Idolatria (13:1-18)

Um dos temas mais presentes nos sermões do Antigo Testamento é a idolatria, muitas vezes praticada pelos israelitas, que em várias ocasiões adotaram os deuses de outros povos. Esta é uma grande abominação para Deus. O texto acima referenciado alerta, especialmente, contra as pessoas que divulgam fés estranhas, normalmente utilizando sinais, falsas demonstrações de poder: "Se se levantar no meio de vós profeta ou sonhador de sonhos e vos anunciar um sinal ou prodígio (...) e ele disser: vamos após outros deuses (...), não ouvireis as palavras daquele profeta ou sonhador, porquanto o Senhor vosso Deus vos está provando, para saber se o amais de todo o vosso coração e de toda a vossa alma. (...) E aquele profeta ou sonhador morrerá, porque falou rebeldia contra o Senhor; (...) assim exterminareis o mal de meio de vós."

Existiam muitos profetas que não tinham no Senhor a fonte de seus dons. Como sabemos, Satanás procura imitar os dons dados por Deus para confundir as pessoas. Alguns exemplos deste tipo podem ser encontrados em I Samuel 10:1, I Reis 22:5-28 e II Reis 19:29. A estes falsos profetas deveria caber o castigo maior: a morte, para evitar que o povo fosse contaminado com suas doutrinas estranhas.

Hoje em dia, vemos centenas, milhares destes "profetas", que prometem maravilhas a seus seguidores, mas os arrastam para um abismo, para a idolatria, a feitiçaria, muitas vezes mascarada de algo bom e normal. Basta que vejamos a onda de esoterismo que invadiu nossa sociedade. Bonecos em forma de duendes, cristais e outros "amuletos" fazem um tremendo sucesso. Paulo

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Coelho, que se diz "mago", vende milhares de livros com suas experiências místicas. Revistas de horóscopos, numerologia, simpatias e coisas similares inundam as bancas de jornais. Fora as doutrinas espíritas e umbandistas que são infiltradas nos roteiros de filmes e novelas.

Somos chamados por Deus a denunciar a idolatria, tal como os antigos profetas do Senhor fizeram. Alerte seus familiares e amigos sobre o que, ou melhor, quem está por trás das crendices do esoterismo. Deus conta com sua igreja para resgatar as vidas que estão dominadas por Satanás e suas artimanhas!

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