web viewemg – escola ministerial glória o caráter de cristo em nós. 1. o...

115
EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS CURSO DE MATURIDADE CRISTÃ – CMC 1

Upload: dodung

Post on 14-Feb-2018

224 views

Category:

Documents


9 download

TRANSCRIPT

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O CARÁTER DE

CRISTO EM NÓS

CURSO DE MATURIDADE CRISTÃ – CMC

“Maneja bem a palavra da verdade” (2 Timóteo 2.15).

1

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

DIFERENÇA ENTRE REPUTAÇÃO E CARÁTER

Por William Hersey Davis

REPUTAÇÃO é aquilo que esperam que você seja;

CARÁTER é aquilo que você realmente é...

REPUTAÇÃO é a fotografia;

CARÁTER é o rosto...

REPUTAÇÃO vem de fora sobre alguém;

CARÁTER cresce de dentro...

REPUTAÇÃO é o que você tem quando chega num novo local;

CARÁTER é que você tem quando vai embora.

Sua REPUTAÇÃO é feita num momento;

Seu CARÁTER é construído durante toda a vida...

Sua REPUTAÇÃO pode ser conhecida em uma hora;

Seu CARÁTER pode levar um ano para vir à luz...

REPUTAÇÃO cresce como um cogumelo;

CARÁTER durar pela eternidade...

REPUTAÇÃO torna você rico ou pobre;

CARÁTER lhe faz feliz ou lhe faz miserável...

REPUTAÇÃO é o que os homens dizem de você na lápide sepulcral

CARÁTER é o que os anjos dizem de você diante do trono de Deus.

2

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

SUMÁRIO

Considerações iniciais 05

O Caráter cristão é fruto da alma 05

A cruz como ferramenta de lapidação do caráter 07

Definições de caráter 09

Distinção entre caráter, personalidade e temperamento 10

Expressões do caráter 11

Caráter e Dons 13

Como se forma o caráter 15

A influência do ambiente e da sociedade na formação do caráter 15

A responsabilidade da Igreja 15

O projeto de Deus para o nosso caráter 16

Nascer de novo é somente o primeiro passo 17

O poder da cruz 19

O andar no princípio da cruz 23

Verdades sobre negar-se a si mesmo 23

A operação da cruz sobre o ego 25

As virtudes do caráter cristão 33

Fatores que influenciam a formação do caráter 37

A formação do caráter através dos tratamentos de Deus 41

Nossa atitude diante do tratamento de Deus 45

O deserto e as circunstâncias 47

O início dos grandes ministérios 47

O que é o deserto? 47

Nossa maleabilidade determina a duração e a intensidade do deserto 50

As circunstâncias de tratamento 50

Quebrantamento e o caráter de Cristo 52

O homem interior e o homem exterior 52

O tempo do nosso quebrantamento 53

O significado da cruz 53

O que impede o quebrantamento 54

As feridas produzirão a beleza de Cristo em nós 543

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O quebrantamento afeta o serviço na obra 55

Qualidades produzidas no quebrantamento 58

Somente o Senhor pode edificar nosso caráter 60

Deus quer que deixemos todas as coisas em suas mãos 60

A cruz em operação 61

Traços do caráter de Cristo 61

Principais fatores para a formação de um autêntico caráter cristão 71

Ter um modelo 71

Receber de Deus os modelos e mentores que eles nos dá 73

Submeter-se ao Senhorio de Cristo 74

Viver cheio do poder que transforma 74

Disciplina pessoal 76

Constante frutificação 76

Suplemento: O caráter de Cristo e da serpente 78

Referências bibliográficas 80

4

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

CONSIDERAÇÕES INICIAISO CARÁTER CRISTÃO É FRUTO DA ALMA

Joe Bishop, ministro da Igreja Fé Apostólica em Woodlake, Califórnia, diz que Jesus poderá vir a qualquer momento. No entanto, se Ele demorar, a Igreja provavelmente enfrentará perseguição mais intensa. Ele acredita que a habilidade de resistir à perseguição gira em torno do que chamamos de “Caráter Cristão”.

Para ele nosso caráter está relacionado com quem somos quando ninguém está olhando. Nossa reputação, por outro lado, diz respeito à nossa conduta como é vista ou percebida por outros. “Boa” conduta sem caráter se torna hipocrisia. Isto foi revelado à igreja em Sardes: “Ao anjo da Igreja que está em Sardo escreve: Isto diz o que tem os sete Espíritos de Deus, e as sete estrelas: Eu sei as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto!” (Apocalipse 3.1).

O livro de Apocalipse foi escrito, de certa forma, como uma profecia dos últimos tempos. Também foi dado como uma advertência para a Igreja. Nós, como cristãos, somos a Igreja. Já que Jesus pode vir a qualquer momento, nós temos que prestar atenção às advertências. A mensagem de Deus para os de Sardes era que eles tinham um nome – uma boa reputação – porém estavam mortos. Eles estavam vivendo em hipocrisia. Um bom nome é importante e nós queremos tê-lo. A base da nossa reputação, no entanto, deve ser a de um Caráter Cristão. Isso é o que nos ajudará a resistir a qualquer perseguição que nós tenhamos que enfrentar.

Deus está interessado em quem realmente somos. Algumas vezes nós podemos ser enganados por algumas coisas que parecem boas externamente, mas Deus nunca pode ser enganado.

No Antigo Testamento, lemos que o Profeta Samuel foi instruído por Deus para ir à casa de Jessé e ungir um dos seus filhos para que fosse o rei. Quando Samuel conheceu o filho mais velho de Jessé, viu que ele era um jovem vistoso e teve certeza que ele era o ungido do Senhor. O Senhor lhe respondeu: “O homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” Deus sabe o que está dentro, e escolheu ao invés deste, o filho mais jovem.

Nós não podemos produzir frutos espirituais em nossas vidas da mesma forma que o agricultor não pode produzir frutos em suas árvores. Deus é o Único que fez a semente. Ele é o Único que dá crescimento à árvore, o aparecimento de seus ramos e folhagens, a germinação e a formação do fruto. O agricultor não pode fazer isso, ele somente coopera com Deus. O mesmo é verdade espiritualmente.

Talvez você é daqueles que gosta de decorar uma árvore para o Natal. Normalmente não faz nenhuma diferença que tipo de árvore você compra, porque de qualquer modo ela não poderá ser vista – pois tem um montão de coisas penduradas nela! Mas nós nunca vimos um pinheiro produzir luzes elétricas. Nunca vimos esse pinheiro produzir enfeites de vidro em seus ramos. Essas coisas somos nós quem as pomos nas árvores.

5

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

A Bíblia nos diz claramente que, como cristãos, temos que fazer certas coisas. Envolve ação. No entanto, Deus está mais interessado em quem somos do que no que fazemos. Boas obras não nos salvarão. Podemos fazer todas as boas obras das quais já ouvimos, e não serão suficientes. Podemos ser bem zelosos ao contribuir para o fundo missionário. Podemos dar esmola a um mendigo na esquina da rua. Podemos servir na cozinha ajudando a preparar comida para os outros. Mas se ao mesmo tempo estivermos degradando as nossas esposas ou esquecendo de atender nossos filhos, alguma coisa está errada. Caráter é algo que vem do coração. Bom caráter produzirá bom fruto, mas apregoar boas obras quando o coração não está reto é como pendurar ornamentos em uma árvore. Pode parecer ótimo, mas não é real. Nós nunca teremos Deus em nossas vidas por fazer boas obras, mas uma vez que temos Deus em nossas vidas, então haverá boas obras – bom fruto.

Considere virtude – um dos atributos do caráter que devemos possuir. Em II Pedro 1.5, nos foi dito: “Acrescentai à vossa fé a virtude” Como podemos conseguir virtude? Fazendo algo virtuoso? Talvez tenhamos decidido sermos bem cuidadosos em nos vestirmos modestamente. Nós podemos fazer isso de forma muito virtuosa, entretanto damos meia volta e criticamos, contestamos ou reclamamos. Se este for o caso, então alguma coisa está errada! Não importa o que dizemos, ou as boas obras que fazemos, ou o que as pessoas pensam de nós, se não temos um coração que queira fazer a coisa certa, então há algo errado. Queremos ter o fruto que vem da alma, porque isso é o que vai nos proteger em tempos perigosos. Uma máscara externa não fará nada por nós quando as provas chegarem.

Alguns membros das nossas igrejas já estão envelhecendo e enfrentando dores, sofrimentos e solidão – circunstâncias que os deixariam desanimados se não tivessem algo real em seus corações. Alguns reclamam, mas outros, em vez de reclamar, dizem: “Eu ainda tenho ao Senhor!” Algumas vezes doenças aparecem e destroem o corpo ou a mente, mas não podem tirar do coração o que o Senhor tem feito. Isto é Caráter Cristão. Quando tudo mais se vai, nós ainda temos o que está em nossos corações.

Quando nós temos Caráter Cristão, a evidência está em nossa conduta. Quando uma pessoa é salva existem evidências da sua salvação. Se alguém diz, “Eu sou salvo”, mas continua a mentir, roubar e viver imoralmente, é muito claro que não está salvo. Se você é salvo, sua conduta muda como evidência de que alguma coisa mudou dentro – no coração. Nós lemos em 2 Coríntios 5.17: “Se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. Se não há uma mudança de conduta, então o coração não mudou.

A santificação também é uma experiência definitiva que traz uma diferença em nossas vidas. A palavra de Deus nos ensina que a santificação provê limpeza interior da natureza pecaminosa com a qual todos nascemos. Haverá evidências na sua vida que você foi santificado – purificação no interior que se mostrará na sua vida diária.

Quando você recebe o Batismo do Espírito Santo você o saberá, e também os outros. O batismo fará uma diferença em você. Haverá um poder novo em sua vida. O seu relacionamento com Deus se moverá para um novo nível, porque o Consolador estará morando em você. Isso se mostrará!

Traços de bom caráter não são aprendidos em um programa de dez passos ou em livros de auto-ajuda. Eles são mais do que apenas tentar fazer o melhor. Eles vêm através do trabalho de Deus no coração. O que vai nos sustentar em tempos de perseguição e

6

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

perigo será algo que Deus nos tem dado, não algo que nós temos tentado desenvolver com nossas próprias forças. O segredo se encontra em II Pedro 1.3, onde diz que “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou por sua glória e virtude”.

Deus diz “Sede santos.” Ele não disse para fazermos algo para que aparentássemos ser santos. Ele diz “sede” santo. Você não pode fazer a si mesmo santo da mesma forma que não pode salvar-se a si mesmo, mas quando você recebe a santidade de Deus por dentro, sua vida e conduta serão santas e agradáveis a Deus.

Pedro nos instrui no mesmo capítulo: “Acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, E à ciência temperança, e à temperança paciência, e à paciência piedade, E à piedade amor fraternal; e ao amor fraternal caridade.” (II Pedro 1.5-7). Ele não nos disse para fazer alguma coisa virtuosa ou piedosa ou boa. Ele nos instrui a sermos virtuosos, piedosos e bons por dentro. Isso é caráter. Deus nos ajudará a sermos assim se orarmos e pedirmos a Ele.

O livro de II Pedro não é o único lugar na Bíblia onde podemos encontrar essas instruções de como ser, ao invés de apenas fazer. Sim, há certas coisas que Deus nos diz para fazer, mas há mais coisas que Ele nos diz para sermos. Filipenses 2.15, diz: “sejais irrepreensíveis.” Apocalipse 2.10, diz: “Sê fiel.” Apocalipse 3.2 diz. “Sê vigilante.”

É seu desejo ser como Deus quer que você seja? A ajuda do Senhor está disponível. Este é um alto padrão, e Deus quer nos ajudar a perseverarmos nesta direção. Nós precisamos desta segurança para os últimos tempos. Precisamos andar dignos da vocação para a qual fomos chamados, como irrepreensíveis filhos da luz. Assim, nosso caráter cristão resistirá a qualquer prova.

A CRUZ COMO FERRAMENTA DE LAPIDAÇÃO DO CARÁTER

O caminho para o Caráter de Cristo é o caminho da operação da cruz em nós. Não há outra maneira das marcas do caráter de Cristo serem formadas, a não ser pela cruz. E a cruz é a maneira de Deus quebrar a vontade humana e toda auto-dependência. Deus prepara circunstâncias e situações que tratam com nossas vontades para que possamos ser quebrantados. É através do Princípio da Cruz (Mateus 16.24) que somos formados em nosso caráter.

Esta lei opera em nós, moldando-nos e ensinando-nos a vida no Espírito. Não há como conter o processo dos tratamentos do Senhor para formar o nosso caráter. Deus é Pai e sempre vai nos corrigir, aperfeiçoar e ensinar.

Como é bom vivermos e nos relacionarmos com pessoas quebrantadas e doces que foram tratadas por Deus. A cruz é que opera em nós a beleza do Senhor. A cruz é o instrumento de Deus para moldar-nos à semelhança de Cristo. A cruz é que nos capacita para termos o caráter que suporta o poder de Deus. Antes de Jesus subir, Ele desceu (Efésios 4.8-9). Este é o princípio de Deus. Antes de conhecermos o poder e a glória, temos que ser tratados pela cruz de Cristo. Antes do Pentecostes virá o Gólgota. Nós gostamos muito da glória do Pentecostes; o Senhor, porém, nos chama primeiro para o Gólgota. Quanto mais alto Deus for nos levar, significa que mais tratamentos precisamos ter em nosso caráter. Existe um princípio aqui: As pressões e tentações aumentam à medida que crescemos em Deus. Por isto, mais base de caráter uma pessoa precisa ter na guerra contra o mundo espiritual e o pecado.

7

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Jesus passou tal pressão que suou gotas de sangue (Hebreus 12.4). O caráter do obreiro precisa ter sido formado pela cruz.

A maturidade emocional e espiritual vem pelos tratamentos da cruz de Cristo. Os homens de Deus precisam ser homens que vençam os ataques do inimigo em sua mente, emoções e vontade, e isto vem pelo quebrantamento. Não podem ser pessoas frágeis que cedem às pressões do velho homem e do diabo sobre a carne.

O alicerce de uma casa é a parte mais delicada da construção. Da mesma forma, na Igreja, ter líderes fortes, tratados e preparados é a parte mais delicada e mais importante da edificação. As pressões não vêm somente pelos ataques do inimigo, mas também pelos princípios que envolvem a busca intensa de Deus. Às vezes, quanto mais buscamos ao Senhor, mais os céus se fecham e se tornam de bronze. É um princípio que precisamos saber: os que buscam ao Senhor, que muitas vezes oram e jejuam, sentem muita resistência e aparentemente nada acontece. Ou às vezes as pressões e problemas aumentam. Este princípio está ligado ao fato de que nos céus algo está sendo gerado e por isto estamos pagando o preço. Sempre, antes da visitação de Deus e dos avivamentos, os homens usados sofrem, choram e gemem, até que a mão do Senhor seja livre para operar. Portanto, como obreiros de Deus, necessitamos conhecer estes caminhos e estar preparados para enfrentá-los.

8

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Definições de CaráterO caráter refletirá os traços da natureza pecaminosa se for influenciado pelo mundo, ou os traços da natureza divina, se for influenciado pela Palavra de Deus.

Caráter é a soma total de todas as influências positivas

ou negativas aprendidas na vida de uma pessoa.O cristianismo atual está enfrentando um bombardeio atroz por parte do mundo e do inimigo. Talvez nunca antes na história o Caráter Cristão tenha sido tão questionado quanto nos dias atuais. Mas será que nós sabemos, realmente, o que quer dizer Caráter?

Segundo o dicionário Aurélio, Caráter significa: “Qualidade inerente a uma pessoa, animal ou coisa; o que os distingue de outra pessoa, animal ou coisa; O conjunto dos traços particulares, o modo de ser de um indivíduo, ou de um grupo; índole, natureza, temperamento”.

A palavra Caráter deriva da palavra grega “charaktér = ”, cujo significado está associado ao ato de gravar ou imprimir. Esta etimologia é muito preciosa, pois traz a idéia que caráter é algo que está impresso no nosso interior.

Caráter é como uma marca impressa que distingue a pessoa.

Os valores impressos no nosso caráter, em geral, dirigem nossas ações de forma inconsciente. Nosso caráter se revela no convívio familiar, no trabalho e nas relações interpessoais, no trato com os semelhantes, no cumprimento dos deveres e responsabilidades, etc..

O Caráter se manifestará através dos valores, motivações, atitudes, sentimentos e ações demonstrados. Em Hebreus 1.3, o escritor afirma que Cristo é o próprio caráter de Deus.

O Caráter de Jesus precisa ser impresso na Igreja para que, desta forma, o mundo creia em Deus. Nossa primeira decisão é crer.

Caráter no grego significa “imagem”. Hebreus 1.3 afirma que Cristo é o próprio Caráter de Deus, a própria estampa da natureza de Deus, aquele em que Deus estampou ou imprimiu Seu Ser. O Caráter é formado pela aprendizagem. Todo ser humano a partir do seu nascimento começa a receber influências do meio ambiente onde se encontra. Estas influências são assimiladas e com o tempo passam a fazer parte do caráter.

Esse processo de aprendizagem é feito por:

Identificação

9

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Imitação Punição Recompensa

Deus tem o propósito de que o homem se torne à imagem do Seu filho, Jesus Cristo. Este propósito não mudou. A queda do homem não mudou este plano e propósito de Deus. Desde Adão, passando por Jesus e pela Igreja o plano de Deus é sempre o mesmo. Hebreus 2.10: "Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à Glória, aperfeiçoasse por meio de sofrimentos o Autor da salvação deles”. Se a Igreja deve atingir esta meta, seus líderes devem mostrar o caminho, devem ir na frente. O caráter e a personalidade do Senhor Jesus Cristo devem ser desenvolvidos nos líderes da Igreja antes de ser formado no povo.

A. DISTINÇÃO ENTRE CARÁTER, PERSONALIDADE E TEMPERAMENTO

Muitas pessoas fazem confusão entre Caráter, Personalidade e Temperamento. É importante entendermos a diferença que há entre estas três coisas a fim de não ficarmos confusos quanto ao que Deus pode mudar em nossas vidas. Entretanto seja muito cuidadoso em não usar este estudo para se auto-analisar e comparar-se com outras pessoas. Essa atitude é altamente venenosa para o progresso espiritual.

Vejamos então a distinção que há entre Caráter, Personalidade e Temperamento:

1. Caráter, como já vimos é a imagem que refletimos como resultado da soma de todas as influências que recebemos em nossa história de vida. O Caráter pode ser mudado. Sempre estamos sendo aperfeiçoados em nosso Caráter. Isto começou desde o nosso novo nascimento e continuará para sempre. Deus está, a cada dia nos tratando, treinando e equipando. Esse processo não termina nunca.

Por caráter, entendemos que seja “a integração de todas as virtudes e defeitos morais na personalidade”.

2. Quanto a nossa Personalidade, nada poderá mudá-la. Se fosse possível mudá-la, não seríamos mais nós mesmos, nos tornaríamos outra pessoa. Nossa Personalidade é o que veio a existência através do nascimento humano. A nossa vinda à terra ocorreu de modo inédito. Cada um de nós que veio à existência, tem uma origem única e peculiar. Não há duas pessoas iguais sobre a terra.

Freqüentemente observa-se confusão com o uso destes dois termos, como se fossem sinônimos. No presente estudo, arbitraremos ao termo personalidade o seguinte significado: “aquilo em nossa maneira de ser que é moralmente neutro”. Por exemplo, alguém pode ser mais efusivo ou mais tranqüilo, mais extrovertido ou mais introvertido, mais emotivo ou mais racional, sem que nenhum destes tipos seja necessariamente melhor que outro. Na personalidade se combinam fatores muito peculiares de temperamento, emotividade, constituição psicológica, inteligência, etc., que dão a cada indivíduo sua particularidade única.

3. E quanto ao Temperamento? O que é? Podemos dizer que Temperamento é a expressão da Personalidade. Através deste, você se dá a conhecer às outras pessoas com

10

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

quem se relaciona. Segundo uma classificação de Tim LaHaye, que não é muito bem aceita pelos psicólogos, o Temperamento é dividido em quatro tipos básicos que podem se combinar depois. Ninguém manifesta só um desses tipos.

Nosso Temperamento normalmente é resultado de uma combinação entre dois ou três desses tipos fundamentais. Vejamos, então, quais são:

Sangüíneo Colérico Melancólico Fleumático

O Sangüíneo é aquela pessoa alegre e comunicativa que tem grande facilidade em se expressar. Geralmente também passa dos limites dizendo o que não devia ou se precipitando em decisões impensadas. O Sangüíneo é um bom líder, sensível aos outros e afetuoso, entretanto, pode ser também desleal e inconstante. Geralmente é sentimental.

O Colérico é o líder entre todos os temperamentos. O indivíduo que o tem é prático, claro e direto, e normalmente não leva em conta o que seus liderados pensam ou sentem. Tende a ser bruto, frio indiferente e desleal. Na sua visão prática da vida, faz, normalmente o que mais lhe trará benefícios, custe o que custar.

O Melancólico é aquele temperamento emocional e altamente sensível. Tudo será objeto de análise e meditação. Tudo o que acontece em sua vida merece uma interpretação. Ele sofre cada circunstância e toma sempre as dores dos outros para si mesmo. Por outro lado, é o mais fiel às amizades entre todos os temperamentos. Quando entra num relacionamento, aplica tudo que tem com altas expectativas. Por isso sofre muito e tende à introspecção como nenhum outro.

O Fleumático é aquele Temperamento calculista, prático. Normalmente tem dificuldade de demonstrar suas emoções, não tem muita liderança, é calado e sempre tem críticas a fazer a respeito dos demais, principalmente do líder. É sarcástico e irônico.

B. EXPRESSÕES DO CARÁTER

O caráter de alguém se expressa através de pelo menos três aspectos:

1. Forma de Pensar

A forma de pensar de uma pessoa é percebida pela maneira como ela constrói a sua escala de valores. Seu caráter é determinado em primeiro lugar pelo aspecto moral, ou seja, aquilo que considere certo, errado, permitido, proibido e assim por diante. Se aprova aquilo que definitivamente é errado, então se pode dizer que seu caráter é defeituoso, um "mau caráter".

11

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Quando nos convertemos, a primeira coisa que devemos fazer é renovar a nossa mente. Renovar nesse caso significa mudar a maneira de perceber as coisas e também a escala de valores. A vontade de Deus é que tenhamos o Caráter de Cristo, a Sua mente (I Coríntios 2.16).

B. Estilo de Vida

O estilo de vida de uma pessoa é determinado pelos seus alvos, hábitos e costumes. Se seu grande alvo na vida é ganhar dinheiro, deve desenvolver um estilo de vida compatível com esse alvo. Deve desenvolver os hábitos e costumes coerentes com o que quer alcançar. Se quer ser atleta, mas não treina, há algo errado. Se quer se desenvolver nos estudos, mas não se aplica a ler em casa, também há algo errado. O estilo de vida faz parte do nosso Caráter. A prova disso é que normalmente pessoas de uma mesma profissão apresentam características de Caráter semelhantes. Não é difícil percebermos isso em empresários, caminhoneiros, programadores, etc.

C. Conduta

A conduta é o conjunto de comportamentos que aprendemos e que se firmam dentro de nós. Conduta é tudo aquilo que fazemos, falamos, sentimos, esperamos e desejamos. A conduta se manifesta na relação com outras pessoas. O comportamento diante de outras pessoas expressa o caráter, ou seja, a forma de pensar e os motivos que vão dentro do coração.

Estes três elementos compõem o nosso caráter. Evidentemente eles não podem ser observados separadamente. Em tudo aquilo que fazemos manifestamos estes três aspectos simultaneamente. Todos nós ao nos convertermos já possuímos um caráter formado. Esse caráter foi formado por tudo aquilo que recebemos de nosso meio ambiente. Muito daquilo que aprendemos está correto, mas existem partes da nossa forma de pensar, do nosso estilo de vida e da nossa conduta que devem ser transformados.

Todo o nosso crescimento espiritual é demonstrado pelo nosso caráter. Se com o passar do tempo acumulamos muito conhecimento, mas não demonstramos nenhuma mudança no caráter isso mostra que o conhecimento foi em vão. Deus está profundamente interessado em nossa conduta. Jesus e os Apóstolos gastaram muito espaço para tratar de frutos, de comportamento, de conduta, de coração, como vemos no versículo que se segue:

Mateus 5.48: “portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”.

II Coríntios 13.9: “porque nos regozijamos quando nós estamos fracos, e vós, fortes, e isto é o que pedimos, o vosso aperfeiçoamento”.

Gálatas 4.19: “Meus filhos, por quem de novo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós”.

Efésios 1.4: “Assim como nos escolheu Nele antes da fundação do mundo, para sermos santos irrepreensíveis perante Ele”.

II Timóteo 3.17: “A fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”.

12

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

II Pedro. 1.3: “Visto como pelo seu Divino poder nos tem sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para sua própria glória e virtude”.

Em Romanos 8.29 vemos que o propósito eterno de Deus é ter muitos filhos, mas não apenas isto, mas ter filhos semelhantes a Jesus. Deus quer filhos que manifestem o Caráter de Jesus. Quando o homem caiu o propósito de Deus foi apenas adiado, não foi mudado. A Igreja do Senhor deve atingir esta meta e os seus líderes devem mostrar o caminho, devem ir à frente do rebanho.

O Caráter do Senhor Jesus deve ser desenvolvido nos líderes

da Igreja antes de ser formado no seu povo.Não são poucos os escândalos que têm surgido entre líderes que foram investidos de autoridade, mas que antes não receberem aprovação no caráter. Um líder que apresenta deficiências sérias em seu caráter constitui-se em um grande obstáculo para a atuação de Deus.

As deficiências de caráter nas vidas dos membros da Igreja se devem, em grande parte, aos próprios líderes. A Igreja é o retrato da sua liderança. Líderes relapsos geram um povo relapso. Líderes preguiçosos geram um povo igualmente preguiçoso. Se a liderança é imatura inevitavelmente também o povo o será. Nunca será demais enfatizarmos o caráter do obreiro, pois isto determina o sucesso no ministério. Somente um caráter formado e aprovado pode suportar as pressões da obra e as dificuldades do Ministério.

C. CARÁTER E DONS

Existe uma distorção que tem assolado a Igreja do Senhor durante os séculos: a supervalorização dos dons em detrimento do caráter. Mas, o que é um dom?

Um dom é uma dádiva que Deus concede a todos indistintamente. Os dons podem ser: naturais ou espirituais. Os dons naturais são aqueles com os quais nascemos como: inteligência, astúcia, memória, capacidade para tocar instrumentos, cantar, praticar determinados esportes, etc. Os dons espirituais nos são concedidos pelo Espírito Santo como instrumentos na sua obra (I Coríntios 12.7-10).

Os dons são muito úteis, mas são secundários. Deus coloca em primeiro lugar a vida e o caráter. Todos podem achar que um determinado irmão que possui uma grande inteligência e capacidade extraordinária de memorização deverá se tornar um grande pregador. Isto é um tremendo engano e não passa de mentalidade mundana. A Igreja de Deus não é edificada com essas coisas. Se tal irmão possuir Vida de Deus e ainda não passou pelo processo da cruz não será útil para Deus, apesar do seu dom.

Outra pessoa pode ainda pensar que outro irmão, por ter um dom de cura e discernimento de espíritos, venha a ser uma coluna na casa de Deus. Isto também é um engano. Os dons são úteis, mas nunca podem ser a base da obra de edificação da Igreja. Este é o motivo por que existem tantos escândalos: priorizamos mais o dom que o caráter. Os dons, sejam espirituais, ou naturais devem passar pela cruz antes de serem úteis.

13

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O ministério é edificado sobre o Caráter e não sobre os dons.

Deus não vai enviar ninguém sem antes tratar com o seu Caráter.

Os dons atraem os homens, mas o Caráter atrai a Deus.

No livro de Êxodo encontramos um exemplo clássico do engano de se priorizar os dons. A Palavra do Senhor diz que o povo de Israel estava sendo escravizado por Faraó. Moisés era o homem que Deus havia escolhido para levar a cabo o seu propósito. Ele havia sido criado no palácio de Faraó e recebeu a melhor instrução da época; era um homem excepcionalmente inteligente, estudado e talentoso. O próprio Moisés tinha algum entendimento desse fato, e em certo momento se dispôs ele mesmo a libertar o seu povo da escravidão (ver Êxodo 2.11-15). Moisés se achava capaz e perfeitamente habilitado porque possuía a instrução egípcia. Deus, porém, coloca Moisés de molho por quarenta anos no deserto de Midiã até que o seu caráter pudesse ser aprovado. Do ponto de vista natural, Moisés já estava pronto aos quarenta anos quando matou o egípcio, mas do ponto de vista de Deus ele precisa de outros quarenta anos até chegar ao ponto de não mais confiar na sua força ou nos seus talentos (ver Êxodo 3.10).

Quanto mais um homem confiar em si mesmo, nos seus talentos naturais, menos utilidade terá para Deus. O critério de Deus sempre é escolher o que se acha frágil, incapaz e desqualificado. A glória de Deus se torna manifesta quando pessoas a quem não reputávamos qualquer valor se levantam em poder e autoridade. Fica patente que Deus é quem faz; não é um simples uso de talentos especiais.

14

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Como se forma o CaráterO caráter de um indivíduo não é adquirido de uma só vez. Ele é o resultado do somatório de vários elementos, individualmente chamados “traços de caráter” que, em sua coletividade, definem o caráter do sujeito.

O “traço de caráter” pode ser positivo ou negativo – uma virtude ou um defeito, respectivamente.

Quando praticamos uma mesma ação várias vezes, aos poucos esta ação se torna um hábito e pode se tornar um traço de caráter. De modo que, nossa conduta, em princípio, pode alterar nosso caráter e, uma vez forjado o caráter, este naturalmente condiciona a conduta.

A. A INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE E DA SOCIEDADE NA FORMAÇÃO DO CARÁTER

Há alguns anos atrás, o ambiente doméstico era o centro da formação do caráter do indivíduo. Antes do fenômeno da urbanização, era no núcleo familiar que as pessoas adquiriam a maior parte de seus traços de caráter. Na atualidade, apesar da formação do caráter continuar sendo influenciada pelo ambiente familiar, ela sofre também a influência dos diversos ambientes em que o sujeito está inserido. As agremiações (escola, creche, ambiente de trabalho, igreja, etc.), e as mídias (rádio, TV, internet, jornais e revistas) dividem com a família a responsabilidade pela formação do caráter dos indivíduos.

B. A RESPONSABILIDADE DA IGREJA

Filipenses 4:8: “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”.

Você concorda que as qualidades mencionadas aí representam “traços de caráter” desejáveis a qualquer cristão? No entanto, a expressão “Caráter Cristão” não aparece em lugar nenhum das Escrituras. Alguém afirmou que, apesar de o mundo jazer no maligno e estar morto em seus delitos e pecados, a maioria dos indivíduos que no mundo está não possui um comportamento desvairado ou impertinente. De fato, a maioria dos sujeitos não cristãos que conheço são honestos, se indignam com maldades sociais, possuem boa fama. Infelizmente posso dizer que conheço muitos cristãos mentirosos, desonestos, sonegadores, impertinentes, avarentos e injustos.

O “Caráter Cristão” precisa ter mais características além das mencionadas acima. Do contrário, poderia ser perfeitamente chamado de “Caráter moral”, sem prejuízo semântico. “Mas, por estranho que pareça, nós, cristãos, possuímos efetivamente dentro de nós uma parcela dos próprios pensamentos e da mente de Cristo”.

15

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Queremos compartilhar as ferramentas de Deus para transformação do nosso caráter à semelhança de Jesus. Como podemos ter impresso no nosso próprio caráter traços de caráter que pertencem ao próprio Filho de Deus – Jesus.

C. O PROJETO DE DEUS PARA NOSSO CARÁTER

Hebreus 1:1-3: “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas...”.

Destaque na sua Bíblia a palavra imagem. Nesta passagem, a palavra imagem quer dizer que Cristo tem exatamente o mesmo caráter que Seu Pai. Todas as virtudes morais do Pai estão no Filho.

Agora, atente para Gênesis 1.27: “E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”.

Veja que o homem foi criado à imagem de Deus. Em que consiste esta imagem de Deus no homem? Entre outras coisas, isto significa que Deus criou o homem com o mesmo caráter moral que Ele mesmo. O plano original de Deus é que todos os descendentes de Adão e Eva tivessem o mesmo caráter de Deus. Fomos predestinados a ser filhos de Deus e também para ser feitos conforme a imagem de Seu Filho.

O Plano de Deus mudou?

Estes textos nos revelam que, apesar de havermos pecado e perdido a imagem de Deus, o plano redentor de Deus em Cristo é nos transformar até formar novamente o caráter de Cristo em nosso caráter. Fomos escolhidos antes da fundação do mundo não meramente para sermos salvos, mas para sermos santos diante de Deus em toda nossa maneira de viver.

Fomos chamados não somente para ter Deus como Pai, mas para sermos perfeitos como Ele.

O que quer dizer perfeito?

O termo “perfeito”, nestes textos, é a tradução da palavra grega “teleios = ”, cujo significado não se refere a uma perfeição absoluta. Teleios significa: “Completo, total, acabado, rematado; que tem os caracteres distintivos totalmente desenvolvidos”.

Isto significa que o plano de Deus é nos edificar em todos os aspectos de nossa vida e caráter.

16

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

D. NASCER DE NOVO É SOMENTE O PRIMEIRO PASSO

Temos que crescer até chegar à medida da estatura de Cristo. Este é o propósito de Deus ao estabelecer todos os dons e ministérios na Igreja.

Ter o “Caráter de Cristo” consiste em ataviar nosso caráter com valores que existiram em Jesus e que somente podem ser mantidos através do Espírito Santo. Viver o “Caráter Cristão” é ataviar a vida com algo mais do que valores morais.

“Porque é Deus quem efetua em vós tanto o querer como o realizar..." (ver Filipenses 2.13).

Todos nós desejamos ter um Caráter aprovado por Deus. Todos nós queremos agradar a Deus e por isso ficamos apenas esperando saber as normas para começarmos a praticá-las.

A vida crista não é um mero cumprimento de normas e preceitos, pois não estamos mais debaixo de domínio da lei. A vida cristã se resume simplesmente em: "Cristo em vós”, ou seja, a vida cristã consiste, em poucas palavras, na dependência completa do Espírito Santo que habita em nós. É Ele quem muda o nosso querer e também é Ele quem nos capacita a fazer a Sua vontade. Ele é tudo em todos. Jesus é a nossa bondade, a nossa mansidão, a nossa justiça. Ele na verdade, é tudo o que necessitamos. Tudo o que precisamos já está em nós na pessoa do Espírito Santo. Seria muito fácil começarmos a nos esforçar para cumprir um conjunto de qualidades, não é essa, porém, a vontade de Deus. Desejamos que os irmãos tenham revelação do pleno suprimento de Deus para suas vidas, pois na medida em que entendermos isso, as qualidades de Caráter naturalmente irão tomando forma. O pleno suprimento de Deus para nós é Cristo Jesus que habita em nós. Ele é a nossa Vida. Seja Ele tudo em todos.

Não adianta falarmos de caráter e conduta se ainda não nos apropriamos do pleno suprimento de Deus para nós: a libertação do poder do pecado, a nossa justificação e regeneração em Cristo, a dependência completa do Espírito e o andar no Espírito. Precisamos nos apropriar destas grandes realidades espirituais, mas não apenas isto: precisamos aprender a perceber a direção de Deus em nosso espírito, fazendo separação entre o que é da alma daquilo que é do Espírito. Precisamos conhecer, na experiência, a renúncia diária do EU no princípio da Cruz. Todas essas experiências devem ser compreendidas no espírito pela revelação de Deus.

Quando só enfatizamos as qualidades recomendáveis, corremos o risco de estabelecer um amontoado de regrinhas que não estão na Bíblia. Tais como:

Cinco passos para vencer a ira.

Dez passos para vencer a lascívia, etc.

Estas coisas não funcionam e nos desviam do centro da vida cristã. Cristo é a nossa vida. A vida do cristão é Cristo. Muitos pensam que podem ser santos se tão somente conseguirem vencer certos tipos de pecados. Outros pensam que sendo humildes e gentis serão vitoriosos. Ainda alguns imaginam que orando mais e lendo a Bíblia, tendo cuidado de jejuar e vigiar, alcançarão um caráter santo. Outros concebem a idéia de que somente matando o ego terão vitória. Todas estas fórmulas têm a aparência de piedade e sinceridade, mas tudo isso é vão. Não podemos viver a vida cristã usando mil e uma fórmulas para os mais variados problemas. Na prática, isso não funciona. O que Deus deseja é que entendamos que Cristo é a nossa vida, o perfeito suprimento de Deus para todas as nossas necessidades.

17

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Com este entendimento em vista, vamos estudar alguns princípios fundamentais que aumentarão a compreensão de que Cristo é de fato a nossa vida.

Vejamos, então, antes mesmo de falarmos na formação do caráter de Cristo, um fundamento muito importante e ao mesmo tempo muito pouco ensinado na Igreja: O poder da cruz!

18

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O Poder da Cruz1. A cruz e a libertação do poder do pecado

No começo de nossa vida cristã, ficamos preocupados com o que fazemos e não com o que somos. Sentimos mais tristeza pelo que temos feito, do que pelo que somos. Pensamos que se pudéssemos corrigir certas coisas seríamos bons cristãos, e então procuramos constantemente nos corrigir. Mas depois de certo tempo descobrimos, com algum espanto, que não conseguimos nos corrigir e que realmente há em nosso íntimo um problema mais sério. Procuramos agradar ao Senhor, mas logo descobrimos que há algo em nós que não deseja agradá-lo. Procuramos ser humildes, mas o nosso próprio eu se recusa ser humilde. Procuramos demonstrar afeto, mas não sentimos ternura. Sorrimos e parecemos ser amáveis, mas, no íntimo sentimos uma completa falta de amabilidade. Quanto mais tentamos corrigir o problema na parte exterior, mais percebemos que é um problema na parte interior. Então chegamos ao Senhor dizendo: "Senhor, agora compreendo! Não é só o que faço que está errado! O problema está em mim. Pois eu é que estou errado!"

2. Nascemos Pecadores

Somos membros de uma raça que se desviou inteiramente do que Deus planejou. Por causa da queda, houve uma transformação no interior de Adão, em virtude disso ele se tornou um pecador, completamente incapaz de agradar a Deus. A nossa vida vem de Adão. Onde você estaria agora se seu bisavô tivesse morrido com três anos de idade? Você teria morrido nele. A sua experiência está unida à dele. Da mesma forma, a nossa está unida à de Adão. Potencialmente todos nós estávamos no Éden, quando Adão pecou. Todos nós estamos envolvidos no pecado de Adão, e sendo nascidos como filhos de Adão, recebemos dele a sua própria natureza de pecador. Vemos então que o nosso problema é hereditário, é uma questão de natureza e não de comportamento. A menos que possamos modificar o nosso parentesco, não temos como nos livrar da herança que recebemos.

3. O Caminho da Libertação

Aqui está o nosso problema. Nascemos pecadores, como podemos extirpar a nossa hereditariedade pecaminosa? A resposta é bem simples. Desde que nos tornamos pecadores pelo nascimento, a única maneira de sermos libertos é pela morte. A escravidão veio pelo nascimento, a libertação vem pela morte. Foi exatamente este o caminho que Deus nos ofereceu, a morte é o segredo da libertação.

Mas, como podemos morrer? Alguns de nós procuramos, mediante muitos esforços, nos libertar dessa vida pecaminosa, mas sempre em vão. O caminho não é nos matarmos e sim reconhecer que Deus, em Cristo, já cuidou desta situação. Deus nos colocou em Cristo por isso, quando o Senhor Jesus Cristo morreu na cruz, todos nós morremos com Ele. A lógica de Deus é esta: "Um morreu por todos, logo, todos morreram" (II Coríntios 5.14). Quando Jesus

19

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

foi crucificado, todos nós fomos crucificados com Ele. A nossa morte com Cristo não é meramente uma doutrina, mas um fato eterno.

Freqüentemente usamos dois termos para descrever os dois aspectos da morte de Cristo:

Substituição Inclusão

A substituição nos fala de Cristo morrendo em nosso lugar como o Cordeiro de Deus. Pela Sua vida isenta de pecado, Ele pôde satisfazer a Justiça de Deus. Por isso, pelo Seu sangue, nós somos perdoados de todos os pecados cometidos. A substituição resolveu o problema dos pecados que eu havia cometido, pois pelo Seu sangue sou completamente purificado.

Mas o Senhor não apenas morreu no meu lugar, como meu substituto, Ele também morreu para que eu pudesse morrer. Ele também morreu como meu representante. É isso que nós chamamos de inclusão. O meu velho homem morreu com Cristo, por isso posso agora experimentar libertação do pecado. "Sabendo isso, que foi crucificado com Ele, o nosso Velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos ao pecado como escravos" (Romanos 6.6).

4. Morremos Com Cristo

Antes de você vir a Cristo, a Palavra de Deus diz que você estava "em Adão", mas agora, depois de conhecer ao Senhor a Palavra de Deus diz que você está "em Cristo". Assim, se alguém está em Cristo é nova criatura: as coisas velhas já passaram, eis que se fizeram novas (II Coríntios 5.17). A cruz de Cristo pôs fim à velha criação e a Sua ressurreição deu início a uma nova criação. Se estamos em Adão, tudo o que é próprio de Adão será espontaneamente nosso, não teremos de nos esforçar para pecar, naturalmente nós iremos fazer tudo o que é próprio de Adão. Da mesma forma, se estamos em Cristo tudo o que há em Cristo nos é atribuído livremente, sem esforço algum, simplesmente pela fé.

A morte do Senhor Jesus é inclusiva, na Sua morte todos nós morremos. Não somente nossos pecados foram colocados sobre Ele, mas a nossa própria pessoa foi incluída Nele.

Quando percebemos que os nossos pecados foram todos levados sobre a cruz, o que fizemos? Por acaso pedimos ao Senhor que viesse morrer por nós para nos perdoar? De forma alguma, apenas cremos em nosso coração e lhe demos graças, porque compreendemos em nosso coração que Ele já o fez na cruz. Como recebemos o perdão dos pecados? Foi simplesmente crendo e aceitando o fato da morte do Senhor na cruz.

Esta verdade que diz respeito ao nosso perdão, também diz respeito a nossa libertação. A obra já foi feita, não há necessidade de orar, e sim, apenas de dar louvores. Deus nos incluiu a todos em Cristo, de modo que quando Cristo foi crucificado, nós também o fomos. "Então creram em Suas palavras e lhe cantaram louvores" (Salmo 106.12).

Você crê na morte de Cristo? É claro que sim. Então, a mesma escritura que diz que Ele morreu por nós, também diz que nós morremos com Ele. Poderia ser verdade a primeira declaração e a segunda falsa? De forma alguma. A Palavra de Deus é completamente verdadeira. Preste atenção a este fato: "Cristo morreu por nós" (Romanos 5.8). Esta é a

20

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

primeira declaração, mas veja também a segunda, igualmente verdadeira: "Foi crucificado com Ele o nosso velho homem" (Romanos 6.6). "Morremos com Cristo" (Romanos 6.8). Aleluia!

O modo de Deus operar a libertação é inteiramente diferente dos processos aos quais o homem recorre. O homem se esforça para suprimir o pecado, procurando vencê-lo. O processo de Deus consiste em remover o pecador (o velho homem). Muitos cristãos se lamentam de suas fraquezas, pensando que se fossem mais fortes tudo lhes iria bem. A idéia de que seja a nossa fraqueza que nos causa fracasso na tentativa de vivermos uma vida santa é que nos conduz a este conceito falso de libertação. Se nos sentimos fracos em relação ao pecado, concluímos que o que nos falta é poder. "Se eu fosse mais forte!" Dizemos "Poderia vencer minhas explosões de ira", e assim pedimos ao Senhor que nos fortaleça para podermos nos dominar a nós mesmos.

Tal conceito, porém, está completamente equivocado e não é cristão. O meio de Deus para nos libertar não consiste em nos fazer cada vez mais forte, mas antes em nos tornar cada vez mais fracos. Certamente se pode dizer que esta é uma forma de vitória bastante estranha, mas esta é a maneira de Deus agir em nós. Deus nos livra do poder do pecado, não por fortalecer o velho homem, e sim crucificando-o. Talvez você já tenha tentado em vão exercer domínio próprio, uma vez, porém, que você percebe a verdade e reconhece realmente que não possui em si mesmo poder algum para fazer seja o que for e que tudo já foi realizado na cruz, então todo esforço próprio cai por terra e entramos no descanso de Deus.

5. Libertos do Pecado

Há algumas pessoas que têm o seguinte pensamento: Deus, por meio de Cristo, já me perdoou na cruz, agora a santificação é por minha conta; devo fazer o melhor que puder. Isto é um grande engano. O mesmo Deus que nos redimiu na cruz, também nos liberta do pecado sem nossa participação. Quais foram as condições para que eu recebesse o perdão da cruz? Simplesmente crer e me apropriar. O que Deus quer é que eu creia. Quando eu creio que o sangue me lava, me aproprio da paz de Deus. O que se requer para que receba a libertação do pecado? Do mesmo modo que o perdão, apenas duas coisas:

Crer e Apropriar-se

A vitória não é conquistada, a vitória nos é dada em Cristo Jesus. Não tenho de lutar, tenho que crer, pois é Deus quem efetua em nós a Sua obra segundo a Sua boa vontade. “...pois o querer o bem está em mim; não porém o efetuá-lo" (Romanos 7.18b).

A salvação manifestada na cruz é maravilhosa e resolve completamente o problema dos pecados cometidos e da natureza do pecado em nós. Para que você possa entender melhor esta obra, vamos ver um exemplo. Suponha você que o governo quisesse enfrentar rigorosamente a questão da bebida alcoólica e decidisse que todo o país ficasse sob a "Lei seca". Como seria colocada em prática esta decisão? Se a polícia entrasse em cada loja, bar e supermercado e destruísse todas as garrafas de bebida alcoólica que encontrasse, isso resolveria o problema? Certamente que não. Poderíamos limpar o país de cada garrafa de bebida alcoólica, mas por traz das garrafas estão as fábricas que as produzem. Se não tocássemos as fábricas, a produção continuaria e não haveria solução permanente para o

21

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

problema. Se quiséssemos resolver de forma permanente a questão das bebidas deveríamos destruir as fábricas, destilarias e alambiques.

Nós somos uma fábrica dessa natureza e nossos pecados são a produção. O sangue do nosso Senhor resolveu a questão dos produtos. Mas Deus parou por aí? Nós somos os produtores de pecado e para acabar com o problema do pecado, Deus destruiu o velho homem na cruz. Você crê que o Senhor purificaria todos os nossos pecados para deixar por nossa conta o problema da fábrica? Deus não faz a obra pela metade. Deus destruiu os produtos e também as fábricas produtoras.

A obra consumada de Cristo realmente atingiu a raiz do nosso problema. Sabendo isso, diz Paulo, que foi crucificado com Ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído e não sirvamos ao pecado como escravo (Romanos 6.6). Sabendo isso... sim, mas você já o sabe de fato? Ou porventura ignora? (Romanos 6.3). Que o Senhor Jesus possa abrir os nossos olhos com espírito de revelação para realmente entendermos a obra consumadora da cruz.

22

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O Andar no Princípio da CruzSabemos que, na cruz, Deus resolveu todo o problema do homem: o problema da Condenação, o problema da escravidão sob o Poder do Pecado e aponta a saída para o problema da independência do ego. A solução para todas estas coisas está na cruz. Vamos, pois, ter uma visão mais completa deste assunto nas Escrituras.

Jesus não apenas morreu numa cruz; Ele viveu uma vida de cruz. Toda a vida de Jesus foi caracterizada por uma renúncia completa do próprio "Eu". Ele viveu a Sua vida pelo princípio da cruz. O princípio da cruz fala de uma completa dependência de Deus. É o processo da maturidade. Percebe-se, pela vida de Jesus, que o processo de Deus, para tratar com o nosso ego, segue um certo padrão, uma ordem. Se falharmos em um aspecto, Deus vai repeti-lo até que sejamos aprovados. Na escola de Deus, ninguém pula cartilha, ou compra nota. Se tomar bomba, repete.

Em João 5.19; 5.30 e 8.28, vemos Jesus testificando claramente sua posição de completa dependência do Pai. Isso é o princípio da cruz em operação. Antes de avançarmos no entendimento do princípio da cruz na vida de Jesus, necessário se faz clarear melhor o entendimento no negar-se a si mesmo.

A. VERDADES SOBRE NEGAR-SE A SI MESMO

1. O negar-se a si mesmo não é a completa anulação da vontade

Isso evidentemente é impossível, trata-se, antes de uma renúncia definida quando minha vontade quer seguir outra direção diferente da vontade de Deus. Significa que a vontade de Deus deve ser priorizada, e não a minha própria.

2. Negar-se a si mesmo não é tornar-se um alienado

Muitos enfiam suas cabeças dentro de um buraco pensando que dessa forma estão se negando. Isso, além de ser perigoso, se constitui um sintoma de fuga neurótica. E Jesus nunca quis dizer tal coisa.

3. Negar-se a si mesmo não é vida de ascetismo

Na Idade Média, muitos monges tinham um estilo de vida ascético por suas vidas e paixões. Essa posição coloca, no entanto, a vida cristã como uma dor constante. A vida seria um peso. Dura de ser suportada. Jesus veio para que o homem tivesse vida abundante. Não queremos retirar a dor da vida normal, do crescimento sadio, mas não podemos fazer da vida uma apologia à dor. Sofrer gratuitamente, para merecer o favor de Deus é uma teologia errada e não está coerente com o tipo de vida que Jesus viveu e ensinou.

23

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

4. Negar-se a si mesmo não é a perda do desejo

Quando o desejo se torna concupiscência, ele passa a ser pecado. E nós já estamos mortos para o pecado, portanto livres do seu domínio. Existem, no entanto, desejos legítimos e bíblicos como o desejo de se casar, ter filhos, pregar o Evangelho, salvar vidas e coisas assim. Vemos, portanto, que a auto-negação proposta por Jesus é, antes de tudo, uma renúncia ao domínio da própria vida, e isso, sem dúvida, em algumas situações vai implicar em todos os aspectos que mencionamos acima.

Haverá momentos de aparente perda da vontade, de aparente alienação, de um também aparente ascetismo, bem como de uma renúncia de um desejo legítimo. Paulo, por exemplo, optou por não se casar, mas era uma questão de consciência particular. Isso acontece em função de que a vida cristã é, em essência, uma contra-cultura do sistema vigente. Nunca devemos nos esquecer que a cruz é loucura para os homens, mas, para nós, é o poder de Deus manifesto.

Mas afinal sobre o que falou Jesus quando exigiu a negação de si mesmo? Em Lucas 14.25 a 33, lemos a respeito das qualificações de um discípulo. Nessas qualificações, percebemos três ênfases básicas que juntas formam a base da nossa estrutura de "ego". Como sabemos, a centralização do ego está na base de todo o pecado. Dizemos, então, que as três ênfases colocadas por Jesus, estão na base de qualquer ação para se ter vitória sobre o ego.

5. Os meus relacionamentos

Os relacionamentos dizem respeito à minha necessidade de ser aceito sempre pelos outros; o medo de ser rejeitado; e ainda de viver uma relação qualquer colocando Jesus em segundo lugar. Negar a si mesmo implica então numa renúncia ao amor dos outros. Não que eu não queira mais ser amado, mas que não ficarei abatido se isso não acontecer.

6. A minha vontade

Ela é fundamental para qualquer cristão que conheça a vontade específica de Deus para a sua vida. Tomar a cruz fala de tomar a vontade de Deus em detrimento da minha. Há uma tendência natural de evitarmos a dor e buscarmos o prazer. Entretanto, muitas vezes, a vontade de Deus implica em dor, e eu devo me apossar dela em detrimento do meu desejo de prazer. A cruz nos fala de abrir mão de direitos, de reconhecimento, de oportunidades e assim por diante. Jesus, por exemplo, já sob a sombra da cruz, diz: "...não a minha vontade, mas a tua..."

7. Os meus bens

Devo renunciar a viver para mim mesmo e, devo abrir mão dos meus bens, isto não significa que devo doar todas minhas posses, mas que devo colocá-los a inteira disposição do Senhor. Para muitos, abrir mão de bens é bem mais difícil do que abrir mão até de si mesmo. Sabemos que Jesus andou por este caminho (I Pedro 2.21), para que nós andássemos por ele também. Renúncia é morte e sem a morte do "eu", o

24

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Cristianismo perde o sentido. Não existe verdadeiro cristianismo sem cruz. Existe religião. O Ego deve perder o seu lugar de centralizado, cedendo lugar à vontade de Deus.

Aqueles que têm a experiência de Romanos 6.11 perceberão que,

embora um homem possa ter vencido o pecado, ele ainda pode não

ter vencido o ego. Para aqueles crentes que são avançados

em vida, a vitória sobre o pecado é fácil, ao passo que a vitória

sobre o ego é muito difícil. Se um crente tem a experiência

plena da vitória sobre o ego, ele terá obtido a vidaque os apóstolos tiveram.

B. A OPERAÇÃO DA CRUZ SOBRE O EGO

Em nossa experiência, morrer para o ego é mais profundo e mais avançado que morrer para o pecado. Normalmente os filhos de Deus prestam muita atenção quanto a vencer pecados. Eles sofrem muito aborrecimento do pecado. Eles sabem muito bem como, após pecarem, sua vida regenerada sofre com o maligno e com a amargura do pecado. Eles provaram muito disso, e esperam muito vencer o pecado e não mais ser escravos do pecado. Portanto, após terem recebido a luz e terem compreendido como morrer com o Senhor, e como considerarem-se mortos para o pecado, eles confiam no poder do Espírito Santo e começam seriamente a considerar-se mortos, e a permitir a vitória da cruz ser expressa em seu coração e por meio dele.

Contudo, freqüentemente falta algo: depois de terem a experiência de vitória sobre o pecado, eles acham que essa experiência é o padrão mais elevado da vida e que nada pode ser mais elevado. Eles dão atenção excessiva aos seus pecados. Como resultado, uma vez que os tenham vencido, dão-se por satisfeitos. É correto que prestemos atenção aos nossos pecados, é correto que os crentes não negligenciem seus pecados. A vitória sobre os pecados é a base de toda justiça e é a chave para o viver cristão adequado. Se o pecado tiver domínio sobre nós, não poderemos esperar por qualquer progresso espiritual. Mas isso não significa que possamos parar na vitória sobre o pecado, e traçarmos um limite e designar um fim ao nosso avanço.

Devemos saber que isso é apenas o primeiro passo da regeneração de um cristão

Ainda há um longo caminho diante de nós. Não o considere um fim! Após vencer os pecados, o problema imediato que se apresenta aos cristãos é como vencer o “ego”.

25

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Os crentes freqüentemente entendem mal o verdadeiro significado de "ego''. Alguns o confundem com pecado. Eles consideram o ego como pecado e acreditam que ele deveria ser levado à morte. Naturalmente, o ego e o pecado têm muito a ver um com o outro, mas o ego não é o pecado. Muitos utilizam a medida com que medem o pecado para medir cada comportamento exterior. Qualquer coisa que considerem errada é por eles condenada como pecado. Entretanto, às vezes, quando o ego é expresso, ele pode parecer muito bom aos olhos do homem e pode parecer muito virtuoso, muito amável e muito justo. Se tomarmos a medida com que medimos o pecado para medir o ego, certamente eliminaremos a parte má do ego e manteremos sua parte boa - é claro, segundo a concepção do homem. Pelo fato dos crentes não perceberem a fonte do ego e não compreenderem que este pode produzir aquilo que tanto Deus quanto o homem condenam como mau, assim como aquilo que é reconhecido pelo homem como bom, eles permanecem na esfera do "ego " e falham em entrar no desfrute da vida plena e rica de Deus. Satanás é muitíssimo sutil; ele oculta esse fato e mantém os crentes em trevas, levando-os a se contentarem com a experiência da vitória sobre o pecado e pararem de buscar uma experiência mais elevada: a da vitória sobre o ego.

A vida do ego é exatamente nossa vida natural. A vida natural foi afetada pela queda de Adão e tornou-se muito corrompida. Pela queda de Adão, o homem adquiriu uma natureza pecaminosa. Essa natureza pecaminosa está intimamente entrelaçada com a vida natural, a qual é o ego. Nosso ego é exatamente o nosso eu; é o que constitui nossa própria personalidade individual. Em outras palavras, é a nossa alma. Por ser a natureza pecaminosa tão intimamente relacionada ao ego, é difícil separar os dois em suas operações, isto é, em seus atos de pecados. É claro, nunca poderemos fazer uma separação muito clara entre o ego e o pecado. Em um incrédulo, o ego e o pecado são como um, e é muito difícil separá-los. O ego já é capaz de transgredir por si mesmo. Mas o pecado, sendo tão poderoso, afeta o ego, domina o ego, subjuga o ego e obriga-o vir com mais idéias para pecar. Sob a influência da queda de Adão, o ego já está corrompido ao máximo. Agora quando ele colabora com o pecado, os dois têm pouco motivo para conflito. Mesmo que algumas vezes a consciência faça um protesto muito fraco, é tão curto e fraco que desaparece num instante.

O ego e o pecado cooperam mutuamente tão bem que em pessoas não-regeneradas, ambos estão misturados. Para eles, o pecado é exatamente o ego encarnado. Para eles, o ego é simplesmente os muitos males que aparecem na vida humana caída; é simplesmente a raiz, os ramos e as folhas do pecado. Para eles, o ego não é somente a origem do pecado, mas a própria vida do pecado. Para eles, o pecado é o ego, e o ego é o pecado. Após um homem ser regenerado, no estágio inicial de sua vida cristã, ele ainda acha difícil distinguir na experiência entre o pecado e o ego. Mais tarde, enquanto recebe mais graça de Deus e enquanto o trabalho da cruz e o poder do Espírito Santo tornam-se mais evidentes nele, ele começa a separar o pecado do ego. Ao longo do caminho na sua vida cristã, os filhos de Deus são gradativamente capazes de diferenciar o ego do pecado.

1. A vida do ego é exatamente a vida da alma

O ego é a nossa personalidade e tudo o que está contido em nossa personalidade. Do nosso ego provêm nossa opinião pessoal, gostos, pensamentos, desejos, preconceitos, amor e ódio. A vida do ego é o poder pelo qual alguém vive. Devemos ter em mente que o ego é simplesmente a nossa pessoa acrescida de nossos gostos e desgostos. Essa vida é o poder natural pelo qual realizamos o bem e trabalhamos. O ego é uma vida, pois ele vive nos crentes cujo ego não foi removido. Mesmo nos crentes que morreram para o seu ego, este freqüentemente tenta ressuscitar.

26

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

A vida do ego é exatamente a vida da alma. O Ego é a Nossa personalidade e tudo o que nela está contido.

Após os crentes receberem o tratamento da cruz com relação ao pecado, o corpo do pecado será neutralizado e não será mais capaz de agir. Entretanto, devido à falta de atenção à vida do ego, esta ainda vive. Nesse estágio, a vida do ego é semelhante à vida de Adão antes da queda. Não era espiritual porque não fora transformada pelo fruto da árvore da vida, e não era carnal, pois não havia pecado. Ela pertencia a si mesma, e, sendo assim, ela podia pecar se o

quisesse, e podia ser espiritual se o quisesse. A vida dos crentes nesse período é muito semelhante a isso. Não é espiritual porque seu espírito ainda não é livre e não tem alcançado um andar segundo a vida mais elevada de Deus. Não é carnal porque a pessoa recebeu a consumação da cruz e tem se considerado morta para o pecado. Ela pertence ao ego, é almática, natural e não-transformada. Se não for cuidadosa, ela cairá e será contaminada pelo pecado da carne. Se ela prosseguir e proclamar a consumação da cruz, tornar-se-à completamente espiritual. Contudo, se os crentes permanecerem na esfera do ego, eles cairão na maioria das vezes e muitas vezes tornar-se-ão carnais. Nesse período, os crentes estão na condição mais vulnerável da sua vida cristã. O perigo está em fazer o bem por esforço próprio. Algumas vezes leva um longo tempo para Deus mostrar aos crentes que eles ainda estão no ego e que ainda estão tentando cumprir a vontade de Deus por seu próprio esforço.

2. O ego inclui muitas coisas

Nossa vontade, emoções, amor e inteligência estão dentro do seu domínio. O ego é a nossa própria pessoa. A vida do ego é o poder pelo qual vivemos. O ego é também a alma; é um órgão. A vida do ego é a vida da alma, é o próprio poder do ego, para diversas partes do homem - a vontade, as emoções, o amor, a inteligência, etc., e fará com que o homem pratique o bem e trabalhe. Sua vontade é suficientemente forte para resistir às tentações exteriores. Suas emoções fazem a pessoa alegre e levam-na a pensar que Deus está muito próximo. Seu amor ao Senhor é profundo e sincero. Sua inteligência leva-a a produzir muitos ensinamentos bíblicos maravilhosos e muitos métodos de realizar a obra de Deus.

No entanto, tudo é feito pelo ego e não pela vida espiritual de Deus. Durante esse período, Deus muitas vezes concede graça especial aos crentes, de modo que recebem muitos dons maravilhosos. Ao perceber que todos estes dons provêm de Deus, é de se esperar que o homem se volte completamente de si mesmo para Deus. Entretanto, na experiência, o que um crente faz é totalmente o oposto do que Deus pretende. Não apenas se volta a Deus, como tira vantagem desses dons para seu próprio proveito. Como resultado, esses dons tornam-se uma ajuda para prolongar a vida de seu ego. Portanto, Deus tem de trabalhar muitos dias e anos até que essa pessoa desista de si mesma e se volte inteiramente a Ele.

27

Crucificar o ego com a força do ego é uma tarefa impossível

e jamais pode ser feita. Se não estivermos unidos com

o Senhor em Sua morte, nosso ego nunca morrerá

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Após um crente ser trazido por Deus a uma compreensão profunda da maldade do ego, ele estará disposto a levar seu ego á morte. Mas qual é a maneira para o ego morrer? Não há outra maneira senão pela cruz. Devemos ler duas passagens da Bíblia para entendermos a relação entre a cruz e o ego. "Estou crucificado com Cristo" (Gálatas 2.19b). Lucas 9.23: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”.

O que Gálatas 2.19 fala é algo que foi cumprido de uma vez por todas. Após percebermos que nosso ego precisa ser levado à morte, deveríamos então, pela fé reconhecer de um modo definitivo que “estou crucificado com Cristo”. A palavra no texto original é ego, o “eu”, a pessoa. Além da cruz, certamente não há outro caminho para levar o ego à morte. Devemos atentar também para as palavras "com Cristo". A crucificação do ego não é um ato independente dos crentes. Os crentes não devem crucificar o ego na cruz, por si mesmos, com sua própria força. A crucificação do ego deve ser junto com Cristo e em conjunção com Cristo. Isso não quer dizer que ajudamos Cristo a colocar o ego na Cruz. Pelo contrário, significa que Cristo já cumpriu esse fato, e agora eu apenas reconheço, e creio na sua realidade. Aqui o ponto principal é Cristo. Essa é a razão de se dizer: "Estou crucificado com Cristo'', e não “Cristo está crucificado comigo”. Não é que queiramos levar o ego à morte e que Cristo vem meramente acompanhar-nos. Pelo contrário, Cristo que é nossa morte, carregou toda nossa "pessoa", nosso ego, para a cruz, e pregou-o ali.

Portanto, não estou crucificando o ego novamente, mas estou simplesmente reconhecendo o fato. A palavra "estou", nos mostra que é um fato e não um desejo. Uma vida que morre para o ego é possível, real e pode ser experimentada. Os apóstolos nos tempos antigos alcançaram esse tipo de vida; o ego deles passou no teste. Portanto, é possível para nós obtê-la também. Entretanto, devemos nos lembrar que é "crucificado com" e não "crucificado sozinho". Separados do Senhor nada podemos fazer. Crucificar o ego com a força do ego é uma tarefa impossível e jamais pode ser feita. Se não estivermos unidos com o Senhor em Sua morte, nosso ego nunca morrerá. Cristo sozinho levou toda a velha criação, junto com cada parte dela, à cruz em Sua morte. Se tentarmos encontrar outra maneira fora da maneira do Senhor, e tentarmos realizar qualquer coisa fora do que o Senhor cumpriu, não somente seremos tolos, mas também estaremos desperdiçando nosso tempo.

Portanto, não devemos fazer nada a não ser nos achegarmos ao Senhor em plena certeza de fé e reconhecer a realização do Senhor como sendo nossa; em seguida devemos orar para que o Espírito Santo aplique em nós a obra da cruz do Senhor e que expresse esta mesma obra a partir de nós. Devemos nos achegar diante de Deus para negar nosso ego e oferecer tudo a Deus. Pelo Espírito do Senhor, deveríamos levar à morte tudo o que está incluído em nossa vida do ego. Devemos dizer a Deus: "De agora em diante não sou mais eu, não mais minha própria aparência, opiniões, gostos ou preconceitos. Porei tudo isso na cruz. Começando de hoje, viverei somente de acordo com a Tua vontade. Ó Senhor! És tu... não eu".

Deveríamos submeter-nos ao Senhor dessa maneira enquanto levamos à morte tudo o que temos. Porém isso não significa que de agora em diante nosso ego foi exterminado. O ego não pode, e não será exterminado; ele sempre existirá. Por que, então, dizemos para pregar o ego na cruz? Se o ego já está morto, como não pode ser exterminado? Devemos saber que a palavra "morto" aqui refere-se a um tipo de processo na experiência espiritual.

3. O ego deve permanecer submisso a Cristo28

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O fato de o ego estar morto com Cristo não significa que ele de agora em diante não existe. Significa que o ego daqui para a frente se submeterá a Deus, e que não permitirá que seus gostos e desgostos tomem a direção, mas que permitirá que a cruz crucifique e elimine todos os seus pensamentos e atividades egoístas. Fazer com que a vida do ego pare de dirigir o ego significa que o viver que se origina da vida do ego está morto, e que não há mais vida do ego e viver do ego, e que somente a casca do ego permanece. O ego inclui a vontade, as emoções a inteligência, etc. Isso não quer dizer que ao crermos que nosso ego foi crucificado com Cristo, nossa vontade, emoções, intelecto, etc., serão anulados! Ninguém pode aniquilar as poucas faculdades que compõem seu ser apenas crendo que foi crucificado com o Senhor!

Morrer com o Senhor simplesmente significa não mais permitir que o ego seja o dono, não agir mais segundo a própria vontade, emoções e pensamentos, e não permitir mais que a vida do ego esteja no controle; significa permitir que o Senhor Espírito governe sobre tudo aquilo que o ego engloba, de modo que a pessoa obedecerá à vida de Deus no seu interior. Uma vez que o ego não está morto, ele não se submeterá ao Espírito Santo. Uma vez que o ego sai da cruz, imediatamente reassumirá sua velha maneira de subjugar a si mesmo. Gálatas 2.19, 20 esclarece muito esse ponto: "Eu [o ego] estou crucificado com Cristo... e esse viver que agora tenho na carne..." A Bíblia não fala claramente aqui? Na primeira sentença, Paulo deixa muito claro que seu ego foi crucificado, contudo na segunda diz ele que o ego ainda existe. Portanto, a crucificação do ego não implica a sua eliminação; pelo contrário, significa a interrupção das atividades do ego e a permissão de que o Senhor seja o Mestre. Isso deve estar muito claro.

O que foi dito acima foi alcançado uma vez por todas. É, porém, suficiente crermos que fomos crucificados com Cristo? Isso irá resolver o problema de uma vez por todas? Isso nos leva à segunda passagem da Bíblia: "A si mesmo se negue, dia a dia tome a cruz e siga-me" (Lucas 9.23). Esse versículo ressalta que as três coisas que deveríamos fazer são, na verdade, apenas uma dividida em três passos.

O primeiro desses passos é negar o ego. Negar significa rejeitar, descartar, ignorar. Dessa maneira, o significado de negar o ego é simplesmente não permitir que o nosso ego seja o senhor. É crer especificamente que "estou crucificado com Cristo".

O segundo passo consiste em "dia a dia" tomar a cruz. Isso significa que, uma vez que entregamos o ego à cruz voluntariamente e o impedimos de ser o senhor, devemos, continuar negando-o diariamente. Negar o ego deve ser "diariamente e ininterruptamente". Essa questão de negar o ego não pode ser realizada de uma vez por todas. O Senhor precisa nos conceder uma cruz diária para a carregarmos diariamente. O ego é muito ativo, e Satanás,

29

Morrer com o Senhor simplesmente significa não mais permitir que o ego seja o dono, não agir mais segundo a

própria vontade, emoções e

pensamentos, e não permitir mais que a vida do ego tenha a

primazia.

De Acordo Com Deus, Ele Não Pode Curar A

Vida do Ego Nem Melhorá-La. Não Há

Outra Maneira Senão Crucificá-La Com

Cristo.

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

que tira vantagem do ego, também é incansável. A todo o momento, o ego está procurando uma oportunidade de restaurar-se e jamais deixará escapar a menor chance que seja. Assim, é de suma importância que tomemos a cruz diariamente. Esse é o ponto onde os crentes precisam ser vigilantes. Deveríamos "dia a dia" e momento após momento tomar a cruz que o Senhor nos tem dado; e ainda continuamente reconhecer que a cruz do Senhor é nossa cruz e não dar qualquer espaço para o ego nem permitir que ele assuma qualquer posição.

O terceiro passo é seguir o Senhor, isto é, fazer positivamente a Sua vontade. Dessa maneira, o ego não terá chance nem possibilidade de se desenvolver. Esses três passos estão totalmente baseados e centralizados na cruz.

O ensinamento nessas duas passagens não deve ser desvinculado um do outro. Se os tomarmos e os praticarmos juntos, teremos a experiência de vencer o tempo todo Entretanto, devemos permitir que o Espírito Santo faça Sua própria obra em nós e permitir que a obra consumada da cruz seja trabalhada em nós.

Nosso pensamento em geral é que estamos muito desejosos de dar a Cristo nossas coisas más, sujas, pecaminosas e satânicas e tê-las pregadas na cruz com Ele. Estamos muito dispostos a livrar-nos das coisas más do ego. Entretanto, nosso problema freqüente é que achamos que deveríamos manter as coisas boas do ego. Na visão de Deus, o ego está totalmente corrompido e é afetado profundamente pela queda de Adão.

O crente em geral está disposto a deixar que tudo se vá e até mesmo se dispõe a sacrificar seu próprio dinheiro e tempo; contudo, encontra muita dificuldade em negar o ego e em crucificá-lo. Sempre consideramos que o ego não é de todo mau. Esse é o ponto de vista humano. Entretanto, inconscientemente e involuntariamente, preservamos o lado bom do ego e levamos à morte o lado mau. Pouco nos damos conta de que o ego ou está totalmente vivo ou totalmente morto. Se a parte boa do ego é mantida viva, não há garantia de que a parte má do ego esteja morta. Pedro, o apóstolo e amigo pessoal do Senhor, verdadeiramente pensava que seu amor pelo Senhor fosse correto. Entretanto, sua promessa de "morrer com o Senhor" foi cumprida? A falha de Pedro foi causada pela sua total confiança em si mesmo; ele confiou em sua própria bondade. Contudo ele não percebeu isso. Afinal, é difícil perceber o ego. Devemos confiar na avaliação que Deus faz e colocar nosso ego na cruz.

Podemos examinar outra porção da Palavra que diz-nos como a bondade da vida do ego deve ser levada à morte antes que alguém possa produzir bons frutos. "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto" (João 12.24).

O Senhor fala aos que Nele crêem. "Se alguém me serve, siga-me" (João 12.26). Após dizer essas palavras, Ele não nos deixou em trevas, mas continuou explicando: “Quem ama sua vida [no original, sua vida da alma], perde-a [e, na eternidade não produz fruto], mas aquele que odeia a sua vida [no original, sua vida da alma] neste mundo, preservá-la-á para a vida eterna [no original, a vida espiritual]." O ensinamento aqui é que a vida do ego deve ser levada à morte. A vida é muito preciosa. Pode-se sofrer a perda de tudo menos da vida. Contudo, aqui está um chamamento para perdermos nossa vida. Nossa vida do ego foi-nos concedida pelo nascimento; é legítima e é boa. Contudo, aqui o Senhor requer que a levemos à morte.

O que é essa vida? É uma vida natural, uma vida que temos em comum com todos os animais, vida com mobilidade.

30

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Nosso intelecto, amor e emoções são todos dominados por essa vida. Cada habilidade do nosso

corpo é controlada por essa vida. Cada parte do nosso ser é controlada por essa vida. Apesar de não ser errado exercitar nosso intelecto, amor e emoções,

essa vida dominante, essa vida que provém do nosso nascimento natural, não é uma vida espiritual. A

menos que a vida espiritual se torne a expressão e a força motriz de todas as habilidades dos crentes, ele nunca produzirá fruto, sendo um homem espiritual.

Essa sua vida do ego é bela e atrativa. Nosso Senhor utiliza o trigo como ilustração. A casca de um grão de trigo é muito atrativa. Sua cor é dourada. Embora seja belo, ele é inútil se permanecer meramente como um grão. Ele deve cair na terra - um lugar escuro, oculto e de sofrimento - e morrer ali. Quando morre, ele perde sua beleza e tudo o que tem. Não será mais um objeto de admiração do homem como antes.

Se verdadeiramente estivermos dispostos a morrer, e se realmente morrermos, perderemos os muitos elogios do homem. Nossa beleza natural será destruída. Primeiramente, poderíamos ter tido a inteligência de apresentar muitos novos argumentos e teorias. Quando o ego morre, temos de aguardar pela direção e liderança do Senhor, e não ousaremos depender mais da nossa própria inteligência. Antes podíamos ter amor e ter amado a muitos. Podíamos motivar a nós mesmos a amar o Senhor. Quando o ego morre, teremos de deixar o amor do Senhor amar através de nós, e teremos de permitir ao Espírito Santo permear nosso coração com o amor do Senhor. Não ousaremos ser motivados pelo nosso amor natural. Antes podíamos ter emoções e podíamos estar jubilosos, irados, tristes e alegres à vontade; podíamos ter comunhão com o Senhor por intermédio de nossos sentimentos e podíamos sentir Sua alegria.

4. Cristo no controle das emoções

Com a morte do ego, teremos de deixar o Senhor controlar nossas emoções. Ficaremos alegres quando o Senhor estiver alegre. Teremos de deixar o Senhor ter liberdade em nós. Mesmo que por vezes percamos o sentimento da presença do Senhor, ainda teremos de permanecer fiéis e não mudaremos nossa atitude. Não ousaremos mudar por causa das emoções. O que antes nos parecia proveitoso será considerado como perda por causa de Cristo. Ao morrermos com o Senhor para o pecado, abandonamos as coisas ilícitas. Ao sermos

31

A morte é o último e o mais importante passo. A morte

destranca a porta da vida. A morte é o único

requisito para dar fruto. A morte é indispensável. E,

contudo, quantos têm verdadeiramente

provado essa morte? A morte põe fim a toda atividade. A morte é o término da nossa vida

humana. Depois da morte, não resta lugar

para a atividade da vida do ego.

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

crucificados com o Senhor para o ego, abandonamos as coisas lícitas. Esse, sem dúvida, é um passo difícil de dar.

Estreita é a porta e apertado o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.

Que tipo de morte é esta? Esta é a morte da cruz. O Senhor mesmo disse isto (João 12.33). Portanto, não temos qualquer outra escolha a não ser cair na terra prontamente e morrer. Devemos morrer alegremente com o Senhor e participar na comunhão da Sua cruz. A cada dia deveríamos manter uma atitude de odiar a vida do ego para preservá-la para a vida eterna, isto é, dar fruto para a vida eterna e produzir muitos grãos. Isso não é algo da noite para o dia. Se fosse assim, teria sido fácil. Mas a palavra do nosso Senhor é: "Aquele que odeia a sua vida neste mundo." Devemos odiar nossa vida do ego uma vez que vivemos neste mundo. Se praticarmos isso incessantemente, nosso ego será despojado do seu poder.

Não devemos considerar a palavra "morte" levemente. Não é suficiente ser um grão de trigo sozinho. Como um filho de Deus nascido de novo (Mateus 13.38), a pessoa é meramente um bebê e não pode fazer muito por Deus. Não basta apenas cair na terra, pois mesmo se alguém estiver disposto a sofrer, ele ainda não está morto e ainda é um único grão. Devemos odiar o viver natural. Odiar é uma atitude, é uma atitude duradoura. Portanto, deveríamos voluntariamente levar essa vida à morte; deveríamos ter uma plena compreensão da pobreza dessa vida natural e odiá-la. Qual o resultado da morte dessa vida? O resultado são os muitos grãos. O motivo do Senhor não poder nos usar é que trabalhamos pelo nosso intelecto, amor, etc. Essa vida da alma é uma vida de nível inferior; não é uma vida de nível elevado. Sendo assim, ela dificilmente poderá dar fruto. Embora ela tenha alguns méritos, contudo somente “aquilo que é nascido do Espírito é espírito". A vida do ego, e tudo o mais que a acompanha, é completamente inútil. Se realmente colocarmos a nós mesmos, nossa vida do ego, isto é, tudo aquilo que podemos fazer e tudo aquilo que somos, completamente na cruz do Senhor, veremos como o Senhor nos usará. Se estivermos vazios interiormente, não haverá qualquer barreira para a água viva de Deus jorrar de nós. Esse tipo de dar fruto é diferente do tipo comum de dar fruto, pois os frutos que produzimos são "muitos". O nosso dar fruto depende totalmente da nossa morte. Portanto, assim como nos valíamos do nosso ego, agora precisamos nos valer de Cristo.

É fácil um crente que vive no ego cair em pecado. Essa é a razão pela

qual para morrer completamente para o pecado, deve-se morrer completamente

para o ego. Cristo não é apenas nosso Salvador que nos livra do pecado;

ele é também nosso Salvador que nos salva do ego. Morrer para o ego é a única vereda para nosso viver

espiritual.

Contudo, além de Deus, ninguém pode levar nossa vida do ego à morte. Entretanto, se não estivermos dispostos, Deus nada pode fazer. A atividade do ego algumas vezes está completamente oculta sob um véu espiritual. Um crente pode não reconhecê-la de imediato por si mesmo. Essa é a razão de Deus ter de remover o véu por meio de todos os tipos de

32

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

circunstâncias exteriores de modo que o crente venha a conhecer a si mesmo. A coisa mais difícil é uma pessoa conhecer a si mesma. Nós não nos conhecemos. É por isso que temos de passar por diversas circunstâncias criadas por Deus antes de percebermos a maldade do ego.

Se em nossa experiência não morremos para o ego, não temos obtido nenhum progresso real em nossa vida espiritual. Se você e eu estivermos dispostos a deixar o Espírito Santo do Senhor aplicar a morte do ego em nós e operá-la em nós hoje, veremos um grande progresso em nossa vida.

Irmãos! Possamos declarar juntos em unanimidade: "Não seja como eu quero, e, sim, como Tu [o Pai] queres!" (Mateus 26.39).

As discussões acima lidam com questões relativas à vida espiritual. Que nós não consideremos isso como uma espécie de teoria. Devemos comparar nossa experiência espiritual com as palavras ditas aqui. Fazendo isso, essas palavras ficarão claras para o entendimento. Todos somos bebês em Cristo. Que o Senhor nos dirija passo a passo. Se não temos a experiência da morte do ego, é melhor dizer que não a temos. Contudo, nunca devemos tomar a vida do ego como sendo a vida espiritual.

33

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

As virtudes do caráter cristãoO Sermão da Montanha, segundo alguns estudiosos, foi a primeira parte escrita dos evangelhos. Esta era a base que a igreja do primeiro século usava para doutrinar os discípulos.

Bem-aventurados significa felizes. A felicidade aqui não é um objetivo, mas uma consequência – a consequência de ter o caráter de Deus e fazer a Sua vontade.

O verbo mais evidente aqui é “ser”. Caráter é justamente o que somos, o que determina nossa conduta. As bem-aventuranças são a descrição das virtudes do Caráter de Jesus.

1. A Humildade

“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mateus 5.3).

Este é o primeiro traço de caráter assinalado por Jesus. Por que começar logo com a humildade? A humildade de coração é a pedra fundamental da construção e formação do caráter cristão. Tudo se inicia aqui. Lembre-se, o pecado começou com a negação deste traço de caráter – o orgulho de Lúcifer, Adão e Eva em querer ser como Deus."Bem-aventurados os humildes ou pobres de espírito...", bem-aventurados os que sabem que neles não há recursos; é isso que significa, não há recurso, se humilhem diante dessa verdade, reconheçam. É para esses o reino dos céus.

O orgulho, a soberba, a vaidade, a arrogância, a auto-suficiência são a corrupção deste traço do caráter. Como é difícil vencer a vaidade! Como é difícil dizer que algo que lutamos tanto para conquistar, na verdade não é mérito nosso, e sim de Deus! Como, então, podemos vencer o orgulho e assumir o primeiro traço de caráter dito por Jesus?

2. O espírito quebrantado

“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mateus 5.4).

Isaías 57.15: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos”.Não tratamos aqui daqueles que se esvaem em lágrimas por autocomiseração, com pena de si mesmos. Jesus quer dizer aqui que são felizes aqueles que choram por experimentar um legítimo quebrantamento diante de Deus.

Os descritos como “os que choram”, choram com os que choram e pelos que choram. O grande inimigo deste traço de caráter é o sentimento de autocompaixão. Sentir pena de si mesmo não traz qualquer crescimento ao nosso caráter. Pelo contrário, de certa forma apela para um espírito egoísta.

34

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Chorar com os que choram e pelos que sofrem exige do cristão um movimento em direção aos irmãos. Ninguém participa dos sofrimentos alheios à distância. É preciso estar junto.

Chorar diante do pecado, da injustiça, da incredulidade, da desobediência, também é uma conduta que este traço de caráter nos conduz a ter.

Lembre-se, porém, que este choro é um choro profético.

Tiago 4.8-10: “Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza. Humilhai-vos perante o Senhor, e ele vos exaltará”.

3. Mansidão

“Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mateus 5.5).

Mateus 11.29: “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas”.

A terceira qualidade mencionada por Jesus é a mansidão. Segundo o Dicionário Aurélio, mansidão significa “Índole ou procedimento pacífico de quem é manso; brandura; Serenidade, tranqüilidade, calma”.

O Manso é aquele que abre mão do seu direito em favor do próximo. É aquele que não se vinga quando é prejudicado; é gentil, humilde, sensível e paciente com todos.

Aquele que é manso também aceita com paz as adversidades e as provas da vida. Jesus no Jardim do Getsêmani demonstra esta mansidão submetendo-Se à vontade soberana do Pai.

O adversário deste traço de caráter é chamado de rebeldia. Esta rebeldia pode ser violenta, com gritos, pelejas, discussões, ou pode também ser uma rebeldia amável ou silenciosa mas que no final faz sua própria vontade. Manso é aquele que vive submisso a Deus, sua Palavra, seus irmãos e às autoridades.

4. A Justiça

“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos” (Mateus 5.6).

Mateus 6.33: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”.

Esta bem-aventurança é, muitas vezes, mal interpretada. Fome e sede falam de necessidades individuais, essenciais para a vida. Ter este traço de caráter significa ter um desejo íntimo em ser considerado justo diante de Deus – assim como Jesus.

É outra forma de dizer que se tem fome de Deus. Só Deus é justo.

35

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

A Justiça das nações do ocidente está baseada no direito romano. A Justiça de Deus é superior a qualquer sistema humano de juízo. A verdadeira justiça de Deus está inseparavelmente ligada ao amor e à misericórdia.

Os que se opõem a este traço de caráter, freqüentemente querem parecer justos diante de Deus e da sociedade baseando-se nos seus próprios méritos e virtudes pessoais.

5. A Misericórdia “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5.7).

Misericórdia é uma palavra com dupla origem. Sua primeira parte vem da raiz da palavra miséria e da outra parte deriva a palavra coração.

Acompanhe as definições do Aurélio: “Misericórdia: Compaixão suscitada pela miséria alheia”; “Compaixão: Pesar que em nós desperta a infelicidade, a dor, o mal de outrem; piedade, pena, dó, condolência”.

Misericórdia é a capacidade de experimentar ou até mesmo sofrer com o próximo. Também pode ser entendida como um castigo merecido, porém não aplicado. Ex.: Dívida perdoada.

O que pode resistir a este traço de caráter?

6. Pureza de Coração “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mateus 5.8).

O que é ter um coração puro? De forma bem simplista, é ter um coração que não contém impurezas. Sob o aspecto espiritual, impureza traz a idéia de pecado. Portanto, um coração puro é um coração que não está maculado pelo pecado.

Este traço de caráter não é algo que se estabelece instantaneamente. Trata-se de um processo que ocorre continuamente no coração sincero que se relaciona com Deus de forma honesta.

“Os limpos de coração são os inteiramente sinceros. Toda a sua vida, pública e privada é transparente diante de Deus e dos homens. Os seus pensamentos e motivações são puros, sem mistura de nada que seja desonesto, dissimulado e malicioso”. (John Stott)

Muitos acham que podem ser puros de coração para o vizinho. São excelentes investigadores da vida alheia. Na verdade, este traço de caráter trata nosso próprio pecado diante de Deus.

Qual é a dica para aqueles que querem desenvolver este traço de caráter?

36

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

7. A Paz

“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5.9).

Este verso também pode ser traduzido como: “felizes aqueles que criam harmonia”. Pacificadores são os que promovem a paz. Não é nem aquele que mantém a paz existente, mas aquele que se envolve numa situação em que a paz foi quebrada e a restaura. A bem-aventurança não fala de um pacifista, mas de um reconciliador. É bom amar a paz. Promover a paz é melhor.

Como agentes da paz, os discípulos de Jesus procuram construir a paz em todo e qualquer lugar em que se encontram. Do seu relacionamento com Deus a paz deve jorrar para a vida pessoal e individual, para o universo da família, da vizinhança, da escola, da fábrica, do escritório.

Isto, de maneira alguma, indica que o cristão não pode se envolver em algum conflito. Fica mais do que explícito, através dos ensinamentos de Jesus a seus apóstolos, que jamais deveríamos nós mesmos procurar o conflito ou ser responsáveis por ele – este é o traço de caráter do pacificador.

Os indivíduos com temperamento explosivo freqüentemente não conseguem desenvolver bem este traço de caráter, e vez por outra são gatilhos de conflitos. Lembre-se que o vínculo da paz é o que mantém a unidade da Igreja.

8. Alegria na perseguição

“Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós” (Mateus 5.10-12).

Finalmente, o último traço de caráter mencionado por Jesus no início do Sermão da Montanha trata da alegria. No entanto, não é uma alegria comum, como a que temos ao estar com uma pessoa querida ou receber um presente. Jesus não está nos chamando aqui para participar de uma alegria ordinária, mas algo extraordinário. Somos chamados a nos alegrar quando submetidos a circunstâncias desfavoráveis.

É certo que só poderão exercitar este traço de caráter aqueles que se dispuserem a assumir um compromisso sério com Deus de fazer a Sua Vontade. Ninguém será perseguido se não se envolver. Lembre-se que um traço de caráter, para ser incorporado pelo nosso, precisa ser vivenciado!

37

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Fatores que influenciama formação do caráter

A. FATORES QUE INFLUENCIAM, MAS NÃO DETERMINAM

A. A Hereditariedade

A Bíblia menciona que, a partir do pecado de Adão e Eva, a natureza sofreu um processo de corrupção que a tornou imperfeita. A natureza pecaminosa, que é a tendência natural da humanidade decaída, é transmitida a cada geração para a geração seguinte. Trata-se aqui do impulso que o homem natural tem em direção ao pecado.

Este fator de influência, apesar de presente em todos os seres humanos, não é capaz de determinar, sozinho, a conduta dos indivíduos.

O cristão, ao converter-se, vê-se obrigado a conviver com duas tendências diferentes. A Natureza pecaminosa, natural, também chamada de velho homem e a nova natureza. O controle da conduta individual estará a cargo da tendência mais fortificada.

2. A Infância

Os primeiros cinco ou seis anos de vida de uma pessoa são essenciais na formação dos elementos do caráter individual. Somos influenciados pelo meio ambiente e pelas pessoas à nossa volta.

Pais ansiosos tendem a ter filhos ansiosos ou agressivos. Casais amáveis tendem a ter filhos que se tornarão cônjuges igualmente amáveis. Tendem, porém não condicionam. Gênesis 4.6-7: “E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar”. Caim e Abel eram filhos dos mesmos pais. Cresceram juntos. Tinham, porém, um caráter diferente um do outro.

3. Os modelos mais próximos

I Pedro 1.18: “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais...”.

38

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Mesmo fora da infância, nossa conduta continua sofrendo influência de outras pessoas. Lembre-se daquele ditado popular no Brasil: Dize-me com quem andas... quem és... Provérbios 1.10-19: “Filho meu, se os pecadores procuram te atrair com agrados, não aceites. Se disserem: Vem conosco a tocaias de sangue; embosquemos o inocente sem motivo; traguemo-los vivos, como a sepultura; e inteiros, como os que descem à cova; acharemos toda sorte de bens preciosos; encheremos as nossas casas de despojos; lança a tua sorte conosco; teremos todos uma só bolsa! Filho meu, não te ponhas a caminho com eles; desvia o teu pé das suas veredas; porque os seus pés correm para o mal, e se apressam a derramar sangue. Na verdade é inútil estender-se a rede ante os olhos de qualquer ave. No entanto estes armam ciladas contra o seu próprio sangue; e espreitam suas próprias vidas. São assim as veredas de todo aquele que usa de cobiça: ela põe a perder a alma dos que a possuem”.

Veja que a Bíblia considera as nossas companhias como elemento perigoso na formação do nosso caráter.

Lembre-se que Jacó recebeu uma influência enganadora por parte de Rebeca, sua mãe. José, filho de Jacó, por sua vez, não perpetuou o comportamento “aproveitador”.Outro exemplo interessante está em Samuel que optou por não seguir o mau exemplo dos filhos de Eli.

Existe algum personagem bíblico com quem você se identifica mais?

O que mais chama a atenção de positivo e negativo nele?

4. Circunstâncias adversas

Provas, injustiças, sofrimentos, dificuldades sérias não nos obrigam a ficar amargos. Para o cristão, estas podem ser excelentes oportunidades para crescer e ter um caráter moldado à semelhança de Jesus.

Lembre-se de Jesus no jardim do Getsêmani. Imagine a cena. Ele sabia que a hora em que Ele cumpriria sua missão estava chegando. Seu coração estava muito aflito. Ele aproveitou esta oportunidade para exercitar um traço muito importante do Seu caráter: a submissão – “contudo, não faça o que eu quero, mas o que Tu queres...”.

Encarar circunstâncias adversas como uma oportunidade de crescimento do nosso caráter pode ser um fardo pesado, principalmente quando queremos fazê-lo sob as nossas forças individuais. Não se esqueça de que os traços do Caráter de Cristo ocorrem nos crentes sob a ação do Espírito Santo!

5. Outros fatores

A Ignorância: Davi quando leva a arca para Jerusalém pela primeira vez. O que aconteceu? Por quê?

39

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

2. A Negligência: Os sacerdotes Nadab e Abiú que entraram com fogo estranho no santuário. O que aconteceu com eles?´

O Descuido: Moisés golpeou a rocha com a vara, quando Deus lhe havia dito que deveria falar à rocha. O que Deus lhe disse?

As Pressões: Diante das circunstâncias, Saul se impacientou e fez o sacrifício, não esperando Samuel para iniciar a guerra. O que o profeta lhe disse?

B. FATORES QUE DETERMINAM A FORMAÇÃO DO CARÁTER

1. A responsabilidade humana

O homem foi criado à imagem de Deus. Entre outras coisas isto significa que, diferente dos animais, Deus fez do homem um ser responsável. Este é um fator decisivo na formação do caráter cristão.

Da raiz da palavra “responsabilidade” vem o verbo “responder”. O que isto significa? Precisamos dar uma resposta para Deus pelos nossos atos. Como a nossa natureza está corrompida pelo pecado, nenhuma resposta do homem pode satisfazer a Deus. No entanto, isto de maneira nenhuma exclui a necessidade da resposta – a responsabilidade.

2. A prestação de contas

Deus perguntou a Adão quando este pecou: “Onde estás? Comeste do fruto proibido?” O mesmo fez com Eva.

Deus interpelou a Caim quando este matou a seu irmão. A Saul, quando desobedeceu. A Davi, quando adulterou. A Ananias e Safira, quando mentiram. A Saulo, quando perseguia aos cristãos...

Um dia todos nós deveremos prestar contas perante aquele que conhece todas as coisas.

3. Como assumir a responsabilidade

Adão preferiu dizer que a culpa não era dele. A mulher por sua vez também se fez de vítima.

Nada nos exime de nossa responsabilidade pessoal. Deus, através de Jesus Cristo, nos proveu tudo o que necessitamos para viver em vitória sobre Satanás, os demônios, a carne, o pecado, a tentação, o mundo e sobre todas as circunstâncias, por mais adversas que sejam. A graça de Deus nos proveu de tudo o que necessitamos para sermos mais que vencedores em todas as coisas.

Não vamos avançar se continuarmos apresentando desculpas. Só enganaremos a nós mesmos, porque diante de Deus as desculpas não têm nenhum valor.

40

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Seria néscio negar a influência de nossa herança genética, nossa infância, os traumas que trazemos desde a infância... tudo isso influi sobre o nosso comportamento. Influi, mas não o determina.

O fator determinante de nossa maneira de ser e de viver, de nosso caráter e conduta passa por nossa responsabilidade pessoal, como se fosse um filtro.

C. DECLARAÇÃO DE MINHA RESPONSABILIDADE PESSOAL

Eu declaro diante de Deus que sou o responsável pela minha conduta, pelas minhas palavras, pelos meus pensamentos, pelos meus sentimentos, pelas minhas atitudes, pelos meus desejos, pelas minhas intenções e ações.

Não tenho nenhuma desculpa para não fazer a vontade de Deus, pois Deus, em Cristo, me tem provido tudo o que necessito para viver em vitória sobre o pecado, sobre a carne, sobre o velho homem, sobre minha herança genética, sobre as influências do mundo, sobre os demônios e suas mentiras, e sobre até mesmo Satanás. Aleluia!

Proclamo que posso mudar, posso ser melhor, posso ser mais humilde, posso ser mais santo, “Tudo posso em Cristo que me fortalece”. Amém!

1. Compreendendo a ira

Salmo 37.8: “Deixa a ira, e abandona o furor; não te indignes de forma alguma para fazer o mal”.

Ira! Que emoção poderosa! Fomos criados passíveis dela. Ira é energia que de alguma forma tem a sua função na “luta pela vida”. A ira por si só não é certa ou errada. Ela é algo que faz parte de nossa criação, pois fomos criados à imagem e semelhança de Deus e Ele se ira. O que faz a ira tornar-se um pecado é o modo como tratamos com ela.

Sempre que a raiva, o rancor, a indignação e o desejo de vingança se interpuserem na nossa relação com Deus e com nosso irmão, nosso caráter sairá perdendo.

2. Controlando a Ira

Provérbios 29.11: “O tolo revela todo o seu pensamento, mas o sábio o guarda até o fim”. Dar vazão à ira é deixar que ela o domine, fazendo de você um objeto. E isso também faz de você um tolo.

3. Conheça algumas estratégias não-bíblicas de enfrentar a Ira: 41

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Explodir de raiva ou mau humor, agredir pessoas ou objetos física ou verbalmente;

Transferir sua ira. Ex: bater em um travesseiro pensando em uma pessoa;

Controlar a ira no emprego e na igreja, mas não ter nenhum controle em casa com

os entes queridos;

“Sair do sério” ou “entrar na carne” no trânsito.

4. O que a Bíblia diz:

Devemos perdoar as ofensas;

As palavras duras só suscitam a ira;

Devemos amar a pessoa que nos irritou e no amor não há ira;

Devemos suportar e perdoar a pessoa que nos irritou;

Questões existentes entre pessoas não devem postergar uma solução.

Antes de decorar fórmulas mnemônicas de como vencer a ira, é preciso uma disposição interior firme, para não incorrer em falsidade. Esta disposição só é verdadeiramente possível àqueles que se submetem ao agir regenerador do Espírito Santo.

Quem disse que seria fácil? Lembre-se do que Deus disse para Caim: o pecado está na tua porta... mas tu o podes dominar.

A Formação do Caráter Através dos Tratamentos de Deus

Deus, através de Jesus Cristo, nos provê a Sua própria natureza. As promessas Divinas nos foram outorgadas e a fidelidade de Deus é a nossa garantia de que Ele realizará em nós as mudanças necessárias (II Pedro 1.3). A vida cristã é um processo. Precisamos vencê-la passo a passo, cada degrau corresponde a um novo nível alcançado, nova vitória em determinada área, até alcançarmos o topo da escada.

A responsabilidade de Deus é prover a todo crente a própria natureza Divina através do arrependimento do pecado e da fé em Jesus Cristo. A responsabilidade do homem é buscar a revelação desses fatos e aplicá-los em sua vida.

Deus tem dado por direito aos crentes, tudo o que é necessário para uma vida santa. O

cristão, através da Obra da cruz, tem o que precisa para desenvolver um Caráter maduro. A. DESCREVENDO O PROCESSO

42

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Todos nascemos em iniqüidades e fomos formados em pecado. Todos temos por nascimento uma natureza caída, que nos acompanhará ou não por toda a vida. A natureza caída do homem não está em harmonia com nenhuma das coisas do Senhor (ver Colossenses 5.17). Deus colocou diante do cristão a meta da perfeição. Maturidade espiritual é a meta bíblica para todos os que estão em Cristo Jesus.

Por vezes a carnalidade do homem não permite que ele desenvolva seu Caráter como as Escrituras ordenam. Esta natureza humana é tratada definitivamente pelo Poder da Cruz, mas o Ego é a principal razão pela qual o homem precisa dos tratamentos de Deus. Cada cristão precisa do tratamento de Deus para motivá-lo a prosseguir em direção à perfeição espiritual (ver Hebreus 6.1 e 3).

B. O PROPÓSITO DO TRATAMENTO

O cristão necessita do tratamento de Deus em sua vida por que possui áreas escondidas em sua vida que devem ser reveladas, (I João 1.5-7). Deus deseja revelar estas áreas escondidas de pecados em nós, de maneira a nos ajudar a crescer. As Escrituras afirmam que é Deus quem revela tais segredos (Colossenses 3.13 e Mateus 10.26 e 27).

Deus revela os nossos pecados ocultos para que não sejamos destruídos, nem os nossos ministérios. Deus revela estas áreas escuras, que estão presentes dentro de nós, para que renunciemos a elas. Para que isto aconteça o cristão precisa da graça de Deus, por que humanamente a tendência é cobrir suas próprias falhas e fraquezas. O homem deseja sempre defender-se e esconder os motivos do coração (Gênesis 3.8).

Deus deu ao cristão o Seu Espírito Santo e é este Espírito quem revela as necessidades espirituais do homem, sondando seu coração para revelar os pecados que devem ser abandonados (Salmo 139.23 e Provérbios 21.2).

A palavra "revelar" significa retirar a tampa, e a palavra "ocultar" significa esconder, cobrindo, cobrir a vista, ou encobrir o assunto. Deus tenta retirar a cobertura de cima do homem, enquanto o homem faz tudo para retê-la.

Há vários homens nas Escrituras que ocultaram seus pecados. O começo de suas vidas contrastou drasticamente com o fim delas. Começaram bem e acabaram tragicamente.

Podemos começar bem, mas, se tivermos pecados ocultos em nossas vidas, que não foram confessados, mas alimentados sem arrependimento, estaremos nos destruindo, bem como nosso ministério.

1. Transformar o crente à imagem de Jesus Cristo

Este processo é relatado em II Coríntios.3.18: "E todos nós com o rosto desvendando, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como Senhor ".

43

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

A palavra "transformar'' aqui, no grego, metamorphos)”, significa: Mudança completa de um formato em outro. É a raiz da palavra científica usada para descrever o processo de transformação de uma lagarta em borboleta. Este processo leva tempo e gasta energia. A lagarta muda de um formato para um outro completamente diferente.

O cristão também precisa passar por uma metamorfose. A cada dia, o cristão que segue ao Senhor e responde positivamente tem mais e mais, seu caráter transformado à imagem do Senhor Jesus.

2. Limpar toda sujeira

Deus quer nos tornar puros. Ele está constantemente levando seu povo ao fogo através dos seus tratamentos. Em todo o mundo, está havendo muita pressão e calor sobre o povo de Deus. Este calor está ordenado por Deus, para purgar seu povo. A palavra "purgar" significa refinar, tornar puro, mudar pelo calor.

O povo de Deus, como o metal, é preparado para uso. Toda a sujeira e sobras extras são trazidas à superfície para serem lançadas fora. A Escória é tudo aquilo que é lançado fora, matéria que sobra, à parte não aproveitável. Deus está nestes dias removendo toda a escória dos seus líderes. Ele quer o desenvolvimento do Caráter de Seu Filho em todos os seus líderes (Isaías 1.22-25; Ezequiel 22.18-19; Mateus 3.12 e II Timóteo 2.21). 3. Deus quer limpar as nossas vestes

O pisoeiro era um artesão que limpava todas as fibras de um pano, para que o material pudesse se tornar um lindo traje. Frequentemente, ele estabelecia seu negócio perto de riachos, e depois de lavá-los várias vezes, os estendia sob pedras achatadas. Depois ele batia os panos crus com um bastão de pisoeiro. Este bastão era enorme e tinha dentes de ferro que serviam para extrair sujeira dos panos. Conforme ele batia nos panos crus, todos os fragmentos e sujeira subiam a superfície e a água os varria. Por este processo, o material era limpo. Após a limpeza, o material estava pronto para o artífice, para transformá-lo em um magnífico traje.

Malaquias 3.1-3 diz que Jesus é como "o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros..." e Ele sabe como nos bater sem machucar. Deus tem um bastão que usa para extrair toda a sujeira da vida dos cristãos. Deus não usa seu bastão simplesmente para ostentar o poder, mas usa-o para limpar as vestes dos seus filhos.

4. Deus quer frutos em nossas vidas

Em João 15 temos a parábola da vinha e dos ramos. O agricultor que poda a vinha deverá, às vezes, usar a tesoura de podar. Os galhos mortos devem ser cortados de maneira a não extrair a seiva necessária dos galhos vivos. Os galhos que não dão frutos são cortados. Mas as varas que dão frutos são podadas para dar mais frutos. Deus irá podar, refinar e limpar as varas que dão frutos para produzirem mais frutos. O propósito de Deus é sempre positivo e redentor. Aqueles que desejarem mais frutos serão os mais podados.

5. O Propósito do tratamento de Deus é preparar os vasos para Servi-Lo44

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

A partir do momento em que o vaso é formado do barro até o momento em que é retirado do forno, ele é submetido a um processo de formação. A aplicação das mãos do oleiro sobre o vaso às vezes é dura e firme. A roda do oleiro, o forno, tanto quanto as mãos do oleiro, são todas partes vitais na preparação do vaso. O propósito de Deus nessa situação é ter o vaso para sua honra (Jeremias 17.1-10).

As Escrituras indicam que Judas, o apóstolo caído, e traidor de Jesus Cristo, enforcou-se no campo do oleiro (Mateus 27.1-10). Neste campo foi encontrado um vaso humano, rejeitado, corrompido e mutilado, vaso para desonra, como tantos outros.

Faltou algo na preparação de Judas como líder. O propósito do tratamento de Deus, na vida de Judas, tanto quanto na vida de qualquer outro cristão que esteja sendo treinado para liderar, é expor as falhas do vaso rapidamente, para que Ele possa tratar com as falhas e curá-las e deste modo usar o vaso para honra. Deus quer usar os vasos eficazmente para um propósito específico e não destruí-los.

6. Deus quer trazer crescimento às nossas vidas

Em Isaías 54.2, o profeta proclama: "amplia o espaço de tua tenda". Figuradamente isto pode significar que Deus quer ampliar a capacidade daqueles que estão se preparando para liderar Sua Casa, a fim de que recebam mais do Senhor.

II Samuel 22.37, declara que o Senhor pode alargar os passos dos líderes. Isaías 60.5 diz que o coração da pessoa pode ser dilatado a fim de que seu "depósito espiritual" também aumente.

O propósito do tratamento de Deus é nos alargar de muitas maneiras. Deus deseja expandir o nosso ministério e a nossa função na casa do Senhor, assim como o nosso Caráter. Algumas áreas em nossas vidas que podemos dizer que Deus quer alargar:

Nossa Visão - Gênesis 13.14-17

Nossos Passos - II Samuel 22.37

Nossos Corações - Isaías 60.5

Nossas Fronteiras - Êxodo 34.24

Nossa Força - I Samuel 2.1

Nossa Habitação - Ezequiel 41.7; Provérbios 24.3-4; Isaías 54.2

Nosso Ministério - II Coríntios 6.11 e 13; II Coríntios 10.15-16.

7. Deus quer nos levar a uma busca intensa

O Senhor trará as pressões e o calor sobre os líderes em períodos específicos, para motivá-los na busca de si. A pressão não é para desviá-los de Deus, mas, para colocá-los na direção de Deus. Muitas vezes, os tempos difíceis e as circunstâncias duras são mal interpretados por nós. Todos estes tratamentos são para motivar o homem a se voltar para Deus como a

45

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

sua única força. Um líder deve aprender a buscar a Deus em tempos difíceis, para que aprenda a ajudar outros a fazer o mesmo. Jesus aprendeu pelo que sofreu. É a experiência que nos capacita a conduzir outros.

8. Deus quer mais do Seu Espírito fluindo em nossas vidas

As Escrituras retratam o vinho como indicativo do espírito de regozijo (Mateus 9.17; Atos 2.13-16; Efésios 5.18). O tempo da colheita era um tempo de alegria para todo o povo. Após o longo período de espera, era finalmente hora da colheita. Neste tempo, toda a família se envolvia na sega.

As mulheres e as crianças colocavam nas cabeças as uvas colhidas. Levavam estas uvas para grandes tonéis de pedras. Onde pisadores aguardavam descalços as uvas a serem esmagadas. Os pisadores então iniciavam o processo de andar por cima das uvas maduras, apertando-as para a extração do suco. Enquanto o pisador fazia isto ele se segurava na viga de madeira que estava ligada ao mastro no centro do tonel. A maior parte do seu peso, descansava nesta viga, de maneira a não pisar com demasiada força sobre as uvas. Se ele pisasse forte demais sobre as uvas, ele esmagaria a semente juntamente com a uva. Se isto acontecesse o vinho se tornaria amargo, não prestando para mais nada.

A aplicação é maravilhosa. Deus é o pisador das uvas que somos nós. Ele deseja que o vinho do Seu Espírito flua das nossas vidas e ministério. Ele nos aperta. Este é um processo duro, doloroso, mas Deus nunca esmagará nossos espíritos (a semente da uva) para não nos tornar amargos. Uma vida amarga não é boa para ninguém. Deus não deseja líderes amargos. Ele quer que o vinho novo e fresco do Seu Espírito flua através de nossas vidas.

9. Através dos tratamentos Deus quer nos dar nova visão

Em II Coríntios 4.16-18, Paulo enfoca esta realidade. Todas as pressões, aflições e provas que vem sobre nós agora, são para operar algo eterno. Não devemos olhar apenas para o presente, analisando aquele momento. Precisamos encarar o futuro, pensando no fruto eterno que será em nós, e, através de nós, na vida de outros. Dons são dados, mas o Caráter é desenvolvido. O caráter tem valor eterno, irá conosco para a Eternidade (I Coríntios 13.8 e 13).

C. NOSSA ATITUDE DIANTE DO TRATAMENTO DE DEUS

Termos o caráter desenvolvido à semelhança do Senhor Jesus Cristo é muito mais importante do que as aflições que vivemos nesta vida. Suportando estas aflições no presente teremos o caráter de Jesus Cristo sendo desenvolvido em nós.

Nossas atitudes ou reações diante das circunstâncias que Deus usa para tratar conosco definem nossa aceitação do tratamento, ou não. Algumas atitudes que devemos desenvolver quando passamos por provas:

Oração - (Tiago 5.13).

Contrição - (I Pedro 4.19)

46

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Reflexão - (Hebreus 12.3)

Louvor - (Salmo 74.21)

Suportar as Circunstâncias - (Mateus 10.22 e I Coríntios 10.13)

Gozo - (Mateus 5.12 e Romanos 5.3)

Disposição para Mudança - (II Samuel 12.13)

Resistir geralmente quer dizer: "se segurar ou ser indiferente durante os tratamentos". Em Jacó vemos uma atitude certa em resposta aos tratamentos de Deus.

Através das Escrituras Deus se identifica com três homens. Muitas vezes Deus disse: “Eu sou o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó”. Sendo o Deus de Abraão, nos fala que é um Deus que guarda o concerto. Sendo o Deus de Isaque fala do Deus dos milagres, mas, quando a Escritura proclama que Ele é o Deus de Jacó, fala de Deus como sendo o Deus das mudanças, pois mudou o nome de Jacó, e a sua natureza de suplantador, para Israel.

Diante do tratamento de Deus podemos ter duas atitudes:

A de verme - Conforme o próprio Jacó foi comparado (Isaías 41.14-16) e até mesmo Jesus (Salmo 22.6).

A de serpente - Representando Satanás. Estas duas atitudes se contradizem. Alguns líderes respondem a Deus como um verme outros como uma serpente.

Um Verme Uma SerpenteIndefeso quando é pisado Ataca quando pisada

Se contorce, mas com facilidade entrega a vida

Luta e revida todos os golpes até morrer

Simples e inofensivo Astuta e venenosa

Reagimos aos tratamentos de Deus como um verme ou como uma serpente?

Nossa Atitude Como Resposta

Devemos aceitar o tratamento de Deus em nossa vida, crendo que Todas as coisas cooperam para o nosso bem, visando um fim proveitoso: O aperfeiçoamento do nosso caráter.

Apesar de todas as qualidades sólidas e fortes que porventura possuamos devemos ter sensibilidade e obediência ao Senhor, inclusive durante os tratamentos em nossas vidas.

47

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

48

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O Deserto e as circunstânciasA. O INÍCIO DOS GRANDES MINISTÉRIOS

Todos os grandes nomes mencionados na Bíblia, foram de homens que antes de realizarem qualquer coisa relacionada ao seu ministério, passaram pelo deserto. Foram colocados à prova, sob forte pressão, pois o alvo de Deus era formar um caráter sólido. Muitos foram levados literalmente ao deserto, outros passaram por provas dificílimas. Alguns fizeram do deserto sua própria casa, outros não aceitaram esse tratamento. Não há na Bíblia nenhum homem que teve um ministério próspero e reconhecido sem ter passado pelo deserto, e todos que tentaram assumir posições, sem a devida formação foram lançados por terra.

O alvo de Deus para nossas vidas é que sejamos completamente aprovados em nossas atitudes, nas motivações do nosso coração, que sejamos a expressão de Cristo para as pessoas no seu quebrantamento, amor e brandura.

O poder de Deus expressa sempre Sua Grandeza e Glória, por outro lado o caráter de Cristo em nós revela Sua pessoa. Deus não tem como meta apenas revelar Sua Grandeza, Ele quer revelar-se. Mas como homens duros, obstinados, arrogantes e cheios de si podem chegar a essa posição de expressarem Cristo? Como serão quebrantados? Através dos tratamentos de Deus. Dentre estes os mais eficientes são o Deserto e as Circunstâncias.

B. O QUE É O DESERTO?

O deserto aponta para uma fase em nossas vidas determinada por Deus para nos amadurecer e aprofundar no relacionamento com Ele. É um tempo difícil para a carne e para o ego, pois normalmente o deserto vem para golpeá-los.

A Bíblia diz que Deus é Pai, que nos ama e zela de nós com grande cuidado. Quando estamos no deserto, normalmente nos entristecemos achando que Deus não nos ama, não nos ouve e que nos rejeitou. Mas é exatamente o contrário! Nunca gostamos do deserto porque somos infantis no conhecimento de Deus. Tal como as crianças, nós gostamos do que é agradável, mas detestamos o que nos causa desprazer. Deus não tem compromisso em nos ser agradável. Ele tem a decisão de fazer o que será melhor. Muitas vezes o que fazemos não agrada nossos filhos, mas não nos perturbamos. Sabemos que o que fazemos é o necessário. É o melhor. É com essa ótica que Deus nos envia ao deserto.

1. Deserto é tempo de pressão

Só somos totalmente conhecidos quando colocados sob pressão. E esta pressão vem, primeiro para que se torne conhecido o que realmente somos. Nós achamos que nos conhecemos bem. Que engano!

Nesse processo de nos conhecermos a auto-análise e a introspecção só atrapalham, pois as suas cogitações vêm da mente com conceitos totalmente deturpados. Fora da luz e revelação do Espírito Santo nenhum conceito sobre nós mesmos é digno de crédito. A

49

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

auto-análise gera orgulho ou sentimentos de inferioridade, é carnal e altamente nociva. O deserto traz essa pressão a fim de que se manifeste o que somos para as pessoas.

Há muitos irmãos que em condições normais gastam imensa energia da alma para manterem firmes suas máscaras de espiritualidade, paciência, brandura, pureza e profundidade no conhecimento de Deus. Estão todo o tempo se policiando a fim de vender uma imagem que não corresponde à sua realidade. Entretanto, quando as pressões do deserto vem, tudo desmorona. O que somos, somos. O que fingimos ser, cai à vista de todos. Toda a nossa carnalidade fica exposta. O deserto nos capacita a suportar pressões. Não é possível Deus confiar nada a nós antes de passarmos pelo deserto. Esta fase em nossas vidas visa transformar pessoas fracas e vacilantes em pessoas fortes e corajosas.

Antes de passarmos por esse tempo, quando as pressões do diabo, do sofrimento e do conflito vinham nossa tendência era jogar tudo para cima assentarmos sobre uma pedra e chorarmos clamando pela nossa mãe. Não éramos confiáveis. O deserto nos torna rijos, destemidos e calejados para as pressões. De tempos em tempos nossa capacidade de suportar pressões vai aumentando, ao mesmo tempo que aumenta a unção, as responsabilidades e o reconhecimento dos homens. Sem passarmos pelo deserto tomaríamos para nós toda a glória que pertence a Deus. Não éramos confiáveis. Quando sob a menor pressão, tornávamos incrédulos, murmurávamos, e abandonávamos tudo. Após o deserto as coisas mudam.

2. Deserto é lugar de solidão

Por muitas vezes, quando mais desejei a presença de amigos, pastores e discípulos não as tive. Estava no deserto. Muitas vezes desejei a intimidade de grandes homens de Deus, mas em todas estas ocasiões fui frustrado por Deus. Eu depositava grandes expectativas na vida de alguns notáveis homens de Deus, mas o Senhor nunca permitiu que estas expectativas se cumprissem: Deus queria que dependesse exclusivamente Dele, não do homem.

Temos toda essa tendência, sincera, de buscar a Deus através de homens e mulheres que já alcançaram grande intimidade com Ele. Não queremos passar pelo processo do deserto. Desejamos achar nas pessoas o que Deus quer nos dar de sua própria presença. O deserto vem para nos decepcionar com toda expectativa e esperança colocada no homem. Isso não é negativo, é muito bom para nós. Passamos a ter como única alternativa o Senhor.

Chega um tempo em que já esperamos tanto do homem sem nada receber que nos desiludimos. Abandonamos aquela idéia infantil do "grande homem de Deus que vai vir de não sei de onde, vai impor as mãos não sei de que jeito eliminando todos os problemas e transformando a vida num mar de rosas". Na solidão do deserto parece que não há mais ninguém com quem podemos contar. Todas as pessoas se tornam distantes, impessoais e parecem não nos compreender. Isso é obra de Deus. Ele quer se tornar o nosso amigo mais íntimo, nosso companheiro de todas as horas, o ombro amado onde choramos as nossas tristezas. Ele se torna no deserto a única pessoa a quem podemos recorrer. Ao sairmos do deserto perdemos as amizades naturais, os heróis humanos, os parentes mais queridos e ganhamos a Deus. Bendita perda; bendito ganho!

50

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

3. O Deserto é lugar do esgotamento da alma

No deserto não há água, não há vida, não tem descanso. Só calor e exaustão. Nossas energias naturais vão se esgotando pouco a pouco até não haver mais nenhuma força, nenhum ânimo, nenhum entusiasmo. O tempo do deserto é tempo sem sabor, sem cor, sem novidade, sem sentimento. Deus retira todos os estímulos naturais que nos animavam no natural. O alvo de Deus é nos livrar da dependência da nossa vida natural e nos capacitar a depender inteiramente do Seu Espírito. Enquanto temos estímulos de todas as formas, não precisamos depender de Deus. Fazemos tudo no entusiasmo da alma. O alvo de Deus com esse tempo é retirar os estímulos a fim de andarmos nas nossas próprias forças e nos exaurirmos completamente.

Quantos homens e mulheres de Deus passam por períodos de estafa. O que caracteriza esse esgotamento é a exaustão de todas as energias da alma. Às vezes até oramos por tais irmãos para que Deus os restabeleça. Tal oração é contrária à vontade de Deus. Aliás, Deus mesmo vai cooperar para que a estafa, o esgotamento mais completo venha o mais depressa possível. Se andarmos baseados em nossa vida natural, não estamos andando por fé e nem no Espírito. Chame como quiser, mas a Bíblia diz que isso é andar na carne. Precisamos saber que andar na carne não é só cometer pecados grosseiros e manifestar aqueles frutos horríveis mencionados em Gálatas 5. Andar na carne é não depender de Deus, é depender de sua vida natural, de seu ego. O deserto, pois, vem para nos acabar. Vem para destruir toda autoconfiança.

Moisés antes do deserto desejava uma revelação e em seu afã matou com as mãos um egípcio. Parecia que a promessa de libertação da nação dependia exclusivamente dele. Após os 40 anos no deserto, ele disse ao Senhor: "tu deves estar enganado, nem ao menos sei falar." Segunda a Bíblia, Moisés se tornou o homem mais manso de toda a terra. Bendito deserto!

4. No deserto Deus se mostra como luz

Podemos experimentar a presença de Deus sobre nós como deleite e como luz. Como é bom adorarmos o Senhor e sentirmos Sua maravilhosa presença. Não há na terra nada tão aprazível. Mas a Bíblia diz que Deus também se manifesta como luz: "Na tua luz vemos a luz"; "Ele é o sol da justiça” e "Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens". No deserto a poderosa presença de Deus se manifesta como uma forte e vigorosa luz que penetra nas regiões mais profundas e interiores de nosso ser. Sob a luz de Deus vamos conhecendo a Ele na Sua glória, por outro lado, nos conhecendo em nossa miséria. Que grande contraste há entre o Deus eterno e o eu finito; entre a grandeza de Deus e a minha insignificância; entre o Deus Santo e o eu pecador.

No deserto conhecemos a face de Deus, ao mesmo tempo em que nos conhecemos. Esse contraste entre a glória e a miséria é que nos torna verdadeiramente humildes. Ao sairmos do deserto, sairmos convencidos de que não há em nós mesmos nada útil para Deus, nada próprio para Deus, nada próprio para o Reino. Sabemos que somos totalmente desqualificados e vis. Moisés e Paulo eram tão cultos, tão capazes, tão arrogantes, tão independentes de Deus, tão seguros de si mesmos, tão inteligentes, tão auto-confiantes... Após o deserto o primeiro disse: "não sei falar "e o segundo disse: "não habita em mim bem nenhum; sou o maior pecador". Há muitos irmãos que afirmam conhecer a Deus, nas suas atitudes depõem em contrário. Quão incoerente é afirmarmos conhecer a Deus e sermos ao

51

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

mesmo tempo orgulhosos, jactanciosos e arrogantes. A verdadeira maturidade não faz propaganda do seu próprio nome, não edifica um monumento a si mesmo e nem se julga competente. Quanto mais conheço a Deus, mais me conheço.

C. NOSSA MALEABILIDADE DETERMINA A DURAÇÃO E A INTENSIDADE DO DESERTO

Deus espera sempre uma atitude responsiva no deserto. Mas o que é ter uma atitude responsiva? É sermos maleáveis, é não nos endurecermos ante aquilo que Deus vem golpeando. É tão triste ver crentes sendo tratados por Deus que ao invés de se humilharem fortalecem as antigas posições. Muitas vezes corremos esse risco de não sermos sensíveis e não percebermos que aquilo de negativo que está acontecendo é Deus desejando nos falar e nos mudar. Sofremos em nossa reputação e nos defendemos, somos criticados e criticamos; somos agredidos e agredimos. Sofremos prejuízo e logo inventamos um modo de passar o prejuízo para outro. Quando injustiçados, vamos à desforra. Reivindicamos, exigimos, desprezamos e usamos da nossa força humana para estabelecer nossa própria vontade. Não percebemos que ao nos impormos estamos fora do padrão do Caráter de Cristo e nos endurecemos contra os tratamentos de Deus, pois justamente aquilo que mais nos incomodou era a mão de Deus nos tratando. Aquele chefe no trabalho, aquele líder na Igreja, aquela pessoa que mais te incomoda. Aquele a quem mais é difícil de se submeter, amar e aceitar é justamente quem está mais sendo usado por Deus para te aperfeiçoar. Ceda! Seja maleável, mude, responda a Deus. A mão bendita do obreiro está sendo revelada justamente na situação que você mais detesta.

Quanto mais resistirmos em nossa obstinação e dureza mais tempo passamos no deserto. E quanto mais o tempo passa mais duro vai se tornando o deserto. Deus nos envia ao deserto para nos levar à semelhança de Cristo, entretanto algumas pessoas são tão duras, desprevenidas e obstinadas que acabam morrendo no deserto. Vida crista é coisa séria. Que seria morrer no deserto? É viver a vida inteira resistindo a Deus e sendo resistido por Ele. Não usufrui de sua graça, de sua bênção, do seu descanso e da sua vida. Nada na vida dos tais funciona. Tornam-se pessoas amargas, críticas. Acham tudo muito falho. Estão sempre cheias de auto-piedade, de cobranças aos pais aos amigos e aos líderes na igreja. O mundo todo está errado, o mundo todo é alvo de suas fortes críticas. Ao agirem assim, estão aprofundando o sofrimento, tornando as crises mais agudas e aumentando a fase do deserto.

Moisés passou 40 longos anos no deserto para que Deus pudesse usá-lo, para que a face do Senhor pudesse ser vista por ele. Por outro lado Jesus passou somente 40 dias. Moisés foi mais duro que Jesus 365 vezes. Deus não tem prazer no deserto. Ele tem prazer em nossa resposta. Há pessoas que contam do seu deserto como se estivessem com grande vantagem. Quão ignorantes são! Estão dando testemunho de sua grande dureza. Não devemos endurecer-nos, pelo contrário devemos amar a disciplina do Senhor cedendo rapidamente e mudando de coração e de atitudes. Na escola de Deus não se pode pular de cartilha. Se formos reprovados, nalgum tempo depois passaremos pelo mesmo teste. Isso se repetirá até darmos a Deus a resposta de quebrantamento e mudança que Ele espera de nós.

D. AS CIRCUNSTÂNCIAS DE TRATAMENTO

Além do deserto, que poderíamos chamar de fases nas quais passamos uma ou mais vezes, Deus nos cria circunstâncias para nos aperfeiçoar. Essas circunstâncias certamente virão

52

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

para tratar-nos nas áreas onde somos mais difíceis. Por exemplo: se o nosso coração é extremamente apegado a bens materiais Deus nos dará prejuízo, frustração após frustração.

Se somos daquele tipo tímido que pouco liga para as coisas de Deus, mas que é grandemente preocupado com a opinião das pessoas a seu próprio respeito e com sua reputação, este irmão vai sofrer vexame após vexame até sua reputação ser completamente tratada. Se é do tipo que ama os primeiros lugares, lhe serão reservados sempre os últimos será desprestigiado e ignorado. Se cobra o amor das pessoas, jamais o receberá. Isso se perpetuará até ceder a Deus tendo seu coração completamente Nele. Até que se disponha, ao invés de cobrar amor, atenção e respeito, dar amor, dar atenção, dar respeito negando-se a si mesmo completamente.

53

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O Quebrantamento e oCaráter de Cristo

Um dos mais lindos traços do caráter que um cristão possa manifestar como resultado do trabalho do Espírito Santo em sua vida é o quebrantamento. Vejamos como Deus produz isso em nós.

Qualquer pessoa que serve a Deus descobrirá, mais cedo ou mais tarde, que o grande impedimento para a obra não são outras pessoas mas, sim, ela mesma. Descobrirá que sua alma e seu espírito não estão em harmonia, pois os dois tendem para direções opostas. Sentirá, também, a incapacidade de sua alma submeter-se ao controle do espírito, tornando-o, assim, incapaz de obedecer aos mandamentos mais sublimes de Deus. Perceberá rapidamente que a maior dificuldade acha-se na sua alma, pois esta o impede de fazer uso do seu espírito.

Muitos dos servos de Deus nem sequer conseguem fazer as obras mais elementares. Gostariam de ser capacitados pelo exercício do seu espírito a conhecer a Palavra de Deus, a discernir a condição espiritual de outra pessoa, entregar as mensagens de Deus com unção e receber as revelações de Deus. Mesmo assim, devido às distrações da alma parece que seu espírito não funciona apropriadamente. É basicamente porque a alma nunca foi tratada. Por esta razão, o reavivamento, o zelo, o muito implorar e o ativismo não passam de um desperdício de tempo. Conforme veremos, há apenas um só tratamento que pode capacitar o homem a ser útil diante de Deus: o quebrantamento.

A. O HOMEM INTERIOR E O HOMEM EXTERIOR

Note como a Bíblia divide o homem em duas partes: “Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus" (Romanos 7.22). Nosso homem interior deleita-se na lei de Deus. “...que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior" (Efésios 3.16). E Paulo também nos informa: “Mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo o nosso homem interior se renova de dia em dia” (II Coríntios 4.16).

Quando Deus vem habitar em nós mediante o Seu Espírito, a Sua Vida e o Seu poder entram em nosso espírito, aquilo que estamos chamando de "homem interior". Fora deste homem interior há a alma, na qual funcionam nossos pensamentos nossas emoções e nossa vontade. Além disso, há nosso corpo físico. Nunca devemos nos esquecer de que nosso homem interior é o espírito humano onde Deus habita, onde Seu Espírito se combina com nosso espírito. Assim como nós vestimos roupas, assim também nosso homem interior, nosso espírito "veste" uma alma. E, de modo semelhante, o espírito e a alma "vestem" o corpo. Geralmente as pessoas estão mais conscientes da alma e do corpo, mas dificilmente reconhecem ou entendem seu espírito.

Devemos saber que as pessoas qualificadas para o trabalho de Deus, são aquelas cujo espírito pode ser liberado. A dificuldade básica de um servo de Deus acha-se no fracasso do homem interior de irromper pela alma. Logo, devemos reconhecer diante de Deus que a primeira dificuldade que enfrentamos na obra não está nos outros mas, sim em nós mesmos. Nosso espírito parece estar embrulhado numa casca dura de modo que não pode facilmente

54

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

fluir de lá. Se nunca aprendemos como liberar nosso espírito por meio da alma, não teremos capacidade de servir a Deus eficazmente. Nada pode atrapalhar-nos tanto quanto esta alma. Se nossas obras são frutíferas ou não, depende de se nossa alma foi quebrantada pelo Senhor de modo que o homem interior possa se manifestar. Este é o problema básico. O Senhor deseja quebrar nossa alma a fim de que o homem interior possa ter uma via de saída. Quando o nosso espírito for liberado, tanto os descrentes quanto os cristãos serão abençoados pela Vida e pelo Poder de Deus que de lá vão emanar.

B. O TEMPO DO NOSSO QUEBRANTAMENTO

O Senhor normalmente trabalha conosco durante vários anos antes de poder realizar esta obra de quebrantamento. A cronologia está na mão Dele. Não podemos encurtar o tempo, embora certamente o possamos prolongar. Em algumas vidas, o Senhor pode realizar esta obra depois de uns poucos anos de trato; noutras, é evidente que depois de dez ou vinte anos a obra ainda está incompleta. Isto é muito sério! Nada é mais lastimável do que desperdiçar o tempo de Deus. Quão freqüentemente a igreja é atrapalhada! Podemos pregar com o uso da nossa mente, podemos comover os outros com o uso das nossas emoções; mas se não sabemos usar nosso espírito, o Espírito de Deus não poderá tocar as pessoas através de nós. A perda será grande, se prolongarmos desnecessariamente o tempo.

Logo, se nunca antes nos consagramos de modo total e inteligente ao Senhor, façamo-lo agora, dizendo: "Senhor, para o futuro da igreja, para o evangelho, para o Teu caminho, e também para minha própria vida, ofereço-me sem condições, sem reservas, nas Tuas mãos. Senhor, deleito-me em oferecer-me a Ti e estou disposto a deixar-Te fazer toda a Tua vontade através de mim."

C. O SIGNIFICADO DA CRUZ

Ouvimos falar freqüentemente acerca da cruz. Talvez estejamos por demais familiarizados com o termo. Mas, o que é a cruz, afinal de contas? Quando realmente compreendermos a cruz, veremos o que significa o quebrantamento da alma. A cruz reduz a alma à morte; racha a casca humana e a abre. A cruz deve quebrar tudo quanto pertence à nossa alma - nossas opiniões, nossos modos, nossa habilidade, nosso amor-próprio, nosso tudo. O caminho está claro, claro mesmo como o cristal.

Tão logo que a casca de nossa alma é destruída, nosso espírito pode sair facilmente para fora. Considere certo irmão, como exemplo. Todos quantos o conhecem reconhecem que tem uma mente aguçada, uma vontade dinâmica, e profundas emoções. Mas, ao invés de ficarem impressionadas por estas características naturais da sua alma, reconhecem que se encontraram com seu espírito. Sempre que as pessoas estão tendo comunhão com ele, encontram um espírito livre. Por quê? Porque tudo quanto é da sua alma foi quebrado. Não devemos apegar-nos às fracas características da nossa alma, ainda emitindo a mesma fragrância, mesmo depois de que o Senhor lidar conosco durante cinco ou dez anos. Não! Devemos deixar o Senhor forjar um caminho em nossas vidas.

55

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

D. O QUE IMPEDE O QUEBRANTAMENTO

Por que é que, depois de muitos anos de trato, algumas pessoas permanecem inalteradas? Alguns indivíduos têm uma vontade forte; alguns têm emoções fortes; e outros têm uma mente forte. Visto que o Senhor pode quebrantá-los, por que depois de tanto tempo ainda não se pode ver nenhuma expressão do caráter de Cristo? Há duas razões principais.

1. A primeira é que muitos que vivem nas trevas não estão vendo a mão de Deus. Enquanto Deus está operando, enquanto Deus está destruindo, não reconhecem que é da parte Dele. Estão destituídos de luz, e, somente vêem homens que se opõem a eles. Imaginam sempre que as circunstâncias estão erradas e que as pessoas que as rodeiam são os culpados por tudo. Assim, continuam nas trevas e no desespero. Sempre trazem tudo para o nível pessoal.

Que Deus nos dê uma revelação para ver que Ele está em todos os nossos caminhos. Pelo menos, devemos reconhecer de quem é a mão que trata conosco. Não é mão humana, nem a mão da nossa família, nem a dos irmãos e irmãs na igreja, mas, sim, a de Deus. Precisamos aprender como nos ajoelhar e beijar a mão, amar a mão que lida conosco, assim como fazia Madame Guyon. Precisamos ter esta luz para vermos, seja o que for que o Senhor fez, aceitarmos e crermos; o Senhor nada pode fazer de errado. Mais do que suportar a cruz, precisamos aprender a amar a cruz. É nas circunstâncias difíceis e que mais incomodam que Deus está revelando Seu braço de amor, cuidado e tratamentos conosco. Aquela pessoa que mais te incomoda é exatamente quem mais o Senhor está usando para te aperfeiçoar.

2. A segunda razão, outro grande impedimento à obra de quebrar a alma é o amor-próprio. Devemos pedir que Deus remova o coração do amor-próprio. À medida que Ele lida conosco em resposta à nossa oração, devemos adorar e dizer: "Ó, Senhor, se isto for da Tua mão, que eu o aceite do meu coração". Lembremo-nos de que a única razão para todo mal entendido, toda a irritação, todo o descontentamento, é que secretamente amamos a nós mesmos. Assim, planejamos um modo mediante o qual podemos livrar a nós mesmos. Muitas vezes, os problemas surgem porque procuramos uma via de escape - uma fuga da operação da cruz.

O amor-próprio é uma dificuldade básica. Que o Senhor nos fale hoje de tal maneira que possamos orar: "Eu, Deus, vi que todas as coisas vêm de Ti. Todos os meus caminhos estes cinco anos, dez anos, ou vinte anos, são teus. Operaste de tal maneira que atingiste teu propósito, que não é outro senão que tua vida seja vivida através de mim. Mas eu fui tolo. Não vi. Fiz muitas coisas para escapar, e assim adiei o teu tempo. Hoje, vejo tua mão. Estou disposto a me oferecer a ti. Mais uma vez coloco-me nas tuas mãos".

E. AS FERIDAS PRODUZIRÃO A BELEZA DE CRISTO EM NÓS

Ninguém é mais belo do que alguém que está quebrantado! A teimosia e o amor-próprio cedem lugar à beleza na pessoa que foi quebrantada por Deus. Vemos Jacó no Antigo Testamento, como mesmo no ventre da sua mãe, lutava com seu irmão. Era sutil, enganoso, traiçoeiro. Por isso, sua vida estava cheia de tristezas e mágoas. Ainda jovem, fugiu do seu lar. Durante vinte anos foi logrado por Labão. A esposa do amor de seu coração, Raquel, morreu prematuramente. O filho do seu amor, José, foi vendido. Anos mais tarde, Benjamin foi preso no Egito. Deus tratou com ele sucessivamente, e Jacó encontrou infortúnio após

56

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

infortúnio. Deus o feriu uma vez, duas vezes; na realidade, sua história foi a história de ser ferido por Deus.

Finalmente, depois de muitos tratamentos deste tipo, o homem Jacó foi transformado. Durante seus últimos poucos anos, era bem transparente. Quão nobre era sua resposta a Faraó! Quão belo foi seu fim, quando adorou a Deus, apoiado no seu bordão! Quão claras eram suas bênçãos pronunciadas sobre seus descendentes! Depois de ler a última página da sua história, queremos curvar a cabeça e adorar a Deus. Aqui temos alguém que está amadurecido, que conhece a Deus. Várias décadas de tratos tiveram como resultado que o alma de Jacó foi quebrantada. Na sua velhice, o quadro é belo.

Cada um de nós tem boa parte da mesma natureza de Jacó em nós. Nossa única esperança é que o Senhor quebre a nossa alma de tal maneira que o homem interior possa surgir e ser visto. Isto é precioso, e é o caminho daqueles que servem ao Senhor. Somente assim podemos servir; somente assim podemos levar os homens a Cristo. Tudo o mais está limitado quanto ao seu valor.

Qual a utilidade do mero conhecimento teórico da Bíblia se a nossa alma ainda permanecer sem quebrantamento? Somente a pessoa através de quem Deus pode aparecer, é útil.

Depois de nossa alma ter sido ferida, tratada, e levada por várias provas, temos feridas em nós e assim deixamos o espírito emergir. Que Deus tenha misericórdia de nós, mostrando-nos claramente este caminho, e revelando-nos que é o único caminho. Que Ele também nos mostre que nisto é visto o propósito de todos os Seus tratos durante estes poucos anos, sejam dez ou vinte. Que ninguém menospreze os tratos do Senhor. Que Ele nos revele verdadeiramente o que significa o quebrantamento da alma. Se a alma permanecesse integral, tudo estaria meramente em nossa mente, totalmente inútil. Tenhamos esperança de que o Senhor venha a tratar de nós de modo completo.

F. O QUEBRANTAMENTO AFETA O SERVIÇO NA OBRA

Passemos agora a considerar como o quebrantamento da alma afetará nosso modo de ler a Bíblia, nosso modo de ser ministros da Sua Palavra, e nossa pregação do Evangelho.

1. Leitura da Bíblia: O que somos, determina o proveito que tiramos da Bíblia. Quão freqüentemente o homem, na sua soberba, depende da sua mente não-renovada e confusa para ler a Bíblia. O fruto é nada vezes nada, senão seu próprio pensamento fervilhante, confuso e carnal. Não toca o espírito das Sagradas Escrituras. Se esperamos encontrar o Senhor na Sua Palavra, nossos pensamentos devem primeiramente ser quebrantados por Deus. Talvez tenhamos alto conceito da nossa habilidade, mas para Deus é um grande obstáculo. Nunca pode levar-nos para o pensamento de Deus.

Há, pelo menos, duas exigências básicas para ler a Bíblia: primeiramente, nosso pensamento deve entrar no pensamento da Bíblia; e, em segundo lugar, nosso espírito deve entrar no espírito da Bíblia. Isto permitirá que o Espírito lhe dê o significado exato das Escrituras.

57

Ao invés de serem úteis, as faculdades da

alma tornam-se um obstáculo

para o homem interior.

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Pense numa pessoa que vem à Bíblia com sua mente já fixa. Lê a Bíblia para obter apoio para suas doutrinas pré-concebidas. Que tragédia! Uma pessoa experiente, depois de escutar alguém assim falar durante cinco ou dez minutos, pode discernir se quem fala está usando a Bíblia para suas próprias finalidades, ou se seu pensamento entrou no pensamento da Bíblia. Uma pessoa pode levantar-se e dar uma mensagem agradável que parece ser bíblica, mas, na realidade, seu pensamento é contraditório ao pensamento da Bíblia. Ou podemos escutar alguém pregar, cujo pensamento expressa o pensamento da Bíblia e, portanto, é harmonioso e unido com ela. Embora esta condição deva ser a normal, nem todos chegam a ela. Para unir nosso pensamento com o pensamento da Bíblia, é necessário que nossa alma seja quebrantada. Não pense que nossa leitura bíblica é fraca por causa de falta de instrução. O defeito está muito mais em nós, porque nossos pensamentos não foram subjugados por Deus.

Ora, embora isto seja importante, ainda nos falta mencionar o assunto primário. A Bíblia é mais do que palavras, idéias e pensamentos. O aspecto mais destacado da Bíblia é que o Espírito de Deus é liberado através deste Livro. Não há somente pensamentos na Bíblia; o próprio Espírito se manifesta através dela. Assim, é somente quando seu espírito pode sair e tocar o espírito da Bíblia, que você pode entender o que a Bíblia está dizendo. O Espírito que inspira a composição das Escrituras é o Espírito eterno, sempre presente na Bíblia. Se nossa alma foi quebrantada, nosso espírito é liberado e pode tocar aquele Espírito que inspira as Escrituras. De outra forma, a Bíblia permanecerá como um livro morto em nossas mãos.

2. O Ministério da Palavra: Deus deseja que entendamos a Sua Palavra, pois este é o ponto de partida do serviço espiritual. O Senhor deseja que Sua Palavra flua como mensagem dinâmica e viva em nosso espírito de modo que possamos usá-la para ministrar à igreja. Em Atos 6.4, lemos: " E, quanto a nós nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra." Ministério significa servir as pessoas com a Palavra de Deus.

No ministério, qual é a dificuldade que nos leva a deixar de liberar a Palavra dentro de nós? Freqüentemente, alguém pode sentir-se muito preocupado com uma palavra que, segundo sente, deve comunicar aos irmãos. Mesmo assim, enquanto se levanta para falar frase após frase, a preocupação interna permanece tão pesada como sempre. Mesmo depois de passar uma hora, não há senso de alívio, e, finalmente, sai carregando o mesmo fardo de uma mensagem que não foi entregue. Por quê? É porque sua alma não foi quebrantada. Ao invés de serem úteis, as faculdades da alma tornam-se um obstáculo para o homem interior.

Uma vez, porém, que a alma for quebrantada, a expressão já não é problema. Então, a pessoa pode pensar em palavras apropriadas para expressar seu sentimento no íntimo. Através da liberação, o fardo interno é aliviado. Esta é a maneira de ministrar a Palavra de Deus à igreja. Repetimos, então: a alma é o maior empecilho ao ministério da Palavra de Deus.

Muitos têm a noção errônea de que são as pessoas habilidosas que melhor podem ser usadas. Como isto é errado! Não importa quão habilidoso você seja, o exterior nunca poderá substituir o homem interior. Somente depois de a alma ter sido quebrantada é que o interior pode achar pensamento adequado e palavras apropriadas. A casca da alma deve ser esmagada por Deus. Quanto mais é despedaçada, tanto mais a vida no espírito é liberada. Enquanto esta casca permanecer intacta, a mensagem que pesa no espírito não pode ser liberada, nem a vida e o poder de Deus podem fluir de você para a Igreja. É principalmente através do Ministério da Palavra de Deus que sua vida e seu poder são fornecidos. A não ser que você tenha seu homem interior liberado, as pessoas podem ouvir sua voz, mas não

58

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

podem tocar a vida. Você pode ter uma palavra para dar, mas outras pessoas deixam de recebê-la; você não tem meios de expressão.

A dificuldade é que a vida que há dentro deixa de fluir. Há uma Palavra de Deus atuante por dentro, mas não pode ser manifestada por causa do obstáculo do lado de fora. Deus não tem um livre caminho através de você.

3. Pregação do Evangelho: Há um conceito geral, falso, de que as pessoas crêem no evangelho porque, ou foram mentalmente convictas da exatidão doutrinária, ou emocionalmente comovidas pelo seu apelo. Na realidade, os que vão ao evangelho por qualquer destas duas razões não permanecem Nele. O intelecto e a emoção precisam ser alcançados, mas estes sozinhos são insuficientes. A mente pode encontrar-se com a mente, e a emoção pode alcançar a emoção, mas a salvação acontece numa região mais profunda. O espírito deve tocar o espírito. Somente quando o espírito do pregador floresce e brilha é que os pecadores caem e se rendem a Deus. Este é o espírito apropriado e necessário para a pregação do evangelho.

Certo mineiro grandemente usado por Deus escreveu um livro chamado Seen and Heard ("Visto e Ouvido"), em que relata suas experiências ao pregar o evangelho. Fui profundamente comovido ao ler este livro. Embora fosse um irmão simples, sem alto grau de cultura nem com dons especiais, ofereceu-se inteiramente ao Senhor e foi poderosamente usado por Ele. Uma coisa o caracterizava: era um homem quebrantado; seu espírito era puro. Quando estava numa reunião, ouvindo um pregador, sentiu uma preocupação tão grande pelas almas que pediu ao pregador permissão para falar. Subiu ao púlpito, mas não vinham as palavras. Seu homem interior ardia tanto com uma paixão pelas almas que suas lágrimas jorravam. Finalmente, conseguiu pronunciar apenas umas poucas sentenças pouco compreensíveis. Mesmo assim, o Espírito Santo encheu aquele lugar de reunião; as pessoas ficaram convictas dos seus pecados e da sua condição de perdidas. Aqui havia um jovem que era quebrantado - tinha poucas palavras, mas quando seu espírito fluía, as pessoas eram poderosamente tocadas. Ao ler sua autobiografia, reconhecemos que ele era alguém cujo espírito fluía, as pessoas eram poderosamente tocadas. Era um instrumento para salvar muitos durante sua vida.

Este é o modo certo de pregar o evangelho. Sempre que você vê alguém que não é salvo, sente que deve dar-lhe o evangelho. Você deve permitir que seu espírito seja liberado. Pregar o evangelho é puramente uma questão de ter a alma quebrantada de modo que o homem interior possa fluir e tocar outros. Quando seu espírito toca o espírito de outra pessoa, o Espírito de Deus vivifica aquele espírito que está em trevas de modo que aquela pessoa é maravilhosamente salva. Se, porém, seu espírito estiver amarrado pela alma, Deus não tem via de saída através de você e o Evangelho fica bloqueado. É por isso que focalizamos tanta atenção em lidar com a alma. Se nos falta este tratamento, não temos poder para ganhar almas, embora tenhamos todas as doutrinas de cor. A salvação vem quando nosso espírito toca o espírito de outra pessoa. Então, aquela alma não pode deixar de prostrar-se aos pés de Deus. Oh amados, quando nosso espírito for verdadeiramente liberado, as almas certamente serão salvas.

Uma vez que as pessoas são salvas, Deus não quer que elas esperem para lidar com seus pecados, que esperem mais anos para se consagrarem, e que esperem ainda mais tempo para responderem à chamada de realmente seguirem ao Senhor. Tão logo que as pessoas crêem, devem imediatamente voltarem-se dos seus pecados, consagrarem-se totalmente ao

59

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Senhor, e romperem o poder das coisas deste mundo. Sua história deve ser como aquelas que são registradas nos Evangelhos e em Atos. Para o evangelho ter seu efeito mais completo no homem, o Senhor precisa ter um caminho nas vidas dos mensageiros do Evangelho. Que Deus tenha uma via de saída através de nós.

G. QUALIDADES PRODUZIDAS NO QUEBRANTAMENTO

1. Meiguice

Uma pessoa quebrantada pelo Espírito naturalmente possui a meiguice. Seus contatos com as pessoas já não são marcados por aquela teimosia, dureza e aspereza que são as marcas registradas de um homem não quebrantado. Já foi trazido ao ponto em que sua atitude é tão meiga quanto sua voz é mansa. O temor a Deus no seu coração naturalmente acha expressão nas suas palavras e nas suas maneiras.

2. Abordabilidade

Há várias qualidades que caracterizam uma pessoa que é meiga: ela é abordável - é tão fácil ter contato com ela, falar com ela, e fazer perguntas a ela. Confessa prontamente os seus pecados e derrama lágrimas livremente. Para alguns, é tão difícil derramar lágrimas. Não é que haja qualquer valor especial nas lágrimas, mas naquele cujo pensamento, vontade e emoção foram tratados por Deus, as lágrimas frequentemente denotam sua disposição para ver e reconhecer sua falta. É fácil conversar com ele, porque sua casca exterior foi quebrada. Aberto às opiniões dos outros, dá as boas-vindas às instruções, e, nesta posição nova, pode ser edificado em todas as coisas.

3. Sensibilidade alta

O mínimo movimento no espírito de outra pessoa não passa despercebido por ele. Imediatamente ele pode perceber o verdadeiro significado de uma situação - seja ela certa ou errada. Suas ações são bem-consideradas, não será complacente com o erro nem magoará os sentimentos dos outros com falta de consideração.

Frequentemente persistimos em fazer coisas que, no espírito de outras pessoas já foram condenadas. Outros sentem este fato, mas nós, não. Considere como isto pode ocorrer nas reuniões de oração, quando os irmãos podem sentir repugnância das nossas orações. Mesmo assim, não cessamos de ser monótonos. Os espíritos dos demais irmãos clamam: "Pare de orar", mas permanecemos insensíveis. Não há correspondências aos sentimentos dos outros. Não é assim com aquele cuja alma foi quebrantada. O Espírito operou uma profunda sensibilidade nele e agora pode ser tocado também pelo espírito de outros. Tal pessoa não ficará embotada diante das reações dos outros.

4. Prontidão para uma vida em conjunto

60

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Somente estes quebrantados sabem o que é o corpo de Cristo. Sem a meiguice, dificilmente estariam prontos para participar da vida no corpo. Começam a tocar o espírito dos outros membros. Se alguém não tem este senso do Corpo, é como um membro falso do corpo, igual a uma mão artificial de Cristo, que pode movimentar-se com o corpo físico, mas que não tem nenhuma sensação. O corpo inteiro sentiu este fato, menos ele. Nem pode receber com meiguice a instrução ou a correção. Um quebrantado, no entanto, pode tocar a consciência da igreja e perceber o seu sentimento, pois seu espírito está aberto ao espírito da igreja para receber dela qualquer comunicação. Quão preciosa é esta sensibilidade! Sempre que fazemos qualquer coisa errada, imediatamente a sentimos. Os irmãos sabem que você está errado, mas mesmo antes de abrirem a boca você é trazido de volta ao bom-senso pelo mero contato com eles. Você tocou o espírito deles, e isto lhe indica se o aprovam ou o desaprovam.

5. Facilidade de edificação

A maior vantagem do quebrantamento, no entanto, não está em ter nosso erro corrigido, mas, sim, em capacitar-nos a receber o suprimento do Corpo. Nosso espírito é liberado e aberto para receber a ajuda espiritual de qualquer parte do corpo. Quem não for quebrantado dificilmente, poderá ser ajudado. Suponhamos, por exemplo, um irmão muito inteligente, porém não quebrantado. Pode vir às reuniões, mas não é tocado. A não ser que encontre alguém cuja mente é mais aguçada do que a dele, não será ajudado. Analisará os pensamentos do pregador e os rejeitará como sendo superficiais e inúteis. Meses e anos podem passar dessa forma sem ele ser tocado. Está fechado pela parede da sua mente e somente poderá ser ajudado através da mente. Nesta condição, não pode receber a edificação espiritual. Se, porém, o Senhor entrasse e despedaçasse esta parede, mostrando-lhe a futilidade dos seus próprios pensamentos, ele ficaria atento como uma criança àquilo que os outros dizem. Já não desprezaria pessoas que parecem estar abaixo das suas habilidades ou capacidades.

Ao escutar uma mensagem, fará uso do seu espírito para entrar em contato com o espírito do pregador, ao invés de focalizar sua atenção na pronúncia das palavras ou na apresentação da doutrina. Quando o espírito do pregador é liberado com uma palavra específica da parte do Senhor, o espírito deste ouvinte é refrigerado e edificado. Se o espírito de alguém estiver livre e aberto, recebe ajuda sempre que o espírito do seu irmão flui. Lembre-se, porém, que esta não é a mesma coisa que ser ajudado na doutrina.

Quanto mais o espírito de um homem tem sido tratado por Deus, tanto mais ajuda pode receber. Agora, devemos compreender claramente o que significa ser edificado. Não pode significar pensamentos expandidos, nem compreensão melhorada, nem maior acúmulo doutrinário. Simplesmente significa que meu espírito mais uma vez entrou em contato com o Espírito de Deus. Não importa através do que o Espírito de Deus Se movimenta, seja na reunião, seja na comunhão individual; não sou menos nutrido e vivificado. Meu espírito é bem como um espelho, que é polido cada vez.

Expliquemos o assunto assim: tudo quanto procede do espírito abrilhanta tudo quanto toca. Como indivíduos, somos muito semelhantes a lâmpadas - lâmpadas de cores diferentes. A cor, porém, não interfere com a passagem da eletricidade através dela. Tão logo a eletricidade flui para dentro dela, ela se acende. Assim acontece com nosso espírito; onde há o fluir do Seu Espírito, esqueceremos a teologia que aprendemos. Tudo quanto sabemos é que o Espírito veio. Ao invés do mero conhecimento, temos uma “luz interior." Estamos revivificados e nutridos na Sua presença.

61

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Anteriormente, nossa intelectualidade era um obstáculo, mas agora podemos ser facilmente ajudados. Agora compreendemos por que é difícil para outros receberem ajuda. Entendemos que é necessário passar muito tempo em oração antes de podermos tocá-los no espírito. Não há outra maneira de ajudar uma pessoa obstinada.

62

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Somente o Senhor PodeEdificar Nosso Caráter

Após crer no Senhor, percebendo que seu velho ser deve morrer, muitos cristãos recorrem aos seus próprios meios artificiais para derrubar sua velha natureza, Caráter e velhos hábitos. Contudo, esta não é função do homem. É algo que somente o Senhor poderá fazer. Não somente não será bom o efeito de derrubar, por meios artificiais, a velha natureza, Caráter e velhos hábitos que construímos, mas também isso resultará em mais problemas. Portanto, desde o começo devemos perceber que de fato todas as velhas coisas precisam ser destruídas, mas nós não devemos fazê-lo por nós mesmos, porque destruir por meios artificiais será inútil e impedirá o nosso progresso na vida espiritual. Portanto, não nos é exigido tentar derrubar a nós mesmos, mas permitir que Deus cumpra Seu propósito. Devemos entender que isto é algo que Deus deseja fazer por Si mesmo. É atribuição de Deus e não nossa.

A. DEUS QUER QUE DEIXEMOS TODAS AS COISAS EM SUAS MÃOS

Deus começará a trabalhar em nós. Ele ordenará circunstâncias que conduzam ao quebrantamento de nossa alma. Deus sabe exatamente quanto de nosso velho ego precisa ruir, e também sabe onde estamos particularmente obstinados e onde extremamente invencíveis. Em algum ponto somos rápidos demais, mas noutro vagarosos demais, frívolos demais. Apenas Deus sabe por quê. Só Ele nos conhece completamente, assim podemos deixá-Lo fazer a obra.

O Espírito Santo é quem derruba nosso Caráter natural e nossos velhos hábitos para nos capacitar a tornar-nos maduros e doces. As circunstâncias são ordenadas por Deus. Até nossos cabelos, Ele enumerou. Sem a permissão de nosso Pai nem mesmo um pardal cairá no chão. Quanto mais nossas circunstâncias! Uma observação severa, um semblante desagradável, uma perda súbita de saúde e a partida repentina do amado, tudo é permitido por nosso Pai. Não importa se é prosperidade, adversidade, saúde, doença, alegria ou sofrimento, tudo o que acontece conosco é com a permissão de Deus. Ele pretende ordenar as circunstâncias para que nosso velho Caráter e nossa velha natureza possam ser destruídos e para que Ele possa constituir um novo Caráter e uma nova natureza em nós. Portanto, tão logo cremos no Senhor, precisamos conhecer estas coisas claramente.

63

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

B. A CRUZ EM OPERAÇÃO

A cruz é mais do que uma doutrina; deve ser posta em prática. Não pense que o caminho para a humildade é lembrando-nos constantemente que não devemos ser orgulhosos. Devemos ser feridos uma vez após outra - ainda que chegue a vinte vezes - até que nos rendamos. Nunca suponhamos que isto se realiza meramente por meio de seguir o ensino de um determinado irmão. Mediante a operação da cruz, aprenderemos a depender da graça de Deus, não da nossa memória. Quer lembremos, quer não, permanece o fato de que Ele está realizando uma obra que é fidedigna e duradoura.

Anteriormente, a alma e o espírito não podiam ficar de mãos dadas; mas agora a alma espera meigamente, com temor e tremor, diante de Deus. Cada um de nós tem necessidade desta disciplina da parte do Senhor. Ao passarmos em revista a história do nosso passado, não podemos deixar de ver a mão de Deus lidando com a independência, o orgulho, e o egoísmo da nossa alma. Descobrimos o significado das coisas que nos aconteceram, vendo claramente que em cada ponto das nossas vidas lá estava o Senhor trabalhando em nós.

C. TRAÇOS DO CARÁTER DE CRISTO

1. A humildade

Temos nesse ensino alguma coisa que o mundo não somente não admira, mas também despreza. Em parte alguma você poderá encontrar maior oposição ao espírito e atitude mundanos do que na humildade. Que grande ênfase o mundo dá na auto-dependência, na autoconfiança e na auto-expressão. Basta-nos examinar a literatura profana. Ali se lê que se alguém quiser vencer neste mundo, então que acredite em si mesmo. Essa é a idéia que governa os homens. Essa é a idéia que está controlando a vida dos que estão fora do cristianismo. De acordo com as idéias modernas, qual é, por exemplo, a qualidade essencial de um bom vendedor? É dar a impressão de confiança própria de segurança pessoal. Se alguém quiser impressionar devidamente a um possível comprador, é dessa maneira que deve agir. Tal conceito é posto em prática em todos os ramos de atividade. Se você quiser obter sucesso em alguma profissão, recomenda-se que dê a impressão de ser um sucesso: assim dando a entender que, realmente, está obtendo maior êxito do que realmente lhe sucede, e as pessoas então comentam: "Esse é o homem a quem devemos consultar". Eis o princípio segundo o qual opera toda a vida moderna - procure expressar-se, acredite em si mesmo, tome consciência das suas capacidades inatas, e deixe que o mundo inteiro as veja e reconheça. Auto-confiança, segurança própria e auto-dependência. É com fundamento nessa crença que os homens vivem lá fora.

Que significa ser alguém "humilde de espírito"? Não quer dizer que deveríamos ser tímidos e fracalhões, e nem significa que deveríamos ser retraídos, fracos ou acovardados. Existem pessoas que, reagindo contra essa atitude de auto-afirmação, à qual o mundo tanto estimula, pensam que é realmente assim que deveríamos agir. Todos conhecemos aquelas pessoas naturalmente modestas, as quais longe de se imporem aos outros, sempre se conservam em segundo plano. Assim elas nasceram, e talvez sejam mesmo naturalmente fracas, retraídas e carentes de ousadia. Entretanto, nenhuma das qualidades do caráter de Cristo são características naturais. Os "humildes de espírito", não são aqueles indivíduos que já nasceram assim. É preciso abandonar essa idéia de uma vez por todas. Não devemos ser praticantes de uma falsa humildade, resultado do esforço para parecer humilde. Muitas

64

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

pessoas têm confundido dessa maneira essa qualidade da humildade de espírito. O homem que é "humilde de espírito" não precisa preocupar-se tanto com sua aparência pessoal e com a impressão que esteja causando em outros; pelo contrário, sempre dará a impressão certa.

Ser alguém "humilde de espírito" não exige a supressão da personalidade. Sempre teremos a sutil tentação de pensar que o único indivíduo que verdadeiramente é "humilde de espírito" é aquele que faz algum notável sacrifício pessoal, ou aquele que, seguindo o exemplo dos monges, retira-se desta vida secular com suas dificuldades e responsabilidades. Entretanto, não é esse o conceito bíblico. Ninguém precisa retirar-se da vida ativa a fim de poder tornar-se "humilde de espírito"; e nem é necessário alguém mudar de nome. Não; pois se trata de uma transformação que se ocorre no âmbito do espírito.

Humildade de espírito, aponta para a completa ausência de orgulho pessoal, para a completa ausência de segurança própria e auto dependência. Ela indica a consciência de que nada representamos na presença de Deus. Portanto, não é algo que possamos produzir por nós mesmos; não é algo que possamos fazer nos esforçando. Pelo contrário, é aquela tremenda tomada de consciência de nossa própria humildade, quando chegamos a enfrentar Deus face a face. Isso é ser "humilde de espírito". Ser humilde de espírito significa que, se alguém é crente autêntico, então não está dependendo dos seus dotes naturais, que lhe vêm do berço.

Os humildes de espírito não dependem do fato que pertencem a determinadas famílias: não edificam as suas vidas sobre o alicerce do seu temperamento natural. Nem acreditam que haja alguma vantagem em sua posição natural na vida, e nem dependem disso ou de quaisquer potencialidades que lhes hajam sido conferidas. A pessoa que é humilde de espírito não depende do dinheiro ou de quaisquer riquezas de que porventura seja possuidora. Se somos humildes de espírito, então não dependemos da educação recebida, nem da escola ou faculdade particular que tivermos freqüentado. Não, porquanto todas essas coisas constituíam aquilo que Paulo apontava como "perda".

Não, pois essas coisas serviam a Paulo apenas de empecilhos para maiores realizações, visto que elas tendiam por dominá-lo e controlá-lo. Por semelhante modo, não dependeremos de quaisquer dotes naturais de "personalidade", de inteligência ou de habilidades gerais ou particulares, por igual modo de nossa própria moralidade, conduta ou bom comportamento. Consideraremos todas as coisas da mesma maneira como Paulo as considerava. É nisso que consiste a "humildade de espírito". Precisamos gozar de completa libertação de todas essas coisas, e todas elas precisam estar ausentes de nossas vidas. Precisamos sentir que nada somos, que nada temos, e também que olhamos para Deus em total submissão a Ele, dependendo inteiramente de Sua misericórdia, e de Sua Graça.

Ser humilde de espírito, é experimentar aquilo que Isaías experimentou quando, recebeu a sua grandiosa visão e exclamou: "Ai de mim!...porque sou homem de lábios impuros..." - isso é humildade de espírito". Quando nos vemos em competição com outras pessoas deste mundo dizemos: " Sou capaz de competir com elas". Quanto ao mundo essa atitude talvez seja muito boa. Porém, quando uma pessoa já teve suas idéias aclaradas a respeito de Deus, necessariamente sente-se como quem está " morto", conforme sucedeu a João, na ilha de Patmos. Precisamos sentir-nos assim, quando estamos na presença do Senhor. Qualquer atitude natural que porventura reste em nós, terá de desaparecer. É preciso ficar claro em nosso espírito o quanto isso é pecaminoso e imundo.

Portanto, façamos nós mesmos as seguintes perguntas. Pareço-me com essa descrição? Sou mesmo humilde de espírito? Como é que me sinto a meu respeito, quando penso em estar na

65

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

presença de Deus? Em minha vida diária, quais são as coisas que costumo dizer e pensar a meu próprio respeito?

Como é que alguém se torna "humilde de espírito"? A resposta a essa indagação é que não olhemos para nós mesmos, e nem comecemos a tentar fazer as coisas por nossas próprias forças. Esse foi o erro colossal do monasticismo. Em seu desejo de realizar tal feito, aquela pobre gente pensava: "Preciso evitar o convívio da sociedade, preciso sacrificar a minha própria carne e fazê-la sofrer privações, preciso mutilar o meu corpo". Não! Pois quanto mais assim fizermos, tanto mais tomaremos consciência de nós mesmos, e menos seremos "humildes de espírito". A única maneira de alguém tornar-se "humilde de espírito" é voltando os olhos para Deus. Exponha sua vida à influência da Palavra, examine a Sua lei, verifique o que Ele espera de você. Sim, olhe para Jesus Cristo; e quanto mais você fixar Nele os olhos, tanto mais você se sentirá nulo em si mesmo e tanto mais "humilde de espírito" você se tornará. Olhe para Ele, continue olhando para Ele. Volva-se para a experiência dos santos, considere os homens que mais plenamente foram cheios do Espírito Santo e usados nas mãos de Deus. Porém, acima de tudo, olhe novamente para Cristo; e então você nada terá de fazer por si mesmo. Pois tudo já terá sido feito. Realmente, você não pode volver os olhos na direção de Cristo sem sentir sua absoluta pobreza e humildade. E então você poderá dizer para o Senhor: “Nada trago em minha mão. Só na Tua cruz me agarro”. Saber ver a si mesmo como é - Tem uma perspectiva real de si mesmo. Vê a si mesmo através da Cruz de Cristo.

1.1. Evidências de Humildade

Aceitar repreensão - ser uma pessoa corrigível, saber que ainda tem muito a

aprender.

Confessar suas falhas, seus pecados - Pedir perdão e admitir sempre seu erro.

Ser transparente - não ter nada a esconder.

Ser ensinável - estar crescendo, aceitar o ensino e praticar o aprendido.

Compreensivo com as debilidades das outras pessoas.

Amar sem esperar receber algo em troca.

Estar sempre disposto a dar glória a Deus e honrar os outros.

1.2. Evidências da falta de humildade

Preocupação excessiva com a reputação. O que os outros vão pensar de mim?

Busca dos melhores lugares e de estar em evidência (Lucas14.7,9)

Tendência de exigir dos outros que o tratem de maneira especial.

Exigir justiça quando se sente alvo de falta de consideração (Romanos 12.3)

Demora em pedir perdão e perdoar as ofensas recebidas.

66

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Exasperação justificativas quando corrigido. Não aceita definitivamente: "Quem ele

pensa que é? ...Eu só aceito se ele...”

Ter uma vida secreta que ninguém sabe ou conhece: Duas faces.

Reservas em elogiar outros, mas prontidão para receber glória para si mesmo.

1.3. Bênção para o humilde

Ele é ouvido em seus desejos (Salmo 10.17)

Ele é guiado por Deus (Salmo 147.6)

Ele recebe graça (Provérbios 3.34)

Ele tem sabedoria (Provérbios 11.2)

Ele tem temor do Senhor, riqueza, honra, vida (Provérbios 22.4)

Ele recebe honra (Provérbios 29.23)

Ele será exaltado (Tiago 4.10)

Ele Recebe o reino de Deus (Mateus 5.3)

Ele será o maior no reino dos céus (Lucas 18.14).

1.4. A disposição para servir

Um verdadeiro servo está sempre atento aos problemas e necessidades que os outros estão enfrentando, e espontaneamente se dispõe a ajudar, alimentando um desejo autêntico de servir aos outros.

1.5. Conceito de servir no Velho Testamento

Há várias palavras em hebraico que podem ser traduzidas como "servo":

1.5.1. "Ebed" - Alguém que é escravo ou servo (Gênesis 24.1-67; Deuteronômio 15.12-18; II Reis 1.9; Gênesis 26.15-24; Isaías 20.3; Gênesis 2.5).

1.5.2. “Abad" (Êxodo 23.25; Deuteronômio 4.19,28; Salmo 22.30; Jeremias 34.14; Malaquias 3.18).

1.5.3. "Sakiyr" - Significa "servo alugado", que não podia comer o cordeiro pascoal (Levítico 25.39-42; Deuteronômio 15.18; Levítico 25.L6; Êxodo 22.14,15; e Levítico 19. 22:10; 25.40,50,53).

1.5.4. "Sharath" - Pessoa servil que faz tarefas insignificantes - Êxodo 28.35-43; I Crônicas 16.37; Êxodo 24.13 e Números 11.28.

67

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O Velho Testamento provê o pano de fundo para a palavra "doulos” em Deuteronômio 15.23. Ao escravo que servira ao seu senhor durante certo tempo, de acordo com o pacto mosaico, eram-lhe dadas duas opções:

Aceitar sua liberdade total sem nenhuma obrigação legal para com seu senhor. Escolher ficar na casa de seu senhor, tornando-se escravos permanente por

amor.

1.6. O Conceito de servir no Novo Testamento

No Novo Testamento há várias palavras gregas que apresentam o conceito de serviço. Destas, a mais usada é diácono (Atos 6.1-6).

Todo líder deve, primeiramente, aprender a servir. Sobre a base de serviço será edificada uma liderança. Um coração de servo foi o suporte do ministério de Jesus (Marcos 10.45 e Lucas 22.27). Estar sempre preocupado com a própria felicidade ou comodidade é contrário a ter um coração de servo.

A palavra "diácono" () aplica-se em dois sentidos:

A todos os cristãos que são chamados para servir ao Senhor Jesus Cristo e ao Seu povo.

Na designação oficial de certas pessoas que representam a igreja apontados pela liderança local (Atos 1.4).

A Igreja Primitiva acreditava que a capacidade oficial de servir ao povo de Deus era tão importante que ela apontava pessoas específicas para exercerem o diaconato (Filipenses 1.1) e ressaltava certas qualificações para esses e suas esposas (I Timóteo 3.10-13).

1.7. Passos práticos para alguém se tornar um servo

Aceitar o tratamento da Cruz: Somente com o processo da Cruz a vontade do homem é quebrada. O compromisso do cristão deve ser o de servir a Deus e aos homens (Marcos 10.45).

Decisão Pessoal: Precisamos decidir servir aos irmãos e não nos agradar a nós mesmos. Só pode ser aceita por Deus uma decisão que não leva em conta motivações interesseiras.

Espírito Ensinável: Estar aberto para aprender com quem quer que seja é algo muito dolorido. Sabemos que Jesus saiu para ser batizado por João diante dos olhos de todos. Isso era muito arriscado, pois poderia ser que, mais tarde algum fariseu se dirigisse a ele dizendo: acaso não estivemos juntos nas aulas de batismo de João? E isso certamente deve ter acontecido, pois Jesus usa algumas ilustrações feitas por João Batista (Comparar Mateus 3.10 com 7.16-20) no sermão da montanha. Deve ser bastante constrangedor, se colocar ao lado de pecadores para ser batizado; alguém que nunca tenha pecado, como foi o caso de Jesus.

68

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Ter um coração ensinável é estar aberto para aprender com quem quer que seja, mesmo que isso muitas vezes seja extremamente constrangedor. Ninguém se diminua por ouvir e aprender algo com quem sabe menos.

Dependência de Deus: Jesus somente fazia o que Deus mandava. Não havia lugar para o "eu acho ou eu penso", mas somente, para o que Deus queria realizar. Nós somos construtores e executamos a planta que Deus projetou. Vem chegando o momento onde tudo que fugir do projeto de Deus será desmanchado. Deus não aceita anexos humanos à sua obra. Muitos de nós queremos fazer de nossas vidas o que bem queremos e isso denota falta de entendimento sobre princípio da Cruz: "Não mais eu vivo, mas Cristo vive" - O comando não mais me pertence, mas tudo está sobre o controle Divino.

Disposição Para Sofrer: Todo obreiro cristão deveria estar preparado para o sofrimento. Em I Pedro 4.1, lemos as seguintes palavras: "Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também vós do mesmo pensamento".

Uma atitude mental correta, em relação aos sofrimentos, faz parte do equipamento essencial de todo obreiro cristão. O crente não deve convidar as tribulações, nem sair em busca delas; porém, se elas atravessarem em seu caminho, ele deve enfrentá-las com a mente já resolvida a suportá-las por amor ao Senhor. Por exemplo, se formos pessoas fisicamente débeis, naturalmente necessitaremos de um leito mais confortável do que precisaria uma pessoa vigorosa; mas, se ao nos lançarmos na obra do Senhor, fixarmos a mente na necessidade de uma cama mais confortável, nos tornaremos mais vulneráveis ao inimigo nesse particular. Por outro lado, se estivermos mentalmente preparados para sofrer por causa de Cristo, e então o Senhor nos prover um leito confortável, não haverá mérito algum em evitarmos o leito para tornar mais áspera a nossa existência, dormindo no chão.

Não imaginem que os crentes que vivem em circunstâncias mais desfavoráveis sejam, automaticamente, capazes de suportar com mais facilidade as dificuldades do que aqueles que vivem em condições mais favoráveis. Somente aqueles que, não importando as suas circunstâncias externas - favoráveis ou desfavoráveis - se têm entregado ao Senhor e se têm armado da disposição mental de sofrer, é que serão capazes de se manterem firmes no dia da provação. Um irmão acostumado ao conforto, mas que tenha tido uma transação definida com o Senhor e se tenha disposto ao sofrimento por causa Dele, terá muito maior poder para suportar o sofrimento do que qualquer outro irmão, acostumado às privações, mas que não se tenha armado de tal disposição.

Ponderação Nas Palavras: Por falta de comedimento nas palavras, é seriamente comprometida a utilidade de muitos obreiros cristãos. Em lugar de serem instrumentos poderosos no serviço do Senhor, o seu ministério produz pouco efeito, devido ao seu falar descuidado, sem nenhuma cautela.

No terceiro capítulo de sua epístola, Tiago faz a seguinte pergunta: "Acaso pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?" (versículo 11). Se um obreiro cristão costuma falar sem menor cautela a respeito de todas as questões possíveis, como pode esperar ser usado pelo Senhor na propagação de Sua Palavra? Se Deus chegou a pôr a Sua Palavra em nossos lábios, então pesa sobre nós a solene obrigação de resguardarmos os nossos lábios, usando-os exclusivamente para o Seu serviço. Não podemos oferecer um membro de nossos corpos para o Seu uso, em um

69

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

dia, para, no dia seguinte, retroceder e usá-lo a nosso bel prazer. O que quer que Lhe tenha sido dedicado uma vez, será eternamente Dele.

Disposição Para Ouvir: Outra daquelas qualidades que esperamos encontrar na vida de todo obreiro cristão é que ele seja capaz de ouvir. Muitas pessoas, sem dúvida, consideram isso como uma questão de menos importância, comparativamente falando; mas a experiência e a observação nos têm demonstrado que isso de modo algum é assim.

Qualquer indivíduo que queira servir ao Senhor deve adquirir o hábito de ouvir o que os outros dizem, e não ouvir de maneira casual, e, sim, com o objetivo de prestar atenção e de compreender o que lhe é dito. Se um crente, em necessidade consciente, volta-se para um servo do Senhor pedindo-lhe ajuda, este, enquanto escuta a história de seu irmão, deve ser capaz de discernir três tipos diferentes de linguagem: as palavras que ele está proferindo; as palavras que ele está reservando para si; e as palavras que ele não pode proferir e que jazem no profundo do seu espírito.

Diligência: Uma das qualidades do caráter é a diligência. Parece supérfluo dizê-lo, mas realmente é essencial afirmar de maneira enfática que o obreiro cristão deve ser pessoa dotada da vontade de trabalhar. No evangelho de Mateus lemos acerca da história dos servos aos quais foram entregues cinco talentos, dois talentos e um talento, respectivamente. Quando, após longa ausência, o senhor daqueles servos regressou e exigiu que prestassem contas de sua custódia, o servo que recebera um único talento, disse: "Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste, e ajuntas onde não espalhaste, receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondeu-lhe porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez... E o servo inútil lançai-o para fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes" (24.24-30).

Esse trecho das Escrituras demonstra que o Senhor requer que cada servo Seu seja diligente no serviço que Lhe presta. Ele indicou claramente a falha fundamental na vida do servo que nos foi retratado acima. Tal falha era dupla: ele era "mau" e "negligente". A sua maldade ficou manifesta no fato que ousou chamar seu senhor de "homem severo"

A preguiça não é um defeito raro. Os preguiçosos nunca buscam trabalho, e, ainda que cheguem a empregar-se, buscam evitar todo esforço. Infelizmente, muitos crentes, como também descrentes, sofrem dessa fraqueza, e servem de empecilho para com os seus companheiros.

2. Fidelidade

Provérbios 25.18-19: “Espada e flecha aguda é o homem que levanta falso testemunho contra seu próximo. Como dente quebrado, e pé sem firmeza, assim é a confiança no desleal, no tempo da angústia”.

3. O Que é Lealdade?

70

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

É um termo que expressa uma pessoa: franca, sincera, honesta, ou alguém que é fiel aos seus compromissos até o fim, mesmo que isso implique em dano.

3.1. Três exemplos de lealdade

3.1.1. Dar às pessoas o que lhes pertence Davi divide os despojos (I Samuel 30.22-25). Quando Davi volta com a metade da tropa, após seguir os amalequitas que haviam levado cativos as mulheres e também as crianças, ele expressa o mais lindo princípio que um líder poderia ter em relação a alguns que de tão cansados que estavam, não puderam continuar a perseguição, e ficaram às margens do ribeiro de "Besor". "...Davi aproximando-se destes os saldou cordialmente. v. 21. Porém os homens maus, filhos de belial disseram: Visto que não foram conosco, não lhes daremos do despojo que salvamos. v. 22. Porém Davi cheio de lealdade afirma: "Porque qual é parte dos que desceram a peleja, tal será a parte dos que ficaram com a bagagem; receberão partes iguais". Para Davi não havia diferença entres os que desceram à peleja e os que ficaram com a bagagem.

3.1.2. A lealdade de Davi para com Jônatas, mesmo após a morte deste “Disse Davi: resta ainda porventura algum da casa de Saul para que eu use de bondade para com ele, por amor de Jônatas? v. 3. Então respondeu Ziba: ainda há um filho de Jônatas, aleijado de ambos os pés. v. 4. Então disse Davi ao filho de Jônatas: Não temas porque, usarei de bondade para contigo, por amor de Jônatas e te restituirei todas as terras de Saul teu pai, e tu comerás pão sempre à minha mesa”.(II Samuel 9.1)

3.1.3. A Lealdade de Jônatas para com Davi.

“Então Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu pai, e lhe dissensão peque o rei contra seu servo Davi, porque ele não pecou contra ti, e os teus feitos para contigo tem sido muito importante”. (I Samuel 19.4).

3.2. A lealdade em meio a problemas e conflitos

Nossa melhor atitude para com aqueles com os quais temos aliança em tempos de dificuldades é:

Ficar em silêncio. Não faça comentários desagradáveis.

Não criticar. Um momento em que mais nos tornamos desleais é quando criticamos as características físicas ou morais de uma pessoa.

Não murmurar. Filipenses 2.14. Fazei tudo sem murmurações nem contendas. Êxodo 16.8: “...Portanto o Senhor ouviu as vossas murmurações, com que vos

71

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

queixais contra ele; pois que somos nós? As vossas murmurações, não são contra nós, e sim contra o Senhor”.

Não abandonar em momentos difíceis. João 19.26: “Vendo Jesus a sua mãe, e junto a ela o discípulo que expressou verdadeira lealdade, permanecendo com Jesus até o fim...”.

Não usar de traição. Judas expressou através do seu ato de traição que não conhecia lealdade.

Não divulgar segredos de outrem. Provérbios 25.9 “...E não descubras o segredo de outrem”. Provérbios 20.19 “...O mexeriqueiro revela o segredo, portanto não te metas com quem muito abre os seus lábios”. Provérbios 17.9 “... o que traz o assunto à baila separa os maiores amigos”.

Não descobrir as falhas do líder ou de quem quer que seja. Cão, filho de Noé, foi amaldiçoado por essa atitude terrível de infidelidade. Não há líderes perfeitos.

3.3. A quem devemos ser fiéis?

A Deus. "Fé". Hebreus 11.6. Com relação às suas promessas se somos incrédulos nos tornamos desleais para com o Senhor “pois sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus, creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”.

Aos nossos líderes. Números 12.1-2: "Falaram Miriã e Arão contra Moisés... E disseram: Porventura tem falado o Senhor somente por Moisés? Não tem falado também por nós? O Senhor ouviu".

Lealdade ao Conjugue. I Timóteo 2.12: “O diácono seja marido de uma só mulher, e governe bem seus filhos e sua casa”. I Pedro 3.7: “Igualmente vós, maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações”.

Aos filhos.

Para com os amigos.

À Igreja.

4. Estabilidade

A estabilidade é outra das qualidades que se deve encontrar na vida de todo obreiro cristão. Infelizmente, muitos crentes são extremamente inconstantes. O seu humor se altera com as condições atmosféricas, de tal modo que por muitas vezes de tornam brinquedos das circunstâncias; em conseqüência, não se pode depender deles. Suas intenções são boas, mas, em vista de serem emocionalmente instáveis, freqüentemente perdem a estabilidade.

72

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

A Bíblia retrata para nós um homem de temperamento inconstante que conhecemos pelo nome de Simão Pedro. Certo dia o Senhor perguntou aos Seus discípulos quem o povo pensava que Ele era. Responderam que alguns julgavam-no ser João Batista, outros pensavam que Ele fosse Elias, ao passo que ainda outros viam Nele Jeremias ou algum dos profetas. Então Ele fez a mesma pergunta aos discípulos, dizendo: "Mas vós, quem dizeis que eu sou?"

Nenhum indivíduo marcado por um temperamento inconstante pode exercer um ministério vibrante. Deve haver equiparação entre o Caráter do ministro e o Caráter do ministério. Somente. assim, seremos a Igreja contra a qual as portas do inferno jamais poderão prevalecer. Infelizmente, contudo, as portas do inferno prevalecem contra muitos obreiros cristãos em vista de serem sempre vacilantes; por esse motivo, não se pode depender deles na obra do Senhor.

5. Mansidão

Manso é o homem que não permite que a carne ou a vontade própria tome conta de seu espírito, mas coloca todo o seu ser debaixo da autoridade do Espírito de Deus (Mateus 11.29).

Exemplo: Moisés, com atitude agressiva (Atos 7); Submetido ao tratamento de Deus (Êxodo 3); Cheio de mansidão, expressando a natureza de Deus. Números (12.3).

73

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Principais Fatores Paraa Formação de um

Autêntico Caráter Cristão

A. TER UM MODELO

1. A Importância de ter um modelo

Na formação do caráter é fundamental ter um modelo para seguir. O modelo é uma referência que nos orienta, ensina, inspira, anima, corrige e desafia a nos superarmos constantemente. O modelo produz em nós admiração; geralmente imitamos a quem admiramos.

Deus teve uma referência muito concreta ao criar o homem: “Façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança...” O modelo era Ele mesmo. E ainda que por causa do pecado tenhamos perdido esta imagem, Deus nunca perdeu seu propósito em restaurar-nos a esse modelo.

2. A Igreja se edifica por modelos

I Coríntios 11.1: “Sede meus imitadores, como também eu de Cristo”.

Filipenses 4.9: “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco”.

Paulo sabia claramente o princípio de que a Igreja é edificada por modelos. Cristo é o modelo perfeito e absoluto; entre os discípulos é necessário que existam exemplos também.

Tendo isto em conta, o apóstolo diz a seu discípulo Timóteo: “Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza”. (I Timóteo 4.12).As seguintes recomendações são feitas por Pedro aos presbíteros, em I Pedro 5.2-3: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho”.

Somente Jesus Cristo é o modelo absoluto. Isto significa que diferentes traços do Caráter de Cristo manifestam-se em intensidade diferente nos diversos membros do Corpo de Cristo. Precisamos reconhecer nos irmãos os traços do caráter de Cristo para copiá-los.

74

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Romanos 8.29: “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”.

Jesus Cristo é o modelo ao qual Deus propôs que nos conformássemos, segundo seu plano eterno.

3. Precisamos “conhecer” nosso modelo

Efésios 4.13: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo...”.

Epignosis é um termo que significa: conhecimento consciente, exato e claro, entendimento completo. É exatamente isto que este versículo sugere. O plano de Deus é que todos alcancemos todas as virtudes do caráter de Cristo. Tal estatura se alcança mediante a unidade da fé e da epignosis do Filho de Deus.

A palavra “conhecer” no Ocidente herdou o conceito grego equivalente a conhecimento intelectual, ou adquirir informação. Na Bíblia, porém, predomina o significado hebraico. O conceito hebreu se refere a um conhecimento experimental, integral, total, participativo. Inclui o intelectual, mas não se limita a ele. “Conhecer” significa fazer-se um com o que se quer conhecer.

Segundo esta compreensão, “conhecer” a Cristo significa sermos plenamente um com Ele. Nós Nele e Ele em nós. É uma experiência gradual e crescente, até que seus sentimentos sejam nossos sentimentos; seus pensamentos, nossos pensamentos; suas atitudes, nossas atitudes; sua vontade, a nossa. Até que todas suas virtudes cheguem a ser nossas virtudes.

4. Como, então, podemos “conhecer” o Filho de Deus?

João 15.26-27: “Quando, porém, vier o consolador, que eu vos enviarei da parte do pai, o Espírito da verdade, que Dele procede, esse dará testemunho de mim; e vós também testemunhareis porque estais comigo desde o princípio”.

I João 1.1-3: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida. (Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada). O que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo”.

O Filho de Deus pode ser conhecido por nós através:

Do testemunho dos apóstolos nos Evangelhos;

O testemunho do Espírito Santo em nós.

É fundamental que leiamos o testemunho destes homens, não simplesmente para adquirir um conhecimento intelectual acerca de Jesus. Devemos ler a Palavra sob a unção do

75

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Espírito Santo. Ler em oração, pausadamente, observando cada detalhe, imaginando as cenas. Perguntado-nos em cada parágrafo: que virtudes do caráter de Cristo descubro aqui? Meditando em Cristo, contemplando-o, admirando-o, louvando-o, adorando-o, prostrando diante Dele; nos maravilhando por sua humildade, sua mansidão, sua santidade, sua graça, sua autoridade, seu valor, sua fé, sua sabedoria, sua dependência do Pai, seu amor, sua compaixão... Deslumbrados perante tanta glória, quebrantados por nossas misérias e, aos poucos, sendo transformados pelo Espírito Santo.

B. RECEBER DE DEUS OS MODELOS E MENTORES QUE ELES NOS DÁ

Algumas vezes bons mentores e modelos de caráter cristão autênticos são raros em nossas vidas. Mas isto não é desculpa nem justificativa para vivermos uma vida cristã relaxada. Estão disponíveis, somente na Bíblia, 2900 nomes de diferentes pessoas. Deus registrou, com riqueza de detalhes, as lutas e virtudes de múltiplas pessoas. Estas biografias foram colocadas por Deus para a nossa observação e meditação. Estes modelos são visto andando na verdade, fugindo do mal ou sofrendo as terríveis e trágicas consequências do pecado. A nossa cultura de entretenimento raramente nos ensina sobre o terrível e certo julgamento que vem sobre nós e também sobre outros quando as leis de Deus são quebradas. É essencial que nós testifiquemos e ensinemos sobre as conseqüências das nossas palavras e obras, tanto quando treinamos nossos filhos como quando discipulamos outros.

Algumas dessas biografias são resumidas numa frase. Outras enchem parágrafos e capítulos. Comece a estudar biografias curtas como as de Ana, Asa, Timóteo e Barnabé. Aliste as coisas boas que você percebe que eles fizeram. Então, aliste as decisões ruins que eles tomaram. Medite sobre o “porquê” de tais decisões. Em seguida, relate as ações de suas vidas e as conseqüências para com Deus. Que lições você aprendeu especificamente?

Quatro pessoas do Antigo Testamento enfeitam muitos versículos do Novo Testamento: Abraão, Moisés, Davi e Elias. Eles são os mais importantes para serem estudados, mas requerem uma análise mais longa e detalhada. O “barro” de cada uma dessas vidas nos aproximará mais do coração de Deus e do Seu caráter.Mas não são somente os personagens da Bíblia que servem de modelos para nós. Deus, na sua infinita bondade, nos proveu de homens e mulheres – dos quais o mundo não é digno – também nos dias de hoje. São nossos líderes espirituais, nossos pastores, nossos discipuladores.

Eles velam pelas nossas vidas, oram por nós, pagam um preço diante de Deus intercedendo e cuidando de nós. É por isso que o Evangelho tem se propagado, pessoas têm sido radicalmente transformadas, e a Igreja de Jesus está avançando por toda a terra.Quando eu me submeto em amor, com alegria e disposição de imitar a Cristo, o qual meus líderes e discipuladores também imitam, estamos obedecendo à Grande Comissão de Jesus, de fazer discípulos de todas as nações. E não só isso, mas estamos crescendo em amor, sabedoria e graça diante de Deus e diante dos homens. E os homens, vendo as nossas boas obras, glorificarão o Pai que está nos céus. E os resultados serão mais frutos – vidas para o Reino de Deus.

76

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

C. SUBMETER-SE AO SENHORIO DE CRISTO

1. O Senhorio de Cristo Romanos 10.8-9: “Porém, que se diz? A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração, isto é, a palavra da fé que pregamos. Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou entre os mortos, serás salvo”.

A palavra-chave na compreensão do Senhorio de Cristo em grego é (KyriosSenhor). Ela significa: chefe, dono, amo, autoridade máxima.

Na Bíblia, a expressão “aceitar a Jesus como Salvador” simplesmente não existe. É certo que fora de Jesus não há salvação.

A conversão verdadeira ocorre na vida do indivíduo quando ele reconhece que Jesus é o seu Senhor (Kyrios). Aceitar a Cristo meramente como Salvador, ignorando a sujeição ao Seu senhorio, seria como não receber a Cristo. Cristo nos salva e nos dá todos os benefícios da salvação, quando dobro meus joelhos diante Dele, reconhecendo-O como meu Senhor.

Esta condição indica o fim da rebelião e a aceitação incondicional de seu governo e autoridade sobre a nossa vida.

2. O Discípulo de Jesus Cristo

Em um sentido prático, um discípulo é um aluno, um aprendiz, alguém que tem um coração manso e humilde ante a instrução da Palavra de Deus. Tem avidez por aprender, por conhecer a Vontade de Seu Senhor para viver conforme ela. Um discípulo recebe com fé e mansidão o ensinamento. Aceita a correção, imita o bom exemplo, anela progredir. Tem um só objetivo em sua vida: ser como seu Mestre.

D. VIVER CHEIO DO PODER QUE TRANSFORMA

1. A condição humana

Romanos 8.8: “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus”.

Por causa do pecado, o ser humano se envaideceu e perverteu.

A ira de Deus se revela contra todo o pecado e injustiça dos homens.

Todos os homens pecamos e estamos destituídos da glória de Deus.

Todos estamos sob pecado e expostos a ira e ao juízo de Deus.

Por causa do pecado, fomos constituídos inimigos de Deus.

77

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Caímos espiritualmente mortos: Separados de Deus.

Vivíamos sob as potestades das trevas.

2. O Kerigma

I Coríntios 1.18: “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus”.

I Coríntios 1.21, 24: “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação... Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus”.

Kerigma é a palavra grega traduzida como “pregação”. O verbo associado à esta palavra, traduzido por pregar, não significa simplesmente dar um sermão ou fazer uma exortação, mas “proclamar um feito”.

O Kerigma é a proclamação com autoridade e unção do testemunho de Deus que foi revelado aos apóstolos e profetas pelo Espírito. No Kerigma está a dynamis o poder de Deus para a salvação e a transformação dos que crêem.

O Kerigma provoca e infunde fé, graça e experiência. Proclama que tudo já foi feito na morte e ressurreição de Jesus. E o que ouve com fé, experimenta o feito de Cristo na sua própria vida. Esta é a dinâmica do kerigma.

3. A Obra do Espírito Santo em nós

I Coríntios 6.17: “Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo espírito”.

Efésios 5.30: “Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos”.

Os crentes estão unidos a Cristo em uma união mais íntima e transcendente que a que podemos ter com qualquer de nossos contemporâneos.

O Espírito Santo é o contato vivo entre Jesus Cristo encarnado, morto e ressuscitado e nós mesmos. O Espírito é o ponto concreto de união com Cristo.

É pela presença e poder do Espírito em nós que podemos experimentar o sangue regenerador de Cristo.

Lucas 24.49: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”.

Atos 1.4,8: “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes... Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”.

78

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

O Espírito Santo é quem efetivamente traz o poder (dynamis) do alto e nos conduz no processo de transformação do nosso caráter.

E. DISCIPLINA PESSOAL

As ações reiteradas ao longo do tempo se transformam em hábitos. Existem hábitos que têm características ético-morais que constituem os diferentes traços de nosso caráter. De modo que a conduta vai forjando o caráter, e logo o caráter determina a conduta.

Se vivemos segundo a carne, serão forjados em nós traços carnais. Mas se vivemos no Espírito, faremos morrer as obras da carne e manifestaremos as virtudes do caráter de Cristo.

Necessitamos cultivar uma comunhão íntima, pessoal e secreta com Deus a cada dia.

Nossa máxima aspiração será “CONHECER” o Filho de Deus, o varão perfeito. Não se trata de um conhecimento meramente intelectual (conceito grego), mas experimental e total (conceito hebreu), até que cheguemos à medida da estatura de Cristo.

Este processo será gradual e tão intenso quanto o seu coração quiser que seja. Para ter sede é preciso caminhar. Certamente, quanto mais sede tivermos, mais água fluirá do nosso interior.

F. CONSTANTE FRUTICAÇÃO

O mundo deve e precisa ver Cristo nas atitudes da Igreja e nos seus membros. Isso não é tão fácil de acontecer, a menos que o Espírito Santo intervenha de forma contínua na vida do crente. Quando esse crente demonstra as características de Cristo em sua vida cotidiana, dizemos então que nele se manifesta o fruto do Espírito. Da mesmo forma que identificamos uma árvore pelos seus frutos - e não o contrário - Deus espera que cada crente mostre ao mundo o fruto do Espírito. Para isto é necessário:

1. Depender de Cristo

O fruto do Espírito não pode ser manifesto em uma vida que não se submete ao senhorio de Jesus Cristo. A dependência do crente ao Senhor é fundamental para que o caráter cristão floresça. Nenhum fruto nasce se não estiver ligado à planta que o origina. Quanto mais o cristão se submete a Cristo, mais frutos dará para seu Senhor. Quanto menos este crente se submete a Deus, menos semelhança seus frutos terão com a videira. Um ramo, para dar frutos, precisa se alimentar da seiva da planta e depender dela para frutificar. Quanto mais nos alimentamos da seiva de Cristo, mais condições teremos de frutificar Nele. Quanto menos dependemos Dele, menos propensos estaremos a demonstrar a glória de Deus em nossas vidas e atitudes.

2. Entender que o fruto é prova de ser discípulo

79

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Quando lemos João 15.1-17, percebemos que Cristo falou primeiro acerca do trabalho agrário (Ele como a Videira, o Pai como o Lavrador e nós como os ramos que, unidos à videira, hão de dar frutos) para depois se referir ao discipulado. Dar muito fruto é necessário para ser reconhecido como discípulo do Senhor (João 15.8). Os apóstolos deram muitos frutos em prol do evangelho porque estavam em Cristo, e foram reconhecidos como seguidores do Senhor.

3. Contra o fruto do Espírito não há lei

É essencial depender de Cristo para dar bons frutos, e quando o fazemos, não apenas atraímos os pecadores para o Senhor, mas também demonstramos a justiça divina em nossas vidas. Observe que Paulo diz que não há lei que puna quem possui o fruto do Espírito (Gálatas 5.22-23).

Não há lei contra quem é longânime, possui domínio próprio, preza pela paz. Não podemos dizer o mesmo daqueles que praticam as obras da carne. A prostituição destrói lares e a moral de quem a pratica. A feitiçaria é duramente condenada por Deus. O invejoso deseja obter as mesmas coisas que outras pessoas têm a todo custo, e nunca se satisfará. O infiel jamais será totalmente confiável. Mesmo o ciúme - que pode levar as pessoas a tomar atitudes destrutivas - é considerado uma obra da carne. A Bíblia condena estas coisas, e Paulo completa seu juízo dizendo que quem pratica estas coisas não herdará o Céu.

Contudo, é sempre bom lembrar as palavras do abençoado Apóstolo Pedro, quando sabiamente colocou: “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (II Pedro 1.10,11).

80

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

SUPLEMENTO

O CARÁTER DE CRISTO E DA SERPENTE

Humildequebrantadosimplesabordávelacessívelensinávelservocrucificado

Orgulhosoaltivosoberbovaidosoarrogantejactanciosoenvaidecidoauto-suficiente

Mansosubmissoobedientesujeito

Explosivorebeldedesobedienteindômito

Pacientetolerantesofredorlongânimo

Impacienteintoleranteapressado

Domínio Própriotemperadosóbriocomedidomoderadocalmotranqüiloaprazível

Descontroladointempestivocoléricoiracundoexaltadoviolentolevianoinjuriadorcaçoadormurmuradorcaluniador

Misericordiosoclementepiedosocompassivoperdoadorreconciliadorpacificadorconciliador

Sem Misericórdiainclementeindiferenterancorosoirreconciliávelencrenqueiromaldoso

Respeitadorcortêscavalheiroreverente

Desrespeitosoindecorosogrosseiroinsolente

Trabalhadoresforçadolaboriosoabnegadodiligenteconstante

Preguiçosocomodistaaproveitadornegligentevadioinconstante

81

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

Responsávelordenadoconfiávelpontual

Irresponsávelnão confiáveldesordenadorelaxado

Convictofirmeestávelvalenteconfiantefielcorajoso

Instávelfrouxocovardetitubeantetemerosoinseguroinfiel

Alegreregozijanteanimadocontente

Oprimidotristemelancólicodesanimado

Justoretoimparcialsantopuro

Injustoparcialabusadoroportunistaimpuro

Honestohonradosinceroverdadeirotransparenteíntegro

Enganadordesonestofingidofalsodissimuladohipócrita

Sábioprudentesensato

Insensatotoloimprudente

Decorosodignopolidopúdicodecente

Indecenteindecorosoimoralirreverentesacrílego

82

EMG – Escola Ministerial Glória O CARÁTER DE CRISTO EM NÓS

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BATISTONE, FABRÍCIO. Escola de caráter. Igreja dos Irmãos. Brasil, 2007.

BISHOP, Joe. Caráter cristão: o fruto da alma. The Apostolic Faith Church, 2007.

COELHO, Alexandre. O Caráter Cristão. CPAD, 2006.

MOORE, Waylon B., Dr. How To Mentor Character Into Others. USA, 2006.

Nota: Além das fontes citadas acima, esta apostila é um manual para a formação do Caráter Cristão. Seu conteúdo é formado por vários textos da equipe pastoral da Igreja Luz Para os Povos de Goiânia, de palestras adaptadas do irmão Watchman Nee, de Martin L. Jones, Robson Rodovalho e César Augusto Machado de Souza, da Comunidade Evangélica de Goiânia – Brasil.

A Igreja Batista da Glória faz impressão do material com a permissão da Igreja da Paz – Fortaleza. Todos direitos reservados.

Igreja Batista da GlóriaA. Artur Thomas, 1925 – Sede

(43) 3338 – [email protected]

83