video como recurso didático educativo para o ensino de ciências

3
O VÍDEO COMO RECURSO DIDÁTICO PARA ENSINO DE CIÊNCIAS: uma categorização inicial. Flávia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos 1 e Marcelo Brito Carneiro Leão 2 ________________ 1. Aluna do curso de mestrado em Ensino de Ciências do Departamento de Educação, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. D. Manoel de Medeiros, s/n - Dois Irmãos 52171-900 - Recife/PE. E-mail: [email protected] 2. Professor Associado do Departamento de Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Dom Manoel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos 52171-900 - Recife/PE. Email: [email protected] Introdução Nas duas últimas décadas do século XX, ocorreu uma grande inclusão de novos recursos tecnológicos na sociedade, com uma digitalização de quase tudo que a rodeia. Neste sentido, as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC’s), esta propiciando uma mudança considerável nas diversas atividades pessoais, afetando valores, identidades, formas de trabalho e de expressão. É importante ressaltar, que a transmissão das informações, dentro do contexto das TIC’s se dá por meio de várias formas de linguagens simultâneas, os chamados sistemas multimídicos [1]. No âmbito educacional, a utilização desses novos recursos é um importante aliado no processo de ensino e aprendizagem de conceitos devido à dinamização da prática pedagógica. Neste trabalho tratamos dos recursos audiovisuais, em especial do vídeo educacional. Vale lembrar, que quando utilizamos os meios de comunicação estamos usando sua linguagem e sua aplicação, e que esta é a base do processo de conhecer. O meio-audiovisual não é apenas um recurso didático, mas através dele pode-se criar um novo meio de ajudar a (re) construção do conhecimento [2, 3]. Este processo é possível devido ao vídeo ser um recurso que possibilita a síntese entre imagem e som, gerando as mais diversas sensações dependendo do que se é transmitido, deixando de ser apenas som e imagem, mas também, uma forma de expressão [4], expressão esta, que pode gerar no espectador elementos de motivação para novas situações, como um espectador crítico [5]. Dentro deste contexto, a inserção deste recurso didático na prática pedagógica, necessita que o professor venha a compreender como ele poderá relacionar o vídeo com os conteúdos a serem discutidos em sala, e fazer com que o aluno compreenda que aquele vídeo faz parte da aula. É comum os alunos imaginarem que o vídeo é um mero ilustrador do discurso do professor. Cabe deixar claro que eles, devem estar inseridos como ser atuante no meio tecnológico, permitindo novas formas de expressão [4]. Diante do exposto, percebe-se que o uso do recurso exige do professor uma metodologia bem segura e com os seus objetivos determinados para que eles possam ser alcançados. Porém, apenas a mudança da prática e a utilização do recurso não asseguram esses objetivos. Destacamos também a importância da incorporação de estratégias baseadas na Teoria da Flexibilidade Cognitiva (TFC), no processo de ensino-aprendizagem em sala de aula com o uso destes recursos tecnológicos. A TFC foi desenvolvida por Rand Spiro e colaboradores no final da década de 80, sendo aplicada a conteúdos complexos em níveis de aprendizagem que necessitam de certo grau de conhecimento [6]. A teoria se aplica a um nível específico: a aquisição de conhecimentos em nível avançado dentro de domínios complexos e pouco estruturados e também, a transferência do conhecimento para novas situações [7]. Deste modo, este trabalho é uma parte do projeto de pesquisa de dissertação dentro do Programa de Pós- Graduação em Ensino de Ciências da UFRPE, e que tem como objetivo principal, elaborar estratégias de ensino para o uso de vídeos em sala de aula do ensino fundamental, a partir de uma categorização baseada nas propostas de Bartolomé [6] e Serrano & Paiva [8]. Apresentaremos aqui a etapa concluída, que se refere ao levantamento e categorização de vídeos com potencial para uso como recurso didático no ensino de ciências. Metodologia A pesquisa consistiu em realizar uma busca em canais de televisão que são transmitidas no Brasil sejam elas “abertas” ou “fechadas”, buscando vídeos, documentários, programas de modo geral que pudessem ser utilizados como recurso didático em sala de aula. A procura iniciou-se em sites da televisão de canais abertos (TV Cultura, TV Futura, TV Globo), canais fechados (TV Rá-Tim-Bum, NET, SKY) e ainda a TV Escola, que é um canal do Ministério da Educação, estando sua transmissão disponível na internet e nas escolas públicas do país. Após esta primeira etapa da seleção dos vídeos, eles foram categorizados segundo Serrano e Paiva [8], como meio de facilitar a sua utilizado em sala de aula dentro da proposta metodológica do professor, ou seja, uma categorização por agrupamento conceitual; metodologia aplicada sem a utilização de rótulos ou denominações específicas para os objetos, permitindo que pertençam a um ou mais grupos, resultando uma pluralidade de seções e possibilidades de utilização.

Upload: andreia-amariz

Post on 16-Sep-2015

13 views

Category:

Documents


7 download

DESCRIPTION

vídeo_recurso didático

TRANSCRIPT

  • O VDEO COMO RECURSO DIDTICO PARA ENSINO DE CINCIAS: uma categorizao inicial.

    Flvia Cristina Gomes Catunda de Vasconcelos1 e Marcelo Brito Carneiro Leo2

    ________________1. Aluna do curso de mestrado em Ensino de Cincias do Departamento de Educao, Universidade Federal Rural de Pernambuco. R. D. Manoel de Medeiros, s/n - Dois Irmos 52171-900 - Recife/PE. E-mail: [email protected]. Professor Associado do Departamento de Qumica, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Dom Manoel de Medeiros, s/n Dois Irmos 52171-900 - Recife/PE. Email: [email protected]

    Introduo

    Nas duas ltimas dcadas do sculo XX, ocorreu uma grande incluso de novos recursos tecnolgicos na sociedade, com uma digitalizao de quase tudo que a rodeia. Neste sentido, as Tecnologias da Informao e da Comunicao (TICs), esta propiciando uma mudana considervel nas diversas atividades pessoais, afetando valores, identidades, formas de trabalho e de expresso. importante ressaltar, que a transmisso das informaes, dentro do contexto das TICs se d por meio de vrias formas de linguagens simultneas, os chamados sistemas multimdicos [1].

    No mbito educacional, a utilizao desses novos recursos um importante aliado no processo de ensino e aprendizagem de conceitos devido dinamizao da prtica pedaggica.

    Neste trabalho tratamos dos recursos audiovisuais, em especial do vdeo educacional. Vale lembrar, que quando utilizamos os meios de comunicao estamos usando sua linguagem e sua aplicao, e que esta a base do processo de conhecer. O meio-audiovisual no apenas um recurso didtico, mas atravs dele pode-se criar um novo meio de ajudar a (re) construo do conhecimento [2, 3]. Este processo possvel devido ao vdeo ser um recurso que possibilita a sntese entreimagem e som, gerando as mais diversas sensaes dependendo do que se transmitido, deixando de ser apenas som e imagem, mas tambm, uma forma de expresso [4], expresso esta, que pode gerar no espectador elementos de motivao para novas situaes, como um espectador crtico [5].

    Dentro deste contexto, a insero deste recurso didtico na prtica pedaggica, necessita que o professor venha a compreender como ele poder relacionar o vdeo com os contedos a serem discutidos em sala, e fazer com que o aluno compreenda que aquele vdeo faz parte da aula. comum os alunos imaginarem que o vdeo um mero ilustrador do discurso do professor. Cabe deixar claro que eles,devem estar inseridos como ser atuante no meio tecnolgico, permitindo novas formas de expresso [4].

    Diante do exposto, percebe-se que o uso do recurso exige do professor uma metodologia bem segura e com os seus objetivos determinados para que eles possam ser alcanados. Porm, apenas a mudana da prtica e a utilizao do recurso no asseguram esses objetivos.

    Destacamos tambm a importncia da incorporao de estratgias baseadas na Teoria da Flexibilidade Cognitiva (TFC), no processo de ensino-aprendizagem em sala de aula com o uso destes recursos tecnolgicos. A TFC foi desenvolvida por Rand Spiro e colaboradores no final da dcada de 80, sendo aplicada a contedos complexos em nveis de aprendizagem que necessitam de certo grau de conhecimento [6]. A teoria se aplica a um nvel especfico: a aquisio de conhecimentos em nvel avanado dentro de domnios complexos e pouco estruturados e tambm, a transferncia do conhecimento para novas situaes [7].

    Deste modo, este trabalho uma parte do projeto de pesquisa de dissertao dentro do Programa de Ps-Graduao em Ensino de Cincias da UFRPE, e que tem como objetivo principal, elaborar estratgias de ensino para o uso de vdeos em sala de aula do ensino fundamental, a partir de uma categorizao baseada nas propostas de Bartolom [6] e Serrano & Paiva [8]. Apresentaremos aqui a etapa concluda, que se refere ao levantamento e categorizao de vdeos com potencial para uso como recurso didtico no ensino de cincias.

    Metodologia

    A pesquisa consistiu em realizar uma busca em canais de televiso que so transmitidas no Brasil sejam elas abertas ou fechadas, buscando vdeos, documentrios, programas de modo geral que pudessem ser utilizados como recurso didtico em sala de aula.

    A procura iniciou-se em sites da televiso de canais abertos (TV Cultura, TV Futura, TV Globo), canais fechados (TV R-Tim-Bum, NET, SKY) e ainda a TV Escola, que um canal do Ministrio da Educao,estando sua transmisso disponvel na internet e nas escolas pblicas do pas.

    Aps esta primeira etapa da seleo dos vdeos, eles foram categorizados segundo Serrano e Paiva [8], como meio de facilitar a sua utilizado em sala de aula dentro da proposta metodolgica do professor, ou seja, uma categorizao por agrupamento conceitual;metodologia aplicada sem a utilizao de rtulos ou denominaes especficas para os objetos, permitindo que pertenam a um ou mais grupos, resultando uma pluralidade de sees e possibilidades de utilizao.

  • Cabe ressaltar que, Serrano e Paiva [8] categorizamos vdeos quanto o seu contedo, baseando-se na classificao presente no site de vdeos Youtube (www.youtube.com), dentre os quais destacamos: desenhos; entretenimento (sries); televiso(programas de); cincia e tecnologia (documentrios), educao; animais (documentrios).

    Essa categorizao tem como objetivo disponibilizar ao educador a visualizao de informaes que podem facilitar o seu acesso ao recurso, bem como direcionar o que ele busca no recurso, como a estratgia a ser aplicada em sala de aula. Lembrando que, o enquadramento em qualquer categoria no anula a possibilidade dos contedos tambm estaremadequados a outra classificao [8].

    Uma categorizao utilizada foi a de Bartolom [6], e que se refere utilizao do recurso por parte do professor, dependendo de sua estratgia de uso. Dentre as categorias, destacamos: 1. Vdeo Lio vdeos claros estruturados que possuem partes que facilitam a auto-organizao da informao; 2. Vdeo Impacto vdeos provocadores, que no se preocupam tanto em dar uma informao completa, destinado motivao inicial sobre um tema ou assunto; 3. Vdeo Monoconceitual vdeos curtos com poucas palavras, com ou sem msica que apresentam apenas um tipo de contedo explorado e o professor utiliza-o completamente; 4. Vdeo Animao normalmente elaborados pelos alunos, atravs da gravao de determinadas aes seguindo orientao do professor, sendo o produto destas gravaes, utilizado como objeto de estudo em sala de aula. Cabe ressaltar que a categorizao de Bartolom se incorpora na elaborao da estratgia de uso do recurso por parte do professor.

    Por fim, devemos ter em mente que os vdeos so recursos geradores de aprendizagem como qualquer outro recurso educativo. Com isto, faz-se necessrio, a proposio de outras atividades agregadas a ele, no processo de ensino e aprendizagem.

    Resultados e Discusso

    Nas TVs por assinatura (NET e SKY) foi realizada uma busca em sua programao para verificar a presena de alguns canais que apresentavam algum programa de cunho cientfico, dentre os quais destacamos: Nicklendon (Dora, a Aventureira; As aventuras de Jimmy Neutron, Menino Gnio; Os Padrinhos Mgicos); Animal Planet (A Presa do Predador, Natureza em massa), Discovery Kids (Sid, o pequeno cientista); Discovery Channel(Documentrios); Nacional Geographic (Documentrios) e The History Chanel(Documentrios); TV R-Tim-Bm (Programa Cambalhota, Grandes Personangens e X-Tudo); nica TV brasileira direcionada a crianas em canal fechado.

    Nos canais abertos, tem-se: TV Globo (Ao, Globo Ecologia, Globo Cincia, etc); TV Cultura(Almanaque Educao, Sade Brasil, Reprter ECO, Planeta Terra, De onde vem?, Castelo R-tim-bum); Canal Futura (Um P de Qu?, A incrvel casa de

    Eva, Globo Cincia, Mundo de Beackman, Universo de Blaster, etc).

    Na TV Escola, encontramos uma programao totalmente voltada educao com apresentao de documentrios, tele-aulas, sries, desenhos, entrevistas, etc. que capacita e aperfeioa os educadores em sua prtica didtica. Dentre os programas destacamos:Glbulos-X, Sries: O tomo; A origem das coisas;Lendas da Cincia, etc.

    Estes programas fazem partes de uma programao permanente dos canais de televiso. Mas, eles tambm apresentam outros programas que podem ser utilizados como recurso didtico.

    Desse modo, apresentemos na Tabela 1, a categorizao que engloba os vdeos que foram selecionados, e que podem ser utilizados como recurso didtico sem distino de canal que o apresenta, devido a alguns programas estarem presentes em mais de um canal televisivo.

    Alguns vdeos, como por exemplo: De onde vem?, Cosmos; Poeira nas Estrelas; Mundos Invisveis, dentre outros esto disponveis no site do Youtube podendo ser feito download dos mesmos, e o primeiro tambm no site www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp, livre para qualquer usurio, no obrigatoriamente na escola.

    Destacamos os programas: De onde vem?; Pequenos Cientistas; Cambalhota; Srie Grandes Personagens e X-Tudo e Castelo-R-tim-bum, todos de produo brasileira devido a eles serem dinmicos e utilizarem diferentes recursos de produo do vdeo (Figura 1).

    Acreditamos, que com esse levantamento fica mais prtico para o professor buscar algo que ele procura para se incorporado em sua aula. Porm, ressaltamos que o mesmo deva informar aos alunos que o recurso faz parte da aula e necessrio assisti-lo para realizar as atividades atreladas ao mesmo.

    Referncias[1] BARTOLOM, A. R. Nuevas tecnolgas en el aula. Barcelona: Ga,

    1999.[2] LEO, M. B. C. Multiambientes de aprendizaje en entornos

    semipresenciales. Pixel-Bit Mdios y Educacin, v.23, p.65-68. 2004.[3] VASCONCELOS, F.C.G.C., LEITE, B.S., ARAJO, R.V.G., LEO,

    M.B.C. O Podcasting como uma ferramenta para o ensino-aprendizagem das reaes qumicas. Anais Eletrnicos do IX Congresso Iberoamericano de Informtica Educativa. Caracas: 2008.Disponvel em: Acesso em: 01 mai. 2009

    [4] LIMA, A.A. O uso do vdeo como instrumento didtico e educativo em sala de aula. Um estudo de caso do CEFET-RN. Dissertao de Mestrado. Programa de Ps-Graduao em Engenharia de Produo. UFSC, Florianpolis, 2001.

    [5] SALINAS, J. Interactividad y diseo de vdeos didcticos.Comunicacin presentada al Interactive Video in Schools Seminar. Universidad de las Islas Baleares. Irlanda del Norte: 1988.

    [6] CARVALHO, A. A. Complexidade: um novo paradigma para investigar e intervir em educao? Abordar a Complexidade Atravs da Desconstruo e da Reflexo: Implicaes na Estruturao de Objectos de Aprendizagem. Disponvel em : http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/7696/1/Abordar%20a%20complexidade%20-%20Carvalho%20(2008).pdf acesso: 02.06.2009

    [7] CARVALHO, A. A. A. Os Hipermedia em Contexto Educativo.Braga: Ed. Universidade do Minho, p.139-204, 1999

    [8] SERRANO, P. H. S. M. & PAIVA, C. C. Critrios de Categorizao para os vdeos do youtube. Revista Eletrnica Temtica. Disponvel em: www.insite.com.br

  • Tabela 1. Resumo das principais categorias de vdeos com seus exemplos.

    CATEGORIAS EXEMPLOS DE VDEOS

    DESENHOS As aventuras de Jimmy Neutron; Os padrinhos mgicos; Dora, a aventureira; Sid, o pequeno cientista; Os Simpsons; De onde vem?; Grandes Personagens; Os Reciclados; Glbulos-X; Menino Gnio

    DOCUMENTRIOS The History Channel; National Geograpfic; Greenpeace

    PROGRAMAS DE TELEVISO

    Ao; Globo Ecologia; Globo Cincia; Planeta Terra; Mundo de Beackman; Castelo R-Tim-Bum; Universo de Blaster; X-Tudo; Ver Cincia; Almanaque Educao; A incrvel casa de Eva

    SRIES Mundo Estranho; O tomo; Lendas da Cincia; Os sentidos humanos; O corpo humano (Home & Health); Poeira nas Estrelas; A Qumica de quase tudo; A Odissia da Vida; Matria e suas propriedades; Cosmos; Evoluo

    EXPERIMENTAIS www.pontociencia.org.br; Cambalhota

    Figura 1. Programas de produo brasileira em destaque por apresentarem informaes cientficas durante sua apresentao.