vida quotidiana em roma

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A VIDA QUOTIDIANA EM ROMA DURANTE O IMPÉRIO De manhã levanto-me cedo. Chamo as escravas para me virem pentear e arranjar. Elas cuidam da minha maquilhagem, colocando-me uma máscara de beleza à base de gordura de ovelhas ou de miolo de pão ensopado em leite. Em seguida, cuidam-me das sobrancelhas e do penteado. A moda do penteado muda muito em Roma. Após o penteado colocar-me-á uma faixa guarnecida de pérolas e um gancho oco contendo perfumes. Vestirei uma túnica azul e uma estola amarela a condizer com as sandálias. Agora como alguma fruta, terei de andar depressa para me encontrar à hora marcada nas termas com a minha amiga Agripina. Em Roma, homens e mulheres possuem uma verdadeira paixão pelo banho. As termas são lugares públicos que se visitam quotidianamente por motivos de higiene, distracção, convivência e negócios. De manhã estão abertas para as mulheres, à tarde, para os homens. Saio de casa. Sabeis como é a minha casa? É um edifício grande, de planta rectangular. Todos os compartimentos dão para um pátio interior- o atrium- cujo tecto tem uma abertura para a água das chuvas caírem no impluvium. Para este pátio dão todos os compartimentos- quartos, salões, salas e o oratório familiar onde se veneram os deuses Lares e se guardam os bustos dos antepassados. As paredes das minhas salas são pintadas. No chão há mosaicos com temas variados. A minha casa não tem piscina interior. Mas a moradia da minha amiga Agripina possui uma enorme, rodeada de colunas e de estátuas. Saio para a rua. Não vou a pé, porque sou uma senhora rica. Vou de liteira puxada por escravos. I

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Descricao da vida quotidiana na Roma Antiga

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Page 1: Vida Quotidiana em Roma

A VIDA QUOTIDIANA EM ROMA DURANTE O IMPÉRIO

De manhã levanto-me cedo. Chamo as escravas para me virem pentear e arranjar. Elas cuidam da minha maquilhagem, colocando-me uma máscara de beleza à base de gordura de ovelhas ou de miolo de pão ensopado em leite. Em seguida, cuidam-me das sobrancelhas e do penteado. A moda do penteado muda muito em Roma. Após o penteado colocar-me-á uma faixa guarnecida de pérolas e um gancho oco contendo perfumes. Vestirei uma túnica azul e uma estola amarela a condizer com as

sandálias. Agora como alguma fruta, terei de andar depressa para me encontrar à hora marcada nas termas com a minha amiga Agripina. Em Roma, homens e mulheres possuem uma

verdadeira paixão pelo banho. As termas são lugares públicos que se visitam quotidianamente por motivos de higiene, distracção, convivência e negócios.

De manhã estão abertas para as mulheres, à tarde, para os homens. Saio de casa. Sabeis como é a minha casa? É um edifício grande, de planta rectangular. Todos os compartimentos dão para um pátio interior- o atrium- cujo tecto tem uma abertura para a água das chuvas caírem no impluvium. Para este pátio dão todos os compartimentos- quartos, salões, salas e o oratório familiar onde se veneram os deuses Lares e se guardam os bustos dos antepassados. As paredes das minhas salas são pintadas. No chão há mosaicos com temas variados. A minha casa não tem piscina interior. Mas a moradia da minha amiga Agripina possui uma enorme, rodeada de colunas e de estátuas. Saio para a rua. Não vou a pé, porque sou uma senhora rica. Vou de liteira puxada por escravos. À medida que atravesso as ruas, que são estreitas e empredadas, cruzo-me com outras liteiras transportando senadores ou outros magistrados para o Forum Romano, cavaleiros que vão tratar dos seus negócios e, clientes que se dirigem a casa dos seus patronos. Por toda a parte vai uma animação

intensa, encontrões, uma algazarra infernal. As tabernas (lojas) enchem-se e estendem dos seus mostruários. Aqui os barbeiros barbeiam os clientes no meio da rua. Acolá os vendedores

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ambulantes... Noutra os tasqueiros, roucos à força de chamar uma clientela que faz ouvidos de mercador, exibem as suas salchichas fumegantes em caçarolas quentes... A um lado um cambista faz retinir a sua provisão de peças com a efígie do Imperador. Vejo o aqueduto que conduz a água para as termas e para algumas habitações. Ao longe, uma ponte atravessa o rio. À medida que percorro as ruas, vou avistando teatros, anfiteatros e circos onde o povo se diverte. Nos circos assiste-se ás corridas de carros onde se apresentam diferentes grupos de competidores. Nos anfiteatros vêem-se combates cruéis e sangrentos entre homens e animais ou entre gladiadores. O mais rico destes anfiteatros é o Coliseu.

- Mas, que é aquilo? Escrava, quem virá além ?- É um chefe militar que acaba de alcançar mais uma

vitória.- Parai, escravos. Quero presenciar.

É uma das mais sumptuosas cerimónias de Roma. É um cortejo triunfal. Na quadriga vem o general e atrás caminham os militares exibindo os trofeus da vitória. Aproximam-se do arco de triunfo. Os arcos de triunfo são edificados para consagrar uma vitória ou uma conquista. Artistas ornamentam-nos com relevos alusivos. Às vezes

também constróem colunas gigantescas narrando episódios heróicos.

- Escravos, levai-me depressa para as termas Quando chego às termas encontro a minha amiga Agripina. Primeiro banho-me numa sala de banhos quentes. Depois passamos para uma sala de água tépida e por fim banhamo-nos em água fria. Dirigimo-nos, em seguida, às salas de convívio e à biblioteca. É nestas salas que se combinam casamentos, discutem-se negócios e se lançam mexericos. Foi numa destas salas que se combinou o meu casamento com o filho de um senador. Nós romanas, somos prometidas em crianças. Casamos entre os doze e os dezanove anos. Quando me casei enverguei uma túnica branca, apertada na cintura por uma faixa de lã e coberta com um manto amarelo açafrão. Na cabeça usava um véu púrpura sustido por uma coroazinha de flores campestres. Nos pés umas sandálias amarelas. O meu noivo ofereceu-me então um anel que é o aro de ferro coberto a ouro. Ele colocou-mo no dedo anelar, porque dizem que deste dedo parte um nervo que comunica com o coração... Despeço-me de Agripina. Passei uma manhã agradável nas termas e isso faz-me pensar nas nossas avós: apenas fiavam, teciam e não interferiam na vida pública. Nesta

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época é diferente. Nós somos instruídas. Possuímos uma biblioteca em nossas casas. Rivalizamos com as nossas amigas quanto aos livros que conhecemos e possuímos: lemos poesia e romances dos autores romanos e gregos. Temos alguns escritores cujas obras são muito conhecidas: Virgílio, autor de um poema épico ,Eneida, Ovídio e Horácio poetas líricos e Plauto, autor de comédias.

Regresso a casa. De novo contemplo a cidade, mas agora a minha atenção vai para as «Insulae» onde vive a massa da população... São altas casas de madeira. Os imperadores tentaram em vão limitar a sua altura a 20 m. Não há água nem esgotos, nem chaminés. Caem e incendeiam-se frequentemente. A água abunda mas os catorze aquedutos de Roma alimentam

principalmente as fontes públicas, as termas e as casas dos ricos, capazes de pagar o imposto. A rede de esgotos é notável, mas não serve as insulae.

Estou em casa novamente. Antes do

pôr do sol comeremos a ceia, a nossa principal refeição. Por vezes o meu marido recebe amigos a quem oferecemos um pequeno banquete; para animar contratamos um cómico e um tocador de flauta. Eis que chega meu filho. Ele vos contará como passou o seu dia. De manhã parto com o meu escravo pedagogo pelo pórtico que conduz à escola. Eis os meus camaradas... Sento-me e começo a trabalhar. Copio um modelo de escrita depois aprendo de cor provérbios cheios de sabedoria. Terminei; ao mestre que me dá licença de ir almoçar, digo «Passe bem!» Como em casa pão branco, azeitonas, queijo, figos secos e nozes, e bebo água fresca. Em seguida regresso à escola... Chega a hora do banho. Para lá me dirijo com o meu escravo.

in, A vida quotidiana em Roma no tempo do Império (adaptado)

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