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Victor Iglesias Quitério Santiago Panorama da aplicação de sistemas de gestão de segurança e saúde do trabalho na construção civil Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Profº. Jorge dos Santos Rio de Janeiro Janeiro de 2018

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Victor Iglesias Quitério Santiago

Panorama da aplicação de sistemas de gestão de segurança e saúde do

trabalho na construção civil

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Profº. Jorge dos Santos

Rio de Janeiro

Janeiro de 2018

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Panorama da aplicação de sistemas de gestão de segurança e saúde do trabalho na construção

civil

Victor Iglesias Quitério Santiago

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL

DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

______________________________________________

Profª. Alessandra Conde de Freitas

______________________________________________

Profª. Ana Catarina Jorge Evangelista

______________________________________________

Prof. Jorge dos Santos (orientador)

______________________________________________

Prof. Wilson Wanderley da Silva

RIO DE JANEIRO

Janeiro de 2018

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Santiago, Victor Iglesias Quitério.

Panorama da aplicação de sistemas de gestão de segurança

e saúde do trabalho na construção civil / Victor Iglesias

Quitério Santiago – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola

Politécnica, 2018.

84 p.

Orientador: Jorge dos Santos

Projeto de graduação – UFRJ/ Escola Politécnica / Curso

de Engenharia Civil, 2017.

Referências bibliográficas: p. 80-84.

1. Introdução. 2. Segurança e Saúde na Construção Civil

3. Requisitos Legais de SST aplicados a Construção Civil.

4. Modelos de Conformidade de Gestão de SST. 5.

Metodologia de Implantação SST: Aspectos Técnicos e

Práticos. 6. Panorama de Sistemas de Gestão de SST

aplicados a Construção Civil. 7. Conclusões

I. Jorge dos Santos. II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III.

Panorama da aplicação de sistemas de gestão de segurança

e saúde do trabalho na construção civil

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente a todos os meus familiares que me apoiaram em todos os momentos de

minha vida e me proporcionaram alcançar essa etapa de minha carreira. Meus pais, que me

apoiaram com carinho, atenção, recursos e tudo que precisei em todos os momentos, e me

fizeram acreditar que daria certo mesmo nas vezes em que pensei em largar tudo e seguir

outros caminhos. Ao meu irmão, que escutou pacientemente inúmeras reclamações de tudo e

todos sem reclamar ou ignorar aqueles momentos em que precisei. Além deles, agradeço

especialmente a Sandra Luiza, minha avó materna, que mesmo sem ter se quer o ensino médio

completo, me apoiou incondicionalmente em todos os momentos de minha graduação, desde

preparar o café para me ajudar a ficar acordado por muitas madrugadas, até os apoios a todas

as minhas decisões (sem exceção de nenhuma) por simplesmente acreditar nos meus sonhos e

que eu seria capaz de realizá-los. Vocês fazem a minha vida fazer sentido desde que nasci e

espero um dia poder retribuir cada detalhe dedicado por vocês.

Aos meus amigos externos a faculdade, principalmente minha namorada Isabella, que

me ajudaram a passar por tudo isso, seja ouvindo minhas reclamações ou me ajudando a levar

a faculdade com menos stress e preocupações. Durante esses 5 anos vocês me ajudaram a ter

uma vida melhor e a perceber que nossa vida não faz sentido se não tiver com quem

compartilhar os momentos bons e ruins.

Aos meus amigos da faculdade, sejam os da carona, que fizeram minhas viagens ao

fundão muito mais divertidas, sejam os do mesmo curso, que através do trabalho em equipe e

da ajuda mútua conseguimos chegar ao fim dessa trajetória chamada graduação. Nesse

ambiente conheci pessoas incríveis com que espero manter o contato, tanto para fins pessoais,

como profissionais. Em especial, dedico minha graduação a um amigo incrível chamado

Gustavo Barud que me fez enxergar a vida de outra forma, mas infelizmente não está aqui

para presenciar esse momento que seria dele também.

Aos professores e futuros colegas de trabalho, agradecimentos especiais aos

professores: Jorge dos Santos, que me apresentou conceitos relacionados à gestão e me ajudou

a acreditar que a engenharia pode ser feita de maneira diferente (melhor, mais eficiente e

humana) no país em que vivemos, além de me orientar no presente trabalho; a professora

Sandra Oda, que além da extrema boa vontade e carinho com todos os alunos, sempre se

mostrou presente e disposta a promover aulas melhores, seja com atividades em campo, seja

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com esclarecimentos que vão além do conteúdo programático da disciplina. Existiram outros

professores excepcionais ao longo de minha formação, mas vocês, sem dúvida alguma, foram

os que mais marcaram positivamente a vida de muitos alunos.

A todas as pessoas externas que me proporcionaram experiências profissionais através

de estágios, visitas técnicas e acompanhamentos de obras, e as que me proporcionaram

experiências com voluntariado, trazendo uma realidade que eu desconhecia. Todas essas

experiências foram extremamente válidas, me ajudaram a desenvolver habilidades pessoais e

proporcionaram conhecer histórias de vida e superação incríveis.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Panorama da aplicação de sistemas de gestão de segurança e saúde do trabalho na construção

civil

Victor Iglesias Quitério Santiago

Janeiro/2018

Orientador: Jorge dos Santos

Curso: Engenharia Civil

No Brasil o setor de construção civil ainda é visto por muitos como rudimentar e

composto majoritariamente de trabalhos exaustivos e altos riscos quanto a acidentes. Tal visão

pode ser justificada devido à baixa qualificação profissional exigida para a maioria dos cargos

no setor, ao modo mais artesanal de construção usualmente adotado no país, as condições

mais precárias nos ambientes de trabalho e aos vários riscos associados ao trabalho realizado.

Indo contra essa imagem, empresas estão adequando-se de forma a reduzir o número de

acidentes através da implantação de sistemas de gestão de segurança e saúde no trabalho.

No presente trabalho são apresentados dados e informações que caracterizam o

panorama da aplicação de sistemas de gestão de segurança e saúde do trabalho na construção

civil. A partir dos dados foram feitas análises da evolução dos sistemas e da aplicação dos

mesmos em obras de diferentes portes.

Palavras-chave: Saúde e Segurança no Trabalho; Construção Civil; Sistemas de Gestão;

Certificação

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ......................................................................................... IV

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................... X

LISTA DE TABELAS ........................................................................................... X

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS ........................................................... XII

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

1.1 IMPORTÂNCIA DO TEMA ...................................................................... 1

1.2 OBJETIVO ................................................................................................ 1

1.3 JUSTIFICATIVA DE ESCOLHA DO TEMA ............................................ 2

1.4 METODOLOGIA ...................................................................................... 2

1.5 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO ........................................................ 3

2. SEGURANÇA E SAÚDE NA CONSTRUÇÃO CIVIL. ................................... 5

2.1 CONCEITOS BÁSICOS ............................................................................ 5

A. SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO .............................................. 5

B. ACIDENTES DE TRABALHO. ................................................................. 6

2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS ........................................................................ 7

2.3 SITUAÇÃO ATUAL ............................................................................... 10

3. REQUISITOS LEGAIS DE SST APLICADOS A CONSTRUÇÃO CIVIL .... 17

3.1 LEGISLAÇÃO DE SAÚDE E SEGURANÇA NO BRASIL .................... 17

3.2 NORMAS TÉCNICAS DA ABNT ........................................................... 21

3.3 SINDICATOS E SUAS PARTICIPAÇÕES ............................................. 23

3.4 A OIT E O MINISTÉRIO DO TRABALHO ............................................ 27

4. MODELOS DE CONFORMIDADE DE GESTÃO DE SST ........................... 32

4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS ...................................................................... 32

4.2 MODELOS DE CONFORMIDADE DO MERCADO .............................. 34

5. METODOLOGIA DE IMPLANTAÇÃO DE SST: ASPECTOS TÉCNICOS E

PRÁTICOS ............................................................................................................ 41

5.1 ASPECTOS GERAIS ............................................................................... 41

5.2 ETAPAS DO PROCESSO. ...................................................................... 41

5.2.1. REQUISITOS GERAIS. .......................................................................... 41

5.2.2. POLÍTICA DE SST ................................................................................. 42

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5.2.3. PLANEJAMENTO ................................................................................... 43

5.2.3.1. IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS E AVALIAÇÃO DE RISCOS. ..... 43

5.2.3.1.1. ANÁLISE PRELIMINAR DE RISCO (DE PERIGOS);................. 45

5.2.3.2.1. WHAT IF/ CHECKLIST; .............................................................. 48

5.2.3.2.2. ANÁLISE DE MODOS DE FALHAS E EFEITOS (“FAIL MODE &

EFFECT ANALYSIS”) ...................................................................................... 49

5.2.3.2.3. ESTUDO DE OPERABILIDADE E RISCOS (“HAZARD AND

OPERABILITY STUDY”) ................................................................................. 50

5.2.3.3. GESTÃO DE MUDANÇAS .............................................................. 51

5.2.3.4. MEDIDAS DE CONTROLE. ............................................................ 51

5.2.3.5. RESULTADOS E ANÁLISE CRÍTICA CONTÍNUA. ...................... 52

5.2.3.6. REQUISITOS LEGAIS E OUTROS REQUISITOS. ......................... 52

5.2.3.7. OBJETIVOS E PROGRAMAS. ........................................................ 53

5.2.4. IMPLEMENTAÇÃO E OPERAÇÃO ....................................................... 53

5.2.4.1. RECURSOS, FUNÇÕES, RESPONSABILIDADES, PRESTAÇÃO DE

CONTAS E AUTORIDADES ............................................................................ 53

5.2.4.2. COMPETÊNCIAS, FORMAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO. ................ 54

5.2.4.3. COMUNICAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E CONSULTA ...................... 54

5.2.4.4. DOCUMENTAÇÃO E CONTROLE DOS DOCUMENTOS. ............ 55

5.2.4.5. CONTROLE OPERACIONAL.......................................................... 59

5.2.4.6. PREPARAÇÃO E RESPOSTAS A EMERGÊNCIAS ....................... 59

5.2.5. VERIFICAÇÃO ....................................................................................... 60

5.2.5.1. MEDIÇÃO E MONITORAMENTO DO DESEMPENHO ................ 60

5.2.5.2. AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE ............................................. 61

5.2.5.3. INVESTIGAÇÃO DE ACIDENTES, NÃO CONFORMIDADES, AÇÕES

CORRETIVAS E PREVENTIVAS .................................................................... 61

5.2.5.4. CONTROLE DOS REGISTROS ....................................................... 62

5.2.5.5. AUDITORIA INTERNA ................................................................... 63

5.2.6. REVISÃO PELA GESTÃO ..................................................................... 63

5.3 INDICADORES E DIFICULDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO ......... 64

6. PANORAMA DOS SISTEMAS DE GESTÃO DE SST APLICADOS NA

CONSTRUÇÃO CIVIL ......................................................................................... 69

6.1 ASPECTOS GERAIS ............................................................................... 69

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6.2 EMPRESAS CERTIFICADAS E CERTIFICADORAS ........................... 69

6.3 GESTÃO DE SST EM EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL ............ 70

6.4 RELATO DE SITUAÇÃO DE SST EM OBRA DE EDIFICAÇÃO

COMERCIAL .................................................................................................... 73

6.4.1 DESCRIÇÃO DA EMPRESA .................................................................. 73

6.4.2 DESCRIÇÃO DA OBRA ......................................................................... 74

6.4.3 MEDIDAS DE SST ADOTADAS E OBSERVAÇÕES DIÁRIAS ........... 74

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 77

7.1 CONCLUSÕES ........................................................................................ 77

7.2 PROPOSTAS E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ........... 78

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 80

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Pirâmide de Maslow (Fonte: Adaptado de Chiavenato, 1998) ........................ 6

Figura 2 - Esquema de Classificação dos Acidentes (Fonte: Xavier, 2002) .................... 7

Figura 3 - Construção Empire State – Situação 1 (Fonte: Hine , 1977) ........................... 9

Figura 4 - Construção Empire State - Situação 2 (Fonte: Hine, 1977) ............................. 9

Figura 5 - Organograma do MT (Fonte: Elaborado pelo Autor, 2018). ......................... 30

Figura 6 - Fluxograma Gestão de SST Tradicional (Fonte: Elaborado pelo autor, 2018)33

Figura 7 - Fluxograma Gestão de SST Proposto Atual (Fonte: Elaborado pelo autor, 2018)

........................................................................................................................................ 34

Figura 8 - Sistemas de gestão integrados e não integrados (Benite, 2004) .................... 38

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Quadro de dias perdidos de trabalho devido a acidentes de trabalho (Fonte: Santana

et al., 2015) ..................................................................................................................... 13

Tabela 2 - Quadro de despesas mensais com benefícios por AT não fatais (Fonte: Santana et

al., 2015) ......................................................................................................................... 14

Tabela 3 - Total de Inspeções Realizadas em SST - Brasil - Janeiro a Novembro de 2016

(Fonte: MT, 2017). ......................................................................................................... 30

Tabela 4 - Requisitos da norma BS-8800 (Fonte: Benite, 2004) ................................... 34

Tabela 5 - Requisitos da OHSAS-18001:2007 (Fonte: Elaborado pelo autor, 2018) .... 35

Tabela 6 - Cronograma desenvolvimento ISO 45001 (Fonte: ISO, 2017) ..................... 37

Tabela 7 - Estrutura de Alto Nível - Anexo SL (Fonte: BSI Group, 2017).................... 39

Tabela 8 - Evolução da Integração dos Sistemas de Gestão (Fonte: Elaborado pelo autor)

........................................................................................................................................ 40

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Tabela 9 - Etapas de Execução de APR (Fonte: Esteves, 2017) .................................... 46

Tabela 10 - Modelo APR (Fonte: Adaptado de Esteves, 2017). .................................... 47

Tabela 11 - Categorias de Frequências dos Cenários (Fonte: Esteves, 2017) ................ 47

Tabela 12 - Categoria de Severidade das Consequências dos Cenários (Fonte: Esteves, 2017)

........................................................................................................................................ 48

Tabela 13 - Tabela de Classificação de Riscos (Fonte: Esteves, 2017) ......................... 48

Tabela 14 - Medidas cobradas pelo MT (Elaborado pelo Autor). .................................. 57

Tabela 15 - Principais documentos exigidos pelo MT (Elaborado pelo Autor) ............. 58

Tabela 16 - Média de todas as atividades executadas por porte de obra (Fonte: Costella et al,

2014) ............................................................................................................................... 65

Tabela 17 - Ítens de menor cumprimento da NR-18 (Fonte: Adaptado de Costella et al, 2014)

........................................................................................................................................ 66

Tabela 18 - Ítens de maior cumprimento da NR-18 (Fonte: Adaptado de Costella et al, 2014)

........................................................................................................................................ 67

Tabela 19 - Ranking Certificadoras (Fonte: Revista Proteção, 2014) ............................ 69

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xii

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas

BS – Britsh Standard

BSI – Britsh Standards Institution

CAT- Comunicado de Acidente de Trabalho

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes

EPI – Equipamento de Proteção Individual

Fundacentro – Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina no Trabalho

ICC – Indústria da Construção Civil

ISO - International Organization for Standardization

MT – Ministério do Trabalho

NR – Normas Regulamentadoras

NBR – Norma Brasileira aprovada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas

OIT – Organização Internacional do Trabalho

OHSAS - Occupational health and safety management systems

PCMAT – Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção

PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

SECONCI – Serviço Social da Indústria da Construção Civil

SESMET - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina no Trabalho

SINDUSCON – Sindicado da Indústria da Construção Civil

SINICON – Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada

SINTRACONST – Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil

SITRAICP – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada

SST – Segurança e Saúde no Trabalho

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1

1. INTRODUÇÃO

1.1 IMPORTÂNCIA DO TEMA

A indústria de construção civil (ICC) do Brasil tem papéis expressivos na economia e

social. É um dos mais importantes setores de produção do país e oferece um elevado número

de empregos.

De acordo com Sampaio (2015), a construção civil no Brasil sempre foi tratada como

subeconomia pelo governo, clientes e pelos construtores. Esse conceito deve-se, em parte, ao

fato do setor ter adotado, ao longo dos anos, poucas ações preventivas no aspecto gerencial,

mesmo sendo este um dos responsáveis pela criação de milhares de empregos diretos e

indiretos, além de representar para uma grande parte da população, o seu maior sonho: a casa

própria.

Saurin (2002) destaca algumas características diferenciadas que contribuem para a

ocorrência de incidentes na construção civil, sendo elas: Caráter temporário dos locais de

trabalho, uso extensivo de mão de obra migrante, grande número de empresas de pequeno

porte, uso extensivo de subcontratação de mão de obra, efeitos do clima, alta rotatividade de

mão-de-obra, baixa condição social dos trabalhadores, não consideração de custos com

segurança no orçamento e os pagamentos por tarefas, objetivando a redução de prazos e

desconsiderando o desempenho em termos de segurança.

Aliados as características dos trabalhadores, podem-se acrescentar as características

rudimentares das atividades desenvolvidas e a falta de crença no potencial real dos riscos que

se apresentam. As características anteriores citadas aliadas a falta de cultura de implantação

de sistemas de gestão de segurança e saúde no trabalho (SST) geram índices negativos como

alta taxa de letalidade e mortalidade relacionadas a acidentes de trabalho.

1.2 OBJETIVO

O objetivo do presente trabalho é fornecer um panorama da aplicação de sistemas de

gestão de segurança e saúde do trabalho na construção civil no Brasil através de dados

estatísticos e pesquisas já realizadas sobre o assunto. Os resultados obtidos serão analisados e

detalhados de forma que indiquem a situação atual das empresas de construção civil de

diferentes portes em relação à prática de sistemas de gestão de segurança e saúde.

Por fim, após visitas a obra o autor relata experiências relacionadas à SST vividas em um

canteiro de obra em uma cidade no interior do estado do Rio de Janeiro.

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2

1.3 JUSTIFICATIVA DE ESCOLHA DO TEMA

Na última década o país recebeu grandes eventos, dentre eles: Jogos Panamericanos,

Copa do Mundo e Olimpíadas, que alavancaram o setor de construção civil, não só pelas

obras diretamente relacionadas aos eventos, como parques olímpicos e estádios, como

também obras de infra-estrutura para que as cidades contempladas com os eventos tivessem

alguma capacidade para recebê-los. Aliado a esse “boom” de obras públicas, houve a

especulação imobiliária que estimulou a criação de diversos empreendimentos (comerciais e

residenciais) em um curto espaço de tempo. Esse excesso de obras civis evidenciou

necessidades, antes não tão aparentes, relacionadas à segurança do trabalho.

O tema Engenharia de Segurança no Trabalho ainda não é muito bem abordado nos

meios universitários, tendo vista a pequena quantidade de disciplinas disponíveis para tal

assunto. O exemplo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, faculdade bem avaliada com

conceito 4 no Enade de 2014 (INEP, 2014), que conta apenas com uma disciplina eletiva que

aborda o assunto de maneira mais aprofundada, evidencia a falta de ênfase no assunto que é

de suma importância na atualidade.

Aliado a falta de informação disponibilizada na formação dos profissionais de cargo

gerencial, têm-se a constante atualização das normas regulamentadoras, visto que tal

normativa é relativamente nova (criada a primeira em 1977). Esses fatores indicam a

necessidade da contratação de profissionais especializados na área, fato que ainda não é

obrigatório para todo porte de obra.

Tendo vista o alto custo para contratação de profissionais de segurança e saúde e a não

atualização constante de muitos profissionais da construção civil, geram-se inúmeras obras de

menor porte com pouco ou nenhum controle de gestão de SST.

Acreditando-se que no futuro a gestão de SST será de obrigatória adequação a todos os

tipos de obra, através do aumento de fiscalização e de exigência de documentos

comprobatórios, escolheu-se este tema para melhor entendimento do assunto e iniciação a

futuras pesquisas para contribuições na área.

1.4 METODOLOGIA

A fim de alcançar os objetivos propostos, inicialmente o tema foi estudado de forma mais

abrangente a fim de se conhecer melhor o assunto e observar possíveis tendências do setor

quanto ao uso de sistemas de gestão. Em seguida, criou-se uma linha de raciocínio para

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3

melhor desenvolvimento das ideias e norteamento dos assuntos a serem pesquisados mais

afundo.

Após a consolidação da ideia principal, iniciou-se a pesquisa de dados estatísticos e

fontes bibliográficas para embasamento dos argumentos apresentados.

Por fim, analisaram-se qualitativamente e quantitativamente as informações pesquisadas

para se obter um panorama da situação atual das aplicações de sistemas de gestão de

segurança e saúde no setor de construção civil.

1.5 ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO

Este trabalho é composto de sete capítulos desenvolvidos de forma a fornecer

inicialmente uma abordagem mais ampla do assunto “Segurança e Saúde na Construção

Civil” e em capítulos posteriores aprofundar mais o assunto proposto como tema da

dissertação em questão.

O primeiro e presente capítulo apresenta de forma sucinta a importância do tema para a

atualidade, e a partir disso a motivação de sua escolha e os objetivos almejados por meio

dessa dissertação. Também descreve a metodologia usada para o desenvolvimento do trabalho

O segundo capítulo cita conceitos básicos relacionados à Segurança e Saúde, seguido de

uma cronologia para explicitar aspectos históricos e finaliza com uma situação geral de como

se encontra a situação atual da segurança e saúde na construção civil atualmente.

O terceiro capítulo discorre sobre os requisitos legais de SST aplicados a Construção

Civil, em que inicialmente explica-se a evolução da legislação de SST no Brasil até a

atualidade, seguido de um levantamento de Normas Técnicas da Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT) relacionadas ao tema. Por fim, abordam-se os sindicatos com suas

respectivas participações e a função da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do

Ministério do Trabalho para a SST.

O quarto capítulo apresenta modelos de conformidade de gestão, abordando aspectos

históricos relativos à evolução dos modelos adotados. Em seguida, há uma breve comparação

das estruturas dos modelos adotados até então e perspectivas futuras feitas com base nas

características da nova norma de gestão de SST que está em desenvolvimento e em tendências

do mercado para o uso de sistemas integrados de gestão.

O quinto capítulo trata da metodologia de implantação de sistemas de SST. É abordado

um modelo de gestão de SST utilizado para certificação de empresas, detalhando-o desde sua

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criação até as fases de execução e análise de resultados. Em seguida, com base em estatísticas

de outros trabalhos científicos, foram abordados os indicadores e dificuldades para

implementação de SST em obras de construção civil.

O sexto capítulo traz um panorama dos sistemas de gestão de SST aplicados na

construção civil. Primeiro são abordados dados relativos a empresas certificadoras e empresas

certificados quanto aos seus sistemas de gestão de SST, e apresenta fatores que incentivam as

empresas a busca certificações. Em seguida, através de uma análise de todo trabalho feito,

junto de referências e observações, são apresentados cenários em que existem ou não sistemas

de gestão de SST, e as possíveis motivações e dificuldades encontradas por cada um deles.

Ainda no sexto capítulo é apresentado um relato de obra que retrata a experiência vivida pelo

autor em uma obra no interior do estado do Rio de Janeiro através de observações relativas às

medidas de SST adotadas pela organização.

O sétimo capítulo encerra o presente trabalho por meio de conclusões, propostas de

mudanças sugeridas pelo autor após estudos e análises dos temas abordados e sugestões para

futuros trabalhos.

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2. SEGURANÇA E SAÚDE NA CONSTRUÇÃO CIVIL.

2.1 CONCEITOS BÁSICOS

a. SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO

Segurança no trabalho é o conjunto de medidas técnicas, educacionais, médicas e

psicológicas, empregadas para prevenir acidentes, quer eliminando condições inseguras do

ambiente, quer instruindo ou convencendo pessoas na implantação de práticas preventivas

(ZOCCHIO, 2002).

Saúde, de acordo com a Organização Mundial da Saúde em 1946, é definida como:

“Estado de completo bem-estar físico, mental e social e não a simples ausência de doença e

enfermidade”. Essa definição integra o físico, o mental e o social, segundo uma visão

holística, absolutamente atual. A Lei nº 12.864 / 2013, em sua redação, destaca-se o seguinte:

Art. 3o Os níveis de saúde expressam a organização social e

econômica do País, tendo a saúde como determinantes e

condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento

básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade

física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais.

O conceito de saúde estabelecido pela Organização Mundial de Saúde expande o

horizonte de análise das condições de saúde do trabalhador para outros meios. Pode-se, desta

forma, associar doenças psicológicas a fatores sociais, doenças psicossomáticas ao estresse do

dia a dia e melhoras no desempenho e raciocínio associados ao bem estar físico.

Para análise psicológica da influência de saúde e segurança na motivação do trabalhador,

aborda-se nesse presente trabalho a teoria de Maslow.

De acordo com Robbins (2006), Maslow formula a hipótese de que dentro de cada ser

humano existe uma hierarquia de cinco necessidades. São elas: fisiológicas, de segurança,

sociais, de estima e de auto-realização. As necessidades fisiológicas referem-se a necessidades

do corpo (fome, sede, abrigo...) e segurança refere-se à segurança e proteção contra danos

físicos e emocionais.

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Figura 1 - Pirâmide de Maslow (Fonte: Adaptado de Chiavenato, 1998)

Lopes (1980) descreve as necessidades fisiológicas e de segurança como necessidades de

baixa ordem. Tais necessidades caracterizam-se por serem predominantemente satisfeitas por

fatores externos. Assim, políticas de Saúde e Segurança no trabalho desempenham papel

fundamental para satisfação dessas necessidades.

A melhoria da segurança, saúde e meio ambiente de trabalho além de aumentar a

produtividade, diminui o custo do produto final, pois diminui as interrupções no processo,

absenteísmo e acidentes e/ou doenças ocupacionais. (BERGAMINI, 1997).

b. ACIDENTES DE TRABALHO.

Acidente de trabalho é um conceito definido pela lei geral da Previdência Social (Lei

8213/1991) em que:

Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço

a empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso

VIII do artigo 11 desta lei provocando lesão corporal ou perturbação

funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou

temporária, da capacidade para o trabalho.

Segundo Zocchio (2002), é considerado acidente de trabalho qualquer uma das seguintes

situações: qualquer tipo de lesão que ocorra em local e horário de trabalho, doenças

profissionais ou do trabalho que são adquiridas na atividade, resultantes das condições em que

o trabalho é exercido, e doenças ou lesões que ocorram fora do local de trabalho, mas a

serviço da empresa.

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A classificação dos acidentes de trabalho pode ser conforme esquema apresentado na

figura 2:

Figura 2 - Esquema de Classificação dos Acidentes (Fonte: Xavier, 2002)

Gestão é uma ação humana intencional, isto é, vinculada a um objetivo, e pode ser

aleatória ou sistematizada (Trivelato, 2013). Tais ações têm riscos associados, resultados das

incertezas dos objetivos. Se feita de forma sistematizada, institui-se um sistema de gestão.

Como formas de auxílio à tomada de decisões existem ferramentas de sistemas de gestão que

permitem visualização mais clara e proporciona escolhas mais racionais e planejadas, o que

minora a probabilidade de imprevistos.

2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS

Doenças relacionadas ao trabalho são observadas e estudadas desde a antiguidade. De

acordo com Cruz (1996), quatro séculos antes de Cristo (A.C.) já eram observadas e estudadas

determinadas doenças que poderiam ser resultantes do trabalho e formas de preveni-las. A

exemplos, têm-se Hipócrates que aconselhou a limpeza após o trabalho, referindo-se a

doenças entre trabalhadores das minas de estanho; Aristóteles que referiu-se a doenças

profissionais dos corredores e a maneira de evitá-las; Platão que associou certas deformações

do esqueleto ao exercício de certas profissões; Plínio, o Velho, em sua História Natural,

escrita A.C., descreveu as deficiências causadas nos mineradores de chumbo, zinco e enxofre,

recomendando o uso de máscaras protetoras; Galeno, já na era cristã, fez referência a doenças

de ocupação entre trabalhadores das minas de chumbo do Mediterrâneo; Avicena, médico

árabe, que relacionou cólicas (saturnismo) ao uso de pinturas a base de chumbo; Ulrich

Ellembog que publicou, no século XV, obras relacionadas à higiene do trabalho.

O setor da Indústria da Construção Civil (ICC) sempre foi marcado pela alta taxa de

informalidade e baixo nível de instrução da maioria dos funcionários envolvidos. Também se

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pode destacar a não existência no passado de órgãos relacionados à Saúde e Segurança do

Trabalhador, em que a primeira legislação que cita a obrigatoriedade de declarações e

indenizações relacionadas a acidentes foi criada apenas em 1919, e só começaram a ser

“efetivamente cobradas” com a promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)

em 1943. Essa evolução é detalhadamente descrita no item 3.1 do presente trabalho.

O processo de industrialização e a crescente urbanização modificaram o panorama da relação

capital-trabalho. Emergindo o movimento sindical, começou a expressar o controle social que a

força de trabalho necessitava. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias, incorporadas aos novos

processos de trabalho, geravam riscos que culminavam em acidentes de trabalho e doenças

profissionais (FRIAS JUNIOR, 1999).

Outros aliados ao crescimento dos números de acidentes de trabalho na ICC foram os

fatores sócio-culturais mais valorizados no passado, e muitos deles, infelizmente, ainda

presentes. Também se pode citar o não conhecimento dos riscos associados a determinadas

situações presentes no canteiro de obras.

Um exemplo em que fica bem evidente a falta de cultura prevencionista relacionada a

Saúde e Segurança na ICC é a construção do edifício Empire State, situado em Manhattan na

cidade de Nova Iorque. Devido à grande popularidade do edifício em questão, fotos foram

feitas ao longo da obra, e involuntariamente retrataram situações de risco.

As figuras 3 e 4 são fotos tiradas por Lewis H. Hine durante a construção do Empire

State. As imagens refletem o perigo diário e falta de medidas de segurança vividas pelos

funcionários da época, visto que não existem equipamentos de proteção coletiva,

equipamentos de proteção individual (EPI), dentre outras medidas preventivas. Tais situações

eram recorrentes devido à falta de informação e medidas reguladoras. Atualmente, em regiões

menos fiscalizadas, ainda ocorrem situações semelhantes.

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Figura 3 - Construção Empire State – Situação 1 (Fonte: Hine , 1977)

Figura 4 - Construção Empire State - Situação 2 (Fonte: Hine, 1977)

No início do século XX, próximo ao término da I Guerra Mundial, foi criada a

Conferência de Legislação Internacional do Trabalho, com a finalidade de realizar estudos

iniciais para a “regulamentação internacional do trabalho”. A dita Comissão foi constituída

com representantes dos Estados Unidos da América, da França, da Inglaterra, do Japão, da

Bélgica, da Itália, da Checoslováquia, da Polônia e de Cuba. (SOUZA, 2006).

De acordo com Souza (2006), vários projetos foram apresentados por alguns Estados,

como a Inglaterra, a França e a Itália, inclusive com enfoques diferentes. Destaca-se que a

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Comissão tomou por base para a discussão o projeto que havia sido apresentado pela

delegação inglesa, o qual dispunha sobre a criação de um organismo tripartite, constituído de

representantes governamentais, patronais e operários, que votariam individualmente e

independentemente. No dia 24 de março de 1919 o projeto aprovado pela conferência, mas

com pequenas alterações, passou a constituir a Parte XIII do tratado de Versailles. Em seguida

a Conferência adotou o texto completo do Tratado da Paz, em que sua primeira sessão tinha

como título a OIT. Vale ressaltar que, de acordo com o art. 387 do Tratado de Versailles, são

membros fundadores da OIT todos os 29 países signatários do pacto e que o ratificaram,

dentre eles o Brasil.

Pouco antes da fundação da OIT, no Brasil, no dia 15 de janeiro de 1919 a legislação

brasileira começou a abordar a Saúde e Segurança no Trabalho através do Decreto nº 3.274,

que será abordado no item 3.1. Também no item 3.1 há a evolução da legislação de Saúde e

Segurança no Brasil, detalhando as etapas que culminaram nas atuais Normas

Regulamentadoras (NR).

Apenas em 08/06/78 a Portaria 3.214 do Ministério do Trabalho e Emprego aprova as

Normas Regulamentadoras (NR). Inicialmente foram 28 normas. Posteriormente, a partir de

novas demandas de regulamentação, criaram-se outras 8 NR‟s (NR-29 a NR-36). Vale

destacar que as NR‟s são regularmente atualizadas conforme demanda e aprovação pela

comissão Tripartide, a exemplo das NR-1, NR-5 e NR-18, ou mesmo revogadas, como a NR-

27. Mais detalhes sobre as NR‟s são abordados no item 3.1 do presente trabalho.

2.3 SITUAÇÃO ATUAL

A indústria de construção civil lidera rankings de números de acidentes de trabalho

historicamente devido a diversos fatores sócio-culturais.

De acordo com a publicação da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e

Medicina no Trabalho (FUNDACENTRO) em relação ao informe de previdência social, de

julho de 2011, volume 23, número 7, página 6:

Em 2010, a Comissão Tripartide de Saúde e Segurança no

Trabalho elaborou o texto contendo a proposta de Política Nacional de

Saúde e Segurança do Trabalhador e a submeteu à apreciação do Poder

Executivo. Da Política Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador

derivarão o Plano Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador e o

Programa Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador.

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A Comissão Tripartide de Saúde e Segurança no Trabalho estruturou,

ainda, dois grupos setoriais: de Transporte Rodoviário de Cargas e

de Construção. A proposta é que estes grupos setoriais elaborem

planos de ação a fim de estabelecer iniciativas imediatas da redução de

acidentes graves e fatais, pois estudos apontam que essas duas áreas detêm

as primeiras posições do ranking nacional em aposentadorias por

invalidez e óbitos decorrentes de acidentes e doenças do trabalho.

Vale destacar que os dados levantados pela FUNDACENTRO são resultado de acidentes

notificados. De acordo com Benite (2004), devido à existência de uma cultura de

subnotificação no Brasil, os números podem ser bem maiores. Nesse sentido, algumas

características específicas das legislações contribuem para a subnotificação por não exigirem

notificação de diversos acidentes relacionados ao trabalho, como o que ocorre no Brasil em

relação aos acidentes envolvendo trabalhadores informais e outros contratados de formas

alternativas, como as que ocorrem na área rural entre cooperados e autônomos.

Dentre os fatores sócio-culturais contribuintes para ocorrência de acidentes podem-se

destacar o histórico de informalidade do setor em obras de pequeno porte, a falta de cultura de

segurança aliada à cultura machista que “repele” o uso de EPI‟s, a falta de fiscalização no

setor quanto à segurança e saúde no trabalho e a dificuldade de padronização dos processos

devido a mudança constante dos ambientes de trabalho com a evolução da obra, que dificulta

a criação de meios de prevenção de acidentes.

Takahashi et al (2012) explicita que organizações de trabalho da ICC são caracterizadas

por: precarização, terceirização, fragilidade dos vínculos empregatícios, alta rotatividade,

baixos níveis de escolaridade e baixos salários. Tais características apresentam-se como

obstáculos às ações de vigilância em saúde do trabalhador.

As ações tradicionais de vigilância resumem-se à verificação dos riscos, tendo como

referência o trabalho prescrito, “o jeito certo de fazer”, ou seja, o procedimento normatizado,

preferencialmente pelas Normas Regulamentadoras (NR) do Ministério do Trabalho (assunto

abordado com mais detalhes no capítulo 3 do presente trabalho). Desse modo, as ações

educativas em Saúde do Trabalhador, advindas desta concepção, voltam-se para o

aprendizado de regras de conduta e procedimentos de segurança, o que se mostra pouco eficaz

e requer a incorporação de novos metodologias e conteúdos para a formação de agentes

multiplicadores de saúde e segurança na construção civil (TAKAHASHI et al., 2012).

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De acordo com Santana e Oliveira (2004), trabalhadores da construção civil mostram

estágios mais avançados de precarização do trabalho que os demais trabalhadores,

evidenciados pela maior proporção de trabalhadores informais, sem contrato assinado em

carteira, bem como trabalhadores que subsistem por meio de “bicos”.

Contribuindo para a precarização do trabalho na ICC, de acordo com Oliveira (2004), as

construtoras, com o objetivo de reduzir o custo do trabalho e maximizar a eficácia produtiva,

implantaram medidas de descentralização de um número crescente de tarefas, em condições

precárias e menos protegidas, criando em cascata um segundo mercado de trabalho sem

direitos trabalhistas e previdenciários, em que os riscos de acidentes de trabalho e doenças

profissionais tornam-se ainda maiores para os terceirizados (formais), para os trabalhadores

informais e para os biscateiros.

A dinâmica das empresas em relação às subcontratações ocorre da seguinte forma:

No canteiro de obras, diferentes empresas atuam em conjunto. As empreiteiras realizam a

subcontratação de pequenas empresas ou mão de obra direta, à margem da legislação

trabalhista. A construtora principal assina o projeto e torna-se uma mera gerenciadora do

empreendimento. A rotatividade de mão de obra é proposital: no final de cada etapa da

construção, há uma dispensa coletiva de trabalhadores que voltam a ser contratados em etapas

posteriores (Oliveira, 2004).

Além dos prejuízos sociais, também se pode destacar os altos custos gerados por

acidentes de trabalho, sejam eles diretos através de indenizações, medicamentos e

tratamentos, como os indiretos através de dias perdidos de trabalho e outros custos mais

difíceis de serem contabilizados.

De acordo com Pastore (2011), estima-se que a sociedade brasileira gastou em torno de

71 bilhões de reais com acidentes e doenças no trabalho frente aos 800 bilhões pagos em

salários no mesmo ano (em torno de 9%). Desses 71 bilhões, 41 bilhões foram oriundos de

gastos das empresas, resultados de: tempo perdido com acidentes e doenças, as despesas com

os primeiros socorros, a destruição de equipamentos e materiais, a interrupção da produção, o

retreinamento de mão de obra, a substituição de trabalhadores, o pagamento de horas-extras, a

recuperação dos empregados, os salários pagos aos trabalhadores afastados, as despesas

administrativas e os gastos com medicina e engenharia de reparação. Além desses, Pastore

destaca que existem custos menos óbvios como adicional que trabalhadores exigem para

trabalhar em condições perigosas. Os governos estabelecem hierarquias de riscos nas diversas

empresas que, por sua vez, implicam em pagamento de prêmios mais altos nos seguros de

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acidentes ou adicionais de risco. Também se podem citar os custos relativos à perda de

imagem da empresa no mercado em que atua, visto que acidentes recorrentes “espantam” os

consumidores e atrai a atenção de autoridades responsáveis por zelar pelo cumprimento dos

padrões de segurança. Outros 14 bilhões de reais foram relativos a gastos da Previdência

Social com o pagamento de benefícios acidentários e aposentadorias especiais. Por fim,

Pastore justifica os outros 16 bilhões por meio de custos ao trabalhador acidentado e sua

família, na forma de redução de renda, interrupção do emprego de familiares, gastos com

acomodação no domicílio, dentre outros.

O relatório Estudo de SST da Câmara Brasileira da Indústria da Construção de 2015

publica um quadro, apresentado nesse trabalho como tabela 1, que explicita os dias perdidos

de trabalho devido a acidentes de trabalho na Construção Civil comparando aos totais em

relação aos outros setores da economia.

Tabela 1- Quadro de dias perdidos de trabalho devido a acidentes de trabalho (Fonte: Santana et al., 2015)

Na tabela 1 a coluna denominada de “Nº” representa o valor absoluto de dias de trabalho

perdidos, somados o de todos os trabalhadores. A coluna “mediana” representa a mediana do

número de dias perdidos por afastamento por trabalhador. De acordo com o autor, a mediana

foi usada devido à grande assimetria de distribuição de dados. Vale ressaltar que esses valores

correspondem apenas à parcela de trabalhadores segurados que receberam benefícios para

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afastamento temporário, excluindo-se o mercado informal, que tem grande participação na

Construção Civil.

Os dados de dias perdidos de trabalho devido a acidentes na construção civil, quando

comparados com os dias perdidos de trabalho de todos os setores, mostram-se expressivos e

com grande significância, representando entre 7% e 10% do total (excetuando-se 2005).

No Brasil, em um estudo sobre as despesas com acidentes de trabalho de pacientes

atendidos em serviços de emergência de dois hospitais públicos de Salvador, em 2005,

estimou-se que a maior parte das despesas (custos diretos – consultas, reabilitação, curativos,

aquisição de medicamentos, transporte para serviços de saúde etc.) foi de responsabilidade da

família (70,5%), seguido pelo Sistema Único de Saúde (17%) e empresas, cuja maior

participação foi para os acidentes leves (17%), em comparação com os graves (4,5%),

situação na qual a participação do acidentado e sua família foi ainda maior (77%). À época, o

custo mediano estimado de casos graves foi de R$ 496,00 e de R$ 87,90. Devido à

heterogeneidade dos tratamentos e, em especial, da sua duração, esses dados são limitados e

restringem-se a despesas estimadas do Sistema Único de Saúde, desde que não foram

examinados casos atendidos em hospitais privados (Santana et al., 2007).

Na tabela 2 são apresentados os valores de despesas mensais previdenciárias gastos com

benefícios temporários por acidentes de trabalho. Vale destacar que tais custos são relativos a

apenas acidentes de trabalho não fatais.

Tabela 2 - Quadro de despesas mensais com benefícios por AT não fatais (Fonte: Santana et al., 2015)

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Os valores indicados na coluna denominada “valor mensal” são relativos à média mensal

gasta com acidentes de trabalho para o setor no ano em questão (1/12 do valor anual). Na

coluna denominada “mediana por benefício mensal” os valores indicados correspondem a

mediana dos valores desempenhados a indenização de um trabalhador por mês devido a

acidentes de trabalho não fatais no setor. Valores gastos com indenizações por acidentes fatais

não estão incluídos na tabela.

Vale destacar que, similar a tabela de dias perdidos por acidentes de trabalho, a tabela

com gastos relativos à acidentes de trabalho não fatais corresponde apenas a parcela segurada

que trabalha com registro formal. Outro fator importante a ser observado é que, de acordo

com estudos realizados em 2007 por Santana et al, esses valores correspondem apenas a 17%

das despesas, visto que em torno de 70,5% das despesas foi de responsabilidade da família do

acidentado.

De acordo com Iriart et al (2008), para os trabalhadores da construção civil, a consciência

dos riscos de acidentes presentes no trabalho é muito forte. Foram identificados riscos

diversos, tais como: ser atingido por objetos, carregar peso, contato com substâncias tóxicas e

objetos perfurocortantes, além do risco de queda. Entre os problemas de saúde decorrentes do

trabalho, foram citados os de coluna, os respiratórios em consequência da inalação de poeira e

cheiro de tinta, hérnia, dores musculares, dores nas pernas e corrosão das mãos na

manipulação de cimento. Outros riscos citados foram trabalhar em ambiente insalubre e em

local inseguro (sujeito a deslizamento de terra). No entanto, o risco de acidente no trabalho na

construção civil é percebido como intrínseco à ocupação, o que leva alguns trabalhadores a

naturalizá-lo. A distinção feita entre acidentes de trabalho “graves” e acidentes ditos

“normais” remete à naturalização dos pequenos acidentes e incidentes que ocorrem no dia-a-

dia, tais como “arranhões, marteladas e talhozinhos”. De acordo com o autor, para os

trabalhadores o acidente, para ser considerado “grave”, tem que impedir o trabalhador de

continuar desempenhando sua atividade.

A fim de melhorar as estatísticas e auxiliar empresas e trabalhadores quanto ao

cumprimento dos requisitos para que se tenham condições de saúde e segurança na ICC, ações

são tomadas por meio do sistema tripartite no Brasil. De acordo com Júnior et al (2005), as

principais ações na área de segurança e saúde no trabalho na indústria da construção no Brasil

são:

a) Ações de organizações empresariais realizadas por meio das instituições:

a.1) Confederação Nacional das Indústrias;

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a.2) Serviço Social da Indústria;

a.3) Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial;

a.4) Serviço Social da Indústria da Construção Civil - SECONCI;

a.5) Câmara Brasileira da Indústria da Construção;

a.6) Sindicatos da Indústria da Construção Civil - SINDUCON.

Das instituições citadas, o SECONCI foi criado para atender especificamente ao

segmento da construção. É uma entidade sem fins lucrativos, que tem por objetivo a qualidade

de vida dos trabalhadores da construção civil, bem como sua saúde e bem-estar. Além dos

trabalhos desenvolvidos nas áreas de Medicina, Odontologia e Educação, o SECONCI

organiza palestras nos canteiros de obras, promove campanhas de caráter educativo e

preventivo e programas de saúde e segurança (JÚNIOR et al, 2005).

Com o objetivo de auxiliar construtores, o SECONCI-RIO realiza a preço de custo todos

os programas exigidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego e Ministério da Previdência

Social. Dentre os programas realizados, têm-se: Programa de Controle Médico e Saúde

Ocupacional (PCMSO), Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA), Programa de

Condições e Meio Ambiente de Trabalho (PCMAT), Perfil Profissiográfico Previdenciário,

Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho e Assessoria em Segurança no

Trabalho.

b) Ações de organizações sindicais realizadas por meio das instituições:

b.1) Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria;

b.2) Sindicatos dos Trabalhadores da Indústria da Construção – SINTRACONST;

b.3) Instituto Nacional de Saúde no Trabalho da Central Única dos Trabalhadores;

b.4) Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de

Trabalho das Centrais Sindicais;

c) Ações governamentais realizadas por meio das instituições do Ministério do Trabalho

e Emprego:

c.1) Departamento de Segurança e Saúde no Trabalho;

c.2) Delegacia Regional do Trabalho;

c.3) Fundação Jorge Duprat e Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho –

FUNDACENTRO

Com relação aos sindicatos citados, estes serão abordados no item 3.3 do presente

trabalho com mais detalhes quanto as suas funções, participações, dentre outros.

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3. REQUISITOS LEGAIS DE SST APLICADOS A CONSTRUÇÃO CIVIL

3.1 LEGISLAÇÃO DE SAÚDE E SEGURANÇA NO BRASIL

Historicamente, a legislação brasileira começou a abordar o tema de Saúde e Segurança

no trabalho em 15 de janeiro de 1919 com o Decreto nº 3.724, que regula as obrigações

resultantes dos acidentes de trabalho, iniciando pela definição do termo, em seguida trata

sobre indenizações, declarações de acidentes e finalizando com ações judiciais que seriam

tomadas nesses casos. Nesse mesmo ano foi criado a OIT.

Em 01/05/43 a CLT foi aprovada pelo decreto Lei n°5452. Em seu Título II, capítulo V,

aborda o tema Higiene e Segurança no Trabalho e especifica medidas que devem ser adotadas

em relação ao ambiente e condições de trabalho, visando melhores condições aos

trabalhadores. Em 22/12/77 a Lei n° 6514 modificou o Capitulo V do Título II da CLT.

Em 10/11/44 institui-se o Decreto Lei n° 7036, que a partir do título II, capítulo V da

CLT, objetiva maior entendimento à matéria e agiliza a implementação dos dispositivos

referentes a Segurança e Higiene do Trabalho, além de garantir a “Assistência Médica,

hospitalar e farmacêutica” aos acidentados e indenizações por danos pessoais por acidentes.

Este Decreto Lei, em seu artigo 82 criou a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de

Acidentes). Tal lei foi revogada pela Lei nº 6.367, de 1976.

Art. 82 Os empregadores, cujo número de empregados seja superior a

100, deverão providenciar a organização, em seus estabelecimentos, de

comissões internas, com representantes dos empregados, para o fim de

estimular o interêsse pelas questões de prevenção de acidentes, apresentar

sugestões quanto à orientação e fiscalização das medidas de proteção ao

trabalho, realizar palestras instrutivas, propor a instituição de concursos e

prêmios e tomar outras providências, tendentes a educar o empregado na

prática de prevenir acidentes.

Em 27/11/53 Decreto Lei n° 34715 institui a Semana de Prevenção de Acidentes do

Trabalho, e responsabiliza o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio pela sua realização.

Art. 1º Fica instituída a Semana de Prevenção de Acidentes do

Trabalho, a ser comemorada em todo o País na 4ª semana do mês de

novembro de cada ano.

Art. 2º Caberá ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, pela sua

Divisão de Higiene e Segurança do Trabalho, promover a realização da

Semana referida no artigo anterior.

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Em 21/10/66 a Lei n° 5161 autoriza a instituição da FUNDACENTRO, que objetiva o

estudo de problemas relacionados a Segurança e Saúde no trabalho e dá outras providências.

Art 1º Fica o Poder Executivo autorizado a instituir uma Fundação

destinada à criação e manutenção de um Centro Nacional de Segurança,

Higiene e Medicina do Trabalho, que terá por objetivo principal e genérico a

realização de estudos e pesquisas pertinentes aos problemas de segurança,

Higiene e medicina do trabalho.

Em 14/09/67 a Lei n° 5316 que Integra o seguro de acidentes do trabalho na previdência

social, e dá outras providências. Também em 1967 surge a sexta lei de acidentes de trabalho, e

identifica doença profissional e doença do trabalho como sinônimos e os equipara ao acidente

de trabalho. No entanto, tal lei foi revogada pela Lei nº 6.367, de 1976.

Em 25/07/72 o Decreto n° 70861 de 25/07/72 estabeleceu a prioridade da Política do

Programa Nacional de Valorização do Trabalhador. A Portaria 3237 do Ministério do

Trabalho e Emprego de 27/07/72 criou os serviços de Segurança, Higiene e Medicina do

Trabalho nas empresas. Foi o “divisor de águas” entre a fase do profissional espontâneo e o

legalmente constituído. Esta portaria criou os cursos de preparação dos profissionais da área.

A Portaria 3237 foi revogada pela Portaria nº 2.982 de 26 de novembro de 2009, que aprova

as normas de execução e financiamento da Assistência Farmacêutica na Atenção Básica.

Em 08/06/78 a Portaria 3214 do Ministério do Trabalho e Emprego aprovou a criação

das Normas Regulamentadoras, aproveitando e ampliando as portarias existentes e Atos

Normativos, adotados até na construção da Hidrelétrica de Itaipu. Na ocasião foram criadas

28 NR‟s. Essa portaria representou um dos principais impulsos dados a área de Segurança e

Medicina do Trabalho nos últimos anos. As 28 NR‟s iniciais foram:

NR - 1 - Disposições Gerais (Alterada em 2009 em que o termo Ato Inseguro é retirado

do item 1.7).

NR - 2 - Inspeção Prévia

NR - 3 - Embargo e Interdição

NR - 4 - Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho - SESMT

NR - 5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes- CIPA (Alterada pela Portaria n°

33 em 1983, introduzindo nela os riscos ambientais).

NR - 6 - Equipamento de Proteção Individual - EPI

NR - 7 - Exames Médicos

NR - 8 - Edificações

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NR - 9 - Riscos Ambientais

NR - 10 - Instalações e Serviços de Eletricidade

NR - 11 - Transporte, Movimentação, Armazenagem e Manuseio de Materiais

NR - 12 - Máquinas e Equipamentos

NR - 13 - Vasos Sob Pressão

NR - 14 - Fornos

NR - 15 - Atividades e Operações Insalubres

NR - 16 - Atividades e Operações Perigosas

NR - 17 - Ergonomia

NR - 18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção (Revisada

em 4 de julho de 1995).

NR - 19 - Explosivos

NR - 20 - Combustíveis Líquidos e Inflamáveis

NR - 21 - Trabalhos a Céu Aberto

NR - 22- Trabalhos Subterrâneos

NR - 23 - Proteção Contra Incêndios

NR - 24 - Condições Sanitárias dos Locais de Trabalho

NR - 25 - Resíduos Industriais

NR - 26 - Sinalização de Segurança

NR - 27 - Registro de Profissionais (Revogada pela Portaria n.º 262, 29/05/2008)

NR - 28 - Fiscalização e Penalidades.

Em 27/11/85 a lei n° 7410 oficializou a especialização em Engenharia de Segurança do

Trabalho para Engenheiros e Arquitetos e criou a categoria profissional de Técnico em

Segurança do Trabalho. Tal lei estabelece a exclusividade das funções aos cargos

relacionados.

Em 1991 a Lei 8.213 estabelece o conceito legal de Acidente de Trabalho e de Trajeto. e

nos artigos 19 a 21 e no artigo 22 também estabelece a obrigação da empresa em comunicar

os Acidentes do Trabalho as autoridades competentes. Foi posteriormente alterado pelo

Decreto nº 611, de 21 de julho de 1992, e novamente revogado pela lei complementar nº 150

de 2015.

Art. 22. A empresa ou o empregador doméstico deverão comunicar o

acidente do trabalho à Previdência Social até o primeiro dia útil seguinte ao

da ocorrência e, em caso de morte, de imediato, à autoridade competente,

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sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o limite máximo do

salário de contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências,

aplicada e cobrada pela Previdência Social.

Posteriormente, a Comissão Tripartide criou outras NR‟s conforme demanda dos setores

produtivos e casos gerais com suas respectivas necessidades de regulamentações. Foram

criadas oito NR‟s (29 a 36) após a primeira regulamentação de 1978, e vale ressaltar que todas

são periodicamente revisadas e, quando necessário, criadas novas.

NR - 29 - Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho Portuário

NR - 30 - Segurança e Saúde no Trabalho Aquaviário

NR - 31 - Segurança e Saúde no Trabalho na Agricultura, Pecuária Silvicultura,

Exploração Florestal e Aquicultura

NR - 32 - Segurança e Saúde no Trabalho em Estabelecimentos de Saúde

NR - 33 - Segurança e Saúde no Trabalho em Espaços Confinados

NR - 34 - Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção e

Reparação Naval

NR - 35 - Trabalho em Altura

NR - 36 – Segurança e Saúde no Trabalho em Empresas de Abate e Processamento de

Carnes e Derivados

Dentre as leis anteriormente citadas, cabe aos responsáveis pela gestão de Segurança e

Saúde o entendimento do empreendimento em construção e a partir disso aplicar as leis e

normas demandadas para cada tipo de serviço e etapa da obra.

Das NR‟s descritas, podem-se destacar as NR-18 e NR-35 como as relacionadas mais

intrinsecamente com a Construção Civil, visto que tratam de Condições e Meio Ambiente de

Trabalho na Indústria da Construção e Trabalho em Altura (acima de 2m do nível inferior,

onde haja risco de queda), respectivamente.

Como o próprio texto da NR-18 explica, esta norma “estabelece diretrizes de ordem

administrativa, de planejamento e de organização, que objetivam a implementação de medidas

de controle e sistemas preventivos de segurança nos processos, nas condições e no meio

ambiente de trabalho na Indústria da Construção”. Tal norma, além de ter exigências próprias

relacionadas exclusivamente IC, também cita outras NR‟s que devem servir de parâmetros

para outras atividades, como exemplificado abaixo retirado do item 18.6.16 da NR-18:

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“Na execução de escavações e fundações sob ar comprimido, deve ser obedecido o

disposto no Anexo no 6 da NR 15 - Atividades e Operações insalubres”

Além das exigências físicas da NR-18 em relação às instalações da obra, também são

descritos os treinamentos necessários aos trabalhadores e os documentos necessários a cada

etapa, detalhados quanto às informações que devem conter neles, prazos a serem cumpridos e

locais em que devem ser apresentados (órgãos fiscalizadores responsáveis). À exemplo tem-se

o item 18.3 que trata do Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da

Construção – PCMAT, e em seus sub-itens descrevem os documentos que o integram e locais

em que devem ser mantidos.

A NR-35 “estabelece os requisitos mínimos e as medidas de proteção para o trabalho em

altura, envolvendo o planejamento, a organização e a execução, de forma a garantir a

segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos direta ou indiretamente com esta atividade”,

como descrito no item 35.1.1. Tal norma engloba a maioria dos serviços da ICC visto que se

considera trabalho em altura toda atividade executada acima de 2 metros do nível inferior,

sempre que houver risco de queda. Em seu escopo, após a definição dos objetivos, distinguem

as responsabilidades de ambas as partes (empregador e empregado) e os treinamentos

necessários ao cumprimento da norma. Também exige a documentação e arquivamento da

Análise de Risco e da Permissão de Trabalho, documentos que são descritos no escopo da

norma quanto as suas características e exigências.

Vale ressaltar que as Leis e NR‟s anteriormente explicitadas têm caráter obrigatório

quanto as suas aplicações, e como descrito em boa parte delas, tem multas e indenizações

aplicadas ao não cumprimento delas.

3.2 NORMAS TÉCNICAS DA ABNT

A partir de pesquisa no Catálogo de Normas Técnicas Edificações de Março de 2017

elaborado pelo SINDUSCON-MG, relacionam-se as seguintes Normas Brasileiras da ABNT

(NBR) a Segurança no Trabalho:

NBR 6494 – Segurança nos Andaimes: Elaborada em agosto de 1990, esta Norma

estabelece as condições exigíveis de segurança dos andaimes quanto à sua condição estrutural,

bem como de segurança das pessoas que neles trabalham e transitam. Esta Norma se aplica

tanto para aos andaimes que servem para auxiliar o desenvolvimento vertical das construções,

como para aqueles que operam em construções já elevadas para efeito de reparos, reformas,

acabamentos, pinturas, torres de acesso, outros.

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NBR 7195 – Cores para Segurança: Elaborada em junho de 1995, esta Norma estabelece

as cores que devem ser usadas para prevenção de acidentes, empregadas para identificar de

advertir riscos. No entanto, a indicação dos riscos por meio de cores não dispensa o emprego

de outras formas de prevenção de acidentes, explicitando que outras normas devem ser

consultadas em parcimônia.

NBR 7678 – Segurança na execução de obras e serviços de construção: Elaborada em

janeiro de 1983, esta Norma estabelece as condições exigíveis de segurança e higiene em

obras e serviços de construção e os procedimentos e medidas, de caráter individual e coletivo,

para manutenção dessas condições na execução de tarefas específicas. Também explica em

seu objetivo que tem com finalidade servir às autoridades que tenham jurisdição sobre

trabalhos da ICC, de um modo geral e aos interessados na prevenção de acidentes de trabalho.

NBR 12284 – Áreas de vivência em canteiros de obras – Procedimento: Elaborada em

setembro de 1991, esta Norma estabelece os critérios mínimos para a permanência de

trabalhadores nos canteiros de obras (alojados ou não). Nela constam características físicas

das áreas de vivência, desde as dimensões mínimas para cada ambiente até os materiais

especificados para cada ambiente, dispositivo, dentre outros.

NBR 12543 – Equipamentos de proteção respiratória – Terminologia: Elaborada em

setembro de 1999, esta Norma define os termos empregados em equipamentos de proteção

respiratória, bem como os necessários à sua seleção e uso, e classifica os riscos respiratórios

onde o uso de equipamentos de proteção respiratória pode ser necessário, e os equipamentos

de proteção respiratória de acordo com seu projeto.

NBR 14280 – Cadastro de acidente do trabalho – Procedimento e classificação:

Elaborada em fevereiro de 2001, esta norma estabelece critérios para registro, comunicação,

estatística, análise e investigação de acidentes do trabalho, suas causas e conseqüências,

aplicando-se a quaisquer atividades laborativas.

NBR 14787 – Espaço confinado – Prevenção de acidentes, procedimentos e medidas de

proteção: Elaborada em dezembro de 2001, esta norma estabelece os requisitos mínimos para

a proteção dos trabalhadores e do local de trabalho contra os riscos de entrada em espaços

confinados. Em suas referências, cita as NR-7 e NR-15, já citadas anteriormente no presente

trabalho.

NBR NM 213-2 – Segurança de máquinas – Conceitos fundamentais, princípios gerais de

projeto – Princípios técnicos e especificações: Elaborada em janeiro de 2000, esta norma

define princípios técnicos e especificações destinadas a auxiliar os projetistas e os fabricantes

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a integrarem a segurança no projeto de máquinas de uso profissional e não profissional.

Também podem ser aplicadas em outros produtos técnicos que provoquem perigos

semelhantes.

NBR 15595 – Acesso por corda – Procedimento para aplicação do método – Elaborada

em novembro de 2016, esta norma foi desenvolvida para estabelecer regras e orientar

profissionais e empresas que utilizam os métodos de acesso por corda.

Além dessas citadas no Catálogo de Normas Técnicas Edificações, foi lançada

recentemente NBR – 16577 em Abril de 2017.

NBR 16577 – Espaço Confinado – Prevenção de Acidentes, procedimentos e medidas de

proteção – Estabelece os requisitos para identificar, caracterizar e reconhecer os espaços

confinados.

Vale ressaltar que as normas técnicas em questão são apenas recomendações da ABNT

para auxiliar os gestores, não sendo de caráter obrigatório como as Leis e Normas

Regulamentadoras explicitadas anteriormente no tópico 3.1 deste presente trabalho.

3.3 SINDICATOS E SUAS PARTICIPAÇÕES

Tendo como base a cidade do Rio de Janeiro, existem os seguintes sindicatos

relacionados à IC com suas respectivas atribuições:

O SINDUSCON-RIO – Sindicato da indústria da construção civil do estado do Rio de Janeiro

(Sindicato Patronal – Empresas) – Sindicato Patronal da ICC, de acordo com informações

fornecidas no site do sindicato, enfatiza a preocupação de provocar o crescimento das

empresas associadas, cumprindo um leque de ofertas de serviços e produtos que levem à

consolidação técnica e social de suas iniciativas. Sua função oficial segue atribuições

definidas por lei que o tornam representante legal das empresas de Construção no Estado do

Rio de Janeiro e interlocutor das empresas da ICC do Estado do Rio de Janeiro com o

SINTRACONST – RJ (sindicato dos trabalhadores, abordado posteriormente neste item),

entidades empresariais de nível estadual e nacional e instituições governamentais. Dentre as

suas comissões técnicas, a Comissão de Política e Relações do Trabalho que é responsável

pela análise dos assuntos referentes à política de relações do trabalho no setor da construção

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civil. Dentre os guias produzidos pelo Comissão de Política e Relações do Trabalho podem-se

destacar os seguintes relacionados à Segurança e Saúde na IC: Guia para gestão de segurança

nos canteiros de obra; Guia orientativo de incentivo a formalidade; Guia orientativo áreas de

vivência e Guia orientativo de Segurança. Em relação às ações no campo social e trabalhista,

dedica-se a saúde e qualificação dos trabalhadores através do Seconci-Rio.

O Seconci – Rio – Serviço Social da Indústria da Construção do Rio de Janeiro é uma

associação civil, sem fins lucrativos, financiada e gerenciada pelos empresários da

construção do Rio de Janeiro (SINDUSCON-RIO), através da contribuição mensal de 1%

sobre a folha de pagamento. Dentre os serviços prestados relacionados à Segurança no

Trabalho pelo órgão, em 2016 foram elaborados 335 PCMAT/PPRA, realizado

Treinamento Admissional de 3436 trabalhadores, 38.355 trabalhadores abrangidos pelo

PCMAT/PPRA e 15.490 trabalhadores em atividades educativas de SST. Também se

podem citar as campanhas de caráter social, como: a “Viva +” que ajuda a empresa na

redução do número de faltas provenientes de estresse, doenças e vícios através de

palestras, jogos e oficinas; o Programa “Reconstruir” que através de vídeo aulas ensina e

estimula atividades relacionadas a empreendedorismo no setor, formalização, orçamento

de obras e planos de negócios; dentre outras que incentivam os mais variados temas, como

saúde pública e preservação do meio ambiente. Além das campanhas, o Seconci-rio

promove eventos como: “Café Legal” que tem por objetivo manter os profissionais de

SST atualizados quanto as NR do Ministério do Trabalho; “Encontro de Mestres e

Encarregados” que tem por objetivo integrar e atualizar os Mestres e Encarregados em

temas relevantes para o setor; “Dia Nacional da Construção Social” que promove ações de

lazer, saúde, educação e cidadania em um mesmo local; e o “Prêmio Vitae-Rio”.

O Prêmio Vitae-Rio – Construção Segura, Empresa Viva – foi criado com o objetivo

de aumentar a visibilidade aos padrões de Excelência em saúde e segurança das empresas

de construção. De acordo com cartilha do Prêmio Vitae-Rio (PITTA & AGUIAR, 2016):

O prêmio é a legitimação pública das empresas que mantêm sistemas de

gestão de Saúde e Segurança Ocupacional e evidenciam ações eficazes de

monitoração contínua e de prevenção e gestão de um banco de dados para

consulta dos indicadores reativos e a divulgação das boas práticas

implementadas, de forma que sejam disponibilizados referenciais de

excelência em Saúde e Segurança Ocupacional para o setor.

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O prêmio tem foco na qualidade de vida dos trabalhadores, no fortalecimento da

responsabilidade social corporativa, na melhoria contínua das condições de Saúde e

Segurança Ocupacional e na redução dos riscos aos profissionais do setor.

O SINTRACONST – RJ – Sindicato dos trabalhadores nas indústrias da construção

civil do município do rio de janeiro - Sindicato dos trabalhadores da ICC, de acordo com

informações extraídas do site do sindicato, é dividido em 9 departamentos, sendo eles:

Apoio Social, Arrecadação, Aposentados da Construção Civil, Segurança do Trabalho,

Sócio Cultural, Assessoria Jurídica, Previdência Social, Feminino e Grupo de Estudos de

Segurança e Medicina do Trabalho na Construção Civil. O Departamento de Segurança do

Trabalho realiza visitas diárias a obras da cidade, e de acordo com o site do Sindicato, tais

visitas possibilitaram relevante diminuição no número de acidentes de trabalho, através da

conscientização dos trabalhadores e empregados. As equipes de visita verificam o

cumprimento da convenção coletiva de trabalho (conquistas salariais e cláusulas sociais) e

pontos relativos à segurança do trabalho e à saúde dos trabalhadores nos canteiros de

obras. Realizam retornos mediante irregularidades nos canteiros de obras e outros locais

de trabalho, além de palestras sobre direitos trabalhistas, saúde segurança do trabalho nas

empresas.

O setor de construção pesada é representado nacionalmente pelo sindicato patronal

SINICON – Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada – Infraestrutura, e no

caso do estado do Rio de Janeiro pelo sindicato dos trabalhadores SITRAICP – Sindicato

dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada.

O SINICON, de acordo com informações do site do sindicato, é a mais antiga

organização que representa, em caráter nacional, as empresas da atividade econômica da

construção pesada da ICC. O Sindicato possui em torno de 450 empresas filiadas, das

quais 104 são associadas mantenedoras. Dentre as atividades desenvolvidas pelo

sindicato, destaca-se a realização de seminários e simpósios, apoio a projetos de leis e

demais normas do interesse da categoria, participação em audiências públicas promovidas

pelas Autarquias, Congresso Nacional e Executivo, no que dizem respeito à sua

representação, além de ter participação garantida no Conselho Temático de Infra-Estrutura

da Confederação Nacional das Indústrias e nos conselhos de Representantes das

respectivas Federações Estaduais. Através do SINICON empresas afiliadas podem ter

acesso a assistências jurídica (questões referentes a licitações, concessões, contratos

administrativos, assessoria tributária, direito econômico, direito comercial, direito coletivo

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do trabalho e direito constitucional) e trabalhista (negociações coletivas de trabalho

empreendidas com os sindicatos das categorias profissionais correspondentes ás áreas de

sua representação e participa de diversas Comissões Técnicas instituídas pelo Governo,

fazendo-se ouvir na alteração e regulamentação da legislação trabalhista em seus vários

níveis de aplicabilidade).

O SITRAICP, de acordo com informações do site do sindicato, participa

representando trabalhadores da construção pesada, construção de estradas, pavimentação e

obras e terraplanagens em geral, construções de pontes, portos, viadutos, túneis, ferrovias,

barragens, aeroportos, hidroelétricas, canais, metrôs, obra de saneamento, bem como sub

empreiteiras, afins e correlatos do terceiro grupo do plano da confederação nacional dos

trabalhadores nas indústrias, intermunicipal do Rio de Janeiro. Dentre os serviços

oferecidos aos associados, lista-se: atendimento jurídico, atendimento médico,

atendimento odontológico, assistência trabalhista e homologações. O sindicato também

auxilia na luta por melhores salários e condições de trabalho, promove cursos (apesar da

indicação no site, não foram disponibilizados os tipos de cursos), eventos e lazer, como a

Sede Campestre e Festa do Trabalhador.

Listados e caracterizados os sindicatos, destaca-se que são organizadas convenções

coletivas de trabalho por meio dos Sindicatos Patronal e dos Trabalhadores de um mesmo

setor. De acordo com o Art. 611 do Decreto-Lei nº 229, de 28 de fevereiro de 1967

“Convenção Coletiva de Trabalho é o acôrdo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais

Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de

trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de

trabalho”.

As Convenções Coletivas de trabalho da Indústria de Construção Pesada são acordadas a

cada dois anos entre o SINICON e o SITRAICP. Dentre as condições de trabalho

estabelecidas, destacam-se medidas relacionadas à SST, como permissões, equipamentos de

segurança, treinamentos, exames médicos, dentre outros. À exemplo, na Convenção Coletiva

de Trabalho 2017-2018 entre o SINICON e SITRAICP, destaca-se:

CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA QUARTA – FORNECIMENTO DE

UNIFORMES E ROUPAS DE TRABALHO.

As Empresas fornecerão a seus empregados, gratuitamente, 2 (dois)

uniformes, macacões e outras peças de vestimentas, bem como equipamento

de proteção individual e de segurança, inclusive calçados especiais e óculos

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de segurança graduados, de acordo com receita médica, quando por ela

exigidos na prestação do serviço ou quando a atividade assim o exigir.

Parágrafo Único – Os trabalhadores ficam obrigados a zelar pelos

uniformes de forma adequada e arcarão com os custos decorrentes do seu

uso indevido.

No texto principal da cláusula quadragésima quarta da convenção de trabalho 2017-2018

observa-se a obrigatoriedade por parte da empresa quanto ao fornecimento de vestimentas e

EPI, adicionando-se em seu parágrafo único as obrigatoriedades dos trabalhadores quanto o

seu uso e zelo.

Similarmente as convenções da indústria de construção pesada, o sindicato patronal e de

trabalhadores da indústria da construção civil (no caso do presente trabalho, abordados o

SINDUSCON-RJ e o SINTRACONST – RJ, respectivamente) também acórdão convenções

coletivas de trabalho. No caso da cidade do Rio de Janeiro as convenções coletivas desse setor

têm periodicidade anual. Também abordam medidas relacionadas à SST como permissões,

equipamentos de segurança, treinamentos, exames médicos, dentre outros. Está organizado de

forma bem similar ao da Indústria da Construção Pesada, como se pode observar na Cláusula

48ª da convenção coletiva de trabalho de 2017 entre o SINDUSCON-RJ e o SINTRACONST

– RJ:

CLÁUSULA 48ª - VESTIMENTA DE TRABALHO

As empresas fornecerão gratuitamente aos seus trabalhadores 2(dois)

conjuntos de vestimentas adequadas ao desempenho de suas funções no local

de trabalho e que estejam em perfeitas condições de uso,na forma do

disposto no item 18.37.3 da Norma Regulamentadora - NR 18.

3.4 A OIT E O MINISTÉRIO DO TRABALHO

A OIT foi criada em 1919, como parte do tratado de Versalhes. É a única das agências do

Sistema das Nações Unidas com uma estrutura tripartite, composta de representantes de

governos e de organizações de empregadores e trabalhadores. A OIT tem dentre outras

responsabilidades, formular e aplicar normas internacionais do trabalho (convenções e

recomendações). (OIT, 2017)

Algumas das funções fundamentais da OIT são a elaboração, adoção, aplicação e

promoção das Normas Internacionais do Trabalho, sob a forma de convenções, protocolos,

recomendações, resoluções e declarações. Todos estes instrumentos são discutidos e adotados

pela Conferência Internacional do Trabalho, órgão máximo de decisão da OIT, que se reúne

uma vez por ano. (OIT, 2017)

As convenções e protocolos são tratados internacionais que definem padrões e pisos

mínimos a serem observados e cumpridos por todos os países que os ratificam. A ratificação

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de uma convenção ou protocolo da OIT por qualquer um de seus 187 Estados-Membros é um

ato soberano e implica sua incorporação total ao sistema jurídico, legislativo, executivo e

administrativo do país em questão, tendo, portanto, um caráter vinculante. A exemplo de

convenções e protocolos podem-se destacar as NR‟s. As convenções, uma vez ratificadas por

decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico. O Brasil está

entre os membros fundadores da OIT e participa da Conferência Internacional do Trabalho

desde sua primeira reunião. (OIT, 2017)

As recomendações não têm caráter vinculante em termos legais e jurídicos. Uma

recomendação frequentemente complementa uma convenção, propondo princípios reitores

mais definidos sobre a forma como esta poderia ser aplicada. Existem também recomendações

autônomas, que não estão associadas a nenhuma convenção, e que podem servir como guias

para a legislação e as políticas públicas dos Estados-Membros. A exemplo de recomendações

podem-se destacar as NBR‟s da ABNT já citadas no item 3.2. (OIT, 2017)

As resoluções representam pautas destinadas a orientar os Estados-Membros e a própria

OIT em matérias específicas. Já as declarações contribuem para a criação de princípios gerais

de direito internacional. .

O atual Ministério do Trabalho (reestruturado pelo presidente Michel Temer através da

medida provisória nº 726 de 2016, convertida na Lei nº 13.341, de 29 de setembro de 2016),

que iniciou suas atividades em 1930 como Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, tem

como área de competência os seguintes assuntos:

I - política e diretrizes para a geração de emprego e renda e de apoio ao trabalhador;

II - política e diretrizes para a modernização das relações do trabalho;

III - fiscalização do trabalho, inclusive do trabalho portuário, bem como aplicação das

sanções previstas em normas legais ou coletivas;

IV - política salarial;

V - formação e desenvolvimento profissional;

VI - segurança e saúde no trabalho;

VII - política de imigração; e

VIII - cooperativismo e associativismo urbanos.

Dentro do MT, as ações de segurança e saúde no trabalho estão particularmente afeitas à

Secretaria de Inspeção do Trabalho (CHAGAS et al, 2012). Ainda de acordo com Chagas et al

(2012), a Secretaria de Inspeção do Trabalho tem, dentre outras, as seguintes atribuições:

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a) Formular e propor as diretrizes da inspeção do trabalho, inclusive do trabalho

portuário, priorizando o estabelecimento de políticas de combate ao trabalho forçado, infantil,

e a todas as formas de trabalho degradante.

b) Formular e propor as diretrizes e normas de atuação da área de segurança e saúde do

trabalhador.

c) Propor ações, no âmbito do Ministério, que visem à otimização de sistemas de

cooperação mútua, intercâmbio de informações e estabelecimento de ações integradas entre as

fiscalizações federais.

d) Promover estudos da legislação trabalhista e correlata, no âmbito de sua competência,

propondo o seu aperfeiçoamento.

e) Acompanhar o cumprimento, em âmbito nacional, dos acordos e convenções

ratificados pelo Governo brasileiro junto a organismos internacionais, em especial à OIT, nos

assuntos de sua área de competência.

f) Baixar normas relacionadas com a sua área de competência.

A Secretaria de Inspeção do Trabalho tem duas divisões. Ao Departamento de Inspeção

do Trabalho compete subsidiar a Secretaria de Inspeção do Trabalho, planejar, supervisionar e

coordenar as ações da secretaria na área trabalhista geral (vínculo empregatício, jornadas de

trabalho, intervalos intra e interjornadas, pagamento de salários, concessão de férias, descanso

semanal, recolhimento ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço etc.). O Departamento de

Segurança e Saúde no Trabalho tem atribuições similares, embora na área de segurança e

saúde no trabalho (serviços de segurança das empresas, controle médico ocupacional,

equipamentos de proteção individual e coletiva, fatores de risco presentes nos ambientes de

trabalho, condições sanitárias nos locais de trabalho etc.). (Chagas et al, 2012).

Para melhor entendimento da organização do Ministério do Trabalho, foi criado um

organograma representado na figura 5 com a Estrutura Organizacional atual do MT a partir do

capítulo II do Decreto Nº 8994 de 3 de novembro de 2016 .

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Figura 5 - Organograma do MT (Fonte: Elaborado pelo Autor, 2018).

Dentre os resultados obtidos da ação de fiscais do trabalho, pode-se destacar os dados

estatísticos que servem de base para o planejamento macro para áreas de atuação quanto a

maior fiscalização de SST. Na tabela 3 são apresentados dados estatísticos extraídos do site do

Ministério do Trabalho em relação às ações fiscalizadoras de SST de 2016:

Tabela 3 - Total de Inspeções Realizadas em SST - Brasil - Janeiro a Novembro de 2016 (Fonte: MT, 2017).

Ações

Fiscais

Trabalhadores

Alcançados

Notificações

*

Autuações

**

Embargos /

Interdições

Acidentes

Analisados

3.478 281.958 6.395 4.585 75 51

13.941 921.922 9.083 9.636 289 149

12.584 985.133 4.290 24.340 1.570 298

1.118 149.127 410 432 5 7

2.945 198.921 1.737 1.967 75 23

Setor Econômico

Agricultura

Comércio

Construção

Educação

Hotéis/Restaurantes

Indústria

Ind. Alimentos 2.084 638.376 3.116 4.356 143 111

Ind. Madeira e Papel 470 56.506 364 892 45 33

Ind. Metal 2.727 729.094 1.815 4.187 179 115

Ind. Mineral 1.135 206.781 2.545 2.571 90 54

Ind. Químicos 1.038 260.478 703 1.559 56 53

Ind. Tecido e Couro 932 145.601 308 982 22 16

Indústrias - Outras 763 67.262 701 893 53 20

633 1.044.109 252 607 5 3

1.788 548.562 818 2.080 46 11

3.594 1.231.796 1.766 3.156 85 97

3.528 808.304 2.146 3.745 82 90

1.738 415.037 619 1.612 57 25

54.496 8.688.967 37.068 67.600 2.877 1.156

** início do processo administrativo que pode resultar na aplicação de multa

Indústria

Instituições Financeiras

Saúde

Serviços

Transporte

Outros

TOTALFonte: Sistema Federal de Inspeção do Trabalho

* concessão, pelo auditor-fiscal do trabalho, de prazo para regularização

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31

A coluna “Notificações” refere-se à concessão pelo auditor fiscal do trabalho de prazo

para regularização e a coluna denominada como “Autuações” refere-se ao início do processo

administrativo que pode resultar na aplicação de multa.

Como pode ser observado, o setor de Construção liderou o ranking de autuações,

embargos e acidentes analisados, mesmo não sendo o setor com maior número de ações

fiscais, nem quanto ao número de trabalhadores alcançados, o que evidencia uma menor

preocupação com riscos no setor e maior probabilidade de acidentes de trabalho.

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32

4. MODELOS DE CONFORMIDADE DE GESTÃO DE SST

4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

Como detalhado no item 3.1 do presente trabalho, a partir de 1919 surgiram leis que

citavam SST, e com isso, necessidades das empresas de se adequarem ao tema em questão.

Posteriormente na década de 40 surgiu a CLT com exigências relativas à Segurança e Higiene

no Trabalho e obrigações do empregador quanto aos trabalhadores acidentados, seja por meio

de assistência médica, hospitalar e farmacêutica ou por meio de indenizações por danos

pessoais por acidentes. A partir da década de 70, com a criação de grandes obras como a

Hidrelétrica de Itaipu, foi intensificada a preocupação por parte dos órgãos regulamentadores

criando-se as NR‟s e programas obrigatórios relacionados à SST.

Com o objetivo de cumprir os requisitos legais relacionados à SST, as empresas

buscaram meios de se adequarem as novas exigências, e com isso, surgiu a necessidade de

busca de certificações na área. A busca por certificações vem acompanhada da necessidade de

implantação de sistemas de gestão de SST. A partir disso, em 1996, foi lançada a “BS 8800 -

Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional” pela British Standard Institution, que

fornece orientações e recomendações voltadas para a implantação de um sistema eficaz que

melhore o desempenho da SST. No entanto, a BS 8800, por se tratar de uma norma apenas

com diretrizes, não estabelece parâmetros de desempenho e especificações para o sistema.

Em 1999, com base na BS 8800, foi lançada a “OHSAS 18001 – Sistemas de gestão de

saúde e segurança no trabalho – Requisitos” que, de acordo com Araújo et al (2007), surgiu

do anseio da sociedade em obter parâmetros para a comparação de suas organizações. Dentre

os seus objetivos está o de eliminar a confusão dentro dos locais de trabalho dado à

proliferação de especificações certificáveis em SST (CAPONI, 2004). De acordo com o texto

da própria OHSAS 18001, essa norma e a OHSAS 18002 (Diretrizes para implementação da

OHSAS 18001, detalhada no item 5 do presente trabalho) “foram desenvolvidas para

responder a urgente necessidade sentida pelos interessados na existência de uma norma de

sistemas de gestão de SST reconhecível e em relação a qual os seus sistemas de gestão se

possam avaliar e certificar”.

Vale destacar que a OHSAS 18001 passou por atualizações até a sua última versão

lançada em 2007. Em seu texto a OHSAS 18001:2007 destaca que foi desenvolvida para ser

compatível com as normas de gestão ISO 9001:2000 e ISO 14001:2004, a fim de facilitar a

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integração dos sistemas de gestão de SST com os sistemas de gestão de qualidade e

ambiental, caso as organizações o pretendam fazer.

Posterior a OHSAS 18001:2007, no ano de 2013 a ISO (International Organization for

Standardization) iniciou a criação da ISO 45001, a fim de padronizar as normas de gestão de

SST e permitir integração com os outros sistemas de gestão de forma mais eficiente. O item

4.2 aborda e detalha a norma em questão.

Apesar de inovações e estudos relacionados a novos sistemas de gestão de SST, a maioria

das construtoras no Brasil ainda adota sistemas tradicionais que, de acordo com Waring

(1996) e Barreiros (2002), são caracterizados por iniciativas que objetivam o cumprimento

dos requisitos legais mínimos, abordagens essencialmente concebidas a partir do paradigma

reducionista-mecanicista, culpabilidade associado ao trabalhador pela causalidade dos

acidentes, atribuição de um caráter marginal à SST e estilo gerencial autocrático que inibe a

participação dos trabalhadores. Esses sistemas tradicionais têm como objetivo cumprir as

exigências de normas regulamentadoras (NR-18 para o caso da construção civil),

restringindo-se apenas a adequação das empresas a norma.

Modelos mais atuais de gestão não devem ter como objetivo apenas atender às exigências

legais, mas, a partir delas, instituir uma cultura de prevenção de acidentes de trabalho que

garanta a segurança e a integridade dos trabalhadores, podendo desencadear, como

consequência, o aumento da produtividade e a melhoria da qualidade dos serviços. (Benite,

2004). A afirmação de Benite justifica-se através do pensamento sistêmico de como

funcionariam a criação de novas normas, e seguindo sua ideia, estar “um passo a frente”

através da cultura prevencionista, como exemplificado nas figuras 6 e 7.

Figura 6 - Fluxograma Gestão de SST Tradicional (Fonte: Elaborado pelo autor, 2018)

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34

Figura 7 - Fluxograma Gestão de SST Proposto Atual (Fonte: Elaborado pelo autor, 2018)

4.2 MODELOS DE CONFORMIDADE DO MERCADO

Dos modelos tradicionais existentes, podem-se destacar os feitos com base nos requisitos

inicialmente abordados pela norma BS 8800, seguido da OHSAS 18001.

A norma BS 8800 propõe a composição de um sistema de gestão de SST através de

requisitos, no entanto não estabelece critérios de desempenho ou especificações detalhadas do

sistema. Como os requisitos são descritos de forma geral, torna a norma aplicável a diferentes

tipos de organização, que criariam sistemas obedecendo a esses requisitos, mas adaptados as

suas realidades. Na tabela 4 está descrita a lista de requisitos estabelecidos pela BS 8800.

Tabela 4 - Requisitos da norma BS-8800 (Fonte: Benite, 2004)

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De acordo com Benite (2004), a BS 8800 não permite que as empresas obtenham a

certificação de seus sistema de gestão de SST por meio de auditorias de organismos

certificadores, pois é composta por um conjunto de orientações e recomendações, não

estabelecendo requisitos auditáveis. Com isso, organismos certificadores e entidades

normalizadoras passaram a desenvolver normas para fins de certificação.

Em 1999, com o objetivo de substituir todas as normas e guias desenvolvidos

anteriormente por uma norma de utilização internacional, a British Standards Institution junto

de diversos organismos certificadores internacionais desenvolveu e aprovou a norma OHSAS-

18001. De acordo com Benite (2004), a OHSAS-18001 foi desenvolvida em um curto espaço

de tempo (nove meses) e tomou como base a norma BS-8800, visto que já se encontrava

disseminada e implementada em um grande número de empresas no mundo. Na tabela 5 está

descrita a lista de requisitos estabelecidos pela OHSAS-18001.

Tabela 5 - Requisitos da OHSAS-18001:2007 (Fonte: Elaborado pelo autor, 2018)

De acordo com a OHSAS-18001 foi desenvolvida com base no ciclo PDCA, como

explicitado em nota na norma:

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NOTA: Esta Norma OHSAS é baseada na metodologia conhecida por

Planejar - Executar – Verificar - Agir (PDCA). Esta metodologia pode ser

simplificadamente descrita como:

- Planejar: estabelecer os objetivos e os processos necessários para

atingir resultados, de acordo com a política de SST da organização;

- Executar: Implementar os processos;

- Verificar: monitorar e medir os processos face a política de SST,

objetivos, requisitos legais e outros requisitos, e relatar os resultados;

- Agir: Empreender ações para melhorar continuamente o desempenho

da SST.

(OHSAS-18001,2007. Tradução livre do autor)

Também se deve destacar que similar as normas antigas, a OHSAS-18001 não define

padrões de desempenho ou detalha o desenvolvimento dos elementos do sistema de gestão de

SST. A norma define apenas os requisitos básicos que devem ser atendidos pelo sistema de

gestão de SST, ficando a cargo da empresa o desenvolvimento do modo como alcançarão

esses requisitos. Comumente empresas diferentes que seguem a mesma norma apresentarão

resultados de desempenho diferentes. Tal fato deve-se a liberdade e empenho de cada empresa

no desenvolvimento de seus métodos e processos relacionados aos respectivos sistemas de

gestão de SST.

Devido à grande necessidade de integração dos sistemas de gestão e de uma padronização

mundial para normativa relacionada à SST, a International Organization for Standardization

(ISO) está desenvolvendo a “ISO 45001- Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde

Ocupacional – Requisitos com orientação para uso”, com objetivo de substituir as normas

anteriormente usadas, como a OHSAS-18001.

De acordo com o site da ISO, a ISO 45001 irá ajudar organizações a reduzirem a

incidência de lesões e doenças do trabalho por meio de uma estrutura que melhore a

segurança dos funcionários, reduza os riscos no local de trabalho e crie melhores e mais

seguras condições de trabalho em todo o mundo.

A Tabela 6 ilustra o cronograma previsto para lançamento da norma em questão.

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Tabela 6 - Cronograma desenvolvimento ISO 45001 (Fonte: ISO, 2017)

Dentre as características gerais da ISO 45001, pode-se destacar que:

a) Seu objetivo geral similar é similar a OHSAS-18001.

b) Adoção da estrutura do anexo SL.

A estrutura do anexo SL, também conhecida como ISO Draft Guide ou estrutura de alto

nível, é um padrão normativo com requisitos estabelecidos que toda norma ISO deve seguir.

A partir da padronização das normas, facilita-se a integração entre os sistemas de gestão.

A estrutura do anexo SL é a mesma usada em outras normas de gestão como a ISO 14001

(relacionada a Sistemas de Gestão Ambiental) e a ISO 9001 (relacionada a Sistemas de

Gestão da Qualidade). Tal padronização de estrutura permite a comunicação dos sistemas e

faz com que o papel de SST não fique restrito somente ao gerente da área, pois se espera que

aspectos de SST integrem-se à estrutura da organização, garantindo o apoio da alta direção e

maior contribuição dos funcionários em geral.

A interação entre os sistemas de gestão promovem melhorias em escala, visto que sua

aplicação reduz os conflitos, duplicação, confusão e equívocos que ocorrem em virtude de

estruturas de normas de sistemas de gestão diferentes.

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Figura 8 - Sistemas de gestão integrados e não integrados (Benite, 2004)

Observa-se na figura 8 a existência de elementos comuns aos sistemas de gestão, que se

analisados de forma integrada, reduzem redundâncias dentro do sistema global. Tal redução

aumenta a eficiência da empresa (redução do tempo gasto com verificações e análises,

resultando em redução de custos do funcionamento dos sistemas).

De acordo com o material explicativo fornecido pela BSI Group, todas as normas de

sistema de gestão do futuro terão a mesma estrutura de alto nível, texto principal idêntico,

bem como termos e definições comuns. A estrutura de alto nível citada é explicada pelo

Anexo SL e pode ser apresentada como estruturado na tabela 7.

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Tabela 7 - Estrutura de Alto Nível - Anexo SL (Fonte: BSI Group, 2017)

Cada cláusula tem seus respectivos subitens com suas características específicas. A

correta organização das informações requeridas em cada uma dessas cláusulas permite a

interação de diferentes sistemas de gestão de forma que um não sobreponha o outro, o que

gera melhores resultados em escala. Além da complementação dos sistemas de gestão, o

anexo SL permite maior agilidade quanto à extração de informações de cada norma para seu

correto funcionamento.

Graficamente, pode-se ilustrar a evolução da integração dos sistemas de gestão como:

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Tabela 8 - Evolução da Integração dos Sistemas de Gestão (Fonte: Elaborado pelo autor)

Com o lançamento da ISO-45001 há uma tendência do mercado de certificação para

venda de produtos que integrem todos os sistemas de gestão vigentes no empreendimento.

Tais Sistemas de Gestão Integrada otimizarão os processos gerenciais, através da redução dos

retrabalhos e do maior número de profissionais envolvidos na em todos os sistemas de

Gestão, mesmo que de maneira indireta.

Futuro

Implementação do

Anexo SL a norma de

SGSST através da ISO

45001, integrando o

SGSST aos outros.

Sistemas

funcionavam de

forma independente.

Sistema

IndividualizadoSistema Integrado

Passado Presente

Implementação do

Anexo SL as normas

de SGA e SGQ,

permitindo maior

integração entre os

sistemas.

Transição

SGQ

SGA

SGSST

SGQ

SGA

SGSST

SGQ

SGA

SGSST

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41

5. METODOLOGIA DE IMPLANTAÇÃO DE SST: ASPECTOS TÉCNICOS E

PRÁTICOS

5.1 ASPECTOS GERAIS

Visto que a ISO-45001 ainda está em desenvolvimento e tem lançamento recente de sua

versão prévia, é abordado nessa etapa do trabalho a OHSAS-18001 para análise de requisitos

e aspectos técnicos relacionados à implantação de um sistema de gestão de SST, pois já é

amplamente usado pelas empresas e ainda é reconhecida para fins de certificação.

Com o objetivo de orientar a implementação da OHSAS 18001, criou-se a “OHSAS-

18002- Diretrizes para a implementação da OHSAS 18001:2007”.

Vale destacar que ambas as Normas serão válidas somente até o lançamento da ISO-

45001, que as substituirá, como relatado no prefácio de ambas as normas:

“Esta norma OHSAS será retirada de circulação quando da publicação de seu conteúdo

em, ou como, normas internacionais.”

Existem várias metodologias disponíveis no mercado para o desenvolvimento e

implantação de sistemas de gestão de SST, no entanto optou-se no presente trabalho pela

adoção das diretrizes da OHSAS 18002. Tal escolha ocorre porque se acredita que haveria

maior cumprimento de todos os requisitos estabelecidos pela OHSAS 18001, visto que ambas

foram desenvolvidas pelas mesmas instituições, dispensando eventuais equivalências de

termos e processos.

5.2 ETAPAS DO PROCESSO.

5.2.1. REQUISITOS GERAIS.

Para determinar como o sistema de gestão de SST atenderá aos requisitos da OHSAS

18001, é recomendado que a organização considere as condições e os fatores que afetam, ou

poderiam afetar a segurança e a saúde das pessoas, quais políticas de SST são necessárias e

como fará a gestão de seus riscos de SST. Para que isso ocorra, deve ser feita uma análise

crítica inicial.

A OHSAS 18002 sugere uma análise crítica inicial com o objetivo de se obter todos os

riscos de SST enfrentados pela organização. São listados os seguintes itens para a análise

crítica inicial que servirá de base para o estabelecimento de do sistema de gestão de SST:

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a) Requisitos Legais (itens descritos mais adiante como exigidos pelos órgãos

fiscalizadores);

b) Identificação dos Perigos de SST e avaliação dos riscos enfrentados pela organização;

c) Avaliações da SST;

d) Exame dos sistemas, práticas, processos e procedimentos existentes;

e) Avaliação das iniciativas de melhorias da SST;

f) Avaliação do feedback de investigações de acidentes, doenças relacionadas ao trabalho,

acidentes e emergências anteriores;

g) Sistemas de gestão pertinentes e recursos disponíveis;

E para a avaliação destes itens, a norma recomenda o uso de listas de verificação,

entrevistas, inspeções, medições diretas, resultados de auditorias anteriores de sistemas de

gestão e resultados de consultas aos trabalhadores, terceirizados ou outras partes interessadas

externas pertinentes.

Em seguida, recomenda-se que seja definido e documentado um escopo no qual serão

definidos os locais de trabalho, as atividades e os serviços que sofrerão influência do sistema

de gestão de SST.

5.2.2. POLÍTICA DE SST

De acordo com Benite (2004), a política de SST é uma carta de intenções, devendo ser

composta por pontos que efetivamente sejam cumpridos pela empresa e que possam ser

evidenciados de maneira clara.

A OHSAS-18002 recomenda que, para o sistema de gestão de SST cumpra os requisitos

estabelecidos pela OHSAS-18001 e consequentemente tenha sucesso e alcance melhoria do

desempenho da SST, a alta direção demonstre liderança e comprometimento. Tal fato está

indicado na OHSAS-18001 quando evidencia que “A Gestão de topo deve definir e autorizar

a política de SST da organização” e garantir que requisitos sejam cumpridos.

Ainda de acordo com OHSAS-18001, a política de SST deveria ser consistente com a

visão de futuro da organização e ser realista, sem exagerar na natureza dos riscos que a

organização enfrenta, nem considerá-los triviais.

No desenvolvimento de sua política de SST, a organização deve considerar:

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a) Missão, visão, valores e crenças principais da empresa;

b) Harmonização com outras políticas;

c) Necessidades das pessoas que trabalham sob o controle da organização;

d) Perigos de SST da organização;

e) Requisitos legais e outros subscritos pela organização, relacionados aos seus perigos de

SST;

f) Desempenho histórico e atual da organização quanto à SST;

g) Oportunidades de melhoria contínua e de prevenção de lesões e doenças;

h) Visão das partes interessadas;

i) O que é necessário para estabelecer objetivos realistas e alcançáveis;

A OHSAS-18002 também recomenda que, para cumprir os requisitos mínimos da

OHSAS-18001, a organização deve considerar na política de SST o comprometimento com:

a) Prevenção de lesões e doenças;

b) Melhorias contínuas da gestão da SST e do desempenho da SST;

c) Atendimento aos requisitos legais aplicáveis;

d) Atendimento a outros requisitos subscritos pela organização;

Vinculado ao pensamento de Sistemas de Gestão Integrados, convém que a política de

gestão de SST esteja conectada a outras políticas da organização, concordando e

complementado as políticas de Gestão Ambiental e de Gestão de Qualidade. Tal processo será

facilitado por meio da implementação do Anexo SL a nova norma de Gestão de SST, a ISO-

45001.

5.2.3. PLANEJAMENTO

5.2.3.1. IDENTIFICAÇÃO DE PERIGOS E AVALIAÇÃO DE RISCOS.

De acordo com a OHSAS-18001, a organização deve estabelecer, implementar e manter

de forma contínua um ou mais procedimentos para a identificação de perigos, avaliação de

riscos e a implementação das medidas de controle necessárias. A ideia de continuidade remete

ao ciclo PDCA, o que indica que tal passo não deve ser feito apenas na implementação do

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sistema de gestão, mas deve ser atualizado periodicamente para que se obtenha melhoria

contínua.

Os procedimentos de identificação de perigos e avaliação de riscos devem levar em

consideração:

a) Atividades de rotina e de não rotina;

b) Atividades de todas as pessoas que tenham acesso aos locais de trabalho, incluindo

terceirizados e visitantes;

c) Comportamento humano, grau de capacitação e outros fatores humanos;

d) Perigos identificados como originados fora do local de trabalho, mas que são capazes

de afetar de alguma forma a segurança e a saúde das pessoas sob controle da organização no

local de trabalho;

e) Perigos criados na vizinhança do local de trabalho por atividades relacionadas com o

trabalho sob o controle da organização. Tais perigos podem ser evidenciados também através

de outros sistemas de gestão, como o de Gestão Ambiental, por exemplo, destacando

novamente a importância da integração dos sistemas de gestão;

f) Infraestruturas, equipamentos e materiais nos locais de trabalho, sejam eles fornecidos

pela organização, sejam por terceiros;

g) Alterações efetivas ou propostas na organização, nas suas atividades ou materiais,

evidenciando a necessidade de atualização constante do sistema, como descrito acima em

relação ao ciclo PDCA.

h) Modificações do sistema de gestão de SST, incluindo alterações temporárias e os seus

impactos nas operações, processos e atividades. Tal tópico remete a possíveis alterações em

outros sistemas, como o sistema de gestão de qualidade, por exemplo, o que evidencia

novamente vantagens no uso de sistemas de gestão integrada.

i) Qualquer obrigação legal aplicável relacionada com a avaliação de riscos e com a

implementação das medidas de controle necessárias.

j) Concepção de áreas de trabalho, processos, instalações, máquinas e equipamentos,

procedimentos operacionais e organização do trabalho. Como no ambiente do canteiro de

obras esses itens sofrem modificações constantes, é necessário que sejam feitas atualizações

constantes nos sistemas, remetendo novamente a necessidade de reavaliação do sistema em

várias etapas da obra.

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Em conjunto com as considerações estabelecidas pela OHSAS-18001, a OHSAS-18002

recomenda que sejam consideradas as seguintes fontes de informações ou entradas:

a) Requisitos legais e outros requisitos de SST.

b) Política de SST.

c) Dados de monitoramento.

d) Exposição ocupacional e avaliações de saúde.

e) Registros de Incidentes.

f) Relatórios de auditorias, avaliações ou análises críticas anteriores.

g) Contribuições de trabalhadores e outras partes interessadas.

h) Informações de outros sistemas de gestão.

i) Informações de consultas sobre SST aos trabalhadores.

j) Análise crítica de processos e atividades de melhorias no local de trabalho.

k) Benchmarking de práticas e perigos típicos em organizações semelhantes.

l) Informações sobre processos, instalações e atividades da organização.

Identificados os perigos, as empresas devem analisar seus riscos, para que em seguida

sejam tomadas providências necessárias.

De acordo com Esteves (2017), analisar um risco é identificar e discutir todas as

possibilidades de ocorrência do acidente, na tentativa de se evitar que ele ocorra ou de se

minimizar as suas consequências. De acordo com ele, o procedimento de análise de risco é

dividido em 3 fases:

a) Definição dos perigos;

b) Identificação da população, humana ou não, de atingidos em potencial;

c) Identificação dos locais de exposição;

Dessas fases, a exposição ocorreria quando alguém ou algum ecossistema entra em

contato com o perigo, e o perigo só se configuraria em risco quando houvesse o contato entre

o perigo e o receptor.

Para análise de riscos, existem várias ferramentas de gestão que podem e devem ser

utilizadas visando uma abordagem mais estruturada. Dentre as ferramentas usadas, podem se

destacar:

5.2.3.1.1. Análise Preliminar de Risco (de Perigos);

A técnica APP ou Análise Preliminar de Perigos permite inicialmente identificar e analisar

em forma abrangente os potenciais de riscos que poderão estar presentes na instalação

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analisada. A técnica aplicada possui um formato padrão tabular, onde, para cada perigo

identificado, são levantadas suas possíveis causas, efeitos potenciais, medidas de controle

básicas para cada caso, a nível preventivo e/ou corretivo, tanto aquelas já existentes ou

projetadas como aquelas a serem implantadas no estudo efetuado (conforme definições a

seguir). Finalmente, os perigos identificados pela APP são avaliados com relação a sua

freqüência de ocorrência, grau de severidade e nível de suas conseqüências considerando os

potenciais danos resultantes à pessoas, materiais (equipamentos e edificações) e a comunidade

em geral. (Brown, 1998).

De acordo com Cicco (1996) a identificação de perigos e riscos mal planejada, e efetuada

apenas para obedecer a uma imposição burocrática, resulta em um desperdício de tempo, não

traz resultados positivos em relação à SST e podem levar a empresa a se perder em detalhes.

De acordo com Esteves (2017), a metodologia de APR (Análise Preliminar de Riscos)

compreende a execução das etapas descritas na tabela 9.

Tabela 9 - Etapas de Execução de APR (Fonte: Esteves, 2017)

Para simplificar a realização da análise, Esteves (2017) sugere que o processo/instalação

seja dividido em “módulos de análise”. A realização da análise propriamente dita é feita

através do preenchimento de uma planilha de APR para cada módulo de análise do

processo/instalação. A tabela 10 exemplifica um modelo para realização da análise preliminar

de risco.

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Tabela 10 - Modelo APR (Fonte: Adaptado de Esteves, 2017).

A partir da execução das etapas 1, 2 e 3 da tabela 9, pode-se obter informações para o

preenchimento das colunas denominadas “Eventos”, “Causas” e “Consequências”.

Esteves (2017) sugere que o “Risco” seja classificado em função das variáveis

“Frequência” e “Severidade”. As “Frequência” e “Severidade” são características de um

“Cenário de Acidente”, que é definido como o conjunto formado pelo perigo identificado,

suas causas e cada um dos seus efeitos.

Conceitualmente, podem-se classificar as frequências a partir da tabela 11, vinculando a

probabilidade de ocorrência real a uma categoria.

Tabela 11 - Categorias de Frequências dos Cenários (Fonte: Esteves, 2017)

Quanto à severidade das consequências dos cenários, podem ser classificados a partir da

tabela 12, vinculando os prováveis danos a uma categoria.

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Tabela 12 - Categoria de Severidade das Consequências dos Cenários (Fonte: Esteves, 2017)

Após as categorizações de “Severidade” e “Frequência”, são estabelecidos os respectivos

níveis de riscos para cada cenário a partir da tabela de classificação de riscos (Tabela 13).

Tabela 13 - Tabela de Classificação de Riscos (Fonte: Esteves, 2017)

Feita a classificação dos riscos, por fim termina-se de preencher a APR com seus

respectivos índices. Também se preenchem as recomendações.

A partir dos resultados da APR o gestor de SST pode optar pelas medidas que serão

adotadas com base em uma ordenação qualitativa dos cenários de acidente, podendo ser

utilizada como um primeiro elemento na priorização das medidas propostas para redução dos

riscos da instalação.

5.2.3.2.1. What If/ Checklist;

A técnica “What-If” é um procedimento de revisão de riscos de processos que se

desenvolve através de reuniões de questionamento de procedimentos, instalações, etc. de um

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processo, gerando também soluções para os problemas levantados. Seu principal objetivo é a

identificação de potenciais de riscos que passaram desapercebidos em outras fases do estudo

de segurança. O conceito é conduzir um exame sistemático de uma operação ou processo

através de perguntas do tipo “O que aconteceria se ...” e, com isto, permitir a troca de idéias

entre os participantes das reuniões, favorecendo e estimulando a reflexão e a associação

dessas idéias. (BROWN, 1998).

A limitação da técnica se deve algumas vezes aquelas propostas de difícil condição de

realização, quer na prática ou quer economicamente, porém, o julgamento da implementação

de qualquer ação proposta deve ser o do consenso do grupo de análise. A equipe técnica é

multidisciplinar, deve ser composta de técnicos experientes na operação submetida a essa

análise e de um líder experiente na aplicação da técnica, obedecendo a um limite máximo de

seis participantes. As reuniões devem ser realizadas em dias alternados e com duração não

superior a quatro horas cada reunião. As questões devem ser anotadas e enumeradas em uma

planilha de trabalho. Os riscos, causas, consequências, ações existentes e recomendações de

segurança correspondentes a essas questões também devem ser registradas nesta planilha.

Geralmente, o estudo procede desde as entradas do processo até as respectivas saídas. As

questões de segurança também devem ser anotadas durante a análise. Após o registro das

ações a serem tomadas, é efetuado uma avaliação dos potenciais de riscos identificados pela

aplicação da técnica. A implementação dessas ações é priorizada conforme a sua categoria de

risco. (BROWN, 1998).

5.2.3.2.2. Análise de modos de falhas e efeitos (“Fail Mode & Effect Analysis”)

De acordo com Brown (1998), essa técnica permite analisar o modo de falha, ou seja,

como podem falhar os componentes de um equipamento ou sistema, estimar as taxas de

falhas, determinar os efeitos que poderão advir e, consequentemente, estabelecer mudanças a

serem realizadas para aumentar a probabilidade do sistema ou do equipamento em análise

funcione realmente de maneira satisfatória e segura. Os seus principais objetivos são:

a) revisar sistematicamente os modos de falhas de componentes para garantir danos mínimos

ao sistema;

b) determinar os efeitos dessas falhas em outros componentes do sistema;

c) determinar a probabilidade de falha com efeito crítico na operação do sistema;

d) apresentar medidas que promovam a redução dessas probabilidades, através do uso de

componentes mais confiáveis, redundâncias, etc.

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5.2.3.2.3. Estudo de Operabilidade e Riscos (“Hazard and Operability Study”)

Os principais objetivos do HAZOP (Hazard and Operability Study) são identificar todos

os desvios operacionais possíveis do processo e todos os perigos e/ou riscos associados a

esses desvios operacionais. Essa ferramenta de análise de risco de processos é muito poderosa

no sentido de minimizar ou até eliminar problemas operacionais que tendem geralmente a

conduzir o operador a cometer um erro operacional que, muitas vezes poderá conduzir a um

acidente industrial de graves proporções para o empreendimento industrial. (LAWLEY,

1974).

De acordo com Brown (1998), o HAZOP é elaborado de acordo com as seguintes etapas:

a) Definição de objetivos: Compreende a seleção de unidades de processo a serem estudadas e

definição dos nós de processo para o estudo;

b) Seleção da Equipe técnica: A equipe será formada por técnicos que conheçam ou operem a

unidade objeto do estudo. Para conduzir o HAZOP é necessário haver uma pessoa que lidere a

condução da técnica;

c) Preparação para o estudo: Compreende a coleta de toda informação possível para a

elaboração do HAZOP, inclusive documentos, manuais, desenhos, fluxogramas de processo e

de engenharia;

d) Realização das reuniões técnicas: O HAZOP é elaborado sobre um documento básico que é

o fluxograma de engenharia atualizado. Neste fluxograma são marcados os nós relevantes

para a execução do estudo;

e) Acompanhamento das pendências: As pendências ou dúvidas ocorridas durante as reuniões

de estudo deverão ser esclarecidas na própria reunião ou então, quando não houver tempo

hábil, deverão ser solucionadas fora da reunião e o seu resultado apresentado na próxima

reunião;

f) Registro do estudo em planilhas próprias: Durante as reuniões tanto a condução da técnica

como os seus os resultados deverão ser registrados em planilhas técnicas especialmente

preparadas para o HAZOP;

g) Resultados: Normalmente são apresentados na última coluna da planilha e, também

relacionados à parte, com indicação do responsável para sua implementação, bem como o

prazo para tal.

h) Elaboração e implementação das recomendações de segurança de processo sugeridas pelo

HAZOP;

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5.2.3.3.Gestão de Mudanças

A OHSAS 18002 recomenda que toda mudança que possa afetar ou provocar impactos

nos perigos e riscos levantados pelo sistema de gestão de SST deveria ser controlado e

gerenciado. Para o correto funcionamento do sistema, os perigos e riscos associados a novos

processos e operações, ou mudanças em processos e operações já existentes, deveriam ser

considerados e previstos no estágio de projeto. Para auxiliar esse processo pouco intuitivo, a

OHSAS 18002 sugere alguns questionamentos que devem ser feitos para facilitar a

identificação de possíveis perigos e riscos associados às mudanças que podem ocorrer no

longo prazo.

5.2.3.4.Medidas de Controle.

Identificados os perigos e classificados os riscos, são estudadas e analisadas as medidas

de controle necessárias a cada etapa e setor da obra em questão.

De acordo com a OHSAS 18001, é obrigatório que os resultados das avaliações de riscos

sejam considerados na determinação das medidas de controle. Para determinação das medidas

de controle, ou alterações nos controles existentes, deverá se considerar a redução de riscos de

acordo com a seguinte hierarquia:

1º - Eliminar

2º - Substituir

3º - Controles de Engenharia

4º - Sinalização/Advertência e/ou controles administrativos

5º - Equipamentos de proteção individual

Na hierarquia evidencia-se a importância de prevenção de situações de perigo à proteção

contra riscos, visto que se devem priorizar medidas que eliminem o risco (prioridade na

hierarquia) à adoção de equipamentos de proteção em última instância.

A OHSAS 18002 recomenda que a organização leve em conta alguns fatores na

determinação das medidas de controle, como a necessidade de combinação de controles, a

adaptação do trabalho ao indivíduo, o aproveitamento do progresso técnico para melhorar os

controles, a introdução de manutenção planejada dos equipamentos, a possível necessidade de

arranjos para emergências, dentre outros meios que aumentam a eficiência do sistema de

gestão de SST da organização.

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Outra recomendação importante da OHSAS 18002 é o monitoramento contínuo para

assegurar que a adequação dos controles está sendo mantida.

5.2.3.5.Resultados e Análise crítica contínua.

A OHSAS 18001 determina que sejam documentados e mantidos os resultados da

identificação de perigos, das avaliações de risco e dos controles determinados. Esses

resultados permitem o acesso a indicadores que são úteis em análises feitas ao longo da

operação do sistema de gestão de SST e servirão como base para futuros treinamentos.

Análises críticas contínuas ajudam a assegurar a consistência entre as avaliações de riscos

realizadas por pessoas diferentes em momentos diferentes.

Outro fator importante associado a análises críticas periódicas é que, de acordo com a

OHSAS 18002, evidências que demonstrem que os controles existentes ou planejados para o

sistema de gestão de SST continuam válidos dispensam a necessidade de realização de novas

avaliações de risco. A periodicidade aumenta a sensibilidade em relação às mudanças no

sistema de gestão, o que aumenta a previsibilidade de novos perigos.

5.2.3.6.Requisitos Legais e outros requisitos.

A OHSAS 18001 exige que a organização estabeleça, implemente e mantenha um ou mais

procedimentos para identificar e ter acesso aos requisitos legais e outros requisitos de SST

que sejam aplicáveis. Esses procedimentos devem ser mantidos a disposição para consulta das

pessoas que trabalham na organização e qualquer outra parte interessada que seja relevante.

Com base nessas exigências, a OHSAS 18002 recomenda a consulta a requisitos legais

por meio de:

a) Legislação, Regulamentações e Práticas

b) Decretos e Portarias

c) Ordens emitidas por órgãos regulamentadores

d) Permissões, licenças e autorizações

e) Tratados, convenções e protocolos

Além dos requisitos legais, a OHSAS 18002 sugere que sejam consultados outros meios,

como: condições contratuais; acordos com trabalhadores, partes interessadas e autoridades de

saúde; melhores práticas ou códigos de práticas; requisitos corporativos da empresa.

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5.2.3.7.Objetivos e Programas.

A OHSAS 18001 exige que as organizações devam estabelecer, implementar e manter os

objetivos de SST documentados e disponíveis a todos os envolvidos. Para que tais objetivos

sejam alcançados, um ou mais programas devam ser estabelecidos, implementados e

mantidos.

Para avaliação de indicadores, recomenda-se que os objetivos possam ser mensuráveis e

consistentes com a Política de SST. A OHSAS 18002 utiliza a sigla “SMART” (Specific,

Measurable, Achievable, Relevant, Timely) para definir os objetivos que são específicos,

mensuráveis, atingíveis, pertinentes e oportunos, que seriam objetivos mais fáceis de serem

medidos pela organização.

A OHSAS 18002 recomenda que se leve em conta os requisitos legais e outros requisitos

e riscos identificados em outras fases do processo para o estabelecimento dos objetivos. Além

desses, também se recomenda que sejam analisados outros fatores para o estabelecimento dos

objetivos como recursos necessários, resultados de avaliações anteriores, análises, e tudo que

for relevante e possa interferir de alguma forma na criação e execução dos programas.

Executados os programas e alcançados os objetivos, recomenda-se que sejam documentados

os históricos e razões para o cumprimento dos objetivos, facilitando análises futuras.

5.2.4. Implementação e Operação

5.2.4.1. Recursos, funções, responsabilidades, prestação de contas e

autoridades

A OHSAS 18001 estabelece na gestão de topo a responsabilidade final do sistema de

gestão de SST e da SST em si. De acordo com a norma, ficam a cargo da gestão de topo

disponibilizar recursos (humanos, infra-estrutura organizacional, tecnologia e financeiro) e

definir atribuições, responsabilidades, autoridades e obrigações de modo a facilitar a efetiva

gestão de SST. Ressalta também que as atribuições, responsabilidades, autoridades e

obrigações devem ser documentadas e comunicadas, além de definir algumas funções e

autoridades que são requisitos para qualquer sistema de gestão de SST.

Como orientação para quais e como devem ser documentadas as autoridades e

responsabilidades, a OHSAS 18002 recomenda a documentação dos procedimentos do

sistema de gestão de SST, procedimentos operacionais, descrições de projetos e tarefas,

descrições dos cargos e programas de integração de novos trabalhadores.

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Outro fator importante citado pela OHSAS 18002 é o fato de que apesar da pessoa

indicada para ser diretor de SST ser um membro da alta direção, este pode ter suporte de

outras pessoas que tenham responsabilidades relativas a operação global da função SST.

Também indica a necessidade de informar que a SST é de responsabilidade de todos na

organização, visto que se os funcionários assumem responsabilidades de aspectos de SST

sobre os quais tem controle, colabora positivamente considerando não só sua segurança como

a de outras pessoas.

5.2.4.2. Competências, formação e sensibilização.

De acordo com a OHSAS 18001 é de responsabilidade da organização assegurar que

qualquer pessoa que execute atividades que podem causar impactos a SST é competente para

tal função. As competências podem ser comprovadas com base numa adequada escolaridade,

formação ou experiência, atendo-se as exigências normativas relativas a eventuais cursos

exigidos para as funções.

Além de assegurar as capacidades pessoais por atividades executadas, a OHSAS 18002

recomenda que os treinamentos fornecidos focalizem não só aos requisitos de competência,

mas também ampliar a sensibilização dos funcionários. Os programas e procedimentos de

treinamento devem levar em consideração as capacidades individuais e os riscos de SST

envolvidos.

Nos treinamentos, a OHSAS recomenda que sejam abordados temas para a sensibilização

dos funcionários, como procedimentos de emergência, consequências das ações e

comportamentos em relação aos riscos de SST, os benefícios gerados pelas melhorias em SST

e necessidades de estar em conformidade com políticas e procedimentos de SST.

Feitos os treinamentos, recomenda-se que se mantenham registros dos mesmos.

5.2.4.3. Comunicação, participação e consulta

Como já abordado em todos os itens anteriores, é essencial que se mantenham

disponíveis para consulta e sejam comunicados todos os procedimentos e informações

relevantes para o correto funcionamento do sistema de gestão de SST.

Conforme a OHSAS 18001 a organização deve estabelecer, implementar e manter um ou

mais procedimentos para comunicação interna e externa de todos os envolvidos no processo.

Como orientação, a OHSAS 18002 recomenda tópicos relevantes para criação dos

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procedimentos, desde itens essenciais na sua estruturação, até as partes envolvidas em sua

criação.

Também devem ser criados procedimentos para a participação dos trabalhadores. A

OHSAS 18001 lista os itens exigidos para criação desses procedimentos e exige que os

trabalhadores sejam informados sobre esses mecanismos, incluindo quem são seus

representantes em matéria de SST.

5.2.4.4. Documentação e controle dos documentos.

A OHSAS 18001:2007 define que documentos “são informações e a mídia de suporte”.

Define ainda que a documentação do Sistema de Gestão da SST seja constituída por:

a) a política e os objetivos de SST (estabelecida por cada empresa em função da sua missão e

visão de futuro em conformidade com as exigências na norma);

b) descrição do escopo do sistema de gestão da SST da empresa (abrangência do SGSST,

podendo ser integral a todas as áreas e processos da empresa ou somente a algumas áreas e

processos específicos);

c) descrição dos principais elementos do sistema de gestão da SST e sua interação, bem como

referência aos documentos associados (diagrama de fluxo com o desenho do fluxograma do

macro processo da empresa indicando a sequência e a inteiração entre os diversos processos

intervenientes no SGSST);

d) documentos, incluindo registros, exigidos por esta Norma OHSAS (as exigências ocorrem

sempre que em um requisito da norma há a indicação de que a empresa deve estabelecer

procedimento documentado ou manter registro com as evidências do atendimento aos

requisitos);

e) documentos, incluindo registros, determinados pela organização como sendo necessários

para assegurar o planejamento, operação e controle eficazes dos processos que estejam

associados à gestão de seus riscos de SST (as exigências ocorrem sempre que um determinado

risco seja após a classificação na metodologia da empresa requeira medidas de controle e

mitigação materializadas em procedimentos e registros de ações.

No SGSST das empresas construtoras a documentação é normalmente constituída por

documentos internos e documentos externos:

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a) Documentos Internos

São os documentos do SGSST gerados pela empresa. São considerados documentos internos

aqueles desenvolvidos para atender aos requisitos legais relativos a legislação nacional,

estadual e municipal e aos requisitos da norma OHSAS 18001:

a.1) Manual do SGSST

Contendo a descrição da Política e dos objetivos de SST da empresa e dos demais

elementos do SGSST.

a.2) Procedimentos sistêmicos

Deve ser emitido um procedimento sistêmico para cada requisito da OHSAS 18001.

Naturalmente a quantidade e abrangência dos procedimentos sistêmicos de SST são

estabelecidas em função do porte e da complexidade dos processos de cada empresa. De

forma geral os SGSST contém os seguintes procedimentos sistêmicos:

a.2.1) Procedimento de Identificação de Perigos e Avaliação de Riscos;

a.2.2) Procedimento de Identificação de Requisitos Legais e outros;

a.2.3) Procedimento Objetivos, Metas, Programas e Indicadores de SST;

a.2.4) Procedimento com a Definição da Estrutura Organizacional e Responsabilidades;

a.2.5) Procedimento para Ações Treinamento, Conscientização e Competência;

a.2.6) Procedimento de Segurança de Empreiteiros e Subcontratados;

a.2.7) Procedimento para Identificação das Partes Interessadas, Consulta e Comunicação.

a.2.8) Procedimento de Controle de Documentos Internos, Externos e Registros.

a.2.9) Procedimento de Gestão de Trabalho Seguro (com a definição da sistemática de

gestão de trabalho seguro a análise de risco e autorização dos trabalhos);

a.2.10) Procedimento de Preparação e Atendimento a Emergências;

a.2.11) Procedimento de Monitoramento e Medição de Processos do SGSST;

a.2.12) Procedimento Não-Conformidades e Implantação de Ações Corretivas e

Preventivas;

a.2.13) Procedimento de Investigação e Registro de Acidentes do Trabalho.

a.2.14) Procedimento de Auditorias de SST;

a.2.15) Procedimento de Análise Crítica do SGSST pela Diretoria.

a.3) Procedimentos operacionais

Os procedimentos operacionais contém diretrizes para disciplinar a execução e o controle

das atividades obedecendo diretrizes para a manutenção do pensamento e da prática seguros.

Normalmente as empresas estabelecem procedimento operacional para cada processo ou

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atividade cujo grau de risco tenha sido classificado como moderado e substancial ou cuja

cujas peculiaridades de desenvolvimento assim o requeira. Os procedimentos operacionais

abordam temas de SST específicos ou agrupados por afinidade e apresentam esclarecimentos

sobre os perigos, riscos e danos de SST associados a determinadas atividades, define critérios

e condições e dá recomendações e diretrizes para a adoção de boas práticas de SST que

venham eliminar, minimizar e prevenir riscos de acidentes e incidentes.

a.4) Registros

Os registros são documentos do SGSST das empresas nos quais são evidenciadas as

evidências objetivas da realização de atividades e controles operacionais de SST obedecendo

as diretrizes de SST da empresa. Os modelos dos registros (modelos dos formulários) são

anexados a cada procedimento sistêmico e operacional pelo qual foi gerado.

b) Documentos Externos

Os documentos externos são aqueles emitidos por terceiros (partes interessadas) cuja

manutenção seja indispensável para a gestão e controle de SST.

No Brasil as medidas de prevenção contra acidentes de trabalho são cobradas pelo MT no

setor de construção civil através dos mecanismos descritos nas Normas Regulamentadoras

(NR). Tais medidas devem ser documentadas e controladas de acordo com as recomendações

da OHSAS 18001.

Além dos requisitos legais, recomenda-se que sejam seguidos os requisitos estabelecidos

pelas normas técnicas da ABNT relativas à SST, como descrito no capítulo 3.

Dentre as medidas cobradas pelo MT, destacam-se para o setor de construção civil:

Tabela 14 - Medidas cobradas pelo MT (Elaborado pelo Autor).

SESMT – Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina no Trabalho.

A NR-4 - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina no Trabalho estabelece

como será dimensionada a equipe de SST com base nas características da obra, levando em

consideração número de funcionários, tipo de obra, grau de risco, dentre outros.

CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.

A NR-5 – Comissão Interna de Prevenção de acidentes estabelece como dimensionar tal comissão, e

suas funções no ambiente de trabalho. Diferente da SESMT, a CIPA é formada por representantes do

empregador e do empregado, que não são necessariamente especialistas em SST. Dentre as funções

da CIPA, ela auxilia o SESMT na prevenção de acidentes e doenças ocupacionais.

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PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais.

A NR-9 – Programa de prevenção de riscos ambientais estabelece quais os fatores que devem ser

levados em consideração para um levantamento dos agentes físicos, biológicos e químicos existentes

na frente de trabalho que podem colocar em risco a saúde do trabalhador. Além do levantamento, a

norma indica que no programa devem conter informações relativas as medidas de controle, ação,

monitoramento e registro de dados que serão adotados. Sua execução pode ser feita de forma mais

eficiente quando integrada ao Sistema de Gestão Ambiental da empresa, evidenciando necessidades e

benefícios gerados por um Sistema de Gestão Integrado.

PCMAT – Plano de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção.

A NR-18 – Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção estabelece em seu

item 18.3 os parâmetros relativos ao PCMAT. Vale destacar que o PCMAT é obrigatório para obras

com 20 ou mais trabalhador, abrangendo grande parte das obras presentes no país. Dentre seus

subitens, destaca-se o 18.3.1.1 que exige a contemplação dos das exigências do PPRA no PCMAT,

mostrando novamente necessidades de integração entre os sistemas. No item 18.3.4, relativo aos

elementos que integram o PCMAT, ficam evidentes as necessidades de atualização constante do

documento e da interdependência das Normas para sua correta aplicação.

PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional.

A NR-7 estabelece a obrigatoriedade da elaboração e implementação do Programa de Controle

Médico de Saúde Ocupacional por parte de todos os empregadores, e em seu escopo, traz as

características e procedimentos que compõe o programa. De acordo com informações do SECONCI-

RIO o PCMSO tem o objetivo de prevenir, monitorar e controlar possíveis danos à saúde e

integridade do empregado e detectar riscos prévios, especialmente no que diz respeito às doenças

relacionadas ao trabalho. Além disso, o programa deve ser planejado e implementado com base nos

riscos a saúde dos trabalhadores, que são evidenciados através do PPRA e/ou PCMAT.

Além dos itens principais, também se podem citar os documentos principais exigidos pelo

Ministério do Trabalho, tanto os relativos à obra, como os relativos aos trabalhadores. Outros

documentos relativos especificamente ao sistema de gestão de SST, como a política de SST e

objetivos, também devem ser mantidos e documentados como estabelecido pela OHSAS

18001.

Tabela 15 - Principais documentos exigidos pelo MT (Elaborado pelo Autor)

Relativos à Obra Relativos ao Trabalhador

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ART - Anotação de

Responsabilidade Técnica, de

projeto e de execução. Ficha de Registro

Livro de Inspeção do Trabalho. Ordem de Serviço

Matrícula CEI da obra – Cadastro

Específico do INSS. Cópia da CTPS – Carteira de

Trabalho e Previdência Social

Última alteração do CAGED

(Cadastro Geral dos Empregados e

Desempregados).

Ficha de Controle de Entrega de

EPI.

Mapa de Riscos e Rotas de Fuga

atualizado do canteiro de obras

5.2.4.5. Controle operacional.

De acordo com a OHSAS 18001 a organização deve identificar as operações e atividades

que estão associadas aos perigos identificados, e em que seja necessário aplicar medidas de

controle para gerenciar os riscos para SST. O controle operacional tem por objetivo eliminar,

reduzir ou controlar os riscos de SST que poderiam ser criados no local de trabalho pelos

trabalhadores (internos e externos a organização), público em geral e visitantes. Também

devem ser levadas em consideração as áreas externas que podem ser afetadas pelos

procedimentos da organização.

Para auxiliar os controles operacionais, a OHSAS 18002 exemplifica situações em que

seriam necessárias medidas de controle. Dentre elas, são citadas medidas gerais de controle,

desempenho de tarefas perigosas, uso de materiais perigosos, instalações e equipamentos,

aquisição de materiais, equipamentos e serviços, terceirizados e visitantes no local de

trabalho. Também define alguns critérios operacionais e sugere a manutenção dos controles

existentes através de processos de melhoria contínua.

De forma geral as empresas estabelecem procedimentos operacionais específicos para o

controle operacional de SST ou inserem nas instruções de trabalho quando já existentes em

decorrência de sistemas de gestão da qualidade já implantados na empresa.

5.2.4.6. Preparação e respostas a emergências

A OHSAS 18001 determina que a organização deva estabelecer, implementar, manter e

periodicamente testar um ou mais procedimentos para identificar o potencial para situações de

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emergência e para respondê-las em caso de ocorrência. Também é necessário que sejam feitas

análises ao longo do tempo, verificando a eficácia e fazendo as alterações quando necessárias.

Para auxiliar na criação e execução desses procedimentos, a OHSAS 18002 recomenda

etapas para maior eficiência no processo.

Inicialmente é feita a identificação de situações potenciais de emergência. Para isso, a

norma exemplifica situações e lista informações que devem ser levadas em consideração no

processo.

Feita a identificação, a organização deve estabelecer e implementar procedimentos de

respostas a emergências. Para essa etapa, a OHSAS 18002 lista uma série de considerações e

itens essenciais ao desenvolvimento dos procedimentos. Além disso, também destaca-se a

recomendação pela definição de funções, responsabilidades e autoridades a pessoas com

obrigações de resposta a emergências. A partir dos procedimentos criados recomenda-se que

sejam analisados e determinados os equipamentos e treinamentos de resposta a emergência

necessários.

Após o estabelecimento e implementação dos procedimentos de resposta a emergências,

recomenda-se que sejam realizados testes periódicos (quando for de possível execução). Os

resultados devem ser mantidos para futuras análises e revisões. Análises críticas e revisões

devem ser feitas periodicamente, considerando-se os registros obtidos com simulações,

situações reais e propostas de melhorias para os procedimentos.

5.2.5. Verificação

5.2.5.1. Medição e monitoramento do desempenho

De acordo com a OHSAS 18001 a organização deve estabelecer e manter procedimentos

para monitorar e medir periodicamente seu desempenho em SST. A norma estabelece quais os

requisitos mínimos que a organização deve providenciar em seus procedimentos.

De forma a auxiliar a criação dos procedimentos, a OHSAS 18002 recomenda que uma

organização deva ter uma abordagem sistemática para monitorar e medir seu desempenho de

SST. Uma empresa deveria planejar o que irá mensurar, definindo onde, quando, quais

métodos devem ser utilizados e os requisitos de competência para as pessoas que realizarão as

medições.

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A OHSAS 18002 também recomenda que as atividades de monitoramento e medição

deveriam usar medidas proativas e reativas, com foco principalmente nas proativas a fim de

promover a melhoria do desempenho e redução de lesões. Como medidas proativas citam-se

avaliações do atendimento a requisitos legais, uso eficaz dos resultados de auditorias,

utilização de exames médicos, modelagem e monitoramento de exposição. Como medidas

reativas citam-se monitoramento de doenças, ações requeridas após avaliações por órgãos de

fiscalização, ações após o recebimento de comentários de partes interessadas. Para auxiliar os

processos de medição e monitoramento, recomenda-se o uso de equipamentos específicos

para cada objetivo, devidamente calibrados por pessoal competente.

5.2.5.2. Avaliação da conformidade

A partir dos resultados obtidos pelos procedimentos de medição e monitoramento devem

ser feitas avaliações de conformidade com os requisitos legais aplicáveis. Além dos requisitos

legais, a OHSAS 18001 também cita que a organização deva avaliar outros requisitos

pertinentes. As avaliações podem ser feitas de forma combinadas ou individual.

A OHSAS 18002 sugere entradas para avaliar o atendimento a requisitos legais e outros,

como auditorias, resultados de inspeção de órgãos de fiscalização, inspeções de instalações,

equipamento e áreas, análises críticas de projetos e trabalhos, dentre outros. Recomenda-se

que sejam feitas avaliações periódicas, variando sua freqüência com base nos resultados

obtidos por avaliações anteriores.

5.2.5.3. Investigação de acidentes, não conformidades, ações corretivas e

preventivas

De acordo com a OHSAS 18001 a investigação de acidentes deve ser estabelecida e

mantida a partir de um ou mais procedimentos que determine as deficiências na SST,

identifique necessidades de ações preventivas e corretivas e oportunidades para melhoria

contínua, e por fim, comunique os resultados das investigações.

Para auxiliar na determinação da natureza da investigação, na disponibilização de

recursos e a priorização de determinado acidente, a OHSAS 18002 recomenda que sejam

levados em conta o resultado real e as consequências do incidente, considerando sua

frequência e potencial. Também lista as recomendações de quais os pontos que devem ser

considerados no desenvolvimento dos procedimentos.

As não conformidades, ações corretivas e preventivas devem ter procedimentos

adequados aos seus tratamentos e implementações. A OHSAS 18001 lista os requisitos que

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devem ser definidos nos procedimentos, como a identificação e correção das não

conformidades e implementação de ações para minimizar as consequências as SST, a

determinação das causas e implementação de ações necessárias para evitar a ocorrência futura

de não conformidades, o registro, a comunicação e a revisão da eficácia de ações corretivas e

preventivas implementadas.

De acordo com a OHSAS 18002, define-se ações preventivas e corretivas como:

Ações corretivas são ações executadas para eliminar a(s) causa(s)-raiz

subjacente(s) das não-conformidades ou incidentes identificados, a fim de

evitar sua repetição.

Ações preventivas são executadas para eliminar a(s) causa(s)-raiz

subjacente(s) de uma não-conformidade potencial, ou de situações

indesejáveis potenciais, a fim de evitar sua ocorrência.

(OHSAS 18002,2008)

Para auxiliar a criação e implementação de ações corretivas e preventivas, a OHSAS

18002 lista exemplos de questões que podem causar o surgimento de não conformidades,

tanto para o desempenho do sistema de gestão de SST como para o desempenho da SST em

si. Também indica resultados que podem servir de entradas para as determinações de ações

corretivas e preventivas, como testes periódicos dos procedimentos de emergência,

monitoramento do desempenho e auditorias internas e externas.

5.2.5.4. Controle dos registros

Como já observado em todos os outros itens a respeito de implementar e manter os

registros, a OHSAS 18001 estabelece que essas atitudes são necessárias para a organização

demonstrar a conformidade com os requisitos do seu sistema de gestão de SST, e para

demonstrar os resultados obtidos. Para isso, a organização precisa estabelecer, implementar e

manter procedimentos para identificar, armazenar, proteger, recuperar, reter e eliminar os

registros.

Em auxílio a organização no controle de registros, a OHSAS 18002 lista os principais

registros relevantes que devem ser controlados, a exemplo de registros de inspeções de SST,

relatórios de incidentes, registros de calibração e manutenção dos equipamentos e atas de

reuniões de SST.

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5.2.5.5. Auditoria interna

De acordo com a OHSAS 18002, as auditorias podem ser utilizadas por uma organização

para analisar criticamente e avaliar o desempenho e a eficácia de seu sistema de gestão de

SST.

A OHSAS 18001 exige que a organização planeje suas auditorias internas do sistema de

gestão de SST de forma que: determine se o sistema de gestão de SST está em conformidade

com disposições planejadas, se foi adequadamente implementado e é mantido e se é efetivo

no cumprimento das políticas e objetivos da organização.

A OHSAS 18002 recomenda etapas para criação do procedimento de auditoria e as

detalha. Inicialmente se estabelece um programa de auditoria e a norma sugere itens que o

programa deve seguir como comunicação as partes pertinentes, fornecimento de recursos

necessários e garantias. A programação da auditoria interna consiste basicamente das

seguintes atividades:

Início da auditoria

Realização de análise crítica dos documentos e preparação para a

auditoria

Condução da auditoria

Preparação e distribuição do relatório de auditoria

Conclusão da auditoria e condução das ações de acompanhamento da

auditoria

(OHSAS 18002, 2008)

Cada uma das etapas citadas é descrita com a respectivas recomendações na OHSAS

18002, inclusive a seleção dos auditores.

A OHSAS 18002 recomenda também que a partir do resultado das auditorias a alta

direção deveria considerar as constatações e recomendações do sistema de gestão de SST e

executar as ações dentro de um prazo apropriado.

5.2.6. Revisão pela gestão

A OHSAS 18001 estipula que a gestão de topo deve rever o sistema de gestão de SST da

organização em intervalos planejados, assegurando sua contínua adequação, eficiência e

eficácia. As revisões devem incluir avaliações de oportunidades de melhorias e necessidades

de alterações no sistema de gestão de SST, incluindo a política e objetivos de SST. A norma

lista as entradas que são necessárias as revisões, e quais itens esperados nas saídas das

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revisões. A OHSAS 18002 sugere que as revisões sejam feitas com regularidade (trimestral,

semestral ou anualmente). Dos itens citados como entradas pela OHSAS 18001, destacam-se:

a) Resultados de auditorias e avaliações de conformidade

b) Comunicações das partes externas interessadas, inclusive reclamações

c) Desempenho de SST da organização

d) Grau de cumprimento dos objetivos

e) Recomendações para melhoria

Dos itens citados como saídas pela OHSAS 18001, destacam-se:

a) Desempenho da SST

b) Política e objetivos de SST revisados

c) Recursos disponibilizados

Além dos itens exigidos pela OHSAS 18001, a OHSAS 18002 sugere outros itens que

podem ser considerados nas entradas e saídas do processo de forma complementar. A

exemplo dos itens sugeridos para entrada, destacam-se os relatórios de gerentes sobre a

eficácia do sistema em suas áreas e o progresso no cumprimento dos planos de treinamento de

SST. A exemplo dos itens sugeridos para saídas, destaca-se a avaliação dos efeitos de

mudanças previstas na legislação ou tecnologia, pois o Brasil é um país com mudanças

frequentes na legislação vigente. O uso de novas tecnologias pode aumentar a eficiência do

sistema de gestão devido a melhorias nos processos e economia de recursos no longo prazo.

5.3 INDICADORES E DIFICULDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO

Listas de verificação quanto ao cumprimento da NR-18 nos canteiros de obra têm sido

realizadas nos últimos tempos. A exemplo, Costella et al (2014) analisa um levantamento de

115 canteiros de obra feito entre 2008 e 2010 que compara o grau de cumprimento da NR-18

de obras de diferentes portes a partir de uma lista inicialmente usada. De acordo com a análise

de resultados, quanto maior o porte da obra, maior foi o grau de cumprimento da lista, como

pode ser observado:

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Tabela 16 - Média de todas as atividades executadas por porte de obra (Fonte: Costella et al, 2014)

Na tabela 16, a macro coluna relativa ao porte de obra é dividida em duas colunas que

representam a esquerda o número de obras que se enquadravam na exigência e a direita o grau

de cumprimento, representado por um décimo do valor percentual de empresas que

cumpriram (exemplo: 0,69 representam 6,9% do cumprimento daquela atividade no número

de obras que se enquadram na situação).

A partir da ordenação dos 5 tópicos mais bem pontuados e os 5 piores por porte de obras,

observa-se certa tendência para os tipos de preocupação relacionados ao porte da obra.

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Tabela 17 - Ítens de menor cumprimento da NR-18 (Fonte: Adaptado de Costella et al, 2014)

Na tabela 17 observa-se que os itens proteção contra incêndio e sinalização de segurança

são comuns aos três portes de obra quanto à menor preocupação em relação ao seu

cumprimento.

O item “Tapumes e galerias” é comum ao menor grau de cumprimento em obras de

pequeno e médio porte. De acordo com Costella et al (2014) a partir dos valores apresentados

se percebe que a obrigatoriedade em construir barreiras visando impedir o acesso de pessoas

estranhas aos serviços é desconsiderada nas obras menores, ou então os isolamentos existentes

não possuem altura mínima predeterminada (2,20 m).

O aumento do porte de obra torna necessária a adoção de medidas de controle contra

riscos relacionados a pavimentos superiores, e com isso observa-se na tabela 17 um menor

cumprimento dos itens “Proteção contra queda no perímetro dos pavimentos” e “Aberturas no

Piso” para obras de médio e grande porte. Em obras de pequeno porte tais itens não aparecem

na tabela de menor grau de cumprimento devido à pequena quantidade de obras em que

seriam necessárias tais medidas (obras com mais de um pavimento), e que como observadas

na tabela 16, também não cumprem o requisito.

Quanto à “sinalização de segurança”, de acordo com Costella et al (2014) 0,9% dos 29

canteiros abordados de obras pequenas possuíam locais identificados; nas obras médias 29,1%

cumpriam com a sinalização, tendo em algumas obras poucas placas indicando acessos

restritos, locais de apoio (banheiros, almoxarifado, entre outros), alertas da obrigatoriedade do

uso de EPIs básicos, etc. As obras de grande porte também não chegaram à metade do

cumprimento da norma, obtendo 41,7% de conformidade com as exigências prescritas.

Itens Pequeno Porte Médio Porte Grande Porte

Corrimãos das Escadas Permanentes 0,0%

Sinalização de Segurança 0,9% 29,1% 41,7%

Proteção contra incêndio 1,9% 16,9% 31,8%

Tapumes e galerias 6,9% 31,6%

Local para refeições 7,6%

Proteção contra queda no perímetro dos pavimentos 12,4% 41,7%

Aberturas no Piso 20,0% 50,0%

Armação de Aço 50,8%

Menor grau de cumprimento

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Tabela 18 - Ítens de maior cumprimento da NR-18 (Fonte: Adaptado de Costella et al, 2014)

Dos itens de maior cumprimento, destacam-se itens comuns a todos os portes de obra.

Destaca-se na tabela 18 o item “Instalações Elétricas”, que apesar de não estar dentre os 5

mais cumpridos de obras de médio porte, apresenta 42% de grau de cumprimento. O mesmo

ocorre com o item “Andaime Simplesmente Apoiado”, que apesar de não estar dentre os 5

mais cumpridos de obras de grande porte, apresenta 61,5% de grau de cumprimento.

Em obras de pequeno porte, destaca-se “Armazenamento e estocagem de Materiais”. Em

obras de pequeno porte os materiais são comprados em menor quantidade e, muitos deles,

comprados no varejo em embalagens que estão de acordo com as Normas para que possam ser

vendidas. A pequena quantidade e facilidades com embalagens facilitam o cumprimento do

item. Também se destacam os itens “Máquinas, equipamentos e ferramentas diversas” e

“Andaimes” com seus maiores graus de cumprimento. Esses dois itens são mais facilmente

cumpridos visto que em sua maioria são objetos de locação, visto isso, recebem manutenção

constante e são fiscalizados periodicamente quanto ao cumprimento de Normas relacionadas à

segurança dos usuários.

Em obras de médio porte, devido ao maior número de trabalhadores presentes na obra,

observa-se maior preocupação quanto a itens de bem estar coletivos, como “Instalações

Sanitárias”, “Fornecimento de Água Potável” e “Local para refeições”, além dos itens já

cumpridos em obras de menor porte.

Em obras de grande porte, devido ao maior número de trabalhadores e maior área a ser

vistoriada, destacam-se maior preocupação quanto ao cumprimento de medidas de proteção

individual (representado por “Equipamentos de Proteção Individual” (EPI), como capacete,

óculos de segurança e cintos) e exigências da NR-18 para obras com grande quantidade de

trabalhadores (representado por “Área de Lazer”). Itens relacionados ao elevador (“Torre do

Itens Pequeno Porte Médio Porte Grande Porte

Instalações Elétricas 25,2% 83,6%

Andaime simplesmente apoiado 44,4% 62,5%

Máquinas, equipamentos e ferramentas diversas 47,0%

Escadas de mão e provisórias 49,5%

Armazenamento e estocagem de materiais 52,5% 59,6%

Instalações Sanitárias 59,9%

Fornecimento de Água potável 61,1%

Local para refeições 65,2%

Equipamentos de proteção individual 80,6%

Torre do elevador 85,3%

Plataforma do elevador 93,6%

Área de Lazer 100,0%

Maior grau de cumprimento

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elevador” e “plataforma do elevador”) também apresentam grande grau de cumprimento e, de

acordo com Costella et al (2014), uma explicação para tal sucesso está no fato de o uso desse

tipo de equipamento ser recente na região e, por isso, apresentar todas as suas partes

perfeitamente instaladas e em ótima conservação. Costella et al (2014) também associa o fato

do maior uso de EPI em obras de maior porte devido a maior fiscalização dos grandes

canteiros.

Observa-se a partir dos resultados gerais obtidos na tabela 16 e com as observações

apresentadas que as medidas de segurança adotadas em obras são implementadas em função

do grau de fiscalização que o porte de obra sofre. Obras de maior porte são mais evidentes e

passam por fiscalizações mais constantes do que obras de menor porte, consequentemente,

preocupam-se mais com medidas de segurança e cumprem mais itens exigidos pela NR-18

(64,7% de cumprimento em obras de grande porte contra 19,7% de cumprimento em obras de

pequeno porte).

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6. PANORAMA DOS SISTEMAS DE GESTÃO DE SST APLICADOS NA

CONSTRUÇÃO CIVIL

6.1 ASPECTOS GERAIS

De forma geral a indústria da construção civil utiliza como guia para a implantação de

seus SGSST metodologias conforme as ferramentas e técnicas descritas no capítulo 5. No

entanto, há peculiaridades que tornam esta indústria ímpar (ver capítulo 2), fazendo com que

sejam necessários adaptações para que sejam atendidos os aspectos e requisitos da norma

OHSAS 18001.

6.2 EMPRESAS CERTIFICADAS E CERTIFICADORAS

Até que seja lançada a ISO 45001, empresas buscam a certificação de seus sistemas de

gestão de SST através da certificação pela OHSAS 18001.

Apesar da certificação pela OHSAS 18001 ser reconhecida e adotada pelo mercado, ela

não é acreditada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia por não

seguir os parâmetros convencionais de normalização, como o caso das ISO. Em virtude disso,

não há um ranking oficial de certificação relacionado à OHSAS 18001.

A Revista Proteção, no ano de 2014, divulgou um ranking com as empresas certificadoras

e o número de empresas certificadas:

Tabela 19 - Ranking Certificadoras (Fonte: Revista Proteção, 2014)

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As empresas certificadoras listadas na Tabela 19 são responsáveis pela avaliação do

desempenho de sistemas de Gestão de SST e, a partir da conformidade dos pré-requisitos da

OHSAS 18001, emitem um certificado que mostra que determinada empresa estaria em

conformidade com as Leis e Normas relacionadas à SST.

De acordo com Capelas (2002), uma organização que previna e minimize os riscos

associados às suas atividades e se certifique (de acordo com um referencial reconhecido) vai

oferecer uma maior confiança e uma melhoria de imagem, quer para os seus investidores,

quer para os seus clientes. Seguindo esse raciocínio, aumenta o incentivo das empresas

construtoras pela busca de certificação e reconhecimento no mercado por esse fato.

Com base na avaliação do desempenho e inovação de empresas de construção civil ao

longo do ano, o Seconci-RJ premia as construtoras que se destacaram através do Premio Vitae

Rio. A premiação é dividida em 6 categorias: Ouro, Prata, Bronze, Prevenção,

Reconhecimento e Medalha de ouro para maior número de práticas apresentadas.

As categorias de cada premiação são relativas à pontuação quanto ao cumprimento dos

requisitos estabelecidos pela cartilha do Prêmio Vitae, onde Categoria Ouro seriam as

empresas com maior cumprimento.

De acordo com a cartilha, para que a empresa esteja classificada na categoria ouro é

necessário:

Demonstrar sistemática de aprendizado do sistema de gestão de SMS

através da evidência de ação proativas ou inovadoras, relevante para

melhoria de qualidade de vida e redução da exposição a riscos,

implementada com resultados positivos mensuráveis ou classificáveis.

(PITTA & AGUIAR 2016).

Vale destacar que todas as empresas que participaram da premiação são de grande porte,

concordando com as estatísticas apresentadas no item 5.3 do presente trabalho.

6.3 GESTÃO DE SST EM EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL

Como já destacado nos itens 6.1 e 5.2 do presente trabalho, é evidente que existe maior

preocupação com medidas de SST em canteiros de obras de maior porte.

Para que a empresa obedeça aos critérios de SST, é recomendável que se introduza um

sistema de gestão de SST.

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Em empresas de Construção Civil, deve-se analisar o porte e características da obra e, a

partir da legislação vigente e necessidades da empresa, dimensionar a equipe que trabalhará

diretamente com a implementação das medidas de SST. Esse sistema pode ser criado e gerido

por funcionários que compõe o quadro da empresa ou pode-se recorrer a empresas de

consultoria que guiam a empresa para o sucesso na criação e execução do sistema.

Para o caso de obras de pequeno porte, a legislação em relação ao SESMT ainda não

exige a presença de técnicos de SST. Esse fato aliado a falta de conscientização das empresas

por parte de SST e ao custo que profissionais de SST acarretariam a obra colaboram para a

não adoção das medidas que seriam necessárias a evitar acidentes de trabalho.

O passo a passo com as medidas necessárias a certificação de empresas quanto a SST é

detalhado no item 5 do presente trabalho. Além das várias etapas e detalhes de implementação

e execução do sistema de gestão, para o setor de construção civil existem algumas

peculiaridades que trazem características distintas ao seu sistema de gestão de SST.

De acordo com Costella et al (2014), a diversidade das obras, a falta de técnicos

especializados dentro das empresas, o caráter temporário das instalações de produção, a

rotatividade da mão de obra e o emprego de equipes terceirizadas são fatores que dificultam a

criação e a manutenção da segurança nos canteiros. Também se pode citar a falta de

disponibilidade de equipes de apoio para a equipe de SST, a exemplo de carpinteiros, o que

atrasa a confecção de equipamentos de proteção coletiva ou são feitos de forma inadequada.

Com base no ítem 5.2 (principalmente no tópico 5.2.3.1 relativo à identificação de

perigos e avaliação de riscos) do presente trabalho, fica evidente que qualquer alteração que

ocorra nos processos da obra gera mudanças no sistema de gestão de SST, necessitando de

atualizações constantes.

Como resultado do observado por Costella et al (2014) junto das características que

compõe um sistema de gestão eficaz, sistemas de gestão de SST tornam-se trabalhosos,

consequentemente gerariam maior custo aparente para a obra.

De uma forma geral, tanto os programas exigidos pela Legislação como os programas

corporativos particulares de cada empresa são implementados de forma isolada, com pouca

participação de outras pessoas além dos especialistas em meio ambiente e SST, bem como

não são adequadamente sistematizados nem interligados através de um verdadeiro sistema de

gestão. (ARAÚJO et al, 2007). Esses fatores dificultam o fluxo de informações dentro da obra

em relação à SST, diminuindo a eficácia do sistema de gestão de SST adotado. Para que a

organização tenha um sistema de gestão de SST eficaz, como descrito no capítulo 5 do

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presente trabalho, recomenda-se que exista a conscientização de todos da empresa em relação

à SST, direta ou indiretamente as suas funções.

Com objetivo de se diminuir os custos da obra com pessoal, cada vez mais atividades

administrativas da obra e do canteiro ficam sob responsabilidade de um número menor de

engenheiros. Resultando do excesso de produtividade cobrada do profissional somada à falta

de sensibilidade para a possibilidade de ocorrência de acidentes de trabalho, atividades que

não trazem indicadores imediatos relacionados a metas de produção, como as relativas à SST,

são relevadas a subcategoria, e muitas vezes negligenciadas.

Um sistema de gestão que funciona de forma eficaz em uma obra, de acordo com Santos

(2002), traz benefícios como:

a) Assegurar aos clientes o comprometimento com uma gestão da SST demonstrável;

b) Manter boas relações com os sindicatos de trabalhadores;

c) Fortalecer a imagem da organização e sua participação no mercado;

d) Aprimorar o controle do custo de acidentes;

e) Reduzir acidentes que impliquem em responsabilidade civil;

f) Demonstrar atuação cuidadosa;

g) Estimular o desenvolvimento e compartilhar soluções de prevenção de acidentes e doenças

ocupacionais;

h) Melhorar as relações entre a indústria e o governo;

Esses benefícios diretos resultam no longo prazo em retornos financeiros devido à

economia com acidentes que poderiam ocorrer (custos diretos e menos interrupções na obra),

ao aumento da produtividade dos trabalhadores e credibilidade com os clientes.

Se implementado de forma não eficaz, pode representar apenas aumento de custos para a

obra, o que desestimula sua adoção.

Outro fator relevante está ligado à quantidade insuficiente de fiscais para o grande

número de pequenas e médias obras que ocorrem de forma dispersa em boa parte do território

nacional. Como relatado no capítulo 2 do presente trabalho, as ações tradicionais de vigilância

resumem-se a verificação dos riscos e cumprimento dos requisitos mínimos de SST exigidos

pela legislação, “mascarando” indicadores da real situação de SST em que se encontram essas

obras. O cumprimento dos requisitos mínimos de SST exigidos por legislação indica a falta de

cultura do engenheiro e da construtora em relação a prevenção de SST, visto que muitos

fazem por fatores meramente legais.

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Também existem os trabalhadores informais que subsistem por meio de bicos, já

abordados no capítulo 2 do presente trabalho. Em situações de crise econômica com elevado

grau de desemprego, esses meios de trabalho tornam-se opção para boa parte da população, o

que aumenta novamente a incapacidade de controle de medidas de SST. A falta de cultura de

SST por parte dos trabalhadores em conjunto a postura reativa ao uso de EPI‟s agrava ainda

mais a situação.

De acordo com Araújo et al (2007), os custos humanos e financeiros para os

trabalhadores, empregadores e para a sociedade em geral, resultante dos acidentes de trabalho

e das doenças profissionais não são totalmente refletidos pelas estatísticas oficiais de

acidentes de trabalho. A falta da relação direta dos custos com os acidentes colaboram para

aumentar a descrença na possibilidade de ocorrência de acidentes e reduz o incentivo pela

busca de sistemas de gestão por parte das construtoras.

A soma dos sistemas de gestão ineficazes, o mero cumprimento das exigências mínimas

de SST e o alto grau de informalidade retratam suas consequências, dentre outras maneiras,

através dos rankings de acidentes de trabalho no país, em que a ICC está dentre as maiores

causadoras.

6.4 RELATO DE SITUAÇÃO DE SST EM OBRA DE EDIFICAÇÃO COMERCIAL

A fim de se observar os fatos apresentados no item 6.3 em obras em andamento, foram

feitas visitas regulares a uma obra que ocorreu em uma cidade no interior do estado do Rio de

Janeiro. A escolha da obra foi resultado da acessibilidade no canteiro promovida pelos

gestores da obra e da possibilidade do contato direto com profissionais de hierarquias

diferentes.

6.4.1 DESCRIÇÃO DA EMPRESA

A empresa analisada no estudo de caso é uma construtora de médio porte que atua no

mercado de construção civil voltado para construções de uso comercial através de serviços de

planejamento e gerenciamento, por meio de contratos de administração.

Não foi autorizado o uso de mais informações relativas à empresa em questão. Assim

sendo neste trabalho a empresa é denominada como “Construtora A”.

Apesar da preocupação por parte dos engenheiros em campo com SST, a Construtora A

não é certificada em SGSST.

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6.4.2 DESCRIÇÃO DA OBRA

A obra em questão é a reforma de uma edificação antiga alterando o tipo de utilização do

empreendimento, porém mantendo-se as características físicas externas do prédio. Tal decisão

foi tomada alinhando-se o interesse do dono do empreendimento em criar um ambiente que

trouxesse lembranças para a população local com a possibilidade de se manter uma área útil

maior do que seria permitido em caso de demolição e nova construção.

A obra está situada em uma cidade no interior do estado do Rio de Janeiro e ocupa

aproximadamente 2000 m².

Um dos requisitos do contratante do serviço foi que obrigatoriamente toda mão de obra

utilizada na construção fosse residente do entorno da obra, o que solidariza um dos pilares do

conceito de sustentabilidade atrelado a obra, o social. No entanto, tal exigência aumentou o

custo da obra visto que houve necessidade de preparação da mão de obra para serviços

específicos, pois os trabalhadores da região não tinham determinadas capacitações.

Visando suprir os outros pilares da sustentabilidade, optou-se pelo uso de equipamentos

mais modernos para o funcionamento do empreendimento com menores impacto e custos

operacionais possíveis. Para isso foram adotados sistemas de iluminação de led, ares-

condicionados centrais inversíveis, dentre outros sistemas mais atualizados para correto e

eficiente funcionamento do empreendimento. A instalação desses equipamentos foi feito por

mão de obra terceirizada, em sua maioria os próprios fornecedores.

Os serviços montagem das estruturas metálicas no interior da edificação, perfuração das

estacas e instalações prediais de lógica e dados foram feitas por empresas terceiras.

6.4.3 MEDIDAS DE SST ADOTADAS E OBSERVAÇÕES DIÁRIAS

Respeitando os requisitos das NR‟s, foram tomadas todas as providências iniciais relativas

à SST para aquele tipo e porte de obra, como treinamentos de uso de equipamentos de

proteção individual e coletivos e conscientização quanto aos riscos.

No entanto, não houve acompanhamento diário por parte de profissionais de SST, visto

que o mesmo fazia visitas semanais à obra para “analisar a situação em que obra se

encontrava”. A falta de informações dadas pelo engenheiro de SST quando perguntado sobre

os procedimentos de rotina que seriam feitos tenderam a interpretação de que apenas

relatórios eram gerados para o suprimento dos requisitos mínimos exigidos pela legislação.

Não foi obtido acesso aos documentos de Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

(PPRA), Programa de Controle Médico e Saúde Ocupacional (PCMSO) e Programa de

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Condições e Meio Ambiente de Trabalho (PCMAT). Quando perguntado aos engenheiros da

Construtora A sobre esses documentos, eles afirmaram que existiam e estariam em posse do

engenheiro de SST. A falta de acesso a documentação e a indisponibilidade de dados para

consulta mostraram que o serviço dos profissionais de SST foi contratado meramente por

motivos legais, sem considerar a real função que o profissional de SST teria na obra.

O canteiro de obra era bem sinalizado e cumpria com os requisitos estabelecidos pelas

NRs. A maioria dos equipamentos utilizados na obra eram alugados e passavam por

manutenções periódicas por parte das locadoras.

Apesar da ausência de funcionários de SST, os engenheiros de campo da Construtora A

demonstravam-se preocupados com as condições de trabalho dos funcionários e exigiam o

uso de equipamentos de proteção individual, advertindo-os quando não utilizavam. De acordo

com o engenheiro chefe, os anos de experiência em obras o levaram a tomar mais cuidado

com acidentes de trabalho tendo vista acontecimentos já ocorridos em outras obras de seu

conhecimento. Tal fato mostra a existência da preocupação para acidentes mais explícitos e

indica a falta de conhecimento mais aprofundado do tema SST, pois falta a sensibilidade para

visualização de acidentes menos previsíveis.

No dia-a-dia de obra através de conversas e observação visual ficou evidente que a maior

parte dos funcionários da obra nunca tinha passado por procedimentos de SST em obras

anteriores ou sequer acreditavam na eficácia dos equipamentos que lhes haviam fornecido.

Eram constantes as reclamações quanto à exigência do uso do cinto de segurança para

andaimes, pois “dificultaria” a locomoção; reclamações quanto ao uso de capacetes, luvas e

botas, em que afirmavam “esquentar muito” e dificultar os seus trabalhos. Dificilmente era

observado o uso de protetores auriculares e o uso de óculos de proteção também era muitas

vezes negligenciado. Em contra partida, muitos elogiaram o fato da obra ter instalações

sanitárias, ambiente para refeição e descanso e água de bebedouro (água mineral comprada

em galão no comércio local), pois afirmaram que em obras passadas não tinham tais meios de

subsistência, que ironicamente os funcionários os descreveram como “regalias”.

Em relação aos trabalhadores de empresas terceirizadas, havia negligência dos

engenheiros da obra sobre qualquer exigência relativa à SST. Os engenheiros responsáveis

pela obra, apesar da responsabilidade solidária sobre os terceiros que trabalhavam no local,

preocupavam-se apenas com a qualidade do serviço feito. Os supervisores de algumas

empresas terceirizadas, como as prestadoras de serviço de instalação de rede de dados,

preocupavam-se com os requisitos de SST de seus funcionários. No entanto, outras empresas

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terceiras, como o caso da responsável pela perfuração das estacas, pareciam não fazer ideia do

que se trata SST, tanto por parte dos supervisores, quanto pelos operários.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 CONCLUSÕES

A partir da relação entre os elementos conceituais pesquisados sobre SST em obras de

construção civil e da experiência do autor obtida pela observação no dia-a-dia de obra,

conclui-se que existe um conjunto de fatores que resultam na atual situação do setor de

construção civil em relação a acidentes e quase-acidentes de trabalho.

Visto que o tema é relativamente recente no ambiente de construção civil em relação a sua

normatização, muitos trabalhadores de todos os níveis hierárquicos ainda desconhecem as

NR‟s e a importância da prevenção de acidentes, e consideram muitas das medidas que

deveriam ser tomadas como supérfluas.

Para os funcionários de maior nível hierárquico ainda prevalecem os anseios por cortes de

custos, o que muitas vezes resulta na contratação de serviços de Engenharia de Segurança no

Trabalho a partir da seleção pelo menor preço. Resultante do baixo valor cobrado pelo

serviço, na maioria das vezes esses profissionais de SST apenas geram os relatórios exigidos

pelas NRs para que a obra fique em conformidade com as exigências legais, mas não se

preocupam com a real finalidade desses processos.

A cultura que está associada ao corte de custos relacionados à SST está relacionada

diretamente a falta de informação durante a formação dos profissionais de construção civil

relacionadas à SST, o que gera descrença na possibilidade de ocorrência de acidentes. Uma

vez desconhecida a importância do tema, diminui o incentivo ao investimento na prevenção

de acidentes. Tal raciocínio pode ser explicado, por exemplo, quando são considerados os

custos relacionados aos projetos de estruturas, que ao longo de toda formação acadêmica do

engenheiro é destacada a importância para a segurança da estabilidade da edificação, e a falta

de atenção para esses projetos pode resultar em prejuízos astronômicos.

A preferência pelos menores custos em contra partida da maior qualidade por parte dos

contratantes incentiva profissionais de SST a produzirem relatórios em larga escala, e muitas

vezes a replicação dos mesmos relatórios apenas mudando o nome da empresa e as

características contratuais da obra. Além da irrelevância desses documentos para a execução

da obra, visto que tem apenas função de formalizar a obra junto a órgãos governamentais,

também se tem a menor presença dos funcionários de SST durante a obra para a atualização

constante dos planos de prevenção de acidentes.

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Os funcionários de níveis hierárquicos mais basais, aqueles que efetivamente vivenciam

os perigos relacionados à construção, normalmente têm menos conhecimento sobre medidas

de SST associados a uma cultura de descrença quanto à possibilidade de ocorrência de

acidentes. Também se destaca a falta de costume do uso de EPI‟s, associando-os a

desconforto para execução das tarefas e descrença quanto à eficiência dos mesmos.

Outro fator que pode ser observado é a falta de notificação de acidentes de trabalho para a

geração de CAT (Comunicado de Acidente de Trabalho). Através de conversas com

profissionais do setor, indicou-se que “só são gerados CAT‟s em última instância, pois existe

muita burocracia para esse procedimento”, o que pode ser um dos indícios para o grande

volume de acidentes não notificados.

7.2 PROPOSTAS E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Como proposta para solução no longo prazo para a falta de conscientização sobre SST em

obras de construção civil propõe-se as seguintes medidas:

Em relação aos Engenheiros Civis, que o tema SST seja abordado na graduação desses

profissionais de diferentes formas ao longo das disciplinas apresentadas, de maneira que a

verificação dos quesitos de SST se torne um hábito comum na execução das diferentes

etapas da obra. A integração da previsão das medidas de SST com o planejamento da obra

aumenta a produtividade de todos os setores e diminui gastos que seriam resultados de

medidas preventivas de acidentes. Tal política converge com pensamentos de Sistemas de

Gestão Integrados e com a hierarquia estabelecida pela OHSAS 18001 sobre prevenção à

proteção. Além disso, tal medida traz a formação profissional o pensamento de sistemas de

gestão integrada, que é um dos princípios da ISO 45001, o que tornaria ainda mais atual a

formação desses engenheiros.

Em relação aos trabalhadores de campo (operacionais), programas de conscientização

quanto aos riscos de acidentes poderiam ser abordados nas disciplinas escolares do ensino

básico, de cursos técnicos e profissionalizantes e em eventos sociais promovidos pelo

governo, destacando-se a maior necessidade para regiões mais distantes do centro, onde se

tem menor presença de fiscalizações e acesso a informação. Outro fator importante está

relacionado ao diálogo com os trabalhadores operacionais e questioná-los sobre o conforto

e ergonomia associados aos equipamentos de proteção. A partir das informações obtidas

com esses diálogos, buscar alternativas que estimulem o uso dos equipamentos quando

necessários.

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Como sugestão para trabalhos futuros, trabalhos que abordem o tema SST em fatores

quantitativos. Trabalhos comparando custos de obras de portes similares que implementem

sistemas de gestão de SST com outras que não implementem podem gerar estatísticas que

incentivem a implementação dos sistemas, não só por fatores financeiros diretos relacionados

aos custos de acidentes de trabalho, mas por fatores subjetivos, como os relacionados ao

aumento da produtividade da equipe.

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