vicente martins dalla chiesa

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O USO DO ITALIANO COMO LÍNGUA LITÚRGICA E DE CULTO NAS COMUNIDADES METODISTAS DA COLÔNIA ITALIANA DO NORDESTE GAÚCHO (1887-1939) VICENTE DALLA CHIESA A ideia de elaborar o presente texto surgiu de pesquisas desenvolvidas pelo autor 1 nos últimos anos, com o objetivo de estudar a ainda pouco conhecida presença da Igreja Metodista na antiga região de colonização italiana do nordeste gaúcho. Ao longo desse estudo, foi verificada a urgência na necessidade de contatar os poucos anciãos ainda vivos das comunidades metodistas, o que foi, em certa medida, já realizado. Nessas conversas, um dado curioso foi comum a elas: todos os entrevistados, sem exceção, referiram a força do uso cotidiano do dialeto italiano, mesmo no período posterior à Segunda Guerra Mundial, ao mesmo tempo em que foi mencionado o uso exclusivo da língua portuguesa nas atividades da igreja. O acesso à documentação da Igreja Metodista regional complementou tais informações, e permitiu delinear com clareza um quadro progressivo de desuso na utilização da língua italiana pela Igreja Metodista no período estudado, em quatro fases: 1) de 1887, início da atividade metodista, até os primeiros anos do século XX, quando há uso quase exclusivo da língua italiana; 2) um segundo período, que se estende até fins da década de 1910, em que há uma situação de bilinguismo, ainda com predomínio do uso do italiano na igreja; 3) o período dos anos 1920 até a primeira metade da década de 1930, onde há uma situação de bilinguismo, mas com claro predomínio da língua portuguesa e; 4) por fim, o período que inicia em meados da década de 1930, onde a Igreja Metodista passa a utilizar o português de forma exclusiva, ainda antes das medidas nacionalizadoras do Estado Novo. Primeira fase Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, funcionário do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 1 Agradeço aos entrevistados, bem como aos professores Antonio De Ruggiero, pelas orientações, e João Paulo Rito Rodrigues Aço, pelo acesso ao depoimento de Oscar Beux Krüger.

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Page 1: Vicente Martins Dalla Chiesa

O USO DO ITALIANO COMO LÍNGUA LITÚRGICA E DE CULTO NAS

COMUNIDADES METODISTAS DA COLÔNIA ITALIANA DO NORDESTE GAÚCHO

(1887-1939)

VVIICCEENNTTEE DDAALLLLAA CCHHIIEESSAA

A ideia de elaborar o presente texto surgiu de pesquisas desenvolvidas pelo autor1 nos

últimos anos, com o objetivo de estudar a ainda pouco conhecida presença da Igreja Metodista

na antiga região de colonização italiana do nordeste gaúcho. Ao longo desse estudo, foi

verificada a urgência na necessidade de contatar os poucos anciãos ainda vivos das comunidades

metodistas, o que foi, em certa medida, já realizado. Nessas conversas, um dado curioso foi

comum a elas: todos os entrevistados, sem exceção, referiram a força do uso cotidiano do dialeto

italiano, mesmo no período posterior à Segunda Guerra Mundial, ao mesmo tempo em que foi

mencionado o uso exclusivo da língua portuguesa nas atividades da igreja. O acesso à

documentação da Igreja Metodista regional complementou tais informações, e permitiu delinear

com clareza um quadro progressivo de desuso na utilização da língua italiana pela Igreja

Metodista no período estudado, em quatro fases: 1) de 1887, início da atividade metodista, até os

primeiros anos do século XX, quando há uso quase exclusivo da língua italiana; 2) um segundo

período, que se estende até fins da década de 1910, em que há uma situação de bilinguismo,

ainda com predomínio do uso do italiano na igreja; 3) o período dos anos 1920 até a primeira

metade da década de 1930, onde há uma situação de bilinguismo, mas com claro predomínio da

língua portuguesa e; 4) por fim, o período que inicia em meados da década de 1930, onde a

Igreja Metodista passa a utilizar o português de forma exclusiva, ainda antes das medidas

nacionalizadoras do Estado Novo.

Primeira fase

Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, funcionário do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 1 Agradeço aos entrevistados, bem como aos professores Antonio De Ruggiero, pelas orientações, e João Paulo Rito

Rodrigues Aço, pelo acesso ao depoimento de Oscar Beux Krüger.

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Eu, quando eu era jovem, com a nona eu era obrigado, de vez em quando, a

dizer alguma coisa em italiano, ela não falava outra língua, não é! Ela

ficava braba. Veio prá cá, morreu, falando italiano, morreu falando

italiano não é! Não mudou os hábitos dela! (Oscar Beux Krüger)

A Igreja Metodista Episcopal do Norte dos Estados Unidos inicia sua atuação no Rio

Grande do Sul em 1885, na cidade de Porto Alegre (FLORES, 1937:40-44). Procurando ampliar

suas atividades, seu segundo ponto de atuação foi na região de colonização italiana do nordeste

gaúcho a partir de 1887, inicialmente nas colônias de Dona Isabel e Alfredo Chaves, onde

haviam se estabelecido alguns imigrantes que haviam tido contato com a Igreja Valdense no

Vêneto, e, posteriormente, na localidade de Forqueta do Caí, interior do Município de Caxias

(DALLA CHIESA, 2015:281-282). Essas comunidades foram inicialmente formadas, em sua

quase totalidade, por imigrantes italianos, conforme se pode verificar dos livros de registro que

apresentam o rol de membros2. A Igreja Metodista percebeu a necessidade de comunicação com

seus fiéis, e resolveu a situação deslocando do Uruguai, sua base na América do Sul, para

atuarem nas comunidades nascentes, dois homens nascidos na Itália e imigrados para

Montevidéu, onde se converteram à Igreja Metodista. Um dos motivos da escolha desses

homens, Carlos Lazzarè e Mateus Donati, que não tinham formação teológica (DALLA

CHIESA, 2014:1710-1714), foi, sem dúvida, o aspecto linguístico. O relatório da Sociedade de

Missões da Igreja Metodista referente ao ano de 1888, menciona que os integrantes da

comunidade de Dona Isabel “aguardam ansiosamente a chegada do irmão Lazzaré, que fala sua

língua” 3. Com efeito, Carlos Lazzarè chega a Bento Gonçalves em fins de 1888 (MANUAL

2 Livros Fundação e Rol (1889-1901) da igreja metodista de Bento Gonçalves e Registro de Forqueta do Caí (1891-

1943), pertencente à igreja metodista de Caxias do Sul. 3 Septuagésimo relatório anual da Sociedade Missionária da Igreja Metodista Episcopal para o ano de 1888

(Seventieth annual report of the Missionary Society of the Methodist Episcopal Church for the year 1888). Nova

York, 1889, [s. e.], p. 49-50.

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METODISTA, 1910:10) e Mateus Donati assume seu cargo como líder religioso da comunidade

da Forqueta em janeiro de 18924.

Os relatos dos depoentes referem a utilização maciça da língua italiana à época5, em todos

os setores da vida cotidiana, não apenas na igreja. O depoente Oscar Beux Krüger menciona que

sua avó materna – a mesma referida na epígrafe, a imigrante Domenica Girardi Beux, que não

dominava a língua portuguesa – foi quem intermediou a ida do pastor Lazzarè para um batizado

coletivo na localidade de Forqueta:

Então, fundaram Caxias do Sul, terra dos bugres, depois Caxias do Sul, não é. Então ela foi reunindo,

aquele grupo de colonos que estavam lá, foram reunindo... Então manteve essas sessenta crianças, e quando

o pastor chegou em Porto Alegre, ela soube, e mandou buscar ele. Mandou buscar... e a nona disse: “foi a

maior festa, batizando essas sessenta crianças”, isso ela me contava, eu era pequeno ainda.

A respeito dessa primeira fase, também o exame da documentação da Igreja Metodista

revela que o idioma italiano era a língua franca nas comunidades existentes, formadas

essencialmente por pessoas nascidas na Itália ou filhas de italianos, lideradas por pastores

também italianos. Os registros efetuados por Lazzarè e Donati nos livros de registro das igrejas

metodistas de Bento Gonçalves e Forqueta, em especial nos livros de casamentos e batizados,

abrangendo o período de 1889 a 1900, estão escritos em italiano. Nota-se, inclusive, que os

prenomes das crianças batizadas são escritos em sua forma italiana (Giovanni Battista Baccin,

Ottavio Elia Premaor, Umberto Busnello, Beatrice Meneghetti), mesmo em se tratando de

crianças filhas de pais não ítalos (Massimo [Max] Schlichting, Guglielmo [William] Fulcher) 6.

4 Manuscrito intitulado Memorie della Chiesa Metodista Episcopale della Forqueta, redigido pelo pastor Mateus

Donati. Arquivo da igreja metodista de Caxias do Sul. 5 Tais informações são corroboradas pelos estudos clássicos sobre os dialetos italianos no Rio Grande do Sul, como,

por exemplo, em FROSI e MIORANZA, 1974, p. 60-66. 6 Primeiro livro de batismos da igreja metodista de Bento Gonçalves (1889-1913).

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Ao relatar o histórico da igreja da Forqueta, em 1894, o pastor Donati utilizou a língua

italiana7, e no mesmo idioma foram redigidas as anotações dos livros de contabilidade da

comunidade até 19008. As referências de Oscar Beux Krüger são também confirmadas pela

leitura de carta remetida pelo pastor Carlos Lazzarè a Antonio Premaor em 30 ago.18919. Toda

escrita em língua italiana, ela comunica ao destinatário, membro da igreja metodista de Bento

Gonçalves, sua eleição como “guia” (mencionado em italiano como capo classe), descrevendo

em detalhes as atribuições do cargo, que incluíam visitas aos membros da igreja, ao menos uma

vez por semana, com o objetivo de acompanhamento da vida espiritual da pessoa,

aconselhamento, consolo, ou mesmo repreensão.

Se verifica claramente, nesse período, que a direção da missão metodista continuou

zelando para que os fiéis tivessem a pregação e o acompanhamento espiritual por pessoas que

falassem a sua língua. No final do século XIX, há trabalho metodista em Porto Alegre, Caxias –

que o reverendo Lazzarè passa a visitar esporadicamente10-, Forqueta, Bento Gonçalves e

Alfredo Chaves (FLORES, op. cit.:72). Portanto, das cinco localidades de atuação metodista no

Rio Grande do Sul, quatro estavam localizadas na região colonial italiana.

Segunda fase

Sim, os meus avós só falavam italiano. Os pais falavam português, a minha mãe

é que não deixava que a gente falasse italiano... ela não gostava. Mas na rua, as

pessoas falavam só em italiano, principalmente os mais velhos. Os meus avós

nunca aprenderam a falar português... entendiam, mas não falavam.

7 Memorie della Chiesa Metodista Episcopale della Forqueta. 8 Primeiro livro caixa da igreja metodista da Forqueta, abrangendo os anos de 1892 a 1900. Arquivo da igreja

metodista de Caxias do Sul. 9 Documento pertencente ao acervo privado do Sr. Ademir Gugel. 10 Conforme informações constantes do histórico da igreja metodista de Caxias do Sul apresentada na ata de

inauguração do templo daquela localidade, datada de 7set.1922, confirmadas pelos registros de batismos efetuados

pelo pastor Lazzarè na cidade de Caxias, constantes dos livros respectivos, das igrejas de Bento Gonçalves e da

Forqueta.

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(Wanda Baccin Reschke)

O ano de 1900 traz mudanças significativas na atuação da Igreja Metodista no Rio Grande

do Sul, descritas em detalhes em ata lavrada pelo pastor Lazzarè em língua italiana11. As duas

igrejas metodistas americanas então existentes nos EUA, do Norte e do Sul, dividem a América

do Sul em esferas de atuação, cabendo o Brasil à igreja sulista. Como o trabalho em terras

gaúchas era conduzido pelo outro ramo do metodismo americano, alguns pastores partem e

outros chegam. Carlos Lazzarè se despede de sua comunidade e retorna para o Uruguai, Mateus

Donati opta por permanecer. A partir de 1901, as comunidades serranas passam a ser atendidas

por pastores que não são italianos; porém, nas duas primeiras décadas do século, são quase

sempre atendidas por pastores que dominam a língua italiana, que continua em uso nas

comunidades, conforme se verifica de referências nas atas das igrejas locais e de artigos na

imprensa metodista, em especial no órgão oficial da igreja no Rio Grande do Sul, o jornal O

Testemunho, publicado em Porto Alegre de 1904 a 1917. Além de Donati, passam a atuar como

presbíteros os jovens José Chaulet, Frederico Peyrot e Guilherme Fulcher, todos nascidos na

comunidade da Forqueta, e que dominavam o italiano12. O pastor João Ruiz, que atuou em Bento

Gonçalves, também dominava o idioma, pois deixou registrado ter efetuado pregações em

italiano e em português13, o mesmo ocorrendo com o pastor americano John W. Price14, que, ao

assumir o cargo pastoral em Bento Gonçalves, leva consigo como auxiliar um jovem ítalo-

brasileiro, o futuro pastor Adolfo Ungaretti.

Na mesma época, a atuação dos leigos naturais da Itália também é muito destacada. Na

mesma anteriormente referida, datada de 1904, o pastor Ruiz refere a existência de duas escolas

11 Ata redigida pelo pastor Carlos Lazzarè em 10fev.1901, constante do livro intitulado Forquetta – Libro registro

degli atti delle conferenze trimestrali (1899-1901). Arquivo da igreja metodista de Caxias do Sul. 12 O Testemunho, 15nov.1905. 13 Livro de atas da conferência trimestral do circuito de Bento Gonçalves (1903-1909), ata de 14fev.1904. 14 O Testemunho, 15dez.1904.

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dominicais em Bento Gonçalves, uma em português, regida por ele, e outra em italiano, regida

por Giuseppe Cabrillo, imigrante italiano e membro ativo da comunidade metodista local. Não

obstante os registros escritos – atas, batismos, casamentos – passem a ser realizados somente em

português, o vigor no uso do italiano é claramente comprovado pelas notícias veiculadas na

imprensa. O jornal O Testemunho, em sua primeira edição, no ano de 190415, registra que há dois

cultos dominicais em Bento Gonçalves, um em italiano, e outro em português. Quatro anos

depois, o presbítero Guilherme Fulcher, ao descrever, em carta ao jornal, uma viagem através da

região colonial, registra que somente em Garibaldi os hinos metodistas são cantados em

português16.

A atividade da Igreja Metodista, nesse período, também passa por um incremento nas

regiões de colonização italiana no Rio Grande do Sul. Em 1905 o pastor Mateus Donati organiza

uma nova comunidade na região de Linha Bonita, área de colonização italiana, atualmente

pertencente ao Município de Gramado17. No ano seguinte, em 1906, inicia o trabalho metodista

em Guaporé, entre famílias de origem italiana reemigradas de Bento Gonçalves e Alfredo

Chaves18. Da mesma forma, é constante a presença de relatos, na imprensa e nos relatórios

pastorais, a incursões à zona rural para atividades de pregação e proselitismo. Existe ainda outro

aspecto a salientar nesse período, a constante referência à comemoração de datas nacionais

italianas pela imprensa metodista, em especial o dia 20 de setembro, em que se celebra a entrada

das tropas italianas em Roma. Em todas as edições de O Testemunho imediatamente posteriores

a essa data, sempre há registro de festas realizadas pelos membros italianos da Igreja Metodista

em Porto Alegre. Na edição de 1ºout.1907, quase toda a primeira página do jornal é ocupada por

um poema patriótico celebrando a efeméride, escrito em língua italiana.

15 O Testemunho, 15jan.1904. 16 O Testemunho, 1ºjul.1908. 17 O Testemunho, 15out.1905. 18 O Testemunho, 15abr.1906.

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Por outro lado, a celebração das datas nacionais italianas e o cultivo da italianidade não

parecem ter sido exclusividade dos imigrantes residentes em Porto Alegre. Após a entrada da

Itália na Primeira Guerra Mundial, foi organizado em Bento Gonçalves um comitê para

arrecadação de fundos em prol do esforço de guerra italiano, e o tesoureiro e coordenador das

coletas é Giuseppe Cabrillo, já mencionado acima19. A entrevistada Wanda Baccin Reschke

refere que seu avô Dionisio Baccin, fundador da igreja metodista de Bento Gonçalves, foi

presidente da sociedade italiana de mútuo socorro local, intitulada Regina Margherita. A

entrevistada conserva em seu acervo pessoal uma fotografia datada de 1915, onde aparecem os

membros da referida sociedade, posando em frente à sua sede. Nessa fotografia, é possível

identificar, além do avô da entrevistada, Giuseppe Cabrillo e Antonio Premaor, os três mais

destacados líderes da comunidade metodista bento-gonçalvense nas suas primeiras décadas de

existência.

Os elementos aqui apresentados permitem verificar que o uso do idioma italiano na igreja

metodista, nesse período temporal, era constante, porque se fazia necessário. O pastor João

Wagner Filho, que atendeu a comunidade de Alfredo Chaves entre 1918 e 1920, refere ter tido

dificuldades em sua atuação, por perceber que as pessoas não compreendiam bem a língua

portuguesa20. Nilza Covolo Kratz, nascida em Garibaldi em 1923, refere a presença, em sua

infância, de seu avô paterno Giovanni Covolo, nascido na Itália e imigrado para o Brasil com os

pais na década de 1880, cuja formação religiosa, dentro da Igreja Metodista, ocorreu no Brasil:

Ele gostava muito de, todas as noites, reunir a família e fazer uma oração. Fazia uma oração muito linda.

Ele fazia em italiano. Vou ter que pedir para a minha tia que me dê uma cópia. Ele fazia pelas viúvas, pelos

marinheiros, pelos órfãos, para aqueles que não tinham emprego, pelos doentes. [...] E às vezes, tinha gente

que ia lá, como é que diziam em italiano? Fazer filó, comer amendoim, pinhão, etc... Ele dizia: “vocês

19 Il Corriere D´Italia, 9jul.1915. 20 Livro de atas das conferências trimestrais da igreja metodista de Alfredo Chaves (1918-1922), ata de 22jul.1919.

Acervo da igreja metodista de Bento Gonçalves.

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podem ficar à vontade, depois que eu faço a preghiera” (oração). Ele rezava e depois dizia: “Buona notte,

bon riposo a tutti” (boa noite, bom repouso a todos), e ele ia para a cama.

No final desse período, faleceu Mateus Donati, então um dos missionários mais antigos em

atuação no Rio Grande do Sul, cujo nome é sempre ligado à atividade metodista entre os

italianos21. Ele dedicou a maior parte de sua longa atuação no Brasil (1892 a 1919) ao trabalho

entre seus patrícios. No acervo da igreja metodista de Gramado, estão depositados diversos livros

que pertenceram a ele, com anotações manuscritas, inclusive um volume que enfeixa vários

textos curtos, publicados pela Editora Claudiana, de Turim, em 1901, entre os quais há dois

opúsculos escritos por Donati, em italiano impecável, tratando de doutrina religiosa. Ele passou

seus últimos anos atendendo a comunidade metodista de Gramado, fundada através de sua

atuação direta, e lá faleceu em 30dez.1919 (FLORES, op. cit.:55). Sua morte foi contemporânea

ao fim de uma era do metodismo regional em termos linguísticos.

Terceira fase

Tinha poucas famílias na Igreja Metodista... Girondi, Hack, os Canini, os Covolo, os

Motti... e também famílias de “brasileiros”. Esses eram gente que trabalhava nas

oficinas da viação férrea, que se estabeleceu aqui em Garibaldi aí por 1925.

(Acyr Girondi)

A chegada dos anos 1920 traz duas importantes modificações no cenário regional. A

primeira diz respeito à dinamização econômica da região provocada pela Primeira Guerra

Mundial (GALLO, 1976), com incremento na atividade comercial e industrial e melhoria do

sistema de transportes. A rede ferroviária, que já atendia Carlos Barbosa, Nova Vicenza e Caxias

desde 1909-1910 (LORENZONI, 1975:225), chega a Garibaldi em 1918 e Bento Gonçalves em

21 Obituário de Mateus Donati, escrito pelo pastor Adolfo Ungaretti no anuário da Conferência Anual da Igreja

Metodista para o ano eclesiástico de 1919-1920, p. 20-22. Arquivo do Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista

(IPA).

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1919 (CAPRARA e LUCCHESE, 2005:298-299). Essa dinamização trouxe à região,

especialmente a seus núcleos urbanos, pessoas de diversas origens étnicas e de várias confissões

religiosas (PINZETTA, 1996:540). Na mesma época, alterou-se também a estrutura da igreja

metodista, mediante uma ampla reorganização do trabalho na zona nordeste do Rio Grande do

Sul22. Praticamente desaparecem dos livros de atas as menções, até então bastante frequentes, às

incursões dos pastores à zona rural, em especial para visitar as famílias metodistas que lá

residiam. Com exceção da comunidade da Forqueta, área rural do interior do município de

Caxias, vão rareando as menções a crentes residentes em localidades rurais. Também cessa a

atuação na cidade de Guaporé. Por outro lado, a área de atuação dos pastores sediados nas

cidades serranas é muito ampliada em direção ao sul, passando a incluir cidades típicas de

colonização alemã (Novo Hamburgo, Estrela, Lajeado, Montenegro), onde as congregações eram

compostas de teutos e lusos. Ao mesmo tempo, os centros da atividade metodista regional, que

até então tinham sido Bento Gonçalves e Forqueta, se deslocam para as novas igrejas fundadas

em Caxias e Garibaldi. Em Caxias, é comprado um terreno na área central da cidade, na Avenida

Júlio de Castilhos, sobre o qual se inaugura um templo em 1922, construído com dinheiro

enviado dos Estados Unidos23, e nessa cidade passam a residir os pastores com atribuições

administrativas, que atuam de forma itinerante em toda a região. Em Garibaldi, onde a Igreja

Metodista compra três lotes urbanos em 192224, a comunidade é formalmente estabelecida em

1ºjan.192325, sendo organizado, alguns anos após, um educandário dirigido por metodistas, o

colégio Rio Branco, conforme rememora Nilza Covolo Kratz: "Também nessa igreja, quando foi

construída, tinha o colégio com professores formados que vinham de Porto Alegre, em Garibaldi.

22 Informações extraídas do livro de registros intitulado Atas da Conferência Regional do Distrito Colonial (1923-

1936), onde há ampla descrição do trabalho metodista na região nordeste gaúcha no período. Arquivo da igreja

metodista de Bento Gonçalves. 23 Ata de inauguração do templo metodista de Caxias do Sul, 7set. 1922. Arquivo da igreja metodista local. 24 Translado de escritura de contrato de compra e venda, datado de 9out.1922. Documento arquivado em pasta sem

identificação, onde estão reunidos papéis diversos. Arquivo da igreja metodista de Bento Gonçalves. 25 Livro rol atual de membros da igreja metodista de Bento Gonçalves, onde há a transcrição, nas páginas 12 a 15, da

transferência dos membros residentes em Garibaldi para a nova igreja lá constituída, em 1ºjan.1923.

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E o nome do colégio era Rio Branco. Me lembro disto. [...] Era um colégio do estado, mas

administrado por metodistas".

Observa-se também, do extrato do depoimento de Acyr Girondi acima transcrito, que parte

significativa da comunidade metodista de Garibaldi não era composta por pessoas de origem

italiana, mas sim de luso-brasileiros, muitos deles vinculados à estrutura organizacional da

estação férrea. Esse dado é facilmente confirmado pela leitura dos sobrenomes dos alunos da

escola dominical da igreja de Garibaldi e do educandário citado por Nilza Covolo Kratz, o

Colégio Rio Branco26. O mesmo ocorre em Caxias, comunidade formalmente reorganizada em

22out.191627, onde os membros com sobrenome italiano não ultrapassam um terço do número

total de membros, já por volta de 192028.

O período é marcado também por outra mudança, que se verifica de forma muito clara da

lista dos pastores que atenderam as comunidades serranas: o fato de que, após 1920, raros serão

os pastores que dominam a língua italiana, ao contrário do que acontecia até então. Efetivamente,

com exceção de John Price –americano conhecido como notável poliglota - em Caxias/Forqueta

entre 1921 e 1925 e Frederico Peyrot - nascido na Forqueta, que dominava quatro idiomas29 - em

Alfredo Chaves entre 1922 e 1925, não há indicativo de que qualquer dos muitos pastores que

atuaram na região a partir de 1920 soubesse italiano, muito menos que fosse capaz de pregar

nessa língua. É certo que, conforme a tradição metodista (REILY, 1993:72), o atendimento

espiritual da comunidade poderia e deveria ser prestado também por leigos, como evidenciado

26 Livros intitulados Conta-corrente - Colégio Rio Branco (1930) e Rol dos alunos matriculados na escola dominical

da igreja metodista de Garibaldi (1929-1931). Arquivo da igreja metodista local. 27 Livro de atas das conferências trimestrais das paróquias metodistas de Gramado e Caxias (1914 a 1919). Ata

referente à primeira conferência trimestral do ano eclesiástico de 1916-1917, suplementos A e B. Arquivo da igreja

metodista de Caxias do Sul. 28 Livro Registro de membros da igreja metodista episcopal de Caxias (1916-1922). Arquivo da igreja metodista

local. 29 O Testemunho, 15nov.1905.

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pela carta de Carlos Lazzarè a Antonio Premaor, acima referida. Algumas dessas lideranças

leigas se notabilizaram pela assiduidade e zelo com que cumpriram suas funções, o que é

atestado pela frequência com que seus nomes aparecem na documentação, exercendo muitas

funções nas comunidades onde residiam: Dionisio Baccin, Giuseppe Cabrillo e Antonio

Premaor, em Bento Gonçalves; Abramo Canini, em Garibaldi; Antonio Benetti, em Gramado; os

irmãos Stefano e Bartolomeo Beux, na Forqueta. Todos eles eram imigrantes italianos, e, nos

arquivos das igrejas metodistas e das cidades onde atuaram, ou em poder de seus descendentes,

podem ser encontrados documentos escritos por eles em língua italiana,o que indica que teriam

aptidão para dirigir cultos e prestar assistência religiosa nesse idioma, se fosse necessário.

Especialmente em relação a Antonio Premaor e Antonio Benetti, conserva-se bastante literatura

religiosa em italiano que foi pertencente a eles, o que indica a frequência com que atuavam como

guias leigos em suas comunidades. No entanto, conforme os registros que se encontram nos

livros de registros das igrejas metodistas, todos já eram sexagenários ou septuagenários na

década de 1920, e boa parte deles faleceu nesse período.

Oscar Beux Krüger, após referir a necessidade de falar em italiano com os avós, ao ser

perguntado sobre o idioma utilizado no culto metodista em Gramado e Caxias, onde viviam seus

familiares, no início da década de 1930, afirma que “Não, [o culto] era em português, era

português! Os pastores que vinham já falavam, já falavam em português, não é...”. No entanto, a

presença da devocional doméstica também é registrada no mesmo depoimento:

[...] nas terras da avó, da nona, a casa era mais baixa que a rua, então o terreno era mais baixo que a Rua

18 do Forte. Então, faziam aquele porão enorme [...]. Embaixo só ficava a sala de reuniões. E, na casa da

nona, de vez em quando, eles se reuniam, as famílias se reuniam, não é, pra falar da Bíblia, do Evangelho.

[...] Eu sei que eles faziam reuniões na casa, não é? Porque na época ainda não tinha... uma igreja montada,

não é? Eu sei que a nona dizia: “vocês têm que vir, porque amanhã é o culto aqui... e tal”. Era uma sala

assim, grande. [...] Não tinha pastor na época!

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A mudança do italiano para o português parece ter sido efetuada com fluidez, porque não

há qualquer registro formal mencionando essa troca, ou qualquer determinação regulamentadora

nesse sentido nos documentos das igrejas locais ou da direção estadual da Igreja Metodista. Por

outro lado, a partir de 1920, igualmente não há mais menção, na mesma documentação, ao uso

da língua italiana na atividade religiosa. Os depoimentos dos entrevistados permitem inferir que

esse idioma fosse utilizado no culto religioso, na ausência de um pastor, como refere Oscar Beux

Krüger, ou na devoção doméstica, conforme Nilza Covolo Kratz. Mas não resta dúvida que o uso

do idioma italiano dentro da igreja metodista, no período, sofre um forte recuo, em especial no

espaço mais público e formal dos templos. Esse recuo vai se consolidar no período seguinte.

Quarta fase

Na igreja não, era só português. Os pastores pregavam só em

português, a escola dominical também.

(Marieta Silva Cislaghi)

A partir da segunda metade da década de 1930, a Igreja Metodista regional apresentava um

panorama substancialmente diferente em relação ao que fora em 1900 ou mesmo 1920. As

igrejas de Guaporé, Carlos Barbosa e Nova Vicenza já não existiam. Em Alfredo Chaves e

Forqueta, as comunidades estavam numericamente muito reduzidas30, em vias de

desaparecimento, o que efetivamente ocorreria na década seguinte31. Em Garibaldi e Caxias,

estavam estabelecidas as igrejas mais recentes da região, e comunidades formadas em grande

medida por pessoas de origem não italiana, especialmente em Caxias, centro da atividade

30 Livros de atas da Conferência Regional Distrital (1923-1936 e 1937-1941). Arquivos da igreja metodista de Bento

Gonçalves e do IPA (Instituto Porto Alegre); Livro de atas das conferências trimestrais das igrejas metodistas de

Alfredo Chaves (1933-1935) e da Forqueta (1931-1933). 31 Livro de atas das conferências trimestrais da igreja metodista de Caxias do Sul (1942-1947), onde é indicada a

venda do terreno e do templo da Forqueta em 23dez.1947; Rol de membros da igreja metodista de Bento Gonçalves,

reformado na década de 1940 e em uso atualmente, onde está indicada a transferência dos membros remanescentes

da igreja de Alfredo Chaves (Veranópolis) no ano de 1947.

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metodista regional. Acyr Girondi, nascido em Garibaldi em 1931, recorda que até mesmo a

alfabetização ofertada na igreja era em língua portuguesa: “A escola dominical era dada no sótão

da igreja, as nossas professoras eram a Nilza Covolo e a Stella Canini. Mas não era doutrina

religiosa, não... Elas ensinavam a ler e escrever, a gente usava o livro chamado ‘Queres ler?’ ”.

Restam as comunidades de Gramado e Bento Gonçalves. Na primeira, conforme

mencionado acima por Oscar Beux Krüger, não obstante a existência de uma intensa vida

comunitária, já não se utilizava o italiano no culto. Na segunda, Wanda Baccin Reschke, nascida

em 1929, menciona que, ao começar a frequentar a igreja metodista local, em 1935 ou 1936,

levada pela família paterna – uma vez que sua mãe era católica – o culto e a escola dominical

eram na língua oficial do país:

Era tudo em português. Ao menos desde que me lembro, eu comecei a frequentar a igreja com uns seis, sete

anos... Ia com minha avó ou minhas tias, às vezes com meu pai. [...] O pastor falava em português. Na hora

do sermão, ou algo assim, havia uma moça... ela era da família Ferrari, que chamava nós, os pequenos, e

nos levava para o fundo da igreja, para uns bancos colocados perto da parede, e lá era a escola dominical.

Essa moça, não me lembro o primeiro nome dela... ela era muito culta, ela tinha estudado no Colégio

Americano, em Porto Alegre, tinha estudado piano, línguas, ela tocava órgão na igreja, inclusive.

Quando Marieta Silva Cislaghi chegou a Bento Gonçalves, vinda da fronteira oeste do

estado, na década de 1940, o português era utilizado no culto de forma exclusiva, e a pregação

em língua italiana na Igreja Metodista era apenas uma lembrança. Essa depoente refere que as

antigas famílias italianas fundadoras daquela comunidade metodista (Baccin, Busnello, Marcon),

“não são da minha época, são de antes”. Tal afirmação é confirmada mediante simples leitura do

rol de membros das igrejas locais, em especial as de Bento Gonçalves e Alfredo Chaves. Wanda

Baccin Reschke, neta do fundador Dionisio Baccin, também refere o abandono do metodismo

por sua família: “Depois, isso [a vinculação com a Igreja Metodista] foi se perdendo. O meu pai

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deixou, eu mesma nunca mais fui, nem meus irmãos. Casei só na Igreja Católica, o meu marido

era de família muito católica”.

Os elementos aqui apresentados demonstram que o metodismo regional se “nacionalizou”,

ao menos no aspecto linguístico, antes das medidas repressivas adotadas pelo Estado Novo32.

Nas atas das conferências das igrejas metodistas da região, referentes ao período de 1937 a

194133, não há menção alguma a respeito da necessidade de adoção da língua portuguesa no

culto ou de adequação à normatização do governo Vargas no tocante à utilização de idiomas

estrangeiros. Há, indubitavelmente, uma multiplicidade de fatores que levaram ao desuso

institucional da língua italiana: o falecimento das antigas lideranças leigas nascidas na Itália, que

dominavam muito bem o idioma, inclusive na sua forma padrão; a conversão ao catolicismo de

várias das famílias italianas mais antigas das comunidades metodistas; o ingresso cada vez

maior, nas congregações regionais, de pessoas que não eram de origem italiana, conforme

referem Acyr Girondi e Marieta Silva Cislaghi; a presença de pastores que não conhecem essa

língua; a cessação da atuação na zona rural, onde era necessário usar o italiano, que era a língua

franca das comunidades; a concentração progressiva dos membros da igreja entre a população

urbana, onde a compreensão da língua portuguesa era maior, ainda que não total, como menciona

Wanda Baccin Reschke acerca de sua avó paterna.

Contudo, além desses fatores locais, é possível também formular uma hipótese

complementar, que parece ser também uma linha de investigação importante no fenômeno aqui

32 É interessante notar que, no período em que o metodismo regional deixa de empregar a língua italiana, seu uso

continua maciço nas comunidades católicas regionais, através da pregação, instrução religiosa, jornais e boletins

paroquiais (PINZETTA, 1996). A esse respeito, a situação na cidade de Bento Gonçalves é emblemática. O início da

década de 1930 é marcado pelo falecimento dos dois últimos líderes metodistas locais nascidos na Itália, Antonio

Premaor, em 1932, e Giuseppe Cabrillo, em 1934. Por outro lado, no ano de 1933, os vigários da comarca

eclesiástica católica sediada na cidade, ao elaborarem um documento que regulamentava a relação das capelas rurais

com as paróquias, o redigiram em italiano (MIGOT, 1988:631-633) 33 Livro de atas da Conferência Regional Distrital (1937-1941). Arquivo do Instituto Porto Alegre da Igreja

Metodista (IPA).

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apresentado, de mudança de padrão linguístico: a Itália deixou de ser uma referência para os

metodistas. No período que vai até a Primeira Guerra Mundial, a imprensa metodista regional,

em especial o jornal O Testemunho, constantemente louva a Itália como país laico, que, a partir

da tomada militar de Roma, em 1870, pôs fim ao poder temporal dos papas. Como visto

anteriormente, a data de 20 de setembro, que também marca a Revolução Farroupilha, era

sempre comemorada pelos membros italianos da Igreja Metodista em Porto Alegre, e noticiada

na imprensa. A Itália, nesses artigos, é apresentada como exemplo para o Brasil, no sentido de

ser um país que, ao insistir na laicidade do Estado, rompe com seu passado marcado pela

tradição católica. A partir da década de 1920, também isso muda. A aproximação entre o

governo fascista italiano e a Santa Sé tensionou significativamente as relações do regime com a

minoria evangélica na Itália, especialmente após os tratados de Latrão de 1929, que não apenas

criaram o Estado do Vaticano, mas deixaram mais difícil a vida dos evangélicos, ao tornarem o

catolicismo religião oficial (TOURN, 1998:164-166). Isso repercutiu nas comunidades

evangélicas ao redor do mundo, a nova Itália clerical deixou de ser o exemplo de país laico até

então louvado. Tais novidades, sem dúvida, ressoam na região colonial. Aparentemente, não há

espaço para a continuidade da atuação daqueles patriotas italianos evangélicos que apoiaram tão

entusiasticamente a entrada da Itália na Primeira Guerra Mundial, em 1915, e não apenas em

razão do envelhecimento e desaparecimento dessas personagens. O momento histórico é

diferente, se começa a elaborar e fomentar a ideia de uma associação indissolúvel e preexistente

entre catolicidade e italianidade, que fica muito evidente no álbum comemorativo do

cinquentenário da imigração italiana, editado em 1925. Nessa extensa publicação,

significativamente, nada se fala a respeito de presença metodista na região colonial, embora a

atuação da Igreja Católica seja tratada de forma muito detalhada. Vende-se, a partir de então, a

noção de que só é italiano quem é também católico, e isso de uma forma cada vez mais intensa

(POSSAMAI, 2005). Tal ideário passa a ser repetido incessantemente nas obras que tratam da

colonização italiana no Rio Grande do Sul, ocultando uma realidade que foi bem mais complexa

e plural, e que se procura aqui apresentar.

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FONTES ORAIS

Acyr Girondi, entrevista concedida ao autor em 23dez.2015

Marieta Silva Cislaghi, entrevista concedida ao autor em 14out.1999

Nilza Covolo Kratz, entrevista concedida a Lourdes Fedrigo Riboldi em 27maio2006

Oscar Beux Krüger, entrevista concedida a João Paulo R. Rodrigues Aço em 6set.2006

Wanda Baccin Reschke, entrevista concedida ao autor em 12dez.2015

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