vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA MARINA CLARE VINAUD Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de Taenia crassiceps in vivo e seu estudo in vitro sob a ação de fármacos anti-helmínticos. Tese de Doutorado Orientador: Prof. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra Co-orientador: Prof. Dr. Ruy de Sousa Lino Junior Goiânia, Goiás 2007

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Page 1: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA

MARINA CLARE VINAUD

Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de Taenia crassiceps in vivo e seu estudo

in vitro sob a ação de fármacos anti-helmínticos.

Tese de Doutorado

Orientador:

Prof. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra

Co-orientador:

Prof. Dr. Ruy de Sousa Lino Junior

Goiânia, Goiás 2007

Page 2: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Marina Clare Vinaud

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

INSTITUTO DE PATOLOGIA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA

MARINA CLARE VINAUD

Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de Taenia crassiceps in vivo e seu estudo

in vitro sob a ação de fármacos anti-helmínticos.

Orientador:

Prof. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra

Co-orientador:

Prof. Dr. Ruy de Sousa Lino Junior

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em

Medicina Tropical IPTSP/UFG como requisito parcial para obtenção do título

de Doutor na área de concentração de Parasitologia.

Goiânia, Goiás 2007

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Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

ii

AGRADECIMENTOS

À Deus, por me proporcionar as oportunidades de trabalho e estudo que me

permitiram chegar até aqui, realizando tantos sonhos;

Ao amigo e orientador, José Clecildo Barreto Bezerra pelos 10 anos de

convivência e aprendizado essenciais em toda a minha formação profissional e

pessoal;

Ao meu esposo, Ruy de Souza Lino Junior pelo apoio incondicional e presença

constante durante todas as etapas deste trabalho, e à nossa filha, Emília Clara

Vinaud de Souza Lino;

Aos meus pais, por me incentivarem sempre a seguir em frente e buscar a

realização dos meus sonhos; e irmão pelo apoio e ajuda;

A Cirlane Ferreira Silva, pela ajuda inestimável na realização dos testes

bioquímicos sem os quais não seria possível a realização deste trabalho;

Aos amigos Ana Maria de Castro, Josireny Mariano Mendes, Carolina Aguiar

Araújo;

Aos professores, funcionários e colegas do Programa de Pós Graduação em

Medicina Tropical do IPTSP/UFG e da Unievangélica;

Aos camundongos que com suas vidas proporcionam notória contribuição ao

desenvolvimento de novas técnicas e tratamentos médicos, convergindo

significativamente para o avanço da Ciência e trazendo benefícios para nossa saúde;

A todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a realização

deste trabalho.

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Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

iii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família, Ruy de Souza Lino Junior e nossa filha

Emília Clara Vinaud de Souza Lino.

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Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

iv

SUMÁRIO

Agradecimentos................................................................................................ ii

Dedicatória....................................................................................................... iii

Lista de Abreviaturas....................................................................................... v

Lista de Figuras............................................................................................... vi

Lista de Figuras do artigo 1.............................................................................. vii

Lista de Figuras do artigo 2.............................................................................. vii

Lista de Figuras do artigo 3.............................................................................. viii

Lista de Tabelas do artigo 1.............................................................................. ix

Lista de Tabelas do artigo 2.............................................................................. ix

Lista de Tabelas do artigo 3.............................................................................. ix

Lista de anexos................................................................................................ x

Resumo............................................................................................................ xi

Abstract........................................................................................................... xiii

Introdução....................................................................................................... 1

Objetivos.......................................................................................................... 24

Artigo 1 - Taenia crassiceps: ácidos orgânicos detectados nos cisticercos.......... 25

Artigo 2 - Metabolismo energético e respiratório de cisticercos de Taenia

crassiceps in vitro e sob a ação de praziquantel e albendazol............................. 43

Artigo 3 - Detecção da oxidação de ácidos graxos e fontes alternativas de

energia em cisticercos de Taenia crassiceps in vitro e sob ação de fármacos

anti-helmínticos............................................................................................... 62

Conclusões Gerais............................................................................................ 80

Considerações Finais........................................................................................ 82

Referências Bibliográficas................................................................................. 84

Anexos ............................................................................................................ 93

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v

LISTA DE ABREVIATURAS

ATP – adenosina trifosfato

CLAE – cromatografia líquida de alta eficiência

CoA – Coenzima A

COBEA – Colégio Brasileiro de Experimentação Animal

DAI – dias após infecção

HIV - human immunodeficiency vírus

HMG – CoA – hidroximetilglutaril Coenzima A

HMG – hidroximetilglutaril

HPLC – high performance liquid chromatography

IFN - interferon

IL – interleucina

IP – intra-peritoneal

IPTSP – Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública

ND – não detectado

OAA - oxaloacetato

ORF – original fox

PEP – fosfoenolpiruvato

SE – secretadas / excretadas

T. crassiceps – Taenia crassiceps

T. solium – Taenia solium

UFG – Universidade Federal de Goiás

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vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Ciclo biológico de Taenia crassiceps, com seus hospedeiros

definitivos (1) - canídeos, intermediários (3) - roedores, e paratênicos (5) –

mamíferos como o homem, lêmures e animais domésticos. .............................. 2

Figura 2. Catabolismo de carboidratos em cisticercos de Taenia crassiceps. ..... 11

Figura 3. Produção e excreção de fumarato, creatinina e uréia em mamíferos... 12

Figura 4. Catabolismo anaeróbio de carboidratos em helmintos. ...................... 13

Figura 5. Catabolismo de aminoácidos em hepatócitos de vertebrados. ............ 14

Figura 6. Destino metabólico de ácidos orgânicos intermediários do ciclo do

ácido cítrico em mamíferos............................................................................... 15

Figura 7. Oxidação de ácidos graxos em vertebrados. ...................................... 16

Figura 8. Formação de corpos cetônicos a partir de Acetil-CoA em vertebrados. 17

Page 8: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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vii

LISTA DE FIGURAS DO ARTIGO 1

Figura 1. Características macroscópicas dos cisticercos.................................... 31

Figura 2. A. Cromatograma de cisticercos em estádio larval com 21 dias de

infecção. B.Cromatograma de cisticercos em estádio final com 21 dias de

infecção. C. Cromatograma de cisticerco em estádio larval com 42 dias de

infecção D. Cromatograma de cisticercos em estádio final com 42 dias de

infecção. E. Cromatograma de calibração de ácidos orgânicos.......................... 35

Figura 3. Caminhos metabólicos da produção de β-hidroxibutirato por

cisticercos de Taenia crassiceps........................................................................ 39

LISTA DE FIGURAS DO ARTIGO 2

Figura 1. Cromatogramas de ácidos orgânicos secretados/excretados por

cisticercos em fase inicial, grupo controle (A), expostos a 0,03 µg.mL-1 de

praziquantel (B), expostos a 0,06 µg.mL-1 de praziquantel (C)............................ 51

Figura 2. Cromatogramas de ácidos orgânicos secretados/excretados por

cisticercos em fase inicial, grupo controle (A), expostos a 0,05 µg.mL-1 de

albendazol (B), expostos a 0,075 µg.mL-1 de albendazol (C)............................... 53

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Tese de Doutorado

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viii

LISTA DE FIGURAS DO ARTIGO 3

Figura 1. Cromatograma de ácidos orgânicos secretados/excretados por

cisticercos em fase larval, grupo controle (A), expostos a 0,03 µg.mL-1de

praziquantel (B), expostos a 0,06 µg.mL-1de praziquantel (C) ............................ 66

Figura 2. Cromatograma de ácidos orgânicos secretados/excretados por

cisticercos em fase larval, grupo controle (A), expostos a 0,05 µg.mL-1de

albendazol (B), expostos a 0,075 µg.mL-1de albendazol (C) ............................... 68

Page 10: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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ix

LISTA DE TABELAS DO ARTIGO 1

Tabela 1. Concentrações médias de ácidos orgânicos detectados em cisticercos

de Taenia crassiceps nas fases final e larval. Resultados em média ± desvio

padrão em mMol/mL (peso úmido)x10-6........................................................... 33

LISTA DE TABELAS DO ARTIGO 2

Tabela 1 – Concentrações médias ± desvio padrão de glicose (mg.dL-1) e ácidos

orgânicos (pMol.mL-1) em cisticercos de Taenia crassiceps in vitro e sob efeito

de Praziquantel a 0,03 e 0,06 µg.mL-1, por espectrofotometria e cromatografia

líquida de alta performance/detector UV. ........................................................ 52

Tabela 2 - Concentrações médias ± desvio padrão de glicose (mg.dL-1) e ácidos

orgânicos (pMol.mL-1) em cisticercos de Taenia crassiceps in vitro e sob ação

de Albendazol a 0,05 e 0,075 µg.mL-1, por espectrofotometria e cromatografia

líquida de alta performance/detector UV. ........................................................ 54

LISTA DE TABELAS DO ARTIGO 3

Tabela 1 – Concentrações médias ± desvio padrão de propionato, acetato e β-

hidroxibutirato (pMol.mL-1) e proteínas totais (g.dL-1), uréia e creatinina

(mg.dL-1) secretados por cisticercos de Taenia crassiceps in vitro e sob ação de

Praziquantel a 0,03 e 0,06 µg.mL-1, por cromatografia líquida de alta

performance/detector UV e espectrofotometria................................................. 67

Tabela 2 – Concentrações médias ± desvio padrão de propionato, acetato e β-

hidroxibutirato (pMol.mL-1) e proteínas totais (g.dL-1), uréia e creatinina

(mg.dL-1) secretados por cisticercos de Taenia crassiceps in vitro e sob ação de

Albendazol a 0,05 e 0,075 µg.mL-1, por cromatografia líquida de alta

performance/detector UV e espectrofotometria. ............................................... 69

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x

LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Taenia crassiceps: organic acids detected in cysticerci.

Anexo 2 - Cromatogramas da detecção in vitro de ácidos orgânicos

secretados/excretados por cisticercos do grupo controle em fase inicial (A), fase

larval (B) e em fase final (C).

Anexo 3 – Cromatogramas da detecção in vitro de ácidos orgânicos

secretados/excretados por cisticercos expostos a 0,03µg.mL-1 de praziquantel em

fase inicial (A), fase larval (B) e em fase final (C).

Anexo 4 - Cromatogramas da detecção in vitro de ácidos orgânicos

secretados/excretados por cisticercos expostos a 0,06 µg.mL-1 de praziquantel em

fase inicial (A), fase larval (B) e em fase final (C).

Anexo 5 – Cromatogramas da detecção in vitro de ácidos orgânicos

secretados/excretados por cisticercos expostos a 0,05 µg.mL-1 de albendazol em

fase inicial (A), fase larval (B) e em fase final (C).

Anexo 6 - Cromatogramas da detecção in vitro de ácidos orgânicos

secretados/excretados por cisticercos expostos a 0,075 µg.mL-1 de albendazol em

fase inicial (A), fase larval (B) e em fase final (C).

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xi

RESUMO

Os cisticercos de Taenia crassiceps vêm sendo utilizados como modelo

experimental para estudo da cisticercose por larva de T. solium por apresentarem

similaridades antigênicas e facilidades de manutenção em laboratório. Além disso,

existem relatos de cisticercose humana por T. crassiceps acometendo,

principalmente, pacientes imunocomprometidos. Neste estudo foram avaliadas as

vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de T. crassiceps in vivo e

sua secreção/excreção in vitro sob ação de praziquantel e albendazol em dosagens

subletais.

Foram realizadas análises por cromatografia líquida de alta performance com

detector UV (CLAE) dos seguintes ácidos orgânicos: oxalato, citrato, oxaloacetato,

piruvato, malato, succinato, lactato, β-hidroxibutirato, acetato, fumarato e

propionato de cisticercos de T. crassiceps retirados de cavidade intraperitoneal de

camundongos BALB/c aos 21 e 42 dias de infecção em estádio larval e final.

Detectaram-se propionato e β-hidroxibutirato em cisticercos de T. crassiceps

indicando a oxidação de ácidos graxos como fonte de energia alternativa,

especialmente utilizada em estádios de crescimento e em situações de baixas

concentrações de substancias energéticas provenientes do hospedeiro, como nos

tecidos. Além disso, a presença de ácidos orgânicos do ciclo do ácido cítrico confirma

a aerobiose in vivo em ambos os estádios evolutivos dos cisticercos.

In vitro, cisticercos mantidos em meio RPMI suplementado foram expostos a

doses subletais de praziquantel (0,03 e 0,06 µg/mL) e albendazol (0,05 e 0,075

µg/mL). Detectaram-se por HPLC e espectrofotometria as seguintes substâncias:

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xii

glicose, lactato, oxaloacetato, citrato, malato, fumarato e succinato. Estes dados

indicam que os fármacos anti-helminticos, nas concentrações subletais utilizadas,

influenciaram a excreção de lactato, diminuindo-a, fazendo com que haja uma

preferência pela via aeróbia de produção de energia. Além disso, as concentrações de

glicose excretada permaneceram inalteradas, confirmando o bloqueio de sua

captação como um dos mecanismos de ação dos fármacos.

Detectou-se, ainda, in vitro por HPLC e espectrofotometria: propionato,

acetato, β-hidroxibutirato, proteínas totais, uréia e creatinina. Esses dados indicam

que os fármacos testados, em doses subletais, apresentam efeitos no metabolismo

de cisticercos de T. crassiceps como: induzir a fosforilação de fosfato de creatinina

como fonte de energia alternativa, inibir a utilização de proteínas como fonte de

energia e os aminoácidos resultantes de sua quebra na síntese de ácidos nucléicos

como forma de impedir a produção de brotamentos e a replicação dos cisticercos.

Portanto, os fármacos apresentam mecanismos de ação capazes de atuar em

diferentes vias metabólicas.

Destaca-se descrição da excreção de uréia por cisticercos, via metabólica

importante na excreção de produtos tóxicos, como a amônia, ainda não relatada na

literatura. E, ainda, a oxidação de ácidos graxos como fonte alternativa de energia

em cisticercos sob ação de fármacos anti-helmínticos.

Palavras chaves: albendazol, cisticercos, fonte alternativa de energia,

metabolismo energético, metabolismo respiratório, praziquantel, Taenia crassiceps.

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Marina Clare Vinaud

xiii

ABSTRACT

Taenia crassiceps cysticerci have been used as experimental model to study

the T. solium larvae cysticercosis as they present antigenic similarities and easy

laboratory maintenance. Besides, there are reports of human cases of cysticercosis

by T. crassiceps, especially in immunocompromised patients. In this study, the

presence of energetic and respiratory metabolism pathways and their end products

were evaluated in T. crassiceps cysticerci in vivo and its in vitro secretion/excretion

under praziquantel and albendazole action, in sub lethal dosages.

High performance liquid chromatography with UV detector (HPLC) analysis

were performed to detect the following organic acids: oxalate, citrate, oxaloacetate,

pyruvate, malate, succinate, lactate, β-hydroxybutirate, acetate, fumarate and

propionate in cysticerci removed from the peritoneal cavity of BALB/c mice at 21

and 42 days after infection. The cysticerci were in larval and final stages. Propionate

and β-hydroxybutirate were detected in T. crassiceps cysticerci indicating the fatty

acid oxidation as an alternative energy source especially used in growing stages and

in circumstances of low concentrations of energetic substances from the host, as in

tissues. Besides, the presence of organic acids from the citric acid cycle confirms the

aerobiosis in vivo in both cysticerci evolutive stages.

In vitro, the cysticerci were maintained in supplemented RPMI media and were

exposed to sub lethal dosages of praziquantel (0,03 and 0,06 µg/mL) and

albendazole (0,05 and 0,075 µg/mL). HPLC and spectrophotometer analysis detected

the following substances: glucose, lactate, oxaloacetate, citrate, malate, fumarate

and succinate. These data indicate that the anti-helminthic drugs, in the sub lethal

used dosages, influenced the excretion of lactate, decreasing it and leading to a

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Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

xiv

consequent preference towards the aerobic energy production pathway. Besides, the

concentrations of excreted glucose remained unaltered, confirming that its uptake

blockage is one of the drugs mechanisms of action.

We detected, also, in vitro by HPLC and spectrophotometer analysis:

propionate, acetate, β-hydroxybutirate, total proteins, urea and creatinin. These

data indicate that the tested drugs, in sub lethal dosages, present several effects on

T. crassiceps cysticerci metabolism such as: to induce the cratinin phosphate

phosphorilation as an alternative energy source, to inhibit the use of proteins as

energy source and the resulting amino acids from its breaking in the nucleic acids

synthesis as a way of blocking the budding and the cysticerci replication. Therefore,

the drugs used present mechanisms of action, capable of affecting several metabolic

pathways.

We highlight the description of the urea excretion by cysticercus which is a

metabolic pathway important in the excretion of toxic products such as ammonia,

not yet reported in the literature. And, also, the oxidation of fatty acid as an

alternative energy source in cysticerci under the presence of anti-helminthic drugs.

Key words: albendazole, alternative energy source, cysticerci, energetic

metabolism, respiratory metabolism, praziquantel, Taenia crassiceps.

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Marina Clare Vinaud

1

INTRODUÇÃO

1. Ciclo de Taenia crassiceps

O parasito Taenia crassiceps (Zeder, 1800) Rudolphi, 1810 é um representante

da família Taeniidae, ordem Cyclophyllidea e classe Cestoda, caracterizado por

helmintos adultos com comprimento entre 7-14cm, corpo segmentado em proglotes

hermafroditas, ausência de trato digestório, e escólex com duas coroas de acúleos

(32-36 acúleos por fileira). A forma larval ou cisticerco, também denominado de

Cysticercus longicollis Rudolphi 1819, é caracterizada por um cisticerco de 4-5mm

de diâmetro com escólex invaginado capaz de produzir inúmeros brotamentos na

superfície de sua membrana (Freeman, 1962; Maillard et al., 1998).

A figura 1 ilustra o ciclo biológico de T. crassiceps. As formas adultas de T.

crassiceps parasitam habitualmente o terço médio do intestino delgado de canídeos,

especialmente raposas, coiotes e cães domésticos (Freeman, 1962; Arocker-

Mettinger et al., 1992; Shimalov e Shimalov, 2003), que eliminam em suas fezes as

proglotes grávidas, repletas de ovos, que são ingeridos por roedores, hospedeiros

intermediários naturais. Os embriões hexacantos (6 a 8μm de diâmetro) eclodem no

seu trato digestório e penetram pela mucosa, migrando pelo organismo do

hospedeiro, por via linfática, até se alojar em um determinado órgão ou cavidade,

normalmente a região subcutânea, cavidades pleural e abdominal, onde desenvolve

a larva metacestóide ou cisticerco que se multiplicam por diversos brotamentos

formados a partir de sua membrana externa. Esta forma larval pode ser detectada

por volta de 12 dias após a ingestão dos ovos, podendo chegar a 11mm de

comprimento. Os brotamentos se destacam do cisticerco inicial cerca de 4 semanas

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Tese de Doutorado

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2

após o seu surgimento. Apesar de apresentarem o canal do escólex, muitos

brotamentos não chegam a apresentar escólex, sendo incapazes de produzir

helmintos adultos, mas capazes de produzir novos brotamentos. A capacidade

reprodutiva dos brotamentos aumenta com o tempo de infecção. O hospedeiro

definitivo ingere as larvas metacestóides e desenvolve o helminto adulto de 34 a 70

dias após a infecção, sendo possível a visualização de ovos nas fezes a partir de 5 a

6 semanas após a ingestão dos cisticercos. Nestes hospedeiros a infecção se mantém

naturalmente até um período de cerca de 9 meses, e posteriormente evoluindo para

cura espontânea. Em hospedeiros intermediários e paratênicos não foi relatada a

cura espontânea (Freeman, 1962; Maillard et al., 1998).

Figura 1. Ciclo biológico de Taenia crassiceps, com seus hospedeiros definitivos (1) -

canídeos, intermediários (3) - roedores, e paratênicos (5) – mamíferos como o

homem, lêmures e animais domésticos (adaptado de Freeman, 1962).

Page 18: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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3

O estudo experimental da relação parasito-hospedeiro com cisticercos de T.

crassiceps (cepa ORF) vem sendo conduzido com relativa facilidade, pois os

cisticercos apresentam multiplicação por brotamento o que permite sua manutenção

em camundongos, sem a formação dos helmintos adultos. Desta maneira vários

estudos da resposta imune de camundongos à infecção por este helminto vêm sendo

conduzidos, enfocando tanto a resposta nas primeiras semanas de infecção quanto

em períodos mais avançados desta relação (Padilla et al., 2001). Além disso, a

utilização deste modelo experimental tem grande importância na produção de

antígenos utilizados em testes sorológicos para detecção de neurocisticercose por

larva de T. solium diante da grande similaridade antigênica apresentada por estes

parasitos (Vaz et al., 1997).

2. Incidência de T. crassiceps em animais

Inicialmente, o cestóide T. crassiceps foi identificado como parasito de raposas

vermelhas (Vulpes vulpes), sendo encontrado principalmente na Europa (Freeman

1962). O helminto adulto foi detectado em áreas rurais da Grécia infectando raposas

vermelhas, lobos, chacais e gatos selvagens (Papdopoulos et al., 1997). Na Alemanha

foi relatada a presença de T. crassiceps em várias regiões parasitando raposas

vermelhas, texugos, fuinhas e gatos (Loos-Frank e Zeyhle, 1982; Ballek et al., 1992;

Wessbecher et al., 1995; Pfeiffer et al., 1997). Raposas vermelhas infectadas também

foram relatadas na Itália (Poglayen et al., 1985), França (Petavy e Deblock, 1980) e

Nova Scocia (Smith, 1978) e raposas árticas foram encontradas infectadas nas Ilhas

Banks (Eaton e Secord, 1979).

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Tese de Doutorado

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4

Os cisticercos de T. crassiceps podem acometer uma grande variedade de

animais, sendo os mais comuns roedores como ratos, ratazanas e coelhos. Porém, já

foram identificados em marmotas, lêmures, cães e gatos domésticos (Freeman,

1962; Deblock e Petavy, 1983; Dyer e Greeve, 1998; Brojer et al., 2002). Não foram

encontrados na literatura relatos de animais parasitados na América Latina, não se

sabendo, portanto, se existe a presença do parasito no ambiente silvestre.

3. Patogenia da cisticercose por T. crassiceps

As larvas metacestóides de T. crassiceps são capazes de se implantar,

causando cisticercose em vários locais como: fígado, sistema nervoso central, intra-

ocular, intrapleural e região subcutânea; relatadas em vários mamíferos, como

raposas, texugos e humanos, principalmente imunodeprimidos (Freeman, 1962;

Deblock e Petavy, 1983; Dyer e Greeve, 1998; Brojer et al., 2002).

A presença de animais domésticos infectados com o helminto adulto de T.

crassiceps aumenta a incidência de casos em humanos, como o relato de

cisticercose intraocular em uma menina de 17 anos de idade que ingeriu,

acidentalmente, ovos de T. crassiceps que estavam sendo liberado por seu cão de

estimação (Freeman et al., 1973). Outros animais domésticos como os gatos também

podem atuar como hospedeiros paratênicos, desenvolvendo cisticercos no sistema

nervoso central e na região subcutânea, demonstrando que a fonte da infecção pode

estar próxima de humanos (Wünschmann et al., 2003).

Na grande maioria dos casos relatados de cisticercose humana por T.

crassiceps os pacientes apresentavam imunodepressão devido à infecção por HIV

(human immunodeficiency vírus) (Shea et al., 1973; Arocker-Mettinger et al., 1992;

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5

Klinker et al., 1992; Chermette et al., 1995). Foram detectados cisticercos em

musculatura esquelética e região subcutânea com recorrência da infecção após

retirada cirúrgica, provavelmente devido à permanência de alguns brotamentos do

cisticerco no local afetado. O tratamento com praziquantel e albendazol se mostrou

eficaz nestes casos (Klinker et al., 1992; Chermette et al., 1995; François et al.,

1998; Maillard et al., 1998).

Mais recentemente, houve relato de um paciente que apresentou infecção

cutânea e muscular nas regiões da mão e antebraço contendo cisticercos de T.

crassiceps, porém a imunodepressão que este paciente apresentava se devia a um

linfoma tipo não-Hodgkin, indicando a possibilidade deste agente infeccioso

acometer seres humanos debilitados. O tratamento cirúrgico e quimioterapia

antiparasitária levaram a cura completa deste paciente (Heldwein et al., 2006).

Também podem ocorrer casos em humanos sem imunodepressão com melhor

prognóstico e tratamento, como por exemplo, o relato de cisticercose intraocular em

paciente imunocompetente e sem recorrência após remoção cirúrgica do parasito,

não sendo necessário tratamento farmacológico (Shea et al., 1973; Arocker-

Mettinger et al., 1992; Wünschmann et al., 2003). Duong et al (2006) relataram caso

autóctone de paciente imunocompetente com presença de cisticercos sugestivos de

T. crassiceps na parede abdominal e sem relato de doença ou caso na família de

teníase por T. solium. A etiologia por T. crassiceps é sugerida devido a provável

contato do paciente com raposas provenientes da região norte da França.

Apesar de poucos relatos de cisticercose por T. crassiceps em humanos e

diante de uma realidade de grande quantidade de casos imunodepressão na

população, devido ao aumento da incidência da infecção por HIV, atenta-se para a

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Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

6

ameaça deste parasito encontrar no homem um hospedeiro paratênico susceptível,

gerando quadros graves e de difícil diagnóstico.

4. Metabolismo de cisticercos de T. crassiceps.

Os helmintos da classe Cestoda não apresentam trato digestório, portanto a

incorporação de substâncias energeticamente rentáveis depende completamente da

superfície do tegumento ou membrana cística. Além disso, esta superfície deve ser

resistente a enzimas digestivas ou ao ataque da resposta imune ou inflamatória por

parte do hospedeiro (Melhorn et al., 1988). As necessidades nutricionais dos

parasitos são dependentes da disponibilidade de substâncias encontradas no seu

habitat que variam desde substâncias nutricionais universais, como carboidratos,

aminoácidos, vitaminas e minerais, até necessidades específicas de bases purinas,

nucleosídeos, ácidos graxos, esteróis e porfirinas. Os helmintos, especialmente

aqueles com ausência de trato digestório, são capazes de incorporar, por transporte

ativo e processos de endocitose, macromoléculas, como proteínas para utilização

como fonte de componentes constitucionais, como aminoácidos, monossacarídeos,

nucleotídeos ou lipídeos (Köhler e Voigt, 1988).

Em cisticercos de T. crassiceps, o glicogênio e a glicose são os carboidratos

utilizados como reserva e como fonte energética, respectivamente. Geralmente estes

carboidratos são retirados do meio em que o parasito se encontra, mas outros

carboidratos também são encontrados armazenados em sua membrana cística,

como glicosaminas, galactose e glicose podendo ser utilizados em situações de

escassez energética ou de impossibilidade de incorporação de glicose por parte do

parasito (Melhorn et al., 1988).

Page 22: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

7

O catabolismo de carboidratos (Fig. 2) gera piruvato em duas regiões celulares:

no citoplasma, por ação da enzima piruvato quinase sobre o fosfoenolpiruvato; e na

mitocôndria, devido a ação da enzima málica sobre o malato. O piruvato

mitocondrial é convertido em Acetil-coA (devido ação do complexo da piruvato

desidrogenase) gerando: citrato, que participará do ciclo do ácido cítrico, ou acetato,

que será excretado. Além disso, pode sofrer ação da enzima málica mitocondrial,

gerando malato provocando uma inversão parcial do ciclo do ácido cítrico. O

piruvato citosólico pode seguir três caminhos: 1. sofre ação da enzima lactato

desidrogenase, gerando lactato que será excretado ou reutilizado na gliconeogênese;

2. sofre ação de transaminase gerando alanina, que será excretada; 3. é

transportado para o interior da mitocôndria. Em T. crassiceps, os produtos finais do

metabolismo in vitro de carboidratos são: lactato e alanina; e do metabolismo

respiratório são: acetato, citrato e succinato (Corbin et al., 1998).

A enzima málica (Fig 2) apresenta grande importância no estudo do

metabolismo de parasitos, pois é encontrada tanto no citoplasma quanto na

mitocôndria de helmintos, enquanto que em vertebrados só é encontrada no

citoplasma (Zenka e Prokopic, 1987), podendo ser indicado como um potencial local

de ação de fármacos anti-helmínticos.

O fumarato é um ácido orgânico (Figs 2 e 3) que participa do ciclo do ácido

cítrico gerado pela ação da enzima fumarase no malato. Em reação inversa descrita

em vários invertebrados, sofre ação da enzima fumarato redutase para originar

succinato. Este ácido, em condições de aerobiose, atua como doador de prótrons

para a cadeia respiratória e, em condições de anaerobiose, é excretado (Corbin et al.,

1998). Além disso, o fumarato pode também ser produzido no ciclo da uréia,

Page 23: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

8

transportado para a mitocôndria e utilizado no ciclo do ácido cítrico, como descrito

acima (Lehninger et al., 2005).

Os parasitos da família Taeniidae apresentam em sua fase adulta metabolismo

preferencialmente anaeróbio devido à escassez de oxigênio no seu habitat natural,

luz intestinal do hospedeiro definitivo. O catabolismo anaeróbio de carboidratos (Fig

4) gera fosfoenolpiruvato que pode originar piruvato e lactato, que será excretado, ou

pode originar oxaloacetato que será convertido em malato, transportado para a

mitocôndria, produzindo três produtos finais que serão excretados: propionato,

acetato ou ácidos graxos voláteis como metilbutirato ou metilvalerato. A produção de

malato em helmintos apresenta função análoga à da fermentação de lactato, ou seja,

manutenção do equilíbrio redox através da ação de desidrogenases e produção de

dois mols de ATP para cada mol de glicose catabolisado (Köhler e Voigt, 1988).

Entretanto, sua fase larvária apresenta atividade in vivo aeróbia dependente

de oxigênio que se difunde pelos tecidos de seu hospedeiro intermediário. Portanto,

o metabolismo energético de cestóides varia de acordo com a oferta de oxigênio de

seu habitat (Köhler e Voigt, 1988; Del Arenal et al., 2001).

A cadeia transportadora de elétrons detectada em cisticercos de T. crassiceps é

semelhante à cadeia encontrada em seus hospedeiros mamíferos, demonstrando

presença de citocromos bc1, c e aa3; enquanto este tipo de respiração é ausente em

parasitos adultos (Del Arenal et al., 2001). O metabolismo de cisticercos de T.

crassiceps se mostra bastante complexo por apresentar uma via respiratória

alternativa ao ser resistente à inibição da enzima citocromo oxidase por cianeto (Del

Arenal et al., 2005). Ainda não se sabe ao certo porque fases larvais de helmintos

apresentam maiores capacidades de oxidação do que suas respectivas fases adultas.

Page 24: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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9

Provavelmente, isto ocorre pelo tamanho corporal diminuído nas fases larvais que

facilitaria a difusão de oxigênio pelos tecidos do parasito adicionado ao maior aporte

de oxigênio fornecido pelo hospedeiro. Esses fatores são essenciais para o

estabelecimento e função de vias bioquímicas responsáveis pela degradação dos

substratos, como por exemplo, o ciclo do ácido cítrico, via de β-oxidação e processos

de fosforilação presentes na cadeia respiratória (Köhler e Voigt, 1988).

Ainda não se sabe como os helmintos realizam a biosíntese de aminoácidos e

proteínas, aparentemente ocorre uma retirada destes elementos do meio de acordo

com a biodisponibilidade oferecida pelo hospedeiro. Esses aminoácidos podem ser

utilizados na síntese de proteínas, neurotransmissores e neurohormônios (Kohler &

Voigt 1988). Os processos de catabolismo de proteínas também não estão claros em

helmintos, admitindo-se a produção e excreção de amônia como produto final e não

uréia, como ocorre na maioria dos vertebrados (Köhler e Voigt, 1988). Não foi

encontrada na literatura a descrição do ciclo da uréia em cestóides. Porém, em

mamíferos (Fig 5), ocorre o catabolismo de aminoácidos dentro e fora da

mitocôndria, gerando fumarato e uréia como produtos finais, que serão excretados

(Lehninger et al., 2005).

Em invertebrados, o succinato (Figs 6 e 7) é um ácido orgânico excretado

como produto final do ciclo do ácido cítrico que também pode ser utilizado via

succinato desidrogenase na cadeia transportadora de elétrons na fase do complexo II

da cadeia respiratória, indicando que sua concentração está diretamente

relacionada aos processos respiratórios aeróbios (Lehninger et al., 2005).

A maioria dos helmintos é incapaz de sintetizar lipídios (ácidos graxos de

cadeias longas e esteróis), sendo, portanto, dependentes de sua absorção a partir do

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Tese de Doutorado

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10

meio. Ácidos graxos absorvidos de fontes exógenas são rapidamente incorporados

nas reservas de triacilglicerol e fosfolipídeos, encontrados principalmente na

membrana cística e tegumento de cestódeos (Köhler e Voigt, 1988).

Em helmintos, ainda não foi relatada a presença de vias metabólicas ou

enzimas pertencentes à β-oxidação de Acetil-CoA como fonte de energia alternativa.

Porém, em vertebrados, os corpos cetônicos, acetoacetato e β-hidroxibutirato, são

formados como resultado da oxidação de Acetil-CoA (Fig 8) em situações de acúmulo

deste último (anaerobiose, baixa tensão de oxigênio ou bloqueio do ciclo do ácido

cítrico). Essas reações ocorrem na matriz mitocondrial e não no citoplasma, porém

estes corpos cetônicos podem se acumular no meio extracelular gerando cetose e

acidose, sendo consequentemente excretados (Lehninger et al., 2005).

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Tese de Doutorado

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11

Figura 2. Catabolismo de carboidratos em cisticercos de Taenia crassiceps.

E. produtos finais do metabolismo excretados. PEP. Fosfoenolpiruvato. OAA.

Oxaloacetato. T. substâncias com trânsito livre pela membrana mitocondrial. 1.

Piruvato quinase; 2. Lactato desidrogenase; 3. Alanina transaminase; 4.

Fosfoenolpiruvato carboxiquinase; 5. Malato desidrogenase citosólica; 6. Fumarase;

7. Fumarato redutase; 8. Enzima málica mitocondrial; 9. enzima málica citosólica;

10. Complexo da piruvato desidrogenase; 11. acetoacetato descarboxilase; 12.

malato desidrogenase mitocondrial; 13. citrato sintase; 14. Aconitase; 15. Isocitrato

desidrogenase; 16. α-cetoglutarato desidrogenase; 17. Succinil-CoA sintetase.

Reações mitocondriais separadas pelo pontilhado ocorrem em vertebrados e não

foram demonstradas em cestódeos. Esquema adaptado de Corbin et al. (1998) e de

Melhorn et al. (1988).

GLICOSE

PEP 1

ALANINA

2

3

4

5

Piruvato

Malato

Acetil-CoA Acetato

Fumarato

Succinato

OAA

Citrato

6

7

8

9

10 11

12 13

Isocitrato

α-cetoglutarato

Succinil-CoA

14

15

16

17

Mitocôndria Citoplasma

PIRUVATO

LACTATO

OAA

MALATO

E

E

E

E

E

T

T

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Tese de Doutorado

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12

Figura 3. Produção e excreção de fumarato, creatinina e uréia em mamíferos. A

oxidação de proteínas, gorduras e carboidratos gera Acetil-CoA utilizado no ciclo do

ácido cítrico. O catabolismo de aminoácidos gera glutamato utilizado no ciclo da

uréia. C. citoplasma. E. produtos finais do metabolismo excretados. M. mitocôndria.

Setas pontilhadas indicam substâncias absorvidas por processo ativo que passam

por reações catabólicas no citoplasma. Esquema adaptado de Lehninger et al.

(2005).

Aminoácidos Ácidos graxos Glicose

Acetil-CoA Ciclo do ácido cítrico

Glutamato

Citrulina Arginino-succinato

Arginina Ornitina Fumarato

Uréia Glicociamina

Creatina Creatinina

Aspartato

E

E

E C

M

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Tese de Doutorado

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13

Figura 4. Catabolismo anaeróbio de carboidratos em helmintos. AGV. Ácidos graxos

voláteis. C. citoplasma. E. produtos finais do metabolismo excretados. M.

mitocôndria. OAA. Oxaloacetato. PEP. Fosfoenolpiruvato. Esquema adaptado de

Köhler e Voigt (1988).

Glicose

PEP

Piruvato

OAA

Lactato

Malato

Malato

Fumarato

Piruvato

Succinato Propionil-CoA

Acetil-CoA Acetato

Propionato

AGV

C

M E

E

E

E

E

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Tese de Doutorado

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14

Figura 5. Catabolismo de aminoácidos em hepatócitos de vertebrados. O excesso de

amônia é excretado na forma de uréia. Esquema adaptado de Lehninger et al.

(2005).

Aminoácidos α-cetoαcidos

α-Cetoαcidos Glutamato

Amônia

Uréia

Glutamina Piruvato

Alanina

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Tese de Doutorado

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15

Figura 6. Destino metabólico de ácidos orgânicos intermediários do ciclo do ácido

cítrico em mamíferos, indicado pelas caixas em pontilhado. C. citoplasma. M.

mitocôndria. OAA. Oxaloacetato. PEP. Fosfoenolpiruvato. Esquema adaptado de

Lehninger et al. (2005).

GLICOSE

PEP

Serina Glicina Cisteína

Fenilalanina Tirosina

Triptofano

OAA CITRATO

Ácidos graxos,

Esteróis, Secreção

α-CETOGLUTARATO

SUCCINIL-CoA

MALATO

Aspartato Asparagina

Pirimidinas Porfirinas, heme

Glutamato

PIRUVATO

ACETIL-CoA

SUCCINATO

Cadeia respiratória,

secreção.

M

C

Page 31: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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16

Figura 7. Oxidação de ácidos graxos em vertebrados. A enzima succinato

desidrogenase fornece elétrons para o complexo II da cadeia respiratória. Esquema

adaptado de Lehninger et al. (2005).

Ácidos graxos

Propionato

Succinato

Elétrons

Complexo II cadeia respiratória

Succinato desidrogenase

Oxidação

Mitocôndria

Citoplasma

Page 32: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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17

Figura 8. Formação de corpos cetônicos a partir de Acetil-CoA em vertebrados. E.

substâncias excretadas. Enzimas: 1. tiolase; 2. HMG-CoA sintase; 3. HMG-CoA

liase; 4. acetato descarboxilase; 5. β-hidroxibutirato desidrogenase; 6. β-cetoacil-

CoA transferase. Acetoacetato, acetona e β-hidroxibutirato são excretados ou

utilizados como fonte de energia ao originar acetil-CoA. Esquema adaptado de

Lehninger et al. (2005).

Acetil-CoA

Acetoacetil-CoA

β-hidroxi- β-metilglutaril-CoA

Acetoacetato

Acetona β-hidroxibutirato

1

2

3

4 5

6

Mitocôndria

E E

E

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Tese de Doutorado

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18

5. Fármacos anti-helmínticos utilizados no tratamento da cisticercose

Recomenda-se como tratamento de escolha para cisticercose causada por

larva de T. solium ou Cysticercus cellullosae a utilização de albendazol e

praziquantel, com êxito, quando são administrados de acordo com uma seleção

adequada dos pacientes e com um diagnóstico confiável. É importante ressaltar que

a escolha do esquema terapêutico para o tratamento da cisticercose deve ser

decidido no estudo caso a caso e relacionado ao número de cisticercos, suas

localizações, tamanhos, estado das lesões (calcificadas ou não) e reação do tecido

adjacente (presença ou não de reação inflamatória) (Lino Junior et al., 2005;

Nogales-Gaete et al., 2006).

Esta terapia resulta na diminuição de retirada cirúrgica dos cisticercos e dos

riscos inerentes a tal intervenção. Pode-se utilizar, também, dexametasona

objetivando a diminuição da reação inflamatória associada à infecção devido à sua

atuação como corticóide. A dose usual de albendazol é de 15mg/kg/dia durante 7-

28 dias, dependendo da clínica do paciente. A elevação dos níveis plasmáticos de

albendazol sulfóxido, resultante da interação farmacocinética com a dexametasona,

constitui uma vantagem adicional da administração simultânea. Além da

terapêutica farmacológica ressalta-se a importância das medidas de prevenção da

infecção para evitar o desenvolvimento da cisticercose. As reações adversas a este

esquema terapêutico são escassas, apesar de que o uso tanto de praziquantel

quanto de albendazol, por levarem a morte do parasito gera uma resposta

inflamatória local que alcança seu pico entre o 5º e 7º dias de tratamento, e que

associada a encefalite e reações meníngeas pode levar a um aumento da pressão

intracraniana, nos casos de neurocisticercose, evoluindo para formas graves e até

Page 34: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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19

levar ao óbito do paciente. Recomenda-se, portanto, cautela e acompanhamento

médico no tratamento farmacológico da cisticercose (Lino Junior et al., 2005;

Nogales-Gaete et al., 2006).

A indicação do uso de praziquantel como fármaco de escolha para tratamento

da cisticercose tem sido relatada por vários autores, indicando melhora significativa

no quadro clínico dos pacientes e, em alguns casos, desaparecimento dos cisticercos

(Groll, 1982; Alarcon, 2006; Nogales-Gaete et al., 2006). Esta terapêutica tem sido

bem aceita pelos pacientes apesar de efeitos colaterais relatados, como cefaléia e

alterações digestivas. O esquema terapêutico pode ser realizado de duas formas: a)

50 a 75mg/kg por duas semanas ou b) um dia de tratamento com uma dose total de

75mg/kg dividida em três aplicações de 25mg/kg associada a cimetidina e dieta

hiperprotéica para aumentar a absorção e nível plasmático do fármaco (Nogales-

Gaete et al., 2006).

Apesar da efetividade da utilização do praziquantel no tratamento da

cisticercose, seu mecanismo de ação ainda não está completamente estabelecido

neste cestóide. Entretanto, este fármaco é extensamente utilizado no tratamento de

infecções por helmintos e sua atuação em Schistosoma mansoni foi descrita de três

maneiras: 1. contração muscular; 2. dano no tegumento e 3. alterações metabólicas.

A contração muscular está ligada ao aumento de Ca+2 intracelular devido à

interação direta do fármaco com fosfolipídeos de membrana alterando a

permeabilidade estrutural da bicamada. O dano tegumentar também está ligado ao

aumento de Ca+2 intracelular, visto que alterações celulares são dependentes de

cálcio, atuando principalmente sobre o citoesqueleto. As alterações metabólicas

estão ligadas à contração muscular espástica alterando conteúdo de glicogênio e

Page 35: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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20

metabolismo energético celular. Morfologicamente observa-se vacuolização e

formação de vesículas na superfície do parasito (Cioli et al., 1995).

De acordo com o fabricante, Merck®, o praziquantel desregula os mecanismos

que controlam o fluxo de cátions através da membrana celular dos helmintos,

inibindo as enzimas que mantém os gradientes de íons inorgânicos, estimula a

entrada celular de sódio e inibe a de potássio, ocasionando despolarização nas

células do parasito. Parece ativar, de maneira direta ou indireta, a contração cálcio

dependente da musculatura do parasito; havendo rápido aumento da passagem de

cálcio para o interior do parasito, com elevação do tônus muscular, que imobiliza o

helminto segundos após o contato com o fármaco. É capaz de modificar o

metabolismo glicídico, havendo redução na captação de glicose e liberação

aumentada de lactato, ou seja, estimulando o metabolismo anaeróbio. Por

microscopia eletrônica, é possível observar degradação do tegumento, que se

apresenta coberto de lesões vacuolares. O praziquantel também é recomendado para

o tratamento de helmintos pertencentes à classe Cestoda, como por exemplo, Taenia

solium, Taenia saginata, Hymenolepis sp e Dyphyllobothrium sp.

Greenberg (2005), ao estudar a ação de praziquantel sobre platelmintos, relata

alterações no fluxo de cálcio relacionadas a presença do fármaco, indicando que os

canais de cálcio de Schistosoma sp são sensíveis ao fármaco, enquanto que os canas

de cálcio encontrados em mamíferos não apresentam tal sensibilidade, explicando a

seletividade de ação do fármaco somente no parasito. Além disso, o fármaco é capaz

de alterar a estrutura da bicamada de fosfolipídeos de membrana ou a fluidez da

membrana celular do parasito, o que poderia resultar em alterações na

Page 36: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

21

permeabilidade de membrana ao cálcio ou a efeitos indiretos em receptores e canais

de membrana.

O albendazol, um fármaco benzimidazólico utilizado como anti-helmíntico e

desenvolvido há mais de 30 anos. Atua ao se ligar a β-tubulina do parasito

impedindo a polimerização e incorporação de glicose, atuando em seu metabolismo

energético (Venkatesan, 1998). Segundo a empresa fabricante, Vitapan®, o fármaco

realiza inibição da polimerização dos túbulos, tornando o nível de energia

inadequado à sobrevivência do helminto, imobilizando-os e, posteriormente, levando

à morte do parasito. Ocorre pouca biodisponibilidade do fármaco que apresenta

maior atuação na luz intestinal. É indicado no tratamento de vários helmintos

intestinais, como: Ascaris lumbricoides, Trichuris trichiura, Enterobius vermicularis,

Ancylostoma duodenale, Necator americanus, Taenia spp e Strongyloides stercoralis.

Edwards e Breckenridge (1988) relatam que o albendazol apresenta rápida

velocidade de absorção intestinal sendo rapidamente convertido a um composto

ativo – metabólito de sulfóxido, por isso não é detectado no plasma. Também atua

como fármaco de escolha no tratamento de outro parasito da família Taeniidae:

Echinococcus granulosus.

Estudos que associam os dois fármacos, albendazol e praziquantel, como anti-

helmínticos, relatam danos no tegumento dos parasitos devido a sua presença.

Porém, os maiores danos são atribuídos à presença do praziquantel, capaz de levar à

forte vacuolização, ruptura de fibras musculares, desorganização de massas

celulares correspondentes a células progenitoras de órgãos internos – provavelmente

devido ao rápido influxo de cálcio e/ou despolimerização da rede microtrabecular,

levando a vacuolização, inchaço, aparecimento de bolhas, disruptura e

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Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

22

deslocamento do tegumento. Ocorre, também, desagrupamento de células

correspondentes aos futuros órgãos sexuais. Ao albendazol foram atribuídos efeitos

restritos a perfurações do tegumento e ruptura de fibras musculares. As formas

adultas dos parasitos apresentam tegumento mais delgado e menor resistência à

ação dos fármacos, enquanto que as formas larvais são consideradas mais

resistentes (Markoski et al., 2006).

Outro fármaco utilizado no tratamento anti-helmintico é o mebendazol,

derivado benzimidazólico, semelhante ao albendazol e ao tiabendazol. Segundo a

empresa fabricante, EMS®, inibe de forma seletiva e irreversível a absorção de

glicose, levando a depleção dos depósitos de glicogênio nos microtúbulos das células

tegumentárias e intestinais do parasito, gerando imobilidade, paralisia motora e

morte dos nematóides. Capaz de atuar contra formas adultas e ovos dos helmintos.

É um fármaco indicado para o tratamento de infecções causadas por: Ascaris

lumbricoides, Trichuris trichiura, Ancylostoma duodenale, Necator americanus, Taenia

solium e Taenia saginata.

Köhler (2001), ao estudar as bases bioquímicas da ação de fármacos anti-

helmínticos, relata que derivados benzimidazólicos, como o albendazol e o

mebendazol, provocam alterações ultraestruturais em células intestinais de

nematódeos e em células do tegumento de cestódeos, especialmente atuando na

redistribuição de vesículas citoplasmáticas e organelas. Essas alterações coincidem

com o desaparecimento dos microtúbulos, sugerindo que o fármaco inibe o

transporte de vesículas dependente de microtúbulos nos tecidos do helminto que

fazem absorção de alimentos, levando a liberação de enzimas digestivas que são

responsáveis pela lesão tecidual.

Page 38: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

23

Entretanto, poucos estudos relatam o impacto destes fármacos sobre o

metabolismo energético, protéico e de ácidos graxos dos parasitos.

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Tese de Doutorado

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24

OBJETIVOS

1. Objetivo Geral

Analisar os aspectos bioquímicos do cisticerco de T crassiceps in vivo, in vitro e

sob a ação de fármacos anti-helmínticos amplamente utilizados.

2. Objetivos específicos

2.1 Detectar e quantificar in vivo e in vitro ácidos orgânicos do metabolismo

intermediário: oxaloacetato, malato, fumarato, succinato e citrato, nas diferentes

fases evolutivas do parasito.

2.2 Avaliar in vivo e in vitro ácidos orgânicos do metabolismo de carboidratos:

piruvato e lactato, nas diferentes fases evolutivas do parasito.

2.3 Quantificar in vivo e in vitro ácidos orgânicos do metabolismo de ácidos

graxos: β-hidroxibutirato, propionato e acetato, nas diferentes fases evolutivas do

parasito.

2.4 Avaliar in vitro: excreção de uréia, creatinina, proteínas totais e

concentração de glicose nas diferentes fases evolutivas do parasito.

2.5 Quantificar a influência in vitro dos fármacos praziquantel e albendazol,

em dosagens subletais, no metabolismo de vias respiratórias e energéticas dos

cisticercos, nas diferentes fases evolutivas do parasito.

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Tese de Doutorado

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25

MANUSCRITOS

Artigo 1

Taenia crassiceps: ácidos orgânicos detectados nos cisticercos.

Artigo publicado no Experimental Parasitology, conforme anexo I.

Page 41: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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26

Resumo

Cisticercos de Taenia crassiceps são utilizados como modelo experimental

para estudos da cisticercose, apesar de existirem casos de cisticercose subcutânea

causada por este cisticerco. Ainda não é claro na literatura o metabolismo energético

e de ácidos graxos de cestóides, portanto, seu estudo metabólico pode fornecer

conhecimento a respeito de vias metabólicas capazes de atuar como locais de ação

de drogas anti-helmínticas. Neste trabalho, estudaram-se ácidos orgânicos do ciclo

do ácido cítrico e da oxidação de ácidos graxos em cisticercos retirados de

camundongos com 21 e 42 dias de infecção em dois estádios evolutivos diferentes:

larval e final. Os ácidos orgânicos foram extraídos utilizando-se ácido perclórico e

analisados por metodologia de HPLC. Houve diferença estatística significativa nas

concentrações de: oxalato, malato, lactato e β-hidroxibutirato entre os cisticercos.

Estes resultados indicam o metabolismo aeróbico in vivo apesar de baixas

concentrações de oxigênio no habitat do parasito, além de indicar a oxidação de

ácidos graxos como fonte alternativa de energia.

Abstract

Taenia crassiceps cysticerci is used as an experimental model to cysticercosis

studies; however there are subcutaneous cases of cysticercosis caused by these

cysticerci. It remains unclear in the literature the energetic and fatty acid

metabolism in cestodes. Its metabolic study may provide knowledge of pathways

that may serve as potential anti-helminthic drugs sites of action. In this work we

studied the citric acid cycle organic acids and the fatty acid oxidation in cysticerci

removed from mice with 21 and 42 days of infection in two different evolutive stages:

Page 42: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

27

growing and final. The organic acids were extracted using percloric acid and

analyzed by HPLC methodology. We found significant statistically differences in

oxalate, malate, lactate and β-hydroxybutirate concentrations between cysticerci.

These results indicate the aerobic metabolism in vivo in spite of the low oxygen

concentration of its habitat, and also indicate the presence of fatty acid oxidation as

an alternative energetic source.

Index descriptors and abbreviations:

Cysticerci of Taenia crassiceps, Cestode, Taeniidae, Citric acid cycle, Fatty acid

oxidation, high performance liquid chromatography (HPLC), Taenia crassiceps (T.

crassiceps), adenosine triphosphate (ATP), original fox strain (ORF strain),

intraperitoneum cavity (IC), days after infection (DAI), Federal University of Goias

(UFG).

Page 43: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

28

Introdução:

Parasitos da família Taeniidae apresentam em sua fase adulta metabolismo

estritamente anaeróbio devido à escassez de oxigênio no seu habitat natural, luz

intestinal do hospedeiro definitivo. Entretanto, sua fase larvária apresenta atividade

in vivo aeróbia dependente de oxigênio que se difunde pelos tecidos de seu

hospedeiro intermediário. Portanto, o metabolismo energético de cestóides varia de

acordo com a oferta de oxigênio de seu habitat (Del Arenal et al., 2001). Tal situação

é observada em Cysticercus longicollis como demonstrado por Del Arenal et al.

(2005) que detectaram uma via metabólica aeróbia alternativa diferente das vias

detectadas em protozoários como Trypanosoma sp (enzima mitocondrial insensível a

cianeto), acrescido de resistência enzimática a vários inibidores clássicos como:

ácido salicilhidroxamico, difenilamina e disulfiram

Em cisticercos de T. crassiceps a glicose e o glicogênio são os carboidratos

utilizados como fonte energética e como reserva, respectivamente. O metabolismo de

carboidratos gera piruvato em duas regiões celulares: no citoplasma, por ação da

enzima piruvato quinase sobre o fosfoenolpiruvato; e na mitocôndria, devido a ação

da enzima málica sobre o malato. O piruvato mitocondrial é convertido em Acetil-

coA (devido ação do complexo da enzima piruvato desidrogenase) gerando: citrato

que participará do ciclo do ácido cítrico ou acetato que será excretado. Além disso,

pode sofrer ação da enzima málica mitocondrial, gerando malato que participará do

ciclo do ácido cítrico (Corbin et al., 1998). O piruvato citosólico pode seguir três

caminhos: 1. sofre ação da enzima lactato desidrogenase, gerando lactato que será

excretado; 2. sofre ação de transaminase gerando alanina, que será excretada; 3. é

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Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

29

transportado para o interior da mitocôndria. Os produtos finais do metabolismo in

vitro de carboidratos são: lactato e alanina; e do metabolismo respiratório são:

acetato, citrato e succinato (Corbin et al., 1998).

A enzima málica apresenta grande importância no estudo do metabolismo de

parasitos, pois é encontrada tanto no citoplasma quanto na mitocôndria de

helmintos, enquanto que em vertebrados é, somente, encontrada em reações

citoplasmáticas (Zenka e Prokopic, 1987), podendo ser indicado como um potencial

local de ação de drogas anti-helmínticas.

Succinato, em vertebrados, é um ácido orgânico excretado como produto final

do ciclo do ácido cítrico que também é utilizado via enzima succinato desidrogenase

na cadeia transportadora de elétrons na fase do complexo II da cadeia respiratória,

visando produção de ATP, indicando que sua concentração está diretamente

relacionada aos processos respiratórios (Lehninger et al., 1993).

Em vista da escassez de trabalhos na literatura que descrevam o metabolismo

de helmintos, em especial de C. longicollis, utilizado como modelo experimental para

estudos da cisticercose, o objetivo deste trabalho foi detectar e comparar ácidos

orgânicos do metabolismo respiratório e energético de cisticercos de T. crassiceps em

diferentes fases do seu desenvolvimento.

Material e Métodos:

1. Extração de ácidos orgânicos

Os cisticercos de T. crassiceps (cepa ORF) foram mantidos no biotério do

IPTSP/UFG. Camundongos Balb/c infectados com T. crassiceps sofreram eutanásia

e dez cisticercos em estádio larvário foram removidos de sua cavidade IP

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Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

30

(intraperitoneal) e inoculados em camundongos Balb/c saudáveis capazes de

fornecer condições necessárias para sua reprodução (Vaz et al., 1997).

Os cisticercos foram divididos de acordo com suas características

macroscópicas e de acordo com classificação adaptada de Lino Jr et al. (2002), nas

fases de crescimento e final (Fig 1). A primeira quando o cisticerco apresentava-se

translúcido e com brotamentos indicativos de reprodução, e a segunda quando

apresentavam-se opacos e sem brotamento. Os cisticercos foram removidos da

cavidade IP aos 21 e 42 DAI (dias após infecção) e divididos em fase larval e final.

Após a remoção dos cisticercos, estes foram lavados com solução salina e

fixados em nitrogênio líquido, pesados para a determinação de seu peso líquido e,

em seguida, homogenados com ácido perclórico à 12%. Logo após centrifugação a

12000g/10 minutos à 2ºC, o sobrenadante teve seu pH ajustado para 7,0 e

novamente centrifugado. A suspensão resultante foi direcionada para analise por

meio de HPLC e o pellet foi descartado (Bezerra et al., 1999; Corbin et al., 1998).

Os ácidos orgânicos presentes na suspensão foram extraídos com a utilização

de uma coluna cromatográfica de troca iônica (Bond Elut® - Varian). Com auxílio de

uma bomba a vácuo, esta coluna de extração foi ativada com 1 mL de HCl (0,5

mol/L), 1 mL de Metanol e 2 mL de H2O ultrafiltrada. Em seguida foi aplicado o

homogenado (3 mL). Após a aplicação da amostra, foram acrescentados 2 mL de

água ultrafiltrada e o Bond Elut retirado da bomba a vácuo. Logo após foram

aplicados 250 μL de H2SO4 (0,5 M) e o material foi centrifugado a 500 g/5 minutos a

20 C (Bezerra et al.,1999).

Page 46: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

31

Figura 1. Características macroscópicas dos cisticercos. 1A. Cisticerco em

estádio larval. 1B. Cisticerco em estádio final. Escalas de 2mm.

2. Análise Bioquímica

As amostras resultantes foram submetidas a cromatografia líquida (HPLC –

Varian ProStar) com uma coluna de exclusão BIORAD-Aminex ion exclusion HPX –

87H (300 X 7,8 mm). A coluna de separação é protegida por uma coluna de proteção

BIORAD-Aminex HPX – 85. O eluente utilizado na fase móvel foi o ácido sulfúrico (5

Page 47: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

32

mMol/L) à temperatura de 30ºC, com vazão de 0,8 mL/min, acoplado a um detector

UV/visível em comprimento de onda de 210nm. Cada amostra injetada corresponde

a um volume de 80μL (Bezerra et al., 1999).

O tempo de retenção dos ácidos orgânicos e as áreas dos picos das

substancias detectadas foram calculadas por um programa computadorizado

acoplado ao cromatógrafo: Star Chromatography Workstation 5.0 Varian,

fornecendo sua concentração nas amostras. Os ácidos orgânicos foram identificados

de acordo com o tempo de retenção e com calibração previamente realizada no

HPLC. Os ácidos orgânicos analisados indicaram glicólise (piruvato e lactato), ciclo

do ácido cítrico (succinato, fumarato e malato) e metabolismo de ácidos graxos

(aceta, propiona e β-hidroxibutirato) (Bezerra et al., 1999).

3. Análise estatística

Foram realizadas cinco repetições das análises bioquímicas. Para a análise

estatística da concentração dos ácidos orgânicos utilizou-se o teste ANOVA e

considerou-se diferença estatisticamente significativa quando p<0,05. Este estudo

foi aprovado pelo comitê de ética da UFG.

Resultados e discussão

Os cisticercos de T. crassiceps analisados foram classificados em dois estádios

evolutivos: crescimento e final, permitindo a detecção de ácidos orgânicos da

glicólise, ciclo do ácido cítrico e metabolismo de ácidos graxos (Tabela 1).

Page 48: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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33

Tabela 1. Concentrações médias de ácidos orgânicos detectados em cisticercos de

Taenia crassiceps nas fases final e larval. Resultados em média ± desvio padrão em

mMol/mL (peso úmido)x10-6.

Cisticercos em fase larval Cisticercos em fase final Ácido orgânico

21 DAI 42 DAI 21 DAI 42 DAI

Oxalato 1,70±0,79 1,13±0,70 0,66±0,18 5,96±1,93*

Citrato 2,14±1,46 3,38±1,88 ND 6,39±3,72

Oxaloacetato ND 0,77±0,76 0,33±0,31 1,41±0,08

Piruvato 0,85±0,43 0,71±0,16 0,33±0,32 ND

Malato 1,09±0,61 2,20±0,51 0,86±0,97 2,55±0,48*

Succinato 10,83±8,27 33,64±29,04 5,72±6,31 1,76±3,94

Lactato 0,10±0,06 0,28±0,17 0,10±0,08 0,47±0,09*

β-

hidroxibutirato 5,29±6,84 10,43±3,44 3,12±2,98 12,10±2,20*

Acetato ND 2,25±1,17 ND ND

Fumarato ND ND 0,02±0,01 0,53±0,14

Propionato 198,92±120,66 210,08±136,15 109,83±105,91 ND

ND – ácido não detectado. DAI – dias após infecção. * - diferença estatística

significativa (ANOVA, p<0,05).

Em cisticercos removidos de camundongos com 42 DAI detectou-se uma

concentração significativamente maior de oxalato (p>0,05) do que as concentrações

detectadas em cisticercos em fase larval e do que em cisticercos de ambas as fases

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Tese de Doutorado

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retirados de camundongos com 21 DAI. Em cisticercos na fase final retirados de

camundongos com 42 DAI a concentração de malato foi significativamente maior do

que em cisticercos em fase de crescimento e final retirados de camundongos com 21

DAI. Em cisticercos de fase final retirados de camundongos com 42 DAI a

concentração de lactato foi significativamente maior do que em cisticercos de ambas

as fases retirados de camundongos com 21 DAI. Em cisticercos de fase final,

retirados de camundongos com 42 DAI a concentração de β-hidroxibutirato

observada foi significativamente maior do que as concentrações encontradas em

cisticercos de fase final retirados de camundongos com 21 DAI (Fig 2).

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Tese de Doutorado

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35

Figura 2. A. Cromatograma de cisticercos em estádio larval com 21 dias de infecção.

B.Cromatograma de cisticercos em estádio final com 21 DAI. C. Cromatograma de

cisticerco em estádio larval com 42 DAI. D. Cromatograma de cisticercos em estádio

final com 42 DAI. E. Cromatograma de calibração de ácidos orgânicos.

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Tese de Doutorado

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36

O estudo metabólico de cisticercos de T. crassiceps é de considerável

importância devido ao seu uso como modelo experimental para o estudo de

cisticercose causada por larva de T. solium. Apesar de que existem relatos de casos

em humanos de cisticercose subcutânea causada por T. crassiceps (Duong et al.,

2006, Heldwein et al., 2006). As diferenças encontradas no metabolismo de

cisticercos em diferentes estádios evolutivos indicam que a produção de

brotamentos exige uma demanda maior de energia, inclusive de fontes energéticas

alternativas, retiradas do hospedeiro, debilitando seu habitat já que cisticercos em

fase larval são encontrados em grande quantidade na cavidade peritoneal (Dorais e

Esch, 1969).

1. Detecção de propionato

A presença de propionato foi detectada em ambos os estádios evolutivos de

cisticercos de T. crassiceps, entretanto dados referentes ao metabolismo de ácidos

graxos de cisticercos de T. crassiceps ou de T. solium ainda não foram encontrados

na literatura. Presume-se que a ação do propionato seja semelhante ao descrito para

o metabolismo de vertebrados, indicando que o metabolismo de ácidos graxos com

produção de propionato atue como provedor de moléculas energéticas que serão

convertidas em succinato e utilizadas na cadeia transportadora de elétrons sob

situações de anaerobiose (Lehninger et al., 1993).

2. Metabolismo energético

A detecção de maiores concentrações de oxaloacetato, malato e lactato

indicam o aumento da degradação citoplasmática de glicose a partir de reservas de

Page 52: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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37

glicogênio, característica similar à observada em cisticercos de T. solium que

apresentam reservas de glicogênio e lipídios em sua membrana externa (Ramirez-

Bon et al., 1982). A detecção de concentrações maiores de oxaloacetato também foi

relatada por McManus e Smith (1982) que estudaram o metabolismo de

Echinococcus granulosus, cestódeo assim como T. crassiceps, indicando a produção

citossólica deste ácido em circunstâncias de diminuição nas reservas de substâncias

energeticamente mais rentáveis.

O oxaloacetato pode seguir dois caminhos metabólicos diferentes: 1. sofrer

ação da enzima desidrogenase málica citossólica, produzindo malato que poderá ser

utilizado no ciclo do ácido cítrico mitocondrial em situações de aerobiose; ou 2.

sofrer ação da enzima fosfoenolpiruvato carboxiquinase, produzindo piruvato que

será utilizado no ciclo do ácido cítrico em situações de aerobiose ou excretado como

lactato em situações de anaerobiose (Corbin et al., 1998).

Fontes alternativas de energia são utilizadas por vários cestódeos como forma

de sobrevivência em diversos habitats. Meyer et al. (1966) descreveram que

Spirometra mansonoides, um cestódeo, é capaz de produzir energia em situações

anaeróbias inteiramente a partir de processos de fermentação apesar da

incapacidade de síntese de esteróis e de ácidos graxos, retirando-os do hospedeiro. A

utilização de ácidos graxos a partir de fosfolipídeos como fonte alternativa de

energia, aumentando a produção de ATP em circunstâncias de baixas concentrações

de glicose tem sido descritas em estádios larvais de S. erinacei por Fukushima et al.

(1995).

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Tese de Doutorado

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38

3. Ácidos orgânicos do ciclo do ácido cítrico

A presença de ácidos orgânicos do ciclo do ácido cítrico como oxalato, citrato,

piruvato, succinato e fumarato neste trabalho está de acordo com outros estudos a

respeito do metabolismo de cisticercos de T. crassiceps, apesar do uso de

metodologias diferentes (Zenka e Prokopic, 1987; Corbin et al., 1998), demonstrando

que no estádio larval, o metabolismo energético deste helminto é aeróbico, apesar da

baixa tensão de oxigênio presente em seu habitat (Del Arenal et al., 2005).

4. Oxidação de ácidos graxos

A diferença significativa encontrada nas concentrações de β-hidroxibutirato

nos estádios finais dos cisticercos indicam menor utilização de Acetil-CoA no ciclo

do ácido cítrico, que consequentemente sofre oxidação produzindo corpos cetônicos,

devido a situações de anaerobiose ou de bloqueio de vias metabólicas mitocondriais.

Portanto, o Acetil-CoA é reduzido a acetoacetato e, então, excretado como β-

hidroxibutirato (Fig 3). Este fato pode também indicar maior oxidação de ácidos

graxos que irão produzir maior quantidades de Acetil-CoA, indicando uma fonte

alternativa de energia em situação de queda nas concentrações de glicogênio ou

glicose. Não foi encontrada na literatura nenhuma menção à excreção de corpos

cetônicos por helmintos. Entretanto, a produção de acetato, um precursor de β-

hidroxibutirato, foi descrita em estádios larval e adulto de Fasciola hepatica quando

em situações de anaerobiose (Tielens et al., 1987). A mitocôndria de Ascaris suum,

quando incubada com baixas concentrações de oxigênio é capaz de produzir maiores

quantidades de ácidos graxos de cadeia ramificada como rota alternativa ao excesso

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39

de hidrogênio proveniente de NADH e NADH2, evitando a acidificação do meio

(Komuniecki et al., 1987).

Figura 3. Caminhos metabólicos da produção de β-hidroxibutirato por

cisticercos de Taenia crassiceps.

Concluindo, a detecção de propionato e de β-hidroxibutirato em cisticercos de

T. crassiceps indica a presença da oxidação de ácidos graxos como fonte de energia

alternativa, especialmente utilizada em estádios de crescimento e em situações de

baixas concentrações de substancias energéticas provenientes do hospedeiro, como

nos tecidos. Além disso, a presença de ácidos orgânicos do ciclo do ácido cítrico

confirma a aerobiose in vivo em ambos os estádios evolutivos dos cisticercos.

Entretanto, maiores estudos do metabolismo de cisticercos de T. crassiceps são

necessários para determinar os caminhos metabólicos que este helminto é capaz de

realizar.

Page 55: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

40

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Page 58: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

43

Artigo 2

Metabolismo energético e respiratório de cisticercos de Taenia crassiceps in

vitro e sob a ação de praziquantel e albendazol.

Normas da revista Experimental Parasitology.

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Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

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Resumo

Um dos mecanismos de ação dos fármacos anti-helmínticos é impedir a

captação de glicose, influenciando o metabolismo energético de helmintos, no caso

do praziquantel; e inibir seletiva e irreversívelmente a absorção de glicose, levando a

depleção de glicogênio nas células tegumentárias e intestinais do parasito, no caso

do albendazol. O objetivo deste trabalho foi dosar as concentrações de glicose e

ácidos orgânicos do metabolismo energético e respiratório de cisticercos de T.

crassiceps in vitro em estádio inicial, larval e final, e diante dos fármacos, em

dosagens subletais. Foi realizada análise espectrofotométrica e cromatográfica de:

glicose, lactato, oxaloacetato, citrato, malato, fumarato e succinato

secretadas/excretadas por cisticercos in vitro diante de praziquantel a 0,03 e

0,06µg/mL e albendazol a 0,05 e 0,075µg/mL. Detectou-se que os fármacos

influenciaram a excreção lactato, diminuindo-a, fazendo com que haja uma

preferência pela via aeróbia de produção de energia. Além disso, as concentrações de

glicose permaneceram inalteradas, confirmando o bloqueio de sua captação.

Abstract

The mechanisms of action of anti-helminthic drugs are: to prevent the glucose

uptake, influencing the helminth’s energetic metabolism, when it is praziquantel;

and inhibit in a selective way the uptake of glucose, leading to a depletion of

glycogen storage in tegumentary and intestinal cells from the parasite, when it is

albendazole. The objective of this work was to detect the concentrations of glucose

and organic acids from the energetic and respiratory metabolisms in in vitro T.

Page 60: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

45

crassiceps cysticerci in initial, larval and final stages and under the action of anti-

helmintic drugs, in sub lethal dosages. Spectrophotometer and chromatographic

analysis were performed to detect: glucose, lactate, oxaloacetate, citrate, malate,

fumarate and succinate secreted/excreted by in vitro cysticerci under 0,03 and 0,06

µg/mL of praziquantel and 0,05 and 0,075 µg/mL of albendazole. The anti-

helminthic drugs, in sub lethal dosages, influenced the excretion of lactate,

decreasing it and leading to a preference towards the aerobic energetic production

pathway. Besides, the concentrations of glucose remained unaltered confirming its

uptake blockage.

Index descriptors and abreviations:

Cysticerci of Taenia crassiceps, Cestode, Taeniidae, high performance liquid

chromatography (HPLC), Taenia crassiceps (T. crassiceps), original fox strain (ORF

strain), intraperitoneum cavity (IC), days after infection (DAI), Federal University of

Goias (UFG), albendazole, energetic metabolism, respiratory metabolism,

praziquantel.

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Marina Clare Vinaud

46

Introdução

A principal fonte de energia dos cestóides é o glicogênio armazenado em maior

quantidade em sua membrana externa ou a glicose retirada do meio em que se

encontra o parasito (Wilms et al., 2005). As concentrações de glicose medidas em

cisticercos de T. solium permanecem similares independentemente do local em que

está inserido no hospedeiro, apesar das concentrações de aminoácidos e outros

metabólitos se alterarem de acordo com a disponibilidade do meio externo ao

parasito (Chawla et al., 2004).

Segundo o fabricante, Merck®, o mecanismo de ação de um dos principais

fármacos anti-helmínticos utilizados no tratamento da cisticercose, o praziquantel, é

alterar o metabolismo energético dos parasitos ao impedir a captação de glicose,

estimulando maior excreção de lactato. Porém, ainda não foi totalmente elucidado

como este bloqueio é realizado (Köhler, 2001). A indicação deste fármaco como

escolha para o tratamento da neurocisticercose é descrita por vários autores, que

relatam eficácia terapêutica e grande melhora no quadro geral dos pacientes com

poucos efeitos colaterais como cefaléia e alterações digestivas leves (Groll, 1982;

Alarcon, 2006; Nogales-Gaete et al., 2006).

Enquanto que outros fármacos amplamente utilizados, como o albendazol e o

mebendazol, derivados benzimidazólicos, são capazes de inibir de forma seletiva e

irreversível a absorção de glicose, levando a depleção dos depósitos de glicogênio nos

microtúbulos das células tegumentárias e intestinais do parasito, gerando

imobilidade, paralisia motora e morte dos helmintos (EMS®). Entretanto, a atuação

destes fármacos no metabolismo energético e respiratório ainda não foi elucidada.

Page 62: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

47

Estes fatos revelam diferenças bioquímicas entre o parasito e seu hospedeiro,

reforçadas pela utilização destas drogas na terapêutica e controle da cisticercose.

A maioria dos trabalhos encontrados na literatura relaciona a atividade destes

fármacos anti-helmínticos aos seus efeitos no influxo de cálcio e suas alterações na

morfologia dos parasitos (espasmos e contrações musculares e vacuolização do

tegumento), não abordando, porém, sua atividade no metabolismo energético,

também responsável pela capacidade helminticida destas drogas (Venkatesan, 1998;

Köhler, 2001; Palomares et al., 2004).

O objetivo deste trabalho foi dosar as concentrações de glicose e ácidos

orgânicos, por meio de espectrofotometria e cromatografia líquida de alta eficiência

(CLAE), relacionados ao metabolismo energético e respiratório em cisticercos de T.

crassiceps em estádio inicial, larval e final in vitro e sob ação de praziquantel e

albendazol.

Material e Métodos

1. Obtenção de cisticercos

Os cisticercos de T. crassiceps, cepa ORF, foram retirados da cavidade

peritoneal de camundongos Balb/c fêmeas de 150 dias de idade, mantidos no

biotério do IPTSP/UFG, sacrificados por deslocamento cervical e necropsiados de

acordo com normas do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA). Os

cisticercos foram classificados de acordo com seu estádio evolutivo em inicial, larval

e final, de acordo com características morfológicas, como a presença de

brotamentos, translucidez e opacidade do cisto, classificação proposta

anteriormente por nosso grupo (Vinaud et al., 2007).

Page 63: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

48

2. Exposição dos cisticercos aos anti-helmínticos

Grupos de 25 cisticercos cada, pertencentes aos três estádios evolutivos foram

mantidos em meio de cultura RPMI® suplementado (Gibco) e expostos por 24 horas

a 37ºC às seguintes concentrações de praziquantel: 0,03 µg.mL-1 e 0,06 µg.mL-1 e

albendazol: 0,05 µg.mL-1 e 0,075 µg.mL-1, correspondentes a DL50 de acordo com

Palomares et al. (2004). Para determinação do grupo controle, 25 cisticercos de cada

estádio evolutivo foram mantidos em 10 mL do meio de cultura RPMI®

suplementado (Gibco).

Após 24 horas de exposição dos cisticercos ao meio de cultura e aos fármacos,

procedeu-se o congelamento com nitrogênio líquido, objetivando a estase das

reações metabólicas. Os produtos secretados/excretados (SE) pelos cisticercos

foram, então, analisados de acordo com duas metodologias distintas.

3. Análise de glicose e ácidos orgânicos secretados/excretados (SE).

3.1. Análise de glicose

A glicose SE pelos cisticercos foi dosada a partir da análise

espectrofotométrica dos meios de cultura em que se encontravam com utilização de

espectrofotômetro Ultrospec 2100pro UV/visível e segundo o protocolo de kit

comercial para dosagem de glicose: método enzimático, Laborlab®, leitura de

absorbância a 505nm.

3.2. Análise de ácidos orgânicos.

Os ácidos orgânicos, lactato, oxaloacetato, citrato, malato, fumarato,

succinato e piruvato, SE foram extraídos do meio de cultura com a utilização de

Page 64: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

49

uma coluna cromatográfica de troca iônica (Bond Elut® - Varian). Com auxílio de

uma bomba a vácuo, esta coluna de extração foi ativada com 1 mL de HCl (0,5

mol.L-1), 1 mL de Metanol e 2 mL de H2O ultrafiltrada. Em seguida, aplicada a

amostra (5 mL), foram acrescentados 2 mL de água ultrafiltrada e o Bond Elut,

retirado da bomba a vácuo. Logo após foram aplicados 250 μL de H2SO4 (0,5 M) e o

material foi centrifugado a 500 g/5 minutos a 20 C (Bezerra et al., 1999, Vinaud et

al., 2007).

A amostra resultante foi submetida a uma cromatografia líquida (CLAE –

Varian ProStar) com uma coluna de troca iônica BIORAD-Aminex ion exclusion HPX

– 87H (300 X 7,8 mm). A coluna de separação é protegida por uma coluna de

proteção BIORAD-Aminex HPX – 85. O eluente utilizado na fase móvel foi o ácido

sulfúrico (5 mMol.L-1) à temperatura de 30ºC, com vazão de 0,8 mL.min-1, acoplado

a um detector UV/visível ajustado em comprimento de onda de 210nm. Cada

amostra injetada corresponde a um volume de 40μL (Bezerra et al., 1999, Vinaud et

al., 2007).

Os resultados foram analisados por um programa computadorizado acoplado

ao cromatógrafo: Star Chromatography Workstation 5.0 Varian, calibrado, para

identificar os seguintes ácidos orgânicos do metabolismo energético: piruvato,

lactato, oxaloacetato, malato, fumarato, succinato e citrato.

4. Análise estatística

Todas as análises foram realizadas em triplicata. A análise estatística foi

realizada por meio do programa Sigma Stat 3.2. Para a análise estatística da

Page 65: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

50

concentração dos ácidos orgânicos utilizou-se o teste ANOVA, seguido do teste de

Tukey e considerou-se diferença estatisticamente significativa quando p<0,05.

Resultados e Discussão

Através deste trabalho avaliou-se a SE de glicose e ácidos orgânicos referentes

ao metabolismo energético e respiratório de cisticercos de T. crassiceps, mantidos

em meio de cultura na ausência e na presença de fármacos anti-helmínticos,

albendazol e praziquantel, amplamente recomendados na terapêutica cestocida, em

diferentes concentrações por métodos de espectrofotometria e cromatografia líquida

de alta eficiência (CLAE).

No grupo controle não se detectou diferença significativa nas concentrações de

glicose e lactato SE pelos cisticercos nos diferentes estádios evolutivos (Tab 1), visto

que o lactato é o produto do catabolismo anaeróbio da glicose, com baixo

rendimento energético, demonstrando a existência do catabolismo aeróbio e

anaeróbio da glicose (Lehninger et al., 2005).

Encontraram-se nas análises, diferença estatisticamente significativa nas

concentrações de lactato (Figs 1 e 2) entre o grupo controle e os grupos de

cisticercos nas fases inicial e final expostos ao praziquantel na concentração de 0,06

µg.mL-1 e o grupo de cisticercos na fase inicial exposto ao albendazol nas

concentrações de 0,05 e 0,075 µg.mL-1 (Tabs 1 e 2). As concentrações de lactato SE

nos grupos expostos foram significativamente menores do que as concentrações

observadas no grupo controle. Pelos dados acima, os fármacos, em dosagens

subletais, diminuíram a SE de lactato, diferentemente dos dados da literatura que

relatam haver aumento da SE de lactato quando o helminto é exposto aos fármacos

Page 66: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

51

(Köhler, 2001; Merck®). A diminuição na SE de lactato provavelmente ocorreu pelo

catabolismo aeróbio da glicose resultando na produção de piruvato, precursor do

lactato, e seu total consumo pelo ciclo do ácido cítrico, com maior rendimento

energético em relação à produção anaeróbia de energia. A utilização do piruvato no

metabolismo do cisticerco pode ocorrer por duas prováveis vias metabólicas: 1. via

mitocondrial, consumido pelo ciclo do ácido cítrico, sendo substrato da enzima

málica mitocondrial, gerando malato; ou 2. via citossólica, sendo consumido pela

enzima lactato desidrogenase, gerando lactato que foi excretado (Corbin et al.,

1998). No presente trabalho, houve predomínio da via aeróbia do metabolismo

explicada pela detecção dos ácidos orgânicos referentes ao ciclo do ácido cítrico com

taxas de concentrações mantidas em todas as fases evolutivas e diante de ambos os

fármacos anti-helmínticos.

Detectou-se que sob ação de albendazol, a 0,05 µg.mL-1, a SE de lactato por

cisticercos em estádio final foi significativamente maior do que a SE de lactato por

cisticercos em estádio final sob a ação de praziquantel em ambas as concentrações

(Figs 1 e 2, Tabs 1 e 2). Indicando que o praziquantel, nas concentrações utilizadas,

apresenta maior estímulo indutor da via mitocondrial de utilização do piruvato,

estimulando a via aeróbica de produção de energia nestes cisticercos. Provavelmente

a não detecção do piruvato nas análises se deve ao seu total consumo e utilização no

ciclo do ácido cítrico.

Apesar da diferença significativa encontrada nas concentrações de lactato, não

se observou diferença significativa nas concentrações de glicose SE pelos cisticercos

do grupo controle e dos grupos expostos aos fármacos, confirmando o bloqueio de

captação de glicose do meio pelo parasito (Köhler, 2001; Merck®, EMS®), induzindo

Page 67: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

52

a utilização de fontes alternativas de energia e a mobilização das reservas de

glicogênio. Willms et al. (2005) relataram que estróbilos de T. solium e de T.

crassiceps retiram glicose do meio para realização de suas atividades metabólicas,

indicando sua importância para a sobrevivência do parasito. Ao avaliar a

composição da parede e do fluido císticos de T. crassiceps, Lamsam e MacManus

(1990) relataram a presença de carboidratos semelhantes à glicose e manose tanto

na superfície cística quanto nos tecidos adjacentes ao parasito, podendo atuar como

prováveis locais de reserva de carboidratos utilizados em circunstancias de escassez

energética, como as induzidas pela presença dos fármacos.

No presente estudo, não houve diferença significativa nas concentrações

detectadas de oxaloacetato SE entre cisticercos expostos ou não aos fármacos (Tabs

1 e 2), provavelmente por que os fármacos, nas concentrações utilizadas, não afetam

os mecanismos de ação das enzimas fosfoenolpiruvato carboxiquinase, malato

desidrogenase citossólica e mitocondrial. Não houve diferença significativa nas

concentrações de citrato SE entre os grupos de cisticercos expostos ou não aos

fármacos, no presente trabalho (Figs 1 e 2), visto que os fármacos, nas

concentrações utilizadas, não afetam a ação da enzima citrato sintase, responsável

pela produção do citrato que posteriormente é excretado (Lehninger et al., 2005).

Estes fatos reforçam o metabolismo aeróbio utilizado como fonte preferencial de

produção de energia pelo cisticerco.

Não foram encontrados na literatura trabalhos que descrevem concentrações

de citrato ou oxaloacetato em helmintos sob a ação de fármacos anti-helminticos.

Apesar de metodologia diferente da utilizada no presente trabalho, Corbin et al

(1998) descrevem a detecção de citrato e oxaloacetato SE por cisticercos de T.

Page 68: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

53

crassiceps em meios de cultura em concentrações compatíveis com as descritas no

presente trabalho (Tabs 1 e 2).

Não foram encontradas diferenças significativas nas concentrações de malato

e fumarato SE entre os grupos de cisticercos expostos ou não aos fármacos, no

presente trabalho. A não detecção do malato em algumas análises (Tabs 1 e 2)

provavelmente ocorreu pelo seu total consumo nas vias metabólicas tanto

citossólicas quanto mitocondriais. Os fármacos utilizados provavelmente não afetam

o funcionamento das seguintes enzimas: enzima málica mitocondrial e citossólica,

malato desidrogenase citossólica e mitocondrial, fumarase e fumarato redutase.

Apesar de metodologia diferente da utilizada neste trabalho, Zenka e Prokopic

(1967), descreveram a atuação destas enzimas no metabolismo de cisticercos de T.

crassiceps indicando a presença de vias anaeróbia e aeróbia para aquisição de

energia pelo parasito. Os dados acima apresentados sugerem a utilização do malato

e fumarato em vias metabólicas aeróbias e anaeróbias do parasito.

Não houve diferença significativa nas concentrações detectadas de SE de

succinato entre cisticercos expostos ou não às drogas, indicando que estes

fármacos, sob baixas dosagens, não interferem no metabolismo respiratório dos

cisticercos em meio de cultura, durante o período testado (Tabs 1 e 2). Nas situações

em que o succinato não foi detectado supõe-se que este tenha sido totalmente

utilizado na respiração aeróbia, não sendo, portanto excretado. Corbin et al. (1998),

com metodologia diferente da utilizada no presente trabalho, detectaram a presença

de succinato no meio de cultura de acordo com os valores encontrados em nosso

trabalho referentes ao grupo controle. Entretanto, não foram encontrados na

literatura trabalhos que relatassem detecção de succinato em cisticercos ou outros

Page 69: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

54

helmintos tanto na presença quanto na ausência de drogas anti-helmínticas. É

importante ressaltar que o succinato atua como principal doador de prótons para a

cadeia respiratória, acredita-se que sob condições aeróbias e de tratamento sub-

letal, o cisticerco continua realizando o ciclo do ácido cítrico e respiração aeróbia.

Page 70: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

55

Figura 1. Cromatogramas de ácidos orgânicos secretados/excretados por

cisticercos em fase inicial, grupo controle (A), expostos a 0,03 µg.mL-1 de

praziquantel (B), expostos a 0,06 µg.mL-1 de praziquantel (C)

1A

1B

1C

Page 71: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

56

Tabela 1 – Concentrações médias ± desvio padrão de glicose (mg.dL-1) e ácidos

orgânicos (pMol.mL-1) secretados/ excretados por cisticercos de Taenia crassiceps in

vitro e sob efeito de praziquantel a 0,03 e 0,06 µg.mL-1, por espectrofotometria e

cromatografia líquida de alta eficiência/detector UV.

Substância detectada Controle (n=3) Praziquantel a 0,03

µg.mL-1 (n=3) Praziquantel a 0,06

µg.mL-1 (n=3) Inicial Larval Final Inicial Larval Final Inicial Larval Final

Glicose 19,00

± 4,24

58,33 ±

91,54

13,00 ±

9,90

78,33 ±

19,55

79,33 ±

9,45

65,67 ±

41,36

117,33 ±

31,66

85,67 ±

20,60

120,33 ±

46,76

Lactato 1,0242

± 0,4931

1,0940 ±

1,4541

1,7971 ±

1,3006

0,2484 ±

0,3317

0,3087 ±

0,2105

0,4442 ±

0,1033

0,1626 ±

0,0525

0,4088 ±

0,1152

0,2913* ±

0,1036

Oxaloacetato 0,7694

± 0,1488

0,2130 ±

0,3362

0,6831 ±

0,2445

0,5536 ±

0,1355

0,4922 ±

0,2311

0,5905 ±

0,1721

0,4030 ±

0,1617

0,5676 ±

0,1332

0,4304 ±

0,1642

Citrato 2,4304

± 0,7918

1,7160 ±

1,3058

2,2095 ±

1,9188

1,3474 ±

0,4943

1,0750 ±

0,3737

1,2257 ±

0,1633

1,2692 ±

0,1658

1,5361 ±

0,1035

0,9452 ±

0,0608

Malato 0,7611

± 0,3437

0,6764 ±

0,5551

0,5843 ±

0,2490

0,5985 ±

0,5204

0,0867 ±

0,1501

0,2451 ±

0,2349

0,2478 ±

0,2358

0,4115 ±

0,1329 ND

Fumarato 0,6474

± 0,3841

0,4006 ±

0,4143

0,4257 ±

0,2010

0,2351 ±

0,0746

0,3569 ±

0,1564

0,3866 ±

0,2957

0,3140 ±

0,0344

0,5958 ±

0,0928

0,5185 ±

0,2831

Succinato 4,7596

± 8,2439

11,7268 ±

19,4353

3,1824 ±

5,5120

3,0093 ±

3,0428

1,1385 ±

0,7170

1,5373 ±

0,5453 ND ND ND

ND – não detectado, * - p<0,05, diferença estatisticamente significativa.

Page 72: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

57

Figura 2. Cromatogramas de ácidos orgânicos secretados/excretados por

cisticercos em fase inicial, grupo controle (A), expostos a 0,05 µg.mL-1 de albendazol

(B), expostos a 0,075 µg.mL-1 de albendazol (C)

2A

2B

2C

Page 73: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

58

Tabela 2 - Concentrações médias ± desvio padrão de glicose (mg.dL-1) e ácidos

orgânicos (pMol.mL-1) secretados/excretados por cisticercos de Taenia crassiceps in

vitro e sob ação de albendazol a 0,05 e 0,075 µg.mL-1, por espectrofotometria e

cromatografia líquida de alta eficiência /detector UV.

Substância detectada

Controle (n=3)

Albendazol 0,05 µg.mL-1 (n=3)

Albendazol 0,075µg.mL-1 (n=3)

Inicial Larval Final Inicial Larval Final Inicial Larval Final

Glicose 19,00

± 4,24

58,33 ±

91,54

13,00 ±

9,90

135,67 ±

80,53

75,67 ±

29,26

77,33 ±

13,65

123,00 ±

85,75

79,67 ±

86,60

42,33 ±

32,13

Lactato 1,0242

± 0,4931

1,0940 ±

1,4541

1,7971 ±

1,3006

0,1136* ±

0,0976

1,1430 ±

0,5060

1,0791 ±

0,1616

0,0745* ±

0,0366

0,2975 ±

0,1519

0,2386 ±

0,0893

Oxaloacetato 0,7694

± 0,1488

0,2130 ±

0,3362

0,6831 ±

0,2445

0,7952 ±

0,1892

0,5288 ±

0,2846

0,7718 ±

0,3289

0,5673 ±

0,2190

0,2582 ±

0,0566

0,5873 ±

0,2929

Citrato 2,4304

± 0,7918

1,7160 ±

1,3058

2,2095 ±

1,9188

1,9230 ±

0,3023

1,5372 ±

0,4707

1,6349 ±

0,6550

1,1821 ±

0,3686

0,6902 ±

0,2041

1,1984 ±

0,4695

Malato 0,7611

± 0,3437

0,6764 ±

0,5551

0,5843 ±

0,2490

0,2124 ±

0,3679

0,4356 ±

0,7117

0,3591 ±

0,4529 ND ND ND

Fumarato 0,6474

± 0,3841

0,4006 ±

0,4143

0,4257 ±

0,2010

0,2137 ±

0,1168

0,3737 ±

0,1979

0,5127 ±

0,2100

0,1213 ±

0,0190

0,2411 ±

0,1191

0,4311 ±

0,1276

Succinato 4,7596

± 8,2439

11,7268 ±

19,4353

3,1824 ±

5,5120

1,0130 ±

0,8894

6,1639 ±

3,4053

10,3054 ±

4,8436

1,0532 ±

1,0347

5,4392 ±

2,0430

5,1560 ±

3,5570 ND – não detectado, * - p<0,05, diferença estatisticamente significativa.

Page 74: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

59

Diante da análise de taxas de concentrações de substâncias do metabolismo

respiratório e energético por duas metodologias distintas e inovadoras, concluí-se

que os fármacos anti-helminticos, nas concentrações utilizadas subletais,

influenciaram a excreção lactato, diminuindo-a e fazendo com que haja uma

preferência pela via aeróbia de produção de energia. O praziquantel, nas

concentrações utilizadas, é melhor indutor da via mitocondrial de utilização do

piruvato, estimulando a via aeróbica de produção de energia, sugerindo o bloqueio

da captação de glicose como um dos mecanismos de ação dos fármacos.

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Page 77: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

62

Artigo 3

Detecção da oxidação de ácidos graxos e fontes alternativas de energia em

cisticercos de Taenia crassiceps in vitro e sob ação de fármacos anti-

helmínticos.

Normas da Revista Experimental Parasitology

Page 78: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

63

Resumo

Estudos metabólicos de cisticercos demonstram vias alternativas responsáveis

pela sua sobrevivência, como detecção de fontes de energia, oxidação de ácidos

graxos e secreção de β-hidroxibutirato, indicando produção energética a partir de

proteínas. O objetivo deste estudo foi detectar vias metabólicas alternativas para

obtenção de energia e seus produtos finais em cisticercos de T. crassiceps in vitro e

sob ação de praziquantel e albendazol, em dosagens subletais. Foi realizada análise

espectrofotométrica e cromatográfica de: propionato, acetato, β-hidroxibutirato,

proteínas totais, uréia e creatinina secretados/excretados por cisticercos in vitro

diante de praziquantel e albendazol. Os fármacos influenciaram o metabolismo de

cisticercos ao: induzir a fosforilação de fosfato de creatinina como fonte de energia

alternativa, inibir a utilização de proteínas e aminoácidos na síntese de ácidos

nucléicos, impedindo replicação dos cisticercos. Ressaltamos a excreção de uréia,

via metabólica importante na excreção de produtos tóxicos, como a amônia; e a

oxidação de ácidos graxos como fonte alternativa de energia em cisticercos sob ação

de fármacos anti-helmínticos.

Abstract

Cysticerci metabolic studies demonstrate alternative pathways responsible for

its survival such as energetic sources, oxidation of fatty acids and excretion of β-

hydroxybutirate, which indicates the capability of energy production from proteins.

The aim of this study was to detect alternative metabolic pathways for energy

production and its end products in in vitro T. crassiceps cysticerci and under

Page 79: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

64

praziquantel and albendazole, in sub lethal dosages. Spectrophotometer and

chromatographic analysis were performed to detect: propionate, acetate, β-

hydroxybutirate, total proteins, urea and creatinine, secreted/excreted by cysticerci

in vitro under praziquantel and albendazole. The drugs influenced the metabolism

by: inducing the cratinine phosphate phosphorilation as an alternative energy

source, inhibiting the use of proteins and amino acids on the acid nucleic synthesis,

preventing the budding and the cysticerci replication. The description of urea

excretion, which is an important metabolic pathway to excrete toxic products such

as ammonia, and the fatty acid oxidation as an alternative energy source in

cysticerci under the presence of anti-helmintic drugs are highlighted.

Index descriptors and abreviations:

Cysticerci of Taenia crassiceps, Cestode, Taeniidae, high performance liquid

chromatography (HPLC), Taenia crassiceps (T. crassiceps), original fox strain (ORF

strain), intraperitoneum cavity (IC), days after infection (DAI), Federal University of

Goias (UFG), albendazole, praziquantel, creatinin, urea excretion, fatty acid

oxidation,.

Page 80: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

65

Introdução

Cisticercos de Taenia crassiceps são utilizados como modelo experimental

para estudo da cisticercose causada por larva de T. solium, apresentando

similaridades antigênicas e metabólicas (Del Arenal et al., 2001; Espindola et al.,

2002). Além disso, existem relatos de seres humanos, imunocomprometidos em sua

maioria, com cisticercose ocular e subcutânea causada por cisticercos de T.

crassiceps (Chermette et al., 1995; Maillard et al., 1998).

Estudos metabólicos de cisticercos têm demonstrado semelhanças e

diferenças bioquímicas em relação aos hospedeiros mamíferos, detectando vias

metabólicas alternativas responsáveis pela sobrevivência dos helmintos em

ambientes diversos, como por exemplo, os tecidos do hospedeiro mamífero ou sua

luz intestinal (Corbin et al., 1998; Vinaud et al., 2007).

In vivo, cisticercos de T. crassiceps apresentam como principal fonte energética

a glicose, retirada do meio, ou glicogênio, armazenado em sua membrana externa

(Wilms et al., 2005). Porém, diante de situações de escassez de glicose ou alterações

metabólicas do meio, o parasito é capaz de apresentar fontes alternativas de energia,

oxidando ácidos graxos e secretando β-hidroxibutirato, o que indica a capacidade de

produzir energia a partir de lipídeos presentes em suas estruturas ou retiradas do

meio, permitindo a sua sobrevivência (Vinaud et al., 2007). A detecção destas vias

metabólicas alternativas in vitro ou de seus produtos finais, como uréia e creatinina,

ainda não foi relatada na literatura.

Fármacos anti-helmínticos amplamente utilizados no tratamento da

cisticercose, como praziquantel e albendazol, têm como um de seus mecanismos de

Page 81: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

66

ação interferir na captação de glicose pelo parasito, alterando o seu metabolismo

energético, levando a queda das reservas de glicogênio, gerando imobilidade e morte

dos parasitos (Cioli et al., 1995, Merck®, EMS®). Entretanto, a atuação destes

fármacos na indução de vias metabólicas alternativas para obtenção de energia e

mecanismos alternativos de sobrevivência por meio da oxidação de ácidos graxos

ainda não foi elucidada.

O objetivo deste trabalho foi detectar, por meio de cromatografia e

espectrofotometria, vias metabólicas alternativas para obtenção de energia e seus

produtos finais secretados por cisticercos de T. crassiceps in vitro e sob ação de

fármacos anti-helmínticos.

Material e Métodos

1. Obtenção de cisticercos

Os cisticercos de T. crassiceps, cepa ORF, foram retirados da cavidade

peritoneal de camundongos Balb/c fêmeas de 150 dias de idade, mantidos no

biotério do IPTSP/UFG, sacrificados por deslocamento cervical e necropsiados de

acordo com normas do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA). Os

cisticercos foram classificados de acordo com seu estádio evolutivo em inicial, larval

e final, de acordo com características morfológicas, como a presença de

brotamentos, translucidez e opacidade do cisto, classificação proposta

anteriormente por nosso grupo (Vinaud et al., 2007).

Page 82: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

67

2. Exposição dos cisticercos aos anti-helmínticos

Grupos de 25 cisticercos cada, pertencentes aos três estádios evolutivos foram

mantidos em meio de cultura RPMI® suplementado (Gibco) e expostos por 24 horas

a 37ºC às seguintes concentrações de praziquantel: 0,03 µg.mL-1 e 0,06 µg.mL-1 e

albendazol: 0,05 µg.mL-1 e 0,075 µg.mL-1, correspondentes a DL50 de acordo com

Palomares et al. (2004). Para determinação do grupo controle, 25 cisticercos de cada

estádio evolutivo foram mantidos em 10 mL do meio de cultura RPMI®

suplementado (Gibco).

Após 24 horas de exposição dos cisticercos ao meio de cultura e aos fármacos,

procedeu-se o congelamento com nitrogênio líquido, objetivando a estase das

reações metabólicas. Os produtos secretados/excretados (SE) pelos cisticercos

foram, então, analisados de acordo com duas metodologias distintas.

3. Análise das uréia, creatinina, proteínas totais e ácidos orgânicos

secretados/excretados.

3.1 Análise das uréia, creatinina e proteínas totais

As concentrações de uréia, creatinina e proteínas totais SE pelos cisticercos

foram dosadas a partir da análise espectrofotométrica dos meios de cultura com

utilização de espectrofotômetro Ultrospec 2100pro UV/visível e segundo o protocolo

dos seguintes kits comerciais para dosagem de uréia: uréia 500, Doles®, leitura de

absorbância a 600nm; dosagem de creatinina: método enzimático, Doles®, leitura de

absorbância a 520nm; e dosagem de proteínas totais: método enzimático, Doles®,

leitura de absorbância a 550nm.

Page 83: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

68

3.2 Análise de ácidos orgânicos secretados/excretados

Os ácidos orgânicos presentes no meio de cultura foram extraídos com a

utilização de uma coluna cromatográfica de troca iônica (Bond Elut® - Varian). Com

auxílio de uma bomba a vácuo, esta coluna de extração foi ativada com 1 mL de HCl

(0,5 mol.L-1), 1 mL de Metanol e 2 mL de H2O ultrafiltrada. Em seguida, aplicada a

amostra (5 mL). Após a aplicação da amostra, foram acrescentados 2 mL de água

ultrafiltrada e o Bond Elut, retirado da bomba a vácuo. Logo após foram aplicados

250 μL de H2SO4 (0,5 M) e o material foi centrifugado a 500 g/5 minutos a 20 C

(Bezerra et al.,1999; Vinaud et al., 2007).

A amostra resultante foi submetido a uma cromatografia líquida (CLAE –

Varian ProStar) com uma coluna de exclusão BIORAD-Aminex ion exclusion HPX –

87H (300 X 7,8 mm). A coluna de separação é protegida por uma coluna de proteção

BIORAD-Aminex HPX – 85. O eluente utilizado na fase móvel foi o ácido sulfúrico (5

mMol.L-1) à temperatura de 30ºC, com vazão de 0,8 mL.min-1, acoplado a um

detector UV/visível em comprimento de onda de 210nm. Cada amostra injetada

corresponde a um volume de 40 μL (Bezerra et al., 1999; Vinaud et al., 2007).

Os resultados foram analisados por um programa computadorizado acoplado

ao cromatógrafo: Star Chromatography Workstation 5.0 Varian, calibrado, para

identificar os seguintes ácidos orgânicos do metabolismo de ácidos graxos: acetato,

β-hidroxibutirato e propionato.

4.Análise estatística

Todas as análises e as culturas foram realizadas em triplicata. A análise

estatística foi realizada por meio do programa Sigma Stat 3.2. Para a análise

Page 84: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

69

estatística da concentração dos ácidos orgânicos utilizou-se o teste ANOVA, seguido

do teste de Tukey e considerou-se diferença estatisticamente significativa quando

p<0,05.

Resultados e Discussão

Através deste trabalho avaliou-se a presença de vias metabólicas referentes à

oxidação de ácidos graxos e à degradação de proteínas como fontes alternativas de

obtenção de energia por cisticercos de T. crassiceps. A oxidação de ácidos graxos foi

descrita anteriormente in vivo, por trabalho de nosso grupo de pesquisa (Vinaud et

al., 2007), porém ainda não foram encontrados relatos da ação de fármacos anti-

helmínticos no desempenho destas vias em cisticercos. Além disso, as vias

metabólicas referentes ao catabolismo de proteínas ou a detecção de seus produtos

finais diante de doses subletais de fármacos ainda não foram relatados na literatura.

A SE de β-hidroxibutirato de cisticercos em fase final foi significativamente

maior quando expostos a ação de albendazol a 0,05 ug.mL-1 do que o grupo controle

e do que quando expostos a 0,075 ug.mL-1, o que indica maior consumo de acetil-

coA e acetato na produção de β-hidroxibutirato em concentrações sub-letais do

fármaco (Fig 1 e 2; Tab 1 e 2). Os dados acima explicam a não detecção do

acetoacetato, visto que foi provavelmente consumido pela enzima α-β-

hidroxibutirato hidrogenase, produzindo β- hidroxibutirato que foi SE (Lehninger et

al., 2005).

Não houve diferença significativa nas concentrações detectadas de acetato SE

pelos grupos de cisticercos expostos ou não aos fármacos. De acordo com a

literatura, em alguns helmintos, como Echinococcus granulosus e Hymenolepis

Page 85: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

70

diminuta, a secreção de acetato é detectada quando ocorre excesso de piruvato

intramitocondrial, não sendo convertido em Acetil-CoA que seria utilizado no ciclo

do ácido cítrico (Melhorn, 1988).

Não houve diferença significativa nas concentrações detectadas de propionato

SE entre os grupos de cisticercos expostos ou não aos fármacos, o que indica que os

fármacos, nas concentrações utilizadas, não afetam a SE deste ácido orgânico, não

afetando o ciclo do ácido cítrico, confirmando a aerobiose como via de produção de

energia (Fig 1 e 2; Tab 1 e 2).

A SE de proteínas totais por cisticercos em fase final sob ação de albendazol a

0,05 ug.mL-1 foi significativamente maior do que a SE por cisticercos da mesma fase

evolutiva sob 0,075 ug.mL-1. A SE de proteínas totais foi significativamente maior

em cisticercos em fase inicial sob ação de praziquantel a 0,06 ug.mL-1 do que sob

0,03 ug.mL-1. Provavelmente, impedindo a quebra e/ou disponibilização de

proteínas e sua conseqüente utilização como fonte de energia. Este fato demonstra

que a presença do fármaco, nas dosagens e no tempo utilizados, ao impedir a

captação de glicose pelo parasito, induz a utilização das reservas de glicogênio e

glicose como fonte de energia. Não foram encontrados na literatura relatos do

catabolismo protéico em helmintos.

A SE de uréia foi significativamente maior em cisticercos em fase larval in vitro

sem ação de fármacos do que em cisticercos da mesma fase sob ação dos fármacos

em qualquer concentração testada. Indicando provável utilização da cadeia

carbônica de aminoácidos para síntese de ácidos nucléicos durante a replicação

celular (Lehninger et al., 2005), visto que a fase larval apresenta intensa produção

de brotamentos. Uma possível explicação para a diferença significativa entre a

Page 86: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

Marina Clare Vinaud

71

concentração detectada de uréia em cisticercos sem a presença de fármacos em

relação aqueles diante dos fármacos seria que um provável mecanismo de ação

destes fármacos é impedir a utilização da cadeia amina para a síntese de ácidos

nucléicos, característica de fases de intensa duplicação celular, e também impedir a

produção de brotamentos, diminuindo, portanto a replicação do parasito e,

consequentemente, sua carga parasitária.

Helmintos capazes de SE íons amônio como ácido úrico ou uréia são

chamados de uricotélicos. A uréia pode ter uma das quatro seguintes fontes:

absorção de arginina do meio que seria quebrada pela arginase; absorção de uréia

do meio, que seria excretada sem modificações; purinas degradadas pela via do

ácido úrico e a partir de amônia e bicarbonato originados do ciclo da uréia-ornitina

(Mohamed et al., 2005). A detecção do ciclo da uréia, importante via metabólica para

excreção de substancias tóxicas como a amônia em mamíferos, tem sido descrita em

helmintos como a Fasciola gigantica (Mohamed et al., 2005), indicando a capacidade

de invertebrados de realizarem este mecanismo de homeostase. Não foram

encontrados na literatura relatos desta via metabólica em cestóides.

A SE de creatinina por cisticercos em fase final sob ação de albendazol a 0,05

µg.mL-1 foi significativamente maior do que em cisticercos da mesma fase expostos a

0,075 µg.mL-1 de albendazol. Diante da incapacidade da utilização da glicose

retirada do meio como fonte de energia, os cisticercos aparentemente utilizam uma

fonte alternativa para a produção de ATP ao realizarem a desfosforilação do fosfato

de creatinina em creatinina com a produção de pequena quantidade de ATP por mol

de fosfato de creatinina e a SE de creatinina como produto final (Lehninger et al.,

2005). Chawla et al. (2004) descreveram grande quantidade de creatina no líquido

Page 87: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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72

cístico de cisticercos de T. solium, indicando uma provável fonte de oxidação e

produção de creatinina, produto metabólico da SE de creatina, detectado em

cisticercos de T. crassiceps.

Page 88: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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73

Figura 1. Cromatograma de ácidos orgânicos secretados/excretados por

cisticercos em fase larval, grupo controle (A), expostos a 0,03 µg.mL-1de praziquantel

(B), expostos a 0,06 µg.mL-1de praziquantel (C)

1A

1B

1C

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Tese de Doutorado

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74

Tabela 1 – Concentrações médias ± desvio padrão de propionato, acetato e β-

hidroxibutirato (pMol.mL-1) e proteínas totais (g.dL-1), uréia e creatinina (mg.dL-1)

secretados/excretados por cisticercos de Taenia crassiceps in vitro e sob ação de

praziquantel a 0,03 e 0,06 µg.mL-1, por cromatografia líquida de alta eficiência

/detector UV e espectrofotometria.

Substância detectada Controle (n=3) Praziquantel a 0,03

µg.mL-1 (n=3) Praziquantel a 0,06

µg.mL-1 (n=3) Inicial Larval Final Inicial Larval Final Inicial Larval Final

Propionato 0,3332

± 0,3423

0,2685 ±

0,3993

0,6382 ±

0,4413

0,4556 ±

0,4914

0,6129 ±

1,0616

0,0821 ±

0,1422

0,1376 ±

0,2383

0,2368 ±

0,4101 ND

Acetato 1,9865

± 1,7509

1,5343 ±

2,5454

2,6802 ±

2,3848

2,6035 ±

4,5095

1,1984 ±

1,0950

0,9659 ±

1,2981

0,5193 ±

0,8995 ND

0,3075 ±

0,5327

Β-hidroxibutirato

4,0584 ±

1,6272

6,8039 ±

8,4120

0,9948 ±

0,4755

4,1187 ±

4,9877

1,4357 ±

1,2551

2,2991 ±

2,5806

0,8792 ±

0,8290

1,5378 ±

1,3432

2,8183 ±

3,8776

Proteínas totais

0,60 ±

0,00

0,87 ±

0,35

0,70 ±

0,42

0,37 ±

0,21

0,47 ±

0,12

0,30 ±

0,44

0,80* ±

0,10

0,77 ±

0,64

0,87 ±

0,67

Uréia 11,00

± 1,41

22,67* ±

5,86

14,50 ± 7 ,78

9,00 ±

1,73

7,00 ±

2,00

6,33 ±

2,89

7,33 ±

0,58

7,00 ±

4,36

7,00 ±

3,61

Creatinina 0,40

± 0,28

0,30 ±

0,10

0,30 ±

0,14

0,37 ±

0,12

0,37 ±

0,21

0,43 ±

0,25

0,47 ±

0,06

0,57 ±

0,38

0,50 ±

0,30 ND – não detectado, * - p<0,05, diferença estatisticamente significativa.

Page 90: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

Tese de Doutorado

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75

Figura 2. Cromatograma de ácidos orgânicos secretados/excretados por

cisticercos em fase larval, grupo controle (A), expostos a 0,05 µg.mL-1de albendazol

(B), expostos a 0,075 µg.mL-1de albendazol (C)

2A

2B

2C

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Tese de Doutorado

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76

Tabela 2 – Concentrações médias ± desvio padrão de propionato, acetato e β-

hidroxibutirato (pMol.mL-1) e proteínas totais (g.dL-1), uréia e creatinina (mg.dL-1)

secretados/excretados por cisticercos de Taenia crassiceps in vitro e sob ação de

albendazol a 0,05 e 0,075 µg.mL-1, por cromatografia líquida de alta eficiência

/detector UV e espectrofotometria.

Substância detectada Controle (n=3) Albendazol a 0,05 µg.mL-1

(n=3) Albendazol a 0,075

µg.mL-1 (n=3) Inicial Larval Final Inicial Larval Final Inicial Larval Final

Propionato 0,3332

± 0,3423

0,2685 ±

0,3993

0,6382 ±

0,4413

0,4795 ±

0,2959

0,2910 ±

0,2690

0,2638 ±

0,4570

0,4094 ±

0,4334

0,3343 ±

0,5790

0,1123 ±

0,1945

Acetato 1,9865

± 1,7509

1,5343 ±

2,5454

2,6802 ±

2,3848 ND

3,9121 ±

2,8847 ND

0,2146 ±

0,3716

0,0907 ±

0,1571 ND

Β-hidroxibutirato

4,0584 ±

1,6272

6,8039 ±

8,4120

0,9948 ±

0,4755

1,5989 ±

1,3151

5,5830 ±

9,6700

6,8091* ±

6,2877

0,6916 ±

0,4427

13,4562 ±

20,7928

1,9125 ±

1,5436

Proteínas totais

0,60 ±

0,00

0,87 ± 0,35

0,70 ±

0,42

0,93 ±

0,61

0,73 ±

0,06

0,80* ±

0,10

0,63 ±

0,49

0,57 ±

0,64

0,17 ±

0,21

Uréia 11,00

± 1,41

22,67* ±

5,86

14,50 ±

7,78

7,33 ±

2,31

9,00 ±

1,73

10,33 ±

4,16

5,33 ±

2,31

7,33 ±

2,52

5,00 ±

1,73

Creatinina 0,40

± 0,28

0,30 ±

0,10

0,30 ±

0,14

0,50 ±

0,20

0,47 ±

0,06

0,47* ±

0,06

0,33 ±

0,06

0,40 ±

0,17

0,23 ±

0,06 ND – não detectado, * - p<0,05, diferença estatisticamente significativa.

Concluí-se que os fármacos testados, em doses subletais, apresentam efeitos

diversos no metabolismo de cisticercos de T. crassiceps como: induzir a

desfosforilação de fosfato de creatinina como fonte de energia alternativa, inibir a

utilização de proteínas como fonte de energia e os aminoácidos resultantes de sua

quebra na síntese de ácidos nucléicos como forma de impedir a produção de

brotamentos e a replicação dos cisticercos. Confirmando a utilização das reservas de

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Tese de Doutorado

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77

glicogênio e glicose como fonte de energia preferencial pelo cisticerco. Ressaltamos a

descrição da excreção de uréia por cisticercos, via metabólica importante na

excreção de produtos tóxicos, como a amônia, ainda não relatada na literatura. E,

ainda, a oxidação de ácidos graxos como fonte alternativa de energia em cisticercos

na presença de fármacos anti-helmínticos. Portanto, os fármacos utilizados afetam o

metabolismo do cisticerco ao impedirem sua captação de glicose do meio externo,

induzindo a utilização de fontes alternativas de energia e levando o cisticerco à

morte por esgotamento energético.

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Marina Clare Vinaud

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CONCLUSÕES GERAIS

1. É possível detectar e quantificar in vivo o metabolismo intermediário

respiratório e energético de amostras de cisticercos de T. crassiceps retirados aos 21

e 42 dias de infecção de camundongos Balb/c.

2. A detecção de propionato e de β-hidroxibutirato in vivo em cisticercos de T.

crassiceps indica a presença da oxidação de ácidos graxos como fonte de energia

alternativa.

3. A presença de ácidos orgânicos do ciclo do ácido cítrico confirma a

aerobiose in vivo nos estádios evolutivos larval e final dos cisticercos.

4. É possível detectar a excreção de ácidos orgânicos referentes ao

metabolismo intermediário respiratório e energético em cisticercos de T. crassiceps

in vitro e diante de diferentes concentrações de fármacos anti-helmínticos –

praziquantel e albendazol.

5. Os fármacos anti-helminticos, nas concentrações subletais utilizadas,

influenciaram a excreção de lactato, diminuindo-a, induzindo uma preferência pela

via aeróbia de produção de energia.

6. As concentrações de glicose permaneceram inalteradas in vitro nas

diferentes fases evolutivas e entre os grupos de cisticercos expostos aos fármacos,

mostrando preferência do parasito pelo metabolismo aeróbio, consumindo suas

reservas energéticas quando expostos aos fármacos em dosagens subletais.

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Tese de Doutorado

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81

7. Os fármacos testados, em doses subletais, afetam o metabolismo de

cisticercos de T. crassiceps ao induzir a fosforilação de fosfato de creatinina como

fonte de energia alternativa, ao inibir a utilização de proteínas como fonte de energia

e os aminoácidos resultantes de sua quebra na síntese de ácidos nucléicos como

forma de impedir a produção de brotamentos e a replicação dos cisticercos.

8. Os cisticercos de T. crassiceps são capazes de excretar uréia, via metabólica

importante na excreção de produtos tóxicos, como a amônia.

9. Os cisticercos de T. crassiceps são capazes de oxidar ácidos graxos como

fonte alternativa de energia quando na presença de fármacos anti-helmínticos, em

dosagens subletais.

10. Os fármacos utilizados afetam o metabolismo do cisticerco ao impedirem

sua captação de glicose do meio externo, induzindo a utilização de fontes

alternativas de energia e levando o cisticerco à morte por esgotamento energético.

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Tese de Doutorado

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os cisticercos de T. crassiceps constituem um modelo experimental adequado

para o estudo da cisticercose por larva de T. solium além de se apresentarem como

novos patógenos capazes de atingir o homem, especialmente em situações de

imunocomprometimento. Neste trabalho avaliaram-se as vias metabólicas

energéticas e respiratórias que estes cisticercos são capazes de realizar in vivo e

quando exposto a dosagens subletais de praziquantel e albendazol in vitro.

Detectou-se que o mecanismo de ação destes fármacos ocorre, principalmente,

em nível de membrana cística, impedindo a captação de glicose pelo parasito e,

consequentemente, forçando-o a consumir suas reservas energéticas e a criar novas

fontes de energia em busca da sobrevivência. Estas análises indicam que o

metabolismo parasitário não é paralisado pela presença dos fármacos, podendo

apontar possíveis mecanismos de resistência observados em algumas cepas.

É importante ressaltar a descrição de vias metabólicas em cisticercos de T.

crassiceps, como a excreção de uréia e a oxidação de ácidos graxos, somente

relatadas anteriormente em mamíferos, demonstrando similaridades destas vias

metabólicas entre parasito e hospedeiro. Tais semelhanças podem atuar como

mecanismo de adaptação do parasito ao local de implantação no hospedeiro,

permitindo maior aproveitamento energético por parte do parasito.

Diante dos dados analisados e da escassez de relatos na literatura, percebe-se

que estudos metabólicos dos cisticercos in vivo e in vitro, e sua reação diante de

fármacos amplamente utilizados, são de grande importância para o entendimento

dos mecanismos de ação destes fármacos e dos possíveis mecanismos de resistência

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Tese de Doutorado

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83

que os parasitos são capazes de desenvolver em busca da sobrevivência em

ambientes diversos.

Portanto, estudos mais aprofundados de vias metabólicas e suas enzimas são

recomendados para elucidação de mecanismos de sobrevivência dos parasitos em

habitats tão variados quanto os tecidos ou a luz intestinal de hospedeiros

mamíferos, apontando possíveis locais de atuação de novos fármacos ou indicando

possíveis interações entre fármacos capazes de atuar externamente ao parasito e

outros capazes de interferir em vias metabólicas essenciais a sua sobrevivência.

Page 99: Vias do metabolismo energético e respiratório em cisticercos de

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