viagemaooriente catalogo parte1...

171
ARQUIVO MUSEU DIOCESE LAMEGO [Em]COMUM Uma cidade. Dois museus Projeto One city. Two museums no século XIX

Upload: others

Post on 22-Mar-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

ARQUIVO MUSEUDIOCESE LAMEGO [Em]COMUM

Uma cidade. Dois museus

Proj

eto

One city. Two museums

no século XIX

Page 2: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 3: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

th19 century

Arquivo - Museu Diocesano de Lamego8 de junho - 14 de setembro de 2014

Page 4: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

FICHA TÉCNICA

EXPOSIÇÃO

DireçãoLuís Sebastian

ComissariadoJosé Pessoa (coordenação)Georgina Pinto PessoaManuela Vaquero

ConservaçãoGeorgina Pinto Pessoa

Ampliações digitaisAlexandra PessoaJosé Pessoa

Design, produção e montagemMuseu de LamegoPubliserv, Lda.

ColeçãoFamília Mascarenhas Gaivão

ComunicaçãoPatrícia Brás

AgradecimentosAurobindo XavierGiordano Bruno Paulo Feytor PintoPaulo Varela GomesCentro Português de Fotografia

CATÁLOGO

TextosJosé Pessoa Georgina Pinto PessoaManuela Vaquero

FotografiaJosé Pessoa Alexandra Pessoa Paula Pinto

Inventário e CatalogaçãoGeorgina Pinto PessoaManuela Vaquero

Conceção e composição gráficaLuís SebastianPaula Pinto

Imagem da capaGoa Velha - Ruínas do Convento de S. Paulo (Índia), atribuída a Souza and Paul, 1884-1894.

EdiçãoMuseu de Lamego | DRCN

Data de EdiçãoSetembro 2014

ISBN 978-989-98657-5-4

O conteúdo dos textos, direitos de imagem e opção ortográfica são da responsabilidade dos autores.

Page 5: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

ÍNDICE

ApresentaçãoAntónio Ponte (Diretor Regional de Cultura Norte)

Luís Sebastian (Diretor do Museu de Lamego)

João Carlos Morgado, Pe. (Diretor do Arquivo-Museu Diocesano de Lamego)

Janelas no Tempo Oriental: Colecção de Fotografias do século XIXJosé Pessoa

Notas de ViagemEgiptoCeilão / SriLankaTimor-LesteJava: Batávia / Jayakarta

Georgina Pinto PessoaÍndiaPraganã Nagar-AvelyDamãoCaminho-de-ferro dos GatesGoaBombaim

Manuela Vaquero

Dossier Museográfico

Bibliografia

579

12

20425470

869098104112138

144

158

no século XIX

Page 6: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 7: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

O estabelecimento de parcerias tem-se afigurado como um dos meios mais eficazes de promoção da cultura e da salvaguarda do

património cultural.

O relacionamento entre instituições culturais de diferentes tipos e de diferentes tutelas, de instituições de cariz diferenciado e,

cada vez mais, com particulares tem permitido realizar eventos culturais de grande interesse, permitindo que um público cada

vez mais diversificado possa contactar com bens patrimoniais e com narrativas mais estruturadas e qualificadas.

A Direção Regional de Cultura através dos seus museus tem procurado promover iniciativas que vão de encontro aos diferentes

públicos, qualificando a oferta cultural e potenciando a salvaguarda do património.

Não posso deixar de felicitar esta parceria que o Museu de Lamego corporiza com a Diocese de Lamego e com particulares,

potenciando a promoção de iniciativas de grande relevância.

Uma palavra também para toda a equipe que organizou esta exposição que muito dignifica as instituições e particulares

envolvidos.

Setembro | 2014

ANTÓNIO PONTEDiretor Regional de Cultura do Norte

5

no século XIX

Page 8: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

6

Page 9: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão pública do trabalho de identificação e inventário de espólios

fotográficos familiares com referência ao Douro, que tem vindo a ser levado a cabo pelo Museu de Lamego desde 2012.

Iniciado com o espólio particular da família Mascarenhas Gaivão, já em 2013 permitiu a realização de duas exposições:

“Uma viagem no tempo, do outro lado do espelho” e ”Caminhos do Ferro e da Prata”. Debruçando-se a primeira

sobre o retrato e a segunda sobre a construção da linha férrea do Douro e Minho, esta última contou ainda com a publicação do

respetivo catálogo em suporte de papel.

Continuando a intenção de anualmente dar expressão pública ao trabalho de inventário de espólios fotográficos familiares,

optou-se neste ano de 2014 por isolar um conjunto fotográfico subordinado ao tema do Oriente, ainda retirado do espólio

particular da família Mascarenhas Gaivão, dando forma a uma exposição temporária e publicação do respetivo catálogo, desta

feita em formato digital, privilegiando a sua disponibilização gratuita e universal on-line a partir do site do Museu de Lamego

(www.museudelamego.pt).

Ao contrário das duas exposições realizadas no Museu de Lamego em 2013, nesta nova iniciativa optou-se pela sua realização no

Arquivo-Museu Diocesano de Lamego. Esta opção compreende-se dentro do Projeto Em[Comum], protocolado em 2014

entre o Museu de Lamego e a Diocese de Lamego, tendo por objetivo dinamizar os espaços do Arquivo-Museu Diocesano de

Lamego através de iniciativas conjuntas.

Assim, dentro do Projeto Em[Comum], o Museu de Lamego realizou entre 16 de março e 30 de abril de 2014 a exposição “A Sé de

Lamego no Museu”, patente na sala de exposições temporárias do Arquivo-Museu Diocesano de Lamego e contando

igualmente com catálogo digital on-line, à qual se junta agora, dentro deste dinamismo de colaboração, a exposição “Viagem ao

Oriente”.LUÍS SEBASTIANDiretor do Museu de Lamego

7

no século XIX

Page 10: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Novamente, cabe aqui agradecer toda a disponibilidade e cooperação da família Mascarenhas Gaivão, sem cuja abertura ao seu

precioso espólio fotográfico particular nenhuma destas três exposições teria sido possível.

Dentro das habituais parcerias em que o Museu de Lamego se tem apoiado na realização das suas atividades, voltamos nesta

iniciativa a contar com o apoio do Teatro Ribeiro Conceição, a quem agradecemos a cumplicidade de sempre.

Igualmente vital no desenvolvimento das atividades do Museu de Lamego, o apoio mecenático das empresas da região tem sido

um dos principais sustentáculos do dinamismo que se tem querido imprimir à ação do museu enquanto principal agente

cultural do território em que se insere. Às mais de uma dezena de empresas que compõem já o quadro de mecenas do Museu de

Lamego junta-se agora a GeoDouro (www.geodouro.pt), sem o apoio financeiro da qual esta nova iniciativa não teria sido

possível, cabendo neste ponto um especial agradecimento ao Eng. José Alves.

Por fim, o agradecimento incontornável às equipas do Museu de Lamego e do Arquivo-Museu Diocesano de Lamego

envolvidos nesta iniciativa, cujo esforço e dedicação permite sempre ir mais longe e para lá dos meios materiais disponíveis.

8

Page 11: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

O Museu Diocesano de Lamego alegra-se de receber nas suas instalações a exposição “Viagem ao Oriente no século XIX”. Esta é

uma mostra fotográfica, espólio da família Mascarenhas Gaivão, que nos permite viajar no espaço e no tempo pelo Oriente do

Século XIX.

A presente mostra foi inaugurada no dia 8 de Junho do corrente ano de 2014, no mesmo dia e na mesma hora em que nos Jardins

do Vaticano, o Papa Francisco se reunia com os dirigentes de Israel e da Palestina para rezarem em conjunto pela paz no Oriente

Médio. Uma coincidência feliz que neste mundo globalizado nos aproximou duma forma tão expressiva dos problemas que hoje

afligem o Oriente Médio e o Oriente em geral.

A exposição foi oportunidade de (re)visitar o marcante encontro de culturas entre o Ocidente e o Oriente, com um fascínio

manifestamente recíproco. As influências foram mútuas e o resultado final uma mundivisão diferente e novos estilos de

produção artística que são património novo e comum.

As igrejas cristãs, seminários e outros edifícios religiosos (ou o que resta deles), que podemos observar nas fotografias expostas,

são testemunho eloquente da passagem de tantos missionários generosos que daqui partiram para essas terras longínquas

anunciar o Evangelho, promover a cultura e praticar a caridade.

É grato recordar, registar e convidar a conhecer o nome e a obra de dois missionários jesuítas, oriundos da nossa Diocese de

Lamego: os padres João Rodrigues e Sebastião Vieira, naturais de Sernancelhe e Castro Daire, respectivamente, que partindo

para as Terras do Sol Nascente, deixaram um eco de heroísmo que ressoou por todo o Oriente. João Rodrigues imortalizou-se

pela tinta da sua pena, Sebastião Vieira pelo sangue das suas veias que derramou como mártir. Também estas vidas são

património imaterial que é alicerce e muralha de tanto património material.JOÃO CARLOS MORGADO, PE.Diretor do Arquivo-Museu Diocesano de Lamego

9

no século XIX

Page 12: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

“Viagem ao Oriente no século XIX” é mais um feliz resultado do “Projecto [Em]Comum” que irmana os dois museus da cidade no

objectivo idêntico de servir a região, partilhar sinergias e promover a Cultura. Manifesto pois a minha profunda gratidão ao

Museu de Lamego, à família Mascarenhas Gaivão, ao comissariado científico e a todos os que em serviços menos visíveis, mas

não menos importantes, tornaram possível esta exposição.

10

Page 13: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 14: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

JANELAS NO TEMPO ORIENTAL: COLECÇÃO DE FOTOGRAFIAS DO SÉCULO XIX

JOSÉ PESSOA

Em busca dos bens culturais ainda desconhecidos

Da Colecção Fotográfica da Família Mascarenhas Gaivão, que o Museu de Lamego vem trabalhando, graças à generosidade dos

seus proprietários, existe um terceiro núcleo que, em nosso entender, justifica e impõe uma divulgação imediata. Sessenta e três

imagens, coladas em cartões de formato médio de 25 x 18 cm, quase todas legendadas e datadas, algumas assinadas ou

carimbadas pelos autores, outras cuja autoria é facilmente identificável, com numerações diversas e sem continuidade. Na sua

maioria terão pertencido a álbuns destinados à promoção de encomendas de provas soltas. Paisagens, ambientes urbanos,

arquitecturas civis e religiosas, grandes obras de engenharia, tipos humanos e profissionais, o passado, o então presente e a

construção do futuro desfilam diante dos nossos olhos. O que existe de comum nestas imagens que as juntam num núcleo?

A viagem que nos proporcionam do Cairo a Jacarta, do Egipto das pirâmides e do deserto aos príncipes de Java, passando através

do Canal do Suez, Port Said e as suas gentes, a Índia e as colónias portuguesas, Bombaim e Ceilão, Timor, Java e as Índias

Holandesas. É uma viagem pelo Oriente, entre 1880 e 1895, no auge da descoberta e do fascínio orientalista que possuiu os

intelectuais e cientistas europeus, bem como proporcionou um extraordinário desenvolvimento comercial e económico das

potências ocidentais, e permitiu a constituição do império vitoriano, o maior domínio mundial da História da Humanidade. Este

núcleo de provas positivas, feitas a partir de negativos de vidro pelo processo de colódio húmido e impressas em albuminas,

chegou até nós num maço, sem qualquer embalagem especial, sem qualquer informação adicional a não ser, felizmente, as

legendas originais e as assinaturas ou carimbos das casas fotográficas que as produziram. Registe-se também que quase todas

se encontram em bom ou razoável estado de conservação, apesar das colas que as fixam aos suportes de cartão. Estavam

guardadas numa caixa chinesa de charão.

no século XIX

13

Page 15: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

1 Serén, Maria do Carmo; Veloso, Teresa Galvão - “Na Índia dos Vice-Reis, Imagens da Saudade Antecipada”, fotografias de Souza e Paul e Adolpho Moniz - Encontros de Fotografia de Coimbra, em 1992.2 Ibidem

Para uma correcta avaliação da importância e do interesse deste núcleo, há que recordar as mais significativas exposições

fotográficas orientalistas, com imagens de autor do séc. XIX, expostas e publicadas recentemente; os fotógrafos nele

representados; a qualidade das imagens preservadas.

Há que salientar a exposição “Na Índia dos Vice-Reis, Imagens da Saudade Antecipada”, fotografias de Souza e Paul e Adolpho

Moniz, com textos de Maria do Carmo Serén e Teresa Galvão Veloso, integrada nos Encontros de Fotografia de Coimbra, em 1992.

O respectivo catálogo oferece-nos vinte e sete imagens que estariam inseridas nos álbuns “Índia Portuguesa” Souza e Paul,

Photographos da Casa Real, ca. 1890 (20) e “Damão e Nagar Avely”, Adolpho Moniz, amateur photographe, ca. 1890 (7). Trata-

se também neste caso de uma colecção de família, pertencente a D. Teresa Galvão Veloso e Arq. José Forjaz, parentes dos

proprietários da Colecção Mascarenhas Gaivão, Dr.ª Ana Maria de Moraes Sarmento Moniz Mascarenhas Gaivão e Dr. Manuel

Mouzinho de Albuquerque Mascarenhas Gaivão, o que nos levou a procurar a origem comum destes dois espólios!

Cipriano Forjaz de Sampaio, que foi Governador de Timor e era irmão de uma bisavó comum de D. Teresa Galvão Veloso e Dr.

Manuel Mouzinho de Albuquerque Mascarenhas Gaivão, poderá ter sido a origem das fotografias orientalistas da Colecção

Mascarenhas Gaivão, tendo falecido sem deixar descendência. Sua sobrinha Maria de Gusmão, para casa de quem se retirou, em

Coimbra, era viúva de Manuel de Mascarenhas Gaivão, que por sua vez teria recebido também imagens de Eulália Pimentel, viúva

de Jayme Forjaz de Serpa Pimentel, capitão tenente da marinha de guerra, que desempenhou funções na Índia, e posteriormente

em Angola e Moçambique, de que há notícia de ter coleccionado os álbuns da Índia. Tanto quanto conseguimos apurar, vindas de

duas fontes diferentes juntaram-se para posteriormente novamente se dividirem. Cinco imagens, duas de Nagar Avely e três de

Goa, figuram nos dois conjuntos, o que nos parece indiciar dois diferentes coleccionadores.

No respectivo catálogo , Maria do Carmo Serén, com a qualidade literária que a caracteriza, contextualiza historicamente a Índia

Portuguesa e a sua situação nos finais

1

2

do séc. XIX, e afirma: “Estas fotografias falam da Índia Portuguesa, de Goa e Damão; uma

14

Page 16: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Índia de final do séc. XIX, vista pelos olhos que se formaram nas “artes e naturezas” deste período. Isolam paisagens na

distância, compõem grupos, fazem o catálogo do património;(…)”. Podemos aqui ver 20 imagens de Souza e Paul e 7 de Adolpho

Moniz, todas referentes a Goa, Damão e Nagar Avely, quase todas em bom estado de conservação e várias de grande qualidade

documental.

Em Julho de 2008, no Museu Nacional de Arqueologia, abriu a exposição “Impressões do Oriente: de Eça de Queiroz a Leite de

Vasconcelos”. Coube-nos a selecção de imagens e guião científico da parte fotográfica. Apresentavam-se 42 albuminas, datadas

entre 1850 a 1890 , e 24 provas actuais feitas a partir de estereoscopias em vidro, provenientes de negativos de colódio húmido .

Aí a viagem passou pelo Cairo, Alexandria, Jerusalém, Belém, Beirute e Tripoli. No respectivo catálogo pode-se ler “As imagens

que nos mostram monumentos e sítios arqueológicos são bem representativas do estado em que estes se encontravam quando a

arqueologia dava os primeiros passos, e a consciência da necessidade de preservação do património cultural era ainda futuro” .

Entre outras anónimas, podemos encontrar os seguintes autores:

- Félix Bonfils (10 imagens, das quais três são atribuídas);

- Ferrier & Soulier : J.Levy Suc (23 imagens);

- Constantine e Georges Zangaki (8 imagens);

- Hyppolite Arnoux (7 imagens, das quais uma é atribuída);

- Tancrède Dumas (1 imagem);

- Sociétè Photographique du Canal de Suez (1 imagem).

Estão aqui representados quase todos os mais importantes fotógrafos que se estabeleceram nesta zona do crescente fértil, e que

enviaram para a Europa as primeiras imagens das antigas civilizações e o testemunho dos povos que ao longo dos tempos ali se

fixaram, sobre as cinzas e as pedras do passado. O mundo árabe, exótico aos nossos olhos, ao mesmo tempo fascinante e

3 4

5

3 Adquiridas pelo Estado e de origem desconhecida.4 Espólio da Casa-Estúdio de Carlos Relvas, Câmara Municipal da Golegã.5 Pessoa, José - Impressões de Viagem: A grande Aventura fotográfica do

século XIX in “Impressões do Oriente: de Eça de Queiroz a Leite de Vasconcelos”, Museu de Arqueologia, I.P.M., Julho, Lisboa 2008.

15

JANELAS NO TEMPO ORIENTAL: COLECÇÃO DE FOTOGRAFIAS DO SÉCULO XIXJOSÉ PESSOA

no século XIX

Page 17: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

decadente.

São estas, tanto quanto sabemos, as exposições recentes que se relacionam em temas e autores, e que antecedem a que agora

vos propomos. Caracterizam-se por darem a conhecer provas de autor e de época, memórias das vidas portuguesas em viagem

pelo Médio Oriente.

A nossa viagem, porém, não se fica pelo Índico, atravessa o canal do Suez e o Mar Vermelho, vai bem longe nos mares e nas gentes

do Oceano Pacífico. Viajemos então.

Fotógrafos europeus orientalistas na Colecção Mascarenhas Gaivão

Hyppolyte Arnoux, sob cujas origens pouco ou nada se sabe, fotógrafo francês que se fixou no Egipto a partir de 1860, tal como

muitos outros fixou monumentos, tipos humanos e profissões, ambientes urbanos e curiosidades locais, mas o seu tema

principal, e que constitui mérito inegável, foi o da construção do Canal do Suez, de que foi a principal testemunha fotográfica. A

sua capacidade de iniciativa e visão comercial leva-o a associar-se com os também famosos irmãos Constantine e Georges

Zangaki e após 1862 com António Beato. Vem a criar um estúdio em Port Said, na praça principal Ferdinand de Lesseps, em cuja

fachada se lia: “Fotografia do Canal”. A mesma inscrição se podia ler numa embarcação equipada com câmara escura, que

circulava na nova estrada, entre dois mares, entre dois mundos. Está representado nesta colecção por dez provas de grande

qualidade, algumas delas muito conhecidas internacionalmente .

António Beato (que por vezes assinava “Antoine”, certamente para satisfazer a clientela francesa, então a mais representada)

chegou ao Cairo em 1860, vindo a estabelecer-se em Luxor, em 1862, onde ficou até à morte (1906). Nasceu provavelmente em

Veneza, vindo a naturalizar-se súbdito britânico. Nos anos 50 trabalhou na Índia com o seu irmão Felice Beato, também fotógrafo

6

6 Principais dados recolhidos de: Hippolyte Arnoux, Le Canal vers 1880. Photographe de l'union des deux mers, Catalogue d'exposition. Centre

Historique des Archives Nationales. Hôtel de Soubise. 6 nov. 1996 - 3 fév.1997. Paris 1996.

Figura 1 - Assinatura prova Cat. 010

16

Page 18: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

e grande precursor do fotojornalismo de guerra, com quem frequentemente assinou conjuntamente (Felice Antoine Beato). Foi

também, como já referimos e durante algum tempo, associado a Hyppolyte Arnoux. Dedicou-se especialmente aos monumentos

faraónicos e aos motivos característicos dos povos que viajavam pelo deserto, satisfazendo a clientela turística, então em franco

crescimento. Embora as quatro provas que lhe atribuímos não estejam assinadas, (não temos acesso ao reverso, colado em cartão

grosso, onde provavelmente estará o seu carimbo), não existem dúvidas na atribuição, dado o estudo comparativo com imagens

muito semelhantes existentes em colecções internacionais. A coloração e os enquadramentos são inconfundíveis.

De Adolpho Moniz nada sabemos, vindo citado por vezes como “amateur photographe”. Está representado por seis albuminas

coloridas manualmente, de Nagar Avely e Damão.

Souza and Paul é uma firma que se estabeleceu em Goa no ano de 1864, fotógrafos da Casa Real, e… continua a existir no

seguinte endereço: Opposite Govt Printing Press, Panaji, Mahatma Gandhi Rd, Goa, GA 403005, Índia - Telemóvel:+91 832 222

3968. Dele reproduzimos cinco provas assinadas e dez que, com segurança, podemos atribuir.

Esta assinatura, JSá Vianna, que não se pode ver com luz normal, é incisa e só se distingue com luz espelhante. Trata-se de um

autor timorense, ou aí residente temporariamente, com duas provas assinadas (pelo método já referido) e quatro atribuídas,

indiscutivelmente semelhantes e fazendo parte do mesmo conjunto e com o mesmo tema. Fomos posteriormente informados

pelo Doutor Paulo Feytor Pinto, de que Jayme Henrique de Sá Vianna, (seu trisavô) nasceu em Lisboa, a 7 de setembro de 1858, e

morreu a 12 de março de 1895, em Macau, onde está sepultado. Esteve em Timor, intermitentemente, entre 1879 e 1893, onde

chegou como alferes - morreu major. Comandou as "campanhas de pacificação" de Lamaquitos, Liquiçá, Matibiam, Quelecai e

Maubara. Foi condecorado com a Ordem de Torre e Espada, em 1890, e com o colar da Sociedade de Geografia, em data

desconhecida. Teve três filhas de D. Francisca da Costa, filha do liurai D. Manuel da Costa, da região de Batugadé (ou Baucau). As

duas filhas mais velhas vieram para Portugal e tiveram descendência e a mais nova ficou em Timor, com a mãe. Embora não

Figura 4

Figura 2 - Assinatura prova Cat. 016

Figura 3 - Assinatura prova Cat. 026

17

JANELAS NO TEMPO ORIENTAL: COLECÇÃO DE FOTOGRAFIAS DO SÉCULO XIXJOSÉ PESSOA

no século XIX

Page 19: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

tenhamos obtido até agora a confirmação plena de que se trata do autor das fotografias marcadas com “JSá Vianna”, parece-nos

altamente provável de que se trate da mesma pessoa. Ou então as imagens foram marcadas para assinalar o proprietário, o que

não foi prática comum.

Em sessenta e três provas, existem somente vinte sem qualquer identificação de autor, o que nos parece francamente uma

excelente média.

Este conjunto de fotografias do séc. XIX, da Colecção da Família Mascarenhas Gaivão é o maior núcleo de provas de autor desta

época exposto recentemente, o que mais se estende na diversidade dos locais, das distâncias, das diversas culturas sobre os

quais nos abre algumas janelas no tempo e no espaço. Do Mar Vermelho, atravessando o Índico, até às profundezas do Oceano

Pacífico. Mostra-nos ainda exemplos de fotógrafos estrangeiros de grande importância na história da fotografia orientalista,

como são Hippolyte Arnoux e António Beato, bem como de fotógrafos portugueses no oriente, pouco conhecidos como Adolfo

Moniz e um desconhecido JSá Vianna. É um espólio complementar do que foi publicado nos Encontro de Fotografia de Coimbra, em

1992, e é uma continuação do que constou da Exposição “Impressões do Oriente: de Eça de Queiroz a Leite de Vasconcelos”. Cabe

ainda salientar a qualidade e o excelente estado de conservação com que estas provas chegaram aos nossos dias. Por estas

diversas razões, é com grande satisfação que as expomos e publicamos, estando a partir de agora disponíveis para os

investigadores.

Quantos espólios deste tipo aguardam, esquecidos em múltiplos armários e arcas, que urge recuperar e estabilizar, para que

não se percam, para que se ganhem para o Património Cultural do presente e do futuro.

18

Page 20: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Critérios de uma exposição

- Dado que uma parte das espécies se encontram colados nos dois lados do mesmo cartão, e não sendo fácil criar estruturas que

nos permitissem mostrá-las simultaneamente, optámos por reproduzir uma de cada e expor uma prova actual da mesma

(devidamente assinalada), procurando manter as densidade e tonalidades do estado actual de cada original, tanto quanto o

processo digital nos permite.

- Os títulos das legendas transcrevem, sempre que existem, as legendas originais (mesmo se verificamos que estão erradas e

aqui são complementarmente corrigidas) escritas sobre os cartões. Quando não existem optámos pela identificação do local ou

do tema.

- A sequência das provas expostas e de catálogo procurou reconstituir a viagem possível de ocidente para oriente.

Mais uma vez queremos salientar a nossa gratidão para com a Dr.ª Ana Maria de Moraes Sarmento Moniz Mascarenhas Gaivão e

Dr. Manuel Mouzinho de Albuquerque Mascarenhas Gaivão, proprietários da Colecção Mascarenhas Gaivão, pela sua

generosidade e colaboração com o Museu de Lamego, num processo exemplar de partilha de capacidades entre uma instituição e

um património familiar. E como é fascinante percorrer estas imagens, criadas acerca de 125 anos, que continuam a encantar-nos

com o seu carácter exótico e a testemunhar as pegadas históricas da nossa caminhada pelo Mundo. E são também património dos

povos e culturas que os portugueses visitaram e onde viveram.

19

JANELAS NO TEMPO ORIENTAL: COLECÇÃO DE FOTOGRAFIAS DO SÉCULO XIXJOSÉ PESSOA

no século XIX

Page 21: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 22: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

EGIPTO

GEORGINA PINTO PESSOA

“Maré Nostrum” ponte entre velhas e novas culturas.

Na outra margem, espraia-se o delta do Nilo - Itéru . Corre do interior profundo de África no Burundi, em sinuoso percurso pelo

Ruanda, Uganda, Sudão e Egipto, entre lagos e quedas de água, promessa de vida cumprida em cada cheia.

Integra essa espécie de lua que configura o Crescente Fértil, imagem obrigatória nos manuais escolares, gravada na memória de

todos entre a curiosidade e o espanto.

Região de perpétua passagem onde paradoxalmente sempre se permaneceu. De oriente para ocidente, de sul para norte o

tráfego sempre foi intenso. Culturas, raças e credos aqui coabitam, conferindo um aroma, uma luz, uma atmosfera e um

cosmopolitismo muito peculiar a esta região, particularmente presentes em Alexandria e no Cairo.

Se a geografia lhe impôs uma sobrevivência árdua, atribuiu-lhe, também, os meios de sustentabilidade necessários, que os

homens sempre souberam exponenciar na sua relação com o rio Nilo, na sábia mestria com que construíram as suas urbes e as

suas habitações, na riqueza cultural que foram dando corpo ao surpreendente património material e imaterial, legado impar

para a humanidade.

Aspectos que com maior ênfase na cultura e na arqueologia, nos recursos da região ou na sua posição estratégica, fizeram deste

país um ponto de referência, um local apelativo e recorrente da estratégia política dos países ocidentais, como outrora o tinha

sido pelos grandes impérios persa, grego, romano e otomano.

1

1 Itéru - “grande rio”. Nome atribuído pelos egípcios ao rio Nilo.

21

no século XIX

Page 23: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

2Obra executada pela Companhia Geral do canal de Suez de Ferdinand de Lesseps. Cerca de 1,5 milhão de egípcios trabalharam em sua construção, desses, aproximadamente 125.000 morreram, sobretudo de cólera.3 Fundada em 1859 aquando da construção do canal. A atribuição do nome Por Said deveu-se à intenção de homenagear o então Quediva do Egipto, Said Paxá.

No século XIX, foram as grandes potencias ocidentais, em plena fase de industrialização, como a Alemanha, a França e a

Inglaterra, a afirmar os seus interesses imperialistas e colonialistas, movendo influências, exercendo pressões, procurando

aceder e controlar áreas consideradas fulcrais para a sua expansão e crescimento, dos quais dependia o alargamento dos

mercados, quer no acesso às matérias primas quer no escoamento da sua produção. Aproveitando o processo de decadência dos

turcos, o domínio do Médio Oriente tornou-se exequível, num período que antecedeu a presença de um novo elemento

mobilizador de grandes disputas nesta zona, já no século XX - o petróleo.

Porém, e ainda no contexto do século XIX, urgia a abertura de uma via rápida e segura de acesso ao Índico via Pacífico, que desse

cumprimento aos objectivos desta economia industrial e capitalista das grandes potências europeias, particularmente da

Inglaterra. Aqui assumiu grande relevância a construção do canal de Suez, acontecendo esta entre 1859-1869 , ideia repescada

do velho império romano traduzida na construção de canais ligando o sul até ao delta do Nilo.

Estendendo-se da cidade de Suez, ao sul, até Port Said , ao norte, o Canal de Suez ("Qanat as-Suways") liga o Mar Mediterrâneo

ao Golfo de Suez e ao Mar Vermelho, permitindo uma via navegável até o Oceano Índico.

O Egipto das pirâmides, dos faraós e das múmias, do deserto, de beduínos e tuaregues, dos camelos e das rotas caravaneiras, era

também um marco obrigatório na política internacional, um itinerário de referência de intelectuais, de aventureiros, de quem

empreendia a “profética” viagem à Palestina, ou simplesmente do formativo “grand tour” de jovens aristocratas e burgueses.

Majestosos templos cheios de colunas e baixos-relevos onde habitavam estranhos e implacáveis deuses, com corpo de “gente” e

cabeça de falcão. Obeliscos que desafiam o céu e intrigantes túmulos em forma de pirâmide que pareciam querer tocar-lhes.

Outros escavados nas rochas, penetravam “indefinidamente” no seu interior deixando à entrada eternos colossos.

2

322

Page 24: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

A expedição ao Egipto de Napoleão Bonaparte (1798) e o impacto provocado pelas imagens e pelas informações recolhidas e

publicadas na Description de l'Égypte (1809-1822), primeira obra sistemática consagrada ao Egipto, tinha sido enorme. O seu

carácter descritivo e abrangente, contemplando a Geografia, a Etnografia e a Arte, permitiu a sua descoberta e estimulou a

curiosidade sobre esse berço maravilhoso e longínquo.

Fascínio e entusiasmo tão caro quer ao espírito romântico quer ao positivismo do século XIX, que assim viu intensificar o

interesse por esta civilização, pelos seus vestígios arqueológicos e pelo coleccionismo dos mesmos.

Em 1822 Jean-François Champollion elabora os princípios de decifração da escrita hieroglífica egípcia, que conclui em 1824 no

seu "Précís Du système hiéroglyphique des anciens égyptiens”.

A aura de riqueza e mistério mobilizou para estas paragens estudiosos e aventureiros de todo o tipo, distante ainda do espírito

da arqueologia, onde a convivência da ciência e do conhecimento se misturaram com o da aventura e do saque. Aliás, com a

participação não só de particulares, mas também de instituições oficiais, para quem os fins justificaram os meios, fazendo chegar

aos grandes museus europeus as suas extraordinárias Colecções de Arte Egípcia, e a anuência e até incentivo do governo de

Mohamed Ali (1769-1849). Cerca de 1875, os antiquários de Luxor vendiam aos turistas, em excelente estado de conservação, os

mais belos papiros, chauabti e objectos de mobiliário funerário e até de múmias.

E esta prática havia de prosseguir até praticamente finais do século XIX, apesar do esforço e do importante papel de alguns como

François-Auguste-Ferdinand Mariette (1821-1881). Funcionário do Museu do Louvre, Mariette partiu para o Egipto em 1850 com a

missão de adquirir para o museu antigos manuscritos coptas e siríacos que pudessem ombrear com as colecções de Londres e do

Vaticano. Mariette operava, naturalmente, com o acordo tácito das autoridades egípcias.

Amante do risco e influenciado por Nestor L'Hôte, desenhador de Champollion, ainda seu parente afastado, continuará a

GEORGINA PINTO PESSOAEGIPTO

23

no século XIX

Page 25: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

aventura da arqueologia. Em 1850-51, descobre o Serapeum de Sakara, uma das grandes descobertas da arqueologia egípcia,

como os achados de Deir el-Bahari (Gaston Maspero, 1881), o túmulo de Tutankhamon (Howard Carter, 1922) ou dos túmulos reais

de Tânis (Pierre Montet, 1939).

A Marinette se deve o tesouro da rainha Aahotep, na região tebana, a limpeza do templo funerário de Hatchepsut, em Deir el-

Bahari, e do templo de Amon, em Karnak, entre outros.

Curiosamente, o homem que teria ido ao Egipto para levar mais uma parte do seu património, revoltado com o impune e

continuado saque de tantos monumentos e documentos egípcios, havia de se constituir num dos seus principais e maiores

defensores, sendo nomeado por Mohamed Said, em 1858, maamur, isto é, «director» dos trabalhos do antigo Egipto , cabendo-

lhe a autoria dos primeiros textos legislativos fundadores da salvaguarda do património.

Em Portugal cria-se em 1850, a Sociedade Archeológica Portuguesa. Nomes como Leite de Vasconcelos, Possidónio Silva, Santos

Rocha, Estácio da Veiga ou Martins Sarmento são referência obrigatória da arqueologia portuguesa. Em 1880 realiza-se o

Congresso Internacional de Antropologia e Arqueologia Pré-Históricas e em 1893 Leite de Vasconcelos funda o Museu

Etnográfico.

Enquanto os conceitos da moderna arqueologia evoluíam e se estruturavam, em parte sob os auspícios de G. Maspero , por

William Matthew Flinders Petrie (1853-1942), George Andrew Reisner (1867-1942), entre outros, fazendo das últimas décadas

de oitocentos e primeira de novecentos, a “idade de ouro” da Egiptologia, e a acção imperialista das grandes potências ocidentais

se digladiava, pela afirmação da supremacia política, institucional e cultural sob uma área tão crucial quanto o Médio Oriente

(que em parte conduziria ao grande conflito armado de 1914), uma literatura de viagens , descritiva ou poética, espécie de etno-

literatura radicada nos discursos antropológicos e etnográficos, mas também uma literatura esotérica e alquímica cumpririam

4

5

6

7

4 Mariette recusando vários cargos em França: Direcção da Biblioteca Nacional de França, Senado de França, conservador do Museu do Louvre, cátedra no Collège de France. O vice-rei conceder-lhe-ia, como reconhecimento da sua dedicação os títulos de bey e, mais tarde, paxá, o mais alto grau honorífico da administração turca.5 Deu continuidade ao trabalho de Marinette e à frente do Serviço de Antiguidades Egípcias, G. Maspero desenvolveu um apreciável trabalho na organização das escavações. Iniciou a publicação dos Annales du Service des Antiquités de l'Égypte (ASAE), que ainda hoje se publicam. Iniciou a impressão dos Catalogue Général du Musée du Caire; publicou: Études de Mythologie et d'Archéologie (1893) e Histoire ancienne des peuples de l'Orient classique (1895-1899). 6 Rigoroso nos seus métodos e técnicas, Petrie publicou os resultado dos seus trabalhos, como os efectuados em Nagada, Abidos ou Amarna. De grande importância a sua obra: Methods and aims in archaeology (1903)7 Chateaubriand (1806); Lamartine (1832-33); Nerval (1842; Victor Hugo (Les

Orientales -1829); William Beckford; Lord Byron (Turkish Tales-1813-1816)

24

Page 26: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

essa mentalidade romântica que alimentou o pensamento e estimulou a criatividade dos intelectuais, dos artistas e das elites

em geral, convidando à viagem e ao seu registo . Eça de Queirós (1845-1900) cumprirá este mito, na viagem (1869)que realizou

ao Egipto, aquando da abertura do canal do Suez, consubstanciada na obra O Egipto (obra póstuma). Servir-lhe-ia ainda como

fonte de inspiração e ponto de partida para outras viagens mais além, também tão ao gosto da época, como a Relíquia ou o

Mandarim, onde o imaginário de uma religiosidade mais ou menos caricaturada ou do gosto por um oriente requintado e

exotismo se evidenciam. A tradução e adaptação de narrativas orientais como O Livro das Mil e Uma Noites, tradução do

orientalista Antoine Galland, publicada entre 1704 - 1717, com várias traduções e publicações posteriores, ajudaram a construir

essa imagem icónica profundamente sedutora e exponencialmente recriada e reconstruída a partir do fabulado imaginário

oriental e de óbvios recalcamentos das mentalidades ocidentais.

O Médio ou próximo Oriente surgia, assim como um espaço redescoberto, a fruir, estudar e explorar. Via de acesso a um oriente

mais profundo e distante, agora disponível, para reerguer os esteios de velhas e novas potências, abrir fronteiras às ciências e ao

conhecimento ocidental nessa transversalidade com os saberes ancestrais dessas áreas geográficas, um mundo que sendo já

velho se abria repleto de novidade, aos olhos deslumbrados do ocidente.

A viagem permitia o contacto e observação fundamentais à construção do conhecimento experimental, sistemático, científico. À

literatura de viagens, onde a narrativa se cruza com a Geografia, a História, a Antropologia e a Etnografia, associa-se a

informação da viagem do investigador e do erudito.

A Fotografia surge neste contexto encontrando terreno fértil para explorar e um mercado de potencialidades extraordinárias.

Esforçando-se por captar as imagens desse exotismo que correspondia às expectativas da nostálgica visão da clientela ocidental

“compondo para a fotografia” esse quadro “fabulado”, tantas vezes traído pela sensibilidade e pela consciência do fotógrafo,

8

9

10

8 Delacroix - Marrocos 1832; Flaubert ao Egito e Médio Oriente entre 1849 e 1852 (…)9 John Paine (Londres, 1839-41), Edward Lane (1882-84) e finalmente Richard Francis Burton (Londres, 1885).10 François Arago, em 1839, na sessão de anúncio mundial do processo fotográfico, conjecturando sobre as possibilidades de aplicação do novo processo, propôs que de imediato se constituísse um grupo de trabalho para o inventário dos monumentos franceses, bem como "copiar os milhões e milhões de hieróglifos que cobriam totalmente os grandes monumentos de Tebas, Memphis e Carnac.

25

GEORGINA PINTO PESSOAEGIPTO

no século XIX

Page 27: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

que a lente da câmara tão bem sabia captar, “desnudando” o objecto fotografado e apresentando uma realidade bem diferente,

despojada dessa aura idílica e romântica.

Essa capacidade mimética dos processos fotográficos, rigorosa e fiável na captação da realidade, característica tão cara ao

positivismo da época, e a exactidão técnica da sua reprodutibilidade, permitiu, de certa forma, a apreensão do tempo e do espaço,

e a portabilidade das vivência do lugar através das imagens. Percurso, onde se retiveram e materializaram milhares de anos de

história, dos seus vestígios, das suas gentes, dos seus costumes, do seu património, alternativa impar às litografias, desenhos e

aguarelas dos vários artistas plásticos que os tinham antecedido.

A coincidência entre a prática fotográfica e esta cultura da viagem marcada pelo desejo expansionista e colonialista europeu,

pelas solicitações das ciências, em particular da Arqueologia e a demanda de uma sociedade (europeia) aristocrático-burguesa

sedenta de sensações e de imagens que preenchessem os cânones de um sentimentalismo bucólico, levará inúmeros fotógrafos

a viajar para estas regiões.

Com frequência, aí se fixaram e aí abriram os seus estúdios, documentando e registando, elaborando e disponibilizando

extraordinários álbuns de vistas, como A. Beato e Hippolyte Arnoux, autores destas imagens. Carregaram o seu “laboratório

portátil”, gravaram na chapa de vidro a eternidade pétra de Luxor, da imensidão dos seus hieróglifos e baixos-relevos. Na árida

paisagem do deserto, definiu-se o horizonte em filas de camelos, de tuaregues ou beduínos, companheiros na jornada de sempre,

surpreendeu-se a pausa da caminhada, registou-se o acontecimento histórico na abertura do canal de Suez às portas de Port

Said.

Os lugares e as gentes. A peculiaridade do mashrabiyyah de uma medieva casa árabe no Cairo, as actividades do quotidiano, a

vitalidade da água, a suave volumetria das ânforas de barro sustentadas por raparigas de olhos profundos e penetrantes,

11

12

11 Muitos outros como Francis Frith; Maximine du Camp; August Salzmann; Joseph Philibert Girault de Prangey; A. Beato, Bonfils, Lekegian, Sebah, Zangaki; Rudolf Lehnert e Ernst Landrock.12 Imagem do Takhtabush e mashrabiyyah da casa árabe. Tipo da galeria. Área coberta ao ar livre, localizada entre dois pátios: um é sempre ensolarado e pavimentado e o outro é o jardim. O takhtabush tem uma abertura lateral de acesso ao pátio pavimentado, acedendo-se ao jardim através do mashrabiyyah.

26

Page 28: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

envoltas em “panos”, túnicas e xailes que testemunham a condição social, a cultura, a religião, as técnicas …a “pose” das duas

egípcias, ostentando sedas ornadas de laços e colares, emanando uma androginia enigmática, relegando para segundo plano

uma terceira rapariga de olhar distante…a cena de harém (?) num suigeneris contraponto entre a observação do privado e do

mundano, de uma intimidade escondida sob a sombra da burca e a jovial provocação de um olhar frontal, um sorriso ténue

resvalado na velada nudez do peito e dos braços de uma jovem.

A vida, nesse pulsar plural de universos num Cairo onde diferentes etnias, culturas, percursos e memórias, contribuem para a

construção da imagem de um Egipto antigo, sempre surpreendente e misterioso, pleno de contrastes e contradições.

27

GEORGINA PINTO PESSOAEGIPTO

no século XIX

Page 29: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Canal de Suez EGIPTO Autor Hippolyte Arnoux

Técnica Albumina Inventário Cat. 001

Datação 1886

Page 30: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Caravana EGIPTOAutor António (Antoine) Beato

Técnica AlbuminaInventário Cat. 002

Datação 1886

Page 31: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Camelos EGIPTO Autor António (Antoine) Beato

Técnica AlbuminaInventário Cat. 003

Datação 1886

Page 32: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Templo de Luxor EGIPTOAutor António (Antoine) Beato

Técnica AlbuminaInventário Cat. 004Datação 1884-1894

Page 33: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Templo de Luxor EGIPTOAutor António (Antoine) Beato

Técnica AlbuminaInventário Cat. 005 Datação 1884-1894

Page 34: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Tipos e Costumes - Aguadeiro EGIPTO Autor Hippolyte Arnoux

Técnica AlbuminaInventário Cat. 006

Datação 1886

Page 35: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Cairo - Casa Árabe EGIPTOAutor Hippolyte Arnoux

Técnica Albumina Inventário Cat. 007

Datação 1886

Page 36: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Vendedor de limonada - Port Said EGIPTOAutor Hippolyte Arnoux

Técnica AlbuminaInventário Cat. 008

Datação 1886

Page 37: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Port-Saide - Mouro EGIPTOAutor Hippolyte Arnoux

Técnica AlbuminaInventário Cat. 009

Datação 1886

Page 38: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Port-Said - Georgeana EGIPTOAutor Hippolyte Arnoux

Técnica AlbuminaInventário Cat. 010

Datação 1886

Page 39: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Port-Said - Mulher Arabe EGIPTOAutor Hippolyte Arnoux

Técnica AlbuminaInventário Cat. 011

Datação 1886

Page 40: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Port-Said - Mulheres Arabes EGIPTOAutor Hippolyte Arnoux

Técnica AlbuminaInventário Cat. 012

Datação 1886

Page 41: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Port-Said - Mulheres Egípcias EGIPTOAutor Hippolyte Arnoux

Técnica AlbuminaInventário Cat. 013

Datação 1886

Page 42: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Port-Said - Mulher Arabe EGIPTOAutor Hippolyte Arnoux

Técnica AlbuminaInventário Cat. 014

Datação 1886

Page 43: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 44: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

CEILÃO / SRI LANKA

GEORGINA PINTO PESSOA

A ilha de Ceilão já era conhecida no ocidente desde a civilização grega, cujas histórias idealizadas, os generais de Alexandre

Magno ali fizeram chegar, a partir das incursões expansionistas até às margens do Indo.

Estrabão chamou-lhe Taprobana, epíteto adoptado por Luís de Camões.

Sri lank

A nobre ilha também de taprobana,

Já pelo nome antigo tão famosa,

Quando agora soberba e soberana

Pela cortiça calida, cheirosa,

Dela dará tributo à Lusitana

Bandeira, quando, excelsa e gloriosa,

Vencendo, se erguerá na torre erguida

Em Columbo, dos próprios tão temida.

(Lusíadas, canto X, est:51)

Plínio refere a presença de embaixadores de Ceilão, longínqua terra da utopia, lugar entre a lenda e a realidade, que aqui faziam

chegar a aromática canela e as pedras preciosas, transportadas até às margens do Mediterrâneo por mercadores orientais que

atravessavam o Oceano Índico, o Mar Vermelho ou a Pérsia.

Os primeiros contactos com os portugueses deram-se em 1506 com a chegada de Dom Lourenço de Almeida a Colombo. Local

estratégico para o império português, terra promissora para o comércio, ponto de paragem na rota da seda e das especiarias,

1

1 Chamavam "Diabo Louro", era filho do vice-rei da Índia D. Francisco de Almeida.

Área: 65.610 km²

População: 21.128.773

Capital: Kotte (126.872)

Língua: Cingalês e Tamil

Religião: Budismo e Hinduísmo

no século XIX

43

Page 45: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

importante na política diplomática e propagandística do império português. Como afirmou Manuel Flores, «a ideia da mítica

Taprobana subjugada por um rei do Ocidente cristão trar-lhe-ia seguramente um enorme prestígio» à sua chegada enviou um

embaixador ao rei de Kotte.

A receptividade do rei de Kotte, face aos portugueses, foi inicialmente muito positiva. «O imperador, que se chamava

Aboenagao Pandar, era benigno e não lhe era oculto que pela fama conseguíamos o que queríamos, com alegre rosto

veio em uma e outra coisa que lhe pedimos, concedendo tudo, apesar dos Mouros que ali assistiam, os quais nos eram

suspeitosos, porque da nossa entrada lhes resultava perderem aquele negócio (em que não se enganaram)» .

Provavelmente, vendo nestes um estímulo ao seu comércio e um potencial aliado de poderosa capacidade militar, importante

contra outros reinos rivais .

Se Portugal não se queria envolver nas questões internas da ilha, uma feitoria teria sido o objectivo, a história interna desta e a

ambição de controlar as suas riquezas ditou outro destino aos portugueses, muito para além das suas intenções iniciais.

O rei de Kotte dividiu o reino pelos seus três filhos. O herdeiro do reino de Citavaca, opondo-se ao irmão que herdara Kotte,

chamou em seu auxílio o samorim de Calecute, a mais forte potência hindu da costa do Malabar, principal rival do poderio

português no Índico. Por sua vez, o rei cingalês de Kotte, recorreu ao auxílio militar português para combater o seu irmão. A

rivalidade e as brechas nos reinos orientais, abria, assim, as portas à entrada dos portugueses no oriente.

As relações amistosas com o rei de Kotte, Dharma Parakramabahu IX (r. 1489-1513), conduziram ao pedido Vijayabahu VI (1513-

21) para o estabelecimento de uma fortaleza portuguesa que veio a ser construída em 1518, em Colombo, por ordem de D.

Manuel.

2

3

4

5

2 Flores, Jorge Manuel, Os Portugueses no Mar de Ceilão - Trato, Diplomacia e Guerra (1498-1543), Ed. Cosmos, Lisboa, 1998, p. 116.3 Ribeiro, João; Fatalidade Histórica da Ilha de Ceilão, Publicações Alfa, 1989, p. 14.4

Quando D. Lourenço de Almeida chega ao atual Sri Lanka, o território encontrava-se dividido em sete reinos, em estado de conflito entre si.5 Rei Kotte que sucedeu a Dharma Parakramabahu IX.

44

Page 46: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Todavia, a confiança e a estabilidade nestas relações foram efémeras, conduzidas, quer por instigação de terceiros, quer por

conflitos de interesse, que obrigaram o rei cingalês à submissão face à coroa portuguesa e ao pagamento de páreas anuais de

canela num regime tributário formalizado. Entre 1520 e 1530, os contactos diplomáticos foram apenas pontuais, havendo, no

entanto a registar a fixação de uma pequena comunidade de portugueses no reino de Kotte.

A pressão e os conflitos com os reinos vizinhos acabariam por proporcionar uma nova aproximação, com a abertura à

missionação e ao estabelecimento de um tratado que traria a Portugal uma embaixada do rei de Kotte, Bhuvaneka Ibahu, que

pretendia deixar no trono o seu neto Dharmapala em detrimento do seu irmão. Esta foi liderada por Sri Radaksa Pandita estando

em Portugal entre 1542-1543.

«No cais esperavam-no os moradores da Casa Real, entre eles os condes de Vimioso e da Castanheira. Talvez até o

irmão do rei, o Infante D. Luís, de quem o Pandita dirá maravilhas no regresso a Kotte. Com o marquês de Vila Real,

viajou até ao Paço para uma audiência com D. João III. Entregou então ao monarca português o presente que trouxera

da ilha de Ceilão: um cofre cujas placas de marfim tinham esculpidas as figuras do próprio D. João III; de Bhuvaneka

Ibahu; dele mesmo, embaixador, e da recepção que lhe seria feita em Lisboa, tal como a imaginaram em Kotte; do

príncipe Dharmapala; do momento da coroação. D. João III, estamos certos, não desiludiu o Pandita: para o juramento

de Dharmapala como herdeiro do trono de Kotte, reuniu na Sé de Lisboa os notáveis do Reino, “mandando que se

fizessem grandes festas e se corressem touros” .

O interesse português alargou-se, agora a outros reinos, esboçando-se então os primeiros planos para a conquista e a

missionação da ilha como um todo, muitas vezes com o apoio de soberanos ou dos seus opositores, aos tronos locais. Em 1551, o

vice-rei Afonso de Noronha estabeleceu uma nova guarnição em Colombo, que se manteria até 1656. Alguma falta de visão e de

sensibilidade face às questões religiosas causaram alguns reveses nesta aproximação. Todavia, a conversão do rei Dharmapala

(1551-97) pelos franciscanos em 1557, tomando por nome Dom João, resultou na doação mortis causa do reino de Kotte à coroa

6

7

8 6 Imposto pago por um Estado a outro em sinal de dependência.7Flores, Jorge Manuel; Os Portugueses no Mar de Ceilão: Trato, Diplomacia e Guerra; p. 191.8 Relíquia do Buda no principal templo budista de Kotte, o Templo do Dente de Buda.

no século XIX

CEILÃO / SRI LANKAGEORGINA PINTO PESSOA

45

Page 47: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

portuguesa, em1580.

Além da fortaleza de Colombo, D. Constantino de Bragança construiu a fortaleza de Mannar, em 1560, com o fim de controlar a

navegação no Estreito de Palk e proteger a comunidade de cristãos locais.

Na década de 1590, deu-se início a uma conquista efectiva do Ceilão por ordens explícitas de Lisboa e Madrid. Apesar de alguns

contratempos, como a morte do rei converso ou a derrota de Danture, construíram-se várias fortalezas, alargou-se a missionação

a Jesuítas, Agostinhos e Dominicanos e integrou-se o reino de Kotte na Monarquia Católica de Filipe II.

Em 1617 faz-se um tratado com o rei de Kandy, ficando este vassalo da coroa portuguesa, ainda que em conformidade com as

práticas cingalesas se tenha salvaguardado a sua independência.

A chegada de Holandeses e Dinamarqueses à ilha representou um novo desafio para os portugueses, mas um novo aliado para os

reinos autóctones, mobilizando os portugueses para o reforço das suas fortificações e para a construção de novas cidades

fortificadas.

Esforço inglório, porém, já que o avanço português sobre o reino de Uva, nas montanhas a Sul de Kandy, redundou em pesadas

derrotas (Randeniwela, Gannoruwa), no cerco de 16 meses a Colombo e na transferência de várias fortalezas para a posse dos

holandeses.

Entre tréguas incertas e infrutíferas negociações, o prelúdio da saída anunciada surge em 1655, com a aliança, desta feita, entre

Holandeses e Kandy Rajasinha II (1635-87), da qual resultou a perda de Colombo (1656), Mannar e Jaffna (1658) marcando o fim

da presença portuguesa na ilha. A supremacia Holandesa manter-se-á até ao embate com os ingleses então em plena expansão e

46

Page 48: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

afirmação, passando a controlar toda a ilha com a conquista do reino de Kandy em 1815.

De salientar, neste período a produção de obras portuguesas sobre a história de Ceilão (Fernão de Queiroz, João Ribeiro) e a acção

de missionários como o Padre José Vaz, Oratoriano goês (1687). Em 1833, a ilha é incorporada no Império Britânico, mantendo o

nome de Ceilão. Quase um século depois, em 1931, o Reino Unido concede autonomia limitada à colónia, tornando-se

independente em 1948.

O sonho de permanência nunca se dissipou, sobrevivendo no português crioulo que se reforçou na ilha enquanto língua de

comunidades cristãs luso-descendentes ou portuguesas (Portuguese Burghers), nomeadamente em Colombo, no litoral do

Sudoeste da ilha e em Batticaloa, onde hoje se mantém. Outro aspecto significativo destas permanências expressa-se na

presença de muitos apelidos portugueses, que ultrapassam o âmbito das relações matrimoniais e familiares e se estendem à

penetração do próprio Cristianismo e da acção de catequização missionária.

Designado por muitos viajantes como a Pérola do Atlântico, o Ceilão antigo a “Ilha leão”, assim baptizada pelos portugueses,

possui duas capitais: a administrativa Sri Jayawardenapura Kotte e Colombo, a capital comercial.

A natureza moldou-o em forma de lágrima sob o “vértice” da Índia.

Ilha de plurais e exuberantes paisagens, puzzle de planícies, praias brancas e jardins de corais, de suaves colinas e íngremes

montanhas, povoada de densas florestas, rios e cataratas. Dos arrozais e das plantações de chá, dos elefantes e dos tigres …

Ombreiam com lendárias cidades, de templos sagrados, de requintados palácios e imponentes fortalezas.

A complexa grandeza das ruínas da cidade sagrada de Anuradhapura, de Polonaruwa os seus templos hindus e budistas, os seus

9

10

9 Ver: Tomás, Maria Isabel (2008) "A viagem das Palavras", in Matos, A. T. de & Lages, M. F. (coords.), Portugal: percursos de interculturalidade, vol. III

(Matrizes e Configurações), pp. 431-458.10Singhala ou “Ilha do Leão”.

no século XIX

CEILÃO / SRI LANKAGEORGINA PINTO PESSOA

47

Page 49: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

simbólicos stupa , elementos arquitectónicos fundamentais do culto, relicários onde se guardam as relíquias do Buda, são a

melhor demonstração do requinte que atingiu a arquitectura budista cingalesa entre os séculos VII e XII.

O altaneiro mosteiro de rocha de Dambulla , as pinturas feitas nas reentrâncias da Grande Rocha do leão, representando as

Apsaras, simultaneamente ninfas celestiais e mulheres da corte. Sigiriya, o palácio-fortaleza, centro geométrico e espiritual de

uma complexa composição arquitectónica concebida à escala de um território imenso.

A cidade de Candy, com vários monumentos entre os quais se destaca o Templo do Dente de Buda. O Pico de Adão, a mais de 2 mil

metros de altitude. Conta a lenda que aqui se refugiaram Adão e Eva após a expulsão do Paraíso, nessa ponte com o cristianismo,

local onde acorrem peregrinos de diferentes credos.

A Robustez do Forte de Galle exibe a epigrafe “ANNO MDCL XIX" e o brasão de armas neerlandês com o ubíquo emblema do galo e

a sigla da Companhia - "VOC” - inscrita ao centro, erguido sobre a velha estrutura portuguesa.

Sri Lanka “Ilha Sagrada” , de cultura milenar, grandiosa e intemporal no seu património e no seu misticismo.

As etnias que constituem os seus elementos gentílicos: a veda de origem malaia, a cingalesa provavelmente proveniente do

norte da Índia e a tamil do sul, caldearam-se ao longo dos séculos com a portuguesa, holandesa e britânica, resultante dos

efeitos da colonização, para além das influências vindas dos mercadores árabes, indonésios, abissínios e chineses, numa

espantosa e agregadora miscigenação.

Nessa extraordinária aventura que a fotografia enceta no século XIX, afirmando-se da segunda metade em diante numa

caminhada imparável de sucessivos progressos e surpreendestes conquistas, tão profundas que haviam de transformar o nosso

11

12

13

11 Representação simbólica de Buddha, construção arquitectónica de forma cónica onde se alojam as cinzas do Buda. A Casa das Relíquias circular de Pollonaruwa é a melhor demonstração do requinte que atingiu a arquitectura budista cingalesa entre os séculos VII e XII.12 O mosteiro foi construído sobre uma rocha de 160 metros de altura com vista para a planície.13 Nome autóctone, designação assumida a partir da sua independência em 1948.

48

Page 50: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

olhar sobre nós, as coisas e o universo, coube a muitos fotógrafos a importante tarefa de registar e recolher em imagens os

longínquos, míticos e exóticos locais, as suas paisagens, as suas gentes e os seus costumes, nesse apelo em sintonia com a

política, a ciência, a cultura e a mentalidade da época. Muitos assinavam e datavam as suas imagens, chegando, assim, até nós o

seu nome e o seu percurso. Outros por qualquer razão, não o fizeram, mantiveram o seu anonimato. Seguimos-lhe as pegadas

através da sua obra, fotografias como as quatro que se apresentam neste núcleo.

Testemunho e memória de gente, com histórias, com sonhos, com batalhas, com derrotas, com conquistas. Gente com vidas reais

construídas de lágrimas, de sorrisos, de afectos, de expectativas, de projectos... Gente real com vidas reais retidas no breve

instante da pose pelo clic da câmara, sob o gesto atento do fotógrafo, partilhadas e perpetuadas nos olhares que aqui se cruzam.

no século XIX

CEILÃO / SRI LANKAGEORGINA PINTO PESSOA

49

Page 51: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Colombe - 1894 - Singhaler SRI LANKA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 045

Datação 1894

Page 52: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Colombe - 1894 - Singaleza SRI LANKA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 046

Datação 1894

Page 53: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Colombe - 1894 - Indeo SRI LANKA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 047

Datação 1894

Page 54: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Colombe - 1894 - Singaleza SRI LANKA Autor Atribuída Souza & Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 048

Datação 1894

Page 55: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 56: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

TIMOR-LESTE

GEORGINA PINTO PESSOA

Núcleo de Timor - 1885 /1889

Notas de uma viagem encetada na aventura do mergulho deslumbrado.

Deixamo-nos conduzir pelas imagens retidas pela câmara de Sá Vianna, fotógrafo amador (?), viagem sua de outrora, registada

com o olhar atento, a sensibilidade e o saber, timidamente assumido na incisa assinatura que marca delével o suporte de uma

albumina.

Embarcamos aqui, nesta outra margem, num tempo emancipado pela história e pela vontade. Entramos no veleiro, norteados

pelo pavilhão português rumo a terras longínquas de além-mar onde o sol se esconde e se ergue.

Lançamos âncora na praia entre a espuma branca e a areia, ao lado de juncos e sampanas e de gente que banha o suor nas águas

mornas que bordejam o velho crocodilo feito ilha nesse mar salpicado.

Na sua história mais antiga encontramos os Vedo-Australóides, os Melanésios por volta dos 3.000 a.C., em 2.500 a.C “os proto-

malaios” - povos oriundos do Sul da China e da Indochina do Norte. A natureza montanhosa e particularmente inóspita do

interior da ilha teria sido condição favorável à permanência da sua diversidade linguística.

Timor - Timur - “Leste” nome atribuído pelos Malaios nessa alusão à sua geografia. Timor, ilha maior, integra a pequena Sunda,

conjunto parcial do grande arquipélago indonésio, parte da Insulíndia Oriental, zona de transição entre a Ásia e a Oceânia.

no século XIX

55

Page 57: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

1José Manuel Garcia - O livro de Francisco Rodrigues: O primeiro atlas do mundo moderno. Editora da Universidade do Porto, 2008. O navegador e geógrafo Francisco Rodrigues é autor de um Livro de Geografia Oriental, de cerca de 1512, com Regimentos, Roteiros, Cartas-Esboço e Desenhos Panorâmicos dos litorais do Sueste asiático e da Ásia Oriental. As suas cartas do litoral da China, desde o golfo de Tonquim até ao litoral da Coreia, são as primeiras dessas regiões traçadas por um europeu. Francisco Rodrigues é também o primeiro europeu a escrever um Roteiro sobre a navegação nos mares da China, "Caminho da China", de Malaca a Cantão. O livro encontra-se agora em Paris.2 Camões, Luís - Os Lusíadas. Cant. X; est. CXXXIV, p.367.

Cartografada e desenhada por Francisco Rodrigues, geógrafo e navegador português do século XVI (1512 e 1513), esclarecendo

cuidadosamente que aquela era «a ilha de timor onde nasce o sândalo» .

Como a pena do épico Luís de Camões havia também de registar:

“Alli também Timor, que o lenho manda

Sandalo salutifero , e cheiroso,

Olha a Sunda tão larga, que huma banda Esconda para o sul difficultoso:

A gente do sertão, que as terras anda,

Hum rio diz que tem miraculoso,

Que por onde elle só sem outro vae,

Converte em pedra o pão que nelle cahe”

Já no século VII, os chineses tinham sido atraídos pela madeira preciosa não descurando o interesse pelo mel e pela cera.

Comunidade que, no presente, continua a ser das comunidades de maior expressão em Timor-Leste, ligadas ao comércio. No

século XIV pagavam tributo ao Reino de Java, marcas de uma terra por diversas razões disputada, a quem a heterogeneidade

interna e as fortes pressões externas, tantas vezes obrigaram a brava e estóica resistência.

Os portugueses chegaram a Timor entre 1512 e 1520, também eles interessados principalmente no sândalo, madeira nobre que

cobria praticamente toda a ilha, utilizada na perfumaria, farmacopeia e no fabrico de móveis de luxo. Mais tarde seria

substituído pelo café. Em 1652, estes exploradores fixaram-se em Oecusse, no oeste da ilha. Timor encontrava-se então dividido

em dois reinos, Samby, na parte oeste da ilha, e Behale, no leste, hoje ocupada por Timor Lorosae. Nesta zona habitava o povo

maubere, dividido em duas confederações: os Serviãos e os Belos.

1

2

56

Page 58: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

A ausência de fontes torna difícil a definição das fronteiras que separavam os reinos situados na orla fronteiriça entre ambas as

confederações. Estes terão sido dominados por uma aristocracia guerreira constituída pelos datos belos, sendo a palavra datu

um vocábulo que tanto designa o chefe de um conjunto de aldeias, hierarquicamente inferior ao rei ou liuriai, ou simplesmente

chefe de aldeia. Esta aristocracia tinha o seu centro político em Behale, onde se falava a língua tétum. A sua utilização, já no

século XVII, pelos missionários parece ser um indicador de que esta correspondia, então, à língua mais falada na parte centro-

oriental da ilha, como continua a ser na actualidade.

Desde o final do século XVI os confrontos com os Holandeses que disputavam a posse das ilhas viriam a consagrar a sua divisão e

o estabelecimento de uma a área ocidental de influência holandesa e uma área oriental de influência portuguesa assinando-se

um tratado no ano de 1661. Os portugueses fixaram-se na costa noroeste de Timor estabelecendo a capital em Linfau. Em 1769

construiu-se Díli para substituir a anterior capital, muito susceptível aos ataques holandeses. Pequeno aglomerado de frágeis e

expostos edifícios, particularmente aos incêndios, aspectos que motivaram a sua urbanização em 1834. Díli foi então elevada à

categoria de cidade em 1864.

A definição das fronteiras seria, aliás, uma questão difícil que passaria por episódios de conflitualidade mais ou menos aberta e

pelo estabelecimento de vários tratados - 1859; 1904; 1914, contando este último já com a intervenção do Tribunal Internacional

de Haia.

O processo de colonização portuguesa fundamentar-se-ia na exploração económica, no comércio e na missionação, não passando

por um efectivo domínio do território. A presença portuguesa era marcada pela acção e autoridade das ordens religiosas,

dominicanas em primeiro lugar. “[…] Em frente a Timor, numa pequena ilha, Solor, os dominicanos-soldados haveriam de

erguer uma fortaleza que, durante décadas, mais não foi do que uma paliçada em madeira, logo depois, nos finais da

centúria, batida em pedra, conquanto se mostrasse cada vez mais indefesa perante as ofensivas múltiplas das

no século XIX

TIMOR-LESTEGEORGINA PINTO PESSOA

57

Page 59: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

populações locais, das populações regionais islamizadas e desses outros europeus, também comerciantes-soldados,

que, navegando acompanhados pelos sólidos investimentos da Companhia Holandesa das Índias Orientais,

alargariam os espaços das concorrências e, naturalmente, das influências [...] .

Mais do que pelas políticas administrativas, marcadas pela condicionante transitoriedade dos cargos: “[…]Os governadores

de solor e de Timor não tinham outro objectivo mais do que fazer resultar em seu beneficio todo o comercio interior das

ilhas impedindo e embaraçando a existência de pessoas ricas. A dificuldade dos transportes dava lugar a que da Índia

não passassem a Timor, já nessa época (sécs. XVII e XVIII), senão degredados por culpas graves, homens faltos de

educação, e de sentimentos de honra, atingindo pois a dissolução dos costumes o seu maior auge, atendendo a que tais

indivíduos eram investidos nos principais cargos” .

O exercício da função eclesiástica e o seu relacionamento com os poderes politico-administrativos estavam longe do normal

cumprimento das respectivas atribuições e da cordialidade exigível.

“[…] A falta de apoio pecuniário por parte do govêrno, deu logar a que os missionário Dominicanos perdessem muito

do seu fervor religioso, obrigando-os a baixar à terra os olhos que mística e fervorosamente fixavam, de ordinário, no

firmamento.

Tinha o geral da ordem motivos para defender a sua congregação, sobretudo na parte respeitante aos fundos do

cofre das missões, sobre o qual sacavam a cada passo os governadores de Timor, sem mais se preocuparem com saldar

as dívidas. Era tal a força do hábito, que os próprios Viso-Reis, para quem os Dominicanos apelavam, faziam orelha

surda a tudo quanto se relacionava com esta espécie de empréstimos forçados[…]” .

Todavia, para o estado português de então (séc. XVIII), de princípios absolutistas e laicos, tornou-se clara a necessidade de

alterar o rumo desta perniciosa actuação. A acção eclesiástica, importante na cristianização e instrução, devia estar ao serviço

3

4

5

3 Sousa, Ivo Carneiro - A História de Timor e a presença Portuguesa na Insulindia. (Exposição) Porto, 1977.4 Morais, A. Faria de - Subsídios para a História de Timor. P. 40 in MARQUES, A. H. de Oliveira (Dir.) - História dos Portugueses no Extremo Oriente. Vol. 3º, Ed. Fundação Oriente, Lisboa, 2000. ISBN 972-785-017-05 Idem, Ibidem.

58

Page 60: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

do Estado, a quem competia colonizar e civilizar.

Tarefa difícil, porquanto Timor (bem como Macau) integrava o estado da Índia, administrativamente dependente de Goa, área

dispersa, sujeita a grandes pressões e envolvida em guerrilhas e conflitos locais ancestrais, longínqua e exposta parte do

império.

Por outro lado a Igreja, com forte influência no terreno, não foi um adversário fácil. Aspectos que se extremam ao longo século

com a burocratização do Estado e a afirmação do absolutismo. Em 1702 é nomeado o 1º governador de Timor, António Coelho

Guerreiro , mas que administrativamente dependia de Goa. Em 1844 Timor e Macau, anteriormente estados dependentes da

Índia, autonomizam-se, porém Timor manteve-se subordinado a Macau até 1896.

Assim, em quatro séculos de domínio português, pese embora os esforços do Estado centralizador no século XVIII , muitas eram

as zonas onde não havia comandos militares nem órgãos de soberania, nem de policiamento nem de fiscalização.

A concretização dos princípios orientadores das políticas coloniais decorrentes da Conferência de Berlim ocorrida entre 1884-

1885, onde se procurou regulamentar a competição das potências europeias em termos de “ocupação efectiva” como critério de

reconhecimento internacional de um dado território, só serão efectivados por Portugal em 94 com a tomada de posse do

governador Celestino da Silva.

O esforço de neutralização das hostilidades dos autóctones, o desbravamento e a ocupação de novas áreas, direcionaram a acção

deste dirigente, mobilizando campanhas militares da pacificação e de afirmação da soberania portuguesa, indispensáveis

também à exploração dos seus recursos.

6

7

6 Referência de André Coelho Vieira em 1698 como governador de Timor, cargo não confirmado.7 Sugere-se a consulta dos docs. «Instrucção» dada ao governador Vieira Godinho 1784; «Regimento da Alfandiga do Porto de Dilli» 1785; «Regimento da Intêndencia-Geral da Marinha e fazenda Real» 1785; «Instrucções» para o governador Cunha Gusmão («Documento de

Sarzedas») - 1811; cit. FIGUEIREDO, Fernando - TIMOR. Da subordinação Directa a Goa à União com Macau (1770-1844) in MORAIS, A. Faria de -

Subsídios para a História deTimor. P. 40 in MARQUES, A. H. de Oliveira (Dir.) - História dos Portugueses no Extremo Oriente. Vol. 3º, Ed. Fundação Oriente, Lisboa, 2000, p.699-705.

no século XIX

TIMOR-LESTEGEORGINA PINTO PESSOA

59

Page 61: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Particularmente aguerridos e contestatários face ao domínio português, os Manufahi foram um reino difícil de submeter. Bem

armados e contando com elevado número de aliados, só em 1896 se submeteriam à jurisdição portuguesa. A primeira medida

tomada nessa direcção foi o condicionamento do comércio do território aos estrangeiros, embora esta medida visasse,

objectivamente, a comunidade chinesa, tendo-se estabelecido que:“[...]. É expressamente prohibido desde 1 de janeiro de

1895 o estabelecimento de commerciantes chinezes quer com residencia fixa quer ambulantes fora das seguintes

localidades: Dilly, Liquiçá, Aipello, Maubara, Cotubaba, Batugadé, Okusse, Manatuto, Baucau, Lautém e Viqueque.

[...]. Os commerciantes a que se refere o numero antecedente poderão estabelecer [se] tambem em qualquer outras

localidades, onde de futuro sejam estabelecidos postos fiscaes.”.

Regulada esta questão, Celestino da Silva envolve-se então, a fundo, em campanhas de “ocupação” efectiva e de “pacificação” do

território sob jurisdição portuguesa.

Na viagem que temos vindo a percorrer com as imagens de Vianna, privamos com ele a partilha do testemunho de um

relacionamento e simultaneamente de uma estratégia de domínio da acção governativa, na fotografia datada -1885 e

legendada “Timor -Dilly, Régulo, principaes e ordenanças de Baucau” pelo autor, seguida por Celestino da Silva e já utilizada

pelo seu antecessor. “O Governador é para os indígenas o grande justiceiro, o general, o único representante de Sua

Majestade, o pai, os oficiais são os seus delegados, os seus braços, o governador fala-lhes pela boca deles, o que eles

dizem e preceituam é o que diz e preceitua o governador” .

Recorrendo à integração de autóctones nos mecanismos de governação colonial, delegando e constituindo-os porta-vozes do

governador português. Obviamente partindo e utilizando a cultura e as tradições locais, a sua hierarquia e a suas normas, com

base no costume e no grupo, nos elos de uma sociedade ancestral profundamente ritualizada.“[…] a história de Timor não

apenas já existia antes, como havia acumulado séculos de especializações, desde a forma de apropriar, dividir e

organizar os espaços até de reunir pessoas e grupos, convocar tradições e culturas consuetudinárias e, mesmo, de

8

9

8 Figueiredo, Fernando, Augusto de - TIMOR NA VIRAGEM DO SÉCULO XIX PARA O SÉCULO XX:TIPO DE COLONIZAÇÃO E SEUS AGENTES. Colóquio Timor: Missões Científicas e Antropologia Colonial. AHU, 24-25de Maio de 2011, p.2.9 Roque, Ricardo - A voz dos bandos: colectivos de justiça e ritos da palavra p o r t u g u e s a e m T i m o r - L e s t e c o l o n i a l , 2 0 1 2 . http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93132012000300006.

60

Page 62: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

«fazer história» … […]” .

Todavia, Celestino da Silva, auxiliado pelo lendário “arbiru”, o alferes Francisco Duarte, exerceu a sua acção e dedicou 12 anos da

sua governação à pacificação e integração da população gentílica. “[…] Com as campanhas, recorrendo a processos mais ou

menos discutíveis, mas com grande determinação, este governador conseguiu a ocupação total da parte oriental da

ilha e a submissão dos reinos à soberania portuguesa. Ou seja: impusera-se a pax celestiniana.[…]” A acção de

Celestino traduz também os traços de uma personalidade carismática e integrada no seu tempo, determinada e empenhada na

concretização de uma missão difícil.

“A Província de Timor, situada nos confins do mundo teve sempre vida particularmente árdua. O século XIX não lhe

trouxe sensível alteração do que fora: região profundamente afectada pela personalidade do seu governador […]

bem ou mal escolhido era quem talhava os destinos da província durante o seu período governamental. […]

Foi este Timor longínquo que o nosso fotógrafo viajante, do qual desconhecemos o percurso e as motivações da viagem, vivenciou

nos finais de oitocentos. Talvez aqui se tenha cruzado com Cypriano Forjaz entre meados das décadas de 1880 e de 1890, que

aqui desempenhou o cargo de Secretário - Geral de Governador de Timor, cujo nome está ligado à grande Exposição Insulare

Colonial Portugueza realizada no Palácio de Cristal, no Porto, em 1894.

Terra das monções, das plantações de café, do Tatamailau, dos tais, das uma lulik (casas sagradas), das lee teinu (casas com

pernas) da região de Fataluku.

Terra do povo Maubere, dos Régulos e catuas, que nas suas vestes tradicionais de guerreiro (espada, penas de galos na cabeça,

peles de cabrito nos tornozelos, luas de ouro e prata no peito e testa) foram travando obstinadas lutas, contra todos os invasores.

10

11

12

10 Sousa, Ivo Carneiro - A História de Timor e a presença Portuguesa na Insulindia. (Exposição) Porto, 1977.11 Figueiredo, Fernando Augusto - Timor na Viragem do Século XIX para o Século XX: Tipos de Colonização e seus Agentes. Colóquio Timor: Missões Científicas e Antropologia Colonial. AHU, Maio, 2011.12 Rego, Silva - O Ultramar Português no século XIX. Timor 1850-1910. Trigésima palestra. 1965.

no século XIX

TIMOR-LESTEGEORGINA PINTO PESSOA

61

Page 63: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Antes da libertação quantas vezes mais tiveram que erguer a espada… O século XX reservava-lhe pesado fardo.

Acompanhamos a viagem.

Com o início da II Guerra Mundial, australianos e holandeses, conscientes da importância de Timor, aterraram em Díli, apesar dos

protestos portugueses. Em Fevereiro de 1942, o Japão usou a presença dos australianos como pretexto para invadir Timor, onde

permaneceu até Setembro de 1945. Neste contexto, e apesar de Portugal se ter mantido neutral, após o ataque a Pearl Harbor,

em Dezembro de 1941, Timor-Leste foi ocupado por tropas australianas e holandesas, a pretexto de impedir uma invasão

japonesa. No final da guerra, Timor estava em ruínas. Cerca de 50.000 timorenses teriam perdido a vida. Quer pela ocupação

japonesa, quer pelos esforços na resistência aos invasores ou pelo auxílio à Austrália. Após a rendição dos japoneses, miséria e

devastação ensombravam Timor.

Em 1974, a revolução de Abril em Portugal trouxe a libertação de Timor, sopro efémero de esperança, caído aos pés do invasor.

Brutal a ocupação Indonésia, materializada no inqualificável 'Massacre de Santa Cruz', ponto de viragem do olhar chocado do

mundo que agora se mobiliza em sua defesa.

Para que em 2001 Timor-Leste, livre pudesse dizer com Xanana Gusmão: Timor Lorosai - Mar Meu.

62

Page 64: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Timor - Dilly; Régulo, principais e ordenanças de Báucau - 1885 TIMOR Autor Atribuída a J. Sá Vianna

Técnica Albumina Inventário Cat. 057

Datação 1885

Page 65: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Barcos e botes com mercadorias e grupos de homens, junto da praia TIMOR Autor Atribuída a J. Sá Vianna

Técnica Albumina Inventário Cat. 058

Datação 1889

Page 66: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Barcos (Sampanas) ancorados na praia TIMOR Autor Atribuída a J. Sá Vianna

Técnica Albumina Inventário Cat. 059

Datação 1889

Page 67: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Barco junto da costa TIMOR Autor Atribuída a J. Sá Vianna

Técnica Albumina Inventário Cat. 060

Datação 1889

Page 68: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Barco a vapor TIMOR Autor J. Sá Vianna

Técnica Albumina Inventário Cat. 061

Datação 1889

Page 69: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Timor - Dilly - 1889 TIMOR Autor J. Sá Vianna

Técnica Albumina Inventário Cat. 062

Datação 1889

Page 70: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 71: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 72: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

JAVA: BATÁVIA / JAYAKARTA

GEORGINA PINTO PESSOA

Neste percurso por terras de Oriente, aportamos em Java - rainha do oriente - ilha maior do vasto arquipélago que constitui a

Indonésia, situada entre o sudeste do continente asiático e o continente insular da Austrália, entre o Índico e o Pacífico,

pincelando os mares de múltiplas formas, qual tela de um artista, também maior - ao qual não faltou nem a criatividade nem o

simbolismo, a que a história e a lenda deram vida.

A sua origem revela-se nos inúmeros vulcões em actividade, que atravessam a cadeia montanhosa que se desenvolve de Oeste

para Leste. A fértil planície litoral e o alinhamento de planaltos calcários contextualizam um clima de monção e um solo sulcado

de rios e densas florestas onde abundam a teca, o ébano, o sândalo e o bambu espelhados na imensidão dos arrozais.

Remota e misteriosa, viu florescer a civilização de Dong Son (neolítico), abraçou a cultura indiana (século IV), ergueu majestosos

templos hindus (século VII), construiu o império Majapahit (1293), assistiu à destruição pelos muçulmanos no início de

quinhentos, ao domínio e à imposição da sua cultura e credo.

Situada na encruzilhada das principais rotas marítimas, foi desde cedo percorrida por aventureiros e mercadores da Índia, China

e Arábia, posteriormente haviam de chegar os ocidentais, portugueses, holandeses e ingleses.

A partir do séc. XV, no porto de kalapa, pequeno povoado junto ao rio Ciliung, o mais significativo do reino de Sunda, desenvolver-

se-á a cidade de Jacarta. Vindos de todas as partes chegavam navios mercantes (da Europa, China, Índia e de todo o arquipélago

indonésio) carregados de noz-moscada, pimenta, cravinho, canela, chá, café, cerâmica, tecidos finos e outros produtos exóticos.

no século XIX

71

Page 73: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

A primeira frota europeia a tocar a sua costa foi a portuguesa, em 1513. Quatro navios procedentes de Malaca procuravam a

almejada rota para as "Ilhas das Especiarias".

O rei de Sonda encontrou na ajuda dos portugueses o apoio necessário contra a cobiça do sultanato de Demak, assinando com

eles o tratado de Sunda kalapa (1522), com o compromisso de aí construírem uma fortaleza. Teria sido assinalado com um Padrão

Luso Sundanês, curiosamente visto pelos autóctones como um símbolo de fertilidade, e cuja réplica se encontra hoje no Museu

Nacional da Indonésia em Jacarta, instalado em edifício outrora sede administrativa da Companhia Holandesa das Índias

Orientais e do governo holandês, mandado construir em 1710 pelo governador-geral Van Riebeeck. Os portugueses só

regressariam ao mar de Java em 1526. No mesmo ano, o príncipe Fatahillah de Banten invadiu a ilha e apropriou-se do porto de

Sunda Kelapa. Em 1527 chamou ao burgo - Jayakarta - (vitorioso).

Os Holandeses chegam em finais do século XVI. Em 1619 as suas forças dirigidas por Jan Pieterszoon Coen invadem, destroem e

conquistam a cidade, mudando-lhe o nome para Batávia, o anterior só será reposto em 1949. A companhia das Índias Orientais

holandesa (VOC), fundada em 1602, estabeleceu o seu primeiro posto avançado em Banten (Java), em 1604. A VOC expandiu-se

criando uma série de estruturas que iam de Galle, no Siri Lanka, até ao sul da Índia, Bengala, Malaca, Taiwab, além de Nagasaki,

no Japão todas controladas a partir de Batávia. O declínio do comércio com o Japão a partir dos meados do séc. XVII, o aumento

dos custos com a defesa deste império, associados ao aumento da já tão experimentada e prejudicial corrupção , tornaram

incomportáveis a sua manutenção, deixando espaço para que os emergentes ingleses ocupassem os territórios da VOC, com sua

própria Companhia das Índias. Em meados do séc. XVIII, a VOC era uma mera sombra do que havia sido. Também os ingleses

tinham fundado a sua Companhia das Índias Orientais em 1600. A partir de 1615, a base da companhia em Bengala deu-lhe

acesso a maiores recursos e possibilitou a criação de outras bases em Bombaim (1668) e em Calcutá (1690), na Índia. Em 1694, a

companhia obteve o monopólio do comércio com a Índia, o que a fortaleceu e lhe deu grande prestígio e poder político.

1

1Aspectos presentes nos problemas de manutenção do império português, que levariam à decadência deste e à prática efectiva de uma mera política de transporte.

72

Page 74: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

No século XIX, por um breve período, entre 1811 e 1814, impor-se-á a presença inglesa . O fim da ocupação dos Países Baixos pela

França, logo após a queda de Napoleão, conduziu à assinatura de um tratado entre ingleses e holandeses, onde se acordou que

as possessões holandesas deveriam regressar à posse destes, facto que veio a ocorrer no ano seguinte em 1815.

A Holanda procurou, então, intensificar a sua autoridade colonial e, como em períodos anteriores, novas revoltas surgem entre a

população autóctone com o ensejo, sempre presente, de recuperar a liberdade perdida, porém foram sufocadas uma a uma.

Este imperialismo moderno (século XIX) decorrente natural do enorme crescimento capitalista e da afirmação de uma poderosa

aristocracia/burguesia mercantil e financeira, não pouparia esforços no sentido de concretizar os seus projectos hegemónicos,

ainda que à custa da dominação imposta a povos de todo o mundo. Este imperialismo era também consequência do crescente

processo da industrialização. As áreas dominadas tornaram-se as fontes fornecedoras das matérias-primas e os trabalhadores

nativos a mão-de-obra barata dos empresários e das companhias monopolistas. As consequências da Segunda Revolução

Industrial e o aparecimento de novas potências no mundo capitalista, levariam as de maior poder a uma “agressiva” disputa das

áreas coloniais, onde cada uma procurava assegurar áreas que se consideravam estratégicas para o controle geopolítico de

vastas regiões a serem colonizadas.

No século XIX as ideologias fervilhavam de teorias justificativas, civilizacionais e religiosas, qual recrudescência dos ideais de

cruzada medieval ou da missionação quinhentista. Invocava-se a necessidade imposta por Deus aos homens brancos e

civilizados, a salvação das “almas impuras” dos povos “bárbaros”, que viviam uma vida primitiva nos recantos mais inóspitos

dos continentes africano e asiático.

Na teoria do espaço vital (Lebensraum), Ratzel afirmava que a acção das nações industrializadas nas regiões “não civilizadas”

do planeta era a única alternativa para a promoção do desenvolvimento. O Darwinismo Social de Spencer (1820-1903) e a

2

3

4

5

6

2 Nos meados do século XVIII a Companhia das Índias Orientais britânica entra em declínio, causado pelos altos custos das aventuras militares e pela pesada carga de corrupção que a dominou - os mesmos problemas que haviam acabado com sua rival holandesa e anteriormente com a supremacia portuguesa e espanhola. O grande império vitoriano - o maior entre os grandes de sempre - veria também chegar o seu fim de forma lenta e fragmentada.3 13 de Agosto de 1814.4 Decorrente dos avanços tecnológicos, de novas formas de obtenção de energia, o aperfeiçoamento das técnicas de produção, dos avanços científicos, do desenvolvimento dos transportes e das comunicações, a baixa dos preços dos produtos industrializados, a ampliação do consumo, o desenvolvimento de medicina, a introdução de novos medicamentos, o consequente aumento demográfico e obviamente de consumo e de oferta de mão-de-obra.5 Friedrich Ratzel (1844-1904): “O Ser e o Devir no Mundo Orgânico”, (1868); “Quadros da Guerra com a França”; “Quadros das cidades e da

civilização norte-americanas” (1874); “Os Estados Unidos do Norte da

América” (1878-80); “Antropogeografia” (1882); “Politische Geographie” (1897). Ratzel justifica o conceito de "espaço vital", no qual este representa uma parte do equilíbrio entre a população e os recursos no sentido de suprir as suas necessidades. Possível relação entre o projecto imperial alemão e as formulações de Ratzel, sustentando o imperialismo bismarckiano.6 Herbert Spencer (1820-1903): Estática Social; Sistema de Filosofia Sintética; O Indivíduo Contra o Estado (1884); A Educação Intelectual, Moral e física (1863); Os Princípios da Sociologia (1874-1896)

no século XIX

JAVA: BATÁVIA / JAYAKARTAGEORGINA PINTO PESSOA

73

Page 75: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

"sobrevivência do mais apto", estabelecendo uma paralelismo entre a sobrevivência e evolução dos organismos vivos, os

mais aptos e as sociedades, justificando desta forma a submissão das “raças inferiores” às “superiores”.

As nefastas consequências deste colonialismo, pese embora o desenvolvimento das nações industrializadas (mas também à sua

custa), conduziriam em boa medida à desestruturação dos sistemas produtivos locais e à fome; à submissão, ao agravamento dos

conflitos regionais e ao crispar das disputas imperialistas.

Em 1876, a conferência de Bruxelas, seguida da conferência de Berlim, em 1884, promoveram a partilha do continente africano,

justificando “era preciso abrir a África para a civilização” e abriram caminho a fricções e conflitos que ainda hoje

permanecem. Cada palmo de terra ou de mar era ferozmente disputado.

A África ficará marcada pela segregacionista guerra dos Bôeres (1899-1902), enquanto na Ásia, a Guerra dos Cipaios (1857-

1859); a Guerra do Ópio (1839-1842); a revolta dos Taiping (1851-1864) ou a Revolução Meiji (1867-1912), no Japão, foram

marcos de um século que irreversivelmente comprometeram e determinaram os trilhos do século XX. No palco europeu

conduziriam à I Guerra Mundial e haviam de conduzir à II Guerra Mundial .

Regressamos ainda à ilha de Java, à Batávia Holandesa, para deixar de o ser neste contexto da Segunda Guerra. Após o ataque

de Pearl Harbor (Havai), forças japonesas deslocaram-se para o sul, a fim de conquistar alguns países do sudeste asiático. Depois

da queda de Singapura, invadiram as Índias Holandesas Orientais, as forças coloniais renderam-se em Marco de 1942, deixando

este território nas mãos dos japoneses até à rendição destes no final da guerra, em 1945. A República da Indonésia “nasce” a 17

de Agosto de 1945, dia em que sua independência foi proclamada e Batávia voltou a ser Jacarta - Jayakarka - a vitoriosa.

Posteriormente havia de assumir o papel do invasor, porque são assim as sombras dos impérios perdidos e as quimeras das

7

8 9 10

11 12

7Os cipaios, soldados indianos que trabalhavam como mercenários, revoltaram-se em 1857 contra a dominação britânica pelo péssimo tratamento dado pelas autoridade inglesas e pela destruição da produção local, particularmente de tecidos. A revolta foi reprimida pelas tropas inglesas. Mais tarde, Mahatma Gandhi propôs uma luta sem armas e sem sangue derramado através do boicote aos vários produtos ingleses.8 Conflito provocado pela destruição de avultado carregamento de ópio pelas autoridade chinesas, que terminaria com o Tratado de Nanquim, do qual resultou a abertura de cinco portos chineses a comerciantes ocidentais e entregou a ilha de Hong Kong à administração britânica.9 Nacionalistas chineses revoltam-se contra as potências estrangeiras.10 Oposição dos nacionalistas ao governo do xogunato (família Tokugawa).11 1914-1918.12 1939-1945.

74

Page 76: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

grandezas almejadas.

Caminhos de ontem sempre remanescentes na história de cada lugar e da sua gente, independentes do imaginário idílico que se

possa urdir, seja porque razão for.

Como se percebe na alusão de Edward Said , «O Oriente como invenção do Ocidente» reportando-se à visão que o ocidente tinha

do Oriente em geral e do Médio Oriente em particular “como uma ideia que tem uma história e uma tradição de

pensamento, de imagens e um vocabulário que lhe deram uma realidade e uma presença no e para o ocidente. O

ocidente sentiu sempre um fascínio pelo oriente que adquiria maior peso quando passava uma crise de identidade”.

Na verdade, o fascínio que este Oriente exercia vinha de longe e tinha traços ora místicos ora científicos, aos quais não eram

estranhos nem o gosto de um certo bucolismo romântico, nem o fascínio pelos ideais medievos, quase cavaleirescos,

materializados na demanda dos lugares santos - Ex Oriente lux, essa luz que vinha do oriente, nem a exigência da observação e

da experiência/experimentação. Mas esta ideia do oriente construída no ocidente “mostra como ela mistura demasiados

espaços geograficamente dispersos (desde o Líbano à China…) e como representa uma categoria cultural politizada,

já que está ao serviço do projecto colonial europeu ocidental. Numa espécie de dialéctica do eu e do outro, o Ocidente

precisa de se demarcar do Oriente para ser ele próprio. E essa miragem do orientalismo ter-se-ia prolongado pelo

menos até ao fim do Império Otomano no início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918)” .

Num Oriente mais além, pedaço de chão situado entre a Tailândia e a Austrália, viajamos com o olhar do fotógrafo, seguimos-lhe

as pegadas nesse ano de 1886 - Batavia - canal e ruas; … como nos testemunham as legendas das suas fotografias. Não

deixamos de nos interrogar sobre a pessoa e o percurso deste anónimo, as motivações desta itinerância por terras tão

longínquas … que fascínio seria o seu? Em 1890, o fotógrafo alemão Gusrav Fritsch captou nas suas chapas de vidro a doce

13

14

15

14 Said, Edward - Orientalismo. Representações ocidentais do oriente. Ed. Livros Cotovia, Lisboa, 2004. 15 Moita, Luís - Ocidente contra Oriente?, 2009. (www.janusonline.pt).

no século XIX

JAVA: BATÁVIA / JAYAKARTAGEORGINA PINTO PESSOA

75

Page 77: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

nudez da mulher javanesa.

A leitura que estas imagens nos proporcionam é de grande riqueza documental e estética, permitindo-nos apreender essa

pluralidade de universos e de intenções que se cruzavam no mundo de então e que aqui se retiveram. As reminiscências da

Jayakarka ancestral, da sua relação estreita entre as gentes e o meio, a sobrevivência arreigada à terra, o arroz limpo pela

brisa sobre o baloiçar cadenciado das mulheres de braços desnudos, os corpos envolvidos no kaine lavrado pelas geométricas

formas conferidas pela ancestral técnica do batik. O olhar provocador do rapaz que vai preparando os cocos com a lentidão de

quem tem o tempo dos coqueirais, a intimidade feminina partilhada nas transparências das águas do rio, os olhares distantes,

que se voltam na sua timidez, denunciando a surpresa dos intrusos. Como extraordinárias são as imagens do príncipe guerreiro

javanês, nas suas poses hieráticas, no seu belíssimo sarong estampado transportando-nos sob as asas de Garuda para essa

Java antiga do lendário reino de Panji e de kirana, para as estórias do Ramayana e do Mahabharat, que alimentaram fértil

literatura, animada pelas marionetas e pelo teatro de sombras, pelas danças e pelo gamelão.

Lembramos que três anos antes da passagem do fotógrafo e da captação destas imagens, em 27 de Agosto de 1883, tinha

ocorrido a explosão do vulcão de Krakatoa. Cerca de 36 417 pessoas teriam morrido. Os horrores da catástrofe ficariam

registados no diário de Willem Beyrinck . Batávia, a capital, sobreviveu por pura sorte, graças à protecção natural contra ondas

oferecida pelas barreiras de coral e pequenas ilhas que a circundam. Mesmo assim, as centenas de canais que, bem ao gosto

holandês, faziam parte da arquitectura da cidade, transbordaram rapidamente, inundando as ruas. É também esta Batávia

colonizada que se nos desvenda num sui generis paradoxismo. O largo canal que irrompe na sua verticalidade moderna, mas

onde as nuvens se espelham e as margens coram a roupa. O caçador de tigres, que na clareira do cafezal posa para a câmara a

sua viril superioridade sustentada pela espingarda, sobre os olhares e as bocas fechadas dos gentios e a indiferença dos fiéis

amigos. Para que o ciclo se feche na plantação de café, na casa de madeira e juncos, construída sobre estacaria, que a plêiade de

operários ladeia sobre o olhar altivo do colonizador. É uma realidade com dois rostos que emerge nas imagens de Batávia.

16

16 Krakatoa - The Day the World Exploded (“Krakatoa - O Dia em que o Mundo Explodiu”), do geógrafo britânico Simon Winchester.

76

Page 78: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

As marcas da apropriação do colonialismo de uma época, exercício do domínio intrínseco aos povos em todas as épocas e a

memória de uma ancestralidade grandiosa e heróica, que como o último moicano teimara em resistir.

no século XIX

JAVA: BATÁVIA / JAYAKARTAGEORGINA PINTO PESSOA

77

Page 79: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Java - Caçadores de Tigres INDONÉSIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 049

Datação 1886

Page 80: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Java - casa agrícola, numa plantação de café INDONÉSIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 050

Datação 1886

Page 81: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Índias Holandesas - Malaias limpando arroz INDONÉSIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 051

Datação 1886

Page 82: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Batavia - vendedores de coco verde INDONÉSIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 052

Datação 1886

Page 83: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Batavia - Príncipe Javanês -Ttraje de Gala INDONÉSIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 053 Datação 1884-1894

Page 84: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Batavia - Príncipe Javanês -Traje de Gala INDONÉSIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 054 Datação 1884-1894

Page 85: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Batavia - Canal e ruas INDONÉSIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 055

Datação 1886

Page 86: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1886 - Batavia - No banho INDONÉSIAAutor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 056

Datação 1886

Page 87: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 88: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

ÍNDIA

MANUELA VAQUERO

Índia, um sonho português cumprido com a chegada de Vasco da Gama àquelas paragens pela rota do Cabo da Boa Esperança, em

1498, um novo caminho para as especiarias alcançado por mar - o ouro das Índias como as designavam - o gengibre, o cravo, o

açafrão, a noz-moscada, a canela e a pimenta, produtos difíceis de obter, porque eram trazidos para o Ocidente pelos mercadores

árabes, que os transportavam até à zona do Suez, em enormes caravanas no dorso de camelos, para serem depois embarcadas

para os portos italianos de Veneza e Génova. Ao longo do século XV e primeira metade do XVI, o transporte de mercadorias era

feito através do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico, tradicionais vias de ligação entre a Europa e a Ásia que faziam de Adem e Ormuz

as portas de entrada para o Oceano Índico. Os preços praticados eram elevadíssimos, o que tornava a mercadoria preciosa.

Quando foi possível ir e voltar de Lisboa às lendárias Índias de barco, em pouco mais de 365 dias, quando as histórias da Arábia,

Pérsia e Índia foram confirmadas… começaram a aparecer ilusórias descrições das mulheres do Oriente - afáveis e de olhos

amendoados, de pele morena e sorriso doce - Camões não deixa de as descrever na sua Ilha dos Amores e os marinheiros

partiam nas caravelas imbuídos nestes sonhos.

Da Índia chegavam relatos a respeito dos habitantes do Malabar, de sua relação com o clima e da diversidade da fauna e flora -

harmoniosos jardins com lagos repletos de flores de lótus, densa vegetação de palmares e uma enorme variedade de arbustos e

frondosas árvores tropicais rodeavam magníficos pagodes (templos hindus), com os seus rendilhados minuciosos e geométricos

nos beirais, no pátio a presença da água era imprescindível, então como agora elemento com de poderes de purificação. As

árvores da pimenta e da canela eram repetidamente descritas, assim como as múltiplas formas de aproveitar as palmeiras e o

coco. Também a dança, acompanhada pelo som de flautas e oboés, tambores e gonzos, proporcionava o ambiente ideal para

serem narradas histórias de míticos deuses e heróis, pelas ruas os encantadores de serpentes seduziam as cobras, não só pela

música das flautas, mas pela sua forma e movimentos.

no século XIX

87

Page 89: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

A literatura de viagens, que se inicia com a necessidade de registar rotas, condições atmosféricas, pormenores costeiros, diários

de bordo, registava já apontamentos pitorescos com descrições de itinerários e percursos, relatando visões inéditas sobre as

terras incógnitas da tão almejada Índia. O relato verídico da descoberta apenas vai acontecer a partir do momento em que a

consciência transformar em pensamento e em palavra o que foi visto e, considerar importante examinar quais os aspectos

naturais e humanos a ter em conta, sejam eles a educação espiritual, a instrução, a defesa do território ou a submissão dos povos

à nossa cultura.

A Índia era uma sociedade de castas onde nasceu o hinduísmo, o bramanismo e muitas outras religiões e crenças, país de muitas

línguas e idiomas, muitos povos e costumes, com uma cultura milenar e um misticismo surpreendente, uma sociedade de

contrastes que se revelava sofisticada e deslumbrante para o Ocidente. Esta era a Índia que os portugueses procuravam e

encontraram, e esta relação luso-indiana veio a durar cerca de 500 conturbados anos. Trouxemos as especiarias e muitos outros

saberes, mas também levámos conhecimentos, ciência, religião, construímos igrejas, conventos, casas e fortalezas com uma

simbologia e arquitectura correspondente à europeia, num desejo constante de convertermos a exótica Índia num espaço

familiar.

88

Page 90: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 91: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 92: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

PRAGANÃ NAGAR-AVELY1

MANUELA VAQUERO

A Oriente, para lá do Mediterrâneo, da Ásia Menor, da Arábia, da Pérsia, do Afeganistão, na margem do rio Damanganga que vai

confluir no Mar da Arábia, fica Praganã Nagar-Avely um pequeno território português que, conjuntamente com Dadrá, fez parte

da Índia Portuguesa desde o ano de 1783 até 1954. Estes dois torrões eram enclaves, sem acesso ao mar, administrados pelo

Governador Português do distrito de Damão com a capital situada em Silvassá.

As primeiras referências à região de Dadrá e Nagar-Aveli datam da época medieval, quando os invasores Rajput, em 1262, se

tornaram soberanos da terra, formando um pequeno estado chamado Ramnagar. Toda esta área se manteve sob o seu controle

até meados do século XVIII, quando foi conquistada pelos Marathas. São várias as versões relativas à tomada destes territórios

pelos portugueses. Segundo uns no ano de 1783, a marinha Maratha, para indemnizar os portugueses do afundamento de um

navio, fez a cedência do território de Nagar-Avely à coroa de Portugal que a inseriu no Estado da Índia Portuguesa. Outros

historiadores afirmam que, pelo tratado de 1780, Portugal receberia 72 aldeias, outrora por eles perdidas, e com essas

povoações se formaram os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli. Existe ainda uma terceira versão…

As relações entre colonizadores e nativos foram sempre pacíficas, no entanto, há muito poucos vestígios da cultura portuguesa

no território, sendo praticamente impossível encontrar alguém que fale português.

As referências que encontrámos relativas ao ano de 1892 de Praganã Nagar-Avely não são as mais abonatórias, embora a sua

população fosse numerosa, não tinha uma única estrada, uma única ponte ou um caminho viável… não existiam vestígios de

obras. O ex-governador do Distrito de Damão , sobre o assunto deixou escrito: « (…) tristes logarejos, immundas choupanas,

imagens da penúria e da miséria attestam quanto a dominação portugueza de ha um século nada benéfica tem sido aos seus

2

1Praganã - Subdivisão administrativa, espécie de província ou distrito, na Índia portuguesa.2 “O sr. Jayme Pereira de Sampaio Forjaz de Serpa Pimentel, official da armada e ex-governador de Damão, fidalgo cavalleiro da Casa Real, cavalleiro de N. S. da Conceição, sócio da Sociedade de Geographia de Lisboa, publicou, em um volume de mais de 300 paginas, O Distrícto de

Damão, apontamentos de uma administração colonial. Comprehende muitos e interessantes dados históricos e estatísticos, e a defeza e justificação do esclarecido auctor durante o tempo que governou aquelle districto. É livro que terá grande numero de leitores. Foi impresso pela livraria Ferin e saiu dos prelos, muito nitido, da typographia Castro Irmão. ” in Diário de Notícias, 11 de Agosto de 1892.

no século XIX

91

Page 93: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

rudes e selvagens habitantes, onde entes nús, esfomeados, tristes, pallidos, anemicos, dão tristíssimo exemplo e vergonhoso

testemunho do nosso imperdoável desleixo e abandono.» E continua as suas descrições afirmando que nos territórios das

possessões inglesas, todos os anos, se abrem milhas e milhas de estradas, se constroem pontes e aquedutos mas: «Na nossa

Praganã não há o mais pequeno vestígio de obras deste género, podendo dizer-se que até hoje nada há feito, e portanto que tudo

resta a fazer! O estado actual é deplorável, forçoso é confessá-lo.»

Praganã Nagar-Avely deixou de ser uma possessão portuguesa no ano de 1954.

3

3 Jaime Pereira de Sampaio Forjaz de Serpa Pimentel, na sua obra: “O

Districto de Damão, apontamentos de uma administração colonial”. Lisboa: Livraria Ferin.1892, p. 222.

92

Page 94: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Praganã Nagar-Avely Uma das casas de Silvassá ÍNDIA Autor Adolfo Moniz

Técnica Albumina colorida manualmenteInventário Cat. 015

Datação 1884 - 1894

Page 95: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Praganã Nagar-Avely Ferreiro, Alfaiate, Barbeiro Oleiro e respectivas mulheres ÍNDIA Autor Adolfo Moniz

Técnica Albumina colorida manualmenteInventário Cat. 016

Datação 1884 - 1894

Page 96: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Praganã Nagar-Avely Parabú; Parse; Carpinteiro Batelá e respectivas mulheres ÍNDIA Autor Adolfo Moniz

Técnica Albumina colorida manualmenteInventário Cat. 017

Datação 1884 - 1894

Page 97: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Praganã Nagar-Avely Dança de Roda ÍNDIA Autor Adolfo Moniz

Técnica Albumina colorida manualmenteInventário Cat. 018

Datação 1884 - 1894

Page 98: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 99: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 100: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

DAMÃO

MANUELA VAQUERO

Damão foi possessão portuguesa a partir do ano de 1559, quando o vice-rei D. Constantino de Bragança a conquistou ao Rei

mouro de Cambaia, embora o primeiro contacto tido com o território se tivesse dado no ano de 1523. Nascida na foz do rio

Damanganga, que divide a cidade - a norte Damão Pequeno, do lado sul Damão Grande - foi um grande entreposto comercial

durante os séculos XVI e XVII. Nesses tempos o distrito de Damão fabricava grande quantidade de estofos de algodão que

exportava para África, mas as suas principais fontes de receita eram: a cultura de cajuris, dos quais se extraia a seiva para fazer

vinho, o cultivo do arroz e as indústrias do sal e da pesca.

No entanto, a sua importância desvaneceu-se com o declínio do poder marítimo de Portugal e, passados 333 anos, a situação

neste cantão português, por terras da Índia, era bem diferente e encontrava-se bastante negligenciado a nível da salubridade

pública, segundo nos narra o capitão-tenente Forjaz Serpa Pimentel: “Rara a casa que não tivesse porcos ou vaccas. Curraes

nenhuns. Damão de cidade só tinha o nome. Abundavam as esterqueiras, a começar na extensa horta do palácio e a acabar no

quintal do hospital militar. Os porcos divagavam á vontade pelos logares públicos. Os baixos do palácio repletos de entulho, lixo e

escrementos. Os poços faltos de limpeza desde annos, filtrando constantemente as aguas sujas e pútridas que se lhes

accumulavam em redor. As ruas verdadeiros chiqueiros. As viellas deposito de immundicies accumuladas de annos.”

Referindo a fortaleza de Damão acrescenta: “No lastimoso estado em que se encontra este material, sem reparos, a não ser 21

canhões de ferro destinados a salvas, as peças de bronze e os dois obuzes, só serve para attestar aos estrangeiros que visitam

Damão o abandono a que desde muito votamos aquella praça de guerra.”

Não poderemos deixar de acrescentar, segundo estatísticas, que a colónia de Damão, por essa época, tinha cerca de 67 mil

1

1Jaime Pereira de Sampaio Forjaz de Serpa Pimentel “O Districto de

Damão, apontamentos de uma administração colonial”. Lisboa: Livraria Ferin,1892.

no século XIX

99

Page 101: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

2habitantes distribuídos por 388 Km , que se encontravam divididos em dois concelhos, com uma cidade, uma vila e noventa e oito

aldeias e onde apenas existiam doze europeus. O seu governador, o Sr. Jaime Forjaz de Serpa Pimentel, alerta para a grande

necessidade de se enviarem portugueses para a Índia, para que possam dirigir os serviços e defenderem devidamente o país e

salienta: “Como era differente no tempo de Affonso d' Albuquerque e D. João de Castro”.

Esta cidade marítima da Índia, situada no golfo de Cambaia, foi praça-forte e possessão portuguesa até 18 de Dezembro de 1961.

Torrinha do Palácio do Governador

O Palácio do Governador em Damão é uma construção com fachada tripartida de inspiração clássica - o alçado desenha-se a partir

de três corpos ligados por uma varanda alpendrada, evidenciando-se uma torre central mais elevada. Embora o requinte estético

seja de salientar e corresponda à função de aparato urbano a que se destinava, teremos que ter em conta as descrições que

fomos encontrar alusivas ao seu interior, nesta data, que são absolutamente surpreendentes:

“Dentro do palácio a immundicie é quasi geral, e a par da immundicie visivel desleixo em tudo o que pertence á fazenda nacional.

Com quanto bem situada a secretaria do governo no edificio denominado Torrinha, afigura-se a quem n'ella entra pela porta

principal mais uma espelunca suja e sórdida do que a primeira repartição do districto. Escadas Íngremes, corroídas com o tempo.

Pavimentos gemendo sob os nossos passos. Armários quasi coevos de D. Constantino de Bragança, vergando sob o peso de in-

folios, semi-corroidos pela humidade e pela traça. Mesas aleijadas, corcomidas, de pannos esfarrapados, dançando

desordenadamente ao perpassar de empregados. Cadeiras desmantelladas, gemendo ao menor conctato. Uma verdadeira

miséria franciscana!”

Fomos encontrar este interessante relato alusivo à Torrinha do Palácio do Governador, situado na rua central, repleta de sombras,

100

Page 102: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no Livro “O Districto de Damão, apontamentos de uma administração colonial”, escrito no ano de 1892, pelo ex-

governador do Distrito de Damão e oficial da armada, Jaime Pereira de Sampaio Forjaz de Serpa Pimentel.

no século XIX

DAMÃOMANUELA VAQUERO

101

Page 103: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Torrinha do palácio do Exmo. Governador DAMÃO ÍNDIA Autor Adolfo Moniz

Técnica Albumina colorida manualmenteInventário Cat. 019

Datação 1884 - 1894

Page 104: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

A casa do Comissariado e a rua principal de Damão-pequeno DAMÃO ÍNDIA Autor Adolfo Moniz

Técnica Albumina colorida manualmenteInventário Cat. 020

Datação 1884 - 1894

Page 105: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 106: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

CAMINHO-DE-FERRO DOS GATES

MANUELA VAQUERO

Os Gates Ocidentais, essa imensa cordilheira situada no oeste da Índia, mais velha que os Himalaias, acompanham o Mar Arábico

ao longo de 1600 vastos quilómetros, limitando as planícies da Costa de Malabar. Foram perfurados, penetrados, contornados

para vencerem as encostas em morosas curvas, viadutos e profundos túneis, atravessados por carris, ao longo do século XIX,

tornando possível o acesso ao interior do continente indiano, facilitando assim o intercâmbio comercial. Foram considerados

recentemente Património Mundial, pela Unesco. A paisagem é avassaladora, composta por montanhas e desfiladeiros, onde os

cursos de água se multiplicam rasgando a rocha e dando origem a admiráveis quedas de água. É uma zona de encostas íngremes

povoadas por vegetação frondosa, influenciada pelas fortes chuvas das monções, que proporciona paisagens de cortar a

respiração. De permeio a mão do homem reconhece-se no horizonte, pois as grandes escarpas aparecem cortadas por túneis,

pontes e aquedutos, por trilhos de ferro paralelos - as chamadas Estradas de Ferro - que serpenteiam as encostas por aquelas

inóspitas paragens, para as transporem, tornando a comunicação com o interior do continente indiano mais fácil e o principal

meio de transporte das gentes que aí habitam e labutam.

Continuando com as estradas de ferro não poderemos deixar de referir a linha pelos portugueses construída, no ano de 1878,

para se poder realizar a ligação entre o porto de Mormugão e as linhas férreas do território inglês. Este empreendimento teve

por base o famoso tratado assinado com a Inglaterra que tinha como finalidade estreitar as relações comerciais entre a índia

portuguesa e a índia inglesa, abolindo barreiras e abrindo aos britânicos os mercados portugueses e principalmente ao

importante porto de Mormugão. Apenas oitenta e dois quilómetros de caminhos-de-ferro, que ligavam Mormugão e a estação de

Castle Rock, mas que atingiam a altitude de novecentos metros e levaram dez anos para serem executados. Na realidade a

construção da ferrovia foi uma tentativa derradeira para tentar tirar a Índia, a nossa Índia, da crise sem precedentes em que se

encontrava submersa mas revelou-se uma operação inglória e dispendiosa para o Estado Português.

1

1O Tratado de 1878, assinado entre Portugal e Inglaterra, tinha por finalidade fazer com que os ingleses acabassem com o contrabando de sal e de sura (álcool de palmeira) que inundavam o mercado de Bombaim, prejudicando assim os seus comerciantes. O produção de sal de Goa era feita em grande escala e chegava a Bombaim, muito mais barato que o manufacturado pelos ingleses, também a sura goesa era muito apreciada pelos britânicos do lado de lá do Gates. Com o Tratado os ingleses tomavam de arrendamento as salinas e podiam utilizá-las, ou deixá-las ao abandono, quando quisessem. A economia de Goa ficou, em parte, subordinada à da Índia Inglesa, no que respeitava ao fabrico, produção e consumo de vários produtos.

no século XIX

105

Page 107: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - C. de ferro, nos Gates ÍNDIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 038 Datação 1884-1894

Page 108: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - Caminhos. de ferro, nos Gates ÍNDIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 039 Datação 1884-1894

Page 109: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - Caminho. de ferro, dos Gates ÍNDIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 040 (prova actual de original colado no reverso)

Datação 1884-1894

Page 110: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - Caminho de ferro, dos Gattes ÍNDIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 041 Datação 1884-1894

Page 111: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - A queda d'agua, nos Gates ÍNDIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 042 Datação 1884-1894

Page 112: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 113: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 114: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

GOA

MANUELA VAQUERO

“Goa bela!

Olha os Gates em chama!

Olha a crista revolta

Que se inflama!

Andam tigres à solta

Nos bosques de Bengala!

É a Índia que te fala!

É a Índia que te chama!”

Adeodato Barreto

A cidade de Velha Goa, nas margens do rio Mandovi, sustentáculo para a circulação de toda a cidade, é um lugar particularmente

fascinante e revelador das memórias de tempos passados, com um património arquitectónico riquíssimo mas seriamente

degradado; fundada no século XV pelos muçulmanos foi, no ano de 1510, conquistada por Afonso de Albuquerque então

Governador da Índia, permanecendo sob domínio português até meados do século XX . Numa carta ao rei escrita em Outubro de

1510, Afonso de Albuquerque descreve Goa como sendo uma “ilha cercada dagua, de muita Remda, e muito proveitosa.”

Os portugueses procuravam na Índia o que a Europa ambicionava - a pimenta acima de tudo, e outras especiarias, que até então

lhes eram fornecidas pelos mercadores árabes que a visitavam desde tempos bem remotos . Goa ficou a ser, a partir do século

XVI, a capital do império português na Índia e, em simultâneo, um centro de divulgação do catolicismo. Missionários jesuítas,

franciscanos, dominicanos, agostinhos, bem como outras ordens religiosas, aí se estabeleceram, sendo inicialmente bastante

1

2

3

1 Adeodato Barreto - poeta e escritor luso-goês, nas suas obras vamos encontrar importantes paradigmas da cultura hindu. Natural de Margão, a cultura indiana influenciou-o profundamente e tal torna-se perceptível nos seus poemas, repletos de concepções da doutrina filosófica indiana, relativos à transmigração.2 No ano de 1954 Portugal perdeu os primeiros territórios na Índia, em Dezembro de 1961, a União Indiana invadiu Goa, Damão e Diu que só viriam a ser formalmente considerados independentes depois da Revolução do 25 de Abril em1974.3 Encontraram-se indícios de relações comerciais, respeitantes à exportação de especiarias, desde o tempo dos Sumérios. Não terá sido por acaso que os portugueses ali montaram as suas feitorias.

no século XIX

113

Page 115: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

condescendentes com as religiões locais - das quais se destaca o hinduísmo , facilitando um processo de conversão e de

aculturação. O papel dos missionários foi fundamental não podendo, no entanto, deixar de ter em conta que o processo de

adopção de valores culturais compreendeu avanços e recuos, rejeições recíprocas, quer dos modelos europeus quer dos asiáticos.

Neste ambiente ideológico, marcado pelo espírito da Contra-Reforma e pelas determinações do Concílio de Trento (1545-1563), a

política de tolerância religiosa, seguida por Afonso de Albuquerque cedeu lugar à intransigência. Os templos hindus e as

mesquitas foram destruídos, procurando-se favorecer os convertidos e dificultar a vida aos hindus e muçulmanos.

Com o estabelecimento do Tribunal do Santo Ofício em Goa, no ano de 1560, cujo propósito fundamental seria impedir as

influências gentílicas nas práticas culturais cristãs, influências essas desenvolvidas a partir da segunda metade do séc. XVI e ao

longo do séc. XVII - o termo gentilismo encontra-se em muitos documentos inquisitoriais - denúncias, confissões, tratados

teológicos e jesuíticos, cartas e crónicas. Em geral, refere-se a práticas que envolvem venerações desenvolvidas por populações

que eram convertidas ao cristianismo, no decurso da expansão marítima portuguesa, e que acabavam por estabelecer misturas

de elementos da religião local com os do cristianismo. Provocou também que muitos milhares de goeses partissem para outras

paragens. Este tribunal, que tinha sob sua jurisdição todo o império do Oriente, desde a costa oriental africana até Macau e

Nagasaki, alterou a situação completamente e a religião católica passou a prevalecer, tendo um papel importantíssimo no seu

desenvolvimento. Foi definitivamente abolido no ano de 1812 , embora a sua acção abrandasse com as reformas pombalinas

(1755-1777) que tiveram um grande alcance social.

A partir do ano de 1843, a velha cidade de Goa, começou a perder prestígio para Pagim ou Nova Goa, para tal facto muito

contribuiu a mudança de residência dos governadores, pois desde o ano de 1759 passou a ser o espaço escolhido para morada

dos vice-reis, que transformaram a notável a fortaleza do Idalcão em palácio e Goa, a bela cidade situada na ilha de Tissuary,

inicia o seu processo de envelhecimento, entregue a si própria e às monções começa a ser invadida pelo musgo e pelo matagal

numa degradação iminente, onde as casas e os edifícios abandonados vão caindo gradualmente. Diz-nos o Professor Silva Rego,

4

5

6

4 Religião principal da Índia - “uma federação de credos e de bem ordenadas maneiras de vida, uma cultura religiosa pluralista, uma agregado de tradições étnicas, oferecendo uma vasta gama de alternativas.”5 As autoridades não consentiam a realização pública das cerimónias gentílicas, pretendendo com isso evitar o escândalo em terras cristãs e a contaminação religiosa dos fiéis, assim era permitido aos cristãos prestar culto público a Deus, mas os hindus e os muçulmanos teriam que praticar o seu culto em privado. 6 As ruínas do edifício do Tribunal do Santo Ofício, próximo da sé catedral, ainda em razoável estado no ano de 1833, eram uma das atracções

históricas de Velha Goa, especialmente para os visitantes estrangeiros.

114

Page 116: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

numa conferência, proferida no ano de 1965, sobre A Índia-Portuguesa 1850-1910: “Em 1880, o ministro da Marinha e

Ultramar, Visconde de S. Januário, ex-governador-geral da Índia, tomando em atenção a urgente necessidade em que se debatia o

Estado da Índia, mandou vender pràticamente tudo quanto pertencia às igrejas, confrarias, juntas, câmaras municipais,

seminários, colegiadas, bens da Fazenda, etc. Observou-se isto não só em Goa, mas também em Damão e em Dio. (…)

Abundavam as revoltas, provocadas por motivos aparentemente fúteis, mas sempre pejados de consequências.” Era o princípio

do fim… o estado da Índia Portuguesa encontrava-se em agonia… sem indústria, sem agricultura, sem estradas condignas,

sem infra-estruturas capazes para se sustentar, acaba por assinar, sob a orientação de Andrade Corvo com a Índia Inglesa, o

“Tratado de 1878”, do qual nunca se viria a libertar, padecendo as consequências da supremacia Inglesa.

Velha Goa ou Velha Cidade - no ano de 1548 possuía já 14 igrejas, pois foi nos dois primeiros séculos da nossa presença na Índia,

que se edificaram quase todas as edifícios religiosos que povoavam aquela paragens, mas que não resistiriam à impiedosa

passagem do tempo e ao desleixo dos homens. Eram construções imponentes, quer pela sua volumetria, quer pela qualidade

arquitectónica, que ainda nos dias de hoje espantam e atestam, não só as ambições evangelizadoras dos portugueses mas

também a importância da cidade e das suas riquezas.

No ano de 1891, não passavam de ruínas, apenas visíveis as suas frontarias destroçadas em irremediável estado de degradação.

Paredes e muros encontravam-se envolvidos pelo mato, num total abandono, embora majestosos na sua decadência. A profusão

de igrejas, nos seus tempos de intenso apogeu, a sua importância enquanto local de peregrinação e devoção católica, levaram a

que Goa ficasse conhecida como “Roma do Oriente”.

Ruínas do Convento de Santo Agostinho e do Convento de São Paulo

A história da arquitectura indo-portuguesa teve o seu início no reinado de D. Manuel (1495/1521), período de grandes

no século XIX

GOAMANUELA VAQUERO

115

Page 117: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

transformações no domínio da arte, quando Portugal adquire um poderio económico considerável. Os monumentos edificados

nas novas terras conquistadas vão reflectir as preocupações dominantes dos seus governadores e o espírito evangelizador que

imperava e, se em África são notáveis algumas grandiosas fortalezas, na Índia salienta-se sobretudo a arquitectura religiosa.

Nos inícios do século XVI as construções eram de dimensões modestas e frágeis, mas a partir dos meados deste século, com a

colaboração da mão-de-obra local, as igrejas e conventos tornaram-se sumptuosos e multiplicaram-se pelas várias regiões da

Índia, principalmente na costa do Malabar, onde as possessões portuguesas se situavam. Das inevitáveis influências recíprocas

resultou a originalidade da arte indo-portuguesa.

Para podermos fazer uma ideia do que teria sido, nos seus tempos áureos, o Convento de Santo Agostinho, do qual apenas

subsistem ruínas, evoco a obra de Pedro Dias, De Goa a Pangim, Memórias tangíveis da Capital do estado Português da

Índia que sobre o assunto nos diz: "O que resta hoje da igreja do Convento de Santo Agostinho é uma impressionante e

vastíssima ruína, mas pode através dela perceber-se a grandiosidade que teve o complexo monástico e as dimensões

excepcionais da sua formidável igreja da invocação de Nossa Senhora da Graça. (...) A fundação desta casa remonta ao ano de

1572, quando 12 religiosos, sob a direcção de frei António da Paixão levantaram as paredes de um primeiro mosteiro. Anos

volvidos, em 1597, foi iniciado o definitivo, sob a invocação de Nossa Senhora da Graça, padroeira dos eremitas calçados de Santo

Agostinho.(...) Temos também a informação de que as paredes estavam parcialmente forradas com azulejos, cujas marcas são

aliás bem visíveis em muitos pontos das ruínas, tendo sido aproveitados alguns para outras construções, podendo ver-se

nomeadamente no frontal de altar da sacristia da Casa Professa do Bom Jesus. São claramente identificáveis como lisboetas, de

tapete e rica policromia, feitos em meados do século XVIII. (...) O Convento de Santo Agostinho tinha também uma zona comum,

com amplos dormitórios, refeitório, hospedaria, enfermaria, etc., completando-se esta zona habitacional de vários andares com

quatro capelas: a dos provinciais, a dos priores, a de Nossa Senhora do Rosário e a de Nossa Senhora da Assunção." Eram assim

imponentes estas construções monásticas.

116

Page 118: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Também do colégio de São Paulo e de sua Igreja apenas restam ruínas. Com a expulsão dos jesuítas, o antigo colégio foi

abandonado, encontrando-se, no ano de 1827, em estado de completa ruína, sendo dois anos depois, demolido pelo Governo,

subsistindo apenas a fachada da igreja. O material da demolição foi utilizado em novas construções erguidas em Pangim, que, no

século XIX, dando prosseguimento a um processo iniciado há décadas, passando a substituir a velha urbe, conduzindo Velha Goa à

decadência, perdendo a extraordinária posição que ocupara nos três séculos anteriores a favor desta Nova Goa.

Para podermos aquilatar bem da sua importância, recordamos que no ano de 1556 a imprensa foi introduzida nestes domínios

pela Companhia de Jesus, saindo dos prelos do Colégio de S. Paulo a primeira obra impressa - Conclusões ou Teses - . Alcançou

tal fama no Oriente, que chegou a ser intitulado “Universidade de Goa”. Os portugueses na sua missão evangelizadora quiseram

também espalhar muitos dos conhecimentos que possuíam, relativos à fé e à ciência, dos quais o estabelecimento da imprensa é

um bom exemplo, se tivermos em conta que em Calcutá a arte de impressão apenas foi implementada duzentos anos depois.

Diz-nos o Conde de Ficalho, na sua obra Garcia da Orta e o seu Tempo, que quando os navegadores portugueses chegaram ao

continente asiático não encontraram um “país de selvagens”, mas uma “civilização diversa da sua, inferior em muitos traços e

superior em alguns”.

Túmulo de S. Francisco Xavier

O Túmulo de S. Francisco Xavier, o apóstolo do Oriente, assim designado pelo seu trabalho de doutrinação na Ásia, encontra-se na

Basílica do Bom Jesus em Velha Goa. Sendo um dos fundadores da Companhia de Jesus, no ano de 1534, ordem religiosa

destinada ao ensino, à conversão e à caridade, foi enviado pelo rei D. João III, para o Oriente com a finalidade de espalhar a fé

católica por aquelas paragens. Foi o primeiro missionário jesuíta na Índia e, na ânsia de converter as populações locais, nem

sempre fez uma transição gradual entre a religião hindu e a católica o que o iria levar, posteriormente, a pedir a D. João III a

no século XIX

GOAMANUELA VAQUERO

117

Page 119: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

instauração de um Tribunal da Inquisição em Goa, que se viria a concretizar apenas após a sua morte.

A Companhia de Jesus chegou a Goa em 1542 e aí fundou um centro educativo e religioso, o Colégio de São Paulo ou de São Roque,

que contava naqueles longínquos tempos com uma enorme biblioteca e tipografia , que sobreviveram até 1830 como já atrás foi

dito, no entanto, a Basílica do Bom Jesus, principiada no ano de 1594 perdurou através dos tempos e, ainda hoje, nela abriga o

túmulo relicário de S. Francisco Xavier. Facto que devemos relevar é o de ser considerada um dos melhores monumentos da

arquitectura barroca da Índia e uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo, fazendo parte Património da

Humanidade pela Unesco. Escolhendo o modelo das igrejas jesuítas portuguesas, o templo do Bom Jesus tem uma nave única,

revestida a madeira e não possuindo capelas laterais, salvo duas situadas na área do transepto. Na fachada da igreja existe um

enorme frontão decorado com as armas da Companhia de Jesus e ladeado por volutas. Segundo Bernardo do Valle de Castro: “O

maior tesouro do interior da igreja é a capela do transepto onde se encontram, desde 1655, os restos de Francisco Xavier, numa

urna de prata finamente trabalhada por artistas locais. A urna está localizada num mausoléu executado pelo artista florentino

Giovanni Battista Foggini em 1697. Estes monumentos, em mármore italiano, foram oferecidos pelo Grão-Duque da Toscana,

Cosimo III Médici, e armado no local por um artista especialmente enviado, Placido Francesco Ramponi, chegado a Goa em 1698

com esse objectivo.

A capela-mor possui um retábulo dourado, datado de c.1699, dedicado ao Menino Jesus, com uma imagem de Inácio de Loiola, o

fundador da Ordem. Em 1946, tornou-se a primeira basílica da Índia. Nos dias actuais, ainda há peregrinações ao local, para

visitas ao túmulo d' O Apóstolo do Oriente.

Este túmulo relicário do Apóstolo do Oriente é exposto de dez em dez anos, na Sé Catedral de Goa. O dia de S. Francisco Xavier

comemora-se a 3 de Dezembro, pretendendo evocar o dia da morte, que ocorreu na China no ano de 1552. O corpo do santo

encontra-se surpreendentemente bem conservado, faltando-lhe contudo o braço direito, sendo que o osso do úmero se encontra

7

7 A documentação existente dá-nos a indicação de ter saído dos prelos do Colégio de S. Paulo, da Companhia de Jesus, a sua primeira obra, Conclusões ou Teses, provavelmente em Setembro-Outubro de 1556.

118

Page 120: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

num relicário de prata em Macau. A festa em honra de S. Francisco Xavier reúne tão grande número de pessoas, que faz deste

santo o padroeiro espiritual da Índia.

Lorenzo Ortiz no seu livro San Francisco Javier, Príncipe del Mar, escreve: “Todos os casos da sua prodigiosa vida são raros,

todos ternos, todos admiráveis os que lhe sucederam no mar navegando, ou para o bem ou alívio dos que de ele dependiam. Fora

do mar, raras são as suas profecias, assim como os seus milagres, as suas conversões, o seu poder e os efeitos da sua caridade.”

Seminário de Rachol e Seminário de Chorão

Portugal foi o primeiro país europeu a pretender exercer uma autoridade religiosa, política e comercial sobre os lugares do

Oriente, o que originou um contacto civilizacional mais alargado e conduziu à edificação de um poderio religioso ainda hoje

patente nas inúmeras igrejas e conventos espalhados pelo território. Muitos deles mais não são que deploráveis ruínas,

majestosas na sua decrepitude e reveladoras de um passado multissecular repleto de cultura e transmissão de saberes.

O Seminário de Rachol, situado nas margens do rio Zuari, no distrito de Salcete em Goa, foi mandado construir pelo rei D.

Sebastião e foi o primeiro seminário edificado na Ásia, datado de 1580 e apostolado pela Companhia de Jesus até esta ter sido

expulsa de Goa em 1762. O seminário alcançou um enorme desenvolvimento cultural e, em simultâneo com o Colégio de São

Paulo de Velha Goa, foi considerado uma das mais influentes instituições da cristandade no Oriente - na sua escola de Teologia

formaram-se alguns dos mais brilhantes sacerdotes da Índia. Durante o governo da arquidiocese de Goa, por D. António

Sebastião Valente , reuniu-se em Goa um notável concílio provincial que benfeitorizou de tal forma o Seminário de Rachol, que a

Santa Sé concedeu, a esta instituição de ensino, a permissão de conferir o grau de Bacharelato em Teologia, aos alunos que

terminassem o curso com distinção. O seminário, que usufruía já de enorme notoriedade, atingiu então lugar de destaque a nível

mundial. A igreja deste seminário foi dedicada a Santo Inácio de Loiola- fundador da ordem jesuíta.

8

8 O arcebispo D. António Sebastião Valente dirigiu a diocese de Goa desde Maio de 1892 até Janeiro de1908, data da sua morte. Lente da Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra, foi considerado enérgico e virtuoso, sabendo enfrentar com talento difíceis situações. A concordata de 1886 foi por ele superiormente orientada.

no século XIX

GOAMANUELA VAQUERO

119

Page 121: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Uma das primeiras tipografais da Ásia foi aqui instituída, imprimindo algumas das valiosas obras, relativas ao cristianismo,

publicadas neste continente na época. No ano de 1616 foi publicado o primeiro livro - Krista Purana “Discurso sobre a Vinda

de Jesus Cristo Nosso Salvador ao Mundo” a tradução do Evangelho para língua marata - idioma falado na costa ocidental da

Índia, por uma enorme parte da população, pertencente ao grupo de línguas indo-arianas - não poderemos deixar de salientar

que o Seminário de Rachol foi pioneiro no estudo das línguas indianas - sendo em Goa e nos enclaves do Malabar que os Jesuítas

atingiram maior relevo na divulgação da sua erudição.

Na margem direita do rio Mandovi, acerca de duas léguas de Velha Goa, situava-se o Seminário de Chorão, do qual apenas

subsistiam ruínas nos finais do século XIX. Era aí, nesse espaço, pelos anos de 1559, que se ensinava a ler, escrever e a doutrina

de Cristo a quatrocentos meninos, bem como a língua concani . Mais tarde teve a designação de Real Colégio de Educação de

Chorão, no ano de 1565, os Jesuítas aí instalaram o Noviciado de São Paulo, assim funcionando até á abolição da Companhia

de Jesus em Goa; segundo documentos coevos, o edifício era de enormes proporções em forma de quadrilátero com as suas

sessenta e cinco celas construídas para os noviços da Companhia de Jesus .

Fernão Mendes Pinto, o chamado andarilho de Quinhentos, passou mais de duas ousadas décadas no Oriente. Esteve na costa

oriental de África, na Índia, em Samatra, no Sião, na China, no Japão… e propôs-se narrar os episódios do que viajou e viu na sua

original obra Peregrinação. Naufragou e esteve preso diversas vezes, tendo chegado a ser vendido como escravo, sendo rico e

pobre… aqui, nestas remotas paragens conviveu com S. Francisco Xavier, que muito admirava e por quem se deixou influenciar,

o que o levou a professar, tornando-se noviço no Seminário de Chorão.

9

10

11

9 Este livro foi escrito na língua falada em Goa, em forma poética, e era cantado pelo povo ao som do tamborim. O último livro a ser publicado em Rachol foi Regras da Companhia de Jesus em 1674. A imprensa permaneceu em Rachol até 1674.10 O concani ou concanim, que os portugueses designavam por canarim, é uma língua indo-ariana falada na Índia. Foi o goês André Vaz de Carambolim que escreveu a primeira gramática de Concani no século XVI.11 Cf. Abade Dinis L. Cotinaeu de Kloguen: Bosquejo Histórico de Goa, pp. 77 -125.

120

Page 122: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - Ruínas do Convento de S. Agostinho ÍNDIA Autor Atribuída a Souza and Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 021

Datação 1884 - 1894

Page 123: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - Ruínas do Seminário do Chorão ÍNDIA Autor Souza and Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 022

Datação 1891

Page 124: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - Ruínas do Arco da Conceição ÍNDIA Autor Atribuída a Souza and Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 023

Datação 1891

Page 125: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - Ruínas do Convento do Carmo ÍNDIA Autor Souza and Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 024

Datação 1891

Page 126: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - Ruínas do Convento de S. Paulo ÍNDIA Autor Atribuída a Souza and Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 025 Datação 1884-1894

Page 127: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - Seminário de Rachol ÍNDIA Autor Souza and Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 026

Datação 1891

Page 128: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - Seminário de Rachol ÍNDIA (localização errada no original: Igreja do Convento de S. Francisco de Assis)

Autor Atribuída a Souza and PaulTécnica Albumina

Inventário Cat. 027 Datação 1884-1894

Page 129: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - Convento de Jesus - Interior ÍNDIA (localização errada no original: Interior da Igreja do Convento de S. Francisco de Assis)

Autor Atribuída a Souza and PaulTécnica Albumina

Inventário Cat. 028 Datação 1884-1894

Page 130: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - Túmulo de S. Francisco Xavier ÍNDIA Autor Atribuída a Souza and Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 029 Datação 1884-1894

Page 131: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - Convento de Jesus - Túmulo de S. Francisco Xavier ÍNDIA Autor Atribuída a Souza and Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 030 Datação 1884-1894

Page 132: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa Velha - P. Goa. Festa Gentilica ÍNDIA (localização errada no original: A festa decorre no templo de Manguesh, Mardol)

Autor Atribuída a Souza and PaulTécnica Albumina

Inventário Cat. 031 Datação 1884-1894

Page 133: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - Pagode de Noguen de S. Mardal ÍNDIA(localização errada no original: A festa decorre no templo de Manguesh, Mardol)

Autor Souza and PaulTécnica Albumina

Inventário Cat. 032 Datação 1884-1894

Page 134: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - Jardim do Radjah Sauntavalle ÍNDIA(O nome correcto do Rajá, de acordo com informação de Paulo Varela Gomes, será de Sawantwadi; de acordo com Aurobindo Xavier,

trata-se de Soundekar Rajá, em português Rei de Sundem) Autor Atribuída a Souza and Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 033 Datação 1884-1894

Page 135: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - Radjah de Sudem e suas Esposas ÍNDIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 034 Datação 1884-1894

Page 136: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - Bicholim ÍNDIA Autor Souza & Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 035 Datação 1884-1894

Page 137: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - Mormungão ÍNDIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 036 Datação 1884-1894

Page 138: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Goa - Porto Vasco da Gama - Mormungão ÍNDIA Autor Atribuída a Souza and Paul

Técnica Albumina Inventário Cat. 037 Datação 1884-1894

Page 139: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 140: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

BOMBAIM

Manuela Vaquero

Quando no ano de 1509 os portugueses tiveram o primeiro contacto com Bombaim, este pedaço de terra, então um arquipélago

formado por sete ilhas, com vestígios de civilização desde a Idade da Pedra, mais não era que um terreno pantanoso. As

primeiras referências que temos relativas à ilha aparecem relacionadas com a história dos descobrimentos e conquistas

remontando ao tempo do Vice-Rei D. Francisco de Almeida. Nos dias de hoje, é uma das maiores e mais importantes cidades da

Índia, tendo-se desenvolvido muito com a colonização inglesa e principalmente a partir de 1869, com a abertura do Canal de

Suez, que transformou Bombaim num dos maiores portos marítimos do Mar da Arábia.

Ao contrário das outras colónias portuguesas na Índia, Bombaim não foi terra subjugada ou perdida para outros impérios, mas

sim entregue aos ingleses no ano de 1665. Ao assinar-se, em 1661, o tratado entre Portugal e Inglaterra, para a celebração do

casamento da princesa D. Catarina de Bragança, filha do rei D. João IV, com Carlos II de Inglaterra, Bombaim com todos os seus

senhorios e pertenças fez parte do dote da princesa. A Índia era então governada por D. António de Melo e Castro, que discordou

da cedência deste território e retardou a entrega que só se viria a efectuar no início de 1665. Embora esta parcela de solo nacional

fosse exíguo na altura, mais tarde, veio a transformar-se na “Jóia da Coroa Britânica”.

Situa-se na cidade de Bombaim o Mercado de Crawford, mandado construir no ano de 1868, por iniciativa de Artur Travers

Crawford, e era, até há poucos anos, um dos mais movimentados de Bombaim. São de salientar várias curiosidades relativas a

este mercado - todo o seu pavimento é feito em pedra Caithness de proveniência escocesa que, dadas as suas propriedades, lhe

confere grande frescura; foi o primeiro edifício do país a ter luz eléctrica e são famosos os frisos que adornam as suas portas

principais . Logo à entrada um aviso “é proibido cuspir ou fumar” e “é obrigatório entrar acompanhado por alguém credenciado”.

Lá dentro vendem-se frutas, variadas, colorias e magnificamente expostas… vegetais, carnes, pássaros, frutos secos e as

1

1 Os frisos foram projectados por Lockwood Kipling, pai do célebre poeta Rudyard Kipling, nascido em Bombaim no ano de 1865, autor do “Livro da Selva” e prémio Nobel da literatura no ano de 1907.

no século XIX

139

Page 141: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

famosas especiarias. Esta amálgama de cores e odores atordoa os sentidos.

“I'm in love with this country. I find heat and smells and oils and spices, and puffs of temple incense, and sweat and

darkness, and dirt and cruelty, and above all, things wonderful and fascinating innumerable.”

Rudyard Kipling

140

Page 142: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1891 - Bonbay - 1891 - Vista Geral das Repartições Publicas ÍNDIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 043

Datação 1891

Page 143: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

1891 - Bombaim - Mercado Crawford ÍNDIA Autor Não identificado

Técnica Albumina Inventário Cat. 044

Datação 1891

Page 144: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 145: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 146: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figura 5 - Montagem da Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego. © Fotografia: Paula Pinto | Museu de Lamego.

no século XIX

145

Page 147: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figura 6 - Montagem da Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego. © Fotografia: Paula Pinto | Museu de Lamego.

146

Page 148: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figura 7 - Montagem da Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego. © Fotografia: Paula Pinto | Museu de Lamego.

no século XIX

147

Page 149: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figura 8 - Montagem da Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego. © Fotografia: Paula Pinto | Museu de Lamego.

148

Page 150: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figura 9 - Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego. © Fotografia: José Pessoa | Museu de Lamego.

no século XIX

149

Page 151: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figura 10 - Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego. © Fotografia: José Pessoa | Museu de Lamego.

150

Page 152: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figura 11 - Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego. © Fotografia: José Pessoa | Museu de Lamego.

no século XIX

151

Page 153: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figura 12 - Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego. © Fotografia: José Pessoa | Museu de Lamego.

152

Page 154: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figura 13 - Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego. © Fotografia: José Pessoa | Museu de Lamego.

no século XIX

153

Page 155: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figuras 14 e 15 - Material de divulgação da Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego.

© Conceção: Luís Sebastian | Museu de Lamego.

154

Page 156: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

no século XIX

Figuras 16 e 17 - Material de divulgação da Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego.

© Conceção: Luís Sebastian | Museu de Lamego.

155

Page 157: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Figura 18 - Material de divulgação da Exposição Viagem ao Oriente no Século XIX, no Arquivo-Museu Diocesano de Lamego.

© Conceção: Luís Sebastian | Museu de Lamego.

156

Page 158: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 159: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 160: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

BIBLIOGRAFIA Abreu, Paradela de; Oliveira Händel de; Nunes Rui; Monteiro J. Villas (1994): Os últimos governadores do Império. Lisboa:

Neptuno.

Almeida, P. João Ferreira de (2002): Uma edição de Batávia em português no último quartel do século XVII. Lisboa: Távola

Redonda.

Álvares, Francisco (1989): Verdadeira informação das terras do Prestes João das Índias. Mem Martins: Europa América.

Amorim, Fernando Bayolo P.; Morais, Maria Helena Xavier de (1955): Catálogo Inventário do Museu de Etnografia do

Ultramar do Instituto de Antropologia da Universidade de Coimbra. Estudos de Etnologia: Anais, vol. X, Tomo I. J.M.G.I.U.

Araújo, Luís Manuel; Pessoa, José; Raposo, Luís (2008): Impressões do Oriente - De Eça de Queiroz a Leite de Vasconcelos.

Lisboa: Instituto Português de Museus.

Azevedo, Carlos de (1970): A Arte de Goa, Damão e Diu. Lisboa: Comissão Executiva do V Centenário do Nascimento de Vasco

da Gama.

Baines, John; Málek, Joromír (1991): Egipto: deuses, templos e faraós. Trad. Maria Emília Vidigal. Lisboa: Círculo dos Leitores.

Bernard, Jean-Louis (1978): As origens do Egipto. Trad. de J. N. Valente Pires. Amadora: Bertrand.

Camões, Luís de (1972): Os Lusíadas. Lisboa: Livraria de Sam Carlos.

no século XIX

159

Page 161: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Cardim, Pedro Almeida (2002): “A diplomacia portuguesa no tempo de D. João III: entre o império e a reputação”. In Separata das

actas do congresso: D. João III e o Império. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa.

Carita, Helder (1995): Palácios de Goa: modelos e tipologias de arquitectura civil indo-portuguesa. Lisboa: Quetzal.

Carreira, Nunes José (2000): Legitimação do poder no Egipto faraónico. Lisboa: Universidade.

Carvalho, Joaquim de (1947-1948): Estudos sobre Cultura Portuguesa no Século XVI. 2 vols. Coimbra: Universidade de

Coimbra.

Carvalho, Joaquim Augusto Simões de (1872): Memoria Historica da Faculdade de Philosophia. Coimbra: Imprensa da

Universidade.

Casas, Bartolomeu de Las (1997): Brevíssima relação da destruição das Índias. 2ª ed. Lisboa: Antigona.

Catálogo da Exposição Insular e Colonial Portuguesa (1894): Palácio de Crystal Portuense. Lisboa: Imprensa Nacional.

Cid, Isabel (1992): O livro das plantas de todas as fortalezas, cidades e povoações do estado da Índia oriental de

António Bocarro. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Corte Real, José Alberto H. C. (1882): “Relatório”. In Boletim da Província de Macau e Timor. Macau : Typografia de J. da Silva.

Cortesão, Jaime (1968): O Império Português no Oriente. Obras completas. Vol. XV. Lisboa: Portugália Editora.

160

Page 162: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Dicionário Ilustrado da História de Portugal. Lisboa: Edições Alfa.

Dias, Pedro (1988): História da Arte Portuguesa no mundo (1415-1822). Navarra: Círculo de Leitores.

Drioton, Etiene; Vandier, Jacques (1977): História do Egipto. 1ª ed. Buenos Aires: Editorial Universitária de Buenos Aires.

Durand, Frédéric (2010): História de Timor-Leste da Pré-História à actualidade / Istória Timor-Leste nian husi Pré-Istória

to'o atualidade. Trad. Daniel Lacerda. 2ª ed. Lisboa: Lidel.

Figueiredo, Fernando Augusto (2011): “Timor na Viragem do Século XIX para o Século XX: Tipos de Colonização e seus Agentes”. In

Colóquio Timor: Missões Científicas e Antropologia Colonial. Lisboa: AHU.

Flores, Jorge Manuel (1998): Os Portugueses e o Mar de Ceilão. Trato, diplomacia e guerra (1498-1543). Lisboa: Edições

Cosmos.

Galvão, António (1989): Tratado dos Descobrimentos. Lisboa: Publicações Alfa.

Garcia, José Manuel (2008): O livro de Francisco Rodrigues: O primeiro atlas do mundo moderno. Porto: Editora da

Universidade do Porto.

Graça, Joaquim José da (1880): “Macau e Timor”. In Boletim da Província de Macau e Timor de 28 de Junho. Suplemento nº

26. Macau : Typografia de J. da Silva.

no século XIX

161

BIBLIOGRAFIA

Page 163: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

(1882): “Governo da Província de Macau e Timor”. In Boletim da Província de Macau e Timor de 8 de

Março. Suplemento nº 35. Macau : Typografia de J. da Silva.

Gray, Michael; Pessoa, José; Pessoa, Georgina Pinto; Vaquero, Manuela; Gaivão, Manuel Mascarenhas (2013): Caminhos do

Ferro e da Prata - Linhas do Douro e do Minho. Lamego: Museu de Lamego.

Henriques, Júlio A. (1896/1897): Relatorio do professor da Cadeira de Botânica comcernente ao anno letivo de

1895/1896. Anuário da Universidade de Coimbra. Coimbra: Imprensa da Universidade.

Jardim, João (1899/1903): ”Notas ethnographicas sobre os povos de Timor”. In Portugalia Materiaes para o Estudo do Povo

Portuguez. Tomo I. Porto : Imprensa Portugueza.

Lobato, Manuel (2000): “Timor”. In A. H. de Oliveira Marques (dir.), História dos Portugueses no Extremo Oriente. 1º vol., t. II,

Lisboa: Fundação Oriente.

Marques, A. H. de Oliveira (1998): História dos Portugueses no Extremo Oriente. Lisboa : Fundação Oriente.

Martins, Maria do Rosário (1985): “Colecções Etnográficas”. In AAVV, Cem Anos de Antropologia em Coimbra 1885/1985.

Coimbra: Museu e Laboratório.

Mattoso, José (2010): Ásia, Oceânia, Património de origem portuguesa no mundo, arquitectura e urbanismo. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian.

162

Page 164: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Ministério do Ultramar (1956): “Garcia de Orta”. In Revista da Junta das Missões Geográficas e de Investigação do

Ultramar. Número Especial. Lisboa: Tipografia Silvas, LDA.

Montet, Pierre (1957): A vida quotidiana no Egipto no tempo dos Ramsés. Trad. Rogério Fernandes. Lisboa: Livros do Brasil.

Morais, A. Faria de (2000): “Subsídios para a História de Timor”. In Marques, A. H. de Oliveira (Dir.) - História dos Portugueses no

Extremo Oriente. Vol. 3º. Lisboa: Fundação Oriente.

Navarro, Francesco (dir. ed); (2006): História da Arte. Lisboa: Salvat.

O Orientalismo em Portugal - Séculos XVI-XX (1999). Porto: Ed. Comissão Nacional para as Comemorações dos

Descobrimentos Portugueses.

Pearson, M. N. (1987): Os portugueses na Índia. Lisboa: Teorema.

Pimentel, Jaime Pereira de Sampaio Forjaz de Serpa (1892): O Districto de Damão, apontamentos de uma administração

colonial. Lisboa: Livraria Ferin.

Queiroz, Eça (1980): O Egipto: notas de viagem. Lisboa : Livros do Brasil.

Rego, Silva (1965): O Ultramar Português no século XIX. Índia Portuguesa. Vigésima sétima e vigésima oitava palestras.

Lisboa : Agência-Geral do Ultramar.

no século XIX

163

BIBLIOGRAFIA

Page 165: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

(1965): O Ultramar Português no século XIX. Timor 1850-1910. Trigésima palestra. Lisboa: Agência-Geral do

Ultramar.

Ribeiro, João Fatalidade (1989): Histórica da Ilha de Ceilão. Lisboa: Biblioteca da Expansão Portuguesa, Publicações Alfa.

Saboya, Salvador (1938): Os Portugueses na China. Lisboa: Editorial Labor.

Said, Edward (2004): Orientalismo. Representações ocidentais do Oriente. Lisboa: Ed. Livros Cotovia.

Shaw, I.; Nicholson, P. (2004): Diccionario del Antiguo Egipto. Madrid: AKAL.

Serén, Maria do Carmo; Veloso, Teresa Galvão (1992): Na Índia dos Vice-reis. Imagens da Saudade Antecipada. Coimbra:

Casa Museu Bissaya Barreto.

Serrão, Joel (1963-1971): Dicionário da História de Portugal. 4 vols. Lisboa: Iniciativas Editoriais.

Silva, Andreia Cunha da (2007): Reflexos do Antigo Egipto na literatura portuguesa do século XIX. orient. Luís Manuel de

Araújo. Lisboa : [s.n.].

Smith, W. Stevenson; Simpson, W. K. (2000): Arte y Arquitectura del Antiguo Egipto. Madrid: Cátedra.

Sousa, Ivo Carneiro (1997): A História de Timor e a presença Portuguesa na Insulindia. Porto: Universidade do Porto.

164

Page 166: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

Subrahmanyam Sanjay (1997): Histórias de Goa - o romântico, o oriental e o exótico: notas sobre os portugueses em Goa.

Lisboa: Museu Nacional de Etnologia.

Taylor, G. John (1993): Timor: a história oculta. Trad. António Sá Amaral. Venda Nova: Bertrand.

Thomaz, L. F. (2008): País dos Belos. Achegas para a compreensão de Timor-Leste. Instituto Português do Oriente. Macau:

Fundação Oriente.

Wiesner, Joseph (1971): Egipto. Trad. Fernando Melro. Lisboa: Verbo.

Sites:

https://www.repository.utl.pt/.../Diplomacia

www.aventour-as.com/destinos/sri_lanka

wikipedia.org/wiki/Portugueses_na_Ásia

https://sites.google.com/site/...de-portugal/tapobrana

no século XIX

165

BIBLIOGRAFIA

Page 167: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 168: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 169: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 170: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão
Page 171: ViagemAoOriente Catalogo parte1 TextosApresentacaomuseudelamego.gov.pt/wp-content/uploads/2013/10/Viagem-ao-Oriente-PDF.pdf · A exposição “Viagem ao Oriente” é a segunda expressão

ARQUIVO MUSEUDIOCESE LAMEGO [Em]COMUM

Uma cidade. Dois museus

Proj

eto

One city. Two museums