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ViaABC Publicação da Agência Brasileira de Cooperação | Julho 2007 desenvolvimento social: Um tema da cooperação técnica brasileira A prioridade conferida pelo Presidente Lula ao desen- volvimento socioeconômico despertou grande interesse por parte de outros países do Sul pelas atuais políticas públicas nacionais. Temas como Segurança Alimentar e Nu- tricional, Direito à Alimentação, Agri- cultura Familiar, Reforma Agrária, Pes- ca Artesanal e diálogo com a Sociedade Civil na construção de Políticas Públicas passaram a integrar o léxico da coopera- ção demandada por outros países do Sul. Ao lado destes, o Brasil introduziu, ainda, o novo tema Assistência Humanitária em sua pauta externa. Como outros países em desenvolvimento, o Brasil saíra da década de 90 com um Estado enfraquecido, que delegava a pro- moção social ao voluntarismo e assisten- cialismo. Retomar o papel do Estado como indutor do desenvolvimento social e uni-lo ao de- senvolvimento econômico representava desafio de monta para o Governo brasilei- ro, inclusive para o Itamaraty. Nesse sentido, o Fome Zero, a princi- pal estratégia do Brasil para enfrentar o desenvolvimento social e o combate à fome, uniu de forma transversal e exem- plar temas emergenciais, como o acesso aos alimentos, a temas estruturais, como a ampliação do pronaf (que cresceu mais de 600% nos últimos 5 anos) e da Assistên- cia Técnica aos agricultores familiares, a criação do Seguro Agrícola, o Programa de Aquisição de Alimentos etc. Todas essas políticas despertaram grande interesse por parte de outros países do Sul e de Organis- mos Internacionais, uma vez que apresen- tavam potencial para serem replicadas com êxito, dentro de novos parâmetros em que a família passava a ser vista como a unidade social a ser promovida, inclusive economi- camente. Ao lado da cooperação bilateral, o Itamara- ty passou a participar ativamente de foros como o consea (criação do Sistema Nacio- nal de Segurança Alimentar e Nutricional), a fao (elaboração e difusão das Diretrizes Voluntárias para o Direito à Alimentação; Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural), o ocha (Escritório das Nações Unidas para Coor- denação de Assuntos Humanitários) etc. Em suma, a vontade política do Presidente Lula, aliada à grande dedicação daqueles - no Governo e na Sociedade Civil - que acreditavam que um grande país só se tor- na uma grande nação quando inclui todos os seus filhos em igualdade de oportuni- dades, fez com que o tema das políticas públicas passasse a ser mais uma área de excelência da cooperação brasileira. Raphael Caram (http://www.sxc.hu/profile/caramdesig)

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ViaABCPublicação da Agência Brasileira de Cooperação | Julho 2007

desenvolvimento social:Um tema da cooperação técnica brasileira

A prioridade conferida pelo Presidente Lula ao desen-volvimento socioeconômico despertou grande interesse

por parte de outros países do Sul pelas atuais políticas públicas nacionais.

Temas como Segurança Alimentar e Nu-tricional, Direito à Alimentação, Agri-cultura Familiar, Reforma Agrária, Pes-ca Artesanal e diálogo com a Sociedade Civil na construção de Políticas Públicas passaram a integrar o léxico da coopera-ção demandada por outros países do Sul. Ao lado destes, o Brasil introduziu, ainda, o novo tema Assistência Humanitária em sua pauta externa.

Como outros países em desenvolvimento, o Brasil saíra da década de 90 com um Estado enfraquecido, que delegava a pro-moção social ao voluntarismo e assisten-cialismo.

Retomar o papel do Estado como indutor do desenvolvimento social e uni-lo ao de-senvolvimento econômico representava desafio de monta para o Governo brasilei-ro, inclusive para o Itamaraty.

Nesse sentido, o Fome Zero, a princi-pal estratégia do Brasil para enfrentar o desenvolvimento social e o combate à fome, uniu de forma transversal e exem-plar temas emergenciais, como o acesso

aos alimentos, a temas estruturais, como a ampliação do pronaf (que cresceu mais de 600% nos últimos 5 anos) e da Assistên-cia Técnica aos agricultores familiares, a criação do Seguro Agrícola, o Programa de Aquisição de Alimentos etc. Todas essas políticas despertaram grande interesse por parte de outros países do Sul e de Organis-mos Internacionais, uma vez que apresen-tavam potencial para serem replicadas com êxito, dentro de novos parâmetros em que a família passava a ser vista como a unidade social a ser promovida, inclusive economi-camente.

Ao lado da cooperação bilateral, o Itamara-ty passou a participar ativamente de foros como o consea (criação do Sistema Nacio-nal de Segurança Alimentar e Nutricional), a fao (elaboração e difusão das Diretrizes Voluntárias para o Direito à Alimentação; Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural), o ocha (Escritório das Nações Unidas para Coor-denação de Assuntos Humanitários) etc.

Em suma, a vontade política do Presidente Lula, aliada à grande dedicação daqueles - no Governo e na Sociedade Civil - que acreditavam que um grande país só se tor-na uma grande nação quando inclui todos os seus filhos em igualdade de oportuni-dades, fez com que o tema das políticas públicas passasse a ser mais uma área de excelência da cooperação brasileira.

Raphael Caram (http://www.sxc.hu/profile/caramdesig)

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Q uando o Governo brasileiro assume o combate à fome como ação prioritária, pauta o tema na agenda nacional com

o status de política pública. Na história do Brasil isso significa um avanço, porque o tema deixa de ser tratado de maneira iso-lada e, a partir de iniciativas pontuais para ser tratado no campo dos direitos. O gover-no reconhece como estruturais o problema da fome e da pobreza e assume a tarefa de interferir nessa realidade.

Garantir o direito à alimentação pres-supõe um forte combate à desigualdade e, por isso, pede ações integradas, pois uma política isolada não alcança o problema em sua totalidade. Assim, surge o Fome Zero, uma estratégia do Governo Federal pre-sente em todos os municípios brasileiros, que visa assegurar o direito à alimentação adequada, com regularidade, priorizando as pessoas com dificuldade de acesso aos alimentos.

São 30 ações e programas do Governo Federal que, sob a coordenação do Ministé-rio de Desenvolvimento Social e Combate

estratégia Fome Zero:mais que garantir comida na mesa

à Fome (mds), também mobilizam a Casa Civil, Secretaria Geral, Secretaria de Co-municação, Assessoria Especial, ligados à Presidência da República, e os Ministérios Desenvolvimento Agrário, Saúde, Educa-ção, Agricultura, Planejamento, Fazenda, Trabalho e Integração Nacional, além do Conselho Nacional de Segurança Alimen-tar (consea).

Em �007, o Fome Zero está investindo R$ 13,3 bilhões (cerca de US$ 6,5 bilhões) no combate à fome. Os investimentos pos-sibilitam que mais famílias tenham acesso à alimentação, promovem a geração de tra-balho e renda e melhoram a qualidade de vida das regiões mais pobres do Brasil. O volume de recursos de �007 é 114% maior que o valor executado em �003 (R$ 6,� bi-lhões, ou cerca de US$ 3 bilhões) .

A medida que se mostrou mais urgente – e eficiente - para a redução da pobreza e da extrema pobreza no país foi a transfe-rência de renda, realizada por meio do Bol-sa Família, que unificou quatro programas – Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimentação e Auxílio Gás. O programa possui 11 milhões de famílias inscritas, em todos os municípios brasileiros.

Por meio de um cartão magnético, as famílias recebem mensalmente entre R$ 15,00 e R$ 95,00, desde que cumpram condicionalidades nas áreas de saúde e educação. As famílias devem manter crianças e adolescentes em idade escolar freqüentando pelo menos 85% das aulas, além de cumprir cuidados básicos em saú-de, ou seja, o calendário de vacinação para as crianças entre 0 e 6 anos e a agenda pré e pós-natal, para as gestantes e mães em amamentação.

Assim como o Bolsa Família busca reverter problemas associados à fome e à pobreza, como a baixa escolaridade e a falta de cuidados com a saúde, outros pro-gramas do Fome Zero atuam para superar vários outros fatores que geram a insegu-rança alimentar. O Programa Nacional de Alimentação Escolar (pnae) oferece pelo menos uma refeição ao dia, visando

Garantir o direito à alimentação pressupõe um forte combate à desi-gualdade e, por isso, pede ações integradas, pois uma política isolada não alcança o problema em sua totali-dade. Assim, surge o Fome Zero, uma estratégia do Governo Federal presente em todos os municípios bra-sileiros, que visa assegurar o direito à alimentação ade-quada, com regularidade, priorizando as pessoas com dificuldade de acesso aos alimentos.

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atender às necessidades nutricionais de es-tudantes durante a permanência na escola. O Programa de Alimentação e Nutrição distribui alimentos a grupos populacionais específicos, como os povos indígenas, qui-lombolas, trabalhadores rurais acampados e catadores de material reciclável.

Para assegurar o direito à água, funda-mental em qualquer política de segurança alimentar, o Programa de Cisternas é de-senvolvido para a população rural do semi-árido, possibilitando o armazenamento de água limpa para o consumo humano. A população de baixa renda que se alimenta fora de casa, por sua vez, pode se beneficiar dos restaurantes populares, espaços comu-nitários que comercializam refeições pron-tas e saudáveis, a preços acessíveis.

O Banco de Alimentos recebe doações de produtos alimentícios considerados im-próprios para a comercialização, mas ade-quados para o consumo, que são repassados a instituições da sociedade civil, que pro-duzem e distribuem refeições gratuitamen-te. Com o objetivo de baratear os alimentos da cesta básica, os gêneros alimentícios de primeira necessidade tiveram isenção ou minimização do ônus do ICMS. Hortas comunitárias são desenvolvidas em locais reconhecidos pela comunidade, com o ob-jetivo de incentivar e apoiar a implantação de pequenas unidades de produção de re-feições saudáveis.

O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (sisvan) monitora o estado nutricional, em nível individual e coletivo, formando indicadores para a avaliação de políticas públicas, visando à melhoria das condições de saúde da população.

Reconhecendo as especificidades exis-tentes no país, os povos indígenas estão sendo cadastrados para implantação de ações intersetoriais de segurança alimentar e nutricional compatíveis com seus valores culturais.

O Fome Zero, por meio do Programa de Educação Alimentar, também se ocupa do desenvolvimento de ações de orienta-ção, na busca de hábitos de alimentação saudável. Para prevenir deficiências de

vitaminas, principalmente em áreas endê-micas, há distribuição de vitamina A e de ferro, que controla a anemia. O Programa de Alimentação do Trabalhador (pat) está voltado para a melhoria das condições nu-tricionais dos trabalhadores.

agricultura FamiliarUm dos objetivos do Fome Zero é o fortale-cimento da agricultura familiar (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultu-ra Familiar - pronaf), com a valorização desta atividade econômica, considerada fundamental para o desenvolvimento sus-tentável do meio rural. O Garantia-Safra é uma das ações do PRONAF que dá segu-rança para a atividade agrícola no semi-ári-do brasileiro, possibilitando ao agricultor receber um benefício no período de seca e a garantia do sustento da família por seis meses.

O Seguro da Agricultura Familiar garante a cobertura de 100% do financia-mento, mais 65% da receita líquida espera-da pelo empreendimento financiado pelo agricultor familiar. Através do Programa de

Aquisição de Alimentos da Agricultura Fa-miliar (paa), o governo realiza as compras institucionais de alimentos – para merenda escolar, hospitais e entidades de assistência social – do agricultor familiar, assegurando renda para essas famílias e promovendo o desenvolvimento local.

Considerando que apenas transferir renda não supera o problema da pobreza no país, o Fome Zero também atua na ge-ração de renda, promovendo a qualificação social e profissional do trabalhador, de ma-neira articulada com outras ações de inte-gração ao mercado e de elevação dos níveis de escolaridade. O Programa de Economia Solidária e Inclusão Produtiva disponibili-za qualificação social, profissional e ocu-pacional, além de ações de microcrédito e geração de emprego e renda.

O Consórcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local (consad) pro-move, por sua vez, o desenvolvimento terri-torial, com ênfase na segurança alimentar e nutricional e na geração de trabalho e renda como forma de emancipação socio-econômica das famílias que se encontram

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O Programa Fome Zero é uma experiên-cia exitosa, ainda que haja necessidade de ajustes. São significativos os avanços do Programa na área do desenvolvimento so-cial e têm despertado o interesse de outros países empenhados na construção de mo-delos de políticas sociais. Em linhas gerais, essa é a síntese de um relatório da Organi-zação das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (fao), divulgado em agos-to de �006. Nesse documento, intitulado Fome Zero: principais lições, a instituição reconhece a diminuição da fome no Bra-sil, como resultado de ações e programas sociais empreendidos pelo governo fede-ral e parceiros nos últimos anos. O texto, apresentado em videoconferência para sete países da América do Sul, serviu de base para uma das reuniões da Iniciativa para a América Latina e o Caribe sem Fome no ano 2025, da FAO.

“É impressionante ver o que o Brasil já alcançou durante os últimos três anos e meio, construído sobre a base de progra-mas anteriores mas ampliando sua enverga-dura e alcance, aumentando seus recursos e acrescentando novos componentes”, diz o documento da FAO. Entretanto, o rela-tório admite que há como melhorar a foca-lização, o impacto e a sustentabilidade dos programas do Fome Zero no futuro.

principais liçõesNa introdução, o relatório cita a soma de esforços internacionais (FAO, Banco In-teramericano de Desenvolvimento e Ban-co Mundial) e do governo brasileiro para formular o Fome Zero: “Foi um exercício estimulante para todos os envolvidos, o que culminou com um respaldo geral aos obje-tivos e ao conteúdo do programa”. A FAO destaca o crescimento de investimentos nos programas relacionados ao Fome Zero,

FAO aprova estratégia brasileira de combate à fome

com ênfase para o “expressivo aumento” no crédito rural de R$ 3,8 bilhões para R$ 9 bilhões entre �003 e �006.

Os dados que mais despertaram inte-resse da instituição foram as 11,1 milhões de famílias que recebem o Bolsa Família, o total de 36,3 milhões de jovens com meren-da escolar, os quase � milhões de pequenos agricultores agrícolas com acesso a crédito e as 150 mil famílias que passaram a des-frutar de cisternas. Além dos beneficiários, a instituição valorizou medidas estruturais, como a recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Con-sea), a implantação do Cadastro Único, a promulgação da Lei da Agricultura Fami-liar e a iminente aprovação da Lei Nacio-nal de Segurança Alimentar e Nutricional (losan).

Todas estas ações foram qualificadas como “resultados concretos”, mas que “ainda não são reconhecidos pelos forma-dores de opinião pública no Brasil”. No exterior, entretanto, os efeitos do Fome Zero despertam interesse na América La-tina, África e Ásia e são objeto de notícias e artigos nos mais destacados jornais e meios de comunicação do mundo.

Para o órgão, um dos principais ensina-mentos se baseia “na encorajadora” expe-riência brasileira: “O debate é importante, mas, se existe uma lição para ser aprendida com o Brasil, esta consiste em que é pre-ciso aceitar que estamos num processo de aprendizagem. O que sabemos é que, quando a sobrevivência de muitas pessoas está em risco, é melhor embarcar rapida-mente em programas de larga escala, mes-mo com conhecimento e informação im-perfeitos, aceitando a existência de falhas e fazer as subseqüentes correções, do que adiar sem fazer nada até que um consenso seja alcançado”.

abaixo da linha de pobreza nessas regiões. Há programas para a inclusão social de de-sempregados, comunidades pobres urbanas e rurais, desenvolvimento de cooperativas, principalmente de catadores de material reciclável, além de microcrédito produtivo orientado para atividades produtivas de pe-queno porte.

mobilização e controle socialA atuação sobre as causas físicas da fome e da desigualdade social é complementada por ações de mobilização e controle social, que ocorrem principalmente nos Centros de Referência da Assistência Social (cras), também conhecidos como Casas das Famí-lias. Os cras prestam atendimento socioas-sistencial, articulando serviços disponíveis em cada localidade e organizando a rede de proteção social básica com políticas de qualificação profissional, inclusão pro-dutiva, cooperativismo e demais políticas públicas e sociais em busca de melhores condições de vida para as famílias.

A mobilização abrange a capacitação de agentes públicos e sociais para moni-toramento e avaliação das políticas de de-senvolvimento social e combate à fome, além do aperfeiçoamento da gestão destas políticas. Por meio do sítio [www.fomeze-ro.gov.br], pode-se fazer doações ao grande movimento nacional de solidariedade, vol-tado para aqueles que sofrem com a falta de alimentos e que não podem esperar pe-los resultados de mudanças profundas nas estruturas econômicas e sociais.

O Fome Zero também executa proje-tos, em parceria com empresas e entidades, que incluem apoio à geração de trabalho e renda, ações complementares do Bolsa Família, e ações de assistência social e de segurança alimentar e nutricional.

Todas as ações do Fome Zero podem ser acompanhadas e verificadas pela socie-dade, tendo em vista que o controle e a fis-calização são fundamentais. Este controle social ocorre por meio dos conselhos de políticas públicas existentes e de comitês gestores.

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Maior programa de transfe-rência de renda já criado no Brasil, o Bolsa Família foi instituído pelo gover-

no federal por meio da Medida Provisória 13�, de outubro de �003, convertida na Lei 10.386, de 9 de janeiro de �004. Atual-mente, ele está presente em 11 milhões de lares pobres do país, abrangendo todos os municípios brasileiros.

O Bolsa Família unificou quatro pro-gramas de transferência de renda (Bolsa Es-cola, Bolsa Alimentação, Cartão Alimenta-ção e Auxílio Gás) e representou, em �006, investimentos de R$ 7,5 bilhões (cerca de US$ 3,6 bilhões - cotação de abril/�007). O orçamento do programa para �007 é de R$ 8,6 bilhões (cerca de US$ 4,� bilhões).

bolsa FamíliaO público–alvo do programa são as

famílias em situação de pobreza – que têm renda mensal, por pessoa, de R$ 60,01 a R$ 1�0,00 (entre US$ �9,5 e US$ 59,00), ou em situação de extrema pobreza – que têm renda mensal, por pessoa, de até R$ 60,00 (US$ �9,5).

As ações do Bolsa Família ocorrem em três dimensões: promoção do alívio ime-diato da pobreza, por meio da transferência direta de renda à família; reforço nas áreas de Saúde e Educação, pelo cumprimento das condicionalidades; e a coordenação de programas complementares, como por exemplo os programas de geração de traba-lho e renda, de alfabetização de adultos e de fornecimento de registro civil e demais documentos.

Por meio de um cartão magnético, o Bolsa Família paga mensalmente entre R$ 15,00 e R$ 95,00 (entre US$ 7,37 e US$ 46,71). As famílias com renda per capi-ta mensal de R$ 60,00 recebem um bene-fício básico de R$ 50,00 (US$ �4,58) mais um valor variável de R$ 15,00 por filho de até 15 anos, enquanto gestantes e nutrizes, até o limite de R$ 45,00 (US$ ��,1�). As famílias com renda entre R$ 60,00 e R$ 1�0,00 recebem apenas o benefício variá-vel, levando em consideração a existência de filhos em idade escolar, gestantes e nu-trizes, limitado a três benefícios (crianças em idade escolar ou nutrizes/gestantes).

a renda e o caminho da cidadaniaA avaliação de especialistas de diversas instituições de pesquisa brasileiras, e de or-ganismos internacionais, é de que o Bolsa Família é um instrumento eficaz no com-bate à miséria e à desigualdade social no País. Para estas instituições, o programa de transferência de renda do Governo Federal

As ações do Bolsa Família ocorrem em três dimensões: promoção do alívio imedia-to da pobreza, reforço nas áreas de Saúde e Educação, e coordenação de progra-mas complementares.

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alia duas características importantes: baixo custo e eficiência na redução da pobreza. Diferentemente de projetos sociais anterio-res, o Bolsa Família é considerado o mais eficaz programa de transferência de renda, pois consegue chegar onde outros não al-cançavam.

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado em �007 mostrou que o Bolsa Família foi res-ponsável por �6% da queda da pobreza e 41% da extrema pobreza. Já os estudos da Fundação Getúlio Vargas (fgv) demons-tram que a renda per capita de 50% dos brasileiros mais pobres aumentou 8,56% em �005, contra um crescimento de 3,65%, em �00�, e uma queda de 4,15%, em �003, ano em que o Bolsa Família foi implanta-do. A avaliação da fgv é de que o Programa é um dos principais responsáveis por este resultado, ao lado do controle da inflação.

Confirmando o efeito do Bolsa Fa-mília na redução da pobreza, pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (unicamp) indica que o impacto do pro-grama para as famílias mais pobres é três vezes maior do que o do salário mínimo.

Focalização e gêneroO Banco Mundial (bird) considera o Bolsa Família o programa mais bem sucedido na América Latina, contribuindo efetivamen-te para a redução da desigualdade. Levan-tamento realizado pelo Banco Mundial em �006 constatou, entre os beneficiários do Programa, aumento dos gastos com ali-mentação, verificando maior valor calórico dos alimentos e maior diversidade na dieta, além de mais gastos com vestuário infan-til. Também percebeu-se aumento na fre- qüência diária às escolas e redução da eva-são de alunos.

Um dado significativo, observado pelo Banco Mundial, é a redução da violência doméstica. A instituição internacional ob-servou que o recebimento da renda do Bol-sa Família, normalmente pelas mulheres, dá a elas mais segurança.

A pesquisa qualitativa, encomendada pelo MDS ao Núcleo de Estudos sobre a Mulher, da Universidade de Brasília (unb), avaliou o impacto do Bolsa Família no dia-a-dia das mulheres e também verifi-cou o aumento da presença feminina nas decisões do lar e da comunidade, além da melhoria na qualidade de vida. A pesquisa constatou maior inserção social e poder de compra, mais afirmação no espaço domés-tico e ampliação do acesso a serviços públi-cos de educação e saúde.

Um dado significativo observado pelo Banco Mundial é a redução da violência doméstica. A instituição internacional observou que o recebi-mento da renda do Bolsa Família, normalmente pelas mulheres, dá a elas mais segurança.

Alessandra Felix, beneficiaria do Bolsa Família da cidade de Nitéroi (RJ).

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A estratégia brasileira de combate à pobre-za e à extrema pobreza por meio da trans-ferência de renda, com condicionalidades, está servindo de exemplo para muitos paí-ses e cidades em todo o mundo, até mesmo para as nações mais ricas. Um programa inspirado no Bolsa Família será implanta-do em Nova York, nos Estados Unidos, a partir do segundo semestre de �007. Países da América Latina e África, como Bolívia, Peru, Equador e Gana, entre outros, têm se informado sobre o funcionamento do Bolsa Família para adoção de ações seme-lhantes.

O Bolsa Família é administrado pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (mds) e integra o Fome Zero, uma série de ações do Governo Fe-deral que visa assegurar o direito humano à alimentação adequada, promovendo a segurança alimentar e nutricional e con-tribuindo para a erradicação da extrema pobreza e para a conquista da cidadania pela parcela da população mais vulnerável à fome.

O funcionamento do programa já ha-via despertado o interesse do Departamen-to de Agricultura dos EUA que, em �006, enviou pesquisador ao Brasil para realizar estudo de caso sobre o Programa, compa-rando-o com o similar americano “Food Stamp Program”.

Este estudo de caso decorreu das ati-vidades realizadas no âmbito do Memo-rando de Entendimentos firmado entre o Departamento de Agricultura dos EUA e o Ministério do Desenvolvimento Social brasileiro, com a participação da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimen-to Internacional (usaid), visando apoiar as ações, no nível comunitário, que con-tribuam para os objetivos do Fome Zero. Funcionários do MDS também estiveram nos EUA conhecendo os programas ame-ricanos.

Em Nova York, a partir de julho de �007, o prefeito Michael Bloomberg vai cadastrar cinco mil famílias nas seis áreas mais pobres da cidade, que receberão, por

dois anos, uma bolsa assistencial que varia de US$ 50 a US$ 300.

A exemplo do que ocorre no Brasil, com o Bolsa Família, em Nova York as fa-mílias deverão cumprir algumas condicio-nalidades para ter direito ao benefício. A quantia destinada a cada família vai variar de acordo com o nível de pobreza, com as tarefas previamente acertadas no programa e com o número de filhos a serem manti-dos na escola.

A família deverá ter pelo menos uma criança matriculada na escola em setembro deste ano, quando terá início o pagamento dos benefícios naquela cidade norte-ame-ricana. Entre as tarefas a serem cumpridas pelas famílias estão a freqüência escolar do aluno, o comparecimento dos pais às reuni-ões com os professores e visitas ao médico e ao dentista.

No Brasil, ao entrar no Programa de transferência de renda, as famílias se com-prometem a cumprir condicionalidades nas áreas de saúde e educação. Elas devem manter as crianças e adolescentes em ida-de escolar freqüentando a escola e cum-prir cuidados básicos em saúde, ou seja, o calendário de vacinação para as crianças

entre zero e seis anos e a agenda pré e pós-natal, para as gestantes e mães em ama-mentação.

A coleta da freqüência escolar é feita a cada bimestre - crianças e adolescentes entre seis e quinze anos precisam assistir a pelo menos 85% das aulas. O compare-cimento à escola é considerado essencial para melhorar as condições de vida da po-pulação e romper o ciclo de perpetuação da pobreza.

O processo de registro de dados foi des-centralizado em �007 para agilizar o acom-panhamento da presença em sala de aula.

A responsabilidade pelo levantamento é das secretarias de educação dos municí-pios, que incluem os dados no novo sistema do Ministério da Educação (mec). O MEC repassa os dados ao MDS, que faz o acom-panhamento, o pagamento ou a suspensão do benefício.

As informações sobre atendimento dos beneficiários do Bolsa Família nos postos de saúde são incluídas no Sistema de Vigi-lância Alimentar e Nutricional (sisvan), do Ministério da Saúde, que também repassa os dados ao Ministério do Desenvolvimen-to Social e Combate à Fome.

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Nova York: transferência de renda a partir de modelo brasileiro

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nosso compromisso com o estado de bem-estar socialEntrevista com o Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Senhor Patrus Ananias

O Ministro do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, não tem dúvidas de que o princi-

pal objetivo traçado a partir das políticas sociais no Brasil é consolidar uma política permanente de Bem-Estar Social no país. Na avaliação dele, o Brasil está cumprindo o compromisso de erradicar a fome e a po-breza, uma “realidade concreta”.

Os motivos para essa confiança vêm de resultados positivos das políticas que compõem o Fome Zero, como o forte crescimento da renda registrado entre os mais pobres da população brasileira, “num ritmo chinês”: taxa anual de 7% nos últi-mos anos. Some-se a isso os 7 milhões de brasileiros que superaram a pobreza extre-ma e a queda do índice da desnutrição do semi-árido.

Nesta entrevista, o Ministro faz um balanço das políticas sociais brasileiras nos últimos anos, comenta sobre a repercussão internacional dessa experiência e sobre perspectivas de aperfeiçoamento do Bolsa Família, principal programa do Fome Zero e um dos maiores programas de transferên-cia de renda com condicionalidades.

1) Reduzir dramaticamente a fome no mundo passou a ser uma bandeira da ONU. Até que ponto a experiência brasi-leira pode contribuir para que essa meta seja alcançada?Com a aprovação da Declaração do Milê-nio, em setembro de �000, a comunidade internacional deu um importante passo no reconhecimento da responsabilidade dos estados em garantir a seus cidadãos um dos pilares constitutivos da dignidade humana: o direito à alimentação. Representantes de 191 países se comprometeram com oito objetivos de desenvolvimento humano, sendo que a redução da fome e da extrema pobreza se destaca como o primeiro deles.

Esse evento histórico indica cada vez mais a compartilhada consciência de que não é possível falar de comunidades ou países livres se houver fome no mundo. O Brasil entra nessa discussão numa posição de des-taque talvez pelo exemplo interno e por-que temos conseguido demonstrar, com nosso esforço, que a erradicação da fome é uma possibilidade concreta. O Fome Zero, como estratégia de governo do Presidente Lula de facilitar o acesso à alimentação principalmente aos mais pobres, demons-trou ser uma iniciativa acertada do governo brasileiro. Essa estratégia inova ao priorizar o combate à pobreza e à fome, e ao pro-mover a coordenação e integração de 11 ministérios na elaboração, planejamento, implementação e monitoramente de ações que busquem a inclusão social. O traba-lho tem reconhecimento internacional. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) destaca, em documento apresentado em videocon-ferência a outros seis países latino-ame-ricanos, a diminuição da fome no Brasil como resultado de ações e programas so-ciais desenvolvidos pelo governo federal e parceiros nos últimos anos. Essa avaliação está registrada em um documento intitula-do Fome Zero: principais lições, disponível na página da instituição da internet. A par-tir dos primeiros resultados e balanço dos programas que compõem o Fome Zero, podemos dizer que conseguirmos estru-turar, ampliar e consolidar as condições materiais para erradicar a fome e a pobreza no país no horizonte possível para nossa ge-ração. Para alcançar o objetivo de erradicar a fome no mundo, é necessário que cada país faça sua parte. Nós estamos fazendo a nossa e vamos cumprir a meta, como tem sido comprovado por estudos da própria onu. Ao mesmo tempo, além de cumprir nossa parte, colocando o combate à fome e à pobreza como prioridade, também pode-

Conhecer os problemas e compartilhar soluções. Penso que é esse o produtivo caminho do intercâmbio entre os países.

Patrus Ananias, Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

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mos ajudar a disseminar a idéia de que essa meta é passível de ser alcançada. Acredito assim que temos muito o que contribuir nesse debate, a partir de nossa experiência em conjunto com experiência de outros países.

2) Passados mais de quatro anos da ex-periência brasileira com o Fome Zero, quais os principais resultados que o Bra-sil pode apresentar ao mundo no comba-te à fome?Estamos trabalhando hoje com a pers-pectiva de consolidar uma forte rede de proteção e promoção social no país, ca-minhando no sentido de estruturar, em nosso país, uma vigorosa e permanente política de bem-estar social. Estamos em-penhados nesse desafio e, ainda que haja muito a fazer, visto que temos uma grande dívida social historicamente acumulada, os resultados que colhemos até aqui já nos indicam que estamos no caminho certo. Ao analisar a PNAD �004 (Pesquisa Na-cional por Amostragem de Domicílios) do IBGE, pesquisadores do Ipea constataram uma redução significativa da desigualdade, com o crescimento de renda entre os 10% mais pobres, alcançando o percentual mé-dio de 7,�% entre �001 e �004. É como se os mais pobres estivessem “experimentado um crescimento chinês”, para usar uma expressão do economista Ricardo Paes de Barros, um dos responsáveis pelo estudo. No processo de redução de desigualdade, afirmam os pesquisadores do Ipea, os pro-gramas de distribuição de renda tiveram papel estratégico fundamental. Conside-rando também os dados da PNAD �005, contabilizamos um contingente de 7 mi-lhões de pessoas que superou a condição de pobreza extrema durante o primeiro mandato do Presidente Lula. Essas pessoas ainda precisam de ajuda, ainda são pobres, mas conseguiram vencer a indigência e al-cançaram um patamar de vida mais digno. Temos em mãos outros estudos que indi-cam a melhora na condição de vida de be-neficiários dos programas de nossa rede de proteção e promoção social. Dentre eles, podemos citar uma pesquisa feita pelo Ins-tituto Polis a pedido do nosso ministério. Ela mostrou que o impacto do Bolsa Famí-lia na vida de seus beneficiários tem sido al-

tamente positiva. Dos entrevistados, 87,8% responderam que as condições de vida da família melhoraram depois do ingresso no programa e um dos itens que melhorou foi a alimentação. Quanto mais pobre a região, maior é o impacto, o que indica, mais uma vez, o potencial de redução das desigual-dades. Em �005, realizamos uma chamada nutricional no semi-árido que constatou uma forte queda no índice de desnutrição, se comparado com a última chamada, rea-lizada 17 anos antes: dos 17,9% registrados em 1996, chegamos a 6,6%. Com base na Chamada Nutricional, uma pesquisa feita em conjunto pela Universidade Federal Fluminense e a Universidade Federal da Bahia identificou a participação dos pro-gramas sociais na melhoria das condições nutricionais da população mais pobre. Para crianças de 0 a 6 anos, a participação no Bolsa Família reduziu em 30% o risco de desnutrição crônica medida pelo déficit de altura em relação à idade. Focalizando a análise em crianças de 6 a 11 meses, a participação no Bolsa Família reduziu em 6�% o risco de desnutrição crônica medida pelo déficit de altura em relação à idade. São alguns exemplos de impacto da nossa estratégia, que já sinalizam o potencial de mudança da realidade brasileira. Estamos vencendo a luta contra a fome, contra a po-breza e contra a desigualdade.

3) As experiências de outros países no combate à fome podem ajudar o Brasil a aperfeiçoar seu programa? Qual a im-portância de formalizar acordos de co-operação técnica com outros países em desenvolvimento?Conhecer os problemas e compartilhar soluções. Penso que é esse o produtivo ca-minho do intercâmbio entre os países. Dos encontros internacionais que tive oportu-nidade de participar percebi o quanto te-mos para trocar, o quanto os problemas se assemelham e como as soluções adotadas em cada país podem nos fazer vislumbrar alternativas para nossos próprios desafios, mantendo, claro, as especificidades de cada realidade, de cada local. Numa visita recente ao Egito, onde participei de uma reunião ministerial árabe e sul-americana, numa conversa com o Ministro da Argélia, percebi que temos problemas semelhantes. Ele me disse que, em seu país, estão priori-zando políticas voltadas para a juventude e para os idosos, duas das principais deman-das na área social. Aqui também são dois grandes desafios que se apresentam para nós. Fomos formalmente convidados a co-nhecer o país e nos próximos meses uma equipe técnica do governo federal visitará a Argélia para conhecer seus programas. Ao mesmo tempo, nos próximos meses, devem vir ao Brasil delegações do Egito e do Mar-

Patrus Ananias, Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, recebe missão Africana. Brasília (DF), 26/01/2006.

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rocos, com o objetivo de conhecer melhor nossa experiência. Em �005, quando o go-verno do Egito procurou conhecer, junto aos organismos internacionais, exemplos de políticas sociais bem sucedidas, o Bol-sa Família foi indicado, junto com o pro-grama mexicano Oportunidades. Naquela ocasião, fomos até Luxor para apresentar nossa política. E, à medida em que apre-sentamos e disseminamos nossas propos-tas ao redor do mundo, vamos recolhendo também impressões sobre ela, avaliações, observações, que sempre são importantes no processo de aperfeiçoamento de nossos programas.

4) De que maneira a execução dos pro-gramas de combate à fome pode ajudar a melhorar a integração dos povos sul ame-ricanos?Penso que essa questão da integração dos povos sul-americanos deva ser analisada no contexto da consistente política externa brasileira, que tem rendido bons avanços, principalmente no que diz respeito às rela-ções com os países vizinhos e também com os países africanos e árabes. Além disso, o Presidente Lula tem se destacado como

uma referência mundial, estimulando e propondo encontros importantes entre os países que têm identidade entre si e que compartilham de problemas semelhantes. A estratégia de combate à fome e à pobre-za, assunto que o Presidente acertadamente tem tratado como prioritário aqui no país, é um ponto de convergência, que ganhou projeção pelo mundo. Um bom exemplo desse empenho pela integração dos povos é a Cúpula de representantes de países ára-bes e sul-americanos, que foi instituída a partir de uma proposta do Presidente Lula. Há outros eventos da mesma importância, como ocorreu em maio deste ano na Argen-tina, reunindo ministros da área social de vários países da América Latina. Estamos dialogando com nossos vizinhos, irmãos da América Latina, de maneira a compar-tilhar soluções para problemas que, histori-camente, estão muito próximos. É impor-tante também observar que vivemos um momento histórico importante na América Latina, com governos comprometidos com os pobres e com as políticas sociais voltadas para a inclusão e a transformação. Cada um de nossos países latino-americanos tem sua história, suas especificidades e peculia-ridades, mas estamos unidos no que se re-fere ao combate à pobreza e à desigualdade e no compromisso comum com políticas sociais normalizadas e integrais.

5) Depois de ser reconhecido internacio-nalmente como um programa que alcan-ça seus objetivos, qual o principal desafio para o Bolsa Família, a partir de agora?O marco para o Bolsa Família é a univer-salização do atendimento entre os mais pobres, com aperfeiçoamento dos meca-nismos de focalização, controle e fiscaliza-ção. O reconhecimento internacional é o resultado desse trabalho. Não, necessaria-mente, integra seus objetivos. O programa alcançou a meta proposta pelo governo – 11,1 milhões de famílias pobres –, está presente em rigorosamente todos os 5.564 municípios brasileiros, e isso já é pratica-mente a universalização entre os pobres. Há famílias que permanecem de fora e temos de fazer que os benefícios cheguem até elas. Estamos investindo no aperfei-çoamento do Cadastro Único, do geren-ciamento dos programas pelas prefeituras e nos mecanismos de controle público e

fiscalização formal do programa para coi-bir eventuais desvios. Numa recente audi-toria feita no cadastro, por meio de uma metodologia de cruzamento de dados para medir consistência das informações, efe-tuamos bloqueio de 330.68� benefícios de famílias que apresentam indícios de inade-quação ao perfil do programa. Esse núme-ro corresponde a pouco menos de 3% do total de benefícios pagos (para ter direito ao benefício, a família tem de ter renda mensal per capita de até R$ 1�0,00). É um trabalho feito pelo ministério com objetivo de aperfeiçoar ainda mais o Bolsa Família. Importante observar que, segundo estudos realizados por diferentes instituições de cooperação e pesquisa, o programa chega a quem realmente precisa. De acordo com o Bird, o Bolsa Família tem a melhor foca-lização dentre todos os programas simila-res em implementação na América Latina. Alcançadas essas metas, o programa conti-nua em seu processo evolutivo e nosso ob-jetivo hoje é ampliar suas possibilidades de integração com outros programas e políti-cas no sentido de promover a emancipação social das famílias atendidas. Nesse pon-to, é importante ressaltar que o Programa Bolsa Família não se resume ao pagamen-to mensal de benefícios financeiros, por si só fundamentais para garantir um patamar mínimo de bem-estar às famílias. O cum-primento das condicionalidades, ao pro-mover a escolaridade e acompanhamento das condições de saúde, abre melhores perspectivas para as crianças das famílias pobres terem uma vida mais digna e autô-noma. Além disso, uma outra vertente que temos reforçado na gestão do Bolsa Famí-lia é a permanente busca de articulação com outros programas e ações, sejam das demais esferas de governo, sejam da so-ciedade civil, visando ao desenvolvimento pleno das famílias. Em síntese, o objetivo do Bolsa Família é o objetivo de todas as nossas políticas: elas devem se aperfeiçoar constantemente no caminho da univer-salização, com o propósito de construir uma sociedade igualitária, que ofereça as mesmas condições de desenvolvimento e aperfeiçoamento para todos.

6) É possível já medir a repercussão do programa brasileiro no resgate da cidada-nia no Brasil?

Patrus Ananias, Ministro do Desenvolvimento e Social e Combate à Fome, na cerimônia da chegada do presidente do Equador, Rafael Correa, em Brasília.

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Estamos trabalhando na consolidação de uma rede de políticas públicas na área so-cial no país. Como são políticas permanen-tes, com objetivo de tratar problemas estru-turais da fome e da pobreza, os resultados são construídos a médio e longo prazos. No entanto, algumas melhorias já se apresen-tam no horizonte, no que diz respeito ao resgate da cidadania e, mais, no que diz respeito ao resgate da dignidade humana, perdida nos casos da pobreza extrema. Não podemos nos esquecer que um importante núcleo coesor de nossas políticas é justa-mente a construção e agora consolidação de uma Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Estamos inves-tindo, com políticas públicas consistentes, na viabilidade do mais elementar de todos os direitos, que é o direito à alimentação, numa perspectiva integrada com outros di-reitos constitutivos da cidadania. A alimen-tação em quantidade, regularidade e qua-lidade adequadas é uma importante porta de entrada para outros direitos: saúde, edu-cação, manutenção de vínculos familiares, qualificação profissional. Quando analisa-mos resultados como os apresentados aci-ma, de redução do índice de desnutrição infantil, percepção de melhora de condi-ções de vida dos beneficiados e redução da pobreza e da desigualdade, percebe-mos que estamos conseguindo promover o acesso a direitos elementares da cidadania a uma parcela da população que até então se encontrava excluída das possibilidades de crescimento.

7) O senhor acredita que haja um movi-mento crescente de aceitação dos progra-mas de transferência de renda no Brasil?Considero que uma importante lição da nossa experiência é termos colocado o combate à fome como um desafio não ape-nas para um governo mas para toda a so-ciedade brasileira. É inaceitável, do ponto de vista ético, que um país com a pujante produção agrícola que temos conviva com contingentes expressivos da população em situação de insegurança alimentar. Outro ponto que julgo exitoso é termos consegui-do desenvolver políticas públicas que con-cretizam nosso engajamento com o impe-rativo ético da erradicação da fome, como as diversas iniciativas na área da segurança alimentar e os programas de transferência

de renda, principalmente o Bolsa Família. A implantação de um programa no forma-to, dimensão e extensão do Bolsa Família, em sintonia com os demais programas de uma rede de proteção e promoção social e com um volume de recursos que ele envol-ve, fez parte de um processo de mudança de paradigma nas políticas sociais. Isso implica em alterar conceitos. Por muito tempo na história brasileira prevaleceu a equivocada idéia, reforçada sobretudo du-rante a ditadura implantada pós-1964, de que era necessário crescer para distribuir renda, como se o crescimento econômico, por si só, fosse capaz de corrigir desigual-dades sociais. A proposta de reformulação das políticas sociais, conformando-as em políticas públicas centrais de governo e a partir de uma concepção de integral e inte-grada de desenvolvimento, inverte a lógica: é preciso distribuir para crescer. Esse é o princípio de um desenvolvimento justo e sustentável. As políticas sociais, além da di-mensão ética de proteção da vida, têm tam-bém uma dimensão prática – elas estimu-lam economias locais. Além de cidadãos, estamos também formando consumidores e esses resultados estão sendo sentidos pelo país a fora, principalmente em locais mais pobres e com pouco desenvolvimento. À medida que as pessoas percebem as muitas dimensões das políticas sociais, a começar das políticas de transferência de renda, que são mais visíveis ao conjunto da sociedade, creio que aumenta também a compreensão sobre a importância desse trabalho.

A implantação de um pro-grama no formato, dimen-são e extensão do Bolsa Família, em sintonia com os demais programas de uma rede de proteção e promo-ção social e com um volume de recursos que ele envolve, fez parte de um processo de mudança de paradigma nas políticas sociais.

Missão Africana visita programas socias do MDS, na cidade de Formosa (GO).

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cial e Combate à Fome (mds) denominado “Políticas Públicas de Combate à Fome e de Segurança Alimentar e Nutricional na Guatemala”, com a participação da Agên-cia Brasileira de Cooperação (abc). As con-dições sociais e econômicas da Guatemala limitam o acesso aos alimentos pela maio-ria da população – cerca de 60%, de acordo com dados daquele mesmo ano, da FAO. A desnutrição crônica em crianças menores de cinco anos é de 49,3%, um dos maiores índices da América Latina e o maior pro-blema nutricional daquele país.

segurança alimentarO alto nível de pobreza e de extrema po-breza nas áreas rurais e indígenas estão na base desta situação. A acentuada insegu-rança alimentar da população rural existe devido à falta de emprego e à baixa capaci-dade de produção. Para superar esta situa-ção, a Guatemala tomou a decisão política de implantar um Programa Nacional de Segurança Alimentar, com a cooperação técnica do Ministério do Desenvolvimento Social brasileiro. A experiência acumulada pelo Brasil no campo da formulação e im-plementação de políticas públicas estatais de Segurança Alimentar, com a participa-ção da sociedade, por meio da execução do Fome Zero, será referência no desenvolvi-mento do projeto.

Como parte da execução do projeto, representantes dos governos federal e mu-nicipais, e da sociedade civil da Guatema-la, estiveram no Brasil em �005. Naquela oportunidade, 10 técnicos guatemaltecos foram capacitados em matéria de combate à fome e segurança alimentar e nutricional (Fome Zero). O próximo passo é a formu-lação e implementação, naquele país, da Agenda Nacional de Combate à Fome e de Segurança Alimentar e Nutricional.

cooperação internacional com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

brasil e Guatemala: cooperação para eliminar a fome

O Brasil e a Guatemala lançaram, em outubro de �005, a meta de erradicar a fome na América Lati-

na e Caribe até o ano �0�5, no contexto da iniciativa global de fixar como o Primeiro Objetivo de Desenvolvimento do Milênio a redução da fome e da pobreza no mundo à metade, até �015.

A iniciativa dos dois países latino-ame-ricanos foi posteriormente endossada pelos �9 países da região em Caracas, em abril de �006, durante a Conferência Regional da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação).

Desde �004, os dois países haviam ini-ciado trabalho conjunto por meio do pro-jeto de cooperação internacional prestada pelo Ministério do Desenvolvimento So-

A experiência acumula-da pelo Brasil no campo da formulação e imple-mentação de políticas públicas estatais de Segurança Alimentar, com a participação da sociedade, por meio da execução do Fome Zero, será referência no desenvolvimento do projeto

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A estrutura e a experiência acumula-das pelo Ministério do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome

(mds) na implantação do Bolsa Família e na gestão descentralizada dos programas sociais serão repassadas ao Peru. Assim como o Brasil, este país latino americano decidiu direcionar políticas públicas espe-cíficas para a superação da pobreza e da ex-clusão social. Visando tornar mais efetivo seu principal programa social de apoio aos mais pobres, denominado “Juntos”, o Peru firmou acordos de cooperação técnica com o MDS, contando com a participação da Agência Brasileira de Cooperação (abc), do Ministério das Relações Exteriores

Os dois projetos de cooperação técnica em andamento são “Fortalecimento Insti-tucional do Programa Nacional de Apoio Direto aos mais Pobres (Juntos)” e “Gestão Descentralizada dos programas sociais”. Com cerca de 54 milhões de habitantes, o

Peru tem mais da metade da população vi-vendo abaixo da linha de pobreza. Na área rural, a pobreza alcança 77%, enquanto na área urbana atinge 4�%. Um Estado com um passado de administração tradicional-mente centralizadora e a persistência de políticas sociais assistencialistas contribuí-ram para que o país chegasse a esta situa-ção, decorrendo daí o enfoque na descen-tralização, vista como estratégia para fazer frente à pobreza no país.

O “Juntos” possui muitas semelhanças com o Bolsa Família, o programa brasileiro de transferência de renda aos mais pobres a partir do cumprimento de condiciona-lidades. O programa chega aos lares mais necessitados para incorporá-los a serviços básicos de identidade, direito ao nome, nu-trição, saúde e educação. O governo peru-ano seleciona os estados e distritos a serem abrangidos pelo “Juntos” de acordo com cinco critérios básicos: pobreza extrema, incidência de violência, pobreza por ne-cessidades básicas insatisfeitas, bolsões de pobreza e desnutrição infantil crônica.

O programa entrega um incenti-vo monetário de S/.100,00 nuevos soles (US$ 31,45, cotação de abril/�007) aos be-neficiários, que deverão cumprir condições como levar filhos aos postos de saúde para vaciná-los, seguir controles de natalidade e prevenção da gravidez, além de enviar os filhos aos colégios. Com o acordo de cooperação técnica, o MDS vai mostrar a técnicos peruanos, em reuniões realiza-das nos dois países, o sistema de filiação ao Bolsa Família, normas e validações dos beneficiários do programa e sistemas de pagamento.

Os técnicos do MDS também vão re-passar aos técnicos peruanos os conheci-mentos relativos às práticas de acompanha-mento, cumprimento de condicionalida-des, monitoramento e avaliação. No Brasil, para que o dinheiro do Bolsa Família seja repassado às famílias, condicionalidades na área de educação e saúde devem ser cum-

brasil e peru - Transferência de metodologias de acompanhamento dos programas sociais

Visando tornar mais efeti-vo seu principal programa social de apoio aos mais po-bres, denominado “Juntos”, o Peru firmou acordos de cooperação técnica com o MDS, contando com a parti-cipação da ABC

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pridas: crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos precisam assistir a pelo menos 85% das aulas; cuidados básicos em saúde têm que ser observados, como o calendário de vacinação para as crianças entre 0 e 6 anos e a agenda pré e pós-natal, para as gestantes e mães em amamentação.

Os dados sobre a freqüência escolar são levantados pelas secretarias de educa-ção dos municípios e transferidos para o sistema do Ministério da Educação (mec), que os repassa ao MDS, responsável pelo acompanhamento, pagamento, bloqueio ou suspensão do benefício, em virtude do não cumprimento das condicionalidades. As informações sobre atendimento dos be-neficiários do Bolsa Família nos postos de saúde são incluídas no Sistema de Vigilân-cia Alimentar e Nutricional (sisvan), do Ministério da Saúde, que também repassa os dados ao MDS.

Outra ação prevista no projeto é a par-ticipação de funcionários do Bolsa Famí-lia, ao lado dos profissionais peruanos, na

elaboração de estratégias mais eficientes de intervenção do programa “Juntos”.

capacitação localConsiderada processo chave para a refor-ma do Estado, a descentralização se assen-ta na transferência do poder de decisão do nível central de governo para os níveis sub nacionais e a sociedade civil. Esta descen-tralização se insere no processo de refor-mas estruturais iniciado no Peru para for-talecer a democracia. O Projeto de Gestão Descentralizada dos Programas Sociais visa resgatar a experiência brasileira nesta área, sendo desenvolvido pelo MDS em conjunto com seu similar peruano, o Mi-nistério da Mulher e do Desenvolvimento Social (mimdes).

O que desperta o interesse no caso bra-sileiro é a parceria do governo federal com governos estaduais e municipais, organiza-ções de assistência social, iniciativa privada e a sociedade civil para a execução das ta-refas de combate à fome. Esta articulação é resultado da Lei Orgânica de Assistência Social, que desde 1993 estabeleceu no Bra-sil um Sistema Descentralizado e Partici-pativo de Assistência Social, constituído por um conjunto de instâncias deliberati-vas e executivas nas três esferas, compos-tas pelos diversos setores governamentais e não governamentais que prestam serviço de assistência social. Atualmente, o Brasil está implantando o Sistema Único de As-sistência Social (suas), como estratégia de regulação nacional dessa política pública.

Técnicos do MDS vão capacitar técni-cos do MIMDES, funcionários regionais e municipais, além de agentes multiplicado-res. A capacitação de agentes locais, para facilitar a transferência de competências, recursos e decisões do governo central às regiões e municípios, compõe a nova vi-são de superação da pobreza no Peru. O desenvolvimento de capacidades locais visa redistribuir oportunidades, superan-do diversas formas de exclusão. Na relação com a sociedade, o Estado peruano terá o papel de promotor e facilitador do desen-volvimento, com reconhecimento da di-versidade geográfica, ecológica e cultural como suportes do potencial competitivo, a exemplo do turismo, agro exportação, ar-tesanatos e mineração, entre outros.

A capacitação de agentes locais, para facilitar a trans-ferência de competências, recursos e decisões do go-verno central às regiões e municípios, compõe a nova visão de superação da po-breza no Peru

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brasil - equador transferência de práticas de gestão do Fome Zero

Antes associadas a modelos de inter-venção baseados no clientelismo e no assistencialismo, as ações dire-

cionadas aos mais pobres estão se transfor-mando, na América Latina, em um mode-lo de desenvolvimento social que oferece a possibilidade de romper com o padrão de pobreza e desigualdade que vigorava até então. No Brasil, um dos principais eixos articuladores da construção da política de desenvolvimento social é a implantação do Fome Zero, a estratégia do Governo Fe-deral coordenada pelo Ministério do De-senvolvimento Social e Combate à Fome (mds) que visa erradicar a fome por meio da inclusão social.

O Fome Zero reúne programas, proje-tos e ações de 11 ministérios e quatro ór-gãos vinculados à Presidência da Repúbli-ca, além de uma extensa rede de parcerias, pois a experiência brasileira demonstra que a intersetorialidade e a transversalidade são elementos essenciais para os esforços de superação da pobreza. Este modelo de ação integrada está despertando o interesse de muitos países na América Latina e em outros continentes. É o caso do Equador, na América do Sul, que até então vinha trabalhando as políticas sociais de forma fragmentada.

Em março de �007, o Brasil firmou com aquele país, por intermédio do MDS e com a participação da Agência Brasileira de Cooperação (abc), um acordo de coopera-ção técnica para transferir conhecimentos, metodologias e práticas de gestão de pro-gramas e ações de desenvolvimento social e combate à fome. O Acordo foi assinado em Brasília, durante solenidade ocorrida no Palácio do Planalto, que contou com a presença dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e do Equador, Rafael Correa Delgado, do Ministro Patrus Ana-nias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) e da ministra do Bem Estar Social do Equador, Jeannette Sanchéz, além de outros ministros dos dois países.

Denominado “Políticas Públicas de Desenvolvimento Social, Combate à Fome e Segurança Alimentar e Nutricio-nal no Equador”, o projeto visa auxiliar os esforços nacionais voltados à proteção e promoção social e à segurança alimentar e nutricional na perspectiva do desenvolvi-

mento territorial. Para isso, foi dividido em dois focos principais: transferir ao governo equatoriano conhecimentos sobre a gestão do Fome Zero, abrangendo sua estrutura organizacional, e capacitar técnicos equa-torianos sobre modelos de intervenção em segurança alimentar e nutricional basea-dos em território, fomento e produção.

o projetoCom duração estabelecida em 1� meses, o projeto prevê a viagem de técnicos do MDS ao Equador, onde ministrarão cursos para capacitar quadros daquele país, além da visitas dos técnicos equatorianos ao Bra-sil, para conhecer os projetos brasileiros in loco. Outro item do acordo é a assistência a técnicos equatorianos na implementação de projetos executivos em comunidades pobres do Equador.

O Ministério do Bem Estar Social do Equador está empenhado em formular, no país, uma estratégia política baseada na proteção e promoção social que esteja de acordo com as características e deman-das existentes nas diferentes regiões do país. Aproximadamente metade de seus 13 milhões de habitantes vive na pobreza, especialmente na área rural. Sua popula-ção é etnicamente diversa, reunindo várias nacionalidades indígenas, imigrantes euro-peus e afro-descendentes.

Um dos objetivos do acordo firmado com o Equador, por exemplo, é promover o in-tercâmbio de experiências e o debate sobre políticas de desenvolvimento social e combate à fome entre os dois países. O Brasil não só vai transferir informações sobre o Fome Zero, como também deve conhecer os sistemas de avaliação de programas do Equador.

Foto: M. Nota / Streetworkers in Quito (http://www.sxc.hu/profile/Nota)

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No desenvolvimento do projeto de co-operação técnica com o Equador serão ob-servadas a vinculação entre os processos de transferência de renda e de produção local de alimentos, a adequação regional de ces-tas de alimentos, a construção de indicado-res para identificação de desnutridos, com base em estudos sobre padrão de alimentos diferenciados, e a implementação de for-mas de desenvolvimento local baseadas na agricultura familiar, com o estabelecimen-to de compras locais de alimentos, além do combate ao processo de desestabilização do modo de vida camponês, que vem sen-do verificado no âmbito da pobreza rural.

modelo equatorianoO Equador tem um programa social cha-mado Bônus de Desenvolvimento Huma-no, que repassa um valor mensal a mães de família (a maioria), idosos e pessoas com deficiência, priorizando os que se encon-tram em extrema pobreza, condicionado ao cumprimento de compromissos esco-lares e de saúde dos filhos menores de 16 anos. Em janeiro de �006, as mães de famí-lia recebiam 15 dólares (R$ 31,95), e os ido-sos e deficientes, 11,50 dólares (R$ �4,49). Em janeiro de �007, o governo equatoriano anunciou um aumento dos bônus de mães de família, idosos e deficientes para 30 dó-lares (R$ 63,90) mensais. O programa tem uma cobertura de 40% da população.

O acordo com o Equador se insere na decisão brasileira para a área de polí-tica internacional de estabelecer acordos de cooperação técnica com outros países em desenvolvimento. Essa política parte do pressuposto de que, por enfrentarem desafios semelhantes, os países em desen-volvimento têm condições de promover a troca de experiências para a superação dos problemas.

Um dos objetivos do acordo firmado com o Equador, por exemplo, é promover o intercâmbio de experiências e o debate sobre políticas de desenvolvimento social e combate à fome entre os dois países. O Bra-sil não só vai transferir informações sobre o Fome Zero, como também deve conhecer os sistemas de avaliação de programas do Equador.

O Brasil é um dos signatários do com-promisso assumido pelos países latino-americanos de superação da pobreza e da exclusão, reafirmado na XVII Cúpula Pre-sidencial do Grupo do Rio, realizada em Cuzco, em maio de �006.

Como parte de um conjunto de atividades de cooperação técnica que o governo brasileiro mantém

com a Organização Ibero-americana de Segurança Social (oiss), da Espanha, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (mds) participa da elabo-ração de um diagnóstico completo sobre o envelhecimento nos países do Cone Sul. O objetivo é avançar na análise da situação dos idosos nesses países, identificando suas necessidades e demandas, e contribuindo para a melhoria de sua qualidade de vida.

O diagnóstico faz parte do projeto “Pessoas Idosas, Dependência e Serviços Sociais nos Países do Cone Sul”, uma das atividades desenvolvidas com a OISS. Tal projeto estará disponível em um portal na internet e será alimentado pelos países que integram o projeto – além do Brasil, Argen-tina, Chile, Paraguai e Uruguai - com da-dos sobre situação demográfica, condições de vida, marco jurídico e rede de equipa-mentos disponível para este segmento da população.

Na última reunião do Comitê Técnico do Projeto, realizada em abril na Argenti-na, ficou decidido que todos os outros pa-íses da América Latina serão incluídos no Projeto, aumentando o intercâmbio de ex-periências de políticas voltadas para idosos, em todo o continente.

Nos cinco países do Cone Sul vive a metade dos idosos da América Latina e Caribe. Em �000, eles superavam os �1 milhões, devendo chegar a 48 milhões, em �0�5. A maioria reside em zonas urbanas. A esperança de vida no conjunto dos paí-ses do Cone Sul – 7� anos no qüinqüênio �000-�005 – aumentou em mais de 10 anos no último quarto de século. A população maior de 60 anos é o grupo que apresenta, atualmente, as taxas mais elevadas de cres-cimento no Brasil, passando de 4,�%, em 1950, para 8,6% em �000, devendo chegar a 14,�% em �0�0.

Entre as conclusões levantadas pelos países do Cone Sul, participantes do pro-jeto, está a de que o processo de envelheci-mento não será homogêneo, uma vez que cada país possui uma estrutura demográ-fica particular, que depende de processos históricos, sociais e culturais próprios. Na primeira metade deste século, estes países verão sua população envelhecer de modo substancial, verificando-se como caracte-rística bem definida, o maior peso das mu-lheres nessa população.

Além da criação do portal na internet, o Projeto “Pessoas Idosas, Dependência e Serviços Sociais nos Países do Cone Sul” pretende apoiar a linha de ação que cada país defina, principalmente na área de ca-pacitação e desenvolvimento de recursos humanos vinculados à gestão de institui-ções e programas que atendam aos idosos.

No Brasil, cabe ao Ministério do Desen-volvimento Social e Combate à Fome a co-ordenação da Política Nacional do Idoso.

brasil - oiss - Cooperação internacional para me-lhoria da qualidade de vida dos idosos do Cone Sul

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publicação da agência brasileira de cooperação | julho 2007 17ViaABC

Além da criação do portal na internet, o Projeto “Pes-soas Idosas, Dependência e Serviços Sociais nos Paí-ses do Cone Sul” pretende apoiar a linha de ação que cada país defina, principal-mente na área de capacita-ção e desenvolvimento de recursos humanos vincula-dos à gestão de instituições e programas que atendam aos idosos.

O Reino Unido quer usar a experi-ência brasileira do Bolsa Família como modelo para ajudar países

da África. A proposta, objeto de um projeto de cooperação técnica entre as três partes, foi elaborada pelo Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (dfid). Na edição de julho de �006 de suas diretrizes orçamentárias, o DFID definiu como prioridade o combate à po-breza, com destaque para África e Sul da Ásia. A agência de cooperação britânica avaliou positivamente a política brasileira de Renda de Cidadania, e considerou que esta pode contribuir para o desenvolvimen-to social de países africanos.

O intercâmbio está previsto para ser executado no próximo ano fiscal do Reino Unido, a partir de abril, começando com um projeto-piloto em Gana, país com o qual o Brasil está em fase de discussão para avaliar a dimensão da demanda do país. Uma equipe técnica do Ministério do De-senvolvimento Social e Combate à Fome ficará responsável por repassar o modelo de formatação, avaliação e gestão do pro-grama, que deverá ser executado nos países africanos atendidos com recursos ingleses.

Conforme está acertado, não se trata de “exportar” o Bolsa Família exatamen-te nos moldes em que ele é executado no Brasil. A idéia é que os técnicos brasileiros façam avaliação entre os países africanos que integram o acordo para apresentar su-

cooperação triangular: Reino Unido quer levar Bolsa Família para África

gestões a partir das necessidades e das con-dições locais.

política inglesa É política do Departamento para o Desen-volvimento Internacional do Reino Unido (DFID) priorizar 90% do orçamento com ajuda a países de renda baixa e apenas 10% a países de renda média. Mas o Departa-mento deseja estreitar relações com países de renda média como o Brasil, com objeti-vo de facilitar a cooperação Sul-Sul.

A partir do projeto em Gana, outros cinco países da região farão parte da coope-ração, seguindo um acordo entre as partes. De acordo com o DFID, os países prioritá-rios, além de Gana, são Quênia, Zâmbia, Uganda e Moçambique, em fase de elabo-ração de suas políticas sociais.

No início de �006, representantes de seis países africanos estiveram no Brasil, em Formosa (go), numa visita técnica para conhecer os programas sociais brasileiros. O DFID e o governo brasileiro percebem a cooperação como oportunidade de apoio para o desenvolvimento dos países africa-nos e a cooperação pode ter desdobramen-tos porque, além de configurar-se como um projeto-piloto para outros países da África é também um importante desafio de inten-sificação e aperfeiçoamento dos projetos de capacitação do Ministério do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome referente a prestação de cooperação técnica.

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A proposta de implementação de uma política nacional de segurança ali-mentar e nutricional é um dos prin-

cipais avanços e também um dos principais desafios do governo do Presidente Lula. Essa é a avaliação da assessora especial do Fome Zero no Ministério do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome, Adria-na Aranha. Segundo ela, o Fome Zero se destaca principalmente por ter colocado o combate à fome no campo das políticas públicas. Adriana Aranha vem acompa-nhando a repercussão dessa estratégia de governo pelo mundo afora e nessa entrevis-ta apresenta um histórico dessa estratégia do governo brasileiro, de integrar políticas a partir do direito à alimentação.

1 - O que o Fome Zero representa de novo como política de combate à fome e à pobreza?No Brasil, sempre existiram programas de combate à fome, mas não com a dimensão do direito, de política pública permanente. A aprovação da Lei Orgânica de Segurança Alimentar prevê a criação do Sistema Na-cional de Segurança Alimentar, garantin-do a alimentação como direito, o que não

por uma política de segurança alimentarEntrevista com a assessora especial do Fome Zero no MDS, Senhora Adriana Aranha

havia na nossa Constituição. E garante também que exista um sistema integrado à área de saúde, educação, assistência social, desenvolvimento agrário e vários outras. O Fome Zero é uma estratégia de integração de programas, de priorização do tema na agenda nacional. Não é apenas um progra-ma porque nenhum programa sozinho dá conta da dimensão e da multicausalidade da fome. As pessoas passam fome por vários motivos: porque não têm acesso à saúde, à educação, à renda, ou porque não têm terra para produzir, e nenhum programa, sozinho, conseguiria dar conta de resolver. O Fome Zero foi criado justamente para priorizar o problema e integrar esforços na direção de superá-lo.

2 – Como o Fome Zero chamou a aten-ção do mundo?Quando o Presidente Lula assumiu a Presi-dência e fez uma chamada a toda a socieda-de para o combate à fome, não só no Brasil, ele provocou o debate no âmbito interna-cional. Quando viaja ao exterior – em Da-vos, na Suíça, primeiro, depois nas Nações Unidas - e ele fala que a grande guerra do mundo é contra a fome, assim pauta essa

discussão no mundo. Vários países começa-ram também a desenvolver ações. O tema tomou o cenário internacional porque até então, nenhum presidente havia chegado lá e dito: olha, não é só a política econô-mica que importa, nós temos de pensar a política social. A própria FAO ( Organiza-ção das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação ) veio no Brasil, no início do Fome Zero e, depois voltou em �006, para ver o que tinha acontecido, que lições poderiam ser tiradas no Brasil e replicadas em todo o mundo, de uma forma diferen-te, adaptada. A primeira lição é de que é preciso uma decisão política para mobili-zar a sociedade. Isso influenciou o mundo. Conseguimos aprovar em Roma, em �004, as Diretrizes Voluntárias para o Direito Humano à Alimentação, com a adesão de 170 países. Foram criados mecanismos ino-vadores de combate à fome no mundo. E o Brasil conduz isso junto com a França, Espanha, Chile, Alemanha e vários outras nações. Temos cooperações bilaterais com países como a Guatemala, Equador, Haiti, Angola, Moçambique e Bolívia. Países de-senvolvidos também estão interessados no funcionamento do Fome Zero, como EUA e Canadá. Estudantes na Alemanha cria-ram um comitê de apoio ao Fome Zero. Na Itália, há uma frente parlamentar a favor do Fome Zero. A repercussão foi e conti-nua sendo imensa.

3 – Como surgiu o Fome Zero?O surgimento do Fome Zero é um pro-cesso. Esse é um tema que sempre esteve presente na sociedade brasileira, desde 1946, quando Josué de Castro publicou “Geografia da Fome”, traçando o mapa da fome no Brasil e no mundo, passando de-pois pela mobilização nacional da Ação da Cidadania contra Fome, tendo à frente o Betinho de Souza, nos anos 90. Tivemos várias ações de combate à fome pela socie-dade civil. Enquanto uma política de Esta-do, o Presidente Lula inova quando coloca como seu desafio o direito das pessoas a Adriana Aranha, assessora Especial do Fome Zero.

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pelo menos três refeições ao dia. Fez isso não como uma promessa, mas como um chamado à nação para que todos os atores envolvidos – empresários, Estado, governa-dores, prefeitos e a sociedade civil – fizes-sem um pacto para que ninguém no país passasse fome. E ele fez a opção por um caminho sustentável para isso.

4 - Como isso ocorreu?Inicialmente, o Presidente Lula cria, den-tro do Estado, no primeiro ano de governo, um Ministério Extraordinário de Segu-rança Alimentar (mesa), que, em �004, é integrado ao Ministério do Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome (mds), que também unifica a assistência social e os programas de transferência de renda. O grande problema das pessoas que passam fome no nosso país é a falta de acesso ao alimento, uma vez que temos produção e disponibilidade de alimento. O primeiro limite para isso é a renda e para superá-lo está havendo transferência de renda, a fim de que as pessoas tenham acesso a uma alimentação de qualidade. Neste sentido, o Presidente ainda desonera a cesta básica para baratear essa alimentação. Também cria a Secretaria de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho, para a questão das alternativas de geração de renda no Brasil. E o Presidente vai fazer com que o Estado se movimente também nesta direção. Ou-tro ponto é a retomada do Consea – Con-selho Nacional de Segurança Alimentar –, que havia sido criado em 93 e extinto no governo seguinte, fazendo com que a dis-cussão e a parceria com a sociedade civil fossem retomadas. Paralelamente, estados e municípios foram estimulados a criar seus conselhos, sendo iniciada a discussão da construção de políticas públicas na área de segurança alimentar e nutricional com a participação popular.

5 - E quais avanços foram observados nes-te período?Houve uma melhoria da alimentação es-colar. Programas não aproveitados adequa-damente foram qualificados – um destes é o de transferência de renda, no qual houve uma unificação, a definição de uma meta clara, aumentando o recurso. A unificação da transferência de renda ocorreu para dar mais volume, integração e foco na família, ao invés de pensar as pessoas separadamen-te, momento em que a questão do direito à alimentação ficou forte. Não havia foco na

alimentação. Houve um aumento dos re-cursos da alimentação escolar em cerca de 40%, com diferenciação para comunidades indígenas e quilombolas. Crianças de 4 a 6 anos, que recebiam a metade do valor per capita, passaram a receber o mesmo que alunos do ensino fundamental. Isso é im-portante pois nessa fase uma boa alimen-tação é imprescindível, porque, depois, é irrecuperável. A criação do Programa de Aquisição de Alimentos (paa) foi inovado-ra, ao possibilitar a compra institucional de alimentos pelo governo – para hospitais, escolas – diretamente do agricultor fami-liar, propiciando o desenvolvimento regio-nal. Não só fortalece a agricultura familiar como assegura o direito dessas famílias se manterem no campo e, ao mesmo tempo, faz com que o produto vá para aqueles que estão mais precisando – garantia do direi-to à alimentação. Na questão do direito à água, que também é um alimento, o pro-grama de construção de cisternas aproveita a tecnologia da própria sociedade para ar-mazenar água de chuva em regiões de seca. Além disso, mais de 1 milhão de agriculto-res familiares passaram a ter acesso pela primeira vez a crédito do Programa Nacio-nal de Agricultura Familiar (pronaf). Vá-rios pequenos produtores não conseguiam ter acesso, sequer entravam no banco. Foi

criada a garantia-safra, a possibilidade de o agricultor pegar o recurso financiado e, se ele perder a safra por causa de chuva ou por estiagem, não vai ficar devendo. Há muito mais coisa, porque o Fome Zero integra 30 programas ou ações do governo.

6 – O Fome Zero pode ser acusado de ser assistencialista, em sua conotação pejora-tiva?Não. A alimentação é um direito. As pes-soas não podem passar fome. Se as pessoas não têm alimentação, você tem que garan-tir o acesso e, ao mesmo tempo, garantir que a realidade destas pessoas mude. E como você muda a realidade destas pesso-as? A saúde, a educação, e o trabalho – têm de estar sempre associados a um programa. O Presidente poderia muito bem ter distri-buído 11 milhões de cestas básicas no país e aparentemente estaria cumprindo seu compromisso, mas não estaria consolidan-do a questão do direito à alimentação. Sua opção foi então construir uma Política Na-cional de Segurança Alimentar e Nutricio-nal com a participação de toda sociedade, criar e consolidar uma rede de proteção e promoção social. É inclusão social e cida-dania. É isso que fez a diferença.

Horta Comunitária no bairro de Guaratiba na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

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reestrUtUração da abcO Decreto N.º 5.979, de 6 de dezembro de �006, que aprova a nova Estrutura Regi-mental do Ministério das Relações Exte-riores, promove modificações na estrutura organizacional da Agência Brasileira de Cooperação, que passa a adotar uma divi-são temática e não mais geográfica, o que permitirá um maior engajamento nos obje-tivos traçados pela política externa brasilei-ra no âmbito da cooperação sul-sul.

A partir de levantamento das atividades recentes da Agência, distinguiram-se onze principais áreas temáticas: agropecuária, energia / biocombustíveis, meio ambiente, saúde, desenvolvimento social, formação profissional/educação, gestão / administra-ção pública, tecnologia da informação / governança eletrônica, defesa civil, urba-nismo e transportes.

Este boletim é o segundo de uma série de publicações sobre a cooperação brasileira nas áreas temáticas atendidas pela ABC, após sua recente reestruturação.

cGpdCoordenação

Geral deCooperação

Técnica entrePaíses em

Desenvolvimento

cGrbCoordenação

Geral de Cooperação

Recebida Bilateral

cGrmCoordenação

Geral de Cooperação

Recebida Multilateral

cGtiCoordenação

Geral de Cooperação em Tecnologia da Informação,

Governança Eletrôni-ca, Defesa Civil,

Urbanismo e Transporte

cGma Coordenação

Geral de Cooperação

em Agropecuária, Energia,

Biocombustíveis e Meio-Ambiente

cGapCoordenação

Geral deAcompanhamento

de Projetos e dePlanejamento Administrativo

cGdsCoordenação

Geral de Cooperação em Saúde,

Desenvolvimento Social, Educação

e Formação Profissional

DIRETOR

Publicação da Agência Brasileira de CooperaçãoMinistério das Relações ExterioresEsplanada dos Ministérios, Bloco H, Anexo 1, 8º andar, CEP.: 70170-900 - Tel.: 061.3411 6881 - 3411 6889Editoria: ABC e Assessoria de Comunicação/MDSDesign: Paulo Lima / Estagiária: Gabriella CrivellenteFotos: MDS; Stock.xngeRevisão: Sueli Bisinoto

�0 publicação da agência brasileira de cooperação | julho 2007

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