vernant. tempo estóico, tempo dos homens

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    Vernant

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    ENTREMITO E POLTICA

    JEAN-PIERRE VERNANT

    TraduoCristinaMurachco

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    Copyright 1996 by ditions duSeuilI a edio 20012 a edio 2002

    Ttulo do original em francs:Entre mythe et politique

    Dados Internacionaisde Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira doLivro, SP, Brasil)

    Vernant, Jean-PierreEntre Mitoe Poltica / Jean-PierreVernant; traduo de Cristina

    Murachco. - 2. ed. - So Paulo: Editorada Universidade de So Paulo,2002.

    Ttulo original: Entremythe et politique.ISBN 85-314-0502-51 Civilizao grega2. Mitologia 3. Mitlogos - Frana 4 Poltica

    5. Religio I. Ttulo.98-1250 CDD-304.8

    ndice para catlogo sistemtico:1 Mitlogos : Biografia e obra 291.13092

    Direitos em lngua portuguesa reservados Edusp - Editora daUniversidade de So PauloA v. Prof. Luciano Gualberto, Travessa J, 3746o andar - Ed . da Antiga Reitoria - Cidade Universitria05508-900 - So Paulo - SP - Brasil - Fax (Oxxll) 3091-4151Tel. (Oxxll) 3091-4008 / 3091-4150www.usp.br/edusp - e-mail: [email protected] in Brazil 2002Fo i feito o depsito legal

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    46. TEMPO E S T I C O , TEMPO DOS HOMENS

    A ques to do tempo tratada pelos esticos como uma simples seo deum captulo da fsica. Na verdade, est no cern&de seu sistema. Com efeito, contraPlato e Aristteles, eles tm a ambio de reabilitar o sensvel, o ser no tempo.Esta valorizao implica uma reformulao total da ideia de tempo. O l ivro deVictor Goldschmidt, Le Systme stoicien et VIde de temps (OSistema Estico ea Ideia de Tempo) (1953), mostra como esta nova estrutura do tempo, em solidariedade com as teses mais importantes da lgica e da tica, comanda toda a organizao do pensamento estico e faz desvanecer sua aparncia paradoxal em certospontos. A demonst rao de V. Goldschmidt parecer convincente. Sua interpretao atribui filosofia estica, particularmente moral, uma coerncia , umaimportncia e uma atualidade notveis .O tempo dos esticos apreendido pela categoria exclusiva do presente -tempo da ao . Passado e futuro so desqualificados; no so reais; no so agidos. Representam a dimenso temporal da distncia, o intervalo sempre mantidoentre o agente e sua ao, entre o ato e o objetivo visado. assim que a passividade e a paixo so introduzidas no tempo. O presente , ao contrrio, a supress o de toda distncia temporal; no porque est fora do tempo como o instantede Aristteles; mas porque a ao, da qual , de certa forma, a espessura temporal, totalmente interior atividade do agente. Vivo um "presente" toda vez emque, deixando de correr atrs de um fim que me estranho, sou realmente causae fonte de meus atos. O presente a presena completa do agente em sua ao. Esem dvida, de certa forma, no haveria no mundo outro presente alm do pre-

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    ENTRE MITO E POLTICA

    sente de Deus, nico agente plenamente eficiente. Mas a moral estica, na perspectiva de sua anlise temporal, nos traz os meios para "agir" at mesmo emnossotempo humano, para viv-lo no modo do presente. Esse , por exemplo, o casodo sentido da t rans formao do acontecimento, imposto do exterior e sofrido,como uma provao que impomos a ns mesmos e durante a qual nossa ativida-de no visa a nada alm de seu prprio exerccio. A ruptura do estoicismo comas filosofias de Plato e de Aristteles ocorre ento em dois pontos essenciais:trata-se primeiro de atribuir a uma realidade temporal toda a consistncia da eternidade; em seguida, trata-se de libertar a causa eficiente, o agente, de sua dependncia com relao causa final ou formal. O estoicismo busca, por meio de umacerta estrutura do tempo, o lugar da atividade pura do agente.

    A l m de seu interesse para os historiadores da filosofia, as anl ises de V.Goldschmidt tocam problemas propriamente psicolgicos: as categorias do tempo e da ao . Ele mostra de forma muito penetrante os limites da ao em umPlato ou um Aristteles . Nesse sentido, o aspecto "dernirgico" no deve i ludir:na realidade, o agente no age, no deve agir, no pode agir. O estoicismo seapresentaria, em contraste, como uma filosofia da ao? Para dizer a verdade, noestamos convencidos disso. Entre Plato e Aristteles, de um lado, e os esticos,de outro, existe ao menos um ponto em comum. O agente s concebido comoverdadeiramente ativo quando no h distncia entre sua atividade e o produtodessa atividade. A tnica colocada no exerccio do ato, nao em seu resultado. Anoo de obra faz falta aqui, com tudo o que implica a nossos olhos como esforo de construo do futuro. Trata-se de saber se no existe nessa questo uma estrutura do tempo que exige, para aparecer, que o homem se sinta ativo na medidaem que transforma a realidade, em que fabricador e criador.

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