verdade em platão

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  • 11/08/2015 VerdadeemPlato

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    Verdade em Platooutubro 1, 2010 Filosofia Archai, Casertano, Filosofia, Filosofia Moral, Ideologia,Ocidente, Plato, Platonismo, Verdade

    Por Giovanni Casertano Fonte: Revista Archai

    fcil ceder a uma imagem de Plato queperpassa da Antiguidade at nossos dias,isto imagem de uma filosofia queestabelece claramente os limites e aoposio entre corpo e alma, entre sentidose razo, entre coisas e idias, entre opinio econhecimento.

    Entre verdadeiro e falso. Mas precisoresistir, tambm, alis sobretudo, porqueuma leitura direta, sem preconceitos, dapgina platnica, inserida a cada vez nocontexto especfico de cada um dos

    dilogos, jamais confirma tal imagem.

    At mesmo a verdade platnica no aquela que vive num hipottico mundo das idias, separado detodo possvel contato com o mundo concreto e real, assim como o amor platnico, o propsitoplatnico, e tudo aquilo que, ainda hoje, qualificamos com aquele adjetivo, com o explcito propsitode individu-lo em termos de pura superficialidade, como algo inconcluso e abstrato.

    Averdade platnica dizer respeito exatamente ao nosso mundo de incertezas, inquietudes, erros,fracassos, mas tambm ao nosso mundo de relativas certezas, expectativas, vontades de mudana;em uma palavra, ao nosso concreto viver num mundo real, nossa concreta atitude, nas multplicesperspectivas entre as quais a vivenciamos.

    Em geral, quando se pensa o conceito de verdade em Plato, se pensa a uma idia fortementemarcada em suas caractersticas semnticas, bem delimitada e clara em seus aspectos lgicos,gnosiolgicos e normativos, quando at no ontolgicos. Frente a ela, estaria, certamente de acordocom algumas referncias platnicas, a opinio: verdade vs. opinio de fato um dos rtulos fceisque se aplicam ao sentido, ou a um dos sentidos, das doutrinas platnicas.

    Mas como todos os rtulos fceis, mesmo quando indicam fielmente aquilo ao qual se referem,entretanto esta tambm no assegura toda a complexidade e articulao de uma idia; e, sobretudo,como todos os rtulos e todos os chaves, no d minimamente conta do processo de pensamentoatravs do qual aquela idia foi se formando e se constituindo. Naturalmente, verdade vs. opinio um sentido da filosofia platnica, especialmente em seu constituir-se, e em seu apresentar-se, emoposio s doutrinas dos sofistas, e de maneira especial quelas de Protgoras e Grgias; mas seexaminarmos o processo, e no o rtulo, veramos imediatamente que as coisas no so to simplesassim.

    De fato, toda a filosofia platnica, ao longo dos cerca de quarenta anos em que foi se articulando nos

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    dilogos, pode ser considerada, de forma bastante legtima, como a tentativa de construir umamargem, de um lado contra uma tradio antiga que se apresentava com as caractersticas dasacralidade, da sapiencialidade, da revelao; do outro lado, e principalmente, contra os resultados,teorticos e polticos, do relativismo da cultura sofstica.

    notadamente sobre este segundo lado que Plato paga um preo muito alto: contrapor umaobjetividade relatividade, uma verdade s opinies, demonstra-se, para um Plato que, todavia, jhavia muito bem assimilado, mesmo via Scrates, a cultura sofstica, uma tarefa nada fcil, e nadabvia em seus resultados. E isso fica evidente mesmo com relao ao problema da verdade: seacompanharmos atentamente, atravs de todos dos dilogos, a construo desta idia, nos daremoslogo conta que a verdade platnica apresenta uma srie de nuances, de valores, de sentidos, quedificilmente podero ser compreendidos pelo rtulo do qual falvamos.

    Plano da disciplinaPretende-se desenvolver a idia da verdade em todos os dilogos de Plato.Nestes, em primeiro lugar, parece jamais aparecer uma verdadeira e prpria definio que diga oque a verdade. Se uma das caractersticas da filosofia platnica, em seu enlaamento, explicita edramaticamente representado, com aquela socrtica , exatamente aquela de procurar e individuaro que cada coisa e cada idia, poderia parecer estranho no encontrar nunca uma definio deverdade.

    Mesmo assim, se refletirmos a fundo sobre o texto platnico, este fato no estranho. Pois, emsegundo lugar, descobrimos que estamos sempre confrontados no com a verdade, mas com umasrie de verdades que se apresentam no interior do contexto vivo do dialogar platnico. Ou, melhor:estamos na frente de uma complexidade de caractersticas diferentes que conotam a noo, ouidia, de verdade. Que, portanto, se apresenta de forma diferente dependendo do anguloprospectivo a partir do qual olhamos para ela.

    Teremos assim uma verdade lgica ou gnosiolgica, que se apresenta no discurso verdadeiro, estesim definido por Plato, pois o discurso, quando conduzido por um mtodo rigoroso (e o mtodocorreto , com Parmnides, uma verdade), e no o mito, nem a intuio supra-racional, o nicoinstrumento que o homem possui para procurar a verdade. Teremos assim uma srie decaractersticas da verdade, entre elas sua necessidade lgica, sua irrefutabilidade, suauniversalidade, at mesmo seu incmodo, que a enquadram, mas somente do ponto de vistaformal, em jamais nos dizer o que ela seja. E teremos finalmente sua caracterstica principal e maisimportante, isto aquela de se contrapor falsidade.

    a. Dimenso social e poltica da verdadeMas aqui o discurso platnico fica complicado. Pois, se de um ponto de vista lgico, existe, e nopode no existir, uma ntida contraposio entre verdadeiro e falso, esta contraposio parece logoem seguida esfumar at perder seus contornos. Isso acontece quando a verdade se relaciona com autilidade: ento, at a mentira pode ser nobre, til; e mentir uma mentira, conforme a belssimaexpresso das Leis, exatamente a mesma coisa que dizer a mais pura das verdades. Pois, e fundamental lembr-lo, quando Plato fala da utilidade da verdade (e portanto da mentira), no serefere nunca ao particular de cada homem, humilde ou poderoso que seja, mas a um bem-estar detodos os homens, da sociedade humana em sua integralidade.

    A utilidade de verdade possui, de fato, ambas as dimenses, a privada e a pblica: de um lado ela conexa vida boa e se manifesta nela: aquilo que permite viver uma vida boa e sem maldade. Poroutro lado, o til do qual a filosofia e a cincia devem manter distncia aquele imediato das

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    comodidades da vida, da busca dos prazeres, da dominao sobre os outros homens (o til dossofistas, segundo Plato). Deste til a filosofia extremamente distante: como busca da verdade, elano possui uma utilidade imediata. Mas isto no significa uma abstrata primazia da razo pura, areivindicao de uma vida puramente teortica qual acaba por ser indiferente a concreteza dassituaes em que o homem vive ; ao contrrio, se existe primazia da razo pura, exatamente aquelade uma razo que fez da busca e do amor pela verdade o indispensvel pressuposto da prpriaconduo de uma vida boa.

    Existe, entre outros dilogos, tambm a mensagem final do Filebo: se a caracterstica maisimportante do homem aquela de intervir sobre o mundo em que vive, gerando novos fatos esituaes, manipulando, mesclando os dados que lhe so oferecidos, fundamental que ele saibaque aquilo com qual no misturaremos a verdade, no poder jamais gerar a si mesmo nem serverdadeiramente gerado.

    Dimenso social, portanto, ou poltica, da verdade: mesmo em sua relao com a justia, a verdadeaparece com uma srie de nuances dificilmente resumveis numa nica formula. Mesmo porque estligada a uma das maiores afirmaes aparentemente paradoxais de Plato, isto que o homem justoe verdadeiro sempre feliz, e o homem injusto e falso sempre infeliz. Paradoxal pois contrriaquela que , de Plato at hoje, a opinio mais amplamente compartilhada, e no somente entre asmassas; aparentemente paradoxal, pois seu valor revolucionrio reside exatamente em no ser aobservao rasa daquilo que acontece, e sim a reivindicao de uma seriedade e de uma vida outrascom relao s tragdias do cotidiano.

    b. Dimenso tica da verdadeE, portanto, sentido lgico, sentido poltico, e sentido tico da verdade. Aquele mesmo sentido que,se de um lado podia ser identificado, pelo homem que vive na verdade, como conduzir com justia aprpria vida, nos apresentado por Plato em toda a sua complexidade, e tragicidade, no concretoviver dos homens. Pois se existe um pensador antimetafsico, alheio ao abstrato palavreado e aosterrveis antolhos constitudos pelas fceis e cmodas generalizaes, atento sempre dualidadeineliminvel que caracteriza o homem, feito de mente e corpo, inseparveis, este exatamentePlato.

    Abre-se aqui todo aquele campo complicado constitudo pelas relaes entre a verdade e as opiniese paixes do homem. Com uma sria refinadssima de reflexes, Plato nos conduz a indagar, nadiversidade dos contextos dialgicos pelos quais ele constri sua filosofia, as sutis diferenas queexistem entre crer a uma verdade, estar convencido de uma verdade, e saber uma verdade, conheceruma verdade; isto , entre a dimenso psicolgica e a dimenso gnosiolgica da posse da verdade. E,portanto, sobre a diferena entre opinio (mesmo quando ela , ou parecer ser, verdadeira) e oconhecimento. E, portanto, sobre a dificlima relao que se estabelece entre a verdade queproclamamos e as nossas paixes, os nossos sentimentos, as nossas expectativas. Sobre estasbaseamos tambm, quando estamos de posse delas, as capacidades de persuadir os outros:persuaso-verdade de fato uma relao muito delicada, e que pode assumir a cada vez,dependendo da maneira e da finalidade com que a utilizamos, repercusses negativas ourepercusses positivas.

    c. Dimenso dialtica da verdadeExiste, enfim, o aspecto discursivo, dialtico, da verdade. Esta habita, de fato, s e exclusivamente,nos discursos que a anunciam; e mesmo quando, para fins retricos ou didasclicos, Plato fala deuma verdade dos fatos, das coisas, em si mesmas para contrap-las a uma verdade somenteaparente, como aquela que feita brilhar nas palavras dos charlates, magos ou simplesmente

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    malandros, o discurso permanece o nico palco sobre o qual representada a vida da verdade. Odiscurso, isto o dilogo: em que as opinies se enfrentam, se refutam, mas podem encontrartambm alguns pontos de convergncia, podem modificar-se, melhorar-se. A condio que, porm, e um fato que Plato no deixa de sublinhar com fora, o discurso e o dilogo se desenvolvam entrehomens que sinceramente amem a verdade, tendam a ela, e no cometam injustia em seusdiscursos, como quer uma outra belssima expresso platnica.

    Mas, de fato, e mais profundamente, no estranho no encontrar uma definio da verdade emPlato, como lembrvamos no comeo. Pois a verdade, como se diz repetidas vezes nos dilogos, uma questo de deuses, e no de homens. Pertence aos deuses e aos sbios. E os homens, aps asgrandes e um pouco mticas figuras dos antigos, j tais para Plato, a esta altura no podem mais sersbios. Mas podem se tornar filsofos, figuras certamente mais modestas do que os deuses e ossbios, mas com algo a mais: o amor pela sabedoria e a verdade, que, quando conquistas suasalmas, para diz-lo com o Alcebades do Simpsio, as golpeia e agarra com mordidas mais selvagensdo que aquelas de uma vbora.

    E o amor pela sabedoria e pela verdade deve constituir sempre a paixo dominante dos homensfilsofos: dizer que a verdade possuda somente pelos deuses e no pelos homens no significarenunciar verdade; ao contrrio, compromete o homem que a escolhe como horizonte de sua vidaa persegui-la sempre, a conquist-la. Pois possvel alcan-la; mas preciso estar sempreconscientes de que, uma vez alcanada, ela no deve ser tornar calma satisfao, orgulho vazio,presuno de sabedoria, e sim, sempre, estmulo para melhor-la, para aperfeio-la, para ampli-la,at mesmo para mud-la, no constante dilogo com os aqueles outros homens que esto dispostos abusc-la, a encontr-la, a viv-la.

    ***

    Texto foi extrado do Programa de Ps-Graduao em Filosofia, com o apio da Escola de AltosEstudos da CAPES anuncia o oferecimento, para o primeiro semestre de 2008, da disciplinaSeminrios de Histria da Filosofia Antiga: a Verdade em Plato. A disciplina, sob aresponsabilidade do Prof. Gabriele Cornelli (FIL), ser ministrada em parceria com o Prof. GiovanniCasertano (Universit degli Studi Federico II di Napoli, Itlia). Haver a possibilidade de matrculatambm para alunos de graduao, na disciplina Mito e Filosofia (cd.137987), oferecida pelo Cursode Graduao em Filosofia.

    Site da Revista Archai: as origens do pensamento ocidental

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  • 11/08/2015 VerdadeemPlato

    http://www.franciscorazzo.com/2010/10/01/verdadeemplatao/ 5/5

    Osprimrdiosdoserrosfilosficoseoexcessodecertezascientficasparteprimeira3comentrios2anosatrs

    franciscorazzoPorqueeuquis.

    Acompetentehumildadedasmulhereseailimitadaperversidadedasvadias2comentrios2anosatrs

    TiagoC"Nemqueropensarnaconsequncialgicadeummundoondejsecomeaqueimandoaspessoas."Estecomentriomefeztremeranteas

    PreparandoauladeFilosofia1:critriosparaumaboadefinio1comentrio3anosatrs

    RuanGuilhermeOproblemadafilosofiaqueelapressupeumadefinio.Ningumcontestaquefilosofiaimplicamaisoamorpelasabedoriadoque

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