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VEJA NESTE NUMERO: DIOXINA A BRANCA QUE MATA 13 GRUPO DOS SETE 17 PIB: QUESTÃO DE OPINIÃO 20 FORÇAS ARMADAS 25

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VEJA NESTE NUMERO:

• DIOXINA A BRANCA QUE MATA 13

• GRUPO DOS SETE 17

• PIB: QUESTÃO DE OPINIÃO 20

• FORÇAS ARMADAS 25

Page 2: VEJA NESTE NUMERO: • DIOXINA A BRANCA QUE MATA 13 · Quinzena mais rápido possível, uma revisão nos padrões dessa relação. Aqui, a empresa terá que evitar os impulsos e conceitos

Quinzena

Tendências do Trabalho - Junho 1991

A FUNÇÃO DA COMUNICAÇÃO CORRETA

E DO PROFISSIONAL DE RH

ENTRE '0 NOVO' EMPREGADO E A EMPRESA

Perdidos na selva, um americano e um japonês assustaram-se ao ver aproximar-se um enorme urso. Rapidamente o japonês inicia um processo de aquecimento muscular, enquanto se livra das roupas mais pesadas. Per- plexo, o americano dirige-se ao japonês:

— Meu caro, se você acha que vai conseguir correr mais que o urso, de- sista.

Na milenar calma oriental, o japonês devolve a observação: — Desculpe, mas não pretendo correr mais que o urso. Terei, sim, que

correr mais que Q senhor! Usada para ilustrar a disputa mercadológica travada entre as duas po-

tências econômicas — Japão e Estados Unidos — a anedota acima bem pode- ria retratar a batalha empreendida entre as empresas e os sindicatos, quan- do nos referimos ao aspecto da comunicação.

Marcelo Freitas Se colocarmos a classe trabalhado-

ra no papel do urso, veremos que aquele que se sair melhor na corrida não sofrerá o risco de ser devorado primeiro. E sob esse prisma, os sindi- catos têm levado uma grande vanta- gem.

Com enorme habilidade, têm con- seguido transformar a empresa no vi- lão da estória. Definindo com maior precisão as características de seu pií- blico-alvo — os trabalhadores — os sin- dicatos têm procurado usar todos os meios de comunicação disponíveis pa- ra chegar até ele.

Utilizando uma linguagem direta, os panfletos têm-se mostrado a grande arma nessa guerra. Num tom de afronta aos patrões, as mensagens re- fletem precisamente os sentimentos represados no íntimo de cada empre- gado. E é exatamente aí, no subcons- ciente de cada funcionário, que a ba- talha está sendo travada.

A quase totalidade das empresas, porém, ainda não se deu conta disso.

Utilizando métodos arcaicos de comunicação com seus funcionários, fornecem todas as oportunidades de que necessitam os sindicatos para ga- nhar espaço.

Ou seja, as empresas são as princi- pais responsáveis pelos avanços de comunicação alcançados pelos mes- mos.

Informações truncadas, falta de

transparência, obstrução dos canais internos de comunicação, despreparo das gerências e chefias no trato com seus subordinados e o pouco envolvi- mento dos funcionários nos processos decisórios são apenas alguns dos muitos flancos das empresas desco- bertos e atacados pelos sindicatos.

Mas, afinal, existe um caminho pa- ra a retomada do terreno perdido?

"VENDENDO" A EMPRESA PARA OS FUNCIONÁRIOS

Para que haja uma inversão no pro- cesso atual, é fundamental que os res- ponsáveis pela gestão dos recursos humanos utilizem o mais possível os conceitos do "endomarketing". Par- tindo-se da premissa de que é no sub- consciente que se dá a contenda, ga- nhará aquele que melhor souber se posicionar na mente do funcionário. É o chamado POSITIONING (Ries, Al e Trout, Jack).

Cabe à empresa, para tanto, conhe- cer de forma concreta quem é o seu empregado.

Para começar, um banco de dados é fundamental: faixa etária média, esta- do civil predominante, hábitos e cos- tumes, renda familiar, transporte, ali- mentação e grau de instrução são pontos indispensáveis nesse levanta- mento.

Em seguida, é importante conhecer quais valores falam mais de perto a

ASSINATURAS: Individual Entidades sindicais e outros... Exterior (via aérea)

~- Cf$ 3.600 (6 meses) e Cr$ 7.200 (12 meses) Cf$ 4.200 (6 meses) e Cr$ 8.400 (12 meses)

-, —~~___^^__^_^,^__. US$ 30,00 (6 meses) e US$ 60,00 (12 meses) O pagamento deverá ser feito em nome do CPV - Centro de Documentaçáo e Pesquisa Vergueiro em Che- que nominal cruzado, ou vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO IPIRANGA - CEP -04299 - Código da Agência 401901

QUINZENA - Publicação do CPV - Caixa Postal 42,761 - CEP 04299- São Paulo-SP Fone(011)571-7726

esse público. Sabedor, então, do perfil-padrão

dos seus funcionários, o órgão res- ponsável pelos recursos humanos na empresa deve definir, de forma con- sistente, como levar a eles os princí- pios e crenças da organização.

Nesse aspecto, a empresa não deve vacilar em utilizar-se das mesmas ar- mas dos sindicatos. A panfletagem deve, aqui, ser largamente empregada, pois, é indiscutível seu poder de al- cance.

Alguns cuidados merecem ser ob- servados, entretanto, na utilização desse instrumento de comunicação.

Uma linguagem, a mais coloquial possível, sem expressões rebuscadas é o primeiro passo a ser dado. Não é crime, também, semear algumas gfrias de uso comum ao leitor.

A propósito, lançar mão do humor e de desenhos ilustrativos é compro- vadamente uma estratégia eficaz. Na- turalmente, esses ingredientes devem conter a dose certa, o que se alcança com a prática ou uma boa assessoria de comunicação.

Um fator, porém, é preponderante: a mensagem tem de possuir uma total transparência de objetivos.

A idéia de que o empregado não percebe o que está por trás do que lhe é dito, é produto das administra- ções paternalistas vigentes e uma prática suicida.

Na divulgação da notícia, seja ela boa ou ruim, é necessário que a em- presa seja a primeira a fazê-la. É mais difícil derrubar uma informação do que plantá-la na mente do funcionário.

Além disso, a empresa leva uma grande vantagem sobre o sindicato por ser ela própria, na maioria das vezes, a geradora dessa notícia e, portanto, possuir a informação antes do sindi- cato.

A notícia em primeira mão desarma interpretações equivocadas e não per- mite a formação de boatos.

Não obstante, em que pese toda a disposição da empresa em se comuni- car, haverá sempre o velho antago- nismo entre patrões e empregados, tão propalado e pedra-de-toque do sindi- cato.

MUDANDO O ENFOQUE CAPITAL X TRABALHO

E necessário, então, promover, o

A QUINZENA dirolga as questões políticas de fundo em debate no oiovimento, contado colo- ca algumas condições para tanto. Publicamos os textos que contenham teses e argnmeata- çõe» estritamente políticas, réplicas que este- jam no mesmo nível de lingoagcm e compa- nheirismo, evitando-se os ataques pessoais. Nos reservamos o direito de divulgarmos ape- nas as parles significativas dos textos, seja por imposição de espaço, seja por solnção de reda- ção.

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Quinzena

mais rápido possível, uma revisão nos padrões dessa relação.

Aqui, a empresa terá que evitar os impulsos e conceitos paternalistas já arraigados, onde a cúpula decide pe- los íuncionários.

A classe trabalhadora tem, hoje, um enorme potencial de contribuição a dar às organizações, bastando para is- so uma abertura que promova sua participação efetiva a nível de suges- tões e decisões.

A boa comunicação entre a empre- sa e seus colaboradores deve passar por aí.

E necessário que a "empresa" en- tenda que ela não existe por si só na mesma medida em que os empregados percebam que eles são a empresa. Somente eles têm o poder de fazê-la crescer.

Nesse ponto é que Recursos Hu- manos deve exercer um papel prag- mático e pedagógico.

Através de uma comunicação maci-

Trabaíhadores

A Classe Operária, 19/07/91

ANTIGO

1. O patrão é quem paga o emprega- do.

2. O lucro é produto do capital.

3. Salário fixo, independente do de- sempenho.

4. Responsabilidade pelo negócio é do empresário.

ça, precisa proporcionar um ambiente onde frutifiquem novos conceitos, como os apresentados no quadro.

Ter o cliente como patrão obriga todos a se comprometer com a quali- dade do produto final.

Quando se consegue o engajamento do funcionário para o alcance dos objetivos da organização, a comunica- ção flui mais fácil e os flancos, antes vulneráveis, tomam difícil o assédio dos sindicatos.

Através dessa atitude sadia da em-

NOVO

1. O empregado é remunerado pelo cliente.

2. O lucro é resultado da produtivida- de.

3. Salário variável, proporcionai ao desempenho.

4. Responsabilidade compartilhada por todos.

presa, ela estará melhor posicionada na mente dos seus colaboradores, o que a torna menos sujeita a greves e manifestações de insatisfação.

Encarando dessa forma, as organi- zações poderão travar novas relações de parceria com seus colaboradores, afinando objetivos e compatibiiizan- do-os com as aspirações de cada um em particular. •

Marcelo Freitas, administrador, pós-graduado pela Fundação Joáo Pinheiro

Nova correlação de forças na CUT Já estão sendo cumpridas as últimas

fases de preparação do IV Congresso Na- cional da Central Única dos Trabalhadores (IV Concut), marcado para os dias 4 a 8 de setembro. Após os nove congressos esta- duais realizados até o final desta semana a posição das tendências que atuam na central ficou mais nítida, segundo avalia- ção ae Nivaldo Santana, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Sabesp e Cefesb e coordenador da Corrente Sindi- cal Classista (CSC).

Os encontros estaduais, onde foram eleitos os delegados ao IV Concut, "evi- denciaram a força da corrente classista, registrando seu avanço", diz Nivaldo. "A CSC firmou-se como corrente própria, de- fendeu suas idéias de uma forma unificada e muitas vezes foi um fator de polariza- ção", constatou.

Correlação de forças

Até agora a corrente conta com 16% dos delegados eleitos para o Concut e tu- do indica que ficará "com mais de 15% dos delegados no cômputo final". Isto mostra que a CSC aumentou em cerca de 20% a abrangência sindical da CUT, fato que re- fletiu igualmente numa redução da força proporcional das outras correntes dentro da central, conforme salienta Nivaldo Santana.

"É quase certo", assegura, "que se ve- rificará uma diminuição da influência da Ar- ticulação e da 'CUT pela base', enquanto os outros grupos da CUT permanecerão •'

mais ou menos do mesmo tamanho." E ele julga que tal alteração na correlação de forças dentro da central é muito positiva. "Certamente não teremos uma maioria fol- gada de uma única tendência como acon- teceu no III Concut; isto forçará uma de- mocratização maior das decisões e da própria entidade", comenta.

"Teremos maior equilíbrio entre as for- ças, diferentemente do congresso ante- rior", arremata. O coordenador da CSC acredita que o congresso "será muito po- lêmico, devendo haver grandes debates em tomo de temas centrais da conjuntura do pafe e do mundo".

Polêmicas

Nivaldo revela que delineia-se uma ten- dência à formação "de dois blocos funda- mentais no encontro nacional da CUT, um deles com idéias de conciliação e outro mais combativo, especialmente no que diz respeito à posição diante do governo Col- lor. Neste caso, há quem acredite em pacto social, conciliação, entendimento nacional e coisas do gênero. A corrente é pela oposição conseqüente e decidida, combatendo idéias do entendimento entre trabalhadores e governo", adianta.

Porém, ele deduz que não se pode, de antemão, identificar tais blocos com as correntes que atuam na CUT. *É patente que na Articulação aparecem com mais freqüência as tendências conciliatórias, mas atuam nela também setores combati- vos que não devem ser desconsiderados",

ressalvou. Tende a tomar corpo, e dividir opiniões

no congresso, por exemplo, a tese de filia- ção da CUT a uma central de âmbito inter- nacional, no caso a Ciosl {Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres, dirigida pela social-democracia eu- ropéia). "É bem possível que esta questão seja debatida Nós entendemos que a CUT pode se transformar num pólo de unidade e luta internacional, mas de forma inde- pendente, não se sujeitando a nenhuma orientação de central mundial. Somos contra a filiação à Ciosl, que atrelará a CUT a uma política social-democrata para o movimento sindical brasileiro."

A tendência à conciliação com o gover- no Collor, traduzida em propostas de pacto e entendimento social, também pode se manifestar, mas dificilmente refletirá a dis- posição dos congressistas, na avaliação de Nivaldo Santana. Ele chama a atenção de sua corrente, a CSC, para a necessi- dade de concentrar esforços "neste mo- mento na tirada de delegados estaduais ao congresso nacional da CUT. Precisamos chegar lá com uma bancada forte". Acres- centa que "depois dessa etapa pensare- mos numa estratégia mais detalhada da CSC ao IV Concut".

Manobras antidemocráticas

nos congressos estaduais

O IV Concut registrará uma evolução positiva oa CUT em aiguns aspectos da democracia sindical, inclusive em relação

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às normas de participação das chamadas "oposições" em encontros regionais, esta- duais e nacional. Entretanto, reveiam-se também deficiências e retrocessos, a co- meçar pelos critérios de escolha dos dele- gados. Com as atuais características, "a reunião pode ser do tipo em que as cartas estejam previamente marcadas", como disse o coordenador da CSC, Nivaldo Santana.

"A eleição de delegados ao Concut nos congressos estaduais", opina, "cria um processo um tanto quanto viciado e sem dúvida tira o caráter de massas do encon- tro, transformando-o numa disputa de cor- rentes, uma vez que frenqüentemente im- pede a tirada de delegados independentes e de representantes das entidades de ba- se, que ficou praticamente impossível.

Concretamente, neste IV Congresso tere- mos a ausência de alguns dos mais ex- pressivos sindicatos filiados à CUT, em função desses critérios."

Observou também, que se fez sentir na preparação do IV Concut "uma grande discriminação de caráter ideológico. A Cor- rente Sindical Classista foi vitima de injus- tiças em vários Estados", argumenta. E cita exemplos: "No caso da Bahia, 11 enti- dades filiadas à CSC foram impugnadas sem nenhuma razão plausível; quatro enti- dades sindicais de Sergipe sofreram o mesmo tipo de discriminação; no Mara- nhão a CSC teve 9,5% dos votos no Con- gresso estadual, não conseguindo eleger representantes ao Concut inclusive porque uma de suas entidades filiadas, também li- gada à CUT, não teve seus delegados re-

conhecidos e, conseqüentemente, até o Sindicato dos Metalúrgicos de São Luis, o maior do Estado, ficará sem representante ao congresso nacional; em Alagoas, todos os delegados do Sindicato dos Professo- res, o sindicato de maior base no Estado, teve art)rtrariamente os seus 64 delegados caçados pela direção alagoana da CUT por pretextos reconhecidamente falsos, uma vez que na eleição dos delegados, realizada durante um congresso da entida- de, até mesmo o presidente estadual da CUT esteve presente e reconheceu expli- citamente o fórum. Fomos vítimas de ma- nobras e espertezas que não coadunam com o espírito democrático e pluralista da CUT. Apesar disto, a CSC trabalhará pela unidade da CUT." •

Convergência Socialista, 10 de julho

NO PARÁ, FRAUDE QUASE MELA CONGRESSO NilzaRuth

Em meio ao mal estar provocado pela existência de frau- de, realizou-se no ultimo final de semana, em Belém, o Congresso estadual da CUT do Pará.

As suspeitas de fraude começaram há um mês atrás, quando da divulgação, pela CUT estadual, de uma listagem com os sindicatos e seus respectivos sócios quites até março desse ano. Nesta ocasião, foi solicitado à CUT Nacional, através de um documento assinado pela Convergência So- cialista,CLT pela Base e Força Socialista, uma averiguação dos dados suspeitos.

Dias mais tarde, a Executiva Estadual da CUT informava que realmente a lista estava "errada". Fez então a publica- ção de uma nova lista, a 15 dias do Congresso. Aquilo que ela considerava um erro era, no mínimo, escandoloso.

O Sindicato Rural de Bragança, por exemplo, constava na primeira lista com 30 mil filiados quites, e, na segunda, aparecia com 13.365 sócios. Outro exemplo é o do Sindi-

Exemplos de uma fraude escandalosa

Estes são 5 dos 22 sindicatos rurais paraenses sob suspeita:

Sindicato Rural

2- lista apresentada pela executiva de

CUT-Pará

Número declarado à comissão de averiguação

pelos sindicatos

Cametá 3.200 filiados 2.321 filiados

Altamira 9.476 filiados 600 filiados

Santarém 5.236 filiados 321 filiados

Óbidos 6.862 filiados 1.894 filiados

Almerim 4.000 filiados 643 filiados

cato Rural de Moju: na primeira lista aparecia o dado de 20 mil trabalhadores na base do sindicato, enquanto a popula- ção economicamente ativa da cidade é de 21 mil (dado do Idesp).

Diante desses fatos, na plenária de abertura do Congres- so, no sábado 29, as correntes presentes, à exceção da Arti- culação, se posicionaram pelo adiamento do início dos tra- balhos até esclarecer as suspeitas de fraude. Foi então for- mada uma comissão, composta por dois membros da Execu- tiva Nacional da CUT — Avelino Ganzer e Durval de Car- valho - mais um representante de cada tese inscrita ao Con- gresso.

Esta comissão, após levantamento, colocou sob suspeita 22 sindicatos. A partir daí, foi suspensa a plenária para que os sindicatos, chamados um a um pela comissão, declaras- sem o seu real número de filiados (confira no quadro

A Executiva Estadual, apesar desse escândalo, rejeitou por sete votos a dois a proposta feita pela frente anti-fraude, que previa o credenciamento de uma média de quatro dele- gados para cada sindicato sob suspeita. Aprovou a proposta da Articulação, de que se garantisse o mímero proporcional à declaração feita à comissão. ^^

Resultado do Congresso da Cut-Pará

Chapas Forças Votos

(%) Delegados

ao CONCUT

Convergência Socialista

CUT pela Base

Força Socialista

Corrente Sindical Classista

138 votos

34% 19

Articulação

2 Vertente Socialista

Nova Esquerda

269 votos 66%

38

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Quinzena

Apesar de discordar dessa resolução, as correntes CUT pela Base, Convergência. Força Socialista e a Corrente Sindical Classista decidiram reconhecer e participar do Congresso. Afinal, ainda que possa ter restado algo em tor- no de 6% de delegados fraudados, o pior havia sido evitado

Mantivemos a unidade da central e vamos lutar nesse

Trabalhadores

r

congresso e no 4o- Concut, não só contra esta fraude como também contra esse tipo de método estranho à prática e tradição cutista", disse a companheira da CS Cacilda Pinto dmgente do judiciário e depois eleita para a Executiva Es-' tadual.

Causa Operária, 11/07/91

Os métodos do PC do B

Em assembléia realizada no dia 12/6 a ADUEPB Sindicato dos Do- centes da Universidade Estadual da Paraíba dirigida pela Corrente Sindi- cai Classista (PC do B), teve uma postura oportunista, anti-democrática e autoritária, que deve ser renegada e denunciada entre os professores e no TV CECUT a ser realizado nos dias 27 e 28 de julho, em João Pessoa.

Ao inciar a assembléia sem a pre- sença das outras forças políticas, pois os mesmos se encontravam no prédio discutindo propostas a serem apre- sentadas na assembléia, a diretoria da entidade oportunisticamente propôs, de imediato, a alteração da ordem de pauta, isto é, passando para o primeiro o último ponto da pauta, que se referia à tirada de delegados ao IV CECUT. Numa operação de "vapt-vupt" a di- retoria fez aprovar na assembléia que ela seria quem indicaria os delegados e a tese 1, da Corrente Sindical Clas- sita, deveria ser defendida no Con- gresso Estadual.

Sob a pressão da CUT, que não credenciaria os referidos delegados, a ADUEPB foi obrigada a convocar nova assembléia, que, entretanto, ocorreu durante a semana de recesso escolar e sem divulgação necessária. Como se não bastasse, o presidente da entidade. Júnior Rangel, propôs e de- fendeu que a indicação dos delegados fosse por majoritariedade.

A escolha dos delegados e suas respectivas teses para o CECUT e posteriormente ao IV CONCUT, deve ser precedida da mais ampla discussão e esclarecimento das bases sindicais, de forma aberta, democrática e garan- tindo a proporcionalidade como forma de assegurar a participação represen- tativa de todas as forças políticas que militam e constróem o movimento sin- dical.

Os ativistas e dirigentes classistas da CUT devem se mobilizar, na Pa- raíba e em todo País, para varrer tais práticas contrárias à democracia ope- rária de nossa central. •

Folha de Sáo Paulo, 17/07/91

Não fechar a Ford

interesse do país

VICENTE PAULO DA SILVA

Recentemente, de modo oficial, nosso sindicato foi comunicado que, a partir do ano que vem, a Ford Indústria e Comérico (FIC), divisão de motores, que não faz parte da estrutura da Autolatina, desativa- ria suas operações no Brasil. A divisão de motores, situada em Sáo Bernardo do Campo, emprega cerca de 900 trabalhado- res.

Este artigo, além de levantar os efeitos sociais dessa decisão, apontará outros elementos que ultrapassam os interesses exclusivos dos trabalhadores da Ford Motores e de seus dependentes. Preten- demos, de um lado, mostrar que não só os trabalhadores serão prejudicados, mas to- da a economia nacional. No caso específi- co do fechamento da Ford Motores, referi- mo-nos à redução no volume de exporta- ções nacionais que tal medida ocasionaria, e sobretudo ao exemplo negativo que ela daria para outras matrizes de multinacio- nais com subsidiárias no Brasil. De outro, objetivamos indicar que há saídas ainda em tempo de serem adotadas.

A Ford Motores alega que a desativa- ção da produção se deveria à falta de competitividade do produto, especialmente face ao suposto anúncio de maiores exi- gências norte-americanas quanto ao con- trole de emissão de poluentes. Este novo padrão é referido ora a 1993, ora a 1994. A Ford Motores exporta cerca de 40 mil mo- tores ao ano, que propiciam um fatura- mento anual aproximado de US$ 200 mi- lhões. Essa produção, dirigida especial- mente à fábrica da Ford Motores em Ken- tucky, passaria a ser suprida pela Cum- mins, norte-americana, tradicional fabri- cante do setor, e da qual a Ford Motor Co. (a matriz) possui, desde 1990, 10% das ações.

Posto isso, avaliemos. Em primeiro lu- gar, é pouco provável que a Ford Motores esteja explicitando todos os reais motivos para sair do país. A empresa não pode alegar que não soubesse já de há muito tempo que as exigências ambientais fos- sem crescentes. Desde os meados da dé- cada passada, as matrizes da Ford e da

GM vinham sofrendo pressões e ameaças de multas dos EUA, em razão de proble- mas nos seus produtos quanto à proteção ao meio ambiente. Além disso, sabe-se que, também nos países desenvolvidos, a adoção de novos padrões de controle am- biental se dá considerando-se prazos ra- zoáveis para necessária atualização tec- nológica.

Nesse sentido, uma série de alternati- vas parecem se constituir em soluções pa- ra a modernização do produto e do pro- cesso produtivo da empresa, como mos- tram as iniciativas de outros fabricantes, inclusive no Brasil. Já se fala até de um motor multicombustível, funcionando à ba- se de diesel e também de óleos naturais. De qualquer forma, mesmo que a Ford Motores necessitasse acelerar cronogra- ma de aplicação de recursos, parece evi- dente que o volume de investimentos exi- gidos seria compatível com o retorno que as exportações já vêm propiciando. E ha- veria até 1993/1994 tempo disponível para readequar tecnologicamente a fábrica. Aliás, técnicos que trabalham na empresa já diagnosticaram essa possibilidade.

Vale notar ainda que a mesma fábrica teria condições de competir no mercado nacional, fornecendo motores para os pro- dutos vendidos no país e outros mercados nacionais com um nível menor de exigên- cia. E verdade que tal decisão tomar-se-ia ainda mais possível se o governo brasileiro optasse por estimular o retomo do cresci- mento do setor automotivo, e de resto de toda economia nacional.

Discutir formas para o não fechamento da Ford Motores deveria ser do interesse do próprio governo e demais setores em- presariais. Os US$ 200 milhões que deixa- riam âe ser gerados parecem pequenos, se considerados os US$ 30 bilhões que o Brasil poderá exportar este ano. Mas pos- sam a ser significativos, quando conside- rado apenas o item autopeças, que, em 1990, atingiu por volta de US$ 2 bi. Este prejuízo ao país junta-se ao efeito de- monstração que a atitude da Ford Motores pode provocar entre outras empresas.

Também não pode ser desprezada a

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Quinzena ® Trabalhadores

eliminação de mercado que o fechamento da Ford Motores representará para os de- mais fabricantes da cadeia produtiva de motores, afetando todo o faturamento do setor.

Por fim, e principalmente, há o impacto sobre o emprego. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Au- tomotores) afirma que para cada um em- prego diretamente oferecido no setor montador de veículos gera-se um total de 28,6 empregos indiretos. Admitindo-se que essa relação seja também verdadeira para o setor de motores, e em se supondo que o fechamento da empresa gera um de- semprego em proporções semelhantes, pode-se então concluir que o fechamento da Ford Motores afetaria até 25.740 traba- lhadores (28,6 x 900). Se somarmos a eles o número médio de três dependentes por trabalhador, chegaremos a cem mil pes- soas diretamente afetadas com o fecha- mento dessa planta no Brasil.

Já é muifo elevado o desemprego es- truturai - éramos, em 1980, um total de 154 mu trabalhando em montadoras de autoveícuios e máquinas agrícolas no país, hoje somos apenas 126,8 mil - e conjuntu- ral - são 1,1 milhão desempregados só na Grande São Paulo, segundo a pesquisa Dieese/Seade. Grave também é o fato que esses desempregados não têm, na práti- ca, qualquer sistema de proteção social. Face a tudo isto, o fechamento da Ford Motores deveria ser motivo suficiente para preocupar e mobilizar os governantes e a sociedade em geral. No que se refere aos trabalhadores, continuamos organizados uara reverter esta decisão e suas conse- qüências. No dia 18, amamhã, estamos conclamando a todos para um ato no Paço Municipal de São Bernardo, às 17 horas.

Muitas vezes, mesmo nos países de- senvolvidos, as multinacionais tentam tor- nar seus interesses como se fossem obje- tivos nacionais. Mas é verdade também que elas se aaquam aos distintos níveis de responsabilidade e democracia vigen- tes nos diferentes mercados nacionais. Cabe a cada país optar pelo tipo de rela- cionamento que prefere ter com elas, se soberano ou meramente dependente e subjugado.

O papel ao movimento sindical é buscar o avanço permanente das condições de trabalho, do salário, do emprego e da pró- pria economia nacional. Não é possível que uma multinacional venha para o Brasil, acumule lucros em fases de "vacas gor- das" do país, ene uma relação de depen- dência com seus cidadãos, e, diante de um período de dificuldades, a empresa simplesmente, "por uma decisão adminis- trativa", decida-se ir embora. O mais liberal dos liberais consideraria esse "liberalismo brasileiro" tolo, perverso e ingênuo. •

Linha Direta, 05 a 12 delulho/91

VICENTE PAULO DA SILVA, 35. é presidente do Sindl- caio dos Metalúrgicos de Sâo Bernardo do Campo e Dia- dema e membro da direção nacional da CUT {Central Úni- ca dos Trabalhadores).

Furo na Câmara Antônio Carlos Fon*

O deputado Eduardo Jorge (SP) apre- sentou uma emenda, felizmente rejeitada pela Câmara dos Deputados, aumentando de 30 para 35 anos o tempo de trabalho necessário para a aposentadoria dos jor- nalistas. A manutenção da aposentadoria aos 30 anos de serviço seria, no caso de jornalistas, segundo ele, um "injusto privi- légio corporativista". As três palavras - injusto, privilégio e coporativista - são im- portantes para se ter uma dimensão do equívoco dos deputados do PT que vota- ram pela aposentadoria dos jornalistas aos 35 anos de trabalho. Além de Eduardo Jor- ge, votaram contra a orientação de nossa bancada federal os deputados José Ge- noíno (SP), Sandra Starling (MG), Aloísio Mercadante (SP) e João Paulo (MG).

Em primeiro lugar, quero dizer que con- cordo com Eduardo Jorge sobre a existên- cia de privilégios corporativistas justos e injustos. A aposentadoria especial dos mi- neiros de carvão, por exemplo, é um privi- légio corporativista justíssimo. Caso o de- putado tivesse procurado as entidades de classe dos jornalistas antes de apresentar sua infeliz emenda - não procurá-las foi seu primeiro erro -, nós poderíamos ter demonstrado facilmente as características de periculosidade e penosidade de nossa profissão. As mesmas, aliás, que justifi- cam a aposentadoria dos pilotos de jato da aviação comercial aos 30 anos de traba- lho.

Em uma publicação interna do PT, po- rém, creio ser mais importante discutir a própria essência de sua argumentação, porque é aí que ele comete seu maior equívoco. Eduardo Jorge confunde con-

quista com privilégio corporativista. Nós, jornalistas, sabemos fazer muito bem a diferenciação entre as duas coisas.

Há 30 anos, os jornalistas pagavam metade da tarifa nas passagens aéreas e não pagavam Imposto de Renda. Tratava- se de injustos privilégios corporativistas, porque impossíveis de se estenderem a toda classe trabalhadora, dos quais não temos saudades. Também, em nossa his- tórica greve de 1961, os jornalistas de São Paulo conquistaram pela primeira vez neste país o direito a um piso salarial pro- fissional, uma antiga reivindicação de toda classe trabalhadora brasileira. Com isso, ficou aberto o caminho para todas as de- mais categorias que hoje contam com pi- sos profissionais.

Da mesma forma, a aposentadoria aos 30 anos de trabalho é uma conquista dos jornalistas, que desejam wê-la estendida a toda classe trabalhadora. Retirá-la de quem já a conseguiu está muito mais de acordo com o figurino "neoliberal" do que com o de um partido que tem como princí- pio defender os interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora. Negar que o avanço dos trabalhadores se dá por etapas e de forma desigual, com cada conquista abrindo caminho para sua ex- tensão posterior, é negar a possibilidade de se acumular forças através da partici- pação nos canais institucionais. Se fosse assim - se adotássemos a política do "ou tudo ou nada" - que diabos estaríamos fa- zendo nos parlamentos e nas prefeituras, se ainda não chegamos ao Poder? •

■Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Sâo Paulo.

À VENDA N0CPV Preço:

Cr$ 700,00

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Quinzena E Agora?-n'5

Trabalhadores

QUEREM ACABAR COM OS SINDICATOS

O DIAP alerta;

E Agora ?può//ca nesía página o tex- to intitulado "Carta Aberta dos Técnicos do DIAP" dirigida aos sindicatos. Neste texto é apresentado o resultado da aná- lise do projeto do governo que regula- menta a organização sindical e a nego- ciação coletiva. Se aprovado este proje- to de lei, na prática a quase totalidade dos sindicatos perderiam o seu papel de defesa dos interesses de classe, pas- sando a ter papel decorativo, isto caso sobrevivesse à avalanche da lei. Vamos ao texto.

O corpo técnico do DIAP, reunido em Brasdia nos dias 09 e 10 de maio do cor- rente ano, para exame do Projeto de Lei encaminhado pelo Poder Executivo para regulamentação da Organização Sindical e Negociação Coletiva, que tramita em re- gime de urgência, ante a gravidade de seus termos para a organização dos tra- balhadores, chegou às seguintes conclu- sões sobre o mencionado texto:

Extinção de fato dos sindicatos A idéia central do Projeto é a eliminação

de fato das entidades sindicais, aniquilan- do a estrutura sindical, com a desmonta- gem da unidade dos trabalhadores seja política ou orgânica propugnando que:

1) possibilidade de delegação sindical, inclusive pela Justiça do Trabalho (arts. 4-, 12 e 1§ e 319)para se estabelecer nego- ciação direta entre empregados e empre- gadores;

2) supremacia da negociação interna na empresa, eliminando a participação do sindicato (art 13 e os parágrafos 8e, 10 e 21 da Exposição de Motivos);

3) prevalência do acordo coletivo sobre a convenção (art 18, § único); e

4) instituição da figura de um repre- sentante com o objetivo de substituir a en- tidade sindical, já que este representante, eleito diretamente na e pela empresa, de- sempenhará papel típico do sindicato (arts. 35 e seguintes).

A falência dos sindicatos O projeto tem por finalidade asfixiar as

finanças dos sindicatos, inviabilizando, na prática, a atuação e sobrevivência de tais entidades, propondo que:

1) subordinação do desconto assisten- cial, previsto de forma ampla no artigo B9, inciso IV da Constituição Federal, "á prévia aquiescência do trabalhador, manifestada perante a empresa, por escrito" (art 11, 2§);

2) ocorrência do desconto assistencial somente na hipótese de assinatura de acordo ou convenção ou por sentença normativa (art. 11);

3) autoriza a Justiça do Trabalho a fixar multas, inteiramente descabidas em hipó- teses absurdas, que alcançam até Cr$ 250.000,000,00 (duzentos e cinqüenta mi- lhões), tendo o Projeto o objetivo de cer- cear o direito de greve, além de estrangu- lar economicamente as entidades sindicais que não forem submissas aos patrões e ao Estado (arts. 45 e 46).

Desmontagem do Direito Individual e Coletivo

O direito individual e coletivo são dura- mente golpeados pelo Projeto, que promo- ve inclusive a supressão do acesso à Jus- tiça do Trabalho, dispondo que:

1) poderá o trabalhador celebrar acor- do no âmbito da empresa, 'valendo o que for pactuado como transação para todos os efeitos legais" (art 36, Inciso I);

2) O Tribunal do Trabalho poderá se recusar a julgar o dissídio coletivo, deter- minando o retomo à negociação " nas condições que estabelecer" (art. 31), o que, na prática, poderá acarretar no julga- mento de dissídio coletivo somente na ocorrência de movimento grevista, para que seja julgada a própria greve;

3) prorrogação automática do acordo ou convenção coletiva por até seis meses (art 21, parágrafo único), com a perda da data-base se não for alcançado novo

acordo; e

4) introdução do conceito de flexibiliza- ção de direitos (art 13, §35), rompendo com a espinha dorsal do Direito do Traba- lho que consagra o princípio da inatterabili- dade do contrato de trabalho em prejuízo do trabalhador, ainda que este tenha con- cordado com a alteração. A flexibilização, portanto, significa uma autorização para que na negociação seja possível a su- pressão de vantagens ou renúncia de di- reitos contratuais ou legais existentes, o que caracteriza profundo retrocesso nas relações de trabalho. Conclusão

Os pontos levantados acima são os que foram considerados mais graves, restando ainda no Projeto diversos outros aspectos problemáticos, sendo, inclusive, em grande parte altamente questionável a constitucionalidade das medidas propostas peto Governo.

Dada a gravidade da situação, o DIAP alerta o movimento sindical para que se promova uma grande reação contra o Projeto do Governo que, dentro da política neo liberal que vem sendo praticada, bus- ca promover a desmontagem do Sindica- lismo, a desmontagem do Direito Coletivo e a desmontagem dos Direitos Individuais, destacando que a omissão neste momento gerará em imperdoável retrocesso com o completo esfacelamento da vida sindical. •

Corpo Técnico do DIAP "UIAP - Departamento Intersindical de Assessona Parla- mentar. Criado em 1983, tem como objetivo fiscalizai a atuação de deputados e senadores no Congresso oom relação a tudo que diz respeito à iegislaçáo trabalhista. Composto por 12 pessoas e um corpo técnico de 50 advo- gados trabalhistas de todo o pais, o Oiap é mantido com a contribuição de 500 sindicatos.

Informativo INESC - Junho/91 - n* 14

Um projeto ameaça os sindicatos "É vedada a criação de mais de

uma organização sindical, em qual- quer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pe- los trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um município" - inciso 11 do parágrafo 8- da Constituição bra- sileira.

O texto, que define cristalinamente o princípio da unicidade sindicai in- corporado à Constituição, está sendo desrespeitado pelo governo federal. Projeto de lei encaminhado pelo Exe- cutivo ao Congresso, dispondo sobre organização sindical e negociação coletiva, procura introduzir um plura- lismo absoluto na organização dos sindicatos de trabalhadores. E o que é pior: esta diversidade não se estende, no projeto do governo, às entidades representativas dos empregadores, que são mantidas à salvo e protegidas pelo

princípio da unicidade sindicai. De acordo com o deputado Célio

de Castro (PSB - MG), que apresen- tou um substitutivo, "o projeto visa dividir a representação dos emprega- dos, mas não a dos empregadores, permitindo assim que os interesses destes últimos prevaleçam sobre os dos primeiros, objetivo não confessa- do pelo governo".

O princípio da representação por categoria, como nota o deputado na exposição de motivos de seu projeto, também é atingido pela proposta do governo. Hoje, ao assinar um acordo ou convenção coletiva, o sindicato age em nome de toda a categoria pro- fissional ou econômica que represen- ta. Se, de acordo com o projeto do Executivo, mais de um sindicato po- derá estabelecer negociações e firmar instrumentos coletivos de trabalho, é preciso determinar sua abrangência. A tendência natural nestes casos, segun-

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do Célio de Castro, será a de restrin- gir a sua aplicação à figura do asso- ciado apenas, em detrimento de toda a categoria.

Um dos artigos do projeto gover- namental permite que os trabalhado- res, isoladamente ou em conjunto.

abram mão de direitos conquistados em acordos anteriores. "A Justiça do Trabalho e a CLT", lembra Célio de Castro, "definem como um dos prin- cípios mais sólidos na defesa dos di- reitos trabalhistas a inalterabilidade das convenções coletivas". O deputa-

do socialista classifica o projeto ao governo como o mais perigoso ataque perpretado contra o movimento sindi- cal brasileiro. "Nem os militares ousa- ram tanto", compara Célio de Castro.»

Linha Direta, 19deiulho/91

A educação e a cidadania Maria Lúcia Prandi*

É impossível imaginar a construção de um país sem que a população tenha aces- so a todo processo de educação e forma- ção individual. O exercício da cidadania somente é possível a partir do momento em que os representantes da população, os detentores do poder político, direcionem suas atenções para ações básicas como alimentação, saúde, habitação e, funda- mentalmente, educação.

Sem a educação, a população está re- legada a segundo plano. Uma massa amorfa e manipulável, vivendo na margina- lidade da sociedade opressora.

Ao assumir a prefeitura de Santos, Telma de Souza encontrou na área de Educação diversos problemas. Precarie- aade nos prédios escolares, escesso de alunos por classe (cerca de 50 por sala), profissionais do magistério indignamente remunerados, manipulação de vagas que eram obtidas através de indicações políti- cas com total desrespeito ao direito da po- pulação e à autonomia da escola, alto índi- ce de repetência, centralização das deci-

sões pedagógicas e administrativas foram os principais problemas. A escola estava se tornando um mero instrumento cumpri- dor de ordens e deslocada cada vez mais dos interesses populares.

O primeiro passo, ao assumir a Secre- taria de Educação, foi democratizar o acesso à escola, acabando com o cliente- lismo político. Traçamos um novo zonea- mento escolar com a rede estadual, o que gerou um aumento de 15% no número de vagas.

A partir daí, muita coisa mudou para dar subsídio a proposta de formação e educa- ção dos cerca de 25 mil alunos da rede pública municipal. Hoje o investimento na área é de 30% do orçamento do município, não incluindo aí os gastos com merenda escolar, A questão do analfabetismo foi encarada com firmeza a partir do censo educação. Santos foi a primeira cidade brasileira a cumprir o preceito constitucio- nal de promover censo escolar. O adulto trabalhador e, em especial, os servidores públicos vêm sendo atendidos com o pro- grama especial de alfabetização, no horá-

rio de trabalho, sem prejuízo da qualidade de atendimento público.

Para fazer a engrenagem funcionar foi necessário resgatar o valor profissional do educador. Partindo desse princípio, reali- zamos a valorização dos trabalhadores da educação, não só em nível salarial (piso do Dieese), mas também com uma jornada de trabalho que garantiu a formação perma- nente (50% de hora atividade, sendo 25% na escola e 25% livre). E ainda: a criação do Núcleo Pedagógico para a implementa- ção do sócio-construtivismo e a reordena- ção curricular, buscano a melhoria da qua- lidade de ensino.

A democratização da escola foi amplia- da com a criação do Conselho de Escola, formado por professores, funcionários, alunos e pais e dos grêmios estudantis.

O trabalho de formiga inciado em 1980 com a formação do Partido dos Trabalha- dores tem agora, dentro de seu projeto de educação, os primeiros frutos para o res- gate de uma sociedade mais digna, •

*Seeretária de Educação da Prefeitura e presidente do PT/Santos

Jornal do Brasil, 21/07/91

Concentração de terras Ricardo Kotscho

A concentração da propriedade da terra e a violência no meio rural só fizeram crescer dos fins da década de 1970 para cá. Os ano 70 ficaram como o marco do início do movimento organizado dos traba- lhadores sem terra, a partir de Ronda Alta, Rio Grande do Sul. Mas a luta dos sem- terra tem sido Inglória. Dossiê encaminha- do ao Ministério da Justiça, organizado pela própria entidade que os congrega (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, O MST), com base em dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), prova que as coi- sas têm piorado muito.

A simples menção dos dados do dossiê bastam para explicar porque os conflitos fundiários se multiplicam no Brasil, onde os 20 maiores latifundiários controlam 20.019.412 de hectares, ou 5% do território nacional, uma área do tamanho da Itália,

Isso é mais do que as terras de que dis- põem os 3,3 milhões de pequenos pro- prietários (áreas até 20 hectares), que juntos totalizam 19,735,000 de hectares. Dados não menos escandalosos comple- tam o quadro: apenas 1% dos donos de terras - os 46 mil proprietários de áreas com mais de mil alqueires - detêm 45% de todas as terras do país e as empresas multinacionais controlam 36 milhões de hectares, ou seja, quase o dobro do que está nas mãos dos lavradores brasileiros.

Com tal estrutura fundiária, não é difícil entender porque apenas 10% das terras brasileiras, pouco mais de 80 milhões de hectares no total, são dedicados efetiva- mente à agricultura, levando o país a bater recordes de importação de alimentos em 1991. Segundo estatísticas do próprio go- verno, com dados fornecidos pelo Incra e pelo IBGE, metade das terras nas mãos de latifundiários são agricultáveis, mas

estão sem uso, o que representa mais de 160 milhões de hectares de terra abando- nados - um celeiro fantasma que poderia matar a fome do Brasil. Enquanto isso, do total de 23 milhões de trabalhadores rurais brasileiros acima de 10 anos, um em cada três precisa migrar para as cidades todos os anos por falta de terra para prover sua subsistência.

Raízes da violência - Na véspera do ano 2.000, em pleno Brasil Novo, no reino da modernidade, ainda temos 1,3 milhão de trabalhadores no meio rural que não re- cebem remuneração alguma e 5,2 milhões que ganham até um salário mínimo, menos de 60 dólares por mês. O dossiê do MST denuncia: segundo o Centro de Estudos e Planejamento da América Latina (Cepal), esses números dramáticos Incluem o Bra- sil entre os países que registram os mais altos índices mundiais de concentração de propriedade da terra e de renda no meio

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Quinzena

rural. "Essa concentração de terra, dos meios de produção, de riqueza e de poder é a principal causa da violência social e fí- sica que existe no meio rural brasileiro", alerta o documento.

A situação no campo agravou-se a tal ponto que chega a dar saudade dos velhos coronéis dos grotões nordestinos, donos de terra e de gente, latifundiários dos tem- pos românticos. Um levantamento feito pelo finado Ministério da Reforma e De- senvolvimento Agrário (Mirado, do governo de José Sarney) revela que 46 grandes grupos industriais e financeiros já detêm 22 milhões de hectares de terras, um fato novo também assinalado no dossiê: "Me- xer no problema da terra afeta interesses destes poderosos segmentos sociais, que são os que controlam, de fato, todo o po- der político do pafs. Essa força polftica está presente em todos os casos de re- pressão massiva, em greves e ocupa- ções, em assassinatos planejados, como os casos de Chico Mendes e de outros lí- deres do meio rural".

Morte sem castigo - A impunidade dos mandantes e executores da violência no meio rural é outro fator que provoca cada vez mais e maiores situações de conflito, envolvendo não apenas os novos coronéis locais, mas sofisticados aparatos que en- volvem agentes dos poderes Judiciário e Executivo. "Existe uma total inoperância dos poderes da Polícia, do Poder Judiciário e outras formas de poder e controle do Estado, quando se trata de agir em defesa da lei que favoreça os irabalhadores ru- rais. Não há investigações sérias. A Polí- cia somente é mobilizada em defesa dos interesses dos latifundiários, e os juizes, em muitos casos, são venais. No caso da Polícia, há diversos casos de conluio com as quadrilhas de contrabando de armas e de drogas, e na formação de grupos para- militares para repressão dos trabalhado- res", informa o MST no documento, entre- gue aos responsáveis peto inquérito que investiga as causas da violência no meto rural instaurado no Ministério da Justiça. Dois meses depois (o documento foi en- tregue em maio), não se toca mais no as- sunto.

A contabilidaae é trágica: dos 1.629 ca- sos registrados de assassinatos de traba- lhadores rurais, entre 1964 e 1990, em apenas 17 os processos foram levados até o fim, com a realização de júri e, des- tes, só em dois houve condenação: os ca- sos dos assassinatos de Júlio Rodrigues, em Minas Gerais, e de Chico Mendes, no Acre. Diz o dossiê: "As vinculações dos latifundiários com o Poder Judiciário, em muitos casos, chega a ser pessoal, com o próprio juiz acumulando terras e fazendo parte permanente das relações sociais e de amizade com o núcleo de poder nos municípios do interior. Essa inoperância e conivência do Estado e seus poderes não somente não combatem as causas e os praticantes da violência contra os traba- lhadores rurais, como acabam por estimu-

Trabalhadores lá-los, tal a certeza da impunidade dos mandantes e executores".

Demora e descaso - Os dirigentes do MST garantem que hibernam no Incra mais de 500 processos de desapropriação com sua tramitação burocrática (vistorias, avliações, todos os carimbos) já concluída, faltando apenas a assinatura dos decretos! 'A demora e o descaso por esses proces- sos levam a situações de conflito, já que a maioria das áreas está em regiões onde há problemas sociais e um clima de tensão permanente. O Incra virou uma tapera, sem capacidade administrativa, sem re- cursos." Nos cálculos da Associação de Servidores do Incra, para atender à meta de assentar 500 mil famílias, como o presi- dente Fernando Collor prometeu durante a campanha eleitoral, seria necessário con- tratar mais 5 mil funcionários, mas o go- verno está fazendo exatamente o contrá- rio, demitindo a granel.

Nesse estudo. Realidade Agrária do Brasil, montado com dados fornecidos pelo Incra, o MST mostra que, se se desapro- priasse apenas o maior latifúndio de cada estado (com exceção de Amazonas, Pará

e Amapá, que serviriam para projetos de colonização), o governo teria um estoque de 4.895.000 hectares de terra, suficiente para o assentamento de 326 mil famílias, com lotes médios de 15 hectares para ca- da uma. Ainda não seria a democratização da terra - segundo os cálculos do MST, há 4,8 milhões de famílias de lavradores sem terra no pafs, incluindo os que vivem em áreas públicas sem titulação, parceiros e arrendatários. Mas poderia ser bom come- ço para mudar um cenário que abriga 35,3 milhões de brasileiros, onde 66% das ca- sas não têm luz elétrica, 78% não têm ge- ladeira, 23% não têm nenhum sistema de abastecimento regular de água, 92,5% não têm fossa ou ligação com rede de esgoto e 53% da população é analfabeta Quem sa- be, dessa forma, mesmo não conseguindo uma vaga no Primeiro Mundo, o Brasil pelo menos não correira o risco de cair do Ter- ceiro, e resolveria de vez o drama de 12 mil famílias, neste exato momento acam- padas precariamente em fazendas e à bei- ra de estradas, sem condições de partici- par das comemorações do 25 de julho, o dia deles. •

Estratégias e respostas táticas ao Plano collor

Entendemos que nossa proposta deve ter como preocupação principal a parti- cipação. Isto implica que, em nossas organizações, movimentos, sindicatos, igrejas, partido político, existam canais onde todos possam participar e dar sua contribuição. Lutamos para que os trabalhadores que produzem a riqueza possam participar do planejamento do que produzem para matar a fome do povo e usufruir dos re- sultados da produção. Afirmamos que todos os recursos pú- blicos devem ser gastos em questões sociais. A nossa proposta só vai ser eficaz se ti- vermos como base a opção clara pelos trabalhadores excluídos, embora que às vezes não saibam distinguir o que é melhor para si. Afirmamos que a socie- dade será melhor se contruída a partir dos interesses dos trabalhadores e, por isso, é necessário sermos companhei- ros entre nós, desafiando para que cada um contribua, da sua forma, e ajudando para que todos assumam esta proposta, mesmo os que forem contra os que que- rem destruí-la.

PREVIDÊNCIA

Considerando a situação de miséria dos assegurados pela Previdência, reivindica- mos a aprovação imediata do Projeto da

Previdência pelo Senado e pelo Presidente da República, sem modificações.

SAÜDE

Atendimento: público, universal, gratuito e de boa qualidade a toda a população; orientando, incentivando e desenvolvendo experiências alternativas de prevenção à saúde.

ASSALARIADOS RURAIS

Lutar pela defesa do salário, do empre- go e do cumprimento dos direitos traba- lhistas no campo.

MULHERES

Fim da discriminação e violência que sofrem as mulheres trabalhadoras rurais;

* Participação da mulher nas diversas instâncias e organismos da socieda- de (sindicatos, cooperativas, parti- dos, pastorais, movimentos.)

Na sociedade em que vivemos, as mu- lheres, trabalhadoras rurais sofrem vários tipos de discriminação e violência: na famí- lia lhes é atribuído o papel de mãe, dona de casa sem o estado e a sociedade fome- cerm condições para tal, através da edu- cação diferenciada é que se enraizam as formas de dominação, opressão nas rela- ções entre mulheres e homens; no traba- lho enfrentam a exploração que toda a classe trabalhadora vive e, por serem mu-

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Quinzena

lheres, uma discriminação específica: du- pla jornada de trabalho, o não reconheci- mento de sua profissão; no caso de assa- lariamento rural, os baixos salários, a falta de carteira assinada; tudo isso agravado com a falta dos direitos previdenciários (a- posentadoria, licença gestante).

Incentivamos a participação das mulhe- res trabalhadoras rurais no processo de discussão, decisão e nas diversas infân- cias da sociedade (sindicatos, movimen- tos...), fazendo com que as mesmas se tornem sujeitas do processo.

TERRA

Collor ao assumir, em 15 de março, se propôs a solucionar os problemas dos tra- balhadores rurais sem-terra. Ignorando in- clusive, a situação precária e desumana em que se encontram os atuais acampa- mentos e assentamentos.

O Governo Collor e seu Ministro da Agricultura não têm um PLANO DE RE- FORMA AGRÁRIA propriamente dito. O que existe é a intenção de assentar 500 mil famílias em todo o seu Governo.

A sua política para a questão agrária é formulada por projetos, como: parceria, arrendamento, que formam um conjunto de medidas, em que a Reforma Agrária, se- gundo o ministro, é apenas um deles. De- monstrando assim, o descaso do Governo para com a Reforma Agrária.

O Movimento Sem Terra luta por uma Reforma Agrária que atinja de fato os tra- oalhadores rurais sem terra. Por isso exige a execução do Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA) "durante o mandato Col- :or" garantindo as suas metas mínimas de 500 míí famílias assentadas por ano. Mais as 1.300.000 previstas e não assentadas nc períooo de 1985-89 (PNRA).

O que queremos: A legalização de todas as terras ocu-

padas pelos trabalhadores; desapropria- ção de todos os latifúndios; expropriação de todas as terras de multinacionais; fim aa política de colonização; política agrícola que beneficie o pequeno agricultor; inves- timentos comunitários, irrigação e obras públicas nos assentamentos e participa- ção dos trabalhadores rurais nas decisões relacionadas à Reforma Agrária.

Os anos de luta do Movimento Sem Terra têm ensinado que os trabalhadores somente garantem seus direitos mediante a luta. Também já aprendemos que ne- nhum Governo dos latifundiários fará al- guma coisa pelos trabalhadores que não seja sob pressão e mobilização popular.

Os sem terra são os agentes diretos da luta pela Reforma Agrária. Por isso o Mo- vimento procura se fortalecer cada vez mais com o objetivo de atingir aos 4,5 mi- lhões de famílias sem terra que existem no Brasil. Mas a conquista da Reforma Agrá- ria não é uma tarefa só dos trabalhadores rurais. É uma bandeira de luta de todas as categorias de trabalhadores. Pois "quanto mais gente, mais força".

E, para conquistar a Reforma Agrária,

diante deste quadro que nos é apresenta- do, o Movimento Sem Terra mobiliza, massifica e utiliza de sua principal forma de luta que é a ocupação de terra. Ocupar, Resistir e Produzir é nossa palavra de or- dem.

A conquista da Reforma Agrária é mais um passo na construção de uma socieda- de nova desejada por toda a classe traba- lhadora

PEQUENA PRODUÇÃO

A proposta de Lei Agrícola da CUT afir- ma que os preços mínimos devem ser ga- rantidos para os pequenos e médios pro- dutores, com 30% acima dos custos de produção. Para não perder de vista este nosso objetivo e, principalmente, para o pequeno produtor não ir a falência total, as nossas reivindicações imediatas são:

a) reajuste dos preços mínimos in- cluindo: - Plano Verão: recuperar os 25% de perda - Plano Collor: recuperar a diferenaç ente o IPC e a inflação de março - recuperar o IPC de abril e maio - garantia de aquisição pelo Gover- no da produção do pequeno e médio produtor;

b) a lista básica dos produtos conside- rados nestas reivindicações são: soja, leite, uva, batata, fumo, trigo, milho, aves e suínos.

c) crédito agrícola: - congelamento dos financiamentos agrícolas de custeio e investimento dos pequenos e médios produtores, com base no dia 15 de março de 1990. - liberação imediata, pelo Governo, de uma linha de crédito diferenciada para o pequeno e médio produtor pa- ra o plantio.

VIOLÊNCIA NO CAMPO

Se não bastasse toda essa exploração sobre os trabalhadores e trabalhadoras ru- rais, verificamos outras formas de violên- cia sobre os trabalhadores e suas lideran- ças, quando se organizam na luta pela conquista da terra, resistência par não perder a mesma; luta por preços justos; luta pelos direitos sociais, tendo em vista que no ano de 1989 foram assassinados 66 trabalhadores na luta pela terra.

Nossa proposta do dia 25 de julho não termina no dia 25, mas é a retomada deci- siva das nossas lutas. O 25 de julho é um ensaio das primeiras mobilizações e atos. Vai ser o alerta para o Governo de que estamos decididos a engrossar as mobili- zações e atos. Passaremos da reuniões e assembléias para as manifestações e protestos, e, se for preciso, para ocupação de bancos, postos de Previdência, tran- camento de estradas, etc.

Nesta perspectiva, os Movimentos Sin- dical e Popular, as Igrejas, partidos de es- querda e entidades de apoio, devem for- mar a grande frente de luta contra o pacote

e em defesa das reivindicações da Ciasse Trabalhadora. •

PELO ATENDIMENTO IMEDIATO

DAS REIVINDICAÇÕES DOS

TRABALHADORES!

MST - CUT - MOVIMENTO DE MULHERES • CPT

GREVES 8 CATEGORIAS EM GREVE

NO PARÁ Funcionários do INSS, Ibama, UF-

PA, Prodepa, Ind. Pena Branca, SES- PA, Serpro e Rodoviários Intermuni- cipais estão em greve no Estado do Pará. A greve do INSS já dura 40 dias, com 80% dos Órgãos paralisa- dos, por 355% de reposição e isono- mia salarial. Os professores universi- tários reivindicara 700% de reposição. O Ibama entra no 40e dia, atingindo 100% da categoria, por 1.227% de re- posição. No Serpro são 90% da cate- goria paralisados por 130% de perdas. Os funcionários do Prodepa exigem 150% de reposição. Os rodoviários entram no 20e dia por reajuste de 52,6%.

BOMBRIL DO ABC-SP A greve dos funcionários da Bom-

bril de São Bernardo do Campo com- pletou uma semana. 1.800 trabalhado- res rejeitaram em assembléia a pro- posta patronal de 18% de reajuste e desconto de metade dos dias parados. Os trabalhadores reivindicam 190%.

RURAIS DE ARAÇATUBA-SP Metade dos 300 canavieiros da

Destilaria Alcoazul estiveram era gre- ve uma semana e retomaram no último dia 23.07, sendo que 62 pediram de- missão em seguida.

PORTUÁRIOS DO ESPÍRITO SANTO

Há 36 dias era greve as 4 catego- rias, marítimos, guindasteiros, arru- raadores e portuários, reivindicara

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Quinzena

160% de reposição e a Cia. Docas do Espírito Santo só oferecu 15%. 41 na- vios já foram desviados para outros portos e 17 estão fundeados na baía de Vitória. A greve paralisou os por- tos de Capuaba, Paul e o Cais Comer- cial da capital capixaba.

PROFESSORES DE MINAS Há 76 dias em greve, um recorde

para a categoria que em 87 ficou 71 dias em greve. No último dia 23, 75 professores invadiram e ocuparam o saguão da Secretaria da Educação. Acompanhados de uma banda de mú- sica, os professores fizeram um carna- val no saguão. Os professores reivin- dicam piso salarial de Cr$ 207 mil.

PHILIPS Terminou a greve das duas unida-

des da Philips de Santo André-SP que esteve parada 9 dias. Os 1.300 traba- lhadores conseguiram 9% de aumento real que serão acrescidos aos 27% concedidos pela FIESP.

FIM DA GREVE Terminou a greve na Hidroplás de

Botucatu-SP, empresa fabricante de resina sintética. A paralisação dos 516 trabalhadores, de 7 dias, conseguiu 2ò,3c/(. incluindo 10% de aumento real, antecipações em agosto e setem- bro de 15%,e estabilidade de 60 dias.

FALSOS PMs ATACAM SINDICALISTAS

Dois sindicalistas da Federação Nacional dos Trabalhadores em Saúde e Previdência Social (Fenasps), foram agredidos na sede em Brasília de ma- drugada, enquanto datilografavam re- latório da greve da categoria, que já dura 40 dias. Os supostos PMs esta- vam armados, agrediram Luiz Carlos Torres Castilho e Maria Darcy da Sil- va. O representante da CUT no co- mando nacional de negociação dos servidores, Antônio Carlos de Andra- de, ao comunicar o ocorrido, pediu ao ministro da Justiça que o governo apresse as negociações salariais por entender que o atentado resulta das tensões geradas com o impasse criado em tomo dos salários. Os 2 PMs já fo- ram presos.

Trabalhadores DEMITIDOS DA COSIPA

Uma caravana formada por traba- lhadores demitidos da Cosipa, verea- dores da Baixada Santista e represen- tantes sindicais, parou o trânsito no último dia 20 do Largo do Paissandú, centro de São Paulo, em protesto em frente ao escritório da empresa contra as demissões. Representantes da Força Sindical e da CUT estiveram presen- tes.

TERMINA GREVE NA PARKER Os 700 trabalhadores aceitaram a

proposta da Parker Irlem de reajuste de 10% e fornecimento de cesta bási- ca.

METAL LEVE PÁRA CONTRA ACIDENTES

Em protesto contra os acidentes de trabalho que vêm ocorrendo na Metal Leve, no ABC, os 1800 trabalhadores paralisaram a linha de produção du- rante duas horas. No último acidente ocorrido, o operário Ueusoethe A maneio Colho teve sua mão esmaga- da por uma prensa. No mês de maio 13 trabalhadores se acidentaram. Apenas este ano foram 53 ocorrên- cias.

BRASINOX DEMITE APÓS GREVE

Após o encerramento da greve que durou uma semana, a indústria meta- lúrgica Brasinox, sediada no Rio Grande do Norte, demitiu 24 traba- lhadores. O sindicato prevê que outras demissões irão ocorrer e por esta ra- zão está mobilizando a categoria que poderá deflagrar nova greve contra as demissões.

MÉDICOS E DENTISTAS DE GOIÁS

Os médicos e dentistas do Estado de Goiás rejeitaram a proposta do go- verno e decidiram continuar a greve que já dura 20 dias. A assembléia de- cidiu que a categoria so retomará ao trabalho quando o govemo conceder isonomia salarial entre os profissio- nais do Estado, o que significa rea- justar os salários de Cr$ 67 mil para Cr$ 190 mil.

FUNCIONÁRIOS DO SINDICATO BANCÁRIO DE BRASÍLIA

Os funcionários do sindicato dos bancários de Brasília, filiado à CUT, estão em greve desde 11.07 por um abono de 50% sobre o salário de ju- nho. O sindicato propôs vincular o abono ao imposto sindical e os fun- cionários não concordaram.

SERVIDORES DA SAÚDE DO RIO

Com um despacho de macumba no Largo do Machado, os 300 trabalha- dores fizeram o enterro simbólico do Secretário Estadual da Saúde, Pedro Valente, iniciando a terceira greve da categoria desde junho por 151% de reajuste salarial retroativo a maio e prometido para este mês.

CURTAS

JACO BITTAR NO PDT Jacó, prefeito de Campinas e que

deixou o PT, aguarda apenas o melhor momento para ingressar no PDT. Com convites do PMDB, PSDB e PSB de- cidiu pelo PDT com a promessa de conseguir projeção nacional e se can- didatar ao govemo do Estado de São Paulo.

CAMPONESAS DE ALAGOAS Apesar de não haver uma estatística

definida, a Fetag tem contabilizado 150 mil mulheres que vivem do tra- balho agrícola nos 98 municípios da- quele Estado. Sofrem com a discrimi- nação, a maioria sofre sérios e graves problemas de saúde por conta dos agrotóxicos e são obrigadas a carregar sacos de adubo de 50 kg, acabando com problemas também de coluna e nas articulações. Hoje as principais reivindicações das mulheres são: salá- rio igual para trabalho igual, salário natalidade, abono família, assistência médica, 13- salário, fim da discrimi- nação.

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Quinzena Trabalhadores

UM MORTO E OITO FERIDOS NO SUL DO PARÁ

Uma pessoa morreu, oito ficaram feridas e uma está desaparecida depois que um grupo de 10 homens armados fez uma emboscada contra trabalhado- res da Fazenda Nazaré, em Rio Maria. A Fazenda pertence a Jerônimo Alves da Silva, preso em Belém há três me- ses sob a acusação de ter mandado matar Expedito Ribeiro de Souza do Sindicato Rural de Rio Maria.

SERINGUEIRO SOFRE ATENTADO

O vice-presidente do Conselho Na- cional de Seringueiros, Pedro Ramos, foi espancado por dois homens na madrugada de 20.07 em Macapá (AP). Segundo Pedro o atentado deve-se à mobilização do Conselho contra a es- trada entre Macapá e Laranjal do Jari.

ESQUADRÕES DA MORTE AGEM NAS AMÉRICAS

A contínua ação de "esquadrões da morte" deixou centenas de pessoas mortas nas Américas em 90. Entre eles estão opositores aos governos e crianças, diz a Anistia Internacional. Desaparecimentos e execuções extra- judiciais continuam a ser a caracterís- tica na Colômbia e Peru; torturas, no Brasil, Pem, Colômbia, México, El Salvador, Argentina, Equador, Hon- duras e Venezuela; 200 presos políti- cos aguardam julgamento em El Sal- vador; muitas pessoas continuam a ser executadas ou condenadas à morte nas Antilhas e nos EUA; 23 pessoas fo- ram executadas nos EUA e 2.300 ain- da estão nos corredores da morte.

APOIO DE ISRAEL PARA MEDEIROS

Medeiros propôs à Histadrut, cen- tral sindical israelense, um convênio para formação e reciclagem profissio- nal de operários brasileiros, através da utilização de tecnologia em oficinas- volantes. A Histadrut forneceria tec- nologia e assistência técnica e even- tualmente equipamentos. Os sindica- listas israelenses acolheram com sim- patia e proposta. Medeiros disse que as oficinas-volantes se deslocariam nelo país sobre microônibus, furgões, kombis ou até barcos.

AÇÃO CONTRA O IMPOSTO SINDICAL

10 sindicatos de eletricitários do sul do país entraram com uma ação no TST para devolução aos trabalhado- res, com juros e correção monetária do valor descontado em março do im- posto sindical. Liderados pelo Sindi- cato dos Eletricitários de Florianópo- lis, os sindicatos apresentaram a rei- vindicação como um "dissídio coleti- vo de natureza jurídica" e pedem que o Tribunal considere inconstitucional a cobrança do Imposto Sindical.

ELETRICITÁRIOS GAÚCHOS GANHAM AÇÃO

O Sindicato dos Eletricitários do R.G. do Sul ganhou a ação movida contra a Cia. Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e irá receber Cr$ 3,1 bilhões que vão beneficiar os 14.072 trabalhadores. O processo, vencido em 1985, provou a inconstitucionali- dade do Decreto-Lei 2.012 do Gover- no Federal que estabelecia percentuais diferenciados conforme a faixa sala- rial do empregado.

QUÍMICOS E PETROLEIROS EM CAMPANHA UNIFICADA O Departamento Nacional dos

Químicos e o Departamento Nacional dos Petroleiros, ambos da CUT, apro- varam, em reunião de 17 de julho, uma campanha salarial integrada. O objetivo da unificação é mobilizar, pelo maior período de tempo possível, os trabalhadores que estão em campa- nha a fim de se aumentar o poder de negociação. A campanha começa em agosto e terá como referência a data- base dos petroleiros, que é 12 de se- tembro. Ainda não está definido o calendário, mas deverão marcar para agosto ou setembro uma data possível para uma greve conjunta.

METALÚRGICOS DE SANTOS VOTAM PELA CUT

A CUT venceu a Força Sindical na Baixada Santista. O Sindicato dos Metalúrgicos realizou plebiscito para decidir a filiação e a CUT conseguiu 54,7% dos votos, contra 41% da For- ça Sindical. Dos 18 mil metalúrgicos 7.548 participaram do plebiscito. O presidente do sindicato Aparecido Al- ves Tenório, que apoiava a Força Sin-

dical, disse que a partir de agora a di- reção dos metalúrgicos vai se pautar pela linha de ação e trabalho da CUT. Arnaldo Gonçalves, do conselho de representantes do sindicato junto à Federação, apresentou sua carta de demissão à Força Sindical. Arnaldo presidiu o sindicato de 1975 a 1989.

SINDICATO DA PF PEDE FILIAÇÃO Ã CUT

O Sindicato da Polícia Federal da Paraíba pediu filiação à CUT. O pre- sidente do sindicato, Carlos Façanha, fez o pedido a Jair Meneguelli no dia 11. "A situação é muito polêmica e por isso eu pedi aos companheiros da Polícia Federal da Paraíba que não se precipitem", afirmou Jair. O presi- dente do Sindicato da PF em São Paulo, Laurogildo Trapp, é contra Fa- çanha. "Não faz sentido um agente da PF ficar olhando uma greve da CUT e não fazer nada".

OSASCO TAMBÉM ESCOLHERÁ CENTRAL

Depois dos metalúrgicos de Santos, agora é a vez dos Metalúrgicos de Osasco-SP sairem em busca de uma Central, apesar de seu presidente, Cláudio de Camargo Crê, o Magrão, já ocupar o cargo de diretor de For- mação Sindical da Força Sindical. Em agosto o sindicato promoverá pales- tras para os 42 mil metalúrgicos. Em 85 o sindicato havia se filiado à CUT, mas 6 meses depois de desfiliou, ale- gando que não tinha espaço dentro da CUT.

CRIADA A COMISSÃO PRÓ-CUT SUDOESTE

Em 6/07, na sede do Sindicato dos Bancários em Vitória da Conquista - BA, foi realizada a Plenária Regional de Entidades Filiadas à CUT, com o objetivo de formar a comissão Pró- CUT Regional que encaminhara as determinações estatutárias para a cria- ção .da CUT-Regional Sudoeste. A Comissão foi composta por: 1 repre- sentante do sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista e região. Sin- dicato dos Professores em Escolas Particulares, Sindicato dos trabalhado- res em Telecomunicações, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Poções, Associação dos Docentes da UESB. ^

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Quinxtna

62 CONGRESSO ESTADUAL DE GOIÁS

Nos dias 28 a 30 de junho realizou- se o VI Congresso Estadual da CUT- GO, tendo sido credenciados 241 de- legados, dos quais 193 de sindicatos urbanos, 36 rurais, 2 membros da exe- cutiva nacional e 10 da executiva es- tadual. Para a eleição da nova direção foram formadas 3 chapas, sendo ven- cedora a chapa encabeçada por Sandra Cabral, reconduzida à presidência. Não temos informações sobre a com- posição das 3 chapas.

62 CECUT-RS Em substituição a Gilmar Pedruzzi,

Jairo Carneiro foi eleito novo presi- dente da CUT-RS no VI CECUT rea- lizado entre 12 e 14 de julho. Jairo conseguiu 70% dos votos apoiado pela Articulação, CUT pela Base, Nova Esquerda e PCB. O segundo colocado foi Pedro Pozzenato da CSC com 20% e o terceiro foi Laura Silva que ficou com 10%, apoiada pela Convergência Socialista.

42 CECUT-SC Foi reeleito com 70% dos votos de

700 delegados, representando 77 sin- dicatos, o comerciário Ineir Mittmann para presidente da CUT Estadual de Santa Catarina. Entre as deliberações do Congresso destacam-se: interven- ção junto à sociedade para levantar alternativas de saúde, educação/habi- tação, melhoria da estrutura da Cen- tral, consolidação da CUT como cen- tral sindical, organização dos sindi- catos, atraindo outras entidades e combatendo as entidades atreladas; defesa do contrato coletivo, assegu- rando à CUT poder político para ne- gociar com o governo e classe patro- nal. O VI CECUT teve como convi- dados Federações que não são filia- das.

O TIME DOS CAMPEÕES A revista americana Fortune publi-

cou na semana passada sua edição es- pecial anual com as 500 maiores em- presas do mundo em 27 setores. Abai- xo, as maiores em dez dos principais ramos da indústria, e as suas vendas em 1990 - em bilhões de dólares.

NÃO SAIU NOJOSHAL

SINDICATO DOS TRABALHADORES NA EXTRAÇÃO E BENEFIOAMENTO DA MADEIRA DO SUL DA BAHIA - FUNDADO EM 03/06/90

EMPREITEIRAS Com a chegada do eucalipto no

Extremo Sul da Bahia, chegou tam- bém o câncer da classe trabalhadora da região. As empreiteiras.

Elas são empresas de prestação de serviço, no plantio, tratos culturais, corte e transporte de árvores.

Essas empresas são o que tem de pior na exploração do homem, pagam os piores salários, não fornecem EPI's, alimentação, e transportam es-

Trabathadores

tes trabalhadores em caminhões, sem a menor segurança, (ver denúncia de acidente com 18 mortes na edição de 1-/03/91), o que vem causando vários acidentes com mortes e seqüelas.

As empresas BAHIA SUL CELU- LOSE S/A, e ARACRUZ CELULO- SE S/A, são coniventes com esta si- tuação, pois não têm fiscalizado estas empresas.

Segundo o Presidente do SINDI- CATO DOS TRABALHADORES NA EXTRAÇÃO E BENEFICIA- MENTO DA MADEIRA NO EX- TREMO SUL DA BAHIA - SIN- TREXBEM - Ozires de Oliveira, os trabalhadores da Bahia Sul, também estão revoltados com a política sala- rial adotada pela empresa, que não tem permitido que os salários acom- panhe a inflação, além da perseguição a trabalhadores filiados ao sindicato. •

Teixeira de Freitas, 17/Julho/1991.

mj Meto Ambiente Revista Proteção rf 11 - Maio/91 - Campo Bom - RS Dirigida à Segurança e Saúde do Trabalhador

Dioxina: o derradeiro

alerta Ela é hoje considerada a mais violenta substância crmda pelo Homem, com seu grau de periculosidade ultrapassando tanto o urânio quanto o plutônio. Pior do que isto, compondo umafamãia de 200 membros, as dioxinas estão totalmente fora de controle no meio ambiente. Sua geração —produzida por moléculas de cloro submetidas a altíssimas temperaturas onde há matéria orgânica - abrange um espectro que vai dos processos de branqueamento de papel até a incineração de lixo, passando pela queima de PVC e de tinta, ou ainda, pelos agrotóxicos. Entre seus males está o extermínio das defesas naturais do corpo — numa sintomática contemporaneidade com a AIDS -, o surgimento de diversos tipos de câncer e a teratogenia, ou seja, a propriedade de produzir seres de aspecto mostruoso. Ainda nâo tendo este nome, as dioxinas já haviam contaminado operários nos Estados Unidos, na Alemanha e noutros pontos que a literatura restrita de alguns cientistas documentara. Ocultas nas moléculas de

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ácido acético, elas foram cruéis armas de guerra norte-americanas no Vietnã. Em Seveso, na Itália, em 1976 - quando finalmente foi nominada - sua nuvem ultratóxica matou 50 mil animais efez o Vaticano autorizar mais de dois mil abortos, para pouco depois, colocar a cidade de Rastatt na apocalíptica situação de ter de trocar seu próprio solo. Todos estes acontecimentos, porém, são casos localizados, famosos, extremos e de ultraenvenenamenío concentrado. Na verdade, as invisíveis dioxinas, que têm a propriedade de se acumular por décadas nos tecidos adiposos do organismo, estão sendo lançadas de modo contínuo em rios, mares, solos e no ar. Elas são os

Meio Ambienta mortais detritos de todo um modelo industrial e de consumo que, por um lado, encobre a origem dos bens que produz e, por outro, ignora o conteúdo e o destino de seu lixo. Um sistema que, enfim, viabiliza-se na mesma proporção em que agride o meio ambiente, do qual o ser humano decididamente não pode ser subtraído. Não há meios diretos de combater as dioxinas, mas é possível inibir seus processos de formação, como vem sendo feito em alguns países do Hemisfério Norte. A estratégia número um nesta luta é questionar radicalmente a alienação da sociedade de consumo.

No Brasil, o assunto dioxina é pra- ticamente desconhecido. Vaga, a in- tormação transita entre alguns técni- cos e ecologistas, ou então por setores da indústria que, exportando, subme- tem-se a legislações ambientais mais rigorosas. Os países do Hemisfério Norte, entretanto, principalmente a Alemanha, a Inglaterra e os escandi- navos, estão amedrontados. A se con- lirmarem seus temores, suas socieda- des estão tomadas de dioxinas, pós fi- níssimos gerados, acima de tudo, pelo próprio padrão de vida e consumo que estabeleceram e propagam — e que boa parte do mundo restante cultua e bus- ca copiar. O mais grave é que, na maioria dos casos, é difícil até mapear a procedência das partículas. O bran- queamento de papel gera dioxina, mas na própria celulose não processada seus rastros já foram flagrados. Este ultraveneno, por exemplo, já foi me- dido no leite europeu vendido comer- cialmente. Mas, numa paisagem des- controlada, fica difícil saber se a dio- xina encontrada proveio da forragem que alimentou a vaca ou do papel que embalou o produto final. Talvez esti- vesse em ambos, talvez esteja em qua- se tudo.

Há 20 anos os incineradores na Alemanha eram tidos e havidos como solução ecológica para a montanha de lixo produzida diariamente pelos seus habitantes. Estas usinas agora reve- lam-se poderosas fábricas de partícu- las letais, a ponto de se presumir, co- mo divulgou o governo da Ba viera, que 1/3 das dioxinas passíveis de de- tecção na Alemanha venha da incine- ração, prática que anualmente adicio- na até 400 gramas deste microscópico pó no meio ambiente — o que já é con- siderado insuportável. Na Suécia, o governo apela, atônito, para que as mães, com o leite contaminado, suma- riamente deixem de amamentar os be- bês a partir do terceiro mês. Entidades ambientalistas como o Greenpeace in- glês, têm deflagrado combate impla- cável a consumo de papel não-reciclá- vel e branqueado com cloro. As in- dustrias reagem, buscando alternativas

amigas ao meio ambiente, na expres- são do marketing ecológico. O peró- xido de hidrogênio (água oxigenada), substituindo o cloro, tem sido saudado como uma solução confiável para o branqueamento da celulose, princi- palmente na Escandinávia.

No caso das denuncias à cloração do papel, estas bandeiras, somadas a demandas resultantes da conscientiza- ção de parte da população, inclusive já estabeleceram uma linha de produ- tos pardos, onde podem ser listados papéis higiênicos, guardanapos, filtros de café, fraldas descartáveis, absor- ventes femininos e uma infinidade de outros itens, isto não chega a modifi- car hábitos de consumo, mas reduz extensões no reinado branco, que a publicidade sintomaticamente asso- ciou, nas liltimas décadas, à maior as- sepsia.

VIDA DESCARTÁVEL Fábricas de celulose, ou mesmo

chaminés de incineradores, não podem isoladamente ser responsabilizadas pela poluição que hoje atemoriza o Hemisfério Norte. É a realidade que lhes cerca que é assombrosamente in- sana. Anualmente, por exemplo, bebês norteamericanos sujam cerca de 18

Além da imaginação g grama, mg miligrama;

ug = rnicrograma. ng = nanograma,

pg - picograma, e fg - fenograma

1 000 mg

bilhões de fraldas descartáveis, con- tribuindo diretamente para 4% do total de lixo caseiro. As fraldas, nos EUA, representam um mercado de 4 bilhões de dólares. Conforme o Financial Ti- mes de Londres, a fabricação mundial corrente deste poduto consome, por ano, um bilhão de árvores. Porém, outra fonte, a Proctor and Gamble, presume que apenas 1% da produção mundial de celulose é usada para estas fraldas. Em suma, tomando como cor- retas estas informações, conclui-se que anualmente derrubam-se e proces- sam-se — com todas as implicações ambientais decorrentes - 100 bilhões de árvores para produzir artigoà de papel.

Grande parte deste material é de impossível reciclagem. Carbonos, fo- lhas de fax, papéis lustrosos, plastifi- cados e envelopes com janelas plásti- cas são apenas alguns descartáveis normalmente relacionados. De uma maneira geral a própria reciclagem de papel é muito restrita, embora sua prática resultasse inclusive na conten- ção de crescentes monoculturas de ár- vores que alteram ecossistemas e des- tinam-se exclusivamente à voracidade de uma sociedade obcecada por em-

■^ 1 000 000 ug

■^ 1 000 000 000 ng

■^ 1 000 000 000 000 pg

■^ 1 000 000 000 000 000 fg

Ter idéia do que é um grama - a milésima parte do quilo - não é algo muito distante da compreensão mé- dia de qualquer pessoa. Até o mili- grama, exigindo um pouco mais, pode ser visualizado, ao menos por um público relativamente acostu- mado com pesos e medidas. Entre- tanto, as dioxinas são moléculas que transitam na escala dos nanogra- mas, nada mais nada menos do que a bilionésima parte do grama - algo além da mais privilegiada imagina- ção. Talvez uma maneira prática de um nanograma ser visto é dimen- sioná-lo comparativamente com uma tampa de caneta Bic. A tampa vermelha pesa um grama (a azul é mais leve), e um manograma seria exatamente a bilionésima parte des- ta peça...

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Quinzena *^

balagens, invólucros e uma montanha de papéis tão brancos como, muitas vezes, desnecessários. A bomba-reld- gio biológica contida nas dioxinas, desta forma, está longe de ser contro- lada pela simples reversão de alguns processos fabris. O que necessita ur- gentemente ser revisado é a concep- ção de vida e consumo que funda- menta a própria sociedade industrial.

FONTES PRODUTORAS As dioxinas derivam de reações em

moléculas de cloro expostas à grande pressão e temperatura em ambientes fartos da matéria orgânica. As indús- trias de celulose, no caso, expõem a altas temperaturas matéria orgânica e vánas substâncias químicas, com destaque para o cloro. Por isto elas hoje são consideradas, ao lado das usinas de incineração de lixo, grandes produtoras de dioxinas. O problema, contudo, tem inúmeras fontes. Esses ultravenenos estão em larga escala no triciorofenol, usado, o que também vale para o di, o tetra e operüacloro- fenol, como matéria-prima para obten- ção de corantes, cosméticos, produtos farmacêuticos, agrotóxicos, conser- vantes de madeiras e tintas, entre tan- tas outras utilidades. Dioxinas também estão na queima de PVC e no ascarel (PCB), que antigamente se usava em refrigeração e que hoje é um lixo, acondicionado em galões, do qual o planeta inteiro não sabe como se li- vrar.

Outra fonte, pouco identificada como tal, é o BHC (pó-de-gafanhoto), organoclorado usado na agricultura. O pó chegou a ser saudado como efi- ciente soldado contra a malária e a doença-de-chagas. O Instituto Adolfo Lutz inclusive observou que, num pe- ríodo de 18 meses após a aplicação, o BHC crescia em eficiência. Hoje, des- confia-se que este desempenho tenha a ver com sua transformação em dio- xina — o que pode ocorrer até pela in- cidência de raios ultra-violeta.

SOBRE A TOLERABILIDADE O grande debate hoje envolvendo

estas partículas dá-se, aparentemente, no plano quantitativo. Uma indústria que não produz sequer uma grama de dioxina por ano tem sólidos argu- mentos para não chamar a si a respon- sabilidade sobre o ultravenenamento do planeta.

O que está por trás da questão, en- tretanto, é muito mais sutil do que a ultraprecisão de algumas balanças po- de aquilatar. A alegação industrial fundamenta-se na individualização do problema. Nós liberamos dioxinas dentro do limite permitido, dizem as empresas envolvidas. Os níveis acei- táveis, porém, são valores artificiais.

Não se pode, por exemplo, submeter um ser humano a doses periódicas de dioxina, para saber o que ele pode ou não ingerir disto. E preciso questio- nar, ainda, qual o padrão orgânico ideal para avaliar o ser humano? Crianças, idosos, ricos, pobres, bran- cos, amarelos, pretos, norte-america- nos, brasileiros, etc, por contingências imagináveis têm variantes orgânicas infinitas. Mesmo entre as cobaias de laboratório estas variações são co- muns. Ratos, por exemplo, são dez vezes mais resistentes que porqui- nhos-da-íhdia - embora nenhum deles tolere a ultratoxicidade das dioxinas.

O argumento compartimentado das indústrias, o fato de considerarem apenas seus efluentes, contrapõem-se a uma tendência e a uma urgência dos tempos atuais, definida como visão sistêmica da realidade ou, numa lin- guagem mais específica, visão holísti- ca. Adequando ao assunto, olhar sis- temicamente a questão das dioxinas é

Meio Ambiente compreender que através de Ínfimos nanogramas (ver box> produzidos por fontes específicas, estamos contraindo uma dívida de sobrevivência coletiva que as gerações futuras não terão pos- sibilidades de pagar. Muito pouco se sabe sobre dioxinas, além de que ade- rem e se acumulam na gordura, des- tróem o sistema imunológico, causam câncer e atuam nos cromossomos. Na- da se sabe, por exemplo, dos efeitos sinérgicos no meio ambiente. Deter os processos que levam à sua produção, seja em que quantidade for, parece a atitude mais sensata, na medida em que o mundo não pode ser encarado como um laboratório de pesquisas so- bre tolerabilidade. •

Observação: Originalmente esta matéria se prolonga por mais 11 páginas. Caso você se Interesse por ela, favor nos so- licitar cópia.

J Economia Políticas Governamentais - Junho/Julho/91 IBASE-RIO

UM RELATÓRIO INCOMPLETO

O, relatório das Nações Unidas sobre o desenvolvimento humano cai na armadilha neoliberal, ao deixar de mencionar as empresas transnacionais como responsáveis pela maior parte das desigualdades econômicas, no mundo moderno.

HERBERT DE SOUZA Secretário-Executivo do IBASE

O Relatório das Nações Unidas sobre o desenvolvimento humano, é, sem dúvida, um dos mais impor- tantes documentos produzidos nessa década sobre o estado do mundo. É importante por recolocar a humani- dade no centro do desenvolvimento e, portanto, subordinar o econômico ao social. É importante por definir os princípios democráticos como es- senciais ao desenvolvimento, negan- do a falácia da eficácia das

ditaduras. É importante por tratar a Terra como ela é, um só planeta, onde, no entanto, uma minoria concentra e consome as riquezas existentes. Ao definir um índice de desenvolvimento humano, onde o econômico é apenas um de seus componentes, ajuda a humanidade a colocar a economia no seu lugar c os economistas nos limites de sua li- mitada profissão. Mas exatamente por ser um documento de tanta im- portância, destinado a influenciar o debate sobre o futuro do mundo na década de 90, é que ele merece ser tratado com todo o cuidado c rigor.

Ao propor a economia de mer- cado como o único caminho de de- senvolvimento, o relatório segue, obviamente, o que parece ser a mo- da mundial ante a evidência do de- sastre socialista, das economias estatizadas e planificadas.

Ao fazer a crítica das incompe- tôncias e inconveniências da inicr- vençüo estatal, o relatório soma-se a lodo um pensamento liberal que busca, no livre jogo do mercado ou

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nas virtudes da sociedade civil, me- lhores dias para a humanidade. O Estado, tâo presente no Primeiro Mundo, oarece ali nio existir. Fra- cassado no mundo socialista, parece resumir em si toda a história. Ditato- rial e militarizado no Terceiro Mun- do, enquanto servia aos grandes projetos transnacionalizados, era ti- do como um mal necessário. Relati- vamente liberalizado ou democratizado com o fracasso desses projetos, parece agora uma obra sem autor, uma culpa sem pe- cado.

A democracia, que aparece ago- ra tao necessária ao desenvolvimen- to humano, foi destruída na maioria dos países em desenvolvimento, pa- ra produzir um tipo de crescimento econômico que hoje está em crise profunda.

Essas questões nâo estão colo- cadas, de forma clara e explícita no rclalório, o que até se entende, dado que o que ele buscava, era comribuir para recolocar a questão do desen- volvimento no eixo do humano e o humano, no eixo da liberdade. A crí- tica ao cconomicismo e ao autorita- rismo está contida na positividade de suas propostas.

E AS TRANSNACIONAIS?

A questão que falta é outra. Ao falar do estado do mundo e das imensas desigualdades existentes nele, o relatório não nos fala de al- gumas das causas da produção dessa desigualdade. Ao nos falar das exce- lências do mercado, não nos fala das •condições históricas, concretas de sua existôncia.

O rclalório, simplesmente, omite a existância dos atores mais proeminentes do desenvolvimento, em nível mundial, como as corpo- rações iransnacionais, estudadas pe- las próprias Nações Unidas que controlam o PIB mundial e os ru- mos de seu desenvolvimento. E o que nos diz um outro estudo das Nações Unidas, "Transnational Cor- porations in World Development, Trends and Prospccts"(1988)?

Começa por afirmar que as TNCs (Transnational Corporations) são, talvez, os mais importantes atores da economia mundial. Que as 600 maiores empresas industriais do

planeta representam entre um quinto ou um quarto do valor agregado da produção de bens, no mercado mun- dial. Que sua importância, como ex- portadoras c, importadoras, é ainda maior (por exemplo, entre 80 e 90 por cento das exportações dos Esta- dos Unidos, Grã Bretanha e da Ir- landa do Norte são feitas por empresas transnacionais). Que os bancos Iransnacionais detêm a maioria dos empréstimos internacio- nais. Além de controlar os investi- mentos e os mercados, essas empresas controlam, também, a ini- ciativa na produção e uso das mo- dernas tecnologias. (1)

Em resumo, se poderia dizer que as empresas transnacionais constituem, já desde algum tempo, o motor, o eixo e a caixa forte da pro- dução mundial. Controlam os mer- cados mundiais dos principais produtos, a tecnologia c o sistema financeiro; determinam, em grande medida, os rumos e usos da produ- ção militar, e reinam no mundo das telecomunicações e da mídia, em es- cala global. Falar em mercado, sem falar nesses atores é tomar a peça visível, mas incompreensível.

bsses atores, que afetam e condicionam tanto os mercados co- mo os Estados nacionais e suas po- líticas, tomam o mercado livre num mercado sob liberdade condicional. Tomam o Estado soberano uma meia verdade importante para os discursos oficiais. Esses atores, por mais econômicos que pareçam, são sujeitos políticos de estratégias polí- ticas, disputando os rumos e os sen- tidos do mundo. Querem hoje, ser chamados de Mercado, uma espécie de codinome do anonimato. No mercado, querem ser vistos como iguais a todos os demais, não impor- tando o tamanho ou o poder de fazer dele, o mercaao, o seu próprio mun- do à sua imagem e semelhança. Querem hoje o Estado mínimo, ape- sar de se associarem aos Estados máximos, como quiseram, antes, o Estado máximo e até sonharam, nos anos 70, com o Estado Global.

ARMADILHA NEOUBERAL

Sabem hoje, as Transnacionais e seus analistas que, se elas são funda- mentais e decisivas, não são onipo-

tentes c estão sujeitas, como todos os seres, à mudança e até ao desapa- recimento. For isso, não se explica, nem se justifica, que um estudo das Nações Unidas, que têm se dedica- do, desde os anos 70, a estudar o fe- nômeno da transnacionalizaçüo da economia, o novo modo de concen- tração e centralização do capital cm escala mundial, possa ignorar, radi- calmente, sua existência: não cila. não menciona, não leva cm conta, não considera seu papel, peso c fun- ção na economia mundial. Por quê? Essa é a questão que a omissão co- loca. Por ignorância dos dados não será.

Aventuro a hipótese de que a omissão deve-se ao fato do rclalório ter caído na armadilha neolibcral da absolutização do mercado, como uma abstração teórica que se afirma, dissolvendo a realidade histórica de seus atores concretos. As conse- qüências políticas são fatais: como operar mudanças no texto da histó- ria mundial, sem se considerar as condições de existência de seus principais atores? Como mudar a história, sem mudar o comporta- mento de seus atores? Como falar de um comércio intemacional mais justo, sem convencer os conglome- rados que eles devem reduzir suas margens de lucro, para tomar possí- vel um desenvolvimento niais_huz mano? Como atacar o protecionis- mo, sem indicar como e quem ele protege? Como controlar esses conglomerados, se eles náo existem na análise da ONU, mas dominam, na realidade? Como falar em acabar com a fome no mundo, se a comer- cialização de grãos está concentrada nas mãos de menos de 10 grandes conglomerados mundiais? Será pos- sível construir um outro mundo, to- talmente paralelo a esse existente e que. em última instância, determina essa labuiosa concentração de rique- za e pobreza no mundo?

O relatório necessita refinar seus avanços conceituais na defini- ção da qualidade humana, do desen- volvimento e da importância da democracia, como caminho desse desenvolvimento. Mas necessita, também, identificar os principais atores que. nessa etapa de nossa his- tória, estão definindo seus rumos.

A inclusão do capítulo da inter- nacionalização, das transnacionais. dos grandes conglomerados vai completar o estudo das Nações Uni- das. Para isso. é necessário incluir no debate sobre a democratização

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Quinzena

do mercado e do Estado, a democra- tização do próprio capital que, entre

outros nomes, também responde pe- lo nome de Transnacional. •

Jornal do Brasil, 17/07/91

Grupo dos 7 lança bases da nova ordem mundial

No segundo dia do seu 17- encon- tro anual de ciípula, os países do Gru- po dos Sete estabeleceram as bases para uma nova ordem internacional, numa declaração conjunta na qual dão destaque especial à necessidade de fortalecer as Nações Unidas — que de- verá desempenhar cada vez mais o papel de vigilante da paz — e de impe- dir a proliferação de armas nucleares, qufrrucase biológicas.A seguir, tre- chos do documento:

Sobre a ONU - Acreditamos que agora existem condições para que as Nações Unidas cumpram completa- mente as promessas e correspondam à visão inicial dos seus fundadores. Uma ONU revitalizada terá um papel centrai no fortalecimento da ordem internacional. Comprometemo-nos a tomar a ONU mais forte, mais efi- ciente e mais eficaz para proteger os direitos humanos, manter a paz e a se- gurança de todos e a impedir agres- sões. Faremos da diplomacia preven- tiva uma prioridade máxima para aju- dar a evitar futuros conflitos, deixan- do claro a agressores potenciais as conseqüências de suas ações.

Sobre não-proiiferação — Estamos profundamente preocupados com a proliferação de armas nucleares, quí- micas e biológicas e dos sistemas de lançamentos de mísseis. Estamos de- cididos a combater essa ameaça refor- çando e expandindo os mecanismos de nâo-proliferação. Reafirmamos nossa vontade de trabalhar para estabelecer o mais amplo consenso em favor de um mecanismo estável e justo de não- proliferação baseado no equilíbrio entre a não-proliferação e o desenvol- vimento de usos pacíficos da energia nuclear.

Exortamos todos os países que não têm armas nucleares a submeterem suas atividades nucleares às salva- guardas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Apreciamos a decisão do Brasil e da Argentina de concluir um acordo de salvaguardas de amplo alcance com a AIEA e de tomar providências para fazer valer o Tratado de Tlatelolco, assim como apreciamos a adesão da África do Sul a Tratado de Não-Proliferação.

Sobre Iraque e Kuwait — Obser-

vamos que a urgente e avassaladora natureza da questão humanitária no Iraque, causada pela violenta opressão do governo, exigiu uma ação extraor- dinária da comunidade internacional, em seguida à Resolução 688 do Con- selho de Segurança das Nações Uni- das. Exortamos as Nações Unidas e suas agências a se manterem prontas a considerar ações similares no futuro, quando as circunstâncias o exigirem. A comunidade internacional não pode permanecer indiferente nos casos em que o sofrimento humano causado por fome, guerra, opressão, fluxo de refu- giados, doenças e enchentes atinja proporções urgentes e avassaladoras.

Manifestamos nosso apoio pelo que os países do Golfo e seus vizinhos estão fazendo para assegurar sua se- gurança no futuro. Pretendemos man- ter as sanções contra o Iraque até que todas as Resoluções relevantes do Conselho de Segurança sejam cumpri- das em sua totalidade e o povo do Ira- que e seus vizinhos possam viver sem medo de intimidação, repressão ou ataque. O povo iraquiano merece a oportunidade de escolher sua lideran- ça aberta e democraticamente. Aguar- damos com atenção as próximas elei- ções no Kuwait e uma melhora na si- tuação dos direitos humanos nesse país e na região.

Sobre África do Sul — Apreciamos a positiva marcha dos acontecimentos na África do Sul, onde os pilares le- gais do apartheid foram finalmente derrubados. Esperamos que essas im- portantes providências sejam comple- mentadas pela eliminação real do

Economia

(1) Transnationai Corporalions m World Development, Trends and Prospects, pág 16. United Nalions, New York. 1988.

apartheid e pela melhoria da situação das populações mais pobres do pafs. Esperamos que as negociações em tomo de uma nova constituição que leve a uma democracia onde não haja discriminação racial comecem ime- diatamente e não sejam interrompidas por trágicas explosões de violência.

Preocupa-nos que a fundação de uma nova África do Sul, onde não haja discriminação racial, seja preju- dicada por crescentes problemas so- ciais e por perspectivas econômicas cada vez mais limitadas para a maioria da população, o que tem contribuído para a violência.

Há uma necessidade urgente de re- cuperar o crescimento da economia para ajudar a reduzir as desigualdades de riqueza e oportunidade. A África do Sul precis procurar novas políticas, econômicas, de investimentos e ou- tras, que lhe permitam o acesso a to- das as formas de empréstimo no exte- rior. Além dos seus esforços internos, a África do Sul precisa também de ajuda da comunidade internacional, especialmente nas áreas onde a maio- ria sempre sofreu privações: educa- ção, saúde, habitação e previdência social. Vamos canalizar nossa ajuda para esses objetivos.

Sobre reféns - Buscamos o fortale- cimento da ordem internacional por meio também de um contínuo e vigo- roso esforço para deter o terrorismo e a captura de reféns. Apelamos pela li- bertação imediata e incondicional de todos os reféns, onde quer que eles estejam sendo mantidos, e pela enu- meração de todas as pessoas tomadas como reféns que morreram em cativei- ro. Apreciamos a intervenção de go- vernos cm influência sobre grupos que mantêm reféns, aos quais pedimos que intensifiquem seus esforços até que todos sejam libertados. Reafirmamos nossa condenação a todas as formas de terrorismo e vamos trabalhar juntos para desencorajar e combater o terro- rismo por todos os meios possíveis. •

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Quinzena

Análise de Conjuntura -13 de Maio - NEP -18.07.91

Foi com o tftulo acima que o jornal "O Estado de São Paulo" escreveu seu prin- cipal editorial na data de hoje. Este tradi- cional jornal, representante do conserva- dorismo burguês no Brasil, certamente não pode ser confundido com qualquer interes- se progressista e muito menos popular, frente às novas formas do imperialismo eu- ro-norte-americano. Entretanto, todo seu editorial é um novelo de preocupações com os contornos de uma nova ordem mi- litarista mundial que se estabeleceu em Londres na reunião do G-7 - Estados Uni- dos, França, Japão, Alemanha, Inglaterra, Itália e Canadá. Depois de resumir a dis- posição das sete potências de "assumir a liderança das ações políticas de alcance global", o editorial explica que esta dispos- ção, substituindo o sistema bi-polar de po- der da época da guerra-fria entre Estados Unidos e URSS, representa apenas a rea- lidade oe "um sistema multipolar no qual a prosperidade econômica e o poderio militar cada vez mais se eqüivalem! Termina di- zendo que "restaria o fato de o mundo es- tar sendo novamente dividido em hemifé- nos, desta vez não mais ideológicos, mas denotativos de riqueza: de um lado, os controladores, ricos ou com poder sufi- ciente para aspirar à afluência, e seus aliados, do outro lado, a vasta, multidão dos pobres. Essa divisão já se percebe na Europa, em escala reduzida, e propõe preocupantes questões sociais e de segu- rança, a cristalização do problema em âm- bito mundial poderia fazer de três quintos ao planeta um só vulcão em atividade".

O reconhecimento de uma ordem impe- nalista muito mais poderosa do que na

0 IMPÉRIO DOS SETE época da Guerra-Fria, enquanto é ignorada por grande parte da chamada esquerda, assusta cada vez mais as forças de direita no Brasil. Além de manifestações isoladas como este editorial do "Estadão" e de in- telectuais da direita tradicional, o próprio presidente Collor embarcou nesta semana para o México, onde está participando de uma reunião dos países ibero-americanos, falando de um "grande império do norte" e propondo uma mudança radical no relacio- namento norte-sul. O discurso neo-liberal do governo brasileiro parece estar encon- trando seus limites na própria realidade da verdadeira ordem policial que as econo- mias centrais estão implantando pra o Ter- ceiro Mundo: enquanto a crise ameaça a economia mundial, os problemas econômi- cos serão tratados cada vez mais como problemas policiais, não se esquecendo que o G.7 deve ser a única polícia do mundo. De um lado imagina-se o G.7 e

mais a URSS e China, como os donos do mundo. De outro uma multidão de "Ira- ques" passíveis de intervenção militar di- reta, no caso de falta de sintonia com as ordens emitidas pelo novo poder imperial.

O discurso neo-liberal, que assinou a burguesia terceiro-mundista e do Leste eu- ropeu nos últimos anos, foi apenas o prato de entrada para o principal deste banquete neo-imperialista. Os conservadores e rea- cionários destas economias dominadas tem motivos de sobra para lamentar o fato que na nova ordem eles deverão se limitar a lavar os pratos desta banquete dos paí- ses ricos. Não era esta a perspectiva que eles tinham quando contavam as maravi-

lhas dos"tigres asiáticos", em termos eco- nômicos, e se deliciavam, em termos ideológicos, com a "queda do muro". Ago- ra eles começam a perceber que o "fim do comunismo" está se transformando em um verdadeiro pesadelo par quem projetava uma rearticulação econômica com o impe- rialismo, depois da desordem financeira dos anos oitenta. As perspectivas de uma nova internacionalização da economia, ca- paz de manter o poder destas oligarquias no mesmo pântano de subdesenvolvi- mento e repressão que sempre caracteri- zaram seu capitalismo, agora se transfor- ma de sonho em pesadelo. Com o "fim do comunismo" estas oligarquias burguesas perderam sua função, sua importância. A tarefa policialesca que elas organizavam em seus respectivos países agora está passando diretamente para o G.7. Estas oligarquias serão preservadas apenas en- quanto elas concordarem em participar do sucateamento das suas economias, ne- cessário para a superação de uma pode- rosa crise cíclica que ameaça a economia mundial, preservando o funcionamento das economias que compõem o G.7.

O nacionalismo que começa a tomar conta de grande parte da direita brasileira a defesa da Amazônia é apenas um primeiro ensaio deste nacionalismo - não é um ter- reno fértil para esta oligarquia. Mais cedo do que a direita imagina, o Brasil poderá ser tratado como apenas mais um Iraque, a ser controlado pelos tanques e aviões do G.7. E os seus novos heróis nacionalistas como apenas mais um bando de "Sadam Husseins". Restarão então as lamenta- ções do "Estadão". •

Informativo Dívida Externa n* 30

Dívida Externa governa a América Latina

A dfvida externa constitui um dos problemas cruciais da realidade latino- americana, tanto no que se refere à crise das estruturas internas quanto à sua inserção internacional. Obvia- mente o endividamento externo dos países do continente não é um fenô- meno novo. No século XIX a Inglater- ra financiou a construção de ferrovias e instalações portuários da região, in- tegrando-a à divisão internacional do trabalho. Os empréstimos também permitiam a aquisição de máquinas e bens de consumo dos países indus-

triais, superando o limite das divisas obtidas através das exportações primá- rias.

A Grande Depressão que se seguiu à crise de 1929 obrigou grande núme- ro de países latino-americanos a de- cretar moratória. A queda do fluxo de capitais durante a depressão intemacio nal, a conjuntura da Segunda Guerra Mundial e o relativo descaso pela América Latina durante a Guerra Fria, tiveram como conseqüência um baixo nível de endividamento durante as dé- cadas de 1930, 40 e 50. Sem embargo.

ao final dos anos 50 e início dos 60, a industrialização substitutiva de im- portações demandava a importação de maquinário, tecnologia e capitais, ge- rando nova onda de endividamento e aprofundando a dependência.

Na passagem dos 60 aos 70, outro fator somou-se: o surgimento do mer- cado do eurodólares e a inflação. Isto ocorreu quando os EUA desvincula- ram o ddlar do ouro, com o objetivo de favorecer as multinacionais no Terceiro Mundo. Este processo "jo- gou" dólares desvalorizados nos EUA

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para os banes europeus, que ficaram com grande disponibilidade para em- préstimos.

A crise do petróleo, em 1973, veio aprofundar esse processo. A OPEP reagiu à essa política do dólar qua- druplicando o preço do óleo bruto, ge- rando a formação de uma massa de capitais, os petrodólares, logo investi- dos em bancos ocidentais. Surgiu as- sim uma conjuntura de "dinheiro fá- cil" para financiar a importação de petróleo e de produtos industriais do Primeiro Mundo. Assim, o endivida- mento do Terceiro Mundo cresceu ra- pidamente, passando de US$ 100 bi- lhões em 1970 para US$ 475 bilhões em 1980. Como os países mais atingi- dos eram os de industrialização re- cente, a América Latina e, em menor grau, os "Tigres asiáticos", foram os que mais fortemente se endividaram.

ANOS 80 A situação agravou-se dramatica-

mente nos anos 80. A baixa do dólar e a inflação americana levaram a um crescente aumento da taxa de juros dos empréstimos externos, que passa- ram do índice de 10%, de 1979, para 169c, em 1981 e, depois, para 28% em 1985. Além disso, a conjuntura apre- sentava-se ainda mais desfavorável devido à recessão dos países centrais, à crescente depreciação dos preços dos produtos e, na periferia latino- americana, pela crise econômica in- terna e pela aplicação improdutiva de granüc parte do capital externo. Falta- va o crescimento econômico com o qual os governos do subcontinente contavam para pagar a dívida.

Em 1982, os credores, na perspec- tiva do neoliberalismo triunfante, re- duzem drasticamente a concessão de novos créditos, que na Amérida Lati- na caíram de 31 bilhões de dólares pa- ra apenas 11 bilhões de dólares, em apenas um ano. Era o início do colap- so. O México decretou moratória. O norte, por seu turno, havia iniciado a reestruturação do capitalismo interna- cional nos anos 70, da qual a revolu- ção tecnológica era um dos pilares fundamentais. Dominando o sitema fi- nanceiro, esses países impuseram ao Terceiro Mundo um ajuste recessivo sem precedentes, levando a América Latina a aumentar enormemente suas exportações para pagar a dívida exter- na, enquanto conhecia-se um retroces- so social violento, ampliando a exclu- são social pela concentração de renda, desemprego, retirada de recursos para políticas sociais, etc.

Os países do subcontinente passa- ram assim a exportar capitais para fi- nanciar a reciclagem econômica do norte (aproximadamente 4% do PIB).

, HONRAR A DÍVIDA E interessante salientar que as de-

mocratizações latino-americanas tive- ram como um dos pontos básicos a instalação de governos fracos que re- petiam incansavelmente que era ne- cessário "honrar a dívida externa". Mas o aumento da miséria, enquanto obtinha-se superávits comerciais enormes, e a implantação dos planos de ajustes da FMI levaram muitos paí- ses da América Latina a conhecer ex- plosões sociais violentas, como na Venezuela em 1989. Quando isso ocorria, não apenas surgiram capitais para estabilizar os governos ameaça- dos pelo desespero popular, como criavam-se planos para a redução par- cial da dívida externa de alguns paí- ses. Paralelamente, os governos lati- no-americanos procuravam articular políticos comuns para enfrentar a crise

da dívida junto aos credores. Mas, o tratamento preferencial dado pelo norte a certos países, e a vacilação dos líderes do subcontinente (decor- rente de sua própria base de poder), inviabilizaram qualquer ação concreta.

Não seria exagero afirmar que a Dívida Externa "governa" a América Latina. Além disso, a crise do socia- lismo e a formação dos mega-blocos econômicos deixou a região numa si- tuação ainda mais difícil. O ajuste monetário e fiscal efetuado em alguns países levou os neoliberais a falar em "vitória". Mas trata-se apenas de "maquiar" uma realidade cujos fun- damentos sociais encontram-se próxi- mos do ponto de ruptura, pois a crise mundial é profunda, estrutural. Qual- quer Nova Ordem Internacional preci- sa romper de forma inequívoca com a atual realidade. •

Gazeta Mercantil, 16/07/91

Brasil remete ao exterior 44,6% de sua dívida externa

em 6 anos De 85 a 90, as transferências de capital para o

exterior chegaram a US$ 54,48 bi

O Brasil remeteu ao exterior, em 1990, cerca deU S$ 4,7 bilhões a mais do que recebeu em recursos das insti- tuições internacionais. Entre 1985 e 1990, as transferências de capital do Brasil ao exterior acumularam um sal- do negativo da ordem de US$ 54,48 bilhões, o equivalente a 44,6% do to- tal da dívida externa registrada em de- zembro de 1990: US$ 122 bilhões.

As informações constam do Relató- rio Anual 1990 divulgado ontem pelo Banco Central. No capítulo "movi- mento de capitais", o documento do BC revela que, em 1990, ingressaram no país US$ 8,34 bilhões contra uma saída de recursos de US$ 13,03 bi-

lhões. Em razão da suspensão dos juros

da dívida externa aos credores priva- dos, o relatório confirma que "o mer- cado de crédito para empréstimos bancários de longo prazo continua fe- chado para o país". Ou seja, nenhum recurso novo dos bancos privados en- trou no país.

Segundo o documento, o Brasil deixou de pagar cerca de US$ 8,87 bilhões em juros vencidos junto aos bancos privados. Isso explica porque as remessas líquidas do país aos cre- dores externos cafram de US$ 9,85 bilhões, em 89, para os US$ 4,72 bi- lhões no ano passado. ^fe

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REMESSA DE 85 A 90 (tuil Iquãlo qua KW d» ffti o 19901

US$ 54,48 bilhões

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1989 1990

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O relatório destaca ainda que, mesmo entre os organismos financei- ros multinacionais, com quem o Brasil se manteve em dia no pagamento de jurosf e amortizações de crédito, o re- sultado foi igualmente negativo para o pafs.

No ano passado, foram remetidos liquidamente pelo Brasil US$ 1,06 bilhão a Banco Mundial (Bird), US$ 936 milhões ao Fundo Monetário In- ternacional, U S$ 231 milhões ao BID.

Além desses valores, outros US$ 773 milhões foram remetidos aos órgãos governamentais de crédito e outros US$ 1,9 bilhão aos bancos comer- ciais.

Apesar disso, o relatório mostra que, na posição de setembro do ano passado, o estoque da dívida externa brasileira apresentava um crescimento de 5,1% em relação a dezembro de 89. Em setembro, a dívida total brasi-

leira totalizava US$ 120,9 bühões. Desse total, cerca de US$ 97,7 bi-

lhões referiam-se à dívida registrada (empréstimos de médio e longo pra- zos) e outros USS 23,2 bilhões em créditos com vencimento de curto pra- zo (dívida não registrada). Para de- zembro de 90, as estimativas do BC são de que a dívida tenha alcançado a casa dosü S$ 122 bilhões. •

Exame- 10.07.91

SENHORES, FAÇAM SUAS APOSTAS

O PIB brasileiro pode variar mais de 200 bilhões de dólares — depende da taxa de câmbio que se utilize

O PIB brasileiro pode variar mais de 200 bilhões de dólares - depende da taxa de câmbio que se utilize

As possibilidades do jogo são variadas. De um lado estão os que apostam no Bra- sil como a oitava economia do mundo. Do outro aqueles que enxergam o pafs na 11§

colocação entre as economias mundiais, a aposta vencedora, mais que em outras épocas da vida nacional, está nas mãos do croupier, que gira a bolinha na roleta. Se estiver mal-humorado, o jogo poderá transcorrer a noite inteira que o PIB não vai ultrapassar a barreira de 296 bilhões de dólares. Se ele estiver alegre, o mesmo PIB pode saltar para 526 bilhões. Quem não se conformar com essa instabilidade e recorrer ao Banco Central em busca de segurança, ficará ainda mais confuso: o próprio BC foi que calculou os dois núme- ros referentes a 1990. Para alcançar os 526 bilhões de dólares, os técnicos do banco adotaram o conceito de taxa média do câmbio ao longo do ano passado. Co- mo nesse período o câmbio ficou defasa- do, em função da política do próprio Banco Central, o cálculo do PIB em cruzeiros e sua posterior conversão para dólares cau- sam uma distorção enorme. Embora o po- der de compra real da moeda caísse cada vez mais diante do dólar e a própria eco- nomia registrasse seu pior desempenho desde que as contas nacionais começa- ram a ser calculadas no país, o Brasil aca- bou ficando com um PIB digno de potência mundial. A renda per capita, por essa me- todologia, atingiu 3.500 dólares.

A realidade brasileira, contudo, está mais embaixo. Os 296 bilhões do PIB tam- bém encontrados pelo governo produzem uma renda per capita em torno dos 2.000

dólares. Para chegar a esse número, o Banco Central escolheu como parâmetro o ano de 1985, quando a taxa de câmbio estava mais ajustada. Em seguida, des- contou o efeito da inflação americana e sobre esse número adicionou a perfor- mance do PIB brasileiro. "É um número mais próximo da realidade", observa o chefe do Departamento de Contas Nacio- nais do IBGE, Cláudio Considera, o técni- co do governo responsável pelo cálculo do PIB.

Qualquer que seja a escolha entre as duas apostas, trata-se de desprezar uma diferença de mais de 200 bilhões de dóla- res. Pode ser que haja pessoas insensí- veis aos apelos do dinheiro, mas nesse caso a indiferença causaria certo espanto. Basta lembrar que os 296 bilhões de dóla- res eqüivalem praticamente ao PIB da Austrália, a 12? colocada no rankino mun- dial. Já se a referência forem os 526 bi- lhões de dólares, o Brasil manter-se-ia na oitava posição depois de crescer no ano nada menos que o correspondente a uma Holanda. É claro que nada disso aconte- ceu. Já vão tonge os anos 70, quando o Brasil ostentava os maiores índices de crescimento entre os países em desenvol- vimento. "A defasagem do câmbio e a in- flação alta distorcem o cálculo do PIB", re- sume o economista Salomão Quadros, chefe do Banco de Dados da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.

FALTA UM ÍNDICE As divergências entre os números po-

deriam ser amenizadas se o país cons-

truísse um índice que medisse o poder de compra do cruzeiro diante do dólar e de outras moedas estrangeiras. As Nações Unidas propuseram montar esse termô- metro, mas o projeto esbarrou num pro- blema bem prático: falta de verbas. "Não temos dinheiro nem pessoal", reclama Considera. Com esse tipo de índice, seria possível comparar, com bastante precisão, o consumo médio do brasileiro com o de um japonês, de um americano ou de qual- quer outro habitante da parte do planeta que possui estatísticas minimamente con- fiáveis. Mesmo assim, nem todos os pro- blemas estariam resolvidos. Considera chama a atenção para a atuação dos ban- cos centrais dos países ricos, cujas inter- venções nos mercados de câmbio também contribuem para manter paridades artifi- ciais entre as moedas fortes. As distor- ções, é claro, nunca serão tão pronuncia- das como no Brasil, mas existirão - o que não serve de desculpa para avançar o si- nal em matéria de liberdades estatísticas.

Também o critério empregado para me- dir as riquezas de um país é importante na busca dos números definitivos. O Banco Mundial prefere adotar o conceito de pro- duto nacional bruto, PNB. Por essa fór- mula, é descontada ou adicionada a transferência líquida de renda para o exte- rior. Dependendo do caso, isso pode au- mentar ou diminuir o número apurado para o PIB - no caso brasileiro, haveria uma redução. O IBGE prefere ficar longe dessa polêmica e oficialmente só calcula o PIB, e em cruzeiros. Só que, pela complexidade das informações, faz revisões periódicas. Na primeira quinzena de julho, por exem- plo, vai divulgar a nova estimativa para o PIB do ano passado - possivelmente com uma queda um pouco inferior aos 4.6% já anunciados. A rigor, o número definitivo será conhecido apenas quando for possí- vel comparar as informações do censo de 1980 com as de 1991. Uma coisa, porém, é certa: por mais que se melhore a capaci- dade de apuração das contas nacionais, não se mudará o tato de o Brasil ter hoje uma economia em marcha à ré. É melhor, assim, deixar a aposta com o croupier e ver a bolinha rolar.

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AS TRÊS MANEIRAS DE MEDIR O PRODUTO INTERNO BRUTO

DO BRASIL

' O Banco Central usa como referência para suas contas a taxa de câmbio média de 1985, quando a paridade do cruzeiro frente ao dólar estava bem ajustada. Descontando a variação da inflação ameri- cana e adicionando a variação real da atividade eco- nômica no período, chega-se a um valor de 296 bi- lhões de dólares em 1990. A base de comparação - 1985 - é constante, portanto. O problema é que o câmbio atrasou-se ao longo dos últimos anos, de- preciando o valor real dessa medida de PIB. Para os credores externos e organismos Internacio-

nais o próprio Banco Central divulga outro número para o PIB de 1990: 526 bilhões de dólares, valor a que se chega considerando-se a taxa média do dólar no ano passado. Trata-se do valor do PIB em bases nominais - e, por isso, não se compara com os nú- meros dos anos anteriores. Foi esse o valor citado peto presidente Fernando Collor durante o lança- mento do chamado "Projetão", em março passado.

> O Banco Mundial adota outro critério. Mede o Pro- duto Nacional Bruto, do qual são descontadas as transferências ao exterior, como pagamento de ro- yalties e remessas de lucros e dividendos. O PNB de 1990, conforme o Banco Mundial, ficou em 342 bilhões de dólares. Esse valor permite comparações com o PNB de anos anteriores e também com o de outros pafses. É o número mais aceito pelos econo- mistas. -

r Folha de São Paulo, 20/07/91

Política Nacional

Lula já defende socialismo com mercado Prifultiilr ,1o /TJI/MíM a/>,■,,-siroiL, na VRSSr. nm, reserva*, aconselha FuM CaMm u demnentixar Cuba

JOSÉ ARBEX Da Reporugem Local

"O socialismo não resolveu uma coisa que é inerente ao ser humano, a vontade de progredir, o direito de ganhar mais. Um cidadão que produz dez gravado- res por dia tem que ganhar mais do que um cidadão que produz cinco. Sem resolver isso, você pode até represar a angústia na sociedade, mas um dia explode, como ao Leste europeu" —afir- ma à Folha o presidente do PT, Luís Inácio Lula da Silva, 45.

■ Sem explicitar posições —tal- vez para não ferir suscetibilidades dentro do PT, que realiza esse ano um Congresso decisivo—, Lula defende a convivência do socialismo com a economia de mercado. Propõe para o Brasil um sistema "em que você possa até abolir a pala vra estatal''. ■ ■ Lula diz, por exemplo, que o Estado deve controlar apenas os setores essenciais da economia, propõe que empresas públicas —que admitem proprietários— substituam as estatais, e elogia a exeriência sandinista 4e "não ten- tar estatizar tudo" após a revolu- ção de 1979 na Nicarágua.

Mais significativamente. Lula elogia a perestroika ("6 uma coisa boa") do presidente soviéti- co Mikbail Gorbatchev. O "equívoco" de Gorbatchev,

afirma, foi não ter conseguido controlai a abertura. Com muita diplomacia, procurando preservar ao máximo a Imagem de Fidel Castro, Lula aconselha o dirigen- te cubano a democratizar Cuba. "Fidel comete um equívoco. De- veria convocar eleições diretas para presidente da República e abrir o movimento sindical''.

Lula diz que pretende lançar-se à Presidência da República em

'Qual minha crítica ao socialismo?Não basta^ pão, escola e saúde9

"caso o PT considere meu ■oome representativo**:

• Folha ' Durante o processo

que derrubou o Muro de Berlim (em 9 de novembro de 1989), manifestantes cercaram a sede do Partido Comunista e quase espancaram sindicalistas do PT que lá faziam um curso. Voei nào acha que a cena ilus- tra o Impasse Ideológico no PT?

Luís Inácio Lula da Silva - O PT nasceu questionando o Muro de Berlim, o socialismo existente na Alemanha oriental, o partido único, 9 burocracia. O que estava òaindo era o regime e era vaiada á' sociedade como um todo. Em

Berlim, a palavra socialismo 6 quase que uma coisa ofensiva, apesar de o povo já estar desco- brindo que o capitalismo não deu ainda as coisas boas que prome- teu. Acho normal que, naquele instante, fosse vaiada qualquer pessoa identificada com o socia- lismo. ■Folha - Você diz que o socia- lismo não resolveu a questão da democracia, mas acabou com a miséria, E os bolsões Imensos de pobreza na URSS, por exem- plo?

Lula - Há bolsões de misérias em Nova York e em Washington, no país mais rico do mundo, com PIB de quase US$ 5 trilhões. Você pode fazer a. crítica que quiser ao socialismo, mas você não via em Cuba ou Alemanha oriental a quantidade de mendigos que você vê em qualquer país da América do Sul, em São Paulo. Qual a minha crítica ao socialis- mo? É que não basta pão, escola esaúde. O povo quer mais. Quer o ãireito de ir e vir, ganhar mais, o povo tem aspirações às quais o socialismo não respondeu, e por isso caiu.

Folha - E a miséria na URSS? Lula - Não quero fazer apolo-

gia do socialismo em função de notícias de jornais. Concrelamen- te, em dois países em que fiquei um bom tempo, Alemanha orien- tal e Cuba, não constatei isso.

Folha - Cuba é uma dltadu-

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Qufnxena PoHtica Nacional

ra7. Lula • O regime cubano causa

mal a si próprio. Eu disse ao Fidel Castro que se eu fosse ele convocaria eleições diretas oara presidenje da República, mesmo sem fichar que eleições, por si só, representam a totalidade da de- mocracia. Acho que Fidel seria eleito com 909^ dos votos.

Folha - Fidel 4 um ditador? Lula • Cada país tem uma

cultura que determina o tipo e forma de organização em que as pessoas querem viver. Quando vou a Cuba, sinto que h4 uma normalidade. No México existe um partido só há 60 anos e ninguém diz que lá é ditadura. O Fidel cumpre uma coisa que está na Constituição, cumpre a deter- minação de um partido político.

Folha - Como você explica o êxodo de milhares de pessoas da URSS, ou mesmo da Alemanha oriental antes de cair o Muro? As pessoas querem coisas tão fundamentais quanto pão. Você subestima o valor da democra- cia?

Lula • Ninguém valoriza mais a democracia do que eu, até porque fui vítima do autoritaris- mo no Brasil. Só é possível exigir democracia quando houver uma partilha justa, dos bens produzi- dos. A democracia não está liga- da apenas ao fato de a Constitui- ção dizer que todo mundo é igual perante a lei e garantir liberdade partidária, mas tampouco é ape- nas pão, saúde e educação. Isso é muito pouco. O socialismo não resolveu uma coisa que é inerente ao ser humano, a vontade de progredir, o direito de ganhar mais. Um cidadão que produz dez gravadores por dia tem que ganhar mais do que o que só produz cinco. Sem resolver isso, você pode até represar a angústia da sociedade, mas um dia explo- de, como no Leste europeu.

Folha - A Anistia Internacio- nal denuncia o regime cubano.

Lula - Em Cuba há muita coisa não resolvida. Se tiver preso polí- tico, tem que ser liberado. Não é possível ter preso político.

Folha • Você adotaria no Bra- sil o modelo cubano ?

Lula - Não. Defendo um sis- tema socialista democrático, plu- ralista, onde o movimento sindi- cal tenha o direito de se organizar e de fazer greve. Onde você não precise estatizar todos os setores de produção, mas apenas os estra- tégicos, em que você possa até abolir a palavra estatal. Você pode criar, ao invés de empresa estatal, a empresa pública,

porque ela democraticamente de- ve ser controlada pela sociedade. Eu acho que quando houve a revolução na URSS, muita gente imaginava esse tipo de sociedade solidária. Depois, os homens, alucinados pelo poder, chegaram nisso que está aí.

Folha - Mas Fiaei não i um alucinado pelo poder?

Lula - Fidel comete um equí- voco. Deveria convocar eleições e abrir o movimento sindical. Eu disse aos companheiros da CTC (central sindical cubana) que eles deveriam ter, inclusive, o direito de fazer greve, como no Brasil. O PT não tem que mandar nin- guém fazer curso de sindicalismo

'Fidel devia convocar eleições diretas e abrir o movimento sindical'

em Cuba ou na URSS. Eles é que deveriam fazer curso no Brasil.

Folha - Foi correta a atitude da Frente Sandinista de Liber- tação Nacional (FSLN) de con- vocar eleições na Nicarágua?

Lu/a-Foi correta. Folha -Ea derrota ? Lula - Não sei bem como se

deu a eleição, qual o volume de dólares que Washington enxertou na campanha de Violeta Chamor- ro. A extrema direita que critica- va a FSLN já rompeu com Viole- ta. Hoje. quem está dando susten- tação parlamentar á ela é a FSLN. Acho aue os sandinistas agiram bem, inclusive por não terem tentado estatizar tudo em 1979, mas apostaram num mode- lo de economia mista combinando empresa pública e privada.

Folha - Insisto sobre um tema que você está tentando evitar, a caracterização do regime cuba- no.

Lula - O regime cubano é um regime socialista que carece de instrumentos democráticos para se consolidar. Há muita organiza- ção —no movimento estudantil, de mulheres, nos bairros. É uma forma democrática de governar, mas falta pluralismo.

Folha - Você apoia a peres- trolka?

Lula - A perestroika é uma coisa boa. Abrir o regime é muito importante. A sociedade é que tem que determinar o tipo de regime que quer, para isso ela tem que ser ouvida. O equívoco de Gorbatchev 'foi ter tentado

afrouxar as comportas e elas ex- plodiram. Ele não conseguiu con- trolar a abertura. Gorbatchev é um homenl muito mais querido no Ocidente, por conta da guerra ideológica, denjue na URSS.

Folha -' Mas também na URSS, se você defende o socia- lismo, você apanha.

Lula - Eu sei.-A URSS é o país mais anticomunista do planeta. A experiência que eles elaboraram lá não deu certo. Não é possível que, após 70 anos, você ainda não consiga produzir a quantida- de de comida e bens necessária. Acho justo que o Gorbatchev queira rever isso.

Folha - Você enviou uma car- ta ao Willy Brandt, dirigente da Internacional Socialista (IS). Você virou soclal-democrata?

Lula - Não. A direção executi- va nacional do PT adotou uma resolução dizendo que gostaría- mos de participar, como observa- dores, nos encontros da IS, como participamos do Congresso da FSLN ou do Congresso do PC cubano. No ano passado, fomos convidados a ingressar na IS. Por unanimidade, a executiva decidiu que não nos filiaríamos, até porque o PT tem só 11 anos, e não tem nada com os conflitos seculares entre as Internacionais.-

Folha - Para onde está Indo o movimento operário Internaci- onal após a queda do Muro? Há um movimento mundial colo- cando a questão do poder?

Lula - Não. Eu acho que não está colocado agora. Eu acho muito difícil realizar o esforço proposto por Marx, "trabalhado- res do mundo, uni-vos". É tão difícil você unir os trabalhadores de São Bernardo aos de São Paulo, quanto mais você pensar na coisa absurda de greve inter- continental. O movimento sindi- cal tende a caminhar para um estreitamento de relações, à me- dida que a economia está se mundializando. Acho prudente que o movimento sindical comece a estabelecer acordos com empre- sas internacionais, por exemplo como a Volkswagen, que tem planta no Brasil, no México, na Alemanha, nos Estados Unidos.

Folha - Você vê um processo de convivência mais ou menos pacífica entre capital e traba-. Iho?

'Defendo o socialismo plural, onde se possa abolir a palavra estatal'

Lula - Eu acho que, no curto

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PoiHiea Nacional

prazo, estú colocado um processo de amadurecimento do movimen- to sindical e a conquista da me- lhoria da qualidade de vida do povo através de greves, acordos c contratos coletivos.

Folha - Marx morreu ? Lula - Eu acho que a teoria

marxista não morre, tem funda- mento, tem lógica em muitas coisas. Acho que o marxismo nunca foi colocado em prática como eu acredito que Marx ima- ginava, mas acho que a classe trabalhadora ainda mantém o es- pírito de unidade da classe.

Folha - Você não rê uma 5' Internacional?

Lula - Acho difícil, mas há dez anos, nenhum analista político previa o que aconteceu no Leste, ou que o Gorbatchev iria de chapéu na mão pedir dinheiro aos países ricos ou comida aos ale- mães. É possível que você possa criar outra Internacional. Afinal, hoje você constata que no Brasil, na Nicarágua, na Guatemala, em El Salvador, no Chile, na Argen- tina os movimentos operários começam a se organizar em par- tidos. Só acho que a Internacional não está colocada agora na or- dem-do-dia. Nós estamos fazendo uma coisa inovadora, por exem- plo, já fizemos o 2o Econtro da Esquerda Latino-Americana. Es- tamos num momento muito rico da participação democrática da esquerda. Por exemplo, o M-19 na Colômbia. Grupos que passa- ram dez, 15 ou 20 anos na luta armada, optaram pela luta demo- crática.

Folha • Você é contra a dita- dura do proletariado?

Lula - É. É que eu acho que quando o proletariado chegar ao poder não haverá ditadura, have- rá democracia elevada às suas últimas conseqüências. A síntese da democracia é a maioria no poder, garantindo os direitos das minorias. O dia que a classe operária, mais camponeses, mais a classe média chegarem ao poder nós teremos 90% da população no poder. Por isso é equivocado o conceito de ditadura do proletari- ado.

Folha - Você éleninista? Lula - Não. Sou torneiro me-

cânico.

Dirigente do PT declara guerra aos "burocratas " do seu partido

Da Reportagem Local

No próximo Congresso do PT, no final do ano, Luís Inácio Lula da Silva vai declarar uma "guerra" aos "burocratas" do

partido. "Precisamos acabar com a história, dentro do PT, de cidadão que se mata por um cargo, porque quer o cargo para poder ser alguma coisa na vida. Não é possível" —afirma. "O eleitorismo começou a tomar conta do PT e esquecemos a coisa mais sagrada, a organiza- ção de base. A eleição funciona, para quem concorre, como o cara que comprou um bilhete de loteria: fica alucinado para ga- nhar."

Lula se deixa empolgar du- rante a entrevista, de 90 minutos, concedida no dia 16 na sede do governo paralelo, em São Paulo. Brincando, leva a mão à nuca e diz que um torcicolo "está me matando, acho que é a idade" —evidente exagero para alguém conservado, simpático e de apa- rência saudável, mas gordo demais para ser elegante.

Lula parece disposto a lutar, no congresso do partido, pela volta do PT às origens "basis- tas'' —descarta um PT ' 'soft'' ou refundar o partido, como pro- põem algumas das 19 teses já apresentadas. Mas será difícil para Lula definir uma concepção estratégica clara de programa —se Lula critica o "socialismo burocrático", seus malabaris- mos em defesa de Fidel Castro denunciam um estágio no mí- nimo confuso e no máximo ideologicamente comprometido de elaboração.

Contraditando sua própria ava- liação de que o PT foi prejudi- cado pela "alueinação eleito- ral". Lula não vê crise no partido, mas admite que o "governo paralelo" fez muito menos do que esperava. Diz ter sido o PT quem mais propôs alternativas ao Plano Collor, "Congresso Nacional, no movi- mento sindical e social''.

Uma das causas para o fato de as propostas do PT não terem "emplacado" —diz Lula—, é o boicote de Rede Globo, que, em

aliança com o presidente Fer- nando Collor de Mello, ocultaria à opinião pública as propostas da oposição. "Em 20 anos de militãncia, nunca vi a imprensa brasileira tão serviçal do poder. A Globo se transformou num diário oficial do Executivo. Jornais como a Folha, por mais que informem, atingem 500 mil, um milhão de pessoas. Nós estamos falando de 150 milhões de pessoas. Se não aparecer na TV, as coisas ficam diluídas.''

Sempre que se refere a Collor, Lula deixa transparecer amar- gura, mas diz que não guarda mágoa contra o presidente. Irô- nico, compara Collor à seleção do Brasil: "Falta rumo, chuta para todos os lados, de bico, de canela, sem nenhum controle emocional". Diz que Collor está causando tanto estrago ao Brasil quanto as forças da coalizão ao Iraque na Guerra do Golfo. "Eu digo aos companheiros: o PT está de salto alto, precisa bater mais duro no Collor.''

Indagado sobre o que achava da declaração dg prefeita de São Paulo, Luiza Erundina. de que subiria num palanque com Col- lor, Lula responde, algo irritado. que Erundina havia desmentido a afirmação. Diz que não veria problema se algum prefeito petista recebesse Collor, mas ressalta que os limites seriam cerimoniais e protocolares. Diz que a gestão Erundina será avaliada como a que mais morali- zou a administração pública de toda a história de São Paulo.

Referindo-se a um tema per- manente em suas discussões —a dívida externa—. Lula cita a manchete da Folha de 16 de julho, segundo a qual o país remeteu aos credores externos, em seis anos (1985-90), USS 54,48 bilhões, quase a metade da dívida (USS 122 bilhões). "Isso só corrobora o que o PT vem falando. Quanto recebemos de dinheiro novo? Nada. Se você tivesse aplicado aqui o dinheiro, criasse um fundo para investir em pesquisa em nossas universi- dades, na infraestrutura, em dez anos esse país daria um salto de qualidade, e a gente poderia pensar em ir para o Primeiro Mundo". (JoséArbex)

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PoHtiea Nacional

Folha de Sáo Paulo. 26/07/91

Críticas a Marx viram modismo vulgar no ocaso do positivismo

José Arbex

Virou moda atacar o marxismo - e o seu abandono pelo PCUS consagra o mo- dismo. Mas poucos sabem, de fato, do que estão falando. Não apenas porque o mar- xismo é uma complexa e sofisticada "Weltanschauung" - uma visão de mundo filosófica, política e econômica -, mas também porque sua expressão prática - URSS, Leste europeu, China, Cuba - pouco teve a ver com a concepção original do sarcástico e brilhante Karl Marx (1805-83). O marxismo foi, talvez, a ver- tente mais radical do positivismo teleolóqi- co (a concepção de que há um sentido unívoco, progressista, na evolução históri- ca) que Impregnou a ciência desde o llu- minismo. Sua "morte", anunciada pela queda do Muro de Berlim, é a morte de uma era.

Naaa disso prova a "superioridade" do capitalismo. Se o capitalismo sobrevive, é difícil qualificar como "superior" um modo de produção que assegura o bem-estar de, no máximo, um bilhão de pessoas, en- quanto três bilhões passam fome. A tenta- ção, aliás, de qualificar a suposta "superio- ridade" do capitalismo é decorrente da mesma herança positivista - que ordena, quantifica, hierarquiza processos históri- cos e sociais - que a "morte" do marxismo encarrega-se de enterrar. Pela primeira vez em dois sécutos. a humanidade está órfã de modelos redentores, e esse é um problema que atinge não apenas a "es- querda" tradicional, mas qualquer cientista político ou intelectual sério.

É pouco provável que o próprio Gorbat- chev saiba o que quer. O dirigente soviéti- co parece agir movido multo mais por pressões, tremendas mas circunstanciais, do que por uma concepção programática e estratégica, por uma "Weltanschauung" qualquer. Sua formulação preferida - a de que o mercado não é uma invenção do ca- pitalismo, mas pode coexistir com uma so-

ciedade mais justa - deixa escapar uma sensação de perplexidade e vazio, que é compartilhada por todas as "viúvas", não apenas do marxismo mas de todos os po- sitivismos.

Hâ um sentido irrevogável na decreta- ção da "morte" do marxismo por Mikhail Gorbatchev, porta-voz de um poder que nasceu de uma revolução operária "clás- sica", em 1917, dirigida pelos marxistas Vladimir llitch Lênin e Leon Trotski. Após sete décadas, a tese marxista fracassou ali onde teve a chance de provar sua enunciada superioridade sobre o capita- lismo. Não teria sido o mesmo se a mesma "morte" fosse proclamada por Deng Xiao- ping ou por Fldel Castro, e, menos ainda, por regimes como os socialistas africanos - que, de marxistas, só têm o título. Em nenhum desses países houve um proces- so tão radical como o da URSS na via da ruptura com o capitalismo. Nenhum apro- ximou-se tanto do processo preconizado por Marx no "Manifesto Comunista" de 1848.

É ocioso discutir se Lênin aplicou, de fato, o marxismo às condições especlíicas da Rússia, ou se praticou "desvios autori- tários". Poderia ter sido diferente, se o par- tido leninista não fosse ultracentralista; se Lênin fosse mais democrático e não hou- vesse dissolvido a Assembléia Consti- tuinte em 1918; se Josef Stalin não tivesse ganhado a guerra contra Trotski, assumin- do um poder absoluto a partir de 1927; se... Assim como é ocioso argumentar que, desgraçadamente, o processo foi cor- rompido na origem porque a revolução aconteceu primeiro na Rússia, um dos pafses mais atrasados, e não segundo a previsão de Marx, de que chegaria primei- ro aos pafses mais desenvolvidos da épo- ca - França, Inglaterra e Alemanha. O mundo não é um laboratório de experiên- cias políticas (Ilusão comum a todos os positivismos). •

Relatório Reservado -14.07.91

TROPA SE REBELA,

EXIGE AÇÃO.

NOTA É ULTIMATO Ariosto Teixeira

A nota à tropa assinada pelos mi- nistros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, derivada dos problemas salariais da corporação, foi o ponto culminante de um processo generali- zado de insatisfação que ameaçava isolar o presidente da Repiíblica em Brasília, pelos evidentes riscos a que estaria exposto em suas viagens.

Os deslocamentos do presidente são organizados por seu Gabinete Mi- litar, que se ap<5ia em serviços presta- dos pelos comandos das três Forças em cada região. O grau de aqueci- mento da tropa exigiu pronta ação dos ministros militares, que, vocalizando este sentimento, se apressaram em contê-lo. Do contrário, o esquema mi- litar para as viagens do presidente se tomaria vulnerável e seria preciso re- correr às PMs estaduais.

Os ministros optaram pelo docu- mento e por sua divulgação durante reunião ampla dos oficiais generais lotados na capital, mas tiveram o cui- dado de envolver o presidente Fer- nando Collor no episódio.

Informado com antecedência, o Palácio do Planalto pôde influir nos termos do documento, mediante a participação do ministro da Justiça e coronel da reserva Jarbas Passarinho. Com isso, o governo difundiu a idéia de que o descontentamento militar se dirige ao Congresso Nacional, por ter rejeitado a MP 296, que estabelecia aumentos diferenciados para civis e militares.

A maneira pela qual foi divulgada a nota, em reunião interna no QG do Exército, conhecido em Brasília como Forte Apache, lida pelo ministro da Marinha, Mário César Flores (a pri- meira Arma a ser criada no Brasil), e os termos em que o documento foi va- zado, não usual em notas militares, permitiram que os analistas formulas- sem versões que buscam dar raciona- lidade ao episódio. Por exemplo:

Versão 1: Analistas militares, entre os quais se alinham assessores do mi- nistro do Exército, Carlos Tinoco, afirmam que a manifestação visou ocupar o espaço reivindicatóno da ca- sema, que estava sendo tomado pelos Clubes Militar e Naval, do Rio, pelo deputado e ex-capitão Jair Bolsonaro,

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e grupos radicais de militares que agem na clandestinidade. Teria sido um gesto político para evitar que aventureiros tirassem dos ministros a liderança de suas Armas.

Versão 2: Os ministros militares cientificaram o presidente Collor de que a situação salarial é tão grave que, se não se manifestasse, haveria a possibilidade de uma reedição do me- morial dos coronéis, que, em 1953, também por motivos de soldo, semeou a indisciplina nos quartéis.

Versão 3: Collor teria combinado tudo com os ministros, e até mesmo monitorado o episódio, com o objetivo de exibir força ao Congresso, onde não tem maioria e enfrenta dificulda- des de relacionamento. O desenvolvi- mento desse processo poderá ser a re- dução dos poderes do Parlamento e aumento dos poderes do presidente, como equação para uma crise entre os poderes que apenas começa.

Versão 4: Os analistas vinculados aos militares garantem que querem apenas aumento de salário, e que a nota dos mmistros foi "motivadora" e

Relatório Reservado, 22 a 28 de julho/91

Poiitíea Nacional não "ameaçadora". Segundo esta ver- são, os ministros militares acreditam que formalizando o pleito salarial te- rão poder para impor ao Executivo e ao Legislativo a idéia de que devem negociar e se entender imediatamente. Descartam a tese do golpe ou de que estejam sendo usados politicamente pelo presidente.

Além dessas versões, o fato: os mi- nistros militares, expressando senti- mento generalizado do Exército, Ma- rinha e Aeronáutica, desejavam na verdade cobrar do governo a que ser- vem uma decisão definitiva sobre a questão salarial.

Foi uma espécie de ultimato. Não poderiam fazê-lo sem ferir autoridade do comandante-em-chefé, o presidente da República. Seriam demitidos ou te- riam de derrubar o chefe, ou ainda tutelá-lo. Atacaram o Congresso, por ser o poder mais frágil e transparente, quando na verdade queriam atacar o governo. O indicativo disto está no raciocínio, existente na nota, de que Executivo e Legislativo não conse- guem entender-se. «

Documento da ESG reforça #

tese do 'poder nacional' Enquanto o governo brasileiro afirma sua sintonia com a idéia de um mundo que se internacionaliza, o fortalecimento de um "poder nacional" ocupa o centro do documento 1990-2000. Década Vital, preparado em 1990 pela Escola Superior de Guerra e que está circulando no meio militar. Nele, a ecologia vai para o banco dos réus. Na questão econômica, a ênfase recai sobre a necessidade de rápido crescimento do PIB. Admite-se que as posições conflitantes em relação à Amazônia podem evoluir para um '.'estado de guerra" e que isso torna imperioso recuperar um nível mínimo de capacidade de resposta a uma possível intervenção estrangeira. São ingredientes do que pode vir a ser uma nova "questão militar" no Brasil.

Política econômica

"Não há alternativa para a chegada a soluções dos problemas brasileiros

de curto, médio e longo prazos fora da retomada do crescimento econômico (...) A curto prazo os obstáculos de- vem ser enfrentados com política de ajuste da economia baseada no cres- cimento e não na recessão (...) A mé- dio prazo (até 1994) o Brasil tem que voltar a crescer cerca de 7% ao ano, retomando assim sua trajeíória históri- ca (...) A longo prazo (até o ano 2000) o país precisa alcançar um novo patamar econômico, com a duplicação do PIB (que deverá superar, na virada do século, os US$ 800 bilhões)."

2 Política e estratégia para a Amazônia

"A tarefa de superar as pressões internacionais exige medidas espe- ciais, que fogem das providências po- líticas adotadas no dia-a-dia. O Estado pode chegar até mesmo ao recurso extremo da guerra, caso venham a se tomar infrutíferos os esforços políti- cos e diplomáticos para eliminar ou

reduzir o nível de atnto. Como pres- sões, pode-se identificar os seguintes pontos:

• Contrabando: responsável pelo descrédito das autoridades governa- mentais nas regiões onde ocorrem.

• Narcotráfico: decorrência natural da associação do não-cumprimento das leis com a corrupção das autori- dades que o aceitam e toleram, por vontade própria ou cedendo à coação do poder armado dos narcotrafican- tes."

Governo próprio em reservas indígenas

"É através deste artifício que ocor- re a tentativa externa permanente de internacionalizar parte da Amazônia, começando com os enclaves indíge- nas, utilizados pelas organizações não-govemamentais (ONGs) como pontas-de-lança na discussão das questões da região. Isto, certamente, com a complacência dos governos on- de ficam sediadas as entidades (ge- ralmente países centrais, ou quase centrais, da área de influência ideoló- gico-patrimonial dos Estados Unidos, Europa e Japão)."

4Ativisino conservacionlsta

"Sob esta idéia geral se reúnem vá- rios setores e indivíduos da sociedade nacional e internacional, a partir de movimentos ecológicos e preservacio- nistas internacionais, geralmente cria- dos no âmbito de ONGs (...) Há uma mistura natural de interesses, na qual a inocência e pureza de certos idea- listas é aproveitada para que seja mantido intocado o potencial econô- mico da Amazônia brasileira (...) Se percebe claramente que a exacerbação desta pressão poderá transformá-la ra- pidamente em questão dominante, ca- paz de prejudicar objetivos nacionais (...)

Há um movimento internacional di- fuso, que não se pode, a priori, atri- buir à orquestração ou conspiração dos países já desenvolvidos. Mas as conseqüências são idéias danosas, como a da internacionalização da Amazônia (...) O estabelecimento destas cabeças-de-ponte políticas, ca- so venha a se concretizar, poderá exi- gir das autoridades brasileiras grande esíorço para sua eliminação, com o

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provável recurso à guerra, conseqüên- cia natural de um conflito que não se consiga administrar pacificamente."

Conservação da cultura indígena

"A pressão, neste caso, é muito semelhante à anterior e pode produzir eleitos perversos da mesma intensida- de. A partir de intervenção baseada em argumentação antropológica será possível, em seguida, que os mesmos organismos imponham sanções ao Brasil, baseados no direito internacio- nal. O país passará, assim, à condição de réu, culpado pela não-preservação de grupos indígenas em extinção. Es- tas ações externas irão perturbar o objetivo nacional permanente de paz social, além de ferir nossa soberania. Para sua eliminação, poderá ser igualmente necessária a evolução da questão objeto do conflito para o es- tado de guerra."

6 Dívida externa

"A renegociação deve ser precedi- da de exposição clara, feita tanto para autoridades oficiais quanto para as do meio empresarial dos Estados Unidos e de outros grandes credores, da efeti- va utilização dos créditos concedidos e dos efeitos que os pagamentos co- lossais tenham surtido na economia brasileira (...) No entanto, para adotar esta posição frente aos credores pri- vados (...), a imagem do país é fun- damental."

7 Política externa para a década de 90

"A medida que o Brasil cresce se manifestam conflitos de interesses no plano internacional. Temos que acei- tar com maturidade esta contingência (...) A defesa do interesse nacional e a preservação intransigente de nossa soberania são consideradas, de forma simplista, nacionalismo (...) Tanto no nosso país como em outras nações em desenvolvimento este conceito divide ideologicamente a população. Nos países desenvolvidos, no entanto, isso é totalmente despropositado: tal sen- timento faz parte da herança cultural coletiva, não se concebendo que um cidadão ou súdito não o possua (..,) Esta tendência é ainda mais inevitável quando estiver ligada, com relação de

causa e efeito, a outra, que vem se acentuando: o entendimento entre su- perpotências em tudo aquilo que para elas seja de importância (...) Estas na- ções tenderão a acertar entre si as bases de um processo de conciliação na divisão de zonas de influência, suavizando assim seus próprios con- flitos (...)

Diante disso, os países mais fracos têm que continuar lutando para serem ouvidos nas decisões sobre assuntos que, direta ou indiretamente, afetem seus interesses políticos ou econômi- cos (...) É necessário, por isso, per- sistir na busca da transformação das estruturas internacionais, na mudança das regras de comércio externo (que

sempre favoreceram os desenvolvidos em detrimento dos mais fracos) e, so- bretudo, na alteração da distribuição mundial do progresso científico e tec- nológico...

O dever internacional do Brasil é o de lutar para a retirada de todos os fatores externos que possam repre- sentar um óbice ao crescimento livre e sem obstáculos de seu poder nacional. A interdependência é um objetivo vá- lido e legítimo para a evolução das relações internacionais. Mas, para ser real e efetiva e não apenas uma mo- dalidade disfarçada de dependência, pressupõe uma etapa prévia de inde- pendência e soberania..." •

Linha Direta-19.07.91

As Forças Armadas não têm uma perspectiva de futuro"

üero/ao Lesbat Cavaqnan Filho

O veto, pelo Congresso, da me- dida provisória 296 trouxe à tona nao apenas o pedido de demissão do ministro Jarbas Passarinho. O bri- gadeiro Sócrates Monteiro, o almi- rante Mário Flores e o general Carlos Tinoco, ministros das Forças Armadas, ressuscitaram uma práti- ca esquecida desde os tempos de Fi- gueiredo. No último dia 02, convo- caram 150 oficiais-generais para te- rem uma nota conjunta, pautada e revista por Collor, onde os três acu- saram o Congresso pelos problemas salariais vividos nos quartéis.

O entrevistado deste número, o coronel da reserva do Exército Ge- raldo Lesbat Cavagnari Filho, dire- tor do Núcleo de Assuntos Estraté- gicos da Unicamp, analisa o episó- dio.

Linha Direta — Ao que tudo indi- ca, Collor desempenhou um papel central na elaboração e divulgação da nota que ataca o Congresso. O que o senhor acha disso?

Geraldo Cavagnari — Teorica- mente, supõe-se que o presidente ti- nha conhecimento desta nota e autori- zou a sua elaboração e divulgação, as- sim como a reunião dos três ministros com oficiais de alta patente das três armadas para leitura da nota. Neste caso nenhum dos ministros militares cometeu uma indisciplina para com o presidente. O presidente demonstrou para o Congresso que tem uma base militar solidária.

LD - A falta de definição do pa-

pei das Forças Armadas foi impor- tante neste episódio?

GC — Não. Não existe indefinição do papel das Forças Armadas. Ele está perfeitamente claro na Constituição. Essa nota evitou por algum tempo que interesses de natureza conspiratória se introduzam nessa turbulência que há nos quartéis. Esses interesses poderão vir a prejudicar o processo de conso- lidação democrática no país, mas es- tão, temporariamente, contornados. Quanto ao caráter das Forças Arma- das, o que está havendo é que elas não têm uma perspectiva de futuro. Com o fim do conflito leste/oeste de- sapareceu um referencial importante para o planejamento militar, que era o conflito entre superpotências e a ameaça potencial de mimigo interno marxista-leninista. Com o desapareci- mento da Guerra Fria, a perspectiva das Forças Armadas carece de outro referencial.

LD — Como o senhor acha que devem ser conduzidas questões co- mo essa?

GC — O Congresso, em particular a classe política, deve entender que o objetivo principal é consolidar a de- mocracia no Brasil. Deve haver um entendimento entre os três poderes, principalmente na questão salarial, notoriamente um ponto de discórdia hoje. O Congresso não deve perder de vista que as Forças Armadas ainda continuam sendo um ator de primeira grandeza no processo político brasilei- ro. •

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Política Nacional Convergência Socialista, 17/07/91

DEFESA DA EOTAL DEPENDE DA LMA, NÂO DE ACORDOS Ernesto Gradella

Nas últimas semanas, a imprensa vem noticiando de forma distorcida

uma reunião convocada pelo ministro da Aeronáutica, Sócrates Monteiro, para discutir a Embraer.

Na reunião estava o deputado federal Ernesto Gradella (PT-SP). Segundo a imprensa, Gradella teria

feito um acordo com o ministro. Publicamos aqui um comunicado

oficial do deputado, desmentindo as calúnias divulgadas pela imprensa.

Frente às notícias divulgadas pela imprensa sobre nossa reunião com o

ministro da Aeronáutica, que afirmam que fomos fazer algum acordo político para salvar a Embraer, declaramos o

seguinte: 1- — Na reunião, apresentamos as

reivindicações dos trabalhadores da Embraer, principalmente o pagamento dos 89% de reajuste concedidos pelo

TRT; a volta do companheiro Toquínho, vice-presidente do

Sindicato, afastado pela empresa; e a

não realização de novas demissões. Além disso, manifestamos nossa

oposição à privatização da empresa. Como resposta, obtivemos apenas a

promessa de que todas estas questões poderiam ser discutidas com o

Sindicato e a Comissão de trabalhadores. Na conversa,

constatamos que temos uma diferença clara em relação à privatização, que o ministro disse defender.

2- — Ouanto à suoosta aliança com os militares para salvar a Embraer,

reiteramos que a posição do Ministério e do novo presidente da

empresa, Ozires Silva, é de privatizar a estatal. Sabemos que existem setores militares contrários a esta entrega do patrimônio nacional e estamos a favor de fazer com eles ações unitárias de defesa da estatal. Isso não significa abrir mão da autonomia política e

organizativa dos trabalhadores. Não significa também nenhuma forma de pacto, "entendimento", ou trégua. A

mobilização dos trabalhadores é a forma mais eficaz de defender a

estatal.

3- — Quanto ao suposto crédito de confiança que teríamos dado a Ozires Silva, declaramos que:

• Ozires Silva quer privatizar a Embraer, como ele próprio declarou.

Sua primeira atitude foi dar férias coletivas para desmobilizar os

trabalhadores e facilitar a aceitação das demissões na empresa.

• Além de não merecer confiança, o senhor Ozires Silva não foi escolhido

pelos trabalhadores da Embraer. Somos a favor da eleição direta para

todos os cargos de chefia na Embraer, inclusive do presidente da empresa, e

a favor de que seus trabalhadores controlem sua produção, seus

investimentos e todas as questões fundamentais da empresa.

• Por áltimo, chamamos os trabalhadores da Embraer a só

confiarem na luta conjunta com os demais trabalhadores e explorados do

país, para enfrentar os patrões, o governo e seu amo, o FMI, que

querem aumentar ainda mais a miséria de nosso povo. a

Convergência Socialista, 10/07/91

NOSSA PROPOSTA É 0 CONTROLE OPERÁRIO

Entrevistamos aqui o vice-presidente do Sindica- to dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Edimil- son de Oliveira, o Toquí- nho. Ele é um dos princi- pais líderes da luta da Em- braer. Aqui, Toquinho fala quais são as propostas do Sindicato dos trabalhadores da empresa para acabar com a crise da Embraer.

CS - A Embraer vive uma situação inédita. A esta- tal não paga o aumento, o superintendente João Cunha acaba de cair e o ministro da Aeronáutica propõe a co-gestão. Qual é a posição dos trabalha- dores?

Toquinho - Desde que Ozflio Silva caiu e João Cu- nha entrou, viem os defen-

dendo a gestão dos traba- lhadores. O novo superin- tendente, Ozires Silva, que está para assumir, vem com a política de co-ges-

tão. Eles querem que os trabalhadores avalizem e sustentem a política de pri- vatização da Embraer. Nos- sa proposta é diferente. Nós queremos que os tra- balhadores tenham um po- der real de decisão, quere- mos que os trabalhadores controlem a estatal através da Comissão da Fábrica.

CS - Como seria esse controle?

Toquinho - Vou dar um exemplo. Graças à ação do senador Eduardo Suplicy e do deputado Gra- della, foi liberada para a

empresa uma verba de 407 milhões de dólares. Para onde vai esse dinheiro? Nós achamos que são os trabalhadores que devem dizer onde esse dinheiro será investido. Achamos que ele deve ser utilizado para que a empresa cum- pra o acordo trabalhista. Achamos que ele deve ser utilizado em pesquisa de tecnologia, para que a em- presa possa concorrer no exterior. Nós queremos fis- calizar o investimento des- se dinheiro, porque senão ele pode ser desviado, ou mal aplicado. Isso é con- trole operário. É quando os trabalhadores sabem de tudo o que está acontecen- do na fábrica e decidem. Quando nada ocorre de- baixo dos panos. •

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Quinzena

Jornal do Brasil, 20/07/91

Internacional

Ibero - Americanos criticam ricos e querem democracia para todos

Ricardo Miranda Filho GUADALAJARA, México - A 1? Cúpula

Ibero-Americana foi encerrada ontem com a aprovação, pelos 23 chefes de Estado e Governo, de uma declaração conjunta que pede mais ajuda dos países deenvolvidos para o combate ao narcotráfico, critica as barreiras ao acesso a tecnologias avança- das e recomenda a democracia como o melhor remédio para todos os problemas. "Nossa comunidade se assenta na demo- cracia, com respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais. Nesse con- texto, reafirmamos os princípios de sobe- rania e não-intervenção. Reconhecemos o direito de cada povo construir em paz, com estaoilidade e justiça, seu sistema pollllco e suas instituições", diz o documento.

O texto atendeu a uma exigência do lí- der cubano Fidel Castro, que não admitia qualquer referência a um sistema específi- co de governo. O documento condena to- do o tipo de uso da força e exalta a solu- ção negociada das controvérsias. "Frente ao abuso de poder, invocamos a razão e o diálogo", diz o documento. Um dos pará- grafos reafirma que "a dívida externa é um dos principais obstáculos para o cresci- mento e a estabilidade da região" e cons- titui, para a maioria dos países, um entrave ao pleno desenvolvimento econômico.

Os ibero-americanos consideram indis- pensável o fortalecimento de "mecanismos eficazes de transferência de recursos fi- nanceiros em condições preferenciais para os países em desenvolvimento". A decla- ração conjunta lembra que os latino-ameri- canos estão "comprometidos com um pro- cesso de profundo reajuste econômico" e pede a colaboração dos desenvolvidos pa- ra o "desmantelamento de barreiras de comércio". O documento destaca a dete- rioração ecológica do planeta devido aos modelos de desenvolvimento que têm pre- valecido.

Ao tratar do direito Internacional, os participantes da cúpula se comprometem a promover processos constantes de nego- ciação para a solução pacifica de conflitos regionais e a apoiar Inciativas destinadas a controlar e reduzir o comércio de arma- mentos; reestruturar os organismos Inter- nacionais, em particular a Organização das Nações Unidas (ONU); e promover o fortalecimento da democracia e do plura- lismo nas relações Internacionais, com respeito à soberania, à Integridade territo- rial das nações, aos dos direitos humanos e ao meio ambiente.

Sobre o desenvolvimento econômico e social, o texto se propõe a fortalecer o sistema de comércio internacional com uma maior integração e cooperação com

os demais países ibero-americanos; con- tribuir para o êxito da Rodada Uruguai do GATT; estimular a criação de uma Câmara de Comércio Ibero-Americana; implemen- tar programas de intercâmbio para o com- bate ao narcotráfico e fiscalização de pa- trimônios de procedência ilícita; requerer aos países industrializados e aos organis- mos internacionais apoio econômico e fi- nanceiro para o combate ao narcotráfico; e estabelecer planos de emergência para a prevenção e o controle da cólera na Amé- rica Latina.

O documento destaca ainda a impor- tância da educação e cultura e manifesta intenção de promover encontros ibero- americanos nas diversas áreas do pen- samento e da criação cultural; intensificar os vínculos entre as instituições ibero- americanas de ensino superior; e ampliar os programas de intercâmbio cultural.

Crítica não tira

o humor de Fidel Um manifesto contra a presença do lí-

der cubano, Fidel Castro, na cúpula ibero- americana, foi publicado ontem nos princi- pais jornais mexicanos. A nota, assinada pelas Organizacbnes Unidas dei Exlb Cubano, uma entidade anticastrista com sede em Miami, pedia uma declaração de repúdio ao governo cubano pelos demais chefes de Estado e Governo. "Nossa pá- tria tem padecido de um regime tirânico", diz a nota.

Indiferente a essas manifestações, Fi- del Castro era o mais bem humorado entre os participantes das quatro cansativas reuniões de ontem. Ao discursar em um desses encontros, Fidel Castro ironizou a freqüência com que os demais presi- dentes se referiam a organismos interna- cionais, como o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). "Vo- cês falam muito nessas siglas. Cuba não entende nada disso. Fomos alijados des- ses organismos há multo tempo", disse.

Na véspera, durante a apresentação de cantores latinos no Teatro Degollado, Fidel conversou animadamente, todo o tem- po.com o primeiro-ministro espanhol Felipe González, seu principal interlocutor du- rante a cúpula. Ontem, o líder cubano tinha pelo menos um bom motivo para ficar contente. Os governos chileno e cotom- biano anunciaram o restabelecimento de relações consulares com a ilha.

Segundo o acordo feito entre os chan- celeres do Chile, Enrique Silva Lima Cim- ma, da Colômbia, Luiz Fernando Jaramillo, e de Cuba, Isidoro Malmierca Peoli, serão instalados, nos próximos dias, consulados nas cidades de Santiago, Havana e Bo- gotá. (R.M.F.) •

Gazeta Mercantil - 20.07.91

Encontro ajuda a reduzir

o isolamento de Cuba Cláudio Kuck de Guadalajara

Apesar das pressões e de algumas críticas fortes de alguns presidentes, como Carlos Menem da Argentina, e Violeta Chamorro da Nicarágua, sobre as necessidades de mudanças e de democracia em Cuba, Fidel Castro deixa Guadalajara menos isolado Chegou pressionado, mas leva tam- bém uma mensagem clara da maioria dos participantes da primeira reunião de cúpula Ibero-Americana, de que a soberania de Cuba é inviolável.

Fidel deu muitas entrevistas e foi um dos presidentes que mais teve en- contros bilaterais, vendo na sexta-fei- ra Colômbia e Chile assinarem com ele um compromisso de reatamento de relações a nível consular. Em suas intervenções ele não deixou de ser du- ro e, cobrado pela falta de democracia em Cuba, Castro apoiou uma tese que foi muito defendida por Fernando Collor no México, respondendo: "pa- ra falar em democracia temos que co- meçar por democratizar a Organização das Nações Unidas". A ONU para to- dos, foi uma mensagem várias vezes repetida também pelo presidente bra- sileiro.

Ao discursar oficialmente na Cum- bre, Fidel lembrou que a dívida exter- na na América Latina continua sendo superior a US$ 400 bilhões, "apesar de a região ter transferido recursos pa- ra o Exterior nos dltimos oito anos superior a US$ 224 bilhões. Ele disse que, apesar da cultura, idioma e inte- resses comuns, durante quase 200 anos, desde que a maioria da América Latina alcançou sua independência, "temos sido divididos, agredidos, am- putados, sofrido intervenções e sido saqueados".

Castro lembrou que sempre "há um novo canto das sereias para os eternos navegantes em que nos convertemos", citando primeiro a aliança para o pro- gresso, depois o Plano Baker, mais recentemente o Plano Brady "e agora a dltima das fantasias que é a Iniciati- va para as Américas". Ele completou dizendo que, a velha verdade continua valendo; as grandes potências econô- micas não têm amigos, sõ interesses.

A questão da democracia foi um dos pontos bastante debatidos na re- dação da declaração final do encontro ibero-americano. Por pressão de Fidel houve um adendo a este parágrafo:

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Quinzena Internacional

"nossa comunidade se assenta na de- mocracia, no respeito aos direitos hu- manos e nas liberdades fundamen- tais". Por sugestão de Castro, o texto continuou assim: "Neste contexto,

reafirmamos os princípios de sobera- nia e não intervenção, reconhecendo o direito de cada povo a construir a paz, com estabilidade e justiça, seu sistema político e suas instituições". •

Brasil-Cuba ns10- Rio de Janeiro - Junho 1991 Associação Cultural José Marti

NAO DECEPCIONAREMOS OS QUE SONHAM COM UMA

VIDA MELHOR DO DISCURSO DE FIDEL PELO 302 ANIVERSÁRIO DA VITÓRIA DE GíRÓM

• O inimigo ficou muito abalado, realmente, com aquele fracasso. Esteve multo próxi- mo de intervir diretamente posto que seus porta-aviões, barcos de guerras e fuzilei- ros navais estavam em frente à Giron, a três milhas; os combates se travaram à vista aa esquadra e das tropas dos EUA. • Menosprezaram nosso povo, subestima- ram nosso povo, menosprezaram nossa Revolução, subestimaram os revolucioná- rios cubanos e levaram uma lição ines- quecível. • Não podemos esquecer (...) que todos os que tombaram, que todos os que esti- veram dispostos a morrer naqueles anos, e especialmente naquela data, já o fizeram defendendo as gloriosas bandeiras do so- cialismo. • Não haverá economia de mercado, ou como queiram chamar a essa beberagem que nada tem a ver com o socialismo. • Os problemas na URSS são tão sérios que não se pode descartar as premissas de uma guerra civil ou da desintegração do país. • O desaparecimento da URSS como uma grande potência seria uma tragédia e traria conseqüências muito negativas para todo o mundo, de modo especial para nós e pa- ra o Terceiro Mundo. • Somos, hoje, um símbolo e todo mundo observa o que se passa em Cuba, o que farão os cubanos. Toda pessoa que con- serva alguma ilusão no mundo, toda pes- soa que hoje sonha com idéias progres- sistas, as idéias de justiça social, as idéias de dignidade nacional e as idéias de inde- pendência; toda pessoa que hoje sonha com um mundo melhor; toda pessoa que detesta, de um modo ou de outro, com to- da sua alma um mundo regido pelo império ianque e pelas idéias reacionárias e fas- cistas que o capitalismo, em determinada etapa de seu desenvolvimento, engendrou; todos os que sabem um pouco de história, todos os que possuem idéias, conceitos e valores nobres, verdadeiramente huma- nos, têm a esperança de que haja resis- tência a esse mundo e têm a esperança de que as idéias do socialismo se salvem. • Creio que contra nenhum país do mundo se lançou tanta mentira, tanta infâmia, tanta calúnia, tanta propaganda injusta

como se tem lançado contra Cuba. • Cuba é hoje a trincheira onde se defende as idéias mais justas, mais nobres e mais humanas. • Poderão faltar recursos, matérias-pri- mas, poderão faltar muitas coisas, porém o que nunca faltará será vergonha. • Defenderemos o socialismo para agora, não para daqui a 500 anos (...) e os que viverão dentro de 100 anos ou dentro de 500 anos, não sentirão vergonha de nós, não sentirão desprezo por nós, sentirão admiração e gratidão, porque compreende- rão, como nós compreendemos hoje, com muita clareza as idéias que nós defende- mos. • Diremos aos imperialistas: Não, conosco não poderão de nenhuma maneira! • E se temos que suportar privações ma- teriais, as suportaremos, porque não po- demos nunca esquecer os que iniciaram nossas lutas de independência e passa- ram dez anos na "manigua", muitas vezes descalços e até sem roupa (...) • O neoliberalismo, o capitalismo e o imo- perialismo não fazem concessões. O so- cialismo não pode fazer concessões; nos- so socialismo não fará nunca concessões de princípios! • Ninguém tenha ilusões de que o socia- lismo cubano fará concessões, de que a Revolução cubana fará concessões por- que teremos um Partido, um único Partido que corresponde a uma longa etapa revo- lucionária! Um único. Partido como o que fundou José Martf! para levar adiante a guerra de independência! • Seremos fiéis aos que tombaram defen- dendo as glórias da Pátria, os interesses da Pátria! Saberemos ser como eles e saberemos morrer como eles, defendendo a Revolução e a Pátria! • (...) nós, em nossas relações com a URSS e com os países socialistas, ha- víamos resolvido o problema do intercâm- bio desigual (...). • Da URSS vinham inúmeras matérias- primas industriais de maior importância, da URSS vinham quantidades importantes de alimentos, por isso os problemas da URSS nos afetam incomparavelmente mais do que a situação dos países socialistas do Leste da Europa.

• Bem, que temos neste momento com a URSS? Neste momento temos a boa vontade, um acordo razoável, nas atuais circunstâncias e grandes dificuldades para levar à prática esses acordos (...). • (...) se os problemas não são maiores neste momento, ninguém deve imaginar que é por acaso e sim pelos enormes es- forços que tem feito o país (...) para que não faltem as coisas essenciais à popula- ção. • Fazer ante todas e cada uma das dificul- dades tem sido a preocupação do Partido e do Governo a cada hora, cada minuto, cada segundo do dia. • Contamos (...) com povo que salvou a honra da América Latina e o povo que sal- vou a honra do socialismo. • Não há país no mundo em que o povo tenha participação nos destinos de sua vi- da como no nosso. Não existe regime mais democrático que o socialista (...). Po- de existir um sistema mais democrático que aquele pelo qual homens e mulheres do povo estejam dispostos a dar seu san- gue? Quem defenderia esta Revolução frente ao monstro imperialista senão o po- vo? E o povo armado, os trabalhadores, os camponeses e os estudantes (...) como poderia existir a Revolução em Cuba sem a participação armada do povo9

• Hoje tivemos o privilégio de ver numero- sas mães de combatentes revolucionários caídos naqueles gloriosos dias de abril de 1961 (...) que quiseram expressar seus sentimentos com toda a autoridade moral que lhes dá o haver contribuído com a vida preciosa de seus filhos. • Espiritualmente estão aqui também a mãe dos Maceo, a mãe de Marti, as mães dos que iniciaram as guerras de indepen- dência, as mães do Baraguá as temos em nossa memória e em nossos corações {...) Que podemos dizer a todas elas ao co- memorar esta gloriosa data? (...). Seremos fiéis aos que tombaram defendendo as gló- rias da Pátria! Saberemos ser como eles e saberemos morrer como eles, defendendo a Revolução e a Pátria!

EM CUBA NAO HÁ DESEMPREGO

O PRIMEIRO de Maio em Cuba é um dia de celebração e de levanta- mento de tudo que se tem feito desde 1959 a favor dos trabalhadores, do seu direito ao emprego, habitação, saúde, educação, a receberem refor- mas e muitas mais vantagens. Levan- tamento também do que falta fazer.

Antes do triunfo da Revolução, a legislação do trabalho beneficiava principalmente os patrões. Por isso, se teve que modificar as leis vigentes e

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Quinzena

■ :v::.-

Internacional

promulgar outras para conseguir dis- posições legais em conformidade com a exigência de um estado de operários e camponeses, até que finalmente, se aprovou o primeiro Código de Traba- lho, discutido precisamente por mais de 2.300.000 trabalhadores.

Tudo o que concerne às questões trabalhistas está a cargo do Comitê Estatal de Trabalho e Segurança So- cial (CETSS), que dá orientação aos órgãos da Administração Central do Estado e do Poder Popular.

Para aperfeiçoar a política de tra- balho do pais, criou-se Instituto do Trabalho que mantém um corpo de inspetores para detectar violações.

A reforma geral dos ordenados, realizada no qüinqüênio 1981-85, be- neficiou mais de 2,5 milhões de ho- mens e mulheres. Posteriormente, houve aumentos para trabalhadores de vários setores que se considerou que realizavam atividades importantes e difíceis e recebiam ordenados baixos, como os operários agrícolas manuais. Também se estabeleceram pagamentos adicionais por periculosidade, condi- ções anormais, trabalho no turno ou superação das normas de trabalho. Igualmente, foram outorgados estí- mulos salariais e pagamentos por anti- güidade, que favorecem a permanên- cia de trabalhadores em regiões e ati- vidades com prioridade.

A mulher trabalhadora tem um tra- tamento especial na legislação cubana, pois além de contar com uma avança- da lei de maternidade, cuida-se da preservação da sua satíde, mediante a determinação de empregos não aptos para elas e a declaração de quase meio milhão de postos de trabalho como preferentes para o sexo feminino.

No país se dá prêmio moral e mate- rialmente aos trabalhadores que se destacam mas também se sanciona aqueles que cometem violações.

Desde 1985, o governo e o Partido cubanos estão empenhados no proces- so de retificação de erros e de encon- trar soluções adequadas para velhos problemas que numa fase foram erros de ideaüsmo e posteriormente de eco- nomicismo e mercantilismo.

Trata-se, em essência, de erradicar o que está mal-feito, manifestações de negligência, indisciplina, corrupção, excesso de pessoal, burocratismo, não aproveitamento do horário de trabalho e distorsão salarial, sem se medir a quantidade nem a qualidade dos pro- dutos.

O Presidente Fidel Castro, numa das suas múltiplas análises sobre a importância da retificação de erros, a 8 de janeiro de 1989, salientou que se tinham elaborado leis que, muitas ve- zes, se converteram num obstáculo e têm dado uma proteção excessiva contra os interesses do povo e fez um

apelo a pôr de parte as tendências pa- ternalistas e encontrar uma disciplina de trabalho mais consciente.

No meio das dificuldades econômi- cas que o país atravessa atualmente, esta política permitiu uma melhor uti- lização dos recursos humanos e mate- riais. Por outro lado, a criação de contingentes de trabalhadores na construção, agricultura e outros seto- res traduziu-se no surgimento de um novo espírito de trabalho, de maior consagração, seriedade e disciplina.

A jornada de trabalho comum é de

Folha de São Paulo -19.07.91

Ortega reclama de falta de espaço político e ameaça volta às armas

Newton Carlos "Contras" voltam a atacar e os sandi-

nistas ameaçam com nova insurreição na Nicarágua. "Estamos ficando sem espaços políticos e econômicos e acabaremos sendo obrigados a declarar a rebelião armada", ameaçou Daniel Ortega, dirigente da Frente Sandinista de Libertação Nacional, a FSLN, falando a delegados estrangeiros num seminário na capital nicaraguense.

Mas não alcançaram a magnitude espe- rada as manifestações populares convoca- das pela FSLN, em protesto contra o pro- jeto de lei derrogando confiscos de pro- priedades feitos pelos sandinistas em seu final de governo.

A violência ficou por conta de pequenos grupos, que fizeram explodir bombas e realizaram ocupações. As ameaças de Or- tega tiveram duplo objetivo. Alertar a opi- nião pública internacional para "ações de- sestabilizadoras" dos mais duros da coliga- ção governamental da Nicarágua e mostrar firmeza para seu público interno. Em breve será realizado o primeiro congresso nacio- nal sandinista. A FSLN joga seu futuro nessa tentativa de rearrumação.

As reuniões preparatórias foram um rosário de autocríticas. Falou-se da falta de "democracia interna" e de comportamentos "prepotentes e vaidosos". Admitiu-se que a derrota eleitoral não se deveu apenas ao "i- nimigo ianque" e ao desabamento dos re- gimes comunistas no Leste europeu. O próprio Ortega disse que "fomos vítimas de erros que vinham sendo cometidos desde a luta contra o somozismo".

As dificuldades provocadas pelas dis- cussões dentro da FSLN ficaram claras com a não publicação do relatório da dire- ção central sobre os 10 anos de governo sandinista. Por duas vezes o "Barricada", jornal da frente, anunciou a publicação. Mas ela não aconteceu.

As maiores críticas vão para o "vertica- lismo" da FSLN e sua "tendência à buro- cratização", como foi visto na reunião pre- paratória de Manágua, a capital, da qual participou todo o Estado-Maior do partido. Mas foi derrotada (242 votos a 149) moção para que os integrantes da futura direção fossem eleitos individual e secretamente.

A direção será escolhida em bloco, o que já significará um passo adiante. Até hoje nenhum dirigente da FSLN foi eleito.

8 horas, mas nos principais centros científicos, na construção e nos con- tingentes, trabalha-se 10 ou mais, nal- guns lugares voluntariamente e nou- tros com uma remuneração extra.

Hoje, trabalha-se em Cuba para adaptar a política trabalhista e salarial ao período especial que o país atra- vessa. O Comitê Estatal de Trabalho e Segurança Social garante que nin- guém será colocado onde não fizer falta e também que nenhum trabalha- dor ficará desamparado. 9

Uma nova estrutura de comando, "mais ágil e mais representativa", segundo um dos dirigentes, deverá sair do congresso nacional. Uma espécie de comitê central, de 80 ou 100 membros, terá funções delibera- tivas. A direção coletiva será aumentada de sete para 11 membros. Ortega provavel- mente ocupará um novo cargo, o de secre- tário-geral, como "fiador da unidade inter- na" e do "caráter democrático e antiimpe- rialista" da FSLN.

A disposição é "continuar a luta pelo socialismo". Os sandinistas pensam muito mais nas próximas eleições do que em in- surreição. Querem voltar, ao poder "legi- timamente" e exercê-lo com o reconheci- mento da comunidade internacional. Para isso, segundo dizem, é preciso evitar que os mais duros da coligação govemista partam para o revanchismo, quebrem o frágil equi- líbrio político interno e lancem o país em novas ondas de violência. Diz Ortega que parte da coligação não aceita o diálogo en- tre governo e sandinistas e só pensa em acabar com a FSLN.

Um importante aliado dos sandinistas na defesa do diálogo, considerado vital à con- tinuidade constitucional, é dom Miguel Obando y Bravo, arcebispo de Manágua. "O governo deve abandonar a idéia de derrogar leis aprovadas pelos sandinistas e tratar de compensar os antigos donos de propriedades confiscadas", apelou o arce- bispo diante do agravamento dos conflitos.

O projeto de lei derrogatório foi apre- sentado pelo Partido Nacional Conserva- dor. Ele tem como aliado o próprio vice- presidente nicaraguense, Virgílio Godoy, acusado de favorecer o reaparecimento dos "contras".

Para os dirigentes sandinistas a questão dos confiscos tem um aspecto comprome- tedor. Muitos deles foram beneficiados com a distribuição de mansões e compra de carros oficiais a preços simbólicos. Ortega, por exemplo, pagou apenas US$ 2.000 por uma mansão que vale infinitamente mais. "Se aceito devolvê-la, os beneficiários po- pulares das nossas leis se sentirão desprote- gidos", é o argumento de resistência. 9

O Estado de São Paulo - 23.07

CONGRESSO SANDINISTA MANTÉM ORTEGA COMO LÍDER

O ex-presidente nicaraguense Daniel Ortega foi eleito secretário-geral da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), transfoimada em par- tido polftico. O Primeiro Congresso Nacional San- dinista encenou-se domingo.