veja - crise nos alimentos

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Assine Clube SAC Grupo Abril Abril Mídia Distribuição Gráfica Abril Educação Abril.com Revistas e sites As causas Demanda cresce, o clima atrapalha e o preço sobe Emergentes crescem mais do que o esperado Causas e efeitos: o impacto nos preos dos alimentos Aumento populacional Petróleo Etanol Condições climáticas Carne bovina subiu 22% Em 1985, cada chins consumia em mdia 20 quilos de carne por ano. Hoje, consome 50. Fertilizantes sobem 59% Demanda por petróleo em alta e disparada do preço do barril dobraram o preço da tonelada de fertilizante. No plantio de algumas culturas, como a soja e o milho, os gastos com fertilizantes podem ultrapassar um terço do custo de produção. Ovos subiram 24% O direcionamento da produção de milho para a fabricação de etanol acabou por encarecer o produto, que é a base para a ração das galinhas. Trigo subiu 130% Os principais países produtores do grão, como a Austrália, sofreram secas históricas que diminuíram a produção em até 10%. Arroz subiu 70% O aumento da demanda na China e em outros países asiáticos elevou o preço do arroz ao patamar mais alto em 40 anos. Leite subiu 12% A alta da soja e do milho encarece a ração, que, por sua vez, pressiona o preço final do leite e derivados. Soja aumentou 87% Um dos principais motivos para a alta dos preços da soja devese a sua troca, por parte dos agricultores americanos, pela cultura do milho para fabricação do biocombustível. Pão aumentou 10% Conseqüência da seca que causou o aumento do trigo, principal matériaprima para a produção dos pãezinhos. A combinação de cinco fatores principais desencadeou uma alta média de 57% nos preços dos alimentos entre 2007 e 2008. O trigo, por exemplo, subiu 130%. Outro produto fundamental, o milho, teve seu preço dobrado nos últimos dois anos. Para as pessoas que vivem no limiar da miséria, isso significa a fome. A gravidade da situação já chamou a atenção dos principais organismos internacionais: a Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). A seguir, as causas apontadas pelas principais entidades para explicar o problema que, segundo o Bird, pode fazer com que 100 milhões de pessoas recuem na linha que separa a pobreza da miséria absoluta em função do encarecimento da comida. Países estão comendo mais (principalmente os emergentes) Este pode ser considerado o principal fator para o surgimento da atual crise. A economia mundial cresceu 20% nos últimos 4 anos, aumentando o consumo de alimentos em países emergentes como China, Índia e Brasil, onde vive uma parcela de mais de 30% da população mundial. Uma mudança de padrão de consumo é suficiente, portanto, para uma alteração significativa na economia global. No ano passado, a China expandiu seu produto interno bruto em 11,4%. A Índia cresceu 9,6%. Não foi só isso. Além de comer mais, a população desses países está se tornando mais urbana. Ou seja, deixou de produzir o próprio alimento para comprálo no supermercado, o que torna necessário que se produza mais comida em larga escala para atender às cidades. O crescimento da renda dos trabalhadores nesses países fez com que mudassem seus hábitos de consumo e, por conseqüência, sua dieta. Trocaram carboidratos por mais proteínas no cardápio basicamente carne, leite e queijos. Um bom exemplo é o do consumo de carne na China. Segundo dados publicados pela revista britânica The Economist, cada chinês consumia em média 20 quilos de carne por ano em 1985. Hoje, consome 50. Maior consumo de carne quer dizer maior consumo de grãos. Para produzir um quilo de carne bovina, são necessários 8 quilos de grãos.

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CRISE NOS ALIMENTOS

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Page 1: VEJA - Crise Nos Alimentos

Assine Clube SACGrupo Abril Abril Mídia Distribuição Gráfica Abril EducaçãoAbril.com Revistas e sites

   

As causas Demanda cresce, o climaatrapalha e o preço sobe

Emergentes crescem mais do que o esperado

Causas e efeitos: o impacto nos pre�os dos alimentos

Aumento populacional Petróleo Etanol Condições climáticas

Carne bovina subiu 22%

Em 1985, cada chin�sconsumia em m�dia 20quilos de carne por ano.Hoje, consome 50.

Fertilizantes sobem 59%

Demanda por petróleo emalta e disparada do preçodo barril dobraram o preçoda tonelada de fertilizante.No plantio de algumasculturas, como a soja e omilho, os gastos comfertilizantes podemultrapassar um terço docusto de produção.

Ovos subiram 24%

O direcionamento daprodução de milho para afabricação de etanolacabou por encarecer oproduto, que é a base paraa ração das galinhas.

Trigo subiu 130%

Os principais paísesprodutores do grão, como aAustrália, sofreram secashistóricas que diminuíram aprodução em até 10%.

Arroz subiu 70%

O aumento da demanda naChina e em outros paísesasiáticos elevou o preço doarroz ao patamar mais altoem 40 anos.

Leite subiu 12%

A alta da soja e do milhoencarece a ração, que, porsua vez, pressiona o preçofinal do leite e derivados.

Soja aumentou 87%

Um dos principais motivospara a alta dos preços dasoja deve­se a sua troca,por parte dos agricultoresamericanos, pela cultura domilho para fabricação dobiocombustível.

Pão aumentou 10%

Conseqüência da seca quecausou o aumento do trigo,principal matéria­prima paraa produção dos pãezinhos.

A combinação de cinco fatores principais desencadeou uma alta média de 57% nos preços dosalimentos entre 2007 e 2008. O trigo, por exemplo, subiu 130%. Outro produto fundamental, o milho,teve seu preço dobrado nos últimos dois anos. Para as pessoas que vivem no limiar da miséria, issosignifica a fome. A gravidade da situação já chamou a atenção dos principais organismos internacionais:a Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional(FMI). A seguir, as causas apontadas pelas principais entidades para explicar o problema ­ que, segundoo Bird, pode fazer com que 100 milhões de pessoas recuem na linha que separa a pobreza da misériaabsoluta em função do encarecimento da comida.

Países estão comendo mais (principalmente os emergentes)

Este pode ser considerado o principal fator para osurgimento da atual crise. A economia mundialcresceu 20% nos últimos 4 anos, aumentando oconsumo de alimentos em países emergentes comoChina, Índia e Brasil, onde vive uma parcela demais de 30% da população mundial. Uma mudançade padrão de consumo é suficiente, portanto, parauma alteração significativa na economia global. Noano passado, a China expandiu seu produto internobruto em 11,4%. A Índia cresceu 9,6%. Não foi sóisso. Além de comer mais, a população dessespaíses está se tornando mais urbana. Ou seja,deixou de produzir o próprio alimento para comprá­lono supermercado, o que torna necessário que seproduza mais comida em larga escala para atenderàs cidades. O crescimento da renda dos trabalhadores nesses países fez com que mudassem seushábitos de consumo e, por conseqüência, sua dieta. Trocaram carboidratos por mais proteínas nocardápio ­ basicamente carne, leite e queijos. Um bom exemplo é o do consumo de carne na China.Segundo dados publicados pela revista britânica The Economist, cada chinês consumia em média 20quilos de carne por ano em 1985. Hoje, consome 50. Maior consumo de carne quer dizer maior consumode grãos. Para produzir um quilo de carne bovina, são necessários 8 quilos de grãos.

Page 2: VEJA - Crise Nos Alimentos

Recordes sucessivos do preço internacional do petróleo

O preço do barril de petróleo aumentou 110% entreo o início de 2007 e abril de 2008, o que elevou opreço dos transportes e dos insumos, comofertilizantes a adubos. A interrupção da produção depetróleo na Nigéria, a contínua queda do dólar anteo euro e o temor pela crescente demanda dacommodity na China fizeram com que o petróleochegasse próximo à casa dos 120 dólares em abrilde 2008. A China divulgou que importou um recordede 4,09 milhões de barris por dia de petróleo emmarço do mesmo ano. Já Nigéria opera abaixo desua capacidade por problemas de segurança. Doisoleodutos que alimentam um terminal­chave deexportação foram atacados por rebeldes e nãopuderam ser acessados pela Shell. As exportaçõesde 169.000 barris ao dia foram suspensas por três meses após um ataque a um oleoduto. Aliada à crisemundial, a alta do petróleo foi responsável por dobrar o preço da tonelada dos fertilizantes. Além disso,algumas medidas tomadas pelos governos dos principais países produtores pressionam ainda mais ospreços dos insumos. A Rússia impôs novas taxas à exportação, enquanto a China decidiu que osfertilizantes não possuem mais prioridade no sistema de transporte ferroviário, o que complica suaexportação. Além do preço dos alimentos, o alto custo do petróleo influencia também outros setores daeconomia, desencadeando uma inflação geral.

A ação dos especuladores e a queda acentuada do dólar

No caso do trigo, o preço cresceu também emfunção da especulação financeira. A crise global decrédito originada nos Estados Unidos fez com queos investidores procurassem os fundos decommodities como alternativa para ganhar dinheiro.Acabaram ajudando a jogar os preços para cima. Osalimentos são cotados internacionalmente em dólar.A especulação do mercado e a queda constante nospreços das ações são fatores que agravam aindamais esse problema. A especulação retroalimenta oprocesso de alta no preço da comida. Outro fatorque tem certo peso no problema: a cotação do dólarno mercado internacional caiu 37% nos últimos 6anos. Isso também provoca a fuga para ascommodities. 

Aumento da produção destinada aos biocombustíveis

O principal problema tem relação com o etanolproduzido nos Estados Unidos. O Fundo MonetárioInternacional (FMI) estima que a produção de etanolamericana é responsável por metade do aumento dademanda mundial de milho nos últimos três anos.Isso aumentou o preço do milho e o preço dasrações. Dessa forma, aumentam também os custosde produtos bovinos e suínos, já que o milho éusado em rações animais. De acordo com oDepartamento de Agricultura, o mesmo ocorreu comoutras colheitas ­ principalmente a soja ­ quando osprodutores decidiram mudar seus cultivos para omilho. O relator especial da ONU para o Direito àAlimentação, Jean Ziegler, exagera: afirma que a

produção em massa de biocombustíveis representa um "crime contra a humanidade" por seu impactonos preços mundiais dos alimentos. Os críticos dessa tecnologia argumentam que o uso de terrasférteis para cultivos destinados a fabricar biocombustíveis reduz as superfícies destinadas aosalimentos e contribui para o aumento dos preços dos mantimentos. O debate ecoou com força no Brasil.Como o etanol é uma prioridade do governo brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula reagiu.Acusou Ziegler de não conhecer a realidade brasileira. No Brasil o etanol é produzido a partir da cana­de­açúcar. Dos 355 milhões de hectares disponíveis para plantio no país, somente 90 milhões seriamadequados à cultura de cana, que atualmente ocupa apenas 7,2 milhões de hectares (metade deles paraa produção de açúcar). Em São Paulo, a plantação de cana ocupou o espaço de pastagens, nos últimosanos, sem que a produção de carne bovina tenha diminuído. Enquanto Ziegler ataca os biocombustíveiscomo um todo, outros representantes da ONU reconhecem que o problema não está no Brasil, mas simnos EUA. E mesmo nesse caso há quem discorde da influência negativa no preço dos alimentos.

Page 3: VEJA - Crise Nos Alimentos

Fatores naturais que atrapalham a produção agrícola

Secas, enchentes, pragas e doenças nos rebanhosprovocaram graves quebras de safra na China, naEuropa e Austrália, reduzindo a oferta de comida. AAustrália, segundo maior exportador de trigo, teveforte seca. Projeções oficiais dão conta de umaredução de 10% nas chuvas até 2030, o que devese traduzir na queda de 10% da produção de trigo,carne bovina, lácteos e açúcar, além de uma quedade 63% das exportações desse conjunto decommodities. Nos últimos três anos, o Brasil tevesecas tão profundas no sul que perdeu 40 milhõesde toneladas de grãos. Os estoques de milho, trigoe arroz, os cereais básicos para a alimentação domundo, estariam em 70% das marcas de 1999.