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Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal brasileiro “A Cidade”, de Ribeirão Preto/SP Igor José Siquieri Savenhago Centro Universitário Barão de Mauá – Ribeirão Preto/SP Índice 1 A crise dos jornais ....................... 2 2 A reformulação do Jornal A Cidade ............. 6 3 Breve histórico do jornal: vínculos políticos ......... 21 Considerações Finais ....................... 25 Referências ............................ 26 Resumo Com este trabalho, pretende-se fazer uma análise de como os jornais impressos locais/regionais estão se adaptando às mudanças de paradig- mas na imprensa neste início de século XXI. O estudo será feito a partir de uma leitura do contexto histórico que estimulou, em 2006, a reforma gráfica e editorial no Jornal A Cidade, fundado em 1905, o maior e mais antigo de Ribeirão Preto, município com cerca de 600 mil habi- tantes no interior paulista. A análise, que se configura um estudo de caso, será fundamentada no materialismo histórico, com pesquisa de obras que tratam da crise que afeta os jornais impressos, de documentos que fazem referência à história do referido jornal e de notícias, reporta- gens, entrevistas e relatos de fatos recentes envolvendo a imprensa em Ribeirão Preto. Palavras-chave: Jornalismo impresso; imprensa; história, crise; re- forma.

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Page 1: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

Efeitos da crise dos impressos o caso dojornal brasileiro ldquoA Cidaderdquo de Ribeiratildeo

PretoSP

Igor Joseacute Siquieri SavenhagoCentro Universitaacuterio Baratildeo de Mauaacute ndash Ribeiratildeo PretoSP

Iacutendice1 A crise dos jornais 22 A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade 63 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos 21Consideraccedilotildees Finais 25Referecircncias 26

Resumo

Com este trabalho pretende-se fazer uma anaacutelise de como os jornaisimpressos locaisregionais estatildeo se adaptando agraves mudanccedilas de paradig-mas na imprensa neste iniacutecio de seacuteculo XXI O estudo seraacute feito a partirde uma leitura do contexto histoacuterico que estimulou em 2006 a reformagraacutefica e editorial no Jornal A Cidade fundado em 1905 o maior emais antigo de Ribeiratildeo Preto municiacutepio com cerca de 600 mil habi-tantes no interior paulista A anaacutelise que se configura um estudo decaso seraacute fundamentada no materialismo histoacuterico com pesquisa deobras que tratam da crise que afeta os jornais impressos de documentosque fazem referecircncia agrave histoacuteria do referido jornal e de notiacutecias reporta-gens entrevistas e relatos de fatos recentes envolvendo a imprensa emRibeiratildeo Preto

Palavras-chave Jornalismo impresso imprensa histoacuteria crise re-forma

2 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

1 A crise dos jornaisEacute feia a crise Estou convencido de que os donos de jornale jornalistas compartilham o firme propoacutesito de acabar comos jornais Ou entatildeo satildeo burros Ateacute admito que acabarcom os jornais natildeo seja a real intenccedilatildeo deles Quando nadaporque os donos ficariam sem seus negoacutecios e os jornalis-tas sem seus empregos Mas que parece terem firmado umasanta alianccedila para acabar com os jornais parece sim Osdonos porque administram mal as empresas os jornalistasporque insistem com um modelo de jornal que desagradaagraves pessoas (NOBLAT 2003 p 13-14)

O desenvolvimento recente de novas tecnologias de informaccedilatildeoprincipalmente a internet abalou os jornais impressos O papel

de chegar na frente de ser o primeiro a dar a notiacutecia no dia seguinte aofato estaacute deixando de ser dos jornais neste iniacutecio de seacuteculo XXI sendoocupado rapidamente pela rede mundial de computadores em que aspublicaccedilotildees assumiram um caraacuteter de instantaneidade Natildeo eacute mais pre-ciso esperar amanhecer para correr agrave banca e saber os principais fatosdo ontem Na internet os fatos satildeo abordados ainda no hoje poucosminutos depois de acontecerem Noblat afirma que ldquoos jovens princi-palmente eles fogem da leitura de jornais e preferem informar-se poroutros meios Ou simplesmente natildeo se informam Uma fatia crescentedeles adere agrave internetrdquo (NOBLAT 2004 p 14)

O autor cita ainda que jaacute no final do seacuteculo passado entre 1997 e2000 uma pesquisa feita nos Estados Unidos pela Associaccedilatildeo Ameri-cana de Jornais com 4003 pessoas adultas mostrou por exemplo quena faixa etaacuteria dos 18 aos 24 anos 75 declararam que a internet mexiacom sua imaginaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos jornais o iacutendice apurado foi de45 No mesmo periacuteodo o uso da internet como fonte de informaccedilatildeocresceu 127 entre os norte-americanos enquanto o consumo de jor-nais despencou 12 e a audiecircncia dos telejornais 14 Para Noblat(2004) algumas explicaccedilotildees para a crise que os jornais atravessam satildeopossiacuteveis

Os leitores acham que o cardaacutepio de assuntos dos jornaisestaacute mais de acordo com o gosto dos jornalistas do que com

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o gosto deles E que a visatildeo que os jornalistas tecircm da vida eacutemuito diferente da visatildeo que eles tecircm Nada disso poreacutemparece abalar os jornalistas e donos de jornal Eles se com-portam como se soubessem mais do que os leitores o queestes querem tecircm a obrigaccedilatildeo de querer ou devem deixarde querer (NOBLAT 2003 p 15)

Na obra A arte de fazer um jornal diaacuterio Noblat (2004) lembra umapassagem ocorrida em 2002 para ilustrar esta teoria Naquele ano DickBrass um executivo americano empregado do todo-poderoso dono daMicrosoft Bill Gates previu que a uacuteltima ediccedilatildeo do New York Timesconsiderado o mais influente jornal do mundo circularia em 2018 Oresultado da declaraccedilatildeo foi uma reaccedilatildeo de desdeacutem da direccedilatildeo do NewYork Times ldquoVamos continuar como a principal fonte de notiacutecias einformaccedilotildees dos Estados Unidos E talvez do mundordquo disse na eacutepocaArthur Sulzberg Jr o principal diretor do jornal

Sete anos depois poreacutem na ediccedilatildeo de 29 de abril de 2009 uma dasprincipais revistas brasileiras a Veja trouxe uma reportagem intituladaldquoInferno na Torre do Timesrdquo cujo assunto era exatamente a crise en-frentada pelo New York Times classificado pela revista como ldquoBiacutebliado Jornalismo Americanordquo Segundo a referida ediccedilatildeo da Veja (p 90)o jornal estaacute ldquosufocado por diacutevidas pela recessatildeo e pela internet ndash ese falir poderaacute marcar o comeccedilo de uma era perturbadora na qual osjornais seriam irrelevantesrdquo

O principal assunto da reportagem da revista era uma notiacutecia quehavia sido veiculada dias antes na paacutegina 6 do caderno de economia doproacuteprio Times em que o grupo proprietaacuterio do jornal declarava ter acu-mulado um prejuiacutezo de 745 milhotildees de doacutelares no primeiro trimestrede 2009 valor absurdamente superior ao registrado no mesmo periacuteodode 2008 quando o saldo negativo foi de apenas [grifo nosso] 335 mildoacutelares O tamanho do rombo em 2009 foi consequecircncia segundo adireccedilatildeo do Times da queda na receita publicitaacuteria em papel de 284e na internet de 8

Pelo mundo afora os jornais sentem a agulhada de umaconjunccedilatildeo de fatores especialmente desfavoraacuteveis a re-cessatildeo mundial que reduz os gastos com publicidade e

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o avanccedilo da internet que suga anuacutencios sobretudo os pe-quenos e rentaacuteveis classificados e tambeacutem serve como fon-te ndash em geral gratuita ndash de informaccedilotildees (Revista Veja 29de abril de 2009 p 90)

Na mesma reportagem Sulzberg o diretor que natildeo havia dado muitocreacutedito agrave declaraccedilatildeo do empregado de Bill Gates aparece lamentando asituaccedilatildeo do New York Times e admitindo que a diacutevida do jornal estavacrescendo a e circulaccedilatildeo caindo De 1990 a 2008 o nuacutemero de leitoresdo jornal diminuiu 113 segundo a reportagem da Veja que terminacom o seguinte paraacutegrafo

E quem acha que a internet por sua natureza virtual dis-semina mais informaccedilatildeo e eleva a cultura das massas pre-cisa ir devagar O site do Times com seus 20 milhotildees deusuaacuterios eacute o maior site de jornal do mundo Mas em meacute-dia seus visitantes ficam no site 35 minutos ndash por mecircs Ou110 minutos por dia Natildeo daacute tempo de ler nem um gibiEacute como se os internautas passassem numa banca dessemuma olhada nos tiacutetulos expostos e fossem embora Sem lernada Eacute perturbador (Revista Veja 29 de abril de 2009 p93)

Profissionais ligados agrave imprensa parecem mesmo concordar que osjornais enfrentam uma crise sem precedentes Noblat (2004) chega aafirmar que ldquoos jornais contudo morreratildeo sinto dizer-lhes isso Talcomo existem hoje tudo indica que morreratildeo Soacute natildeo me arrisco adizer quandordquo (NOBLAT 2004 p 19)

Diante desse quadro o autor se arrisca a dar algumas dicas para asobrevivecircncia dos jornais impressos Para ele (2004 p 16-17) satildeonecessaacuterios uma renovaccedilatildeo na pauta de assuntos para aproximar osjornais de jovens e mulheres que o noticiaacuterio seja humanizado e que aabordagem seja feita a partir da visatildeo dos leitores que a preocupaccedilatildeomaior seja antecipar situaccedilotildees do que relatar os temas do ontem que seinvista em reportagens porque satildeo elas que diferenciam um jornal dooutro que haja mais interaccedilatildeo com os leitores para que eles digam oque pensam que sejam priorizados textos que fogem ao padratildeo atual de

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notiacutecia (lide) que os profissionais da redaccedilatildeo sejam altamente qualifi-cados e que haja forte investimento dos proacuteprios jornais nessa qualifi-caccedilatildeo e finalmente que os jornais dependam menos de anunciantes emais da venda de seus exemplares

Costa (2002) segue uma linha semelhante de reflexatildeo Segundoa autora eacute comum encontrar em vaacuterios jornais notiacutecias tambeacutem vei-culadas em outros o que demonstra o aproveitamento integral em mui-tos casos principalmente pela miacutedia local de releases enviados agravesredaccedilotildees por assessorias de imprensa

Os assessores de imprensa satildeo peccedila fundamental no pro-duto noticioso que chega ateacute o leitor Ao apresentar um ma-terial ldquopronto e acabadordquo o pessoal do jornal soacute tinha o tra-balho de digitar os textos [jaacute que na eacutepoca os releases aindaeram enviados por fax] Tendo em vista a infra-estruturaprecaacuteria da empresa em questatildeo no que diz respeito agrave matildeo-de-obra jornaliacutestica os assessores ajudam a determinar oque seraacute noticiado ao puacuteblico Satildeo eles que desempenhama funccedilatildeo do jornalista da redaccedilatildeo ndash jaacute que seus textos satildeoreproduzidos na integra pelo jornal Ao ldquosugerirrdquo como talmateacuteria deve ser colocada na ediccedilatildeo do dia seguinte maisdo que ldquorepoacuterteresrdquo eles passam a ter tambeacutem a funccedilatildeo deeditor do jornal (COSTA 2002 p 86)

Peruzzo (2005) complementa a afirmaccedilatildeo Segundo ela com o pro-cesso de globalizaccedilatildeo impulsionado de maneira significativa pela inter-net esperava-se inicialmente que as miacutedias locais seriam sufocadasque perderiam espaccedilo mas o que se observa eacute justamente o contraacuterio

Houve assim a superaccedilatildeo da tendecircncia pessimista de con-siderar que as forccedilas globalizadas ndash da economia da poliacute-tica e da miacutedia ndash detecircm o poder infaliacutevel de sufocar as so-ciedades e as culturas nos niacuteveis nacional e local A reali-dade vai evidenciando que o local e o global fazem parte deum mesmo processo condicionam-se e interferem um nooutro simultaneamente (PERUZZO 2005 p 5)

Considerando o cenaacuterio apresentado a proposta deste trabalho eacuteanalisar como os jornais locais estatildeo se adaptando agraves mudanccedilas de para-digmas no jornalismo enfrentando a crise dos impressos e lutando pela

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sobrevivecircncia Isso seraacute feito por meio de um estudo de caso utilizan-do-se da metodologia que permite a anaacutelise de transformaccedilotildees histoacuteri-cas fundamentada no materialismo histoacuterico ndash que consiste em observarcomo a transformaccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo provoca mudanccedilas so-ciais econocircmicas e poliacuteticas e vice-versa ou seja como as mudanccedilasna sociedade provocam novas transformaccedilotildees nos modos de produccedilatildeoe no percurso histoacuterico Pretende-se no caso especiacutefico do presentetrabalho estudar como as transformaccedilotildees histoacutericas na imprensa comoum todo e especialmente em Ribeiratildeo Preto ndash municiacutepio de quase 600mil habitantes do interior paulista a 310 quilocircmetros de Satildeo Paulo ndashimpulsionadas pelo desenvolvimento de novas tecnologias que provo-caram consequentemente diferentes formas de pensar o mundo in-fluenciaram nas relaccedilotildees humanas e por sua vez como essas relaccedilotildeespromoveram avanccedilos nos modos de produccedilatildeo principalmente na estru-tura e nas condiccedilotildees que permitiram realizar uma ampla reforma graacuteficae editorial num jornal impresso centenaacuterio tido como tradicional e con-servador de forma que atendesse as exigecircncias ideoloacutegicas deste iniacuteciode seacuteculo

Nosso objeto de pesquisa seraacute o jornal A Cidade fundado em 1o

de janeiro de 1905 o maior e mais antigo de Ribeiratildeo Preto Qua-tro anos atraacutes o veiacuteculo passou por modificaccedilotildees significativas no seuconteuacutedo e na parte visual para atrair mais leitores anunciantes e en-frentar a concorrecircncia ndash fortalecida com a chegada em 2004 da Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)o mesmo grupo que publica os tradicionais jornais Correio Popular eDiaacuterio do Povo em Campinas uma das maiores cidades do Estado deSatildeo Paulo com mais de um milhatildeo de habitantes Em que contextohistoacuterico houve essa reformulaccedilatildeo Esta eacute a questatildeo que seraacute investi-gada a partir de agora

2 A reformulaccedilatildeo do Jornal A CidadeEm entrevista ao site Jornalistas amp Cia portal com informaccedilotildees sobre aimprensa brasileira publicada no dia 2 de fevereiro de 2010 a editora-executiva e o editor-chefe do Jornal A Cidade Rosana Zaidan e JosueacuteSuzuki analisam o atual momento do veiacuteculo e projetam crescimentoSuzuki se posiciona como um defensor da miacutedia regional que segundo

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ele estaacute em franca expansatildeo ldquoNatildeo haacute como ignorar esse crescimentoE as pessoas estatildeo buscando cada vez mais informaccedilotildees de sua loca-lidade de sua regiatildeo do seu cotidiano sem perder o foco no macroE quem melhor para atender esta exigecircncia do que a miacutedia regionalrdquo(SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia 2 defevereiro de 2010)

A partir dessa constataccedilatildeo Suzuki vecirc a internet tida como uma dasgrandes responsaacuteveis pela crise dos impressos como uma aliada Elediz na mesma entrevista que diferente dos prognoacutesticos pessimistasa miacutedia impressa ldquoestaacute cada vez mais forterdquo E por isso ldquoprecisa estaratualizada e ver no crescimento da internet uma oportunidaderdquo Per-guntado sobre os principais planos para 2010 o editor-chefe destacamelhorias no site do jornal e a inserccedilatildeo de ldquonovos conteuacutedos saber oque leitor querrdquo

De acordo com a editora-executiva Rosana Zaidan as mudanccedilaseditoriais e graacuteficas promovidas no jornal em 2006 foram um grandepasso para reafirmar a miacutedia impressa em Ribeiratildeo Preto onde na visatildeodela a tradiccedilatildeo do raacutedio sempre foi mais forte A reforma eacute vista porela como um dos momentos marcantes do veiacuteculo entre outras decisotildeestomadas ao longo da histoacuteria da imprensa escrita em Ribeiratildeo que per-mitiram a sobrevivecircncia do A Cidade Uma delas foi a implantaccedilatildeopelo proprietaacuterio do jornal Orestes Lopes de Camargo na segundametade da deacutecada de 40 de uma seccedilatildeo de classificados Os ldquoquadradi-nhosrdquo do ldquoseurdquo Orestes como ficaram conhecidos os espaccedilos da seccedilatildeoderam segundo Zaidan ldquoa receita para que o jornal nunca fechasse asportasrdquo (ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas ampCia 2 de fevereiro de 2010)

Pelissari (2001) afirma que foi a partir da implantaccedilatildeo dos classi-ficados que o jornal passou a ter uma melhor situaccedilatildeo financeira ldquoAentrada de dinheiro permitiu melhorias graacuteficas e ateacute mesmo na estru-tura da empresa A velha maacutequina Marinoni foi substituiacuteda por umaimpressora plana e na deacutecada de 50 trocada por uma rotoplana A im-pressora rotativa viria na metade da deacutecada de 60rdquo (PELISSARI 2001p 137)

Durante deacutecadas os classificados foram a grande vedete do JornalA Cidade mas talvez o uacutenico atrativo aos leitores Com o passar dotempo por causa de sua postura conservadora o jornal apesar de se

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manter na ativa passou a natildeo ser visto pela populaccedilatildeo de Ribeiratildeo Pretocomo modelo referecircncia de veiacuteculo impresso Perdeu prestiacutegio princi-palmente nas deacutecadas de 80 e 90 As vendas se mantinham quase queexclusivamente por causa da forccedila dos classificados

Em meados dessa primeira deacutecada do seacuteculo XXI entretanto comuma estrutura apertada nuacutemero reduzido de profissionais na redaccedilatildeoe a ameaccedila de perder terreno para a concorrecircncia que chegava comum projeto visual ousado e a proposta de investir pesado em reporta-gens locais o jornal foi obrigado a passar por uma reformulaccedilatildeo Maso investimento na reforma graacutefica e editorial soacute foi possiacutevel graccedilas auma parceria com o Grupo Coutinho Nogueira soacutecio-controlador daEPTV (Emissoras Pioneiras de Televisatildeo) afiliada Rede Globo quepossui unidades em Ribeiratildeo Preto Satildeo Carlos Campinas e VarginhaO acordo segundo notiacutecia publicada no portal Imprensa em 17 defevereiro de 2006 foi firmado no dia anterior dia 16 com a aquisiccedilatildeopor parte da EPTV de 50 das accedilotildees da famiacutelia Orestes Lopes de Ca-margo dona do jornal As negociaccedilotildees que tiveram iniacutecio em 2005 anodo centenaacuterio do jornal definiram que a redaccedilatildeo e os setores adminis-trativo e financeiro ficariam sob responsabilidade da EPTV enquanto ograacutefico e o comercial continuariam com o grupo Lopes de Camargo

A queda no prestiacutegio e na influecircncia do jornal na vida social dacidade ocorrida anteriormente ao acordo com a EPTV eacute justificada porTornatore (2005) com o fato de que Orestes Lopes de Camargo e o filhoJuracy que faleceram em 1993 e 2002 respectivamente jaacute natildeo tinhammais a disposiccedilatildeo de eacutepocas passadas para gerir o jornal Quando mor-reu fraco e debilitado Orestes estava prestes a completar 93 anos deidade E Juracy que faleceu aos 76 anos de idade foi o uacuteltimo dono doA Cidade a comandar a redaccedilatildeo do jornal

Na deacutecada de 80 Orestes Lopes de Camargo continua aescrever diariamente a e emitir sua opiniatildeo sobre os maisdiferentes assuntos mas natildeo eacute mais um participante da vidapoliacutetica como o fora entre as deacutecadas de 30 e 70 Torna-se uma espeacutecie de espectador privilegiado e com certezaorgulhosa do patrimocircnio ndash A Cidade ndash que estava deixandopara filhos e netos Juracy por sua vez mantinha a tradiccedilatildeoagora quase secular de apoiar tudo aquilo que era bom paraa comunidade para ldquoo progresso e o engrandecimento de

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Ribeiratildeo Pretordquo () Continuava trabalhando da forma queaprendera com o pai deacutecadas antes ndash como na deacutecada de40 Jura jaacute ocupava o cargo de diretor gerente do jornal daacutepra entender sua aversatildeo a uma reforma que modernizasseo modo de produccedilatildeo do jornal Os novos tempos natildeo eramo seu tempo (TORNATORE 2005 p 99)

O jeito arcaico de trabalhar no entanto precisava ser revisto casoo jornal natildeo quisesse perder ainda mais prestiacutegio e correr o risco ateacutede fechar as portas Jandyra de Camargo Moquenco a mais velha dostrecircs filhos de Orestes que atuava tambeacutem como diretora do jornal tinha81 anos quando o irmatildeo Juracy morreu e tambeacutem jaacute natildeo gozava detanta disposiccedilatildeo para reverter o quadro que se instaurava em A Cidadendash ela que foi a primeira linotipista do Brasil e ocupava ultimamenteo cargo de presidente de honra do jornal faleceu em 5 de agosto de2009 aos 88 anos viacutetima de parada cardiacuteaca A soluccedilatildeo encontradaem 2002 imediatamente apoacutes a morte de Juracy foi profissionalizar odepartamento de jornalismo Quem coordenou a transiccedilatildeo foi MariaVirgiacutenia Lopes de Camargo Cordeiro filha de Juracy Mesmo assim ojornal natildeo reencontraria o prestiacutegio de outrora Soacute a venda de 50 dasaccedilotildees para a EPTV que promoveu a injeccedilatildeo de recursos na empresa eacuteque recolocaria o veiacuteculo definitivamente de volta nos trilhos

Um dos fatores que contribuiacuteram para acelerar as reformas no JornalA Cidade foi a entrada em 2004 em Ribeiratildeo Preto do Jornal Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)empresa que publica em Campinas a 100 quilocircmetros de Satildeo Paulo ostradicionais jornais Correio Popular e Diaacuterio do Povo e deteacutem ainda oportal Cosmos de notiacutecias sobre o interior paulista a Revista Metroacutepolee o receacutem-lanccedilado Notiacutecia Jaacute tabloide com trecircs anos de existecircncia di-rigido agraves classes B C e D e que circula em Campinas e mais doze mu-niciacutepios circunvizinhos

O lanccedilamento da Gazeta de Ribeiratildeo Preto integrou uma estrateacutegiada RAC de abrir jornais menores direcionados a regiotildees especiacuteficas deCampinas e a outros municiacutepios do interior paulista Em 2003 surgirama Gazeta do Cambuiacute distribuiacutedo num dos maiores bairros de Campinase a Gazeta de Piracicaba O sucesso da iniciativa impulsionou o lanccedila-mento no ano seguinte da Gazeta de Ribeiratildeo que trouxe novidades

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para a imprensa escrita de Ribeiratildeo Preto Com um projeto graacutefico i-novador colorido em mais da metade das paacuteginas formato berliner(ou germacircnico) ateacute entatildeo ineacutedito na cidade investimento maciccedilo emreportagens locais ndash facilitado pela sua periodicidade que era inicial-mente semanal com circulaccedilatildeo aos finais de semana ndash e distribuiccedilatildeogratuita o jornal se tornou em pouco tempo conhecido e requisitadoCom uma tiragem de 30 mil exemplares por ediccedilatildeo e direcionado prin-cipalmente agraves classes A e B a Gazeta de Ribeiratildeo chegava a pratica-mente todos os condomiacutenios de Ribeiratildeo Preto e circulava em regiotildeesda cidade com grande tracircnsito de pessoas como a aacuterea central os shop-pings e o aeroporto

O novo jornal passou a atrair anunciantes com interesses no altopoder aquisitivo dos leitores como imobiliaacuterias concessionaacuterias de veiacute-culos construtoras e centros de educaccedilatildeo privada sobretudo universi-dades o que significou tambeacutem um crescimento da demanda para osetor de classificados da Gazeta ramo dominado anteriormente peloJornal A Cidade Enquanto isso o grupo Orestes Lopes de Camargoque tinha promovido uma pequena mudanccedila graacutefica nos padrotildees graacutefi-cos do A Cidade em 2003 por ocasiatildeo da profissionalizaccedilatildeo do depar-tamento de jornalista mas insuficiente para fazer recuperar o prestiacutegiodo jornal via-se em meio a uma realidade que exigia de um lado adap-taccedilotildees para enfrentar o fortalecimento das tecnologias digitais e deoutro uma corrida para sobreviver num mercado que a partir de 2004passava a ser mais competitivo

A grande reforma que pode ser acompanhada pelas figuras a seguirveio em 2006 As mudanccedilas alteraram significativamente a ldquocarardquodo jornal que nos 100 anos anteriores se havia passado por algumasmodificaccedilotildees estas foram pequenas natildeo tatildeo notoacuterias quanto a uacuteltima1

1Figura 1 e figuras 9 a 18 Fonte Arquivo Histoacuterico Municipal de Ribeiratildeo PretoFiguras 6 e 7 Fonte Banco de imagens na internet (sem data definida) Figura 8Fonte Site do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Preto (wwwjornalacidadecombr) Figuras 2 4 5 e 6 ndash reproduccedilotildees feitas pelo autor do presente trabalho a partirde ediccedilotildees obtidas junto ao jornal Gazeta de Ribeiratildeo

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Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 2: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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1 A crise dos jornaisEacute feia a crise Estou convencido de que os donos de jornale jornalistas compartilham o firme propoacutesito de acabar comos jornais Ou entatildeo satildeo burros Ateacute admito que acabarcom os jornais natildeo seja a real intenccedilatildeo deles Quando nadaporque os donos ficariam sem seus negoacutecios e os jornalis-tas sem seus empregos Mas que parece terem firmado umasanta alianccedila para acabar com os jornais parece sim Osdonos porque administram mal as empresas os jornalistasporque insistem com um modelo de jornal que desagradaagraves pessoas (NOBLAT 2003 p 13-14)

O desenvolvimento recente de novas tecnologias de informaccedilatildeoprincipalmente a internet abalou os jornais impressos O papel

de chegar na frente de ser o primeiro a dar a notiacutecia no dia seguinte aofato estaacute deixando de ser dos jornais neste iniacutecio de seacuteculo XXI sendoocupado rapidamente pela rede mundial de computadores em que aspublicaccedilotildees assumiram um caraacuteter de instantaneidade Natildeo eacute mais pre-ciso esperar amanhecer para correr agrave banca e saber os principais fatosdo ontem Na internet os fatos satildeo abordados ainda no hoje poucosminutos depois de acontecerem Noblat afirma que ldquoos jovens princi-palmente eles fogem da leitura de jornais e preferem informar-se poroutros meios Ou simplesmente natildeo se informam Uma fatia crescentedeles adere agrave internetrdquo (NOBLAT 2004 p 14)

O autor cita ainda que jaacute no final do seacuteculo passado entre 1997 e2000 uma pesquisa feita nos Estados Unidos pela Associaccedilatildeo Ameri-cana de Jornais com 4003 pessoas adultas mostrou por exemplo quena faixa etaacuteria dos 18 aos 24 anos 75 declararam que a internet mexiacom sua imaginaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos jornais o iacutendice apurado foi de45 No mesmo periacuteodo o uso da internet como fonte de informaccedilatildeocresceu 127 entre os norte-americanos enquanto o consumo de jor-nais despencou 12 e a audiecircncia dos telejornais 14 Para Noblat(2004) algumas explicaccedilotildees para a crise que os jornais atravessam satildeopossiacuteveis

Os leitores acham que o cardaacutepio de assuntos dos jornaisestaacute mais de acordo com o gosto dos jornalistas do que com

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o gosto deles E que a visatildeo que os jornalistas tecircm da vida eacutemuito diferente da visatildeo que eles tecircm Nada disso poreacutemparece abalar os jornalistas e donos de jornal Eles se com-portam como se soubessem mais do que os leitores o queestes querem tecircm a obrigaccedilatildeo de querer ou devem deixarde querer (NOBLAT 2003 p 15)

Na obra A arte de fazer um jornal diaacuterio Noblat (2004) lembra umapassagem ocorrida em 2002 para ilustrar esta teoria Naquele ano DickBrass um executivo americano empregado do todo-poderoso dono daMicrosoft Bill Gates previu que a uacuteltima ediccedilatildeo do New York Timesconsiderado o mais influente jornal do mundo circularia em 2018 Oresultado da declaraccedilatildeo foi uma reaccedilatildeo de desdeacutem da direccedilatildeo do NewYork Times ldquoVamos continuar como a principal fonte de notiacutecias einformaccedilotildees dos Estados Unidos E talvez do mundordquo disse na eacutepocaArthur Sulzberg Jr o principal diretor do jornal

Sete anos depois poreacutem na ediccedilatildeo de 29 de abril de 2009 uma dasprincipais revistas brasileiras a Veja trouxe uma reportagem intituladaldquoInferno na Torre do Timesrdquo cujo assunto era exatamente a crise en-frentada pelo New York Times classificado pela revista como ldquoBiacutebliado Jornalismo Americanordquo Segundo a referida ediccedilatildeo da Veja (p 90)o jornal estaacute ldquosufocado por diacutevidas pela recessatildeo e pela internet ndash ese falir poderaacute marcar o comeccedilo de uma era perturbadora na qual osjornais seriam irrelevantesrdquo

O principal assunto da reportagem da revista era uma notiacutecia quehavia sido veiculada dias antes na paacutegina 6 do caderno de economia doproacuteprio Times em que o grupo proprietaacuterio do jornal declarava ter acu-mulado um prejuiacutezo de 745 milhotildees de doacutelares no primeiro trimestrede 2009 valor absurdamente superior ao registrado no mesmo periacuteodode 2008 quando o saldo negativo foi de apenas [grifo nosso] 335 mildoacutelares O tamanho do rombo em 2009 foi consequecircncia segundo adireccedilatildeo do Times da queda na receita publicitaacuteria em papel de 284e na internet de 8

Pelo mundo afora os jornais sentem a agulhada de umaconjunccedilatildeo de fatores especialmente desfavoraacuteveis a re-cessatildeo mundial que reduz os gastos com publicidade e

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o avanccedilo da internet que suga anuacutencios sobretudo os pe-quenos e rentaacuteveis classificados e tambeacutem serve como fon-te ndash em geral gratuita ndash de informaccedilotildees (Revista Veja 29de abril de 2009 p 90)

Na mesma reportagem Sulzberg o diretor que natildeo havia dado muitocreacutedito agrave declaraccedilatildeo do empregado de Bill Gates aparece lamentando asituaccedilatildeo do New York Times e admitindo que a diacutevida do jornal estavacrescendo a e circulaccedilatildeo caindo De 1990 a 2008 o nuacutemero de leitoresdo jornal diminuiu 113 segundo a reportagem da Veja que terminacom o seguinte paraacutegrafo

E quem acha que a internet por sua natureza virtual dis-semina mais informaccedilatildeo e eleva a cultura das massas pre-cisa ir devagar O site do Times com seus 20 milhotildees deusuaacuterios eacute o maior site de jornal do mundo Mas em meacute-dia seus visitantes ficam no site 35 minutos ndash por mecircs Ou110 minutos por dia Natildeo daacute tempo de ler nem um gibiEacute como se os internautas passassem numa banca dessemuma olhada nos tiacutetulos expostos e fossem embora Sem lernada Eacute perturbador (Revista Veja 29 de abril de 2009 p93)

Profissionais ligados agrave imprensa parecem mesmo concordar que osjornais enfrentam uma crise sem precedentes Noblat (2004) chega aafirmar que ldquoos jornais contudo morreratildeo sinto dizer-lhes isso Talcomo existem hoje tudo indica que morreratildeo Soacute natildeo me arrisco adizer quandordquo (NOBLAT 2004 p 19)

Diante desse quadro o autor se arrisca a dar algumas dicas para asobrevivecircncia dos jornais impressos Para ele (2004 p 16-17) satildeonecessaacuterios uma renovaccedilatildeo na pauta de assuntos para aproximar osjornais de jovens e mulheres que o noticiaacuterio seja humanizado e que aabordagem seja feita a partir da visatildeo dos leitores que a preocupaccedilatildeomaior seja antecipar situaccedilotildees do que relatar os temas do ontem que seinvista em reportagens porque satildeo elas que diferenciam um jornal dooutro que haja mais interaccedilatildeo com os leitores para que eles digam oque pensam que sejam priorizados textos que fogem ao padratildeo atual de

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notiacutecia (lide) que os profissionais da redaccedilatildeo sejam altamente qualifi-cados e que haja forte investimento dos proacuteprios jornais nessa qualifi-caccedilatildeo e finalmente que os jornais dependam menos de anunciantes emais da venda de seus exemplares

Costa (2002) segue uma linha semelhante de reflexatildeo Segundoa autora eacute comum encontrar em vaacuterios jornais notiacutecias tambeacutem vei-culadas em outros o que demonstra o aproveitamento integral em mui-tos casos principalmente pela miacutedia local de releases enviados agravesredaccedilotildees por assessorias de imprensa

Os assessores de imprensa satildeo peccedila fundamental no pro-duto noticioso que chega ateacute o leitor Ao apresentar um ma-terial ldquopronto e acabadordquo o pessoal do jornal soacute tinha o tra-balho de digitar os textos [jaacute que na eacutepoca os releases aindaeram enviados por fax] Tendo em vista a infra-estruturaprecaacuteria da empresa em questatildeo no que diz respeito agrave matildeo-de-obra jornaliacutestica os assessores ajudam a determinar oque seraacute noticiado ao puacuteblico Satildeo eles que desempenhama funccedilatildeo do jornalista da redaccedilatildeo ndash jaacute que seus textos satildeoreproduzidos na integra pelo jornal Ao ldquosugerirrdquo como talmateacuteria deve ser colocada na ediccedilatildeo do dia seguinte maisdo que ldquorepoacuterteresrdquo eles passam a ter tambeacutem a funccedilatildeo deeditor do jornal (COSTA 2002 p 86)

Peruzzo (2005) complementa a afirmaccedilatildeo Segundo ela com o pro-cesso de globalizaccedilatildeo impulsionado de maneira significativa pela inter-net esperava-se inicialmente que as miacutedias locais seriam sufocadasque perderiam espaccedilo mas o que se observa eacute justamente o contraacuterio

Houve assim a superaccedilatildeo da tendecircncia pessimista de con-siderar que as forccedilas globalizadas ndash da economia da poliacute-tica e da miacutedia ndash detecircm o poder infaliacutevel de sufocar as so-ciedades e as culturas nos niacuteveis nacional e local A reali-dade vai evidenciando que o local e o global fazem parte deum mesmo processo condicionam-se e interferem um nooutro simultaneamente (PERUZZO 2005 p 5)

Considerando o cenaacuterio apresentado a proposta deste trabalho eacuteanalisar como os jornais locais estatildeo se adaptando agraves mudanccedilas de para-digmas no jornalismo enfrentando a crise dos impressos e lutando pela

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sobrevivecircncia Isso seraacute feito por meio de um estudo de caso utilizan-do-se da metodologia que permite a anaacutelise de transformaccedilotildees histoacuteri-cas fundamentada no materialismo histoacuterico ndash que consiste em observarcomo a transformaccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo provoca mudanccedilas so-ciais econocircmicas e poliacuteticas e vice-versa ou seja como as mudanccedilasna sociedade provocam novas transformaccedilotildees nos modos de produccedilatildeoe no percurso histoacuterico Pretende-se no caso especiacutefico do presentetrabalho estudar como as transformaccedilotildees histoacutericas na imprensa comoum todo e especialmente em Ribeiratildeo Preto ndash municiacutepio de quase 600mil habitantes do interior paulista a 310 quilocircmetros de Satildeo Paulo ndashimpulsionadas pelo desenvolvimento de novas tecnologias que provo-caram consequentemente diferentes formas de pensar o mundo in-fluenciaram nas relaccedilotildees humanas e por sua vez como essas relaccedilotildeespromoveram avanccedilos nos modos de produccedilatildeo principalmente na estru-tura e nas condiccedilotildees que permitiram realizar uma ampla reforma graacuteficae editorial num jornal impresso centenaacuterio tido como tradicional e con-servador de forma que atendesse as exigecircncias ideoloacutegicas deste iniacuteciode seacuteculo

Nosso objeto de pesquisa seraacute o jornal A Cidade fundado em 1o

de janeiro de 1905 o maior e mais antigo de Ribeiratildeo Preto Qua-tro anos atraacutes o veiacuteculo passou por modificaccedilotildees significativas no seuconteuacutedo e na parte visual para atrair mais leitores anunciantes e en-frentar a concorrecircncia ndash fortalecida com a chegada em 2004 da Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)o mesmo grupo que publica os tradicionais jornais Correio Popular eDiaacuterio do Povo em Campinas uma das maiores cidades do Estado deSatildeo Paulo com mais de um milhatildeo de habitantes Em que contextohistoacuterico houve essa reformulaccedilatildeo Esta eacute a questatildeo que seraacute investi-gada a partir de agora

2 A reformulaccedilatildeo do Jornal A CidadeEm entrevista ao site Jornalistas amp Cia portal com informaccedilotildees sobre aimprensa brasileira publicada no dia 2 de fevereiro de 2010 a editora-executiva e o editor-chefe do Jornal A Cidade Rosana Zaidan e JosueacuteSuzuki analisam o atual momento do veiacuteculo e projetam crescimentoSuzuki se posiciona como um defensor da miacutedia regional que segundo

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ele estaacute em franca expansatildeo ldquoNatildeo haacute como ignorar esse crescimentoE as pessoas estatildeo buscando cada vez mais informaccedilotildees de sua loca-lidade de sua regiatildeo do seu cotidiano sem perder o foco no macroE quem melhor para atender esta exigecircncia do que a miacutedia regionalrdquo(SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia 2 defevereiro de 2010)

A partir dessa constataccedilatildeo Suzuki vecirc a internet tida como uma dasgrandes responsaacuteveis pela crise dos impressos como uma aliada Elediz na mesma entrevista que diferente dos prognoacutesticos pessimistasa miacutedia impressa ldquoestaacute cada vez mais forterdquo E por isso ldquoprecisa estaratualizada e ver no crescimento da internet uma oportunidaderdquo Per-guntado sobre os principais planos para 2010 o editor-chefe destacamelhorias no site do jornal e a inserccedilatildeo de ldquonovos conteuacutedos saber oque leitor querrdquo

De acordo com a editora-executiva Rosana Zaidan as mudanccedilaseditoriais e graacuteficas promovidas no jornal em 2006 foram um grandepasso para reafirmar a miacutedia impressa em Ribeiratildeo Preto onde na visatildeodela a tradiccedilatildeo do raacutedio sempre foi mais forte A reforma eacute vista porela como um dos momentos marcantes do veiacuteculo entre outras decisotildeestomadas ao longo da histoacuteria da imprensa escrita em Ribeiratildeo que per-mitiram a sobrevivecircncia do A Cidade Uma delas foi a implantaccedilatildeopelo proprietaacuterio do jornal Orestes Lopes de Camargo na segundametade da deacutecada de 40 de uma seccedilatildeo de classificados Os ldquoquadradi-nhosrdquo do ldquoseurdquo Orestes como ficaram conhecidos os espaccedilos da seccedilatildeoderam segundo Zaidan ldquoa receita para que o jornal nunca fechasse asportasrdquo (ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas ampCia 2 de fevereiro de 2010)

Pelissari (2001) afirma que foi a partir da implantaccedilatildeo dos classi-ficados que o jornal passou a ter uma melhor situaccedilatildeo financeira ldquoAentrada de dinheiro permitiu melhorias graacuteficas e ateacute mesmo na estru-tura da empresa A velha maacutequina Marinoni foi substituiacuteda por umaimpressora plana e na deacutecada de 50 trocada por uma rotoplana A im-pressora rotativa viria na metade da deacutecada de 60rdquo (PELISSARI 2001p 137)

Durante deacutecadas os classificados foram a grande vedete do JornalA Cidade mas talvez o uacutenico atrativo aos leitores Com o passar dotempo por causa de sua postura conservadora o jornal apesar de se

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manter na ativa passou a natildeo ser visto pela populaccedilatildeo de Ribeiratildeo Pretocomo modelo referecircncia de veiacuteculo impresso Perdeu prestiacutegio princi-palmente nas deacutecadas de 80 e 90 As vendas se mantinham quase queexclusivamente por causa da forccedila dos classificados

Em meados dessa primeira deacutecada do seacuteculo XXI entretanto comuma estrutura apertada nuacutemero reduzido de profissionais na redaccedilatildeoe a ameaccedila de perder terreno para a concorrecircncia que chegava comum projeto visual ousado e a proposta de investir pesado em reporta-gens locais o jornal foi obrigado a passar por uma reformulaccedilatildeo Maso investimento na reforma graacutefica e editorial soacute foi possiacutevel graccedilas auma parceria com o Grupo Coutinho Nogueira soacutecio-controlador daEPTV (Emissoras Pioneiras de Televisatildeo) afiliada Rede Globo quepossui unidades em Ribeiratildeo Preto Satildeo Carlos Campinas e VarginhaO acordo segundo notiacutecia publicada no portal Imprensa em 17 defevereiro de 2006 foi firmado no dia anterior dia 16 com a aquisiccedilatildeopor parte da EPTV de 50 das accedilotildees da famiacutelia Orestes Lopes de Ca-margo dona do jornal As negociaccedilotildees que tiveram iniacutecio em 2005 anodo centenaacuterio do jornal definiram que a redaccedilatildeo e os setores adminis-trativo e financeiro ficariam sob responsabilidade da EPTV enquanto ograacutefico e o comercial continuariam com o grupo Lopes de Camargo

A queda no prestiacutegio e na influecircncia do jornal na vida social dacidade ocorrida anteriormente ao acordo com a EPTV eacute justificada porTornatore (2005) com o fato de que Orestes Lopes de Camargo e o filhoJuracy que faleceram em 1993 e 2002 respectivamente jaacute natildeo tinhammais a disposiccedilatildeo de eacutepocas passadas para gerir o jornal Quando mor-reu fraco e debilitado Orestes estava prestes a completar 93 anos deidade E Juracy que faleceu aos 76 anos de idade foi o uacuteltimo dono doA Cidade a comandar a redaccedilatildeo do jornal

Na deacutecada de 80 Orestes Lopes de Camargo continua aescrever diariamente a e emitir sua opiniatildeo sobre os maisdiferentes assuntos mas natildeo eacute mais um participante da vidapoliacutetica como o fora entre as deacutecadas de 30 e 70 Torna-se uma espeacutecie de espectador privilegiado e com certezaorgulhosa do patrimocircnio ndash A Cidade ndash que estava deixandopara filhos e netos Juracy por sua vez mantinha a tradiccedilatildeoagora quase secular de apoiar tudo aquilo que era bom paraa comunidade para ldquoo progresso e o engrandecimento de

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Ribeiratildeo Pretordquo () Continuava trabalhando da forma queaprendera com o pai deacutecadas antes ndash como na deacutecada de40 Jura jaacute ocupava o cargo de diretor gerente do jornal daacutepra entender sua aversatildeo a uma reforma que modernizasseo modo de produccedilatildeo do jornal Os novos tempos natildeo eramo seu tempo (TORNATORE 2005 p 99)

O jeito arcaico de trabalhar no entanto precisava ser revisto casoo jornal natildeo quisesse perder ainda mais prestiacutegio e correr o risco ateacutede fechar as portas Jandyra de Camargo Moquenco a mais velha dostrecircs filhos de Orestes que atuava tambeacutem como diretora do jornal tinha81 anos quando o irmatildeo Juracy morreu e tambeacutem jaacute natildeo gozava detanta disposiccedilatildeo para reverter o quadro que se instaurava em A Cidadendash ela que foi a primeira linotipista do Brasil e ocupava ultimamenteo cargo de presidente de honra do jornal faleceu em 5 de agosto de2009 aos 88 anos viacutetima de parada cardiacuteaca A soluccedilatildeo encontradaem 2002 imediatamente apoacutes a morte de Juracy foi profissionalizar odepartamento de jornalismo Quem coordenou a transiccedilatildeo foi MariaVirgiacutenia Lopes de Camargo Cordeiro filha de Juracy Mesmo assim ojornal natildeo reencontraria o prestiacutegio de outrora Soacute a venda de 50 dasaccedilotildees para a EPTV que promoveu a injeccedilatildeo de recursos na empresa eacuteque recolocaria o veiacuteculo definitivamente de volta nos trilhos

Um dos fatores que contribuiacuteram para acelerar as reformas no JornalA Cidade foi a entrada em 2004 em Ribeiratildeo Preto do Jornal Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)empresa que publica em Campinas a 100 quilocircmetros de Satildeo Paulo ostradicionais jornais Correio Popular e Diaacuterio do Povo e deteacutem ainda oportal Cosmos de notiacutecias sobre o interior paulista a Revista Metroacutepolee o receacutem-lanccedilado Notiacutecia Jaacute tabloide com trecircs anos de existecircncia di-rigido agraves classes B C e D e que circula em Campinas e mais doze mu-niciacutepios circunvizinhos

O lanccedilamento da Gazeta de Ribeiratildeo Preto integrou uma estrateacutegiada RAC de abrir jornais menores direcionados a regiotildees especiacuteficas deCampinas e a outros municiacutepios do interior paulista Em 2003 surgirama Gazeta do Cambuiacute distribuiacutedo num dos maiores bairros de Campinase a Gazeta de Piracicaba O sucesso da iniciativa impulsionou o lanccedila-mento no ano seguinte da Gazeta de Ribeiratildeo que trouxe novidades

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para a imprensa escrita de Ribeiratildeo Preto Com um projeto graacutefico i-novador colorido em mais da metade das paacuteginas formato berliner(ou germacircnico) ateacute entatildeo ineacutedito na cidade investimento maciccedilo emreportagens locais ndash facilitado pela sua periodicidade que era inicial-mente semanal com circulaccedilatildeo aos finais de semana ndash e distribuiccedilatildeogratuita o jornal se tornou em pouco tempo conhecido e requisitadoCom uma tiragem de 30 mil exemplares por ediccedilatildeo e direcionado prin-cipalmente agraves classes A e B a Gazeta de Ribeiratildeo chegava a pratica-mente todos os condomiacutenios de Ribeiratildeo Preto e circulava em regiotildeesda cidade com grande tracircnsito de pessoas como a aacuterea central os shop-pings e o aeroporto

O novo jornal passou a atrair anunciantes com interesses no altopoder aquisitivo dos leitores como imobiliaacuterias concessionaacuterias de veiacute-culos construtoras e centros de educaccedilatildeo privada sobretudo universi-dades o que significou tambeacutem um crescimento da demanda para osetor de classificados da Gazeta ramo dominado anteriormente peloJornal A Cidade Enquanto isso o grupo Orestes Lopes de Camargoque tinha promovido uma pequena mudanccedila graacutefica nos padrotildees graacutefi-cos do A Cidade em 2003 por ocasiatildeo da profissionalizaccedilatildeo do depar-tamento de jornalista mas insuficiente para fazer recuperar o prestiacutegiodo jornal via-se em meio a uma realidade que exigia de um lado adap-taccedilotildees para enfrentar o fortalecimento das tecnologias digitais e deoutro uma corrida para sobreviver num mercado que a partir de 2004passava a ser mais competitivo

A grande reforma que pode ser acompanhada pelas figuras a seguirveio em 2006 As mudanccedilas alteraram significativamente a ldquocarardquodo jornal que nos 100 anos anteriores se havia passado por algumasmodificaccedilotildees estas foram pequenas natildeo tatildeo notoacuterias quanto a uacuteltima1

1Figura 1 e figuras 9 a 18 Fonte Arquivo Histoacuterico Municipal de Ribeiratildeo PretoFiguras 6 e 7 Fonte Banco de imagens na internet (sem data definida) Figura 8Fonte Site do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Preto (wwwjornalacidadecombr) Figuras 2 4 5 e 6 ndash reproduccedilotildees feitas pelo autor do presente trabalho a partirde ediccedilotildees obtidas junto ao jornal Gazeta de Ribeiratildeo

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Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 3: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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o gosto deles E que a visatildeo que os jornalistas tecircm da vida eacutemuito diferente da visatildeo que eles tecircm Nada disso poreacutemparece abalar os jornalistas e donos de jornal Eles se com-portam como se soubessem mais do que os leitores o queestes querem tecircm a obrigaccedilatildeo de querer ou devem deixarde querer (NOBLAT 2003 p 15)

Na obra A arte de fazer um jornal diaacuterio Noblat (2004) lembra umapassagem ocorrida em 2002 para ilustrar esta teoria Naquele ano DickBrass um executivo americano empregado do todo-poderoso dono daMicrosoft Bill Gates previu que a uacuteltima ediccedilatildeo do New York Timesconsiderado o mais influente jornal do mundo circularia em 2018 Oresultado da declaraccedilatildeo foi uma reaccedilatildeo de desdeacutem da direccedilatildeo do NewYork Times ldquoVamos continuar como a principal fonte de notiacutecias einformaccedilotildees dos Estados Unidos E talvez do mundordquo disse na eacutepocaArthur Sulzberg Jr o principal diretor do jornal

Sete anos depois poreacutem na ediccedilatildeo de 29 de abril de 2009 uma dasprincipais revistas brasileiras a Veja trouxe uma reportagem intituladaldquoInferno na Torre do Timesrdquo cujo assunto era exatamente a crise en-frentada pelo New York Times classificado pela revista como ldquoBiacutebliado Jornalismo Americanordquo Segundo a referida ediccedilatildeo da Veja (p 90)o jornal estaacute ldquosufocado por diacutevidas pela recessatildeo e pela internet ndash ese falir poderaacute marcar o comeccedilo de uma era perturbadora na qual osjornais seriam irrelevantesrdquo

O principal assunto da reportagem da revista era uma notiacutecia quehavia sido veiculada dias antes na paacutegina 6 do caderno de economia doproacuteprio Times em que o grupo proprietaacuterio do jornal declarava ter acu-mulado um prejuiacutezo de 745 milhotildees de doacutelares no primeiro trimestrede 2009 valor absurdamente superior ao registrado no mesmo periacuteodode 2008 quando o saldo negativo foi de apenas [grifo nosso] 335 mildoacutelares O tamanho do rombo em 2009 foi consequecircncia segundo adireccedilatildeo do Times da queda na receita publicitaacuteria em papel de 284e na internet de 8

Pelo mundo afora os jornais sentem a agulhada de umaconjunccedilatildeo de fatores especialmente desfavoraacuteveis a re-cessatildeo mundial que reduz os gastos com publicidade e

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o avanccedilo da internet que suga anuacutencios sobretudo os pe-quenos e rentaacuteveis classificados e tambeacutem serve como fon-te ndash em geral gratuita ndash de informaccedilotildees (Revista Veja 29de abril de 2009 p 90)

Na mesma reportagem Sulzberg o diretor que natildeo havia dado muitocreacutedito agrave declaraccedilatildeo do empregado de Bill Gates aparece lamentando asituaccedilatildeo do New York Times e admitindo que a diacutevida do jornal estavacrescendo a e circulaccedilatildeo caindo De 1990 a 2008 o nuacutemero de leitoresdo jornal diminuiu 113 segundo a reportagem da Veja que terminacom o seguinte paraacutegrafo

E quem acha que a internet por sua natureza virtual dis-semina mais informaccedilatildeo e eleva a cultura das massas pre-cisa ir devagar O site do Times com seus 20 milhotildees deusuaacuterios eacute o maior site de jornal do mundo Mas em meacute-dia seus visitantes ficam no site 35 minutos ndash por mecircs Ou110 minutos por dia Natildeo daacute tempo de ler nem um gibiEacute como se os internautas passassem numa banca dessemuma olhada nos tiacutetulos expostos e fossem embora Sem lernada Eacute perturbador (Revista Veja 29 de abril de 2009 p93)

Profissionais ligados agrave imprensa parecem mesmo concordar que osjornais enfrentam uma crise sem precedentes Noblat (2004) chega aafirmar que ldquoos jornais contudo morreratildeo sinto dizer-lhes isso Talcomo existem hoje tudo indica que morreratildeo Soacute natildeo me arrisco adizer quandordquo (NOBLAT 2004 p 19)

Diante desse quadro o autor se arrisca a dar algumas dicas para asobrevivecircncia dos jornais impressos Para ele (2004 p 16-17) satildeonecessaacuterios uma renovaccedilatildeo na pauta de assuntos para aproximar osjornais de jovens e mulheres que o noticiaacuterio seja humanizado e que aabordagem seja feita a partir da visatildeo dos leitores que a preocupaccedilatildeomaior seja antecipar situaccedilotildees do que relatar os temas do ontem que seinvista em reportagens porque satildeo elas que diferenciam um jornal dooutro que haja mais interaccedilatildeo com os leitores para que eles digam oque pensam que sejam priorizados textos que fogem ao padratildeo atual de

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notiacutecia (lide) que os profissionais da redaccedilatildeo sejam altamente qualifi-cados e que haja forte investimento dos proacuteprios jornais nessa qualifi-caccedilatildeo e finalmente que os jornais dependam menos de anunciantes emais da venda de seus exemplares

Costa (2002) segue uma linha semelhante de reflexatildeo Segundoa autora eacute comum encontrar em vaacuterios jornais notiacutecias tambeacutem vei-culadas em outros o que demonstra o aproveitamento integral em mui-tos casos principalmente pela miacutedia local de releases enviados agravesredaccedilotildees por assessorias de imprensa

Os assessores de imprensa satildeo peccedila fundamental no pro-duto noticioso que chega ateacute o leitor Ao apresentar um ma-terial ldquopronto e acabadordquo o pessoal do jornal soacute tinha o tra-balho de digitar os textos [jaacute que na eacutepoca os releases aindaeram enviados por fax] Tendo em vista a infra-estruturaprecaacuteria da empresa em questatildeo no que diz respeito agrave matildeo-de-obra jornaliacutestica os assessores ajudam a determinar oque seraacute noticiado ao puacuteblico Satildeo eles que desempenhama funccedilatildeo do jornalista da redaccedilatildeo ndash jaacute que seus textos satildeoreproduzidos na integra pelo jornal Ao ldquosugerirrdquo como talmateacuteria deve ser colocada na ediccedilatildeo do dia seguinte maisdo que ldquorepoacuterteresrdquo eles passam a ter tambeacutem a funccedilatildeo deeditor do jornal (COSTA 2002 p 86)

Peruzzo (2005) complementa a afirmaccedilatildeo Segundo ela com o pro-cesso de globalizaccedilatildeo impulsionado de maneira significativa pela inter-net esperava-se inicialmente que as miacutedias locais seriam sufocadasque perderiam espaccedilo mas o que se observa eacute justamente o contraacuterio

Houve assim a superaccedilatildeo da tendecircncia pessimista de con-siderar que as forccedilas globalizadas ndash da economia da poliacute-tica e da miacutedia ndash detecircm o poder infaliacutevel de sufocar as so-ciedades e as culturas nos niacuteveis nacional e local A reali-dade vai evidenciando que o local e o global fazem parte deum mesmo processo condicionam-se e interferem um nooutro simultaneamente (PERUZZO 2005 p 5)

Considerando o cenaacuterio apresentado a proposta deste trabalho eacuteanalisar como os jornais locais estatildeo se adaptando agraves mudanccedilas de para-digmas no jornalismo enfrentando a crise dos impressos e lutando pela

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sobrevivecircncia Isso seraacute feito por meio de um estudo de caso utilizan-do-se da metodologia que permite a anaacutelise de transformaccedilotildees histoacuteri-cas fundamentada no materialismo histoacuterico ndash que consiste em observarcomo a transformaccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo provoca mudanccedilas so-ciais econocircmicas e poliacuteticas e vice-versa ou seja como as mudanccedilasna sociedade provocam novas transformaccedilotildees nos modos de produccedilatildeoe no percurso histoacuterico Pretende-se no caso especiacutefico do presentetrabalho estudar como as transformaccedilotildees histoacutericas na imprensa comoum todo e especialmente em Ribeiratildeo Preto ndash municiacutepio de quase 600mil habitantes do interior paulista a 310 quilocircmetros de Satildeo Paulo ndashimpulsionadas pelo desenvolvimento de novas tecnologias que provo-caram consequentemente diferentes formas de pensar o mundo in-fluenciaram nas relaccedilotildees humanas e por sua vez como essas relaccedilotildeespromoveram avanccedilos nos modos de produccedilatildeo principalmente na estru-tura e nas condiccedilotildees que permitiram realizar uma ampla reforma graacuteficae editorial num jornal impresso centenaacuterio tido como tradicional e con-servador de forma que atendesse as exigecircncias ideoloacutegicas deste iniacuteciode seacuteculo

Nosso objeto de pesquisa seraacute o jornal A Cidade fundado em 1o

de janeiro de 1905 o maior e mais antigo de Ribeiratildeo Preto Qua-tro anos atraacutes o veiacuteculo passou por modificaccedilotildees significativas no seuconteuacutedo e na parte visual para atrair mais leitores anunciantes e en-frentar a concorrecircncia ndash fortalecida com a chegada em 2004 da Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)o mesmo grupo que publica os tradicionais jornais Correio Popular eDiaacuterio do Povo em Campinas uma das maiores cidades do Estado deSatildeo Paulo com mais de um milhatildeo de habitantes Em que contextohistoacuterico houve essa reformulaccedilatildeo Esta eacute a questatildeo que seraacute investi-gada a partir de agora

2 A reformulaccedilatildeo do Jornal A CidadeEm entrevista ao site Jornalistas amp Cia portal com informaccedilotildees sobre aimprensa brasileira publicada no dia 2 de fevereiro de 2010 a editora-executiva e o editor-chefe do Jornal A Cidade Rosana Zaidan e JosueacuteSuzuki analisam o atual momento do veiacuteculo e projetam crescimentoSuzuki se posiciona como um defensor da miacutedia regional que segundo

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ele estaacute em franca expansatildeo ldquoNatildeo haacute como ignorar esse crescimentoE as pessoas estatildeo buscando cada vez mais informaccedilotildees de sua loca-lidade de sua regiatildeo do seu cotidiano sem perder o foco no macroE quem melhor para atender esta exigecircncia do que a miacutedia regionalrdquo(SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia 2 defevereiro de 2010)

A partir dessa constataccedilatildeo Suzuki vecirc a internet tida como uma dasgrandes responsaacuteveis pela crise dos impressos como uma aliada Elediz na mesma entrevista que diferente dos prognoacutesticos pessimistasa miacutedia impressa ldquoestaacute cada vez mais forterdquo E por isso ldquoprecisa estaratualizada e ver no crescimento da internet uma oportunidaderdquo Per-guntado sobre os principais planos para 2010 o editor-chefe destacamelhorias no site do jornal e a inserccedilatildeo de ldquonovos conteuacutedos saber oque leitor querrdquo

De acordo com a editora-executiva Rosana Zaidan as mudanccedilaseditoriais e graacuteficas promovidas no jornal em 2006 foram um grandepasso para reafirmar a miacutedia impressa em Ribeiratildeo Preto onde na visatildeodela a tradiccedilatildeo do raacutedio sempre foi mais forte A reforma eacute vista porela como um dos momentos marcantes do veiacuteculo entre outras decisotildeestomadas ao longo da histoacuteria da imprensa escrita em Ribeiratildeo que per-mitiram a sobrevivecircncia do A Cidade Uma delas foi a implantaccedilatildeopelo proprietaacuterio do jornal Orestes Lopes de Camargo na segundametade da deacutecada de 40 de uma seccedilatildeo de classificados Os ldquoquadradi-nhosrdquo do ldquoseurdquo Orestes como ficaram conhecidos os espaccedilos da seccedilatildeoderam segundo Zaidan ldquoa receita para que o jornal nunca fechasse asportasrdquo (ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas ampCia 2 de fevereiro de 2010)

Pelissari (2001) afirma que foi a partir da implantaccedilatildeo dos classi-ficados que o jornal passou a ter uma melhor situaccedilatildeo financeira ldquoAentrada de dinheiro permitiu melhorias graacuteficas e ateacute mesmo na estru-tura da empresa A velha maacutequina Marinoni foi substituiacuteda por umaimpressora plana e na deacutecada de 50 trocada por uma rotoplana A im-pressora rotativa viria na metade da deacutecada de 60rdquo (PELISSARI 2001p 137)

Durante deacutecadas os classificados foram a grande vedete do JornalA Cidade mas talvez o uacutenico atrativo aos leitores Com o passar dotempo por causa de sua postura conservadora o jornal apesar de se

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manter na ativa passou a natildeo ser visto pela populaccedilatildeo de Ribeiratildeo Pretocomo modelo referecircncia de veiacuteculo impresso Perdeu prestiacutegio princi-palmente nas deacutecadas de 80 e 90 As vendas se mantinham quase queexclusivamente por causa da forccedila dos classificados

Em meados dessa primeira deacutecada do seacuteculo XXI entretanto comuma estrutura apertada nuacutemero reduzido de profissionais na redaccedilatildeoe a ameaccedila de perder terreno para a concorrecircncia que chegava comum projeto visual ousado e a proposta de investir pesado em reporta-gens locais o jornal foi obrigado a passar por uma reformulaccedilatildeo Maso investimento na reforma graacutefica e editorial soacute foi possiacutevel graccedilas auma parceria com o Grupo Coutinho Nogueira soacutecio-controlador daEPTV (Emissoras Pioneiras de Televisatildeo) afiliada Rede Globo quepossui unidades em Ribeiratildeo Preto Satildeo Carlos Campinas e VarginhaO acordo segundo notiacutecia publicada no portal Imprensa em 17 defevereiro de 2006 foi firmado no dia anterior dia 16 com a aquisiccedilatildeopor parte da EPTV de 50 das accedilotildees da famiacutelia Orestes Lopes de Ca-margo dona do jornal As negociaccedilotildees que tiveram iniacutecio em 2005 anodo centenaacuterio do jornal definiram que a redaccedilatildeo e os setores adminis-trativo e financeiro ficariam sob responsabilidade da EPTV enquanto ograacutefico e o comercial continuariam com o grupo Lopes de Camargo

A queda no prestiacutegio e na influecircncia do jornal na vida social dacidade ocorrida anteriormente ao acordo com a EPTV eacute justificada porTornatore (2005) com o fato de que Orestes Lopes de Camargo e o filhoJuracy que faleceram em 1993 e 2002 respectivamente jaacute natildeo tinhammais a disposiccedilatildeo de eacutepocas passadas para gerir o jornal Quando mor-reu fraco e debilitado Orestes estava prestes a completar 93 anos deidade E Juracy que faleceu aos 76 anos de idade foi o uacuteltimo dono doA Cidade a comandar a redaccedilatildeo do jornal

Na deacutecada de 80 Orestes Lopes de Camargo continua aescrever diariamente a e emitir sua opiniatildeo sobre os maisdiferentes assuntos mas natildeo eacute mais um participante da vidapoliacutetica como o fora entre as deacutecadas de 30 e 70 Torna-se uma espeacutecie de espectador privilegiado e com certezaorgulhosa do patrimocircnio ndash A Cidade ndash que estava deixandopara filhos e netos Juracy por sua vez mantinha a tradiccedilatildeoagora quase secular de apoiar tudo aquilo que era bom paraa comunidade para ldquoo progresso e o engrandecimento de

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Ribeiratildeo Pretordquo () Continuava trabalhando da forma queaprendera com o pai deacutecadas antes ndash como na deacutecada de40 Jura jaacute ocupava o cargo de diretor gerente do jornal daacutepra entender sua aversatildeo a uma reforma que modernizasseo modo de produccedilatildeo do jornal Os novos tempos natildeo eramo seu tempo (TORNATORE 2005 p 99)

O jeito arcaico de trabalhar no entanto precisava ser revisto casoo jornal natildeo quisesse perder ainda mais prestiacutegio e correr o risco ateacutede fechar as portas Jandyra de Camargo Moquenco a mais velha dostrecircs filhos de Orestes que atuava tambeacutem como diretora do jornal tinha81 anos quando o irmatildeo Juracy morreu e tambeacutem jaacute natildeo gozava detanta disposiccedilatildeo para reverter o quadro que se instaurava em A Cidadendash ela que foi a primeira linotipista do Brasil e ocupava ultimamenteo cargo de presidente de honra do jornal faleceu em 5 de agosto de2009 aos 88 anos viacutetima de parada cardiacuteaca A soluccedilatildeo encontradaem 2002 imediatamente apoacutes a morte de Juracy foi profissionalizar odepartamento de jornalismo Quem coordenou a transiccedilatildeo foi MariaVirgiacutenia Lopes de Camargo Cordeiro filha de Juracy Mesmo assim ojornal natildeo reencontraria o prestiacutegio de outrora Soacute a venda de 50 dasaccedilotildees para a EPTV que promoveu a injeccedilatildeo de recursos na empresa eacuteque recolocaria o veiacuteculo definitivamente de volta nos trilhos

Um dos fatores que contribuiacuteram para acelerar as reformas no JornalA Cidade foi a entrada em 2004 em Ribeiratildeo Preto do Jornal Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)empresa que publica em Campinas a 100 quilocircmetros de Satildeo Paulo ostradicionais jornais Correio Popular e Diaacuterio do Povo e deteacutem ainda oportal Cosmos de notiacutecias sobre o interior paulista a Revista Metroacutepolee o receacutem-lanccedilado Notiacutecia Jaacute tabloide com trecircs anos de existecircncia di-rigido agraves classes B C e D e que circula em Campinas e mais doze mu-niciacutepios circunvizinhos

O lanccedilamento da Gazeta de Ribeiratildeo Preto integrou uma estrateacutegiada RAC de abrir jornais menores direcionados a regiotildees especiacuteficas deCampinas e a outros municiacutepios do interior paulista Em 2003 surgirama Gazeta do Cambuiacute distribuiacutedo num dos maiores bairros de Campinase a Gazeta de Piracicaba O sucesso da iniciativa impulsionou o lanccedila-mento no ano seguinte da Gazeta de Ribeiratildeo que trouxe novidades

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para a imprensa escrita de Ribeiratildeo Preto Com um projeto graacutefico i-novador colorido em mais da metade das paacuteginas formato berliner(ou germacircnico) ateacute entatildeo ineacutedito na cidade investimento maciccedilo emreportagens locais ndash facilitado pela sua periodicidade que era inicial-mente semanal com circulaccedilatildeo aos finais de semana ndash e distribuiccedilatildeogratuita o jornal se tornou em pouco tempo conhecido e requisitadoCom uma tiragem de 30 mil exemplares por ediccedilatildeo e direcionado prin-cipalmente agraves classes A e B a Gazeta de Ribeiratildeo chegava a pratica-mente todos os condomiacutenios de Ribeiratildeo Preto e circulava em regiotildeesda cidade com grande tracircnsito de pessoas como a aacuterea central os shop-pings e o aeroporto

O novo jornal passou a atrair anunciantes com interesses no altopoder aquisitivo dos leitores como imobiliaacuterias concessionaacuterias de veiacute-culos construtoras e centros de educaccedilatildeo privada sobretudo universi-dades o que significou tambeacutem um crescimento da demanda para osetor de classificados da Gazeta ramo dominado anteriormente peloJornal A Cidade Enquanto isso o grupo Orestes Lopes de Camargoque tinha promovido uma pequena mudanccedila graacutefica nos padrotildees graacutefi-cos do A Cidade em 2003 por ocasiatildeo da profissionalizaccedilatildeo do depar-tamento de jornalista mas insuficiente para fazer recuperar o prestiacutegiodo jornal via-se em meio a uma realidade que exigia de um lado adap-taccedilotildees para enfrentar o fortalecimento das tecnologias digitais e deoutro uma corrida para sobreviver num mercado que a partir de 2004passava a ser mais competitivo

A grande reforma que pode ser acompanhada pelas figuras a seguirveio em 2006 As mudanccedilas alteraram significativamente a ldquocarardquodo jornal que nos 100 anos anteriores se havia passado por algumasmodificaccedilotildees estas foram pequenas natildeo tatildeo notoacuterias quanto a uacuteltima1

1Figura 1 e figuras 9 a 18 Fonte Arquivo Histoacuterico Municipal de Ribeiratildeo PretoFiguras 6 e 7 Fonte Banco de imagens na internet (sem data definida) Figura 8Fonte Site do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Preto (wwwjornalacidadecombr) Figuras 2 4 5 e 6 ndash reproduccedilotildees feitas pelo autor do presente trabalho a partirde ediccedilotildees obtidas junto ao jornal Gazeta de Ribeiratildeo

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Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 4: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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o avanccedilo da internet que suga anuacutencios sobretudo os pe-quenos e rentaacuteveis classificados e tambeacutem serve como fon-te ndash em geral gratuita ndash de informaccedilotildees (Revista Veja 29de abril de 2009 p 90)

Na mesma reportagem Sulzberg o diretor que natildeo havia dado muitocreacutedito agrave declaraccedilatildeo do empregado de Bill Gates aparece lamentando asituaccedilatildeo do New York Times e admitindo que a diacutevida do jornal estavacrescendo a e circulaccedilatildeo caindo De 1990 a 2008 o nuacutemero de leitoresdo jornal diminuiu 113 segundo a reportagem da Veja que terminacom o seguinte paraacutegrafo

E quem acha que a internet por sua natureza virtual dis-semina mais informaccedilatildeo e eleva a cultura das massas pre-cisa ir devagar O site do Times com seus 20 milhotildees deusuaacuterios eacute o maior site de jornal do mundo Mas em meacute-dia seus visitantes ficam no site 35 minutos ndash por mecircs Ou110 minutos por dia Natildeo daacute tempo de ler nem um gibiEacute como se os internautas passassem numa banca dessemuma olhada nos tiacutetulos expostos e fossem embora Sem lernada Eacute perturbador (Revista Veja 29 de abril de 2009 p93)

Profissionais ligados agrave imprensa parecem mesmo concordar que osjornais enfrentam uma crise sem precedentes Noblat (2004) chega aafirmar que ldquoos jornais contudo morreratildeo sinto dizer-lhes isso Talcomo existem hoje tudo indica que morreratildeo Soacute natildeo me arrisco adizer quandordquo (NOBLAT 2004 p 19)

Diante desse quadro o autor se arrisca a dar algumas dicas para asobrevivecircncia dos jornais impressos Para ele (2004 p 16-17) satildeonecessaacuterios uma renovaccedilatildeo na pauta de assuntos para aproximar osjornais de jovens e mulheres que o noticiaacuterio seja humanizado e que aabordagem seja feita a partir da visatildeo dos leitores que a preocupaccedilatildeomaior seja antecipar situaccedilotildees do que relatar os temas do ontem que seinvista em reportagens porque satildeo elas que diferenciam um jornal dooutro que haja mais interaccedilatildeo com os leitores para que eles digam oque pensam que sejam priorizados textos que fogem ao padratildeo atual de

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notiacutecia (lide) que os profissionais da redaccedilatildeo sejam altamente qualifi-cados e que haja forte investimento dos proacuteprios jornais nessa qualifi-caccedilatildeo e finalmente que os jornais dependam menos de anunciantes emais da venda de seus exemplares

Costa (2002) segue uma linha semelhante de reflexatildeo Segundoa autora eacute comum encontrar em vaacuterios jornais notiacutecias tambeacutem vei-culadas em outros o que demonstra o aproveitamento integral em mui-tos casos principalmente pela miacutedia local de releases enviados agravesredaccedilotildees por assessorias de imprensa

Os assessores de imprensa satildeo peccedila fundamental no pro-duto noticioso que chega ateacute o leitor Ao apresentar um ma-terial ldquopronto e acabadordquo o pessoal do jornal soacute tinha o tra-balho de digitar os textos [jaacute que na eacutepoca os releases aindaeram enviados por fax] Tendo em vista a infra-estruturaprecaacuteria da empresa em questatildeo no que diz respeito agrave matildeo-de-obra jornaliacutestica os assessores ajudam a determinar oque seraacute noticiado ao puacuteblico Satildeo eles que desempenhama funccedilatildeo do jornalista da redaccedilatildeo ndash jaacute que seus textos satildeoreproduzidos na integra pelo jornal Ao ldquosugerirrdquo como talmateacuteria deve ser colocada na ediccedilatildeo do dia seguinte maisdo que ldquorepoacuterteresrdquo eles passam a ter tambeacutem a funccedilatildeo deeditor do jornal (COSTA 2002 p 86)

Peruzzo (2005) complementa a afirmaccedilatildeo Segundo ela com o pro-cesso de globalizaccedilatildeo impulsionado de maneira significativa pela inter-net esperava-se inicialmente que as miacutedias locais seriam sufocadasque perderiam espaccedilo mas o que se observa eacute justamente o contraacuterio

Houve assim a superaccedilatildeo da tendecircncia pessimista de con-siderar que as forccedilas globalizadas ndash da economia da poliacute-tica e da miacutedia ndash detecircm o poder infaliacutevel de sufocar as so-ciedades e as culturas nos niacuteveis nacional e local A reali-dade vai evidenciando que o local e o global fazem parte deum mesmo processo condicionam-se e interferem um nooutro simultaneamente (PERUZZO 2005 p 5)

Considerando o cenaacuterio apresentado a proposta deste trabalho eacuteanalisar como os jornais locais estatildeo se adaptando agraves mudanccedilas de para-digmas no jornalismo enfrentando a crise dos impressos e lutando pela

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sobrevivecircncia Isso seraacute feito por meio de um estudo de caso utilizan-do-se da metodologia que permite a anaacutelise de transformaccedilotildees histoacuteri-cas fundamentada no materialismo histoacuterico ndash que consiste em observarcomo a transformaccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo provoca mudanccedilas so-ciais econocircmicas e poliacuteticas e vice-versa ou seja como as mudanccedilasna sociedade provocam novas transformaccedilotildees nos modos de produccedilatildeoe no percurso histoacuterico Pretende-se no caso especiacutefico do presentetrabalho estudar como as transformaccedilotildees histoacutericas na imprensa comoum todo e especialmente em Ribeiratildeo Preto ndash municiacutepio de quase 600mil habitantes do interior paulista a 310 quilocircmetros de Satildeo Paulo ndashimpulsionadas pelo desenvolvimento de novas tecnologias que provo-caram consequentemente diferentes formas de pensar o mundo in-fluenciaram nas relaccedilotildees humanas e por sua vez como essas relaccedilotildeespromoveram avanccedilos nos modos de produccedilatildeo principalmente na estru-tura e nas condiccedilotildees que permitiram realizar uma ampla reforma graacuteficae editorial num jornal impresso centenaacuterio tido como tradicional e con-servador de forma que atendesse as exigecircncias ideoloacutegicas deste iniacuteciode seacuteculo

Nosso objeto de pesquisa seraacute o jornal A Cidade fundado em 1o

de janeiro de 1905 o maior e mais antigo de Ribeiratildeo Preto Qua-tro anos atraacutes o veiacuteculo passou por modificaccedilotildees significativas no seuconteuacutedo e na parte visual para atrair mais leitores anunciantes e en-frentar a concorrecircncia ndash fortalecida com a chegada em 2004 da Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)o mesmo grupo que publica os tradicionais jornais Correio Popular eDiaacuterio do Povo em Campinas uma das maiores cidades do Estado deSatildeo Paulo com mais de um milhatildeo de habitantes Em que contextohistoacuterico houve essa reformulaccedilatildeo Esta eacute a questatildeo que seraacute investi-gada a partir de agora

2 A reformulaccedilatildeo do Jornal A CidadeEm entrevista ao site Jornalistas amp Cia portal com informaccedilotildees sobre aimprensa brasileira publicada no dia 2 de fevereiro de 2010 a editora-executiva e o editor-chefe do Jornal A Cidade Rosana Zaidan e JosueacuteSuzuki analisam o atual momento do veiacuteculo e projetam crescimentoSuzuki se posiciona como um defensor da miacutedia regional que segundo

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ele estaacute em franca expansatildeo ldquoNatildeo haacute como ignorar esse crescimentoE as pessoas estatildeo buscando cada vez mais informaccedilotildees de sua loca-lidade de sua regiatildeo do seu cotidiano sem perder o foco no macroE quem melhor para atender esta exigecircncia do que a miacutedia regionalrdquo(SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia 2 defevereiro de 2010)

A partir dessa constataccedilatildeo Suzuki vecirc a internet tida como uma dasgrandes responsaacuteveis pela crise dos impressos como uma aliada Elediz na mesma entrevista que diferente dos prognoacutesticos pessimistasa miacutedia impressa ldquoestaacute cada vez mais forterdquo E por isso ldquoprecisa estaratualizada e ver no crescimento da internet uma oportunidaderdquo Per-guntado sobre os principais planos para 2010 o editor-chefe destacamelhorias no site do jornal e a inserccedilatildeo de ldquonovos conteuacutedos saber oque leitor querrdquo

De acordo com a editora-executiva Rosana Zaidan as mudanccedilaseditoriais e graacuteficas promovidas no jornal em 2006 foram um grandepasso para reafirmar a miacutedia impressa em Ribeiratildeo Preto onde na visatildeodela a tradiccedilatildeo do raacutedio sempre foi mais forte A reforma eacute vista porela como um dos momentos marcantes do veiacuteculo entre outras decisotildeestomadas ao longo da histoacuteria da imprensa escrita em Ribeiratildeo que per-mitiram a sobrevivecircncia do A Cidade Uma delas foi a implantaccedilatildeopelo proprietaacuterio do jornal Orestes Lopes de Camargo na segundametade da deacutecada de 40 de uma seccedilatildeo de classificados Os ldquoquadradi-nhosrdquo do ldquoseurdquo Orestes como ficaram conhecidos os espaccedilos da seccedilatildeoderam segundo Zaidan ldquoa receita para que o jornal nunca fechasse asportasrdquo (ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas ampCia 2 de fevereiro de 2010)

Pelissari (2001) afirma que foi a partir da implantaccedilatildeo dos classi-ficados que o jornal passou a ter uma melhor situaccedilatildeo financeira ldquoAentrada de dinheiro permitiu melhorias graacuteficas e ateacute mesmo na estru-tura da empresa A velha maacutequina Marinoni foi substituiacuteda por umaimpressora plana e na deacutecada de 50 trocada por uma rotoplana A im-pressora rotativa viria na metade da deacutecada de 60rdquo (PELISSARI 2001p 137)

Durante deacutecadas os classificados foram a grande vedete do JornalA Cidade mas talvez o uacutenico atrativo aos leitores Com o passar dotempo por causa de sua postura conservadora o jornal apesar de se

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manter na ativa passou a natildeo ser visto pela populaccedilatildeo de Ribeiratildeo Pretocomo modelo referecircncia de veiacuteculo impresso Perdeu prestiacutegio princi-palmente nas deacutecadas de 80 e 90 As vendas se mantinham quase queexclusivamente por causa da forccedila dos classificados

Em meados dessa primeira deacutecada do seacuteculo XXI entretanto comuma estrutura apertada nuacutemero reduzido de profissionais na redaccedilatildeoe a ameaccedila de perder terreno para a concorrecircncia que chegava comum projeto visual ousado e a proposta de investir pesado em reporta-gens locais o jornal foi obrigado a passar por uma reformulaccedilatildeo Maso investimento na reforma graacutefica e editorial soacute foi possiacutevel graccedilas auma parceria com o Grupo Coutinho Nogueira soacutecio-controlador daEPTV (Emissoras Pioneiras de Televisatildeo) afiliada Rede Globo quepossui unidades em Ribeiratildeo Preto Satildeo Carlos Campinas e VarginhaO acordo segundo notiacutecia publicada no portal Imprensa em 17 defevereiro de 2006 foi firmado no dia anterior dia 16 com a aquisiccedilatildeopor parte da EPTV de 50 das accedilotildees da famiacutelia Orestes Lopes de Ca-margo dona do jornal As negociaccedilotildees que tiveram iniacutecio em 2005 anodo centenaacuterio do jornal definiram que a redaccedilatildeo e os setores adminis-trativo e financeiro ficariam sob responsabilidade da EPTV enquanto ograacutefico e o comercial continuariam com o grupo Lopes de Camargo

A queda no prestiacutegio e na influecircncia do jornal na vida social dacidade ocorrida anteriormente ao acordo com a EPTV eacute justificada porTornatore (2005) com o fato de que Orestes Lopes de Camargo e o filhoJuracy que faleceram em 1993 e 2002 respectivamente jaacute natildeo tinhammais a disposiccedilatildeo de eacutepocas passadas para gerir o jornal Quando mor-reu fraco e debilitado Orestes estava prestes a completar 93 anos deidade E Juracy que faleceu aos 76 anos de idade foi o uacuteltimo dono doA Cidade a comandar a redaccedilatildeo do jornal

Na deacutecada de 80 Orestes Lopes de Camargo continua aescrever diariamente a e emitir sua opiniatildeo sobre os maisdiferentes assuntos mas natildeo eacute mais um participante da vidapoliacutetica como o fora entre as deacutecadas de 30 e 70 Torna-se uma espeacutecie de espectador privilegiado e com certezaorgulhosa do patrimocircnio ndash A Cidade ndash que estava deixandopara filhos e netos Juracy por sua vez mantinha a tradiccedilatildeoagora quase secular de apoiar tudo aquilo que era bom paraa comunidade para ldquoo progresso e o engrandecimento de

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Ribeiratildeo Pretordquo () Continuava trabalhando da forma queaprendera com o pai deacutecadas antes ndash como na deacutecada de40 Jura jaacute ocupava o cargo de diretor gerente do jornal daacutepra entender sua aversatildeo a uma reforma que modernizasseo modo de produccedilatildeo do jornal Os novos tempos natildeo eramo seu tempo (TORNATORE 2005 p 99)

O jeito arcaico de trabalhar no entanto precisava ser revisto casoo jornal natildeo quisesse perder ainda mais prestiacutegio e correr o risco ateacutede fechar as portas Jandyra de Camargo Moquenco a mais velha dostrecircs filhos de Orestes que atuava tambeacutem como diretora do jornal tinha81 anos quando o irmatildeo Juracy morreu e tambeacutem jaacute natildeo gozava detanta disposiccedilatildeo para reverter o quadro que se instaurava em A Cidadendash ela que foi a primeira linotipista do Brasil e ocupava ultimamenteo cargo de presidente de honra do jornal faleceu em 5 de agosto de2009 aos 88 anos viacutetima de parada cardiacuteaca A soluccedilatildeo encontradaem 2002 imediatamente apoacutes a morte de Juracy foi profissionalizar odepartamento de jornalismo Quem coordenou a transiccedilatildeo foi MariaVirgiacutenia Lopes de Camargo Cordeiro filha de Juracy Mesmo assim ojornal natildeo reencontraria o prestiacutegio de outrora Soacute a venda de 50 dasaccedilotildees para a EPTV que promoveu a injeccedilatildeo de recursos na empresa eacuteque recolocaria o veiacuteculo definitivamente de volta nos trilhos

Um dos fatores que contribuiacuteram para acelerar as reformas no JornalA Cidade foi a entrada em 2004 em Ribeiratildeo Preto do Jornal Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)empresa que publica em Campinas a 100 quilocircmetros de Satildeo Paulo ostradicionais jornais Correio Popular e Diaacuterio do Povo e deteacutem ainda oportal Cosmos de notiacutecias sobre o interior paulista a Revista Metroacutepolee o receacutem-lanccedilado Notiacutecia Jaacute tabloide com trecircs anos de existecircncia di-rigido agraves classes B C e D e que circula em Campinas e mais doze mu-niciacutepios circunvizinhos

O lanccedilamento da Gazeta de Ribeiratildeo Preto integrou uma estrateacutegiada RAC de abrir jornais menores direcionados a regiotildees especiacuteficas deCampinas e a outros municiacutepios do interior paulista Em 2003 surgirama Gazeta do Cambuiacute distribuiacutedo num dos maiores bairros de Campinase a Gazeta de Piracicaba O sucesso da iniciativa impulsionou o lanccedila-mento no ano seguinte da Gazeta de Ribeiratildeo que trouxe novidades

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para a imprensa escrita de Ribeiratildeo Preto Com um projeto graacutefico i-novador colorido em mais da metade das paacuteginas formato berliner(ou germacircnico) ateacute entatildeo ineacutedito na cidade investimento maciccedilo emreportagens locais ndash facilitado pela sua periodicidade que era inicial-mente semanal com circulaccedilatildeo aos finais de semana ndash e distribuiccedilatildeogratuita o jornal se tornou em pouco tempo conhecido e requisitadoCom uma tiragem de 30 mil exemplares por ediccedilatildeo e direcionado prin-cipalmente agraves classes A e B a Gazeta de Ribeiratildeo chegava a pratica-mente todos os condomiacutenios de Ribeiratildeo Preto e circulava em regiotildeesda cidade com grande tracircnsito de pessoas como a aacuterea central os shop-pings e o aeroporto

O novo jornal passou a atrair anunciantes com interesses no altopoder aquisitivo dos leitores como imobiliaacuterias concessionaacuterias de veiacute-culos construtoras e centros de educaccedilatildeo privada sobretudo universi-dades o que significou tambeacutem um crescimento da demanda para osetor de classificados da Gazeta ramo dominado anteriormente peloJornal A Cidade Enquanto isso o grupo Orestes Lopes de Camargoque tinha promovido uma pequena mudanccedila graacutefica nos padrotildees graacutefi-cos do A Cidade em 2003 por ocasiatildeo da profissionalizaccedilatildeo do depar-tamento de jornalista mas insuficiente para fazer recuperar o prestiacutegiodo jornal via-se em meio a uma realidade que exigia de um lado adap-taccedilotildees para enfrentar o fortalecimento das tecnologias digitais e deoutro uma corrida para sobreviver num mercado que a partir de 2004passava a ser mais competitivo

A grande reforma que pode ser acompanhada pelas figuras a seguirveio em 2006 As mudanccedilas alteraram significativamente a ldquocarardquodo jornal que nos 100 anos anteriores se havia passado por algumasmodificaccedilotildees estas foram pequenas natildeo tatildeo notoacuterias quanto a uacuteltima1

1Figura 1 e figuras 9 a 18 Fonte Arquivo Histoacuterico Municipal de Ribeiratildeo PretoFiguras 6 e 7 Fonte Banco de imagens na internet (sem data definida) Figura 8Fonte Site do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Preto (wwwjornalacidadecombr) Figuras 2 4 5 e 6 ndash reproduccedilotildees feitas pelo autor do presente trabalho a partirde ediccedilotildees obtidas junto ao jornal Gazeta de Ribeiratildeo

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Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 5: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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notiacutecia (lide) que os profissionais da redaccedilatildeo sejam altamente qualifi-cados e que haja forte investimento dos proacuteprios jornais nessa qualifi-caccedilatildeo e finalmente que os jornais dependam menos de anunciantes emais da venda de seus exemplares

Costa (2002) segue uma linha semelhante de reflexatildeo Segundoa autora eacute comum encontrar em vaacuterios jornais notiacutecias tambeacutem vei-culadas em outros o que demonstra o aproveitamento integral em mui-tos casos principalmente pela miacutedia local de releases enviados agravesredaccedilotildees por assessorias de imprensa

Os assessores de imprensa satildeo peccedila fundamental no pro-duto noticioso que chega ateacute o leitor Ao apresentar um ma-terial ldquopronto e acabadordquo o pessoal do jornal soacute tinha o tra-balho de digitar os textos [jaacute que na eacutepoca os releases aindaeram enviados por fax] Tendo em vista a infra-estruturaprecaacuteria da empresa em questatildeo no que diz respeito agrave matildeo-de-obra jornaliacutestica os assessores ajudam a determinar oque seraacute noticiado ao puacuteblico Satildeo eles que desempenhama funccedilatildeo do jornalista da redaccedilatildeo ndash jaacute que seus textos satildeoreproduzidos na integra pelo jornal Ao ldquosugerirrdquo como talmateacuteria deve ser colocada na ediccedilatildeo do dia seguinte maisdo que ldquorepoacuterteresrdquo eles passam a ter tambeacutem a funccedilatildeo deeditor do jornal (COSTA 2002 p 86)

Peruzzo (2005) complementa a afirmaccedilatildeo Segundo ela com o pro-cesso de globalizaccedilatildeo impulsionado de maneira significativa pela inter-net esperava-se inicialmente que as miacutedias locais seriam sufocadasque perderiam espaccedilo mas o que se observa eacute justamente o contraacuterio

Houve assim a superaccedilatildeo da tendecircncia pessimista de con-siderar que as forccedilas globalizadas ndash da economia da poliacute-tica e da miacutedia ndash detecircm o poder infaliacutevel de sufocar as so-ciedades e as culturas nos niacuteveis nacional e local A reali-dade vai evidenciando que o local e o global fazem parte deum mesmo processo condicionam-se e interferem um nooutro simultaneamente (PERUZZO 2005 p 5)

Considerando o cenaacuterio apresentado a proposta deste trabalho eacuteanalisar como os jornais locais estatildeo se adaptando agraves mudanccedilas de para-digmas no jornalismo enfrentando a crise dos impressos e lutando pela

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sobrevivecircncia Isso seraacute feito por meio de um estudo de caso utilizan-do-se da metodologia que permite a anaacutelise de transformaccedilotildees histoacuteri-cas fundamentada no materialismo histoacuterico ndash que consiste em observarcomo a transformaccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo provoca mudanccedilas so-ciais econocircmicas e poliacuteticas e vice-versa ou seja como as mudanccedilasna sociedade provocam novas transformaccedilotildees nos modos de produccedilatildeoe no percurso histoacuterico Pretende-se no caso especiacutefico do presentetrabalho estudar como as transformaccedilotildees histoacutericas na imprensa comoum todo e especialmente em Ribeiratildeo Preto ndash municiacutepio de quase 600mil habitantes do interior paulista a 310 quilocircmetros de Satildeo Paulo ndashimpulsionadas pelo desenvolvimento de novas tecnologias que provo-caram consequentemente diferentes formas de pensar o mundo in-fluenciaram nas relaccedilotildees humanas e por sua vez como essas relaccedilotildeespromoveram avanccedilos nos modos de produccedilatildeo principalmente na estru-tura e nas condiccedilotildees que permitiram realizar uma ampla reforma graacuteficae editorial num jornal impresso centenaacuterio tido como tradicional e con-servador de forma que atendesse as exigecircncias ideoloacutegicas deste iniacuteciode seacuteculo

Nosso objeto de pesquisa seraacute o jornal A Cidade fundado em 1o

de janeiro de 1905 o maior e mais antigo de Ribeiratildeo Preto Qua-tro anos atraacutes o veiacuteculo passou por modificaccedilotildees significativas no seuconteuacutedo e na parte visual para atrair mais leitores anunciantes e en-frentar a concorrecircncia ndash fortalecida com a chegada em 2004 da Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)o mesmo grupo que publica os tradicionais jornais Correio Popular eDiaacuterio do Povo em Campinas uma das maiores cidades do Estado deSatildeo Paulo com mais de um milhatildeo de habitantes Em que contextohistoacuterico houve essa reformulaccedilatildeo Esta eacute a questatildeo que seraacute investi-gada a partir de agora

2 A reformulaccedilatildeo do Jornal A CidadeEm entrevista ao site Jornalistas amp Cia portal com informaccedilotildees sobre aimprensa brasileira publicada no dia 2 de fevereiro de 2010 a editora-executiva e o editor-chefe do Jornal A Cidade Rosana Zaidan e JosueacuteSuzuki analisam o atual momento do veiacuteculo e projetam crescimentoSuzuki se posiciona como um defensor da miacutedia regional que segundo

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ele estaacute em franca expansatildeo ldquoNatildeo haacute como ignorar esse crescimentoE as pessoas estatildeo buscando cada vez mais informaccedilotildees de sua loca-lidade de sua regiatildeo do seu cotidiano sem perder o foco no macroE quem melhor para atender esta exigecircncia do que a miacutedia regionalrdquo(SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia 2 defevereiro de 2010)

A partir dessa constataccedilatildeo Suzuki vecirc a internet tida como uma dasgrandes responsaacuteveis pela crise dos impressos como uma aliada Elediz na mesma entrevista que diferente dos prognoacutesticos pessimistasa miacutedia impressa ldquoestaacute cada vez mais forterdquo E por isso ldquoprecisa estaratualizada e ver no crescimento da internet uma oportunidaderdquo Per-guntado sobre os principais planos para 2010 o editor-chefe destacamelhorias no site do jornal e a inserccedilatildeo de ldquonovos conteuacutedos saber oque leitor querrdquo

De acordo com a editora-executiva Rosana Zaidan as mudanccedilaseditoriais e graacuteficas promovidas no jornal em 2006 foram um grandepasso para reafirmar a miacutedia impressa em Ribeiratildeo Preto onde na visatildeodela a tradiccedilatildeo do raacutedio sempre foi mais forte A reforma eacute vista porela como um dos momentos marcantes do veiacuteculo entre outras decisotildeestomadas ao longo da histoacuteria da imprensa escrita em Ribeiratildeo que per-mitiram a sobrevivecircncia do A Cidade Uma delas foi a implantaccedilatildeopelo proprietaacuterio do jornal Orestes Lopes de Camargo na segundametade da deacutecada de 40 de uma seccedilatildeo de classificados Os ldquoquadradi-nhosrdquo do ldquoseurdquo Orestes como ficaram conhecidos os espaccedilos da seccedilatildeoderam segundo Zaidan ldquoa receita para que o jornal nunca fechasse asportasrdquo (ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas ampCia 2 de fevereiro de 2010)

Pelissari (2001) afirma que foi a partir da implantaccedilatildeo dos classi-ficados que o jornal passou a ter uma melhor situaccedilatildeo financeira ldquoAentrada de dinheiro permitiu melhorias graacuteficas e ateacute mesmo na estru-tura da empresa A velha maacutequina Marinoni foi substituiacuteda por umaimpressora plana e na deacutecada de 50 trocada por uma rotoplana A im-pressora rotativa viria na metade da deacutecada de 60rdquo (PELISSARI 2001p 137)

Durante deacutecadas os classificados foram a grande vedete do JornalA Cidade mas talvez o uacutenico atrativo aos leitores Com o passar dotempo por causa de sua postura conservadora o jornal apesar de se

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manter na ativa passou a natildeo ser visto pela populaccedilatildeo de Ribeiratildeo Pretocomo modelo referecircncia de veiacuteculo impresso Perdeu prestiacutegio princi-palmente nas deacutecadas de 80 e 90 As vendas se mantinham quase queexclusivamente por causa da forccedila dos classificados

Em meados dessa primeira deacutecada do seacuteculo XXI entretanto comuma estrutura apertada nuacutemero reduzido de profissionais na redaccedilatildeoe a ameaccedila de perder terreno para a concorrecircncia que chegava comum projeto visual ousado e a proposta de investir pesado em reporta-gens locais o jornal foi obrigado a passar por uma reformulaccedilatildeo Maso investimento na reforma graacutefica e editorial soacute foi possiacutevel graccedilas auma parceria com o Grupo Coutinho Nogueira soacutecio-controlador daEPTV (Emissoras Pioneiras de Televisatildeo) afiliada Rede Globo quepossui unidades em Ribeiratildeo Preto Satildeo Carlos Campinas e VarginhaO acordo segundo notiacutecia publicada no portal Imprensa em 17 defevereiro de 2006 foi firmado no dia anterior dia 16 com a aquisiccedilatildeopor parte da EPTV de 50 das accedilotildees da famiacutelia Orestes Lopes de Ca-margo dona do jornal As negociaccedilotildees que tiveram iniacutecio em 2005 anodo centenaacuterio do jornal definiram que a redaccedilatildeo e os setores adminis-trativo e financeiro ficariam sob responsabilidade da EPTV enquanto ograacutefico e o comercial continuariam com o grupo Lopes de Camargo

A queda no prestiacutegio e na influecircncia do jornal na vida social dacidade ocorrida anteriormente ao acordo com a EPTV eacute justificada porTornatore (2005) com o fato de que Orestes Lopes de Camargo e o filhoJuracy que faleceram em 1993 e 2002 respectivamente jaacute natildeo tinhammais a disposiccedilatildeo de eacutepocas passadas para gerir o jornal Quando mor-reu fraco e debilitado Orestes estava prestes a completar 93 anos deidade E Juracy que faleceu aos 76 anos de idade foi o uacuteltimo dono doA Cidade a comandar a redaccedilatildeo do jornal

Na deacutecada de 80 Orestes Lopes de Camargo continua aescrever diariamente a e emitir sua opiniatildeo sobre os maisdiferentes assuntos mas natildeo eacute mais um participante da vidapoliacutetica como o fora entre as deacutecadas de 30 e 70 Torna-se uma espeacutecie de espectador privilegiado e com certezaorgulhosa do patrimocircnio ndash A Cidade ndash que estava deixandopara filhos e netos Juracy por sua vez mantinha a tradiccedilatildeoagora quase secular de apoiar tudo aquilo que era bom paraa comunidade para ldquoo progresso e o engrandecimento de

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Ribeiratildeo Pretordquo () Continuava trabalhando da forma queaprendera com o pai deacutecadas antes ndash como na deacutecada de40 Jura jaacute ocupava o cargo de diretor gerente do jornal daacutepra entender sua aversatildeo a uma reforma que modernizasseo modo de produccedilatildeo do jornal Os novos tempos natildeo eramo seu tempo (TORNATORE 2005 p 99)

O jeito arcaico de trabalhar no entanto precisava ser revisto casoo jornal natildeo quisesse perder ainda mais prestiacutegio e correr o risco ateacutede fechar as portas Jandyra de Camargo Moquenco a mais velha dostrecircs filhos de Orestes que atuava tambeacutem como diretora do jornal tinha81 anos quando o irmatildeo Juracy morreu e tambeacutem jaacute natildeo gozava detanta disposiccedilatildeo para reverter o quadro que se instaurava em A Cidadendash ela que foi a primeira linotipista do Brasil e ocupava ultimamenteo cargo de presidente de honra do jornal faleceu em 5 de agosto de2009 aos 88 anos viacutetima de parada cardiacuteaca A soluccedilatildeo encontradaem 2002 imediatamente apoacutes a morte de Juracy foi profissionalizar odepartamento de jornalismo Quem coordenou a transiccedilatildeo foi MariaVirgiacutenia Lopes de Camargo Cordeiro filha de Juracy Mesmo assim ojornal natildeo reencontraria o prestiacutegio de outrora Soacute a venda de 50 dasaccedilotildees para a EPTV que promoveu a injeccedilatildeo de recursos na empresa eacuteque recolocaria o veiacuteculo definitivamente de volta nos trilhos

Um dos fatores que contribuiacuteram para acelerar as reformas no JornalA Cidade foi a entrada em 2004 em Ribeiratildeo Preto do Jornal Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)empresa que publica em Campinas a 100 quilocircmetros de Satildeo Paulo ostradicionais jornais Correio Popular e Diaacuterio do Povo e deteacutem ainda oportal Cosmos de notiacutecias sobre o interior paulista a Revista Metroacutepolee o receacutem-lanccedilado Notiacutecia Jaacute tabloide com trecircs anos de existecircncia di-rigido agraves classes B C e D e que circula em Campinas e mais doze mu-niciacutepios circunvizinhos

O lanccedilamento da Gazeta de Ribeiratildeo Preto integrou uma estrateacutegiada RAC de abrir jornais menores direcionados a regiotildees especiacuteficas deCampinas e a outros municiacutepios do interior paulista Em 2003 surgirama Gazeta do Cambuiacute distribuiacutedo num dos maiores bairros de Campinase a Gazeta de Piracicaba O sucesso da iniciativa impulsionou o lanccedila-mento no ano seguinte da Gazeta de Ribeiratildeo que trouxe novidades

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para a imprensa escrita de Ribeiratildeo Preto Com um projeto graacutefico i-novador colorido em mais da metade das paacuteginas formato berliner(ou germacircnico) ateacute entatildeo ineacutedito na cidade investimento maciccedilo emreportagens locais ndash facilitado pela sua periodicidade que era inicial-mente semanal com circulaccedilatildeo aos finais de semana ndash e distribuiccedilatildeogratuita o jornal se tornou em pouco tempo conhecido e requisitadoCom uma tiragem de 30 mil exemplares por ediccedilatildeo e direcionado prin-cipalmente agraves classes A e B a Gazeta de Ribeiratildeo chegava a pratica-mente todos os condomiacutenios de Ribeiratildeo Preto e circulava em regiotildeesda cidade com grande tracircnsito de pessoas como a aacuterea central os shop-pings e o aeroporto

O novo jornal passou a atrair anunciantes com interesses no altopoder aquisitivo dos leitores como imobiliaacuterias concessionaacuterias de veiacute-culos construtoras e centros de educaccedilatildeo privada sobretudo universi-dades o que significou tambeacutem um crescimento da demanda para osetor de classificados da Gazeta ramo dominado anteriormente peloJornal A Cidade Enquanto isso o grupo Orestes Lopes de Camargoque tinha promovido uma pequena mudanccedila graacutefica nos padrotildees graacutefi-cos do A Cidade em 2003 por ocasiatildeo da profissionalizaccedilatildeo do depar-tamento de jornalista mas insuficiente para fazer recuperar o prestiacutegiodo jornal via-se em meio a uma realidade que exigia de um lado adap-taccedilotildees para enfrentar o fortalecimento das tecnologias digitais e deoutro uma corrida para sobreviver num mercado que a partir de 2004passava a ser mais competitivo

A grande reforma que pode ser acompanhada pelas figuras a seguirveio em 2006 As mudanccedilas alteraram significativamente a ldquocarardquodo jornal que nos 100 anos anteriores se havia passado por algumasmodificaccedilotildees estas foram pequenas natildeo tatildeo notoacuterias quanto a uacuteltima1

1Figura 1 e figuras 9 a 18 Fonte Arquivo Histoacuterico Municipal de Ribeiratildeo PretoFiguras 6 e 7 Fonte Banco de imagens na internet (sem data definida) Figura 8Fonte Site do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Preto (wwwjornalacidadecombr) Figuras 2 4 5 e 6 ndash reproduccedilotildees feitas pelo autor do presente trabalho a partirde ediccedilotildees obtidas junto ao jornal Gazeta de Ribeiratildeo

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Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 6: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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sobrevivecircncia Isso seraacute feito por meio de um estudo de caso utilizan-do-se da metodologia que permite a anaacutelise de transformaccedilotildees histoacuteri-cas fundamentada no materialismo histoacuterico ndash que consiste em observarcomo a transformaccedilatildeo dos modos de produccedilatildeo provoca mudanccedilas so-ciais econocircmicas e poliacuteticas e vice-versa ou seja como as mudanccedilasna sociedade provocam novas transformaccedilotildees nos modos de produccedilatildeoe no percurso histoacuterico Pretende-se no caso especiacutefico do presentetrabalho estudar como as transformaccedilotildees histoacutericas na imprensa comoum todo e especialmente em Ribeiratildeo Preto ndash municiacutepio de quase 600mil habitantes do interior paulista a 310 quilocircmetros de Satildeo Paulo ndashimpulsionadas pelo desenvolvimento de novas tecnologias que provo-caram consequentemente diferentes formas de pensar o mundo in-fluenciaram nas relaccedilotildees humanas e por sua vez como essas relaccedilotildeespromoveram avanccedilos nos modos de produccedilatildeo principalmente na estru-tura e nas condiccedilotildees que permitiram realizar uma ampla reforma graacuteficae editorial num jornal impresso centenaacuterio tido como tradicional e con-servador de forma que atendesse as exigecircncias ideoloacutegicas deste iniacuteciode seacuteculo

Nosso objeto de pesquisa seraacute o jornal A Cidade fundado em 1o

de janeiro de 1905 o maior e mais antigo de Ribeiratildeo Preto Qua-tro anos atraacutes o veiacuteculo passou por modificaccedilotildees significativas no seuconteuacutedo e na parte visual para atrair mais leitores anunciantes e en-frentar a concorrecircncia ndash fortalecida com a chegada em 2004 da Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)o mesmo grupo que publica os tradicionais jornais Correio Popular eDiaacuterio do Povo em Campinas uma das maiores cidades do Estado deSatildeo Paulo com mais de um milhatildeo de habitantes Em que contextohistoacuterico houve essa reformulaccedilatildeo Esta eacute a questatildeo que seraacute investi-gada a partir de agora

2 A reformulaccedilatildeo do Jornal A CidadeEm entrevista ao site Jornalistas amp Cia portal com informaccedilotildees sobre aimprensa brasileira publicada no dia 2 de fevereiro de 2010 a editora-executiva e o editor-chefe do Jornal A Cidade Rosana Zaidan e JosueacuteSuzuki analisam o atual momento do veiacuteculo e projetam crescimentoSuzuki se posiciona como um defensor da miacutedia regional que segundo

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ele estaacute em franca expansatildeo ldquoNatildeo haacute como ignorar esse crescimentoE as pessoas estatildeo buscando cada vez mais informaccedilotildees de sua loca-lidade de sua regiatildeo do seu cotidiano sem perder o foco no macroE quem melhor para atender esta exigecircncia do que a miacutedia regionalrdquo(SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia 2 defevereiro de 2010)

A partir dessa constataccedilatildeo Suzuki vecirc a internet tida como uma dasgrandes responsaacuteveis pela crise dos impressos como uma aliada Elediz na mesma entrevista que diferente dos prognoacutesticos pessimistasa miacutedia impressa ldquoestaacute cada vez mais forterdquo E por isso ldquoprecisa estaratualizada e ver no crescimento da internet uma oportunidaderdquo Per-guntado sobre os principais planos para 2010 o editor-chefe destacamelhorias no site do jornal e a inserccedilatildeo de ldquonovos conteuacutedos saber oque leitor querrdquo

De acordo com a editora-executiva Rosana Zaidan as mudanccedilaseditoriais e graacuteficas promovidas no jornal em 2006 foram um grandepasso para reafirmar a miacutedia impressa em Ribeiratildeo Preto onde na visatildeodela a tradiccedilatildeo do raacutedio sempre foi mais forte A reforma eacute vista porela como um dos momentos marcantes do veiacuteculo entre outras decisotildeestomadas ao longo da histoacuteria da imprensa escrita em Ribeiratildeo que per-mitiram a sobrevivecircncia do A Cidade Uma delas foi a implantaccedilatildeopelo proprietaacuterio do jornal Orestes Lopes de Camargo na segundametade da deacutecada de 40 de uma seccedilatildeo de classificados Os ldquoquadradi-nhosrdquo do ldquoseurdquo Orestes como ficaram conhecidos os espaccedilos da seccedilatildeoderam segundo Zaidan ldquoa receita para que o jornal nunca fechasse asportasrdquo (ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas ampCia 2 de fevereiro de 2010)

Pelissari (2001) afirma que foi a partir da implantaccedilatildeo dos classi-ficados que o jornal passou a ter uma melhor situaccedilatildeo financeira ldquoAentrada de dinheiro permitiu melhorias graacuteficas e ateacute mesmo na estru-tura da empresa A velha maacutequina Marinoni foi substituiacuteda por umaimpressora plana e na deacutecada de 50 trocada por uma rotoplana A im-pressora rotativa viria na metade da deacutecada de 60rdquo (PELISSARI 2001p 137)

Durante deacutecadas os classificados foram a grande vedete do JornalA Cidade mas talvez o uacutenico atrativo aos leitores Com o passar dotempo por causa de sua postura conservadora o jornal apesar de se

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manter na ativa passou a natildeo ser visto pela populaccedilatildeo de Ribeiratildeo Pretocomo modelo referecircncia de veiacuteculo impresso Perdeu prestiacutegio princi-palmente nas deacutecadas de 80 e 90 As vendas se mantinham quase queexclusivamente por causa da forccedila dos classificados

Em meados dessa primeira deacutecada do seacuteculo XXI entretanto comuma estrutura apertada nuacutemero reduzido de profissionais na redaccedilatildeoe a ameaccedila de perder terreno para a concorrecircncia que chegava comum projeto visual ousado e a proposta de investir pesado em reporta-gens locais o jornal foi obrigado a passar por uma reformulaccedilatildeo Maso investimento na reforma graacutefica e editorial soacute foi possiacutevel graccedilas auma parceria com o Grupo Coutinho Nogueira soacutecio-controlador daEPTV (Emissoras Pioneiras de Televisatildeo) afiliada Rede Globo quepossui unidades em Ribeiratildeo Preto Satildeo Carlos Campinas e VarginhaO acordo segundo notiacutecia publicada no portal Imprensa em 17 defevereiro de 2006 foi firmado no dia anterior dia 16 com a aquisiccedilatildeopor parte da EPTV de 50 das accedilotildees da famiacutelia Orestes Lopes de Ca-margo dona do jornal As negociaccedilotildees que tiveram iniacutecio em 2005 anodo centenaacuterio do jornal definiram que a redaccedilatildeo e os setores adminis-trativo e financeiro ficariam sob responsabilidade da EPTV enquanto ograacutefico e o comercial continuariam com o grupo Lopes de Camargo

A queda no prestiacutegio e na influecircncia do jornal na vida social dacidade ocorrida anteriormente ao acordo com a EPTV eacute justificada porTornatore (2005) com o fato de que Orestes Lopes de Camargo e o filhoJuracy que faleceram em 1993 e 2002 respectivamente jaacute natildeo tinhammais a disposiccedilatildeo de eacutepocas passadas para gerir o jornal Quando mor-reu fraco e debilitado Orestes estava prestes a completar 93 anos deidade E Juracy que faleceu aos 76 anos de idade foi o uacuteltimo dono doA Cidade a comandar a redaccedilatildeo do jornal

Na deacutecada de 80 Orestes Lopes de Camargo continua aescrever diariamente a e emitir sua opiniatildeo sobre os maisdiferentes assuntos mas natildeo eacute mais um participante da vidapoliacutetica como o fora entre as deacutecadas de 30 e 70 Torna-se uma espeacutecie de espectador privilegiado e com certezaorgulhosa do patrimocircnio ndash A Cidade ndash que estava deixandopara filhos e netos Juracy por sua vez mantinha a tradiccedilatildeoagora quase secular de apoiar tudo aquilo que era bom paraa comunidade para ldquoo progresso e o engrandecimento de

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Ribeiratildeo Pretordquo () Continuava trabalhando da forma queaprendera com o pai deacutecadas antes ndash como na deacutecada de40 Jura jaacute ocupava o cargo de diretor gerente do jornal daacutepra entender sua aversatildeo a uma reforma que modernizasseo modo de produccedilatildeo do jornal Os novos tempos natildeo eramo seu tempo (TORNATORE 2005 p 99)

O jeito arcaico de trabalhar no entanto precisava ser revisto casoo jornal natildeo quisesse perder ainda mais prestiacutegio e correr o risco ateacutede fechar as portas Jandyra de Camargo Moquenco a mais velha dostrecircs filhos de Orestes que atuava tambeacutem como diretora do jornal tinha81 anos quando o irmatildeo Juracy morreu e tambeacutem jaacute natildeo gozava detanta disposiccedilatildeo para reverter o quadro que se instaurava em A Cidadendash ela que foi a primeira linotipista do Brasil e ocupava ultimamenteo cargo de presidente de honra do jornal faleceu em 5 de agosto de2009 aos 88 anos viacutetima de parada cardiacuteaca A soluccedilatildeo encontradaem 2002 imediatamente apoacutes a morte de Juracy foi profissionalizar odepartamento de jornalismo Quem coordenou a transiccedilatildeo foi MariaVirgiacutenia Lopes de Camargo Cordeiro filha de Juracy Mesmo assim ojornal natildeo reencontraria o prestiacutegio de outrora Soacute a venda de 50 dasaccedilotildees para a EPTV que promoveu a injeccedilatildeo de recursos na empresa eacuteque recolocaria o veiacuteculo definitivamente de volta nos trilhos

Um dos fatores que contribuiacuteram para acelerar as reformas no JornalA Cidade foi a entrada em 2004 em Ribeiratildeo Preto do Jornal Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)empresa que publica em Campinas a 100 quilocircmetros de Satildeo Paulo ostradicionais jornais Correio Popular e Diaacuterio do Povo e deteacutem ainda oportal Cosmos de notiacutecias sobre o interior paulista a Revista Metroacutepolee o receacutem-lanccedilado Notiacutecia Jaacute tabloide com trecircs anos de existecircncia di-rigido agraves classes B C e D e que circula em Campinas e mais doze mu-niciacutepios circunvizinhos

O lanccedilamento da Gazeta de Ribeiratildeo Preto integrou uma estrateacutegiada RAC de abrir jornais menores direcionados a regiotildees especiacuteficas deCampinas e a outros municiacutepios do interior paulista Em 2003 surgirama Gazeta do Cambuiacute distribuiacutedo num dos maiores bairros de Campinase a Gazeta de Piracicaba O sucesso da iniciativa impulsionou o lanccedila-mento no ano seguinte da Gazeta de Ribeiratildeo que trouxe novidades

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para a imprensa escrita de Ribeiratildeo Preto Com um projeto graacutefico i-novador colorido em mais da metade das paacuteginas formato berliner(ou germacircnico) ateacute entatildeo ineacutedito na cidade investimento maciccedilo emreportagens locais ndash facilitado pela sua periodicidade que era inicial-mente semanal com circulaccedilatildeo aos finais de semana ndash e distribuiccedilatildeogratuita o jornal se tornou em pouco tempo conhecido e requisitadoCom uma tiragem de 30 mil exemplares por ediccedilatildeo e direcionado prin-cipalmente agraves classes A e B a Gazeta de Ribeiratildeo chegava a pratica-mente todos os condomiacutenios de Ribeiratildeo Preto e circulava em regiotildeesda cidade com grande tracircnsito de pessoas como a aacuterea central os shop-pings e o aeroporto

O novo jornal passou a atrair anunciantes com interesses no altopoder aquisitivo dos leitores como imobiliaacuterias concessionaacuterias de veiacute-culos construtoras e centros de educaccedilatildeo privada sobretudo universi-dades o que significou tambeacutem um crescimento da demanda para osetor de classificados da Gazeta ramo dominado anteriormente peloJornal A Cidade Enquanto isso o grupo Orestes Lopes de Camargoque tinha promovido uma pequena mudanccedila graacutefica nos padrotildees graacutefi-cos do A Cidade em 2003 por ocasiatildeo da profissionalizaccedilatildeo do depar-tamento de jornalista mas insuficiente para fazer recuperar o prestiacutegiodo jornal via-se em meio a uma realidade que exigia de um lado adap-taccedilotildees para enfrentar o fortalecimento das tecnologias digitais e deoutro uma corrida para sobreviver num mercado que a partir de 2004passava a ser mais competitivo

A grande reforma que pode ser acompanhada pelas figuras a seguirveio em 2006 As mudanccedilas alteraram significativamente a ldquocarardquodo jornal que nos 100 anos anteriores se havia passado por algumasmodificaccedilotildees estas foram pequenas natildeo tatildeo notoacuterias quanto a uacuteltima1

1Figura 1 e figuras 9 a 18 Fonte Arquivo Histoacuterico Municipal de Ribeiratildeo PretoFiguras 6 e 7 Fonte Banco de imagens na internet (sem data definida) Figura 8Fonte Site do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Preto (wwwjornalacidadecombr) Figuras 2 4 5 e 6 ndash reproduccedilotildees feitas pelo autor do presente trabalho a partirde ediccedilotildees obtidas junto ao jornal Gazeta de Ribeiratildeo

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Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 7: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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ele estaacute em franca expansatildeo ldquoNatildeo haacute como ignorar esse crescimentoE as pessoas estatildeo buscando cada vez mais informaccedilotildees de sua loca-lidade de sua regiatildeo do seu cotidiano sem perder o foco no macroE quem melhor para atender esta exigecircncia do que a miacutedia regionalrdquo(SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia 2 defevereiro de 2010)

A partir dessa constataccedilatildeo Suzuki vecirc a internet tida como uma dasgrandes responsaacuteveis pela crise dos impressos como uma aliada Elediz na mesma entrevista que diferente dos prognoacutesticos pessimistasa miacutedia impressa ldquoestaacute cada vez mais forterdquo E por isso ldquoprecisa estaratualizada e ver no crescimento da internet uma oportunidaderdquo Per-guntado sobre os principais planos para 2010 o editor-chefe destacamelhorias no site do jornal e a inserccedilatildeo de ldquonovos conteuacutedos saber oque leitor querrdquo

De acordo com a editora-executiva Rosana Zaidan as mudanccedilaseditoriais e graacuteficas promovidas no jornal em 2006 foram um grandepasso para reafirmar a miacutedia impressa em Ribeiratildeo Preto onde na visatildeodela a tradiccedilatildeo do raacutedio sempre foi mais forte A reforma eacute vista porela como um dos momentos marcantes do veiacuteculo entre outras decisotildeestomadas ao longo da histoacuteria da imprensa escrita em Ribeiratildeo que per-mitiram a sobrevivecircncia do A Cidade Uma delas foi a implantaccedilatildeopelo proprietaacuterio do jornal Orestes Lopes de Camargo na segundametade da deacutecada de 40 de uma seccedilatildeo de classificados Os ldquoquadradi-nhosrdquo do ldquoseurdquo Orestes como ficaram conhecidos os espaccedilos da seccedilatildeoderam segundo Zaidan ldquoa receita para que o jornal nunca fechasse asportasrdquo (ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas ampCia 2 de fevereiro de 2010)

Pelissari (2001) afirma que foi a partir da implantaccedilatildeo dos classi-ficados que o jornal passou a ter uma melhor situaccedilatildeo financeira ldquoAentrada de dinheiro permitiu melhorias graacuteficas e ateacute mesmo na estru-tura da empresa A velha maacutequina Marinoni foi substituiacuteda por umaimpressora plana e na deacutecada de 50 trocada por uma rotoplana A im-pressora rotativa viria na metade da deacutecada de 60rdquo (PELISSARI 2001p 137)

Durante deacutecadas os classificados foram a grande vedete do JornalA Cidade mas talvez o uacutenico atrativo aos leitores Com o passar dotempo por causa de sua postura conservadora o jornal apesar de se

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manter na ativa passou a natildeo ser visto pela populaccedilatildeo de Ribeiratildeo Pretocomo modelo referecircncia de veiacuteculo impresso Perdeu prestiacutegio princi-palmente nas deacutecadas de 80 e 90 As vendas se mantinham quase queexclusivamente por causa da forccedila dos classificados

Em meados dessa primeira deacutecada do seacuteculo XXI entretanto comuma estrutura apertada nuacutemero reduzido de profissionais na redaccedilatildeoe a ameaccedila de perder terreno para a concorrecircncia que chegava comum projeto visual ousado e a proposta de investir pesado em reporta-gens locais o jornal foi obrigado a passar por uma reformulaccedilatildeo Maso investimento na reforma graacutefica e editorial soacute foi possiacutevel graccedilas auma parceria com o Grupo Coutinho Nogueira soacutecio-controlador daEPTV (Emissoras Pioneiras de Televisatildeo) afiliada Rede Globo quepossui unidades em Ribeiratildeo Preto Satildeo Carlos Campinas e VarginhaO acordo segundo notiacutecia publicada no portal Imprensa em 17 defevereiro de 2006 foi firmado no dia anterior dia 16 com a aquisiccedilatildeopor parte da EPTV de 50 das accedilotildees da famiacutelia Orestes Lopes de Ca-margo dona do jornal As negociaccedilotildees que tiveram iniacutecio em 2005 anodo centenaacuterio do jornal definiram que a redaccedilatildeo e os setores adminis-trativo e financeiro ficariam sob responsabilidade da EPTV enquanto ograacutefico e o comercial continuariam com o grupo Lopes de Camargo

A queda no prestiacutegio e na influecircncia do jornal na vida social dacidade ocorrida anteriormente ao acordo com a EPTV eacute justificada porTornatore (2005) com o fato de que Orestes Lopes de Camargo e o filhoJuracy que faleceram em 1993 e 2002 respectivamente jaacute natildeo tinhammais a disposiccedilatildeo de eacutepocas passadas para gerir o jornal Quando mor-reu fraco e debilitado Orestes estava prestes a completar 93 anos deidade E Juracy que faleceu aos 76 anos de idade foi o uacuteltimo dono doA Cidade a comandar a redaccedilatildeo do jornal

Na deacutecada de 80 Orestes Lopes de Camargo continua aescrever diariamente a e emitir sua opiniatildeo sobre os maisdiferentes assuntos mas natildeo eacute mais um participante da vidapoliacutetica como o fora entre as deacutecadas de 30 e 70 Torna-se uma espeacutecie de espectador privilegiado e com certezaorgulhosa do patrimocircnio ndash A Cidade ndash que estava deixandopara filhos e netos Juracy por sua vez mantinha a tradiccedilatildeoagora quase secular de apoiar tudo aquilo que era bom paraa comunidade para ldquoo progresso e o engrandecimento de

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Ribeiratildeo Pretordquo () Continuava trabalhando da forma queaprendera com o pai deacutecadas antes ndash como na deacutecada de40 Jura jaacute ocupava o cargo de diretor gerente do jornal daacutepra entender sua aversatildeo a uma reforma que modernizasseo modo de produccedilatildeo do jornal Os novos tempos natildeo eramo seu tempo (TORNATORE 2005 p 99)

O jeito arcaico de trabalhar no entanto precisava ser revisto casoo jornal natildeo quisesse perder ainda mais prestiacutegio e correr o risco ateacutede fechar as portas Jandyra de Camargo Moquenco a mais velha dostrecircs filhos de Orestes que atuava tambeacutem como diretora do jornal tinha81 anos quando o irmatildeo Juracy morreu e tambeacutem jaacute natildeo gozava detanta disposiccedilatildeo para reverter o quadro que se instaurava em A Cidadendash ela que foi a primeira linotipista do Brasil e ocupava ultimamenteo cargo de presidente de honra do jornal faleceu em 5 de agosto de2009 aos 88 anos viacutetima de parada cardiacuteaca A soluccedilatildeo encontradaem 2002 imediatamente apoacutes a morte de Juracy foi profissionalizar odepartamento de jornalismo Quem coordenou a transiccedilatildeo foi MariaVirgiacutenia Lopes de Camargo Cordeiro filha de Juracy Mesmo assim ojornal natildeo reencontraria o prestiacutegio de outrora Soacute a venda de 50 dasaccedilotildees para a EPTV que promoveu a injeccedilatildeo de recursos na empresa eacuteque recolocaria o veiacuteculo definitivamente de volta nos trilhos

Um dos fatores que contribuiacuteram para acelerar as reformas no JornalA Cidade foi a entrada em 2004 em Ribeiratildeo Preto do Jornal Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)empresa que publica em Campinas a 100 quilocircmetros de Satildeo Paulo ostradicionais jornais Correio Popular e Diaacuterio do Povo e deteacutem ainda oportal Cosmos de notiacutecias sobre o interior paulista a Revista Metroacutepolee o receacutem-lanccedilado Notiacutecia Jaacute tabloide com trecircs anos de existecircncia di-rigido agraves classes B C e D e que circula em Campinas e mais doze mu-niciacutepios circunvizinhos

O lanccedilamento da Gazeta de Ribeiratildeo Preto integrou uma estrateacutegiada RAC de abrir jornais menores direcionados a regiotildees especiacuteficas deCampinas e a outros municiacutepios do interior paulista Em 2003 surgirama Gazeta do Cambuiacute distribuiacutedo num dos maiores bairros de Campinase a Gazeta de Piracicaba O sucesso da iniciativa impulsionou o lanccedila-mento no ano seguinte da Gazeta de Ribeiratildeo que trouxe novidades

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para a imprensa escrita de Ribeiratildeo Preto Com um projeto graacutefico i-novador colorido em mais da metade das paacuteginas formato berliner(ou germacircnico) ateacute entatildeo ineacutedito na cidade investimento maciccedilo emreportagens locais ndash facilitado pela sua periodicidade que era inicial-mente semanal com circulaccedilatildeo aos finais de semana ndash e distribuiccedilatildeogratuita o jornal se tornou em pouco tempo conhecido e requisitadoCom uma tiragem de 30 mil exemplares por ediccedilatildeo e direcionado prin-cipalmente agraves classes A e B a Gazeta de Ribeiratildeo chegava a pratica-mente todos os condomiacutenios de Ribeiratildeo Preto e circulava em regiotildeesda cidade com grande tracircnsito de pessoas como a aacuterea central os shop-pings e o aeroporto

O novo jornal passou a atrair anunciantes com interesses no altopoder aquisitivo dos leitores como imobiliaacuterias concessionaacuterias de veiacute-culos construtoras e centros de educaccedilatildeo privada sobretudo universi-dades o que significou tambeacutem um crescimento da demanda para osetor de classificados da Gazeta ramo dominado anteriormente peloJornal A Cidade Enquanto isso o grupo Orestes Lopes de Camargoque tinha promovido uma pequena mudanccedila graacutefica nos padrotildees graacutefi-cos do A Cidade em 2003 por ocasiatildeo da profissionalizaccedilatildeo do depar-tamento de jornalista mas insuficiente para fazer recuperar o prestiacutegiodo jornal via-se em meio a uma realidade que exigia de um lado adap-taccedilotildees para enfrentar o fortalecimento das tecnologias digitais e deoutro uma corrida para sobreviver num mercado que a partir de 2004passava a ser mais competitivo

A grande reforma que pode ser acompanhada pelas figuras a seguirveio em 2006 As mudanccedilas alteraram significativamente a ldquocarardquodo jornal que nos 100 anos anteriores se havia passado por algumasmodificaccedilotildees estas foram pequenas natildeo tatildeo notoacuterias quanto a uacuteltima1

1Figura 1 e figuras 9 a 18 Fonte Arquivo Histoacuterico Municipal de Ribeiratildeo PretoFiguras 6 e 7 Fonte Banco de imagens na internet (sem data definida) Figura 8Fonte Site do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Preto (wwwjornalacidadecombr) Figuras 2 4 5 e 6 ndash reproduccedilotildees feitas pelo autor do presente trabalho a partirde ediccedilotildees obtidas junto ao jornal Gazeta de Ribeiratildeo

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Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 8: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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manter na ativa passou a natildeo ser visto pela populaccedilatildeo de Ribeiratildeo Pretocomo modelo referecircncia de veiacuteculo impresso Perdeu prestiacutegio princi-palmente nas deacutecadas de 80 e 90 As vendas se mantinham quase queexclusivamente por causa da forccedila dos classificados

Em meados dessa primeira deacutecada do seacuteculo XXI entretanto comuma estrutura apertada nuacutemero reduzido de profissionais na redaccedilatildeoe a ameaccedila de perder terreno para a concorrecircncia que chegava comum projeto visual ousado e a proposta de investir pesado em reporta-gens locais o jornal foi obrigado a passar por uma reformulaccedilatildeo Maso investimento na reforma graacutefica e editorial soacute foi possiacutevel graccedilas auma parceria com o Grupo Coutinho Nogueira soacutecio-controlador daEPTV (Emissoras Pioneiras de Televisatildeo) afiliada Rede Globo quepossui unidades em Ribeiratildeo Preto Satildeo Carlos Campinas e VarginhaO acordo segundo notiacutecia publicada no portal Imprensa em 17 defevereiro de 2006 foi firmado no dia anterior dia 16 com a aquisiccedilatildeopor parte da EPTV de 50 das accedilotildees da famiacutelia Orestes Lopes de Ca-margo dona do jornal As negociaccedilotildees que tiveram iniacutecio em 2005 anodo centenaacuterio do jornal definiram que a redaccedilatildeo e os setores adminis-trativo e financeiro ficariam sob responsabilidade da EPTV enquanto ograacutefico e o comercial continuariam com o grupo Lopes de Camargo

A queda no prestiacutegio e na influecircncia do jornal na vida social dacidade ocorrida anteriormente ao acordo com a EPTV eacute justificada porTornatore (2005) com o fato de que Orestes Lopes de Camargo e o filhoJuracy que faleceram em 1993 e 2002 respectivamente jaacute natildeo tinhammais a disposiccedilatildeo de eacutepocas passadas para gerir o jornal Quando mor-reu fraco e debilitado Orestes estava prestes a completar 93 anos deidade E Juracy que faleceu aos 76 anos de idade foi o uacuteltimo dono doA Cidade a comandar a redaccedilatildeo do jornal

Na deacutecada de 80 Orestes Lopes de Camargo continua aescrever diariamente a e emitir sua opiniatildeo sobre os maisdiferentes assuntos mas natildeo eacute mais um participante da vidapoliacutetica como o fora entre as deacutecadas de 30 e 70 Torna-se uma espeacutecie de espectador privilegiado e com certezaorgulhosa do patrimocircnio ndash A Cidade ndash que estava deixandopara filhos e netos Juracy por sua vez mantinha a tradiccedilatildeoagora quase secular de apoiar tudo aquilo que era bom paraa comunidade para ldquoo progresso e o engrandecimento de

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Ribeiratildeo Pretordquo () Continuava trabalhando da forma queaprendera com o pai deacutecadas antes ndash como na deacutecada de40 Jura jaacute ocupava o cargo de diretor gerente do jornal daacutepra entender sua aversatildeo a uma reforma que modernizasseo modo de produccedilatildeo do jornal Os novos tempos natildeo eramo seu tempo (TORNATORE 2005 p 99)

O jeito arcaico de trabalhar no entanto precisava ser revisto casoo jornal natildeo quisesse perder ainda mais prestiacutegio e correr o risco ateacutede fechar as portas Jandyra de Camargo Moquenco a mais velha dostrecircs filhos de Orestes que atuava tambeacutem como diretora do jornal tinha81 anos quando o irmatildeo Juracy morreu e tambeacutem jaacute natildeo gozava detanta disposiccedilatildeo para reverter o quadro que se instaurava em A Cidadendash ela que foi a primeira linotipista do Brasil e ocupava ultimamenteo cargo de presidente de honra do jornal faleceu em 5 de agosto de2009 aos 88 anos viacutetima de parada cardiacuteaca A soluccedilatildeo encontradaem 2002 imediatamente apoacutes a morte de Juracy foi profissionalizar odepartamento de jornalismo Quem coordenou a transiccedilatildeo foi MariaVirgiacutenia Lopes de Camargo Cordeiro filha de Juracy Mesmo assim ojornal natildeo reencontraria o prestiacutegio de outrora Soacute a venda de 50 dasaccedilotildees para a EPTV que promoveu a injeccedilatildeo de recursos na empresa eacuteque recolocaria o veiacuteculo definitivamente de volta nos trilhos

Um dos fatores que contribuiacuteram para acelerar as reformas no JornalA Cidade foi a entrada em 2004 em Ribeiratildeo Preto do Jornal Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)empresa que publica em Campinas a 100 quilocircmetros de Satildeo Paulo ostradicionais jornais Correio Popular e Diaacuterio do Povo e deteacutem ainda oportal Cosmos de notiacutecias sobre o interior paulista a Revista Metroacutepolee o receacutem-lanccedilado Notiacutecia Jaacute tabloide com trecircs anos de existecircncia di-rigido agraves classes B C e D e que circula em Campinas e mais doze mu-niciacutepios circunvizinhos

O lanccedilamento da Gazeta de Ribeiratildeo Preto integrou uma estrateacutegiada RAC de abrir jornais menores direcionados a regiotildees especiacuteficas deCampinas e a outros municiacutepios do interior paulista Em 2003 surgirama Gazeta do Cambuiacute distribuiacutedo num dos maiores bairros de Campinase a Gazeta de Piracicaba O sucesso da iniciativa impulsionou o lanccedila-mento no ano seguinte da Gazeta de Ribeiratildeo que trouxe novidades

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para a imprensa escrita de Ribeiratildeo Preto Com um projeto graacutefico i-novador colorido em mais da metade das paacuteginas formato berliner(ou germacircnico) ateacute entatildeo ineacutedito na cidade investimento maciccedilo emreportagens locais ndash facilitado pela sua periodicidade que era inicial-mente semanal com circulaccedilatildeo aos finais de semana ndash e distribuiccedilatildeogratuita o jornal se tornou em pouco tempo conhecido e requisitadoCom uma tiragem de 30 mil exemplares por ediccedilatildeo e direcionado prin-cipalmente agraves classes A e B a Gazeta de Ribeiratildeo chegava a pratica-mente todos os condomiacutenios de Ribeiratildeo Preto e circulava em regiotildeesda cidade com grande tracircnsito de pessoas como a aacuterea central os shop-pings e o aeroporto

O novo jornal passou a atrair anunciantes com interesses no altopoder aquisitivo dos leitores como imobiliaacuterias concessionaacuterias de veiacute-culos construtoras e centros de educaccedilatildeo privada sobretudo universi-dades o que significou tambeacutem um crescimento da demanda para osetor de classificados da Gazeta ramo dominado anteriormente peloJornal A Cidade Enquanto isso o grupo Orestes Lopes de Camargoque tinha promovido uma pequena mudanccedila graacutefica nos padrotildees graacutefi-cos do A Cidade em 2003 por ocasiatildeo da profissionalizaccedilatildeo do depar-tamento de jornalista mas insuficiente para fazer recuperar o prestiacutegiodo jornal via-se em meio a uma realidade que exigia de um lado adap-taccedilotildees para enfrentar o fortalecimento das tecnologias digitais e deoutro uma corrida para sobreviver num mercado que a partir de 2004passava a ser mais competitivo

A grande reforma que pode ser acompanhada pelas figuras a seguirveio em 2006 As mudanccedilas alteraram significativamente a ldquocarardquodo jornal que nos 100 anos anteriores se havia passado por algumasmodificaccedilotildees estas foram pequenas natildeo tatildeo notoacuterias quanto a uacuteltima1

1Figura 1 e figuras 9 a 18 Fonte Arquivo Histoacuterico Municipal de Ribeiratildeo PretoFiguras 6 e 7 Fonte Banco de imagens na internet (sem data definida) Figura 8Fonte Site do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Preto (wwwjornalacidadecombr) Figuras 2 4 5 e 6 ndash reproduccedilotildees feitas pelo autor do presente trabalho a partirde ediccedilotildees obtidas junto ao jornal Gazeta de Ribeiratildeo

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Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 9: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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Ribeiratildeo Pretordquo () Continuava trabalhando da forma queaprendera com o pai deacutecadas antes ndash como na deacutecada de40 Jura jaacute ocupava o cargo de diretor gerente do jornal daacutepra entender sua aversatildeo a uma reforma que modernizasseo modo de produccedilatildeo do jornal Os novos tempos natildeo eramo seu tempo (TORNATORE 2005 p 99)

O jeito arcaico de trabalhar no entanto precisava ser revisto casoo jornal natildeo quisesse perder ainda mais prestiacutegio e correr o risco ateacutede fechar as portas Jandyra de Camargo Moquenco a mais velha dostrecircs filhos de Orestes que atuava tambeacutem como diretora do jornal tinha81 anos quando o irmatildeo Juracy morreu e tambeacutem jaacute natildeo gozava detanta disposiccedilatildeo para reverter o quadro que se instaurava em A Cidadendash ela que foi a primeira linotipista do Brasil e ocupava ultimamenteo cargo de presidente de honra do jornal faleceu em 5 de agosto de2009 aos 88 anos viacutetima de parada cardiacuteaca A soluccedilatildeo encontradaem 2002 imediatamente apoacutes a morte de Juracy foi profissionalizar odepartamento de jornalismo Quem coordenou a transiccedilatildeo foi MariaVirgiacutenia Lopes de Camargo Cordeiro filha de Juracy Mesmo assim ojornal natildeo reencontraria o prestiacutegio de outrora Soacute a venda de 50 dasaccedilotildees para a EPTV que promoveu a injeccedilatildeo de recursos na empresa eacuteque recolocaria o veiacuteculo definitivamente de volta nos trilhos

Um dos fatores que contribuiacuteram para acelerar as reformas no JornalA Cidade foi a entrada em 2004 em Ribeiratildeo Preto do Jornal Gazetade Ribeiratildeo pertencente agrave RAC (Rede Anhanguera de Comunicaccedilatildeo)empresa que publica em Campinas a 100 quilocircmetros de Satildeo Paulo ostradicionais jornais Correio Popular e Diaacuterio do Povo e deteacutem ainda oportal Cosmos de notiacutecias sobre o interior paulista a Revista Metroacutepolee o receacutem-lanccedilado Notiacutecia Jaacute tabloide com trecircs anos de existecircncia di-rigido agraves classes B C e D e que circula em Campinas e mais doze mu-niciacutepios circunvizinhos

O lanccedilamento da Gazeta de Ribeiratildeo Preto integrou uma estrateacutegiada RAC de abrir jornais menores direcionados a regiotildees especiacuteficas deCampinas e a outros municiacutepios do interior paulista Em 2003 surgirama Gazeta do Cambuiacute distribuiacutedo num dos maiores bairros de Campinase a Gazeta de Piracicaba O sucesso da iniciativa impulsionou o lanccedila-mento no ano seguinte da Gazeta de Ribeiratildeo que trouxe novidades

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para a imprensa escrita de Ribeiratildeo Preto Com um projeto graacutefico i-novador colorido em mais da metade das paacuteginas formato berliner(ou germacircnico) ateacute entatildeo ineacutedito na cidade investimento maciccedilo emreportagens locais ndash facilitado pela sua periodicidade que era inicial-mente semanal com circulaccedilatildeo aos finais de semana ndash e distribuiccedilatildeogratuita o jornal se tornou em pouco tempo conhecido e requisitadoCom uma tiragem de 30 mil exemplares por ediccedilatildeo e direcionado prin-cipalmente agraves classes A e B a Gazeta de Ribeiratildeo chegava a pratica-mente todos os condomiacutenios de Ribeiratildeo Preto e circulava em regiotildeesda cidade com grande tracircnsito de pessoas como a aacuterea central os shop-pings e o aeroporto

O novo jornal passou a atrair anunciantes com interesses no altopoder aquisitivo dos leitores como imobiliaacuterias concessionaacuterias de veiacute-culos construtoras e centros de educaccedilatildeo privada sobretudo universi-dades o que significou tambeacutem um crescimento da demanda para osetor de classificados da Gazeta ramo dominado anteriormente peloJornal A Cidade Enquanto isso o grupo Orestes Lopes de Camargoque tinha promovido uma pequena mudanccedila graacutefica nos padrotildees graacutefi-cos do A Cidade em 2003 por ocasiatildeo da profissionalizaccedilatildeo do depar-tamento de jornalista mas insuficiente para fazer recuperar o prestiacutegiodo jornal via-se em meio a uma realidade que exigia de um lado adap-taccedilotildees para enfrentar o fortalecimento das tecnologias digitais e deoutro uma corrida para sobreviver num mercado que a partir de 2004passava a ser mais competitivo

A grande reforma que pode ser acompanhada pelas figuras a seguirveio em 2006 As mudanccedilas alteraram significativamente a ldquocarardquodo jornal que nos 100 anos anteriores se havia passado por algumasmodificaccedilotildees estas foram pequenas natildeo tatildeo notoacuterias quanto a uacuteltima1

1Figura 1 e figuras 9 a 18 Fonte Arquivo Histoacuterico Municipal de Ribeiratildeo PretoFiguras 6 e 7 Fonte Banco de imagens na internet (sem data definida) Figura 8Fonte Site do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Preto (wwwjornalacidadecombr) Figuras 2 4 5 e 6 ndash reproduccedilotildees feitas pelo autor do presente trabalho a partirde ediccedilotildees obtidas junto ao jornal Gazeta de Ribeiratildeo

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Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 10: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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para a imprensa escrita de Ribeiratildeo Preto Com um projeto graacutefico i-novador colorido em mais da metade das paacuteginas formato berliner(ou germacircnico) ateacute entatildeo ineacutedito na cidade investimento maciccedilo emreportagens locais ndash facilitado pela sua periodicidade que era inicial-mente semanal com circulaccedilatildeo aos finais de semana ndash e distribuiccedilatildeogratuita o jornal se tornou em pouco tempo conhecido e requisitadoCom uma tiragem de 30 mil exemplares por ediccedilatildeo e direcionado prin-cipalmente agraves classes A e B a Gazeta de Ribeiratildeo chegava a pratica-mente todos os condomiacutenios de Ribeiratildeo Preto e circulava em regiotildeesda cidade com grande tracircnsito de pessoas como a aacuterea central os shop-pings e o aeroporto

O novo jornal passou a atrair anunciantes com interesses no altopoder aquisitivo dos leitores como imobiliaacuterias concessionaacuterias de veiacute-culos construtoras e centros de educaccedilatildeo privada sobretudo universi-dades o que significou tambeacutem um crescimento da demanda para osetor de classificados da Gazeta ramo dominado anteriormente peloJornal A Cidade Enquanto isso o grupo Orestes Lopes de Camargoque tinha promovido uma pequena mudanccedila graacutefica nos padrotildees graacutefi-cos do A Cidade em 2003 por ocasiatildeo da profissionalizaccedilatildeo do depar-tamento de jornalista mas insuficiente para fazer recuperar o prestiacutegiodo jornal via-se em meio a uma realidade que exigia de um lado adap-taccedilotildees para enfrentar o fortalecimento das tecnologias digitais e deoutro uma corrida para sobreviver num mercado que a partir de 2004passava a ser mais competitivo

A grande reforma que pode ser acompanhada pelas figuras a seguirveio em 2006 As mudanccedilas alteraram significativamente a ldquocarardquodo jornal que nos 100 anos anteriores se havia passado por algumasmodificaccedilotildees estas foram pequenas natildeo tatildeo notoacuterias quanto a uacuteltima1

1Figura 1 e figuras 9 a 18 Fonte Arquivo Histoacuterico Municipal de Ribeiratildeo PretoFiguras 6 e 7 Fonte Banco de imagens na internet (sem data definida) Figura 8Fonte Site do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Preto (wwwjornalacidadecombr) Figuras 2 4 5 e 6 ndash reproduccedilotildees feitas pelo autor do presente trabalho a partirde ediccedilotildees obtidas junto ao jornal Gazeta de Ribeiratildeo

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Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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26 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Efeitos da crise dos impressos 27

Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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28 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 11: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

Efeitos da crise dos impressos 11

Figura 1 Capa do Jornal A Cidade em 9 de marccedilo de 2003 antes daparceria com a EPTV

Figura 2 Capa da Gazeta de Ribeiratildeo em 25092005 pouco mais de umano apoacutes ser lanccedilado

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12 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Efeitos da crise dos impressos 13

Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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14 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Efeitos da crise dos impressos 15

Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Efeitos da crise dos impressos 17

Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Efeitos da crise dos impressos 19

Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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20 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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Efeitos da crise dos impressos 21

A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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Efeitos da crise dos impressos 23

A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

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PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

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PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

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REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

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SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
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12 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 3 Reportagem da Gazeta de 14072005 Uso da cor e elementosgraacuteficos bem dispostos

Figura 4 Classificados da Gazeta de Ribeiratildeo que ocuparam uma fatia doespaccedilo anteriormente dominado por A Cidade

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Efeitos da crise dos impressos 13

Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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14 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Efeitos da crise dos impressos 15

Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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16 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Efeitos da crise dos impressos 17

Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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18 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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Efeitos da crise dos impressos 21

A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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Efeitos da crise dos impressos 23

A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
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Figura 5 Com maioria das paacuteginas colorida e destinado agraves classes A e BGazeta de Ribeiratildeo atraiu anunciantes interessados no alto poder aquisitivo

dos leitores como universidades privadas

Figura 6 Reportagem do Jornal A Cidade publicada no iniacutecio desta deacutecadaantes da reforma Elementos graacuteficos pouco atraentes

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 14: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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Figura 7 Capa do Jornal A Cidade de 4 de marccedilo de 2010 apoacutes a reformagraacutefica e editorial promovida em 2006

Figura 8 Capa e reportagem publicada no Jornal A Cidade apoacutes a parceriacom a EPTV jaacute com padratildeo graacutefico modificado

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Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Efeitos da crise dos impressos 27

Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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28 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 15: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

Efeitos da crise dos impressos 15

Figura 9 Capa de 1o11905 a primeira ediccedilatildeo do jornal

Figura 10 Capa de 18 de junho de 1912

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16 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Efeitos da crise dos impressos 17

Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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18 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Efeitos da crise dos impressos 19

Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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20 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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Efeitos da crise dos impressos 21

A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

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NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

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PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

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PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

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REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

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SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
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16 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 11 Capa de 13 de marccedilo de 1926

Figura 12 Capa de 25 de novembro de 1932

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Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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18 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Efeitos da crise dos impressos 19

Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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Efeitos da crise dos impressos 21

A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 17: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

Efeitos da crise dos impressos 17

Figura 13 Capa de 30 de abril de 1949

Figura 14 Capa de 2 de outubro de 1951

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18 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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Efeitos da crise dos impressos 25

indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 18: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

18 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

Figura 15 Capa de 30 de novembro de 1967

Figura 16 Capa de 21 de fevereiro de 1975

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Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Efeitos da crise dos impressos 27

Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 19: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

Efeitos da crise dos impressos 19

Figura 17 Capa de 3 de julho de 1983

Figura 18 Capa de 1o de julho de 93 Esta configuraccedilatildeo graacutefica permaneceuateacute 2003 o que mostra ter havido uma evoluccedilatildeo pequena em um seacuteculo de

jornal a reforma graacutefica e editorial em 2006 em parceria com a EPTVprovocou mudanccedilas significativas em A Cidade e o jornal deu um salto de

qualidade maior que nos cem anos anteriores estimulado pela concorrecircnciae pela necessidade de adaptaccedilatildeo agrave nova realidade do mercado dominado

pelas tecnologias digitais

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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Efeitos da crise dos impressos 21

A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

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conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

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PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

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REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

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SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 20: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

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Entre as principais mudanccedilas promovidas em A Cidade com a re-forma de 2006 estatildeo principalmente o crescimento da cobertura deassuntos locais o consenso de que a fotografia eacute um elemento essencialpara uma mateacuteria jornaliacutestica de qualidade e investimento em textosproacuteprios jaacute que anteriormente era comum a publicaccedilatildeo de releasesintegrais enviados na maioria das vezes por oacutergatildeos oficiais como aprefeitura

Ampliar a cobertura de assuntos locais era mais que necessaacuteriotendo em vista que a concorrente Gazeta de Ribeiratildeo por ser semanalpermitia a seus repoacuterteres um maior aprofundamento no texto em re-laccedilatildeo a outros jornais da cidade Pelo fato de circular exclusivamenteem Ribeiratildeo Preto a Gazeta conseguia aleacutem de abordar um leque di-versificado de temas atingir um certo detalhamento da informaccedilatildeo JaacuteA Cidade antes de firmar parceria com a EPTV destinava um consi-deraacutevel espaccedilo em suas paacuteginas para a reproduccedilatildeo notiacutecias e reportagensde veiacuteculos de caraacuteter nacional ou internacional Isso pode ser compro-vado por meio de figuras acima Na Figura 1 que estampa a capa de ACidade de 9 de marccedilo de 2003 a manchete faz referecircncia agrave governadorado Rio de Janeiro Na figura 18 a capa de 1o de julho de 93 o destaqueeacute a prisatildeo preventiva de ldquoPC Fariasrdquo personagem que ficou conhecidopor envolvimento nos casos de corrupccedilatildeo envolvendo o ex-presidenteFernando Collor de Mello Na figura anterior a 17 que traz a capade 3 de julho de 1983 o assunto principal eacute o insucesso da Poliacutecia deAlagoas na tentativa de prender quatro pistoleiros E na capa de 21 defevereiro de 1975 (figura 16) a manchete eacute sobre o ex-presidente militarErnesto Geisel

Essa era uma das tendecircncias de A Cidade que precisou ser aban-donada com o crescimento da demanda por notiacutecias locais conformecitado por Peruzzo (2005) no capiacutetulo anterior e frente a estrateacutegia daconcorrecircncia de investir em assuntos de interesse local Dessa formaos releases elaborados por assessorias de imprensa foram eliminados dojornal Para a produccedilatildeo de textos proacuteprios a parceria A Cidade-EPTVprovidenciou melhorias na estrutura da redaccedilatildeo como o aumento nonuacutemero de profissionais O jornal que trabalhava com uma equipe re-duzida de menos de uma dezena de jornalistas antes da reforma de2006 conta atualmente com um total de 140 funcionaacuterios sendo 44jornalistas

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A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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Efeitos da crise dos impressos 23

A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 21: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

Efeitos da crise dos impressos 21

A inserccedilatildeo de imagens e o investimento na qualidade das fotos foioutra mudanccedila significativa que passou a vigorar em 2006 Na capade 1o de julho de 93 (figura 18) por exemplo natildeo existe imagem emmeio ao extenso aglomerado de textos Apesar de ter sido publicada haacutemenos de 20 anos assemelha-se neste aspecto agraves ediccedilotildees do iniacutecio doseacuteculo passado Ateacute mesmo a figura 1 que mostra a capa de uma ediccedilatildeomais recente de 2003 ano em que algumas pequenas alteraccedilotildees graacuteficasforam feitas em A Cidade as uacuteltimas antes da parceria com a EPTVnatildeo haacute organizaccedilatildeo dos assuntos Apesar de conter duas fotos natildeo re-presenta um atrativo ao leitor pois as imagens parecem estar perdidasem meio aos textos

Jaacute quando se analisa a capa da ediccedilatildeo de 4 de marccedilo de 2010 (figura8) percebe-se que haacute maior destaque para assuntos de interesse local Amanchete faz referecircncia a problemas ocorridos na prefeitura de RibeiratildeoPreto As fotos que datildeo uma ideia de movimento e a sensaccedilatildeo de vi-vacidade agrave capa do jornal focalizam personagens que tecircm relaccedilatildeo diretacom a cidade como um atleta do Botafogo clube de futebol de tradiccedilatildeoem Ribeiratildeo Preto que na ocasiatildeo treinava para enfrentar o Corinthi-ans e Claacuteudia Colucci que havia acabado de representar a cidade emrede nacional no programa Big Brother Brasil da Rede Globo

3 Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticosA resistecircncia histoacuterica da famiacutelia Lopes de Camargo em modernizar oJornal A Cidade pode ser explicada tambeacutem pelas amizades e viacutenculospoliacuteticos mantidos desde o lanccedilamento do jornal em 1905 muitos anosantes de sua venda a Orestes Lopes de Camargo

O jornal foi fundado pelo advogado e jornalista Eneacuteas Ferreira daSilva que no entanto deixaria o veiacuteculo cinco anos mais tarde porcausa da impossibilidade de manter a linha editorial do veiacuteculo distanteda vida partidaacuteria como eacute relatado por Tornatore (2005)

Naquele iniacutecio de seacuteculo quase todos os jornais surgiam apartir de motivaccedilotildees poliacuteticas Salvo raras exceccedilotildees os jor-nais eram porta-vozes de partidos A Cidade poreacutem foiuma dessas exceccedilotildees Ou pelo menos uma quase exceccedilatildeoApesar de ter como co-fundador o filho de um vereador

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receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Efeitos da crise dos impressos 27

Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

oribeiraopretospgovbrsculturaarqpublicoi

14indexphppagina=sculturaarqpublicoartigo

i14indicehtm Uacuteltimo acesso em 10092011

PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

talultimas_noticias20060217imprensa7067sh

tml Uacuteltimo acesso em 11112011

REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

publicoribeiraopretospgovbrsculturaarqpub

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28 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

licoi14indexphppagina=sculturaarqpublicoa

rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 22: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

22 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

receacutem-eleito a direccedilatildeo era de Eneacuteas Ferreira da Silva eseus textos ao longo dos cinco anos em que foi redator-chefe sempre se pautaram pela defesa dos interesses dacidade negando de forma veemente que fosse um oacutergatildeo ex-clusivo de determinado partido apesar do jornal ter nascidosob a inspiraccedilatildeo do miacutetico coronel Joaquim da Cunha DinizJunqueira maior chefe poliacutetico da eacutepoca Ele era o liacuteder doPartido Republicano Paulista ao qual pertencia o coronelJoaquim Vieira pai do major Durval Vieira de Souza quefundou A Cidade junto com o Sr Eneacuteas Ferreira da Silva(TORNATORE 2005 p 5)

A influecircncia poliacutetica era tatildeo forte que em 1911 A Cidade eacute adqui-rido por uma sociedade anocircnima formada por pessoas de confianccedilado coronel Joaquim da Cunha membros do PRP Em 11 de novem-bro daquele ano conforme relata Tornatore (2005) a capa do jornalapresentava o jornal oficialmente como propriedade do PRP (PartidoRepublicano Paulista) O texto afirmava que a partir daquele momentoA Cidade serviria para tratar questotildees de interesse do partido

O PRP ocupava o comando do governo municipal e tinha comooposiccedilatildeo um grupo comandado por outro coronel Francisco Schmidtque era alematildeo e no Brasil ficou conhecido com o ldquorei do cafeacuterdquo porcausa da posse de grandes propriedades rurais que o fizeram se tornaro maior produtor individual do gratildeo no mundo ndash entre elas a FazendaMonte Alegre onde estaacute hoje instalada a USP de Ribeiratildeo Preto

O grupo de Schmidt editava um concorrente de A Cidade o Diaacuterioda Manhatilde que inicialmente fazia oposiccedilatildeo ao coronel Joaquim da Cu-nha mas uma ameaccedila do Presidente da Repuacuteblica Hermes da Fon-seca de promover uma intervenccedilatildeo no Estado de Satildeo Paulo como jaacutehavia sido feito em outros dois Estado fez com que Cunha e Schmidtse unissem para evitaacute-la Segundo Tornatore (2005 p 15) os doischegaram ateacute a trabalhar juntos para a ldquoreeleiccedilatildeo da Cacircmara Munici-pal em 1913rdquo Apoacutes a ameaccedila intervencionista o grupo de Joaquim daCunha se mantinha atento a qualquer tentativa do Governo Federal detiraacute-lo do poder em Ribeiratildeo Preto Ao menor sinal de perigo o jor-nal A Cidade era usado para combater as tentativas da Presidecircncia daRepuacuteblica

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Efeitos da crise dos impressos 23

A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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24 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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Efeitos da crise dos impressos 25

indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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26 Igor Joseacute Siquieri Savenhago

ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

conceituais_e_tendenciaspdf Uacuteltimo acesso em 14112011

PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

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PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

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REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

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SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
Page 23: Efeitos da crise dos impressos: o caso do jornal ... · cana de Jornais, com 4.003 pessoas adultas, mostrou, por exemplo, que, ... principais revistas brasileiras, a Veja, trouxe

Efeitos da crise dos impressos 23

A alianccedila entre o grupo de Joaquim da Cunha e Francisco Schmidtporeacutem foi abalada em 1918 como explica Tornatore (2005) e rompidadefinitivamente no ano seguinte novamente por influecircncia de brigaspoliacuteticas

O conviacutevio paciacutefico entre Schmidt e Joaquim da Cunha ter-mina em 1918 quando ocorre uma eleiccedilatildeo para o Senadoestadual O PRP no comando do Estado indica o cocircnegoJoseacute Valois do Carmo tido como simpatizante da Alema-nha ndash naquele tempo se usava o termo germanoacutefilo Prati-camente toda a Ribeiratildeo Preto rejeitava germanoacutefilo acu-sado de ser germanoacutefilo tanto pelo Diaacuterio da Manhatilde quantopelrsquoA Cidade Schmidt encampa o candidato do PRP masa base de Joaquim da Cunha reage e obteacutem do chefe ndash emoportunistas feacuterias numa estacircncia climaacutetica ndash a liberaccedilatildeopara que apoiassem o candidato da oposiccedilatildeo Luiz PereiraBarreto (TORNATORE 2005 p 18)2

Estas passagens da histoacuteria do jornal A Cidade ilustram quanto oveiacuteculo esteve na maior parte de sua trajetoacuteria atrelado a essas ques-totildees sem independecircncia editorial Um dos poucos momentos em quese declara independente eacute o iniacutecio da deacutecada de 30 Segundo Torna-tore (2005) durante o golpe que derrubou a Repuacuteblica Velha e levouGetuacutelio Vargas agrave Presidecircncia da Repuacuteblica revolucionaacuterios saqueiam asede de A Cidade queimam a coleccedilatildeo de exemplares guardada duranteos primeiros 25 anos de circulaccedilatildeo do jornal quebram a maacutequina de im-pressatildeo e furtam maacutequinas de escrever Um ano antes o jornal jaacute haviasofrido forte abalo com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorqueque provocou estragos na economia da cidade

Em situaccedilatildeo difiacutecil o jornal volta a ser publicado somente um mecircsdepois do episoacutedio do saque agora sob direccedilatildeo de Renato Barilari eJoatildeo Palma Guiatildeo ndash o coronel Joaquim da Cunha que se afastara por

2A reaccedilatildeo ao candidato tido como simpatizante da Alemanha ocorreu porque du-rante a Segunda Guerra Mundial (1914-1918) Brasil e Alemanha fora adversaacuterios Eo jornal A Cidade nesse periacuteodo fez campanhas contra as investidas de submarinosalematildees contra um cargueiro brasileiro A adesatildeo de Schmidt a Valois pode ter sidoinfluenciada entre outros fatores pela nacionalidade alematilde do ldquorei do cafeacuterdquo

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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

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PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

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PORTAL IMPRENSA Parceria EPTV-Ribeiratildeo Preto adquire 50do jornal A Cidade Reportagem de Gustavo Girotto 17022006Disponiacutevel em httpportalimprensauolcombrpor

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REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

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rtigoi14indicehtm Uacuteltimo acesso em 19102011

SUZUKI Josueacute Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia (wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

ZAIDAN Rosana Entrevista concedida ao site Jornalistas amp Cia(wwwjornalistaseciacombr) 2 de fevereiro de 2010

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
  • Breve histoacuterico do jornal viacutenculos poliacuteticos
  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
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problemas de sauacutede morre em 1932 Com nova direccedilatildeo o jornal passaa se autodeclarar independente

Mas a distacircncia de questotildees poliacuteticas nunca foi total E natildeo foi muitodiferente quando o jornal foi comprado por Orestes Lopes de Camargoem 1936 Segundo Pelissari (2001) Renato Barilari que estava agrave frentedo jornal ficou doente e sem condiccedilotildees de continuar tocando o negoacutecioO irmatildeo Maacuterio Barilari sem interesse na atividade ofereceu o jornal aOrestes que trabalhava como gerente na empresa desde 1933 ldquoMesmosem dinheiro ele [Orestes] acertou a compra em prestaccedilotildees e passou adirigir o jornal com a famiacuteliardquo (PELISSARI 2001 p 135)

Orestes Lopes de Camargo nasceu em 1900 em Rio Claro no in-terior paulista Com 22 anos veio para Ribeiratildeo Preto tentar ganhara vida Rapidamente conseguiu um emprego de guarda-livros para oqual era formado ndash correspondente hoje ao diploma de contador ndash oque permitiu mudar-se com a famiacutelia para uma pensatildeo Antes haviamse acomodado na casa de um tio

Orestes ainda foi dono de um bar antes de ser convidado a ser ge-rente do jornal Diaacuterio de Notiacutecias ldquoComeccedila aiacute sua paixatildeo pela im-prensa Aleacutem de gerente do jornal Lopes escrevia alguns artigos Sem-pre determinado com uma personalidade forte mas calmo e conci-liador ele jaacute comeccedilava a se destacar na cidaderdquo (PELISSARI 2001 p135) Pouco tempo depois veio o convite para que exercesse a mesmafunccedilatildeo no jornal A Cidade que na eacutepoca circulava em meacutedia comquatro paacuteginas Segundo Pelissari (2005) a impressatildeo dos 250 a 300exemplares diaacuterios era feita numa velha maacutequina Marinoni de formaquase artesanal Agraves vezes de acordo com o autor Orestes tinha deficar ateacute de madrugada trabalhando para consertar a maacutequina que que-brava frequentemente e garantir a circulaccedilatildeo do jornal no dia seguinteldquoOrestes Lopes de Camargo sempre se preocupou com a cidade Essapreocupaccedilatildeo era retratada em seu jornal que seguia uma linha conser-vadora O veiacuteculo natildeo fazia ataques e muito menos tomava posiccedilotildeespoliacutetico-partidaacuteriasrdquo (PELISSARI 2001 p 135)

Mas o ingresso na poliacutetica era questatildeo de tempo Em 1947 elegeu-se vereador Em 1950 e 1951 foi presidente da Cacircmara Municipal eem 63 ganhou para vice-prefeito chegando a assumir a administraccedilatildeoda cidade numa ocasiatildeo em que o prefeito da eacutepoca Welson Gaspariniprecisou se ausentar para fazer um curso No decorrer do mandato foi

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Efeitos da crise dos impressos 25

indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

terior a produccedilatildeo e a recepccedilatildeo do jornal ldquoA Voz do Vale do

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

MELO Isabel Anchieta de Um jornalismo de proximidade 03042007 Disponiacutevel em httpwwwobservatoriodaimpren

sacombrartigosaspcod=427DAC005 Uacuteltimo acessoem 18102011

NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

probrartigosmidia_regional_e_local_aspectos_

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PIRES Julio Manuel O desenvolvimento econocircmico de Ribeiratildeo Pre-to 1930-2000 Disponiacutevel em httpwwwarquivopublic

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REVISTA VEJA Inferno na torre do Times Reportagem de AndreacutePetry Ano 42 Ediccedilatildeo 2110 no 117 29 de abril de 2009 p90-93

SILVA Adriana Capretz Borges da Cem anos de desenvolvimento ur-bano de Ribeiratildeo Preto Disponiacutevel em httpwwwarquivo

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TORNATORE Nicola A Cidade 100 anos Fazendo Histoacuteria Ribei-ratildeo Preto Graacutefica Satildeo Francisco 2005

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  • A crise dos jornais
  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
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  • Consideraccedilotildees Finais
  • Referecircncias
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Efeitos da crise dos impressos 25

indicado por Gasparini agrave superintendecircncia do DAERP ndash Departamentode Aacutegua e Esgoto de Ribeiratildeo Preto

O envolvimento na poliacutetica se refletiu no jornal Sempre assumindouma postura conservadora apoiou o golpe militar de 64 e de acordocom Pelissari (2005) assumiu uma posiccedilatildeo de destaque na Arena par-tido que dava sustentaccedilatildeo ao governo

Apesar de ter uma atuaccedilatildeo marcante na vida puacuteblica nuncase envolveu com perseguiccedilotildees poliacuteticas () Mesmo semparticipar dos atos mais violentos que ocorreram acabouse beneficiando com alguns deles por os principais jornaisconcorrentes Diaacuterio de Notiacutecias e Diaacuterio da Manhatilde foramfechados pela ditadura e depois de reabertos passaram asofrer forte censura (PELISSARI 2005 p 136)

O prestiacutegio poliacutetico permitiu que fizesse amizades com pessoas devaacuterios setores e fosse consultado para a tomada de decisotildees importantesnos rumos de Ribeiratildeo Preto Suas opiniotildees na Associaccedilatildeo Comerciale Industrial da cidade passaram a ser fortes O relacionamento comautoridades estaduais tambeacutem era estreito Uma das histoacuterias que ilus-tram essa proximidade contada por Pelissari (2001) eacute que Laudo Natelquando era governador de Satildeo Paulo fazia visitas constantes a RibeiratildeoPreto com o uacutenico intuito de se aconselhar com Orestes Lopes de Ca-margo Poliacuteticos do municiacutepio nem ficavam sabendo que o governadorhavia estado na cidade

A forma de trabalhar de Orestes Lopes de Camargo solidificou aempresa financeiramente e na vida social ribeiratildeopretana Mas a linhatraccedilada por ele de evitar criacuteticas e se aproximar das elites da cidade ateacutemesmo para atender interesses proacuteprios evitou agrave exceccedilatildeo da implan-taccedilatildeo dos classificados ousadias na reformulaccedilatildeo do jornal tradiccedilatildeoque foi seguida agrave risca pelos filhos

Consideraccedilotildees FinaisEspera-se ter iniciado uma anaacutelise sobre o contexto histoacuterico que permi-tiu a reforma graacutefica e editorial do Jornal A Cidade de Ribeiratildeo Pretoem 2006 apoacutes parceria com a EPTV afiliada da Rede Globo Outros as-pectos natildeo tratados neste trabalho podem ter influenciado ou poderatildeo

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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

ReferecircnciasCOSTA Letiacutecia MPinto da Vozes dissonantes na imprensa do in-

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Paraiacutebardquo Satildeo Bernardo do Campo UMESP 2002 (Dissertaccedilatildeode Mestrado ndash Comunicaccedilatildeo Social)

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NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

PERUZZO Ceciacutelia Miacutedia regional e local aspectos conceituais etendecircncias Disponiacutevel em httpwwwciciliaperuzzo

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  • A reformulaccedilatildeo do Jornal A Cidade
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  • Consideraccedilotildees Finais
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ainda serem fundamentais para o processo de transformaccedilatildeo atraves-sado pelo jornal bem como pela maioria dos veiacuteculos de miacutedia localou regional mas seratildeo assuntos para discussotildees posteriores Por oraa preocupaccedilatildeo foi propor um ponto de partida para que anaacutelises maisaprofundadas sobre a atuaccedilatildeo dos jornais impressos e como eles tecircm seposicionado frente agraves mudanccedilas de paradigmas na imprensa neste iniacuteciode seacuteculo XXI sejam propostas Acredita-se que o tema tratado aquide maneira ampla e geral deveraacute com certeza abrir o leque para novosquestionamentos e respostas sobre o problema abordado

O que ficou caracterizado provisoriamente eacute que as mudanccedilas noJornal A Cidade foram feitas no sentido de acompanhar uma tendecircn-cia planetaacuteria dos jornais impressos da qual natildeo escapam os represen-tantes da grande imprensa a sobrevivecircncia depende da incorporaccedilatildeodas novas tecnologias e com elas dos novos e muacuteltiplos olhares da hu-manidade sobre o papel do jornalismo na sociedade Numa eacutepoca emque qualquer pessoa pode brincar de ser jornalista reportando fatos docotidiano nas redes sociais eacute necessaacuterio que a imprensa vaacute aleacutem queconquiste o leitor encarando a informaccedilatildeo por novos acircngulos aborda-gens inusitadas textos que esmiuacutecem as notiacutecias jaacute conhecidas vistas erevistas anteriormente na internet

Como disseram Josueacute Suzuki e Rosana Zaidan o crescimento doJornal A Cidade passa por uma aproximaccedilatildeo ainda maior para com asdemandas e desejos do leitor Para isso seraacute necessaacuterio ir rompendoaos poucos com os viacutenculos poliacuteticos e comerciais herdados de ge-raccedilotildees passadas caso ainda existam ampliar cada vez mais a coberturaem pequenos nichos ndash A Cidade circula em 26 municiacutepios mas concen-tra sua atuaccedilatildeo em Ribeiratildeo Preto ndash privilegiar textos diferenciadosreportagens especiais com histoacuterias imprevisiacuteveis oferecer informaccedilatildeocom formaccedilatildeo trazendo para perto do leitor discussotildees que eduquem eincentivem a cidadania Com a reforma de 2006 um passo foi dado Equando isso acontece ressurge a esperanccedila de que a alianccedila firmada nasredaccedilotildees natildeo seja a de acabar com os jornais Mas de reinventaacute-los

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NOBLAT Ricardo A arte de fazer um jornal diaacuterio 3 ed Satildeo PauloContexto 2003

PELISSARI Helio Orestes Lopes de Camargo In AMORIM Gale-no (org) Os Desbravadores personalidades que fizeram histoacuteriano interior paulista Ribeiratildeo Preto Palavra Magica 2001

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