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VAZÃO E MONITORAMENTO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS URBANAS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR Rosane Ferreira de Aquino Carlos Romay Pinto da Silva Cláudia Espírito Santo Jorge Reis Lustosa Eduardo Atahyde Eduardo Farias Topázio JULHO - 2010

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VAZÃO E MONITORAMENTO DA QUALIDADE DAS ÁGUAS URBANAS

DA REGIÃO METROPOLITANA DE SALVADOR

Rosane Ferreira de Aquino Carlos Romay Pinto da Silva

Cláudia Espírito Santo Jorge Reis Lustosa

Eduardo AtahydeEduardo Farias Topázio

JULHO - 2010

VAZÃO E MONITORAMENTO DA QUALIDADE DASÁGUAS URBANAS DA REGIÃO METROPOLITANA DE

SALVADOR

INTRODUÇÃO

O quadro de degradação em que se encontram os rios que cortam a RegiãoMetropolitana de Salvador é grave, consiste de um processo histórico deexpansão urbana descontrolada e desacompanhada da implantação de infra-estrutura em saneamento básico.

A solução deste problema exigirá do setor público e da sociedade civilorganizada atitudes que visem à recuperação da qualidade e quantidade daágua, disponíveis nestes rios.

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SALVADOR

INTRODUÇÃO

A real gravidade da situação só pode ser mensurada através de ações eatividades que identifiquem, quantifiquem e qualifiquem essa degradação.

Neste intuito, o Instituto de Gestão das Águas e Clima da Bahia - INGÁatravés do Convênio firmado com a Universidade Federal da Bahia – UFBA,dentre outras ações desenvolvidas no Programa, realizou em 2008 umacampanha para coleta de amostras de água, a fim de analisar e interpretar osparâmetros de qualidade e medição das vazões de pontos pré-determinadosem rios urbanos de Salvador e região metropolitana.

Deste modo, o objetivo da medição das vazões ou descarga líquida foiquantificar a carga orgânica e de poluentes nos principais rios da regiãometropolitana de Salvador, a partir de dados populacionais e das descargaslíquidas.

VAZÃO E MONITORAMENTO DA QUALIDADE DASÁGUAS URBANAS DA REGIÃO METROPOLITANA DE

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ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo compreende as principais bacias hidrográficas da regiãometropolitana de Salvador, Jaguaribe, Ipitanga, Cobre, Camarajipe, Lucaiae Pedras – Pituaçu, como apresentados na Figura 1 a seguir.

VAZÃO E MONITORAMENTO DA QUALIDADE DASÁGUAS URBANAS DA REGIÃO METROPOLITANA DESALVADOR

Figura 1 - Área de Estudo (bacias hidrográficas de Salvador)

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MATERIAL E MÉTODOS

As medições de vazão foram realizadas em 07 pontos nas principais baciashidrográficas de Salvador, no período de 13 a 19/08/2008, utilizando ométodo Convencional com Molinete Hidrométrico pelo Processo DetalhadoRealizado aos Pares com Verticais Intercaladas, conforme normasadotadas pela ANA e descrita em SANTOS et al, 2001.

A descarga foi calculada pelo método da Área x Velocidade. Este processoé baseado na medição de velocidade média da seção e área da seção

transversal.

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MATERIAL E MÉTODOS

Equação básica:

Onde:

Q - vazão (m3/s)A - área molhada (m2)V - velocidade média da seção (m/s)

Q = A * V

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MATERIAL E MÉTODOS

As medições de descarga líquida foram realizadas na seção de mediçãodefinida para cada estação.

Na medição realizada pelo processo detalhado, as posições do molinetehidrométrico para as tomadas de velocidade, estão relacionadas com aprofundidade da vertical e obedeceu aos critérios estabelecidos na Tabela1.

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Profundidade (m) Pontos Posição na vertical em

relação à prof. (p)Equação para o Cálculo da velocidade

média - Vm0,15 a 0,60 01 0,6 p Vm = v0,6

0,60 a 1,20 02 0,2 e 0,8 p Vm = (v0,2+v0,8)/2

1,20 a 2,0 03 0,2; 0,6 e 0,8 p Vm = (v0,2+2v0,6+v0,8)/4

2,00 a 4,00 04 0,2; 0,4; 0,6 e 0,8 p Vm = (v0,2+2v0,4+2v0,6+v0,8)/6

Acima de 4,00 06 S; 0,4; 0,6 e 0,8 p e F Vm = (Vs+2(v0,2+v0,4+v0,6+v0,8)+Vf/10

Tabela 1 – Tabela de Pontos para o Método do Processo Detalhado

P – profundidade; S – superfície; F – fundo

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MATERIAL E MÉTODOS

Para a análise da qualidade da água destes rios, no momento darealização das medições de vazões, foram coletadas amostras de água.

Estas amostras foram analisadas no laboratório contratado pela EMBASA,o SENAI/CETIND e a coleta efetuada pela equipe deste laboratório.

A Carga dos principais nutrientes em ton/dia, (DBO, Nitrogênio e Fósforo)foi determinada pelo produto entre a concentração em mg/L pela descargalíquida em m3/s (SPERLING, 2005).

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MATERIAL E MÉTODOS

A determinação do IQA - Índice de Qualidade da Água, dentre os índicesadotados pelo INGÁ como referencia no Programa de Monitoramento deQualidade da Água do Estado – Programa Monitora, foi desenvolvido pelaCETESB a partir de um estudo desenvolvido pela National SanitationFoundation (NSF) dos Estados Unidos em 1970, que considera 09parâmetros relevantes para avaliar a qualidade das águas: OxigênioDissolvido; Coliforme Termotolerantes; pH; DBO; Nitrato; Fosfato;Temperatura; Turbidez e Sólidos Totais.

Após cálculo efetuado, pode-se determinar a qualidade da água bruta,encontrando um número de 0 a 100, conforme Tabela 2.

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Nível de Qualidade Intervalo de IQA Cor de referênciaÓtima 79 ‹ IQA ≤ 100 Azul

Boa 51 ‹ IQA ≤ 79 Verde

Regular 36 ‹ IQA ≤ 51 Amarelo

Ruim 19 ‹ IQA ≤ 36 Vermelho

Péssima IQA ≤ 19 Preto

Tabela 2 – Classificação da qualidade da água em função do IQA

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RESULTADOS

Os resultados apresentados a seguir fazem referência aos dados dequalidade da água e das medições de descarga líquida, Tabela 3 e Figura2, efetuadas nos principais rios urbanos de Salvador – BA, coletados noperíodo de 13 a 19 de agosto de 2008.

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Rio Descarga Líquida (m3/s)Q 1 Q 2 Qm

Camarajipe 1,118 0,993 1,056Cobre 0,360 0,341 0,350Ipitanga 0,375 0,361 0,368Ipitanga 0,783 0,865 0,824Jaguaribe 0,975 0,825 0,900Jaguaribe - - -

Jaguaribe 0,00612 - 0,00612Pituaçu 0,00612 - 0,00612

Tabela 3 – Resumo das Medições de Descarga Líquida

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Figura 2– Resultado das medições de vazões

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Rio

Vazão Média m3/s

DBO5mg/L

DBO5Ton/dia

Fósforo Total

mg/L P

Fósforo Total

Ton/dia

NitrogênioTotal

mg/L N

NitrogênioTotal

Ton/dia

Camarajipe 1,056 11,6 1,06 3,06 0,28 15,9 1,45

Jaguaribe 0,900 11,8 0,92 0,66 0,05 9,8 0,76

Pituaçu 0,506 17,3 8,75 0,66 0,05 9,8 0,76

Pituaçu 0,506 17,3 8,75 0,88 0,03 7,6 0,23

Ipitanga 0,368 19,1 0,61 0,88 0,03 7,6 0,23

Ipitanga 0,824 27,2 1,94 0,898 0,06 6,2 0,44

Cobre 0,350 8,5 0,26 0,88 0,03 7,6 0,23

Tabela 4 – Resultados das cargas de DBO, Nitrogênio e Fósforo

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RESULTADOS

O principal tratamento de esgoto de Salvador é realizado na Estação deCondicionamento Prévio do Lucaia, em nível preliminar, antes da emissãodos mesmos para o oceano, através do emissário submarino, consistindoapenas de gradeamento e desarenadores.

Sendo assim, não existe uma política de tratamento e/ou retirada deafluentes dos rios que cortam a cidade e sim uma prática de utilizar estescursos como meio de condução dos esgotos até um ponto próximo decaptação para o emissário submarino.

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RESULTADOS

A tendência atual é de reversão deste quadro, com o adensamento da redee a construção de interceptores de esgoto, que permitirá, segundo previsãoda concessionária do serviço de coleta de esgoto da cidade, a cobertura de90% dos domicílios de Salvador ligados a rede de esgotamento sanitário.

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Pituaçu Jaguaribe Cobre Camarajipe Lucaia Ipitanga Subúrbio

0

10

20

30

40

50

60

Boa Aceitável Ruim Péssima

Figura 3 – Índice de Qualidade da Água

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RESULTADOS

Uma vez que os principais rios da cidade de Salvador ainda são usadoscomo canais de esgotos, a exemplo dos rios Lucaia e Camarajipe,considerando ainda a inexistência no local de fontes de poluição industrial,e outras emissões oriundas de atividades potencialmente poluentes, pode-se afirmar que a principal fonte de poluição dos rios urbanos de Salvadorsão os efluentes domésticos, lançados sem tratamento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante anos, os rios urbanos foram conceitualmente tratados como umproblema de saneamento, e não como um patrimônio ambiental.

Esta visão deve ser substituída, mesmo que gradativamente, por umapostura de planejamento e de projetos que buscam valorizar a importânciaambiental e o papel social dos rios urbanos.

Verificou-se que o rio Pituaçu, nas imediações do IMBUÍ, apresentou amaior carga orgânica de DBO em ton/dia e o menor índice de qualidade daágua, indicando que há um considerável aporte de efluentes domésticossem tratamento.

Por outro lado o ponto no rio do Cobre registrou a menor carga de DBO e omelhor índice de qualidade da água, provavelmente ocasionada pela baixataxa de urbanização da bacia contribuinte.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

É bom sempre lembrar, que Salvador é hoje uma cidade dependente emgrande parte de água do semiárido, (reservatório de Pedra do Cavalo no rioParaguaçu).

Parte deste problema é devido à deterioração dos mananciais existentes naregião, cujos recursos hídricos outrora disponíveis eram originalmente demelhor qualidade e mais barata.

Como não há um monitoramento sistemático da qualidade e quantidade daágua nas bacias hidrográficas urbanas de Salvador, sugere-se para acaracterização da qualidade ambiental, a implantação, operação emanutenção de um programa integrado de monitoramento da qualidade equantidade de água em diversos pontos da rede hidrográfica da cidadecom o objetivo de construir uma série histórica que permita o cálculo dacarga poluidora a qualquer momento e subsidie projetos futuros derecuperação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sugere-se ainda, como medida de saneamento, que as instituiçõesresponsáveis, exijam que se aumente o nível de coleta e tratamento dosefluentes domésticos, assim como dos resíduos sólidos em toda regiãometropolitana de Salvador.

Concomitante a isto, a recuperação destes mananciais passaessencialmente por um disciplinamento rigoroso do uso do solo nas microbacias urbanas, acompanhado de uma requalificação que vise tornarpermeável as margens destes cursos d’água, sendo compatível com estemodelo, a apropriação destas área pra o lazer da população da cidade.

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REFERÊNCIAS

APHA. AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard methods for theexamination of water and wastewater. 21 th. ed. New York: APHA, AWWA, WPCR,1.194 p., 2005.

SANTOS, I.et al. Hidrometria Aplicada. Curitiba: Instituto de Tecnologia para odesenvolvimento, 2001. 372p.

SPERLING, Von M. 2005. Introdução à Qualidade da Água e ao Tratamento deEsgoto. 3. ed. - Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental:Universidade Federal de Minas Gerais. 2005.

SPERLING, Von M. 2007. Estudos e modelagem da qualidade da água de rios. BeloHorizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental: Universidade Federalde Minas Gerais. 2007.