variaÇÃo das temperaturas no interior de … · a álea ao qual veyret (2007) se refere, será...

12
A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 7467 VARIAÇÃO DAS TEMPERATURAS NO INTERIOR DE RESIDÊNCIAS DO ESPAÇO URBANO DE LONDRINA - EPISÓDIO DE VERÃO. FABIANA BEZERRA MANGILI 1 DEISE FABIANA ELY 2 Resumo: A segregação territorial, fruto da produção capitalista do espaço urbano, pode ser evidenciada através da diferença locacional entre moradias. Este fato altera o balanço de energia recebido por cada morador. O objetivo do presente artigo é analisar a influência da produção e organização do espaço urbano de Londrina (PR) no conforto térmico do interior das residências urbanas. Para tanto, foram instalados termo - higrômetros que armazenaram dados de temperatura entre os dias 03 a 23 de janeiro de 2015, em três residências com estruturas e localizações distintas. Foi possível observar que há diferença de até 3ºC das médias de temperatura diária, entre as residências, verificando assim que o ambiente e construções diferenciadas influenciam nos padrões de variação desses valores, o que pode afetar a qualidade de vida dos residentes. Palavras-chave: Produção do espaço urbano; clima urbano; conforto térmico. Abstract: The territorial segregation, fruit of the capitalist production of urban space, can be seen through the locational difference between habitations. This fact changes the energy balance received by each dweller. The goal of this article is to analyze the influence of production and organization of the urban space of Londrina (PR) in the thermal comfort on the inside of urban homes. To do so, thermohygrometers that stored temperature data from January 3 to 23, 2015, were installed in three households of different structures and locations. It was possible to observe that there is a difference of up to 3ºC in the average daily temperature between the households, thus verifying that the environment and different constructions have influence over the variation patterns of these values, which can affect the life quality of the residents. Key-words: Production of urban space; urban climate; thermal comfort. 1 Introdução As modificações/produções no espaço derivam do processo imposto pelo modo de produção vigente, ou seja, a organização espacial provém da "ideologia dominante quando concebem uma casa, estrada, um bairro, uma cidade. O ato de construir está submetido a regras que procuram nos modelos de produção e nas relações de classe suas possibilidades atuais (SANTOS, 2004, p. 37)". Essa 1 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Londrina. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Estadual de Londrina. E-mail de contato: [email protected]

Upload: doantram

Post on 27-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7467

VARIAÇÃO DAS TEMPERATURAS NO INTERIOR DE RESIDÊNCIAS DO ESPAÇO URBANO DE LONDRINA - EPISÓDIO DE VERÃO.

FABIANA BEZERRA MANGILI1 DEISE FABIANA ELY2

Resumo: A segregação territorial, fruto da produção capitalista do espaço urbano, pode ser

evidenciada através da diferença locacional entre moradias. Este fato altera o balanço de energia recebido por cada morador. O objetivo do presente artigo é analisar a influência da produção e organização do espaço urbano de Londrina (PR) no conforto térmico do interior das residências urbanas. Para tanto, foram instalados termo - higrômetros que armazenaram dados de temperatura entre os dias 03 a 23 de janeiro de 2015, em três residências com estruturas e localizações distintas. Foi possível observar que há diferença de até 3ºC das médias de temperatura diária, entre as residências, verificando assim que o ambiente e construções diferenciadas influenciam nos padrões de variação desses valores, o que pode afetar a qualidade de vida dos residentes.

Palavras-chave: Produção do espaço urbano; clima urbano; conforto térmico.

Abstract: The territorial segregation, fruit of the capitalist production of urban space, can be seen

through the locational difference between habitations. This fact changes the energy balance received by each dweller. The goal of this article is to analyze the influence of production and organization of the urban space of Londrina (PR) in the thermal comfort on the inside of urban homes. To do so, thermohygrometers that stored temperature data from January 3 to 23, 2015, were installed in three households of different structures and locations. It was possible to observe that there is a difference of up to 3ºC in the average daily temperature between the households, thus verifying that the environment and different constructions have influence over the variation patterns of these values, which can affect the life quality of the residents.

Key-words: Production of urban space; urban climate; thermal comfort.

1 – Introdução

As modificações/produções no espaço derivam do processo imposto pelo

modo de produção vigente, ou seja, a organização espacial provém da "ideologia

dominante quando concebem uma casa, estrada, um bairro, uma cidade. O ato de

construir está submetido a regras que procuram nos modelos de produção e nas

relações de classe suas possibilidades atuais (SANTOS, 2004, p. 37)". Essa

1 Acadêmica do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Londrina.

E-mail de contato: [email protected] 2 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Estadual de Londrina. E-mail de contato:

[email protected]

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7468

organização gera feições e formas distintas, demonstrando não somente a mudança

da paisagem urbana; os diferentes tipos de uso do solo, mas também as alterações

no balanço de energia por meio de determinados materiais construtivos empregados

nas edificações (residências, empresas, prédios, etc) que absorvem e refletem a

energia diferencialmente.

Dessa forma, há as distribuições espaciais distintas da temperatura por todo o

espaço urbano, pois "o efeito dos tipos de tempo sobre um espaço construído de

maneira desigual gera problemas de origem climática também desiguais

(SANT'ANNA NETO, 2001, p. 58)". Considerando essa afirmação, a presente

pesquisa pretendeu estabelecer a influência da produção e organização do espaço

urbano dos bairros de Londrina (PR), nos padrões dos valores de temperatura e

umidade no interior de residências, procurando determinar a população mais

vulnerável aos efeitos do clima urbano.

Para tanto, foram instalados datallogers que armazenaram dados referentes à

temperatura e umidade relativa do ar no interior de três residências, durante vinte

dias, em período de verão. As residências escolhidas apresentam condições de

construção e localização espacial diversas, sendo: uma residência pertencente a um

Conjunto Habitacional (do programa federal Minha Casa Minha Vida); uma

residência locada na região central da cidade; e uma residência assentada em um

loteamento exclusivamente residencial.

2 – O espaço urbano de Londrina

A produção do espaço urbano em uma sociedade capitalista se dá de

maneira “[...] desigual, e isto aparece claramente na paisagem através do uso do

solo decorrente do acesso diferenciado da sociedade à propriedade privada da terra

(CARLOS, 1992, p. 122)”. Londrina, município com pouco mais de 80 anos, e

população de mais de meio milhão de habitantes, representa essa dinâmica de

expansão do seu espaço urbano.

O crescimento populacional resultou na expansão da área urbana que, a

princípio somava 4 km² e, totaliza no início do século XXI 105,43 km², representando

uma expansão de 26,35 vezes (CASARIL, 2009, p. 91). Atualmente, de acordo com

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7469

IPARDES (2013), a densidade demográfica de Londrina é de 324,50 hab/km², sendo

que 97,40% da população reside na área urbana do município.

Devido a esse processo de crescimento populacional, a expansão físico-

territorial do espaço urbano de Londrina foi

[...] resultado imediato da lógica dos interesses imobiliários e das práticas especulativas, da valorização do preço da terra urbana, do caráter cíclico do mercado imobiliário, da oferta de terrenos em novos loteamentos, da construção civil em geral, consoante a conjuntura econômica e financeira brasileira, e da ação do Estado ao localizar os conjuntos habitacionais em áreas desvalorizadas, proliferando áreas de afastamento socioespacial e vazios urbanos (AMORIM, 2011, p. 48).

Dessa forma, o processo de produção do espaço urbano acelerado, resultou

em diferentes tipos de feições geográficas e, consequentemente em segregação

socioespacial bastante demarcada em toda área da cidade, o que resulta em

populações com diferentes tipos de vulnerabilidade, pois “[...] ser vulnerável é estar

fisicamente exposto a uma álea (natural ou outra), é apresentar certa fragilidade

diante do sinistro [...] É, de igual modo, não ter em vista meios disponíveis para

enfrentar a crise que pode sobrevir (VEYRET, 2007, p. 43)”.

A álea ao qual Veyret (2007) se refere, será tratado aqui como risco climático,

pois “[...] Estes fenômenos, embora causados por fatores naturais, devido às

disritmias no sistema meteorológico, vêm sendo influenciados pela ação do homem,

que contribui para a sua maior frequência e intensidade (SILVEIRA, 2014, p. 60)”.

Assim, têm-se os fenômenos climáticos, extremos ou não, repercutindo em

um espaço que é produzido, e interage no balanço de energia do sistema natural e,

de acordo com Monteiro (1976), o resultado dessa interação pode ser percebido por

meio de diferentes canais de percepção.

Dentre os quais, o canal do conforto térmico, que propicia a investigação da

relação do processo de produção do espaço urbano como gerador de conforto da

população residente, possibilitando um entendimento de como esse processo

influencia no conforto da população e como podem ser desenvolvidas estratégias

que permitam que a população conviva ou revertam seus efeitos negativos.

Conforme objetivo da presente pesquisa, que pretendeu relacionar o conforto

térmico no interior de algumas residências com o processo de produção do espaço,

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7470

considerado desigual, foi escolhida três residências para servirem como exemplo,

conforme figura 01.

Figura 01 - Localização das residências de estudo, Londrina – PR.

As residências foram propostas para a pesquisa de acordo com o seu

processo histórico e localização, pois esses critérios evidenciam as diferenças nos

padrões construtivos dos domicílios.

3 - Procedimentos Metodológicos

Primeiramente optou-se por entender como o espaço urbano de Londrina foi

(e é) configurado, por meio de levantamento bibliográfico e compreensão de suas

atuais leis. O levantamento bibliográfico subsidiou também a compreensão das

análises realizadas sob o canal de percepção do conforto térmico.

Para a compreensão do padrão de variabilidade das temperaturas e umidade

no interior das residências, foram instalados termo-higrômetros (datallogers) nas

mesmas. Os aparelhos foram programados para coletar dados de temperatura e

umidade do ar, a cada hora.

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7471

O período de coleta de dados corresponde aos dias entre 03 a 23 de janeiro

de 2015. Optou-se por esse período de dias, para elucidar a condição térmica das

residências em período de verão.

Para a presente análise, os dados são demonstrados por meio das suas

respectivas médias diárias, para que se possa comparar também com a situação

padrão diária de Londrina. Para tanto, foi utilizado os dados das médias diárias

registradas pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).

4 – Resultados

O modo de produção capitalista territorializa distintas formas de uso e ocupação do espaço, definidas por uma lógica que não atende aos critérios técnicos do desenvolvimento (ou sociedades) sustentáveis. Assim, o efeito dos tipos de tempo sobre um espaço construído de maneira desigual gera problemas de origem climática também desiguais. A entrada de um sistema atmosférico, como uma frente fria (frente polar atlântica), por exemplo, se espacializa de maneira mais ou menos uniforme num determinado espaço, em escala local. Entretanto, em termos socioeconômicos, este sistema produzirá diferentes efeitos em função da capacidade (ou da possibilidade) que os diversos grupos sociais têm para defender-se de suas ações (SANT’ANNA NETO, 2001, p 58).

À vista disso, é necessário ressaltar as diferentes configurações espaciais de

cada residência, e suas formas.

4.1 - Conjunto Habitacional Vista Bela

No Conjunto Habitacional, que recebeu a nomeação de Vista Bela, foram

construídos casas e prédios, ambos com padrão de tamanhos, sendo as casas

divididas em duas águas, e cada uma possuindo 36, 92m², e os apartamentos são

de 42m². O loteamento designado para esse Conjunto Habitacional, recebeu o

zoneamento urbanístico residencial 3 (ZR3), que de acordo com o Art. 27 da lei nº

12.236/2015 que dispõe do Uso e Ocupação do Solo, este zoneamento permite os

usos:

I. Residencial Unifamiliar (RU); II. Residencial Agrupada (RA); III. Residencial Multifamiliar Sobreposta (RMS); IV. Residencial Multifamiliar Horizontal Isolada (RMHI); V. Residencial Multifamiliar Horizontal Agrupada (RMHA); VI. Residencial Multifamiliar Horizontal em Vilas (RMHV);

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7472

VII. Nas vias Estruturais, Arteriais e Coletoras A, com largura mínima de 18,00m (dezoito metros): Residencial Multifamiliar Vertical (RMV); Comércio (CL-l, CL-2), Serviço (SP-2, SL-l, SL-2A, SL-3, SL-6), Indústria (IND-D), Institucional (INS-L); VIII. Nas vias coletoras B, com largura de 15,00m (quinze metros): Comércio (CL- 1 e CL-2) e Serviço (SP-2, SL-1,SL-2A); e IX. Serviço (SP-1) e Institucional (INS-L).

Por ser um loteamento distante dos serviços urbanos da cidade, o

zoneamento permite a instalação de todos os tipos de serviços e comércios, o que

resulta no adensamento de construções e valorização do espaço urbano.

A casa escolhida está alocada em um lote que possui uma área de solo

exposto aos fundos da casa, e na parte da frente do terreno, área cimentada. Nesta

residência, assim como em todo o conjunto habitacional, não possui cobertura

vegetal rasteira nem arbustiva (figura 02).

Figura 02: Mapa de localização do Conjunto Vista Bela e destaque para a residência escolhida.

A habitação é dividida em estrutura radier. A casa foi construída sobre os

padrões do programa Minha Casa Minha Vida, portando é constituída de alvenaria

de tijolos cerâmicos, cobertura em madeiramento convencional coberto por telha

cerâmica cor laranja, laje de piso de concreto revestido com cerâmica, e o forro é

branco de PVC.

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7473

A residência possui acabamento de pintura verde na sua parte externa e

interno. A ventilação no interior da residência fica por conta das janelas existentes,

uma janela em cada cômodo, e da porta de entrada.

O espaço interno da casa é divida entre dois quartos, um banheiro, e uma

sala e cozinha compartilhada. Esse último espaço foi o local escolhido para a

instalação do termo-higrômetro, pois é o local onde os moradores permanecem por

mais tempo. Devido ao compartilhamento dos cômodos, há um adensamento de

móveis, e não foi observado a instalação de ar-condicionado ou ventiladores. O

espaço da casa é divido por seis moradores.

4.2 - Centro Histórico

A residência do Centro Histórico, se enquadra no zoneamento urbanístico

comercial 3 (ZC3), que de acordo com o Art. 95 da lei nº 12.236/2015 que dispõe do

Uso e Ocupação do Solo, este zoneamento permite os usos:

I. Residencial Unifamiliar (RU); II. Residencial Multifamiliar Horizontal em Vilas (RMHV); III. Residencial Multifamiliar Vertical (RMV); IV.Misto (M); V. Comércio: CL-1, CL-2, CG-1, CA-1, CA-2, CG-3; VI. Serviço: SP-1, SP-2, SL-1, SL-2, SL-3, SL-4, SL-5, SG-1, SG-2A, SG-2B, SG- 3, SG-4, SG-5, SG-6, SG-7, SG-8, SG-9, SG-10, SE-2, SL-6; VII. Indústria: IND-D; e VIII. Institucional: INS-L, INS-G.

Esse zoneamento urbano imprime um caráter comercial, que resulta em um

maior adensamento populacional, fluxo constante de pessoas e veículos, e

construções de diferentes épocas, portanto de diferentes materiais construtivos,

conforme figura 03.

A consolidação do município de Londrina ocorre em 1934 e deixou

demarcado no espaço urbano londrinense, os padrões construtivos daquela época,

ou seja, casas de madeiras, provindas da exploração da peroba da região, assim

como a habitação escolhida que é uma casa antiga de madeira com mais de 60

anos, alocada em um terreno com pouca área permeável e pouca vegetação

arbustiva, e áreas externas cobertas de concreto. O lote possui um amplo espaço

externo a casa, com quintal e garagem, sem cobertura e expostos.

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7474

Figura 03: Mapa de localização do Centro Histórico e destaque para a residência escolhida.

A casa é estruturada com pé direito alto, de aproximadamente 3 metros,

paredes portantes externas e internas de madeira em tábuas unidas através de ripas

de madeira. O forro também é construído de madeira, e a cobertura é de telha

cerâmica. O piso é de assoalho de madeira, e é elevado do solo por meio de

embasamentos perimetrais de viga baldrame de concreto contínuo.

O interior da casa é dividido em três quartos, 2 salas, um escritório, uma

cozinha, um banheiro, e uma lavanderia. Em cada cômodo há uma janela, grandes,

devido a idade da casa. Portanto a ventilação é oriunda dessas janelas, duas portas

de entrada e dos ventiladores de teto.

O termo-higrômetro foi instalado na sala principal, onde os três moradores

circulam frequentemente, e durante a noite, há a permanência nesse cômodo. Esta

sala está densamente ocupada por móveis, e há um ventilador de teto, como forma

de mitigar as altas temperaturas.

4.3 - Parque Mediterrâneo

A residência do Parque Mediterrâneo, se enquadra no zoneamento

urbanístico residencial 1 (ZR1), que de acordo com o Art. 15 da lei nº 12.236/2015

que dispõe do Uso e Ocupação do Solo, este zoneamento permite os usos:

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7475

I. Residencial Unifamiliar (RU); II. Residencial Multifamiliar Horizontal Isolada (RMHI); III. Nas Vias Estruturais, Arteriais e Coletoras A: Comércio (CL-1), Serviço (SP-2); e IV. Serviço (SP-1).

Este zoneamento garante o perfil residencial desse loteamento, indicando que

este seja menos adensado. Os zoneamentos ZR1 e ZC3 (anteriormente citado)

permitem que o potencial construtivo seja maior do que a residência do conjunto

habitacional (ZR3), ou seja, a legislação para esses zoneamentos apresentam a

data mínima de 500, 00m², enquanto que na ZR3, a data mínima é de 250m².

A residência (figura 04) está locada em um terreno com grande parte coberto

por gramíneas, de alvenaria de tijolos cerâmicos, paredes internas com acabamento

em pintura branca, e externas cor amarelo claro, cobertura em madeiramento

convencional coberto por telha cerâmica tipo colonial e revestimento de piso com

tacos de madeira.

Figura 04: Mapa de localização do Parque Mediterrâneo e destaque para a residência escolhida.

A casa é constituída por três suítes, sendo que duas delas possuem varadas

com porta - janelas, garantindo melhor circulação de vento nesses cômodos. Há

uma cozinha, que fica ao lado da sala com uma janela e porta que dá acesso a

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7476

lavanderia. Há também uma sala, que tem o pé direito de aproximadamente 4, 5

metros, com uma grande janela. Nesta sala, está a porta de entrada da casa,

portanto há constante circulação de pessoas e dos três moradores. Neste cômodo

foi instalado o termo-higrômetro, e não havia instalação de aparelhos de ventilação.

4.4 – Variações das temperaturas e umidade

Os dados coletados de cada residência estão apresentados no gráfico 01. No

período dos dias 03 a 23 as temperaturas se mantiveram elevadas, em média,

acima dos 25°C, e a umidade relativa do ar com valores acima dos 50%, no interior

das residências, assim como os registros do IAPAR (gráfico 01), valores típicos de

verão.

Gráfico 01 – Média diária das temperaturas e umidade relativa do ar do interior das residências e do IAPAR, do período do dia 03 a 23 de janeiro de 2015. Fonte: Próprias autoras. Adaptado de IAPAR, 2015.

O padrão das temperaturas segue um ritmo similar entre as residências e a

temperatura do ar. Já em relação a umidade, o padrão observado é de crescimento

inversamente proporcional, entre os registros das casas e os do IAPAR. Há de se

observar ainda, que o aumento das temperaturas é inversamente proporcional ao

aumento dos valores de umidade, no que se refere aos dados internos e externos.

0

5

10

15

20

25

30

35

50

55

60

65

70

75

80

85

90

95

100

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23

°C

%

Dias

Mediterrâneo (%) Centro (%) Vista Bela (%) IAPAR (%)

Mediterrâneo (°C) Centro (°C) Vista Bela (°C) IAPAR (°C)

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7477

A residência localizada na área central e a residência localizada na área sul

da cidade, apresentam valores de média das temperaturas abaixo das registradas

pelo IAPAR, já no interior da residência localizada na área norte da cidade, as

médias são as mais elevadas. Já a comparação com os dados de umidade, não há

um padrão definido.

É necessário destacar que a diferença dos registros da casa do Vista Bela,

com a casa do Parque Mediterrâneo (menores valores de médias de temperaturas),

são de 3°C diários, em média.

5 – Considerações Finais

A atual organização do espaço urbano londrinense é regida por meio da lei de

zoneamento urbano (Lei n° 12.236/2015 que dispõe do Uso e Ocupação do Solo).

No que se refere às considerações da presente pesquisa, esta lei determina a

densidade e potencial construtivo das áreas do estudo.

No caso da moradia do Parque Mediterrâneo, esta lei permite que os lotes

sejam maiores, possibilitando a construção de áreas verdes na área externa a

residência. O zoneamento imposto por essa lei atribui características residenciais a

este loteamento, o que compete menor densidade de construções e menor

variedade dos tipos destas (galpões, barracões, indústrias, entre outros), e menor

fluxo de pessoas e carros.

Já a moradia do Centro Histórico, possui um zoneamento que resulta em fluxo

constante de carros, caminhões, ônibus e pessoas, cujo deslocamento são para

locais com portes e materiais construtivos distintos. As áreas dos lotes do Centro

Histórico também podem ser melhores explorados.

E por último, a lei de zoneamento atribui ao loteamento do Conjunto

Habitacional Vista Bela, o caráter residencial, porém, com a possibilidade de

construções que ofereçam serviços comercial e até industrial. Dessa forma, há a

possibilidade deste loteamento oferecer serviços urbanos em um local marginalizado

e distante dos serviços já existentes. Neste caso, a lei determina menores lotes, o

que dificulta a maior adaptação dos moradores em uma área sem vegetação alguma

e com características agrícolas ao redor.

A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO

DE 9 A 12 DE OUTUBRO

7478

Portanto, a cidade de Londrina é organizada de forma que há determinadas

populações que estão mais vulneráveis a determinados tipos de riscos. No caso da

presente pesquisa, se observa que a população do Vista Bela está mais vulnerável

aos riscos climáticos, pois apresenta temperaturas internas superiores às médias

diárias registradas na cidade, resultando em maior necessidade de adaptação ao

meio, que é dependente das condições financeiras dos moradores.

6 – Referências Bibliográficas

AMORIM, W. V. A produção social do espaço urbano em Londrina – PR: a valorização imobiliária e a reestruturação urbana. 2011. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Faculdade de Ciências e Tecnologia/Unesp, Presidente Prudente. CARLOS, A. F. A. Repensando a geografia urbana. Revista do departamento de geografia. São Paulo, n.6, p.119-122, 1992. CASARIL, C. C. A expansão físico-territorial da cidade de Londrina e seu processo de verticalização: 1950-2000. Geografia. Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Geociências, v. 18, n.1, jan./jun. 2009. FRESCA, T. M. Mudanças recentes na expansão físico-territorial de Londrina. Geografia. Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Geociências, v. 11, n. 2, jul./dez. 2002. LONDRINA. Lei nº 12.236 de 29 de janeiro de 2015. Dispõe sobre o Uso e a Ocupação do Solo no Município de Londrina e dá outras providências. Diário Oficial [do] Município de Londrina, Londrina, PR. MONTEIRO, C. A. de F. Teoria e clima urbano. São Paulo: IGEOG/USP, 1976. SANT'ANNA NETO, J. L. Por uma Geografia do Clima. Terra Livre, São Paulo, v. 17, p. 49-62, 2001. SANTOS, M. Pensando o Espaço do Homem. 5 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004. SILVEIRA, R. D. Risco climático, vulnerabilidade socioespacial e eventos climáticos extremos relacionados ao calor e ao frio no estado do Rio Grande do Sul - Brasil. 2014. Tese (doutorado) – Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciência e Tecnologia, Presidente Prudente. VEYRET, Y. (Org.) Os riscos: o homem como agressor e vítima do meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2007.