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ISSN 2316-5065 Ano XVI • Nº 170 • Janeiro / Fevereiro de 2017 AMBr lança o embrião de um futuro museu da medicina no DF 23 Tênis Escola de tênis da AMBr vem revelando campeões mirins. O esporte é uma das vocações esportivas do complexo de lazer da Associação Médica de Brasília. 38 Ética Em entrevista à Médico em Dia, o veterano médico Simônides Bacelar, professor de Ética, fala sobre a conduta, o preparo e os desafios dos profissionais que trabalham nas emergências dos prontos socorros. 9 Destinos Você já ouviu falar no fim do mundo, num lugar onde o vento faz a curva? Pois esse lugar existe e chama-se Ushuaia, na Patagônia, a três mil quilômetros de Buenos Aires, Argentina. 48 VAMOS REAVIVAR A NOSSA HISTÓRIA? Foto de Luiz Clementino

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ISSN 2316-5065 Ano XVI • Nº 170 • Janeiro / Fevereiro de 2017

AMBr lança o embrião de um futuro museu

da medicina no DF 23

TênisEscola de tênis da AMBr vem

revelando campeões mirins. O esporte

é uma das vocações esportivas do

complexo de lazer da Associação

Médica de Brasília. 38

ÉticaEm entrevista à Médico em Dia, o veterano

médico Simônides Bacelar, professor de

Ética, fala sobre a conduta, o preparo e os

desafios dos profissionais que trabalham nas emergências dos prontos socorros. 9

DestinosVocê já ouviu falar no fim do mundo, num lugar onde o vento faz a curva? Pois

esse lugar existe e chama-se Ushuaia, na Patagônia, a três mil quilômetros de Buenos Aires, Argentina. 48

VAMOS REAVIVARA NOSSA HISTÓRIA?

Foto de Luiz Clementino

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Revista Médico em Dia - Janeiro / Fevereiro de 2017

Editorial

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Nesta edição, as mulheres médicas mostram que estão realmente empode-

radas. Ocuparam – e assim, embelezam - várias páginas da revista. São três doutoras de diferentes especialidades: cardiologia, reumatologia e toxicologia, cada qual com sua história. Uma canta, outra dá ênfase à arte para ajudar seus pacientes a enfrentar as dores e fadigas do corpo. A terceira é bem prática e dá dicas incríveis para evitar que crianças, em época de férias, se envenenem com produtos tóxicos, o que é mais comum do que pensamos.

Nossa matéria de capa é uma pérola histó-rica. Apresentamos a ideia inicial para a construção de um futuro museu que a atual diretoria está implantando aqui na AMBr. O objetivo é recontar musiologica-mente, com peças, documentos, livros e fotos, a história da medicina em Brasília a partir do marco zero do CRM 001. Essa caminhada, de certa forma, se cruza com a própria história da nossa Associação. Destaque para o “pioneiro do antes”, como era chamado o Dr. Ernesto Silva, auxiliar de

JK na implantação da nova capital, fundador da Fundação Hospital e primeiro presidente da AMBr. Aliás, para os médicos que estão lendo nossa revista, fazemos um apelo de importância histórica: quem tiver em casa ou no consultório aparelhos, livros, docu-mentos e objetos que possam ajudar na recuperação desta epopeia e quiser fazer uma doação, a AMBr está aceitando de bom grado. Venha ser também um partícipe deste futuro museu que começa a dar seus primeiros passos em nossa sede.

Ah, e o nosso verdejante quintal que hospeda a sede administrativa, os espaços de eventos e a área de lazer do Clube dos Médicos, desta vez também mereceu atenção especial em nossas páginas. É um espaço com histórias incríveis, que se desenvolveu por etapas e foi se integrando até se tornar um dos lugares mais aprazí-veis de Brasília hoje em dia. Com a chegada do verão (e ao mesmo tempo das chuvas), a grama está tinindo de verde, as piscinas pipocando de crianças nos fins de semana. Carros no Lava-Rápido, churrasqueiras

lotadas, espaços de eventos ocupados. Já começam os preparativos para a primeira festa do ano, o já tradicional Matinê Infantil da AMBr que, como sempre, irá bombar e também já está em nossas páginas.

E assim, o ano se renova e os novos projetos se sucedem. Mas, independente das novidades, temos um cuidado todo especial no dia a dia do nosso quintal. Grupos de vigilância formados por funcioná-rios da Associação visitam periodicamente seus cantos e recantos na caça de focos de mosquitos Aedes aegypti.

Afora esses conteúdos de interesse de todos os médicos, nossa revista começa a sofrer mudanças qualitativas na sua progra-mação visual, tudo para facilitar sua leitura. A Médico em Dia está com uma nova respi-ração espacial, com páginas mais limpas e nova diagramação.

Portanto, Feliz 2017 e boa leitura.

Os editores

“Nossa matéria de capa é uma pérola histórica.”

Caros Leitores,

Caixa de Prova Oftalmológica com cerca de 50 lentes que são usadas para fazer refração e achar o grau certo para os óculos dos pacientes. Essa caixa foi muito usada na época da construção de Brasília e até anteriormente, nas décadas de 30/40/50. Sabe-se que ainda hoje é utilizada em cidades do interior do país.

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Revista Médico em Dia - Janeiro / Fevereiro de 20174

Diretoria ExecutivaDr. Luciano Gonçalves de Souza Carvalho

PresidenteDr. Ognev Cosac Vice-PresidenteDr. Jorge Gomes de Araújo

Diretor AdministrativoDr. Carlos José Sabino Costa

Diretor Econômico-FinanceiroDr. Antônio Geraldo da Silva

Diretor de Comunicação e DivulgaçãoDr. Elias Couto e Almeida Filho Diretor de PlanejamentoDra. Ana Patrícia de Paula Diretor de Editoração CientíficaDra. Angélica Amorim Diretora Científica e de Ensino Médico ContinuadoDr. Fernando Fernandes Correia Diretor Social e de Atividades CulturaisDra. Olímpia Alves Teixeira Lima

Diretora de Relações com a Comunidade

Conselho Fiscal

TitularDr. Márcio de Castro MoremDr. Nivaldo Cavalcante BarrosDr. Roberto Nicolau CavalcantiSuplenteDr. Adalberto Amorim de M. JúniorDr. Bolivar Leite CoutinhoDr. Baelon Pereira Alves

Delegados

EfetivosDr. Aristotenis Cardoso CruzDr. Eudes Fernandes de AndradeDr. João de Souza Nascimento FilhoDr. José Henrique Leal de AraújoDr. José Nava Rodrigues Neto

Dr. Wendel dos Santos FurtadoSuplentesDr. Aloísio Nalon QueirozDr. Evaldo Trajano FilhoDr. Jaldo de Aguiar BarbosaDr. Roberto Cavalcanti Gomes de Barros Dr. Susany de Oliveira Suderio

Conselho EditorialDr. Luciano Gonçalves de Souza CarvalhoDr. Ognev CosacDr. Antônio Geraldo da SilvaDiretor responsávelDr. Antônio Geraldo da Silva

EditoresCristiane KozovitsLuis Turiba (994-RJ) Karina Bueno (0010546-DF)RevisãoCristiane Kozovits EditoraçãoCaio Borges

ComercializaçãoKeila [email protected](61) 9655 9326 / 2195 9705 / 9972 7804

ImpressãoIdeal Gráfica e Editora Tiragem 5.000 exemplares

Redaçã[email protected]

Médico em Dia é uma publicação da Associação Médica de Brasília - AMBr.

Revista cultural de distribuição gratuita. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.

SCES Trecho 3 Conjunto 06 Cep: 70200-003 - BRASÍLIA/DF(61) 2195.9700www.ambr.org.br

Corpo Social

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Revista Médico em Dia - Janeiro / Fevereiro de 2017 5

Sumário

Radar

Vitrine

Jovem Médico

Carnaval Infantil

Música Popular

Artigo

Médica que cantaIntoxicação infantil A arte como cura

41

3632 34

21

46

1530

1816

Há 15 anos, o castigado solo do cerrado vem sendo ocupado e transformado. Desde a pedra fundamental, na gestão do Dr. Ranon Rodrigues, até os dias atuais, com Dr. Luciano Carvalho, a nossa sede vem crescendo e se modernizando. Estrategicamente, um complexo que envolve área de lazer, Centro de Convenção, salão de festa e sede administrativa, ganhou vida, integração e qualificação para seus associados, os médicos de Brasília. A isso podemos chamar de legado.

A Dra. Roberta de Oliveira Faria tem cantado à capela o Hino Nacional em congressos médicos. Mas também canta Elis Regina e Alcione.

A médica toxicologista, Andrea Amoras alerta que os riscos de intoxicação infantil aumentam quando as crianças passam maior tempo em casa.

Dra. Licia Mota dança, escreve, malha e sapateia. Seu consultório lembra uma galeria de arte. Para tratar de reumatismos e dores, ela propõe sensibilidade.

A AMBr firma o seu legado

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Palavra do Presidente

A AMBr quer chegar até você

Em recente pesquisa realizada junto a nossos associados, ficamos surpresos

com alguns resultados - indicadores claros de que muitos deles não tomam conhe-cimento do que a Associação Médica de Brasília fez e vem fazendo na prática para o cumprimento de suas missões. Cerca de 70% dos entrevistados, por exemplo, disseram não conhecer o CAAC - Centro de Atividades Científicas e Culturais, embora 91% dos que conhecem considerem o custo para associados muito acessível. Apenas 36% dentre os entrevistados acompanha a AMBr pelo Facebook atualmente e 44% disseram não saber dos planos de saúde e concierge oferecidos pela Associação.

Médicos são um público-alvo complicado (registro aqui minha mea culpa!). Temos muito pouco tempo, horários que fogem do padrão, emergências. Não somos exatamente digi-tais, embora esse universo já esteja nos absorvendo de todas as formas, até e prin-cipalmente com a velocidade da evolução tecnológica em nossa área. Precisamos estudar o tempo todo e ainda gerir nossos consultórios como empreendedores.

O fato é que temos feito muitas coisas, avançado em todas as frentes - mas não nos comunicamos tão bem.

Os associados da AMBr foram presente-ados com benefícios diferenciados em nossa gestão, como os planos de saúde com rede credenciada especial e um concierge que resolve tudo para o segurado. Parcerias diversas e exclusivas, com serviços espe-cializados, somam-se à melhor estrutura de lazer e eventos dentre as federadas. Nossa sede está sempre muito bem cuidada e o complexo de lazer e cultura vem num cres-cente de qualidade com a edificação do Espaço Prime, do Bosque, da construção da nova lanchonete, revitalização das chur-rasqueiras e das quadras de tênis e futebol. Temos uma nova secretaria, novo parque infantil e muito cuidado mesmo com a preser-vação da reserva natural onde estamos inse-ridos. Cuidados com as árvores, os pássaros, os ninhos de corujas. Medidas de prevenção a queimadas e à Dengue são contínuas.

Estamos concluindo a implementação da primeira etapa de um futuro Museu da Medicina do DF, onde contaremos boa parte da história de nossa profissão e da própria AMBr. Vários médicos já doaram peças, foto-grafias, livros e outras relíquias que serão brevemente expostas a toda população para resgatar a imagem de nossa nobre profissão.

Nosso centro de convenções é moderno e versátil, priorizando os eventos da área médica e atendendo com valores especiais aos associados, além de realizarmos as melhores festas temáticas da cidade. Esta nossa revista chega na casa de todos os mais de 3,4 mil associados e circula também pelos hospitais, clínicas e consultórios da cidade. Temos site, redes sociais, enviamos e-mail marketing e SMS informativos. E ainda assim muitos médicos do DF não sabem sobre o que anda fazendo sua Associação.

É por isso que, em 2017, resolvemos inten-sificar e melhorar nossa comunicação com vocês: fazer chegar, de fato, a associados e a todos os médicos do DF, o que faz a AMBr - a casa dos médicos do Distrito Federal.

A Associação é de todos nós e esperamos tê-los conosco em 2017 para mais um ano de conquistas e crescimento. Venham, desfrutem, contribuam, participem das ativi-dades de qualificação e das discussões importantes sobre os temas que afetam toda a categoria. Meu convite é que venham somar para que possamos deixar, juntos, um legado para as próximas gestões e os futuros médicos de todo o Brasil.

Luciano Carvalho, presidente da AMBr

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Entrevista

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A ética médica de um plantão urgente“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja outra alma humana” (Carl G. Jung).

Aparentemente está tudo tranquilo. Alguém bebeu demais e tomou um tiro. Uma jovem

quebrou a perna. Chega um paciente intoxicado. Rotina de pronto-socorro em cidade grande. Mas, uma notícia aguda, real e fria quebra a aparente tranquilidade do plantão médico: um ônibus capotou numa estrada próxima. Atenção senhores médicos, preparem-se! O nervosismo é total, mas por incrível que pareça, aqueles médicos estão preparados para trabalhar nesse nível de estresse. São nessas condições que se fazem médicos de verdade.

Nesta entrevista, o Dr. Simônides Bacelar fala com conhecimento de causa dessa prática tão rotineira e destaca a questão ética do profissional plantonista. Afinal, ele trabalhou por mais de 40 anos em prontos--socorros, fazendo plantões em Unidades de Cirurgia Pediátrica e conta casos de fazer chorar. Leiam esta incrível entrevista, é uma lição de vida.

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Entrevista

Como o senhor define o chamado médico plantonista?

O que é estar em um plantão e, de repente, receber a notícia sobre um grande desastre com mortos e feridos? O que significa para um médico ter que aplicar a chamada “escolha de Sofia”. Ter que escolher quem deve viver e quem deve morrer?

Será que é nesse tipo de prática que se aprende a medicina de verdade?

É relevante que tenha vocação para ser urgentista, que esteja preparado para intensa atividade com rapidez metódica, sem improvisos. Um plantonista sabe o que fazer sem parar o atendimento para consultas à literatura quanto ao caso que tem de resolver imediatamente e, sobre-tudo, sabe trabalhar com harmonia em equipe. É, ainda, capaz de fazer diagnós-ticos e tratamentos muito rapidamente. Sabe que um doente não pode falecer nem ter complicações graves porque o planto-nista está fatigado, desanimado, com sono ou mesmo adoentado. Sabe que um doente não pode ter óbito por faltar material de atendimento básico. Ao entrar em seu turno de plantão, verifica se o material indispen-sável a ser usado está completo antes de

Atendimentos simultâneos de elevado número de vítimas de sinistros são inco-muns. Quando ocorrem, há aviso à equipe hospitalar. Recebemos, então, reforços de material e de pessoal em regime extra. Atualmente, os atendimentos efetuados pelo Samu no local do acidente conferem mais segurança a todos os assistidos. Antes do Samu, já tivemos atendimentos de duas ou três pessoas acidentadas trazidas sem aviso. Situação muitíssimo raro de acontecer. Um momento de agonia para um plantonista que teria de decidir a quem iria atender primei-ramente e de tal modo que não houvesse mortes. Havia o consenso de que o primeiro seria o que tivesse maior possibilidade de sobrevida, pois teríamos mais probabilidade de sofrer dois ou mais óbitos se fizéssemos o contrário. Não teríamos mãos suficientes

Em qualquer área médica, as atividades se concentram em fazer diagnoses e ou trata-mentos. Mas exigem-se do médico conhe-cimentos complementares para compre-ender o doente como pessoa, com seus valores, sua dignidade. A medicina verda-deira consiste na aplicação eficaz dessas duas vertentes da relação médico-pa-ciente. A solidariedade com os sentimentos do paciente e de sua família é nuclear. Tivemos uma vez, por exemplo, o caso de uma criança vítima de acidente de carro, trazida quase sem vida para atendimento. Uma fratura craniana deixava passar partes do cérebro. Não foi possível salvar sua vida. Procuramos a família para comunicar seu falecimento e notamos que o pai se encon-trava em estado de grande agitação emotiva.

os atendimentos ocorrerem, seja qual for o número deles, e providencia que os instru-mentos estejam em seu lugar e em bom funcionamento. Se apenas na ocasião de intubar um paciente em parada respiratória, notar que o laringoscópio está sem fonte de iluminação pode ser fatal para o assistido. Frequentemente uma pessoa entra no pron-to-socorro em coma e nem sempre há um acompanhante para fornecer dados sobre o que aconteceu. Se houver muitos doentes, essas questões podem se exacerbar. Contudo, um plantonista é capaz de tomar decisões apenas com os dados disponíveis aos exames físicos, radiológicos e laborato-riais. Não poderia ser, então, um profissional despreparado, com muitas dúvidas e esca-lado para cumprir simples horário contratual.

para cateterizar uma veia para aplicar as medicações necessárias, usar uma sonda para aspirar e liberar as vias respiratórias de um doente que vomita em estado de coma, intubar vias respiratórias e ligar os aparelhos necessários, fazer curativos compressivos para conter hemorragias, proteger vísceras expostas ou tentar conter um paciente adulto muito agitado. Já recebi um golpe de punho no abdome ao tentar conter e atender um paciente profundamente alcoolizado e com feridas sangrantes na cabeça para suturar. Quanto a pessoas mortas, estas são direcio-nadas diretamente do local do acidente ao Instituto de Medicina Legal. É muito impor-tante que o paciente seja cabalmente aten-dido em um só hospital que disponha de todas as especialidades e de todos os equi-pamentos necessários.

Tivemos o auxílio de psicólogos treinados em comunicar más notícias. Comumente, existem pacientes nervosos e agressivos por motivo de demora para atendimento. O médico compreende que o descontrole emotivo é parte do quadro clínico, pois é o paciente que corre o risco de morte e sofre a dor dos traumas. Sabemos que mesmo pacientes agressivos acalmam-se quando usamos imediatamente, por exemplo, um estetoscópio para lhe auscultar o peito. Agressividades incontroláveis desfazem a relação médico-paciente. Em casos extremos, o médico pode se recusar a atender o doente e convocar de imediato outro colega de assistência. Aconselha-se, nesse caso, que convoque uma teste-munha. Acrescenta-se que esse é um dos

“ Um momento de agonia para um plantonista é ter de decidir a quem irá atender primeiramente e de tal modo que não haja mortes.”

“ Um plantonista sabe o que fazer sem parar o atendimento para consultas à literatura.”

“A solidariedade com os sentimentos do paciente e de sua família é nuclear.”

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Entrevista

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Em que período o senhor trabalhou no plantão do Hospital de Base? Que tipo de experiência o senhor viveu ao ser plantonista?

Como fica a mente e o coração de médicos que passam anos por este nível elevado de estresse? O que esse tipo de adrenalina cria para um profissional da saúde? Será que fica frio e distante diante de situações críticas? Ou desmorona emocionalmente? Quem os trata?

motivos de maior número de queixas dos pacientes, e os processos são três – o admi-nistrativo, o ético e o judicial mais as sindi-câncias a responder, o que enseja gastos com defensores legais, meses ou anos de desgastes emotivos e da nossa repu-tação, que demanda muitos e muitos anos

de trabalho difícil e contínuo para ser cons-truída. Sabemos que erros podem ocorrer, mas não são propositais. É preciso que o paciente compreenda que nenhum médico pode prometer curas e salvamentos. Pode o terapeuta afiançar que usará o melhor meio de tratamento existente.

Desde o primeiro ano de Medicina, tive a grata oportunidade de frequentar prontos--socorros. No Hospital de Base, por quarenta anos, tive a felicidade de fazer parte da equipe de pronto-socorro da Unidade de Cirurgia Pediátrica. Aprendemos, desde cedo, por meio de bons orientadores profis-sionais, que é imprescindível ter o médico conhecimentos afetos às doenças, bem como ao próprio doente como pessoa, como já mencionado. Acrescento ainda, que o lado doente do socorrido precisa dos conheci-mentos da equipe assistencial em anatomofi-siopatologia, microbiologia, terapêutica, etc., e sua vertente humana demanda saberes em comportamento humano, o que inclui ética, bioética, religião, sociologia, antropo-logia, filosofia, psicologia e mesmo psica-nálise, sem os quais cuidar-se-ia apenas da

doença, o que alçaria o profissional a uma competência técnica sem dúvida muitíssimo útil, mas carente do contexto de solidarie-dade. Bons orientadores nos dizem que uma conversa amistosa, olhando-se nos olhos do atendido, faz parte do tratamento. É rele-vante que um profissional “conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao tocar uma alma humana, seja outra alma humana” (Carl G. Jung). Um paciente longa-mente deprimido pode ter alto teor orgânico de cortisol, o que lesa seu sistema imunitário, causa de infecções letais. Em outro hospital, tivemos um doente que, após apendicec-tomia, teve sangramento gástrico por úlceras de estresse. Recuperou-se bem com trata-mento clínico, com atuação de psicólogos e da própria família. No HBDF, tivemos que operar uma criança com quadro semelhante.

Médicos de pronto-socorro de fato lidam com jornadas de trabalho extenuantes, com atuações noturnas, em fins de semana e feriados, o que também ocorre em outras profissões. A família e os amigos precisam compreender esse esforço. É normal um urgentista trabalhar sessenta ou muito mais horas semanais para permitir que os colegas tenham suas férias. É certo que estão nessas tarefas por opção, sem haver obrigatoriedade de trabalho para aqueles que desejarem operar em outros sistemas. Praticamente todos os médicos que conheço ou conheci nessas atividades têm boa índole e gostam de seu trabalho.

Sem dúvida, o médico socorrista arca com preocupações e desgostos ao não conseguir manter uma vida. Em seus ensinamentos em A Morte e o Morrer, E. Kluber-Ross observa que muitos jovens médicos são treinados para prolongar a vida e encarar a morte como um fracasso. Acrescenta que dirigem a atenção mais para os equipamentos que machucam o doente e não reparam em suas expres-sões faciais de desespero e de dor, ocasionadas pelo prolongamento fútil de um quadro terminal irreversível. Mas é

oportuno mencionar que, em quase a tota-lidade dos casos, os esforços compensam. Temos bons exemplos: uma criança de seis anos teve o coração transfixado por projétil de arma de fogo ao permanecer à frente do pai para protegê-lo diante do agressor em uma festa do dia das mães. Recorremos à ajuda da equipe de cirurgia cardíaca. Através do acesso cirúrgico, para evitar mais perdas sanguíneas o cirurgião introduziu um dos dedos para tamponar ambas as feridas cardíacas e fez as devidas suturas com o dedo assim posicionado até que pode gradativamente retirá-lo das feridas com segurança. A criança se recuperou completamente e teve alta hospitalar dez dias depois. Em outra ocasião, suturamos dezenas de pequenas feridas espalhadas pelo corpo de uma criança de 9 anos, feitas por outra de 6 anos com uma faca de cozinha após assistirem a um filme com o boneco Chuck em cena. Certamente trabalhar com doenças e doentes em qualquer área jamais seria um campo de tranquilidade e de lazer, mas possibilitar um paciente que recebemos semimorto sair do hospital com saúde, sorridente e agradecido é sem dúvida a melhor face da medicina.

“Bons orientadores nos dizem que uma conversa amistosa, olhando-se nos olhos do atendido, faz parte do tratamento.”

“É normal um urgentista trabalhar sessenta ou muito mais horas semanais para permitir que os colegas tenham suas férias.”

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Medicina e Arte

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Medicina e Arte

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Regressando a Lisboa, a nau coman-dada pelo Capitão de Mar e Guerra

Theodózio Rodrigues de Faria por pouco não naufragou durante forte tempestade na costa lusitana. Era o ano de 1742.

Durante a tormenta, esse navegador da Marinha Portuguesa, ao pressentir a morte, fez uma promessa por sua salvação: presen-tear a Bahia, em uma próxima viagem sua, com uma réplica da imagem do Senhor do Bonfim existente na igreja por ele frequen-tada em sua cidade - Setúbal, Portugal.

A promessa foi cumprida. Em 18 de abril de 1745 desembarcou em Salvador com a imagem artisticamente esculpida em madeira de lei. Os devotos trataram de edificar uma igreja digna de abrigar o santo que viria a ser o padroeiro da Bahia. O local escolhido foi o alto da vistosa Colina Sagrada.

Visando a angariar recursos para o templo, o devoto Manoel Antonio da Silva Severo começou a fabricar e a vender fitinhas do Senhor do Bonfim. Inicialmente tais fitinhas, à época chamadas medidas, tinham o compri-mento do braço da imagem do santo, mais precisamente da extremidade do membro superior esquerdo até o coração. Como a fita era longa, para encurtá-la sugeria-se aos devotos que a enrolassem no pulso e que dessem nela três nós para ganhar o direito de fazer três pedidos ao Senhor.

A Basílica Santuário do Senhor do Bonfim, ou simplesmente Igreja do Bonfim, foi inau-gurada em 1754. Poucos sabem que o capitão benfeitor da igreja faleceu em 1757 e que seu corpo se encontra sepultado na nave central da Basílica.

Poucos sabem também que a imagem original do Senhor do Bonfim, doada pelo capitão Faria, rarissimamente sai pelas ruas em procissão. Um dos momentos especiais em

que isso aconteceu foi em 1855 quando uma epidemia de cólera estava ceifando muitas vidas na cidade. Com o objetivo de livrar a população da peste, o santo padroeiro foi conduzido sob orações até a Catedral da Sé.

A igreja foi construída no estilo neoclássico, embora sua fachada seja rococó. Muitas de suas paredes estão revestidas com valiosas obras de arte, e predominam nas laterais painéis de azulejos portugueses do século XIX com pinturas sacras em cor azul.

Em um dos painéis, vê-se Jesus Cristo fazendo um gesto com a mão para aben-çoar as pessoas que dele se aproximavam. Nessas ocasiões Jesus erguia a mão direita, estendia os dedos indicador e médio e fletia os dedos polegar, anular e mínimo. O gesto sempre era com a mão direita, o que sugere que Ele, pelo menos do ponto de vista pictó-rico, não era canhoto.

Em medicina, existe uma situação clínica em que o doente imita o gesto de Cristo. Chama-se mão de bênção, mão em bênção ou sinal de bênção. Quando um paciente, usualmente em decorrência de um acidente,

tem o nervo mediano seccionado acima do cotovelo ele pode apresentar, ao exame físico, a mão de bênção.

A explicação para o desenvolvimento da mão de bênção está no fato de que a lesão do nervo mediano resulta na paralisia dos músculos flexores superficial e profundo dos dedos e dos músculos primeiro e segundo lumbricais, o que acarreta a perda da flexão das articulações interfalângicas proximais e distais e das corres-pondentes articulações metacarpofalângicas.

A flexão dos dedos anular e mínimo não é comprometida porque a porção medial do músculo flexor profundo dos dedos, que tem como ação esses movimentos, é inervada pelo nervo ulnar.

Os dedos indicador e médio também perma-necem estendidos pela ação preservada do músculo extensor dos dedos, inervado pelo ramo profundo do nervo radial que, ao contrário do nervo mediano, não foi seccionado.

Como se pode observar, continua atual o dizer de Billroth, o pai da cirurgia gástrica: “Ciência e Arte jorram da mesma fonte”.

Em medicina, existe uma situação em que o doente emita o gesto de Cristo: a flexão dos dedos anular e mínimo. Chama-se “mão de benção”.

A mão que abençoaArmando J. C. Bezerra

Simônides Bacelar

Médico

MédicoA famosa fitinha do Nosso Senhor do Bonfim nasceu de uma promessa de um navegante português que escapou de violenta tempestade. Para edificar uma igreja digna de abrigar o santo, devotos começaram a fabricar e a vender fitas.

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Jovem Médico

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O Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação dos Estudantes de Medicina

(AEMED) e diversas Entidades Estudantis em todo o Brasil estão participando de comis-sões de trabalho voltadas à elaboração do Código de Ética dos Estudantes de Medicina (CEEM). Tal comissão foi criada com o intuito de estimular a participação dos estu-dantes de medicina, professores (médicos e não-médicos) e entidades da sociedade civil organizada na organização e disseminação dos valores fundamentais da prática médica desde a etapa de formação acadêmica dos futuros médicos brasileiros.

Já existentes em São Paulo e no Distrito Federal, os CEEM têm caráter consultivo, visando orientar as práticas dos estudantes de medicina dentro das prerrogativas éticas e deontológicas. O esforço agora é para a criação de um CEEM nacional, também de natureza consultiva.

Estudantes e entidades médicas se unem para elaborar código de ética

Mas, qual a utilidade do CEEM nacional para o estudante de medicina? Como todos sabem, o exercício da prática médica no país está submetido ao Código de Ética da Medicina (CEM), cabendo ao CFM acompa-nhar, fiscalizar e punir o mau exercício da profissão. Todo médico precisa estar fami-liarizado com os princípios constantes no Código, no entanto, grande parte das insti-tuições de ensino médico não possuem disciplinas voltadas ao tema. A proposta, considerada um marco para o ensino médico brasileiro pelo CFM, é elaborar de forma colaborativa um documento didático que alinhe e estruture o conjunto de prin-cípios que devem ser observados no exer-cício da profissão.

“A ideia é que, ao se formar, os graduados já estejam familiarizados com as normas do CEM, o que os fortalecerá como pessoas e profissionais, impactando positivamente toda

a sociedade brasileira”, diz Pedro Henrique de Souza Tavares, presidente da AEMED-DF.

As discussões estaduais para a criação do CEEM de âmbito nacional já começaram. No Distrito Federal a comissão organizada pelo Conselho Regional de Medicina (CRM) reali-zará fóruns de discussão e colaboração para que representantes da sociedade civil orga-nizada, docentes e estudantes de medicina possam opinar e contribuir para sua confecção.

O CFM criou um portal para que os interes-sados possam participar com propostas em cinco eixos temáticos: relação do estudante com a instituição (escola, funcionários e/ou serviços de saúde); relações interpes-soais; multiprofissional; com a sociedade; e responsabilidade do estudante com seus estudos e sua formação. Os interessados podem tirar dúvidas e enviar suas contribui-ções para o hotsite www.ceem.cfm.org.br.

A ideia é que, ao se formar, os graduados já estejam familiarizados com as normas do CEM, o que os fortalecerá como pessoas e profissionais

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Revista Médico em Dia - Janeiro / Fevereiro de 201716

Artigo

A luz do fim do túnel Luis TuribaJornalista

Quem viveu a experiência de mergulhar ou ser mergulhado no chamado “Túnel

da Luz” sabe o quanto ela é inesquecível. Estar nessa região fronteiriça entre vida e morte, muda a vida das pessoas. O corpo esfria, mas a consciência é clara e inevitável. A máquina humana está desligada e a luz que te chama e guia chega a ser cativante.

Durante a cirurgia (que durou oito horas segundo os médicos), me lembro bem de uma sensação única que se repetiu duas vezes durante o meu apagamento. O corpo esfriou de repente num congela-mento sinistro que aconteceu a uma velo-cidade estonteante, como se meu ser esti-vesse sendo tragado por um buraco rumo ao

desconhecido iluminado. Um movimento em círculo, arredondado e veloz. Essa sensação me passava pela coluna, da cabeça aos pés, como se eu estivesse sendo jogado para um túnel gélido e desenergizado. Algo estranho, que durou frações de segundo até meu corpo voltar a ser esquentado.

Depois se repetiu e meu corpo voltou a esfriar e esquentar novamente naquele túnel ilumi-nado. Tudo independia de mim. Era como se minha consciência estivesse apenas assistindo a esse movimento. Mais tarde, ao acordar, fiquei sabendo que fui reanimado por duas vezes. Os médicos substituíram as funções cardíacas por uma máquina para os procedimentos. Quando meu coração voltou

a funcionar, os batimentos estavam anár-quicos, descontrolados, necessitando ser reanimados por duas vezes. O movimento, ainda segundo os cardiologistas, é comum em cirurgia de ponte safena e mamária.

Ao chegar ao apartamento para o pós-opera-tório, 24 horas depois, me lembrei da canção “Aqui e Agora” do mestre Gilberto Gil: “morrer deve ser tão frio/ como na hora do parto”. Ainda bem que a viagem foi interrompida!

Trecho do caderno especial no Correio Braziliense relatando os detalhes da cirurgia cardíaca de ponte de safena a que fui subme-tido. Este relato faz parte da reportagem “Veias Abertas”.

“ Mais tarde, ao acordar, fiquei sabendo que fui reanimado por duas vezes.”

Relato de uma sensação pessoal do jornalista Luis Turiba durante uma cirurgia de ponte safena

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Artigo

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Histórias da Música Popular

O machismo brasileiro é um resquício lastimável do período escravagista. O

Senhor de Engenho tudo podia. Engravidava as mucamas enquanto a Sinhazinha era apenas uma figura decorativa, cuja serventia era parir em moto contínuo. As coisas mudaram pouco. As mulheres continuam discriminadas e tratadas como sub-sexo. A música popular, reflexo do cotidiano, não ignorou o tema, louvando a surra terapêu-tica e os insultos verbais em muitas de suas obras. Até a década de 80 era uma constante.

O pior era a indiferença das mulheres com as letras ofensivas. Os motes “mulher de malandro”, “toda mulher gosta de apanhar” e “lugar de mulher é na cozinha” não causavam repúdio. Como veremos, cantoras famosas gravaram músicas desabonadoras contra elas mesmas sem reagir. Gravavam músicas que as diminuíam, mostrando complacência

com a truculência dos “amados”. Talvez não se sentissem à vontade para recusar, correndo o risco de ficarem sem repertório. Carmem Miranda gravou duas letras maso-quistas do consagrado André Filho (autor de Cidade Maravilhosa). Uma era “Mulato de qualidade”, mostrando que gosto não se discute: “ Vivo feliz no meu canto sosse-gada/Tenho amor, tenha carinho/ tenho tudo, até pancada”. A mesma Carmem, o mesmo André e mais surra: “Tu fica em casa e eu vou trabalhar/(...) tu não és mau, és bom demais/ e se dás tanta pancada/ é porque eu gosto e te peço”.

No carnaval de 1969 a música de Roberto Lara deve ter causado engulhos nas femi-nistas: “Se me bater eu te amo/ bate, meu bem que eu gamo”. Também essa de Pereira e J. Quadrado: “Não me bate meu amor porque eu te amo/ Não me bate amor,

O canto do sofrido amor

se bater eu gamo”. Rossini Pinto em 1972 invalida o ditado pancada de amor não dói: “Meu amor me bateu/doeu, doeu.” Aracy de Almeida, de temperamento desabrido, não se constrangeu em também mostrar submissão com esta: “Você só chega em casa alta madrugada/ e se por acaso não estou acordada/ você fica enfezado e quer me dar pancada” (Marido da orgia – Ciro de Sousa). E tem mais: “Durante o tempo que vivia em sua companhia/ Não jantava, apanhava e não dormia”.

Dolores Duran deixou letra inédita que foi musicada por Carlos Lira: “Tem homem que briga pela bem-amada/ tem mulher maluca que atura porrada”. Assis Valente, um dos maiorais dos anos 30/40, compôs para a apagada cantora Elza Cabral a insípida marchinha “Não sei pedir seu coração”, fazendo coro com Rossini Pinto: “Não gosto

Renato Vivacqua

Dr. Eudes Fernandes de Andrade

Historiador da música popular

Médico Urologista

Carmem Miranda gravou músicas com letras masoquistas do consagrado André Filho. Em uma delas: “Tu não és mau, és bom demais/ e se dás tanta pancada/ é porque eu gosto e te peço”

Autores do clássico samba “Amélia”, Ataulfo Alves e Mário Lago, foram questionados pela militância feminista, pois até no dicionário Aurélio o titulo da música foi considerado sinônimo de submissão.

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Histórias da Música Popular

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de pedir carinho, ouviu?/ Humilhação meu coração destrói/ gosto de pedir pancada, porque pancada de amor, não dói”. Às vezes as agressões nas letras eram só depreciativas, outras as ameaças eram de pancadaria mesmo. Por falar em depre-ciação, vejam essa gravada por Bezerra da Silva: “Eu mandei minha mulher pro inferno/ o Diabo não quis aceitar/ mandou ela de volta”.

Com a maior conscientização das mulheres, começou a haver questionamentos. “Amélia“ de Ataulfo Alves e Mário Lago (que chegou a ser incorporada ao Aurélio como sinô-nimo de submissão), foi muito criticada. Mário protestou: “Amélia era apenas pres-tativa”. E completa: “Em outra obra minha, “Número Um”, confesso, era machista onde escrevi “satisfaz tua vontade/ muda de dono à vontade/ isso em mulher é comum”. “Emília”, grande sucesso de Haroldo Lobo E Wilson Batista, nada fica a dever à Amélia: “Quero uma mulher, que saiba lavar e cozi-nhar/ que de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar”. Ataulfo era um negro elegante e gentil, sempre vestido com apuro (chegou a fazer parte da disputadís-sima lista dos dez homens mais elegantes do Brasil, divulgada pelo cronista social Ibrahim Sued), mas nas letras era às vezes contundente, como nesta: “gostei de uma criatura/ sem moral, sem compostura, /sem coração, sem pudor”. Engana-se quem pensa que as Amélias ficaram no passado. É só lembrar de “Com açúcar e com afeto” de Chico Buarque: “Logo vou apanhar seu prato/ dou um beijo em seu retrato/ e abro meus braços pra você”. Herivelto Martins só queria moleza em “Doce lar”: Era ela quem lavava a minha roupa/ ela era quem fazia o meu café...” Francisco Alves e Vadico come-moram a troca: “Arranjei outra que me dá casa e comida/ e também roupa lavada/ pois até deixei de trabalhar”.

Herivelto e Dalva de Oliveira promo-veram um embate musical que eletrizou os fãs. Cantavam juntos, separaram-se, e Herivelto tornou-se um vilão enquanto Dalva era sucesso. Ficou indignado e, esti-mulado pelo amigo compositor e repórter, muito inescrupuloso, Davi Nasser, compu-seram juntos “Caminho Certo”, deplo-rável: “ eu deixei o meu caminho certo/ e a culpada foi ela/ transformava o lar na minha ausência/ em qualquer coisa abaixo da decência.” Na fase ainda da gravação mecânica, o cantor Baiano já passava pito: “Mulher que chora não fala a verdade/ jura e é só falsidade”.

Carmem Miranda

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Radar

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Agenda organizadora risque-rabisque

Cruz Vermelha e primeiros socorros

Está pronta a agenda organizadora de mesa da AMBr para o ano de 2017. E desta vez temos algumas novidades. Por exemplo: para cada mês, um pequeno e significativo poema retratando as não tão simples rela-ções da prática da medicina, envolvendo médicos, pacientes, remédios, receitas, recomendações, etc. Entre os poetas convi-dados, destaque para o Dr. Laírson Rabelo, ex-presidente da AMBr, que apresentou um belo soneto sobre seus 30 anos de ativi-dades na profissão. Foram ainda convi-dados poetas de Brasília, entre os quais

o ex-embaixador Francisco Alvim, que contribuiu com uma de suas provocantes pílulas poéticas. Outra novidade: no mês de Outubro, conhecido como o do combate ao câncer de mama, a impressão ficou rosa. Para novembro, onde o esforço da coletivi-dade médica é voltado para o combate ao câncer de próstata, a impressão ficou azul. Assim, o nosso risque-rabisque deu asas às cores. Ao longo do calendário, são destaque as importantes datas nacionais, as médicas e a programação dos principais eventos sociais e culturais da nossa Associação.

A Cruz Vermelha Brasileira está ajudando numa pesquisa mundial sobre o uso de Primeiros Socorros. Como se sabe, a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV) é a líder mundial na formação e prestação de primeiros socorros. Em 2014, mais de 15 milhões de pessoas foram formadas em todo o mundo em 116 Sociedades Nacionais.

Por mais de 150 anos, os primeiros socorros estão entre os principais serviços prestados por voluntários da FICV. São considerados vitais para se fornecer uma intervenção rápida e eficaz, reduzir lesões, atenuar o

sofrimento e aumentar as chances de sobre-vivência. É a primeira vez que a pesquisa é aplicada na história da centenária insti-tuição de ajuda humanitária. O objetivo principal é saber se as pessoas estiveram envolvidas em acidentes ou emergências nos últimos cinco anos. Em caso positivo, deve-se apontar o tipo de emergência e se os Primeiros Socorros foram praticados. O Português é um dos 18 idiomas disponibili-zados na CV.

A Cruz Vermelha Brasileira é uma das 190 Sociedades Nacionais que compõem o Movimento Internacional de Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Fundada em 5

de dezembro de 1908, é constituída com bases nas Convenções de Genebra, das quais o Brasil é signatário. É uma asso-ciação civil, sem fins lucrativos, de natu-reza filantrópica, independente, declarada pelo governo brasileiro de utilidade pública internacional, de socorro voluntário, auxi-liar dos poderes públicos e, em particular, dos serviços militares de saúde. Tem como missão atenuar o sofrimento humano, sem distinção de raça, religião, condição social, gênero e opinião política.

Mais informações sobre a instituição podem ser conseguidas através do site  www.cruzvermelha.org.br

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Museu

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Os primeiros passos de um museu da medicina em Brasília, um desafio de todos nós

“Não se faz um museu sem pesquisas, buscas e encantamentos.”

Museus são entes sagrados. Guardam passados, memórias, histórias, peças,

objetos raros repletos de significados. Animam o presente e apontam para o futuro. Tanto faz ser um híper museu, como o Louvre de Paris, ou um núcleo embrionário com o que agora se instala na AMBr, visando um futuro museu da medicina do Distrito Federal. A ideia é dar o ponta pé inicial para salva-guardar a memória de uma medicina que ainda pulsa de vivacidades. Afinal, são pouco mais de 57 anos de acontecimentos envol-vendo personagens incríveis, muitos deles ainda vivos e lúcidos para refazer a trajetória médica de uma capital fundada em 1960.

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Museu

Antes de falarmos dessa empreitada que ora se inicia, vamos buscar uma

boa definição para a palavra museu, cuja origem vem do latim “museum”. Segundo o International Council of Museums (ICOM, 2001), do ponto de vista formal, eles “são instituições permanentes, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvi-mento, abertos ao público e que adquirem, conservam, investigam, difundem e expõem os testemunhos materiais do homem e de seu entorno, para educação e deleite”.

Na proposta de criação deste núcleo inicial de um futuro museu, duas trajetórias vão se encontrar em uma trilha única de tempo e ações. De um lado, a medicina se insta-lando na futura capital em conjunto com a construção da própria cidade a partir de 1958. De outro, a criação da AMBr, entidade representativa dos médicos que chegavam para cuidar da saúde de Brasília. Afinal, o presidente Juscelino Kubitschek era médico e trouxe em sua equipe para a grande aven-tura o colega Ernesto Silva, que além de médico fazia parte da Comissão respon-sável pela transferência da Capital. Dr. Ernesto chegou ao Planalto Central em 1954 e, por isso, foi chamado do “pioneiro do antes”. Mais tarde, já na década de 60, foi ele quem fundou e implantou o Hospital de Base, a Fundação Hospitalar do DF, sendo o primeiro presidente da AMBr.

Núcleo inicial do novo museu

Não se faz um museu sem pesquisas, buscas e encantamentos. O ponta pé inicial precisava ser dado para o processo deslanchar. Para tanto, foram escalados para este resgate histórico os doutores

Eudes Fernandes de Andrade, urologista com mais de 30 anos de experiências em hospitais brasilienses; e Aloísio Nalon Queiroz, anestesiologista de primeira gran-deza; além do próprio presidente da AMBr, Dr. Luciano Carvalho, que há meses põe a mão na massa do passado, garimpando fotos, documentos, livros e outros objetos. São partícipes também da empreitada o Dr. Arlindo Crispim, que doou peças históricas para tratamento de oftalmologia, como uma caixa de lentes, e o Dr. Francisco Pinheiro Rocha, ex-secretário de Saúde do DF e fundador dos hospitais da L2-Sul, do Gama e de Sobradinho; além do Dr. Edisio Pereira, presidente da Sociedade de Anestesiologia.

O projeto do futuro Museu foi elaborado pela arquiteta Natalie Tramontini e é muito

Panendoscópio; instrumento de fabricação norte-americana usado para exames urológicos que estará em exposição no núcleo inicial do museu da AMBr.

1 - Lâmpadas quentes. 2 - Caixa de armazenamento com o aparelho. 3 - a ótica, a ponte, a camisa e o mandril do Panedoscópio.

simples. Ocupará parte do hall de entrada da sede da AMBr, com painéis de fotos de todos os presidentes da Associação ao longo de seus 58 anos de existência e outros dois com fotos históricas. A inauguração deste núcleo inicial do museu está prevista para este primeiro semestre de 2017.

No momento, estão sendo montados três mostruários transparentes com peças e objetos utilizados pelos primeiros hospitais que se instalaram em Brasília. Um primor que despertará muita curiosidade. Também está prevista a instalação de uma estante que receberá dezenas de livros escritos por médicos, embrião de uma futura biblio-teca dos médicos escritores. Essa iniciativa foi do Dr. Simônides Bacelar, o qual está doando os primeiros livros.

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Museu

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Para a concretização do museu, o Dr. Eudes Fernandes assumiu o papel de

garimpeiro de objetos, fatos e fotos do início da medicina em Brasília. Nada mais natural, pois afinal, ele desembarcou na capital no dia 29 de dezembro de 1965, vindo de uma residência de três anos no Hospital do Estado do Rio de Janeiro, e no dia 31, véspera do Ano Novo, dava seu primeiro plantão como urologista do Hospital de Base. Um dos seus maiores orgulhos nesses 51 anos de serviços prestados à medicina brasiliense foi ter trabalhado e convivido com o Dr. Ernesto Silva, o criador e primeiro presidente da AMBr.

O pioneiro Ernesto Silva nasceu em feve-reiro de 1914, tendo falecido em fevereiro de 2010. Foi médico e oficial do Exército e teve destacado papel na fundação da nova capital. Diplomou-se médico pela Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro em 1946. Fez vários cursos de especialização em pediatria no Brasil e no estrangeiro e é autor de muitos trabalhos científicos.

Foi secretário da “Comissão de Localização da Nova Capital do Brasil” (1953/1955), presidente da “Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal” (1956); diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap (1956/1961); e conselheiro da Fundação Educacional e da Fundação Hospitalar do DF (1960/1961). Foi membro efetivo do Conselho de Saúde de Brasília, presidente do Comitê de Cuidados Primários e Pediatria Comunitária da Sociedade Brasileira de Pediatria. Ativo defensor do conceito do plano urbanístico de Brasília, combateu fortemente medidas que visavam à desfigu-ração do plano, como o aumento do gaba-rito de prédios e acréscimos em áreas de empreendimentos comerciais. Foi Ernesto Silva quem assinou o Edital do Concurso do Plano Piloto em 1956. Escreveu o livro História de Brasília, publicado em 1970 e posteriormente reeditado em 1997.

O pioneiro do antesErnesto Silva

Dr. Ernesto Silva, fundador da AMBR, com estudantes tendo ao fundo o Palácio da Alvorada.

Ata de eleição do primeiro presidente da AMBr: Dr. Ernesto Silva. A Associação foi fundada no dia 6 de fevereiro do mesmo ano.

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Museu

Revista nasce com BrasíliaEm setembro de 1967, nascia a revista Brasília Médica, órgão oficial da classe médica da capital. Era presidente da AMBr o Dr. Miguel Paes de Carvalho, que anunciou: “o nosso tão esperado periódico vem à luz em data de gala, pois seu nascimento coin-cide com a instalação da II Jornada Médica”. E prosseguiu: “a lacuna que representava a ausência de uma revista vinha chamando a atenção dos profissionais da nova Capital desde a sua inauguração. A partir de hoje podemos afirmar, com justificado orgulho, que os médicos de nossa querida cidade--céu já dispõem do instrumento adequado aos seus anseios de manifestação por uma Medicina livre e democrática.”

O editorial foi escrito pelo redator-chefe, Dr. Abid Cury, e a apresentação pelo Dr. Wilson Sesana, secretário de Saúde e presidente da Fundação Hospitalar do DF. Segundo suas palavras, “a Capital da Esperança contou desde cedo com uma classe médica digna da grandiosidade com que foi sonho o monu-mento arquitetônica do século”.

Primeira edição da revista Brasília Médica em setembro de 1967.

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Redes Sociais

SIGA A AMBr NAS REDES SOCIAISConteúdo de qualidade para e sobre os médicos do DF

A AMBr está fortalecendo sua comunicação para fazer chegar a todos os médicos do Distrito Federal as realizações da entidade e as notícias relevantes sobre médicos e medicina. Para isso, um novo site está em construção e as redes sociais receberam atenção especial, com planejamento e conteúdos de qualidade voltados aos médicos, residentes e estudantes de medicina e também à comunidade.

Siga sua Associação Médica de Brasília nas redes sociais e fique por dentro de tudo que ela tem a oferecer para você. Afinal, a AMBr é a Casa dos Médicos do Distrito Federal!

Ambr.DF

assomedicadebrasilia

Associação Médica de Brasília

@ambr

@ambrmedicos

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É carnaval! É hora de folia no matinê

infantil da AMBrAssociados, preparem as fantasias e retirem seus convites para o tradicional Carnaval Infantil da sua Associação Médica

Ao som das marchinhas carnavalescas antigas e modernas, num cenário colo-

rido, vibrante e alegre, vem aí mais uma edição da tradicional e disputada Matinê de Carnaval Infantil da AMBr. A festa, que reúne anualmente 1.500 convidados no Espaço Prime da Associação Médica, vai acontecer no dia 28 de fevereiro, das 15 às 19 horas.

Além do confete, da serpentina e da música, a criançada vai ganhar pipoca, picolé e algodão doce gratuitamente. Os pais também podem (e devem) vir fantasiados

para compartilhar desse momento festivo e mágico com seus filhos. Nos intervalos da banda Fina Estampa, muitas brincadeiras para a garotada.

Importante reforçar que a festa é exclu-siva para associados, que devem retirar os convites gratuitamente na secretaria, para si e seus dependentes. Serão disponibili-zados 500 convite extras para aquisição dos associados que queiram levar outros convi-dados, ao custo unitário de R$ 40,00. Mas, atenção: os convites esgotam rapidamente, garanta logo o seu.

Serviço:

Sócios e dependentes deverão retirar os convites antecipada-mente na secretaria da AMBr, gratuitamente, até o dia 23 de fevereiro. Os convites extras custarão R$ 40,00 por pessoa, independente da idade.Informações: 61 2195 9738 / 9739 / 9755 / 9757

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Eventos

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Especialidade Médica

Férias, crianças em casa. Redobre os cuidados com os produtos tóxicosCrianças de até quatro anos são as maiores vítimas de intoxicação acidental que, na sua grande maioria, ocorrem dentro do lar

Férias significam quase sempre crianças em casa. Daí o porquê dos casos de

acidentes domésticos aumentarem expres-sivamente nesse período. Nossos pequenos são naturalmente curiosos e acabam expe-rimentando, comendo ou bebendo o que não devem. Em outras palavras: ingerem produtos de natureza tóxica encon-trados em vasilhames e garrafas; remé-dios deixados ao alcance de suas vistas e mãos em gavetas, armários, embaixo da pia da cozinha ou do banheiro. São tintas,

inseticidas, raticidas, detergentes, sabão, soda cáustica, xampus, acetona, sabo-netes, loções, plantas e outros produtos aparentemente inocentes que usamos no dia a dia. Não podemos esquecer que crianças são atraídas por cores, sabores e texturas diferentes.

As intoxicações infantis mais frequentes ocorrem por medicamentos, segundo os regis-tros do Centro de Informações Toxicológicas – CIT. Em seguida, vêm os produtos de uso

doméstico, especialmente os de limpeza. Também é muito comum a intoxicação por perfumes, inseticidas, naftalinas, cosméticos, talcos, bebidas alcoólicas, solventes, tintas, raticidas, ceras e gás de cozinha.

Mas os produtos químicos não são os únicos vilões das intoxicações. Existem muitas plantas que, caso ingeridas pelas crianças, podem ser prejudiciais. A intoxicação por plantas tóxicas ocupa o terceiro lugar entre as causas desse tipo de acidente.

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Especialidade Médica

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Para a médica toxicologista, Andrea Amoras Magalhães, os riscos de into-

xicação infantil aumentam muito quando crianças pequenas passam mais tempo dentro de casa do que nas escolas ou creches. “A lógica da distribuição dos objetos em uma residência é feita para a dona da casa e isso eleva o risco de acidentes com as crianças. Por isso, é importante compre-ender os cuidados que cada faixa etária requer”, diz a médica.

“Os bebês, por exemplo, são completa-mente dependentes do cuidador. Então, até um ano de vida é importante que o respon-sável cheque tudo no ambiente, principal-mente na fase em que eles estão apren-dendo a andar. Nesta faixa etária os riscos estão no acesso a tomadas, fogão, instru-mentos cortantes como facas, alicates e tesouras. Depois, a partir de um até três anos, a criança entra na fase da curiosidade, a fase oral, onde ela leva sempre os objetos à boca. “E aí, a vida fica muito mais propícia a acidentes”, esclarece a toxicologista.

De acordo com a médica, também é impor-tante salientar que as crianças não conhecem o dano e não têm noção do que seja a morte. Por isso, o melhor é orientar os cuidadores sobre quais produtos não devem ser utilizados ou deixados ao alcance delas. “Nos desenhos infantis os personagens morrem e logo estão vivos novamente, fazendo as travessuras. Por isso, não devemos associar os danos da intoxicação com a morte. Mas, se mesmo com os devidos cuidados, a criança ingerir algum produto tóxico, é importante entrar em contato imediatamente com o CIT, no telefone 061-99288-9358, onde o profissional dará orientações corretas sobre o procedimento a ser realizado”, conclui a especialista.

Serviço

Quando suspeitar de intoxicação em crianças:

• Mudança repentina de comporta-mento, com atitudes estranhas.

• Queimaduras ou manchas ao redor da boca ou na pele.

• Respiração ou hálito com cheiro estranho.

• Salivação abundante ou espuma na boca.

• Dor ou queimação na boca, garganta, dor abdominal, náusea, vômito, diarréia.

• Respiração anormal, falta de ar.• Suor ou tremores intensos.• Agitação ou sonolência.• Embalagens de remédios, restos de

produtos ou pedaços de plantas perto delas podem ser suspeitos.

O que fazer em caso de intoxicação

• Manter a calma• Ligar para o CIT 0800 644 6774• Retirar restos do produto da boca ou

da pele e lavar com água corrente.• Retirar as roupas sujas com o

produto e dar banho na criança com água e sabão.

• Procurar atendimento médico e levar a embalagem do produto ou parte da planta para facilitar a identificação.

• Não provocar vômito, a não ser que tenha sido orientado para isso.

• Não dar leite. Ele não tem atividade anti-veneno e, em alguns casos, favorece ainda mais a absorção do produto tóxico.

• Em caso de picadas de animais peço-nhentos, apenas lavar o local da picada com água e sabão e procurar imediata-mente um serviço de saúde.

Como prevenir intoxicações em crianças:

• Nunca deixe as crianças sozinhas. Fique sempre atento.

• Medicamentos, produtos de limpeza e higiene, álcool, tinner, venenos, soda, cosméticos e plantas devem ficar em armários altos e trancados, fora do alcance das crianças.

• Não guardar produtos perigosos em embalagem de refrigerante, amaciante ou outro frasco vazio.

• Não aplicar veneno perto da criança nem deixar que brinquem com embala-gens vazias.

• Não chamar remédio de doce, bala, suco para forçar a aceitação. Se alcançá-lo quando sozinha, tomará o frasco todo.

• Cuidado com as plantas em casa. Procure conhecê-las pelos nomes e suas características. Ensine que não devem ser colocadas na boca.

• Evitar entulhos. Manter a casa e o quintal sempre limpos para evitar a presença de animais peçonhentos.

Em caso de dúvidas ou intoxicação o número do CIT é 0800 644 6774 e no Distrito Federal o número é 99288 9358.

Plantas ornamentais, aranhas, escorpiões, cobras, insetos, inseticidas, raticidas

Inseticidas, anti-mofo, naftalinaremédios, perfumes

Remédios, perfumes, cosméticos, talco, desodorizantes de ambiente

Desentupidores, sabões, desengordurantes de fogõesdesinfetantes, detergentes

Bebidas alcoólicas, inseticidas, plantas ornamentais

Armadilhas domésticas

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Perfil

É impactante. Seu consultório lembra uma requintada galeria de arte, onde um mix

de pequenas esculturas de metal, quadros e objetos convivem com fotos do “Ballerina Project”, onde bailarinas fazem plié e tendus em ambientes incomuns, como uma biblio-teca ou janelões coloniais em diversos locais do mundo. E não pensem que tal capricho está ali somente pelo gosto da dona. O mimo faz parte da terapia, da cura, do respeito aos pacientes. Funciona como uma espécie de compensação à dor alheia oriunda das mais diversas formas de reumatismos.

A Dra. Licia Mota ama as artes, é verdade. Escreve pequenas crônicas, publica livros e até hoje ainda pratica o balé que aprendeu quando criança. Mas, independente desses dotes, é uma renomada reumatologista. Foi Presidente da Sociedade Brasiliense de Reumatologia de 2006 a 2008 e ainda faz parte da diretoria. Se especializou em artrite reumatoide, uma doença cruel, autoimune e inflamatória, que causa deformação nas arti-culações. Dedica-se ao tema desde que fez sua residência na UnB, entre 2002 a 2004.

“Ao longo desses anos de serviços pres-tados no combate ao reumatismo estudei muito e aprendi a entender a queixa dos pacientes. Nunca desconfiei das dores e das fadigas de quem procura meu consul-tório. Por isso, tenho uma preocupação extrema com o ambiente, com o bem estar dos que procuram uma cura para seus males”, justifica. Ela leva tão a sério esta inter-relação entre médico/paciente que tatuou nas costas dizeres em latim que podem ser de Hipócrates, o pai grego da medicina. Eles dizem, em bom português: “médicos podem curar poucas vezes/ aliviar algumas/ e consolar sempre”.

Dra. Licia nasceu em Brasília, no hospital Santa Lúcia. O pai era baiano e a mãe piauiense. Quando ela tinha um ano a família

Ela faz arte para curar as dores do reumatismoDra. Licia Mota tem mais de 100 artigos publicados em revistas científicas brasileiras e no exterior. Mas, nas horas vagas, escreve contos e crônicas infantis, malha e ainda dança balé

se mudou para Ivaiporã, em Rio Bonito, Paraná, onde o pai foi trabalhar numa subes-tação de Itaipu. Foi criada com a liberdade das crianças do interior. Teve uma boa escola que lhe deu base para voos futuros. Estudou inglês, balé, fez teatro, tocou órgão e praticou muitos esportes, o que continua fazendo até hoje, pois leva muito a sério o princípio do “corpo são em mente sã”. Corre diariamente e faz musculação de domingo a domingo.

Aos 16 anos voltou a Brasília e em 1994 entrou para a faculdade de Medicina da UnB. Se formou em 1999, na turma LIX. Foi no curso universitário que conheceu o marido, Dr. Rodrigo Aires, anestesista. Tem dois filhos: Pedro e Beatriz. Apesar da intensa dedicação aos trabalhos cien-tíficos em prol da reumatologia, consi-dera que sua principal atividade na vida é “ser mãe”.

A Dra. Licia Mota é especialista em artrite reumatóide.

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Perfil

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Dedica grande parte do seu tempo às ativi-dades acadêmicas. Fez seu Doutorado na UnB, e a parte laboratorial na universidade de MacGill, no Canadá. Considera a UnB sua segunda casa, onde até hoje desen-volve um trabalho assistencial voltado para pesquisas na área de Lupoeritematoso Sistémico e Artrite Reumatoide. Neste laboratório de pesquisas, o paciente é acompanhado desde o início do diagnós-tico de forma regular. De lá já saíram seis teses e duas outras estão sendo finali-zadas. É orientadora de mestrado, douto-rado e pós-doutorado também na UnB. São 14 anos de trabalhos no ambula-tório da universidade. Escreveu mais de 100 artigos científicos publicados no Brasil e no exterior. Em 2012 recebeu o prêmio Luiz Verztman, concedido pela Sociedade Brasileira de Reumatologia. E também o prêmio Edgar Atra, como autora brasileira com maior número de artigos publicados na revista brasileira de Reumatologia. Em 2013, foi agraciada pela Liga Panamericana de Reumatologia pela pesquisa mais importante na América. Publicou também na revista americana Arthritis & Rheumatology.

Aluna dos históricos professores Francisco Aires e Armando Bezerra, sua atuação nessa área não é somente acadêmica, mas muito prática também. Faz parte da Comissão de Artrite Reumatoide que atualiza as recomen-dações das normas que ditam a conduta governamental para medicação de auto custo nessa área. Portanto, suas avaliações têm grande influência no Protocolo Clínico do Ministério da Saúde. Participa anual-mente de dois congressos internacionais na Europa e nos Estados Unidos. Acompanha par-e-passo todos os estudos e avanços em relação a essas doenças.

E tem mais: presidiu em 2016 o Congresso Brasileiro de Reumatologia que reuniu 2.500 participantes em Brasília, com 450 sessões científicas. Este congresso foi um verda-deiro sucesso graças ao conceito novo que Dra. Licia Mota procurou dar às discussões temáticas, unindo Reumatologia e Arte.

Como já dissemos, ela é realmente apai-xonada por arte. Começou a fazer balé na primeira infância, aos três anos. Parou na adolescência e voltou a dançar pela Academia Ritmos aos 30 anos. Em 2013, “perdeu a marcha” e chegou a utilizar uma cadeira de rodas para se locomover. Reaprendeu a andar, recuperou os movi-mentos e voltou a dançar.

Os filhos Pedro e Beatriz e o marido, Dr. Rodrigo Aires, ocupam espaço especial na vida da doutura.

Entre os muitos prêmios que tem recebido, destaca-se o prêmio PANLAR 2013.

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Médico sem Jaleco

Ela leva a vida entre o estetoscópio e o microfone. Como cardiologista, ausculta

corações que batem fora do ritmo, desafi-nando a vida. Como cantora, os alegra com inesquecíveis sambas-canções e músicas românticas da MPB. Seu repertório vai de Elis Regina a Marisa Montes, passando por Leila Pinheiro e Dominguinhos. Ela é a “Voz” entre os médicos de Brasília.

A Dra. Roberta é cheia de bossa e costuma deixar a plateia impactada quando canta e encanta, em abertura de congressos de

Medicina, uma versão própria e arrepiante do Hino Nacional. Com sua voz potente, ela mergulha sonoramente nas entranhas, nas dores e nas glórias do Brasil. Quem já a ouviu, não esquece.

A música rola nas veias da Dra. Roberta desde menina. Na juventude, antes de começar seus estudos de Medicina em Juiz de Fora, ela cantava em barzinhos e acom-panhava seu tio José Filim nas serestas da cidade natal, Manhumirim. Cantava rari-dades de Núbia Lafayate, Altemar Dutra e Nelson Gonçalves. “Meus pais sempre gostaram muito de música e a influência e o incentivo do meu tio Filim me ajudaram muito a desenvolver essa paixão. Eu cantava para estar perto das pessoas e para levar descon-tração para elas. Cantar faz bem à alma, quando os amigos me encontram já vão longo pedindo uma palhinha de Aconchego, de Dominguinhos”, disse a médica cantora.

Ao chegar em Brasília para fazer sua resi-dência em clínica médica no HRAN, em 1994, observou que a capital possuía um ambiente musical pulsante, espe-cialmente entre médicos. Gostou dessa característica e passou a formar parcerias. Foi acompanhada por músicos ligados ao Clube do Choro de Brasília, entre os quais Carlinhos Sete Cordas, Dr. José Carlos Costa, Dr. Marcos Piaolino, Manuel Cirúrgico, Dr. Paulo Barbosa, Dr. Costa. E foi nesse grupo que surgiu o projeto “Hospital Musical”, que era muito simples, criativo e de caráter social: a turma, quase todos médicos, se juntava com todo mate-rial para fazer um show – caixas de som, microfones, mesa de som, etc - e ia para hospitais da cidade cantar para os doentes e pacientes. O projeto durou aproximada-mente três anos.

E assim, de roda em roda de sambas e choros, Dra. Roberta conseguiu conciliar suas duas paixões: Medicina e Música. Agora, a convite da AMBr, ela gravará sua versão absolutamente pessoal do Hino Nacional a ser executado nas aberturas de todos os eventos científicos realizados na sede da entidade. Além disso, foi convidada para realizar, junto com seus parceiros médicos, um show dançante numa das edições do Happy Hour desta associação em 2017. Tudo isso ela topou na hora e já já começarão os ensaios.

“Meu marido e minha filha me empurram para a música. São fãs e incentivadores de primeira grandeza. Eu é que tenho de ter mais carinho com a música, dar mais tempo para essa musa. Mas agora, acho que vai”, diz sorrindo de seus bons conflitos Dra. Roberta, enquanto dá conta de mais um complexo plantão médico no Hospital de Base, bem no centro de Brasília.

Qual a paixão da Dra. Roberta de Oliveira Faria quando pendura o jaleco?Cantar. E faz muito bem para sua alma, além de emocionar ao público e aos colegas médicos

De volta pro aconchegoDominguinhos

Estou de volta pro meu aconchego Trazendo na mala bastante saudade Querendo um sorriso sincero Um abraço para aliviar meu cansaço E toda essa minha vontade

Que bom poder estar contigo de novo Roçando teu corpo e beijando você Pra mim tu és a estrela mais linda Teus olhos me prendem, fascinam A paz que eu gosto de ter.

É duro ficar sem você vez em quando, Parece que falta um pedaço de mim. Me alegro na hora de regressar, Parece que vou mergulhar na felicidade sem fim.

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Médico sem Jaleco

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#Associados

Tênis da AMBr: fazendo futuros campeões

Uma das vocações da AMBr é o tênis. A Associação conta com sete quadras

de excelente qualidade para a prática do esporte e mantém, há oito anos, parceria com a escola de tênis Grand Slan - coman-dada pelo professor Gelson Kleber. Graças a esses investimentos, algumas crianças alunas da escolinha vêm se destacando no cenário nacional do esporte.

Um exemplo é a atleta Carolina Dias de Castro, de apenas sete anos, que há um ano despertou o interesse pelo esporte e já vem conquistando resultados importantes. Moradora de Unaí, Minas Gerais, a atleta treina todos os finais de semana na AMBr. No ano passado, Carol, como é chamada, foi campeã do torneio Jovens Talentos do Clube do Exército de Brasília. Na Copa Guga Kurten, em Florianópolis, ela chegou às quartas de final também na modalidade simples, e foi para a semifinal em duplas.

A atleta Carolina Dias de Castro, sete anos. Henrique Filomeno, prof. Chicão, Carolina de Castro, prof. Esley, Fernando Filomeno, prof. Gelson Kleber, Daniel e Lucca.

Os pais, o oftalmologista Reigland Bondrim Castro e a pediatra Alessandra Ansel Dias, são grandes incentivadores e apoiadores da escolha esportiva da filha. “O tênis, além de ser muito saudável, faz com que a criança tenha disciplina, concentração e determinação, que são valores muito importantes dentro e fora das quadras. Enquanto for de interesse da Carol, nós vamos continuar apoiando e incen-tivando a prática do esporte”, disse o pai. Já a jovem atleta afirma ter uma grande paixão pelo esporte. “Eu amo o tênis, adoro treinar porque eu sei que se eu treinar bastante vou ser uma campeã”, profetiza a jovem e empolgada atleta.

O tênis foi implantado na AMBr primeira-mente como um esporte social, ou seja, de maneira formativa e focada na integração dos praticantes. Mas, desde o último ano, a escola começou a trabalhar os alunos para competições externas. “Assim que iden-tificamos atletas com potencial iniciamos um treinamento específico para que essas crianças tenham destaque e alcancem bons resultados em campeonatos. Em apenas um ano da implantação desse modelo já obtivemos bons resultados, inclusive nacio-nalmente. A expectativa é bem positiva para os próximos anos”, garante Gelson.

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#Associados

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Os irmãos Bernardo e Henrique Filomeno.

Considerado um esporte completo, o tênis trabalha diversos músculos e desenvolve o condicionamento aeróbico e anaeróbico. Por isso, exige diversas habilidades do prati-cante, entre as quais: velocidade, resistência,

disciplina, força e tática. “Durante a prática da atividade são trabalhados os músculos das pernas, braços, costas e abdome. O tênis exige reflexos rápidos e coordenação motora do esportista, mas também desen-volve o pensamento estratégico e tático. Mas o melhor é que qualquer pessoa pode praticar, desde crianças até pessoas da terceira idade, tendo como regra apenas os limites do corpo”, acrescenta o professor.

Outro atleta oriundo das quadras da AMBr que está se destacando é o Bernardo Aires Filomeno, 10 anos de idade, que começou a treinar há dois. Filho do cardio-logista Guilherme Baumgarten Filomeno e da dermatologista Juliana Machado Aires, Bernardo frequenta a Associação desde bem pequeno. “Por sermos sócios, já frequentávamos o clube. Foi vendo outras crianças treinando que o Bernardo e o irmão Henrique, de oito anos, começaram a se interessar pelo tênis. Então, decidimos unir o útil ao agradável e matriculamos os meninos na escolinha”, explicou Guilherme.

Serviço:

Aulas de segunda a sábado nos três períodos: manhã, tarde e noite.As inscrições estão abertas e associados da AMBr têm preço diferenciado.Informações: 99172-8148 / 98157-8984

Treinando apenas uma vez por semana, Bernardo conseguiu, no final do ano passado, participar de duas etapas do Circuito Jovens Talentos realizado em Brasília. Foi vice-campeão no 2º Torneio. “Eu gosto do tênis porque me dá muita disci-plina e eu sei que é bom para o desenvolvi-mento pessoal”, disse Bernardo.

“O apoio dos professores da Grand Slan é fundamental para os atletas. Nos campeo-natos havia muitas crianças acompanhadas apenas dos pais, diferente do que acon-teceu com os atletas da AMBr que tiveram o incentivo dos professores durante todo o torneio”, esclarece o cardiologista.

A estrutura

Próxima a Ponte JK, no trecho 3 do Setor de Clubes Sul, a AMBr tem uma loca-lização privilegiada e conta com seis quadras de saibro e uma quadra de piso sintético (mais rápida), instaladas em local estratégico. O ambiente é silencioso e a paisagem extraordinária. A manutenção diária é realizada por dois funcionários exclusivos das quadras que estão entre as melhores de Brasília.

O maior diferencial do espaço esportivo da AMBr é que os atletas treinam em local aberto, arejado e em perfeita integração com a natureza. Mas, engana-se quem pensa que na AMBr só se treina tênis: os amantes do futebol também tem espaço para aprender e treinar na escola do Boca Juniors que funciona na área de lazer. Em breve falaremos mais dela, mas as matrí-culas das escolinhas estão abertas, então, escolham seu esporte e venham treinar!

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Nosso Quintal

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A AMBr é um patrimônio dos médicos do Distrito FederalEm meio a uma natureza exuberante, um complexo pensado em cada detalhe para garantir a perenidade da instituição e oferecer mais qualidade de vida, integração e qualificação para seus associados

Em meio ao mais puro cerrado fez-se a nova sede da AMBr – moderna, confor-tável, ecológica. Sem pressa, foi se trans-formando ao longo dos anos e das gestões - um trabalho diuturno que já dura 18 anos. Permeou todas as fases um senso de preservação: mantivemos as árvores nativas e acrescentamos ao acervo botânico dezenas de frutíferas que hoje dão vida ao nosso espaço e pouso certo para a passari-nhada que passeia pelo nosso quintal.

A aventura de construir a nova sede da AMBr começou na gestão do Dr. Neri João Bottin, exatamente no dia 29 de novembro de 1998 quando foi comprado da Novacap

o terreno que hoje ocupamos no Setor de Clubes Sul, trecho 3, dentro do ecossistema do Lago Paranoá. E quando aqui usamos a palavra “aventura”, não é apenas força de expressão. Os custos de aquisição do terreno foram rateados em boletos assu-midos por centenas de médicos que faziam parte da Associação desde sua antiga sede na 713/913 sul, uma atitude ousada que deu certo. O primeiro passo estava dado.

A pedra fundamental da empreitada de ocupação foi fixada quatro anos depois, no dia 4 de abril de 2002, na gestão do Dr. Ranon Rodrigues (1999 a 2002), e foi sob a batuta do Dr. Mestrinho ( 2002 a 2005) que

surgiram as quatro quadras de tênis (três de saibro e uma de lizonda), as piscinas e os dois campos de futebol.

Em 2005, já sob a regência do Dr. Laírson Vilar Rabelo (2005 a 2008), os avanços estru-turais focaram o prédio da Administração, três das seis churrasqueiras, a pista de cooper que rodeia todo o terreno circular e o CAC (Centro de Atividades Científicas e Culturais), um centro de convenções bem equipado e versátil que deu uma nova dimensão à AMBr, tanto para sua missão de qualificação contínua, como na geração de renda de aluguel de espaços, com foco prio-ritário nos eventos científicos da Capital.

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Nosso Quintal

A história recenteEm 2009, assumiu o comando da AMBr o Dr Luciano Carvalho - atual presidente da entidade, que encerra ao final de 2017 sua segunda gestão. Durante esses dois mandatos, os investimentos em infraestru-tura foram priorizados a partir de duas estra-tégias principais, sendo a primeira ouvir os associados (e potenciais associados) para conhecer suas expectativas quanto à AMBr, e a segunda, assegurar a perenidade da instituição com investimentos e ações que viessem garantir a manutenção de todo o complexo e o cumprimento da missão representativa da Associação.

Para executar seu plano, a diretoria realizou uma pesquisa com os médicos que resultou na edificação do Salão de Eventos para até 400 pessoas, batizado de Espaço Prime; a construção da Secretaria, na entrada da sede; três novas churrasqueiras; a nova lanchonete, próxima ao complexo de piscinas; a criação do espaço de eventos Bosque, ao ar livre; duas quadras de beach tennis e a transferência do campo de futebol para um local mais apropriado, abrindo mais espaço para estacionamento dos sócios e convidados de eventos.

Importante ressaltar que a decisão de investir nesses espaços de eventos tem a ver com a sobrevivência da AMBr. Segundo o presidente, Luciano Carvalho, “as associações médicas estão sofrendo diminuição em todo o Brasil, pois a conser-vação da estrutura e dos serviços é muito

cara e as mensalidades são baixas, por isso estamos criando opções de geração de receita que possam garantir a pereni-dade da instituição”, explica.

Não pára por aí. O palco externo recebeu infra-estrutura para poder abrigar shows maiores, para até três mil pessoas e um potente gerador foi adquirido para garantir que não falte luz durante a realização de eventos. Aliás, as tradi-cionais festas da AMBr estão cada vez mais reconhecidas, como o Arraiá do Dotô, o Matinê Infantil de Carnaval e a Festa do Médico.

Os associados mirins desfrutam do nosso parque aquático, especialmente em um fim de semana ensolarado.

O Espaço Prime tem recebido aniversários, casamentos, bailes como a Festa do Médico e os clássicos happy hours.

“A AMBr é uma das maiores associa-ções médicas do Brasil em número de associados e área física também, mas queremos que mais médicos do DF venham fazer parte da Associação para fortalecer a representatividade da classe e garantir que tanto a frente de qualifi-cação continuada quanto os serviços dife-renciados e as opções de lazer e cultura possam ser mantidos e ampliados”, comenta Luciano.

Outra reivindicação levantada na pesquisa foi a de um restaurante. A Associação não tem como foco gerenciar um negócio de alimentação, mas aproveitou a Casa de Madeira, um ícone da AMBr (ler box), para atender a essa demanda. A Casa foi total-mente reformada e adaptada para receber um restaurante num futuro breve.

Com relação à manutenção, é constante: as churrasqueiras vem sendo moderni-zadas, o campo de futebol socite recebeu grama sintética, a piscina um toboágua, as quadras de tênis novo saibro. O parque infantil foi substituído e os ombrelones trocados. Recentemente, a área ganhou também um lava-rápido para carros, um galinheiro e uma horta orgânica que ajuda na alimentação dos funcionários que traba-lham na manutenção. Uma nova entrada para caminhões e carros de apoio também foi criada para desobstruir a entrada social, dentre outras diversas obras menores e ajustes de processos.

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Nosso Quintal

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A velha guarda da AMBr: Seu Gil, Selma Silvestre, Chiquinho e Dona Magnólia.

A velha casa de madeira, a primeira pré-moldado construída em Brasília, na década de 70.

A velha guarda da AMBrEles são os veteranos da AMBr. O mais antigo deles é Seu Gil, cujo nome de batismo é Geosvaldo Cornélio de Souza. Ele passou a fazer parte do quadro de funcionários em julho de 1981 - há 35 anos -, quando a Associação ficava na antiga sede da 913 Sul. Foi o quarto funcionário da AMBr. Nos seus primeiros quatro anos de trabalho foi compondo a equipe responsável pela obra. Depois passou

A resistente Casa de MadeiraA primeira casa de madeira pré-moldada de Brasília, toda feita em ipê, sede do antigo Toy Club (onde se reuniam cerca de 40 amigos, entre eles o empreendedor Gilberto Salomão e o ex-senador Luis Estevão) já ocupava o cerrado próximo ao Lago Paranoá desde o começo da década de 70. Moravam na casa o casal Raul e Mercedes, com um filho. Quando a AMBr comprou o terreno

a ser zelador e mais a frente virou encarre-gado de serviços gerais, função que exerce até hoje. “Eu lembro que os médicos não queriam mudar de endereço, mas hoje vejo a satisfação que eles têm em ver no que a AMBr se tornou. Eu tenho muito orgulho de fazer parte dessa história”, disse emocionado.

Selma Silvestre de Souza é casada com seu Gil e chegou na AMBr há 30 anos. Passou pelos serviços gerais, foi recepcionista e

atualmente toma conta do almoxarifado. Como funcionária tem muita gratidão e orgulho da Associação. “Sou muito grata porque eu morei por mais de vinte anos em uma casa no terreno da antiga sede”, revelou. Francisco de Assis Lopes, o Chiquinho, é outro das antigas. Começou a trabalhar na AMBr pres-tando serviço terceirizado, em setembro de 1993. Seis meses depois, em março de 1994 entrou efetivamente para o quadro como auxi-liar de serviços gerais. Hoje, 22 anos depois, Chiquinho tem a função de auxiliar de manu-tenção, sendo bem conhecido pelo compro-metimento e carisma. “Depois que a AMBr veio pra cá, tudo se tornou maravilhoso. Hoje os associados não sofrem mais com a falta de estacionamento e tem uma área de lazer muito boa. É muito bom ver e sentir o cresci-mento da AMBr”, acrescentou.

Na Associação, o cafezinho da Magnólia Uchoa é muito apreciado desde 1997, quando ela foi contratada como auxiliar de servicos gerais. De lá para cá, passou a ser copeira oficial da AMBr. “Eu gosto muito de trabalhar aqui. São 20 anos de trabalhos dedicados aos médicos da Associação e não posso deixar de falar que é a sede mais bonita do Brasil. E isso, escuto de médicos de outras cidades”, contou orgulhosa.

da Terracap o casal não quis sair e a nego-ciação foi longa. Com o passar do tempo, o casal se separou e Dona Mercedes apos-sou-se da casa. Mais negociações e paga-mento de indenizações. Em síntese, essa é a história da casa de madeira da AMBr que agora está pronta para se transformar em um aconchegante restaurante para sócios e para a comunidade de Brasília. Quem relembra essa história, já um pouco ofus-cada pelo tempo, é um dos funcionários

mais antigo da Associação, Geosvaldo Cornélio de Souza, o popular Gil. Ele tem na mente toda a estrutura da velha casa: três salas grande, sendo uma em L; sala vip, sala de entrada, varanda com duas portas, três banheiros – masculino, feminino e um especial para deficientes; área dos fundos, cuja parte ganhou paredes de alvenaria e foi transformado em um grande depósito. São ao todo sete portas. A madeira resiste ao tempo e a casa adapta-se aos novos planos.

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Cultura

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Crônicas de um médico pioneiro

Dr. Celio Menicucci é médico pioneiro de Brasília. Trabalha no Supremo Tribunal Federal (STF) há 40 anos e se formou há mais de 60. Tem 85 anos e foi médico de Juscelino Kubitschek. Escreve crônicas sobre “causos” dos tempos da medicina na Cidade Livre e pretende em breve reuni-los em livro. Seguem duas de suas crônicas para degustação.

Agressão do tatu Plantão de domingo. Sozinho no hospital para resolver todos os casos. Os colegas todos fora, passeando em Goiânia.

Tarde quente e ensolarada, calor sufocante quando chega um soldado conduzindo uma jovem mulher assim dos seus trinta anos com o rosto todo ensanguentado.

O soldado, muito zeloso de suas funções, o famoso bate-pau da GEB - como era cognominado o Grupo Especial de Brasília, que era a polícia militar da época - me pediu para, além do atendimento médico, fazer um relatório para o Gemelê (Gabinete de Medicina Legal), pois se tratava de uma agressão.

Realmente o rosto da ceroula mais parecia uma posta de sangue.

Caprichei bastante na sutura que ficou digna de um Ivo Pitangui e fui preparar o laudo para entregar ao bate-pau da GEB.

– Como se deu isso, minha chapa? Perguntei à malograda cidadã.

– Fui agredida com uma tatuzinha.

E não disse mais nada, nem lhe foi perguntado.

Fiquei imaginando como é que um tatu poderia fazer tamanho estrago. Quanto mais sendo do sexo feminino.

Enfim, entre o céu e a terra, existem coisas que nosotros não entendemos.

Fiz o relatório, descrevi as lesões e entre-guei-o ao tréfego representante da lei.

– Doutor, por acaso não encontrou algum pedaço da garrafa pra gente poder comprovar melhor?

– Pedaço de garrafa? Não. Além do mais a vítima foi agredida por um tatu.

– Tatu? Que isso doutor, eu mesmo vi. Foi com uma garrafa de “Tatuzinho” - que era a cachaça muito em voga naquela ocasião.

A filaD. Tercila era a nossa atendente no Hospital do IAPI em Brasília. Era ela quem trazia os prontu-ários, era ela quem chamava os candangos e os encaminhava aos consultórios, o meu e o do Dr. Cardoso (o Dr. “Pontaria” como o chamavam, pois tinha ptose palpebral de um lado e parecia que estava sempre fazendo mira).

O número de clientes era enorme. Naquele tempo não se marcava consulta. Quantos chegavam, tantos eram atendidos.

Aconteceu que se alastrou uma epidemia de varicela, sarampo, caxumba e até casos de varíola tivemos, inclusive com óbitos.

D. Tercila, muito expedita, organizava as filas de acordo com a patologia que lhe parecia ter o paciente.

– Os de varicela aqui, os de sarampo aqui, os de alastrin aqui, os de papeira aqui, e os mandava entrar no consultório em grupos

de três, facilitando em muito o trabalho do doutor, pois raramente ela se enganava.

– Oh moço, o que você tá fazendo aí? Moço. Você não tá vendo que está em fila errada? Onde já se viu? Você com sarampo em fila de catapora? Depois o doutor te dá remédio errado, você vai reclamar.

– Me desculpe, dona, eu não sei a doença que eu tenho.

Dr. Celio Menicucci

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O poeta no nosso quintal

O fotógrafo dos quadros

O poeta e empresário do setor de jardinagem Nicolas Behr, autor do famoso verso “nem tudo que é torto

é errado/ veja as pernas do Garrincha/ e as árvores do cerrado”, visitou no final de 2016 a sede da AMBr. Ele ficou encantado com as árvores nativas e frutíferas espalhadas pelo espaço do Clube dos Médicos. Como amante da natu-reza e conhecedor das árvores do cerrado, Nicolas propôs a identificação de todas as espécies plantadas no terreno da Associação com pequenas placas contendo tanto o novo popular como o científico de cada uma.

“Quem sabe começamos agora essa identificação e fina-lizamos em setembro, no Dia da Árvore, com uma festa com a participação de crianças da comunidade médica. Na ocasião poderíamos plantar um Baobá de porte médio na AMBr, árvore que é sagrada na África. Poderíamos trazer uma contadora de história para falar sobre o Baobá. Assim, a criançada iria conhecer um pouco mais sobre a história desse monumento da natureza africana”, propôs o poeta.

Com quatro livros autorais publicados – fora os institu-cionais, que já são mais de 30 – o fotógrafo brasiliense

Luis Clementino é desses profissionais que vê além do foco da máquina. No seu livro “Iorubá”, todo fotografado no litoral nordestino, especialmente o baiano, Clementino transforma paisagens em verdadeiro quadros hiperrealistas. Recentemente, ele foi contratado para documentar todos os recantos da Associação Médica de Brasília, o que tem feito com a maestria de sempre.

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Confraternização

Para finalizar as atividades de 2016 com chave de ouro e dever cumprido,

concentrando boas energias para um 2017 cheio de vitórias e realizações, os funcioná-rios da AMBr tiveram uma festa de confra-ternização no salão Prime da Associação, às vésperas de Natal. A equipe de Eventos e a diretoria da Associação prepararam um almoço impecável com o buffet Carmem Fernandes, decoração da Maria Helena Design de Eventos e som de Marcello Souto Mayor e Erick. A festa se estendeu até o final do dia, e os funcionários animaram-se ao receberem os presentes da instituição e participar do sorteio de brindes oferecidos por empresas parceiras.

O presidente da AMBr Dr. Luciano Carvalho. O motorista Valter e o vice-presidente Ognev Cosac.

A secretária Fabiana e o Dr. Luciano Carvalho.

A equipe de Comunicação: Camila, Karina, Luciana, Caio, Turiba e Cristiane.

Os funcionários Hélio, Marcelo, Ivan, Francisco, Valter, Leandro, Reginaldo e Raimundo (blusa azul).

As funcionárias Vaneila e Selma.

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Destinos

O fim do mundo é na Patagônia, mas vale a pena sentir frio lá

Pense numa aventura onde desembar-ca-se num lugar fascinante e logo se lê

na primeira placa que os olhos alcançam: “Aqui é o fim do mundo”. É isso que acon-tece com turistas que se aventuram a enfrentar e vencer o frio e os desafios da Patagônia e chegar a Ushuaia, a 3.000 quilômetros de Buenos Aires, bem lá no finalzinho da América do Sul. A tempera-tura lá nunca é superior a 10 graus, isso sem falar dos constantes ventos uivantes. Pronto, prepare-se: você chegou quase na esquina da Antártica.

Ushuaia, a cidade mais meridional do planeta, é fim de linha para os que desejam conhecer a Patagônia argentina. Cidade de nome indígena, é a capital de uma província conhecida como Tierra del Fuego, alcunha que vem da época em que navios estrangeiros passavam rumo a Antártica e avistavam as fumaças das fogueiras de povos nômades. Essa região é dona de uma geografia selvagem que fascina os que vêm de terras distantes – colônias de pinguins, icebergs, glaciais, e grandes mamíferos marinhos, além de estreitos e árvores retorcidas que moldam uma paisagem fabulosa.

Mas a Patagônia é muito maior que a indes-critível Ushuaia. Ocupa parte significativa do território portenho e tem uma pequena extensão além da fronteira com o Chile. A região deslumbra por seus cenários ora inóspitos, ora arrebatadores. De um lado,

os Andes, gigantes nevados de granito que fazem a alegria de montanhistas, esquia-dores ou daqueles que simplesmente amam uma paisagem de cartão-postal. Do outro, a leste, o Oceano Atlântico, gelado por conta das correntes antárticas, mas rico em espécies marinhas, como pinguins, focas, baleias e orcas. De cara, o primeiro aviso:

é impossível conhecer a Patagônia em apenas uma viagem. Seria como explorar toda a Amazônia em apenas duas semanas. Planeje, então, recortes de trajetos.

“Quem visita a Patagônia está atrás de uma aventura paisagística. São lagos, monta-nhas, geleiras. Há momentos que você joga

A beleza da Geleira Perito Moreno impressiona os turistas que conseguem chegar perto do monumento.

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Destinos

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o seu corpo contra a vento debruçando-se e não cai no chão. É a terra dos ventos”, conta a psicóloga Maria de Lourdes Andrade, mineira-carioca que no verão passado, junto com a irmã, filho e sobrinhos, fez uma viagem de 30 dias de Buenos Aires até Ushuaia, passando por El Chaten, El Calafate, o Maciço de Fritz Roe, cruzando o Estreito de Magalhães.

Mas para a maioria dos brasileiros o batismo patagônico acontece em Bariloche, na província argentina de Rio Negro. Deslumbrante no verão, quando é possível

praticar canoagem e wind-surf nas águas do lago Nahuel Huapi, chama mesmo a atenção durante a temporada de esqui, de junho a setembro. O barato por lá é montar a cavalo, praticar a pesca com fly ou divertir-se em longas cami-nhadas em trilhas monta-nhosas. Na região também fica o Parque Nacional, repleto de belas florestas de araucária, vulcões nevados e lagos cristalinos, como o Huechulafquen.

O segundo destino reco-mendado é El Calafate, onde se encontra o magní-fico glaciar Perito Moreno, uma das vistas mais belas da América do Sul e patri-mônio da biosfera. Próximo dali, para estadias prolon-gadas, estão El Chaltén (terra dos picos Fitzroy e Cerro Torre) e outra mara-vilha da natureza, as

famosas Torres del Paine Torres, no lado chileno da fronteira. Um roteiro para estes três destinos deve ter, no mínimo, um semana e inclui alguns dos mais encanta-dores trekkings do mundo, com níveis que variam do leve (tomando apenas um par de horas) ou extenuantes, como os clás-sicos “O” e “W”.

O terceiro conjunto de atrações da região são cidades litorâneas e seus parque marí-timos. Viedma, Trelew, Comodoro Rivadavia e Río Gallegos são a ponta de lança para observar baleias-francas, leões-marinhos, pinguins de magalhães e pássaros das mais variadas espécies. Do Rio Colorado, ao norte, à Estância Monte Dinero, próxima ao Cabo Virgenes, no extremo sul, são mais de 1700 km de estradas inóspitas, mas

Como chegarA Lan (www.lan.com) e a Aerolíneas Argentinas (www.aerolineas.com.ar) voam de Buenos Aires para essas cidades por tarifas a partir de US$ 185. O aeroporto fica a 15 minutos de táxi do Centro de Ushuaia.Como circularNa cidade, dá para se virar a pé. As atrações estão espalhadas, mas é fácil chegar a elas por meio de táxi, ônibus, transfer ou com as agências que organizam passeios. Há locadoras de veículo para quem prefere seguir por conta própria.Sites a consultarwww.terramundi.com.br/Patagoniawww.sanmartindelosandes.gov.ar/turismo

de violenta beleza, ora sob forte chuva e ventos, ora aproveitando um céu de tons inimagináveis de azul. Puerto Madryn é um dos melhores centros logísticos da área, perfeito para poder explorar a fantás-tica Península Valdés. Dali pode-se pegar um caiaque e passear bem próximo aos curiosos elefantes-marinhos. Outro destino recomendável é o Parque Nacional Monte León, com suas extraordinárias falésias.

Monte Fitz Roy (ao fundo da foto) é um dos cartões postais da viagem à Patagônia.

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