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VAMOS FALAR COM A POPULAÇÃO DE 60+? Por Miriam Steinbaum Fernanda Campanini Luciana Obniski Cassio Damacena

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VAMOS FALAR COM A POPULAÇÃO DE 60+?

Por Miriam Steinbaum Fernanda Campanini Luciana Obniski Cassio Damacena

Page 2: VAMOS FALAR COM A POPULAÇÃO DE 60+?...VAMOS FALAR COM A POPULAÇÃO DE 60+? A COVID-19 expôs várias angústias presentes nos indivíduos, mas também algumas das feridas sociais

VAMOS FALAR COM A POPULAÇÃO DE 60+? A COVID-19 expôs várias angústias presentes nos

indivíduos, mas também algumas das feridas sociais

brasileiras, que definem quem somos como país, nossa

cultura e nossas perspectivas de futuro.

Os fatos: portadores de doenças crônicas, bem como

aqueles que têm seu sistema imunológico de alguma

forma comprometido são os mais propensos a ter

complicações e morrer de COVID-19.

Entretanto, se é verdade que estas comorbidades

têm maior incidência entre os maiores de 60 anos,

o oposto não é verdadeiro, ou seja: não apenas os

mais idosos apresentam doenças crônicas ou

comprometimentos imunológicos, mas também –

como estamos vendo mais claramente no Brasil – os

jovens obesos, a população de menor renda, aqueles

que moram em condições mais precárias e todos que

têm menor acesso aos cuidados cotidianos de saúde.

Tampouco é verdadeiro que apenas este grupo de

maior risco poderá ter um quadro grave de COVID-19,

que leve ao óbito. E aqui a palavra-chave é o maior

risco, um conceito que para nós, pesquisadores,

habituados com dados estatísticos e de incidências,

parece bastante claro.

Entretanto, a mesma informação parece confrontar a

sociedade brasileira, com seus próprios temores,

ansiedades e preconceitos, cenário agravado pela

extrema polarização política atual. Assim, com a

COVID-19 passamos a ouvir mais frequentemente nas

mídias um termo derivado inglês – o ageísmo – ou

seja, em poucas palavras, preconceito contra idosos.

A percepção deste preconceito veio aliada ao discurso

subliminar (ou explicito) de que aqueles com mais de 60

anos não produzem e não são mais capazes de contribuir

social ou economicamente, que sua perda seria menos

relevante do que a de jovens. A grande mácula por trás

desse discurso é a desumanização do idoso, que se

torna cifra abstrata, mortos em vida. Tal visão tem

consequências importantes sobre a saúde física e mental

dos próprios idosos, mas parece revelar uma doença

maior, da nossa própria sociedade.

Para profissionais que atuam junto a esse segmento,

como psicólogos e médicos, é fundamental que as

gerações mais jovens transformem o seu olhar acerca

dos idosos, não só por que estes têm conhecimentos e

experiências valiosas a transmitir, mas também por que

a sociedade brasileira está envelhecendo e o seu

próprio bem-estar social passará pela valorização

e melhor aceitação do idoso.

Vale considerar que os adultos de hoje chegarão em

breve à velhice e poderão sofrer também com o ageísmo.

Em 2050, globalmente, teremos uma população de

60+ maior do que a de jovens adultos de 18-24 anos

e, no Brasil, este target deverá representar 30% da

população, chegando muito próximo dos percentuais de

países como a Itália hoje. O fenômeno é ainda mais

evidente no Brasil diante do declínio particularmente

acentuado nas taxas de natalidade.

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Este tema foi bastante explorado na análise

conduzida pela Ipsos no Reino Unido, em 2019,

chamando atenção para uma consequência

natural da redução das taxas de natalidade e

do incremento nas condições gerais de saúde

pública: o envelhecimento da população em vários

países e o surgimento de uma nova geração

de idosos produtivos e engajados na vida

contemporânea – os perennials.

População Mundial: Estimativas UN

População 60+ em 2015 e em 2050

Fonte: UN, WPA, 2015

Fonte: Ipsos, Perennials: The future of ageing

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SILVER ECONOMYO mesmo estudo indica que a chamada “silver

economy” (que tem por motor a população de 50+)

é responsável por uma parcela significativa das

despesas das famílias em todo o mundo e se fosse

uma nação soberana, seria a terceira maior

economia do mundo.

Como chama atenção o CEO da Ipsos no Brasil

Marcos Calliari: ”Não devemos apenas observar

como as gerações mais velhas se comportam de

maneira diferente, mas também como elas afetam o

comportamento de outras pessoas, assim como a

dinâmica da família e de nossas cidades – por exemplo,

processos de mobilidade e compra (...)”.

Ainda, antes da COVID-19, era possível observar o

nascimento de algumas discussões interessantes

sobre a questão da inserção social da população 60+:

uma geração de mulheres empoderadas estava

começando a chacoalhar a invisibilidade que sempre

perseguiu esse target, para poder se reafirmar na sua

própria feminilidade.

Um marco claro neste sentido foi o retorno de Isabella

Rossellini, então com 65 anos, agora com 67 anos, aos

comerciais de Lancôme, depois de duas décadas da

sua primeira passagem pela marca.

A revista Forbes dizia: ”As mulheres dessa faixa etária

não são idosas de cabelos grisalhos. Elas são aptas,

jovens e cheias de vida. Estão prontas para gastar

e viver. Sua renda disponível é mais abundante e é

alocada de maneira diferente” – com mais espaço para

o lazer, o turismo e o luxo.

COMO ESTARÁ ESSE SEGMENTO NO PÓS-COVID-19? Teremos voltado a ser velhinhas modelo Dona Benta?

Ainda, segundo dados Ipsos, a percepção global é de

que o envelhecimento começa aos 66 anos, não tão

diferente do que vemos no Brasil, onde a maioria parece

posicionar o envelhecimento no marco dos 64 anos.

Estes marcos permanecerão válidos pós-COVID-19

ou já começaram a ser ressignificados?

Sabemos que os momentos de crise afetam

comportamentos, prioridades, mas não

necessariamente valores de um grupo social.

Entretanto, as marcas podem ajudar na transformação

do “ageismo” que mostrou sua face dura na pandemia.

Como diz André Foresti, o chamado ”novo normal” nada

mais é do que a tomada de consciência ou o fato de

prestarmos maior atenção nos impactos de tudo que

já estava aí – digitalização extrema, ressignificação do

trabalho, problemas socioeconômicos, marginalização

de alguns grupos, racismo etc.

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De certa forma, a pandemia aguça nosso olhar,

retirando-nos da nossa zona de conforto:

da nossa normalidade cheia de stress e

comportamentos automáticos.

Agora, sem anestesia, podemos considerar a dor

cotidiana do ageísmo, mas também entender suas

novas dimensões trágicas. Ou seja, a pandemia,

retirou o target de um momento de aparente

expansão, em que parecíamos começar a

superar as restrições do tempo cronológico,

para enfatizar uma percepção desumanizada dos

60+, percepção essa escondida sob os véus do

politicamente correto.

Hoje, a batalha para superarmos alguns

estereótipos, sobretudo quanto à capacidade de

adaptação e aprendizado deste target, fica ainda

mais evidente. Já passa da hora de abandonar

essa abordagem que encara a passagem do

tempo como inevitável decrepitude e decadência,

para sermos mais generosos, identificando as

áreas de oportunidade e criando uma narrativa que

ressignifique os marcos cronológicos e geracionais

mais tradicionais.

ACREDITAMOS QUE O MOMENTO IMPÕE NOVAS REFLEXÕES SOBRE O TARGET 60+:No novo cenário, onde grandes restrições

econômicas deverão ser a tônica, como fica a

questão do valor do target 60+?

• Talvez os idosos possam ser valorizados

exatamente por ter uma reserva financeira

que viabilizará aos mais jovens se reerguerem

economicamente, diante do inevitável cenário de

desemprego que se avizinha?

• A resiliência de quem já viveu mais e passou

por mais crises e frustrações pode fazer muita

diferença?

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Como podemos pensar a relação de idade

e saúde; idade e produtividade; idade e

desenvolvimento econômico no cenário pós-

COVID-19?

• Quando as marcas forem falar com esse target,

seria importante considerar a dor do preconceito

contra os idosos em uma sociedade que cultua

tradicionalmente a juventude, como a brasileira.

• Dados globais Ipsos indicam que mais de 80%

deste target não se sentem representados pelas

marcas que costumam comprar e que um foco

maior nas suas necessidades, hábitos e estilo de

vida, bem como uma abordagem mais neutra em

termos de idade, poderia ser visto como mais

interessante e moderno. Isso não deve mudar com

a COVID-19, se não for até acentuado.

Como abordar essa população nas categorias

ligadas à saúde, alimentação saudável e

outros?

Aqui também o tom da comunicação parece

ganhar especial relevância. Trazer uma abordagem

você está bem e pode ficar melhor ainda será

seguramente o nome do jogo.

Existem categorias ou tipos de negócios que

podem olhar especialmente para

esse target?

• De forma mais geral, será importante buscar

inovar na direção de produtos e serviços

compatíveis com essa necessidade pungente

de ser visto, respeitado e tratado como parte

indispensável da sociedade.

• Ainda, toda a temática do envelhecimento

saudável deve ganhar relevância.

• De forma mais específica, por exemplo,

alimentos e suplementos ligados a defesa e

fortalecimento da imunidade.

• Serviços médicos especializados que ajudem

no envelhecimento saudável e no combate às

comorbidades.

• Também, serviços de turismo com maior

segurança e cuidados de assepsia, preservando

a segurança deste grupo de maior risco, mas que

segue tendo interesse em viajar, em ter lazer, em

conhecer e experimentar coisas novas.

• Ou ainda, cursos, sites, apps e gadgets que

potencializem a conexão on-line do segmento.

Atenção, a população 60+ é conectada, mas não

tem necessariamente as mesmas habilidades e,

sobretudo, pode ter outros interesses.

• Novas formas de acesso pessoal ao shopping

center, bancos, supermercados e outros locais

que se tornaram proibidos, como por exemplo:

a garantia de controle de quem entra, uso de

máscara, controle de temperatura, circulação

controlada etc.

• Moradias adaptadas e mais seguras, pensando

tanto no momento atual, bem como em futuros

cenários de isolamento social, contendo ainda

novos equipamentos e serviços de saúde e lazer,

mas sem reforçar o estigma de “asilo”. Afinal, para

todos os targets, ter uma varanda, uma vista

ou um jardim, tornou-se mais importante do

que nunca.

VAMOS FALAR SOBRE O TARGET 60+?

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VAMOS FALAR COM A POPULAÇÃO DE 60+?

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