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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos
Mestrado Profissional
VALORIZAÇÃO DE MATÉRIAS PRIMAS RESIDUAIS: GERAÇÃO D E
ADSORVENTES E CATALISADORES
Autor: ADRIANO DO COUTO FRAGA
Rio de Janeiro, 2013
ADRIANO DO COUTO FRAGA
ii
VALORIZAÇÃO DE MATÉRIAS PRIMAS RESIDUAIS: GERAÇÃO DE ADSORVENTES E CATALISADORES
Orientadores: Eduardo Falabella Sousa-Aguiar Isabel Maria de Figueiredo Ligeiro da Fonseca
Rio de Janeiro 2013
Dissertação de Mestrado Profissional apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências em Engenharia de Biocombustíveis e Petroquímica
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ADRIANO DO COUTO FRAGA
VALORIZAÇÃO DE MATÉRIAS PRIMAS RESIDUAIS: GERAÇÃO DE ADSORVENTES E CATALISADORES
Aprovada em:
Eduardo Falabella Sousa-Aguiar, DSc., UFRJ (Orientador)
Isabel Maria de Figueiredo Ligeiro da Fonseca, DSc., UNL (Orientadora)
Suely Pereira Freitas, DSc., UFRJ
Celmy Maria Bezerra de Menezes Barbosa, DSc., UFPE
Lucia Gorenstin Appel, DSc., INT
Dissertação de Mestrado Profissional apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia de Biocombustíveis e Petroquímica
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F811v Fraga, Adriano do Couto.
Valorização de matérias primas residuais: geração de adsorventes e catalisadores / Adriano do Couto Fraga, 2013. xii, 233 f.: il.
Dissertação (Mestrado em Engenharia de Biocombustíveis e Petroquímica -
Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos) – Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Escola de Química, Rio de Janeiro, 2013.
Orientador: Eduardo Falabella Sousa-Aguiar. 1. Lignina. 2. Casca de palmiste. 3. Carvão ativado. Teses. I. Falabella, Eduardo Sousa-Aguiar. (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa em Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos, Escola de Química. III. Título.
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Aos meus pais Sylvia e Horácio, que
sempre me apoiaram e educaram, e
à minha esposa Andrea. Sem vocês
nada faria sentido.
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AGRADECIMENTOS Primeiramente à Deus e seus enviados, por tudo.
À PETROBRAS e a meu gerente André de Mello Fachetti, por me proporcionarem
esta oportunidade de crescimento pessoal e profissional.
Ao professor e amigo Eduardo Falabella Sousa-Aguiar, referência em diversas áreas
da engenharia química, pela orientação e amizade.
À professora Isabel Maria de Figueiredo Ligeiro da Fonseca pela hospitalidade e
amabilidade com que me recebeu em seu grupo, durante meu treinamento na
Universidade Nova de Lisboa, pela orientação e amizade.
À colega Andrea de Rezende Pinho pela revisão dos relatórios que em muito
contribuíram para este trabalho.
Aos colegas Alex Bicudo, Cristina Pontes e Vitor Ximenes, pelas discussões na área
de sólidos ácidos.
Aos colegas Antônio Carlos Gonçalves, Thiago Alberto Machado e Vinícius
Azevedo, por todo o suporte laboratorial envolvido neste trabalho.
À minha amiga Isabela Brito, pelo apoio nas atividades no trabalho.
À toda minha família que me apoiou nesta trajetória.
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RESUMO FRAGA, Adriano do Couto. Valorização de matérias primas residuais: Geração
de adsorventes e catalisadores . Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Biocombustíveis e Petroquímica) – Escola de Química, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
No presente trabalho foram estudados métodos de geração de carvões ativados
(adsorventes) e carvões sulfonados (catalisadores) a partir de resíduos
lignocelulósicos. A ativação de lignina, oriunda do processo de produção de etanol
de segunda geração, foi estudada empregando como agentes ativantes H3PO4 e
ZnCl2 (rota química). Obtiveram-se carvões ativados de excelentes características
texturais para ambos em temperaturas reduzidas (450°C). Observou-se que a
ativação com H3PO4 gerou carvões com maior quantidade de mesoporos em
comparação ao ZnCl2. Também foi estudada a ativação da casca de palmiste,
proveniente do processo de obtenção de óleo de dendê. A ativação foi realizada
empregando-se como agentes ativantes o CO2, vapor d’água ou mistura destes (rota
física). Nesse caso, também foram obtidos carvões ativados com excelentes
propriedades, apresentando superfícies específicas superiores a 1000m2/g para
ambos os agentes. A ativação com vapor d’água apresentou taxa quatro vezes
superior e gerou carvões com maior quantidade de mesoporos, em comparação ao
processo com CO2. Porém a ativação com CO2 proporcionou maiores rendimentos
mássicos para carvões de mesma qualidade. Finalmente, foi estudada a preparação
de carvões sulfonados, a partir de casca de palmiste. Observou-se que o teor de
grupos sulfônicos obtido passou por um valor máximo em temperaturas de
carbonização de 300°C. Além disso, os testes desses sólidos ácidos para a reação
de hidrólise de celobiose mostraram a dependência linear da conversão com o teor
desses grupos. Nesses testes, os carvões sulfonados obtidos apresentaram
resultados superiores até mesmo a sólidos ácidos comerciais.
Palavras-chave: Lignina, Casca de palmiste, Carvão ativado, Ativação química,
Ativação física, Adsorção, Carvão sulfonado.
viii
ABSTRACT FRAGA, Adriano do Couto. Valorization of residual raw materials: Generation of
adsorbents and catalysts . Rio de Janeiro, 2013. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Biocombustíveis e Petroquímica) – Escola de Química, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.
In this work methods of generating activated carbon (adsorbent) and sulfonated
carbon (catalysts) from lignocellulosic residues were studied. The activation of lignin,
derived from the production of second generation ethanol, was studied using as
activating agents H3PO4 and ZnCl2 (chemical route). The activated carbons, which
were obtained at 450°C, showed excellent textural c haracteristics for both activating
agents. It was observed that the activation with H3PO4 generated carbons with high
quantity of mesopores in comparison with ZnCl2. The activation of palm kernel shell,
from the process of obtaining palm oil was also studied. The activation was carried
out using activating agents such as CO2, steam, or a mixture thereof (physical route).
In this case the activated carbons obtained showed had excellent properties, having
specific surfaces higher than 1000m2/g for both agents. The activation with steam
presented a rate four times higher and generated a carbon with a larger amount of
mesopores, in comparison with the CO2 process. But the CO2 activation resulted in
higher mass yield for carbons of similar quality. Finally, the preparation of sulfonated
carbons from palm kernel shell was also studied. It was observed that the content of
sulfonic groups obtained attained a maximum value in the carbonization temperature
of 300°C. Furthermore, testing of these solid acids for the hydrolysis reaction of
cellobiose showed a linear dependence on the conversion with the content of these
groups. In these tests the sulfonated carbons showed superior results compared with
commercial solid acids.
Keywords: Lignin, Palm Shell, Activated Carbon, Chemical activation, Physical
Activation, Adsorption, Hydrolysis, Sulfonated Carbon
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Representação da estrutura porosa de um carvão ativado (BANDOSZ, 2006) .........................................................................................................................20 Figura 2: Representação das estruturas de Tiofeno, Benzotiofeno e Dibenzotiofeno..................................................................................................................................22 Figura 3: Representação esquemática da estrutura de um carvão sulfonado (NAKAJIMA; HARA, 2012) ........................................................................................24 Figura 4: Representação da estrutura do cristal grafítico primário (REINOSO et al, 2006) . .......................................................................................................................27 Figura 5: Representação bidimensional da estrutura de carbonos não-grafíticos e grafíticos (SERP; FIGUEIREDO, 2009). ...................................................................28 Figura 6: Micrografias de alta resolução de um cristal grafítico (a) e (f) carbono não-grafítico (REINOSO et al, 2006) . ..............................................................................28 Figura 7: Representação dos grupos funcionais presentes nas arestas de folhas de grafeno. a) carboxílicos, b) lactona, c) hidroxila, d) carbonila, e) quinona, f) éter, g) pirona, h) anidrido carboxílico, i) cromeno, j) lactol, k) elétrons π no plano basal (SERP; FIGUEIREDO, 2009) ....................................................................................31 Figura 8: Carvão ativado em pó, granular e extrudado (NORIT, 2013) ....................33 Figura 9: Distribuição de volume de poros para carvões aplicados a correntes líquidas e gasosas (Adaptado de CALGON, 1999) ...................................................33 Figura 10: Rotas de ativação para produção de carvões ativados............................34 Figura 11: Fluxograma de uma unidade de produção de carvão ativado por ativação física (CHILTON et al, 2003) .....................................................................................36 Figura 12: Fluxograma de uma unidade de produção de carvão ativado por ativação química (CHILTON et al, 2003) .................................................................................39 Figura 13: Representação de parte da cadeia celulósica, com a ligação β-1,4-glicosídica (ZHOU et al, 2011) ..................................................................................40 Figura 14: Representação esquemática da sulfonação de carvões. (Adaptado de ALDANA-PÉREZ et al, 2012) ....................................................................................57 Figura 15: Opções para precursores de carvões sulfonados ....................................58 Figura 16: Representação esquemática da adsorção na superfície de um carvão (MANOCHA, 2003)....................................................................................................61 Figura 17: Os 6 diferentes tipos de isotermas segundo a classificação da IUPAC (ROUQUEROL; ROUQUEROL; SING, 1999). ..........................................................62 Figura 18: Algumas rotas possíveis a partir de glicose (KOBAYASHI et al, 2011)....65 Figura 19: Mecanismo de hidrólise ácida de celulose (LU, 2010). ............................66 Figura 20: Fragmentação da cadeia de celulose provocada pela hidrólise (Adaptado de SASAKI, 1998) .....................................................................................................67 Figura 21: Efeito da temperatura de ativação na superfície específica com diversos agentes ativantes (Hayashi et al, 2002) ....................................................................75 Figura 22: Efeito da temperatura de ativação na superfície específica com diversos agentes ativantes (Hayashi et al, 2000) ....................................................................76 Figura 23: Rendimento de carbonizado em função da temperatura (Elaboração própria com dados de LUA, LAO e GUO, 2006) .......................................................81 Figura 24: Efeito da temperatura de carbonização nas propriedades texturais de carvões ativados (LUA, LAU, GUO, 2006) ................................................................82 Figura 25: Efeito do tempo de carbonização nas propriedades texturais de carvões ativados (LUA, LAU e GUO, 2006)............................................................................83
x
Figura 26: Efeito da vazão de nitrogênio na carbonização nas propriedades texturais dos carvões ativados (LUA, LAU e GUO, 2006) .......................................................84 Figura 27: Efeito da taxa de aquecimento na carbonização nas propriedades texturais dos carvões ativados (LUA, LAU e GUO, 2006).........................................85 Figura 28: Efeito do tempo e temperatura de ativação no percentual de queima (DAUD; ALI; SULAIMAN, 2002) ................................................................................88 Figura 29: Isotermas de carvões ativados com diferentes percentuais de queima. (DAUD e ALI, 2004) ..................................................................................................90 Figura 30: Efeito da vazão de CO2 na superfície específica dos carvões (GUO e LUA, 2000) ................................................................................................................92 Figura 31: Efeito do tempo de ativação na superfície específica em diferentes temperaturas (GUO; LUA, 2000)...............................................................................92 Figura 32: Influência da temperatura de ativação na superfície específica (LUA; GUO, 2001)...............................................................................................................94 Figura 33: Efeito da temperatura na superfície específica total e na área de microporos (GUO; LUA, 2002) ..................................................................................95 Figura 34: Representação esquemática dos grupos funcionais presentes em carvões ativados com CO2 (a) e com H2SO4 (b).....................................................................96 Figura 35: Distribuição do tamanho de poros (LUA; JIA, 2009) ................................97 Figura 36: Superfície específica de carvões ativados com CO2, vapor d'água e mistura dos dois agentes, a 800°C (ARENAS; CHEJNE, 2004). ..............................99 Figura 37: Representação esquemática de carvão sulfonado preparado com glicose e ácido sulfúrico fumegante (TAKAGAKI et al, 2006)..............................................108 Figura 38: Representação do fenômeno de absorção de compostos hidrofílicos pela estrutura do carvão sulfonado (NAKAJIMA; HARA, 2007)......................................110 Figura 39: Representação da reação de sulfonação (JI et al, 2010) .......................115 Figura 40: Representação esquemática da reação de desidratação da frutose e outras reações paralelas indesejáveis (WANG et al, 2011) ....................................120 Figura 41: Avaliação do efeito das variáveis de preparação nas reações de esterificação e transesterificação (LOU et al, 2012)................................................122 Figura 42: Teste de estabilidade para os sólidos ácidos (LOU et al, 2012) ............123 Figura 43: Polímeros de glicose (RINALDI e SCHÜTH, 2009)................................126 Figura 44: Hidrólise de celobiose usando Amberlyst-15 (a) e carvão sulfonado (b) (KITANO et al, 2008)...............................................................................................127 Figura 45: Conversão de celohexaose e rendimentos em outros oligossacarídeos (KITANO et al, 2008)...............................................................................................128 Figura 46: Conversão versus tempo para diversos ácidos (SUGANUMA et al, 2008)................................................................................................................................130 Figura 47: Representação esquemática do mecanismo de reação de hidrólise de celulose (HARA, 2010)............................................................................................132 Figura 48: Evolução da conversão para as reações de hidrólise de celobiose e celulose (SUGANUMA et al, 2010) .........................................................................134 Figura 49: Representação do mecanismo de mimetização da enzima celulase realizado pelo sólido ácido (SHUAI; PAN, 2012).....................................................138 Figura. 50: Fluxograma de preparação dos carvões ativos.....................................143 Figura 51: Molécula de dibenzotiofeno....................................................................146 Figura 52: Representação esquemática da unidade de preparação de carvões ativados. ..................................................................................................................148 Figura 53: Aparato usado nas reações de hidrólise ................................................152 Figura 54: TGA atmosfera inerte - resíduo..............................................................158
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Figura 55: TGA atmosfera oxidante – resíduo.........................................................158 Figura 56: Superfície específica e tamanho de poros x Tempo de pirólise - Carvões via H3PO4 ................................................................................................................161 Figura 57: Isoterma de adsorção de N2 (77K) no carvão 9.....................................162 Figura 58: Isoterma típica para carvões ativados (REINOSO et al, 2006) ..............163 Figura 59: Superfície específica e tamanho de poros x Tempo de pirólise - Carvões via ZnCl2..................................................................................................................166 Figura 60: Isoterma de adsorção de nitrogênio (77K) dos carvões 15, 18, 20 e 21.................................................................................................................................167 Figura 61: Distribuição de volume de poros para os carvões 15, 18, 20 e 21.........168 Figura 62: Remoção de enxofre em função da concentração de carvão ................171 Figura 63: Isotermas de Langmuir (a), Freundlich (b), Redlich-Peterson (c)...........172 Figura 64: Isoterma linearizada de Freundlich para os carvões 9 e 20 ...................174 Figura 65: Isoterma linearizada de Langmuir para os carvões 9 e 20.....................176 Figura 66: Distribuição de tamanho de partículas para casca de palmiste moída...178 Figura 67: Análise termogravimétrica da casca de palmiste. ..................................180 Figura 68: Espectro de FT-IR para a casca de palmiste. ........................................182 Figura 69: Relações entre percentual de queima, tempo de ativação e superfície específica para carvões de CO2..............................................................................185 Figura 70: Efeito da vazão de vapor d'água na queima e superfície específica......189 Figura 71: Isotermas carvões com CO2...................................................................192 Figura 72: Isotermas carvões H2O. .........................................................................194 Figura 73: Distribuição de volume de poros para os carvões 4CP e 16CP.............195 Figura 74: Valores de pH em função do percentual de queima...............................196 Figura 75: Espectros de FTIR dos carvões preparados com CO2...........................197 Figura 76: Espectros de FTIR dos carvões preparados com vapor d'água.............198 Figura 77: Análise de TGA do carvão 16CP ...........................................................199 Figura 78: Análise de TGA do carvão 3CP2............................................................200 Figura 79: Teor mássico de enxofre em função da temperatura de carbonização.206 Figura 80: Dados de TGA 150-300°C e concentração má ssica de grupos sulfônicos.................................................................................................................................208 Figura 81: Difração de raios X dos carvões sulfonados. .........................................209 Figura 82: Espectros de infra-vermelho dos carvões sulfonados. ...........................210 Figura 83: Evolução da conversão em função da quantidade de grupos sulfônicos presentes.................................................................................................................211 Figura 84:Relação entre grupos sulfônicos e o número de rotação. .......................213 Figura 85: Relação entre seletividade e conversão.................................................213
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Distribuição de tamanho de poros típica em carvões ativos (Adaptado de RUTHVEN, 1984)......................................................................................................30 Tabela 2: Tratamentos oxidativos com peróxido de hidrogênio (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011) ..................................................................................41 Tabela 3:Tratamentos oxidativos com ácido nítrico (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011) ................................................................................................................43 Tabela 4: Tratamentos oxidativos com ozônio (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011) .........................................................................................................................46 Tabela 5: Agente nitrogenantes e teores de N em tratamentos de carvões ativados (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011)............................................................48 Tabela 6: Tratamentos empregados para nitrogenação de carvões ativados (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011)............................................................49 Tabela 7: Tratamentos para sulfurização (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011) .........................................................................................................................54 Tabela 8: Diferenças entre quimissorção e fisissorção. ............................................60 Tabela 9: Variáveis da etapa de carbonização avaliadas e suas faixas (LUA, LAU e GUO, 2006)...............................................................................................................80 Tabela 10: Seleção de artigos sobre ativação física de casca de palmiste.............102 Tabela 11: Características dos carvões sulfonados e rendimento da reação de esterificação (Adaptado de TODA et al 2005) .........................................................107 Tabela 12: Características dos carvões sulfonados preparados com diferentes temperaturas de carbonização (OKAMURA et al, 2006).........................................109 Tabela 13: Características dos carvões sulfonados a partir de vários materiais (LOU et al, 2008) ..............................................................................................................111 Tabela 14: Características dos carvões sulfonados obtidos (Adaptado de ZHANG et al, 2010) ..................................................................................................................116 Tabela 15: Conversão de celulose e rendimento em glicose dos melhores carvões sulfonados (Adaptado de PANG et al, 2010) ..........................................................133 Tabela 16: Rendimentos em oligossacarídeos para a hidrólise de celulose (Adaptado de WANG et al, 2010)............................................................................135 Tabela 17: Influência da temperatura de carbonização no teor de grupos sulfônicos (Adaptado de FUKUHARA et al, 2011) ...................................................................135 Tabela 18: Características dos carvões sulfonados (Adaptado de Ormsby et al, 2012) .......................................................................................................................137 Tabela 19:Variáveis e níveis empregados nos testes .............................................144 Tabela 20: Matriz de amostras preparadas.............................................................144 Tabela 21: Condições de preparação dos carvões ativados...................................149 Tabela 22: Amostras de carvão sulfonado preparadas ...........................................151 Tabela 23: Composição atômica do resíduo ...........................................................157 Tabela 24: Carvões preparados com H3PO4 ...........................................................159 Tabela 25: Carvões preparados com ZnCl2............................................................165 Tabela 26: Características carvões comerciais (NORIT (1), 2012) .........................169 Tabela 27: Parâmetros de Freundlich para os carvões 9 e 20................................175 Tabela 28: Parâmetros da isoterma de Redlich-Peterson para os carvões 9 e 20..175 Tabela 29: Parâmetros de Langmuir para os carvões 9 e 20..................................176 Tabela 30: Resultados da análise imediata da casca de palmiste. .........................178 Tabela 31: Resultados da análise elementar CHNOS da casca de palmiste..........180
xiii
Tabela 32: Composição mássica das cinzas da casca de palmiste. .......................181 Tabela 33: Resultados médios da análise elementar CHNOS para carvões intermediários..........................................................................................................183 Tabela 34: Resultados obtidos para os carvões preparados com CO2 ...................183 Tabela 35: Volumes de poros para as amostras ativadas com CO2. ......................186 Tabela 36: Resultados de área, rendimento e queima para os carvões ativados produzidos...............................................................................................................188 Tabela 37: Teor de cinzas dos carvões ativados preparados .................................200 Tabela 38: Percentual de queima e teor de oxigênio de material carbonizado .......202 Tabela 39: Dados de TGA de amostras de material carbonizado...........................203 Tabela 40: Dados de análise elementar CHNS-O de amostras de carvão sulfonado.................................................................................................................................203 Tabela 41: Concentrações de grupos sulfônicos.....................................................204 Tabela 42: Valores típicos de concentração de grupos sulfonicos e temperatura ótima de carbonização na literatura. .......................................................................205 Tabela 43: Dados de TGA de amostras dos carvões sulfonados............................206
xiv
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................16
1.1 Materiais carbonáceos ................................................................................19 1.1.1 Preparação e utilização de carvões ativados ............................................20 1.1.2 Preparação e aplicações de carvões funcionalizados...............................22
1.2 Objetivos..........................................................................................................25 2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS...............................................................................26
2.1 Carvões ativados .............................................................................................26 2.2 Principais rotas de preparação de carvões ativos ...........................................33 2.3 Sólidos ácidos - Carvões funcionalizados........................................................39
2.3.1 Carvões ácidos funcionalizados................................................................41 2.4 Preparação de carvões sulfonados .................................................................58 2.5 Adsorção. Teoria .............................................................................................59 2.6 Hidrólise...........................................................................................................63
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..................................................................................69
3.1 Carvões ativados – Ativação química de lignina..............................................69 3.1.1 O papel dos agentes ativantes..................................................................71
3.2 Carvões ativados – Ativação física de casca de palmiste................................79 3.3 Carvões sulfonados .......................................................................................105
3.3.1 Carvões sulfonados e a hidrólise de oligossacarídeos............................125 4. MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................142
4.1 Carvões Ativados de lignina ..........................................................................142 4.1.1 Materiais..................................................................................................142 4.1.2 Preparação..............................................................................................142 4.1.3 Testes de adsorção de compostos com enxofre.....................................145
4.2 Carvões Ativados de casca de palmiste ........................................................146 4.2.1 Materiais..................................................................................................146 4.2.2 Preparação..............................................................................................147
4.3 Carvões sulfonados .......................................................................................150 4.3.1 Materiais..................................................................................................150 4.3.2 Preparação..............................................................................................151 4.3.3 Testes de hidrólise de celobiose .............................................................151
4.4 Caracterização...............................................................................................153 4.4.1 Adsorção de nitrogênio ...........................................................................153 4.4.2 Teor de cinzas.........................................................................................153 4.4.3 Determinação de pH ...............................................................................153 4.4.4 Análise termogravimétrica.......................................................................153 4.4.5 Espectroscopia no infra-vermelho...........................................................154 4.4.6 Análise elementar CHNSO......................................................................154 4.4.7 Fluorescência de raios X (FRX) ..............................................................154 4.4.8 Análise imediata......................................................................................155 4.4.9 Difração de raios X (DRX).......................................................................155 4.4.10 Fluorescência de ultra-violeta (UV) .......................................................155 4.4.11 Cromatografia líquida (HPLC) ...............................................................156
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................................157
xv
5.1 Carvões Ativados de lignina ..........................................................................157 5.1.1 Caracterização da matéria-prima residual...............................................157 5.1.2 Carvões preparados com ácido fosfórico ................................................159 5.1.3 Carvões preparados com cloreto de zinco ..............................................164 5.1.4 Testes de adsorção de compostos com enxofre.....................................170
5.2 Carvões Ativados de casca de palmiste ........................................................177 5.2.1 Caracterização da casca de palmiste......................................................177 5.2.2 Carbonização – caracterização dos carvões intermediários ...................182 5.2.2 Ativação com dióxido de carbono ...........................................................183 5.2.2 Ativação com vapor d’água .....................................................................187 5.2.3 Ativação com mistura dióxido de carbono e vapor d’água ......................190 5.2.4 Caracterizações dos carvões ativados....................................................191
5.3 Carvões sulfonados .......................................................................................202 5.3.1 Caracaterização dos carbonizados .........................................................202 5.3.2 Caracterização dos carvões sulfonados..................................................203 5.3.3 Testes de hidrólise de celobiose .............................................................210
6. CONCLUSÕES ...................................................................................................214
6.1 Carvões ativados de lignina...........................................................................214 6.1.1 Adsorção de compostos contendo enxofre .............................................214
6.2 Carvões ativados de casca de palmiste.........................................................214 6.3 Hidrólise de celobiose com carvões sulfonados ............................................215 6.4 Global ............................................................................................................216
REFERÊNCIAS.......................................................................................................217
16
1 INTRODUÇÃO
A produção de biocombustíveis vem avançando cada vez mais no mundo. Os
principais motivadores para esse crescimento são a busca por segurança
energética, tornando os países menos dependentes de importações de petróleo e
pressões por combustíveis com menor pegada de carbono, que não contribuam para
o aquecimento global. Há, também, a necessidade de combustíveis que emitam
menos SOx e NOx para a atmosfera. Graças a esses motivadores, governos de
vários países vêm implantando programas de produção de biocombustíveis
(GASPARATOS, STROMBERG e TAKEUCHI, 2012).
Neste cenário, os biocombustíveis que vêm ganhando mais destaque são o
etanol e o biodiesel, apresentando produção mundial da ordem de 58 milhões de
toneladas de óleo equivalente em 2011, sendo cerca de 27,5% de biodiesel e o
restante etanol (BRITISH PETROLEUM, 2012).
Desde 1975 o Brasil vem investindo em obtenção de etanol através da rota de
fermentação de açúcares presentes no caldo da cana-de-açúcar, obtido através da
prensagem desta. Essa rota de produção gera milhões de toneladas anuais de
resíduos agrícolas, principalmente o bagaço de cana, que é parcialmente queimado
para geração de energia para as usinas. (ANDRADE; VERÍSSIMO, 2011; DIAS et al,
2010)
Mais recentemente vêm sendo anunciados investimentos em uma nova rota
de produção de etanol, que utiliza como matéria prima o bagaço gerado nas usinas
sucroalcooleiras em funcionamento. Através desta rota as frações celulósicas e
hemicelulósicas que compõe o bagaço são convertidas em açúcares, os quais são
posteriormente fermentados, gerando etanol (LANE, 2012).
Esta rota de produção de etanol, conhecida como etanol de segunda geração,
gera um resíduo sólido, composto principalmente pela lignina, que é uma fração que
representa de 20 a 30% em massa do bagaço (CARDONA; QUINTERO; PAZ,
2010).
Recentemente, foram anunciados quatro grandes projetos de produção de
etanol de segunda geração no Brasil. A empresa GraalBio implantará uma unidade
de 82 milhões de litros de etanol celulósico por ano prevista para 2013. A empresa
Raízen anunciou uma unidade de 40 milhões de litros de etanol celulósico por ano
para 2014. O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) também anunciou planos de
17
instalação de uma unidade demonstrativa de 4 milhões de litros de etanol celulósico
por ano. A Petrobras anunciou a intenção de iniciar produção de etanol celulósico
em 2015, mas não divulgou a escala de produção. No mundo existem cerca de 60
projetos de implantação de unidades de etanol celulósico, sendo 17 destes em
escala comercial (OSCAR, 2012).
Com um rendimento médio de 300l de etanol por tonelada de bagaço seco,
conforme divulgado pela Petrobras em 2012 (SCHILL, 2012), apenas as unidades já
anunciadas no Brasil consumiriam 420.000t de bagaço, gerando cerca de 84.000t de
lignina anualmente. A valoração deste resíduo poderia ser uma forma de melhorar o
balanço econômico destas unidades.
O biodiesel é obtido pela transesterificação de triglicerídeos para obtenção de
ésteres de ácidos graxos. Apesar da fonte de triglicerídeos empregada ser bastante
flexível, atualmente no Brasil 77% da produção de biodiesel é realizada empregando
o óleo de soja como matéria prima (BARROS, 2012). Porém, devido aos altos custos
relacionados a essa commodity, os produtores vêm-se voltando cada vez mais para
alternativas mais baratas (BARROS, 2012).
Segundo a ABIOVE (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais)
o custo de matéria prima representa cerca de 80% do custo do biodiesel. De fato,
em 2012, o preço de venda em leilão do biodiesel produzido foi um pouco superior a
R$2500 / m3 de biodiesel; considerando-se que o preço do óleo de soja variou de
R$2300 a R$2500 por tonelada em 2012, pode-se perceber que as margens de
lucro são bastante reduzidas.
Outras oleaginosas além da soja vêm sendo experimentadas como matéria
prima para produção de biodiesel, dentre elas se destacam o algodão, a palma
(dendê), a mamona, o pinhão manso e o girassol. Contudo, problemas técnicos
relacionadas à composição do óleo obtido e/ou à logística de fornecimento desses
óleos ainda dificultam a sua aplicação em ampla escala. (CÉSAR; BATALHA, 2010;
PINTO et al, 2005)
Para a obtenção de óleos vegetais de oleaginosas estas sementes passam
por processos de extração que separam o óleo do resíduo sólido. A quantidade e
tipo de resíduo sólido irá depender do tipo de oleaginosa que é processada. Mas a
geração do resíduo sólido a partir de qualquer oleaginosa selecionada é um fato
indiscutível. No caso da soja, especificamente, o farelo gerado na extração do óleo
tem grande mercado consumidor para produção de rações, mas para outras
18
oleaginosas novas aplicações precisam ser desenvolvidas (GENTIL; SERRA;
CASTRO, 2012, NUNES; FRANCA; OLIVEIRA, 2009; RAMACHANDRAN et al,
2007)
A palma, também conhecida como dendê, é uma alternativa importante para
produção de biodiesel, por ser uma planta perene e apresentar alta produtividade
por hectare, cerca de 27 vezes a produtividade da soja (ABDULLAH et al, 2009, LIM;
TEONG, 2010). Neste sentido, o governo brasileiro lançou, em 2010, o Programa
Nacional de Produção Sustentável de Óleo de Palma (PSOP) visando promover o
aumento da produção deste óleo no norte do Brasil.
Dentro deste programa a empresa Agropalma já possui 40.000 hectares de
plantações de palma em produção, sendo a maior produtora de óleo de palma do
Brasil (MAGALHÃES; DROUVOT, 2009). A Vale também anunciou plantio de 60.000
hectares de palma para produção de 160.000 toneladas de biodiesel por ano no
Pará, com investimentos da ordem de US$500 milhões.
A Petrobras também está investindo no plantio de palma em 12.000 hectares
no Pará para atingir a produção de 300.000 toneladas de óleo de palma por ano,
apenas para o projeto Belém, em parceria com a GALP Energia. Além deste, o
projeto Biodiesel Pará, também em implementação, prevê a instalação de duas
unidades extratoras de óleo de palma e uma unidade de Biodiesel com capacidade
para 250.000 toneladas por ano deste biocombustível. (PETROBRAS, 2010a,
2010b).
A implantação de todos esses empreendimentos irá gerar quantidades
enormes de resíduos sólidos provenientes da extração do óleo de palma. Apenas
nos projetos da Petrobras mais de 70.000 toneladas de resíduos sólidos serão
gerados, já que somente a casca de palmiste representa 5,5% da massa da fruta
fresca (BASIRON, 2005).
Portanto, é importante destacar o seguinte fato: o que há de comum tanto nas
rotas de produção de etanol, quanto nas de produção de biodiesel vistas
anteriormente, é que invariavelmente ocorre uma geração de resíduos orgânicos
sólidos os quais, normalmente, são queimados para a geração de energia. Além
disso, também há uma dificuldade em viabilizar estas rotas comercialmente já que
os produtos obtidos concorrem com os de origem fóssil. Com isso, a implantação de
novas unidades de biocombustíveis muitas vezes se torna dependente de
19
legislações ou incentivos à produção como a renúncia de impostos por parte dos
governos. (DIAS et al, 2011)
Neste sentido, um melhor aproveitamento das correntes residuais geradas por
estes processos, através da geração de materiais de alto valor agregado, pode ser
uma importante ferramenta para melhorar o balanço econômico dos processos de
produção de biocombustíveis.
Uma alternativa importante para a geração de materiais de alto valor
agregado seria a obtenção de carvões ativados e outros derivados carbonáceos a
partir desses resíduos sólidos, os quais apresentam alto teor de carbono.
1.1 Materiais carbonáceos
Carvões ativados são materiais carbonáceos amorfos, que contêm alguma
microcristalinidade e apresentam alta porosidade e superfície interparticular
(BANSAL, et al. 2005). Devido a estas características apresentam alta superfície
específica, a qual pode atingir valores superiores a 2000 m2/g. Sua produção
remonta a séculos atrás e possuem uma ampla gama de aplicações. Várias matérias
primas podem ser utilizadas para a produção de carvão ativado, sendo as mais
comuns carvão mineral, casca de coco, madeira e lignita; porém, a princípio
qualquer fonte de carbono pode ser usada para fabricação destes materiais
(CARROT et al, 2010).
A estrutura dos poros, que confere aos carvões ativados uma alta superfície
específica, possibilita que o carvão possua excelentes características para
processos de separação, adsorvendo seletivamente compostos em sua estrutura
(BANSAL et al, 2005). Por outro lado, o tamanho dos poros e a existência de
intensas forças de Van der Waals na proximidade das paredes destes permitem a
ocorrência do fenômeno de adsorção de forma mais intensa (REINOSO et al, 2006)
Os poros presentes nos carvões ativados podem possuir diferentes dimensões.
Segundo a IUPAC, em função de seu diâmetro (d), poros podem ser classificados
como macroporos (d>50,0 nm); mesoporos (2,0<d<50,0 nm) e microporos (d<2,0
nm). A Figura 1 mostra uma representação esquemática da estrutura porosa dos
carvões ativados.
20
Gases e químicos
Carvão Ativado
Poros
C arvões ativados adsorvem gases e químicos
Gases e químicos
Carvão Ativado
Poros
C arvões ativados adsorvem gases e químicos
Figura 1: Representação da estrutura porosa de um carvão ativ ado (BANDOSZ, 2006)
1.1.1 Preparação e utilização de carvões ativados
A preparação de carvões ativados normalmente envolve duas etapas, sendo
a primeira a carbonização da matéria prima em temperaturas abaixo de 800°C em
atmosfera inerte e em seguida a ativação do material carbonizado utilizando um
agente ativante (BANSAL, et al. 2005).
As propriedades que definem a capacidade de adsorção de um carvão
ativado são sua superfície específica, tamanho e volume de poros e grupos
químicos superficiais presentes. Esse conjunto de propriedades geralmente tem
ligação com a matéria precursora utilizada.
Os principais usos comerciais de carvões ativos são no tratamento de água,
em purificações na indústria alimentícia e farmacêutica, como suportes de
catalisadores e em purificação de diversas correntes gasosas.
A utilização dos carvões ativados vem apresentando grande crescimento nos
últimos anos. Em 2003 a produção anual de carvão ativado mundial era de 400.000
toneladas e relatórios recentes indicam uma projeção para 2017 de um mercado de
2,7 bilhões de toneladas. Em 2011, somente o mercado americano utilizou 1,2
milhões de toneladas de carvão ativo. (GLOBAL INDUSTRY ANALYSIS, 2012).
Existem centenas de empresas fabricando carvões ativados no mundo. As
maiores produtoras mundiais de carvão ativado são CECA Specialty Chemicals,
Calgon Carbon, Chemviron Carbon, Clarimex, Haycarb, Kuraray Chemical,
MeadWestvaco, NORIT Americas e Osaka Gas Chemicals.
O crescimento da demanda vem sendo puxado por legislações mais
exigentes para despejo de efluentes líquidos e gasosos. Um exemplo de aplicação
21
em grande escala que vem tendo crescimento de 12% ao ano é a remoção de
mercúrio de gases de termoelétricas a carvão. O valor de mercado deste material
varia de acordo com a sua qualidade podendo chegar a US$ 3000 a tonelada
(GLOBAL INDUSTRY ANALYSIS, 2012)
Outra aplicação interessante que vem sendo estudada para os carvões
ativados é a remoção seletiva de hidrocarbonetos de alto peso molecular que
contêm enxofre em sua composição, de correntes de combustíveis derivados de
petróleo (SEREDYCH; BANDOSZ 2009, 2010a, 2010b, 2011a, 2011b, SEREDYCH,
et al, 2009, 2012, SEREDYCH; KHYNE; BANDOSZ, 2012, FALLAH; AZIZIAN, 2012,
NETO et al, 2011, DELLIYANNI; SEREDYCH; BANDOSZ, 2009, JEON et al, 2007,
ANIA; BANDOSZ, 2006, 2005, KIM et al, 2006, HERNANDEZ-MALDONADO et al,
2005)
Ao longo dos últimos anos as especificações dos combustíveis com relação à
quantidade de enxofre permitida vem-se tornando cada vez mais restritiva. A
especificação para enxofre no diesel metropolitano no Brasil foi de 50ppm em 2012
e para 2013 é de 10ppm (ANP, 2011). Para a gasolina, a especificação atual é de
800ppm mas a partir de 2014 este valor será reduzido para 50ppm (ANP, 2009).
Para atender a tais especificações, os refinadores vêm lançando mão de
processos de hidrogenação desses combustíveis. No entanto, para alcançar níveis
tão baixos de concentração de enxofre a severidade destes processos vem se
tornando cada vez maior, podendo chegar a temperaturas de 300 a 400°C e
pressões de 200bar de hidrogênio (NETO et al, 2011).
Os processos de hidrogenação tem alta eficiência para remoção de tióis,
sulfetos e dissulfetos, mas compostos tiofênicos são mais refratários à
hidrogenação, obrigando os refinadores a empregar uma maior severidade no
hidrotratamento em função da sua presença (HERNANDEZ-MALDONADO et al,
2005 e ANIA; BANDOSZ, 2006).
A ordem de reatividade dos tiofenos frente à reação de hidrogenação
depende do número de anéis aromáticos a que estão ligados. Quanto maior o
número de anéis aromáticos menor a reatividade, devido ao impedimento estérico
(JEON et al, 2007). Desta forma, o dibenzotiofeno com dois anéis aromáticos é o
mais refratário. Na gasolina, o mais presente é o benzotiofeno, no QAV o
benzotiofeno e o dibenzotiofeno, enquanto que no diesel predomina o dibenzotiofeno
(SEREDYCH; BANDOSZ, 2009).
22
Figura 2: Representação das estruturas de Tiofeno, Benzotiofeno e Dibenzotiofeno
Além do gasto energético estes tratamentos também podem influenciar as
características dos combustíveis, como, por exemplo, reduzir a octanagem da
gasolina (NETO et al, 2011).
A remoção de compostos refratários à hidrodessulfurização, como os tiofenos,
pela utilização de leitos adsorventes de carvão ativado poderia permitir a utilização
de condições mais brandas nas unidades de hidrorefino e com isso tornar o
processo mais econômico, diminuindo não somente os gastos de operação, mas
também os investimentos, já que os reatores poderiam ser projetados para
condições de menor pressão e temperatura.
1.1.2 Preparação e aplicações de carvões funcionali zados
Outra importante possibilidade de aplicação dos resíduos de processos de
produção de biocombustíveis, mais especificamente a casca de palmiste gerada na
extração do óleo de palma, é a geração de catalisadores sólidos ácidos.
Anualmente são gastos milhões de toneladas de ácidos inorgânicos líquidos
usados como catalisadores em diversos processos químicos. A recuperação desses
ácidos é muitas vezes inviável, o que leva à geração de grandes quantidades de
efluentes para neutralização e tratamento. A mudança de processos baseados em
catálise homogênea para catálise heterogênea passa pela substituição de líquidos
ácidos por sólidos ácidos, que podem ser mais facilmente recuperáveis. Tais
materiais, contudo, precisam possuir elevada acidez e estabilidade nas condições de
reação, além de um custo acessível (NAKAJIMA; HARA, 2012).
Os sólidos ácidos seguem as definições de acidez de Bronsted e Lewis, ou
seja, o sólido apresenta a tendência de doar um próton ou aceitar um par de
elétrons. Vários compostos são classificados como sólidos ácidos, como (TANABE,
1970):
• Carvões sulfonados.
• Minerais argilosos: caolinita, bentonita, atapulgita, zeólitas, argilas, entre
outros.
• Ácidos suportados: H2SO4, H3PO4, H3BO3, CH2(COOH)3 suportados em sílica,
alumina, terra diatomácea, etc.
23
• Resinas trocadoras de íons.
• Misturas de óxidos: SiO2.Al2O3, B2O3. Al2O3. Cr2O3. Al2O3,MoO3. Al2O3,
ZrO2.SiO2, Ga2O3.SiO2, BeO2.SiO2, MgO.SiO2, CaO.SiO2, SrO.SiO2,
Y2O3.SiO2, La2O3.SiO2, SnO.SiO2, PbO.SiO2, MoO3.Fe2(MoO4)3, MgO.B2O3,
TiO2.ZnO.
• Materiais inorgânicos: SiO2, Al2O3, Cr2O3 , MoO3, ZrO2, CeO2, As2O3, V2O5,
ZnS, CaS, CaSO4, MnSO4, NiSO4, CuSO4, CoSO4, CdSO4, SrSO4, ZnSO4,
MgSO4, FeSO4, BaSO4, KHSO4, K2SO4, (NH4)2SO4, Al2(SO4)3, Fe2(SO4)3,
Cr2(SO4)3, Ca(NO3)2, Bi(NO3)3, Zn(NO3)3, Fe(NO3)2, CaCO3, BPO4, FePO4,
CrPO4, Ti3(PO4)2, Zr3(PO4)4, Cu3(PO4)2, Ni3(PO4)2, AlPO4, Zn3(PO4)2,
Mg3(PO4)2, AlCl3, TiCl3, CaCl2, AgCl, CuCl, SnCl2, CaF2, BaF3, AgClO4 e
Mg2(ClO4)2.
Os sólidos ácidos são empregados em diversos tipos de reação, como
esterificação, hidrólise, desidrogenação, craqueamento, isomerização,
polimerização, entre outros. No entanto, algumas características são desejáveis,
como: estabilidade térmica, tolerância ao meio aquoso, acidez adequada de acordo
com o tipo de reação (predominância de acidez de Bronsted ou Lewis) (TANABE, et
al, 1989)
Dentro do grupo de sólidos ácidos, os carvões sulfonados vêm ganhando
destaque devido a resultados promissores para reações de esterificação e hidrólise
de polissacarídeos, dentre outras (NAKAJIMA; HARA, 2012; SUGANUMA et al,
2008, SHU et al, 2010; LOU et al, 2012; HARA et al, 2004, OKAMURA et al, 2006,
MO et al, 2008; ZONG et al, 2006, HARA, 2010, GENG, 2011, YAMAGUCHI et al,
2009, CHEN; FANG, 2011, SUGANUMA et al, 2010, FUKUHARA et al, 2011 ,
GOMES et al, 2011).
A preparação de carvões sulfonados pode ser realizada em uma ou duas etapas.
No processo em uma única etapa é realizada a sulfonação e um tratamento térmico
de forma concomitante diretamente sobre a matéria prima carbonácea virgem. No
processo em duas etapas ocorre primeiro o tratamento térmico e em seguida a
sulfonação propriamente dita. Dependendo da severidade e condições do
tratamento térmico empregado, será gerado um carbonizado ou um carvão ativo
para a etapa de sulfonação. (NAKAJIMA; HARA, 2012)
A forma do material carbonáceo que será sulfonado, carvão ativo ou
carbonizado, é importante e pode gerar diferente quantidades de grupos sulfônicos
ligados a estrutura (NAKAJIMA; HARA, 2012)
24
Os grupos sulfônicos SO3H introduzidos na matriz carbonácea são os principais
responsáveis pela acidez, devido à liberação de prótons H+, embora também possa
haver na superfície dos carvões sulfonados outros grupos funcionais. A principal
contribuição de outros grupos funcionais oxigenados na superfície do carvão é tornar
a sua superfície menos apolar, facilitando dessa forma a interação da superfície com
os agentes sulfonantes, provocando assim uma melhoria da etapa de sulfonação
(HARA, 2010).
A matéria prima utilizada, as condições de preparação e o agente sulfonante
empregados são algumas das variáveis importantes para a definição da força ácida
que o carvão sulfonado irá apresentar (SUGANUMA et al, 2008). Na Figura 3 pode-
se observar uma representação da estrutura de um carvão sulfonado.
Figura 3: Representação esquemática da estrutura de um carvão sulfonado (NAKAJIMA;
HARA, 2012)
25
1.2 Objetivos
O principal objetivo desse trabalho é o estudo do aproveitamento da corrente
residual do processo de produção de etanol de segunda geração, composta
principalmente por lignina, bem como da casca de palmiste residual da extração de
óleo de palma, para a obtenção de carvões ativados e catalisadores sólidos ácidos
com diversas aplicações.
A partir de resíduos do processo de etanol de segunda geração foram
preparados carvões ativados via rota de ativação química, com H3PO4 e ZnCl2,
estudando-se o efeito da temperatura, tempo de ativação e agente ativante nas
propriedades dos carvões resultantes. Estes carvões foram posteriormente testados
para remoção de compostos pesados de enxofre em correntes líquidas.
A partir da casca de palmiste residual do processo de extração de óleo de
palma foram preparados carvões ativados via rota de ativação física, com CO2 e
vapor d’água, estudando-se o efeito do tempo de ativação e agente ativante nas
propriedades dos carvões resultantes.
Ainda a partir da casca de palmiste, foram preparados carvões sulfonados,
estudando-se o efeito de algumas variáveis de preparação. Ditos carvões sulfonados
foram posteriormente testados como catalisadores em reações de hidrólise de
celobiose para a obtenção dos açúcares correspondentes, visando a uma potencial
aplicação dessa matéria prima residual na indústria química.
26
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
2.1 Carvões ativados
Segundo a International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) carvão
ativado é “um material carbonáceo poroso, um carvão que foi submetido a reações
de ativação com gases ou produtos químicos como o cloreto de zinco, antes,
durante ou após a carbonização para aumentar suas propriedades adsortivas”.
Os carvões ativados fazem parte de um grupo maior de materiais que são
conhecidos de forma geral como carbonos. Entre estes materiais estão o negro de
fumo, grafites nucleares, fibras de carbono, eletrodos de grafite e outros compósitos.
Todos esses materiais podem ser obtidos a partir dos mesmos precursores apenas
alterando as condições de carbonização para a sua produção (REINOSO et al,
2006) .
A princípio, toda fonte de carbono orgânico pode ser usada na obtenção
destes materiais, porém, na prática, algumas características são importantes quando
se trata de uso industrial. O acesso seguro a um suprimento de matéria prima
constante e de valor reduzido é uma dessas características. Outra importante
característica necessária é que a matéria prima tenha pouca variação em sua
qualidade ao longo do tempo. Como os processos industriais são bastante
ajustados, as unidades não são capazes de absorver estas flutuações e, portanto,
necessitam de matérias primas com características constantes.
Tal fato pode limitar a aplicação de recursos com características sazonais ou
que estejam dispersos em uma área muito extensa. Com isso, atualmente, as
matérias primas mais comumente utilizadas na fabricação de carvões ativados são
carvão, a turfa, a madeira, caroços de frutos, casca de coco e alguns polímeros
orgânicos.
Os carbonos derivam de uma estrutura cristalina primária conhecida como
grafite hexagonal (Figura 4) O cristal grafítico primário é a unidade estrutural base e
é constituído por 2 a 4 folhas empilhadas contendo de 10 a 20 anéis aromáticos
(BOTTANI; TASCÓN, 2008).
Estas folhas de anéis de carbono estão descompassadas (A e B) e são
conhecidas como grafeno. Dentro das folhas de grafeno o tipo de ligação C-C
27
predominante é o sp2. O empilhamento destes planos dá origem aos diversos tipos
de carbono. A distância entre as camadas grafeno é de 0,3354nm, sendo superior a
distância da ligação C-C, o que indica que não existem ligações químicas entre
estas folhas, sendo as forças de Van de Waals ou as interações entre elétrons π
predominantes.
Os tipos de ligação que formam o cristal grafítico promovem uma
característica anisotrópica aos carbonos, nas direções a e b dos planos grafeno
existem as ligações aromáticas sp2 e na direção perpendicular aos planos existem
as forças de Van der Waals.
Porém, características anisotrópicas macroestruturais dependerão do arranjo
dos cristais grafíticos, e estarão presentes apenas se houver uma organização
considerável dos planos grafeno. Um exemplo interessante da influência desta
característica nas propriedades destes materiais é a condutividade térmica de
carbonos pirolíticos, usados como escudos de calor, que é da ordem de 390 W/m.K
na direção ab e de apenas 2 W/m.K na direção c perpendicular aos planos grafeno
(SERP; FIGUEIREDO, 2009) .
Plano basal
Camadas grafeno
Eixo C
Esboço da célula unitária
Plano basal
Camadas grafeno
Eixo C
Esboço da célula unitária
Figura 4: Representação da estrutura do cristal grafítico primário (REINOSO et al, 2006) .
O tipo de carbono formado dependerá do tamanho e organização das folhas
de grafeno. Nos carbonos grafíticos há uma maior organização das folhas de
grafeno, esta estrutura com organização superior confere características cristalinas
aos carbonos grafíticos, enquanto que, nos demais casos, a desorganização das
folhas de grafeno confere uma característica macroestrutural amorfa aos carbonos,
28
embora estes derivem do mesmo cristal grafítico primário (SERP; FIGUEIREDO,
2009).
Outras variáveis como a presença de heteroátomos, o quanto as folhas de
grafeno são planares e imperfeições como buracos na estrutura também influenciam
o tipo de carbono formado (REINOSO et al, 2006) .
Figura 5: Representação bidimensional da estrutura de carbonos não-grafíticos e grafíticos (SERP;
FIGUEIREDO, 2009).
Quanto menor e mais desorganizadas as camadas grafeno, maior a
quantidade de imperfeições que serão criadas na estrutura. Essas imperfeições
geram espaços vazios chamados porosidade (REINOSO et al, 2006) .
Figura 6: Micrografias de alta resolução de um cristal grafítico (a) e (f) carbono não-grafítico (REINOSO
et al, 2006) .
Os carvões ativados são materiais carbonáceos com grande quantidade de
imperfeições em sua organização das camadas grafeno, por isso, numa visão
macroscópica, são considerados amorfos, mesmo sendo formados por microcristais
grafíticos. Devido à grande desorganização das camadas grafeno, apresentam alta
porosidade e superfície interparticular (BANSAL et al, 2005) .
29
Essas características proporcionam aos carvões ativados altas áreas
superficiais que podem chegar a valores superiores a 2000 m2/g de superfície
(CARROT et al, 2010) .
A preparação de carvões ativados normalmente envolve duas etapas de
tratamento térmico, sendo a primeira a carbonização da matéria prima em atmosfera
inerte e em seguida a ativação do material carbonizado utilizando um agente
ativante (BANSAL et al, 2005) .
O que impede a formação de estruturas grafíticas de maior tamanho e bem
organizadas é a formação de ligações cruzadas entre cristalitos grafíticos vizinhos
orientados de forma randômica durante os processos de tratamento térmico para
produção de carvões ativados. Essa estabilização da estrutura impede que as
camadas grafeno sejam organizadas, mesmo em altas temperaturas. As ligações
cruzadas são facilitadas pela presença de heteroátomos, em especial do oxigênio e
pela quantidade insuficiente de hidrogênio no material de partida (BANSAL et al,
2005)
O carbono é o principal elemento constituinte dos carvões ativados
representando 85-95% de sua massa. Outros elementos também estão presentes,
sendo oxigênio, nitrogênio, enxofre e hidrogênio os mais comuns. A quantidade
relativa destes elementos depende de qual a matéria prima e condições de processo
foram empregados na preparação, mas valores típicos são C - 88%, H – 0,5%, N –
0,5%, S – 1% e O 6-7%, sendo o resíduo constituído por material inorgânico
(BANSAL et al, 2005) .
Os carvões ativados podem possuir uma ampla distribuição de tamanho de
poros, que são classificados pela IUPAC segundo o seu diâmetro (d) como
macroporos (d>50,0 nm); mesoporos (2,0<d<50,0 nm) e microporos (d<2,0 nm).
O desenvolvimento da porosidade dos carvões ativados é feito de forma
sequencial, iniciando pelos microporos originados da desorganização das camadas
grafeno. Com a evolução do tratamento térmico, material volátil e uma maior
quantidade de carbono são queimados, alargando os microporos existentes. A
continuidade do tratamento térmico leva à coalescência de poros adjacentes pela
gaseificação do carbono das paredes dos poros já formados, levando à geração de
macroporos. Em geral, a distribuição do tamanho de poros depende da severidade
do processo de produção, quando a quantidade de carbono queimado da matriz é
menor que 50% tem-se normalmente um carvão ativo microporoso; quando este
30
valor é superior a 75%, a quantidade de macroporos passa a ser mais relevante
(BANSAL et al, 2005) .
Geralmente, os carvões ativados apresentam uma distribuição de tamanho de
poros trimodal, com uma maior quantidade de microporos, dependendo das
condições de preparo, como pode ser visto na Tabela 1 (RUTHVEN, 1984).
Tabela 1: Distribuição de tamanho de poros típica em carvões ativos (Adaptado de RUTHVEN, 1984) Microporos Mesoporos Macroporos
Diâmetro (Å) <20 20-500 >500
Volume de poros
(cm3/g)
0,15-0,5 0,02-0,1 0,2-0,5
Área superficial
(m2/g)
100-1000 10-100 0,5-2
As propriedades que definem a capacidade de adsorção de um carvão
ativado são sua área superficial, distribuição de tamanho e volume de poros e
grupos químicos superficiais presentes (REINOSO et al, 2006) .
Para utilização em processos de adsorção, os microporos são a faixa de
tamanho de poros mais importante. Microporos possuem dimensões próximas às de
moléculas e a energia de adsorção é muito maior do que em meso ou macroporos,
porque há a sobreposição das forças de adsorção provenientes de toda a superfície
interna dos poros (BANSAL et al, 2005) . Desta forma, a adsorção em microporos é
maximizada em relação a poros de maiores dimensões.
Os meso e macroporos, embora tenham menor relevância em termos de área
e volume de poros, têm grande influência na cinética da adsorção, pois possibilitam
a transferência de dos produtos até os microporos no interior das partículas de
carvão.
A aplicação de carvões como suportes para obtenção de catalisadores é
interessante porque a alta área superficial do carvão ativo possibilita uma melhor
dispersão das partículas metálicas, viabilizando assim uma melhor utilização destes
metais que, geralmente, têm alto preço. Entretanto Porém, para que isto seja viável,
é necessário que o carvão ativo possua uma quantidade apreciável de mesoporos.
Atualmente, as técnicas de dispersão permitem a obtenção partículas metálicas
depositadas com tamanho entre 2 e 20nm, o que inviabiliza a sua deposição em
microporos. Os macroporos também tem papel importante porque possibilitam o
31
transporte de moléculas maiores para os mesoporos contendo os sítios ativos dos
catalisadores (SERP; FIGUEIREDO, 2009).
Normalmente, a superfície dos carvões ativados é apolar, o que aumenta a
afinidade dos carvões por moléculas apolares, como alguns compostos orgânicos,
porém a existência de grupos funcionais superficiais pode alterar essas
características. Tais grupos superficiais podem ser característicos da biomassa ou
introduzidos por tratamentos. Isso possibilita a fabricação de carvões específicos
para determinadas aplicações (BANSAL et al, 2005)
Os grupos funcionais mais comuns em carvões ativados são os oxigenados, e
se encontram principalmente nas arestas das folhas de grafeno (SERP;
FIGUEIREDO, 2009).
Estes grupos podem ser originados do processo de obtenção do carvão ativo,
ou obtidos através de tratamentos oxidativos da superfície (BANSAL et al, 2005) .
Além de modificarem a polaridade da superfície, estes grupos também podem tornar
o carvão ácido ou básico. Os grupos ácidos mais comuns são carboxílicos,
anidridos, hidroxilas e lactonas, enquanto os grupos que conferem basicidade são
cromeno, pirona e quinona. Os elétrons π deslocalizados também conferem
basicidade de Lewis (SERP; FIGUEIREDO, 2009).
Figura 7: Representação dos grupos funcionais presentes nas arestas de folhas de grafeno. a) carboxílicos, b) lactona, c) hidroxila, d) carbonila, e) quinona, f) éter, g) pirona, h) anidrido carboxílico, i) cromeno, j)
lactol, k) elétrons π no plano basal (SERP; FIGUEIREDO, 2009)
32
A produção de carvões ativados remonta a séculos atrás e estes possuem
uma ampla gama de aplicações. Carvões ativados originados de madeira foram
usados pelos egípcios com fins medicinais e para propósitos de purificação desde
1500 AC. O primeiro registro de produção industrial de carvões ativados ocorreu nos
anos 1900 para uso em refino de açúcar e posteriormente sua produção ganhou
maior atenção para aplicação como agente de purificação para máscaras de
proteção durante a primeira guerra mundial (BANSAL et al, 2005) .
Atualmente os carvões ativados mais empregados possuem área superficial
de 800 a 1500 m2/g e volume de poros entre 0,2 e 0,6 cm3/g (BANSAL et al, 2005) .
Estes materiais possuem extensa lista de aplicações, sendo a maior parte destas
como adsorventes em processos com correntes líquidas ou gasosas, mas sua
aplicação como suporte catalítico também é extensa.
Os carvões ativados são preparados em 3 diferentes formas (NORIT, 2013):
� Pó; tamanho de partícula 1-150 µm
� Granular, tamanho de partícula 0.5-4 mm
� Extrudado, tamanho de partícula 0.8-4 mm
O carvão ativado em pó normalmente é dosado na corrente de processo, que
pode ser líquida ou gasosa, e após um tempo de contato pré-definido deve ser
separado da corrente por algum método físico. Tem como característica uma alta
relação entre área superficial e volume de partícula, proporcionando pequenas
distâncias difusionais. O carvão em pó não é frequentemente usado em filtros devido
à alta perda de pressão que iria impor ao sistema (NORIT, 2013).
Já o carvão ativado granular apresenta uma relação entre área superficial e
volume de partícula menor, por isso necessita que a molécula a ser adsorvida tenha
uma alta difusividade, sendo indicado para correntes gasosas. É mais usado em
filtros, que podem ser de leito fixo ou de leito fluidizado, podendo ser regenerado
para reutilização (NORIT, 2013).
Os carvões extrudados são obtidos a partir do carvão em pó mais um ligante,
sendo produzidos em tamanhos superiores aos granulados para utilização em
sistemas onde a perda de pressão seja um fator limitante, especialmente em casos
com correntes gasosas (NORIT, 2013).
33
Figura 8: Carvão ativado em pó, granular e extrudado (NORIT, 2013) .
Os carvões ativados utilizados em processos com correntes líquidas
normalmente requerem uma maior quantidade de meso e macroporos, para permitir
a passagem das moléculas mais rapidamente. A Figura 9 mostra a diferença na
distribuição do volume de poros em função do raio do poro para carvões comerciais
aplicados a correntes líquidas e gasosas. Cerca de 80% das aplicações de carvão
ativado são em correntes líquidas (BURCHELL, 1999).
Curvas de distribuição de tamanho de poros
Carv ão para fase gasosa
Carvão para fas e líquida
Volu
me
de
poro
s es
pecí
fico
(cm
3/g
)
Raio de poros (A)
Curvas de distribuição de tamanho de poros
Carv ão para fase gasosa
Carvão para fas e líquida
Volu
me
de
poro
s es
pecí
fico
(cm
3/g
)
Raio de poros (A)
Figura 9: Distribuição de volume de poros para carvões aplicados a correntes líquidas e gasosas
(Adaptado de CALGON, 1999)
2.2 Principais rotas de preparação de carvões ativo s
Para a produção de carvões ativos, duas rotas principais vêm sendo
abordadas, a ativação física e a ativação química. Na ativação física ocorre
primeiramente a carbonização da matéria prima em atmosfera inerte e, em seguida,
34
uma etapa de gaseificação controlada, com vapor d’água ou CO2, que gera o carvão
ativado.
Já na rota química a matéria prima é primeiramente impregnada com um
agente ativante, normalmente cloreto de zinco ou ácido fosfórico, sendo o material
impregnado posteriormente submetido ao tratamento térmico, o qual dá origem ao
carvão ativado.
Figura 10: Rotas de ativação para produção de carvões ativados.
A rota de ativação física é a mais difundida comercialmente, esta rota de
produção consiste em duas etapas, sendo a primeira a carbonização e a segunda a
ativação.
A carbonização é realizada em temperaturas superiores a 200°C em
atmosfera inerte. Nesta etapa são removidos compostos voláteis e gases de reação
como metano, CO2, CO e H2. Nesta etapa desenvolve-se uma porosidade primária,
a qual será a origem da estrutura porosa obtida após a etapa de ativação
subseqüente. Nos casos em que a matéria prima não está localizada próximo à
unidade produtora de carvão ativado, a carbonização é feita no local de recolhimento
e o produto carbonizado é então enviado à fábrica de carvão ativo para a
continuidade do processo de ativação (CALGON, 2007).
Como os rendimentos esperados para esta etapa situam-se entre 20 e 30%
em massa, há uma grande economia com custos de logística (REINOSO et al, 2006)
.
Precursor
Carvão intermediário
Carbonização Carvão ativo
Gaseificação controlada
C(s) + H2O(v) � H2(g) + CO(g) C(s) + CO2(g) � 2CO(g)
Carvão ativo Impregnado Impregnação: ZnCl 2, H3PO4, etc.
Tratamento térmico e lavagem
Ativação Qu ímica
Ativação Física
35
A etapa de ativação consiste em promover outras reações que permitam o
aumento da área superficial. Normalmente, entre 800°C e 1000°C e com agentes
como CO2, H2O ou misturas destes (BOTTANI; TASCÓN, 2008).
Nesta etapa, os agentes ativantes reagem com o carbono fixo gerando
hidrogênio, monóxido de carbono e dióxido de carbono.
C(s) + H2O(v) � H2(g) + CO(g) ∆H = + 130 kJ.mol-1
C(s) + CO2(g) � 2CO(g) ∆H = + 159 kJ.mol-1
C(s) + O2(g) � CO2(g) ∆H = - 406 kJ.mol-1
Nas condições de ativação também ocorre a reação de deslocamento da
água, que se encontra em equilíbrio.
CO(g) + H2O(v) CO2(g) + H2 (g) ∆H = - 41 kJ.mol-1
As reações de gaseificação passam por intermediários oxigenados na
superfície das partículas de carvão, o que por fim dá origem aos grupos oxigenados
superficiais frequentemente observados nos carvões ativados (REINOSO et al,
2006) .
As reações de gaseificação com água e CO2 são endotérmicas, por isso
industrialmente realiza-se a alimentação dos fornos com uma quantidade controlada
de ar de forma a que hidrogênio e monóxido de carbono, gerados pela ativação,
sejam queimados para gerar a energia necessária para a ocorrência das reações
(REINOSO et al, 2006) .
A utilização de oxigênio como agente ativante não é possível porque as taxas
de reação são muito elevadas, a reação é muito exotérmica, com isso o controle de
temperatura é muito difícil, o que favorece o consumo externo das partículas de
carvão, provocando apenas a queima do carbono sem criar ou aumentar os poros
existentes (REINOSO et al, 2006) .
A principal diferença entre os agentes ativantes (CO2 e água) é que a
utilização de água gera uma maior quantidade de mesoporos e uma distribuição de
poros mais ampla, enquanto o CO2 produz maior quantidade de microporos e uma
distribuição mais estreita de tamanho de poros. (REINOSO et al, 2006) .
36
Além disso, a ativação com CO2 também promove a formação de maior
número de grupos funcionais oxigenados na superfície do carvão, em comparação
com a ativação com água (MOLINA-SABIO et al, 1996).
Na Figura 11 pode ser visualizado o fluxograma típico de uma unidade de
produção de carvão ativado a partir de cascas, com ativação pelo método físico.
Após a moagem e classificação do material para tamanho de partícula desejada, a
matéria prima é enviada diretamente aos fornos rotatórios onde são realizadas as
etapas de carbonização e ativação. A geração de vapor normalmente é feita com o
aproveitamento do calor dos gases efluentes dos fornos através de uma caldeira
recuperadora (CHILTON et al, 2003).
CASCASCASCAS (Finos)
10.000 kg/dia Cascas
5% Perda
15 % Perda
Gerador de vapor
Saída água aquecida
Entrada água de refrig eração
Moinho açocarbono 11.21kW (80 % rec.)
8.000 kg/dia Cascas
Fo rno rotatór io
Forno rotató rio
Pirólise: 1h a 700°C Ativação: 2h a 850°C
1440 kg/d ia GAC
Peneiras 0,53x0,76m 10-40 mesh(5 % perda)
Armazenagem GAC 1370
kg/dia<40 mesh70kg/dia
C oleta e armazenamento
Resfr iador Rotatór io 2.32m 2
Exa
ustã
o
Sacos armazenagem
CASCASCASCAS (Finos)
10.000 kg/dia Cascas
5% Perda
15 % Perda
Gerador de vapor
Saída água aquecida
Entrada água de refrig eração
Moinho açocarbono 11.21kW (80 % rec.)
8.000 kg/dia Cascas
Fo rno rotatór io
Forno rotató rio
Pirólise: 1h a 700°C Ativação: 2h a 850°C
1440 kg/d ia GAC
Peneiras 0,53x0,76m 10-40 mesh(5 % perda)
Armazenagem GAC 1370
kg/dia<40 mesh70kg/dia
C oleta e armazenamento
Resfr iador Rotatór io 2.32m 2
Exa
ustã
o
Sacos armazenagem
Figura 11: Fluxograma de uma unidade de produção de carvão ativado por ativação física (CHILTON et al, 2003)
As principais variáveis que influenciam a qualidade dos carvões gerados pela
rota física são a vazão de agentes ativantes, a temperatura e tempo de ativação
(REINOSO et al, 2006) .
A segunda rota de produção é através da ativação química. Nesta rota o
precursor é impregnado previamente com um agente ativante e, em seguida, é
realizada ativação em temperaturas entre 450 e 700°C. Os agentes ativantes mais
37
empregados são o ácido fosfórico e o cloreto de zinco (BURCHELL, 1999). O ácido
fosfórico é um triácido de Bronsted, cuja acidez varia de fraco a medianamente forte,
mas que proporciona reações de clivagem; já o cloreto de zinco é um ácido de Lewis
fortemente desidratante (SERP; FIGUEIREDO, 2009).
Esta rota permite a eliminação de hidrogênio e oxigênio do precursor com
uma menor perda de carbono, através da desidratação. Desta forma, a estrutura
porosa do carvão é criada com um maior rendimento mássico, o que impacta
diretamente a economia do processo (REINOSO et al, 2006) .
Durante o processo de carbonização na ativação por rota física, ocorre uma
contração do material, que pode chegar a 30%. Na ativação química, contudo, essa
contração é reduzida porque o agente ativante é incorporado à estrutura, servindo
como um molde para a geração de microporosidade (REINOSO et al, 2006)
O cloreto de zinco, além de promover as reações de desidratação, serve
como molde para os microporos formados, sendo o volume de microporos presente
no carvão aproximadamente o mesmo do de cloreto de zinco adicionados à matéria
prima. Devido a isso, o carvão precisa ser lavado para que o cloreto de zinco seja
eliminado e não bloqueie os poros. Além disso, outra característica marcante é que,
como os microporos são formados segundo um molde, eles possuem uma
distribuição de tamanhos mais estreita. Também é importante mencionar que o
papel do cloreto de zinco como agente ativante é mais pronunciado em
temperaturas até 500°C, com pouca variação de área superficial acima deste valor
(REINOSO et al, 2006) .
Já o ácido fosfórico também atua como molde para os microporos da mesma
forma que o cloreto de zinco, porém a distribuição dos tamanhos dos microporos
não é tão estreita quanto no caso do cloreto de zinco. Por outro lado, o ácido
fosfórico também gera uma maior quantidade de mesoporos, especialmente quando
são usadas altas taxas de impregnação. A temperatura em que o efeito de ativação
é obtido é menor que 450°C (REINOSO et al, 2006) .
Os poros obtidos pela ativação com cloreto de zinco têm dimensões
reduzidas e uma distribuição de tamanho mais estreita em comparação com os
obtidos com ácido fosfórico. Tal fato ocorre porque o cloreto de zinco é uma
molécula menor e seus estados hidratados formados dentro da estrutura do material
durante a ativação também o são, em comparação ao ácido fosfórico que existe
como uma mistura de H3PO4, H4P2O5 até H13P11O34.
Diferentemente da rota física, na rota química ocorre a despolimerização das
frações de celulose, hemicelulose e lignina presentes no material; este ataque a
estrutura provoca a sua reorganização modificando as características do precursor,
possibilitando a formação de meso e macroporos com uma menor perda de carbono.
38
Portanto, em relação ao carvão ativado, as vantagens desta rota são um
maior rendimento mássico e um melhor controle sobre a distribuição do tamanho
dos poros. Com relação ao processo, uma vantagem é que esta rota é feita em uma
única etapa e em baixa temperatura, o que leva a um menor gasto de energia na
ativação.
A principal desvantagem é a necessidade de recuperação do agente ativante
após a lavagem do carvão e a reposição de uma parte do agente ativante que é
perdida.
As principais variáveis que influenciam a qualidade dos carvões gerados pela
rota química são o tipo de agente ativante, a relação mássica entre agente ativante e
matéria-prima, a temperatura e tempo de ativação (REINOSO et al, 2006) .
A rota física é a de menor custo de reagentes, mas emprega temperaturas
mais altas e gera principalmente carvões microporosos. A rota química possui um
custo maior devido ao gasto de reagentes e manuseio dos mesmos, mas os fornos
são operados em temperaturas mais baixas. O carvão gerado por esta rota pode
possuir maior quantidade de mesoporos.
Na Figura 12 pode ser visualizado o fluxograma típico de uma unidade de
produção de carvão ativado a partir de cascas, com ativação pelo método químico.
Moinho açocarbono 11.21kW
CASCAS CASCAS
10.000 kg/d ia Cascas
2 tanques deimpregnação H 3PO4
De 4000l
Secador rotatór io0,97 x 6,1m
Entrada de ar Saída de ar
Forno rotatório
Fo rno rotatório
Pirólise: 1h a 170°C Ativação: 1h a 450°C
Entrada de águaSaída de água
2 tanques delavagem de 4000l
2h a 80-100°C
En trada de água
5% Perda
Exa
ustã
o
15% Perda
8000kg/diaCascas
Saco armazenage m
Armazenagem H3PO4 virgem
4690 l/dia H3PO4
2350 l /dia H3PO4
70
40
l/dia
H3
PO
4
Armazenagem GAC 2694
kg/dia
Peneiras 0,53x0,76m 10-40 mesh(5% perda)
3120 kg/dia GAC
Secador rotatório0,94 x 1,95m
Entrada de ar Saída de ar
Peneiras de secagem
2 reatores encamisados
de 4000l com condensadores
FinosArmazenagem de H3PO4 reciclado
50% H3PO4 (70 % rec.)
Resfr iador rotatór io 5,2 m 2
Finos
Finos (13 % perda)
Saída de água
água
Resíduo H3
PO
4 r
esi
dua
l
Saída de água
ág ua
Resíduo
312
0 k
g/di
a G
AC
800
0 kg
/dia
ca
sca
s
F inos
Moinho açocarbono 11.21kW
CASCAS CASCAS
10.000 kg/d ia Cascas
2 tanques deimpregnação H 3PO4
De 4000l
Secador rotatór io0,97 x 6,1m
Entrada de ar Saída de ar
Forno rotatório
Fo rno rotatório
Pirólise: 1h a 170°C Ativação: 1h a 450°C
Entrada de águaSaída de água
2 tanques delavagem de 4000l
2h a 80-100°C
En trada de água
5% Perda
Exa
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o
15% Perda
8000kg/diaCascas
Saco armazenage m
Armazenagem H3PO4 virgem
4690 l/dia H3PO4
2350 l /dia H3PO4
70
40
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H3
PO
4
Armazenagem GAC 2694
kg/dia
Peneiras 0,53x0,76m 10-40 mesh(5% perda)
3120 kg/dia GAC
Secador rotatório0,94 x 1,95m
Entrada de ar Saída de ar
Peneiras de secagem
2 reatores encamisados
de 4000l com condensadores
FinosArmazenagem de H3PO4 reciclado
50% H3PO4 (70 % rec.)
Resfr iador rotatór io 5,2 m 2
Finos
Finos (13 % perda)
Saída de água
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Resíduo H3
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Moinho açocarbono 11.21kW
CASCAS CASCAS
10.000 kg/d ia Cascas
2 tanques deimpregnação H 3PO4
De 4000l
Secador rotatór io0,97 x 6,1m
Entrada de ar Saída de ar
Forno rotatório
Fo rno rotatório
Pirólise: 1h a 170°C Ativação: 1h a 450°C
Entrada de águaSaída de água
2 tanques delavagem de 4000l
2h a 80-100°C
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5% Perda
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Armazenagem H3PO4 virgem
4690 l/dia H3PO4
2350 l /dia H3PO4
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Armazenagem GAC 2694
kg/dia
Peneiras 0,53x0,76m 10-40 mesh(5% perda)
3120 kg/dia GAC
Secador rotatório0,94 x 1,95m
Entrada de ar Saída de ar
Peneiras de secagem
2 reatores encamisados
de 4000l com condensadores
FinosArmazenagem de H3PO4 reciclado
50% H3PO4 (70 % rec.)
Resfr iador rotatór io 5,2 m 2
Finos
Finos (13 % perda)
Saída de água
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Resíduo H3
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Resíduo
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/dia
ca
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F inos
39 Figura 12: Fluxograma de uma unidade de produção de carvão ativado por ativação química (CHILTON
et al, 2003)
Após a moagem e classificação do material para tamanho de partícula
desejada, a matéria prima é impregnada com agente ativante, ácido fosfórico, neste
caso. Em seguida passa por uma etapa de secagem e é enviada aos fornos
rotatórios onde é realizada a etapa de ativação. Ao término da ativação, o carvão é
lavado para que o agente ativante seja recuperado. Percebe-se que, por conta da
manipulação do agente ativante, uma quantidade maior de operações é necessária
para a obtenção do carvão ativado (CHILTON et al, 2003).
2.3 Sólidos ácidos - Carvões funcionalizados
Segundo as definições de Bronsted e Lewis para acidez, sólidos ácidos
devem ter a tendência a doar prótons ou aceitar um par de elétrons,
respectivamente.
A busca por sólidos ácidos foi iniciada visando à substituição de ácido
sulfúrico e fluorídrico, usados como catalisadores em vários processos. Os sólidos
ácidos teriam a vantagem de não produzirem efluentes de difícil tratamento, serem
mais facilmente recicláveis e possibilitarem o uso de materiais menos nobres nas
unidades de processo (SUNAJADEVI; SUGUNAN, 2005).
Algumas das sínteses em que os sólidos ácidos poderiam ser usados com
vantagem seriam as nitrações, halogenações, isomerizações, acilações,
desidatrações, esterificações, craqueamento, hidrólises, alquilações de Friedel-
Crafts, reações de ciclização, como Diels-Alder, síntese de piridina e outras.
(TANABE et al, 1989) . Atualmente, os sólidos ácidos mais empregados são as
zeólitas e resinas poliméricas sulfonadas (SHELDON; BEKKUM, 2008).
Mais recentemente, além de serem vistos como uma importante classe de
materiais para uso em processos tradicionais da indústria química, os sólidos ácidos
também vêm sendo estudados para processos de conversão de biomassa em
produtos químicos (ZHOU et al, 2011).
Dentre os processos de conversão de biomassa em que sólidos ácidos vêm
sendo aplicados estão a gaseificação, a pirólise, a liquefação e a hidrólise. No caso
40
das reações de hidrólise, os carvões sulfonados são sólidos ácidos que ganham
destaque, devido a sua alta atividade e grande seletividade à formação de glicose
(ZHOU et al, 2011)(KOBAYASHI et al, 2011).
No que concerne à biomassa, alguns pontos importantes merecem ser
destacados. A biomassa é composta de três frações distintas, a celulose, a
hemicelulose e a lignina. A celulose geralmente representa de 35-50% da biomassa,
a hemicelulose de 20-35% e a lignina 10-25% (ZHOU et al, 2011). Estima-se que
metade do carbono orgânico da biosfera esteja na forma celulósica; por isso, o
interesse na sua conversão em produtos é crescente.
A celulose é um polímero bem organizado de glicose, apresentando
cristalinidade. A hemicelulose é um polímero amorfo formado por diversos açúcares
de 5 átomos de carbono. Já a lignina é um polímero de fenil-propano.
A conversão de celulose em produtos de maior valor agregado
freqüentemente passa por sua despolimerização, para a obtenção da glicose, a sua
unidade fundamental. A despolimerização é realizada através de reações de
hidrólise da celulose. Na celulose, o tipo de ligação que mantém as moléculas de
glicose unidas é a β-1,4-glicosídica. A Figura 13 apresenta a estrutura da celulose,
destacando a unidade dímera celobiose (duas moléculas de glicose unidas por uma
ligação β-1,4).
Unidade de celobiose
Pontes de hidrogênio inter e intramoleculares
Unidade de celobiose
Pontes de hidrogênio inter e intramoleculares
Figura 13: Representação de parte da cadeia celulósica, com a ligação β-1,4-glicosídica (ZHOU et al, 2011)
41
Nas reações de hidrólise, o rompimento das ligações β-1,4-glicosídicas é
promovido, quebrando a cadeia celulósica em unidades ainda poliméricas, porém
com menor número de moléculas de glicose. No entanto, neste tipo de reação, é
comum a geração da glicose pura (monômero), além do seu dímero, a celobiose. As
reações de hidrólise podem ser realizadas em meio ácido ou por enzimas.
A partir da obtenção das moléculas de glicose via reações de hidrólise, é
possível a geração de uma ampla gama de produtos de maior valor agregado, por
rotas fermentativas ou químicas, assim tornando a glicose uma molécula estratégica.
2.3.1 Carvões ácidos funcionalizados
Materiais carbonáceos sempre atraíram atenção em catálise heterogênea
devido a sua facilidade de modificação, alta superfície específica e volume de poros,
além de um custo relativamente baixo.
Diversos tratamentos superficiais já foram propostos para a introdução de
grupos funcionais superficiais em carvões ativados, com vários objetivos distintos. O
tipo de composto a ser adsorvido pelo carvão bem como a eficiência da adsorção
são muito dependentes dos grupos químicos superficiais. Por isso, os tratamentos
superficiais são importantes para a geração de carvões ativados específicos para
determinadas aplicações (RIOS et al, 2003).
Os métodos de funcionalização mais empregados são os de oxidação da
superfície do carvão com ácido nítrico, ar, H2O2 ou outros agentes oxidantes. Esses
métodos provocam a introdução de grupos oxigenados de diferentes formas. O tipo
e quantidade de grupos oxigenados formados alteram a hidrofilicidade da superfície
do carvão bem como seu pH, causando impacto direto na adsorção de diversos
tipos de moléculas. As tabelas a seguir apresentam um resumo dos distintos
métodos usados.
Tabela 2: Tratamentos oxidativos com peróxido de hidrogênio (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011)
Matéria-prima Condições
experimentais
Modificação
textural
Modificação
química
Observações
42 Carvão ativado
granular (ACG80) e
Carvão ativado em
tecido (FM 250)
Oxidação com 30% H2O2 (1 g deAC:10mL solução) por 48 h. Lavagem dupla com água destilada. Secagem durante a noite 110 ◦C em fluxo de
nitrogênio.
Área superficial foi
reduzida após oxidação.
Microporosidade
persistiu.
Quantidade de
oxigênio aumentou
devido a formação
de complexos de
oxigênio
superficiais.
Material oxidado teve a
mesma acidez ou
levemente superior;
Redução mínima na
capacidade de
adsorção. O carvão
granula teve maior
capacidade de
adsorção.
Carvão granulado
comercial CECA
previamente
desmineralizado
com HF e HCl
Tratamento com
solução de H2O2
Área superficial
aumentou. Volume de
mesoporos aumentou
consideravelmente.
Aumento de grupos
superficiais
oxigenados
Grupos químicos foram
introduzidos nas
superfícies interna e
externa.
Casca de amêndoa Pirólise: a 900 ◦C em nitrogênio por 1 h; Ativação: vapor d’água a 850 ◦C por diferentes tempos (tamanho de partícula final entre 0.15 e 0.25 mm). Oxidação. 1 g de
carvão: 10mL de H2O2
concentrado (9.8M) a
25 ◦C sob agitação por
48 h.
Sem alterações Detectados grupos
carboxila, cetona e
éter. Estruturas
carboxila-carbonato
possivelmente
presentes.
Grupos superficiais
foram posicionados na
entrada de microporos
causando resistência a
difusão de N2 a 77K.
Casca de coco
(comercial)
Oxidação: Imersão em
H2O2 10–30%, razão
de H2O2 para carvão
de 2.5–10 mL/g em
temperatura ambiente.
Secagem a 95 ◦C por
12 h.
Sem alterações Aumento da
quantidade de
oxigênio.
Grupos que se
decompõe em CO2
foram amplamente
induzidos em
temperaturas
inferiores a 100°C.
(Comercial) Norit ROX 0.8; pellets (0.8mm), pH neutro, Teor de cinzas de 3
wt.%.
1g de carvão para 25 ml de H2O2 1M em temperatura ambiente até a degradação completa do H2O2. Lavagem com água destilada até pH neutron. Secagem a 110 ◦C por 24 h.
Pequenas variações no
volume de microporos e
na área de mesoporos
Sem mudanças
significativas.
Sem efeitos.
(Comercial) Waterlink Sutcliffe Carbons
Mesh: 12×20.
Oxidação. 10 g de carbono: 100mL de H2O2 (15% e 30%, v/v) agitado em temperature ambiente por 3 h. Lavado e seco a 110 ◦C por uma noite.
Sem mudanças. Aumento da
quantidade de
grupos que se
decompõe em CO2
e redução dos que
se decompõe em
CO com o aumento
da concentração de
oxidante.
Material mostrou
porosidade e química
superficial similares.
43 (Comercial) carvão
mineral carbonizado
e ativado a 850 ◦C,
área BET 770.4m2/g.
Tratamento térmico a 500 ◦C em nitrogênio. Oxidação: concentração de agente oxidante 3–15%, 100 °C, 1 h. Lavado até pH neutro.
Não avaliado Aumento de grupos
carboxílicos.
Oxidação com H2O2 a
15% introduziu maior
número de grupos
lactona e fenóis.
Tabela 3:Tratamentos oxidativos com ácido nítrico (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011) Matéria-prima Condições
experimentais Modificação textural
Modificação química
Observações
Carvão comercial Merck
50ml HNO3 para 5g de carvão, aquecendo a 353K até secagem. Lavagem até ausência de nitratos na água. Secagem a 383K por uma noite.
Meso e macroporos reduzidos. Restrição na abertura dos poros devido a fixação de grupos oxigenados.
Grande quantidade de grupos oxigenados, principalmente ácido carboxílico e grupos aromáticos nitro e nitratos.
Propriedades químicas e texturais foram alteradas. Meso e macro poros parcialmente perdidos pela destruição das paredes dos poros.
Lignita espanhola Preparação do carvão: Desmineralização com HCl e HF; Pirólise a 840 °C em N2; Ativação em CO2 a 800 ◦C até 18% de queima.
Oxidação de 1 g de carvão tratado por 48 h com 10ml de H2O2 concentrado a 25 ◦C (Análise final de O (p/p %) -18.2) Tratamento térmico com He em diferentes temperaturas até 1000 ◦C. Após o tratamento exposto ao ar por 2 anos.
Não avaliado. Regeneração de grupos básicos (decompostos como CO) menos sensíveis a tratamentos térmicos em comparação com grupos ácidos.
Envelhecimento por 2 anos em ar a temperatura ambiente provocou a regeneração dos grupos oxigenados superficiais perdidos após tratamento térmico com He.
(Comercial) Merck-9631, 18–35 mesh
Oxidação: 200ml de ácido nítrico concentrado a 25, 60 e 90 ◦C e 20 g de carvão ativado e agitado por 3 h. Lavagem com água destilada até pH neutro. Secagem: em atmosfera de a 283K por uma noite.
Não avaliado. Carbonila, lactona, éter e grupos hidroxila foram formados.
A quantidade de gases gerados aumentou com o aumento da temperatura de tratamento.
(Commercial) Coconut shell based carbon (activation in steam at around 900 ◦C)
Extração. Soxhlet com água para remover materiais solúveis. Oxidação. Refluxo de solução de 7.5M HNO3 por 4 e 48 h; extração em soxhlet com água até pH constante; secagem a vácuo a 75 ◦C. Tratamento térmico a 10 ◦C min-1 sob fluxo de He até a temperatura desejada por 1 h a temperatura máxima (300 ou 800 ◦C).
Volume de microporos e volume total de poros foram reduzidos. A maior redução se dá com maiores tempos de oxidação. Área total e volume total e de microporos aumentaram com o tratamento térmico.
Aumento de oxigênio, hidrogênio e nitrogênio no carvão. Redução de carbono. Grande quantidade de oxigênio introduzida.
Aumento do tempo de oxidação aumentou a quantidade de grupos oxigenados formados. Pequenos grupos nitrogenados também foram incorporados. As mudanças estruturais não foram completamente revertidas com o tratamento térmico.
44 Carvão ativado granular comercial (ACG80) e Carvão ativado comercial em tecido (FM 250)
Oxidação: 1 g de carvão:10mL de solução 1N HNO3 em ebulição por 24 h com refluxo. Lavagem com água destilada até não detectar íons nitrato. Secagem a 110°C por uma noite em fluxo de nitrogênio. Tratamento térmico a 600°C em nitrogênio por 5h.
Redução da área superficial. Carvões permaneceram microporosos.
Aumento da quantidade de oxigênio devido a formação de grupos superficiais.
Acidez total aumentou três vezes devido ao aumento da concentração de grupos ácidos. Redução da capacidade de adsorção mais pronunciada para os carvões granulados.
(Comercial) Norit ROX; Hydraffin (Degussa).
Carvões foram moídos e peneirados a 200–300µm Oxidação com HNO3 5N em ebulição por 3 h. Lavagem com água em ebulição até pH 5.5. Secagem a 110 °C Por uma noite.
Redução significativa do volume de microporos. Área de mesoporos aumentou cerca de 10%.
Acidez aumentada. Aumento de grupos superficiais que se decompõe em CO e CO2.
Redução de volume de microporos causada pelo colapso da parede dos poros causado pelo ataque no ácido nítrico.
(Comercial) Q e CV, usados em indústrias farmacêuticas
Oxidação: HNO3 em diferentes concentrações (1, 20 e 60%, v/v); 1g de carvão:10mL de solução ácida em ebulição até secagem. Lavagem com água destilada até a eliminação de nitrato.
Micro- e mesoporosidade aumentaram em baixas concentrações de agentes oxidantes. Textura dos carvões foi significativamente destruída por condições severas de oxidação
Quantidade de grupos oxigenados aumentou, sendo maior em altas concentrações de agente oxidante (20 e 60%).
Oxidação altera tanto as características texturais quanto as químicas dos carvões.
Casca de amêndoa Oxidação. 1 g de carvão tratado com 10mL de HNO3 (13.9M) concentrado a 80 °C até secagem. Lavagem feita com água até remoção de nitrato.
Área superficial total e microporosidade reduziram. Efeito aumentou com o aumento do grau de ativação.
Grupos Carboxílicos e prováveis estruturas carboxil carbonatos foram detectadas, assim como grupos aromáticos nitro e nitrato
Grupos ácidos mais fortes foram introduzidos pelo tratamento com (NH4)2S2O8 do que com HNO3, apesar da maior quantidade de grupos que se decompõe em CO2.
(Comercial) Casca de coco
Oxidação. HNO3 4N a temperatura ambiente por 10 h. Secagem a 70 ◦C rotavapor. Tratamento térmico em fluxo de N2 a 400 ◦C for 1 h.
Redução de superfície
Aumento do teor de oxigênio
Necessário tratamento térmico para eliminação de oxidantes na superfície.
Espiga de milho Pirólise a 500°C em nitrogênio, ativação a 850°C em vapor d’água; Pirólise a vapor a 600-700°C com ativação com 50% H3PO4 a 500°C. Oxidação: 50ml de HNO3 para 5 g de carvão ativado a 60°C com agitação por 1h. Lavagem com água destilada e secagem a 110°C.
Redução da área superficial total entre 13 e 25%. Leve aumento do volume de mesoporos, com o alargamento de alguns poros.
Aumento da densidade de grupos oxigenados na superfície.
Grande quantidade de grupos oxigenados na superfície especialmente em condições drásticas de oxidação. Degradação parcial da estrutura porosa.
45 Caroço de azeitona Lavagem com ácido
sulfúrico para redução de inorgânicos. Carbonização a 1000°C por 1h em nitrogênio, ativação com CO2 a 840°C por 16h. Oxidação: 80ml HNO3 15M para 4g de carvão ativado em temperatura ambiente por 24h. Lavagem com água destilada até pH neutro.
Redução da área superficial.
Aumento dos grupos superficiais oxigenados que se decompões em CO2.
Amostras oxidadas tiveram menores áreas superficiais. Tratamentos térmicos posteriores elevaram a área mas não aos patamares prévios a oxidação.
(Comercial) Carvão betuminoso BPL e WPL, CALGON.
Oxidação em solução 6M de HNO3 em temperatura ambiente por 5 h. Lavagem com água deionizada. Secagem a 110◦C por uma noite.
Redução pequena da área e volume de poros. Provável causa foi a destruição das paredes de poros e o bloqueio da entrada de poros por grupos superficiais oxigenados.
Concentração total de oxigênio aumentou. Formação de grupos ácidos.
Forte efeito químico da oxidação, criando grupos superficiais oxigenados que resultaram em um perfil de decomposição com menor relação CO/CO2 e maior adsorção de mercúrio.
(Comercial) Norit ROX 0.8; pellets (0.8mm diâmetro e 5mm comprimento), pH neutro, teor de cinzas de 3% p/p
Extração Soxhlet com solução 5M HNO3, 9g de carvão ativado por 3 h em refluxo. Lavagem com água destilada até pH neutro. Secagem a 110°C por 24h..
Redução de volume de microporos, mais drástica em condições de maior oxidação.
Grande quantidade de grupos superficiais oxigenados.
Modificações texturais devido as condições drásticas empregadas, que levaram ao colapso de poros. Aumento da acidez devido a grupos oxigenados superficiais ácidos.
(Comercial) Filtrasorb 200 (Calgon)
1 g de carvão para 10mL de HNO3 (10, 30, 50%). Lavagem com água deionizada ou tratamento com HCl seguido por lavagem com água deionizada
Sem efeitos. Formação de grupos carboxílicos, carbonilas e nitratos.
Alteração na acidez e pH superficial dos carvões.
(Comercial) Waterlink Sutcliffe Carbons
Oxidação. 10 g de carvão para 100mL HNO3 (2, 10, 30 e 60% v/v) por 3 h agitado em temperatura ambiente. Lavagem, filtração e secagem a 110 ◦C por uma noite.
Aumento da porosidade em concentrações de HNO3 maiores que 30%.
Aumento de grupos que se decompõe em CO e CO2 produzindo importantes mudanças na química da superfície.
Porosidade similar, mas mudanças nas características químicas da superfície.
(Comercial) Carvão mineral carbonizado e ativado com vapor d’água a 850 ◦C, área BET 770.4m2/g.
Tratamento térmico a 300 ◦C e mar. Oxidação: 3.2–13.2 mol/L HNO3, 100 ◦C, 1 h. Lavagem com água destilada até pH próximo a 7. Secagem a 120 ◦C por 2h.
Não avaliado. Aumento de grupos superficiais carboxílicos, especialmente em maiores concentrações de ácido nítrico.
Efeito de oxidação muito forte.
46 (Comercial) Merck, Ref. 102514,
Oxidation 1 g carvão para 10mL de HNO3 6M em ebulição até evaporação completa Lavagem até pH neutro. Secagem a 100 ◦C por uma noite.
Mudanças texturais com concentrações acima de 20% de ácido nítrico. Ocorrência da destruição da estrutura porosa devido a erosão das paredes dos poros.
Aumento de grupos superficiais oxigenados.
Aumento de todos os grupos oxigenados, mas com maior ênfase para fenol, carbonila/quinona e lactona. Os grupos lacotonas foram formados pela condensação de grupos carboxílicos adjacentes.
Tabela 4: Tratamentos oxidativos com ozônio (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011) Matéria-prima Condições
experimentais Modificação textural
Modificação química
Observações
Carvões ativados de café e carvão mineral
100mg de carvão ativado expostos a 0,23mg de O3/min por 1h em temperatura ambiente.
Redução do volume de microporos e aumento da dimensão fractal.
Não avaliado. Sem impactos nas isotermas com vapor d’água.
Carvão ativado microporoso de casca de coco
Reator de leito fluidizado com 0,5g de carvão e 20ml/min de mistura contendo 3% p/p de O3 em O2. Temperatura de 150°C por 1h ou 250°C por 1h e 3h.
Sem mudanças. Aumento do teor de oxigênio de 3,1 para 8,4%.
Não foram detectados grupos hidroxila. O tratamento reduziu a quantidade de 2-methylisoborneol adsorvido de soluções aquosas.
Comercial em pó tipo KBB da Norit (1500m2/g área superficial)
O carvão ativado foi suportado em pellets de KBr e tratado a 373K por 16h para degaseificação. A ozonização foi feita in situ na célula de vácuo de um espectrômetro de FTIR, o fluxo de ozônio foi de 26mg por 6h.
Não avaliado Formação de grupos carboxílicos, carbonilas e hidroxilas. Remoção de estruturas aromáticas e alifáticas.
Foi proposto um mecanismo para formação direta de grupos –COOH.
Comercial Filtrasorb 400 (Calgon) tipo granulado de origem betuminosa com área superficial de 1000m2/g
Oxidação em leito fixo com 2g of AC. Fluxo de ozônio de: 76mg O3/min de 10 a 120 min de reação a 25°C. Tratamento térmico posterior em 4 estágio feito em forno com 1h a 60°C, 1h a 100°C, 1h a 150°C e 24h a 170°C.
Redução de área superficial e volume de microporos. Aumento da área externa e volume de mesoporos. Pequeno aumento da área superficial em baixos tempos de ozonização.
Aumento de oxigênio de 1,8% para 24,9%. Aumento da concentração de grupos supeficiais ácidos (lactona, carbonila e carboxila). Redução de grupos básicos e do pHpzc.
Observadas relações lineares entre a quantidade de ozônio consumida, a geração de grupos ácidos e a eliminação de grupos básicos. 1mmol de ozônio consumido provocou o consumo de ≈3.2µeq/g de sítios básicos e a fixação de ≈16µeq/g de sítios ácidos. A adsorção de azul de metileno foi reduzida com a oxidação.
47 Carvão ativado comercial de casca de coco (Kowa Cosmos Company) com área superficial de 795m2/g e tamanho de poros médio de 14.7nm
Pré-tratamento: 500mg de carvão ativado foram imergidos em solução de NaOH (1N a 5N) por 24 h. Em seguida a amostra foi seca a 105 °C por 48 h. Oxidação: Vazão de ozônio de 100 mg/min durante 30 min a temperature ambiente. Lavagem com água destilada e secagem a 105 °C por 48 h
Não avaliado Aumento dos grupos funcionais oxigenados, especialemente fenólicos e carboxílicos.
Foram propostos mecanismos para a formação dos grupos superficiais a partir da formação de intermediários hidrotrióxido.
Carvão ativado comercial de casca de coco (Kowa Cosmos Company) com área superficial de 795m2/g e tamanho de poros médio de 14.7nm
Pré-tratamento: 500mg de carvão ativado foram imergidos em solução de NaOH (1N a 5N) por 24 h. Em seguida a amostra foi seca a 105 °C por 48 h. Oxidação: Vazão de ozônio de 100 mg/min durante 30 min a temperature ambiente. Lavagem com água destilada e secagem a 105 °C por 48 h
Aumento de 8,7% na área superficial específica e 7,5% de aumento do volume de microporos.
Aumento dos grupos funcionais oxigenados, especialemente fenólicos e carboxílicos.
Aumento da capacidade de adsorção de metiletilcetona e benzeno.
Carvão ativo commercial Filtrasorb 400 e AQ40, (Chemviron Carbon). Ambos de origem betuminosa com áreas BET de cerca de 850m2/g
Lavagem em água em ebulição e secagem a 110°C por uma noite. Oxidação: 0.25 g de carvão para um fluxo de ozônio de 16.6mg O3/min por 15 min a temperaturas de 25°C e 100°C
Sem grandes alterações estruturais. Redução de 8% na área superficial e 20% na microporosidade. Aumento de área externa de 15% e mesoporosidade 12%.
Forte fixação de grupos ácidos. Eliminação de grupos básicos e redução do pHpzc.
Grupos carbonxílicos representaram mais de 50% nas amostras tratadas a 25°C. A 100°C os tipos de grupos ácidos foram mais distribuídos. O tratamento reduziu a capacidade de adsorção de compostos fenólicos em soluções aquosas.
Carvão ativado comercial de casca de coco (Nacalai Tesque)
Reação em frasco com 1 g de carvão e fluxo de gás de 5 L/min com 3–7% p/p de ozônio em oxigênio, por 2h a temperatura ambiente
O tratamento aumentou a microporosidade.
Aumento da relação O/C de 0,18 para 1,27.
Carvão ativado comercial (Dong-Yang Carbon)
Reator de leito fixo com 2 g de carvão com fluxo de ozônio de 6g/h por 1h a 4h em temperature ambiente. Tratamento térmico posterior em 4 estágio feito em forno com 1h a 60°C, 1h a 100°C, 1h a 150°C e 24h a 170°C.
Área superficial específica, volume total de poros e volume de microporos reduzidos com o tempo de tratamento.
Aumento de alguns grupos oxigenados especialmente carbonila e éter.
Aumento na eficiência de remoção de NH3.
48 Vinte carvões ativados de diferentes características texturais e químicas
Usados reatores de leito empacotado e de leito expandido carregados com carvão ativado de 0,25 a 1,5g. O fluxo de gases foi de 25L/h de uma mistura contendo 20-50g/m3 de ozônio. Tempo de reação de 15min e temperaturas entre 298 e 473K.
Não avaliado Aumento de grupos funcionais oxigenados, especialmente carboxílicos e redução de grupos básicos.
A reação com ozônio seguiu cinética de primeira ordem com desativação devido ao formação de grupos ácidos superficiais.
Carvão ativado comercial de carvão mineral (CarboTechAC GmbH) com área superficial maior que 1000m2/g
200mg de carvão ativo foram secos a 100 °C por 30 min. Oxidação: Reator de leito fixo acoplado a espectrômetro de infra-vermelho. Fluxo de gases na relação 1:1:3 contendo 4000ppmv de ozônio em N2/O2 (1:1:3). Tempo: 3 h. Temperatura: 60 °C
Não avaliado Foram identificados 4 grupos superficiais oxigenados, carbonila, ácido carboxílico, lactona e anidrido.
As concentrações dos grupos funcionais foram calculadas por TPD e DRIFTS.
Carvão ativado granular de caroço de cereja, área BET de 602 m2/g
Reator de leito fluidizado com fluxo gasoso de 25L/h de uma mistura ar/ozônio com 1,5% de ozônio a temperatura ambiente por 1h.
Não afetou a estrutura.
Fixação de grupos superficiais oxigenados ácidos. Remoção de grupos básicos. Redução do pHpzc de 8.8 para 4.3
Aumentou a adsorção de íons Cu(II) e Co(II).
Outros tipos de funcionalização incluem a inserção de compostos de S e N na
superfície do carvão. A funcionalização para criação de grupos nitrogenados na
superfície dos carvões vem sendo bastante aplicada para captura de CO2 (JANG;
PARK, 2011) (HOUSHMAND; DAUD, 2013) (PEVIDA et al, 2008) (PLAZA et al,
2007)(CHEN et al, 2012)(THOTE, 2010)(LI, 2013), mas os grupos funcionais
nitrogenados também são considerados importantes para a adsorção de: ânions
(BINIAK et al, 1997)(CHEN et al, 2012), fenóis (STAVROPOULOS; SAMARASB;
SAKELLAROPOULOS, 2008), ácido fólico e vitaminas (SHEN et al, 2008), íons de
cobre (KASNEJAD et al, 2012), percloratos (CHEN; FRED, 2005), corantes
(PEREIRA et al, 2003), dentre vários outros tipos de compostos.
Na Tabela 5 pode-se visualizar um levantamento dos principais agentes
usados em tratamentos de carvões ativos para introdução de funcionalidades
nitrogenadas e os respectivos teores e tipos de grupos funcionais obtidos em
diversos trabalhos.
Tabela 5: Agente nitrogenantes e teores de N em tratamentos de carvões ativados (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011)
49
Agente Teores de nitrogênio reportados %m/m (%mol)
Grupos funcionais nitrogenados
NH3 3.74; 2.23; 4.4; 16.0; (5.8); 3.83; 2.3; 4.5; 1.63 e 2.1
Amina, nitrila ou Piridina Imida, amida e lactama Grupos C-N e C=N Aminas cíclicas e aromáticas
NH3-ar 3.8; 2.6 (2.8); 7.1 e 7.4 Espécies Imida, amida e lactama Iminas, aminas, N-5, N-6,
HCN 3.87 Amina e nitrila ou piridina N,N-dimetiletanolamina 3.2 Aminas terciárias N,N-dimetil-1,3-propanodamina
7.9 Aminas terciárias
HNO3 Grupos nitro e nitrato Piridina e espécies de óxidos de N-piridina
Uréia 3.4; 9.3; 5.1; 8.55 Piridinico, pirrólico/piridona, N quaternário e espécies de óxidos de N-piridina
Uréia-ar 5.6 Piridina, Pirrole, imina, amina, amida, N piridonico e quaternário
Melamina 6.0; 5.9 N Piridinico, pirrólico/piridona, quaternário, óxidos de N-piridina
MM-Uréia 5.4 Dicianodiamina 4.6 N,N-Dimetilformamida 1.9 N Piridinico e quaternário Etilenodiamina 10.29 Grupos N-H e CON.
Na Tabela 6 pode-se visualizar uma lista dos tratamentos empregados em
diversos trabalhos para introdução de funcionalidades nitrogenadas. Este tipo de
tratamento também é conhecido como nitrogenação da superfície de carvões.
Tabela 6: Tratamentos empregados para nitrogenação de carvões ativados (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011)
Matéria-prima Tratamento Condições Modificações texturais
Modificações químicas
Observações
Carvão ativado comercial de polímero sulfonado Ambersorb XE-348,
NH3 875K, 1.5h Não avaliado Teor de nitrogênio passou de 0,38% para 3,74% principalmente localizado em quinas da estrutura.
Como resultado da reação com NH3 a superfície do carvão ficou menos negativamente carregada com ponto isoelétrico de 5.7
Carvão ativado de turfa (Anthralur)
1- NH3 2- HCN
573-1173K, 4h (1) 1h (2)
A 1173K o volume de microporos aumentou com NH3 e diminuiu com HCN
O teor de nitrogênio passou de 0,71% para 2,23% com NH3 a 1173 K e para 3.87% com a 973 K. N gerou grupos amina, nitrila e piridina
N foi distribuído de forma homogênea com NH3 já para HCN ficou mais na superfície.
50 Quatro carvões comerciais NORIT RB0.8, RA+0.8, RH0.8, e C
(1) NH3-ar; (2) HNO3 (A); (3) A/NH3-ar; (4)A/HT; (5) A/NH3(B); (6)B/HT
(1) 503 K, 2.5 h; (2) refluxo, 4 h; (4)A/473–873 K, 2.5 h; (5) A/473 K, 2.5 h
Praticamente inalterada
A quantidade de nitrogênio introduzida por aminação ou amoxidação foi consideravelmente maior quando os carvões fora previamente tratados com HNO3. O teor de N foi <4.4%. Os grupos funcionais detectados foram imida, amida e lactama que poderiam ser convertidos em nitrogênio aromático por tratamentos térmicos acima de 873K.
Amoxidação e aminação resultaram diferentes grupos funcionais quando comparadas ao tratamento com NH3 a 800-1173K
Carvão comercial microporoso de turfa
e um carvão comercial H3PO4
mesoporoso ambos da empresa NORIT
(1) HNO3/NH3; (2)Ca(ClO)2/NH3
Tratamento com NH3 : 473 K, 2.5 h
Não avaliado Grupos carboxilatos foram convertidos em anmidas enquanto grupos hidroximetil geraram aminas.
Com amônia em temperaturas relativamente baixas foram formadas superfícies básicas com capacidade de troca de íons relativamente alta.
Carvões ativados comerciais (NORIT)
(1) HNO3/NH3/HT (C-NA); (2) NH3-air (C-Am); (3) NO3/N,Ndimethylethanolamine (C-dmea), N,N-dimethyl-1,3- Propanediamine (C-dmpa)/HT.
(1) Ebulição por 3 h a 503 K, 2.5 h a 673–1273 K, 10 min. (2) 693 K; (3) 406 K/673 K.
Não avaliado O teor de N (mol%) foi: C-dmpa (7.9) > C-NA (5.8) > C-dmea (3.2) >C-Am (2.6). Amoxidação levou a amidas, aminação levou a lactamas e imidas e posterior tratamento térmico gerou grupos piridina e pirrole. Reação de carvões pré-oxidados com aminas orgânicas resultaram em ligação de grupos aminas terciárias.
Carvão ativado de casca de amêndoa (carbonização: 1173 K, 1h; ativação: 1123 K, 1–8 h com vapor d’água; 0.15–0.25 mm).
HNO3 353K até secagem
Grande redução da área superficial interna e do volume de microporos com o aumento do nível de ativação.
Introdução de grupos nitro e nitrato superficiais.
Carvão ativado comercial (D43/1, Carbo-Tech Aktivkohlen Germany), Área superficial 1131m2/g.
HNO3/NH3 353 K, 3 h/1170K, 1070K, 2h
Aumento de tamanho e volume de microporos
Formação de piridina e estrturas de óxidos de N-piridina.
Para HNO3 aumento da concentração e força dos grupos ácidos. Após tratamento com amônia característica básica é ressaltada as custas de perda de acidez.
51 Carvão ativado de coco comercial (CG-10, Futamura Chemical).
(CH3CO)2O, H2SO4(conc.), HNO3 (fumegante)/28% amônia aquosa, Na2S2O4.
<278 K, 19 h a temperatura ambiente, 24 h.
Aminação provocou mudanças em todas as propriedades texturais.
Grupos nitro introduzidos pela nitração foram reduzidos a grupos amino pelo tratamento com NH3/NaS2O4..
Nitração e/ou aminação induziram acidez ou basicidade na superfície.
Carvão ativado com área superficial de 1288m2/g
NH3 473–873 K, 3 h Área BET e volume de microporos decresceram com o tratamento de amônia. A área BET foi reduzida em 14.3% pelo tratamento a 873K.
O teor de nitrogênio total subiu de 0,24% para 0,7-3,83%. Alta concentração de amidas a 673K e de quinonas básicas a 873K.
Novos grupos ácidos e básicos foram criados.
Diferentes carvões ativados
Uréia, NH3, dicianodiamina, N,Ndimetilformamida.
Autoclave sob pressão a 573K
Modificações mais ressaltadas em materiais com maior quantidade de microporos. Tratamento com uréia provocou a maior redução de área BET e volume de microporos.
A uréia favoreceu a introdução de N nos carvões. Nesses casos o teor de N foi de 3.4, 3.0 e 2.2%. Nos carvões tratados com N,N-dimetilformamida os principais grupos observados foram piridinicos e de nitrogênio quaternário.
Quatro carvões comerciais preparados a partir de: Madeira (BAX, Westvaco), casca de coco (S208, Waterlink Barnabey e Sutcliffe), carvão betuminoso (BPL, Calgon), e Casca de coco (PCB, Norit).
(1) Uréia (solução aquosa saturada); (2) HT.
1) Agitação, 48h; (2) N2, 723 ou 1223 K, 1h
O efeito depende da origem do carvão e da temperatura do tratamento.
O teor de nitrogênio subiu de 0.19% para 9.30% para BAX, 0.44% para 3.65% para BPL, 0.12% para 1.67% para S208, e 0.11% para 0.70% para PCB. N foi mais alto nos tratamentos a 723 K.
Após o tratamento térmico e com uréia um aumento do pH dos carvões foi observado.
Carvão ativado comercial (CWZ-35, Gryfskand) Área superficial 1323m2/g
NH3 473–1273 K, 2 h Não avaliado Grupos superficiais C-N e C=N foram introduzidos na superfície do carvão.
Carvão ativado de carvão betuminoso. Oxidação em ar a 447K por 24 h; pirólise em N2 a 1173K por 1h; e ativação em CO2 a 1123K for 16.5 h
(1) 50% HNO3/Melamina/tratamento térmico; (2) Melamina-uréia/tratamento térmico
(1) 4 h/5 h/Ar, 1123K ,0.5 h (SBC-M1); (2) 923 K, 1123K (SBC-M2).
Área superficial foi reduzida em aproximadamente 22% para as amostras SBC-M1 e SBC-M2.
Teor de N subiu de 1% para 6.0% no SBC-M1 e 5.4% para SBC-M2.
Teor de grupos básicos (meq/g) subiu de 0.05 para 0.35 na amostra SBC-M1, e 0.72 para SBC-M2.
Dois carvões comerciais baseados em madeira (Macro, Westvaco Inc.) e em carvão mineral (F400, Calgon Corp.), com áreas superficiais de, 1035, 1569m2/g.
NH3 573 K, 1 h; 673 K, 1 h; 1073 K, 2 h.
Em relação a amostras previamente oxidadas com HNO3 o tratamento com amônia aumentou a área BET em 151% para o carvão Macro e 46% para o F400.
Teor de N aumento de 0.4% para 8.6% no carvão Macro e de 0.5% para 7.5% no carvão F400.
Tratamento com amônia em alta temperatura de carvões oxidados aumentou a basicidade e o teor de N. O pHpzc aumentou de 1.9 para 6.9 no carvão Macro e para 8.5 no F400.
52 Carvão ativado comercial de carvão betuminoso (Superior Adsorbents Inc) com área superficial de 874m2/g
NH3 500–800°C, 1 h Área BET, volume de micro e mesoporos foram elevados com tratamento térmico a 973K. Poros criados estava na faixa de 5 a 30Å.
Houve incremento no teor de N de 0.64% para 1.61–1.63% e no teor de H de 0.64% para 0.87%.
A superfície do carvão ficou mais positivamente carregada com o aumento do pH
Carvão ativado comercial ROW 0.8 Supra (Norit),
NH3-O2 673K Área BET do carvão amoxidado foi de 1024m2/g
Teor de N subiu para 2.1%. Tipo de grupos formados foram N-6 (piridinico), N-5 (pirrolico e piridônico), N-Q (N quaternário) e N-X (óxidos de N-piridina).
Carvão ativado preparado por carbonização e ativação com KOH de carvão mineral
Uréia-ar 623K, 3h Área BET foi reduzida mas o produto ainda permaneceu com grande área superficial
Teor de N introduzido variou entre 4.6 e 5.8% dependendo da temperatura de carbonização. Principais grupos detectados foram N-6 (piridinico), N-5 (pirrolico e piridônico), imina, amina e amida.
Os tratamentos permitirão a geração de cavões de alta área superficial, 3000 m2/g enriquecidos em N.
Três carvões ativados comerciais (CWZ-11, CWZ-30, CWZ-35; Gryfskand Co), com áreas superficiais entre 680–1323m2/g.
NH3 873–1073 K, 2 h Houve decréscimo na área BET e volume de microporos com o tratamento.
Foram observados por infravermelho grupos NH e CN , amidas cíclica e aminas aromáticas.
A formação dos grupos N foi favorecida com maiores temperaturas de tratamento (1073K)
Carvão ativado comercial de carvão mineral (F400, Chemviron)
Tratamento térmico / (CH3CO)2O, H2SO4, e HNO3/Na2S2O4-NH3 (solução aquosa).
1173 K, 3 h/ < 283K; 293 K, 24 h; (2) 24 h.
Aumento dos microporos
Teor de N elevado de 0.45 para 1.06%
Carvão tratado teve o menor pHpzc
Carvão ativado comercial (Fitrasorb 200, Calgon), Área BET = 671m2/g.
Polianilina 10min Não houve alterações.
Aumento de estruturas com anéis aromáticos ricas em elétrons e da quantidade de grupos funcionais com N
A densidade de cargas superficiais positivas foi maior em meio ácido.
Carvão ativado comercial oriundo de madeira A (BAX-1500,MeadWestvac), Área superficial 2176m2/g.
(1) BAX, 50% HNO3 (BAX-O); (2) BAX, BAX-O; urea (U) or melamina (M) suspensão; (2) HT, N2 (BAX-U, BAX-M, BAX-OU, BAX-OM).
(1) 4 h; (2) 5 h; (3) 1223 K, 0.5 h.
Área superficial e porosidade foram reduzidas
Teor de N foi elevado de 0.2% para 5.1% (BAX-U) e 8.0% (BAX-OM). N quaternário, piridina, pirrólico/piridone e óxido de N-piridina foram formados A presença de grupos oxigenados na superfície antes do tratamento com uréia e melamina favoreceram a formação de N quaternário e óxido de N-piridina. A oxidação incorporou N como óxidos nítricos, nitratos e óxido de N-piridina.
Os tipos de grupos formados foram similares para os tratamentos com uréia e melamina porém as quantidades diferiram.
53 Carvão ativado comercial (CarboTech D45/2, DMT Modern Fuels Unit,) teor de N 0.37 m/m.%; área superficial de 1003m2/g, Vol. de microporos 0.252cm3/g.
Uréia carreada por hélio
723K (U1), 1073K (U2) 1h
Redução de área BET def 34% para U1 e de 29% para U2. Volume de microporos aumentado em 22.5% para U1 e em 48.8% para U2.
Aumento no teor de N para 8.55 m/m% para U1 e 6.52 m/m% para U2.
Carvão ativado comercial (Darco, Norit)
Ácido nítrico / Tionilcloreto / etilenodiamina.
313 K, 7 h/343 K, 5 h/363 K, 24 h.
Não avaliado Teor de nitrogênio elevado de 2.10% para 10.29% Ligações. C–Cl, C S, S O, N–H and CON identificadas por espectroscopia..
Grupos funcionais contendo Cl, S ou N foram introduzidos na superfície do carvão. O produto obtido foi mais ácido que o carvão ativo virgem. O pHpzc foi de 2.55 e 9.6 respectivamente.
Carvão betuminoso (KJ)
O precursor desmineralizado (KJD), o produto carbonizado (KJDC) e o carvão ativo formado (AC) foram tratados em misturas de NH3/ar na razão 1:3
623K, 5h Grande aumento de área superficial principalmente com microporos
O maior aumento de teor de N foi observado para a amostra KJD (16 wt.%), seguida pela AC (7.1%) e KJDC (6.7%). Nitrogênio foi introduzido principalmente na forma de iminas, aminas e amidas, N-5 pirrólico e N-6 piridinico. Espécies de N oxidadas também foram formadas.
Carvões ativados preparados a partir de carvão mineral (L), carvão sub-betuminoso (S), carvão betuminoso (B) e anthracita (A) por desmineralização com HCl and HF concentrados, carbonização (Ar, 973 K, 1 h) e activação: (KOH, 973K, 0.75h)
Mistura NH3-ar razão 1:3.
573 ou 623 K, 5 h
Amoxidação produziu tanto acréscimo na área superficial quanto perdas, dependendo da sua aplicação, no carvão ativado final, ou nas fases anteriores a ativação, no precursor ou no produto carbonizado.
O teor de N nos carvões ativos ficou entre 4 e 7% m/m
A amoxidação nos estágios iniciais antes da ativação geraram carvões ativados ácidos após a ativação. Já o tratamento feito após a ativação gerou um carvão ativado de características básicas.
Já a inserção de grupos funcionais contendo enxofre na superfície do carbono
também apresenta diversas aplicações, dentre estas destacam-se a remoção de
cádmio (TAJAR et al, 2009)(MACIAS-GARCIA et al, 2003), de chumbo (GOEL et al,
2005), amônia (PETIT; KANTE; BANDOSZ, 2010) e de mercúrio (GOMES-
SERRANO et al, 1998), (NABAIS et al, 2006) (LIU; VIDIC, BROWN, 2000) (WANG et
54
al, 2009) (LOPEZ-GONZALES, 1982) (KRISHNAN; ANIRUDHAN, 2002) (FENG et
al, 2006), dentre várias outras aplicações.
Na Tabela 7 pode-se visualizar uma lista de vários métodos de introdução de
grupos superficiais que contem enxofre na superfície dos carvões. Esse tipo de
tratamento também é conhecido como sulfurização.
Tabela 7: Tratamentos para sulfurização (Adaptado de RIVERA-UTRILLA et al, 2011) Matéria-prima Tratamento Condições Modificações
texturais Modificações químicas
Observações
Negros de fumo comerciais Black Pearls 1300 (Cabot) e Pittsburgh CPB (Calgon)
Tratamento térmico/S/ lavagem com CS2
1123–1173 K, 7–8 h/748 K, 3h/24h.
Não avaliado Não avaliado Após sulfurização tero de enxofre foi de 48% m/m para o Black Pearls 1300 e 43.0 % m/m para Pittsburgh CPB. Depois da lavagem com CS2 teor de S foi de 12.8 e 7.9 respectivamente
Três carvões ativados A, B e C Tamanho de partículas: A, 0.5–2.38mm; B, 1.0–2.0mm; e C, 1.0–2.38mm
(1) A,B,C-H2O2 (AO, BO, CO), (2) (A,B,C), (AO, BO, CO)-CS2/Trat. térmico/CS2 (lavagem); (AS, BS, CS), (AOS, BOS, COS).
(1) 298 K, 1 semana (2) 873 K, 6h, He saturado com CS2 a 288 K/773 K, He.
Exemplos: Área BET (m2/g): AO, 836, AOS, 776; BO, 1049, BOS, 824; CO, 1034, COS, 854. VPoros(d > 75Å ) (cm3/g): AO, 0.23 AOS; 0.22; BO, 0.60, BOS, 0.53; CO, 0.15, COS, 0.26.
Teor de S subiu para valores entre 6,68 e 10,91%. Foram identificados grupos sulfeto e hidrosulfeto na superfície dos carvões.
Carvão ativado comercial (Merck) Tamanho de partícula médio de, 1.5mm; Área BET = 921m2/g.
(1) SO2-T, (2) H2S-T, (3) SO2/N2, (4) H2S/N2, (5) SO2/H2S/N2, (6) SO2/H2S/N2-T.
(1) e (2), 1173 K; (3), (4) e (5), 303 K; (6) 473 K.
Área BET (m2/g): Carvão virgem, 921; SO2-T, 831; H2S-T, 785; SO2/H2S/N2-T, 764. Redução da área BET inferior a 17%
A presence de ligações C–S, S–S, C S, e S O foi detectada por espectroscopia FT-IR
O teor de enxofre dos carvões girou entre 2.1% m/m para o tratamento com H2S/N2 , 17.2 % m/m para o tratamento SO2-T, SO2 interage fortemente com o carbono, em temperatura ambiente a retenção de SO2 foi alta mas sua estabilidade foi baixa já que foi removido pelo N2.
55
Carvão ativado comercial (Calgon) de origem de carvão betuminoso. Área superficial entre 988–1026m2/g
S 873K, 2h Redução da área BET em 19.7%
Identificados anéis S8 em carvões ativados impregnados comerciais., e obtidas cadeias S2 e S6 nos carvões impregnados
O teor de enxofre foi de 10% m/m. Os anéis S8 estava fracamente ligados a macroporos, enquanto as cadeias S2 e S6 apresentaram ligações fortes em microporos.
Carvão ativado comercial (Calgon) de origem de carvão betuminoso. Área superficial entre 988–1026m2/g
S 873K, 2h Redução da área BET de 12 a 20%
Teor de S subiu de 0.5-0.7% no carvão virgem para 12.5-12.9% nos carvões impregnados. A principal forma de enxofre superficial foi de cadeias curtas lineares de alótropos de enxofre.
Atmosfera inerte durante a impregnação melhorou a deposição do enxofre.
Fibras de bagaço (1) Carbonização (C-200), (2) Usando C-200, ativação-sulfurização.
(1) 473 K, 2 h. (2) Vapor d’água, H2S; Vapor d’água, SO2; Vapor d’água, SO2, H2S; A 673 K.
Pequena redução da área superficial. Grande aumento do volume de mesoporos e redução do volume de macroporos.
Teor de S obtido de 7.8-8.9% m/m. Para a amostra tratada com SO2-H2S foram identificados grupos funcionais com ligações do tipo: C=S, S=O e S–S.
pHpzc foi menor para os carvões tratados.
Lignita, Desmineralização (5N HCl, 22N HF, 12N HCl), pirólise (N2;1073K, 1173 K, 0.5 h) e ativação (CO2; 1073K, 1173K, 6 h).
S 873K, 2h Capacidades de adsorção de nitrogênio e CO2, área BET e volume de micro e mesoporos foram reduzidos.
Não. A adição de enxofre foi afetada principalmente pela temperatura de impregnação e menos pela razão s/c e tempo de residência.
Carvão ativado comercial de casca de coco (Active Carbon Ltd.) teor de S 0.56% m/m, Área BET 1000m2/g.
Na2S Aquecimento até secagem
Área BET = 900m2/g
Teor de enxofre subiu de 0.56% para 7.86% após tratamento. Grupos contendo ligações do tipo C=S, S=O e S–S foram identificados por espectroscopia de FT-IR.
56
Carvão ativado microporoso comercial BPL (Calgon), Área BET = 1067m2/g.
H2S 673-1073K Pequena mudança no volume de poros na faixa de 10-20 Å.
Tratamento a temperaturas mais altas geraram maior quantidade de enxofre e grupos mais estáveis. A presença de H2S durante o resfriamento aumentou a quantidade de S porém com espécies menos estáveis.
H2S foi adicionado a sítios ativos em temperaturas menores que 600°C, e reagiu diretamente com o carbono em temperaturas mais altas, devido a decomposiçãod e grupos funcionais superficiais oxigenados gerando mais sítios ativos para a ligação com o enxofre. Em temperaturas mais altas as espécies de enxofre foram também mais estáveis.
Carvão ativado comercial (CAC): Área BET = 1287m2/g, e Vporos= 0.79cm3/g, e um carvão ativado de casca de nozes, ativação com H3PO4 (PAC) Área BET = 1557m2/g, Vporos= 0.93cm3/g).
SO2 Temperatura ambiente, 4h
Redução da área BET de cerca de 19%. Aumento do raio médio dos poros de 11,95 para 13,08 Å. Vporos reduzido de 0.93 para 0.82cm3/g
PAC sulfurizado mostrou bandas referentes a ligação C=S em 1160cm-1 no infravermelho.
Carvão ativado comercial de casca de coco (Shanghai) Área BET = 1884m2/g.
S 473-873K, 2h Para o carvão impregnado a 673K (ACS-400), Área BET foi reduzida em 2/3 para 646m2/g.
Dependendo da temperatura de impregnação o enxofre pode se depositar na superfície ou reagir com a matriz de carbono gerando espécies de thiofeno, sulfóxido, e sulfona
Para ACS-400 o teor de enxofre subiu de quase zero para 34% m/m.
Uma subclasse dos tratamentos com enxofre é a sulfonação. Curiosamente,
nos reviews sobre funcionalização de carvões ativados, a sulfonação não é citada.
Possivelmente tal fato se deva a que estes trabalhos possuam foco em
aplicação de carvões ativados funcionalizados para adsorção de compostos de
interesse e não para aplicações catalíticas, como é o caso da grande maioria dos
trabalhos voltados para sulfonação de carvões ativados.
57
Foi verificado, por vários autores, que a introdução de grupos sulfônicos (-
SO3H) na superfície dos carvões altera o pH da superfície destes, modificando as
características de adsorção e proporcionando a aplicação destes carvões como
catalisadores em sínteses com catálise heterogênea ácida. Embora a principal
aplicação desses carvões sulfonados seja como catalisadores ácidos (PENG et al,
2005), a aplicação desses materiais em adsorção de amônia (PETIT; KANTE;
BANDOSZ, 2010) e como suporte para catalisadores metálicos (SUN et al,
2009)(DU et al, 2008)(HUNG et al, 2012)(PAK et al, 2007) também mostrou
resultados promissores.
Nesse sentido, a introdução de grupos sulfônicos (-SO3H) nestes materiais
ganhou importância, pois possibilitou a geração de uma nova classe de sólidos
ácidos com boas propriedades catalíticas, especialmente para reações de hidrólise e
esterificação (KOBAYASHI et al, 2011).
A acidez dos carbonos sulfonados se deve à ionização do grupo sulfônico que
age como um ácido forte. Este mesmo mecanismo é usado em resinas poliméricas
sulfonadas para troca de íons, onde o hidrogênio do grupo sulfônico é trocado por
um cátion em solução (PETIT, 2010) (SONDHEIMER et al, 1986).
Cn-SO3H + H2O � Cn-SO3- + H3O
+
Outros grupos funcionais presentes na superfície dos carvões, como ácidos
carboxílicos e fenólicos, também podem causar acidez, porém a força ácida dos
grupos sulfônicos é a responsável por grande parte da acidez superficial destes
carvões. A introdução dos grupos sulfônicos se dá pela reação entre o agente
sulfonante e os anéis aromáticos que compõe a estrutura do carvão, através de um
mecanismo de substituição eletrofílica (ALDANA-PÉREZ et al, 2012).
Figura 14: Representação esquemática da sulfonação de carvões. (Adaptado de ALDANA-PÉREZ et al,
2012)
Nas condições em que a sulfonação ocorre, o agente sulfonante, bem como
as características da superfície do carvão que está sendo sulfonado, são
58
importantes parâmetros que irão influenciar a quantidade de grupos sulfônicos
introduzidos na matriz carbonácea.
Embora a introdução de grupos sulfônicos ácidos possa ser realizada também
na superfície de sólidos inorgânicos, em geral sólidos orgânicos são preferíveis por
serem normalmente mais hidrofóbicos; essa característica é importante para permitir
a aplicação desses materiais a processos catalíticos de conversão de
hidrocarbonetos em fase aquosa (TIAN et al, 2011).
2.4 Preparação de carvões sulfonados
A preparação dos carvões sulfonados pode ser dividida em duas etapas,
sendo a primeira a obtenção da matriz carbonosa e a segunda a introdução de
grupos sulfônicos SO3H.
A primeira etapa de preparação está relacionada à criação da matriz
carbonosa que será a base para ancoragem dos grupos sulfônicos. Esta etapa pode
ser realizada partindo de 3 grupos de materiais diferentes, sendo estes o material
carbonoso in natura, o material carbonizado em temperaturas intermediárias ou após
a obtenção de carvões ativados em temperaturas mais elevadas (NAKAJIMA;
HARA, 2012) (TIAN et al, 2011).
Figura 15: Opções para precursores de carvões sulfonados
A sulfonação propriamente dita se dá na maioria das vezes com ácido
sulfúrico concentrado, embora a princípio a introdução dos grupos sulfônicos possa
ser feita utilizando qualquer composto que contenha o enxofre.
Uma maior quantidade de sítios ácidos que sejam estáveis termicamente é o
principal objetivo da maioria dos estudos de preparação dos carvões sulfonados.
59
Nesse sentido, as principais variáveis avaliadas nos trabalhos são o material de
partida para a sulfonação, o agente sulfonante e sua concentração, a temperatura
de sulfonação, a relação mássica entre agente sulfonante e matéria prima e a
atmosfera em que a sulfonação é realizada.
Os melhores resultados que vêm sendo reportados dão conta de que a
sulfonação de materiais não completamente carbonizados geraria maior quantidade
de sítios ácidos estáveis termicamente.
O agente sulfonante mais comum nos trabalhos de pesquisa é o ácido
sulfúrico em sua forma mais concentrada. As temperaturas de sulfonação são
bastante variadas, tendendo a estar na faixa de 100-150°C. A relação mássica entre
agente sulfonante e matéria prima mais empregada é de 10, enquanto que a
atmosfera pode ser inerte ou com ar.
2.5 Adsorção. Teoria
O fenômeno de adsorção é resultado do desbalanceamento de forças que
ocorrem na superfície de todos os sólidos, com isso quando superfícies de sólidos
entram em contato com líquidos ou gases existe uma força de atração que captura
moléculas, átomos ou íons da fase líquida ou gasosa e os mantém na superfície
sólida, criando um filme líquido ou gasoso (BANSAL et al, 2005) .
As moléculas que se adsorvem são conhecidas como adsorvatos e o sólido é
o adsorvente. A adsorção pode ter natureza física ou química. Na adsorção física,
também conhecida como fisissorção, as forças que governam o fenômeno são
forças de Wan der Waals, relativamente fracas. (BANSAL et al, 2005) .
Já na adsorção química, também conhecida como quimissorção, existe a
troca ou compartilhamento de elétrons entre o adsorvato e o adsorvente, gerando
uma ligação química entre estes. Esta ligação química é muito mais forte que as
forças existentes no processo de fisissorção.
Na Tabela 8 pode-se visualizar uma comparação entre as diferentes
características das adsorções física e química.
60
Tabela 8: Diferenças entre quimissorção e fisissorção. Propriedade Quimissorção Fisissorção
Temperatura de
adsorção
Faixa virtualmente
ilimitada
Próxima ou abaixo do
ponto de ebulição do
adsorvato.
Entalpia de adsorção Ampla faixa (40-800
KJmol-1)
Calor de liquefação (5-
40 KJ.mol-1)
Especificidade
cristalográfica
Diferença considerável
entre planos
cristalográficos distintos
Independe da geometria
da superfície
Natureza da adsorção Frequentemente
dissociativa e
irreversível
Não-dissociativa e
reversível
Saturação Limitada a uma
monocamada
Frequentemente em
multicamadas
Cinética da adsorção Processo ativado Rápido processo não
ativado
Como o processo de adsorção é um fenômeno de superfície, um bom
adsorvente necessita possuir uma grande superfície específica. Outra importante
característica é a distribuição de tamanho e o volume de poros que o adsorvente
possui.
O tamanho dos poros dos adsorventes é classificado pela Intenational Union
of Pure and Apllied Chemistry segundo a tabela abaixo (ROUQUEROL et al, 1994):
Microporos – poros com diâmetro <2nm
Mesoporos – poros com diâmetro entre 2nm e 40nm
Macroporos – poros com diâmetro >50nm
Devido ao seu tamanho reduzido, as forças de atração exercidas pelas
paredes dos microporos se sobrepõem, com isso neste tipo de poro a adsorção
ocorre muito mais fortemente do que em poros de dimensões maiores. De fato, o
preenchimento de microporos é um fenômeno primário nos processos de adsorção.
61
Carvão sólidoMoléculas de adsorvato
na fase gasosaCamada adsorvida na superfície
Carvão sólidoMoléculas de adsorvato
na fase gasosaCamada adsorvida na superfície
Figura 16: Representação esquemática da adsorção na superfície de um carvão (MANOCHA, 2003).
A adsorção é um processo dinâmico, em um mesmo momento moléculas de
adsorvato estão sendo adsorvidas e outras estão se desconectando da superfície do
adsorvente (dessorção) retornando para o fluido. Este processo depende da pressão
parcial do adsorvato e quando as taxas de adsorção e dessorção são iguais o
sistema se encontra em equilíbrio (MANOCHA, 2003).
A quantidade de um gás adsorvido em uma massa de adsorvente sólido é
dependente da pressão de equilíbrio, da temperatura e da natureza do sistema gás-
sólido. A relação entre a quantidade de gás adsorvida em uma unidade de massa de
sólido e a pressão de equilíbrio em temperatura constante dá origem a uma isoterma
de adsorção (ROUQUEROL; ROUQUEROL; SING, 1999).
As isotermas de adsorção são usadas para estimar a superfície específica e a
distribuição de volume e tamanho de poros, informações que são fundamentais para
a determinação da eficiência de um adsorvente (MANOCHA, 2003).
Segundo a classificação de Sing et al, (1985), adotada pela IUPAC, as
isotermas podem ser de 6 tipos diferentes, conforme mostrado na Figura 17
62
Qua
ntid
ade
ads
orvi
da e
spec
ífica
n
Pressão relativa p/p 0
Qua
ntid
ade
ads
orvi
da e
spec
ífica
n
Pressão relativa p/p 0
Figura 17: Os 6 diferentes tipos de isotermas segundo a classificação da IUPAC (ROUQUEROL;
ROUQUEROL; SING, 1999).
Os microporos, por possuírem maior energia de adsorção requerem pressões
menores para serem preenchidos. Por isso a região de baixas pressões relativas
(p/p0) das isotermas sempre gera informações a respeito dos microporos.
Já os mesoporos são normalmente preenchidos em pressões relativas mais
altas e são caracterizados pela presença de histerese. O fenômeno da histerese
ocorre quando o mecanismo de adsorção das moléculas de gás na superfície é
diferente do mecanismo de dessorção dessas moléculas. Na isoterma, a parte
superior do loop de histerese se deve ao mecanismo de dessorção, enquanto o
inferior ao de adsorção. Normalmente, a histerese termina em pressões relativas de
cerca de 0,4. Embora os mesoporos apresentem uma contribuição considerável para
a adsorção, eles têm um papel mais importante como condutores das moléculas de
adsorvato para os microporos (BANSAL et al, 2005) .
A isoterma do tipo I é côncava em relação ao eixo das pressões relativas e
apresenta um rápido incremento na quantidade adsorvida em baixas pressões. Em
seguida é formado um platô em pressões relativas em torno de 0,5, indicando que a
capacidade de adsorção se esgotou (MANOCHA, 2003). Por isso, essa isoterma é
característica de sólidos microporosos (ROUQUEROL; ROUQUEROL; SING, 1999).
63
A isoterma do tipo II é inicialmente côncava em relação ao eixo das pressões
relativas, em seguida torna-se quase linear e finalmente se mostra convexa. O ponto
B da isoterma representa o ponto em que uma monocamada de adsorvato foi
formada em toda a superfície do sólido. Em seguida, com o aumento da pressão,
passa-se a observar a formação de multicamadas. Esse tipo de isoterma é
característico de sólidos não-porosos ou macroporosos, que não apresentam
restrições para a formação de multicamadas. (ROUQUEROL; ROUQUEROL; SING,
1999).
A isoterma do tipo III é raramente observada. É convexa em relação ao eixo
das pressões relativas e representa sistemas onde as interações entre o sólido e o
gás são muito fracas (ROUQUEROL; ROUQUEROL; SING, 1999).
A isoterma do tipo IV é característica de sólidos que apresentam mesoporos.
Sua seção inicial é similar a isoterma do tipo II, porém em maiores pressões
apresenta histerese. A presença de histerese está normalmente associada a
mesoporosidade, onde a ocorrência de condensação capilar gera a diferença de
mecanismos nos processos de adsorção e dessorção (ROUQUEROL;
ROUQUEROL; SING, 1999).
A isoterma do tipo V também é rara. Apresenta forma similar à da isoterma
tipo III e também é característica de fraca interação entre o gás e o sólido. A
diferença é a presença de um loop de histerese associado a diferenças nos
mecanismos de preenchimento e esvaziamento dos poros (ROUQUEROL;
ROUQUEROL; SING, 1999).
A isoterma do tipo VI é muito rara. Essa isoterma também é conhecida como
isoterma em degraus. Sua forma está associada a um fenômeno de adsorção em
passos, camada por camada. É característica de superfícies bastante uniformes
(ROUQUEROL; ROUQUEROL; SING, 1999).
2.6 Hidrólise
A hidrólise é uma reação de clivagem de ligações químicas promovida por
uma molécula de água.
Nesse tipo de reação uma molécula é dividida em duas partes, com uma das
partes recebendo o íon H+ da água e a outra recebendo a hidroxila. Porém. em
64
condições brandas, poucas reações de hidrólise de moléculas orgânicas ocorrem
em um intervalo de tempo que seja razoável. Para tornar a ocorrência dessas
reações mais rápida muitas vezes são aplicados ácidos, bases ou enzimas como
catalisadores. Estes catalisadores dão origem aos diferentes tipos de hidrólises,
sendo os mais comuns a hidrólise ácida, a hidrólise alcalina, a hidrólise enzimática,
a hidrólise pura ou térmica e a hidrólise com líquidos iônicos.
Na hidrólise ácida os catalisadores ácidos agem em grande parte das reações
protonando oxigênios presentes em diversos tipos de ligações em compostos
orgânicos, tornando-os mais suscetíveis ao ataque do par de elétrons disponíveis no
oxigênio da molécula de água. A hidrólise ácida é a mais empregada para conversão
de celulose e celobiose em glicose.
No caso da catálise básica, os íons hidroxila em meio aquoso atacam mais
fortemente o carbono deficiente em elétrons ligado a um ou mais oxigênios. Neste
processo, é formado um intermediário com carga negativa. A hidrólise alcalina de
celulose já foi estudada, porém apesar de os íons hidroxila promoverem a quebra
das ligações glicosídicas, a glicose formada é em parte degradada pelo meio
alcalino. Além disso, também ocorre a formação de ácidos orgânicos que consomem
a hidroxila do meio, causando a necessidade de reposição de base (VAN LOON;
GLAUS, 1997).
A hidrólise enzimática ocorre pela ação de proteínas que catalisam reações
de hidrólise. Essas proteínas normalmente possuem centros ativos com
grupamentos químicos nucleofílicos que promovem o ataque à estrutura. No caso
das enzimas celulases que promovem a hidrólise de celulose, os grupos
responsáveis pela ação catalítica são os ácidos aspártico e glutâmico (ANDERSEN,
2007).
Na hidrólise pura ou térmica não há presença de catalisador, mas as
condições de temperatura e pressão são mais drásticas de forma a aumentar a
velocidade das reações de hidrólise.
A hidrólise com hidratos de sais fundidos pode ser considerada um caso
especial de hidrólise ácida e pode ser empregada especialmente na hidrólise de
celulose (ALMEIDA et al, 2010). Nesse meio, hidratos de sais como ZnCl2, CaCl2 e
LiCl facilitam a solubilização da celulose através da quebra das pontes de hidrogênio
que mantêm suas cadeias unidas, tornando-a mais facilmente hidrolisável por um
ácido presente na solução.
65
Alguns exemplos de reações de hidrólise incluem a hidrólise de amidas e
ésteres, a hidrólise de triglicerídeos para a produção de sabões, a hidrólise de
moléculas de ATP para obtenção de energia no organismo, além da hidrólise de
proteínas e carboidratos fundamentais para a digestão.
A hidrólise de material celulósico para geração de açúcares vem sendo vista
como uma importante rota para geração de combustíveis e outros produtos
químicos. A celulose, que é um biopolímero de moléculas de glicose, apresenta
carbonos ligados a átomos de oxigênio, que são sítios naturalmente deficientes em
elétrons e suscetíveis a reações de hidrólise. Estas reações possibilitam a obtenção
de glicose e a partir deste açúcar de 6 carbonos a obtenção de inúmeros produtos
por rotas químicas ou biotecnológicas. Alguns exemplos de produtos que podem ser
obtidos a partir da glicose podem ser vistos na Figura 18.
Celulose
Glicose
Ácido láticomonômero p/ plásticos
P(3HB)plástico
EtanolCombustível
Ácido succínicomonômero p/ plásticos 5-Hidroximetil furfural
Precursor de plásticos e combustíveis
Celulose
Glicose
Ácido láticomonômero p/ plásticos
P(3HB)plástico
EtanolCombustível
Ácido succínicomonômero p/ plásticos 5-Hidroximetil furfural
Precursor de plásticos e combustíveis
Figura 18: Algumas rotas possíveis a partir de glicose (KOBAYASHI et al, 2011)
A hidrólise de celulose, porém, não é facilitada pela presença de outras
frações da biomassa, especialmente a lignina, que atua como proteção para a fração
celulósica, dificultando o acesso de reagentes às cadeias de celulose.
Nesse sentido, a utilização de hidratos de sais fundidos foi proposta para a
realização de hidrólise já que os hidratos destes sais possibilitam a dissolução
66
completa da celulose. Isso se deve ao rompimento das pontes de hidrogênio que
existem entre as hidroxilas das glicoses que formam a cadeia de celulose, tornando
a celulose mais suscetível ao ataque de ácidos (FISCHER; THUMMLER, 2010)
(OHNO; FUKAYA, 2009). Esse processo mostrou-se capaz de fragmentar a
estrutura da biomassa de forma fracionada, possibilitando, em um estágio mais
brando, a hidrólise da hemicelulose, gerando açúcares de 5 carbonos; e em
condições de maior severidade, a hidrólise da celulose gerando glicose. (ALMEIDA
et al, 2010)
O mecanismo para a quebra das ligações β-1,4 glicosídicas em meio ácido
pode ser visto na Figura 19. A reação pode transcorrer por 2 vias, com a protonação
do oxigênio da ligação glicosídica ou pela protonação do oxigênio cíclico promovida
por um íon H+. Em seguida o par de elétrons disponíveis no oxigênio da água ataca
o carbocátion formado provocando a quebra da ligação glicosídica. Esta última é
considerada a etapa lenta do processo (LU, 2010).
Celulose
Equil íbr ioRápido
Celulose
Equil íbr ioRápido
Figura 19: Mecanismo de hidrólise ácida de celulose (LU, 2010).
Infelizmente a hidrólise de celulose não gera apenas a sua unidade
fundamental, a glicose. Fragmentos de cadeia com 2 a 10 unidades de glicose,
conhecidos como oligossacarídeos, são obtidos com freqüência e reduzem o
67
rendimento do processo por não poderem ser posteriormente convertidos em
produtos de interesse.
Dentre estes fragmentos o mais simples é a celobiose, que é composta de 2
unidades de glicose ligadas por uma ligação β-1,4 glicosídica, do mesmo tipo que
forma a cadeia de celulose. Embora já existam estudos para aplicação da celobiose
como um agente de baixa caloria para diluição e transporte de micronutrientes na
indústria de alimentos e como espessante em cosméticos, a sua obtenção também é
indesejada se o objetivo é chegar a molécula de glicose (VANDERGHEM et al,
2010).
Celulose
Celohexaose Celopentaose
Celotetraose Celotriose Celobiose
Glicose
Celulose
Celohexaose Celopentaose
Celotetraose Celotriose Celobiose
Glicose
Figura 20: Fragmentação da cadeia de celulose provocada pela hidrólise (Adaptado de SASAKI, 1998)
Devido a isso, uma etapa posterior a hidrólise da celulose visando à hidrólise
de celobiose e outros oligossacarídeos passa a ser interessante.
Nesse cenário a utilização de sólidos ácidos em substituição a ácidos líquidos
vem ganhando destaque na literatura porque diversos materiais vêm apresentando
68
bons desempenhos nessa reação, com destaque para carvões sulfonados, que
possuem alta atividade e seletividade para formação de glicose.
Além disso, a hidrólise de celobiose também é vista como uma reação modelo
para determinar a viabilidade de utilização de catalisadores diretamente para a
hidrólise de celulose, já que apresenta o mesmo tipo de ligação β-1,4 glicosídica e
ocorre pelo mesmo mecanismo proposto para a hidrólise de celulose. A realização
da hidrólise da celobiose permite observar o potencial de quebra das ligações
glicosídicas por catalisadores ácidos sem interferência da cristalinidade da celulose
ou problemas de insolubilidade da celulose em meio aquoso (MASHAYEKY et al,
2009)(GEBOERS et al, 2010).
69
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Carvões ativados – Ativação química de lignina
A ativação química de materiais carbonáceos é uma importante opção para a
geração de carvões ativados de altas superfícies específicas e volume de poros.
Suas vantagens em relação a ativação física se relacionam com um melhor controle
da distribuição do tamanho de poros e um melhor rendimento mássico dos carvões
ativados devido à inibição de algumas reações de formação de alcatrão que ocorrem
durante os tratamentos térmicos.
A quantidade de estudos publicados sobre a aplicação da ativação química às
mais diversas fontes de carbono é enorme. Somente nos primeiros 2 meses do ano
de 2013 estavam disponíveis na base de dados Science Direct mais de 50 trabalhos
sobre a produção e uso de carvões ativados quimicamente.
Embora não tão amplo quanto os tipos de matéria prima estudada, o tipo de
agente ativante também tem vários candidatos. Estas duas variáveis com muitos
níveis dão origem a uma infinidade de pares matéria prima x agente ativante, o que
possibilita inúmeros trabalhos científicos.
Resíduos de bambu e castanha ativados com hidróxido de potássio
(GONZÁLES-GARCIA et al, 2013), coque de petróleo ativado com ácido fosfórico
(RAMBABU et al, 2013), fibras de algodão ativadas com carbonato de potássio
(CHEN et al, 2013), casca de arroz ativada com ácido fosfórico (SOMASUNDARAM
et al, 2013), espiga de milho ativada com hidróxido de potássio (SONG et al, 2013),
lignina ativada com hidróxido de potássio (GAO et al, 2013) e celulose ativada com
cloreto de zinco (YUE et al, 2013) são alguns dos trabalhos mais recentes
publicados e dão ideia da diversidade de opções para a geração de carvões
ativados.
Nesse contexto a lignina é um resíduo comumente estudado como precursor
para carvões ativados. O interesse nesse resíduo se deve a grande quantidade de
lignina obtida no processamento de biomassa na indústria de papel. Desta forma a
grande maioria dos trabalhos publicados utiliza lignina oriunda de processos de
produção de papel.
A ativação de lignina pode ser interessante porque carvões ativados
preparados a partir de materiais com alto conteúdo de lignina mostraram maior
70
quantidade de poros de maiores dimensões em comparação com carvões ativados
de materiais com mais celulose, que foram essencialmente microporosos
(IOANIDOU et al, 2007). Materiais com grandes áreas superficiais e maiores
tamanhos de poros podem ser usados em aplicações mais nobres, como
catalisadores ou suportes de catalisadores.
Além disso, o alto teor de carbono aromático naturalmente presente na lignina
também é uma característica desejável para a obtenção de carvões ativados com
altos rendimentos (RAGAN et al, 2011). Valores de superfície específica em torno de
2000m2/g com volume de poros da ordem de 1cm3/g já foram reportados
(GELLERSTEDT et al, 2013)
Dentre as ligninas utilizadas oriundas da indústria de papel existem:
a) A lignina Kraft, do processo de produção em meio básico, representa a
maior quantidade disponível industrialmente com 55 milhões de toneladas geradas
por ano (GELLERSTEDT et al, 2013) (KIJIMA et al, 2011) (WILD et al,
2012)(ALBADARIN et al, 2011)(SUHAS et al, 2009)(BABEL et al, 2008)(FIERRO et
al, 2008)(JIN et al, 2010)(RAGAN et al, 2011).
b) A lignina hidrolítica que advêm do processo ácido (BAKLANOVA et al,
2003)(CARROT et al, 2010) e
c) a lignina Organosolv que vem do processo com solventes orgânicos (XU et
al, 2006).
Outro tipo de lignina estudada é a oriunda de processos de hidrólise
(ROMERO-ANAYA et al, 2011)(ZOU; HAN, 2001). Esse tipo de lignina passa a ser
interessante porque é a lignina obtida no processo de produção de etanol de
segunda geração que atrai cada dia maior atenção e já possui diversas unidades
comerciais anunciadas no mundo. Porém o número de trabalhos nessa área ainda é
muito reduzido.
Embora todas sejam nomeadas ligninas Mansouri e Salvadó (2006),
compararam em seu trabalho características diversas de ligninas de várias origens,
incluindo a lignina Kraft, a lignina Organosolv e a lignina gerada pela hidrólise do
processo de etanol 2G. Mostrando que as amostras possuíam diferenças físicas e
químicas marcantes.
Carrot et al, (2010) compararam a ativação da lignina Kraft com a lignina
hidrolítica ativadas por KOH ou NaOH e mostraram que sob as mesmas condições
de ativação a lignina Kraft apresentou resultados superiores em termos de superfície
71
específica e volume de poros, sendo esta diferença mais pronunciada para a
ativação com NaOH. Os autores também concluíram que o hidróxido de potássio foi
um agente ativante mais efetivo, possibilitando o alcance de superfície específica e
volume de poros bastante superiores aos casos com hidróxido de sódio. Os
resultados de Carrot et al, (2010) estão de acordo com as observações de Mansouri
e Salvadó (2006) e confirmam que o processo que dá origem à lignina influencia
diretamente as suas propriedades, influenciando, em última instancia, também o
carvão ativado que será obtido pela sua ativação.
3.1.1 O papel dos agentes ativantes
Apesar de haver alguma variedade de agentes ativantes estudados, existem
alguns mais utilizados nos trabalhos com lignina. Ácido fosfórico, hidróxido de
potássio e cloreto de zinco representam a maioria dos trabalhos avaliados, porém
também é possível observar tentativas de uso de carbonato de potássio e hidróxido
de sódio.
Albadarin et al, (2011) estudaram a remoção de cromo de soluções aquosas
utilizando carvões ativados de lignina Kraft preparados com ácido fosfórico. O
carvão ativado foi preparado pela impregnação da lignina com ácido fosfórico por
24h, seguida de secagem a 110°C e carbonização a 60 0°C por 1h em fluxo de CO 2.
Ao término da carbonização o material foi lavado com água aquecida e uma solução
de bicarbonato de sódio para remoção do ácido residual. Os autores obtiveram uma
superfície específica de 98,28 m2/g e um volume de poros de 8,51 x 10-2 cm3/g,
ambos considerados muito baixos. Tais características inferiores foram atribuídas ao
uso do CO2 na etapa de carbonização.
Babel e Jurewicz (2008) avaliaram a eletrossorção de hidrogênio em carvões
ativados de lignina Kraft preparados com hidróxido de potássio. O carvão ativado foi
obtido carbonizando a lignina a 900°C por 3h e em s eguida realizando a
impregnação com KOH, com massa de quatro vezes a de carbonizado. Finalmente
foi realizada a ativação a 950°C por 45min em atmos fera de argônio. Os autores
obtiveram nessas condições um carvão ativado microporoso com alguma
mesoporosidade, a superfície específica alcançada foi de 1946m2/g e o volume total
de poros de 0,961cm3/g, sendo 0,234cm3/g relativos a mesoporos. Os autores
concluíram que o material possui propriedades excelentes para o armazenamento
de hidrogênio.
72
Fierro et al, (2008, 2006, 2005) estudaram a ativação de lignina Kraft com
hidróxido de sódio, hidróxido de potássio e ácido fosfórico. A preparação com NaOH
foi realizada macerando o agente ativante com a lignina na razão mássica de 3:1 de
NaOH:Lignina. Em seguida o material foi carbonizado a 750°C com taxa de
aquecimento de 5°C/min em fluxo de nitrogênio de 20 0cm3/min por 1h. Ao término
do processo o material absorveu umidade do ar por 2 dias e em seguida foi lavado
com solução 1M de HCl e água destilada. A preparação com KOH foi similar a
anterior, porém com temperatura de carbonização de 700°C e vazão de nitrogênio
de 400cm3/g. A ativação com ácido fosfórico foi realizada impregnando a lignina com
o agente na razão mássica ácido:lignina de 1.4. A mistura repousou por 48h e em
seguida foi carbonizada em atmosfera de ar, seguindo até 150°C a 10°C/min e
permanecendo por 1h para secagem do material, em seguida a temperatura foi
elevada para 500°C e mantida por 2h. Ao final do pr ocesso o material foi lavado para
completa remoção do ácido. Nestas condições o carvão ativo preparado com KOH
apresentou superfície específica de 2920m2/g com volume de poros de 1,583cm3/g,
o carvão preparado com NaOH apresentou superfície específica de 2340m2/g com
volume de poros de 1,338cm3/g. Já o carvão preparado com ácido fosfórico
apresentou superfície específica de 940m2/g com volume de poros de 0,442cm3/g.
Todos os carvões mostraram-se microporosos e foram considerados adequados
para a remoção de fenóis de correntes aquosas.
Jin et al, 2010 compararam a ativação com hidróxido ou carbonato de
potássio de lignina comercial oriunda de palha. O material foi preparado
impregnando-se lignina com soluções aquosas dos agentes ativantes com
concentração de 40% em massa, em diferentes proporções, variando-se a razão
mássica agente:lignina de 0,8 a 2,4. O material impregnado foi deixado em
temperatura ambiente por 16h e em seguida pirolisado a temperaturas de 500 a
900°C e taxa de aquecimento de 20°C/min por tempos variando entre 20 e 60min.
Os melhores resultados foram obtidos para o carbonato de potássio usando razão
mássica agente/lignina de 2, ativação a 800°C por 5 0min, gerando um carvão de
1104m2/g de superfície específica. Para o caso do hidróxido de potássio a melhor
amostra também foi obtida com razão mássica agente/lignina de 2 e tempo de
ativação de 50min, porém em temperatura de 700°C. O s autores propuseram que as
reações de ativação com hidróxido de potássio passam pela formação de carbonato
de potássio, sendo este o responsável pelas reações de gaseificação do carbono.
73
4KOH + C → K2CO3 + K2O + 2H2
K2CO3 + 2C → 2K + 3CO
Além disso, os autores concluíram que o carbonato de potássio foi um agente
ativante mais efetivo e gerou carvões mais microporosos em comparação com o
hidróxido de potássio nas mesmas condições.
Já Sun et al, (2006) também estudaram a ativação com carbonato de potássio
de lignina Kraft. A lignina foi inicialmente carbonizada a 350°C por 5min em fluxo de
nitrogênio de 8L/min, o material obtido foi impregnado com carbonato de potássio na
razão agente:lignina de 1:1 e ativado a 800°C por 6 0min O carvão obtido
apresentou superfície específica de 1217m2/g e volume de poros de 0.65 cm3/g,
próximo ao obtido por Jin et al, (2010).
Além disso, os autores mostraram que o aumento de temperatura de ativação
leva a um aumento da superfície específica até um máximo devido ao aumento da
taxa da reação de gaseificação do carbono pelo carbonato de potássio. Porém
acima de 800°C o alargamento dos poros acaba reduzi ndo a área total superficial,
com o aumento da proporção de meso e macroporos.
Em um trabalho posterior Sun et al, 2010 avaliaram ativação de lignina Kraft
com ácido fosfórico em diversas temperaturas. A impregnação com ácido fosfórico
foi realizada na razão mássica ácido/lignina de 2 por 2h a temperatura ambiente
seguida de ativação por 2h em temperaturas variando de 300 a 600°C com taxa de
aquecimento de 30°C/min em fluxo de nitrogênio. O m aterial produzido foi lavado
com água aquecida até pH neutro e em seguida seco a 105°C por uma noite.
Superfície específica e volume de poros aumentaram com a temperatura de
ativação, passando por um máximo a 500°C e em segui da decrescendo. O carvão
ativado de melhores características obtido a 500°C apresentou superfície específica
de 820m2/g e volume de poros de 0,8 cm3/g. Em toda a faixa de temperatura
avaliada os carvões apresentaram isotermas do tipo IV, características de carvões
micro e mesoporos. A mesoporosidade foi mais pronunciada a 500°C, com uma
redução a 600°C sendo relacionada a um encolhimento do esqueleto carbonáceo
formado. O encolhimento da estrutura porosa foi correlacionado com a perda de
estabilidade em temperaturas mais altas das ligações fósforo-éster que realizariam a
ponte entre o ácido fosfórico e a lignina.
74
Gonzáles-Serrano et al, (2004) também avaliaram a ativação de lignina Kraft
por ácido fosfórico. Neste trabalho foram avaliadas razões de impregnação de 1 a 3
e temperaturas de ativação entre 623 e 873K. No entanto a lignina passou neste
caso por um procedimento prévio de lavagem com ácido sulfúrico para redução do
teor de cinzas para <0,1%. A impregnação foi realizada a 333K por 24h sob vácuo.
O tempo de ativação empregado foi de 2h e a taxa de aquecimento de 10K/min.
A melhor amostra foi obtida com razão de impregnação de 2 e temperatura
de 698K, apresentando superfície específica de 1459m2/g. O aumento da
temperatura de ativação provocou um aumento da superfície específica passando
por um máximo em 698K e em seguida sendo reduzida, assim como observado em
outros trabalhos. Os autores também relataram o efeito da razão de impregnação na
distribuição do volume de poros, indicando que maiores razões de impregnação
geram maior quantidade de meso e macroporos.
O trabalho de Mahmoud et al, (2012) avaliou ativação de lignina Kraft com
cloreto de zinco. Foram verificados os efeitos da temperatura e tempo de ativação,
assim como da razão mássica de impregnação ZnCl2/lignina. Os autores concluíram
que as melhores condições foram 450°C, 2h, ZnCl 2/lignina=2, e nestas condições
obtiveram um carvão com superfície específica de 587m2/g e volume de poros de
0,23 cm3/g. Tanto superfície específica quanto o volume de poros passam por um
máximo nas condições ótimas de preparação e em seguida sofrem um decréscimo,
associado a coalescência de microporos provocada pela gaseificação do carbono
que compõe as paredes destes poros, provocando o seu alargamento.
Já Hayashi et al, (2002) avaliaram a ativação de lignina Kraft com KOH,
NaOH, ZnCl2 e H3PO4. A impregnação foi realizada na razão mássica agente/lignina
de 1, sendo seca a 110°C. O material impregnado foi então carbonizado, elevando a
temperatura a uma taxa de 10K/min, mantendo-se por 1h na temperatura de
carbonização que variou entre 773 a 1173K. Os autores mostraram que a 773K
cloreto de zinco e ácido fosfórico foram agentes ativantes mais efetivos,
possibilitando a obtenção de áreas superficiais bem superiores em comparação a
hidróxido de sódio e potássio. Porém em temperaturas maiores os hidróxidos
apresentaram melhor desempenho, com isso foi sugerido que o mecanismo de
ativação diferia para estes grupos de agentes ativantes. Para o cloreto de zinco a
área máxima obtida foi de 1312 m2/g a 873K. No caso do ácido fosfórico o máximo
75
foi de 1046 m2/g também a 873K. Já os hidróxidos de potássio e sódio apresentaram
máximos em 1073K, sendo 1533 m2/g e 1358 m2/g respectivamente.
Temperatura de carbonização [K]
Área
sup
erfic
ial e
spec
ífica
[m2 /
g]Razão de impregnação = 1.0
Temperatura de carbonização [K]
Área
sup
erfic
ial e
spec
ífica
[m2 /
g]Razão de impregnação = 1.0
Figura 21: Efeito da temperatura de ativação na superfície específica com diversos agentes ativantes
(Hayashi et al, 2002)
Esses resultados confirmaram os obtidos em um trabalho anterior (HAYASHI
et al, 2000) do mesmo grupo de pesquisadores para a ativação com cloreto de
zinco, ácido fosfórico, hidróxidos de potássio e sódio. Porém em Hayashi et al,
(2000) lignina Kraft foi ativada com K2CO3, e Na2CO3 além dos mencionados
anteriormente KOH, NaOH, H3PO4, ZnCl2. Os autores mostraram que a ativação
com carbonato de potássio gerou carvões com superfície específica máxima em
800°C, superior aos valores obtidos em todos os dem ais agentes ativantes.
76
Temperatura de carbonização [K]
Áre
a su
perf
icia
l esp
ecíf
ica
[m2 /
g]
Razão de impregn ação = 1.0
Razão de impregnação = 1.0
Temperatura de carbonização [K]
Áre
a su
perf
icia
l esp
ecíf
ica
[m2 /
g]
Razão de impregn ação = 1.0
Razão de impregnação = 1.0
Figura 22: Efeito da temperatura de ativação na superfície específica com diversos agentes ativantes
(Hayashi et al, 2000)
Kriaa et al, (2010) estudaram a ativação de lignina natural, obtida sem
processos químicos, pela degradação natural da lignina no ambiente, com ácido
fosfórico. A impregnação foi realizada a 170°C por 1h com relação mássica
ácido/lignina de 5. A ativação foi realizada em temperaturas variando entre 200 e
550°C por 2h, com taxa de aquecimento de 2°C/min. O material preparado foi lavado
com água aquecida e seco a 80°C por 2h.
A amostra com maior superfície específica foi obtida a 500°C, apresentando
um valor de 463,5m2/g. Tal valor considerado baixo comparado a outros trabalhos foi
atribuído ao tipo de lignina e condições de ativação. Os autores observaram o
mesmo comportamento relatado em outros trabalhos com relação ao efeito da
elevação de temperatura na superfície específica, com esta apresentando elevação
até 500°C e em seguida um decréscimo. Como nos outr os trabalhos esse efeito foi
atribuído a remoção de carbono das paredes dos poros provocando seu
alargamento e coalescência.
77
O trabalho de Guo et al, (2006) também avaliou a ativação com ácido
fosfórico, porém de lignina Kraft.
A impregnação foi realizada a 170°C por 1h com rela ção mássica
ácido/lignina de 0,5 a 2.5 e taxa de aquecimento de 10°C/min. A ativação foi
realizada em temperaturas variando entre 175 e 500°C por 2h, com taxa de
aquecimento de 2°C/min. O material preparado foi la vado com água aquecida e seco
a 80°C por 2h.
A amostra com maior superfície específica 1550m2/g foi obtida a 450°C com
razão de impregnação de 1,5. Os autores observaram comportamento similar ao
relatado em outros trabalhos, com aumento da superfície específica e volume de
poros até 450°C e em seguida uma redução. Com relaç ão à razão de impregnação
foi observado o aumento da superfície específica dos carvões com a elevação da
razão de impregnação em toda a faixa analisada.
Zou e Han, (2001) estudaram a ativação de lignina de hidrólise com hidróxido
de potássio e obtiveram os melhores resultados com razão de impregnação mássica
KOH/lignina de 4, temperatura de ativação de 850°C com tempo de 15 minutos.
Nessas condições o carvão ativado obtido apresentou superfície específica de
2753m2/g e volume de microporos de 1,37cm3/g. Os autores destacaram a
importância de uma etapa de carbonização do material antes da impregnação, essa
etapa geraria novas ligações cruzadas na estrutura da lignina tornando-a mais
estável e menos volátil.
Mussatto et al, (2010) avaliaram a ativação com ácido fosfórico de lignina
obtida a partir de hidrólise alcalina de resíduos da produção de cerveja. Foram
avaliados a razão mássica ácido/lignina na faixa de 1 a 3 e a temperatura de
carbonização nos pontos 300, 450 e 600°C. A impregn ação foi realizada por 1h a
temperatura ambiente, em seguida o material foi aquecido a 170°C em fluxo de ar
com taxa de aquecimento de 17,5°C/min e mantido nes sa condição por 1h. O
material foi então aquecido até a temperatura final de carbonização mantido por 2h
nessa condição. Finalmente o carvão ativado obtido foi lavado com água a 60°C e
seco a 105°C por 2,5h. As condições que geraram o c arvão com maior superfície
específica (692 m2/g) e volume de poros (0,453cm3/g) foram temperatura de 300°C e
relação de impregnação de 1. Curiosamente estas condições são bastante brandas
em relação aos melhores resultados obtidos em outros trabalhos, porém a origem da
lignina pode ser um fator que tenha levado a uma ativação mais fácil neste caso.
78
Romero-Anaya, (2011) estudou a ativação de ligninas com ácido fosfórico,
geradas pela hidrólise ácida de banana e pela hidrólise enzimática do caule de
bananeira para a obtenção de etanol. O procedimento de hidrólise ácida utilizado
gerou um resíduo com teor de cinzas muito elevado (43%) o que inviabilizou a
ativação desta fração. Portanto foi ativada apenas a lignina oriunda da hidrólise
enzimática do caule de bananeira. A impregnação foi realizada a 110°C por 4h com
razão mássica ácido/lignina de 2.3 e 2.1. As amostras foram ativadas a 450°C por
1h com taxa de 10°C/min em fluxo de 50ml/min de nit rogênio. Ao término do
processo as amostras foram lavadas com água.
A ativação da lignina de hidrólise enzimática com razão de impregnação de
2.3 gerou carvão ativado com área de 1385 m2/g e volume de poros de 0,57cm3/g.,
superior aos valores obtidos para a amostra gerada com razão de impregnação de
2.1 (1079m2/g e 0,46cm3/g). Ambas as amostras apresentaram isotermas do tipo IV,
indicando a presença de mesoporosidade.
Existem muitas variáveis envolvidas na obtenção de carvões ativados de
lignina por ativação química. As características da biomassa que deu origem a
lignina e o processo como esta foi obtida, o tipo e concentração de agentes
ativantes, tempo e temperatura de impregnação, tempo e temperatura de ativação,
taxas de aquecimento, além de procedimentos de lavagem diferentes tornam a
comparação dos diversos trabalhos bastante complexa.
Porém, podem-se observar as seguintes claras tendências em relação ao
processo:
- Cloreto de zinco, ácido fosfórico, hidróxido de sódio e potássio, e carbonato
de potássio são agentes ativantes capazes de gerar alta porosidade em lignina.
- A relação mássica entre agente ativante e lignina geralmente está entre 1 e
3. Frequentemente o melhor valor obtido é 2.
- Cloreto de zinco e ácido fosfórico são bons agentes ativantes a baixas
temperaturas (300-600°C), enquanto hidróxidos de só dio e potássio e carbonatos de
sódio e potássio necessitam de maiores temperaturas para obtenção de elevadas
áreas (650-900°C).
- Tanto a superfície específica quanto o volume de poros passam por um
valor máximo com o aumento da severidade da ativação, sendo em seguida
reduzidos devido ao colapso dos poros provocado pela gaseificação do carbono que
compõe as paredes de microporos.
79
- O aumento de severidade da ativação pode se dar por diversas formas, seja
elevando-se a temperatura ou tempo de ativação, seja elevando-se a razão de
impregnação agente/lignina ou mesmo a concentração do agente ativante.
- A lavagem final do carvão obtido é fundamental para remoção do agente
ativante dos poros formados.
3.2 Carvões ativados – Ativação física de casca de palmiste
A ativação física é o meio mais antigo de produzir porosidade em materiais
carbonáceos. Pela sua relativa simplicidade é o método mais empregado para a
produção comercial de carvões ativados. Artigos científicos com aplicação de
ativação física com vapor d’água ou CO2 a diversas matérias primas são abundantes
na literatura. No entanto, a sua aplicação à casca de palmiste tem uma quantidade
relativamente reduzida de trabalhos. Provavelmente, isso se deve à concentração da
produção mundial de casca de palmiste como resíduo na região da Malásia e
Indonésia, que representam cerca de 90% da produção mundial em 2012
(INDEXMUNDI, 2013). Nesse sentido, os trabalhos desenvolvidos para ativação
física de casca de palmiste são realizados principalmente por pesquisadores na
Malásia ou países próximos, como China e Singapura.
Estudos de carbonização
Daud, Ali e Sulaiman, (2000), realizaram um trabalho de investigação do
efeito da temperatura utilizada na etapa de carbonização nas propriedades finais de
carvões ativados com vapor d’água. O material com tamanho de partícula inicial de 1
a 2mm foi carbonizado em fluxo de nitrogênio de 75ml/min.g por 1h em temperaturas
de 500, 800 e 900°C com taxa de aquecimento de 10°C /min. Em seguida o material
carbonizado foi ativado com um gás contendo 80% vapor d’água em nitrogênio a
820°C por tempos variando de 20 a 250min. Os autore s observaram que maiores
temperaturas de carbonização levam a carvões com maior superfície específica e
volume de microporos. A explicação sugerida para esta observação foi que
temperaturas mais altas de carbonização proporcionam uma estrutura mais
ordenada no material carbonizado e isso reduz a taxa da reação de gaseificação,
resultando em um carvão com maior quantidade de microporos. Também foi
relatado que em percentuais de queima inferiores a 20% a quantidade de
80
mesoporos presentes no material foi insignificante, aumentando a parti deste valor
de queima.
Lua, Lau e Guo, (2006) também estudaram o efeito das variáveis da
carbonização no carvão ativado resultante. Neste trabalho foram avaliados os efeitos
da temperatura, tempo, vazão de nitrogênio e taxa de aquecimento na carbonização,
com condições fixas de ativação, sendo estas 900°C, tempo de 30min, vazão de
CO2 de 100cm3/min e taxa de aquecimento de 10°C/min. As faixas d as variáveis
analisadas se encontram na Tabela 9. A massa inicial de casca de palmiste foi de
20g, previamente seca a 120°C por 6h e com tamanho de partícula entre 2 e 2.8mm.
Tabela 9: Variáveis da etapa de carbonização avaliadas e suas faixas (LUA, LAU e GUO, 2006) Variáveis Valores
Temperatura (°C) 400 500 600 700 800 900 Tempo (h) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 Vazão de N2 (cm3/min)
50 100 150 200 250 300
Taxa de aquecimento (°C/min)
5 10 15 30 40 50
Neste trabalho cada experimento alterou o nível de uma variável por vez,
mantendo as demais constantes. A influência da temperatura foi observada com
tempo de carbonização de 2h, taxa de aquecimento de 10°C/min e vazão de
nitrogênio de 150cm3/min (7,5ml/min.g). Conforme esperado o aumento da
temperatura de carbonização reduziu o rendimento mássico de material carbonizado
de 49,97% a 400°C para 28,74% a 900°C. Com a realiz ação do gráfico do perfil de
redução do rendimento mássico em função da temperatura, que pode ser
visualizado na Figura 23, um comportamento assintótico para valores próximos a
28% foi observado. Este comportamento é previsível já que 28,36% é o teor de
carbono fixo presente na casca de palmiste e é esperado que esse seja o principal
componente do carbonizado.
81
Influência da Temperatura de carbonização no rendim ento mássico
0
10
20
30
40
50
60
200 300 400 500 600 700 800 900 1000
Temperatura (°C)
Ren
dim
ento
(%
)
Figura 23: Rendimento de carbonizado em função da temperatura (Elaboração própria com dados de
LUA, LAO e GUO, 2006)
Em seguida os carbonizados em diferentes temperaturas sofreram processo
de ativação, gerando os carvões ativados. O material carbonizado a 600°C mostrou
maior superfície específica, volume e área de microporos, como pode ser visto na
Figura 25. Estas propriedades mostraram valor crescente até 600°C, o que foi
correlacionado pelos autores com a remoção de compostos de baixo peso molecular
entre 400 e 600°C criando uma porosidade rudimentar . Porém com o aumento da
temperatura passa a ocorrer o amolecimento e sinterização de compostos voláteis
de alto peso molecular que por fim levam a contração da estrutura porosa e seu
entupimento, provocando a redução da superfície específica, volume e área de
microporos.
82
Temperatura de pirólise (°C)
Tempo de retenção= 2hVazão de nitrog ênio= 150 cm3/minTaxa de aquecimento= 10°C/min
BETÁrea de microporosVolume demicroporos
Áre
a su
perf
icia
l (m
2 /g)
Vol
ume
de m
icro
poro
s (c
m3/g
)
Temperatura de pirólise (°C)
Tempo de retenção= 2hVazão de nitrog ênio= 150 cm3/minTaxa de aquecimento= 10°C/min
BETÁrea de microporosVolume demicroporos
Áre
a su
perf
icia
l (m
2 /g)
Temperatura de pirólise (°C)
Tempo de retenção= 2hVazão de nitrog ênio= 150 cm3/minTaxa de aquecimento= 10°C/min
BETÁrea de microporosVolume demicroporos
Temperatura de pirólise (°C)
Tempo de retenção= 2hVazão de nitrog ênio= 150 cm3/minTaxa de aquecimento= 10°C/min
BETÁrea de microporosVolume demicroporos
Áre
a su
perf
icia
l (m
2 /g)
Vol
ume
de m
icro
poro
s (c
m3/g
)
Figura 24: Efeito da temperatura de carbonização nas propriedades texturais de carvões ativados (LUA,
LAU, GUO, 2006)
Outra avaliação realizada foi sobre o efeito do tempo de carbonização sobre
as propriedades texturais dos carvões ativados. Da mesma forma que observado
para a temperatura existe um ponto de máximo para superfície específica, volume e
área de microporos. O melhor resultado foi alcançado com 2h de carbonização, e
segundo os autores, as explicações dos fenômenos envolvidos são similares. Com
baixos tempos de carbonização, até 2h, ocorre a remoção de compostos voláteis de
baixo peso molecular possibilitando a criação de uma estrutura porosa, porém acima
de 2h passa a prevalecer o fenômeno de amolecimento e sinterização que leva ao
entupimento e encolhimento da estrutura porosa primária formada, provocando a
redução das suas propriedades texturais.
83
Áre
a su
perf
icia
l (m
2/g
)
Vo
lum
e de
mic
ropo
ros
(cm
3 /g)
Tempo de retenção (h)
Temperatura = 600°CVazão de Nitrogênio = 150cm 3/minTaxa de aquecimento = 10°C/min
BET
Área de microporos
Volume demicroporos
Vol
ume
de
mic
ropo
ros
(cm
3 /g)
Áre
a su
perf
icia
l (m
2 /g)
Áre
a su
perf
icia
l (m
2/g
)
Vo
lum
e de
mic
ropo
ros
(cm
3 /g)
Tempo de retenção (h)
Temperatura = 600°CVazão de Nitrogênio = 150cm 3/minTaxa de aquecimento = 10°C/min
BET
Área de microporos
Volume demicroporos
Vol
ume
de
mic
ropo
ros
(cm
3 /g)
Áre
a su
perf
icia
l (m
2/g
)
Vo
lum
e de
mic
ropo
ros
(cm
3 /g)
Tempo de retenção (h)
Temperatura = 600°CVazão de Nitrogênio = 150cm 3/minTaxa de aquecimento = 10°C/min
BET
Área de microporos
Volume demicroporos
Tempo de retenção (h)
Temperatura = 600°CVazão de Nitrogênio = 150cm 3/minTaxa de aquecimento = 10°C/min
BET
Área de microporos
Volume demicroporos
Vol
ume
de
mic
ropo
ros
(cm
3 /g)
Áre
a su
perf
icia
l (m
2 /g)
Figura 25: Efeito do tempo de carbonização nas propriedades texturais de carvões ativados (LUA, LAU e
GUO, 2006)
Uma outra avaliação interessante realizada foi a do efeito da vazão de
nitrogênio na carbonização. Nesse ponto os autores informam a vazão absoluta, o
que torna complicada a aplicação em outros trabalhos, mas como também está
disponível a massa inicial de 20g de casca de palmiste é possível calcular a vazão
por grama de casca e tornar possível a reprodução com outras massas de amostra.
Além disso, os autores também não comentam sobre o efeito da velocidade linear
de gás no reator e sobre a velocidade espacial empregada. Estas são duas
propriedades sempre correlacionadas com a eficiência de processos químicos e de
transferência de calor.
No caso da velocidade linear é possível obtê-la dividindo a vazão pela área de
uma seção do reator empregado, sabendo que neste caso o diâmetro deste foi de
38mm. Já para a obtenção da velocidade espacial seria necessário conhecer o
volume de leito de casca de palmiste empacotado no reator. Para isso seria preciso
conhecer a sua densidade de empacotamento, e este valor não foi disponibilizado
no trabalho, embora seja de fácil obtenção experimental.
Como pode ser observado na Figura 26 os melhores resultados obtidos nesta
avaliação foram com vazão de 150cm3/min, que representam 7,5cm3/min.g ou 0,22
cm/s. O nitrogênio na carbonização age apenas como um inerte e sua principal
função é de remover os produtos da gaseificação da amostra. Em baixas vazões
esse papel pode não estar sendo cumprido integralmente, possibilitando o depósito
84
de alcatrão e outros subprodutos da gaseificação na superfície dos carvões
bloqueando sua porosidade. Por outro lado, em vazões muito altas o nitrogênio age
removendo excessivamente o calor da superfície das partículas de casca reduzindo
a taxa das reações de gaseificação. Á
rea
supe
rfic
ial (
m2 /
g)
Vol
um
e de
mic
ropo
ros
(cm
3/g
)
Vazão de nitrogênio (cm 3/min)
Temperatura = 600°CTempo de retenção = 2hTaxa de aquecimento = 10°C/min
BETÁrea de microporosVolume demicroporos
Áre
a su
perf
icia
l (m
2 /g)
Vol
um
e de
mic
ropo
ros
(cm
3/g
)
Vazão de nitrogênio (cm 3/min)
Temperatura = 600°CTempo de retenção = 2hTaxa de aquecimento = 10°C/min
BETÁrea de microporosVolume demicroporos
Figura 26: Efeito da vazão de nitrogênio na carbonização nas propriedades texturais dos carvões ativados
(LUA, LAU e GUO, 2006)
Também foi avaliado o efeito da taxa de aquecimento nas propriedades
texturais dos carvões ativados resultantes. Como pode ser visto na Figura 27 o valor
que proporcionou as melhores propriedades texturais foi de 10°C/min. Os autores
relacionaram esta variável como uma forma indireta de alterar o tempo de
carbonização, já que em menores taxas de aquecimento o período necessário para
alcançar a temperatura era maior. Dessa forma, utilizar a taxa de 5°C/min significava
submeter a amostra às mesmas condições que causavam amolecimento e
sinterização de compostos pesados, que levam a uma piora nas características
texturais. Por outro lado taxas muito altas de aquecimento reduzem bastante o
tempo em que a amostra está sofrendo tratamento térmico, sendo insuficiente para a
maximização das propriedades texturais.
85
Área
sup
erfic
ial (
m2 /
g)
Vol
ume
de
mic
rop
oros
(cm
3 /g)
Taxa de aquecimento (°C/min)
Temperatura = 600°CTempo de retenção = 2hVazaõ de nitrogênio = 150 cm 3 /min
BETÁrea de microporosVolume demicroporos
Área
sup
erfic
ial (
m2 /
g)
Vol
ume
de
mic
rop
oros
(cm
3 /g)
Taxa de aquecimento (°C/min)
Temperatura = 600°CTempo de retenção = 2hVazaõ de nitrogênio = 150 cm 3 /min
BETÁrea de microporosVolume demicroporos
Figura 27: Efeito da taxa de aquecimento na carbonização nas propriedades texturais dos carvões
ativados (LUA, LAU e GUO, 2006)
Os autores concluem o estudo enfatizando que as variáveis da etapa de
carbonização apresentam um efeito importante nas propriedades texturais finais do
carvões ativados.
Outro estudo do efeito das condições de carbonização sobre as propriedades
texturais de carvões ativados de casca de palmiste foi realizado por Jia e Lua,
(2008). Neste trabalho os autores compararam a carbonização a vácuo com a
realizada com nitrogênio em várias temperaturas e tempos de carbonização. A
preparação dos carvões foi realizada iniciando pela moagem para tamanho de
partícula de 2 a 2,8mm seguida por secagem a 110°C por 24h. A carbonização foi
realizada a vácuo ou com fluxo de nitrogênio de 150ml/min, a pressão de vácuo não
foi informada no trabalho. As temperaturas foram avaliadas na faixa de 400 a 900°C,
com taxa de aquecimento de 10°C/min e os tempos de carbonização de 0,5 a 3h.
Em seguida todas as amostras foram ativadas nas mesmas condições sob fluxo de
vapor d’água não informado, a 900°C por 1h, com tax a de aquecimento de
10°C/min.
As condições que resultaram nas melhores propriedades texturais foram a
carbonização a vácuo a 675°C por 2h, que gerou um c arvão ativado de 988m2/g de
superfície específica sendo 715m2/g de microporos. Em todas as temperaturas e
tempos avaliados a utilização de vácuo ao invés de nitrogênio gerou carvões com
melhores propriedades texturais. O melhor carvão obtido com nitrogênio apresentou
superfície específica de 794m2/g com 637m2/g de área de microporos, a 750°C e 2h.
Os autores correlacionaram este efeito ao fato de que em condições de vácuo os
86
produtos da carbonização são mais rapidamente removidos da superfície do
material, reduzindo a possibilidade de deposição e entupimento de poros. O tempo
de carbonização apresentou efeito reduzido em toda a faixa analisada tanto para
nitrogênio como para vácuo, em ambos os casos apresentando um ponto máximo
em 2h, enquanto os valores mínimos obtidos foram ao redor de 680m2/g a 0,5 e 3h.
Já a temperatura apresentou dois pontos de máximo tanto no caso com nitrogênio
como a vácuo. Para nitrogênio os pontos de máximo foram observados em 500°C e
750°C, enquanto que em condições de vácuo os pontos de máximo foram em 525°C
e 675°C
Em comparação com o trabalho de Lua, Lau e Guo, (2006) que avaliou a
carbonização com nitrogênio e ativação com CO2 os pontos de máximo coincidiram
para o tempo em 2h, mas para a temperatura de carbonização diferiram um pouco
sendo 600°C para o trabalho de 2006 e de 675°C para o de 2008. Porém deve-se
levar em consideração que a etapa de ativação foi realizada com diferentes agente
ativantes em cada trabalho, o que pode indicar que a determinação das melhores
condições de carbonização está ligada intrinsecamente ao agente ativante escolhido
para a etapa subseqüente.
Aramiy-Niya et al, (2012a) estudaram a etapa de carbonização de um
processo de produção de bio-óleo com vistas à maximização da produção de
carbonizado para a aplicação direta como adsorvente sem ativação. Os autores
avaliaram o tamanho de partícula da casca de palmiste entre 0,5 e 2,5mm, a vazão
de nitrogênio entre 1 e 5L/min (para 150g de cascas), a temperatura entre 400 e
800°C e o tempo de carbonização entre 30 e 150min. As condições que
proporcionaram um carbonizado com máximos rendimento e adsorção de azul de
metileno foram 400°C, 61,46min, 2,6L/min e 1,7mm. P orém nestas condições o
carbonizado apresentou superfície específica de apenas 58,3m2/g, que é um valor
relativamente baixo se comparado a outros trabalhos que relatam frequentemente
valores superiores a 100m2/g. Provavelmente este resultado se deve a inclusão do
rendimento mássico como um parâmetro de otimização, o que levou a condições
onde o rendimento mássico foi alto mas as propriedades texturais não estavam
completamente maximizadas. Isso se confirma quando é avaliado o teor de carbono
fixo desta amostra, que é de apenas 42,9%, enquanto carbonizados de outros
trabalhos apresentaram teores próximos a 80%.
87
Em outro trabalho, Tan e Ani, (2004), também buscaram a produção direta de
um adsorvente utilizando somente a etapa de carbonização, sem uma ativação
subsequente. A preparação das amostras foi feita iniciando por uma secagem de
100g de cascas a 120°C por uma noite, em seguida o material foi carbonizado em
temperaturas entre 600 e 1000°C, por 1h com vazão d e nitrogênio de 1,5l/min. A
temperatura que proporcionou melhores propriedades texturais foi de 600°C,
gerando um carbonizado com superfície específica de 753,2m2/g e volume de
microporos de 0,197cm3/g. A elevação da temperatura provocou a redução da
superfície específica e volume de poros, o que foi correlacionado com os efeitos de
encolhimento, sinterização e entupimento dos poros provocado pela fusão de
componentes de alto peso molecular, assim como observado em diversos outros
trabalhos.
Estudos de ativação
Arami-Niya; Daoud; Mjalli, (2011), realizaram a ativação física de casca de
palmiste com CO2. O processo foi iniciado por uma etapa de carbonização a 900°C
por 1h com taxa de aquecimento de 10°C/min, em segu ida o material foi ativado em
fluxo de CO2 de 2,5ml/g.min a 850°C com taxa de aquecimento de 10°C/min por
tempos variando de 1 a 7 horas. Os autores observaram uma relação linear entre o
percentual de queima dos carvões obtido no processo e o tempo de ativação. A
inclinação desta reta, que representa a taxa de ativação, foi de 7,12%/h. Assim
como a extensão da queima do carvão aumentou com o tempo de ativação a
superfície específica e volume de poros também apresentaram elevação. Os seus
maiores valores foram obtidos em maiores tempos de ativação. As características
texturais do carvão obtido com 7h de ativação foram 1213m2/g de superfície
específica e 0,66cm3/g de volume total de poros com 51,25% de queima. Os
resultados da ativação física foram comparados com carvões ativados preparados
com um procedimento misto de ativação química com ácido fosfórico ou cloreto de
zinco seguida de ativação física com CO2. Os resultados para ambas as rotas foram
similares.
Em um trabalho subsequente do mesmo grupo, Arami-Niya et al, (2012)
avaliaram o efeito das principais variáveis de processo no procedimento de ativação
misto, com ativação química com ácido fosfórico seguida de ativação física com CO2
88
e concluíram que 2 das variáveis que mais influenciaram o resultado final foram a
temperatura e o tempo de ativação física, que neste trabalho foram de 750-950°C e
60-300min.
Daud; Ali; Sulaiman, (2002) publicaram estudo investigando o efeito da
temperatura de ativação nas propriedades de carvões ativados com vapor d’água. A
casca de palmiste carbonizada foi obtida de uma fábrica local e não foram
disponibilizadas informações sobre as condições da carbonização. A ativação foi
realizada com um gás contendo vapor d’água em nitrogênio na vazão de
215ml/min.g a 800°, 850 e 900°C por tempos variando de 10 a 180min. Foi
observada relação linear entre o percentual de queima e a temperatura de ativação,
assim como relatado por Arami-Niya; Daoud; Mjalli, (2011). Segundo os autores, a
linearidade destes gráficos indicou que a reação química é o parâmetro controlador
do processo nessas condições e não efeitos difusivos, o que foi considerado
positivo, pois indica que a ocorrência das reações de gaseificação no interior das
partículas não estava sendo dificultada por fenômenos de transferência de massa.
Conforme pode ser observado na Figura 28, maiores temperaturas de ativação
proporcionaram taxas de ativação mais elevadas, a taxa de ativação a 900°C foi
quase três vezes a observada a 800°C.
Figura 28: Efeito do tempo e temperatura de ativação no percentual de queima (DAUD; ALI;
SULAIMAN, 2002)
Para todas as temperaturas avaliadas o aumento do percentual de queima
provocado por um aumento do tempo de ativação gerou carvões com maiores áreas
89
superficiais e volumes de micro e mesoporos. A relação entre o percentual de
queima e o volume de microporos foi praticamente linear.
Em outro trabalho do mesmo grupo, Daud; Ali, (2004), compararam a ativação
de casca de palmiste e casca de coco com CO2. A preparação dos carvões ativados
foi realizada pela carbonização em fluxo de nitrogênio de 75ml/min.g por 1h a 850°C
com taxa de aquecimento de 10°C/min. Em seguida o m aterial carbonizado foi
ativado com CO2 a 850°C por tempos variando de 5 a 80min para gera ção de
carvões com diferentes percentuais de queima. Assim como em outros trabalhos, os
autores observaram relação linear entre o percentual de queima e o tempo de
ativação. A taxa de ativação obtida para a casca de palmiste foi próxima de 25%/h
enquanto para a casca de coco foi cinco vezes superior. Essa taxa de ativação é
muito superior ao obtido em Arami-Niya; Daoud; Mjalli, (2011), de 7,12%/h, porém a
vazão de agente ativante neste trabalho foi cinquenta vezes maior, o que indica que
esta variável pode ter um papel importante na velocidade das reações de
gaseificação que promovem a criação de porosidade nos carvões.
A menor taxa de ativação da casca de palmiste foi correlacionada com o
maior teor de lignina que esta apresenta (53,4%), em comparação a casca de coco
com 30,1%. Apesar da maior velocidade com que a ativação da casca de coco
transcorreu, a superfície específica e volume de poros dos carvões preparados a
partir de casca de palmiste foram sempre superiores, considerando os mesmos
valores de percentual de queima. Isso significa que para a obtenção de carvões
ativados de mesma qualidade o rendimento mássico da casca de palmiste é sempre
superior. Para todos os casos foram obtidas isotermas com características do tipo I,
típicas de sólidos microporosos, como pode ser observado na Figura 29.
90
Figura 29: Isotermas de carvões ativados com diferentes percentuais de queima. (DAUD e ALI, 2004)
Porém com o aumento do percentual de queima o alargamento dos poros vai
se tornando mais evidente pela mudança da forma da curvatura, que passa de um
ângulo próximo a noventa graus para um valor mais atenuado, além disso, o
patamar horizontal que representa o esgotamento da capacidade de adsorção
começa a apresentar inclinação nos maiores percentuais de queima, sendo este
também um indicativo da presença de mesoporos.
Apesar disto a quantidade de mesoporos gerada foi considerada reduzida, e
isso foi correlacionado ao tipo de agente ativante que foi empregado, já que é
atribuída ao vapor d’água uma maior capacidade de alargamento de poros em
comparação ao CO2.
No trabalho de Guo e Lua, (2000), foram avaliados os efeitos de vazão de
CO2 e temperatura de ativação nas características dos carvões ativados de casca de
palmiste. A preparação dos carvões foi iniciada pela carbonização de 15g de casca
de palmiste com tamanho entre 2 e 2.8mm em fluxo de nitrogênio na vazão de 10
ml/min.g a 600°C por 2h. Os carbonizados resultant es foram então ativados de 500
a 900°C por tempos de 10 a 60 min em fluxos variáve is de CO2. A taxa de
aquecimento para as duas etapas foi 10°C/min.
Nestas condições de carbonização foram gerados materiais com uma
superfície específica de 147m2/g mostrando que já havia uma porosidade inicial
91
desenvolvida. Nesse ponto é interessante notar que esse trabalho é um dos poucos
que caracteriza o intermediário carbonizado antes da ativação, porém não informa o
percentual de queima obtido nesta etapa.
A avaliação do efeito da temperatura foi feita com base na porosidade,
calculada com a densidade aparente e a densidade do sólido. Nesta etapa todos os
carvões foram preparados com tempo de ativação de 50min. O trabalho mostrou que
o aumento da temperatura de 500 a 900°C elevou o pe rcentual de queima de 52.4%
para 75.7%. Porém até 800°C com um percentual de qu eima de 66,8% houve
elevação da porosidade do carvão e com o aumento da temperatura para 900°C foi
observada perda de porosidade que foi correlacionada com a queima excessiva do
carbono das paredes dos poros.
Para avaliar o efeito da vazão de CO2 a temperatura selecionada foi de 800°C
e o tempo de 50min. Na Figura 30 podem-se visualizar os resultados obtidos para a
superfície específica. Fica claro que com baixas vazões, devido a insuficiência de
CO2 para reação, as taxas de gaseificação são muito baixas e com o incremento da
vazão as taxas de reação são aumentadas até o ponto de ocorrência de
gaseificação das paredes de poros, provocando a redução da superfície específica.
É importante notar que os autores não apresentam dados de percentual de queima
para esta etapa da avaliação. Provavelmente o fenômeno observado seja o mesmo
visto para o caso da temperatura de ativação, com o aumento do percentual de
queima elevando também a superfície específica passando por um valor máximo e
chegando até um ponto em que a excessiva queima do carbono das paredes dos
poros provoca a sua coalescência e redução da superfície específica.
Vazão de CO2 (cm3 min -1)
Áre
a su
perfi
cial
BE
T (
m2
g-1
)
FibraCasca
Vazão de CO2 (cm3 min -1)
Áre
a su
perfi
cial
BE
T (
m2
g-1
)
FibraCasca
92
Figura 30: Efeito da vazão de CO2 na superfície específica dos carvões (GUO e LUA, 2000)
O valor ótimo apresentado pelos autores foi de 100cm3/min. Porém não foi
informada a massa de carbonizado utilizada. Estima-se que a partir das 15g iniciais
de casca de carbono os autores tenham obtido cerca de 3.75g de carbonizado,
aplicando um percentual de queima típico para a carbonização de 75%. Desta
forma, a vazão de 100cm3/min representaria uma velocidade espacial da casa de
26.6 cm3/g.min.
Em seguida os autores avaliaram a influência do tempo de ativação na
superfície específica dos carvões obtidos. Para esta avaliação foram usadas
temperaturas de 500, 800 e 900°C, tempos de 20 a 60 min e vazão de CO2 de
100cm3/min.
Tempo de retenção (min)
Áre
a su
perf
icia
l BE
T (m
2g-1
)
Tempo de retenção (min)
Áre
a su
perf
icia
l BE
T (m
2g-1
)
Figura 31: Efeito do tempo de ativação na superfície específica em diferentes temperaturas (GUO; LUA,
2000)
Mais uma vez os autores não disponibilizaram dados de percentual de queima
para as amostras avaliadas, desta forma não se conhece os graus de ativação aos
quais as amostras foram submetidas, dificultando a sua comparação. Ainda assim, é
possível inferir algumas informações a partir da Figura 31. Para a temperatura de
500°C os tempos de ativação avaliados parecem não t er sido suficientes para
alcançar o ponto de percentual de queima ótimo para maximização da superfície
específica. No caso da temperatura de 900°C parece ter ocorrido o contrário, com
tempos de ativação muito longos o percentual de queima provavelmente passou do
seu valor ótimo. No caso da temperatura de 800°C fo i o único em que se pode
93
observar claramente o efeito de parábola na superfície específica com o aumento do
tempo de ativação. A partir destes dados os autores consideraram as condições
ótimas de preparação de 800°C e 50min, porém é prec iso avaliar com maior
cuidado, pois parece que os demais pares de condições (temperatura x tempo de
ativação) foram avaliados fora de suas faixas ótimas.
Este trabalho também avaliou a química superficial da melhor amostra,
gerada a 800°C com tempo de 50 min de ativação. Em relação ao carbonizado o
processo de ativação eliminou grupos oxigenados superficiais cetônicos e ésteres e
manteve apenas os fenólicos e quinonas, o que foi associado a estabilidade destes
grupos em condições oxidantes.
Em seguida, Lua e Guo, (2001) publicaram outro estudo avaliando os efeitos
de temperatura e tempo de ativação nas características dos carvões ativados e sua
aplicação em adsorção de SO2. Nesse estudo a preparação dos carvões iniciou pela
carbonização de 15g de casca de palmiste com tamanho entre 2 e 2.8mm em fluxo
de nitrogênio na vazão de 10 ml/min.g a 600°C por 3 h. Os carbonizados resultantes
foram então ativados de 500 a 900°C por tempos de 1 0 a 60 min em fluxo de CO2
de 100cm3/min. Os dados podem ser visualizados na Figura 32. A taxa de
aquecimento para as duas etapas foi 10°C/min. Foi o bservado que para tempos de
ativação de 15 a 45 minutos, maiores temperaturas de ativação geram maiores
áreas superficiais. Já com 60 min de ativação altas temperaturas provocam redução
da superfície específica, o que foi correlacionado com uma gaseificação com CO2
excessivamente severa. Os autores não utilizam o conceito de percentual de queima
para determinar o grau de ativação aplicado em cada amostra. A partir destes dados
os autores concluíram que as melhores condições de preparação seriam 900°C e
30min.
94
Temperatura de ativação (K)
Áre
a su
perf
icia
l BE
T (
m2
g-1 )
Tempo de retenção:15 min30 min45 min60 min
Temperatura de ativação (K)
Áre
a su
perf
icia
l BE
T (
m2
g-1 )
Tempo de retenção:15 min30 min45 min60 min
Figura 32: Influência da temperatura de ativação na superfície específica (LUA; GUO, 2001)
Uma observação interessante foi o efeito da temperatura e tempo de ativação
no percentual de microporos das amostras. Com tempos de ativação de 15min o
aumento da temperatura de ativação de 500°C para 90 0°C elevou o percentual de
microporos de 68,4% para 74,0%, indicando que ainda estava ocorrendo o
desenvolvimento de novos poros nesta faixa de operação. Porém, mantendo a
temperatura em 900°C e elevando o tempo de ativação foi observado um
decréscimo de 74% a 15min para 44,1% a 60min, o que foi novamente
correlacionado com a gaseificação excessivamente severa.
Em outro trabalho do mesmo grupo, Guo e Lua, (2002) realizaram nova
avaliação do efeito da temperatura de ativação nas propriedades dos carvões
gerados com CO2. Neste trabalho algumas condições foram alteradas em relação ao
trabalho do ano 2000. A carbonização foi realizada a 600°C por 3h, enquanto a
ativação foi realizada em temperaturas de 500 a 900°C por 30min, em um fluxo de
100cm3/min. O carbonizado obtido nessas condições apresentou área de 176m2/g,
superior a obtida no trabalho do ano 2000 que havia sido 146m2/g, porém com 1h a
mais de carbonização. Neste trabalho os autores obtiveram valores de percentual de
queima na ativação muito elevados variando de 75% para 500°C até 89.8% para
900°C.
As áreas superficiais obtidas foram crescentes com a temperatura em toda a
faixa analisada, como pode ser visto na Figura 33.
95
Temperatura de ativação (°C)
Áre
a su
perfi
cial
(m
2g-1
)
Microporo
Temperatura de ativação (°C)
Áre
a su
perfi
cial
(m
2g-1
)
Microporo
Figura 33: Efeito da temperatura na superfície específica total e na área de microporos (GUO; LUA,
2002)
Apesar do perfil de aumento de superfície específica com o aumento de
temperatura ser similar ao apresentado no trabalho de Guo e Lua, (2000) os valores
absolutos diferem consideravelmente. Como exemplo, a superfície específica da
amostra preparada a 900°C por 30min foi próxima a 9 50m2/g no trabalho anterior e
neste trabalho nas mesmas condições foi obtida área de 1366m2/g. Analisando os
dois trabalhos a única diferença relatada foi o tempo de carbonização que passou de
2h para 3h, levando a um aumento da superfície específica do carbonizado, como
relatado anteriormente. Como a porosidade do carbonizado é considerada a
porosidade primária, onde as reações de gaseificação irão ocorrer para o aumento
da superfície específica, pode-se inferir que esta característica tenha causado as
diferenças observadas.
Além disso, também foi relatado que o aumento da temperatura provocou um
aumento do percentual de microporos, passando de 47,6% a 500°C para 68,1% em
900°C. Nas melhores condições de preparação selecio nadas, sejam estas
temperatura de 900°C e tempo de 30 min foi obtido c arvão ativado com superfície
específica de 1366m2/g e volume total de poros de 0,69cm3/g. Na sequência, em
outro trabalho deste grupo Guo e Lua, (2002b) aplicaram o melhor carvão gerado no
trabalho anterior para adsorção de SO2 e obtiveram resultados similares aos obtidos
com carvões ativados comerciais de outras fontes.
Em outro estudo de Guo e Lua (GUO; LUA, 2005), compararam carvões
ativados preparados a partir de casca de palmiste por rota física com CO2 e por rota
96
química com ácido sulfúrico para a remoção de amônia de correntes gasosas.
Nesse estudo a ativação física foi realizada a 800°C por 2h em fluxo de 100cm3/min
de CO2. Os autores obtiveram carvão ativado com superfície específica total de 1062
m2/g e área de microporos de 605m2/g que foram características levemente
superiores as obtidas para a ativação química. Porém o carvão ativado
quimicamente apresentou maior capacidade de adsorção de amônia. Isso foi
correlacionado com a maior quantidade de grupos oxigenados que a ativação com o
ácido proporcionou.
Guo et al, (2007) usaram o mesmo carvão ativado por CO2 do trabalho de
2005 em um estudo para a remoção de H2S de correntes gasosas comparando com
carvões preparados a partir de casca de palmiste por rota química com ácido
sulfúrico e hidróxido de potássio. Os carvões ativados quimicamente mostraram
maior quantidade de grupos oxigenados superficiais o que foi correlacionado com
sua maior capacidade de adsorção. Porém a dessorção para a limpeza da superfície
destes carvões após uso não foi completa, enquanto no caso dos carvões ativados
com CO2 todo o H2S pôde ser removido da superfície. Neste trabalho os autores
propuseram uma estrutura básica representando os grupos funcionais presentes nos
carvões ativados com CO2, esta representação inclui um grupamento alifático C-H e
hidroxilas fenólicas, muito mais simples em comparação aos carvões ativados
quimicamente com ácido sulfúrico, como mostrado na Figura 34.
Figura 34: Representação esquemática dos grupos funcionais presentes em carvões ativados com CO2 (a) e com H2SO4 (b)
Lua e Jia, (2009) estudaram a adsorção de fenóis em carvões ativados de
casca de palmiste preparados com vapor d’água. Para a preparação dos carvões a
casca de palmiste foi moída para tamanho de 2 a 2.8mm e seca a 110°C por 24h. A
carbonização foi feita sob vácuo a 400°C por 2h e t axa de aquecimento de 10°C/min.
A ativação física foi realizada aquecendo o carbonizado de temperatura ambiente
97
até 900°C a 10°C/min em fluxo de nitrogênio, sendo em seguida este substituído por
vapor d’água e mantido por 1h. Nessas condições foi obtido um carvão ativado com
1183m2/g de superfície específica, 0,69cm3/g de volume de poros, sendo 45%
microporos. Na Figura 35 pode-se observar uma distribuição bimodal de tamanho de
poros.
Tamanho de poros (nm)
Incr
em
ento
no
vol
ume
de p
oros
(cm
3/g)
Tamanho de poros (nm)
Incr
em
ento
no
vol
ume
de p
oros
(cm
3/g)
Figura 35: Distribuição do tamanho de poros (LUA; JIA, 2009)
Os autores correlacionam a existência de mesoporos na estrutura com sua
aplicabilidade a processos de remoção de contaminantes em fase líquida, já que
normalmente estes apresentam maiores dimensões moleculares. Neste trabalho o
volume de poros maiores que os classificados como microporos foi de 0,38cm3/g.
Vitidsant et al, (1999) estudaram a produção de carvões ativados de casca de
palmiste em uma única etapa de carbonização e ativação concomitante, usando um
fluxo de vapor d’água e ar (10% - 0,72Nl/min). Neste trabalho foram avaliados os
efeitos de temperatura (600-800°C), tamanho de part ícula (<0.6 a 8mm) e tempo de
ativação (1 a 3h). A massa inicial de casca de palmiste empregada foi de 200g. Com
relação ao tamanho de partícula foi observado que a superfície específica passa por
um valor máximo em tamanhos de partícula na faixa de 1.18 a 2.36mm, e em
valores superiores e inferiores a estes a superfície específica é reduzida. Segundo
os autores, em menores tamanhos de partícula o leito de cascas estaria muito
compactado dificultando a passagem de ar e vapor, e com isso a transferência de
98
massa e calor foi piorada, tornando tanto a ocorrência das reações quanto a
remoção dos compostos formados mais lenta, além disso o aumento da vazão pode
causar o arraste de partículas pequenas provocando perda de produtividade. Em
contra partida em tamanhos de partícula muito grandes as reações no interior dos
poros das partículas ficam limitadas pela transferência de massa. A temperatura que
apresentou melhores resultados foi de 750°C, o perf il foi similar ao observado em
outros trabalhos, com a superfície específica passando por um ponto de máximo,
neste caso a 750°C e em seguida decrescendo. As con dições ótimas do processo
em um único estágio foram 750°C, tamanho de partícu la de 1.18 a 2.36mm e 2h de
tratamento, gerando um carvão com 559,48m2/g de superfície específica com
432,02m2/g de microporos. Este processo foi comparado com outro onde a etapa de
carbonização foi realizada antes da ativação. A carbonização foi feita com ar em
temperaturas de 600 a 800°C e em seguida ativado co m ar e vapor de 1 a 3h, da
mesma forma que no processo anterior. Neste caso as melhores condições foram
ativação a 750°C por 3h que proporcionaram um carvã o com superfície específica
de 669,75m2/g com uma área de microporos de 547,21m2/g.
A comparação entre os agentes ativantes para a ativação física não é um
tema recorrente dos trabalhos encontrados. Não foi identificado na literatura nenhum
trabalho comparativo de ativação física de casca de palmiste usando CO2, vapor
d’água ou suas misturas. Apesar disso, existem alguns trabalhos nessa área para
outras biomassas, que podem indicar as diferenças entre estes agentes.
Em 1985 Degroot e Richards publicaram estudo comparando as taxas de
gaseificação de material carbonizado com vapor d’água e CO2. Os autores
observaram que a taxa de gaseificação com vapor d’água a 800°C e 0.1atm foi 18
vezes a taxa observada para gaseificação com CO2. No mesmo trabalho foi
reportado outro estudo comparativo (DEGROOT; RICHARDS, 1985, apud WALKER,
1959) que observou a taxa de gaseificação com vapor d’água 3 vezes superior ao
valor obtido com CO2. Além disso, os autores observaram que a taxa de reação de
gaseificação com CO2 pôde ser considerada constante durante mais da metade do
teste e por isso tem baixa ou nenhuma dependência da quantidade de carbono
consumido, o que caracterizou esta reação como sendo de ordem zero. Já para a
gaseificação com vapor d’água a taxa de reação aumentou com o tempo de reação,
caracterizando um aumento da ordem de reação no decorrer do teste.
99
Molina-Sabio et al, 1996 publicaram um trabalho bastante referenciado
comparando ativação com CO2 e vapor d’água de caroço de azeitona. Neste
trabalho os autores mostraram que a ativação com CO2 gerou carvões com maiores
volumes de microporos em todos os percentuais de queima do carbonizado. Já o
vapor d’água atuou preferencialmente alargando poros presentes no carbonizado.
Segundo os autores o efeito de alargamento de poros começa para o CO2 em
percentuais de queima superiores a 40% enquanto para a ativação com vapor a
800°C esse efeito começa a ser visualizado acima de 20%. Porém essa diferença
pode ser reduzida se menores temperaturas forem usadas na ativação com vapor.
Utilizando vapor a 750°C o efeito de alargamento do s poros passa a ser
preponderante no mesmo percentual de queima que para o caso com CO2 , 40%.
Os autores correlacionaram esse fato com o efeito de inibição das reações de
gaseificação provocado pelo hidrogênio gerado. Este efeito tem maior magnitude em
baixas temperaturas e reduz as taxas de gaseificação dentro dos poros onde a
pressão parcial de hidrogênio é maior, provocando uma gaseificação preferencial da
parte externa das partículas, evitando o alargamento dos poros existentes. A
gaseificação com CO2 gera CO nos poros que teria um menor efeito inibitório.
Arenas e Chejne, (2004) compararam a ativação de carvões minerais com
CO2, vapor d’água e misturas dos dois agentes. Da mesma forma que Molina-Sabio
et al, (1995) os autores identificaram que a ativação com CO2 gerou carvões com
maior quantidade de microporos em comparação ao caso com vapor d’água, que
gerou os carvões com maiores poros. A mistura dos dois agentes gerou poros de
valores intermediários.
Queima (%)Queima (%) Figura 36: Superfície específica de carvões ativados com CO2, vapor d'água e mistura dos dois agentes, a
800°C (ARENAS; CHEJNE, 2004).
100
Em relação à superfície específica os autores reportaram efeito sinérgico dos
dois agentes ativantes, possibilitando a geração de carvões de superfície específica
mais alta comparado ao caso com os agentes puros, como pode ser observado na
Figura 36. Segundo os autores no caso do uso da mistura de agentes o vapor
d’água agiria alargando a porosidade inicial dos carvões abrindo novos sítios para a
gaseificação com CO2 que teria efeito de alargar os poros e criar novos microporos.
É importante que seja observado que no trabalho de Arenas e Chejne, (2004) as
ativações realizadas com vapor d’água foram na realidade feitas com N2 saturado
com água, e as ativações com mistura foram feitas com CO2 saturado com água. A
utilização de gases saturados pode causar interferência nos resultados observados.
No caso da saturação de nitrogênio com água a quantidade de agente ativante
sendo introduzida no sistema pode ser reduzida e a comparação com ativação com
CO2 puro pode ficar comprometida. Observa-se na Figura 36 que a ativação com N2
saturado com água gerou praticamente a mesma superfície específica para todos os
níveis de queima, resultado esse não esperado pela literatura (MOLINA-SABIO et al,
1995). Na mesma figura observa-se que o perfil delineado pela curva referente a
mistura CO2+H2O segue o mesmo padrão da curva do caso CO2 puro, inclusive
com valor máximo aparentando estar no mesmo ponto em cerca de 37% de queima.
A hipótese de que a concentração de água nesta mistura seja muito baixa deve ser
levada em conta. Além disso, também é importante observar que as diferenças entre
as ativações com CO2 e com mistura de agentes foram menores que 10% em todos
os percentuais de queima avaliados.
Linares-Solano, (2000) também compararam a ativação com CO2 e vapor
d’água. Neste trabalho o material de partida foi carvão betuminoso.
A 65% de queima os autores reportaram que o uso de vapor d’água gerou
carvões com maior volume de poros em comparação com CO2. O resultado foi
considerado de acordo com a literatura para reações em leito fluidizado, porém para
leito fixo o esperado seria o inverso.
Foi mostrado que a taxa de reação para ativação com vapor d’agua em leito
fluidizado é maior que em leito fixo, porém para o mesmo valor de percentual de
queima os carvões obtidos nos dois reatores possuem a mesma porosidade,
apresentando cerca de 1500m2/g a 65% de queima. Esse não é o caso quando a
ativação é realizada com CO2. Em leito fixo a porosidade obtida em bastante
superior (1600m2/g a 65% de queima) a observada para a ativação em leito
101
fluidizado (1000m2/g a 65% de queima). Os autores mostraram que em altas vazões
de CO2, como é o caso do reator de leito fluidizado, a etapa limitante das reações de
gaseificação passa a ser a difusão do gás para o interior das partículas de carvão,
isso proporciona maiores taxas de gaseificação na superfície externa da partícula,
reduzindo a ampliação da porosidade. Com isso, ficou evidente que para a ativação
com CO2 o tipo de reator que está sendo utilizado na avaliação pode impactar na
comparação dos agentes ativantes.
Da observação de todos os artigos publicados é possível retirar algumas
informações interessantes a respeito da ativação física da casca de palmiste.
1- As variáveis do processo de carbonização afetam diretamente a qualidade
dos carvões ativados gerados.
2- A maioria dos trabalhos utiliza nitrogênio como gás inerte na carbonização
para remoção dos produtos gerados.
3- Temperaturas de carbonização mais altas podem gerar carvões mais
microporosos.
4- As condições de carbonização mais usuais são temperatura de 600°C e
tempo de 3h. A vazão de nitrogênio apresenta maior dispersão de valores.
5- Na ativação, a elevação da temperatura, da vazão de agente oxidante ou do
tempo eleva o percentual de queima das amostras.
6- Em geral, o percentual de queima tem relação direta com as características
texturais da amostra. Com a elevação do percentual de queima as
propriedades texturais passam por um máximo e em seguida são reduzidas
devido a gaseificação excessiva das paredes de microporos.
7- A ativação é geralmente realizada em temperaturas entre 800 e 900°C, e o
tempo de ativação tem relação inversamente proporcional com a vazão de
agente oxidante.
8- A ativação com CO2 é mais lenta e produz carvões mais microporosos em
relação à ativação com vapor d’água. Porém os dois agentes ativantes
parecem ser capazes de gerar altas áreas superficiais.
9- Os valores máximos de superfície específica se concentram entre 1000 e
1400m2/g e de volume de poros em torno de 0,7cm3/g para a ativação física
de casca de palmiste.
102
Na Tabela 10 pode-se observar um resumo dos trabalhos de ativação de
casca de palmiste para a obtenção de carvões ativados. Incluíram-se além dos
trabalhos de ativação física pura também trabalhos de ativação mista que incluem
uma etapa química e uma etapa física.
Tabela 10: Seleção de artigos sobre ativação física de casca de palmiste. Referência Agente
ativante
Tipo de
estudo
Aplicação Condições de
carbonização
Condiçõ
es de
ativação
Proprieda
des dos
adsorvent
es
ARAMI-
NIYA,
DAUD e
ALI, 2011
CO2 Preparação /
aplicação
(Ativação –
tempo)
Adsorção
de metano
900°C, 1h,
10°C/min, N2
850°C,
2,5ml/min
.g
10°C/min
7h
At=
1213m2/g
Vt=
0,66cm3/g
DAUD, ALI
e
SULAIMAN
H2O Preparação
(Carbonização
–
Temperatura)
- 75ml/min.g 1h
10°C/min 900°C
N2
820°C
80%H2O/
N2 20-
250cm3/
min
Percentual
de queima
de 40%
apresentou
melhores
resultados
LUA, LAU e
GUO, 2006
CO2 Preparação
(Carbonização
– tempo,
temperatura,
taxa de
aquecimento
e vazão de N2
- 7,5ml/min.g de N2
2h 10°C/min
600°C
900°C
30min
100ml/mi
n CO2
10°C/min
At=519m2/
g
Vmp=0,215
ml/g
DAUD, ALI
e
SULAIMAN
2002
H2O Preparação
(Ativação –
tempo e
temperatura)
- Obtido comercial 215ml/mi
n.g
80%H2O/
N2 850°C
At=1400m2
/g
Vmp=0,75c
m3/g
%q=77%
DAUD e
ALI, 2004
CO2 Preparação
(Ativação –
tempo)
- 75ml/min.g N2 1h
850°C 10°C/min
75ml/min.
g CO2
850°C 5-
80 min
Vmp=0,42
ml/g
%q=49%
103 GUO e
LUA, 2000
CO2 Preparação
(Ativação –
vazão CO2 e
Temperatura)
- 10ml/min.g 600°C
2h
26ml/min.
g 800°C
50min
10°C/min
At=1100m2
/g
LUA e
GUO, 2001
CO2 Preparação/A
plicação
(Ativação –
tempo e
Temperatura)
SO2 10ml/min.g 600°C
3h 10°C/min
26ml/min.
g 900°C
30min
10°C/min
At=1250m2
/g
GUO e
LUA, 2002
CO2 Preparação/A
plicação
(Ativação –
Temperatura)
NO2 e NH3 10ml/min.g 600°C
3h 10°C/min
26ml/min.
g 900°C
30min
10°C/min
At=1366m2
/g
Vp=0,69ml/
g
GUO e
LUA, 2002
(2)
CO2 Aplicação SO2 10ml/min.g 600°C
3h 10°C/min
26ml/min.
g 900°C
30min
10°C/min
At=1366m2
/g
Vp=0,69ml/
g
GUO e
LUA, 2003
CO2 Aplicação SO2 10ml/min.g 600°C
3h 10°C/min
26ml/min.
g 900°C
30min
10°C/min
At=1366m2
/g
Vp=0,69ml/
g
GUO e LUA
2005
CO2 Aplicação NH3 10ml/min.g 600°C
2h
800°C 2h
26ml/min.
g
At=1062m2
/g
Amp=605m2/g
GUO et al
2007
CO2 Aplicação H2S 10ml/min.g 600°C
2h
800°C 2h
26ml/min.
g
At=1062m2
/g
Amp=605m2/g
LUA e JIA,
2009
H2O Aplicação Fenóis 400°C 2h vácuo
10°C/min
900°C
10°C/min
1h
At=1183m2
/g
Vt=0,69ml/
g 45%
microporos
LUA e JIA,
2008
H2O Preparação/A
plicação
(Carbonização
–
Temperatura
e tempo)
Fenóis Vácuo, 675°C 2h
10°C/min
900°C 1h
10°C/min
At=988m2/
g
Amp=715m2/g
104 ARAMI-
NIYA
2012(2)
Sem
ativação
Preparação
(Carbonização
– Tamanho de
partícula,
temperatura,
tempo e
vazão de
nitrogênio)
- N2 2,7l/min
10°C/min 400°C
61,42min
- Carbonizad
o
At=58,3m2/
g
TAN e ANI
2004
Sem
ativação
Preparação
(Carbonização
–
Temperatura)
-
600°C, 1h,
15ml/min.g
10°C/min
- At=753,2m2/g
Vmp=0,197
ml/g
VITIDSANT
(1999)
H2O +
AR
Preparação
(Ativação –
agente,
temperatura,
tempo e
tamanho de
partícula)
- Sem carbonização 750°C 3h
H2O+AR(
10%)
1,18-
2,36mm
At=559,48
m2/g
Amp=432,0
2m2/g
RAHMAN e
YUSOF,
2011
H2O Preparação/A
plicação
Cromo - 800°C
1ml/min.g
40°C
At=762,36
m2/g
ARAMI-
NIYA 2012
Mista
(H3PO4
+ CO2)
Preparação/a
plicação
(temperatura
e tempo)
Metano 900°C 1h
2000ml/min N2
10°C/min
855°C
135min
At=642m2/
g
Vt=0,28ml/
g
Vmp=0,26
ml/g
ARAMI-
NIYA 2010
Mista
(Zncl2 +
CO2)
Preparação/A
plicação
(tempo)
Metano 900°C 1h
100ml/min N2
10°C/min
2000ml/min
850°C
2,5ml/min
.g CO2
10°C/min
7h
At=1118m2
/g
Vp=0,51ml/
g
Vmp=0,42
ml/g
HAMAD
2010
Mista
(NaOH
+CO2)
Preparação/A
plicação
(Conc. de
NaOH)
4cloroguaia
col
N2 3ml/min.g
800°C 2h 5°C/min
CO2
3ml/min.g
800°C
5°C/min
1,5h
At=2247m2
/g, Vp=0.80
cm3/g
dp=2.68
nm
105 HUSSEIN
1996
Mista
(ZnCl2 +
CO2)
Preparação
(Conc. de
ZnCl2)
500°C N2 3h CO2
500°C 1h
1500m2/g
com
presença
de
mesoporos
3.3 Carvões sulfonados
Resinas poliméricas sulfonadas são materiais bastante usados
comercialmente em reações catalisadas por ácidos. Entre suas aplicações
industriais estão inclusas reações de
- Desidratação de álcoois a olefinas
- Alquilação de fenóis
- Hidrólise de ésteres
- Eterificação de olefinas com álcoois
No entanto estas resinas são produzidas a partir de monômeros específicos e
possuem alto custo de produção.
Devido a extensa lista de materiais residuais carbonáceos de baixo valor a
sua utilização como matéria prima para obtenção de carbonos sulfonados ácidos é
uma alternativa interessante às resinas sulfônicas comerciais. Carbonos sulfonados
vem sendo extensivamente pesquisados para aplicação em diversos tipos de
sínteses orgânicas. Assim como no caso das resinas sulfonadas, a sua acidez é
proporcionada pelos grupos sulfônicos, e também podem ser aplicados como
catalisadores ácidos heterogêneos.
Porém a introdução de um grande número de grupos sulfônicos que sejam
termicamente estáveis ainda é um desafio para a síntese destes materiais. Dentre
as reações em que se observa maior número de publicações para uso de carbonos
sulfonados estão a esterificação e as hidrólises.
Na preparação dos carbonos sulfonados a etapa de sulfonação pode ser
realizada diretamente sobre a matéria-prima, após um processo de carbonização
brando ou após a obtenção de um carvão ativo.
Benak et al, (2002) estudaram a sulfonação de precursores fenólicos
carbonizados entre 525 e 600°C. A sulfonação foi re alizada com ácido sulfúrico
concentrado na relação de 150ml/g de carbonizado por 3h em temperaturas entre
106
160 e 250°C. Os autores concluíram que em temperatu ras de carbonização mais
baixas a incorporação de grupos sulfônicos e oxigenados foi facilitada. Além disso,
temperaturas de sulfonação mais altas também tiveram o mesmo efeito. A maior
concentração de enxofre nas amostras foi de 5,57%m/m obtida em temperaturas de
carbonização de 525°C e de sulfonação de 220°C. Os carvões sulfonados obtidos
foram estáveis termicamente em atmosfera inerte até 250°C, temperatura
considerada como a de decomposição dos grupos sulfônicos. O material produzido
foi testado como resina de troca iônica para tratamento de água com resultados
considerados positivos pelos autores.
Hara et al, (2004), publicaram um trabalho que se tornou referência para os
pesquisadores que buscavam a obtenção de sólidos ácidos pela sulfonação de
materiais carbonáceos. De fato, após esse trabalho o grupo de Hara publicou
diversos outros estudos na mesma área. Neste trabalho foi realizada a sulfonação
concomitante com a carbonização a 250°C de naftalen o e ácido sulfúrico na relação
de 10ml/g por 15h. O composto resultante apresentou formulação CH0.35O0.35S0.14.
Segundo os autores a primeira etapa de reação é a sulfonação criando um
composto aromático sulfonado, em seguida ocorre uma carbonização incompleta
que dá origem a pequenos agrupamentos de folhas de anéis aromáticos com grupos
sulfônicos na superfície. O sólido produzido mostrou excelente atividade para
reações de esterificação, hidrólise e hidratação.
O carvão sulfonado apresentou atividade para a reação de hidrólise superior a
do ácido sulfúrico e manteve suas propriedades inalteradas mesmo após ser
reutilizado 4 vezes.
Segundo os autores o método de sulfonação e carbonização concomitante do
precursor permitiu a incorporação de uma quantidade superior de sítios ácidos, em
comparação com a sulfonação de materiais carbonáceos já tratados termicamente.
Porém em fase líquida acima de 100°C os autores ide ntificaram a perda de
componentes aromáticos por um tipo de lixiviação, causando sua decomposição.
Isso levou a uma limitação da aplicação deste material para condições brandas de
reação.
Toda et al, (2005), do mesmo grupo de pesquisa de Hara, publicaram estudo
sobre aplicação de carvões sulfonados na esterificação de ácidos graxos em
substituição ao ácido sulfúrico para a síntese de biodiesel. Neste trabalho os autores
realizaram a carbonização incompleta de glicose, sacarose e celulose. Para
107
sacarose e glicose 20g foram carbonizadas a 400°C e m fluxo de nitrogênio por 15h.
O carbonizado formado foi sulfonado com 200ml de ácido sulfúrico concentrado
(>96%) ou com 150ml de ácido sulfúrico fumegante (15%SO3 m/m) por 15h a 150°C
em atmosfera de nitrogênio. Os autores observaram para o carvão sulfonado
preparado com ácido sulfúrico concentrado uma formulação média de
CH0.45S0.01O0.39 enquanto para o caso do ácido sulfúrico fumegante obtiveram
CH0.29S0.03O0.41. A maior quantidade de enxofre presente no segundo tratamento deu
origem a uma maior densidade de sítios ácidos e sítios –SO3H totais. A maior
acidez da amostra preparada com ácido sulfúrico fumegante proporcionou maior
atividade frente à reação de esterificação, como pode ser visto na Tabela 11.
Os carvões preparados com ácido sulfúrico fumegante apresentaram
atividade próxima a 50% daquela observada para ácido sulfúrico e foram estáveis
quando comparados com os carvões sulfonados preparados com naftaleno do
trabalho de 2004 do mesmo grupo de Hara.
Tabela 11: Características dos carvões sulfonados e rendimento da reação de esterificação (Adaptado de TODA et al 2005)
Densidade de sítios ácidos [mmol g-1]
Catalisador (composição)
Superfície específica [m2 g-1] Total SO3H
Taxa de formação de etil oleato [µmol min-1]
Carvão (H2SO4) (CH0.45S0.01O0.39)
2 1.4 0.7 44
Carvão (H2SO4 fumegante) (CH0.29S0.03O0.41)
1 2.5 1.2 86
H2SO4 ─ 20.4 156
O trabalho de Takagaki et al, (2006) também do grupo de Hara, apresenta
resultados de caracterização mais completos dos carvões de trabalho de Toda et al,
(2005). Os autores identificaram via espectroscopia de fotoeletrônica de raios X
(XPS) a presença de uma banda a 168eV correlacionada com S tipo 2p,
característicos de grupos SO3H e desta forma concluíram que todo o enxofre
presente na amostra estava na forma de grupos SO3H. Além disso, utilizando a
técnica de ressonância magnética nuclear os autores identificaram grupos
oxigenados superficiais, principalmente hidroxilas fenólicas e ácidos carboxílicos o
108
que os levou a propor uma representação esquemática da estrutura deste carvão
sulfonado, disponível na Figura 37.
Figura 37: Representação esquemática de carvão sulfonado preparado com glicose e ácido sulfúrico
fumegante (TAKAGAKI et al, 2006)
A maior quantidade de grupos sulfônicos obtidos com a utilização de ácido
sulfúrico fumegante foi atribuída ao consumo da água formada na reação de
sulfonação pelas moléculas de SO3 disponíveis no meio, o que provocou um
deslocamento do equilíbrio da reação de sulfonação, conforme equações abaixo.
C-H + H2SO4 � C-SO3H + H2O H2O + SO3 � H2SO4
Também do grupo de Hara, Okamura et al, (2006), estudaram a influência da
temperatura de carbonização de glicose nas propriedades do carvão sulfonado final.
Segundo os autores a quantidade de grupos sulfônicos apresentada em
carvões sulfonados de trabalhos anteriores 0.7-4.9mmol/g não seria possível se
todos os grupos fossem superficiais, devido as baixas áreas observadas (2-20m2/g),
indicando a presença destes grupos na área interna dos carvões. Os carvões foram
preparados com temperaturas de carbonização de 300°C, 400°C, 450°C e 600°C, as
demais condições foram as mesmas dos trabalhos anteriores deste mesmo grupo.
Os autores observaram que com o aumento da temperatura de carbonização
ocorreu o aumento do tamanho das folhas de carbono aromático que compõem o
material carbonizado. Até 450°C os carvões se apres entaram amorfos, com folhas
aromáticas de 1 a 2 nm compostas de 10 a 20 anéis aromáticos hexagonais, porém
a 600°C foi observado o crescimento das folhas arom áticas. Nas amostras
109
carbonizadas até 450°C também foram observados grup os funcionais oxigenados
enquanto na amostra carbonizada a 600°C isso não oc orreu. Os autores sugeriram
que a introdução de grupos sulfônicos é realizada nas bordas das folhas aromáticas
que compõem o carbonizado, e portanto, materiais com folhas aromáticas maiores e
mais organizadas possuem menos bordas e quinas disponíveis para a sulfonação, o
que explicaria a menor quantidade de sítios SO3H presentes no material
carbonizado a 600°C. Já a amostra carbonizada a 300 °C apresentou uma
carbonização muito reduzida, possuindo em sua composição produtos de
degradação da glicose, o que os autores correlacionaram com o menor número de
grupos SO3H inserido nesta matriz. As características dos carvões sulfonados
obtidos com diferentes temperaturas de carbonização podem ser vistas na Tabela
12.
Tabela 12: Características dos carvões sulfonados preparados com diferentes temperaturas de carbonização (OKAMURA et al, 2006)
Temperatura de carbonização (°C)
Composição antes da sulfonação
Composição após sulfonação
Quantidade de sítios SO3H (mmol/g)
Superfície específica (m2/g)
300 CH1.08O0.57 CH0.71O0.58S0.01 0.48 2 400 CH0.51O0.13 CH0.45O0.39S0.014 0.74 2 400a CH0.51O0.13 CH0.37O0.48S0.028 1.34 2 450 CH0.74O0.07 CH0.50O0.30S0.014 0.71 2 600 CH0.35O0.05 CH0.37O0.05S0.005 0.37 2 a Preparado com ácido sulfúrico fumegante
Observa-se que em temperaturas de 400°C ocorreu o p onto máximo de
geração de sítios SO3H nos carvões. Os carvões preparados foram avaliados para
reações de hidratação de 2,3-dimetil-2-buteno e esterificação de ácido acético e
obtiveram bons resultados. Os níveis de atividade observados para os carvões
sulfonados e outros sólidos ácidos testados foram proporcionais a acidez das
amostras, exceto para o carvão sulfonado carbonizado a 600°C. Neste caso a
atividade foi praticamente zero, indicando que outros efeitos além da quantidade de
sítios SO3H seriam importantes.
Os autores observaram que a quantidade de água adsorvida na amostra foi
de apenas 1,5% enquanto nos demais carvões esteve em torno de 10%.
Além disso, os carvões sulfonados preparados em temperaturas inferiores
aumentavam seu volume de 30 a 50% quando imersos em solventes como água,
metanol e etanol, fato também não observado para o caso de temperatura de
carbonização mais alta. Na Figura 38 disponível em um trabalho subsequente do
110
mesmo grupo Nakajima e Hara, (2007) apresentam uma representação esquemática
do fenômeno de absorção de moléculas hidrofílicas pelo carvão sulfonado, que
provoca o inchamento de sua estrutura.
Moléculas hidrofíl icasMoléculas hidrofíl icas
Figura 38: Representação do fenômeno de absorção de compostos hidrofílicos pela estrutura do carvão
sulfonado (NAKAJIMA; HARA, 2007)
Os autores concluíram que os carvões sulfonados obtidos em temperaturas
de carbonização até 450°C seriam compostos por folh as de carbono aromático
flexíveis e funcionalizadas, que permitiriam a entrada de reagentes, enquanto a
amostra carbonizada a 600°C seria mais rígida e inc apaz de absorver grandes
quantidades de reagentes, explicando desta forma a falta de atividade catalítica
observada. Estes resultados estão de acordo com o observado por Benak et al,
(2002) que indicaram que menores temperaturas de carbonização permitiriam uma
maior introdução de grupos sulfônicos.
Zong et al, (2006) utilizou os mesmos carvões preparados nas condições
ótimas obtidas pelo grupo de Hara para a esterificação de ácidos graxos com
metanol. O trabalho comparou a esterificação dos ácidos oléico, esteárico e
palmítico com diferentes sólidos ácidos. Foram avaliados carvão sulfonado, ácido
nióbico, resina Amberlyst-15 e zircônia sulfatada. Para todos os ácidos graxos o
rendimento em metil ésteres foi superior a 95% quando utilizado carvão sulfonado
como catalisador, resultado superior aos observados para as outras classes de
sólidos ácidos. As amostras também foram avaliadas para produção de biodiesel a
partir de um óleo residual com alto teor de ácidos graxos (27,8%) e resultados
similares foram obtidos, com o carvão sulfonado apresentando a maior conversão
(90%) entre os sólidos ácidos analisados. Neste trabalho os grupos sulfônicos foram
111
caracterizados pela presença de bandas em 1712cm-1 e 1207cm-1 na espectroscopia
no infra-vermelho com transformada de Fourrier (FT-IR). A análise elementar da
amostra indicou a presença de 4,7% de S, e uma fórmula molecular reduzida de
CH1.14S0.03O0.39. Pelo teor de S presente os autores obtiveram o número de grupos
funcionais SO3H de 1.5mmol/g é interessante notar que estes resultados são
similares aos obtidos pelo grupo de Hara nas mesmas condições, porém
empregando ácido sulfúrico fumegante e não o ácido sulfúrico concentrado como é o
caso deste trabalho. Portanto a quantidade de sítios SO3H difere dos obtidos pelo
grupo de Hara em quase 50% para as mesmas condições de preparação, porém
nenhuma referência a esta comparação é feita.
Lou et al, (2008) compararam diferentes materiais como matéria-prima para a
obtenção de carvões sulfonados. Foram preparados carvões pelo mesmo método
porposto pelo grupo de Hara, usando glicose, celulose, amido e sacarose. Os
autores observaram que o tipo de material influenciou o resultado final da
sulfonação. As características dos carvões sulfonados preparados neste trabalho
podem ser visualizadas na Tabela 13. O maior teor de grupos sulfônicos foi obtido
para o amido. Todos os carvões sulfonados apresentaram maior teor de sítios
ácidos totais do que os de SO3H o que foi correlacionado com a presença de grupos
ácido carboxílico na superfície dos carvões.
Tabela 13: Características dos carvões sulfonados a partir de vários materiais (LOU et al, 2008) Quantidade de sítios ácidos (mmol/g)
Precursor Fórmula do carvão sulfonado
Teor de S (%m/m)
Total SO3H
Superfície específica (m2/g)
Volume de poros (cm3/g)
Tamanho de poros (nm)
Glicose CH1.14O0.39S0.030 4,7 1,60 1,47 4,1 0,44 4,0 Sacarose CH1.06O0.30S0.029 5,1 1,71 1,59 5,0 0,52 5,1 Celulose CH1.01O0.28S0.031 5,4 1,82 1,68 5,7 0,65 6,4 Amido CH0.85O0.23S0.032 5,9 1,97 1,83 7,2 0,81 8,2
Os carvões preparados foram testados na reação de esterificação de ácidos
graxos, com ácido oléico e metanol, e a atividade foi proporcional a concentração de
sítios ácidos de forma praticamente linear. A melhor performance do carvão
sulfonado de amido também foi correlacionada as suas maiores superfície
específica, tamanho e volume de poros. Após determinar o amido como matéria-
prima de melhor resultado os autores avaliaram o efeito da temperatura e tempo de
carbonização e temperatura e tempo de sulfonação frente a reação de esterificação.
As variáveis foram modificadas uma a uma e mantidas constantes as demais, o caso
112
base foi carbonização a 400°C por 15h e sulfonação a 150°C por 15h. A temperatura
de carbonização foi avaliada entre 300 e 500°C e co nfirmando os resultados obtidos
pelo grupo de Hara foi observado que a temperatura de carbonização de 400°C foi a
que apresentou melhor resultado. Em valores superiores o material foi considerado
muito rígido, com folhas aromáticas maiores e mais empilhadas, o que reduziu a
quantidade de sítios ácidos formados e a possibilidade de acesso de reagentes aos
estes sítios para a esterificação. Em contrapartida temperaturas muito baixas
mantêm produtos de degradação do amido na estrutura e estes produtos são
facilmente lixiviados em fase líquida. O tempo de carbonização, avaliado entre 10h e
20h, apresentou o mesmo efeito da temperatura, sendo seu valor ótimo de 15h, com
perfil similar ao obtido na avaliação da temperatura pelas mesmas razões
apresentadas. Infelizmente os autores não reportam o valor do percentual de queima
ao qual a amostra foi submetida na carbonização. Esta variável provavelmente
aglutinaria os efeitos das demais variáveis na etapa de carbonização e tornaria a
comparação entre diferentes trabalhos mais simples.
A temperatura e tempo de sulfonação também apresentaram um perfil
parabólico de atividade similar ao observado para as variáveis da carbonização,
indicando que existem valores máximos ótimos para estas variáveis. No caso da
temperatura de sulfonação, avaliada entre 100°C e 2 00°C o valor ótimo obtido foi de
150°C e para o tempo de sulfonação, avaliado de 10h a 20h o valor ótimo foi de 15h.
É importante observar que os valores ótimos para as variáveis foram obtidos para a
reação de esterificação de ácidos graxos, não sendo fornecida caracterização dos
carvões sulfonados. Além disso, como o trabalho foi realizado alterando uma
variável por vez, possíveis efeitos sinérgicos não puderam ser verificados. Porém o
trabalho mostra claramente que tanto as variáveis de carbonização quanto as de
sulfonação tem grande importância nas propriedades catalíticas dos carvões
sulfonados gerados, sendo esta uma importante contribuição.
Xu et al, (2008) utilizaram serragem de bambu como matéria prima para
obtenção de carvões sulfonados. Além disso, os autores propuseram um método de
preparação diferenciado em relação aos anteriores. A preparação foi realizada
impregnando ácido sulfúrico 80% no resíduo cru e submetendo o material a 80°C
por 3h em agitação. O material foi seco e em seguida lavado com água até não ser
detectado íon sulfato. Em seguida foi realizada a sulfonação com ácido sulfúrico
fumegante (20% SO3) por 2h a 80°C, seguida de lavagem e secagem. O ca rvão
113
sulfonado produzido apresentou teor de enxofre de 3,9% e densidade de sítios
ácidos de 1,4mmol/g. O carvão foi posteriormente testado para a reação de
condensação de Claisen–Schmidt entre benzaldeído e acetofenona para a obtenção
de calconas (cetonas aromáticas) que possuem extensa lista de aplicações na
indústria farmacêutica. Os resultados obtidos foram considerados muito positivos em
comparação aos observados para a resina Amberlyst-15 e ácido sulfúrico.
Mo et al, (2008) estudaram a influencia do tempo e temperatura de
carbonização no número de sítios SO3H incluídos nos carvões sulfonados. A
carbonização foi avaliada a 300, 350 e 400°C, e con firmando os trabalhos anteriores
a temperatura de 400°C foi a que gerou maior número de grupos SO3H. Também
foram avaliados tempos de carbonização de 1h, 5h e 15h. Neste caso o tempo de 1h
foi o que possibilitou a máxima concentração de grupos SO3H. Nas melhores
condições de preparação os autores obtiveram 3,7mmol/g de sítios ácidos totais e
0,64mmol/g de SO3H. Chama a atenção a diferença entre os dois valores bastante
elevada em relação aos trabalhos avaliados anteriormente. Normalmente a diferença
entre a quantidade de sítios ácidos e a quantidade de SO3H é devido aos grupos
superficiais ácidos carboxílicos, mas neste caso esta diferença foi inesperada já que
o procedimento de preparação foi similar ao realizado pelo grupo de Hara e por
outros pesquisadores, como visto anteriormente.
Um interessante estudo realizado neste trabalho foi a comparação entre as
taxas de reação de esterificação de ácido acético com metanol em fase líquida com
a mesma reação em fase gasosa. Os autores mostraram que em fase gasosa as
taxas de reação são muito menores para os carvões sulfonados e com isso
comprovaram que o efeito de inchamento da estrutura provocado por solventes em
fase líquida é fundamental para que os reagentes tenham acesso a todos os sítios
SO3H disponíveis no carvão sulfonado. Os autores também avaliaram a desativação
dos carvões sulfonados para a mesma reação. Inicialmente os carvões foram
submetidos a 8 ciclos de 3h de reação. O teor de enxofre no carvão sulfonado foi
reduzido de 1,87% no primeiro ciclo para 1,51% no quinto ciclo e depois se manteve
constante, indicando que houve uma remoção de grupos sulfônicos, mas que um
patamar foi atingido.
Em seguida, para verificar se o metanol estaria sendo o causador da perda de
enxofre, o carvão sulfonado foi lavado a 60°C com m etanol e sua atividade para a
114
reação de esterificação foi reduzida de 12 a 20% mostrando que o metanol
realmente provocou a perda de sítios ativos. Adicionalmente um mesma amostras
de carvão sulfonado foi lavada com metanol 3 vezes consecutivas, e o metanol
efluente de cada lavagem foi testado na reação de esterificação. Os autores
observaram que o metanol da lavagem foi ativo para catalisar a reação, confirmando
que espécies ativas foram lixiviadas na lavagem. Porém o metanol da terceira
lavagem não mostrou atividade catalítica indicando que o fenômeno de lixiviação
dos grupos ácidos poderia ter cessado. O mesmo processo foi realizado com água,
hexano e etanol, com resultados similares. Os autores concluíram que ao contrário
do que o grupo de Hara observou os carvões sulfonados tem alguma solubilidade
em diversos solventes comuns, porém após uma perda inicial de grupos ativos 75-
80% dos sítios SO3H se mantêm estáveis na estrutura dos carvões sulfonados.
Dehkhoda et al, (2010) avaliaram o tratamento de carbonizados com KOH
para aumentar a porosidade previamente à sulfonação, porém embora o tratamento
tenha gerado alta superfície específica, após a sulfonação em diferentes condições
os carvões sulfonados apresentaram baixa superfície específica, indicando que a
sulfonação provocou o colapso dos poros formados.
Hara, (2010), neste trabalho preparou carvão sulfonado partindo de celulose,
buscando aplicá-lo no processo de produção de biodiesel. Neste trabalho, partindo
de 20g de celulose, foi realizada carbonização em fluxo de nitrogênio a 450°C por
5h, dando origem a 7g de material carbonizado. Representando um percentual de
queima de 65% nesta etapa. Este foi o primeiro trabalho a informar o rendimento
obtido na carbonização. Na etapa de sulfonação foram empregados 150ml de ácido
sulfúrico fumegante (15% SO3) 80°C por 10h em atmosfera de nitrogênio. O carvão
preparado apresentou 1,2mmol/g de SO3H e fórmula reduzida de CH0.622O0.54S0.048. O
carvão foi testado em reação de esterificação de ácido oléico com metanol e
comparado com outros sólido ácidos como as resinas amberlyst-15 e Nafion NR50,
o ácido nióbico e em fase líquida o ácido sulfúrico. O carvão sulfonado mostrou
atividade muito superior aos demais sólidos ácidos, e 70-80% da atividade do ácido
sulfúrico. O material foi reutilizado 10 vezes após lavagem com água sem perda de
atividade, porém com uso de lavagem de metanol atividade cai e atinge um patamar
de 75-80% da inicial devido a formação de metil-sulfonato. Além disso, o carvão
também foi testado para reação de transesterificação de trioleína apresentando
115
resultado superior aos demais sólidos ácidos, além de estabilidade de atividade
mesmo após 5 ciclos de utilização.
Ji et al, (2010) reportaram um novo tipo de carvão sulfonado, partindo de
grafeno e utilizando 4 benzeno-diazonio-sulfonato como agente sulfonante. Este
agente foi obtido pela reação de ácido sulfanílico com nitrito de sódio. A sulfonação
foi realizada por 1h utilizando o 4benzenodiazoniosulfonato dissolvido em água e
etanol, com adição de 120ml de solução 50% m/m de H3PO2 a 180mg de grafeno a
4°C. Um esquema da reação de sulfonação pode ser vi sto na Figura 39. O material
resultante mostrou 6,2% de enxofre, correspondente a 2mmol/g de SO3H.
Figura 39: Representação da reação de sulfonação (JI et al, 2010)
O material foi posteriormente testado para a hidrólise de etil acetato
mostrando atividade superior a resina Nafion e cerca de 80% da atividade do ácido
sulfúrico, mantendo a sua atividade estável mesmo após 5 ciclos. Uma observação
feita pelos autores foi que o enxofre estava disperso uniformemente da estrutura do
grafeno e não apenas nas bordas das folhas aromáticas, isso foi correlacionado ao
fato de a estrutura do grafeno ser bidimensional, o que possibilita a sulfonação dos
dois lados da superfície.
Liu et al, (2010) sulfonaram carvão ativado pelo mesmo método empregado
no trabalho de Ji et al, (2010), empregando 4benzenodiazoniosulfonato como agente
sulfonante e ácido hipofosforoso como agente redutor. Após o processo de
sulfonação o carvão teve uma redução de superfície específica de 751m2/g para
602m2/g. O volume de poros também foi reduzido de 0,47ml/g para 0,38ml/g. O
carvão sulfonado obtido apresentou concentração de sítios SO3H de 0,64mmol/g.. O
teste de estabilidade do carvão sulfonado feito com lavagens sucessivas com
solução de ácido sulfúrico mostrou que 32% dos grupos sulfônicos são lixiviados,
116
com os demais mostrando estabilidade. O material foi testado em reações de
esterificação de alcoóis com diferentes tamanhos de cadeia com etanol e os
resultados comparados com a resina Amberlyst-15. Os autores observaram que
quanto maior a cadeia do álcool utilizado melhor o desempenho do carvão sulfonado
frente a resina Amberlyst-15, mesmo com essa resina apresentando maior
quantidade de sítios SO3H (4,6mmol/g). Esse fato foi correlacionado com a alta
superfície específica e a presença de mesoporos na estrutura do carvão sulfonado
que permitiriam o acesso de alcoóis de cadeia mais longa aos sítios ácidos ativos.
Shu et al, (2010) buscaram o aproveitamento de resíduo de produção de
biodiesel, conhecido como asfalto de óleo vegetal como matéria-prima para a
obtenção de carvões sulfonados e sua aplicação na própria síntese de biodiesel. O
material foi carbonizado em temperaturas de 500 a 700°C em fluxo de argônio e os
melhores resultados foram obtidos a 600°C. A sulfon ação foi realizada com ácido
sulfúrico concentrado a 96% por 10h a 210°C. O mate rial obtido apresentou 7,07%
de enxofre com 2,02mmol/g de SO3H, considerada uma alta densidade de sítios
ácidos em comparação a outros carvões sulfonados. Além disso, o carvão sulfonado
apresentou poros maiores que 40 nm considerados grandes pelos autores e este
fato foi correlacionado com sua boa performance frente as reações de esterificação
de ácidos graxos e transesterificação de triglicerídeos.
Zhang et al, (2010) utilizaram o ácido p-toluenosulfônico como agente
sulfonante para obtenção de carvões sulfonados de glicose. Neste trabalho a
preparação foi realizada em uma única etapa de síntese sem separação entre a
etapa de carbonização e sulfonação. Para comparação os autores também
realizaram o mesmo procedimento com ácido sulfúrico como agente sulfonante para
glicose e ácido sulfúrico com carvão ativado. O carvão obtido pelo processo em
única etapa realizado com ácido sulfúrico foi o que apresentou maior quantidade de
enxofre e sítios ácidos (1,35mmol/g e 3,20mmol/g). As características dos carvões
sulfonados obtidos podem ser visualizados na Tabela 14.
Tabela 14: Características dos carvões sulfonados obtidos (Adaptado de ZHANG et al, 2010) Precursor Agente Teor de enxofre
(mmol/g)
Sítios ácidos
(mmol/g)
Superfície
específica
(m2/g)
Glicose - 0 1.02 <1
117 Glicose Ácido p-tolueno
sulfônico
1.27 1.99 <1
Glicose Ácido sulfúrico
conc.
1.35 3.20 <1
Carvão ativado Ácido sulfúrico
conc.
0.56 2.66 506
As diferenças entre o número de sítios ácidos totais e a quantidade de sítios
SO3H presentes foi atribuída pelos autores a existência de grupos ácido carboxílicos
e hidroxilas fenólicas presentes nos carvões. Os carvões foram testado para a
reação de esterificação de ácido succínico com etanol. Os autores observaram que
apesar da grande diferença na quantidade de sítios ácidos totais entre o carvão
sulfonado com ácido p-toluenosulfônico e o sulfonado com ácido sulfúrico a
atividade foi praticamente a mesma para as duas amostras. Foi argumentado que
esse comportamento indica que a variável mais importante para a atividade dos
catalisadores nesta reação é o teor de grupos sulfônicos e não a quantidade de
sítios ácidos totais.
Porém, quando analisada a seletividade da reação ao produto desejado
observou-se que a amostra preparada com ácido p-toluenosulfônico apresentou
seletividade quase duas vezes superior a amostra preparada ácido sulfúrico. Os
autores correlacionaram este efeito ao fato de que a reação de esterificação é
favorecida em superfícies hidrofóbicas, porque a presença de água favorece a
reação de hidrólise reversa e também contribui para protonação do álcool. Através
da análise termogravimétrica em temperaturas inferiores a 150°C foi mostrado que a
superfície do carvão preparado com ácido sulfúrico foi mais hidrofílica em relação ao
preparado com ácido p-tolueno sulfônico, confirmando a teoria dos autores. Este
trabalho indica que a sulfonação com ácido sulfúrico além de introduzir grupos
sulfônicos também cria através da oxidação de grupos carbônicos CH3 e CH2,
grupos oxigenados fenólicos e ácidos carboxílicos. Estes grupos aumentam a
hidrofilicidade da superfície dos carvões sulfonados, fato que pode não ser
desejado, como é o caso das reações de esterificação. Esta seria a vantagem de
utilizar um agente sulfonante como o ácido p-toluenosulfônico que apesar de ser
capaz de introduzir uma grande quantidade de grupos sulfônicos não é tão oxidante
quanto o ácido sulfúrico.
118
Chen e Fang, (2011) estudaram a obtenção de carvões sulfonados a partir de
misturas de glicose com outros compostos, com razão mássica 1:1, com sacarose,
amido de arroz (contendo 99,7% de amilopectina), amido de milho (contendo 72%
de amilopectina) e amilose (contendo 0% de amilopectina). A preparação foi
realizada em duas etapas, iniciando pela carbonização a 400°C em fluxo de
nitrogênio por tempos de 60, 75 e 90 min. Em seguida foi realizada a sulfonação
com acido sulfúrico concentrado a 150°C por 5h com atmosfera de nitrogênio. Para
todas as amostras avaliadas o tempo de carbonização de 75min foi o que propiciou
a maior quantidade de sítios ácidos formados. Além disso, também foi observado
que os carvões preparados com mistura de glicose e amido de milho, que contem
um teor intermediário de amilopectina, foram os que apresentaram maiores teores
de sítios ácidos em todas as temperaturas de carbonização. O carvão preparado
com amido de milho e tempo de carbonização de 75min apresentou a formulação
CS0.073O0.541 e foi testado para reações de esterificação de ácidos graxos e
transesterificação de óleos vegetais com bons resultados. Assim como em outros
trabalhos o carvão sulfonado mostrou uma perda da atividade inicial quando
reutilizado, atingindo um patamar. Os autores propuseram um procedimento de
regeneração com ácido sulfúrico diluído e concentrado que foi efetivo para a
recomposição da atividade inicial do carvão sulfonado.
Geng et al, (2011) prepararam suportes carbonáceos com alta porosidade
utilizando alumina como molde e sulfonaram posteriormente. O processo se deu
inicialmente dissolvendo sacarose em água e impregnando em alumina. Após a
impregnação o material foi carbonizado a 600°C em f luxo de nitrogênio. As etapas
de impregnação e carbonização foram repetidas de 1 a 4 vezes dando origem a
diferentes suportes carbonizados. Ao término da carbonização os materiais sofreram
tratamento com ácido fluorídrico para remoção da alumina. A sulfonação foi
realizada com 4-benzeno-diazonio sulfonato a 5°C po r 3h com relação mássica entre
o agentes sulfonante e o suporte carbonáceo de 0,5:1. Os carvões preparados foram
testados para a reação de esterificação de acido oleico com metanol e mostraram
bom desempenho. O maior número de impregnações de sacarose levou a carvões
com maior teor de carbono e isso foi correlacionado com uma pior dispersão destas
amostras em metanol, o que por fim levou a seu desempenho inferior na reação de
esterificação.
119
Gomes et al, (2011) estudaram a influência da temperatura e concentração de
ácido sulfúrico na sulfonação de um carvão ativado comercial. Os autores avaliaram
ácido sulfúrico nas concentrações 5, 10 e 15M e a temperatura de sulfonação nos
níveis 80 e 150°C. Os autores observaram que a sulf onação com ácido mais
concentrado e em maior temperatura levou a criação de maior quantidade de grupos
ácidos nos carvões sulfonados.
Neste trabalho os autores reportam características bastante diferenciadas dos
carvões sulfonados. A máxima concentração de sítios ácidos totais foi de 1000
µmol/g, bem inferior a todos os trabalhos anteriores, e ainda assim com apenas
cerca de 10% em grupos sulfônicos. Além disso, outra observação ainda não
realizada em outros trabalhos é de que o enxofre estava presente
predominantemente na forma de grupos tiol (-SH) e em menor proporção como
grupos sulfônicos. Uma possibilidade para esses resultados discrepantes do
restante da literatura nessa área é que a utilização de um carvão ativado comercial,
derivado de carvão mineral, que pode possuir maior estabilidade estrutural, aliada a
um tempo de sulfonação de apenas 3h, relativamente inferior a média dos trabalhos
nesta área, não tenha permitido que a sulfonação transcorresse conforme o
observado na literatura alcançando-se com isso resultados médios.
Apesar disso os autores testaram os carvões sulfonados para a oxidação do
corante ácido cromótropo 2R com peróxido de hidrogênio e obtiveram bons
resultados. No entanto o relativo sucesso nesta utilização foi correlacionado com a
habilidade do carvão adsorver e decompor o peróxido de hidrogênio através de
reações com os grupos tiol, formando hidroxilas ativas no meio reacional que
posteriormente atacaram a estrutura do corante. Portanto a atividade catalítica não
foi bem correlacionada a existência de grupos sulfônicos, mas sim grupos tiol.
Wang et al, (2011), utilizaram o mesmo catalisador produzido a partir de
glicose ácido p-toluenosulfônico do trabalho de Zhang et al, (2010) para a reação de
desidratação de frutose a 5 hidroximetil furfural. Um esquema da reação de
desidratação pode ser visualizado na Figura 40. A reação em fase aquosa mostrou
boa atividade, porém baixa seletividade devido a reações subseqüentes de hidrólise
do 5 hidroximetil furfural. Para outros solventes orgânicos como dimetil sulfoxido a
reação ocorreu com altas atividade e seletividade com o carvão sulfonado
apresentando melhor desempenho em comparação com a resina Amberlyst 15 e a
zeólita H beta.
120
D-Frutose
Intermediários
Produtos de condensação(Polímeros, Huminas)
Ácido Levulínico
Ácido fórmico
D-Frutose
Intermediários
Produtos de condensação(Polímeros, Huminas)
Ácido Levulínico
Ácido fórmico
Figura 40: Representação esquemática da reação de desidratação da frutose e outras reações paralelas
indesejáveis (WANG et al, 2011)
Os autores atribuíram o bom desempenho frente a esta reação não somente
aos grupos sulfônicos presentes, mas também a contribuição de grupos ácido
carboxílicos
Kastner et al, (2012) trabalharam com lascas de madeira de pinho, casca de
amendoim e carvões ativados de madeira como matéria-prima.. Os autores
estudaram a temperatura de carbonização de 400 a 600°C por 1h em fluxo de
nitrogênio de 1 a 2L/min. Após a carbonização algumas amostras foram tratadas
com ozônio para aumentar a concentração de grupos oxigenados e verificar o efeito
desses grupos nos carvões sulfonados. O tratamento com ozônio foi realizado
expondo 25g de carbonizado a uma vazão de 1l/min de uma mistura de ar e ozônio
contendo 33g/m3 de ozônio por um período de 6h a 23°C.
A sulfonação foi realizada com ácido sulfúrico concentrado 99% a 100°C com
relação de 1.6ml/g de carbonizado. Após a sulfonação o material foi filtrado e
aquecido a 100°C por 12 – 18h em forno e em seguida sofreu lavagem com água
destilada. Outro procedimento de sulfonação foi realizado para comparação, neste
caso a sulfonação foi realizada expondo carbonizado a SO3 sólido em um frasco
lacrado por seis dias a temperatura ambiente na relação mássica de 1:1.
Os autores observaram que a etapa de sulfonação com ácido sulfúrico
aumentou consideravelmente a superfície específica dos carbonizados de casca de
amendoim e de pinho, passando de valores 1 a 10m2/g para valores entre 200-
400m2/g, este efeito ainda não havia sido reportado na literatura. Para a sulfonação
com SO3 este efeito não foi observado. No entanto para a sulfonação dos carvões
ativados com ácido sulfúrico o efeito contrário ocorreu, levando a uma redução da
superfície específica da ordem de 25%. Neste caso a sulfonação com SO3 levou a
uma redução ainda maior da superfície específica.
121
Os autores observaram que a sulfonação de carbonizados gerou uma maior
quantidade de sítios ácidos em comparação a sulfonação de carvões ativados,
assim como observado na literatura desta área. Além disso, também foi mostrado
que a sulfonação com SO3 gerou uma maior quantidade de sítios SO3H, esse
resultado ainda não havia sido relatado em outros trabalhos. Os autores
argumentaram que este fato se deve a maior reatividade das moléculas de SO3 em
comparação as de ácido sulfúrico.
Os carvões sulfonados foram testados na reação de esterificação ácido
palmítico e esteárico com metanol. Apesar da menor quantidade de sítios ácidos os
carvões ativados sulfonados apresentaram as maiores taxas de reação, o que foi
correlacionado com a maior superfície específica, tamanho e volume de poros que
facilitariam a difusão dos reagentes e a acessibilidade aos sítios ácidos na estrutura
dos carvões. A diferença entre o valor da acidez total e o número de grupos
sulfônicos é gerada pela presença de grupos oxigenados na superfície. Porém além
de alterarem a acidez a concentração destes grupos também pode ser considerada
uma medida da hidrofobicidade da superfície, quanto maior for esta concentração
menos hidrofóbica será a superfície. A maior taxa de reação de esterificação dos
carvões ativados sulfonados também foi correlacionada com sua superfície mais
hidrofóbica, confirmando resultados anteriormente disponíveis na literatura de que a
presença de água na superfície do catalisador promove reações de hidrólise que são
indesejadas, reduzindo a taxa das reações de esterificação. O teor de grupos
sulfônicos obtido nestes carvões ativados sulfonados foi de 0,81mmol/g.
No trabalho de Lou et al, (2012) foi avaliada a preparação de carvões
sulfonados a partir de bagaço de cana. As variáveis de preparação foram avaliadas
para as reações de esterificação e transesterificação. As variáveis avaliadas foram a
temperatura e o tempo de carbonização e a temperatura e tempo de sulfonação e os
resultados podem ser visualizados na Figura 41.
Observa-se que neste caso o tempo de carbonização não parece ter efeito
determinante nas características dos carvões formados, porém a temperatura de
carbonização apresenta um perfil diferenciado indicando que o valor ótimo é 648K. A
argumentação dos autores para explicar este perfil é a mesma já encontrada na
literatura, com temperaturas mais baixas de carbonização ocorre maior presença de
grupos oxigenados na superfície que dificultam a ocorrência da reação de
esterificação e além disso podem manter compostos de degradação da matéria
122
prima que são facilmente lixiviados em condições de reação provocando perda de
grupos sulfônicos. Já em temperaturas mais altas de carbonização pode ocorre
maior organização da estrutura de carbono aumentando o tamanho das folhas
aromáticas e seu empilhamento reduzindo os sítios ativos para inserção de grupos
sulfônicos, além de tornar a estrutura mais rígida, o que dificulta a entrada de
reagente para acesso aos sítios ácidos.
Para o caso da sulfonação também não há grande variação para tempos
superiores a 4h, porém abaixo deste valor ocorre uma drástica redução do
desempenho do catalisador. Para a temperatura de sulfonação também há um valor
ótimo de 423K que leva aos maiores rendimentos nas reações. Os autores
mostraram que todo o enxofre presente estava na forma de grupos sulfônicos,
resultado similar ao obtido na grande maioria dos trabalhos. O carvão sulfonado
preparado nas condições ótimas, carbonização a 375°C por 30 min e sulfonação a
150°C por 15h apresentou o maior teor de grupos sul fônicos. O teor de enxofre
obtido neste catalisador foi de 3,39%, representando uma concentração de grupos
sulfônicos de 1.06mmol/g compatível com os resultados obtidos na literatura.
Ren
dim
ento
est
erifi
caçã
o (%
)
Tempo de carbonização / h
Ren
dim
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Tempo de carbonização / h
Temperatura de sulfonação / °CTempo de sulfonação / h
Figura 41: Avaliação do efeito das variáveis de preparação nas reações de esterificação e transesterificação (LOU et al, 2012)
Os autores comparam os resultados frente a reação de esterificação com os
obtidos por outros autores em trabalhos analisados anteriormente nesta seção da
123
dissertação. O carvão sulfonado de bagaço mostrou atividade similar aos carvões
sulfonados de glicose e amido e foi superior a resina Amberlyst-15 e ácido nióbico.
Além disso, alcançou mais de 80% da atividade do ácido sulfúrico. Os resultados
foram considerados muito positivos já que este catalisador foi preparado a partir de
resíduo agrícola e não compete com usos alimentares como é o caso da glicose e
amido.
A estabilidade dos catalisadores foi comparada e como pode ser visto na
Figura 42 após 6 ciclos de utilização o carvão sulfonado ainda apresentava atividade
próxima de 90% da inicial, com desempenho muito superior ao observado para a
resina Amberlyst-15 e o ácido nióbico.
Ativ
idad
e re
lativ
a (%
)
Ciclo
Carvão sulfonado de bagaço
Ácido nióbico
Ativ
idad
e re
lativ
a (%
)
Ciclo
Carvão sulfonado de bagaço
Ácido nióbico
Figura 42: Teste de estabilidade para os sólidos ácidos (LOU et al, 2012)
Chang et al, (2013) utilizaram uma resina fenólica mesoporosa como matéria
prima para a obtenção dos carvões sulfonados. Os autores estudaram a temperatura
de carbonização entre 400 e 700°C em nitrogênio por 2h e em seguida a sulfonação
foi realizada a 130°C por 10h com ácido sulfúrico c oncentrado. Os autores
observaram que o aumento da temperatura de carbonização levou a uma menor
quantidade de grupos sulfônicos formados na superfície do carvão, porém o
aumento da temperatura também proporcionou uma superfície específica
aumentada. A 400°C a concentração de grupos sulfôni cos obtida foi de 1.87mmol/g
com uma superfície específica de 120m2/g, enquanto para 700°c foram obtidos
0,5mmol/g e 397m2/g. Em relação ao efeito da temperatura de carbonização sobre
124
os grupos sulfônicos os resultados são similares aos obtidos na literatura para
diversas matérias primas diferentes.
Os carvões sulfonados foram testados para a reação de esterificação de
acido oleico, sendo o carvão preparado a 400°C o qu e obteve melhor desempenho,
o que foi correlacionado pelos autores a maior concentração de grupos sulfônicos.
Este catalisador também passou por um teste de estabilidade, sendo reciclado cinco
vezes com redução muito pequena de atividade.
A escolha dos métodos de sulfonação e carbonização além da matéria-prima
deve ser realizada conforme o tipo de aplicação a qual o carvão sulfonado será
submetido. Não somente a inclusão de grupos sulfônicos, mas a inclusão de outros
grupos oxigenados altera a polaridade da superfície do carvão sulfonado, tornando-a
mais ou menos atrativa para a molécula de interesse, mostrando a importância da
ligação entre a reação que será catalisada e o método de produção do carvão.
Em termos de características texturais também existem algumas
possibilidades que podem ser exploradas na preparação dos carvões sulfonados. A
utilização de precursores de alta área e volume de poros, como carvões ativados,
pode possibilitar a difusão adequada de moléculas de maior tamanho aos sítios
ácidos, mas em geral a sulfonação destes materiais gera menor número de sítios
ácidos. Outra opção é realizar a preparação dos materiais em condições que
permitam a estrutura dos carvões sulfonados uma alta flexibilidade possibilitando
com isso, que materiais com baixa área e volume de poros possam ser capazes de
expandir a estrutura para absorver solventes e moléculas de maior tamanho, que
serão posteriormente convertidas em reações catalisadas pelos grupos ácidos.
Quando efetuada a etapa de carbonização de forma isolada da sulfonação a
sua temperatura e tempo mostraram-se variáveis de grande importância para a
formação de estruturas maleáveis o suficiente para permitir a expansão dos carvões
quando submetidos ao contato com solventes facilitando desta forma o acesso de
moléculas reagentes aos sítios ácidos no interior da estrutura do carvão sulfonado.
Seus valores usuais se situaram entre 350 e 450°C.
O agente sulfonante mais empregado é o ácido sulfúrico concentrado,
possivelmente devido a facilidade de obtenção e manipulação, já que o que
apresenta maior formação de grupos sulfônicos é o ácido sulfúrico fumegante. O
ácido p-toluenosulfônico também foi reportado como um agente sulfonante eficaz
125
que evita a oxidação excessiva da superfície dos carvões. A faixa de relações
mássicas mais usual observada se situa entre 10 e 20ml/g de carvão.
A temperatura de sulfonação é uma variável importante para a introdução de
um grande número de grupos sulfônicos e depende do agente sulfonante e matéria-
prima selecionados. Os valores mais usuais estão na faixa de 80 a 150°C.
Assim como a temperatura o tempo de sulfonação também tem grande
influencia na concentração de grupos sulfônicos nos carvões sulfonados e
dependem do par agente sulfonante e matéria-prima, além da própria temperatura.
Os valores mais usuais se concentram na faixa de 10 a 15h.
De uma forma geral observa-se que as condições de preparação variam
conforme a matéria-prima e agente sulfonantes selecionados. Devido ao maior
número de trabalhos utilizando glicose e celulose os valores típicos para estes
materiais formam os valores mais usuais. Observaram-se poucos trabalhos na
obtenção de carvões sulfonados diretamente de resíduos lignocelulósicos.
3.3.1 Carvões sulfonados e a hidrólise de oligossac arídeos
Aliada a aplicação em reações de esterificação e transesterificação para
produção de biodiesel as reações de hidrólise de celulose e oligossacarídeos são as
aplicações mais comuns dos carvões sulfonados apresentadas na literatura.
A celulose é um polímero linear formado por moléculas de glucopiranose
conectadas por ligações químicas do tipo β-1,4, entre os carbonos 1 e 4 do anel.
Este tipo de ligação confere uma estabilidade superior a celulose em comparação
com outros polissacarídeos como o amido que é formado por ligações do tipo α-1,4.
Devido a simetria da ligação β-1,4 ocorre a formação de pontes de hidrogênio entre
hidroxilas adjacentes dos dois anéis aumentando a estabilidade da ligação β-1,4.
Ligações do tipo β-1,4 diminuem a solubilidade em água mesmo de oligossacarídeos
de poucos anéis, protegendo desta forma a ligação β-1,4 glicosídica de reações de
hidrólise (YANG et al, 2011).
Oligossacarídeos são moléculas formadas por 2 a 10 monossacarídeos como
a glicose, enquanto polissacarídeos são compostos formados por uma grande
quantidade de monossacarídeos. A amilose é um polissacarídeo, um polímero de
glicose, que compõe o amido, seu grau de polimerização se situa entre 250-3000,
126
enquanto os valores para celulose são superiores a 10000. Alguns oligossacarídeos
que apresentam ligações β-1,4 glicosídicas são a celobiose, com 2 anéis de glicose,
celotriose(3), celotetraose (4), e assim por diante. Esses polímeros são fragmentos
da estrutura da celulose apresentando o mesmo tipo de ligação química e
conformação, portanto espera-se que tenha comportamento químico similar.
De fato a hidrólise de ligações do tipo α-1,4 é bem mais fácil em comparação
com ligações do tipo β-1,4. Na Figura 43 é fácil perceber como as ligações α-1,4
não são protegidas por nenhuma ponte de hidrogênio. Além disso, essa
conformação polimérica dá origem a uma estrutura helicoidal, diferente da estrutura
planar da celulose. Estas duas características derivadas das diferenças entre as
ligações α-1,4 e β-1,4 glicosídicas tornam a hidrólise das ligações β-1,4 muito mais
difícil de ocorrer (RINALDI; SCHÜTH, 2009).
Amilose
a-glicose ß-glicose
CeluloseAmilose
a-glicose ß-glicose
Celulose Figura 43: Polímeros de glicose (RINALDI e SCHÜTH, 2009)
Desta forma para possibilitar a hidrólise de ligações β-1,4 glicosídicas são
necessários fortes ácidos de Bronsted, como o ácido sulfúrico, que são capazes de
romper as pontes de hidrogênio e as ligações β-1,4 propriamente ditas. Neste
127
cenário a utilização de carvões sulfonados que possuem grupos sulfônicos que
possuem força ácida similar a do ácido sulfúrico e podem ser facilmente reciclados,
é uma alternativa interessante.
O trabalho de Kitano et al, (2008) investigou o mecanismo de hidrólise de
vários oligossacarídeos, desde a celobiose com 2 anéis de glicose até a
celohexaose com 6 anéis. Neste trabalho foram comparados os desempenhos de
diversos sólidos ácidos como ácido nióbico, Amberlyst-15, Nafion e zeólitas, além
dos carvões sulfonados. A preparação do carvão sulfonado se deu pela
carbonização de 200g de celulose a 400°C por 1h em fluxo de nitrogênio, gerando
50g de carbonizado. Em seguida, 5g deste carbonizado foram sulfonados com 150
ml de ácido sulfúrico fumegante (15% de SO3) a 120°C por 10h. O carvão sulfonado
obtido apresentou formulação CH0.64O0.49S0.03 contendo 1.5mmol/g de SO3H,
5.4mmol/g de OH fenólico e 1.0 mmol/g de COOH.
As reações de hidrólise foram realizadas a 90°C com 0,1g de catalisador, 0,7g
de água destilada e 0,12g de celobiose. Para o caso da hidrólise de celohexaose a
massa de catalisador foi de 0,3g com 5.25mg de celohexaose.
Na Figura 44 pode-se observar os resultados de hidrólise de celobiose para a
resina Amberlyst-15 e o carvão sulfonado. Para a resina, a reação transcorreu de
forma constante durante as 24h. Neste caso obteve-se uma conversão próxima a
60%. Já para o carvão sulfonado as primeiras 10h de reação alcançam valores de
conversão já próximos dos obtidos ao fim das 24h. O valor final alcançado após 24h
foi um pouco superior a 80%. R
endi
men
to d
e gl
icos
e (%
)
Ren
dim
ento
de
glic
ose
(%)
Con
vers
ão d
e ce
lobi
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(%)
Tempo / h Tempo de reação / h
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ose
(%)
Tempo / h Tempo de reação / h
Figura 44: Hidrólise de celobiose usando Amberlyst-15 (a) e carvão sulfonado (b) (KITANO et al, 2008)
128
A resina Nafion alcançou rendimento similar a Amberlyst-15 e a zeólita obteve
apenas 20% de conversão. Os autores observaram que o carvão sulfonado foi
estável mesmo com 5 ciclos de utilização, e argumentaram que a presença de
grupos COOH que são elétron atratores aumenta a densidade de elétrons na ligação
entre o carbono e o enxofre do grupo SO3H tornando essa ligação mais estável e
com isso reduzindo a perda destes grupos ácidos em solução.
Segundo os autores os oligossacarídeos com mais de 5 anéis de glicose,
como é o caso da celohexaose que possui 6 anéis, apresentam redução da
solubilidade devido ao aumento do efeito das pontes de hidrogênio, sendo portanto
bons modelos para a hidrólise de celulose.
Neste trabalho também foi avaliada a hidrólise da celohexaose, e foi
observado que a partir do início da reação já era possível perceber a presença de
todos os polímeros de diferentes tamanhos de cadeia originário da hidrólise da
celohexaose. Segundo os autores esse fato indica que o mecanismo de hidrólise
não foi executado apenas pelas moléculas de glicose das extremidades, mas
também nas ligações intermediárias de maneira randômica, diferindo do mecanismo
enzimático. A evolução da composição do hidrolisado com o tempo pode ser vista na
Figura 45.
Tempo / h
Co
nver
são
de
celo
hexa
ose
(%
)
Celohexaose
Celopentaose
Celotetraose
Celotriose
Celobiose
Glicose
Ren
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em
pro
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s (%
)
Tempo / h
Co
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são
de
celo
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(%
)
Celohexaose
Celopentaose
Celotetraose
Celotriose
Celobiose
Glicose
Ren
dim
ento
em
pro
duto
s (%
)
Figura 45: Conversão de celohexaose e rendimentos em outros oligossacarídeos (KITANO et al, 2008)
Outra importante observação realizada pelos autores foi que a atividade dos
demais sólidos ácidos para a hidrólise de celohexaose foi muito inferior a do carvão
129
sulfonado, apesar destes terem apresentado bom desempenho na hidrólise de
celobiose. A concentração e tipo de sítios ácidos sozinhos não explicam essa
diferença, já que as resinas Amberlyst e Nafion apresentam grupos sulfônicos e
maior acidez em comparação ao carvão sulfonado e ainda assim não são capazes
de hidrolisar efetivamente a celohexaose. A argumentação dos autores foi que os
carvões sulfonados por possuírem grupos oxigenados adsorvem mais facilmente as
β-1,4 glucanas, conseguindo desta forma quebrar as pontes de hidrogênio que
protegem as ligações glicosídicas. Este argumento foi suportado por testes de
adsorção a baixa temperatura que mostraram que o carvão sulfonado adsorve
grande parte da celohexaose enquanto outros sólidos ácidos não tem essa
capacidade. Já para a celobiose o carvão sulfonado a adsorve em menor
quantidade, mais próximo dos valores obtidos para os demais sólidos, justificando as
diferenças no resultado de hidrólise destes oligossacarídeos.
Onda et al, (2008) foram os primeiros a publicar resultados de hidrólise de
celulose com carvões sulfonados. Os autores prepararam carvão sulfonado a partir
de carvão ativado comercial e compararam os resultados para hidrólise de celulose
com outros sólidos ácidos como zeólitas, zircônia sulfatada e resina Amberlyst-15.
Os autores realizaram a sulfonação a 150°C com ácid o sulfúrico 18M por 16h
em fluxo de argônio, em seguida realizaram tratamento hidrotérmico a 200°C por 2h
e obtiveram um carvão sulfonado com 0,44mmol/g de SO3H e 1,63mmol/g de sítios
ácidos totais com alta superfície específica (806m2/g).
Assim como reportado em outros trabalhos a sulfonação reduziu a superfície
específica do carvão ativado em 35%.
Os autores correlacionaram o bom desempenho do carvão sulfonado, que
superou todos os demais sólidos ácidos, a característica hidrofóbica de sua
superfície, composta de grandes folhas de grafeno. Este efeito é contraditório em
relação ao observado por Kitano et al, (2008) que correlacionou o desempenho
nesta reação a grupos oxigenados polares que aumentam a adsorção da celulose e
provocam a remoção das pontes de hidrogênio que protegem a ligação glicosídica.
Suganuma et al, (2008) também realizaram a hidrólise de celulose com vários
sólidos ácidos. Os autores prepararam carvão sulfonado a partir de celulose, pela
carbonização a 450°C por 5h em fluxo de nitrogênio, seguida da sulfonação a 80°C
com 22ml/g de ácido sulfúrico fumegante (15%SO3) por 10h. O carvão obtido
130
apresentou 1.9mmol/g de SO3H, 0,4mmol/g de COOH e 2.0 mmol/g de hidroxilas
fenólicas. A fórmula reduzida obtida para o carvão foi de CH0.622O0.540S0.048.
Os autores avaliaram a hidrólise em duas diluições diferentes, no primeiro
caso empregando 0,3g de carvão, 0,025g de celulose e 0,7g de água foi obtida uma
taxa de formação de glicose de 7µmol/h.g. No entanto trabalhando com menor
proporção de água, 1g de carvão sulfonado, 3g de celulose microcristalina e 0,7g de
água, a taxa de formação de glicose alcançou 110µmol/h.g. Durante a reação uma
vazão de 3mg/h de água foi alimentada ao reator para compensar o consumo de
água pela reação.
Na faixa de temperatura avaliada de 70-100°C a ener gia de ativação
calculada para a hidrólise de celulose pelo carvão sulfonado foi de 110kJ/mol inferior
ao valor obtido para ácido sulfúrico nas mesmas condições de reação (170kJ/mol).
O perfil de conversão com o tempo de reação para a hidrólise da celulose
microcristalina e de raspas de eucalipto pode ser visualizado na Figura 46.
Material carbonáceo
Celulose cristal ina
Euc
alip
to
Con
vers
ão
de c
elul
ose
(%)
Tempo de reação / h
Ácido nióbicoH-mordenitaNafionAmberlyst 15
Material carbonáceo
Celulose cristal ina
Euc
alip
to
Con
vers
ão
de c
elul
ose
(%)
Tempo de reação / h
Ácido nióbicoH-mordenitaNafionAmberlyst 15
Figura 46: Conversão versus tempo para diversos ácidos (SUGANUMA et al, 2008)
Assim como no trabalho de Kitano et al, (2008) os autores atribuíram a
performance do carvão sulfonado a sua capacidade de adsorver as moléculas de
celulose, promovida pelos grupos oxigenados, especialmente hidroxilas fenólicas, o
que possibilitaria o acesso dos grupos ácidos sulfônicos as ligações glicosídicas.
Adicionalmente foi realizado teste de adsorção de água e ficou demonstrado que
pela quantidade adsorvida a superfície do carvão deveria possuir 560m2/g, muito
131
superior a obtida por adsorção de nitrogênio (2m2/g) indicando que a capacidade de
adsorção de água promovida pelos grupos polares oxigenados incha a estrutura do
carvão facilitando o acesso dos reagentes aos sítios ácidos.
Utilizando o mesmo carvão sulfonado do trabalho de Suganuma et al, (2008),
Yamaguchi et al, (2009) realizaram um estudo para otimização de algumas variáveis
da reação de hidrólise utilizando redes neurais. Neste estudo os autores mantiveram
constantes a temperatura de reação em 100°C, a mass a de carvão em 3g e o tempo
de reação de 3h e avaliaram o efeito das variáveis massa de água, rotação e massa
de celulose. Os autores identificaram que a faixa ótima para obtenção de glicose é
de 2,5-3ml de água enquanto para outros oligossacarídeos é de 1-1,5ml, o que está
de acordo com o esperado já que a obtenção de glicose requer etapas adicionais de
hidrólise dos oligossacarídeos, necessitando de maior quantidade de água. A
velocidade de agitação, embora tenha apresentado alguma influência na reação,
esta foi de baixa magnitude, o que foi correlacionado pelos autores com a forte
adsorção entre as moléculas de celulose e o carvão sulfonado, que tornaria a
agitação menos importante. As condições ótimas obtidas para a formação de glicose
foram massa de celulose de 0,9g, agitação de 370rpm e 2,5ml de água.
Nestas condições foi avaliado o efeito da temperatura na taxa de formação de
glicose. Observaram-se duas energias de ativação diferentes, uma abaixo de 90°C
(44kJ/mol) e outra acima desta temperatura (128kJ/mol). Os valores indicam que o
aumento de temperatura eleva a taxa de reação em toda a faixa analisada, porém
em temperaturas de 60°C a 90°C a elevação da taxa d e reação é mais rápida do
que a observada de 90°C a 120°C.
Hara, (2010) fez uma revisão dos trabalhos de seu grupo na área de hidrólise
de celulose e oligossacarídeos com carvões sulfonados. O autor ressaltou que o
bom desempenho dos carvões sulfonados para essas reações tem ligação não
somente com uma quantidade razoável de grupos sulfônicos, fortemente ácidos,
ligados ao carvão, mas também a capacidade de adsorção de celulose e
oligossacarídeos que o carvão possui, principalmente em função da grande
quantidade de hidroxilas fenólicas em sua superfície. O autor propôs um esquema
do mecanismo de reação, disponível na Figura 47.
132
Figura 47: Representação esquemática do mecanismo de reação de hidrólise de celulose (HARA, 2010)
Pang et al, (2010) realizaram o primeiro estudo de otimização de condições
de sulfonação visando a hidrólise de celulose. Nesse estudo a temperatura de
sulfonação foi variada entre 150 e 300°C e em algum as amostras foi realizado um
tratamento prévio com ácido nítrico para introdução de maior quantidade de grupos
oxigenados.
Os autores observaram que o aumento da temperatura de sulfonação elevou
a quantidade de grupos sulfônicos nos carvões de 150 a 250°C, porém acima deste
valor houve uma redução, provocada pela decomposição térmica destes grupos.
O tratamento com ácido nítrico parece ter melhorado a eficiência da
sulfonação, já que gerou carvões com maiores quantidades de grupos sulfônicos.
Além disso, a quantidade de sítios ácidos totais destes carvões também foi bastante
superior a daqueles que não passaram pelo tratamento.
Apesar disto as áreas superficiais dos carvões tratados com ácido nítrico e
sulfonados em temperaturas de 250°C ou maiores fora m consideravelmente
inferiores as obtidas para os carvões que não sofreram tratamento. Esse efeito é
mais dramático para a temperatura ótima de sulfonação de 250°C, em que o carvão
tratado com ácido nítrico (AC-N-SO3H-250) apresentou 0,44mmol/g de grupos
SO3H, 2,23mmol/g de grupos ácidos totais e superfície específica de 762m2/g,
enquanto o carvão não pré-tratado com ácido nítrico (AC-SO3H-250) obteve
0,24mmol/g de grupos SO3H, 1,58mmol/g de grupos ácidos totais e superfície
133
específica de 945m2/g. Estas amostras foram as que obtiveram maiores teores tanto
de grupos sulfônicos quanto de ácidos totais e também apresentaram maiores
conversão de celulose e rendimento em glicose, conforme a Tabela 15.
Tabela 15: Conversão de celulose e rendimento em glicose dos melhores carvões sulfonados (Adaptado de PANG et al, 2010)
Amostra Rendimento em
glicose (%)
Conversão de
celulose (%)
AC-SO3H-250 61,0 70,4
AC-N-SO3H-250 62,6 74,3
A elevação da temperatura de sulfonação de 150°C pa ra 250°C em carvões
não pré-tratados com ácido nítrico provocou um aumento no rendimento de glicose
de 7.1% para 61% mostrando ser um importante parâmetro a ser estudado. Os
rendimentos em glicose reportados pelos autores são bastante superiores aos
informados nos trabalhos de Suganuma et al, (2008) de 4% e de Onda et al, (2008)
de 40%.
Adicionalmente os autores sulfonaram um carvão ativado mesoporoso a
250°C nas mesmas condições dos carvões ativados ant eriores e obtiveram uma
amostra com 0,63mmol/g de SO3H, 2,39 mmol/g de sítios ácidos e 412m2/g de
superfície específica. De outro trabalho do mesmo grupo obteve-se a caracterização
do carvão ativado antes da sulfonação, sendo sua superfície específica total de
1376m2/g com 1,6cm3/g de volume de mesoporos, considerado um volume muito
alto para a faixa de mesoporos (ZHANG et al, 2009).
Esse carvão sulfonado mesoporoso apresentou conversão de celulose de
94.4% e rendimento em glicose de 74,5%, sendo os melhores resultados de
conversão e seletividade reportados. Os excelentes resultados foram
correlacionados com o alto teor de grupos ácidos e com as características texturais
do carvão que permitiriam o acesso de moléculas de maior tamanho aos sítios
ácidos.
Suganuma et al, (2010) em outro trabalho preparou carvão sulfonado de
celulose com temperatura de carbonização de 400°C, mais baixa que em seu
trabalho anterior (450°C) e testou o material para hidrólise de celobiose e celulose.
134
O carvão obtido apresentou 1,5mmol/g de grupos sulfônicos, 0,4mmol/g de
grupos COOH e 5,4mmol/g de hidroxilas fenólicas. O material preparado mostrou
bom desempenho para ambas as reações, apresentando atividade superior a outros
sólidos ácidos como as resinas Amberlyst-15, Nafion NR50 e o ácido nióbico. A
evolução da conversão com o tempo para ambas as reações pode ser visualizada
na Figura 48.
Carvão sulfonado
Ácido nióbicoNafion NR50Amberlyst 15
Amberlyst 15
Carvão sulfonado
H2SO4
Nafion NR50
Ácido nióbico
Ren
dim
ento
D-g
licos
e/ %
Tempo / h Tempo de rea ção / h
Carvão sulfonado
Ácido nióbicoNafion NR50Amberlyst 15
Amberlyst 15
Carvão sulfonado
H2SO4
Nafion NR50
Ácido nióbico
Ren
dim
ento
D-g
licos
e/ %
Tempo / h Tempo de rea ção / h Figura 48: Evolução da conversão para as reações de hidrólise de celobiose e celulose (SUGANUMA et al,
2010)
Porém, apesar de hidrolisar praticamente toda a celulose em 6h, or
rendimento em glicose foi de apenas cerca de 6% quando a conversão global girava
em torno de 60% na terceira hora de reação. Mais uma vez os autores propuseram
que a vantagem dos carvões sulfonados em relação a outros sólidos ácidos é que os
carvões são capazes de adsorver a celulose e celobiose devido a sua grande
quantidade de hidroxilas fenólicas, formando pontes de hidrogênio com as hidroxilas
dos anéis glicosídicos e desta forma tornando a ligação β-1,4 glicosídica mais
acessível aos grupos ácidos sulfônicos.
Wang et al, (2010) propuseram a preparação de um catalisador com
propriedades paramagnéticas de Ferro suportado em carvão sulfonado. O ferro foi
impregnado sobre celulose que foi em seguida carbonizada em fluxo de nitrogênio a
400°C por 15h. A temperatura de sulfonação com ácid o sulfúrico concentrado foi
estudada de 40 a 80°C com tempo de 2h. A 60°C foi o btida a máxima concentração
de sítios ácidos totais de 1.25mmol/g. Esta amostra também foi a que apresentou
135
maior conversão de celulose (40,6%) após 15h de reação e a distribuição de
oligossacarídeos obtida pode ser visualizada na Tabela 16.
Tabela 16: Rendimentos em oligossacarídeos para a hidrólise de celulose (Adaptado de WANG et al, 2010)
Produto Rendimento (%)
Glicose 23.1
Celobiose 2.2
Celotriose 1.7
Celotetraose 1.7
Celopentaose 0.8
Celohexose -
Não identificados 11.1
Porém os grupos sulfônicos presentes no catalisador não foram termicamente
estáveis nas condições de reação e a lixiviação destes grupos reduziu a conversão
obtida a cada reutilização do catalisador.
Fukuhara et al, (2011) estudaram o efeito da temperatura de carbonização da
celulose no desempenho do carvão sulfonado resultante para a hidrólise de
celobiose. Os autores avaliaram a temperatura de carbonização em 5 níveis, 400°C,
450°C, 550°C, 600°C e 650°C. Na Tabela 17 podem se r visualizados os resultados
de rendimento de glicose e concentração de grupos sulfônicos nas amostras
avaliadas.
Tabela 17: Influência da temperatura de carbonização no teor de grupos sulfônicos (Adaptado de FUKUHARA et al, 2011)
Temperatura de
cabonização (°C)
Concentração de grupos
SO3H (mmol/g)
Rendimento em glicose
(%)
400 1,8 35
450 1,6 24
550 0,89 6,7
600 0,75 7,1
650 0,92 2,4
136
Da análise da Tabela 17 é fácil perceber que com o aumento da temperatura
de carbonização provoca uma redução do número de grupos sulfônicos disponíveis.
Segundo os autores isso se deve ao aumento do número de ligações cruzadas entre
folhas de anéis aromáticos que provocam o enrijecimento da estrutura e com isso
dificultam a absorção de compostos que possibilitaria uma sulfonação em maior
nível. Outra dedução simples é que o rendimento em glicose é diretamente
proporcional a quantidade de sítios ácidos sulfônicos presentes, no entanto não é
explicitado no artigo a quantidade de sítios ácidos totais presentes, especialmente
hidroxilas fenólicas que tem grande influência na adsorção de celobiose, conforme
visto em diversos trabalhos anteriores.
Apesar da baixa superfície específica que todas as amostras apresentaram
(<5m2/g) os autores mostraram utilizando isotermas de adsorção de água que os
carvões sulfonados seriam capazes de expandir sua estrutura para adsorver água
com uma superfície específica equivalente a 280m2/g, no caso da amostra
carbonizada a 400°C, que foi a que apresentou maior capacidade de adsorção de
água. Os autores correlacionam esta capacidade de adsorção a uma acessibilidade
facilitada aos sítios ácidos presentes no interior da estrutura do carvão.
Jiang et al, (2011) preparam um carvão sulfonado por uma rota hidrotérmica,
aquecendo uma solução 10% em peso de glicose a 180°C por 10h. Em seguida o
material foi lavado com água e seco a 100°C por 12h . A sulfonação de 1g do carvão
foi realizada com 30ml de ácido sulfúrico fumegante (20% SO3) a 120°C por 10h. O
material foi lavado com água a 80°C e seco a 100°C por 24h. O carvão sulfonado
obtido apresentou alta capacidade de absorção de água, aumentando em 4,2 vezes
o seu volume quando impregnado com água. Essa característica tornou a amostra
mais fácil de manter em suspensão na solução aquosa, sem a ocorrência de
precipitação. A amostra apresentou um teor de enxofre de 5,96%. O carvão
sulfonado foi testado para a hidrólise de celulose e amido e comparado com outros
sólidos ácidos, incluindo um carvão sulfonado preparado pelo método desenvolvido
pelo grupo de Hara, disponível em Okamura et al, (2006). Os carvões sulfonados
apresentaram maiores rendimentos de glicose para ambas as hidrólises. No caso da
hidrólise de celulose o carvão preparado pelo método hidrotérmico alcançou
rendimento de glicose de 74% enquanto o carvão preparado por pirólise chegou a
49%. Para a hidrólise do amido a diferença foi ainda maior, chegando a 92% de
rendimento para o carvão hidrotérmico e 22% para o carvão de pirólise. Os autores
137
correlacionaram a melhor performance a uma maior quantidade de grupos
superficiais OH, presentes no carvão hidrotérmico, que aumentariam a capacidade
de adsorção das moléculas. A maior quantidade destes grupos seria derivada da
menor temperatura de preparação dos carvões, característica do método
hidrotérmico.
Ormsby et al, (2012) carbonizaram e sulfonaram cascas de amendoim, lascas
de madeira (pinheiro) e carvões ativados, para aplicação na hidrólise de celobiose e
de xilanas. Os autores observaram que tanto para casca de amendoim quanto para
as lascas de madeira a carbonização não gerou estrutura porosa mensurável, porém
após a sulfonação ambos os materiais carbonizados exibiram superfície específica
considerável, sendo 242m2/g e 365m2/g respectivamente. Já no caso do carvão
ativado, após a sulfonação a superfície específica caiu de 1944m2/g para 1391m2/g.
As características dos carvões sulfonados podem ser visualizadas na Tabela 18.
Tabela 18: Características dos carvões sulfonados (Adaptado de Ormsby et al, 2012) Matéria-prima Superfície
específica (m2/g)
Sítios ácidos
totais (mmol/g)
Grupos sulfônicos
(mmol/g)
Casca de
amendoim
242 5,65 0,61
Lasca de madeira 365 3,66 0,69
Carvão ativado 1391 2,59 0,20
Para a hidrólise da celobiose os autores não verificaram atividade para
temperaturas inferiores a 90°C para todas as amostr as. O carvão sulfonado de
casca de madeira foi o que apresentou maior atividade catalítica para a hidrólise de
celobiose, o que foi correlacionado com a sua maior quantidade de grupos
sulfônicos. A 120°C este carvão exibiu conversão de celobiose de 95% em 6h com
rendimento em glicose de 80%. Para o mesmo catalisador na hidrólise de xilana a
conversão alcançou 90% em 2h a 120°C. Para o caso d as xilanas o catalisador de
madeira também foi o mais ativo, o que foi correlacionado pelos autores com sua
capacidade de adsorver as xilanas.
Recentemente Shuai e Pan, (2012) prepararam carvão sulfonado com uma
nova funcionalidade. A utilização de cloro como sítio de ligação com a celulose na
superfície do carvão. Segundo os autores não havia disponível nenhum trabalho
138
deste tipo na literatura da área. De fato os trabalhos anteriores mostraram a
importância de grupos superficiais que tenham atividade para adsorção da celulose
via formação de pontes de hidrogênio com as hidroxilas do polissacarídeo, porém o
foco foi total nos grupos oxigenados, especialmente hidroxilas fenólicas, e nas
condições do processo de carbonização e sulfonação para a obtenção da maior
quantidade possível destes grupos além dos grupos sulfônicos. Segundo os autores
o grupo cloreto seria capaz de formar pontes de hidrogênio com as hidroxilas da
celulose e também romper com as pontes de hidrogênio intra e intermoleculares na
celulose, aumentando a acessibilidade para dissolução e reações. Devido a essas
características a dissolução de biomassa com solventes contendo cloro vem sendo
bastante estudada. Os autores argumentaram ainda que este mecanismo de
hidrólise de celulose mimetiza a ação de enzimas celulase, que contem dois sítios
ativos, um para conexão da molécula de celulose e outro para a quebra das ligações
glicosídicas. Uma representação esquemática deste mecanismo pode ser vista na
Figura 49.
Cadeia celulósica
Ponte de hidrogênio
Celulase mimetizada
Domínio de ligação Domínio catalítico Domínio de ligação
Cadeia celulósica
Ponte de hidrogênio
Celulase mimetizada
Domínio de ligação Domínio catalítico Domínio de ligação
Figura 49: Representação do mecanismo de mimetização da enzima celulase realizado pelo sólido ácido (SHUAI; PAN, 2012)
Porém os autores não preparam o carvão a partir de biomassa e sim
utilizando uma resina já clorada (clorometil poliestireno). A preparação do sólido
ácido foi realizada partindo de 3g de resina clorada dissolvida em 50ml de
dimetilfurano e aquecida a 120°C por 30min. Em segu ida foi adicionado 2g de ácido
sulfanílico e a mistura foi mantida a 120°C por 48h . O sólido resultante foi filtrado e
lavado com etanol e água, sendo finalmente seco a 105°C por uma noite.
Os autores observaram alta atividade para a hidrólise de celobiose, com 73%
de rendimento em glicose em 2h a 120°C. O aumento d a temperatura para 140°C
proporcionou a conversão total da celobiose. Também foi realizado testes de
adsorção a temperatura ambiente de celobiose e glicose. Diferentemente dos
carvões sulfonados relatados em trabalhos anteriores que adsorvem apenas
139
moléculas que possuam a ligação glicosídica e não adsorvem a glicose, a amostra
com cloro adsorve ambas as moléculas. Foi argumentado que o mecanismo de
adsorção neste caso se dá pela interação do cloro com as hidroxilas e não com o
oxigênio da ligação glicosídica. Desta forma, o material é capaz de adsorver tanto os
poli e oligossacarídeos quanto a glicose. Porém existe uma afinidade maior pela
celobiose, devido a maior quantidade de pontes de hidrogênio que esta forma, o que
garante que moléculas de glicose não bloqueiem os sítios ativos durante a reação.
O catalisador foi reutilizado em 3 ciclos sem observação de lixiviação de
grupos sulfônicos ou cloreto, mantendo sua atividade inalterada.
Também foram realizadas hidrólises de amido e celulose com este sólido
ácido. Para o caso do amido foi observada a conversão completa em 2h a 120°C. Já
para a celulose após 2h apenas 32% foram convertidas nas mesmas condições.
Porém em 10h a conversão alcançou 93%. Esses resultados estão de acordo com o
esperado já que as ligações glicosídicas presentes na celulose são mais difíceis de
romper em relação as presentes no amido.
Os resultados apresentados neste trabalho mostram uma excelente atividade
dos catalisadores para as reações de hidrólise de polissacarídeos. Apesar disso, o
catalisador utilizou como precursor uma resina comercial já clorada, sendo um
material de maior custo. Porém, o trabalho indica que a introdução de outros
domínios de ligação dos polissacarídeos ao catalisador é uma área que merece
maior desenvolvimento, pois apresenta potencial para aumentar bastante o
rendimento e a velocidade das reações de hidrólise feitas com sólidos ácidos.
A funcionalização de carvões preparados com biomassas, antes ou após a
sulfonação, utilizando elementos de alta eletronegatividade, capazes de realizar
pontes de hidrogênio com os polissacarídeos, pode ser uma rota interessante.
Avaliando o conjunto de artigos relatado anteriormente pode-se perceber que
de uma forma geral a hidrólise de celobiose e oligossacarídeos de pequeno tamanho
parece ser bem mais fácil do que a da celulose. Em parte isto se deve a diferença de
solubilidade entre estas substâncias. Enquanto as reações com celobiose se
passam totalmente em fase líquida, frequentemente as reações com celulose se
iniciam com a celulose como uma fase sólida sobrenadante que vai sendo
convertida e solubilizada com o tempo. Além disso, a caracterização de produtos
para a hidrólise de celobiose é muito mais simples, pois gera principalmente glicose.
Já a hidrólise da celulose gera vários oligossacarídeos de difícil determinação, não
140
sendo raro autores lançarem mão da hidrólise enzimática destes líquidos como
forma de contabilizar os oligossacarídeos formados.
Apesar disso, todos os autores convergem para que a hidrólise tanto da
celulose quanto de oligossacarídeos, incluindo a celobiose, é realizada em um
processo em duas etapas. Na primeira etapa ocorre a adsorção das moléculas na
superfície do carvão sulfonado, formando pontes de hidrogênio entre hidroxilas
fenólicas da superfície do carvão e os anéis glicosídicos, em seguida a ligação β-1,4
glicosídica, menos protegida pelas pontes de hidrogênio entre hidroxilas da cadeia
celulósica, é atacada por prótons H+ oriundos dos grupos sulfônicos fortemente
ácidos, iniciando o mecanismo químico de cisão dos anéis.
A quantidade de grupos sulfônicos parece ser uma característica importante
para determinar a atividade do carvão para as reações de hidrólise, porém outros
fatores também tem papel importante. O teor de grupos oxigenados, mais
especificamente hidroxilas fenólicas parece ser muito relevante, já que este seria o
grupo responsável pela ligação da das moléculas na superfície do carvão. Porém
outra linha de estudos, com introdução de elementos de alta eletronegatividade,
como o cloro, para fazer o papel de domínio de ligação parece ser uma alternativa
interessante.
Outro fator importante é a acessibilidade das moléculas a todos os sítios
ácidos presentes no carvão. Neste sentido, superfície específica, tamanho e volume
de poros tem papel importante. Sólidos com poros de maiores dimensões
possibilitam uma maior acessibilidade aos sítios ácidos para moléculas de maior
tamanho, facilitando a ocorrência das reações. No caso de materiais que sofreram
carbonização incompleta a sulfonação auxilia o desenvolvimento da estrutura
porosa, aumentando a superfície específica da amostra, porém para carvões
ativados já com estrutura porosa definida a sulfonação reduz a área devido ao
bloqueio de poros por grupos sulfônicos.
As variáveis de preparação dos carvões possuem níveis similares aos
relatados anteriormente para outras aplicações, exceto pelo trabalho de Pang et al,
(2010) que sulfonou os carvões em temperaturas mais altas e obteve bons
resultados.
Além disso, percebe-se que a quantidade de trabalhos publicados relatando a
obtenção de carvões sulfonados a partir de biomassa ainda é bastante reduzida.
Destaca-se ainda, que não foi identificado na literatura nenhum trabalho relatando a
141
utilização da casca de palmiste como matéria prima para obtenção de sólidos
ácidos, apesar desse resíduo ser abundante e de baixo valor, sendo este um campo
aberto para maiores estudos.
142
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Carvões Ativados de lignina
4.1.1 Materiais
Os carvões ativados preparados nessa dissertação tiveram como base um
resíduo oriundo da produção de etanol de segunda geração a partir de bagaço de
cana.
O resíduo utilizado como fonte de carbono para a preparação dos carvões foi
obtido após sequência típica de produção de etanol de segunda geração constituída
de pré-tratamento ácido, hidrólise enzimática e fermentação. O bagaço de cana
utilizado foi cedido pela usina Guarani.
Na etapa de pré-tratamento ácido foi adicionada ao bagaço solução de ácido
sulfúrico 1% v/v com relação sólido:líquido de 1:3 kg/l. A reação ocorreu durante 30
min a 121°C. Após a reação , o produto foi neutralizado com hidróxido de amônio até
pH 5.
Na hidrólise enzimática foram utilizadas as enzimas CellicCTech 2 da
Novozymes com carga de 6,3 mg/g de material e Accellerase Duet da Genencor
com carga de 2,7mg/g de material. Além disso, foi utilizado biocida Biozyn F (50
ppm) e surfactante PEG4000 (5% p/p). A temperatura empregada foi de 50°C com
200 rpm de agitação. O processo foi conduzido em batelada, alimentada com 3kg de
material pré-tratado nos tempos 0, 3, 6 e 12h.
A fermentação foi realizada com a levedura JP1 na concentração de 5g/l. O
pH foi ajustado para 6 com hidróxido de amônio. A temperatura empregada foi de
37°C e a agitação de 200 rpm. Após o término da fer mentação foi realizada uma
centrifugação para remoção do resíduo sólido que saiu do processo com cerca de
70% de umidade e foi posteriormente seco até 9,7% de umidade. Conforme
previamente mencionado, este resíduo foi o empregado nos testes de produção dos
carvões ativados.
Na preparação dos carvões ativados foram utilizados ácido fosfórico 85% PA
e cloreto de zinco PA 97%. Todas as soluções e lavagens foram realizadas com
água deionizada.
4.1.2 Preparação Para a preparação das amostras de carvão foi utilizada a seguinte seqüência de
143
operações (Figura. 50).
Figura. 50: Fluxograma de preparação dos carvões ativos
Foi selecionada a rota de preparação com ativação química, que possibilitaria o uso
de temperaturas mais brandas na pirólise, além de um melhor controle do tamanho
de poros. A rota de preparação com ativação química parte da impregnação do
resíduo do processo de produção do etanol 2G com um agente químico.
Vários agentes vêm sendo reportados na literatura como ativos para a
formação do carvão dentre estes os que apresentam resultados mais favoráveis são
o ácido fosfórico e o cloreto de zinco, daí terem sido selecionados para este início de
estudo.
A preparação inicia-se com a impregnação do resíduo com o agente ativante.
A massa de agente utilizada foi 3 vezes a massa de resíduo, esta relação foi
mantida constante para todos os carvões. No caso do ácido fosfórico a impregnação
foi realizada diretamente sobre a biomassa. No caso do cloreto de zinco foi
preparada solução aquosa 50% p/p, que posteriormente foi usada na impregnação.
Essa impregnação foi realizada de forma que a massa preparada fique o mais
homogênea possível. Em seguida, o impregnado foi deixado a temperatura ambiente
durante o tempo de impregnação de 1h, mantido constante em todas as
preparações, sendo então enviado para secagem em estufa.a 110°C por 4h.
Após a secagem o impregnado segue para a pirólise, esta etapa é realizada
em um reator de leito fixo de quartzo de 1 polegada de diâmetro posicionado em
forno tubular bipartido. O fundo do reator foi conectado a uma linha de gás com
144
vazão controlada de nitrogênio. O forno recebe sinal de um termopar tipo K
posicionado no casco do reator e possui controlador de temperatura tipo PID que
permite a programação de rampas e patamares.
O forno foi programado para uma taxa de aquecimento de 10°C/min para
todos os carvões preparados. A temperatura e tempo final de pirólise variaram
conforme a amostra. Para manter a atmosfera sem oxigênio é utilizado um fluxo pré-
definido de nitrogênio através do impregnado. A vazão de nitrogênio empregada
para todas as preparações foi de 3,75Nml/g de massa impregnada alimentada no
reator.
Após a pirólise é realizada a etapa de lavagem com objetivo de remover
produtos residuais formados e excesso de agente ativante ainda presente. Essa
etapa é feita em aparato de filtração com kitasato, funil de Büchner e bomba de
vácuo.
Finalmente, após a lavagem, o carvão segue para secagem final para
remoção da água adsorvida.
Cada etapa da preparação de carvões ativos possui diversas variáveis que
podem ser estudadas. Para simplificação destes estudos iniciais de viabilidade de
produção de carvões a partir do resíduo do processo de geração de etanol 2G, foi
decidido que seria estudada a influência de três variáveis, a saber, o agente
ativante, a temperatura de pirólise e o tempo de pirólise.
Na Tabela podem-se verificar os níveis empregados para cada uma destas
variáveis. Tabela 19:Variáveis e níveis empregados nos testes
Variável Agente
ativante
Temperatura
pirólise (°C)
Tempo
pirólise (h)
Níveis H3PO4 e ZnCl2 300°C e 450°C 4, 8, 12, 24, 48h
A partir destas definições de variáveis foi montada a matriz de testes
apresentada na Tabela .
Tabela 20: Matriz de amostras preparadas
Amostra Temperatura
pirólise Tempo Pirólise
Agente
CARVÃO 1 300°C 1h H 3PO4
CARVÃO 2 300°C 4h H 3PO4
CARVÃO 3 300°C 8h H 3PO4
CARVÃO 4 300°C 12h H 3PO4
CARVÃO 5 450°C 4h H 3PO4
145
CARVÃO 6 450°C 8h H 3PO4
CARVÃO 7 450°C 12h H 3PO4
CARVÃO 8 300°C 24h H 3PO4
CARVÃO 9 450°C 24h H 3PO4
CARVÃO 10 450°C 48h H 3PO4
CARVÃO 11 300°C 48h H 3PO4
CARVÃO 12 300°C 4h ZnCl 2
CARVÃO 13 300°C 8h ZnCl 2
CARVÃO 14 300°C 12h ZnCl 2
CARVÃO 15 300°C 24h ZnCl 2
CARVÃO 16 300°C 48h ZnCl 2
CARVÃO 17 450°C 4h ZnCl 2
CARVÃO 18 450°C 8h ZnCl 2
CARVÃO 19 450°C 12h ZnCl 2
CARVÃO 20 450°C 24h ZnCl 2
CARVÃO 21 450°C 48h ZnCl 2
Os carvões preparados foram caracterizados pela técnica de adsorção de
nitrogênio; além disso, também foram determinados o teor de cinzas e o pH
superficial destes carvões.
4.1.3 Testes de adsorção de compostos com enxofre
4.1.3.1 Materiais Para os testes de adsorção foi utilizado como composto modelo o
dibenzotiofeno 98%. Foi preparada uma solução de dibenzotiofeno com hexano PA.
O dibenzotiofeno (DBT) é um composto que representa uma classe de substâncias
refratárias ao hidrotratamento, devido ao seu elevado peso molecular e
posicionamento do átomo de enxofre na molécula.
Devido a essas características, esse composto foi utilizado como modelo para
os testes de adsorção. Nesse tipo de aplicação, um leito de carvão ativado pode ser
usado em conjunto com uma unidade de hidrotratamento para remoção dos
compostos de enxofre mais refratários. Esse tipo de arranjo permite a redução da
severidade das reações de hidrotratamento e, portanto, uma economia de materiais
na construção destas unidades.
Como adsorventes foram empregados os carvões 9 e 20 obtidos a partir do
resíduo do processo de produção de etanol 2G. O carvão 9 preparado com ácido
fosfórico possui área de 890 m2/g e diâmetro médio de poros de 59Å, e o carvão 20
146
preparado com cloreto de zinco com área 1147m2/g e diâmetro médio de poros 34Å.
Como esses carvões apresentaram alta área superficial, mas diferentes
tamanhos médios de poros, decidiu-se pela utilização de ambos nos testes de
adsorção de enxofre.
Figura 51: Molécula de dibenzotiofeno
4.1.3.2 Preparação
Os testes de adsorção de enxofre foram realizados com uma solução de 1000
ppm de dibenzotiofeno em hexano. O teste foi realizado expondo 30 ml da solução
de dibenzotiofeno por 24h a 30°C a diferentes massa s de carvão peneirado para
tamanho de partícula -115 +150 mesh. Foi utilizado agitador orbital a 200 rpm. A
concentração inicial e final de enxofre foi medida em todas as amostras pela técnica
de fluorescência de ultravioleta.
4.2 Carvões Ativados de casca de palmiste
4.2.1 Materiais
Na preparação dos carvões ativados foi utilizada casca de palmiste fornecida
pela Petrobras Biocombustíveis, água destilada e CO2 grau de pureza 5.5.
A casca de palmiste fornecida pela Petrobras Biocombustíveis teve como
origem plantações de palma já existentes na região onde serão implantadas as
unidades extratoras.
A amostra foi recolhida no mês de abril de 2012, após passar pelo sistema de
despolpamento. A amostra de cascas de palmiste in natura foi classificada e
apresentou tamanho médio aproximado de 5 a 15 mm, sendo 25% m/m maior que
12,7 mm e 15% m/m menor 6,35 mm aproximadamente.
Para a preparação dos carvões ativos a matéria prima in natura foi moída em
moinho de facas modelo SL230 marca SOLAB com peneira acoplada de 8 mesh.
147
4.2.2 Preparação
O preparo dos carvões ativados de casca de palmiste foi realizado em duas
etapas consecutivas: i) a carbonização em fluxo de nitrogênio, do material in natura
moído e classificado, e na sequência, ii) ativação em fluxo de CO2, H2O ou misturas
destes.
Tanto a carbonização quanto a ativação foram realizadas em reator de leito
fixo. No trabalho de Linares-Solano et al, (2000), foram comparados reatores de leito
fixo e leito fluidizado para a ativação com CO2 e H2O. Os autores concluíram que os
carvões feitos em reator de leito fluidizado teriam menor tempo de ativação em
relação aos obtidos em leito fixo. Para os carvões preparados com vapor d’água
qualidades similares seriam obtidas nos dois tipos de reatores. Porém, para carvões
produzidos com CO2, os testes em leito fluidizado resultaram em carvões de
qualidade inferior em relação aos obtidos em leito fixo. Segundo os autores, a pior
qualidade destes carvões se deveu a possível entrada em regime controlado por
difusão, influenciando dessa maneira a taxa das reações de gaseificação.
Apesar das diferenças que o tipo de reator pode provocar, optou-se por
realizar esse estudo em reatores de leito fixo, pois é o tipo de reator mais simples, o
que proporcionaria menores custos na produção de carvões ativados. Porém, deve-
se levar em conta que sistemas reacionais mais complexos como reatores de leito
fluidizado e reatores rotatórios podem produzir materiais de maior qualidade.
Para a preparação de todas as amostras de carvão ativado a etapa inicial foi
a carbonização da casca de palmiste. Após a etapa de carbonização, foram
retiradas amostras dos carvões intermediários para verificar como esta etapa
influencia o material de partida.
Aparato
O aparato utilizado pode ser visualizado na Figura 52. Para as etapas de
carbonização e ativação com CO2 um reator de leito fixo de quartzo de 1 polegada
de diâmetro foi posicionado em forno tubular bipartido, sendo conectada ao fundo do
reator uma linha de gás com vazão controlada. No caso da ativação, empregando
vapor d’água, foi utilizada uma bomba HPLC e um forno auxiliar para geração de
vapor com vazão controlada. O forno recebe sinal de um termopar tipo K
posicionado no casco do reator e possui controlador de temperatura tipo PID que
permite a programação de rampas e patamares.
148
Figura 52: Representação esquemática da unidade de preparação de carvões ativados. Carbonização
Cascas de palmiste, na quantidade de 70g, moídas e classificadas, foram
carregadas em reator de quartzo e posicionadas no forno bipartido. Um fluxo de
nitrogênio de 3,75 Nml.min-1.gcasca-1 foi regulado com fluxo ascendente. Foi
programada uma rampa de 10°C/min de temperatura amb iente até 600°C e um
patamar de 4h após atingir esta temperatura. Ao término do processo, o forno era
imediatamente aberto para um rápido resfriamento da amostra.
Ativação
Foram carregados 20g de carvão intermediário em reator de quartzo e
posicionados em forno bipartido. Uma vazão de dióxido de carbono de 3,75 Nml.min-
1.gcarb-1 (definido como “A” na Tabela 21) foi regulada com fluxo ascendente.
Também foram realizadas ativações em diferentes fluxos de vapor d’água sendo
estes 3,75 Nml.min-1.gcarb (“A” na Tabela 21) , 11,25 Nml.min-1.gcarb (“B” na Tabela
21) e 22,5 Nml.min-1.gcarb1 (“C” na Tabela 21).
Foi programada uma rampa de 10°C/min de temperatura ambiente até 850°C
e um patamar de 4, 8 ou 24h após atingir esta temperatura. Ao término do processo,
o forno era imediatamente aberto para um rápido resfriamento da amostra.
Após ativação, o carvão ativado foi lavado com 2l de água destilada aquecida
a 80°C e seco por 4h a 110°C em estufa.
Para todas as amostras foi calculado o percentual de queima, que representa
149
a massa da matéria de partida perdida devido às reações de gaseificação na
ativação. Seu valor pode ser obtido pela equação 1.
100.%int
int
c
carvãoc
m
mmQueima
−=
(Eq.1)
Onde:
mcint é a massa de carvão intermediário carregada no reator.
mcarvao é a massa de carvão ativado obtida ao término do processo de ativação.
Além disso, também foi calculado o rendimento global do processo pela equação 2.
( )100.
.
.1dimRe%
−−−
−=cascamcasca
carvãocascamcasca
mUm
mmUmenton
(Eq.2)
Onde:
mcasca é a massa de casca de palmiste carregada no reator para carbonização.
Um é a umidade percentual da casca de palmiste.
mcarvao é a massa de carvão ativado obtida ao término do processo de ativação.
Planejamento dos testes
Neste trabalho optou-se por uma matriz de testes reduzida que fosse capaz
de dar indicações a respeito da qualidade e rendimentos possíveis para os carvões
obtidos a partir de casca de palmiste em um tempo reduzido.
Na Tabela 21, podem-se visualizar as condições selecionadas de preparação
dos carvões com água e dióxido de carbono, incluindo vazão do agente ativante,
tempo do patamar da etapa de ativação e temperatura final desta etapa.
Tabela 21: Condições de preparação dos carvões ativados
Código Agente Vazão Tempo (h) Temperatura (°C)
1CP CO2 A 4 850
2CP CO2 A 8 850
16CP CO2 A 24 850
3CP H2O C 4 850
3CP2 H2O B 4 850
3CP3 H2O A 4 850
150
4CP H2O A 8 850
5CP H2O/CO2 A 4 850
6CP H2O/CO2 A 8 850
Dentro desta ótica, com as amostras planejadas, buscou-se realizar algumas
comparações. No primeiro grupo, formado pelas amostras 1CP, 2CP e 16CP,
buscou-se verificar a influência do tempo de ativação para o agente ativante dióxido
de carbono, sobre as características texturais e o rendimento total do material
formado.
No segundo grupo, formado pelas amostras 3CP3 e 4CP, buscou-se verificar
a influência do tempo de ativação para o agente ativante água, sobre as
características texturais e o rendimento total do material formado.
No terceiro grupo, formado pelas amostras 3CP, 3CP2 e 3CP3, buscou-se
verificar a influência da vazão de água sobre as características texturais e o
rendimento total do material formado.
No quarto grupo, formado pelas amostras 1CP e 3CP3, buscou-se verificar a
influência do agente ativante, água ou dióxido de carbono, sobre as características
texturais e sobre o rendimento total do material formado.
No quinto grupo, formado pelas amostras 5CP e 6CP, comparando seus
resultados com 1CP e 2CP (dióxido de carbono) e 3CP3 e 4CP (água), buscou-se
verificar a existência de algum efeito sinérgico entre os agentes ativantes, água e
dióxido de carbono, e sua influência sobre as características texturais e sobre o
rendimento total do material formado.
4.3 Carvões sulfonados
4.3.1 Materiais
Os carvões sulfonados foram obtidos a partir da casca de palmiste
carbonizada. Uma amostra da mesma casca de palmiste utilizada nos experimentos
para obtenção de carvão ativado foi carbonizada em diferentes temperaturas e em
seguida sofreu processo de sulfonação.
Para a sulfonação dos carvões foi utilizado ácido sulfúrico 96%. Nitrogênio foi
utilizado para formar uma atmosfera inerte no reator de sulfonação. Todas as
lavagens foram realizadas com água destilada.
151
4.3.2 Preparação
Cerca de 70g de casca de palmiste moída foram carregadas em reator de
quartzo e posicionadas no forno bipartido. Uma vazão de nitrogênio de 3,75
Nml.min-1.gcasca-1 foi regulado com fluxo ascendente. Foi programada uma rampa de
10°C/min de temperatura ambiente até a temperatura de carbonização desejada e
foi realizado um patamar de 4h após atingir esta temperatura. Ao término do
processo, o forno foi imediatamente aberto para um rápido resfriamento da amostra.
A sulfonação foi realizada a 120°C, por 6h, com áci do sulfúrico concentrado
na relação mássica de ácido:carbonizado de 10. A lama formada pela mistura ácido-
carbonizado foi mantida sob agitação e em atmosfera de nitrogênio durante o tempo
de sulfonação.
Após a sulfonação, o sólido foi filtrado e lavado com água destilada até que a
água de lavagem apresentasse pH neutro. Adicionalmente, verificou-se a ausência
de íons sulfato na água de lavagem através da não observação de formação de
precipitado quando adicionada uma solução de cloreto de bário à água de lavagem.
Neste trabalho foi avaliado o efeito da temperatura de carbonização sobre as
características dos carvões sulfonados finais. Na Tabela 22 podem-se visualizar as
temperaturas de carbonização avaliadas.
Tabela 22: Amostras de carvão sulfonado preparadas
Amostra Temperatura de
carbonização (°C)
CAS030 250
CAS037 300
CAS032 350
CAS035 450
CAS066 550
As amostras foram caracterizadas por análise elementar CHNSO para
verificação da composição, em especial de enxofre. A análise de espectroscopia no
infravermelho foi realizada buscando-se avaliar os grupos funcionais presentes nas
amostras e a técnica de difração de raios X foi empregada para verificação da
cristalinidade.
4.3.3 Testes de hidrólise de celobiose
152
4.3.3.1 Materiais
Nos testes de hidrólise foram utilizadas celobiose 98% e água destilada.
Como catalisadores foram utilizados os diferentes carvões sulfonados, e como
referência a resina sulfônica Amberlyst 36.
4.3.3.2 Preparação
Tipicamente os testes de hidrólise de celobiose com os carvões sulfonados
foram realizados com soluções aquosas de celobiose na concentração de 100g/L. A
relação mássica entre o catalisador e a celobiose adicionada foi de 0,5. Os testes
foram realizados a 110°C por 24h, em um sistema com posto por erlenmeyer com
condensador acoplado, imerso em um banho de silicone com temperatura
controlada. O sistema, que pode ser visualizado na Figura 53, empregou ainda
agitação magnética. Uma alíquota da solução de celobiose inicial foi retirada para
análise cromatográfica.
Figura 53: Aparato usado nas reações de hidrólise
Ao término da reação o sistema foi resfriado e uma amostra filtrada e enviada
para análise de cromatografia líquida visando à determinação da concentração de
celobiose e glicose, além dos produtos de degradação da glicose 5-hidroximetil
furural e 2 furaldeído.
A conversão de celobiose foi calculada conforme a equação 3 e a seletividade
a glicose foi calculada conforme a equação 4.
100*CBi
CBfCBiCB C
CCX
−= (Eq. 3)
153
100*CBfCBi
GLIGLI CC
CS
−= (Eq. 4)
Onde CCBi e CCBf são as concentrações inicial e final de celobiose na solução,
e CGLI é a concentração de glicose na solução após o término da reação.
4.4 Caracterização
4.4.1 Adsorção de nitrogênio
A análise textural foi conduzida por adsorção de nitrogênio a 77K para
determinação de área específica em equipamento ASAP 2400 da Micrometrics. As
amostras foram pré-tratadas a 400°C em vácuo antes da realização dos
experimentos.
A superfície específica, o volume de poros e o diâmetro médio de poros foram
determinados pelo método de Brunauer, Emmet e Teller (BET), a área e volume de
microporos foi obtida pelo método t-plot e a distribuição do volume de poros pelo
método BJH.
4.4.2 Teor de cinzas
O teor de cinzas dos carvões ativos foi determinado expondo uma massa
conhecida de carvão ativado em mufla a 100°C e real izando elevação lenta da
temperatura para 575°C por 4h. A massa restante no cadinho será o resíduo
inorgânico característico das cinzas.
4.4.3 Determinação de pH
O pH superficial foi medido adicionando 5g de água destilada após ebulição a
0,5g de carvão ativo e mantendo o sistema fechado por 24h. Após esse período o
pH da água resultante foi medido utilizando um medidor de pH marca Hanna
Instruments modelo HI 253 com eletrodo de vidro.
4.4.4 Análise termogravimétrica
A análise termogravimétrica foi feita empregando-se o método ASTM E1131,
com programação de temperatura ambiente até 1000°C, com taxa de 20°C/min e
vazão de nitrogênio igual a 50ml/min.
154
4.4.5 Espectroscopia no infra-vermelho
Foram preparadas pastilhas em KBr das amostras de carvão e analisadas na
região de 4000 a 400 cm-1 do infravermelho médio. Para isso, utilizou-se o
espectrômetro (FT-IR) Thermo Fisher AVATAR 360 com detector de DTGS-KBr,
fonte de infravermelho EverGlo, divisor de feixe de KBr e suporte para pastilhas de
KBr. Os resultados foram obtidos através de uma média de 32 espectros, 4 cm-1 de
resolução e utilizando o ar atmosférico como referência.
4.4.6 Análise elementar CHNSO
O ensaio CHNS foi feito no equipamento ThermoFinnigan FLASH EA1112 ou
FISONS EA 1110 para se determinar a porcentagem de carbono, hidrogênio e
nitrogênio da amostra de catalisador gasto. A amostra é colocada em um reator de
quartzo onde é feita a combustão da amostra, que é finalizada em um leito de óxido
de cromo, gerando alguns compostos, tais como: NOx, CO2, H2O, e gases ácidos.
Os gases gerados passam por um leito com cobre metálico para redução a N2 e
óxidos nitrosos, enquanto os gases ácidos são adsorvidos em uma camada de óxido
de cobalto revestido com prata. Sendo assim, os gases efluentes, N2, CO2 e H2O
são analisados em cromatógrafo a gás, equipado com uma coluna Porapack e um
detector de condutividade térmica (TCD).
No caso da análise do oxigênio, ocorre a pirólise da substância no reator
contendo carbono metalizado (catalisador). São gerados os gases N2, H2 e CO e
gases ácidos. Caso a substância analisada contenha halogênios serão formados
HF, HCl etc. Os gases ácidos são retidos no filtro de adsorção. Na coluna
cromatográfica o CO é separado dos outros gases e quantificado como oxigênio.
4.4.7 Fluorescência de raios X (FRX)
A análise semi-quantitativa dos elementos por Fluorescência de Raios X foi
realizada no equipamento PANAlytical MagiX PRO equipado com tubo de Rh de
4kW.
As amostras foram moídas, peneiradas em peneira granulométrica ABNT nº
325, e secas em estufa a 125°C por 1h. Após essa et apa, preparou-se uma mistura
com 0,5 g de amostra e 4,5g de H3BO3 P.A. Essa mistura foi prensada (ATLAS
Power T25, da Specac) a 20 ton por 1min, gerando a pastilha empregada na análise.
155
4.4.8 Análise imediata
A determinação da umidade foi realizada com amostra previamente
homogeneizada, pesada em placa de Petri que e, em seguida foi colocada em
estufa, previamente aquecida a 105ºC por um período mínimo de 6 horas ou
overnight. Os resultados foram expressos em percentual mássico .
Para determinação do teor de voláteis a amostra previamente homogeneizada
foi aquecida por sete minutos à 950ºC no forno VMF/ASTM. A massa de material
perdido foi quantificada como material volátil.
O teor de cinzas em biomassa foi determinado aquecendo-se cerca de 1g de
biomassa em cadinho de platina lentamente até 300°C . Em seguida, o cadinho foi
transferido para mufla previamente aquecida a 575 ± 25ºC, e deixado por 4 horas.
Após resfriamento em dessecador, os resíduos pesados foram considerados cinzas.
O teor de carbono fixo foi obtido através da diferença do material total
subtraindo as quantificações de umidade, material volátil e cinzas. Feito isso, foi
obtida a quantidade de material, que se trata basicamente de carbono, através da
norma ASTM D3172.
A determinação do poder calorífico superior foi realizada pelo método ASTM
D5865, no qual a determinação do poder calorífico da amostra é feita utilizando
bomba calorimétrica adiabática, tendo como princípio a combustão do material em
ambiente fechado na presença de oxigênio e sob pressão, utilizando embalagem de
celulose.
4.4.9 Difração de raios X (DRX)
Verificou-se a cristalinidade dos carvões sulfonados obtidos através de
difração de raios X (DRX) empregando-se o difratômetro Rigaku Miniflex II, com tubo
de Cu e monocromador, com velocidade de 2o/min e variação de ângulo de 5 a
90°.Os dados foram confrontados com os perfis JCPDS das fases cristalinas.
4.4.10 Fluorescência de ultra-violeta (UV) Esta análise foi feita conforme a norma ASTM D5453.
A determinação do teor de enxofre total por meio da técnica de fluorescência
de UV consiste na combustão da amostra em atmosfera oxidante que irá conduzir
todos os compostos sulfurados a SO2.
156
Esse gás, após passar por uma membrana secadora (para eliminar o vapor
d'água que pode interferir na detecção), é então direcionado ao detector onde é
eletronicamente excitado por uma radiação UV produzida por uma lâmpada.
Após a excitação ocorre a fluorescência que é o processo de perda de
energia por emissão de fótons com energia menor que a fornecida anteriormente
pela lâmpada. E as moléculas de SO2 voltam ao seu estado fundamental. Os fótons
liberados são captados por uma fotomultiplicadora que aumenta a intensidade do
sinal.
O equipamento utilizado foi o analisador Multitek com volume de amostra de 5
a 20 µL.
4.4.11 Cromatografia líquida (HPLC)
O equipamento utilizado foi um HPLC agilent technologies série 1100 com
amostrador termostatizado da série 1260. O equipamento possui: degasser, bomba
binária, amostrador termostatizado, compartimento de coluna (com temperatura
máxima de forno de 80ºC), detector DAD (comprimento de onda utilizado 280nm) e
detector RID (índice de refração).
A coluna cromatográfica empregada nas análises foi AMINEX HPX 87-H,
sendo possível detectar não só os carboidratos como também ácidos orgânicos e
inibidores (5-HMF e 2-furaldeido).
O método empregado utilizou as seguintes condições:
Fase móvel: H2SO4 5mM
Vazão: 0,7ml/min
Temperatura da coluna: 65ºC
Tempo de corrida: 65min
157
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Carvões Ativados de lignina
5.1.1 Caracterização da matéria-prima residual
É importante destacar que a origem do resíduo e as condições do processo
que o geraram causam variações importantes em sua composição. Espera-se que
majoritariamente este resíduo seja composto por lignina, mas pode apresentar
também quantidades apreciáveis de carboidratos, dependendo da eficácia dos
processos de hidrólise ácida e enzimática aos quais o bagaço de cana de açúcar foi
submetido.
O resíduo utilizado foi caracterizado por diversas técnicas e apresentou os
resultados, os quais são informados a seguir.
- Teor de umidade médio: 9,7% m/m;
- Teor de cinzas 1,32% m/m.
O teor de cinzas obtido está de acordo com o observado por Mousavion et al,
(2010) e Zhili et al, (2011), para ligninas de bagaço de cana.
O material não apresentou superfície específica quando analisada pela
técnica de adsorção de nitrogênio.
A composição atômica foi determinada pela técnica de CHNS-O. Na Tabela
23 pode-se visualizar os resultados.
Tabela 23: Composição atômica do resíduo
Analito % mássica
Nitrogênio 2,2
Carbono 46,0
Hidrogênio 6,3
Enxofre <0,3
Oxigênio 40,8
Outros 4,7
Na figura 54 está representada a análise termogravimétrica em atmosfera inerte.
Destaca-se a grande perda de massa em torno de 300°C e o resíduo final de 25%.
158
Figura 54: TGA atmosfera inerte - resíduo
Já em atmosfera oxidante obteve-se o mesmo pico em torno de 300°C, e um resíduo
final um pouco menor em torno de 22% como mostrado na figura 55.
Figura 55: TGA atmosfera oxidante – resíduo
Os resultados obtidos pelas análises elementar e termogravimética em
atmosfera inerte estão aderentes aos obtidos na literatura em Garcia et al, (2009) e Mansouri et al, (2006).
159
5.1.2 Carvões preparados com ácido fosfórico
Na Tabela 24 podem ser visualizadas as características texturais dos carvões
preparados a partir da impregnação do resíduo contendo lignina e ácido fosfórico.
Tabela 24: Carvões preparados com H3PO4
Amostra Temperatura
pirólise Tempo Pirólise
Área BET (m2/g)
Tamanho médio de poros (A)
CARVÃO 1 300°C 1h * *
CARVÃO 2 300°C 4h * *
CARVÃO 3 300°C 8h 284 29
CARVÃO 4 300°C 12h * *
CARVÃO 5 450°C 4h 586 51
CARVÃO 6 450°C 8h 640 54
CARVÃO 7 450°C 12h 487 57
CARVÃO 8 300°C 24h 277 32
CARVÃO 9 450°C 24h 890 59
CARVÃO 10 450°C 48h 471 55
CARVÃO 11 300°C 48h * *
* Inferior ao limite do equipamento.
Observa-se claramente que a maioria dos carvões preparados a 300°C não
apresentou microporosidade considerável, resultando em baixa superfície
específica, o que é um indicativo de que esta temperatura proporcionou um ataque
muito brando à estrutura da lignina, resultando em baixo desenvolvimento de
porosidade.
Mussato et al, (2010) haviam obtido carvões ativados de lignina com
porosidade desenvolvida a 300°C, sendo o único trab alho avaliado a alcançar
resultados razoáveis em condições tão brandas de ativação. Com isso, o resultado
obtido a 300°C está de acordo com o observado na ma ior parte da literatura, onde a
maioria dos trabalhos avaliados apresentou melhores resultados em termos de
superfície específica e volume de poros em temperaturas na faixa de 450 a 600°C.
Apesar disto, com a elevação do tempo de ativação para valores de 8h ou
superiores mesmo a temperaturas de 300°C observou-s e a formação de alguma
porosidade, resultando em um valor de superfície específica próximo de 300m2/g,
considerado ainda um valor muito baixo para carvões ativados; no entanto, uma
160
observação interessante está destacada na Tabela 24 para os carvões 4 e 7 de 12h
de tempo de pirólise. Para essas amostras os valores obtidos diferiram da tendência
observada, apresentando valores de superfície específica muito inferiores aos
esperados.
Uma possível explicação estaria relacionada a uma questão operacional. Os
carvões de 12h terminavam a etapa de pirólise durante a madrugada e resfriavam
lentamente em fluxo de nitrogênio, enquanto nos demais casos a pirólise terminava
durante o horário administrativo, sendo o forno aberto em seguida provocando um
resfriamento bem mais rápido. Isso é um indicativo de que a taxa de resfriamento
das amostras após o tempo de pirólise também pode ter contribuição relevante para
a manutenção da porosidade gerada na ativação. Não foi identificada na literatura
especializada uma confirmação para este efeito.
Exceto pelos carvões preparados com tempos de pirólise de 12h, em geral
observou-se uma tendência de aumento de superfície específica com o tempo.
A Figura 56 mostra a evolução da área e tamanho de poros com o tempo e
temperatura de pirólise. Claramente a temperatura mais alta de 450°C apresentou
maiores áreas e tamanhos de poros, mostrando que essa condição promoveu um
maior ataque à estrutura da lignina, o que favorece um aumento destas
propriedades. Em relação ao tempo de pirólise, a maior área foi obtida com 24h,
chegando próximo a 900m2/g. Este valor é superior ao obtido por Hayashi et al,
(2002), de 750m2/g a 500°C e é inferior ao obtido por Romero-Anaya et al, (2011) de
1385m2/g a 450°C. Sun et al, (2010) realizando a ativação a 500°C obtiveram um
carvão ativado com superfície específica de 820m2/g e 0,8cm3/g de volume de
poros, e isoterma do tipo IV, características bastante similares às obtidas no
presente trabalho. As diferentes origens das matérias-primas aplicadas e a grande
quantidade de detalhes nos procedimentos de preparação podem ser os causadores
das diferenças observadas.
161
Área e Tamanho de poros x Tempo
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
4 8 12 24 48
Tempo de pirólise (h)
Áre
a su
perf
icia
l (m
2/g)
0
20
40
60
80
100
Tam
anho
de
poro
s (A
)
Área BET - 300°C Área BET - 450°C Tamanho de Poros - 300°C Tamanho de Poros - 450°C
Carvão 9 - Selecionado para testes
Figura 56: Superfície específica e tamanho de poros x Tempo de pirólise - Carvões via H3PO4
Para os carvões preparados a 450°C o aumento do tem po de pirólise de 24
para 48h leva a uma redução drástica da superfície específica, que poderia estar
relacionado ao fenômeno de junção de poros pequenos e consequente formação de
poros maiores. A contribuição de microporos é fundamental para a superfície
específica total, ou seja, sua destruição e subsequente formação de meso e
macroporos conduz a uma considerável queda no valor da área.
Em geral, esse fenômeno é observado em processos de produção de carvões
ativados, e a redução de área é acompanhada do aumento do tamanho médio de
poros. Porém nesse caso a redução de área não foi acompanhada pelo aumento do
diâmetro médio de poros. Tal fato pode estar relacionado ao efeito de molde das
moléculas de cloreto de zinco na formação dos poros (REINOS et al, 2006). Além
disso, há que se levar em conta que o diâmetro calculado pela técnica é um valor
médio, o que diminui a relevância do valor obtido.
Em relação ao tamanho de poros, para os carvões preparados a 450°C não
foi observada grande variação com o tempo de ativação, estando o valor em cerca
de 55A para todos os carvões. Já para os carvões preparados a 300°C, nos casos
em que foi observada alguma superfície específica o tamanho dos poros também foi
reduzido, girando em torno de 30A.
Os valores estáveis de tamanho médio de poros podem estar relacionados ao
efeito de molde que as moléculas de ácido fosfórico promovem na estrutura
carbonácea. As diferenças entre os valores observados para os carvões preparados
162
a 300°C e 450°C poderiam estar relacionados a difer entes espécies de grupos
fosfato (H3PO4, H4P2O5 até H13P11O34). Tais grupos de distintos níveis de
condensação são formados em função da temperatura de ativação aos quais são
submetidos e são capazes de atuar como moldes para os poros (REINOSO et al,
2006).
As superfícies específicas dos carvões foram determinadas por adsorção de
nitrogênio. A Figura 57 mostra as isotermas obtidas para os carvões preparados a
300 e 450°C. Como já esperado as isotermas dos carv ões preparados a maior
temperatura (C5, C6 e C9) apresentam maior capacidade de adsorção de nitrogênio,
o que é característico de uma maior superfície específica e volume de poros.
Também pode-se observar que dentro do mesmo grupo obtido a 450°C o aumento
do tempo de ativação levou a um aumento da capacidade de adsorção de
nitrogênio, sendo a amostra C9 a de maior capacidade.
Isotermas
0
100
200
300
400
500
600
700
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
P/P0
Qua
ntid
ade
adso
rvid
a (c
m3 /g
)
C6
C5
C9
C8
C3
Figura 57: Isoterma de adsorção de N2 (77K) no carvão 9.
Para os carvões preparados a 450°C observam-se isot ermas do tipo IV sem
platô em altas pressões, o que caracteriza carvões ativos com micro e mesoporos e
histerese H3 a qual está relacionada a poros tipo fenda. A inclinação positiva na
região de pressões relativas P/Po entre 0,2 e 0,7 indica que houve formação de
mesoporosidade. Os carvões preparados a 300°C apres entaram menor inclinação
nesta região, caracterizando menor presença de mesoporos nestas amostras.
163
O tipo de isoterma obtida é similar às encontradas na literatura de referência
em Bandosz et al, (2006), Bansal et al, (2005) e Reinoso et al, (2006), para carvões
micro e mesoporosos. Na Figura 58 pode-se verificar a forma típica de isotermas de
adsorção de N2 em carvões ativos com micro e mesoporos. Nesta figura a linha PQ
é gerada pela adsorção nos microporos, quanto mais inclinada essa, menores são
estes poros. A seção QR representa a adsorção nos mesoporos de menor tamanho
e a linha RS a adsorção nos maiores mesoporos através de condensação capilar.
Devido aos mecanismos de preenchimento dos poros serem diferentes do de
esvaziamento, a dessorção segue por uma via alternativa TUR gerando a chamada
histerese.
Figura 58: Isoterma típica para carvões ativados (REINOSO et al, 2006)
Aplicações industriais de carvões ativados em adsorção necessitam de uma
alta capacidade de adsorção em baixas pressões relativas, com isso a parte inicial
da isoterma passa a ser importante. No caso do carvão 9 observa-se o
comportamento desejado já que o primeiro ponto medido da isoterma já apresenta
adsorção próxima a 200 cm3/g. Os sítios responsáveis por essa adsorção são de
alta energia, o que torna a separação mais eficiente.
Para o carvão 9, a partir dos dados de adsorção de nitrogênio foi possível
obter o volume de microporos pelo método t-plot. O valor obtido foi de 0,049cm3/g.
Já para os poros entre 20 e 600A utilizou-se o método BJH na etapa de adsorção e
obteve-se o valor de 0,7112cm3/g. O volume total de poros foi de 0,8952 cm3/g.
A inclinação da fase inicial da isoterma está relacionada à retentividade do
adsorvato no carvão, ou seja, à capacidade do carvão de manter a molécula do
adsorvato ligada o maior tempo possível em condições de fluxo.
Termodinamicamente a retentividade é representada pela entalpia de adsorção.
Nesse caso, quanto maior a inclinação maior a interação carvão-adsorvato e melhor
será o processo de adsorção. Neste quesito o carvão 9 também apresentou bons
164
resultados, com grande inclinação na fase inicial da isoterma. Apesar disso, carvões
com maior proporção de microporos possuem inclinações ainda maiores na seção
PQ, sendo os mais indicados para processos de separação.
O teor de cinzas obtido para o carvão 9 foi de 12,67%m/m. Este valor é
considerado intermediário, valores de referência para cinzas podem ser visualizados
abaixo (ASTM D2866, 2011, CARBOCHEM, 2012).
Carvão ativado de lignita (mineral) 20%
Carvão ativado de casca de coco 8%
Carvão ativado de carvão mineral 10%
Carvão ativado de madeira 5%
Carvão ativado de bagaço de cana 25%
As cinzas têm geralmente baixa superfície específica e volume de poros,
cerca de 2m2/g e 0,01cm3/g, respectivamente. Resultados experimentais indicam a
possibilidade de obtenção de carvões superporosos utilizando procedimentos de
lavagem ácida para remoção destas cinzas, o que permitiria a obtenção de carvões
com áreas significativamente superiores.
Outra característica físico-química obtida para o carvão 9 foi o seu pH
superficial. O pH da superfície obtido para o carvão 9 foi de 2,4, sendo característico
de uma superfície com grande quantidade de grupos ácidos. Provavelmente, a
ativação com ácido fosfórico provocou uma grande oxidação superficial, introduzindo
grande número de sítios ácidos oxigenados. A acidez está normalmente relacionada
a complexos carboxila, lactona e fenol, enquanto a basicidade se relaciona com as
funções éter, pirona, cromeno.
O pH da superfície do carvão é um indicativo dos grupos funcionais
presentes. Em sistemas para adsorção estes grupos funcionais podem proporcionar
propriedades diferenciadas aos carvões, aumentando ou reduzindo a interação
química entre o carvão e o adsorvato. Por exemplo, para a remoção de H2S foi
reportado que valores de pH menores que 5 seriam prejudiciais (BANDOSZ et al,
2001) .
Desta forma, conclui-se que em um tempo de pirólise de 24h a 450°C foi
possível gerar, a partir do resíduo resultante da sacarificação de bagaço de cana,
uma carvão ativado com elevada superfície específica e considerável presença de
mesoporos em sua estrutura, apresentando uma superfície ácida e um teor de
cinzas intermediário em relação aos obtidos com outras matérias-primas.
5.1.3 Carvões preparados com cloreto de zinco
165
Na Tabela 25 podem-se observar as características texturais dos carvões
ativados preparados com cloreto de zinco como agente ativante.
Tabela 25: Carvões preparados com ZnCl2
Amostra Temperatura
pirólise Tempo Pirólise
Área BET (m2/g)
Tamanho médio de poros (Å)
CARVÃO 12 300°C 4h 50 56
CARVÃO 13 300°C 8h 258 40
CARVÃO 14 300°C 12h 4 254
CARVÃO 15 300°C 24h 310 40
CARVÃO 17 450°C 4h 961 33
CARVÃO 18 450°C 8h 1105 33
CARVÃO 19 450°C 12h 970 36
CARVÃO 20 450°C 24h 1147 35
CARVÃO 21 450°C 48h 1193 49
Observa-se o desenvolvimento de porosidade mesmo em condições de
severidade muito baixa, como para o caso do carvão 12, diferente do observado
para os carvões preparados com o ácido fosfórico. Comparado ao ácido fosfórico, o
cloreto de zinco apresentou carvões com superfícies específicas superiores em
todos os tempos e temperaturas avaliados, resultado similar ao obtido por Hayashi
et al, (2000) e Hayashi et al, (2002). Apesar disso, mesmo para os carvões
preparados com cloreto de zinco, as superfícies específicas obtidas a 300°C foram
bastante reduzidas e não alcançaram valores razoáveis para carvões ativados. Os
valores obtidos para superfície específica e volume de poros para os carvões
obtidos a 450°C se aproximam bastante aos reportado s pelo grupo de Hayashi, e
superam os valores obtidos por Mahmoud et al, (2012), de 587m2/g e 0,23cm3/g
para superfície específica e volume de poros de carvões preparados a 450°C.
Já em temperaturas de 450°C foram obtidos carvões c om elevada superfície
específica mesmo em tempos de pirólise de 4h. Na Figura 59 pode-se observar o
efeito do aumento do tempo de pirólise para os carvões preparados a 300 e 450°C.
A elevação do tempo de pirólise provocou um aumento discreto da superfície
específica e tamanho médio de poros. No entanto, o aumento do tempo de pirólise
de 24 para 48h (carvões 20 e21) causou, além de um leve acréscimo na superfície
específica, um aumento de maior magnitude no tamanho de poros, indicando que
neste ponto o aumento o efeito do alargamento dos poros já existentes passa a ser
tão forte quanto o da criação de novos poros na estrutura carbonácea.
166
Também foi observada redução na superfície específica das amostras
preparadas com tempo de pirólise de 12h, o que reforça a hipótese de que a taxa de
resfriamento lenta pode ter efeitos deletérios sobre a superfície específica.
Em relação ao tamanho de poros, o cloreto de zinco apresentou carvões com
tamanho médio de 37A para 450°C, cerca de 30% infer ior em relação ao tamanho
médio de 55A obtido com ácido fosfórico em temperaturas de 450°C. Uma redução
no tamanho médio de poros pode indicar uma maior contribuição de microporos, e,
por conseguinte, um aumento da superfície específica total calculada pelo método
de BET.
Esta é uma diferença importante entre os dois agentes ativantes, já que
carvões com diferentes distribuições de tamanho de poros podem possuir aplicações
distintas.
Área e Tamanho de poros x Tempo
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
4h 8h 24h 48h
Tempo de pirólise (h)
Áre
a su
perf
icia
l (m
2/g)
0
20
40
60
80
100
Tam
anho
de
poro
s (A
)
Área BET - 300°C Área BET - 450°C Tamanho de Poros - 300°C Tamanho de Poros - 450°C
Carvão 20 - Selecionado para testes
Figura 59: Superfície específica e tamanho de poros x Tempo de pirólise - Carvões via ZnCl2
Tanto para cloreto de zinco quanto para ácido fosfórico parece que a
severidade da pirólise a 300°C foi muita branda e n ão proporcionou ataque à
estrutura da lignina suficiente para elevar sua porosidade. Desta forma, essa
temperatura não parece ser promissora para futuras investigações.
Por outro lado a temperatura de 450°C apresentou re sultados interessantes
para os dois agentes ativantes. Seria possível explorar mais esta condição de
167
processo, alterando outras variáveis que foram mantidas constantes neste trabalho
como o tempo e temperatura de impregnação. É possível que com a elevação do
valor destas, a decomposição da estrutura da lignina seja afetada levando a
alterações no carvão final obtido, porém deve-se verificar essa hipótese
experimentalmente.
Para os carvões preparados com cloreto de zinco, verificou-se que várias
amostras apresentaram altas superfícies específicas e tamanho de poros bem
diferentes dos obtidos nos carvões preparados com ácido fosfórico.
As superfícies específicas dos carvões foram determinadas por adsorção de
nitrogênio. A Figura 60 mostra as isotermas obtidas para os carvões 15, 18, 20 e 21.
Observa-se que a quantidade de nitrogênio adsorvida pelos carvões preparados a
450°C (18, 20 e 21) é bastante superior a apresenta da pelo carvão 15, preparado a
300°C.
Isotermas
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1
P/P0
Qua
ntid
ade
adso
rvid
a (c
m3 /g
)
C15
C18
C20
C21
Figura 60: Isoterma de adsorção de nitrogênio (77K) dos carvões 15, 18, 20 e 21.
Apesar disto, observa-se que todas as isotermas são do tipo IV sem platô em
altas pressões, o que caracteriza carvões ativos com micro e mesoporos,
semelhante à obtida com o carvão 9, preparado com ácido fosfórico. Porém ao
contrário do verificado com o carvão 9, o tipo de histerese não parece tão bem
definido, possuindo características dos tipos H1 e H2, o que indica que a forma dos
poros dos carvões preparados com cloreto de zinco é diferente da observada no
carvão 9. No caso do carvão 21, a diferença entre as curvas de dessorção e
168
adsorção é mais pronunciada, indicando que uma maior presença de mesoporos
com grande influência do mecanismo de condensação capilar diferenciando as
formas de enchimento e esvaziamento dos poros, está ocorrendo. De fato, avaliando
a Figura 61, podem-se perceber as diferentes distribuições de volumes de poros.
Para o carvão 15 parece haver um único ponto de máximo localizado na região de
microporos (<20Å), já para o carvão 18 é possível observar um pico maior que
parece estar na região de microporos e outro de menor intensidade em torno de
40Å. O carvão 20 parece apresentar um único ponto de máximo em cerca de 37Å.
Porém o carvão 21 apresenta uma distribuição trimodal de volume de poros, com
máximos em torno de 30 Å, 50Å e 110Å. Graças a esta distribuição de tamanho de
poros a isoterma deste carvão apresenta uma histerese com diferenças tão
pronunciadas entre os mecanismos de adsorção e desorção.
Distribuição de volume de poros (dV/dlogD)
0
0.5
1
1.5
2
2.5
0 50 100 150 200 250 300
Tamanho de poros (A)
Qua
ntid
ade
adso
rvid
a (c
m3/
g)
C15
C18
C20
C21
Figura 61: Distribuição de volume de poros para os carvões 15, 18, 20 e 21.
Assim como o carvão 9, os carvões 18, 20 e 21 também apresentaram alta
adsorção a baixas pressões. Observou-se que o primeiro ponto medido da isoterma
já apresenta adsorção próxima a 240 cm3/g. Os sítios responsáveis por essa
adsorção, principalmente os microporos, possuem alta energia de adsorção, o que
os torna mais eficientes em um hipotético processo de separação.
Para o carvão 20, que apresentou as melhores propriedades texturais, a partir
dos dados de adsorção de nitrogênio foi possível obter o volume de mesoporos
169
entre 20 e 600Å e obteve-se o valor de 0,5974 cm3/g. O volume total de poros foi de
0,8315 cm3/g.
Observa-se que os volumes de poros, tanto de mesoporos quanto o total para
o carvão C20 foram bastante inferiores aos observados para o carvão C9, apesar do
carvão C20 apresentar maior superfície específica. Isso indica que o carvão C9
possui menos poros e estes poros são de dimensões maiores que os poros do
carvão C20. Essa observação é corroborada pela comparação dos diâmetros
médios de poros que foram de 34A para o C20 e 59A para o C9.
A Tabela 26 mostra características de carvões comerciais da empresa
NORIT, uma das líderes desse mercado. Observa-se que tanto o carvão 9 quanto o
20 apresentam superfície específica da mesma ordem de grandeza dos carvões
comerciais, porém ambos apresentam tamanho médio de poros maior que os
comerciais, o que poderia ser muito interessante no caso de aplicações como
suporte catalítico ou para adsorção de moléculas grandes. O volume de poros para
ambos também está na mesma ordem de grandeza de carvões comerciais.
Essa comparação indica que os carvões produzidos têm características
compatíveis com os fornecidos comercialmente. Devido à característica de diferente
tamanho médio de poros do carvão C20 em relação ao carvão C9 decidiu-se realizar
testes de adsorção com estas amostras buscando verificar a se a diferença nesta
propriedade teria influência na adsorção de compostos contendo enxofre.
Tabela 26: Características carvões comerciais (NORIT (1), 2012)
Tipo de matéria-
prima
Volume de poros
total (ml/g)
Tamanho médio
de poros (Å)
Superfície
específica (m2/g)
Aplicação em fase gasosa
Lignita 0.9-1 29-32 600-675
Casca de coco 0.5-0.6 10-11 1000-1100
Turfa 0.6-0.7 11-12 1000-1275
Carvão
betuminoso
0.6-0.7 12-14 1000-1150
Aplicação em fase liquida
Carvão
betuminoso
0.7-0.8 14-16 900-1050
Lignita 0.9-1 29-32 600-675
Turfa 1.1-1.2 23-26 900-1050
Madeira
(quimicamente
ativada)
1.4-1.8 22-26 1200-1600
170
O teor de cinzas obtido para o carvão C20 foi de 18,86%, este valor foi
superior ao obtido para o carvão C9 (12,67%). Apesar do maior teor de cinzas o
carvão C20 apresentou superfície específica superior ao do C9, o que indica a
possibilidade de obtenção de área ainda maior caso seja possível a remoção das
cinzas presentes. O pH da superfície do carvão 20 foi determinado, obtendo-se o
valor de 5,5. Como o pH da superfície deste carvão foi superior ao observado para o
carvão 9 este resultado pode ser um indicativo de que os carvões possuem
diferentes grupos funcionais presentes na sua superfície.
Tanto para o carvão 9 quanto para o carvão 20, a quantidade de mesoporos
presentes se mostrou elevada. Isto é uma das principais diferenças entre as rotas
química e física de preparação de carvões (NORIT (2), 2012). Devido a essas
características de distribuição de volume de poros estes carvões podem ter boa
aplicabilidade como suportes de catalisadores, porém deve-se avaliar o efeito de
possíveis resíduos de agente ativante e do teor de cinzas sobre o desempenho
destes catalisadores.
Nesta etapa do trabalho, pôde-se verificar a viabilidade de produzir carvões
ativados de alta superfície específica via ativação com cloreto de zinco, em
temperaturas de 450°C e tempos de ativação superior es a 4h. O material produzido
apresentou superfície específica superior a 1000m2/g, com superfície ligeiramente
ácida. O teor de cinzas obtido foi relativamente elevado, mas ainda dentro do
patamar aceitável para utilização como carvão ativado.
Tanto o ácido fosfórico quanto o cloreto de zinco apresentaram boa
performance como agentes ativantes, sendo o cloreto de zinco levemente superior
em termos de superfície específica e o ácido fosfórico superior em termos de volume
de poros. Nas mesmas condições de temperatura e tempo de pirólise (450°C e 24h)
os dois agentes produziram carvões de alta superfície específica. Nestas condições
obteve-se o carvão 9 com ácido fosfórico com área de 890 m2/g e diâmetro médio de
poros de 59A. Já para o cloreto de zinco obteve-se o carvão 20 com área 1147m2/g
e diâmetro de poros 34A.
5.1.4 Testes de adsorção de compostos com enxofre
5.1.4.1 Resultados de adsorção
Como os carvões 9 e 20 apresentaram alta superfície específica, mas
diferentes tamanhos médios de poros, decidiu-se pela utilização de ambos nos
testes de adsorção de enxofre.
De modo a estudar a remoção de enxofre, empregou-se dibenzotiofeno como
composto modelo, utilizando-se uma solução deste num reator em batelada com
171
diferentes concentrações de carvão ativo. Partindo-se de uma solução de 1000ppm
de dibenzotiofeno exposta a concentrações de carvão ativado entre 1 e 25g/L, a
25°C por 24h, obteve-se o perfil de redução da conc entração de dibenzotiofeno que
pode ser visualizado na Figura 62.
%REMOÇÃO S
y = 24,544Ln(x) + 3,5846
R2 = 0,96y = 22,116Ln(x) + 4,4635
R2 = 0,9766
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
0 5 10 15 20 25 30
Concentração de carvão (g/L)
%R
EM
OV
IDA
C9
C20
Log. (C9)
Log. (C20)
Figura 62: Remoção de enxofre em função da concentração de carvão
Os dois carvões empregados foram capazes de reduzir de forma considerável
a concentração de enxofre na solução, sendo o carvão 9 levemente superior ao
carvão 20.
A superfície específica não parece ter sido a variável mais importante neste
caso, já que o carvão com menor área (890 m2/g) apresentou maior capacidade de
remoção em comparação ao de maior área (1147 m2/g). Este pode ser um indicativo
de que o volume e diâmetro superior dos poros do carvão 9 e/ou sua composição
química possam estar exercendo alguma influência sobre a adsorção.
De fato, já foi sugerido que a existência de poros maiores com grupos
funcionais superficiais ácidos pode atrair as moléculas de dibenzotiofeno facilitando
a sua adsorção (SEREDYCH et al, 2009). Além disso, na literatura existe referência
relacionando a presença de óxidos de fósforo com o aumento da capacidade de
adsorção do dibenzotiofeno (SEREDYCH et al, 2012). No caso do carvão 9
preparado com ácido fosfórico isto pode ser relevante, porque é possível que grupos
fosfatados termicamente estáveis tenham se formado durante a ativação. De fato,
172
uma análise de fluorescência de raios X mostrou a presença de fósforo na matriz
carbonosa, porém sua quantificação não foi possível.
Os resultados obtidos indicaram ainda que para uma concentração de
equilíbrio na faixa de 50ppm de enxofre na solução restante a capacidade de
remoção de enxofre de ambos os carvões esteve próxima de 4mg S/g de carvão.
A partir dos dados do experimento realizado foram geradas as isotermas de
adsorção, que indicam como se dá o equilíbrio entre a quantidade de soluto
adsorvida no carvão e a concentração de solução que permanece na solução.
Os três principais modelos de isotermas propostos para carvões ativados são
os de Langmuir (L), Freundlich (F) e Redlich-Peterson (R). Na Figura 63 pode-se
verificar o comportamento típico representado por cada um destes modelos
(MCKAY, 1995).
Figura 63: Isotermas de Langmuir (a), Freundlich (b), Redlich-Peterson (c).
Isoterma de Freundlich
A isoterma de Freundlich tem a forma da equação 5.
nef CKqe1
= (Equação 5)
Onde qe é a massa de enxofre adsorvida por grama de carvão ativo, Ce é a
concentração de enxofre na fase líquida remanescente. Kf e 1/n são constantes de
Freundlich. Kf representa a capacidade do adsorvente e n o grau de
heterogeneidade da superfície, quanto maior mais heterogênea (BANSAL, 2005).
173
A forma linearizada deste modelo pode ser vista na equação 6 e permite a
obtenção dos parâmetros de Freundlich.
ef Cn
Kqe log1
)log()log( += (Equação 6)
Esta isoterma é usada para superfícies heterogêneas e por isso não usa o
modelo de monocamada. Por isso, prevê que quanto maior a concentração na fase
líquida maior será a quantidade adsorvida pelo carvão sem limitação.
Isoterma de Langmuir
A isoterma de Langmuir tem a forma da equação 7.
Cea
CeKqe
L
L
+=
1 (Equação 7)
Onde qe é a massa de enxofre adsorvida por grama de carvão ativo, Ce é a
concentração de enxofre na fase líquida remanescente. KL e aL são as constantes de
Langmuir; KL representa a adsortividade do soluto e aL indica a energia de adsorção.
A relação KL/aL é a capacidade máxima (qmax) da monocamada no adsorvente.
eL
eeq
CK
qCKqe
+=
1max
(Equação 8)
A forma linearizada desta equação, vista na equação 9, permite a obtenção
dos parâmetros de Langmuir.
maxmax
1q
C
qKqe
Ce e
L
+= (Equação 9)
Isoterma de Redlich-Peterson
A isoterma de Redlich-Peterson tem a forma da equação 10.
gBCe
ACeqe
+=
1 (Equação 10)
174
Esta isoterma foi obtida empiricamente e buscou um melhor ajuste dos dados
experimentais para superfícies heterogêneas. Por possuir três parâmetros, sua
obtenção é um pouco mais rebuscada e deve-se aplicar regressão não linear ou
métodos de tentativa e erro.
A forma linearizada desta equação, vista abaixo, permite a obtenção dos
parâmetros de Langmuir.
)ln()ln()1ln( BCegqe
CeA +=− (Equação 11)
5.1.4.2 Ajuste de isotermas Freundlich
A partir dos dados experimentais foi construída a Figura 64 visando então a
obtenção dos parâmetros de Freundlich da equação linearizada 2.
Freundlich Linearizado
y = 0,6143x - 0,5134
R2 = 0,9763
y = 0,5386x - 0,3395
R2 = 0,9659
0,000
0,200
0,400
0,600
0,800
1,000
1,200
1,600 1,700 1,800 1,900 2,000 2,100 2,200 2,300 2,400 2,500 2,600
log Ce
log
qe
C9 C20 Linear (C9) Linear (C20)
Figura 64: Isoterma linearizada de Freundlich para os carvões 9 e 20
Para este modelo de isoterma obtiveram-se os parâmetros da Tabela 27. O
ajuste do modelo se deu de forma similar para ambos os carvões.
175
Tabela 27: Parâmetros de Freundlich para os carvões 9 e 20 Carvão/
Parâmetro
Kf n Isoterma R2
(Isoterma)
C9 0,3066 1,6278 6143,03066,0 eCqe= 0,969
C20 0,4576 1,8567 5386,04576,0 eCqe= 0,960
Os parâmetros da isoterma indicam que o carvão C20 apresenta maior
capacidade de adsorção (maior Kf) e maior heterogeneidade superficial (maior n).
Esta observação não está de acordo com o obtido experimentalmente, portanto
deve-se avaliar com cautela o uso deste tipo de isoterma para comparação de
desempenho de carvões neste tipo de aplicação.
Redlich-Peterson
Para o modelo de Redlich-Peterson foi realizada uma regressão não linear
utilizando o software STATISTICA aplicando Resenbrock como método de
estimação para o carvão 9 e o método Resenbrock e Quasi-Newton para o carvão
20.
Na Tabela 28 encontram-se os parâmetros e a isoterma de Redlich-Peterson
para a equação linearizada. Como o modelo de Redlich-Peterson possui mais
parâmetros é natural que o R2 seja superior, por isso utiliza-se o R2 ajustado para
verificar se o ganho promovido no ajuste aos dados “compensa” o acréscimo de 1
parâmetro ao modelo.
Neste caso verifica-se que o ajuste não parece melhorar substancialmente ao
utilizar-se o modelo de Redlich-Peterson que possui 3 parâmetros.
Tabela 28: Parâmetros da isoterma de Redlich-Peterson para os carvões 9 e 20
Carvão /
Parâmetro
A B g Isoterma R2
(Isoterma
)
R2
Ajustadoa
C9 0,1264 0,1595 0,4868
4868,01595,01
1264,0
Ce
Ceqe
+=
0,975 0,950
C20 0,1242 0,0354 0,7731
7731,00354,01
1242,0
Ce
Ceqe
+=
0,964 0,928
a Calculado segundo modelo de Ezekiel (LEACH et al, 2007)
Langmuir
176
Na Figura 65 pode-se verificar as equações das retas geradas com os dados
linearizados a partir da equação 4. Nota-se que os dados do carvão 9 não foram
bem ajustados pela linearização.
Langmuir Linearizado
y = 0,0561x + 13,679
R2 = 0,8575
y = 0,0694x + 10,962
R2 = 0,9562
0
5
10
15
20
25
30
35
0 50 100 150 200 250 300 350
Ce
Ce/
qe
C9 C20 Linear (C9) Linear (C20)
Figura 65: Isoterma linearizada de Langmuir para os carvões 9 e 20
A partir das equações das retas puderam-se obter os parâmetros KL e aL
característicos dessa isoterma, disponíveis na Tabela 29.
Tabela 29: Parâmetros de Langmuir para os carvões 9 e 20
Carvão /
Parâmetro
KL AL qmax Isoterma R2
(Isoterma)
C9 0,073 0,004 17,825
Ce
Ceqe
004,01
073,0
+=
0,961
C20 0,091 0,006 14,409
Ce
Ceqe
006,01
091,0
+=
0,963
Apesar dos dados do carvão 9 não terem gerado uma boa linearização, o
modelo da isoterma parece ser capaz de prever o comportamento do sistema de
adsorção.
A isoterma que apresentou melhores coeficientes de correlação para o carvão
9 foi a de Freundlich, enquanto para o carvão 20 a isoterma de Langmuir mostrou
177
melhores resultados. Apesar disso, os coeficientes de correlação de todas as
isotermas geradas apresentaram valores relativamente próximos, podendo-se
concluir que é possível utilizar quaisquer dessas isotermas com objetivo de se ter
uma previsão do comportamento desse sistema.
Os resultados obtidos estão de acordo com o observado por Cerávolo et al,
2012 e Pereira et al, 2012 que testaram carvões comerciais brasileiros para
adsorção de benzotiofeno e obtiveram uma remoção de 3mgS/g de carvão na
concentração de equilíbrio de 50ppm de enxofre na solução resultante.
Porém carvões ativados que sofreram tratamentos superficiais oxidativos, ou
impregnação de outros componentes como sódio (ANIA e BANDOSZ, 2006), níquel,
prata, cobalto (SEREDYCH; BANDOSZ, 2009), enxofre (SEREDYCH; BANDOSZ,
2011a), cobre e ferro (SEREDYCH; BANDOSZ, 2010b), apresentaram remoções até
10 vezes superior a estas nas mesmas condições.
A elevada mesoporosidade apresentada pelos carvões utilizados nesse
trabalho, embora interessante para aplicações catalíticas, não é desejada para
aplicações de filtração. Nestes casos carvões microporosos são mais interessantes,
já que as forças de interação entre o carvão e o adsorvato, neste caso o DBT, são
mais intensas quando os poros são menores, o que facilita a separação. Portanto, a
avaliação das condições de preparação buscando uma maior microporosidade deve
ser uma alternativa interessante para aumentar a capacidade de adsorção de
compostos de enxofre destes carvões.
Apesar disso, a avaliação da aplicação destes carvões como adsorventes
para compostos de enxofre mostra que há potencial de uso destes materiais. Porém
ainda são necessárias melhorias que proporcionem aumento da capacidade de
adsorção por grama de carvão.
5.2 Carvões Ativados de casca de palmiste
5.2.1 Caracterização da casca de palmiste
As cascas de palmiste in natura tiveram seu tamanho reduzido para que
fossem reduzidos efeitos difusionais na etapa de ativação física. A distribuição de
partículas obtida após a moagem pode ser visualizada na Figura 66. Cerca de 75%
das partículas possuem tamanho entre 0,42 e 0,84 mm.
178
Figura 66: Distribuição de tamanho de partículas para casca de palmiste moída.
Os resultados da análise imediata da casca de palmiste podem ser visualizados na
Tabela 30.
Tabela 30: Resultados da análise imediata da casca de palmiste.
Ensaio Base úmida Base seca
Umidade (%) 9,42
Teor de voláteis (%) 71,91 79,39
Cinzas (%) 1,64 1,82
Carbono fixo (%) 17,02 18,79
Poder calorífico superior (J/g) 21680
Os resultados estão de acordo com o observado na literatura (ADINATA,
DAUD e AROUA, 2007). Idealmente, o teor de umidade deve ser minimizado, pois a
secagem do material representa um gasto de energia adicional para o processo. Um
valor inferior a 15% é recomendado para garantir um rendimento mínimo adequado
de carvão ativado. Portanto, o valor inferior a 10% apresentado pelo material é
adequado à produção de carvões ativados. É importante destacar que as condições
do processo de despolpamento e armazenagem às quais as cascas foram
submetidas podem causar variações importantes em seu teor de umidade.
O teor de voláteis apresentado pelo material foi superior a 70%. Essa
179
característica é interessante porque durante a etapa de carbonização a eliminação
deste material volátil irá gerar a estrutura primária porosa, que posteriormente será
expandida na etapa de ativação. Valores superiores a 50% de teor de voláteis são
recomendados (PRAUCHENER; REINOSO, 2012).
Devido ao baixo rendimento de carbono do processo de produção de carvões
ativados, o teor de cinzas deve ser o menor possível, já que este material não é
eliminado durante a ativação. Como as cinzas em geral não possuem superfície
específica considerável, elas atuam apenas no sentido de bloquear os poros
formados, reduzindo a capacidade de adsorção dos carvões. Além disso, o material
inorgânico que forma as cinzas pode ser um contaminante dependendo da aplicação
final do carvão ativo. Nesse caso os carvões podem passar por tratamentos ácidos
para remoção destas impurezas inorgânicas. Geralmente esse tipo de tratamento é
empregado para carvões usados na indústria farmacêutica.
A análise termogravimétrica das cascas de palmiste pode ser visualizada na
Figura 67. Em temperatura próxima de 100°C pode ser visto um pico endotérmico na
curva vermelha, característico da remoção de água adsorvida. Este pico está
associado a uma perda de massa de 9,765%, que está de acordo com o valor de
umidade obtido na análise imediata do material. Em seguida são observados picos
de redução de massa em temperaturas da ordem de 300°C e 400°C, sendo estes
picos correlacionados com a decomposição total das frações celulósica e
hemicelulósica e parcial da lignina contida na amostra.
A partir da análise termogravimétrica também se pode observar que na
temperatura de carbonização de 600°C, usada para a preparação de todos os
carvões, grande parte da fração de compostos voláteis já foi removida, deixando o
material pronto para a etapa de ativação.
180
Figura 67: Análise termogravimétrica da casca de palmiste.
A análise elementar CHNSO da casca de palmiste pode ser visualizada na
Tabela 31. Os resultados obtidos estão de acordo com o reportado na literatura para
esse material (ADINATA, DAUD e AROUA, 2007).
Tabela 31: Resultados da análise elementar CHNOS da casca de palmiste.
Elemento % mássico
Carbono 47,9
Hidrogênio 6,3
Oxigênio 43,3
Nitrogênio 0,5
Enxofre <LD*
*O limite de detecção desta técnica é de 0,3%
Foi realizada também a análise de fluorescência de raios X para determinar
os principais inorgânicos presentes na casca de palmiste. Estes elementos
compõem, na forma de óxidos, o teor de cinzas da casca de palmiste. Os valores
obtidos podem ser observados na Tabela 32.
181
Tabela 32: Composição mássica das cinzas da casca de palmiste. Elemento % mássico
Si 65,4
K 10,8
Fe 5,8
Al 5,1
Na 4,5
Mg 3,8
Ca 3,8
Cr 0,2
Ba 0,2
Mn 0,1
Sr 0,1
Ni 0,1
Pb 0,1
Conforme esperado, a maior parte do material inorgânico é composta por
sílica. A sílica pode estar na estrutura da casca ou ter sido adicionada ao material
por contaminação com o solo nas etapas de colheita e processamento. Além disso,
também foram observados vários outros compostos, sendo esta diversidade de
elementos característica de biomassas. É interessante notar também que o segundo
elemento em maior proporção nas cinzas é potássio, este elemento é
reconhecidamente um catalisador de gaseificação, fato este que poderia auxiliar o
desenvolvimento das reações de ativação.
Também foi obtido o espectro de infravermelho com transformada de Fourrier
(FT-IR) da casca de palmiste, apresentado na Figura 68. A região entre 1000 e
1800cm-1 com diversas bandas presentes indica a existência de vários tipos de
grupos funcionais oxigenados. O espectro obtido está de acordo com os espectros
apresentados em Guo e Lua, (2002) e Yacob et al, (2008). Além das bandas relativas a grupos oxigenados também se destaca a banda
de grande intensidade apresentada em 3403cm-1 relacionada à presença de
hidroxilas e água adsorvida na amostra. Em 2918cm-1 existe uma banda
característica de ligação carbono-hidrogênio alifática. O trabalho de YACOB et al,
(2008) também correlaciona as bandas em 1248cm-1 e 1039cm-1 ao estiramento da
ligação C-O.
182
Figura 68: Espectro de FT-IR para a casca de palmiste.
Como a casca de palmiste tem alto teor de lignina, é possível que a banda em
3403 cm-1 esteja relacionada à presença de hidroxila alcoólica e fenólica envolvida
em pontes de hidrogênio característica de lignina (BYKOV, 2008). Estudando o
comportamento da lignina, Bykov, (2008) também correlacionou a banda em
1039cm-1 a ligações C-O, incluindo as do tipo alcoólico e fenólico. Comparando os
resultados obtidos por Yacob et al, (2008) e Bykov, (2008), pode-se inferir que as
bandas obtidas para a casca de palmiste em 3403cm-1 e 1039cm-1 estariam
preferencialmente ligadas a estruturas presentes na lignina contida na casca de
palmiste.
5.2.2 Carbonização – caracterização dos carvões int ermediários
Como resultado da etapa de carbonização, obtiveram-se carvões
intermediários de superfície específica variando entre 300 e 400 m2/g, indicando que
a estrutura porosa primária havia sido corretamente formada. O rendimento mássico
dos carvões intermediários gerados nessa etapa se situou entre 25 e 30%. Este
valor está de acordo com o observado na análise termogravimétrica do material, já
que nessa etapa grande parte do material volátil é removida.
Os valores obtidos para as superfícies específicas e rendimentos mássicos
estão próximos dos obtidos por Daud e Ali, (2004), que realizaram a carbonização de
casca de palmiste por 1h a 850°C em fluxo de nitrog ênio e obtiveram um carvão
5
103
9
124
8 138
1 1
457
151
1 1
599 1
741
291
8
340
3
2012-017719-68
0
5
10
15
20
25
30
35
40
%T
rans
mitt
ance
1000 2000 3000 4000
Wavenumbers (cm-1)
183
intermediário com superfície específica de 260 m2/g e rendimento mássico de 25%
Outros autores também estudaram a influência das condições de carbonização
sobre a qualidade do carvão ativo final.
No trabalho de Daud, Ali e Sulaiman, (2000) foi estudada a influência da
temperatura de carbonização sobre o tamanho dos poros formados na ativação de
casca de palmiste entre 500 e 900°C. Os autores con cluíram que quanto maior a
temperatura de carbonização, mais microporoso seria o carvão após a ativação.
Segundo Reinoso, Lahaye e Ehrburger (1991), em altas temperaturas de
carbonização uma estrutura mais organizada seria formada, o que reduziria a taxa
das reações de gaseificação no interior da partícula, dificultando o alargamento de
poros.
A análise elementar média dos carvões intermediários pode ser visualizada
na Tabela 33. Conforme esperado, há um grande aumento da concentração de
carbono na amostra devido à eliminação preferencial do oxigênio durante a
carbonização.
Tabela 33: Resultados médios da análise elementar CHNOS para carvões intermediários.
Elemento % mássico
Carbono 78,7
Hidrogênio 2,3
Oxigênio 4,7
Nitrogênio 0,7
Enxofre <LD*
*O limite de detecção desta técnica é de 0,3%
Após a etapa de carbonização, os carvões intermediários seguiram então
para a etapa de ativação, na qual foram selecionadas algumas variáveis para a
avaliação.
5.2.2 Ativação com dióxido de carbono
Na Tabela 34 podem ser visualizados os resultados de superfície específica,
percentual de queima e rendimento das amostras preparadas com dióxido de
carbono como agente ativante.
Tabela 34: Resultados obtidos para os carvões preparados com CO2
Código Área (m 2/g) Queima ativação (%) Rendimento Global (%)
184
1CP 545 14 33
2CP 687 18 32
16CP 1154 50 19
Para as amostras 1CP, 2CP e 16CP, ativadas com CO2 em 4h, 8, ou 24h,
pode-se visualizar na Figura 69 a relação entre o tempo de ativação e o percentual
de queima, e da superfície específica com o percentual de queima. Conforme
esperado o aumento do tempo de ativação eleva o percentual de queima, porém é
interessante notar que essa relação parece ter comportamento linear na faixa
analisada.
Segundo Daud, Ali e Sulaiman, (2002), a relação linear entre o tempo de
ativação e o percentual de queima indica que o processo está se desenvolvendo no
regime químico, ou seja, as restrições difusivas não estão sendo significativas.
Como o mecanismo de ativação é baseado na geração de poros no interior da
partícula, é muito importante que efeitos de restrição difusiva sejam minimizados.
Desta forma, as reações de gaseificação podem ocorrer com máxima eficiência no
interior da partícula. Portanto a observação de linearidade na Figura 69 indica que
as condições de vazão e tamanho de partícula empregadas são favoráveis para a
obtenção de carvões com alta taxa de ativação.
Também se pode perceber que existe uma relação linear entre o percentual
de queima e a superfície específica. Neste caso o esperado seria uma curva em
formato parabólico, onde a área passa por um ponto de máximo e em seguida cai
com o aumento da queima (GUO; LUA, 2000). A não observação deste fenômeno
indica que um percentual de queima de 50% pode não ser suficiente para o máximo
valor de superfície específica possível para as amostras ativadas com CO2. De fato,
SUMATHI et al, (2009) estudaram a ativação de casca de palmiste com CO2 e
obtiveram um perfil crescente de superfície específica até percentuais de queima de
62%; com 74% de queima foi observada uma redução da superfície específica.
Desta forma, a faixa de percentual de queima obtida de 14-50% provavelmente está
na parte ascendente da curva parabólica.
Apesar de possivelmente não ter sido alcançado o máximo em termos de
superfície específica, o valor obtido para a amostra com 50% de queima (16CP),
próximo a 1200m2/g já é característico de um carvão ativado de excelente qualidade,
com alta capacidade de adsorção.
Arami-Niya, Daud e Mjalli, (2011) obtiveram área de 1213m2/g em uma
ativação com 51,25% de queima, valores em excelente concordância com os
apresentados neste trabalho. Outros autores obtiveram superfícies específicas na
185
mesma faixa, porém sem relatar o percentual de queima. Sumathi et al, (2009)
obtiveram área de 1052 m2/g, já em Issabayeva et al, (2006) foi obtida área de 957
m2/g. Guo e Lua (2002) alcançaram 1366m2/g, enquanto Guo e Lua (2003)
obtiveram um carvão com 1062 m2/g. Portanto, o valor de 1200m2/g está de acordo
com o encontrado na literatura por vários autores, nos seus melhores carvões,
obtidos empregando-se ativação com CO2.
Como há uma relação linear entre os pares área x queima e queima x tempo
de ativação, é possível prever uma correlação que indique a superfície específica
obtida em função do tempo de ativação.
SBET= 30,089.tativ + 434,26 (Equação 12)
Onde SBET é a superfície específica obtida pelo método BET e tativ é o tempo
de ativação em horas.
Essa correlação possui R2 = 0,9988 e é válida no intervalo avaliado, mantidas
as demais condições de preparo constantes.
Carvões CO 2 - Influência do tempo de ativação
y = 0,5234x - 2,4224
R2 = 0,9943
y = 15,709x + 362,51
R2 = 0,988
0
5
10
15
20
25
30
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
Queima (%)
Tem
po d
e at
ivaç
ão (
h)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
Áre
a (m
2/g)
Tempo x Queima Área x Queima
1CP - (4h, 850°C)
2CP - (8h/850°C)
16CP - (24h, 850°C)
Figura 69: Relações entre percentual de queima, tempo de ativação e superfície específica para carvões de
CO2.
Outra observação interessante é a evolução do percentual de microporos com
186
o aumento da queima mostrada na Tabela 35. Nota-se que o volume de poros total
aumenta, mas o percentual de microporos se reduz, similar ao observado por
Molina-Sabio et al, (1996). Isso significa que a taxa das reações de gaseificação das
paredes dos poros aumenta mais do que a taxa da reação de formação de novos
microporos, o que leva a uma redução do percentual volumétrico de microporos com
o aumento da queima nas amostras.
A tendência é que a taxa de formação de novos microporos desacelere ainda
mais e a taxa de alargamento dos poros aumente, até que em um determinado
ponto o volume total irá se reduzir com o aumento da queima, e apenas será
observado o alargamento dos poros já existentes, sem a formação de novos
microporos.
Tabela 35: Volumes de poros para as amostras ativadas com CO2.
Amostra Vtotal (cm 3/g) Vmicroporos (cm 3/g) %vol microporos
Diâmetro
médio de
poros (Å)
1CP 0,2783 0,2461 88,42 36,5
2CP 0,3045 0,2646 86,89 38,5
16CP 0,6086 0,4573 75,14 40,4
Estas observações são corroboradas pela avaliação do diâmetro médio dos
poros, que apresenta valores crescentes com o aumento do percentual de queima,
confirmando a ocorrência do mecanismo de alargamento dos poros.
Variáveis como o agente ativante, tempo e temperatura de ativação e vazão
de agente ativante, impactam diretamente uma propriedade que reflete a severidade
empregada para ativação da amostra. Esta propriedade é o percentual de queima.
A forma como as variáveis de processo impactam o percentual de queima são
similares para todas as matérias primas, variando apenas a intensidade destes
efeitos. O percentual de queima aumenta com o aumento da temperatura de
ativação, aumento da vazão de agente ativante e aumento do tempo de ativação.
Em geral o percentual de queima é proporcional ao grau de ativação da
amostra. Quanto maior a queima, mais ativada teria sido a amostra e maior seria sua
porosidade. Porém, a queima promove um aumento da superfície específica do
carvão apenas até um determinado valor.
A criação de porosidade durante a ativação passa pelos seguintes três
estágios (REINOSO, LAHAYE e EHRBURGER, 1991):
187
1°- Abertura dos poros antes inacessíveis gerados n a carbonização.
Nessa etapa carbonos localizados que obstruíam a abertura dos poros formados na
etapa de carbonização são eliminados, tornando esses poros totalmente acessíveis.
Ocorre com percentuais de queima de até 10%.
2°- Criação de novos poros pela ativação
Nesse estágio as reações de gaseificação com vapor d’água ou dióxido de carbono
promovem o aumento da porosidade, principalmente na região de microporos.
3°- Alargamento dos poros existentes
Nessa etapa ocorre o alargamento de poros existentes dando origem a meso e
macroporos. Também pode ocorrer o fenômeno de coalescência de microporos.
O percentual de queima que determina o início e o término de cada estágio
descrito acima depende da matéria prima e das condições operacionais
empregadas. Os fenômenos característicos de cada estágio podem ocorrer
concomitantemente em certas faixas de operação. Para a casca de palmiste, Daud,
Ali e Sulaiman, (2000) mostraram que, quando o percentual de queima passa de
aproximadamente 50%, a quantidade de microporos para de crescer e é iniciada a
etapa de alargamento dos poros existentes. Esta etapa causa uma elevação do
tamanho médio de poros e também pode levar a uma redução da superfície
específica total do carvão ativo.
Como o percentual de queima impacta diretamente a qualidade do material
final obtido e também o rendimento do processo, existe uma relação de
compromisso entre os dois. De uma forma simplificada, quanto melhor a qualidade
do material obtido menor será seu rendimento. A otimização do processo dependerá
então da diferença de valor de mercado entre carvões de alta qualidade, que são
produzidos com baixo rendimento, em relação a carvões com qualidade reduzida,
mas com altos rendimentos mássicos.
5.2.2 Ativação com vapor d’água
Na Tabela 36 podem ser visualizados os resultados de superfície específica,
queima na etapa de ativação e rendimento global do processo para os carvões
preparados com vapor d’água. Nesta etapa foi avaliada a variação do percentual de
queima em função da vazão de agente ativante (Amostras 3CP, 3CP2 e 3CP3) e em
função do tempo de ativação (3CP3 e 4CP).
188
Tabela 36: Resultados de área, rendimento e queima para os carvões ativados produzidos.
Código Área (m 2/g) Queima ativação (%) Rendimento Global (%)
3CP 1460 75 7
3CP2 1221 64 13
3CP3 272 15 33
4CP 1213 64 14
Na Figura 70 pode-se visualizar a vazão do agente ativante versus o
percentual de queima e a superfície específica versus o percentual de queima.
Comparando-se as amostras 3CP3 e 4CP pode-se verificar o efeito do tempo de
ativação para os carvões preparados com vapor d’água. A elevação do tempo de
ativação de 4h (3CP3) para 8h (4CP) proporcionou uma evolução do percentual de
queima de 15% para 64% e um aumento proporcional da superfície específica.
Assim como para os carvões ativados com CO2 a elevação do percentual de queima
mostrou estar diretamente relacionada ao aumento da superfície específica dos
carvões. Na mesma figura observa-se que os carvões 3CP2 e 4CP que foram
obtidos em condições operacionais distintas, mas apresentaram um percentual de
queima similar, possuem uma superfície específica equivalente, indicando que o
percentual final de queima dita a superfície específica obtida, independente das
condições em que o carvão foi gerado.
Ainda na Figura 70, analisando o grupo de amostras formado pelos carvões
3CP, 3CP2 e 3CP3, pode-se verificar o efeito da vazão de água no percentual de
queima e na superfície específica dos carvões ativados obtidos com uso de vapor
d’água.
Nota-se, assim como para o caso do CO2, que o percentual de queima tem
relação linear praticamente perfeita com a superfície específica. Já em relação à
influência da vazão no percentual de queima, observa-se que o efeito do aumento
da vazão sobre a queima é mais pronunciado na primeira faixa, entre 3,75 e 11,25
Nml/min.g. A segunda elevação para 22,5Nml/min.g, embora ainda provoque um
aumento de queima, é de menor magnitude.
189
Carvões H 2O - Influência da vazão de vapor para ativação
y = 19.753x - 35.162
R2 = 0.9996
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
Áre
a (m
2 /g)
0
5
10
15
20
25
0 10 20 30 40 50 60 70 80Queima (%)
Vaz
ão d
e at
ivaç
ão (
Nm
l/min
.g)
Área x Burn-off ativação Vazão X Queima
3CP3 - 4h, Vazão baixa, 850°C
3CP2 - 4h, Vazão média, 850°C
4CP - 8h, Vazão baixa, 850°C
3CP - 4h, Vazão alta, 850°C
3CP2 - 4h, Vazão média, 850°C
Figura 70: Efeito da vazão de vapor d'água na queima e superfície específica.
Para comparar as ativações com CO2 e vapor d’água foram calculadas as
taxas de ativação para os carvões a cada tempo de ativação e a partir destes dados
observa-se uma diferença importante entre os dois agentes ativantes.
Enquanto para o CO2 a taxa de ativação caiu com o aumento do tempo de
ativação de 3,42%/h a 4h, 2,29%/h a 8h e 2,11%/h a 24h, para o caso da ativação
com água o aumento do tempo de ativação provocou uma elevação da taxa de
3,85% a 4h para 7,95%/h em 8h, quase quatro vezes a taxa obtida para o caso com
CO2 no mesmo tempo de ativação.
O perfil de taxas decrescentes para a reação com CO2 e crescente para a
ativação com água foi similar ao observado por De Groot e Richards, (1989). No
campo da cinética isso significa uma ordem de reação, com relação a concentração
de carbono, maior que 1 para a ativação com dióxido de carbono e entre 0 e 1 para
ativação com água. Na prática, a observação mais relevante é de que a taxa das
reações de gaseificação com vapor d’água é superior as observadas com CO2, o
que pode permitir a obtenção de carvões ativados de altas superfícies específicas
em menores tempos de ativação.
A comparação direta entre as amostras 1CP e 3CP3, que foram preparadas
nas mesmas condições mudando-se apenas o agente ativante, mostra que embora
os dois carvões tenham apresentado o mesmo percentual de queima, o carvão 1CP
preparado com CO2 alcançou uma superfície específica de 545m2/g, enquanto o
carvão 3CP3 preparado com vapor d’água obteve apenas 272m2/g de superfície
190
específica. De uma forma geral, pode-se concluir que os carvões preparados com
CO2 apresentaram maior rendimento mássico quando comparados aos carvões
preparados com vapor d’água com mesma superfície específica. Essa informação é
importante porque o rendimento mássico na produção dos carvões ativados é uma
variável de grande peso na avaliação de viabilidade econômica deste tipo de
unidade. Apesar disso, a ativação com vapor d’água mostrou ser mais rápida que a
com CO2 o que permitiria menores tempos de processo com conseqüente impacto
nos custos de produção.
5.2.3 Ativação com mistura dióxido de carbono e vap or d’água
Para avaliar se haveria sinergia na utilização simultânea de CO2 e vapor
d’água como agentes ativantes, foram preparadas as amostras 5CP e 6CP com
vazão de 3,75Nml/min.g, sendo 50% vapor d’água e 50% CO2. O tempo de ativação
da amostra 5CP foi de 4h e o da 6CP foi de 8h.
As duas amostras alcançaram percentuais de queima intermediários em
relação aos seus pares preparados com os agentes puros. Sendo 32% para a
amostra 5CP e 37% para 6CP. A partir das retas geradas nos gráficos de ativação
com agentes puros mostradas anteriormente, fez-se então uma previsão da área
que seria obtida nos mesmos valores de queima obtidos com a mistura de agentes.
Para o CO2:
SBET = 15,709*Queima+362,51 (Equação 13)
Para vapor d’água:
SBET= 19,753*Queima-35,162 (Equação 14)
Onde SBET é a superfície específica obtida pelo método BET em m2/g e
Queima é o percentual de queima obtido na ativação.
Substituindo o valor de queima de 32% obtido na amostra 5CP obtém-se:
SBET=862,3m2/g (caso CO2)
SBET=593,3m2/g (caso H2O)
Fazendo-se a média ponderada pelos percentuais de 50% de cada agente ativante
obtém-se:
SBET 5CP (calculada)=727,8m2/g
191
Já para a amostra 6CP, substituindo o valor de queima de 37% obtém-se:
SBET=952,4m2/g (caso CO2)
SBET=706,6m2/g (caso H2O)
Fazendo-se a média ponderada pelos percentuais de 50% de cada agente ativante
obtém-se:
SBET 6CP(calculada)=829,5m2/g
Amostra Área obtida
experimental (m2/g)
Área calculada pelas
correlações (m2/g)
5CP 718 727
6CP 802 829
Diante desses resultados, concluiu-se que, com relação à superfície
específica final dos carvões, a utilização da mistura de agentes ativantes não trouxe
nenhum efeito sinérgico para o processo, já que os resultados obtidos são simples
médias ponderadas dos que seriam obtidos com a utilização dos agentes ativantes
puros. Este resultado é válido apenas para as condições avaliadas. Outras vazões e
proporções de agentes ativantes devem ser testadas para uma conclusão mais
ampla.
5.2.4 Caracterizações dos carvões ativados
Todos os carvões ativados foram caracterizados por adsorção de N2 para a
obtenção de suas isotermas e determinação de propriedades texturais. Dentre as
principais propriedades determinadas destacam-se a superfície específica, volume
total de poros, volume de microporos e distribuição do volume de poros.
Também foram realizadas análises termogravimétricas para verificação da
estabilidade térmica dos carvões ativados produzidos. O ensaio de estabilidade
térmica indica se durante a ativação ocorreu a remoção de todos os compostos
voláteis e é importante para aplicações dos carvões em temperaturas mais
elevadas.
Outro ensaio realizado foi a espectroscopia no infravermelho com
transformada de Fourrier para a obtenção de informações sobre a existência de
grupos químicos superficiais nos carvões, cuja importância reside na verificação de
possíveis interações entre os grupos superficiais e compostos a serem adsorvidos,
192
que podem ser determinantes para obtenção de um carvão de alta qualidade.
Também foi realizada a determinação do pH superficial das amostras, sendo
este um parâmetro importante para sistemas de adsorção e aplicação como suporte
de catalisadores. O teor de cinzas foi determinado, pois é um importante indicativo
da qualidade dos carvões obtidos.
5.2.4.1 Análise textural
Na Figura 71 pode-se visualizar as isotermas dos carvões preparados com
CO2 como agente ativante. Para as amostras 1CP e 2CP, que alcançaram queimas
de 14% e 18% respectivamente, as isotermas são do tipo I, característica de sólidos
microporosos. Já para o carvão 16CP, que alcançou queima de 50%, a isoterma
passa a ser do tipo IV, com grande quantidade de microporos, mas já demonstrando
a presença de mesoporos, caracterizada pela inclinação positiva da isoterma para
valores de p/p0 entre 0,2 e 0,7 (BANSAL et al, 2005). A isoterma do carvão 16CP
mostra que a continuidade do processo de queima provocou um alargamento dos
poros do carvão, gerando uma maior quantidade de mesoporos.
Isotermas - Carvões CO 2
150
200
250
300
350
400
0.05 0.15 0.25 0.35 0.45 0.55 0.65 0.75 0.85 0.95
P/Po
Qua
ntid
ade
adso
rvid
a (c
m3 /g
)
1CP
2CP
16CP
Figura 71: Isotermas carvões com CO2.
Já na Figura 72 pode-se visualizar as isotermas dos carvões preparados com
vapor d’água como agente ativante. Nota-se que os carvões que obtiveram maiores
percentuais de queima, 3CP (75%), 3CP2 (64%) e 4CP (64%), apresentaram
193
isoterma do tipo IV com maior quantidade de mesoporos, sem platô em altas
pressões, característico de carvões ativados (REINOSO et al, 2006). Além disso,
também é possível notar a presença de histerese, que no presente caso, ocorre
devido ao mecanismo de condensação capilar, promovendo o preenchimento e
esvaziamento dos mesoporos de diferentes formas, de modo que, em uma dada
pressão a quantidade adsorvida é maior que a dessorvida (BANSAL et al, 2005).
O tipo de histerese obtida para os carvões é H4, segundo a classificação da
IUPAC. Comparando as isotermas dos carvões 16CP, 3CP2 e 4CP também é
possível observar que, devido a maior quantidade de mesoporos nos carvões
preparados com vapor d’água, há uma presença muito mais forte de histerese do
tipo H4, característica de poros em formato de fenda (SING et al, 1985). O mesmo
tipo de histerese foi obtido em carvões ativados comerciais preparados a partir de
turfa e casca de coco (CHIANG, CHIANG e HUANG, 2001). Em Kaneko, (1994), a
histerese do tipo H4 também foi correlacionada com carvões ativados contendo
mesoporos.
Observa-se também que o início da histerese ocorre em torno de p/p0=0,4 o
que significa que o fenômeno de condensação capilar passa a ser importante com
poros a partir de 30Å (SING et al, 1985).
Outra observação interessante é que os carvões 3CP2 e 4CP, mesmo
preparados em diferentes condições de vazão e tempo de ativação, apresentaram o
mesmo percentual de queima, e mostraram isotermas bastante similares, indicando
terem a mesma superfície específica e distribuição de tamanho de poros. Essa
informação é mais um indicativo de que, para um determinado agente ativante, o
que dita as características texturais do carvão ativado obtido é o percentual de
queima, independente de quais foram as condições de preparação utilizadas para
atingir tal queima.
194
Isotermas - Carvões H 2O
50
150
250
350
450
550
0.05 0.15 0.25 0.35 0.45 0.55 0.65 0.75 0.85 0.95
P/Po
Qtd
e ad
sorv
ida
(cm
3 /g)
3CP3
3CP2
3CP
4CP
Figura 72: Isotermas carvões H2O.
Comparando a distribuição de volume de poros disponível na Figura 73 para
os carvões 4CP e 16CP que apresentaram superfícies específicas próximas, pode-
se concluir que o carvão preparado com vapor d’água (4CP) apresenta uma
distribuição mais heterogênea e com maior contribuição dos poros de dimensões
superiores em comparação com o carvão preparado com CO2 (16CP). Isso está de
acordo com a isoterma obtida que mostra para os carvões preparados com vapor
d’água uma maior quantidade de mesoporos. Esta tendência se mantém para todas
as amostras, com os carvões preparados com vapor d’água apresentando diâmetro
médio de poros na faixa de 45-47 Å, enquanto os carvões preparados com CO2
apresentaram diâmetro médio na faixa de 38-40 Å.
Esta informação sugere que a ativação com vapor d’água pode ser mais
indicada quando o objetivo for a obtenção de carvões com maior quantidade de
mesoporos, enquanto a ativação com CO2 seria a opção para carvões microporosos,
mais adequados a sistemas de adsorção.
195
Distribuição de volume de poros
0
0.05
0.1
0.15
0.2
0.25
0.3
0.35
0.4
0.45
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600
Tamanho dos poros (Å)
Vol
ume
de p
oros
(cm
3 /g)
4CP 16CP
Figura 73: Distribuição de volume de poros para os carvões 4CP e 16CP.
5.2.4.2 pH superficial
Todos os carvões preparados mostraram características superficiais básicas.
Para baixos percentuais de queima, os carvões preparados com vapor d’água
parecem apresentar valores de pH relativamente inferiores para o mesmo percentual
de queima, porém a ordem de grandeza da diferença não permite afirmar que há um
efeito do agente ativante sobre o pH da superfície dos carvões.
Na Figura 74 pode-se observar a relação existente entre o pH superficial e o
percentual de queima para as amostras preparadas tanto com CO2 quanto com
vapor d’água, na qual pode ser observado que o aumento da queima torna a
superfície dos carvões mais básica.
O pH superficial básico encontrado para todos os carvões está de acordo com
o esperado pela literatura. Normalmente a maior parte dos grupos funcionais
oxigenados presentes na superfície do carvão ativado apresenta características
ácidas, com poucos grupos sendo relacionados à basicidade. Carvões preparados
por ativação física, que são preparados em temperaturas relativamente altas,
tendem a apresentar uma remoção mais acentuada dos átomos de oxigênio das
196
amostras, com isso, grupos oxigenados que poderiam conferir acidez à superfície
não estão presentes possibilitando uma elevação do pH superficial da amostra
(PUZIY et al, 2002).
Nabais et al, (2008), estudou a ativação de endocarpo do café com CO2 e
mostrou comportamento similar, com elevação do pH superficial com o percentual de
queima. Essa elevação foi correlacionada com a existência de elétrons π
deslocalizados e com a presença de grupos pirona caracterizados por bandas 1450-
1420 cm-1 no espectro de FT-IR, porém, como será mostrado a seguir, não foram
identificados esses grupos funcionais nos espectros dos carvões preparados tanto
com vapor d’água quanto com CO2.
Outros autores também relacionaram a basicidade de carvões com a
existência de sítios de Lewis localizados em regiões ricas em elétrons π nos planos
basais longe das quinas existentes no final das folhas de aromáticos que formam as
partículas de carvão (LOPEZ-RAMON et al,1999). Em geral, é aceito que os grupos
funcionais oxigenados são predominantemente ácidos e, portanto, uma redução do
teor de oxigênio reduz a acidez da superfície dos carvões.
y = 2E-11x12.966
R2 = 0.9997
y = 4E-07x8.5045
R2 = 0.9964
0
10
20
30
40
50
60
70
80
7.8 8 8.2 8.4 8.6 8.8 9 9.2 9.4 9.6
pH
Que
ima
(%)
Carvões H2O Carvões CO2
Figura 74: Valores de pH em função do percentual de queima.
5.2.4.3 Espectroscopia no infravermelho
Nas Figura 75 e Figura 76 pode-se verificar que a região entre 1050-1800 cm-
197 1, que apresentaria os picos de grupos funcionais oxigenados, não mostra mais a
presença destes compostos, indicando uma drástica mudança em relação à casca
de palmiste que apresenta diversas bandas nesta região. Devido ao método
utilizado, a intensidade das bandas não deve ser interpretada como uma informação
quantitativa dos grupos presentes.
463
692
784
103
5
157
4
163
6
2012-017618-142012-015670-902012-017328-06
8.0
8.5
9.0
9.5
10.0
10.5
11.0
11.5
12.0
12.5
13.0
13.5
14.0
14.5
15.0
%T
rans
mitt
ance
1000 2000 3000 4000 Wavenumbers (cm-1)
Figura 75: Espectros de FTIR dos carvões preparados com CO2.
156
9
788
106
0
2012-012925-632012-014161-222012-015672-522012-015667-95
1.5
2.0
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0
5.5
6.0
6.5
%T
rans
mitt
ance
1000 2000 3000 4000
Wavenumbers (cm-1)
16CP
2CP
1CP
3CP
3CP2
3CP3
4CP
198
Figura 76: Espectros de FTIR dos carvões preparados com vapor d'água.
Observa-se para todas as amostras um perfil bastante similar apresentando
bandas em:
- 3400-3440 cm-1 relacionados à presença de hidroxilas ou água adsorvida (PUZIY
et al, 2002)
- 1560-1580 cm-1, relacionados à ligação dupla carbono-carbono, característico de
compostos aromáticos (REINOSO et al, 2006).
- 1040-1070 cm-1 relacionados à hidroxila (REINOSO et al, 2006) (BANSAL et al,
2005) ou a grupos C-O, incluídos os álcoois e fenóis (YACOB et al, 2008).
Comparando-se com o espectro da casca de palmiste, nota-se que ocorre o
desaparecimento de grande parte das funções oxigenadas presentes na região
1200-1800cm-1 assim como observado no trabalho de Guo e Lua (2002). Também
se verifica o desaparecimento da banda em 2918cm-1 relacionada à ligação carbono-
hidrogênio alifático em grupos –CH2– e o surgimento de bandas em 1560-1580cm-1
relacionada à ligação dupla carbono-carbono aromático e bandas de menor
intensidade na região de 500-800cm-1, que podem estar correlacionadas à presença
de ligações carbono-hidrogênio em anéis aromáticos.
É interessante notar que as bandas entre 3400-3440 cm-1 e 1040-1070 cm-1 ,
que poderiam estar atribuídas a funções presentes na lignina da casca de palmiste,
foram mantidas ou até mesmo aumentadas. Isso está de acordo com o esperado já
que a lignina é a estrutura de maior estabilidade térmica da casca de palmiste, e,
portanto a manutenção dos grupos relativos à sua estrutura seria possível. A banda presente em 1040-1070cm-1 poderia estar correlacionada à presença
de hidroxila fenólica, grupo comumente encontrado na estrutura da lignina. Porém,
essa observação não é consistente com os valores de pH observados. Caso esta
banda seja atribuída a fenóis, em meio aquoso o pH obtido seria ácido, contrariando
o pH básico obtido. Duas explicações são sugeridas para este comportamento. A
primeira é que esses grupos seriam hidroxilas fenólicas, mas estariam estabilizados
por pontes de hidrogênio dentro da estrutura do carvão, o que impediria a liberação
de íons H3O+ em solução aquosa. A outra hipótese é que essa banda deve-se
apenas a ligações carbono-oxigênio alcoólicas, também características da lignina.
5.2.4.4 Análise termogravimétrica
Para todas as amostras de carvão obtidas foi realizado o ensaio de
199
estabilidade térmica em atmosfera inerte. Tanto as amostras preparadas com vapor
d’água quanto as preparadas com CO2 mostraram perfis bastante semelhantes. Isso
indica que, somados os percentuais de queima da carbonização com os da ativação,
a perda de massa total foi suficiente para que os carvões finais gerados não
contivessem mais material volátil ou de fácil decomposição como a celulose e a
hemicelulose.
Os perfis indicaram uma perda inicial média de umidade em torno de 3%, uma
perda intermediária de 200-600°C de 0,9% e uma perd a final de 4% de 600-1000°C.
Estas perdas estão provavelmente correlacionadas a estruturas derivadas da lignina,
que ainda não haviam sido decompostas. O resíduo final para todas as amostras
esteve entre 92-93%. Os resultados indicaram que a carbonização e a ativação
geraram um material com boa estabilidade térmica para todas as amostras
avaliadas. Nas Figura 77 e Figura 78, pode-se observar a similaridade entre dois
ensaios de estabilidade térmica para os carvões 16CP, preparado com CO2 e o
3CP2, preparado com vapor d’água.
Figura 77: Análise de TGA do carvão 16CP
200
Figura 78: Análise de TGA do carvão 3CP2.
5.2.4.5 Teor de cinzas
Foi feita a determinação do teor de cinzas para todos os carvões preparados,
os resultados podem ser observados na Tabela 37. Para os carvões com alta
superfície específica, que apresentaram queima em torno de 65-75%, obtiveram-se
teores de cinzas ao redor de 10%, enquanto carvões com menores percentuais de
queima apresentaram teor de cinzas em torno de 5%.
A partir dos valores de queima das etapas de carbonização e ativação é
possível calcular um valor teórico para o teor de cinzas, considerando este material
como um inerte durante o processo de produção do carvão ativado.
)%1()%1(100
%%
QueimaAtivxQueimaCarbx
CzcascaCzteorico
−−= (Equação 15)
Onde %Czteorico é o percentual teórico de cinzas, %Czcasca é o percentual
de cinzas da casca de palmiste (1,64%), %QueimaCarb e %QueimaAtiv são os
percentuais de queima na carbonização e ativação respectivamente.
Tabela 37: Teor de cinzas dos carvões ativados preparados
201
Amostra Teor de cinzas exp. (%m/m)
Teor de cinzas teórico (%m/m)
Relação Experimental/Teórico (%)
Vazão
3CP 8,44 32,0 32,21 C 3CP2 9,38 22,2 51,53 B 3CP3 4,98 9,40 64,67 A 4CP 11,71 22,2 64,34 A 1CP 9,18 9,30 98,70 A 2CP 3,77 9,75 47,12 A 16CP 8,28 16,0 63,10 A
Vazões C>B>A
O teor de cinzas obtido é sempre menor que o teórico calculado a partir do
teor de cinzas da casca de palmiste, pois a temperatura de determinação do teor de
cinzas é inferior à temperatura de preparação dos carvões. Logo, durante a
preparação, alguns compostos inorgânicos de mais baixa temperatura de
volatilização são removidos, o que reduz o teor de cinzas final das amostras. Por
exemplo, carbonatos de sódio e potássio possuem temperaturas de volatilização em
torno de 900°C, próxima da temperatura de preparaçã o dos carvões.
Além disso, na Tabela 37 pode-se visualizar um efeito interessante no caso
dos carvões preparados com vapor d’água. A amostra com maior percentual de
queima (3CP) apresentou a menor relação entre o teor de cinzas experimental e o
teórico; pode-se observar, também, que na série 3CP-3CP2-3CP3 ocorre uma
elevação desta relação entre os teores de cinzas. Uma possível explicação seria a
de que o aumento do percentual de queima das amostras provocasse esta redução,
porém a amostra 4CP com mesmo percentual de queima da amostra 3CP2 possui
uma quantidade de cinzas relativamente mais alta. Com isso a explicação mais
plausível para esse fenômeno é o efeito da vazão de agente ativante no teor de
cinzas.
Neste caso duas hipóteses são possíveis. A primeira destas é que uma maior
disponibilidade de agente ativante tenha possibilitado a ocorrência de alguma reação
entre os compostos inorgânicos e o vapor d’água, proporcionando a sua
decomposição. Outra hipótese provável é que as cinzas formadas no processo, com
tamanho reduzido de partícula, tenham sido lixiviadas do leito de carvão pela
corrente de gás ativante em velocidade crescente. Independente do mecanismo,
este é um efeito interessante que indica uma vantagem em operar com vazões mais
altas de agente ativante.
202
5.3 Carvões sulfonados
5.3.1 Caracaterização dos carbonizados
A primeira etapa de preparação dos carvões sulfonados foi a carbonização
das cascas de palmiste. Como esperado, o aumento da temperatura de
carbonização levou a uma elevação do percentual de queima observado para as
amostras, como pode ser visualizado na Tabela 38. Em conseqüência disto, houve
uma redução gradativa do teor de oxigênio presente no material carbonizado.
Diversos estudos mostraram que a temperatura de carbonização tem um grande
efeito na etapa posterior de sulfonação do material (OKAMURA et al, 2006, LOU et
al, 2008).
O teor de oxigênio pode mudar o ponto isoelétrico da superfície alterando a
sua afinidade pelos grupos sulfônicos. Outro efeito da temperatura de carbonização
está relacionado a organização e tamanho das folhas de compostos aromáticos que
compõem o material carbonizado. Temperaturas de carbonização mais altas
gerariam folhas aromáticas maiores e com maior organização, deixando menos
acessíveis sítios internos ao material para a conexão de grupos sulfônicos.
Tabela 38: Percentual de queima e teor de oxigênio de material carbonizado
Amostra Temperatura de
carbonização (°C)
Teor de oxigênio
(%m/m)
%Queima
C-CAS030 250 39,4 17,96
C-CAS037 300 27,6 46,88
C-CAS032 350 30,2 52,30
C-CAS035 450 19,4 64,97
C-CAS066 550 6,3 72,82
Para verificar a estabilidade térmica das amostras carbonizadas foi realizado
ensaio de termogravimetria. Os dados obtidos podem ser visualizados na Tabela 39.
A perda de massa a temperatura inferior a 150°C est á relacionada à umidade retida
nas amostras e pode ser correlacionada com a hidrofilicidade das mesmas (ZHANG
et al, 2010). Observa-se que a amostra de carbonizado C-CAS030, que apresentou
maior teor de oxigênio, também apresentou maior quantidade de água adsorvida. No
extremo oposto verificamos o mesmo comportamento, com a amostra C-CAS066
que apresentou menor teor de oxigênio mostrando menor quantidade de água
adsorvida. Na região intermediária em uma faixa de 20-30% de oxigênio a
quantidade de água adsorvida foi estável em valores próximos a 5%m/m.
203
Tabela 39: Dados de TGA de amostras de material carbonizado Amostra Perda de massa
(<150°C) %m/m
Perda de massa
(150<T<300)
%m/m
Resíduo
(1000°C)
%m/m
C-CAS030 5.6 21.5 26,20
C-CAS037 4.9 5.0 49,31
C-CAS032 4.8 7.5 42,93
C-CAS035 5.0 1.0 64,93
C-CAS066 1.1 0.0 92,03
Como esperado o material residual obtido no ensaio aumenta com a
temperatura de carbonização, indicando maior estabilidade térmica dos materiais
preparados em temperaturas mais altas.
5.3.2 Caracterização dos carvões sulfonados
Após procedimento de sulfonação, realizado nas mesmas condições para
todas as amostras, os carvões sulfonados finais obtidos foram caracterizados por
análise elementar CHNS-O, análise termogravimétrica, espectroscopia no infra-
vermelho e difração de raios x.
Os resultados da análise elementar CHNS-O podem ser visualizados na
Tabela 40.
Tabela 40: Dados de análise elementar CHNS-O de amostras de carvão sulfonado.
Amostra C %m/m H %m/m N %m/m O %m/m S %m/m
CAS030 76.7 1.6 1.3 11.5 1.4
CAS037 47.3 3.0 1.1 36.5 3.6
CAS032 46.5 3.4 0.8 38.3 3.4
CAS035 52.2 2.8 1.0 36.2 3.1
CAS066 74.8 2.3 2.2 14.6 1.6
Observa-se que, com exceção a amostra CAS-030, todas as demais tiveram
seu teor de oxigênio elevado após a sulfonação. O incremento do teor de oxigênio
não pode ser explicado apenas pelos grupos sulfônicos presentes, portanto o
tratamento com ácido sulfúrico também foi um processo oxidativo do carvão,
gerando outros grupos oxigenados.
Baseado no teor mássico de enxofre pode-se obter a quantidade de moles de
204
grupos sulfônicos presentes nos carvões. Esta metodologia leva em consideração
que todos os átomos de enxofre presentes estão em grupos sulfônicos. Para
confirmar esta afirmação seria necessária a utilização da técnica de espectroscopia
de fotoelétrons (XPS) que não estava disponível. No entanto esta consideração é
extremamente plausível visto que em praticamente toda a literatura os ensaios de
XPS mostram que o enxofre está neste tipo de grupamento, de tal forma que em
vários artigos o teor de grupos sulfônicos é calculado diretamente do teor mássico
de enxofre sem nenhuma referência a análise XPS. Na Tabela 41 pode-se visualizar
o teor de grupos sulfônicos obtidos nas amostras.
Tabela 41: Concentrações de grupos sulfônicos.
Amostra SO3H (mmol/g) SO3H (%m/m)
CAS030 0.44 3.6
CAS037 1.13 9.1
CAS032 1.06 8.6
CAS035 0.98 7.9
CAS066 0.49 4.0
A partir da Tabela 41 pode-se perceber que os maiores teores de grupos
sulfônicos foram obtidos para as amostras CAS037 e CAS032 que foram geradas a
partir de carbonizados a 300 e 350°C respectivament e. Foi observado o mesmo
comportamento indicado na literatura, que informa que, em temperaturas baixas de
carbonização, muitos produtos de degradação permanecem na estrutura
carbonácea, não permitindo uma sulfonação completa do material. Já em
temperaturas elevadas ocorreria o aumento do tamanho e da organização das folhas
aromáticas, de forma que os sítios para deposição dos grupos sulfônicos estejam
menos acessíveis, o que também leva a uma sulfonação em menor proporção. Uma
maior temperatura de carbonização também torna a estrutura carbonácea mais
rígida, o que dificulta a entrada de reagentes para acesso aos sítios ácidos
(OKAMURA et al, 2006, LOU et al, 2012, SHU et al, 2010 e BENAK et al, 2002)
.Desta forma, observa-se um ponto de máxima eficiência para a sulfonação da
casca de palmiste carbonizada, e este valor parece situar-se na faixa de 300-350°C,
como pode ser visto na Figura 79.
Os valores obtidos para a concentração de grupos sulfônicos estão de acordo
com a faixa reportada na literatura para diversos materiais e condições de
sulfonação, como pode ser visto na Tabela 42. Maiores concentrações de grupos
sulfônicos parecem ser possíveis mediante a utilização de condições mais drásticas
de sulfonação, como maiores temperaturas e tempos e a utilização de ácido
205
sulfúrico fumegante, já que os carvões sulfonados apresentados neste trabalho
foram preparados a 120°C, por 6h com ácido sulfúric o concentrado.
Tabela 42: Valores típicos de concentração de grupos sulfonicos e temperatura ótima de carbonização na
literatura. Referência Precursor Sulfonação Teor de
SO3H
(mmol/g)
Temp. de
carbonização
(°C)
OKAMURA et
al, 2006
Glicose 150°C 15h
H2SO4
(fumegante)
1.34 400
OKAMURA et
al, 2006
Glicose 150°C 15h
H2SO4 (conc.)
0.74 400
LOU et al,
2008
Glicose
Sacarose
Celulose
Amido
150°C 15h
H2SO4
(fumegante)
1.47-1.83 400
XU et al, 2008 Bambu 80°C 2h H 2SO4 +
20% SO3
1.4 80 (em
H2SO4)
ZONG et al,
2006
Glicose 150°C 15h
H2SO4 (conc.)
1.5 400°C
MO et al, 2008 Glicose 150°C 15h
H2SO4
(fumegante)
0.64 400°C
HARA et al,
2010
Celulose 150°C 15h
H2SO4
(fumegante)
1.2 400°C
LIU et al, 2010 Carvão
ativado
4benzeno-
diazoniosulfonato
4°C
0.64 -
LOU et al,
2012
Bagaço de
cana
150°C 15h
H2SO4 conc.
1.06 375°C
Em relação à temperatura de carbonização, como pode ser visto na Tabela
42, a maioria dos trabalhos reporta valores de 400°C como temperatura ótima de
carbonização para materiais como glicose, celulose e sacarose. Poucos trabalhos
com resíduos lignocelulósicos estão disponíveis. Neste sentido Lou et al, (2012)
publicaram trabalho onde a temperatura ótima de carbonização obtida para bagaço
de cana foi de 375°C, valor mais próximo ao obtido neste trabalho para casca de
206
palmiste. De acordo com os resultados obtidos e a comparação com a literatura
pode-se concluir que a temperatura ótima de carbonização depende da matéria
prima empregada. Apesar disso, a faixa ótima é relativamente estreita situando-se
entre 300 e 400°C.
Teor de S x Temperatura de carbonização
1
1.5
2
2.5
3
3.5
4
200 250 300 350 400 450 500 550 600
Temperatura de carbonização (°C)
Teo
r de
enx
ofre
(%
m/m
)
Figura 79: Teor mássico de enxofre em função da temperatura de carbonização.
A análise termogravimétrica dos carvões sulfonados foi realizada buscando-
se avaliar a hidrofilicidade dos carvões, assim como a estabilidade dos grupos
sulfônicos. Os resultados obtidos podem ser visualizados na Tabela 43.
Tabela 43: Dados de TGA de amostras dos carvões sulfonados
Amostra Perda de massa
(<150°C) %m/m
Perda de massa
(150<T<300)
%m/m
Resíduo
(1000°C)
%m/m
CAS030 14.0 9.7 42.5
CAS037 9.9 9.6 45.4
CAS032 17.5 10.0 40.4
CAS035 15.5 6.4 48.0
CAS066 6.9 4.0 75.6
Observa-se pela massa perdida até 150°C, que é cara cterística de água, que
207
os carvões sulfonados tiveram sua característica hidrofílica aumentada em mais de 3
vezes em comparação com os carbonizados que lhes deram origem. Esta
observação está de acordo com o aumento do teor de oxigênio também observado,
o que aumenta a polaridade da superfície tornando-a mais atrativa para as
moléculas de água.
Outra observação interessante diz respeito ao resíduo dos carvões, com
exceção a amostra CAS030, cujo carbonizado original foi preparado a temperatura
muito branda, todas as demais tiveram sua estabilidade térmica reduzida após a
sulfonação, apresentando resíduos do tratamento térmico a 1000°C inferiores aos
seus carbonizados de origem, mostrando que o tratamento com ácido sulfúrico não
apenas introduz grupos sulfônicos mas também promove reações, como a oxidação,
que reduzem a estabilidade térmica do material.
A faixa de temperatura entre 150 e 300°C é especial mente interessante neste
trabalho porque há referência na literatura que nessa faixa é observada a
decomposição de grupos sulfônicos, mais especificamente na temperatura de 250°C
(KASTNER et al, 2012). De fato, observa-se na Figura 80 que parece haver uma
correlação entre o teor mássico de grupos sulfônicos e a perda de massa nesta faixa
de temperatura. Quanto maior a temperatura de carbonização aplicada mais estável
é a estrutura carbonácea na faixa 150-300°C, com is so toda a perda de massa está
relacionada com os grupos sulfônicos, devido a isso a amostra CAS066 apresenta
uma correlação perfeita entre os dois dados. No extremo oposto a amostra
carbonizada a menor temperatura (CAS030) ainda possui parte considerável instável
em temperaturas da ordem de 150-300°C, com isso a p erda de massa observada
nessa faixa é a soma de grupos sulfônicos com carbono volátil sendo removido.
Adicionalmente, é interessante notar que em todas as amostras foi observado um
pico de decomposição, mais bem definido na amostra CAS066, em temperaturas de
250°C sendo mais um indicativo da decomposição dos grupos sulfônicos reportada
na literatura.
Em relação a estabilidade térmica dos grupos sulfônicos não foi observada
variações entre as amostras, já que todas apresentaram pico de decomposição na
mesma temperatura.
208
0.0%
2.0%
4.0%
6.0%
8.0%
10.0%
12.0%
14.0%
CAS 030 CAS 037 CAS 032 CAS 035 CAS 066
%m
/m
SO3H %m/m TGA 150-300°C
Figura 80: Dados de TGA 150-300°C e concentração mássica de grupos sulfônicos.
O difratograma das amostras de carvão sulfonado, disponível na Figura 81
mostra duas bandas uma de 10-30° com baixa intensid ade e outra banda entre 35-
50°C bastante tênue, ambas atribuídas a carbono amo rfo em folhas de carbono
aromático policíclico orientadas de forma aleatória (KITANO et al, 2009, NAKAJIMA
et al, 2012).
Esperava-se que com o aumento da temperatura de carbonização as bandas
observadas apresentassem maior intensidade e fossem mais estreitas, indicando
maior organização e crescimento das folhas aromáticas, o que seria indesejável
para o sucesso da etapa de sulfonação. Porém, este comportamento só foi
observado para a amostra CAS-066 que havia sido carbonizada na maior
temperatura. Para as demais amostras não houve variação que fosse possível
observar pela técnica de difração de raios X.
209
Figura 81: Difração de raios X dos carvões sulfonados.
Buscando-se verificar qualitativamente a composição superficial das amostras
de carvão sulfonado foram realizadas análises de espectroscopia no infra-vermelho.
Conforme pode ser observado na Figura 82 as amostras apresentaram
bandas em 1035, 1200, 1615, 1708, 3413
As bandas em 1035 e 1200cm-1 são correlacionadas a presença de grupos
sulfônicos (ORMSBY, KASTNER e MILLER, 2012, ZHANG et al, 2010, GUO, XIU e
LIANG, 2012).
Já a banda a 1708 cm-1 é correlacionada pela maioria dos autores com o
grupo carbonila (C=O) em grupos ácido carboxílico (-COOH), exceto no trabalho de
ZONG et al, (2007) que também correlacionou essa banda aos grupos sulfônicos.
A banda presente em 3413 cm-1 pode ser atribuída a hidroxila fenólica ou a
hidroxila em grupos ácido carboxílicos (-COOH) (CHEN e FANG, 2011). A banda em
1615 cm-1 é característica da ligação C=C em compostos poliaromáticos, já
esperada em material carbonizado.
Os resultados indicam que os grupos sulfônicos superficiais foram obtidos.
Além disso, a presença de grupos ácidos carboxílicos também foi confirmada,
podendo ser esta a forma de parte do oxigênio presente nas amostras. O espectro
de infra-vermelho se apresenta com número muito mais reduzido de bandas em
relação à casca de palmiste in natura, sendo praticamente todas as bandas
identificadas acima. Com isso, pode-se prever que não exista na superfície do
material uma grande variedade de grupos oxigenados, sendo os mais prováveis as
hidroxilas, ácido carboxílicos e os grupos sulfônicos.
210
Figura 82: Espectros de infra-vermelho dos carvões sulfonados.
5.3.3 Testes de hidrólise de celobiose
Os carvões sulfonados preparados foram utilizados para a reação de hidrólise
de celobiose. Todos os testes foram realizados em duplicata e os resultados
reportados são as suas médias.
Observa-se na Figura 83 que parece existir uma dependência entre o teor de
grupos sulfônicos presentes nos carvões sulfonados e o nível de conversão
alcançado.
211
y = 0.2615x + 0.4958
R2 = 0.9271
50.0%
55.0%
60.0%
65.0%
70.0%
75.0%
80.0%
85.0%
0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10 1.20
Teor de grupos sulfônicos (mmol SO 3H/g)
Con
vers
ão (
%)
Figura 83: Evolução da conversão em função da quantidade de grupos sulfônicos presentes.
Para os carvões sulfonados o teor de grupos sulfônicos presentes parece ser
a variável mais importante para a ocorrência das reações de hidrólise de celobiose.
Porém, quando comparados com outros materiais podemos perceber que o teor de
grupos sulfônicos sozinho não explica o sucesso da aplicação dos carvões
sulfonados na hidrólise de celobiose.
Como referência foi utilizada a resina sulfônica Amberlyst 36 que possui 5,4
mmol/g de grupos sulfônicos. Esta resina apresentou uma conversão média de 79%.
Apesar de possuir quase 5 vezes o teor de grupos sulfônicos do melhor carvão
sulfonado obtido, sua conversão foi alguns pontos percentuais inferior. De fato,
resultados similares são amplamente observados na literatura (KITANO et al, 2009 ,
SUGANUMA et al, 2008, HARA et al, 2010a) e a explicação mais aceita para este
fenômeno está na existência de outros grupos oxigenados nos carvões sulfonados
que interagem com a molécula de celobiose através de pontes de hidrogênio. Esta
interação provoca a perda das pontes de hidrogênio inter e intra-moleculares
observadas nas moléculas de celobiose, que protegem a ligação β-1,4-glicosídica,
tornando-a mais facilmente hidrolisável.
Shuai e Pan, (2012) correlacionaram este mecanismo de reação com o
observado para enzimas do tipo celulase, onde existem dois sítios ativos, o primeiro
sendo chamado o domínio de ligação que seria o equivalente aos grupos
oxigenados dos carvões sulfonados e o domínio catalítico que efetivamente promove
212
a hidrólise e seria o equivalente aos grupos sulfônicos dos carvões.
Foi realizado teste de adsorção de celobiose a 25°C e foi observado que 3 a
4% da celobiose foram adsorvidas pelos carvões sulfonados nesta temperatura. Não
foi observada adsorção para a resina Amberlyst 36. Os resultados estão de acordo
com o observado por Kitano et al, (2009) e Ormsby, Kastner e Miller, (2012) que
observaram 2 a 4% de celobiose adsorvida em carvões sulfonados e
correlacionaram este fato a sua taxa de reação de hidrólise elevada em comparação
a outros sólidos ácidos.
A partir dos dados de conversão e quantidade de sítios sulfônicos disponíveis
foi calculado o número de rotação (do inglês turnover number), que corresponde ao
número de moléculas de celobiose convertidas por sítio catalítico ativo.
De forma interessante, verifica-se na Figura 84 que com o aumento do
número de sítios ativos o número de rotação cai.
Uma possível explicação seria que quando há menos sítios os que existem
ficam em posições privilegiadas e são mais ativos para a hidrólise. Com isso, o
aumento do número de sítios ativos não é proporcional ao aumento da atividade
catalítica, devido aos sítios adicionais serem menos ativos. Uma maior densidade de
sítios ativos também pode dificultar o processo de adsorção da celobiose e desorção
de glicose, reduzindo a velocidade destes fenômenos, o que por fim provocaria uma
redução do número médio de moléculas de celobiose convertidas por sítio.
Outra hipótese é que os catalisadores com maior teor de sítios ácidos tenham
ficado limitados pelo equilíbrio termodinâmico entre celobiose e glicose.
y = -5.87x + 10.487
R2 = 0.9757
2.5
3.5
4.5
5.5
6.5
7.5
8.5
0.30 0.40 0.50 0.60 0.70 0.80 0.90 1.00 1.10 1.20
Sítios SO3H
Núm
ero
de r
otaç
ão
213
Figura 84:Relação entre grupos sulfônicos e o número de rotação.
O número de rotação obtido está de acordo com a faixa observada na
literatura, já que Kitano et al, (2009) obtiveram número de rotação de 1.6 em reação
a 90°C com carvão contendo 1,5 mmol/g de grupos sul fônicos. Substituindo o teor
de grupos sulfônicos obtido por Kitano et al, (2009) na correlação linear apresentada
na Figura 84 se obtém um número de rotação calculado de 1.68 que está em
excelente acordo com o número de rotação reportado.
Com relação à seletividade observa-se na Figura 85 que parece existir uma
relação entre a seletividade e a conversão, com a seletividade a glicose tendendo a
100% quando ocorre o aumento da conversão. Porém a diferença de seletividade a
glicose observada entre os carvões é bastante reduzida, se situando na faixa de 5%.
Considerando-se as incertezas analíticas esse valor pode ser ainda menor. Neste
caso o fato mais relevante é que todos os carvões apresentaram uma seletividade a
glicose muito elevada.
94.0%
95.0%
96.0%
97.0%
98.0%
99.0%
100.0%
50.0% 55.0% 60.0% 65.0% 70.0% 75.0% 80.0% 85.0%
Conversão
Sel
etiv
idad
e
Figura 85: Relação entre seletividade e conversão.
Entre os subprodutos identificados observou-se a formação de
aproximadamente 0,2g/L de ácido acético em todas as amostras. Também foi
observada a formação de 5-hidroximetil furfural na faixa de concentração de ppm em
todas as amostras, chegando no máximo a 0,014% de seletividade para o carvão
CAS037 que apresentou a maior conversão.
214
6. CONCLUSÕES
6.1 Carvões ativados de lignina
As avaliações realizadas demonstraram a viabilidade técnica de produzir
carvões ativos de altas superfícies específicas, alcançando valores próximos a 1200
m2/g, a partir de uma corrente residual do processo de produção de etanol de
segunda geração, contendo lignina. Os carvões produzidos apresentaram
características similares aos carvões comerciais de empresas líderes.
Tanto o ácido fosfórico quanto o cloreto de zinco apresentaram-se como boas
opções de agentes de ativação, gerando carvões de alta área superficial em
temperaturas relativamente reduzidas. Para os carvões preparados com cloreto de
zinco, destaca-se que estes apresentaram vantagens como uma superfície
específica superior e uma lavagem mais simples, empregando menor quantidade de
água. Já os carvões preparados com ácido fosfórico apresentaram um tamanho de
poros superior, que pode ser importante para aplicações catalíticas dos carvões.
6.1.1 Adsorção de compostos contendo enxofre
Testes de aplicação dos carvões gerados neste trabalho para remoção de
compostos pesados de enxofre mostraram que existe potencial de uso nesta área.
Os carvões testados apresentaram bom desempenho em comparação com carvões
comerciais.
Quando comparada a outros modelos, a isoterma de Freundlich apresentou
desempenho ligeiramente superior para o ajuste dos dados de adsorção de enxofre,
porém as isotermas de Redlich-Peterson e de Langmuir também demonstraram bom
desempenho.
Futuros trabalhos poderiam investigar carvões com maior proporção de
microporos e a influência de tratamentos superficiais oxidativos e de funcionalização
na capacidade de adsorção de enxofre.
6.2 Carvões ativados de casca de palmiste
A casca de palmiste é um material adequado para a produção de carvões
215
ativados de alta qualidade, tanto por ativação com vapor d’água, quanto com dióxido
de carbono.
Carvões de alta qualidade com superfícies específicas superiores a
1100 m2/g foram obtidos com rendimento em base seca de 7 a 19%, enquanto
carvões de qualidade média com áreas entre 600-800m2/g foram obtidos com
rendimentos em base seca de 24 a 30%. Recomenda-se a realização de uma
avaliação econômica para verificação de qual seria o cenário de maior atratividade,
a produção de carvões de alta qualidade com menor rendimento ou o caso com
qualidade intermediária e elevado rendimento.
A relação entre rendimento mássico e superfície específica parece ser mais
vantajosa para a ativação com CO2. Porém, a ativação com vapor d’água pode ser
realizada em tempos reduzidos em relação ao caso com CO2. Novamente, apenas
um balanço econômico poderia determinar qual a melhor opção.
No conjunto de dados avaliados, a mistura de agentes ativantes
50%CO2/50%H2O não parece apresentar nenhum efeito sinérgico. Outras
proporções entre os agentes ativantes precisam ser testadas para uma conclusão
definitiva.
Carvões preparados com vapor d’água apresentam maior percentual de
mesoporos, podendo ser mais indicados para a utilização como suporte de
catalisadores. Já os preparados com dióxido de carbono se mostraram mais
microporosos, sendo mais indicados para aplicações de separação.
6.3 Hidrólise de celobiose com carvões sulfonados
Nesta etapa do trabalho foi possível obter um sólido ácido altamente ativo
para a reação de hidrólise de celobiose a partir da casca de palmiste.
A conversão de celobiose é diretamente proporcional ao teor de grupos
sulfônicos presentes no carvão, e este teor é dependente da temperatura de
carbonização a qual a matéria prima foi submetida. A temperatura de carbonização
ótima está na faixa de 300-350°C.
Recomenda-se uma avaliação das condições de sulfonação, que foram
mantidas constantes neste trabalho, e a determinação da estabilidade dos sítios
216
ácidos a partir do reciclo do catalisador usado.
Os sólidos ácidos obtidos podem ser utilizados não somente para reações de
hidrólise, mas também em reações de esterificação de ácidos graxos na produção
de biodiesel.
6.4 Global
Neste trabalho foi demonstrada a viabilidade técnica de obtenção de materiais
adsorventes e catalisadores, de alto valor agregado, a partir de resíduos da indústria
de biocombustíveis.
Carvões ativados são materiais de alto valor agregado com mercado
estabelecido e crescente em todo o mundo, e os catalisadores sólidos ácidos são
materiais que estão sob intensa investigação pela comunidade científica atualmente,
sendo vislumbrados como um substituto ambientalmente superior ao ácido sulfúrico
em diversos processos em um futuro próximo.
A valoração de resíduos dos processos de produção de biodiesel e etanol de
segunda geração pode ser uma estratégia inteligente para auxiliar a viabilidade
econômica dessas rotas de obtenção de biocombustíveis, e dessa forma tornar
estas tecnologias menos dependentes de incentivos governamentais.
217
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