valores organizacionais no brasil: uma análise da produção ... · os valores organizacionais...

Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 9, n. 12, p. 43-68, jul./dez. 2012Disponível em: <http://seer2.fapa.com.br/index.php/arquivo>

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Valores organizacionais no Brasil: uma análise da produção científica na área da administração nos últimos 10 anos

Vania de Fátima Barros Estivalete1

Taís de Andrade2

Tarízi Cioccari Gomes3

Vívian Flores Costa4

ResumoO objetivo deste estudo consiste em apresentar o cenário das pesquisas nacionais sobre valo-res organizacionais, incluindo a caracterização da produção, dos aspectos metodológicos e dos temas correlatos. Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliométrica, na qual foram investigados 46 artigos publicados nos principais eventos e periódicos nacionais da área de Administração, no período de 2002 a 2011. O processo de análise dos artigos foi dividido em três etapas: caracterização dos artigos, compreendendo a autoria; aspectos metodológi-cos, incluindo abordagem metodológica, tipo de pesquisa, natureza da pesquisa, instrumento de coleta de dados e objeto de pesquisa; e, temas correlatos, envolvendo as temáticas asso-ciadas aos valores organizacionais. Constatou-se a predominância de artigos empíricos e fo-ram identifi cados três principais autores pesquisadores de valores organizacionais. Teve-se maior concentração de pesquisas quantitativas, com predominância do estudo de caso e pes-quisa survey, sendo o questionário o instrumento de coleta de dados preferencialmente utili-zado. Além disso, os valores organizacionais foram associados, principalmente, às temáticas cultura e identidade organizacional, gestão organizacional e gestão de pessoas.Palavras-chave: Valores organizacionais. Pesquisa bibliométrica. Área da Administração.

Organizational Values in Brazil: an Analysis of the Scientifi c Production in the Management Field in the Last 10 YearsAbstractThe aim of this study is to present the scenario of national research on organizational values including the characterization of production, methodological aspects, and topics related. For this purpose, we performed a bibliometric research to analyze 46 articles published

1 Doutora em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Pro-fessora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail: [email protected].

2 Doutoranda em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Professora da Faculdade Metodista de Santa Maria.

3 Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM.4 Mestranda em Administração pela Universidade Federal de Santa Maria –UFSM.

Vania de Fátima Barros Estivalete, Taís de Andrade, Tarízi Cioccari Gomes e Vívian Flores Costa


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in major events and national journals in the area of Administration, in the period between 2002 and 2011. The review process of articles was divided into three parts: description of articles, including authorship, methodological aspects, including methodological approach, type of research, nature of research, data collection instrument and object of research, and related topics, involving the issues associated with organizational values. Results showed the predominance of empirical articles and identifi ed three main researchers on the subject of organizational values. Also, it was verifi ed that there was a larger number of quantitative research, predominating case studies and survey research, in which questionnaire was the most used instrument for data collection. Moreover, the organizational values were associated mainly with the theme of culture and organizational identity, organizational management and people management.Keywords: Organizational values. Bibliometric survey. Administration area.

Introdução

Os valores assumem um papel central no âmbito das organizações, atuando como elementos integradores e orientadores, à medida que in-fl uenciam o comportamento dos indivíduos e as interações sociais, orientando a vida da empresa. Para Hassan (2007), os valores podem ser considerados convicções e atitudes profundamente enraizadas nas práti-cas organizacionais que constituem um entendimento coletivo das nor-mas e padrões de comportamento aceitáveis dentro da organização.

Os estudos internacionais de Schwartz e seus colaboradores (Schwartz, 1994; Schwartz; BILSKY, 1987) reforçam a importância da temática, enfatizando que os valores transcendem situações específi cas e guiam a avaliação e seleção de comportamentos e eventos, sendo que os tipos motivacionais de valores podem ser universais. Com base na teoria de valores proposta por Schwartz (1992, 1994), Tamayo (2007) afi rma que os valores organizacionais constituem um conjunto dentro do univer-so dos valores, sendo que esses podem ser defi nidos como uma grande tendência nas organizações ao preferir alcançar certos estados e objeti-vos em detrimentos de outros (HOFSTEDE, 1980).

Percebe-se que os valores organizacionais denotam a preferência por certos comportamentos, estratégias e objetivos, constituindo-se em componentes essenciais nas organizações, orientando os indivíduos para um fi m específi co. Posner (2010) destaca ainda que os valores das orga-nizações estão profundamente arraigados, não sendo possível visualizar os próprios valores, e sim as formas através das quais se manifestam, co-mo atitudes, preferências, comportamentos e opiniões. Para o referido autor, os valores silenciosamente orientam as decisões e o funcionamento

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em todos os níveis da organização, sendo considerados o cerne da cultu-ra organizacional.

Sob este enfoque, a principal contribuição dos estudos nacionais desenvolvidos por Tamayo e Gondim (1996), Tamayo, Mendes e Paz (2000) e Oliveira e Tamayo (2004) no âmbito dos valores organizacionais caracteriza-se pela criação de modelos que visam identifi car os valores predominantes de determinada organização com base na percepção dos colaboradores. Na visão desses autores, os valores organizacionais as-sumem sua condição, somente se forem aceitos e compartilhados pelos membros da organização. Nesse sentido Katz e Kahn (1978) afi rmam que a organização possui características antropomórfi cas, já que é consti-tuída por indivíduos e por seus componentes fundamentais (crenças, valo-res, papéis e normas), que existem somente na mente de seus membros.

A partir destas abordagens, os valores das organizações têm sido utilizados para predizer a conduta de seus membros, havendo um cres-cente interesse pela temática valores organizacionais como preditores do comportamento individual e organizacional (HASSAN, 2007; AMOS; WEATHINGHTON, 2008; TAMAYO, 2007; POSNER, 2010; QUEN-NEVILLE; BENTEIN; SIMARD, 2010).

Assim, considerando a relevância que os valores organizacionais têm conquistado no âmbito das investigações em organizações, propõe--se o seguinte questionamento: “Como está o cenário das pesquisas so-bre valores organizacionais, publicadas em eventos e periódicos da área de Administração em nível nacional?”

Frente a esse questionamento, a fi m de contribuir para a exploração do tema, este estudo bibliométrico buscou apresentar o cenário das pes-quisas nacionais sobre valores organizacionais, tendo como objetivos es-pecífi cos:a) analisar as pesquisas sobre valores organizacionais, através da apre-

ciação dos principais eventos e periódicos nacionais da área de Ad-ministração;

b) apresentar uma caracterização da produção, dos aspectos metodo-lógicos de investigação, bem como das temáticas associadas aos estudos sobre valores organizacionais.Para tanto, teve-se como referência os artigos publicados nos últi-

mos dez anos, compreendendo o período de 2002 a 2011, nos eventos da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Admi-nistração (ANPAD) e nos principais periódicos nacionais da área de Ad-ministração.



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Como afi rmam Loiola e Bastos (2003), levantamentos desta natu-reza são particularmente importantes para incentivar a refl exão pelos próprios pesquisadores sobre os desafi os e limites que cercam a sua prá-tica. Além disso, apesar do crescente número de estudos sobre a produ-ção acadêmica em Administração (Tonelli et al., 2003; HOPPEN; MEI-RELLES, 2005; SAMPAIO; PERIN, 2006; DEMO et al., 2011), veri-fi cou-se apenas um estudo considerando as publicações sobre valores organizacionais (FERREIRA; FERNANDES; SILVA, 2009). No entan-to, neste levantamento os autores analisaram o período de 2000 a 2008, incluindo somente alguns periódicos das áreas da Psicologia e Adminis-tração, excluindo os principais eventos da Administração (eventos da ANPAD), os quais representam um importante veículo de divulgação científi ca sobre os trabalhos da área. Além disso, neste trabalho não fo-ram analisados os principais autores e sua procedência, natureza da pes-quisa e objeto de análise, nem o detalhamento das temáticas associadas aos estudos sobre valores organizacionais, o que diferencia a proposta do presente artigo.

Na próxima seção, são abordados os pressupostos relacionados à temática de valores organizacionais. Na seção seguinte, apresentam-se os aspectos metodológicos relacionados à coleta e análise dos dados, pa-ra posteriormente (seção três) analisar os resultados encontrados. Por fi m, a seção cinco apresenta as considerações fi nais acerca do estudo realizado, limitações e sugestões para pesquisas futuras.

1 Valores organizacionais: conceitos e perspectivas

As organizações, caracterizadas como sistemas sociais, buscam redu-zir a variabilidade humana, lançando mão de forças como a imposição de regras, valores e expectativas compartilhadas sobre como agir, visan-do à realização de objetivos comuns (Katz; Kahn, 1978). Assim, os va-lores organizacionais constituem-se em componentes importantes que norteiam as práticas e o comportamento dos colaboradores, expressando a identidade da organização.

Nesse sentido, Tamayo e Gondim (1996) defi nem os valores orga-nizacionais como princípios ou crenças hierarquicamente organizados, relativos a modelos de comportamento desejáveis, os quais orientam a vida da empresa e estão a serviço de interesses individuais, coletivos ou



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mistos. A partir desta defi nição, os autores salientam a importância de alguns elementos dos valores organizacionais como:a) o aspecto cognitivo: ressaltando as crenças valorizadas e enfatiza-

das na vida organizacional, que constituem uma forma de conceber a realidade e a resposta aos problemas da empresa;

b) o aspecto motivacional: expressando os interesses e desejos de in-divíduos específi cos ou de um grupo;

c) a função dos valores: orientando a vida das pessoas e delimitando sua forma de pensar e agir;

d) a hierarquização dos valores: implicando distinção entre o impor-tante e o secundário, ou seja, indicam um grau de preferência por determinados comportamentos metas ou estratégias.Segundo Hassan (2007), os valores organizacionais possuem mui-

tos propósitos, como defi nir o tom do ambiente e obrigações dos indiví-duos no grupo, facilitar a realização do trabalho, orientar comportamen-tos e compartilhar objetivos da empresa. Posner (2010) corrobora esta perspectiva, mencionando, ainda, que os valores fornecem a base para determinar os objetivos de uma organização, o seu posicionamento no mercado e a conduta de seus membros.

Canova e Porto (2010) consideram que os valores organizacionais compartilhados acabam assumindo a função de gerar modelos mentais semelhantes nos colaboradores, constituindo fatores relevantes para a cons-trução da identidade social da organização, com base na percepção de seus colaboradores. Nesse sentido, Siqueira e Vieira (2011) afi rmam que o compartilhamento dos valores na organização, considerados válidos e verdadeiros pelos colaboradores, representam uma cultura forte e uma identidade solidifi cada e reconhecida.

Além disso, os valores organizacionais respondem a três problemas fundamentais que a organização enfrenta:a) a relação entre o indivíduo e o grupo, considerando ser difícil reali-

zar a conciliação das metas e interesses dos indivíduos e do grupo;b) a necessidade de elaborar uma estrutura para garantir o funciona-

mento da organização;c) a relação contínua com o ambiente físico, sociedade e outras orga-

nizações (TAMAYO; MENDES; PAZ, 2000). Conforme os autores, ao tentar dar respostas a estas exigências, as organizações criam padrões de comportamento e valores que expressam os princípios que irão orientar suas rotinas.



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Quanto à identifi cação dos valores organizacionais, Tamayo (2007) afi rma que tradicionalmente existem três estratégias: análise dos documen-tos ofi ciais da empresa, levantamento dos valores pessoais dos colabora-dores e percepção dos membros da organização. Segundo o referido autor, a primeira abordagem pode demonstrar incongruência entre os va-lores apresentados e os que são realmente praticados na organização. Da mesma forma, a segunda perspectiva pode apresentar inconsistência, devido à divergência entre os valores pessoais dos empregados e os va-lores organizacionais, não expressando de forma adequada os valores coletivos da organização. Já a terceira abordagem, desenvolvida parti-cularmente no Brasil, que utiliza a percepção dos trabalhadores para avaliar os valores praticados pela organização, possui a vantagem de uti-lizar observadores internos envolvidos ativamente no processo coletivo, para identifi car as prioridades axiológicas da organização (OLIVEIRA; TAMAYO, 2004).

Tendo como base a percepção dos colaboradores para avaliar os valores da organização, Tamayo e seus colaboradores desenvolveram três escalas: A Escala de Valores Organizacionais (EVO), desenvolvida por Tamayo e Gondim (1996), o Inventário de Valores Organizacionais (IVO), proposto por Tamayo, Mendes e Paz (2000) e o Inventário de Perfi s de Valores Organizacionais (IPVO), de Oliveira e Tamayo (2004). Estas escalas têm sido utilizadas em diversas pesquisas na área de Admi-nistração nos últimos anos (MAIA; OLIVEIRA, 2007; DIAS; MAES-TRO FILHO; MORAES, 2008; CANOVA; PORTO, 2010; SIQUEIRA; VIEIRA, 2011), revelando a importância das contribuições destes estu-dos no contexto nacional.

A partir destas constatações, percebe-se que os valores fazem parte de uma dialética de manutenção e de transformação dos comportamen-tos humanos pela socialização e aprendizagem permanentes, sendo, por isso, valiosos para as instituições que desejam adaptar comportamentos em função de seus interesses (TAMAYO; MENDES; PAZ, 2000). Desta forma, percebe-se que os valores organizacionais exercem funções im-portantes no contexto das organizações, tendo impacto na conduta dos indivíduos e no comportamento organizacional.



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2 Método do estudo

Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa bibliométrica a partir do levantamento de artigos sobre valores organizacionais publi-cados entre 2002 e 2011 nos eventos da Associação Nacional dos Pro-gramas de Pós-Graduação em Administração (ANPAD) e nos periódicos mais expressivos da área da Administração, conforme identifi cado em diversos levantamentos da área (LOIOLA; BASTOS, 2003; TONELLI et al. 2003; DEMO et al., 2011).

Assim, foram pesquisados os artigos sobre valores organizacio-nais publicados nos últimos dez anos, nos seguintes anais e periódicos: Encontro da ANPAD (EnANPAD); Encontro de Estudos Organizacio-nais (ENEO); Encontro de Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho (ENGPR); Encontro de Estudos em Estratégia (3Es); Revista de Admi-nistração de Empresas (RAE) e RAE Eletrônica; Revista de Adminis-tração Contemporânea (RAC) e RAC Eletrônica; Organizações e Socie-dade (O&S); Revista de Administração (RAUSP); Revista Eletrônica de Administração da UFRGS (REAd); Revista de Administração Mackenzie (RAM) e; Cadernos da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Cadernos EBAPE.BR).

Ressalta-se ainda, que os periódicos Cadernos EBAPE.BR pas-saram a disponibilizar seus números eletronicamente a partir de 2003, sendo analisados os artigos a partir deste ano. Da mesma forma, o perió-dico RAC Eletrônica, teve seu primeiro número publicado em 2007 e seu último número em janeiro de 2009, sendo analisado somente este período. Em relação aos eventos, destaca-se que o EnGPR teve sua pri-meira edição em 2007 e o 3Es em 2003, sendo que estes eventos e tam-bém o ENEO, ocorrem a cada dois anos. Assim, foram analisados os ar-tigos a partir destes períodos.

Em um primeiro estágio, foram selecionados os artigos que apre-sentavam no título, resumo ou no conjunto de palavras-chave, as expres-sões “valores”, “valores organizacionais” e “valores das organizações”. Nesse estágio, foram identifi cados 55 artigos. No segundo estágio, os textos pré-selecionados foram lidos integralmente. Após essa leitura, nove foram descartados do conjunto inicial, uma vez que fi cou evidente que tratavam de assuntos não relacionados com a abordagem específi ca dos valores organizacionais.

Verifi cou-se, também, a ocorrência de dois artigos publicados em duplicidade nos veículos pesquisados, o que pode ser explicado pela



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análise simultânea dos anais de congressos e revistas científi cas. Assim, da mesma forma que Loiola e Bastos (2003), optou-se por manter as referências conforme identifi cadas, tendo em vista que, dadas as suas distintas naturezas, a supressão de artigos publicados em diferentes veí-culos diminuiria a visibilidade do alcance conquistada pelo tema. As-sim, 46 artigos constituíram o universo de artigos analisados, sendo 6 artigos teóricos e 40 empíricos. No terceiro estágio, os 46 artigos foram analisados com base em um roteiro de análise, formulado especialmente para esta pesquisa.

Esse roteiro de análise reuniu um conjunto de itens que avaliam cada artigo em três dimensões. A primeira dimensão compreende uma caracterização geral do trabalho por meio da classifi cação dos autores e da identifi cação das instituições de origem. A segunda focaliza aspectos de conteúdo metodológico, baseando-se no guia de avaliação de artigos de pesquisa proposto por Hoppen, Lapointe e Moreau (1996) e na adap-tação das classifi cações adotadas por Hoppen e Meireles (2005) e Sam-paio e Perin (2006), os quais classifi cam as metodologias de pesquisa em abordagem, tipo de pesquisa, natureza e instrumento de coleta de dados. Ainda nesta dimensão, foi incluída a categoria objeto de análise, visando identifi car o nível de análise empregado nos estudos realizados. Por fi m, a terceira dimensão, identifi ca aspectos relacionados às temá-ticas associadas aos estudos sobre valores organizacionais.

Assim, o processo de análise dos artigos foi divido em três etapas, con-forme especifi cação do roteiro de análise dos artigos ilustrado no Quadro 1.

Os 46 artigos selecionados foram analisados e classifi cados de for-ma independente por três pesquisadores, conforme os referidos critérios. Concluída a classifi cação individual, os resultados foram confrontados, não havendo divergência de classifi cação entre os pesquisadores. No en-tanto, identifi cou-se em alguns artigos que a especifi cação de alguns as-pectos metodológicos utilizados não estava descrita de forma específi ca, sendo necessária a interpretação e análise dos pesquisadores para reali-zar a classifi cação. Como afi rma Hoppen, Lapointe e Moreau (1996), cada pesquisador que fez o exercício de avaliar formalmente o conteúdo de um artigo científi co sabe que grande parte dos artigos publicados não anun-ciam de modo explícito os métodos de pesquisa utilizados, negligencian-do certos detalhes essenciais para a avaliação da pesquisa, o que torna difícil a apreciação do estudo. Ressalta-se ainda, que os quatro artigos teó-ricos foram analisados somente a partir da primeira e terceira dimensões, tendo em vista a especifi cidade das pesquisas.



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Quadro 1 – Roteiro de análise dos artigos pesquisados

Classifi cação das categorias analíticas

Primeira DimensãoCaracterização dos artigos

AutoriaAutores; Instituição de Ensino Superior (IES)

Segunda DimensãoAspectos metodológicos

Abordagem metodológica

Qualitativa; Quantitativa; ou Qualitativa/quantitativa

Tipo de pesquisa

Survey; Experimental; Estudo de caso único; Estudo de caso múltiplo; ou Pesquisa Ação

Natureza da pesquisaExploratória; Descritiva; Exploratório-descritiva; ou causal

Instrumento de coleta de dados

Entrevista; Questionário; Secundários; Primários e Secundários; ou Multimétodos

Objeto de análise Indivíduo; Grupo; ou Organização

Terceira DimensãoTemas correlatos

Conteúdo temáticoTemáticas associadasaos valores organizacionais

Fonte: Elaborado a partir de Hoppen, Lapointe e Moreau (1996); Hoppen e Meirelles (2005); Sampaio e Perin (2006).

3 Análise de resultados

Os resultados permitiram identifi car 46 artigos que abordaram o tema valores organizacionais no período correspondente aos anos de 2002 a 2011 nos eventos da ANPAD e nos periódicos nacionais pesqui-sados. Tal fato remete a compreensão de que, mesmo sendo reconhecida a grande relevância da temática pela literatura administrativa e organiza-cional, há um número reduzido de investigações, principalmente empíricas, no contexto nacional acerca do assunto. Da mesma forma, no contexto internacional, Der Wal, Graaf e Lasthuizen (2008) mencionam também que há uma carência de estudos empíricos sobre o tema.

Destaca-se ainda, que o número de artigos obtido neste levanta-mento foi distinto dos resultados encontrados por Ferreira, Fernandes e Silva (2009) nos periódicos da área de Administração (especifi camente nos periódicos RAC, RAE, RAM e Revista Organizações e Sociedade). Tal fato pode estar associado ao critério de seleção dos artigos, pois os autores selecionaram os trabalhos que continham no resumo, no título



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ou nas palavras chave os termos “valores”, “cultura ou cultural”, bem co-mo as expressões “valores organizacionais” e “cultura organizacional”, o que pode ter incluído artigos que faziam apenas alguma menção ao tema valores organizacionais. Além disso, neste levanta-mento, o período de investigação corresponde aos anos de 2000 a 2008, diferindo do presen-te estudo.

Visando garantir a profundidade na análise destes artigos, optou-se por organizar os resultados da pesquisa em três partes. A primeira abor-da a caracterização da produção e a autoria, enquanto a segunda apre-senta aspectos relacionados à metodologia dos estudos, envolvendo a abordagem, o tipo e a natureza de pesquisa, o instrumento de coleta de dados e o objeto de análise. Já a terceira, apresenta como foco a análise do conteúdo das pesquisas, centrando-se nas temáticas associadas aos valores organizacionais.

3.1 Caracterização da produção e autoria

Inicialmente constatou-se que na maioria os artigos analisados fo-ram classifi cados como empíricos (86,9%) e apenas 6 artigos (13,1%) como teóricos. Através da análise dos eventos e periódicos selecionados, constatou-se que os artigos relacionados à temática valores organizacio-nais, no período mencionado, foram divulgados em quatro eventos da ANPAD e em oito periódicos da área. Desta forma, na Tabela 1, ilustra-da a seguir, foram incluídos somente os eventos e periódicos onde cons-tava algum artigo publicado.

A análise dos veículos de divulgação selecionados permitiu identi-fi car que as publicações, sobre a temática valores organizacionais con-centram-se nos anais dos eventos, representando 65,2% dos artigos analisados, destacando-se o maior número de pesquisas nos anais do EnANPAD (50%), como ilustra a Tabela 1. Nesse sentido, ressalta-se a relevância dessa temática em eventos nacionais, principalmente em rela-ção ao EnANPAD, considerado de grande destaque na área de pesqui-sas em Administração. Outros pesquisadores, como Lunardi, Rios e Ma-çada (2005), encontraram resultados semelhantes em seus estudos, nos quais 70% das pesquisas sobre sistemas de informação foram publica-das neste evento. Na visão de Loiola e Bastos (2003), a concentração de publicações nos anais do EnANPAD refl ete a maior fl exibilidade des-se veículo, pois comporta maior número de artigos publicados simulta-



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neamente, bem como, tradicionalmente, acolhe temas emergentes e no-vas abordagens, constituindo-se em mecanismo de renovação do campo.

Tabela 1 – Relação de eventos e periódicos e artigos avaliados

Anais

de eventos/

Periódicos

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Total %

EnANPAD 1 3 0 4 2 1 3 4 3 2 23 50,0%

EnGPR 1 0 1 2 4,3%

ENEO 0 0 2 1 1 4 8,7%

3ES 0 0 1 0 0 1 2,2%

O&S 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 2 4,3%

REAd 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 2,2%

RAC 0 0 0 2 1 1 0 1 0 0 5 10,9%

RAC-e 1 0 0 1 2,2%

RAE-e 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 2,2%

RAUSP 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 2,2%

EBAPE 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2,2%

RAM 0 0 0 1 0 0 0 1 2 0 4 8,7%

Total 1 4 3 7 5 5 4 7 7 3 46 100%

Fonte: Elaborado pelos autores, com base nos dados da pesquisa.

Quanto aos periódicos pesquisados, constatou-se que os maiores percentuais foram encontrados na RAC (11%) e na RAM (9%). Outros periódicos também apresentaram algumas publicações sobre o tema valores organizacionais. A O&S obteve percentual de 4% em seus regis-tros; enquanto as outras revistas pesquisadas – REAd, RAC-e, RAE-e, EBAPE e a RAUSP – apresentaram somente 2% de publicações sobre o assunto abordado.

De maneira geral, percebe-se que os periódicos da área têm con-centrado poucos estudos sobre a temática durante o período analisado (34,8%), comparado aos eventos, sendo a revista RAC o principal veícu-lo de divulgação. Nesse sentido, a reduzida presença de artigos nos prin-cipais periódicos da área da Administração sugere que a maior parte da produção comunicada em congressos não está sendo transformada em tex-tos competitivos para a publicação nos periódicos nacionais dessa área.



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No entanto, ressalta-se que os valores têm sido amplamente dis-cutidos pela Psicologia, recebendo múltiplas abordagens ao longo da his-tória (ROCKEACH, 1968; HOFSTEDE, 1980; SCHWARTZ, 1992), inclusive no contexto organizacional. Além disso, devido ao caráter in-terdisciplinar da área de Administração, evidenciado especialmente pela expressiva interface com a Psicologia (LOIOLA; BASTOS, 2003), pres-supõe-se que as publicações sobre a temática possam também estar vinculadas aos periódicos desta área afi m, como ilustra o estudo de Fer-reira, Fernandes e Silva (2009). Tal fato pode ter contribuído para o re-duzido número de artigos nos periódicos da Administração.

Em relação à autoria dos trabalhos, constata-se que há três prin-cipais autores pesquisadores dessa temática – Maria Luisa Mendes Tei-xeira, Álvaro Tamayo e Silvia Marcia Russi De Domenico. O primeiro deles publicou 13 trabalhos sobre esse assunto, concentrando 28,26% das publicações, sendo estes artigos pertencentes à universidade MACKENZIE--SP. Os outros autores, Álvaro Tamayo e Silvia Marcia Russi De Dome-nico publicaram sete artigos cada um, sendo que os demais pesquisa-dores obtiveram 4 publicações. A Tabela 2 demonstra os 10 autores que mais publicaram sobre a temática nos anais e periódicos consultados.

Tabela 2 – Principais autores e número de publicações nos eventos e periódicos

Autores Nº de publicações por autor

Maria Luisa Mendes Teixeira (MACKENZIE-SP) 13

Álvaro Tamayo (UNB) 7

Silvia Marcia Russi De Domenico (MACKENZIE-SP) 7

Andréa Cherman (PUC-RJ) 4

Antonio Del Maestro Filho (UFMG) 4

Devanir Vieira Dias (UFMG) 4

Diógenes de Souza Bido (MACKENZIE-SP) 4

Elaine Rabelo Neiva (UNB) 4

Maria das Graças Torres da Paz (UCB-DF) 4

Patrícia Amélia Tomei (PUC-RJ) 4




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Além disso, realizou-se uma seleção das instituições de ensino su-perior proeminentes na relação de artigos no período de 2002-2011, rela-cionadas na Tabela 3. Destaca-se que o número total de artigos não cor-responde ao número de publicações analisadas nesse estudo (46), visto que alguns artigos foram oriundos de autores de instituições distintas. Acrescenta-se ainda, que algumas instituições de ensino superior inse-ridas no contexto das publicações acerca do tema valores organizacio-nais apareceram somente uma vez no total de publicações analisadas nesse levantamento, não sendo descritas na referida análise.

Tabela 3 – Principais instituições que abordaram o tema e número de artigos em eventos e periódicos

Instituições de Ensino Superior Nº artigos

MACKENZIE-SP 10

UNB 10

UFMG 5

USP 4

UFSM 3

UCB 3


A Universidade Mackenzie de São Paulo e a Universidade de Bra-sília destacaram-se com o maior número de publicações em comparação com as demais. Ressalta-se, ainda, que a maioria dos artigos sobre a temática provém de apenas três instituições – UNB, MACKENZIE-SP e UFMG. Resultados semelhantes foram encontrados no trabalho de Tonelli et al. (2003), no qual mais de 50% das pesquisas na área de RH também concentraram-se em apenas três programas.

No entanto, esta análise deve ser vista com cautela, uma vez que possui as limitações de excluir pesquisadores que divulgam seus traba-lhos em outros veículos não analisados, como livros e periódicos de ou-tras áreas, bem como veículos internacionais. Outro fato, é que a análise é restrita aos últimos 10 anos e, consequentemente, desconsidera as pu-blicações anteriores.



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3.2 Perfil metodológico dos estudos sobre valores organizacionais

Nesta seção são analisados os 40 estudos empíricos publicados nos anais dos eventos da ANPAD e nos principais periódicos nacionais da área da Administração. Como as análises correspondem às dimensões aspectos metodológicos e temas correlatos, foram incluídos somente os artigos empíricos, tendo em vista que os artigos teóricos não possuem estas categorias analíticas.

3.2.1 Abordagem metodológica

Na análise realizada nesses estudos, em relação à abordagem da pesquisa houve a predominância das pesquisas quantitativas. No total, a metodologia quantitativa representou 60%, a qualitativa 20% e a quali-tativa e quantitativa também 20%, conforme apresenta a Tabela 4.

Tabela 4 – Abordagem de pesquisa

Abordagem 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Total %

Qualitativa 1 2 1 1 1 0 1 1 0 0 8 20%

Quantitativa 0 1 1 5 2 2 2 4 5 2 24 60%

Qualitativa– quantitativa

0 0 1 1 0 3 0 1 2 0 8 20%

Total 1 3 3 7 3 5 3 6 7 2 40 100%


Como pode ser percebido na Tabela 4, os resultados deste estudo evidenciaram o predomínio das pesquisas quantitativas, considerada co-mo metodologia que impõem a estrutura pré-determinada ao respondente, sendo indicado quando já se tem mais informações sobre o problema a ser estudado (RICHARDSON, 1999), o que remete a compreensão de que os estudos sobre a temática buscam maior amplitude e abrangência dos resultados.

Estas constatações contrastaram com os resultados encontrados por Demo et al. (2011), através de um levantamento acerca do cenário dos estudos sobre gestão de pessoas, nos quais incluem-se temas relaciona-dos ao comportamento organizacional, como valores organizacionais, onde houve o predomínio dos estudos qualitativos (53,53%).



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3.2.2 Tipo de pesquisa

Em relação aos tipos de pesquisa, percebe-se uma predominância de estudos de caso (50%), considerando os estudos de caso único e múl-tiplo, e da pesquisa survey (50%). No entanto, a equidade entre estes ti-pos de pesquisa, deu-se a partir do ano de 2005, quando houve uma evolução do uso da pesquisa survey, como demonstra a Tabela 5.

Tabela 5 – Tipos de pesquisa

Tipo

de pesquisa2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Total %

Survey 0 0 1 4 2 3 2 3 4 1 20 50%

Experimental 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0%

Estudo de caso único

1 2 2 2 0 1 1 2 2 1 14 35%

Estudo de caso múltiplo

0 1 0 1 1 1 0 1 1 0 6 15%

Pesquisa-Ação 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0%

Total 1 3 3 7 3 5 3 6 7 2 40 100%


Referindo-se ao estudo de caso, identifi cou-se que os estudos de caso único sobressaem em relação aos estudos de caso múltiplo. Confor-me Yin (2010), o estudo de caso é uma investigação empírica adequada a se aplicar na tentativa de explicar ligações causais em situações da vida real, pois estas são complexas demais para o tratamento por meio de estratégias experimentais ou de levantamento de dados. E, segundo o autor, a constatação de uma maior preferência ao estudo de caso único pode ser explicada devido à vontade dos autores em determinar se as pro-posições de uma teoria são corretas, quando não existem muitos casos semelhantes, para efeitos comparativos, ou quando o caso permite aces-so a informações não disponíveis facilmente.

Por outro lado, a pesquisa experimental e a pesquisa-ação não fo-ram utilizadas em nenhum dos estudos analisados. O baixo número de pes-quisas experimentais e causais pode estar relacionado à difi culdade da área em obter uma estrutura adequada e recursos sufi cientes, pois nestas pesquisas os fenômenos são estudados nas condições determinadas pelo



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experimentador, exigindo o planejamento e controle rigoroso das variá-veis (HOPPEN ; MEIRELES, 2005).

Dessa forma, os resultados encontrados seguem a mesma tendência dos resultados descritos por Medeiros e Oliveira (2009) em um estudo da área sobre Qualidade de Vida no Trabalho, no qual predominaram os estudos de caso (43%) e as pesquisas survey (46%). Da mesma forma, Sampaio e Perin (2006) constataram, através de um levantamento de ar-tigos da área de marketing no período de 1990 a 2005, o fortalecimento das pesquisas do tipo survey ao longo dos anos.

Ainda, como pode ser observado na Figura 1, nas pesquisas survey e nos estudos de caso analisados predominam a abordagem quantitativa (90% e 43%, respectivamente), o que evidencia uma tendência de estu-dos positivistas, que analisam a realidade concreta com base na análise predominantemente quantitativa (Morgan, 1980). Nesse sentido, Aguinis et al. (2009) destacam que nos estudos da área da Administração há um predomínio na comunidade científi ca dos estudos associados ao para-digma positivista, o que foi confi rmado neste levantamento.

Figura 1 – Tipos de Pesquisa e Abordagem


3.2.3 Natureza da pesquisa

Nos artigos empíricos investigados, quanto à natureza da pesquisa, predominaram os estudos descritivos (53%), seguidos da pesquisa explo-ratório-descritiva (30%) e da pesquisa exploratória (17%), conforme apre-sentado na Tabela 6.



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Tabela 6 – Natureza da pesquisa

Natureza

da pesquisa2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Total %

Exploratória 1 0 2 1 1 1 1 0 0 0 7 17%

Descritiva 0 2 0 3 1 3 2 3 6 1 21 53%

Exploratório--descritiva

0 1 1 3 1 1 0 3 1 1 12 30%

Causal 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0%

Total 1 3 3 7 3 5 3 6 7 2 40 100%


A realização de uma pesquisa descritiva, segundo Trivinõs (2007), exige do pesquisador uma série de informações sobre o que se deseja pes-quisar, tendo como principais objetivos informar o pesquisador sobre situações, fatos, opiniões ou comportamentos da população analisada, buscando mapear a distribuição de um fenômeno. Por outro lado, a pes-quisa exploratória visa aprofundar conceitos preliminares, muitas vezes inéditos (HOPPEN; LAPOINTE; MOREAU, 1996), objetivando a apro-ximação do pesquisador com o fenômeno, para que este identifi que as ca-racterísticas e especifi cidades do tema a ser explorado (RICHARDSON, 1999).

Assim, os dados da pesquisa sugerem uma evolução parcial das pes-quisas sobre valores organizacionais, pois a preocupação pela descober-ta de novas abordagens, associadas às pesquisas exploratórias, está sen-do substituída gradualmente pela confi rmação dos dados já explorados através de estudos descritivos. Esta evidência é comprovada também nos estudos realizados por Hoppen e Meirelles (2005) e Lunardi, Rios e Maçada (2005) que apontam uma tendência decrescente das pesquisas exploratórias e crescentes para pesquisas descritivas em outras áreas da Administração.

3.2.4 Instrumento de coleta de dados

Evidenciou-se neste trabalho, a preeminência dos questionários (55%) e dos multimétodos (28%) como instrumento de coleta de dados, conforme ilustrado na Tabela 7.



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Tabela 7 – Instrumentos de coleta de dados

Instrumento

de coleta

de dados

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Total %

Entrevista 1 0 1 0 1 0 0 0 0 0 3 7%

Questionário 0 0 1 5 2 2 2 3 5 2 22 55%

Secundários 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0%

Primáriose Secundários

0 2 0 0 0 1 0 0 1 0 4 10%

Multimétodos 0 1 1 2 0 2 1 3 1 0 11 28%

Total 1 3 3 7 3 5 3 6 7 2 40 100%


O questionário é um instrumento cientifi camente desenvolvido pa-ra medir características importantes de indivíduos, empresas, eventos e outros fenômenos (HAIR et al., 2005), tendo como vantagens a econo-mia e o bom rendimento quanto aos dados, a abrangência de um grande número de pessoas simultaneamente e a impessoalidade do instrumento, possibilitando agilidade na coleta de dados. Ressalta-se, também, o uso de multimétodos, caracterizados pelo uso de entrevistas e questionários ou mais de dois instrumentos de coleta de dados, representando uma tendência para consolidação e maior compreensão da temática, o que de-monstra a preocupação dos pesquisadores em fundamentar os dados ob-tidos, através de diferentes fontes de evidência. Como afi rma Amaratun-ga et al. (2002), a combinação dos múltiplos instrumentos de coleta de dados possibilita a triangulação dos dados, favorecendo a complementa-ridade, garantindo maior profundidade ao estudo.

Em relação aos dados secundários, estes não foram utilizados como instrumentos de coleta de dados. Resultados semelhantes foram encon-trados nos estudos de Hoppen e Meirelles (2005), nos quais os autores constataram que tal fato indica a pouca disponibilidade ou confi ança na utilização de fontes secundárias de consulta, como banco de dados e pu-blicações legais.

Analisando as informações referentes aos instrumentos de coleta de dados e tipo de pesquisa, conforme Figura 2, verifi cou-se que na pes-quisa survey houve o predomínio do uso de questionário (90%). A domi-nação de questionários neste tipo de pesquisa ocorre principalmente pela



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facilidade e conveniência, devido à grande amostra de indivíduos. Além disso, uma boa pesquisa survey exige bons questionários para garantir a precisão dos dados coletados (HAIR et al., 2005). Estes resultados estão de acordo com a pesquisa realizada por Hoppen e Meirelles (2005), na qual houve o predomínio dos dados primários (questionários) nas pes-quisas survey.

Em relação ao estudo de caso único e múltiplo, os multimétodos representaram respectivamente 43% e 67% dos instrumentos de coleta de dados utilizados. Conforme Godoy (1995), no estudo de caso, a prin-cipal fi nalidade é a análise em profundidade da natureza das interações de determinado fenômeno, desta forma, utiliza-se multimétodos para ga-rantir a maior compreensão do objeto de estudo.

Figura 2 – Cruzamento instrumento de coleta de dados e tipo de pesquisa


Em relação ao objeto de análise, constatou-se a predominância dos estudos com o foco nos indivíduos (58%), seguido dos estudos a nível organizacional (40%), conforme demonstra a Tabela 8.

Tabela 8 – Objeto de análise

Objeto

de análise2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Total %

Indivíduo 0 0 3 4 2 3 1 4 5 1 23 58%

Grupo 0 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2%

Organização 1 2 0 3 1 2 2 2 2 1 16 40%

Total 1 3 3 7 3 5 3 6 7 2 40 100%




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Tal fato remete a compreensão de que os pesquisadores buscam identifi car os valores da organização a partir da percepção dos colabora-dores, além de investigar a infl uência dos valores no comportamento destes indivíduos no ambiente laboral. Como afi rma Tamayo (2007), a percepção dos colaboradores permite identifi car a importância acordada a cada um dos valores e determinar o grau de compartilhamento entre os membros da organização, possibilitando, inclusive, identifi car sua exten-são no comportamento individual. Ainda, na visão do referido autor, os valores só existem efetivamente na mente de seus membros, sendo que a aceitação e a ratifi cação por parte dos trabalhadores são essenciais para a existência dos valores organizacionais. Corroborando esta abordagem, Posner (2010) destaca ainda, que os valores organizacionais manifestam--se através de opiniões e comportamentos individuais, os quais expres-sam os valores praticados no âmbito das organizações.

De maneira geral, percebe-se que os resultados obtidos na análise dos aspectos metodológicos acerca da temática evidenciaram a predomi-nância de métodos quantitativos, bem como os estudos de caso e as pes-quisas survey, sendo predominante a natureza de pesquisa descritiva. Além disso, embora os questionários tenham representado a maioria dos instrumentos de coleta de dados, percebeu-se a preocupação dos pesqui-sadores em relação à cientifi cidade pelo uso de múltiplas fontes de evi-dência, com foco na análise das percepções individuais.

3.3 Panorama sobre os temas e contribuiçõesdos estudos sobre valores organizacionais

As pesquisas nacionais sobre valores organizacionais abordam a te-mática de forma bastante articulada com um conjunto de outros concei-tos e temas correlatos, seguindo a tendência de pesquisas internacionais (HASSAN, 2007; AMOS; Weathington, 2008; POSNER, 2010; QUEN-NEVILLE; BENTEIN; SIMARD, 2010). Assim, os principais temas rela-cionados aos valores organizacionais podem ser visualizados na Figura 3.

A análise temática dos artigos evidencia que a maior parte dos tra-balhos apresentados tratou dos valores organizacionais relacionados à cultura e identidade organizacional e a análise conjunta das temáticas gestão organizacional e gestão de pessoas (12%), associada ao estilo de gerenciamento, gestão de organizações, defi nição de objetivos organiza-cionais e práticas de gestão de pessoas.



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Figura 3 – Temas relacionados aos valores organizacionais


O estudo em conjunto da temática valores organizacionais associa-do à cultura e identidade organizacional encontram sustentação nos pres-supostos teóricos defendidos por Hofstede (1980) de que os valores da organização constituem o núcleo da cultura organizacional (POSNER, 2010). Da mesma forma, os estudos que abordam os valores organiza-cionais e a gestão organizacional e gestão de pessoas, também foram ratifi cados por Tamayo e Gondim (1996), ao mencionar que os valores podem refl etir a gestão nas organizações, além de infl uenciar o compor-tamento de seus membros.

Além dos temas explicitados na Figura 3, percebeu-se que os va-lores organizacionais foram relacionados a outros temas, como compe-titividade, pressões ambientais e valores organizacionais reais e deseja-dos, que obtiveram relativamente menor frequência de associação (9%). Por fi m, com base nos resultados discutidos até então, elaborou-se a Fi-gura 4 para ilustrar as principais constatações deste estudo.

Em suma, percebe-se que a maioria dos estudos sobre os valores organizacionais, provém de apenas duas instituições, concentrando-se nas estratégias metodológicas quantitativas, com predominância do estu-do de caso e pesquisa survey, com foco em pesquisas descritivas e uso de questionários. Constatou-se também que o objeto de análise predo-minante foram os indivíduos. Além disso, os valores organizacionais fo-ram associados a outras temáticas, destacando-se a cultura e identidade organizacional e a gestão organizacional e gestão de pessoas.



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Figura 4 – Síntese dos principais resultados da pesquisa


Estes resultados evidenciam que o foco das pesquisas nacionais nos últimos dez anos, especifi camente nos eventos e principais perió-dicos da área de Administração, concentra-se na descrição dos valores organizacionais a partir da percepção de seus colaboradores, sendo pre-ferível a descrição do fenômeno a partir da abordagem quantitativa. Tais resultados podem estar associados ao uso das escalas desenvolvidas pelos pesquisadores da UNB (TAMAYO; GONDIM, 1996; TAMAYO; MENDES; PAZ, 2000; OLIVEIRA; TAMAYO, 2004) ao longo das duas últimas décadas, os quais propuseram e validaram três diferentes esca-las para descrever os valores organizacionais, sendo utilizadas como refe-renciais de estudos empíricos posteriores destinados a testar relações dos valores com outras variáveis individuais (FERREIRA; FERNANDES; SILVA, 2009).



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Considerações finais

Os valores organizacionais exercem um papel importante tanto de atender aos objetivos organizacionais, quanto de atender às neces-sidades dos indivíduos. Devido à relevância deste tema no contexto organizacional, alguns estudos nacionais foram desenvolvidos visando sua melhor compreensão. Assim, a análise dos artigos nacionais publica-dos sobre a temática valores organizacionais no período de 2002 a 2011 permitiu apresentar um panorama acerca da autoria, estratégias meto-dológicas e conteúdo temático das pesquisas analisadas.

Através da análise dos anais dos eventos da ANPAD e dos princi-pais periódicos nacionais da área de Administração, constatou-se, que, embora reconhecida a importância dos valores no âmbito organizacional, há um número reduzido de investigações sobre o tema especialmente estudos empíricos, totalizando 46 artigos. Estes estudos concentraram-se nos anais dos eventos, destacando-se o EnANPAD. Em relação à origem da autoria, constatou-se que houve uma concentração da produção cien-tífi ca em duas instituições de ensino superior, destacando-se a Universi-dade de Brasília e a Universidade Mackenzie.

No referido estudo, houve a predominância dos estudos empíricos, os quais evidenciaram a predominância da abordagem metodológica quan-titativa, bem como os estudos de caso e as pesquisas survey, o que pode representar um melhor entendimento e aprofundamento dos conheci-mentos sobre a temática em contextos específi cos, além da busca pela construção ou confi rmação de teorias. Quanto à natureza, a pesquisa des-critiva foi preponderante nos estudos analisados, evidenciando a ênfase na descrição e relação entre variáveis, demonstrando a continuidade das etapas necessárias para a legitimação do tema. Além disso, em relação aos instrumentos de coleta de dados, mesmo havendo uma predominân-cia dos questionários, percebeu-se a preocupação dos pesquisadores em relação à cientifi cidade pelo uso de múltiplas fontes de evidência.

Em relação ao conteúdo temático, constatou-se o estudo dos valo-res organizacionais associados, principalmente, a temas relacionados à cultura e identidade organizacional e a análise conjunta das temáticas gestão organizacional e gestão de pessoas, corroborando que os valores das organizações, estão intimamente associados às práticas e ao compor-tamento organizacional.



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Diante dos resultados obtidos, percebe-se a importância e a ampli-tude dos valores no contexto organizacional, bem como a necessidade de ampliação das pesquisas sobre o tema, como evidenciado no estudo de Der Wal, Graaf e Lasthuizen (2008). Assim, cabe ressaltar a neces-sidade de continuidade no desenvolvimento de pesquisas sobre este as-sunto, bem como a associação dos valores a outros temas pertinentes ao contexto organizacional, visando a maior compreensão e profundidade da temática.

Assim, como toda pesquisa, devem ser considerados os limites do estudo, principalmente quanto a sua abrangência (estudos nacionais da área da Administração sobre a temática valores organizacionais), limi-tando-se aos principais eventos e periódicos da área. Desta forma, vi-sando ampliar este estudo, sugere-se a realização de um levantamento dos estudos internacionais, através da análise dos principais periódicos as-sociados à Administração.

Recebido em agosto de 2012.Aprovado em setembro de 2012.

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