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7/23/2019 Valoraoambientalsobreaperspectivadosprincpiosdaprevenoedaprecauo_20150921152149 http://slidepdf.com/reader/full/valoraoambientalsobreaperspectivadosprincpiosdaprevenoedaprecauo20150921152149 1/8  Artigo Original DOI:10.5902/2179460X12828 Ciência e Natura, Santa Maria, v. 36 Ed. Especial II, 2014, p. 675-682 Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSM ISSN impressa: 0100-8307 ISSN on-line: 2179-460X Recebido: 03/02/2014 Revisado: 16/06/2014 Aceito: 16/06/2014 Valoração ambiental sobre a perspectiva dos princípios da prevenção e da precaução Environmental valuation from the perspective of the principles of prevention and precaution  Janine Farias Menegaes* 1  , Deivid Araújo Magano 2  , Ervandil Corrêa Costa 3  , Patrícia Verônica Trevissan 4  , Mirian Barbieri 5 1,4 Mestrandas do PPG em Engenharia Agrícola, Engenharia Ambiental de Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil. 2  Doutorando do Programa de Pós Graduação em Engenharia Agricola, Angenharia Ambiental de Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil. 3  Programa de Pós Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil. 5 Acadêmica do curso de Ciências Biológicas, Estagiária no Laboratório de Manejo Integrado de Pragas, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil. Resumo Dentre as questões mais debatidas atualmente, quando se trata das relações entre os sistemas econômicos e os sistemas ecológicos ou ambientais, referem- se ao processo de se associar valores econômicos aos bens e serviços ambientais. A valoração ambientalconsiste na identicação econômica dos valores sociais não econômicos relativos ao ambiente, assim exercendo a sua “incorporação” na institucionalidade econômica concreta. O presente trabalho tem o intuito de realizar uma discussão referente ao tema da valoração econômica ambiental, de forma amensurar as atividades que geram impactos sobre o ambiente por meio dos princípios da prevenção e da precaução, demonstrando assim, a importância dos valores associados à manutenção da vida, relativos aos seres humanos como membros do ambiente, bem como, seus valores intrínsecos. A metodologia utilizada como fonte para a investigação bibliográca foram livros, artigos e notas cientícas publicados em revistas da área que contemplam o tema. Deste modo, a legislação ambiental embasada nas atividades econômicas e contábeis propõe-se a antecipar os atos aos danos ambientais, tendo como subterfúgios o direito ambiental na forma dos  princípios da precaução e da prevenção, o qual torna a valoração ambiental mais eciente e concreta.Portanto, a valoração econômica de um bem ambiental, não deve ser uma multa ou restabelecimentos ambientais ao bel prazer, como consequência de danos ambientais causados aleatoriamente e sem o planejamento antecipatório que caracterize o ato em fato. E, sim, uma maneira de administrar legalmente os empreendimentos, os quais envolvam e impactam o ambiente, sempre buscando mitigar seus prejuízos presentes e, principalmente, futuros. Palavras-chave: Direito ambiental economiaambiental, princípios legais. Abstract  Among the currently most debated questions when it comes to the relationship between economic, ecological and environmental systems refer to associate economic values to environmental goods and process services. Environmental economic valuation is the identication of non-economic social values relating to the environment, thereby exerting its “incorporation” in concrete economic institutions. The present study aims to conduct a discussion on the topic of environmental economic valuation, in order to measure the activities that generate impacts on the environment through the  principles of prevention and precaution, thus demonstrating the importance of values associated maintenance of life for the human beings as members of the environment, as well as their intrinsic values. The methodology used as the source for bibliographic research were books, articles and notes published in scientic journals in the area which include the theme. Thus, environmental legislation grounded in economic and nancial activities proposed to anticipate the actions of environmental damage, with the subterfuge of environmental law in the form of the principles of precaution and prevention, which makes it the most ecient and practical environmental valuation. Therefore, the economic value of an environmental good, shouldn’t be a ne or environmental reconnections at their pleasure, as consequence of environmental damage randomly and without anticipatory planning that characterizes the act in fact caused. And, just a way to legally manage the projects, which involve and impact the environment, always seeking to mitigate its losses  gifts and especially future. Keywords: Environmental economics, environmental law, legal principles. *[email protected]

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 Artigo Original DOI:10.5902/2179460X12828

Ciência e Natura, Santa Maria, v. 36 Ed. Especial II, 2014, p. 675-682Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSMISSN impressa: 0100-8307 ISSN on-line: 2179-460X

Recebido: 03/02/2014 Revisado: 16/06/2014 Aceito: 16/06/2014

Valoração ambiental sobre a perspectiva dos princípiosda prevenção e da precaução

Environmental valuation from the perspective of the principlesof prevention and precaution

 Janine Farias Menegaes*1 , Deivid Araújo Magano2 , Ervandil Corrêa Costa3 ,Patrícia Verônica Trevissan4 , Mirian Barbieri5

1,4 Mestrandas do PPG em Engenharia Agrícola, Engenharia Ambiental de Agroecossistemas, Universidade

Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil.2 Doutorando do Programa de Pós Graduação em Engenharia Agricola, Angenharia Ambiental de

Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil.3 Programa de Pós Graduação em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil.

5 Acadêmica do curso de Ciências Biológicas, Estagiária no Laboratório de Manejo Integrado de Pragas,Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Brasil.

Resumo

Dentre as questões mais debatidas atualmente, quando se trata das relações entre os sistemas econômicos e os sistemas ecológicos ou ambientais, referem-

se ao processo de se associar valores econômicos aos bens e serviços ambientais. A valoração ambientalconsiste na identicação econômica dos valores

sociais não econômicos relativos ao ambiente, assim exercendo a sua “incorporação” na institucionalidade econômica concreta. O presente trabalho temo intuito de realizar uma discussão referente ao tema da valoração econômica ambiental, de forma amensurar as atividades que geram impactos sobre

o ambiente por meio dos princípios da prevenção e da precaução, demonstrando assim, a importância dos valores associados à manutenção da vida,

relativos aos seres humanos como membros do ambiente, bem como, seus valores intrínsecos. A metodologia utilizada como fonte para a investigação

bibliográca foram livros, artigos e notas cientícas publicados em revistas da área que contemplam o tema. Deste modo, a legislação ambiental embasada

nas atividades econômicas e contábeis propõe-se a antecipar os atos aos danos ambientais, tendo como subterfúgios o direito ambiental na forma dos

 princípios da precaução e da prevenção, o qual torna a valoração ambiental mais eciente e concreta.Portanto, a valoração econômica de um bem

ambiental, não deve ser uma multa ou restabelecimentos ambientais ao bel prazer, como consequência de danos ambientais causados aleatoriamente e

sem o planejamento antecipatório que caracterize o ato em fato. E, sim, uma maneira de administrar legalmente os empreendimentos, os quais envolvam

e impactam o ambiente, sempre buscando mitigar seus prejuízos presentes e, principalmente, futuros.

Palavras-chave: Direito ambiental economiaambiental, princípios legais.

Abstract

 Among the currently most debated questions when it comes to the relationship between economic, ecological and environmental systems refer to

associate economic values to environmental goods and process services. Environmental economic valuation is the identication of non-economic

social values relating to the environment, thereby exerting its “incorporation” in concrete economic institutions. The present study aims to conduct a

discussion on the topic of environmental economic valuation, in order to measure the activities that generate impacts on the environment through the

 principles of prevention and precaution, thus demonstrating the importance of values associated maintenance of life for the human beings as members of

the environment, as well as their intrinsic values. The methodology used as the source for bibliographic research were books, articles and notes published

in scientic journals in the area which include the theme. Thus, environmental legislation grounded in economic and nancial activities proposed to

anticipate the actions of environmental damage, with the subterfuge of environmental law in the form of the principles of precaution and prevention,

which makes it the most ecient and practical environmental valuation. Therefore, the economic value of an environmental good, shouldn’t be a ne or

environmental reconnections at their pleasure, as consequence of environmental damage randomly and without anticipatory planning that characterizes

the act in fact caused. And, just a way to legally manage the projects, which involve and impact the environment, always seeking to mitigate its losses

 gifts and especially future.

Keywords: Environmental economics, environmental law, legal principles.

*[email protected]

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1 Introdução

Estima-se que a biodiversidade existente no Brasil,represente cerca de 20% de tudo o que há de vida

no planeta. Além disso, em torno de 12% dos re-cursos hídricos mundiais disponíveis estão localizadosem seu território.Com uma área de aproximadamente8,5 milhões de km2(IBGE, 2014), as estimativas apontamque o País possui pelo menos 103.870 espécies de animaise de 43 mil a 49 mil espécies de plantas – sem contarmicrorganismos, algas e diversos grupos biológicosnunca estudados(MMA,2014).

Um inventário sobre a biodiversidade brasileira,realizado pelo Ministério do Meio Ambiente, mostraque apenas 7.302 espécies brasileiras de animais estãodescritas cientifcamente. Em relação às plantas, somente

cerca de 40 mil estão descritas, conforme levantamentofeito pelo Centro Nacional de Conservação da Flora(MMA,2014).

No entanto, a sociedade atual explora os recursosnaturais para produzir alimentos através dos sistemasagrícolas e bens materiais de consumo, sem se preocuparcom o poder de regeneração dos mesmos, os quais nãose mantêm ou não se regeneram na mesma proporçãoem que são retirados/extraídos do sistema. Sendo assim,a sociedade ultrapassou os limites do crescimento parasatisfazer uma série de necessidades criadas pelo ho-mem moderno, pelo sistema capitalista e sua economiade mercado.

No Brasil, por exemplo, se a busca pela modernizaçãogerou por um lado crescimento econômico, por outro,ocasionou exclusão social e degradação ambiental. Aforma de desenvolvimento baseado na sustentabilidadepassa a ser, a partir dos anos 90, uma nova necessidade.Trazendo o discurso para os sistemas agrícolas, aquelepadrão tecnológico de crescimento e exploração dosrecursos naturais que preconizava a maximização daprodução agrícola a qualquer custo, na “era” da novaproposta de desenvolvimento deve ser no mínimo re-pensado (VARGASet al., 2012).O seu próprio processode desenvolvimento econômico iniciou com a exploração

de recursos naturais mais abundantes: terras agrícolas.Assim, o desenvolvimento econômico, está associadoaos incrementosdos níveis do bem-estar da população,proporcionados pela produção e consumo de bens eserviços convencionais (HUFSCHMIDT et al., 1983).Nesse sentido, a própria Constituição da República Fe-derativa do Brasil, de 1988, enfatizou, como direito detodo o cidadão, plena liberdade de retirar da terra o seusustento e desenvolver nela sua atividade econômica deforma independente (COSTA& COSTA, 2008). Contudo,os recursos naturais desempenham funções importantes:matérias-primas para o desenvolvimento econômico,

serviços de capacidade de suporte de ecossistemas,assimilação de resíduos do processo de produção econsumo, regulação climática, biodiversidade e outros.Esses serviços são imprescindíveis ao funcionamento

da economia e à manutenção da vida (MERICO, 1996).A constante e necessária relação entre o meio ambiente

e as atividades econômicas geram impactos ambientaisque raramente são levados em consideração quando é

feita uma avaliação socioeconômica das atividades queos geram, o que segundo Silva (2004), o uso da expres-são “meio ambiente” implica numa certa redundância,pois o “ambiente” já nos dá uma ideia de “meio”. Oscustos decorrentes da atividade econômica e que não sãovalorados pelo mercado (...) como a poluição dos rios,do ar, redução das orestas nativasentre outros. Assim,consiste a economia do ambiente o desao de criar mé-todos de valoração ambiental, a fm de contribuir para odesenvolvimento sustentável, que inclui: crescimento daprodução, justiça distributiva e preservação ambiental(PAULANI; BRAGA, 2000).

O processo de valoração econômica do meio ambienteé constituído de amplo e importante campo de pesquisasteóricas e trabalhos empíricos. Obviamente, por tratar-sede um ramo da ciência que envolve o comportamentosocial humano, não é privado de controvérsias, seguidode preferências teóricas e metodológicas. Assim, na ques-tão ambiental, diversos valores relacionados ao uso dosrecursos ambientais são de motivação não econômica,mas com importante dimensão econômica.

O objetivo desde artigo é realizar uma discussãosobre alguns aspectos legais, valoração dos recursosambientais e sua relação com os princípios da prevençãoe precaução.

2 Aspectos legais e definições

Conforme previsto no Artigo n. 225, parágrafo 3º, daConstituição da República Federativa do Brasil, de 1988,“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamenteequilibrado, bem de uso comum do povo e essencial àsadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Públicoe à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lopara o presente e futuras gerações. § 3º - As condutase atividades consideradas lesivas ao meio ambiente

sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, asanções penais e administrativas, independentementeda obrigação de reparar os danos causados”.

Toda atividade humana, qualquer que seja ela, inci-de irrecorrivelmente no ecossistema, quer pelo lado daextração de recursos (caso em que a natureza funcionacomo fonte), quer pelo do lançamento de dejetos sob aforma de matéria ou energia degradada (caso em queatua como cesta de lixo) (CAVALCANTI, 2004). A esti-mação destes custos e benefícios nem sempre é comum,pois requerem primeiro, a capacidade de identicá-los e, segundo, a denição, a priori, de critérios que

tornem as estimativas destes comparáveis entre si e notempo(MOTTA, 1997).Na perspectiva da sustentabilidade ambiental, o tipo

de processoeconômico que importa é aquele que pro-

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duz bens e serviços levando em contasimultaneamentetodos os custos (ou males) que lhes são inevitavelmenteassociados.(...) Um olhar para as evidentes intercone-xões do sistema econômico com o ecológico, sem isolar

um do outro, permite perceber de que modo é possívelchegar-se a um mundo (sustentável) onde a vida não seveja ameaçada de extinção (nem considerada como umaexternalidade ). Esta é uma tarefa para o novo modelode desenvolvimento, muitas vezes considerado utópico(CAVALCANTI, 2004).

No terreno da Economia Ambiental, um dos principaiselementos do desenvolvimento teórico na sua aplica-ção consiste na identicação dos valores econômicosrelativos aos bens e serviços ambientais, uma vez que,ao não serem estes computados no sistema de preçoscorrente, permite-se serem os recursos ambientais uti-

lizados de forma mais danosa e predatória do que seriao socialmente adequado (AMAZONAS, 2009).Algunseconomistas argumentam que os recursos ambientaisconseguirão gerar seus próprios mercados, de modoque sua exploração/utilização ocorra de forma racional.No entanto, não é possível garantir que isso aconteçaantes que esses recursos sejam extintos ou degradados,de tal forma que sua recuperação torne-se inviável eco-nomicamente. Assim, a valoração monetária ambientaltorna-se essencial, caso se pretenda que a degradaçãoda maioria dos recursos ambientais seja interrompidaantes que ultrapasse o limite da irreversibilidade.

A preocupação com a capacidade de suporte do meioem face do modelo de desenvolvimento econômico quesobreleva as intervenções antrópicas, com presumívelprejuízo para as condições de vida das futuras gera-ções, pode ser considerada recente. Essa preocupaçãoseevidencia pela constante tentativa de disciplinar essasações, por meio da denominada gestão ambiental, oralastreada em instrumentos técnicos, ora em instrumentos jurídicos, ou em ambas (FORTUNATO NETO; FOR-TUNATO, 2010).A proteção do meio ambiente existe,antes de tudo, para favorecer o próprio homem e, senãopor via reexa e quase simbiótica, proteger as demaisespécies. Fato é que a preocupação ecológica com a

natureza é algo novo que vem, a passos largos, rápidose desordenados, porém reconhecidamente atrasadospara seu importante compromisso, tentando suprir seutardio surgimento (FIORILLO, 2003).

A Economia Ambiental neoclássica, baseada na te-oria neoclássica do Bem-Estar e dos Bens Públicos,

conforma e se apoia em seu conceito de externalidadese, correspondentemente, de valor ambiental, denidoem termos da utilidade ou preferências que os indiví-duos atribuem ou associam, em termos monetários(sua

disposição-a-pagar), aos bens, serviços, amenidades oudesamenidades ambientais (AMAZONAS, 2009). Saben-do que o mercado é ambiental, a natureza é ambiental,a tecnologia é ambiental, a lei é ambiental, a política éambiental, em suma, tudo o que estiver relacionado aopatrimônio é ambiental. Adotou-se, não obstante isso,para denominar de Contabilidade Ambiental a parteaplicada da contabilidade dedicada ao meio ambientee da natureza. Denomina-se também de balanço Am- biental aquela demonstração das contas que evidenciaas relações do patrimônio com o ambiente, ou a natureza(DAVID, 2003).

Assim, na questão ambiental, diversos valores relacio-nados ao uso dos recursos ambientais são de motivaçãonão econômica (como a ética de preservação e respeitoà vida), mas com importante dimensão econômica. Atarefa da valoração econômica ambientalconsiste, por-tanto na identifcação de tal dimensão econômica dessesvalores sociais não econômicos relativos ao ambiente,para que, exercendo em seguida sua internalização nainstitucionalidade econômica concreta, eles possam serrealizados (AMAZONAS, 2009).O mesmo autor men-ciona a valoração econômica ambiental com diferentesinstâncias de valores:

Primeiro: o conjunto dos valores econômicos corren-tes, especialmente os de mercado, que, como sabido, porsi sós não conduzem ao uso sustentável dos recursosambientais;

Segundo: os valores sociais não econômicos relativos àconservação e/ou uso sustentável dos recursos ambientais;

Terceiro: os valores econômicos derivados da apre-ensão de tais valores sociais não econômicos e da “inter-nalização” destes no conjunto das variáveis econômicas.

Portanto, temos uma abordagem socioeconômicaaplicada à conservação da diversidade biológica queconsidera cenários nos quais a pluralidade dos fato-res tangíveis e intangíveis associados, exigem avalia-

ções detalhadas sobre critérios de análise e escolha deferramentas adequadas (CAMPHORA; MAYA, 2006).Contudo, a valoração econômica ambiental deve serprevista antecipadamente respeitando os princípios daprevenção e da precaução.

1As externalidades (ou efeitos sobre o exterior) são atividades queenvolvem a imposição involuntária de custos ou de benefícios, isto é,que têm efeitos negativos ou positivos sobre terceiros sem que estestenham oportunidade de impedi-lo e sem que tenham a obrigaçãode pagá-los ou o direito de ser indenizados. As de natureza negativa,quando gera custos para os demais agentes (poluição atmosférica,de recursos hídricos e, outros), ou de natureza positiva, quando osdemais agentes, involuntariamente, se beneciam, (investimentos

governamentais ou privados em infraestrutura e tecnologia) (NU-NES, 2009).

2Sobre a internalização dos custos Cavalcanti (2000) dene o conceitocomo o processo de se incorporar aos preços dos produtos os custosambientais, mensurando o valor real dos recursos utilizados, sendoessa uma maneira necessária para o desenvolvimento sustentável.Ainternalização está estritamente relacionada ao conceito de exter-nalidades, que pode ser entendida como os efeitos adversos nosecossistemas e na própria sociedade, decorrentes das atividades em-

presariais, ou seja, as ações (operações, atividades) de uns afetandooutros(ANGOTTI et al., 2012).

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3 Valorações dos recursos ambientais

Estudos de valoração tentam traduzir, em termoseconômicos, os valores associados à sustentação da vida,

dos bens e serviços proporcionados pelos ecossistemasnaturais para fns recreativos, culturais, estéticos, espiri-tuais e simbólicos da sociedade humana. Neste sentido, avaloração reete, sobretudo, a importância relativa que osseres humanos atribuem aos componentes do ambiente,e não os valores intrínsecos da natureza (CAMPHORA;MAYA, 2006). A valoração socioeconômica dos danosambientais , assim como a contabilidade ambiental (tantode um ponto de vista micro, como do macro) constitueminstrumentais analíticos desenvolvidos por algumas áreasda teoria econômica, que se relacionam com a utilizaçãode recursos naturais e o consumo de insumos energéticos,

assim como com áreas relacionadas com a economia dapoluição (SEKIGUCHI, 1999). Nesse esforço de tentar

das relações ecológicas entre os elementos de um ecos-sistema, por exemplo, pela manutenção da reproduçãode determinadas espécies de peixes de água doce coma conservação da mata ciliar dos cursos de água;

VO – Valor de Opção: é o valor conferido pelos in-divíduos para preservação de recursos que podem serutilizados de modo direto ou indireto no futuro próxi-mo, por exemplo, terapias provenientes de substânciasderivadas de plantas tropicais ainda não catalogadas;

VE – Valor de Existência: valor associado ao direitode existência de espécies distintas da humana e de ri-quezas naturais, por motivos altruístas, éticos, moraisou culturais, desvinculado da possibilidade de seu usodireto, indireto, presente ou futuro.

Denida, a valoração econômica ambiental, pelosvalores sociais positivos relativos à conservação e ao

uso sustentável dos recursos ambientais e como realizarestimar “preços” para os recursos ambientais e, dessaforma, fornecer subsídios técnicos para sua exploraçãoracional, insere se os métodos (ou técnicas) de valoraçãoeconômica ambiental fundamentada na teoria neoclássicado bem-estar (NOGUEIRA et al., 2000).

O valor econômico ou o custo de oportunidade dosrecursos ambientais normalmente não é observadono mercado por intermédio do sistema de preços. Noentanto, como os demais bens e serviços presentes nomercado, seu valor econômico deriva de seus atribu-tos, com a peculiaridade de que esses atributos podemou não estar associados a um uso (MOTTA, 2011).AEconomia Ambiental desenvolveu o conceito analíticode Valor Econômico dos Recursos Ambientais - VERA , que contém quatro formas de atribuição de valor,organizadas na forma de equação (1) proposta pelosautoresMoa(2006) e Ogassavara(2008).

VERA = (VUD + VUI + VO) + VE (1)

Os termos da equação 1 são descritos pelos autoresMoa (2006) e Ogassavara (2008), da seguinte forma:

VUD – Valor de Uso Direto: valor que os indivíduos

atribuem ao bem ambiental por sua utilização direta,por exemplo, ao extrativismo vegetal;

VUI – Valor de Uso Indireto: valor atribuído ao bem ambiental pelo benefício obtido por intermédio

a mediação econômica destes para a determinação deseus valores econômicos normativos correspondentes(AMAZONAS, 2009). Há também outra forma de clas-sifcar o valor econômico do recurso ambiental pela suacapacidade de gerar uxos de serviços ecossistêmicos(Tabela 1), tal como se estabeleceu no “Millenium ecosys-temassessmentreport” (MEA, 2005), que categoriza outipica os serviços ambientais em serviços de provisão,regulação, suporte e culturais (MOTTA, 2011), possuindoa seguintedescrição:

Serviços de provisão: que geram consumo materialdireto como, por exemplo, alimentos, água, fármacose energia;

Serviços de regulação: que regulam as funções ecos-sistêmicas como, por exemplo, sequestro de carbono,decomposição dos resíduos sólidos, purifcação da águae do ar e controle de pestes;

Serviços de suporte: que dão suporte às funçõesecossistêmicas como, por exemplo, formação de solo,fotossíntese e dispersão de nutrientes e sementes;

Serviços culturais: que geram consumo não materialnas formas cultural, intelectual, recreacional, espirituale cientíca.

Nesse esforço de tentar estimar “preços” para osrecursos ambientais e, dessa forma, fornecer subsídiostécnicos para sua exploração racional, inserem-se os mé-todos (ou técnicas) de valoração econômicos ambientaisfundamentados na teoria neoclássica do bem-estar. Amanutenção da posição privilegiada de disponibilidadede recursos ambientais combinada com a necessidadede explorá-los de maneira a gerar um uxo de rique-zas baseado em capital reprodutível passa necessaria-mente pela sua mensuração econômica (NOGUEIRA;MEDEIROS, 1998). Os custos da degradação ecológicanão são pagos por aqueles que a geram, estes custos

são externalidades para o sistema econômico. Ou seja,custos que afetam terceiros sem a devida compensação.Atividades econômicas são desse modo, planejadassem levar em conta essas externalidades ambientais e,

3O dano ambiental ou ecológico surge da violação a um direito juri-dicamente protegido, ferindo a garantia constitucional que asseguraà coletividade um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Emque Milaré (2001, 421/422 p.) “dano ambiental é a lesão aos recursosambientais, com consequente degradação - alteração adversa ou inpejus - do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida”.4Apesar de agregar novos elementos à valoração dos bens ambien-tais, a denominação VERA encerra viés utilitarista aoreferir-se arecursos ambientais, e não a bens ambientais, uma vez que, segundo

o próprio conceito de VERA, há, em tese,bens ambientais cujo valorcorresponde tãosomente ao seu direito de existência (VE) em decor-rência de sua inutilidade como insumo para a espécie humana(O-GASSAVARA, 2008).

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consequentemente, os padrões de consumo das pessoassão forjados sem nenhuma internalização dos custosambientais (MOTTA, 1997).

Apesar disso, Moa (1997) sugere a mensuração do

custo de oportunidade para a proteção ambiental, emque o consumo de bens e serviçosque foi abdicado. Porexemplo, restrições ao uso da terra em unidades deconservação impõem perdas degeração de receita, vistoque atividades econômicas são restritas insitu. A rendalíquidaabdicada pela restrição destas atividades é uma boa medida do custo de oportunidadeassociado coma criação desta unidade de conservação. Desta forma,os custos associados aos investimentos, manutenção eoperação das ações para a proteçãoambiental (gastosde proteção) também devem ser somados aos custosde oportunidade, vistoque demandam recursos que

poderiam estar sendo utilizados em outras atividades.Étambém relevante discriminar os custos de oportunidadee os gastos de proteção por agentesenvolvidos. Para tal,a seguir estão sugeridas algumas formas:

i. Custos de oportunidade sustentada por classesde renda ou setores econômicos;

ii. Custos de oportunidade associados à receitascal perdida pelos governos local e central;

iii. Gastos de conservação incorridos pelos governoscentral e local; e

iv. Gastos de conservação incorridos pelas agênciasambientais e proprietários privados daárea do sítio

natural.No caso específco da produção agrícola, duas ques-tões que imediatamente decorrem dessa formulação são:a) em que medida uma possível cobrança sobre a utili-

zação de recursos hídricos, visando corrigir a distorçãoentre custos privados e custos sociais além de fornecerrecursos para a recuperação de áreas atingidas pelapoluição, afetaria a rentabilidade dos produtores ruraise, b)em que medida a cobrança promoveria também ouso eciente da água? Deve ser observado que, dentreas inter-relações na questão ambiental e, mais especifca-mente, no assunto “cobrança pelo uso dos recursos hídri-cos“, a análise do possível comportamento do mercadofrente a um novo “encargo” é fundamental para que oinstrumento preconizado (cobrança) seja perfeitamenteavaliado. Essa análise permitiria dimensionar com amaior exatidão possível, oquê signica cobrar pelo usodos recursos hídricos em termos de comportamentodemercado (SOUZA; PIRES, 1992).

Deste modo, a valoração ambiental pode tratar de

questões que vão dos problemas mais amplos e gerais(e, assim, correndo o risco de ser mais genérica e deresultados mais incertos), buscando estimar valorescomo os de danos ambientais causados pela devastaçãode uma grande área orestal como a Amazônia ou peloaumento da emissão de gases que provocam o “efeitoestufa”, até problemas mais especícos e circunscritos,como as perdas decorrentes do derramamento de óleosobre uma área de manguezais ou os danos e impactosambientais causados por um determinado projeto ouempreendimento (SEKIGUCHI, 1999).

Em caso de certeza do dano ambiental, este deve ser

prevenido, como preconiza o princípio da prevenção.Em caso de dúvida ou incerteza, também se deve agirprevenindo. Essa é a grande inovação do princípio daprecaução. A dúvida científca, expressa com argumentos

Taxonomia geral do valor econômico de recurso ambiental  

Valor econômico do recurso ambiental  

Valor de Uso Valor de Não-Uso

Valor de Uso

Direto 

Valor de Uso 

Indireto 

Valor de 

Opção 

Valor de

Existência 

Valor   Bens e

serviços

ambientais

apropriados

diretamente da

exploração do

recurso

e consumidos

hoje

Bens e serviços

ambientais que

são gerados de

funções

ecossistêmicas e

apropriados e

consumidos

indiretamente

hoje

Bens e

serviços

ambientais de

uso diretos e

indiretos a

serem

apropriados e

consumidos

no futuro

Valor não

associado ao uso

atual ou futuro e

que reflete

questões morais,

culturais, éticas

ou altruísticas

Serviços

relacionados 

Serviços de

 provisão e

regulação

Serviços de

regulação,

suporte e

culturais

Serviços de

 provisão,

regulação,

suporte e

culturais ainda

não

descobertos

Serviços culturais

Tabela 1:Valor econômico do recurso ambiental.

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razoáveis, não dispensa a prevenção (MACHADO, 2001).

4 Princípios da prevenção e da precaução

A incessante busca de saber faz com que a huma-nidade acumule conhecimentos em setores os maisdiversos, tais como as ciências naturais, as ciênciashumanas, a tecnologia, a losoa entre outros. Traçocomum às diferentes áreas do conhecimento humano éa existência de princípios, ou de enunciados logicamenteconcatenados propiciadores de condições de validadedos mesmos conhecimentos (ABREU, 2008). O direitoambiental surgiu como um novo paradigma do direitoa partir do momento em que desapareceu a concepçãode que o planeta teria absoluta capacidade de resiliência

em face da ação do ser humano na natureza (MÖLLER,2012). No seu relacionamento com a natureza a humani-dade se depara, em todas as circunstâncias, com o risco,ou melhor, com situações de risco. Ao mesmo tempoinexpugnável e frágil, é o ambiente natural remetentee destinatário desses riscos, resultado da interação hu-mana e contra esta mesma humanidade (ABREU, 2008).

O Direito Ambiental possui inúmeros os princípioscom correlação entre eles, bem como as suas abordagens,assim como sugere os autores - Freitas (2001), Milaré(2004), Möller (2012),têm-se os Princípios:

- do dever dos Estados de proteger o ambiente;- da obrigatoriedade de intercâmbio de infor-

mações;  - do ambiente ecologicamente equilibrado como

fundamento da pessoa humana;- da consideração da variável ambiental no

processo decisório de políticas de desenvolvimento;- do aproveitamento equitativo,- ótimo e razoável dos recursos naturais;- da consulta prévia; do poluidor-pagador;- da função socioambiental da propriedade;- do direito ao desenvolvimento sustentável;da

igualdade;  - da cooperação entre os povos;

- da prevenção;  - e, da precaução.Dentre, os princípios do Direito Ambiental, os prin-

cípios da prevenção e da precaução serão tratados paraa valoração econômica ambiental.

O princípio da precaução implica uma ação anteci-patória à ocorrência do dano ambiental, o que garantea plena ecácia das medidas ambientais selecionadas.Neste sentido, a precaução é substantivo do verboprecaver-se (do latim prae = antes e cavere = tomarcuidado), e sugere cuidados antecipados, cautela paraque uma atitude ou ação não venha resultar em efeitos

indesejáveis (MIRRA, 2000). Bem como, prevençãoésubstantivo do verbo prevenir, e signica ato ou efeitode antecipar-se, de chegar antes; induz uma conotação degeneralidade, simples antecipação no tempo, é verdade,

mas com intuito conhecido (ABREU, 2008).Comparando-se o princípio da precaução com o

da atuação preventiva, observa-se que o segundo exi-ge que os perigos comprovados sejam eliminados. Já

o princípio da precaução determina que a ação paraeliminar possíveis impactos danosos ao ambiente sejatomada antes de um nexo causal ter sido estabelecidocom evidência científca absoluta. (LEITE, 2000).Importadiferenciar, portanto, os princípios da precaução e daprevenção, ambos de aplicação direta no Direito Admi-nistrativoAmbiental, distinguindo-os o grau de certezaou de incerteza quanto à ocorrência do dano ambiental,dados os conhecimentos técnicos dominantes à épocada decisão (ABREU, 2008).

Segundo Amoy (2006), a Conferência das Nações Uni-das sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada

no Rio de Janeiro em 1992, adotou, em sua declaraçãode princípios, o denominado princípio da precaução,assim redigido no item 15 do texto: De modo a protegero meio ambiente, o princípio da precaução deve seramplamente observado pelos Estados, de acordo comsuas capacidades. Quando houver ameaça de danossérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certezacientíca não deve ser utilizada como razão para pos-tergar medidas efcazes e economicamente viáveis paraprevenir a degradação ambiental.

A aplicação do Princípio da Precaução envolve não sóo reconhecimento e a exposição das inerentes incertezasno que diz respeito aos eventuais efeitos das substânciasquímicas sobre os seres humanos e o ambiente, mastambém a admissão de nossa ignorância em relaçãoao problema e à indeterminância. A complexidade euma série de limites e incertezas quanto às avaliaçõestécnicas de riscos ampliam-se quando levamos em contaque os processos saúde-doença ligados à exposição asubstâncias químicas envolvem interações não linearesde aspectos biológicos, psicológicos e sociais que sãoaltamente acoplados, possibilitando múltiplas e ines-peradas interações, as quais se tornam, muitas vezes,incompreensíveis e invisíveis aos seres humanos emcurto prazo (AUGUSTO; FREITAS, 1998).

Desta maneira, na aplicação do princípio da precauçãotorna-se imperiosa a análise e imposição de medidaspreventivas, acautelatórias do dano, para que este dei-xe de ocorrer ou, ao menos, seja compensado, como éo caso do Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) edos mecanismos de controle da poluição, que tambémpodem ser considerados como instrumentos hábeis àefetivação do princípio da prevenção (MACHADO, 2001).

5 Conclusão

A valoração ambiental consiste em buscar por meiosadministrativos, econômicos e contábeis uma estimaçãode um “valor = preço = custo” a ser pago por uma açãocontra o ambiente. Compreendendo nos fundamentos

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681 Menegaes et al.:Valoração ambiental sobre a perspectiva dos princípios da prevenção ...

 jurídicos legais, previstos na Constituição Federativa doBrasil (1988), em que forma um contrato social de bemviver, visando um respeito mútuo com o que o cercam,quer seja no convívio humano quer seja no convívio

ambiental (homem–ambiente). Toda e qualquer ativi-dade humana, incide no ecossistema, das mais diversasmaneiras – tanto positiva como na maioria das vezesnegativa.

Deste modo, a legislação ambiental embasada nasatividades econômicas e contábeis propõe-se a anteciparos atos aos danos ambientais, tendo como subterfúgios odireto ambiental na forma dos princípios da precauçãoe da prevenção, o qualtorna a valoração ambiental maiseciente e concreta.

A valoração econômica de um bem ambiental, nãodeve ser uma multa ou restabelecimentos ambientais

ao bel prazer, como consequência de danos ambientaiscausados aleatoriamente e sem o planejamento antecipa-tório que caracterize o ato em fato, e sim, uma maneirade administrar legalmente os empreendimentos, os quaisenvolvam e impactam o ambiente, sempre buscando mi-tigar seus prejuízos presentes e, principalmente, futuros.

É impossível dissociar as diferentes áreas do conhe-cimento quando se trata de valoração ambiental, sendonecessário um maior aprofundamento nas áreas de Di-reito ambiental, Ciências Humanas, Ciências Agrárias,Biologia, Economia, Engenharia ambiental e outraslinhas de pesquisa relacionadas a essa temática, paraque possamos compreender e encontrar soluções base-adas no conhecimento técnico-cientíco para resolveros impasses, e evitar uma série de passivos ambientaisque ainda ocorrem, por desconhecimento, descaso oufrutos da mera corrupção.

Agradecimentos

Ao Programa de Pós-graduação em Engenhariaagrícola, pela criação da linha de Engenharia Ambientalde Agroecossistemas e pela oportunidade de realizaçãodo curso de mestrado.Em especial ao professor Ervandil

Corrêa Costa por sua valorosa orientação na realizaçãodeste.

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