“validação do questionário de triagem clínica para malária em

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ALINE MARIA MONTEIRO Validação da triagem clínica para malária em candidatos à doação de sangue (região não endêmica) Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Programa de Ciências Médicas Área de Concentração: Distúrbios do Crescimento Celular, Hemodinâmicos e da Hemostasia Orientador: Prof. Dr. Pedro Enrique Dorlhiac Llacer São Paulo 2013

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Page 1: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

ALINE MARIA MONTEIRO

Validação da triagem clínica para malária em candidatos

à doação de sangue (região não endêmica)

Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências Programa de Ciências Médicas Área de Concentração: Distúrbios do Crescimento Celular, Hemodinâmicos e da Hemostasia Orientador: Prof. Dr. Pedro Enrique Dorlhiac Llacer

São Paulo 2013

Page 2: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Preparada pela Biblioteca da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

reprodução autorizada pelo autor

Monteiro, Aline Maria

Validação da triagem clínica para malária em candidatos à doação de sangue

(região não endêmica) / Aline Maria Monteiro. -- São Paulo, 2013.

Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Programa de Ciências Médicas. Área de concentração Distúrbios do

Crescimento Celular, Hemodinâmicos e da Hemostasia.

Orientador: Pedro Enrique Dorlhiac Llacer.

Descritores: 1.Malária 2.Doadores de sangue 3.Questionário 4.Estudos de

validação 5.Reação em cadeia da polimerase em tempo real

USP/FM/DBD-443/13

Page 3: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

Este trabalho é dedicado aos meus filhos:

Leonardo, que me ensinou que, em muitas vezes na vida, estamos, de fato,

sozinhos e podemos lançar mão da matriz (Aposta) de Pascal

para decidirmos qual o melhor caminho a seguir.

Guilherme, que me mostrou que quase tudo no mundo é passageiro e

estamos no caminho que deveríamos estar segundo uma ordem universal

muito maior que transcende ao tempo e ao espaço.

Page 4: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Pedro Enrique Dorlhiac Llacer, por sua dedicação, pelo

incentivo, pela confiança e pela liberdade que me deu no desenvolvimento

deste trabalho.

Ao Prof. Dr. Dalton de Alencar Fisher Chamone, por seu pioneirismo no

ensino da hemoterapia no Brasil, pelo apoio e pela amizade durante todos

estes anos.

Ao Prof. Dr. Sérgio Bydlowski, pela paciência, amizade e dedicação,

e por ter disponibilizado os resultados do projeto malária para a

concretização desta pesquisa.

Ao Prof. Dr. Vicente Odoni Filho, Presidente da Fundação Pró-Sangue,

por sua colaboração e pelo incentivo na conclusão deste trabalho.

À Dra. Youko Nukui, chefe do Hospital Dia da Hematologia, pela

dedicação ao ensino da medicina transfusional às novas gerações, e que,

gentilmente, me acolheu na Instituição.

À Dra. Helena Nunes Cury e ao Dr. César de Almeida Neto, por suas

sugestões, suas contribuições e sua amizade.

À Dra. Luciana Morganti, Dra. Débora Levy, Enf. Luíza Lúcia Silva e

Dra. Camila Lessio, pela dedicação no projeto malária e organização

deste.

Page 5: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

Aos funcionários da Divisão de Medicina Transfusional da Fundação

Pró-Sangue, por seu profissionalismo, com os quais tive o privilégio de

trabalhar no período de 2001 a 2010.

Aos candidatos à doação de sangue da FPS, por seu altruísmo e pela

contribuição para melhoria da hemoterapia no Brasil.

Aos meus irmãos, Ana Lívia e Adauto, por estarem sempre presentes

em minha vida com sábios conselhos, mantendo viva a memória de nossos

pais e a certeza de sua continuidade para nossos filhos.

Aos meus amigos Filó, Alfredino, Teresa, Torres, Sandra, Alexandre,

Maitê e Mônica, pelo carinho, pelo apoio e pela confiança.

À Rose, secretária da Pós-Graduação da FMUSP, à Selminha, da

FPS, e à Valquíria, Assessora Científica, pelas correções, pelo

encorajamento e pelo incentivo na concretização deste Doutorado.

Page 6: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

“O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as

pequenas covardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa

perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e

não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for

susceptível de servir os nossos interesses.”

José Saramago

Page 7: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

NORMALIZAÇÃO ADOTADA

Esta tese está de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicação:

Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver).

Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Divisão de Biblioteca e Documentação.

Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely Campos Cardoso, Valéria Vilhena. 3a ed. São Paulo: Divisão de Biblioteca e Documentação; 2011.

Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.

Page 8: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

LISTA DE TABELAS

RESUMO

ABSTRACT

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 2

1.1 O sangue e seu uso terapêutico ............................................................... 3

1.2 Malária .................................................................................................... 13

1.3 Risco transfusional .................................................................................. 24

2 OBJETIVOS .............................................................................................. 34

2.1 Validação do questionário de triagem ..................................................... 34

2.2 Estudo transversal em candidatos à doação de sangue em hemocentro público ....................................................................................... 34

3 MATERIAL E MÉTODO ............................................................................ 36

3.1 Desenho do estudo ................................................................................. 36

3.2 Método de análise ................................................................................... 37

3.3 Material ................................................................................................... 38

3.3.1 Grupo de risco para malária ................................................................. 38

3.3.2 Grupo controle ..................................................................................... 38

3.4 Métodos laboratoriais .............................................................................. 39

3.5 Análise estatística ................................................................................... 41

4 RESULTADOS .......................................................................................... 44

5 DISCUSSÃO .............................................................................................. 50

6 CONCLUSÕES .......................................................................................... 56

7 ANEXOS .................................................................................................... 58

ANEXO A - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da FMUSP .......... 58

8 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 60

Page 9: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ACD Ácido-citrato-dextrose

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

BA Bahia

CMV-DNA Ácido desoxirribonucleico do citomegalovírus

CVS Centro de Vigilância Sanitária

DNA Deoxyribonucleic acid ou ADN - ácido desoxirribonucleico

Doador de 1ª vez Indivíduo que doou pela primeira vez naquela instituição

Doador de Repetição Indivíduo que doou mais que uma vez no período de um ano

DP Desvio-padrão

Duffy Sistema antigênico da membrana da Hemácia

ELISA Enzyme-linked Immunosorbent assay, é um teste baseado na reação antígeno-anticorpo que são detectáveis por meio de reações enzimáticas

EUA Estados Unidos da América

FDA Food and Drug Administration

FIOCRUZ Fundação Osvaldo Cruz

FPS/HSP Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo

FY Duffy

HBV-DNA Ácido desoxirribonucleico do vírus da hepatite B

HCV-RNA Ácido ribonucleico do Vírus da Hepatite C

HGV-RNA Ácido ribonucleico do Vírus da Hepatite G

HIV Vírus da Imunodeficiência Humana

HIV–DNA Ácido desoxirribonucleico do Vírus da Imunodeficiência Humana

HIV-RNA Ácido ribonucleico do Vírus da Imunodeficiência Humana

HTLV I/II-DNA Ácido desoxirribonucleico do Vírus linfotrófico humano de células T tipo I e II

IgG Imunoglobulina tipo G

Page 10: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

IgM Imunoglobulina tipo M

IPA Incidência Parasitária Anual

MS Ministério da Saúde

NAT Teste de ácido nucleico

P Plasmodium

PCR Polymerase Chain Reaction (Reação de cadeia de polimerase)

Pf Plasmodium falciparum

PI Piauí

PIB Produto Interno Bruto

Pm Plasmodium malariae

Pv Plasmodium vivax

RDC Resolução da Diretoria Colegiada

RNAm Ácido ribonucleico mensageiro

Spp Espécies

SUCEN Superintendência de Controle de Endemias

vDCJ Variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob

WNV-RNA Ácido ribonucleico do vírus West Nile

Page 11: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Iniciadores e sondas da “Applied Biosystems” utilizados na pesquisa de cada espécie de plasmódio ............................ 40

Tabela 2 Sexo, frequência de doação e idade média de ambos os grupos ...................................................................................... 44

Tabela 3 Taxa da reação de cadeia de polimerase positivo para Plasmodium spp nos grupos risco para Malária e controle. ..... 45

Tabela 4 Taxa de reação de cadeia de polimerase positiva para Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax e Plasmodium malarie nos diferentes grupos .................................................. 46

Tabela 5 Positividade de PCR conforme Residência ou Visitação de Região de Mata Atlântica preservada ...................................... 46

Tabela 6 Faixa etária > e ≤ a 45 anos e positividade no PCR dos grupos ...................................................................................... 47

Tabela 7 Resultados de PCR e sorologia positivas em ambos os grupos ...................................................................................... 48

Tabela 8 Sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo do questionário para Malária .............. 48

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RESUMO

Monteiro AM. Validação da triagem clínica para malária em candidatos à doação de sangue (região não endêmica). [Tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2013.

A triagem clínica para malária em candidatos à doação de sangue em uma região não endêmica é um recurso empregado na seleção do doador que visa minimizar o risco transfusional uma vez que não há triagem laboratorial para Plasmodium spp. Este trabalho analisou questionário empregado na triagem clínica para malária em um hemocentro público no período de 2008 até 2010. Além dos critérios preconizados pela legislação nacional, os candidatos eram submetidos a perguntas específicas sobre residência e/ou visitação de região de Mata Atlântica preservada com transmissão de malária ou ainda se participaram de algum estudo de malária. A resposta afirmativa a uma destas questões selecionou um grupo com 500 candidatos (risco para malária), possíveis portadores de malária subclínica e a resposta negativa a todas estas perguntas, outro grupo com 606 doadores, denominado grupo controle. Verificou-se que a correlação é significativa entre essas respostas e os resultados laboratoriais obtidos na pesquisa do DNA do Plasmodium falciparum (Pf), do Plasmodium malariae (Pm) e o do Plasmodium vivax (Pv). O DNA foi detectado por reação de cadeia de polimerase (PCR) em tempo real, conforme protocolo de Gama et al. No grupo de risco para malária com n=500, observou-se uma taxa de positividade de 61 (12,2%) no PCR para Plasmodium ssp e de 23 (3,79 %) no grupo controle com n=606. Dos 61 PCR positivos do grupo de risco, 53 (86,9%) foram identificados como P. falciparum, 7(11,5%) P. vivax, 1 (1,6%) misto para P. falciparum e P. vivax e 0 (0%) P. malariae. No grupo controle com n=606 e taxa positiva de PCR de 23 (3,79%), foi isolado P. vivax em 18 (78,3%) dos casos, P. falciparum em 4 (17,4%), infecção mista pelo P. vivax e P. falciparum em 1 (4,3%) e em nenhum caso o P. malariae. Verificou-se que o emprego deste questionário foi capaz de selecionar um número maior de candidatos infectados por Plasmodium spp (p<0,001). Descritores: Malária; Doadores de Sangue; Questionário; Estudos de validação; Reação em cadeia de polimerase em tempo real.

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SUMMARY

Monteiro AM. Validation of clinical malaria in screening candidates for blood donation (non-endemic region). [Thesis]. Sao Paulo: Faculty of Medicine, University of Sao Paulo; 2013.

Clinical screening for malaria on blood donation candidates of a non-endemic region is a resource used in donors selection, which aims to minimize transfusion risks, since there is no laboratory screening for Plasmodium spp. The project analyzed a questionnaire used in the clinical screening for malaria for the selection of blood donation candidates at a public blood center in São Paulo, 2008 to 2010. In addition to the criteria recommended by national legislation, candidates were subjected to specific questions about where they reside and / or visitation of non-endemic regions with malaria transmission, or whether they were aware of any study of malaria there. A positive answer to at least one of those questions selected a group of 500 candidates who could be carriers of malaria, and negative answers defined a control group of 606 donors without risk of malaria. It was found that there is a significant correlation between these responses and the results obtained in laboratory in DNA research to the P falciparum, P malariae and P. vivax. DNA was detected by polymerase chain reaction (PCR) in real time according to the protocol of Gamma et al. In the risk group for malaria (500) was we observed a positive rate of 61 (12.2%) polymerase chain reaction for Plasmodium spp and a rate of 23 (3.79%) in the control group. Of the 61 (12.2%) found positive in the risk group, 53 (86.9%) were identified as P falciparum, 7(11,5%) P vivax, 1(1.6%) mixed for both P falciparum and P vivax and 0 (0%) P malariae. In the control group (606) with positive PCR rate of 23 (3.79%), the P vivax was isolated in 18 (78.3%), P falciparum in 4 (17.4%), mixed infection 1 (4.3%) for P vivax and P falciparum and none P malariae. It was found that the use of this questionnaire in screening for blood donors was able to select more candidates infected by Plasmodium spp, (p <0.001). Descriptors: Malaria; Blood Donors; Questionnary; Validation studies; Real-time polymerase chain reaction.

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1 INTRODUÇÃO

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2

1 INTRODUÇÃO

Em agosto de 2007, o Banco de sangue em que trabalhávamos

recebeu 18 candidatos à doação provenientes de Juquitiba, uma cidade

vizinha a São Paulo, e, durante a triagem clínica, os candidatos relataram

que moravam em uma região próxima à Mata Atlântica e que conheciam

pessoas que já tinham tido malária. Não havia impedimento legal para a

recusa destes candidatos, uma vez que a cidade de São Paulo pertence a

uma região não endêmica e, na ausência de sinais e sintomas infecciosos

ou qualquer outra recusa pela legislação, esses foram liberados para a

doação. As 18 bolsas de sangue coletadas foram bloqueadas. As amostras

de sangue dos doadores foram analisadas pela Superintendência de

Controle de Endemias (SUCEN), a testagem por imunofluorecência indireta

foi positiva para Plasmodium vivax em 8 (44,44%) amostras, sendo isolada

IgG e em 2 concomitante ao IgG também foi encontrada IgM. Em apenas

uma amostra, a sorologia foi positiva para Plasmodium vivax e Plasmodium

falciparum. A hemoscopia foi positiva para o Plasmodium vivax em duas das

oito amostras positivas para IgG. Este evento nos alertou para o fato de que

poderíamos estar coletando e transfundindo sangue contaminado por

malária. A partir deste incidente, criamos um questionário para triagem

clínica de malária baseado na ocorrência de casos autóctones no estado e,

ao longo deste estudo, o nosso trabalho foi validá-lo a fim de que o seu uso

minimize o risco transfusional para malária1.

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3

1.1 O sangue e seu uso terapêutico

O acesso aos acontecimentos no mundo globalizado e a

disponibilidade de informações fazem parte de uma reestruturação na

obtenção do conhecimento na nossa época. Em tempo algum de nossa

história houve tamanha rapidez de informação para a humanidade. Podemos

facilmente saber notícias em tempo real dos locais mais distantes como

também nos comunicarmos com milhares de pessoas pelas redes sociais

num mesmo minuto. Os meios de comunicação nos colocam diariamente em

contato com cenas da nossa realidade atual e, infelizmente, parte destas

notícias são cenas de violências sobre perseguições policiais, acidentes

fatais e, até mesmo, catástrofes climáticas que nos deixam perplexos ao

constatarmos tais relatos da nossa sala de estar. Deparamos-nos com cenas

de violências advindas das tragédias urbanas fielmente retratadas por

câmaras de cidadãos comuns. Nestes cenários, virtualmente

disponibilizados, podemos visualizar vítimas sendo encaminhadas pelas

equipes de resgates para os hospitais a fim de serem-lhe prestados os

prontos socorros. Podemos imaginar a gravidade dos ferimentos sofridos

pelas vítimas por meio da quantidade de sangue perdido e desejamos

secretamente que aquela pessoa não perca a vida.

A relação violência, perda de sangue e morte foi escrita em paredes de

tocas por nossos ancestrais pré-históricos há mais de 14.000 a.C.2. Este

homem pré-histórico, no primórdio de seu legado, nos deixou a arte rupestre

impressa nas paredes das cavernas, e podemos observá-la nos sítios

Page 17: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

4

arqueológicos espalhados em muitas regiões de nosso planeta. Em meio

aos policromos da Caverna de Altamira, a Capela Sistina da Arte Rupestre,

podemos apreciar a suprema arte paleolítica de um caçador primitivo em

cenas de sua luta pela vida com cervos, cavalos, javalis e muitos bisões3. No

Brasil, uma mostra da Arte Rupestre com mais de 29.000 anos pode ser

encontrada no Parque Nacional da Serra da Capivara – Piauí (PI), em que

podemos ver cenas do homem americano no abate de uma onça. Segundo

Dra. Neide Guidon4, há vestígios aqui do homem americano, como restos de

fogueira com mais de 50.000 anos, e que, possivelmente, estes homens

chegaram através do Sul do continente vindos da África5. Com estes relatos,

concluímos que a nossa civilização teve início na mesma época em que a

europeia e a africana. Não se sabe ao certo se a interpretação para estas

imagens é ritualística para a caça, religiosa, magia simpática ou até quem

sabe expressão da disputa de um clã. O fato é que este homem pré-histórico

reverenciou o modo de vida de sua época por meio destas inscrições

consideradas por alguns como pintura e, por outros, como escrita, em cenas

de violência cotidianas em que o abate de uma onça, sangue e morte faziam

parte de sua vida6.

Na Bíblia7, em Levídicos 17:11-14, ao sangue foi conferido poder de

vida quando textualizado: “porque a vida de toda carne é o seu sangue” e,

ainda, orientou que fiéis não deviam comer sangue. Ao derramar o sangue

no abate de um animal que se podia comer, deveria cobri-lo com terra e,

ainda em outros casos, oferecê-lo ao Senhor sob pena de ser eliminado do

Page 18: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

5

seu povo caso não o fizesse sendo inclusive sentenciado de “Culpado de

Sangue”.

No Egito, Grécia e Roma antigos, o sangue até então correlacionado à

vida e morte, foi associado à cura de doenças, em que a prática médica era

executada pela ingestão, banho ou, até mesmo, da retirada: sangria. Ovídio,

em seu sétimo livro da Metarmorfose, relata a 1ª transfusão de sangue8, em

que Medeia, feiticeira mitológica grega, realiza o ato com intuito de

rejuvenescimento.

Hipócratis, em 400 a.C., precursor da medicina científica, teorizou que

a doença não era causada por supertições, espíritos malignos ou deuses

furiosos. Segundo a teoria hipocrática9, a saúde era fruto da mistura

proporcional exata da harmonia (eucrasia) entre quatro humores do

organismo e a doença era gerada pelo desequilíbrio (discrasia) entre eles,

poderia ser resultado da falta, do excesso ou da miscigenação inadequada

desses. No livro “Das Doenças”, os quatro humores são descritos como

sangue, fleuma, bile amarela e bile negra. Segundo esta teoria, o sangue é

armazenado no fígado e levado ao coração, em que, quando aquecido,

torna-se quente e úmido. Na teoria hipocrática, há uma alusão com a

concepção filosófica de universo em que os quatro humores dos seres

humanos corresponde aos quatro elementos da natureza (terra, ar, fogo e

água), às quatro qualidades climáticas, frio, quente, úmido e seco e, ainda,

às quatro estações do ano, primavera, verão, outono e inverno. A patologia

das doenças, nesta época, era aceita como uma característica humoral e os

tratamentos tinham como objetivos equilibrar o humor responsável pela

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6

doença, segundo estes sofismas, eram praticadas técnicas como as

sangrias, os purgativos, os eméticos e os clistéricos. A patologia humoral

das doenças perdurou por mais de 2000 anos e foi substituída pela teoria

celular com o advento da microscopia, entretanto, a analogia quaternária

desta doutrina é lembrada ainda hoje por saudosistas que a comparam às

quatro bases químicas formadora do DNA dos seres vivos9.

Ao sangue, foram atribuídos muitos simbolismos, do silogismo visual

de sua perda figurativa de morte até ação empírica terapêutica, como

ingestão, banhos e retirada. Ao longo de nossa civilização, muitos

tratamentos relacionados ao poder curativo do sangue foram sugeridos em

prosa e verso, e desenvolvidos por nossos antepassados mesmo antes de

sua comprovada ação efetiva. A este período que antecede as descobertas

científicas da medicina transfusional, historiadores referem-se a ele como

alusões infundadas sobre o uso sangue10.

A primeira descrição apócrifa da transfusão sanguínea foi relatada em

1492 na tentativa de tratamento do Papa Inocêncio VIII11. Para realizar a

transfusão, foram selecionadas três crianças doadoras de 10 anos de idade

e, a cada pai, foi prometido moedas de ouro equivalentes em quantidade a

um ducado12. Podemos conjecturar que, nesta época, faltam relatos técnicos

da viabilização da transfusão de sangue como nós a concebemos na

atualidade, mas, por outro lado, podemos especular que o pagamento aos

pais pelo sangue de seus filhos configura um dos primeiros relatos de uma

doação de sangue remunerada, prática abolida na medicina transfusional

atual devido aos riscos que este tipo de doação pode trazer, especialmente

Page 20: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

7

aqueles relacionados à confiabilidade das respostas do questionário clínico

de triagem.

Alguns estudiosos13 relatam que o conceito da transfusão de sangue foi

desenvolvido por Andreas Libavius, médico e químico alemão em 1615,

comprovado por manuscritos e diagramas, mas sem nenhuma evidência de

sua execução prática. Em 1818, James Blundell14 publica vários

experimentos transfusionais realizados com seringas e afirma que somente

sangue humano deve ser utilizado nas transfusões humanas. A primeira

transfusão com sangue humano15 foi realizada em setembro de 1818 em

Brazier, um paciente com obstrução pilórica secundária a um câncer

gástrico. Brazier obteve uma pequena melhora após a transfusão e morreu

56 horas após o procedimento possivelmente devido à doença de base. O

grande fator limitante encontrado por Blundell e seguidores foi que, muito

embora os equipamentos utilizados no ato transfusional fossem bastante

engenhosos, havia um fator limitante possivelmente relacionado à

coagulação16. O sangue, quando em contato com a superfície dos

equipamentos por ele desenvolvidos, coagulava e, durante muitos anos, os

coágulos foram imputados como responsáveis pelas reações transfusionais.

Outros estudiosos atribuíram parte destas reações transfusionais à

incompatibilidade sanguínea17.

A descoberta do sistema ABO, em 1901, por Karl Landsteiner, e,

posteriormente, em 1902, do grupo AB, com Decastello e Sturli, mudou a

história da medicina transfusional. Inicialmente, Landsteiner estudou

amostras de sangue de várias pessoas, separando o soro das hemácias e

Page 21: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

8

conclui que alguns soros aglutinavam algumas hemácias, e outras não. A

partir desta observação, deduziu que havia dois tipos de anticorpos

aglutinantes e, no início, nomeou os grupos sanguíneos de A, B e C, este

último mais tarde chamou de O. Esta descoberta, com certeza, foi uma das

mais significativas da medicina transfusional e que determinou, mais tarde,

as provas de compatibilidades entre doadores e receptores. Somente em

1930 é que a comunidade científica premia Landsteiner com o Nobel e ainda

lhe confere uma categoria do prêmio18,19.

Reuben Ottenberg, em 1907, realizou a primeira transfusão com prova

de compatibilidade entre doador e receptor baseado nas descobertas dos

grupos sanguíneos de Landsteiner. Utilizou a técnica em 128 transfusões,

em que observou uma redução importante das reações hemolíticas20.

As grandes guerras mundiais foram, sem dúvida nenhuma, o estopim

propulsor da necessidade vigente da transfusão indireta de sangue. Além da

crueldade que estas batalhas impuseram à humanidade, era crucial salvar a

vida dos soldados feridos em luta. Grandes avanços na hemoterapia se

deveram em parte a esta necessidade, ou seja, transfundir sangue em

grandes quantidades em locais remotos, como campos de batalha. O

armazenamento do sangue em geladeiras tornou-se possível graças ao uso

de anticoagulantes e o seu transporte para locais distantes uma realidade.

Não era necessário que doador e receptor estivessem no mesmo local. A

primeira transfusão indireta de sangue foi realizada por Albert Hustin, médico

belga, em 27 de março de 1914. A primeira transfusão com sangue estocado

e refrigerado foi em 01 de janeiro de 1916. Oswald Robertson, oficial das

Page 22: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

9

forças armadas americanas, enquanto servia na França na I Guerra Mundial,

foi responsável pela realização do 1º Banco de Sangue21.

Enquanto isso, no Brasil, em 1916, a médica Isaura Leitão descreve

quatro casos de transfusão sanguínea na defesa de sua tese de doutorado.

Uma delas, bem documentada, realizada por Garcez Fróes, professor de

clínica médica em Salvador – Bahia (BA), em uma paciente com metrorragia

uterina secundária a exerese de pólipo22.

Alexander Bogdanov fundou o 1º Instituto de Ciência da Transfusão de

Sangue, em 1925, em Moscou. E, curiosamente, veio a falecer em 1928

após uma de suas experiências em que recebeu sangue proveniente de um

rapaz portador de tuberculose e malária. Alguns estudiosos atribuem a morte

à incompatibilidade sanguínea, outros acreditam que foi suicídio, podemos

especular que poderia ter sido malária transfusional. Infelizmente, na época,

não havia recursos disponíveis nem conhecimento das doenças

transfusionais para investigar a causa da morte21.

O primeiro Serviço de Medicina Transfusional foi criado em 1936 na

Espanha por Frederico Duran-Jordan. Neste, o sangue doado era coletados

em frascos de vidro, testados e armazenados sob refrigeração e ainda

organizados conforme os grupos ABO. No ano seguinte, o médico Bernard

Fantus do Hospital Cook Count de Chigaco cria o nome de Banco de

Sangue para os locais em que há coleta, testagem e armazenamento de

sangue23.

Em 1942, os médicos Mario Pereira de Mesquita, Raymundo Muniz de

Aragão e Vera R. Leite Ribeiro fundaram no Rio de Janeiro o primeiro Banco

Page 23: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

10

de Sangue do Brasil. Localizado no Instituto Fernandes Figueira, hoje

instituto da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ)24, tinha como objetivo não

só suprir as necessidades em sangue do hospital, mas, também, cooperar

com o esforço de guerra enviando plasma humano para hospitais que

atendiam em frentes de batalha. Em 1943, o médico Oswaldo Mellone

fundou e coordenou o Banco de Sangue do Hospital das Clínicas ligado à

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo22.

Em 1943, o uso de ACD (acido-citrato-dextrose) como solução

anticoagulante é recomendada por JF Louitit, PL Mollison, I Maureen Young

e EJ Lucas para o armazenamento do sangue e, em 1945, a medida passa a

ser utilizada pelo exército americano25. Ainda no ano de 1943, Bresson

publica sete casos de icterícia após a transfusão de sangue ou plasma e que

serão relacionados, mais tarde, às hepatites transfusionais26. Em 1965,

Blumberg descreve o antígeno Austrália27, marcador da hepatite B e

somente em 1989 a hepatite C é reconhecida28.

No Brasil, a possibilidade de doenças transmitidas pela transfusão foi

suspeitada por Mazza et al. ainda em 193629,30. Eles suspeitaram que a

doença de Chagas pudesse ser transmitida pela transfusão de sangue, os

primeiros doadores infectados foram descritos por Pellegrino e os primeiros

receptores com Doença de Chagas transfusional foram documentados em

1945 por Freitas et al.31,32. Este grupo, aqui de São Paulo, em 1952,

idealizou, pela primeira vez, a inativação do Trypanossoma cruzi no sangue

doado por meio da adição de violeta genciana33.

Page 24: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

11

O primeiro caso comprovado de transmissão da AIDS pela transfusão

foi descrito por Amman et al.34, em 1983, em uma criança de 20 meses,

neste mesmo ano, o vírus foi isolado e identificado como vírus linfotrófico

das células T tipo III (HTLV-III). Posteriormente, o nome foi substituído para

vírus da imunodeficiência humana tipo I e é abreviado como HIV35. O

primeiro teste eficaz para detectar o sangue contaminado pelo HIV foi

baseado na identificação de anticorpos anti-HIV e liberado pelo FDA (Food

and Drug Administration) em 03 de março de 198536.

O Brasil não acompanhou as evoluções tecnológicas internacionais

entre 1964 e 1980, segundo o Prof. Luis A. de Castro Santos et al.37 devido a

dois fatores principais. O primeiro é que, nesta época, a rede hemoterápica

nacional estava baseada na compra de serviços pela Previdência Social, o

que favoreceu o aumento do número de pequenos bancos de sangue que

realizavam predominantemente coleta de sangue e transfusão com padrões

questionáveis. Enquanto o modelo internacional proposto era o da

integração de serviços hemoterápicos para melhor operacionalização e

utilização de recursos tecnológicos. O segundo motivo se deveu à forma que

se fazia a captação dos doadores, que era por meio da remuneração, apesar

de combatida pela comunidade médica. Pouca ou nenhuma importância se

dava aos doadores altruístas e à formação de uma população consciente

sobre a doação de sangue. Conforme o autor37, estes fatores acabaram por

serem os grandes responsáveis pelo alto índice de Chagas, Hepatite e

Malária transfusional, além das constantes falta de sangue. Neste cenário

hemoterápico, tivemos a epidemia da AIDS em 1980, em que cerca de 2%

Page 25: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

12

dos pacientes com AIDS haviam contraído o vírus pela transfusão e cerca de

50% dos hemofílicos estavam contaminados22. Infelizmente, a magnitude da

terapêutica transfusional passou a ser dimensionada não só pelo número de

vidas salvas, mas também pelo crescimento substancial do número de

efeitos não desejados, principalmente os infecciosos. Em 1980, a portaria

Interministerial instituiu o Programa Nacional de Sangue (Pró-Sangue)38 por

entender que a falta de controle das atividades hemoterápicas contribuiu

com o crescimento de especulação com sangue, seus derivados e seus

doadores. O objetivo do programa era a construção de hemocentros

públicos associados ao ensino hemoterápico e à formação técnica

profissional. Estavam inclusos o atendimento ao doador que se mostrasse

portador de doença infectocontagiosa e incentivo a doações de repetição. O

doador altruísta não remunerado era o alicerce do programa de relevância

nobre, humanitária e social. A partir de então, a preocupação com as

doenças transmissíveis pelo sangue passou a ser uma preocupação de

saúde pública. O estado de São Paulo promulgou a Lei Estadual nº

5.190/8639, em junho, que tornou obrigatória a realização da testagem

individual para o HIV no sangue doado, até então, as doenças pesquisadas

eram Chagas, Sífilis e Hepatite B. Em 1987, o ministério da Saúde publicou

a portaria MPAS/MS nº 14/8740 que tornou obrigatória a realização da

pesquisa do HIV em todo sangue doado para fins transfusionais ou produção

de hemoderivados. No ano seguinte, a Lei Nº 7.649/8841 definiu a

obrigatoriedade do cadastro de doadores, da testagem sorológica para HIV,

Sífilis, Doença de Chagas, hepatite B e, em regiões endêmicas: a pesquisa

Page 26: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

13

da malária. Em 1992, o governo de São Paulo, novamente pioneiro, tornou

obrigatória a pesquisa do vírus da hepatite C no sangue doado para fins

transfusionais e industriais por meio da Portaria CVS nº 1/9242.

No Brasil, no ano de 2007, foram realizadas 4.002.417 transfusões e

notificados 2.210 eventos não desejados43, sendo que, em apenas oito,

foram confirmados a natureza infecciosa e, destes, um por malária causada

pelo Plasmodium vivax, que foi a óbito44.

1.2 Malária

A história da malária nos acompanha desde o início de nossa

civilização. Desde sua origem na África, há cerca de 10.000 mil anos, ela foi

se dispersando por todos continentes com as migrações humanas. A malária

é uma doença infecciosa aguda causada por protozoários transmitidos ao

homem principalmente pela picada de um hospedeiro definitivo, a fêmea do

mosquito anófeles. É conhecida como febre hemorrágica aguda em que o

paciente desenvolve anemia devido à hemólise causada pelos plasmódios.

A gravidade do quadro depende do tempo gasto no ciclo intraeritrocítico e do

número de hemácias parasitadas. A doença evolui com surtos de febre alta

e que correspondem ao momento em que os parasitas rompem as

hemácias. A partir da observação destes sinais, os médicos, na Antiguidade,

denominaram a doença como febre terçã e febre quartã45.

Page 27: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

14

A malária é causada por parasitas protozoários chamados plasmódios,

pertencentes ao filo Apicomplexa. Mais de 200 espécies do gênero

Plasmodium foram identificados e podem parasitar répteis, pássaros e

mamíferos. Cinco espécies de Plasmodium são responsáveis por causar a

malária humana, ou seja, o P. falciparum, P. vivax, P. ovale e P. malariae e

P. knowlesi. Este último recém-descoberto como parasitose humana no

Sudeste Asiático. Inicialmente, a infecção pelo P. knowlesi foi erroneamente

identificada como pelo P malariae e, posteriormente, verificou-se a

ocorrência de casos mais graves com evolução semelhante à malária

causada por P falciparum46-50.

O P falciparum e o P vivax são endêmicos na América Central, na

América do Sul, na Ásia, no Mediterrâneo, no México e na Oceania. O P

falciparum é mais prevalente na África, no Haiti e na República Dominicana,

enquanto o P ovale é restrito ao continente africano. A doença causada pelo

P malariae é rara. A análise dos dados de mtDNA do P. knowles indicam que

as infecções humanas por P. knowlesi não são recém-emergente no

Sudeste da Ásia e que era, primariamente, uma zoonose em macacos

selvagens. Mudanças ecológicas provenientes da invasão do homem nas

florestas possivelmente permitiram a essa espécie de plasmódio patogênico

eleger os seres humanos como hospedeiros51.

Um culicídio, do gênero Anopheles, e subgêneros Anopheles, Cellia,

Nyssorhjncus e Kerteszia são os vetores que transmitem a malária.

Popularmente conhecidos como mosquito, pernilongo, carapanã ou

mosquito prego sobrevivem em regiões em que a temperatura média é

Page 28: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

15

superior a 15º, a transmissão só ocorre em locais com temperaturas de 20-

30ºC e com alta umidade relativa. Enquanto a fêmea pica o homem e se

alimenta de sangue, o macho vive da seiva das plantas. As larvas se

desenvolvem em águas paradas disponíveis no bulbo de plantas das

florestas tropicais. No Brasil, a espécie mais prevalente é o Anopheles

(Nyssorhjncus) darlingi e a espécie mais eficaz na transmissão é o

Anopheles (Kerteszia) gambiae, bastante comum na África52,53.

O ciclo de vida do plasmódio no homem é assexuado e se inicia

quando a fêmea infectada injeta plasmódios pela picada da pele de

humanos. A forma inoculada é o esporozoíto que, rapidamente, atinge a

corrente sanguínea, esta fase é chamada de exoeritrocítica. A seguir, os

esporozoítos atingem os hepatócitos, amadurecem e se tornam merozoítas

(esquizonte), cada esporozoíto gera cerca de 30.000 a 40.000 merozoítas, o

processo leva em torno de 4 semanas. Nas infecções por P vivax e P ovale,

pode se encontrar outra forma chamada de hipnozoito, que são os

esquizontes no fígado em estado de latência, podendo persistir por semanas

até anos antes de reiniciarem seu ciclo de vida e causarem sintomatologia

clínica. Os hepatócitos se rompem e liberam os merozoítos na circulação

sanguínea que parasitam as hemácias, do ciclo eritrocítico (assexuado). Na

hemácia, o parasita transforma-se em trofozoíto, o qual originará mais 32

merozoítos causando ruptura da hemácia e parasitando outras. Alguns

gametócitos masculinos e femininos se desenvolvem no interior das

hemácias, o que garante a continuidade do ciclo para um novo vetor. Casos

não tratados podem ser fonte de infecção por até 40 anos da malária

Page 29: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

16

causada por P. malariae, por um a três anos por P. vivax e até um ano por

P. falciparum. Após a infecção do mosquito, o tempo gasto entre a

fecundação dos gametócitos e a origem dos esporozoítos nas glândulas

salivares é de 10 a 12 dias para P. falciparum e de 8 a 10 dias para P. vivax.

A idade média de cada mosquito é de 30 dias e ele transmitirá os

esporozoítas a cada dois ou três dias durante o repasto sanguíneo53,54. No

homem, o período de incubação do P. falciparum é de 7-15 dias, do P. vivax

é de 10-20 dias e do P. malariae de 20-40dias. O P. falciparum parasita de

2% e 25% do total de hemácias quando está na corrente sanguínea,

enquanto o P. vivax não atinge mais que 1%. O P. falciparum tem um caráter

mais agressivo, infectando hemácias em todos os estágios de maturação,

multiplicando-se mais rapidamente, levando a maior adesividade nas

hemácias parasitadas, podendo causar trombos e/ou êmbolos, além da

chance de um a cada dez casos ter acometimento cerebral (80% óbito). O P.

vivax causa um tipo de malária mais branda e pode permanecer por mais

tempo no fígado em sua forma de hipnozoito dificultando a ação da

medicação55. A hemólise ocorre a cada 48h na infecção pelo P falciparum, P

vivax e o P ovale, a cada 72h para o P malariae e a cada 24h para o P

knowlesi, e é justamente nesta hora que ocorrem os surtos de febre,

calafrios e astenia. O P. falciparum é o mais patogênico, produz a febre terçã

maligna e causa a morte se não diagnosticado e tratado precocemente,

principalmente em sua primeira infecção. Já o P. vivax é o agente da febre

terçã benigna, raramente produz infecções fatais, com ampla distribuição

mundial, sendo a espécie mais prevalente na maioria das regiões

Page 30: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

17

malarígenas fora do continente africano. O P. malariae causa febre quartã e

é encontrado no mundo todo em reduzido número de casos53,56.

Outra forma de transmissão da malária é pela transfusão de sangue

contaminado (malária induzida). Os parasitas mantêm sua viabilidade em

hemácias armazenadas a 4°C, em concentrados de plaquetas

(contaminados por hemácias) armazenados em temperatura ambiente, e

após criopreservação e descongelamento de hemácias. A sintomatologia

clínica da malária transfusional pode se manifestar a partir de 7 a 10 horas

até 50 a 60 dias após a transfusão contaminada e a patogenia da doença vai

depender do número de patógenos transfundidos, da espécie do plasmódio

e das condições clínicas do receptor, além das suas comorbidades pré-

existentes55,57,58.

O quadro clínico da malária pode ser grave e, segundo a OMS, é

definida como a concomitância de hiperparasitemia e sinais clínicos, como

prostração, rebaixamento do nível de consciência, convulsões, dispneia ou

hiperventilação, hipotensão ou choque, hiperpirexia (>41ºC), oligúria,

sangramento anormal, icterícia ou alterações laboratoriais, como

hemoglobinúria, anemia, hipoglicemia, acidose metabólica, hiperlactemia e

edema pulmonar visível ao R-x. Crianças e gestantes de áreas endêmicas e

indivíduos provenientes de áreas não endêmicas têm maior risco de

desenvolver a forma grave da malária55,59,60. Alguns indivíduos, após

infecções prévias, desenvolvem resposta humoral e celular contra o

plasmódio, a imunidade desenvolvida não é protetora contra novas

Page 31: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

18

infecções, mas confere ao hospedeiro manifestações oligossintomáticas ou

assintomáticas61,62.

Alguns mecanismos imunológicos não têm ação na fase intraeritrocítica

em que o parasita fica protegido da ação dos anticorpos e da fagocitose,

esta última secundária à dificuldade devido a maior aderência das hemácias

nos vasos63.

O genoma humano vem manifestando alguns polimorfismos,

possivelmente resultado da coevolução com o P. falciparum, como

hemoglobinopatia monozigótica C, que reduz o risco da gravidade da

infecção pelo plasmódio em 70% e outro é a hemoglobina S (substituição da

valina pelo acido glutâmico na 6ª posição da cadeia originando a globina

S)64, que o reduz em 90%65. Alguns autores relatam que o ambiente

intracelular encontrado na hemoglobinopatia S é inóspito ao crescimento do

parasito devido aos baixos índices de oxigênio e outros acreditam que esta

alteração genética propicia a inibição do RNAm do parasita impedindo-o de

se multiplicar normalmente. A alteração do citoesqueleto da hemácia que

acontece na hemoglobinopatia C leva a uma redução da aderência ao vaso,

o que acaba influindo de maneira positiva no clearance da hemácia

parasitada66,67.

Outra particularidade que confere imunidade inata ao hospedeiro para

infecção pelo P vivax é a ausência do antígeno Duffy (FY) na membrana da

hemácia. O antígeno é um receptor essencial para a penetração do

merozoíto do P. vivax nas hemácias. Populações indígenas da África

Ocidental e Central são universalmente negativas para o Duffy e

Page 32: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

19

possivelmente este fato explique sua resistência para infecção por P.

vivax66.

Com o crescimento do comércio internacional no século XV, europeus

e africanos ocidentais introduziram a malária no Novo Mundo. Segundo

alguns autores, o P. vivax e P. malariae chegaram pelas viagens marítimas a

partir do Sudeste Asiático. Já o P. falciparum provavelmente chegou às

Américas infectando escravos africanos trazidos pelos colonizadores

espanhóis da América Central. Por volta de 1850, a malária era prevalente

nos dois continentes americanos68,69.

No século XVIII, os italianos deram à doença o nome de malária,

influenciados pela teoria Hipocrática dos quatro humores, acreditando que

algumas doenças eram causadas pela insalubridade e a denominaram como

“malaire”45.

No século XIX, a malária atingiu limites globais inimagináveis, e metade

da população global corria risco, pelo menos, uma morte era esperada para

10 pessoas contaminadas. Na costa ocidental africana, a taxa de

mortalidade era superior a 50%. Foi a partir do uso do pó da casca da

cinchona que estas taxa caíram para cerca de 12%. Historiadores acreditam

que os europeus descobriram a casca durante a conquista do Império Inca,

na região do Peru, entre os séculos XVI e XVII. Outros pesquisadores

defendem a ideia que a o pó da casca era utilizado pelos índios nativos para

várias doenças muito antes dos espanhóis e a malária chegarem ao

continente. Ainda no século XVI, foi levado à Europa pelos jesuítas,

chamado “Pó dos Jesuitas” e somente em 1820 seu princípio químico foi

Page 33: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

20

documentado como quinino70. Outros medicamentos eficazes, como a

cloroquina e a primaquina, foram descobertos, mas, ainda hoje, o quinino é

usado contra a malária causada pelo P. falciparum60.

No Brasil, em 1887, Dom Pedro II apresentou um quadro clínico com

queda de seu estado geral e surtos febris, deixando-o bastante debilitado.

Foi assistido pelo Dr. Torres Homem que diagnosticou malária devido à

presença de febre, icterícia, hepatoesplenomegalia dolorosa e anemia71.

Charles Louis Alphonse Laveran, em 1882, isolou, em Roma, parasitas

no sangue de pacientes infectados com malária, os mesmos que já tinha

encontrado no sangue de pacientes na Argélia. Sua pesquisa confirmou sua

hipótese anterior, ou seja, que estes parasitas eram os causadores da

malária. Suas primeiras comunicações à comunidade científica sobre o fato

foram recebidos com muito ceticismo, mas, gradualmente, confirmados e

publicados por cientistas de todos os países. Em 1889, a Academia de

Ciências concedeu-lhe o Prêmio Bréant por sua descoberta e, a partir de

então, a etiologia da malária deixa de ser contestada e é aceita pela

comunidade científica. Em 1896, ingressou no Instituto Pasteur no qual

realizou até 1907 várias pesquisas originais sobre hematozoários,

esporozoítos e tripanossomas, quando, então, foi reconhecido e recebeu o

Prêmio Nobel72. Ronald Ross recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1902

por ter demonstrado como o protozoário entra no organismo e esta

comprovação foi o marco inicial para o desenvolvimento das medidas de

controle da malária, quer sejam epidemiológicas relacionadas ao vetor quer

as referentes ao tratamento dos pacientes propriamente ditos73.

Page 34: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

21

Até ao início do século XX, infecções não tratadas e repetidas de P.

vivax e infecções prolongadas causadas pelo P. malariae contribuíram

significativamente para a mortalidade, além da malária mais letal causada

pelo P. falciparum. Outros fatores, como más condições de vida, pobreza e

fome, somaram-se como corresponsáveis a estas altas taxas. Em meados

do século XX, a mortalidade começou a cair, como resultado do bem-

sucedido controle dos vetores e, consequentemente, da queda do contato

destes com as populações, além da melhoria das condições de vida que

contribuiu de forma significativa. Na década de 1950, a malária praticamente

desapareceu da América do Norte e de quase toda a Europa45,74.

Inicialmente, o P. vivax e P. malariae tinham a maior distribuição global,

atualmente, o P. malariae perdeu sua predominância e foi substituído pelo P.

falciparum. Quase 90% dos casos da malária causada pelo P. falciparum

ocorrem na África subsaariana. O P. vivax tem a mais ampla distribuição

geográfica das malárias humanas, estimada como o agente etiológico de

cerca de 70-90% dos casos clínicos em grande parte da Ásia, América

Central, América do Sul e Oriente Médio. O P. malariae provoca infecções

esporádicas na África, partes da Índia, Pacífico Ocidental e América do Sul,

enquanto que P. ovale é restrito à África tropical, Nova Guiné e Filipinas. O

P. knowlesi tem sido encontrado nos países do Sudeste Asiático, como a

Malásia, Tailândia, Vietnã, Mianmar e Filipinas. Estima-se que, em 2010, a

malária foi responsável por 660.000 mortes, sendo que 91% foram

confinadas ao continente africano, em que 86% das pessoas acometidas

eram crianças com menos de 5 anos de idade e, ainda, 80% das mortes

Page 35: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

22

ocorrem em apenas 14 países. No mundo, estima-se a ocorrência de 219

milhões de casos de malária e que 80% estão limitados a 17 países, e 40%

deles restritos ao Congo, à Índia e à Nigéria75.

Em 2012, metade da população mundial, cerca 3,3 bilhões de pessoas

de 104 países, foi considerada com risco para contrair malária, a despeito de

todos os esforços realizados contra a malária. Todos os grupos etários estão

sob risco de adquirir a malária grave em casos de epidemias e estas podem

ser secundárias a variações climáticas, projetos agrícolas não sustentáveis,

extrativismo mineral descontrolado, aumento do número de vetores e

migração populacional, entre outras. Desde 2000, as taxas globais de

mortalidade caíram mais de 25%, e, na África, mais de 33%. Mais de 1,1

milhões de vidas foram salvas durante a última década e cerca de 274

milhões de casos foram evitados entre 2001 e 2010. O progresso no controle

da doença foi mais significativo nos 50 países com menor número de casos

(3%) e mortes. O custo econômico da doença na África é bastante alto,

cerca de $12 bilhões referentes ao gasto com inseticidas, ao diagnóstico e a

medicamentos somados à perda anual de 1,3% do Produto Interno Bruto

(PIB) e ao saldo populacional negativo secundário às mortes de milhares de

crianças que nunca chegaram à idade produtiva75,76.

Anualmente, cerca de 10% das 30 milhões de pessoas que viajam para

áreas endêmicas retornam para seus locais de origem contaminados com

malária.77 No Brasil, a malária é endêmica na região denominada como

Amazônia Legal, que compreende os estados do Acre, Amapá, Amazonas,

Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Rondônia, Roraima e

Page 36: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

23

Tocantins. No estado de São Paulo, a doença ocorre em duas diferentes

regiões geográficas, uma composta pela região da Serra do Mar,

ecossistema da Mata Atlântica, e a outra, localizada na região Oeste do

estado, junto às bacias hidrográficas dos rios Paraná, Paranapanema e São

José dos Dourados. Em ambas as regiões, há presença substancial do vetor

anofilino e, eventualmente, a segunda região constitui local de trânsito para

imigrantes de locais de áreas endêmicas, predispondo um risco endêmico

significativo para a região54,78-80.

No Brasil, três espécies de protozoários do gênero Plasmodium

causam a malária em seres humanos: Plasmodium vivax, Plasmodium

falciparum e Plasmodium malariae81. Em 2007, o estado de São Paulo

diagnosticou, por gota espessa, 237 casos de malária, sendo 46 autóctones

e o restante importados de outras regiões brasileiras ou, até mesmo, de

outros países. Destes, 210 indivíduos eram residentes em São Paulo, e,

ainda segundo o Boletim Epidemiológico Paulista 5679, o Plasmodium vivax

ocorreu isoladamente em 68,8% dos casos, já o Plasmodium falciparum em

19% e o Plasmodium malariae em 0,4%.

O estado de São Paulo possui vários municípios com parte preservada

da Mata Atlântica, em agosto e setembro de 2012, dados preliminares da

secretaria de saúde de Bertioga informou que doze trabalhadores da usina

de Itatinga tinham contraído malária e outros estavam em investigação pelo

centro de vigilância do estado. Segundo o Boletim Epidemiológico, foram

confirmados vinte e dois casos de malária autóctone em Bertioga82.

Page 37: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

24

1.3 Risco transfusional

O uso de sangue e hemocomponentes para o tratamento dos agravos

à saúde é um procedimento bastante empregado na terapêutica clínica e

cirúrgica. Não é um procedimento isento de complicações e o risco

transfusional pode ser calculado para cada uma das doenças infecciosas

passíveis de serem transmitidas pela transfusão. Vários agentes infecciosos

podem infectar o sangue ou seus componentes e serem transferidos para o

receptor entre eles alguns de predominância plasmáticas como HBV-DNA,

HIV-RNA, HCV-RNA, HGV-RNA, WNV-RNA, Dengue e vDCJ. Outros que

contaminam por meio dos leucócitos transfundidos, como o CMV-DNA, o

HIV-DNA e o HTLV I /II - DNA ou das hemácias, como Parvovírus - DNA,

Bactérias, Plamodium spp e o Trypanosoma cruzi83. A triagem clínica do

candidato à doação e a testagem no sangue doado são recursos utilizados

para minimizar a transmissão de doenças infecciosas. A aplicação do

questionário de triagem clínica visa, entre outras, excluir candidatos à

doação de sangue que pertençam a grupos de risco para doenças

infectocontagiosas. Isto porque a maioria dos testes empregados na triagem

sorológica do sangue doado, por serem baseados na identificação de

anticorpos, que atendem grandes rotinas em pequeno espaço de tempo

(48h), podem ou não identificar um sangue infectado. Quando o sangue de

um doador contaminado não é identificado na triagem sorológica, dizemos

que esse se encontra no período chamado de “janela imunológica”, período

Page 38: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

25

este em que a ausência de positividade do teste não garante que o receptor

deste sangue não seja contaminado84-86.

O questionário de triagem tem sua origem em 1953, quando a

Associação Americana de Bancos de Sangue divulga sua primeira edição de

“Métodos Técnicos e Procedimentos da Associação Americana de Bancos

de Sangue”. Historicamente, o uso de perguntas para selecionar um doador

data de 1936 quando, num banco de sangue em Madrid, durante a Guerra

Civil Espanhola, Norman Bethune, um cirurgião canadense, cria a frase:

“Você Jura por sua Honra que Nunca teve Sífilis?”. Esta pergunta era

feita aos doadores de sangue antes da doação, na tentativa de substituição

à falta dos materiais específicos para testar sífilis. A preocupação era reduzir

o risco de coletar sangue de um candidato potencialmente infectado. Na

realidade, não se sabe se este procedimento efetivamente minimizava o

risco da transmissão de sífilis transfusional86. Ainda hoje, na ausência dos

exames laboratoriais necessários para testar o sangue doado, os bancos de

sangue baseiam-se em questionários, e, por meio de perguntas diretas,

muitas vezes de ordem pessoal, realizam a triagem e recusa de doadores

com risco potencial de transmitir doenças por meio da transfusão.

Entretanto, a preocupação não é só com a qualidade do sangue doado, mas

também com a quantidade necessária para atender a demanda dos

pacientes. Desta forma, o questionário de triagem não será eficaz se

desclassificar um candidato saudável.

A preocupação dos Bancos de Sangue em testar o sangue doado e

afastar os doadores com doenças infectocontagiosas teve início na década

Page 39: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

26

de 80 secundária à epidemia da AIDS. Os avanços hemoterápicos nesta

área foram bastante significativos e resultaram numa uniformidade de

condutas amparadas por legislação específica com objetivos muito claros de

cumprimento obrigatório por todos os Bancos de Sangue. As infecções

ocorridas secundárias ao ato transfusional são de notificação obrigatória,

bem como o rastreamento deste doador84,85. Além disto, o doador deve ser

reconvocado para esclarecimento diagnóstico e encaminhamento caso haja

necessidade do seguimento da sua doença descoberta.

Em 1996, pesquisadores americanos realizaram um trabalho pioneiro

em que calcularam as taxas de incidência de doenças infecciosas

transfusionais em cinco Bancos de Sangue, estudaram 586.507 doadores

que realizaram 2.318.356 doações no período de 1991 a 1993. O risco

transfusional foi calculado por meio da soroconversão para cada um dos

agentes infecciosos ajustados conforme o período da janela imunológica de

cada um. A seguir, estimaram qual a redução esperada no risco

transfusional com a inclusão na triagem sorológica de testes mais sensíveis,

como a pesquisa de ácidos nucleicos. As taxas para risco de transmissão

viral por meio da doação de sangue no período de janela infecciosa foram as

seguintes: para o HIV, 1 em 493.000 para HTLV, 1 em 641.000, para HCV, 1

em 103.000 e para o HBV, uma em 63.000. O HBV e o HCV representaram

88 por cento do risco total de 1 em 34.000. A inclusão da pesquisa de NAT

poderia resultar em uma redução significativa no risco transfusional do HCV

uma vez que diminuiria o período de janela de 72 dias para 2787.

Page 40: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

27

Em 1997, a Cruz Vermelha Alemã introduziu a técnica de amplificação

do ácido nucleico (NAT) com intuito de reduzir o risco residual nos Bancos

de Sangue. Foram testadas 31.524.571 doações de sangue no período de

1997 a 2005. O risco residual estimado para cada unidade transfundida foi

de 1 em 10.880.000 para o HCV, 2 em 4,30 milhões para o HIV e 1 em

360.000 para o VHB. Concluíram que o risco de um doador de sangue

tornar-se reativo para cada uma das doenças avaliadas é bem baixo e que,

provavelmente, a transmissão para os receptores é menor ainda88.

Nos Estados Unidos da América (EUA), aproximadamente 3 casos de

malária associados à transfusão foram relatados durante o período de 1993

a 1998, a incidência foi calculada de 0 a 0,2 casos por unidade transfundida.

O recurso utilizado em países em que a malária não é endêmica é a recusa

temporária para candidatos que viajaram para regiões nas quais a malária é

endêmica. Conforme o questionário da AABB89, recusam-se por um ano

candidatos que viajaram para regiões endêmicas e, por 3 anos, os que

residiram por mais de cinco anos. Recusam-se imigrantes e refugiados

originários de países endêmicos para malária. A liberação destes candidatos

para doação normalmente se dá após o tempo recusado e na ausência de

sintomas clínicos compatíveis de malária. Entretanto, há um impacto

negativo quanto à recusa destes candidatos caso não estejam infectados,

que é o desabastecimento dos estoques de sangue, porque só serão

liberados para doação daqui a três anos. Segundo alguns pesquisadores,

candidatos que viajaram para a África apresentam risco de infecção por

malária mais de 1000 vezes maior do que a aqueles que viajaram para as

Page 41: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

28

zonas endêmicas de malária do México, entretanto, houve número dez

vezes maior de candidatos recusados por terem viajado para o México. O

risco de coletar uma unidade contaminada é de uma em 57 anos com um

ganho anual de mais de 56 mil doações se o período de recusa de 12 meses

for encurtado para 3 meses. Este estudo fornece dados para questionar as

diretrizes adotadas em cada país90.

Nas últimas três décadas91, novos casos de malária transfusional foram

relatados na literatura médica, no Reino Unido, dois casos, sendo que um foi

a óbito entre 1996 e 201192, na França, em 2009, um pelo Plasmodium

falciparum93, nos EUA, no período de 1996 a 1998, três casos, sendo dois

deles fatais94, e, ainda, no Canadá, três casos por Plasmodium falciparum

no período de 1994 a 199795.

Em território nacional todo candidato à doação responde a um

questionário clínico e todo sangue doado é testado conforme normatização

da triagem sorológica prevista pela legislação vigente. É obrigatória a

realização de exames laboratoriais de alta sensibilidade a cada doação, para

detecção de marcadores para as seguintes infecções transmissíveis pelo

sangue: sífilis; doença de Chagas; hepatite B; hepatite C; AIDS; e HTLV I/II.

Os exames devem ser feitos em amostra colhida no ato da doação. Em

relação à triagem clínica para malária, devem ser adotados os seguintes

critérios: a) a inaptidão de candidato à doação de sangue deve ocorrer

usando-se como critério de referência a Incidência Parasitária Anual (IPA) do

Município; b) em áreas endêmicas, com antecedentes epidemiológicos de

malária, considerar inapto o: 1) candidato que tenha tido malária nos 12

Page 42: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

29

meses que antecedem a doação; 2) candidato com febre ou suspeita de

malária nos últimos 30 dias; 3) candidato que tenha se deslocado ou

procedente de área de alto risco (IPA maior que 49,9) há menos de 30 dias.

Em regiões endêmicas de malária, com transmissão ativa, independente da

incidência parasitária da doença, deve ser realizado teste para detecção do

plasmódio ou de antígenos plasmodiais. c) em áreas não endêmicas,

considerar inapto o candidato que tenha se deslocado ou procedente de

Municípios localizados em áreas endêmicas há menos de 30 dias; d) em

áreas não endêmicas, considerar apto: 1) candidato procedente de

Municípios localizados em áreas endêmicas, após 30 dias e até 12 meses

do deslocamento, sendo que, nesse período, é necessária a realização de

testes de detecção do plasmódio ou de antígenos plasmodiais; 2) candidato

procedente de municípios localizados em áreas endêmicas, após 12 meses

do deslocamento, sem necessidade de realização de testes de detecção; e)

considerar aptos, após 12 meses do tratamento e comprovação de cura, os

candidatos à doação que tenham manifestado malária; f) independente da

endemicidade da área, será considerado inapto definitivo o candidato que

teve infecção por Plasmodium malariae (Febre Quartã); g) em casos de

surtos de malária, a decisão quanto aos critérios de inaptidão deve ser

tomada após avaliação conjunta com a autoridade epidemiológica

competente84.

Por ocasião da realização deste trabalho, a legislação em vigor era a

RDC nº 153 de 14 de junho de 2004 e foi substituída pela atual. Os critérios

clínicos eram os seguintes: a) A inabilitação para o ato de doar sangue deve

Page 43: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

30

ocorrer segundo os critérios estabelecidos a partir da incidência da doença

no local, usando-se como critério de referência o índice parasitário anual –

IPA – fornecido por órgão oficial; b) Em áreas endêmicas, rejeitar o

candidato que tenha tido malária nos 12 meses que antecedem a doação; ou

com febre e suspeita de malária nos últimos 30 dias; c) Rejeitar o candidato

procedente de área de alto risco de malária de acordo com o IPA. Aceitar os

candidatos procedentes de área de médio e baixo risco, e submetê-los a

teste parasitológico; d) Rejeitar o candidato com residência em área de alto

risco pelo IPA. Será considerado apto quando o IPA permitir. Aceitar os

candidatos que residem em área de médio e baixo risco, e submetê-los a

teste parasitológico; e) Em áreas não endêmicas, rejeitar candidatos que,

nos últimos 06 (seis) meses, estiveram em área endêmica com transmissão

ativa; e/ou nos últimos 03 (três) anos, tiveram malária ou que residiram em

áreas endêmicas; f) Em áreas endêmicas ou não endêmicas, excluir,

definitivamente, candidatos que tiveram infecção por Plasmodium malariae

(Febre Quartã). Ao compararmos as duas portarias, verificamos que, na

atual, houve a liberação mais precoce do candidato que esteve em área

endêmica e a inclusão da testagem para malária por meio da pesquisa do

plasmódio ou de antígenos plasmodiais85.

Em 2008, tivemos um caso de malária transfusional aqui na Capital

causado pelo Plasmodium malariae em um paciente submetido à cirurgia e

que necessitou receber sangue proveniente de um doador assintomático,

também aqui do estado e que não visitou nem morou em área endêmica e

também não teve malária96.

Page 44: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

31

A transmissão da malária por transfusão pode se tornar um risco em

escala global haja vista que o parasita é amplamente distribuído com maior

prevalência nas regiões tropicais e subtropicais com flora e fauna

exuberante regiões muito procuradas para lazer por sua beleza natural.

Assim como a população nativa, a população visitante pode ou não ser

contaminada e pode ou não manifestar os sintomas da infecção, e ainda ser

aceito como candidato à doação de sangue. A fatalidade da malária

transmitida pela transfusão de sangue é que, em alguns casos, desencadeia

consequências graves, principalmente na infecção pelo Plasmodium

falciparum, levando rapidamente a quadros fatais. Em regiões não

endêmicas, um quadro de malária transfusional com surtos febris e hemólise

pode não ser suspeitado. Em países e regiões não endêmicas, em que a

prevalência dos plasmódios é baixa, o controle da contaminação é realizado

especialmente por meio da triagem clínica dos candidatos. A conduta

adotada consiste em excluir doadores caso estes tenha viajado para áreas

malarígenas previamente definidas. Em países endêmicos, o problema é

bem maior, uma vez que a maioria dos doadores pode estar potencialmente

infectada e não apresentar sinais clínicos97. Existe um dilema a ser resolvido

em que a recusa de um candidato saudável culmina em desperdício

onerando os estoques de sangue tão fundamental para o tratamento dos

pacientes e o outro que consiste na liberação inadequada de um candidato

infectado que pode transmitir a infecção. Desta maneira, é necessário que

novas estratégias sejam desenvolvidas a fim de contribuir com ambos:

segurança e suficiência do sangue doado.

Page 45: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

32

Algumas dúvidas sobre a triagem para malária estão presentes na

nossa rotina diária em Bancos de Sangue, uma delas é sobre a eficácia do

questionário utilizado, em que seu emprego não poderia permitir a liberação

de doadores como os de Juquitiba. O outro se refere à sensibilidade do teste

empregado para a pesquisa do parasita em portadores de malária

subclínica. Por meio do questionamento destas perguntas, desenvolvemos o

questionário clínico para pesquisa da malária em região não endêmica,

baseado na ocorrência de casos autóctones aqui do estado de São Paulo.

Page 46: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

2 OBJETIVOS

Page 47: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

34

2 OBJETIVOS

2.1 Validação do questionário de triagem

Analisar a correlação entre o resultado da testagem do sangue dos

candidatos por PCR para Plamodium spp e recusa pelo questionário

idealizado;

Comparar as técnicas laboratoriais empregadas: PCR e sorologia

(ELISA).

2.2 Estudo transversal em candidatos à doação de sangue em hemocentro público

Comparar características individuais dos candidatos: sexo, frequência

de doação e média de idade;

Comparar dados demográficos entre os grupos estudados.

Page 48: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

3 MATERIAL E MÉTODO

Page 49: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

36

3 MATERIAL E MÉTODO

Neste capítulo, serão apresentadas as etapas do estudo para obtenção

do objetivo. Os sujeitos serão estudados segundo as variáveis idade, sexo,

número de doações realizadas no serviço e características demográficas

relativas à visitação ou moradia em região com malária autóctone no estado

de São Paulo.

3.1 Desenho do estudo

Estudo transversal risco-controle, em que o grupo de risco para malária

foi formado por meio de doadores que moravam ou visitaram, nos últimos 30

dias, regiões com casos autóctones de malária no estado de São Paulo. E

ainda se faziam parte integrante de algum estudo de malária no estado de

São Paulo. O grupo controle foi formado por candidatos que não

preencheram os requisitos acima. Os sujeitos do trabalho foram convidados

a participar da pesquisa por serem candidatos à doação de sangue na

Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo (FPS/HSP). O estudo foi

aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital das Clínicas da Faculdade de

Medicina da Universidade de São Paulo (nº 100/2012) (Anexo A).

Page 50: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

37

3.2 Método de análise

As questões a serem validadas foram adicionadas para selecionar o

grupo de risco para malária e incluíram regiões de São Paulo com, pelo

menos, um caso de malária diagnosticada no período de 2003 a 2007. A

triagem clínica dos candidatos foi realizada em conformidade com a norma

ministerial para coleta de sangue vigente em território nacional. Todos os

participantes do estudo responderam ao mesmo questionário informatizado

que foi executado por pessoal treinado e habilitado. Ao final do questionário,

o candidato foi considerado apto ou não à doação de sangue.

As questões que foram adicionadas ao questionário padrão foram as

seguintes:

1. Visitou as cidades de Bertioga, Cajatí, Cananéia, Eldorado, Ibiúna,

Iguape, Iporanga, Itanhaém, Juquiá, Juquitiba, Miracatú,

Monguaguá, Pedro de Toledo, Peruíbe, Rio Grande da Serra,

Salesópolis, São José do Barreiro, São Sebastião, São Vicente,

Tapiraí, Ubatuba, Itapecerica da Serra, a região de Cananéia (Ariri,

Pariguacu), ou os bairros Engenheiro Marsillac e Parelheiros da

grande São Paulo nos últimos trinta dias?

2. Morou nestas regiões?

3. Faz parte de algum estudo de malária?

Page 51: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

38

3.3 Material

3.3.1 Grupo de risco para Malária

Critérios de Inclusão

Candidato à doação de sangue total no período de agosto de 2008 a

março de 2010;

Candidato que residiu em região de casos autóctones de malária no

estado de São Paulo;

Candidato que visitou região de São Paulo com casos autóctones de

malária nos últimos 30 dias;

Candidato que fez parte de estudo sobre malária no estado.

Critérios de Exclusão

Candidato que residiu no passado em região endêmica;

Candidato que visitou região endêmica nos últimos 6 meses;

Candidato que teve malária.

3.3.2 Grupo Controle

Critérios de Inclusão

Candidato à doação de sangue total no período de agosto de 2008 a

março de 2010;

Page 52: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

39

Candidato que não residiu em região de casos autóctones de

malária no estado de São Paulo;

Candidato que não visitou região de São Paulo com casos

autóctones de malária nos últimos 30 dias.

Critérios de Exclusão

Candidato que residiu no passado em região endêmica;

Candidato que visitou região endêmica nos últimos 6 meses;

Candidato que teve malária;

Candidato que fez parte de estudo para malária.

3.4 Métodos laboratoriais

O exame de PCR em tempo real para Plasmodium falciparum,

Plasmodium malariae e Plasmodium vivax foi realizado em todas as

amostras de todos os candidatos dos dois grupos. Após a realização do

exame de PCR, foi feita a sorologia para a malária nas amostras em que o

resultado do PCR foi positivo. O DNA genômico das amostras dos

candidatos foi extraído pelo método “salting out” modificado e a integridade

confirmada por meio de eletroforese em gel de agarose98,99. Foram utilizados

os resultados do projeto nº 0392/08, em que as espécies de plasmódios

foram pesquisadas pelo teste da reação de cadeia de polimerase em tempo

real segundo Gama et al.99. As amostras foram testadas para Plasmodium

Page 53: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

40

malariae, Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax utilizando iniciadores

e sondas descritos na Tabela 1, os “standarts” espécies específicos foram

gentilmente disponibilizados pelo Dr Marcelo U. Ferreira.

Tabela 1 - Iniciadores e sondas da “Applied Biosystems” utilizados na pesquisa de cada espécie de plasmódio.

P. malariae

MAL-F ACGATCAGATACCGTCGTAATCTT

MAL-R GAACCCAAAGACTTTGATTTCTCAT

MAL sonda AGAGACATTCTTATATATGAGGTG

P. falciparum

FAL-F CTTTTGAGAGTTTTGTTACTTTGAGTAA

FAL-R TATTCCATGCTGTAGTATTCAAACACAA

FAL sonda TGTTCATAACAGACGGGTAGTCATGATTGAGTTCA

P. vivax

VIV-F ACGCTTCTAGCTTAATCCACATAACT

VIV-R ATTTACTCAAAAGTAACAAGGACTTCCAAGC

VIV sonda TTCGTATCGACTTTGTGCGCATTTTGC

Os resultados da amplificação da reação da cadeia de polimerase e a

análise automatizada em tempo real foram obtidos no equipamento Rotor

Gene 3000 (Corbett Research, San Francisco, EUA) com software Rotor

Gene 6. Cada amostra foi analisada em duplicata, sendo amplificadas

somente as amostras em que houve identificação de, pelo menos, uma

espécie, além disto, não se observou reação de amplificação cruzada.

Nenhum produto de PCR foi detectado em amostras que não continham o

parasito. Oitenta e três amostras cegadas dos dois grupos (risco para

malária e controle), sendo 64 positivas e 19 negativas foram testadas por

PCR em tempo real pela Fundação FIOCRUZ, havendo concordância e

concomitância em 100% do resultado encontrado da pesquisa positiva ou

negativa para as três espécies de plasmódios analisados.

Page 54: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

41

Os soros dos candidatos com PCR positivo para P. vivax e/ou P.

falciparum foram testados por ELISA usando o kit de teste de anticorpos

ELISA Malária (produto 46.460, DiaMed Suíça). O teste rápido é um ensaio

imunoenzimático capaz de identificar anticorpos IgG e IgM contra

Plasmodium spp. Os antígenos utilizados são provenientes de uma cultura

de extrato de Plasmodium falciparum enriquecido com antígenos

recombinantes de Plasmodium vivax que são distribuídos e imobilizados em

placa de Elisa com 96 poços. A amostra testada após encubação é lavada e,

a seguir, encubada novamente na presença de anticorpos anti-IgG e anti-

IgM humanos conjugados com peroxidase. Segundo o fabricante, dada a

semelhança antigênica entre as espécies de plasmódios, também é possível

a identificação dos Plasmodium ovale e Plasmodium malariae.

3.5 Análise estatística

Os dados foram analisados em estudo caso (risco para malária) –

controle não pareado, avaliando as questões relativas à exposição dos

indivíduos a situações epidemiológicas de risco em adquirir a malária

assintomática. Para analisar a significância estatística da associação entre

as respostas afirmativas do questionário a ser validado e os resultados

obtidos pela testagem do sangue, utilizou-se o teste chi-quadrado e, quando

este último não se adequou à amostra, o teste da razão de verossimilhanças

ou o teste de Fisher.

Page 55: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

42

Foram calculadas as medidas diagnósticas do questionário, valor

preditivo positivo e negativo, sensibilidade e especificidade para verificar o

desempenho do mesmo na seleção do candidato com malária subclínica.

As análises foram realizadas com uso do software SPSS versão 20.0 e

os testes foram realizados com nível de significância de 5%.

Page 56: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

4 RESULTADOS

Page 57: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

44

4 RESULTADOS

O grupo de risco foi composto por 500 candidatos, sendo 275 (55%) do

sexo masculino e 225 (45%) do sexo feminino, com uma média de 31,62 (±

8.81) anos de idade, em que 419 (83,8%) doadores tinham idade igual ou

inferior a 45 anos. Em relação à frequência de doações, 190 (38%)

candidatos eram doadores de 1ª vez e 310 (62%) de repetição, sendo que

estes últimos doaram, em média, seis vezes cada um. O grupo controle com

606 candidatos apresentou 412 (68%) candidatos do sexo masculino e 194

(32%) do sexo feminino, com média de idade de 36,69 (± 8,88) anos e 475

(78,38%) com idade inferior ou igual a 45 anos. Em relação à frequência de

doações, 485 (80%) eram doadores de repetição e doaram, em média, sete

vezes cada um. Os grupos de risco para malária e de controle foram

analisados pelo teste chi-quadrado conforme sua característica de sexo,

frequência de doação e média de idade, evidenciando estatísticamente que

não são grupos homogeneamente iguais (p<0,001) (Tabela 2).

Tabela 2 - Sexo, Frequência de Doação e Idade Média de ambos os Grupos

Grupo n† Sexo Sexo Doador de Doador de Média Idade

Masculino Feminino 1ª vez repetição ± DP (anos)

Risco Malária 500 275(55%) 225(45%) 190(38%) 310 (62%) 31,62(± 8,81)

Controle 606 412(68%) 194(32%) 121(20%) 485(80%) 36,69(± 8,88)

p

<0,001 <0,001

n†: número total de cada grupo. Doador de 1ª vez: indivíduo que doará pela primeira vez. Doador de Repetição: mais que uma doação no período de um ano. DP: desvio-padrão em anos.

Page 58: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

45

Dos 1106 candidatos à doação, 84 (7,59%) apresentaram PCR positivo

para Plasmodium spp. Dos 500 integrantes do grupo de risco para malária,

61 (12,2%) apresentaram PCR positivo para Plasmodium spp. No grupo

controle, com 606 candidatos, 23 (3,79%) apresentaram exames positivos

para Plasmodium spp. Observou-se que a aplicação do questionário

idealizado para malária selecionou maior número de candidatos com PCR

positivo, como nos mostra a Tabela 3.

Tabela 3 - Taxa da reação de cadeia de polimerase positivo para Plasmodium spp nos grupos risco para Malária e controle.

Grupo n† PCR Positivo p

Risco Malária 500 61 (12,2%)

<0,001 Controle

Total

606

1106

23 (3,79%)

84(7,59%)

n†: número total de cada grupo. PCR: Reação de Cadeia de Polimerase PCR Positivo: número de PCR positivo em cada grupo

Dos 61 candidatos do grupo de risco para malária com PCR positivo,

foram identificados 53 (86,9%) para o Plasmodium falciparum, 7 (11,5%)

para o Plasmodium vivax, 1 (1,6%) para ambos Plasmodium falciparum e

Plasmodium vivax e 0 (0%) para Plasmodium malarie. Nos 23 candidatos do

grupo controle, a taxa foi de 4 (17,4%) para o Plasmodium falciparum, 18

(78,3%) para o Plasmodium vivax, 1 (4,3%) para ambos Plasmodium

falciparum e Plasmodium vivax e 0 (0%) Plasmodium malariae, a

porcentagem encontrada de plasmódios e suas espécies foi diferente nos

dois grupos e foi estatisticamente significativa com p<0,001 (Tabela 4).

Page 59: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

46

Tabela 4 - Taxa de reação de cadeia de polimerase positiva para Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax e Plasmodium malarie nos diferentes grupos.

Grupo Pf Pv Pf+Pv Pm

Total Pos p

Risco Malária 53 (86,9%) 7 (11,5%) 1 (1,6%) 0 (0%) 61 <0,001

Controle 4 (17,4%) 18 (78,3%) 1 (4,3%) 0 (0%) 23

PCR: Reação de Cadeia de Polimerase Pf : PCR positiva para Plasmodium falciparum Pv: PCR positiva para Plasmodium vivax Pf+Pv: PCR positiva para Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax Pm: PCR positiva para Plasmodium malariae Total Pos: número total de PCR positivo em cada grupo

Dos 61 candidatos com PCR positivo do grupo de risco, apenas 26

indivíduos residiam no local de Mata Atlântica preservada, os outros 35

apenas visitaram-na nos últimos trinta dias. Nenhum indivíduo deste grupo

fez parte de algum estudo para malária. Aplicado o teste da razão de

verossimilhanças, observou-se que não há diferença na positividade do PCR

entre aqueles que vivem ou visitam a região (Tabela 5).

Tabela 5 - Positividade de PCR conforme residência ou visitação de região de Mata Atlântica preservada.

PCR Positivo

n† Visitou Residiu p

Pf 53 (86,9%) 31 (88,6%) 22 (84,6%) 0,420*

Pv 7 (11,5%) 3 (8,6%) 4 (15,4%)

Pf+Pv 1 (1,6%) 1 (2,8%) 0 (0,0%)

Total 61 35 26

PCR Positivo: teste positivo para cada espécie de plasmódio. n†: número total de cada grupo segundo a espécie identificada. Pf : Plasmodium falciparum Pv: Plasmodium vivax Pf+Pv: PCR positiva para Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax *Resultado do teste da razão de verossimilhanças.

Foi verificado se a frequência do PCR positivo era dependente da

idade dos integrantes dos dois grupos, dividindo-os em dois: maiores que 45

anos (> 45) e menores ou igual a 45 anos (≤ 45). No grupo de risco para

Page 60: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

47

malária, a idade não teve impacto na frequência do PCR positivo, foram

encontrados 12 (6,7%) indivíduos com mais de 45 anos e 49 (8,5%) com

idade inferior ou igual a 45 anos. No grupo controle, os indivíduos com 45

anos ou menos tiveram uma maior frequência do PCR positivo com 22

(4,63%) indivíduos com idade inferior ou igual a 45 anos e somente um

(0,76%) com idade superior. No grupo controle, a taxa encontrada de acordo

com a idade foi estatisticamente significativa e inferior a 45 anos, e, no grupo

de risco, não (Tabela 6).

Tabela 6 - Faixa etária > e ≤ a 45 anos e positividade no PCR dos grupos.

Grupo Idade (anos) n PCR Positivo PCR Negativo p

Risco Malária

> 45 81 12 (6,7%) 69 (93,3%) 0,432

≤ 45 419 49 (8,5%) 370 (91,5%)

Total

500 61 (12,2%) 439 (87,8%)

Controle > 45 131 1 (0,76%) 130 (99,24%)

0,039# ≤ 45 475 22 (4,63%) 453 (95,37%)

Total

606 23 (5,39%) 583 (94,61%)

> 45: grupo formado por indivíduos com idade superior a 45 anos. ≤ 45: grupo formado por indivíduos com idade inferior ou igual a 45 anos. n: número de cada grupo. PCR Positivo: número de PCR positivo em cada grupo PCR Negativo: número de PCR negativo em cada grupo # Resultado do teste exato de Fisher

Os resultados positivos do PCR dos dois grupos (risco para malária e

controle) foram comparados em relação à frequência de positividade dos

resultados positivos da sorologia. No grupo de risco para malária, com 61

PCR positivos, foram encontrados 11 resultados de sorologia positiva e, no

grupo controle, com 23 resultados positivos de PCR, não foi encontrado

nenhum resultado positivo de sorologia (Tabela 7).

Page 61: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

48

Tabela 7 - Resultados de PCR e sorologia positivas em ambos os grupos.

Grupos n† PCR Positivo Sorologia Positiva

Risco Malária 500 61(12,2%) 11(2,2%)

Controle 606 23(3,78%) 0

Total 1106 84(7,59%) 11(2,2%)

n†: número total de cada grupo. PCR: “Polymerase chain reaction”; Reação de Cadeia de Polimerase.

A sensibilidade do questionário aplicado foi de 72,6% e a

especificidade de 57%. O valor preditivo positivo foi de 12,2% e o valor

preditivo negativo de 96,2% (Tabela 8).

Tabela 8 - Sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo do questionário para Malária.

Questionário PCR Positivo PCR Negativo n

Risco Malária (+) 61 439 500

Controle (-) 23 583 606

Total 84 1022 1106

Sensibilidade (%) = 61/84 = 72,6 (IC 95%: 61,8; 81,8) Especificidade (%) = 583/1022 = 57,0 (IC95%: 53,9; 60,1) Valor Preditivo Positivo (%) = 61/500 = 12,2 (IC95%: 9,5; 15,4) Valor Preditivo negativo (%) = 583/606 = 96,2 (IC95%: 94,4; 97,6)

Page 62: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

5 DISCUSSÃO

Page 63: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

50

5 DISCUSSÃO

Os indivíduos estudados neste trabalho se candidataram à doação de

sangue no período de 2008 a 2010 e foram divididos seguindo,

primariamente, o critério de residir e/ou visitar áreas com ocorrência de

casos autóctones de malária no estado de São Paulo, e/ou fazer parte de

algum estudo de malária e não pelo sexo, idade ou frequência de doações.

Possivelmente por esta razão, os grupos sejam diferentes entre si, ou seja,

os candidatos do grupo de risco para malária eram 275 (55%) do sexo

masculino, 190 (38%) doadores de 1ª vez, com uma média de idade de

31,62 (± 8,81) anos, já no grupo controle, 412 (68%) eram do sexo

masculino, 121 (20%) doadores de 1ª vez, com uma média de idade de

36,69 (± 8,88) anos. (p<0,001)

Foram encontrados 84 (7,59%) candidatos com PCR positivo quando

somados os dois grupos, e este achado foi bastante alto para uma região

não endêmica da doença. Fugikaha et al. realizaram PCR-nested em 400

doadores de quatro bancos de sangue de região endêmica brasileira com

intuito de avaliar portadores subclínicos para malária e obteve uma taxa de

positividade que variou de 1 a 3% dos doadores de sangue nas quatro

regiões, com uma média de 2,3%. Todos os indivíduos positivos tinham

infecções mistas por Plasmodium vivax e Plasmodium falciparum. Ao final do

estudo, concluiu que ainda não está claro se estes portadores

assintomáticos possam atuar como reservatório para o vetor e novos

Page 64: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

51

estudos deverão considerar o fato na triagem dos Bancos de Sangue100.

Outro trabalho realizado na Colômbia em portadores assintomáticos de

malária de área endêmica relata a mesma preocupação e mostra que o

PCR-nested foi capaz de diagnosticar 50% a mais que a microscopia e que

a prevalência de Plasmodium spp foi de 14,6%101. Os nossos resultados

podem ser justificados pelo emprego do PCR em uma região não endêmica

em que a oligossintomatologia resultante da baixa parasitemia, ou, ainda,

secundária à imunidade individual de cada doador necessita ser melhor

caracterizada. Estes candidatos não foram recusados na triagem clínica por

que não havia motivo previsto na legislação vigente capaz de justificar o

impedimento à doação.

Segundo alguns autores55,62, portadores subclínicos de malária

desenvolvem uma imunidade adquirida e parcial, ao longo de anos de

exposição à doença, em que a infecção é assintomática com baixa

parasitemia. Por esta razão, era esperado que os candidatos infectados

fossem mais velhos. Verificamos que a idade acima de 45 anos não foi um

fator preditor no grupo de risco, pois não houve significância estatística. Já

no grupo controle, encontramos o contrário (0,039#), ou seja, 22 candidatos

dos 23 infectados tinham idade inferior ou igual a 45 anos. Uma possível

explicação para o fato seria que estes indivíduos, por serem mais jovens,

viajariam mais a lazer e se exporiam mais ao plasmódio.

No grupo controle, foi encontrado 3,79% de positividade no PCR,

sendo 78,3% para o Plasmodium vivax e este achado não esperado pode

ser explicado caso a infecção tenha ocorrido numa data não contemplada

Page 65: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

52

pelo questionário, ou seja, anterior a 30 dias ou que estes indivíduos tenham

frequentado uma região de malária autóctone ainda não diagnosticada pela

Vigilância do Estado de São Paulo.

Não houve diferença estatística quando comparados os resultados

positivos de PCR dos candidatos que residiam com os que visitaram as

regiões com malária autóctone nos últimos trinta dias. Portanto, as

perguntas: “Visitou as cidades de Bertioga, Cajatí, Cananéia, Eldorado,

Ibiúna, Iguape, Iporanga, Itanhaém, Juquiá, Juquitiba, Miracatú, Monguaguá,

Pedro de Toledo, Peruíbe, Rio Grande da Serra, Salesópolis, São José do

Barreiro, São Sebastião, São Vicente, Tapiraí, Ubatuba, Itapecerica da

Serra, a região de Cananéia (Ariri, Pariguacu), ou os bairros Engenheiro

Marsillac e Parelheiros da grande São Paulo nos últimos trinta dias?” e a

“Morou nestas regiões?” podem ser consolidadas em uma só.

Nos últimos seis anos, foram relatados três casos de malária

transfusional em São Paulo82 causados pelo Plasmodium malariae e este

agente epidemiológico não foi encontrado na pesquisa das amostras dos

candidatos deste estudo, pode ser explicado pelo tamanho da amostra ou

pelo fato dos candidatos não serem provenientes da mesma região

geográfica desses relatos.

Quando realizada a sorologia nos candidatos que apresentaram PCR

positivo no grupo de risco, não foi observada coincidência entre todos os

resultados. O resultado da sorologia foi positiva em apenas 11 (2,2%)

candidatos, enquanto o PCR foi positivo em 61 (12,2%). No grupo controle,

não houve nenhum sorologia positiva. Desta forma, concluímos que o teste

Page 66: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

53

sorológico empregado não foi capaz de detectar a infecção subclínica. Até o

momento, a literatura não aponta uma técnica laboratorial capaz de

diagnosticar efetivamente a malária subclínica em candidatos à doação de

sangue102. Segundo Kitchen e Chiodini, a malária transfusional foi uma das

primeiras infecções transmitidas pela transfusão e que, em uma escala

global, pode ter consequências graves, principalmente a causada pelo P.

falciparum. Assegurar que, em países não endêmicos, o sangue não esteja

contaminado pode ser um problema, uma vez que doadores potenciais

viajam para regiões malarígenas e locais antes erradicados para malária,

mas com atual ressurgimento. O autor acredita que a recusa clínica de

candidatos potencialmente contaminados em Bancos de Sangue pode ser

eficaz desde que tenha diretrizes bem estabelecidas97.

Ao compararmos os resultados do PCR dos dois grupos, o grupo de

risco selecionado pelo questionário foi capaz de eleger três vezes mais

candidatos infectados pelo plasmódio (p< 0,001) quando comparado com o

grupo controle. A sensibilidade do questionário aplicado foi de 72,6% e a

especificidade de 57%. O valor preditivo positivo foi de 12,2% e o valor

preditivo negativo de 96,2%. Podemos concluir que o questionário aplicado

tem uma sensibilidade moderada com um alto valor preditivo negativo e que,

neste caso, é bastante útil na triagem clínica de candidatos em Banco de

Sangue. Os candidatos que foram liberados pelo questionário para doar em

sua maioria não eram portadores assintomáticos de malária, condição esta

desejada, porque diminui o risco transfusional para malária.

Page 67: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

54

Em relação às espécies de plasmódios encontradas, podemos concluir

que o emprego do questionário focado na ocorrência de casos de malária

selecionou candidatos com risco de transmitir malária transfusional,

principalmente pelo Plasmodium falciparum (p<0,001). Possivelmente, nas

áreas estudadas com malária autóctones, existam maior número de

portadores subclínicos de Plasmodium falciparum. Acreditamos que novos

estudos necessitam serem desenvolvidos para melhor caracterizar os

portadores subclínicos e a malária transfusional em nossa região. Em

relação aos Bancos de Sangue, desejamos que novas diretrizes quanto à

transmissão da malária possam ser definidas quer seja em relação à triagem

clínica, à viabilidade dos parasitas nos hemocomponentes coletados e a sua

capacidade em causar a doença e, por último, à formação de profissionais

médicos capazes de fazer a hipótese diagnóstica de malária em quadros

febris hemolíticos pós-transfusionais.

Page 68: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

6 CONCLUSÕES

Page 69: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

56

6 CONCLUSÕES

O questionário para malária baseado na ocorrência de casos

autóctones no estado de SP identificou um grupo de portadores de

Plasmodium spp três vezes maior que o controle comprovado por PCR-RT.

A consolidação em uma só questão das variáveis “visitação” e

“residência” poderá ser realizada por não haver diferença entre as duas

situações. A questão deverá ser inclusa na triagem clínica dos doadores por

diminuir o risco de malária transfusional uma vez que a legislação vigente

não é capaz de atender todas as particularidades da transmissão da malária

em território nacional.

A questão sobre participação de algum estudo de malária não pode ser

avaliada por não haver nenhum candidato que se enquadrasse nesta

situação.

Nenhuma sorologia foi positiva no grupo controle e uma

correspondência não equitativa no grupo de risco para malária nos leva a

descartar especificamente o teste utilizado para selecionar candidatos com

malária subclínica.

Não esperávamos que encontrássemos portadores assintomáticos no

grupo controle, e acreditamos que estudos epidemiológicos futuros possam

definir e delimitar a sua ocorrência e o seu papel na transmissão

transfusional da malária em região não endêmica.

Page 70: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

7 ANEXOS

Page 71: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

58

7 ANEXOS

ANEXO A – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da FMUSP.

Page 72: “Validação do Questionário de Triagem Clínica para Malária em

8 REFERÊNCIAS

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