VALE DE LAMA

Uma publicação daINICIATIVA AUTÔNOMA ANTINUCLEAR

SOBRE O TSUNAMI DE REJEITOS TÓXICOSODE 5 DE NOVEMBRO DE 2015

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DOSMESM

OS

PRODUTOR

ES

DE OUTRAS

CATASTRO

FES

EMPRESAR

IAIS

COMFINS

LUCRATIV

OS

0 ECOCÍDIO DO RIO DOCE

"Avisados que na estrada principal haviabarreiras policiais, que uma ponte havia sidoderrubada, que não se chegava mais emBento Rodrigues, fomos por uma estradinhade terra, secundária. Muito antes de chegarjá se via o tamanho da onda venenosa, namarca quase horizontal no alto dos montes.Dali pra baixo era só lama, as árvores foramarrancadas, ficaram as do alto, as primeirasmanchadas do vermelho-lama em seustroncos, marcando o nível da maré.Seguimos vários quilômetros pelos valessecundários, a onda havia subido, atingidoinúmeras nascentes rios acima, o sentimentoda gravidade nos silenciava. (...) Devastação.Explosão atômica. Imagens de Marte.Destruição. Morte no ar. Difícil descrever acombinação de sentimentos. (...) Haviapanelas nos fogões, cimentadas pelo materialseco, pastas de dentes e xampus colados noteto, carros sobre e dentro de casas,geladeiras fedendo a comida podre, viradas,nos altos das casas."Fonte: http://tinyurl.com/ol7mvp3

de 2015, um tsunami de lama tóxica de rejeitosde mineração da Vale/SAMARCO iniciou suatrajetória de devastação.63 milhões de metros cúbicos de lama jorraramda barragem que desde 2013 era consideradainsegura e perigosa pelos especialistas.Este “acidente” fruto da ganância humana e dadisplicência corporativa, arrasou as cidades deMariana, Bento Rodrigues e outros distritos,deixando um número não revelado de mortos,centenas de feridos e milhares de desabrigados.Milhões de peixes foram mortos, árvores adultasforam arrancadas com as raízes, a lama poucotempo depois começou a se solidificar mudandoaté mesmo o relevo de algumas regiões.Mais de 230 municípios ficaram sem água,centenas de quilômetros de terras agriculturáveisestão agora soterrados de lama envenenada.Os danos ambientais e sociais são incalculáveis,as proporções do impacto são absurdas, eseguem paulatinamente sendo subestimadaspelas autoridades e pela mídia corporativa.Fato reconhecido por todos: o rio doce estámorto, e as populações do seu entorno têmagora diante de si um futuro incerto.

O ROMPIMENTODA BARRAGEM

Com a ruptura dabarragem doFundão, nomunicípio deMariana, MinasGerais, na tardede 5 de novembro

Trecho do RelatoApocalipse em Bento Rodrigues

Segundo análisesindependentes recentes otsunami de lama que acaboucom o vale do Rio Doceapresentou em algumas partesdo percurso do rio, muitasvezes a quantidade permitidade substâncias nocivas asaúde. Enquanto pode aSAMARCO buscou ocultaresses dados das populaçõesatingidas, e para isso contoujcom a ajuda os meios demídia do Grupo Globo queafirmou em seu principaltelejornal que a lama erainofensiva.

7028 vezes a quantidadede alumínio

6012 vezes a quantidadede manganês

264 vezes a quantidade dearsênio

103 vezes a quantidade dechumbo

70 vezes a quantidade decromo

52 vezes a quantidade deAntimônio

18 vezes a quantidade deníquel

8 vezes a quantidade debário

Desde o início da coberturadesta trajédia corporativa semprecedentes boa parte dascoberturas de imprensa seesforçaram por subdimensionaros terríveis impactos sociais eambientais.COMPOSIÇÃO

TÓXICADA LAMA

POR QUE HÁ TANTADISTORÇãO NA

COBERTURA MIDIATICA?

O número de vítimas, o tamanho da devastação, todas estasinformações foram subestimadas propositalmente, ao mesmotempo os meios midiáticos se esforçaram pordesresponsabilizar a mineradora tratando descaradamente odescaso corporativo, primeiro como desastre natural, depoiscomo assunto a ser esquecido e relevado.Nem depois de suas vidas serem soterradas, foi dada vozaos atingidos pela lama. Assistimos pelas mídias alternativasreporteres da Globo desligando o microfone e a câmeradiante da revolta dos sobreviventes da cidade soterrada deBento Rodrigues, cujas ruínas em breve serão demolidas.A destruição de um ecossistema inteiro, centenas dequilômetros, deu lugar para a apologia aos planos dereconstrução. Pouco se falou em rendimentos damineradora, dos dados de construção da barragem, deoutras barragens em risco. Nada disso acontece por acaso.Um dos acionistas da Vale é o maior grupo de mídia dopaís, a Globopar, do Grupo Globo de rádio e televisão. Acobertura da Globo omitiu na cara dura informações desuma importância para a saúde dos milhões de pessoasafetadas. As substâncias tóxicas na lama, por exemplo, nãoforam divulgadas em seus jornais.A revolta das pessoas que tiveram suas vidas encobertaspelo tsunami de lama foi abafada por estes meios de mídia,bastante acostumados a definir "a verdade" conforme seuspróprios interesses.Acionista da Vale (17%), ao grupo Globo não interessa quea mineradora seja responsabilizada por um envenenamentoem massa, nem pelo assassinato de centenas de quilômetrosde rios, a propria Globo teria que desembolsar recursos paraauxiliar os milhões de atingidos pela lama.É mais fácil assumir integralmente a farsa de que o quehouve um desastre natural, causado por tremores tão fortesquanto um estouro de manada de bois, e incitar a massa demanipulados que controla à ações de solidariedade.Fica fácil de entender porque no Brasil a mídia é umpapagaio de estimação das grandes corporações.

Fonte: http://tinyurl.com/zjunmps Fonte: http://tinyurl.com/q8r9be6

"..

Entre as muitaspopulações atingidasestão 300 índios daetnia Krenak que dodia 8 de novembro de

"MORRE O RIOMORREMOS TODOS"O LUTO DOS KRENAK

2015 viram seu rio sagrado ser sufocado pela lama daSAMARCO.Frente ao assassinato do rio doce, os Krenakdemonstraram sua raiva e tristeza manifestando-secontra os responsáveis por este desastre. Em 15 denovembro os Krenak fecharam a ferrovia quetransporta as toneladas de minério das entranhas daterra.No dia 26 de novembro, os Krenak se juntaram aosPankararu e aos Pataxó ocuparam a sede da DSEI(Distrito Sanitário Especial Indígena) em protesto àfalta de água potável, mantendo detidos 52funcionários no prédio.Mais do que um recurso hídrico, para além de serseu lugar de vida, onde pescavam, nadavam etomavam banho, o Rio assassinado para os Krenakera visto como uma divindade da qual são parentes.Pela sobrevivência das futuras gerações, os Krenakreinvidicam agora o Parque de Sete Salões nosmunicípios de Conselheiro Pena, Itueta e Santa Rita,em Minas Gerais. A área de 14 mil hectares quepretendem retomar não foi diretamente afetado pelalama.

“MATARAM VOCÊ MEU PARENTE,MATARAM NOSSO RIO SAGRADO.

O QUE ACONTECEU?!VEJAM MEUS PARENTES NOSSO RIO.

NOSSO PAI MORREU.POR QUE MATARAM VOCÊ?AGORA ESTOU SOZINHA

POR QUE OS BRANCOS MATARAM

VOCÊ, MEU PAI?OS PEIXES MORRERAM,

TUDO MORREU.”Djanira Krenak,

Lamento pela morte do Rio DoceFonte: http://tinyurl.com/zhsokdd

Depois de percorrer mais de 670quilômetros de rio, 16 dias após orompimento da barragem, no dia 21 denovembro o imenso volume de lamaalcançou a foz do Rio Doce nomunicípio de Linhares, Espírito Santo.O teatro com boias de contenção deóleo armado pela SAMARCO por contade uma ordem judicial, para fingiralguma providência, de nada adiantou.A lama que não podia ser contidacobriu a praia de regência,desembocando no mar os restos mortaisde milhões de peixes e outros animaisque morreram sufocados e intoxicados.Após desembocar no mar, o rio mortoe tóxico passou a contaminar cada vezmais o litoral do Espírito Santo levandoos capixabas a revolta e a tristeza.Ao alcançar o sul da Bahia a lamacobriu arrecifes de corais, e também aspraias que servem de santuário para adesova das tartarugas marinhas. Praiasparadisíacas acabaram indelevelmentecontaminadas.Em poucos dias a mancha de lamaalcançou 20 quilômetros mar adentro,se espalhando pela costa e alterando acoloração e a consistência da água dooceano no litoral brasileiro.

SUFOCANDOEM UM

MAR DE LAMA

AA

ESTADISTASFANTOCHES

FUNCIONÁRIOSDA MINERADORA

50%Vale

50%BHP

Billinton

SAMARCOA mineradora SAMARCO foifundada em 1977 com capital de50% Vale e 50% da BHP Billinton.Duas das maiores mineradoras domundo. Ambas as empresas sãoconhecidas por um histórico depoluição e perseguição amovimentos ambientais e sociaisde contestação. 100%

ASSASSINAA ganância da mineradora BHP Billinton de capital anglo-australiano tem levado a ruína paisagens nos cincocontinentes. Sua atuação desastrosa se estende ao Chile, aColômbia, a Argélia, ao Pakistão, a Trinidad Tobago ediversos outros países. A empresa foi responsável por casosde contaminação de grandes proporções tanto no Perú,quanto na Nova Guiné.A Vale tem em sua composição societal 33% de capitalestrangeiro. 49% é da Previ Fundos de Investimentos, 17,4%é dos grupos Globopar (Globo) e do Bradespar (Bradesco),15% é da multinacional Mitsui (um dos maioresconglomerados japoneses, de bancos à petroquímica, comtentáculos na Sony, Yamaha, Toyota), 9,5% do BNDES e5,3% do governo federal.

Fonte: http://tinyurl.com/ja6assw

Não houve grandeestranhamento quando ogovernador do estado deMinas Gerais deu uma coletivade imprensa sobre o tsunamide lama tóxica diretamente dasede da SAMARCO. Tambémnão é de se estranhar que oprefeito da cidade devastadade Mariana defenda apermanência da mineradoraque matou seus conterrâneos,destruiu sua cidade eenvenenou quase todomunicípio.Assim como outras empresas aVale costuma comprarpolíticos com gordosfinânciamentos paracampanhas eleitorais nasesferas municipal, estadual efederal. A empresa fez grandes"doações" a quase todospartidos políticos, ganhando asimpatia e a proteção dasautoridades. De fato, no Brasil,as mineradoras e construtorasestão entre os principaisfinanciadores de campanhas.

PMDB - 13,8 milhõesPSB - 5,7 milhõesPT - 4,3 milhões

PSDB - 3,6 milhõesPP - 1,7 milhõesPCdB - 1,1 milhãoDEM - 800 milPSD - 550 milPPS - 400 milPSD - 300 milPR - 200 mil

Fonte: http://tinyurl.com/npftn6c

DOAÇÕES EM REAISDAS MINERADORAS

AOS PARTIDOS

9 de nov - moradores de Mariana queapós o desastre ficaram sem suas casasuniram e protestaram na porta do fórumda cidade. Indignados, gritaram que orompimento da barragem não foinenhum acidente e que não háreparação ou indenização que possacobrir tudo que foi perdido.13 de nov - em Carapina, um grupo deenlameados foi para frente da sede daVale com cartazes, demonstrando suaindignação e apontando aresponsabilidade da mineradora.15 de nov - os índios Krenak param aferrovia da Vale em protesto contra oassassinato de seu rio sagrado.16 de nov - em Vitoria, vestidos demorte, um grande grupo protestoucontra a Vale na portaria da empresa.Mais uma vez lama foi jogada naentrada da mineradora.17 de nov - após a lama alcançar oEspírito Santo, um grupo de 200estudantes saiu a da UFES em Vitória ese dirigiu em protesto para a sede daempresa SAMARCO que foi atacada.Revoltados os estudantes pixaram asparedes e quebraram vidraças,denunciando todo mal causado pelaempresa.18 de nov - no Rio de Janeiro, ativistasse unem para protesto na sede da Vale.26 de nov - após realizar um protesto ejogar lama toxica dentro do congressoem Brasília, manifestantes vinculados aoMovimento Sem Terra (MST) e aoMovimento dos Atingidos por Barragens(MAB) foram detidos com base na lei de“crime ambientais”. Também neste diaindígenas Krenak, Pankararu e Pataxóocupam a sede do DSEI e fazem refénsseus funcionáriosEm outras cidades manifestações eatividades também foram organizadas emrevolta contra as mineradoras e acumplicidade do governo, e tambémbuscando mostrar à população o queescondem os telejornais.

Calendário demanifestações

LUTE PELA VIDALIBERTE A TERRA

DA DESTRUIÇÃOCAPITALESTATAL

S

Está comprovado, pelos fatos e pela história, quemanifestações, quanto mais pacíficas são, maispoliticamente inúteis se mostram. Levando isso emconta, o que nos resta é a busca pela autonomia,por autodefesa e insurreição. Todxs sabemos que amelhor defesa é o ataque.Este zine de contrainformação mostra o que não sequer mostrar. O que se tenta disfarçar comotragédia natural, desgraça ocasional ou desastreambiental, para nós é parte de uma guerra.Não se trata apenas de informar para amedrontar,ou contemplar o progresso do colapso, masidentificar quem causa toda essa desgraça comonossxs inimigxs, ainda que sabemos que são sóalguns dos responsáveis pelo ecocidio.

Por que é preciso isto acontecer para nosquestionarmos sobre os ataques que oprojeto civilizatório faz contra a Terra?Por que não nos interpelamos sobre quantodano causa cada dinâmica cotidiana que éparte deste sistema predatório?Faz muito que esta guerra vemacontecendo. Os ataques estatais ecapitalistas costumam se fantasiar deordem e progresso. Para existir, cadamineradora, cada barragem, cada represahidroelétrica, estrada ou trilho de tremapunhalam a selva. Diante destes ataquescovardes não podemos ficar comoespectadores.A máquina de destruição estadista-capitalista pode parecer imbatível, masrecebe também contragolpes. O ataques dosinimigos deste extrativismo sãoestigmatizados como ecoterroristas. Paraalém dos estigmas, neste confronto,existem várias ofensivas profundas,antissistêmicas, anticivilizatórias eantitecnologicas. Várias células eindividualidades tomam posição ativa nestaguerra, impulsionadas a agir contra oecocídio oculto na vida cotidiana.A raiva precisa se converter em ação paraque não sejamos cúmplices por passividade.Numa situação de ataque constante epermanente, com o capitalismo extrativistapredador sendo protegido pelos Estados,ficar olhando ou apenas se informando,não é suficiente. Enquanto nós somente nosindignamos, o capital e o estado continuamatacando.

CONSIDERAÇÕESPARA A

INSURREIÇãO

Este zine de contrainformação foi produzido pela

Biblioteca Caos em parceria com o CLAPA. Tem como

inspiração todos os coletivos que lutam pela vida e

pela libertação da Terra. Não possui direitos autorais

e pode ser livremente reproduzido para distribuição

gratuíta.

É IMPORTANTE NÃOCONFUNDIR LIBERDADE

COM MERA PERMISSIVIDADE

A Frente de Libertação da TerraFLT, ativa desde a década de 90,tem como estratégia a destruiçãode máquinas, instituições deexploração da Terra. Suas açõesrecebem o nome de ecosabotagem(ecotaje) por ser focada comexclusividade em revidar as açõesdos ecocidas.A Frente de Libertação Animaltinha como estratégia a libertaçãode animais. Reformulou-se aoperceber que, mesmo libertando-osdos laboratórios e criadouros,eram repostos rapidamente. Juntocom a libertação, a FLA buscaeliminar instalações incendiando-ase destruindo a maior quantidadede bens dos ecocidas.No México, emergem propostascomo a de IndividualidadesTendendo ao Selvagem (I.T.S.) eReação Selvagem. Ativos desde2011, se movem pela defesaextrema da natureza selvagem.Atacam a nanotecnologia, oprogresso, a civilização e osistema tecnológico. Com váriasestratégias de embate têm comoalvos escritórios governamentais ecorporativos do meio ambiente,encontros de biotecnologia, efiguras relacionadas à pesquisatecnológicas de alto poderdestrutivo.Vale lembrar também as ações deataque de Ted Kazcynski: um dosmais procurados pelo FBI e pelaCIA. Kazcynski identificou alvosmais precisos – entrepesquisadores universitários eempresas aéreas - potencialmenteecocidas, e elaborou uma formade ataque muito efetiva, estandofora das cidades.

EXPERIÊNCIAS DEATAQUE CONTRA

O ECOCÍDIO

C I V I L I Z A Ç Ã O É B A R B Á R I E

CONTATOSbiblioteca-caos@riseup.net

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