vacinação em gatos domésticos

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  • 7/24/2019 Vacinao Em Gatos Domsticos

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    PROTOCOLOS

    VACINAIS EM FELINOS

    30 CES & GATOS 2011 Edio149

    As vacinas so meios importan-tes de controle das doenasinfecciosas, porm a maioria

    delas no fornece proteocompleta e no age da mesma forma emtodos os animais. O risco de infeco edoena subsequente varia com a idadee estado de sade do gato, extenso dasua exposio a agentes infecciosos e aoutros gatos e a prevalncia da doena emdeterminada regio geogrfica. Os filhotescom menos de 16 semanas de idade sogeralmente mais suscetveis a infeces doque os adultos e, normalmente, desenvol-vem as doenas na forma mais grave, porisso, so o principal foco nos protocolos devacinao. Entretanto, a exposio a ani-

    Vacinaoem

    domsticos

    Por Fernanda Vieira Amorim da Costa, Otvia Dorigon

    mais infectados e aos agentes infecciososdeve ser minimizada mesmo em animaisvacinados.

    A neutralizao do antgeno vacinalpelos anticorpos maternos a causa maiscomum de falha vacinal em gatos. Outrosfatores que interferem negativamentena resposta vacinal so as imunodefici-ncias, presena de doenas concomi-tantes, nutrio inadequada, medicaoimunossupressora e estresse. Por estesmotivos, deve-se procurar realizar umexame clnico detalhado e o teste imu-noenzimtico para a deteco dos vrusda imunodeficincia e leucemia felinasantes da vacinao, para determinar fa-tores importantes que possam interferir

    na resposta vacinal como idade, doenaou infeco preexistente e alteraesdo sistema imune. O grau de desafio ao

    qual o gato ser submetido tambm podeinterferir na eficcia do protocolo vacinalescolhido para o paciente.

    PROTOCOLOS

    VACINAIS EM FELINOS

    Para a maioriados filhotes, as vacinaspolivalentes devem ser

    administradas emintervalos de 3 a 4

    semanas at que elesestejam com 16 semanasde idade

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    As vacinas consideradas essenciais parafelinos incluem aquelas contra os agentesherpesvrus-1, calicivrus e parvovrus

    (trplice felina). Alguns pesquisadoresestrangeiros recomendam a vacinao degatos adultos de baixo risco apenas a cadatrs anos, tempo em que provavelmenteh proteo consistente. Entretanto, osanimais considerados de risco moderado aalto devem ser vacinados anualmente. NoBrasil, no existem estudos cientficos sufi-cientes que confirmem essa recomendaoe, portanto, a atual recomendao que ospacientes sejam vacinados todos os anos.

    As vacinas contra clamidiose e leuce-mia felinas, consideradas no-essenciais,

    devem ser administradas conforme o riscoindividual de cada animal, considerandoaspectos epidemiolgicos, imunolgicos

    e de possvel contato com animais por-tadores ou em risco. Desta maneira, elasso contra-indicadas para animais quevivem restritos dentro de apartamentos. Avacina antirrbica obrigatria de acordocom leis municipais, estaduais e federais,devendo ser aplicada com um ano de in-tervalo, para todos os ces e gatos.

    Para a maioria dos filhotes, as vacinaspolivalentes devem ser administradas emintervalos de 3 a 4 semanas at que eles es-tejam com 16 semanas de idade. Em geral,a vacinao se inicia quando o filhote tem

    gatos

    8 a 9 semanas de vida, porm, em algumascircunstncias, como uma endemia deherpes e calicivirose, necessrio comear

    a vacinao com 6 semanas de idade. Avacinao antirrbica deve ser realizada emuma nica dose entre 12 e 16 semanas devida. A primeira vacinao de gatos adultosdeve ser realizada com duas doses comintervalo de 3 a 4 semanas entre elas. Esteprotocolo tambm se aplica a gatos adultoscujo histrico de vacinao desconhecidoou se a sua ltima vacina foi aplicada hmais de trs anos. A revacinao de gatosadultos deve ser anual no Brasil.

    Gatos portadores do vrus da leucemia(FeLV) devem ser vacinados com vacinas >

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    essenciais se estiverem clinicamenteestveis, e no essenciais avaliando-se orisco individual, porm, eles podem noresponder produzindo uma resposta imu-ne adequada tanto quanto um paciente

    hgido. Gatos portadores do vrus da imu-nodeficincia felina (FIV) so capazes deproduzir uma resposta imune satisfatria,reduzida ou atrasada administrao deantgenos, a no ser se estiverem na faseterminal da doena. Entretanto, existeo potencial de a vacinao levar umaprogresso da doena devido ao aumentoda produo viral. A recomendao paraa vacinao desses pacientes a mesmados pacientes positivos para o teste deFeLV e ambos devem ser vacinados comvacinas inativadas.

    O mdico veterinrio quem deter-mina o tipo de vacina mais apropriadopara cada gato de acordo com as vacinasdisponveis no mercado brasileiro, isto ,aquela contendo vrus vivo modificado ouvrus morto; contendo um ou mltiplosantgenos. As vacinas com vrus vivomodificado consistem de organismos ate-nuados ou no virulentos que promovemuma proteo mais rpida, em poucos diasaps apenas uma dose. Elas so capazesde estimular a produo de anticorpossricos, anticorpos locais de mucosa erespostas imunes mediadas por clula

    locais e sistmicas, dependendo da via deadministrao. A desvantagem deste tipode vacina reside no fato de h a possibili-dade de reverso da virulncia, podendocausar doena nos gatos, principalmente

    em pacientes imunodeprimidos.As vacinas inativadas ou com vrus

    morto frequentemente contm adjuvantespara aumentar a resposta imunolgica.Ela uma vacina mais segura, porm, oadjuvante pode causar reao inflamatrialocal, cujo grau varia conforme o produto.A imunidade produzida por este tipo devacina predominantemente produode anticorpos sistmicos, com poucaproduo de anticorpos locais de mucosa,e imunidade mediada por clula limitada.A principal vantagem da vacina de vrus

    morto que no h risco de reverso davirulncia, sendo indicada para pacientesimunodeprimidos e gestantes.

    A vacinao um procedimento mdi-co e a deciso de vacinar, mesmo com asvacinas consideradas essenciais, deve ser

    baseada numa avaliao risco-benefcioindividual de cada paciente. Apesar deas vacinas serem consideradas seguras eeficazes, elas no so incuas e algumasrespostas adversas tm sido associadas

    a elas. Estas respostas variam desde pe-quenas reaes locais anafilaxia fatal oudesenvolvimento de sarcomas. As vacinaspodem provocar ainda respostas sistmi-cas que no so causadas por mediadoresalrgicos, como febre, apatia e letargia.A gravidade da reao varia de pacientepara paciente.

    Pesquisas demonstraram que a apli-cao das vacinas antirrbica e contra ovrus da Leucemia Felina foram as maisimplicadas com o aparecimento do sarco-ma de locais de injeo por alguns autores,

    As vacinasinativadas ou com

    vrus mortofrequentemente

    contm adjuvantes

    para aumentar aresposta imunolgica

    >

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    Desde a publicao dessas recomenda-es at os dias de hoje, houve um decrs-cimo dos casos de sarcomas localizados naregio interescapular e torcica e um au-mento de tumores nos membros torcicodireito, plvicos e regio lateral abdominaldireita e esquerda. Este fato demonstraque a mudana dos locais de aplicao davacina no ajudou a reduzir o nmero decasos do tumor e, ainda, os veterinriosno esto seguindo a recomendao devacinar o mais distal possvel nas regiesindicadas, dificultando o tratamento ci-rrgico do sarcoma.

    ConclusoO objetivo dos protocolos de vacinao emgatos vacinar o maior nmero possvelde gatos das populaes de risco, porm,individualmente, no mais do que o neces-srio e apenas contra agentes infecciososaos quais existe risco real de exposio,infeco e subsequente desenvolvimen-to de doena e quando os benefciospotenciais do procedimento superam os

    potenciais riscos.

    Referencias bibliogrficas

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    p. 1821-1842, 2005.

    porm, existem relatos que citam o desen-volvimento da neoplasia aps a aplicaosubcutnea e intramuscular da vacinatrplice felina (parvovrus, herpesvrus-1

    e calicivrus) e de frmacos como antibi-ticos, dexametasona, metoclopramida,fluidoterapia subcutnea, corticosteridesde longa ao e antipulgas injetveis. Poresses motivos, atualmente a doena chamada de sarcoma de locais de injeoou aplicao. H um relato tambm emlocal de sutura com fio no absorvvel.Porm, as vacinas foram e ainda so asmais incriminadas no desenvolvimentoda doena por alguns veterinrios, poisso administradas frequentemente para amaioria da populao de gatos.

    Os protocolos de vacinao existentespara gatos devem ser repensados paraevitar a vacinao desnecessria de ani-mais contra algumas doenas as quaisno lhe oferecem riscos. De acordo comrecomendaes internacionais, todas asvacinas devem ser aplicadas por via subcu-tnea, pois proporcionam uma descobertaprecoce de sarcomas de locais de injeoe nenhuma vacina deve ser administradano espao interescapular.

    A cada aplicao vacinal, o local previa-mente utilizado deve ser evitado. A locali-zao e via de aplicao, fabricante, tipo e o

    nmero de srie das vacinas devem ser ano-tados na ficha clnica de cada paciente, assimcomo de qualquer tipo de aplicao por viasubcutnea de medicaes ou substncias.Alguns pesquisadores no recomendam aaplicao de vacinas ou outras substnciasinjetveis em gatos que j desenvolveramsarcomas em locais de injeo.

    Segundo o mais recente painel de reco-mendaes sobre vacinao felina, as vaci-nas antirrbicas devem ser administradasno membro plvico direito, o mais distalpossvel. A vacina contra a Leucemia Felinasegue a mesma recomendao, porm, nomembro plvico esquerdo. J a trpliceou qudrupla felina, deve ser aplicada nomembro torcico direito (Figura 1). Essarecomendao facilita a identificao davacina aplicada previamente ao desenvol-vimento tumoral, permite maiores chancesde resseco cirrgica completa e promovea identificao precoce da neoplasia.

    Quando houver um caso suspeito, abipsia incisional deve ser realizada paradiferenciar o sarcoma de um granulomainflamatrio ps-vacinal. A cirurgia deresseco tumoral deve ser realizada por

    profissionais qualificados.

    Figura 1: Locais recomendados para a

    aplicao de vacinas em gatos (Adaptado

    American Association of Feline Practi-

    tioners and Academy of Feline Medici-

    ne Advisory Panel on Feline Vaccines,RICHARDS et al., 2001)

    Otvia Dorigon mdica veterinria, residenteem clnica mdica de pequenos animais - UFPR

    Fernanda Vieira Amorim da Costa mdica veterinria, Mestre, Doutoranda do

    Programa de Ps-graduao em CinciasVeterinrias - UFGRS