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Abscesso Perineal por Ingesto Acidental de Palito de DenteRoberto Iglesias Lopes e Cols.

RESUMO: Palitos de dente so itens domsticos comuns e a maioria das pessoas subestima a gravidade das leses que podemocorrer com a ingesto acidental de palitos. Ns apresentamos um caso de abscesso perineal causado pela ingesto de um palito dedente. Um homem de 55 anos apresentou-se com quadro de dor perianal h um ms. Ao exame fsico, notou-se abscesso perineal.Leucocitose com desvio esquerda foi observada e a tomografia plvica demonstrou um corpo estranho na regio perineal. Aremoo cirrgica do corpo estranho e a drenagem adequada do abscesso foram realizadas, revelando um palito de dente. O pacienteevoluiu bem aps a abordagem cirrgica. O abscesso perineal pode progredir para gangrena de Fournier e, portanto, a abordagemde abscessos perineais deve ser agressiva, com drenagem adequada e remoo do corpo estranho (sempre que presente).

Descritores: abscesso, corpo estranho, palito de dente.

ABSCESSO PERINEAL POR INGESTO ACIDENTAL DEPALITO DE DENTE

LOPES RI, SANTANNA AC, DIAS AR, LOPES RN, BARBOSA FILHO CM. Abscesso Perineal por Ingesto Acidental de Palito deDente. Rev bras Coloproct, 2006;26(2):193-196.

Trabalho realizado na Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Srio Libans, So Paulo, Brazil

ROBERTO IGLESIAS LOPES1, ALEXANDRE CRIPPA SANTANNA1, ANDR RONCON DIAS1, ROBERTONICOMEDES LOPES1, CRISTOVO MACHADO BARBOSA FILHO1

INTRODUOPalitos de dente so itens domsticos comuns

e a maioria das pessoas subestima a gravidade dasleses que podem provocar atravs de sua ingestoacidental. A incidncia de leses relacionadas a palitosde dente de aproximadamente 3,6 por 100.000pessoas por ano, com mais de 8.000 injrias, anual-mente (1).

RELATO DO CASO

Um homem de 55 anos, previamente hgido,foi admitido em nosso servio com histria de dor

Recebido em 01/11/2005Aceito para publicao em 31/01/2006

1Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Srio Libans, So Paulo, Brazil

perianal h um ms. Havia sido tratado com cipro-floxacina e anti-inflamatrios por dez dias, devido adiagnstico prvio de abscesso perineal. Relatava piorada dor perianal e negava melhora do abscesso apesarda antibioticoterapia.

Ao exame fsico, observou-se abscesso peri-neal, sem outras alteraes. A extenso do edema e doeritema perineal ao escroto sugeria progresso dacelulite com risco aumentado de evoluir para gangrenade Fournier. O toque retal no revelou massas palpveis,com a presena de fezes normais na ampola retal, semsangramentos.

O paciente apresentava leucocitose com desvio esquerda (13.400 leuccitos com 10% de bastonetes

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e 80% de neutrfilos segmentados) e leucocitria. Ahemoglobina, os eletrlitos, a glicemia e a funo renaldo paciente eram normais. Uma tomografia compu-tadorizada de pelve para avaliar a extenso do processoinflamatrio evidenciou um corpo estranho na reaperineal, de formato linear e hiperdenso (Figura-1).

A remoo cirrgica do corpo estranho atravsde uma inciso perineal com drenagem adequada doabscesso foi realizada (Figura-2). O objeto removidoera um palito de dente de 3,4 cm 0,2 cm (Figura-3).

O paciente negava a insero transretal doobjeto. Possua o hbito de mastigar palitos de dente,com provvel ingesto acidental, a qual no conseguialembrar.

O paciente apresentou evoluo favorvel comresoluo dos sintomas e regresso completa doprocesso infeccioso.

DISCUSSOA maioria dos corpos estranhos ingeridos (mais

de 70%) consegue atravessar o trato gastrointestinalsem complicaes, com menos de 1% resultando emperfurao. As manifestaes da perfurao incluemperitonite, abscesso, fstula, hemorragia e obstruo(2). Essas manifestaes podem ser ocasionadas poroutras doenas intra-abdominais (processosinflamatrios como apendicite, diverticulite, tumores,entre outras diversas causas) e os pacientes raramentereferem ingesto de corpo estranho, e conseqen-temente, o diagnstico pr-operatrio de perfurao porcorpo estranho difcil.

Um corpo estranho pode ser composto porqualquer material e a natureza do material que oconstitui importante para o diagnstico. A madeira,por exemplo, radiotransparente, enquanto que vidroe objetos metlicos so radiopacos (4).

Um estudo experimental comparou diversosmtodos radiolgicos para diagnstico de corposestranhos de madeira (radiografia simples, ultra-sonografia, tomografia computadorizada e ressonnciamagntica). Um palito de dente apresenta-se daseguinte forma nos seguintes exames: a) radiografiasimples- imagem linear discretamente hipotrans-parente; b) ultra-sonografia- imagem linear hiperecica,com sombra acstica posterior; c) tomografiacomputadorizada- imagem linear hiperdensa; d)ressonncia magntica- imagem linear hipointensa (4).

Figura 1 Tomografia de pelve demonstrando corpo estranho.

Figura 2 Inciso perineal.

Figura 3 Palito de dente.

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A sensibilidade, especificidade, o valor predi-tivo positivo, o valor preditivo negativo e a acurciados exames para deteco de um palito de madeira, nesseestudo, foram, respectivamente, nessa ordem: a)radiografia simples-13,6%, 100%, 100%, 53,7%, 56,8%;b) ultra-sonografia- 63,6%, 100%, 100%, 73,7%, 81,8%;c) ressonncia magntica- 59,1%, 95,5%, 93,8%, 70,1%,77,3%; d) tomografia computadorizada- 72,7%, 95,5%,95%, 78,3%, 84,1% (4).

A partir desses resultados, observa-se que, nocaso de corpo estranho radiotransparente como amadeira, a radiografia simples possui umasensibilidade baixa, sendo um exame de pouco valorpropedutico. A ultra-sonografia apresentasensibilidade intermediria para objetos de madeira,porm tem como principais limitaes ser operador-dependente e ter um ndice alto de resultados falso-positivos (cicatrizes e calcificaes). A tomografiacomputadorizada provavelmente o melhor mtodona avaliao de corpos estranhos de madeira, j queapresenta maior acurcia. No entanto, um examecaro e utiliza radiao ionizante. A ressonncia relativamente ineficaz na deteco de objetos demadeira, quando comparada tomografiacomputadorizada e ultra-sonografia, alm de baixadisponibilidade e alto custo. Em nosso caso, atomografia computadorizada de pelve detectoucorretamente o palito de dente, alm de ser til para aavaliao do processo infeccioso/inflamatrioadjacente, decorrente da perfurao.

Alm da perfurao, a ingesto de palito dedente pode causar obstruo ureteral, flebite supurativa,abscesso heptico piognico, sepse e morte (2).Portanto, as conseqncias da ingesto acidental deum palito de dente podem ser extremamente srias.9% de todas as perfuraes do trato gastrointestinalpor corpos estranhos resultam da ingesto de palitosde dente, lpis e outros objetos de madeira (2). Comoresultado, recomendada a remoo endoscpica decorpos estranhos pontiagudos sempre que possvel(como palitos de dente).

A ingesto inadvertida de palitos de dente estassociada ao uso de prteses dentrias, deficincia mental,abuso de lcool e drogas e ao hbito de mastigar palitos.

A impactao de corpos estranhos no tratogastrointestinal respeita determinadas regies anat-micas de estreitamento, possundo tendncia a ficarimpactadas nos seguintes locais: esfncteresesofagianos, piloro, duodeno, vlvula leo-cecal e naregio anal. Os stios de perfurao so geralmente oleo, o apndice e o clon. No nosso caso, a perfuraoe a migrao do corpo estranho ocorreram aps aimpactao do palito na regio anal, causando abscessoperineal.

O abscesso perineal pode progredir paragangrena de Fournier, uma fascete necrotizante queenvolve o pnis e o escroto. Conseqentemente, omanejo de um abscesso perineal deve ser agressivo,com drenagem adequada e remoo do corpo estranho(se presente).

SUMMARY: Toothpicks are a common household item and most people underestimate the seriousness of injuries that can occurwith accidental ingestion. We report a case of a perineal abscess caused by an ingested toothpick. A 55-year-old man was admittedto the hospital with a 30-day history of perianal pain. Physical examination was unremarkable, except for a perineal abscess.Leucocytosis with 10% bands was present and pelvic tomography demonstrated a foreign body located in the perineal area. Surgi-cal removal of the foreign body with adequate abscess drainage was performed revealing a toothpick. Perineal abscess may progressto Fourniers gangrene and as a consequence the management of a perineal abscess should be aggressive with adequate drainageand removal of the foreign body (if present).

Key words: abscess, foreign body, toothpick

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

1. Budnick LD: Toothpick-related injuries in the United States,1979 through 1982. JAMA. 1984; 252: 796-7.

2. Callon RA Jr, Brady PG: Toothpick perforation of the sig-moid colon: an unusual case associated with Erysipelothrixrhusiopathiae septicemia. Gastrointest Endosc. 1990; 36: 141-3.

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3. Kattan S, Youssef A: Fourniers gangrene of the scrotum fol-lowing anorectal disorders. Int Urol Nephrol. 1994; 26: 215-22.

4. Venter NG, Jamel N, Marques RG, Djahjah F, Mendona LS.Avaliao de mtodos radiolgicos na deteco de corpo

estranho de madeira em modelo animal. Acta Cir Bras 2005;20: 19-26.

Endereo para correspondncia:ROBERTO IGLESIAS LOPESRua Baronesa de Itu, 721 apto 121 - Higienpolis01.231-001 - So Paulo (SP) - BrazilTel/Fax: (11) 3666- 82 66E-mail: robertoiglesias@ terra.com.br