utilizaÇÃo de rejeitos de couro wet blue na...

80
UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES: POTENCIALIDADES NUTRICIONAIS E PATOLÓGICAS RODRIGO CARVALHO SILVA 2007

Upload: votuyen

Post on 01-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA ALIMENTAÇÃO DE

RUMINANTES: POTENCIALIDADES NUTRICIONAIS E PATOLÓGICAS

RODRIGO CARVALHO SILVA

2007

Page 2: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

RODRIGO CARVALHO SILVA

UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES: POTENCIALIDADES

NUTRICIONAIS E PATOLÓGICAS

Dissertação apresentada a Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Mestrado em Ciências Veterinárias, área de concentração em Medicina da Produção de Bovinos Leiteiros, para obtenção do título de "Mestre".

Orientador

Prof. João Chrysóstomo de Resende Júnior

LAVRAS

MINAS GERAIS-BRASIL

2007

Page 3: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da UFLA

Silva, Rodrigo Carvalho. Utilização de rejeitos de couro Wet Blue na alimentação de ruminantes: potencialidades nutricionais e patológicas / Rodrigo Carvalho Silva. -- Lavras : UFLA, 2007.

69 p. : il.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Lavras, 2007. Orientador: João Chrysóstomo Resende Júnior. Bibliografia.

1. Alimento de origem animal. 2. Degradabilidade. 3. Digestibilidade. 4. Intoxicação por cromo. 5. Meio ambiente. I. Universidade Federal de Lavras. II. Título.

CDD – 636.20852

Page 4: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

RODRIGO CARVALHO SILVA

UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES: POTENCIALIDADES

NUTRICIONAIS E PATOLÓGICAS

Dissertação apresentada a Universidade Federal de Lavras, como parte das exigências do curso de Mestrado em Ciências Veterinárias, área de concentração em Medicina da Produção de Bovinos Leiteiros, para obtenção do título de "Mestre".

APROVADA em 07 de agosto de 2007

Prof. Dr. Raimundo Vicente de Sousa UFLA Profª Drª. Mary Suzan Varaschin UFLA Profª Drª. Ana Luiza Costa Cruz Borges UFMG

Prof. João Chrysóstomo de Resende Júnior UFLA

(Orientador)

LAVRAS MINAS GERAIS-BRASIL

Page 5: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

A Deus,

Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao meu lado em todos os momentos de minha vida me dando força e incentivo perante todos os obstáculos.

A minha família, base sólida sobre a qual me estruturei e me apóio.

A minha noiva, Eliana, por me apoiar e ajudar em todas as tarefas com amor e dedicação.

DEDICO.

Page 6: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, fonte inesgotável de todas as coisas que precisamos, por

me proporcionar a vida e todas as conquistas que nela realizo;

À Universidade Federal de Lavras e ao Departamento de Medicina

Veterinária que me proporcionaram a oportunidade de graduar e agora concluir

meu trabalho de pós-graduação;

Ao meu orientador, João Chrysóstomo-DMV, pela dedicação à minha

orientação e aos trabalhos realizados;

Ao Anselmo e João Luiz pela ajuda nos trabalhos e pela amizade;

Ao Seu Marcos e Willian pelo apoio, dedicação e inesgotáveis momentos

de descontração. Obrigado pela amizade sincera, vocês foram essenciais para que

esse trabalho fosse concluído;

Ao Departamento de Química, em especial o Prof. Luiz Carlos e seus

orientados que foram parceiros nesse projeto;

Ao Prof. Raimundo-DMV pela amizade e pelo auxílio independente de

qual for o problema;

À Profª. Mary-DMV pela presteza e competência na leitura das lâminas

histopatológicas;

À minha noiva e parceira de todas as horas, Eliana, pelo apoio, dedicação e

por fazer parte da minha vida. Amo você.

A todos aqueles que, direta ou indiretamente, participaram dessa etapa da

minha vida e contribuíram para realização deste trabalho e para meu

“crescimento”, o meu muito obrigado!!!

Page 7: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

SUMÁRIO

RESUMO...............................................................................................................i

ABSTRACT .........................................................................................................ii

CAPÍTULO 1........................................................................................................1

1 INTRODUÇÃO GERAL...................................................................................1

2 REFERENCIAL TEÓRICO ..............................................................................2

2.1 Panorama da produção de couro..............................................................2

2.2 Geração de resíduos e suas conseqüências .............................................3

2.3 Alternativas para aproveitamento dos resíduos .......................................6

2.4 Proteína de origem animal na alimentação de bovinos leiteiros..............9

2.5 Encefalopatia Espongiforme Bovina .....................................................12

2.6 Botulismo ..............................................................................................15

2.7 Cromo nos alimentos e seu papel no metabolismo................................17

2.8 Toxicidade do cromo.............................................................................18

2.9 Toxicocinética e toxicodinâmica do cromo no organismo ....................20

2.10 Utilização de Cr-EDTA como marcador em experimentação .............23

2.11 Provas de função hepática ...................................................................24

3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................25

CAPÍTULO 2......................................................................................................33

POTENCIALIDADES NUTRICIONAIS DE RESÍDUOS DE COURO WET

BLUE PARA A ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES ...................................33

RESUMO............................................................................................................33

INTRODUÇÃO..................................................................................................34

MATERIAL E MÉTODOS................................................................................35

Avaliação das características químicas do produto .....................................35

Avaliação da degradabilidade ruminal efetiva ............................................36

Avaliação da digestibilidade abomasal “in vitro” .......................................38

RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................38

Page 8: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

CONCLUSÕES ..................................................................................................43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................43

CAPÍTULO 3......................................................................................................46

POTENCIALIDADES PATOLÓGICAS DA UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS

DE CURTUME NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL.............................................46

RESUMO............................................................................................................46

INTRODUÇÃO..................................................................................................47

MATERIAIS E MÉTODOS...............................................................................50

Pesquisa de esporos e toxina do Clostridium botulinum .............................50

Avaliação do risco potencial de intoxicação pelo cromo ............................50

Avaliação do perfil de enzimas hepáticas (ALT, AST e FA) no soro. ........53

Avaliação de colesterol e glicose no soro....................................................53

RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................53

CONCLUSÕES ..................................................................................................65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................65

Page 9: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

i

UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA

ALIMENTAÇÃO DE RUMINANTES: POTENCIALIDADES

NUTRICIONAIS E PATOLÓGICAS

RESUMO

SILVA, Rodrigo Carvalho. Utilização de Rejeitos de Couro Wet Blue na Alimentação de Ruminantes: Potencialidades Nutricionais e Patológicas. 2007. 66p. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG1. O Brasil é um grande produtor de couro, sendo o método mais utilizado o curtimento ao cromo que gera uma enorme quantidade de resíduos contaminados, os quais constituem um grave problema ambiental. Têm sido desenvolvidas tecnologias para a retirada do cromo desses resíduos, entretanto, há necessidade de se ter destinação adequada para o material com baixo teor de cromo. O colágeno derivado de couro e pele é permitido pela legislação brasileira para a alimentação de ruminantes. O objetivo desse trabalho foi apontar uma alternativa para a minimização da contaminação ambiental por resíduos de couro, por meio de sua utilização na alimentação de ruminantes. Para isto os resíduos de couro in natura (WB) e os resíduos que tiveram o cromo extraído (CE) foram comparados quanto ao seu potencial nutricional e patológico. Ambos os materiais apresentaram 99,7% de MS, mas o teor de PB foi mais alto (90,4%) no CE do que no WB (74,3%). A degradabilidade ruminal efetiva, in situ, da MS foi 63% e da PB foi 65% no CE, sendo que o WB não sofreu degradação ruminal, provavelmente refletindo a estabilidade da molécula, conferida pelo cromo. A digestibilidade em suco gástrico simulado, in vitro, do CE foi 98% demonstrando que, se protegido da degradação ruminal, esse material pode ser utilizado como fonte de proteína animal visando induzir mudança no perfil de aminoácidos da dieta de ruminantes. Essa alta digestibilidade em suco gástrico também indica que o CE tem potencial para ser utilizado na alimentação de animais não ruminantes. Nenhum dos materiais apresentou a presença de esporos e da toxina do Clostridium botulinum. Outro experimento foi realizado alimentando-se ratos Wistar, por 60 dias, com dieta convencional na qual foi incluído 0%, 25%, 37,5% e 50% dos materiais WB e CE. O processamento industrial foi capaz de retirar 70 a 80% do cromo do resíduo, resultando em um produto ainda com alto teor de cromo o qual teve

1 Comitê Orientador: João Chrysóstomo de Resende Júnior – UFLA (Orientador), Luiz Carlos Alves de Oliveira – UFLA (Co-orientador).

Page 10: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

ii

efeito negativo no ganho de peso dos animais e desencadeou lesões macro e microscópicas nos rins especialmente no material CE, sugerindo que o processamento aumenta a atividade biológica do cromo tornando-o altamente nefrotóxico. A gravidade desses efeitos foi diretamente proporcional ao nível de inclusão e as principais alterações foram degeneração e necrose dos túbulos contorcidos proximais associadas a áreas de fibrose intersticial e à presença de cristais na luz dos túbulos. Não foram detectadas anormalidades no fígado de qualquer animal do experimento. O material CE possui potencialidade para alimentação animal, porém o processo de retirada do cromo dos resíduos de couro, em escala industrial, deve ser aprimorado e a utilização desse subproduto na alimentação animal só pode ser considerada quando as concentrações de cromo no resíduo atingirem os níveis preconizados na literatura. Palvras-chave: Alimento de Origem Animal; Degradabilidade; Digestibilidade; Intoxicação por cromo; Meio Ambiente.

ABSTRACT

SILVA, Rodrigo Carvalho. Use of Wet Blue Leather Rejects in the Feeding of Ruminants: Nutricional and Pathological Potential. 2007. 66p. Dissertation (Masters in Veterinary Sciences) - Federal University of Lavras, Lavras, MG.

Brazil is a great producer of leather, tanning with chromium being the method most used which generates an enormous amount of contaminated residues, which constitute a serious environmental problem. Technologies have been developed for the removal of chromium from these residues, however, it is necessary to have an adequate destination for the material with low chromium levels. The colagen derived from the leather and skin is allowed for the feeding of ruminants by Brazilian legislation. The objective of this work was to point to an alternative to minimize the environmental contamination by leather residues, by means of its use in the feeding of ruminants. For this the leather residues in

nature (WB) and the residues that had chromium extracted (CE) were compared regarding their nutritional and pathological potential. Both the materials presented 99.7% of DM, but the CP level was higher (90.4%) in the CE than in the WB (74.3%). The effective ruminal degradability, in situ, of the DM was 63% and of the CP was 65% in the CE, being that the WB did not suffer ruminal degradation, probably reflecting the stability of the molecule, supplied by the chromium. The digestibility in simulated gastric juice, in vitro, of the CE was

Page 11: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

iii

98% demonstrating that, if protected from the ruminal degradation, this material can be used as an animal protein source aiming to induce changes in the amino acid profile of the ruminant diet. This high digestibilidade in gastric juice also indicates that the CE has potential to be used in the feeding of non-ruminant animals. None of the materials presented the presence of spores and the Clostridium botulinum toxin. Another experiment was carried out feeding Wistar rats, for 60 days, with a conventional diet in which 0%, 25%, 37.5% and 50% of WB and CE materials were included. The industrial processing was able to still remove 70-80% of chromium from the residue, resulting in a product with a high chromium level which had a negative effect on the weight gain of the animals and caused macro and microscopic injuries in the kidneys especially due to the CE material, suggesting that the processing increases the biological activity of chromium making it nefrotoxic. The gravity of these effects was directly proportional to the inclusion level and the main alterations had been degeneration and necrosis of the proximal twisted tubules associated with the areas of interstitial fibrosis and to the crystal presence in the lumina of the tubules. Abnormalities in the liver of any animal in the experiment were not detected. CE material possesses potentiality for animal feeding, however the chromium removal process from the leather residues, on an industrial scale, must be improved and the use of this by-product in animal feeding can only be considered when the chromium concentrations in the residue reach the levels established in literature.

Key Words: Animal Food Origin; Chromium Poisoning; Degradability; Digestibility; Environment.

Page 12: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

1

CAPÍTULO 1

1 INTRODUÇÃO GERAL

O descarte ambiental de resíduos industriais tem sido fator de

preocupação em todo o mundo, pois pode causar danos muitas vezes

irreversíveis para o meio ambiente e para a saúde humana. As indústrias

curtidoras de couro emitem uma grande quantidade de resíduos durante o

processo de curtimento, que precisam de cuidados especiais para serem

eliminados. Mas devido ao alto custo e ao pequeno porte da maioria dos

curtumes esses resíduos são descartados de maneira inadequada no meio

ambiente. Esses resíduos na maioria das vezes são carregados de cromo (couro

wet blue), pois o curtimento ao cromo é o mais utilizado no mundo, sendo

utilizado por 80 a 90 % das fábricas curtidoras. Quando no meio ambiente o

cromo pode atingir o estado de oxidação (VI) tornando-se instável, altamente

tóxico e cancerígeno.

Uma técnica desenvolvida por Oliveira et al. (2004), um pesquisador da

Universidade Federal de Lavras-UFLA, retira grande parte do cromo dos rejeitos

sólidos que podem ser reaproveitados pela indústria curtidora. Após a extração

do cromo o material obtido, colágeno, com baixo teor de cromo, parece ter

potencial de utilização em vários ramos industriais como na produção de

fertilizantes e de ração animal.

Por outro lado, o aproveitamento de subprodutos na nutrição animal têm

ocupado cada vez mais espaço no cenário mundial podendo representar uma

diminuição do custo de produção e a viabilização da atividade, além de diminuir

a demanda por produtos nobres como soja e milho que são cada vez mais

requeridos para alimentação da população humana em crescimento no mundo.

Page 13: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

2

Tendo em vista os efeitos negativos ambientais e o grande volume de

rejeitos produzidos com potencial de reutilização, novas alternativas para

aproveitamento dos mesmos devem ser desenvolvidas visando agregar valor a

esses rejeitos e propiciar uma diminuição da contaminação ambiental por parte

das indústrias curtidoras.

Pretendeu-se, com esse trabalho, apontar uma nova alternativa para a

utilização dos resíduos de couro wet blue por meio do seu uso na alimentação de

ruminantes, apontando suas potencialidades e restrições para a alimentação

animal.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Panorama da produção de couro

Detentor de um dos maiores rebanhos bovinos do mundo, o Brasil

também ocupa lugar de destaque na produção mundial de couros: 5º produtor de

couros bovinos, atrás dos EUA, Rússia, Índia e Argentina, com cerca de 33

milhões de couros, representando 10 a 11% da produção mundial em 2001

(Santos et al., 2002).

O Brasil passou a ser importante exportador de couros na década de

1990 e em 2.004 a produção total do país foi de cerca de 36,5 milhões de couros,

sendo que aproximadamente 26,3 milhões de couros foram exportados,

representando 72,1% da produção. Os principais destinos foram Itália, Hong

Kong, China e Estados Unidos, nesta ordem (CICB1, 2004).

A produção brasileira de couro quase triplicou nos últimos 25 anos,

passando de 13,8 milhões de unidades, em 1980, para 37 milhões em 2004. A

indústria brasileira de couro é constituída por cerca de 787 estabelecimentos dos

quais 80% podem ser classificados como pequenas empresas, com menos de 50

1 Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil

Page 14: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

3

empregados, conforme a classificação da FIERGS2 e do Sebrae-RS3 (Santos et

al., 2002). Deste total de estabelecimentos 38% localizam-se na região sul, 33%

no sudeste, 15% no centroeste, 11% no norte e 3% no nordeste (Pacheco, 2005).

O Estado de Minas Gerais concentra mais de 22% das empresas brasileiras de

curtimento e beneficiamento do couro que são localizadas principalmente nas

regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, produzindo anualmente cerca de

4,3 milhões de unidades. O setor emprega diretamente 9800 pessoas e fatura 132

milhões de dólares ao ano (IBGE4, 2004).

Uma parcela das peles curtidas é destinada ao mercado interno onde são

utilizadas pelas indústrias que fabricam bolsas, cintos, estofados para carros,

entre outros, e também pelas indústrias de calçados. Esta última tem grande

importância para economia brasileira movimentando R$ 50 bilhões anuais e

empregando mais de 500 mil pessoas (Vio & Allegrini, 2005). Outra parcela

significativa é destinada à exportação principalmente para países mais

desenvolvidos, que fabricam produtos acabados de maior valor agregado. Esta

etapa produtiva gera menos poluentes para o meio ambiente sendo que a etapa

mais poluente ocorre nos países em desenvolvimento devido ao processo de

curtimento (Brasil, 2005).

2.2 Geração de resíduos e suas conseqüências

A destinação adequada dos resíduos gerados pelos curtumes tem sido

fator de preocupação entre as autoridades ambientais. Alguns estados, como é o

caso de Minas Gerais, têm uma regulação específica para a indústria de

curtumes. O Rio Grande do Sul possui uma legislação ditada pelo CONSEMA5

(Rio Grande do Sul, 2004) que abrange toda a geração de resíduos sólidos

2 Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul 3 Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas 4 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 5 Conselho Estadual do Meio Ambiente

Page 15: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

4

perigosos. No caso de Minas Gerais, as normas que dispõe sobre a destinação

adequada dos resíduos da indústria são estabelecidas pelo COPAM6 (Minas

Gerais, 2003).

No curtimento mineral, no qual se usa sais de cromo, alumínio e titânio,

o processo ao cromo ainda é o principal mecanismo de curtimento, utilizado

mundialmente, pelo tempo relativamente curto de processamento e pela

qualidade que confere aos couros em suas principais aplicações. A fonte de

cromo normalmente utilizada é o sulfato básico de cromo, onde este se encontra

no estado trivalente. No entanto, esforços crescentes para a sua substituição têm

sido verificados, devido ao seu impacto ambiental, potencialmente negativo

(Pacheco, 2005).

Dentre todas as fases da cadeia produtiva do couro, a etapa de

curtimento é a que gera maior quantidade de efluentes e resíduos sólidos. A

produção de couro, até o estágio wet blue, produz 85% do resíduo ambiental da

cadeia produtiva. O cromo é o principal problema dos curtumes e é o insumo

utilizado pela maioria das empresas no processo de curtimento. Os resíduos com

a presença de metal cromo, segundo a norma brasileira NBR-10004 da

ABNT7,(ABNT, 2005), são classificados como resíduos classe I – perigosos,

necessitando de tratamento e disposição específica (Giordano, 2005).

Ainda de acordo com Giordano (2005), definem-se como perigosos ou

nocivos, os resíduos e/ou combinações de resíduos que apresentem substancial

periculosidade real ou potencial à saúde humana ou aos organismos vivos, ou os

que se caracterizam pela letalidade, ou não degradabilidade ou ainda por efeitos

cumulativos adversos. Os resíduos sólidos classe/categoria I são resíduos que

requerem cuidados especiais quanto à coleta, acondicionamento, transporte e

disposição final. Os resíduos sólidos cromados dos curtumes incluem-se nessa

6 Conselho de Política Ambiental

Page 16: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

5

categoria. A serragem de couro curtido ao cromo, gerada na operação de

rebaixamento, é um resíduo volumoso, altamente tóxico e geralmente distribuído

em terrenos baldios ou nas margens dos rios. Por ser um produto lentamente

biodegradável, permanece por muito tempo no meio ambiente. No Brasil, mais

de 90% das peles curtidas são feitas ao cromo. O couro wet blue contém o cromo

no estado de oxidação III. Se depositado no meio ambiente, esse cromo pode

facilmente se transformar em cromo hexavalente, que é altamente cancerígeno

(Szadkowska et al., 2003; Kirpnick-Sobol et al, 2006).

O resíduo é gerado ao final do processo de curtimento de pele. Assim, as

raspas e aparas, que constituem esse resíduo, também estão contaminadas com

cromo, o que o impede um descarte em aterros convencionais e outro tipo de

utilização, como na alimentação animal. Atualmente, essas raspas e aparas são

descartadas irregularmente no meio ambiente, já que a disposição correta

acarreta elevados custos para os curtumes. Entre as alternativas viáveis para o

aproveitamento do resíduo, a reconstituição do couro é a principal que, apesar

dos méritos, não consegue absorver toda a geração nacional de resíduos.

O Brasil produz, aproximadamente, 910 mil toneladas de peles curtidas

ao cromo por ano. Essa produção gera cerca de 91 mil toneladas de resíduos

sólidos contaminados com cromo por ano, mostrando tendência ascendente de

produção (FIGURA 1) (CETESB8, 2005). Devido a essa produção intensa e a

dificuldade de destinação dos resíduos, seja pelo alto custo, seja pela falta de

pesquisas de aplicabilidade, novas possibilidades de utilização devem ser

pesquisadas.

7 Associação Brasileira de Normas Técnicas 8 Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

Page 17: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

6

FIGURA 1- Produção brasileira de couro (a) e os resíduos sólidos gerados (b), no período de 1996 a 2004 (Cetesp, 2005 citado por Oliveira, 2007).

2.3 Alternativas para aproveitamento dos resíduos

A literatura científica apresenta vários trabalhos visando a reutilização

desses resíduos para minimizar a contaminação ambiental (Rivela et al., 2004;

Saravanabhavan et al., 2004; Kamaludeen et al., 2003; Silveira et al., 2002). É

conhecida, por exemplo, a patente PI9304442 (Compassi,1992), a qual descreve

um dos métodos mais utilizados para o tratamento e posterior aproveitamento

dos resíduos sólidos, que consiste na dissolução total do sólido para posterior

precipitação do cromo na forma de hidróxido e utilização da proteína orgânica

líquida restante como fertilizante. Também é conhecida a patente PI9202408

(Rosentreter et al., 1988), que se refere à utilização de resíduos sólidos contendo

cromo na fabricação de placas divisórias de ambientes, tijolos para alvenaria,

placas de forro, placas para construção de móveis, portas e outros. Porém, todos

os métodos disponíveis para reutilização do resíduo de couro curtido exigem

tratamentos drásticos, processos químicos ou termoquímicos, causando a

hidrólise total do couro e agregando pouco valor ao material final (Mu et al.,

2003).

Foi desenvolvida uma tecnologia, registrada no INPI 12/07/2004,

protocolo 001538 (Oliveira et al., 2004) que visa recuperar o cromo contido nas

Page 18: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

7

raspas e aparas, possibilitando a sua reutilização no próprio processo de

curtimento e também o reaproveitamento do material resultante, com baixos

níveis de cromo, em indústrias de fertilizantes (Oliveira, 2007) ou como

adsorvente de contaminantes orgânicos (Dallago, 2005; Oliveira, 2007). O

método é promissor e retira o cromo do resíduo, utilizando-o para reciclagem

(FIGURA 2).

Uma vez retirado o cromo, obtêm-se um resíduo sólido composto

basicamente de aparas e raspas de couro, com uma concentração baixa de

cromo. No melhor processo de extração em laboratório foram recuperados

99,6% do cromo inicial (27150 mg/Kg) ficando apenas 84,7 mg/Kg na matriz

sólida ao final do processo (Oliveira, 2007). O objetivo é conseguir esse grau de

extração em escala industrial.

Na composição da pele são encontradas fontes de nitrogênio, como

colágeno, elastina, queratina, ácido hialurônico, ácidos nucléicos, uréia e outros.

Além disso, estão presentes lipídios, como fosfolipídios, esqualeno, colesterol e

ácidos graxos e glicídios, como glicose, glicogênio, etc. (Viscardi, 2002). As

peles de animais podem ser fontes de matéria-prima para as áreas biomédica,

alimentar e cosmética e não apenas para as finalidades tradicionais, hoje

contempladas.

FIGURA 2. Esquema do processo de extração e recuperação do cromo de rejeitos de couro wet blue desenvolvido por Oliveira (2004).

Cr2(SO4)3

couro-Cr(“wet blue”)

couro Reagente-Cr+

Reagente-Cr +

Extração do cromo

H+/-OH

(i)

(ii)

Page 19: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

8

Por meio de processos biotecnológicos, já é possível obter lâminas de queratina,

queratina em pó, colágeno (gel e pó), dentre outros (Cardoso, 2004).

Oliveira (2007) através de microscopia eletrônica de varredura (MEV)

observou a morfologia desses materiais (FIGURA 3). O couro curtido ao cromo

apresenta-se como um material fibroso (FIGURA 3b), mostrando que o processo

de curtimento altera fortemente a morfologia da proteína, o que proporciona

maior estabilidade ao material após o curtimento. O material que teve o cromo

retirado (FIGURA 3c) apresentou uma micrografia semelhante ao couro natural

(FIGURA 3a), indicando a quebra da estrutura fibrosa do resíduo industrial

(couro wet blue) pelo processo de extração de cromo nesse material.

Devido às particularidades de seu sistema digestório, com câmaras de

fermentação microbiana localizadas antes do sítio de digestão química,

enzimática e de absorção de nutrientes, os ruminantes são animais capazes de

aproveitar, com eficiência, alimentos pobres nutricionalmente para suportar suas

necessidades de mantença e produção, uma vez que a maioria da matéria

orgânica que adentra as primeiras câmaras do estômago sofre um intenso

processo de fermentação microbiana, cujos principais produtos finais são ácidos

(a)

(b)

(c)

FIGURA 3. Micrografias dos resíduos de couro: (a) couro natural, (b) couro wet

blue, e (c) resíduo tratado (colágeno). Fonte: Oliveira (2007).

Page 20: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

9

graxos voláteis, metano, CO2 e massa microbiana. Sendo assim, esses animais

conseguem energia e proteína a partir de compostos pouco digestíveis para

outras espécies animais (Van Soest, 1994). Esse aproveitamento de subprodutos

já ocorre rotineiramente com produtos de origem vegetal (polpa de citrus, caroço

de algodão, farelo de trigo, casquinha de soja, etc.) e animal (sebo, farinha de

penas, farinha de peixe, farinha de carne e ossos, etc.) muitas vezes viabilizando

economicamente as atividades de exploração comercial dessas espécies animais.

2.4 Proteína de origem animal na alimentação de bovinos

leiteiros

As farinhas de origem animal (FOA) são ingredientes importantes

quanto aos aspectos econômicos, sanitários e nutricionais. Seu uso na

formulação de dietas é facilitado por conterem aminoácidos, energia, cálcio e

fósforo em quantidades apreciáveis. Porém, o efeito sobre o desempenho pode

ser modificado por vários fatores, tais como: tipo e qualidade do material

processado; processamento (temperatura, pressão e tempo de retenção nas

máquinas); uso de antioxidantes durante e após o processamento visando manter

a qualidade; contaminação por microrganismos patogênicos; presença de

poliaminas em grandes proporções; porcentagem e digestibilidade de nutrientes

e metodologias usadas nas estimativas (Bellaver, 2001).

Devido ao fato de haver poucas alternativas à combinação milho e farelo

de soja, as FOA são alternativas frequentemente usadas, pois asseguram

vantagens nutricionais e econômicas na formulação. Por isso, toda consideração

que se faça aos subprodutos de origem animal, deve-se avaliar o que

representam para o país. Evidentemente que, defende-se a melhoria da qualidade

dos subprodutos de modo a tratá-los como ingredientes e não commodities,

Page 21: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

10

sempre levando em consideração a qualidade nutricional e sanitária dos

ingredientes (Bellaver et al., 2005).

Estudos visando conseguir melhor aproveitamento do nitrogênio pelo

ruminante são direcionados principalmente na busca do equilíbrio entre a

utilização do nitrogênio não protéico, da proteína degradável e da não

degradável. Para tal fim, deve-se considerar separadamente a demanda de fontes

nitrogenadas dos microrganismos do rúmen e a do animal. O conhecimento da

degradação ruminal da proteína desempenha papel fundamental nesse contexto,

já que determina não apenas sua contribuição para atender às necessidades dos

microrganismos como também à quantidade potencial de proteína que escapa da

fermentação ruminal e, conseqüentemente, capaz de fornecer aminoácidos

disponíveis para digestão a partir do abomaso (Satter, 1986).

O metabolismo da proteína no rúmen é particularmente interessante em

virtude de resultar de dois processos interativos: da degradação da proteína da

dieta e da síntese de proteína microbiana, esta última realizada tanto à custa da

proteína degradada como de fontes de nitrogênio não protéico. Para estar

disponível para os microrganismos, a proteína deve passar pelo processo de

proteólise e ser hidrolisada a peptídeos e aminoácidos, muitos dos quais são

subseqüentemente desaminados. A extensão da degradação de fontes protéicas

no rúmen é variável, e as diferenças estão relacionadas principalmente a fatores

intrínsecos do alimento, espécie animal e influências da natureza da dieta sobre

o ambiente ruminal (Siddons e Paradine, 1983; Min et al., 2002; Volden et al.,

2002). Outro fator interessante é que uma dieta contendo somente nitrogênio não

protéico não maximiza a síntese de bactérias no rúmen, ou seja, quando se

fornece aminoácidos e peptídeos em substituição à amônia e uréia tem-se um

aumento na síntese de proteína bacteriana no rúmen (Argyle & Baldwin, 1989).

Para animais em crescimento e vacas em lactação, o suprimento de

proteína microbiana pode ser insuficiente para atender à demanda de produção.

Page 22: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

11

Nestes, as necessidades elevadas de aminoácidos devem ser supridas pelo

incremento da proteína de origem dietética que escapa da degradação no rúmen

e passa para o trato digestivo distal, onde será submetida aos processos de

digestão e absorção (Orskov et al., 1981; Rodriguez, 1986; Volden et al., 2002).

O objetivo da nutrição protéica de vacas leiteiras é proporcionar

quantidades adequadas de proteína degradável no rúmen (PDR) para otimizar a

síntese de proteína microbiana no órgão e, ao mesmo tempo, obter a

produtividade desejada com a menor quantidade possível de PB na dieta. Para

otimizar a eficiência de utilização de PB é necessário utilizar diferentes fontes de

proteína que proporcionem a PDR necessária para atender as necessidades dos

microorganismos no rúmen, para que estes possam produzir proteína bacteriana

na maior quantidade possível, pois esta é de baixo custo e alta qualidade

nutricional. A dieta também deve fornecer proteína não degradável no rúmen

(PND) em quantidade e qualidade suficientes para completar a demanda

nutricional do animal em relação à deficiência de aminoácidos da proteína

microbiana. Vacas de alta produção não terão suas necessidades atendidas

apenas por proteína microbiana, exigindo suplementação com fontes de PND

(Robinson et al., 1995). Os aminoácidos essenciais para vacas leiteiras são

arginina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina,

triptofano e valina. Metionina e lisina são os aminoácidos (aa) que se

apresentam em menor quantidade na digesta duodenal, proporcionalmente à

necessidade para síntese protéica pelo organismo sendo, portanto, os aa mais

limitantes. Um suplemento dietético com fontes desses aminoácidos é capaz de

aumentar a performance leiteira, a gordura e a proteína do leite (Robinson et al.,

1995; Bertrand et al., 1998; Socha et al., 2005).

A quantidade de lisina e metionina em alguns produtos de origem

animal podem ser maior que a maioria dos produtos de origem vegetal e a

relação lisina/metionina pode estar mais próxima do ideal para bovinos leiteiros

Page 23: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

12

(3:1). Por exemplo, produtos de origem vegetal como caroço de algodão, milho,

sorgo e cevada possuem respectivamente relação de lisina/metionina de 2,6;

1,33; 1,3; 2,1. Por outro lado produtos como farinha de peixe, farinha de carne e

ossos e soro de leite possuem, respectivamente, relação de lisina/metionina de

2,8; 3,7; 5,33 (National Research Concil, NRC, 2001). Pela quantidade de lisina

e metionina e também pela relação lisina/metionina estar mais próxima do ideal

a introdução de produtos de origem animal se mostra interessante quando o

objetivo é atender as necessidades de aa de vacas leiteiras, principalmente

aquelas de alta produção.

O colágeno é composto de glicina, que é o aa mais abundante,

representando 35% do total, prolina e hidroxiprolina que juntas representam 22

% de todos os aminoácidos do colágeno. Finalmente, existem outros dois

aminoácidos que se encontram no colágeno, que são lisina e hidroxilisina. Do

ponto de vista químico, o colágeno, a gelatina ou a cola, são compostos de

grandes cadeias de aminoácidos unidos. A composição em aminoácidos do

colágeno e seus derivados, gelatina e cola, em relação aos aminoácidos

essenciais é muito baixa, portanto, não é uma proteína completa do ponto de

vista nutricional. Entretanto, se a gelatina for incluída numa dieta normal em

conjunto com outras proteínas, pode em alguns casos aumentar o valor biológico

do alimento em questão (Viscardi, 2002).

Portanto, a utilização de rejeitos de couro na alimentação de ruminantes

poderia ser uma alternativa viável, tecnicamente e legalmente, que supriria

aminoácidos para degradação ruminal ou os disponibilizaria para absorção no

duodeno.

2.5 Encefalopatia Espongiforme Bovina

A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), vulgarmente conhecida

como Doença das Vacas Loucas ou BSE (do acrônimo inglês Bovine

Page 24: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

13

Spongiform Encephalopathy) é uma doença neurodegenerativa que afeta o gado

doméstico bovino. A doença surgiu em meados dos anos 80 na Inglaterra e tem

como característica o fato de ter como agente patogênico uma forma especial de

proteína, chamada príon. É transmissível ao homem, causando uma doença

semelhante, a nova variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob, abreviadamente

vCJD (Almeida, 2004).

Desde abril de 1985 alguns veterinários clínicos de campo dos países

pertencentes ao Reino Unido começaram a relatar aos seus serviços de vigilância

de saúde animal que alguns bovinos, na maior parte vacas com mais de 4 a 5

anos de idade, estavam adoecendo de uma doença fatal que se apresentava com

sinais associados a disfunções do Sistema Nervoso Central (SNC) (Almeida,

2004). O animal afetado deixava de se alimentar e rapidamente perdia condição

corporal. Em duas a três semanas era necessário que o animal fosse sacrificado,

pois não respondia a nenhum tratamento.

Um estudo epidemiológico foi realizado para conhecer os fatores

comuns a todos rebanhos afetados que pudessem ser imputados como causas da

doença para monitorar sua incidência dentro de cada rebanho e entre os rebanhos

das diferentes regiões do Reino Unido, visando coletar dados clínicos dos

animais e levantar hipóteses sobre sua cadeia de causas. Os pesquisadores

concluíram que a EEB estava associada ao uso de apenas um produto: a farinha

de carne e ossos. Essa farinha é constituída por resíduos de animais resultantes

do processamento da carne em abatedouros e que, por qualquer motivo, não

podem ser destinados ao consumo humano. Os corpos inteiros de animais

doentes que chegam ao abatedouro, também são constituintes desse resíduo. O

uso desse material permitiu o crescimento da epidemia porque os animais

afetados pela doença eram reciclados para fazer mais farinha de carne e ossos.

Deste modo, os agentes da EEB, que hoje se reconhece ser a molécula de príon

patogênico denominada PrPsc, dos primeiros animais doentes estavam sendo

Page 25: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

14

levados de volta para o rebanho sadio por meio da farinha de carne e ossos em

que eram transformados. Em conseqüência, com a farinha de carne e ossos cada

vez mais contaminada em príon PrPsc, um maior numero de animais estava

adquirindo e morrendo de EEB. Sendo assim, a epidemia de EEB se alastrava,

trazendo naquela época, e ainda hoje, muitas preocupações em relação à saúde

pública e grandes perdas econômicas para a cadeia da carne mundial. O príon

pode contaminar a ração dos bovinos também por meio de produtos

provenientes de outros mamíferos que alimentaram-se com material bovino

contaminado. Essas espécies, mesmo não desenvolvendo a doença, permanecem

com o príon no sistema nervoso ou em seu trato digestório podendo transmiti-la,

quando usados na alimentação de ruminantes. Foi demonstrado que apenas um

grama de cérebro (em matéria úmida) de um animal com EEB, administrado por

via oral a outros bovinos, era capaz de causar a doença dentro de períodos

semelhantes ao da doença natural (após 5 anos de idade) ( Anderson et al.,

1996). Pesquisas atuais (ACDP9, 1998) mostram que apenas 0,1 grama de

cérebro (peso úmido) de um animal doente, inoculado por via oral, transmite a

EEB para bovinos. Para evitar este risco, hoje é proibido o uso de farinha de

carne e ossos de qualquer animal de fazenda, inclusive aves, na alimentação de

ruminantes (Austin et al., 1993).

Os materiais considerados pelo ministério da agricultura, pecuária e

abastecimento (MAPA), como de risco potencial para EEB são cérebros, olhos,

amídalas, medula espinhal e intestino, desde o duodeno até o reto, de bovinos de

qualquer idade; e cérebros, olhos, amídalas, baço, medula espinhal e intestino,

desde o duodeno até o reto, de ovinos e caprinos de qualquer idade. O Brasil

encontra-se na categoria I da lista do MAPA, instrução normativa Nº 25 de 06

de abril de 2004, como um dos países onde é altamente improvável ou

improvável a presença de um ou mais casos clínicos ou sub-clínicos da

9 Advisory Committee on Dangerous Pathogens

Page 26: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

15

encefalopatia espongiforme bovina, sendo que nunca houve relato de caso no

país. A instrução normativa Nº 8, de 25 de março de 2004, do Ministério da

Agricultura, pecuária e abastecimento, (Brasil, 2004a), em seu artigo 1º, proíbe

em todo o território nacional a produção, comercialização e a utilização de

produtos destinados à alimentação de ruminantes que contenham em sua

composição proteínas e gorduras de origem animal. No entanto, o artigo 3º da

mesma resolução cita: “Excluem-se da proibição de que tratam os artigos

anteriores, o leite e os produtos lácteos, a farinha de ossos calcinados (sem

proteína e gorduras), a gelatina e o colágeno preparados exclusivamente a partir

de couro e peles”. Sendo assim, as únicas proteínas de origem animal ainda

permitidas como alimento para ruminantes são derivadas do leite e da pele.

Portanto, apesar do risco potencial de EEB, com a utilização de alimentos de

origem animal, considerando-se o aspecto técnico e legal, parece haver espaço

para a utilização dos rejeitos de couro na alimentação de ruminantes, como

proposto por esse trabalho.

2.6 Botulismo

O botulismo é uma intoxicação de bovinos e outras espécies animais,

resultante principalmente da ingestão de toxina previamente formada pela

bactéria anaeróbia Clostridium botulinum. Assume importância econômico-

sanitária no Brasil o botulismo epidêmico, relacionado com a osteofagia

observada em bovinos mantidos em áreas deficientes em fósforo, sem a

adequada suplementação mineral, e com a presença na pastagem de restos de

cadáveres contaminados (Tokarnia et al., 1970). Surtos têm sido registrados nos

últimos anos em extensas regiões do país, com a estimativa de centenas de

milhares de mortes (Döbereiner et al., 1992, Dutra & Döbereiner, 1995)

atribuídas às toxinas botulínicas C e D (Dutra et al., 1993). Um importante fator

que contribuiu para o agravamento do problema foi a intensificação da

Page 27: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

16

contaminação ambiental pelos esporos de C. botulinum, principalmente a partir

de cadáveres que entram em decomposição no pasto (Souza & Langenegger,

1987, Ribas et al., 1994 citado por Dutra et al., 2001).

A doença afeta diferentes espécies domésticas e aves silvestres. No

Brasil, o botulismo tem causado grandes prejuízos econômicos na pecuária,

devido ao grande número de animais que morrem por essa doença. A doença

acomete principalmente vacas em gestação ou lactação. Estas categorias são as

de maior exigência nutricional no rebanho, portanto as primeiras a manifestarem

sinais de desequilíbrio frente a uma dieta deficiente em fósforo, apresentando

osteofagia (consumo voluntário de ossos). Com isso, esses animais são

predispostos à ingestão de toxinas botulínicas (Corrêa & Corrêa, 1992).

O Clostridium botulinum faz parte da flora intestinal normal do animal,

e quando ele morre por um motivo qualquer, o processo de putrefação cria

condições favoráveis para o desenvolvimento da bactéria e a produção de toxina

botulínica. Outros meios de transmissão do Botulismo, além da ingestão de

ossos ou restos de cadáveres, são água paradas, geralmente rasas e esverdeadas,

com restos de cadáveres ou não; grãos de milho armazenados em condições de

umidade elevada e alta temperatura entram em putrefação e podem desenvolver

a toxina; feno úmido e em putrefação; ração armazenada inadequadamente;

cama de frango que, sob determinadas condições de armazenagem, são

excelentes meios de cultura para o clostrídio e para a produção da toxina;

silagem, principalmente nas partes laterais do silo, onde pode ocorrer putrefação

(Fernandes, 1998). Diante desses fatores e causas diversas, uma patologia a ser

considerada quando se pensa no uso dos resíduos de couro para alimentação

animal, certamente é o botulismo, caso as condições de armazenamento do

material possa propiciar o desenvolvimento do clostrídio.

Page 28: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

17

2.7 Cromo nos alimentos e seu papel no metabolismo

Na maioria dos alimentos o cromo existe em baixas concentrações.

Dentre os alimentos mais ricos em cromo estão o peixe, a lagosta, o frango e o

levedo da cerveja. O teor máximo permitido pela legislação brasileira é de 1

µg/ml para Cr (III) e 0,05 µg/ml para Cr (VI) (Silva e Pedrozo, 2001). O

National Research Council (NRC) recomenda uma ingestão diária de Cr (III)

segura e adequada de 50-200 µg/ dia para humanos (ATSDR, 2000).

No homem e em animais, o cromo trivalente é um nutriente essencial

que desempenha um papel importante no metabolismo de glicose, gorduras e

proteínas. Acredita-se que a forma biologicamente ativa do complexo de Cr (III)

orgânico facilite a interação da insulina com seus receptores celulares.

Compostos inorgânicos de cromo não apresentam esta atividade. Entretanto, o

homem e os animais são capazes de converter os compostos de cromo inativos a

formas biologicamente ativas, mas a exposição a elevadas concentrações desta

forma de metal pode levar ao aparecimento de efeitos adversos (ATSDR, 2000).

Silva Filho (1999) mensurou níveis de minerais, entre eles o cromo, em

vários subprodutos utilizados na alimentação animal tais como farelos de

algodão, arroz, canola, soja e trigo; farinhas de peixe, pena, carne e penas +

vísceras; cascas de algodão, arroz, laranja e bagaços de tomate. Os níveis de Cr

dos bagaços de tomate (3,35ppm) e de laranja (6,27ppm) foram altos

comparados às demais amostras, as quais tiveram concentrações que variaram de

0,03 a 0,61 ppm. McDowell (1985) cita valores de 0,11, 0,24, 0,424 e 1,17 ppm,

respectivamente em milho, germe de trigo, farelo de trigo e levedura de cerveja.

Fávaro et al. (1994), analisando folhas de citrus, detectaram nível médio de Cr

de 1,0 ppm. Os mesmos autores analisaram a dieta total consumida por várias

populações humanas em diferentes regiões do Brasil e reportaram um valor

médio de 0,5 ppm. A literatura, de modo geral, não registra casos de deficiência

de Cr em ruminantes.

Page 29: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

18

A presença de cromo (Cr) nas plantas, mesmo em baixos níveis, é

suficiente para suprir as exigências nutricionais dos animais. De acordo com

Underwood (1977), a maioria dos alimentos traz em sua composição níveis de

0,2 a 0,8 ppm, porém com o advento de novas técnicas de análise é possível a

detecção de níveis mais baixos com precisão. Esse elemento é importante do

ponto de vista nutricional por funcionar como um cofator na ativação da insulina

em mamíferos, sendo também o agente responsável pelo fator de tolerância à

glicose, requerido na manutenção do metabolismo (McDowell, 1985).

2.8 Toxicidade do cromo

É consenso na literatura que o Cr (VI) é mais tóxico que o Cr (III), como

demonstrado em um ensaio in vitro por Dartsch et al. (1998) ao observar que

5µmol/l de Cr (VI) inviabilizou 50% de uma cultura de células renais, enquanto

que a dose de 1000µmol/l de Cr (III), inviabilizou somente 10% das células. No

entanto deve-se salientar que a baixa toxidade do Cr (III) em relação ao Cr (VI)

é devido à sua menor absorção celular, pois Kirpnick-Sobol et al. (2006) ao

dosar o cromo intracelular observou que o Cr (III) provoca uma maior indução

de deleção de DNA que o Cr (VI).

O teor máximo de cromo presente em alimento permitido pela legislação

brasileira para alimentação humana é de 1µg/ml para Cr (III) e 0,05µg/ml para

Cr (VI). Segundo Dartsch et al. (1998), as células renais são dez vezes mais

sensíveis ao cromo que as células hepáticas. O cromo absorvido é excretado

quase que exclusivamente pela urina, logo a concentração urinária de cromo

pode ser utilizada como parâmetro para avaliar o cromo absorvido. Ao contrário

de produtos à base de cromo trivalente, aqueles à base de cromo hexavalente são

agentes oxidantes capazes de induzir danos teciduais como dermatites (Hansen,

et al., 2003), apoptose de linfócitos (Vasant et al., 2003), nefrotoxidade (Dartsch

et al., 1998; Wedeen And Qian, 1991) e hepatotoxidade (Dartsch et al., 1998),

Page 30: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

19

além de possuírem um risco em potencial no desenvolvimento de processos

carcinogênicos, teratogênicos e mutagênicos (Szadkowska et al., 2003;

Kirpnick-Sobol et al., 2006).

Logo após absorção oral ou dérmica de Cr (VI), o rim torna-se o órgão

alvo da acumulação de cromo, o que pode resultar em uma necrose tubular

aguda (NTA). Compostos de cromo produzem necrose na porção inicial dos

túbulos contorcidos proximais. A NTA é caracterizada pelo rápido fracasso

renal, uma fase inicial de oligúria10, e finalmente uma fase de poliúria11(Dartsch

et al., 1998; Wedeen And Qian, 1991). A recuperação subseqüente da função

renal é gradual e se dá dentro de algumas semanas. Cromato de potássio, na dose

de 15 mg/kg de peso vivo administrado por via parenteral, induz NTA em

animais (Biber et al, 1968; Kramp et al., 1974).

Existem poucos estudos sobre a toxicidade do cromo em animais. Em

um estudo realizado com peruas, adicionou-se à dieta destas aves 10µg/g de Cr

(III), tendo sido verificada uma diminuição significativa na produção de ovos em

relação ao grupo controle. Pássaros da região de Rhode Island nos Estados

Unidos, onde altos níveis de cromo foram detectados no solo, no ar e nas águas

de superfície, não tiveram seu crescimento afetado e reproduziram-se com

sucesso. Entretanto, um elevado nível de ácido úrico foi constatado em relação

ao mesmo tipo de aves de outros locais. Esta elevação do nível de ácido úrico

sugere uma alteração na função renal devido a uma dieta com níveis de cromo

acima de 7,6µg/g, mais altos que os existentes em locais não contaminados

(Canadian Environmental Protection ACT, 1994).

Tentativas de utilização de resíduos de couro na alimentação animal já

foram realizadas em suínos (Gruhn e Ludke, 1972), mas resíduos de cromo

foram detectados especialmente no fígado e rins.

10 produção de urina menor que 200 mL/dia em adultos humanos 11 produção de urina excedendo3 L/dia em adultos humanos

Page 31: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

20

Dentre os fatores que devem ser considerados na avaliação da toxicidade

dos compostos de cromo, destaca-se a pureza destes compostos; o cromo (III)

pode estar contaminado com pequenas quantidades de Cr (VI), o que dificultaria

a interpretação com animais de experimentação. Alem disso, como o Cr (VI) é

rapidamente reduzido a Cr (III) no organismo, torna-se difícil distinguir os

efeitos nocivos de cada estado de oxidação, em separado (ATSDR, 2000).

A maioria dos efeitos tóxicos induzidos pelo cromo ocorrem no trato

respiratório, quando a via de introdução é a pulmonar. Os efeitos tóxicos em

indivíduos expostos ocupacionalmente a elevadas concentrações de cromo,

particularmente Cr (VI), incluem ulcerações e perfuração de septo nasal,

irritação do trato respiratório, possíveis efeitos cardiovasculares, gastrintestinais,

hematológicos, hepáticos e renais, além do risco elevado de câncer pulmonar.

Após a exposição oral, os efeitos mais prevalentes ocorrem nos tecidos hepático

e renal (ATSDR, 2000).

Kaufman et al. (1970), citado em ATSDR (2000), relataram um caso de

óbito em uma criança de 14 anos de idade após a ingestão de 7,5 mg/Kg de

dicromato de potássio. Antes do óbito, a criança apresentou fortes dores

abdominais e vômito. Alta atividade de enzimas hepáticas foram encontrados no

soro após 24 horas da ingestão. Um exame pós-morte mostrou necrose de fígado

e rins, além de edema renal.

2.9 Toxicocinética e toxicodinâmica do cromo no organismo

A toxicocinética dos compostos de cromo depende do estado de

oxidação do átomo e da natureza da ligação neste composto. A absorção dos

compostos de Cr (VI) é maior do que a dos compostos de Cr (III). O ânion

cromato penetra facilmente nas células através dos canais aniônicos não

específicos. Já os compostos de Cr (III) são absorvidos por difusão passiva ou

fagocitose (ATSDR, 2000). Enquanto a forma hexavalente facilita a entrada na

Page 32: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

21

circulação e nas células, a forma trivalente ligada à proteína intracelular é que

causa danos iniciais através de ligações com proteínas intracelulares (Wedeen

And Qian, 1991).

A absorção por via oral é variável. Os compostos insolúveis de Cr (III),

como óxido de cromo, praticamente não são absorvidos por esta via de

introdução; 0,5 a 2 % dos compostos de Cr (III) presentes na dieta são

absorvidos pelo trato gastrintestinal e, aproximadamente, de 2 a 10% de Cr (VI),

como os cromatos de potássio e de sódio, são por ali absorvidos. Na ingestão de

cromo hexavalente, este é rapidamente reduzido pelos compostos presentes na

saliva e no suco gástrico a Cr (III), menos absorvido (Who, 1996; Wedeen &

Qian, 1991)

Uma vez absorvido, o cromo é transportado pelo sangue para vários

órgãos e tecidos. O Cr (III) liga-se principalmente a proteínas séricas,

especialmente a transferrina. O Cr (VI) penetra rapidamente nos eritrócitos. O

estado de oxidação do metal apresenta papel fundamental na distribuição pelo

sangue e na retenção pelos diferentes órgãos. O Cromo transportado pelo sangue

concentra-se, especialmente, no fígado, rim, baço e pulmão. Os dados da

exposição humana a cromo referem-se, quase exclusivamente, ao seu acúmulo

nos pulmões em conseqüência da inalação das partículas do metal (Who, 1996).

A distribuição do cromo, após exposição por via oral, leva ao acúmulo

do metal em nível renal, hepático, pulmonar, cardíaco e pancreático. O metal

pode ser transferido para o feto via placenta e para crianças via leite materno

(ATSDR, 2000). O cromo é preferencialmente excretado pelos rins (na

introdução por via oral 80% da dose administrada de Cr (VI) foi recuperada na

urina) sendo que todo cromo encontrado na urina está na forma trivalente

mostrando que o organismo converte a forma hexavalente em trivalente antes da

excreção.

Page 33: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

22

A toxicidade do cromo depende de seu estado de oxidação, sendo o Cr

(VI) de maior toxicidade que o Cr (III). Acredita-se que um dos fatores que

contribui para esta elevada toxicidade seja a grande habilidade do Cr (VI) em

penetrar nas células, em comparação com o Cr (III). O Cr (VI) existe como

ânion cromato tetraédrico, em pH fisiológico, e assemelha-se a outros ânions

naturais como fosfato e sulfato, permeáveis através dos canais da membrana

celular. O Cr (III), entretanto, forma complexos octaédricos e não pode penetrar

facilmente através daqueles canais. Portanto, a baixa toxicidade do Cr (III) se

deve, em parte, a esta dificuldade de penetração celular. A redução extracelular

do Cr (VI) a Cr (III) diminui a penetração intracelular do cromo, reduzindo

assim a sua toxicidade (ATSDR, 2000). Uma vez dentro das células, o Cr (VI)

sofre redução a Cr (III), com Cr (V) e Cr (IV) como intermediários. Estas

reações geralmente envolvem espécies intracelulares, como o ascorbato, a

glutationa ou os aminoácidos. As espécies cromo (VI), (V) e (IV) estão

envolvidas no ciclo oxidativo de Fenton, gerando radicais livres. Dificilmente,

em condições fisiológicas normais, o Cr (III) gera este tipo de radical (ATSDR,

2000).

Os produtos da redução do Cr (VI) – radicais livres, cromo (IV) e (V) e

o Cr (III) parecem ser os responsáveis pelos efeitos carcinogênicos observados.

A interação destes produtos com o DNA pode resultar em danos estruturais e

funcionais do mesmo e em efeitos celulares negativos. Os danos estruturais

incluem quebra da fita, ligações cromo-DNA e aberrações cromossômicas. Os

danos funcionais incluem seqüestro de DNA polimerase, mutagênese e

alterações da expressão gênica. A formação de ligações entre DNA e proteínas

pode interferir na replicação e transcrição do DNA ou, ainda, promover ou inibir

a expressão de genes regulatórios celulares. A alteração da regulação celular

pode levar à carcinogênese. As alterações estruturais e funcionais podem inibir o

crescimento celular. O mecanismo de apoptose celular induzido pelo cromo não

Page 34: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

23

está totalmente explicado; sabe-se, entretanto, que há a participação do estresse

oxidativo12, da ligação cruzada DNA-DNA e da inibição da transcrição

(ATSDR, 2000).

Para elementos essenciais como o cromo, há riscos associados ao

ingresso corpóreo, tanto de baixas como de elevadas concentrações do metal. A

faixa de concentração que preenche os requisitos biológicos e previne a

toxicidade pode ser estreita. Assim, na avaliação do risco, estes dois aspectos –

essencialidade e toxicidade- devem ser considerados tanto para o homem como

para outras espécies do meio ambiente (Silva e Pedrozo, 2001).

A população em geral está exposta ao cromo pela inalação do ar

ambiental, ingestão de água e alimentos contaminados. O espectro dos efeitos

tóxicos do cromo promovidos pelos cromos (VI) e (III) incluem ação

carcinogênica para o homem, atribuída ao Cr (VI), as dermatoses, ulcerações e

perfurações do septo nasal, rinite atrófica e lesões renais, demonstrando a

necessidade de se evitar a exposição a concentrações excessivas do metal, bem

como à contaminação ambiental (ATSDR, 2000).

2.10 Utilização de Cr-EDTA como marcador em

experimentação

Desde a década de sessenta o complexo Cr-EDTA é utilizado em

experimentos de digestão em ruminantes (Downes e McDonald, 1964). Esses

autores demonstraram que, durante a passagem no trato gastrintestinal,

inevitavelmente uma pequena parte do complexo Cr-EDTA era absorvido. A

absorção foi em média de 3% em vacas e ovelhas e o cromo absorvido era

rapidamente excretado e recuperado na urina. Udén et al. (1980) comparou

12 Em determinadas situações adversas, a concentração de Radicais Livres aumenta de forma descontrolada, provocando diversos tipos de lesões, que atualmente são incontestavelmente relacionadas com a gênese de várias doenças.

Page 35: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

24

marcadores de digestibilidade, entre eles o Cr-EDTA. No experimento ele usou

vacas, cavalos, ovelhas, cabras e coelhos e demonstrou que a absorção do

complexo Cr-EDTA foi de 2-3% nas espécies testadas com exceção dos coelhos

onde 22% do marcador foi recuperado na urina.

O processo de extração do cromo do resíduo de couro (couro wet blue)

desenvolvido por Oliveira (2004) é baseado na utilização de uma mistura ácida

para a complexação e retirada do cromo da matriz sólida residual. Em seguida, o

cromo livre em solução será complexado com EDTA para formar a espécie Cr-

EDTA que será removida para recuperação do cromo. Assim, após a retirada do

composto para reciclagem, a pequena quantidade de cromo remanescente no

resíduo sólido de couro estará ligada ao EDTA, conferindo uma estabilidade

muito grande à molécula, bem como baixa possibilidade de absorção em

ruminantes.

2.11 Provas de função hepática

As aminotransferases são comumente usadas como marcadores de lesão

hepatocelular. A aspartato-aminotransferase (AST) é encontrada em células

sangüíneas e em diversos outros tecidos, incluindo fígado, músculo, cérebro,

pâncreas e pulmões. A alanina-aminotranferase (ALT) é uma enzima

citoplasmática, encontrada primariamente em hepatócitos, sendo um marcador

mais específico de doença hepática (Kaplowitz, 1982). Apesar da AST não ser

considerada uma enzima hepato-específica, pois enfermidades envolvendo

tecidos musculares e hepáticos podem aumentar os valores dessa enzima no

plasma (Coles, 1984), desde que se excluam lesões musculares e cardíacas o

aumento da atividade enzimática da AST pode ser interpretado como sendo

conseqüência de lesão hepática (Hagiwara, 1982) e essa lesão é diretamente

proporcional ao número de hepatócitos lesados (Duncan e Prasse, 1982).

Page 36: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

25

Outra enzima hepática que é utilizada como indicativo de lesão hepática

é a fosfatase alcalina (FA) a qual indica obstrução do sistema biliar, quer seja no

fígado ou nas vias biliares extra-hepáticas (Kaplowitz, 1982).

Um aumento do colesterol no plasma também pode sugerir lesão

hepática por deficiência na capitação, transporte e metabolismo do mesmo no

fígado (Kaplowitz, 1982).

Portanto, a pesquisa desses marcadores é útil para precisar lesões

hepáticas as quais podem ocorrer no caso de ingestão de altas concentrações de

cromo.

3 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADVISORY COMMITTEE ON DANGEROUS PATHOGENS. Transmissible spongiform encephalopathy agents: safe working and the prevention of infection. London, UK: Spongiform Encephalopathy Advisory Committee. HMSO, 1998. AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGYSTRY. Toxicological profile for chromium. Syracuse: U.S. Department of health & Human Services, 2000. ALMEIDA, V.; NUNES T. Perspectivas de controlo das EET na Península Ibérica. In: ENCONTROS VETERINÁRIOS GALAICO-PORTUGUESES, 2004, Silleda. Proceedings Silleda, 2004. p.41-48. ANDERSON, R.M.; DONNELLY, C.A.; FERGUSON, N.M.; WOOLHOUSE, M.E.J.; WATT, C.J.; UDY, H.J.; MAWHINNEY, S.; DUNSTAN, S.P.; SOUTHWOOD, T.R.E.; WILESMITH, J.W.; RYAN, J.B.M.; HOINVILLE, L.J.; HILLERTON, J.E.; AUSTIN, A.R.; WELLS, G.A.H. Transmission dynamics and epidemiology of BSE in British cattle. Nature, v.382, p.779–788, 1996. ARGYLE, J.L.; BALDWIN, R.L. Effects of amino acids and peptides on rumen microbial growth yields. Journal Dairy Science, v.72, p.2017-2027, 1989.

Page 37: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

26

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004. Classificação de resíduos sólidos. Disponível em: <http://www.abnt.org.br/>. Acesso em: 14 abr. 2005. Sci., 72: 2017-2027, 1989. AUSTIN A.R, HAWKINS S.A.C., KELAY N.S. & SIMMONS M.M. New observations on the clinical signs of BSE and scrapie. A Consultation on BSE with the Scientific Veterinary Committee of the Commission of the European Communities held in Brussels, Belgium, 14–15 September 1993. BELLAVER, C. Ingredientes de origem animal destinados à fabricação de rações. In: SIMPÓSIO SOBRE INGREDIENTES NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL, 2001, Campinas. Anais... Campinas, SP: CBNA, 2001. p.167-190. BELLAVER, C.; LUDKE, J.; LIMA, G.J.M.M. Qualidade de ingredientes para rações. In: GLOBAL FEED AND FOOD FORUM, 2005, São Paulo. Proceedings… São Paulo: FAO/IFIF.Sindiraçoes, 2005. BERTRAND, J.A.; PARDUE, F.E.; JENKINS, T.C. Effect of ruminally protected amino acids on milk yield and composition of jersey cows fed whole cottonseed. Journal of Dairy Science, v.81, n.8, p.2215–2220, 1998. BIBER, T.U.; MYLLE, M.; BAINS, A.D.; GOTTSCHALK, C.W.; OLIVER, J.R.; MACDOWELL, M. A study by micropuncture and microdissection of acute renal damage in rats. American Journal Medical, v.44, p.664-705, 1968. BINNERTS, W.T.; KLOOSTER, A.T.; FRENS, A.M. Soluble chromium indicator measured by atomic absorption in digestion experiments. The Veterinary Record, Apr. 20th, 1968. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa Nº 8, 25 de março de 2004. 2004a. Disponível em: <http://oc4j.agricultura.gov.br/agrolegis/do/consultaLei?op=viewTextual&codigo=6476>. Acesso em: 14 abr. 2005. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa Nº 25, 06 de abril de 2004. 2004b. Disponível em: <http://oc4j.agricultura.gov.br/agrolegis/do/consultaLei?op=viewTextual&codigo=6817>. Acesso em: 14 abr. 2005. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. 2005. Disponível em: <http://www.mte.gov.br> Acesso em: 29 maio 2007.

Page 38: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

27

CANADIAN ENVIRONMENTAL PROTECTION. Priority substances list assessment report. Chromium and its compounds. Santé, Canadá: ACT, 1994. p.59. CARDOSO, E.C. Sistemas integrados de produção de peles e couros no Brasil. Embrapa Gado de Corte, 2004. Disponível em: <http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/doc/doc127/12sistemas.htmlGrande MS> Acesso em: 10 abr. 2005. COLES, E.H. Patologia clínica veterinária. 3.ed. São Paulo: Manole, 1984. 566p. COMPASSI, M. K. Processo de dissolução termo-química de serragem e/ou retalhos e aparas de couros curtidos ao cromo. Br PI 9202408, 1992. CORRÊA, W.M.; CORRÊA, C.N. Enfermidades infecciosas dos mamíferos domésticos. 2.ed. São Paulo: Medsi, 1992. 843p. DALLAGO, R.M.; SMANIOTTO, A.; OLIVEIRA, L.C.A. Resíduos sólidos de curtumes como absorventes para a remoção de corantes em meio aquoso. Química Nova, v.28, p.433-437, 2005. DARTSCH, P.C.; HILDENBRAND, S.; KIMMEL, R.; SCHMAHL, F.W. Investigations on the nephrotoxicity and hepatotoxicity of trivalent and hexavalent chromium compounds. International Archive Occup Environmental Health, v.71 S40-5, Sept. 1998. Suplement. DÖBEREINER, J.; TOKARNIA, C.H.; LANGENEGGER, J.; DUTRA, I.S. Epizootic botulism of cattle in Brazil. Dtsch. Tierärztl. Wschr., v.99, p.188-190, 1992. DOWNES, A.M.; McDONALD, I.W. The chromium-51 complex of ethylenediamino tetracetic acid as soluble rumen marker. Brit. Journal Nutrition, v.18, p.153-162, 1964. DUNCAN, J.R.; PRASSE, K.W. Patologia clínica veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1982. 217p.

Page 39: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

28

DUTRA, I.S.; DÖBEREINER, J. Fatos e teorias sobre a doença da vaca caída: botulismo. Hora Vet., Porto Alegre, v.84, p.7-10, 1995. DUTRA, I.S.; DÖBEREINER, J.; ROSA, I.V.; SOUZA, L.A.A.; NONATO, M. Surtos de botulismo em bovinos no Brasil associados à ingestão de água contaminada. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.21, n.2, p.43-48, abr./jun. 2001. DUTRA, I.S.; WEISS, H.-E.; WEISS, H.; DÖBEREINER, J. Diagnóstico do botulismo em bovinos pela técnica de microfixação de complemento. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.13, n.3/4, p.83-86, 1993. FÁVARO, D.I.T.; MAIHARA, V.A.; ARMELIN, M.J.A.; VASCONCELOS, M.B.A. Determination of As, Cd, Cr, Cu, Hg, Sb and Se concentrations by radiochemical neutron activation analysis in different Brazilian regional diets. Journal of Radioanalytical and Nuclear Chemistry, v.181, n.2, p.385-394, 1994. FERNANDES, C.G. Botulismo. In: ______. Doenças de ruminante e equinos. São Paulo:1998. p.147-149. GIORDANO, G. Tratamento e controle de efluentes industriais, 2005 Disponível em: <www.ufmt.br/esa/Modulo_II_Efluentes_Industriais/>. Acesso em: 13 dez. 2006. GRUHN, K.; LUDKE, H. Use of hydrolyzed chrome leather wastes in swine feeding and the content of chromium in flesh, liver, kidneys and hair. Archive Tierernahr, v.22, n.1, p.113-24, Feb. 1972. HAGIWARA, M.K. Curso de patologia clínica veterinária, promovido pela FMVZ-USP, SPMV e CRMV. São Paulo: Sociedade Paulista de Medicina Veterinária, 1982. 259p. HANSEN, M.B.; JOHANSEN, J.D.; MENNE, T. Chromium allergy: significance of both Cr(III) and Cr(VI). Contact dermatitis, v.49, n.4, p.206-212, Oct. 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa industrial inovação tecnológica. 2004. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/pia/produtos/produto2004/default.shtm>. Acesso em: 16 fev. 2007.

Page 40: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

29

KAMALUDEEN, S.P.; ARUNKUMAR, K.R.; AVUDAINAYAGAM, S.; RAMASAMY, K. Bioremediation of chromium contaminated environments. Indian Journal Exp. Biology, v.41, n.9, p.972-985, Sept. 2003. KAPLOWITZ, N.; EBERLE, D.; YAMADA, T. Biochemical tests for liver disease. In: ZAKIM, D.; BOYER, T.D. (Ed.). Hepatology: a textbook of liver disease. Philadelphia: WB, Saunders, 1982. v.1, p.583-607. KIRPNICK-SOBOL, Z.; RELIENE, R.; SCHIESTL, R.H. Carcinogenic Cr(VI) and the Nutritional Supplement Cr(III) Induce DNA Deletions in Yeast and Mice Cancer. Res., v.66, n.7, Apr. 2006. KRAMP, R.A.; MACDOWELL, M.; GOTTSCHALK, C.W.; OLIVER, J.R. A study by microdissection and micropuncture of the structure and the function of the kidneys and the nephrons of rats with chronic renal damage. Kidney Int., v.5, p.147-176, 1974. McDOWELL, L.R. Nutrition of grazing ruminants in warm climates. Orlando: Academic, 1985. 443p. MIN, B.R.; ATTWOOD, G.T.; REILLY, K. Lotus corniculatus condensed tannins decrease in vivo populations of proteolytic bacteria and affect nitrogen metabolism in the rumen of sheep. Canadian Journal Microbiology, v.48, p.911-921, 2002. MINAS GERAIS. Conselho Estadual de Política Ambiental Deliberação normativa nº 68. Minas Gerais, 10 de dezembro, 2003. Disponível em: <www.faemg.org.br/Content.aspx?Code=31&ParentPath=None;5>. Acesso em: 10 fev. 2007. MU, C.; LIN, W.; ZHANG, M.; ZHU, Q. Towards zero discharge of chromium-containing leather waste through improved alkali hydrolysis. Waste Management, v.23, p.835-843, 2003. NATIONAL RESEARCH CONCIL. Nutrient requirements of dairy cattle. 7thed. rev. Washington: National Academy of Science, 2001. 408p. OLIVEIRA, D.Q.L. Tratamento de rejeitos sólidos contendo cromo da indústria de couro: uso em processos de adsorção e como fonte de nitrogênio na agricultura. 2007. Dissertação (Mestrado em Agroquímica)-Universidade Federal de Lavras, Lavras.

Page 41: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

30

OLIVEIRA, L.C.A.; DALLAGO, R.M.; N. FILHO, I. Processo de reciclagem dos resíduos sólidos de curtumes por extração do cromo e recuperação do couro descontaminado. Br PI 001538, 2004. ORSKOV, E.R.; HUGHES-JONES, M.; McDONALD, I. Degradability of protein supplements and utilization of undegraded protein by high-producing dairy cows. In: HARESIGN, W.; COLE, D.J.A. (Ed.). Recent developments in ruminant nutrition. London: Butterworths, 1981. p.17-30. PACHECO, J.W.F. Curtumes. São Paulo: CETESB, 2005. 76p. (Série P + L). Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso em: 25 maio 2007. RIO GRANDE DO SUL.Conselho Estadual do Meio Ambiente. Resolução nº 073. Rio Grande do Sul, 20 de agosto de 2004. RIVELA, B.; MOREIRA, M.T.; BORNHARDT, C.; MENDEZ, R.; FEIJOO, G. Life cycle assessment as a tool for the environmental improvement of the tannery industry in developing countries. Environment Science Technology, v.38, n.6, p.1901-1909, Mar. 2004. ROBINSON, P.H.; FREDEEN, A.H.; CHALUPA, W.; JULIEN, W.E.; SATO, H.; FUJIEDA; SUZUKI, H. Ruminally protected lysine and methionine for lactating dairy cows fed a diet designed to meet requirements for microbial and postruminal protein. Journal of Dairy Science, v.78, n.3, p.582-594, 1995. RODRIGUEZ, N.M. Importância da degradabilidade da proteína no rúmen para a formulação de rações para ruminantes. Caderno Técnico da Escola Veterinária da UFMG, Belo Horizonte, n.1, p.27-45, 1986. ROSENTRETER, H.; KLEIN, H.G.; WEHLING, B.; MAKOWKA, B. Processo de curtimento ao cromo de couros descarnados e depilados piquelados. Br PI 8804055, 1988.

SANTOS, A.M.M.M. et al. Panorama do setor de couro no Brasil. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n.16, p.57-84, set. 2002. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/bnset/set1603.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2007. SARAVANABHAVAN, S.; THANIKAIVELAN, P.; RAO JR., N. B.; RAMASAMI, T. Natural leathers from natural materials: progressing toward a new arena in leather processing. Environmental Science Technology, v.38, n.3, p.871-879, Feb. 2004.

Page 42: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

31

SATTER, L.D. Protein supply from undegraded dietary protein. Journal Dairy Science, v.69, p.2734-2749, 1986.

SIDDONS, R.C.; PARADINE, J. Protein degradation in the rumen of sheep and cattle. Journal Science Food Agricultural, v.34, p.701-708, 1983. SILVA, C.S. da; PEDROZO, M.F.M. Ecotoxicologia do cromo e seus compostos. Salvador: Centro de Recursos Ambientais, 2001. (Cadernos de Referência Ambiental, 5). SILVA FILHO, J.C. da; ARMELIN, M. J. A.; SILVA, A. G. da. Determinação da composição mineral de subprodutos agroindustriais utilizados na alimentação animal, pela técnica de ativação neutrônica. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n.2, p.235-241, fev. 1999. SILVEIRA, I.C.; ROSA, D.; MONTEGGIA, L.O.; ROMEIRO, G.A.; BAYER, E.; KUTUBUDDIN, M. Low temperature conversion of sludge and shavings from leather industry. Water Science Technology, v.46, n.10, p.277-83, 2002. SOCHA, M.T.; PUTNAM, D.E.; GARTHWAITE, B.D.; WHITEHOUSE, N.L.; KIERSTEAD, N.A.; SCHWAB, C.G.; DUCHARME, G.A.; ROBERT, J.C. Improving intestinal amino acid supply of pre- and postpartum dairy cows with rumen-protected methionine and lysine. Journal of Dairy Science, v.88, n.3, 2005. SZADKOWSKA-STANCZYK, I.; WOZNIAK, H.; STROSZEJN-MROWCA, G. Health effects of occupational exposure among shoe workers. A Review Médical Pr., v.54, n.1, p.67-71, 2003. TOKARNIA, C.H.; LANGENEGGER, J.; LANGENEGGER, C.H.; CARVALHO, E.V. Botulismo em bovinos no Piauí, Brasil. Pesquisa Agropecuária Brasileira. Série Veterinária, v.5, p.465-472, 1970. UDÉN, P.; COLUCCI, P.E.; VAN SOEST, P.J. Investigation of chromium, cerium and cobalt as markers in digesta. Rate of passages studies. Journal Science Food Agricultural, v.31, p.625-632, 1980. UNDERWOOD, E.J. Trace elements in human and animal nutrition. 4.ed. London: Academic, 1977. 545p. VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2nded. Cornell: Cornell University, 1994.

Page 43: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

32

VASANT, C.; RAJARAM, R.; RAMASAMI, T. Apoptosis of lymphocytes induced by chromium(VI/V) is through ROS-mediated activation of Src-family kinases and caspase-3. Free Radic Biology Medical, v.35, n.9, 1082-1100, Nov. 2003. VIO, F.; ALLEGRINI, V. Dados do mercado brasileiro de couro. In: ENCONTRO NACIONAL DOS QUÍMICOS E TÉCNICOS DA INDÚSTRIA DO COURO, 2005. Disponível em: <http://www.abiquim.org.br/releases/lanxess1.pdf> Acesso em: 22 mar. 2007. VISCARDI, M.L.C. Hidratação da pele. ABC do corpo salutar. 2002. <http://www.abcdocorposalutar.com.br/artigo.php?codArt=363>. Acesso em: 15 abr. 2005. VOLDEN, H.; MYDLAND, L.T.; OLAISEN, V. Apparent ruminal degradation and rumen escape of soluble nitrogen fractions in grass and grass silage administered intraruminally to lactating dairy cows. Journal Animal Science, v.80, p.2704-2716, 2002. WEDEEN, R.P.; QIAN, L. Chromium-Induced Kidney Disease. Environmental Health Perspectives, v.2, p.71-74, 1991. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Chromium. Geneva: Environmental Health Criteria, 1996. p.61.

Page 44: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

33

CAPÍTULO 2

POTENCIALIDADES NUTRICIONAIS DE RESÍDUOS DE

COURO WET BLUE PARA A ALIMENTAÇÃO DE

RUMINANTES

SILVA, Rodrigo Carvalho. Potencialidades Nutricionais de Resíduos de Couro Wet Blue para a Alimentação de Ruminantes. In____. Utilização de Rejeitos de Couro Wet Blue na Alimentação de Ruminantes: Potencialidades Nutricionais e Patológicas. 2007. Cap. 2, p.33-45. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG∗.

RESUMO O processo de curtimento de couro é caracterizado por produzir enorme quantidade de resíduos contaminados com cromo, os quais constituem um grave problema ambiental. Têm sido desenvolvidas tecnologias para a retirada do cromo desses resíduos, entretanto, há necessidade de se ter destinação adequada para os resíduos com baixo teor de cromo. O colágeno derivado de couro e pele é permitido pela legislação brasileira para a alimentação de ruminantes. O objetivo deste trabalho foi apontar uma alternativa para a minimização da contaminação ambiental por resíduos de couro, por meio de sua utilização na alimentação de ruminantes. Foram comparados os resíduos de couro in natura (WB) e os resíduos que tiveram o cromo extraído (CE). Ambos os materiais apresentaram 99,7% de MS, mas o teor de PB foi mais alto (90,4%) no CE do que no WB (74,3%). No entanto, a degradabilidade ruminal efetiva da MS foi 63% e da PB foi 65% no CE, sendo que o WB não sofreu degradação ruminal, provavelmente refletindo a estabilidade da molécula, conferida pelo cromo. A digestibilidade abomasal in vitro do CE foi 98%, demonstrando que, se protegido da degradação ruminal, esse material pode ser utilizado como fonte de proteína animal visando induzir mudança no perfil de aminoácidos da dieta de ruminantes. Essa alta digestibilidade abomasal também indica que o CE tem potencial para ser utilizado na alimentação de animais não ruminantes. O teor de matéria mineral foi mais alto no WB(10,4%) do que no CE(0,4%), refletindo o ∗ Comitê Orientador: João Chrysóstomo de Resende Júnior – UFLA (Orientador), Luiz Carlos Alves de Oliveira – UFLA (Co-orientador).

Page 45: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

34

teor de cromo e reforçando que o processo de retirada desse elemento é eficiente. A alimentação animal mostra-se como uma alternativa viável para a destinação das raspas e aparas de couro geradas pelos curtumes e tratadas pelo método de extração, minimizando assim a contaminação ambiental.

Palavras-chave: Alimento de Origem Animal; Degradabilidade; Digestibilidade; Meio Ambiente

INTRODUÇÃO

A destinação adequada para os resíduos gerados pelos curtumes tem

sido fator de preocupação entre as autoridades ambientais (COPAM, 2003;

CONSEMA, 2004). Dentre todas as fases da cadeia produtiva do couro, a etapa

de curtimento é a que gera maior quantidade de efluentes e resíduos sólidos. No

Brasil, mais de 90% das peles curtidas são feitas ao cromo (Teixeira et al., 1999;

Pacheco, 2005). O resíduo do couro curtido ao cromo, conhecido como couro

wet blue, é considerado resíduo classe I, de acordo com a norma NBR 10004.

Isso significa que é perigoso ao meio ambiente e aos animais, incluindo o

homem. Esses resíduos são constituídos por raspas e aparas, as quais estão

contaminadas com cromo, o que impede um descarte em aterros convencionais e

outro tipo de utilização, como na alimentação animal. Foi desenvolvida uma

tecnologia (Oliveira, 2004) que recupera o cromo contido nas raspas e aparas,

possibilitando a sua reutilização no próprio processo de curtimento e obtém

como produto final um material, composto predominantemente por colágeno,

com baixos níveis de cromo. Entretanto, alternativas para aproveitamento desse

resíduo devem ser pesquisadas, contribuindo para diminuição do descarte

ambiental das indústrias curtidoras.

A utilização de subprodutos em dietas para nutrição animal fica cada vez

mais importante e necessária quando se observa que é cada vez maior a

Page 46: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

35

competição entre humanos e animais por alimentos concentrados como, por

exemplo, milho e soja. Além do mais, os subprodutos possuem uma importância

evidente no setor econômico tanto para as indústrias que os geram, onde se

tornam fontes adicionais de rendimento, como para os criadores de animais onde

significam uma diminuição de custos que muitas vezes viabilizam a produção

(EMBRAPA, 2002).

Devido à particularidade de seu sistema digestório, com câmaras de

fermentação microbiana localizadas antes do sítio de digestão química e

enzimática e também de absorção de nutrientes, os ruminantes são animais

capazes de aproveitar alimentos muitas vezes pobres nutricionalmente para

espécies não ruminantes (Van Soest, 1994). Em adição, a despeito da proibição

do uso de alimentos de origem animal para alimentação de ruminantes no Brasil,

o colágeno, derivado exclusivamente de couro e peles, constitui um dos únicos

produtos de origem animal permitidos para a alimentação de ruminantes pela

instrução normativa Nº 8, de 25 de março de 2004, do Ministério da Agricultura

Pecuária e Abastecimento.

Pretendeu-se, com este trabalho, apontar uma alternativa para a

utilização dos resíduos de couro wet blue, após extração de cromo, por meio do

seu uso na alimentação de ruminantes, caracterizando suas potencialidades

nutricionais para essas espécies animais.

MATERIAL E MÉTODOS

Avaliação das características químicas do produto

Essas avaliações, em duplicata, foram efetuadas nas amostras

compostas dos resíduos wet blue (material curtido ao cromo) e nos resíduos

tratados pelo método desenvolvido por Oliveira (2004), para minimização do

Page 47: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

36

teor de cromo. O material wet blue foi coletado pelo departamento de química da

UFLA em vários curtumes da região de Divinópolis-MG e continha 27150 ppm

de cromo. O resíduo tratado foi fornecido pelo mesmo departamento após passar

por processo de extração de cromo numa planta piloto localizada no próprio

departamento. O resíduo tratado continha 150 ppm de cromo. A determinação

do teor de matéria seca (MS) foi realizada utilizando-se estufa ventilada a 60 ºC

por 72 horas e posteriormente estufa a 105 ºC por 24 horas. O teor de proteína

bruta (PB) foi determinado por meio da análise de nitrogênio utilizando-se o

aparelho de destilação a vapor micro-Kjeldahl, conforme AOAC (1970),

corrigindo-se pelo fator de conversão 6,25. A porcentagem de extrato etéreo

(EE) foi realizada por extração por meio de éter de petróleo em extrator contínuo

de Sochlet, de acordo com a AOAC (1970). A determinação da porcentagem de

cinzas foi realizada por incineração do material em mufla a 550º C por 5 horas,

pelo método da AOAC (1970). A quantidade de carboidratos não fibrosos

(CNF) foi estimada por diferença, de acordo com a equação CNF=1-

(PB+EE+Cinzas), assumindo-se que a quantidade de carboidratos fibrosos fosse

desprezível, por se tratar de alimento de origem animal. Para a determinação do

perfil de minerais dos materiais foi utilizado espectrofotometria de absorção

atômica.

Avaliação da degradabilidade ruminal efetiva

As análises de degradabilidade in situ foram realizadas segundo a

metodologia descrita por Pereira (1997), nas amostras dos resíduos wet blue, in

natura, e dos resíduos tratados, pelo método desenvolvido por Oliveira (2004),

para minimização do teor de cromo. Foi utilizada uma amostra composta de

cada material, constituída por três subamostras. Os tempos de incubação das

sacolas no rúmen do animal foram 0, 12, 24 e 96 horas. Em cada saquinho

(failete “poliéster” 9 x 15 cm) foram colocados cinco gramas de amostra seca a

Page 48: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

37

55º C, correspondendo a uma relação de 18,5 mg/cm2. Foram utilizadas quatro

vacas com cânula no saco dorsal do rúmen. A degradabilidade efetiva (DEF) da

matéria seca foi calculada utilizando o modelo matemático:

DEF = A + B kd

kd + kp

sendo:

A: fração A (instantaneamente degradável) assumida como sendo o

desaparecimento da amostra nos sacos de poliéster no tempo 0.

B: fração B (potencialmente degradável) obtida pela equação B = 100 –

(A+C).

C: fração C (indigestível) obtida do resíduo dos sacos incubados por 96

horas.

kd: taxa fracional de degradabilidade da fração B, determinada por

regressão linear ao longo dos tempos 0,12 e 24 horas do logaritmo natural dos

resíduos de cada saco após a subtração da fração C.

kp: taxa fracional de passagem ruminal, assumida como 4% por hora.

Os dados foram analisados pelo pacote estatístico SAS (1999),

utilizando o seguinte modelo:

Yij = µ + Ri + Vj + eij

Em que:

µ : média geral;

Ri : o efeito do material incubado (i = resíduo in natura ou resíduo

tratado);

Vj : o efeito do bloco (j = vacas 1, 2, 3 e 4);

eij : o erro experimental (eij ~ N (0,σ²)).

Page 49: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

38

Avaliação da digestibilidade abomasal “in vitro”

Foram reproduzidas, in vitro, as condições do abomaso, simulando-se o

suco gástrico com uma solução de acido clorídrico (HCl) e pepsina. Incubou-se

as amostras por 48 horas a 40ºC com 6ml de HCl a 20% e 10 ml de pepsina a

5%. A digestibilidade abomasal foi calculada pela diferença de peso entre o

material incubado e o residuo ao final da incubação (AOAC, 1970).

Os dados foram analisados pelo pacote estatístico SAS (1999),

utilizando o seguinte modelo:

Yij = µ + Ri + eij

Em que:

µ : média geral;

Ri : o efeito do material incubado (i = resíduo in natura ou tratado);

eij : o erro experimental (eij ~ N (0,σ²)).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O teor de MS dos dois tipos de resíduo foi 99,7%. Houve diferença entre

os princípios nutritivos do resíduo de couro in natura (WB) e o material que

teve o cromo extraído (CE) (TABELA 1). Como era de se esperar, o material in

natura apresentou um teor elevado de matéria mineral, determinado

prioritariamente pelo alto teor de cromo (TABELA 2).

Page 50: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

39

TABELA 1 – Princípios nutritivos de resíduos de couro wet blue, in natura, ou submetido ao tratamento para extração de cromo Princípios nutritivos (%) Couro wet

blue

Couro com cromo

extraído

P

Proteína bruta (PB) 74,3 90,4 <0,001

Extrato etéreo (EE) 1,3 1,4 0,174

Matéria mineral (MM) 10,4 0,4 <0,001

Carboidratos não fibrosos

(CNF)1

14 7,8 <0,001

1 O percentual de CNF foi estimado por diferença, de acordo com a equação CNF=1- (PB+EE+MM), assumindo-se que a quantidade de carboidratos fibrosos fosse desprezível, por se tratar de alimento de origem animal.

TABELA 2. Perfil de minerais de resíduos de couro tratados ao cromo (WB) ou com cromo extraído (CE)

N(1) P(2) K Ca Mg S Fe Mn Zn Cr Resíduo

% mg/kg

WB

10,4 1,0

0,15 0,60 0,44 12 133 2 5 27150

CE

14,0 2,6

0,14 0,48 0,08 3 70 1 10 84,7

1 N Total. (2) CNA + H2O (P2O5).

Page 51: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

40

O processo de extração de cromo (Oliveira et al., 2004) é eficiente uma

vez que extrai 99,6% desse elemento do resíduo de couro (TABELA 2). O

menor percentual de matéria mineral no resíduo que teve o cromo extraído

refletiu em maior percentual de proteína bruta, indicando ser esse alimento um

concentrado protéico com potencial de utilização como tal. De acordo com o

National Research Concil, NRC (2001), um alimento para ser considerado

concentrado protéico deve apresentar no mínimo 20% de proteína bruta e no

máximo 18% de fibra bruta na matéria seca. O tratamento para a retirada do

cromo aumenta o teor de PB e ao mesmo tempo torna o material mais

degradável no rúmen (TABELA 3) e mais digestível no abomaso (TABELA 4).

A degradabilidade ruminal efetiva (Def) da matéria seca (MS) dos materiais

testados e da PB diferiu grandemente entre os materiais (TABELA 3).

O material WB possui uma estabilidade conferida pelo processo de

curtimento, a qual não permite qualquer ação de degradação no ambiente

ruminal e esta estabilidade é perdida quando o material passa pelo processo de

extração de cromo, como demonstrado por Oliveira (2007). Essa perda de

estabilidade é que supostamente aumenta a Def ruminal e a digestibilidade

abomasal do CE. Possuindo um alto teor de proteína com alta Def e alta

digestibilidade abomasal o material se mostra com potencial para nutrição de

ruminantes tendo em vista a capacidade dos mesmos de aproveitar proteína

dietética para a síntese de proteína microbiana no rúmen (Argyle & Baldwin,

1989) e também de usarem a própria proteína dietética como fonte de

aminoácidos quando esta chega ao abomaso e intestino delgado e possui

potencial para sofrer digestão química e enzimática (Satter, 1986; Robinson et

al., 1995), como é o caso do subproduto CE. O uso de produtos de origem

animal (TABELA 4) para alimentação de ruminantes é interessante,

especialmente quando se pretende interferir no perfil de aminoácidos da dieta,

como lisina e metionina, o que é fundamentalmente importante na nutrição de

Page 52: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

41

animais altamente produtivos, como vacas leiteiras no pico de lactação (NRC,

2001). O material CE possui alto teor de PB com 65% de degradabilidade

ruminal e 35% de PND com alta digestibilidade. Quando se compara o material

CE com outros subprodutos de origem animal como farinha de penas e farinha

de sangue, por exemplo, notamos que todos possuem alto teor protéico (PB), no

entanto esses outros subprodutos possuem maior porcentagem de PND, proteína

esta com digestibilidade pós-ruminal inferior ao CE. Mesmo assim, a despeito

da sua alta digestibilidade abomasal, o CE provavelmente não seja efetivo na

indução do perfil de aminoácidos desejável para vacas de alta lactação uma vez

que a proteína é altamente degradável no rúmen, a não ser que sejam

desenvolvidas tecnologias que o preserve da degradação ruminal. Nesse caso, a

potencialidade de degradação abomasal que foi de 55% para WB e 98% para CE

(p<0,001) tornar-se-ia importante.

TABELA 3 - Parâmetros de degradabilidade ruminal de resíduos de couro wet

blue, in natura, ou submetido ao tratamento para extração de cromo Parâmetro de degradabilidade (%) Couro wet

blue

Couro com cromo

extraído

P

Degradabilidade ruminal efetiva

(Def) da matéria seca

0 63 <0,001

Def da proteína bruta 0 65 <0,001

Fração A - 4

Fração B - 92

Fração C 100 4 <0,001

kd da fração B (% por hora) - 8

Page 53: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

42

TABELA 4. Teores de proteína bruta (PB), proteína não degradável no rúmen (PND) e digestibilidade da PND, presentes em alguns subprodutos de origem animal utilizados na alimentação de ruminantes, de acordo com o NRC (2001) e com os resultados obtidos no presente trabalho

Alimento PB

(% da MS)

PND

(% da PB)

Digestibilidade da PND

(% da PND)

Farinha de penas 90,0 70 652

Farinha de peixe 66,7 60 902

Farinha de sangue 87,2 65 652

Farinha de carne e

ossos

54,1 50 602

1 Couro com cromo

extraído

90,0 35 983

1 Valores referentes aos resultados obtidos no presente trabalho. 2 Valor de digestibilidade intestinal. 3 Valor de digestibilidade abomasal.

Devido à ação dos componentes do suco gástrico, até o material WB

apresenta potencial de aproveitamento, o qual se mostra em torno da metade da

digestibilidade abomasal do CE. Esse potencial de digestibilidade, superior ao

dos outros alimentos de origem animal disponíveis (TABELA 4), indica

inclusive a possibilidade do aproveitamento desse resíduo, com baixo teor de

cromo, na alimentação de animais não ruminantes, como suínos e carnívoros.

Tentativas de utilização de resíduos de couro na alimentação animal já foram

realizadas em suínos (Gruhn e Ludke, 1972), mas resíduos de cromo foram

detectados especialmente no fígado e rins devido ao alto teor de cromo nos

resíduos.

Tendo em vista o potencial do material CE para nutrição, tanto de

ruminantes quanto de não ruminantes, a utilização do mesmo para a alimentação

Page 54: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

43

animal se torna interessante uma vez que se apresenta como uma alternativa para

minimização de custos de produção e, ao mesmo tempo, diminui a contaminação

ambiental pelos resíduos provenientes das indústrias curtidoras.

CONCLUSÕES

A técnica de extração de cromo do material WB com conseqüente

obtenção do material CE torna esse resíduo altamente degradável no rúmen e

altamente digestível no abomaso, conferindo-lhe grande potencial nutricional

que associado ao seu alto teor de PB indica que o mesmo pode ser utilizado

como suplemento protéico na alimentação animal, inclusive não ruminantes. Sua

utilização na alimentação animal parece ser uma alternativa viável para

minimização da contaminação ambiental pelos rejeitos do processo de

curtimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARGYLE, J.L.; BALDWIN, R.L. Effects of amino acids and peptides on rumen microbial growth yields. Journal Dairy Science, v.72, p.2017-2027, 1989. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004. Classificação de resíduos sólidos. Disponível em: <http://www.abnt.org.br/>. Acesso em: 14 abr. 2005. ASSOCIATION OF OFFICIAL AGRICULTURAL CHEMISTS. Official methods of analysis. 13thed. Washington, 1970. 1094p. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa Nº 8, 25 de março de 2004. 2004. Disponível em: <http://oc4j.agricultura.gov.br/agrolegis/do/consultaLei?op=viewTextual&codigo=6476>. Acesso em: 14 abr. 2005.

Page 55: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

44

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Embrapa Tabuleiros Costeiros. Aproveitamento de resíduos e subprodutos agropecuários pelos ruminantes. 2002. Disponível em: <www.cpatc.embrapa.br/index.php?idpagina=artigos&artigo=914>. Acesso em: 10 maio 2007. GRUHN K.; LUDKE, H. Use of hydrolyzed chrome leather wastes in swine feeding and the content of chromium in flesh, liver, kidneys and hair. Arch Tierernahr, v.22, n.1, p.113-24, Feb. 1972. MINAS GERAIS. Conselho Estadual de Política Ambiental Deliberação normativa nº 68. Minas Gerais, 10 de dezembro, 2003. Disponível em: <www.faemg.org.br/Content.aspx?Code=31&ParentPath=None;5>. Acesso em: 10 fev. 2007. NATIONAL RESEARCH CONCIL. Nutrient requirements of dairy cattle. 7thed. rev. Washington: National Academy of Science, 2001. 408p. OLIVEIRA, D.Q.L. Tratamento de rejeitos sólidos contendo cromo da indústria de couro: uso em processos de adsorção e como fonte de nitrogênio na agricultura. 2007. Dissertação (Mestrado em Agroquímica)-Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.

OLIVEIRA, L.C.A.; DALLAGO, R.M.; N. FILHO, I. Processo de reciclagem dos resíduos sólidos de curtumes por extração do cromo e recuperação do couro descontaminado. Br PI 001538, 2004.

PACHECO, J.W.F. Curtumes São Paulo: CETESB, 2005. 76p. (Série P + L). Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso em: 25 maio 2007. PEREIRA, M.N. Responses of lacting cows to dietary fiber from alfafa or cereal by produts. 1997. 186p. (PhD Thesis)-University of Wisconsin, Madison. RIO GRANDE DO SUL. Conselho Estadual do Meio Ambiente. Resolução nº 073. Rio Grande do Sul, 20 de agosto de 2004.

Page 56: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

45

ROBINSON, P.H.; FREDEEN A.H.; CHALUPA, W.; JULIEN, W.E.; SATO, H.; SUZUKI H. Ruminally protected lysine and methionine for lactating dairy cows fed a diet designed to meet requirements for microbial and postruminal protein. Journal of Dairy Science, v.78, v.3, p.582-594, 1995.

SAS Institute. User'S guide: statistics. Version 8 Cary, USA, 1999.

SATTER, L.D. Protein supply from undegraded dietary protein. Journal Dairy Science, v.69, p.2734-2749, 1986. TEIXEIRA, R.C.; BASEGIO, T.M.; BERGHMANN, C.P. Caracterização química de resíduos sólidos de curtume (serragem de couro ao cromo) e sua aplicação como carga em materiais cerâmicos. In: ENCONTRO NACIONAL DOS QUÍMICOS E TÉCNICOS DA INDÚSTRIA DO COURO, 14., 1999, Florianópolis. Anais... Florianópolis, 1999.

VAN SOEST, P.J. Nutritional ecology of the ruminant. 2nded. Cornell: Cornell University, 1994.

Page 57: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

46

CAPÍTULO 3

POTENCIALIDADES PATOLÓGICAS DA UTILIZAÇÃO DE

RESÍDUOS DE CURTUME NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL

SILVA, Rodrigo Carvalho. Potencialidades Patológicas da Utilização de Resíduos de Curtume na Alimentação Animal. In____. Utilização de Rejeitos de Couro Wet Blue na Alimentação de Ruminantes: Potencialidades Nutricionais e Patológicas. 2007. Cap. 3, p.46-69. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG∗.

RESUMO

A indústria brasileira de curtume produz anualmente uma enorme quantidade de raspas e aparas de couro impregnadas com cromo devido ao processo de curtimento. Tecnologias têm sido desenvolvidas para retirar o cromo desse material. O resíduo resultante do processo de retirada do cromo apresenta alta degradabilidade ruminal e alta digestibilidade em suco gástrico simulado in

vitro, apontando uma possível utilização do material na alimentação animal. Pela natureza do material existe risco de intoxicação por cromo e de desencadeamento de botulismo. Com o presente experimento objetivou-se estabelecer os riscos reais da utilização dos resíduos de curtume na alimentação animal, utilizando ratos como modelo experimental. Quarenta e oito ratos Wistar foram alocados em oito tratamentos num arranjo fatorial 2X4. Os ratos foram alimentados durante 60 dias com dieta padrão AIN-93 e os tratamentos consistiram da substituição da dieta por 0%, 25%, 37,5% ou 50% do resíduo de couro curtido ao cromo, in natura (WB), ou desse resíduo processado industrialmente para a retirada do cromo (CE). O processamento industrial foi capaz de retirar 70 a 80% do cromo do resíduo, resultando em um produto ainda com teor de cromo bem acima do permitido pela legislação e do preconizado pela literatura. Esse alto teor de cromo teve efeito negativo no ganho de peso dos

∗ Comitê Orientador: João Chrysóstomo de Resende Júnior – UFLA (Orientador), Luiz Carlos Alves de Oliveira – UFLA (Co-orientador).

Page 58: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

47

animais e desencadeou lesões macro e microscópicas nos rins especialmente no material CE, sugerindo que o processamento aumenta a atividade biológica do cromo tornando-o altamente nefrotóxico. A gravidade desses efeitos foi diretamente proporcional ao nível de inclusão. Não foram detectadas anormalidades no fígado de qualquer animal do experimento e nem foi detectada a presença de esporos e toxinas do Clostridium botulinum nas amostras analisadas. Até que se melhore o processamento industrial para retirar o cromo do resíduo, deixando-o com concentração dentro do padrão preconizado na literatura, a utilização dos resíduos de curtume na alimentação animal não é segura. Palavras-chave: Couro, cromo, histopatologia, nefrotoxidade.

INTRODUÇÃO

O Brasil anualmente produz, aproximadamente, 910 mil toneladas de

peles curtidas ao cromo, processo que resulta no produto conhecido como couro

Wet Blue (WB). Essa produção gera cerca de 91 mil toneladas de resíduos

sólidos contaminados com cromo, mostrando tendência ascendente de produção

(Pacheco, 2005). Devido a essa produção intensa e à dificuldade de destinação

dos resíduos, seja pelo alto custo, seja pela falta de pesquisas que apontem

possibilidade de reciclagem, novas alternativas de utilização devem ser

desenvolvidas.

Foi desenvolvida uma tecnologia (Oliveira et al., 2004) que visa

recuperar o cromo contido nas raspas e aparas, possibilitando a reutilização

desse cromo no próprio processo de curtimento e também o reaproveitamento do

material resultante, com baixos níveis de cromo, em indústrias de fertilizantes

(Oliveira, 2007) ou como adsorvente de contaminantes orgânicos (Dallago,

2005; Oliveira, 2007). O método é promissor e eficiente em retirar o cromo do

resíduo, utilizando-o para reciclagem. O processo de extração do cromo do

resíduo de couro desenvolvidos por Oliveira (2004) é fundamentado na

utilização de uma mistura ácida para a complexação e retirada do cromo da

Page 59: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

48

matriz sólida residual. Em seguida, o cromo livre em solução é complexado com

EDTA para formar a molécula Cr-EDTA. Assim, após a retirada do composto

para reciclagem, a pequena quantidade de cromo remanescente no resíduo sólido

de couro está ligada ao EDTA, conferindo uma estabilidade muito grande à

molécula. Desde a década de 1960 o complexo Cr-EDTA é utilizado em

experimentos de digestão em ruminantes (Downes e McDonald, 1964; Binnerts

et al., 1968; Udén et al., 1980), devido à sua estabilidade e à sua irrisória

absorção pela parede do trato gastrintestinal. Em laboratório foi possível extrair

99,6% do cromo do resíduo que possuía 27150 mg/Kg e passou a ter 84,7

mg/Kg (Oliveira, 2007). Após extração de cromo, o componente do resíduo é

uma matriz sólida protéica, possuindo 90% de proteína bruta com 98% de

digestibilidade em suco gástrico simulado, in vitro (Silva, 2007). O material, até

ser submetido à extração do cromo, é armazenado nos curtumes e, segundo

Fernandes (1998), produtos de origem animal armazenados inadequadamente

podem constituir meios de cultura para o Clostridium botulinum e para a

produção da toxina botulínica. Então, uma patologia a ser considerada quando se

pensa no uso dos resíduos de couro para alimentação animal, certamente é o

botulismo.

No homem e em animais, o cromo trivalente é um nutriente essencial

que desempenha um papel importante no metabolismo de glicose, gorduras e

proteínas (Agency for Toxic Substances and Disease Regystry, ATSDR, 2000).

Ao contrário de produtos à base de cromo trivalente, aqueles à base de cromo

hexavalente são agentes oxidantes capazes de induzir danos teciduais como

dermatites (Hansen, et al., 2003), apoptose de linfócitos (Vasant et al., 2003),

nefrotoxidade (Dartsch et al., 1998; Wedeen And Qian, 1991) e hepatotoxidade

(Dartsch et al., 1998), além de possuírem um risco em potencial no

desenvolvimento de processos carcinogênicos, teratogênicos e mutagênicos

(Szadkowska et al., 2003; Kirpnick-Sobol et al, 2006). No entanto deve-se

Page 60: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

49

salientar que a baixa toxidade do Cr (III) em relação ao Cr (VI) é devida à sua

menor absorção celular, pois Kirpnick-Sobol et al. (2006) ao dosar o cromo

intracelular, observou que o Cr (III) provoca uma maior indução de deleção de

DNA que o Cr (VI) (Dartsch et al., 1998; Wedeen and Qian, 1991). Existem

poucos estudos sobre a toxicidade do cromo em animais, mas já foram

detectados problemas de toxidade em aves (Canadian Environmental Protection

ACT, 1994) e suínos (Gruhn e Ludke, 1972).

A Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) pode ser uma patologia de

relevância a ser considerada, caso o resíduo de couro seja destinado à

alimentação de ruminantes. No entanto, o Brasil encontra-se na categoria I da

lista do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Brasil, 2004b),

instrução normativa Nº 25 de 06 de abril de 2004, como um dos países onde é

altamente improvável ou improvável a presença de um ou mais casos clínicos ou

sub-clínicos da EEB, sendo que nunca houve relato de caso no país. Além disso,

gelatina e o colágeno preparados exclusivamente a partir de couro e peles estão

entre os quatro produtos de origem animal permitidos para a alimentação de

ruminantes pela instrução normativa Nº 8, de 25 de março de 2004, do MAPA

(Brasil, 2004a).

Com o presente trabalho objetivou-se verificar as potencialidades

patológicas da utilização de resíduos de couro WB, com baixo teor de cromo, na

alimentação animal, dando ênfase à pesquisa da toxina botulínica e possíveis

lesões teciduais atribuídas à intoxicação por cromo, utilizando-se ratos como

modelo experimental.

Page 61: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

50

MATERIAIS E MÉTODOS

Pesquisa de esporos e toxina do Clostridium botulinum

Os materiais utilizados no experimento foram recebidos do

departamento de química da Universidade Federal de Lavras-UFLA. O material

wet blue (WB) foi coletado pelo departamento de química em vários curtumes

do estado de Minas Gerais e o material tratado para extração de cromo (CE) foi

proveniente de uma planta piloto localizada na cidade de Divinópolis-MG. Estes

materiais foram homogeneizados e então foram coletadas três amostras do

montante total de cada material. As amostras foram enviadas ao Laboratório de

Enfermidades Infecciosas dos Animais Unesp - Câmpus de Araçatuba (Rua

Clóvis Pestana 793 Jardim Dona Amélia 16050-680 Araçatuba, SP Telefax: 18-

36228451) para a pesquisa de esporos do clostrídio e da toxina botulínica.

Avaliação do risco potencial de intoxicação pelo cromo

Foram utilizados 48 ratos machos Wistar, divididos em oito grupos de

seis animais. Cada grupo recebeu um dos oito tratamentos, por 60 dias, com

água ad libitum. Os tratamentos foram formados por um arranjo fatorial 2X4, e

os fatores foram: resíduo de couro e nível de inclusão do resíduo. Os resíduos de

couro utilizados foram couro Wet Blue (WB), in natura, e couro que teve o

cromo extraído (CE), pela técnica desenvolvida por Oliveira (2004). O processo

de extração de cromo do material CE foi em escala industrial e este mecanismo

está sendo aprimorado para se aproximar o máximo possível da extração feita

em laboratório que é de 99,6%. Os níveis de inclusão foram 50%, 37,5%, 25% e

0% de resíduo de couro na dieta dos animais, conforme detalhado a seguir: Os

animais que constituíram os tratamentos WB0 e CE0 tiveram 0% de inclusão de

resíduo de couro na dieta e receberam alimentação normal (Acharya et al., 2001

Page 62: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

51

modificado), ad libitum, com dieta padrão preparada de acordo com AIN-93G

(Reeves et al., 1993). Nos grupos WB50, WB37,5 e WB25 os animais,

respectivamente, tiveram 50%, 37,5% e 25% da dieta padrão substituída por

resíduo de couro WB. Nos grupos CE50, CE37,5 e CE25 os animais,

respectivamente, tiveram 50%, 37,5% e 25% da dieta padrão substituída por

resíduo de couro CE (TABELA 1).

TABELA 1-Composição em g/100g das dietas experimentais, de ratos Wistar alimentados por 60 dias, com a inclusão de 0%, 25%, 37,5% e 50% de resíduos de couro Wet Blue (WB), in natura, ou com cromo extraído(CE) Ingredientes Controle CT25 CT37,5 CT50 WB25 WB37,5 WB50 Amido de milho

53,03 39,75 33,14 26,5 39,75 33,14 26,5

Caseína 20,00 15,00 12,5 10,00 15,00 12,5 10,00 Óleo de soja 7,00 5,25 4,38 3,50 5,25 4,38 3,50 Sacarose 10,00 7,50 6,25 5,00 7,50 6,25 5,00 Celulose 5,00 3,75 3,13 2,50 3,75 3,13 2,50 Premix mineral

3,50 2,63 2,19 1,75 2,63 2,19 1,75

Premix vitamínico

1,00 0,75 0,62 0,50 0,75 0,62 0,50

Metionina 0,25 0,19 0,16 0,13 0,19 0,16 0,13 Colina 0,20 0,15 0,12 0,10 0,15 0,12 0,10 BHT 0,01 0,0075 0,006 0,005 0,0075 0,006 0,005 Tocoferol 0,01 0,0075 0,006 0,005 0,0075 0,006 0,005 CE 0,00 25 37,5 50 0 0 0 WB 0,00 0 0 0 25 37,5 50

Page 63: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

52

Os animais foram pesados uma vez por semana e o consumo de

alimento foi monitorado diariamente. Ao final dos 60 dias os ratos foram

anestesiados por meio de éter dietílico e coletou-se sangue por punção cardíaca,

utilizando-se tubos com vácuo (VACUETTE® 4 ml - Greiner Bio-one, Rua

Affonso Pansan, 1967-Americana-SP, Fone: 19-3468-9600) sem anticoagulante.

O sangue foi centrifugado a 3000 rpm por 10 minutos. O soro obtido foi

congelado a -20 ºC até as analises da presença de cromo por espectrofotometria

de absorção atômica (Varian AA-175 series).

O fígado e os rins foram removidos e lavados com salina resfriada e

uma porção de cada órgão foi fixada com formaldeído. Posteriormente foi feita

inclusão em parafina e realizados os cortes histológicos que foram corados pela

hematoxilina e eosina para análise histopatológica. As porções remanescentes do

fígado e dos rins foram dessecadas em estufa (100 ºC) e depois passaram por

digestão nitroperclórica (0,5 grama de amostra em 6 ml de solução

nitroperclórica 2:1 por 3 horas em temperatura crescente até 300 ºC) para

dosagem do teor de cromo por espectrofotometria de absorção atômica (Varian

AA-175 series).

A ingestão de matéria seca e a ingestão de cromo diários foram

analisados por regressão com o procedimento REG do pacote estatístico SAS. O

ganho médio diário foi analisado pelo procedimento GLM do SAS, de acordo

com o seguinte modelo:

Yijk = µ + Bi + Rj + Nk + (RN)jk + eijk;

onde µ : média geral; Bi : efeito de bloco (i = 1 à 8); Rj : efeito do resíduo de

couro (j = WB ou CE); Nk : efeito do nível de inclusão de resíduo (k = 0; 25;

37,5 ou 50%); (RN)jk : efeito da interação entre resíduo e nível de inclusão; eijk :

resíduo, assumido independente e identicamente distribuído em uma distribuição

normal com média zero e variância σ2. Os graus de liberdade do nível de

inclusão foram divididos em contrastes para testar os efeitos linear, quadrático e

Page 64: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

53

cúbico. Os coeficientes dos polinômios ortogonais utilizados foram: Efeito

linear: -0,9000; -0,1000; 0,3000 e 0,7000; Efeito quadrático: 0,4167; -0,6667; -

0,3333 e 0,5833; Efeito cúbico: -0,1111; 0,6667; -0,8889 e 0,3333. Os

coeficientes foram obtidos pelo método de Grandage (1958).

Avaliação do perfil de enzimas hepáticas (ALT13, AST14 e FA15)

no soro.

As enzimas hepáticas foram dosadas usando teste cinético com Kits

comerciais (Bioclin® - Quibasa Química Básica Ltda, Rua Teles de Menezes,

92 – Santa Branca Cep-31565-130 – Belo Horizonte-MG, Tel 31-3427-5454). A

leitura foi realizada em espectrofotômetro (SPECTRO VISION®) de

UV/Visível termostatizado de acordo com as instruções do fabricante dos Kits.

Avaliação de colesterol e glicose no soro.

O colesterol e a glicose foram dosados usando teste enzimático

colorimétrico por Kits comerciais (Bioclin®) pelos métodos da colesterol

oxidase e glicose oxidase respectivamente. A leitura foi realizada em

espectrofotômetro (SPECTRO VISION®) de UV/Visível de acordo com as

instruções do fabricante dos Kits.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Não foram encontrados esporos e toxina do Clostridium botulinum em

nenhum dos dois materiais testados (WB e CE), sugerindo ausência de risco de

ingestão dos materiais quando ao desenvolvimento de botulismo. Da mesma

forma, nenhum rato apresentou qualquer sintoma associado ao botulismo,

13Alanina-aminotransferase 14Aspartato-aminotransferase 15Fosfatase alcalina

Page 65: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

54

durante os 60 dias de ingestão dos resíduos de couro. Entretanto, como a

variedade de indústrias curtidoras de pele é muito grande e as condições de

armazenamento podem ser diversas, é necessário se estabelecer condições

adequadas de armazenamento no caso de se aproveitar esses resíduos para

alimentação animal.

A concentração de cromo na dieta dos ratos aumentou à medida que se

aumentou a quantidade de resíduo de couro WB ou CE na dieta (TABELA 1). A

dieta com WB apresentou de 3 a 5 vezes mais cromo do que a com CE e a

amplitude da diferença foi inversamente proporcional ao nível de inclusão na

dieta. A porcentagem de cromo extraída variou de 70 a 80% indicando que o

processo industrial de retirada do cromo ainda deve ser bastante aprimorado para

chegar aos níveis laboratoriais, acima dos 99%. As concentrações de cromo

tanto no material WB como CE extrapolam muito aquelas descritas por Silva

Filho (1999), o qual mensurou níveis de minerais, entre eles o cromo, em vários

TABELA 2-Concentração (mg/Kg) de cromo presente nas dietas experimentais, de ratos Wistar alimentados por 60 dias, com a inclusão de 0%, 25%, 37,5% e 50% de resíduos de couro Wet Blue (WB), in natura, ou com cromo extraído(CE)

Rações experimentais Concentração de Cr (ppm)

WB0 e CE0 0

CE25 1625

CE37,5 2032

CE50 2741

WB25 8031

WB37,5 8191

WB50 8835

Page 66: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

55

subprodutos utilizados na alimentação animal tais como farelos de algodão,

arroz, canola, soja e trigo; farinhas de peixe, pena, carne e penas + vísceras;

cascas de algodão, arroz, laranja e bagaços de tomate. Os níveis de Cr dos

bagaços de tomate (3,35ppm) e de laranja (6,27ppm), foram altos comparados as

demais amostras, as quais tiveram concentrações que variaram de 0,03 a 0,61

ppm, mas mesmo assim muito inferiores às detectadas nos resíduos de couro do

presente experimento. McDowell (1985) cita valores de 0,11; 0,24; 0,424 e 1,17

ppm, respectivamente em milho, germe de trigo, farelo de trigo e levedura de

cerveja. Fávaro et al. (1994), analisando folhas de citrus, detectaram nível médio

de Cr de 1,0 ppm. Concentrações de 10ppm de cromo foram suficientes para

causar efeitos deletérios em galinhas (Canadian Environmental Protection,

1994). Cromato de potássio, na dose de 15 mg/kg de peso vivo administrado por

via parenteral, induziu necrose tubular aguda em rins de animais (Biber et al,

1968; Kramp et al, 1974). O teor máximo de cromo presente em alimento

permitido para alimentação humana pela legislação brasileira é de 1µg/ml para

Cr III e 0,05µg/ml para Cr VI (Silva e Pedrozo, 2001). Esses dados indicam que

até o atual momento, o processo industrial de extração do cromo não o torna um

alimento seguro para a alimentação animal.

À medida que se aumentou a inclusão de WB na dieta, houve aumento

na ingestão de matéria seca (IMS) (Pr < 0,01). O contrário aconteceu com a IMS

do CE (Pr = 0,069) (FIGURA 1). O aumento da IMS que acompanhou o

aumento da inclusão de material WB implicou em aumento de ingestão de

cromo e a diminuição da IMS observada quando se aumentou a inclusão de

material CE fez com que a ingestão de cromo nestes tratamentos aumentasse até

o nível de inclusão de 37,5% a partir do qual a diminuição da IMS se acentuou

tornando a ingestão de cromo semelhante entre os tratamentos CE37,5 e CE50

(FIGURA 2).

Page 67: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

56

5

10

15

20

25

0 10 20 30 40 50

Inclusão de resíduo de couro (%)

IMS

(g/d

)

FIGURA 1: Ingestão de matéria seca (g/d) de ratos Wistar alimentados, por 60 dias, com dieta contendo inclusão de 0%, 25%, 37,5% e 50% de resíduos de couro Wet Blue in natura (IMSWB) (■), ou com cromo extraído (IMSCE) (□). IMSWB = 15,5 + 0,16Inclusão couro; r² = 0,98; P = 0,010. IMSCE = 17,3 -0,11Inclusão couro; r² = 0,86; P = 0,070.

0

50

100

150

200

250

0 10 20 30 40 50

Inclusão de resíduo de couro (%)

Inge

stão

diá

ria

de C

r (m

g)

FIGURA 2: Ingestão diária de cromo (mg/d) de ratos Wistar alimentados, por 60 dias, com dieta contendo inclusão de 0%, 25%, 37,5% e 50% de resíduos de couro Wet Blue in natura (IDCrWB) (■), ou com cromo extraído (IDCrCE) (□). IDCrWB = 19,51 + 4,13Inclusão couro; r² = 0,91; P = 0,046. IDCrCE = 0,03 + 1,33Inclusão couro – 0,01Inclusão couro2; r² = 0,99; P = 0,013.

Page 68: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

57

O aumento da IMS que acompanhou o aumento da inclusão de material

WB não implicou em aumento de ganho de peso médio diário (GMD)

(TABELA 3) demonstrando que o material não estava sendo aproveitado

nutricionalmente pelos animais. Isso se deve provavelmente à estabilidade que o

material apresenta (Oliveira, 2007) sendo pouco digestível (Silva, 2007). No

entanto, o aumento dos níveis de inclusão de CE, que resultou na queda da IMS

foi coerente com a queda no GMD dos animais (TABELA 3), pois apesar do

material apresentar boa digestibilidade (Silva, 2007 ), houve queda acentuada na

IMS.

No decorrer do experimento foi observado que os animais que

consumiam as rações contendo 37,5% e 50% de inclusão de material CE

apresentaram-se apáticos, com pêlos arrepiados, além de diminuírem o consumo

de ração em relação aos outros grupos. Esses sinais foram observados com

maior intensidade entre a 1ª e a 3ª semanas experimentais e foram mais

persistentes no grupo com 50% de inclusão. Outra característica observada é que

os animais desses dois grupos apresentaram poliúria, caracterizada por excesso

de urina nas gaiolas. A poliúria é um sintoma de necrose tubular aguda (NTA)

causada na intoxicação por cromo (Dartsch et al., 1998; Wedeen And Qian,

1991). Podemos observar uma perda de peso (p<0,01) durante esse período nos

grupos com 37,5% e 50% de inclusão de material CE coincidindo com os sinais

clínicos apresentados.

Page 69: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

58

TABELA 3-Ganho de peso médio diário (g/d) de ratos Wistar alimentados, por 60 dias, com a inclusão de 0%, 25%, 37,5% e 50% de resíduos de couro Wet Blue (WB), in natura, ou com cromo extraído (CE) CE WB P

1

0,0% 25,0% 37,5% 50,0% 0,0% 25,0% 37,5% 50,0% EPM R N R*N L Q

GMD

(g/d) 2,21 2,11 0,96 0,36 1,86 1,99 1,54 0,53 0,30 0,75 <0,01 0,47 <0,01 <0,01

1 R: efeito de resíduo de couro; N: efeito de nível de inclusão; R*N: efeito da interação entre resíduo e nível; L: efeito linear para nível de inclusão; Q: efeito quadrático para nível de inclusão.

Page 70: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

59

Durante o sacrifício dos animais e coleta de material para análises, foi

observado que os rins dos animais que receberam os tratamentos CE 37,5% e CE

50% se apresentavam aumentados de volume, edemaciados e com pontos

esbranquiçados na cortical, sugestivas de necrose e inflamação, o que reforça a

suspeita de intoxicação por cromo (Kaufman et al., 1970 citado por ATSDR,

2000; Wedeen And Qian, 1991). No caso do fígado não foram observadas

anormalidades macroscópicas em nenhum animal do experimento.

Na análise histopatológica dos rins observou-se que os animais que

receberam o tratamento com 50% de inclusão de WB apresentaram degeneração

e necrose tubular discreta dos túbulos da região medular, caracterizado por

vacuolização das células epiteliais, citoplasma fortemente eosinofílico e

granular, com raros núcleos picnóticos associados à discreta descamação para a

luz tubular.

Já os animais que receberam os tratamentos com inclusão de CE 37,5%

e CE 50% apresentaram na região cortical áreas multifocais com acentuada

regeneração do epitélio dos túbulos contorcidos proximais, caracterizado por

células epiteliais com núcleo basofílico achatado ou ovalado (FIGURA 3), e

aumento de volume e da celularidade dos mesmos, (FIGURA 4), chegando em

alguns túbulos a preencher totalmente sua luz. Observou-se um pigmento

marrom-amarelado no citoplasma e na luz tubular, assim como, em nove

animais presença de cristais amarelados refringentes na luz dos túbulos

necrosados da região cortical (FIGURA 5). Havia fibrose intersticial associada a

infiltrado inflamatório linfo-plasmocitário moderado a acentuado (FIGURA 3).

Na região medular notou-se a presença de cristais amarelados refringentes nos

túbulos coletores, levando a dilatação dos mesmos e necrose epitelial, onde em

alguns túbulos observou-se somente à presença da membrana basal tubular e em

outros, vacuolização epitelial e picnose de núcleos com descamação das células

Page 71: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

60

necrosadas para a luz. Essas lesões caracterizam um quadro de regeneração do

epitélio dos túbulos contorcidos proximais, nefrite e fibrose intersticial

moderada a acentuada, secundárias a nefrose tubular acentuada que ocorreu

previamente nestes animais. Assim como, a lesão dos túbulos coletores

provavelmente ocorreu associado à necrose prévia e obstrução da luz por células

necrosadas descamadas e posterior formação de cristais. A necrose do epitélio

dos túbulos contorcidos proximais é descrita como uma lesão freqüentemente

associada à intoxicação por cromo (Dartschi et al., 1998; Wedeen And Qian,

1991), assim como outros metais pesados (Newman et al., 2007).

No tratamento com inclusão de 37,5% de WB três ratos não

apresentaram lesão renal. Dois ratos apresentaram discreta nefrose tubular dos

túbulos contorcidos proximais e túbulos da região medular caracterizando um

quadro de nefrose tubular (Newman et al., 2007). Em um animal observou-se

um pigmento marrom-amarelado no citoplasma dos túbulos da cortical.

Dos seis animais que receberam o tratamento CE 25% dois apresentaram

pigmento marrom-amarelado no citoplasma e na luz de alguns túbulos e um foco

de fibrose discreta na cortical. Um outro animal apresentou na medula presença

de pouca quantidade de cristais e raras células descamadas para a luz tubular.

Outro animal apresentou um foco discreto de nefrite intersticial na medular e

presença de pouca quantidade de pigmento marrom-amarelado. O quinto animal

apresentou lesões moderadas semelhantes àquelas apresentadas pelos animais

que receberam tratamento CE 37,5% e CE 50%. O último rato não apresentou

lesão. Os animais dos grupos sem inclusão de resíduo de couro não

apresentaram qualquer lesão renal.

Em nenhum dos tratamentos os animais apresentaram lesões

microscópicas no fígado.

Page 72: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

61

FIGURA 3 – Aspecto microscópico da intoxicação crônica por cromo, em ratos Wistar alimentados, por 60 dias, com dieta contendo inclusão de 37,5% e 50% de resíduos de couro que teve o cromo extraído (CE). Note os túbulos contorcidos proximais regenerados caracterizados por células com núcleo basofílico ovalado ( ) e núcleos achatados ( ) acompanhado de fibrose intersticial ( ) e cristais refringentes na luz do túbulo necrosado ( ). H.E Obj. 100x

FIGURA 4 - Aspecto microscópico da intoxicação crônica por cromo, em ratos Wistar alimentados, por 60 dias, com dieta contendo inclusão de 37,5% e 50% de resíduos de couro que teve o cromo extraído (CE). Note os túbulos contorcidos proximais apresentando aumento de volume e da celularidade. H.E Obj. 200x

Page 73: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

62

FIGURA 5 - Aspecto microscópico da intoxicação crônica por cromo, em ratos Wistar alimentados, por 60 dias, com dieta contendo inclusão de 37,5% e 50% de resíduos de couro que teve o cromo extraído (CE). Note a presença de cristais amarelados refringentes nos túbulos da região cortical, levando a dilatação dos mesmos e necrose epitelial. H.E Obj. 200x.

As lesões histopatológicas são compatíveis com as descritas na literatura

para intoxicação por cromo (Wedeen And Qian, 1991). Estas mostram que os

ratos que receberam tratamentos com inclusão do material CE apresentaram

lesões mais graves e em maior quantidade quando comparados aos animais que

receberam tratamentos com inclusão do material WB. Além disso, essas lesões

se tornaram mais graves nos tratamentos CE 37,5% e CE 50% onde a ingestão

de cromo foi maior (FIGURA 2), mostrando um caráter de dose dependência.

Isto sugere que o processo pelo qual o material passa para extração de cromo

disponibiliza o cromo residual para absorção, ou seja, o material que era estável

perde essa estabilidade (Oliveira, 2007), tornando-se mais digestível (Silva,

2007) e disponibilizando o cromo para absorção, provavelmente não ligado à

molécula de EDTA. Após a absorção o cromo mostrou ter como alvo as células

dos rins (Dartsch et al., 1998) onde causam as lesões que são coerentes às

citadas por Wedeen & Qian (1991).

Page 74: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

63

Os animais que receberam inclusão de 25% dos materiais WB e CE não

tiveram perda de desempenho, indicada pelo GMD, em relação aos controles

(TABELA 3) e as lesões observadas no grupo que recebeu o tratamento CE 25%

foram bem discretas. Silva e Pedrozo (2001) mostraram que a concentração que

preenche os requisitos biológicos e previne a toxicidade pode ser estreita. Assim,

na avaliação do risco, estes dois aspectos – essencialidade e toxicidade- devem

ser considerados tanto para o homem como para outras espécies e para o meio

ambiente.

Os níveis séricos de enzimas hepáticas e de colesterol não diferiram

entre os tratamentos e estiveram dentro dos valores normais para a espécie

(Viana, 2007). A ausência de lesões no fígado associada aos resultados do perfil

enzimático demonstra que as células hepáticas são menos atingidas no caso de

intoxicação por cromo conforme demonstrado por Dartsch et al. (1998).

Apesar de o cromo participar do metabolismo da glicose (ATSDR,

2000) não houve diferença dos níveis de glicose sanguínea dos grupos tratados

em relação aos grupos controle e esses níveis estavam dentro dos parâmetros

normais para a espécie testada (Viana, 2007).

Não foi detectado cromo nos tecidos do fígado e dos rins. O cromo pode

não ter se acumulado nos órgãos, sendo rapidamente eliminado na urina como

demonstrado por Downes e McDonald (1964) e Úden et al. (1980), ou então a

metodologia utilizada não foi eficiente para detectar o metal nesses tecidos.

Na análise de cromo no soro houve efeito da interação entre o resíduo de

couro e a dose (P < 0,01), sendo que na dose de 25% o couro WB apresentou

maior concentração plasmática de cromo (10,93 ppm) do que o CE (1,33 ppm)

(p<0,001). Já dentro de couro só houve efeito no material WB, sendo este efeito

cúbico (p<0,001) (FIGURA 6). O resultado não foi coerente com o quadro de

intoxicação dos animais, visto que os animais que possuíram maior teor de

cromo no soro não apresentaram nenhum sinal de intoxicação e nem lesão renal

Page 75: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

64

no tempo experimental empregado. A análise também refletiu um momento

pontual, pois o soro foi coletado apenas no dia do sacrifício dos animais o que

pode não ter sido suficiente para detectar cromo nos demais tratamentos visto

que este poderia ter sido eliminado rapidamente (Binnerts et al., 1968; Úden et

al., 1980) ou então a metodologia utilizada não foi eficiente para detectar com

precisão o metal no soro dos animais. A dosagem de cromo na urina (Silva &

Pedroso, 2001) bem como de algumas proteínas como beta-glicuronidase e

lisozima (Mutti et al, 1979) parece ser mais eficiente para se detectar aumento

dos níveis de cromo circulante e sua agressão aos tecidos renais.

0

2

4

6

8

10

12

14

0 10 20 30 40 50

Inclusão de resíduo de couro (%)

Teo

r d

e C

r n

a so

ro (

ppm

)

FIGURA 6: Concentração de Cr plasmática (ppm) de ratos Wistar alimentados, por 60 dias, com dieta contendo inclusão de 0%, 25%, 37,5% e 50% de resíduos de couro Wet Blue (▲) in natura, ou com cromo extraído (■). P = 0,177 para efeito de couro; P = 0,013 para efeito de dose; P = 0,009 para efeito da interação entre couro e dose.

Page 76: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

65

CONCLUSÕES A alimentação de ratos com resíduos de couro curtidos ao cromo teve

efeitos negativos na saúde dos animais caracterizados principalmente por lesões

renais e perda de peso. A gravidade dos efeitos na integridade física dos animais

foi diretamente proporcional à quantidade de resíduo de couro incluído na dieta

e principalmente a dose de cromo ingerida.

Há indícios de que o processo de extração de cromo diminui a

estabilidade do material WB liberando o cromo residual no material CE para

absorção indicando que o processo de retirada do cromo dos resíduos de couro,

em escala industrial, deve ser aprimorado e a utilização desse subproduto na

alimentação animal só pode ser considerada quando as concentrações de cromo

no resíduo atingir os níveis preconizados na literatura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHARYA, S.; MEHTA, K.; KRISHNAN, S.; RAO, C.V. A subtoxic interactive toxicity study of ethanol and chromium in male Wistar rats. Alcohol, v.23, n.2, p.99-108, Feb. 2001.

AGENCY FOR TOXIC SUBSTANCES AND DISEASE REGYSTRY. Toxicological profile for chromium. Syracuse: U.S. Department of Health & Human Services, 2000. BIBER, T.U.; MYLLE, M.; BAINS, A.D.; GOTTSCHALK, C.W.; OLIVER, J.R.; MACDOWELL, M. A study by micropuncture and microdissection of acute renal damage in rats. American Journal Medical, v. 44, p. 664-705, 1968.

BINNERTS, W.T.; KLOOSTER, A.T.; FRENS, A.M. Soluble chromium indicator measured by atomic absorption in digestion experiments. The Veterinary Record, Apr 20th, 1968.

Page 77: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

66

BRASIL Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa Nº 8, 25 de março de 2004. 2004a Disponível em: <http://oc4j.agricultura.gov.br/agrolegis/do/consultaLei?op=viewTextual&codigo=6476>. Acesso em: 14 abr. 2005. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa Nº 25, 06 de abril de 2004. 2004b Disponível em: <http://oc4j.agricultura.gov.br/agrolegis/do/consultaLei?op=viewTextual&codigo=6817>. . Acesso em: 14 abr. 2005. CANADIAN ENVIRONMENTAL PROTECTION. Priority substances list assessment report. Chromium and its compounds. Santé, Canadá: ACT, 1994. p.59. DALLAGO, R.M.; SMANIOTTO, A.; OLIVEIRA, L.C.A. Resíduos sólidos de curtumes como absorventes para a remoção de corantes em meio aquoso. Química Nova, v.28, p.433-437, 2005.

DARTSCH, P.C.; HILDENBRAND, S.; KIMMEL, R.; SCHMAHL, F.W. Investigations on the nephrotoxicity and hepatotoxicity of trivalent and hexavalent chromium compounds. International Archive Occup. Environment Health, v.71, S40-5, Sept. 1998. Supplement.

DOWNES, A.M.; McDONALD, I.W. The chromium-51 complex of ethylenediamino tetracetic acid as soluble rumen marker. Brit. Journal Nutrition, v. 18, p.153-162, 1964. FÁVARO, D.I.T.; MAIHARA, V.A.; ARMELIN, M.J.A.; VASCONCELOS, M.B.A. Determination of As, Cd, Cr, Cu, Hg, Sb and Se concentrations by radiochemical neutron activation analysis in different Brazilian regional diets. Journal of Radioanalytical and Nuclear Chemistry, v.181, n.2, p.385-394, 1994. FERNANDES, C.G. Botulismo. In: ______. Doenças de ruminante e equinos. São Paulo:1998. p.147-149. GRANDAGE, A. 130 Query: orthogonal coefficients for unequal intervals. Biometrics, v. 14, n. 2, p. 287-289, June 1958.

Page 78: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

67

GRUHN, K.; LUDKE H. Use of hydrolyzed chrome leather wastes in swine feeding and the content of chromium in flesh, liver, kidneys and hair. Archive Tierernahr, v. 22, n. 1, p. 113-24, Feb. 1972. HANSEN, M.B.; JOHANSEN, J.D.; MENNE, T. Chromium allergy: significance of both Cr(III) and Cr(VI). Contact Dermatitis, v.49, n.4, p.206-12, Oct. 2003. KIRPNICK-SOBOL, Z.; RELIENE, R.; SCHIESTL, R.H. Carcinogenic Cr(VI) and the nutritional supplement Cr(III) induce DNA deletions in yeast and mice cancer. Res., v.66, n.7, Apr. 2006. KRAMP, R.A.; MACDOWELL, M.; GOTTSCHALK, C.W.; OLIVER, J.R. A study by microdissection and micropuncture of the structure and the function of the kidneys and the nephrons of rats with chronic renal damage. Kidney International, v. 5, p. 147-176, 1974. McDOWELL, L.R. Nutrition of grazing ruminants in warm climates. Orlando: Academic, 1985. 443 p. MUTTI, A.; CAVATORTA, A.; PEDRONI, C.; BORGHI, C.; FRANCHINI. The role of chromium accumulation in the relationship between airborne and urinary chromium in welders. International Archive Occup. Environment Health, v. 43, p. 123-133, 1979.

NEWMAN, S.L.; CONFER, A.W.; PANCIERA, R.J. Urinary system. In: MCGAVIN, M.D.; ZACHARY, J.F. Pathologic basis of veterinary disease. 4nded. St. Louis: Mosby Elsevier, 2007. Cap. 11, p. 613-691.

OLIVEIRA, D.Q.L. Tratamento de rejeitos sólidos contendo cromo da indústria de couro: uso em processos de adsorção e como fonte de nitrogênio na agricultura. 2007. Dissertação (Mestrado em Agroquímica)-Universidade Federal de Lavras, Lavras.

OLIVEIRA, L.C.A.; DALLAGO, R.M.; N. FILHO, I. Processo de reciclagem dos resíduos sólidos de curtumes por extração do cromo e recuperação do couro descontaminado. Br PI 001538 2004.

Page 79: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

68

PACHECO, J.W.F. Curtumes. São Paulo: CETESB, 2005. 76 p. (Série P + L). Disponível em: <http://www.cetesb.sp.gov.br>. Acesso em: 25 maio 2007. REEVES, P.G.; NIELSEN, F.H.; FAHEEY, G.C. AIN-93 purified diets for laboratory rodents: final report of the American Institute of Nutrition ad Hoc Writing Committee on the reformulation of the AIN-76 A rodent diet. Journal of Nutrition, Bethesda, v. 123, n. 11, p. 1939-1951, 1993.

SAS Institute. User'S guide: statistics, Version 8 Cary, USA, 1999.

SILVA, R. C. Potencialidades Nutricionais de Resíduos de Couro Wet Blue para a Alimentação de Ruminantes. In____. Utilização de Rejeitos de Couro Wet

Blue na Alimentação de Ruminantes: Potencialidades Nutricionais e Patológicas. 2007. Cap. 2, p.33-45. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.

SILVA FILHO, J.C. da; ARMELIN, M.J.A.; SILVA, A.G. da. Determinação da composição mineral de subprodutos agroindustriais utilizados na alimentação animal, pela técnica de ativação neutrônica. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n.2, p.235-241, fev. 1999. SILVA, C.S. da; PEDROZO, M.F.M. Ecotoxicologia do cromo e seus compostos. Salvador: Centro de Recursos Ambientais, 2001. 100p. (Cadernos de Referência Ambiental, 5). SZADKOWSKA-STANCZYK, I.; WOZNIAK, H.; STROSZEJN-MROWCA G. Health effects of occupational exposure among shoe workers. A Review Med. Pr., v.54, n.1, p.67-71, 2003. UDÉN, P.; COLUCCI, P.E.; VAN SOEST, P.J. Investigation of chromium, cerium and cobalt as markers in digesta. Rate of passages studies. Journal Science Food Agricultural, v.31, p.625-632, 1980. VASANT, C.; RAJARAM, R.; RAMASAMI, T. Apoptosis of lymphocytes induced by chromium(VI/V) is through ROS-mediated activation of Src-family kinases and caspase-3. Free Radic Biology Medical, v.35, n.9, p.1082-1100, Nov. 2003. VIANA, F.A.B. Guia terapêutico veterinário. 2.ed. CEM, 2007. 444 p.

Page 80: UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE COURO WET BLUE NA …repositorio.ufla.br/bitstream/1/2591/1/DISSERTAÇÃO_Utilização... · Aos meus pais, José Orlando e Mary, por estarem sempre ao

69

WEDEEN, R.P.; QIAN, L. Chromium-Induced Kidney Disease. Environmental Health Perspectives, v.92, p.71-74, 1991.