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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Curso de Direito SILENE MÜLLER DEMORO USUÁRIOS E DEPENDENTES NA NOVA LEI DE DROGAS São Paulo 2010

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UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO Curso de Direito

SILENE MÜLLER DEMORO

USUÁRIOS E DEPENDENTES NA NOVA LEI DE DROGAS

São Paulo

2010

SILENE MÜLLER DEMORO - R. A. 003200600476

USUÁRIOS E DEPENDENTES NA NOVA LEI DE DROGAS

Monografia apresentada ao Curso de Direito

da Universidade São Francisco, como requisito

parcial para a obtenção do Título de Bacharel

em Direito.

Orientador: Prof.ª Dra. Eunice Aparecida de

Jesus Prudente

São Paulo

2010

D451u Demoro, Silene Müller

Usuários e Dependentes na nova Lei de Drogas / Silene Müller

Demoro. – São Paulo: USF, 2010.

121 p.

Monografia (graduação) – Universidade São Francisco, 2010

Orientação de: Prof.ª Dra. Eunice Aparecida de Jesus Prudente

1. Usuários e Dependentes 2. Despenalização

3. Atividades de Prevenção 4. Saúde Pública

I. Título. II. Prudente, Eunice Aparecida de Jesus

III. Universidade São Francisco

SILENE MÜLLER DEMORO

USUÁRIOS E DEPENDENTES NA NOVA LEI DE DROGAS

Monografia aprovado pelo Programa de

Graduação em Direito da Universidade São

Francisco, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharel em Direito.

Data de aprovação: ____/____/____

Banca Examinadora:

______________________________________________________

Prof.ª Dra. Eunice Aparecida de Jesus Prudente (Orientadora)

Universidade São Francisco

______________________________________________________

Prof. Me. Cícero Germano da Costa (Examinador)

Universidade São Francisco

______________________________________________________

Prof.ª Especialista Cleusa Guimarães (Examinadora)

Universidade São Francisco

À minha mãe Carmen Demoro, que sempre me

levou a refletir sobre minha atuação como ser

humano, me incentivou a estudar, a alçar voos

cada vez mais altos. Obrigada por constituir

estímulo para meu crescimento pessoal,

espiritual e profissional. Este é um sonho que

se torna realidade!

AGRADECIMENTOS

A palavra mestre nunca fará justiça aos professores dedicados, aos quais, sem nominar

terão meu eterno agradecimento!

Agradeço a Universidade São Francisco, ao Corpo Docente e Funcionários, pela

oportunidade de concluir mais uma etapa tão importante e almejada em minha vida.

A Prof.ª Dra. Eunice pela sua dedicação, não somente em me ensinar, mas em me

fazer aprender, bem como pela sua disponibilidade como orientadora deste trabalho e pelos

muitos desafios que me levou a enfrentar. Obrigado por compartilhar comigo dessa etapa de

minha vida!

A Minha Família pelos muitos momentos que me ausentei com o objetivo maior de me

dedicar ao estudo superior, porque o futuro é feito a partir da constante dedicação no presente.

A todos os amigos e colegas que contribuíram, direta ou indiretamente, para que este

trabalho fosse concluído com sucesso.

Obrigada a todos, acima de tudo, pela paciência que tiveram em me ajudar a trilhar

mais este caminho.

Por final, agradeço a DEUS, que me permitiu tudo isso ao longo de toda a minha vida,

e por ter me dado a chance de ser aquilo que escolhi ser. Você é o maior mestre que uma

pessoa pode conhecer e reconhecer.

“O maior de todos os vícios da sociedade é

quando entram em campo a corrupção e o

suborno, que a levam a esquecer-se da moral

e da dignidade.”

(Cícero)

DEMORO, Silene Müller. Usuários e Dependentes na Nova Lei de Drogas. 121 pp. Curso

de Direito, São Paulo: USF, 2010.

RESUMO

O consumo de drogas e, consequentemente o índice de criminalidade tem aumentado

no Brasil. Com o passar do tempo, a evolução natural da humanidade, o surgimento

de novas drogas cada vez mais fortes, faz-se necessária a criação e aprimoramento de

leis que imponham o controle da criminalidade e acima de tudo garantam a segurança

e tranquilidade da sociedade em que vivemos. Diante dessa temática, abordaremos

nesse trabalho a discussão sobre a nova Lei Antidrogas, 11.343/06, que traz

inovações e mudanças, fazendo um estudo comparativo analítico, no intuito de

demonstrar seus aspectos positivos, negativos, suas lacunas e demonstrar que as leis

andam desproporcional a realidade da sociedade, o que tira o seu brilho e sua efetiva

eficácia. As leis são mister para regular os institutos sociais,como as regras de boa

convivências e demais direitos inerentes ao ser humano,contudo, a sociedade almeja

a concretização desses direitos, para essas leis sair do plano abstrato para o plano

concreto, porque senão elas tornar-se-ão apenas utopia,e não é de sonhos que uma

sociedade adquire e garante seus direitos, mas sim de realidade,de compromisso em

fazer o direito valer, para que possamos respirar o ar democrático, para que a

democracia de fato possa ser realizada, possa ser acessível, sobretudo àqueles menos

privilegiados,condenados pelas mazelas sociais e pela ausência de assistência e

políticas eficazes de seus direitos e garantias constitucionais. Será ressaltada também

a opção da nova lei pelo termo drogas, em vez da expressão substância entorpecente

definindo-se os seus fins maiores e o abandono dessa expressão, já superada no

discurso médico, científico e jurídico.

Palavras - chave: nova lei de drogas. usuários e dependentes. reinserção social. saúde

pública. políticas públicas.

DEMORO, Silene Müller. Users and Addicts in the New Drug Law. 121 pp. Law Course,

São Paulo: USF, 2010.

ABSTRACT

Drug use and therefore the crime rate has increased in Brazil. Over time, the natural evolution

of humanity, the advent of new drugs ever stronger, it is necessary to establish and improve

laws that impose crime control and foremost ensure the security and peace in society which

we live. Faced with this theme, the work discussed in this thread on the new Drug Law,

11.343/06, which brings innovations and changes, making an analytical comparative study in

order to demonstrate its positive, negative, its gaps and demonstrate that the laws go

disproportionately the reality of society, which takes its brightness and its actual

effectiveness. Laws are needful to regulate social institutions such as the rules of good

cohabitation and other rights inherent to human beings, however, the society aims to realize

these rights, these laws out of the abstract to the concrete plan, because otherwise they

become It will only utopia, and it is no dream that a society acquire and guarantees their

rights, but the reality of commitment to doing the right earnest, so we can breathe the air of

democracy, that democracy can indeed be performed, may be accessible, especially to those

less privileged, condemned by social ills and lack of effective politics and assistance of their

constitutional rights and guarantees. Will be emphasized also the option of the new law by the

term drug, instead of the term narcotic substance defining its purposes and the abandonment

of that larger expression, already settled in the medical discourse, scientific and legal.

Keywords: new drug law. users and addicts. reinsertion social. public health. public politics

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Prevalência de uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias

de substâncias psicoativas entre os universitários......................................

55

TABELA 2 - Prevalência de uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30

dias de

substâncias psicoativas, conforme o gênero dos universitários................

56

TABELA 3 - Prevalência de uso na vida de substâncias psicoativas, conforme a faixa

etária dos universitários..............................................................................

57

TABELA 4 - Prevalência de uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias

de substâncias psicoativas, conforme o tipo de IES..................................

58

TABELA 5 - Prevalência de uso na vida de substâncias psicoativas, conforme a

Região Administrativa...............................................................................

59

TABELA 6 - Prevalência de uso nos últimos 12 meses de substâncias psicoativas,

conforme a Região Administrativa...........................................................

59

TABELA 7 - Prevalência de uso nos últimos 30 dias de substâncias psicoativas,

conforme a Região Administrativa...........................................................

60

TABELA 8 - Prevalência de uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias

de substâncias psicoativas, conforme a área de estudos............................

61

TABELA 9 - Prevalência de uso na vida de substâncias psicoativas, conforme o

período de estudos.....................................................................................

62

TABELA 10 - Idade de início do uso de drogas distribuído conforme a substância

psicoativa e o gênero do universitário.......................................................

63

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Estatística de ocorrências com entorpecentes no Estado de São Paulo....... 64

FIGURA 2 - Estatística de ocorrências com entorpecentes no Estado de São Paulo........ 64

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AIDP - Association Internationale de Droit Pénal

AIDS - Acquired Immunodeficiency Syndrome

ASPA - Ambulatório de Substâncias Psicoativas

CAPS-AD - Centro de Atenção Psicossocial Independência

CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas

CND - Commission on Narcotic Drugs

CONAD - Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas

FCM - Faculdade de Ciências Médicas

FDA - Food and Drug Administration

HC - Hospital de Clínicas

IBCCrim - Instituto Brasileiro de Ciências Criminais

IES - Instituições de Ensino Superior

OBID - Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas

OMS - Organização Mundial de Saúde

ONG - Organização Não Governamental

ONU - Organização das Nações Unidas

RE - Recurso Extraordinário

SISNAD - Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas

SSP/SP - Secretaria de Segurança Pública de São Paulo

SVS/MS - Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde

Unicamp - Universidade de Campinas

UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí

UNODC - United Nations Office on Drugs and Crime

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 12

2 SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES........................................................................................ 14

2.1 Drogas que não são necessariamente entorpecentes.......................................................... 17

2.2 Toxicomania....................................................................................................................... 19

2.3 Legislação sobre drogas..................................................................................................... 24

3 PREVENÇÃO E REINSERÇÃO AOS USUÁRIOS DE DROGAS.......................... 31

3.1 Prevenção, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas............... 31

3.2 Princípios e Diretrizes.................................................................................................... 33

4 DOS CRIMES E DAS PENAS....................................................................................... 37

4.1. Usuários e dependentes de drogas..................................................................................... 38

4.2 Induzimento ou Auxílio ao Consumo Indevido de Drogas............................................ 44

4.3 Oferecimento de drogas para consumo em conjunto......................................................... 45

4.4 Causa de Aumento de Pena................................................................................................ 47

4.5 Substituição e conversão das penas.................................................................................... 49

4.6 Procedimento Penal e Juizado Especial Criminal.............................................................. 50

4.7 A visão do Supremo Tribunal Federal............................................................................... 50

5 LEVANTAMENTO ESTATÍSTICO SOBRE O USO DE DROGAS.......................... 53

5.1 Substâncias psicoativas: uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30

dias............................................................................................................................................

55

5.2 Evolução de ocorrências com drogas no Estado de São Paulo...................................... 63

5.3. Principais conclusões.................................................................................................... 65

6 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA OS USUÁRIOS DE DROGAS............................... 66

6.1 Políticas de atenção a pessoas usuárias de drogas e modelos preventivos de atenção

adotados no Brasil................................................................................................................

66

6.2 Desassistência ao dependente químico.......................................................................... 68

6.3 Drogas: um problema social e não criminal................................................................... 69

6.4 Política de Drogas, Cultura do controle e Propostas alternativas.................................. 73

7 CONCLUSÃO..................................................................................................................... 78

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 80

ANEXOS.................................................................................................................................. 84

13

1 INTRODUÇÃO

São público e notório que as drogas há tempos vêm causando sérios problemas à

humanidade e seu consumo só aumentou. Além do aumento desenfreado do consumo das

drogas já existentes e mais usuais como a cocaína, ópio, haxixe, maconha, surgiram também

outras drogas, como as sintéticas, feitas em laboratório, que são igualmente danosas ao ser

humano. Tudo isso exige a busca de soluções para impedir o contínuo aumento do seu uso.

Com o passar do tempo, a evolução natural da humanidade, o surgimento dessas novas

drogas cada vez mais fortes, necessária se fez a criação e o aprimoramento de leis que

impusessem o controle da criminalidade e acima de tudo garantissem a segurança e

tranqüilidade da sociedade em que vivemos.

A criminalidade é atualmente um dos maiores problemas enfrentados pela sociedade

brasileira e que tem levado pesquisadores de diversas áreas do saber a investigar as suas

causas com o objetivo de desenhar e propor políticas efetivas para a sua prevenção e combate.

Dentre estas áreas, destaca-se a Economia, que tem desenvolvido e aplicado modelos para

investigar empiricamente os determinantes socioeconômicos da criminalidade.

Em geral, os estudos econômicos da criminalidade têm concluído que, entre os fatores

que podem levar um indivíduo a adotar um comportamento criminoso, o entendimento é que

o mais importantes é o econômico. Assim, a partir premissa se avança para testar a hipótese

de que o grande mercado de drogas que se desenvolveu no Brasil é, parcialmente, culpado

pela criminalidade que se alastra como uma doença em todas as regiões do país.

No Brasil, após 30 anos de vigência e diversas tentativas de mudança, a Lei 6.368/76

que aqui vigorava, acabou revogada. Para muitos penalistas estava ela superada pelas

mudanças ocorridas na sociedade brasileira e não servia mais — como instrumento de

controle penal eficaz e adequado - para os fins a que se propunha: prevenção, tratamento e

repressão aos usuários e traficantes de substâncias entorpecentes.

Com a promulgação da Lei 11.343, de 23 de Agosto de 2006, o objetivo principal foi

tentar aperfeiçoar o combate ao tráfico ilícito de entorpecentes, de forma a reprimir mais

severamente condutas criminosas e especificar, em novas figuras típicas, o comportamento

humano proibido, bem como apresentar um novo tratamento penal aos usuários e dependentes

de drogas.

14

O paradigma agora, em relação aos usuários e dependentes, está calcado na prevenção

e reinserção social, tanto que a sanção privativa de liberdade e pecuniária foram abolidas. É

uma reinvidicação histórica de diversos grupos representativos da sociedade, que encontra

amparo no princípio da mínima intervenção e dignidade da pessoa humana. E, amparada

nesses princípios norteadores, a nova lei, em sua parte geral, alterou regras de tratamento,

definições, competências e atribuições, disciplinando melhor a questão relativa aos usuários e

dependentes.

Com a promulgação da nova lei, foi dada nova definição ao Sistema Nacional de

Prevenção, Fiscalização e Repressão, passando a denominar-se Sistema Nacional de

Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), cuja finalidade é de articular, integrar, organizar

e coordenar as atividades relacionadas à prevenção do uso indevido, à atenção e à reinserção

social de usuários e dependentes de drogas, bem como um rol de princípios, nos quais vale

destacar o Capítulo I, artigo 4º, inciso I: ―o respeito aos direitos fundamentais da pessoa

humana, especialmente quanto à sua autonomia e à sua liberdade‖; objetivando contribuir

para a inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos vulnerável a assumir

comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros

comportamentos correlacionados; e o inciso III do mesmo artigo: ―a promoção dos valores

éticos, culturais e de cidadania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores de proteção

para o uso indevido de drogas e outros comportamentos correlacionados‖.

O trabalho de prevenção e reinserção social deve estar sedimentada numa atuação

compartilhada de responsabilidade e colaboração mútua entre os entes públicos e privados,

estes com ou sem fim lucrativo.

Sem a colaboração direta das comunidades afetadas não se vislumbra um trabalho de

prevenção e reinserção. É necessário o envolvimento de todos, bem como um

comprometimento maior da sociedade como um todo para que se possa chegar a uma solução

do problema social.

Neste trabalho será abordado uma das questões propostas pela nova Lei de Drogas que

determina saber se ocorreu ou não descriminalização ou despenalização diante do novo

tratamento penal conferida à conduta criminal dos usuários e dependentes de drogas,

estabelecendo unicamente penas restritivas de direitos e não privativas de liberdade ou

pecuniária, visando um estudo comparado e analítico sobre a nova lei de drogas, frente leis

anteriores que até então regiam a matéria, suas implicações a sociedade, e se de fato tem

contribuindo para amenizar o tráfico, assistir os dependentes, e se esta tem contribuindo com

a reintegração do viciado a sociedade.

15

2 SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES

Inicialmente será abordado neste trabalho uma das inovações trazidas pela atual Lei

de Drogas: a nova nomenclatura jurídico-penal utilizada para denominar a substância

entorpecente.

No parágrafo único do artigo 1° da Lei 11.343, de 23 de Agosto de 2006, estabelece

textualmente:

Artigo 1º Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os

produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados

em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.

Ainda em seu artigo 2º da mesma Lei, estabelece que:

Artigo 2º Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o

plantio, a cultura, a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais

possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização

legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das

Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de

uso estritamente ritualístico-religioso.

A menção à Convenção de Viena1 mostra-se inadequada, vez que, ao tratar das

―plantas silvestres que contenham substâncias psicotrópicas‖ utilizadas tradicionalmente em

―rituais mágicos ou religiosos‖ por ―pequenos grupos nitidamente caracterizados‖ tal

documento exige que o Estado formule reserva específica a respeito2, o que não foi

recepcionado por nossa legislação brasileira:

Qualquer Estado em cujo território cresçam no estado selvagem plantas contendo

substâncias inscritas na lista I e utilizadas tradicionalmente por certos grupos

restritos bem determinados na ocasião de cerimónias mágicas ou religiosas, pode, na

altura da assinatura da ratificação ou da adesão, fazer reservas sobre estas plantas no

que se refere às disposições do artigo 7, excepto nas relativas ao comércio

internacional.‖ (Artigo 32, § 4º da CONVENÇÃO DE VIENA).

Merece ser ressaltada a opção da nova lei pelo termo drogas, em vez da expressão

substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica. Assim ficam

definidos os seus fins maiores e o abandono da expressão: instituir o Sistema Nacional de

1 Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas de 21 de fevereiro de 1971, aprovada pelo Decreto Legislativo nº.

90 de dezembro de 1972, ratificada (com reservas) junto ao Secretário Geral da ONU aos 14 de fevereiro de

1973 e cujo cumprimento integral foi determinado pelo Decreto nº. 79388 de 14 de março de 1977. Disponível

em: <http://www2.mre.gov.br/dai/psicotr%C3%B3picas.htm> Acesso: 12 ago. 2010. 2 Artigo 32, § 4º da Convenção de Viena.

16

Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD; prescrever medidas para prevenção do uso

indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelecer normas

para repressão à produção não autorizada e ao trafico ilícito de drogas.

De acordo com o ilustrado psiquiatra forense Guido Arturo Palomba, o termo droga,

teve origem na palavra droog (holandês antigo) que significa folha seca, porque antigamente

quase todos os medicamentos eram feitos à base de vegetais.

Segundo Silva3 (202, p. 120):

Temos, a partir de agora, um conceito legal desta categoria jurídica chamada drogas,

que não ficou restrito a categoria dos entorpecentes, nem das substâncias causadoras

de dependência física ou psíquica. Drogas serão todas as substâncias ou produtos

com potencial de causar dependência, com a condição de que estejam relacionadas

em dispositivo legal competente.

A Lei n. 10.409/02 já havia feito esta mesma opção terminológica, mas como todo o

seu Capítulo III, que tratava dos crimes e das penas, foi vetado, permaneceu vigendo o texto

penal da Lei 6.368/76 e, em consequência, a velha expressão vinha se mantendo na linguagem

do Direito Positivo.

O termo drogas é de uso corrente no discurso acadêmico científico sendo também a

nomenclatura preferencial da Organização Mundial de Saúde - OMS, que há muito

abandonou o uso dos termos ou das expressões ―narcóticos‖, ―substâncias entorpecentes‖ e

―tóxicos‖. Além disso, a Convenção Única sobre Entorpecente, da ONU, promulgada em

1961 e a Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias Psicotrópicas, de

Viena, de 1988, ao se referirem às substâncias tóxicas ou entorpecentes utilizam

simplesmente o termo drug.

O termo droga, segundo a definição da Organização Mundial de Saúde – OMS4

abrange qualquer substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar

sobre um ou mais de seus sistemas produzindo alterações em seu funcionamento.

Trata-se, portanto, de nomenclatura que se consolidou mundialmente. Nossa legislação

sobre uso e tráfico ilícito de drogas, desde a década de 1960, tem sido baseada nas normas e

recomendações constantes dessas duas Convenções Internacionais, como também em outras

diretivas emanadas da ONU e da Organização Mundial da Saúde.

3 SILVA, Jorge Vicente. Tóxicos. Manual Prático. 2. ed., Curitiba: Juruá Editora, p. 120, 2002..

4 Informações sobre Drogas/Definição e histórico. OBID. 2007. Disponível em:

<http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/conteudo/index.php?id_conteudo=11250&rastro=INFORMA%C3

%87%C3%95ES+SOBRE+DROGAS/Defini%C3%A7%C3%A3o+e+hist%C3%B3rico> Acesso em: 12 ago.

2010.

17

É interessante notar que a literatura jurídico-penal brasileira sobre o tema preferia o

termo ―tóxicos‖. Pode-se dizer que o vocábulo ―tóxicos‖ havia sido utilizado de forma

corrente na linguagem jurídica brasileira, pare se referir às substâncias até então legalmente

denominadas de ―substâncias entorpecentes‖ ou que determinem dependência física ou

psíquica.

De forma crescente o termo ―drogas‖ vem sendo utilizado para intitular obras

monográficas sobre a matéria. Verifica-se que, com a publicação da nova lei, o termo drogas

ganhou a preferência da doutrina, nos textos da produção científica recente.

São raras as obras com o título de ―entorpecentes‖. Entre estas, encontra-se a obra de

João Bernardino Gonzaga5, que reconhece a dificuldade à impropriedade de empregá-lo como

conceito operacional, ―para designar certa categoria de substâncias nocivas à saúde. E admite

que o emprego da palavra ‗entorpecente‘ se adapta mal, ou não se adapta de todo a idéia que

ela deve aqui encerrar.‖ É curioso verificar que o próprio autor admite que o termo

―entorpecentes‖ não é adequado para denominar o objeto estudado.

A Sociedade das Nações, por ocasião da convenção de 1931, destinada a limitar a

fabricação e a regulamentar a distribuição, preferiu a palavra estupefacientes, que definiu

como venenos de propriedades sedativas, que provocam euforia e que chegam a produzir o

hábito.

Dr. MATTEI6 (1963 apud GONZAGA, p. 24 e segs.) difundiu a seguinte definição:

―Venenos que agem eletivamente sobre o córtex cerebral, suscetíveis de

promover agradável ebriedade, de serem ingeridos em doses crescentes, sem

determinar envenenamento agudo e morte, mas capazes de gerar estado de

necessidade tóxica, graves e perigosos distúrbios de abstinência, alterações somática

e psíquicas profundas e progressivas‖.

A presente refere-se, no entanto, a um grupo pequeno de entorpecentes, e mesmo

assim impropriamente. Ela assinala como características a ação sobre o córtex cerebral, a

euforia, a tolerância e a dependência física. Nesse sentido são as definições farmacológicas de

um modo geral, as quais somente se aplicam aos opiáceos e às drogas sintéticas de efeitos

análogos, bem como aos barbitúricos, anfetaminas e possivelmente aos tranqüilizantes. Essa

definição não se aplica à cocaína e seus derivados, nem à maconha, pois nelas a tolerância é

nula ou muito reduzida, não havendo dependência física.

5 GONZAGA, João Bernardino. Exata informação sobre as leis brasileiras e as convenções internacionais.

Entorpecentes, Aspectos criminológicos e Jurídico-penais, São Paulo: Max Limonad, 1963, págs. 24 e segs. 6 FRAGOSO, Heleno Cláudio - Aspectos Legais da Toxicomania - Revista Brasileira de Criminologia e

Direito Penal, n.º 08, p. 85 a 100, nos anos 60. Disponível em: <http://www.fragoso.com.br/cgi- bin/heleno_

artigos/arquivo51.pdf> Acesso em: 22 set. 2010

18

Na verdade, a divergência terminológica decorreu da opção feita quando da tradução

oficial dos textos das referidas convenções internacionais para a Língua Portuguesa. O texto

oficial em Inglês constata que a palavra drug, utilizada em todo o texto convencional, foi

traduzida para termo em Língua Portuguesa, por substância entorpecente ou, simplesmente,

entorpecente, quando poderiam ter sido drogas.

Com a oficialização da expressão, é compreensível que a Lei 6.360/76 tivesse optado

pelo uso da expressão substância entorpecente e não drogas.

De acordo com o parecer do ilustríssimo Professor do Curso de Pós-Graduação em

Ciência Jurídica da UNIVALI, João José Leal7 (2006), drogas são substâncias utilizadas para

produzir alterações, mudanças, nas sensações, no grau de consciência e no estado emocional.

As alterações causadas por essas substâncias variam de acordo com as características da

pessoa que as usa, qual droga é utilizada e em que quantidade, o efeito que se espera da droga

e as circunstâncias em que é consumida.

Com tantas definições e interpretações sobre o tema, era necessário e válido o ajuste

terminológico.

2.1 Drogas que não são necessariamente entorpecentes

Tal ajuste terminológico era necessário, também, para eliminar de vez um foco de

divergência, pois nem todas as substâncias causadoras de dependência podem ser classificadas

como entorpecentes, como parecia indicar a lei anterior. Alem disso, passou-se a entender

que o essencial é o caráter de nocividade à saúde da substância tóxica ou entorpecente e de seu

potencial para causar dependência, independentemente do resultado.

Como a Lei 6.368/76 utilizava a expressão substância entorpecente ou que determine

dependência física ou psíquica, havia discussão, na doutrina e na jurisprudência, sobre a

possibilidade de determinada substância, embora não relacionada oficialmente como

entorpecente, pudesse causar tal dependência e, em consequência ser considerada como objeto

material do crime de tráfico.

7 LEAL, João José. POLÍTICA CRIMINAL E A LEI Nº. 11.343/2006: Nova Lei de Drogas, Novo Conceito

de Substância Causadora de Dependência. Livre Docente-Doutor em Direito Penal. Professor do Curso de

Pós-Graduação em Ciência Jurídica – CPCJ/UNIVALI. Ex-Procurador Geral de Justiça de SC. Ex-Diretor do

CCJ/FURB. Associado do IBCCrim e da AIDP. Disponível em:

<http://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/texto.asp?id=1805> Acesso em: 12 ago. 2010.

19

De acordo com Guimaraes8 (2003, p. 95):

Não se pode concordar com a critica de que o engessamento oficial e burocratizado

do rol das drogas proibidas deve ser evitado, sob o argumento de que pode ser fator

de insegurança e de impunidade. Afirma-se que a atividade relacionada a droga e

dinâmica e se transforma com muita rapidez para criar sempre novas espécies de

drogas, que não estariam necessariamente arroladas no ato normativo oficial, por

natureza estático e de difícil atualização de sua pauta descritiva das drogas nocivas à

saúde pública.

E isto poderia acarretar prejuízos a ordem jurídica e a segurança coletiva. Para essa

corrente doutrinária, melhor seria deixar na esfera do poder discricionário do juiz a tarefa de,

em cada caso concreto e com base no laudo pericial, decidir sobre a natureza nociva a saúde

da droga.

Rejeitando a possibilidade de qualquer forma de ofensa ao princípio da legalidade e da

liberdade individual, afirma que a melhor solução seria deixar ―ao laudo a identificação da

capacidade de causar dependência no caso de não estar a substância relacionada‖. E justifica

sua posição, com o seguinte argumento: interpretação de que as substâncias não relacionadas

também poderiam determinar a incidência penal desde que causem dependência física ou

psíquica resolveria o problema da chamada ―psicofarmacologia clandestina‖. Se o desvio de

destinação, ou as combinações de drogas feitas pelos próprios viciados, torna a substância

apta a causar dependência física ou psíquica, o delito passaria a existir.

Esta, no entanto, é uma posição hoje completamente superada, seja na doutrina, seja

via jurisprudência, cujo entendimento converge para defender a solução legal de que a droga

esteja taxativamente descrita via Portaria Ministerial para o fim de se estabelecer o juízo

positivo de tipicidade da conduta. É a solução que melhor se coaduna com o princípio da

estrita legalidade.

Na verdade, a própria Lei 6.368/76, com a disposição contida em seu artigo 36, já

havia colocado termo a essa discussão. Neste sentido, o artigo 66 da atual lei, em consonância

com o referido parágrafo único, do artigo 1°, é taxativo ao definir como ―Drogas substâncias

entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS

n° 344, de 12 de maio de 1998.‖.

Trata-se, portanto, de norma penal em branco, cujo preceito deve ser complementado

por norma de natureza extrapenal, no caso a referida Portaria do Serviço de Vigilância

Sanitária, do Ministério da Saúde. Assim sendo, se for constatada a existência de alguma

8 GUIMARAES, Isaac Sabbá. Tóxicos. Comentários, Jurisprudência e Prática, Curitiba: Juruá Editora,.p.

95, 2003.

20

substância entorpecente relacionada na Portaria nº. 334, por força do princípio da estrita

legalidade, sua produção, comercialização, distribuição ou consumo não constituem crime de

tráfico ou de porte para consumo pessoal.

2.2 Toxicomania

A toxicomania constitui grave problema social, e é certo que há um flagelo social que

exige ação eficiente na repressão.

A toxicomania é geralmente expressão de um desajuste da personalidade, sendo raro

os casos de pessoas emocionalmente estáveis que se tornam viciadas. O recurso às drogas

ocorre, em regra, em casos de debilidade mental e graves defeitos de caráter, constituindo

processo de fuga diante de problemas e dificuldades. É mínima a margem de porcentagem de

recuperações e curas efetivas, nos casos graves de toxicomania de opiáceos e drogas de

efeitos semelhantes, e a ação repressiva em relação ao viciado constitui remédio inadequado,

a ser empregado com cautela, dentro de visão mais ampla do problema.

Em todos os casos, a droga preenche uma função específica na economia da

personalidade do indivíduo, e é essa função que fica na economia da personalidade do

indivíduo, e é essa função que determina o quanto é difícil para o viciado abandonar a droga.

O viciado está atendendo a problemas de personalidades subjacentes de grande complexidade.

Pessoas psiquiatricamente estáveis, que acidentalmente se tornam viciadas, representam uma

pequena percentagem da população total de viciados.

Uma droga que imediatamente elimina a tensão constitui um apelo a pessoas que não

podem enfrentar os problemas realisticamente.

Chama-se tolerância a alteração provocada no organismo, estabelecendo a

necessidade de doses crescentes, sem provocar envenenamento agudo. A dependência física

não se confunde com o hábito, que é substancialmente um fenômeno psíquico e emocional,

como o vício de fumar. A dependência física implica numa modificação da composição

química do organismo, de tal sorte que deixa de existir funcionamento normal se a droga não

estiver presente. Há aqui uma ação físico-química, podendo ser tornados toxicômanos

também os animais. Em conseqüência, as crises de abstinência, quando há dependência física,

constituem uma realidade dramática, que não pode ser simulada. De acordo com o Artigo

21

publicado na Revista Brasileira de Criminologia e Direito Penal, De Ropp9 (De Ropp apud

FRAGOSO, 1960)a descreve da seguinte forma: Cerca de doze horas após a última dose de

morfina ou heroína, o viciado começa a tornar-se intranqüilo. Uma sensação de fraqueza o

domina; ele boceja, tem calafrios e sua, tudo a um só tempo, enquanto uma descarga d‘água

vem de seus olhos e dentro do nariz, a qual ele compara a ―água quente escorrendo na boca.

Por algumas horas, lança-se ele em agitação anormal e sono intranqüilo, que os

viciados chamam de yen sleep. Ao despertar, dezoito ou vinte horas após a sua última dose da

droga, o viciado começa a penetrar nas últimas profundezas de seu inferno pessoal. Os

bocejos podem ser tão violentos que causem deslocamento das mandíbulas; o muco aquoso

escorre pelo nariz e lágrimas copiosas caem dos olhos, As pupilas ficam largamente dilatadas;

os cabelos e pelo ficam eriçados, tornando-se a pele fria, com o aspecto típico da pele de

ganso, o que, na linguagem dos viciados é chamado de cold turkey, nome que também se

aplica ao tratamento da toxicomania por meio de abrupta retirada do tóxico. Então,

acrescentando-se às misérias do viciado, seu abdome começa a agir com violência fantástica:

grandes ondas de contração passam sobre as paredes do estômago, causando vômitos

explosivos, frequentemente manchados de sangue. Tão extremas são as contrações dos

intestinos, que a superfície do abdome parece corrugada e cheia de nós, como se um

emaranhado de serpentes estivesse em luta sob a pele. A dor abdominal é severa e aumenta

rapidamente. Depois de oito a doze horas, os sintomas constantes começam de novo. Se não

se ministra a droga, os sintomas começam a decrescer por si mesmo ao sexto ou sétimo dia,

mas o paciente é deixado desesperadamente enfraquecido, nervoso, inquieto, sofrendo de

renitente colite‖. A crise de abstinência provoca também, segundo outros observadores, fortes

alucinações. A subministração da droga transforma imediatamente o quadro.

A dependência física causada pelas opiáceos, faz com que o problema seja

extremamente mais grave, não fazendo quem queira limitar a esses casos exclusivamente o

conceito de toxicomania. Diante dos opiáceos, a cocaína, e, sobretudo, a maconha, passam a

um plano inteiramente secundário.

Tolerância e dependência física não se desenvolvem e o abandono não produz

qualquer síndrome de abstinência.

Em seu excelente trabalho, Gonzaga10

(1963, p. 24 e segs.), procurando fixar o

9 FRAGOSO, Heleno Cláudio - Aspectos Legais da Toxicomania - Revista Brasileira de Criminologia e

Direito Penal, n.º 08, p. 3, nos anos 60. Disponível em: < http://www.fragoso.com.br/cgi- bin/heleno_

artigos/arquivo51.pdf> Acesso em: 22 set. 2010. 10

Exata informação sobre as leis brasileiras e as convenções internacionais em GONZAGA, João Bernardino.

Entorpecentes, Aspectos criminológicos e Jurídico-penais. São Paulo: Max Limonad, págs. 24 e segs, 1963.

22

conceito de entorpecentes, afirma: ―A nosso ver, a propriedade natural efetivamente

necessária para que se possa falar em entorpecentes consiste na aptidão para produzir euforia ,

ou seja, a especial sensação de bem estar do toxicômano através de influência exercida sobre

o sistema nervoso central‖, acrescentando serem elementos necessários:

(a) elevado teor de influência sobre o sistema nervoso central, de modo que pequenas

doses da droga bastem para produzir profunda modificação no seu equilíbrio e levem a

instaurar-se rapidamente a dependência de fundo orgânico ou simplesmente psicológico;

(b) importância das perturbações psíquicas ou físicas que se originam do seu reiterado

consumo, assim lesando gravemente as pessoas que a utilizam, e, por via de conseqüência,

produzindo um dano social.

Os tranqüilizantes, com exceção do grupo dos propanediols (meprobamato), agem

sobre o sistema nervoso autonômico ou visceral, provocando alterações na ação cardíaca, na

pressão do sangue, nos movimentos intestinais, na ação da pupila, etc. Os opiáceos são

depressores, não provocando o estabelecimento de um estado anormal: o viciado precisa de

sua dose para comportar-se normalmente.

Há toxicomania quando o comportamento e a forma de vida de uma pessoa são

determinados por sua dependência física ou psíquica do entorpecente, de forma danosa para

ele e para a sociedade.

Os entorpecentes, especialmente a petidina e a metadona e seus derivados, são

largamente empregados, por apresentarem a vantagem de não exigirem receituário especial.

Têm ação análoga à morfina.

Os barbitúricos são derivados do ácido barbitúrico (maloniluréia), empregados na

fabricação de soníferos. São compostos que, em doses adequadas, podem produzir sono (ação

hipnótica), ou ação sedativa. Viciam com dependência física, e a superdosagem pode causar a

morte, pela ausência de oxigênio e outras complicações provocadas pelo longo período de

depressão.

As anfetaminas são drogas sintéticas, com ação estimulante sobre o sistema nervoso

central. Entre elas estão a benzedrina e a pervitina. Viciam de forma mais branda que os

barbitúricos e opiáceos. Largas doses produzem, contudo, perda da consciência, colapso e

morte.

O grupo dos tranqüilizantes são drogas empregadas no tratamento das doenças

mentais, com efeito calmante. Graças aos modernos tranqüilizantes, muitos doentes mentais já

não precisam de internação. São compostos químicos de diferentes categorias e tudo indica

que essas drogas viciam e que apresentam toxidez apreciável.

23

A condição de entorpecente dependerá muitas vezes da composição. Há, por outro

lado, drogas menos perigosas que os autênticos entorpecentes, as quais exigem uma disciplina

jurídico-penal diversa.

Questão altamente controvertida na jurisprudência é a que concerne à situação do

viciado. Não há discrepância entre os autores: o viciado não pratica o crime. O uso deixou de

ser configurado crime, mas incumbe ao agente provar que é viciado.

Nossa lei não pune o uso de entorpecentes. Em primeiro lugar, a razão de ser do delito

é a repressão ao tráfico, pois são os traficantes e intermediários os responsáveis pela difusão

da toxicomania. O uso pessoal não é crime, pois do contrário, não haveria que destacar como

crime autônomo a instigação ou induzimento a ele.

É evidente que o viciado deve, em algum momento, trazer consigo a droga, ação que

não constitui crime. A exclusão do crime pode resultar de um conjunto de circunstâncias, que

revelem a destinação da droga, inclusive a sua quantidade.

A sociedade deve aceitar os toxicômanos como pessoas doentes, que necessitam

hospitalização e tratamento cuidadoso, livre do estigma de punição ou reprovação. Conforme

aponta Fragoso11

(1960, p. 10): ―A toxicomania é, em realidade, um problema médico; o

tráfico de entorpecentes é, e deve ser, um problema jurídico-penal‖.

Que o usuário pode praticar atos criminosos para manter o seu suprimento de drogas é

fato reconhecido, mas ele não é um criminoso, simplesmente porque usa entorpecentes. Não

há dúvida de que a violenta repressão policial estimula e favorece o tráfico intenso, que

produz lucros fabulosos.

A toxicomania deve ser considerada, muito mais do que no passado, uma doença e que

deve haver um movimento progressivo no sentido de tratar a toxicomania pela medicina e não

pela punição, recomendando com empenho pesquisas sobre planos de tratamento, incluindo a

possibilidade de clínicas para tratamento ambulatório.

O desejo da droga não pode ser eliminado pela legislação.

A compulsão a tomar a droga não pode ser eliminada pela ameaça de prisão ou de

sentenças condenatórias. Nenhuma ameaça de encarceramento pode impedir que um viciado

continue a usar a droga.

Geralmente, afirma-se que os viciados pertencem a três distintas espécies:

1. os que se tornaram viciados em virtude de prolongado tratamento médico, através

11

FRAGOSO, Heleno Cláudio - Aspectos Legais da Toxicomania. Revista Brasileira de Criminologia e

Direito Penal, n.º 08, p. 10, nos anos 60. Disponível em: < http://www.fragoso.com.br/cgi-

bin/heleno_artigos/arquivo51.pdf> Acesso em: 22 set. 2010.

24

de opiáceos. É a chamada toxicomania farmacológica, que muitos não podem abandonar

quando cessa o tratamento;

2. os médicos e pessoas que exercem profissões sanitárias, com acesso aos narcóticos

e que a eles recorrem para eliminar a fadiga, tornando-se viciados. Afirma-se que nestas

profissões há trinta vezes mais viciados que em qualquer outra;

3. Finalmente, a maior parte dos viciados é aquela que provém das camadas mais

baixas da sociedade, constituídas por pessoas que buscam excitação ou que apresentam graves

problemas de personalidade. Aqui, o vício se origina na companhia de viciados, através da

curiosidade e da experimentação. Contrariamente ao que se supõe, só raramente os traficantes

fazem os viciados. É neste último grupo, especialmente, que reside o grave problema.

A taxa elevadíssima de reincidência revela a gravidade do problema e demonstra que

não se trata apenas de dependência física, mas também e especialmente psicológica. A

dependência física pode ser vencida em curto espaço de tempo. Os toxicômanos ―são pessoas

impacientes, que não podem suportar sofrimento mental, emocional, físico ou espiritual‖; a

toxicomania ―é em parte uma doença da vontade e deve ser tratada psiquiátrica e

espiritualmente‖. O tratamento compulsório, que diversas leis estabelecem, dificilmente

produz resultados. A internação obrigatória é considerada punição. O tratamento compulsório

cria, em conseqüência, um clima altamente desfavorável à recuperação. A toxicomania é, em

realidade, um tipo de comportamento complexo e precariamente compreendido, envolvendo

fenômenos no plano biológico, psicológico e social. Não há qualquer possibilidade de

recuperação se, após o tratamento compulsório, o viciado retorna ao meio ambiente em que

vivia, sem qualquer supervisão, dentro da mesma situação de vida e em face das mesmas

exigências, conforme se lê no artigo da Revista Brasileira de Criminologia e DireitoPenal.12

(1960, p.85)

O tratamento da dependência de drogas, que antigamente era chamado de

toxicomania, pode ser definido como ―um conjunto de medidas terapêuticas aplicadas a um

paciente, no sentido de aliviar os transtornos decorrentes do uso indevido de drogas, visando a

sua recuperação e posterior reinserção social‖, nas palavras de Andreucci 13

(2006, p. 7).

A Organização Mundial da Saúde, através da Comissão de Peritos em Dependência a

Drogas, no relatório de 1970, conclui que não há um único fator que pode originar o vício,

12

FRAGOSO, Heleno Cláudio - Aspectos Legais da Toxicomania. Revista Brasileira de Criminologia e

Direito Penal, n.º 08, p. 10, nos anos 60. Disponível em: < http://www.fragoso.com.br/cgi- bin/heleno_

artigos/arquivo51.pdf> Acesso em: 22 set. 2010. 13

ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Legislação Penal Especial, 2ª ed., ver., atual. E aum. SP: Saraiva, 2006, p.

7.

25

mas diversos fatores dentre eles, de acordo com as informações extraídas de Greco Filho14

(1996, p11):

- desvio de caráter em forma latente e que exija a fuga das responsabilidades;

- desvio de personalidade de natureza delinqüencial, de modo que esse comportamento

represente prazer em desrespeitar as convenções sociais;

- tentativa de autotratamento, por pessoas portadoras de problemas psíquicos, tais

como, na adolescência a reação à pressão econômica, à frustração, ou outros problemas mais

persistentes, como a depressão, a ansiedade crônica, a angústia, a fadiga crônica, ou ainda a

crença de que as drogas podem prevenir moléstias ou aumentar a capacidade sexual;

- necessidade de obter aceitação em certos círculos do submundo, especialmente entre

os inadaptados socialmente;

- permanente ou reversível lesão metabólica provocada por repetidas e altas doses de

drogas;

- rebelião contra os valores sociais;

- simples hábito adquirido socialmente, ainda que sem distúrbio psicopatológico pré-

existente;

- pressões sócio-culturais que levem ao uso de, por exemplo, álcool, ainda que não

exista distúrbio psíquico latente.

2.3 Legislação sobre Drogas

O tratamento legal dispensado às drogas passou por diversas transformações em todo o

mundo desde o surgimento das primeiras restrições ao seu consumo, fabricação e circulação.

Atualmente, é consenso que tais substâncias causam dependência e podem ter efeito

devastador sobre a saúde dos usuários. No entanto, ainda há muitas divergências sobre como

abordar a questão, no Brasil e nas demais nações. Por aqui, está em vigor desde 2006 a

terceira legislação sobre drogas: ela considera crimes tanto o consumo quanto a

comercialização, embora em graus bem diferentes. Por isso, a punição ao usuário é mais

branda do que à aplicada ao traficante.

Neste item será abordado a evolução do assunto aos olhos da Justiça brasileira e

14

GRECO FILHO, Vicente. Tóxicos: prevenção-repressão, 11ª ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 11.

26

mundial e as práticas particulares de algumas nações.

O consumo de drogas é muito antigo - há relatos do uso de álcool na Grécia antiga, por

exemplo. Mas foi apenas no final do século XIX que algumas dessas substâncias receberam a

denominação "droga" e passaram a ser consideradas prejudiciais ao usuário e um problema

para as sociedades.

Existem movimentos contra a produção, o comércio e o uso de substâncias psicoativas

desde o século XIX - nos Estados Unidos, a causa levou até à formação de um partido

político, o Prohibition Party, criado por volta de 1870. Mas foi apenas após o final da II

Guerra Mundial que as opiniões se tornaram mais uniformes.

Numa convenção ocorrida em 1961, chegou-se ao primeiro consenso internacional em

relação às substâncias psicoativas. O encontro - que contou com a presença de representantes

de 73 países, entre eles Brasil, Japão, EUA, Alemanha, França e Inglaterra - ratificou um

tratado que vigora até hoje.

A Convenção Internacional Única sobre Entorpecentes classificou uma série de

substâncias em quatro graus de periculosidade. Todas teriam sua produção, venda e consumo

controlados. A esse primeiro tratado, marco inicial do combate às drogas, seguiram-se outros

acordos internacionais promovidos pela Organização das Nações Unidas. O Brasil é

signatário de todos. Mais recentemente, em 1998, o país também passou a compartilhar das

resoluções da ONU pela redução da demanda de drogas.

A droga, tanto no Brasil quanto em outros países, especialmente a maconha,

conquistou uma legião de usuários e defensores na década de 1960, como parte do movimento

da chamada contracultura, que buscava contestar os principais fundamentos e costumes

sociais. Entre os universitários e intelectuais de esquerda, por exemplo, consumir drogas tinha

um significado difuso que poderia traduzir-se em uma oposição às práticas ou opiniões

vigentes. Pode-se citar os EUA, no qual a oposição poderia ter como alvo a Guerra do Vietnã;

no Brasil, a ditadura militar. Nos anos seguintes, ainda, alguns estudos passariam a defender o

uso das substâncias psicoativas para uso terapêutico e o conseqüente abrandamento da

legislação, mas essas pesquisas foram aos poucos cedendo espaço para outras, que

reafirmaram a gravidade do uso das drogas.

A partir da década de 1970, o principal motivo na verdade do crescimento dos

movimentos pela liberalização do uso de drogas, foi a dificuldade em controlar o consumo. A

O primeiro país a permitir o uso da maconha foi a Holanda, a partir do ano de 1976: a

autorização, porém, era restrita a alguns bares e a maiores de 18 anos. Gradativamente outros

países aderiram ao movimento, iniciando um processo de abrandamento de punições. Desta

27

forma, nos primeiros anos do século XXI, vários países da Europa ocidental já tinham uma

postura mais flexível em relação às drogas.

Alemanha, Espanha, Itália e Portugal, por exemplo, passaram a enxergar cada vez

mais o uso de drogas como um caso de saúde pública, e não de polícia. Atualmente, um

cidadão italiano pode ter a prisão revogada caso aceite se submeter a um programa de

recuperação controlado pelo Ministério da Saúde. Portugal foi ainda mais longe e, em julho

de 2000, descriminalizou o uso de substâncias psicoativas. Um exemplo é o caso típico de

quem é flagrado fumando um cigarro de maconha. O usuário é encaminhado para tratamento

médico e pode, no máximo, ter de pagar uma multa. Um ano mais tarde, foi a vez da Grã-

Bretanha e da Austrália entrarem no rol das nações dispostas a experimentar novas

abordagens sobre o assunto. Os britânicos fizeram vários experimentos que culminaram numa

lei sancionada em 2004. A droga foi, então, reclassificada pelos órgãos de saúde. Como

conseqüência, a punição para usuários pegos em flagrante praticamente se extinguiu. Já o

governo da mAustrália autorizou a abertura de salas especiais para viciados em heroína, nas

quais o usuário podia injetar a droga sob supervisão médica. Espanha e Alemanha

desenvolveram programas semelhantes.

Na Holanda, a tolerância à maconha teve sucesso em tirar os consumidores da

clandestinidade, mas não surtiu o mesmo efeito sobre o tráfico. Metade dos crimes cometidos

no país está ligada aos entorpecentes, e o número de presos triplicou nos últimos dez anos.

Por outro lado, a maior cidade holandesa Amsterdã contava com 10.000 viciados em heroína

em 1980, número que caiu para a metade com a liberdade para consumir maconha. Com mais

de 1.500 bares vendendo livremente a erva há 25 anos, a Holanda apresentou números

estatísticos surpreendentes: apenas 5% da população fumam maconha, contra 9% nos Estados

Unidos, onde há leis mais rigorosas. Portanto, a conclusão a que se chega é que a abordagem

mais tolerante tirou do usuário o estigma de marginal e deu a ele mais chances de se recuperar

do vício e do crime, mas não conseguiu se afirmar como uma alternativa de efeitos

inteiramente seguros.

No Brasil consumir ou comercializar drogas é tipificado como crime. No entanto, a

legislação atual prevê punições distintas a usuário e traficante. A lei brasileira imputa três

tipos de pena ao usuário, sendo elas: advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de

serviços à comunidade (de 5 a 10 meses) e medida educativa de comparecimento a programa

ou curso educativo. Já a quem produz ou comercializa drogas, a lei atribui pena de 5 a 15 anos

de reclusão e pagamento de multa de 500 a 1.500 reais. A incumbência de determinar a

finalidade da droga apreendida cabe ao juiz - se para consumo pessoal ou comercialização -,

28

dependendo de inúmeros fatores, como a natureza e a quantidade da substância e os

antecedentes do suposto criminoso.

A Lei 11.343 está em vigor desde 23 de agosto de 2006. Antes dela, o Brasil teve

outras duas legislações sobre drogas. A Lei n. 6.368, de 1976, primeira a ser editada acerca do

assunto, precisou ser revista no início dos anos 2000 - já que estava em desacordo com as

práticas e concepções do século XXI. Assim, em 2002, promulgou-se a lei 10.409, que, no

entanto, teve os artigos que definiam o que seria considerado crime vetados, de modo que foi

preciso elaborar a atual legislação.

A única droga cujo uso medicinal é permitido, em alguns países, é a maconha. Na

Holanda, a prática é autorizada desde setembro de 2003, mas sob algumas condições.

Segundo o Ministério da Saúde local, a maconha só deve ser prescrita, como última

alternativa, para o tratamento de dores crônicas, náuseas, falta de apetite, rigidez muscular e

espasmos que acometem pacientes de câncer, Aids, esclerose múltipla e síndrome de Tourette,

doença caracterizada por movimentos involuntários do corpo. Mas no que diz respeito às

drogas, a Holanda costuma ser a exceção e não a regra. O uso da maconha para tratamento

médico está longe de ser um consenso em outros países. Nos EUA, o assunto já gerou muita

discussão e decisões concorrentes entre o governo federal e os estaduais. A Suprema Corte do

país definiu, em 2005, que o uso medicinal da erva é ilegal. O FDA, órgão do governo que

controla alimentos e remédios, concordou. Ambas as instâncias, porém, contrariaram a

legislação de oito estados - entre elas a da Califórnia, que data de 1996 -, nos quais não há

penalidade para o cultivo e posse de maconha para uso medicinal. A lei brasileira não prevê o

uso de drogas para fins terapêuticos, conforme consulta realizada no site. 15

A tolerância em relação às drogas e ao crime organizado perdeu a aura de

modernidade. Por exemplo, a Holanda, um dos países mais liberais da Europa, já foi mais

condescendente. Atualmente, os coffee shops locais não podem mais vender bebidas

alcoólicas nem cogumelos alucinógenos, e o Parlamento, por meio da edição de lei, pretende

proibi-los de funcionar a menos de 200 metros das escolas. A tolerância em relação à

maconha, iniciada nos anos 70, criou ao menos duas contradições, sendo que a primeira é que

os bares podem vender até 5 gramas de maconha por consumidor, mas o plantio e a

importação da droga continuam proibidos. Ou seja, houve um incentivo ao narcotráfico. A

segunda é que, Amsterdã, com seus coffee shops, passou a atrair ―turistas da droga‖ dispostos

15

A legislação sobre drogas. Veja.com, 2008. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/leis-sobre-drogas/index.shtml Acesso em: 12 ago.

2010.

29

a consumir de tudo, não apenas maconha. Isso fez proliferar o comércio clandestino. Por esse

motivo, a população começou, então, a rever suas idéias e a se mostrar cada vez mais

descontente com o atual tratamento dispensado a usuários e traficantes.

Outro país que precisou também rever sua decisão e dar marcha à ré na tolerância com

as drogas foi a Suíça. O bairro de Langstrasse, em Zurique, que havia se tornado, sob o aval

do governo, território livre para o consumo de drogas, acabou sob o controle do crime

organizado. Em 1992, a prefeitura coibiu o uso público de entorpecentes. Seguindo seu

exemplo, a Dinamarca em 2003, por meio das autoridades, fechou o cerco ao Christiania, um

bairro de Copenhague ocupado por uma comunidade alternativa desde 1971, onde a venda de

maconha era feita em feiras ao ar livre. A Grã-Bretanha, depois de muitas alternativas falidas,

também decidiu voltar a reprimir o uso: no início de 2008, o governo deu início ao processo

de endurecimento novamente, devido a um estudo do Advisory Council on the Misuse of

Drugs que demonstrou, por exemplo, que a maconha prejudica a saúde mental dos

consumidores mais do que se imaginava. A droga, então, voltou a pertencer ao grupo dos

entorpecentes sujeitos a repressão severa (neste caso, com multa e cinco anos de prisão para o

usuário).16

No plano internacional, o controle das drogas psicotrópicas é feito através de tratados,

acordos ou convenções celebrados pelos países membros das Nações Unidas. Apesar do

consumo de substâncias ser tão antigo quanto a humanidade, somente no início deste século é

que iniciaram as primeiras tentativas de controle do consumo e do tráfico de drogas a nível

internacional, segundo informações extraídas do IMESC17

(2003)

Problemas relacionados ao abuso de certas substâncias narcóticas já têm ocorrido

desde o fim do século passado e já eram preocupação internacional. Embora, naquela época, o

número de substâncias disponíveis com potencial para uso problemático fosse bem menor, o

reconhecimento da necessidade de um controle internacional dessas substâncias levou à

realização da primeira entre tantas conferências e convenções sobre drogas, conforme seguem

abaixo:

1909 - Conferência de Shangai - Reuniu 13 países para tratar do problema do ópio

indiano infiltrado na China não produzindo resultados práticos;

1911 - Primeira Conferência Internacional do Ópio (Haia);

16

A legislação sobre drogas. Veja.com, 2008. Disponível em:

http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/leis-sobre-drogas/index.shtml Acesso em: 12 ago.

2010. 17

Convenções internacionais sobre drogas. IMESC. INFOdrogas, 199-2003. Disponível em:

http://www.imesc.sp.gov.br/infodrogas/convenc.htm Acesso em: 12 ago. 2010.

30

1912 - Primeira Convenção Internacional do Ópio - Resultante da Conferência de

1911 e popularmente conhecida como a ―Convenção do Ópio‖, regulamentou a produção e a

comercialização da morfina, heroína e cocaína. Foi prejudicada em sua execução pela

Primeira Guerra Mundial, entrando em vigor apenas em 1921;

1921 - Criação da Comissão Consultiva do Ópio e Outras Drogas Nocivas

Sucedida pela Comissão das Nações Unidas sobre Drogas Narcóticas (CND - Commission on

Narcotic Drugs) por conseqüência da criação da Sociedade das Nações cuja Convenção

constitutiva (artigo 23, c) reconheceu a atribuição de elaborar acordos sobre o tráfico de ópio

e outras drogas nocivas;

1924 - Conferência de Genebra - Ampliação do conceito de substância

entorpecente e instituição do sistema de controle do tráfico internacional por meio de

certificados de importação e autorização de exportação;

1925 - Acordo de Genebra - Surgido da Conferência vinculada à Sociedade das

Nações de 1924, torna realidade os dispositivos da Conferência de Haia de 1912;

1931 - Conferência de Bangkok - Revisão do acordo de Genebra de 1925;

1931 e 1936 - Duas novas Conferências realizadas em Genebra. Estabelecimento da

obrigação dos estados participantes tomarem as providências para proibirem, no âmbito

nacional, a disseminação do vício;

1946 - Assinado protocolo atualizando acordos anteriores sob convocação da ONU

(Organização das Nações Unidas);

1948 (Paris) - 1953 (Nova Iorque) - Firmam-se outros protocolos. O de Nova Iorque

restringiu a produção de opiáceos na fonte, permitindo sua destinação apenas para uso

médico;

30/03/1961 - Firma-se a Convenção Única de Nova Iorque sobre Entorpecentes

Composta de cinqüenta e um artigos relaciona os entorpecentes, classificando-os segundo

suas propriedades em quatro listas. Estabelece as medidas de controle e fiscalização prevendo

restrições especiais aos particularmente perigosos; disciplina o procedimento para a inclusão

de novas substâncias que devam ser controladas; fixa a competência das Nações Unidas em

matéria de fiscalização internacional de entorpecentes; dispõe sobre as medidas que devem

ser adotadas no plano nacional para a efetiva ação contra o tráfico ilícito, prestando-se aos

Estados assistência recíproca em luta coordenada, providenciando que a cooperação

internacional entre os serviços se faça de maneira rápida; traz disposições penais,

recomendando que todas as formas dolosas de tráfico, produção, posse etc., de entorpecentes

31

em desacordo com a mesma, sejam punidas adequadamente; recomenda aos toxicômanos seu

tratamento médico e que sejam criadas facilidades à sua reabilitação;

21/02/1971 - Firma-se a Convenção sobre as Substâncias Psicotrópicas (Viena)

que passa a controlar a preparação, uso e comércio de psicotrópicos 18

;

25/03/1972 - Firma-se, em Genebra, o Protocolo de Emendas à Convenção Única

sobre Entorpecentes de 1961, modificando-a e aperfeiçoando-a. Altera a composição e as

funções do Órgao Internacional de Controle de Entorpecentes, amplia as informações que

devem ser fornecidas para controle da produção de entorpecentes naturais e sintéticos e

salienta a necessidade de tratamento que deve ser fornecido ao toxicômano;

1977 - Convocação pela Secretaria Geral das Nações Unidas da Conferência

Internacional sobre o Abuso de Drogas e Tráfico Ilícito para rever o documento

"Comprehensive Multidisciplinary Outline". Esse documento consiste de quatro capítulos,

dois deles referindo-se ao controle do fornecimento e à supressão do tráfico ilícito. Faz

sugestões práticas sobre o planejamento de programas efetivos para a supressão do tráfico

ilícito em todos os níveis (nacional, regional e internacional);

20/12/1988 - Conclusão da Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e

de Substâncias Psicotrópicas (Viena);

11/11/1990 - Entra em vigor internacional a Convenção contra o Tráfico Ilícito de

Entorpecentes e de Substâncias Psicotrópicas que complementa as Convenções de 1961 e

1972, acrescentando, entre outras coisas, o éter etílico e acetona no rol das substâncias

controladas.

18

Convenção sobre as Substâncias Psicotrópicas, de 21 de fevereiro de 1971, aprovada pelo Decreto

Legislativo nº. 90 de dezembro de 1972, ratificada (com reservas) junto ao Secretário Geral da ONU aos 14 de

fevereiro de 1973 e cujo cumprimento integral foi determinado pelo Decreto nº. 79388 de 14 de março de 1977.

32

3 PREVENÇÃO E REINSERÇÃO DO USUÁRIO DE DROGAS

3.1 Prevenção, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de

drogas

Na Lei nº 11.343/06, em seu Título III, trata das atividades de prevenção do uso

indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e em seu Capítulo I

cuida da prevenção conforme preceitua os arts. 18 e 19:

Artigo 18. Constituem atividades de prevenção do uso indevido de drogas, para

efeito desta Lei, aquelas direcionadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e

risco e para a promoção e o fortalecimento dos fatores de proteção.

O legislador se preocupou com a prevenção do uso indevido de drogas para reprimir

os efeitos deletérios que os entorpecentes podem causar no indivíduo e na sociedade.

Definiu que são atividades de prevenção aquelas direcionadas para a redução dos

fatores de vulnerabilidade e de risco, com a nítida intenção de que sejam adotadas medidas

para prevenir que o indivíduo inicie o uso de drogas ou impedir que continue usando cada vez

mais substâncias entorpecentes.

São fatores de prevenção aquelas atividades direcionadas à promoção e ao

fortalecimento dos fatores de proteção ao uso de drogas.

O Governo Brasileiro reconhece a complexidade e a intersetorialidade do tema e adota

abordagem sistêmica para tratar do assunto, orientando suas organizações para o

compartilhamento de responsabilidades e objetivos e para o trabalho conjunto que integre as

políticas da área social, assim como as relativas à atividade econômica e produtiva do país, à

infra-estrutura, à segurança pública, às relações exteriores e outras.19

Neste contexto, as ações governamentais para a redução da demanda e da oferta de

drogas são realizadas no País pelo Sistema Nacional Antidrogas - SISNAD, criado em 1976, e

somente regulamentado em 1998.

O SISNAD, que foi instituído pela novel Lei em seu artigo 1º, tem a missão de

organizar, articular e integrar a ação pública bem como organizar e coordenar as atividades

19

SISNAD _ Sistema Nacional Antidrogas _ Resolução no 2 _ CONAD de 06 de outubro de 2003 _ 1a Parte.

UNIFESP. Boletim CEBRID, nº 51, 2004. Disponível em:

http://www.unifesp.br/dpsicobio/boletim/ed51/3.htm Acesso em: 25 ago. 2010.

33

relacionadas com a prevenção do uso indevido de drogas, a redução dos danos sociais e à

saúde decorrentes desse uso, atenção, tratamento e a reinserção social dos usuários de drogas

e os dependentes químicos de drogas e a repressão ao uso indevido, à produção não

autorizada e ao tráfico ilícito de drogas:

Artigo 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas -

Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção

social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à

produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes.

O SISNAD é integrado pelo Conselho Nacional Antidrogas (CONAD), que é um

órgão colegiado, de natureza normativa e de deliberação coletiva do sistema, responsável por

estabelecer as macro-orientações a serem observadas pelos integrantes do Sisnad, em suas

respectivas áreas de atuação, vinculado ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência

da República; pela Secretaria Nacional Antidrogas - SENAD, na qualidade de secretaria-

executiva do colegiado; pelo conjunto de órgãos e entidades públicos que exerçam atividades

de prevenção e repressão de drogas, seja do âmbito do Poder Executivo federal; dos Estados,

dos Municípios e do Distrito Federal, e pelas organizações, instituições ou entidades da

sociedade civil que atuam nas áreas da atenção à saúde e da assistência social e atendam

usuários ou dependentes de drogas e respectivos familiares, mediante ajustes específicos.

O CONAD desempenha os papéis político-estratégicos de assessorar o Presidente da

República no provimento das orientações globais relativas à redução da demanda e da oferta

de drogas no País e promover a articulação, a integração e a organização da ação do Estado. 20

Órgão máximo brasileiro que regulamenta e pesquisa o uso de substâncias químicas e

determina quais são drogas e quais não são e sua classificação. Este conselho também realiza

campanhas de esclarecimento quanto às drogas e projetos como o de dano mínimo.

A antiga lei de drogas (Lei n° 10.409/02) também se preocupou com a prevenção e

com a redução dos danos sociais e à saúde, mas de forma tímida, prevendo que era dever de

todas as pessoas, físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras com domicílio ou sede no

País, colaborar na prevenção da produção, do tráfico ou uso indevido de produtos, substâncias

ou drogas ilícitas que causem dependência física ou psíquica; que o tratamento do dependente

ou do usuário seria feito de forma multiprofissional e, sempre que possível, com a assistência

de sua família, cabendo ao Ministério da Saúde regulamentar as ações que visem à redução

dos danos sociais e à saúde.

20

Institucional. CONAD, 2007. Disponível em: <http://www.obid.senad.gov.br/portais/CONAD/index.php>

Acesso em: 25 ago. 2010.

34

A Lei n° 6.368/76,em seu artigo 1º, preocupou-se com a prevenção do uso de drogas:

Artigo 1º É dever de toda pessoa física ou jurídica colaborar na prevenção e

repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substância entorpecente ou que

determine dependência física ou psíquica.

Parágrafo único: As pessoas jurídicas que, quando solicitadas, não prestarem

colaboração nos planos governamentais de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e

uso indevido de substância entorpecente ou que determine dependência física ou

psíquica perderão, a juízo do órgão ou do poder competente, auxílios ou subvenções

que venham recebendo da União, dos Estados, do Distrito Federal, Territórios e

Municípios, bem como de suas autarquias, empresas públicas, sociedades de

economia mista e fundações.

Segundo Mendonça e Carvalho21

(2006, p. 37) ―Pelos meios tradicionais de prevenção

e repressão, o dependente de drogas injetáveis deverá ser privado de todo e qualquer contato

com a substância na qual é viciado, bem como de todos os meios que teria à disposição para

obter e utilizar a droga‖.

A atual Lei de Drogas, para melhor alcançar seus objetivos, não fez previsão de pena

privativa de liberdade para o usuário de entorpecentes, o que é considerado um aspecto

importante, demonstrando dessa foram sua preocupação maior em prevenir o uso indevido de

drogas, mas em contrapartida reprimir o tráfico ilícito de drogas com uma legislação muito

mais rígida.

3.2 Princípios e Diretrizes

O artigo 19 da lei 11.343/2006 relacionou uma série de princípios e diretrizes

imperativos que devem ser observadas para a realização das atividades de prevenção ao uso

indevido de drogas, pois são dotados de valor normativo-jurídico:

Artigo 19. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas devem observar

os seguintes princípios e diretrizes: I - o reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência na

qualidade de vida do indivíduo e na sua relação com a comunidade à qual pertence; II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamentação científica como forma de

orientar as ações dos serviços públicos comunitários e privados e de evitar

preconceitos e estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam; III - o fortalecimento da autonomia e da responsabilidade individual em relação ao

uso indevido de drogas;

21

MENDONÇA, Andrey Borges de; CARVALHO, Paulo Roberto Galvão de. Lei de Drogas: Lei 11.343, de 23

de agosto de 2006, Comentada artigo por artigo. São Paulo: Editora: Método, 2006. p. 37.

35

IV - o compartilhamento de responsabilidades e a colaboração mútua com as

instituições do setor privado e com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários

e dependentes de drogas e respectivos familiares, por meio do estabelecimento de

parcerias; V - a adoção de estratégias preventivas diferenciadas e adequadas às especificidades

socioculturais das diversas populações, bem como das diferentes drogas utilizadas; VI - o reconhecimento do ―não-uso‖, do ―retardamento do uso‖ e da redução de

riscos como resultados desejáveis das atividades de natureza preventiva, quando da

definição dos objetivos a serem alcançados; VII - o tratamento especial dirigido às parcelas mais vulneráveis da população,

levando em consideração as suas necessidades específicas; VIII - a articulação entre os serviços e organizações que atuam em atividades de

prevenção do uso indevido de drogas e a rede de atenção a usuários e dependentes

de drogas e respectivos familiares; IX - o investimento em alternativas esportivas, culturais, artísticas, profissionais,

entre outras, como forma de inclusão social e de melhoria da qualidade de vida; X - o estabelecimento de políticas de formação continuada na área da prevenção do

uso indevido de drogas para profissionais de educação nos 3 (três) níveis de ensino; XI - a implantação de projetos pedagógicos de prevenção do uso indevido de drogas,

nas instituições de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares

Nacionais e aos conhecimentos relacionados a drogas; XII - a observância das orientações e normas emanadas do Conad; XIII - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais

específicas. Parágrafo único. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas dirigidas à

criança e ao adolescente deverão estar em consonância com as diretrizes emanadas

pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - Conanda.

Rebello Pinho22

(2003, p. 51) afirma que ―os princípios são dotados de um alto grau de

generalidade e abstração e baixa densidade normativa, pois necessitam, via de regra, de outras

normas para que possam ser aplicados. Além disso, são normas consideradas como

informadoras do ordenamento jurídico.‖

Da análise do artigo 19 podemos concluir que:

1 - O reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência na

qualidade de vida do indivíduo e na sua relação com a comunidade à qual pertence;

O uso indevido de drogas interfere na qualidade de vida do indivíduo e em sua relação

com a comunidade. O legislador se preocupou com a vida do usuário de entorpecentes, com a

qualidade de sua vida e com sua relação com a comunidade.

O uso de drogas acarreta uma série de problemas para o indivíduo, problemas

familiares para os filhos manterem o vício e desestruturação da entidade familiar, além das

questões sociais como a prática de crime para manutenção do vício, queda na produtividade

do trabalhador, envolvimento do usuário com o tráfico.

22

PINHO, Rodrigo César Rebello. Teoria Geral da Constituição e Direitos Fundamentais, vol.. 17. 4ª ed. São

Paulo: Sraiva, 2003. p. 58.

36

2 - A adoção de conceitos objetivos e de fundamentação científica como forma de

orientar as ações dos serviços públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e

estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam;

A promoção e os fatores de proteção dependem não apenas das ações governamentais,

mas também da sociedade civil e, para melhor organizar os trabalhos buscando resultados

concretos, as atividades de prevenção devem seguir estudo científico. Desta forma, determina

o artigo19, II, a adoção de conceitos objetivos e fundamentação científica como forma de

orientar as pessoas envolvidas no sistema.

Medidas de combate à dependência classificadas, segundo Greco Filho23

(1996, p. 25)

―como medidas preventivas, que se destinam a evitar o uso de drogas, medidas terapêuticas,

que visam curar as dependências já instaladas e medidas repressivas, para punir os

responsáveis pelo vício.‖

Leciona Andreucci24

(2006, p. 7) que as intervenções preventivas são tradicionalmente

enfocadas sob três aspectos:

1°) Prevenção primária: visa diminuir a incidência de uma doença na população,

reduzindo o risco de surgimento de casos novos.

A prevenção primária visa impedir o início do uso de entorpecentes.

2°) Prevenção secundária: consiste em quaisquer atos destinados a diminuir a

prevalência de uma doença numa população, reduzindo sua evolução e duração.

Trata-se, portanto, de intervenções que têm como objetivo principal evitar que um

estado de dependência se estabeleça, ou seja, visa evitar o vício de quem já

experimentou drogas.

3°) Prevenção terciária: são os atos destinados a diminuir a prevalência das

incapacidades crônicas numa população, reduzindo as deficiências funcionais

consecutivas à doença.

Atua no sentido de possibilitar ao indivíduo uma reintegração no contexto social, na

família e no trabalho, contemplando todas as etapas do tratamento (antes, durante e

depois).

3 - O fortalecimento da autonomia e da responsabilidade individual em relação ao uso

indevido de drogas;

Conscientização dos males que a substância entorpecente pode causar para o

indivíduo.

O indivíduo precisa ser responsável e querer se submeter ao tratamento, pois, caso

contrário, a possibilidade dele voltar ao uso de drogas será significativa.

23

GRECO FILHO, Vicente. Tóxicos: prevenção-repressão, 11ª ed. atual. SP: Saraiva, 1996, p. 25. 24

ANDREUCCI, Ricardo antonio. Legislação Penal Especial, 2ª ed., ver., atual. E aum. SP: Saraiva, 2006, p. 7.

37

4 - O compartilhamento de responsabilidades e a colaboração mútua com as

instituições do setor privado e com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e

dependentes de drogas e respectivos familiares, por meio do estabelecimento de parcerias.

O controle social, ou seja, ―o conjunto de mecanismos e sanções sociais que

pretendem submeter o indivíduo aos modelos e normas comunitários‖25

(RT, 2004, p. 56)

podem ser feitos formalmente ou informalmente.

5 - A adoção de estratégias preventivas diferenciadas e adequadas às especificidades

socioculturais das diversas populações, bem como das diferentes drogas utilizadas;

O magistrado, ao aplicar a lei penal, respeitando a legislação federal, deve levar em

consideração as peculiaridades de cada região.

No entendimento de Raul Cervin26

(2002, p. 80), o Direito Penal deve ―traduzir-se

numa ordem reguladora da conduta humana, que em suas valorações, reconheça a identidade

cultural dos indivíduos, pois, se sua situação orientar-se em sentido contrário, estará

regulamentando uma conduta de ficções e não de homens reais‖.

25

SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 56. 26

CERVIN, Raúl. Os processos de descriminalização. 2ª ed. rev. da tradução. São Paulo:Revista dos Tribunais,

2002, p. 180.

38

4 DOS CRIMES E DAS PENAS

A Lei 11.343, de 23 de agosto de 2006, tenta aperfeiçoar o combate ao tráfico ilícito

de entorpecentes, reprimindo mais severamente condutas criminosas e especificando, em

novas figuras típicas, o comportamento humano proibido, bem como apresentando um novo

tratamento penal aos usuários e dependentes de drogas.

O paradigma agora, em relação aos usuários e dependentes, está calcado na prevenção

e reinserção social, tanto que a sanção privativa de liberdade e pecuniária foram abolidas,

como princípio da mínima intervenção e dignidade humana.

Amparada nesses princípios norteadores, a nova lei, em sua parte geral, alterou regras

de tratamento, definições, competências e atribuições, disciplinando melhor a questão relativa

aos usuários e dependentes.

4.1 Usuários e dependentes de drogas

Estabelece o artigo 27 da Lei 11.343/06, no capítulo III, Dos Crimes e das Penas, que

as penas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem

como substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor.

O capítulo III, Dos Crimes e das Penas, foi inserido dentro do título III, das atividades

de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de

drogas.

Tem seu início com o artigo 27, dispondo que as penas previstas neste Capítulo

poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo,

ouvidos o Ministério Público e o defensor.

Artigo 27

O artigo 27 trata da questão da droga, quando não existente situação de traficância,

permitindo ao juiz a aplicação de penas de forma isolada ou cumulativamente, dependendo,

sempre, do caso concreto, da efetiva necessidade, observada a proporcionalidade da pena em

relação à conduta praticada, à reiteração, à personalidade do agente, entre outros critérios.

39

A nova lei de tóxicos manteve o crime no artigo 28. Não se pode falar em

descriminalização, porém o seu caráter despenalizador é indiscutível. A nova figura aboliu as

penas privativas de liberdade e pecuniária, bem como as restritivas de direitos de prestação

pecuniária ou inominada, perda de bens e valores e interdição temporária de direitos.

O artigo analisado a seguir estipula as penas para o usuário de drogas:

Artigo 28, §1° e §2°

O artigo 28 "caput" dispõe que:

Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para

consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal

ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

O § 1°, do artigo 28, fixou idêntica pena a ―quem, para seu consumo pessoal, semeia,

cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou

produto capaz de causar dependência física ou psíquica‖.

Disciplina as conseqüências penais nas hipóteses em que a droga é apreendida e, de

qualquer forma, a prova colhida é indicativa de consumo pessoal e nunca de traficância.

Há controvérsia acerca das normas em estudo, que reside em saber se as normas do

artigo 28 e seu §1º configuram, de fato, infrações penais, ou teriam perdido tal caráter em

razão da exclusão, nos preceitos secundários, da pena privativa de liberdade.

Como preceito secundário da norma, foi fixada a pena de ―advertência sobre os efeitos

das drogas, prestação de serviços à comunidade, medida educativa de comparecimento a

programa ou curso educativo‖ (artigo 28), ou, em caso de recusa injustificada, ―admoestação

verbal ou multa‖ (artigo 28, § 6°).

Diante do novo texto houve descriminalização ou despenalização?

No tipo penal do artigo 28 e §1, da lei 11.343/06, não há qualquer pena privativa de

liberdade.

Há a necessidade de reflexão se teria ocorrido a descriminalização ou despenalização.

Para Guilherme de Souza Nucci27

(RT, 2007, p. 369) , na análise do artigo 28 da Lei

11.343/ 06, ―é viável a consideração do porte de entorpecente, para uso próprio, como

infração penal de menor potencial ofensivo (aliás de ínfimo potencial ofensivo), uma vez que,

para esse delito, não há mais pena privativa de liberdade‖.

27

Leis penais e Processuais Penais Comentadas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p. 369.

40

O professor Luiz Flávio Gomes28

(RT, 2006, p. 109-110), entendeu, de forma

expressa, que ―a nova Lei de Drogas, no artigo 28, descriminalizou a conduta da posse de

droga para o consumo pessoal. Retirou-lhe a etiqueta de infração penal porque de modo

algum permite apena de prisão. E sem pena de prisão não se pode admitir a existência de

infração penal no nosso País‖.

Para Gomes29

(RT, 2006, p. 110), ―adotava-se o sistema bipartido, que significava o

seguinte: infração penal é um gênero que comporta duas espécies, que são o crime ou o delito

e as contravenções penais. Agora temos um sistema tripartido: crime ou delito, contravenções

penais e infração sui generis‖.

Na visão do mestre Raúl Cervini30

(RT, 1195, p. 82-83), a descriminalização pode

manifestar-se de três formas:

a) descriminalização formal, de jure ou em sentido estrito, que indica em alguns

casos o desejo de outorgar um total reconhecimento legal e social ao comportamento

descriminalizado, retirando por completo o caráter ilícito do fato;

b) descriminalização substitutiva, casos nos quais as penas são substituídas por

sanções de outra natureza, como por exemplo, a transformação de delitos de pouca

importância em infrações administrativas ou fiscais punidas com multas de caráter

disciplinar.

c) descriminalização de fato, que a venezuelana Aniyar de Castro (1982:224),

distanciando-se do critério Europeu coloca dentro das forma de despenalização.

Existe descriminalizaçâo de fato, segundo a autora, quando sistema penal deixa de

funcionar sem que formalmente tenha perdido competência para tal, quer dizer, do

ponto de vista técnico jurídico, nesses casos, permanece ileso o caráter ilícito

eliminando-se a aplicação efetiva da pena.

Raúl Cervini31

(RT, 1195, p. 85) destaca que ―por despenalização entendemos o ato de

diminuir a pena de um delito sem descriminalizá-lo, quer dizer, sem tirar do fato o caráter de

ilícito penal‖.

Analisando os dispositivos em estudo (artigo 28 e seu §1°), não parece adequada a

sustentação jurídica da tese sobre eventual descriminalização, em qualquer de suas

modalidades, com a retirada do caráter ilícito do fato.

Levy Emanuel Magno (2007, p. 118), afirma que ―a roupagem jurídica do artigo 28 e

§ 10 mais se amolda ao instituto da despenalização, com a utilização exclusiva de penas

socialmente alternativas.‖32

28

Nova Lei de Drogas Comentada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, p. 109-110. 29

Id., Ibid, p. 110, 2006. 30

Os Processos de Descriminalização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2ª edição, 1995, p. 82-83,. 31

Id., ibid., p. 85, 1995. 32

MAGNO, Levy Emanuel. Nova Lei Antidrogas Comentada – Lei nº 11.343/06. São Paulo: Quartier Latin,

2007, p. 118.

41

A única questão remanescente é alcançar uma nomenclatura técnica à norma do artigo

28 e seu § 1°, pois, como dito, não há previsão de pena privativa de liberdade, mas somente

de penas socialmente alternativas.

No nosso ordenamento jurídico, de acordo com o Artigo 1° da Lei de Introdução do

Código Penal, assim disposto:

Artigo 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou

de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de

multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isolada/nente,pena de

prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

Sustentam alguns doutrinadores, que o artigo 1° da Lei de Introdução do Código Penal

daria sustentação jurídica à tese de descriminalização, pois no conceito ali estabelecido,

somente seria crime a infração penal a que a lei estabelecesse pena de reclusão ou de

detenção, isolada alternada ou de forma cumulativa.

No entanto, observa-se que o dispositivo (artigo 1°) não traz apenas o conceito de

crime, mas também o de contravenção (como infração penal a que.a lei estabeleça pena de

prisão simples ou de multa, ou ambas, de forma alternada ou cumulativa).

Assim o fez, para diferenciá-lo do conceito de contravenção, tanto que a inserção dos

conceitos encontra-se num só dispositivo.

O artigo 50, XLVI, da CF, estabeleceu que serão adotada as seguintes penas, entre

outras: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social

alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos, vedando, no inciso XLVII, penas: a) de

morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do artigo 84, XIX; b) de caráter

perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;

A Lei 11.343/06, especial por natureza, pode estabelecer penas diversas das

tradicionais, ficando, sempre, a conveniência do legislador infraconstitucional, observada a

proporcionalidade no estabelecimento da pena adequada.

Se o crime previsto no artigo 28 e §1°, da lei 11.343/06, não dispõe de pena privativa

de liberdade, trata-se de infração penal de mínimo potencial ofensivo.

O sistema penal passa a ter quatro modalidades de infrações penais: de máxima

gravidade, quando a pena mínima for superior a um ano (não cabível a suspensão condicional

do processo - artigo 89 da lei 9099/95), de média gravidade, quando a pena mínima não for

superior a um ano (cabível a suspensão condicional do processo - artigo 89 da Lei 9099/95),

de menor gravidade, quando a pena privativa de liberdade não exceder a dois anos (de menor

potencial ofensivo — artigo 76 da Lei 9099/95) e de mínima gravidade, quando não houver

pena privativa de liberdade cominada ao tipo penal.

42

O artigo 28 e seu §1°, da lei 11.343/06, deve ser referido como infração penal, com

características e sujeições próprias, tais como a legalidade, impessoalidade e imperatividade,

com inevitável observação dos princípios do juiz natural, do devido processo legal, da ampla

defesa, do contraditório, da vedação de provas ilícitas e da presunção de inocência.

O dispositivo penal previsto no artigo 28 e §1°, da Lei 11.343/06 trata-se de novatio

legis in mellius, e não de abolitio criminis.

Resta apurar as conseqüências da nova norma penal mais benéfica considerada no

tempo.

Para Aníbal Bruno33

(1956, p. 269), ―esse princípio da aplicação da lei mais benigna,

como meio de resolver o conflito de leis penais sucessivas, sugere um problema nem sempre

de fácil solução. Que se deve entender por lei mais benigna? A questão só se pode resolver

tomando as leis concorrentes, cada uma como um conjunto, e considerando-as na sua

aplicação ao caso concreto‖.

Nos § 3º e 4º do artigo 28 da novel lei, ficou estabelecido o tempo de aplicação das

penas previstas no artigo 28 e §1°, referente às condutas voltadas ao consumo da droga, ou ao

cultivo de plantas destinadas ao consumo:

Artigo 28, §3º e 4°

O artigo 28, § 3°, prevê que ―as penas previstas nos incisos II e III do ―caput‖ deste

artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses, disciplinando o § 40, que em

caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput" deste artigo serão

aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses‖.

Após a prática da infração prevista no artigo 28 e §1°, o agente deverá ser

imediatamente encaminhado perante a autoridade judiciária, especialmente porque a lei

priorizou o juiz como destinatário imediato da infração penal de mínimo potencial ofensivo,

na busca de uma solução célere do fato penal ocorrido.

Tal fato dificilmente ocorrerá, não só porque ainda não há suficiente estrutura

judiciária para receber as ocorrências em tempo real, mas também porque há exigência de

prova da existência do crime, técnica, por laudo pericial, e o juízo não dispõe de peritos nas

dependências do fórum, em caráter permanente, para suprir a necessidade imperiosa de

demonstração de requisito essencial.

Assim, como regra, ocorrida a infração penal (artigo 28 e § 1°), ―a autoridade policial

que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará

33

Direito Penal – Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, Tomo I, 1ª ed., 1956, p. 269.

43

imediatamente ao Juizado, com o autor do fato, providenciando-se as requisições dos exames

periciais necessários‖ (artigo 76 da Lei 9099/95 - suprimido em parte).

Estando em ordem o termo circunstanciado e, sendo cabível a fase consensual, o

Ministério Público fará requerimento ao juízo para a designação de audiência preliminar.

A audiência designada pelo juízo tem como objetivo proporcionar a realização da fase

consensual, na qual o Ministério Público fará a proposta de transação penal, com imposição

das penas previstas no artigo 28 da Lei 11.343/06, quais sejam, advertência sobre os efeitos

das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a

programa ou curso educativo, isolada ou cumulativamente (artigo 27 da Lei 11.343/06),

sempre enfocando o caso concreto e a razoabilidade da proposta.

A concretização da transação penal poderá não ocorrer pelo:

a) não oferecimento da proposta pelo membro do Ministério Público: caso o juiz

verifique ser o caso de concessão do benefício, não poderá fazê-lo de ofício (em razão do

princípio da inércia), devendo remeter o termo circunstanciado ao Procurador - Geral de

Justiça (esfera estadual) ou â Câmara de Coordenação e Revisão (esfera federal), por analogia

ao artigo 28 do CPP;

b) não aceitação da proposta pelo suposto autor do fato (pelo agente): na hipótese de

não aceitação da proposta de transação penal por parte do suposto autor do fato, o juiz poderá

impor as penas previstas no artigo 28 e §1°, independente do devido processo legal, ou,

contrariamente, haveria necessidade de formulação de uma acusação circunstanciada (artigo

41 do CPP), por denúncia, com conseqüente. ação penal?

O artigo 48, § 1°, da Lei 11.343/06, dispõe que o ―agente de qualquer das condutas

previstas no artigo 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes previstos nos arts.

33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei n° 9.099,

de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais‖.

Há a necessidade de aplicação do devido processo legal.

Não havendo aceitação da proposta de transação penal, o Ministério Público,

desejando a adoção de qualquer providência prevista no artigo 28, deverá oferecer denúncia

oral (e não sendo possível, escrita), seguindo-se o procedimento sumaríssimo previsto no

artigo 77 e ss, da Lei 9099/95, até a sentença.

c) descumprimento da transação penal firmada com o Ministério Público: firmada

transação penal com o Ministério Público e, homologada pelo juiz, por certo gerará forte

controvérsia doutrinária e jurisprudencial.

44

Transação penal, com o suposto autor do fato, só pode estar vinculada à advertência

sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de

comparecimento a programa ou curso educativo, isolada ou cumulativamente.

O artigo 28, § 6°, da lei 11.343/06 estabeleceu que ―para garantia do cumprimento das

medidas educativas a que se refere o caput , nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se

recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a admoestação verbal e multa‖.

No caso de descumprimento da transação penal, com base na medida educativa de

comparecimento a programa ou curso educativo, não haverá alternativa de inserir medida

remanescente, tal como consignado na segunda hipótese, restando apenas a opção de

propositura de ação penal, com o objetivo de obtenção de uma sentença - é bem verdade,

também, que mesmo diante de uma sentença, havendo descumprimento, não haverá como

impor, coercitivamente, a medida determinada.

O parágrafo seguinte estabelece de que forma se dará o cumprimento da pena:

Artigo 28, §5°

O artigo 28, § 5°, da Lei 11.343/06, indica que ―a prestação de serviços à comunidade

será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou assistenciais, hospitais,

estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem,

preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de

drogas‖.

Necessidade de fixação do tempo de cumprimento da prestação de serviço à

comunidade. O artigo 46 do CP relacionou como tarefas gratuitas (artigo 46, §1°, do CP) em

entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em

programas comunitários ou estatais (artigo 46, §2°, do CP).

O tempo de cumprimento está regrado no artigo 46, § 3°, do CP, devendo ser fixado à

razão de uma hora de tarefa por dia de prestação estabelecido na proposta.

Assim, se fixada prestação de serviço à sociedade pelo prazo de três meses, serão 90

(noventa) dias de prestação, se cinco meses, 150 (cento e cinqüenta dias), e assim em diante.

Artigo 28, § 7°

O artigo 28, § 7°, da lei 11.343/06, confere ao juiz a possibilidade de colocar à

disposição do agente estabelecimento para tratamento de droga.

Estabeleceu como preceito secundário apenas penas não privativas de liberdade, não

havendo, em nenhuma hipótese, possibilidade de prisão.

45

4.2 Induzimento ou Auxílio ao Consumo Indevido de Droga

A atual Lei de Drogas manteve a incriminação - com a mesma descrição típica - da

conduta de “induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga” (artigo 33, § 2º):

Artigo 33 Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,

expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,

prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que

gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou

regulamentar:

...

§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos)

dias-multa.

Embora, inserido como parágrafo, a atual lei deu-lhe autonomia tipológica, pois

deixou de ser uma simples modalidade do tipo penal básico bem mais grave.

Antes sancionada com a mesma pena - de três a quinze anos de reclusão - imposta ao

traficante (artigo 12, § 2º, inciso I, da lei anterior), a conduta agora é classificada de forma

autônoma e punida com detenção, de um a três anos, acrescida da pena pecuniária de 100 a

300 dias-multa. Houve uma sensível redução da carga punitiva cominada para este tipo de

conduta, cujas linhas divisórias, em relação ao crime de tráfico, nem sempre será tarefa fácil

de ser demarcada.

Os três verbos, que compõem o núcleo da descrição típica, referem-se a ações que,

normalmente, são indicadoras de participação no crime do outro. Mas, no caso em exame,

foram consideradas como suficientes para constituírem um tipo penal próprio. Assim,

somente estará configurada esta infração quando o agente induz, instiga ou auxilia pessoa certa

e esta efetivamente passe a consumir determinado tipo de droga. Aplica-se a hipótese sob exame

a regra geral de que o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio não são puníveis se o

crime não chega, pelo menos, a ser tentado (artigo 31, do CP).

Conforme afirma Pacheco34

(2002, p. 123):

É claro, que só haverá crime se a instigação ou o auxilio destinar-se ao uso indevido.

Assim, não comete o crime em exame quem induz um parente ou uma pessoa amiga

a consultar um médico para o uso de psicotrópicos ou o auxilia a ingerir

substância psicotrópica devidamente prescrita por profissional médico.

34

PACHECO, Jose Errani de Carvalho. Tóxicos, Prática, Processo e Jurisprudência. Curitiba:

Juruá Editora, 2002, p. 123.

46

Por outro lado, deve ser ressaltado que a ação de induzir, instigar ou auxiliar não pode

representar qualquer ato próprio do crime de tráfico. Ou seja, o agente, a pretexto de instigar

ou auxiliar, não pode tomar a iniciativa de oferecer (muito menos vender) a droga a

determinado usuário, porque neste caso o crime praticado será o de tráfico, previsto no caput,

do artigo 33 da lei 11.343/06. Na prática, sempre será necessária uma análise minuciosa de

todas as circunstâncias em que o agente atuou para chegar-se a constatação segura de que o

mesmo, com sua conduta, não ultrapassou os limites da simples instigação ou do auxilio para

adentrar no espaço de tipicidade mais grave da oferta, que já caracteriza o crime de tráfico.

Da mesma forma, a conduta de induzir, instigar ou auxiliar, também precisa ser

distinguida daquela prevista no parágrafo 3º, em que o agente oferece droga, eventualmente e

sem intenção de lucro, a um terceiro para consumo em conjunto.

São dois crimes muito próximos em seus contornos típicos e a diferença entre um e

outro não será tarefa fácil no campo da práxis judiciária.

De acordo com Silva35

(2002, p. 195):

Finalmente, cremos que a alteração se fazia necessária. A norma repressiva anterior

era demasiadamente severa, ao punir o instigador ou prestador de auxílio ao uso de

drogas com a mesma carga punitiva cominada ao traficante. (SILVA, p. 195.)

Por isso, com a Lei Antidrogas, os casos de instigação e de auxílio ao uso de drogas, que

não são frequentes ou, ao menos não são fáceis de serem identificados na prática judiciária,

terão um tratamento penal bem mais brando e mais justo.

4.3 Oferecimento de drogas para consumo em conjunto

Outra inovação de grande significado penal diz respeito ao crime de ―oferecer droga,

eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a

consumirem‖ (artigo 33, § 3°), punidos com pena de detenção, de seis meses a um ano, além da

pena de 700 a 1.500 dias-multa e ―sem prejuízo das penas previstas no artigo 28.” É preciso

reconhecer que houve um significativo abrandamento no controle penal desta conduta, antes

também incriminada como tráfico ilícito.

35

SILVA, Jorge Vicente. Tóxicos. Manual Prático. Curitiba: Juruá Editora, 2002, p. 195.

47

Mas, ao mesmo tempo, o novo preceito, incriminador veio acompanhado de uma

verdadeira cascata sancionatória. Para uma infração penal que, pela natureza e quantidade da

pena privativa de liberdade cominada, deve ser classificada como de menor potencial

ofensivo, o legislador realmente exagerou na dose do remédio punitivo. Assim sendo,

observado o disposto na parte sancionatória, deverá o juiz aplicar ao condenado por oferta de

droga, sem fim lucrativo e para consumo em conjunto, as penas detentiva e pecuniária ali

cominada e mais uma das outras três penas previstas no artigo 28. Sem dúvida, trata-se de um

exagerado e inócuo festival de pequenas penalidades.

O novo tipo penal é marcado por elementos normativos próprios. O objetivo é de

diferenciá-lo do tipo muito mais grave - mas muito próximo e de onde foi destacado, frise-se

— que o crime de tráfico ilícito de drogas. Assim, só não será considerado traficante quem

oferecer drogas:

a. de forma eventual, ou seja, ocasionalmente e não de forma reiterada;

b. sem objetivo de lucro, o que significa que a droga deve ser oferecida gratuitamente;

c. a um consumidor que seja pessoa amiga ou, ao menos, conhecido do agente, e

d. para consumo em conjunto, o que quer dizer que a droga deve ser ofertada para

consumo compartilhado.

Nas afirmações de Silva (2002, p. 201)36

:

Conforme já assinalado, se olharmos a nova norma pelo prisma meramente formal -

pelo simples olhar apenas das formas e das sombras normativas estereotipadas e

projetadas no fundo da caverna - pode-se dizer que o tipo em exame abrandou,

sensivelmente, o controle penal sobre uma conduta bastante comum no mundo das

drogas e consistente na prática do consumo conjunto de drogas entre pessoas amigas

ou entre si relacionadas. Ou seja, entre participantes — mesmo que eventuais — da

tribo do fumo, da coca ou do crake.

No regime penal anterior, a conduta era necessariamente (ou, ao menos, deveria

ser) enquadrada no caput do artigo 12 ou no inciso III, de seu § 2º, da Lei 6.368/76. Neste

sentido, decidiu o TJSC que ―comete o crime previsto no artigo 12 da Lei 6.368/76, quem,

voluntariamente, traz consigo substância entorpecente e fornece a terceiro, ainda que

gratuitamente‖.

Só a possibilidade, prevista na lei anterior, de reprimir o autor desta conduta que não

apresenta maior potencial de nocividade ou de ofensividade - como traficante, já é suficiente

para demonstrar o abrandamento da carga punitiva, em termos quantitativos, operado pela

36

SILVA, Jorge Vicente. Tóxicos. Manual Prático. Curitiba: Juruá Editora, 2002, p. 201.

48

nova lei em relação ao ofertante e companheiro condenado pelo crime de consumo

compartilhado de drogas.

No entanto, o Direito Penal precisa ser compreendido, também, pelo olhar

comprometido com o mundo da práxis e da realidade construída pela ação humana. E esta traz

consigo a marca inafastável da relatividade e da imperfeição das instituições humanas. Assim,

não se pode ignorar que, no regime anterior, boa parte dos casos de oferta e compartilhamento

de drogas entre pessoas e grupos amigos — a chamada roda de fumo - era tratada como de

porte para uso próprio.

Na jurisprudência, foi decidido que, em caso de dúvida quanto ao destino da

substância entorpecente encontrada com o agente — se para uso próprio ou para entrega a

terceiro - a imputação pelo crime de tráfico ilícito deve ser desclassificada para porte para uso

pessoal.

Se assim eram solucionados e não como de tráfico ilícito muitos dos casos de oferta de

drogas para consumo em conjunto e sem fins de lucro, cremos que a redução da carga

punitiva resultante da norma criadora deste novo tipo penal, embora válida e politicamente

mais adequada, pode não produzir tanta mudança, em relação à efetiva prática judiciária

anterior.

Ainda no entendimento de Silva37

(2002, p. 210):

Com a nova infração penal, a lei amplia sua rede repressora e incrimina, de forma

autônoma, a conduta bastante comum do uso compartilhado de drogas, conhecida no

jargão dos usuários ou dependentes como 'roda de fumo', 'roda de coca' ou 'roda de

crake'. Agora, é esperar para ver como será efetivado o comando contido no novo

tipo penal, em meio ao enorme número de casos de tráfico ilícito e de consumo

pessoal de drogas‖.

4.4 Causa de Aumento de Pena

Questão seguramente polêmica é a que diz respeito a causa de aumento, de um sexto a

dois terços, prevista no artigo 40 e seus incisos, da Lei Antidrogas. O dispositivo legal

determina a incidência do aumento, sem exceção, às ―penas previstas nos artigos 33 a 37 desta

37

SILVA, Jorge Vicente. Tóxicos. Manual Prático. Curitiba: Juruá Editora, 2002, p. 210.

49

Lei‖. São sete as circunstâncias majorantes, previstas nos incisos do referido artigo 40 e o

aumento deve incidir sobre a pena a ser aplicada.

Artigo 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um

sexto a dois terços, se: I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as

circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito; II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho

de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância; III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de

estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades

estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de

trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer

natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção

social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos; IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de

fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito

Federal; VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha,

por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e

determinação; VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

Literalmente interpretado o caput do artigo 40, não haveria dúvida quanto ao aumento,

que deve ser obrigatoriamente aplicado, no caso de condenação por qualquer dos crimes ali

indicados, desde que verificada, no caso concreto, a presença de uma das circunstâncias acima

descritas.

No entanto, cremos que a melhor interpretação é a de que nem todas as circunstâncias

majorantes são, compatíveis com todos os tipos penais descritos nos artigos 33 a 37 da Lei

Antidrogas. Por exemplo, como poderá haver incidência da circunstância de ter sido o crime

praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo etc., nas hipóteses típicas

de indução ao uso de drogas ou de oferta a pessoa amiga pare consumo em conjunto de

drogas, descritas nos §§ 2° e 3°, do artigo 33.

Por outro lado, a conduta de financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes

previstos nos artigos 33, caput e § 1°, e 34 da Lei Antidrogas, já constitui crime autônomo,

punido com pena de reclusão, de oito a 20 anos, e pagamento de 1.500 a 4.000 dias-multa

(artigo 36). Portanto, para estes crimes, a circunstância prevista no inciso VII, não poderia ser

aplicada sem ofensa ao princípio do non bis in idem.

Finalmente, é preciso assinalar a amplitude espacial da circunstância majorante

descrita no inciso III. São tantos os locais, estabelecimentos e entidades capazes de majorar a

pena, no caso de o crime ser praticado em suas imediações que, rigorosamente observada, é

possível sempre encontrar uma hipótese pare a incidência desta norma repressiva.

50

4.5 Substituição e conversão das penas

Visualiza-se ser perfeitamente possível a substituição da pena privativa de liberdade

por restritiva de direitos ou pecuniária, nos termos do estabelecido nos artigos 43 e seguintes

do CP. São crimes praticados sem violência e o máximo cominado às penas permite a

substituição. Não parece que o fato de a pena privativa de liberdade cominada estar

acompanhada de outra, de natureza pecuniária, deva ser considerado como óbice à referida

substituição.

Além disso, a Lei Antidrogas, que em alguns pontos procedimentais e de regime penal

é casuística e expressa, não estabelece qualquer dispositivo em contrário. Portanto, como

vinha ocorrendo no regime da lei anterior, pare estas infrações de menor ou médio potencial

ofensivo relacionadas ou periféricas ao consumo e ao tráfico de drogas, satisfeitas condições

legais, poderá o condenado ser beneficiado com a substituição da pena.

51

4.6 Procedimento Penal e Juizado Especial Criminal

A Lei Antidrogas não acertou ao indicar, de forma expressa e restritiva (artigo 48, §

1°), que somente o ―crime‘ de porte para consumo pessoal, previsto em seu artigo 28, ―será

processado e julgado na forma dos artigos 60 e seguintes da Lei n° 9.099, de 26 de setembro

de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais‖. Com tal dispositivo, poder-se-ia

pensar que os demais crimes de menor potencial ofensivo, tipificados na nova lei de drogas e

analisados acima, encontram-se fora da competência dessa jurisdição especializada.

Só parece ser este a melhor hermenêutica para identificar o sentido do direito contido

na norma em exame. Na verdade, teria sido mais adequado que a Lei Antidrogas tivesse

omitido qualquer referenda limitadora à competência dos Juizados Criminais. De qualquer

modo, é preciso ressaltar que não há, no texto da nova lei, nenhuma norma expressa proibindo

a competência dos Juizados para processar e julgar estes crimes situados na periferia do

tráfico ilícito de drogas, cuja pena máxima cominada não ultrapasse dois anos.

Assim sendo, entendemos que os crimes de oferta e de prescrição culposa de drogas

(artigos 33, § 3º e 38), cujas penas máximas não ultrapassam a dois anos de detenção e, em

consequência enquadram-se no conceito legal de crimes de menor potencial ofensivo, podem

ser objeto de processo e julgamento pelos Juizados Criminais Especiais.

4.7 A visão do Supremo Tribunal Federal

Uma das primeiras reflexões que vem a tona, com a análise do texto da chamada nova

Lei de Tóxicos, surge envolta em uma perplexidade, por sua dicção sibilina quanto à

afirmação de uma política repressiva penal de maior intensidade em relação ao tráfico de

drogas. Em consideração ao pensamento alusivo à problemática do consumo de drogas,

parece escorreito supor que o sistema penal deixa de ser o instrumental repressivo, mesmo

que ocorram algumas dificuldades conceituais para a apresentação desse novo caráter, como

flexibilização, descriminalização ou despenalização.

A indução, instigação e o auxílio ao uso indevido de drogas também são

recepcionados como crimes, com reprimenda de 01 a 03 anos de detenção e multa de 100 a

52

300 dias-multa (artigo 33, § 2º, Lei 11.343/2006). O crime de consumo consensual

compartilhado surge para mitigar possível excesso do artigo 12 da lei antiga, sendo uma nova

figura penal, com penas previstas entre 06 meses a 01 ano de detenção e 700 a 1.500 dias-

multa (artigo 33, § 3°).

Não houve efetivamente com a novel lei o fenômeno do abolitio criminis, todavia, a

percepção de que a lei nova traz um tratamento mais benéfico aos agentes que estejam

vinculados aos crimes previstos no artigo 12, caput e § 1°, incisos I e II e § 2°, inciso II

(exclusivamente no que tange a utilização do local para o tráfico), Lei 6.368/76, surge como

inexorável conclusão, pela correspondência e identidade de previsões típicas do sobredito

dispositivo da lei anterior com o artigo 33, caput, § 1°, incisos I, II e III, Lei 11.343/2006.

A 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal cuidou do assunto no dia 13 de fevereiro de

2007, ao apreciar o Recurso Extraordinário 430105/Q0/RJ, de que foi relator o Ministro

Sepúlveda Pertence, e se posicionou em conformidade com nosso entendimento:

Turma, resolvendo questão de ordem no sentido de que o artigo 28 da Lei

11.343/2006 (Nova Lei de Tóxicos) não implicou abolitio criminis do delito de

posse de drogas para consumo pessoal, então previsto no artigo 16 da Lei 6.368/76,

julgou prejudicado recurso extraordinário em que o Ministério Pùblico do Estado do

Rio de Janeiro alegava a incompetência dos juizados especiais para processar e

julgar conduta capitulada no artigo 16 da Lei 6.368/76. Considerou-se que a

condutas antes descritas neste artigo continua sendo crime sob a égide da nova lei,

tendo ocorrido, isto sim, uma despenalização, cuja característica marcante seria a

exclusão de penas privativas de liberdade como sanção principal ou substitutiva da

infração penal. 38

Afastou-se, também, o entendimento de parte da doutrina de que o fato, agora,

constituir-se-ia infração penal sui generis, pois esta posição acarretaria sérias consequencias,

tais como a impossibilidade de a conduta ser enquadrada como ato infracional, já que não

seriam crime nem contravenção penal, e a dificuldade na definição de seu regime jurídico.

Ademais, rejeitou-se o argumento de que o artigo 10 do DL 3.914141 (Lei de Introdução ao

Código Penal e a Lei de Contravenções Penais) seria óbice a que a novel lei criasse crime sem

a imposição de pena de reclusão ou de detenção uma vez que esse dispositivo apenas

estabelece critério para a distinção entre crime e contravenção, o que não impediria que lei

ordinária superveniente adotasse outros requisitos gerais de diferenciação ou escolhesse para

determinado delito pena diversa da privação ou restrição da liberdade. Aduziu-se ainda que,

embora os termos da Nova Lei de Tóxicos não sejam inequívocos, não se poderia partir da

38

STF, 1ª Turma, RE 430105 QO/RJ, Relator Min. Sepúlveda Pertence, 13.2.2007. Informativo n.º 456. Brasília,

12 a 23 de fevereiro de 2007.

53

premissa de mero equívoco na colocação das infrações relativas ao usuário em capítulo

chamado ‗Dos Crimes e das Penas‘.

Por outro lado, salientou-se a previsão, como regra geral, do rito processual

estabelecido pela Lei 9.099/95. Por fim, tendo em conta que o artigo 30 da Lei 11.343/2006

fixou em 2 anos o prazo de prescrição da pretensão punitiva e que transcorrera tempo superior

a esse período, sem qualquer causa interruptiva da prescrição, foi reconhecida a extinção da

punibilidade do fato e, em consequência, concluiu-se pela perda de objeto do recurso

extraordinário.

54

5 LEVANTAMENTO ESTATÍSTICO SOBRE O USO DE

DROGAS

O Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas (OBID) foi lançado em 2002,

durante a Semana Nacional Antidrogas.

O projeto foi desenvolvido pela Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas, com

apoio financeiro do Ministério da Saúde, tendo por objetivo de reunir e coordenar o

conhecimento disponível sobre drogas para fundamentar o desenvolvimento de programas e

intervenções dirigidas à redução de demanda e oferta de drogas.

Em 2005, o texto da nova Política Nacional sobre Drogas incluiu em seus objetivos a

necessidade de manutenção e atualização do OBID tendo em vista a importância do

Observatório para o Sistema Nacional de Políticas sobre Drogas.

No ano seguinte, por meio do Decreto 5.912 de 2006 que regulamentou a nova Lei

sobre Drogas, foram estabelecidas as diretrizes para gestão da informação pelo OBID.

Estima-se que 200 milhões de pessoas no mundo façam uso de alguma substância

ilícita, dentre as quais cerca de 25 milhões poderiam ser consideradas como ―usuários

problemáticos de drogas‖39

(UNODC, 2007). Segundo dados do relatório mundial sobre

drogas do Escritório das Nações Unidas sobre Controle de Drogas e Crime, as drogas ilícitas

mais usadas no mundo são a maconha (com cerca de 160 milhões de usuários), os

estimulantes tipo anfetamina (com cerca de 34 milhões de usuários), os opióides (com cerca

de 16 milhões de usuários) e a cocaína (com cerca de 14 milhões de usuários).

No Brasil, 22,8% da população geral relatou uso na vida de qualquer droga psicoativa

em levantamento domiciliar realizado em 200540

(Carlini et al., 2007). Dentre essas

substâncias, as de maior prevalência de uso na vida foram a maconha (relatada por 8,8% dos

entrevistados), solventes (6,1%), benzodiazepínicos (5,6%), orexígenos (4,1%), estimulantes

(3,2%) e cocaína (2,9%).

O abuso de substâncias psicoativas é um problema de saúde pública de grande

relevância para as universidades.

39

I Levantamento Nacional sobre o uso de ácool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais

brasileira. OBID, 2010. Disponível em< http://www.grea.org.br/I_levantamento/I_levantamento_nacional.pdf>

Acesso em: 28 set. 2010. 40

Idem.

55

No Brasil, embora haja alguns estudos que procuraram avaliar a prevalência de uso de

substâncias entre universitários, eles variam muito em termos de metodologia, populações ou

substâncias estudadas, o que dificulta sua comparação. Algumas iniciativas, como por

exemplo, os estudos sobre consumo de drogas entre estudantes de graduação da Universidade

de São Paulo puderam gerar comparação e análise de tendências de consumo de substâncias,

mas não há no País um levantamento desse tipo com abrangência nacional.

Existem evidências de que ocorrem diferenças regionais importantes no consumo de

drogas. O conhecimento mais aprofundado do padrão de consumo de drogas por parte dos

estudantes de nível superior no Brasil é importante para que sejam planejadas estratégias de

prevenção e políticas públicas adequadas, como respostas frente a um problema de potencial

relevância. Também deve ser lembrado o papel estratégico das universidades como centros

geradores de conhecimento e formação de líderes. Assim, pode ser considerado que ações

preventivas que resultem numa mudança de padrões de uso de substâncias psicoativas entre

universitários podem se generalizar e trazer benefícios para toda a sociedade.

Sob a responsabilidade da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o Centro

Brasileiro de Informação sobre drogas (CEBRID) realizou um levantamento sobre a

prevalência do uso de drogas entre os universitários brasileiros.

Segundo o OBID, a importância do levantamento foi bem compreendida e recebeu

adesão do corpo diretivo de 100 Instituições de Ensino Superior (IES), públicas e privadas,

das 27 capitais brasileiras. Participaram da pesquisa quase 18 mil estudantes universitários

regularmente matriculados no ano letivo de 2009.

Dentre os objetivos da pesquisa se destacaram:

a) estimar a prevalência do uso de drogas, medicamentos psicotrópicos,

esteróides/anabolizantes e orexigenos;

b) estimar o número de universitários dependentes de drogas.

c) percepção dos universitários sobre: facilidades em se conseguir drogas, tráfico de

drogas, universitários sob efeito de drogas e riscos graves de se usar certas drogas;

d) verificar número de universitários que se submeteram a tratamentos pelo uso de

drogas.

e) complicações decorrentes do abuso de drogas.

O instrumento de pesquisa, constituído por 98 questões fechadas, foi estruturado com

a proposta de conhecer o perfil e o estilo de vida universitário brasileiro, com ênfase sobre o

uso de drogas e seus transtornos, comportamentos de risco e existência de comorbidades

psiquiátricas, como sintomas depressivos, persecutórios e de sofrimento psicológico.

56

Nesta seção será apresentado a seguir o resultado da pesquisa realizada pelo CEBRID

da utilização de substâncias psicoativas pelos estudantes universitários brasileiros.

Apesar dos quadros apresentados a seguir constar dados sobre o consumo de álcool e

tabaco, as estatísticas dessas drogas não serão mencionadas, por não serem objetos do

presente trabalho.

5.1 Substâncias psicoativas: uso na vida, nos últimos 12 meses e nos

últimos 30 dias

Quase metade dos universitários (48,7%) relatou já ter consumido alguma substância

psicoativa pelo menos uma vez na vida, sendo que pouco mais de um terço deles (35,8%) nos

últimos 12 meses e cerca de um quarto (25,9%) nos últimos 30 dias.

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados

_Estatisticos/Estudantes/328293.pdf, p. 56

Tabela 1: Prevalência de uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos

30 dias de substâncias psicoativas entre os universitários.

Na análise da tabela 1, conclui-se que as drogas relatadas com maior freqüência foram:

57

a) em relação ao uso na vida: maconha (26,1%) / inalantes e solventes (20,4%),

anfetamínicos (13,8%);

b) nos últimos 12 meses: maconha (13,8%) / anfetamínicos (10,5%) e tranqüilizantes

e ansiolíticos (8,4%);

c) nos últimos 30 dias: maconha (9,1%) / anfetamínicos (8,7%) e tranqüilizantes e

ansiolíticos (5,8%).

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados

_Estatisticos/Estudantes/328293.pdf, p. 58

Tabela 2: Prevalência de uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30

dias de substâncias psicoativas, conforme o gênero dos universitários.

Diferenças aparentes do uso de substâncias psicoativas foram observadas conforme o

gênero do universitário. Os universitários do sexo masculino consumiram mais substâncias

ilícitas, na vida, que as mulheres. No entanto, essa diferença não parece existir para as

medidas de uso nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias, conforme a Tabela 2:

Entre os homens e as mulheres, as drogas relatada com maior freqüência foram:

a) uso na vida:

- homens: maconha (34,5%), inalantes (25,5%) e cloridrato de cocaína (11,3%);

- mulheres: maconha (19,9%), anfetamínicos (18,01%) e inalantes (16,6%)

58

b) uso nos últimos 12 meses

- homens: maconha (19,8%), inalantes (9,1%) e alucinógenos (6%);

- mulheres: anfetamínicos (14,1%), tranquilizantes e ansiolíticos (10,3%) e maconha

(9,2%).

c) uso nos últimos 30 dias:

- homens: maconha (13,0%), anfetamínicos (4,4%) e inalantes (3,6%);

- mulheres: anfetamínicos (11,7%), tranqüilizantes e ansiolíticos (7,4%) e maconha

(6,1%).

Comparados ambos os gêneros, particularidades de consumo podem ser identificadas.

Os homens usam mais maconha, inalantes, cloridrato de cocaína, alucinógenos, ecstasy e

esteróides anabolizantes e as mulheres consomem mais anfetamínicos, tranqüilizantes e

analgésicos opiáceos, para todas as medida de uso.

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados

_Estatisticos/Estudantes/328293.pdf, p. 59

Tabela 3: Prevalência de uso na vida de substâncias psicoativas,

conforme a faixa etária dos universitários.

A freqüência de uso de substâncias ilícitas aumentou com a idade do universitário,

tendo sido maior para os universitários de idade acima de 35 anos, para todas as medidas de

uso. Analisado o perfil de uso de cada uma das substâncias, o consumo tende a ser maior entre

59

os estudantes de faixas etárias intermediárias (18 a 24 anos e 25 a 34 anos), de acordo com a

Tabela 3.

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados

_Estatisticos/Estudantes/328293.pdf, p. 62

Tabela 4: Prevalência de uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos

30 dias de substâncias psicoativas, conforme o tipo de IES.

O uso de substâncias ilícitas é mais frequente entre os universitários das instituições

privada. A maconha é a substância psicoativa mais frequentemente consumida pelos

estudantes das instituições públicas e pelos universitários das instituições privadas. Os

inalantes ocupam a segunda posição para as medidas de uso na vida e nos últimos 12 meses,

para ambos os tipos de Instituições de Ensino Superior - IES, sendo substituídos pelos

tranquilizantes (nas instituições públicas) e pelos anfetamínicos (nas instituições privadas)

para a medida de uso nos últimos 30 dias, conforme ilustra a Tabela 4.

60

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados

_Estatisticos/Estudantes/328293.pdf, p. 63

Tabela 5: Prevalência de uso na vida de substâncias psicoativas,

conforme a Região Administrativa.

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados

_Estatisticos/Estudantes/328293.pdf, p. 64

Tabela 6: Prevalência de uso nos últimos 12 meses de substâncias

psicoativas, conforme a Região Administrativa.

61

É notável o maior uso de anfetamínicos, alucinógenos, ecstasy, tranquilizantes e

analgésicos opiáceos entre os universitários da rede privada de ensino.

Diferenças com relação à ordem das drogas consumidas com maior frequência podem

ser identificadas conforme a região do País.

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados

_Estatisticos/Estudantes/328293.pdf, p. 65

Tabela 7: Prevalência de uso nos últimos 30 dias de substâncias

psicoativas, conforme a Região Administrativa.

O relato de consumo de qualquer substância psicoativa é mais freqüente nas regiões

Sul e Sudeste, menos frequente nas regiões Norte e Nordeste, com a região Centro-Oeste

ocupando uma posição intermediária. A maconha é a substância mencionada com mais

frequência (para todas as medida de uso), tendo sido superada pelos inalantes na região

Nordeste (para o uso na vida e nos últimos 12 meses) e pelos anfetamínicos na região Sudeste

(para o uso nos últimos 30 dias), de acordo com as Tabelas 7, 8 e 9.

62

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados

_Estatisticos/Estudantes/328293.pdf, p. 66

Tabela 8: Prevalência de uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias

de substâncias psicoativas, conforme a área de estudos.

A frequência do uso de substâncias ilícitas é maior entre os universitários das

Humanas, para as três medidas de uso pesquisadas (uso na vida, nos últimos 12 meses e nos

últimos 30 dias). Entre os estudantes da área de Biológicas, o uso de anfetamínicos ultrapassa

o uso de maconha para as medidas de uso nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias. Já entre

os universitários de Ciências Exatas, o uso de maconha (na vida, nos últimos 12 meses e nos

últimos 30 dias) é relativamente mais frequente que os demais tipos de substâncias. Entre os

estudantes das Ciências Humanas, o consumo de maconha é o mais frequente (para todas as

medidas de uso) e aproximado ao uso de anfetamínicos para as medidas de uso nos últimos 12

meses e nos últimos 30 dias, pela análise feita da Tabela 8.

63

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos

Dados_Estatisticos/Estudantes/328293.pdf, p. 67

Tabela 9: Prevalência de uso na vida de substâncias psicoativas,

conforme o período de estudos.

Pode ser observada uma maior frequência de uso de substâncias ilícitas na vida

entre os estudantes do período noturno, seguidos pelos do período matutino. A maconha é a

substância mais frequentemente usada pelos universitários de todos os períodos de estudo

(integral, matutino, vespertino e noturno), de acordo com a Tabela 9.

Para o uso na vida, a maconha e os inalantes foram as substâncias mais consumidas.

Considerando-se a média da idade de início de uso de cada uma das substâncias

psicoativas, os xaropes à base de codeína, sedativos/barbitúricos, produtos de tabaco e

inalantes foram as drogas usadas mais precocemente na vida (em ordem crescente de idade).

Em contraposição, tranqüilizantes/ansiolíticos, anfetamínicos, chá de ayhauasca, crack e

analgésicos opiáceos foram as cinco substâncias cujo uso iniciou mais tardiamente na vida

(em ordem decrescente de idade).

64

Fonte: http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados

_Estatisticos/Estudantes/328293.pdf, p. 70

Tabela 10: Idade de início do uso de drogas distribuído conforme a

substância psicoativa e o gênero do universitário.

Os homens tendem a iniciar o uso de drogas mais precocemente que as mulheres,

exceto em relação ao uso de alucinógenos e esteróides anabolizantes, em que homens e

mulheres iniciaram o uso em época semelhante. A iniciação do uso de ecstasy,

sedativos/barbitúricos e xaropes à base de cocaína foi mais precoce entre as mulheres. Aqui,

acredita-se que, para o uso de xaropes à base de codeína tenha havido um equívoco entre as

mulheres quanto ao uso terapêutico e ilícito da substância, uma vez que registrou-se como 5,2

a idade média de início entre elas, conforme Tabela 10 acima ilustrada.

5.2 Evolução de ocorrências com entorpecentes no Estado de São Paulo

Em recente pesquisa ao site da Secretaria de Segurança Pública do estado de São

Paulo foi colhida estatística que comprova que houve um significativo aumento de

ocorrências com entorpecentes após a entrada em vigor da nova lei de antidrogas, conforme

os quadros abaixo:

65

Fonte: http://www.ssp.sp.gov.br/estatistica/downloads/apresentacao2008.pdf

Figura 1. estatística de ocorrências com entorpecentes no Estado de São Paulo

Fonte: http://www.ssp.sp.gov.br/estatistica/downloads/apresentacao2008.pdf

Figura 2. estatística de ocorrências com entorpecentes no Estado de São Paulo

A estatística de combate ao tráfico de entorpecentes representa um significativo

aumento das apreensões de drogas e ainda aponta que, a certeza da impunidade após a entrada

em vigor da lei 11343/06, proporcionou ao traficante, campo fértil para ganhos ainda maiores

e por sua vez a proliferação do trafico e do uso de entorpecentes.

66

O número de apreensões de drogas e a quantidade de entorpecentes apreendidos

crescem continuamente, conforme se verifica nos gráficos acima, da (SSP/SP). Analisando os

gráficos vê-se que em comparação a 2007, o número aumentou 6,9%. Desde 1999, cresceu

105,6%. O crescimento significa a ineficiência da nova lei, pois é evidente o aumento de

106% com relação a 1999 e 34% com relação a 2006, tendo por base o ano de 2008, só pode

haver uma explicação, e não há outra, senão a entrada em vigor da nova lei.

5.3 Principais conclusões

Da análise feita pelos dados colhidos no I Levantamento Nacional sobre o uso de

drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras, a conclusão a que se chega é que:

•48,7% dos universitários relataram ter feito, na vida, uso de substâncias ilícitas. A

maconha foi a substância mais frequentemente consumida, seguida pelos anfetamínicos,

tranquilizantes, inalantes e alucinógenos, especialmente se considerado o uso mais recente

(uso nos últimos 12 meses e uso nos últimos 30 dias);

•O uso de substâncias ilícitas (geral) é maior entre os universitários das regiões Sul e

Sudeste, de instituições privadas, da área de Humanas, do período noturno e por universitários

com idade acima dos 35 anos. Não foi observada a interferência de gênero sobre o uso geral

de drogas. Particularidades de uso foram identificadas entre as regiões, o tipo de instituição, o

gênero do universitário e sua faixa etária;

•A maconha, os anfetamínicos e os tranqüilizantes foram as substâncias com uso de

maior risco. Interferências da região, tipo de instituição, área e período de estudos e gênero do

universitário foram observadas;

Acredita-se que os dados apresentados possam contribuir para uma abordagem mais

efetiva do uso de drogas por universitários. O melhor conhecimento do problema, incluindo a

natureza das substâncias mais consumidas, as que mais se associam a padrões de uso nocivo

ou mesmo dependência, bem como as diferenças de padrão nos vários subgrupos, permitirá o

planejamento de intervenções mais específicas para cada tipo de problema e com maiores

probabilidades de sucesso.41

41

Informações extraídas do I Levantamento Nacional sobre o uso de drogas entre universitários das

27 capitais brasileiras. Site:http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Dados_

Estatísticos/Estudantes/328293.pdf.

67

6 DAS POLÍTICAS AOS USUÁRIOS DE DROGAS

6.1 Políticas de atenção a pessoas usuárias de drogas e modelos

preventivos de atenção adotados no Brasil.

No Brasil, as ações contra o uso de drogas não é algo novo e, ao longo de sua

existência, nota-se claramente uma divisão, pois, por um lado existem aspectos repressivos, os

quais consideram inapropriada a utilização de certas substâncias, ao passo que, são

evidenciados outros aspectos que, muitas vezes de forma totalmente explícita, incentivam o

consumo de outras substâncias, tais como bebidas alcoólicas, fumo e alguns medicamentos.

A política atual adotada com relação às pessoas usuárias de álcool ou outras drogas é

baseada em ações que visam o enaltecimento à saúde e a prevenção e esclarecimentos quanto

ao uso dessas substâncias, sendo que, em tal política é notória a necessidade de

implementação de novas estratégias que visem ações mais diretas com relação aos

consumidores de tais substâncias e seus familiares.

Outra deficiência apresentada em tal política é a existência da discriminação da pessoa

consumidora dessas substâncias e a dificuldade de acesso aos tratamentos apropriados, bem

como o relacionamento do uso de drogas com a criminalidade, sendo que tais aspectos são

uma conseqüência da falta de informação, preparo e capacitação das pessoas envolvidas com

esse problema, o que gera situações de discriminação e desigualdade social dos dependentes,

ou seja, gera a sua exclusão da sociedade.

Além da restrição de acesso aos tratamentos apropriados e da falta de capacitação das

pessoas envolvidas que, num primeiro momento, seriam interessadas em tentar resolver o

problema, existe a estigmatização dos dependentes como doentes, viciados, ―nóias‖,

marginais, delinqüentes, etc, o que, para a sociedade, é entendido como um desvio social,

como um ato criminoso, sendo certo que a melhor medida a ser tomada é a privação da

liberdade do dependente e o conseqüente expurgo do mesmo da sociedade, o que constitui um

modelo repressivo de combate às drogas, conhecido como modelo jurídico-moral, que coloca

em primeiro lugar o uso da substância e em segundo lugar o usuário da mesma. Porém, tal

modelo não tem sido revestido de sucesso, visto que o consumo de drogas está em uma fase

ascendente.

68

Um segundo modelo existente é o modelo médico, o qual também visa à eliminação

do consumo de drogas, porém o encarando como um elemento propagador de doenças e não

uma ação criminosa, de forma a ligar o uso dessas substâncias Às ações que causam no

sistema nervoso central dos usuários e às intoxicações que elas provocam no organismo das

pessoas.

O terceiro modelo é o psicossocial, o qual associa o consumo de drogas aos conflitos

existenciais e ao histórico de vida de cada pessoa, sendo encarado como a maneira que o

indivíduo encontra para encarar os problemas de sua vida e, da mesma forma que o modelo

médico, aponta como solução a adoção de medidas terapêuticas.

O último modelo é o sócio cultural, que considera o uso drogas uma prática histórica

das sociedades e que, de acordo com os parâmetros existentes em cada sociedade, ele pode ser

melhor ou pior aceito.

No Brasil, a aplicação desses modelos não ocorre de forma a haver a escolha exclusiva

por um ou por outro, há sim uma mesclagem entre eles, o que denota claramente que as

explicações e ações propostas por eles não são totalmente eficientes, pois, o problema

encontrado é bastante complexo, fazendo-se necessária a atuação conjunta de vários setores

da sociedade, de forma a se convergir para uma estratégia de atuação eficiente, entendendo o

uso de drogas como uma problema mais social e de saúde pública do que criminal, porém,

não se excluindo por completo essa último aspecto.

Diversos países do mundo vêm adotando ações de Redução de Danos, ações essas que

consistem em uma estratégia de saúde pública, que tem por objetivo diminuir os problemas

causados pelo uso indiscriminado de drogas (lícitas e ilícitas), utilizando o próprio usuário, o

qual terá um papel auto-regulador, onde não será provocada a abstinência imediata, mas sim a

ressocialização do indivíduo e a recusa gradual ao uso das drogas, sendo que tal estratégia

ampara-se em princípios democráticos, de cidadania e de direitos humanos e de saúde, ou

seja, está alicerçada em um método que utiliza ações clínicas, terapêuticas e políticas para

atuar.

Um aspecto importante desse modelo de Redução de Danos é a possibilidade do

indivíduo consumidor de drogas tornar-se beneficiário das políticas sociais e de saúde

existentes, frente ao reconhecimento de sua condição, e não pelos rótulos que lhe são

atribuídos, sendo que as ações que serão adotadas devem contemplar as particularidades dos

indivíduos e de seus grupos sociais.

69

6.2 Desassistência ao dependente químico

A lei nº 11.343/2006, que estabelece novo arcabouço jurídico para lidar com o usuário

de substâncias ilícitas é cheia de boas intenções,mas trouxe poucos avanços, dentre eles a

despenalização do usuário e maiores penas para os traficantes. No entantoa realidade dos

milhões de brasileiros que usam álcool e drogas e necessitam de ajuda é outra.

A política do Ministério da Saúde para prevenção e tratamento dos dependentes

químicos tem sido de omissão e desorientação. Na prevenção, não é possível encontrar

nenhum programa financiado pelo governo federal que inove e traga alguma expectativa para

a família brasileira, como programas preventivos nas escolas, programas de apoio ao

adolescente em situação de risco, programas de apoio às famílias que tenham alguém com

problemas com álcool e drogas.

Indivíduos e instituições tentam os mais variados programas que eventualmente teriam

efeito preventivo, mas que muitas vezes pela falta de dinheiro, não são dado continuidade. É

preciso direção e fonte constante de financiamento. Os poucos programas de prevenção que

existem, financiados pelo Ministério da Saúde, adotam a política de redução de danos.

Dados do próprio SUS, compilados pela Associação Brasileira de Psiquiatria, mostram

que o dinheiro para a saúde mental, no geral, diminuiu em 60% do orçamento da saúde. Essa

economia ocorreu porque fechamos 80 mil leitos psiquiátricos e restam somente 40 mil leitos

abertos, que são muito mal remunerados e oferecem uma assistência de péssima qualidade

para a população. Temos menos leitos psiquiátricos do que países como a Itália, que

promoveram verdadeira guerra contra a internação para o doente mental42

.

Não houve a apropriada ampliação da rede de assistência psiquiátrica ao dependente

químico. Foram criados em todo o país cerca de 80 centros de tratamento, a maioria deles

com profissionais com pouco treinamento e baixo número de atendimentos.

A única possibilidade de tratamento por internação são as comunidades terapêuticas

que não recebem dinheiro do SUS.

O Estado não leva em conta que as pessoas que ficam dependentes de alguma

substância padecem de uma doença chamada dependência química.

42

LARANJEIRA, Ronaldo. Doutor em psiquiatria pela Universidade de Londres. Professor de psiquiatria e

coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Folha de São Paulo - Tendências/Debates. Sexta-feira, 03 de novembro de 2006, p. 3.

70

Para uma resposta de uma sociedade democrática e amadurecida, se precisa: 1) de um

Ministério da Saúde com compromisso com a saúde pública na área de álcool e drogas; 2) de

um plano preventivo de longo prazo com fonte clara de financiamento compatível com a

dimensão do problema; 3) que as ações preventivas sejam baseadas em evidências científicas,

e não na visão ideológica do ministério; e 4) que seja um direito de toda família brasileira que

tenha algum dependente químico receber as melhores orientações e tratamento disponível.43

6.3 Drogas: um problema social, e não criminal

―A ‗droga‘ constitui hoje, certamente, um dos mais delicados problemas de saúde

pública‖, na concepção do Psiquiatra Carlos Mota Cardoso44

(2001, p. 11).

Na IV Conferência Nacional de Saúde Mental45

realizado no Centro de Eventos

Ulisses Guimarães, em Brasília, onde os participantes da mesa ressaltaram a importância do

contato dos agentes de saúde com os dependentes químicos, contou com o depoimento da

médica Ana Cecília Marques, coordenadora do CAPS Praça da Sé em São Paulo.

Popularmente conhecido como Cracolândia, hoje denominada como ―Nova Luz‖, a região foi

a primeira do país a apresentar os problemas relacionados ao consumo de crack.

A polícia tem que cuidar do traficante e os especialistas cuidarem dos usuários, pois

são estes quem têm o treinamento e o método correto de abordagem. O Brasil é o primeiro

país a encarar o crack como um problema de saúde pública e a expertise brasileira nesse

tratamento será um modelo para exportação. Para a Dr.ª Ana Cecília Marques (1997) ―O

crack é uma novidade e todos os agentes envolvidos com essa população precisam estar

capacitados para o atendimento: ONGs, Polícia, escolas, Ministério Público e famílias‖.46

43

LARANJEIRA, Ronaldo. Doutor em psiquiatria pela Universidade de Londres. Professor de psiquiatria e

coordenador da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Folha de São Paulo - Tendências/Debates. Sexta-feira, 03 de novembro de 2006, p. 3. 44

CARDOSO, Carlos Mota. Psiquiatra Professor Convidado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da

Educação da Universidade do Porto. “Droga” Um problema de saúde pública. Vol III, n. 4, jul/ago, 2001, p.

11. Disponível em<http://repositorio- aberto.up.pt/bitstream/10216/6886/2/Droga%20um% 20problema%

20de%20sade%20pblica.pdf> Acesso em: 25 ago. 2010. 45

IV CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL, 27 a 30 jun 2010, Brasília. “Saúde Mental direito

e compromisso de todos: consolidar avanços e enfrentar desafios”. Ministério da Saúde. Disponível em:

http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1663 Acesso em: 28 set. 2010. 46

Idem. Ibidem. 2010.

71

Segundo o deputado paulista Paulo Teixeira 47

―a droga precisa sair da esfera criminal

para ser tratamento e educação. Precisa sair do Direito Criminal para o Direito Civil‖.

O psiquiatra Marcelo Kimati48

(2010) defende que as ações não podem ser exclusivas

para o crack, devendo incluir o álcool. Destaca ainda que a histórica brasileira no combate às

drogas começa a ser preenchida com a Política Nacional no campo assistencial, implementada

a partir de 2003. ―Apesar de ainda haver muito a ser feito, são inegáveis os avanços e não

podemos tentar resgatar modelos superados‖, defende Marcelo se referindo aos avanços na

luta antimanicomial.

Karina Fleury, representante do Ministério Público do Rio de Janeiro, demonstrou que

é preciso ―níveis diferentes de intervenção para diferentes casos. Não são o juiz e o promotor

que devem dizer o que fazer, e sim os especialistas, médicos, assistentes sociais, Agentes

Comunitários de Saúde etc.‖, apontando para planos de ação diferentes para adultos, crianças

e adolecentes. Não são necessárias novas leis, mas uma aplicação qualificada da lei,

garantindo os direitos individuais para que não haja a cobrança jurídica.49

O uso de drogas ilícitas no Brasil é crescente. O progressivo aumento da criminalidade

tem sido imputado aos usuários de drogas psicoativas (SPA). Estudo mostra que ser usuário

ou dependente de substâncias psicoativas não se mostrou determinante na prática de crimes. O

comportamento criminoso é prevalente em consumidores de drogas portadores de Transtorno

de Personalidade Antissocial.

É o que revela dissertação de mestrado orientada pela professora Renata Cruz Soares

de Azevedo e apresentada à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp pela

psiquiatra Karina Diniz Oliveira. A pesquisa foi realizada com 183 pessoas maiores de 18

anos usuários ou dependentes de substâncias psicoativas que iniciaram acompanhamento em

dois dos serviços de referência no tratamento de dependentes químicos de Campinas: o Centro

de Atenção Psicossocial (CAPS-AD) Independência e o Ambulatório de Substâncias

Psicoativas (ASPA) do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp.50

Segundo Karina Diniz Oliveira (2010), delitos foram cometidos por 40% da população

pesquisada, sendo que 28% de indivíduos apresentam Transtorno de Personalidade

47

Idem. Ibidem. 2010. 48

IV CONFERÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL, 27 a 30 jun 2010, Brasília. “Saúde Mental direito

e compromisso de todos: consolidar avanços e enfrentar desafios”. Ministério da Saúde. Disponível em:

http://portal.saude.gov.br/portal/saude/area.cfm?id_area=1663 Acesso em: 28 set. 2010. 49

Idem. Ibidem. 2010. 50

OLIVEIRA, Karina Diniz. Dissertação: “Perfil sócio-demográfico, padrão de consumo e comportamento

criminoso em usuários de substâncias psicoativas que iniciaram tratamento”. Faculdade de Ciências

Médicas (FCM). 2010. Disponível em:

http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2010/ju475_pag07.php> Acesso em: 28 set. 2010.

72

Antissocial. Os principais crimes cometidos envolvem lesão corporal, homicídio, furto e

roubo, com antecedentes de uso de solventes, sem religião, com poliuso e dependência a

múltiplas substâncias psicoativas, principalmente ilícitas.

Embora cerca de 40% desses indivíduos exibam comportamento criminoso, essas

taxas são bastante diferentes quando considerados separadamente usuários de drogas lícitas e

ilícitas, mudando mais quando se leva em consideração a presença de Transtorno de

Personalidade Antissocial. Na população em geral, a taxa de indivíduos portadores desse

transtorno é de 3% e entres os usuários de drogas chega a 27%, o que evidencia o significado

da presença desse transtorno no comportamento criminoso.

O usuário de drogas ilícitas está em contato com a criminalidade do narcotráfico, o

que o aproxima do crime, os efeitos psicoativos das substâncias ingeridas diminuem o medo e

podem levar a atos que ele normalmente não cometeria, a necessidade intensa pela droga o

leva a desconsiderar valores adquiridos de tal forma que mesmo indivíduos criados em

famílias que lhe permitem introjetar valores conseguem se afastar de certos comportamentos.

A professora Renata Cruz Soares de Azevedo51

(AZEVEDO apud GALLO NETO,

2010) destaca que ―tratam-se de pessoas que são presas e julgadas‖, e defende também ―a

conexão da área médica com muitos outros segmentos porque as respostas médicas resvalam,

além do jurídico, em questões sociais, antropológicas, entre outras e o estabelecimento dessas

pontes é fundamental para sair do lugar comum e refletir sobre novas formas de

enfrentamento do tema‖.

Foi confirmado que a que a droga age como o elemento ativador de uma tendência

comportamental criminosa em uma pessoa que desconsidera o crime, conforme estudo

realizado por Karina Diniz Oliveira. Ela lembra que 85% dos que apresentam esse transtorno

antissocial cometeram crimes, taxa que cai para 15% entre os que não o tem. E os crimes

destes últimos apresentam menor potencial ofensivo e geralmente estão relacionados a furtos.

As pesquisadoras contam que geralmente o dependente de drogas procura o tratamento

quando adquire a percepção dos prejuízos que lhe traz a dependência. Antes disso, ele cede à

compulsão do prazer. Elas constatam que, quando ele se decide pelo tratamento, deve

encontrar as portas escancaradas para atendê-lo porque talvez, depois, não encontre outro

momento de resistência. E muitas vezes isso ocorre devido à demora no atendimento, no

alongamento do prazo para consulta.

51

GALLO NETTO, Carmo. Uso de drogas não é determinante na prática de crimes, aponta dissertação. Jornal

da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas / ASCOM - Assessoria de Comunicação e Imprensa.

Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/setembro2010/ju475pdf/Pag07.pdf> Acesso

em: 28 set. 2010

73

Uma das razões que faz o dependente procurar o atendimento é a perda de tudo, da

família, do emprego e o tratamento constitui alguma coisa a que se possa vincular. Muitos são

trazidos pela família porque estão em uma situação crítica e nesses casos não existe apenas

um desejo, mas circunstâncias decorrentes da droga que se tornaram insustentáveis.

Com base no universo estudado, Karina Diniz de Oliveira afirma que geralmente a

dependência se iniciou com álcool e tabaco, passou pelo solvente e maconha e chegou à

cocaína e dela ao crack, devido ao preço e à facilidade de encontrar. Embora não tenha feito

parte de seu trabalho, ela lembra que hoje ocorre a passagem direta para o crack.

74

6.4 Política de Drogas, Cultura do controle e Propostas Alternativas

Em quase um século de proibição não se diminuiu os riscos à saúde dos usuários, pelo

contrário, esses se agravaram.

Dados estatísticos das Nações Unidas revelam que a política proibicionista, além de

não ter conseguido ―proteger‖ a saúde pública, serviu de fator agravante na panepidemia da

AIDS, diante do alto número de usuários de drogas injetáveis que foram contaminados em

decorrência do compartilhamento de seringas, por fazerem uso da droga na clandestinidade.

Esse ―fracasso‖ ocorreu tanto nos países ricos, que possuem toda a estrutura necessária,

inclusive financeira, tanto de repressão quanto de saúde, quanto nos menos desenvolvidos,

nos quais as conseqüências danosas foram ainda mais graves.

Os efeitos perversos do proibicionismo são potencializados nos países marcados pela

desigualdade e pela exclusão social, como é o caso do Brasil e dos demais países em

desenvolvimento, muito embora sejam também detectados nos países desenvolvidos.

Esses efeitos não devem ser vistos como um descuido, nem como decorrentes da má

operação do sistema penal, pois ao contrário, se deve considerar que: ―a seletividade, a

reprodução da violência, a criação de condições para maiores condutas lesivas, a corrupção

institucionalizada, a concentração de poder, a verticalização social e a destruição das relações

horizontais ou comunitárias não são características conjunturais, mas estruturais do exercício

de poder de todos os sistemas penais‖52

.

Por mais paradoxal que possa parecer, a proibição é uma grande aliada do tráfico, e

que a economia da droga é dinamizada pela proibição.

Alan Labrousse 53

(LABROUSSE apud POLÍTICA NACIONAL DE DROGAS, 2010)

acrescenta ainda outro efeito perverso da proibição, qual seja, a circulação de capital ilícito,

pois o enriquecimento dos traficantes gera a necessidade da lavagem de dinheiro oriundo do

comércio ilícito de entorpecentes, que contamina o sistema bancário e favorece a corrupção

das elites.

Além dos efeitos perversos da proibição, um efeito de suma importância é a violação

dos direitos humanos e a redução de direitos e garantias individuais que decorrem das

exceções admitidas e das penas exorbitantes previstas nas leis de drogas, como ocorre em

52

POLÍTICA NACIONAL DE DROGAS. Política de Drogas, Cultura do Controle e propostas Alternativas.

IBCCrim. 2010. Disponível em: < http://www.ibccrim.org.br/site/comissoes/politicaDrogas.php> Acesso em:

25 ago 2010. 53

Idem. Ibidem.

75

alguns países da Ásia e do Oriente Médio, onde a posse de algumas dezenas de gramas de

heroína ou cocaína, e de três a quatro quilos de ópio ou de haxixe pode levar à aplicação da

pena de morte. É considera-se menos grave matar duas ou três pessoas do que ser pego

transportando cem gramas de drogas ―pesadas‖.

O exemplo de punição da modernidade, se manteve como protagonista das estratégias

punitivas no século XXI diante do endurecimento das penas, e do alcance do direito penal

simbólico como discurso ideológico autoritário que vem sendo construído desde o final do

século passado, ao mesmo tempo em que o direito penal da droga ganhou importância e

destaque, não só em termos de quantidade de leis repressivas editadas, como pelo incremento

das sanções e conseqüente aumento da representatividade nas estatísticas penitenciárias de

condenados por delitos ligados a tóxicos.

No plano social, a proibição da droga conduz a um aumento considerável da

criminalidade e da delinqüência, pois a dependência econômica de alguns viciados os leva a

cometer delitos contra pessoas e bens para sustentar o seu vício, e satisfazer suas

necessidades, além da utilização da prostituição, ou da própria revenda de drogas como meio

de subsistência.

No caso do Brasil, a opção proibicionista é clara e o impacto social é especialmente

dramático. A única contribuição positiva do modelo proibicionista talvez seja a comprovação

empírica de que não há como se inibir o uso e a venda de drogas mediante o controle penal,

quando a sociedade não quer e não aceita esse controle; além de ter ensinado que um modelo

uniforme de controle não tem condições de prosperar, diante da diversidade das características

culturais, econômicas e sociais dos diversos países.

Além de não se apresentar apropriado à solução de um problema de saúde pública,

nem ter fundamentos sólidos, o proibicionismo causa impactos negativos no tecido social, que

são muito graves, podendo ser elencados da seguinte forma:

Na saúde pública: a) ausência de controle e adulteração das substâncias consumidas o

que gera riscos graves à saúde dos consumidores; i) o alto nível de contágio do vírus HIV e

outras doenças entre usuários de drogas injetáveis na marginalidade; iii) a dificuldade de

implementação de políticas de redução de danos aos dependentes inseridos na ilegalidade e

oposição do proibicionismo aos modelos mais atuais de ajuda ao viciado; iv) o contínuo

enfrentamento do sistema penal pelos adictos que fazem uso das substâncias, mesmo à

margem da lei; v) aumento no número de mortes em decorrência das disputas e da repressão

ao tráfico de drogas.

76

No sistema jurídico-constitucional citam-se: vi) o reforço excessivo do sistema policial

em detrimento do sistema judicial; vii) a utilização de meios penais e processuais

extraordinários, violadores de princípios e garantias constitucionais; viii) as medidas de

exceção destinadas ao grande tráfico são aplicadas aos pequenos e médios traficante-viciados,

que lotam as penitenciárias; ix) desumanização das penas e do sistema penitenciário; x)

superlotação carcerária.

Na ótica sócio-econômica podem ser ainda adicionados: xi) aumento da vigilância,

controle e violência imposta aos mais desfavorecidas, que são suspeitos de tráfico, até prova

em contrário, o que leva à discriminação; xii) favorecimento do envolvimento de jovens com

o crime, desagregação familiar; xiii) incremento do tráfico de armas; xiv) incremento das

possibilidades de lavagem de dinheiro; xv) a alta dos preços derivada da ilegalidade torna

cada vez mais poderosas as organizações de traficantes; xvi) aumento da corrupção nos

poderes públicos e na polícia, em especial nos países em desenvolvimento; xvii) aumento da

violência e do número de homicídios nos grandes centros urbanos.

Razão de sua permanência é a inserção da política de drogas no projeto punitivo da

pós-modernidade, ou da modernidade tardia, analisada por David Garland54

(GARLAND

apud POLÍTICA NACIONAL DE DROGAS, 2010) como o momento atual da ―cultura do

controle‖,

A política brasileira com relação ao usuário já mudou, notadamente com a edição da

Lei n. 11.343/06, pelo menos com relação àquele que não precisa traficar para consumir sua

droga. A estratégia penal foi fracionada: para o viciado, o modelo descarcerizador,

influenciado pelo discurso médico-sanitário; ao traficante, a prisão, justificada pelo discurso

político-jurídico simbólico do proibicionismo. Além de aumentar penas, aumentou-se o seu

tempo de cumprimento em prisão fechada para traficantes.

A conclusão de Luciana Boiteux55

(BOITEUX apud POLÍTICA NACIONAL DE

DROGAS, 2010) em sua tese de doutorado, não se tem qualquer dúvida de que o modelo

proibicionista, além de não se mostrar apropriado para proteger a saúde pública, causou

impactos tão negativos que o tornam hoje racionalmente insustentável.

O impacto do proibicionismo sobre o sistema penal e a sociedade foi avaliado pelo

confronto da realidade social com a atuação do controle penal em relação aos fins declarados,

54

POLÍTICA NACIONAL DE DROGAS. Política de Drogas, Cultura do Controle e propostas Alternativas.

IBCCrim. 2010. Disponível em: < http://www.ibccrim.org.br/site/comissoes/politicaDrogas.php> Acesso em:

25 ago 2010. 55

Idem. Ibidem.

77

que fundamentam a proibição – a proteção à saúde pública – e às metas propostas – ideal de

abstinência –, bem como aos meios utilizados para alcançar esse fim: o direito penal.

Apesar de as investigações no campo da droga ainda estarem longe de serem

conclusivas quanto aos riscos e benefícios das substâncias hoje proibidas, se constatou o

fracasso absoluto desse modelo de controle penal.

Sob o ponto de vista dos países desenvolvidos, o saldo de quase cem anos de

proibicionismo pode ser resumido da seguinte forma: a oferta de drogas não foi reduzida, o

consumo aumentou, a situação da saúde pública agravou-se, o sistema prisional está

superlotado e próximo à falência, aumentou a corrupção, e os grandes traficantes continuam

soltos; os lucros nunca foram tão altos, e a circulação de dinheiro sujo não diminuiu; novas

drogas estão disponíveis nos mercados, as drogas naturais foram geneticamente modificadas e

estão cada vez mais potentes.

No excelente artigo publicado pelo psiquiatra Carlos Mota Cardoso a economia ligada

à ―droga‖ funciona segundo regras que atravessam, em corte vertical, todos os estratos

sociais, formando autênticos códigos de comportamento cujos princípios fundamentais fluem

velozmente pelos interstícios da pirâmide desde o vértice até à base, segundo eixos orientados

para lucros astronómicos (o ascendente) e para o vício suicida (o descendente). 56

No Brasil, em especial, a espiral de crescimento da violência está intimamente

relacionada com o aumento da repressão ao tráfico de drogas, e à alta lucratividade do

comércio ilícito. Nos países em desenvolvimento, onde o mercado ilícito é marcado pela

violência e pela exclusão social em níveis alarmantes, os efeitos perversos são ainda mais

visíveis: as prisões estão cheias de dependentes de drogas que se transformam em criminosos

para sustentar seu vício, e a violência na resolução dos conflitos ligados ao tráfico é

generalizada.

O proibicionismo acarreta maiores danos à sociedade e à saúde pública do que protege

esses mesmos fins, razão pela qual defende-se deva ser substituído por um modelo alternativo

mais tolerante e humanitário.

A atual Lei n. 11.343/06 apresenta características muito semelhantes à anterior lei de

tóxicos, e peca por manter o modelo proibicionista, ainda que moderado pela descarcerização

da posse de drogas e legitimação das estratégias de redução de danos. Além disso, mantém o

tráfico como crime equiparado a hediondo apenado somente com longas penas de prisão.

56

CARDOSO, Carlos Mota. Psiquiatra Professor Convidado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da

Educação da Universidade do Porto. “Droga” Um problema de saúde pública. Vol III, n. 4, jul/ago, 2001, p.

11. Disponível em<http://repositorio- aberto.up.pt/bitstream/10216/6886/2/Droga%20um% 20problema%

20de%20sade%20pblica.pdf> Acesso em: 25 ago. 2010.

78

As alterações sugeridas situam-se ainda dentro do modelo de controle penal de drogas,

mas procuram reduzir o alcance da esfera repressiva, na linha do direito penal mínimo, sob a

ótica jurídico-constitucional.

A novel Lei de Drogas fornece novos paradigmas constitucionais que devem ser

adotados pelos operadores do Direito Penal nas exegeses da casuística e na solução de

eventuais conflitos.

A necessidade de dar uma resposta mais rápida até que se consiga implementar um

modelo de controle de drogas fora do direito penal, podem ser sugeridas medidas de Redução

de Danos como reconhecimento dos direitos humanos dos usuários de drogas. Aplicação e

fortalecimento de medidas de redução de danos e campanhas informativas de prevenção;

Oferecimento de tratamento voluntário de dependência de drogas na rede pública.

Neste sentido, as drogas não podem ser todas encaradas social e politicamente da mesma

maneira. É necessário que cada grupo requeira uma atitude política diversa, tendo em conta os

objetivos médicos, sociais, morais e jurídicos que se pretende perseguir.

79

7 CONCLUSÃO

Para finalizar este trabalho, vale reiterar a afirmativa de que era necessário e válido o

ajuste terminológico. Essa nova lei que trouxe inovações com o termo drogas, agora adotado,

é mais clara e objetiva e menos suscetível de complicações, no que concerne a hermenêutica

conceitual. Afinal, a antiga expressão substância entorpecente ou que determine dependência

física ou psíquica não correspondia mais ao verdadeiro conceito médico-científico, capaz de

aglutinar todos os produtos e substâncias causadoras de dependência.

Pode-se dizer que, com a atual Lei de Drogas, nosso direito positivo está mais

devidamente ajustado ao discurso internacional e em harmonia com a nomenclatura utilizada

nos documentos de órgãos mundiais, ao menos em termos conceituais e de linguagem

jurídico-penal.

Quanto à eficácia de suas normas para atingir o fim a que se propõe - reinserção social

dos usuários e dependentes e de prevenção e repressão ao tráfico ilícito de drogas – é claro

que tão relevante e altruístico propósito ético-político e jurídico não dependerá apenas de seu

correto conceito de drogas e sim da aplicabilidade da lei bem como o rigor em segui-la.

Pelas razões que sustentamos, acreditamos que o entendimento adotado pela Suprema

Corte é o que deve prevalecer.

As idéias expostas resultam de uma análise interpretativa operada num primeiro

momento de vigência da nova Lei Antidrogas. Trata-se, portanto, de um estudo forjado no

calor das primeiras impressões, a respeito de alguns de seus dispositivos incriminadores das

condutas que gravitam na periferia do espaço normativo mais importante ocupado pelo crime

maior e mais grave do tráfico ilícito de drogas.

São, portanto, idéias e posições formuladas com o objetivo de contribuir para a

construção de uma doutrina comprometida com a busca incessante do melhor sentido do

direito contido nas referidas normas incriminadoras. Por isso, estamos conscientes de que são

idéias e posições sujeitas ao crivo da crítica e da divergência doutrinária.

Neste contexto, claro está que a publicação da nova Lei veio para inovar ao cominar

sanções penais não privativas de liberdade ou pecuniárias, com fim de prevenir, tratar e

permitir a ressocialização dos usuários e dependentes de entorpecentes, cujos princípios

devem determinar a interpretação dos operadores do direito e sua efetiva implementação tem

por fim uma justiça penal terapêutica e restaurativa.

80

A repressão da conduta do usuário e dependente continua sendo a razão da

movimentação do sistema penal como um todo, ou seja, atuação policial, procedimento

investigatório criminal e ação penal perante a justiça penal. O novo tipo penal está

fundamentado num novo modelo de justiça penal, terapêutica ou restauradora e substituiu a

pena por uma ―censura‖ o que não afasta a espécie crime num conceito material.

Mas qual deverá ser o papel do poder público e da sociedade no combate ao problema

chamado droga?

Se o Estado e a sociedade nada fizerem no sentido de frear o consumo excessivo de

drogas, estaremos diante de um grave problema de saúde pública de contornos ainda difíceis

de prever, mas seguramente arrasadores da saúde coletiva.

Pesa hoje, na consciência coletiva das pessoas, um inquietante sentimento de injustiça

alimentado pelo desejo de proteção das famílias que são forçadas a carregar a dor, a suportar

humilhações de todo o tipo, e, muitas vezes, a arcar com as brutais consequências do

comportamento dos filhos toxicodependentes.

Apesar da nova legislação, os métodos de combate ao problema ―droga‖ se tem

saldado, até hoje, pelo insucesso e pelo desperdício de recursos, não obstante a entrega e o

esforço de muita gente, honestamente interessada em encarar o problema com a elevação que

merece.

Não temos naturalmente a pretensão de apontar soluções exatas, nem elas existem com

este perfil, mas tão só de acompanhar todos aqueles, e são muitos, que pensam que o

problema se neutraliza (neutralizar não significa erradicar) com um amplo investimento na

prevenção primária e, sobretudo, na educação.

Em minha opinião, não cabe ao Estado a tarefa exclusiva de sanar o problema. Penso

até que nem sequer cabe ao Estado o fundamental deste empreendimento. Ao Estado caberá,

certamente, o papel de organizar, orientar e racionalizar todos os recursos emergentes das

organizações populares, do poder local, das paróquias, das minorias religiosas e étnicas, numa

palavra da sociedade civil. Só com um grande investimento na educação, só com uma efetiva

revitalização da instituição familiar, só com uma aposta sem limites na prevenção primária

estaremos no caminho para um possível triunfo.

Temos de assumir que existe, no Brasil, bem como em muitas outras nações, uma

gama da população (infelizmente jovem) absolutamente perdida.

Para estes só existe um modo de ajuda: tolerância responsável e reabilitação possível.

81

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ANEXO I

Lei N. 6.368, de 1976

LEI Nº 6.368, DE 21 DE OUTUBRO DE 1976 - DOU DE 22/10/1976 - LEI DE ENTORPECENTES - REVOGADA

Revogada pela LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006 Alterada pela MEDIDA PROVISÓRIA N

o 2.225-45, DE 4 DE SETEMBRO DE 2001 - DOU DE 5/9/2001 (Edição extra)

Dispõe sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I -

DA PREVENÇÃO Artigo 1º É dever de toda pessoa física ou jurídica colaborar na prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica. Parágrafo único. As pessoas jurídicas que, quando solicitadas, não prestarem colaboração nos planos governamentais de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica perderão, a juízo do órgão ou do poder competente, auxílios ou subvenções que venham recebendo da União, dos Estados, do Distrito Federal, Territórios e Municípios, bem como de suas autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e fundações. Artigo 2º Ficam proibidos em todo o território brasileiro o plantio, a cultura, a colheita e a exploração, por particulares, de todas as plantas das quais possa ser extraída substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica. § 1º As plantas dessa natureza, nativas ou cultivadas, existentes no território nacional, serão destruídas pelas autoridades policiais, ressalvados os casos previstos no parágrafo seguinte. § 2º A cultura dessas plantas com fins terapêuticos ou científicos só será permitida mediante prévia autorização das autoridades competentes. § 3º Para extrair, produzir, fabricar, transformar, preparar, possuir, importar, exportar, reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou adquirir para qualquer fim substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, ou matéria-prima destinada à sua preparação, é indispensável licença da autoridade sanitária competente, observadas as demais exigências legais. § 4º Fica dispensada da exigência prevista no parágrafo anterior a aquisição de medicamentos mediante prescrição médica, de acordo com os preceitos legais ou regulamentares. Artigo 3

o Fica instituído o Sistema Nacional Antidrogas, constituído pelo conjunto de órgãos que

exercem, nos âmbitos federal, estadual, distrital e municipal, atividades relacionadas com: (Alterada pela MEDIDA PROVISÓRIA N

o 2.225-45, DE 4 DE SETEMBRO DE 2001 - DOU DE 5/9/2001 (Edição

extra)) I - a prevenção do uso indevido, o tratamento, a recuperação e a reinserção social de dependentes de substâncias entorpecentes e drogas que causem dependência física ou psíquica; e (Incluída pela MEDIDA PROVISÓRIA N

o 2.225-45, DE 4 DE SETEMBRO DE 2001 - DOU DE 5/9/2001 (Edição

extra))

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II - a repressão ao uso indevido, a prevenção e a repressão do tráfico ilícito e da produção não autorizada de substâncias entorpecentes e drogas que causem dependência física ou psíquica (Incluída pela MEDIDA PROVISÓRIA N

o 2.225-45, DE 4 DE SETEMBRO DE 2001 - DOU DE

5/9/2001 (Edição extra))

Redação anterior Artigo 3º As atividades de prevenção, fiscalização e repressão ao tráfico e uso de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica serão integradas num Sistema Nacional de Prevenção, Fiscalização e Repressão, constituído pelo conjunto de órgãos que exerçam essas atribuições nos âmbitos federal, estadual e municipal.

Parágrafo único. O sistema de que trata este artigo será formalmente estruturado por decreto do Poder Executivo, que disporá sobre os mecanismos de coordenação e controle globais de atividades, e sobre os mecanismos de coordenação e controle incluídos especificamente nas áreas de atuação dos governos federal, estaduais e municipais. Artigo 4º Os dirigentes de estabelecimentos de ensino ou hospitalares, ou de entidades sociais, culturais, recreativas, esportivas ou beneficentes, adotarão, de comum acordo e sob a orientação técnica de autoridades especializadas, todas as medidas necessárias à prevenção do tráfico ilícito e do uso indevido de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, nos recintos ou imediações de suas atividades. Parágrafo único. A não-observância do disposto neste artigo implicará a responsabilidade penal e administrativa dos referidos dirigentes. Artigo 5º Nos programas dos cursos de formação de professores serão incluídos ensinamentos referentes a substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica, a fim de que possam ser transmitidos com observância dos seus princípios científicos. Parágrafo único. Dos programas das disciplinas da área de ciências naturais, integrantes dos currículos dos cursos de 1º grau, constarão obrigatoriamente pontos que tenham por objetivo o esclarecimento sobre a natureza e efeitos das substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica. Artigo 6º Compete privativamente ao Ministério da Saúde, através de seus órgãos especializados, baixar instruções de caráter geral ou especial sobre proibição, limitação, fiscalização e controle da produção, do comércio e do uso de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica e de especialidades farmacêuticas que as contenham. Parágrafo único. A competência fixada neste artigo, no que diz respeito à fiscalização e ao controle, poderá ser delegada a órgãos congêneres dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. Artigo 7º A União poderá celebrar convênios com os Estados visando à prevenção e repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica.

CAPÍTULO II - DO TRATAMENTO E DA RECUPERAÇÃO

Artigo 8º Os dependentes de substâncias entorpecentes, ou que determinem dependência física ou psíquica, ficarão sujeitos às medidas previstas neste Capítulo. Artigo 9º As redes dos serviços de saúde dos Estados, Territórios e Distrito Federal contarão, sempre que necessário e possível, com estabelecimentos próprios para tratamento dos dependentes de substâncias a que se refere a presente Lei. § 1º Enquanto não se criarem os estabelecimentos referidos neste artigo, serão adaptadas, na rede já existente, unidades para aquela finalidade.

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§ 2º O Ministério da Previdência e Assistência Social providenciará no sentido de que as normas previstas neste artigo e seu § 1º sejam também observadas pela sua rede de serviços de saúde. Artigo 10. O tratamento sob regime de internação hospitalar será obrigatório quando o quadro clínico do dependente ou a natureza de suas manifestações psicopatológicas assim o exigirem. § 1º Quando verificada a desnecessidade de internação, o dependente será submetido a tratamento em regime extra-hospitalar, com assistência do serviço social competente. § 2º Os estabelecimentos hospitalares e clínicas, oficiais ou particulares, que receberem dependentes para tratamento, encaminharão à repartição competente, até o dia 10 de cada mês, mapa estatístico dos casos atendidos durante o mês anterior, com a indicação do código da doença, segundo a classificação aprovada pela Organização Mundial de Saúde, dispensada a menção do nome do paciente. Artigo 11. Ao dependente que, em razão da prática de qualquer infração penal, for imposta pena privativa de liberdade ou medida de segurança detentiva será dispensado tratamento em ambulatório interno do sistema penitenciário onde estiver cumprindo a sanção respectiva.

CAPÍTULO III - DOS CRIMES E DAS PENAS

Artigo 12. Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem, indevidamente: I - importa ou exporta, remete, produz, fábrica, adquire, vende, expõe à venda ou oferece, fornece ainda que gratuitamente, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda matéria-prima destinada a preparação de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica; II - semeia, cultiva ou faz a colheita de plantas destinadas à preparação de entorpecente ou de substância que determine dependência física ou psíquica. § 2º Nas mesmas penas incorre, ainda, quem: I - induz, instiga ou auxilia alguém a usar entorpecente ou substância que determine dependência física ou psíquica; II - utiliza local de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, para uso indevido ou tráfico ilícito de entorpecente ou de substância que determine dependência física ou psíquica; III - contribui de qualquer forma para incentivar ou difundir o uso indevido ou o tráfico ilícito de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica. Artigo 13. Fabricar, adquirir, vender, fornecer ainda que gratuitamente, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. Artigo 14. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 12 e 13 desta Lei:

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Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. Artigo 15. Prescrever ou ministrar culposamente, o médico, dentista, farmacêutico ou profissional de enfermagem substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, em dose evidentemente maior que a necessária ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 30 (trinta) a 100 (cem) dias-multa. Artigo 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 20 (vinte) a 50 (cinqüenta) dias-multa. Artigo 17. Violar de qualquer forma o sigilo de que trata o artigo 26 desta Lei: Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) meses, ou pagamento de 20 (vinte) a 50 (cinqüenta) dias-multa, sem prejuízo das sanções administrativas a que estiver sujeito o infrator. Artigo 18. As penas dos crimes definidos nesta Lei serão aumentadas de um terço a dois terços: I - no caso de tráfico com o exterior ou de extraterritorialidade da lei penal; II - quando o agente tiver praticado o crime prevalecendo-se de função pública relacionada com a repressão à criminalidade ou quando, muito embora não titular de função pública, tenha missão de guarda e vigilância; III - se qualquer deles decorrer de associação ou visar a menores de 21 (vinte e um) anos ou a quem tenha, por qualquer causa, diminuída ou suprimida a capacidade de discernimento ou de autodeterminação; IV - se qualquer dos atos de preparação, execução ou consumação ocorrer nas imediações ou no interior de estabelecimentos de ensino ou hospitalar, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo de estabelecimentos penais, ou de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, sem prejuízo da interdição do estabelecimento ou do local. Artigo 19. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um terço a dois terços se, por qualquer das circunstâncias previstas neste artigo, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento

CAPÍTULO IV - DO PROCEDIMENTO CRIMINAL

Artigo 20. O procedimento dos crimes definidos nesta Lei reger-se-á pelo disposto neste capítulo, aplicando-se subsidiariamente o Código de Processo Penal. Artigo 21. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade policial dela fará comunicação imediata ao juiz competente, remetendo-lhe juntamente uma cópia do auto lavrado e o respectivo auto nos 5 (cinco) dias seguintes. § 1º Nos casos em que não ocorrer prisão em flagrante, o prazo para remessa dos autos do inquérito a juízo será de 30 (trinta) dias.

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§ 2º Nas comarcas onde houver mais de uma vara competente, a remessa far-se-á na forma prevista na Lei de Organização Judiciária local. Artigo 22. Recebidos os autos em juízo, será aberta vista ao Ministério Público para, no prazo de 3 (três) dias, oferecer denúncia, arrolar testemunhas até o máximo de 5 (cinco) e requerer as diligências que entender necessárias. § 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e do oferecimento da denúncia, no que tange à materialidade do delito, bastará laudo de constatação da natureza da substância firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea escolhida de preferência entre as que tiverem habilitação técnica. § 2º Quando o laudo a que se refere o parágrafo anterior for subscrito por perito oficial, não ficará este impedido de participar da elaboração do laudo definitivo. § 3º Recebida a denúncia, o juiz, em 24 (vinte e quatro) horas, ordenará a citação ou requisição do réu e designará dia e hora para o interrogatório, que se realizará dentro dos 5 (cinco) dias seguintes. § 4º Se o réu não for encontrado nos endereços constantes dos autos, o juiz ordenará sua citação por edital, com prazo de 5 (cinco) dias, após o qual decretará sua revelia. Neste caso, os prazos correrão independentemente de intimação. § 5º No interrogatório, o juiz indagará do réu sobre eventual dependência, advertindo-o das conseqüências de suas declarações. § 6º Interrogado o réu, será aberta vista à defesa para, no prazo de 3 (três) dias, oferecer alegações preliminares, arrolar testemunhas até o máximo de 5 (cinco) e requerer as diligências que entender necessárias. Havendo mais de um réu, o prazo será comum e correrá em cartório. Artigo 23. Findo o prazo do § 6º do artigo anterior, o juiz proferirá despacho saneador, em 48 (quarenta e oito) horas, no qual ordenará as diligências indispensáveis ao julgamento do feito e designará, para um dos 8 (oito) dias seguintes, audiência de instrução e julgamento, notificando-se o réu e as testemunhas que nela devam prestar depoimento, intimando-se o defensor e o Ministério Público, bem como cientificando-se a autoridade policial e os órgãos dos quais dependa a remessa de peças ainda não constantes dos autos. § 1º Na hipótese de ter sido determinado exame de dependência, o prazo para a realização da audiência será de 30 (trinta) dias. § 2º Na audiência, após a inquirição das testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao órgão do Ministério Público e ao defensor do réu, pelo tempo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz que, em seguida, proferirá sentença. § 3º Se o juiz não se sentir habilitado a julgar de imediato a causa, ordenará que os autos lhe sejam conclusos para, no prazo de 5 (cinco) dias, proferir sentença. Artigo 24. Nos casos em que couber fiança, sendo o agente menor de 21 (vinte e um) anos, a autoridade policial, verificando não ter o mesmo condições de prestá-la, poderá determinar o seu recolhimento domiciliar na residência dos pais, parentes ou de pessoa idônea, que assinarão termo de responsabilidade. § 1º O recolhimento domiciliar será determinado sempre ad referendum do juiz competente que poderá mantê-lo ou revogá-lo, ou ainda conceder liberdade provisória. § 2º Na hipótese de revogação de qualquer dos benefícios previstos neste artigo o juiz mandará expedir mandado de prisão contra o indiciado ou réu, aplicando-se, no que couber, o disposto no § 4º do artigo 22. Artigo 25. A remessa dos autos de flagrante ou de inquérito a juízo far-se-á sem prejuízo das diligências destinadas ao esclarecimento do fato, inclusive a elaboração do laudo de exame toxicológico e, se necessário, de dependência, que serão juntados ao processo até a audiência de instrução e julgamento. Artigo 26. Os registros, documentos ou peças de informação, bem como os autos de prisão em flagrante e os de inquérito policial para a apuração dos crimes definidos nesta Lei serão mantidos sob sigilo, ressalvadas, para efeito exclusivo de atuação profissional, as prerrogativas do juiz, do Ministério Público, da autoridade policial e do advogado na forma da legislação específica.

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Parágrafo único. Instaurada a ação penal, ficará a critério do juiz a manutenção do sigilo a que se refere este artigo. Artigo 27. O processo e o julgamento do crime de tráfico com o exterior caberão à justiça estadual com interveniência do Ministério Público respectivo, se o lugar em que tiver sido praticado for município que não seja sede de vara da Justiça Federal, com recurso para o Tribunal Federal de Recursos. Artigo 28. Nos casos de conexão e continência entre os crimes definidos nesta Lei e outras infrações penais, o processo será o previsto para a infração mais grave, ressalvados os da competência do júri e das jurisdições especiais. Artigo 29. Quando o juiz absolver o agente, reconhecendo por força de perícia oficial, que ele, em razão de dependência, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, ordenará seja o mesmo submetido a tratamento médico. § 1º Verificada a recuperação, será esta comunicada ao juiz que, após comprovação por perícia oficial, e ouvido o Ministério Público, determinará o encerramento do processo. § 2º Não havendo peritos oficiais, os exames serão feitos por médicos, nomeados pelo juiz, que prestarão compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. § 3º No caso de o agente frustrar, de algum modo, tratamento ambulatorial ou vir a ser novamente processado nas mesmas condições do "caput" deste artigo, o juiz poderá determinar que o tratamento seja feito em regime de internação hospitalar. Artigo 30. Nos casos em que couber fiança, deverá a autoridade, que a conceder ou negar, fundamentar a decisão. § 1º O valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder, entre o mínimo de quinhentos cruzeiros e o máximo de cinco mil cruzeiros. § 2º Aos valores estabelecidos no parágrafo anterior, aplicar-se-á o coeficiente de atualização monetária referido no parágrafo único do artigo 2º da Lei nº 6.205, de 29 de abril de 1975. Artigo 31. No caso de processo instaurado contra mais de um réu, se houver necessidade de realizar-se exame de dependência, far-se-á sua separação no tocante ao réu a quem interesse o exame, processando-se este em apartado, e fixando o juiz prazo até 30 (trinta) dias para sua conclusão. Artigo 32. Para os réus condenados à pena de detenção, pela prática de crime previsto nesta Lei, o prazo para requerimento da reabilitação será de 2 (dois) anos. Artigo 33. Sob pena de responsabilidade penal e administrativa, os dirigentes, funcionários e empregados dos órgãos da administração pública direta e autárquica, das empresas públicas, sociedades de economia mista, ou fundações instituídas pelo poder público, observarão absoluta precedência nos exames, perícias e na confecção e expedição de peças, publicação de editais, bem como no atendimento de informações e esclarecimentos solicitados por autoridades judiciárias, policiais ou administrativas com o objetivo de instruir processos destinados à apuração de quaisquer crimes definidos nesta Lei. Artigo 34. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, assim como os maquinismos, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza utilizados para a prática dos crimes definidos nesta Lei, após a sua regular apreensão, serão entregues à custódia da autoridade competente. § 1º Havendo possibilidade ou necessidade da utilização dos bens mencionados neste artigo, para sua conservação, poderá a autoridade deles fazer uso. § 2º (Revogado pela Lei nº 7.560, de 19/12/86). Artigo 35. O réu condenado por infração dos arts. 12 ou 13 desta Lei não poderá apelar sem recolher-se à prisão.

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- Os prazos procedimentais deste Capítulo serão contados em dobro quando se tratar dos crimes previstos nos arts. 12, 13 e 14.

CAPÍTULO V - DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 36. Para os fins desta Lei serão consideradas substâncias entorpecentes ou capazes de determinar dependência física ou psíquica aquelas que assim forem especificadas em lei ou relacionadas pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, do Ministério da Saúde. Parágrafo único. O Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia deverá rever, sempre que as circunstâncias assim o exigirem, as relações a que se refere este artigo, para o fim de exclusão ou inclusão de novas substâncias. Artigo 37. Para efeito de caracterização dos crimes definidos nesta Lei, a autoridade atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação criminosa, às circunstâncias da prisão, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. Parágrafo único. A autoridade deverá justificar, em despacho fundamentado, as razões que a levaram à classificação legal do fato, mencionando concretamente as circunstâncias referidas neste artigo, sem prejuízo de posterior alteração da classificação pelo Ministério Público ou pelo juiz. Artigo 38. A pena de multa consiste no pagamento, ao Tesouro Nacional, de uma soma em dinheiro que é fixada em dias-multa. § 1º O montante do dia-multa será fixado segundo o prudente arbítrio do juiz, entre o mínimo de vinte e cinco cruzeiros e o máximo de duzentos e cinqüenta cruzeiros. § 2º Aos valores estabelecidos no parágrafo anterior aplicar-se-á o coeficiente de atualização monetária referido no parágrafo único do artigo 2º da Lei nº 6.205, de 29 de abril de 1975. § 3º A pena pecuniária terá como referência os valores do dia-multa que vigorarem à época do fato. Artigo 39. As autoridades sanitárias, policiais e alfandegárias organizarão e manterão estatísticas, registros e demais informes, inerentes às suas atividades relacionadas com a prevenção e repressão de que trata esta Lei, deles fazendo remessa ao órgão competente com as observações e sugestões que julgarem pertinentes à elaboração do relatório que será enviado anualmente ao órgão internacional da fiscalização de entorpecentes. Artigo 40. Todas as substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica, apreendidas por infração a qualquer dos dispositivos desta Lei, serão obrigatoriamente remetidas, após o trânsito em julgado da sentença, ao órgão competente do Ministério da Saúde ou congênere estadual, cabendo-lhes providenciar o seu registro e decidir do seu destino. § 1º Ficarão sob a guarda e responsabilidade das autoridades policiais, até o trânsito em julgado da sentença, as substâncias referidas neste artigo. § 2º Quando se tratar de plantação ou quantidade que torne difícil o transporte ou apreensão da substância na sua totalidade, a autoridade policial recolherá quantidade suficiente para exame pericial destruindo o restante, de tudo lavrando auto circunstanciado. Artigo 41. As autoridades judiciárias, o Ministério Público e as autoridades policiais poderão requisitar às autoridades sanitárias competentes, independentemente de qualquer procedimento judicial, a realização de inspeções nas empresas industriais ou comerciais, nos estabelecimentos hospitalares, de pesquisa, ensino e congêneres, assim como nos serviços médicos que produzirem, venderem, comprarem, consumirem ou fornecerem substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica, ou especialidades farmacêuticas que as contenham, sendo facultada a assistência da autoridade requisitante. § 1º Nos casos de falência ou de liquidação judicial das empresas ou estabelecimentos referidos neste artigo, ou de qualquer outro em que existam tais produtos, cumpre ao juízo por onde correr o feito oficiar às autoridades sanitárias competentes, para que promovam, desde logo, as medidas

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necessárias ao recebimento, em depósito, das substâncias arrecadadas. § 2º As vendas em hasta pública de substâncias ou especialidades a que se refere este artigo serão realizadas com a presença de um representante da autoridade sanitária competente, só podendo participar da licitação pessoa física ou jurídica regularmente habilitada. Artigo 42. É passível de expulsão, na forma da legislação específica, o estrangeiro que praticar qualquer dos crimes definidos nesta Lei, desde que cumprida a condenação imposta, salvo se ocorrer interesse nacional que recomende sua expulsão imediata. Artigo 43. Os Tribunais de Justiça deverão, sempre que necessário e possível, observado o disposto no artigo 144, § 5º, da Constituição Federal, instituir juízos especializados para o processo e julgamento dos crimes definidos nesta Lei. Artigo 44. Nos setores de repressão a entorpecentes do Departamento de Polícia Federal, só poderão ter exercício policiais que possuam especialização adequada. Parágrafo único. O Poder Executivo disciplinará a especialização dos integrantes das Categorias Funcionais da Polícia Federal, para atendimento ao disposto neste artigo. Artigo 45. O Poder Executivo regulamentará a presente Lei dentro de 60 (sessenta) dias, contados da sua publicação. Artigo 46. Revogam-se as disposições em contrário, em especial o artigo 311 do Decreto-lei nº 1.004, de 21 de outubro de 1969, com as alterações da Lei nº 6.016, de 31 de dezembro de 1973, e a Lei nº 5.726, de 29 de outubro de 1971, com exceção do seu artigo 22. Artigo 47. Esta Lei entrará em vigor 30 (trinta) dias após a sua publicação. Brasília, 21 de outubro de 1976; 155º da Independência e 88º da República.

ERNESTO GEISEL

ARMANDO FALCÃO NEY BRAGA

PAULO DE ALMEIDA MACHADO L. G. DO NASCIMENTO E SILVA

Este texto não substitui o publicado no DOU de 21/10/1976.

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ANEXO II

NOVA LEI DE ENTORPECENTES

Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006.

Mensagem de veto

Regulamento

Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas

sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para

prevenção do uso indevido, atenção e reinserção

social de usuários e dependentes de drogas;

estabelece normas para repressão à produção

não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define

crimes e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Artigo 1o Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad;

prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes.

Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.

Artigo 2o Ficam proibidas, em todo o território nacional, as drogas, bem como o plantio, a cultura,

a colheita e a exploração de vegetais e substratos dos quais possam ser extraídas ou produzidas drogas, ressalvada a hipótese de autorização legal ou regulamentar, bem como o que estabelece a Convenção de Viena, das Nações Unidas, sobre Substâncias Psicotrópicas, de 1971, a respeito de plantas de uso estritamente ritualístico-religioso.

Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.

TÍTULO II

DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

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Artigo 3o O Sisnad tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades

relacionadas com:

I - a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas;

II - a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.

CAPÍTULO I

DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS

DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

Artigo 4o São princípios do Sisnad:

I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto à sua autonomia e à sua liberdade;

II - o respeito à diversidade e às especificidades populacionais existentes;

III - a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores de proteção para o uso indevido de drogas e outros comportamentos correlacionados;

IV - a promoção de consensos nacionais, de ampla participação social, para o estabelecimento dos fundamentos e estratégias do Sisnad;

V - a promoção da responsabilidade compartilhada entre Estado e Sociedade, reconhecendo a importância da participação social nas atividades do Sisnad;

VI - o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores correlacionados com o uso indevido de drogas, com a sua produção não autorizada e o seu tráfico ilícito;

VII - a integração das estratégias nacionais e internacionais de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito;

VIII - a articulação com os órgãos do Ministério Público e dos Poderes Legislativo e Judiciário visando à cooperação mútua nas atividades do Sisnad;

IX - a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça a interdependência e a natureza complementar das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas;

X - a observância do equilíbrio entre as atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao seu tráfico ilícito, visando a garantir a estabilidade e o bem-estar social;

XI - a observância às orientações e normas emanadas do Conselho Nacional Antidrogas - Conad.

Artigo 5o O Sisnad tem os seguintes objetivos:

I - contribuir para a inclusão social do cidadão, visando a torná-lo menos vulnerável a assumir comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos correlacionados;

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II - promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no país;

III - promover a integração entre as políticas de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico ilícito e as políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados e Municípios;

IV - assegurar as condições para a coordenação, a integração e a articulação das atividades de que trata o artigo 3

o desta Lei.

CAPÍTULO II

DA COMPOSIÇÃO E DA ORGANIZAÇÃO

DO SISTEMA NACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE DROGAS

Artigo 6o (VETADO)

Artigo 7o A organização do Sisnad assegura a orientação central e a execução descentralizada

das atividades realizadas em seu âmbito, nas esferas federal, distrital, estadual e municipal e se constitui matéria definida no regulamento desta Lei.

Artigo 8o (VETADO)

CAPÍTULO III

(VETADO)

Artigo 9o (VETADO)

Artigo 10. (VETADO)

Artigo 11. (VETADO)

Artigo 12. (VETADO)

Artigo 13. (VETADO)

Artigo 14. (VETADO)

CAPÍTULO IV

DA COLETA, ANÁLISE E DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES

SOBRE DROGAS

Artigo 15. (VETADO)

Artigo 16. As instituições com atuação nas áreas da atenção à saúde e da assistência social que atendam usuários ou dependentes de drogas devem comunicar ao órgão competente do respectivo sistema municipal de saúde os casos atendidos e os óbitos ocorridos, preservando a identidade das pessoas, conforme orientações emanadas da União.

Artigo 17. Os dados estatísticos nacionais de repressão ao tráfico ilícito de drogas integrarão sistema de informações do Poder Executivo.

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TÍTULO III

DAS ATIVIDADES DE PREVENÇÃO DO USO INDEVIDO, ATENÇÃO E

REINSERÇÃO SOCIAL DE USUÁRIOS E DEPENDENTES DE DROGAS

CAPÍTULO I

DA PREVENÇÃO

Artigo 18. Constituem atividades de prevenção do uso indevido de drogas, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco e para a promoção e o fortalecimento dos fatores de proteção.

Artigo 19. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas devem observar os seguintes princípios e diretrizes:

I - o reconhecimento do uso indevido de drogas como fator de interferência na qualidade de vida do indivíduo e na sua relação com a comunidade à qual pertence;

II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamentação científica como forma de orientar as ações dos serviços públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam;

III - o fortalecimento da autonomia e da responsabilidade individual em relação ao uso indevido de drogas;

IV - o compartilhamento de responsabilidades e a colaboração mútua com as instituições do setor privado e com os diversos segmentos sociais, incluindo usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares, por meio do estabelecimento de parcerias;

V - a adoção de estratégias preventivas diferenciadas e adequadas às especificidades socioculturais das diversas populações, bem como das diferentes drogas utilizadas;

VI - o reconhecimento do “não-uso”, do “retardamento do uso” e da redução de riscos como resultados desejáveis das atividades de natureza preventiva, quando da definição dos objetivos a serem alcançados;

VII - o tratamento especial dirigido às parcelas mais vulneráveis da população, levando em consideração as suas necessidades específicas;

VIII - a articulação entre os serviços e organizações que atuam em atividades de prevenção do uso indevido de drogas e a rede de atenção a usuários e dependentes de drogas e respectivos familiares;

IX - o investimento em alternativas esportivas, culturais, artísticas, profissionais, entre outras, como forma de inclusão social e de melhoria da qualidade de vida;

X - o estabelecimento de políticas de formação continuada na área da prevenção do uso indevido de drogas para profissionais de educação nos 3 (três) níveis de ensino;

XI - a implantação de projetos pedagógicos de prevenção do uso indevido de drogas, nas instituições de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Nacionais e aos conhecimentos relacionados a drogas;

XII - a observância das orientações e normas emanadas do Conad;

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XIII - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais específicas.

Parágrafo único. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas dirigidas à criança e ao adolescente deverão estar em consonância com as diretrizes emanadas pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - Conanda.

CAPÍTULO II

DAS ATIVIDADES DE ATENÇÃO E DE REINSERÇÃO SOCIAL

DE USUÁRIOS OU DEPENDENTES DE DROGAS

Artigo 20. Constituem atividades de atenção ao usuário e dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas que visem à melhoria da qualidade de vida e à redução dos riscos e dos danos associados ao uso de drogas.

Artigo 21. Constituem atividades de reinserção social do usuário ou do dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para sua integração ou reintegração em redes sociais.

Artigo 22. As atividades de atenção e as de reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares devem observar os seguintes princípios e diretrizes:

I - respeito ao usuário e ao dependente de drogas, independentemente de quaisquer condições, observados os direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde e da Política Nacional de Assistência Social;

II - a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e reinserção social do usuário e do dependente de drogas e respectivos familiares que considerem as suas peculiaridades socioculturais;

III - definição de projeto terapêutico individualizado, orientado para a inclusão social e para a redução de riscos e de danos sociais e à saúde;

IV - atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos respectivos familiares, sempre que possível, de forma multidisciplinar e por equipes multiprofissionais;

V - observância das orientações e normas emanadas do Conad;

VI - o alinhamento às diretrizes dos órgãos de controle social de políticas setoriais específicas.

Artigo 23. As redes dos serviços de saúde da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios desenvolverão programas de atenção ao usuário e ao dependente de drogas, respeitadas as diretrizes do Ministério da Saúde e os princípios explicitados no artigo 22 desta Lei, obrigatória a previsão orçamentária adequada.

Artigo 24. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão conceder benefícios às instituições privadas que desenvolverem programas de reinserção no mercado de trabalho, do usuário e do dependente de drogas encaminhados por órgão oficial.

Artigo 25. As instituições da sociedade civil, sem fins lucrativos, com atuação nas áreas da atenção à saúde e da assistência social, que atendam usuários ou dependentes de drogas poderão receber recursos do Funad, condicionados à sua disponibilidade orçamentária e financeira.

Artigo 26. O usuário e o dependente de drogas que, em razão da prática de infração penal, estiverem cumprindo pena privativa de liberdade ou submetidos a medida de segurança, têm garantidos os serviços de atenção à sua saúde, definidos pelo respectivo sistema penitenciário.

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CAPÍTULO III

DOS CRIMES E DAS PENAS

Artigo 27. As penas previstas neste Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor.

Artigo 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:

I - advertência sobre os efeitos das drogas;

II - prestação de serviços à comunidade;

III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

§ 1o Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou

colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.

§ 2o Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à

quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.

§ 3o As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo

máximo de 5 (cinco) meses.

§ 4o Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão

aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.

§ 5o A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários,

entidades educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de drogas.

§ 6o Para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se refere o caput, nos incisos

I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo, sucessivamente a:

I - admoestação verbal;

II - multa.

§ 7o O juiz determinará ao Poder Público que coloque à disposição do infrator, gratuitamente,

estabelecimento de saúde, preferencialmente ambulatorial, para tratamento especializado.

Artigo 29. Na imposição da medida educativa a que se refere o inciso II do § 6o do artigo 28, o

juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias-multa, em quantidade nunca inferior a 40 (quarenta) nem superior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo a capacidade econômica do agente, o valor de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do maior salário mínimo.

Parágrafo único. Os valores decorrentes da imposição da multa a que se refere o § 6o do artigo

28 serão creditados à conta do Fundo Nacional Antidrogas.

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Artigo 30. Prescrevem em 2 (dois) anos a imposição e a execução das penas, observado, no tocante à interrupção do prazo, o disposto nos arts. 107 e seguintes do Código Penal.

TÍTULO IV

DA REPRESSÃO À PRODUÇÃO NÃO AUTORIZADA

E AO TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 31. É indispensável a licença prévia da autoridade competente para produzir, extrair, fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar, reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou adquirir, para qualquer fim, drogas ou matéria-prima destinada à sua preparação, observadas as demais exigências legais.

Artigo 32. As plantações ilícitas serão imediatamente destruídas pelas autoridades de polícia judiciária, que recolherão quantidade suficiente para exame pericial, de tudo lavrando auto de levantamento das condições encontradas, com a delimitação do local, asseguradas as medidas necessárias para a preservação da prova.

§ 1o A destruição de drogas far-se-á por incineração, no prazo máximo de 30 (trinta) dias,

guardando-se as amostras necessárias à preservação da prova.

§ 2o A incineração prevista no § 1

o deste artigo será precedida de autorização judicial, ouvido o

Ministério Público, e executada pela autoridade de polícia judiciária competente, na presença de representante do Ministério Público e da autoridade sanitária competente, mediante auto circunstanciado e após a perícia realizada no local da incineração.

§ 3o Em caso de ser utilizada a queimada para destruir a plantação, observar-se-á, além das

cautelas necessárias à proteção ao meio ambiente, o disposto no Decreto no 2.661, de 8 de julho de

1998, no que couber, dispensada a autorização prévia do órgão próprio do Sistema Nacional do Meio Ambiente - Sisnama.

§ 4o As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas, conforme o disposto no

artigo 243 da Constituição Federal, de acordo com a legislação em vigor.

CAPÍTULO II

DOS CRIMES

Artigo 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;

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II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;

III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.

§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento,

para juntos a consumirem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no artigo 28.

§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1

o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um

sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Artigo 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.

Artigo 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1

o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no artigo 36 desta Lei.

Artigo 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1

o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

Artigo 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1

o, e 34 desta Lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.

Artigo 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa.

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Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente.

Artigo 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo, cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa.

Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no caput deste artigo for de transporte coletivo de passageiros.

Artigo 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se:

I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;

II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;

III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;

IV - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;

V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;

VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;

VII - o agente financiar ou custear a prática do crime.

Artigo 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.

Artigo 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no artigo 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente.

Artigo 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o artigo 42 desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo.

Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da situação econômica do acusado, considerá-las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.

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Artigo 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e

insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.

Parágrafo único. Nos crimes previstos no caput deste artigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico.

Artigo 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado.

Artigo 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstâncias previstas no artigo 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Artigo 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação que ateste a necessidade de encaminhamento do agente para tratamento, realizada por profissional de saúde com competência específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda, observado o disposto no artigo 26 desta Lei.

CAPÍTULO III

DO PROCEDIMENTO PENAL

Artigo 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal.

§ 1o O agente de qualquer das condutas previstas no artigo 28 desta Lei, salvo se houver

concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei n

o 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados

Especiais Criminais.

§ 2o Tratando-se da conduta prevista no artigo 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante,

devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários.

§ 3o Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2

o deste artigo serão

tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente.

§ 4o Concluídos os procedimentos de que trata o § 2

o deste artigo, o agente será submetido a

exame de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em seguida liberado.

§ 5o Para os fins do disposto no artigo 76 da Lei n

o 9.099, de 1995, que dispõe sobre os

Juizados Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista no artigo 28 desta Lei, a ser especificada na proposta.

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Artigo 49. Tratando-se de condutas tipificadas nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o

juiz, sempre que as circunstâncias o recomendem, empregará os instrumentos protetivos de colaboradores e testemunhas previstos na Lei n

o 9.807, de 13 de julho de 1999.

Seção I

Da Investigação

Artigo 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente, remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade

do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea.

§ 2o O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1

o deste artigo não ficará impedido de

participar da elaboração do laudo definitivo.

Artigo 51. O inquérito policial será concluído no prazo de 30 (trinta) dias, se o indiciado estiver preso, e de 90 (noventa) dias, quando solto.

Parágrafo único. Os prazos a que se refere este artigo podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade de polícia judiciária.

Artigo 52. Findos os prazos a que se refere o artigo 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo:

I - relatará sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do agente; ou

II - requererá sua devolução para a realização de diligências necessárias.

Parágrafo único. A remessa dos autos far-se-á sem prejuízo de diligências complementares:

I - necessárias ou úteis à plena elucidação do fato, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento;

II - necessárias ou úteis à indicação dos bens, direitos e valores de que seja titular o agente, ou que figurem em seu nome, cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até 3 (três) dias antes da audiência de instrução e julgamento.

Artigo 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios:

I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados pertinentes;

II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.

104

Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.

Seção II

Da Instrução Criminal

Artigo 54. Recebidos em juízo os autos do inquérito policial, de Comissão Parlamentar de Inquérito ou peças de informação, dar-se-á vista ao Ministério Público para, no prazo de 10 (dez) dias, adotar uma das seguintes providências:

I - requerer o arquivamento;

II - requisitar as diligências que entender necessárias;

III - oferecer denúncia, arrolar até 5 (cinco) testemunhas e requerer as demais provas que entender pertinentes.

Artigo 55. Oferecida a denúncia, o juiz ordenará a notificação do acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

§ 1o Na resposta, consistente em defesa preliminar e exceções, o acusado poderá argüir

preliminares e invocar todas as razões de defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas que pretende produzir e, até o número de 5 (cinco), arrolar testemunhas.

§ 2o As exceções serão processadas em apartado, nos termos dos arts. 95 a 113 do Decreto-Lei

no 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.

§ 3o Se a resposta não for apresentada no prazo, o juiz nomeará defensor para oferecê-la em 10

(dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos no ato de nomeação.

§ 4o Apresentada a defesa, o juiz decidirá em 5 (cinco) dias.

§ 5o Se entender imprescindível, o juiz, no prazo máximo de 10 (dez) dias, determinará a

apresentação do preso, realização de diligências, exames e perícias.

Artigo 56. Recebida a denúncia, o juiz designará dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, ordenará a citação pessoal do acusado, a intimação do Ministério Público, do assistente, se for o caso, e requisitará os laudos periciais.

§ 1o Tratando-se de condutas tipificadas como infração do disposto nos arts. 33, caput e § 1

o, e

34 a 37 desta Lei, o juiz, ao receber a denúncia, poderá decretar o afastamento cautelar do denunciado de suas atividades, se for funcionário público, comunicando ao órgão respectivo.

§ 2o A audiência a que se refere o caput deste artigo será realizada dentro dos 30 (trinta) dias

seguintes ao recebimento da denúncia, salvo se determinada a realização de avaliação para atestar dependência de drogas, quando se realizará em 90 (noventa) dias.

Artigo 57. Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do acusado e a inquirição das testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao representante do Ministério Público e ao defensor do acusado, para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz.

Parágrafo único. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as perguntas correspondentes se o entender pertinente e relevante.

105

Artigo 58. Encerrados os debates, proferirá o juiz sentença de imediato, ou o fará em 10 (dez) dias, ordenando que os autos para isso lhe sejam conclusos.

§ 1o Ao proferir sentença, o juiz, não tendo havido controvérsia, no curso do processo, sobre a

natureza ou quantidade da substância ou do produto, ou sobre a regularidade do respectivo laudo, determinará que se proceda na forma do artigo 32, § 1

o, desta Lei, preservando-se, para eventual

contraprova, a fração que fixar.

§ 2o Igual procedimento poderá adotar o juiz, em decisão motivada e, ouvido o Ministério

Público, quando a quantidade ou valor da substância ou do produto o indicar, precedendo a medida a elaboração e juntada aos autos do laudo toxicológico.

Artigo 59. Nos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 a 37 desta Lei, o réu não poderá

apelar sem recolher-se à prisão, salvo se for primário e de bons antecedentes, assim reconhecido na sentença condenatória.

CAPÍTULO IV

DA APREENSÃO, ARRECADAÇÃO E DESTINAÇÃO DE BENS DO ACUSADO

Artigo 60. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade de polícia judiciária, ouvido o Ministério Público, havendo indícios suficientes, poderá decretar, no curso do inquérito ou da ação penal, a apreensão e outras medidas assecuratórias relacionadas aos bens móveis e imóveis ou valores consistentes em produtos dos crimes previstos nesta Lei, ou que constituam proveito auferido com sua prática, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei n

o 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal.

§ 1o Decretadas quaisquer das medidas previstas neste artigo, o juiz facultará ao acusado que,

no prazo de 5 (cinco) dias, apresente ou requeira a produção de provas acerca da origem lícita do produto, bem ou valor objeto da decisão.

§ 2o Provada a origem lícita do produto, bem ou valor, o juiz decidirá pela sua liberação.

§ 3o Nenhum pedido de restituição será conhecido sem o comparecimento pessoal do acusado,

podendo o juiz determinar a prática de atos necessários à conservação de bens, direitos ou valores.

§ 4o A ordem de apreensão ou seqüestro de bens, direitos ou valores poderá ser suspensa pelo

juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução imediata possa comprometer as investigações.

Artigo 61. Não havendo prejuízo para a produção da prova dos fatos e comprovado o interesse público ou social, ressalvado o disposto no artigo 62 desta Lei, mediante autorização do juízo competente, ouvido o Ministério Público e cientificada a Senad, os bens apreendidos poderão ser utilizados pelos órgãos ou pelas entidades que atuam na prevenção do uso indevido, na atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades.

Parágrafo único. Recaindo a autorização sobre veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento, em favor da instituição à qual tenha deferido o uso, ficando esta livre do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o seu perdimento em favor da União.

Artigo 62. Os veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte, os maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza, utilizados para a prática dos crimes definidos nesta Lei, após a sua regular apreensão, ficarão sob custódia da autoridade de polícia judiciária, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma de legislação específica.

106

§ 1o Comprovado o interesse público na utilização de qualquer dos bens mencionados neste

artigo, a autoridade de polícia judiciária poderá deles fazer uso, sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

§ 2o Feita a apreensão a que se refere o caput deste artigo, e tendo recaído sobre dinheiro ou

cheques emitidos como ordem de pagamento, a autoridade de polícia judiciária que presidir o inquérito deverá, de imediato, requerer ao juízo competente a intimação do Ministério Público.

§ 3o Intimado, o Ministério Público deverá requerer ao juízo, em caráter cautelar, a conversão do

numerário apreendido em moeda nacional, se for o caso, a compensação dos cheques emitidos após a instrução do inquérito, com cópias autênticas dos respectivos títulos, e o depósito das correspondentes quantias em conta judicial, juntando-se aos autos o recibo.

§ 4o Após a instauração da competente ação penal, o Ministério Público, mediante petição

autônoma, requererá ao juízo competente que, em caráter cautelar, proceda à alienação dos bens apreendidos, excetuados aqueles que a União, por intermédio da Senad, indicar para serem colocados sob uso e custódia da autoridade de polícia judiciária, de órgãos de inteligência ou militares, envolvidos nas ações de prevenção ao uso indevido de drogas e operações de repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, exclusivamente no interesse dessas atividades.

§ 5o Excluídos os bens que se houver indicado para os fins previstos no § 4

o deste artigo, o

requerimento de alienação deverá conter a relação de todos os demais bens apreendidos, com a descrição e a especificação de cada um deles, e informações sobre quem os tem sob custódia e o local onde se encontram.

§ 6o Requerida a alienação dos bens, a respectiva petição será autuada em apartado, cujos

autos terão tramitação autônoma em relação aos da ação penal principal.

§ 7o Autuado o requerimento de alienação, os autos serão conclusos ao juiz, que, verificada a

presença de nexo de instrumentalidade entre o delito e os objetos utilizados para a sua prática e risco de perda de valor econômico pelo decurso do tempo, determinará a avaliação dos bens relacionados, cientificará a Senad e intimará a União, o Ministério Público e o interessado, este, se for o caso, por edital com prazo de 5 (cinco) dias.

§ 8o Feita a avaliação e dirimidas eventuais divergências sobre o respectivo laudo, o juiz, por

sentença, homologará o valor atribuído aos bens e determinará sejam alienados em leilão.

§ 9o Realizado o leilão, permanecerá depositada em conta judicial a quantia apurada, até o final

da ação penal respectiva, quando será transferida ao Funad, juntamente com os valores de que trata o § 3

o deste artigo.

§ 10. Terão apenas efeito devolutivo os recursos interpostos contra as decisões proferidas no curso do procedimento previsto neste artigo.

§ 11. Quanto aos bens indicados na forma do § 4o deste artigo, recaindo a autorização sobre

veículos, embarcações ou aeronaves, o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao equivalente órgão de registro e controle a expedição de certificado provisório de registro e licenciamento, em favor da autoridade de polícia judiciária ou órgão aos quais tenha deferido o uso, ficando estes livres do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores, até o trânsito em julgado da decisão que decretar o seu perdimento em favor da União.

Artigo 63. Ao proferir a sentença de mérito, o juiz decidirá sobre o perdimento do produto, bem ou valor apreendido, seqüestrado ou declarado indisponível.

§ 1o Os valores apreendidos em decorrência dos crimes tipificados nesta Lei e que não forem

objeto de tutela cautelar, após decretado o seu perdimento em favor da União, serão revertidos diretamente ao Funad.

107

§ 2o Compete à Senad a alienação dos bens apreendidos e não leiloados em caráter cautelar,

cujo perdimento já tenha sido decretado em favor da União.

§ 3o A Senad poderá firmar convênios de cooperação, a fim de dar imediato cumprimento ao

estabelecido no § 2o deste artigo.

§ 4o Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz do processo, de ofício ou a

requerimento do Ministério Público, remeterá à Senad relação dos bens, direitos e valores declarados perdidos em favor da União, indicando, quanto aos bens, o local em que se encontram e a entidade ou o órgão em cujo poder estejam, para os fins de sua destinação nos termos da legislação vigente.

Artigo 64. A União, por intermédio da Senad, poderá firmar convênio com os Estados, com o Distrito Federal e com organismos orientados para a prevenção do uso indevido de drogas, a atenção e a reinserção social de usuários ou dependentes e a atuação na repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, com vistas na liberação de equipamentos e de recursos por ela arrecadados, para a implantação e execução de programas relacionados à questão das drogas.

TÍTULO V

DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Artigo 65. De conformidade com os princípios da não-intervenção em assuntos internos, da igualdade jurídica e do respeito à integridade territorial dos Estados e às leis e aos regulamentos nacionais em vigor, e observado o espírito das Convenções das Nações Unidas e outros instrumentos jurídicos internacionais relacionados à questão das drogas, de que o Brasil é parte, o governo brasileiro prestará, quando solicitado, cooperação a outros países e organismos internacionais e, quando necessário, deles solicitará a colaboração, nas áreas de:

I - intercâmbio de informações sobre legislações, experiências, projetos e programas voltados para atividades de prevenção do uso indevido, de atenção e de reinserção social de usuários e dependentes de drogas;

II - intercâmbio de inteligência policial sobre produção e tráfico de drogas e delitos conexos, em especial o tráfico de armas, a lavagem de dinheiro e o desvio de precursores químicos;

III - intercâmbio de informações policiais e judiciais sobre produtores e traficantes de drogas e seus precursores químicos.

TÍTULO VI

DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Artigo 66. Para fins do disposto no parágrafo único do artigo 1o desta Lei, até que seja atualizada

a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS n

o 344, de 12 de maio

de 1998.

Artigo 67. A liberação dos recursos previstos na Lei no 7.560, de 19 de dezembro de 1986, em

favor de Estados e do Distrito Federal, dependerá de sua adesão e respeito às diretrizes básicas contidas nos convênios firmados e do fornecimento de dados necessários à atualização do sistema previsto no artigo 17 desta Lei, pelas respectivas polícias judiciárias.

Artigo 68. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão criar estímulos fiscais e outros, destinados às pessoas físicas e jurídicas que colaborem na prevenção do uso indevido de drogas, atenção e reinserção social de usuários e dependentes e na repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.

108

Artigo 69. No caso de falência ou liquidação extrajudicial de empresas ou estabelecimentos hospitalares, de pesquisa, de ensino, ou congêneres, assim como nos serviços de saúde que produzirem, venderem, adquirirem, consumirem, prescreverem ou fornecerem drogas ou de qualquer outro em que existam essas substâncias ou produtos, incumbe ao juízo perante o qual tramite o feito:

I - determinar, imediatamente à ciência da falência ou liquidação, sejam lacradas suas instalações;

II - ordenar à autoridade sanitária competente a urgente adoção das medidas necessárias ao recebimento e guarda, em depósito, das drogas arrecadadas;

III - dar ciência ao órgão do Ministério Público, para acompanhar o feito.

§ 1o Da licitação para alienação de substâncias ou produtos não proscritos referidos no inciso II

do caput deste artigo, só podem participar pessoas jurídicas regularmente habilitadas na área de saúde ou de pesquisa científica que comprovem a destinação lícita a ser dada ao produto a ser arrematado.

§ 2o Ressalvada a hipótese de que trata o § 3

o deste artigo, o produto não arrematado será, ato

contínuo à hasta pública, destruído pela autoridade sanitária, na presença dos Conselhos Estaduais sobre Drogas e do Ministério Público.

§ 3o Figurando entre o praceado e não arrematadas especialidades farmacêuticas em condições

de emprego terapêutico, ficarão elas depositadas sob a guarda do Ministério da Saúde, que as destinará à rede pública de saúde.

Artigo 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal.

Parágrafo único. Os crimes praticados nos Municípios que não sejam sede de vara federal serão processados e julgados na vara federal da circunscrição respectiva.

Artigo 71. (VETADO)

Artigo 72. Sempre que conveniente ou necessário, o juiz, de ofício, mediante representação da autoridade de polícia judiciária, ou a requerimento do Ministério Público, determinará que se proceda, nos limites de sua jurisdição e na forma prevista no § 1

o do artigo 32 desta Lei, à destruição de

drogas em processos já encerrados.

Artigo 73. A União poderá celebrar convênios com os Estados visando à prevenção e repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de drogas.

Artigo 73. A União poderá estabelecer convênios com os Estados e o com o Distrito Federal, visando à prevenção e repressão do tráfico ilícito e do uso indevido de drogas, e com os Municípios, com o objetivo de prevenir o uso indevido delas e de possibilitar a atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas. (Redação dada pela Lei nº 12.219, de 2010)

Artigo 74. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após a sua publicação.

Artigo 75. Revogam-se a Lei no 6.368, de 21 de outubro de 1976, e a Lei n

o 10.409, de 11 de

janeiro de 2002.

Brasília, 23 de agosto de 2006; 185o da Independência e 118

o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Márcio Thomaz Bastos

109

Guido Mantega Jorge Armando Felix

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 24.8.2006

110

ANEXO III

CONVENÇÃO SOBRE SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS - VIENA

Divisão de Atos Internacionais

DECRETO Nº 79.388, DE 14 DE MARÇO DE 1977.

Promulga a Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA ,

Havendo o Congresso Nacional aprovado, pelo Decreto Legislativo nº 90, de 5 de dezembro de 1972, a Convenção sobre Substancias Psicotrópicas, assinada em Viena, a 21 de fevereiro de 1971;

Havendo o instrumento brasileiro de ratificação sido depositado junto Secretário-Geral da Organização das Nações Unidos, a 14 de fevereiro de 1973, com reservas aos parágrafos 1 e 2 do artigo 19 e ao artigo 31;

E havendo a referida Convenção, de conformidade com seu artigo 26, e parágrafo 1º, entrado em vigor, inclusive para o Brasil, a 16 de agosto de 1976;

DECRETA:

Que a Convenção, apenas por cópia ao presente Decreto, seja executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém.

Brasília, 14 de março de 1977; 156º da Independência e 89º da República.

ERNESTO GEISEL Antônio Francisco Azeredo da Silveira

CONVENÇÃO SOBRE SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS

As partes,

Preocupadas com a saúde e o bem-estar da humanidade;

Observando, com preocupação, os problemas sociais e de saúde-pública que resultam do abuso de certas substâncias psicotrópicas;

Determinadas a prevenir e combater o abuso de tais substâncias psicotrópicas;

Determinadas a prevenir e combater o abuso de tais substâncias e o tráfico ilícito a que dão ensejo;

Considerando que as medidas rigorosas são necessárias para restringir o uso de tais substâncias aos fins legítimos;

Reconhecendo que o uso de substâncias psicotrópicas para fins médicos e científicos é indispensável e que a disponibilidade daquelas para esses fins não deve ser indevidamente restringida;

111

Acreditando que medidas eficazes contra o abuso de tais substâncias requerem coordenação e ação universal;

Reconhecendo a competência das Nações Unidas no campo do controle de substância psicotrópicas e desejosos de que os órgãos internacionais interessados se situem dentro do âmbito daquela Organização;

Reconhecendo a necessidade de uma convenção internacional para a consecução de tais objetivos,

Convieram no seguinte:

ARTIGO 1º Expressões Empregadas

Exceto quando for expressamente indicado de maneira diversa, ou quando de outra forma o contexto o exigir, as expressões seguintes terão o significado que lhes é dado abaixo:

a) "Conselho" significa o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas.

b) "Comissão" significa a Comissão de Entorpecentes do Conselho.

c) "Órgão" significa o Órgão Internacional para Controle de Entorpecentes previsto na Convenção Única sobre Entorpecentesde 1961.

d) "Secretário-Geral" significa o Secretário-Geral das Nações Unidas.

e) "Substância psicotrópica" significa qualquer substância, natural ou sintética, ou qualquer material natural relacionado nas listas I,II,III ou IV.

f) "Preparado" significa:

(I) qualquer solução ou mistura, em qualquer estado físico, que contenha uma ou mais substâncias psicotrópicas; ou

(II) uma ou mais substâncias psicotrópicas em doses.

g) "Lista I" , "Lista II", "Lista III" e "Lista IV" significam as listas de substâncias psicotrópicas correspondentemente numeradas, anexas à presente Convenção, alteradas em conformidade com o artigo 2º.

h) "Exportação" e "Importação" significam, em suas respectivas comotações, a transferência física de uma substância psicotrópica de um Estado para outro Estado.

i) "Fabricação" significa todos os processos pelos quais se possam obter substâncias psicotrópicas e inclui tanto refinação como transformação de substâncias psicotrópicas em outras substâncias psicotrópicas. Essa expressão também inclui a feitura de preparados que não sejam aqueles aviados, mediante receita médica, em farmácias.

j) "Tráfico ilícito" significa a fabricação ou o tráfico de substâncias psicotrópicas efetuados em infração às disposições da presente Convenção.

k) "Região" significa qualquer parte de um Estado, a qual, em conformidade com o artigo 28, é tratada como uma entidade separada para os fins da presente Convenção.

l) "Instalações" significam edifícios ou partes de edifícios, inclusive áreas adjacentes aos mesmos.

ARTIGO 2º Âmbito do Controle de Substâncias

1. Se uma parte ou a Organização Mundial da Saúde forem informadas sobre uma substância que ainda não esteja sob controle internacional e tal informação parecer indicar, em sua opinião, a necessidade de incluir a substância em apreço em qualquer das Listas da presente Convenção, notificará o fato ao Secretário-Geral, fornecendo-lhe informações que fundamentem a notificação. Aplica-se, também, o procedimento acima quando uma parte ou a Organização Mundial da Saúde dispuser de informações que justifiquem a transferência de uma substância de uma lista para outra, ou a retirada de uma substância das listas.

2. O Secretário-Geral deverá transmitir tal notificação, bem como qualquer informação que considere relevante, às partes, à Comissão e, quando a notificação for feita por uma parte, à Organização Mundial da Saúde.

112

3. Se a informação transmitida juntamente com a notificação indicar a conveniência da inclusão da substância na Lista I ou na Lista II em conformidade com o parágrafo 4, as partes deverão examinar, à luz de toda a informação que lhes for disponível, a possibilidade da aplicação provisória à substância de todas as medidas de controle aplicáveis às substâncias incluídas na ListaI ou na Lista II, conforme o caso.

4. Se a Organização Mundial da Saúde concluir:

a) que a substância tem a capacidade de produzir

(I) (1) um estado de dependência; e

(2) estímulo ou depressão do sistema nervoso central, provocando alucinações ou perturbações das funções motoras, ou do raciocínio, ou do comportamento, ou da percepção ou do estado de ânimo, ou

(II) abusos e efeito nocivo semelhantes aos de uma substância constante das Listas I, II, III ou IV, e

b) que existam provas suficientes de que está ocorrendo ou é provável que venha a ocorrer, abuso de substância de forma a constituir-se um problema de saúde pública ou social, que justifique sua colocação sob controle internacional, a Organização Mundial da Saúde deverá enviar à Comissão uma apreciação da substância, inclusive até que ponto vai o abuso, ou possivelmente irá, o nível de gravidade dos problemas sociais e de saúde pública e o grau de utilidade médico-terapêutica da substância, juntamente com recomendações de medidas de controle, se necessárias, que seriam indicadas à luz de sua apreciação.

5. A Comissão, levando em conta a comunicação da Organização Mundial da Saúde cuja apreciação será imperativa quanto aos aspectos médicos e científicos, e tendo em mente os fatores econômicos, sociais, legais, administrativos e outros que julgar relevantes, poderá acrescentar a substância às Listas I, II, III ou IV. A Comissão poderá solicitar mais informações junto à Organização Mundial da Saúde ou a qualquer outra fonte adequada.

6. Se uma notificação, nos termos do parágrafo 1, se relacionar com uma substância já incluída em uma das Listas, a Organização Mundial da Saúde deverá comunicar à Comissão suas novas conclusões, qualquer nova apreciação da substância que tenha feito em conformidade com o parágrafo 4 e qualquer nova recomendação de medidas de controle que julgar apropriadas à luz daquela apreciação. A comissão, levando em conta a notificação da Organização Mundial da Saúde, feita nos termos do parágrafo 5, e tendo em mente os fatores mencionados naquele parágrafo, poderá decidir transferir a substância de uma lista para outra, ou retirá-la das listas.

7. Qualquer decisão da Comissão tomada em conformidade com este artigo deverá ser comunicada pelo Secretário-Geral a todos os Estados membros das Nações Unidas, aos Estados não membros partes na presente Convenção, à Organização Mundial da Saúde e ao Órgão. Tais decisões entrarão em vigor para cada parte 180 dias após a data da referida comunicação, exceto para qualquer parte que, dentro daquele período, a respeito de uma decisão que acrescente uma substância a uma Lista, tenha transmitido ao Secretário-Geral uma notificação, por escrito, de que, em vista de circunstâncias excepcionais, não está em condições de dar cumprimento, com relação àquela substância, a todas as disposições da presente Convenção aplicáveis a substâncias incluídas naquela lista. Tal notificação deverá apresentar as razões para essa ação excepcional. A despeito de sua notificação, cada parte deverá aplicar, no mínimo, as medidas de controle relacionadas abaixo:

a) uma parte que tenha feito tal notificação, com respeito a uma substância anteriormente não controlada, introduzida na Lista I, deverá levar em conta, tanto quanto possível, as medidas especiais de controle enumeradas no artigo 6º e, com relação àquela substância, deverá:

(I) exigir licenças para a fabricação, comércio e distribuição conforme o disposto no artigo 8º para as substâncias incluídas na Lista II;

(II) exigir receitas médicas para o fornecimento ou aviamento, em conformidade com o disposto no artigo 9º, das substâncias incluídas na Lista II;

(III) cumprir as obrigações relacionadas com a exportação e importação previstas no artigo 12, exceto em relação a outra parte que tenha feito tal notificação quanto à substância em apreço;

(IV) cumprir com as obrigações previstas no artigo 13 quanto a substâncias incluídas na Lista II com respeito à proibição e às restrições de exportação e importação;

(V) fornecer relatórios estatísticos ao Órgão, em conformidade com o parágrafo 4 (a) de artigo 16; e

113

(VI) tomar medidas em conformidade com o artigo 22 para a repressão de atos que infrinjam as leis ou regulamentos adotados em cumprimento às obrigações acima.

d) uma parte que haja feito tal notificação em relação a uma substância anteriormente não controlada incluída na Lista IV, deverá, com respeito àquela substância:

(i) exigir licenças para a fabricação, comércio e distribuição, em conformidade com o artigo 8º;

(ii) cumprir com as obrigaões do artigo 13 relativamente à proibição ou restrições de exportação e importação; e

(iii) tomar medidas, em conformidade com o artigo 22, para a repressão de atos que infrinjam as leis ou regulamentos adotados em cumprimento às obrigações acima.

e) cumprir as obrigações relacionadas com exportação e importação previstas no artigo 12, exceto em relação a outra Parte que tenha feito tal notificação quanto à substância em apreço;

(IV) cumprir as obrigações do artigo 13 com relação a proibições e restrições da importação e exportação; e

(V) fornecer relatórios estatísticos ao Órgão, em conformidade com os parágrafos 4 (a), (c) e (d) do artigo 16; e

(VI) tomar medidas, em conformidade com o artigo 22, para a repressão de atos que infrinjam as leis ou regulamentos adotados em cumprimento às obrigações acima.

c) Uma parte que haja feito tal notificação com relação a uma substância, anteriormente não controlada, incluída na Lista III, deverá, com respeito àquela substância:

(I) exigir licenças para a fabricação, comércio e distribuição, em conformidade com o artigo 8º;

(II) exigir receitas médicas para o fornecimento e aviamento, em conformidade com o artigo 9º;

(III) cumprir as obrigações relacionadas com exportação previstas no artigo 12, exceto com relação a outra parte que tenha feito tal notificação quanto à substância em apreço;

(IV) cumprir com as obrigações do artigo 13 com relação a proibições e restrições da importação e exportação; e

(V) tomar medidas, em conformidade com o artigo 22, para a repressão de atos que infrinjam as leis ou regulamentos adotados em cumprimento às obrigações acima.

d) Uma parte que haja feito tal notificação em relação a uma substância anteriormente não controlada, incluída na Lista IV, deverá, com respeito àquela substância:

(I) exigir licenças para a fabricação, comércio e distribuição, em conformidade com o artigo 8º;

(II) cumprir com as obrigações do artigo 13 relativamente à proibição ou restrições de exportação e importação; e

(III) tomar medidas, em confromidade com o artigo 22, para a repressão dos atos que infrinjam as leis ou regulamentos adotados em obediência às obrigações acima.

e) Uma parte que haja feito tal notificação em relação a uma substância transferida para uma Lista que preveja controle e obrigações mais severos deverá aplicar, no mínimo, todas as disposições da presente Convenção aplicáveis à Lista da qual ela foi transferida.

8. a) As decisões da Comissão tomadas nos termos deste artigo estarão sujeitas à revisão pelo Conselho mediante solicitação de qualquer parte que seja registrada dentro de 180 dias a contar do recebimento da notificação da decisão. O pedido de revisão deverá ser enviado ao Secretário-Geral juntamente com todas as informações relevantes sobre as quais se baseie o pedido de revisão.

b) O Secretáio-Geral transmitirá cópias do pedido de revisão e as informações relevantes à Comissão, à Organização Mundial da Saúde e a todas as partes, convidando-as a emitirem pareceres dentro de noventa dias. Todos os pareceres serão submetidos a consideração do Conselho.

c) O Conselho poderá confirmar, alterar ou revogar a decisão da Comissão. A decisão do Conselho será notificada a todos os Estados membros das Nações Unidas, a Estados não membros partes na presente Convenção, à Comissão, à Organização Mundial da Saúde e ao Órgão.

114

d) Enquanto se aguardar a revisão, a decisão original do Conselho, respeitado o parágrafo 7º, permanecerá em vigor.

9. As partes deverão envidar seus maiores esforços para aplicar as possíveis medidas de controle às substâncias que, não estando cobertas pela presente Convenção, possam ser usadas na fabricação ilícita de substâncias psicotrópicas.

ARTIGO 3º Disposições Especiais Relativas ao Controle de Preparados

1. Excetuando-se o disposto nos seguintes parágrafos deste artigo, um preparado está sujeito às mesmas medidas de controle que a substância psicotrópica nele contida, e, se ele contiver mais de uma substância, às medidas aplicáveis à substância cujo controle for mais severo.

2. Se um preparado contiver uma substância psicotrópica diferente das contidas na Lista I e tiver uma composição tal que o risco indevido é nulo ou insignificante, e a substância não puder ser recuperada por meios facilmente aplicáveis numa quantidade que se preste a uso indevido, de modo que tal preparado não dê lugar a um problema sanitário e social, o preparado poderá ficar isento de alguma das medidas de fiscalização prevista nesta Convenção conforme o disposto no parágrafo 3.

3. Se uma parte chegar a uma conclusão com relação a um preparado, conforme o que diz o parágrafo precedente, poderá decidir isentar tal preparado, no país ou em uma de suas regiões, de toda e qualquer medida de controle prevista na presente Convenção, exceto as exigências de:

a) artigo 8º (licenças), no que se aplica à fabricação;

b) artigo 11 (registros), no que diz respeito a preparados isentos;

c) artigo 13 (proibição e restrições de exportação e importação);

d) artigo 15 (inspeção), no que diz respeito à fabricação;

e) artigo 16 (relatórios a serem fornecidos pelas partes), no que diz respeito a preparados isentos; e

f) artigo 22 (disposições penais), na medida necessária para a repressão de atos que infrinjam as leis ou regulamentos adotados em cumprimento às obrigações acima.

Uma parte deverá notificar o Secretário-Geral de qualquer decisão nesse sentido, o nome e a composição do preparado isento, e as medidas de controle das quais ele é isento. O Secretário-Geral transmitirá a notificação às outras partes, à Organização Mundial da Saúde e ao Órgão.

4. Se uma parte ou a Organização Mundial da Saúde receber informações sobre um preparado isento nos termos do parágrafo 3, que, em sua opinião, justifiquem a supressão total ou parcial de tal isenção, notificará o Secretário-Geral e fornecer-lhe-á as informações que apoiam sua notificação. O Secretário-Geral deverá transmitir tal notificação, e qualquer informação que considere relevante, às partes, à Comissão, e, quando a notificação for feita por uma parte, a Organização Mundial da Saúde deverá enviar à Comissão uma apreciação do preparado em relação aos assuntos especificados no parágrafo 2, juntamente com uma recomendação das medidas de controle, se as houver, das quais o preparado deixará de ser isento. A Comissão, levando em conta a comunicação da Organização Mundial da Saúde, cuja apreciação será imperativa quanto a aspectos médicos e científicos, e tendo em mente fatores econômicos, sociais, legais, administrativos e outros que considere relevantes, poderá decidir anular a isenção do preparado de alguma ou de todas as medidas de controle. Qualquer decisão da Comissão tomada nos termos deste parágrafo deverá ser comunicada pelo Secretário-Geral a todos os Estados membros das Nações Unidas, aos Estados não membros partes na presente Convenção, à Organização Mundial da Saúde e ao Órgão. Todas as partes deverão tomar providências com o fim de suprimir a isenção de medidas de controle ou outras em causa, dentro de 180 dias a contar da data da comunicação do Secretário-Geral.

ARTIGO 4º Outras Disposições Especiais Relativas ao Âmbito do Controle

Com respeito às substâncias psicotrópicas diferentes das incluídas na Lista I, as partes poderão permitir:

a) o transporte, por viajantes internacionais, de pequenas quantidades para uso pessoal; cada parte terá o direito, entretanto, de averiguar se esses preparados foram legalmente obtidos;

b) o uso de tais substâncias na indústria para a fabricação de substâncias ou produtos não psicotrópicos, sujeitos à aplicação das medidas de controle exigidas pela presente Convenção, até o

115

momento em que tais substâncias psicotrópicas atinjam uma condição que impossibilite na prática o abuso ou a recuperação;

c) o uso de tais substâncias sujeitas à aplicação das medidas de controle exigidas pela presente Convenção, para a captura de animais, por pessoas especificamente autorizadas pelas autoridades competentes a utilizar tais substâncias para aquele fim.

ARTIGO 5º Limitação do Uso a Fins Médicos e Científicos

1. Cada parte deverá limitar o uso das substâncias incluídas na Lista I, em conformidade com o disposto no artigo 7º.

2. Cada parte deverá, excetuando-se as disposições do artigo 4º, limitar, por meio das medidas que considerar apropriadas, a fabricação, exportação, importação, a distribuição, o comércio, o armazenamento, o uso e a posse de substâncias incluídas nas Listas II, III e IV, a fins médicos e científicos.

3. É desejável que as partes não permitam a posse de substâncias incluídas nas Listas II, III e IV, exceto sob autoridade legal.

ARTIGO 6º Administração Especial

É desejável que, para os fins de aplicar as disposições da presente Convenção, cada parte estabeleça e mantenha uma administração especial, a qual poderá, com vantagem, ser a mesma administração especial instituída em cumprimento às disposições de convenções para controle de entorpecentes, ou com ela trabalhar em estreita cooperação.

ARTIGO 7º Disposições Especiais sobre substâncias Incluídas na Lista I,

Com respeito às substâncias incluídas na Lista I, as partes deverão:

a) proibir todo o uso, exceto para fins científicos e para fins médicos muito limitados, por pessoa devidamente autorizada, em estabelecimentos médicos ou científicos que estejam diretamente sob o controle de seus Governos ou hajam sido por eles especificamente aprovados;

b) exigir que a fabricação, comércio, distribuição e posse sejam realizados sob licença especial ou mediante autorização prévia;

c) Providenciar estreita fiscalização das atividades e atos mencionados nas alíneas a e b ;

d) restringir o suprimento a pessoa devidamente autorizada à quantidade exigida para o objetivo autorizado;

e) exigir das pessoas que exerçam funções médicas ou científicas que mantenham registros relativos à aquisição das substâncias e aos pormenores de sua utilização, devendo tais registros serem conservados por, pelo menos, dois anos após a última utilização registrada; e

f) proibir a exportação e importação, exceto quando o exportador e importador forem, ambos, autoridades ou repartições competentes do país ou região importadora ou exportadora, respectivamente, ou outras pessoas ou empresas que sejam especificamente autorizadas pelas autoridades competentes de seu país ou região para tal fim. As exigências do parágrafo 1 do artigo 12 para as autorizações de exportação e importação de substâncias incluídas na Lista II também se aplicam às substâncias incluídas na Lista I.

ARTIGO 8º Licenças

1. As partes deverão exigir que a fabriacação, cómercio (inclusive exportação e importação) e distribuição das substâncias incluídas nas Listas II, III e IV sejam realizadas sob licença ou outra medida de controle semelhante.

2. As partes deverão:

a) fiscalizar todas as pessoas e empresas devidamente autorizadas que efetuem a fabricação, cómercio (inclusive exportação e importação) ou distribuição de substâncias mencionadas no parágrafo 1;

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b) controlar, através de licença ou de outra medida de controle, semelhante, os estabelecimentos e instalações onde tal fabricação, cómercio ou distribuição se façam; e

c) providenciar para que sejam tomadas medidas de segurança com relação a tais estabelecimentos e instalações a fim de impedir o furto ou outro desvio dos estoques.

3. As disposições dos parágrafos 1 e 2 deste artigo relacionadas com licenciamento ou outras medidas de controle semelhantes não se aplicam, necessariamente, a pessoas devidamente autorizadas para exercer funções teraupêuticas ou científicas, e enquanto os estejam exercendo.

4. As partes deverão exigir que todas as pessoas que obtiverem licenças em conformidade com a presente Convenção ou que estejam autorizadas nos termos do parágrafo 1º deste artigo, ou da alínea b do artigo 7, sejam adequadamente qualificadas para a efetiva e fiel execução das disposições das leis e regulamentos que forem adotados em cumprimento à presente Convenção.

ARTIGO 9º Receitas

1. As partes deverão exigir que as substâncias incluídas nas Listas II, III e IV só sejam fornecidas ou preparadas para uso individual mediante receita médica, exceto quando os indivíduos possam legalmente obter, utilizar, fornecer ou aviar tais substâncias no exercício de funções teraupêuticas ou científicas devidamente autorizadas.

2. As partes devem tomar medidas para assegurar que as receitas para as substâncias incluídas nas Listas II, III e IV só sejam concedidas com base em sólida experiência médica, e sujeitas a regulamentos, especialmente no que diz respeito ao número de vezes que poderão ser renovadas e a seu prazo de validade, de forma a proteger a saúde e o bem-estar públicos.

3. Apesar das disposições do parágrafo 1, uma parte poderá, se, em sua opinião, as circunstâncias locais o exigirem, e sob tais condições, inclusive a de manter os registros, que possa estabelecer, autorizar farmacêuticos licenciados ou outros distribuidores a varejo licenciados, designados pelas autoridades responsáveis pela saúde pública, em seu país ou em parte dele, em casos excepcionais a fornecer pequenas quantidades de acordo com seu critério e sem exigência de receita para uso com finalidade médica, dentro de limites a serem estabelecidos pelas partes, de substâncias incluídas nas Listas III e IV.

ARTIGO 10 Avisos nas Embalagens e Publicidades

1. Cada parte deve exigir, levando em conta quaisquer regulamentos ou recomendações pertinentes da Organização Mundial da Saúde, o cumprimento de tais instruções para utilização, inclusive cautelas e avisos, a serem opostos sobre as etiquetas, quando isso for praticável, ou, em qualquer caso, na bula que acompanha os pacotes para a distribuição a varejo de substâncias psicotrópicas, que sejam necessárias, em sua opinião, para a segurança do usuário.

2. Cada parte deve, respeitadas suas disposições constitucionais, proibir a publicidade de tais substâncias para o público em geral.

ARTIGO 11 Registros

1. As partes devem exigir, com relação às substâncias incluídas na Lista I, que os fabricantes e outras pessoas autorizadas nos termos do artigo 7 a comerciar com tais substâncias e distribuí-las mantenham registros que, na forma estabelecida por cada parte, apresentem especificação das quantidades fabricadas, as quantidades mantidas em estoque e, para cada compra e venda, especificação da quantidade, data, fornecedor e recebedor.

2. As partes devem exigir com relação às substâncias incluídas nas Listas II e III, que os fabricantes, distribuidores atacadistas, exportadores e importadores mantenham registros, na forma estabelecida por cada parte, que apresentem especificação das quantidades fabricadas e, para cada compra e venda, especificação da quantidade, data, fornecedor e recebedor.

3. As partes devem exigir, com relação às substâncias incluídas na Lista II, que distribuidores a varejo, instituições médico-hospitalares e instituições científicas mantenham registros, na forma estabelecida por cada parte, que apresentem especificações para cada compra e venda da quantidade data, fornecedor e recebedor.

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4. As partes deverão assegurar, pelos meios apropriados, e levando em conta as práticas comerciais e profissionais de seu país, que as informações sobre compra e venda de substâncias incluídas na Lista III por distribuidores a varejo, instituições médico-hospitalares e instituições científicas estejam disponíveis para pronta utilização.

5. As partes devem exigir, com relação ás substâncias incluídas na Lista IV, que os fabricantes, exportadores e importadores mantenham registros que, na forma estabelecida por cada parte, apresentem as quantidades fabricadas, exportadas e importadas.

6. As partes devem exigir dos fabricantes de preparados isentos, nos termos do parágrafo 3º do artigo 3, que mantenham registros das quantidades de cada substância psicotrópica utilizada na fabricação de um preparado isento, e de natureza, quantidade total e fornecimento inicial do preparado isento fabricado a partir dela.

7. As partes devem assegurar que os registros e informações mencionados neste artigo, e que são exigidos para os fins de elaboração de relatórios nos termos do artigo 16, sejam conservados durante, pelo menos dois anos.

ARTIGO 12 Disposições Relativas ao Comércio Internacional

1. a) Toda parte que permita a exportação ou importação de substâncias incluídas na Lista I e II deve exigir uma autorização em separado de importação ou exportação em formulário a ser estabelecido pela Comissão, que deverá ser obtido para cada uma de tais exportações e importações, quer consistam de uma ou mais substâncias.

b)Tal autorização deve especificar a designação vulgar internacional (INM), ou, na falta de tal, a designação da substância na Lista, a quantidade a ser exportada ou importada a forma farmacêutica, o nome e endereço do exportador e do importador e o prazo dentro do qual a exportação ou importação deve ser efetuada. Se a substância for exportada ou importada na forma de um preparado, o nome do preparado, se houver, deve ser fornecido adicionalmente. A autorização de exportação deve também especificar o número e a data da autorização de importação e a autoridade por quem foi expedida.

c) Antes de expedir uma autorização de exportação, as partes devem exigir uma autorização de importação, expedida pela autoridade competente do país ou região importadores e que certifique ter sido aprovado a importação da substância nela mencionada, e tal autorização deve ser apresentada pela pessoa ou estabelecimento que requeira a autorização de exportação.

d) Uma cópia da autorização de exportação deve acompanhar cada consignação, e o Governo que expeça a autorização de exportação deve enviar uma cópia ao Governo do país ou região importadores.

e) O Governo do país ou região importadores, quando a importação houver sido efetuada, deve restituir a autorização de exportação, com um endosso que ateste a quantidade realmente importada, ao Governo do país ou região exportadores.

2. a) As partes devem exigir que, para cada exportação de substâncias incluídas na Lista III, os exportadores façam uma declaração, em três vias em formulário a ser estabelecido pela Comissão, contendo as seguintes informações:

(I) o nome e endereço do exportador e do importador;

(II) a designação vulgar internacional (INN) ou, na falta desta, a designação da substância na Lista;

(III) a quantidade e forma farmacêutica em que for exportada e substância, e, se o for sob forma de preparado, o nome do preparado, se houver; e

(IV) a data de expedição.

b) Os exportadores devem fornecer às autoridades competentes de seu país ou região duas vias da declaração. Devem juntar a terceira via à sua consignação.

c) Uma parte, de cujo território, uma substância incluída na Lista III tenha sido exportada, deve, logo que possível, mas não depois de noventa dias da data de expedição, enviar às autoridades competentes do país ou região importadores, em sobrecarta registrada, com a exigência de acusação de recebimento, uma via de declaração recebida do exportador.

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d) As partes podem exigir que, no momento em que receber a consignação, o importador envie às autoridades competentes de seu país ou região a cópia que acompanha a consignação devidamente endossada e a data do recebimento.

3. Com relação às substâncias incluídas nas Listas I e II aplicam-se as seguintes adicionais:

a) As partes exercerão sobre os portos livres e zonas francas a mesma fiscalização e controle que exercem em outras partes de seu território, mas ficam com faculdade de exercer medidas mais drásticas.

b) Serão proibidas as exportações de consignações para uma caixa postal, ou para um banco na conta de uma pessoa diferente da designada na autorização de exportação.

c) Serão proibidas as exportações para armazéns alfandegados de consignações de substâncias incluídas na lista. Serão proibidas, também, as exportações de consignações de substâncias incluídas na Lista II, para um armazém alfandegado, a menos que o Governo do país importador ateste, na autorização de importação exigida pela pessoa ou estabelecimento que requeira a autorização de exportação, que aprovou a importação para fins de ser depositada em um armazém alfandegado. Em tal caso, a autorização de exportação deve atestar que a consignação foi exportada para aquele fim. Cada retirada do armazém alfandegado deve exigir uma permissão das autoridades que têm jurisdição sobre o armazém alfandegado e, no caso de uma destinação no exterior, deve ser tratada como se fosse uma nova exportação dentro do significado da presente Convenção.

d) As consignações que entrem no território de uma parte, ou dele saiam, sem estarem acompanhadas por uma autorização de exportação, devem ser apreendidas pelas autoridades competentes.

e) Uma parte não deve permitir que quaisquer substâncias consignadas a outro país passem através de seu território, quer seja ou não removida do veículo no qual é transportada, a menos que uma via da autorização de exportação para consignação seja exibida às autoridades da parte em questão.

f) As autoridades competentes de qualquer país ou região através dos quais uma consignação de substância tiver permissão de passar devem tomar todas as providências para evitar o desvio da consignação para uma destinação diferente da que foi designada na via de autorização de exportação que a acompanha, a menos que o Governo do país ou região, através dos quais a consignação está passando, autorize o desvio. O Governo do país ou região de trânsito deve tratar qualquer desvio solicitado como se o desvio fosse exportação do país ou região de trânsito para o país ou região da nova destinação. Se o desvio for autorizado, as disposições do paragráfo 1 ( e ) serão também aplicadas entre o país ou região de trânsito e o país ou região que, originalmente, exportou a consignação.

g) Nenhuma consignação de substância, enquanto esteja em trânsito ou sendo, armazenada em um armazém alfandegado, poderá ser submetido a qualquer processo que venha a alterar a natureza da substância em questão. A embalagem não pode ser alterada sem a autorização das autoridades competentes.

h) As disposições das alíneas ( e ) a ( g ) relativas à passagem de substâncias através do território de uma parte não serão aplicadas quando a consignaçào em questão for transportada por aeronave que não aterrisse no país ou região de trânsito. Se a aeronave aterissar nesse país ou região, essas disposições serão aplicados na medida exigida pelas circunstâncias.

i) As disposições deste parágrafo não prejudicam as disposições de qualquer acordo internacional que limite o controle que pode ser exercido por qualquer das partes sobre tais substâncias em trânsito.

ARTIGO 13 Proibição e Restrições à Exportação e Importação

1. Uma parte pode notificar todas as outras partes através do Secretário-Geral, de que proibirá a importação para seu país, ou para uma de suas regiões, de uma ou mais substâncias incluídas nas Listas II, III ou IV, especificadas em sua notificação. Tal notificação deverá especificar o nome da substância, conforme designada nas Listas II, III ou IV.

2. Se uma parte tiver sido notificada de uma proibição nos termos do parágrafo 1, deve tomar medidas para assegurar-se de que nenhuma das substâncias especificadas na notificação seja exportada para o país, ou qualquer região, da parte que fez a notificação.

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3. Não obstante as disposições do parágrafo anterior, uma parte que tenha feito uma notificação nos termos do parágrafo 1 pode autorizar, em cada caso, por meio de uma licença especial de importação, a importação de quantidades especificadas das substâncias em questão ou de preparados que contenham tais substâncias. A autoridades que expede a licença no país importador deverá enviar duas vias de licença especial de importação, indicando o nome e endereço do importador e do exportador, à autoridade competente do país ou região exportadores, a qual poderá então autorizar o exportador a proceder ao embarque. Uma via da licença especial de importação, devidamente endossada pela autoridade competente do país ou região exportadores, deve acompanhar o carregamento.

ARTIGO 14

Disposições Especiais sobre o Transporte de Substâncias Psicotrópicas em Estojos de Primeiros Socorros de Navios e Aeronaves ou outros Meios de Transportes Coletivos no Tráfego Internacional

1 O transporte internacional de substâncias psicotrópicas incluídas nas Listas II, III e IV por navios, aeronaves e outros meios de transporte coletivo, tais como trens e ônibus internacionais, nas quantidades limitadas que possam ser necessárias em sua viagem para fins de primeiros socorros ou casos de emergência, não será considerado como exportação, importação, ou passagem através de um país, de acordo com a presente Convenção.

2. Medidas de salvaguarda apropriadas dever ser tomadas pelo país de registro a fim de impedir o uso inapropriado das substâncias mencionadas no parágrafo 1, ou seu desvio para fins ilícitos. A comissão, em consulta com as organizações internacionais adequadas, deve recomendar tais salvaguardas.

3. As substâncias transportadas por navios, aeronaves, ou outras formas de transporte internacional coletivo, tais como trens e ônibus internacionais, em conformidade com o parágrafo 1, serão sujeitas às leis, regulamentos, permissão e licenças do país de registro, sem prejuízo dos direitos das autoridades locais competentes de levarem a efeito revistas, inspeções e outras medidas de controle a bordo desses veículos. O emprego de tais substâncias no caso de emergência não será considerado uma violação das exigências do parágrafo 1 do artigo 9º.

ARTIGO 15 Inspeção

As partes devem manter um sistema de inspeção dos fabricantes, exportadores, importadores o distribuidores atacadistas e varejistas de substâncias psicotrópicas, bem como das instituições médicas e científicas que fazem uso de tais substâncias. Devem tomar providências para que se realizem inspeções, tão freqüentemente quanto considerarem necessário, das instalações, estoques e registros.

ARTIGO 16 Relatórios a Serem Fornecidos pelas Partes

1. As partes devem fornecer ao Secretário-Geral as informações que a Comissão possa exigir como necessárias ao cumprimento de suas funções e, em particular, um relatório anual relativo à execução da presente Convenção em seu território, que inclua informações sobre:

a) modificações importantes em suas leis e regulamentos relativas a substâncias psicotrópicas;

b) ocorrências significativas quanto ao abuso e tráfico ilícito de substâncias psicotrópicas no interior de seu território;

2. As partes devem também comunicar ao Secretário-Geral os nomes e endereços das autoridades governamentais mencionadas na alínea (f) do artigo 7, no artigo 12 e no parágrafo 3 do artigo 13. Tais informações deverão ser comunicadas às partes pelo Secretário-Geral.

3. As partes devem fornecer ao Secretário-Geral, o mais breve possível após a ocorrência, um relatório sobre qualquer caso de tráfico ilícito de substâncias psicotrópicas; ou de apreensão de drogas, objeto de tráfico ilícito, que considerem importante devido:

a) a manifestações de novas tendências;

b) à quantidade em questão;

c) a novos dados quanto à fonte onde são obtidas as substâncias psicotrópicas; ou

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d) aos métodos empregados pelos traficantes ilícitos. Serão distribuídas cópias de relatório, em conformidade com a alínea (b) do artigo 21.

4. As partes devem fornecer ao Órgão relatórios estatísticos anuais em conformidade com os formulários preparados pelo órgão:

a) com relação a cada substância incluída nas Listas I e II, sobre as quantidades fabricadas, exportadas e importadas por cada país ou região, bem como sobre os estoques mantidos pelos fabricantes;

b) com relação a cada substância incluída nas Listas III e IV, sobre as quantidades fabricadas, bem como sobre as quantidades totais exportadas e importadas;

c) com relação a cada substância incluída nas Listas II e III, sobre as quantidades utilizadas na fabricação de preparados isentos; e

d) com relação a cada substância que não é incluída na Lista I, sobre as quantidades utilizadas para fins industriais em conformidade com a alínea (b) do artigo 4.

As quantidades fabricadas a que fazem menção as alíneas (a) e (b) deste parágrafo não incluem as quantidades de preparados fabricados.

5. A parte deve fornecer ao Órgão, a seu pedido, informações estatísticas suplementares relativas a períodos futuros sobre as quantidades de qualquer substância em particular, incluída nas Listas III ou IV, exportada para ou importada de cada país ou região. Essa parte pode exigir que o Órgão trate, confidencialmente, tanto o pedido que formular, quanto as informações fornecidas nos termos deste parágrafo.

6. As partes devem fornecer as informações mencionadas nos parágrafos nos parágrafos 1 e 4, na forma e nas datas que a Comissão ou o Órgão especificarem.

ARTIGO 17 Funções da Comissão

1. A Comissão poderá considerar todos os assuntos relativos aos fins da presente Convenção e à implementação de suas disposições e pode fazer recomendações a esse respeito.

2. As decisões da Comissão previstas nos artigos 2º e 3º serão tomadas por uma maioria de dois terços dos membros da Comissão.

ARTIGO 18 Relatório do Órgão

1. O Órgão deve preparar relatórios anuais sobre seu trabalho contendo uma análise das informações estatísticas em seu poder e, nos casos apropriados, um arrazoado das explicações dadas ou solicitadas por qualquer Governo, se as houver, juntamente com quaisquer observações ou recomendações que o Órgão desejar fazer. O Órgão pode fazer relatórios adicionais que julgar necessários. Os relatórios devem ser submetidos ao Conselho através da Comissão, a qual pode fazer os comentários que julgar convenientes.

2. Os relatórios do Órgão serão transmitidos às partes e subseqüentemente publicados pelo Secretário-Geral. As partes devem permitir sua distribuição irrestrita.

ARTIGO 19

Medidas a Serem Tomadas pelo Órgão a fim de Assegurar a Execução das Disposições da Convenção :

1. a) Se, com base no exame das informações apresentadas pelos Governos ao Órgão, ou das informações transmitidas pelos órgão, ou das informações transmitidas pelos órgãos das Nações Unidas, o Órgão tiver razões para acreditar que os propósitos da presente Convenção estão seriamente ameaçados em virtude do não cumprimento, por parte de um país ou região, das disposições da presente Convenção, o Órgão terá direito de pedir explicações ao Governo no país ou região em apreço. Respeitado o direito do Órgão de chamar a atenção das partes, do Conselho ou da Comissão para o assunto mencionado na alínea c abaixo, deve ele tratar confidencialmente um pedido de informação ou explicação dada por um Governo nos termos desta alínea.

b) Depois de haver agido em conformidade com a alínea a, o Órgão, se estiver convencido de que é necessários fazê-lo, poderá convidar o Governo em apreço a adotar as medidas corretivas que,

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dadas as circunstâncias, parecerem necessárias à execução das disposições da presente Convenção.

c) Se o Órgão julgar que o Governo em apreço não deu explicações satisfatórias quando convidado a fazê-lo, em conformidade com a alínea a, ou não adotou quaisquer medidas corretivas quando convidado a fazê-lo, em conformidade com a alínea b, poderá chamar a atenção das partes, do Conselho e da Comissão para o assunto.

2. O Órgão, quando chamar a atenção das partes, do Conselho e da Comissão para um assunto, em conformidade com o parágrafo 1 c deste artigo, poderá, se julgar que tal procedimento é necessário, recomendar às partes que suspendam sua exportação, importação, ou ambas, de uma substância psicotrópica em particular, com respeito ao país ou região em apreço, seja por um período determinado, ou até que o Órgão julgue satisfatória a situação no país ou região. O Estado em questão poderá submeter o assunto ao Conselho.

3. O Órgão terá o direito de publicar um relatório sobre qualquer assunto tratado em conformidade com as disposições deste artigo e comunicá-lo ao Conselho, o qual deverá transmiti-lo às partes. Se o Órgão publicar em tal relatório uma decisão tomada nos termos deste artigo ou qualquer informação a ele relacionada, deverá também publicar, no mesmo relatório, a opinião do Governo interessado, se este assim o solicitar.

4. Se, em qualquer caso, a decisão do Órgão não for unânime, a opinião da minoria deve ser apresentada.

5. Qualquer Estado será convidado a se fazer representar em uma reunião do Órgão na qual se deva tratar, nos termos deste artigo, de uma questão que seja diretamente de seu interesse.

6. As decisões do Órgão nos termos deste artigo serão tomadas por uma maioria de dois terços do número total do Órgão.

7. Aplicar-se-ão, também, as disposições dos parágrafos acima se o Órgão tiver razões para acreditar que os propósitos da presente Conveção estão seriamente ameaçadas em virtude de uma decisão tomada por uma das partes nos termos do parágrafo 7 do artigo 2º.

ARTIGO 20 Medidas Contra o Abuso de Substâncias Psicotrópicas

1. As partes tomarão todas as medidas viáveis para impedir o abuso de substâncias psicotrópicas e para a pronta identificação, tratamento, pós-tratamento, educação, reabilitação e reintegração social das pessoas envolvidas, e deverão coordenar seus esforços para tais fins.

2. As partesw promoverão, tanto quanto possível, o treinamento de pessoal destinado ao tratamento, pós-tratamento, reabilitação e reintegração social de dependentes de substâncias psicotrópicas.

3. As partes darão assistência às pessoas cujo trabalho exige uma compreensão dos problemas oriundos do abuso de substâncias psicotrópicas e de sua prevenção, e promoverão, também, a compreensão de tais problemas entre o público em geral, se houver risco de que o abuso de tal substância venha a ser generalizado.

ARTIGO 21 Ação Contra Tráfico Ilícito

Com o devido respeito aos seus sistemas constitucionais, legais e administrativos, as partes deverão:

a) tomar medidas no âmbito nacional para a coordenação das atividades preventivas e repressivas contra o tráfico ilícito; para esse fim, poderão designar, proveitosamente, uma repartição adequada responsável pela coordenação;

b) prestar assistência mútua na campanha contra o tráfico ilícito de substâncias psicotrópicas e, em particular, transmitir imediatamente, por via diplomática ou através das autoridades competentes designadas pelas partes com tal propósito, às outras partes diretamente interessadas, uma cópia de qualquer relatório dirigido ao Secretário-Geral nos termos do artigo 16 em conexão com a descoberta de uma caso de tráfico ilícito ou de uma apreensão;

c) cooperar estreitamente entre si e com as organizações internacionais competentes das quais sejam membros, com vistas a manter uma campanha coordenada contra o tráfico ilícito;

d) assegurar que a cooperação internacional entre as repartições competentes seja conduzida de maneira dinâmica; e

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e) assegurar que, quando documentos forem expedidos internacionalmente para fins de processos judiciais, a expedição seja feita de maneira rápida às entidades designadas pelas partes; tais requisitos não afetam o direito das partes de exigirem que os documentos legais lhes sejam enviados por via diplomática.

ARTIGO 22 Disposições Penais

1 a) Ressalvadas suas limitações constitucionais, cada parte tratará como delito punível qualquer ato contrário a uma lei ou regulamento adotado em cumprimento às obrigações oriundas da presente Convenção, quando cometido intencionalmente, e cuidará que delitos graves sejam passíveis de sanção adequada, particularmente de prisão ou outra penalidade privativa de liberdade.

b) Não obstante a alínea precedente, quando dependentes de substâncias psicotrópicas houverem cometido tais delitos, as partes poderão tomar providências para que, como uma alternativa à condenação ou pena ou como complemento à pena, tais dependentes sejam submetidos a medidas de tratamento, pós-tratamento, educação, reabilitação e reintegração social, em conformidade com o parágrafo 1 do artigo 20.

2 Ressalvadas as limitações constitucionais da parte, seu sistema legal e suas leis internas:

a) (I) se uma série de ações entre si relacionadas, as quais constituem delito nos termos do parágrafo 1, houver sido cometida em diversos países, cada uma delas será tratada como um delito distinto;

(II) a participação intencional, a conspiração ou as tentativas de cometer tais delitos, bem como atos preparatórios e operações financeiras relacionadas com os delitos mencionados neste artigo, serão puníveis em conformidade com o disposto no parágrafo 1;

(III) setenças condenatórias estrangeiras por tais delitos serão levadas em consideração a fim de se determinar a reincidência; e

(IV) os delitos sérios mencionados até agora, cometidos quer por nacionais, quer por estrangeiros, serão processados pela parte em cujo território o delito cometido ou pela parte em cujo território se encontra o delinqüente, se a extradição em conformidade com as leis da parte à qual se faz o pedido, não for aceitável, e se o delinqüente não tiver sido ainda processado e a sentença não houver sido emitida.

b) É desejável que os delitos mencionados nos parágrafos 1 e 2 (a) (II) sejam incluídos como crimes passíveis de extradição em qualquer tratado de extradição que tenha sido ou venha a ser concluído entre quaisquer das partes, e, com relação às partes que não condicionarem a extradição a um tratado ou a reciprocidade, sejam reconhecidos como crimes passíveis extradição, desde que a extradição seja concedida em conformidade com a lei da parte à qual seja feito o pedido, e que esta parte tenha o direito de recusar-se a efetuar a prisão ou a conceder a extradição nos casos em que as autoridades competentes não considerarem o delito suficientemente grave.

3. Qualquer substância psicotrópica, ou outra substância, ou qualquer equipamento utilizado ou destinado a ser utilizado na prática de qualquer dos delitos mencionados nos parágrafos 1 e 2, será sujeito a apreensão e confisco.

4. As disposições deste artigo ficarão sujeitas às disposições do direito interno da parte interessada, em questão de jurisdição.

5. Nada do disposto neste artigo afetará o princípio de que os delitos aqui mencionados serão definidos, processados e pundios em conformidade com o direito interno da parte.

ARTIGO 23 Aplicação de Medidas de Controle mais Severas do que as Exigidas pela Presente Convenção

Uma parte poderá adotar medidas de controle mais estritas ou mais severas do que as previstas na presente Convenção se, em sua opinião, tais medidas forem convenientes ou necessárias à proteção da saúde e bem-estar públicos.

ARTIGO 24 Despesas de Órgãos Internacionais Decorrentes da Implementação das Disposições da Presente

Convenção

As despesas da Comissão e do Órgão no desempenho de suas respectivas funções nos termos da presente Convenção serão sustentadas pelas Nações Unidas na forma que a Assembléia Geral

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decidir. As partes que não forem membros das Nações Unidas contribuirão para tais despesas com as quantias que a Assembléia Geral julgar eqüitativas e estabelecer, periodicamente, após consulta com os Governos dessas partes.

ARTIGO 25 Procedimento de Admissão, Assinatura, Ratificação e Adesão

1. Os membros das Nações Unidas, os Estados que não sejam membros das Nações Unidas, mas que o sejam de uma das agências especializadas das Nações Unidas ou da Agência Internacional de Energia Atômica, ou as partes no Estatuto da Corte Internacional de Justiça, bem como qualquer outro Estado convidado pelo Conselho, podem tornar-se partes na presente Convenção:

a) assinando-a ou

b) ratificando-a, após havê-la assinado sob reserva de ratificação; ou

c) a ela aderindo.

A Convenção ficará aberta à assinatura até 1º de janeiro de 1972, inclusive. Após essa data, ficará aberta à adesão.

3. Os instrumentos de ratificação ou adesão serão depositados junto ao Secretário-Geral.

ARTIGO 26 Entrada em vigor

1. A presente Convenção entrará em vigor no nonagésimo dia após quarenta dos Estados mencionados no parágrafo 1 do artigo 25 haverem assinado a mesma reserva de ratificação ou houverem depositado seus instrumentos de ratificação ou adesão.

2. Para qualquer outro Estado que assine sem reserva de ratificação, ou deposite um instrumento de ratificação ou adesão após a última assinatura ou depósito mencionados no parágrafo anterior, a Convenção entrará em vigor no nonagésimo dia após a data de sua assinatura ou depósito de seu instrumento de ratificação ou adesão.

ARTIGO 27 Aplicação Territorial

A Convenção aplicar-se-á a todos os territórios não metropolitanos por cujas relações internacionais qualquer parte for responsável, exceto quando o consentimento prévio de uma território nessas condições for exigido pela Constituição da parte ou do território em apreço, ou o costume assim o exigir. Nesse caso, a parte se esforçará para conseguir do território o consentimento necessário o mais breve possível, e, quando o consentimento for obtido, notificará o Secretário-Geral. Aplicar-se-á a Convenção ao território ou territórios designados em tal notificação a partir da data de seu recebimento pelo Secretário-Geral. Nos casos em que o consentimento prévio do território não metropolitano não for exigido, a parte interessada designará, no momento da assinatura, ratificação ou adesão, o território ou territórios não metropolitanos aos quais se aplicará a presente Convenção.

ARTIGO 28 Regiões para os fins da presente Convenção

1. Qualquer parte poderá notificar o Secretário-Geral de que, para os fins da presente Convenção, seu território estará dividido em duas ou mais regiões ou de que duas ou mais de suas regiões serão fundidas em uma só.

2. Duas ou mais partes poderão notificar o Secretário-Geral de que, como resultados de uma aduaneira entre elas, tais partes constituirão uma região para os fins da presente Convenção.

3. Qualquer notificação nos termos dos parágrafos 1 ou 2 terá efeito em 1º de janeiro do ano seguinte àquele durante o qual for feita a notificação.

ARTIGO 29 Denúncia

1. Expirado o prazo de dois anos a partir da data da entrada em vigor da presente Convenção, qualquer parte poderá, em seu próprio nome ou em nome de um território pelo qual seja internacionalmente responsável, e que houver retirado seu consentimento dado em conformidade com o artigo 27, denunciar a presente Convenção por meio de um instrumento escrito que será depositado junto ao Secretário-Geral.

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2. A denúncia, se recebida pelo Secretário-Geral em, ou até, o 1º de julho de qualquer ano, terá efeito a 1º de janeiro do ano seguinte, e se recebida após 1º de julho, terá efeito como se houvesse sido recebida em ou antes de 1º de julho do ano subseqüente.

3. Dar-se-á extinção da presente Convenção se, em conseqüência de denúncias feitas em conformidade com os parágrafos 1 e 2, as condições para sua entrada em vigor, conforme o disposto no parágrafo 1 do artigo 26, cessarem de existir.

ARTIGO 30 Emendas

1. Qualquer parte poderá propor uma emenda à presente Convenção, O texto de qualquer emenda assim proposta bem como as razões que justifiquem serão transmitidas ao Secretário-Geral, o qual o transmitirá às partes e ao Conselho. O Conselho poderá decidir:

a) ou que uma conferência deverá ser convocada em conformidade com o parágrafo 4 do artigo 62 da Carta das Nações Unidas, a fim de considerar a emenda proposta;

b) ou que as partes deverão ser consultadas sobre se aceitam a emenda proposta e também convidadas a submeter ao Conselho quaisquer comentários sobre a proposta.

2) Se uma emenda proposta, circular nos termos do parágrafo (1) (b), não tiver sido rejeitada por nenhuma parte dentro do prazo de dezoito meses após haver sido circulada, entrará, conseqüentemente, em vigor. Se entretanto, uma emenda proposta for rejeitada por qualquer das partes, o Conselho poderá decidir, à luz dos comentários recebidos das partes, se uma conferência deverá ou não ser convocada a fim de considerar tal emenda.

ARTIGO 31 Controvérsias

1 Se, entre duas ou mais partes, surgir uma controvérsia relativa à interpretação ou aplicação da presente Convenção, as referidas partes deverão estabelecer consultas conjuntas a fim de solucioná-la através de negociações, investigação, mediação, conciliação, arbitramento, recurso a organismos regionais, processo judicial ou outro meio pacífico de sua escolha.

2 Qualquer controvérsia que não puder ser solucionada da maneira prevista será submetida à decisão da Corte Internacional de Justiça, mediante solicitação de qualquer das partes na controvérsia.

ARTIGO 32 Reservas

1 Não serão permitidas reservas além das feitas em conformidade com os parágrafos 2, 3 e 4 deste artigo.

2 Qualquer Estado poderá, no momento da assinatura, ratificação ou adesão, formular reservas com respeito às seguintes disposições da presente Convenção:

a) artigo 19, parágrafos 1 e 2;

b) artigo 27; e

c) artigo 31.

3. O Estado que quiser tornar-se parte, mas desejar ser autorizado a formular reservas outras que não as feitas em conformidade com os parágrafos 2 e 4, poderá informar o Secretário-Geral de sua intenção. A menos que dentro de um prazo de doze meses a partir da data da comunicação da reserva pelo Secretário-Geral, essa reserva tenha dado origem a objeção por parte de um terço dos Estados que assinaram a presente Convenção sem reserva de ratificaçã, que o ratificaram ou a ela aderiram, antes de expirado o mencionado prazo, será a mesma reserva permitida, ficando entendido, entretanto, que os estados que a ela fizerem objeção não estarão obrigagados a ssumir, para com o Estado que a formulou, nenhuma das obrigações legais emenadas dapresente Convenção que sejam afetadas pela referida reserva.

4. O Estado em cujo território crescam plantas silvestres que contenham substâncias psicotrópicas dentre as incluídas na Lista I, e que são tradicionalmente utilizadas por pequenos grupos, nitidamente caracterizados, em rituais mágicos ou religiosos, poderão, no momento da assinatura, ratificação ou adesão, formular reservas em relação a tais plantas, com respeito às disposições do artigo 7º, exceto quanto às disposições relativas ao comércio internacional.

125

5. O Estado que tenha formulado reservas poderá, a qualquer momento, mediante notificação por escrito ao Secretário-Geral, retificar todas as suas reservas ou parte delas.

ARTIGO 33 Notificações

O Secretário-Geral notificará todos os Estados mencionados no parágrafo 1 do artigo 25:

a) de todas as assinaturas, ratificações e adesões, em conformidade com o artigo 25;

b) da data na qual a presente Convenção entrar em vigor, em conformidade com o artigo 26;

c) das denúncias, em conformidade com o artigo 29; e

d) das declarações e notificações, nos termos dos artigos 27, 28, 30 e 32.

Em testemunho do que, os abaixo assinados, devidamente autorizados, assinam a presente Convenção em nome de seus respectivos governos.

Feita em Viena, neste vigésimo primeiro dia do mês de fevereiro de mil novecentos e setenta e um, em um único exemplar nos idiomas chinês, espanhol, francês, inglês e russo, todos os textos fazendo igualmente fé. A Convenção será depositada junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, o qual enviará cópias certificadas conforme a todos os membros das Nações Unidas e outros Estados mencionados no parágrafo 1 do artigo 25.

LISTA DE SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS, COMPLEMENTARES À CONVENÇÃO

lista de substância nas relações

lista de substâncias na relação I

Denominações sem registro internacional

Outras marcas sem registro ou nomes comuns

Denominação química

1 - DET N, N - dietiltriptamina

2 - DMHP 3 - (1, 2 - dimetileptil) - 1-hidroxi - 7, 8, 9, 10 tetraídro - 6, 6, 9 - trimetil - 6H - dibenzo (b, 9) pirano.

3 - DMT N, N - dimetiltriptamina

4 (+)-LISERGIDA - LSD, LSD-25 (+) - N, N - dietilisergamida (dietilamida do ácido d - lisérgico).

5 - MESCALINA 3, 4, 5 - trimetoxifenetil - amina.

6 - PARAEXIL 3-hexil - 1 hidroxil - 7, 8, 9, 10 - tetraído - 6, 6, 9 - trimetil - 6H - dibenzo (b, d) pirano.

7 - PSILOCINA, Psilotsin 3 - (2 - dimetilaminoetil) - 4-hidroxiindol.

8 PSCILOCIBINA Diidroxi - 3 - (2 - dimetilaminoetil) indol – 4 yl - fosfato.

9 STP, DOM 2 - amino - 1 - (2, 5 - dimetoxi - 4-metil) fenil propano.

10 Tetraidrocannabinois Todos os isômeros

1-hidroxil - 3-pentil - 6a.-7, 10, 10 a tetraídro -

6, 6, 9 - trimetil - 6H-dibenzo (b, d) pirano.

Os nomes impressos em letras maiúsculas na coluna à esquerda são os nomes não registrados internacionalmente (INN). Com uma exceção, (+) - lisergida - outros nomes não registrados ou comuns são dados somente onde o INN ainda não foi proposto.

Lista de Substâncias na Relação II

Denominações sem registro internacional

Outras marcas sem registro ou nomes comuns

Denominação química

1 ANFETAMINA - (+) - 2-amino - 1-fenilpropano.

2. DEXANFETAMINA - (+) - 2-amino – 1-fenilpronilpropano.

126

3 METANFETAMINA - (+) - 2-metilamino - 1-fenilpropano.

4 METILFENIDATO - Éster metílico do ácido 2-fenil - 2 - (2-piperidil) acético.

5 FENCICLIDINA - 1 - (1-fenilcicloexil) piperidina.

6 FENMETRAZINA - 3-metil - 2-fenilmorfolino.

Lista de Substâncias na Relação III

Denominações sem registro internacional

Outras marcas sem registro ou nomes comuns

Denominação química

1 AMOBARBITAL - Ácido 5-etil - 5 - (3-metilbutil) barbitúrico.

2 CICLOBARBITAL - Ácido 5- (-cicloexeno - 1-yl) - 5-etilbarbitúrico.

3 GLUTETIMIDA - 2-etil - 2-metilamino - 1-fenilpropano.

4 PENTOBARBITAL - Ácido 5-etil - 5-(1-metilbutil) barbitúrico.

5 SECOBARBITAL - Ácido 5-allil - 5-(1-metilbutil) barbitúrico.

Lista de Substâncias na Relação IV

Denominações sem registro internacional

Outras marcas sem registro ou nomes comuns

Denominação química

1 ANFEPRAMONA - 2 - (dietilamino) propiofenona.

2 BARBITAL - Ácido 5,5-dietilbarbitúrico.

3 ETCLOROVINOL Etil - 2-cloroviniletinilcabinol.

4 ETINAMATO - 1-etinilcicloxanol - carbamato.

5 MEPROBAMATO - 2-metil - 2-propil - 1,3-propanodiol dicarbamato.

6 METAQUALONA - 2-metil - 3-o-tolil - 4 (3H) - quinazolinona.

7 METILFENO-BARBITAL - Ácido 5-etil - 1metil - 5-fenil barbitúrico.

8 METIPRILON - 3, 3-dietil - 5-metil - 2,4-piperidina – diona.

9 FENOBARBITAL - Ácido 5-etil - 5-fenil - barbitúrico.

10 PIPRADROL - 1, 1-difenil -1-1 -(2-piperidil) metanol.

11 SPA (-) - 1- dimetilamino - 1, 2-difeniletano.