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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. Terra sigillata clara de Conímbriga Autor(es): Delgado, Manuela Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra URL persistente: http://hdl.handle.net/10316.2/45920 DOI: https://dx.doi.org/10.14195/1647-8657_6_2 Accessed : 8-Jun-2020 05:25:15 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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este aviso.

Terra sigillata clara de Conímbriga

Autor(es): Delgado, Manuela

Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra

URLpersistente: http://hdl.handle.net/10316.2/45920

DOI: https://dx.doi.org/10.14195/1647-8657_6_2

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TERRA SIGILLATA CLARA DE CONÍMBRIGA

I — INTRODUÇÃO (*)

a) NOÇÕES GERAIS SOBRE A TERRA SIGILLATA CLARA

Nos fins do século i d. C, as oficinas de sigillata da Gália meridional, cujos produtos haviam fornecido todos os mercados da bacia do Medi­terrâneo, cessam a sua actividade e são substituídas pelas oficinas de Lezoux, mais ao norte, que exportam principalmente para o norte da Gália, a Germânia e a Bretanha, chegando raramente os seus pro­dutos às costas do Mediterrâneo e Norte de África. Como substituto da sigillata sud-gálica e itálica, surge então nesta altura (90-100 d.C.), na bacia mediterrânica e numa área cujos limites exactos ainda não estão bem definidos, uma cerâmica de luxo de argila vermelha e engobe alaranjado que rápidamente se difundiu e persistiu com variantes de fabrico e de formas até aos fins do século iv. O aparecimento desta cerâmica de engobe alaranjado marca, nos séculos n, m e iv, uma divi­sória entre a área continental, onde continua uma tradição cada vez mais degradada da terra sigillata gálica, e a área mediterrânica. A qua­lidade do fabrico desta cerâmica, especialmente dos tipos mais antigos, leva Waagé a colocá-la ao lado das antigas cerâmicas de luxo e Com­fort a ver nela um dos sinais de persistência, no litoral do Mediterrâneo, duma «capacity to initiate original new traditions» (1), em oposição à Gália Oriental e Vale do Reno.

* Agradeço ao Senhor Dr. J. M. Bairrão Oleiro a autorização que me con­cedeu para estudar a colecção de sigillata clara de Conimbriga.

(1) Comfort, Draft of article «Terra Sigillata» for Enciclopedia Italiana deWArte Antica. (Agradeço ao Dr. J. M. Bairrão Oleiro ter-me comunicado este texto, policopiado, que o autor distribuiu por vários especialistas de cerâmica romana).

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As primeiras notícias sobre esta cerâmica são dadas por Kubler, Waagé, Iliffe, em seguida a escavações de Atenas e localidades da Síria, Judeia e Egipto (2). Novos trabalhos se seguiram então, resul­tantes do estudo do material de novas escavações ou de colecções, na Grécia, Mediterrâneo Oriental, Norte de África, Itália, Espanha, Alemanha, o que mostra uma progressiva compreensão do interesse de tal estudo para a interpretação histórica do ambiente económico- -social do Médio e Baixo Império.

O conjunto importante de trabalhos publicados e o valor incon­testado de muitos deles, não significa, porém, que esteja próxima a solução para todos os problemas que levanta o estudo de tal cerâmica: sua exacta definição, local de origem, área de difusão, interdependência, áreas de influência e sucessão cronológica dos vários tipos de fabrico, limites cronológicos.

Não são unânimes os autores no nome a atribuir à nova produção: Waagé chama-lhe «Late Roman»; Nino Lamboglia, «Terra Sigillata Chiara»; Paiol designa a mais tardia por «terra sigillata romano-cristã ou estampada paleo-cristã»; Baradez, «cerâmica fina africana vermelha- -alaranjada de engobe polido ao torno».

Suponho que, mais que discutir a maior ou menor legitimidade duma designação, interessa verificar que esta diversidade resulta da impossibilidade actual de bem a definir. E esta impossibilidade advém fundamentalmente do facto de tal produção cobrir uma grande área e durar cerca de 3 ou 4 séculos, o que arrasta a variações e mesmo imitações de fabrico que só uma análise química das argilas, como tantas vezes tem sido dito, ajudaria a bem caracterizar. Mas a esta dificuldade que um único observador experimentaria, acrescenta-se a que resulta da necessidade de interpretar descrições de engobes e pastas feitas por vários observadores, descrições que, por mais rigorosas, estão sujeitas ao necessário subjectivismo de quem as faz e de quem as interpreta. Talvez por todas estas dificuldades não estejam ainda

(2) Karl Kubler, «Spatantike Stempelkeramik», in Athenische Mitteilungen, 56 (1931), pp. 75-86.

Waagé, «The American Excavations in the Athenian Agora, First Report: The Roman and Bizantine Pottery», in Hesperia, II, 1933.

H. Iliffe, «Sigillata Ware in the near East», in The Quarterly of the Departe- merit of Antiquities in Palestine, VI (1938), pp. 1-53.

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bem esclarecidas, ao que me parece, as relações entre os vários tipos desta produção definidos por Lamboglia e os Late Roman A e Late Roman B do Mediterráneo Oriental, assim designados e descritos por Waagé. A julgar por urna certa analogia de fabricos, pela corres­pondência de muitas formas, não só da produção Late A com a terra sigillata clara C, mas também da Late B com as da T.S. clara A e D, e ainda por coincidências cronológicas, suponho que estas relações são muito mais estreitas que a simples correspondência entre o fabrico Late A e a terra sigillata clara C, unánimemente aceite.

As mesmas dificuldades devem também explicar o facto de os mais tardios exemplares que Lamboglia inclue na produção da terra sigillata clara (3) terem sido, quase sempre, estudados como uma produção diferente — cerâmica estampada — que teria sucedido à produção da terra sigillata clara.

Ora suponho que, para já, não é possível estabelecer uma dife­rença definitiva entre as duas produções por ausência dum critério seguro de diferenciação. Tal critério não nos é fornecido pelas formas: a cerâmica estampada repete as formas da T.S. clara D, muitas das quais persistem na cerâmica cinzenta. Também parece impossível, de momento, distingui-las pelo engobe e pasta, e a diferença estabelecida por Jodin e Ponsich — «alors que la sigillée claire est généralement enduite d’une engobe orangée, la poterie estampée du IVeme siècle se presente sans aucune couverte» (4) — não pode ser tomada como lei geral. Baradez, que descreve com pormenor os engobes e pastas desta produção encontrada em Tipasa, nota pequenas diferenças entre «la céramique fine africaine rouge-orange du IVeme siècle», com decora­ção estampada, que, como a anterior, «a été finement engobée et très vraisemblablement repolie au tour avec un lissoir (5). Adília e Jorge Alarcão, por sua vez, encontraram decoração estampada em vasos de Conímbriga com engobe em ambas as faces, com engobe só na face interna e sem engobe (6). Resta-nos a decoração, como sinal diferencial. Mas ainda esta não me parece suficiente. Suponho que a estampagem, antes do mais, é uma técnica de decoração que não é exclusiva dum tipo

(3) Lamboglia, 1963, p. 180.(4) Jodin et Ponsich, 1960, p. 301.(5) Baradez, 1961, p. 124.(6) Alarcão, 1964, p. 84.

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de fabrico, embora seja certo que se vulgarizou e tornou a decoração típica do século iv sendo, por isso, necessàriamente mais frequente sobre as formas tardias da cerâmica de engobe alaranjado. Entre­tanto Francisca Pallarés apresenta um vaso da colecção do Museu de Copenhague, forma 4/36, que a autora inclue na produção de T.S. clara A tardia, com decoração estampada de rombos e círculos sobre o bordo (7). Waagé encontra decoração estampada nalgumas formas «intermedíate» dos fins do século m, e Lamboglia publicou um vaso de Albintimilium, em cerâmica luzente, forma 2/37, com decoração estampada na face externa do bojo, constituída por círculos concên­tricos entre 2 caneluras (8). Parece-me, pois, prematuro, com base em qualquer destes factores, estabelecer uma diferenciação de fabrico, embora seja de admitir a hipótese de tal diferenciação vir a tornar-se necessária.

Depois de estudos parcelares sobre a terra sigillata clara em que já são apontadas características de pastas, engobes, formas e refe­rências cronológicas (9), Nino Lamboglia publica, em 1958, um estudo tipológico da T.S. clara A e B (10), a que se segue, em 1963, o da T.S. clara C e D (11), com base na observação de material proveniente da Liguria, Provença e Levante Espanhol, e muito particularmente das escavações de Ampúrias e Albintimilium. O próprio autor diz que esses estudos não podem ser considerados definitivos, antes deverão ser enriquecidos por novas investigações, mas a verdade é que continuam sendo um estudo fundamental pela panorâmica desta produção, dife­renciação de fabricos e formas, dados cronológicos que fornece, rela­tivos a uma área importante pela sua localização geográfica, abundância de material e, no caso de Ampúrias e Albintimilium, pelo modo siste­matizado como têm sido escavadas.

Dentro da produção da terra sigillata clara, Nino Lamboglia distinguiu 4 tipos de fabrico que se sucedem dos fins do século i até fins do século iv e a que chamou tipos A-B-C-D. A grande abun-

(7) Pallarés, 1960, p. 278 e fig. 7-2 a e b (Est. 308).(8) Lamboglia, 1963, p. 171.(9) Lamboglia, 1941; 1950; 1952; 1955.(10) Lamboglia, 1958, pp. 257-330.(11) Lamboglia, 1963, pp. 145-211.

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dáncia dos tipos A-C-D em todo o litoral do Mediterráneo, em con­traste com a escassez do tipo B, leva a admitir que aqueles sejam de origem marítima e este de procedência continental.

Tipo A — Caracteriza-se por urna pasta avermelhada de grão fino e fractura vitrea e ondulada, muito dura. A cozedura é geral- mente muito regular e sonora. O engobe, de cor laranja claro, cobre, em geral, ambas as faces e é homogéneo e brilhante. Este engobe, típico dos exemplares mais antigos, degrada-se e torna-se opaco nos exemplares mais tardios.

Este fabrico tem grande variedade de formas: tigelas, olpes, urnas, marmitas, pequenos e grandes pratos, muitas das quais derivadas de formas anteriores da T. sigillata sud-gálica. Levando em conta estas relações Nino Lamboglia distingue 27 formas-tipo e respectivas variantes, muitas das quais persistem com algumas alterações nos fabricos seguin­tes da T. sigillata clara.

Francisca Pallarés, ao estudar a colecção de vasos provenientes do Norte de África e pertencentes ao Museu de Copenhague — que haviam sido publicados em 1955 no Corpus Vasorum Antiquorum, juntamente com cerâmica de diversa origem — encontra muitas das formas já classificadas por Lamboglia e determina formas novas de T. sigillata clara A ainda desconhecidas na margem norte do Medi­terrâneo (12). São elas as formas 28 (que Gabriela Martin de Castillo também refere (13)), 30, 33, 35, 39. A mesma autora publica também um prato de Barcelona, de tipo A, forma 41, a qual, até então, só era conhecida nos fabricos C e D (14).

As formas do tipo A caracterizam-se pelo seu pé pequeno, mas não atrofiado, pelas dimensões médias dos vasos (os grandes pratos estão representados apenas pelas formas 9 e 41) e pela presença de 2 caneluras sob o bordo interno muito características dos exemplares mais antigos.

Neste tipo predomina a decoração à roleta sobre o bordo e carena. Encontra-se a decoração de folhas de água, feita com barbotina, nas formas 4/36 A e 35 (Museu de Copenhague), como revivescência directa

(12) Pallarés, 1960, pp. 264-288.(13) Martin de Castillo, 1965, fig. 28.(14) Pallarés, 1959, pp. 234-235.

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das mesmas formas em T. sigillata sud-gálica. A decoração em relevo é exclusiva, de momento, da forma 6 e a decoração estampada de rom­bos e círculos duma forma 4/36 tardia, sem engobe (Museu de Cope­nhague) (15).

A terra sigillata clara A, desconhecida na área continental, difun- diu-se largamente por toda a costa mediterrânica. Muito abundante na margem norte, é-o, tanto ou mais, em todas as estações exploradas da Argélia e Marrocos. Tal como disse atrás, penso que este fabrico chegou também, embora em menor quantidade, aos mercados do Mediterrâneo Oriental e corresponde às formas mais antigas do que Waagé chama «Late B». Para só referir as formas cuja correspondência com outras da T. sigillata clara A são evidentes noto os n.os 843 (Est. IX, fig. 27 e fig. 28, n.° 6), 847 (Est. IX e fig. 26) e 897 (Est. X e fig. 26) de Antioch IV (16). Os primeiros referem-se, respectivamente, a um vaso do Vaticano e a um fragmento de Antioquia, ambos da forma 1 B da tipología de Lamboglia. (Notem-se as duas caneluras sob o bordo interno no perfil do fragmento de Antioquia). A propósito destes exemplares, Waagé, a pág. 49, nota as suas semelhanças (já referidas por Holwerda) com a forma sud-gálica Drag. 29. O n.° 847 refere-se a um exemplar de Corinto, da forma 4/36. A propósito diz Waagé: «Probably those are the earlier which retain the barbotine rim decora­tion of the Gaulish prototype, Dragendorff’s Form 25/36». Final­mente, o n.° 897, referente também a um exemplar de Corinto, corres­ponde à forma 2a.

A propósito de LB 14, Est. X, que pelo fabrico parece pertencer ao período mais antigo da Late B, mas é anormalmente alto em relação aos pés característicos deste fabrico — LB 7-10 — diz Waagé, a pág. 50: «The very high foot is unusual for the period although the small size is conformable».

No sul de Portugal (nas províncias do Alentejo e Algarve) é muito frequente a terra sigillata clara A (especialmente as formas 1, 2, 3 e 4/36 A), cujo fabrico se assemelha extraordinàriamente ao do tipo A que encontrei em Marrocos (Volubilis, Sala, Banassa). É, pelo con­trário, muito rara em Conímbriga, (neste estudo da T.S. clara das

(15) Lamboglia, 1958 e Pallarés, 1959, pp. 125-129.(16) Waagé, 1948, pp. 49 e 50.

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antigas escavações figuram apenas 2 fragmentos) e não encontrei nenhum fragmento entre os exemplares de T.S. clara provenientes do norte de Portugal que me foi dado observar.

Os dados cronológicos fornecidos pelas escavações de Ampúrias e Albintimilium, aliados às suas características formais, levam a concluir que o tipo A é o mais antigo dentro da produção da terra sigillata clara. Fragmentos deste tipo (especialmente das formas 1, 2 e 4/36) aparecem já no estrato IV de Albintimilium, correspondente aos fins do século i, princípios do século n. A sua completa ausência em Herculano e Pompeia e as estreitas relações com as formas 29 e 36 sudgálicas levam a datar o seu aparecimento por volta de 90-100 d.C.

Não é possível estabelecer com tanta precisão a data da sua extin­ção. Sabemos que nos fins do século ii e princípios do século m, algumas formas já tinham desaparecido e outras se vão degradando. O primitivo engobe perde o brilho acabando por confundir-se com a argila; algumas formas perdem-no por completo ou conservam-no apenas na face interna, como que anunciando o futuro fabrico menos cuidado e mais decadente da T. sigillata clara D. Estas formas deca­dentes aparecem nos estratos II de Ampúrias e no correspondente III B de Albintimilium, mas só como resíduo surgem no estrato III A, o que leva a supor que este fabrico se tivesse prolongado até aos Severos.

A cronologia das formas mais antigas da Late B apresentada por Waagé é concordante com a da T. sigillata clara A do oci­dente.

Tipo B — Na 2.a metade do século ii surge um novo tipo dentro da produção da terra sigillata clara, cujo centro de difusão parece ter sido o Vale do Ródano, a julgar pela quantidade de exemplares pro­venientes desta zona em contraste com a sua escassez no litoral norte do Mediterrâneo e ausência, ao que suponho, nas estações do Norte de África. Num total de 34 exemplares publicados por Lamboglia, 16 são provenientes de Vaison, apenas 6 de Albintimilium, distribuindo-se os outros, isoladamente, por Cavaillon, St. Rémy, Arles, Orange, Narbona, Tarragona e Valência.

Com base no estudo deste material estabeleceu Lamboglia como características gerais do tipo B uma argila mais pálida, menos dura e de fractura menos vítrea que a do tipo A. O engobe laranja mais vivo é muito menos aderente e estraga-se dum modo uniforme.

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Tendo sempre em vista as relações de formas com a cerâmica gálica e com as do anterior tipo A, Lamboglia determina 25 formas-tipo, muitas das quais são semelhantes às do tipo anterior (embora com variantes próprias a um novo fabrico) e outras originais. Por outro lado, há formas do tipo A que não são ainda conhecidas no fabrico da T. sigillata clara B. (Francisca Pallarás publicou um vaso de Bar­celona em T. sigillata deste tipo, pertencente à Forma 1 que não figura na tipologia de Lamboglia (17).

Pelo exame das formas conhecidas podem distinguir-se algumas características particulares: as formas são, em geral, de maiores dimen­sões que no tipo A, desaparece o pé característico deste fabrico, substi­tuído por um pé mais alto e oblíquo ou simplesmente por fundos planos; generaliza-se o bordo em amêndoa.

A decoração feita com roleta invade as abas e bojo dos vasos tor- nando-se a decoração típica do século m. A decoração de folhas de água, feita com barbotina, aparece ainda na forma 35 e uma decoração com protuberâncias mamilares na forma 28 A. Ao contrário do tipo A, a T. sigillata clara B tem uma produção de decoração em relevo. Tal decoração aparece em vasos de forma 37 directamente derivados da forma gálica e representados por 2 exemplares, respectivamente de St. Rémy e Valência; e ainda na forma 76, representada por 2 exem­plares de Vaison. (Esta decoração, em que Lamboglia vê elementos de contacto com a sigillata decorada tardo-itálica, vem em apoio da hipótese da origem continental do tipo B).

Apesar dos resultados já obtidos, a produção da T. sigillata clara B levanta problemas que estão longe de ser resolvidos.

Enquanto no tipo A havia uma homogeneidade de fabrico ver­dadeiramente notável, o fabrico de vasos de cor laranja mais vivo apre­senta uma variedade tal que Nino Lamboglia sugere a hipótese de ter havido mais do que um centro de produção e termos de vir a considerar um tipo B itálico, gálico, hispânico. Lamboglia cita os casos da penín­sula itálica onde este fabrico parece ter sido substituído por outro que se confunde, pelo engobe, com a presigillata cesariana e augustina; e do centro da Gália e região renana, onde se assemelha à autêntica sigillata própria do século m que se degradou até um engobe alaranjado.

(17) Pallarés, 1959, pp. 232-235.

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Em Conímbriga, como veremos, há, em abundância, uma cerâmica de engobe laranja mais vivo que o da A, com muitas variantes de cor e cozedura, de cujos exemplares, aqueles de engobe mais vivo, quase luminoso, apresentam semelhanças flagran­tes de fabrico e, nalguns casos, de forma, com a terra sigillata hispânica tardia.

Acontece ainda que certos vasos de tipo B apresentam diversas tonalidades provenientes duma diferente cozedura. São frequentes os exemplos disto em Conímbriga. A que corresponde esta diversa cozedura? A oficinas diversas ou a tipos intermédios entre esta produção e a cerâmica luzente? É que também estas relações não são bem conhecidas, devendo ter existido, entre a T. sigillata clara B e a cerâmica luzente com engobe acastanhado e brilho metálico de tra­dição campaniense, vários tipos intermédios preluzentes.

A produção deste tipo de cor laranja mais vivo que a do tipo A é muito abundante em Conímbriga, concorrendo, em quantidade, com a produção da T.S. clara D, como veremos adiante. Aparece também no sul, embora em menor quantidade, relativamente à do tipo A. No norte conhecem-se alguns fragmentos provenientes, especialmente, de Braga.

Não é possível ainda estabelecer com segurança a cronologia do fabrico B, especialmente a data da sua extinção. O início da sua pro­dução é dado pelo estudo comparativo dos estratos de Ampúrias e Albintimilium que concordam em colocá-lo por volta de 150-200 d.C. De facto, em Ampúrias, destruída em 260, o tipo B surge no estrato II correspondente ao estrato III B de Albintimilium (onde este tipo é cons­tante, ao lado de moedas de 220 d.C. e exemplares decadentes de tipo A), datável entre 150 e 250 d.C.

Quanto à data da sua extinção pode dizer-se que não aparece no estrato II de Albintimilium, correspondente aos princípios do século iv, mas surge ainda, representado pelos exemplares mais tardios, no estrato III A, correspondente à segunda metade do século m, o que leva a supor que se tivesse extinguido por volta de Galieno (260- -268).

Entretanto, sendo notórias as suas relações com a cerâmica cin­zenta, é natural que, pelo menos na área continental, tenha persistido mais tempo, estabelecendo-se uma transição — cujo modus ainda não

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é conhecido — com esta última cerámica, num momento possivelmente tardio do século iv(18).

Tipo C— Entre 240-260 d.C., quando a produção da terra sigillata clara A tinha pràticamente cessado, surge, nas províncias do Mediter­râneo, um novo fabrico — tipo C — que se caracteriza por uma pasta de grão finíssimo, muito pura, muito dura, coberta dum engobe muito aderente, variando entre o levemente brilhante e o mate, com a carac­terística inconfundível de ser muito macio ao tacto.

É escasso o número de formas até hoje conhecido. Nino Lam- boglia determina 8, algumas das quais originais como, por exemplo, as formas 40 e 42.

Está-se já longe da variedade que caracteriza o tipo A. O fabrico C é representado por grandes pratos ou pequenas tigelas caracterizados por paredes muito finas e pés muito reduzidos ou oblíquos e finos.

O tipo C tem decoração feita com roleta sobre o bordo e fundo interno (forma 42). Uma das originalidades deste fabrico é uma decora­ção em relevo (formas 35 e 42/48), constituída por motivos animais e vegetais, isolados sobre o bordo (19).

A terra sigillata clara C difundiu-se dum modo regular por todas as províncias do Império, não sendo só abundante na margem norte do Mediterrâneo Oriental, onde são conhecidas as principais for­mas (40, 41, 42). Waagé publica outras, que indue no fabrico Late A e que me parece não figurarem na tipología de Lamboglia (20). Bas­tante frequente em Conímbriga, é também muito abundante no sul de Portugal, especialmente na província do Alentejo. Encontrei aqui, proveniente duma sepultura da necrópole de Aljustrel, uma travessa completa que imita a forma Drag 39 da T.S. sudgálica. A peça perdeu todo o engobe, o que dificulta a sua classificação, pois as caracterís­ticas da pasta assemelham-se também às do tipo A. A configuração

(18) Lamboglia, 1958, p. 299.(19) Lamboglia, 1963, pp. 157-160.(20) Waagé, 1948, Est. IX, 837 e 838; Est. X, 891 e fig. 28, 2 e 3.

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geral da peça (dimensões, pé atrofiado) e a existência no fabrico C de abas lobuladas inclinam-me a considerá-la antes do tipo C (21).

A data do início desta produção é dada por Ampúrias, onde ela aparece no estrato superficial, correspondente à destruição da cidade (260 d.C.), não aparecendo no estrato II, imediatamente inferior, datá- vel do início do século m. Estes dados são confirmados em Albinti- milium: o tipo C ainda não aparece no estrato III B (Severos) mas já se encontra no estrato III A, correspondente aos meados do século m. O tipo C teria pois surgido entre 240-260 d.C. Waagé, baseado nos dados fornecidos por Atenas, Soli e Antioquia também coloca o apare­cimento do fabrico da Late A nos meados do século m. Quanto à data da extinção já não se verifica o mesmo acordo. Enquanto que em Albintimilium o tipo C nunca está presente no estrato II (início do século iv), o que faz admitir que se tenha extinguido nos fins do século ui para dar lugar à produção da T.S. clara D, no Mediterrâneo Oriental parece extender-se até ao início do século v, data do apare­cimento do fabrico Late Roman C(22).

Tipo D — Nos últimos decénios do século m, entre 260-280 d.C., surgem os fabricos da T. sigillata luzente (como produto continental, com uma área de difusão muito semelhante à do tipo B) e da terra sigil­lata clara D, como produto mediterrânico.

Quando comparados os exemplares deste fabrico com os mais antigos da T. sigillata clara A, as diferenças aparentes são enormes; menores, se os compararmos com os exemplares mais tardios — e as características da pasta e engobe mostram bastantes semelhanças entre as duas produções. De facto, no que respeita ao fabrico, as grandes diferenças entre o tipo A e o tipo D são a presença, neste último, de engobe apenas na face interna (estendendo-se geralmente pelo bordo e parte superior da parede externa) e a utilização da estampagem como técnica geral e corrente da decoração.

Embora se não conheçam ainda bem as relações entre os tipos A e D e os respectivos centros de origem, parece claro que a produção da

(21) Oswald, 1920, Est. LVII.Apresentei esta travessa no V Colóquio Portuense de Arqueologia, em Setem­

bro de 1966.(22) Waagé, 1948, pp. 54-56.

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T. sigillata clara D vem continuar directamente, nos últimos tempos do Império, a produção da T. sigillata clara A, nas margens do Medi­terráneo, reafirmando urna vez mais a divisoria entre a área mediter­ránea e a área continental, esta cada vez mais perturbada pelos assaltos dos bárbaros e ocupada, como lembra Comfort, por uma população nunca inteiramente romanizada e constituida, em grande parte, por um pessoal militar.

A produção da T. sigillata clara D cria um grande número de formas originais, embora não muito variadas. Lamboglia determina 20 formas-tipo e respectivas variantes que nos permitem já distinguir as suas características gerais: as paredes tornam-se muito mais espessas e a forma normalmente menos cuidada; predominam os pratos de grandes dimensões com fundo plano, apenas realçado, ou grandes pés oblíquos.

A decoração feita com roleta, muito rara, aparece no fundo interno da forma 24/25, e a estampagem torna-se a decoração deste fabrico. Lamboglia apresenta os tipos de decoração estampada mais correntes em pratos de T. sigillata clara D provenientes de Albintimilium (23), todos eles integrando-se nas classificações já apresentadas por outros autores: pertencem à classe de motivos geométricos, com excepção da forma 1 que se inclue na classe de motivos figurados.

A terra sigillata clara D teve uma grande expansão marítima. É muito abundante na margem Norte do Mediterrâneo e Norte de África. Suponho que muitas formas descritas por Lamboglia têm paralelo em exemplares publicados por Waagé e provenientes do Medi­terrâneo Oriental. Em Portugal a terra sigillata clara D é também muito abundante no sul e em Conímbriga. No norte o tipo D é o mais abundante.

Não são conhecidos ainda com precisão os limites cronológicos da T. sigillata clara D. Muito abundante no estrato II de Albinti­milium, posterior a 270 d.C., aparece já, embora raramente, no estrato III A, correspondente aos meados do século m. Parece, pois, dever colocar-se a data do seu aparecimento, no ocidente, nos fins do século ui. A data da sua extinção é ainda muito incerta. Lamboglia considera pouco rigoroso tomar o início do século v como data da

(23) Lamboglia, 1963, pp. 200-201.

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extinção do fabrico D e do aparecimento da cerâmica cinzenta, pois que está ainda por resolver o problema das relações da cerámica cinzenta com a T. S. clara Dea T.S. clara B.

b) O PROBLEMA DA ORIGEM DA TERRA SIGILLATA CLARA

Além dos problemas específicos de cada tipo de fabrico, já muito resumidamente expostos, está ainda por resolver o problema geral da origem da T.S. clara.

Tendo como certo que o tipo B e a cerâmica luzente são de origem continental resta saber:

1. ° — Se houve um único centro de origem para a T.S. clara B ou diversos, como admite Lamboglia.

2. ° — Se a cerâmica luzente teria tido um centro de origem inde­pendente ou se, pelo contrário, algumas das oficinas que fabricavam o tipo B, ensaiando novas técnicas de cozedura (de cujas tentativas são testemunho vários exemplares intermédios preluzentes) teriam criado um novo fabrico que passou a desenvolver uma vida própria.

Sabe-se que os tipos A-C-D são de origem mediterrânica e tiveram uma difusão essencialmente marítima. Ignora-se porém:

1. ° — Se houve um só centro de origem para os três fabricos ou vários. Lamboglia nota que os exemplares de T.S. clara C com decora­ção em relevo provêm fundamentalmente da Itália central, o que «raf- forza il sospetto che il centro delia produzione debba proprio recer- carsi, con quello delia sigillata chiara C, proprio nel cuore delPImperio e dei Mediterraneo» (24).

2. ° — Em que ponto da bacía do Mediterrâneo teriam existido esse ou esses centros de produção ?

Dado que só foram descobertos dois fornos de T.S. clara estam­pada, no norte de África (Tunísia), resta, para aventar hipóteses, os achados de exemplares desta cerâmica e o seu estudo comparativo,

(24) Lamboglia, 1963, p. 157.

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o que, por si só, não é ainda suficientemente esclarecedor. Eis porque não são unânimes as opiniões dos vários autores a tal respeito.

Kubler considera os pratos estampados de fabrico Late B, encon­trados em Kerameikos, provenientes do Egipto. Holwerda atribue uma origem norte-africana a muitos exemplares de Leyden perten­centes aos fabricos Late A e Late B. Baradez não hesita em chamar «africana» à T.S. clara encontrada em Tipasa. Paiol atribue esta mesma origem à cerâmica estampada vermelha (25).

Waagé, não considerando, embora, o caso da França e Península Ibérica, apresenta razões que o levam a preferir o norte de África como centro de origem dos fabricos Late A e Late B (26). Resumirei as principais dessas razões por me parecerem importantes e outros tantos argumentos a favor das relações entre estes fabricos e a T.S. clara que acima referi. São elas:

1. ° — A grande abundância destes fabricos (Late A e Late B) no norte de África e territórios adjacentes.

2. ° — As semelhanças de pasta e engobe entre esta cerâmica e as lucernas africanas, semelhanças que levam Waagé a considerá-las, sem hesitação, originárias do mesmo centro de produção.

3. ° — Mais importante ainda que estas duas razões considera Waagé o processo de difusão das formas Late A e Late B. Assim:

a) Enquanto as primitivas formas de fabrico Late B (que iden­tifico às formas 1, 2 e 4/36 da T.S. clara A) são raras no Mediterrâneo Oriental, aparecem, pelo contrário, no norte de África, com tanta frequência como as mais tardias.

b) Nesta região há uma grande variedade de formas primitivas, «principalmente jarros e vasos com asa» que não se encontram no Oriente.

c) O carácter inédito dos fabricos Late A e Late B, em relação à produção corrente no Mediterrâneo Oriental; o primeiro aparece e desaparece de repente e o segundo mostra uma evolução descontínua apenas explicável se a considerarmos sujeita a leis variáveis de impor-

(25) Paiol, 1948, pp. 465-466.(26) Waagé, 1948, pp. 45-47.

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tação. Note-se, como exemplo disto, o desaparecimento, no Oriente, das formas Late B durante um período que abrange a segunda metade do século v e primeiro quarto do século vi. Waagé observa que este desaparecimento não seria explicável se o centro de origem do fabrico Late B fosse o Egipto, como propunha Kubler; mas justificava-se fácil­mente se fosse o norte de África, região que sofreu a invasão dos vân­dalos, entre 430 e 530, o que explicaria uma interrupção de contactos comerciais com as regiões afastadas do Oriente, embora se não tenha talvez verificado o mesmo, porém, em relação às regiões mais próximas.

Entretanto Jodin e Ponsich, valorizando especialmente a carta de difusão da cerâmica estampada vermelha que já foi possível traçar, são de opinião que deve procurar-se o centro de origem desta cerâmica na Península Ibérica (27). P. A. Février opõe à hipótese da origem africana um argumento importante. Diz este autor: «Si des ateliers locaux ont remplacé et concurrencé au cours du nème siècle les ateliers étrangers, il y a là une tranformation du marché aussi importante que celle qui a marqué le remplacement des ateliers arétins par ceux du Sud de la Gaule, dans le courant du Ier siècle de notre ère. Qui plus est, on assisterait à un véritable renversement de la situation puisque ces ateliers locaux auraient exporté vers les rives de la Méditerranée Septentrionale». Entre a inexplicabilidade — à luz dos conhecimen­tos actuáis — desta transformação, e a ausência de «provas» de urna origem africana para a produção cerâmica que entre o século neo século iv substitue a produção sud-gálica e itálica, no Império Romano, o autor não afasta a hipótese duma corrente de tráfico no sentido habi­tual, isto é, da Gália do Sul, Espanha e Itália para o norte de África, e considera que «provisoirement il est nécéssaire de s’en teñir au doute» (28).

Esperar o resultado de novas escavações que possam fazer luz sobre este problema parece ser também a posição de Nino Lamboglia e Francisca Pallarés, e, entre todas, a mais prudente.

(27) Jodin et Ponsich, 1960.(28) Février, 1963, p. 134.

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II —TERRA SIGILLATA CLARA DE CONÍMBRIGA

a) —CRITÉRIO SEGUIDO

Dadas as dificuldades, de que falei na Introdução, de bem definir esta produção cerâmica, e a abundância, em Conímbriga, dum fabrico que, pelas formas — e também pelas características da pasta — difere bastante dos exemplares conhecidos, adoptei o critério que me parece ser o mais seguro e o mais esclarecedor para todos os que estudam esta produção cerâmica e não podem observar directamente os exem­plares de Conímbriga, a saber:

1. ° — Agrupar os diversos exemplares por características de pasta e engobe e descrever estas o mais rigorosamente possível. Encontrei assim 4 grupos fundamentais, subdivididos em tipos e variantes; estes últimos, como se verá, correspondem sempre a diferenças secun­dárias de pasta e engobe.

2. ° — Estabelecer relações entre estes grupos e os tipos A-B-C-D de Lamboglia se tal fosse possível. Assim, identifiquei, sem dificul­dade, os grupos 1-3-4, respectivamente, com os tipos A-C-D- da T.S. clara. O grupo 2 apresenta mais dificuldades; mas julgo poder inte­grá-los no âmbito da produção da T.S. clara B, embora com caracte­rísticas próprias, o que não é inédito nesta produção, como se viu.

3. ° — Finalmente, descrever as formas cujos perfis vêm desenhados nas estampas I a VIII. Não incluí nesta descrição as características de pasta e engobe para a não sobrecarregar. É fácil, porém, deter- miná-las, em relação a cada fragmento, bastando para isso procurar a sua referência nos grupos inicialmente descritos.

b ) —PROVENIÊNCIA DOS ACHADOS

A estação arqueológica de Conímbriga fica situada a cerca de 17 quilómetros para sul-sudoeste de Coimbra, na província da Beira- -Litoral.

Conímbriga teve uma ocupação pre-romana, atestada por achados arqueológicos que permitiram atribuir essa ocupação à Época do Ferro. Na segunda metade do século n a. C., por altura das campanhas de pacifi­

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cação da Lusitânia levadas a cabo por Décimo Junio Bruto, Conímbriga passou a fazer parte do Império Romano. Entre as escassas fontes literarias antigas que lhe fazem referência está o Itinerário de Anto­nino, que cita Conímbriga entre Sellium e Aeminium na estrada de Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga). Esta situação geográfica, que a torna ponto de passagem obrigatório de uma das estradas romanas mais importantes do ocidente da península, explica que a pequena povoação pre-romana se fosse valorizando e acabasse por se trans­formar num centro urbano cuja importância económica as antigas e actuáis escavações confirmam. Conímbriga gozou um período de prosperidade, durante a época imperial, entre os séculos n e v, per­turbado, nos meados do século m, pela crise que abalou o Império. É desta época a construção da muralha que os habitantes ergueram na parte oriental da cidade, cortando a zona urbanizada em duas partes para restringirem a área a defender. De 464 a 468 os suevos atacam e tomam a cidade destruindo as casas e parte das muralhas. Apesar da violência desta invasão, testemunhos arqueológicos (inscrições cristãs do século vi, materiais da época visigótica, algumas peças árabes) provam que a cidade não foi imediatamente abandonada; mas Coním­briga nunca mais se recompôs deste golpe e foi sendo substituída, a pouco e pouco, por Aeminium, que tinha melhores condições de sobre­vivência.

As peças estudadas provêm de escavações antigas não estrati- gráficas e das quais não ficaram relatórios. Só é possível, pois, indicar os locais onde os fragmentos foram encontrados. Indicamos, na tábua II, essa localização. A zona E é uma área intramuros, a nor­deste da cidade. A escavação realizada por alguns campos interna­cionais de trabalho, organizados pela Mocidade Portuguesa em 1957 e 1958, não foi suficientemente extensa para que se possa identificar o destino dos edifícios parcialmente descobertos. As peças marcadas com H foram encontradas numa das termas públicas da cidade. Estas teimas ocupam as áreas Hl a H5 da planta geral da cidade levantada pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Algumas peças têm apenas indicação de que foram achadas neste edifício, sem especificação da zona. As peças marcadas com M foram encontradas em sondagens realizadas junto da muralha, e as que levam a indicação V acharam-se em limpezas da via Sellium-Aeminium no troço já dentro

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do perímetro de Conímbriga. Os fragmentos encontrados no canto ocidental da cidade, isto é, no vértice do triángulo que as muralhas de Conímbriga desenham, têm a indicação Bico da Muralha, que reduzi a B na tábua II. A letra C indica as peças encontradas num dos esgotos da cidade. Os fragmentos marcados com x não têm indicação de proveniência.

C ) —DESCRIÇÃO DE ENGOBES E PASTAS

G r u p o 1

Est. I — n.os 1 e 2.Engobe — Em ambas as faces, laranja-claro, brilhante, polido depois de

aplicado. O engobe, como consequência desse polimento, torna-se muito aderente, parecendo formar corpo com a própria pasta.

Pasta — Laranja-tijolo, de grão fino e desengordurante em partículas não muito grandes. Fractura vítrea, embora a parte central tenha uma contextura ondulada. A cozedura é muito regu­lar e a cerâmica muito sonora.

G r u p o 2

Tipo A — Est. I —n.os 4, 5, 6, 8, 11, 15, 17, 19.Est. II —n.os 20, 25, 30, 31, 32, 33.Est. III — n.os 34, 36, 38.

Engobe — Em ambas as faces, alaranjado, muito brilhante, por vezes quase luminoso, espesso e pouco aderente, não polido depois de aplicado. Em certos exemplares o engobe está muito estragado, noutros em muito bom estado de conservação. É característica comum dos vasos deste grupo apresentarem uma parede mais ou menos estriada, consequência do pro­cesso de alisamento da pasta antes dos vasos receberem o engobe.

Como já disse, suponho que este grupo 2 entra no âmbito da produção da T.S. clara B, apesar da maior parte

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das formas encontradas não terem paralelo na tipología de Lamboglia; os exemplares de cor laranja mais vivo têm flagrantes semelhanças com os vasos hispânicos tardios dos quais se distinguem, muitas vezes, apenas pela forma e decoração.

Pasta — Laranja-vivo, de grão fino, frequentemente com bolhas de ar, muito esponjosa. Tem desengordurante abundante em pequenas partículas. A pasta varia entre dura e branda, mas é sempre de fractura ondulada.

Variante 1—Est. I — n.os 3, 14, 18.Est. II — n.os 24, 26, 27, 28.Est. III — n.os 35, 37, 39.

Pasta —De grão mais grosseiro, com maior quantidade de desen­gordurante, com partículas brancas muito maiores. Predo­mina a cor laranja-vivo, embora se encontre maior varie­dade de tons.

Tipo B — Est. I —n.os 7, 9, 10, 12, 13, 16.Est. II — n.os 21, 22, 23, 29.

Engobe — Laranja mais avermelhado que o geral do grupo 2. Brilho leve ou, por vezes, acentuadamente metalizado. A maior parte dos exemplares tem manchas de fogo provocadas por uma cozedura a fogo redutor (não possuem esta caracte­rística os ex. n.os 7, 9, 10). Normalmente em muito bom estado de conservação.

Pasta — Geralmente com bastante mica em partículas mínimas (exceptuam-se os ex. n.os 10, 21, 22).

G r u p o 3

Tipo A— Est. III —n.os 41, 43, 46, 47.

Engobe — Vermelho-violáceo, mate, pouco espesso e muito aderente, parecendo, em certos exemplares, uma simples aguada.

Pasta — Vermelho-violácea, muito dura, de grão finíssimo, com poucas bolhas de ar e algum desengordurante em partículas mínimas.

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Tipo B — Est. Ill — n.° 42.

Engobe — Laranja-amarelado, de brilho discreto, mais espesso que o anterior, mas também aderente.

Pasta — Laranja-amarelada, muito dura, de grão finíssimo, com menos bolhas de ar que a anterior e um pouco mais de desengordurante mas em partículas ainda mais pequenas que o anterior.

Tipo C — Est. III — n.os 40, 44, 45, 48.

Engobe — Tijolo-pálido mais brilhante, bastante mais espesso que os anteriores. Apresenta um aspecto uniformemente man­chado que é consequência, suponho, duma deterioração específica do engobe.

Pasta —Com bolhas de ar; os ex. n.os 40 e 48 têm desengordurante mais abundante.

Apesar das diferentes cores e de certas particularidades de pasta e engobe, todos os exemplares deste grupo 3 têm a macieza típica do fabrico da T.S. clara C.

G r u p o 4

Tipo A — Est. IV — n.° 52.Est. V — n.os 63, 65, 68, 70, 71, 72.Est. VII — n.° 96.

Engobe — De brilho discreto e muito aderente, aplicado na face interna e parede externa até meio ou quase até à base. Em todo este grupo 4 o engobe foi polido depois de aplicado. A cor do engobe é geralmente laranja-vermelhado.

Pasta — Dura, de grão fino, com muito desengordurante em par­tículas pequenas. Fractura geralmente vítrea. A cor varia entre o tijolo-vivo e rosado.Rosado —n.os 65, 68, 70, 71.Tijolo-alaranjado — n.° 52.Tijolo-vivo — n.° 72.Tijolo-avermelhado — n.os 63 e 96.

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Variante 1 — Est. V — n.os 67 e 69.

Engobe — Quase mate, de cor violácea.

Pasta —Esponjosa, de cor desigual, de grão fino e com muito desengordurante, de aspecto terroso e muito pouco sonora.

Em relação a estes dois últimos exemplares pergunto-me se estamos em presença de uma variante, de uma imitação ou de um acidente de cozedura dado o número restrito em que se notam estas características.

Gabriela Martin de Castillo encontrou em Polentia um tipo de T.S. clara que não possue, segundo a autora, as características dos 4 tipos (A-B-C-D) definidos por Lamboglia. Martin Avila descreve-a do seguinte modo: «barniz exterior e interior fino, mate e con poco brillo; el color, en vez del clásico anaranjado, tiene una tonalidad vinosa-clara. La pasta fina y bien decantada va del rojo ladrillo obscuro al marrón terroso...» (29). A autora decidiu chamar-lhe T.S. clara E, embora não afaste a hipótese de tratar-se de uma imitação, o que, porém, lhe parece pouco provável dada a boa qualidade de fabrico.

A julgar pela descrição acima citada julgo poder ver-se uma certa analogia entre o tipo de Polentia e esta Variante 1 que, ao contrário daquele, porém, me parece de inferior qualidade.

Tipo B — Est. IV — n.os 49 a 51; 53 a 59.Est. VI — n.os 79 a 84.Est. VII — n.os 85 a 95 e 97.Est. VIII —n.os 98 a 108.

Engobe — Levemente brilhante ou mesmo brilhante, apenas na face interna e aderente.

(29) Martin de Castillo, 1965.

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Pasta —Grão fino, com abundantíssimo desengordurante em par­tículas maiores que as do tipo A (grãos de tijolo, calcário, quartzo e areia). Pasta dura, mas de fractura ondulada. A cor varia entre o rosado e o tijolo acastanhado. Rosado — n.os 50, 53, 55, 57, 58, 82, 84, 85, 86, 89, 90,

91, 91a, 92, 98, 99, 106.Tijolo-vivo — n.os 49, 51, 54, 59, 81, 83, 94, 101, 102, 103,

104, 105, 107 .Tijolo-avermelhado — n.os 56, 87, 88, 93, 100. Tijolo-acastanhado — n.os 79, 90, 95, 97, 108.

Variante 1—Est. IV — n.os 60 a 61.Est. V — n.os 62, 64, 66, 73, 74.Est. VII —n.os 75, 76, 77 e 78.

Engobe — Mate, só na face interna, escorrendo para a parte superior do bordo e parte superior da parede externa. Muito pouco espesso, às vezes como que uma simples aguada quase não alterando a cor da pasta e muito aderente.

Pasta —Idêntica à anterior.Rosada — n.°8 73, 74, 76, 77, 78.Tijolo-avermelhado — n.os 60, 61, 62, 64, 75. Tijolo-acastanhado — n.° 66.

d) — DESCRIÇÃO DAS PEÇAS

1 * — Est. I— 1

Classificação: Grupo 1

Descrição: Fragmento de grande prato de paredes curvas e bordo liso. Canelura na face interna sob o bordo.

Corresponde à forma 9 de Lamboglia (30).Lamboglia apresenta 5 variantes desta forma, de Albintimilium,

Ampúrias, Tarragona e Arles.

(30) Lamboglia, 1958, pp. 274-275.

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A primeira, 9a, a mais frequente, tem parede encurvada, fundo interno plano, pé muito curto e uma ou mais caneluras internas sob o bordo e no fundo; a segunda, 9b, tem fundo completamente plano; a terceira, 9a2, apresenta uma carena muito baixa e pé pequeno; a quarta, de Arles, é uma forma 2/9, pois combina um bordo semelhante ao da forma 2 e corpo da forma 9; a última, 9A, de Tarragona, é de maiores dimensões e parede mais espessa, em quarto de cículo, sem caneluras internas e com fundo plano estriado, como na forma 10, e sinais de ter sido colocada sobre fogo. A variante 9A existe na colecção do Museu de Copenhague estudada por F. Pallarés (31).

Cronologia — Em Albintimilium esta forma surge nos estratos IIIB e IIIA, o que a situa entre a 2.a metade do século n e a l.a metade do século m. Em Ampúrias aparece em estratos correspondentes aos fins do século n e prin­cípios do século ui. É uma das formas que perduram mais tempo, porquanto é retomada, no século m, pelo fabrico da T.S. clara B e no século iv pelo da T.S. clara D.

2 * — Est. 1—2

Classificação: Grupo 1.

Descrição: Fragmento de testo, com parede curva e bordo triangular.A face interna da parede é inteiramente lisa enquanto que a externa tem 3 fundas caneluras a meio da parede. Sem decoração à roleta. O fragmento deixa ver apenas o início da pegadeira cuja forma não é possível determinar. Conheço, na colecção do Sr. Dr. F. Nunes Ribeiro, um exemplar igual a este, proveniente de Beja, onde é abun­dante a T.S. clara A.

Lamboglia publica duas formas de testos: a primeira, em T.S. clara A, forma 20, com parede muito pouco encurvada e relevo em

(31) Pallarés, 1960, fig. 10, n.os 5-6 (Est. 311).

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forma de cordão espiralado na parte central. O bordo tem urna aba horizontal decorada à roleta. É engobado apenas na face externa (32). Este testo servia de cobertura à forma 10, espécie de marmita para cozedura e conservação de alimentos (33). Lamboglia fala ainda de urna variante da forma 20, de perfil triangular, sem aba, que servia de cobertura à forma 19, pequena urna de que se conhecem 2 exemplares inteiros (34).

O segundo testo pertence ao fabrico da T.S. clara B, forma 18. Tem o bordo triangular, parede rectilínea, sem decoração e engobada em ambas as faces (35). Esta é, segundo Lamboglia, a principal dife­rença em relação ao exemplar de T.S. clara A. O autor acrescenta, porém, que isto não deve ser considerado, ainda, como característica essencial, pois da forma 18 conhece-se apenas o exemplar de Arles.

Penso, por conseguinte, que podemos considerar o exemplar de Conímbriga como urna variante, sem aba, da forma 20 da T.S. clara A, engobada em ambas as faces.

Cronologia — A forma 20, presente também na Colecção do Museu de Copenhague (36), tem a mesma cronologia dos vasos a que serve de cobertura, os quais, pelo excelente engobe e semelhanças com os vasos de fundo estriado típicos do século ii, devem pertencer aos fins deste século e princípios do século m.

3.a — Est. 1—3

Classificação: Grupo 2 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de tigela funda, de paredes quase verticais e finas. Bordo ligeiramente revirado para o exterior. Decora­ção feita com roleta, muito superficial, a meio da parede externa, disposta, ao que parece, em duas bandas separadas

(32) Lamboglia, 1958, p. 288.(33) Lamboglia, 1958, p. 267.(34) Lamboglia, 1958, p. 287.(35) Lamboglia, 1958, p. 310.(36) Pallarés, 1960, fig. 6, n.° 1 (Est. 307).

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por uma faixa de ranhuras também muito superficiais. Engobe parecido com o de alguns exemplares hispânicos tardios.

Não encontro correspondente desta forma na T.S. clara B de Lamboglia. Pode sim, corresponder à forma 22 (variante 22a de Arles) da T.S. clara A. Os exemplares do tipo A apresentados por Lamboglia, de Valença, Arles, Albenga (37), e ainda por Francisca Pallarés (provenientes do Norte de África) (38) não possuem qualquer decoração e têm o pé baixo próprio deste tipo.

Cronologia — Esta forma é considerada das mais tardias— l.a metade do século ui — e é retomada pela T.S. clara D, não se conhecendo ainda nenhum exemplar nos fabricos B e C.

4.a — Est. 1 — 4

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de tigela de paredes côncavas que parece for­marem carena na proximidade da base. Bordo não engros­sado e em forma de bisel inclinado para o exterior. Duas ranhuras externas marcam, respectivamente, o limite infe­rior da curvatura da parede e o limite superior da parte carenada. A faixa definida por estas duas ranhuras é lisa. A parte superior da parede até ao bordo e a parte inferior abaixo da carena são decoradas à roleta.

Corresponde à forma 33 da T.S. clara B de Lamboglia (39).Lamboglia apresenta um exemplar inteiro de Vaison com parede

rectilínea e oblíqua, carena baixa e pé pequeno e arredondado. Um fragmento de base da mesma forma tem a marca A-MOE. Em ambos o engobe é homogéneo e quase marmóreo.

(37) Lamboglia, 1958, pp. 289-290.(38) Pallarés, 1960, fig. 11, n.° 9 (Est. 312).(39) Lamboglia, 1958, pp. 316-317.

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Esta forma deriva da forma Drag. 33 da T.S. gálica (40). Aquando da publicação da tipologia da T.S. clara A e B não foi apresentado nenhum exemplar da forma 33 em fabrico do tipo A. F. Pallarés, ao estudar a colecção do Museu de Copenhague, reconheceu 2 vasos desta forma que, pela pasta e engobe, incluiu no fabrico do tipo A. Os 2 exemplares do Museu de Copenhague, muito parecidos entre si, não se assemelham ao exemplar de Vaison mas possuem as caracte­rísticas essenciais desta forma. As paredes são ligeiramente encur­vadas e o pé pequeno é típico do fabrico da T.S. clara A. Ambos possuem uma decoração feita com roleta, original, em toda a parede externa (41).

Cronologia — Não há indicações cronológicas, embora Pallarés admita que os exemplares de Copenhague sejam bastante antigos dentro da produção da T.S. clara A, pela cor e quali­dade do engobe.

A forma 33 é também conhecida no fabrico da cerâmica luzente, representada por um exemplar de Albintimilium muito simplificado em relação aos ante­riores (42).

5. a — Est. 1—9

Classificação: Grupo 2 — Tipo B

Descrição: Fragmento de tigela do mesmo tipo da anterior mas com paredes rectilíneas ou muito ligeiramente côncavas. Decora­ção à roleta sobre a parede externa subindo até ao bordo e não delimitada por traços incisos.

6. a — Est. I— 11

Classificação: Grupo 2 — Tipo A

Descrição: Fragmento de tigela do mesmo tipo com parede rectilínea e menos oblíqua que as anteriores. O fragmento não

(40) Oswald, 1920, Est. LI.(41) Pallarés, 1960, p. 177.(42) Lamboglia, 1963, p. 177; e 1950, fig. 101, n.° 12.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 73

mostra qualquer decoração. Engobe em bom estado de conservação.

7.a — Est. 1—5

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de tigela em forma de campánula com bordo engrossado e em bisel inclinado para o exterior. A parede tem uma parte superior rectilínea e oblíqua e uma parte inferior encurvada e muito espessada na base. Estas duas partes são separadas externamente, por uma larga e super­ficial canelura. O fundo externo é limitado por uma cane- lura menos larga e mais profunda. A parte superior da parede tem decoração à roleta numa faixa de 1,5 cm. de largura logo após a canelura. Faixa idêntica de decoração a meio da parte inferior da parede.

Não encontro paralelo exacto para esta forma na T.S. clara deLamboglia. Apresenta porém características comuns à forma 7 da T.S.clara A e flagrantes semelhanças com a forma 37 hispânica tardia (43).

8.a — Est. 1—1

Classificação: Grupo 2 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de tigela com bordo engrossado e em bisel inclinado para o exterior duma forma que pode ser seme­lhante à anterior.

9.a — Est. 1—6

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de tigela de paredes rectilíneas e levemente oblíquas com carena baixa muito pronunciada e fundo

(43) Mezquiriz, 1961.

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interior rebaixado. Bordo em aba horizontal de lábio pendente inclinado ligeiramente para o interior.

Engobe em muito bom estado de conservação.

Corresponde à forma 4/46 da T.S. clara B de Lamboglia (44), embora difira do exemplar de Albintimilium pelo bordo e menor altura da parede. É de notar que na forma 46 da T.S. hispânica predominam o bordo horizontal e a parede mais baixa (45). O exemplar publicado por Lamboglia tem um bordo em aba levemente abaulada típica da forma 4 da T.S. clara A, e duas caneluras na face externa da parede logo abaixo da aba. O fundo interno não é rebaixado e possue um pé baixo e facetado.

A forma 4/46 deriva da forma Drag. 46 da T.S. sudgálica (46) e é retomada pelo fabrico da T.S. clara C (47).

Cronologia — O exemplar de Albintimilium provém do estrato III B, datável dos inícios do século m.

10.a — Est. I— 8

Classificação: Grupo 2 — Tipo A

Descrição: Fragmento de bordo duma pequena tigela, em forma de aba levemente abaulada. Decoração à roleta cobrindo toda a face superior da aba. O que nos resta deste frag­mento não permite concluir se ele pertence a uma tigela hemisférica como a da forma 4/35 ou tronco-cónico como a da forma 4/46.

11 * — Est. I— 10

Classificação: Grupo 2 — Tipo B

Descrição: Fragmento de bordo de uma pequena tigela, em forma de aba horizontal, com lábio pendente e um pouco inclinado

(44) Lamboglia, 1958, p. 304.(45) Mesquiriz, 1961, Tomo TI, Est. 19.(46) Oswald, 1920, Est. LV.(47) Lamboglia, 1963, pp. 156-157.

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para o interior. A face superior da aba tem decoração feita com roleta bastante incisa. (Existem mais dois fragmen­tos de aba semelhantes a este, sem decoração feita com roleta).

12. a — Est. I— 12

Classificação: Grupo 2 — Tipo B

Descrição: Fragmento de bordo, de tigela pequena em forma de aba horizontal com lábio pendente e perpendicular. A face superior da aba tem 2 caneluras, respectivamente junto do lábio e do limite interno da aba. Entre estas duas caneluras, decoração feita com roleta muito fina e regular.

O que nos resta destes fragmentos não nos permite saber se per­tencem a uma tigela hemisférica ou tronco-cónica. É de notar, porém, a semelhança entre estas abas e a da forma 4/36 da cerâmica luzente publicada por Lamboglia (48). Dada essa semelhança e ainda uma certa tonalidade metalizada do engobe, muito ténue nos primeiros fragmentos mas evidente no último (neste, a parte pendente do lábio é esfumada), penso que podemos considerá-los duma forma 4, ainda a determinar por futuros fragmentos que possam aparecer, duma cerâ­mica a que chamarei, a conselho de Lamboglia (49), preluzente, dado ter características deste grupo 2, mas anunciar já características de engobe da luzente autêntica.

13. a — Est. I— 13

Classificação: Grupo 2 — Tipo B

Descrição: Fragmento de pratel de paredes curvas e bordo levemente biselado para o interior com o limite externo um pouco revirado para o exterior. Fundo interno rebaixado. Pé muito reduzido quase limitado a uma simples moldura.

(48) Lamboglia, 1963, pp. 171-172.(49) Lamboglia, 1958, p. 298.

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14.a — Est. 7 — 1 5

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior, mas de maiores dimensões e parede muito espessa. O bordo, em forma de bisel, revira nitidamente para o exterior.

15* — E s t . I — 14

Classificação: Grupo 2 — Tipo A — Variante 1

Descrição: Fragmento de prato semelhante aos anteriores. O bordo biselado revira mais marcadamente para o exterior.

16* — E s t . I — 16

Classificação: Grupo 2 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de prato semelhante aos anteriores, de paredes muito espessas. A face superior do bordo tem uma depres­são em forma de larga e funda canelura.

Não encontro paralelo para estes 4 últimos exemplares em nenhumdos fabricos da T.S. clara A ou cerâmica luzente.

11* — E s t . I — 19

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato de gola vertical com bordo simples levemente afilado. A parte inferior da gola não é moldurada. A junção do fundo convexo com a gola é marcada por uma funda depressão. O fundo interno é rebaixado. Entre o limite inferior da gola e o rebaixamento do fundo interno forma-se uma espécie de canal, consequência da verticali­dade da gola, pois não existe nas formas semelhantes a esta mas de gola menos vertical.

Engobe em muito bom estado de conservação.

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18. a — Est. II — 20

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato, semelhante ao anterior de gola menos vertical. A parte inferior desta é levemente moldurada, e a junção dela com o fundo externo convexo é também marcada por urna funda depressão. Engobe em muito bom estado de conservação.

19. a — Est. I— 18

Classificação: Grupo 2 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior de gola ligei- ramente cóncava. A parte inferior desta é levemente mol­durada e a junção dela com o fundó externo convexo marcada por uma canelura muito superficial.

20. a — Est. 11 — 22

Classificação: Grupo 2 — Tipo B.

Descrição: Grande prato semelhante ao anterior, com o bordo em bisel inclinado para o exterior. O limite inferior da gola é levemente moldurado e a junção desta com o fundo externo convexo é marcada por urna funda canelura. A 3,8 cm. desta o fundo externo realça sensivelmente, assentando o prato na moldura provocada por aquele realçamento.

21. a — Est. II — 21

Classificação: Grupo 2 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de prato de gola semelhante aos anteriores.O bordo abaulado tem o limite externo revirado para o exterior. A parte inferior da gola é levemente moldurada

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e a junção desta com o fundo externo cóncavo é marcada, como no anterior, por urna funda canelura.

Esta forma varia entre urna gola vertical com bordo simples e sem moldura e urna gola mais oblíqua, com bordo abaulado ou biselado e moldura mais pronunciada como nos exemplares seguintes.

Em Lixus conhecem-se 2 fragmentos de pratos que apresentam algumas vagas semelhantes com esta forma, especialmente com o fragmento n.° 18(50).

22 * — Est. I—n

Classificação: Grupo 2 — Tipo A

Descrição: Fragmento de grande prato de parede rectilínea quase ver­tical. A face superior do bordo tem uma depressão em forma de larga canelura. O limite inferior da parede externa acaba em moldura saliente, acentuada superior­mente por uma canelura. O fragmento mostra o início dum fundo convexo.

23. a — Est. 11 — 21

Classificação: Grupo 2 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de grande prato semelhante ao anterior, de paredes rectilíneas e levemente oblíquas com bordo bise­lado sem depressão. O limite inferior da parede externa acaba em moldura muito saliente acentuada superiormente por uma canelura.

24. a — Est. II— 24

Classificação: Grupo 2 — Tipo A — Variante 1.

(50) Ponsich et Tarradel, 1965, fig. 9-16 e fig. 12-13.

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Descrição: Fragmento de grande prato semelhante ao anterior com parede rectilínea mais espessa e mais oblíqua e cujo limite inferior termina em moldura muito acentuada.

25. a — Est. II — 25

Classificação: Giupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento semelhante ao anterior, de paredes muito espes­sas, rectilíneas e muito oblíquas, com bordo em forma de bisel inclinado para o interior e limite inferior da parede acabando em moldura muito saliente. Canelura super­ficial a meio da face externa da parede.

26. a — Est. II — 26

Classificação: Grupo 2 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato com aspecto geral dos anteriores, mas com parede encurvada em vez de rectilínea. O limite inferior desta termina também em moldura saliente.

27. a — Est. II — 28

Classificação: Grupo 2 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior, com parede um pouco mais espessa e encurvada.

28. a — Est. II — 23

Classificação: Grupo 2 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de grande prato com o aspecto geral dos pratos anteriores, mas com parede encurvada muito aberta. O bordo, horizontal, tem o limite externo revirado para o exterior. O limite inferior da parede externa acaba em moldura muito saliente. Acima desta vê-se um traço

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inciso. A junção da parede com o fundo externo, convexo, é marcada por duas largas caneluras superficiais. O fundo interno é rebaixado e a 9 mm deste rebaixamento existe urna fina canelura.

Ñas novas escavações de Conímbriga apareceu um prato quase completo deste tipo cujo bordo biselado apresenta também uma depressão em forma de canelura. Tem decoração estampada muito rudimentar, constituída por pequenos círculos com 2 traços perpen­diculares inclusos. Estes círculos dispõem-se regularmente na face interna do prato logo abaixo da parede vertical, quando se inicia a curvatura da base, e no fundo interno, em círculo, limitado por 2 caneluras.

Não encontrei paralelo para estas formas nas já publicadas em qualquer dos fabricos da T.S. clara.

As únicas formas de paredes rectilíneas em T.S. clara que têm algumas analogias com estas — embora apresentem diferenças impor­tantes— são as formas 5 e 17 da T.S. clara A (51).

A forma 5, representada por um exemplar de Albintimilium, apro­xima-se das formas 18 e 18/31 da sigillata sudgálica e parece ser uma forma muito antiga, a julgar pela qualidade do engobe.

A forma 17, representada por um exemplar de Sassari, é deri­vada da forma 17 B da T. sigillata itálica. É uma das mais antigas da produção da T.S. clara e, segundo Lamboglia, muito importante para a questão da origem desta cerâmica.

Em ambas é constante e característica a moldura interna ao nível da carena, moldura que não existe nas formas de T.S. clara acima descritas.

São de notar também as semelhanças com a forma 14 da cerâ­mica cinzenta (52). Haverá uma evolução desde aquelas formas antigas da T.S. clara até à cerâmica cinzenta de que estas sejam um elo intermédio? É porém de estranhar que o pé das primitivas formas se conserve na cerâmica cinzenta e tenha desaparecido nestas possíveis formas intermédias.

(51) Lamboglia, 1958, pp. 268 e 285.(52) Rigoir, 1960, n.os 31-32 e 152-155.

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Penso poder estabelecer-se também uma certa analogia entre estas formas e a forma 11 da T.S. Hispánica (53). Têm a mesma parede rectilínea e fundo convexo moldurado. Diferem no bordo, que na forma hispánica é em forma de amêndoa. Só se conhece um exemplar desta forma proveniente de Tujeden (Navarra). Mesquiriz consi- dera-o «esporádico e sem dúvida posterior ao século iv» (54).

29.a — Est. II — 29

Classificação: Grupo 2 — Tipo B

Descrição: Fragmento de prato pouco fundo de paredes encurvadas e muito abertas, com bordo triangular muito fechado e pendente, limitado, externamente, por uma ranhura. O fundo interno é rebaixado. São bem visíveis as estrias regulares provenientes do alisamento ao torno.

Também não encontrei paralelo para esta forma.

30 * — Est. 11 — 30

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de grande prato de parede em quarto de cír­culo e bordo em forma de aba estreita e horizontal. A face superior da aba tem 2 fundas caneluras e, inferiormente, 2 caneluras mais estreitas marcam a junção da aba com a parede. Esta é levemente carenada continuando rectilínea depois da carena até às molduras da base. Ao nível da carena a face externa da parede tem duas ranhuras. O fundo interno é muito rebaixado.

Engobe em muito bom estado de conservação.

(53) Mezquiriz, 1961, Tomo II, Est. 26-11.(54) Mezquiriz, 1961, Tomo I, p. 79.

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31. a — Est. // — 32

Classificação: Grupo 2 — Tipo A

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior, mas com aba muito estreita.

32. a — Est. II — 33

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de base dum prato semelhante aos anteriores.Fundo interno rebaixado. Fundo externo duplamente realçado formando duas grossas molduras.

33. a — Est. II— 31

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior mas perten­cente a um prato de paredes muito mais espessas.

Não encontro paralelo para estes pratos nos exemplares publi­cados de T.S. clara.

Lamboglia apresenta 4 exemplares de T.S. clara A, forma 23, análogos ao tipo 23 gálico de Curie e diz que esta forma é comum à sigillata clara A e B. Entretanto não publica nenhum exemplar desta forma em T.S. clara B (55). A forma 23 é também uma das formas mais representadas em T.S. clara A na colecção de Copenhague (56). Trata-se sempre dum prato de parede encurvada e carenada com bordo em forma de aba horizontal levemente inclinada, com uma canelura sobre a face superior da aba e outra no fundo interno. Quatro exem­plares da colecção de Copenhague têm decoração feita com roleta sobre o fundo interno. Esta forma começa no século ii d.C., momento

(55) Lamboglia, 1958, pp. 291-292.(56) Pallarés, 1960, fig. 7-3, 4, 5 (Est. 308) e fig. 9-1, 4 (Est. 309).

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em que, segundo Lamboglia, teria substituído a forma 4/36 (57), continua por todo o século m e é retomada pelos grandes pratos da T.S. clara D.

Se atendermos a que a evolução normal dos pratos, à medida que caminhamos da T.S. clara A para a T.S. clara D, é o aumento das dimensões e a redução do pé até simples molduras ou fundos completa­mente planos e se atendermos às semelhanças entre este prato de Coním­briga e os exemplares de carena mais alta da forma 23 de Curie (58), julgo que poderemos considerar esta urna forma 23.

34.a — Est. I I I — 37

Classificação: Grupo 2 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato pequeno de paredes hemisféricas e em forma de aba lisa, com lábio pendente e oblíquo. A face inferior da aba tem urna canelura. Na face externa da parede são bem visíveis as estrias provenientes do alisa­mento ao torno.

Embora não encontre paralelo exacto para este exemplar julgo que deve incluir-se na forma 4/36 sendo mais parecido com a 4/36 da cerâmica luzente do que com a mesma forma da T.S. clara B.

Lamboglia publica um exemplar de Vaison em T.S. clara B com decoração à roleta sobre a aba em vez da tradicional folha de água (59). Admite, porém, que haja exemplares em B mais antigos com folha de água. Esta forma evoluiria assim dum bordo curvo, com folha de água, para um menos curvo com decoração à roleta.

A forma 4/36 da cerâmica luzente, representada por um exemplar de Albintimilium, tem um bordo mais horizontal e rebordo pendente. Possue também decoração à roleta e foi encontrado em estratos do século iv (60).

(57) Lamboglia, 1958, p. 291.(58) Oswald, 1920, Est. LIX.(59) Lamboglia, 1958, p. 305.(60) Lamboglia, 1963, p. 171.

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35. a — Est. III — 34

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato de paredes hemisféricas e bordo em forma de aba larga, lisa e muito ligeiramente abaulada. Ambas as faces da parede são lisas.

36. a — Est. I l l — 3 6

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato de paredes curvas e bordo em forma de aba larga com lábio pendente e levemente oblíquo. A aba não é lisa, mas de superfície enrugada.

37. a — Est. Ill — 38

Classificação: Grupo 2 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de parede e fundo dum prato de forma seme­lhante aos anteriores mas mais alto. Fundo apenas realçado.

Não encontro paralelo exacto para estes exemplares mas julgo poder incluí-los, pelas suas características gerais, na forma 4 da T.S. clara B de Lamboglia (61). E dentro desta parecem-me mais próximos da 4/9, de fundo plano, embora os exemplares de Conímbriga não tenham a aba horizontal, mas antes abaulada como a típica forma 4 da T.S. clara A e constante nas formas 4/23, 4/36 e 4/46 da T.S. clara B publicadas por Lamboglia.

A forma 4/9, publicada por Lamboglia, está representada por um exemplar de Vaison, com fundo completamente plano e face supe­rior da aba decorada à roleta.

É uma das formas mais difundidas da T.S. clara B.

(61) Lamboglia, 1958, pp. 304-306.

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38. a — Est. Ill — 35

Classificação: Grupo 2 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de urna cuja parede é dividida por urna moldura muito saliente e dentada. A parte superior da parede é rectilínea com bordo simples levemente revirado para o exterior. Tem uma canelura muito superficial sob o bordo externo e duas caneluras paralelas mais estreitas e pro­fundas a meio da parede. A parte inferior desta é encur­vada e muito espessada na base. Sem decoração. Engobe em muito bom estado de conservação.

39. a — Est. I I I — 39

Classificação: Grupo 2 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de urna idêntica à anterior mas de menores dimensões e com o dentado da canelura mais miúdo.

Julgo poder incluir esta urna na forma 34 da T.S. clara B deLamboglia (62), embora não corresponda a nenhum dos exemplarespublicados pelo autor, respectivamente de Arles e Orange, os quaissão também muito diferentes entre si.

Lamboglia não dá referências cronológicas.

40a — Est. III —AO

Classificação: Grupo 3 — Tipo C.

Descrição: Fragmento de tigela de parede hemisférica, com bordo em forma de aba estreita, ligeiramente descaída para fora. Incluí-o no grupo 3 exclusivamente pelas características do engobe e a qualidade e macieza típicas deste fabrico e o mesmo manchado uniforme dos exemplares 44 e 45,

(62) Lamboglia, 1958, p. 317.

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que pertencem indubitàvelmente a este grupo. A espes­sura da parede não lembra, todavia, os exemplares do grupo 3. Lamboglia indue, porém, no grupo da T.S. clara C um exemplar de Siracusa (63), de forma 35, que parece bastante espesso.

Não encontro paralelo para esta tijela nas formas conhecidas da T.S. clara C, pois julgo não poder incluí-la na forma 35 pelo dife­rente desenvolvimento da parede. Penso que, pelas suas características gerais, pode ser incluída na forma 24, embora mais próxima da forma 24 da T.S. clara D que da mesma forma do tipo A.

A forma 24 corresponde a uma tigela hemisférica de bordo em forma de aba ligeiramente inclinada para o exterior. No tipo A a face superior da aba forma uma espécie de degrau; o pé é pequeno e típico deste fabrico. Conhece-se um exemplar de Ampúrias dos fins do século ii, princípios do século m (64). No tipo D a aba é lisa e o pé alto e oblíquo (65).

Se bem ajuizei das características de engobe e pasta o exemplar de Conímbriga pertenceria, pois, à forma 24 em fabrico de T.S. clara C.

41 * — Est. Ill —A3

Classificação: Grupo 3 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de grande prato de paredes muito finas ligei- ramente encurvadas e bordo liso terminando em gume. (Há muitos fragmentos desta forma em Conímbriga).

Corresponde à forma 40 de Lamboglia (66).Lamboglia apresenta 3 exemplares, respectivamente de Albinti-

milium, Atenas e Vado que, obedecendo às características essenciais desta forma, variam no bordo e na base. O exemplar de Atenas tem

(63) Lamboglia, 1963, p. 154.(64) Lamboglia, 1958, p. 292 e Martin Avila, 1962, fig. 5, n.° 52.(65) Lamboglia, 1963, pp. 188-189.(66) Lamboglia, 1963, pp. 147-151.

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um fundo realçado e um pé muito atrofiado, que no exemplar de Vado mais se atrofia para desaparecer por completo no exemplar de Albin- timilium cujo fundo é apenas realçado. (O exemplar de Vado é urna imitação fina de T.S. clara C. Mas este mesmo perfil foi encontrado em Albintimilium em C auténtica) (67).

Lamboglia admite que estas variações, como as possíveis variações de bordo e curvatura da parede, correspondam a uma variação crono­lógica que, por enquanto, não é fácil estabelecer tanto mais quanto é certo serem raros os exemplares completos até agora encontrados.

As escavações até agora realizadas mostram que esta forma teve uma difusão homogénea em toda a bacia do Mediterrâneo. Apareceu em Albintimilium (68), Albenga, Ampúrias (69), Tarragona, Valên­cia (70), Norte de África (71), Atenas (72), Dura-Europos (73), Antio- quia (74). É muito frequente em Conímbriga e no sul de Portugal (existem exemplares do Monte Molião (Lagos) no Museu Municipal da Figueira da Foz).

Cronologia — Não é ainda possível estabelecer uma cronologia segura desta forma e suas variantes. Entretanto, para o Oci­dente, Albintimilium e Ampúrias são os lugares que nos fornecem os dados cronológicos mais importantes, que a colocam nos meados do século m como foi dito na introdução. Lamboglia admite que as formas de paredes finas e engobe homogéneo sejam mais antigas que as paredes mais espessas e engobe mais opaco. A parede também evoluiria de uma forma mais rectilínea para uma de maior curvatura. No Mediterrâneo Oriental esta forma também surgiu nos meados do século m, segundo dados

(67) Lamboglia, 1943, p. 149, nota 3.(68) Lamboglia, 1950, fig. 4-7; fig. 7-19; fig. 9-21; fig. 77-19; fig. 80-3;

fig. 106-3; fig. 116-102.(69) Lamboglia, 1955, pp. 195-212.(70) Martin Avila, 1962, fig. 5-60 a 63.(71) Pallarés, 1960, fig. 10-7 e 8 (Est. 311); fig. 11-2 e 4; 16 a 22 (Est. 312).(72) Robinson, 1959, p. 60, Est. 64.(73) Cox, 1949, p. 15.(74) Waagé, 1948, Est. IX, 836.

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fornecidos por Atenas (75). Waagé admite que as for­mas com pé atrofiado sejam mais antigas que aquelas que têm fundo apenas realçado, sendo as primeiras mais frequentes em Antioquia (76). Alguns exemplares mais tardios aparecem ainda na segunda metade do século iv (77) em Antioquia, onde, como se viu, o fabrico Late A chegou até ao início do século v.

42 * — Est. III — 41

Classificação: Grupo 3 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato da mesma forma do anterior. Este tem uma fina canelura externa, não muito profunda, limi­tando o bordo.

43.a — Est. Ill— 42

Classificação: Grupo 3 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de prato pouco fundo, de parede oblíqua e bordo em forma de aba quase horizontal. Uma ranhura corre paralelamente ao limite externo da aba. O pé é muito atrofiado e uma fina canelura limita o fundo interno.

Corresponde à forma 41 de Lamboglia (78).Lamboglia apresenta um exemplar de Ampúrias muito semelhante

ao de Conímbriga, e refere outro fragmento proveniente de antigas escavações de Glanum.

A forma 41 existiu em T.S. clara A, dos fins do século n ou prin­cípios do século ui (79) e serve de prototipo aos grandes pratos de bordo em forma de aba larga da T.S. clara D, típicos do século iv.

(75) Robinson, 1959, pp. 58-59.(76) Waagé, 1948, p. 49.(77) Waagé, 1948, p. 55.(78) Lamboglia, 1963, p. 151.(79) Pallarés, 1959, pp. 233-235.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 89

A forma 41 não parece ter tido tão larga difusão como a forma 40. Em Portugal conheço apenas o exemplar de Conímbriga e Waagé publica alguns exemplares de Antioquia (80).

Cronologia — O dado cronológico mais preciso desta forma é dado pelo exemplar de Ampúrias que apareceu num estrato contemporâneo ou pouco posterior à destruição de 264 d.C.

Waagé admite que esta forma — cujos exemplares melhores e mais típicos são dos meados do século m — tenha evoluído duma aba bastante abaulada para uma aba quase horizontal até outra inclinada para o interior, mais parecida com a forma 42 e com um engobe opaco e não brilhante como o dos exemplares mais antigos (81).

44.a — Esu III — 47

Classificação: Grupo 3 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato de parede encurvada e bordo em forma de aba muito larga, ligeiramente inclinada para o interior, cujo lábio termina em gume como na forma 40. A face superior da aba tem uma fina canelura paralela ao limite externo e decoração feita com roleta numa faixa de 12 mm. de largura.

Corresponde à forma 42 de Lamboglia (82).Lamboglia apresenta um exemplar de Atenas e outro de Calvatone.

O primeiro é mais fundo que o segundo. Ambos têm o pé atrofiado já característico da forma 40 e decoração à roleta sobre a aba e fundo interno. Esta forma admite a aba perfeitamente horizontal ou inclinada.

Conhecem-se exemplares de Dura-Europos (83) e de Antioquia (84).

(80) Waagé, 1948, Est. VIU, 807.(81) Waagé, 1948, p. 48.(82) Lamboglia, 1963, pp. 152-153.(83) Cox, 1949, p. 15.(84) Waagé, 1948, Est. VIII, 812 e fig. 82, 1, 2, 3.

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Cronologia — É diminuto o número de exemplares para estabelecer com alguma precisão a área de difusão e cronologia desta forma. Não aparece em Ampúrias e Lamboglia refere a existência de alguns fragmentos de Albintimilium pro­venientes dos estratos III A e II posteriores a 250 d.C. Nenhum fragmento da forma 42 figura, porém, no material publicado das escavações de 1938-40.

Os exemplares publicados por Waagé são dum fabrico muito fino, e o autor coloca-os entre as formas mais antigas, dos meados do século m; não aparece entre os exemplares mais pobres do século iv (85). A forma 42 também serve de prototipo aos grandes pratos de T.S. clara D típicos do século iv.

45. a — Est. I l l — 4 5

Classificação: Grupo 3 — T i p o C.

Descrição: Prato semelhante ao anterior, mas de aba um pouco menos larga e quase horizontal. A decoração feita com roleta, numa faixa de 9 mm. de largura, não corre a meio da aba mas junto do limite externo desta.

46. a — Est. Ill —44

Classificação: Grupo 3 — Tipo C.

Descrição: Fragmento de aba da mesma forma, com decoração feita com roleta mais simplificada.

47. a — Est. Ill— 46

Classificação: Grupo 3 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de base, com pé muito atrofiado. A 15 mm.do pé o fundo externo faz um levíssimo ressalto e a 10 mm.

(85) Waagé, 1948, p. 55.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 91

deste em direcção ao centro corre uma ténue canelura. No fundo interno, ao nível do ressalto, existe uma estreita e pouco funda canelura. É uma base correspondente à forma 42 e semelhante à do exemplar de Atenas publicado por Lamboglia (86).

48.a — Est. III — 48

Classificação: Grupo 3—Tipo C.

Descrição: Fragmento de prato de paredes encurvadas e bordo em forma de aba estreita e lisa, ligeiramente descaída para o exterior. Tem uma canelura sobre a face superior da aba.

Este fragmento encontra-se precisamente no caso do n.° 39. Pelas características do engobe macio e semelhanças com os n.os 44 e 45 incluí-o no grupo 3. No caso presente a peça parece ter sofrido a acção dum fogo um pouco redutor pois argila e engobe apresentam manchas escuras.

Não encontro correspondente desta forma na T.S. clara C, A ou B apresentada por Lamboglia. Assemelha-se antes à forma 52 da T.S. clara D, com a curvatura e espessura da parede semelhantes ao exemplar de Albintimilium e bordo da mesma largura mas inclinado para o exterior (87).

Entretanto, Waagé apresenta um fragmento desta forma que ele indue no fabrico Late A, embora não do melhor nem do mais típico e pouco comum (88).

49 * — Est. IV — 49

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de tigela de parede encurvada, bastante espessa, bordo em amêndoa. A cor e qualidade do engobe, apenas

(86) Lamboglia, 1963, pp. 152-153.(87) Lamboglia, 1963, p. 197.(88) Waagé, 1948, Est. VIII, 820 e p. 48.

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na face interna e face externa do bordo, lembram as de alguns exemplares de T.S. clara A.

Corresponde à forma 1 de Lamboglia (89).Lamboglia apresenta um exemplar de Albintimilium que possue

um pé bastante alto e oblíquo. O fundo interno é ornamentado com um motivo estampado: aves, peixes e outros motivos animais. Nos exemplares de maiores dimensões estes motivos dispõem-se, frequen­temente, em torno de duas caneluras circulares (90).

Lamboglia diz que esta forma parece ser rara no Norte de África. De facto, não figura na colecção do Museu de Copenhague. É, con­tudo, muito frequente em Albintimilium e em toda a margem setentrional do Mediterrâneo em estratos tardios (91).

Waagé apresenta alguns fragmentos que suponho corresponderem a esta forma que o autor considera uma das mais frequentes do fabrico Late Roman B. A ordem de apresentação dos fragmentos corres­ponde, segundo ele, ao que deveria ter sido a evolução cronológica: os exemplares mais antigos possuiriam um pé alto e oblíquo que dimi­nuiria até ficar reduzido a um fundo realçado (92).

Cronologia — Lamboglia admite que esta forma não seja das mais antigas mas tenha surgido tardiamente dentro da produção de T.S. clara D, já na segunda metade do século iv. Em Antioquia esta forma aparece no segundo quartel do século vi (93). É de notar que a exportação do fabrico Late B para Antioquia é interrompida durante um período de quase um século — entre 430 e 530; não é de estranhar, pois, que exemplares deste fabrico surjam lá numa época mais avançada em relação a outras regiões onde tal interrupção não se verificou ou foi menos sentida (94).

(89) Lamboglia, 1963, pp. 184-186.(90) Lamboglia, 1950, fig. 80-20.(91) Lamboglia, fig. 80-17 a 20; fig. 4-1; fig. 77-20.(92) Waagé, 1948, Est. X, 878.(93) Waagé, 1948, p. 57.(94) Waagé, 1948, p. 56.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 93

50.a — Est. IV— 51

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de tigela semelhante à anterior na forma e características de fabrico.

51.a — Est. I V — 5 2

Classificação: Grupo 4 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de tigela de parede hemisférica, com bordo em forma de aba estreita, engrossada e levemente descaída para o exterior.

Corresponde à forma 24 de T.S. clara D de Lamboglia (95).Lamboglia apresenta 2 exemplares desta forma, respectivamente

de Albintimilium e St. Blaise, ambos com o pé alto e oblíquo seme­lhante ao da forma 1.

Cronologia — Não é ainda possível estabelecer a cronologia desta forma. Podemos apenas dizer que existe em T.S. clara A (96) e que há muitas características comuns entre os dois fabricos. Em Albintimilium, na sepultura 145, datável dos fins do século ii, foi encontrada uma tigela desta forma numa imitação que, segundo Lamboglia, não corresponde a nenhum dos fabricos da T.S. clara e que fica, assim, como testemunho de possíveis elos de ligação entre o século n e o século iv, correspon­dentes, respectivamente ao fabrico do tipo A e do tipo D (97). (Ver exemplar n.° 40, referido atrás).

(95) Lamboglia, 1963, pp. 188-189.(96) Lamboglia, 1958, p. 292.(97) Lamboglia, 1963, p. 189.

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94 Manuela Delgado

52.a — Est. IV — 54

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de tigela da mesma forma da anterior, mas com aba mais larga e menos engrossada.

53* — E s t . I V — 56

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de tigela hemisférica, com bordo em forma de aba recortada.

Corresponde à forma 48 da T.S. clara D de Lamboglia (98). Lamboglia apresenta um exemplar quase completo de Marselha.

Considera a forma rara e não dá quaisquer indicações cronológicas.Waagé, porém, considera-a uma das formas tardias mais comuns

da Late B e apresenta um exemplar de pé alto, cuja parede tem uma curvatura menos fechada que o exemplar de Marselha. Outros fragmen­tos documentam variantes com pés menos altos e fundo interno rebai­xado com duas caneluras (99).

Em Antioquia esta forma aparece no segundo quartel do século vi após a interrupção da exportação do fabrico Late B (ver exemplar n.° 49 descrito atrás) (100).

Rigoir publica um exemplar desta forma em cerâmica estampada cinzenta (101).

54.a — Est. IV— 59

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de tigela, de parede hemisférica e bordo em forma de aba levemente inclinada para o exterior, com

(98) Lamboglia, 1963, p. 194.(99) Waagé, 1948, p. 49, Est. IX, 856 e fig. 28-9.(100) Waagé, 1948, p. 57.(101) Rigoir, 1960, fig. 12.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 95

decoração à roleta muito incisa. O engobe avermelhado é brilhante, espesso e aderente na face interna e sobre a aba; torna-se menos espesso e mate na face externa onde desee apenas até meio da parede. Este exemplar parece ter sofrido uma cozedura a fogo redutor, pois engobe e pasta na aba e início da parede têm uma cor escura acin­zentada.

Aproxima-se da forma 35 de Lamboglia de que difere, porém, na aba, pois é rectilínea e não abaulada, como a da forma 4/36 do tipo A. O exemplar de Albintimilium, publicado por Lamboglia, tem um engobe muito bom. A parede externa não tem engobe (102). É interessante notar também as relações de semelhança entre a aba, com decoração à roleta, e o tipo de cozedura do exemplar de Coním­briga com a forma 4/35 de T.S. clara B, apresentada por Lamboglia e que ele considera claramente tardia, já vizinha da cerâmica cin­zenta (103).

Waagé publica um fragmento de Antioquia igual à tigela de Coním­briga e inclue-o no fabrico da Late B (104).

Cronologia — Lamboglia e Waagé não dão indicações cronológicas além das conhecidas sobre a produção geral deste tipo. Dadas as suas características de forma, engobe e coze­dura parece que este exemplar de Conímbriga deve colocar-se naquele ponto indeterminado do século iv em que tipos intermédios anunciam a cerâmica cinzenta, cujas relações com a T.S. clara B por um lado e a T.S. clara D por outro são evidentes, mas ainda não estão bem definidas, como se viu.

55.a — Est. IV— 53

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

(102) Lamboglia, 1963, p. 190.(103) Lamboglia, 1958, p. 318 e p. 299.(104) Waagé, 1948, fig. 28-5 e Est. IX, 857a.

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Descrição: Fragmento de grande prato com parede em quarto de círculo e bordo liso, arredondado. Um pouco abaixo do bordo, na face externa, 2 finas caneluras.

Corresponde à forma 9 da T.S. clara D de Lamboglia (105).Lamboglia apresenta 2 exemplares, respectivamente de Aries e

de Albintimilium. O de Arles possue um pé pequeno muito atrofiado, apenas perceptível. O de Albintimilium, que Lamboglia considera o mais comum e característico, tem parede em quarto de círculo quase perfeito, fundo completamente plano e uma série de caneluras a meio da parede.

Cronologia — Esta é uma das formas que tiveram vida mais longa na produção da T.S. clara. Conhecem-se exemplares de Albintimilium, Ampúrias, Tarragona e Arles em T.S. clara A (106), correspondentes aos fins do século n e pri­meira metade do século m; continua na produção de T.S. clara B (107), no século m; e é copiada pelo fabrico da T.S. clara D, no século iv.

Waagé apresenta dois fragmentos que julgo corres­ponderem a esta forma, em fabrico de Late A. O autor considera-os entre os exemplares mais finos desta pro­dução, correspondentes à 2.a metade do século m (108). A ser assim, a forma 9 teria sido também adoptada pela produção da T.S. clara C.

56.a — Est. IV — 50

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior com uma faixa de caneluras mais ou menos fundas abaixo do bordo.

(105) Lamboglia, 1963, p. 187.(106) Lamboglia, 1958, pp. 274-275.(107) Lamboglia, 1963, p. 308.(108) Waagé, 1948, Est. IX, 838, e p. 55.

50

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Terra sigillata clara de Conímbriga 97

57.a — Est. IV— 55

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de prato fundo, com parede hemisférica e bordo em aba inclinada para o interior e formando um duplo degrau. O lábio do bordo é pendente. Fundo completa­mente plano.

Corresponde à forma 42 da T.S. clara D de Lamboglia (109).Lamboglia apresenta dois exemplares, respectivamente de Albin-

timilium e Nimes. O primeiro tem o fundo plano apenas com duas caneluras; internamente, o fundo é decorado com motivos geométricos estampados, círculos e quadrados alternando de maneira regular e circundados por várias caneluras concêntricas. O exemplar de Nimes constitui uma variante 42 A com bordo inclinado e sem degrau, que reproduz exactamente o da forma correspondente da T.S. clara C que serviu de prototipo a esta.

Esta é urna das formas mais difundidas em todo o Baixo Império romano: vários fragmentos foram encontrados em Albintimilium (110), Valência (111), Norte de África (112), Mediterráneo Oriental (113).

Cronologia — É um dos vasos característicos da produção tardia da T.S. clara D, quase sempre com decoração estampada no fundo interno. O exemplar reconstituído de Albin­timilium foi encontrado num estrato de destruição do século iv. Todos os outros fragmentos pertencem aos estratos I e II, muito tardios. Este prato é típico, pois, do período que vai de 350 d.C. a 450 d.C. Há muitas variantes desta forma no que respeita à maneira como

(109) Lamboglia, 1963, pp. 192-193.(110) Lamboglia, 1950, fig. 92-1; fig. 101-2 e 3; fig. 104-5; fig. 114-8.(111) Martin Avila, 1962, fig. 6-68.(112) Pallarés, 1960, fig. 8-6a, 6b, 7a, 7b, 8 (Est. 309). Baradez, 1961,

Est. IV, 20-22. Ponsich et Tarradel, 1965, fig. 9-14; fig. 12-14; fig. 20; fig. 30-5. Camps, 1955, fig. 5-6. Jodin et Ponsich, 1960, fig. 4.

(113) Waagé, Est. IX, 868 a 871 e p. 49. Hellstrom, 1965, Est. 37, 323.

51

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98 Manuela Delgado

é moldurada a aba, mas o estudo sistemático dessas variantes e respectivo significado cronológico ainda não está feito. Em Antioquia esta forma surge na segunda metade do século iv, no tipo Late B; aparece porém já no tipo que Waagé classifica de intermediário entre Late A e Late B (114). Já não aparece no século vi.

58. a — Est. I V — 5 1

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de bordo dum prato da mesma forma do ante­rior. Urna fina canelura corre paralela ao limite externo da aba.

59. a — Est. IV— 58

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de grande prato covo de paredes encurvadas e bordo em aba larga e horizontal. A 7 mm. do limite externo da aba, esta faz uma levíssima depressão e a 15 mm. desta tem uma moldura de 3 mm de largura, continuando depois a aba lisa. O fundo externo é apenas realçado de 1 mm. ao que corresponde uma canelura interna. Este fragmento não deixa ver se existe motivo estampado.

Corresponde à forma 51 de Lamboglia (115).Lamboglia apresenta 3 exemplares de Albintimilium, o primeiro

dos quais é considerado a forma mais típica e é semelhante ao exemplar de Conímbriga. Os outros correspondem a variantes 51 A e 51 B. A variante 51 A tem a parede externa decorada com fundas caneluras verticais. A variante 51 B tem fundo completamente plano e aba lisa muito inclinada para o exterior (116). Jodin e Ponsich publicaram

(114) Waagé, 1948, p. 55.(115) Lamboglia, 1963, pp. 194-195.(116) Lamboglia, 1960, fig. 104-6.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 99

um exemplar desta forma com pé curto que Lamboglia diz poder constituir urna variante 51 C(117), admitindo a possibilidade da exis­tência de outras, dada a larga difusão que esta forma teve em toda a bacía do Mediterrâneo. Muitos outros fragmentos apareceram, de facto, em Albintimilium (118), Tarragona, Norte de África (119), Mediter­ráneo Oriental (120).

Cronologia — É muito comum em todas as estações e necrópoles do século ív da bacía do Mediterrâneo. Entretanto, em Albintimilium, aparece já em estratos dos fins do século III, com engobe claro e de muito boa qualidade, semelhante ao da produção da T.S. clara A (121). Lamboglia admite, por isso, que esta forma seja uma das mais antigas da T.S. clara D, que podia ter tido como antecedente a forma 32 da produção da T.S. clara B, do século m. Persistiu durante todo o século ív, não tendo os exemplares mais tardios o bordo moldurado.

Waagé refere alguns exemplares desta forma, um dos quais ele data também do século iv(122).

60.a — Est. IV — 61

Classificação: Grupo 4 — Tipo B — Variante 1.

Descrição: Fragmento de vaso com aba e curvatura da parede igual ao da forma anterior. r

61.a — Est. I V — 6 0.

Classificação: Grupo 4 — Tipo B — Variante 1.

(117) Jodin et Ponsich, 1960, fig. 6a.(118) Lamboglia, 1960, fig. 4-2 e 6; fig. 80-35 e 40; fig. 104-7; fig. 114-13;

fig. 118-5.(119) Pallarés, 1960, fig. 9-6 (Est. 310).(120) Waagé, 1948, Est. VIII, 817. Hellstrom, 1965, Est. 37, 324.(121) Lamboglia, 1950, fig. 4-2.(122) Waagé, 1948, p. 48.

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100 Manuela Delgado

Descrição: Fragmento de vaso com aba igual aos anteriores e parede um pouco mais espessa.

O diámetro destes 2 últimos exemplares, muito menor, faz supor que se trata antes de tigelas correspondentes aos grandes pratos da forma 51.

62. a — Est. V—64

Classificação: Grupo 4 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Prato da mesma forma dos anteriores com fundo externo apenas realçado e caneluras verticais incisas que orna­mentam a parede externa. Estas caneluras, ao serem rebaixadas altearam a parede interna em gomos corres­pondentes.

Waagé publica um fragmento desta variante (123). Conhecem-se outros de Valência (124), Tipasa(125), Mar­rocos (126).

Russel Cortez também publicou um proveniente de Fonte do Milho (Canelas do Douro) (127).

63. a — Est. V— 62

Classificação: Grupo 4 — Tipo B — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior. As cane­luras verticais são muito menos altas.

64. a — Est. V — 66

Classificação: Grupo 4 — Tipo B — Variante 1.

(123) Waagé, 1948, Est. VIII, 818 e fig. 28-8.(124) Martin Avila, 1962, fig. 7-70.(125) Baradez, 1961, Est. IV, 26.(126) Jodin et Ponsich, 1960, fig. 6a.(127) Russel Cortez, 1951, p. 33.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 101

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior. As caneluras mais largas e profundas originam gomos muito salientes na face interna.

65.a — Est. V — 68

Classificação: Grupo 4 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de grande prato de parede em quarto de cír­culo um pouco alargado e bordo em forma de aba muito estreita, arredondada e um pouco inclinada para o exterior. Fina canelura sobre a face superior da aba. O fundo exterior é apenas levemente realçado.

Corresponde à forma 52 de Lamboglia (128).Lamboglia apresenta 3 exemplares, respectivamente, de Tarragona,

Arles e Albintimilium. O primeiro, considerado o mais típico, tem urna grande parede em perfeito quarto de círculo, é pouco espesso e tem um pé quase imperceptível; o de Aries constitue uma variante 52 B, com parede mais ampla e mais espessa e com pé menos diminuto; o exemplar de Albintimilium tem uma parede ampla e muito espessa, aba menos estreita e fundo completamente plano. Alguns exemplares possuem decoração estampada sobre o fundo interno. Ainda não foi possível estabelecer o significado cronológico destas variantes.

Esta forma é muito comum. Apareceram numerosos fragmentos em Albintimilium (129), St. Blaise, Norte de África (130) e Antio- quia(131).

Cronologia — De momento pode apenas dizer-se que é uma forma corrente em todos os estratos do século iv.

(128) Lamboglia, 1963, pp. 196-197.(129) Lamboglia, 1950, fig. 77-25; fig. 80-25 e 36 a 38; fig. 110-6 e 7;

fig. 106-6 a 10.(130) Camps, 1955; fig. 4-6 e 8. Pallarés, 1960, fig. 9.(131) Waagé, 1948, Est. VIII, 821.

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102 Manuela Delgado

66. a — Est. V — 67

Classificação: Grupo 4 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior, mas com aba horizontal.

67. a — Est. V— 65

Classificação: Grupo 4 —Tipo A

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior.

68. a — Est. V— 69

Classificação: Grupo 4 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior.

69. a — Est. F — 6 3

Classificação: Grupo 4 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior, mas com aba muito mais estreita.

70. a — Est. F — 7 1

Classificação: Grupo 4 — Tipo A.

Descrições: Fragmento de prato semelhante ao anterior, com parede em quarto de círculo como a variante 52 A.

71. a — Est. V— 70

Classificação: Grupo 4 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior, com parede em quarto de círculo e aba muito fina.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 103

72.a — Est. V— 72.

Classificação: Grupo 4 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato semelhante aos anteriores nas carac­terísticas gerais, com parede em quarto de círculo como a variante 52 A e a aba larga como o exemplar de Albin- timilium. A face superior da aba é lisa; sob esta e na face externa da parede, profundas ranhuras. O fundo interno é rebaixado.

As diferenças que este fragmento apresenta em relação aos ante­riores, por um lado, e as suas semelhanças com o fragmento n.° 30 (Grupo 2 — Tipo A), por outro, fazem-me admitir que ele pertença a um tipo diferente de grande prato mais directamente relacionado com a forma 23. O facto de ele ser exemplar único levou-me a incluí-lo, de momento, nesta forma.

73* — Est. V— 73

Classificação: Grupo 4 — Tipo B — Variante 1.

Descrição: Grande prato baixo de paredes encurvadas e bordo trian­gular.

Corresponde à forma 54 de Lamboglia (132).Lamboglia apresenta três exemplares, respectivamente de Albin-

timilium, Valência e Tarragona, com decoração estampada no fundo interno e pé muito reduzido. Os exemplares de Albintimilium e Tar­ragona têm também uma canelura no fundo interno. Estes exemplares apresentam variantes importantes no bordo: o primeiro é igual à forma mais frequente em Conímbriga; o de Valência tem o ângulo inferior externo muito elevado e uma parede, consequentemente, mais encurvada; o de Tarragona possue o bordo triangular quase vertical.

(132) Lamboglia, 1963, pp. 198-201.

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104 Manuela Delgado

Ainda não é possível atribuir um significado cronológico a estas variações.

Esta forma teve urna larga difusão. Apareceram vários fragmentos em Albintimilium (133), Valência (134), Norte de África (135) e Medi­terráneo Oriental (136).

Cronologia — Todos os fragmentos de Albintimilium pertencem a estratos correspondentes aos fins do século m e século iv. Waagé considera esta a mais comum das formas de Late B com decoração estampada dos séculos m e iv.

Gabriela Martin Avila apresenta dois exemplares desta forma, encontrados em Valência, que inclue no fabrico da T.S. clara C. São de menores dimensões os correspondentes em T.S. clara D e têm engobe de boa qualidade e brilhante em ambas as faces (137).

74. a — Est. V I — 1 5

Classificação: Grupo 4 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior.

75. a — Est. V—74

Classificação: Grupo 4 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior com o ângulo de bordo um pouco mais elevado.

(133) Lamboglia, 1950, fig. 74-100; fig. 80-32 a 35; fig. 100-13; fig. 104-9; fig. 106-5; fig. 114-11.

(134) Martin Avila, 1962, fig. 6-66; fig. 7-71.(135) Pallarés, 1960, fig. 10-1, 2, 3, (Est. 311). Baradez, 1961, Est. 1, 45.

Camps, 1955, 5-1 a 5. Jodin et Ponsich, 1960, fig. 5.(136) Waagé, 1948, Est. VIII, 831.(137) Martin Avila, 1962, fig. 5-58 e 59 e p. 100.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 105

76. a — Est. V I — 1 1

Classificação: Grupo 4 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior. Este apre­senta uma fina canelura sobre a parte pendente do bordo.

77. a — Est. V I — 1 6

Classificação: Grupo 4 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior. O bordo de ángulo externo muito elevado, assemelha-se à variante de Valência.

78. a — Est. VI— 78

Classificação: Grupo 4 — Tipo A — Variante 1.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior com bordo igual à variante de Tarragona.

79. a — Est. V I — 1 9

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de vaso de parede quase rectilínea com bordo triangular levemente oblíquo e engrossado com uma cane­lura na face interna do bordo. A forma lembra a dum alguidai.

80. a — Est. VI— 80

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento semelhante ao anterior.

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106 Manuela Delgado

81. a — Est. VI — 81

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento semelhante aos anteriores com bordo menos engrossado e mais pendente.

Não encontro paralelo nas formas conhecidas de T.S. clara para estes 3 últimos fragmentos, pois a rectilinidade muito acentuada da parede não permite, ao que suponho, incluí-los na forma 55, de que se aproximam pelo bordo. Tal como disse, lembram mais a forma de um alguidar, aliás corrente, em Conímbriga, em cerâmica comum e que pode recordar a forma 33 da sigillata sudgálica (138).

82. a — Est. VI— 82

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de base com pé alto e oblíquo e 2 caneluras no fundo interno.

O engobe deste fragmento é particularmente claro, quase róseo, deixando ver laivos de engobe vermelho, o que lhe dá um aspecto muito particular. Parece-me antes uma imitação fina da T.S. clara.

Corresponde à forma 55 de Lamboglia (139).Trata-se duma patera de parede pouco curva com bordo triangular

e pé alto.Lamboglia apresenta 3 exemplares, respectivamente de Barcelona,

Narbona e Vado, correspondendo a variantes que diferem essencial- mento no bordo e pé. O exemplar de Barcelona, com bordo triangular e engrossado, tem um pé triangular muito alto e oblíquo e duas cane­luras no fundo interno. O exemplar de Narbona mostra várias cane­luras sobre a parte pendente do bordo, que não é engrossado nem possue

(138) Oswald, 1920, Est. LI.(139) Lamboglia, 1963, pp. 202-203.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 107

canduras na face interna, como o anterior. O pé triangular é muito menos alto e vertical. A parede interna e fundo interno são orna­mentados com 4 bandas de caneluras. O exemplar de Vado tem um bordo muito engrossado e alongado, sem qualquer canelura sob o bordo e com 2 caneluras no fundo interno. Possue um pé triangular e vertical de tamanho intermédio entre as 2 outras variantes. É muito comum a decoração estampada no fundo interno. Esta forma asse­melha-se a outra a que Lamboglia deu o n.° 53, diferindo dela pela presença do pé (a forma 53 é de fundo apenas realçado) e pela parede que nesta é muito mais encurvada.

A forma 55 parece menos comum que a 53; conhecem-se muitos fragmentos desta última em Albintimilium e Norte de África.

Fragmentos da forma 55 foram encontrados em Albintimilium (140), muitos dos quais ainda inéditos, e um exemplar inteiro em St. Blaise.

Não figura, porém, nas publicações citadas que apresentam T.S. clara do Norte de África ou Mediterrâneo Oriental.

Cronologia — Tal como a forma 53, aparece em Albintimilium em estratos dos fins do século m e século iv.

83.a — Est. VI— 83

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de grande prato baixo de paredes encurvadas e bordo em forma de aba horizontal, cujo lábio realça e pende em parede vertical. Esta parte pendente é orna­mentada por 3 fundas caneluras. A face superior da aba é ornamentada por 3 molduras paralelas. O prato assenta num pé muito reduzido e o fundo externo é moldurado.

Podemos considerar este prato como uma variante da forma 56 de Lamboglia (141).

(140) Lamboglia, 1950, fig. 80-26, 30.(141) Lamboglia, 1963, pp. 203-204.

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108 Manuela Delgado

Nesta variante, ao contrário do exemplar de Génova, a aba faz um ângulo muito pronunciado com a parede no ponto de junção, tal como acontece na forma 57.

Lamboglia aproxima esta da forma 41 pelo corpo baixo e pé muito atrofiado. É frequente a decoração estampada sobre o fundo interno.

Apareceram fragmentos numerosos em Albintimilium (142) e no Norte de África (143), estes últimos com aba semelhante à nossa variante. Não a encontro representada em Antioquia.

Cronologia — Os fragmentos de Albintimilium pertencem aos estratos I-II correspondentes aos fins do século m e século iv. Esta forma foi, talvez, mais copiada pela cerâmica cinzenta, de que existem alguns exemplares em Conímbriga (144).

84. a — Est. VI — 84

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de grande prato baixo semelhante ao anterior.A face superior da aba é ornamentada com 2 molduras na base do ressalto do lábio e outra à distância de 16 mm. da primeira.

85. a — Est. V I I — 86

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de aba dum prato semelhante aos anteriores.A face superior da aba é também ornamentada com 2 mol­duras e a face pendente, muito oblíqua, ornamentada de duas finas e fundas caneluras. O fragmento não nos per­mite ver se pertence à variante apresentada atrás ou à forma 56 típica de Génova.

(142) Lamboglia, 1950, fig. 9-23; fig. 80-42, 43; fig. 104-8; fig. 118-6.(143) Baradez, 1921, Est. I, 48; Est, IV, 23 a 25. Ponsich e Tarradel, 1965,

fig. 9-12, 13; fig. 30-8. Jodin et Ponsich, 1960, fig. 6a.(144) Alarcão, 1965.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 109

86.a — Est. VII — 85

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de aba dum prato pertencente à forma 56 ou variante. O lábio faz um ressalto e pende em parede ver­tical. A aresta superior do lábio é dentada e a parte pen­dente ornamentada por 3 caneluras largas e superficiais. A meio da face superior da aba correm duas caneluras paralelas.

87.a — Est. V I I — 9 3

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de prato semelhante aos anteriores. A face superior da aba é lisa e a aresta superior do lábio dentada. A parede pendente deste é ornamentada com 2 fundas caneluras.

88.a — Est. Vil — 88

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior. A parte pen­dente do lábio é lisa e a aresta superior finamente dentada. A face superior da aba apresenta urna moldura muito perfeita na base do ressalto do lábio.

89.a — Est. Vil— 87

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de prato semelhante aos anteriores. A face superior da aba e a parte pendente do lábio são lisas.

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110 Manuela Delgado

90. a — Est. Vil — 91a

Classificação: Grupo 4.— Tipo B.

Descrição: Fragmento de aba dum prato semelhante aos anteriores.Neste fragmento como nos que se seguem, pertencentes à mesma forma, o ressalto superior do lábio é mais oblíquo que nos exemplares anteriores, variante aliás que se nota noutros fragmentos publicados desta forma. Este fragmento tem uma moldura muito fina na base do ressalto e 2 cane- luras muito superficiais na face superior da aba.

91. a — Est. VII — 91

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de aba muito semelhante à anterior com a mesma moldura e caneluras apenas perceptíveis.

92. a — Est. V I I — 89

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de aba muito semelhante aos 2 anteriores.

93 * — Est. V I I — 90

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de aba dum prato semelhante aos anteriores.Na face superior da aba, a 25 mm do ressalto, vêem-se duas caneluras muito superficiais.

94.a — Est. V I I — 92

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de aba muito semelhante ao anterior.

As características de engobe dos exemplares n.os 89-91, muito claro com laivos avermelhados semelhantes ao fragmento n.° 82, faz-me admitir que se trata de imitações de T.S. clara.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 111

95.a — Est. VII — 94

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de tigela funda de parede encurvada e bordo em forma de aba horizontal, cujo lábio realça e pende em parede vertical.

Corresponde à forma 57 de Lamboglia (145) e forma serviço com os grandes pratos baixos da forma 56.

Lamboglia apresenta um exemplar completo de Arles com um pé muito reduzido.

Segundo este autor, aparecem vários fragmentos desta forma em Albintimilium. No material publicado das escavações de 1938-40 reconheço um fragmento correspondente a esta forma (146).

Apareceu em Marrocos (147), Tipasa (148) e também em Antioquia, embora Waagé a considere rara (149).

Cronologia — Tal como o prato correspondente, esta é uma forma tardia retomada pela cerâmica cinzenta. O fragmento de Albintimilium pertence aos estratos I e II.

96* — Est. V I I — 9 6

Classificação: Grupo 4 — Tipo A.

Descrição: Fragmento de prato de menores dimensões e paredes menos espessas que os anteriores. O bordo é levemente biselado e inclinado para fora. Ranhura sob a face externa da parede logo abaixo do bordo.

Não encontro um paralelo exacto para esta forma. Pela espessura das paredes e configuração geral do fragmento inclino-me a aproximá-la

(145) Lamboglia, 1963, p. 204.(146) Lamboglia, 1950, fig. 80-46.(147) Ponsich et Tarradel, 1965, fig.5-7; fig. 9-17; fig. 20; fig. 30-6, 8. Jodin

et Ponsich, 1960, fig. 6b.(148) Baradez, 1961, Est. II, 5, 6.(149) Waagé, 1948, fig. 28-10 e Est. IX, 866.

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112 Manuela Delgado

da forma 58 de Lamboglia, mais do que das formas 54 ou 53 com as quais apresenta também certas semelhanças.

Lamboglia publica um exemplar de Tarragona, da forma 58, com fundo apenas realçado e diz que outros fragmentos foram encontrados em Albintimilium (150). Não há quaisquer indicações cronológicas.

97.a — Est. V I I — 9 1

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de prato fundo de paredes encurvadas e bordo triangular fechado e pendente. A parte pendente do bordo é ornamentada por urna funda canelura.

Corresponde à forma 60 de Lamboglia (151).Lamboglia apresenta duas variantes desta forma, respectivamente

de Marselha e de Arles. A primeira, semelhante ao exemplar de Coním- briga, tem o bordo liso e uma canelura sobre a face externa da parede. Assenta sobre um pé alto, levemente oblíquo, e tem duas caneluras no fundo interno. No exemplar de Arles, de menores dimensões e parede menos espessa, o bordo é ornamentado com duas caneluras muito fundas. Não apresenta caneluras no fundo interno e o pé é muito menos alto e perpendicular.

Esta forma é corrente em T.S. clara D, mas mais frequente ainda, segundo Lamboglia, numa imitação desta sigillata, comum em Albin­timilium, com decoração à roleta muito característica (152).

Cronologia — Em Albintimilium esta forma aparece, tal como a imitação referida, em estratos correspondentes ao século iv.

(150) Lamboglia, 1963, p. 204.(151) Lamboglia, 1963, pp. 205-206.(152) Lamboglia, 1950, fig. 68-3 e fig. 80-47.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 113

98 * — Est. VII — 95

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de prato semelhante ao anterior, sem canelura sobre o bordo.

99. a — Est. V I I I — 9 9

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de travessa de bordo em forma de aba leve­mente inclinada para o interior. Numa das extremidades da travessa (o fragmento não permite ver se o mesmo acon­tece na extremidade oposta) a aba desenvolve-se de modo a formar uma espécie de pegadeira recortada. Urna funda canelura sobre a face superior da aba acompanha o limite externo desta. A parede interna não é perfeitamente oval: desenha um S alongado e é cortada em ángulo ao nivel do inicio da pegadeira para continuar de novo a linha geral encurvada.

Engobe em muito bom estado de conservação na face interna e sobre o bordo.

Não encontrei nenhum exemplar desta forma na bibliografia consultada.

100. a — Est. V I I I — 98

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmento de travessa rectangular de bordo em forma de aba horizontal. O rebordo da aba é ornamentado com pérolas e o limite interno acentuado por uma funda cane­lura. A face interna da parede é ornamentada por depres­sões rectangulares separadas por fundas caneluras. O fundo interno é levemente rebaixado e o fundo externo plano.

Engobe em muito bom estado de conservação apenas na face interna e face superior da aba.

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114 Manuela Delgado

Tal como a anterior esta forma não figura na tipología da T.S. clara publicada por Lamboglia.

Entretanto, um fragmento de travessa semelhante a este foi encon­trado em Tipasa e publicado por Baradez (153).

101.a a 109.a — Est. V I I I — 100 a 108

Classificação: Grupo 4 — Tipo B.

Descrição: Fragmentos de almofarizes com bordo em gancho recurvo.Os 6 primeiros exemplares têm parede encurvada, enquanto os três últimos apresentam parede quase rectilínea e oblíqua. A altura do bordo acima do gancho e a curvatura destes são variáveis sendo de assinalar o n.° 104 que se eleva acima do bordo do almofariz e os n.os 107 e 108 que quase são horizontais. Os fragmentos n.os 101 e 102 têm uma ranhura no bordo externo acima do gancho e uma canelura na parte pendente deste. O fragmento n.° 106 tem uma fina canelura interna sob o bordo.

Correspondem à forma 38 de Lamboglia (154).Lamboglia apresenta um exemplar de Albintimilium (155) a que

atribue um pequeno pé oblíquo.É uma das formas mais correntes em todo o mundo romano con­

tinental ou mediterrânico. Deriva da forma 38 da terra sigillata gálica, continua no fabrico da T.S. clara B, com a variante 38 b de gancho horizontal não recurvo, é muito frequente em T.S. clara D e imitada pela cerâmica comum.

Apareceram vários fragmentos em Albintimilium (156), onde existe também uma variante 38 A com folha de água sobre o gancho (157), no Norte de África (158) e em Antioquia (159).

(153) Baradez, 1961, Est. II, 45 e p. 124.(154) Lamboglia, 1963, pp. 190-191.(155) Lamboglia, 1950, fig. 80-23.(156) Lamboglia, fig. 68-4; fig. 80-21 a 24; fig. 100-12.(157) Lamboglia, 1950, fig. 106-2.(158) Baradez, 1961, Est. I 41 a 43 e Est. II, 31-43. Ponsich et Tarradel,

1965, fig. 5-10,11; fig. 9-15; fig. 12-12; fig. 17-2; fig. 20. Jodin et Ponsich, 1960, fig. 4.(159) Waagé, 1948, Est. X, 883.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 115

Cronologia — Em Albintimilium surge em estratos tardios dos fins do século ni e iv. No Oriente esta forma não aparece antes da 2.a metade do século m.

e) — CONCLUSÕES

Do estudo feito sobre Terra Sigillata Clara de Conímbriga pro­veniente de antigas escavações ressalto 2 factos que me parece mere­cerem especial atenção:

1 — A escassez da T.S. clara A (apenas 2 fragmentos).2 — A grande abundância de exemplares do Grupo 2, que indue

cerca de um terço dos fragmentos descritos.

A consideração destes 2 factos põe imediatamente 2 problemas:

1 — Sendo a produção da T.S. clara A muito abundante no Sul,por que razão só esporádicamente se encontra em Conímbriga e não existe, como suponho, no Norte do País?

2 — O Grupo 2 não corresponde, nem pelas formas, nem pelascaracterísticas da pasta, à produção da T.S. clara B carac­terística do Vale do Ródano, como tive ocasião de verificar aquando duma visita a Albintimilium já depois de terminado este estudo (160).

Sendo assim, parece estarmos diante duma produção típica cujo estudo (origem, cronologia, tipología e possíveis relações com outras regiões) alargará sem dúvida o âmbito conhecido da produção da T.S. clara a julgar pela qualidade de fabrico, variedade de formas e abundância desta produção em Conímbriga.

Manuela Delgado

(160) Agradeço ao Prof. Nino Lamboglia e a Francisca Pallarés a maneira como me acolheram durante a minha estadia em Ventimiglia e as indicações úteis que me deram sobretudo para trabalhos futuros.

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116 Manuela Delgado

T Á B U A I

FORMAS DE SIGILLATA CLARA ENCONTRADAS EM CONIMBRIGA

1 FORMAS A B c D LUZENTE

1 X X x A1/3 X

2 X X

2/37 X

3 X X

3/8 X

4 X

4/94/234/35 X

4/36 X X

4/46 X X

5 X

6 X

7 X

8 X X

8/35 X

9 x A X x A X

10 X X

11 X

12 X

13 X

14 X

14/26 X X

15 X

16 X

17 X

18 X

19 X X X

20 x A21 X

22 X X

23 X

x Formas fabricadas nos diversos tipos A-D. A Formas encontradas em Conimbriga.

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Terra sigillata clara de Conímbriga 117

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118 Manuela Delgado

t á b u a I I

LOCALIZAÇÃO DOS ACHADOS DE TERRA SIGILLATA CLARADE CONlMBRIGA

Vid. ñas págs. 63 e 64 a explicação destas abreviaturas

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Terra sigillata clara de Conímbriga 119

B I B L I O G R A F I A

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