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A Geologia do Baixo Mondego nos arredores de Coimbra: (estado actual do seuconhecimento)

Autor(es): Carvalho, G. Soares de

Publicado por: Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico; Centro de EstudosGeológicos

URLpersistente: http://hdl.handle.net/10316.2/37974

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P U B L I C A Ç Õ E S D O M U S E U E L A B O R A T Ó R I O M I N E R A L Ó G I C O E G E O L Ó G I C O E D O C E N T R O D E E S T U D O S G E O L Ó G I C O S D A U N I V E R S I D A D E D E C O I M B R A

Memóriase Notícias

G. Soares de Carvalho — A geologia do baixo Mondego nos arredores de Coim­bra. M. Montenegro de Andrade —- Um aspecto da semelhança entre as for­mações ígneas de Angola e do Brasil. J. M. Cotelo Neiva — Jazigo de blenda de possível interesse económico. J. Custódio de Morais — Nível do mar no Quaternário.

S U M Á R I O

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A Geologia do Baixo Mondego nos Arredores de Coimbra(1)

(Estado actual do seu conhecimento)

por

G. Soares de Carvalho

Primeiro Assistente da Universidade de Coimbra

1 — Na região de Coimbra o rio Mondego corre num vale com dois aspectos morfológicos diferentes.

A jusante de Foz do Caneiro até à Portela do Mon­dego o rio corre num vale com numerosos meandros encaixados através de aluviões distribuídos numa super­fície pouco larga e em muitos pontos do seu percurso o rio morde as rochas do substratum xistoso quando os aluviões desaparecem.

A jusante da Portela do Mondego o vale alarga, a planície aluvial através da qual o rio corre é muito larga e o rio descreve meandros divagantes.

Estes aspectos individualizam a morfologia do vale do Baixo Mondego e podem ser explicados pela natureza litológica e estrutural dos depósitos sobre os quais se instalou o seu curso.

(1) Estudo subsidiado pelo Fundo Sá Pinto para o levantamento da Carta Geológica de Coimbra e Arredores executado por J. Custó­dio de Morais e G. Soares de Carvalho.

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O primeiro tipo de vale foi aberto nas formações antemesozóicas, essencialmente constituídas por rochas cristalofílicas, xistos e grauvaques com injecções hidro- termais quartzosas, algumas mineralizadas.

Estas formações foram intensamente deformadas por movimentos tectónicos, quer pelos movimentos variscos quer pelos movimentos alpídicos.

A sua mineralização fez instalar no próprio vale do rio Mondego uma exploração mineira: a mina do Zorro, também conhecida por mina de Barbadalhos. Esta mina, há muito tempo abandonada, encontra-se situada na fre­guesia de Santo António dos Olivais do concelho de Coimbra, na margem esquerda do rio, a sul da aldeia do Zorro, e no seu lugar ainda se encontram hoje as ruínas das instalações de preparação de minério. A lavra desta mina começou em 1888 e depois de várias interrupções cessou em 1908 (I).

Na margem direita do rio e a oriente da ribeira da Misarela, mesmo em frente à mina de Barbadalhos, ainda se podem observar as galerias de outras antigas explora­ções designadas pelos nomes de Cães do Sobreiro, Bar­roca do Canavial e Covão. Nestas minas exploraram-se filões quartzosos, que atravessam os xistos luzentes, mineralizados por estibina, óxidos de antimónio (2) e galena (I).

O segundo tipo de vale rompe depósitos mesozoicos e cenozoicos, constituídos principalmente por rochas sedimentares elásticas e rochas sedimentares carbona­tadas, isto é, materiais que oposeram uma menor resis­tência ao trabalho erosivo do rio do que os xistos do primeiro tipo de vale.

2 — Nos arredores do vale do Baixo Mondego, a jusante da Portela do Mondego, podem observar-se, quer seguindo as margens do vale quer estradas e caminhos,

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variados tipos de depósitos sedimentares de géneses e cronologias diferentes.

Estes depósitos fazem parte da Orla Meso-cenozóica Ocidental de Portugal.

Sob o ponto de vista estratigráfico são formações dos sistemas Jurássico, Cretácico, alguns provàvelmente do Numulítico (Oligocénico), Neogénico, Pleistocénico, e depósitos recentes.

Quanto à existência do sistema Triássico é posta em dúvida a sua ocorrência pelo menos nos arredores de Coimbra.

Depósitos mesozoicos

3 — Nos depósitos mesozoicos do Baixo Mondego podem ser reconhecidos os seguintes complexos sedi­mentares:

A — Complexo mais antigo, a que se atribuiu durante muito tempo idade triássica, mas que provàvelmente ou é constituído por depósitos do Liássico inferior ou em parte por depósitos do Triássico superior.

E um complexo em que predominam os depósitos elásticos associados a algumas camadas formadas por produtos precipitados de águas que os continham em solução ou suspensão.

B — Complexo em que predominam rochas carbona­tadas principalmente calcários, dolomias e margas. É um complexo tipicamente jurássico.

C — Complexo em que aparecem camadas de depósi­tos elásticos (argilas e arenitos) associadas a camadas de rochas carbonatadas, principalmente calcárias. É um complexo cretácico.

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A — Complexo detrítico mais antigo

4 — Os depósitos. Directamente sobre os xistos luzentes antemesozóicos observam-se, em discordância de estratificação, depósitos detríticos essencialmente ver­melhos, aqui e acolá com manchas claras que podem ser acinzentadas, amareladas, etc.

As rochas destes depósitos são arenitos normais, arco- ses, arenitos arcósicos, argilitos e conglomerados arenosos.

Na região de Coimbra o complexo essencialmente vermelho é cortado por várias estradas que assim per­mitem observar as suas camadas desde as mais antigas até às mais modernas.

A série de cortes da estrada Ceira-Pereiros permi­tiu-me traçar um perfil geológico em que marquei as várias séries de camadas de fácies diferentes, que podem ser observadas no complexo vermelho da região (3). As camadas mergulham para ocidente sob ângulos que osci­lam por volta de 12o.

O complexo vermelho é constituído por várias zonas com características diferentes, que permitem atribuir-lhe géneses diferentes.

A zona mais antiga é constituída por arenitos nor­mais, arcoses e conglomerados arenosos, cujos detritos são mal calibrados e em que a estratificação é irregular. Nesta zona aparecem seixos polidos e estriados com as características de seixos que sofreram acção de desgaste por ventos.

Depósitos desta zona podem ser observados em toda a faixa oriental da região, sobre a qual se erguem S. Paulo de Frades, S. Romão, Santo António dos Oli­vais, Conraria, etc.

Esta zona é sobreposta por um conjunto de camadas com estratificação bem acentuada e de pequena espessura,

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constituídas por arenitos de matriz vermelha, alguns com abundância de palhetas de moscovite e outros com restos de vegetais carbonizados, assim como por areni­tos calcário-dolomíticos, dolomias, calcários amarelados, argilitos e arenitos cupríferos em que se identifica a malaquite e a azurite.

Estas camadas têm fornecido fósseis de vegetais, e podem ser observadas nos cortes da estrada Ceira-Perei- ros, a ocidente da Conraria, assim como entre a Portela do Mondego e o Alto de S. João cortadas pela estrada da Beira, etc.

Na Portela do Mondego há camadas com glóbulos de azurite (na trincheira do caminho de ferro, em frente ao apiadeiro) e manchas de malaquite e azurite; outras camadas encerram numerosas concreções, algumas com forma muito arredondada. Estas concreções são consti­tuídas por um arenito micáceo, cinzento escuro e com cimento argilo-calcário semelhante ao arenito da camada que as encerra, motivo porque podem ser consideradas epigenéticas (4).

Outras camadas, como por exemplo, as que são corta­das pela estrada S. Paulo de Frades-Eiras, mostram numerosos geodes cujas cavidades são forradas por cris­tais de calcite.

Nas camadas desta zona, que afloram na freguesia do Botão, concentrou-se grande quantidade de carbonatos de cobre (malaquite e azurite) que foram pesquizadas para avaliar o interesse económico das camadas cuprí- feras.

Estes depósitos cupríferos, actualmente sem qualquer interesse económico, estão a descoberto no local desi­gnado por mina de Eiras Vedras ou mina dos Guardões, a sudeste do Botão (5).

Nalguns locais, como por exemplo nos cortes da estrada Ceira-Pereiros, o conjunto de camadas, a que

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fiz referência, é sobreposto por um complexo detrítico grosseiro em que predominam arcoses e conglomera­dos de matriz vermelha que contêm grandes blocos de quartzito, quartzo, xisto e granito. Muitos blocos de quartzo e quartzito estão eolizados, pois apresentam facetas, arestas e estrias que denunciam acção dos ven­tos intensos durante a época em que a sua acumulação ocorreu.

Este complexo parece faltar nalguns locais da região.Designei estas camadas em que predominam os depó­

sitos de matriz vermelha por Camadas da Conra- ria (6).

A ocidente da Conraria estes depósitos grosseiros são sobrepostos por arenitos, arcoses, arenitos cascalhentos de tons claros, mais ou menos estratificados, e que em certos locais mostram estratificação cruzada.

Estes depósitos, que designo por Camadas de Cas­telo Viegas (6), podem ser observados em numerosos locais, como por exemplo, em Celas, Arcos do Jardim, Ladeira do Baptista, Lapa dos Esteios, Copeira, Lorde- mão, Eiras, etc.

5 — A idade dos depósitos. A idade destes depó­sitos, isto é, dos depósitos inferiores às camadas de Pereiros (ver páginas seguintes), não foi ainda fixada com precisão porque os fósseis que têm fornecido não pertencem a espécies exclusivas de qualquer andar estra- tigráfico ou, então, são espécies ainda não reconhecidas em outros depósitos.

Nas camadas da Conraria que encerram azurite e malaquite, e que suponho serem formações de origem lacustre (3), foram encontrados (7) fósseis de vegetais recentemente (8) atribuídos às espécies Voltzia Ribeiroi Teix. e Ginkgoites dilatata (Heer) Teix., como por exem­plo na Conraiia, Portela do Mondego e Botão.

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Estas mesmas camadas forneceram, também, na Con- raria, uma impressão de asa de um Blatidio (9).

Até hoje nenhuma das outras zonas em que separei as camadas da Conraria nem as camadas de Castelo Vie­gas forneceram qualquer boa impressão de ser vivo con­temporâneo da sua génese.

O carácter grosseiro desses sedimentos explica a falta de fósseis nas suas camadas.

As camadas de Pereiros (Hetangiano) forneceram tam­bém boas impressões de fósseis de vegetais.

Foram as camadas da Quinta do Peneireiro (lugar situado na margem esquerda do rio Mondego, a sul de Coimbra) que forneceram esses fósseis.

As espécies recolhidas nas camadas da Quinta do Peneireiro foram recentemente (8) atribuídas a Clathrop- teris meniscoides Brogn., Otozamites conimbricensis Teix. e Equisetites.

As espécies Voltzia Ribeiroi Teix. e Otozamites conim- bricensis Teix. foram citadas recentemente pela primeira vez (8) e são espécies de conjunto florístico do nosso Hetangiano (Camadas de Pereiros), assim como Clathrop- teris meniscoides Brongn. que é comum ao Retiano e Hetangiano de outros países (10).

Durante muito tempo, principalmente, depois das publicações dos trabalhos de Choffat e Heer (7, 11, 12) as camadas da Conraria e Castelo Viegas passaram a ser consideradas como representantes do sistema Triás- sico e foi frequente o uso de designar as camadas da Conraria como do Triássico inferior e as camadas de Castelo Viegas como do Triássico superior.

No entanto nenhuma espécie fóssil característica daquele sistema tinha sido encontrada.

Essa atribuição baseava-se apenas numa analogia de fácies com o clássico «grés bigarré» e no paralelismo

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destas camadas com as da Vacariça e Raposeira (1) que Heer (T2) atribuiu ao Retiano, andar por muitos incluído no sistema Triássico.

Só recentemente (14, 15) se voltou a atribuir ao Retiano o conjunto daquelas camadas (camadas da Con- raria e camadas de Castelo Viegas) e se situou aquele andar na base dos nossos depósitos jurássicos (15).

Essa atribuição resultou de se supor que as camadas da Quinta do Peneireiro estavam incorporadas na parte superior das camadas de Castelo Viegas e, além disso, de se atribuir aos fósseis vegetais daquelas camadas um significado estratigráfico exclusivo do Retiano (14).

Pelo facto de algumas espécies vegetais da Quinta do Peneireiro, em especial Clathroptens meniscoides Brogn.,

(1) O paralelismo das camadas da Vacariça e Raposeira com as outras camadas mais antigas da Orla Meso-cenozóica Ocidental que tem fornecido fósseis de vegetais tem sido objecto da atenção de todos os que estudaram essas camadas.

Enquanto Heer as atribuiu ao Retiano (12), Saporta (13) supôs que essas camadas eram contemporâneas das de Paço (Sangalhos) com vegetais e moluscos das camadas de Pereiros (Hetangiano).

Posteriormente as camadas da Vacariça e Raposeira foram para- lelizadas com as da Quinta do Peneireiro com Clathropteris e Uto- sanntes (14).

Observações que tenho realizado durante o levantamento geoló­gico das formações da Orla Meso-cenozóica de entre o Vouga e o Mondego levam-me a estabelecer um paralelismo diferente dos até hoje apresentados (6).

Considero contemporâneas as camadas da Vacariça e Raposeira, as camadas do Botão e as camadas da Conraria (depósitos lacustres), enquanto as camadas da Quinta do Peneireiro são paralelizadas com as camadas de Paço e com as da Anadia (Carvalhais, minas do Frei­xial, minas de Vale Soeiro, Monsarros, etc.).

Por isso, se as camadas da Conraria puderem ser atribuídas ao Retiano, as camadas da Vacariça e Raposeira corresponderiam ao mesmo andar, tal como o supôs Heer.

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serem espécies frequentes, quer no Retiano quer no Hetangiano, e além disso porque a camada que con­tém esses fósseis se encontra entre camadas com fósseis dos Pereiros (10) nenhum elemento paleontológico con­sente, por enquanto, a atribuição daquelas camadas ao Retiano.

No entanto, a posição das camadas da Conraria rela­tivamente às camadas de Pereiros (Hetangiano) e o seu fácies continental faz supor, como hipótese, que elas são em parte contemporâneas do Keuper ou do Retiano, e que é bastante mais razoável considerar estas camadas incluídas na base do nosso sistema jurássico do que exclusivamente no sistema Triássico, como foi recente­mente sugerido (15).

B — Complexo Jurássico

6 — Localização das manchas do complexo jurás­sico. Na região de Coimbra são três as manchas nas quais se podem observar as camadas deste sistema.

Sobre a mancha que ocupa maior extensão erguem-se Souselas, Torre de Vilela, Eiras, Adémia de Cima, Loreto, Coselhas, grande parte da cidade de Coimbra, Santa Clara, Copeira, Pereiros, etc.

Esta mancha pertence ao grande afloramento do Liássico (e às camadas inferiores do Infraliássico), que na carta geológica de 1899 se estende desde a Pampi- lhosa até S. Tiago (a norte de Ançã) sem interrupção, a não ser quando os aluviões do rio Mondego a cortam na região de Coimbra.

Outra mancha pouco larga estende-se entre o cemité­rio de Antuzede e Quintã (a nordeste da Geria) e uma ter­ceira mancha ocorre, sensivelmente orientada noroeste- -sudeste, a oriente de Vil de Matos e a sudeste de Cavaleiros.

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As camadas de Castelo Viegas são sobrepostas por um conjunto de camadas pouco espessas de calcários, dolomias, margas e argilitos com fósseis de moluscos.

A camada do topo dos arenitos claros imediatamente abaixo das camadas calcário-dolomíticas nalguns pontos, como por exemplo na cidade de Coimbra (corte do Mata­douro-Celas), é carbonosa e encerra más impressões de fósseis vegetais.

Aquelas camadas calcário-dolomíticas são sobrepos­tas por arenitos arcósicos grosseiros com pequenos sei­xos de quartzo, nalguns pontos associadas a arenitos finos amarelados muscovíticos e argilitos.

Estas camadas na Quinta do Peneireiro, situada a sul de Coimbra (a nordeste dos Pereiros e a sudoeste da Conraria), contêm fósseis de vegetais que permitiram uma boa determinação específica e que tornaram aquele lugar bem conhecido entre os geólogos, como já acentuei.

Sobre essas camadas elásticas repousam camadas de pequena espessura de calcários, margas, dolomias e argi­litos, algumas das quais encerram numerosos fósseis de moluscos semelhantes aos do primeiro conjunto de cama-

7 — Os depósitos. Na região de Coimbra os depósi­tos do complexo jurássico podem ser desmembrados nas seguintes camadas, indicadas a partir das mais novas:

5 — Camadas essencialmente de calcários margosos e margas—Charmouthiano e Toarciano.

4 — Camadas de calcários dolomíticos — Sinemnriano.3 — Camadas argilo - margo-calcário -

-dolomíticas2—Camadas elásticas 1 — Camadas argilo-margo-calcário -

-dolomíticas

Hetangiano.

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das deste complexo. Nalguns locais, estas camadas têm fornecido pequenas massas de gesso, como por exemplo em Celas e Copeira.

É o conjunto destas camadas que é designado por camadas de Pereiros, do nome da aldeia, na margem esquerda do rio Mondego, a sul de Coimbra.

Foi o geólogo Carlos Ribeiro o primeiro que colheu fósseis nestas camadas no lugar chamado Copeira, na margem esquerda do rio Mondego, a sul de Coimbra.

Como este lugar não estava representado nas car­tas (1880), Choffat (11) preferiu o nome de Pereiros, lugar a pequena distância da Copeira, para designar as cama­das que forneceram os fósseis colhidos por Carlos Ribeiro. Os três conjuntos de camadas podem ser observados em Celas (cortes entre o Matadouro e o edifício do «Tiro e Sport»), a oriente do Observatório Magnético da Univer­sidade, nos arredores do cemitério de Castelo Viegas (estrada Ceira-Pereiros), a oriente de Almalaguez, a oci­dente de Lordemão, etc.

Na parte superior, as camadas são mais espessas do que as dos complexos anteriormente descritos.

São estas camadas que encerram massas concre- cionadas de sílex, aparentemente oolítico, e brechas constituídas por fragmentos de sílex aglutinados por calcário análogo ao das camadas.

O estudo microscópico (16) de lâminas delgadas do sílex mostrou que é constituído essencialmente por pseu- doolitos cimentados por uma matriz de quartzo criptocris- talino e calcedónia que engloba restos de microorganismos indeterminados.

Estes acidentes siliciosos são considerados singené- ticos (16) das rochas encaixantes.

Estes depósitos podem ser observados em vários locais, como, por exemplo, a norte de Coselhas (olival da Vila Santos, Camarzão, Quinta do Dr. Gouveia, etc.)

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arredores de Fontenhosa (a sudoeste dos Pereiros), Vila- rinho de Cima, etc.

8 — Este conjunto de camadas —Camadas de Pereiros— constituem o Hetangiano, em que foi possível colher uma abundante fauna fóssil de moluscos que mereceu um estudo especial de Boehm (17).

Deve notar-se que as camadas que são consideradas hetangianas não forneceram até hoje qualquer exemplar de Schlotheimia angulata Schl. e Psiloceras planorbis Sow., espécies que caracterizam respectivamente o Hetan­giano superior e inferior da Europa.

Mas a analogia da fauna dessas camadas com a das camadas hetangianas da Alemanha e da França levou Boehm (17) a atribuí-las àquele andar.

Também aquelas duas zonas — zona com Schlothei­mia angulata Schl. e zona com Psiloceras planorbis Sow.— não podem ser reconhecidas no Hetangiano de Portu­gal porque espécies que aparecem na zona com Schlo­theimia angulata Schl. têm sido encontradas em toda a espessura do nosso Hetangiano, de modo que parece haver uma mistura das faunas das duas zonas, ou, então, teria de se atribuir todo o conjunto das camadas à zona com Schlotheimia angulata, como o acentua Choffat (18).

Segundo este geólogo, a zona com Psiloceras planor­bis Sow. corresponderia aos arenitos claros (camadas de Castelo Viegas).

9 — As camadas do Hetangiano são sobrepostas por uma série de camadas com abundante fauna fóssil da qual faz parte um gasterópodo — Boehmia exilis J. Boehm — que Choffat (18) atribuiu ao Sinemuriano inferior.

As camadas desta zona—zona com Boehmia exilis J. Boehm — podem ser observadas principalmente a sul de Coimbra (arredores de Monte-de-Vera, Rio de Gali­nhas, sinal de Almaroz, Chão de Lamas, etc.).

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0 Sinemuriano médio é, segundo Choffat (j8), repre­sentado por camadas calcário-margosas-dolomíticas com Rostellaria Costae Sharpe e Nerinella, além de outras espécies fósseis. Estas camadas podem, também, ser observadas nos arredores dos locais apontados em que afloram as camadas da zona com Boehmia exilis J. Boehm.

As camadas com Rostellaria são sobrepostas pelas camadas da zona com Oxynoteceras oxynotus Qu., que por sua vez são sobrepostas pelas camadas da zona com Arieiites raricostatus (Echioceras rarecostatus Bayle).

Tanto a espécie Oxynoticeras oxynotus Qu. como a espécie Echioceras rarecostatus Bayle são características do Sinemuriano superior (Lotharingiano) da bordadura oriental da bacia de Paris (19).

As camadas do Sinemuriano superior afloram nos arredores de Monte-de-Vera, Palheira, Telhadela, Abru- nheira, etc. (18).

10 — Nos arredores de Coimbra o faciés essencial­mente calcário-dolomítico do Hetangiano e Sinemuriano é substituído por um faciés calcário-margoso nas camadas mais modernas do Liássico (Charmouthiano, To arei ano e Aaleniano).

a) — Charmouthiano. Segundo Choffat (11) o Char- mouthiano da Orla apresenta quatro divisões, todas representadas nos arredores de Coimbra excepto o nível com Ammonites Maugenesti.

Essas divisões são as seguintes, indicadas a partir da mais nova:

4 — Camadas com Platopleuroceras spinatum Brug.3 — Camadas com Aegoceras capricornus Zieten.2 — Nível com Ammonites Maugenesti.1 — Camadas com Uptonia Jamesoni Sow.

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Estas camadas além de fósseis de Ammonoides encer­ram grande quantidade de Belemnitideos, Rynchonelli- deos, Terebratulideos, etc.

As camadas com Platopleuroceras spinatum Brug. devem ser paralelizadas com o Pliensbachiano (19, 20) e podem ser observadas na Estação Velha, assim como em Brasfemes, Condeixa, Soure, Montemor-o-Velho, etc.

As camadas com Aegoceras capricornus Zieten estão representadas em Coimbra e já Choffat (11) as considerou bem desenvolvidas nos arredores de Souselas. Aegoceras capricornus Zieten é uma espécie característica do Pliens­bachiano (19, 20).

As camadas com Platopleuroceras spinatum Brug., também com Amaltheus margaritatus Montf., são margo- sas nos arredores de Coimbra e devem ser paralelizadas com o Domeriano (19, 20).

b) — Toarciano. Choffat (18) considerou o Toarciano decomposto nas seguintes divisões indicadas a partir da mais nova:

4 — Camadas com Pleydellia aalensis Zieten.3 — Camadas com Hildoceras bifrons Brug.2 — Camadas com Leptaena.1 — Camadas de passagem com numerosas formas do

gen. Perisphinctes.

As camadas de passagem foram reconhecidas (18) em Souselas, Soure, etc.

As camadas com Hildoceras bifrons Brug. têm na região de Coimbra uma extensão bastante larga nas quais é frequente o aparecimento de numerosos fósseis dos géneros Nautilus, Rhynchonella, Terebratula, Penta- crinuSj etc.

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As camadas com Pleydellia aalensis Zieten, que caracteriza o Aaleniano, estão representadas na região, citando, Choffat (18), Souselas entre os lugares em que colheu aquela espécie fóssil.

11 — Nos arredores de Coimbra não se conhecem nem afloramentos do Dogger nem do Malm que já aparecem para Ocidente da região, como por exemplo, a sul de Cantanhede, na Serra da Boa Viagem, Verride, etc.

A região mais próxima de Coimbra em que afloram os calcários do Bajociano é a região de Ançã (calcários brancos de Ançã, margosos e às vezes oolíticos) em que aparecem espécies características do andar como Otoites Sauzei d’Orb., Sonninia Sowerbyi Mill., Cadomites Hum- phriesi Sow. assim como Belemnites Mondego Chof., uma das espécies mais características do nível de Oteites Sauzei d’Orb. segundo Choffat (18).

Nos arredores de Coimbra, directamente sobre os calcários e margas liássicas, podem observar-se as forma­ções do Cretácico.

12 — Origem dos depósitos do complexo jurássico.A análise de um perfil geológico da região de Coimbra (3), perfil que passa pela Conraria e Pereiros, confirmou a origem continental (21, 22) do complexo detrítico mais antigo.

No início do Mesozoico, na região de Coimbra, o clima foi, provàvelmente, de tipo desértico, enquanto que nas regiões mais altas que circundavam a região desértica o clima seria quente e úmido, de modo que nessas regiões permitiu o desenvolvimento de um solo residual verme­lho em que seriam abundantes os óxidos de ferro.

Os detritos do solo residual foram transportados para a zona periférica da região desértica por cursos de água

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torrenciais que simultaneamente transportaram areias, blocos e seixos arrancados às formações antemesozóicos. Esses detritos constituíram depósitos de sopé sobre cujos elementos os ventos actuaram polindo e estriando seixos e blocos.

Noutros locais da região desértica, os ventos acumu­laram areias cujos grãos conservam as marcas de trans­porte eólico, isto é, grãos muito arredondados, baços e com pequenas marcas de choque que são designados por grãos redondo-foscos (23).

Posteriormente, talvez durante um período de menor aridez, estabeleceu-se na região uma bacia lacustre. Simul­taneamente restos de vegetais e restos de animais, como por exemplo Blatidios, que viviam nas margens do lago, foram lançados dentro da bacia lacustre em cujos depó­sitos vieram a fossilizar.

De vez emquando soluções, que transportavam cobre, provavelmente sobre a forma de sulfato (5), eram lança­das no lago ao mesmo tempo que material caulínico e feldespático que obrigou o cobre a concentrar-se nas camadas argilosas que então se formaram.

Nestas camadas acumularam-se restos de vegetais, que posteriormente entraram em decomposição, à qual não deve ter sido estranha a acção de bactérias, o que levou à formação de ácido sulfídrico.

E provável que este ácido tenha reduzido o cobre a sulfureto que posteriormente à emersão das camadas mesozoicas foi oxidado e carbonatado por soluções aquo­sas de natureza meteórica, o que originou a malaquite e azurite que hoje encontramos nas camadas.

No período que sucedeu àquele em que foram acumu­lados os depósitos lacustres as condições climáticas teriam sido análogas às que prevaleceram na região quando foram acumulados os sedimentos inferiores àqueles depó­sitos. Cursos torrencias teriam lançado uma cobertura de

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(1) Convém acentuar que abranjo com a designação camadas de Pereiros o conjunto de camadas compreendidas entre as camadas de Castelo Viegas e as camadas da zona de B. exilis.

detritos grosseiros sobre os depósitos lacustres, ao mesmo tempo que os ventos iam modelando os seixos e blocos.

Sobre estes depósitos de origem continental aparecem depósitos que se diferenciam nitidamente, como acentuei (arenitos de cores claras—Camadas de Castelo Viegas), cuja origem é ainda bastante problemática.

O facto de as camadas do topo deste complexo serem concordantes com as camadas de Pereiros, provavel­mente de origem lagunar na região de Coimbra, pode fazer supor que as camadas de Castelo Viegas se teriam acumulado durante uma transgressão marinha com a qual estaria relacionada a mudança de cor vermelha das camadas da Conraria para a cor clara das camadas de Castelo Viegas (24). Além disso, são estas camadas que na região compreendida entre Vacariça e Anadia, alguns quilómetros a norte de Coimbra, contêm massas lenti- culares de sílex que pode ser considerado como índice de origem nerítica de depósitos (4).

Uma regressão posterior do mar teria facilitado o estabelecimento de uma bacia lagunar ou várias bacias lagunares na região ocupada pela Orla, uma das quais banharia a região de Coimbra, e na qual, sob condições climáticas áridas, se teria acumulado e precipitado o material das camadas de Pereiros (1) e originado depó­sitos de gesso como os de Soure e as pequenas massas de Celas, Copeira e Fontenhosa.

Só mais tarde, já no fim do Hetangiano, se estabele­ceu na região o regime francamente marinho e que per- (*)

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Senoniano s. l.TuronianoNível com Neolobites Vibrayi d’Orb Belasiano

Camadas de Almargem

13 — Choffat foi o geólogo que estudou o sistema cre­tácico de Portugal mais detalhadamente e publicou valio­sas monografias (25, 26) nas quais se podem encontrar os mais recentes ensinamentos sobre os depósitos daquele sistema que afloram nos arredores de Coimbra.

Depois de Choffat nenhum outro geólogo dedicou especial atenção aos depósitos cretácicos, de modo que o quadro (26) em que resumiu os conhecimentos sobre a estratigrafia daqueles depósitos é o mais completo até hoje apresentado (1).

Choffat admitiu as seguintes divisões no sistema cretácico em Portugal:

C — Complexo cretácico

mitiu a acumulação de rochas margosas e carbonatadas desde o Sinemuriano ao Aaleniano.

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Cretácico inferior

Cretácio superior

GrupoNeoconiano

Barremiano Hautcriviano V alangiano

Infr aval a n gi ano

(1) Recentemente foi publicado pelo Prof. J. Garrington da Gosta um trabalho sobre o Neocretácico (V. O Neocretácico da Beira Litoral — Arq. Dist. Aveiro n ° n, 1937), que constitui um estudo de elevado interesse, principalmente, para regiões a NO da região em questão neste trabalho.

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Apenas para a região de Coimbra interessa conside­rar dois dos andares estabelecidos por Choffat: o Eela- siano e o Turoniano.

Choffat paralelizou aqueles andares com os seguintes andares clássicos:

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Turoniano Turoniano. A base pode per­tencer ao Cenomaniano

Nível com Neolobites Vibrayi d’Orb.

Níveis superiores

Níveis inferiores

BelasianoParte pode pertencer ao Cenomaniano (?) VraconianoParte pode pertencer ao Albiano (?)

Cenomaniano

Os níveis do Belasiano não poderam ainda ser reco­nhecidos na região de Coimbra.

Na região de Coimbra o Belasiano é representado por depósitos elásticos com argilas, arenitos caulínicos, etc., enquanto os depósitos do Cenomaniano-turoniano são constituídos por calcários, arenitos e margas, etc.

O carácter marinho das camadas de Almargem e dos níveis belasianos só se manifesta entre o Algarve e o paralelo das Berlengas, segundo escreveu Choffat (26).

Na verdade, a norte daquele paralelo o faciés conti­nental do Belasiano é notável, como, por exemplo, nos depósitos de Vila Nova de Ourém (27) e mesmo na região de Coimbra (provavelmente são depósitos fluviais e lacustres).

A norte do Tejo, os calcários bastante compactos, que em parte sobrepõem os depósitos belasianos, são de ori-

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gem marinha e foram atribuídos ao Cenomaniano-turo- niano (26).

14 —Afloramentos de depósitos cretácicos na região de Coimbra. Estes depósitos afloram numa mancha a norte do rio Mondego sobre a qual se erguem os seguintes lugares: Geria, Antuzede, Póvoa do Pinheiro, Alcarra- ques, Vil de Matos, Trouxemil, Cioga, Adões, Senhora das Neves, Barcouço, Sargento-mor, Costa de Rios Frios, Granja de Ançã, Gândara, etc.

Os depósitos destas manchas suportam em vários locais depósitos pliocénicos e pleistocénicos.

Sobre uma pequena mancha cretácica, em parte oculta por depósitos pleistocénicos fluviais, ergue-se a Pedru- lha.

Na margem esquerda do rio Mondego, na região de Coimbra, não foram ainda assinalados depósitos cretá­cicos, mas observações que tenho realizado mostram ser provável que os depósitos de areias e argilas vermelhas de Taveiro possam ser assimilados aos depósitos bela- sianos.

Nas cartas geológicas a região na qual se erguem Fala, Espírito Santo, Sanatório dos Covões, Cruz dos Morouços, etc., é ocupada por uma mancha que a legenda indica ser constituída por depósitos acumulados no Mio- cénico-Oligocénico.

Trabalhos de campo e a análise dos sedimentos des­ses depósitos têm permitido separar aquela mancha em duas cujos depósitos se distinguem.

Os depósitos mais antigos, directamente assentes sobre calcários margosos do Liássico superior são cons­tituídos por arenitos e argilas com fácies belasiano.

A confirmar esta idade observa-se a N. de Antanhol um pequeno afloramento de calcários cenomaniano-turo- nianos que são superiores àqueles depósitos.

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Estes depósitos são sobrepostos por depósitos de cas­calho arenoso, claro e de que fazem parte seixos e blocos de grés do Buçaco (1), portanto post-cretácicos, e aos quais adiante me refirirei.

Em S. Martinho do Bispo, no local chamado Pedreira, existe um afloramento de arenitos grosseiros associados a uma rocha que Choffat designou por silex néctico (26). E uma rocha de cor clara ou ligeiramente rosada, homo­génea, compacta e leve, que flutua na água durante alguns instantes quando a rocha está bem seca e que inclui fós­seis de microorganismos ainda não determinados. A per­centagem de sílica nessa rocha é bastante elevada cerca de 86%, segundo informa Choffat (26). Esta curiosa for­mação faz parte dos depósitos belasianos.

Os calcários cenomano-turonianos e rochas elásticas superiores aos calcários constituem afloramentos alguns já delimitados: afloramento da Pedrulha; afloramento a oriente da Geria e cortado pela estrada da Figueira da Foz; afloramentos em que se erguem o marco do Espigão (a nordeste de Alcarraques), Cioga do Monte, Trouxemil, Senhora das Neves, etc.; afloramento em que se ergue Barcouço, na qual os calcários em grande parte estão ocul- 1

(1) O arenito do Buçaco ou grés do Buçaco é uma rocha do tipo arenáceo que em muitos pontos é extremamente compacta e dura em virtude de um cimento fortemente silicioso aglutinar ou seus grãos.

Esta rocha é assim designada porque alguns dos seus aflora­mentos se encontram nos pontos culminantes da Serra do Buçaco, como por exemplo, imediatamente a sudeste da Cruz Alta.

Quer na carta geológica de 1899 quer em vários trabalhos ante­riores a 1937 o arenito do Buçaco é incluído nas formações do sis­tema cretácico (26, 13, 30). Em trabalhos mais modernos (31, 32) aquela rocha é considerada eocénica.

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tos por depósitos plaisancianos-astianos; afloramento da Gândara, Granja de Ançã e do marco Monte Alto (a oci­dente do marco Alcotia).

1 5 — Choffat considerou seis tipos de faciés nos depó­sitos cenomanianos-turonianos da região mais setentrio­nal a norte do rio Tejo: tipo calcário com Ammonóides, tipo argilo-arenoso com Ammonóides, tipo calcário com espessura muito reduzida, tipo argiloso com Terebratu- las, tipo completamente arenoso e tipo argiloso com Equinodermes e Ostreideos (26).

Os depósitos da região de Coimbra, que mereceram a atenção de Choffat, foram incluídos no tipo argilo-arenoso com Ammonóides.

Este tipo de faciés tem um desenvolvimento especial entre Fornos e Sargento-mor, onde se podem observar (por exemplo, nos cortes da estrada Porto-Lisboa) estra­tos de calcários e arenitos micáceos com numerosos fósseis de moluscos em que abundam moldes internos de gasterópodos de superfícies polidas e brilhantes.

Entre os cortes levantados na região por Choffat, é muito completo aquele que reune as observações reali­zadas entre Sargento-mor e Barcouço e de que apresento uma descrição resumida.

São camadas de rochas detríticas e rochas carbona­tadas, que encerram uma fauna fóssil rica em formas, em que são frequentes os representantes dos géneros Neri- nea, Natica, Vascoceras, Tylostoma, Arca, Pecten, Plica- tula, Ostrea, Terebratula, Hemiaster, etc., assim como fósseis de microorganismos, alguns identificados como Foraminíferos (28). Num calcário pseudoolítico de Fornos foram reconhecidos os géneros Quinqueloculina d’Orb., Triloculina d’Orb., Spirolocnlina d’Orb. e Rotalia Lam.

Um calcário pseudoolítico, colhido na Senhora das Neves, continha foraminíferos do género Rotalia Lam. e

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Textularia Defr., e um arenito calcário de Trouxemil mostrou o género Discorbina Parker e Jones.

Nesse corte os depósitos belasianos e cenomanianos foram divididos por Choffat nos seguintes grupos de camadas:

1 — Arenitos sem fósseis, grosseiros, muitas vezes de cimento amarelado e vermelho com pequenos seixos de quartzo e quartzito. Em certos locais, como por exemplo entre Grada e Sargento-mor, os arenitos são grosseiros e caulínicos e contêm numerosos feldespatos completa­mente caulinizados.

2 — Nível com Neolobites Vibrayi d'Orb., com cama­das calcárias e margosas que encerram uma fauna bas­tante variada.

3 — Camadas com Anorthopygus Michelini, que abrange, na base, camadas de calcário duro, parcialmente oolítico e margas micáceas com concreções margosas. Estas cama­das encerram, também, uma fauna muito variada.

Os depósitos que sobrepõem as margas com concre­ções são areias finas, argilosas, em parte acinzentadas e avermelhadas que se podem observar a sul de Sargento- -mor.

Estas camadas são incluídas por Choffat no Turoniano superior.

As concreções dos depósitos cenomaniano-turonianos são de dois tipos diferentes: concreções com núcleo cons­tituído por um fóssil, em geral, um molde interno de um molusco ou um fragmento de um vegetal linhificado e concreções sem núcleo aparente, compactas, constituídas pela rocha semelhante à rocha que as contêm.

A existência do núcleo nalgumas concreções levou-me a atribuir-lhes uma origem singenética, enquanto que as concreções sem núcleo seriam epigenéticas (29).

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Depósitos cenozoicos

16 — Os depósitos cenozoicos dos arredores de Coim­bra são depósitos miocenico-oligocénicos (?), pliocéntcos e pleixtocénicos, todos com facies detrítico.

A — Depósitos miocénico-oligocénicos

Estes depósitos cobrem as formações do Belasiano a sul de Fala e sobre elas se observam a plataforma do Espírito Santo e aquela que foi aproveitada para a pista do campo de aviação Bissaia Barreto.

São depósitos provavelmente de origem fluvial e que contêm, como já acentuei, seixos e blocos de grés do Buçaco.

Portanto são depósitos post-grés do Buçaco, e, se na verdade esta rocha é formada por detritos acumulados durante o Eocénico (31, 32), os depósitos em questão podem ter sido acumulados ou durante o Oligocénico ou durante o Miocénico, mas não durante o Pliocénico cujos depósitos apresentam características que os individua­lizam.

B — Depósitos pliocénicos

Quer sobre as camadas dos depósitos mesozoicos quer sobre as formações antecâmbricas encontram-se, nos arre­dores de Coimbra, pequenas manchas de depósitos detrí- ticos a que se pode atribuir idade pliocénica.

Até hoje, estes depósitos não forneceram fósseis que permitam estabelecer com segurança a sua posição estra- tigráfica.

É nas características dos seus sedimentos, conjugadas com o critério altimétrico (sobre os depósitos estão ins­

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taladas plataformas cujas cotas oscilam entre 90 e 160 m) que me tenho apoiado para reconhecer os depósitos plio- cénios da região.

Na região de Coimbra os depósitos que atribuo ao Pliocénico apresentam fácies detrítico, e os seus elemen­tos apresentam características morfoscópicas diferentes de modo que atribui-lhes origens diferentes (33, 34).

Alguns depósitos considerei-os como depósitos nerí- ticos enquanto outros são depósitos fluviais.

Os depósitos neríticos são constituídos por areias de cores claras bem calibradas, cascalhos arenosos e argilas acinzentadas. Os seixos dos cascalhos são, em geral, de quartzo e quartzito e o seu elevado grau de redondeza média (superior a 0,60 para as séries de seixos até hoje estudadas) sugere para estes depósitos uma acumulação numa bacia marinha numa zona não longe da zona litoral.

Este tipo de depósitos pode ser observado sobre a plataforma em que se ergue Carqueijo, Barcouço, Santa Luzia, etc.

Os depósitos fluviais são constituídos por cascalhos e areias argilosas mal calibradas de cor vermelha’, os sei­xos dos cascalhos são de quartzo, quartzito, xisto, grés do Buçaco, etc. Os seixos de quartzo e quartzito apre­sentam um grau de redondeza (0,43 a 0,59 para as séries que tenho estudado) menor do que os seixos dos depó­sitos a que atribui origem nerítica.

Estes depósitos podem ser observados em vários locais:a) Logo de Deus cujos depósitos constituem uma

mancha que suporta o marco designado por Mato e a aldeia. A oriente, estes depósitos ocultam as camadas do Sinemuriano e a ocidente os calcários margosos do Char- mouthiano-Toarciano.

b) Numa área grosseiramente limitada por Eiras, Lordemão, Coselhas (Vale de Figueiras) e Ingote os depó­sitos ocultam camadas de Hetangiano e Sinemuriano.

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c) Na cidade de Coimbra, o cemitério da Conchada e o bairro do mesmo nome erguem-se sobre os depó­sitos fluviais pliocénicos que ocultam calcários sinemu- rianos.

d) O alto do Pinhal de Marrocos (a sul do Calhabé) é coroado por um retalho pliocénico que oculta os depó­sitos vermelhos da base do Mesozoico.

e) Na margem esquerda do rio Mondego este tipo de depósitos pode ser observado nos seguintes locais: Santa Clara (Alto do Carrapito, Stand dos Caçado­res, etc.); entre Casas Novas e a estrada Casais-Anta- nhol; na plataforma que se estende a sul de Taveiro até próximo da Cegonheira; a oriente da igreja de Ceira, etc.

Estes depósitos sofreram perturbações consequentes de movimentos tectónicos como mostram alguns cortes abertos sobre eles por estradas e caminhos.

Como locais em que se podem observar essas defor- mações tectónicas indico os seguintes: corte da estrada Adémia a Logo de Deus, alguns metros a oriente do marco do Mato, onde se podem observar falhas que esmagaram calcários jurássicos e puseram em contacto lateral os calcários e os depósitos pliocénicos; o corte nos arredores do cemitério da Conchada, que mostra a deformação em sinclinal dos depósitos e ao mesmo tempo falhas de pequeno rejecto e diaclases que cor­tam as camadas do depósito.

Fazem parte destes depósitos grandes blocos de grés do Buçaco cujas dimensões oscilam entre 30 cm. e 135 cm.

A origem destes blocos que aparecem dispersos na bacia do rio Mondego foi durante muito tempo difícil de explicar.

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Choffat (35, 36) supôs que se tratava de blocos errá­ticos, o que obrigava a admitir a existência de glaciares ao longo do vale do rio Mondego e que teriam atingido as regiões da costa, visto que não longe da actual zona litoral foi também assinalada a existência deste tipo de blocos (35).

O facto de nenhuns outros restos de depósitos gla­ciares se encontrarem no vale do rio Mondego e o facto de ter sido mostrado que os glaciares durante o Pleisto- cénico só acumularam depósitos nas partes mais altas da Serra da Estrela (37), levou abandonar a hipótese do transporte daqueles blocos por línguas de gelo. Como alguns desses blocos foram encontrados dentro dos depó­sitos fluviais pliocénicos nos arredores de Taveiro, um transporte por cursos de água com carácter torrencial foi sugerido (35).

Actualmente a maior parte desses blocos não se encontra perto dos depósitos que os contêm, mas em locais afastados para onde foram levados, quer pelo Homem quer pela força da gravidade.

No vale do rio Mondego, a jusante de Coimbra, podem ser observados numerosos desses blocos entre Espadaneira e Alfarelos, como por exemplo, em Taveiro, Ribeira de Frades, Espadaneira, Pereira, Ameal, etc., assim como nos arredores de Tentúgal, Meãs do Campo, Santo Onofre, Póvoa, etc.

Aos dois tipos de depósitos pliocénicos, um de ori­gem marinha e outros de origem fluvial, atribuí respec- tivamente idade plaisanciana-astiana (depósitos acumu­lados durante uma transgressão) e idade villafranquiana (depósitos acumulados durante uma regressão).

Na região de Coimbra não foi ainda possível obser­var a sobreposição destes dois tipos de depósitos, mas na região de Anadia-Luso-Mealhada ela foi já assina- lada (35).

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C) — Depósitos pleistocénicos e recentes

Nas margens do rio Mondego encontram-se terraços fluviais pleistocénicos, vestígios de antigas planícies alu­viais deste rio.

Nas margens do rio Mondego, nos arredores de Coim­bra, os terraços só se observam a jusante da Portela do Mondego, isto é, sobre as formações da Orla Mezo-ceno- zóica, enquanto sobre as formações antemesozóicas eles não foram encontrados.

Já nas margens do rio Ceira se observam vestígios de antigas planícies aluviais (terraços de Ceira, Boiça, etc.) sobre as formações antemesozóicas.

O estudo dos depósitos pleistocénicos do vale do rio Mondego ainda não foi levado a cabo; apenas uma pequena nota foi até hoje publicada (38).

Os depósitos dos terraços são cascalhos argilo-are- nosos, areias e argilas.

Dos cascalhos fazem parte seixos e blocos principal­mente de quartzito, quartzo, xisto, grés do Buçaco, etc.

É nesses depósitos que se exploram os blocos que servem de material para o calcetamento das ruas da cidade de Coimbra (explorações do Bairro Marechal Carmona).

As areias e a matriz arenosa dos cascalhos contêm grande quantidade de feldspatos, principalmente orto- clase, facto análogo ao que se verifica nos aluviões actuais do rio Mondego.

Nos arredores de Coimbra, o rio Mondego e o seu afluente Ceira conservam vestígios de três níveis de terraços:

a) Terraço baixo, que corresponde aos enchimentos nos vales e sobre os quais correm os rios e se instalaram as planícies aluviais.

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b) Terraço médio (a altura (1) oscila por volta de 10-15 m) cujos depósitos de cor mais ou menos averme­lhada encerram grande quantidade de fragmentos de cristais de feldespatos assim como seixos de xisto e de quartzo e de outras rochas. Os depósitos deste terraço podem ser observados na fábrica de resina (Arregaça), na Quinta da Portela, entre Bencanta e Taveiro, etc.

c) Terraço superior (a altura oscila por volta de 30-40 m) cujas superfícies se encontram instaladas sobre cascalhos de que fazem parte grandes blocos de quar- tzito e quartzo. Os seus depósitos podem ser obser­vados em Ceira, Portela do Mondego, Bairro Marechal Carmona (Arregaça), S. Martinho do Bispo, Pedru- lha, etc.

Além dos depósitos dos terraços fluviais, outros exis­tem na região cuja idade é provàvelmente pleistocénica e que em parte são de origem eólica.

São depósitos constituídos por areias soltas ou ligei­ramente consolidadas, claras, bem calibradas e que se podem observar para oriente do meridiano de Barcouço ocultando depósitos mesozoicos.

Provisoriamente distingo nessas areias dois tipos: as Areias de Arazede e as Areias de Tentúgal.

As Areias de Arazede são constituídas quase exclusi­vamente por grãos de quartzo, a maior parte dos quais são grãos redondo-foscos, isto é, mostram forma e vestí­gios de modelação por ventos.

(1) Um terraço fluvial, isto é, uma superfície plana instalada sobre depósitos fluviais ou aluviões e em posição superior à do leito de um rio, pode ser defenido ou pela sua cota ou pela altura (dife­rença entre as cotas daquelas superfícies e a cota do nível das águas do rio na estação seca).

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A percentagem dos grãos deste tipo cresce quando o comprimento dos grãos aumenta, o que é uma caracte- rística das areias eólicas.

Este facto, assim como a existência de numerosos seixos eolizados na região em que aquelas areias apare­cem levou-me a atribuir-lhe uma origem eólica (39).

Estas areias ocupam manchas extensas, aqui e acolá deixando a descoberto os depósitos meso-cenozóicos, para ocidente do meridiano de Cantanhede. Para oriente deste meridiano constituem pequenas manchas isoladas ou conservam-se nas fendas do curso dos calcários do Dogger.

A idade destas areias não está ainda fixada com pre­cisão, mas o facto de grandes blocos de grés do Buçaco estarem eolizados (Vila Franca-Arazede) leva a supor que as areias são post-villafranquianas, provavelmente pleis- tocénicas.

As Areias de Tentúgal, que se podem observar nos arredores de Tentúgal e entre a aldeia de Cavaleiros e S. Facundo, contêm grande quantidade de grãos redondo- -foscos.

O facto de encerrarem seixos arredondados não eoli­zados e da percentagem de grãos redondo-foscos não aumentar com o comprimento dos grãos, levou-me a considerá-las como areias constituídas por materiais removidos das formações detríticas da região, entre elas as Areias de Arazede, quando estas ocupavam maior extensão (39).

Os depósitos recentes nos arredores de Coimbra são constituídos por aluviões que cobrem o fundo do vale do rio Mondego, do rio Ceira e das pequenas ribeiras que desaguam naqueles rios.

Sobre as vertentes de alguns vales da região encon­tram-se depósitos que ocultam as rochas mesozoicas. São

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(Página deixada propositadamente em branco)

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depósitos de vertente, como os que se podem observar em Santa Clara, Fornos, etc., outros são depósitos de soli- fluxão (1) que incluem detritos que pertenceram a forma­ções mesozoicas e cenozoicas, como, por exemplo, os que se podem observar sobre as vertentes dos vales que correm de um lado e do outro da mancha villafranquiana de Logo de Deus, etc.

Este tipo de depósitos não mereceu ainda entre nós atenção especial, de modo que as condições e a época da sua génese são por enquanto desconhecidas.

17 — No estudo dos terraços pleistocénicos é dado actualmente particular relevo aos instrumentos que denunciam a actividade do Homem do Paleolítico e que se encontram incluídos nos seus depósitos.

Na região de Coimbra esses instrumentos são extre­mamente raros e aqueles que até hoje encontrei foram colhidos em estações de superfície; por isso apresentam significado estratigráfico bastante reduzido.

As raras peças encontradas são talhadas em seixos de quartzito (terraços da Geria e de Vil de Matos) ou em sílex (Vil de Matos).

Observadas por Zbyszewski foram consideradas indús­trias pouco típicas respectivamente do tipo Acheuleniano ou do Paleolítico superior e do tipo Mousteroide ou do Levalloisiano.

Foram também colhidos instrumentos paleolíticos na Furjaca, a sul da Pampilhosa, mas esses instrumentos não mereceram ainda qualquer estudo (39).

(1) O termo solifluxão é empregado no sentido de deslo­cação em massa de solos e não no sentido de Anderson (desloca­ção em massa devido à existência de um subsolo permanentemente gelado).

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18 — A partir dos factos apontados e das considera­ções feitas sobre as condições mais prováveis que con­tribuíram para a génese dos sedimentos que se podem observar na região de Coimbra, pode ser apresentado o seguinte esboço da evolução paleogeográfica da região (1):

No início da era Mesozóica a região era um deserto ou pelo menos uma região sujeita a um clima árido ou semi- -árido, sem vegetação, sujeita à acção de ventos bastante intensos e na qual desembocavam cursos de água torren­ciais que nela acumulavam grandes cones de dejecção.

Posteriormente, na região existiu um lago. Nesta altura o clima teria sido menos rigoroso, o que permitiu, em certos locais, o desenvolvimento de uma vegetação particular.

Um regresso a condições climáticas rigorosas fez com que de novo desembocassem sobre a região cursos tor­renciais cujos detritos constituiram espessos depósitos, enquanto um regime eólico com ventos de forte intensi­dade influia nas condições climáticas da região.

Durante o Liássico — Hetangiano — uma transgressão marinha avançou sobre a região, permitindo a formação de uma lagoa costeira, na qual sob um clima bastante quente e seco se formaram depósitos de gesso.

Mais tarde o regime transgressivo acentuou-se e então a linha de costa devia ter estado situada mais a oriente da região, enquanto durante vários períodos (Hetangiano, Charmouthiano, Toarciano e Aaleniano) a região esteve submersa e fez parte da zona nerítica de uma bacia marinha.

(1) Sobre as condições paleogeográficas durante o Paleozoico na região de Coimbra nada se dirá neste estudo, visto que na região não são conhecidos quaisquer vestígios de sedimentos acumulados durante aquela era.

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A falta de depósitos do Dogger e do Malm faz supor que logo após o Aaleniano a região esteve emersa.

Durante o Cretácico uma regressão permitiu o estabe­lecimento de um regime lacustre (?) e, talvez, em parte fluvial, enquanto a transgressão cenomaniana-turoniana não submergiu de novo a região.

O regime continental imperou de novo na região durante o Cenozoico até ao Plaisanciano-Astiano durante o qual uma nova transgressão estendeu os seus depósitos sobre os que foram acumulados durante a era Mesozóica.

Durante o Villafranquiano iniciou-se novo período regressivo, que se prolongou durante o Pleistocénico, no qual se acumularam os depósitos dos terreços flu­viais, e acções eólicas se manifestaram na região que permitiram a acumulação de areias e a eolização de seixos.

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Coimbra, Outubro de 1950.

This paper refers to the geology of Low Mondego in Coimbra surroundings.

In this country there are mesozoic and cenozoic deposits belon­ging to the following systems and stages: Upper Triassic or Rhe- tian (?); Jurassic (Hetangian, Charmouthian, Toarcian and Aalenian); Cretaceous (Belasian and Cenomanian-Turonian), Mioceno-Oligo- cene (?); Pliocene (Plaisancian-Astian and Villafranchian); Pleisto­cene (deposits of fluvial terraces and eolian deposits), and Recent.

SUMMARY

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