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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público _______________________________________________________________ EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA ___ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DE GOIÂNIA/GO. URGENTE O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por sua Promotora de Justiça que subscreve, vem, perante Vossa Excelência, no uso de suas atribuições conferidas pelo art. 127, caput, e 129, caput e incisos II e III da Constituição Federal, pelo art. 25, inc. IV, alíneas “a” e “b”, da Lei nº 8.625/93, à vista dos elementos inclusos no Inquérito Civil Público nº 201500126593, propor em face de: 1. ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica de direito público interno, representada pelo Procurador-Geral Alexandre Eduardo Felipe Tocantins, domiciliado na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, n.º 03, Centro, Goiânia/GO, CEP 74003-010, 2. FUNDAÇÃO UNIVERSA, instituição sem fins econômicos, de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 03218102000176, representada por Everton Francisco Alves, com sede na SGAN 609, Módulo A, L2 Asa Norte, Brasília/DF, CEP: 70830-401; pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas: 1 AÇÃO CIVIL PÚBLICA c/c Pedido de MEDIDA LIMINAR

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO

DA ___ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL DE GOIÂNIA/GO.

URGENTE

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS,

por sua Promotora de Justiça que subscreve, vem, perante Vossa Excelência, no uso de

suas atribuições conferidas pelo art. 127, caput, e 129, caput e incisos II e III da

Constituição Federal, pelo art. 25, inc. IV, alíneas “a” e “b”, da Lei nº 8.625/93, à vista

dos elementos inclusos no Inquérito Civil Público nº 201500126593, propor

em face de:

1. ESTADO DE GOIÁS, pessoa jurídica de direito público interno,

representada pelo Procurador-Geral Alexandre Eduardo Felipe Tocantins, domiciliado

na Praça Dr. Pedro Ludovico Teixeira, n.º 03, Centro, Goiânia/GO, CEP 74003-010,

2. FUNDAÇÃO UNIVERSA, instituição sem fins econômicos, de

direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 03218102000176, representada por Everton

Francisco Alves, com sede na SGAN 609, Módulo A, L2 Asa Norte, Brasília/DF, CEP:

70830-401;

pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:

1

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

c/c Pedido de MEDIDA LIMINAR

78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

I - DOS FATOS

O Ministério Público do Estado de Goiás instaurou

Inquérito Civil Público para apurar o excessivo número de servidores temporários na

SSPGO - Secretaria Estadual de Segurança Pública e Administração Penitenciária -,

ocupando o cargo de Vigilantes Penitenciários, em suposta violação a regra do

concurso público encartada no artigo 37, II, da Constituição Federal.

A mencionada investigação teve início a partir de

representação noticiando que a SSPGO, através da SEAP – Superintendência

Executiva de Administração Penitenciária -, tinha publicado edital de concurso público

para provimento do cargo de Agente Prisional em número muito menor do que os

contratos temporários existentes.

Apurou-se que o Estado de Goiás, por intermédio da

SEGPLAN – Secretaria Estadual de Gestão e Planejamento –, publicou o Edital nº

001/2014, objetivando a realização de concurso público para o provimento de 305

(trezentos e cinco) vagas e formação de cadastro de reserva para o cargo de Agente de

Segurança Prisional.

Entretanto, concomitantemente a realização do concurso, a

SEGPLAN também publicou o Edital nº 002/2015 para contratação temporária de

1.625 (mil seiscentos e vinte e cinco) Vigilantes Penitenciários, cujas atividades são

as mesmas ou abrangidas pelas do cargo efetivo .

Acerca da desproporção entre as vagas ofertadas no

concurso público e no processo seletivo para contratação temporária, o Secretário

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

Estadual de Administração Penitenciária e Justiça informou que o “concurso público

visa atender parcialmente a demanda, visto que atualmente há 1625 contratos de

vigilantes penitenciários temporários em vigência”.

Posteriormente, chegou ao conhecimento desta Promotoria

de Justiça que o Edital nº 001/2014, em seu subitem 16.6, estabeleceu cláusula de

barreira entre as duas etapas do certame, de modo que passarão para a segunda etapa,

consistente no curso de formação, apenas os candidatos mais bem classificados até a

posição 461 (quatrocentos e sessenta e um).

Para melhor explicar, o Edital nº 001/2014 estabeleceu que

o certame será composto de duas etapas, a primeira composta de cinco fases (prova

objetiva, prova discursiva, avaliação médica, prova de aptidão física e avaliação

psicológica e vida pregressa) e a segunda etapa consistente no curso de formação.

Segundo o cronograma do concurso, o certame encontra-se

na quinta fase da primeira etapa, ou seja, avaliação psicológica e análise da vida

pregressa, e a segunda etapa tem data prevista para iniciar-se próximo dia 02/11/2015.

Nesse ponto, a irresignação dos denunciantes fundava-se

em dois questionamentos: a limitação indevida de vagas no concurso para favorecer a

contratação temporária de servidores em um processo seletivo que oferece quase 5

(cinco) vezes mais o número de vagas e; inconstitucionalidade de cláusula de barreira

após o candidato já ter se mostrado apto em todas as avaliações do certame.

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

Outro fato que também foi noticiado, diz respeito a última

fase da primeira etapa do concurso (avaliação psicológica e análise da vida pregressa).

Segundo apurado, a avaliação psicológica dos candidatos

foi aplicada no mesmo dia em 8 (oito) horários diferentes, contudo, os testes foram os

mesmos, o que possibilitou a troca de informações entre os candidatos, favorecendo

indevidamente aqueles que tiveram acesso aos testes antes da realização da avaliação.

Apurou-se também que a exigência de avaliação

psicológica no objurgado concurso vai de encontro a Constituição Federal, pois,

segundo entendimento do STF firmado na Súmula Vinculante nº 44, “só por lei se

pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público”, e no

ESTADO DE GOIÁS NÃO EXISTE ESSA LEI.

A última notícia de irregularidade que também foi

comprovada ocorreu na análise da vida pregressa dos candidatos. Os examinadores do

concurso reprovaram diversos candidatos por eles possuírem dívidas particulares,

alguns com dívidas de menos de R$ 100,00 (cem reais), o que se demonstrou

plenamente desarrazoado e ilegal.

Diante da flagrante ilegalidade pela violação da regra do

concurso público com a contratação de 1625 vigilantes penitenciários temporários para

apenas 305 efetivos, bem como pelo entendimento do STF de que a cláusula de

barreira não pode ocorrer entre etapas do concurso público, esta Promotoria de Justiça

recomendou ao Secretário Estadual de Segurança Pública e ao Secretário Estadual de

Gestão e Planejamento que adotassem as seguintes providências:

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

I) revogar o subitem 16.6 do Edital nº 001/2014, por criar restrição indevida,

inconstitucional e desarrazoada de acesso dos candidatos aprovados ao curso de

formação;

II) estabelecer o total de 1.930 (mil novecentos e trinta) candidatos para o curso de

formação, número este que corresponde a soma das vagas ofertadas no

concurso com as do processo seletivo regido pelo Edital nº 002/2015;

III) ampliar o cadastro de reserva do concurso público para contratação de Agentes

Penitenciários, regido pelo Edital nº 001/2014, até o limite de 1.930 (mil

novecentos e trinta) vagas, mudando a situação jurídica dos que forem

aprovados fora do número de vagas para “aprovados em cadastro de reserva”;

IV) que se o total de candidatos aprovados no concurso público não for suficiente

para prover as 1.930 (mil novecentos e trinta) vagas, que seja deflagrado novo

concurso público no prazo máximo de 6 (seis) meses;

O Secretário Estadual de Segurança Pública nada

manifestou acerca da recomendação e o Secretário Estadual de Gestão e Planejamento

solicitou dilação de prazo para responder a recomendação por 30 (trinta) dias, mas foi-

lhe concedido apenas 15 (quinze), os quais transcorreram em branco.

As mencionadas irregularidades na avaliação psicológica e

na análise da vida pregressa, inicialmente foram investigadas pela 50ª Promotoria de

Justiça, que instaurou o ICP nº 087/2015, porém, em razão da prevenção, os autos

foram remetidos a esta Promotoria de Justiça.

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

No curso da investigação conduzida pela 50ª Promotoria de

Justiça, a Dra Leila Maria de Oliveira, dentre outras providências, expediu

recomendação ao Secretário Estadual de Segurança Pública para que:

1 - cancele o exame psicotécnico realizado aos 29 e 30 de agosto de 2015,

já que não foi avaliação hábil a comprovar aptidão dos candidatos;

2 – se abstenha de realizar nova avaliação psicotécnica no concurso nº

001/2014, já que tal exame afronta a Súmula Vinculante nº 44, tendo em

vista que não há previsão expressa da realização desta avaliação nas leis

que regem o cargo;

3 – adie as próximas fases do concurso nº 001/2014 até a regularização do

certame.

O Secretário omitiu-se novamente ao deixar de apresentar

qualquer manifestação acerca da recomendação recebida.

II – DO DIREITO

1. DAS ATRIBUIÇÕES IDÊNTICAS OU SEMELHANTES DOS CARGOS DE

AGENTE PRISIONAL e VIGILANTE PENITENCIÁRIO TEMPORÁRIO:

O Edital nº 001/2014 estabelece que são atribuições do

cargo de Agente Prisional as seguintes atribuições:

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

DESCRIÇÃO SUMÁRIA DAS ATRIBUIÇÕES: receber e orientar presos quanto às normas disciplinares, divulgandoos direitos, deveres e obrigações conforme normativas legais; revistarpresos e instalações; prestar assistência aos presos e internados,encaminhando-os para atendimento nos diversos setores sempre quese fizer necessário; verificar as condições de segurançacomportamental e estrutural, comunicando as alterações à chefiaimediata; acompanhar e fiscalizar a movimentação de presos ouinternos no interior da unidade e adjacências; realizar escolta depresos em deslocamentos locais e interestaduais, bem comocustodiá-los em unidades de saúde, órgãos judiciais, órgãos públicose privados, sejam municipais, estaduais ou federais; observar ocomportamento dos presos ou internos em suas atividades individuaise coletivas; não permitir o contato de presos ou internos com pessoasnão autorizadas; revistar toda pessoa, autoridade civil ou militar, comexceção das autorizadas previstas em lei, e veículos previamenteautorizados ou não, que pretendam adentrar ou que tenhamadentrado ao estabelecimento penal e/ou suas imediações; verificar econferir os materiais e as instalações do posto de serviço, zelandopelos mesmos; controlar a entrada e saída de pessoas, veículos evolumes nos estabelecimentos penais e/ou suas imediações,conforme normas vigentes; conferir documentos, quando da entrada esaída de presos e visitantes do estabelecimento penal e adjacências;operar o sistema de alarme e demais sistemas de comunicaçãointerno, externo e audiovisuais; operar qualquer tipo demonitoramento eletrônico relacionado ao indivíduo preso dos regimesfechado, semiaberto, aberto ou submetido a qualquer tipo de medidacautelar prevista em lei; executar atividades de inteligência e contra-inteligência prisional; executar serviços e atividades depatrulhamento, guarda e vigilância de muralhas, postos deobservação, guaritas, portarias, patrimônio móvel e imóvel, nosperímetros internos e externos dos estabelecimentos penais ecorrelatos; participar dos Conselhos e Grupos que tratam de assuntosvinculados ao Sistema Penal; ministrar cursos de formação,aperfeiçoamento, capacitação, instrução e outros correlatos, aosservidores do Sistema Penal, assim como para outras instituiçõesquando solicitado; desempenho de atividades relacionadas complanejamento, organização, direção, execução, supervisão,coordenação, consultoria, assessoramento e controle de ações,serviços administrativos, educação em serviços penais, projetos eprogramas de gestão prisional; conter, gerenciar, negociar e intervirem situações de crise no âmbito do Sistema Penal e/ou quandosolicitado por outras autoridades competentes; inspecionar, tendolivre acesso a locais públicos ou particulares onde seja passível afiscalização do cumprimento de penas nos regimes semiaberto eaberto, assim como penas alternativas e medidas alternativas àprisão; executar outras atividades correlatas.

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Por sua vez, o Edital nº 002/2015 dispõe que os Vigilantes

Penitenciários Temporários desempenharão as seguintes atribuições:

2.3 Atribuições: Desempenho de atividades que compreendam tarefas de apoio àsegurança, custódia, assistência e ressocialização dos privados deliberdade, tais como, segurança, vigilância, custódia, disciplina,fiscalização, triagem e escolta dos presos.

2.3.1 Tarefas típicas:Dentro das atribuições que lhe são inerentes, ao VigilantePenitenciário Temporário cabe:a) zelar pela disciplina e segurança dos presos, evitando fugas econflitos; b) fiscalizar o comportamento da população carcerária, observandoos regulamentos e normas em vigor; c) providenciar a necessária assistência aos presos, em casos deemergências; d) fiscalizar a entrada e saída de pessoas e veículos nas unidadesprisionais; e) verificar as condições de segurança da unidade em que trabalha; f) elaborar relatório das condições da unidade em que trabalha; g) fazer triagem de presos de acordo com a Lei de Execução Penal; h) conduzir e acompanhar, em custódia, os presos entre as unidadesprisionais integradas do Complexo Prisional de Aparecida de Goiâniae durante os deslocamentos para fora do referido ComplexoPenitenciário;i) realizar trabalhos em grupo e individuais com o objetivo de instruiros presidiários, neles incluindo hábitos de higiene e boas maneiras; j) encaminhar solicitações de assistência médica, jurídica, social ematerial ao preso; k) exercer com maior grau de complexidade e responsabilidade asatribuições dirigidas à disciplina;l) primar pela segurança, fiscalização, assistência social, educação ecoordenação de atividades laborativas dos presos, bem como afiscalização da segurança da unidade;m) articular-se com a autoridade competente, objetivando melhorcumprimento das normas e rotinas de segurança; n) elaborar relatórios de acompanhamento das atividades laborativasdos internos;o) desenvolver atividades que visem à ressocialização do preso,programar atividades de formação cívica, ética, social, cultural, eprofissional do preso;p) desenvolver ações com vistas a despertar no preso o senso deresponsabilidade, dedicação no cumprimento dos deveres sociais,profissionais e familiares; q) executar outras atividades correlatas e as que lhe forem delegadaspela autoridade superior

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Assim, a simples leitura desses dois itens dos mencionados

editais deixa claro que o cargo efetivo de Agente Prisional e o cargo temporário de

Vigilante Penitenciário possuem as mesmas ou atribuições semelhantes, de modo que

ao publicar o Edital nº 002/2015, o ESTADO DE GOIÁS reconheceu a necessidade de

provimento de 1.930 (mil novecentos e trinta) vagas no cargo de Agente Prisional.

Observa-se que ao publicar o Edital nº 002/2015, o

ESTADO DE GOIÁS justifica a necessidade da contratação temporária alegando

caráter excepcional por inexistir candidatos aprovados em concurso público.

Veja que paradoxo, o ESTADO alega a falta de aprovados

em concurso para contratar servidores temporários, mas limita as vagas do concurso

público para abranger somente 1/5 das vagas que precisam ser providas,

estabelecendo, inclusive, cláusula de barreira, impossibilitando que candidatos

classificados sejam aprovados por não atingirem o número de vagas foram

tendenciosamente limitadas.

Ainda acerca da compatibilidade das atribuições dos cargos

de Agentes Prisionais e Vigilantes Penitenciários Temporários, como já adiantado, o

próprio Secretário Estadual de Administração Penitenciária e Justiça informou que o

“concurso público visa atender parcialmente a demanda, visto que atualmente há

1625 contratos de vigilantes penitenciários temporários em vigência”, deixando claro

que o que somente os diferencia é a forma de provimento e a nomenclatura.

Mas, afinal, por que a necessidade de demonstrar que os

cargos de Agente Prisional e de Vigilante Penitenciário Temporário possuem as

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mesmas atribuições? A razão é simples, se o ESTADO DE GOIÁS está realizando

concurso público com número de vagas comprovadamente menor ao da necessidade

que o serviço público exige e, ao mesmo tempo, realiza processo seletivo para

contratação de temporários, ele claramente está violando a regra do concurso público

insculpida no artigo 37, II, da CF.

Devidamente demonstrada a inconstitucionalidade do

processo seletivo regulamentado pelo Edital nº 002/2015 realizado pelo ESTADO DE

GOIÁS, outra solução não há que não a de declará-lo NULO ou, no mínimo,

restringido ao número de vagas remanescentes após a homologação do resultado final

do concurso que, conforme se demonstrará, não deverá ser o quantitativo do edital,

mas sim de todos que se encontrarem classificados até o limite de 1.930 (mil

novecentos e trinta).

2. DA INCONSTITUCIONALIDADE DA CLÁUSULA DE BARREIRA FIXADA

PELO EDITAL Nº 001/2014:

Como já adiantado, o subitem 16.6 do Edital nº 001/2014

estabeleceu que “serão convocados para o curso de formação os candidatos

classificados até as posições-limite indicadas no quadro abaixo. Os candidatos não

convocados no presente subitem estarão eliminados e não terão classificação

alguma no concurso público”.

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Segundo o subitem do edital acima mencionado, apenas

461 (quatrocentos e sessenta e um) candidatos aprovados na primeira etapa do

concurso farão o curso de formação, os demais, estarão eliminados, ou seja, entre as

duas etapas do concurso, estabeleceu-se uma cláusula de barreira limitando o número

de candidatos classificados.

Pois bem. Inicialmente cumpre observar que o próprio

Secretário de Segurança Pública encaminhou a SEGPLAN o Ofício nº 966/2015-GAB

narrando a necessidade “do aumento do efetivo de servidores, aproveitando o

concurso em andamento e convocando os aprovados em todas as fases para o curso

de formação, deixando-os aptos ao cadastro de reserva”.

A iniciativa do Secretário foi plausível, mas não teve

nenhum efeito. O ESTADO DE GOIÁS está firme no propósito de manter a cláusula

de barreira e violar a Constituição Federal e a Estadual.

Acerca da cláusula de barreira nos editais de concurso

público, embora o STF tenha declarado a sua constitucionalidade (RE nº 635739), o

ministro Gilmar Mendes, relator do recurso, apontou que os critérios para restringir a

convocação de candidatos são razoáveis quando ocorrerem de uma fase para outra

dos certames, não podendo, por conclusão lógica, restringir a convocação do

candidato que tiver sido aprovado em todas as avaliações e ter se demonstrado

apto a participar do curso de formação, o que torna NULO o subitem 16.6 do

Edital nº 001/2014;

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É importante atentar que há enorme diferença na cláusula

de barreira entre fases de um determinado concurso, como ocorre, por exemplo, no

concurso da magistratura e do MP entre as fases das provas objetivas e subjetivas, com

a cláusula criada ao final do certame quando o candidato tiver se mostrado apto a

participar do curso de formação.

Ainda que não se entenda dessa forma, a nulidade do

subitem 16.6 do Edital nº 001/2014 deve ser declarada em atenção aos princípios da

razoabilidade, impessoalidade e moralidade, flagrantemente violados pelo ESTADO

DE GOIÁS através da limitação tendenciosa de vagas de concurso público para

favorecer a contratação de servidores temporários.

Assim, se há flagrante violação da regra do concurso

público pelo ESTADO DE GOIÁS ao publicar o Edital nº 002/2015, a cláusula de

barreira estabelecida no subitem 16.6 do Edital nº 001/2014 se torna plenamente

desarrazoada e ilegal/inconstitucional.

Observa-se que a jurisprudência dos Tribunais Superiores e

do TJGO é firme no sentido de que o candidato aprovado em concurso público possui

direito subjetivo à nomeação quando se comprovar que existem servidores

temporários, comissionados ou outro regime precário, ocupando sua vaga, de modo

que, feita as devidas adaptações, se ele tem direito subjetivo a nomeação, muito mais

terá de participar de curso de formação quando ele tiver se mostrado apto em todas as

etapas anteriores do concurso.

ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. SERVIDOR APROVADOFORA DO NÚMERO DE VAGAS. SURGIMENTO DE NOVAS VAGAS.

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

NOMEAÇÃO DE TEMPORÁRIOS.DIREITO À NOMEAÇÃO.1. Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar,impetrado ao propósito de determinar ao Exmo. Sr. Ministro deEstado da Ciência e Tecnologia a prorrogação do concurso paraprovimento de cargos de Assistente em Ciência e Tecnologia 1 - TemaVII, Apoio Administrativo e Apoio Técnico/MCTI/AC, bem como areserva de vagas - e posterior aproveitamento, ao final da demanda -a José Alan Alves de Macedo e outros.2. "A legitimidade passiva da Ministra de Estado do Planejamento,Orçamento e Gestão também encontra-se devidamente configurada,uma vez que, nos termos do art. 10 do Decreto n. 6.944, de21/8/2009, c/c a Portaria/MPOG 350, de 4/8/2010, cabe ao titulardaquela Pasta autorizar o provimento dos cargos relativos aoconcurso público ora sob análise" (MS 19.227/DF, Rel. MinistroArnaldo Esteves Lima, Primeira Seção, DJe 30/4/2013).3. A jurisprudência do STJ também reconhece que aclassificação e aprovação do candidato, ainda que fora donúmero mínimo de vagas previstas no edital do concurso,confere-lhe o direito subjetivo à nomeação para o respectivocargo se, durante o prazo de validade do concurso, surgirem asnovas vagas, seja por criação de lei ou por força de vacância.Ressalta-se que há a aplicação de tal entendimento mesmo quenão haja previsão editalícia para o preenchimento das vagas quevierem a surgir durante o prazo de validade do certame. (AgRgno RMS 20.658/DF, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 10/9/2015).4. Excepciona-se esse entendimento, contudo, se houver efetivademonstração pelo ente público da impossibilidade de contratar emvirtude de situações excepcionais e imprevisíveis e para respeitar oslimites de gastos com folha de pessoal, nos termos da legislação deregência, o que não ocorreu na espécie.5. A contratação de servidor em caráter temporário para vaga em quehá candidato aprovado em cadastro de reserva também gera o direitoà nomeação.6. Documentalmente comprovada a existência de vagas do Ministériode Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão, bem como acontratação de servidores temporários, justifica-se a nomeação dosimpetrantes.6. Ordem concedida para determinar que seja autorizada a nomeaçãoe efetivada a posse dos impetrantes.(MS 20.658/DF, Rel. Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO,julgado em 23/09/2015, DJe 30/09/2015) Destacou-se.

Posto isso, não há dúvidas que o subitem 16.6 do Edital nº

001/2014 deve ser declarado NULO, seja por sua inconstitucionalidade,

desarrazoabilidade ou em decorrência dos contratos temporários existentes, emergido-

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

se, portanto, o direito subjetivo dos candidatos classificados nas fases anteriores a

participarem do curso de formação.

Observe que nem por razões financeiras o ESTADO DE

GOIÁS poderá alegar que não é possível realizar o curso de formação com todos os

candidatos aprovados nas fases anteriores do concurso, pois a ASPEGO – Associação

dos Servidores do Sistema Prisional do Estado de Goiás – declarou, através de um

instrumento registrado em Cartório, que “em reunião com a coordenação e

instrutores do curso de formação de Agentes de Segurança Prisional, concurso

2015, estes declinaram do recebimento de qualquer valor financeiro, por parte do

Estado de Goiás, referentes aos candidatos que se fizerem aptos após última etapa

do concurso elencado, acima do número de vagas ofertados pelo certame”.

3. DA INCONSTITUCIONALIDADE DO PROCESSO SELETIVO

REGULAMENTADO PELO EDITAL Nº 002/2015 POR AUSÊNCIA DOS

REQUISITOS QUE PERMITEM A CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA ou POR

IMPOSSIBILIDADE DE CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE AGENTES DA

SEGURANÇA PÚBLICA :

À luz do conteúdo jurídico do art. 37, inciso IX, da

Constituição da República e da jurisprudência do STF em sede de Repercussão Geral

(RE 658.026), a contratação temporária reclama os seguintes requisitos para sua

validade: (i) os casos excepcionais devem estar previstos em lei; (ii) o prazo de

contratação precisa ser predeterminado; (iii) a necessidade deve ser temporária; (iv) o

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

interesse público deve ser excepcional; (iv) a necessidade de contratação há de ser

indispensável, sendo vedada a contratação para os serviços ordinários permanentes do

Estado, e que devam estar sob o espectro das contingências normais da Administração,

mormente na ausência de uma necessidade temporária.

No caso sub examine, não há qualquer evidência de

necessidade provisória que legitime a contratação de Vigilantes Penitenciários

temporários para o munus da segurança pública, bem como que a contratação não é

indispensável, até mesmo porque ela o é, pois existe concurso público em andamento

em que os candidatos podem ser aproveitados.

Nesse ponto, o TJGO tem entendimento consolidado de

que a contratação temporária que não obedece aos requisitos previstos na Constituição

Federal é NULA;

AGRAVO INTERNO. COBRANÇA DE CRÉDITOS TRABALHISTAS.CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO COM O PODERPÚBLICO. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. AGENTE DE SAÚDE.INVESTIDURA EM CARGO PÚBLICO SEM CONCURSO.NULIDADE. DEPÓSITOS DE FGTS E ADICIONAL DEINSALUBRIDADE DEVIDOS. REDISCUSSÃO DE MATÉRIA JÁDECIDIDA. INEXISTÊNCIA DE FATO NOVO. AGRAVO IMPROVIDO.I - A norma constitucional veda expressamente a contratação deservidor sem processo seletivo público, a qual poderá ocorrer emcaso de necessidade temporária de excepcional interesse público. II -Não preenchidos os requisitos do art. 37, IX, Constituição daRepública, quais seja, excepcionalidade e temporariedade, oinstrumento contratual pactuado padece de nulidade, eis quecelebrado em desconformidade com o texto constitucional. III -Ainda que considerado nulo o contrato de prestação de serviço, ésolidamente amparado na jurisprudência o direito do trabalhador aorecebimento do FGTS (fundo de garantia por tempo de serviço), emcontraposição ao enriquecimento ilícito. IV - Limitando-se amunicipalidade agravante a reiterar razões já examinadas em sede dadecisão que negou seguimento ao recurso de apelação interposto,mantém-se o ato, máxime se não demonstrado fato novo ou relevantemotivo a embasar a insurgência recursal. Precedentes. V - Inexiste

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razão para a reforma da decisão monocrática que considerou o casoconcreto e se encontra em consonância ao entendimentojurisprudencial majoritário. Atendido o disposto no art. 557, caput,CPC. VI - Agravo improvido.(TJGO, APELACAO CIVEL 269453-56.2011.8.09.0206, Rel. DR(A).DORACI LAMAR ROSA DA SILVA ANDRADE, 3A CAMARA CIVEL,julgado em 30/10/2014, DJe 1664 de 06/11/2014)

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. CONTRATOTEMPORÁRIO. AGENTE DE SAÚDE. COMBATE AO MOSQUITO DADENGUE. EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICODESCARACTERIZADO, ANTE AS SUCESSIVAS RENOVAÇÕES.INVESTIDURA EM CARGO PÚBLICO SEM CONCURSO.CONTRATO NULO. EFEITOS: VERBAS DE NATUREZA SALARIAL EFGTS. I - A investidura em cargo público apenas é possívelmediante prévia aprovação em concurso público. A exceçãoconstitucional recai na nomeação para cargos em comissão e àcontratação por tempo determinado para atender excepcionalinteresse público, hipótese do artigo 37, IX, Constituição Federal.A excepcionalidade deste dispositivo exige a presença de doisrequisitos: a previsão expressa em lei e a real existência denecessidade temporária de excepcional interesse público.Ausente lei regulamentadora e renovado sucessivamente ocontrato, a contratação efetivada é nula de pleno direito. II -Inadmissível a contratação sem concurso público, tendo o trabalhadordireito a receber apenas as verbas de natureza salarial e FGTS. III -Apelos conhecidos e improvidos.(TJGO, APELACAO CIVEL 167493-36.2009.8.09.0074, Rel. DES.BEATRIZ FIGUEIREDO FRANCO, 4A CAMARA CIVEL, julgado em17/06/2010, DJe 617 de 12/07/2010)

É bom ainda lembrar que recentemente o STF, no

julgamento da ADI 5163, declarou inconstitucional a lei do ESTADO DE GOIÁS que

criou o SIMVE – Serviço de Interesse Militar Voluntário Especial -, serviço este que

consistia na contratação temporária de policiais militares e bombeiros, justamente por

ferir a regra do concurso público.

Assim, se o STF reconheceu a obrigatoriedade de concurso

público para o ingresso no quadro da Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros,

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

declarando inconstitucional a lei que permitia as contratações temporárias para tais

cargos, certamente, se for o caso, o fara também para a contratação temporária de

Vigilantes Penitenciários por se tratar de hipótese absolutamente análoga.

Nesse contexto, o Edital nº 002/2015 também deve ser

declarado NULO por ausência dos requisitos que permitem a contratação temporária

e/ou por impossibilidade de contratação de temporários para os cargos da segurança

pública.

4. DA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA. EDITAL Nº 001/2014. VIOLAÇÃO DA

SÚMULA VINCULANTE Nº 44:

Segundo o subitem 1.3.1 “e” do Edital nº 001/2014, a

quinta fase da primeira etapa do concurso para provimento de vagas no cargo de

Agente Prisional consiste em “avaliação psicológica, de caráter eliminatório, a ser

realizada pela Fundação Universa e avaliação de vida pregressa, de caráter

eliminatório, a ser realizada pela Secretaria de Estado da Administração

Penitenciária e Justiça (SAPeJUS)”.

A avaliação psicológica dos candidatos aprovados na Prova

de Aptidão Física foi realizada nos dias 29/08/2015 (às 07:30, 08:30, 14:00 e 15:00

horas) e 30/08/2015 (às 07:30, 08:30, 14:00 e 15:00 horas).

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

Entretanto, foram aplicados os mesmos testes de avaliação

psicológica (G36, IFP II e EFN) para todos os candidatos, apesar da prova ter sido

aplicada em oito horários diferentes, o que possibilitou que os candidatos trocassem

informações entre si e fraudassem o real resultado do exame.

Conforme apurado, os candidatos que realizaram a

avaliação psicológica no primeiro horário do dia 29/08/2015 informaram aos demais

candidatos quais eram os testes que foram utilizados pela banca através do aplicativo

whatsapp.

Assim, já sabendo quais eram os testes escolhidos pela

banca, os candidatos passaram a trocar entre si sugestões, apostilas e links com o

gabarito do teste G36 e as respostas/padrões esperados para aprovação nos testes IFP-

II e EFN.

Dessa forma, a avaliação psicotécnica não foi meio hábil a

comprovar a aptidão psicológica dos candidatos no certame, já que estes não

responderam os exames de acordo com sua própria inteligência e características

pessoais, mas sim utilizaram gabaritos e padrões que fraudaram o resultado.

Destarte, diante do vazamento das questões do exame

psicotécnico dos candidatos, esta fase deve ser declarada NULA.

Porém, a nulidade da quinta fase da primeira etapa do

concurso de Agentes Prisionais não deve ser declarada nula e ser designado um novo

exame, ela deve ser excluída do certame, e a razão é a seguinte:

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

A Súmula Vinculante nº 44 dispõe que “só por lei se pode

sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público”.

Nos debates para a edição da referida súmula, os Ministros

afirmaram que:

Com efeito, esta Corte possui firme e reiterada jurisprudência quantoà possibilidade, à luz do disposto no art. 37, I, da Carta Magna, de seexigir a realização de teste psicotécnico, com critérios objetivos deavaliação, como condição para o provimento de cargo público, desdeque esta imposição esteja expressamente prevista em lei emsentido estrito, além de constar do respectivo edital regulamentadordo concurso público

Dessa forma, o STF entende que a aplicação de exame

psicotécnico para provimento de determinado cargo deve ser expressamente previsto

na legislação que rege o cargo.

O Edital do concurso aqui mencionado citou várias

legislações vinculadas ao cargo de Agente de Segurança Prisional, quais sejam, Lei

Estadual nº 15.674/2006, Lei Estadual n.° 15.507/2005; Lei Estadual n.° 16.448/2008;

Lei Estadual n.° 16.036/2007; Lei Estadual n.° 14.237/2002; Decreto Estadual n.°

5.717/2003; Decreto Estadual n.° 5.463/2001 e Lei Estadual 17.090/2010, sendo que

nenhuma dessas Leis tratou de regulamentar a avaliação psicológica referente ao

cargo.

O artigo 5º da Lei Estadual nº 14.237/2002, ao trazer os

requisitos para investidura no cargo, menciona apenas que os candidatos devem

possuir “controle emocional”, não prevendo expressamente a avaliação psicotécnica.

Além do exposto, o edital do concurso trouxe um tópico

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

especifico, item 13, tratando da avaliação psicológica, o qual não detalha de forma

objetiva os critérios a serem aferidos e não menciona a legislação correspondente

para que seja aplicado o teste psicológico nos candidatos.

Dessa forma, se não há previsão legal para a realização do

exame psicotécnico/avaliação psicológica para determinado cargo, esta avaliação não

pode servir como etapa eliminatória no concurso público.

Nesse sentido, confira-se a jurisprudência:

Ementa: MANDADO DE SEGURANÇA. CONSELHO NACIONAL DOMINISTÉRIO PÚBLICO. CONTROLE DE LEGALIDADE DE ATOPRATICADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO DE RONDÔNIA.CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO. PREVISÃO EMLEI. CRITÉRIOS OBJETIVOS. ORDEM DENEGADA. I O art. 5º, I,�da Lei 12.016/2009 não configura uma condição de procedibilidade,mas tão somente uma causa impeditiva de que se utilizesimultaneamente o recurso administrativo com efeito suspensivo e omandamus. II � A questão da legalidade do exame psicotécniconos concursos públicos reveste-se de relevância jurídica eultrapassa os interesses subjetivos da causa. III � A exigência deexame psicotécnico, como requisito ou condição necessária aoacesso a determinados cargos públicos, somente é possível, nostermos da Constituição Federal, se houver lei em sentidomaterial que expressamente o autorize, além de previsão noedital do certame. IV � É necessário um grau mínimo deobjetividade e de publicidade dos critérios que nortearão aavaliação psicotécnica. A ausência desses requisitos torna o atoilegítimo, por não possibilitar o acesso à tutela jurisdicional para averificação de lesão de direito individual pelo uso desses critérios V -Segurança denegada.(STF - MS: 30822 DF , Relator: Min. RICARDO LEWANDOWSKI,Data de Julgamento: 05/06/2012, Segunda Turma, Data dePublicação: DJe-124 DIVULG 25-06-2012 PUBLIC 26-06-2012)

MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. EXAMEPSICOTÉCNICO. CARÁTER CLASSIFICATÓRIO. Em respeito ao�contraditório e à legalidade, não se admite que sejam adotadoscritérios subjetivos na avaliação psicotécnica e nem mesmo que estessejam obscuros, pois, o edital de concurso público há de prever

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

objetivamente e com transparência os critérios a serem adotados. �Este teste possui um caráter meramente eliminatório, poisproporciona a avaliação psíquico-intelectual do candidato para averificação de sua aptidão às funções inerentes ao cargo, esta é asua finalidade e não a de interferir na classificação dos candidatos. �No caso concreto, verifica-se a ausência no edital da devidaespecificação quanto aos critérios regedores do exame supracitado,além da incidência de natureza classificatória neste, logo, os seusefeitos se revestem de plena nulidade. Apelação e remessaobrigatória improvidas.(TRF-5 - AMS: 99785 SE 0000542-09.2007.4.05.8500, Relator:Desembargador Federal José Maria Lucena, Data de Julgamento:24/04/2008, Primeira Turma, Data de Publicação: Fonte: Diário daJustiça - Data: 29/05/2008 - Página: 410 - Nº: 101 - Ano: 2008)

Posto isso, não há dúvidas de que o exame psicotécnico

exigido pelo Edital nº 001/2014 afronta a Constituição Federal e vai de encontro à

Súmula Vinculante nº 44, razão pela qual esta fase deve ser excluída do certame.

5. AVALIAÇÃO DA VIDA PREGRESSA. DESARRAZOABILIDADE DA

AVALIAÇÃO. FALTA DE CRITÉRIOS OBJETIVOS:

A quinta fase da primeira etapa do concurso regido pelo

Edital nº 001/2015, além da avaliação psicológica, também consistia na análise da vida

pregressa do candidato.

Uma enxovalhada de representações foram encaminhadas

ao Ministério Público narrando que diversos candidatos haviam sido reprovados na

análise da vida pregressa meramente por possuírem dívidas e estarem com seus nomes

negativados nos órgãos de proteção ao crédito.

O Ministério Público solicitou a comissão organizadora

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

do concurso que encaminhasse os laudos dos exames da vida pregressa dos

candidatos, porém, ela negou a apresentá-los.

De qualquer modo, a jurisprudência tem firmado

posicionamento no sentido de que viola os princípios da proporcionalidade,

razoabilidade, eficiência e isonomia a não habilitação de candidato pelo fato de ter o

seu nome inscrito em cadastro de inadimplentes, confira-se:

APELAÇÃO. CONCURSO PÚBLICO. TÉCNICO PENITENCIÁRIO.SINDICÂNCIA DA VIDA PREGRESSA E INVESTIGAÇÃO SOCIAL.REGISTRO NO CADASTRO DE INADIMPLENTES. CHEQUE SEMFUNDOS. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE E DARAZOABILIDADE. ISONOMIA E EFICIÊNCIA. VIOLAÇÃO.A não habilitação de candidato a concurso público, na fase desindicância da vida pregressa e investigação social, pelo fato de ter onome inscrito em cadastros de inadimplentes e por haver emitidocheque sem provisão de fundos, viola os princípios da razoabilidade,da proporcionalidade, da eficiência e da isonomia.Recurso e remessa oficial conhecidos e improvidos.(Acórdão n.482033, 20080111354429APC, Relator: SOUZA E AVILA,Revisor: ROMEU GONZAGA NEIVA, 5ª Turma Cível, Data deJulgamento: 16/02/2011, Publicado no DJE: 22/02/2011. Pág.: 157)

Obtempera-se que o enunciado acima transcrito foi firmado

em situação absolutamente análoga a ora tratada, pois referia-se ao exame da vida

pregressa de candidatos as carreiras de atividade penitenciária do DF.

Assim, segundo o cronograma do concurso, como o

resultado definitivo desta fase do concurso ocorrerá no dia 29/10/2015 e o curso de

formação iniciará no dia 03/11/2015, necessário a suspensão desta fase e a intervenção

deste Juízo para determinar que a Comissão do Concurso remeta todos os documentos

pertinentes a análise da vida pregressa dos candidatos, contendo as razões de

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

reprovação dos candidatos.

III – DA MEDIDA LIMINAR

Para efetividade da prestação jurisdicional aqui pleiteada,

afigura-se imperiosa a concessão de liminar/cautelar nos autos principais desta ação,

consistente:

1. na suspensão da cláusula de barreira estabelecida no subitem 16.6 do

Edital nº 001/2014, permitindo que todos os candidatos classificados nas

fases anteriores façam o curso de formação, até o limite de 1.930 (mil

novecentos e trinta) vagas;

2. na suspensão da quinta fase da primeira etapa do concurso público

regido pelo Edital nº 001/2014, consistente na avaliação psicológica e na

análise da vida pregressa dos candidatos;

3. suspender o início do curso de formação consistente na segunda

etapa do concurso 001/2014 por, no mínimo, 15 (quinze) dias;

Mencionadas medidas liminares se baseiam no art. 12 da

Lei 7.347/85 e no poder geral de cautela, disposto nos arts. 798 e 799 do Código de

Processo Civil, que pregam:

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

Art. 12 - Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ousem justificação prévia, em decisão sujeita a agravo.

Art. 798 - Além dos procedimentos cautelaresespecíficos, que este Código regula no Capítulo II desteLivro, poderá o juiz determinar as medidas provisóriasque julgar adequadas, quando houver fundado receio deque uma parte, antes do julgamento da lide, cause aodireito da outra lesão grave e de difícil reparação.

Art. 799 - No caso do artigo anterior, poderá o juiz, paraevitar o dano, autorizar ou vedar a prática dedeterminados atos, ordenar a guarda judicial de pessoase depósito de bens e impor a prestação de caução.

O art. 12 da Lei 7.347/85 prevê expressamente que a

liminar pode ser concedida com ou sem justificação prévia para evitar dano irreparável

ou de difícil reparação, desde que presentes, claro, os requisitos autorizadores do

fumus boni júris e do perículum in mora, pressupostos estes que se encontram

presentes no caso em tela.

O fumus boni juris está contido em toda a fundamentação

jurídica desenvolvida nesta petição inicial, bem como nos documentos inclusos, que

demonstram que o ESTADO DE GOIÁS está fraudando concurso público para

permitir a contratação de um elevado número de servidores terceirizados.

Por sua vez, o periculum in mora deve-se ao fato de que o

curso de formação para os candidatos aprovados na primeira etapa do concurso

iniciará no próximo dia 03/11/2015, de modo que se não houver o provimento liminar,

o direito dos candidatos que tiverem sido irregularmente reprovados restará

comprometido.

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

Obtempera-se que o ESTADO DE GOIÁS estabeleceu no

cronograma do concurso que a inscrição no curso de formação se dará no dia

02/11/2015, no dia do feriado de finados, certamente para dificultar a análise judicial

das ações que forem protocolizadas e também criar barreiras aos candidatos.

Registra-se ainda que com base em todos os argumentos

que foram narrados, não faz sentido excluir diversos candidatos que se encontram

aptos a participarem do curso de formação quando o próprio ESTADO DE GOIÁS

demonstrou de forma inequívoca a necessidade de prover 5 (cinco) vezes o número de

vagas ofertadas.

Por fim, faz necessário lembrar que a própria Associação

dos Agentes Prisionais declarou que custeará o curso de formação, não havendo

nenhum ônus financeiro para o ESTADO DE GOIÁS.

IV - DOS PEDIDOS:

Pelo exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO

DE GOIÁS requer:

1. seja esta petição inicial registrada e autuada juntamente com os

documentos que a acompanham;

2. a concessão de medida liminar/cautelar inaudita altera pars

para:

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

2.1) suspender a cláusula de barreira estabelecida no

subitem 16.6 do Edital nº 001/2014, permitindo que todos

os candidatos classificados nas fases anteriores façam o

curso de formação, até o limite de 1.930 (mil novecentos e

trinta) vagas;

2.2) suspender a quinta fase da primeira etapa do concurso

público regido pelo Edital nº 001/2014, consistente na

avaliação psicológica e na análise da vida pregressa dos

candidatos;

2.3) suspender o início do curso de formação consistente na

segunda etapa do concurso 001/2014, por, no mínimo, 15

(quinze) dias, período necessário para análise dos

documentos referentes aos testes psicotécnico e da vida

pregressa dos candidatos;

Para cumprimento desta medida, o Ministério Público

requer que este Juízo requisite da Comissão Organizadora

do Concurso cópia dos testes psicotécnico e da vida

pregressa dos candidatos reprovados nessas etapas,

contendo as justificativas para reprovação.

3. o recebimento da petição inicial, citando-se os Requeridos para

oferecimento de contestação, sob pena de revelia;

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78ª Promotoria de Justiça de Goiânia – Defesa do Patrimônio Público_______________________________________________________________

4. seja julgado procedente o pedido, em todos os seus aspectos,

para:

4.1) confirmar a medida liminar, declarando-se,

consequentemente NULOS o subitem 16.6 do Edital nº

001/2014 (cláusula de barreira) e o subitem 1.3.1 “e”

(quinta etapa da primeira fase), permitindo que todos os

candidatos aprovados nas fases anteriores sejam

classificados e, os que ultrapassarem o número limite de

vagas, aptos ao cadastro de reserva;

4.3) seja declarado NULO o processo seletivo nº 002/2015

por afrontar flagrantemente a regra do concurso público

disposta no artigo 37, II, CF “ou” que ele seja declarado

válido apenas para suprir a necessidade das vagas

remanescentes do concurso público;

5. requer a produção de todos os meios de provas admitidos em

direito, inclusive, a juntada dos autos do ICP nº 201500126593 que

segue em anexo;

6. a condenação dos requeridos ao pagamento de custas

processuais e demais verbas de sucumbência;

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

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Goiânia, 29 de outubro de 2015.

VILLIS MARRAPromotora de Justiça

Defesa do Patrimônio Público

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