uns gananciosos estes trabalhadores

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Daniel Oliveira: Antes pelo contrário Uns gananciosos, estes trabalhadores Daniel Oliveira (www.expresso.pt) 9:00 Terça-feira, 13 de Abril de 2010 A Administração que suga quase três por cento dos lucros da Galp nos seus próprios salários e benefícios acusa os funcionários de falta de solidariedade por quererem um aumento. A Galp propôs aos seus funcionários um aumento de 1,5 por cento. Os trabalhadores vão fazer uma greve. O presidente do conselho de Administração, Ferreira de Oliveira, acusou os trabalhadores de "falta de solidariedade para com o futuro da empresa". Alguns dados: 1 - Ferreira de Oliveira recebeu, em 2009 , quase 1,6 milhões de euros, dos quais mais de um milhão em salários, 267 mil em PPR, quase 237 mil euros de prémios de desempenho (mais de 600 mil em 2008) e 62 mil para as suas despesas de deslocação e renda de casa. É um dos gestores mais bem pagos deste país. 2 - Os sete administradores da empresa (ex-ministros Fernando Gomes e Murteira Nabo incluídos) receberam 4,148 milhões de euros. Mais subsídio de renda de casa ou de deslocação, no valor de três mil euros mensais. Os 13 administradores não executivos receberam 2,148 milhões de euros. Entre os administradores não executivos está José António Marques Gonçalves, antigo CEO da petrolífera, que levou para casa uma remuneração total de 626 mil euros, incluindo 106 mil de PPR e 94 mil de bónus. No total, os 20 gestores embolsaram 6,2 milhões de euros, 2,9% dos lucros da companhia. 3 - Os trabalhadores pedem um aumento de 2,8 por cento no mínimo de 55 euros. Perante estas exigências de aumento, a administração que recebe estes salários diz que, tendo sido estes dois últimos dois anos "de crise", elas são "impossíveis de satisfazer". 4 - A Galp não está em dificuldades. Os lucros ascenderam, no ano passado, a 213 milhões de euros. No ano anterior foram de 478 milhões de euros. A empresa vai distribuir dividendos pelos accionistas. Mas ao contrário do que tem acontecido nos últimos cinco anos os trabalhadores ficam de fora. "Não é possível distribuir resultados que não alcançámos", diz Ferreira de Oliveira, que, tal como o resto da administração, não deixou de receber o seu prémio pelos resultados que não alcançou. Os factos comentam-se a si mesmos. Por isso, ficam apenas umas notas:

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  • Daniel Oliveira: Antes pelo contrrio

    Uns gananciosos, estes trabalhadores Daniel Oliveira (www.expresso.pt) 9:00 Tera-feira, 13 de Abril de 2010

    A Administrao que suga quase trs por cento dos lucros da Galp nos seus prprios salrios e benefcios acusa os funcionrios de falta de solidariedade por quererem um aumento.

    A Galp props aos seus funcionrios um aumento de 1,5 por cento. Os trabalhadores vo fazer uma greve. O presidente do conselho de Administrao, Ferreira de Oliveira, acusou os trabalhadores de "falta de solidariedade para com o futuro da empresa".

    Alguns dados:

    1 - Ferreira de Oliveira recebeu, em 2009 , quase 1,6 milhes de euros, dos quais mais de um milho em salrios, 267 mil em PPR, quase 237 mil euros de prmios de desempenho (mais de 600 mil em 2008) e 62 mil para as suas despesas de deslocao e renda de casa. um dos gestores mais bem pagos deste pas.

    2 - Os sete administradores da empresa (ex-ministros Fernando Gomes e Murteira Nabo includos) receberam 4,148 milhes de euros. Mais subsdio de renda de casa ou de deslocao, no valor de trs mil euros mensais. Os 13 administradores no executivos receberam 2,148 milhes de euros. Entre os administradores no executivos est Jos Antnio Marques Gonalves, antigo CEO da petrolfera, que levou para casa uma remunerao total de 626 mil euros, incluindo 106 mil de PPR e 94 mil de bnus. No total, os 20 gestores embolsaram 6,2 milhes de euros, 2,9% dos lucros da companhia.

    3 - Os trabalhadores pedem um aumento de 2,8 por cento no mnimo de 55 euros. Perante estas exigncias de aumento, a administrao que recebe estes salrios diz que, tendo sido estes dois ltimos dois anos "de crise", elas so "impossveis de satisfazer".

    4 - A Galp no est em dificuldades. Os lucros ascenderam, no ano passado, a 213 milhes de euros. No ano anterior foram de 478 milhes de euros. A empresa vai distribuir dividendos pelos accionistas. Mas ao contrrio do que tem acontecido nos ltimos cinco anos os trabalhadores ficam de fora. "No possvel distribuir resultados que no alcanmos", diz Ferreira de Oliveira, que, tal como o resto da administrao, no deixou de receber o seu prmio pelos resultados que no alcanou.

    Os factos comentam-se a si mesmos. Por isso, ficam apenas umas notas:

  • A administrao que suga (com uma grande contribuio do seu CEO) quase trs por cento dos lucros de uma das maiores empresas nacionais acusa os trabalhadores de falta de solidariedade por quererem um aumento de 2,8 por cento. E que a greve "no defende os interesses nem de curto nem de longo prazo dos que trabalham e muito menos dos que aspiram a vir a trabalhar" na Galp.

    De facto, ex-ministros pensaro duas vezes em escolher aquela empresa para dar conforto sua reforma se os trabalhadores receberem 2,8 por cento de aumento. De facto, um futuro CEO que precise de receber mais de sessenta mil euros para pagar a sua renda de casa e deslocaes (que um milho nem d para as despesas) pensar duas vezes antes de aceitar o cargo se os funcionrios que menos recebem tiverem um aumento de 55 euros mensais. De facto, gestores que recebem prmios por "resultados no alcanados" no aceitaro dirigir uma empresa que distribui dividendos quando os lucros baixam.

    A ganncia destes trabalhadores desmoraliza qualquer homem de negcios mais empenhado. Assim este Pas no vai para a frente. A ver se os trabalhadores da Galp percebem: todos temos de fazer sacrifcios.