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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE PSICOLOGIA Maikel Braz Santos ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: DIRETRIZES PARA PROMOÇÃO DA SAÚDE Governador Valadares 2011

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

CURSO DE PSICOLOGIA

Maikel Braz Santos

ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: DIRETRIZES PARA PROMOÇÃO DA SAÚDE

Governador Valadares

2011

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MAIKEL BRAZ SANTOS

ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: DIRETRIZES PARA PROMOÇÃO DA SAÚDE

Monografia para obtenção do grau de

bacharel em Psicologia, apresentada à

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da

Universidade Vale do Rio Doce.

Orientadora: Solange Nunes Leite Coelho

Governador Valadares

2011

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MAIKEL BRAZ SANTOS

ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: DIRETRIZES PARA PROMOÇÃO DA SAÚDE

Monografia para obtenção do grau de

bacharel em Psicologia, apresentada à

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da

Universidade Vale do Rio Doce.

Governador Valadares, 21 de junho de 2011.

Banca Examinadora:

__________________________________________

Prof. Solange Nunes Leite Coelho - Orientadora

Universidade Vale do Rio Doce

__________________________________________

Prof. Patrícia Malta Pinto

Universidade Vale do Rio Doce

__________________________________________

Prof. Tandrécia de Oliveira

Universidade Vale do Rio Doce

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Dedico esta monografia primeiramente a

Deus base de nossa existência,

à minha família, pela dedicação,

apoio, compreensão e

incentivo ao longo

desses anos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelas oportunidades que me foram dadas na vida, principalmente

por ter conhecido pessoas e lugares interessantes, mas também por ter vivido fases

difíceis, que foram matérias-primas de aprendizado.

Não posso deixar de agradecer aos meus pais Braz e Genessi, sem os quais não

estaria aqui, e por terem me fornecido condições para me tornar a pessoa que sou.

A minha irmã Makelle, que desde pequeno me ensinou diversas coisas e me

incentivou sempre aos estudos.

À minha orientadora Solange Coelho, pela paciência, dedicatória e à imensa ajuda

para a conclusão deste trabalho.

A todos os amigos e pessoas que de alguma forma contribuíram para que este

trabalho fosse possível.

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“Não importa onde você parou, em que momento da vida

você cansou, o que importa é que sempre é possível e

necessário "Recomeçar". Recomeçar é dar uma nova

chance a si mesmo. É renovar as esperanças na vida e

o mais importante: acreditar em você de novo”

Paulo Roberto Gaefke

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RESUMO

O uso de drogas, substâncias que interferem no Sistema Nervoso Central alterando

o seu funcionamento e provocando sensações como relaxamento, prazer, ânimo e

euforia, é frequente na história da humanidade. Esta prática faz parte da cultura

humana como instrumento para favorecer o enfrentamento de situações adversas,

facilitar relações interpessoais e sociais, assim como promover ânimo, divertimento,

consolo e apaziguamento de sentimentos como angústia e ansiedade.

Simultaneamente às transformações da organização social, na atualidade

caracterizada pelo consumismo e pelos excessos estimulados pela lógica do

mercado capitalista, assiste-se as inadequações da relação entre as pessoas e

destas com as coisas em geral. Observa-se ainda que o consumo de álcool, tabaco

e fármacos são frequentemente estimulados pela mídia e que mantém-se a

disponibilidade de drogas ilícitas às crianças, adolescentes e jovens, apesar dos

claros danos que proporcionam à saúde, à qualidade de vida e à convivência social.

Neste contexto o aumento do consumo de drogas tem resultado em diversos

problemas nos âmbitos pessoais e sociais, gerando discussões sobre o tema no

sentido de compreender o fenômeno nos seus aspectos biopsicossociais, elaborar

políticas públicas e planejar ações que possibilitem o enfrentamento da situação de

forma eficiente. Assim sendo propõe-se como questão para presente estudo: Como

promover saúde no contexto do uso abusivo de álcool e drogas? O objetivo que se

pretende alcançar é compreender os fatores de risco e proteção para o

comportamento abusivo de álcool e drogas, assim como diretrizes para a de

promoção de saúde neste contexto. O método utilizado é a revisão de literatura com

análise qualitativa dos dados.

PALAVRAS-CHAVE: Drogas; fatores de risco; fatores de proteção; políticas

públicas; promoção de saúde.

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ABSTRACT

The use of drugs, substances that interfere with central nervous system by changing

its operation, causing sensations such as relaxation, pleasure, mood and euphoria,

often in human history. This practice is part of human culture as a tool to facilitate

coping with adverse situations, facilitate interpersonal and social relations as well as

promoting courage, fun, comfort and appeasement of feelings such as grief and

anxiety. Simultaneously with the transformation of social organization, today

characterized by consumerism and the excesses encouraged by the logic of the

capitalist market, we are witnessing the inadequacies of the relationship between

people and with those things in general. They also observed that the consumption of

alcohol, tobacco and drugs are often encouraged by the media and maintains the

availability of illicit drugs to children, adolescents and young adults, despite the clear

damage that provide health, quality of life and social life. In this context the increase

of drug use has resulted in several problems in personal and social spheres,

generating discussion on the subject in order to understand the phenomenon in their

biopsychosocial aspects, develop public policies and planning measures that enable

coping with the situation effectively . Therefore it is proposed as a question for this

study: How to promote health in the context of the abuse of alcohol and drugs? The

goal to be achieved is to understand the risk and protective factors for alcohol abuse

and drugs as well as guidelines for health promotion in this context. The method used

is a literature review with qualitative data analysis. .

KEYWORDS: Drugs, risk factors, protective factors, public policies and health

promotion.

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SUMÁRIO

1INTRODUÇÃO......................................................................................................10

2 O USO DE DROGAS NA CULTURA...................................................................12

2.1 CARACTERIZAÇÃO DO USO ABUSIVO DE SUBSTÂNCIAS

PSICOATIVAS.........................................................................................................13

3 FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO PARA O COMPORTAMENTO ABUSIVO

DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS.......................................................................19

4 INTERVENÇÃO NO CONTEXTO DE ABUSO DE ÁLCOOL E DROGA............32

5 CONCLUSÃO .....................................................................................................40

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................42

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INTRODUÇÃO

As drogas ou substâncias psicoativas, que alteram o funcionamento do sistema

nervoso central provocando sensação de prazer, são usadas pelos homens há milhares de

anos como um recurso ao enfrentamento de situações adversas, para celebrar momentos

significativos, em confraternizações, em rituais, como analgésicos, como estimulantes,

energéticos ou relaxantes.

A cultura sempre apontou o uso adequado, assim como traçou limites para os

excessos, para o comportamento compulsivo e destrutivo. Embora fosse notória a

dificuldade para alguns de manter seu padrão de consumo de acordo com o recomendado.

Mediante os riscos, alguns grupos sociais optaram pelo absenteísmo e pela coerção, outros

constituíram normas para o seu de drogas, classificando em lícitas e ilícitas, com controle de

prescrição no caso de fármacos e com orientações para o equilíbrio e autocontrole daquelas

com comércio permitido.

Na época moderna segundo Carneiro (2009) as substâncias psicoativas passaram

a ser industrializadas, comercializadas, disponibilizadas para quase toda a população. E

desde então tem sido discutido o controle de publicidade, vendas e consumo de modo a

evitar os danos advindos do consumo abusivo.

No Brasil a Lei nº 6.368 de 1976 do Código Penal foi aprovada como um primeiro

passo na estruturação de medidas oficiais de prevenção e repressão ao comércio ilícito e

uso inadequado de drogas que poderiam causar dependência. Nos anos subseqüentes

foram criados órgãos governamentais ligados ao Ministério da Justiça. Mais recentemente

as discussões foram ampliadas a toda a sociedade com o ideal de construção de uma rede

de proteção social ao uso indevido de drogas, do desenvolvimento de dependência e do

tráfico.

Na atualidade diante da proliferação de drogas lesivas ao organismo e alarmante

aumento do consumo de álcool resultado da diminuição do controle social sobre o

comportamento dos indivíduos, constata-se enormes prejuízos pessoais e sociais o que tem

mobilizado pesquisadores, profissionais das diversas áreas, políticos, lideranças religiosas,

e a sociedade de modo geral em debates sobre a adequação das políticas, da condutas

adequadas a serem adotadas, de estratégias para enfrentamento, do financiamento das

práticas de coerção e dos tratamentos ofertados.

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Em 1998 aprovou-se a Política Nacional Antidrogas com o objetivo de estabelecer

os fundamentos, objetivos, diretrizes e estratégias para o planejamento de ações de

prevenção e cuidado dos usuários de drogas. A política tornou-se referencial para a

articulação das práticas, integração dos atores sociais e setores da sociedade no

planejamento de estratégias de enfrentamento.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde cerca de 10% das populações

das metrópoles fazem uso abusivo de substâncias psicoativas. São frequentes, na literatura

publicada associações entre abuso de álcool e outras drogas com violência, baixo índice de

escolaridade, desemprego, exclusão social e violação de direitos.

Em 2003, o Ministério da Saúde publicou a Política de Atenção Integral aos

Usuários de Álcool e outras Drogas, apontando parâmetros para o campo da saúde e

demais setores governamentais no planejamento de ações. Neste cenário, a contribuição da

Psicologia enquanto ciência e profissão torna-se fundamental. Porém permanece a

necessidade de aprofundar as investigações científicas neste campo, avaliar e aprimorar os

métodos de intervenção com o objetivo de aumentar o impacto das intervenções propostas.

Entendendo o campo da formação acadêmica como motivador de reflexão e

produção de saber e respondendo à provocação experimentada a partir da vivência

enquanto estagiário de Saúde Mental num Centro de Atenção psicossocial em Álcool e

Drogas propõe-se como questão de investigação neste estudo de conclusão de curso:

Como promover saúde no contexto do uso abusivo de álcool e drogas?

Para tanto optou-se pelo método de revisão da literatura sobre o tema com análise

qualitativa dos dados obtidos, cuja síntese resultou no presente trabalho monográfico. O

objetivo traçado foi compreender os fatores de risco e proteção para o comportamento

abusivo de álcool e drogas, assim como diretrizes para a promoção de saúde neste

contexto.

Os capítulos foram divididos em três, constituindo o primeiro da definição de

conceitos fundamentais ao entendimento dos efeitos causados pelas substâncias

psicoativas no Sistema Nervoso Central. O segundo capítulo descreve os fatores de risco e

proteção para o comportamento abusivo de substâncias psicoativas conforme apontado e

discutido pelos autores na literatura revisada. E o terceiro capítulo indica as diretrizes

indicadas pelas políticas públicas para o planejamento estratégico de ações de promoção de

saúde.

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2 O USO DE DROGAS NA CULTURA

O álcool é a substância psicoativa mais utilizada pela humanidade desde o

os tempos mais remotos. Em trechos bíblicos do velho testamento, fica clara a

influência de aspectos psicológicos, genéticos, morais e ambientais em situações de

abuso de derivado elítico. (MARQUES, 2001)

Com o aumento da disponibilidade, O marketing e as características da

organização social contemporânea, o consumo de álcool passou a ser mais

freqüente e abusivo diferente da situação anterior em que seu uso era designado a

rituais religiosos ou festivos.

Por volta do século 385 AC, Hipócrates, filósofo grego considerado pai da

medicina, descreveu o uso do álcool como um fator que poderia causar diversas

doenças e relatou a respeito do delirium tremens que foi definido posteriormente em

seu livro sobre as epidemias (FORTES, 1975).

No século XVIII destacam-se dois autores: Benjamin Rush e Thomas Trotter,

o primeiro um psiquiatra americano, foi quem considerou o uso disfuncional do álcool

como uma doença ou “transtorno da vontade”, o segundo foi quem, pela primeira

vez, referiu-se ao alcoolismo como doença difundindo este conceito pelo mundo

(MARQUES, 2001).

Desde o início do século XIX representantes da sociedade e da comunidade

científica discutiram a etiologia da dependência dos derivados etílicos e métodos de

intervenção e enfrentamento. Ao final do século, alguns pesquisadores começaram

a discutir também o uso abusivo de outras substâncias psicoativas, conceituando

este comportamento como um hábito genético relacionando-o com uma

vulnerabilidade biológica individual, fosse ela herdada ou adquirida (MARQUES,

2001).

Após a Revolução Industrial, com as más condições de trabalho e alienação

do processo produtivo, houve um aumento no consumo de álcool, causando grandes

problemas por seu uso abusivo e sem controle. Isso gerou uma pressão por parte da

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opinião pública chamando a atenção dos cientistas da época, que se viram

obrigados a desenvolverem pesquisas acerca do assunto. (FORTES, 1975)

Na segunda metade do século XX, considera-se relevante o estabelecimento

de critérios para classificar o uso abusivo de álcool, distinguindo o padrão

considerado doença. Evidencia-se aqui o nome de Jellinek, que exerceu grande

influência na evolução do conceito desta dependência, considerando o alcoolismo

como doença apenas quando o usuário apresenta tolerância, abstinência e perda do

controle (GIGLIOTTI, 2004).

As iniciativas da sociedade para controlar o consumo do álcool, se deram

numa perspectiva moral, que considerava tal substância potencialmente geradora de

problemas. (MIJARES, 2011)

Em seguida o alcoolismo é incluído no Manual de Diagnóstico e Estatístico

das Desordens Mentais (DSM-I) da Associação Psiquiátrica Americana (APA) em

1952 e na segunda edição desse manual (DSM-II) seguiu a Classificação

Internacional das Doenças (CID-8) da Organização Mundial de Saúde (OMS), que

dividia os quadros clínicos em três categorias: dependência, episódios de beber

excessivo (abuso) e beber excessivo habitual (MARQUES, 2001).

2.1 CARACTERIZAÇÃO DO USO ABUSIVO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

Na década de 70 a Organização Mundial de Saúde definiu a dependência de

álcool como um conjunto de sintomas graves e contínuos decorrentes do uso

abusivo. As nomenclaturas se consolidaram, sendo consenso nos instrumentos

diagnósticos subseqüentes como o DSM-IV e a CID-10. Faz-se relevante para o

diagnóstico e tratamento definir e classificar os quadros clínicos que serão descritos

a seguir.

Atualmente considera-se abuso de álcool e outras drogas o uso compulsivo

e freqüente destas substâncias, seguido da dificuldade que o usuário apresenta em

controlar o seu consumo, o que pode causar desinteresse em outras atividades

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acarretando danos para sua vida afetiva, social e profissional (MINAS GERAIS,

2006).

É importante lembrar que o consumo excessivo de substâncias psicoativas,

que são substâncias que alteram o funcionamento do Sistema Nervoso Central, em

particular o álcool, pode desenvolver progressivamente manifestações clínicas, tais

como: transtornos mentais agudos e sub-agudos, transtornos amnésticos e

transtornos orgânicos (MINAS GERAIS, 2006).

Entende-se como Transtorno Mental Agudo o estado de intoxicação mais

conhecido como embriaguez, normalmente é obtida voluntariamente. No estado de

intoxicação a pessoa tem alteração da fala, perda da coordenação motora,

instabilidade no andar, nistagmo (ficar com olhos oscilando no horizontalmente como

se estivesse lendo muito rápido), prejuízos na memória e na atenção, estupor ou

coma nos casos mais extremos. Normalmente junto a essas alterações neurológicas

apresenta-se um comportamento inadequado ou impróprio da pessoa que está

intoxicada (MINAS GERAIS, 2006).

O Código de Trânsito Brasileiro estipulava que o limite máximo aceitável de

concentração de álcool no sangue é de 0,6 g (seis decigramas) por litro de sangue,

de acordo com a nova legislação o nível permitido é de apenas 0,1 mg (um

miligrama) por litro de sangue, acima dessa quantidade, o sujeito é considerado

embriagado (BRASIL, 2008).

Os casos de intoxicação de leve intensidade não requer tratamento

medicamentoso, apenas deve-se manter uma vigilância cuidadosa do paciente e

uma verificação dos dados vitais até a melhora clínica do paciente. Já em casos de

intensa agitação ou agressividade, além do apoio verbal contínuo até que os efeitos

se dissipem, é indicado o uso de tranqüilizantes tendo o cuidado de não fazer uso

desse tipo de medicamento quando o individuo apresentar sintomas da síndrome de

abstinência (MINAS GERAIS, 2006).

A redução ou a interrupção do uso do álcool em pacientes dependentes

produz um conjunto bem definido de sintomas chamado de síndrome de abstinência.

Embora alguns pacientes possam experimentar sintomas leves, existem aqueles que

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podem desenvolver sintomas e complicações mais graves, levando-os até a morte.

(MINAS GERAIS, 2006)

Na forma mais leve de abstinência, os sinais e sintoma, dependendo do tipo

de substância utilizada, aparecem em algumas horas ou dias depois que ela foi

consumida pela última vez (MARQUES, 2001). Nos casos dos dependentes de

álcool, por exemplo, a abstinência pode provocar tremores, aumento da sudorese,

aceleração do pulso, insônia, náuseas, vômitos e ansiedade, após o uso repetido e

prolongado ou após a ingestão de uma alta dose. A síndrome de abstinência leve

não precisa necessariamente surgir com todos esses sintomas, na maioria das

vezes, inclusive, limita-se aos tremores, insônia e irritabilidade.

Segundo Laranjeiras:

Alguns fatores estão associados a uma evolução mais grave, e funcionam como preditores de gravidade da Síndrome de Abstinência Alcoólica, tais como: história anterior de síndrome de abstinência grave (repetidas desintoxicações); alcoolemia alta sem sinais clínicos de intoxicação; sintomas de abstinência com alcoolemia alta; uso de tranqüilizantes e hipnóticos; e associação de problemas clínicos e psiquiátricos. (LARANJEIRAS, 2000, p.64)

A síndrome de abstinência torna-se mais perigosa quando o paciente

apresenta o Delirium Tremens, que se inicia até 72 horas (embora possa começar

depois de até sete dias) após a abstinência e pode ser definido como uma

perturbação da consciência acompanhada por diversos sintomas psíquicos e físicos,

como a insônia, tremores, medo, convulsões, confusão mental, alucinações e ilusões

vividas, causando alterações senso-perceptivas com tremores marcantes. Delírios,

agitação, insônia e hiperatividade poderão também estar presentes. (MINAS

GERAIS, 2006)

As alucinações táteis e visuais, são definidos como Delirium Alcoólico Sub-

agudo, em que o indivíduo "vê" insetos ou animais asquerosos próximos ou andando

pelo seu corpo. Esse tipo de alucinação pode levar o paciente a um estado de

agitação violenta para tentar livrar-se dos animais que o atacam. O que ocorre neste

caso é uma redução do nível de consciência, prejudicando a orientação e atenção

do indivíduo. (LARANJEIRA, 2000; MACIEL, 2004)

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Outro transtorno sub-agudo é denominado alucinose alcoólica, esse quadro

se caracteriza essencialmente por alucinações proeminentes, vívidas, intensas,

persistentes, principalmente auditivas (também podem ser visuais), sem alteração do

nível de consciência, intensamente desagradáveis, que normalmente duram menos

de uma semana (mas podem durar semanas ou meses). Não há,

caracteristicamente, muita agitação e tremores. O tratamento dessa condição é feito,

usualmente, com benzodiazepínicos, não descartando a administração em doses

consideravelmente baixas de antipsicóticos quando necessários (MINAS GERAIS,

2006).

São definidos como Transtornos Amnésticos, o déficit grave de memória que

ocorre em alcoolista com alto padrão de ingestão e abuso prolongado. Está

associado à deficiência de vitamina B1 ou tiamina, devido aos maus hábitos

alimentares ou até mesmo aos problemas de absorção desta substância

relacionados ao alcoolismo (MINAS GERAIS, 2006).

A chamada Síndrome Wernicke-Korsakoff (SWK) é caracterizada por

descoordenação motora, movimentos oculares rítmicos como se estivesse lendo

(nistagmo) e paralisia de certos músculos oculares, provocando algo parecido ao

estrabismo para quem antes não tinha nada. Além desses sinais neurológicos o

paciente pode estar em confusão mental, ou se com a consciência clara, pode

apresentar prejuízos evidentes na memória recente. Este quadro deve ser

considerado uma emergência, pois requer imediata reposição da vitamina

B1(tiamina) para evitar um agravamento do quadro. Os sintomas neurológicos acima

citados são rapidamente revertidos com a reposição da tiamina, mas o déficit da

memória pode se tornar permanente. Quando isso acontece o paciente apesar de

ter a mente clara, e várias outras funções mentais preservadas, torna-se uma

pessoa incapaz de manter suas funções sociais e pessoais. (LARANJEIRA, 2000)

Os Transtornos Orgânicos decorrentes do abuso de álcool pode ser a causa

direta ou um forte agravador para doenças, por exemplo, a Síndrome Demencial

Alcoólica que é semelhante à demência propriamente dita como a de Alzheimer. O

uso pesado e prolongado do álcool pode provocar lesões difusas no cérebro

prejudicando além da memória a capacidade de julgamento e a abstração de

conceitos. A personalidade pode se alterar, prejudicando o comportamento como um

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todo. Por esse motivo faz-se necessário uma atenção às condições físicas do

alcoolista. (MACIEL, 2004)

Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (2006), com o

aumento no consumo de álcool o individuo poderá desenvolver tolerância a muitos

dos seus efeitos, sendo necessária ingestão cada vez maior da substância para

apresentar os mesmos efeitos iniciais.

Com o uso prolongado e excessivo de álcool, esse quadro pode evoluir para

uma síndrome de dependência, que é o impulso que leva a pessoa a consumir

derivados etílicos de forma contínua (sempre) ou periódica (freqüentemente) para

obter prazer. Alguns indivíduos podem também fazer uso constante para aliviar

tensões, ansiedades, medos, sensações físicas, desagradáveis, etc. O dependente

alcoólico caracteriza-se por não conseguir controlar o consumo, agindo de forma

impulsiva e repetitiva. A síndrome de dependência alcoólica é um fenômeno que

depende da interação de fatores biológicos e culturais, que determinam como o

indivíduo vai se relacionando com a substância, em um processo de aprendizado

individual e social do modo de se consumir bebidas (MIJARES, 2011 ; GIGLIOTTI,

2004).

Faz-se relevante distinguir as principais formas apresentadas pela

dependência, sendo: física e psicológica.

A dependência física é então conceituada como um estado que resulta das

adaptações de diferentes sistemas afetados pelas drogas. Essas adaptações

manifestam-se como tolerância no decorrer do uso da droga e como síndrome de

abstinência na suspensão de seu uso. Assim, foi proposto que indivíduos que

desenvolvem a dependência física manteriam o uso da droga para evitar o

desconforto da retirada e evitar sintomas aversivos (MARQUES, 2001).

Outras evidências teóricas fundamentam que, essa primeira elaboração

como explicação única da dependência mostrou-se insuficiente, devido às pesquisas

que mostraram que drogas como a cocaína ou a anfetamina não produziam

sintomas de abstinência graves.

A partir disso foi desenvolvido o conceito de dependência psicológica que,

corresponde ao estado de mal-estar e desconforto que surge quando o dependente

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interrompe o uso de uma substância. Os sintomas mais comuns são ansiedade,

sensação de vazio, dificuldade de concentração, que podem variar de pessoa para

pessoa, levando a uma incontrolável e excessiva motivação para o consumo da

droga (MIJARES, 2011; MARQUES 2001).

Com os medicamentos existentes atualmente, a maioria dos casos

relacionados à dependência física podem ser tratados. Por outro lado, o que quase

sempre faz com que uma pessoa volte a usar drogas é a dependência psicológica,

de difícil tratamento e não pode ser resolvida de forma relativamente rápida e

simples como a dependência física.

O desenvolvimento da dependência é parte de um processo de

aprendizagem resultante da satisfação ou reforço desencadeado pelo uso de uma

substância psicoativa, contudo, os efeitos de satisfação, não são os únicos a

justificar a razão pela qual, certas substâncias psicoativas podem conduzir aos

comportamentos associados à dependência. Os sintomas de abstinência podem

contribuir para o consumo e a dependência, mas por si só, também não explicam o

desenvolvimento e a manutenção de tal dependência (especialmente depois de

longos períodos de abstinência), sem contar os indivíduos que persistem

consumindo tais substâncias, mesmo após a vivência de muitos prejuízos pessoais

(GIGLIOTTI; BESSA, 2004).

Sabendo que não existe uma explicação única sobre a etiologia do

alcoolismo, qualquer pessoa que consome álcool pode se tornar dependente. Uma

maior ou menor possibilidade para que isso aconteça, dependerá da interação desta

pessoa com os diferentes fatores de vulnerabilidade, sejam eles biológicos,

psicológicos ou sociais (FORMIGONI ; MONTEIRO, 1997).

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3 FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO PARA O COMPORTAMENTO ABUSIVO

DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

O abuso de álcool e outras drogas representam sem dúvida um problema

muito grave da sociedade contemporânea, segundo o ministério da Saúde,

O uso do álcool é cultural, sendo permitido em quase todas as sociedades do mundo. Informações sobre “saber beber com responsabilidade e as conseqüências do uso inadequado de álcool”, ainda são insuficientes e não contemplam a população de maior risco para o consumo, que são os adolescentes e os adultos jovens. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003 p. 12)

Estima-se que cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo consumam bebidas

alcoólicas e cerca de 76 milhões tenham diagnóstico de alcoolismo. Além de

doenças crônicas, o álcool contribui para a morte ou deficiência de pessoas

relativamente jovens. Existe uma relação considerável entre o álcool e mais de 60

tipos de doenças, além de ser apontado como maior causa de acidentes de carro e

homicídios. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2004).

O abuso de álcool coloca em risco a vida e a saúde das pessoas mesmo em

situações que ainda não seja caracterizada dependência. O álcool é responsável por

30% a 50% dos acidentes graves e fatais de trânsito em diversos países. Seu

consumo tem sido associado à prática de 50% de todos os homicídios, mais de 30%

dos suicídios e tentativas de suicídio e a uma ampla gama de comportamentos

violentos (MINAYO E DESLANDES, 1998).

Estudo realizado pelo CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre

Drogas Psicoativas) em 1997, sobre o uso indevido de drogas constatou que cerca

de 74,1% dos adolescentes, já haviam feito uso de álcool na vida e como

conseqüências, observou-se altos índices de abandono escolar, bem como o

rompimento de outros laços sociais reforçando a percepção pública deste uso como

próximo ao crime. Ao pensar em crianças e adolescentes moradores de rua nota-se

um agravamento, na situação mostrada anteriormente, de uma forma cada vez mais

pesada e precoce. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003)

Na população adulta considera-se que o abuso de álcool é a terceira causa

mais freqüente do absenteísmo ao trabalho no Brasil onde 70% das pessoas são

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consumidoras de álcool e é importante salientar que, em algum ponto da vida, um

quarto delas desenvolverá abuso ou dependência. (FERREIRA; LARANJEIRA,

1998). Além das conseqüências já apresentadas decorrentes do abuso de álcool

destaca-se ainda o grande prejuízo econômico para o país.

Esse fato pode ser confirmado através de uma pesquisa realizada pelo

Governo Federal, acerca dos custos de acidentes de trânsito, onde de acordo com

os dados levantados, 53% dos pacientes atendidos apresentaram índices elevados

de álcool em seus exames de sangue, além do permitido pelo Código de Transito

Brasileiro, em sua maioria pacientes do sexo masculino com idades entre 15 e 29

anos. Em decorrência a estes dados a economia sofre alguns abalos, visto que o

SUS gasta aproximadamente R$ 1.000.000,00 dos recursos do tesouro nacional e

do DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais por Veículos Automotores

Terrestres), com internações e tratamentos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003)

Pode-se afirmar que a relação entre o álcool e os eventos acidentais ou

situações de violência, evidencia o aumento na gravidade das lesões e a redução

dos anos de vida da população, expondo as pessoas a comportamentos de risco.

Para avaliar o nível de vulnerabilidade ao uso abusivo ou desenvolvimento

de dependência de drogas, ao qual uma pessoa se encontra, deve-se ter em vista

os fatores de risco e proteção ao quais está exposta.

Fatores de risco para o uso indevido de drogas são características ou atributos de

um indivíduo, grupo ou ambiente de convívio social que contribuem, em maior ou

menor grau, para aumentar a probabilidade deste uso. É importante lembrar que não

existe um fator único determinante para o uso, podendo existir em cada domínio da

vida no plano individual, familiar, escolar, entre pares e comunitário. (SCHNENKER ;

MINAYO, 2005)

Há um consenso de que o uso/abuso dessas substâncias é multifatorial, com

implicações de fatores psicológicos, biológicos e sociais. Os principais fatores de

risco de abuso que são geralmente relacionados com o uso de álcool e outras

drogas são: curiosidade, obtenção de prazer, relaxamento das tensões psicológicas,

facilitação da socialização, influência do grupo, isolamento social, dinâmica familiar,

baixa auto-estima, manejo inapropriado da mídia na questão das drogas, influências

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genéticas, familiares com problemas com álcool, excessiva medicalização da

sociedade. De uma maneira geral, pode-se dividi-los em fatores internos e externos.

(GIUSTI, 2004)

Segundo Scivoletto (1997) a curiosidade é considerada um dos fatores

internos de maior relevância e muito comum entre os adolescentes, que estão mais

propensos ao uso experimental de substâncias psicoativas. Essa curiosidade leva os

jovens a uma busca por sensações e prazeres diferentes daqueles por eles vividos.

Essa busca associada ao efeito que as drogas proporcionam vão de encontro ao

perfil deste jovem, gerando um prazer passivo e imediato. (SCIVOLETTO, 1997)

A insegurança e sintomas depressivos também são fatores internos que

estão relacionados com a evolução da experimentação para o uso freqüente e

também com o início do uso de substâncias psicoativas, visto que a insatisfação

pessoal, a auto-valoração negativa e a própria insegurança contribuem com o

aumento da curiosidade do adolescente. (SCIVOLETTO, 1997)

Existem ainda outros fatores no plano individual que são: a falta de

autocontrole e de assertividade, o fracasso escolar e a falta de vínculos na escola,

as comorbidades como o transtorno de conduta, ansiedade, depressão, entre outras

e a própria predisposição biológica ao uso de substâncias psicoativas. (GIUSTI;

SCIVOLETTO, 2004)

Segundo a Organização Mundial de Saúde (1997), a adolescência

compreende o período entre 10 e 19 anos de idade e representa uma fase de

grande vulnerabilidade devido aos fatores biopsicossociais que a caracterizam.

Durante este período de transição do estado infantil para o adulto, o

adolescente estabelece a sua identidade pessoal, assume o controle de sua vida

social, adquire maior autonomia, experimenta novos contatos sociais, apresenta

tendências grupais que, associados à curiosidade natural desta fase, aos conflitos

vivenciados e à inserção/aceitação em grupos, torna-os alvos fáceis à

experimentação de novas sensações, entre elas às provocadas pelas substâncias

psicoativas. (MENEZES, 2005)

Quanto à família, esta pode ser um fator protetor ou de risco para o consumo

de substâncias psicoativas. Scivoletto (2001) relata que estudos genéticos

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demonstram que filhos de pais dependentes de álcool e/ou outras drogas, são

quatro vezes mais propensos a se tornarem dependentes. Em contrapartida

Schnenker e Minayo, (2005), afirmam que somente o fator genético não é suficiente

para que os filhos se tornem dependentes, é necessário dar relevância aos padrões

de comportamento dos pais e as interações familiares.

O consumo excessivo de derivado elítico é um influenciador negativo no

funcionamento familiar agindo de forma destrutiva, mas é importante ressaltar que o

que está em questão não é a substância, mas sim a relação que o individuo institui

com ela, e esta influencia e é influenciada pelas diversas interações. Mesmo

sabendo que o consumo de drogas por parte dos pais pode estar relacionado a um

risco maior de os filhos também se tornarem usuários, será a atitude permissiva dos

genitores a ter um maior peso para que isso aconteça (SCHNENKER ; MINAYO,

2005).

O consentimento ou estímulo da família em relação ao uso de drogas lícitas

ou ilícitas reforça o início do uso dessas substâncias. Sabe-se que um dos fatores de

maior relevância são as relações familiares e este deve ser considerado de forma

associada a outros. (SCIVOLETTO, 2001)

Além disso, ensinar a criança a lidar com limites e frustrações é função da

família. Crianças que crescem em um ambiente com regras definidas, geralmente

são mais seguras e desenvolvem recursos internos para lidar com as frustrações.

Sem regras claras e bem definidas, os jovens adotam um comportamento desafiador

em relação aos pais e que, posteriormente, será repetido fora do núcleo familiar. A

ausência de limites claros e a carência de atitudes continentes dentro da família

podem deixar o adolescente muito mais influenciável pelo seu grupo de iguais.

(GIUSTI; SCIVOLETTO, 2004)

Ainda em plano familiar o abuso de substâncias psicoativas, neste caso o

álcool, está associado à violência física ou sexual, sendo mais freqüente entre o

sexo feminino do que o masculino. Segundo Zilberman (2005) essas substâncias

são geralmente utilizadas por mulheres como uma maneira de automedicação a fim

de aliviar as dores provocadas por situações de violência doméstica e trauma.

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Mulheres agredidas pelo parceiro tendem a abusarem em um nível elevado

de álcool e cocaína, em relação aquelas que não fazem uso algum. Mulheres que

utilizam substâncias psicoativas parecem ter maior risco de sofrerem violência, tanto

como resultado de seu próprio uso como do uso de seus parceiros. A relação entre

uso de substâncias psicoativas por mulheres e o aumento de violência tem sido

relatada em vários estudos, observa-se também que as que estão em processo de

tratamento por abuso álcool e drogas relatam altos índices de vitimização.

(ZILBERMAN, 2005)

Em uma pesquisa domiciliar realizada pelo CEBRID no Brasil em 2007,

sobre violência doméstica obteve-se que em 52% dos casos os agressores estavam

embriagados. A ocorrência de eventos de agressividade tem sido associada ao

consumo de álcool também em outros países. O fato justifica-se pela ação dos

derivados etílicos no Sistema Nervoso Central provocando desinibição e diminuição

na capacidade de julgamento, facilitando a ocorrência de comportamentos

agressivos em situações de conflito. (FONSECA et al 2009)

É importante ressaltar que o consumo excessivo de álcool como forma de

justificar a violência, se torna polêmico, pois não existe consenso sobre a associação

de consumo de álcool e comportamento violento.

Alguns estudos demonstraram que a separação dos pais biológicos e a

convivência com outros cuidadores, com vínculo afetivo frágil estão relacionadas

também ao abuso de substâncias psicoativas. A disfunção familiar pode produzir

estados emocionais altamente estressantes na criança e no adolescente resultando

em distúrbios de conduta social favorecendo ao abuso de substâncias psicoativas

(BAUS, 2002).

Dentre os fatores externos, o considerado mais ameaçador são as

tendências sociais, particularmente importantes na adolescência, porque influenciam

na escolha do próprio estilo e das condutas. Nesta escolha salienta-se a pressão do

grupo, o desejo de pertencer, os modelos dos ídolos, das pessoas com quem

convivem dos pares e dos familiares. Especialmente jovens inseguros tendem a

supervalorizar comportamentos e atitudes de grupos que os mobilizam

(SCHNENKER; MINAYO 2005; GIUSTI; SCIVOLETTO, 2004).

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O ambiente escolar, também pode ser considerado uma via de mão dupla no

sentido que pode agir como agente transformador e promotor de desenvolvimento

para além do ambiente familiar, mas também como um espaço de convivência que

pode favorecer o contato com a droga. A instituição é um espaço onde ocorrem

encontros e interações entre os jovens e é tida nos dias atuais como alvo de

traficantes e repassadores, que visam o aliciamento por pares. (SCHNENKER;

MINAYO 2005).

No âmbito educacional existem fatores que podem gerar situações que

favorecem o uso de drogas, um exemplo é a falta de senso comunitário e condições

pedagógicas que não atendam as dificuldades de aprendizagem, proporcionando o

fracasso escolar. (SCIVOLETTO, 2001)

Quanto ao desempenho escolar, recentes estudos internacionais relacionam

o intenso uso de álcool e outras drogas com o aumento do número de faltas às

aulas. Já estudos brasileiros não confirmam que o uso de drogas leva os

adolescentes a faltarem, pois encontraram um grande número de estudantes

faltosos também entre os indivíduos que nunca utilizaram drogas, atingindo, em

ambos os casos cerca de 50% dos estudantes. (GALDURÓZ et al., 2004)

Schnenker e Minayo (2005) aponta outros fatores no âmbito escolar tais

como: a insuficiência no aproveitamento e a falta de compromisso com o sentido da

educação, a intensa vontade do adolescente de ser independente associada com o

desinteresse para a realização pessoal, a constante busca de novidade, a

dificuldade para resistir às propostas do grupo para experimentar situações que

impliquem em perigo, a rebeldia constante associada à situação de dependência

afetiva.

Giusti e Scivoletto (2004) chamam a atenção para fatores que também são

de domínio escolar e que deve ser levado em consideração, como por exemplo,

atitudes por parte dos funcionários que favorecem o uso de substâncias,

determinadas regras e regulamentos confusos ou contraditórios em relação ao uso

de drogas e a disponibilidade de substâncias lícitas ou ilícitas nas proximidades da

escola.

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Fatores de risco podem estar também no domínio da comunidade e da

sociedade em geral. Entre eles podemos citar as posturas favoráveis para o uso e

abuso de drogas, a falta de conhecimento ou consciência do problema pela

comunidade, serviços inadequados para jovens ou falta de oportunidade para

envolvimento social, carência de leis ou de controle sobre o uso de drogas,

empobrecimento, desemprego e subemprego, discriminação, preconceito e a

disponibilidade das drogas. (SCIVOLETTO, 2001)

A mídia também tem sua contribuição como fator de risco, principalmente ao

mostrar publicidades de drogas lícitas como a bebida e tabaco. Neste caso a

situação é ainda mais preocupante, pois a influência dos meios de comunicação

pode favorecer comportamentos de risco não apenas dos jovens, mas de adultos e

até de crianças. Recentemente as propagandas de cigarro foram proibidas

enquanto que as de bebidas alcoólicas são associadas à diversão, charme, alegria,

aventura, sucesso profissional e aceitação social. (SCHNENKER ; MINAYO, 2005).

Mas teoricamente não é correto afirmar que somente a propaganda produz

efeito persuasivo. Vale lembrar que o desenvolvimento de um espírito crítico e

reflexivo promovido pela família e escola viabilizam atitude criteriosa do adolescente

quanto às mensagens relativas às drogas lícitas, veiculadas pelos meios de

comunicação (SCHNENKER ; MINAYO, 2005).

Enfim pode-se afirmar que os fatores de risco não devem ser pensados de

forma isolada, independente e fragmentada, pois seus contextos formadores tendem

a difundir os efeitos dele originados, sobre várias funções adaptadoras ao longo do

desenvolvimento.

Os fatores de proteção são características ou atributos presentes nos

diversos domínios da vida já tratados, que minimizam a probabilidade de um

indivíduo fazer uso indevido de drogas. É importante ressaltar que os fatores de

proteção não são simplesmente o oposto dos fatores de risco, sendo, muitas vezes

ações independentes. (SCHNENKER; MINAYO, 2005).

Focando os aspectos da individualidade, é necessário lembrar que os

adolescentes não são simplesmente um recipiente passivo que recebe influências

familiares ou sociais, e sim um agente no sentido de participação nos processos de

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formação de vínculos e transmissão de normas. Apresentam características físicas,

emocionais e sociais que interagem na dinâmica de socialização, permitindo a

compreensão e uma melhor interação com os fatores externos. (MAIA; WILLIAMS,

2005)

Pode-se exemplificar com o fato de que crianças de 9 ou 10 anos têm uma

grande estima pela companhia dos amigos, atividades em grupo, o sucesso na

escola e a relação com os pais. Entretanto cada criança avaliará de forma diferente

uma possível rejeição dos amigos ou exclusão de um grupo. Se para algumas essa

experiência afetará sua cognição social, sua auto-imagem e sua auto-estima, para

outras a mesma experiência pode ter um efeito saudável na moldagem em longo

prazo, motivando-as assim a se posicionarem para serem aceitas no futuro.

(SCHNENKER ; MINAYO, 2005).

Adolescentes que tem objetivos definidos e se preocupam em investir no seu

futuro, apresentam uma chance elevada de não se envolver com drogas, pois estas

atrapalhariam os seus planos. Do mesmo modo, oferecer oportunidades de auto-

realização, incentivar os desafios e conquistas favorecendo a auto-estima, auxiliá-los

a lidar com frustrações, raiva, ou seja, com as emoções, o respeito e satisfação com

a vida podem servir de proteção aos jovens contra a dependência de drogas quando

combinada a outros fatores protetores do seu contexto de vida. (SCIVOLETTO,

2001; SCHNENKER; MINAYO, 2005)

No plano individual os fatores familiares também são favoráveis e se

destacam o suporte dos pais, a proximidade da família e um ambiente de regras

adequado, bem como fatores da comunidade que são os relacionamentos que as

crianças e adolescentes apresentam com seus pares fora da família, com outros

adultos significativos e com instituições com as quais eles mantenham contato,

dentre outros. (MAIA; WILLIAMS, 2005)

Maia e Williams (2005), também apontam como fator de proteção:

“[...] o vínculo afetivo com um cuidador alternativo, tal como os avós ou irmãos. Tal pessoa pode se tornar um suporte importante nos momentos de estresse promovendo, também, a competência, a autonomia e a confiança da criança.” (MAIA; WILLIAMS, 2005, p.98)

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A religiosidade e a espiritualidade parecem também atuar como elementos

protetivos, quando os jovens qualificam esses aspectos, além de uma possível

crença em “Deus”, incluindo uma necessidade de bem estar e de crescimento. A

religiosidade é considerada um fator preventivo primário, na medida em que impede

o início do uso de drogas, funcionando como apoio para o enfrentamento de

situações adversas. (AMPARO et al, 2008)

O âmbito familiar tem um efeito extremamente forte e durador para o

ajustamento infantil. Como já foi apontado antes, a família é responsável pelo

processo de socialização da criança, sendo que, por meio dessa, a criança adquire

comportamentos, habilidades e valores apropriados e desejáveis à sua cultura. A

determinação de regras e normas possibilitará à criança desenvolver desempenho

social mais adequado e adquirir autonomia. (MAIA; WILLIAMS, 2005;

SCHNENKER; MINAYO, 2005)

O vínculo e a interação familiar saudável são bases para o desenvolvimento

potencial de crianças e adolescentes. Uma interação familiar gratificante é um forte

fator de proteção, mesmo no caso dos pais adictos, quando esses promovem um

contexto familiar amoroso, afetuoso e de cuidado. (SCHNENKER; MINAYO, 2005)

A família é responsável também por práticas educativas positivas que são

vistas como fator de proteção, que envolvem: uso adequado da atenção e

distribuição de privilégios, o adequado estabelecimento de regras, a distribuição

contínua e segura de afeto, o acompanhamento e supervisão das atividades

escolares e de lazer. Deve se ocupar ainda do comportamento moral que implica no

desenvolvimento da empatia, do senso de justiça, da responsabilidade, do trabalho,

da generosidade e no conhecimento do certo e do errado quanto ao uso de drogas e

álcool. (MAIA; WILLIAMS, 2005)

Giusti e Scivoletto (2004) destacam algumas pesquisas que revelam que um

ambiente familiar positivo é a principal razão para os jovens não se engajarem em

comportamentos não saudáveis. Como exemplo de ambiente familiar positivo os

autores enfatizam o relacionamento positivo entre pais e filho, supervisão e disciplina

consistente e comunicação dos valores familiares.

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É raro estudos acerca das drogas que dão ênfase aos pares como fator

protetor, na maioria das intervenções foram focalizadas as influências negativas das

amizades e não a constituição ou sustentação de influências positivas dos amigos.

(SCHNENKER; MINAYO, 2005)

Entretanto, sabe-se que pares que não usam álcool/drogas e não aprovam

e/ou valorizam o seu uso, têm papel fundamental numa etapa em que as influências

dos pares são cruciais. Outros fatores podem agir de forma positiva em relação aos

pares, são eles: a participação em atividades desportivas, laborais e recreativas

saudáveis juntamente com seus pares, o pertencimento a grupos de iguais na

escola e na comunidade, a aceitação de autoridade situada fora do grupo de pares,

na escola, na comunidade e na família e a participação em grupos com objetivos

sociais e comunitários. (SENAD, 2006)

Vale refletir sobre dados que apontam situações em que os adolescentes

iniciam experiência com as drogas. Entre jovens do sexo feminino, a primeira oferta

para experimentar drogas ocorre com colegas do mesmo sexo, irmãs, primas, ou

com o namorado, geralmente em casa de colegas. Já os do sexo masculino iniciam

o uso de drogas com colegas do mesmo sexo, irmãos, primos, ou com estranhos do

sexo masculino, geralmente em locais públicos. Estes também iniciam o uso de

drogas em idade mais precoce e têm maior risco de receberem ofertas para usarem

drogas do que o sexo feminino. (MOON et al. 1999)

Comportamento semelhante a este foi encontrado entre os adolescentes

brasileiros em tratamento por uso de substâncias psicoativas. Entre o sexo feminino,

notou-se que o primeiro contato com as drogas envolvendo familiares teve uma

maior freqüência do que no sexo oposto. Somente entre as garotas foi observado o

primeiro uso com o parceiro, enquanto os garotos iniciaram o uso de drogas com

estranhos (GIUSTI, 2004).

Estes dados estão de acordo com outros estudos que comprovam que as

mulheres iniciam o uso de drogas com seus companheiros do sexo oposto. Na

cultura feminina, geralmente o uso de drogas não se inicia com parceiros masculinos

até que comece a namorar, assim, o sexo feminino teria menos risco de se envolver

com drogas em idades mais precoces (MOON et al. 1999).

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Para o sexo masculino é dada liberdade e independência em idade mais

precoce do que para o sexo feminino, o que facilitaria o início do uso de drogas em

locais públicos e, conseqüentemente, aumentaria o risco do início do uso mais

precocemente. (COLARES et al, 2009)

A puberdade precoce é um dos fatores de risco para o uso de substância

entre o sexo feminino. As garotas que apresentam puberdade precoce têm mais

chance de usar drogas do que as garotas que iniciam a puberdade mais

tardiamente. Além das adolescentes evoluírem mais rapidamente do abuso a

dependência de drogas, elas a consomem por razões diferentes do sexo masculino

e também são mais vulneráveis as conseqüências deste uso. (GIUSTI;

SCIVOLETTO, 2004)

Giusti (2004) relata que, semelhante ao que ocorre entre os adolescentes do

sexo masculino, no sexo feminino o progresso de uma droga para outra sofre forte

influência das colegas. Quanto mais as suas colegas fumam, bebem ou usam

drogas, menos as garotas acreditam que estes comportamentos podem levar a uma

forma mais severa de uso de drogas.

A escola tem um papel vital para as crianças e adolescentes, pois se trata de

um ambiente em que os mesmos adquirem um modo de viver mais saudável, onde

estão envolvidos os padrões cognitivos, emocionais, afetivos, culturais,

comportamentais e sociais do indivíduo, que contribuem para diminuir o risco do

consumo de drogas. (JESÚS; FERRIANI, 2008)

Visto que é um poderoso agente de socialização e contém em seu interior

uma comunidade de pares, a escola possui instrumentos fortes para a promoção da

auto-estima e do autodesenvolvimento, fazendo dela um fator importante de

proteção. (SCHNENKER; MINAYO, 2005)

Além do mais, um clima escolar afetivo no qual o estudante possa contar

com apoio pedagógico, padrões claros e consistentes e que lhe possibilitem

encontrar prazer, realização pessoal e oportunidades de participação ativa, também

são formas de proteção importantes. O mesmo ocorre quando os professores

possuem altas expectativas em relação aos alunos e procuram envolve-los, com

responsabilidade, nas tarefas e decisões escolares. (GIUSTI; SCIVOLETTO, 2004)

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Os programas de prevenção existentes foram desenvolvidos sem considerar

as particularidades de cada gênero e tendo em mente o sexo masculino. Estes

programas deveriam reconhecer, por exemplo, que as mulheres têm maior

probabilidade de serem depressivas, de terem transtornos alimentares e de sofrerem

abuso físico ou sexual do que os homens. As garotas costumam usar drogas para

melhorar seu humor, tornarem-se mais sensuais, diminuir a inibição ou perder peso.

Já os garotos tendem a usar álcool e drogas pela sensação que estas causam

desinibição, para se auto-afirmar ou para melhorar seu desempenho social

(SCIVOLETTO, 2001).

A identificação destas diferenças entre os gêneros quanto aos fatores que os

motivam o uso de drogas é importante para o desenvolvimento de programas de

prevenção mais eficazes, principalmente para o sexo feminino.

Um dos programas criados pelo governo que pode ser considerado também

um fator de proteção é o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) que é a

unidade pública estatal responsável pela oferta de serviços continuados de proteção

social básica, de assistência social às famílias, grupos e indivíduos em situação de

vulnerabilidade social, com o objetivo de prevenir situações de risco por meio do

desenvolvimento de potencialidades, aquisições e o fortalecimento de vínculos

(MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 2009).

Além de ofertar serviços e ações de proteção básica, o CRAS possui a

função de gestão territorial da rede de assistência social básica, promovendo a

organização e a articulação das unidades a ele referenciadas e o gerenciamento dos

processos nele envolvidos. O principal serviço ofertado pelo CRAS é o Serviço de

Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif), cuja execução é obrigatória e

exclusiva. Este consiste em um trabalho de caráter continuado que visa fortalecer a

função protetiva das famílias, prevenindo a ruptura de vínculos, promovendo o

acesso e usufruto de direitos e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida

(MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 2009).

Outro dispositivo criado como fator de proteção foi o Centro de Referência

Especializado de Assistência Social – CREAS que se constitui numa unidade pública

estatal, de prestação de serviços especializados e continuados a indivíduos e

famílias com seus direitos violados, promovendo a integração de esforços, recursos

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e meios para enfrentar a dispersão dos serviços e potencializar a ação para os seus

usuários, envolvendo um conjunto de profissionais e processos de trabalhos que

devem ofertar apoio e acompanhamento individualizado especializado (MINISTÉRIO

DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 2009).

Nesta perspectiva, o CREAS deve articular os serviços de média

complexidade e operar a referência e a contra-referência com a rede de serviços

socioassistenciais da proteção social básica e especial, com as demais políticas

públicas e demais instituições que compõem o Sistema de Garantia de Direitos2 e

movimentos sociais. Para tanto, é importante estabelecer mecanismos de

articulação permanente, como reuniões, encontros ou outras instâncias para

discussão, acompanhamento e avaliação das ações, inclusive as intersetoriais

(MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL, 2009).

De um modo geral pode-se concluir que os fatores de risco e de proteção

são fundamentais para a psicologia e para qualquer outra ciência que pretenda

analisar a relação entre indivíduo e sociedade. A psicologia dominante, que é aquela

que vem sustentando idéias refletidas hegemonicamente no campo da prática e da

ciência psicológica, reflete-se em uma intervenção individualizada e

descontextualizada, cujo objetivo principal, independente da área de aplicação, é a

adaptação do indivíduo ao ambiente em que ele se insere. (FILHO; GUZZO, 2006)

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4 INTERVENÇÃO NO CONTEXTO DE ABUSO DE ÁLCOOL E DROGAS

A política atual de saúde mental, adotada pelo Ministério da Saúde, assumiu

como desafio a implantação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), como

dispositivos de atenção à saúde mental, que tiverem um valor considerável para a

Reforma Psiquiátrica Brasileira. O surgimento destes serviços passa a demonstrar a

possibilidade de organização de uma rede substitutiva ao Hospital Psiquiátrico no

país. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004) É função dos CAPS:

Prestar atendimento clínico em regime de atenção diária, evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos; promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais através de ações intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação e dar suporte à atenção à saúde mental na rede básica. É função, portanto, e por excelência, dos CAPS organizar a rede de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios. Os CAPS são os articuladores estratégicos desta rede e da política de saúde mental num determinado território. (MINISTÈRIO DA SAÙDE, 2004, p.13)

Como foi indicado, os CAPS foram criados com o intuito de substituir, e não

complementar o hospital psiquiátrico e cabe aos CAPS o acolhimento e a atenção às

pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e

fortalecer os laços sociais do usuário em seu território. De fato, o CAPS é o núcleo

de uma nova clínica, que produz autonomia, que leva o usuário à responsabilização

e ao protagonismo em toda a trajetória do seu tratamento. (Idem)

Os Centros de Atenção Psicossocial teve seu início na década de 80 e

passaram a ser financiados exclusivamente pelo Ministério da Saúde a partir do ano

de 2002, momento no qual houve uma grande expansão destes serviços. São

serviços de saúde municipais, abertos, comunitários, que oferecem atendimento

diário às pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, realizando o

acompanhamento clínico e a reinserção social destas pessoas através do acesso ao

trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e

comunitários. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005)

Os CAPS se diferenciam pelo porte, capacidade de atendimento, clientela

atendida e organizam-se no país de acordo com o perfil populacional dos municípios

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brasileiros. Assim, estes serviços diferenciam-se como CAPS I, CAPS II, CAPS III,

CAPS i e CAPS ad.

Os CAPS I, II e III são destinados a pacientes que apresentam transtornos

mentais severos e constantes, o CAPS i se destina a crianças e adolescentes que

apresentam o mesmo quadro. Nessa realidade o uso de álcool e outras drogas é um

fator secundário à condição clínica de transtorno mental. (MINISTÉRIO DA SAÚDE,

2003)

Para discutir a criação e implantação da política de álcool e outras drogas,

faz-se relevante a história da saúde pública. A saúde pública brasileira não se

ocupava devidamente com o grave problema da prevenção e tratamento de

transtornos associados ao consumo de álcool e outras drogas. Ao longo da história

percebe-se uma grande lacuna na política pública de saúde, deixando a questão das

drogas para as instituições da justiça, segurança pública, pedagogia, e associações

religiosas. Devido a esse problema tão complexo e a ausência do Estado, houve

uma disseminação em todo o país por "alternativas de atenção” de caráter total,

fechado, baseadas em uma prática exclusivamente psiquiátrica ou médica, e até

mesmo religiosa, tendo como principal objetivo a ser alcançado a abstinência. Esta

rede de instituições que em sua maioria eram filantrópicas tiveram um papel

importante, pois chamaram a atenção da saúde pública para a necessidade de uma

política mais clara e eficaz para o problema. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005)

As consequências sociais, psicológicas, econômicas e políticas do uso de

drogas não eram consideradas na compreensão geral do problema e a percepção

distorcida da realidade do uso de álcool e outras drogas instalou uma cultura que

associa o uso de drogas à criminalidade, bem como a práticas anti-sociais e à oferta

de "tratamentos" baseados em padrões de exclusão/separação dos usuários do

convívio social. As iniciativas governamentais se restringiam a poucos serviços

ambulatoriais ou hospitalares, em geral vinculados a programas universitários. Não

havia uma política de abrangência nacional, no âmbito da saúde pública. (Idem)

As políticas e práticas voltadas para pessoas que apresentam problemas

decorrentes do uso de álcool e outras drogas devem estar obrigatoriamente

integradas às propostas elaboradas pela Área Técnica de Saúde Mental / Álcool e

Drogas do Ministério da Saúde.

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De acordo com o Ministério da Saúde (2003)

As diretrizes para uma política ministerial específica para a atenção a estes indivíduos estão em consonância com os princípios da política de saúde mental vigente - preconizada, articulada e implementada pelo Ministério da Saúde; uma vez regulamentada e respaldada pela Lei Federal 10.216 , sancionada em 6/4/2001, constitui a política de Saúde Mental oficial para o Ministério da Saúde, bem como para todas as unidades federativas. (MINISTÈRIO DA SAÚDE, 2003, p. 25)

Sendo assim, a Lei Federal 10.216 se torna um instrumento legal e de

extrema importância para a política de atenção aos usuários de álcool e outras

drogas, a qual também vai de acordo com as propostas e pressupostos da

Organização Mundial da Saúde. Se aplicada corretamente a Lei citada

possivelmente, terá diversos desdobramentos positivos. (DELGADO, 2002)

Procurando atender as determinações da III Conferência Nacional de Saúde

Mental, em 2002 o Ministério da Saúde publicou portarias voltadas para a

estruturação da rede de atenção destinada aos usuários de álcool e outras drogas,

reconhecendo que era necessária a definição de estratégias específicas de

enfrentamento que tinham em vista o fortalecimento da rede de assistência aos

usuários de álcool e outras drogas, com foco na reabilitação e reinserção social dos

mesmos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003)

Sendo assim o Ministério da Saúde instituiu no âmbito do SUS, o Programa

Nacional de Atenção Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas.

Perante as diferentes características populacionais existentes no país e a variação

da incidência de transtornos causados pelo uso abusivo e/ou dependência de Álcool

e outras drogas, o programa organizou as ações de promoção, prevenção, proteção

à saúde e educação das pessoas que fazem uso prejudicial de álcool e outras

drogas e estabelece uma rede estratégica de serviços extra-hospitalares para este

público, articulada à rede de atenção psicossocial e fundada na abordagem de

redução de danos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004)

O Ministério da Saúde (2003) destaca algumas características do campo das

práticas, observadas no cenário nacional e internacional, referente às estratégias

necessárias para a reformulação da Política Nacional de Álcool e Drogas. São elas:

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1. O consumo de drogas não atinge de maneira uniforme toda a população e sua distribuição é distinta nas diferentes regiões do país, apresentando inclusive diferenças significativas em uma mesma região, tanto nos aspectos sociais quanto nas vias de utilização e na escolha do produto; 2. a pauperização do país, que atinge em maior número pessoas, famílias ou jovens de comunidades já empobrecidas, apresenta o tráfico como possibilidade de geração de renda e medida de proteção; 3. o aumento no início precoce em uso de drogas legais entre os jovens e utilização cada vez mais freqüente de uso de drogas de design e crack, e o seu impacto nas condições de saúde física e psíquica dos jovens, notadamente pela infecção ao HIV e hepatites virais; 4. a definição de políticas internacionais que contextualizam os países em desenvolvimento somente a partir de sua condição de produção, refino e exportação de produtos nocivos à saúde. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, p.26)

Por outro lado, a insuficiência/ausência histórica de políticas que promovam

a promoção e proteção social, de saúde e tratamento das pessoas que usam,

abusam ou são dependentes de álcool são determinantes para o aumento de suas

vulnerabilidades.

Ressalta-se a importância em desenvolver ações de atenção integral ao uso

de álcool e drogas nas grandes cidades de forma diferenciada, pela comprovação de

que, em locais com alto índice de pobreza, há subsistemas sociais que incluem

grupos organizados (de drogas, crime, gangues etc.), além de ausência de fatores

de proteção à comunidade que direta e/ou indiretamente possam contribuir para a

diminuição das vulnerabilidades da população. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004)

É visível o impacto de políticas públicas coordenadas setorialmente e o modo como

vem se impondo para todas as áreas sociais de governo. O desafio colocado é uma

melhora nos instrumentos de acompanhamento e de informações, que tornem

possíveis os processos de avaliação e de gestão dos programas. (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2003)

Requer-se uma intensa cautela para a execução de uma política de atenção

integral ao usuário de álcool e outras drogas por se tratar de um tema transversal a

outras áreas da saúde, da justiça, da educação, social e de desenvolvimento. No

campo da prática de políticas públicas, a intersetorialidade e a intrasetorialidade

demandam contínuos investimentos em longo prazo, destinando esforços coerentes

a cada nova geração. Segundo o Ministério da Saúde (2003) a integralidade das

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ações, com a conseqüente definição de papéis entre os diversos níveis de

governabilidade requer:

1. Construção de oportunidades de inserção das ações nos mecanismos implementados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nestas esferas de governo; 2. a formulação de alternativas de sustentabilidade e de financiamento das ações; 3. o repasse das experiências relativas às iniciativas de descentralização e da desconcentração de atividades e de responsabilidades obtidas por estados e municípios; 4. processos de formação e capacitação de profissionais e de trabalhadores de saúde, com amplo investimento político e operacional para a mudança de conceitos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, p. 28)

Para estabelecer uma política com bons resultados deve-se prever sua

descentralização e autonomia de gestão por parte dos estados e municípios. Para

que isso ocorra, a definição dos papéis de cada estado e município é fundamental,

assim como a definição dos mecanismos de captação, utilização e repasse de

recursos financeiros pelos três níveis de governo, de forma a equalizar os gastos em

vigilância, tratamento, prevenção, redução de danos e repressão. (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2003)

O conceito de redução de danos vem sendo consolidado como um dos eixos

norteadores da política do Ministério da Saúde para o álcool e outras drogas.

Originalmente apresentado de forma favorável na prevenção de doenças

transmissíveis, esta estratégia, assumida pelo Ministério da Saúde desde 1994, é

internacionalmente reconhecida como alternativa prática e eficaz no campo da

prevenção das Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS. No campo do álcool e

outras drogas, o paradigma da redução de danos se situa como estratégia de saúde

pública que visa a reduzir os danos causados pelo abuso de drogas lícitas e ilícitas,

resgatando o usuário em seu papel auto-regulador, sem a exigência imediata e

automática da abstinência, e incentivando-o à mobilização social (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2004).

A estratégia de redução de danos e riscos associados ao consumo

prejudicial de drogas vem permitindo que as práticas de saúde acolham, sem

julgamento, as demandas de cada situação, de cada usuário, ofertando o que é

possível e o que é necessário, sempre estimulando a sua participação e seu

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engajamento. A estratégia de redução de danos sociais reconhece cada usuário em

suas singularidades, traçando com ele estratégias que estão voltadas para a defesa

de sua vida. Deste marco ético em defesa da vida, decorre que a abordagem de

redução de danos, ao mesmo tempo em que aponta as diretrizes do tratamento e da

construção da rede de atenção para as pessoas que fazem uso prejudicial de álcool

e outras drogas, implica um conjunto de intervenções de saúde pública que visam

prevenir as conseqüências negativas do uso de álcool e outras drogas (Idem).

Sendo assim consideram-se estratégias de redução de danos a ampliação

do acesso aos serviços de saúde, especialmente dos usuários que não têm contato

com o sistema de saúde, por meio de trabalho de campo, por exemplo, a distribuição

de seringas, agulhas, cachimbos, para prevenir a infecção dos vírus HIV e Hepatites

B e C entre usuários de drogas, a elaboração e distribuição de materiais educativos

para usuários de álcool e outras drogas informando sobre formas mais seguras do

uso de álcool e outras drogas e sobre as conseqüências negativas do uso de

substâncias psicoativas; os programas de prevenção de acidentes e violência

associados ao consumo, e a ampliação do número de unidades de tratamento para

o uso nocivo de álcool e outras drogas, entre outras. (CONTE, 2003)

Os Centros de Atenção Psicossocial para Atendimento de Pacientes com

dependência e/ou uso prejudicial de álcool e outras drogas (CAPS ad) são os

dispositivos estratégicos desta rede, que tem como objetivo oferecer atendimento à

população, oferecendo atividades terapêuticas e preventivas buscando prestar

atendimento diário a pacientes que fazem um uso prejudicial de álcool e outras

drogas, permitindo o planejamento terapêutico dentro de uma perspectiva

individualizada de evolução contínua. Possibilita ainda intervenções precoces,

limitando o estigma associado ao tratamento. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003)

Essa rede se baseia em serviços comunitários apoiada por hospitais gerais

com a disponibilização de leitos psiquiátricos e outras práticas de atenção

comunitária, que vai de acordo com as necessidades da população alvo. Os

CAPSad, realizam diferentes atividades que vão desde o atendimento

individualizado, até atendimentos ou oficinas terapêuticas de grupo e visitas

domiciliares. Em seu âmbito oferece ainda condições para o repouso, desintoxicação

ambulatorial desde que os pacientes não precisem de atenção clínica hospitalar.

(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004)

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Segundo o Ministério da Saúde (2003) ao definir as suas estratégias de atuação,

[...] um CAPS ad deve considerar obrigatoriamente que a atenção psicossocial a pacientes que apresentam uso abusivo/dependência de álcool e outras drogas deve ocorrer em ambiente comunitário, de forma integrada à cultura local, e articulada com o restante das redes de cuidados em álcool e drogas e saúde mental; o mesmo deve ocorrer em relação a iniciativas relativas à rede de suporte social. Desta forma, poderá organizar em seu território de atuação os serviços e iniciativas que possam atender às múltiplas necessidades dos usuários de serviços, com ênfase na reabilitação e reinserção social dos mesmos. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, p. 43)

No mundo todo, a abordagem terapêutica dentro de uma lógica de redução de

danos tem apresentado resultados positivos, e vem assumindo importância

considerável no tratamento de usuários de drogas. Desta forma, os CAPS ad devem

se utilizar dos recursos terapêuticos disponíveis para promover, o mais amplamente

possível, a reabilitação psicossocial e a reinserção social de seus usuários

(MINISTÉRIO DA SAÚDE 2003).

A prevenção destinada às pessoas que fazem uso abusivo ou são

dependentes de álcool e outras drogas, pode ser definida como um processo de

planejamento, implantação e implementação de diferentes estratégias voltadas para

a diminuição da vulnerabilidade, redução dos fatores de risco específicos e

fortalecimento dos fatores de proteção. Sugere a necessidade da inserção

comunitária das práticas propostas, com a colaboração de todas as frações sociais

disponíveis. (Idem)

A da redução de danos deve ser a base para tal planejamento, pois trata-se

de uma ampla perspectiva de práticas voltadas para minimizar as diversas

conseqüências do uso de álcool e drogas. O Ministério da Saúde (2003) sustenta

que,

[...] o planejamento de programas assistenciais de menor exigência contempla uma parcela maior da população, dentro de uma perspectiva de saúde pública, o que encontra o devido respaldo em propostas mais flexíveis, que não tenham a abstinência total como a única meta viável e possível aos usuários dos serviços CAPS ad,e outros não-especializados. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2003, p. 44)

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Por se tratar de um serviço aberto e comunitário, o CAPS ad oferecem

programas terapêuticos com um nível menor de exigência, porém disponíveis a mais

pessoas da comunidade. As modalidades de cuidados para álcool e drogas nas

unidades CAPS ad devem obedecer a uma lógica de redução de danos, seja esta

relativa a práticas voltadas para DST/HIV/AIDS, seja em relação ao próprio uso

indevido de álcool e drogas.O enfrentamento das questões como estas é um dos

grandes desafios da sociedade contemporânea com seus determinantes psíquicos,

sociais e econômicos.

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CONCLUSÃO

Discutir a respeito da problemática que envolve o abuso e dependência de

álcool e outras drogas é de grande importância, pois o seu aparato histórico mostra

que o uso de substâncias psicoativas deixou de ser uma questão religiosa e festiva e

seu uso abusivo passou a ser questionado como doença.

Apesar de ter sido reconhecido pela sociedade como um grave problema,

não existia modos de enfrentamento precisos para as pessoas que abusavam ou

eram dependentes de álcool e drogas.

Pode-se concluir que estudos comprovaram que o uso abusivo do álcool e

outras drogas acarretavam comportamentos de risco, gerados pelos diversos fatores

de vulnerabilidade que podem ser de base individual, familiar ou social.

No desenvolvimento de ações preventivas, não basta apenas diminuir os

fatores de risco. É necessário promover os fatores protetores, com ações positivas,

tais como: incentivar vínculos com pessoas que não usam drogas, ambientes com

regras claras e não tolerantes ao uso dessas substâncias, incentivar a análise crítica

das propagandas e modelos oferecidos pela mídia entre os jovens, incentivar e

promover a união e continência familiar, estimular programas de prevenção nas

escolas, com enfoque na prevenção afetiva e educativa através de informações, em

conjunto com o trabalho e orientação dos pais, auxiliar no desenvolvimento de

habilidades sociais e na relação com o sexo oposto e incentivar a consciência de

cidadania e responsabilidade na comunidade.

Enfim, promover oportunidades para auto-realização do jovem e de seu

pleno desenvolvimento, buscando a promoção de saúde global e não apenas

evitando o uso de drogas. Por isso a identificação de fatores de risco e protetores,

pode auxiliar na prevenção, principalmente da evolução do uso experimental para o

quadro de abuso e/ou dependência.

Destaca-se ainda que o abuso e dependência de álcool e drogas foram

reconhecidos como um grave problema de Saúde Publica pelo Ministério da Saúde,

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que percebeu a necessidade de implementar em larga escala, os Centros de

Atenção Psicossocial para usuários de álcool e drogas (CAPSad).

Almeja-se assim, a oferta de cuidados extra-hospitalares, utilizando-se o

conceito de “território”, a rede e a lógica ampliada da redução de danos. Para isso,

enfatiza-se o caráter intersetorial com o envolvimento da sociedade no debate,

formulação e acompanhamento do processo de reinserção social.

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