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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CAMPUS CAMPO MOURÃO CURSO SUPERIOR EM TECNOLOGIA EM ALIMENTOS PRISCILLA BRAGA DE CARVALHO CONTROLE DE QUALIDADE DA FARINHA DE TRIGO ESTÁGIO SUPERVISIONADO CAMPO MOURÃO 2012

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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

CAMPUS CAMPO MOURÃO

CURSO SUPERIOR EM TECNOLOGIA EM ALIMENTOS

PRISCILLA BRAGA DE CARVALHO

CONTROLE DE QUALIDADE DA FARINHA DE TRIGO

ESTÁGIO SUPERVISIONADO

CAMPO MOURÃO

2012

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Resumo

As atividades de estágio curricular obrigatório foram realizadas na empresa COAMO –

Agroindustrial Cooperativa, no período de setembro a dezembro de 2011 totalizando 400

horas. Foram executadas as seguintes análises durante o processamento do trigo:

umidificação, moagem (farinha branca e farinha integral), alveografia, farinografia,

determinação de glúten úmido e seco, falling number, cor, umidade, moagem integral e

análise de cinzas. As análises do laboratório de trigo da indústria COAMO visam o controle

de qualidade da matéria prima dando suporte para o setor de produção. Além de

proporcionar maior habilidade na realização de análises físico-químicas e reológicas,

durante o período de estágio, foi possível aprender a manusear equipamentos, preparar

soluções, trabalhar em equipe e lidar com a rotina de limpeza dentro do laboratório,

contribuindo desta forma, para uma formação acadêmica e profissional como Tecnólogo em

Alimentos.

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1. Introdução

A qualidade do grão de trigo pode ser definida como resultado da interação

que a cultura sofre no campo, pelo efeito das condições de solo, do clima, da

incidência de pragas e moléstias, manejo da cultura, do cultivar, bem como das

operações de colheita, secagem, armazenamento, moagem e, por fim, do uso

industrial a ser dado à farinha (GUTKOSKI; NETO, 2002).

O trigo tem a propriedade de manter as suas características de qualidade

mesmo quando armazenado por um longo período. Esse cereal desempenhou papel

dos mais importantes no desenvolvimento das civilizações e tem sido o grão

preferencial para alimento nos países desenvolvidos (EMBRAPA, 2012).

A qualidade tecnológica da farinha de trigo é fator determinante nas

características do produto final. Os diferentes produtos elaborados a partir de farinha

de trigo (pão, biscoitos, bolos e massas) possuem características totalmente

diferentes e, portanto, necessitam de uma matéria prima (farinha) tipificada para a

sua elaboração. Uma farinha de trigo tipificada, nada mais é do que uma farinha

refinada, cujas características encontram-se dentro das especificações de um

determinado produto, a fim de gerar um produto final de excelentes características

organolépticas e visuais, de bom valor nutritivo e de custo competitivo (ICTA, 2012).

O presente relatório teve por objetivo descrever as atividades realizadas

durante o estágio curricular obrigatório no período de setembro a dezembro do ano

de 2011 no laboratório de controle de qualidade de trigo.

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2. Descrição do local

A COAMO é uma Agroindustrial Cooperativa com unidades em vários

municípios dos estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Os

produtos COAMO são comercializados nos mercados interno e externo, com

qualidade reconhecida.

No parque industrial da COAMO de Campo Mourão são fabricados os

seguintes alimentos: margarinas, óleo refinado, farinha de trigo, gordura vegetal e

café torrado além de commodities farelo e óleo degomado de soja. O departamento

de garantia da qualidade conta com os seguintes laboratórios: análises

microbiológicas, análises reológicas de trigo e físico-químicas. Todas as farinhas de

trigo que são analisadas pela COAMO são fabricadas por um moinho terceirizado

localizado na cidade de Mamborê – PR.

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3. Atividades desenvolvidas

No laboratório de trigo são analisados dois tipos de produtos: grãos de trigo,

que foram colhidos na safra provenientes dos entrepostos e farinhas produzidas pelo

moinho terceirizado. Durante o estágio foram realizadas as seguintes análises:

Condicionamento dos grãos de trigo, moagem, teor de umidade, falling number,

determinação do glúten, alveografia, farinografia, colorimetria e teor de cinzas

(conforme o fluxograma da Figura 1). Todos os resultados obtidos das análises são

cadastrados no sistema. Esses dados são importantes para verificar a qualidade e

destino da farinha, geração de laudos e ficha técnica para o cliente.

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Figura 1: Fluxograma da rotina no Laboratório de Trigo.

Recebimento e

identificação das

amostras

Umidificação e

moagem (farinha

branca e farinha

integral)

Cor da farinha

Umidade da

farinha

Glúten

Falling

Number Alveografia Farinografia Cinzas

Obtenção dos

resultados

finais

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3.1 Condicionamento dos grãos de trigo

O condicionamento tem cinco finalidades: enrijecer o farelo, reduzindo a

formação de pó do farelo; amaciar o endosperma, realçando sua maquinabilidade,

reduzindo o consumo de energia dos rolos de redução; facilitar a separação de

farelo do endosperma, reduzindo o consumo de potência dos rolos da ruptura e

reduzindo consequentemente perdas de água por evaporação; assegurar a fácil

peneiração e; assegurar o índice de umidade suficiente para o endosperma, de

forma a se obter um teor de umidade final da farinha em torno 14 – 15% (RIBEIRO,

2009).

Para que haja uma maior facilidade de separação entre o endosperma e a

casca na hora da moagem, é necessário ter um tempo de descanso de 12 a 18

horas a fim de permitir que a água penetre entre os poros do grão trigo. Quando o

tempo de descanso da amostra umidificada é curto, a extração da farinha é

prejudicada, enquanto que períodos muitos longos podem elevar o risco de

germinação dos grãos, além de proporcionar a possibilidade do desenvolvimento de

microrganismos (GUTKOSKI et al., 1999; ANVISA, 1996). Para o cálculo da

quantidade de água a ser adicionado nos grãos usa-se a Equação (1).

( ) (

) (1)

A Figura 2 ilustra o equipamento utilizado para umidificação e

homogeneização de grãos.

Figura 2: Homogeneizador de grãos (GRANOTEC, 2012).

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3.2 Moagem

O objetivo da moagem é separar o endosperma da casca (Figura 3),

constituindo a farinha branca (EMBRAPA, 2012).

Figura 3: Estrutura do grão de trigo (TRIGO E ARTE, 2012).

A moagem ou trituração consiste na quebra dos grãos através da ação de

moinhos de rolos raiados (Figura 4). A moagem do trigo efetua-se de dentro para

fora do grão, ocorrendo a partir da quebra do grão que, com a porção interna

exposta, tem o endosperma raspado sucessivamente (GRANOTEC, 2012). À

medida que o endosperma é reduzido em partículas menores alguns grânulos de

amido são danificados mecanicamente, devido a ação dos rolos de quebra,

principalmente dos de redução, e isto tem efeito pronunciado nas características e

absorção de água na farinha (RIBEIRO, 2009). Durante o processo de moagem são

obtidas três partes do trigo, o farelo sem o endosperma que é descartado, a farinha

pronta para análise e um farelo com o endosperma que é submetido à redução, com

o objetivo de atingir o grau de extração, entre 60 e 70%. Para determinar o

rendimento da extração utiliza-se a Equação (2).

( )

(2)

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A farinha obtida no processo de moagem deve ser de qualidade, o que é

determinado pelos fatores inerentes ao trigo utilizado na moagem como cultivar,

condições de cultivo, incidência de doenças e devido aos fatores que são induzidos

pelo processo de conversão do trigo em farinha, como condicionamento, ajuste dos

rolos de moagem, escolha das frações de farinha para compor o produto final, bem

como maturação e aditivação da farinha de trigo. Cada tipo de produto requer

farinha com características tecnológicas específicas para a sua elaboração,

definidas através de um rigoroso controle de qualidade do trigo e da farinha

(GUTKOSKI, 2009).

Figura 4: Moinhos de trigo (GRANOTEC, 2012).

3.3 Teor de umidade

O teor de umidade afeta as características da farinha e interfere diretamente

na sua qualidade. A análise de umidade serve como referência para o início de

outras análises como a alveografia que determina a quantidade de solução salina a

ser adicionada, falling number e farinografia que determina a quantidade a ser

pesada da amostra. Segundo a portaria Nº 354 de 18/07/96 (ANVISA, 1996) a

umidade da farinha de trigo não deve exceder a 15%. Isso faz com que a farinha

tenha uma umidade ideal para ser conservada por um longo período de tempo. Há

vários métodos para determinação de umidade, o mais usado é o método indireto

por refletância de radiação infravermelha (Figura 5). Para uma boa análise da

umidade, é necessário que a amostra seja espalhada uniformemente para que os

raios infravermelhos atinjam igualmente todos os pontos, facilitando assim a

evaporação da água.

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Figura 5: Medidor de umidade por infravermelho (GEHAKA, 2012).

3.4 Falling number

O objetivo do falling number (Figura 6) é determinar a ação da alfa-amilase na

farinha de trigo que é a enzima de maior relevância tecnológica. A alfa-amilase

hidrolisa o amido presente na farinha de trigo formando as dextrinas que serão

posteriormente hidrolisadas pela beta-amilase resultando em moléculas de maltose.

As amilases, enzimas presentes na farinha de trigo, melhoram as características

reológicas (EMBRAPA, 2012).

A alfa-amilase (1,4-α-Dglucanohidrolase, EC 3.2.1.1, enzima dextrinizante)

pode atacar as cadeias dos componentes do amido em qualquer ponto no interior da

cadeia linear. Isto equivale dizer que a alfa-amilase é uma endoenzima que hidrolisa

ligações O-glicosídicas α(1-4), produzindo oligossacarídeos que contêm ligações

α(1-6), além de glicose e maltose. As ligações α(1-6) não são quebradas pela alfa-

amilase. A beta amilase, (α-1,4-α-glucanmaltohidrolase, EC 3.2.1.2) é uma

exoenzima e hidrolisa ligações α(1-4), a partir da extremidade não-redutora,

produzindo maltose (SANTOS et al., 2010).

O índice de queda (falling number) o qual representa a medida da viscosidade

de uma pasta de farinha adicionada de água aquecida em banho-maria, de forma a

demonstrar a atividade da alfa-amilase na amostra. A atividade da enzima é

expressa em termos de falling number, que é o tempo, em segundos, necessário

para mover uma suspensão de farinha e permitir que um "viscosimeter-stirrer"

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atravesse uma distância afixada através de uma suspensão quente aquosa de

farinha, liquefeita pela enzima em um aparelho padronizado. Quanto mais viscosa a

pasta, maior é o índice de queda e menor é a atividade da alfa-amilase. O primeiro

efeito causado pela hidrólise da enzima alfa-amilase é a diminuição da viscosidade

devido a quebras no interior da molécula de amido (FARONI et al., 2002).

O resultado obtido é definido como o tempo em que a haste leva para

percorrer todo o tubo, esse tempo interfere na qualidade dos pães, obtendo pães

com diferentes características. A atividade de alfa-amilase do grão está associada

com a germinação dos grãos e são inversamente correlacionados com o valor de

falling number, pois o grão que se encontra com a umidade alta e germinada, terá

uma maior atividade enzimática no interior do grão e assim um menor número de

queda. Altos valores indicam baixa atividade dessa enzima, enquanto baixos valores

indicam alta atividade, um indicativo da ocorrência do processo de germinação na

espiga. Em clima quente e úmido, durante a maturação do grão, a atividade de α-

amilase aumenta. Pães elaborados com farinha que possuem alta atividade

enzimática (Número de queda < 200 segundos) tendem a apresentar miolo escuro e

pegajoso (MÓDENES et al., 2009).

Quando a farinha apresenta uma quantidade excessiva de enzima ela precisa

ser misturada a outra farinha que tenha uma menor atividade enzimática para que se

atinja um equilíbrio na farinha (EMBRAPA, 2012).

Figura 6: Equipamento para a determinação do Falling number (GRANOTEC, 2012).

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3.5 Determinação do glúten

A determinação do glúten permite estimar a quantidade e qualidade das

proteínas de uma dada farinha. O glúten é formado quando a farinha de trigo

misturada à água sofre a ação de um trabalho mecânico. Durante a lavagem da

farinha com solução salina ocorre a eliminação do amido e das proteínas albuminas

(solúveis em água) e globulinas (solúveis em solução salina). Além das proteínas

solúveis (albumina e globulina) o trigo possui as proteínas insolúveis (gliadina e

glutenina), que formam o glúten úmido e seco. O glúten é constituído por uma

massa viscoelástica tridimensional que proporciona as características físicas e

reológicas de plasticidade, viscosidade e elasticidade importantes para a massa.

Farinhas com baixos teores de glúten podem propiciar a obtenção de uma massa

com menor absorção de água (COSTA et al., 2008).

A quantidade e qualidade do glúten determinam uma forte absorção de água

e uma elevada elasticidade da pasta de padaria, que é muito favorável para a

retenção do dióxido de carbono durante o processo de fermentação de massas de

produtos de panificação. Os grãos de trigo com elevados teores de glúten úmido

tendem a produzir as farinhas denominadas fortes (strong), enquanto que os grãos

de trigo com baixos teores de glúten úmido proporcionam a obtenção de farinhas

denominadas fracas (weak), as quais apresentam baixa elasticidade e baixo teor de

proteínas, sendo utilizadas principalmente na elaboração de bolachas e doces

(COSTA et al., 2008). A Figura 7 ilustra os equipamentos utilizados para

determinação do glúten.

Figura 7: Equipamentos para determinaçao de glúten (GRANOTEC, 2012).

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3.6 Alveografia

Este teste simula o comportamento da massa na fermentação. As

características viscoelásticas da farinha de trigo podem ser avaliadas por diferentes

parâmetros da alveografia. A energia de deformação da massa ou força de glúten

(W) representa o trabalho de deformação da massa e indica a qualidade de

panificação da farinha, este teste corresponde ao trabalho mecânico necessário para

expandir a bolha até a ruptura. A expressão "força de uma farinha" normalmente é

utilizada para designar a maior ou a menor capacidade de uma farinha de sofrer um

tratamento mecânico ao ser misturada com água. Também é associada à maior ou à

menor capacidade de absorção de água pelas proteínas formadoras de glúten,

combinadas à capacidade de retenção do gás carbônico, resultando num bom

produto final de panificação, ou seja, pão de bom volume, de textura interna sedosa

e de granulometria aberta. A tenacidade (P) mede a sobrepressão máxima exercida

na expansão da massa, expressa em milímetros, e corresponde a uma medida da

capacidade de absorção de água da farinha. A extensibilidade da massa (L) é usada

para predizer o volume do pão, juntamente com o teor de proteína e representa a

capacidade de extensão da massa, sem que ela se rompa. Um alto grau de

extensibilidade está associado a um baixo rendimento de farinha. A relação

tenacidade/extensibilidade (P/L) expressa o equilíbrio da massa (MÓDENES et al.,

2009).

O equipamento alveógrafo (Figura 8) é o mais comum utilizado para

realização da alveógrafia. A farinha que apresentar valores de P/L abaixo de 0,60

pode ser considerada de glúten extensível, de 0,61 a 1,20 de glúten balanceado, e

valores de P/L acima de 1,21 de glúten tenaz (GRANOTEC, 2012).

Através desta análise é possível determinar a finalidade da farinha que esta

sendo analisada. Quando o P é maior que L, essa é indicada para massas e quando

o L é maior que o valor de P a farinha é indicada para produção de biscoito e bolos.

Diz-se que quanto mais elástica for a massa mais forte ela é. A

extensibilidade, de forma menos intensa em relação à elasticidade que compõem a

força glúten, tem também uma grande contribuição para esta força.

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Figura 8: Alveógrafo (GRANOTEC, 2012). 3.7 Farinografia

Um dos principais testes para avaliação da qualidade da farinha de trigo é a

farinografia. O farinógrafo (Figura 9) tem tido ampla aceitação nos laboratórios de

cereais para controlar as propriedades de mistura das massas de farinha de trigo, e

se destina a avaliar a qualidade de uma farinha quanto à sua capacidade de

absorver água e resistir ao amassamento durante os processos de fabricação de

pães e produtos correlatos. Os valores mais comuns para se interpretar o

farinograma e, portanto, avaliar as propriedades da farinha, são: absorção de água,

tempo de desenvolvimento da massa, estabilidade e índice de tolerância (FARONI et

al., 2002).

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Figura 9: Farinógrafo Brabender (ICTA, 2012).

A partir desse aparelho obtém-se a absorção de água que é quantidade de

água requerida para que a massa atinja a consistência ótima, o tempo de

desenvolvimento da massa, que é o tempo necessário para que a massa atinja o

máximo de sua consistência, a estabilidade, ou tempo que a massa permanece

consistente durante o batimento (500 UF) e índice de tolerância à mistura (ITM), que

é o quanto a massa perde de consistência após cinco minutos de atingida sua

consistência máxima (GUTKOSKI, 2009).

Os resultados dos parâmetros são usados na formulação para estimar a

quantidade de água requerida para fazer uma massa de pão, avaliar os efeitos dos

ingredientes em propriedades de mistura, avaliar as exigências de mistura da farinha

e verificar a uniformidade da farinha. Esses resultados são úteis para prever as

características da textura do produto (RIBEIRO, 2009).

3.8 Colorimetria

A legislação brasileira (BRASIL, 2005) estabelece que a farinha de trigo

deve apresentar cor branca, com tons leves de amarelo, marrom ou cinza, conforme

o trigo de origem. A cor da farinha depende do tipo de trigo e do tempo de

armazenamento, existe também a possibilidade da mesma ser branqueada por

agentes químicos. Relata-se que a cor influi na qualidade tecnológica das farinhas

(GRANOTEC, 2012).

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O processo de moagem também pode influenciar na cor da farinha. Farinhas

com maior grau de extração têm maior quantidade de partículas de farelo

incorporadas, apresentam cor mais escura, maior teor de cinzas, e costuma ter

qualidade tecnológica inferior às farinhas mais brancas (EMBRAPA, 2012).

Para que haja uma maior eficiência na análise é necessário que o

aparelho esteja calibrado. Este aparelho mede a luminosidade da farinha. O

resultado da amostra aparece no visor do equipamento, contendo três letras, “L”, “a”

e “b”, onde “L” determina a luminosidade da amostra, sendo 100 branco total e 0

preto total, o “a” quando positivo mede a tendência da cor para o vermelho e quando

negativo para verde, já o valor de “b” determina quando positivo a tendência a cor

amarela e negativo para azul (EMBRAPA, 2012). A Figura 10 mostra o equipamento

utilizado para realização da determinação da cor.

Figura 10: Colorímetro Konica Minolta (ITISE, 2012). 3.9 Teor de cinzas

O teor de cinzas é um importante parâmetro de qualidade e de eficiência

do processo de moagem, sendo considerado um indicativo do grau de extração de

farinha de trigo. Quando se trabalha com o mesmo trigo e nas mesmas condições,

quanto maior o grau de extração, maior o teor de cinzas. Elevados teores de cinzas

em farinhas indicam alta extração com inclusão de farelo, o que é indesejável devido

ao fato de propiciar uma cor mais escura, cocção inferior e interferir na continuidade

da rede do glúten. Farinhas com baixos teores de cinzas apresentam melhor cor e

absorção de água, bem como qualidade geral de panificação (RIBEIRO, 2009).

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O alto teor de cinza na farinha diminui a quantidade de proteínas

formadoras do glúten, que é necessário para a formação de uma boa massa para a

qualidade na panificação. O teor de cinzas analisado em farinha de trigo, que tem a

função de classificação, indica a presença de sais minerais contidos no pericarpo a

nas primeiras camadas do grão de trigo. Eles determinam o grau de extração e a

presença de farelo (pericarpo + camadas superficiais do aleurona) na farinha branca.

Tais minerais não trazem nenhum problema a saúde pública e são consumidos

normalmente em uma farinha de trigo comum, integral e em seus derivados

(INMETRO, 2000). Para cálculos de cinzas utilizam-se as equações (3) e (4).

(3)

(

) (4)

A Figura 11 mostra o equipamento utilizado para realização da

determinação do teor de cinzas.

Figura 11: Forno Mufla (BRASTEC, 2012).

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4. Conclusão

Realizar o estágio supervisionado no controle de qualidade proporcionou um

conhecimento ainda mais amplo sobre os diversos processos e análises de rotina de

uma indústria alimentícia. O estágio é de grande importância para formação

acadêmica, pois é nele que se vivencia a profissão de um Tecnólogo de Alimentos.

O estágio mostrou que o controle de qualidade tem grande importância no

processo de análise da farinha de trigo, pois os resultados obtidos determinam o

produto final onde a farinha será empregada. Além disso, o controle de qualidade é

fundamental para garantir alimentos seguros para os consumidores dos produtos

COAMO.

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