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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES
– CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM LETRAS MESTRADO EM LETRAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM
LITERATURA COMPARADA
CULTURA REGIONAL E FORMAÇÃO DO LEITOR: ESTUDO COMPARATIVO
DO PERFIL DO LEITOR DE JORNAL E DE LIVROS
EM SÃO JOÃO DO OESTE, SC
Mestrando: Adilson Kipper
Orientadora: Profa. Dra. Denise Almeida Silva
Frederico Westphalen - RS, 2019
ADILSON KIPPER
CULTURA REGIONAL E FORMAÇÃO DO LEITOR: ESTUDO
COMPARATIVO DO PERFIL DO LEITOR DE JORNAL E DE LIVROS
EM SÃO JOÃO DO OESTE, SC
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Letras –
Mestrado em Letras, área de concentração em
Literatura Comparada, sob a orientação da
Profa. Dra. Denise Almeida Silva, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Letras.
Frederico Westphalen - RS
Outubro, 2019
UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS
MISSÕES CÂMPUS DE FREDERICO WESTPHALEN PRÓ-REITORIA DE
ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM LETRAS – MESTRADO EM LETRAS ÁREA DE CONCENTRAÇÃO
LITERATURA COMPARADA
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a dissertação de mestrado
CULTURA REGIONAL E FORMAÇÃO DO LEITOR: ESTUDO
COMPARATIVO DO PERFIL DO LEITOR DE JORNAL E DE LIVROS EM
SÃO JOÃO DO OESTE, SC
Elaborada por Adilson Kipper
COMISSÃO EXAMINADORA:
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Denise Almeida Silva – URI (Orientadora)
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Tania K. Rösing – UPF (1ª arguidora)
______________________________________________________________________
Profa. Dra. Luana Teixeira Porto – URI (2a arguidora)
_____________________________________________________________________
Profa. Dra. Gabriela Silva – URI/FW (3ª arguidora)
Frederico Westphalen – RS, 2019
“Os livros não mudam o mundo,
Quem muda o mundo são as pessoas.
Os livros só mudam as pessoas”.
(Mário Quintana)
(Frase exposta na parede ao lado da entrada da
Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen)
AGRADECIMENTOS
A meus pais, Gabriel e Neli, e a meu irmão, Leonardo, por me amarem e sempre
me apoiarem, incondicionalmente!
A meus familiares maravilhosos, que se desdobraram e deixaram seus próprios
afazeres para cuidar de mim e do meu irmão ao mesmo tempo!
A minha orientadora, Denise Almeida Silva, obrigado por acreditar em mim,
mais do que eu mesmo; pela sua insistência incansável no intuito de que eu não
desistisse do meu sonho – do que iria me arrepender profundamente – e pela sua
imaculada paciência!
À equipe de saúde de São João do Oeste e da ala psiquiátrica de Palmitos,
fundamentais para a minha recuperação!
A todos os respondentes do questionário, que me receberam com muito bom
gosto e deram contribuições significativas para a execução do trabalho!
Aos profissionais da Secretaria de Educação, Departamento Cultural e biblioteca
de São João do Oeste, bem como do Jornal Força d’Oeste, de Itapiranga, por sempre
estarem dispostos a prestarem informações para o trabalho!
A Deus, pela vida e por me proporcionar uma nova chance!
RESUMO
Esta dissertação apresenta pesquisa sobre o perfil do leitor de livros e de jornais no
município de São João do Oeste, Santa Catarina. O trabalho surgiu a partir da
condição de destaque do município no cenário brasileiro com relação à erradicação
do analfabetismo, o que motivou a indagação-base: “Qual o perfil do leitor – de
jornal e de livros – no município de São João do Oeste e como este se relaciona com
a cultura germânica regional?” No intuito de alcançar este objetivo, utilizaram-se
dados históricos, sobretudo obtidos por meio da aplicação de questionário
estruturado, aprovado pelo Comitê de Ética da URI, sob o CAAE
02987018.0.0000.5352. Os questionamentos foram aplicados a 60 leitores
domiciliados em São João do Oeste, dos quais 30 assinam o Jornal Força d’Oeste
e outros 30 leitores leem livros. Os últimos foram divididos em 15 frequentadores
da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen, de São João do Oeste, e 15
leitores de livros em geral. O apoio para a compreensão do conceito de leitor foi
buscado, sobretudo, em Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1998), Lúcia Santaella
(2004) e Maria da Glória Bordini (2016). Apesar de parcialmente inspirada nas
pesquisas promovidas pelo Instituto Pró-Livro, esta pesquisa adota um conceito de
leitor diverso, considerando, sobretudo, a frequência em detrimento à quantidade
como fator determinante. O capítulo 1 aborda o conceito de cultura e sua relação
com a leitura de jornais e de livros, traçando um panorama histórico dessas
plataformas de leitura. O segundo caracteriza o germanismo em São João do Oeste,
bem como a influência da cultura no hábito da leitura; destaca, nesse sentido, o
papel do Jornal Força d’Oeste e da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso
Hansen. A descrição da pesquisa e análise dos dados obtidos é objeto do terceiro
capítulo desta dissertação. Os dados obtidos apontam para perfis diversos do leitor
de jornal e do leitor de livros no município: o primeiro, com menor escolaridade,
limita-se à leitura de jornal, em busca de informação, não se caracterizando como
leitor de livros; comparado a esse leitor, o de livros é mais sofisticado, embora ainda
muito afeito à leitura de best-sellers; revela-se, além disso, tanto leitor de livros
como de jornais. A biblioteca municipal de São João do Oeste, juntamente com as
escolas e famílias, apresentou, de acordo com os respondentes da pesquisa, papel
fundamental como mediadora de leitura; da mesma forma, a influência da cultura
germânica no processo de erradicação do analfabetismo em São João do Oeste é
vista como uma realidade pelos respondentes da pesquisa.
Palavras-chave: Formação do leitor; biblioteca; jornal; germanismo; São João do
Oeste.
ABSTRACT
This thesis is a research about the profile of the reader of books and of the reader of
newspapers in São João do Oeste, Santa Catarina. The research was motivated by the
prominent condition of the town, in the Brazilian scenario, regarding the eradication of
illiteracy. It intends to answer question. “What is the profile of the reader – of
newspaper and of books - in São João do Oeste and how does it relate to regional
Germanic culture?” To achieve this general objective, historical data, data collected
from newspapers, and especially the data obtained through the application of a
structured questionnaire were used. The questionnaire, approved by the URI Ethics
Committee, under CAAE number 02987018.0.0000.5352, was applied to 60 readers
domiciled in São João do Oeste, 30 of whom are subscribers of the newspaper Força
d'Oeste; 30 others are mainly readers of books. This last group was divided in two
groups: 15 readers who are patrons of the Padre Afonso Hansen Municipal Public
Library and 15 others who get their books from other sources. The questionnaire had
three types of question: single answer, multiple answer and incomplete statement, a
format that provides for the quantification of information. Support for the understanding
of the concept of reader is sought, above all, in Marisa Lajolo and Regina Zilberman
(1998), Lúcia Santaella (2004) and Maria da Glória Bordini (2016). Although partially
inspired by the research promoted by the Pro-Livro Institute, this research adopts a
different reader concept, considering frequency rather than quantity as a determining
factor. The description and analysis of the data collected is object of the third chapter of
this thesis. Chapter 1 discusses the concept of culture and its relation to the reading of
newspapers and books, tracing a historical overview of these reading platforms. The
second characterizes Germanism in São João do Oeste, as well as the influence of
culture on reading habits; it highlights, in this sense, the role of the newspaper Força
d´Oeste and of the Padre Afonso Hansen Municipal Public Library. The data obtained
points to differences in the profiles of the reader of newspaper and the reader of books:
the first, with less formal education, is limited to the reading of newspapers, firstly and
foremost in order to seek information; this reader is not a book reader; compared to this
profile, the book reader is more sophisticated, though still very fond of reading
bestsellers, but proves to be a reader of both books and newspapers. The fundamental
role of the school, the library and the family as reading mediators was detected; the
correlation between the Germanic culture and the eradication of illiteracy in the town is
seen as a reality by the survey respondents.
Keywords: Reader formation; library; newspaper; Germanism; São João do Oeste.
SUMÁRIO
CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................. 9
1 CULTURA, LEITURA E LEITOR ............................................................... 15
1.1 CULTURA: conceitos introdutórios ................................................................. 15
1.2 O LIVRO, O JORNAL E SEUS LEITORES .................................................... 19
1.2.1 O livro e o leitor, de Gutenberg à era da internet ..................................... 19
1.2.2 O livro e o leitor no Brasil .................................................................................. 28
1.2.3 O jornal e seu leitor ...................................................................................... 38
2 MOTIVAÇÕES E DESAFIOS PARA A LEITURA EM SÃO JOÃO DO
OESTE ................................................................................................................... 49
2.1 GERMANISMO: A expressão da cultura em São João do Oeste ..................... 49
2.2 RELAÇÕES DA CULTURA LOCAL COM A EDUCAÇÃO E O PROCESSO
DE ALFABETIZAÇÃO .......................................................................................... 62
2.2.1 A Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen: história e público
frequentador ............................................................................................................. 70
2.2.2 O Jornal Força d’Oeste: história e público .................................................. 74
3 O PERFIL DO LEITOR EM SÃO JOÃO DO OESTE ................................. 80
3.1 SOCIAL, EDUCACIONAL E CULTURAL ................................................. 80
3.2 INFLUÊNCIAS NA FORMAÇÃO LEITORA ............................................. 83
3.3 MOTIVAÇÕES, HÁBITOS E BARREIRAS PARA A LEITURA .............. 88
3.4 REPRESENTAÇÕES SOBRE A LEITURA ............................................... 107
3.5 PERCEPÇÕES E USO DE BIBLIOTECAS ................................................ 110
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 119
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 128
ANEXO I ............................................................................................................. 135
ANEXO II ............................................................................................................ 144
ANEXO III .......................................................................................................... 147
ANEXO IV .......................................................................................................... 150
9
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A aptidão para a leitura é ferramenta básica na atualidade, seja para a formação
escolar/acadêmica, na constituição de uma carreira profissional ou em outros campos
relacionados ao desenvolvimento pessoal. Ademais, a leitura, representada, entre outras
maneiras, em seu formato físico por meio do livro, “é o documento que conserva a
expressão do conteúdo de consciência humana individual e social de modo cumulativo”.
Por meio da leitura, “o leitor estabelece elos com as manifestações sócio-culturais [sic]
que lhe são distantes no tempo e no espaço” (AGUIAR; BORDINI, 1993, p. 9) e assim
obtém conhecimento de sua própria história e da sociedade que o circunda.
Em direção oposta aos benefícios proporcionados pela leitura, a alfabetização no
Brasil, entretanto, é marcada por baixos índices: em 2017, cerca de 11,8 milhões de
brasileiros acima de 15 anos eram analfabetos, o que corresponde a 7% desta população,
de acordo com o Censo IBGE 20171 e mencionado pelo portal O Globo. Os números
estão abaixo inclusive da meta estipulada pelo Plano Nacional de Educação (PNE) em
2015, de 6,5%, conforme a mesma página de O Globo.
Neste cenário negativo da alfabetização no Brasil, o município de São João do
Oeste, localizado no Extremo Oeste de Santa Catarina, próximo à divisa com a
Argentina e o Rio Grande do Sul, contrapõe-se à tendência nacional. Desde o início da
colonização agrícola do município, em 1926, os pioneiros, que eram de ascendência
germânica, trataram de proporcionar ensino básico às gerações mais novas, por meio da
edificação de igrejas e escolas, as quais serviam tanto para aulas quanto para
celebrações religiosas e catequese. Esta preocupação dos primeiros colonizadores
quanto à educação reflete-se ainda hoje em São João do Oeste, que já obteve três
premiações como o município com o menor índice de analfabetismo do Brasil.
Em face dessa condição, a indagação para a qual se pretendeu alcançar uma
resposta através desta pesquisa foi: “Qual o perfil do leitor – de jornal e de livros – no
município e como este se relaciona com a cultura regional germânica?” Foi nosso
objetivo caracterizar o perfil dos leitores de jornal e de livro em São João do Oeste/SC,
estabelecendo possíveis relações entre a cultura germânica regional, a erradicação quase
total do analfabetismo no município e o hábito da leitura. Os objetivos desta pesquisa
consistem em caracterizar o perfil dos leitores de jornal e de livro no município de São
1 Os últimos dados sobre alfabetização no Brasil divulgados pelo IBGE são do ano mencionado.
10
João do Oeste/SC, estabelecendo possíveis relações entre a cultura germânica regional,
a erradicação quase total do analfabetismo no município e o hábito da leitura.
Considerar tanto a leitura de livros como de jornais torna-se relevante quando se
verifica que a leitura de diferentes tipos de publicações contribui para incentivar,
mutuamente, o hábito leitor de cada um desses tipos.
Para alcançar os objetivos propostos para esta pesquisa, tornou-se necessário
pesquisar fontes históricas e dados de jornal. Contudo, o instrumento preponderante
para obter o perfil do leitor atual do município foi a aplicação de questionário com
perguntas referentes à leitura de jornais e livros, e à percepção dos respondentes sobre
vinculações entre hábitos de leitura e a cultura germânica. Inspirado no questionário
aplicado pela pesquisa Retratos de Leitura no Brasil, o questionário utilizado foi
adaptado para alcançar os objetivos a que esta pesquisa se propõe, sendo dividido em
cinco tópicos aglutinadores das questões, a saber: 1) caracterização social, educacional e
cultural; 2) influências na formação leitora; 3) motivações, hábitos e barreiras para a
leitura; 4) representações sobre a leitura e 5) percepções e uso de bibliotecas.
Uma vez que o objetivo desta pesquisa é traçar o perfil leitor de leitores de livros
e de jornais, foi preciso flexibilizar e ampliar o conceito de leitor adotado pelo Instituto
Pro-Livro, na pesquisa da qual resultam os Retratos da Leitura no Brasil. Segundo
dados apresentados por Zoara Failla, na 4ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no
Brasil, considerou-se “leitor” segundo os critérios que vêm sendo adotados pelo
Instituto Pró-Livro, ou seja, leitor é “aquele que leu, inteiro ou em partes, pelo menos
um livro nos três meses anteriores à pesquisa.” (2016, p. 166). A mesma fonte, seguindo
o mesmo critério adotado na edição de 2011 da pesquisa, considera livro “livros em
papel, livros digitais ou eletrônicos e áudiolivros digitais, livros em braile e apostilas
escolares, excluindo-se manuais, catálogos, folhetos, revistas, gibis e jornais.” (2016, p.
166). Para os termos desta pesquisa, e de acordo com seus objetivos, considera-se leitor
o leitor de livros e jornais, em qualquer suporte, adotando-se o critério de frequência e
não o da quantidade. Segundo se pode constatar na pergunta 3.13 do questionário (ver
Anexo 1), a periodicidade regular mínima para se considerar um leitor foi a leitura
quinzenal de livros e/ou jornais.
O questionário foi direcionado a 30 assinantes do Jornal Força d’Oeste e 30
leitores de livros em São João do Oeste. O número de assinantes do jornal que
responderam ao questionário justifica-se pelas faixas etárias definidas para a execução
11
do projeto: 18 a 24 anos; 25 a 35; 36 a 50; 51 a 64 e 65 ou mais. Para cada uma dessas
faixas etárias foram consultadas seis pessoas, o que totaliza 30. No caso dos leitores de
livros, foram consultados 15 leitores que frequentam a Biblioteca Pública Municipal
Padre Afonso Hansen – cujo acesso às obras é gratuito – e outros 15 que obtêm os livros
de outras maneiras. Em cada um desses grupos foram consultados três respondentes
para cada uma das cinco faixas etárias contempladas, perfazendo, também, um total de
30 respondentes. O público alvo da pesquisa foi dividido em cinco faixas etárias, a
partir dos 18 anos, justamente em decorrência da pretensão de entrevistar leitores que já
tenham concluído o Ensino Básico, ou seja, que leiam a partir da própria iniciativa, sem
a imposição escolar.
A escolha da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen deve-se ao fato
desta ser a principal do município, com acesso gratuito aos livros em seus 26 anos de
atendimento e também em função dos constantes investimentos no local, seja para a
aquisição de livros ou a recente revitalização do espaço disponível. Conforme a
bibliotecária Juliane Steffen (2019), 2.000 pessoas estão cadastradas na biblioteca e
deste contingente, 20% são maiores de 18 anos ou já concluíram o Ensino Médio.
Segundo dados veiculados pela Prefeitura Municipal de São João do Oeste, o acervo da
biblioteca abrange 13.437 livros infantis e 16.925 de literatura em geral (SECRETARIA
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOÃO DO OESTE, 2019), o que totaliza
30.362 exemplares. O acervo também é regularmente renovado: a bibliotecária Juliane
Steffen enfatiza que entre 2017 e 2018, por exemplo, foram adquiridas em torno de 200
obras de literatura infantil e outras 200 de literatura em geral, além de livros, jornais e
audiovisuais, entre eles, material em idioma alemão (STEFFEN, 2019). Entre outras
utilidades, a biblioteca oferece sala de informática, com acesso gratuito à internet, assim
como o chamado “Cantinho da Leitura”, espaço reservado à leitura e à consulta de
livros.
Já a opção por pesquisar, dentre os leitores de jornal, os leitores do Força
d’Oeste, deve-se à relevância deste veículo de comunicação no município de São João
do Oeste. Embora tenha sede no município vizinho, Itapiranga, 29% dos assinantes do
semanário residem em São João do Oeste: segundo o diretor geral do Força d’Oeste,
Rafael Stuelp, de um total de 3.100 assinantes, entre os cinco municípios de
abrangência do veículo de comunicação, 900 procedem desse município. Considerando
12
que a população de São João do Oeste é estimada em 6.359 habitantes em 2018,
verifica-se que ao menos um entre cada sete moradores do município assina o jornal.
Os questionários foram aplicados entre os meses de janeiro e abril de 2019, de
forma presencial, ou seja, o pesquisador entregou as folhas impressas com as perguntas
diretamente aos respondentes, oportunidade na qual o público questionado também teve
oportunidade de fazer outros comentários sobre assuntos relativos à leitura que não
estavam contemplados nos questionamentos, fator que ajudou a ampliar o escopo da
pesquisa.
Os questionamentos contaram com três tipos de questão: resposta única, resposta
múltipla e afirmação incompleta. Esse formato propicia a quantificação das
informações, que podem ser tabuladas em números, o que facilita a amostragem.
Segundo Lakatos e Marconi (2011, p. 285), “o enfoque quantitativo vale-se do
levantamento de dados para provar hipóteses baseadas na medida numérica e da análise
estatística para estabelecer padrões de comportamento.” A escala de medição dos dados
foi a ordinal, ou seja, “quando se estabelece uma ordem entre as diferentes categorias”,
como “classe alta, média e baixa” (LAKATOS; MARCONI, 2011, p. 287). As medidas
de posição, por sua parte, foram apresentadas em formato de “moda”, no qual serão
ressaltadas as alternativas de respostas mais mencionadas pelos respondentes. Os
materiais com coleta de informações serão guardados por 5 anos e em seguida
eliminados; o roteiro deste questionário foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa
do Programa de Pós Graduação da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e
das Missões – URI, campus de Frederico Westphalen, sob o CAAE
02987018.0.0000.5352.
Esta pesquisa quantitativa, apoiada no método hipotético-dedutivo, permitiu,
como se esperava, conjecturar sobre os hábitos de leitura do contingente para o qual o
questionário foi aplicado, e seus hábitos como leitores de livros e jornais,
frequentadores de bibliotecas ou não. Estes dados são descritos no capítulo 3 (que
contou com um tópico exclusivo para cada um dos 5 temas em torno dos quais se
aglutinaram as perguntas elaboradas para o questionário), e analisados nas conclusões,
onde se retomam os dados preliminares expostos nos primeiros capítulos desta
dissertação. O capítulo 1 aborda o conceito de cultura e sua relação com a leitura de
jornais e de livros, traçando um panorama histórico dessas plataformas de leitura. Em
seguida, no segundo capítulo, caracterizamos o germanismo e, com base nisto,
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descrevemos a cultura de São João do Oeste. A partir destas relações, identificamos
possíveis fatores que levaram o município a praticamente erradicar o analfabetismo,
bem como a influência da cultura no hábito da leitura. Ainda, apresentamos um
histórico do Jornal Força d’Oeste e da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso
Hansen, cujos respectivos frequentadores e leitores formaram parte da população-alvo
dos questionários estruturados de coleta de dados. O terceiro capítulo, conforme já
explicitado, procede à análise do perfil do leitor de jornais e de livros do município de
São João do Oeste.
O caráter original desta pesquisa deriva da carência de estudos que relacionem a
cultura germânica ao hábito da leitura no município de São João do Oeste. A maioria
das análises efetuadas por pesquisadores desta região associa a cultura do município à
religião católica e educação básica, porém não conseguimos localizar, até o momento,
estudos que considerem o vínculo entre a cultura, o processo de alfabetização e a
manutenção do hábito da leitura no município. Da mesma forma, não encontramos
pesquisas que comparem as afinidades e diferenças entre o público leitor de jornais e de
livros em São João do Oeste, bem como a conexão destas duas plataformas de leitura
com a cultura alemã.
Ao admitir o estudo da cultura alemã como escopo de análise, o presente
trabalho ratifica sua inserção na linha de pesquisa “Comparatismo e Tradução” do
Programa de Pós-Graduação em Letras – Literatura Comparada. Esta linha de pesquisa
não se limita à tradução textual de um idioma para outro, pois também compreende as
traduções culturais que se estabelecem entre diferentes artes ou plataformas literárias, o
que inclui a possibilidade de estudo da forma como a cultura incide sobre a leitura de
livros e jornais em determinada região ou público, por exemplo, temas que constituem o
fundamento deste trabalho. A Literatura Comparada, que na sua fase inicial, no século
XIX, era compreendida como um elemento da historiografia literária, tornou-se
disciplina que abrange diferentes campos das Ciências Humanas, segundo Tania Franco
Carvalhal (1991). Este caráter interdisciplinar, portanto, confere a possibilidade de
comparar os leitores de jornal e de livros, tal qual ocorre nesta pesquisa. Dentro do
Programa de Pós Graduação em Letras da URI – campus de Frederico Westphalen, o
tema desta pesquisa destaca-se também por ser o primeiro que propõe o estudo de um
perfil de leitores de um município.
14
O comparatismo exige que ao menos um dos objetos de estudo que se pretende
analisar seja o literário: para C. S. Brown (apud CARVALHAL, 1991), por exemplo, a
Literatura Comparada inclui “[...] qualquer estudo de literatura envolvendo, pelo menos,
dois diferentes meios de expressão” (p. 12). Ainda conforme Carvalhal (1991, p. 11),
“[...] comparar não é justapor ou sobrepor mas é, sobretudo, investigar, indagar,
formular questões que nos digam não somente sobre os elementos em jogo (o literário, o
artístico), mas sobre o que os ampara (o cultural, por extensão, o social)”, razões pelas
quais esta pesquisa, sobre a articulação entre a cultura germânica e o processo de leitura
de livros e jornais, assenta-se entre os estudos comparatistas.
Esta pesquisa distingue-se por enfocar o epicentro da cultura popular: diferente
dos trabalhos acadêmicos que se centram exclusivamente no espaço da academia, ou
preocupam-se com o extra-universitário em segunda instância, esta Dissertação de
Mestrado propõe justamente o oposto, pois a pesquisa advém da cultura popular de
ascendência germânica no município de São João do Oeste para em seguida ater-se ao
processo de leitura de jornais e livros e a análise da relação cultura-leitura pelo viés
acadêmico. Tencionamos, também a partir desta pesquisa, estimular políticas públicas
que se voltem à importância da leitura. Da mesma forma, esperamos que os resultados
desta pesquisa – constituída a partir de aplicação de questionário para 60 leitores –
contribuam para as universidades refletirem sobre a maneira como trabalham a
formação do leitor, especialmente na área de Letras.
15
1 CULTURA, LEITURA E LEITOR
1.1 CULTURA: conceitos introdutórios
Cultura significa, em sua acepção mais ampla, a soma dos padrões
comportamentais de um grupo social, representando o conjunto de seus conhecimentos,
experiências, atitudes e valores, nos quais se incluem sua língua, relações sociais e
hierarquias, religião, dentre outros padrões comportamentais.
Ao analisar o conceito de cultura a partir das ressonâncias etimológicas do
termo, Alfredo Bosi (1992) identifica a sua origem ao verbo latino colo, que remete a
tanto morar na terra como cultivar o campo. Semelhantemente, culto e colonização, os
quais, juntamente com cultura, também derivam de colo, têm significados distintos
entre si: enquanto colonização refere-se ao manejo da terra, Bosi relembra que culto
retoma a experiência do cultivo e do apego ao solo, e, pois, da experiência e memória
compartilhadas. Por outro lado, culturus carrega “a ideia de porvir ou de movimento em
sua direção” (BOSI, 1992, p. 16).
Nas sociedades urbanizadas, cultura foi adquirindo também o sentido de
condição de vida cujo valor é estimado por todas as classes e grupos: cultura supõe
consciência grupal que remete, a partir da vida presente, os planos para o futuro. Nesse
sentido, como Bosi acentua, a cultura consiste no “conjunto das práticas, das técnicas,
dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a
reprodução de um estado de coexistência social” (BOSI, 1992, p. 16).
Ao relacionar este termo à realidade brasileira, denota-se que “cultura”, no
singular, torna-se redutor para um dos países mais multiculturais do mundo. É por esta
razão que autores como Bosi (1992) preferem utilizar a designação “culturas
brasileiras”, no plural, quando se referem às culturas indígenas, afrodescendentes,
europeias ou quaisquer outras que compõe o maior país da América Latina. O termo
cultura evoca o entendimento de “uma herança de valores e objetos compartilhada por
um grupo humano relativamente coeso” (BOSI, 1992, p. 309). A partir desta
constatação, Bosi (1992) assimila a distinção entre a cultura erudita – identificada em
níveis educacionais, principalmente em universidades – e a cultura popular – de um
público basicamente iletrado, composto em maior parte por pessoas residentes no
sertão, interior e as classes baixas.
16
Dentro desta distinção extrema entre as culturas popular (folclórica) e erudita
(universitária) incluem-se outros dois desdobramentos: a cultura criadora, composta
por escritores, compositores, artistas plásticos e outros intelectuais que se encontram
fora da universidade, porém observados em posição elevada pelo sistema cultural; e a
cultura de massas, que, em razão de sua relação com o mercado de bens de consumo,
acabou sendo tarimbada de indústria cultural pelos estudiosos da Escola de Frankfurt.
As quatro variantes de cultura seriam, portanto, cultura universitária, cultura criadora
extra-universitária, indústria cultural e cultura popular (BOSI, 1992).
A cultura universitária ocupa espaço privilegiado por ser incrementada por
investimentos particulares e também do próprio Estado. Como registrada por Bosi em
1992, era formada, em nosso meio, por jovens das classes média e alta nos anos 1980,
uma realidade amplamente distinta da atual, em que os estudantes das classes mais
baixas também adquirem acesso ao ensino superior. Bosi ainda registrava influência do
poder econômico dos Estados Unidos, que faz instituir a relevância do aprendizado do
Inglês, em detrimento de outras línguas, ocasionando limitação ao acesso do estudante à
literatura e à cultura publicadas em outras línguas (BOSI, 1992).
No que tange à cultura fora da universidade, o termo remete ao conceito
antropológico de cultura, como “conjunto de modos de ser, viver, pensar e falar de uma
dada formação social” (BOSI, 1992, p. 319). Abandona-se, aqui, o conceito restrito de
cultura como as produções escritas de instituições de ensino e pesquisa superiores. A
cultura extra-universitária relaciona-se com a vida psicológica e social do povo, ao
passo que a prática acadêmica detém-se sobre materiais secundários ou terciários, com
base em métodos e fórmulas específicas (BOSI, 1992).
A cultura popular é a que mais se aproxima do sentido antropológico do termo,
conforme Bosi (1992), uma vez que esta se constitui desintegrada da institucionalização
do Estado. Sedimentada no imaginário do povo, a cultura popular abrange desde o “rito
indígena ao candomblé, do samba-de-roda à festa do Divino, das Assembleias
pentecostais à tenda de umbanda, sem esquecer as manifestações de piedade do
catolicismo que compreende estilos rústicos e estilos cultos de expressão” (BOSI, 1992,
p. 323). As manifestações culturais no âmbito popular transcorrem de grupos mais
fechados, mas que, ainda assim, estão expostos à influência da cultura escolar ou dos
meios de comunicação de massa. No contexto de São João do Oeste, o cultivo do
catolicismo dominante é acompanhado de celebrações religiosas em todos os fins de
17
semana nas comunidades e na sede do município, da mesma forma como as demais
missas e cultos no decorrer do ano, como as do período da Páscoa e Corpus Christi –
nesta última ainda é efetuada procissão após a celebração. Outras celebrações na igreja
também se tornaram habituais, como a Missa da Saúde, direcionada a todos que estejam
enfrentando alguma doença e realizada sempre nas quartas-feiras na comunidade da
matriz, na qual, na parte final da celebração, os devotos dirigem-se ao altar, virados para
a cruz, e assim efetuam a oração e os ritos finais.
Cada comunidade católica também possui a sua própria padroeira e não há
necessariamente uma santa sobre a qual se estenda maior devoção. A principal festa
paroquial de São João do Oeste, por seu turno, é a Erntedankfest (Festa da Colheita),
promovida por integrantes da comunidade da matriz, sempre no primeiro domingo de
maio. Este evento arrecada fundos para que a comunidade possa investir tanto na igreja
matriz, a maior em madeira da América Latina, quanto em outras estruturas abrangidas
por ela, como o cemitério, o salão paroquial e a gruta Nossa Senhora de Lourdes. Em
algumas edições da Erntedankfest, que em 2019 chegou ao 67º ano, os lucros eram
repartidos entre a comunidade da matriz e o hospital do município.
No caso da cultura popular, não há uma separação entre as esferas material e
espiritual ou simbólica:
Cultura popular implica modos de viver: o alimento, o vestuário, a
relação homem-mulher, a habitação, os hábitos de limpeza, as práticas
de cura, as relações de parentesco, a divisão das tarefas durante a
jornada e, simultaneamente, as crenças, os cantos, as danças, os jogos,
a caça, a pesca, o fumo, a bebida, os provérbios, os modos de
cumprimentar, as palavras tabus, os eufemismos, o modo de olhar, o
modo de sentar, o modo de andar, o modo de visitar e ser visitado, as
romarias, as promessas, as festas de padroeiro, o modo de criar
galinha e porco, os modos de plantar feijão, milho e mandioca, o
conhecimento do tempo, o modo de rir e de chorar, de agredir e de
consolar... (BOSI, 1992, p. 234)
Como Bosi salienta, há a impossibilidade de separar corpo e alma, bem como
entre as necessidades orgânicas e morais. É por esta razão que defende uma teoria da
cultura brasileira, com vistas a eliminar a fragmentação entre culturas populares e
elitistas, bem como as ideologias e preconceitos arraigados nesta distinção, pois ambas
constituem e influenciam o indivíduo.
Neste trabalho, interessam, sobretudo, as relações da cultura popular com a
cultura de massa (leitores de jornal) e a cultura erudita (leitores de livros). Na primeira
18
relação, entre a cultura de massa e a cultura popular, um dos resultados é a influência
exercida pelo poder econômico dos meios de comunicação de massa, capaz de reduzir
as reminiscências de grupos culturais populares a apenas expressões folclóricas.
Quanto às relações entre a cultura popular e a cultura erudita, Bosi (1992) aponta
que a erudita trata da popular de duas maneiras distintas: por um lado, a ignora, e de
outro, mostra-se curiosa sobre o seu potencial como fonte de pesquisa em nível
universitário. Para que a relação entre a cultura erudita e a cultura popular se estabeleça,
é necessário que os representantes da universidade mantenham grande e sincera empatia
com a simbologia popular, destituída de preconceitos. A cultura erudita procura
renovar-se para demonstrar a espontaneidade da vida popular e neste sentido é relevante
que esta faça um autodiagnóstico da relação com a cultura popular (BOSI, 1992).
Um dos desafios da cultura erudita, comumente centrada em si mesma, é a
superação do confronto que mantém com as manifestações folclóricas: “ela as
desclassifica enquanto cultura, acentuando, no seu julgamento, o teor simples, pobre,
elementar, grosseiro, vulgar, ou as formas monótonas, repetitivas, não originais, dessas
mesmas expressões” (BOSI, 1992, p. 334). Muitos intelectuais acadêmicos estão
satisfeitos com o estilo de vida edificado em âmbito internacional pelas universidades e
o status proporcionado pelo ensino superior, à iminência de afastarem seu contato da
cultura popular (BOSI, 1992). O trabalho desenvolvido nesta Dissertação de Mestrado,
por seu turno, propõe justamente o oposto, pois a pesquisa advém da cultura popular de
ascendência germânica no município de São João do Oeste, para em seguida ater-se ao
processo de leitura de jornais e livros e a análise da relação cultura-leitura pelo viés
acadêmico.
A indústria cultural, por sua vez, refere-se ao conteúdo difundido pelos meios de
comunicação de massa, especialmente pela televisão, seguida pelo rádio e em menor
escala, por jornais e revistas. Em alguns casos, como o horário da novela ou do
noticiário, famílias inteiras reúnem-se em frente à televisão, fato que Bosi (1992)
caracteriza como “cultura para as massas” (p. 321, grifo do autor). Tais programas
utilizam-se de recursos apelativos, como sentimentalismo, agressividade, erotismo,
medo e curiosidade, os quais objetivam provocar emoções nas pessoas que assistem, de
modo a mantê-las interessadas no material veiculado.
Embora Bosi não se ocupe do caso específico de jornais, é importante salientar
estratégias comumente usadas pela imprensa para atrair as massas. Para Ricardo Noblat
19
(2002), uma das estratégias mais efetivas no que tange ao desencadeamento do interesse
do leitor de jornais é a produção de conteúdo com caráter local, de modo que este se
sinta incluído no contexto do fato. Ao passo que os canais de comunicação de maior
alcance, como o rádio, a televisão e a internet caracterizam-se pela divulgação de
conteúdo jornalístico em âmbito mais abrangente, seja estadual, nacional ou
internacional, o jornal impresso deve ater-se ao local, visando tornar-se único nas
notícias e reportagens que propaga (NOBLAT, 2002).
É por este motivo que jornais como o Força d’Oeste, de Itapiranga/SC,
mostram-se exitosos em seus empreendimentos, afinal não existem veículos de
comunicação com o poderio massivo como a televisão na região em que o impresso
circula. Há outros jornais de circulação semanal em Itapiranga, além das rádios, o que
impele o Força d’Oeste a visualizar estratégias distintas para que possa manter seu
espaço no mercado jornalístico. Uma alternativa para os jornais, conforme sublinha
Noblat (2002), é a produção de conteúdo exclusivo e com maior aprofundamento de
informações, pois a maioria dos temas divulgados pelo impresso já foram noticiados por
outros veículos de comunicação. A “notícia em tempo real deve ficar para os veículos
de comunicação instantânea – rádio, televisão e internet. Jornal deve ocupar-se com o
desconhecido. E enxergar o amanhã” (NOBLAT, 2002, p. 38). A capacidade de
enxergar o amanhã, na concepção de Noblat (2002), refere-se à missão dos jornais em
visualizar as consequências que os fatos instigarão no decorrer do tempo, para
antecipar-se aos veículos de comunicação com fluxo de notícias mais acelerado. Não se
trata meramente de adivinhar o que acontecerá em curto ou longo prazo, mas de
apresentar indícios dos desdobramentos que determinado fato acarretará.
1.2 O LIVRO, O JORNAL E SEUS LEITORES
1.2.1 O livro e o leitor, de Gutenberg à era da internet
A aprendizagem da leitura, consoante Antonio Viñao Frago (1993), nasce de um
exercício que mescla habilidades auditivas e visuais, “no qual primeiro identificam-se as
letras por seu som, e depois, progressivamente, com soletrações sucessivas e repetidas,
as sílabas, palavras e frases” (p. 40). Estas constatações auxiliam a explicar porque a
leitura da literatura, ainda no século X, de acordo com Roger Chartier (apud FRAGO,
20
1993), ocorria predominantemente em voz alta (ou baixa) e passou então a se consolidar
de forma silenciosa. No período que compreende os séculos XI e XIV, a leitura
alastrou-se entre clérigos e universitários, para em seguida também atingir os
aristocratas. Como Frago (1993, p, 42) salienta,
Isso implicou profundas modificações no uso do livro, não menores
do que as que a imprensa produziu posteriormente. A leitura
silenciosa introduziu o livro na esfera da intimidade individual,
facilitou uma compreensão mais livre do escrito e permitiu uma leitura
rápida e, portanto, o acesso a um maior número de textos.
John Foxe enfatiza a colaboração da imprensa para a instituição da leitura na
sociedade. O autor classifica a imprensa como “uma divina e miraculosa invenção”
(FOXE apud GILMONT, 1999, p. 47), termos que, aliás, já eram utilizados desde o
surgimento da tipografia, instaurada por Johannes Gutenberg na segunda metade do
século XV, em 1460. A invenção de Gutenberg, segundo Gilmont, promoveu maior
circulação de textos e redução nos custos das impressões. Um contratempo inerente a
este processo, contudo, era o alto índice de analfabetismo da sociedade e a lentidão do
processo de transição do texto manuscrito para o impresso, situação que o autor
descreve como “uma lenta gestação de cerca de oitenta anos” (GILMONT, 1999, p. 48).
A partir de 1520, as oficinas tipográficas começaram a se espalhar rapidamente,
a partir da Alemanha e, em seguida, avançaram para a Itália, França e o resto da Europa.
Nesta época, a imprensa contribuiu para o alastramento das línguas nacionais, que então
estavam em alta no cotidiano da sociedade europeia. O autor enaltece a influência de
Lutero neste processo, que, ao se opor às indulgências2, desencadeou ampla campanha
de imprensa na Alemanha, de 1520 a 1525, com panfletos que circularam por todo o
Império. Em meio à ainda expressiva incidência do latim como a língua oficial dos
textos de caráter teológico, no século XVI o livro multiplicou-se em um mundo em que
a oralidade comandava as interações sociais (GILMONT, 1999).
Com o intuito de esboçar a amplitude da leitura, Gilmont apresenta alguns
pesquisadores que especulam sobre a taxa de alfabetização na Europa no século XVI:
R. Engelsing estima que de 3 a 4% da população alemã sabia ler por
2 As indulgências consistiam numa espécie de comércio, no qual os fieis da igreja Católica pagavam para
receber a remissão de pecados considerados mais graves.
21
volta de 1500; nas cidades a porcentagem subia até 10 ou mesmo
30%. Para a Inglaterra, D. Cressy situa as taxas em torno de 10% para
os homens e 1% para as mulheres. Em uma cidade culta como Veneza
[Itália], a frequência escolar eleva-se globalmente em 1587 a 14% dos
jovens (26% dos rapazes, 1% das moças), o que dá uma ideia da taxa
de alfabetização dos venezianos (GILMONT, 1999, p. 58-59).
Para prosseguir a contagem da história do livro, a partir de então o foco dos
historiadores deslocou-se do texto para o leitor, buscando identificar o tipo de leitura
que se fazia das obras: “[...] não nos enganemos: uma distinção essencial deve ser feita
entre a audiência dos livros – aqueles que realmente os leem – e seu público – aqueles a
quem os autores e os editores os destinam” (GILMONT, 1999, p. 59).
Gilmont destaca que na Alemanha do século XVI as edições da Bíblia eram
destinadas predominantemente às paróquias e aos pastores, enquanto nos Países Baixos
uma produção tipográfica mais ampla contribuiu para um número significativo de
Bíblias chegarem às famílias (GILMONT, 1999). A quarta sessão do concílio, em 1546,
culminou no estabelecimento de uma lista de livros bíblicos a serem considerados
canônicos, todos estes necessariamente em latim, de acordo com Dominique Julia
(1999). Estes livros também deveriam ser compreendidos de maneira específica,
conforme as expectativas da Igreja. A partir do século XVI, com prosseguimento até o
XVIII, houve aumento considerável no número de leitores, motivado pelo progresso da
escolarização (JULIA, 1999, p. 97). No caso da França do século XVII, por exemplo,
iniciou-se uma escolarização maciça, sem, entretanto, aferir as consequências em longo
prazo (JULIA, 1999, p. 98).
Julia (1999) relata que no século XVI ainda havia ampla distância entre a
escolarização oferecida à elite nobre, que recebia livros com orientações sobre a
conduta espiritual, e as camadas populares, às quais eram distribuídos meros folhetos
durante as missões. A abrangência da religiosidade amplifica-se ao ponto de os livros
deste gênero ultrapassarem a metade do estoque das lojas francesas no século XVII e
chegarem ao ponto de representar 63% do número de reimpressões entre 1778 e 1789,
segundo Julia (1999).
Enquanto os livros alastravam-se pela Europa, a alfabetização começou a
apresentar resultados mais expressivos a partir do século XVIII. Entre os primeiros
modelos de alfabetização que obtiveram maior sucesso no mundo destaca-se o
protestante-nórdico ou sueco. A ênfase na difusão da leitura, aliada aos esforços da
igreja luterana e do estado, contribuíram para que quase 100% da população da Suécia
22
soubesse ler por volta de 1750, segundo E. Johansson (apud FRAGO, 1993, p. 46). A
aquisição da leitura era avaliada por meio de provas paroquiais anuais, determinadas por
uma disposição de 1686, como requisito para receber a comunhão ou contrair
matrimônio. O objetivo desta avaliação era garantir “que os pais eram capazes de
alfabetizar seus filhos” (FRAGO, 1993, 46), com base em textos de índole político-
religiosa.
O modelo prussiano-alemão, por sua vez, engloba também a influência das
forças produtivas na formação dos leitores, a ponto de igualar ou mesmo superar as
motivações religiosas (FRAGO, 1993, p. 47). O autor reitera que as taxas de
alfabetização da Prússia [região que na época era ocupada pela Alemanha e grande parte
do território da Polônia] em meados do século XIX eram superiores às da Inglaterra e
França nesta mesma época. Dois fatores principais conduziram o império a uma das
taxas de escolarização e alfabetização mais elevadas em meados do século XIX e
influenciaram nas metodologias pedagógicas de outros países, segundo Frago (1993, p.
47):
Um deles, similar ao sueco, foi a pressão político-religiosa da reforma
protestante e a aliança entre os poderes públicos (estatais e municipais)
e os eclesiásticos, para criar todo um sistema escolar público, de base
local. Outro, bastante peculiar, foi a pressão bélico-nacionalista e as
exigências derivadas da constituição de um exército moderno no século
XVIII.
Lajolo e Zilberman (1998) registram o início da história do leitor na Europa, no
século XVIII, a partir de uma conjunção de fatores favoráveis. O principal deles é o
advento de maior tecnologia para a impressão das obras:
Nessa época, a impressão de obras escritas deixou de ser um trabalho
quase artesanal, exercida por hábeis tipógrafos e gerenciado pelo
Estado, que, por meio de alvarás e decretos, facultava, ou não, o
aparecimento dos livros. Tornou-se atividade empresarial, executada
em moldes capitalistas, dirigida para o lucro e dependente de uma
tecnologia que custava cada vez menos e rendia cada vez mais
(LAJOLO; ZILBERMAN, 1998, p. 14).
O objetivo da sociedade capitalista somente mostrou-se exitoso a partir do
momento em que houve um fortalecimento das escolas e da obrigatoriedade do ensino.
As revoluções burguesas dos séculos XVIII e XIX abrangeram, entre as metas
principais, o afastamento do Estado em relação à economia, para que este atuasse
23
predominantemente sobre a saúde e educação. “Com isso, ficava o capital livre para
usar o mercado da maneira que lhe aprouvesse” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1998, p. 15).
O alastramento do hábito da leitura permitiu que o livro alcançasse um público
cada vez mais amplo no final do século XVIII. Em Paris, segundo Reinhard Wittmann
(1999), todos já liam em 1796, no período que o autor classifica como o da Febre da
Leitura:
Todos - principalmente as mulheres - têm um livro consigo. Lê-se no
bonde, nos calçadões, nos intervalos do teatro, nos cafés, no banho.
Nas lojas lêem mulheres, crianças, aprendizes, praticantes. No
domingo as pessoas lêem diante de suas casas; os lacaios lêem em
seus assentos, os cocheiros em sua boléia, os soldados nas guaritas
(KRAUSS, 1965 apud WITTMANN, 1999, p. 135-136).
Wittmann (1999) observa também nesta época uma transição da leitura intensiva
para a extensiva: enquanto a primeira concentrava-se especialmente sobre os cânones
literários e as leituras de cunho religioso – especialmente sobre a Bíblia –, a extensiva
consistia em leituras mais abrangentes, com a finalidade de promover distração pessoal.
Esta maneira diferenciada de encarar a leitura sinalizou uma ruptura no modo
tradicional de ler, para a instauração de outro mais moderno, com um público que se
distinguia tanto em parâmetros quantitativos, quanto nos qualitativos.
A leitura, para a qual a burguesia pela primeira vez teve tempo e poder
de compra suficientes, ganhou função emancipadora e se tornou força
social produtiva: ela ampliou o horizonte moral e espiritual,
transformou o leitor num membro útil da sociedade, fez com que
dominasse melhor o seu círculo de deveres e também serviu à carreira
social. A palavra impressa tornou-se pura e simplesmente a
representante burguesa de cultura (WITTMANN, 1999, p. 138).
O século XVIII marcou uma mudança na mentalidade da leitura como forma de
poder, a serviço da religião, para então se dispor a atingir um público mais amplo, que
para tanto necessitaria ser alfabetizado. Wittmann (1999) verifica que não há dados
consistentes em relação ao número de pessoas com habilidade para ler e escrever ao
final daquele mesmo século e questiona o potencial das metodologias de alfabetização
para formar leitores que mantenham o hábito por toda vida. O autor destaca a
necessidade de se distinguir o contingente de leitores em sexo – uma vez que o feminino
era alfabetizado com os objetivos mais voltados à leitura do que para a escrita –, os que
frequentam escolas confessionais e principalmente os aspectos sociais que englobam os
24
moradores da cidade e do campo. “É "leitor" quem é capaz de rabiscar sua assinatura
num certificado de compra, quem com muito esforço e suor decifra o familiar
catecismo, ou mesmo um analfabeto que ouve avidamente alguém que lê”
(WITTMANN, 1999, p. 139).
Apenas a Suécia ostentava a marca de 100% da população adulta alfabetizada no
século XVIII, segundo Wittmann (1999), também apontado anteriormente por Lajolo e
Zilberman (1998). Os demais países, em especial na Europa central, apresentaram um
crescimento significativo no número de leitores no século XVIII. Wittmann (1999, p.
139), com base em outros autores, aponta que em torno de 1770, 15% da população
germânica acima de 6 anos detinha a habilidade da leitura; e em 1800, a quantidade de
leitores avançou para 25%.
A leitura, a partir de então, tornou-se atividade socialmente individual e
indiferente, conforme Wittmann (1999). De modo geral, a evolução da leitura ocorreu a
partir das cidades, antes de atingir a população camponesa. Esta difusão do ato de ler
obteve efeitos mais substantivos entre o público feminino, por meio das esposas e filhas
da burguesia, as quais contavam com mais tempo livre. “Foi permitido, então, ampliar
seu cânone de leitura, que até o começo do século XVIII estava praticamente limitado a
construtivos escritos religiosos (mesmo que essas restrições nem sempre pudessem ser
cumpridas)” (WITTMANN, 1999, p. 143).
No caso da Alemanha, Wittmann (1999) destaca a necessidade de um vínculo
entre a leitura religiosa e a mundana para ampliar o leque de leituras do público
feminino. Jean Paul (apud Wittmann, 1999, p. 150) verifica que por volta de 1800 havia
três públicos leitores neste país: “(1) o das bibliotecas de empréstimo, amplo, quase
iletrado, inculco; (2) o erudito, constituído de professores, formandos, estudantes,
críticos; (3) o letrado, composto de cidadãos e mulheres de boa formação, artistas e
integrantes de classes superiores”.
A popularidade da leitura entre o público jovem e feminino já havia sido
diagnosticada em 1780, quando inclusive as classes populares passaram a ler com o
objetivo de divertir-se, e não simplesmente para a formação pessoal. Os catálogos da
Feira de Leipzig, por exemplo, registram que em 1765 foram comercializados 1.384
títulos e os números cresceram expressivamente nas décadas seguintes, até atingir 3.906
títulos em 1800. O elevado preço dos livros, que subiu oito a nove vezes nas três
últimas décadas do século XVIII, impediu uma maior comercialização neste período,
25
quando muitos leitores optaram por procurar as obras em bibliotecas, sociedades
literárias ou comprar reimpressões em regiões onde os custos eram mais baixos
(WITTMANN, 1999).
O público leitor tornou-se mais exigente ao final do século XVIII e solicitava
que os livros apresentassem textos cada vez mais agradáveis e elegantes, o que
estimulou a produção de romances. Este tipo de obras, ao passo que cativava toda uma
geração de leitores, era repreendido pela burguesia, que classificava o romance como
uma “leitura narcótica”, pois a partir dele, principalmente as leitoras, “se refugiavam no
prazer passivo, sentimental” (WITTMANN, 1999, p. 155).
A partir do século XIX, por seu turno, o número de bibliotecas e sociedades
literárias multiplicou-se, o que propiciou a formação de leitores individualizados, com
ampla variedade de opções para desenvolver a sua recepção literária, muito além da
leitura de romances (WITTMANN, 1999, p. 158). As taxas de alfabetização na Europa
cresceram substancialmente neste século, ao ponto de ultrapassar a metade da população
em alguns países. Conforme apresenta Martyn Lyons (1999, p. 165), com base em
outros autores, “na França [...] cerca de metade da população masculina e
aproximadamente 30% das mulheres sabiam ler. Na Inglaterra, onde eram mais altas as
taxas de alfabetização, em 1850, 70% dos homens e 55% das mulheres sabiam ler. O
Reich alemão, em 1871, tinha taxa de alfabetização de 88%” (LYONS, 1999, p. 165).
A diferença nas taxas de alfabetização masculina e feminina diminuiu ao ponto
de se igualar no final do século XIX, quando as indústrias de revistas para mulheres já
estavam em expansão. Enquanto que para as mulheres eram oferecidos romances, os
homens liam jornais e em algumas famílias, principalmente as católicas, apenas os
integrantes do sexo masculino podiam ter acesso ao conteúdo veiculado pela imprensa,
o que lhes conferia a condição de censurar matérias que considerassem inadequadas
(LYONS, 1999).
O número de pessoas alfabetizadas aumentou no decorrer do século XIX,
inclusive entre crianças e a classe operária. Já no final do século XX, conforme aponta
Petrucci (1999), o crescimento no processo de alfabetização prosseguia em ritmo lento,
ao passo que o contingente de analfabetos também ampliou-se, a ponto de superar o
bilhão. Segundo o autor, em 1980 a taxa mundial de analfabetismo chegou a 28,6%,
para 824 milhões de indivíduos; em 1985, a porcentagem caiu para 28%, porém o
número total chegou a 889 milhões. As áreas de maior difusão do analfabetismo
26
encontram-se na África, na América Latina e na Ásia (principalmente em países árabes
e muçulmanos). Os motivos da expressiva taxa de analfabetismo transcendem à
condição de baixa renda e também decorrem de razões políticas e ideológicas. Países
como Haiti e Peru não valorizam a educação de massa, enquanto os muçulmanos
hostilizam a educação da mulher, por consequência de ideologias religiosas
(PETRUCCI, 1999).
No contraponto do ritmo da alfabetização, a produção de livros registrou
extensivo aumento na segunda metade do século XX: “Em 1975 foram produzidos no
total 572.000 títulos; [...] em 1983, 772.000. No início dos anos 1980, a Europa, com
15% da população, produzia ainda 45,6% dos livros; a União Soviética, com 8,1 % da
população, 14,2%, e os Estados Unidos, com 7,5% da população, 15,4%.” (PETRUCCI,
1999, p. 205-206). Quanto aos jornais, em 1982 havia 8.200 periódicos, dos quais 4.560
constavam em países desenvolvidos. O empréstimo de livros efetuados em bibliotecas
públicas, por sua vez, registra, em 1980, os Estados Unidos, com 986 milhões de
volumes, seguido da União Soviética, com 665 milhões, e a Grã-Bretanha, com 637
milhões. A circulação de livros e periódicos, neste sentido, coincide com os índices de
alfabetização, poderio econômico e a tradição cultural, esta especialmente identificada
nos países europeus (PETRUCCI, 1999).
A expansão da leitura e das publicações de livros pelo mundo ocorreu
principalmente nas décadas de 1960 e 1970, até 1980, período classificado por Tania
Rösing e Regina Zilberman (2016, p. 8) como a “idade de ouro” do livro. Para
estabelecer contraste, a década de 1990 foi marcada pela ascensão da internet, a qual
mudou hábitos de leitura, ao ponto de que no final do século XX já se especulasse o fim
do livro, e por extensão, a morte da leitura.
Conforme Anne-Marie Chartier (2016), a partir dos anos 1970, a maior produção
e facilidade de acesso a filmes e o cinema eram considerados indícios de que o interesse
pelos livros poderia ser reduzido. Havia a preocupação de que uma quantidade
expressiva de alunos chegava ao quarto ano do ensino primário sem saber ler. Neste
contexto, identificou-se uma crise no processo de leitura, que demandou novos métodos
de alfabetização e incentivo para a aquisição do prazer pelo livro (CHARTIER, 2016).
A televisão, que já atingia os lares franceses em 1960 e propagou-se
principalmente a partir de 1970, também disputou e ganhou o espaço antes
disponibilizado para a leitura, laureada por sua capacidade de informar e entreter sem
27
exigir esforço do telespectador. Ainda nos anos 1970, as famílias passaram a incentivar
os filhos a priorizarem estudos científicos e econômicos em detrimento da literatura,
fator que também acarretou em queda no estímulo da leitura. Diante desta conjuntura, as
escolas depararam-se com a necessidade de incentivar leituras úteis e agradáveis aos
alunos: as úteis referem-se a assuntos funcionais, tais como manuais de utilização e
instruções diversas, ao passo que as leituras agradáveis enfocavam a literatura infantil e
também concediam lugar para revistas e quadrinhos, que antes eram proibidos. As
últimas, neste sentido, focalizavam o prazer de ler (CHARTIER, 2016).
As dificuldades em estimular a leitura na escola culminaram em um número
expressivo de analfabetos funcionais entre a população adulta, nos anos 1980, os quais
encontraram dificuldades em suas carreiras profissionais por conta desta carência. A
partir do novo milênio (século XXI), a internet e todas as mídias que acompanham a era
digital tornaram-se no maior empecilho para a leitura, uma vez que estas trouxeram
práticas e hábitos com maior possibilidade de proporcionar diversão do que o livro,
além de desvirtuarem a concentração necessária para a leitura: “Mas como transmitir o
desejo do livro e o gosto da leitura, esta prática solitária, individual, silenciosa, a uma
juventude que procura práticas culturais de grupo, compartilhadas e barulhentas (o
filme, a música, as saídas, os esportes)?” (CHARTIER, 2016, p. 29).
Anne-Marie Chartier apresenta duas alternativas para reconduzir os jovens ao
gosto da leitura: a primeira trata-se de prevenir abandonos relacionados à leitura e à
escrita; a segunda consiste em leituras compartilhadas com as crianças e que envolvam
ambientes e públicos retirados da escola, como bibliotecas, livrarias, editores,
prefeituras e autores. A organização de exposições, espetáculos, concursos de leitura e
eventos que concedem prêmios literários também está incluída neste segundo caminho
para a aproximação entre os jovens e os livros. Da mesma forma, a autora frisa o papel
da família no incentivo da leitura desde a infância: ao invés de disponibilizar recursos
audiovisuais, indica que os pais leiam livros de literatura infantil às crianças e as façam
interagir com a história. “O importante é, portanto, não apenas „ler às crianças‟, mas „ler
com as crianças‟” (CHARTIER, 2016, p. 31).
28
1.2.2 O livro e o leitor no Brasil
O processo de formação do leitor no Brasil é inaugurado com a chegada dos
padres jesuítas no País, em 1549, segundo Maria do Rosário Magnani (1989, p. 10). Um
modelo que enfatiza a leitura, em consonância com a escrita, voltado à catequização e à
instrução de indígenas inicia-se a partir de então. Segundo a estudiosa, o plano inicial,
de formação dos indígenas, não alcançou os objetivos esperados, motivo pelo qual a
educação jesuítica acabou por ser redirecionada para camadas privilegiadas da
população, como os filhos de colonizadores e senhores de engenho. “Este era o único
meio de instrução e formação intelectual, e para ele se dirigiam mesmo os que não
mostravam vocação sacerdotal. Além do que, ser letrado conferia elevada posição
social” (MAGNANI, 1989, p. 11).
A partir do Curso de Humanidades, ressaltava-se a linguagem como o
“instrumento mais adequado e eficiente” para a formação humana. A educação
propiciada pelos jesuítas, neste sentido, permitia às classes privilegiadas uma
dominação ideológica, justamente por obter acesso mais facilitado ao conhecimento e,
por consequência, aos recursos da linguagem: “Esse acúmulo de oportunidades
contribui para aumentar o abismo entre letrados e não-letrados, entre o preparo
intelectual dos filhos dos colonizadores e o preparo meramente profissional dos índios,
mestiços e negros, adquirido na prática” (MAGNANI, 1989, p. 12).
O século XVIII, por conseguinte, foi marcado pelo controle estatal sobre a
educação. As reformas do Marquês de Pombal preconizaram a transformação de
Portugal numa metrópole capitalista, fator que culminou na expulsão da Companhia de
Jesus do Brasil, em 1759, e a formação escolar passou a ser executada com o intuito de
preparar o indivíduo para o estado, e não mais para a igreja. A vinda da família Real, em
1808, culminou numa série de instituições de fomento à leitura, tais como a Imprensa
Régia, que surgiu naquele mesmo ano, a biblioteca pública (1810) e também a primeira
revista: As Variações ou Ensaios de Literatura (1813). É nesta mesma época que surge
o ensino superior, revestido de uma perspectiva mais profissionalizante e com
metodologia de caráter mais literário do que científico. O ensino primário seguia sem
grandes alterações, enquanto o secundário era destinado, em sua maioria, para
integrantes do sexo masculino e em caráter privado (MAGNANI, 1989, p. 15).
Apenas a partir de 1840 o Brasil passou a apresentar elementos basilares para a
29
formação de uma sociedade leitora, por meio da sede da monarquia, no Rio de Janeiro:
estavam presentes os mecanismos mínimos para a produção e
circulação da literatura, como tipografias, livrarias e bibliotecas; a
escolarização era precária, mas manifestava-se o movimento visando à
melhoria do sistema; o capitalismo ensaiava seus primeiros passos
graças à expansão da cafeicultura e dos interesses econômicos
britânicos, que queriam um mercado cativo, mas em constante
progresso (LAJOLO; ZILBERMAN, 1998, p. 18).
Indícios desta dificuldade na formação dos leitores brasileiros encontram-se na
maneira como os autores produziam seus textos no século XIX. Segundo Lajolo e
Zilberman (1998), autores do Romantismo, como Manuel Antônio de Almeida,
tratavam o leitor como frágil ou despreparado, optando por guiá-lo na leitura de tal
maneira como se este fosse incapaz de interpretá-la. Em Memórias de um sargento de
milícias, por exemplo, Manuel Antônio de Almeida utiliza expressões como “vamos
fazer o leitor tomar conhecimento” (ALMEIDA, 1963, p. 37, grifo do autor), o que
ressalta o entendimento do autor de que o receptor da obra teria significativas
dificuldades de compreensão.
Lajolo e Zilberman (1998) citam quatro tipos de leitores: o romântico, o
cúmplice, o aprendiz e o maduro. O leitor romântico, na percepção de autores como
Manuel Antônio de Almeida, é entendido como um principiante. É por esta razão que
em Memórias de um sargento de milícias, Almeida resume constantemente o assunto
que havia sido abordado anteriormente ao iniciar um novo capítulo, como se sentisse a
necessidade de reclamar a atenção do leitor:
Os leitores estão lembrados do que o compadre dissera quando estava
a fazer castelos no ar a respeito do afilhado e pensando em dar-lhe o
mesmo ofício que exercia, isto é, daquele arranjei-me, cuja explicação
prometemos dar. Vamos agora cumprir a promessa (ALMEIDA,
1963, p. 40 apud LAJOLO; ZILBERMAN, 1998, p. 19).
Outra prática dos autores românticos, agora com tratamento oposto em relação
ao receptor da obra, era simular as reações do leitor, sugerindo que teria competência
em interpretar as obras. Este procedimento era utilizado como estratégia para seduzir o
leitor, conferindo-lhe superioridade. Em outros momentos, entretanto, o autor limitava a
descrição das cenas, sob a alegação de que o leitor se cansaria com a leitura (LAJOLO;
ZILBERMAN, 1998).
30
Seja tratando o leitor como despreparado para a leitura ou, por outro lado,
sobrevalorizando o seu conhecimento, uma das contribuições trazidas pelos autores
românticos é a ideia do leitor como “uma figura para quem se conta em segredo os
acontecimentos da trama” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1998, p. 20, grifo do autor). Esta
cumplicidade entre autor e leitor é assim expressada no conto “Questão de vaidade”, de
Machado de Assis, em 1864, no qual a impressão é de que ambos – produtor e receptor
– estejam reunidos no ato da leitura:
Suponha o leitor que somos conhecidos velhos. Estamos ambos entre
as quatro paredes de uma sala; o leitor assentado em uma cadeira com
as pernas sobre a mesa, à moda americana, eu a fio comprido em uma
rede do Pará que se balouça voluptuosamente, à moda brasileira,
ambos enchendo o ar de leves e caprichosas fumaças, à moda de toda
gente (MACHADO DE ASSIS, 1959, p. 7, apud LAJOLO;
ZILBERMAN, 1998, p. 20).
A diferença entre Manuel Antônio de Almeida e Machado de Assis reside no
tratamento de cada um dos autores diante do leitor: o primeiro refere-se ao leitor como
um ser primário diante da obra, que precisa ser guiado pelo autor para compreender a
história; já nos romances de Machado de Assis, o leitor é abordado como um indivíduo
mais sofisticado, que se sente honrado em ser conduzido para dentro da própria obra
(LAJOLO; ZILBERMAN, 1998).
No romance A mão e a luva, de Machado de Assis, lançado em 1874, o autor
admite no próprio texto que ele seja lido somente caso o leitor não tenha outra atividade
para efetuar naquele momento, admitindo, assim, modéstia quanto a esta produção. Em
certos momentos, o autor atiça a curiosidade do leitor; em outros, retoma cenas já
relatadas na história, a fim de situar o leitor que se perdeu no desenrolar do livro. As
influências do romance mostram-se tão substantivas no leitor a ponto de que a obra
Werther (1774), de Goethe, gerou uma onda de suicídios entre jovens na época de seu
lançamento. O leitor romântico, nesta perspectiva, é descrito como alguém que está
sempre flutuando, ou seja, não consegue separar o lido do vivido (LAJOLO;
ZILBERMAN, 1998).
O leitor cúmplice é caracterizado pelo diálogo que o narrador estabelece com ele
por meio da obra. Exemplo disso é o conto Questão de vaidade, de Machado de Assis,
no qual autor e leitor estão situados em uma relação de igualdade, que é justamente a
premissa para que a história seja compreendida. Assim, na condição de cúmplice, “o
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leitor está no ambiente apropriado para a apreensão da narrativa, o que se soma ao
privilégio de ser equiparado ao narrador” (LAJOLO; ZILBERMAN, 1998, p. 28). Esta
relação entre autor e leitor apresenta-se na conclusão de Questão de vaidade: “Depois
de contar esta história, o leitor e eu tomamos a nossa última gota de chá ou café, e
deitamos ao ar a nossa última fumaça do charuto” (MACHADO DE ASSIS, 1959, p.
89-90, apud LAJOLO; ZILBERMAN, 1998, p. 28).
O leitor aprendiz, por seu turno, apresenta-se como aquele que necessita ser
guiado pelo autor na obra, seja para facilitar sua compreensão ou com o intuito de que o
leitor não se disperse. No romance Quincas Borba, de 1891, Machado de Assis esboça a
condição de aprendiz do leitor ao conduzi-lo em determinadas partes da obra, como no
seguinte exemplo: “Vem comigo, leitor; vamos vê-lo, meses antes, à cabeceira de
Quincas Borba” (MACHADO DE ASSIS, 1959, p. 10, apud LAJOLO; ZILBERMAN,
1998, p. 34).
Em outras situações, o autor escreve o texto de uma forma que engana o leitor
quanto ao direcionamento do enredo, e então verifica a necessidade de corrigir o leitor,
para que retome o rumo correto da história. Esta superioridade com que o narrador se
institui, ao induzir o leitor a uma trajetória falsa na leitura, reforça a condição de
aprendiz do leitor, que precisa ser guiado para que alcance as conclusões esperadas pelo
autor. O caráter docente também se identifica nas obras direcionadas ao leitor aprendiz,
como no caso de Quincas Borba, na qual o autor busca dar lições por meio dos
exemplos que envolvem as personagens, “sendo a principal a que recomenda cautela
ante as seduções de poder da sociedade – e da leitura, também” (LAJOLO;
ZILBERMAN, 1998, p. 37).
Enquanto o leitor de Machado de Assis é julgado pelo próprio autor como
incompetente para compreender a intertextualidade da obra sem que haja constantes
inferências do narrador, em Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, o leitor
enfim é tratado como um ser maduro, que concluirá a leitura de maneira consciente:
Se em Machado leitor e protagonista são apequenados por se
entregarem de corpo e alma ao que leem, em Lima Barreto, inverte-se
a equação: Policarpo leitor se eleva, quando transforma em ideal o
conteúdo de suas leituras. Com isso, o leitor se eleva junto, porque se
solidariza com o herói e acompanha suas desventuras (LAJOLO;
ZILBERMAN, 1998, p. 40-41).
Graciliano Ramos é reconhecido como um dos primeiros autores a conferir
32
maturidade ao leitor. No romance São Bernardo, de 1934, o autor retrata a história do
protagonista Paulo Honório, descrito como alguém que necessita da solidariedade do
leitor. Diferentemente do leitor aprendiz, sobre o qual o autor posiciona-se como
superior, em São Bernardo o leitor é equiparado ao protagonista e, portanto, em virtude
desta condição de igualdade entre ambos, o leitor é tratado como maduro. A prepotência
tradicional até então existente no romance brasileiro, na qual as personagens eram
caracterizadas com uma humildade fingida para atingir a cumplicidade do leitor, é
rompida por meio do protagonista Paulo Honório (RAMOS, 1981, apud LAJOLO;
ZILBERMAN, 1998, p. 47):
Continuemos. Tenciono contar a minha história. Difícil. Talvez deixe
de mencionar particularidades úteis, que me pareçam acessórias e
dispensáveis. Também pode ser que, habituado a tratar com matutos,
não confie suficientemente na compreensão dos leitores e repita
passagens insignificantes. [...]
A humildade do narrador na obra de Graciliano Ramos é evidenciada, inclusive,
quando este admite que o texto a ser lido requer baixas expectativas do leitor: “[...] As
pessoas que me lerem terão, pois, a bondade de traduzir isto em linguagem literária, se
quiserem. Se não quiserem, pouco se perde. Não pretendo bancar escritor. É tarde
demais para mudar de profissão” [...] (RAMOS, 1981, apud LAJOLO; ZILBERMAN,
1998, p. 48). Em outras situações, o autor lança perguntas, antes de dar explicações,
como se esperasse a conivência do leitor. Graciliano Ramos também adota como prática
reproduzir no texto apenas o que interessa, além de evitar tolices ou palavrões, o que
reforça seu tratamento em relação ao receptor da obra como alguém maduro. (LAJOLO;
ZILBERMAN, 1998).
A partir da segunda metade do século XX, enquanto se registrava o
amadurecimento do leitor, a consolidação de tecnologias como o rádio e a televisão
dificultou a expansão do livro, pois a forma como o conteúdo é transmitido por estas
plataformas exige muito menos esforço do receptor. O livro era encontrado
predominantemente em ambiente urbano, o que ainda demandava maior deslocamento
do leitor para obter as obras, enquanto as mídias penetravam nos lares rurais. Bordini
(2016) observa que duas modalidades de leitura passaram a dividir as atenções do
público a partir da modernidade:
33
Uma delas é a leitura detida, reflexiva ou sentimental, em que o leitor
fixa o texto, pensa, imagina, sente, forma opiniões ou efetua
julgamentos. É o domínio da imprensa, temporalmente menos veloz.
A outra é a leitura que Walter Benjamin chamou de distraída,
referindo-se ao cinema, mas que pode ser estendida à mídia eletrônica
(BORDINI, 2016, p. 197).
Conforme Bordini (2016), a expansão da internet também mudou a realidade de
um escritor que produzia para milhares de leitores, pois estes passaram a ter
oportunidades para se manifestar e, desta forma, podem ser considerados igualmente
escritores. O leitor atual detém a possibilidade de interagir com as obras, através de
publicações na internet, o que suprime sua condição anteriormente passiva diante das
produções: “Entre o autor e o público, a diferença, portanto, está em vias de se tornar
cada vez menos fundamental” (BENJAMIN, 1983a, p. 18 apud BORDINI, 2016, p.
195).
O aval para a continuidade do livro físico, embora permeado pela tendência à
leitura em celulares ou computadores, é a continuidade da sua circulação, inclusive com
propensão para se expandir. A postura do leitor é que se altera diante do livro e
demanda novas perspectivas para a produção das obras: “O leitor vem se empoderando,
ao escolher a seu bel-prazer o que lhe agrada, e orientando em retroalimentação os
editores e autores e redefinindo o mercado, que se obriga a satisfazê-lo criando novos
nichos de produtos” (BORDINI, 2016, p. 195).
Lucia Santaella (2004) caracteriza três tipos de leitores que se constituíram
desde o livro impresso à cultura digital: o contemplativo/meditativo, o
movente/fragmentado e o imersivo/virtual. O primeiro deles, contemplativo/meditativo,
refere-se à prática da leitura em silêncio, desde que este hábito tornou-se obrigatório nas
bibliotecas universitárias da Idade Média, a partir do século XII. Até então, quando os
livros ainda se encontravam no formato manuscrito, era mais comum que se
pronunciasse as palavras durante a leitura.
Por meio da leitura em silêncio, as palavras poderiam se estabelecer em espaço
interior do leitor. Dito de outra maneira, a cada nova leitura, o leitor poderia fazer
“comparações de memória com outros livros deixados abertos para consulta simultânea.
O leitor tinha tempo para considerar e reconsiderar as preciosas palavras cujos sons –
ele sabia agora – podiam ecoar tanto dentro como fora” (MANGUEL, 1997, p. 68, apud
SANTAELLA, 2004, p. 20-21). A impressão em papel, possível a partir do surgimento
dos tipos móveis, ocasionou uma maneira específica de ler o texto, pois ele poderia ser
34
enquadrado de maneiras distintas no espaço disponível na folha, fragmentado e com
novo aspecto visual, o que contribuiria na compreensão do leitor. Os livros manuscritos,
pelo contrário, mantinham longa sequência de linhas para um mesmo parágrafo, o que
prejudicava a assimilação do texto (SANTAELLA, 2004).
A leitura do livro é meditativa no sentido de que o leitor pode contemplar ou
divagar sobre as páginas lidas por diversas vezes, ou então, como afirma Manguel
(1997, p. 33, apud SANTAELLA, 2004, p. 24), “ler é cumulativo e avança em
progressão geométrica: cada leitura nova baseia-se no que o leitor leu antes”. O
meditativo é um leitor que acessa objetos como os “livros, pinturas, gravuras, mapas,
partituras” (SANTAELLA, 2004, p. 24), guiado pelo sentido da visão e complementado
pela imaginação.
O segundo tipo de leitor, movente/fragmentado, surge no período da Revolução
Industrial, com a expansão das estações ferroviárias que consolidaram a circulação de
jornais. Neste período, marcado também pela chegada da eletricidade e a propagação
acelerada das indústrias e do comércio nas cidades, instalou-se uma lógica de consumo
e de moda que influencia no imaginário coletivo. Como descreve Carvalho (1997, apud
SANTAELLA, 2004, p. 26), trata-se de “um mundo aberto e cênico, cujos cenários e
personagens, em constante superação, desfilam e desaparecem”. Com a vastidão de
opções para as distintas atividades no dia a dia, como “galerias, parques, cafés, museus
e teatros, [...] a identidade do homem moderno se desconstrói em uma multiplicidade
infinita de imagens e registros, tipos, estilos e perfis urbanos” (SANTAELLA, 2004, p.
26).
A modernidade instituiu um ser humano muito mais preocupado com a vivência
do que com a memória, deslumbrado pelo emaranhado de imagens propiciadas pela
publicidade. Segundo Santaella (2004, p. 28), “a vida cotidiana passou a ser um
espectro visual, um desfile de aparências fugidias, um jogo de imagens que hipnotizam
e seduzem”. Por meio da fotografia e do cinema, produzem-se imagens em ritmo
constante e que rapidamente são substituídas por outras. Essa permutação contínua de
imagens alterou a sensibilidade do ser humano, que deixou o fetiche até então
concentrado na mercadoria pelo fetiche da imagem (SANTAELLA, 2004).
O leitor movente/fragmentado, inserido neste ambiente, aprendeu a se adaptar
aos diversos estímulos concentrados na multidão dos centros urbanos. Este leitor
desenvolveu novos ritmos de atenção para a leitura, de modo geral, ágeis, porém, por
35
tempo reduzido em relação ao leitor meditativo, o qual se identifica mais precisamente
com os livros. O leitor de jornais, neste sentido, apresenta-se como exemplo apropriado
para caracterizar o leitor movente/fragmentado: “um leitor de fragmentos, de tiras de
jornal e fatias de realidade” (SANTAELLA, 2004, p. 29).
O terceiro tipo de leitor, imersivo/virtual, é o chamado leitor da “era digital”, o
qual se constitui na entrada do século XXI. Este é o leitor do texto eletrônico, que
manuseia a plataforma de leitura de maneira distinta em relação ao leitor de livros:
O fluxo sequencial do texto na tela, a continuidade que lhe é dada, o
fato de que suas fronteiras não são mais tão radicalmente visíveis,
como no livro que encerra, no interior de sua encadernação ou de sua
capa, o texto que ele carrega, a possibilidade para o leitor de
embaralhar, de entrecruzar, de reunir textos que são inscritos na
mesma memória eletrônica: todos esses traços indicam que a
revolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas do
suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler
(CHARTIER, 1998b, p. 12-13, apud SANTAELLA, 2004, p. 32).
O leitor imersivo/virtual distingue-se também do movente, pois não se utiliza
restritamente de um elemento físico, mas, pelo contrário, navega numa tela repleta de
signos e não percorre necessariamente uma sequência linear de leitura. O curso da
leitura, do mesmo modo, não ocorre fundamentalmente sobre palavras, como também
intersecciona-se com imagens, músicas e vídeos, entre outros recursos digitais
(SANTAELLA, 2004, p. 33).
O espaço habitual do leitor imersivo é o ciberespaço, por meio do qual o usuário
conecta-se com a rede. Segundo Santaella (2004), o ciberespaço é multidimensional e
depende da interação do usuário para que sua comunicação se efetive. Conectados à
mesma rede, inserem-se, além dos computadores, os aparelhos sem fio, como os
celulares e tablets, que também assimilam a conexão e troca de informações. O leitor
imersivo está inserido no contexto da hipermídia, a qual, em seu emaranhado de
recursos, tais como os links que o conduzem de uma página à outra, “não é feita para ser
lida do começo ao fim, mas sim através de buscas, descobertas e escolhas”
(SANTAELLA, 2004, p. 50).
Em Comunicação ubíqua, Santaella (2013) caracteriza ainda o leitor ubíquo, ou
seja, onipresente. A ubiquidade não se refere à mobilidade, porém “os aparelhos móveis
podem ser considerados ubíquos a partir do momento em que podem ser encontrados e
usados em qualquer lugar” (SANTAELLA, 2013, p. 15). Do ponto de vista tecnológico,
36
a ubiquidade refere-se à faculdade de se comunicar a qualquer hora ou lugar, utilizando-
se dos meios eletrônicos disponíveis no ambiente.
A ubiquidade, além disso, faz com que estejamos, “ao mesmo tempo, em algum
lugar e fora dele” (SANTAELLA, 2013, p. 16). Isto quer dizer que, no momento em
que nos comunicamos pela internet, via celular, computador ou qualquer outro aparato
tecnológico, podemos nos imaginar tanto no lugar de onde nos comunicamos como no
espaço do internauta com o qual interagimos.
A computação sustenta as raízes da ubiquidade, que por sua vez abrange tanto a
computação móvel quanto a pervasiva. A móvel consiste na possibilidade de que o
indivíduo se movimente junto com seus aparelhos de acesso à internet e navegue na
rede em qualquer lugar, tornando-o, desta forma, onipresente. A computação pervasiva,
por seu turno, significa que o computador se encontra em forma invisível para o
usuário. Desse modo “o computador tem a capacidade de obter informação do ambiente
no qual ele está embarcado e utilizá-la para dinamicamente construir modelos
computacionais” (SANTAELLA, 2013, p. 17).
Passando-se, agora, de considerações sobre o perfil leitor às políticas que
envolvem a formação do leitor, vale notar que, entre as ações por parte de órgãos
políticos no Brasil, destaca-se o Plano Nacional de Biblioteca na Escola, criado em
1997 pelo governo federal e que possibilita a alunos e professores o acesso a obras de
referência, conforme lembram Ana Paula Teixeira Porto, Denise Almeida Silva e
Miguel Rettenmaier (2015). Embora este programa ofereça obras de qualidade, os
autores citam Paiva e Beremblum (2009, p. 174) para reiterar que o mesmo carece de
“projetos de formação continuada de professores com o foco na leitura literária”. Da
mesma forma, muitos destes textos disponibilizados pelo programa encontram-se
apenas em fragmentos e com preocupação excessiva quanto a obras clássicas e
canônicas, o que culmina na situação de que “o acesso ao texto não garante a sua leitura
e tampouco a proficiência do leitor” (PORTO; SILVA; RETTENMAIER, 2015, p. 29).
Porto et al. (2015) referem-se à formação de leitores no Brasil como um
processo de vários nós, ou seja, problemas que criam a percepção de um país “de não
leitores”. Os problemas citados pelos autores incluem desde a falta de políticas públicas
para incentivo à leitura e qualificação docente, bem como a infraestrutura de bibliotecas
ou outros espaços de leitura. Cinco grandes eixos são ressaltados como imprescindíveis
para o estímulo da leitura: “formação de professores e sua qualificação para mediação de
37
leitura; práticas de mediação de leitura; acervo bibliográfico; recursos tecnológicos/leitura
on line; e novos letramentos decorrentes de novas materialidades de escrita e de leitura”
(PORTO; SILVA; RETTENMAIER, 2015, p. 29).
Quanto à formação dos professores, requer-se que estes tenham o gosto pela
leitura para que possam apresentar aos alunos uma ampla variedade de textos, que
considerem distintos gêneros e autores, locais e canônicos, e assim os alunos também
possam construir seus próprios cânones. A forma como os alunos são estimulados em
sala de aula depende também da concepção e experiência do professor diante da leitura,
assim como das práticas de leitura e sua adequação ao contexto e objetivos que se
pretende alcançar. Sobre a mediação da leitura, esta deve considerar que “as produções
textuais precisam ser lidas como fonte de prazer, de informação, de entretenimento, de
formação, de transformação e não como fonte para um fim meramente utilitário”
(PORTO; SILVA; RETTENMAIER, 2015, p. 31).
O acervo bibliográfico, associado às práticas de mediação de leitura, é
“composto pela diversidade cultural, linguística, temporal e artística, e ainda deve ser
atualizado e atender aos interesses do público discente” (PORTO; SILVA;
RETTENMAIER, 2015, p. 31). As coleções não devem se restringir ao formato
impresso, mas também abranger o digital, para atender a um público cada vez mais
imerso nas tecnologias de informação e comunicação.
Outra questão que necessita de reparos para o incentivo da leitura, frisada por
Ezequiel Theodoro da Silva (2016), é a formação de professores que trabalhem a
alfabetização com seus alunos de maneira empática e com paciência. Um impedimento
neste intuito são as metodologias utilizadas nas universidades para a formação dos
licenciandos, que percorrem uma trajetória acadêmica baseada em leitura de xérox, de
capítulos e fragmentos de texto. Neste sentido, a falta de imposição para frequentar
bibliotecas, retirar e ler livros inteiros para que o licenciando constitua o seu próprio
acervo e futuramente compartilhe com seus alunos, torna-se mais um obstáculo para a
formação de leitores. Mais tarde, na sala de aula, diante dos alunos, o professor é
compelido a seguir apostilas padronizadas nacionalmente para trabalhar a alfabetização,
o que restringe sua liberdade para adotar métodos adequados especificamente à
realidade de cada turma (SILVA, 2016).
Da mesma forma como Porto, Silva e Rettenmaier (2015), Silva (2016) também
assinala a falta de políticas educacionais que estimulem a leitura e que segundo o autor
38
é oriunda da sua relação de conflito com o poder. Como reflexo deste descaso dos
órgãos governamentais quanto à alfabetização, constata que em 2015 havia 13,5
milhões de analfabetos no Brasil, entre a população acima de 15 anos. Em sintonia com
o pensamento de autores como Paulo Freire, Silva (2016) sublinha que os analfabetos
são vistos como algo confortável aos órgãos políticos, “porque o poder precisa deles
para se perpetuar e dessa forma continuar a reproduzir as estruturas injustas,
demagógicas e oligárquicas existentes no País” (SILVA, 2016, p. 92).
Outros 33 milhões de brasileiros contrastam as estatísticas do analfabetismo
funcional, ou seja, que aprenderam a ler na escola, mas retornaram à condição de
analfabetos por não praticarem a leitura ou escrita. Para reverter esta situação, Silva
(2016) ressalta a necessidade de uma maior integração entre bibliotecas, escolas e a
comunidade, além da aquisição e abastecimento frequente de livros nas bibliotecas, com
obras relacionadas àquela região, que tenham mais pontos em consonância com os
leitores:
De fato, se a merenda escolar necessita do refeitório e da nutricionista
para ser devidamente preparada e servida, os livros e os demais
suportes da escrita precisam de bibliotecas e de profissionais ligados
ao universo da escrita para serem organizados e dinamizados através
de diferentes interlocuções com os professores, os estudantes e seus
pais (SILVA, 2016, p. 94).
Por outro lado, a padronização da linguagem provocada pelas mídias sociais
também restringe a busca da leitura de livros. Silva (2016) menciona o Twitter, que
permite um limite de até 140 caracteres por postagem, fator que, segundo o autor,
acarreta numa fragmentação do pensamento e empobrecimento vocabular: “Velocidade
e laconismo padronizado também levam a leitura à breca. Isto porque pensamento e
linguagem estão dinamicamente imbricados; sendo assim, a redução da linguagem pode
significar um estreitamento do pensamento” (SILVA, 2016, p. 97).
1.2.3 O jornal e seu leitor
A palavra “jornalista”, segundo Michael Palmer (1994 apud SANTOS, 2014, p.
1), surge dos termos franceses jour (dia) e analyste (analista), que juntas compõe o
significado de analista do cotidiano. Esta profissão desenlaça suas reminiscências no
século XV, a partir do advento da prensa de Gutenberg, e prossegue seu
39
desenvolvimento à medida que a tecnologia avança. No século XIX, o jornalismo
solidifica uma padronização a partir da instituição do lead, consoante apresenta
Schudson (2000 apud SANTOS, 2014, p. 1). Esta se trata de uma técnica baseada na
pirâmide invertida, ou seja, na qual as informações mais relevantes (O que?; Quem?;
Quando?; Onde?; Como e Por quê?) são apresentadas nos primeiros parágrafos do texto
e à medida que transcorre acrescentam-se dados complementares.
Foi no período de instauração do lead que surgiu a imprensa brasileira, cujo
marco inicial é o jornal Gazeta de Notícias, inaugurado em 1874, no Rio de Janeiro. O
progresso da imprensa brasileira, que já ocorria de forma relativamente lenta, ainda
enfrentou a vultosa barreira imposta pela ditadura durante o governo de Getúlio Vargas
(1937-1945), a qual repreendeu a imprensa e estipulou a censura para a publicação de
notícias e até mesmo para a publicidade. O surgimento da televisão no País, em 1950,
edificou-se como um desafio ainda maior para o desenvolvimento da imprensa,
justamente na época em que se consolidava o aprimoramento das ferramentas de
produção jornalística, desde a captura de fotos à impressão e distribuição de jornais.
Como no Brasil o hábito da leitura de jornais sempre ficou distante em relação
ao interesse da população pelas plataformas midiáticas (rádio e televisão), o futuro dos
impressos desde logo seria permeado de incertezas. A baixa tiragem de jornais no Brasil
era atribuída pela imprensa em decorrência da elevada população analfabeta e de pouco
poder aquisitivo. Entretanto, na versão da maioria dos brasileiros, os motivos, apontados
por Nilson Lage, (2001, p. 40) são diferentes: “Embora às vezes graficamente
primorosos, os grandes jornais brasileiros seriam bastante deficientes do ponto de vista
editorial, distantes do leitor, preocupados demais em servir à complexa ordem do
poder”.
Segundo constatado por Lage (2006), em 1960 a quantidade de jornais nas
regiões metropolitanas do Brasil já começava a diminuir. A redução prosseguiu em
1970 e em 2000 a decadência culminou na crise dos impressos no País, principalmente
os de informação geral. Crescia a demanda por um jornalismo segmentado, tanto em
divisão de editorias (Esporte, Política, Economia, Entretenimento), quanto em classe
social, gênero ou faixa etária. Entre todos os segmentos, o dos jovens é o que mais
preocupa jornalistas e profissionais da área em relação à continuidade dos impressos.
Um extenso problema remanescente de períodos históricos e que tomou
proporções relevantes na época em que a crise se apossou intensivamente do jornalismo
40
impresso – anos 2000 – é o elevado número de analfabetos no País, de acordo com os
dados apresentados por Juarez Bahia (apud ERBOLATO, 2004, p. 22): “O
analfabetismo tem sido um inimigo sério da imprensa no Brasil. Rádio e televisão
podem conter, entre seus assinantes, os que não sabem ler. O jornal não. Explica-se por
que, num país de 180 milhões [dados de 2004], pouco mais de dez por cento
acompanham os passos da notícia impressa”.
Com a jornada de trabalho reduzida para oito horas e sábados geralmente livres,
identifica-se na população brasileira maior tempo para dedicar-se à leitura. Erbolato
(2004), contudo, sugere uma reflexão para verificar se a disponibilidade de tempo é
efetivamente utilizada para estes fins:
Mas a indagação surge, de nossa parte: as horas de descanso são
utilizadas para a leitura, ou a maioria do povo as destina para viagens,
esportes e outros divertimentos? Muitos jornais de domingo são
vistos, ainda no mesmo dia, à tarde, diante das portas de residências,
porque seus assinantes excursionaram e nem se interessaram por eles.
Pessoas intelectuais já nos informaram, várias vezes, que “não tiveram
tempo de ler o jornal, porque era muito grosso e difícil de ser
manuseado” (ERBOLATO, 2004, p. 22).
As dificuldades do jornal impresso não se restringem ao Brasil: conforme citado
por Juan Luís Cebrián (2012), o professor Philip Meyer, referência na academia norte-
americana – criador do jornal espanhol El País, considerado um dos melhores do
mundo – anuncia o fim do jornal impresso para a década de 2040. Para Cebrián, por sua
vez, as principais ameaças aos jornais de papel estão no desaparecimento das pessoas
interessadas em comprar os impressos e nos sistemas de distribuição:
É evidente o desaparecimento do suporte de papel para os meios de
informação. Mas as mudanças estão muito aceleradas este ano e no
ano passado. Eu creio que, sobretudo para os jornais de referência, de
qualidade, como El País, The New York Times e Le Monde, acabe ou
não o suporte em papel, durarão bastante tempo. Estimo que mais de
duas décadas – ainda que diminuam os números em circulação, sejam
mais caros e se dirijam a uma elite. E seguirão servindo para organizar
um pouco o ciberespaço, onde há muita confusão. Portanto, creio que
vai diminuindo a presença dos jornais impressos, sobretudo os de
qualidade (CEBRIÁN, 2012).
Rosental Calmon Alves, diretor do Knight Center of Journalism in the America
(da Universidade do Texas, em Austin/Estados Unidos) opina que as publicações feitas
41
apenas em suporte físico, como o jornal, não encontram mais espaço no mercado,
devido à formação de leitores que demandam cada vez mais o acesso às notícias pela
internet (DINIZ, 2012). Em função desta migração do leitor, do impresso para o on line,
a publicidade também reduziu investimentos nos jornais, o que contribuiu para a crise
econômica dos impressos.
Enquanto nos Estados Unidos há um consenso sobre o fim dos jornais
impressos, no Brasil o alastramento das notícias em plataforma on line ainda encontra
maiores dificuldades, em decorrência dos problemas de internet em várias regiões. De
acordo com Beatriz Dornelles (2012), ainda sob tais condições, entretanto, a quantidade
de leitores do impresso diminui a cada geração e a migração do material físico para o on
line ocorre de maneira surpreendente.
A diminuição da circulação do jornal motivou as empresas jornalísticas a reduzir
os custos e a aumentar os preços: as consequências variam desde a redução no espaço
editorial, corte no número de funcionários e manutenção de salários baixos, diminuição
da circulação em determinadas áreas e demora na melhoria da estrutura (DORNELLES,
2012). Por outro lado, identifica-se no jornalismo on line uma maior preocupação em
noticiar fatos de caráter nacional ou internacional, o que implica maior espaço aos
jornais impressos do interior – como é o caso do Força d’Oeste – para apostarem em
publicações de assuntos mais localizados, ou seja, ocorridos na região de abrangência
destes.
O interesse dos grandes polos de comunicação pelos produtos de abrangência
local e regional vem aumentando de forma considerável, o que demonstra o prestígio
dos jornais de interior. Segundo Carlos Camponez (2002 apud DORNELLES, 2012, p.
26), “o mercado da proximidade, à medida que a concorrência entre os grandes títulos
nacionais se acentua, surge como uma alternativa, num contexto mediático cada vez
mais exigente em termos financeiros e onde só os grandes parecem ter lugar”.
Conforme Dornelles (2012), os índices de leitura de jornais locais e regionais
superam de maneira expressiva o acesso a veículos de abrangência nacional, no caso do
Rio Grande do Sul, por exemplo. Estas estatísticas permitem constatar uma maior
formação de opinião no público leitor de jornais locais, e, por conseguinte, devido à
proximidade, ocorre uma maior influência do assinante na seleção do conteúdo que será
publicado. “O jornal, então, deve servir aos interesses nobres da comunidade a que deve
a sua existência e o seu sustento” (DORNELLES, 2012, p. 9).
42
Gabriela Nóra (2011), por sua vez, enfoca a tendência à produção de cadernos
com conteúdos específicos nos jornais brasileiros, como alternativa frente a um público
leitor que hoje detém progressivo acesso às plataformas digitais, nas quais tem a
possibilidade de acessar o material do seu gosto. A extensa gama de informações,
serviços e entretenimento propiciados pelas mídias digitais instiga o jornalismo
impresso a segmentar o conteúdo a ser publicado, de modo a atender aos interesses de
públicos distintos com espaços específicos para cada um no jornal. Por outro lado, na
ânsia de disponibilizar notícias sobre assuntos com a maior abrangência possível, os
jornais impressos reservam menos espaço para a contextualização e o aprofundamento
das informações, justamente o fator que distinguiria esta plataforma de comunicação
daquelas que veiculam conteúdo em período instantâneo. O embate com as mídias de
veiculação mais acelerada das informações implica, além disso, que os impressos
reorganizem a forma como apresentam seu conteúdo.
Os jornais, por outro lado, propiciam o desenvolvimento de um ritual no leitor,
que se acostuma a conferir no impresso uma imagem acerca do mundo que o rodeia.
Mesmo ao final da segunda década do século XXI, os jornais ostentam uma
credibilidade que outros veículos de comunicação encontram dificuldade em igualar, o
que é favorecido, em certa medida, justamente pela cultura de ler no impresso. Se a
imprensa está em desvantagem em relação a outras ferramentas de comunicação quanto
à velocidade de propagação das informações, a iniciativa da publicação de conteúdo
restrito, que não encontra espaço nas outras mídias, tem se tornado alternativa para o
êxito dos jornais (NÓRA, 2011).
A tecnologia mostra-se um desafio ao jornalismo impresso à medida que
proporciona a transformação das formas de o leitor lidar com as ferramentas disponíveis
no mundo. Um exemplo citado por Nóra (2011) é o chamado efeito zapping efetuado
por um percentual crescente entre as gerações mais novas de telespectadores, ou seja, o
hábito que eles têm de mudar frequentemente de canal enquanto assistem à televisão. A
mesma situação vale para os jornais, que por meio da segmentação do conteúdo
vislumbram a oportunidade de também atingir aos públicos que folheiam o impresso em
busca de apenas um assunto específico.
A capacidade de narrar, segundo Nóra (2011), é outro aspecto que se mostra
carente no jornalismo impresso atual, visto que esta habilidade é justamente o caminho
para compartilhar experiências com os leitores. A narração constitui-se como
43
ferramenta discursiva para detalhar e contextualizar fatos; uma vez que esta foi
menosprezada pelos jornalistas, a divulgação de informações mais curtas e em ritmo
acelerado apropriou-se dos veículos de comunicação. Um noticiário fragmentado,
estimulado pela mídia digital, apossou-se do jornalismo e afastou o tratamento analítico
das informações.
Na visão de Sodré (apud NÓRA, 2011, p. 307), a notícia deve ser veiculada de
modo a “surpreender cognitivamente o leitor, transcendendo a pura e simples
factualidade”. Desta forma, ao primar por uma abordagem reflexiva dos fatos, o
jornalista oferece um conjunto de notícias mais completas ao leitor, numa perspectiva
que contrapõe a tendência insistente da internet pela exposição de fragmentos de
informações. O processo de fragmentação dos conteúdos, consoante Nóra (2011), neste
sentido, participa do próprio ciclo de mercantilização da notícia na sociedade capitalista.
O sociólogo italiano Mauro Wolf (apud NÓRA, 2011) divide a produção de
notícias em três fases, das quais a primeira consiste na coleta, ou seja, a estruturação do
material; a segunda refere-se à seleção, o processo de escolha e organização do que será
publicado, o qual abrange a equipe, o formato e o tempo de produção; e a terceira
engloba a apresentação, que é o produto final de como o jornalismo retrata a realidade.
O resultado deste processo de produção de notícias, de acordo com Nóra (2011), na
prática, evidencia uma visão de sociedade fragmentada, permeada por um conteúdo
jornalístico superficial. A abordagem dos fatos, desta forma, limita-se ao lead, o que
significa restringir-se ao que ocorreu, ao invés de preocupar-se com as razões que
desencadeiam os acontecimentos. Dessa forma,
O que, em geral, é transmitido ao público é a localização dos
acontecimentos, os indivíduos envolvidos com eles, e detalhes como
os nomes geográficos, das personagens públicas, de indústrias etc.
Com frequência, esses elementos ocupam automaticamente o primeiro
lugar na memória dos destinatários, enquanto as causas e as
consequências dos eventos permanecem em segundo plano. O
resultado global é uma lembrança fragmentária, em que os indivíduos
conservam detalhes isolados, mas não o contexto (FINDHAL-
HÖIJER apud NÓRA, 2011, p. 308-309).
De acordo com Muniz Sodré (apud NÓRA, 2011), a crise dos jornais não inicia
a partir da internet, mas em função de uma mudança no cotidiano de vida das pessoas na
atualidade. Neste contexto, o material durável e o estável encontram-se depreciados, e
entre eles, está inserido o conteúdo impresso. Aliado a isso, ainda permeiam no
44
jornalismo impresso os textos curtos que tentam competir, debilitados, com a TV e a
web. Nesta lógica, Jesus Martín-Barbero (apud NÓRA, 2011) alerta para a imprensa
transformar seus próprios gêneros e neste intuito fugir da perspectiva do mais curto. “A
única maneira de combater a violência é fazer com que as pessoas pensem”,
complementa Barbero (apud NÓRA, 2011, p. 310), o que acentua a missão da imprensa
de apresentar as notícias de forma mais ampla e contextualizada, a fim de estimular o
debate.
A jornalista Suzana Barbosa, considerada uma das principais pesquisadoras
brasileiras em jornalismo digital e temáticas afins, e que em 2008 recebeu o Prêmio
Adelmo Genro Filho da Associação Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo
(SBPJor), de “Melhor Tese de Doutorado”, destaca a influência das redes sociais e da
internet em todo processo de produção jornalística, desde 2005. Barbosa, em entrevista
concedida a Kati Caetano e Zaclis Veiga (2015), parte do entendimento de que a
atuação do jornalista necessita considerar as questões social e cultural que causam
alterações na forma como a tecnologia é compreendida. É nesta perspectiva que
Barbosa salienta a relevância de se trabalhar o conjunto de situações que compreendem
a produção jornalística, desde o gerenciamento da empresa, as rotinas da equipe e a
definição de conteúdos e produtos a circularem pelas diversas plataformas disponíveis
ao público. Dentro da estrutura social e cultural que envolve o leitor atual, cercado de
recursos digitais, identifica-se a relevância, senão imposição, para os meios de
comunicação adaptarem seus conteúdos aos dispositivos móveis, tablets e smartphones.
Independente de qual seja a plataforma a ser utilizada pelo veículo de
comunicação para divulgar conteúdo noticioso ou interagir com seu público, a apuração
do material, a análise das informações e a construção qualificada da matéria são
elementos essenciais para um jornalismo bem sucedido, de acordo com Barbosa (2015).
Acrescenta-se a estes itens a originalidade da informação e a seriedade com que é
publicada, fatores que, unidos, formam aquilo que a entrevistada classifica como “bom
jornalismo” (BARBOSA, 2015, p. 269). Voltando-se especificamente ao jornalismo
digital, Barbosa constata que em vinte anos desta plataforma de comunicação, empresas
jornalísticas como o The Guardian (Reino Unido) e New York Times (Estados Unidos)
consolidam-se como referências no meio digital, ao passo em que representantes
brasileiros de renome, como O Globo, Folha de S. Paulo, Gazeta do Povo e Zero Hora
apresentam redução no número de profissionais, em razão de várias demissões.
45
No Brasil, o gerenciamento dos sistemas de produção de conteúdo obteve
maturidade entre o final dos anos 1990 e início de 2000. A agilidade na difusão de
conteúdo, com disponibilidade de banda larga e acesso via wi-fi fizeram com que o
Brasil se destacasse na produção de conteúdo on line, segundo Barbosa (2015),
inclusive no cenário mundial. A jornalista apresenta uma pesquisa do Instituto Reuters
(The Reuters Institute for the Study of Journalism), que afere a pretensão do brasileiro
em pagar para consumir conteúdo jornalístico, fator que favorece os veículos de
comunicação no Brasil, uma vez que estes demandam elevados investimentos para que
possam atuar. Durante este processo, o País perpassou fases em que o conteúdo digital
era totalmente gratuito e depois passou a incluir partes pagas, até chegar à situação em
que, por exemplo, era preciso pagar a partir do momento que determinado número de
notícias haviam sido acessadas.
Embora na atualidade o conteúdo jornalístico alcance as multiplataformas, entre
elas os tablets e smartphones, Barbosa (2015) registra que seria exagero considerar o
conteúdo digital como concorrente do impresso, visto que os diversos meios estão
integrados e se complementam, formando assim aquilo que a jornalista denomina de
“continuum multimídia dinâmico” (BARBOSA, 2015, p. 273). No caso dos meios mais
modernos, como os tablets e os smartphones, o maior registro de conteúdo ocorreu
entre os anos de 2012 e 2014, antes de decair em 2015, segundo Barbosa. Atualmente o
conteúdo jornalístico está adaptado para os diferentes formatos destes dispositivos,
porém o acesso gratuito é limitado, assim como ocorre na versão do computador: nos
portais de internet da Folha de S. Paulo e do Estadão, por exemplo, o máximo é de
cinco acessos gratuitos de notícias/reportagens/colunas de opinião por mês.
O desafio de incrementar os profissionais da comunicação neste ramo das
multiplataformas surge no processo de formação das universidades, as quais, em grande
parte, segundo Barbosa (2015), ainda carecem de estrutura adequada para os
acadêmicos ou então não desempenham a investigação e a pesquisa da forma como
deveriam. Ainda conforme Barbosa (2015), no âmbito da academia evoca-se a
necessidade de associar disciplinas teóricas e práticas para uma produção jornalística
exitosa.
Kárita Cristina Francisco (2010) alerta para a excessiva concentração das
pesquisas sobre a relação entre sociedade e jornalismo, quando estas deveriam ater-se
ao posicionamento do jornalista nestas novas estruturas comunicacionais. Uma das
46
missões deste profissional, consoante Pavlik (2005 apud LOPEZ, 2007, p. 115), é
promover uma ligação entre as comunidades e o meio, de modo a estimular a
participação dos usuários e para que os próprios veículos de comunicação gerem efeitos
e obtenham utilidade reconhecida. As antigas formas de participação do leitor, limitadas
principalmente ao envio de cartas ao editor ou o comparecimento a programas foram
substituídas por novas maneiras de interação ou até mesmo de intervenção do público
receptor.
A chegada da internet e de modernas ferramentas de publicação permitiram que
a história passasse a ser escrita também por um conjunto de pessoas que antes
compunham a audiência e que agora se comunicam por e-mail, chats ou revistas
eletrônicas, entre outros modos, para multidões atentas à programação e aos conteúdos
dos veículos de comunicação. “A tecnologia deu-nos um kit de ferramentas para
comunicação que permite a qualquer um tornar-se um jornalista a baixo custo e, na
teoria, com alcance global. Nada disto teria sido possível no passado” (GILLMOR,
2004, apud FRANCISCO, 2010, p. 194). Visto em outra perspectiva, a audiência
tornou-se ativa e passou a utilizar as próprias páginas das publicações para manifestar-
se. Além de acessar o conteúdo jornalístico nas diferentes mídias, a audiência também
passou a compartilhar informações que poderiam ser úteis aos veículos de comunicação.
Por outro lado, conforme afirma Edo (2009 apud FRANCISCO, 2010), os meios
de comunicação têm de permitir que a audiência participe mais do processo de produção
de conteúdo, afinal esta se configura como uma tendência crescente. A própria produção
de notícias é corroborada pelo público, porém necessita da inferência do jornalista para
a divulgação de um material verdadeiro e a serviço da sociedade. É relevante salientar,
neste contexto, a preponderância das redes sociais como fator de motivação do leitor
brasileiro: de acordo com a Reuters e citado por Cíntia Alves no site GGN, o Brasil é o
país onde há maior consumo de notícias pelas redes sociais (70%) e também onde mais
se comenta (44%). Consoante Charaudeau (2006 apud FREIRE, 2009), neste cenário
compete aos jornais atentarem-se à visibilidade das suas publicações e as notícias
devem ser facilmente identificadas pelo leitor, apresentadas da forma mais clara
possível.
A tecnologia, na visão de Sunstein (2007 apud SCHMITT; OLIVEIRA, 2009),
tem colaborado progressivamente para o leitor efetuar a filtragem do conteúdo
jornalístico, motivo pelo qual é cada vez mais recorrente que as notícias encaminhem-se
47
em direção às perspectivas do seu público, para vencer na corrida de acessos ao material
midiático. Os jornais que são produzidos sem a preocupação em atender aos interesses
individuais dos leitores, segundo Palácios e Machado (1996 apud SCHMITT;
OLIVEIRA, 2009), não deverão prosperar por muito tempo, afinal na competição
desenfreada entre os veículos de comunicação existem aqueles que atendem diretamente
aos gostos dos leitores. Ainda no âmbito da filtragem de conteúdo, Valdenise Schmitt e
Leonardo Gomes de Oliveira (2009) distinguem três tipos, dos quais a primeira consiste
no conteúdo; a segunda é a colaborativa e a terceira a híbrida. Na filtragem baseada em
conteúdo existe um conjunto de características que se associam ao tema a ser explorado,
como título, gênero, autor ou resenha disponível na rede; na filtragem colaborativa, as
publicações consistem nas recomendações de outros usuários e ocorre uma troca de
experiências entre pessoas de interesses em comum. Muitas destas avaliações são
propiciadas por “vizinhos” próximos na rede, que auxiliam na disseminação das
informações; já a filtragem híbrida combina tanto a filtragem baseada em conteúdo
quanto a colaborativa. Existem ainda outras formas de filtragem, como os frames de
recomendação, a filtragem demográfica, a filtragem baseada em utilidade e em
conhecimento. Todas estas filtragens unidas formam um conjunto de recomendações,
nas quais é recorrente que usuários que se interessaram por “X” também tenham se
interessado por “Y”. Dentre as listas de recomendações também existem itens mais
populares, como é o caso das notícias mais lidas.
Um relatório da World Association of Newspapers (WAN), em 2010, já
demonstrava queda de 4,9% no índice de leitura de jornais entre o período de abril e
setembro daquele ano. No caso do Brasil, um dos reflexos da queda de circulação dos
jornais está sintetizado na extinção da versão impressa do Jornal do Brasil em agosto de
2010, um dos mais antigos do País, que iniciou sua circulação em 1891. A concorrência
com as notícias em formato digital, por meio de tablets, ebook-readers ou e-readers, é a
principal razão para que os impressos sucumbam hoje em dia. A “sociedade da
informação”, como é caracterizado o presente ambiente social, também incute na
cultura local, a partir de um deslocamento na forma como o material escrito é acessado
pelo leitor: antes, o aporte de leitura detinha-se sobre o impresso e agora, com o avanço
das tecnologias, foi convertido para o meio eletrônico. Por outro lado, os conflitos entre
meios impressos e as diversas plataformas de comunicação existem desde que estas
convergem entre si, o que permite acreditar que os jornais possam sobreviver entre as
48
mídias modernas da atualidade (CAPERUTO, 2011).
Abordamos, no primeiro capítulo, sobre o conceito de cultura e a caracterização
de diferentes tipos de leitores, seja de jornais ou livros, mais especificamente, ou de
plataformas multimidiáticas. Apresentaremos, no próximo capítulo, a história de São
João do Oeste – município que concentra o espaço desta pesquisa –, descrita com ênfase
na cultura local, educação e alfabetização. A segunda parte desta pesquisa também
contempla histórico e o público que constitui a Biblioteca Pública Municipal Padre
Afonso Hansen e o Jornal Força d’Oeste, a partir dos quais delimitou-se os
respondentes dos questionários.
49
2 MOTIVAÇÕES E DESAFIOS PARA A LEITURA EM SÃO JOÃO DO
OESTE
2.1 GERMANISMO: A EXPRESSÃO DA CULTURA EM SÃO JOÃO DO OESTE
Ao analisar a associação entre cultura e leitura no município de São João do
Oeste, importa considerar as características reconhecidas como representativas da
identidade cultural germânica. Em primeiro momento, é relevante mencionar a
preocupação dos povos de origem germânica em preservar seus valores culturais, seja
por meio oral, expressões artísticas ou em formato impresso.
Segundo Joana de Paula Cidade Miranda (2008), a corte portuguesa instalada no
Brasil observava a colonização germânica no país de maneira positiva, em função da
sua origem, que também era europeia. Somado a isso, conspirava o fato de que os
alemães não disputavam território na região sul-americana, eram vistos como pessoas
instruídas e as boas relações diplomáticas dos países de língua germânica com a corte
portuguesa, motivadas pelo casamento de Dom Pedro I com a princesa austríaca,
favoreceram a colonização germânica no Brasil. Ainda que a corte portuguesa aprovasse
a chegada dos alemães no Brasil, o governo não apoiava as áreas de colonização. Por
este motivo, os povos germânicos passaram a construir comunidades semelhantes às
suas origens em solo brasileiro, através de instituições como igreja, escolas e
associações culturais, além de manter suas tradições e a língua.
A definição da identidade alemã é caracterizada pelo conceito de cultura
germânica, chamado germanidade ou Deutschtum. “São alemães os povos que dividem
um conjunto de aspectos intelectuais, artísticos e religiosos similares, não importando a
procedência direta de cada indivíduo” (JOCHEM, 2008 apud MIRANDA, 2008, p. 17).
René Gertz (1987 apud MELLO, 2006, p. 67) caracteriza a cultura germânica pelo
termo Deutschtumspflege, que, ainda mais especificamente do que o Deutschtum,
expressa “empenho pela conservação da pureza étnica, da língua, dos costumes e das
tradições alemãs” (GERTZ, 1987 apud MELLO, 2006, p. 67).
O conceito de nação não se restringe a limites territoriais, de acordo com
Alcimara Aparecida Foetsch (2007 apud MIRANDA, 2008, p. 25), mas também pode
ser assimilado como uma comunidade simbólica, tal qual ocorre nas colônias de
colonização germânica no Brasil, e entre elas, a de São João do Oeste e região:
50
[...] é isso que explica seu poder de gerar um sentimento de identidade
e lealdade, onde os sentidos estão contidos nas histórias que são
contadas sobre a nação, memórias que conectam seu presente com seu
passado e imagens que dela são construídas e contribuem para o
imaginário, e sendo, portanto muito mais do que uma porção de terras
demarcadas por limites políticos.
Eliane de Mello (2006) ressalta o conceito de Heimat3 no germanismo,
entendido como a capacidade dos valores culturais de sustentarem a etnia de um
povoamento distante do seu local de origem. De acordo com a autora, a presença da
Heimat confere a possibilidade de se constituir o equivalente a uma nova Alemanha na
região colonizada pelos imigrantes, ainda que com características distintas do país de
origem.
A Heimat forma, também, a base na qual o povo alemão, sujeito
coletivo, unido por uma cultura e um destino comuns, encontra-se
enraizado. Esse povo assim constituído possui uma individualidade e
uma personalidade, denominada de espírito popular ou alma do povo.
[...] Assim a lembrança da antiga Heimat torna-se condição da
existência social e cultural porque desenvolve o sentimento de
continuidade, oferecendo um futuro ao legado dos antepassados, ainda
que o território primordial seja de segunda mão e o movimento esteja
circunscrito as pegadas dos pais. (GRÜTZMANN, 1999 apud
MELLO, 2006, p. 67).
Os alemães que chegaram ao Brasil há cerca de 200 anos desenvolveram uma
hibridização da cultura que trouxeram da Alemanha com a realidade de vida, os
costumes e hábitos da nova pátria. Os brasileiros de origem germânica e que ainda
mantêm esta relação com a cultura do país de onde vieram seus antepassados têm sua
identidade formulada da seguinte maneira, conforme apresenta Mello (2006, p. 27-28):
[...] uma história comum (passado imigratório); origem (a Alemanha
natal dos ancestrais); língua (os dialetos germânicos que ainda falam
ou que são ainda falados por algum membro da família em associação
com a fluência do português nas gerações mais novas); costumes
(hábitos alimentares específicos etc); ritos de celebração (ex:
participação em festas tradicionais germânicas como Kerb4, mas
também participação em festas nacionais nas gerações mais novas);
3 Segundo Grützmann apud MELLO (2006, p. 67), em português, o termo equivalia a pago, lar. A palavra
também pode ser sinônimo de Vaterland, que corresponde à pátria na língua portuguesa.
4 A Kerb é caracterizada por uma celebração religiosa, normalmente numa manhã de domingo, seguida de
festa que reúne as famílias.
51
cultura (danças folclóricas, grupos associativos), escrita (mídia,
literatura étnica, etc); religião; aparência física (predominância, mas
não exclusividade principalmente após miscigenação, de indivíduos de
pele e olhos claros) etc.
A política migratória, que estimulava a formação de comunidades de indivíduos
de uma mesma etnia ou país de origem, também contribuiu para os povos alemães
manterem seus costumes e tradições em território brasileiro. Assim surgiu uma
sociedade teuto-brasileira, que, apesar de ser constituída por um número muito menor
do que outras nacionalidades, deixou “uma forte marca na história e cultura do país,
principalmente nos três estados do sul para onde o fluxo foi mais intenso” (MIRANDA,
2008, p. 30).
Os grupos alemães no Brasil destacam-se por meio da influência de sua tradição,
a organização social e étnica. O fato de viverem em colônias isoladas da sociedade
brasileira, com dificuldades de comunicação e estradas precárias que impediam o acesso
a outros povoados favoreceu a manutenção de seus costumes (MIRANDA, 2008). É
exatamente o caso de São João do Oeste, há 700 quilômetros da capital Florianópolis,
cujo território era totalmente preenchido por florestas no início de sua colonização
agrícola.
O isolamento dos povos germânicos também permitiu que as comunidades
formadas por indivíduos etnicamente homogêneos conservassem o idioma alemão, seja
o oficial ou os dialetos regionais, como o Hunsrikisch, advindo da região de Hunsrück,
no oeste da Alemanha e que é falado ainda hoje em São João do Oeste por 92% da
população, de acordo com dados coletados pelas agentes de saúde do município
(SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SÃO JOÃO DO OESTE, 2018).
O descaso do governo nacional quanto à educação nas colônias de imigrantes
motivou os descendentes germânicos a implantarem seu próprio sistema de ensino,
tanto para a alfabetização em alemão, quanto para as demais disciplinas básicas. “Este
era um fator muito importante para estes imigrantes, pois na terra natal de vários, a
educação pública e gratuita já era fornecida pelo Estado há anos” (MIRANDA, 2008, p.
31). O ensino nestas escolas contemplava, como motivação principal, a educação para
crianças e jovens de uma população estrangeira. Entretanto, ao mesmo tempo, as
escolas desenvolviam a formação de uma identidade germânica nas gerações mais
novas.
52
Outro fator que contribuiu para o alastramento da identidade germânica,
impulsionado pelos elevados índices de alfabetização entre descendentes alemães, é a
publicação de diversos jornais, revistas e livros escritos em dialetos germânicos. A
leitura destes materiais, segundo Miranda (2008), está inserida no próprio modo de ser
germânico. A autora menciona Adriano Costa (2004), que, por sua vez, enfatiza o
interesse pela publicação de jornais entre povos germânicos, em comparação a outras
nacionalidades:
A Alemanha nunca foi uma potência colonial, mas os alemães e seus
descendentes são obcecados por publicar jornais em alemão pelo
mundo. Quase todos os países do mundo têm pelo menos um jornal
para a leitura de quem fala a língua de Goethe. O curioso é que isso é
um caso único, porque o mesmo não acontece, por exemplo, com o
francês e o espanhol. A França e a Espanha tiveram muito mais
colônias que a Alemanha e são nações cujos idiomas estão
disseminados pelos quatro cantos do mundo. Não me refiro aqui a
publicação de jornais de modo geral. (...) Eu me refiro aos jornais
publicados em uma língua diferente da que é usada em cada país.
Como, por exemplo, os jornais em alemão, italiano ou chinês
publicados no Brasil. Nisso, os alemães ao que parece ganham em
disparada. E em muitos casos, são periódicos que têm uma longa
tradição de publicação ininterrupta. Alguns já fizeram 100 ou 150
anos que são editados. (COSTA, 2004 apud MIRANDA, 2008, p. 32).
Conforme Lúcio Kreutz (1994), a preocupação das lideranças dos municípios de
colonização germânica nos três estados do Sul do Brasil – região que teve o maior fluxo
de imigrantes alemães no país, de acordo com Miranda (2008) – sempre se detinha
sobre a educação básica, as crenças religiosas e o trabalho comunitário. Um dos fatores
mais acentuados da cultura germânica é a expressão religiosa por meio do envolvimento
dos indivíduos com a igreja – no caso de São João do Oeste, a católica –, juntamente
com atividades como, por exemplo, a participação em corais. Diretamente relacionado
às questões religiosas estão, também, festas comunitárias que visam justamente
arrecadar lucros para a manutenção de igrejas e associações, nas quais o jogo de bolão
(semelhante ao boliche, mas com bolas, pinos e cancha maiores), típico alemão, é
popular.
Todas estas características que compõem a germanidade resultaram em
problemas aos colonos descendentes alemães no Brasil antes e durante a Segunda
Guerra Mundial. A campanha de nacionalização empreendida pelo Estado Novo (1937-
1945), durante o governo de Getúlio Vargas, propôs proibições e repressão às etnias
53
oriundas de outros países. Nesta campanha permitiu-se apenas o uso da Língua
Portuguesa no Brasil e quem ousasse falar outros idiomas estava fadado a ser preso e até
sofrer torturas. Para os alemães, isto representou uma afronta à manutenção da língua,
uma vez que seus dialetos estavam consolidados nas comunidades em que viviam no
Brasil. Além disso, a perseguição aos povos germânicos era ainda maior do que a de
outros países, em função do posicionamento em frentes opostas entre Brasil e Alemanha
durante a guerra.
A primeira etapa da campanha envolveu a nacionalização do ensino, em 1938,
na qual as escolas étnicas foram obrigadas a ensinar o português, a ter professores
brasileiros natos e a instituir matérias de educação moral e cívica. Por outro lado, foram
proibidas de ensinar línguas estrangeiras e de aceitar subvenções de instituições de
outros países. Mais tarde, censurou-se a expressão vocal de línguas estrangeiras, mesmo
em celebrações religiosas, e as associações culturais relacionadas a etnias de outros
países foram compelidas a encerrar suas atividades. Os impressos e as rádios foram
obrigados a usar apenas a língua portuguesa, o que ocasionou o fechamento de vários
deles, enquanto os estabelecimentos com nomes estrangeiros tiveram que alterar sua
identificação. Como parte da campanha de nacionalização, também se instituiu a
comemoração obrigatória de datas festivas nacionais e os moradores inseridos em
comunidades estrangeiras foram submetidos a desempenhar serviço militar em lugares
distantes (MIRANDA, 2008).
O cumprimento das medidas impostas pela campanha de nacionalização contou
com a participação do exército, que se deslocou às comunidades estrangeiras para
intervir. Em meio a essa situação, as gerações mais antigas ou que se comunicavam
apenas por meio de idiomas estrangeiros sofreram a imposição de falar repentinamente
o português; escolas étnicas tiveram problemas para se enquadrar nas novas regras e
escolas governamentais não conseguiram suprir as demandas em todas as regiões.
Como consequência, muitas crianças ficaram temporariamente sem estudar
(MIRANDA, 2008).
Após a Campanha de Nacionalização e a Segunda Guerra Mundial, na década de
1930, uma minoria de lideranças fortes engajou-se para restabelecer a situação anterior
às repressões. “Dentre estas iniciativas de resgate, as que mais se multiplicaram foram
as de instituições de convívio social, como as associações de tiro, de canto e de dança.
54
Hoje, existem diversas delas espalhadas pelo país, principalmente nas áreas de forte
passado imigratório” (MIRANDA, 2008, p. 40).
Dentro do cenário das comunidades germânicas isoladas no Brasil é que surgiu a
região de Porto Novo, localizada na divisa com o Rio Grande do Sul e a Argentina, e
que atualmente é composta pelos municípios de São João do Oeste, Itapiranga e
Tunápolis. Em 1954, Itapiranga obteve emancipação político-administrativa e passou a
abranger também os municípios de Tunápolis e São João do Oeste, os quais
emanciparam-se em 1989 e 1991, respectivamente. Por este motivo, para caracterizar a
história e cultura de São João do Oeste, importa, em primeiro momento, compreender
como Porto Novo e Itapiranga constituíram-se. Conforme Roque Jungblut (2011), Porto
Novo recebeu os primeiros imigrantes alemães no dia 23 de maio de 1925, quando a
família de Johan Düngersleben e Margarete Leimeister, junto com 11 filhos, veio do
distrito de Hundsbach, Bayern, na Alemanha, para fixar residência na atual comunidade
de Linha Chapéu, interior de Itapiranga.
Entre 1926 e 1927, em torno de 40 famílias se instalaram na região de Porto
Novo e todas vieram do Rio Grande do Sul. Os principais motivos da migração derivam
do desgaste das terras no estado de origem, bem como o excedente populacional para as
lavouras disponíveis. Nos anos de 1928 a 1930 chegaram alguns descendentes alemães
da Bessarábia, na Romênia, além da ampla maioria de migrantes do Rio Grande do Sul,
enquanto na década de 1930 a região recebeu imigrantes diretamente da Alemanha,
além do expressivo número de alemães bessarabianos. O conjunto dos colonizadores da
região de Porto Novo, portanto, é formado por três nacionalidades (JUNGBLUT, 2011,
p. 83):
Bundesdeutscher: vindos da Alemanha;
Deutschrumänen: vindos da Romênia;
Deutschbrasilianer: descendentes de alemães vindos do Rio
Grande do Sul.
Maria Rohde integra os grupos de imigrantes que se deslocaram a Porto Novo
nos primeiros anos de colonização. Ela descreve a própria jornada desde a saída em
Estrela, no Rio Grande do Sul, até a chegada à atual comunidade de Linha Sede Capela,
no interior de Itapiranga, no livro Espírito Pioneiro (2011). Nesta obra, menciona que
deixou seu filho de um ano com os avós, em terras gaúchas, para encontrar o marido
que já estava em Porto Novo, e que, entretanto, não conseguia enviar notícias do seu
55
paradeiro, em razão das dificuldades de comunicação. Durante o deslocamento a Porto
Novo, de caminhão, ela e o motorista foram abordados por tropas que estavam no
encalço de revolucionários que saqueavam moradias na região de Porto Novo. Rohde
temia que as tropas poderiam confiscar o caminhão e assim deixá-los a pé em meio à
estrada desconhecida e, para tanto, ela recorria à religiosidade no intuito de que nada de
ruim os afrontasse:
O que estava acontecendo que exigia tanto reforço de tropas? [...] A
necessidade ensina a orar, foi neste momento que percebi, pela
primeira vez, com toda clareza, o privilégio que era poder colocar
todas as nossas preocupações e temores em oração ao Pai do céu,
podendo confiar em Sua proteção e condução sábia e paternal
(ROHDE, 2011, p. 46).
Quando Rohde chegou à residência do marido, em meio à mata virgem,
encontrou apenas os móveis essenciais à moradia, pois outros utensílios haviam sido
roubados por revolucionários. Com poucos recursos, coube à família iniciar uma
realidade completamente distinta da que estavam acostumados no Rio Grande do Sul,
que inclusive colocava à prova a própria capacidade de sobrevivência:
Eu sugeri que se deslocasse a mesa para um pouco mais longe do fogo
e da fumaça. Recebi, então, minha primeira lição de sobrevivência.
Emílio [o marido de Maria] me ensinou logo que esta posição da mesa
era a mais prática: em primeiro lugar, garantia a iluminação da sala de
jantar, para encontrarmos o caminho para a boca, e, em segundo, a
fumaça espantava os mosquitos – para que pudéssemos comer em paz
(ROHDE, 2011, p. 58).
Em outro trecho do livro, a autora relata sobre a dificuldade em cozinhar,
contrastada pelo apetite descomunal ocasionado pelo trabalho naquelas condições
primárias:
Com o apetite enorme que a vida na floresta provocava – tudo era
bom – só devia haver quantidade suficiente. Os colonizadores
chamavam isso de “doença da voracidade”. Dessa doença todos os
novatos sofriam; talvez fosse provocada pela mudança climática e o
trabalho pesado. Menos agradável era cozinhar em dias de chuva,
quando, com os cepos molhados, a comida não queria ficar pronta e,
tanto cozinha, quanto cozinheira ficavam envolvidas em nuvens de
fumaça espessa. Nessas ocasiões, quando nada queria dar certo, eu
chorei lágrimas amargas. (ROHDE, 2011, p. 66, grifo do autor).
56
A Sociedade União Popular, também conhecida por Volksverein, foi a entidade
que viabilizou a chegada dos imigrantes e descendentes alemães à região de Porto
Novo. A Volksverein é uma “organização social filantrópica criada em 1912, por
alemães católicos no Rio Grande do Sul. Tinha por objetivo reunir os alemães para
preservar os costumes, a cultura, a religião católica, além de assumir projetos de
colonização” (JUNGBLUT, 2011, p. 64). Segundo Rohde (2011), cuja família também
se domiciliou em Porto Novo por meio deste projeto, esta entidade atendia as demandas
materiais, espirituais e culturais dos colonizadores germânicos e suas tarefas eram
estabelecidas por meio de estatutos amparados pela lei. Antes da Segunda Guerra
Mundial, a sociedade abrangia 12 mil sócios registrados e ela dispunha inclusive de
jornal para se comunicar com os associados: o Skt. Paulusblatt, de periodicidade
mensal, que existe ainda hoje e também circula em São João do Oeste, embora o
número de assinantes neste município seja reduzido.
As diretrizes que regiam a Sociedade União Popular, de acordo com Rohde
(2011), foram sugeridas pelo Papa Leão XIII e constavam nos Estatutos Sociais
Católicos da Itália.
As bases do pensamento do Santo Padre eram as seguintes:
1. Concentrar todos os esforços dos católicos do país para o
mesmo objetivo: defesa, manutenção e desenvolvimento da fé e modo
de vida católico.
2. Direção da Associação através de uma assembleia de delegados,
comitê central e diretoria executiva.
3. Divisão territorial do país em associações diocesanas e
sociedades locais.
4. Alcance dos objetivos da associação através da divisão das
atividades da mesma em diversas seções com diretorias próprias.
5. Confederação de todas as associações e uniões dedicadas a
diferentes âmbitos da ação católica. (ROHDE, 2011, p. 22).
O objetivo do Papa Leão apresentava-se como o mesmo da Sociedade União
Popular, ou seja, a pretensão de estipular uma unidade absoluta em torno dos valores
católicos, neutralizar objetivos alheios a esta unidade e prevenir as tensões com
iniciativas que se opunham à igreja Católica: “Como os liberais criaram suas
Sociedades Populares para combaterem a hegemonia da igreja Católica, nós precisamos
fundar uma Associação Popular Católica para a defesa desta mesma Igreja” (ROHDE,
2011, p. 22). A ideia era a criação de uma Internacional Católica logo após a Primeira
Guerra Mundial, para reunir e assegurar os princípios desta religião. Entretanto, a
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intolerância de franceses e belgas com os alemães, por conta da guerra, impediu este
plano e cada país passou a organizar-se individualmente.
A Volksverein comprou a área correspondente a Porto Novo da Empresa
Chapecó-Peperi Ltda em 1926, permitindo que ela fosse ocupada somente por
descendentes germânicos e com preferência para os de religião católica (JUNGBLUT,
2011). A topografia das terras localizadas na região de Porto Novo, isoladas entre as
margens dos rios Uruguai e Peperi, contribuiu para que um núcleo homogêneo se
constituísse. “Tal estrutura foi fundamental no controle e na defesa da comunidade, já
que não contavam com a estrutura de um ente superior (Estado) para estabelecer normas
e padrões de comportamento” (SCHNEIDER, 2016, p. 95).
Os padres jesuítas eram grandes incentivadores do projeto Porto Novo e, como
na época a palavra destes religiosos prevalecia como “verdadeira” na sociedade, a
propaganda que faziam sobre a região foi essencial para convencer os imigrantes
alemães do Rio Grande do Sul a se deslocarem para as novas terras. Entre as
“maravilhas” que se propagavam a respeito de Porto Novo, constava que
os interessados terão a garantia de morar em comunidades onde
haverá somente moradores alemães e católicos;
os filhos terão Gemeindenschuhlen – escolas alemãs católicas;
todos terão assistência espiritual e religiosa (JUNGBLUT, 2011,
p. 81).
Percebe-se, aí, a forte influência da cultura religiosa, e a preocupação em manter
a cultura regional coesa em torno de um único credo. Ainda consoante Jungblut, o fato
de todos os primeiros colonizadores serem da mesma orientação religiosa e
descendência, aliado à colaboração da Volksverein para a formação dos núcleos
comunitários, à doação de terras para a edificação das sedes, bem como à assistência
religiosa incrementada no projeto de colonização, favoreceram o estabelecimento dos
princípios germânicos na constituição da religiosidade e do acesso à educação escolar.
Os alemães vieram ao Brasil com preocupação em “oferecer a todos os
elementos da comunidade o acesso às letras, à formação profissional, à espiritualidade
religiosa” (JUNGBLUT, 2011, p. 339). A ausência de programas com este objetivo por
parte do governo brasileiro motivou a iniciativa dos descendentes germânicos em
proporcionar, para suas comunidades. Desde 1926, os colonizadores, à medida que
desbravavam as matas para cultivar terras, também mantinham a religiosidade,
58
materializada por meio da construção de capelas, e zelavam, também, pela educação,
uma vez que, não raro, as capelas serviam, também, como sala de aula.
A primeira missa em Porto Novo foi celebrada no dia 11 de abril de 1926, pelo
padre Maximiliano von Lassberg, “[...] debaixo de laranjeiras, sob o céu azul” (RICK,
1932, p. 3 apud LENZ, 2016, p. 60). Ainda antes da construção das capelas, a região de
Porto Novo recebia padres que vinham do Rio Grande do Sul para fazer batismos,
catequeses, estimular a religiosidade das famílias embrenhadas nas matas e até para
prestar auxílio médico. O padre João Evangelista Rick foi um destes casos; aliás, muito
além disso, teve contribuição fundamental para trazer as famílias de descendência
germânica a Porto Novo: por meio do cargo de secretário da Sociedade União Popular,
Rick envolveu-se na definição desta região ainda antes que fosse habitada pelos
colonizadores, segundo o padre Matias Martinho Lenz (2016).
Rohde (2011) relata que o padre João Rick havia sido deslocado pela
Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, para fazer pesquisas sobre fungos na
região de Porto Novo. Rick visitava as famílias germânicas, de caboclos e indígenas que
se encontravam nas florestas portonovenses para fazer orações e repassar orientações
que lhes poderiam ser úteis para viver nestes ambientes isolados.
Em poucos domingos ele conseguira chegar ao ponto que possibilitava
um grande batizado coletivo. Ele sabia como colocar as coisas em
ordem. Inicialmente, neste dia previamente marcado, distribuiu a
bênção nupcial aos pais; em seguida, batizou os filhos, entre os quais
vários já ultrapassavam os dez anos de idade. Antes não havia padre
que atendesse esta população, por isso era uma feliz coincidência que
padre Rick se entendesse tão bem com eles, que já confiavam
plenamente nele (ROHDE, 2011, p. 119).
O trabalho do padre Rick ainda se estendia em um levantamento topográfico
para abertura de uma estrada que ligasse as comunidades. Este foi um dos motivos pelo
qual o padre obteve tamanho reconhecimento na região, a ponto de a escola de Linha
Ervalzinho, interior de São João do Oeste, escolher seu nome para a fundação. A Escola
de Ensino Fundamental Padre João Rick, como ela foi oficialmente denominada,
continua as atividades ainda hoje. Conforme Rabuske (2004 apud LENZ, 2016, p. 62),
“João Evangelista Rick, jesuíta austríaco, missionário, cientista, colonizador, apóstolo
social, foi um gigante, física e espiritualmente, um homem desprendido e de visão
estratégica. Constitui um exemplo para nós e para as futuras gerações”.
59
Assim como João Rick, outros irmãos jesuítas auxiliaram em diversas situações
na região de Porto Novo. Além do trabalho na pastoral e na catequese, de serem
cozinheiros ou roupeiros, alguns jesuítas também tinham facilidade em domar cavalos e
burros: “Alguns se distinguiram como exímios domadores desses animais! Sem os
serviços desses santos e dedicados Irmãos, muitos padres teriam ficado literalmente a
pé!” (LENZ, 2016, p. 64). Como exemplo, o autor cita os padres Teodoro Treis e
Francisco Xavier Riederer, que estiveram pela região entre os anos 1930 e 1940 e foram
obrigados a deixar a função com o advento da Campanha de Nacionalização, pois
conduziam as celebrações apenas em idioma alemão. Ainda, destaca a chegada das
Irmãs da Divina Providência, da Alemanha, a pedido dos jesuítas, que ajudaram na
educação dos jovens e no atendimento à população por meio do hospital sediado em
Itapiranga (LENZ, 2016).
Durante todo mês de janeiro de 1939 transcorreram as santas missões em todas
as capelas da paróquia, “prática repetida de tempos em tempos, para uma renovação
geral do espírito de fé e da prática cristãs” (LENZ, 2016, p. 65). Entre os pregadores
dessas primeiras missões, Lenz (2016) menciona os padres jesuítas Guilherme Vincenti,
Balduino Rambo, Felix Darup, Afonso Hansen, Cláudio Mascarello e Lidvino Santini.
Mais tarde, em 17 de maio de 1943, quando o padre Filipe Krötz já havia tomado posse
da paróquia de Itapiranga, um grupo de seis jovens reuniu-se para a formação de uma
Congregação Mariana5 de moços, a qual tinha, entre outras iniciativas, a composição de
uma biblioteca que foi inaugurada no dia 16 de abril de 1944. Em agosto, por sua vez,
formou-se uma Congregação Mariana de moças, na qual, entre as 50 presentes na
primeira reunião, 33 se inscreveram. Já no ano de 1952, a Congregação Mariana
registrava 285 moços e 360 moças associados (LENZ, 2016).
O autor destaca que por meio da Comissão Municipal de Desenvolvimento
Econômico (COMUDE), criada por lideranças do município de Itapiranga em 1962, foi
solicitada verba da organização dos bispos da Alemanha, o Misereor, com sede em
Aachen, no oeste alemão, para que pudessem ser elaborados projetos de
desenvolvimento na região. Esta comissão recebeu apoio da paróquia, o que demonstra
novamente a influência dos jesuítas no progresso da região. A iniciativa de instalar uma
escola agrícola em Linha Sede Capela, no interior de Itapiranga, também partiu dos
jesuítas: criado em 1980, o Colégio Agrícola São José (renomeado para Instituto de
5 Associação de leigos católicos, devotos de Virgem Maria, Mãe de Deus.
60
Assistência e Educação São Canísio – IAESC, em 2003), formou mais de 1.700
técnicos agrícolas até o ano de 2014, quando os jesuítas anunciaram o encerramento das
atividades. Os jesuítas atuaram também como inspetores escolares e mesmo quando os
professores ficavam sem receber seus salários, que já eram baixos, os padres se
empenhavam para solucionar a situação:
O pároco se empenhou muito junto ao governo do município e
conseguiu alguma coisa, mas não para todos, e, por isso, os pais se
viram obrigados a ajudar os professores. O pároco, para aliviar a
situação pecuniária deles, fundou a caixa escolar paroquial. Os pais
contribuíam para ela cada mês, na proporção do número de filhos que
frequentavam a escola. Quase todos os paroquianos, fora uns poucos,
pagaram de boa vontade essa contribuição (SPOHR, s.d., p. 1 apud
LENZ, 2016, p. 71).
Conforme Maikel Gustavo Schneider (2016), o fator religioso acentuado na
região influenciava nos modos de pensar e agir das pessoas, e, consequentemente, no
controle social. Os homens, por exemplo, precisavam usar terno completo nas
celebrações e inclusive em bailes, ao passo que as mulheres eram compelidas a vestir
saias longas, que cobrissem os joelhos, e sem decote no pescoço ou nos braços. Aqueles
que não cumpriam estas normas sofriam humilhações e eram desonrados pela
sociedade, bem como ocorria com suas famílias (SCHNEIDER, 2016).
Em festas e bailes havia uma comissão de homens que fiscalizavam as condutas
das pessoas. Caso alguém descumprisse as regras, recebia aviso verbal, e em caso de
reincidência, “a Comissão de Ordem retirava o infrator do salão por métodos mais ou
menos brutais” (JUNGBLUT, 2005, p. 345, apud SCHNEIDER, 2016, p. 93). Ainda
nas festas, o homem era proibido de dançar sem o casaco do paletó e os casais deveriam
manter certa distância entre eles enquanto dançavam, pois as cenas de afeto e intimidade
eram condenadas.
As moças podiam dançar entre elas, até a hora em que era dado o
aviso de que doravante isto estava proibido. As mulheres nunca
pagavam ingresso e por isso se acreditava que elas tinham menos
direitos do que os homens nos bailes. Por conta disso, as moças
tinham a obrigação de aceitar dançar pelo menos uma música [...]
quando convidadas por algum cavalheiro. Caso negassem o “convite”,
era “correto” que o rapaz lhe desse um bofete [...] o que sempre
causava fortes comentários (JUNGBLUT, 2005, p. 344 apud
SCHNEIDER, 2016, p. 94).
61
A postura de fechamento das comunidades de Porto Novo quanto a valores que
não correspondessem à cultura germânica e religião católica culminou no impedimento
da entrada de grupos ou indivíduos de outras características:
Este processo de fechamento do grupo social pode ser visto como uma
forma de autodefesa. Assim, a exclusão de índios, caboclos e demais
etnias e culturas que não se enquadravam nos critérios de colonização,
pode ser vista como um processo de autodefesa da cultura, da língua,
da religião e de valores da comunidade itapiranguense. Os pioneiros
pensavam que quanto mais fechada e vigiada a comunidade, maiores
as chances de sobrevivência do grupo social e mais gerações poderiam
desfrutar das vivências de acordo com os costumes e princípios
alemães (SCHNEIDER, 2016, p. 97).
Paulino Eidt (2016) ressalta esta preocupação quanto à permanência de valores
germânicos às próprias famílias, nas quais existia extrema rigidez quanto à religiosidade
e ao modelo paternal de sociedade. A rigidez perante a religiosidade influenciou na
educação familiar, a qual impedia a abordagem de assuntos considerados tabus, como
sexo: “crenças e práticas que nos são transmitidas já fabricadas pelas gerações
anteriores; se as recebemos e adotamos é porque, sendo ao mesmo tempo obra coletiva
[...] estão revestidas de autoridade particular que a educação nos ensinou a reconhecer e
a respeitar” (DURKHEIM, 1995, p. 8 apud EIDT, 2016, p. 127).
Na região embrenhada em matas, os moradores estavam expostos a doenças
como tétano, coqueluche, tifo e varíola, que incutiram no estabelecimento daquilo que
Eidt (2016) classifica como “solidariedade horizontal”, ou seja, os colonizadores
mantinham suas propriedades particulares, porém a ajuda mútua era o aval para a
própria sobrevivência das famílias que viviam da subsistência, sem uso de dinheiro.
Expressões como Gemeinschaft (trabalho comunitário) e Gesellschaft (companhia),
relacionadas ao paroquialismo, remetem às formas de solidariedade do povo de
ascendência germânica em Porto Novo, o qual baseava suas regras sociais em torno do
clero. Entre os valores delimitados para a execução do projeto Porto Novo, destaca-se o
da dedicação à vida comunitária, o qual incluía até mesmo o sacrifício do trabalho
particular.
Ao mesmo tempo em que o envolvimento com a comunidade era característico
dos colonizadores descendentes germânicos na região de Porto Novo, motivado pela
ideia de construção de clubes e igrejas para serem ocupados pelas gerações futuras, a
preocupação em proporcionar educação adequada também estava inserida neste
62
processo. A partir destes pensamentos, procedeu-se a contratação de
Gemeindeschullehrer (professores comunitários) ou Pfarrschullehrer (professores
paroquiais) para disponibilizar o ensino básico às crianças, incluindo, naturalmente, a
alfabetização. Conforme acentua Paiva (1973, p. 83 apud EIDT, 2016, p. 133),
A atividade alfabetizadora envolveu a comunidade, a paróquia, o
professor e a colonizadora. [...] Desde os primórdios da colonização,
os imigrantes teutos zelavam por uma instituição que se tornou
característica das suas comunidades rurais, a escola paroquial ou
comunitária. Tornou-se uma instituição singular, com mérito de suprir
a ausência inicial das escolas públicas.
A escola paroquial, desvinculada do Estado e à mesma medida associada à
Igreja, exibia como características uma acentuada espiritualidade, rigidez quanto à
disciplina e obediência, valorizadas pelos jesuítas. Muito além da pretensão de oferecer
a oportunidade do estudo, a educação nestas comunidades era vista como extensão da
família, na qual a Igreja visava interferir nos comportamentos dos estudantes de modo
que estes seguissem os princípios que se pretendia para o progresso da colônia: “esses
educadores eram responsáveis pela alma dos alunos [...] isso envolvia a salvação da
alma das crianças, pelas quais eles eram responsáveis perante Deus” (ARIÈS, 1973, p.
117 apud EIDT, 2016, p. 134).
A visão etnocêntrica que predominava na região de Porto Novo incidiu na
exclusão de pessoas que não fossem fieis à religião Católica ou de outras origens. Estas
oposições diante da alteridade reduziram-se nos anos 1970, com a introdução do
capitalismo na região, porém as características de descendência germânica e religião
católica ao final do século XX ainda permaneciam em mais de 95% da população,
segundo Jungblut (2011, p. 101).
2.2 RELAÇÕES DA CULTURA LOCAL COM A EDUCAÇÃO E O PROCESSO
DE ALFABETIZAÇÃO
Ao início do processo de colonização agrícola, as aulas em São João do Oeste
eram ministradas nas capelas ou então em escolas pequenas, de madeira, construídas
pelos próprios moradores das comunidades, assim como também ocorria em outras
escolas da região de Porto Novo. Neste sentido Jungblut relata (2011):
63
Um povoado tinha que ter uma construção comunitária para que
pudesse ser considerada comunidade. Passados em torno de cinco
anos, era construída uma nova capela, agora já tentando separar igreja
da escola, porém novamente em madeira. (JUNGBLUT, 2011, p.
339).
Com a chegada da Campanha de Nacionalização, em 1937, a escola que existia
na sede de São João do Oeste foi uma das mais afetadas e encerrou suas atividades por
determinação do governo. O educandário foi transformado em Escola Mista pelo órgão
governamental, porém os moradores não concordaram com esta forma de ensino, que
excluía a língua alemã das aulas, e decidiram fechar a escola (JUNGBLUT, 2011).
João Harry Klein (2019), 90 anos, natural de Montenegro/RS, na época distrito
de Harmonia, veio a São João do Oeste aos dois anos de idade, em 1932, junto com os
pais e sete irmãos, mais velhos, e conviveu com algumas das formas de repressão do
Estado Novo de Getúlio Vargas. Klein estudou entre 1937 e 1939, por três anos, numa
escola da sede do distrito então pertencente a Porto Novo, justamente no período em
que o alemão foi proibido pela Campanha de Nacionalização. O pioneiro recorda que
entre 1937 e 1938 o ensino escolar era exclusivamente em alemão, conduzido por
professores que eram pagos pelos próprios moradores. No ano seguinte, entretanto, o
governo determinou que os professores locais fossem substituídos por educadores da
rede estadual, os quais passaram a ministrar as aulas somente na língua portuguesa.
Como quase todos os alunos sabiam comunicar-se apenas em alemão, o aprendizado em
outro idioma, ainda desconhecido, tornou-se praticamente impossível. Para quem
ousasse qualquer manifestação em alemão, a punição era severa, quando não
acompanhada de violência: “O aluno que infringia as regras era obrigado a ajoelhar-se
em frente ao professor, ou levava surra. Ninguém sabia ler ou falar em português, então
como poderíamos estudar? Por isso fiz até o terceiro ano e parei” (KLEIN, 2019).
Fora da escola, a repressão aos descendentes germânicos era ainda mais intensa:
Klein lembra que a partir de 1939 havia inspetores – que faziam o papel de polícia, a
qual ainda não existia na época em Porto Novo –, ou seja, representantes da própria
comunidade que eram designados pelo estado para fiscalizar quaisquer manifestações
em alemão. A família Klein deixou de fazer as habituais orações noturnas em alemão e
os moradores tratavam de falar em baixa tonalidade para se comunicarem durante o dia,
pois os fiscais poderiam perscrutá-los a qualquer momento. O pai de Harry havia
aprendido a falar português ainda no Rio Grande do Sul e então tratou de ensinar a
64
língua aos filhos, que apenas puderam voltar a se comunicar em alemão após a Segunda
Guerra Mundial, em agosto de 1945. Klein (2019) recorda que o pioneiro Otto Veit
conduzia encontros de catequese em alemão, em Linha Chapéu/Itapiranga, quando foi
flagrado pelos inspetores e encaminhado para Chapecó, onde acabou preso e espancado
pela polícia. Ao ser enfim liberado da prisão, a polícia retirou o dinheiro que levava
consigo e Veit foi induzido a voltar a pé para casa. Ele então precisou solicitar comida
nas moradias durante o caminho para que pudesse chegar ao seu destino.
Posteriormente à Campanha de Nacionalização, em 1949, o governo estadual
iniciou a construção, a partir da edificação de duas salas de aula, daquele que se tornaria
no maior colégio do município – o Grupo Escolar Madre Benvenuta –, hoje conhecido
Escola de Educação Básica Madre Benvenuta. Em 1961 iniciou o quinto ano primário
na sede de São João do Oeste, sob o nome de Admissão ao Ginásio, e dois anos mais
tarde a educação infantil, com o surgimento do Jardim de Infância Jesus Menino. No
ano de 1974 foi a vez de iniciar o segundo grau profissionalizante em São João do
Oeste, por meio do curso de Técnicas Contábeis Jorge Lacerda, na área que seria
denominada como CNEC, abreviação da Campanha Nacional de Escolas da
Comunidade. A CNEC foi posteriormente desativada para a instalação de uma escola de
séries iniciais, em 2001, chamado Centro Educacional de São João do Oeste, existente
ainda hoje (JUNGBLUT, 2011).
No interior de São João do Oeste, sete escolas – as chamadas isoladas – foram
desativadas em 1997, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação (2019): nas
comunidades de Fortaleza, Jaboticaba, Itacuruçu, Medianeira, Palmeiras, Vale Pio e
Alto Macuco. Todas elas mantinham ensino do 1º ao 4º ano, exceto a de Linha
Jaboticaba, que ainda incluía o pré-escolar. O educandário de Linha Macuco foi
desativado em 2009, ao passo em que as escolas das comunidades de Ervalzinho, Beato
Roque e Cristo Rei, assim como as da sede, ainda prosseguem as atividades.
De acordo com a Secretaria Municipal de Educação de São João do Oeste
(2018), o município dispõe dos seguintes estabelecimentos dedicados à educação e
ensino: Creche Municipal Kinder Haus (Casa da Criança, em alemão), Centro de
Educação Infantil Jesus Menino, Centro Educacional de São João do Oeste (1º ao 5º
ano) e Escola de Educação Básica Madre Benvenuta (6º ano do Ensino Fundamental ao
3º ano do Ensino Médio), ambos na sede; Amor Perfeito (Infantil), Centro Educacional
(1º ao 5º ano) e Escola de Educação Básica Cristo Rei (6º ano do Ensino Fundamental
65
ao 3º ano do Ensino Médio), da comunidade de Linha Cristo Rei; Pré-Escolar
Chapeuzinho Amarelo e Escola Municipal Ministro Luiz Gallotti (1º ao 5º ano), da
comunidade de Linha Beato Roque; e Escola Municipal Padre João Rick (1º ao 5º ano),
da comunidade de Linha Ervalzinho. Há também possibilidade de formação para
estudantes que já ultrapassaram a idade considerada ideal para concluir a educação
básica (19 anos), por meio do Centro de Educação de Jovens e Adultos – CEJA. Ao
final de 2018, o município contava com 1.031 alunos matriculados desde a creche até o
Ensino Médio, seja na rede municipal ou estadual.
A emancipação de São João do Oeste, que antes pertencia ao município de
Itapiranga, ocorreu em 12 de dezembro de 1991, quando passou a ser formado por onze
comunidades, além da sede, e a constituir um município de 163 quilômetros quadrados,
o qual faz divisa com Itapiranga, Tunápolis, Iporã do Oeste e Mondaí, todos em Santa
Catarina. As escolas de São João do Oeste já existiam quando o município obteve
emancipação político-administrativa, com exceção da Creche Municipal Kinder Haus, e
todas são públicas.
Em 27 anos de município, São João do Oeste já conquistou o menor índice de
analfabetismo do Brasil em três oportunidades – 2000, 2004 e 2007 – e continua nas
primeiras posições do ranking. Já o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica –
IDEB do município nos anos iniciais do Ensino Fundamental obteve nota 7,3 em 2010,
ainda segundo o IBGE. Os alunos do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental de São João
do Oeste alcançaram a mesma nota em 2015, segundo o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, enquanto nos anos de 2013 e 2017 – o
mais recente – a nota foi ainda maior: 7,5. A nota de 2017 de São João do Oeste está 1,4
ponto acima da meta projetada para o município pelo IDEB (nota 6,1) e 2 pontos acima
da média nacional nos anos iniciais do Ensino Fundamental, entre escolas públicas.
Desde 2013, o município está à frente inclusive da média nacional entre escolas
privadas, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, como pode ser constatado nas
tabelas abaixo:
TABELA 1 – IDEB de São João do Oeste no 4º e 5º ano do Ensino Fundamental
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2018, p. 1).
66
TABELA 2 – IDEB nacional nos anos iniciais do Ensino Fundamental
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2018, p. 1).
De acordo com a coordenadora pedagógica do município, Teresinha Staub
(2019), a cultura de São João do Oeste reflete-se na educação por meio do
comprometimento das famílias com o processo de ensino: “enquanto os moradores
naturais do município são muito participativos em relação às atividades nas escolas,
temos dificuldade em trazer as famílias que vêm de outras regiões” (STAUB, 2019). A
taxa de alfabetização no município, que alcança o percentual máximo na faixa etária dos
7 aos 14 anos, é justificada, novamente, pela participação dos pais no processo de
ensino, aliada à formação de professores que recebem cursos de capacitação, de acordo
com a coordenadora pedagógica.
Segundo Staub (2019), não existe um método de ensino padronizado pelo
município, porquanto as escolas têm a liberdade de adotar os próprios. As didáticas para
o ensino da leitura e da escrita dependem do diagnóstico do aluno, por meio da
combinação entre alfabetização e letramento. Entre as práticas de ensino, a
coordenadora pedagógica menciona o método fônico, que compreende os sons das
letras, frases, textos e sílabas, além do sociointeracionismo, especialmente para alunos
do primeiro ano. Para alunos com aprendizado abaixo do esperado é determinada a
repetição do ano (STAUB, 2019).
A língua alemã é ministrada nas escolas da cidade de São João do Oeste e nas
comunidades de Linha Beato Roque e Cristo Rei desde o Maternal 3. Conforme a
coordenadora pedagógica, a didática compreende o alemão oficial, que se distingue do
falado nas famílias – o dialeto Hunsrickish – e em razão do fato de que muitos alunos
não falam o dialeto em casa, o ensino desta língua torna-se mais difícil, inclusive em
relação ao inglês. Para ministrar as aulas em alemão, o município dispõe de uma
67
professora efetiva, Lovane Inês Drebel, licenciada em língua alemã pela Universidade
Federal do Paraná – UFPR e responsável por seis escolas municipais: Centro de
Educação Infantil Jesus Menino (Jardim e Pré) e Centro Educacional (1º ao 5º ano) na
cidade; Amor Perfeito (Maternal 3 até o Pré) e Centro Educacional (1º ao 5º), em Cristo
Rei; Pré-Escolar Chapeuzinho Amarelo (Maternal 3 até o Pré) e Escola Municipal
Ministro Luiz Gallotti em Beato Roque (1º ao 5º). Conforme consta na reportagem do
Jornal Força d’Oeste em 09 de dezembro de 2015, o ensino da língua alemã oficial é
disponibilizado desde 2005 nas escolas municipais e tornou-se obrigatório na grade
curricular do município em 2012 (KIPPER, 2015).
A cultura germânica, por seu turno, é trabalhada na escola de maneira
interdisciplinar, dentro das disciplinas de História e Geografia, no mesmo molde do
ensino religioso, desde o 1º ao 5º ano. No 1º ano é abordado o contexto familiar, no qual
os alunos formam a árvore genealógica das respectivas famílias; no 2º ano são feitos
trabalhos referentes à comunidade, começando pela sede e a sucessiva extensão para as
localidades; no 3º ano o direcionamento é voltado ao município, incluindo a
emancipação, os primeiros governantes até os atuais; no 4º ano os estudos abrangem o
estado, nos quais a região Extremo Oeste é a mais explorada, e no 5º ano voltam-se ao
Brasil, com estudo das capitais, estados e a história do país. O aprendizado adquirido
em sala de aula sobre cada um destes contextos que envolvem o local de convívio do
aluno é intercalado com consulta a documentos, entrevistas e até palestras ou
depoimentos de pioneiros ou historiadores que são visitados pelos alunos ou
comparecem à escola (STAUB, 2019).
A professora Lovane Inês Drebel, efetiva no município desde 2013, ministra
aulas de 50 minutos para 27 turmas de São João do Oeste, desde o Maternal 3 ao 5º ano.
O ensino é efetuado de várias maneiras, adaptadas para as realidades de cada nível. Uma
das formas preferidas de Lovane para repassar o conteúdo é a escrita no quadro e em
seguida os alunos leem palavra por palavra. “Alguns estudantes não praticam o dialeto
alemão falado no município, por isso o ensino demanda paciência” (DREBEL, 2019).
O foco do ensino é direcionado da seguinte maneira para cada nível: no Maternal
3 os alunos cantam em alemão e praticam atividades lúdicas, como brincar com
pecinhas com palavras em alemão; no Jardim e no Pré é enfatizada a oralidade; no
primeiro ano as palavras são apresentadas em sua forma escrita; o segundo ano
contempla frases; e do terceiro ao quinto anos os alunos leem textos, cuja complexidade
68
aumenta conforme avançam no aprendizado e também passam a consultar o dicionário
em alemão. No quarto e quinto anos os alunos também praticam diálogos em alemão,
nos quais dramatizam usando personagens e fazem teatro de fantoches. Drebel (2019)
destaca que também são entregues livros infantis em alemão, como Chapeuzinho
Vermelho (Rotkäppchen, em alemão) e Os Três Porquinhos (Die Drei Kleinen
Schweine, em alemão), que os alunos leem em casa e depois compartilham a história
com os colegas, fator que também contribui na finalidade de aprender o idioma.
Os temas abordados em sala de aula são variados e também contemplam datas
comemorativas, como a Semana Alemã, em julho, no qual a professora utiliza bonecos
para caracterizar personagens como o Fritz e a Frida (Foto 1), populares na cultura
germânica. Vídeos com paisagens e fotos da Alemanha também são utilizados pela
professora para incentivar os alunos a aprenderem o idioma com a perspectiva de
conhecer o país europeu futuramente. Todo conjunto de métodos de ensino engloba as
quatro habilidades linguísticas: leitura, escrita, escuta e fala, além de outras formas de
comunicação e expressão cultural, como o canto e a dança. O ensino é efetuado com
base nos parâmetros da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, órgão que
regulamenta os conteúdos a serem trabalhados em sala de aula.
A escolarização é obrigatória dos 4 aos 17 anos de idade e, neste sentido, o
município alcançou seu alvo, atingindo 100% de frequência nessa faixa etária, de
acordo com a Secretaria Municipal de Educação (2019). No caso dos adultos
analfabetos, o município oferece apoio por meio do EJA – Educação para Jovens e
Adultos, com a professora Marlise Klunk, entretanto, o único ano em que houve turma
foi em 2015, quando 14 alunos, frequentadores das escolas da cidade e de Linha Cristo
Rei, formaram-se. Segundo a coordenadora pedagógica, no caso dos adultos, o processo
de aprendizagem é muito mais lento do que o de uma criança, pois em muitos casos
essas pessoas sofreram bullying por conta do analfabetismo e desistiram dos estudos:
“Muitos não querem vir; outros têm dificuldades especiais ou distúrbios que atrapalham
no aprendizado” (STAUB, 2019).
A professora Marlene Jungblut, da Escola de Educação Básica Cristo Rei, é uma
das profissionais que atuaram na alfabetização das primeiras séries de ensino no
município há mais tempo, entre todos os educadores de São João do Oeste. Ela iniciou o
percurso no magistério em 1989, na escola de Linha Vale Pio, e a partir de 1991 passou
a trabalhar a alfabetização em turmas bisseriadas e multisseriadas, na mesma
69
comunidade, até 1997, quando transferiu-se para a escola de Linha Cristo Rei. De
acordo com a professora, no início havia pouco material disponível e ainda pela falta de
experiência, a alfabetização limitava-se ao ensino do alfabeto e à junção das letras. A
partir dos resultados deste modelo de ensino, a professora passou a adotar novas
estratégias, entre elas, a coordenação do som das letras. O principal método utilizado
por Marlene atualmente é o das “boquinhas”, no qual solicita que os alunos observem a
boca da professora, o que os ajuda a se alfabetizarem com mais agilidade (JUNGBLUT,
2019). Hoje Marlene ministra aulas apenas no ensino infantil, no qual também explora o
som das letras com a finalidade de preparar os estudantes para os estágios seguintes,
enquanto a leitura e escrita são desenvolvidas especificamente no primeiro ano.
A professora Fabiane Morgenstern, do Centro Educacional de São João do
Oeste, atua no magistério há dez anos, com experiência no 2º e 5º anos, além do ensino
infantil. Desde que obteve formação no ensino superior, em 2012, Fabiane ministra
aulas como professora alfabetizadora para o 1º ano pela primeira vez em 2019 e utiliza
o método tradicional para conduzir as aulas, caracterizado pelo treinamento dos sons e
das funções das vogais. Um dos projetos utilizados pela professora é o das formigas,
que consiste em canções para explorar os sons das palavras e desta forma viabilizar um
ensino que faça sentido aos estudantes, por isso as sílabas não são abordadas
necessariamente conforme a ordem alfabética. “A partir da palavra „formiga‟ podemos
trabalhar as famílias silábicas do f, do m e do g, por exemplo, e os cantos contribuem
para o aluno se interessar em aprender mais” (MORGENSTERN, 2019). Para o período
da Páscoa, a professora abriga no cronograma trabalhar a família silábica do P, e assim
sucessivamente. A leitura de histórias no percurso das aulas é outra maneira de
estimular os alunos e durante a troca de livros na biblioteca a professora motiva os
estudantes a fazerem propaganda das obras lidas, de modo a incentivar os colegas a se
interessarem por outras publicações e assim construir o hábito de ler.
O processo de alfabetização da professora Fabiane também consiste em
estratégias lúdicas, como a utilização de letras em E.V.A. e mexer significativamente os
lábios enquanto pronuncia as palavras, para chamar a atenção dos alunos. Conforme a
professora, a maioria dos estudantes advindos do Pré já conhecem as letras quando
ingressam no primário. Entre os alunos da turma de Fabiane, quatro já conheciam o
alfabeto ao iniciarem o 1º ano, motivados pelo incentivo dos pais.
Fabiane também já trabalhou em outras escolas da região e destaca que a de São
70
João do Oeste é a mais rigorosa entre elas, pois não existe recreio entre as aulas e o
comprometimento dos professores se destaca. A participação das famílias no processo
de ensino e o engajamento dos alunos também são aspectos que despontam no
município, segundo Morgenstern (2019).
A seguir, com o fim de refletir sobre o papel da Biblioteca Municipal de São
João do Oeste no estímulo à leitura, passamos a apresentar descritivo de seu histórico e
público.
2.2.1 A Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen: história e público
frequentador
São João do Oeste oferece empréstimos de livros gratuitamente a toda população
por meio da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen, localizada na Rua São
Leopoldo, no centro da cidade. A biblioteca foi criada pela Lei Municipal nº 65/93, de
03 de maio de 1993 – de acordo com a Secretaria Municipal de Educação – e em 2018,
portanto, completou 25 anos.
Hugo Teobaldo Bracht (2019), secretário de Educação e Saúde na época em que
a biblioteca foi inaugurada, enfatiza que os primeiros livros destinados ao local vieram
da antiga CNEC – Campanha Nacional de Escolas na Comunidade – de São João do
Oeste e outros eram adquiridos de duas livrarias em Chapecó, normalmente a cada dois
meses. A quantidade de livros a serem disponibilizados na biblioteca era variada, pois
dependia do preço das obras, porém a prefeitura dispunha de orçamento delimitado para
tal finalidade. Outros livros também foram doados, como é o caso das coleções de Jorge
Amado e Machado de Assis, cedidas pelo próprio Hugo.
Vinculada ao Departamento Cultural da Secretaria Municipal de Educação,
órgão responsável pela aquisição do material, a biblioteca abrange acervo de 13.437
livros infantis e 16.925 exemplares destinados ao público infanto-juvenil e adulto
(romances, pedagógicos, psicologia, sociologia, filosofia), o que totaliza 30.362 obras,
além de jornais e material em formato audiovisual, alocados em 30 estantes (Foto 2).
Entre os audiovisuais, a maioria é direcionada às crianças, portanto consistem
majoritariamente em filmes educativos. As obras mais recentes – em torno de 50 –
foram adquiridas em outubro, de acordo com Steffen (2019).
71
FOTO 1 – Livros novos na Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen
Fonte: Facebook da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen. Acesso em:
15 out. 2019
Dentre as obras que formam o acervo total, incluem-se cerca de mil livros em
idioma alemão, cujo conteúdo varia em romances, aventura, infantis e também existem
filmes animados em alemão. O material neste idioma foi obtido pela biblioteca por meio
de doações de colégios, corais, populares ou comprados e estão disponíveis no local
desde a fundação. A biblioteca também dispõe de dois espaços direcionados às crianças:
o chamado Cantinho da Leitura para que elas usufruam para ler, enquanto os pais
consultam o acervo ou quando são conduzidas pelos professores; além de uma
brinquedoteca disponível para a diversão das crianças. “O objetivo é de trabalhar o
lúdico nas crianças, pois assim consegue-se extrair problemas delas mais do que numa
seção de terapia” (STEFFEN, 2019), explica a bibliotecária. Outro espaço que a
biblioteca oferece é a sala de informática, com três computadores conectados à internet.
A procura por este local, entretanto, é reduzida, em razão do fato de a maioria das
famílias disporem de tais tecnologias em casa.
A área compreendida pela biblioteca é de 20 x 8 metros, além da sala exclusiva
para a brinquedoteca, ambas climatizadas. O atendimento é efetuado pela coordenadora
da biblioteca, Juliane Steffen, acadêmica de Biblioteconomia. Segundo a bibliotecária,
embora os dados de cadastro registrem o contingente de duas mil pessoas, em torno de
400 frequentam o local, das quais estima que 100 a 150 já teriam concluído o ensino
básico e os demais são estudantes. Os leitores mais assíduos comparecem à biblioteca a
cada 15 ou 30 dias (o período máximo para empréstimo é de um mês) e retiram em
média dois livros. Entre a população adulta que frequenta a biblioteca, o gênero
feminino é expressivamente superior ao masculino: enquanto a frequência feminina
perpassa por todas as faixas etárias, os homens comparecem mais significativamente a
72
partir dos 50 anos (STEFFEN, 2019).
A partir de julho de 2019, a biblioteca passou por processo de revitalização no
local, portanto não houve atendimento entre 12 de julho até o início de agosto. As
melhorias na biblioteca a deixaram com um novo visual, conforme mostram as fotos
abaixo. Os investimentos na revitalização da biblioteca foram de R$ 17.638,72,
efetuados com recursos próprios do município de São João do Oeste.
FOTO 2 – Área interna da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen, visão
parcial das estantes de livros, registrada em fevereiro de 2019
Fonte: Foto do autor (2019)
FOTO 3 – Área interna da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen, visão
parcial das estantes de livros, registrada em agosto de 2019, após a revitalização
Fonte: Foto do autor (2019)
73
FOTO 4 – Brinquedoteca na biblioteca municipal
Fonte: Facebook da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen. Acesso em:
15 out. 2019
Em alusão ao Mês Internacional das Bibliotecas, junto com a comemoração do
Dia Nacional da Leitura (12/10) e do Livro (29/10), em outubro a biblioteca pública de
São João do Oeste, aliada à administração municipal, proporcionou atrações diversas:
entre os dias 02 e 05 de outubro de 2019, o município de São João do Oeste promoveu a
2ª Semana da Biblioteca e Feira do Livro. O evento, dedicado à apresentação e
comercialização de livros, incluiu também participação do grupo de balé Raio de Luz,
além da contação de histórias, pintura facial e música. Nestes mesmos dias, a biblioteca
organizou e inaugurou espaço especial para obras de literatura alemã – exclusivamente
neste idioma –, chamado Denkmal der Deutschen Sprache (Memorial da Língua
Alemã).
FOTO 5 – Memorial da Língua Alemã, na biblioteca pública
Fonte: Site da Prefeitura Municipal de São João do Oeste. Acesso em: 22 out. 2019
74
Já nos dias 17 e 18 de outubro, a biblioteca, em parceria com o Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente – CMDCA e a Secretaria de
Educação do município, promoveu palestras e oficinas sobre Biblioterapia – terapia
através dos livros, ou seja, o desenvolvimento do ser humano a partir de histórias
literárias, seja por meio da leitura, narração ou dramatização. Carla Souza, consultora
em Biblioterapia e Mestra no mesmo ramo pela Universidade Federal de Santa Catarina
– UFSC, ministrou oficinas para professores e palestras para alunos do 5º ano do Ensino
Fundamental ao 3º do Ensino Médio.
Ainda no mês de outubro, de acordo com Steffen (2019), o horário da biblioteca
foi estendido até às 18h30, portanto, uma hora além do expediente habitual, para atender
às pessoas que normalmente não têm condições de ir à biblioteca em função dos
vínculos empregatícios no mesmo horário. A biblioteca também atendeu em todos os
sábados de outubro, das 8h30 às 11h30 – outro horário deslocado do expediente
habitual, uma vez que o local não atende neste dia da semana. A partir de novembro,
conforme a bibliotecária, haverá atendimento em ao menos um sábado por mês e a
biblioteca também prosseguirá as contações de histórias para crianças, que também
ocorrem uma vez ao mês.
2.2.2 O Jornal Força d’Oeste: história e público
FIGURA 1 – Logomarca do Jornal Força d’Oeste
Fonte: Facebook do Jornal Força d´Oeste. Acesso em: 19 fev. 2019
De acordo com Arlise Wagner (2009), a fundação do Jornal Força d’Oeste
ocorreu em Itapiranga/SC, no ano de 1997, por meio do casal Félix José Sausen e Irene
Maria Baudin. Natural de Itapiranga, Sausen já havia planejado abrir jornal no Mato
Grosso, no entanto, em virtude do distanciamento entre os moradores e da falta do
75
hábito da leitura da maioria das pessoas naquele estado, iniciou o empreendimento em
sua terra natal.
As seguintes razões culminaram na instalação do jornal impresso em Itapiranga:
- Região com população predominantemente de origem alemã e com
hábito da leitura;
- Região conhecida;
- Facilidade de comunicação com o meio rural;
- Meio rural economicamente forte;
- O proprietário domina a língua alemã e conhece a agricultura
(WAGNER, 2009, p. 37).
A primeira edição circulou em 28 de maio de 1997, com 12 páginas, impressão
em preto e com periodicidade semanal. Nos primeiros seis meses, a maioria dos
exemplares era distribuída de forma gratuita. A sustentação do jornal resumiu-se em
venda de publicidade até o terceiro mês, quando a empresa começou a faturar também
com assinaturas anuais, que ao final do primeiro ano já resultavam em 850 (WAGNER,
2009). Hoje, a manutenção do semanário ocorre também através de contratos firmados
com prefeituras e outras entidades.
O impresso circula nos municípios de Itapiranga, São João do Oeste, Tunápolis,
Iporã do Oeste e Santa Helena, com um total de 3.100 assinantes, de acordo com a
direção do jornal. Destes, cerca de 60% são do meio rural. A partir de janeiro de 2002, o
Força d’Oeste disponibilizou página no site www.jornalfo.com.br, com acesso
exclusivo para assinantes on line.
Em março de 2014, o veículo impresso substituiu a antiga página na internet por
um novo portal de comunicação on line, o PortalFO, e que em 2018 foi migrado para a
Rede Catarinense de Notícias – RCN, da Associação dos Jornais do Interior de Santa
Catarina – Adjori/SC, com acesso pelo site http://www.adjorisc.com.br/jornais/
forcadoeste/, o qual é regularmente atualizado com notícias. De acordo com a editora e
sócia do jornal, Camila Mueller Stuelp (2019), a adaptação do portal ocorreu em razão
do convite da própria associação e desta forma é possível conferir os dados de todos os
veículos de comunicação integrados à Adjori.
Além disso, o jornal possui página no Facebook, disponível em
https://www.facebook.com/forcadoeste?fref=ts e no Instagram, as quais também são
atualizadas. Na sexta-feira, 16 de fevereiro de 2019, por exemplo, a página do jornal no
Facebook compartilhou a própria postagem do portal, sobre o encerramento do horário
76
de verão. Segundo Stuelp (2019), o principal meio de comunicação utilizado pelo jornal
Força d’Oeste, ainda assim, é o impresso, seguido pelo Facebook: “O portal e o
Facebook têm como principal objetivo difundir algumas das informações que serão
publicadas no jornal. Estas ferramentas servem para direcionar o internauta para a
leitura do jornal” (STUELP, 2019).
Em janeiro de 2010, o jornalista Rafael Stuelp assumiu a direção do jornal,
substituindo o casal Félix Sausen e Irene Baudin, que permaneceram proprietários da
empresa até 2013. No décimo ano da atual direção, o jornal é composto por 32 páginas,
todas coloridas, enquanto a linha editorial, conforme Camila Stuelp (2019), prima pela
imparcialidade, produção própria de conteúdos e que sejam de caráter local.
O maior contingente de assinantes – de um total de 3.100 – e, portanto, público
alvo do jornal, consiste em pessoas acima dos 30 anos, motivo pelo qual as estratégias
para atrair o público jovem são as mídias sociais. Entre todos os municípios de
circulação do jornal, São João do Oeste é o que dispõe do maior contingente de
assinantes em relação ao número de habitantes – 900 –, dado que contribui para esta
pesquisa, pois demonstra a tradição da leitura neste município.
A equipe que constitui o jornal, por sua vez, é composta por nove funcionários
efetivos, dos quais sete produzem conteúdo e dois deles incumbem-se da diagramação
do impresso. Entre estes nove funcionários também estão incluídos os responsáveis
pelas vendas de anúncios e renovações de assinaturas, bem como das entregas de jornal.
Conforme o diretor geral do Jornal Força d’Oeste, Rafael Stuelp (2019), a realidade
dos impressos locais e de circulação reduzida compreende equipes cada vez mais
enxutas e com mais funções a desempenhar para que estes veículos de comunicação
possam se manter.
Para apresentar o jornal, passaremos a descrever a edição 1.094, de 12 de
fevereiro de 2019. Nela, consta uma foto de meia página na capa, com a cidade de
Itapiranga, alusiva aos 65 anos de emancipação do município. Na segunda página,
consta a coluna “A Semana”, de Camila Stuelp, com tópicos sobre assuntos variados
que ocorreram durante a semana, e também a seção “Eu leio o Força”, na qual é
apresentado um assinante do jornal, ambas na editoria de Opinião. As páginas 3 até a 7
abrangem a editoria de Geral, e dentre elas, há o destaque, também com pequena
chamada na capa, para uma urna funerária Tupi-guarani encontrada no interior de
Itapiranga, ocupando uma página inteira. Na página 5 consta ainda a coluna “Visão
77
Positiva”, de Jaime Folle, com um direcionamento filosófico, enquanto na página 7
aparece a coluna “Histórias de Porto Novo”, de Leandro Mayer. As páginas 8 e 9
englobam a editoria de Eventos, com fotos de festas promovidas na região de
abrangência do jornal. As páginas 10 a 12 incluem a editoria de Variedades, com o
resumo das novelas, piadas, palavras cruzadas, horóscopo e a coluna “Socializando”, de
Stefani Specht, com fotos de eventos em geral. As páginas 13 a 20 abrangem material
especial sobre os 65 anos de Itapiranga, com fotos históricas acompanhadas de
descrições. A página 19 apresenta tabela para preencher palavras cruzadas sobre a
história de Itapiranga, ao passo que a 21 e a 22 retomam a editoria de Eventos. A página
seguinte, 23, contempla a editoria de Religião, com a programação das celebrações
religiosas na região. As páginas 24 e 25 são compostas pelas editorias de Classificados e
Negócios, com anúncios de artigos para compra e venda dos próprios assinantes ou
empresas vinculadas ao jornal. Já as páginas 26 a 29 compreendem a editoria de
Esportes, com textos e fotos sobre as práticas esportivas da região e também em âmbito
estadual e nacional. A página 30 é composta pela coluna “Passando a Limpo”, do
diretor do jornal, Rafael Stuelp, e trata sobre política. A página 31 abrange a seção “A
Voz do Povo”, na qual os assinantes têm a oportunidade de se manifestar sobre
situações diversas que envolvem seu cotidiano, desde críticas, sugestões, elogios ou
comentários.
No Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação Social – Habilitação em
Jornalismo pela Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, campus de São
Miguel do Oeste, em 2009, Arlise Wagner expôs as características do Jornal Força
d’Oeste de acordo com a visão dos leitores. Sua pesquisa compreendeu um contingente
de 100 leitores, de todas as faixas etárias, e dos oito municípios nos quais o impresso
circulava naquele ano: Itapiranga, São João do Oeste, Tunápolis, Iporã do Oeste, Santa
Helena e Mondaí, em Santa Catarina; Pinheirinho do Vale e Barra do Guarita, no Rio
Grande do Sul. A mesma pesquisa constatou uma substantiva presença do hábito da
leitura no perfil dos assinantes do Jornal Força d’Oeste, pois muitos deles possuem
baixa escolaridade e ainda assim procuram se informar por meio do impresso ou até por
mais de um jornal, ou revista. Ainda que a escolaridade da maioria destes leitores seja
reduzida, o hábito da leitura também parece sofrer interferência da televisão e do rádio.
Wagner (2009) observa um vínculo consistente entre o jornal e o assinante, atestado
pela ansiedade das pessoas em recebê-lo e a credibilidade que depositam nele,
78
considerando-o o meio de comunicação impresso mais completo da região. O
jornalismo regional também estimula uma relação mais intensa entre a equipe do jornal
e os leitores, uma vez que os assinantes têm a oportunidade de encontrar amigos ou
familiares no impresso, ou mesmo sugerir publicações, facilitado pela proximidade com
o jornal, o que os estimula a prolongar a assinatura.
No Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação Social – Habilitação em
Jornalismo pela Universidade do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, campus de São
Miguel do Oeste, em 2014, efetuado pelo autor da presente pesquisa, abordou-se o
interesse do público de 18 a 30 anos em relação ao Jornal Força d’Oeste, sejam estes
assinantes do impresso ou tenham acesso ao jornal a partir de outros meios. Ao todo
foram entrevistadas 20 pessoas da faixa etária supracitada, todas de São João do Oeste,
e destas, apenas três relataram não ter hábito de ler o jornal. A maioria dos entrevistados
admitiu que prefere se informar sobre os fatos locais, porém pela internet, o que torna o
portal e a página no Facebook do Jornal Força d’Oeste como alternativas para
aproximar os jovens das plataformas de comunicação do veículo impresso.
Por outro lado, os jovens entrevistados comentam que muitas das notícias
divulgadas pelos meios digitais ou pelo rádio passam despercebidas ou são superficiais,
o que abre a possibilidade para o jornal constituir-se como um veículo com conteúdo
mais completo e que possa atender à necessidade de informação dos leitores. A maioria
dos entrevistados pretende ver conteúdo de caráter inusitado no jornal, que os
surpreenda, no entanto, este deve ser redigido de forma objetiva para não dispersar a
atenção. O tempo destinado para a leitura confirma esta estatística, afinal a maioria dos
leitores destina no máximo 30 minutos por semana para conferir o jornal.
O artigo de Pós-graduação em Marketing e Vendas, também pela Universidade
do Oeste de Santa Catarina – UNOESC, campus de São Miguel do Oeste, em 2017,
também redigido pelo autor da presente pesquisa, envolveu consulta a um público sem
delimitar a faixa etária. A média de idade dos 20 entrevistados, todos de São João do
Oeste, entretanto, manteve-se em 50 anos. Esses leitores, a exemplo do contingente
consultado na pesquisa efetuada em 2014, também assinalaram preferência pela leitura
de textos curtos e destinam pouco tempo para esta atividade. A pesquisa registra a
preocupação quanto ao interesse dos leitores jovens em relação ao jornal, os quais se
constituem no público do qual o jornal dependerá para se manter futuramente. Tais
leitores demonstram maior interesse em acessar a internet, motivo pelo qual o portal e a
79
página no Facebook do Força d’Oeste apresentam-se como alternativa para manter
vínculo entre o meio de comunicação e os leitores. As duas pesquisas, tanto a de 2014
quanto a de 2017, constatam que o jornal não deve fazer alterações bruscas nas
publicações, porém no caso dos leitores jovens, o investimento nas plataformas digitais
mostra-se como alternativa para a continuidade do veículo de comunicação.
Descrevemos, neste capítulo, o histórico de São João do Oeste, direcionado aos
aspectos culturais que influenciam na alfabetização e formação do hábito da leitura no
município, bem como sobre a biblioteca pública e o jornal que servem como instituições
para a aplicação da pesquisa. Na sequência, o capítulo 3 exibirá a descrição dos dados
coletados por meio dos questionários, com direito a gráficos e tabelas para facilitar a
compreensão do leitor.
80
3 O PERFIL DO LEITOR EM SÃO JOÃO DO OESTE
Este capítulo objetiva descrever o perfil do leitor em São João do Oeste, a partir
da tabulação e análise dos questionários estruturados. Como já referido, foram
distribuídos 60 questionários, em dois grupos: 30 questionários foram distribuídos entre
os leitores do Jornal Força d’Oeste, e 30 entre leitores de livros, sendo estes últimos
separados em dois grupos: 15 leitores frequentadores da Biblioteca Pública Municipal
Padre Afonso Hansen e 15 entre leitores de livros em geral, os quais não têm a
biblioteca como fonte primária de acesso à leitura. A análise das perguntas se faz a
partir da descrição e comparação dos resultados obtidos com esses grupos de leitores.
3.1 PERFIL SOCIAL, EDUCACIONAL E CULTURAL
Entre os assinantes do Jornal Força d’Oeste no município de São João do
Oeste foram aplicados 30 questionários, dos quais 16 respondentes são do gênero
feminino e 14 do masculino, distribuídos nas cinco faixas etárias delimitadas para a
pesquisa, a partir dos 18 anos. No caso dos leitores de jornal, 5 respondentes são da
faixa etária de 18 a 24 anos; 4 de 25 a 35 anos; 8 de 36 a 50 anos; 7 de 51 a 64 anos e 6
de 65 anos ou mais. No que tange aos leitores que frequentam a Biblioteca Pública
Municipal Padre Afonso Hansen, de São João do Oeste, dos 15 questionários aplicados,
8 respondentes são do gênero masculino e 7 do feminino. Destes leitores, 3 são da faixa
etária de 18 a 24 anos; 2 são de 25 a 35 anos; 2 de 36 a 50 anos; 4 de 51 a 64 anos e 4 de
65 anos ou mais. No grupo de leitores de São João do Oeste que obtêm livros de formas
variadas, 2 são do gênero masculino e 13 do feminino; 4 são da faixa etária de 18 a 24
anos; 2 de 25 a 35 anos; 4 de 36 a 50 anos; 2 de 51 a 64 anos e 3 de 65 anos ou mais.
Quanto à escolaridade dos leitores de jornal, oito respondentes frequentaram
apenas o Ensino Fundamental I (1ª a 4ª série ou 1º ao 5º ano), cinco o Ensino
Fundamental II (5ª a 8ª série ou 6º ao 9º ano), 12 o Ensino Médio (1º ao 3º ano); um
frequenta o Ensino Superior, dois completaram o Ensino Superior e outros dois são pós-
graduados (especialistas), conforme apresenta o gráfico abaixo.
81
GRÁFICO 1 – Escolaridade dos leitores de jornal
Fonte: Gráfico do autor
Já quanto à profissão, 12 respondentes atuam em trabalhos autônomos, dos quais
11 exercem a agricultura e um é operador de caixa. Outros 11 estão aposentados, 5
trabalham em empresa privada (operador de caixa, funcionário em metalúrgica, auxiliar
de granja) e 2 em empresa pública (merendeira, professora). Percebe-se, assim, que a
escolaridade dos leitores distribui-se, em sua maior parte, entre um público sem
formação universitária, em sua maioria aposentados ou agricultores.
A escolaridade dos respondentes da biblioteca (Gráfico 2) varia em Ensino
Fundamental I (2 respondentes), Ensino Fundamental II (1 respondente), Ensino Médio
(2 respondentes), Superior incompleto (2 respondentes), Superior completo (2
respondentes) e Pós-graduação em nível de Especialização (6 respondentes). Destes, 4
respondentes são empregados em empresa privada (auxiliar de escritório, repositor de
mercadorias, serviços gerais e auxiliar de salão de beleza), 2 em empresas públicas
(analista técnico de gestão escolar e professora), 3 são autônomos (advogado, agricultor
e administrador de empresas) e 6 aposentados. Nota-se aqui, que no geral, a
escolaridade dos leitores da biblioteca é mais avançada em comparação à dos leitores de
jornais, e isto também se reflete nas profissões, que são mais diversificadas e
especializadas.
0
2
4
6
8
10
12
14
Fundamental I Fundamental II Ensino Médio Superiorincompleto
Superiorcompleto
Pós-graduação(Especialização)
82
GRÁFICO 2 – Escolaridade dos leitores da biblioteca pública
Fonte: Gráfico do autor
Sobre a escolaridade dos leitores de livros em geral, 2 respondentes ocuparam os
bancos escolares até o Ensino Fundamental I, 3 concluíram o Ensino Fundamental II, 2
estudaram até o Ensino Médio, 3 têm Ensino Superior incompleto, 3 finalizaram o
Ensino Superior e outros 3 possuem pós-graduação (Especialização). As profissões dos
leitores de livros em geral também são diversificadas: 5 deles são trabalhadores
autônomos, como agricultores (4) e costureira, enquanto outros 4 estão empregados em
empresa pública, nos cargos de enfermeira, professor (2) e secretária de Educação; 3 são
estudantes e outros 3 aposentados.
GRÁFICO 3 – Escolaridade dos leitores de livros em geral
Fonte: Gráfico do autor
0
1
2
3
4
5
6
7
00,5
11,5
22,5
33,5
83
Quando se pensa a escolaridade familiar dos leitores de jornal, tem-se um quadro
de escolaridade baixa preponderante: o pai/responsável masculino e a mãe/responsável
do sexo feminino de 26 respondentes frequentaram do 1º ao 4º ano do Ensino
Fundamental; dois alcançaram do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental; um concluiu o
Ensino Médio e outro não possui escolaridade. Levando-se em consideração os leitores
da biblioteca, verifica-se a permanência de uma baixa escolaridade: o pai de 10 dos
respondentes frequentou do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental; para outros três o
pai/responsável masculino frequentou até o Ensino Fundamental II; em um caso, o pai
alcançou o Ensino Médio e, em outro, a pós-graduação. No caso da mãe ou responsável
do sexo feminino, 12 concluíram do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental; uma
frequentou até o 9º ano; outra o Ensino Médio e também há um caso em que uma das
mães concluiu pós-graduação.
A mesma situação ocorre com os leitores de livros em geral, realidade em que a
escolaridade do pai ou responsável do sexo masculino é do 1º ao 4º ano do Ensino
Fundamental para 13 respondentes e Ensino Médio para 2 respondentes. Já na realidade
da mãe ou responsável do sexo feminino, para 9 respondentes ela estudou até o Ensino
Fundamental I, em 5 casos prosseguiu até o Ensino Fundamental II e para um
respondente a mãe concluiu o Ensino Superior.
3.2 INFLUÊNCIAS NA FORMAÇÃO LEITORA
Para compreender como se formam os leitores em São João do Oeste,
averiguamos de onde partem as influências que se incidem sobre eles neste processo.
Em um primeiro momento, indagamos aos leitores em relação ao interesse por esta
atividade e quanto às origens do gosto pela leitura. No caso dos leitores de jornal, 17
alegaram gostar muito, 12 disseram gostar um pouco e um respondente expressou que
não gosta de ler. Considerando os frequentadores da biblioteca pública, 14 deles
declaram que gostam muito de ler e um que não gosta, enquanto entre os leitores de
livros em geral em São João do Oeste, os 15 respondentes declaram gostar muito da
leitura. Neste item verifica-se, portanto, um interesse maior pela leitura por parte dos
leitores de livros, em relação aos assinantes de jornal. O expressivo interesse pela leitura
demonstra o êxito da cultura local neste sentido: o destaque do município de São João
84
do Oeste pelos baixos índices de analfabetismo reflete-se com naturalidade no hábito da
leitura da população, pelo menos entre os três grupos considerados nesta pesquisa.
Quanto ao hábito de leitura do pai/responsável masculino, 10 leitores do jornal
garantem vê-lo/ou que o viam ler sempre; 16 respondentes relatam que veem/viam o pai
ler às vezes e em quatro casos o pai nunca lê/lia. Sobre a mãe/responsável do sexo
feminino, 12 respondentes afirmam que a veem/viam ler sempre, 17 declaram que a
veem/viam ler às vezes e um que nunca a vê/via ler.
Entre os frequentadores da biblioteca, 6 afirmam que sempre veem/viam o
pai/responsável masculino lendo; 3 veem/viam o pai/responsável masculino lendo às
vezes e 3 nunca o veem/viam lendo. No caso das mães dos leitores da biblioteca, o
índice de leitura é menor, pois apenas um diz que vê/via a mãe lendo sempre; 12
respondentes a veem/viam ler às vezes e 2 nunca a veem/viam ler.
Dos leitores de livros em geral, 6 dizem que costumam/costumavam ver o
pai/responsável masculino lendo sempre; 7 veem/viam às vezes e 2 nunca o veem/viam
ler. Referente às mães/responsável do sexo feminino, 4 a veem/viam lendo sempre e 11
a veem/viam praticando a leitura às vezes. Verifica-se, entre os leitores de livros e de
jornais consultados, de modo geral, que a metade deles vê/via o pai/responsável
masculino ou a mãe/responsável do sexo feminino lendo sempre ou às vezes. Os dados
permitem verificar que o índice de leitura da mãe/responsável feminina é menor.
Ao analisar o incentivo dos pais/responsáveis para a leitura, constatamos que
este foi significativo para 12 dos leitores do Força d’Oeste; 13 opinaram que houve
incentivo regular e para 5 respondentes o incentivo foi reduzido. Um resultado
semelhante é obtido ao se considerar os leitores que frequentam a biblioteca de São João
do Oeste, no qual 5 leitores respondentes receberam muito incentivo; 3 confirmam que
foram incentivados regularmente; 3 receberam pouco incentivo e um não foi
incentivado. Quando consideramos o incentivo dos pais/responsáveis aos leitores de
livros em geral, os números permanecem quase iguais aos dos leitores da biblioteca,
pois verificamos que para 5 leitores este era significativo; 3 respondentes admitem que
o incentivo era regular; para 3 respondentes houve pouco incentivo e para 4
respondentes o incentivo foi nulo. Tanto para os leitores de jornal como para os leitores
de livro, os pais, enquanto mediadores de leitura, atingiram uma percentagem menor
que 50%. No entanto, a segunda geração (os respondentes) apresenta um percentual de
gosto de leitura mais acentuado.
85
A maioria dos respondentes credita o principal incentivo à leitura aos
professores da Educação Básica, o que retoma a relevância da figura do professor na
localidade, e isso desde o início da colonização agrícola do município, quando o ensino
baseava-se restritamente na pessoa desse profissional: entre os leitores do Jornal Força
d’Oeste, 21 confirmam que houve muito incentivo do professor na Educação Básica; 8
respondentes avaliam o incentivo como regular e para um deles existiu pouco incentivo
dos professores. Para a maioria dos respondentes, o incentivo dos professores ocorreu a
partir das idas à biblioteca junto com os alunos; o segundo item mais apontado foi o
benefício da leitura para a escrita e o terceiro as aulas de leitura. Um dos respondentes
apontou os concursos de oratória como fator de impulso para a leitura; outro leitor
recorda que os alunos ajudaram a montar biblioteca na escola, o que os incentivou a ler.
Assim, é claro o papel conjunto do professor em sala de aula e das atividades
desenvolvidas na biblioteca escolar como altamente relevantes enquanto mediação de
leitura.
Sobre o incentivo dos professores na Educação Básica, entre os leitores da
Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen, 6 respondentes alegam que houve
muito incentivo; 4 afirmam que o incentivo foi regular e 5 declaram ter recebido pouco
incentivo. Quanto à maneira como os professores estimulavam a leitura, a maioria dos
frequentadores da biblioteca afirma que esta ocorria por meio da exigência de contar as
histórias dos livros, ou então de entregar resumos acerca da obra consultada. Outros
citam que o incentivo se desenvolveu a partir da indicação de livros dos professores que
estivessem relacionados com o conteúdo estudado em sala de aula. Um mencionou a
criação de seminários e eventos como o Sarau Literário, no qual os estudantes criam
danças, músicas, poesias ou outras manifestações artísticas baseadas em determinada
história literária. É visível, aqui, mais uma vez, o papel do incentivo conjunto do
professor com o estímulo da biblioteca, provável fonte para o suprimento de livros
exigidos para leitura. Infere-se, também, o desenvolvimento de atividades similares à
“ficha de leitura”, em que os alunos devem prestar conta da leitura realizada, no caso
específico dos respondentes, sob a forma de resumos. É relevante, aqui, o
desenvolvimento, também, de atividades mais criativas, como o Sarau Literário.
Na realidade dos leitores de livros em geral, durante a permanência na Educação
Básica, a influência dos docentes também foi significativa: para 11 respondentes houve
muito incentivo dos professores para a leitura; 3 foram estimulados regularmente e um
86
assinala não ter recebido incentivo. A maioria admite que obteve maior incentivo nas
aulas de leitura, efetuadas uma vez por semana ou então nas idas à biblioteca. Outros
registram que precisavam cumprir fichas de leitura com livros específicos indicados
pelos professores. Um destaca que os professores ressaltavam constantemente os
benefícios que a leitura proporciona nos campos pessoal e profissional, e outro aponta
que o estímulo à leitura tornou-se mais efetivo no Ensino Médio, quando os professores
passaram a exigir a leitura de determinados autores brasileiros. Mais uma vez fica clara
a influência conjunta do professor e da frequência à biblioteca no estímulo à leitura.
Ao transferir o foco do questionamento para as pessoas que mais influenciaram a
leitura, verificamos que o professor desponta novamente como o mais mencionado, seja
entre os leitores de jornal ou de livros. No caso dos assinantes do Jornal Força
d’Oeste, 16 respondentes citaram o professor como o principal incentivador para a
leitura; 6 pessoas apontaram a mãe/responsável do sexo feminino como a maior
incentivadora; 4 indicaram o pai/responsável masculino; um lembrou o cônjuge e 3
respondentes afirmaram que não houve alguém em especial. Percebe-se que, apesar de
as mães/responsáveis femininas ostentarem um índice leitor menor do que o dos
homens, são mais frequentemente elas que incentivam os filhos ou aqueles por quem
são responsáveis a ler.
GRÁFICO 4 – Pessoas que mais influenciaram os leitores de jornal
Fonte: Gráfico do autor
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Mãe ou responsáveldo sexo feminino
Pai ou responsáveldo sexo masculino
Ninguém em especial Algum professor ouprofessora
87
Quanto aos leitores da biblioteca pública, a pessoa que exerceu maior influência
foi o professor para 6 respondentes; o pai/responsável masculino para 3 outros; a mãe
ou responsável do sexo feminino em 2 casos; algum outro parente para 2 outros, e
ninguém em especial para 3 dos respondentes. Os números são quase idênticos quando
consideramos os leitores de livros em geral, para os quais o professor foi destacado por
6 leitores, seguido do pai/responsável masculino, mencionado por 5 respondentes, e a
mãe/responsável do sexo feminino, por 4 respondentes. Assim, a influência
preponderante, após a figura do professor, é do pai/responsável masculino, e não da
mãe, como na situação anterior. Os demais leitores consideram algum parente,
marido/esposa/companheiro(a), outra pessoa (avô), ou até mais de um principal
incentivador.
GRÁFICO 5 – Pessoas que mais influenciaram os leitores da biblioteca municipal
Fonte: Gráfico do autor
GRÁFICO 6 – Pessoas que mais influenciaram os leitores de livros em geral
Fonte: Gráfico do autor
0
1
2
3
4
5
6
7
Algumprofessor ouprofessora
Pai ouresponsável dosexo masculino
Mãe ouresponsável dosexo feminino
Algum outroparente
Marido, esposaou
companheiro(a)
Padre, pastorou algum líder
religioso
0
1
2
3
4
5
6
7
Mãe ouresponsável dosexo feminino
Pai ou responsáveldo sexo masculino
Algum outroparente
Ninguém emespecial
Algum professorou professora
88
3.3 MOTIVAÇÕES, HÁBITOS E BARREIRAS PARA A LEITURA
No intuito de compreender como se formou o hábito da leitura entre os
munícipes de São João do Oeste, buscamos primeiro desvendar como este processo
ocorreu durante o período de estudos na Educação Básica. Para 10 respondentes que
leem o Jornal Força d’Oeste, a exigência escolar ou da faculdade era a principal
motivação de leitura durante a Educação Básica; a importância de obter atualização
cultural ou de se informar foi elencada por 9 outros; o gosto foi mencionado por 3
leitores e os demais respondentes citaram como principal motivo a distração, o
crescimento pessoal, motivos religiosos, atualização profissional ou exigência do
trabalho, entre outras razões para a leitura. Atualmente, os principais motivos para a
leitura entre o público assinante do Força d’Oeste são a atualização cultural ou
informação, para 15 deles; o gosto, para 7 respondentes; a atualização profissional ou
exigência do trabalho, para 4; distração e crescimento profissional, cada uma,
respectivamente, para 2 respondentes. Descartado o motivo da exigência por parte da
escola, uma vez concluídos os estudos, mantiveram-se constantes o segundo e terceiro
motivo apontados desde a educação básica, que passaram a ocupar o primeiro lugar na
preferência dos leitores.
GRÁFICO 7 – Principal razão para a leitura entre assinantes do jornal
Fonte: Gráfico do autor
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Gosto Atualizaçãocultural ouinformação
Distração Crescimentopessoal
Atualizaçãoprofissional ou
exigência dotrabalho
89
No tópico sobre as motivações, hábitos e barreiras para a leitura dos
frequentadores da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen, de São João do
Oeste, as principais razões para ler, durante a Educação Básica, eram o gosto e a
exigência escolar, ambas, mencionadas por 5 leitores. A distração (diversão) é o
principal motivo indicado por 3 respondentes, enquanto o crescimento pessoal e os
motivos religiosos foram lembrados por um respondente, cada. Atualmente, o gosto
persiste como a principal razão para a leitura do público frequentador da biblioteca,
apontado por 7 leitores; acompanhado da distração, para 4 outros. Identifica-se, neste
item, novamente, um interesse pela leitura já sedimentado no período da Educação
Básica, impulsionado pelo gosto.
GRÁFICO 8 – Principal razão para a leitura entre frequentadores da biblioteca
Fonte: Gráfico do autor
Ao focar a análise nos leitores de livros em geral, verificamos que, nestes, existe
uma motivação de leitura semelhante a dos leitores de livros da biblioteca. No período
de estudos na Educação Básica, o gosto figurava como principal impulso à leitura para 6
deles, enquanto a distração era o fator preponderante para 5 e o crescimento pessoal
para 4 respondentes. O crescimento pessoal é o principal motivo para a leitura
atualmente, mencionado por 6 respondentes, ao passo que o gosto permanece como a
razão de leitura mais significativa para 5 leitores.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Gosto Distração Atualizaçãocultural ouinformação
Exigência escolarou da faculdade
Atualizaçãoprofissional ou
exigência dotrabalho
90
GRÁFICO 9 – Principal razão para a leitura entre leitores de livros em geral
Fonte: Gráfico do autor
Quando estudavam na Educação Básica, os livros constituíam-se o principal
objeto de leitura para quase 100% dos respondentes, nos três grupos abordados desta
pesquisa. Atualmente, porém, no caso dos assinantes do Força d’Oeste, para 25 dos
respondentes o jornal é o principal objeto de leitura. Dentre os suportes utilizados para a
leitura, o impresso é citado por quase todos os respondentes (26), enquanto o digital, no
celular, é mencionado 18 vezes, muito à frente de outros suportes digitais, como o
computador, que surpreendentemente é citado apenas três vezes, e o tablet, mencionado
uma vez. Quando verificamos qual destes suportes é utilizado com maior frequência, o
impresso desponta com 18 menções, seguido do digital, no celular, lembrado 10 vezes,
e do computador, destacado em duas oportunidades.
GRÁFICO 10 – Suporte utilizado com maior frequência para a leitura entre assinantes
do jornal
Fonte: Gráfico do autor
Na realidade dos leitores que frequentam a biblioteca pública de São João do
Oeste, 12 assinalam que os livros eram o principal objeto de leitura durante a Educação
0
1
2
3
4
5
6
7
Gosto Atualizaçãocultural ouinformação
Distração Crescimentopessoal
Motivosreligiosos
Exigênciaescolar ou da
faculdade
Atualizaçãoprofissionalou exigênciado trabalho
0
5
10
15
20
Impresso Digital, no celular Digital, no computador
91
Básica e os livros continuam como o principal objeto na atualidade para a mesma
quantidade de leitores. Ao considerarmos os suportes utilizados para a leitura,
verificamos que o impresso também predomina neste caso, para 13 respondentes.
Quanto ao conjunto total de suportes utilizados, 14 respondentes citam o impresso, 7
mencionam o digital, no computador, 2 lembram o celular e um respondente o tablet.
Como objeto utilizado com maior frequência, o impresso novamente aparece na
primeira colocação, citado por 13 respondentes, seguido do computador, que é
mencionado duas vezes.
GRÁFICO 11 – Suporte utilizado com maior frequência para a leitura entre
frequentadores da biblioteca pública
Fonte: Gráfico do autor
Se colocarmos em perspectiva os leitores de livros em geral, verificaremos, pela
terceira vez, que o principal objeto de leitura deste grupo durante a Educação Básica
eram os livros, mencionado aqui também por 14 respondentes. Esta importância
atribuída aos livros mantém-se atualmente, quando estes são considerados o principal
objeto de leitura para 12 respondentes. Referente aos suportes utilizados para a leitura, o
impresso é citado por 15 respondentes, o digital, no computador, mencionado por 4
respondentes e o celular por 2. Destes suportes, o utilizado com maior frequência é o
impresso, citado por 14 leitores, seguido do digital, no computador, que é lembrado por
um respondente. Observamos, nos três grupos de leitores considerados nesta pesquisa,
uma expressiva predominância de interesse pelo papel como plataforma de leitura, o
que indica uma postura conservadora, talvez como reminiscência da cultura local no
processo de formação do leitor. Se analisarmos estes resultados à luz da classificação do
leitor contemporâneo de Lucia Santaella (2004), percebe-se grande incidência do leitor
meditativo – no caso os leitores de livro, e do leitor movente/fragmentado no caso dos
0
2
4
6
8
10
12
14
Impresso Digital, no celular
92
leitores de jornal. Contudo, quando se pensa a categoria na qual Santaella descreve o
leitor da era digital que veio a se constituir na entrada do século XXI, o leitor imersivo
ou virtual, percebe-se que no município de São João do Oeste esta transição ainda é
pouco ou quase inexistente. Ainda que no caso dos leitores de jornal, o celular
apresente-se como o segundo suporte de leitura mais utilizado, e para os frequentadores
da biblioteca o computador apresente-se nesta posição, parece que a utilidade de tais
suportes se resume à de meio instrumental para a leitura, não se constituindo em modo
de leitura de um leitor que, como Santaella descreve, manuseia a plataforma de leitura
de maneira distinta em relação ao leitor de livros.
GRÁFICO 12 – Suporte utilizado com maior frequência para a leitura entre leitores de
livros em geral
Fonte: Gráfico do autor
A leitura de livros em idioma alemão no município de São João do Oeste, ainda
que seja em território de predominante descendência germânica, é praticada por poucos
leitores, tomando como referência os resultados desta pesquisa. A quantia total de
assinantes do Força d’Oeste que leem em alemão é de 6 respondentes, de um total de
30. A frequência da leitura em alemão entre este público transcorre de uma vez por
semana a uma vez por mês, ou três vezes ao ano. Entre os leitores que frequentam a
biblioteca, apenas dois dos 15 respondentes leem em alemão, numa frequência de uma
vez ao ano, enquanto no público de leitores de livros em geral, cinco respondentes
praticam leitura neste idioma, portanto, apenas 25% do total. A frequência de leitura
citada por estes leitores é de uma a duas vezes por semana.
Passando-se, agora, para os fatores que motivam a leitura de livros, verificamos
que estes permanecem semelhantes quando comparamos o período de estudos na
Educação Básica com a atualidade. No caso dos assinantes do Força d’Oeste, o fator
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Impresso Digital, nocomputador
93
predominante para a leitura de livros durante a Educação Básica era o tema do livro,
citado por 18 respondentes, seguido da capa/título do livro e a indicação de professor,
ambas destacadas por 12 respondentes, e o prazer da leitura, que era a principal razão de
leitura para 7 pessoas. Hoje o tema do livro continua como o fator mais influenciador,
para 16 respondentes, seguido da capa/título do livro, para 8, e o prazer da leitura, para
7 pessoas. Atualmente, as redes sociais também se constituem como fator relevante no
processo de leitura de livros, sendo citadas por 6 respondentes entre os leitores de
jornal. Neste item, cada um poderia assinalar mais de uma alternativa.
GRÁFICO 13 – Fatores que mais influenciam na escolha de um livro entre assinantes
do jornal
Fonte: Gráfico do autor
Para o conjunto de leitores que frequentam a Biblioteca Pública Municipal Padre
Afonso Hansen, o tema do livro também se institui como o principal fator de leitura,
seja nos tempos da Educação Básica (11 respondentes) ou atualmente (9 respondentes).
O segundo fator mais importante, que no período da Educação Básica era a indicação de
professor, citada por 9 respondentes, passou para a indicação de amigo ou familiar,
agora mencionada por 7 respondentes. A capa/título do livro permanece como o terceiro
fator de maior relevo, citada por 7 leitores, tanto para o período da Educação Básica
quanto atualmente. Já o prazer da leitura, que é evocado por 6 leitores como o principal
fator de leitura durante a Educação Básica, agora é apontado por 7 respondentes.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
tema do livro capa/títulodo livro
prazer daleitura
redes sociais indicação deamigo oufamiliar
autor do livro
94
GRÁFICO 14 – Fatores que mais influenciam na escolha de um livro entre
frequentadores da biblioteca municipal
Fonte: Gráfico do autor
Na percepção dos leitores de livros em geral, por sua vez, o tema do livro
evidenciava-se como o principal fator de leitura para 10 respondentes durante a
Educação Básica e atualmente é o mais relevante para o mesmo número de
respondentes. Em segundo lugar consta o prazer da leitura, que é destacado por 9
leitores como o principal fator durante a Educação Básica e no momento continua como
preponderante para 8 respondentes.
GRÁFICO 15 – Fatores que mais influenciam na escolha de um livro entre leitores de
livros em geral
Fonte: Gráfico do autor
Ao computar os dados sobre a leitura de jornal, verificamos que esta aumentou
nos três grupos de leitores, desde a Educação Básica até a atualidade. Na época de aluno
da Educação Básica, a leitura de jornais era frequente para 14 respondentes que leem o
Força d’Oeste, ocasional para 9 deles e inexistente para 7 pessoas. Atualmente, 22
respondentes conferem o jornal frequentemente e 8 o leem ocasionalmente. Estendendo
a análise para os frequentadores da biblioteca, durante a Educação Básica, observamos
que somente 5 deles liam frequentemente, 5 liam em ritmo ocasional e outros 5 não
0
2
4
6
8
10
tema do livro capa/título dolivro
indicação deamigo oufamiliar
prazer da leitura autor do livro
0
2
4
6
8
10
12
tema do livro prazer da leitura autor do livro capa/título dolivro
crítica/resenha
95
liam. Atualmente, a leitura de jornal é frequente para 9 leitores, ocasional para 3 e
inexistente para outros 3 respondentes. Para os leitores de livros em geral, a leitura de
jornais era frequente para 6 respondentes durante a Educação Básica, ocasional para
outros 6 e não era realizada por 3 deles. Ao colocar no espectro de análise a leitura na
atualidade, há pouca alteração nos números, pois nos deparamos com uma leitura
frequente de jornais para 8 respondentes.
O tempo destinado à leitura de jornais é restrito quando consideramos os três
públicos leitores desta pesquisa: no caso dos assinantes do Força d’Oeste, 25
respondentes afirmam que leem jornal por 30 minutos ou menos no seu dia-a-dia,
enquanto outros cinco leem de uma a duas horas; entre os leitores da biblioteca pública
de São João do Oeste, 11 praticam a leitura de jornais por até 30 minutos ao dia e 4 por
uma a duas horas; e 13 leitores de livros em geral leem por 30 minutos ou menos,
enquanto outros dois leem de uma a duas horas.
Os fatores de maior influência para a leitura de jornal assemelham-se aos
apontados pelos leitores para os livros, na mesma sequência, lembrando que aqui os
leitores também puderam assinalar até três alternativas. Para os assinantes do Força
d’Oeste, a principal razão para a leitura de jornal são os temas ou assuntos, indicada por
18 respondentes. A capa ou as manchetes são apontadas por 16 leitores, enquanto o
prazer da leitura é o fator mais chamativo para 10 pessoas. Na realidade dos leitores da
biblioteca, os temas ou assuntos são o principal fator motivador para a leitura de 12
respondentes; a capa/manchetes são o fator primordial para 11 e o prazer da leitura para
7 pessoas. Já no caso dos leitores de livros em geral, o fator de maior influência são os
temas ou assuntos, citado por 14 respondentes, seguido da capa/manchetes, por 8, e do
prazer da leitura, mencionado por 6 pessoas.
96
GRÁFICO 16 – Fatores de maior influência para a leitura de jornal, entre assinantes do
Força d’Oeste
Fonte: Gráfico do autor
GRÁFICO 17 – Fatores de maior influência para a leitura de jornal, entre
frequentadores da biblioteca municipal
Fonte: Gráfico do autor
GRÁFICO 18 – Fatores de maior influência para a leitura de jornal, entre leitores de
livros em geral
Fonte: Gráfico do autor
0
5
10
15
20
temas ouassuntos
capa/manchetes prazer da leitura colunistas dojornal
crítica/resenha
0
2
4
6
8
10
12
14
temas ouassuntos
capa/manchetes prazer da leitura colunistas dojornal
redes sociais
0
2
4
6
8
10
12
14
16
temas ouassuntos
capa/manchetes prazer da leitura colunistas dojornal
crítica/resenha
97
Ao considerarmos os tipos de leitura contemplados na tabela abaixo, entre
leitores do Força d’Oeste, verificamos que a maioria deste público lê apenas o jornal
com maior frequência: 5 deles leem jornais todos os dias, outros 11 leem duas vezes a
três vezes por semana e 14 praticam a leitura uma vez por semana. Quanto aos demais
tipos de publicações, quando se consideram livros de quaisquer gêneros, o número de
leitores que mantêm esta prática ao menos a cada 15 dias não chega a 20%. Em outras
palavras, de acordo com a classificação de leitor adotada para esta pesquisa, apesar de
bastante flexível – leitor é o que se dedica à leitura pelo menos quinzenalmente -- o
leitor de jornal, de modo geral, não se configura como leitor de livro.
TABELA 3 – Frequência de leitura entre assinantes do Jornal Força d’Oeste:
Tipo de leitura Todos
os dias
Duas a
três
vezes
por
semana
Uma vez
por
semana
Quinze-
nalmente
Quase
nunca
Nunca
a) Jornais 5 11 14
b) livros de
literatura indicados
pela escola
2 1 5 20
c) livros de
literatura por vontade
própria
1 2 4 7 15
d) livros didáticos
indicados pela escola
1 5 23
e) livros para
formação profissional
por vontade própria
1 3 7 17
f) livros de
autoajuda
1 2 9 17
g) Bíblia/livros
religiosos
1 2 2 12 13
h) livros de
culinária/artesanato 1 1 2 4 7 13
i) Outro-Qual? 1 1 Fonte: Tabela do autor
Quando consideramos os frequentadores da biblioteca pública, observamos um
equilíbrio maior na frequência de leitura dos diferentes formatos. A leitura de jornal
apresenta frequência semelhante a dos respondentes que leem o Força d’Oeste, com 2
respondentes que conferem o impresso todos dias, 4 que leem duas a três vezes por
98
semana e 6 que leem uma vez por semana. Entre os livros, destacam-se os de literatura,
escolhidos por vontade própria, os quais são lidos todos os dias por 4 respondentes;
duas a três vezes por semana por 3 respondentes e uma vez por semana, também por 3
respondentes. No caso dos livros para formação profissional, escolhidos por vontade
própria, 4 leitores relatam a prática da leitura de duas a três vezes por semana, 3 leem
uma vez por semana e outros 3 mantêm esta prática quinzenalmente.
TABELA 4 – Frequência de leitura entre leitores da Biblioteca Pública Municipal
Padre Afonso Hansen
Todos
os dias
Duas a
três vezes
por
semana
Uma vez
por
semana
Quinze-
nalmente
Quase
nunca Nunca
a) a) Jornais 2 4 6 1 1 1 b) livros de
literatura indicados
pela escola
3 1 2 4 4
c) livros de
literatura por vontade
própria
4 3 3 1 3
d) livros
didáticos indicados
pela escola
1 1 4 6
e) livros para
formação
profissional por
vontade própria
4 3 3 1 3
f) livros de
autoajuda
1 3 6 4
g) Bíblia/livros
religiosos
1 8 5
h) livros de
culinária/artesanato
3 3 8
i) Outro-Qual?
Artigos; finanças;
formação pessoal;
revista
1 2 1 1
Fonte: Tabela do autor
Centrando agora a análise nos leitores de livros em geral, constatamos neste
público um hábito de leitura superior ao dos assinantes do Força d’Oeste e dos
frequentadores da biblioteca. Entre esses leitores, 7 leem livros de literatura por vontade
própria, diariamente, e 3 respondentes praticam de duas a três vezes por semana. No
caso dos livros para formação profissional por vontade própria, 4 leitores praticam a
99
leitura todos os dias, 2 leem de duas a três vezes por semana e 3 mantêm este hábito
uma vez por semana. Como terceiro suporte de leitura mais procurado pelos leitores
aparece o jornal, que é lido por 3 respondentes a cada dia, por 5 respondentes de duas a
três vezes por semana e outros 5 respondentes praticam a leitura uma vez por semana.
TABELA 5 – Frequência de leitura entre leitores de livros em geral em São João do
Oeste
Todos
os dias
Duas a
três
vezes
por
semana
Uma vez
por
semana
Quinze-
nalmente
Quase
nunca
Nunca
a) Jornais 3 5 5 1 1
b) b) livros de
literatura indicados
pela escola
1 1 5 1 3
c) livros de
literatura por vontade
própria
7 3 1 3 1
d) livros
didáticos indicados
pela escola
1 2 1 2 6
e) livros para
formação profissional
por vontade própria
4 2 3 1 1 3
f) livros de
autoajuda
2 1 3 5 3
g) Bíblia/livros
religiosos
1 2 1 8 2
h) livros de
culinária/artesanato
1 1 3 5 5
i) Outro-Qual?
Fonte: Tabela do autor
A média de leitura de livros entre assinantes do Força d’Oeste nos últimos três
meses é relativamente baixa: do total de 30 respondentes, 22 afirmam não terem lido
sequer um livro e 3 mencionam a leitura média de uma obra ao mês. Também entre todo
contingente de leitores, 25 assinalam que não estão lendo livros hoje e dos outros 5, um
está lendo dois livros. Entre as razões para a leitura deste livro, o gosto ou interesse
pessoal é citado como o principal pelos cinco leitores.
100
GRÁFICO 19 – Média de livros lidos nos últimos três meses pelos assinantes do jornal
Fonte: Gráfico do autor
Na comparação dos leitores do Jornal Força d’Oeste com os frequentadores da
biblioteca, verificamos que o segundo público manteve índice de leitura muito superior
ao do primeiro nos últimos três meses anteriores à pesquisa. Destes leitores, 9 leram em
média três livros ou mais neste período e um leitor chegou a ler 30 obras, o que
proporciona uma média de um livro a cada três dias. Outros 4 respondentes declaram
que leram em média dois livros nos últimos três meses e outros dois respondentes leram
um livro. Quando indagados se estavam lendo livros hoje, os 15 respondentes alegaram
afirmativamente: um deles registra estar lendo 5 livros simultaneamente, três leitores
liam 2 livros e os outros 10 leitores liam um livro. A principal motivação para estes
leitores é o gosto ou interesse pessoal, assinalado por 9 respondentes, seguido da
indicação da escola, por motivo profissional e para distração, ambos mencionados por 2
respondentes.
GRÁFICO 20 – Média de livros lidos nos últimos três meses pelos frequentadores da
biblioteca
Fonte: Gráfico do autor
No caso dos leitores de livros em geral em São João do Oeste, a média de leitura
nos últimos três meses também é elevada: de todos os respondentes, 5 afirmam ter lido
em média três livros ou mais nos últimos três meses, 7 leram em média três livros e 3
leram em média um livro. Atualmente, 13 destes leitores afirmam estar lendo algum
0
10
20
30
1 livro 2 livros 3 livros ou mais Nenhum livro
0
2
4
6
8
10
3 livros ou mais 2 livros 1 livro
101
livro, dois estão lendo 3 livros ou mais e um está lendo 2 livros. O motivo
preponderante para a leitura é o gosto ou interesse pessoal, mencionado por 9
respondentes.
GRÁFICO 21 – Média de livros lidos nos últimos três meses pelos leitores de livros
em geral
Fonte: Gráfico do autor
Quando colocamos no escopo de análise a média de livros lidos por inteiro nos
últimos 12 meses, entre os assinantes do jornal, a maioria dos respondentes ficou abaixo
da média de um livro ao mês, 7 respondentes obtiveram a média de um livro ao mês e
os demais superaram a leitura média mensal de 2 livros. No que se refere à leitura de
livros em parte neste mesmo período, 5 respondentes afirmam ter adotado esta prática
em três livros, 2 respondentes fizeram o mesmo com quatro livros e outros 2 também
com dois livros.
Em comparação com os leitores da biblioteca e também com os de livros em
geral, verificamos uma frequência de leitura muito menor entre os assinantes do Força
d’Oeste nos últimos 12 meses. Na realidade de 10 respondentes que frequentam a
biblioteca pública de São João do Oeste, a média de leitura foi superior a 6 livros nos
últimos 12 meses; um destes leitores atingiu média de 6 livros mensais e dois
respondentes leram em média 5 livros. A média dos leitores de livros em geral também
se manteve elevada no último ano, com 6 respondentes que leram mais de 6 obras em
média nos últimos 12 meses; 3 que leram cinco livros e outros 3 que leram três livros,
entre os leitores mais assíduos.
Quanto aos livros lidos em partes nos últimos 12 meses, entre os frequentadores
da biblioteca, um respondente afirma ter lido mais de 6, quatro respondentes garantem
ter lido, em parte, de 3 livros; um informa ter lido 2 livros em parte e quatro leram
parcialmente um livro nos últimos 12 meses. Ao enfocar a análise nos leitores de livros
0
2
4
6
8
1 livro 2 livros 3 livros ou mais
102
em geral verificamos uma fragmentação mais recorrente na leitura, pois entre eles há
pelo menos sete respondentes que leram, em média, 5 ou mais livros em partes nos
últimos 12 meses.
Dentre as razões para não ler mais atualmente, a falta de tempo aparece como a
principal, apontada por 15 respondentes entre os assinantes do jornal, 10 respondentes
entre os frequentadores da biblioteca e 5 entre os leitores de livros em geral. No caso
dos leitores de jornal, a preferência por outras atividades também é um fator
significativo, apontada por 7 respondentes.
Os livros favoritos citados pelos leitores do Jornal Força d’Oeste estão
contemplados na tabela abaixo:
TABELA 6 – Livros preferidos entre assinantes do Jornal Força d’Oeste
Título Ano de
publicação
Autor
A arte de ser mestre de si mesmo: para ser líder de pessoas
2008 Anselm Grün e Friedrich
Assländer
O retrato da repressão 2017 Leandro Mayer
Querido John 2007 Nicholas Sparks
A escrava Isaura 1875 Bernardo Guimarães
Regimento interno da Câmara de
Vereadores de São João do Oeste
2015 Câmara de Vereadores de
São João do Oeste
O meu pé de laranja lima 1968 José Mauro de Vasconcelos
Aconteceu no bosque Sem data Zélia Almeida
O Código da inteligência 2015 Augusto Cury
Cristo Rei Crucificado Sem data Autor desconhecido
O melhor de mim 2014 Nicholas Sparks
O menino do pijama listrado 2007 John Boyne
Caleidoscópio 1990 Danielle Steel
O alienista 1882 Machado de Assis
Corpo saudável 2016 Jorge Pamplona
O último jurado 2004 John Grisham
Fonte: Tabela do autor
Os demais 15 respondentes que leem o jornal Força d’Oeste não mencionaram
uma obra como a predileta. Ainda assim, numa perspectiva otimista, o fato de que a
metade dos respondentes que assinam jornal tem algum livro de preferência indica que
tais leitores também se interessam por livros. Percebe-se que esses leitores mantêm-se
condicionados a leituras sugeridas na escola (O alienista, A escrava Isaura), à
influência da mídia (A escrava Isaura como novela), e são, predominantemente,
leitores de best-sellers ou de leituras necessárias à manutenção da saúde física, mental
103
ou com aspiração profissional. Vejamos, a seguir, os livros preferidos dos
frequentadores da biblioteca pública de São João do Oeste:
TABELA 7 – Livros preferidos entre os frequentadores da Biblioteca Pública
Municipal Padre Afonso Hansen
Título Ano de
publicação
Autor
O meu pé de laranja lima 1968 José Mauro de
Vasconcelos
1984 1949 George Orwell
A Montanha e o Rio 2007 Da Chen
O diário de Anne Frank 1947 Anne Frank
O caçador de pipas 2003 Khaled Hosseini
Um dia: 20 anos, duas pessoas 2011 David Nichols
Dois irmãos, uma guerra
2014 Ben Elton
A menina que roubava livros 2013 Markus Zusak
Fonte: Tabela do autor
Entre os leitores que frequentam a Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso
Hansen, há uma obra, já citada por um dos leitores de jornal, que se repete: O meu pé
de laranja lima (1968), de José Mauro de Vasconcelos. O fato curioso no caso destes
leitores é que apenas oito dos 15 respondentes souberam responder sobre qual é o livro
predileto para eles. Contudo, entre os que souberam apontar um livro preferido,
percebem-se leitores mais sofisticados, como atesta a inclusão de 1984 e O diário de
Anne Frank; mesmo os best-sellers citados demandam leitores mais sofisticados do
que os mencionados pelos leitores de jornal.
Entre os leitores de livros em geral, 10 souberam responder acerca do livro
predileto, conforme procede na tabela abaixo. De forma geral, são leitores que leem
obras de mais complexidade que os de jornal, mas leitores menos sofisticados do que os
frequentadores da biblioteca. Com exceção dos leitores de Ionesco e Shakespeare, todos
os outros mencionaram best-sellers ou obras de autoajuda. Aqui, o gosto, como
declarado pelos respondentes, parece ser o fator preponderante na escolha da obra. É
possível observar, pelos títulos das obras preferidas dos integrantes destes públicos, uma
104
ampla variação de gostos, que consideram romances, dramas, autoajuda, religiosas e
históricas, entre outras.
TABELA 8 – Obras preferidas entre leitores de livros em geral em São João do Oeste
Título Ano Autor
Nada é por acaso 2005 Zibia Gasparetto
A casa das orquídeas 2012 Lucinda Riley
Quer ser feliz? Ame e perdoe 2016 Padre Alessandro Campos
Casais inteligentes enriquecem juntos 2014 Gustavo Cerbasi
Vítimas do dever 1953 Eugène Ionesco
Inferno 2013 Dan Brown
A tempestade 1611 William Shakespeare
O futuro da humanidade 2005 Augusto Cury
Harry Potter coleção J. K. Rowling
O labirinto dos espíritos 2017 Carlos Ruiz Zafón
Fonte: Tabela do autor
TABELA 9 – Autores preferidos entre assinantes do Jornal Força d’Oeste
Autor Número de
citações
Machado de Assis 3
Caio Carneiro 1
Leandro Mayer 1
Clarice Lispector 1
Nicholas Sparks 1
Roque Jungblut 1
Douglas Franzen 1
Ênio Spaniol 1
Autores do Livro da Família 1
José de Alencar 1
Moacir Sclyar 1
Stephani Meyer 1
Danielle Steel 1
John Grisham 1
Fonte: Tabela do autor
105
TABELA 10 – Autores preferidos entre frequentadores da biblioteca pública
Fonte: Tabela do autor
Esta mesma constatação também pode ser verificada aos esboçarmos os autores
preferidos dos três públicos considerados. As tabelas acima reúnem os dados acerca dos
autores prediletos dos assinantes do Força d’Oeste e da Biblioteca Pública Municipal
Padre Afonso Hansen. No caso dos leitores da biblioteca pública ocorre um processo
Autor Número de
citações
Sidney Sheldon 3
J. K. Rowling 2
Zibia Gasparetto 2
Mário Sérgio Cortella 2
Nora Roberts 2
George Orwell 1
Mario Vargas Llosa 1
Khaled Hosseini 1
Kiera Gass 1
E. L. James 1
P. C. Kass 1
Lara Adrian 1
Stephen King 1
Kristin Hannah 1
Gustavo Cerbasi 1
Augusto Cury 1
China-Schika 1
Zygmunt Baumann 1
Heinz Konsalik 1
Sophie e Kinsell 1
Peter Trucker 1
Jô Soares 1
Ruben Alves 1
106
inverso, afinal os 15 respondentes fizeram 29 citações de autores. Isso significa que
muitos dos leitores consideram mais de um autor como o predileto, conforme explicita a
tabela acima. Ao todo, 16 respondentes mencionaram um autor como o preferido.
Destaca-se a preferência destes leitores por autores nacionais, especialmente Machado
de Assis, citado três vezes, o que parece ecoar, ainda, leituras exigidas pela escola. Este
fator pode, também, ser suposto acerca da menção a José de Alencar. Ressalta-se, por
outro lado, o interesse por autores regionais: Roque Jungblut, Douglas Franzen e Ênio
Spaniol, por exemplo, são escritores naturais de São João do Oeste ou Itapiranga, o que
também condiz com o perfil dos leitores de jornal, interessados por temas de enfoque
local.
Entre os leitores de livros em geral há um panorama parecido, pois foram
registradas 23 citações de autores pelos 15 respondentes, conforme se lê abaixo:
TABELA 11 – Autores preferidos entre leitores de livros em geral em São João do
Oeste
Autor Número de citações
Nora Roberts 5
Augusto Cury 4
Dan Brown 3
Lucinda Riley 2
Zibia Gasparetto 1
Jussara Hoffmann 1
Alessandro Campos 1
Autores s do Livro da
Família
1
Jaime Folle 1
J. K. Rowling 1
Robert Kingston 1
Sidney Sheldon 1
Carlos Ruiz Zafón 1
Fonte: Tabela do autor
A autora Nora Roberts é a mais notória entre todos os mencionados, uma vez
que é a preferida para cinco respondentes entre os leitores de livros em geral e para dois
107
leitores que frequentam a biblioteca municipal, obtendo, portanto, sete citações. Isto
confirma a tendência, demonstrada por muitos dos leitores, de preferência a best-sellers
de fácil leitura. De acordo com o blog Nora Roberts-Brasil, Roberts é “uma autora de
best-sellers românticos [...], a primeira mulher a figurar na Galeria da Fama dos
Escritores Românticos dos Estados Unidos” e seus mais de 160 romances publicados
pertencem, em sua maior parte, ao “gênero suspense romântico”, caracterizando-se por
“histórias [...] intensas, claras e objetivas” (NORA ROBERTS, 2018).
3.4 REPRESENTAÇÕES SOBRE A LEITURA
Na quarta parte deste capítulo, referente às representações sobre a leitura,
apresentamos, em primeiro momento, frases que englobam a significação do ato de ler
para os respondentes. Pedia-se que cada respondente respondesse à questão: “Qual das
seguintes frases que eu vou ler mais se aproxima do que significa leitura para você? E
em segundo lugar?”. Assim, cada um teve a oportunidade de marcar as duas principais
opções. A mais mencionada pelos leitores do Jornal Força d’Oeste é que “a leitura traz
conhecimento”, assinalada por 16 dos 30 respondentes, enquanto o fato de que “a leitura
traz atualização e crescimento profissional” foi marcada como a principal por 8 leitores.
Essas duas alternativas também aparecem como as mais mencionadas em segundo
lugar, tendo sido assinaladas por 5 e 9 respondentes, respectivamente. Observa-se,
portanto, que a pretensão de se informar aparece como a principal motivação de leitura
entre os leitores de jornal, seguida das aspirações profissionais que estão envolvidas
neste processo.
108
GRÁFICO 22 – Significado de leitura para os leitores de jornais
Fonte: Gráfico do autor
No caso dos leitores da biblioteca municipal, a opção mais mencionada é a de
que “a leitura é uma atividade prazerosa”, marcada por 6 respondentes como a principal
e por 4 como a segunda mais importante, enquanto a alternativa “a leitura traz
conhecimento” foi marcada por 4 respondentes como a mais representativa.
Verificamos, nesta perspectiva, um interesse guiado predominantemente pelo prazer da
leitura, seguido da busca de conhecimento.
GRÁFICO 23 – Significado de leitura para os frequentadores da biblioteca municipal
Fonte: Gráfico do autor
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
a leitura trazconhecimento
a leitura trazatualização ecrescimentoprofissional
a leitura meensina a viver
melhor
a leitura pode fazer uma
pessoa ‘vencer na
vida’ e melhorar sua
situação financeira
a leitura éuma atividadeinteressante
a leitura éuma atividade
prazerosa
0
1
2
3
4
5
6
7
leitura é umaatividadeprazerosa
a leitura trazconhecimento
a leitura trazatualização ecrescimentoprofissional
leitura me ensinaa viver melhor
a leitura é umaatividade
interessante
109
Quanto aos leitores de livros em geral, a perspectiva é semelhante à dos
assinantes do Força d’Oeste: 6 respondentes marcaram a opção “a leitura traz
conhecimento” como a principal, 5 respondentes consideram que “a leitura traz
atualização e crescimento profissional” como a opção mais significativa e 4 entendem
que “a leitura me ensina a viver melhor” como a principal alternativa. Em relação à
segunda frase mais representativa, 5 assinalam que “a leitura é uma atividade prazerosa”
e 3 destacam que “a leitura traz conhecimento” entre as opções secundárias.
GRÁFICO 24 – Significado de leitura para os leitores de livros em geral
Fonte: Gráfico do autor
No que se refere especificamente à influência da cultura germânica do município
de São João do Oeste no processo de leitura, esta é percebida pela maioria dos leitores
do Jornal Força d’Oeste – um total de 23 respondentes. Quanto aos leitores da
Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen, há um maior equilíbrio, pois 8
leitores percebem a influência da cultura, enquanto, para 7 deles, esta influência não é
perceptível. Na realidade dos leitores de livros em geral, 10 respondentes observam
incidência da cultura local.
O fator mais acentuado da cultura que é percebido pelos leitores do jornal é a
existência de biblioteca pública no município, citada por 9 respondentes. O incentivo de
professores ou outros munícipes é citado por três pessoas, enquanto outro leitor destaca
a valorização por parte do poder público à biblioteca. Outro respondente cita a
colocação das placas ao longo da rodovia de acesso ao município, que ressaltam os
0
1
2
3
4
5
6
7
a leitura traz conhecimento a leitura traz atualização ecrescimento profissional
a leitura traz atualização ecrescimento profissional
110
títulos em índice de alfabetização de São João do Oeste, como um dos fatores de
incentivo à leitura.
No caso dos frequentadores da biblioteca, a valorização dos leitores por meio do
poder público, a solicitação de trabalhos escolares sobre a história do município pelos
professores, a qualidade do acervo na biblioteca e os incentivos à leitura desde a
infância são os fatores que despontam na cultura do município e que despertam o
interesse pela leitura. Já na visão dos leitores de livros em geral, a biblioteca é
novamente destacada como o principal fator de influência da cultura local, destacado
por seis respondentes, dos quais três enaltecem os investimentos no acervo
bibliográfico. Os concursos de oratória promovidos pelo município, as aulas de leitura e
de alemão, bem como os índices de alfabetização também são fatores apontados na
cultura local como influenciadores na leitura. Percebe-se, assim, que a influência da
cultura geral é percebida, sobretudo, através das ações do poder público municipal que
incentiva a leitura, com destaque para a manutenção da biblioteca municipal e para o
orgulho sentido com referência à taxa de alfabetização alcançada pelo município.
Especificamente no que tange à influência do germanismo na cultura local, o destaque é
dado à atenção pelo cultivo do idioma alemão nas novas gerações e por meio do
incentivo, pela escola, ao estudo da história do município.
3.5 PERCEPÇÕES E USO DE BIBLIOTECAS
Seguindo a estrutura do questionário aplicado, nesta última parte deste capítulo
analisamos as respostas dos leitores sobre o significado da biblioteca para eles.
Questionamos acerca do hábito deste público em frequentar espaços destinados à
leitura, as razões que os levam a ir e as solicitações dos respondentes sobre possíveis
melhorias no local. Solicitava-se na pergunta, “Dentre as frases abaixo, o que representa
para o(a) sr(a) a biblioteca?” Entre os assinantes de jornal, 16 marcaram a alternativa
“Um lugar para pesquisar ou estudar”; 7 respondentes assinalaram “Um lugar voltado
para todas as pessoas”; três responderam “Um lugar para emprestar livros”; outros três
assinalaram “Um lugar voltado para estudantes” e outro respondente “Um lugar para
participar de conferências, cursos e oficinas”.
No entender dos leitores que frequentam a biblioteca pública de São João do
Oeste, este é “Um lugar voltado para todas as pessoas” para 7 respondentes; é “Um
111
lugar para emprestar livros” na realidade de cinco respondentes; é “Um lugar para
pesquisar ou estudar” para dois respondentes e “Um lugar para consultar documentos ou
outros materiais do acervo” para um respondente, lembrando que nesta questão alguns
assinalaram mais de uma opção. Para os leitores de livros em geral, a biblioteca é “Um
lugar para emprestar livros” na perspectiva de 6 respondentes; “Um lugar para pesquisar
ou estudar” para 5 respondentes; “Um lugar voltado para todas as pessoas” na realidade
de quatro respondentes e “Um lugar para consultar documentos e outros materiais do
acervo” para duas pessoas.
Quanto ao costume de frequentar bibliotecas, a maioria dos leitores de jornal
(19) alegou não ter este hábito. Outros 6 respondentes vão raramente à biblioteca; 4
frequentam o local às vezes e um afirma ir sempre a este espaço de leitura. Na realidade
dos entrevistados que se declararam frequentadores da biblioteca pública, como era de
esperar, registrou-se alto índice de frequência: 11 mencionaram ir ao local sempre; 3
vão às vezes e um procura a biblioteca raramente. Entre os leitores de livros em geral,
apenas um relata que não frequenta bibliotecas, ao passo que outros 6 vão sempre; 4 vão
às vezes e outros 4 raramente.
GRÁFICO 25 – Frequência à biblioteca, entre assinantes do jornal
Fonte: Gráfico do autor
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Sim, sempre Sim, às vezes Sim, raramente Não frequentabibliotecas
112
GRÁFICO 26 – Frequência à biblioteca, entre frequentadores da biblioteca pública
Fonte: Gráfico do autor
GRÁFICO 27 – Frequência à biblioteca, entre leitores de livros em geral
Fonte: Gráfico do autor
Os leitores que confirmaram frequência à biblioteca municipal de São João do
Oeste, mesmo que raramente, foram solicitados a avaliar este espaço no questionamento
seguinte. Bastava completar a seguinte frase: “Na biblioteca que o(a) sr(a) frequenta,
o(a) sr(a) diria que ...”. Entre os assinantes do Jornal Força d’Oeste, 8 assinalaram a
opção “É bem atendido”; 3 marcaram as alternativas “Gosta muito da biblioteca que
frequenta”, “As pessoas que trabalham na biblioteca fazem indicações de livros, de
assuntos ou autores parecidos com o que o(a) sr(a) lê ou te interessa” e “Encontra todos
os livros que procura”, enquanto outras duas pessoas assinalaram “Acha que ela é bem
cuidada” e “É atendido(a) por bibliotecários”. Como apenas 11 dos 30 assinantes do
0
2
4
6
8
10
12
Sim, sempre Sim, às vezes Sim, raramente
Frequência à biblioteca, entre frequentadores da biblioteca pública
0
1
2
3
4
5
6
7
Sim, sempre Sim, às vezes Sim, raramente Não frequentabibliotecas
Frequência à biblioteca, entre leitores de livros em geral
113
jornal assumiram que vão à biblioteca, alguns dos respondentes, portanto, marcaram
mais de uma alternativa nesta questão.
Dentre os frequentadores tradicionais da biblioteca, 8 assinalaram, para a mesma
questão, as opções “É bem atendido” e “As pessoas que trabalham na biblioteca fazem
indicações de livros, de assuntos ou autores parecidos com o que o(a) sr(a) lê ou te
interessa”; dois respondentes marcaram “Acha que ela é bem cuidada”, um aferiu que
“É atendido por bibliotecários” e outro “Gosta muito da biblioteca que frequenta”. No
caso dos leitores de livros em geral em São João do Oeste, os números são semelhantes:
8 respondentes assinalaram a opção “É bem atendido”; 7 marcaram “As pessoas que
trabalham na biblioteca fazem indicações de livros, de assuntos ou autores parecidos
com o que o(a) sr(a) lê ou te interessa”; 4 leitores indicaram “Acha que ela é bem
cuidada” e “Gosta muito da biblioteca que frequenta”; 2 aferiram que “É atendido por
bibliotecários” e “Encontra todos os livros que procura”. Tanto os frequentadores
habituais da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen quanto os leitores que
obtêm livros de outras maneiras assinalaram mais de uma opção nesta questão, a
exemplo dos assinantes de jornal.
Em todos os grupos de respondentes evidencia-se, assim, a percepção da
biblioteca como uma mediadora de leitura, já que valorizaram as opções relativas às
indicações de livros e ao bom atendimento. Esses leitores, que agora leem por gosto
próprio, não mais contam com orientação de professores, mas buscam esse papel no
bibliotecário.
No que tange aos motivos pelos quais frequentam bibliotecas, o objetivo de ler
livros para pesquisar ou estudar é o mais representativo para 5 assinantes do Força
d’Oeste; a leitura de livros por prazer é a segunda alternativa mais assinalada, por 4
respondentes, seguido da pretensão de “Consultar documentos e outros materiais da
biblioteca” e “Emprestar livros em geral”, ambos assinalados uma vez. Outro leitor
ainda conferiu que vai à biblioteca para “levar as netas”.
114
GRÁFICO 28 – Motivos pelos quais os assinantes de jornal vão à biblioteca
Fonte: Gráfico do autor
Para os frequentadores da biblioteca, o objetivo de ler livros por prazer e de
obter o empréstimo de livros em geral são as principais razões pelas quais se deslocam à
biblioteca, tendo sido cada uma dessas alternativas mencionadas por 7 respondentes.
Para 2 leitores, a leitura de livros para pesquisar ou estudar são os motivos mais
relevantes, e para 1 respondente a possibilidade de obter empréstimo de livros para
trabalhos escolares é a alternativa preponderante.
GRÁFICO 29 – Motivos pelos quais os frequentadores habituais da biblioteca vão ao
local
Fonte: Gráfico do autor
Considerando agora os leitores de livros em geral, verificamos que 5 deles vão à
biblioteca com o intuito de ler livros por prazer e outros 5 deslocam-se à biblioteca para
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Ler livros por prazer Emprestar livros emgeral
Ler livros parapesquisar ou estudar
Emprestar livros paratrabalhos escolares
0
1
2
3
4
5
6
Ler livros parapesquisar ou
estudar
Ler livros porprazer
Consultardocumentos e
outros materiaisda biblioteca
Emprestar livrosem geral
Outro
115
emprestar livros em geral. Outros 3 respondentes aferiram que dirigem-se à biblioteca
com o propósito de ler livros para pesquisar ou estudar.
GRÁFICO 30 – Motivos pelos quais os leitores de livros em geral vão à biblioteca
Fonte: Gráfico do autor
Colocando agora em perspectiva o público que não costuma ir a bibliotecas,
constatamos que 9 assinantes do Jornal Força d’Oeste alegam que não dispõem de
tempo para frequentar tal espaço de leitura; 4 respondentes do mesmo público afirmam
que não têm bibliotecas próximas do local onde moram e outros 4 acreditam que este é
um espaço direcionado a estudantes; 3 assinantes admitiram que não gostam de ler e 2
queixaram-se de que a biblioteca mais próxima não está aberta no horário em que
podem ir; 5 outros, ainda, assinalaram que há outros motivos não contemplados no
questionário, como a “falta de jornais na biblioteca” – embora estes existam no local –
falta de interesse em ler ou devido à pouca prática de leitura. Entre os leitores de livros
em geral, o principal motivo daqueles que não têm o costume de ir à biblioteca é a falta
de tempo, mencionada por 2 respondentes; um leitor esclarece que consegue obter livros
sem ir à biblioteca e outro afirma que já dispõe de muitos livros em casa.
Questionados sobre possíveis razões que fariam os assinantes do jornal
procurarem a biblioteca ou frequentá-la mais vezes, 6 respondentes enfatizaram a
condição de que a biblioteca fosse mais próxima de casa ou de fácil acesso; 3
destacaram a possibilidade de que a biblioteca tivesse horários de funcionamento
ampliados (noturno e finais de semana); 2 solicitam que a biblioteca tenha mais livros
ou títulos novos; dois outros reivindicam que a biblioteca tenha títulos interessantes ou
que lhes agradem e um sugere que ela tenha bom atendimento. Há, ainda, entre os
0
1
2
3
4
5
6
Ler livros por prazer Emprestar livros emgeral
Ler livros parapesquisar ou estudar
Motivos - leitores de livros em geral
116
assinantes do Força d’Oeste, 4 que declaram que nada os faria frequentar a biblioteca.
Doze respondentes ainda marcaram a alternativa “Outra”: 5 assumiram que falta dedicar
mais tempo para deslocar-se à biblioteca; 3 declaram que não têm interesse; dois
assumem que não vão por falta de hábito e um respondeu que iria se estivesse
frequentando algum curso superior.
GRÁFICO 31 – Fatores que fariam os assinantes de jornal frequentar bibliotecas mais
vezes
Fonte: Gráfico do autor
Entre os frequentadores da biblioteca pública, 2 respondentes afirmam que iriam
mais vezes sob a condição de haver mais livros ou títulos novos; outros 2 responderam
que iriam mais se a biblioteca tivesse títulos interessantes ou que lhes agradem; 2
respondentes assinalaram que iriam mais vezes em caso de ampliação dos horários de
funcionamento (noturno e finais de semana); um respondente assinalou que iria com
maior frequência a partir de um melhor atendimento no local e outros dois assinalaram a
opção “Outra”: “expor o acesso a novas obras para a população por meio de plataformas
comuns, como redes sociais” e “ter mais tempo disponível para a leitura”.
0
2
4
6
8
10
12
14
Ser maispróxima de
casa ou de fácilacesso
Nada fariafrequentarbiblioteca
Ter horários defuncionamento
ampliados
Ter mais livrosou títulos
novos
Ter títulosinteressantes
ou que meagradem
Outra
117
GRÁFICO 32 – Fatores que fariam os frequentadores tradicionais da biblioteca
procurarem mais vezes o local
Fonte: Gráfico do autor
No caso dos leitores de livros em geral, dois respondentes declararam que iriam
mais vezes se houvesse horários de funcionamento ampliados (noturno e finais de
semana); um respondente assinalou que iria com maior frequência se houvesse mais
livros ou títulos novos e outro iria mais vezes em caso de melhor atendimento. Três
ainda marcaram a opção “Outra”: dois deles iriam em mais oportunidades se tivessem
mais tempo e outro porque “faltam livros de religião”.
GRÁFICO 33 – Fatores que fariam os leitores de livros em geral frequentarem a
biblioteca mais vezes
Fonte: Gráfico do autor
0
0,5
1
1,5
2
2,5
Ter mais livrosou títulos novos
Ter títulosinteressantes ouque me agradem
Ter horários defuncionamento
ampliados
Outra Ter um bomatendimento
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
Ter horários defuncionamento
ampliados
Ter mais livros outítulos novos
Ter um bomatendimento
Outra
118
Percebe-se, assim, nos habitantes de São João do Oeste, correlação entre o gosto
pela leitura e sua prática regular e a valorização da biblioteca. A maior taxa de rejeição
foi demonstrada pelo público com perfil leitor mais estrito – os leitores de jornal, os
quais não sem configuram, em sua maioria, como leitores de livros. Entre estes, foi clara
a rejeição pela biblioteca (entre os que não iriam de modo algum), ou a assunção de
desculpas comuns também em outras atividades, quando não há disposição para fazê-
las, como falta de tempo e distância. No entanto, a possibilidade de ampliação do
horário de atendimento da biblioteca parece ser um fator relevante, aparecendo com
frequência também naqueles que podem ser considerados leitores de livros, e mesmo
entre os que frequentam a biblioteca. Entre estes, um fator estimulador adicional seria a
compra mais frequente de títulos novos, e uma possível consulta aos leitores, como
visível através da opção “comprar livros que me agradem”.
Expusemos, neste capítulo, as respostas dos leitores às perguntas, considerando-
as dentro do contexto de cada uma das quatro partes de que se constitui o questionário.
Esta análise deixou clara a existência de dois perfis leitores em São João do Oeste – um,
menos sofisticado, inclui os leitores de jornal, os quais, em sua maioria, não se
qualificam como leitores de livro; outro perfil, bastante diferenciado, é o dos leitores de
livros, os quais são, em parte, também leitores de jornal. Passamos a traçar, nas
conclusões, uma análise cruzada dos dados, de forma a compreender, com mais
profundidade, o perfil dos leitores do município de São João do Oeste, bem como
tracejar hipóteses acerca da influência da cultura regional sobre o hábito da leitura (ou
ausência dele, no caso dos assinantes de jornal) entre os munícipes.
119
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho de Dissertação de Mestrado – iniciado sob a premissa de
identificar os perfis dos leitores de livros e jornais em São João do Oeste/SC e de tecer
possíveis relações com a cultura germânica regional – alcançou, de fato, o objetivo de
obter o perfil do leitor de jornal e de livros no município.
Voltamos, agora, às definições de leitor apresentadas no capítulo inicial, para, a
partir delas e dos dados obtidos, descrever o perfil leitor em São João do Oeste. Em uma
perspectiva histórica de leitura no Brasil, Regina Zilberman e Marisa Lajolo (1998)
apresentam quatro tipos de leitores – o romântico, cúmplice, aprendiz e maduro – tendo
como fator diferenciador o grau de dependência do leitor em relação à guia autoral no
processo de leitura. Nessa perspectiva, revela-se a maturidade do leitor à medida em que
este apreende a narrativa, dispensando a guia do autor. No contexto predominante da
narrativa atual, auxílios metaficcionais não são frequentes, o que não significa que o
leitor seja, sempre, plenamente maduro. Embora haja indícios de leitores mais maduros,
tais como os que mencionam 1984 (1949), de George Orwell, e O diário de Anne
Frank (1947), de Anne Frank, o fato de que para grande parte dos leitores o que
prepondera na escolha de livros é o gosto, e, a partir desse critério, optam por best-
sellers e autoajuda, faz supor um leitor ainda não plenamente maduro, com preferência
por narrativas claras e objetivas como as de Nora Roberts, que dispensam a guia do
autor.
O fato de que a maioria preponderante dos leitores preferem livros de autoajuda
ou best-sellers remete à função dos professores no Ensino Básico, enquanto formadores
de leitores, já que foram apontados como os principais influenciadores de leitura entre
os três grupos de respondentes. Considerada a relevância do professor no processo de
mediação da leitura, verificamos a necessidade de que os docentes do Ensino
Fundamental e Médio incentivem aos estudantes a leitura de obras para além daquelas
buscadas pelo gosto pessoal pela leitura. Desta forma, sob o estímulo ainda durante o
período de estudos na Educação Básica, provavelmente os leitores do município de São
João do Oeste estariam mais motivados e preparados para praticar leituras que não
fiquem circunscritas aos best-sellers ou livros de autoajuda. Assim, com uma ampliação
no repertório de leituras entre o público leitor de livros e jornais, acreditamos que estes
tenham maiores condições de atingir maior maturidade no processo de escolha e
120
compreensão de obras.
Pensando-se agora no leitor a partir das definições de Lucia Santaella (2004),
com respeito aos tipos de leitores da era digital, identificamos em São João do Oeste
ainda a predominância do leitor contemplativo/meditativo – ao menos entre os leitores
habituais de livros –, ou seja, o leitor de livros em formato impresso, aquele que gosta
de manusear as páginas de papel. Estes dados são atestados pelos resultados do
questionário, no qual verificamos que entre os 30 leitores de livros consultados nesta
pesquisa – seja entre os frequentadores da biblioteca ou de livros em geral –, 27 utilizam
o formato impresso como principal suporte de leitura, enquanto somente outros três
optam pelo digital, no celular, como fonte primária de leitura (ver gráficos 11 e 12). O
conceito é semelhante ao do leitor detido, reflexivo ou sentimental descrito por Bordini
(2016).
Dentre os leitores de jornal, reconhecemos que prevalece o perfil de leitor que
Santaella (2004) caracteriza como movente/fragmentado, ou seja, que lê apenas tiras,
certas matérias do jornal, quando não se atém simplesmente às fotos. No entanto, é
pertinente registrar um movimento para a leitura virtual/imersiva, ou mesmo ubíqua,
entre os assinantes do Força d’Oeste; afinal, conforme constatado nos gráficos, do total
de 30 entrevistados, 10 utilizam o aparato digital, no celular, como o principal suporte
de leitura, e 2 preferem o computador, embora ainda a maioria (18 leitores) prefira o
material impresso. É pertinente salientar, por outro lado, que o jornal em questão está
atento a esta possível migração do seu público leitor, e dispõe de páginas em sites. A
esse respeito, pode-se consultar o portal do Força d’Oeste, disponível em
http://www.adjorisc.com.br/jornais/forcadoeste/, as páginas em redes sociais como o
Facebook (https://www.facebook.com/forcadoeste?fref=ts) e o Instagram
(https://www.instagram.com/forcadoeste/?hl=pt-br), as quais são atualizadas
regularmente.
Seguindo, agora, para o epicentro desta pesquisa, que é a comparação entre os
leitores de jornal e de livros em São João do Oeste, bem como a sua associação com a
cultura germânica local, percebe-se a existência do hábito de leitura muito superior
entre os leitores de livros – sejam os da biblioteca ou de obras em geral – em relação aos
assinantes do Força d’Oeste. Uma possível explicação para essa diferença pode ser
buscada na escolaridade dos leitores, pois, conforme reforçam os gráficos 1, 2 e 3, em
termos gerais, a escolaridade dos frequentadores da biblioteca e de livros em geral é
121
superior em comparação a dos leitores de jornais. Salvo os dois respondentes que
concluíram pós-graduação e os dois que finalizaram o Ensino Superior, além do
respondente que ainda frequenta o espaço universitário, os demais 25 assinantes de
jornal consultados nesta pesquisa estudaram, no máximo, até o Ensino Médio. Portanto,
apenas 13% deste público concluiu, ao menos, o Ensino Superior.
Por outro lado, a escolaridade dos frequentadores da biblioteca é a mais alta
dentre os três públicos; afinal, dos 15 respondentes, 6 concluíram pós-graduação, o que
representa 40% deste público. Se considerarmos a totalidade do público que ocupa os
bancos acadêmicos ou que já finalizou, ao menos, um curso superior, a porcentagem
aumenta para 66%. Dentre os leitores de livros em geral, entretanto, o nível escolar
também é significativo, pois entre este público, 3 frequentam o Ensino Superior, 3 já
finalizaram e outros 3 contam com uma pós-graduação no currículo. Juntos, estes 9
leitores perfazem 60% do total entre os 15 leitores. Considerando agora o conjunto dos
frequentadores da biblioteca e dos leitores de livros em geral, constatamos que 63% (19
leitores, de um total de 30) destes frequentam desde o Ensino Superior ou já chegaram a
finalizar pós-graduação. Reitera-se que nos grupos de respondentes, os níveis escolares
dos pais são baixos, o que sugere que ambos os grupos de leitores partem de condições
semelhantes para o desenvolvimento de uma trajetória escolar e o consequente hábito da
leitura.
Os níveis de escolaridade reproduzem-se nas profissões dos respondentes:
enquanto os assinantes do Força d’Oeste distribuem-se, em sua maior parte, em um
público de aposentados ou agricultores sem formação universitária, o que corresponde a
73% do total (22 respondentes), no caso dos leitores de livros, as profissões são mais
diversificadas. Entre os frequentadores da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso
Hansen, 4 são empregados em empresa privada (auxiliar de escritório, repositor de
mercadorias, serviços gerais e auxiliar de salão de beleza), 2 em empresas públicas
(analista técnico de gestão escolar e professora), 3 são autônomos (advogado, agricultor
e administrador de empresas) e 6 aposentados. Já na realidade dos leitores de livros em
geral, 5 efetuam trabalhos autônomos, como agricultores (4) e costureira, enquanto
outros 4 estão empregados em empresa pública, nos cargos de enfermeira, professor (2)
e secretária de Educação; 3 são estudantes e outros 3 aposentados.
Em conjunto, os dados obtidos ajudam a explicar o perfil do leitor de jornais,
que se caracteriza como leitor menos sofisticado, pouco dado à leitura de livros. Este
122
grupo de respondentes limita-se, em sua maioria, a leituras rápidas e objetivas, o que
realça o perfil característico de um leitor de jornal. O mesmo público possui menor
escolaridade, em sua maioria é dedicado à agricultura e tem idade superior a dos leitores
de livros. Assim, escolaridade e ocupação (e ambos unidos, como indicadores de classe
social) podem explicar o gosto por leituras rápidas, informativas e não complexas.
Um fator que apresenta resultados notadamente diversos dos obtidos pela
pesquisa Retratos de Leitura no Brasil é o baixo índice de leitura da Bíblia entre os
leitores de São João do Oeste. Enquanto a Bíblia é reportada como o livro mais lido na
pesquisa do Instituto Pro-Livro, do total dos 60 respondentes nesta pesquisa, apenas 10
(16%) praticam a leitura deste livro sagrado ao menos a cada 15 dias. Esta estatística
sugere que os leitores de São João do Oeste – dos quais 98% são adeptos da religião
Católica – não têm o hábito de ler a Bíblia e que, portanto, expressam a religiosidade
predominantemente por meio das participações em cultos e missas e/ou nas orações
particulares em suas residências.
Transferindo o foco de análise agora para as pessoas que mais influenciaram a
leitura, denota-se que, nos três públicos considerados, o professor é o principal
influenciador, acentuando, assim, a relevância deste profissional para a formação do
leitor (ver gráficos 4, 5 e 6). Entre os assinantes de jornal, 16 (o que corresponde a mais
de 50% dos respondentes) destacaram o professor como o principal motivador para a
leitura, enquanto 6 frequentadores da biblioteca e também 6 leitores de livros em geral
apontaram o professor como o principal incentivador. A influência do professor no
processo de leitura evidencia-se em vários momentos durante a descrição dos dados, no
terceiro capítulo, como é o caso do leitor que relatou ter ajudado a montar uma
biblioteca durante a Educação Básica, a partir do incentivo do professor; do leitor que
mencionou o Sarau Literário, entre outros relatos de iniciativas criativas por parte dos
educadores para estimular o hábito da leitura.
O percentual dos leitores que assumiram que os pais foram os principais
motivadores para a leitura ficou abaixo de 50% no caso dos três públicos. Ainda assim,
a segunda geração (os respondentes) demonstra um hábito de leitura superior a dos seus
pais, o que indica que a motivação destes em ler foi adquirida, muito provavelmente, a
partir dos professores, especialmente no momento em que levavam os alunos à
biblioteca. Isto reforça, mais uma vez, o papel fundamental do professor, em conjunto
123
com o espaço da biblioteca, como mediadores para a edificação de uma sociedade
leitora.
Torna-se ainda necessária reflexão sobre as políticas públicas referentes à
difusão da leitura e o zelo da preservação cultural. Apresentamos, no corpo do trabalho,
dados como os de Porto et al. (2015), referentes à formação de leitores no Brasil, os
quais apontam problemas que incluem, dentre outros, a falta de políticas públicas para
incentivo à leitura e qualificação docente, bem como a infraestrutura de bibliotecas ou
outros espaços de leitura. Porto, Silva e Rettenmaier (2015) destacam como fator
fundamental, associado às práticas de mediação de leitura, que o acervo bibliográfico
contemple diversidade e atenda aos interesses de seu público, devendo as coleções não
se restringir ao formato impresso, mas também abranger o digital.
No caso de São João do Oeste, ainda há carência de políticas públicas referentes
à leitura em formato digital; por outro lado, o município estimula a leitura adquirindo
livros a cada ano para a biblioteca. De acordo com a coordenadora da Biblioteca Pública
Municipal Padre Afonso Hansen, Juliane Steffen (2019), entre 2017 e 2018, por
exemplo, foram adquiridas em torno de 200 obras de literatura infantil e outras 200 de
literatura em geral, além de livros, jornais e audiovisuais, entre eles, material em idioma
alemão.
A partir de julho de 2019, a biblioteca passou por processo de revitalização no
local, com direito a melhorias no piso, pintura nas paredes e instalação de forno de PVC
nas paredes e no teto. As reformas na biblioteca foram concluídas na metade de agosto e
a deixaram com um novo visual, mais amplo e dinâmico (ver fotos 2 e 3). Segundo a
secretária de Educação, Cultura e Esportes de São João do Oeste, Silvane Baumgarten
(2019), os investimentos na revitalização da biblioteca foram de R$ 17.638,72,
efetuados com recursos próprios do município de São João do Oeste.
À manutenção da Biblioteca somam-se outras iniciativas, indicativas de uma
política que busca a promoção da leitura entre os munícipes. Foram lembradas, no
questionário, iniciativas tais como feiras e outros eventos. Exemplo destes foi a 2ª
Semana da Biblioteca e Feira do Livro, ocorrida entre os dias 02 e 05 de outubro de
2019. O evento, dedicado à apresentação e comercialização de livros, incluiu também
participação do grupo de balé Raio de Luz, além da contação de histórias, pintura facial
e música. Já na segunda metade de outubro, pouco antes da entrega da versão final desta
dissertação, a biblioteca promoveu palestras e oficinas sobre biblioterapia, ministradas
124
pela professora Carla Souza, Mestre em Biblioterapia pela Universidade Federal de
Santa Catarina – UFSC. Este curso envolveu terapia com base em indicação de livros de
poesia, palestras para alunos do 5º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino
Médio, além de oficinas específicas para professores e pais contarem histórias aos seus
filhos. A ampliação do horário de atendimento, que se estendeu em mais de uma hora
durante todo o mês de outubro (até às 18h30), além do atendimento aos sábados, são
estímulos para os munícipes que não conseguem frequentar a biblioteca no horário
habitual, em virtude, principalmente, de compromissos profissionais. Por outro lado,
também percebem-se iniciativas nas escolas, como o estímulo à leitura, indicação de
obras aos alunos e a organização de Saraus literários.
Os representantes do poder público de São João do Oeste ainda poderiam adotar
outras medidas para difundir o hábito da leitura no município, para que este não fique
restrito ao espaço da biblioteca ou das escolas. Um exemplo são as feiras literárias, as
quais poderiam ser realizadas com maior regularidade e em espaços mais frequentados,
como a praça pública, para estimular o acesso. A publicação de livros em meios digitais,
ou de caderno cultural digital, por exemplos, também são possibilidades de acesso à
leitura que ainda carecem de ser implantadas em São João do Oeste de forma mais
universal, o que se torna relevante quando verificamos no questionário que, no caso dos
assinantes de jornal, 12 respondentes – correspondendo a 40% – preferem praticar
leituras no celular ou computador. A constatação de que 63% dos respondentes não
frequentam bibliotecas realça a importância da adaptação de livros para plataformas
virtuais, um sintoma característico do contexto do século XXI, fruto de uma sociedade
que se organiza de acordo com os tempos modernos. Da mesma forma, é necessário
lembrar que o fato de que os leitores não frequentam a biblioteca não significa que estes
não tenham o hábito de ler livros. O próprio jornal Força d’Oeste poderia contribuir
para o processo de leitura de livros – sejam em formato impresso ou digital – a partir da
dedicação de espaço no impresso para divulgação da literatura e incentivo à leitura, o
que não ocorre até o momento.
Além do poder público, existe o engajamento da Associação Comercial e
Industrial de São João do Oeste – ACISJO, mesmo que de forma tímida, no incentivo ao
hábito da leitura. Em abril de 2018, o Núcleo do Jovem Empreendedor, entidade
vinculada à ACISJO, instalou uma “geladeiroteca” – geladeira com livros – na praça da
igreja matriz, na qual os munícipes podem doar ou emprestar livros gratuitamente. Há
125
uma expressiva coletânea de livros no local e giro de material, o que demonstra o
sucesso desta iniciativa. Esta atitude do Núcleo do Jovem Empreendedor de São João
do Oeste torna-se ainda mais relevante em função da “geladeiroteca” estar instalada em
local destinado para o lazer, ou seja, quando os munícipes frequentam a praça aos fins
de semana ou feriados para tomar chimarrão ou mesmo descansar, eles têm a
oportunidade de consultar o material de leitura disponível.
A influência da cultura germânica no processo de leitura – a qual também se
configura como um dos objetivos deste trabalho – evidencia-se claramente quando a
maioria dos leitores, tanto os de jornais, quanto os de livros, mencionam os professores
como os principais influenciadores de leitura. Esta característica traz à mente a
influência estabelecida pelos pioneiros do município de São João do Oeste – então ainda
pertencente a Porto Novo – que, já nos primórdios da colonização agrícola, em 1926,
incumbiram-se de proporcionar ensino básico e formação religiosa às novas gerações,
por meio da edificação de igreja-escolas. Por outro lado, o hábito da leitura de jornais, o
qual está presente de maneira consistente na cultura germânica, como menciona
Miranda (2008), também se verifica no público respondente desta pesquisa. Entre os 60
respondentes do questionário, 57 leem jornal quinzenalmente, fator que, de acordo com
o critério operacional adotado para definir o leitor neste trabalho (leitor é aquele que lê
ao menos uma vez a cada 15 dias) demonstra que quase todo o público participante se
enquadra neste perfil. Ainda que o jornal sobre o qual se desenvolveu esta pesquisa – o
Força d’Oeste, de Itapiranga/SC – não apresente colunas em idioma germânico, o
hábito expressivo do público respondente pela leitura de jornais demarca os indícios da
cultura alemã. Aqui relembramos as ponderações de Costa (2004 apud MIRANDA,
2008) – no primeiro tópico do segundo capítulo – autor que registra a expressiva
publicação de jornais entre povos germânicos, a qual o autor chega a qualificar como
obsessão, dada sua frequência, persistência e quase universalidade: “[...] os alemães e
seus descendentes são obcecados por publicar jornais em alemão pelo mundo. Quase
todos os países do mundo têm pelo menos um jornal para a leitura de quem fala a língua
de Goethe” (COSTA, 2004, apud MIRANDA, 2008, p. 32).
Em face disso, surpreende o relativo pouco incentivo à leitura em língua alemã,
o que pode, ainda, estar ligado às interdições à cultura germânica ocorridas em períodos
de exceção. As ditaduras brasileiras na Era Vargas (1937-1945) e a militar de 1964-
1985 ameaçaram a continuidade do ensino em alemão na região de Porto Novo,
126
conforme este havia sido consolidado desde os primórdios da colonização agrícola. No
caso da primeira ditadura, o ensino em alemão foi proibido nas escolas por até oito anos
e algumas delas chegaram a fechar. Já no segundo período ditatorial, o ensino em
alemão não foi proibido, porém o temor advindo da primeira ditadura desestimulou os
professores a lecionarem o alemão nas aulas. Em virtude destas épocas sombrias da
história do Brasil, atualmente a maioria dos praticantes de leitura em alemão é de
pessoas acima de 70 anos. A organização do Memorial da Língua Alemã na biblioteca
pública, com as mil obras neste idioma, é uma das iniciativas para estimular a leitura na
língua de Goethe. Por outro lado, já tem havido progresso no incentivo ao ensino de
alemão, o qual, em 2012, tornou-se obrigatório no município de São João do Oeste, a
fim de assegurar às novas gerações o aprendizado da leitura e escrita em alemão.
Salientamos, por fim, que as informações coletadas e analisadas nesta pesquisa
podem ser relevantes para a adoção de políticas preocupadas com o hábito da leitura,
bem como para o ensino nas universidades, especialmente na área de Letras – o foco
deste trabalho. Além dos representantes do poder público, este trabalho também se
presta a contribuir para diretores e professores pensarem como a leitura é difundida nas
escolas, e a fornecer dados para embasar a implementação de políticas públicas e
privadas de incentivo à leitura e formação do leitor. Políticas persistentes e efetivas de
formação de mediadores de leitura, embasadas nos dados aqui coletados poderão
contribuir para que os leitores de São João do Oeste possam se tornar leitores mais
sofisticados, vindo não só a fazer leituras que lhes deem prazer, em um primeiro
momento, e/ou as que lhes sejam impostas pela grade curricular, mas a escolher e
apreciar leituras mais exigentes, por determinação própria. Por outro lado, os resultados
deste trabalho não são de suma importância apenas para o município de São João do
Oeste, em específico, porém também servem para outros municípios refletirem e
adotarem novas políticas de mediação da leitura, especialmente em relação às
plataformas virtuais, conforme realçam Porto, Silva e Rettenmaier (2015).
Por fim, torna-se necessário observar que os dados apresentados não são e não
querem ser conclusivos, afinal o público consultado (60 respondentes) sequer representa
1% da população de 6.285 habitantes de São João do Oeste. Considera-se, antes, esta
pesquisa como um convite a novas investigações, que poderão replicar ou não os dados
pesquisados, ou ainda buscar direcionamentos específicos, como o foco na formação e
caracterização dos leitores do município, nos mediadores de leitura, ou o cruzamento
127
entre um ou mais desses elementos. Uma possibilidade seria, ainda, a aplicação do
mesmo questionário utilizado neste trabalho para um público superior, de pelo menos
100 pessoas, em um município com mais de 10 mil habitantes e de preferência com uma
população mais heterogênea, diferente do que ocorre em São João do Oeste, município
no qual predomina a ascendência germânica. Assim, espera-se que essa pesquisa
contribua, também, para trabalhos comparativos sobre o perfil do leitor em uma área
geográfica mais ampla que apenas o município de São João do Oeste.
128
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Vera Teixeira de; BORDINI, Maria da Glória. Literatura: a formação do
leitor: alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. Brasília:
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135
ANEXO I
ROTEIRO PARA QUESTIONÁRIO AOS LEITORES
QUESTIONÁRIO: PERFIL LEITOR EM SÃO JOÃO DO OESTE, SC
Prezado leitor:
Estas questões estão relacionadas a uma pesquisa de campo voltada à
identificação do perfil do leitor em São João do Oeste. A pesquisa está sendo conduzida
com o objetivo de identificar possíveis relações com a cultura de nossa cidade, a
erradicação do analfabetismo no município e o hábito de leitura. Através do
mapeamento da pesquisa, pretende-se obter o perfil regional do leitor, tanto o leitor de
livros (frequentador ou não de bibliotecas) e o leitor de jornal, e traçar o perfil social,
educacional e cultural de nossos leitores. Dessa forma, sua contribuição é muito
relevante.
PARTE 1- PERFIL DA AMOSTRA: SOCIAL, EDUCACIONAL E CULTURAL
Em cada questão, circule a letra referente à alternativa que corresponde a sua
realidade:
1.1 Gênero:
a) Masculino
b) Feminino
1.2 Idade:
a) 18 a 24
b) 25 a 35
c) 36 a 50
d) 51 a 64
e) 65 ou mais
1.3 Escolaridade a) Não alfabetizado/Não frequentou escola formal
b) Fundamental I (1º a 4º série ou 1º ao 5º ano)
c) Fundamental II (5º a 8º série ou 6º ao 9º ano)
d) Ensino Médio (1º ao 3º ano)
e) Superior incompleto
f) Superior completo
g) Pós-graduação (Especialização)
g) Pós-graduação (Mestrado, MBA, Doutorado)
136
1.5 Qual é o nível escolar de seu pai ou responsável do sexo masculino?
a) Sem escolaridade
b) 10
ao 40
ano do Ensino Fundamental
c) 50
ao 90 ano do Ensino Fundamental
d) Ensino Médio
e) Ensino Superior – graduação
f) Ensino Superior – pós-graduação
1.6 Qual é o nível escolar de sua mãe ou responsável do sexo feminino estudou?
a) Sem escolaridade
b) 10
ao 40
ano do Ensino Fundamental
c) 50
ao 90 ano do Ensino Fundamental
d) Ensino Médio
e) Ensino Superior – graduação
f) Ensino Superior – pós-graduação
1.7 Profissão:
a) Estudante
b) Empregado em empresa privada. Cargo:___________________________
c) Empregado em empresa púbica. Cargo:____________________________
d) Autônomo. Ocupação:___________________________________________
e) Aposentado (a)
PARTE 2- INFLUÊNCIA (FORMAÇÃO LEITORA)
2.1 De maneira geral, o(a) sr(a) gosta muito, gosta um pouco ou não gosta de ler?
a) Gosta muito
b) Gosta um pouco
c) Não gosta
2.3 O(a) sr(a) diria que costuma/costumava ver seu pai ou responsável do sexo
masculino lendo?
a) Sempre
b) Às vezes
c) Nunca
2.4 E o(a) sr(a) diria que costuma/costumava ver sua mãe ou responsável do sexo
feminino lendo?
a) Sempre
b) Às vezes
c) Nunca
2.5 Você foi incentivado pelos pais ou responsáveis para ler?
a) Sim, muito
b) Sim, regularmente
c) Sim, pouco
d) Não
2.6 Foi incentivado, durante sua permanência na Educação Básica, a ler pelos seus
professores?
137
a) Sim, muito
b) Sim, regularmente
c) Sim, pouco
d) Não
Se a sua resposta foi SIM na questão 2.6, descreva como foi esse incentivo.
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2.7 Qual foi a pessoa que mais o/a influenciou ou incentivou a ler?
a) Mãe ou responsável do sexo feminino
b) Pai ou responsável do sexo masculino
c) Algum outro parente
d) Marido, esposa ou companheiro(a)
e) Algum professor ou professora
f) Padre, pastor ou algum líder religioso
g) Outra pessoa. Qual? ___________________________
h) Ninguém em especial
PARTE 3- MOTIVAÇÕES, HÁBITOS DE LEITURA E BARREIRAS PARA
LEITURA
3.1 Quando você era aluno da Educação Básica, qual era a sua principal razão
para ler?
a) Gosto
b) Atualização cultural ou informação
c) Distração
d) Crescimento pessoal
e) Motivos religiosos
f) Exigência escolar ou da faculdade
g) Atualização profissional ou exigência do trabalho
h) Outros. Qual? ___________________________________
3.2 Atualmente, qual é a principal razão para o(a) sr(a) ler?
a) Gosto
b) Atualização cultural ou informação
c) Distração
d) Crescimento pessoal
e) Motivos religiosos
f) Exigência escolar ou da faculdade
g) Atualização profissional ou exigência do trabalho
h) Outros. Qual? ___________________________________
i) Não sabe/Não respondeu
3.3 Quando você era aluno da Educação Básica, qual era o seu principal objeto de
leitura?
138
a) livros
b) jornais
c) textos na internet
d) revistas
e) outro. Qual? ____________________________________________
3.4 Atualmente, qual é o seu principal objeto de leitura?
a) livros
b) jornais
d) revistas
e) outro. Qual? ____________________________________________
3.5 Que suporte você usa para suas leituras?
a) impresso
b) digital, no celular
c) digital, no computador
d) digital, no tablete
(Marque todas as respostas que refletem sua realidade)
3.6 Que suporte você usa com mais frequência para seu principal objeto de
leitura?
a) impresso
b) digital, no celular
c) digital, no computador
d) digital, no tablete
3.7 Você lê livros em idioma alemão?
a) Sim
b) Não
Se SIM, com que frequência? _______________________________
3.8 Quando você era aluno da Educação Básica, qual destes fatores o influenciava
para ler um livro? (Você pode assinalar até 3 fatores)
a) capa/título do livro
b) autor do livro
c) tema do livro
d) indicação de professor
e) indicação de amigo ou familiar
f) prazer da leitura
g) critica/resenha
h) redes sociais
i) editora
j) publicidade/anúncio
3.9 Atualmente, qual destes fatores mais influencia o(a) sr(a) a escolher um livro
para ler? (Você pode assinalar até 3 fatores)
a) capa/título do livro
b) autor do livro
c) tema do livro
d) indicação de professor
139
e) indicação de amigo ou familiar
f) prazer da leitura
g) critica/resenha
h) redes sociais
i) editora
j) publicidade/ anúncio
k) outro. Qual? ____________________________
3.10 Quando você era aluno da Educação Básica, costumava ler jornal?
a) Sim, frequentemente
b) Sim, ocasionalmente
c) Não
3.11 Atualmente, o(a) sr(a) costuma ler jornal? a) Sim, frequentemente
b) Sim, ocasionalmente
c) Não
3.12 Qual destes fatores mais o/a influencia a ler jornal? (Você pode assinalar até 3
fatores)
a) capa/manchetes
b) colunistas do jornal
c) temas ou assuntos
d) indicação de professor
e) indicação de amigo ou familiar
f) prazer da leitura
g) critica/resenha
h) redes sociais
i) a empresa que publica o jornal
j) publicidade/anúncio
k) outro. Qual? ____________________________________________
3.13 Com que frequência o(a) sr(a) lê cada uma destes tipos de publicações?
Considere a leitura realizada em papel e em meios virtuais.
Todos os
dias
Duas a três
vezes por
semana
Uma vez
por semana
Quinze-
nalmente
Quase
nunca
Nunca
a) Jornais
b) livros de literatura
indicados pela escola
c) livros de literatura
por vontade própria
d) livros didáticos
indicados pela escola
e) livros para
formação profissional
por vontade própria
f) livros de auto-
140
ajuda
g) Bíblia/livros
religiosos
h) livros de
culinária/artesanato
i) Outro-Qual?
3.14 No seu dia-a-dia, que tempo destina para a leitura de jornal?
a) 30 minutos ou menos
b) De uma a duas horas
c) Mais de duas horas
3.15 Qual é a média de leitura de livros lidos nos últimos três meses, considerando
a leitura INTEGRAL da obra?
a) 1 livro
b) 2 livros
c) 3 livros ou mais
d) Nenhum livro
3.16 Você está lendo algum livro hoje?
a) Sim
b) Não
(SE SIM) Quantos livros o(a) sr(a) está lendo atualmente? ______________
3.17 Quando foi a última vez que o(a) sr(a) leu esse livro?
a) Hoje ou ontem
b) Na última semana
c) No último mês
d) Nos últimos 2 a 6 meses
e) Há mais de 1 ano
3.18 Por que o(a) sr(a) está lendo este livro? Escolha somente uma opção.
a) Por gosto ou interesse pessoal
b) Por motivo religioso
c) Por indicação da escola
d) Por motivo profissional
e) Porque ganhou o livro
f) Para se distrair
3.19 Qual é o livro que mais marcou o(a) sr(a) ou que o(a) sr(a) mais gostou de ler?
____________________________________________________
3.20 Quais são os escritores que o(a) sr(a) mais gosta ou gostou de ler?
3.21 Qual a média de livros lidos por inteiro nos últimos 12 meses? a) 1
141
b) 2
c) 3
d) 4
e) 5
f) 6
g) mais de 6
3.22 Qual a média de livros lidos em parte nos últimos 12 meses?
a) 1
b) 2
c) 3
d) 4
e) 5
f) 6
g) mais de 6
3.23 Dentre as razões abaixo, qual delas explica o porquê de o(a) sr(a) não ler mais
atualmente?
a) falta de tempo
b) preferência por outras atividades
c) falta de paciência para ler
d) custo do livro (acha caro)
e) inexistência de livraria ou de acesso a site de compra
f) cansaço
g) ausência de biblioteca por perto
h) falta de gosto para a leitura
i) dificuldades de leitura
j) ausência de lugar adequado para a leitura
k) ausência de exigência no trabalho ou na escola
PARTE 4- REPRESENTAÇÕES SOBRE A LEITURA
4.1 Qual das seguintes frases que eu vou ler mais se aproxima do que significa
leitura para você? E em segundo lugar?
a) A leitura traz conhecimento
b) A leitura traz atualização e crescimento profissional
c) A leitura me ensina a viver melhor
d) A leitura pode fazer uma pessoa „vencer na vida‟ e melhorar sua situação financeira
e) A leitura é uma atividade interessante
f) A leitura facilita a aprendizagem na escola ou faculdade
g) A leitura é uma atividade prazerosa
h) A leitura ocupa muito tempo
i) A leitura é uma atividade cansativa
j) Só leio porque sou obrigado(a)
k) Nenhuma destas/Não sabe/Não respondeu
4.2 Você acredita que existe influência da cultura do município onde mora no seu
interesse pela leitura?
a) Sim
b) Não
142
Se SIM, como se manifesta essa influência?
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_________________________________________________
PARTE 5- PERCEPÇÕES E USO DE BIBLIOTECAS
5.1 Dentre as frases abaixo, o que representa para o(a) sr(a) a biblioteca?
a) Um lugar para pesquisar ou estudar
b) Um lugar para emprestar livros
c) Um lugar voltado para estudantes
d) Um lugar voltado para todas as pessoas
e) Um lugar para lazer ou passar o tempo
f) Um lugar para consultar documentos e outros materiais do acervo
g) Um lugar para acessar a Internet
h) Um lugar para participar de conferências, cursos e oficinas
i) Um lugar para ver filmes ou escutar música
5.2. O(a) sr(a) diria que costuma ir a bibliotecas _______?
a) Sim, sempre
b) Sim, às vezes
c) Sim, raramente
d) Não frequenta bibliotecas
SE o(a) sr.(a) respondeu SIM, prossiga respondendo as perguntas até o fim deste
questionário.
SE o(a) sr.(a) respondeu NÃO, prossiga respondendo da pergunta 5.5 até o fim
deste questionário.
5.3 Na biblioteca que o(a) sr(a) frequenta, o(a) sr(a) diria que __________:
a) É bem atendido?
b) Acha que ela é bem cuidada?
c) É atendido por bibliotecários?
d) Gosta muito da biblioteca que frequenta?
e) As pessoas que trabalham na biblioteca fazem indicações de livros, de assuntos ou
autores parecidos com o que o(a) sr(a) lê ou te interessa?
f) Encontra todos os livros que procura?
5.4 Por qual destes motivos o(a) sr(a) vai à biblioteca?
a) Ler livros para pesquisar ou estudar
b) Ler livros por prazer
c) Emprestar livros para trabalhos escolares
d) Consultar documentos e outros materiais da biblioteca
e) Emprestar livros em geral
f) Ler revistas ou jornais
g) Acessar Internet
h) Participar de concertos, exposições ou eventos culturais, etc.
i) Outro. Qual?
______________________________________________________________________
143
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
5.5 Qual a principal razão para o(a) sr(a) não ter costume de ir a bibliotecas? Mais
alguma?
a) Não tem tempo
b) Não gosta de ler
c) Não tem bibliotecas próximas de mim
d) Não gosta de ir a bibliotecas
e) Acha que a biblioteca é para estudantes
f) A biblioteca não tem livros atuais
g) A biblioteca mais próxima de mim não está aberta no horário que eu posso ir
h) A estrutura da biblioteca mais próxima de mim é ruim
i) Outros
5.6 O que o(a) faria frequentar bibliotecas ou frequentá-las mais vezes?
a) Ter mais livros ou títulos novos
b) Ter títulos interessantes ou que me agradem
c) Ter um bom atendimento
d) Melhor disposição dos livros ou facilidade de acesso
e) Ter horários de funcionamento ampliados (noturno e finais de semana)
f) Ter ambiente mais agradável, mais claro ou com mais luz
g) Ser mais próxima de casa ou de fácil acesso
h) Outra. Qual? ________________________________________________
i) Nada faria frequentar biblioteca
144
ANEXO II
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – ASSINANTE DO
JORNAL
O(a) sr.(a), assinante do Jornal Força d´Oeste, está sendo convidado(a) como
voluntário(a) a participar da pesquisa “Cultura regional e formação do leitor: estudo
comparativo do perfil do leitor de jornal e de livros em São João do Oeste, SC”. Nesta
pesquisa pretendemos identificar possíveis relações entre a cultura de nossa cidade, a
erradicação da analfabetização no município e o hábito de leitura. Através do
mapeamento da pesquisa, pretende-se obter o perfil regional do leitor, tanto o leitor de
livros (frequentador ou não de bibliotecas) e o leitor de jornal, e traçar o perfil social,
educacional e cultural de nossos leitores. Dessa forma, sua contribuição é muito
relevante.
A sua participação não é obrigatória sendo que, a qualquer momento da
pesquisa, você poderá desistir e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum
prejuízo para sua relação com o Jornal Força d‟Oeste.
Caso o(a) sr.(a) decida aceitar o convite, será submetido (a) ao(s) seguinte(s)
procedimentos: responderá a um questionário de escolha múltipla, assinalando, a cada
pergunta, a opção que corresponde a seu perfil leitor; em algumas questões haverá
espaço para complementação da informação, caso o(a) senhor(a) julgue necessário
esclarecer, com mais detalhe, sua opção de resposta. Desta forma, sua colaboração será
apenas escrita, não havendo uso da sua imagem ou de sua voz. Também não haverá uso
de seu perfil. O questionário será respondido anonimamente, sem indicação do nome do
declarante, e os dados colhidos não serão compartilhados com terceiros, pois serão
utilizados apenas para a caracterização do leitor do município de São João do Oeste
pretendida por esta pesquisa. O(a) sr.(a) disporá de até duas horas para responder ao
questionário.
Considerando as características do instrumento de coleta de informações (um
questionário), podemos garantir que não haverá qualquer tipo de risco ou inconveniente
para sua participação neste estudo. A participação não traz complicações legais de
nenhuma ordem e os procedimentos utilizados obedecem aos critérios da Ética na
Pesquisa com Seres Humanos, conforme a Resolução 510/16 do Conselho Nacional de
Saúde. O Sr.(a) tem garantida plena liberdade de recusar-se a participar ou retirar seu
145
consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem necessidade de comunicado prévio.
A sua participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer
penalidade ou modificação na forma em que o Sr.(a) é atendido(a) pelo pesquisador. O
Sr. (Sra.) não terá nenhum tipo de despesa por participar deste estudo, bem como não
receberá nenhum tipo de pagamento ou indenização por sua participação.
O(a) senhor(a) não será identificado(a) em nenhuma publicação que possa
resultar da pesquisa. Seu nome ou o material que indique sua participação não serão
liberados sem a sua permissão. Os pesquisadores tratarão a sua identidade com padrões
profissionais de sigilo e confidencialidade, atendendo à legislação brasileira, em
especial, à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, e utilizarão as
informações somente para fins acadêmicos e científicos.
Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Espera-se
que a pesquisa beneficie a população de São João do Oeste, identificando fatores que
influenciam a formação do leitor, de forma a contribuir para que a cidade conte com
ótimos níveis tanto de alfabetização como de leitura.
Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias originais, sendo
que uma será arquivada pelo pesquisador responsável, no Mestrado em Letras da URI,
Campus de Frederico Westphalen, e a outra será fornecida ao Sr.(a).
Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados com
o pesquisador responsável por um período de um ano após o término da pesquisa.
Depois desse tempo, os mesmos serão destruídos.
Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para
que participe desta pesquisa. Para tanto, preencha os itens que se seguem:
146
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu,_______________________________________________________,
portador do RG____________________, fui informado(a) dos objetivos da pesquisa
“Cultura regional e formação do leitor: estudo comparativo do perfil do leitor de jornal e
de livros em São João do Oeste, SC” de maneira clara e detalhada, e esclareci minhas
dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar
minha decisão de participar se assim o desejar. Declaro que concordo em participar e,
de forma livre e esclarecida, registro meu interesse em participar da pesquisa. Recebi
uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e me foi dada a
oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.
Nome do pesquisador responsável: Adilson Kipper
Endereço: São João do Oeste
Bairro: interior
Cidade: São João do Oeste
Telefone: (49) 3195 1001.
Email: [email protected].
A pesquisa está vinculada ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Câmpus de Frederico
Westphalen, localizada na Rua Assis Brasil, nº 709, Bairro Itapajé, na cidade de
Frederico Westphalen – RS – CEP: 98400-000 e o telefone para contato é (55) 3744-
9200.
_____________________, ______de_________________ de 2018.
_________________________________________________________
Assinatura do participante
_________________________________________________________
Assinatura do Pesquisador
147
ANEXO III
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO –
FREQUENTADOR DA BIBLIOTECA
O(a) sr.(a), frequentador da Biblioteca Pública Municipal Padre Afonso Hansen,
está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa “Cultura regional e
formação do leitor: estudo comparativo do perfil do leitor de jornal e de livros em São
João do Oeste, SC”. Nesta pesquisa pretendemos identificar possíveis relações entre a
cultura de nossa cidade, a erradicação da analfabetização no município e o hábito de
leitura. Através do mapeamento da pesquisa, pretende-se obter o perfil regional do
leitor, tanto o leitor de livros (frequentador ou não de bibliotecas) e o leitor de jornal, e
traçar o perfil social, educacional e cultural de nossos leitores. Dessa forma, sua
contribuição é muito relevante.
A sua participação não é obrigatória sendo que, a qualquer momento da
pesquisa, você poderá desistir e retirar seu consentimento. Sua recusa não trará nenhum
prejuízo para sua relação com a Biblioteca Municipal Padre Afonso Hansen.
Caso o(a) sr.(a) decida aceitar o convite, será submetido (a) ao(s) seguinte(s)
procedimentos: responderá a um questionário de escolha múltipla, assinalando, a cada
pergunta, a opção que corresponde a seu perfil leitor; em algumas questões haverá
espaço para complementação da informação, caso o(a) senhor(a) julgue necessário
esclarecer, com mais detalhe, sua opção de resposta. Desta forma, sua colaboração será
apenas escrita, não havendo uso da sua imagem ou de sua voz. Também não haverá uso
de seu perfil. O questionário será respondido anonimamente, sem indicação do nome do
declarante, e os dados colhidos não serão compartilhados com terceiros, pois serão
utilizados apenas para a caracterização do leitor do município de São João do Oeste
pretendida por esta pesquisa. O(a) sr.(a) disporá de até duas horas para responder ao
questionário.
Considerando as características do instrumento de coleta de informações (um
questionário), podemos garantir que não haverá qualquer tipo de risco ou inconveniente
para sua participação neste estudo. A participação não traz complicações legais de
nenhuma ordem e os procedimentos utilizados obedecem aos critérios da Ética na
Pesquisa com Seres Humanos, conforme a Resolução 510/16 do Conselho Nacional de
Saúde. O Sr.(a) tem garantida plena liberdade de recusar-se a participar ou retirar seu
148
consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem necessidade de comunicado prévio.
A sua participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer
penalidade ou modificação na forma em que o Sr.(a) é atendido(a) pelo pesquisador. O
Sr. (Sra.) não terá nenhum tipo de despesa por participar deste estudo, bem como não
receberá nenhum tipo de pagamento ou indenização por sua participação.
O(a) senhor(a) não será identificado(a) em nenhuma publicação que possa
resultar da pesquisa. Seu nome ou o material que indique sua participação não serão
liberados sem a sua permissão. Os pesquisadores tratarão a sua identidade com padrões
profissionais de sigilo e confidencialidade, atendendo à legislação brasileira, em
especial, à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, e utilizarão as
informações somente para fins acadêmicos e científicos.
Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Espera-se
que a pesquisa beneficie a população de São João do Oeste, identificando fatores que
influenciam a formação do leitor, de forma a contribuir para que a cidade conte com
ótimos níveis tanto de alfabetização como de leitura.
Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias originais, sendo
que uma será arquivada pelo pesquisador responsável, no Mestrado em Letras da URI,
Campus de Frederico Westphalen, e a outra será fornecida ao Sr.(a).
Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados com
o pesquisador responsável por um período de um ano após o término da pesquisa.
Depois desse tempo, os mesmos serão destruídos.
Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para
que participe desta pesquisa. Para tanto, preencha os itens que se seguem:
149
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu,_______________________________________________________,
portador do RG____________________, fui informado(a) dos objetivos da pesquisa
“Cultura regional e formação do leitor: estudo comparativo do perfil do leitor de jornal e
de livros em São João do Oeste, SC” de maneira clara e detalhada, e esclareci minhas
dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar
minha decisão de participar se assim o desejar. Declaro que concordo em participar e,
de forma livre e esclarecida, registro meu interesse em participar da pesquisa. Recebi
uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e me foi dada a
oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.
Nome do pesquisador responsável: Adilson Kipper
Endereço: São João do Oeste
Bairro: interior
Cidade: São João do Oeste
Telefone: (49) 3195 1001.
Email: [email protected].
A pesquisa está vinculada ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Câmpus de Frederico
Westphalen, localizada na Rua Assis Brasil, nº 709, Bairro Itapajé, na cidade de
Frederico Westphalen – RS – CEP: 98400-000 e o telefone para contato é (55) 3744-
9200.
_____________________, ______de_________________ de 2018.
_________________________________________________________
Assinatura do participante
_________________________________________________________
Assinatura do Pesquisador
150
ANEXO IV
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO- LEITOR DE
LIVRO
O(a) sr.(a) está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa
“Cultura regional e formação do leitor: estudo comparativo do perfil do leitor de jornal e
de livros em São João do Oeste, SC”. Nesta pesquisa pretendemos identificar possíveis
relações entre a cultura de nossa cidade, a erradicação da analfabetização no município
e o hábito de leitura. Através do mapeamento da pesquisa, pretende-se obter o perfil
regional do leitor, tanto o leitor de livros (frequentador ou não de bibliotecas) e o leitor
de jornal, e traçar o perfil social, educacional e cultural de nossos leitores. Dessa forma,
sua contribuição é muito relevante.
A sua participação não é obrigatória sendo que, a qualquer momento da
pesquisa, você poderá desistir e retirar seu consentimento. Caso o(a) sr.(a) decida
aceitar o convite, será submetido (a) ao(s) seguinte(s) procedimentos: responderá a um
questionário de escolha múltipla, assinalando, a cada pergunta, a opção que corresponde
a seu perfil leitor; em algumas questões haverá espaço para complementação da
informação, caso o(a) senhor(a) julgue necessário esclarecer, com mais detalhe, sua
opção de resposta. Desta forma, sua colaboração será apenas escrita, não havendo uso
da sua imagem ou de sua voz. Também não haverá uso de seu perfil. O questionário
será respondido anonimamente, sem indicação do nome do declarante, e os dados
colhidos não serão compartilhados com terceiros, pois serão utilizados apenas para a
caracterização do leitor do município de São João do Oeste pretendida por esta
pesquisa. O(a) sr.(a) disporá de até duas horas para responder ao questionário.
Considerando as características do instrumento de coleta de informações (um
questionário), podemos garantir que não haverá qualquer tipo de risco ou inconveniente
para sua participação neste estudo. A participação não traz complicações legais de
nenhuma ordem e os procedimentos utilizados obedecem aos critérios da Ética na
Pesquisa com Seres Humanos, conforme a Resolução 510/16 do Conselho Nacional de
Saúde. O Sr.(a) tem garantida plena liberdade de recusar-se a participar ou retirar seu
consentimento, em qualquer fase da pesquisa, sem necessidade de comunicado prévio.
151
A sua participação é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer
penalidade ou modificação na forma em que o Sr.(a) é atendido(a) pelo pesquisador. O
Sr. (Sra.) não terá nenhum tipo de despesa por participar deste estudo, bem como não
receberá nenhum tipo de pagamento ou indenização por sua participação.
O(a) senhor(a) não será identificado(a) em nenhuma publicação que possa
resultar da pesquisa. Seu nome ou o material que indique sua participação não serão
liberados sem a sua permissão. Os pesquisadores tratarão a sua identidade com padrões
profissionais de sigilo e confidencialidade, atendendo à legislação brasileira, em
especial, à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, e utilizarão as
informações somente para fins acadêmicos e científicos.
Os resultados da pesquisa estarão à sua disposição quando finalizada. Espera-se
que a pesquisa beneficie a população de São João do Oeste, identificando fatores que
influenciam a formação do leitor, de forma a contribuir para que a cidade conte com
ótimos níveis tanto de alfabetização como de leitura.
Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias originais, sendo
que uma será arquivada pelo pesquisador responsável, no Mestrado em Letras da URI,
Campus de Frederico Westphalen, e a outra será fornecida ao Sr.(a).
Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados com
o pesquisador responsável por um período de um ano após o término da pesquisa.
Depois desse tempo, os mesmos serão destruídos.
Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu consentimento de forma livre para
que participe desta pesquisa. Para tanto, preencha os itens que se seguem:
152
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Eu,_______________________________________________________,
portador do RG____________________, fui informado(a) dos objetivos da pesquisa
“Cultura regional e formação do leitor: estudo comparativo do perfil do leitor de jornal e
de livros em São João do Oeste, SC” de maneira clara e detalhada, e esclareci minhas
dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações e modificar
minha decisão de participar se assim o desejar. Declaro que concordo em participar e,
de forma livre e esclarecida, registro meu interesse em participar da pesquisa. Recebi
uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e me foi dada a
oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.
Nome do pesquisador responsável: Adilson Kipper
Endereço: São João do Oeste
Bairro: interior
Cidade: São João do Oeste
Telefone: (49) 3195 1001.
Email: [email protected].
A pesquisa está vinculada ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Câmpus de Frederico
Westphalen, localizada na Rua Assis Brasil, nº 709, Bairro Itapajé, na cidade de
Frederico Westphalen – RS – CEP: 98400-000 e o telefone para contato é (55) 3744-
9200.
_____________________, ______de_________________ de 2019.
_________________________________________________________
Assinatura do participante
_________________________________________________________
Assinatura do Pesquisador
153
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.